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Clarabóia Tem tudo para iluminar novos fãs Foi no dia em que Saramago completaria 89 anos, 16 de novem- bro de 2011 , mais de meio século depois de ter saído das mãos do seu autor, José Saramago, que o livro Clarabóia, um roman- ce a não perder, foi publicado. pág. 3 Leitura sem dogmas 2011|2012 Ano XV nº 1 1ª Tiragem Escola Secundária de Rio Tinto Fernando Pessoa 1888|1935 pág. 8 Comemoração da Obra na Escola Secundária de Rio Tinto

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Clarabóia Tem tudo para iluminar novos fãsFoi no dia em que Saramago completaria 89 anos, 16 de novem-bro de 2011 , mais de meio século depois de ter saído das mãos do seu autor, José Saramago, que o livro Clarabóia, um roman-ce a não perder, foi publicado. pág. 3

Leiturasem dogmas

2011|2012Ano XV nº 1 1ª Tiragem

Escola Secundária de Rio Tinto

Fernando Pessoa1888|1935pág. 8

Comemoração da Obra na Escola Secundária de Rio Tinto

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Editorial Luísa Pereira, diretora da ESRT

Cidadania é uma palavra que nos con-fronta frequentemente, quer porque nos surge pronunciada por eventuais interlo-cutores, quer porque, no âmbito da nos-sa atividade, nos suscita reflexão.O conceito de cidadania pressupõe todas as implicações decorrentes da vida em sociedade, ampliando-se ao longo da his-tória e passando a englobar um conjunto de valores sociais que determinam os di-reitos e os deveres de um cidadão.A Lei Constitucional elenca o que desig-na por “Direitos e Deveres Fundamen-tais“, mas, acompanhando Jorge Sam-paio, “a cidadania é responsabilidade perante nós e perante os outros “…” impulso para a solidariedade e para a participação“.A sociedade portuguesa, em si mesma e como integrante de um espaço comu-nitário, está profundamente ameaçada vendo pôr-se em causa padrões de con-sumo, espaços de conforto, níveis de qualidade de vida, que tinha por irrever-sivelmente adquiridos.Este quadro socioeconómico é suscetível de estimular o natural egoísmo e pro-mover um egocentrismo que tenderá a isolar indivíduos e grupos de interesses afins, num processo de rutura e conse-quente degradação que põe em causa a cidadania no que esta significa de res-ponsabilidades mútuas entre cidadãos.É em circunstâncias como as atuais em que a cidadania se pode e deve expres-sar na sua vertente de solidariedade, estabelecendo uma rede de compromis-sos com os outros, com as suas causas e dificuldades, de uma forma desinteres-sada, que nasce na convicção de justiça social e equidade.A comunidade educativa, pela sua diver-sidade e pela sua abrangência, sem es-quecer a missão que lhe cabe, não pode omitir-se.

Precisa-se

leitura sem dogmas

requer a colaboração de todos

A equipa responsável pela publicação do jornal “Leitu-ra Sem Dogmas” convida toda a comunidade escolar a colaborar, de forma regular ou pontual, neste projeto. É nosso desejo que o Leitura Sem Dogmas seja cada vez mais dos alunos mas, para isso, é necessário que eles participem com reportagens, notícias, crónicas, entrevistas, artigos de opinião, ilustrações, mensa-gens, pensamentos, reclamações, poemas, declara-ções de amor e de desamor!Todos – direção da escola, professores , alunos, funcio-nários, Associação de Pais e Encarregados de Educa-ção – podem colaborar enviando o seu contributo e/ou contactar os membros da equipa.A equipa do jornal “Leitura Sem Dogmas” continua a ser coordenada pela professora Emília Reis e os con-tactos podem ser feitos através da “GAVETA.NET”, cujo nome de utilizador continua a ser “LSDjornal” e a pala-vra passe “escola” e/ou para o endereço de email do próprio jornal [email protected].

Parlamento dos JovensA nossa escola vai participar uma vez mais no proje-to “Parlamento dos Jovens” de ensino básico e se-cundário, uma iniciativa da Assembleia da República, em parceria com outras entidades, coordenado pela professora Emília Reis e dinamizado por diversos pro-fessores. Este ano, o tema em debate é o papel das Redes Sociais no combate à discriminação (ensino básico) e a sua importância na promoção da partici-pação e da cidadania. É um tema de extrema atuali-dade e sobre o qual toda a comunidade tem já uma opinião formada. Este projeto, que tem por objetivo promover a educação para a cidadania, estimula o in-teresse dos jovens por temas atuais e permite desen-volver a capacidade de debate, reflexão, argumenta-ção bem como a partilha de ideias. Já estão abertas as candidaturas para listas partici-pantes no projeto. Os interessados só têm de formar uma lista com dez elementos e preparar um progra-ma eleitoral onde constem as ideias a defender du-rante a campanha eleitoral e na Sessão Escolar que decorrerá em janeiro, em data a designar. Desta Ses-são sairão dois deputados escolares que representa-rão a Escola na Sessão Distrital.Informação completa sobre como participar no pro-jeto pode ser consultada no Centro de Recursos e na internet no sítio eletrónico do Parlamento dos Jo-vens. Podem ainda os interessados obter todas as in-formações junto dos professores Emília Reis, Nazaré Alves, José Carlos Sousa e Susana Carrilho, os quais darão todo o apoio que for necessário à participação neste projeto.

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Clarabóia

para iluminar novos fãsFoi no dia em que Saramago completaria 89 anos, 16 de novembro de 2011, mais de meio século depois de ter saído das mãos do seu autor, que o livro Clara-bóia, um romance a não perder, foi publicado.Escrito em 1953, este seria o segundo romance de Saramago. Terminado o livro, o seu autor encarregou um amigo, com relações editoriais, de o levar a uma editora portuguesa, que nunca o publicou. Seguiu-se um silêncio que durou vinte anos, originado talvez pela falta de respeito de que fora vítima. Que se recu-sassem a editá-lo, o escritor poderia aceitar, mas não daquela forma, porque não só não lhe responderam como não lhe devolveram o original.Quarenta anos mais tarde, quando já dotado de um estilo particular de escrita que lhe garantiu um lugar entre os maiores da língua portuguesa, com o Pré-mio Camões, em 1995, e o Nobel de Literatura, em 1998, Saramago voltou a ouvir falar da sua Clarabóia: alegando ter encontrado o original durante uma mu-dança de instalações, a editora manifestava agora grande interesse em lançar o romance. Agradecen-do a oferta, Saramago respondeu que deixara de ser pertinente esta publicação por ter passado demasia-do tempo. Não querendo ver publicado o romance em vida, deixou escrito que os que lhe sobrevivessem poderiam fazer o que achassem conveniente.Clarabóia está, finalmente, disponível em formato e--book no sítio digital do grupo Leya e nas livrarias, da-das as inquestionáveis qualidades do romance, que justificam plenamente a opção de publicação.

Concurso “Entre | Palavras”Este concurso, promovido pelo JN, destina-se a alunos do 3º ciclo (7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade) e já vai já na sua 8ª edição. Tem por objetivo formar cidadãos mais esclarecidos e exigentes, capazes de ler o mundo em que vivem, com conhecimen-tos mais aprofundados e capacidades de argumentação acima da média.O seu grande objetivo é centrado num tema, debater uma tese suportada em argumentos que, por sua vez, a equipa contrária deverá rebater, estimulando a leitura e a troca de ideias num aceso confronto de pontos de vista entre escolas de Norte a Sul do país! A 8.ª edição do “Entre | Palavras” contará com uma comissão de honra, mais uma vez apadrinhada pela jornalista Fátima Campos Ferreira e por outras personalida-des conhecidas da nossa sociedade. Os temas para este ano são:• “Poupança”tese: “A poupança é uma atitude, uma forma de estar na vida, pratica-se diaria-mente nos gestos mais simples – no apagar da luz; no uso dos transportes públi-cos; no tipo e quantidade de alimentação que fazemos, etc.” • “Honestidade”tese: “Para quê ser honesto quando à nossa volta tudo é corrupto e parece que os desonestos é que têm sucesso?”• “Criatividade”.tese: “A criatividade tem mais a ver com a motivação do que com a inteligência, sendo essencial para a resolução de problemas!”

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4 ∙ Leitura sem dogmas

André Queimado; Beatriz Nunes; Diogo Soares; Filipe Costa; Sofia Coelho 10ºD

Nobel da Paz dividido por três mulheres Jornal de Notícias 07/10/2011

O Comité Nobel norueguês anunciou, esta sexta-feira, em Oslo, como Nobel da Paz 2011 as liberianas Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee e a iemenita Ta-wakul Karman.O Comité Nobel Norueguês distinguiu o trabalho das laureadas pela luta pacífica em nome dos direitos das mulheres. “Não podemos conseguir a democracia e a paz duradoura no Mundo a menos que as mulhe-res tenham as mesmas oportunidades do que os ho-mens”, assinalou o Comité, em comunicado.Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher a ser eleita presidente em África, cargo no qual “tem contribuído para a paz na Libéria, para a promoção do desenvol-vimento económico e social e para reforçar a posição das mulheres”.A liberiana Leymah Gbowee conseguiu “mobilizar e organizar as mulheres de etnias e religiões diferentes a fim de conseguir acabar com a guerra na Libéria e garantir a sua participação nas eleições”.Já Tawakul Karman liderou movimentos de luta pelos direitos das mulheres e pela democracia e paz no Ié-men, antes e durante a “Primavera Árabe”.Comentário:O mundo está a mudar, essa é a verdade indiscutível. Evolui-se imenso a cada dia, em vários aspetos, tanto científicos e culturais como sociais. Assim sendo, parece que cada vez mais as pessoas começam a perceber que para se atingirem os ideais de justiça, paz e igualdade que se procuram é necessário iniciar-se algumas mu-danças, nomeadamente a nível das mentalidades. É isto que, na minha opinião, este artigo de notícias transmite, a necessidade de tomar uma atitude em prol da mudan-ça, atitude essa que já está a ser tomada por alguns e que agora se torna visível aos olhos de todos.Ao nomear para o Prémio Nobel da Paz três mulheres que, sem dúvida alguma, lutaram pelos seus direitos e os de muitas mulheres pelo Mundo, que enfrenta-

ram as injustiças e procuraram trazer um pouco mais de igualdade às suas sociedades, o Comité Nobel deu, segundo o meu ponto de vista, um gigantesco passo para modificar as mentalidades de muitas sociedades e alertar para a necessidade de prolongar e propagar essa mudança. É de todos conhecida a brutalidade, o preconceito, a repressão com que muitas mulheres foram e ainda hoje são tratadas nas várias culturas mundiais e é um pouco reconfortante saber que, mes-mo assim, as entidades competentes estão atentas, que há pessoas a revoltarem-se contra tais atos, que a pouco e pouco a mudança é conseguida.Para mim estas mulheres, Ellen Johnson Sirleaf, Ta-wakkul Karman e Leymah Gbowee, assim como tantas outras mulheres que não se calam e não desistem, que ainda lutam por um mundo melhor, são verda-deiros exemplos a seguir, pessoas admiráveis que fa-zem de tudo para conseguirem aquilo a que acham ter direito, que defendem e lutam por aquilo em que acreditam, que acabam por alterar as vidas de tantas outras pessoas ao seu redor, que se conseguem fazer ouvir e espalhar as suas mensagens e ideais a todos os que as rodeiam, que acabam por mudar mentalidades que se baseiam no preconceito, no senso comum e na tradição, muitas delas pertencentes a pessoas que viviam na ignorância e desconheciam a existência da possibilidade de serem mais felizes, de terem uma vida melhor, desconheciam os seus direitos. Mais que tudo o que me impressiona é o facto de elas o estarem a conseguir mantendo-se fiéis aos seus ideais de paz e igualdade, sem recorrer a qualquer tipo de violência para atingirem os seus objetivos, sendo capazes de unir pessoas de diferentes etnias, conseguindo mes-mo acabar com guerras apenas com as suas palavras, apenas com os seus atos de resistência não-armada. Penso que isto demonstra e comprova que são verda-deiras heroínas, cujos resultados dos seus feitos são tão impressionantes que foram capazes de alertar, não só as suas próprias nações, como em todo o Mun-do para estes problemas que parecem para nós, na nossa sociedade modernizada, ultrapassados e inexis-tentes mas que, na realidade, continuam a acontecer diante dos nossos olhos.

ATROPELOS aos Direitos das Crianças

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Leitura sem dogmas ∙ 5

É preciso encarar estes problemas e esforçarmo-nos para combatê-los, isto é, para conseguirmos um dia vir a viver num mundo onde a paz, a democracia, a liberdade e a igualdade entre tudo e todos prevale-çam e sejam a única coisa a defender acima de tudo, é necessário que se comece hoje a mudar, que todos parem, escutem e reflitam sobre o que se passa, não só aqui, junto de nós, mas em todo o Planeta, é neces-sário que se aja, que se tomem medidas que possam melhorar as vidas de muitas pessoas, é necessário que se compreenda o que está certo e o que está errado, o que é a injustiça e como combatê-la, é necessário que se conheça a verdade para que todos se olhem como iguais, todos com os mesmos direitos e deveres e to-dos com conhecimento destes, é necessário começar com o fim da ignorância, pois, como referiu o Comité Nobel Norueguês, “Não podemos conseguir a demo-cracia e a paz duradoura no Mundo a menos que as mulheres tenham as mesmas oportunidades do que os homens”. O Mundo de amanhã só será como de-sejamos se começarmos a mudá-lo hoje sem nunca esquecer os erros de ontem, erros que não queremos voltar a cometer.“Princípio IX da Declaração dos Direitos das Crianças - Direito a ser protegido contra o abandono e a explo-ração no trabalho:• A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono, crueldade e exploração. Não será objeto de nenhum tipo de tráfico.• Não se deverá permitir que a criança trabalhe an-tes de uma idade mínima adequada; em caso algum será permitido que a criança se dedique, ou a ela se imponha, qualquer ocupação ou emprego que possa prejudicar a sua saúde ou a sua educação, ou impedir o seu desenvolvimento físico, mental ou moral.”A Declaração dos Direitos da Criança, o célebre docu-mento onde todos os direitos da criança, que lhe as-seguram um desenvolvimento e uma infância estável, saudável e segura, estão enumerados, garante que todas as crianças do mundo possuam as mesmas con-dições de vida básicas, todas iguais e justas. Ou será que não é assim?A verdade é que todos os dias, um pouco por todo o mundo, apesar de, supostamente, estes direitos se-rem obrigatórios e defendidos, apesar dos esforços das várias associações com a tarefa de os assegurar, organizações locais como, por exemplo, as CPCJ´s (Co-missões de Protecção de Crianças e Jovens), ou então globais, como a UNICEF e as Nações Unidas, milhares de crianças sofrem e as suas infâncias são destruídas, os seus direitos são ignorados e estas são abusadas quer física, psicológica, sexual e emocional quer mo-ralmente, abusos esses que deixam profundas cicatri-zes nas suas vidas. Problemas como os maus-tratos, a prostituição in-fantil, a violação, a violência, o trabalho infantil, a negligência, o tráfico humano, a guerra, as baixas condições de vida, o abandono escolar, a exposição a comportamentos desviantes ou a falta de acesso aos principais cuidados básicos de vida assombram a in-fância das crianças dos dias de hoje, tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento, embora em alguns com mais evidência que noutros.Desprezadas pelo Estado, pela sociedade e, muitas vezes, pelas próprias famílias, estas crianças vêem-se perdidas num mundo que não compreendem e que

não são capazes de controlar, incapazes de se prote-gerem acabam por ter que, por obrigação ou necessi-dade, crescer muito mais rapidamente do que seria de esperar ou recomendável.Um dos exemplos mais bárbaros do desrespeito ao estatuto da criança, uma das maiores (senão a maior) violação aos seus direitos, é o seu tráfico e explora-ção. Este problema, apesar de ser muito mais comum em países em desenvolvimento, é também muito fre-quente em países desenvolvidos.As crianças vítimas de tráfico são raptadas e, muitas vezes, levadas para lugares distantes das suas casas e famílias, são abusadas, obrigadas a realizar trabalhos pesados e perigosos, inadequados para uma criança, trabalhando muitas horas por dia. Algumas delas são ainda forçadas a prostituírem-se e a participarem nou-tras atividades criminosas, como por exemplo, no trá-fico de droga. Há também casos em que são retirados e vendidos os seus órgãos e outros em que as crianças são mostradas em catálogos, como se se tratassem de meros produtos, para depois serem vendidas nova-mente, casos que se encontram agora em expansão devido à abrangência da Internet.Sinceramente é muito triste e revoltante pensar nas atrocidades a que algumas crianças estão sujeitas, parece quase impossível acreditar que milhões de crianças não vão à escola, não podem brincar, não têm aquilo a que se chama “infância”, porém é esta a pura realidade do mundo em que vivemos. É irónico descobrir que há países em que as crianças são pre-sas e castigadas por se prostituírem ou por estarem em condições ilegais quando são elas as principais ví-timas, isto só prova que é necessário haver sérias mu-danças nas legislações, mudanças que sejam capazes de fazer a diferença.Apesar de hoje em dia existir uma noção muito me-lhor do que é a infância, da sua importância e de como toda a criança tem direito a ela, em comparação com antigamente, quando as crianças eram vistas apenas como “adultos em ponto pequeno” e constituíam a maior parte da mão-de-obra da família, levando a altas taxas de mortalidade infantil, ainda existe um longo ca-minho a percorrer até que todas as crianças do mundo sejam respeitadas e protegidas pelos mesmos direitos, tal como todos estes problemas o demonstram. Mesmo as crianças de países desenvolvidos, com ex-celentes condições de vida, são desrespeitadas, obri-gadas a concentrarem todas as suas atenções nos estudos, recompensadas com os presentes mais exu-berantes pois os seus pais, nas suas vidas modernas, “stressantes” e ocupadas, esquecem-se de ter tempo para os filhos, da importância da infância, da alegria que é poder e saber brincar. Depois ainda se admiram por os filhos se sentirem sós e isolados, por desenvol-verem problemas como défices de atenção ou por se tornarem marginais e entrarem em “gangs”. Como se pode querer que uma criança que é abandonada se torne um jovem e depois um adulto decente?Assim esperamos que as pessoas, neste mundo de crianças feito à medida dos adultos, se relembrem sempre de que uma criança será um dia um adulto, que todos crescem e que nos cabe a nós fazer com que a próxima geração se torne numa sociedade me-lhor, mais consciente e, sobretudo, mais feliz.

Foto Jim Watson, Gamal Noman e Seyllou Diallo/AFP

De cima para a baixo, Ellen Johnson Sirleaf, Tawakkul Karman e Leymah Gbowee

 

 

 

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6 ∙ Leitura sem dogmas

Lendas da Guiné-Bissau

A lenda do tambor africanoDjanira Só 11º L

Corre entre os Bijagós, da Guiné, a lenda de que foi o Macaquinho de nariz branco quem fez a primeira viagem à Lua.

A história começou assim:

Nas proximidades de uma aldeia, os macaquinhos de na-riz branco, certo dia, de que se haviam de lembrar? De fazer uma viagem à Lua e trazê-la para baixo, para a Terra.Ora numa bela manhã, depois de terem, em vão, tenta-do encontrar um caminho por onde subir, um deles, por sinal o mais pequeno, teve uma ideia: encavalitarem-se uns nos outros. Um agora, outro depois e a fila foi-se elevando no céu e um deles acabou por tocar na Lua.Em baixo, porém, os macacos começaram a cansar-se e a impacientar-se porque o companheiro que tocou na Lua nunca mais conseguia entrar. As forças faltaram--lhes, ouviu-se um grito, e a coluna desmoronou-se.Um a um, todos foram arrastados na queda e caíram no chão. Apenas um, só um macaquito, por sinal o mais pequeno, ficou agarrado à Lua, que o segurou pela mão e o ajudou a subir.A Lua olhou-o com espanto e tão engraçadinho o achou que lhe deu de presente um tamborinho.O Macaquinho começou a aprender a tocar no seu tamborinho e, por longos dias, deixou-se ficar por ali. Mas tanto andou, tanto passeou, tanto no tam-borinho tocou, que os dias se passaram uns atrás dos outros e o macaquinho de nariz branco começou a sentir profundas saudades da Terra e das suas gen-tes. Então, foi pedir à Lua que o deixasse voltar.— Para que queres voltar?A Lua mandou-o sentar no tamborinho, amarrou-o com uma corda e disse-lhe:— Macaquinho de nariz branco, vou-te fazer descer, mas toma tento no que te digo. Não toques o tambo-rinho antes de chegares lá abaixo. E quando puseres os pés na Terra, tocarás então com força para eu ou-vir e cortar a corda. E assim ficarás liberto.O Macaquinho, muito feliz, foi descendo sentado no tambor. Mas a meio da viagem, oh! não resistiu à ten-tação. E vai de leve, levezinho, de modo que a Lua não pudesse ouvir, pôs-se a tocar o tambor tambo-rinho. Porém, o vento soltando brandos rumores fez estremecer levemente a corda e, ouvindo a Lua os sons compassados do tantã, pensou: “O Macaquinho chegou à Terra”. E logo mandou cortar a corda.E eis o Macaquinho atirado ao espaço, caindo desam-parado na ilha natal. Ia pelo caminho adiante uma rapariga cantando e meneando-se ao ritmo de uma canção, quando, de

repente, viu, para espanto seu, o infeliz estendido no chão. Mas tinha os olhos muito abertos, despertos, duas brasas produzindo luz! O tamborinho estava junto dele. Ainda teve tempo de dizer à rapariga que aquilo era um tambor e que o entregasse aos ho-mens do seu país.A moça, ainda não refeita da surpresa, correu o mais velozmente que pôde a contar aos homens da sua raça o que acabava de acontecer. Veio gente e mais gente. Espalharam-se archotes. Ouviram-se canções. E naquele recanto da terra africana fez-se o primeiro batuque ao som do maravilhoso tambor.Então, os homens construíram muitos tambores e, dentro em pouco, não havia lugar na terra africana onde não houvesse esse querido instrumento. Com ele transmitiam notícias a longas distâncias e com ele festejaram os grandes dias da sua vida e da sua raça.O tambor tamborinho ficou tão querido e tão estre-mecido do povo africano que, em dias de tristeza ou em dias de alegria, é ele quem melhor exprime a grandeza da sua alma.

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Leitura sem dogmas ∙ 7

Entrevista a

SaramagoClarabóia sobre a vida e obra

Quatro repórteres do Leitura sem Dogmas, Pedro Fer-reira, Miguel Silva, Diogo Fernandes e Dante Carvalho, descobriram, quando arrumavam a gaveta dos traba-lhos do jornal, uma entrevista que, por esquecimento, não publicaram em devido tempo. Lamentando o suce-dido, e para não persistiram no erro, trazem-na agora a lume. Aqui vai ela!Repórter - O entrevistado desta edição é José Saramago, grande escritor português, nascido a 16 de novembro de 1922, um homem que bem podia ter sido de letras, que escreveu muitos livros interessantes, e que foi galar-doado com o Prémio Nobel de Literatura de 1998, ten-do também ganho o Prémio Camões, o mais importante prémio da Literatura Portuguesa. Este grande escritor foi considerado o responsável pelo reconhecimento in-ternacional da prosa em Língua Portuguesa. Vamos sa-ber um pouco mais da sua vida.José Saramago – Pelo que ouvi, pediram-me que viesse cá hoje para falar sobre a minha «história de vida».R – Sim, e para começar, diga-nos como reagiu à mudan-ça de residência dos seus pais da Golegã para Lisboa?JS – Como só tinha dois anos, não me lembro como re-agi à situação, mas penso que reagi bem porque mudei do campo para a cidade!R – Por que não deu prosseguimento aos seus estudos secundários?JS – Não me matriculei no ensino superior por causa das dificuldades económicas dos meus pais, mas, dizem, demonstrei desde muito cedo interesse pelos estudos e pela cultura, e essa minha curiosidade acompanhou-me durante toda a vida, garanto-vos!R – Não conseguindo frequentar a universidade, como é que conseguiu ser escritor?JS – Quem ama a escrita, faz tudo por ela, foi o que fiz.R – Parece-nos que exerceu uma enorme variedade de profissões….JS – Oh, sim, fiz de tudo. O meu primeiro emprego foi de serralheiro mecânico, mas para aumentar os rendi-mentos fui tradutor; quando a Violante nasceu, era eu funcionário público, aos 25 anos, tornei-me também escritor, ao publicar Terra do Pecado, lembro-me bem, foi em 1947; fui, a partir de 1976, jornalista, escrevendo crónicas, primeiro, para o Diário de Notícias e, depois, para o Diário de Lisboa; também escrevi textos para, po-esia, teatro e contos, mas não foram esses textos que me tornaram célebre, dessa missão se responsabiliza-ram os meus romances…R – Durante quantos anos foi presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores?JS – De 1985 a 1994, portanto, vendo bem, foram nove anos à frente desta assembleia!R – O que é que sentiu quando publicou o seu primeiro livro, Terra do Pecado?JS – Quando publiquei o meu primeiro livro, Viúva, sen-ti-me felicíssimo, porque foi o primeiro de muitos.R – Então, Terra do Pecado não foi o seu primeiro livro?JS – Foi e não foi. Eu explico, o meu primeiro livro cha-mava-se A Viúva. “Foi publicado pela Minerva, mas o editor achou que “A Viúva” não era um título comercial

e sugeriu que se chamasse “Terra do Pecado”. Pobre de mim, queria era ver o livro editado e assim saiu. De pe-cados sabia muito pouco e, embora a história comporte alguma atividade pecaminosa, não eram coisas vividas, eram coisas que resultavam mais das leituras feitas do que duma experiência própria. Não o incluo na minha bibliografia, apesar de os meus amigos insistirem que não é tão mau como eu teimo em dizer. Mas como o título não foi meu e detesto aquele título... Acho que é por isso que resisto a aceitá-lo. Um dia, quem sabe se não reconhecerei a paternidade uma vez que há por aí exemplares. Ainda outro dia encontrei um, numa des-sas bancas em segunda mão e paguei por ele oito con-tos. Com desconto, porque o homem reconheceu-me e abateu-me quinhentos escudos. Um preço completa-mente disparatado e exorbitante.”R – Soubemos que ganhou o Prémio Camões, em 1995, e o Nobel de Literatura, em 1998, o que sentiu quando os ganhou? Qual foi a sensação?JS – Fiquei muito feliz, pois há sempre muitos candida-tos e fui eu o escolhido. Foi muito gratificante, depois destes anos todos, ser reconhecido mundialmente.R – Muitas pessoas falam em si, o que sentem, quando o fazem?JS – Gosto que falem em mim, mas não sou escritor por querer ser famoso, mas para agradar às pessoas com as minhas obras.R – A propósito, sabemos que quis publicar, em 1953, o livro Clarabóia, e que o seu editor só respondeu ao seu pedido de publicação 40 anos depois, quando já era famoso. Como reagiu nessa altura?JS – Disse-lhe que não permitia a sua publicação en-quanto fosse vivo.R – O nosso jornal sabe que este livro, o segundo ro-mance do autor, vai ser publicado dois anos depois da sua morte, porque o romance merece por ser interes-santíssimo. O que é uma clarabóia todos nós sabemos. Há-as nos telhados de muitos edifícios e servem para iluminar escadas interiores de acesso aos pisos. O autor imagina um prédio constituído por rés-do-chão e dois andares ou três, ocupados por famílias completamente diferentes umas das outras de quem conta a história.É um romance muito simples e divertido, que se lê mui-to bem, embora se note que já tem, aqui e ali, algu-mas marcas que José Saramago viria a introduzir mais tarde na sua obra.… Há até uma personagem que, de alguma maneira, se identifica com o próprio autor que se debate com os seus problemas, pelo menos com um que nunca resolveu: o otimismo e o pessimismo: se a humanida-de é reciclável ou não e que deve fazer cada um de nós . Seremos nós respon-sáveis por aquilo que se passa à nossa volta? Deveremos intervir ou será que não temos nada a ver com isso? Foi com muito gosto que entramos na vida deste escritor que tanto fez pela língua portuguesa.

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8 ∙ Leitura sem dogmas

Sentir Pessoa Emília Reis, prof.

Valeu a pena?

Sentir Pessoa, sentiu-o a ESRT no último dia de novem-bro, no aniversário da morte, da morte não, da partida, daquele que já foi por muitos considerado o segundo Camões português. E sentiu-o de todas as maneiras: através da dança, da música, da declamação de poe-mas, do desenho e da caricatura!“Valeu a pena? Tudo vale a pena/Se a alma não é pe-quena”. E a comunidade educativa demonstrou-o atra-vés do seu empenhamento.Podia ter-se celebrado a data do seu nascimento, mas não, celebrou-se a do seu desaparecimento porque um poeta como Pessoa não morre, desaparece, mas não se perde. A perda provoca a depressão, o desen-canto. Com Pessoa, não há morte, não há perda, há um reaparecer em cada ano, em cada dia que passa. Se assim não fosse, sentir-nos-íamos como ele próprio em relação ao desaparecimento do amigo e companheiro Mário de Sá Carneiro. A sua perda e o encerramento (outra desastrosa perda!) da revista Orpheu precipita-ram Pessoa na mais profunda solidão. Passou a preen-cher os seus dias com o trabalho como escriturário e tradutor e a noite com a bebida e a escrita, a escrita e a bebida. Neste deserto de vida surgiu um oásis cha-mado Ophélia Queiroz, a única luz que iluminou, em-bora por pouco tempo, a vida sentimental do poeta. «O seu bebezinho», como a tratava nas cartas, entrava no jogo da «infantilidade perversa» e da dupla perso-nalidade recebendo e respondendo a cartas em que Álvaro de Campos a advertia de que Fernando Pessoa não deveria ser levado a sério. Factos como a mudança de casa de Ophelia, a morte do padrasto e regresso da mãe a Lisboa a que se associou o estado lastimável dos seus nervos, arrefeceram o já morno entusiasmo que estimulava a relação e, em 29 de novembro de 1920, lúcida, cruel, uma mensagem encerrou o namoro: ”O amor passou... O meu destino pertence a outra Lei,

cuja existência a Ophelinha ignora, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permi-tem nem perdoam...”

O poeta das mil facetas

Além de poeta, foi dramaturgo, ficcionista, pensador, crítico, ocultista, esotérico e astrólogo.Paulo Cardoso, artista plástico português, foi uma das poucas pessoas a obter autorização para manusear um impressionante acervo de 30 000 documentos originais, manuscritos ou datilografados de Fernando Pessoa.O que ele descobriu é que nada mais nada menos do que 2700 desses documentos se referem a assuntos de numerologia, geometria sagrada e, principalmen-te, astrologia. Não descobriu apenas o jovem que, aos 20 anos, já calculava e desenhava mapas astrológicos, mas um astrólogo profissional, que cobrava por con-sultas como o comprova uma tabela de preços, que encontrou num manuscrito e que rezava assim:500 réis - interpretação simples2500 réis - interpretação média5000 réis - interpretação completa, em 12 páginas.Paulo Cardoso descobriu ainda que Pessoa definia as-trologicamente os seus heterónimos, escolhendo um mapa astrológico, por técnica eletiva, técnica astrológi-ca segundo a qual se pode assinalar o melhor momen-to, inclusive o melhor dia e hora para acionar um ne-gócio, concretizar uma operação comercial, fazer uma intervenção cirúrgica, etc., até encontrar aquele que mais se identificasse com a personagem que tinha em mente. Mas o que mais impressiona Paulo Cardoso é a descoberta de outro heterónimo de Pessoa, Raphael Baldaya, que, segundo o poeta, é o mais velho e o mais sábio dos heterónimos, e é ASTRÓLOGO!A título de curiosidade, refira-se que, ainda segundo ele, Pessoa foi o responsável pela introdução do plane-ta Plutão, descoberto em 1930, nas cartas astrológicas, consta ainda que os seus conhecimentos de astrologia lhe permitiram prever o futuro literário e político de Portugal e que, em 1916, terá mesmo previsto a Revo-lução dos Cravos que teve lugar em 1974!

Pessoa - um génio louco?

Fernando Pessoa aparentemente tinha um medo hor-rível de trovoadas, mais especificamente de relâmpa-gos, como relatou a irmã, Henriqueta Dias, em entre-vista ao Jornal de Letras, em 1985. Certo dia, conta Almada Negreiros, que se encontrava com Pessoa no Martinho da Arcada, café retiro do poeta, «rebenta subitamente tremenda e memorável tempestade. O Terreiro do Paço ficou ligado ao Tejo. Chuva (…) relâm-pagos, trovões, um não parar. Não me contive e vim à porta. (…) Quando voltei à mesa ele não estava. Mas estava debaixo da mesa. Puxei-o. Pálido como defun-to transparente. Levantei-o. Inerte senão morto.» O próprio poeta, em carta a Mário Beirão, qualifica o seu medo de trovoadas como uma «terrivelmente e tortu-radora fobia. O outro dia o céu ameaçava chuva e eu ia a caminho de casa e por tarde não havia carros. Afinal não houve trovoada, mas esteve iminente e começou a chover — aqueles pingos graves, quentes e espaçados — ia eu ainda a meio caminho entre a Baixa e minha casa. Atirei-me para casa com o andar mais próximo do correr que pude achar, com a tortura mental que V. calcula, perturbadíssimo, confrangido eu todo. E neste

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Leitura sem dogmas ∙ 9

estado de espírito encontro-me a compor um soneto — acabei-o uns passos antes de chegar ao portão de minha casa —, a compor um soneto de uma tristeza suave, calma, que parece escrito por um crepúsculo de céu limpo. E o soneto é não só calmo, mas também mais ligado e conexo que algumas coisas que eu te-nho escrito. O fenómeno curioso do desdobramento é a coisa que habitualmente tenho, mas nunca o tinha sentido neste grau de intensidade...” E assim nasceu o soneto “Abdicação”:

ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braçosE chama-me teu filho... eu sou um reique voluntariamente abandoneiO meu trono de sonhos e cansaços.Minha espada, pesada a braços lassos,Em mão viris e calmas entreguei;E meu ceptro e coroa - eu os deixeiNa antecâmara, feitos em pedaçosMinha cota de malha, tão inútil,Minhas esporas de um tinir tão fútil,Deixei-as pela fria escadaria.Despi a realeza, corpo e alma,E regressei à noite antiga e calmaComo a paisagem ao morrer do dia.

Fernando Pessoa, 1913

Triste e calmo é o poema como a tristeza de Pessoa, que é uma tristeza de solidão, de abandono, de quem deixa de resistir: eis a razão do título do poema, abdicação. Quem abdica desiste voluntariamente, não é forçado a fazê-lo, e ele abdica da vida para que a noite/morte o aceite . Mais vale ser plenamente nada na noite/morte do que nada na vida. Mas nem só de trovoadas é que tinha medo!Não gostava dos uivos dos cães por considerar que não agoiravam nada de bom. Era também muito supersti-cioso em relação às datas de nascimento!A sua superstição levou-o a faltar a compromissos importantes.Certa noite, em 1934, Cecília Meireles quis conhecer Pessoa marcando com ele um encontro, provavelmen-te no café «A Brasileira», no Chiado, mas o poeta não apareceu. Após duas horas de espera, o marido acon-selhou-a a desistir:“- Vamos, Cecília, ele não virá! – Podemos aguardar um pouco mais, quem sabe ocor-reu um imprevisto... – Não, é perda de tempo. Eu o conheço bem. Se não veio até agora, não vem mais.”Mais tarde, o poeta terá justificado a sua falta da com-parência com o facto de, segundo o seu horóscopo, os dois não deverem encontrar-se naquele dia!Cecília, numa carta a Armando Cortes Rodrigues, es-crita em 1944, terá declarado: ‘Como lamento não o ter conhecido!’ E, mais tarde, numa crónica, ter-se-á dirigido ao próprio Pessoa nestes termos: “ tu preferes a penumbra dos cafés sonolentos, em cujas mesas to-dos os poetas da Lusitânia fincam algum dia o cotovelo e, fronte apoiada ao punho, criam aqueles sonhos que eles mesmos não governam’”.

O seu bebezinho

E no amor? Será que a sua relação amorosa com Ophe-linha era perturbada pela superstição? Era.Ophelia Queiroz nasceu a 14 de junho e ele a 13 do mesmo mês. Tal não era a sua superstição, que o poe-ta comprazia-se com o facto de não terem nascido no mesmo dia porque, segundo afirmava, nos casos em que assim era, os casais não eram felizes. Hoje, crê-se que se referia ao casamento entre o rei D. Carlos e a rainha D. Amélia.A relação que mantinha com ela era muito suis generis. Imaginemo-nos a espiar o poeta na Calçada da Estrela, perto do Rato, em Lisboa, fitando “o seu bebezinho” e surpreendamo-nos com o seu diálogo:- “O teu amor por mim é tão grande como aquela árvore.”- “Mas não está ali árvore nenhuma!”- “Por isso mesmo.”E ciúmes? Sentiria ele ciúmes? Ouçamo-los mais uma vez:-“Hoje pela primeira vez tive ciúmes dos olhos do meu primo.- Porquê?- Porque eles viram-te e eu não te vi.”E Ophélia, que pensava ela desta relação?Ele era o poeta que a mimava com as suas fantasias e ela colaborava e jogava este jogo de sedução que en-tretinha os dois.

O poeta e a sociedade

A relação com a sociedade da época era também ela muito peculiar. Não o incomodava nada o facto de o julgarem, de o discriminarem, de o tomarem por louco ou ébrio. Era comum Fernando Pessoa suspender o seu traba-lho, agarrar no chapéu, ajustar os óculos e sair para ir ao «Abel» tomar uma cálice de aguardente, o que le-vou um seu colega de trabalho Luiz Pedro Moitinho de Almeida a comentar:- “Você aguenta como uma esponja!”Ao que Pessoa respondeu: “Como uma esponja? Como uma loja de esponjas, com armazém anexo”.Alcoólico ou não, o certo é que os seus manuscritos não apresentam indícios de efeitos de alcoolismo. A sua indiferença em relação à sociedade do seu tem-po não era, contudo, total.Certo dia, Luiz de Montavor, editor e colaborador da revista Orpheu, confrontou-o com a sua indiferença relativamente ao que a sociedade dizia a seu respeito afirmando:-“Ó Fernando, é um crime você continuar ignorado!”Resposta do poeta: “Deixem estar, que, quando eu morrer, ficam cá caixotes cheios”.Nem mais nem menos.Com efeito, herdámos muitos caixotes cheios de obras de toda a espécie e para todos os gostos!

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10 ∙ Leitura sem dogmas

Reportagem

Alunos dizem não à solidão

Onze alunos da nossa escola, a saber: Jéssica Resen-de (porta-voz), Luís Pacheco (técnico informático), Ana Catarina Teixeira, Artur Moutinho, Catarina Pinheiro, Diogo Fernandes, João Freitas, Juliana Vera Pereira, Pedro Ferreira, do 8º C, e Bárbara Neves, do 10º K, que integrou a Mesa da Assembleia, participaram na terceira edição da Assembleia Municipal de Crianças e Jovens de Gondomar, que teve lugar no Salão da As-sembleia Municipal da Câmara de Gondomar, na qual se discutiu o tema “Voluntariado Jovem”. Durante algumas horas, foram apresentadas, discuti-das e aprovadas várias moções por mais de meia cen-tena de alunos de oito escolas do 3º ciclo do ensino básico do Concelho. A ESRT, através dos seus representantes, fez saber que os seus alunos se preocupam com os mais ve-lhos, como consta do projeto apresentado e que pas-samos a transcrever:

“CONTRA A SOLIDÃO… SÊ VOLUNTÁRIO!

INTRODUÇÃO

Todos sabemos – e vemos – que o meio urbano, aquele em que vivemos, ao gerar diferentes dinâmi-cas de relacionamento entre os indivíduos, tende a marginalizar os mais fracos e desfavorecidos, incapa-zes de manter o seu ritmo e a apagá-los, retirando--lhes qualquer visibilidade social. Envelhecer na cidade é arriscar-se a acabar os seus dias em plena SOLIDÃO. Os idosos já não ocupam o lugar que tinham no passado. Perderam direitos, no-meadamente ao respeito. Têm experiência mas são ultrapassados pelos jovens que dominam conheci-mentos a que eles não tiveram acesso.Os filhos não têm hoje possibilidade de tomar a seu cargo os pais idosos, com a agravante de que, na cida-de, existe frequentemente o problema do alojamento. Para muitos idosos, as redes sociais de apoio são frá-

geis e o suporte familiar insuficiente, ou mesmo per-turbador. A intervenção do Estado e Autarquias, nas suas vidas, limita-se com frequência à criação de um espaço residencial que não reflete as necessidades e valores das pessoas a que se destinam.

AÇÃO

É junto dos idosos que os representantes da ESRT que-rem entrar em AÇÃO, propondo a criação de Grupos de Voluntários no Concelho com o objetivo primordial, mas não exclusiva, de combater a SOLIDÃO dos idosos.

Considerando que• há cada vez mais jovens desempregados no país,• os empregadores com frequência EXIGEM experi-ência para admitirem novos colaboradores,• aos jovens candidatos não é facultada experiência porque só podem candidatar-se se a tiverem,

PROPOMOS QUE:

Se criem no Concelho grupos heterogéneos de volun-tários, incentivando, sobretudo jovens desemprega-dos, que os queiram integrar, o que lhes vai facultar um elevado leque de aprendizagens, a saber:

• conviver com a diferença;• comunicar;• interagir;• decidir em grupo;• zelar pela saúde;• cuidar do ambiente;• valorizar o saber social,

os quais deverão passar a integrar o Currículo Vitae de cada um, contando assim como experiência a ser exibida no ato de candidatura a um emprego.Com este projeto, os alunos da Escola Secundária de Rio Tinto esperam estar a contribuir para um mundo novo no Concelho.”

A Assembleia contou com a presença da Presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Gondomar, Dra. Otília Paula Castro, do Dr. Matias Al-ves, Presidente da Assembleia Municipal de Gondo-mar, da deputada da Assembleia da República, Dra. Margarida Almeida, do Major Valentim Loureiro, em representação da Câmara, do Dr. Fernando Paulo, Ve-reador do Pelouro da Educação, que se encarregaram de dar as boas-vindas aos participantes, de diretores de Agrupamentos de Escolas de Gondomar, professo-res e outros convidados.No final da Sessão, a todos os participantes foi entre-gue um diploma, um prémio de participação, uma pen oferecida pela C.M. de Gondomar e a promessa de uma visita à Assembleia da República, em data a designar.Terminada a sessão, era manifesto em cada rosto, em cada palavra, o sentimento do dever cumprido.

Luís Pacheco, Jéssica Resende 8ºC e Liliana Pires, técnica superiora da CMG

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Leitura sem dogmas ∙ 11

Artigo de Apreciação CríticaPedro Silva 10ºA

«A Turma» é um filme de Laurent Cantet com o objetivo de retratar as tensões de uma escola de um bairro muito problemático de Paris.Na minha opinião, o filme retratou muito bem o que se vive hoje na escola. Aborda te-mas desde a educação ao desagrado de muitos pais ao sentirem que os filhos estão des-cuidados, as polémicas que se geram, a difícil integração de alguns alunos nos diferentes meios e, principalmente, a forma interessante como os professores avaliam os alunos.Em relação à educação, observam-se algumas atitudes agressivas perante outros colegas na sala de aula e também o desrespeito da maior parte dos alunos perante o professor.Achei interessantes as reuniões individuais com os responsáveis de cada aluno em que o diretor de turma acaba por estabelecer uma relação mais aberta com cada um dos encarregados de educação para lutar, lado a lado, pelo mesmo objetivo.Percebe-se também uma certa tensão gera-da entre os alunos na sala de aula não acei-tando as opiniões de outros colegas, perante certos assuntos, nomeadamente o futebol e, por fim, a avaliação que os professores fa-zem de cada aluno em que discutem o que o aluno fez de bem, onde pode melhorar e felicitam os alunos ou encorajam–nos a me-lhorar o seu desempenho escolar.Penso que este filme serve de exemplo a to-dos nós e deve ser, assim, um meio de refle-xão acerca da educação em Portugal

RedesSociaisamor ou ódio?Por Djanira Só e Ana Oliveira 11ºL

Não há como negar que a tecnologia trouxe um grande avanço para a vida das pessoas e, claro, 2010 foi o ano das redes sociais!Estas tornaram-se uma forma de socialização das pes-soas e do mundo. Fazem parte do nosso quotidiano, tornando-se numa forma de comunicação e expressão. Através das redes sociais podem ser divulgados traba-lhos artesanais, vídeos, propostas de trabalhos, músi-cas; pode fazer-se troca de impressões sobre diferen-tes culturas, experiências e de opiniões; as mesmas redes sociais podem até proporcionar encontros entre amigos e familiares. Podem ser usadas na promoção de uma empresa, na aproximação de um político aos seus eleitores ou de um pastor aos seus fiéis. As redes sociais ainda podem desempenhar uma função solidá-ria através da dinamização de campanhas de doação de medula óssea, por exemplo, ou de recolha de ali-mentos para quem deles mais precisa.Apesar de todas as vantagens anteriormente referi-

das, as redes sociais apresentam desvantagens, fazen-do a exposição das nossas preferências e costumes, contribuindo para o aumento de crimes virtuais e per-mitindo o acesso a informações pessoais e fotografias para sítios mal intencionados. Com as redes sociais, ainda estamos sujeitos a ser rou-bados por um hacker e/ou a ver o nosso nome asso-ciado a falsas mensagens. Ainda podemos ser vítimas de mensagens ofensivas e desrespeitosas, mas a pior desvantagem é a dependência que as pessoas criam em relação às redes sociais e a falta de noção entre o mundo real e o mundo virtual.Quer as amemos, quer as odiemos, elas vão continuar a conviver connosco. Assim sendo, vamos pugnar para que sejam utilizadas da melhor forma.

É Triste Isto!Ana Paula França 11ºB

“Apesar da latente e preocupante crise de valores, as pessoas depositam a maior parte da sua preocupa-ção na crise económica, deixando a crise de valores em segundo plano. Mas em que nos transformare-mos nós, sem qualquer valor moral? Em que nos transformaremos nós, sem qualquer noção de como agir de acordo com o local onde nos encontramos? Não sei em que nos transformaremos, sei apenas que vai chegar o dia em que aqueles que se comportam e falam corretamente vão ser excluídos da dita “so-ciedade” apesar de serem estes os que deviam ser seguidos. É triste isto!A revista portuguesa “Mostra a perna que a crise não é eterna” em exibição desde o dia 17 de dezembro no teatro Sá da Bandeira, faz referência ao facto de a crise económica não ser (provavelmente) algo eter-no, vai ter um fim, tal como tiveram todas as outras… Mas já a crise de valores, com muita pena minha, é provavelmente eterna, nunca deixou de existir, e cada vez são mais visíveis as suas consequências. Será que ser pobre é desculpa suficiente para não ser bem formado e ter educação suficiente para se saber comportar?! Não, não é! É pena que as pessoas ainda não se tenham apercebido de tal coisa… Comecemos nós por fazer algo, vamos mudar mentalidades e for-mas de ser, vamos lutar pelo fim desta crise de valo-res com tanta ou ainda mais força como lutamos pelo fim da crise económica!

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12 ∙ Leitura sem dogmas

CronicandoCrise Económica Crise de ValoresVasco Paz-Seixas, técnico superior

Podia ser de outra maneira!?... É certo que podia! “Po-bres”, mas bem formados! Em vez disso, a crise económica apenas se vem juntar à já latente crise de valores, que se repercute na lin-guagem, no vestuário e nos comportamentos sociais em geral, muito, muito deficitários!Podia ser de outra maneira!?... É certo que podia e de-veria ser de outra maneira….Mas, eis o que os seguintes pensadores acham sobre o tema:

Beatriz Nunes 10ºD

CRISE DE HOJE OU DE SEMPRE?“Todos os dias nos vemos rodeados de imensas notícias, mensagens, anúncios, avisos, cartazes, relatos, debates, vivemos a nossa vida submersos em papéis, gráficos e estudos, todos eles com uma única mensagem: a che-gada da crise, a necessidade de começar a mudança, as dificuldades e o sofrimento que tudo isso nos trará.Mas, será realmente esse o nosso maior problema? Qual a verdadeira origem dessa crise de que todos fa-lam e que ninguém compreende, que todos temem e ninguém evita? Tempos difíceis se aproximam é o boato verídico que corre pelas bocas do mundo. Tempos difíceis dizem eles, tempos difíceis pensamos nós, porém podere-mos dizer que a nossa vida até agora tem SEMPRE sido fácil? Será apenas contra esta nova, ou melhor, recentemente descoberta preocupação com a crise económica que temos de lutar?A verdade é que a crise económica começou por vá-rias razões, erros, pressupostos incorretos, ocultações, medidas mal planeadas, corrupções desmedidas, e to-das elas apontam para um único facto indiscutível, no entanto tantas vezes desprezado, ocultado e deixado de lado, a existência de uma falta de civismo, respon-sabilidade, ética, consciência e correção moral a toda

a prova. E não são só aqueles que falharam nessas medidas os culpados, todos nós o somos e a

cada dia o pioramos, olhamos ao nosso redor e é impossível não repararmos, vermo-

-nos refletidos no espelho e é inadmis-sível não reconhecermos, nós somos a

verdadeira causa desta crise, todos nós. Pior do que isso, estamos a torná-la a cada dia

em algo muito

mais alarmante, um ponto sem retorno está prestes a ser atingido. Mais do que a crise económica que assola o mundo o que realmente assombra a nossa sociedade, bem à vista dos nossos olhos, é uma enor-me, inaceitável, intolerável e praticamente irremedi-ável crise de valores.Quem somos nós para destruir aquilo que outros para nós criaram? Quem somos nós para permitir que tal aconteça? Não é a principal e básica neces-sidade essencial, o mais importante dever humano, saber viver em sociedade, respeitar as leis e normas, ter e transmitir os valores morais corretos e praticá--los sempre? Por vezes, parece que esquecemos tudo isso, desligamo-nos do mundo à nossa volta, das pessoas que nos rodeiam, ultrapassamos os limites, excedemo-nos nas lacunas e, no fim, quando damos conta, já não há praticamente nada a fazer, atingimos o ponto sem retorno.Há algo que é necessário que tenhamos consciência, todos nós falhamos, todos nós temos atitudes menos corretas, todos nós contribuímos um pouco para a in-disciplina geral latente e, exatamente por isso, todos nós somos os culpados, todos nós temos de ter a ca-pacidade de o reconhecer e a força para o alterar. Per-guntem-se a vós próprios, que espécie de mundo pre-tendemos criar? Um mundo de falsidades, um mundo de perigos, um mundo de desordem e de caos? É esse o mundo em que queremos viver? É esse o mundo em que queremos crescer? Há algo que é essencial estar sempre presente nas nossas mentes, a cada ação, em cada palavra, em cada gesto, o amanhã é o futuro e nós somos o amanhã. O futuro será construído pelas nos-sas ações presentes, a geração que terá de enfrentar as consequências dos problemas que agora devastam o mundo é a nossa, apenas com força de vontade se-remos capazes de o fazer, apenas alterando as nossas atitudes seremos capazes de comprovar, comprovar que também nós temos palavras a dizer, que também nós sabemos agir e que também nós devemos ser ti-dos em conta, porque este mundo também é nosso e um dia estará nas nossas mãos. Porém não basta existirmos para termos direito a viver em sociedade, é necessário merecê-lo e para isso é essencial sermos capazes de crescer, de refletir, de reparar naquilo que se passa e de agir em prol da mudança pois esta só começará quando nós formos os primeiros a mudar.“Poderia ser de outra maneira?” Todos nós sabemos a resposta a esta pergunta mesmo que não queiramos admitir. Podia e devia e apenas nós temos o poder para garantir que seja. Há quem diga que todo o mal infligido mais cedo ou mais tarde regressa ao executor, pois bem, parece que todas as negligências também. Somos nós que planeamos o nosso futuro, somos nós que garantimos o nosso presente e somos nós que te-mos a responsabilidade pelo nosso passado. Em que mundo queremos que o nosso se torne? É nossa a decisão.”

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Leitura sem dogmas ∙ 13

A palavra de ordem é

CRISEAndreia Lopes 12ºD

“A palavra de ordem é CRISE. Todas as nossas decisões, hoje em dia, giram à volta deste simples(?) vocábulo de cinco letras. E como ele conseguiu, já modificar, em gran-de escala, a nossa vida!...Todos os dias, os mais diversos meios de comunicação nos informam de mais cortes, mais desemprego, inun-dando-nos de uma crescente preocupação. Ou é o se-nhor Primeiro Ministro que anuncia o aumento do IVA – e nós associamo-lo à crise – ou é o senhor deputado do partido X que critica os cortes nas comparticipações do Estado – e nós compreendemos que é necessário por-que vivemos em crise – ou então somos nós que somos confrontados com mais um posto de trabalho a fechar, aumentanto assim a taxa de desemprego – mas, nós, au-tomaticamente, damos a desculpa da crise.O único problema aqui é que, quando falamos em cri-se, apenas nos referimos à crise económica, associan-do todas as “desgraças” que estão a acontecer à falta de dinheiro. Mas o que está mais em falta, no nosso país, não é o dinheiro, são os valores morais. E foi a falta destes que originou a crise económica em que atualmente vivemos.“É tarde para a economia quando a bolsa está vazia”, já dizia o povo português, o mesmo povo que se habituou a gastar acima das suas possiblidades, a viver em função da aparência, a comprar o que não pode pagar, a chegar a meio do mês com o bolso vazio. Contraem-se emprés-timos, quando se quer ir de férias, desviam-se dinheiros do povo para saldar contas privadas… Onde estão os va-lores dos portugueses? Onde está o antigo “no poupar é que está o ganho” e “grão a grão, enche a galinha o papo”, e o comprar apenas o essencial, como nos ensi-naram os nossos avós?As pessoas têm vindo a aproveitar-se umas das outras, tentando deitar os outros abaixo, passar por cima deles, explorá-los, e por isso é que estamos em crise. E, já que aqui chegámos, porque não aproveitarmo-nos também disso? Damos a desculpa da crise económica para tudo, mas não é devido a esta crise que vivemos neste estado, é por causa de nós próprios.A crise económica tão mediatizada é apenas um modo de nos distraírem da verdadeira crise – a crise de va-lores morais. É esta que impera, e que nos compete a nós travar. Teremos algum resquício de moral para combatê-la?”

Djanira Só 11º L

“ Sempre que se fala em crise económica e crise de valo-res, eu pergunto-me:- Será que foi a crise económica que deu origem à crise de valores ou se foi a crise de valores que deu origem à crise económica em que o mundo se encontra mergulha-do, mas não consigo encontrar a resposta.Mas, depois de tanto penbsar, chego à conclusãoo de que ambas são vítimas uma da outra, independente-

mente das suas origens, mas com uma pequena diferen-ça, uma é mais velha que a outra. A mais velha já existe desde o início da humanidade e a outra só nasceu no momento em que o Homem descobriu a importância daquele simples papel chamado dinheiro. Atualmenmte, a crise de valores é bem mais visível do que nunca, com os jovens que começam a fumar e a beber com onze, doze anos, como costumo dizer, antes de se tornarem gente, e a vestirem-se como se de vagabundos se tratas-se. Mas, por sua vez, a crise de valores acelera o proces-so, que já é rápido, com o aumento de assaltos, burlas, assassinatos por encomenda.Mas, nenhuma crise económica justifica a desvaloriza-ção dos nossos valores.” Soraia Pires 10ºM

“O nosso país está agora a atravessar a tão anunciada “maior crise de todos os tempos”.Nos telejornais, ouvimos falar de recessão, balança eco-nómica deficitária, mais medidas de austeridade, cortes aqui, cortes ali… Os media, em Portugal, debruçaram-se completa e (quase) exclusivamente sobre o estado da economia portuguesa em contínua queda…Mas, então, e a outra faceta da crise de que ninguém quer falar? Os comportamentos dos nossos jovens es-tão cada vez mais deficitários! Porém, é claro que não os podemos culpar (só) a eles e muito menos à escola. A linguagem, o vestuário, o comportamento, enfim, a edu-cação têm de vir de casa, dos pais!Estamos perante uma geração – ou parte dela – que não conhece limites nem regras.O problema é que se isto terminasse aqui, a situação resolvia-se em algumas décadas.Infelizmente, estamos a entrar numa espiral recessi-va que vai resultar numa população sem economias nem formação.”

Diogo Ferreira 10ºA

“A meu ver, a crise económica em que vivemos atual-mente condiciona a maneira como a nossa educação se desenvolve. Hoje em dia, o que mais conta é a «imagem social», pois, se um aluno que frequente o ensino priva-do já tem mais privilégios do que um aluno que frequen-te o ensino público. Em relação àquele, por exemplo, é corrente falar-se de corrupção relativamente às classifi-cações e isso é injusto para os alunos que no ensino pú-blico trabalham e se esforçam diariamente! NÓS TEMOS AS NOTAS QUE MERECEMOS! Se tivermos uma classifi-cação negativa no final do período, é isso que aparece na pauta, não é como no ensino privado em que as notas dos filhos são compradas pelos pais. CHEGA DE INJUS-TIÇA! CHEGA DE DESONESTIDADE! CHEGA DE CORRUP-ÇÃO! É que há quem pense que os alunos do ensino público não podem ser tão bons ou melhores que os do ensino privado. Mas é uma crassa mentira! Nós po-demos ser médicos, engenheiros, advogados, arquitetos, etc. podemos ser na mesma bons cidadãos, educados, responsáveis, intelectuais, cultos, entre outras coisas mais. E o facto de termos menos recursos económicos não significa que não possamos, um dia, realizar os nos-sos sonhos. Até acho que quem tem mais dinheiro, não lhe dá o devido valor e não sabe como usá-lo. Quem tem fome, dá mais valor à pouca comida que tem. Quem tem de mais, deita-a fora.”

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14 ∙ Leitura sem dogmas

EN FRANÇAIS

Autobiographie

Mário, Miguel, Catarina, Eduardo 7ºA

Je suis Nicolas Sarkozi et j´ai cinquante-six ans. Je suis français et je suis Président de la France. Je suis né le vingt-huit janvier mille neuf cents cinquante--cinq. Je suis petit, actif et important. Mon père est un immigrant hongrois et ma mère gréco-judaïque.Je suis marié avec Carla Bruni et elle a trente-quatre ans. Elle est née à Turin, en Italie. Elle est ex-manne-quin, chanteuse et la Première Dame de la France.

Echange épistolaire par courrier électroniqueEmília Reis, prof.

Les élèves de 7e A sont en train de prendre part à un échange épistolaire avec une école roumaine de la ré-gion moldave par courrier électronique parce que, avec l’aide des TICE, la correspondance devient plus facile, instantanée et moins chère. Les élèves, encadrés respectivement par leurs profes-seurs de français, Maria Emília Reis et Tatiana Petrea, ont accepté de s’engager dans un programme d’échange de correspondance visant le développement du goût d’écrire et de lire en français facile. Nous avons décidé d’introduire la correspondance scolaire dans nos classes, parce que correspondre c’est ouvrir portes et fenêtres, c’est établir le contact avec d’autres, si semblables que différents. La correspondance scolaire permet de mettre en place une pédagogie de projet, favorise une pédagogie de plus en plus fonctionnelle, participative et différenciée. Elle est un support très efficace pour l’apprentissage d’une langue, en ce cas, le français langue étrangère, parce qu’elle met les élèves en situation de communi-cation réelle. En ouvrant l’école au monde, elle favorise l’éducation à la citoyenneté, car, en correspondant avec les autres, nos élèves apprendront d’eux comment ils vivent, mais ils se pencheront aussi sur leur propre mi-lieu. On souhaite qu’ils aboutissent à nouer des relations affectives, lesquelles sont importantes à la formation de leur personnalité et à la connaissance de soi.A défaut d’échanges physiques, pour le moment, on complètera la correspondance télématique par des en-vois postaux (photos, cartes postales, documents sur la région, des vidéos… ), par courrier électronique on en-verra des présentations en powerpoint et on essayera de réaliser une vidéoconférence pour stimuler le déve-loppement du langage oral. On organisera un dossier avec tous les messages en-

voyés et reçus pour permettre une meilleure ges-tion du courrier et il restera disponible à

tous les élèves et leurs familles à tra-vers GAVETA.NET, la pen drive pri-

vée de la classe. On pourra aussi imprimer le tout, si nécessaire. Si la qualité du projet le mé-rite, on déposera une candi-dature au LABELeuropéen des langues, une initiative de la Commission Européen-ne, destinée à valoriser et

encourager les initiatives in-novantes dans l’enseignement

et l’apprentissage des langues. Ce programme récompense les

nouvelles méthodes dans le domaine de l’enseignement des langues et favorise, ain-si, les bonnes pratiques.On cherche, avant tout, à améliorer la qua-

lité de l’enseignement de la langue française.

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Andreia Lopes 12ºD

Todos os dias tentoE todas as noites falho a tentar.Acordo com vontade de serAlguém melhor, De acertar mais vezes,De deixar de errar, De agir mais ativamente eDe corresponder a tudoQuanto me pedem.E todos os dias adormeçoNa dor de não conseguir,Uma dor aguda que insiste em ficar,Uma dor tão grande que transformaEm negro tudo o que tinhaAlguma cor.E na dor tento adormecer.Mas até nisso falho.Aconchego-me Desesperadamente Na roupa da cama. Mas continuo gelada.O sangue não circula.Sinto-me desfalecer.E é nesse momento que TU me ligas.Ouço o telemóvel tocar e Penso em não atender.Mas talvez seja algo importante…Algo relutante, pego no telemóvel eCarrego no botão que me fazOuvir a tua voz.Quebras o gelo.Minha voz sai rouca,Em consequênciaDo tempo em queEsteve calada.Sinto-me aquecer.Percebes que não estou bem,Falas comigo,Ouves-me e compreendes-me.N ão discutes comigo.Não te zangas.Não me contrarias.Começa a circular.Preenches a minha cabeçaCom a melodia da tua vozE todo o negro se vaiDissipando lentamente.Fico feliz por te ter.Agrada-me poder falar contigo.Afinal, nem tudo é tão mau como parece.

Vasco Paz-Seixas, técnico superior

A neveTão delicada,Vai caindo sobre a serra.E tão pura…imaculada,Cai leve, tão devagar,Mas mesmo assimDevagar, Caiu e tão mansinho;Voou,Voou,E ao poisar,Picou-se no azevinho.E disse-lhe que era Natal,Porque nasceu um Menino.E assim, somos as rosas,Vermelhas pelos pecados,Pelo sangue derramado.Brancas, brancas,E de esperança.Num Inverno,Num Dezembro, Que para serem mais rosas,Teriam pois que ter espinhos.Rosas sagradas. Rosas profanas.Em todos os Invernos.Em todos os Dezembros, E para todos os meninos.

Momentos Poéticos

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16 ∙ Leitura sem dogmas

PassatemposTrouve les neuf différences entre les deux dessins

Vamos descobrir o percurso entre os dois pontos de entrada.

Procura, na sopa de letras, as 10 palavras relacionadas com constituintes de frase e funções sintáticas.

Ficha Técnica

Editor

Emília Reis, prof.ª

Português e Francês

Redator

Catarina Chaves 12ºI

Chefe de Reportagem

Bárbara Neves 11ºK

Repórter

Beatriz Nunes 10ºD

Ana França 11ºB

Andreia Lopes 12ºA

Pós-produção

Ana Santos, prof.ª

Informática

Fotógrafo

Daniela Freitas 11ºK

Design

Mário Freitas,

designer e prof.

Revisão

Ana Reis, arquiteta

Telefone 224893710

[email protected]