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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS CENTRO DE CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO PROJETO INFO - PRÁTICAS DE LEITURA EM LÍNGUA MATERNA E ESTRANGEIRA LEITURA E CONSTRUÇÃO DE SENTIDO INTRODUÇÃO Ler e escrever são tarefas inseparáveis da vida acadêmica. Independente da trajetória e da formação escolar, cada pessoa possui vivências, conhecimentos, expectativas que estarão presentes na construção do sentido do texto no momento da leitura. Eis por que a leitura nunca é uma tarefa totalmente acabada, mas sempre em construção. Diz-se que um leitor está em constante formação; daí a importância de um mediador, ou da ação e da intervenção mediadora do professor e de um programa que propicie a qualificação das habilidades de leitura indispensáveis à vida acadêmica e à vida em sociedade. No processo de leitura, mais importante que reter as informações através de exercícios de leitura e de escrita (esquemas, resumos, questionários) é poder desenvolver uma autonomia em identificar estratégias de leitura que permitam a busca de novas informações nas áreas que compõem o cotidiano acadêmico e do mundo. É fundamental identificar estratégias de leitura e de procedimentos de que o leitor faz uso para construir o sentido de um texto, uma vez que é graças à interação entre o conhecimento apresentado no texto e o conhecimento de mundo armazenado na memória dos interlocutores que o sentido se constrói (Beaugrande e Dressler, 1997).

Leitura e Construcao Do Sentido 1

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LEITURA:

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

CENTRO DE CINCIA DA COMUNICAO

PROJETO INFO - PRTICAS DE LEITURA EM LNGUA MATERNA E ESTRANGEIRA

LEITURA E CONSTRUO DE SENTIDO

INTRODUO

Ler e escrever so tarefas inseparveis da vida acadmica. Independente da trajetria e da formao escolar, cada pessoa possui vivncias, conhecimentos, expectativas que estaro presentes na construo do sentido do texto no momento da leitura. Eis por que a leitura nunca uma tarefa totalmente acabada, mas sempre em construo. Diz-se que um leitor est em constante formao; da a importncia de um mediador, ou da ao e da interveno mediadora do professor e de um programa que propicie a qualificao das habilidades de leitura indispensveis vida acadmica e vida em sociedade.

No processo de leitura, mais importante que reter as informaes atravs de exerccios de leitura e de escrita (esquemas, resumos, questionrios) poder desenvolver uma autonomia em identificar estratgias de leitura que permitam a busca de novas informaes nas reas que compem o cotidiano acadmico e do mundo.

fundamental identificar estratgias de leitura e de procedimentos de que o leitor faz uso para construir o sentido de um texto, uma vez que graas interao entre o conhecimento apresentado no texto e o conhecimento de mundo armazenado na memria dos interlocutores que o sentido se constri (Beaugrande e Dressler, 1997).

1 Algumas consideraes de Marcuschi

Marcuschi (1984), em artigo sobre a leitura como processo inferencial, compartilhando da posio de K.S. Goodman (1967), no aceita a tese de que a leitura seja um processo preciso envolvendo uma percepo exata, detalhada e seqencial das estruturas sintticas, proposies e outros elementos do texto. A leitura, para ele, um processo de seleo que ocorre num jogo com avanos de predies e de recuos que vai progredir em pequenos blocos sem produzir uma compreenso definitiva. um ato de interao comunicativa entre leitor e autor. No mesmo artigo, Marcuschi tenta mostrar como o contexto sciocultural, os conhecimentos de mundo, as experincias e as crenas individuais influenciam na organizao das inferncias durante a leitura. Tambm os conhecimentos individuais afetam a compreenso, pois o sentido no reside no texto, embora ele permanea como ponto de partida. A interao com o leitor a chave para que um texto se torne uma unidade de sentido.

Assim, o autor enfatiza a funo dinmica da memria de um indivduo, capaz de rever os esquemas , frames scrips ativados pelos conhecimentos individuais, refazer as hipteses de leitura e reorientar a compreenso de um texto, aplicando regras de restrio a determinados eventos ou sentidos no aceitveis. Partindo da noo de contexto de situao , introduz a noo de contexto cognitivo e deriva o princpio de contextualizao cognitiva. Por contexto cognitivo, entende o horizonte scio-poltico-cultural do indivduo, "a partir do qual se d a organizao tanto das percepes e sua elaborao para o processamento cognitivo das informaes e compreenso textual."

1.1 O texto

Para o autor, o texto, unidade de sentido, uma espcie de estmulo intermedirio entre o autor e o leitor, ambos com conhecimentos de mundo e de sistemas de referncia prprios. Como um texto apresenta muitas informaes implcitas, um leitor competente dever no s perceber as intenes do autor, mas tambm situ-lo em seu mundo de referncia composto pelos conhecimento prvio, crenas, atitudes. Tambm as expresses lingsticas podem ser compostas de foras ilocucionais no-dicionarizadas, exigindo do leitor a composio de sentido a partir do contexto de enunciao.

1.2 A noo de inferncia

Essa noo tomada como operao cognitiva, permitindo ao leitor construir novas proposies a partir de outras j dadas. necessrio que as proposies dadas e as inferidas mantenham relaes passveis de identificao.

O produto da inferncia pode variar de indivduo para indivduo, uma vez que elas ativam, alm do conhecimento lexical, as estruturas cognitivas formada pelos conhecimentos prvios do indivduo, crenas, circunstncias em que o texto lido e conhecimento das leis do discurso, determinando a produo da compreenso.

1.3 Princpio de economia lingstica

O princpio de economia lingstica um dos responsveis por operaes cognitivas na leitura de um texto. Segundo Marcuschi, o texto, em geral, formado por lacunas que vo sendo preenchidas por elos de ligao inseridos como pressuposies ou relaes organizadas por redes lexicais e conceituais. O preenchimentos das lacunas tem o objetivo de tornar explcito o que est implcito semanticamente na imanncia de proposies ou itens lexicais.

2 A leitura

2.1 A leitura indireta e direta

Leitura indireta a leitura de decifrao, etapa obrigatria na alfabetizao, quando a escrita o suporte necessrio alfabetizao. A leitura direta, tambm leitura adulta, est para a globalidade do texto em que o leitor dispensa a identificao linear dos termos ou proposies. Na prtica, o leitor pode proceder a uma leitura rpida ou seletiva ou integral. Na leitura rpida ou seletiva, o leitor capta em diversos pontos elementos do texto que o ajudam a estabelecer hipteses sobre o tema, as quais sero ou confirmadas ou no durante a leitura. A leitura integral mais ou menos linear, variando em velocidade segundo o tipo de texto e a capacidade de apreenso do leitor.

2.2 ndices de leitura

Na leitura em que o leitor busca a globalidade do texto, alguns ndices podem ajudar a melhor perceber o tipo de texto, o assunto e a inteno ou intenes do autor. Tambm permite ao leitor inferir que atos de fala permeiam o texto. Os ndices, segundo Moirand (1979) podem ser formais, temticos e enunciativos.

2.2.1 ndices formais

Os ndices formais referem-se aos aspectos icnicos como tipografia, pontuao, esquemas, ilustraes, entre outros, e aos aspectos sinttico-semnticos que correspondem arquitetura do discurso como: articuladores retricos e lgicos, anafricos, repeties. Somente os aspectos relacionados aos ndices formais no so suficientes para a compreenso global de um texto, mas ajudam na leitura de textos mais longos e devem estar relacionados aos ndices temticos e enunciativos.

2.2.2 ndices temticos

Os ndices temticos permitem a reconstruo do sentido que o leitor pode efetuar. Alm de identific-los, o leitor dever orden-los de acordo com informaes extralingsticas. Isso pode ser feito atravs de palavras-chave ou palavras-tema. Em textos como relatos as perguntas quem?, o qu?, quando? onde? ajudam na identificao dos ndices. a partir de sua identificao que os temas e subtemas podem ser localizados no texto.

2.2.3 ndices enunciativos

Os ndices enunciativos relacionam-se com as dimenses e situaes pragmticas. Identificar quem escreve, para quem, onde e quando so elementos importantes para esclarecer a distncia ou proximidade que o autor procura estabelecer com seus leitores. Alm disso, possvel perceber modalidades que evidenciam a relao do autor com seu prprio enunciado. So as modalidades apreciativas que revelam algum julgamento, opinio ou apreciao do autor. So utilizados para isso adjetivos, substantivos, advrbios, verbos, recursos tipogrficos. Alm das apreciativas, tambm h as modalidades lgicas que esto relacionadas ao certo e no-certo, necessrio e no-necessrio, manifestas atravs de expresses verbais e adverbiais.

3 Conhecimento de mundo

Para que um leitor compreenda satisfatoriamente o sentido global de um texto, no basta que ele reconhea e entenda o sentido de todas as palavras ou das proposies, ou seja, no basta o domnio lingstico. Um fator que deve ser considerado o conhecimento de mundo, ou conhecimento prvio, que todo leitor possui e est armazenado em sua memria. Este conhecimento em interao com texto ativado atravs de frames, esquemas, scripts, planos, ou seja atravs da estrutura cognitiva. Esse conhecimento est relacionado com a cultura, tradio, nacionalidade, crenas e pode variar de leitor para leitor, determinando o conhecimento ou desconhecimento sobre determinado assunto.Marcuschi, Luiz Antnio. Leitura como processo inferencial num universo cultural-cognitivo. (1984) Texto em fotocpia.

Marcuschi (op.cit)

MOIRAND, Sophie. Situation dccrit. Comprhensio, production en franais langue trangre. Paris: CLE: International,

PAGE \# "'Pgina: '#''" O papel de mediador pode ser do professor ou no. Importa que nessa ao, alguns modelos, estratgias de leitura sejam fornecidos ao leitor para ajud-lo no processo de compreenso. Cabe ao mediador, por exemplo, fornecer modelos de estratgias de leitura, fazendo perguntas, comentrios, intervenes, lanando hipteses de leitura.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Ler uma atividade cognitiva (Kleiman, 1996, pg. 12), individual, subjetiva. Quando se realiza sem a mediao de um professor ou de outra pessoas, possvel dizer que ocorre a autonomia, a independncia do leitor e o domnio de estratgias e habilidades.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Estratgias de leitura so operaes regulares para abordar um texto. As estratgias podem ser organizadas a partir da compreenso do texto, das perguntas sobre o texto, das parfrases, resumos, hipteses; de como o leitor manuseia o texto, se apenas passa os olhos, se rabisca, sublinha, destaca palavras, assinala na margem.

PAGE \# "'Pgina: '#''" A interao leitor-texto tem por base no apenas competncias comunicativa dos leitores como tambm seus sistemas de crenas que influenciam e so influenciadas por variveis de desempenho. Sistemas de crenas talvez sejam melhor entendidos como sistemas de valores (...) crenas ideolgicas, religiosas, filosficas e pontos de vista cientficos. (Cavalcanti, 1989, p. 45)

PAGE \# "'Pgina: '#''" Interlocutor aqui entendido como o leitor do texto. denominado de interlocutor, porque se admite que o texto possua um enunciador, um locutor que prope algo ao leitor.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Luiz Antnio Marcuschi natural de Iju, RS, e atualmente trabalha na Universidade Federal de Pernambuco, onde professor do curso de Ps-Graduao em Lingstica. Pesquisador dedicado rea do texto e do discurso, tem diversos trabalhos publicados e inmeras participaes em Congressos.

PAGE \# "'Pgina: '#''" A organizao da frase determinada pela relao entre seus componentes, identificados como sintagmas. Assim, na manchete de Veja, 22 de novembro de 2000 Um desafio espera o novo presidente americano, a estrutura sinttica da frase apresenta dois constituintes imediatos um desafio e espera o novo presidente que mantm entre si relaes de dependncia e ordem, pois no seria possvel reorganizar o primeiro sintagma em presidente um. Alm disso, a frase mantm entre os dois elementos uma relao de sentido que s ocorre nessa estrutura e nessa ordem.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Proposies so declaraes, afirmaes, no conceito mais amplo da lgica.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Refere-se organizao hierrquica abstrata de conhecimento na memria.

PAGE \# "'Pgina: '#''" O termo frame originrio da Cincia Cognitiva atravs do trabalho de Minsky (1975). Explica que a compreenso na leitura ocorre com base em um conhecimento prvio.

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PAGE \# "'Pgina: '#''" o contexto da situao de comunicao.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Indica qual a finalidade do enunciado, que tipo de ao realiza. Por exemplo, o enunciado A porta est aberta? uma pergunta que pode ter a fora ilocutria de uma ordem. A fora ilocutria no est dicionarizada e a expresso de uma inteno que deve ser compreendida pelo interlocutor para que o ato de fala se realize.

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PAGE \# "'Pgina: '#''" Segundo Jocelyne Giasson (1990, p. 92), citando Cunningham, produzir inferncias a partir de um texto compreend-lo alm de seu sentido literal. Uma resposta literal quando equivalente ou sinnima de uma parte do texto, demonstrado a partir da gramtica, da sintaxe e do conhecimento das relaes de sinonmia. Trata-se de inferncia, quando no se pode provar por meio da gramtica a equivalncia entre os elementos. Por exemplo:

Texto: Meus vizinhos compraram um carro novo.

Resposta: Meus vizinhos adquiriram um carro novo.

Tipo de compreenso: compreenso literal

Trata-se aqui de um exemplo de compreenso literal porque os termos compraram e adquiriram podem ser considerados sinnimos.

Texto: Meus vizinhos compraram um carro novo.

Resposta: Meus vizinhos compraram um Gol zero.

Tipo de compreenso: compreenso inferencial

Neste exemplo, o texto e a resposta no so sinnimas, isto , no se pode provar atravs da gramtica nem da sintaxe que estas duas frases so equivalentes. Assim, Gol zero uma informao suplementar a carro novo; uma inferncia.

PAGE \# "'Pgina: '#''" So declaraes, afirmaes. Termo da lgica.

PAGE \# "'Pgina: '#''" A compreenso que vai alm da compreenso literal limitada pelas regras sintticas e de sinonmia.

PAGE \# "'Pgina: '#''" A pressuposio est marcada no sistema lingstico e permite recuperarmos determinado enunciado que no necessariamente tenha sido expresso. Por exemplo: na afirmao Ele no bate mais na mulher negar que ele no bate mais na mulher afirmar que ele batia na mulher. Assim, o pressuposto aquilo que no foi dito, mas que est contido no prprio enunciado.

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PAGE \# "'Pgina: '#''" Em sentido amplo, estabelecer hiptese apontar possibilidades de compreenso de leitura que um texto pode sugerir a partir de determinados ndices. Olhar para um texto de jornal, em determinada seo com determinados ndices pode permitir o levantamento de possibilidades de compreenso sobre o assunto ou tema do texto, bem como de seu teor textual que sero confirmadas ou refutadas durante a leitura.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Na teoria dos atos de fala, falar executar atos como: fazer afirmaes, dar ordens, fazer perguntas, fazer promessas (Searle, 1988,p.26). Mas devemos entender que, muitas vezes, dizer algo no significa a realizao de um ato. Por exemplo: dizer Aceito... no significa realizar o ato de casar-se. Para que o ato se realize necessrio, no casamento cristo, que a pessoa esteja diante de um juiz, e que no seja casada com algum que ainda vive e de quem no se divorciou. Para outros atos de fala como Eu prometo... necessrio que a pessoas tenha determinada inteno de cumprir com a palavra.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Articuladores lgicos estabelecem relaes de causalidade, condio, restrio e adio. Na proposio Ele passou no vestibular porque estudou h uma relao de causalidade evidenciada pelo articulador porque, em que a a proposio estudou muito aparece relacionada causa de ele ter passado no vestibular.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Anafricos so os elementos do texto que permitem a recuperao de termos ou expresses que foram mencionadas. No enunciado Encontrei-o bem O pronome o tem uma funo anafrica, pois recupera algo que j deve ter sido mencionado.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Dizem respeito ao assunto do texto, do tema, a sua macroestrutura.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Estes ndices dizem respeito ao enunciador do texto e como ele se manifesta no texto, se atravs da primeira pessoa eu ou atravs de terceira pessoa, dando um efeito de impessoalidade ao texto. Entenda-se que o enunciador no o autor, este de carne e osso, mas a pessoa do discurso.

PAGE \# "'Pgina: '#''" Situaes pragmticas so situaes de comunicao.

PAGE \# "'Pgina: '#''" So as modalidades que expressam relaes de causalidade, condio, restrio adio.