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1 Biblioteca Escolar | Semana da Leitura | Diversidade, género e cidadania: «educar no humano»
Dar a Ver | Dar a
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS GIL VICENTE
BIBLIOTECA ESCOLAR
LEITURAS EM SIMULTÂNEO
No âmbito da Semana da Leitura e do Projeto Dar a Ver, Dar a Ler+, vai decorrer a terceira edição das «Leituras em simultâneo». Para a edição deste ano, a Biblioteca Escolar propõe poemas de três escritoras portuguesas: Matilde Rosa Araújo, Natália Correia e Sophia de Mello Breyner Andersen.
A atividade decorrerá no dia 18 de fevereiro e consistirá na leitura dos poemas destas escritoras feita, em simultâneo, em todas as escolas do nosso Agrupamento. Haverá duas sessões de leitura: uma de manhã, às 10h15 e uma à tarde, às 16h00.
Para que a atividade possa abarcar toda a comunidade escolar, solicita-se a colaboração de todos os alunos, professores e funcionários, no sentido de disponibilizarem, nesse dia e às horas referidas, algum tempo para procederem à leitura de um ou de todos os poemas a seguir apresentados. A leitura será efetuada nas salas de aula e em todos os serviços do Agrupamento. Os textos estão também disponíveis em suporte papel nas duas Bibliotecas do Agrupamento e na sala de professores da escola-sede.
A Coordenadora da BE, Maria João Queiroga
O Diretor do Agrupamento, João Cortes
O BERLINDE
Era uma vez uma pomba Sem um ninho, sem um pombal, Era branca como a Lua E os seus olhos de cristal. Era uma vez uma pomba Que não sabia chorar: O seu choro trrru… trrru… Era um modo de cantar. Era uma vez uma pomba Que noite e dia voava: Fosse noite, fosse dia, Nunca a pomba descansava. Era uma vez uma pomba Que nos céus, longe, voava, Seu coração um berlinde Grande segredo guardava. Era uma pomba tão estranha Que voava noite e dia: Quanto mais alto voava Mais da terra ela se via. Era uma vez uma pomba Com penas de seda real: Era uma pomba do Mundo Com seus olhos de cristal. Seu coração um berlinde De vidros de sete cores, Que do sol tinha o brilhar, Um espelhinho de mil flores. Um dia longe nos céus, Viu um menino a chorar Sentadinho sobre um monte, Numa noite de nevar.
Não era branco nem negro Assim na neve o menino, Seu chorar era triste, Tornava-o mais pequenino. E a pomba logo o viu Com seus olhos de cristal: Logo desceu para o monte – Era aquele o seu pombal. Poisou nas mãos do menino Com seu corpo, seu calor: Mãos por debaixo da neve, Ninguém lhes sabia a cor. Dorme, dorme, meu menino… Branco ou negro tanto faz: Meu coração é um berlinde, Tem o segredo da Paz. E o menino já ria, Podia dormir sem medo, Sonhava com o berlinde, Coração feito brinquedo. Há quem diga que uma estrela Fugiu do céu a correr, Atravessou todo o mundo Para o segredo dizer. Escutaram-na os meninos, Têm um berlinde na mão: Seja noite de Natal, Seja noite de S. João.
Matilde Rosa Araújo, Mistérios
2 Biblioteca Escolar | Semana da Leitura | Diversidade, género e cidadania: «educar no humano»
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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS GIL VICENTE
BIBLIOTECA ESCOLAR
QUEIXA DAS ALMAS JOVENS CENSURADAS
Dão-nos um lírio e um canivete E uma alma para ir à escola E um letreiro que promete Raízes, hastes e corola. Dão-nos um mapa imaginário Que tem a forma duma cidade Mais um relógio e um calendário Onde não vem a nossa idade. Dão-nos a honra de manequim Para dar corda à nossa ausência. Dão-nos o prémio de ser assim Sem pecado e sem inocência. Dão-nos um barco e um chapéu Para tirarmos o retrato. Dão-nos bilhetes para o céu Levado à cena num teatro. Penteiam-nos os crânios ermos Com as cabeleiras das avós Para jamais nos parecermos Connosco quando estamos sós. Dão-nos um bolo que é a história Da nossa história sem enredo E não nos soa na memória Outra palavra para o medo.
Temos fantasmas tão educados Que adormecemos no seu ombro Sonos vazios, despovoados De personagens do assombro. Dão-nos a capa do evangelho E um pacote de tabaco. Dão-nos um pente e um espelho Para pentearmos um macaco. Dão-nos um cravo preso à cabeça E uma cabeça presa à cintura Para que o corpo não pareça A forma da alma que o procura. Dão-nos um esquife feito de ferro Com embutidos de diamante Para organizar já o enterro Do nosso corpo mais adiante. Dão-nos um nome e um jornal, Um avião e um violino. Mas não nos dão o animal Que espeta os cornos no destino. Dão-nos marujos de papelão Com carimbo no passaporte. Por isso a nossa dimensão Não é a vida. Nem é a morte.
Natália Correia, Poesia completa
PORQUE
Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão. Porque os outros têm medo mas tu não. Porque os outros são os túmulos caiados Onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não. Porque os outros se compram e se vendem E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não. Porque os outros vão à sombra dos abrigos E tu vais de mãos dadas com os perigos. Porque os outros calculam mas tu não. Sophia de Mello Breyner Andersen, Obra Poética
NOTA: A escolha dos poemas teve como base o tema do PAA deste ano.