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Leonia Devora os livros

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  • Gostais das histrias que se contam s crianas?Histrias de bandidos e ladres,histrias de gigantes e anes,

    histrias de feiticeiras, histrias de anedotas e histrias idiotas?

  • De certeza que gostais, mas Lenia ainda gosta mais.E de tal modo as adora que dentada as devora.

    Quando digo devorar sei onde quero chegar:pois no pra uma inteira na mesa-de-cabeceira.

    E eu j lhes vou mostrar que isto no histria de inventar.

  • Assim que aprendeu a ler,de tanto que de ler gostava,

    lia tudo o que apanhava.Com os olhos devorava

    as histrias de que mais gostava.

  • E depois, lentamente,

    as coisas pioraram seriamente.

  • Certo dia, em que ela anos fazia, fomos com ela livrariae oferecemos-lhes O Gato das Botas:

    pois ela tanto gostou que num instante o devorou.Nesse dia no nos preocupmos, fingimos que no notmos.

    Mas ela insistiu: Os Trs Porquinhos engoliu,e apreciou-os da mesma maneira que Gata Borralheira.

    Ento dissemos: a coisa grave por certo, preciso estar de olho aberto.

    Passados dois dias, devorou Branca de Neve e os Sete Anes,com po cortado s fatias.

  • Tivemos de lhe dizer: Lenia, isto no pode ser!Mas tarde foi-se esconder

    para se pr a roer O Patinho Feio.Ento tivemos que nos zangar, e comemos a gritar:

    Lenia, isso j chega!O papel no bom para comer;

    ainda vais adoecer!E marcmos sem demora uma consulta no doutor.

  • No consultrio do doutor, c fora, espermos uma hora.Felizmente havia ali muitos livros infantis.

    Ns, sem de nada suspeitar, comemos a folhear.Mas Lenia, aproveitando, enquanto amos folheando, foi devorando s

    dentadas trs bandas desenhadas.Ficmos aborrecidos e pedimos ao doutor que desculpasse aquele horror.Ele auscultou de uma vez Lenia da cabea aos ps, depois sentenciou:

    -As histrias de reis fazem mal aos ps, as histrias de feiticeiras fazem criar olheiras, as histrias de gigantes fazem mal aos dentes, as histrias de

    princesas causam muitas tristezas, as histrias de fadas pem as ndegas inchadas

  • Mas Lenia que no era tonta, tinha a resposta pronta: - E as histrias de doutores, no corao fazem dores.

    O doutor no tinha conhecimento de um tal padecimento.- Essa uma doena rara e tambm muito bizarra.

    melhor ir consultar o professor Sabetudo, que um dos especialistas de doenas nunca vistas.

  • O professor Sabetudo, homem de grande cincia, ps-se a fazer-lhe perguntas, com muita pacincia:

    - Gostas das histrias salgadas ou antes aucaradas?De trincar ou de chupar?

    Marinadas ou gratinadas?Em banho-maria ou com gua fria?

    Com cogumelos ou com doce de marmelos?Mas Lenia respondeu:

    - As histrias, digo-lhe eu, prefiro-as cruas, ao natural.

  • E ento ele disse:- perfeitamente normal.

    Eu tambm as consumo e no me fazem mal.E o que eu mais gosto, sabes o que ?

    So as histrias de dormir em p.Mas eu deixo-as cozer no vapor, acho que lhes d mais sabor.

    Mas ns dissemos com horror: doido, este doutor!Agarrmos Lenia pela mo e samos dali de repelo.

  • Depois de consultar dois mdicos continumos sem saber nada daquela doena endiabrada.

    Depois de muito pensar, com uns amigos nos fomos aconselhar.Disseram eles:

    - Talvez acontea que ela tenha o crebro na barriga e o estmago na cabea.No tnhamos pensado nessa possibilidade.

    Seria talvez verdade?E ento foi decidido que, a partir desse dia, livros em casa no mais haveria.

  • Mas Lenia, que era esperta, foi-se inscrever na biblioteca.Foi-se l instalar como numa sala de jantar, e tratou de se regalar: a histria do

    Pinto Caludo, os Contos da Me Gansa,foi comendo tudo at encher a pana.

    A histria do lagarto pintado, os contos do p-coxinho,tudo foi devorado, bocadinho a bocadinho.

  • Mas vejam s: fora de as devorar,acabou por acreditar nas histrias que engolia.E um dia, ao voltar para casa dela, julgou que era a Cinderela.Vestiu um avental e disse com ar jovial:- Vou limpar tudo a eito.E bem dito, bem feito:varreu o cho,passou com esfrego, esfregou os ladrilhos, lavou os caixilhos, lavou as cortinas das janelas, lavou as cortinas das janelas, areou os tachos e as panelas,arrumou as tigelas, sacudiu os tapetespassou o aspiradore, trabalhando com ardor,deixou tudo a brilhardo rs-do-choao segundo andar.

  • Ns estvamos todos contentes -quem me dera a mim que todos os dias fosse assim.

  • Mas ao outro dia ela veio com nova mania,dizendo toda convencida:- Hoje sou a Bela Adormecida,boa noite pais e manos,vou dormir durante cem anos.

    Isto era j de aborrecer tivemos de lhe dizer:-Lenia, no sejas idiota!Mas ela adormeceu como uma marmota.Tentmos tudo para acord-la:Tentmos tudo para acord-la:ccegas e puxes, sacudidelas e empurres,mas ela nem tugia, s dormia.E assim dormiu durante meses a frio.

  • J inquietos, comemos a procurar quem a pudesse acordar.No fim do ano, finalmente, tivemos uma ideia inteligente:

    perguntar a toda a gente se conhecia algum prncipe encantado.Sem nova nem mandado, sem resposta nem sinal,

    pusemos um anncio no jornal:

    AO PRNCIPE ENCANTADO PEDE-SE COM URGNCIA A SUA COMPARNCIA

    PARA TRAZER DE NOVO VIDA A BELA ADORMECIDA.

  • No tivemos muito que esperar.Logo ao outro dia vimos chegar, apressado,

    um verdadeiro prncipe encantado.um verdadeiro prncipe encantado.No era muito grande, no senhor, mas era mesmo encantador.

    E to atraente como um prncipe de antigamente.Usava culos sobre o nariz, tinha uma vozinha de petiz,

    e trs cabelos na cabea.Dirigiu-se a Lenia a toda a pressa, e disse:-Bela Adormecida, venho para te dar vida.

    Sou o prncipe Encantado, sou pequeno e enfezado,porque no fao ginstica. Gosto de pastilha elstica,

    ando sempre a mastigar, quando estou a brincar ou quando estou a ver tv.

    Um dia vou praticar karat para ser mais musculoso,mais forte e mais formoso.

    E agora vou-te beijar, para poderes acordar.

  • Deu-lhe um beijinho no nariz, e Lenia acordou, toda feliz.

    Ns ficmos aliviados,agradecemos ao prncipe encantado

    por ter sido to delicado .Mas assim que acordou, Lenia logo perguntou

    se ele gostava de contos de fadas.- De contos de fadas, tenho o sto cheio,

    Onde os guardo e os leio.

  • E como os dois gostavam de contos de fadas,saram dali de mos dadas.

  • Ora, como j deveis ter notado,quem casa com um prncipe encantado tem sempre muitos meninos.Lenia teve duzentos, muito pequeninos.

    Mas a sua doena extraordinria era tambm hereditria.Todos os filhos que nasciam com a me se pareciam.

  • Ento para lhes dar de comer, Lenia comeou a escrever:Histrias de bandidos e ladres,Histrias de gigantes e anes,Histrias de feiticeiras,Histrias de mistrios e frioleirasHistrias de anedotas,Histrias idiotas.