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Ler Lousada

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1.º Concurso Literário 2015-2016

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© Texto Vários© Ilustrações VáriosDesign e Paginação Fedra SantosRevisão de texto Luís Ângelo Fernandes© Propriedade e Edição Câmara Municipal de LousadaDireção editorial Manuel Nunes

Reservados todos os direitos.Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em partes, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização escrita da Câmara Municipal de Lousada.

Este livro respeita as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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Quando decidimos pedir ao Álvaro Magalhães e ao António Mota

duas obras originais de literatura infantojuvenil, tínhamos várias

ideias em mente.

Desde logo, as narrativas ocorrerem no concelho de Lousada, jun-

tando sítios, figuras e factos que nos ajudassem a aumentar o orgu-

lho pela nossa terra.

Depois, oferecer os livros aos alunos do 4.º e do 6.º ano de escola-

ridade, para aumentarem os hábitos de leitura, desenvolverem a

imaginação e valorizarem a comunidade onde vivem.

Finalmente, a partir daí, darem continuação a cada história, porque

um livro nunca é uma obra acabada, mas um companheiro para

habitar connosco, no nosso coração e na nossa criatividade.

O resultado deste desafio é o conjunto de textos que agora publi-

camos, vencedores do concurso 'Ler Lousada'. Parabéns aos vence-

dores por terem conseguido exprimir melhor os sonhos que os livros

embalaram.

O Presidente da Câmara Municipal

Dr. Pedro Machado

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UMA VIAGEM AO PASSADO

Turma:

4A–AV

Professor Titular:

Maria Isabel Rocha de Sousa

Estabelecimento de Ensino:

EB de Mourinho – Aveleda

Agrupamento de Escolas Dr. Mário Fonseca

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Era inverno. O sol brilhava através das janelas e os raios aqueciam a sala de aula. Os alunos da escola de Mourinho estavam numa grande agitação. O dia

da visita de estudo à igreja de São Salvador de Aveleda ti-nha chegado.

– Estejam calados! Não ouvem a professora?! – advertiu o Gonçalo.

– Tu também estás a falar!… – disse a Beatriz que está sempre distraída.

– Organizados e em fila, vamos preparar-nos para a vi-sita à igreja de S. Salvador – disse a professora Isabel com alguns nervos à mistura, pois alguns dos alunos não se en-tendiam com os seus pares.

Quando chegaram à igreja, procuraram o Senhor Carlos, responsável por aquele local sagrado.

Enquanto o Senhor Carlos explicava alguns pormenores do altar-mor, o Guilherme ouviu algo estranho.

– Ui! Será que estou a ficar maluco?! Eu estou a ouvir umas vozes estranhas! – segredou o Guilherme ao ouvido do David.

Sem ninguém dar conta, disfarçadamente aproximou-se da porta e encostou o ouvido. Sem perceber como, e para seu espanto, esta abriu-se. Sentiu um arrepio de medo à mistura com alguma curiosidade, pois deparou-se com um enorme túnel escuro e frio. Fez um sinal ao David e juntos resolveram entrar naquele túnel misterioso, para descobri-rem de quem eram as vozes e onde o túnel os levaria.

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Quando sentiram as vozes mais nítidas, esconderam-se atrás de um pedregulho. Com cuidado espreitaram e viram uns homens a construir algo que lhes parecia familiar. Fi-caram sem palavras! Os senhores, que partiam pedras, es-tavam vestidos de forma muito estranha. Usavam túnicas, umas calças estreitas e calçavam umas sandálias com uns atacadores cruzados até aos joelhos. Custava-lhes perceber a língua que eles falavam, mas tudo indicava que era do tempo dos romanos. Ambos estavam assustados e ao mes-mo tempo surpreendidos. Aquele túnel permitiu-lhes fazer uma viagem ao passado. Ali estavam eles, estagnados a ob-servar a construção da ponte de Vilela!

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Sem se aperceberem, um dos pedreiros, ao levantar uma pedra, descobriu-os.

– Quem são vocês?! O que fazem aqui?! – perguntou o pedreiro, que se apresentou como Rodrigo.

A partir daquele momento, e sem perceberem porquê, os dois amigos passaram a entender perfeitamente o que ou-viam, como se falassem a mesma língua.

Com voz trémula e meio a gaguejar, o Guilherme respon-deu:

– Nós, nós, nós somos do, do sé… século XXI do ano 2016, e vi…vi…viemos através daquele túnel.

– Não nos façam mal, por favor! – gritou muito assustado o David.

O pedreiro chamou os restantes trabalhadores pelos seus nomes: João, Miguel, Dinis, Daniel, Francisco, Ema-nuel e José. Todos começaram a fazer perguntas, pois, tal como os dois rapazes, estavam pasmados com o que viam.

Um dos pedreiros, que parecia ser o chefe, fez calar todas as perguntas e colocou toda a gente em silêncio.

– Dizei-me, meninos do século XXI, esta ponte que esta-mos a construir com muito trabalho e esforço ainda existe no vosso tempo?

– Sim, sim!!! – respondeu muito entusiasmado o Guilher-me. A ponte que vocês estão a construir é um monumento importante para a nossa freguesia de Aveleda, pertence à Rota do Românico e também faz parte do brasão da fregue-sia.

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Os pedreiros ficaram muito orgulhosos e trataram logo de deixar as suas marcas cravadas nas pedras. Cada um de-les marcou a letra inicial do seu nome.

Ficaram ali a conversar e a contar coisas das suas épo-cas. Tinham tanto que dizer e aprender uns com os outros!

Entretanto, a professora Isabel já tinha dado pela falta dos dois alunos. Todos gritavam pelos seus nomes na espe-rança de os verem aparecer.

– Guilherme! David!

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Ao ouvirem os gritos vindos de fora, os rapazes, que nem se tinham apercebido do tempo passar, despediram-se apressadamente e precipitaram-se para a saída. Mesmo à boca do túnel ainda puderam ouvir em eco: “Não contem…em…em… a ninguém…em…em o que acabaram...ram…am…. de ver…ê…ê…”.

– Professora, eu vi o Guilherme e o David a entrarem na-quela porta junto do altar – informou a Joana muito séria.

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– Joana, podias ter avisado mais cedo para evitar toda esta aflição! Catarina, Renata, Cláudia, Inês, vão até lá e ve-jam o que se passa! – pediu a professora muito preocupada.

Entretanto a Beatriz, o Gonçalo, a Margarida e o Ruben tinham ido chamar o Padre António Correia, que sabia tudo sobre aquela igreja.

Quando ele chegou, a professora perguntou-lhe se sabia alguma coisa sobre o que existia atrás da porta junto do al-tar. Com um sorriso misterioso, falou da lenda que os seus pais lhe contavam quando era mais pequeno. Disse que há muitos anos existiram relatos de desaparecimentos naque-le local. Esta informação deixou a professora muito preocu-pada, pois aqueles dois alunos podiam nunca mais voltar...

Nesse momento, o Guilherme e o David saem da por-ta por detrás do altar. Os colegas, a professora e o senhor Carlos, muito preocupados, perguntaram-lhes o que tinha acontecido. Eles explicaram que não havia tempo para por-menores e tinham que ir visitar a ponte de Vilela o mais rápido possível. A professora viu-os tão excitados que re-solveu levar toda a turma até lá. Afinal nem era assim tão longe. Pelo caminho ninguém se calava, todos estavam curiosos e falavam ao mesmo tempo:

– Conta lá, o que é que vamos ver! Viram alguma cavei-ra? O que tem a ponte a ver com a igreja?

Quando lá chegaram, o Guilherme e o David debruça-ram-se sobre as pedras olhando atentamente como se esti-vessem à procura de alguma coisa muito importante.

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– Olha… ali! E acolá! O David ia acenando com a cabeça como a concordar

com o colega. – É mesmo verdade! Estupefactos, apontavam para algumas letras marcadas

nas pedras da ponte.– Vá, meninos, está na hora de dizerem o que viemos cá

fazer; até eu estou sem perceber nada! – Professora, quando chegarmos à escola vamos à biblio-

teca pesquisar informação sobre os romanos. Podemos ver um filme sobre esse tempo? Nós prometemos que vamos contar a nossa aventura. Tem que confiar em nós!

E o David piscou o olho ao Guilherme como que a dizer: “Vamos ter que inventar qualquer coisa em que seja fácil acreditar”…

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Turma:

B – 4.ºAno

Professor Titular:

Maria da Assunção Pereira da Silva

Estabelecimento de Ensino:

EB de Boavista – Silvares

Agrupamento de Escolas de Lousada

A BRINCAR CONHECEMOS LOUSADA!

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Naquele dia, os alunos estavam particularmente animados. A professora, bem-disposta, sorria e procurava serená-los. No dia anterior tinha ocor-

rido algo de especial.Os alunos da turma do 4.º B, da escola de Boavista – Sil-

vares, tinham ido visitar a Torre de Vilar, pois então! A Tor-re de Vilar, também conhecida por Torre dos Mouros, mo-numento nacional que integra a Rota do Românico!

Tinha sido uma tarde magnífica. Todos, sem exceção, se divertiram e, ainda mais importante, alargaram os conheci-mentos sobre a sua terra.

– Professora, podíamos começar hoje o nosso trabalho! – exclamou, entusiasmada, a Filipa. Assim, ainda nos lem-bramos de tudo. Está tudo aqui fresquinho – acrescentou, batendo com o indicador da mão direita no parietal do mes-mo lado.

– Pois é isso mesmo que eu estou a tentar dizer-vos des-de o início da aula, Filipa. Só quero que se acalmem! Quem toma nota das ideias principais?

– O Rodrigo! – responderam quase todos em coro.O colega escolhido retorquiu:– Ó Professora, eu acho que todos deviam escrever as

suas ideias e apresentá-las. Isto não é um trabalho coleti-vo?! Vamos juntando as ideias e construindo o texto.

Como de costume, todos concordaram com o Rodrigo. É um excelente aluno e um bom companheiro e todos o res-peitam.

– TTRRRRRRIIIIIIIIIIIIIIM!

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A hora do recreio era sempre bem-vinda. O campo de jogos é o local predileto. Todos se encaminham para lá. O jogo é de futebol e o resultado vai ser importante. Os rapa-zes do 4.ºB vão defrontar os do 4.ºA. É um clássico. As me-ninas fazem a claque, dão apoio, claro! Cada uma incentiva o seu jogador preferido. No fim do dérbi, há empate e em casa surgirá, ao fim do dia, o ralhete das mães à conta das calças e das sapatilhas tão maltratadas.

O Zé Duarte e o Gonçalo entraram na sala a rir, com ar de malandros. Estavam a falar do Dinis e da Daniela, que, na véspera, a caminho de Vilar do Torno e Alentém, no auto-carro, foram sentadinhos lado a lado, como dois namorados.

– O que vocês não sabem é que íamos num lugar em que se via tudo muito bem. Perguntem à Margarida e à Filipa, que iam mesmo à nossa frente… – murmurou o Dinis, sem se abalar com a piada de que era alvo.

– Eu e o Gonçalo também não íamos nada mal. Perto da Ponte da Veiga, avistámos logo a Torre de Vilar – disse o Rui.

O Zé Duarte pôs o dedo no ar para falar:– Vocês viram a Casa de Vilar? Aquela casa cor-de-rosa?

Passámos mesmo em frente… Lá viveu o poeta Álvaro Feijó, com os seus pais e irmãos…

A professora ajudou:– Pouco tempo. Primeiro, porque morreu muito jovem, vítima

de cancro; segundo, porque passou a maior parte da sua vida a estudar noutras localidades. Escreveu vários poemas. Todos de grande qualidade literária, mas dois sonetos ficaram célebres.

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Ao ouvir falar em soneto, a Margarida lembrou-se da his-tória “ Animais de estimação”, que lera no livro “Contos do rio que corre”, da autoria de Álvaro Magalhães, que a Câ-mara Municipal de Lousada ofereceu a todos os alunos do quarto ano como prenda de Natal, e disse em voz alta:

– O gato Soneto, amigo da Inês, que fez a festa de pijama. Que fofinhos que eles são! E tão engraçados! Falam a rimar!

Neste momento, o Zé Duarte não se conteve:– Ó linda Margarida, nós também podemos versejar, ins-

pirados na Torre de Vilar… A Inês também é Estrela e tu és o meu luar…

Claro! Surgiram risos na sala!…O dia escolar chegava ao fim e a aula acabou com a mes-

ma animação com que começou. Então a professora, ten-tando fazer versos, avisou:

– Amanhã, vamos dar matéria, que isto é uma escola sé-ria. Para a semana continuamos, mas não entrem em pâni-co… Estudem a Rota do Românico… E já todos leram o livro “ Contos do rio que corre”, do autor Álvaro Magalhães que vos foi oferecido?

Rapidamente ouviu-se um sonante e animado coro: – Sim… e escreve sobre a nossa terra!No dia seguinte, os rapazes da turma reuniram-se no in-

tervalo. O grupo era grande. São onze os rapazes da sala dez. Uma equipa de futebol e das boas! Mas não era de fute-bol que o Zé Duarte queria falar naquele dia.

– Vocês sabem que há uma lenda onde se conta que por

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baixo da Torre de Vilar está enterrado um grande tesouro?! Foi o meu avô que me disse. Ele ouve isso desde pequenino.

– Eu também já ouvi dizer que há lendas que têm algo de verdade – diz o Martim.

E continuou, com olhar sonhador:– Que fixe que era! Já estou a imaginar! “Uma aventura

na Torre de Vilar” ou então “Martim e os dez magníficos em busca do Tesouro da Torre de Vilar”.

Risota geral. No entanto, o Rogério disse, com ar sério:– Então, o nobre que mandou construir a Torre não era

muito rico e não queria mostrar toda a sua riqueza e poder? É lógico que tivesse um grande tesouro!

– Sim, e, como, em finais do século XII, princípios do século XIII, não havia cofres nem bancos para guardar os bens, é natural que Gil Martins tenha mandado construir uma cave secreta para guardar o seu tesouro. E, se era se-creta, quando ele morreu, ninguém sabia e lá ficaram aque-las peças valiosas, objetos em ouro e prata e moedas, mui-tas moedas…

– Muito bem! Vocês até podem ter razão, mas não con-tem comigo. Mesmo que o meu pai quisesse ir lá, eu não ia. Não me senti nada confortável a subir e a descer aquelas escadas para chegar ao cimo da Torre. Quanto mais umas escadas escondidas e lá no escuro! – atalhou o Luís.

E o André respondeu de imediato:– Dá cá mais cinco, amigo! Estou contigo! A torre é mui-

to alta.

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– Eu reparei que alguns tiveram medo de subir as esca-das. Mas vale a pena! A vista lá de cima é magnífica! – refu-tou o Miguel.

– Mas que linda paisagem! – responderam em coro a Adelina, a Magda e a Lara.

– Pois, a Torre tem catorze metros de altura e está cons-truída em cima de um rochedo – concluiu a Beatriz.

E a conversa ficou por ali. O intervalo terminava e ti-nham que regressar à aula.

– Vamos ao trabalho! – atalhou o Tiago, muito entusias-mado, em direção à sala.

– Já estamos a caminho – responderam o Afonso e o Luís.A professora estranhou. Tão calmos, tão sossegados, tão

empenhados. Sem sinais exteriores de jogo da bola. Com enorme satisfação, compreendeu que, mesmo com fanta-sias, os seus alunos interessavam-se pelos conteúdos trata-dos. Apercebeu-se de que a visita à Torre de Vilar e a leitura do livro “Contos do rio que corre” estavam a proporcionar momentos e temas de conversa muito interessantes aos seus alunos.

E com um sorriso, lá ia dando um passo aqui, outro passo ali, de mesa em mesa, verificando e corrigindo um ou outro erro ortográfico. O trabalho ia avançando… e estava a ficar perfeito.

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Turma:

3.º/4.º Anos

Professor Titular:

Clara Santos Pires Barroso

Estabelecimento de Ensino:

EB de Cruzeiro – Cernadelo

Agrupamento de Escolas de Lousada Este

Rio sousa e os seus segredos

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Rodeada por muitos campos e pelo conhecido Rio Sousa, pode-se avistar a pequena aldeia de Cernadelo, onde, no tempo em que as galinhas

tinham dentes, algo muito estranho aconteceu…Aqui vivia um homem muito rico, bem falado, bem

vestido, possuidor de muitos terrenos, mas também muito egoísta. Chamava-se Afonso Pinto. Tinha por vizinho o Sr. Henrique, conhecido por ser o moleiro da terra, muito pobre, humilde, viúvo e com um casal de filhos para sustentar.

Diariamente era humilhado e gozado pelo seu vizinho Afonso:

– Trabalha moleiro, de pobre não passas e a rico não chegas! Tanto trabalhas, mas pouco recebes para comprar pão aos filhos!

Apesar de triste e desconsiderado, não respondia às provocações.

Pela época do inverno, as águas do rio subiam, saindo do leito, fazendo desabar terrenos, muros e o velho moinho do moleiro, de onde este teve de fugir para se salvar a si e aos seus. Pediu então abrigo ao vizinho, que lhe respondeu:

– Só te ajudo se trabalhares para mim! Tu e os teus filhos!Como o moleiro não tinha para onde ir, aceitou sem

pensar duas vezes, pois já estava habituado a trabalhar, aceitando em silêncio as piadas e humilhações.

Em meados de dezembro, Cernadelo estava debaixo de uma grande tempestade, ainda maior do que aquela que tinha destruído o moinho do moleiro. Quando as fortes

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correntes do Rio Sousa subiram, aconteceu mesmo a destruição total. Depois da tempestade acalmar, apareceram dois objetos estranhos encalhados numa rocha do rio. Afonso e Henrique foram verificar o que se tratava, e viram que eram dois baús: um de madeira velha e outro de um metal extraordinário. Afonso Pinto escolheu rapidamente o de metal, pois parecia-lhe mais valioso, e Henrique não teve outra alternativa a não ser ficar com o mais velho. Levaram-nos para casa e pelo caminho Afonso Pinto não parava de se exibir:

– Já sou rico! Mas ainda vou ficar mais!

O moleiro seguia calado, pois já não esperava grande sorte.

Quando chegaram à entrada da propriedade, cada um, logo ali, abriu o seu baú. Afonso Pinto foi o primeiro, com grandes esperanças da fortuna, que imediatamente voaram, pois a arca continha apenas pedras e mais pedras.

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Os dois nem queriam acreditar! – Se este não tinha nada de valor, imagina o teu, que é um

amontoado de madeira velha! – exclamou furioso Afonso Pinto.

Quem olhasse para a sua cara via uma mistura de raiva e cor de tomate. Pior ficou ao reparar que no outro baú apareceu algo dourado e brilhante que mais parecia uma cascata de ouro. Ouviu-se um cambalear e logo de seguida um “catrapum”: desmaiou e caiu para cima de um fardo de palha que ali estava abandonado.

Quando acordou, pensou que tinha tido um pesadelo, mas era mesmo verdade: o ouro estava à sua frente, juntamente com o moleiro e os filhos que, ao mesmo tempo, riam e choravam de alegria.

Nos dias seguintes, Afonso Pinto ainda fez algumas tentativas de roubo do ouro, mas sem sucesso.

Entretanto, o senhor Henrique comprou uma bela casa, perto do destruído moinho, escondeu muito bem escondido o ouro, e vivia feliz com os filhos a reconstruir o moinho.

Passou-se exatamente um ano, e no mesmo dia, a tempestade voltou a assombrar Cernadelo. Desta vez, um grande trovão caiu e um raio destruiu toda a enorme casa de Afonso Pinto que durante todo aquele tempo continuou com as suas piadas de mau gosto.

– Tão rico, tão rico e continuas a trabalhar como um pobre!

Afonso ficou agora sem casa e tudo o que ela tinha.

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Sentiu-se só e precisou da ajuda de todos para a reerguer. Concluiu que tivera sido castigado pelas suas atitudes e aprendeu que não se deve ser egoísta ou cruel para com os outros, sejam eles pobres ou ricos, nem troçar daqueles que trabalham.

Além disso, ninguém se deve iludir com as aparências, por mais bonitas e tentadoras que sejam.

Pozinhos de perlim pim pim, a nossa história chegou ao fim…

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Autor:

Barbara Lia Rocha de Bessa Ferreira

Estabelecimento de Ensino:

EB/S Dr. Mário Fonseca – Nogueira

Agrupamento de Escolas Dr. Mário Fonseca

e tudo num simples final de tarde

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Em toda a minha vida (apenas 11 anos, mas pronto), nunca pensei ficar tão apaixonado como fiquei desde o momento em que vi aqueles olhos brilhan-

tes e estrelados da LUÍSA...Conheci-a nas férias de verão e posso confirmar desde

já que foram as duas melhores horas das minhas férias (não digo «da minha vida» porque esse momento foi quando o meu pai me ofereceu uma play station, mais uns cinco jo-gos. Fiquei tão excitado…).

Desculpem-me se ainda não me apresentei. Distração minha, mas estava tão entretido a falar convosco! Chamo-me JB e vivo em Lousada, tenho onze anos e blá, blá, blá. Praticamente vão-me conhecendo ao longo destas páginas soltas que vou escrevendo enquanto a tia Ester está em Beja… mas ela já prometeu que ia trazer-me um novo diá-rio. Enquanto isso vou agrafando estas folhas para não as perder.

Luísa, Luísa, Luísa, o que me fazes tu, Luísa?… Parece que estou a viver uma história verídica de uma novela. Daque-las novelas em que o amor não é correspondido, sabem??? SIM, devem-se estar a interrogar se um rapaz como eu gosta de novelas. Volto a repetir, SIM. Onde acham que eu vou buscar toda a minha imaginação? Acham que um bi-chinho sorrateiro me vem segredar aos ouvidos as ideias loucas que eu expresso contigo? É claro que sou fã número 1 de «Coração d’ Ouro», «I love Paraisóplis» e «A Regra do Jogo» na SIC. Todos os dramas, aventuras, paixões e con-

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fusões que as personagens interpretam são uma forma de expressar os sentimentos que eu admiro imenso.

Sinceramente esta ideia acabou de me dar uma sugestão para o meu futuro emprego, poderia ser um ator famoso… José Cardoso não soaria muito bem, José Bonifácio iria provocar risadas quando fosse por aí pronunciado, José Ribeiro seria uma confusão, pois existem tantas CELEBRI-DADES (e não CELEBRIDADES) com esse nome.

Acreditas que só na minha turma existem 6 alunos cha-mados «Ribeiro»? A Maria Ribeiro, o Joaquim Ribeiro, a Alice Ribeiro, o Diogo Ribeiro, o Rúben Ribeiro, e claro, eu…JB Ribeiro.

Lembras-te daquele «JB1» e do «JB2»? Por muito paler-mas que sejamos (eu um pouco, ele muito), continuamos a ter as nossas conversas…

JB1: – Que burrice a minha… Já estou a ter um daqueles ataques aos quais eu gosto de chamar EDCM (Esquecimen-to e Distração da Conversa Atual).

JB2: – Realmente, ainda bem que eu não sou como tu, José Bonifácio Cardoso Ribeiro 1. Não me canso de repetir este nome (risos), causa tanta gargalhada.

JB1 (fulo): – Que engraçado, por acaso ainda não te es-queceste de que o teu nome é o mesmo, pois não?

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Luísa, eu preciso de ti

Faço tudo pra ficar contigo

Vi-te aqui por perto

E sem ser discreto perguntei-te o nome

Sorriste...

E sem hesitar pedi-te o telefone

JB2 (pensativo): – Pois, só agora é que dei fé. Juro por tudo o que é mais Sagrado que nunca mais volto a falar mal do nosso horrivelmente horrível nome. Ups, já falei…

Como me posso esquecer da Luísa? Ela é praticamente o tema da minha vida…

Já me esqueci outra vez dela, se ela visse estes pequenos grandes erros era capaz de me enforcar ou enterrar VIVO. Pelo menos podia pedir a um(a) anestesista para me injetar uma longa anestesia.

Sabias uma coisa? Quando cheguei a casa da primeira vez que a vi, pus a música «Luísa» dos D.A.M.A. no volume mais alto que o rádio azul com autocolantes de criaturas so-brenaturais atingia (ou seja,100%) e cantei toda a noite que nem um louco em cima da cama ouvindo repetidas vezes:

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Subiste-me o ego

Mas guardei segredo

E falámos por horas

Luísa

Quero encontrar-te

O que é que eu faço agora???

De tanto ouvir, decorei-a e não me arrependo disso. E neste preciso momento, enquanto te escrevo, estou a sus-surrá-la para as paredes coloridas do meu quarto.

Mas, como os meus amigos dizem, é preciso saber can-tar…Coisa que, sem dúvida alguma, eu não sei fazer…

Se eu cantasse tão bem como os Miguéis e como o Fran-cisco, certamente a Luísa teria muito mais interesse por mim, e não veria apenas o que sou realmente, um «Caixa de Óculos». Acho que os meus níveis de autoestima estão a baixar imenso… De 99,99999999999% passaram para 46,23187095% (não sei como fiz estes cálculos).

Se alguém já tivesse inventado um aparelho para medir os NÍVEIS DE AUTOESTIMA não teria de andar com tantas casas decimais, não concordam? Poderia vir-nos a ser útil…como neste momento, em que preciso de um número exato e não tenho. Infelizmente, perdi o contacto com a Luísa.

Desde o início das aulas não tenho falado com ela por telemóvel, nem com ela nem com nenhum dos meus ami-gos. A minha mãe diz que temos de nos concentrar apenas

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em subir as notas e por isso tirou-me o meu telemóvel. En-tão falo com eles na escola e já tenho de me contentar. Mas muitos dos meus amigos não andam comigo na escola, tal como neste caso.

Por falar nisso, tenho de chatear ainda mais a cabeça da minha mãe. Invento uma desculpa qualquer, como costumo fazer (os meus pais não sabem nem de metade, mas ainda bem).

Querido paizinho,Se por acaso estás a ler isto,eu só

inventei desculpas para a MÃE.

Querida mãezinha,Se então tu estás a ler esta carta

eu apenas me refiro ao PAI.

Bem, se estão a ler os dois, eh pá, a culpa é da TIA ES-TER… Ela é a culpada, como já afirmei 1.000.000 de vezes, ela é e sempre será a minha suspeita.

Ó meu Deus… A tia Ester chega amanhã. Acabei de receber um SMS dela.

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Meu querido afilhado,

Amanhã, como prometido, terás o tiu diário...É parecidíssimo com o teu antego diário com a capa asul e virde, mesmo tale e qual ao ouitro,

Beijinhos da tua marinha Ester

Não sei o que deu à tia Ester para escrever tão mal na mensagem. Deve estar tão ansiosa para chegar à sua terra natal, Lousada. Mas como eu sou o teu melhor amigo vou fazer-te um rascunho do que ela escreveu…

Vou tentar passar este final de tarde o mais depressa possível. Só para receber o novo DIÁRIO faço tudo o que for necessário.

ALTO, acho que ouvi a voz histérica da MADRINHA… Isso é bom sinal, mas já sabem o porquê, não? Ok, agora tenho mesmo a certeza de que é ela, porque ela diz sem-pre a mesma coisa quando chega à nossa casa, uma coisa do género: «IUUUU, MEU FOFINHOOOO, MINHA COI-SA DOCE CHAMADA JOSÉZITOOOO». Irrita um pouco mas, o que havemos de fazer aos adultos? Um dia seremos como eles, não é?

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A única coisa que temos de fazer é esperar, para um dia sermos como eles… Mas, sabes, eu não quero crescer, quero ser a criança imaginária e feliz que sou para toda a ETER-NIDADE (suspense, rufos de tambor e algumas lágrimas).

Chega de lamechices (mas até que fiquei emocionado com estas palavras belas) e toca a correr sufocado até à sala onde passo pela despensa e chego ao ponto desejado, a co-zinha (que é onde a «Titi» se costuma aposentar nos pri-meiros três minutos desde que cá chega), dar-lhe um beijo e pedir de seguida a tua continuação...

E eu que pensava que estas páginas iam apenas falar acerca da Luísa! Pregas-me cada surpresa… Fui falar de to-das as minhas novidades num só FINAL DE TARDE. Agora tenho de ir, senão ainda apanho uma otite ou, ainda pior, fico surdo com a gritaria da Madrinha.

O teu escritor louco e apanhado da cabeça,JB Cardoso Ribeiro

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Autor:

Tatiana Alexandra Q. Baptista

Estabelecimento de Ensino:

EB/S de Lousada Oeste – Nevogilde

Agrupamento de Escolas de Lousada Oeste

O CADERNO DE T.Q.

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Atenção!

Se estás a ler isto é sinal que a minha cabeça voltou a falhar e eu perdi o meu querido diário ou então já se passaram milhares de milhões de anos e tu foste o sortudo que encontrou a minha cápsula do tempo. Se a primeira opção é a correta, por favor não continues a ler, pois contém informações mega-ultra-secretas. Faz o favor de entregar este diário o mais depressa possível no Parque Urbano Dr. Mário Fonseca. Se a segunda opção for a correta, então guarda o diário só para ti.

OBRIGADA,T. Q.

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Domingo, 7 de fevereiro de 2016

Hoje acordei com a mãe a dizer que iríamos doar pelo menos um quarto dos nossos brinquedos (meus e do meu irmão) a uma instituição de solidariedade para crianças. Ao que parece elas estão muito doentes e precisam de ficar no hospital durante muito tempo e neste momento precisam de coisas para se entreterem. Não era que não quisesse doar, e aliás eu até tenho muita pena das pobres crianças, doentes e sem nada para fazer, mas os meus brinquedos?! Eu ainda não me sinto preparada para os deixar e ainda por cima ainda os utilizo. Dadas estas razões pedi à mãe para este ano não doar nenhum dos meus brinquedos, mas ela ficou mesmo zangada! Chamou-me criança e em vez de um quarto teria de dar metade dos meus brinquedos. Bem que eu tentei ripostar mas ela não me deixou, por isso decidi ir recolhendo os brinquedos.

Por fim consegui, mas durante toda esta recolha reparei nalguma coisa debaixo do meu enorme guarda-fatos. Baixei-me e estiquei a mão para tentar apanhar algo que me pareceu ser um caderno. E era mesmo! Um grosso, velho e preto caderno do qual nem me lembrava ter. Passei cerca de meia hora a reviver as memórias que eu tinha para tentar achar aquele caderno no meio delas e consegui. Era o caderno que há muito tempo me foi oferecido pela minha avó Marieta no meu aniversário.

Achei aquela prenda tão estranha e inútil que a encostei

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Querida neta:Como sabes a tua avó adorava aprender a surfar, por isso tive que comprar uma prancha de surf que foi um pouco cara, por esse motivo, comprei- te este caderno para ti e sei que não estavas à espera desta prenda, mas espero que fiques feliz . Um beijinho da tua avó Marieta.

para qualquer lado. Comecei a folhear e na última página estava escrito:

Fiquei a pensar em como fui má para a minha avó, que só queria concretizar o seu sonho. Decidi pedir-lhe desculpa, mas lembrei-me que, como ela queria aprender a surfar, foi para o Havai. É verdade, a minha avó Marieta tem cinquenta e sete anos, no entanto parece ter vinte. Para a compensar, decidi usar o caderno como diário e aqui estou eu a escrever cheia de entusiasmo que vai ter um fim por hoje, porque já é tarde. Até amanhã!

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Segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Hoje foi um longo dia de escola. Logo pela manhã tive ciências, matemática e história e, como sou uma cabeça no ar, esqueci-me de comprar as senhas e por isso fui comer a casa. Na parte de tarde eu tive duas horas de educação física seguidas de uma folga a moral porque o professor está com gripe. Juntei-me com as minhas melhores amigas para jogar ao “verdade ou consequência” e foi hilariante. Mais tarde é que não deu para me rir muito porque perdi-te, caro diário. Fui a correr para a escola e vi em todos os cantos e não te achei. Como já era tarde voltei triste para casa e, sem querer, choquei com um rapaz muito alto e bonito no parque Dr. Mário Fonseca. Era muito simpático e engraçado e veio acompanhar-me até casa. Tenho a sensação de que ainda o vou ver muitas vezes. Voltando a ti. Ao chegar a casa, qual não foi a minha surpresa quando me deparei contigo em cima da minha cama. Que susto! Afinal deixei-te lá quando vim a casa. Sou mesmo uma cabeça no ar! Tive sorte de a minha mãe não dar conta dele. Como já é tarde vou deixar-te. Até amanhã, querido diário.

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Quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Mais um longo dia de escola mas este foi mais especial do que todos os outros, caro diário. Tive duas horas de almoço e decidi ir até à biblioteca estudar um pouco para um teste que tinha hoje. Mal lá cheguei estava lá o tal rapaz que me acompanhou a casa no outro dia e veio ter comigo apresentar-se. Disse que se chamava Rui e, nesse momento, deu-me um aperto no coração como se aquele momento estivesse destinado a acontecer há milhões e milhões de anos. Acho que sou capaz de gostar dele e apercebi-

-me de que ele também gosta de mim. Enfim, no meio de tudo aquilo acabei por não estudar para o teste e baixei um pouco a nota. Não faz mal, subo no próximo.

Sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ainda não parei de pensar no Rui. Depois daquele dia não voltei a falar com ele. E pior, passo por ele e parece que já não nos conhecemos. Estou triste, porque eu gosto mesmo dele e agora parece que ele não. Enfim, já recebi o teste e acabei por baixar mais do que o esperado. A minha mãe é muito positiva e por isso encorajou-me muito pensando que eu estava triste por causa do teste, mas não era por isso. Ela não sabe que eu gosto dele nem vai saber,

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por agora não. Fico horas a pensar porque é que ele me faz isto. Bem, ele não sabe que eu gosto dele, porque eu não tenho coragem nem de lhe dizer um olá. Só há uma pessoa que sabe. A Patrícia, porque ela é a minha melhor amiga e eu sei que posso confiar-lhe tudo. “A minha boca é um túmulo” é o que ela costuma dizer e eu acho graça. Até à próxima, querido diário.

Domingo, 21 de fevereiro de 2016

Desculpa por ficar muito tempo sem te escrever mas é que tu nem sabes o que se passou e eu andei muito mal por causa disso. Ainda choro durante a noite. É que soube que o Rui foi para França e ainda me custa falar disso. Choro tanto que nem imaginas! E o que é que eu faço agora? Vou tentar esquecê-lo? Não consigo, ele é demasiado importante para mim. Vou pensar que ele vai voltar? E se ele não volta? Estou de rastos. Vou rápido até ao Parque Urbano Dr. Mário Fonseca ver se reflito um pouco.

Já voltei e já tomei uma decisão. Não vou desistir dele porque não vai ser a distância que vai destruir o meu amor. Até à próxima.

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Quinta-feira, 3 de março de 2016

Ainda bem que não desisti dele. Ele voltou! Estou mega contente! Nem acredito! No entanto, tudo se manteve igual até hoje. Fui ter com ele e saiu-me tudo. Contei-lhe de tudo o que passei enquanto ele esteve em França, que o amava e não conseguia enganar-me e tudo o que senti quando o conheci. E ainda bem que o fiz. Ele disse que me amava e tudo ficou bem entre nós. Abraçámo-nos e eu desejei muito que aquele momento não acabasse, mas foi interrompido pelo toque da campainha. Bem me tentei controlar porque estava mega ansiosa para dizer à Patrícia o que tinha acontecido mas a professora separou-nos porque diz que nós falamos muito. Não é totalmente verdade, mas não é totalmente mentira. Mas contei-lhe e ela ficou mega contente e disse que estava feliz por mim. Ela é a amiga perfeita. Ainda bem que posso confiar nela. Esqueci-me de te contar que amanhã à tarde eu e ele temos um encontro. Até amanhã.

Sexta-feira, 4 de março de 2016

O encontro foi perfeito. Foi no Parque Urbano Dr. Mário Fonseca, o lugar onde nos conhecemos. Passeamos durante todo o dia e foi muito divertido porque ele também é um

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cabeça no ar. Ora vejam só que, quando estávamos a ir para o parque, de bicicleta, ele esqueceu-se da carteira em casa! Fomos para casa e eu decidi esconder-me um pouco para que os pais dele não me vissem enquanto ele ia ao quarto buscar a carteira. Cada vez penso mais que somos perfeitos um para o outro. Enfim, voltamos ao parque e sentámo-nos num banco de jardim enquanto falávamos da nossa vida.

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Contamos tudo um ao outro. De repente ele perguntou se eu não queria fazer algo para que nunca nos esquecêssemos da nossa história de amor mas também para que muitos anos depois alguém pudesse vir a conhecê-la. Lembrei-me que num filme vi algo que se chamava cápsula do tempo e que era nem mais nem menos que uma caixa onde púnhamos pertences nossos e que nos ligassem. Ele concordou e começamos a planear tudo. Íamos enterrá-la num terreno antigo que havia perto da casa dele, no dia seguinte. Assim foi mas, por muita tristeza minha vou colocar-te na caixa para que pelo menos alguém saiba o que me passou pela cabeça, o que senti e basicamente toda a minha vida. Mas antes vou escrever um último registo. Até amanhã.

Sábado, 5 de março de 2016

Estou tão triste por ficar sem ti! Agora estou a escrever o último registo de sempre! Mas tenho uma coisa para te contar. Enquanto estávamos a falar das saudades que íamos ter das nossas coisas, a certo momento, o Rui disse que me amava muito e ao mesmo tempo ele começou a aproximar-se muito de mim e acabamos por nos beijar. Sabes que mais, fico feliz por ter tido tempo de te contar este momento tão feliz da minha vida e que a vai mudar por completo. Quero dizer-te que foste muito importante para mim e que nunca

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te esquecerei. Ajudaste-me nos momentos felizes e infelizes da minha vida e isso é muito generoso. Como se costuma dizer “o papel tem mais paciência do que muitas pessoas” e isso é verdade. Bem, parece que chegou a hora da verdade. Até sempre, caro diário.

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3.º PRÉMIO6.º Ano

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Autor:

Joana Ferreira da Silva Madureira Jaloto

Estabelecimento de Ensino:

EB de Lousada Centro

Agrupamento de Escolas de Lousada

QUEM SOU EU?

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Olá! Sou algo, algo no grande e imenso manto escu-ro, chamado Universo. Moro no meio do Universo, faço parte dele. Ele é grande, e está cheiinho de bi-

liões e biliões de galáxias. Cada galáxia está repleta de es-trelas, como um grande saco de diamantes. As estrelas têm satélites, os planetas. Eu moro numa galáxia, perdida no universo, chamada Via Láctea, iluminada pelo Sol, a minha estrela. Moro num pequeno planeta chamado Terra. Nós, os Humanos, não sabemos se estamos sós ou não no Universo. É um dos muitos mistérios que a Humanidade tem que des-vendar. Os Humanos, têm esta forma de olhar para as coi-sas que os rodeiam. Por vezes, pensam que são superiores a todos os astros, criaturas e até ao próprio Universo de que fazem parte. Os Humanos cada vez mais ignoram o que os rodeia. Eu sou um dos 7 biliões de Humanos no mundo. Sou a Joana. Sou a Joana Jaloto. Trata-me por J.J..

Quem somos? É a única pergunta que engloba todas as outras.

Este planeta está todo dividido por continentes, países, distritos, cidades, vilas, aldeias, freguesias e ruas. Esta lista enorme, só nos mostra as manias que as pessoas têm! Eu moro em Portugal, no distrito do Porto, na cidade de Pe-nafiel. Logo ao lado, existe uma grande vila, que bem po-dia ser uma cidade, só que as pessoas de lá preferem morar numa grande vila do que numa pequena cidade! Essa vila tem nome, tal como todas as coisas que o Humano vê ou imagina. O seu nome é Lousada. É onde ando na escola e

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onde passo praticamente todo o dia. Bem, agora estou no 6.º ano.

Este texto é baseado nos meus sonhos e nos pensamen-tos que passam pela minha mente todos os dias.

Estas folhas são as estrelas do coração, o pequeno-gran-de e emocionante Universo que todos temos, inteligente, perspicaz e cheiinho de neurónios: o cérebro.

Eu penso que a ciência tem que ter sonhos, desejos e criatividade. A ciência não é exata, tem algo que vem do in-terior de cada um de nós. Devíamos ter uma portinha, para espreitar de forma furtiva o interior de cada um, e víssemos as suas tristezas e alegrias. Se toda a gente o visse, o que se-ria o mundo? Não sei. Isto é sonhar acordado. E de pestana fechada? Isso já é outro assunto.

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Todos sonhamos à noite. Sonhamos inspirados no dia, mas com a «magia natural» do inconsciente. Isso não se explica. A isto chamo vida, dia, mês, tem-

po, tudo. Tudo é mágico. Tudo é especial. Tudo é o universo. Desde há muito, tenho sonhado com um mundo mágico,

onde quase tudo é possível. Esse mundo são os sonhos, que juntos são um só. Eles podem ser horríveis, ou até maravi-lhosos e doces, como uma viagem num para-quedas chupa-chupa, num céu cor-de-rosa, com algodão doce para petiscar.

Um dos sonhos de que ainda me recordo, e que é dos mais antigos que tive, passava-se nas minhas cortinas brancas, onde vislumbrava um lindo prado, com uma imen-sidão de flores roxas que baloiçavam com a brisa suave, que levava num colo brilhante e macio uma bailarina com um tutu branco, como um dente- de-leão. No fim, veio ao seu encontro, uma figura triste, de que já não me recordo bem.

Este foi o maravilhoso sonho dos meus belos 4 anos, pas-sados e já quase esquecidos.

Nessa altura, comecei a ter aulas de ballet, provavelmen-te para dançar ao vento no pequeno palco do Auditório de Lousada. Também tive um tutu branco. Com ele dancei em vários espetáculos várias estrelas na minha vida. Foi diver-tido. Há pouco tempo, aos 10 anos (agora tenho 11), deixei de ter aulas de ballet. Digo há pouco, mas aqui dentro, os sonhos passados, são sempre relíquias para limpar o pó e guardar num sítio seguro para não se partirem e ficarem na obscuridade do inconsciente.

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Todos os sonhos têm fim, tal como as coisas da vida e até a própria. Temos que aproveitar os bons sonhos e coi-sas boas como um chocolate doce, cheio de prazer, cheiro a baunilha e perfume da mãe.

Eu adoro a minha mãe. Ela deixa sempre um rasto chei-roso que dura para quase sempre, que contém cheiro a bau-nilha e o seu perfume que ajudei a escolher. Às vezes, vem acompanhado com um ralhete passageiro, escondido entre os aromas maravilhosos e nos seus cabelos loiros meio rui-vos ou mostrando-se convincente na sua linda face.

Se pensarmos bem, em cada grande-pequeno Universo de cada um de nós, há sempre sonhos, sonhados ou por sonhar. Dentro deles, há conjuntos de estrelas, que levam com elas, ideias e recordações. Resumindo, cada estrela no céu é como um sonho de cada um de nós.

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Tal como contei, ando no 6.º ano, na escola EB Lou-sada Centro. Ela é especial. Por vezes, pensava que não passava de uma escola grande, cheia de alu-

nos barulhentos, mas tem algo especial, o que a maioria das coisas não aparentam ser: mágica!

Quando está tudo parado, entro no murmúrio dos pássa-ros, no soar do vento, da magia que me envolve, da magia do sonho. Os livros dormem nas minhas costas, dentro da mochila lilás, a bordo das minhas asas de sonho, movidas pelos raios do sol, que em dia de chuva se atrevem a esprei-tar. Um arco-íris surge no céu para eu voar até ao pote má-gico, onde encontrei inspiração para o texto não ir em vão!

Imagina! Imagina que os bons sonhos e pesadelos se de-sentendiam. O que aconteceria? A vida tem altos e baixos, talvez a nossa imaginação também os tenha. Se calhar, ha-veria uma guerra tipo star wars entre as memórias, factos e ideias. Cada uma com uma vontade incrível de se libertar, com a esperança de vencer.

Eu acho que os sonhos podiam ser parte deles próprios. Podiam ser boas memórias, personagens (boas) e tudo o que soubesse bem pensar. Os pesadelos seriam ao contrá-rio, nesta guerra meia real, meia imaginária. Seria tudo o que incomodasse a pessoa humana, tudo o que fosse triste, sem asas para voar. Venceria quem tivesse um fator real que justificasse a sua vitória. Venceria quem dominasse a mente. Convém não gastar energia com pensamentos ne-gativos, mais vale ultrapassá-los.

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Às vezes, penso que um dia abrirei uma janela, de cor-tinas brancas, de seda, suaves, perfumadas, com aquele toque de leveza, das asas de uma fada, acariciando a pele, como a carícia da magia. De lá dentro viriam sonhos, ador-mecidos na esperança da descoberta, com um mar quente e quieto, rosado e só. Chão onde não se toca, onde se sonha, leve e abstrato, que me faz sorrir no pensamento perfeito. Eu era como brisa, só havia lugar para a mente, estrelas no céu e para o azul ciano do amanhecer. A chuva era doce como o pestanejar, luz me cobria o rosto, focava-se no olhar e ficava sempre a iluminar o meu interior. Eu tinha asas, podia voar… Eu tinha asas podia voar…

J.J.

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