205
Luiz Fernando Cannoni LESÕES TRAUMÁTICAS DOS NERVOS CRANIANOS. ESTUDO PROSPECTIVO DE 71 CASOS CONSECUTIVOS Tese apresentada ao Curso de Pós-Gra- duação da Faculdade de Ciências Médi- cas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutor em Pes- quisa em Cirurgia. São Paulo 2014 (versão corrigida)

Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

  • Upload
    ngodang

  • View
    229

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Luiz Fernando Cannoni

LESÕES TRAUMÁTICAS DOS NERVOS CRANIANOS.

ESTUDO PROSPECTIVO DE 71 CASOS CONSECUTIVOS

Tese apresentada ao Curso de Pós-Gra-

duação da Faculdade de Ciências Médi-

cas da Santa Casa de São Paulo para

obtenção do Titulo de Doutor em Pes-

quisa em Cirurgia.

São Paulo

2014

(versão corrigida)

Page 2: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Luiz Fernando Cannoni

LESÕES TRAUMÁTICAS DOS NERVOS CRANIANOS.

ESTUDO PROSPECTIVO DE 71 CASOS CONSECUTIVOS

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de

Doutor em Pesquisa em Cirurgia.

Área de Concentração: Reparação Tecidual.

Orientador: Prof. Dr. José Carlos Esteves Veiga

São Paulo

2014

Page 3: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Cannoni, Luiz Fernando Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo prospectivo de 71 casos consecutivos./ Luiz Fernando Cannoni. São Paulo, 2014.

Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Pesquisa em Ci-rurgia.

Área de Concentração: Reparação Tecidual Orientador: José Carlos Esteves Veiga 1. Traumatismos encefálicos 2. Sistema nervoso periférico/ lesões

3. Crânio/lesões 4. Nervos cranianos

BC-FCMSCSP/08-14

Page 4: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de
Page 5: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Dedicatória

DEDICATÓRIA

Ao Senhor Deus, pela minha existência ....

Aos meus pais, Fioravante e Ivani, pelo

constante apoio às várias decisões que

tomei em minha vida ....

Ao meu irmão Rogério, pelas sugestões...

Page 6: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Agradecimentos

AGRADECIMENTOS

À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e à Irman-

dade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pela oportunidade de realizar

este trabalho.

Ao Prof. Dr. José Carlos Esteves Veiga, Professor Titular Livre-Docente e

Chefe da Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de São Paulo, pela orientação e

incentivo à realização desta pesquisa.

Ao Prof. Dr. José Henrique Busetti, Professor Livre-Docente e Professor Titu-

lar do Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC,

pela transmissão dos conhecimentos anatômicos e permissão para que parte deste

trabalho fosse realizado no laboratório de Morfologia.

À Profa. Dra. Mirna Duarte Barros, Professora Adjunta-Doutora e Chefe do

Departamento de Morfologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de

São Paulo, por permitir que parte deste trabalho fosse realizado no laboratório de

Morfologia.

Ao Prof. Dr. Rui Raul Dahas de Carvalho, pelos ensinamentos neurocirúrgicos

transmitidos ao longo da residência médica.

Ao Dr. Luciano Haddad, pelos comentários e ideias.

Ao Prof. Dr. Nelson Saade, pelo encaminhamento de pacientes do Ambulató-

rio de Trauma da Santa Casa de São Paulo para o nosso ambulatório.

Aos oftalmologistas, Dr. Orlando da Silva Filho e Dr. Maurício H. Nakanami,

por terem cedido fotos de seus arquivos pessoais para ilustrar este trabalho.

Aos residentes da Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de São Paulo,

pela colaboração no diagnóstico das lesões de nervos cranianos em pacientes do

Pronto-Socorro, do Ambulatório de Trauma e posterior encaminhamento destes pa-

cientes para ambulatório específico.

Page 7: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Agradecimentos

À Bibliotecária, Sra. Sabia Hussein Mustafa, pela presteza na elaboração da

ficha catalográfica deste trabalho.

Aos técnicos dos laboratórios de Departamento de Morfologia da Faculdade

de Medicina da Fundação do ABC e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo (João Batista da Silva e Sergivan Gonçalves de Moraes), no au-

xílio quanto à escolha das peças anatômicas de interesse para este trabalho.

Ao estatístico, Euro de Barros Couto Júnior, pela análise estatística das múlti-

plas variáveis contidas neste estudo.

A todos os pacientes que participaram deste trabalho através da assinatura

do termo de consentimento livre e esclarecido.

Aos Departamentos de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de

Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, pelo acompanhamento conjunto dos

pacientes.

À Unidade de Fonoaudiologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia

de São Paulo, pela avaliação conjunta de pacientes deste estudo.

Àqueles que, no anonimato e de maneira altruísta, contribuíram direta ou indi-

retamente para a realização deste trabalho.

Page 8: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Abreviaturas e Símbolos

ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

a. Artéria

aa. Artérias

ACI Artéria carótida interna

Acid. Motociclist. Acidente motociclístico

ATM Articulação têmporo-mandibular

dB Decibel ou decibels

d.C. Depois de Cristo

Ec Energia cinética

ECGl Escala de coma de Glasgow

ECM Músculo esternocleidomastóideo

ENMG Eletroneuromiografia

ERGl Escala de resultados de Glasgow

FCO Fratura do côndilo occipital

FLM Fascículo longitudinal medial

g. Gânglio

HED Hematoma epidural

HSAT Hemorragia subaracnoide traumática

HSDA Hematoma subdural agudo

HIP Hematoma intraparenquimatoso

LAD Lesão axonial difusa

LCR Líquido cefalorraquidiano

MOE Motricidade ocular extrínseca

MOI Motricidade ocular intrínseca

n. Nervo

nn. Nervos

PIFR Pupilas isocóricas e fotorreagentes

Pn Pneumocrânio

SAME Serviço de arquivamento médico e estatístico

sec. Século

TCE Traumatismo cranioencefálico

TRM Traumatismo raquimedular

v. Veia

vv. Veias

V1 1a. divisão do n. trigêmeo ou n. oftálmico

V2 2a. divisão do n. trigêmeo ou n. maxilar

V3 3a. divisão do n. trigêmeo ou n. mandibular

Page 9: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Sumário

SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO................................................................................................. 1

1.1. Revisão da Literatura................................................................................. 3

1.1.1. Lesões traumáticas de nervos cranianos............................................... 3

1.1.1.1. Nervo olfatório (I)............................................................................ 6

1.1.1.1.1. Alterações gustatórias............................................................... 11

1.1.1.2. Nervo óptico (II) ............................................................................. 14

1.1.1.2.1. Avulsão do nervo óptico............................................................ 22

1.1.1.2.2. Lesões quiasmáticas................................................................. 24

1.1.1.3. Complexo de nervos motores oculares.......................................... 30

1.1.1.3.1. Nervo oculomotor (III)................................................................ 30

1.1.1.3.2. Nervo troclear (IV)..................................................................... 33

1.1.1.3.3. Nervo abducente (VI)................................................................. 38

1.1.1.4. Nervo trigêmeo (V).......................................................................... 41

1.1.1.5. Nervo facial (VII)............................................................................. 43

1.1.1.6. Nervo vestibulococlear (VIII)........................................................... 58

1.1.1.7. Nervos glossofaríngeo (IX) e vago (X) ........................................... 60

1.1.1.8. Nervo acessório (XI)....................................................................... 61

1.1.1.9. Nervo hipoglosso (XII).................................................................... 62

2- OBJETIVOS..................................................................................................... 65

2.1. Objetivos gerais.......................................................................................... 66

2.2. Objetivos específicos.................................................................................. 66

3- CASUÍSTICA E MÉTODO............................................................................... 67

3.1. Critérios de inclusão.................................................................................... 70

3.2. Critérios de exclusão................................................................................... 73

3.3. Análise estatística....................................................................................... 73

4- RESULTADOS................................................................................................ 74

5- DISCUSSÃO................................................................................................... 112

5.1. Nervo olfatório (I) ....................................................................................... 116

5.2. Nervo óptico (II) .......................................................................................... 118

5.3. Complexo motor ocular............................................................................... 119

5.3.1. Nervo oculomotor (III)............................................................................ 119

5.3.2. Nervo troclear (IV).................................................................................. 121

Page 10: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Sumário

5.3.3. Nervo abducente (VI)............................................................................. 122

5.4. Nervo trigêmeo (V)..................................................................................... 123

5.5. Nervo facial (VII) ....................................................................................... 124

5.6. Nervo vestibulococlear (VIII) ..................................................................... 126

5.7. Nervo acessório (XI)................................................................................. 127

6- CONCLUSÕES................................................................................................ 128

7- ANEXOS.......................................................................................................... 130

8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 134

FONTES CONSULTADAS.............................................................................. 143

RESUMO......................................................................................................... 145

ABSTRACT..................................................................................................... 147

APÊNDICE E LISTAS..................................................................................... 149

Page 11: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

1- INTRODUÇÃO

Page 12: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

2

A lesão única ou combinada de nervos cranianos (NC) é achado relativa-

mente frequente no traumatismo cranioencefálico (TCE). De acordo com Patel et al

(2005), em 12,6% dos casos de TCE ocorrem lesões dos diferentes nervos crania-

nos com nítido predomínio no gênero masculino e traumatismos com baixa transmis-

são de energia cinética (Ec).

São lesões frequentemente negligenciadas nos exames neurológicos

realizados em prontos-socorros e, muitas vezes, evidenciadas tardiamente durante a

evolução clínica. Pacientes comatosos podem ter lesões agudas em nervos crania-

nos e devido ao comprometimento do nível de consciência, estas podem não ser

detectadas. Exceções se fazem aos nervos oculomotor (III), abducente (VI), facial

(VII) e vago (X), cujas lesões são diagnosticadas sem a colaboração do paciente.

Uma rápida avaliação dos movimentos extrínsecos do globo ocular, reatividade pupi-

lar, simetria facial e função laríngea nos permite conjecturar sobre a integridade da

função dos nervos cranianos (Bhatoe, 2007).

Em geral, as lesões dos nervos cranianos constituem importantes causas de

morbimortalidade e requerem longos períodos de seguimento. A maioria das lesões

não requer intervenção cirúrgica na fase aguda, excetuando-se as lesões do II e VII

nervos, que podem ser submetidos ao procedimento cirúrgico quando indicado.

Existem situações que podem simular lesão de nervos cranianos; por exem-

plo, a perda da olfação pode ocorrer por simples obstrução nasal e não por lesão

própria do nervo olfatório. O bloqueio do canal auditivo externo ou a lesão da orelha

média (sangramento) podem causar diminuição da acuidade auditiva sem lesão do

VIII nervo. Deve-se considerar ainda o paciente que apresenta lesão prévia de de-

terminado nervo craniano por doenças sistêmicas, tais como: diabetes mellitus ou

doença infecciosa, além de traumatismo prévio ou cirurgias cranianas, orbitárias,

faciais e plásticas.

Além do comprometimento de sua integridade anatômica pela lesão direta ou

por mecanismo de desaceleração brusca e estiramento, os nervos cranianos tam-

bém podem ser lesados por efeito de hipertensão intracraniana (compressão do III

nervo), por complicações em decorrência da formação de fibrose que envolve o local

Page 13: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

3

de fratura e engloba o nervo e comprometimento de sua vascularização (Bhatoe,

2007).

As lesões dos nervos cranianos podem sugerir o mecanismo de trauma que

as causou (Keane, Baloh, 1996). Em traumatismos penetrantes (tentativas de suicí-

dio) com ferimento de entrada em região anterior da orelha, geralmente há transec-

ção do quiasma óptico. Em fraturas da porção basilar do osso occipital (alta energia

cinética), nervos cranianos de origem bulbar são os mais afetados.

O traumatismo raquimedular (TRM) também pode ser causa de lesão de ner-

vos cranianos bulbares, representada por disfagia e alterações respiratórias, cujos

mecanismos de ação incluem a extensão, flexão e rotação cervical (Schneider,

Johnson, 1971).

O aumento progressivo no número de pacientes vítimas de TCE com conse-

quentes lesões em nervos cranianos e a escassez de estudos nesta área faz com

que seja necessária a elaboração de protocolos e seguimento destes pacientes em

nível ambulatorial para proposta de tratamento.

Deste modo, propusemo-nos a estudar os diferentes eventos traumáticos

como causa de lesão de nervos cranianos, seus aspectos clínicos e aspectos de

neuroimagem.

1.1. Revisão da literatura

1.1.1. Lesões traumáticas de nervos cranianos

Nas casuísticas de Leigh (1943) e Hughes (1964), o facial é o nervo mais fre-

quentemente acometido por qualquer mecanismo traumático, seguido por lesão do

olfatório (Tab. 1).

Heinze (1969) analisa achados anatomopatológicos em indivíduos vítimas de

TCE (diversos mecanismos de trauma) em rodovias. Segundo o autor, os nervos II,

III, IV e VI são os mais frequentemente lesados, além do quiasma óptico e muscu-

Page 14: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

4

latura ocular extrínseca, mesmo na ausência de fraturas cranianas. Chama a aten-

ção para as lesões dos nervos oculomotores (III, IV e VI), que tendem a ocorrer na

emergência do tronco encefálico, assim como hemorragia na fissura orbitária supe-

rior como causa de lesão do III nervo.

De acordo com Keane, Baloh (1996), a incidência de lesão traumática de ner-

vos cranianos varia de 5 a 23%.

Patel et al (2005) relatam estudo com 99 pacientes portadores de lesões

traumáticas de nervos cranianos, sendo a maior parte decorrente de TCE leve. De

acordo com os mesmos autores, as lesões traumáticas acometem mais frequente-

mente os nervos olfatório (I), facial (VII) e vestibulococlear (VIII), seguidas por lesões

no nervo óptico (II) e complexo oculomotor (III, IV e VI). Em menor proporção envol-

vem o trigêmeo (V) e os nervos cranianos de origem bulbar (IX, X, XI e XII).

Tabela 1. Frequência de lesão traumática dos nervos cranianos (Hughes, 1964).

Nervo craniano Porcentagem de lesão

Olfatório (I) 10,5% Óptico (II) 3,6%

Oculomotor (III) 2,6% Abducente (VI) 2,7%

Oculomotor (III), Troclear (IV), Abducente (VI) 1,4% Trigêmeo (V) 3,6% Facial (VII) 66,5%

Vestibulococlear (VIII) – orelha interna 1,5% Vestibulococlear (VIII) – orelha média 7,3%

Glossofaríngeo (IX), Vago (X), Acessório (XI), Hipoglosso (XII)

0,05%

Para os mesmos autores, o achado de lesões ocorreu segundo a seguinte

distribuição para nervos isoladamente comprometidos e multiplicidade de nervos

envolvidos (Tab. 2). Associam-se a múltiplas fraturas supratentoriais e da base do

crânio, assim como fraturas de vértebras cervicais.

Page 15: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

5

Tabela 2. Distribuição do número de pacientes por lesões traumáticas isoladas e múltiplas de nervos cranianos (Patel et al, 2005).

Nervo craniano lesado isoladamente

Número de pacientes

Nervos cranianos lesa-dos em associação

Número de pacientes

Olfatório (I) 3 II, III, IV e VI nervos 5

Óptico (II) 11 VI e VII nervos 5

Oculomotor (III) 12 VII e VIII nervos 5

Troclear (IV) 7 II e VII nervos 2

Trigêmeo (V) 0 III e IV nervos 2

Abducente (VI) 7 III, V e VI nervos 2

Facial (VII) 20 I, III, IV e VI nervos 1

Vestibulococlear (VIII) 7 I, II e VI nervos 1

Glossofaríngeo (IX) 0 I e II nervos 2

Vago (X) 0 II, VI e VII nervos 1

Acessório (XI) 0 III, IV, V e VI nervos 1

Hipoglosso (XII) 0 V e VII nervos 2

IV, VI e VII nervos 1

VII, IX e X nervos 1

IX e X nervos 1

Total 67 32

Bhatoe (2007) afirma que os nervos cranianos, juntamente com as artérias e

as veias intracranianas, constituem “verdadeiras âncoras num mar de líquido cefalor-

raquidiano”, fato importante para a explicação das lesões por estiramento. As lesões

traumáticas também podem decorrer de forças de cisalhamento, aceleração e desa-

celeração, lesões penetrantes, traumatismos diretos com fraturas cranianas e em

consequência a procedimentos cirúrgicos.

Em estudo experimental, Russell, Schiller (1949) descrevem traumatismos

que levam a diferentes tipos de compressão e deformação cranianas com lesão de

nervos cranianos. Na compressão transversa, segundo os autores, existe máxima

deformação na base do crânio (forame lácero) com avulsão do osso petroso e rota-

ção do ápice petroso na direção póstero-medial e estiramento do VI nervo. Quando

ocorre separação da porção anterior do petroso da asa maior do esfenoide, o nervo

trigêmeo é lesado. A divisão oftálmica do trigêmeo (V1) é lesada concomitantemente

Page 16: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

6

à lesão do canal carotídeo e do cavo de Meckel. Os III e IV nervos geralmente são

poupados neste tipo de lesão por terem trajeto medial ao ápice petroso. As lesões

pupilares são decorrentes da lesão dos filamentos simpáticos localizados ao redor

da a. carótida interna no forame lácero. As lesões do VII e VIII nervos são decor-

rentes de fratura na cavidade timpânica. Na compressão sagital, com lesões etmoi-

dais e do canal óptico, o I e II nervos serão mais frequentemente lesados.

A seguir é apresentada a revisão em tópicos das lesões traumáticas dos dife-

rentes nervos cranianos.

1.1.1.1. Nervo olfatório (I)

Hagan (1967) e Gurdjian* (1958) (citado por Hagan, 1967) definem a lesão

traumática do olfatório como a perda da função olfativa decorrente de traumatismo

craniano e que não envolve diretamente o nariz ou o epitélio olfativo, mas sim as

fibras do nervo olfatório na região superior à lâmina crivosa do etmoide.

A anosmia é mais comum no traumatismo occipital, quando comparada ao

traumatismo frontal (Leigh, 1943; Sumner, 1964a). É decorrente do contragolpe so-

frido pela região basal dos lobos frontais. Segundo os autores, a frequência da

anosmia é proporcional à intensidade do trauma.

Para Bhatoe (2007), a lesão do nervo olfatório deve ser suspeitada na pre-

sença de equimose periorbitária, rinoliquorreia, epistaxe e proptose.

Kindler**, em 1936, (apud Sumner, 1964a) afirma que a lesão do nervo olfató-

rio é independente do sítio ou da intensidade do traumatismo, enfatizando a impor-

tância desta lesão em profissionais de cozinha, perfumarias e provadores de café.

Goland (1937) relata lesão de nervo olfatório em três pacientes com trauma-

tismo occipital e fraturas occipitais e outros três com fraturas parietais. Nestes casos,

a anosmia era unilateral e a hiposmia era contralateral à fratura, o que foi atribuído

ao contragolpe.

* Gurdjian ES, Webster JE. Head injuries, Boston: Little, Brown & Company; 1958. APUD Hagan PJ. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1967; 85:85-9. ** Kindler APUD Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20.

Page 17: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

7

Leigh (1943) apresentou a primeira grande série de pacientes com anosmia

em estudo de 1000 pacientes com TCE. Setenta e dois pacientes apresentaram

anosmia, dos quais apenas seis recuperaram a função olfativa, enquanto 12 desen-

volveram parosmia. Sumner (1964a) relata incidência de lesão de 4% em sua casu-

ística.

Sumner (1964a, 1976) afirma que a primeira descrição de lesão traumática de

nervo olfatório foi realizada por Hughlings Jackson*, em 1864, com incidência de 7%,

aumentando para 30% quanto o traumatismo for grave ou incluir lesões na fossa

craniana anterior e que também podem existir lesões não associadas a alterações

do nível de consciência (traumatismos leves).

Segundo Kottmeyer** (1959) (apud Sumner, 1964a) somente o traumatismo

occipital poderia causar anosmia sem fraturas, enquanto os traumatismos frontais

somente o fariam na presença de fraturas.

Para Schechter, Henkin (1974), a lesão traumática do nervo olfatório inde-

pende da intensidade do traumatismo, da presença ou ausência de amnésia pós-

traumática, da presença de fraturas e da localização do traumatismo. Contudo, a alta

incidência de impactos occipitais sugere que traumatismos nesta região possam

predispor a maior número de alterações olfativas e gustatórias. Acrescenta ainda

que são alterações que costumam aparecer imediatamente após o traumatismo,

embora tenha observado reduzido número de alterações tardias.

Hagan (1967) recomenda o uso de café, canela, água de rosas, cânfora, la-

vanda, óleo de cravo e menta para a pesquisa da função do nervo olfatório. Com

substâncias ácidas (vinagre) obteve irritação da cavidade nasal com estimulação de

terminais trigeminais, contraindicando o seu uso. Para testar a gustação recomenda

o uso de sal (cloreto de sódio 5%) e açúcar (sacarose 10%), além de substâncias

amargas (quinino 1%) e ácidas (ácido cítrico 5%).

A perda da olfação costuma não ser importante para o bem estar do paciente,

a não ser em casos que o indivíduo trabalhe em profissões que exijam o reconheci-

* Jackson H (1864) APUD Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20.

** Kottmeyer APUD Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20.

Page 18: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

8

mento de diferentes odores (perfumistas) ou em situações de trabalho com gases,

onde um vazamento poderá trazer riscos para o indivíduo (Hughes, 1964).

Segundo Bhatoe (2007) 40% dos pacientes com lesão traumática de nervo

olfatório observam recuperação funcional nos primeiros três meses após a lesão. A

recuperação precoce implica em resolução de efeitos compressivos locais, como

hematoma, edema ou contusão. A recuperação tardia demonstra processo de rege-

neração de neurônios da mucosa olfatória em direção aos bulbos olfatórios.

Hughes (1964) afirma que o local mais frequente de lesão do nervo olfatório é

a região superior da lâmina crivosa do etmoide, onde a laceração das fibras olfató-

rias, contusão e hemorragia ocorrem por rápidas acelerações e desacelerações

sofridas pelo encéfalo.

Holbourn*, em 1943 (apud Sumner, 1964a), afirma, através de modelos expe-

rimentais com gelatina, que o traumatismo occipital pode causar cisalhamento dos

filamentos do nervo olfatório, apesar de este cisalhamento ser mínimo nas vizinhan-

ças da base do encéfalo poupando os nervos cranianos do movimento rotacional;

porém a maior parte da energia cinética seria transmitida aos lobos temporais, po-

dendo-se lesar outro ponto da via olfatória.

Goland (1937) acredita que a lesão possa ocorrer na estria olfatória lateral,

lacerada pelas margens afiadas da asa menor do esfenoide. Porém, a maior parte

das lesões ocorre por traumatismos occipitais ou frontais associados a grandes alte-

rações de aceleração (Collet**, 1933; Gurdjian et al***, 1958, citados por Hagan,

1967). Collet (1933) atribui alteração da função olfativa pós-traumática à lesão do

bulbo e filamentos olfatórios (citado por Hagan, 1967).

Segundo Sumner (1964 a), o prognóstico é reservado nas lesões completas

do nervo olfatório. Pode haver recuperação espontânea da olfação, mesmo que par-

cial, o que pode ser explicado pela ausência de lesão total do nervo e diminuição do

processo edematoso, que frequentemente ocorre na fase aguda do traumatismo,

* Holbourn APUD Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20.

** Collet FJ. Etude statistique et étiologique sur l'anosmie. APUD Hagan PJ. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1967; 85:85-9. *** Gurdjian ES, Webster JE. Head injuries, Boston: Little, Brown & Company; 1958. APUD Hagan PJ. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1967; 85:85-9.

Page 19: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

9

além da regeneração de neurônios da mucosa olfatória. Também relata que a me-

lhora da função olfativa ocorre em um terço dos casos e correlaciona a melhora

desta função com o tempo de amnésia pós-traumática. Alega que indivíduos com

amnésia pós-traumática superior a 24 horas terão anosmia definitiva em 90% dos

casos. Porém, quando a melhora da função ocorre, geralmente se faz por completo.

A intensidade do traumatismo foi avaliada pelo período de amnésia ou inconsciência

do indivíduo.

A escala de coma de Glasgow (ECGl – Anexo I) foi definida por Teasdale,

Jennett, em 1974. A aplicação desta escala é útil na avaliação da intensidade do

traumatismo craniano, dividindo-o em leve (13 a 15), moderado (9 a 12) e grave (3 a

8) de acordo com a pontuação.

Quanto à recuperação funcional, diversos autores fornecem dados variáveis.

Sumner (1964a) relata período situado entre três semanas e sete meses. Em seu

artigo cita Jacob e Russell, os quais afirmam que melhoras funcionais que não ocor-

ram até dois meses após o traumatismo, provavelmente não mais obterão recupe-

ração. Porém, Leigh (1943) encontrou em sua casuística melhora funcional após um

ano.

Patel et al (2005) relatam em sua série a percentagem de 0,88% para as dis-

funções pós-traumáticas do nervo olfatório, relacionadas a traumatismo craniano

leve e à presença de fístula liquórica.

Em aproximadamente 70% dos casos de lesão traumática do nervo olfatório,

podem ser demonstradas fraturas na fossa craniana anterior (Hughes, 1964).

Clark, Dodge (1955a) afirmam que a gustação é uma síntese de sensações

derivadas dos nervos olfatórios, papilas gustatórias e outras terminações sensitivas

localizadas no interior da boca. Em outro trabalho (Clarke, Dodge, 1955b) publicam

que indivíduos com anosmia podem ainda ter a sensibilidade gustatória preservada,

pois os componentes extraolfatórios da gustação desempenham papel importante na

manutenção da mesma e incluem sensações somáticas bucais, nasofaríngea, visu-

ais, auditivas e de memória, assim como o estado psicológico do indivíduo ao se

alimentar. Segundo estes autores, a lesão traumática do primeiro nervo está pre-

Page 20: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

10

sente em 3 a 5% de todos os casos de TCE e aumenta para 15 a 20% quando a

contusão cerebral está associada. De acordo com suas observações, anosmia com-

pleta é raramente reversível, porém a hiposmia pós-traumática tende a melhorar no

decorrer do tempo, devendo-se acrescentar que todos os pacientes de sua série

foram vítimas de traumatismos com alto valor cinético.

Em geral, a recuperação da função olfativa varia de 8 a 39% nos pacientes

com anosmia pós-traumática (Sumner, 1964a; Schechter, Heinkin, 1974).

Segundo Paskind (1935), casos de parosmia são descritos em meningites da

base do crânio, traumatismos frontais, aterosclerose cerebral e processos infeccio-

sos que envolvem a cavidade nasal. É difícil entender porque a parosmia contínua

seja tão rara. Porém, a anosmia em lesões frontais é relativamente comum (menin-

geomas da goteira olfatória). Como a anosmia é um sintoma relacionado à destrui-

ção e a parosmia está relacionada à irritação da via olfatória, o referido autor acre-

dita que a parosmia possa anteceder a anosmia. Sugere, portanto, que a parosmia

seja pesquisada em pacientes que já apresentem anosmia, afirmando que a paros-

mia possa ser um sintoma precoce de lesão intracraniana.

Zusho (1982) relata incidência de lesão de nervo olfatório em 4,2% em sua

série incluído casos de anosmia e hiposmia. Em 44% dos casos houve presença de

fraturas cranianas ou faciais, sendo a região occipital o local mais comum de trau-

matismos, seguidos dos traumatismos faciais e frontais.

No trabalho de Zusho (1982) somente 14% dos pacientes observaram me-

lhora da função olfativa no seguimento ambulatorial (6 meses a 7 anos), enquanto

11% notaram piora da função e 75% não descreveram qualquer alteração. O mesmo

autor relata não haver grau de dependência entre a intensidade do traumatismo, pre-

sença ou ausência de fraturas e o grau da disfunção olfativa. Atribui o déficit olfativo

traumático a quatro grandes etiologias:

a) Distúrbio respiratório – devido a traumatismos faciais, principalmente aqueles

com acometimento nasal, levando à deformidade da cavidade nasal. A hiposmia

é mais frequente que a anosmia;

b) Distúrbios epiteliais: por lesão direta do epitélio olfativo ou por lesão indireta

decorrente de alterações circulatórias por alterações do sistema nervoso autô-

Page 21: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

11

nomo ou lesão em tronco encefálico;

c) Distúrbio dos nervos olfatórios: o local mais comum de lesão é a região superior

da lâmina crivosa do etmoide (lesão dos filetes nervosos, presença de hemato-

mas e contusões devidas à aceleração e desaceleração do encéfalo);

d) Distúrbio central: qualquer lesão que atinja bulbos, tratos ou córtex entorrinal.

Ichihara* et al, em 1962 (apud Zusho, 1982), relatam que a maioria das lesões

olfativas traumáticas ocorre por traumatismo occipital.

1.1.1.1.1. Alterações gustatórias

As alterações gustatórias pós-traumáticas (hipogeusia e disgeusia) têm rece-

bido muito menos atenção e ocorrem menos frequentemente em relação às altera-

ções olfativas; a incidência de lesão chega até 4% dos pacientes com lesão olfativa

(Schechter, Heinkin, 1974). Griffith (1976) afirma que a hiperosmia tem rara ocorrên-

cia e tem etiologia psicogênica. Geralmente, as alterações gustatórias acompanham

as alterações olfativas e na maioria dos casos regride espontaneamente, sugerindo

que a melhora gustatória ocorra muito mais frequentemente que a olfativa. Não há

relação entre a intensidade do traumatismo e o aparecimento de lesões gustatórias

(Schechter, Henkin, 1974), pois podem ocorrer mesmo em traumatismos cranianos

leves e seu início pode ser de ocorrência tardia (meses após o traumatismo).

Quando são consideradas em conjunto, ambas as lesões atingem entre 6 a 33% dos

indivíduos com TCE. A etiologia da disgeusia ou ageusia pós-traumática é obscura.

Sugere-se que sejam devidas à irritação ou destruição do nervo olfatório. Leigh

(1943) sugere que represente um estágio de recuperação da anosmia. Deve-se ob-

servar que alguns casos de alterações gustatórias possam ocorrer na ausência de

alterações olfativas (Schechter, Henkin, 1974). Alguns pacientes com anosmia e hi-

pogeusia pós-traumáticas exibem alterações no metabolismo do zinco semelhantes

a pacientes com perdas de zinco e que apresentam alterações gustatórias (Sche-

chter, Henkin, 1974). Porém, na maioria dos casos, existe aumento na concentração

sérica de zinco (77+/-3 microgramas/ 100 ml) associada à diminuição na concentra-

ção sérica de cobre (99 +/-2 microgramas/100ml).

*Ichihara M, Miyao K, Komatsu N, Kamio S, Hirayoshi H, Sakuma Y, et al Congenital anosmia.

Jibiinkoka. 1962; 34:323-5. APUD Zusho H. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1982;108:90-2.

Page 22: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

12

Cohen et al (1973) demonstraram que alterações no metabolismo do zinco e

do cobre (hipozincemia e normocupremia; hiperzincúria e hipercuprúria) podem cau-

sar alterações gustatórias e olfativas, e, que a reposição do zinco tende a melhorar

os sintomas em pacientes vítimas de queimaduras. Porém não fornece uma explica-

ção para o aparecimento da hipogeusia ou ageusia. Propõe que o mecanismo de

aparecimento das alterações gustatórias decorra de alterações no metabolismo do

zinco.

Sumner (1964b) afirma que as alterações gustatórias sejam decorrentes da

lesão olfativa e que não se é dada a devida importância a este sintoma. A ageusia

associada a anosmia pode ocorrer em traumatismos com alta ou baixa energia ciné-

tica.

Griffith (1976) afirma que a ageusia é rara quando decorrente de traumatismo,

uma vez que haveria necessidade de lesão dos três nervos responsáveis pela con-

dução desta sensibilidade (VII, IX e X).

A duração da ageusia também independe da intensidade do traumatismo. O

prognóstico para a melhora da função gustatória é melhor que o da função olfativa

(Sumner, 1964b) e o início da recuperação é mais precoce. Durante este período,

pode haver descrição de parosmia ou parageusia.

A melhora da função gustatória é lenta e progressiva [2 semanas a 18 meses

segundo Sumner (1964b)], iniciando-se, geralmente, pelo sabor doce, sendo se-

guido pelo salgado, ácido e amargo.

Rotch** (1878) descreve paciente vítima de queda de altura e que apresentou

anosmia e ageusia, porém mantendo intactas as sensações térmico-dolorosas e tá-

teis da língua (citado por Sumner, 1964b).

É difícil ter-se uma estatística precisa acerca da incidência de ageusia, pois o

exame raramente é realizado e esta pode ter aparecimento tardio. Acredita-se que

sua incidência seja de aproximadamente 5% dos casos de anosmia pós-traumática

e 0,5% de todos os casos de TCE (Sumner, 1964b).

*Rotch TM. Posttraumatic ageusia. Boston Med Surg J. 1878; 99:130. APUD Sumner D. Post-traumatic ageusia. Brain. 1964b; 87:187-202.

Page 23: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

13

Para Sumner (1964 a), ageusia não ocorre sem anosmia. Portanto, para se

justificar ambos achados, o traumatismo deveria envolver ambos os nervos olfató-

rios, os dois nervos linguais (ou corda do tímpano) e os dois nervos glossofaríngeos.

Porém, a lesão ocorre mesmo em traumatismos de pequena intensidade, não le-

vando a lesão destas estruturas.

Mifka* (1954) considera que ambas as lesões ocorram somente em indivíduos

que possuam inervação anômala da língua, cujas fibras gustatórias dirijam-se dire-

tamente para o nervo glossofaríngeo. Traumatismos cranianos poderiam afetar si-

multaneamente a lâmina crivosa do etmoide e o forame jugular, especialmente na

presença de fraturas basais (citado por Sumner, 1964b).

Ferrier** (1876) propôs mecanismo que envolve a porção inferior do lobo tem-

poral, onde os centros gustativos e olfativos estão em íntima relação (subiculum)

(citado por Sumner, 1964b).

Do ponto de vista histológico, Hasegawa et al (1986) afirmam que na fase ini-

cial da lesão ocorre degeneração das vesículas olfatórias com desaparecimento dos

cílios sem alterações das células basais. Numa fase tardia há ausência completa de

vesículas e cílios associada à presença de corpos basais nas vesículas e desorgani-

zação do arranjo celular epitelial, conferindo aparência atrófica à mucosa com afila-

mento de sua espessura incluindo ainda achados de tecido fibroso que auxiliam na

desorganização estrutural. Estas alterações são proporcionais à intensidade do

trauma segundo os autores.

As células olfativas degeneram-se precocemente após a lesão do nervo

olfatório, porém o epitélio olfatório pode regenerar-se a partir das células basais

(Hasegawa et al, 1986).

Após traumatismo que envolve a lesão dos filamentos do nervo olfatório,

geralmente ocorrem processos de regeneração e fibrose que envolvem a placa cri-

vosa do etmoide. Portanto, qualquer atividade regenerativa do epitélio olfativo na

* Mifka P. 8th Proc Int Neurol Congr APUD In: Sumner D. Posttraumatic ageusia. Brain. 1964b;

87:187-202. ** Ferrier D. The functions of the brain. London: Smith, Elder & Co.; 1876, APUD. In: Sumner D. Post-

traumatic ageusia. Brain. 1964b; 87:187-202.

Page 24: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

14

tentativa de reestabelecer sinapses com o os nervos olfatórios (células mitrais), fica

prejudicada, dificultando a recuperação da função. O axônio é defletido e adquire

uma aparência espiralada, começando a sofrer processo de degeneração e fazendo

com que as células receptoras enviem outros axônios na tentativa de estabelecer

contato com o bulbo olfatório (Jafek et al, 1989).

Jafek et al (1989) realizaram biópsias da mucosa olfatória em pacientes com

lesão traumática de nervo olfatório e fizeram análise ultraestrutural dos achados. O

epitélio olfativo normal é colunar pseudoestratificado com quatro tipos distintos de

células: células de suporte, microvilares, basais e células olfatórias receptivas cilia-

das (células sensitivas primárias). No epitélio olfativo pós-traumático há distorção

destas estruturas. O epitélio olfativo é alargado e globoso. Os núcleos celulares são

dispersos por todo o epitélio e frequentemente vistos na superfície mucosa.

O epitélio olfativo contém axônios localizados nas imediações da membrana

basal e podem estender-se até a superfície mucosa. Há vários feixes de fibras ner-

vosas na lâmina própria, abaixo da membrana basal.

Raras vesículas olfatórias são observadas e corpos basais podem ser visibili-

zados em seu interior. Cílios que se projetam das células receptoras são raramente

observados.

Schurr (1975) afirma que em casos de anosmia traumática unilateral podem

identificar o local de fístulas liquóricas em localizações difíceis de serem determina-

das.

Lewin et al (1985) afirmam que a hiposmia pós-traumática decorre de lesões

difusas do córtex orbito-frontal e temporal, uma vez que em sua série, os pacientes

identificavam parcialmente o tipos de odores sem correlacioná-lo com fontes que

pudessem emiti-los.

1.1.1.2. Nervo óptico (II)

A neuropatia óptica traumática é definida como a perda visual traumática que

ocorre na presença de um defeito pupilar aferente sem evidência de traumatismo

ocular ou do nervo óptico.

Page 25: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

15

Turner (1943) afirma que a lesão traumática do nervo óptico ocorre em 1,6%

dos casos de TCE, sendo a maior parte causada por traumatismo direto e de alta

energia cinética à região frontal. Em seu estudo, os sintomas iniciaram-se imediata-

mente após o traumatismo (escotomas) e a recuperação da acuidade visual ocorreu

em três a quatro dias.

Patel et al (2005) descrevem 22 lesões traumáticas de nervo óptico com

100% de presença de fraturas orbitárias múltiplas com extensão ao ápex, além de

fraturas da parede lateral da órbita, parede medial e teto da órbita.

Geralmente a perda visual é imediata, e quando tende à melhora, esta geral-

mente inicia-se entre o terceiro ou quarto dia após o traumatismo (Turner, 1943). Os

escotomas são explicados por lesão da artéria central da retina e as alterações pe-

riféricas por lesão de ramos nutrientes do nervo óptico. Em raros casos foram descri-

tas fraturas que envolveram o canal óptico.

Classifica-se a lesão traumática do nervo óptico em direta e indireta. A indi-

reta resulta de traumatismo ipsilateral à região frontal. Forças aqui aplicadas transmi-

tem-se ao canal óptico, local mais frequente de lesão traumática do nervo óptico

(Crompton, 1970). O traumatismo temporal ou parietal pode ocasionalmente causar

lesão no nervo óptico, mas em raríssimas ocasiões o traumatismo occipital é a

causa. Geralmente causam perda visual imediata e esta apresenta algum grau de

recuperação em 33% dos casos (Russell, Schiller, 1949).

O traumatismo direto aplica-se sobre o globo ocular, com avulsão do nervo

óptico, associada à hemorragia retiniana. Cegueira unilateral é a consequência mais

frequente da lesão traumática do nervo óptico, porém qualquer grau de acometi-

mento da acuidade visual pode estar presente. Em termos de comprometimento de

campo visual, os defeitos altitudinais inferiores são os mais frequentemente relata-

dos (Turner, 1943). Em 10% dos casos há lesões bilaterais ou lesões quiasmáticas,

que geralmente são assimétricas com comprometimento unilateral grave associadas

a hemianopsia temporal contralateral (Turner, 1943).

A deterioração progressiva da acuidade visual sugere processo de reversibili-

dade (Lessell, 1989) como hemorragia extraxial ou compressão direta do nervo por

Page 26: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

16

fragmentos ósseos. Mesmo um curto período de recuperação visual após trauma-

tismo craniano constitui, potencialmente, processo reversível. Por outro lado, perda

visual imediata no impacto sugere laceração, avulsão ou contusão extensa com ne-

crose isquêmica do nervo e prognóstico muito reservado.

A tomografia de órbita fornece informações quanto a presença de fraturas do

canal orbitário, assim como a presença de fragmentos ósseos em seu interior.

As lesões do globo ocular ocorrem frequentemente por traumatismo direto ou

traumatismos penetrantes com consequente rotura do globo ocular. Nestes casos,

geralmente, ocorre mínima lesão cerebral com excelente prognóstico, porém a lesão

ao globo ocular é uma importante fonte de infecção do sistema nervoso central

(Kline et al, 1984), pela presença de fístula liquórica.

Deve-se considerar também a possibilidade de sangramento no globo ocular,

a qual é dividida em sangramento da câmara anterior, do vítreo e da retina. O san-

gramento retiniano é o mais frequente. É visualizado como pequena área retiniana

avermelhada, edemaciada e elevada quando comparada com o nível retiniano não

comprometido. Na fase crônica, o fundo de olho é visto como uma área irregular e

pálida circundada por área de pigmentação enegrecida.

Quando este tipo de lesão estiver localizado nas imediações da mácula, alte-

rações da acuidade e do campo visual ocorrem.

Deslocamento do eixo do olho ocorre durante o TCE quando a órbita é defor-

mada por fraturas que envolvem a face ou a fronte (Kline et al, 1984). Os desloca-

mentos oculares mais frequentes ocorrem nas direções póstero-anteriores com des-

vio lateral do globo ocular. Deslocamentos no eixo superior e medial são raros. Con-

sequentemente, a diplopia é queixa comum quando os neuromecanismos oculares

estão lesados. Deve-se também considerar que a lesão da polia do músculo oblíquo

superior contribui para os distúrbios do movimento ocular.

Traumatismo direto ao nervo óptico está confinado a ferimentos por projéteis

de arma de fogo ao crânio e raramente são vistos na prática civil.

Page 27: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

17

Alterações visuais (mono ou binoculares) podem ser observadas (incluindo

cegueira) em TCE sem evidência direta de traumatismo aos nervos ópticos (0,5% a

1,5%) (Hughes, 1964). A cegueira ocorre imediatamente após o traumatismo (geral-

mente monocular). Pode ocorrer espasmo da artéria central da retina. Em 50% dos

casos há melhora progressiva da visão em 30 dias, sendo raros os casos que apre-

sentam melhora após este período. O disco óptico torna-se pálido e pode haver

pigmentação enegrecida ao redor do disco. Outra hipótese é a possível presença de

extravasamento sanguíneo no interior da dura-máter que recobre o nervo óptico, de

acordo com a descrição de Pringle* (1922), citado por Crompton (1970) que subme-

teu dois pacientes ao tratamento cirúrgico sem qualquer melhora do prognóstico.

Stephenson (1919) descreve sinais de comprometimento ocular sem evidên-

cia direta de traumatismo ocular. Isso foi observado em pacientes vítimas de TCE,

com equimose conjuntival que se seguiu após traumatismo em região parietal, he-

morragia retiniana consequente a traumatismo frontal, além de atrofia óptica em pa-

ciente vítima de traumatismo frontal.

O exame dos campos visuais revela diferentes tipos de achados como

escotomas centrais, defeitos no campo visual periférico e hemianopsias horizontais

(achado mais frequente) (Hughes, 1964). A lesão indireta do nervo óptico é definida

como perda visual de origem traumática sem evidência externa ou oftalmoscópica

de lesão ocular ou do nervo (Walsh, Hoyt**, 1963, citados por Kline et al, 1984).

A explicação mais aceita para a patogênese da lesão indireta é a insuficiência

vascular (Kline et al, 1984). Se a perda visual for transitória, vasoespasmo e concus-

são do nervo podem ser as causas responsáveis, mas se a perda for permanente,

provavelmente ocorreu infarto do nervo óptico. Traquair et al (1935) sugerem que a

lesão ocorra nos vasos sanguíneos do nervo óptico mais do que no nervo propria-

mente dito.

* Pringle JH. Atrophy of the optic nerve following diffused violence to the skull. Br Med J. 1922;

2:1156-7. APUD Crompton MR. Visual lesions in closed head injury. Brain. 1970; 93:785-92. ** Walsh FB, Hoyt WF. Clinical neuro-ophthalmology. Baltimore: Williams and Wilkins; 1969. APUD Kline LB, Morawetz RB, Swaid SN. Indirect injury of the optic nerve. Neurosurgery. 1984; 14:756-64.

Page 28: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

18

O exame dos campos visuais revela diferentes tipos de achados como

escotomas centrais, defeitos no campo visual periférico e hemianopsias horizontais

(achado mais frequente) (Hughes, 1964). A lesão indireta do nervo óptico é definida

como perda visual de origem traumática sem evidência externa ou oftalmoscópica

de lesão ocular ou do nervo (Walsh, Hoyt**, 1963, citados por Kline et al, 1984).

Portanto, neste tipo de lesão, a via óptica não é lesada por corpo estranho,

mas a lesão ocorre em conjunto com o TCE fechado (0,5 a 1,5% dos casos).

Deve-se atentar para a possibilidade de fraturas do canal óptico e do pro-

cesso clinóide anterior, mesmo que ocorram na minoria dos casos.

A porção intracanalicular do nervo óptico é a região mais frequentemente le-

sada pelo traumatismo craniano fechado (Hedges, Gragouda, 1981; Kline et al,

1984), por ser um segmento fixo contido no interior de uma estrutura rígida e

ladeado por duas estruturas com relativa mobilidade: o encéfalo e o globo ocular.

As fraturas em estruturas ósseas que englobam o nervo óptico produzem le-

são em menor frequência (Pringle*, 1922, citado por Crompton, 1970), podendo en-

volver o canal óptico, o processo clinoide anterior e o teto orbitário. Os fragmentos

ósseos levam à rotura e à descontinuidade das fibras do nervo óptico.

A porção intraorbitária geralmente é poupada, devido à sua mobilidade e à

proteção oferecida pela gordura periorbitária e músculos extraoculares, assim como

o segmento intracraniano.

As lesões indiretas podem ser divididas em dois grupos (Kline et al, 1984):

anterior e posterior.

A lesão indireta anterior denota envolvimento da porção intraocular do nervo

óptico (disco óptico), a qual contém a artéria central da retina. As alterações fundos-

cópicas são evidentes e pode haver oclusão desta artéria com aparecimento de

edema retiniano, palidez óptica, retardo no fluxo sanguíneo retiniano em nível de

* Pringle JH. Atrophy of the optic nerve following diffused violence to the skull. Br Med J. 1922;

2:1156-7. APUD Crompton MR. Visual lesions in closed head injury. Brain. 1970; 93:785-92.

Page 29: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

19

disco óptico e na coroide peripapilar e mancha avermelhada na mácula ou espasmo

vascular retiniano (Hedges, Gragouda, 1981). A angiografia por fluoresceína de-

monstra comprometimento da circulação arterial ciliar posterior na inserção escleral

(o que justifica a ausência de exoftalmo), ausência de perfusão do disco óptico e

extravazamento de contraste tingindo-se o nervo óptico. Há varáveis graus de perda

visual neste tipo de lesão e o prognóstico é reservado. No nervo óptico, lacerações

marginais anteriores são visibilizadas, além de hemorragia discal. Após duas sema-

nas há resolução da hemorragia deixando uma cicatriz fortemente pigmentada nas

margens do disco e após um mês, a palidez papilar torna-se evidente.

A lesão indireta posterior baseia-se na lesão óptica sem alterações fundoscó-

picas durante a avaliação inicial. Após quatro a oito semanas do traumatismo, ocorre

palidez do disco e perda da camada de fibras nervosas retinianas. Presume-se que

a lesão ocorra entre a entrada da artéria central da retina no interior do nervo óptico

e o quiasma óptico. Aqui ocorrem escotomas.

Hughes (1964) propõe classificação das lesões traumáticas de nervo óptico

pela localização anatômica da lesão em:

a) Lesão marginal anterior (11,6%) – lesão que ocorre na região

coroidorretiniana. Muitas vezes não visualizada na fase aguda do traumatismo e

associada à lesão orbitária e frontal. O tipo de perda visual (descrita como em

feixe de fibras) mais a palidez do disco óptico sugerem traumatismo à parte mais

anterior do nervo óptico. Pode também haver aparência normal do fundo de olho

com espasmo de vasos retinianos. Caracteriza-se por prognóstico muito reser-

vado;

b) Porção anterior do nervo óptico (13%) – lesão que ocorre posteriormente ao

disco óptico, porém anteriormente à entrada da artéria central da retina. Ocorre

geralmente em traumatismos frontais associados a fraturas. Frequentemente há

palidez do disco óptico com perda total da visão na fase aguda e recuperação

parcial da visão em 10% dos casos;

c) Porção canalicular de nervo óptico (65%) – lesões que ocorrem posterior-

mente à entrada da artéria central da retina até o quiasma óptico. Nesta porção,

o nervo óptico está firmemente preso ao canal óptico e possui o maior trajeto,

estando mais sujeito às trações pelo movimento de inércia do encéfalo. Além

Page 30: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

20

disso, o traumatismo orbitário transfere sua energia ao canal óptico (Lewin,

1954). Em 70% dos casos ocorre por traumatismo frontal (Lewin, 1954), porém

somente em 10% ocorre fratura no canal óptico ou no processo clinoide anterior.

Neste tipo de lesão comumente ocorre rinorreia. A perda visual é imediata com

prognóstico reservado. Há palidez do disco óptico, podendo o restante do fundo

de olho, ter aspecto normal. Em aproximadamente 70% os casos, o déficit do

campo visual está localizado no campo inferior (hemianopsia inferior) e em 20%

evidencia-se hemianopsia superior. Geralmente a lesão do nervo óptico ocorre

por estiramento vascular e trombose ou lesão de pequenos vasos que nutrem o

nervo óptico. É o grupo de pacientes que costumam ser submetidos ao trata-

mento cirúrgico, que consiste em descompressão do nervo por remoção de es-

pículas ósseas que o comprimem;

d) Lesão optoquiasmática (6,5%) – ocorre lesão no ângulo quiasmático anterior

ou no nervo óptico. Geralmente são traumatismos frontais nas proximidades da

linha média. A perda visual monocular é imediata, associada a hemianopsia

temporal contralateral. A anatomia do suprimento vascular do ângulo quiasmá-

tico sugere que este tipo de traumatismo possa estar associado a espasmo ou

trombose de um vaso específico;

e) Traumatismo quiasmático (3,9%) – também ocorre por traumatismo frontal nas

imediações da linha média com presença de fratura craniana em praticamente

100% dos casos. A perda visual é imediata com presença de hemianopsia bi-

temporal. Não foi relatada recuperação visual em qualquer caso. Acredita-se que

o déficit visual ocorra por trombose ou vasoespasmo da artéria quiasmática cen-

tral;

f) Lesão no trato óptico e corpos geniculados – lesões raras e que ocorrem em

ferimentos por projéteis de arma de fogo. Ocorre perda visual homônima e com-

pleta;

g) Lesões suprageniculadas – ocorrem nas lesões do trato genículo-calcarino e

córtex calcarino. Geralmente vistas em lesões penetrantes e associam-se a fra-

turas ou afundamentos de crânio. Ocorre perda visual congruente e homônima

na periferia do campo, o que muitas vezes faz com que o indivíduo tenha uma

vida normal. Porém, quando escotomas centrais ocorrem, constituem fator im-

peditivo às atividades de vida diária;

Page 31: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

21

h) Lesão em radiações ópticas – ocorre perda visual homônima e congruente,

geralmente no campo visual inferior por traumatismos penetrantes;

i) Traumatismo ao córtex calcarino – geralmente resulta de traumatismos não

penetrantes com afundamentos cranianos localizados na linha média occipital.

Ocorrem escotomas centrais, mas podem ser múltiplos ou bilaterais. É possível

que a cirurgia de descompressão precoce possa melhorar o prognóstico visual.

Outra classificação é a preconizada por Walsh* (1966), (citada por Hedges,

Gragouda, 1981) onde se divide a lesão traumática do nervo óptico em primária e

secundária.

A lesão primária é representada por hemorragia no nervo óptico, dura-máter

que o recobre ou nos espaços entre as membranas que o recobrem. Estes casos

podem levar à atrofia óptica, mas edema no disco óptico é raramente observado.

Lesões do nervo óptico ocorrem por avulsão do globo ou transecção do nervo, ge-

ralmente devidas a ferimentos penetrantes do nervo por corpos estranhos ou frag-

mentos ósseos. Lacerações marginais do disco podem estar presentes juntamente

com hemorragias peripapilares (Hedges, Gragouda, 1981).

As lesões secundárias incluem papiledema associado a traumatismo

cranioencefálico grave e necrose do nervo por compressão local e não perfusão de

pequenos vasos ópticos centrípetos, derivados da circulação pial. Atrofia óptica se-

cundária a glaucoma, oclusão traumática da artéria central da retina e retinopatia

compressiva por pressão prolongada sobre o globo ocular também são considera-

das lesões secundárias.

Rodger (1943) afirma que o primeiro fenômeno observável no exame de

fundo de olho é a palidez do disco (total ou em parte), sendo que a papila óptica

mantém suas margens nítidas e sem alterações pigmentares retinianas.

Pacientes com perda visual imediata secundária a neuropatia óptica traumá-

tica geralmente não apresentam recuperação visual em decorrência de infarto, lace-

ração ou avulsão do nervo óptico.

*Walsh APUD Hedges TR, Gragouda ES. Traumatic anterior ischemic optic neuropathy. Ann

Ophthalmol. 1981; 13: 625-8.

Page 32: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

22

1.1.1.2.1. Avulsão do nervo óptico

De Vries-Knoppert (1989) relata avulsão de nervo óptico como evento traumá-

tico raro que pode resultar de traumatismo facial ou orbitário, penetrante ou não.

Salzmann (1903) define a avulsão como a separação do nervo óptico do

globo ocular em nível da lâmina crivosa da esclera sem a rotura da bainha do nervo

ou da esclera adjacente. A lâmina crivosa é região relativamente delicada do globo

ocular e composta somente por 1/3 das fibras da esclera. Além disso, os axônios do

nervo óptico são desmielinizados quando deixam o globo ocular, tornando-os mais

vulneráveis a lesões nesta região.

O globo ocular é estirado e traciona o nervo óptico, porém, o mecanismo de

trauma mais frequentemente envolvido é a rotação extrema do globo ocular causada

pelo deslocamento dos ossos faciais e orbitários, o que não é compartilhado por

Samborn et al (1984), afirmando que na rotação extrema do globo ocular deveria

ocorrer lesão concomitante da musculatura ocular extrínseca.

O exame de fundo de olho revela lesão escurecida na região do disco óptico,

rodeado por hemorragia ou contusão retiniana (Fig. 1). Na fase crônica a hemorragia

é substituída por tecido fibroso. O diagnóstico pode não ser feito na fase aguda pela

presença de hemorragia vítrea (Fig. 2). A lesão inclui neurônios do nervo óptico, en-

quanto a bainha que o envolve permanece íntegra por ser mais elástica.

Page 33: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

23

Figura 1. Traumatismo ocular com contusão retiniana (gentileza dos Drs. Orlando da Silva Filho e Maurício H. Nakanami, com permissão).

Figura 2. Hemorragia vítrea (gentileza dos Drs. Orlando da Silva Filho e Maurício H. Naka-nami, com permissão).

Perda visual tardia também pode ocorrer e é potencialmente reversível.

Ocorre por desenvolvimento de edema ou isquemia no interior do canal óptico ou

Page 34: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

24

compressão por hematoma subperiostal (Turner, 1943). Mais raramente ocorre por

desenvolvimento de mucoceles ou aneurismas traumáticos.

1.1.1.2.2. Lesões quiasmáticas

Podem ocorrer lesões do quiasma óptico com consequente hemianopsia bi-

temporal simulando secção sagital do quiasma óptico, se bem que na maioria dos

casos o diagnóstico possa ser apenas suspeitado (Wuest, 1960). Acredita-se que a

lesão ocorra por fenômeno trombótico, após movimento do encéfalo em relação ao

crânio ocasionando rotura de pequenos vasos piais que suprem o quiasma óptico.

Existe diminuição importante da acuidade visual (hemianopsia bitemporal) associada

a escotoma central.

Duke-Elder (1972) afirma que a lesão possa ocorrer pelo movimento do encé-

falo em relação ao crânio, provocando laceração de pequenos vasos piais que su-

prem o quiasma óptico.

Osterberg (1938) não acredita que somente as fibras que participam da

formação do quiasma possuam vascularização específica, contrariando a ideia de

Duke-Elder (1949).

Louw (1954) afirma que a causa mais provável de lesão traumática em qui-

asma óptico seja a ocorrência de múltiplas lacerações das fibras nervosas que de-

cussam com formação de hematoma.

François et al (1958) e Hughes (1958) realizaram estudo anatômico envol-

vendo a vascularização do quiasma. Não foram encontrados vasos que suprem as

fibras ópticas que cruzam no quiasma óptico. A superfície inferior do quiasma é su-

prida pela artéria hipofisária ântero-superior. As fibras laterais (não cruzadas) são

supridas por ramos diretos da carótida interna. A superfície superior recebe ramos

da artéria cerebral anterior e comunicante anterior. O centro do quiasma óptico é

irrigado pela artéria quiasmática, ramo da comunicante anterior (Fig. 3).

Page 35: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

25

Figura 3. Vascularização intraorbitária do nervo óptico (Modificado de François et al, 1958). A– a. central da retina; B– a. central do n. óptico; C– bainha do n. óptico; D– retina; E– n. óptico.

As artérias oftálmica, coroidea anterior, cerebral média e comunicante poste-

rior estão envolvidas na vascularização do quiasma óptico. Para estes autores, a

lesão quiasmática é causada por rotura nas fibras que decussam com possível for-

mação de hematomas. Lembram ainda que a artéria central da retina fornece ramos

somente para a retina e não para o nervo óptico.

De acordo com François et al, o nervo óptico é suprido pela artéria central do

nervo óptico, ramo da artéria oftálmica e por vasos localizados na pia-máter (sistema

periférico) procedentes da artéria oftálmica e das artérias ciliares (Fig. 4).

A artéria central do nervo óptico divide-se em ramos anterior e posterior, locali-

zados ao longo do nervo.

O sistema periférico é composto de que artérias alcançam a superfície do

nervo perpendicularmente e depois dicotomizam-se, recebendo ramos do círculo de

Zinn-Haller (derivado das artérias ciliares posteriores e que se dirigem para o disco

óptico) em nível da lâmina crivosa da esclera.

Page 36: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

26

Figura 4. Representação esquemática da vascularização das vias ópticas (Modificado de François et al, 1958). 1-a. central da retina; 2- vasos colaterais da a. central da retina que suprem apenas a retina; 3- a. central do nervo óptico (rr. anterior e posterior); 4- capilares da camada fascicular da retina; 5- capila-res do nervo óptico (formas pentagonais); 6- capilares do nervo óptico (formas quadradas); 7- lado nasal do segmento intracraniano do nervo óptico com capilares; 8- a. quiasmática; 9- arcada pré-qui-asmática; 10- lado temporal do quiasma com capilares; 11- junção capilar da parte média do qui-asma; 12- capilares do trato óptico originários das aa. perfurantes; 13- arteríolas intratissulares do trato óptico; 14- capilares do trato óptico; 15- capilares quadrangulares do trato óptico para o corpo geniculado lateral; 16– arteríolas perfurantes para o corpo geniculado lateral; 17- capilares para o corpo geniculado lateral.

Posteriormente, nos segmentos intracanalicular e intracraniano, o nervo óp-

tico recebe grande número de arteríolas, responsáveis pela nutrição principal do

nervo (François et al, 1958).

Page 37: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

27

O trato óptico é irrigado pela artéria comunicante posterior e coroidea anterior,

enquanto o corpo geniculado lateral recebe ramos da coroidea anterior (ramo da

ACI) e coroides posteriores lateral e medial (ramos da cerebral posterior).

Para François et al (1958) “é inconcebível que o quiasma óptico, que é nutrido

profusamente por 11 artérias e grande rede anastomótica de arteríolas possa ter sua

função alterada pela obstrução de uma ou mais artérias. A hemianopsia resultante

deve ser atribuída a alteração capilar intratissular após compressão externa”.

Osterberg (1938) acredita que a lesão quiasmática ocorra em sua porção me-

dial quando causada por traumatismo frontal, pois os nervos ópticos são fixos no fo-

rame óptico, levando a uma rotura sagital das fibras quiasmáticas.

Traquair et al (1935) descartam a possibilidade de laceração do quiasma, pois

este se localiza 1 cm acima da base do crânio (mesmo quiasmas pré-fixados) e a

maior parte das fraturas não atinge a base do crânio, mas o traumatismo pode levar

à laceração dos vasos que nutrem o quiasma óptico.

Savino et al (1980) afirmam que as principais lesões associadas à síndrome

quiasmática de origem traumática são: diabetes insipidus temporária, anosmia, sur-

dez, lesões associadas dos III, IV, V, VI e VII nervos, fístula liquórica, aneurisma de

carótida interna, fístula carotidocavernosa, meningite, pneumocrânio, panhipopituita-

rismo e hematoma intrasselar.

O TCE fechado constitui rara causa de lesão de nervo óptico (Turner, 1943)

quando há traumatismo frontal de alta energia cinética associado a múltiplas fraturas

cranianas e longo período de inconsciência. As alterações visuais variam de ce-

gueira monocular a alterações hemianópticas bitemporais (Savino et al, 1980).

Crompton (1970) descreve achados patológicos de etiologia traumática na via

visual (da retina aos tratos ópticos) em 84 pacientes submetidos a exame de autóp-

sia.

Page 38: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

28

As principais lesões descritas foram:

a) Hemorragias durais: sangramento em veias intradurais localizadas entre as

duas camadas durais do nervo óptico;

b) Hemorragias intersticiais: ocorrem no interior do nervo óptico e nos septos

fibrosos que dividem os feixes nervosos;

c) Necrose isquêmica: consistem de regiões de rarefação mielínica bem delimita-

das e lesão axonial;

d) Lesões por cisalhamento: regiões pobremente definidas de rarefação mielínica

e lesão axonial;

e) Hemorragias retinianas: hemorragias localizadas em qualquer das camadas da

retina.

A necrose isquêmica e as lesões por cisalhamento foram as mais frequentes.

O autor atribui estes achados ao fato de as fibras nervosas e vasos lesados nas

duas extremidades do nervo localizarem-se nas extremidades do canal ósseo, onde

o movimento dos componentes orbitários e do encéfalo fariam a lesão.

Ainda, segundo o autor referido, hemorragias retinianas afetaram todas as

camadas da retina e não houve relação do seu aparecimento com fraturas crania-

nas. As hemorragias resultam da rotura de pequenos vasos pelo impacto inicial. A

hemorragia coroide pode ocorrer no impacto inicial ou ser decorrente de aumento da

pressão intracraniana ou hipertensão arterial.

Gross et al, (1981) sugerem que o deslocamento abrupto da parede orbitária

que ocorre no traumatismo frontal, após o cessar do mecanismo, leva a oscilações

de tecidos moles causando estiramento do canal óptico com consequente lesão da

microvasculatura intraneural e das fibras nervosas.

Pringle* (1922), citado por Crompton (1970), discute se a presença de sangue

na bainha do nervo óptico pode produzir qualquer alteração da acuidade visual.

Hughes (1964) afirma que 50% dos pacientes com neuropatia óptica traumá-

tica não recuperarão a função visual. Para este autor, as hemianopsias horizontais

são os defeitos visuais pós-traumáticos mais comuns, atribuindo à hemorragia retini-

* Pringle JH. Atrophy of the optic nerve following diffused violence to the skull. Br Med J. 1922; 2:1156-

7. APUD Crompton MR. Visual lesions in closed head injury. Brain. 1970; 93:785-92.

Page 39: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

29

ana nas imediações da mácula, a principal causa da perda visual. Descreve ainda

lesões da porção anterior do nervo óptico entre o disco e a entrada da artéria central

da retina. Lesão ao trato óptico seria decorrente apenas de traumatismos penetran-

tes.

Kline et al (1984) afirmam que não há necessidade de tratamento cirúrgico

quando a perda visual é total, porém quando for progressiva através de observações

sequenciais, preconiza a exploração e descompressão do nervo óptico.

Na casuística de Lessell (1989) os acidentes com bicicleta representaram a

etiologia traumática mais comum para a lesão indireta do nervo óptico. As alterações

da acuidade visual não corresponderam às alterações do nível de consciência pós-

traumático ou com a presença de fraturas faciais.

A tríade de Maurer (TCE, epistaxe por rotura de pseudoaneurisma da a. caró-

tida interna e cegueira unilateral) deve alertar para lesão traumática de nervo óptico

(Patel et al, 2005).

A pupila de Marcus-Gunn pode estar presente em pacientes com lesão

traumática de nervo óptico (estímulo luminoso provoca miose no lado não afetado e

midríase no lado acometido pela lesão do nervo).

Segundo Louw (1954), o quiasma óptico pode ser lesado somente por

traumatismos de alta energia cinética, sendo que o deslocamento ósseo nem sem-

pre é a causa da lesão.

A lesão das fibras que decussam ocorre em nível microscópico, podendo ha-

ver diminuição da acuidade visual sem que haja alterações maculares, pela existên-

cia de fibras que decussam e fibras que não decussam no quiasma óptico.

Wuest (1960) e Anderson, Lloyd (1964) afirmam que a secção quiasmática

completa pós-traumática é rara e deve-se a laceração de fibras que cruzam o plano

sagital mediano, apesar de não desconsiderar outros mecanismos de lesão quias-

mática, tais como: interrupção do fornecimento sanguíneo arterial ao quiasma, he-

morragia no interior das fibras que compõem o quiasma e pressão sobre o quiasma

proveniente de hematoma intrasselar.

Page 40: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

30

Logan, Gordon (1967) por meio de observação intraoperatória de paciente

com lesão traumática de quiasma óptico, afirmam que a lesão ocorreu por estira-

mento do quiasma através do deslocamento do nervo óptico esquerdo. Não descre-

veram hematomas ou aparentes lesões macroscópicas no quiasma óptico.

Wyllie et al (1972) afirmam que a lesão da via visual decorrente de trauma-

tismo frontal ocorre por isquemia devido a obstrução das artérias ciliares posteriores.

Freiwald (1977) afirma que lesão penetrante em órbita pode levar à rotura do

globo ocular com expulsão dos componentes oculares, avulsão do nervo óptico,

descolamento de retina e traumatismo muscular suficiente para causar diplopia per-

manente, fratura da parede orbitária com comunicação aos seios nasais e fístula

liquórica.

Ramsay (1979) afirma que a tomografia computadorizada, muitas vezes, não

é capaz de identificar o traço de fratura que envolve o canal óptico, mesmo conhe-

cendo-se o local e direção de propagação da lesão. Portanto, aponta uma causa

vascular.

Walsh, Lindenberg (1963) descrevem lesões traumáticas de nervo óptico

desde hemorragias no interior do nervo e de sua bainha com edema do nervo até

necrose associada à contusão e a infarto. Acreditam que a contusão resulte de for-

ças de tração aplicadas sobre o nervo associadas à necrose secundária por lesão

em pequenos vasos nutrientes na porção canalicular e intracraniana do nervo, rea-

firmando o posicionamento de Hughes (1958), que considera as hemianopsias alti-

tudinais decorrentes de lesão vascular do nervo óptico.

1.1.1.3. Complexo de nervos motores oculares

1.1.1.3.1. Nervo oculomotor (III)

Elston (1984) afirma que este tipo de lesão é mais frequente no adulto jovem

e é decorrente de acidentes automobilísticos ou motociclísticos.

Pode ser lesado em nível mesencefálico por hemorragia intra ou perineural,

no espaço subaracnoide ou por contusão primária do nervo. O déficit do nervo cos-

Page 41: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

31

tuma ser permanente. A lesão parcial do III nervo é traduzida por ptose palpebral,

dificuldade em movimentar o globo ocular no sentido superior e anormalidade da

reação pupilar, além de contração da musculatura da testa (franzir) para compensar

o efeito da paralisia do elevador da pálpebra superior.

Para distinguir-se lesão de III nervo da limitação de movimento orbitário por

lesão muscular, geralmente é necessário esperar redução do edema orbitário.

Na casuística de Bhatoe (2007), o nervo oculomotor é lesado entre 8 e 16%

dos traumatismos cranioencefálicos.

Dilatação pupilar associada ao desvio lateral do globo ocular em paciente ví-

tima de TCE faz o diagnóstico de lesão do nervo oculomotor mesmo no paciente

inconsciente. Uma pupila midriática fixa após traumatismo facial ou orbitário, geral-

mente representa lesão direta do nervo, dano ao sistema nervoso autônomo paras-

simpático ou lesão do nervo óptico.

A paralisia bilateral do III nervo, assim como a lesão completa do III nervo são

mais frequentes em traumatismos com alta energia cinética (Patel et al, 2005).

Na fase aguda, ptose e paralisia extraocular podem não ser devidamente

diagnosticadas, exceto quando houver paralisia completa do III nervo (Memon,

Paine, 1971). Deve-se lembrar que alterações pupilares por lesão de III nervo po-

dem ser causadas por traumatismo orbitário ou na região temporoparietal (relação

do III nervo com a porção petroclinóide do tentório, onde pode ser estirado durante o

traumatismo craniano). Portanto, é extremamente importante diferenciar o compro-

metimento primário (lesão direta) do III nervo da lesão secundária (consequente ao

aumento de hematoma intracraniano).

Lesão mesencefálica tectal pode apresentar-se com lesão de III nervo, porém,

a maior parte das lesões resulta de compressão em nível do hiato tentorial por hér-

nia transtentorial do uncus. Lesões orbitárias e intracavernosas (em fraturas de base

de crânio) são causas de lesões associadas de III com IV, V e VI nervos.

Na síndrome de Benedikt, a lesão concomitante do núcleo rubro leva ao

aparecimento de tremores no hemicorpo contralateral à lesão. Na síndrome de We-

Page 42: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

32

ber, a lesão do pedúnculo cerebral leva à hemiparesia contralateral com lesão do III

nervo ipsilateral à lesão.

Recuperação da função do III nervo com melhora desproporcional da adução

ocular sugere regeneração aberrante do nervo. Um teste para diagnosticar esta re-

cuperação errônea é feito pedindo-se ao paciente elevar a pálpebra e observar-se a

rotação do globo ocular para o lado medial e inferiormente (Rucker, 1966).

Diferentes combinações de lesões podem ocorrer nos nervos motores ocula-

res após TCE. O terceiro nervo (oculomotor) quando lesado pode indicar herniação

uncal (que não altera as funções do IV, nem do VI nervo), principalmente quando o

componente intrínseco estiver alterado. O sexto nervo (abducente) é o nervo do

complexo motor ocular mais frequentemente acometido nas lesões traumáticas por

possuir longo trajeto intracraniano, seguido pelo terceiro nervo (oculomotor).

Se os dois músculos retos superiores forem igualmente atingidos, não haverá

desvio no eixo vertical na posição primária, porém haverá elevação bilateral durante

a adução. A exciclotorsão de ambos os globos oculares é devida ao fato de o mús-

culo reto inferior no movimento de deslocamento inferior do globo ocular atuar sem a

ação oponente do oblíquo superior (Chapman et al, 1970). A ação de extorsão ge-

ralmente é compensada pela intorsão proporcionada pelos oblíquos superiores.

O efeito adutor dos retos inferiores não antagonizados pelos efeitos abdutores

dos oblíquos superiores causa esotropia (estrabismo convergente), que é observada

durante a mirada conjugada inferior (Chapman et al, 1970).

Walsh (1957) afirma que nervos motores e sensitivos regeneram-se após le-

são traumática periférica, assim como seus componentes autonômicos. Quando o

nervo é gravemente lesado ou esmagado existe degeneração axonial nas regiões

lesadas.

Memon, Paine (1971) afirmam que a lesão isolada do oculomotor devida a

traumatismo direto é idêntica ao quadro apresentado quando este é lesado por pro-

cesso expansivo intracraniano, podendo ser parcial ou completa.

Page 43: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

33

Na casuística de Green et al, (1964) a inervação do músculo reto superior foi

a mais frequentemente lesada em decorrência de TCE e a maioria dos pacientes

teve comprometimento da musculatura pupilar. Se ocorrer regeneração, a quanti-

dade de axônios regenerados geralmente é maior que o número de neurônios exis-

tentes previamente à lesão. Existe o desenvolvimento de axônios colaterais a partir

da terminação lesada e da região parcialmente lesada, ou seja, existe brotamento de

novas fibras a partir do coto, onde células de Schwann justapõem-se, formando tú-

bulos para a condução dos novos brotos até o órgão alvo.

Porém, pode haver o que Walsh, Linderberg (1963) chamaram de regenera-

ção aberrante, onde existe um mau direcionamento das fibras que se regeneram em

relação ao órgão alvo (semelhantemente ao que ocorre com a regeneração do nervo

facial). Com isso, os axônios que se destinavam ao elevador da pálpebra podem

alcançar este músculo, mas outros axônios alcançam o reto inferior, reto medial ou o

oblíquo inferior, causando uma contração em massa. Este erro de reinervação é

exemplificado quando o paciente aduz o globo ocular e ocorre elevação da pálpebra

superior.

A lesão pós-traumática isolada de III nervo é extremamente rara (Lin et al,

2013). É geralmente indireta e deve-se à expansão de hematoma supratentorial,

associado a hemorragia subaracnoide, fratura craniana, aneurisma, fístula carotido-

cavernosa ou lesão mesencefálica. Os autores afirmam que a reversão da ptose

palpebral ocorre mais precocemente e em aproximadamente 100% dos casos, se-

guida pela recuperação dos movimentos oculares extrínsecos e finalmente pelas

alterações pupilares, que ocorrem tardiamente e numa frequência de aproximada-

mente 40% dos casos, quando consideram a descompressão da órbita, uso de altas

doses de metilprednisolona (30 mg/kg in bolus seguidas de 15 mg/kg a cada 6 ho-

ras por três dias) ou simples observação.

1.1.1.3.2. Nervo troclear (IV)

Diplopia é a apresentação mais comum da paralisia do troclear e traduz-se

frequentemente por desvio vertical e horizontal do globo ocular ou por desvio torsio-

nal. Nota-se anormalidade da postura cefálica do paciente, podendo levá-lo ao torci-

Page 44: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

34

colo ou a escoliose. Ambliopia é incomum na lesão do IV nervo, mas pode ser iden-

tificada em pacientes com lesão congênita de IV nervo (Mansour, Reinecke 1986).

Willbrand, Sanger*, citados por Chapman et al (1970), afirmam que o nervo

troclear é frequentemente lesado no véu medular superior no nível do colículo infe-

rior, onde as fibras do troclear decussam, além de apresentar finíssimo diâmetro.

Traumatismo é a causa mais comum (32%) de lesão única de nervo troclear

(Mansour, Reinecke, 1986), seguida de causas vasculares, inflamatórias, substân-

cias tóxicas e neoplasias. Por este motivo, o nervo troclear também é chamado de

nervo do trauma. Possui o maior trajeto intracraniano entre os nervos cranianos (75

mm) e diplopia com desvio ocular vertical e horizontal são as apresentações clínicas

mais comuns de acordo com Mansour, Reinecke (1986).

Na casuística de Burger et al (1970), a maior parte das lesões do nervo tro-

clear é de origem traumática, quando comparadas com as causas metabólicas (dia-

betes mellitus), vascular, neoplásica e inflamatória.

Para Chapman et al (1970) a diplopia torsional não é um sintoma comum na

paralisia unilateral do IV nervo. A diplopia torsional pode ou não estar associada à

diplopia vertical ou horizontal quando a lesão do nervo for bilateral. Alguns pacientes

são capazes de superar os sintomas de diplopia e fusão de imagens simplesmente

olhando para cima. Consequentemente, irão abaixar o queixo para olhar diretamente

para o plano horizontal.

Após súbita desaceleração ou traumatismo à região frontal, o encéfalo, por

sua inércia, tende a continuar seu movimento posteriormente e choca-se contra um

crânio estacionário. Isto leva a contusão por contragolpe na passagem do nervo pelo

véu medular superior com avulsão de suas fibras (Mansour, Reinecke, 1986). Pela

simetria das forças contundentes durante o traumatismo, pode haver lesão bilateral

do nervo.

A função primária do músculo oblíquo superior é proporcionar a intorsão do

globo ocular e secundariamente deprimi-lo e abduzi-lo.

*Willbrand, Sanger APUD Chapman LI, Urist MJ, Folk ER, Miller MT. Acquired bilateral superior oblique muscle palsy. Arch Ophthalmol. 1970; 84:137-42.

Page 45: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

35

Fraqueza deste músculo, como aquela causada pela lesão do IV nervo,

causa diplopia vertical que piora quando o paciente olha para baixo. Para compen-

sar isto, o paciente aprende a adotar determinada postura da cabeça. Para compen-

sar os desvios horizontais, o paciente adota deslocamento lateral da cabeça e para

desvios verticais, adota elevação ou depressão do queixo. Para desvios torsionais,

inclina lateralmente a cabeça. Assim, a lesão do músculo oblíquo superior direito faz

com que o paciente vire sua cabeça para a esquerda e incline sua face para a direita

e seu queixo para baixo, para facilitar a fusão de imagens e diminuir a diplopia (sinal

de Bielschowski).

Segundo Khawam et al (1967), o traumatismo cranioencefálico é a causa

mais frequente de lesão do músculo oblíquo superior. O tratamento cirúrgico des-

tina-se à correção do defeito vertical. Para isto, recorre-se ao enfraquecimento do

músculo oblíquo inferior no lado envolvido.

Na casuística de Lepore (1995), estudando-se exclusivamente a lesão trau-

mática dos nervos motores oculares, o nervo troclear foi o nervo mais frequente-

mente lesado no TCE, seguido pelo abducente.

O prognóstico é bom (75% de recuperação) (Keane, Baloh, 1996), apesar de

funcionalmente poder haver reinervação anômala de grupos musculares com produ-

ção de movimentos anômalos do globo ocular e pouca reatividade pupilar.

O tratamento consiste em usar tampões oculares do lado lesado a fim de se

evitar que a diplopia resultante cause confusão visuoespacial, até que a recuperação

ocorra. Isto geralmente leva de quatro a cinco semanas (Sydnor et al, 1982).

O IV nervo também é suscetível a lesões na região tentorial, o que é obser-

vado em traumatismos frontais oblíquos, por movimento de aceleração e

desaceleração. As linhas de força são transmitidas da região frontal para a occipital

contralateral passando pelo tentório.

A susceptibilidade do nervo a lesões traumáticas é explicada por sua relação

com a margem tentorial. Pode haver também compressão direta da região mesen-

cefálica inferior lesando diretamente o nervo ou seu núcleo motor por sangramento

local (Lindenburg, 1975).

Page 46: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

36

A lesão ocorre após grave TCE, geralmente causado por acidente

automobilístico ou motociclístico, onde existe traumatismo orbitário direto ou frontal.

O traumatismo orbitário direto pode causar fratura da fissura orbitária superior, des-

locamento do ânulo tendíneo de Zinn, hematoma no músculo oblíquo superior ou

fratura do osso esfenoide (Burger et al, 1970).

Lesões bilaterais do IV nervo também estão relacionadas a traumatismo de

altíssima energia cinética que atinge diretamente a região frontal, por distribuição

simétrica das linhas de força.

Burger et al (1970) preconizam o tratamento cirúrgico para a lesão do IV

nervo, que consta em ressecção de ambos os músculos oblíquos inferiores.

Sua lesão aparece mais comumente em associação à lesão do III nervo e

deve ser suspeitada quando o paciente fecha um dos olhos com o objetivo de focar

um objeto. À medida que a recuperação do nervo ocorre, refere-se diplopia vertical

na mirada conjugada inferior. O paciente começa a inclinar a cabeça contralateral-

mente à lesão nervosa para compensar a diplopia e se houver inclinação ipsilate-

ralmente à lesão, ocorre maior separação entre as imagens e confirma-se o diag-

nóstico (Keane, Baloh, 1996).

Younge, Sutula (1977) preconizam o teste dos três passos (descrito por

Parks, em 1958) para o diagnóstico de lesão do IV nervo:

a) Inicialmente deve-se observar a função primária da musculatura ocular extrín-

seca com o posicionamento neutro da cabeça. Se houver desvio vertical do olho

esquerdo para cima (por exemplo) significa que um dos depressores do globo

ocular esquerdo ou um dos elevadores do globo ocular direito está parético. Por-

tanto, deve-se procurar a lesão no oblíquo inferior ou reto inferior esquerdo ou

reto superior ou oblíquo inferior direito;

b) Determinar se o desvio aumenta com o desvio lateral do olhar. Se aumentar com

o desvio para a direita, onde a ação vertical do músculo parético é máxima, o

reto superior ou o oblíquo superior devem estar lesados; quando o paciente in-

clina a cabeça para a direita ocorre a intorsão do olho direito (oblíquo superior) e

a extorsão do olho esquerdo (oblíquo inferior). Porém, quando o paciente inclina

a cabeça para a esquerda, ocorre a intorsão do olho esquerdo (oblíquo superior)

Page 47: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

37

e, pelo fato de estar parético, existe elevação do globo ocular (reto superior) não

compensada, tornando o desvio mais aparente;

c) A terceira fase consiste no teste de Bielchowsky (já descrito anteriormente).

Rush, Younge (1981) e Mansour, Reinecke (1986) afirmam que a lesão do IV

nervo tem bom prognóstico em termos de melhora de sua função quando a etiologia

é de origem traumática com ausência de fraturas cranianas.

Sydnor et al (1982) relatam pacientes com lesão traumática do IV nervo uni e

bilateralmente afirmando que na lesão unilateral há hipertropia ipsilateral à lesão

com diplopia vertical mais evidente que a torsional e inclinação da cabeça para ob-

tenção da fusão de imagens.

Nas lesões bilaterais, o grau de hipertropia é menor associado a exotropia

(estrabismo divergente) com exciclotorsão e inclinação da cabeça para compensar a

distorsão de imagens.

Lee, Flynn (1985) relatam 18 pacientes com traumatismo cranioencefálico

grave e todos apresentaram diplopia vertical ou torsional por envolvimento bilateral

do IV nervo.

Para Younge, Sutula (1977), a recuperação funcional do troclear é rara e

costuma ocorrer em até 12 meses após a lesão do nervo, desde que a causa não

seja traumática. Nos casos de etiologia traumática preconiza o uso de prismas ou

ressecção do músculo oblíquo inferior.

Em termos de tratamento cirúrgico, tentativas de descompressão destes ner-

vos não resultaram em bons resultados. O tratamento deve ser otimizado na tenta-

tiva de recuperar a visão binocular e a fusão de imagens. O tratamento inicial da di-

plopia consiste no uso de tampões oculares (convexos para se evitar a formação de

glaucoma secundário) para o conforto do paciente. A maior parte dos pacientes com

lesão de IV nervo prefere inclinar a cabeça para a redução da diplopia. O uso de

prismas oculares pode melhorar a visão binocular, enquanto a injeção de toxina bo-

tulínica nos músculos antagonistas àqueles paralisados pode reduzir sua contratura.

Page 48: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

38

Rucker (1958, 1966) analisa 1000 casos de lesão do complexo motor ocular e

relata que em mais de 28% dos casos, a causa não foi determinada. Em aproxima-

damente 17% de sua série a etiologia foi traumática, sendo o nervo abducente o

mais frequentemente acometido (33,92%) seguido pelo oculomotor (30,35%) e tro-

clear (14,28%).

1.1.1.3.3. Nervo abducente (VI)

A lesão traumática do VI nervo geralmente é acompanhada por fraturas da

porção petrosa do temporal, paralisia facial e surdez e quando lesado isoladamente,

possui o melhor prognóstico de recuperação. O déficit tardio geralmente decorre de

hipertensão intracraniana ou meningite hemorrágica (Keane, Baloh, 1996).

Hughes (1964) afirma que o abducente é o nervo do complexo oculomotor

que mais frequentemente é lesado em traumatismos de crânio, seguido pelo oculo-

motor, além de ser frequente a presença de fraturas da porção petrosa do osso tem-

poral, paralisia facial e surdez. É também o nervo que é mais frequentemente lesado

bilateralmente.

Porém, a combinação de lesões também existe, ou seja, dois ou três nervos

podem ser acometidos pelo TCE, assim como as lesões bilaterais (mais uma vez, o

nervo abducente é o nervo mais frequentemente acometido bilateralmente).

Mansour, Reinecke (1986) afirmam que o TCE seja responsável por 16% dos

casos de lesão do nervo oculomotor e abducente. Acidentes motociclísticos e atro-

pelamentos predominaram como mecanismo de trauma na lesão do abducente em

suas casuísticas.

A lesão também pode ocorrer por laceração do nervo na base do processo

clinóide posterior, inferiormente ao ligamento petroesfenoidal, uma vez que este é o

único ponto que o nervo apresenta íntimo contato com o crânio (Schneider, Johnson,

1971).

Keane (1976) afirma que as fístulas liquóricas são mais frequentes quando a

lesão do VI nervo é bilateral em sua série de 30 casos de lesão traumática de VI

Page 49: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

39

nervo, onde 11 pacientes tiveram lesão unilateral e 19 apresentaram lesão bilateral

do nervo.

Possui trajeto intracraniano longo desde a ponte até a órbita e está intima-

mente relacionado aos nervos trigêmeo e facial. Na síndrome de Gradenigo (petro-

site temporal) os três nervos são afetados.

O nervo abducente é mais vulnerável no ponto em que passa inferiormente ao

ligamento petroesfenoidal (ligamento de Gruber). Posterolateralmente a esta estru-

tura encontra-se o cavo de Meckel, que abriga o gânglio trigeminal.

Arias (1985) afirma que o mecanismo de lesão do VI nervo sem evidência de

fraturas é tema de discussão. Pode ser decorrente de traumatismo frontal com

marcada extensão cervical, por vezes acompanhada de fratura da coluna cervical. O

nervo é lesado durante o deslocamento superior e posterior do encéfalo causando

avulsão do nervo contra o ligamento de Gruber.

Takagi et al (1976) não acreditam que o nervo seja lesado pelo ligamento de

Gruber durante o deslocamento superior do encéfalo, pois o nervo é fixado

inferiormente pela dura-máter abaixo deste ligamento e pela pirâmide petrosa.

Concluem que a lesão seja decorrente do estiramento do nervo por força de

aceleração no plano frontal mediano no momento do impacto e que o ápice petroso

atua como alavanca, onde o nervo é comprimido, estirado ou contuso.

O VI nervo também pode ser lesado em traumatismos frontais, cujo impacto

avulsiona o nervo contra o rígido ligamento petroclinóide. Um impacto de alta ener-

gia cinética pode provocar deslocamento encefálico no sentido crânio-caudal e lesar

o nervo abducente na incisura tentorial.

A fratura temporal pode passar anteriormente a esta área e envolver o clivus,

seio esfenoidal e seio cavernoso. Como o plano da fratura progride obliquamente

pelo osso temporal, lesa o nervo facial no gânglio geniculado, o nervo trigêmeo no

cavo de Meckel e o nervo abducente no canal de Dorello (Ghorayeb et al, 1987).

Fraturas que envolvem a fissura orbitária superior tendem a lesar o abducente

em conjunto com oculomotor, troclear e trigêmeo (V1 e V2).

Page 50: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

40

Traumatismo raquimedular cervical pode ser causa de lesão de nervo abdu-

cente na ausência de lesão craniana. Schneider, Johnson (1971) relatam dois casos

de lesão bilateral de nervo abducente associado a traumatismo cervical. Acredita

que a lesão seja decorrente de movimentos verticais e de extensão sofridos pela

cabeça durante o traumatismo e que produzem contusão ou avulsão do nervo abdu-

cente contra o rígido ligamento petroesfenoidal (ligamento de Gruber). São trauma-

tismos de alto impacto, revelados pelas lesões cervicais altas como fratura de

odontoide e arco do atlas.

Diplopia homônima (a imagem forma-se na retina nasal) resultante da parali-

sia do nervo abducente é achado frequente na clínica oftalmológica. É achado obje-

tivo do déficit na abdução ocular e pode significar vários tipos de doença oftalmoló-

gica (Keane, 1976).

As lesões traumáticas do nervo abducente ocorrem no adulto jovem, en-

quanto as lesões adquiridas (diabetes mellitus, sífilis, processos neoplásicos, neuri-

tes, encefalopatia de Wernicke) tendem a ocorrer em idades mais avançadas

(Schneider, Johnson, 1971).

Se houver preservação da função do IV nervo, a contração do músculo oblí-

quo superior resultará em rotação do globo ocular (Hughes, 1964).

Lyle (1961) demonstra que a diplopia traumática também pode ser causada

por traumatismos diretos à órbita, além de lesão de grupos musculares (principal-

mente os oblíquos devido às suas inserções orbitárias). Mas, a lesão orbitária exclu-

siva com fratura de seu assoalho, também pode levar à diplopia por deslocamento

do eixo do globo ocular (heterotopia posicional ou estrabismo).

Page 51: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

41

1.1.1.4. Nervo trigêmeo (V)

A lesão traumática do nervo trigêmeo é rara (Jefferson, Schorstein, 1955) e a

literatura referente a este tipo lesão é consequentemente escassa.

O primeiro relato coube a Gardiner* (citado por Jefferson, Schorstein, 1955),

que em 1938 descreve a lesão do nervo por meio de observação de déficit motor na

musculatura mastigatória.

A primeira e segunda divisões podem ser lesadas quando o tronco encefálico

desloca-se em movimento de desaceleração do crânio.

Mock**, em 1950, (apud Jefferson, Schorstein, 1955) relata três casos de le-

são traumática de nervo trigêmeo em 3176 fraturas de crânio.

Russell, Schiller (1949) relatam 45 lesões traumáticas em nervos supraorbitá-

rios e oito lesões em infraorbitários em 1000 casos de traumatismo cranioencefálico.

Lesões em couro cabeludo, levando a anestesia e parestesias, geralmente

são omitidas na literatura médica, uma vez que a atenção à lesão do nervo trigêmeo

se faz ao seu gânglio sensitivo e de seus ramos intracranianos ou contidos no inte-

rior dos ossos faciais. Portanto, uma procura minuciosa destas lesões sensitivas,

certamente trará aumento das casuísticas.

A lesão do componente sensitivo do nervo trigêmeo é frequente em traumatis-

mos faciais. Deve-se à lesão de ramos sensitivos superficiais por ferimentos corto-

contusos, contusões e fraturas.

O nervo oftálmico (V1) com suas ramificações (nervo frontal, nervo lacrimal e

nervo nasociliar) é frequentemente lesado em traumatismos que incidem na região

supraorbitária. As lesões do supraorbitário (ramo do nervo frontal) são secundárias à

lesão de tecidos localizados na região supraorbitária.

* Gardiner APUD Jefferson G, Schorstein J. Injuries of the trigeminal nerve, its ganglion and its divisions. Br J Surg. 1955; 42: 561-81. ** Mock APUD Jefferson G, Schorstein J. Injuries of the trigeminal nerve, its ganglion and its divisions.

Br J Surg. 1955; 42: 561-81.

Page 52: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

42

A lesão do nervo nasociliar resulta de traumatismo frontal com fratura de seio

frontal e etmoide. A anestesia da ponta do nariz e da córnea são os achados mais

comuns.

O nervo maxilar (V2) é a divisão mais frequentemente lesada no TCE,

principalmente em fraturas do assoalho orbitário ou em traumatismos de altíssima

energia cinética acompanhadas de fratura do forame redondo. Descrita inicialmente

por Charles Bell*, em 1830 (apud Jefferson, Schorstein, 1955). Há hipoestesia facial

que se estende da órbita ao longo da asa do nariz à ponta do nariz e lábio superior.

O nervo infraorbitário (ramo do nervo maxilar) é lesado em fraturas maxilares

e constitui a divisão mais frequentemente lesada do nervo maxilar (Jefferson,

Schorstein, 1955; Hughes, 1964). Impacto sobre a região malar é causada por que-

das ou traumatismo direto (chutes, socos). A saída do nervo infraorbitário pelo fo-

rame orbitário inferior direcionando-se para a região malar está protegida do impacto

pelo espesso osso que compõe o rebordo orbitário. É lesado em traumatismos de

alto componente cinético, principalmente associado à fratura do canal e forame in-

fraorbitários (fratura de Le Fort tipo II).

A anestesia palatal é rara, pois o palato duro é suprido pelos nervos palatinos

anterior e posterior (ramos do nervo pterigopalatino), que emergem do gânglio esfe-

nopalatino mais posteriormente. Anestesia facial persistente sugere lesão ganglionar

(Jefferson, Schorstein, 1955).

O nervo mandibular (V3) é mais comumente lesado em fraturas do ramo hori-

zontal da mandíbula. Os nervos alveolares inferiores (forame mentoniano) inervam o

lábio inferior e dentes da arcada inferior. Sua lesão provoca parestesias e dor neu-

ropática nestas regiões.

O tronco principal do trigêmeo é raramente lesado em traumatismos fecha-

dos, porém, mais comumente afetado em traumatismos penetrantes (projéteis de

arma de fogo) ou fraturas da fossa média e da base do crânio.

* Bell (1830) APUD Jefferson G, Schorstein J. Injuries of the trigeminal nerve, its ganglion and its divisions. Br J Surg. 1955; 42: 561-81.

Page 53: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

43

No paciente consciente a lesão do nervo é facilmente detectável e consta

principalmente de lesões sensitivas (anestesia e parestesia) de suas divisões. O en-

volvimento motor manifesta-se por fraqueza na musculatura mastigatória.

No paciente comatoso, a ausência uni ou bilateral do reflexo corneano não é

sinal de lesão do V nervo (Jefferson, Schorstein, 1955), pois é mais provável que o

componente eferente do reflexo (pelo nervo facial) seja o responsável pela na ob-

tenção da resposta do reflexo.

Geralmente, a lesão sensitiva é parcial e de leve intensidade e a recuperação

ocorre após alguns meses. Dor neuropática pode aparecer, assim como parestesias

nas regiões inervadas pelo trigêmeo.

Diplopia e paralisia facial impressionam muito mais ao paciente e ao observa-

dor do que a parestesia facial, muitas vezes referida como um sintoma vago.

Summers, Wirtschafter (1979) afirmam que no indivíduo que sobrevive a um

traumatismo craniano grave e evolui com lesão de V nervo, certamente esta lesão

ocorreu em ramos extracranianos do trigêmeo. Relata o caso de criança vítima de

TCE por esmagamento, evoluindo com lesão de V nervo bilateralmente e VI unilate-

ralmente. No caso em questão, a força que provocou o TCE foi de baixa energia ci-

nética, não havendo mecanismo de golpe ou contragolpe, permitindo assim que o

crânio elástico da criança deformasse conjuntamente com o encéfalo, levando à le-

são de tronco encefálico.

O gânglio trigeminal está relacionado à superfície anteromedial do osso tem-

poral. As três raízes situam-se nas proximidades do ápice petroso. Portanto, qual-

quer fratura que se estenda do temporal ao clivus pode lesar o gânglio trigeminal ou

quaisquer de seus ramos (Jefferson, Schorstein, 1955).

1.1.1.5. Nervo facial (VII)

Devido ao seu longo e sinuoso trajeto no interior do osso temporal, o nervo

facial é vulnerável ao traumatismo craniano penetrante ou não penetrante, assim

como ao traumatismo cirúrgico (Miehlke, 1969) nas mastoidectomias, estapedecto-

mias, remoção de neoplasias da parótida e schwannomas vestibulares. Traumatis-

Page 54: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

44

mos que envolvem a orelha média geralmente lesam o segmento horizontal (ou tim-

pânico) do nervo. A laceração do nervo facial no interior do canal auditivo interno

ocorre em aproximadamente 50% dos casos (Keane, Baloh, 1996) com fraturas

transversas do osso temporal. A maior parte das fraturas horizontais do temporal

não atravessa o conduto auditivo interno, mas podem lesar a porção timpânica ou

mastoide do nervo. Nestes casos, a paralisia facial é tardia e devida ao edema trau-

mático.

As fraturas temporais são geralmente classificadas em longitudinais e trans-

versas (Anexo 3) em relação ao eixo maior do osso temporal. Geralmente a linha de

fratura segue trajeto paralelo à linha de força provocada pelo traumatismo (Goodwin,

1983) e estende-se aos forames, locais de enfraquecimento ósseo.

Setenta a 80% das fraturas temporais são longitudinais e 10 a 30% são trans-

versais (Goodwin, 1983; Adkins, Osguthorpe, 1991) (Anexo 3 e Fig. 5). Aproxima-

damente 10% são do tipo misto (combinação entre longitudinal e transversa).

As fraturas longitudinais resultam de traumatismo temporal ou parietal (Goo-

dwin, 1983) e o nervo facial é tipicamente lesado na região de transição do seg-

mento timpânico para o mastóide (10 a 20%), correspondendo ao gânglio genicu-

lado. Segundo Miehlke (1969), nas fraturas petrosas longitudinais, o nervo facial é

tipicamente lesado no joelho externo, quando altera sua direção horizontal para ver-

tical. Nas fraturas transversas, o nervo geralmente é lacerado, assim como o VIII

nervo.

A fratura tem início nas porções anterior e posterior da porção petrosa do

temporal e segue para o canal auditivo através do teto da cavidade timpânica, ante-

riormente à cápsula ótica para terminar na fossa craniana média nas proximidades

do forame espinhoso (fratura longitudinal anterior).

Na fratura longitudinal posterior, o traço de fratura inicia-se no osso parietal e

estende-se através das células aéreas mastoides, porção súpero-posterior do meato

acústico externo, teto da cavidade timpânica e cápsula ótica para terminar na fossa

média. Pode haver contusão do nervo ou lesão por fragmentos ósseos. Geralmente

Page 55: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

45

ocorre laceração na pele do meato acústico externo com otorragia (Goodwin, 1983)

e lesão da membrana timpânica.

A perda auditiva geralmente é do tipo condutiva (decorrente da laceração da

membrana timpânica, lesão da cadeia ossicular ou pelo hemotímpano) e não há evi-

dência de lesão vestibular; mesmo assim pode haver perda auditiva neurossensorial,

decorrente da concussão coclear.

Mais de 90% das fraturas temporais que cursam com paralisia facial completa

envolvem a região do gânglio geniculado (Adkins, Osguthorpe, 1991).

De Villiers (1971) afirma que o traumatismo temporal pode levar ao desloca-

mento do osso petroso. Alguns tipos de deformação da base do crânio levam ao

deslocamento do petroso na direção póstero-medial devido a abertura das suturas

petroesfenoidal e petroescamosa. Este deslocamento ósseo pode levar à lesão do V

e VI nervos pela extensão da linha de fratura.

A persistência na perda auditiva do tipo condutiva deve-se à lesão na cadeia

ossicular. A lesão do facial, neste tipo de fratura, geralmente é transitória e até 29%

das fraturas longitudinais são bilaterais (Goodwin, 1983). Pode haver vertigem de-

vido à concussão vestibular assemelhando-se ao quadro clínico da vertigem postural

benigna (Goodwin, 1983).

Nas fraturas transversas, o nervo é frequentemente lacerado, muitas vezes

com lesão concomitante do VIII nervo. Seguem-se a traumatismos frontais ou occi-

pitais, geralmente iniciando no forame magno e estendem-se perpendicularmente ao

longo eixo do osso temporal, fraturando a cápsula ótica e terminando na fossa crani-

ana média. A pele do meato acústico externo e a da membrana timpânica estão in-

tactas. Hemotímpano é usualmente presente.

Existe perda auditiva neurossensorial e evidência clínica de traumatismo ves-

tibular (náuseas e vertigem). Instabilidade postural pode perpetuar-se por meses

(Goodwin, 1983) e nistagmo pode estar presente, com o componente rápido diri-

gindo-se contralateralmente ao lado envolvido.

Page 56: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

46

A paralisia facial ocorre em 40 a 50% e geralmente é de aparecimento imedi-

ato após a lesão por avulsão ou laceração do nervo por fragmento ósseo. O gânglio

geniculado é a parte do nervo mais frequentemente acometida. Neste tipo de fratura

a paralisia facial é definitiva.

Segundo Bhatoe (2007), a lesão do facial ocorre nos locais onde o nervo é

fixo, ou seja, em nível do gânglio geniculado, onde o nervo está ancorado ao n. pe-

troso maior (segmento labiríntico). As forças de tração provocam contusão intraneu-

ral, hemorragia e edema.

Um segundo local de acometimento do nervo é o meto acústico interno por

suas dimensões reduzidas. A fratura da cápsula ótica ocorre em traumatismos gra-

ves, com lesão completa do nervo.

Em seu trajeto extracraniano, o nervo geralmente é lesado no forame estilo

mastoide e seus ramos.

Aguilar 3rd et al (1987) descrevem um terceiro tipo de fratura, chamada fratura

oblíqua. Esta envolve a fissura petrotimpânica inferiormente e estende-se à margem

anteroinferior da porção óssea do meato acústico externo. Supero-medialmente, a

fratura estende-se à parede lateral do ático, com vetor de projeção atravessando a

área do gânglio geniculado. A projeção anteroinferior desta fratura envolve a

articulação têmporo-mandibular.

Yanagihara et al (1997) (Quadro 1) propõem um sistema diferente quanto à

classificação das fraturas temporais:

Tipo 1: a linha de fratura atravessa o processo mastoide (envolvimento do seg-

mento mastoide do nervo)

Tipo 2: a linha de fratura atravessa o processo mastoide e estende-se ao meato

acústico externo (tipo mais frequente)

Tipo 3: a linha de fratura atravessa o processo mastoide e estende-se ao meato

acústico externo até a pirâmide do petroso ou porção horizontal do facial (geral-

mente associado à rotura da cadeia ossicular)

Page 57: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

47

Tipo 4: a fratura atravessa o teto da cavidade timpânica e o antro com envolvi-

mento do gânglio geniculado. Nos subtipos 4A e 4B, a orelha interna e o canal

auditivo são poupados e lesados, respectivamente.

Fratura longitudinal Fratura transversa

Figura 5. Fraturas temporais mais comumente encontradas (setas). Modificado de Coker et al, 1987.

Os tipos 1 e 2 estão associados à paralisia facial, resultante de traumatismo à

mastoide ou porção piramidal do nervo.

O tipo 3 relaciona-se à rotura da cadeia ossicular com profunda perda auditiva

do tipo condutiva e lesão do facial no gânglio geniculado.

No tipo 4 há lesão do facial do segmento labiríntico ao piramidal, levando à

diminuição do lacrimejamento por lesão do n. petroso maior. O subtipo 4A produz

perda auditiva condutiva e o subtipo 4B associa-se a perda auditiva neurossensorial

e nistagmo (Warren et al, 2003).

Page 58: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

48

Quadro 1. Lesões associadas ao tipo de fratura do osso temporal segundo Yanagi-hara et al (1997).

Lesão associada Tipo de fratura

Laceração do tímpano 2

Paralisia facial 1,2

Laceração do conduto auditivo 2,3

Lesão da cadeia ossicular 3

Deslocamento dos ossículos 3,4

Fístula perilinfática 3

Fratura labiríntica 4

Fratura do canal auditivo interno 4

Lesão do nervo petroso maior 3,4

Laceração dural 4

Jackson, Magi (1966) atentam para a possibilidade de rotura da cadeia ossi-

cular consequente a TCE e afirma que uma perda auditiva do tipo condutiva com

uma diferença de 60 dB entre a condução aérea e óssea e com uma membrana tim-

pânica intacta seja sugestiva de interrupção da cadeia ossicular.

Através da propedêutica pode-se determinar qual segmento do nervo está le-

sado (topodiagnóstico). Lesões do segmento mastóide vertical resultam em perda

gustatória dos 2/3 anteriores da língua. Lesões que envolvem o segmento horizontal

do nervo no interior da orelha média produzem a perda do reflexo estapediano (hi-

persensibilidade aos sons de alta frequência) e perda gustatória ipsilateral. Final-

mente, lesões nos segmentos labirínticos proximais resultam em diminuição do la-

crimejamento, perda do reflexo estapediano e gustação ipsilaterais à lesão.

Bhatoe (2007) afirma que o local da lesão do VII pode ser determinado pelo

teste de Schirmer, pelo estudo do fluxo salivar da glândula submandibular, reflexo

estapediano e eletrogustometria, porém são exames frequentemente substituídos

pela tomografia computadorizada de crânio de alta resolução.

Segundo Goodwin (1983) fraturas longitudinais e transversas “puras” são ra-

ras, pois geralmente ocorre lesão óssea cominuta.

Page 59: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

49

Na casuística de Cannon, Jahrsdoerfer (1983), a fratura temporal ocorre mais

frequentemente como consequência de acidente automobilístico. Na secção com-

pleta do nervo, a extremidade distal ainda é capaz de transmitir impulsos elétricos

por 72 horas, devido a ausência de degeneração walleriana. Quando a paralisia fa-

cial tem aparecimento tardio, geralmente decorre de compressão por edema ou is-

quemia do nervo.

Traumatismo ao nervo facial é a terceira maior causa de paralisia facial

(Adour et al, 1977). Diferentes testes auxiliam no diagnóstico da lesão como a exci-

tabilidade do nervo e a eletroneuromiografia (ENMG). No primeiro teste, ambos os

faciais são estimulados transcutaneamente e o valor obtido do lado lesado é compa-

rado com o lado normal; se a diferença de excitabilidade exceder os 3,5 miliampe-

res, então a degeneração walleriana iniciou neste nervo. Na ENMG o nervo é esti-

mulado nas proximidades do forame estilomastoide e os resultados são registrados

no sulco nasolabial. Este teste é baseado na correlação entre a extensão da dener-

vação dos músculos faciais com as fibras nervosas motoras.

Cannon, Jahrsdoerfer (1983) atribuem as lesões labirínticas pós-traumáticas à

concussão do labirinto. As fraturas transversas atravessam o labirinto e produzem

sintomas semelhantes à hidropsia endolinfática. Portanto, pode haver vertigem e

instabilidade de marcha na ausência de fraturas cranianas.

Grobman et al (1989) relatam caso de fratura petrosa longitudinal com pro-

cesso edematoso ao longo dos segmentos timpânico e labiríntico do facial com

compressão do nervo (pelo edema) e sinais de desmielinização das fibras motoras,

compatível com aparecimento tardio de paralisia facial.

McGovern (1968), McCabe (1973) e Harker, McCabe (1974) afirmam que

15% das fraturas longitudinais e 50% das fraturas transversas do temporal evoluem

com paralisia facial periférica. Geralmente, a paralisia facial causada pela fratura

longitudinal tem recuperação espontânea, enquanto aquela provocada por fratura

transversa requer correção cirúrgica.

Page 60: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

50

Figura 6. Plano da fratura longitudinal passando lateralmente à cápsula ótica. Modificado de Coker, 1991.

As fraturas temporais raramente apresentam deslocamentos ósseos associa-

dos, o que dificulta seu diagnóstico através da radiografia simples de crânio, a não

ser que a linha de fratura esteja perpendicular ao filme. A tomografia computadori-

zada de crânio de alta resolução (janela óssea com cortes finos axiais e coronais) é

o método de eleição no diagnóstico das fraturas temporais (Adkins, Osguthorpe,

1991) (Fig. 45).

Traumatismos penetrantes do osso temporal geralmente são causados por

projéteis de armas de fogo, produzindo fraturas mistas. A região infraorbitária é o

local mais comum de entrada do projétil. A lesão do facial geralmente ocorre no

segmento timpânico ou mastoide, com concomitante laceração da orelha média e

perda auditiva condutiva.

Page 61: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

51

Figura 7. Plano da fratura transversa com lesão dos canais semicirculares e vestíbulo. O nervo facial é lesado no segmento timpânico. Modificado de Coker, 1991.

Em lesões focais, o topodiagnóstico é valioso para se determinar o local mais

proximal de lesão do nervo. Lesões distais ao tronco de determinado ramo não afe-

tarão a função deste tronco.

Haberkramp et al (1990) afirmam que lesões focais ou múltiplas do nervo fa-

cial visualizadas à ressonância magnética de encéfalo contrastada por gadolínio,

podem corroborar os achados do topodiagnóstico, uma vez que nas lesões múltiplas

do nervo, o topodiagnóstico demonstra apenas a lesão mais proximal do nervo.

McKennan, Chole (1992) afirmam que o topodiagnóstico possui mínimo valor

na paralisia facial traumática, pois o reflexo estapediano geralmente está ausente

pelo hemotímpano ou por perda auditiva condutiva.

O teste do nervo corda do tímpano também possui pouca valia, uma vez que

sua lesão indica lesão em qualquer ponto do facial acima da origem deste nervo.

Page 62: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

52

A função do nervo petroso superficial maior é avaliada pelo teste de Schirmer,

onde é avaliada a função lacrimal.

O teste do reflexo estapediano avaliará a função do ramo para o estapedio e

não poderá ser realizado na presença de grave perda neurossensorial ou signifi-

cante perda condutiva (Adkins, Osguthorpe, 1991).

A função do nervo corda do tímpano é avaliada pelo teste gustativo, medida

do fluxo salivatório ou pH da saliva.

De todos os nervos cranianos, o facial é o mais suscetível ao traumatismo de-

vido ao seu complexo trajeto pelo osso temporal e por sua proximidade anatômica

com a orelha interna quando ocorre fratura da base do crânio (Harker, McCabe,

1974; Kamerer, 1982; Adegbite et al, 1991) e sua recuperação ocorre mais

frequentemente quando a lesão é incompleta e de aparecimento tardio.

A maior parte dos casos está relacionada a fraturas basais, que envolvem a

região petrosa do temporal. Fraturas da calvária que se direcionam para a região

petrosa também podem causar paralisia facial (Kamerer, 1982; Keane, Baloh, 1996).

Nestes casos é comum observarem-se lesões associadas na orelha externa e mé-

dia, porém a lesão da orelha interna é rara.

A lesão do facial ocorre por tração, compressão ou laceração do nervo.

Quando o aparecimento da paralisia é imediato após o traumatismo, sugere-se lesão

direta do nervo, com pior prognóstico funcional.

A paralisia facial traumática de início imediato é geralmente seguida por

denervação parcial, grave ou completa da musculatura facial (Adour, Boyajian,

1977).

A paralisia tardia geralmente decorre de pressão exercida sobre o nervo por

hematoma, edema ou mesmo tecido de granulação no interior do canal auditivo

(Adegbite et al, 1991).

McKennan, Chole (1992) alegam que a paralisia facial traz consequências

devastadoras para o paciente e sua família. Do ponto de vista médico, cuidados de-

Page 63: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

53

vem ser tomados com a córnea, lacrimejamento, alterações de fala, mastigação e

salivação. Há também efeitos adversos emocionais, pois o movimento facial e a si-

metria da musculatura são importantes para o paciente, uma vez que o desfigura-

mento geralmente resulta em isolamento do paciente e depressão.

Travis et al (1977) afirmam que fraturas extensas e cominutivas do osso

temporal podem ocorrer em impactos laterais e de baixa energia cinética, produ-

zindo fraturas longitudinais no temporal e levar à rotura da cadeia ossicular da orelha

média, assim como comprometimento da função do nervo facial e do labirinto. O

deslocamento do estribo é a lesão ossicular mais comumente achada.

A lesão da articulação incudoestapedial ou incudomaleolar causa perda audi-

tiva do tipo condutiva ou mista (Lambert, Brackmann, 1984) e deve-se principal-

mente à mobilidade destas articulações contra as fixações do martelo na membrana

timpânica e estribo na janela oval (Schubiger et al, 1986).

Schubiger et al (1986) afirmam que o diagnóstico da lesão da cadeia ossicular

raramente é feito na fase aguda do traumatismo, uma vez que o hemotímpano e a

perfuração da membrana timpânica são causas de perda auditiva do tipo condutivo.

O diagnóstico clínico se faz apenas quando da persistência do déficit na vigência da

absorção do hemotímpano ou cicatrização da lesão timpânica.

A paralisia facial pode ser detectada no paciente inconsciente através da

aplicação de estímulos dolorosos e observação da movimentação facial.

A otoscopia pode revelar hemotímpano, deformidade do canal (sugerindo fra-

tura do rochedo) e perfuração da membrana timpânica.

A paralisia facial tardia ocorre em média entre dois e dez dias após o trauma-

tismo (Turner, 1944) e a maioria (90%) está associada à fratura da calvária que se

dirige à base do crânio e à orelha média. A fratura também pode direcionar-se para

a escama do osso temporal e atingir o teto da cavidade timpânica cruzando o nervo

facial em sua porção vertical ou nas proximidades do gânglio geniculado.

Turner (1944) sugere que a lesão tardia decorra de pressão realizada pelo

sangue na tuba auditiva, enquanto Robson, Dawes (1960) consideram a presença

Page 64: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

54

de uma membrana mucosa pressionando o nervo onde ele é exposto à linha de fra-

tura.

Eby et al (1988) descrevem achados anatomopatológicos do nervo facial le-

sado por fratura longitudinal do osso temporal. O nervo apresenta desestruturação

interna com formação de redemoinhos de neurofibrilas e fascículos retorcidos. O

gânglio geniculado demonstra perda importante de células ganglionares com

desmielinização e fibrose no perineuro e endoneuro. Nas porções timpânica e verti-

cal do nervo há presença de tecido fibroso entre os fascículos nervosos.

Cawthorne (1956) sugere que a combinação entre paralisia facial, surdez de

condução e alterações da membrana timpânica são indicativas do tratamento cirúr-

gico.

Além do nervo facial, as fraturas temporais podem acometer o nervo trigêmeo

e abducente, porém mais raramente (Ghorayeb et al, 1987), assim como trombose

de seio sigmóide e fístula carotidocavernosa.

Hagan et al (1979) descrevem lesões traumáticas específicas do osso tempo-

ral e do nervo facial quando causadas por projéteis de arma de fogo.

Em sua casuística, 43% dos casos apresentaram projéteis de arma de fogo

que transfixaram o osso temporal. Devido à sua estrutura compacta, ocorre resistên-

cia à progressão do projétil e quando penetrante, o próprio parênquima cerebral ofe-

rece resistência à progressão maior. Consequentemente, lesões intracranianas es-

tão presentes devido à natureza cinética do projétil.

A trajetória do projétil é predominantemente tangencial ao eixo maior do

temporal. Logicamente, o trajeto longitudinal ao maior eixo do osso é traduzido por

maior gravidade e mortalidade.

Duncan et al (1986) afirmam que projéteis de arma de fogo ao se impactarem

contra o osso temporal têm sua energia cinética dissipada pelo osso e pelas estrutu-

ras adjacentes. O componente mais importante da energia cinética é a velocidade

do projétil (Ec= ½.m.v2).

Page 65: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

55

Devido a sua alta densidade, o osso temporal confere grande proteção ao

encéfalo contra projéteis de arma de fogo e seus fragmentos, particularmente

quando a trajetória do projétil for tangencial ao crânio ou centrada no eixo longitudi-

nal do osso temporal (Duncan et al, 1986 ).

Em sua série de 22 casos de ferimentos cranianos por projétil de fogo, 36%

dos pacientes necessitaram abordagem neurocirúrgica para redução de afunda-

mentos, drenagem de contusões cerebrais e hematomas subdurais agudos, en-

quanto 50% dos pacientes apresentaram alguma forma de lesão do nervo facial, na

maioria das vezes de aparecimento imediato.

O meato acústico externo é frequentemente lesado devido à sua localização

central. A energia cinética do projétil transmite intensas ondas de choque para a

porção cartilaginosa do conduto. O trajeto do projétil desvitaliza lacunas ósseas le-

vando a necrose e sequestro. O anel ósseo timpânico pode resistir temporariamente

ao impacto ou romper devido a fragmentos metálicos. A pele macerada com obstru-

ção por edema proporciona disseminação da flora bacteriana local e pode causar

otite externa ou colesteatoma (Hagan et al, 1979).

Causas de perda auditiva condutiva incluem: perfuração da membrana timpâ-

nica e lesão da cadeia ossicular. A perda neurossensorial deve-se à transecção do

nervo vestibular, fístula labiríntica secundária a fraturas do labirinto membranoso ou

transmissão das ondas de choque do projétil para o órgão de Corti.

A orelha média é a porção mais frequentemente atingida por projéteis de

arma de fogo (Hagan et al, 1979) levando a perda condutiva por perfuração da

membrana timpânica e lesão da cadeia ossicular.

Por vezes há lesão neurossensorial devido à transecção do nervo coclear,

fístula perilinfática ou lesão do órgão de Corti pelas forças transmitidas pelo projétil.

As lesões por projéteis geralmente estão associadas a infarto cerebral,

hidrocefalia, herniação do tronco encefálico e lesões em seios venosos.

Fraturas basilares também podem levar à lesão do nervo facial (Adegbite et

al, 1991).

Page 66: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

56

Para estes autores, as lesões incompletas e tardias são aquelas que apresen-

tam o melhor prognóstico de recuperação, sobretudo quando estudo eletroneu-

romiografia facial é realizado. Logicamente, o grau de lesão do nervo é fator prog-

nóstico mais importante que o início da paralisia. Seu estudo demonstra 95% de al-

guma forma de melhora após seguimento de 18 meses. Em cinco meses de segui-

mento, 92,5% com lesões parciais demonstraram melhora na função do facial e ape-

nas 10% dos pacientes que evidenciaram lesão total demonstraram algum tipo de

melhora neste mesmo período. Preconiza a realização de anastomose hipoglosso-

facial em pacientes que não obtiveram melhora dos sintomas num período maior

que 12 meses.

Para Warren et al (2003), o projétil de arma de fogo leva à fratura temporal

cominutiva ou mista. Setenta e cinco por cento dos pacientes apresentam lesão do

nervo facial, 60% apresentam algum tipo de perda auditiva e 30% apresentam le-

sões vasculares, como lesão carotídea ou de seio venoso.

Fraturas mandibulares constituem causa rara de lesão traumática do facial

(Goin, 1980), o que é surpreendente haja vista a proximidade das duas estruturas.

Traumatismo à mandíbula cria vetores de força que se dirigem superior e posterior-

mente ao côndilo mandibular lesando o nervo em sua porção extratemporal ou tra-

ciona-o no forame estilomastoide.

Milford, Loizeaux (1972) destacam a possibilidade de lesão do facial por fratu-

ras mandibulares. A força aqui aplicada é transmitida e dissemina-se para a ATM e

base do crânio com envolvimento do processo estiloide e do nervo facial.

O nervo facial pode ser lesado em seu trajeto intratemporal, extratemporal ou

ambos os locais. Mesmo que não haja fraturas, a presença de edema pode compri-

mir o nervo no canal auditivo causando bloqueio de condução (Goin, 1980).

Ghorayeb et al (1987) relatam complicações frequentes (hemotímpano, perda

auditiva, vertigem e fístula liquórica) consequentes às fraturas temporais, além de

complicações infrequentes como paralisia bilateral de abducente, paralisia trigeminal

e trombose do seio sigmoide.

Page 67: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

57

Para Hasso, Ledington (1988), existem três fraturas principais que levam à

fístula liquórica: teto da cavidade timpânica, canal auditivo interno e células aéreas

da mastoide. As duas primeiras localizações são as mais comuns. As lesões de

mastoide são mais difíceis de serem diagnosticadas como causa de fístula liquórica

pela presença de níveis hidroaéreos nas células mastoides.

A fratura temporal pode lesar o V nervo no cavo de Meckel e o VI nervo no

canal de Dorello.

Existem condições que devem ser respeitadas a fim que possa ocorrer uma

possível melhora da função do nervo após sua lesão.

Inicialmente o núcleo do nervo facial na ponte deve possuir um adequado nú-

mero de neurônios funcionais; o segmento proximal deve manter continuidade com o

núcleo do facial e ser passível de regeneração axonial e o segmento distal deve

manter contato com unidades musculares funcionantes e ter tubos endoneurais ca-

pazes de “aceitar” axônios e regeneração (Adkins, Osguthorpe, 1991). Respeitando-

se estas condições haverá ou não regeneração do nervo se as condições clínicas do

paciente forem adequadas, se a lesão for de aparecimento imediato ou tardio, teste

topográfico, resultados da eletroneuromiografia, ferimento limpo ou contaminado e

localização da lesão.

As lesões faciais intratemporais são causadas por fraturas temporais

decorrentes de traumatismos ou lesões iatrogênicas intraoperatórias.

Coker (1991) classifica a lesão do facial por regiões (extracraniana,

infratemporal e intracraniana) e por tipo de trauma (penetrante, não penetrante e

iatrogênica). A fratura temporal é classificada como lesão não penetrante da porção

infratemporal do nervo.

Geralmente, as lesões não penetrantes da porção extracraniana do nervo são

de tratamento conservador, enquanto as lesões penetrantes requerem debridamento

e fechamento.

Na porção extracraniana predominam as lacerações, ferimentos por arma

branca, avulsão de partes moles, fraturas mandibulares, cirurgia parotídea e de

Page 68: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

58

glândulas submandibulares, cirurgia da articulação têmporo-mandibular e contusões

(Coker, 1991).

Lesões penetrantes de ramos distais à glândula parótida raramente resultam

em grave desfiguração facial, devido às inúmeras anastomoses do nervo no interior

da parótida com a face.

1.1.1.6. Nervo vestibulococlear (VIII)

Na série de Patel et al (2005), as lesões do VIII nervo apresentaram-se prefe-

rencialmente com surdez neurossensitiva, seguida pela surdez condutiva e surdez

mista.

Segundo estes autores, vertigem e nistagmo associam-se a fraturas tempo-

rais transversas e são sintomas resistentes ao tratamento medicamentoso.

Por meio da utilização de tomografia de alta resolução dos ossos temporais

com cortes de 1 mm, evidenciaram fraturas deste osso em 100% dos casos com

lesão de VIII nervo.

Fraturas do osso temporal geralmente resultam de traumatismo direto ao crâ-

nio na região parietal ou temporal. Como a cápsula ótica, que envolve a orelha in-

terna, é formada por tecido ósseo denso, a fratura cursa ao redor desta estrutura e

lesa os forames da base do crânio, como o forame jugular.

Há fraturas que envolvem as proximidades do meato acústico externo e diri-

gem-se ao maior eixo da porção petrosa do osso temporal, estendendo-se anterior-

mente ao forame lacero e artéria carótida interna (Keane, 1976).

Concussão labiríntica é definida como a presença de sintomas auditivos e

vestibulares (isolados ou em combinação) que resultam de traumatismo craniano

sem a presença de fraturas temporais. Embora estejam protegidas por uma cápsula

óssea, as membranas labirínticas são suscetíveis ao traumatismo não penetrante

(Schunknecht et al, 1951).

Griffiths (1979) afirma que as lesões auditivas e vestibulares pós-traumáticas

são muito variáveis e necessitam ser investigadas em praticamente todos os paci-

Page 69: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

59

entes vítimas de TCE, devendo-se atentar para o local de lesão, pois as fraturas

frontais são causas menos frequentes de lesão do VIII nervo quando comparadas

com as fraturas temporais.

Surdez súbita após traumatismo de crânio pode ser causada por intensa esti-

mulação acústica por ondas de pressão criadas pelo traumatismo e transmitidas

pelo osso à cóclea.

A vertigem posicional pós-traumática é a sequela neurootológica mais co-

mum. O paciente desenvolve ataques de vertigem curtos e súbitos associados ao

nistagmo e precipitados por mudanças na posição da cabeça (movimentos de fle-

xão, extensão e rotação da cabeça). A vertigem dura menos de 1 minuto, mas tontu-

ras com náuseas podem ser persistentes. Acredita-se que seja causada quando os

cristais de carbonato de cálcio (CaCO3) da mácula do utrículo desloquem-se para o

canal semicircular posterior.

Fístula perilinfática traumática ocorre quando existe lesão das membranas

que limitam o labirinto. Deve ser suspeitada quando o paciente apresentar súbita

perda auditiva associada à vertigem e tinnitus imediatamente após traumatismo cra-

niano. Muitos pacientes referem ouvir um estampido após o traumatismo seguido de

perda auditiva, tinnitus e vertigem.

Lindeman (1979) atenta para os casos de surdez e desequilíbrio que se se-

guem ao TCE na ausência de fraturas, atribuindo o quadro clínico à concussão labi-

ríntica. Acredita que o mecanismo possa ser devido à transmissão de onda de pres-

são, iniciado pelo TCE, passando pelo crânio, cóclea e aparelho vestibular. Ao

mesmo tempo, o mecanismo de aceleração ou desaceleração brusca da cabeça

durante o TCE resulta em excessivo movimento da cadeia ossicular da orelha mé-

dia, com possibilidade de rotura desta.

Ferimentos por projéteis de arma de fogo são causa de surdez aguda do tipo

sensorial. A perda auditiva é maior no lado do impacto do projétil (Singh, Adeloye,

1971).

Page 70: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

60

Na estatística de Cannon, Jahrsdoerfer (1983), a perda auditiva do tipo

condutiva deve-se mais frequentemente à disjunção incudoestapedial, seguida de

fratura do arco do estribo e fratura da cabeça do martelo.

Não há tratamento específico para a perda auditiva neurossensorial, exceto

casos que apresentem fístula perilinfática. Se a perda auditiva for condutiva, proce-

dimentos cirúrgicos podem restaurar a audição. Lesão da articulação incudoestape-

dial é a forma de deslocamento ossicular mais frequente no traumatismo temporal,

assim como nos processos inflamatórios que atingem a orelha média (Warren et al,

2003).

Lesão do aparelho vestibular resulta em sintomas agudos com tendência a

melhoria à medida que ocorre compensação central. O tratamento inicial da vertigem

é útil e o paciente é encorajado a executar exercícios vestibulares precocemente.

Sintomas vestibulares flutuantes sugerem a presença de fístula perilinfática e reque-

rem exploração da orelha média.

Hasso, Ledington (1988) afirmam que perda auditiva condutiva acima de 30

dB sugere lesão da cadeia ossicular. As fraturas temporais podem levar a alterações

na cadeia ossicular em até 50% dos casos. O deslocamento ossicular é prontamente

visualizado na tomografia de alta resolução. A cadeia ossicular contralateral deve

ser observada para comparação.

Aquisições horizontais ou axiais visualizam o deslocamento incudomaleolar e

a aquisição coronal define melhor o deslocamento incudoestapedial.

A vertigem posicional benigna pode ser tratada com manobras da cabeça que

visam liberar os cristais de carbonato de cálcio do canal semicircular posterior de

volta ao utrículo.

1.1.1.7. Nervos glossofaríngeo (IX) e vago (X)

Geralmente são acometidos simultaneamente (IX, X e XI) por atravessarem o

forame jugular conjuntamente, quando da fratura deste (Bhatoe, 2007), o que ocorre

principalmente após traumatismos que envolvem a região posterior da base do crâ-

nio.

Page 71: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

61

Os nervos também podem ser lesados em seus trajetos extracranianos por fe-

rimentos por arma branca, ferimentos por projéteis de arma de fogo ou quedas de

grandes alturas.

Para Simoncelli et al (1989), as lesões traumáticas dos nervos cranianos de

origem bulbar são raras, mas quando ocorrem, invariavelmente os nervos glossofa-

ríngeo (IX) e vago (X) são acometidos. Na presença de contusão dos nervos, o

prognóstico é melhor.

Robertson et al (1984) descrevem lesão vagal bilateral após traumatismo cer-

vical por hiperextensão.

1.1.1.8. Nervo acessório (XI)

Traumatismo penetrante ou não e mecanismos de estiramento são causas ra-

ras de lesão de acessório.

A lesão do acessório mais frequentemente ocorre como complicação de cirur-

gia cervical realizada no trígono posterior, quando da exérese de linfonodos ou du-

rante endarterectomia, por tração do nervo. Descrevem-se lesões do XI nervo por

súbita extensão do membro superior (Berry et al, 1991).

Lesões penetrantes costumam lesar outros nervos além do acessório como:

occipital maior e menor, grande auricular e laríngeo recorrente.

O tratamento depende da gravidade e causa da lesão. Se houver lesão par-

cial, opta-se pelo tratamento conservador e fisioterápico a fim de prevenir o conge-

lamento do ombro.

Se a paralisia for decorrente de ferimento penetrante ou completa, preconiza-

se a exploração cirúrgica para o estabelecimento da lesão. Um nervo gravemente

lesado pode ser anastomosado ou suturado a um enxerto de nervo. O procedimento

deve ser realizado nos primeiros seis meses após a lesão.

Wright (1975) aponta para a necessidade do diagnóstico de lesão deste

nervo, que muitas vezes é traduzida por dor incapacitante no ombro ou membro su-

Page 72: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

62

perior com irradiação para a região escapular (pós-operatória) ou por déficit motor

nos músculos trapézio e esternocleidomastoide (pós-traumáticas).

Olarte, Adams (1977) alertam para o diagnóstico diferencial da lesão do aces-

sório com a lesão do torácico longo (inervação do músculo serrátil anterior). Na le-

são do acessório, a dor tem forte intensidade e localiza-se na fossa supraclavicular,

região occipital e ombro. A dor por lesão do torácico longo é mínima e localiza-se na

região escapular. Há maior deformidade da região supraclavicular na lesão do aces-

sório, por atrofia muscular, assim como no trapézio. O ângulo superior da escápula

desloca-se em direção lateral na lesão do acessório e o ângulo inferior e margem

medial da escápula têm deslocamento lateral na lesão do torácico longo.

Swann, Heros (1985) descrevem dois pacientes com paralisia de acessório

que se seguiu a endarterectomia carotídea e que necessitaram de grande traciona-

mento do músculo esternocleidomastoideo durante os procedimentos.

1.1.1.9. Nervo hipoglosso (XII)

O nervo hipoglosso (XII) é acometido nas fraturas do côndilo occipital e em

traumatismos cirúrgicos (endarterectomia carotídea). Traumatismos não penetrantes

raramente lesam o nervo hipoglosso e geralmente traduzem-se por lesões por

hiperextensão da coluna cervical com ou sem fratura do tubérculo hipoglosso.

Na síndrome de Collet-Sicard (descrita em 1915) ocorre o acometimento

conjunto e unilateral dos nervos glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso.

Mohanty et al (1973) descrevem caso de ferimento por projétil de arma de

fogo com orifício de entrada em pavilhão auricular esquerdo com ausência de feri-

mento de saída do projétil. Detectou a lesão dos nervos IX ao XII.

Hashimoto et al (1988) descrevem um caso desta síndrome (Collet-Sicard)

em paciente vítima de queda e com extensão da coluna cervical, com imediato apa-

recimento de rouquidão e dificuldade em deglutir saliva, paralisia unilateral de corda

vocal e diminuição de força nos músculos esternocleidomastoide e trapézio.

Page 73: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

63

Jackson* (1883) (citado por Mohanty et al, 1973), foi o primeiro autor a des-

crever sintomas de paralisia ipsilateral da laringe, língua e músculos do pescoço.

Collet (1915) relatou caso de paralisia dos quatro nervos cranianos mais infe-

riores, como resultado de ferimento por projétil de arma de fogo. Sicard (1917) e

Vernet (1918) também descreveram estes achados.

As fraturas de côndilo occipital são raras e difíceis de ser visualizadas em ra-

diografias simples da coluna cervical, sendo provavelmente subdiagnosticadas em

traumatismos graves (Hashimoto et al, 1988), porém mais facilmente evidenciadas

em tomografias computadorizadas da mesma região.

Anderson, Montesano (1988) propuseram uma classificação da fratura de

côndilo occipital (FCO) que correlaciona o mecanismo de trauma com a morfologia

da fratura. Foram descritos três tipos com base na configuração do côndilo fraturado:

1- fratura cominutiva do côndilo, sem luxação, por compressão do crânio sobre o

atlas, semelhante ao mecanismo da fratura de Jefferson; 2- fratura linear, ocorrendo

como parte de fratura da base posterior do crânio; o mecanismo é por impacto direto

sobre o crânio; 3- avulsão do côndilo occipital, usualmente com deslocamento me-

dial do fragmento fraturado, determinando instabilidade da articulação Occipital - C1

por lesão do ligamento alar e da membrana tectorial; o mecanismo é por rotação ou

flexão lateral ou por combinação de ambos os movimentos. Este último tipo pode

causar dor e limitação de movimentos e estar associado a lesão dos nervos crania-

nos baixos.

Tuli et al (1997) propuseram nova classificação da fratura do côndilo occipital,

que se baseia no grau de lesão ligamentar refletido pela presença de deslocamento

da FCO e determinação da instabilidade das articulações Occipital-C1-C2 observa-

dos no exame radiológico simples da coluna cervical, na tomografia computadori-

zada e na ressonância magnética. São os seguintes os critérios de instabilidade:

mais de 8 graus de rotação axial para um lado da articulação Occipital -C1; mais de

1 mm de translação da articulação Occipital -C1; mais de 7 mm de deslizamento de

C1 sobre C2; mais de 45 graus de rotação axial para um lado da articulação C1-C2;

* Jackson (1883) APUD Mohanty SK, Barrios M, Fishbone H, Khatib R. Irreversible injury of the cranial nerves 9 through 12 (Collet-Sicard syndrome). J Neurosurg. 1973;38:86-8.

Page 74: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

Introdução

64

mais de 4 mm de translação da articulação C1-C2; mais de 13 mm de distância entre

o corpo de C2 e o arco posterior de C1; evidência na ressonância magnética de

avulsão do ligamento transverso. A nova classificação inclui os seguintes tipos de

FCO: 1- sem deslocamento; 2A- com deslocamento e estabilidade do complexo arti-

cular Occipital -C1-C2; 2B- com instabilidade do complexo articular Occipital -C1-C2.

Bolender et al (1978) referem que as lesões do côndilo occipital são raras e

geralmente decorrentes de traumatismos cranianos de alta energia cinética. É fre-

quente a lesão associada de outros nervos cranianos de origem bulbar pela proximi-

dade anatômica com o forame jugular, assim como da v. jugular interna (Daniels et

al, 1984).

Bhatoe (2007) afirma que as lesões do hipoglosso devem-se principalmente à

fratura do côndilo occipital pela localização anatômica do nervo, que se faz medial-

mente a este.

A paralisia do XII nervo pode ser tardia e também ser decorrente de procedi-

mentos cirúrgicos cervicais, especialmente cirurgias sobre a glândula submandibular

ou hérnia de disco C2/C3.

Page 75: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

65

2- OBJETIVOS

Page 76: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

66

Objetivos

2.1. Objetivos gerais

Avaliar o perfil epidemiológico e os mecanismos de lesão traumática em ner-

vos cranianos.

2.2. Objetivos específicos

Estabelecer correlação clinicorradiológica e de neuroimagem nas lesões

traumáticas de nervos cranianos;

Avaliar a distribuição de frequência da lesão de um único nervo craniano e em

múltiplos (dois ou mais nervos);

Averiguar a presença e a distribuição de fístula liquórica pós-traumática asso-

ciada às lesões de nervos cranianos;

Correlacionar as lesões traumáticas de nervos cranianos com a gravidade do

TCE de acordo com a pontuação na escala de coma de Glasgow no exame físico

admissional.

Page 77: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

67

3- CASUÍSTICA E MÉTODO

Page 78: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

68

Casuística e Método

Estudaram-se 71 casos de lesões traumáticas de nervos cranianos (uni ou

bilaterais) em pacientes atendidos inicialmente no Pronto Socorro Central da Santa

Casa de Misericórdia de São Paulo no período de 1º de junho de 2010 a 30 de junho

de 2013, por meio de estudo prospectivo com base em protocolo previamente auto-

rizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição (Apêndice 1). No período

citado, 678 pacientes vítimas de TCE foram admitidos e internados na Santa Casa

de Misericórdia de São Paulo.

Para a avaliação do perfil epidemiológico, caracterizamos o gênero dos

pacientes e estabelecemos a média de idade de ocorrência das lesões por gênero.

Lesões uni ou bilaterais de nervos cranianos foram incluídas; a lateralidade da

lesão não foi considerada

Para a avaliação do mecanismo de lesão e energia cinética envolvida no

traumatismo, dividimos os pacientes segundo seguinte critério:

1- Alta Energia Cinética

2- Média Energia Cinética

3- Baixa Energia Cinética

4- Etiologia traumática desconhecida

Acidentes automobilísticos, motociclísticos, ferimentos por projéteis de arma

de fogo e atropelamentos foram considerados mecanismos de transmissão de alta

energia cinética.

Queda de altura (laje e escada), agressão física, ferimento por arma branca e

queda de bicicleta representaram os acidentes de média energia cinética.

Queda de própria altura significou acidente de baixa energia cinética. No

único caso em que não se identificou qualquer mecanismo agressor considerou-se

etiologia desconhecida.

Para a avaliação da correlação clínicorradiológica e de neuroimagem, dividi-

mos os pacientes segundo os seguintes critérios:

Page 79: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

69

Casuística e Método

a) quanto à presença de fraturas ou afundamentos cranianos:

a1- Supratentoriais

a2- Infratentoriais

a3- Mistos

a4- Ausentes

As fraturas/afundamentos supratentoriais compreenderam as fraturas frontais,

temporais, parietais, occipitais, orbitárias (teto, assoalho, parede lateral e medial),

fraturas faciais, fraturas de arco zigomático, fraturas petrosas longitudinais e trans-

versas e fronto-basais.

As fraturas/afundamentos infratentoriais incluíram as fraturas do processo

mastoide do osso temporal, fraturas da base do crânio, fraturas do forame jugular e

do côndilo occipital.

Consideramos fraturas mistas aquelas que envolviam mais que um osso iso-

ladamente e os achados incluíram fratura de zigomático e base de crânio, fronto-

temporal e teto orbitário, teto e assoalho orbitário, têmporo-parieto-occipital, têm-

poro-mastóide, têmporo-petrosa, parietal-petrosa-mastoide e teto orbitário-zigomá-

tico e côndilo occipital.

Foram consideradas ausentes as lesões ósseas não detectadas por meio da

radiografia simples de crânio (frente e perfil), janela óssea da tomografia computado-

rizada de crânio ou como achado intraoperatório.

b) quanto a presença ou ausência de lesões intracranianas:

b1- Focais

b2- Difusas

b3- Ausentes

b4- Associadas

As lesões focais incluíram os hematomas: epidural, subdural, intra-parenqui-

matoso, a contusão e a hemorragia subaracnoidea traumática confinada a uma cis-

terna.

Page 80: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

70

Casuística e Método

As lesões difusas foram representadas pelo inchaço cerebral, lesão axonial

difusa e a hemorragia subaracnoidea traumática que envolvia duas ou mais cister-

nas.

Utilizamos o termo “isolada” quando apenas uma lesão foi aparente à tomo-

grafia de crânio e “associadas” quando foram visibilizadas quaisquer combinações

de duas ou mais lesões.

Lesões associadas ocorreram quando da presença de duas ou mais lesões

ipsi ou contralaterais, focais ou difusas.

Ausência de lesões foi considerada quando não houve identificação de qual-

quer lesão focal ou difusa associada à preservação dos sulcos e giros encefálicos

com ventrículos de tamanho normal e ausência de edema transependimário.

Para se avaliar a distribuição de frequência da lesão de nervo craniano único

ou de múltiplos nervos (mais de um nervo craniano), utilizamos o seguinte critério:

a1- Lesão de nervo craniano único

a2- Lesão de mais de um nervo craniano (múltiplos nervos)

A avaliação de fístula liquórica foi realizada segundo este critério:

a1–presença de fístula liquórica (otoliquorréia, rinoliquorréia, fístula retrofaríngea);

a2 – ausência de fístula liquórica

Para avaliar os pacientes quanto a gravidade do traumatismo, utilizamos a

Escala de Coma de Glasgow (ECGl) à admissão e os classificamos em: trauma leve

(ECGl de 13 a 15), moderado (ECGl de 9 a 12) e grave (ECGl de 3 a 8).

3.1. Critérios de inclusão

Todos os pacientes som história evidente de TCE foram submetidos a exame

físico neurológico e exames de imagem, que constaram de radiografia simples de

crânio (frente e perfil), tomografia computadorizada de crânio (100%) com cortes

axiais, janela óssea e cortes coronais (quando indicados), ressonância magnética e

angiografia cerebral digital (quando indicados) no momento da admissão e repetição

Page 81: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

71

Casuística e Método

destes de acordo com o quadro clínico e evolução. Neste estudo ambos os gêneros

foram incluídos. Não impusemos limite de idade.

O exame neurológico dos nervos cranianos foi feito à admissão, assim como

durante o período de internação e no seguimento ambulatorial.

Alteração do componente motor (nervos com exclusivo componente motor),

sensitivo (nervos com exclusivo componente sensitivo) ou de ambos (nervos mistos)

foram consideradas como formas de lesão e foram incluídas, assim como nervos

que foram lesados uni ou bilateralmente.

Como critérios de lesão, incluíram-se os seguintes achados para cada nervo

craniano estudado:

a) Nervo olfatório: hiposmia (detecção de odor com impossibilidade de reconheci-

mento da fonte odorífera) uni ou bilateral; anosmia (não detecção de qualquer

odor) uni ou bilateral; parosmia (detecção do odor que não corresponde à fonte

odorífera); cacosmia (percepção extremamente desagradável do estímulo olfató-

rio); fantosmia (intermitência ou persistência da sensação olfativa na ausência

de estímulo externo). Os pacientes foram submetidos à análise de substâncias

odoríferas (duas de três substâncias não voláteis em cada narina), facilmente

reconhecíveis (café, canela, hortelã) de forma que outros nervos cranianos (tri-

gêmeo) não fossem sensibilizados durante a análise com a oferta de substân-

cias ácidas (vinagre). Durante a análise tomou-se o cuidado de investigar o pa-

ciente tendo-se a certeza da ausência fístula liquórica ou rinopatia. A análise das

alterações gustatórias foi feita baseando-se nas alterações observadas nas ati-

vidades diárias dos pacientes.

b) Nervo óptico: diminuição da acuidade visual (cartão de Snellen), do campo visual

diagnosticados por confrontação direta, mantendo-se a correção óptica (uso de

óculos ou lentes de contato), alterações na campimetria confirmadas pela Disci-

plina de Oftalmologia;

c) Nervo oculomotor: alteração na motricidade ocular extrínseca (músculos reto

inferior, medial, superior, elevador da pálpebra superior e oblíquo inferior) e in-

trínseca do globo ocular (reatividade e tamanho pupilares) isoladamente ou em

conjunto, queda palpebral;

Page 82: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

72

Casuística e Método

d) Nervo troclear: alteração da motricidade ocular extrínseca (músculo oblíquo

superior);

e) Nervo trigêmeo: alteração de sensibilidade facial correspondente ao território de

inervação de qualquer dos três ramos principais (oftálmico, maxilar e mandibu-

lar) ou de suas divisões isoladamente ou em conjunto ou alteração da motrici-

dade da musculatura mastigatória;

f) Nervo abducente: alteração da motricidade ocular extrínseca (músculo reto late-

ral);

g) Nervo facial: alteração da motricidade da musculatura facial segundo a escala de

House-Brackmann (Anexo 2) e alteração gustatória dos dois terços anteriores da

língua. Levou-se em consideração se o aparecimento da lesão foi imediato ou

tardio. As lesões gustatórias foram assim divididas: ageusia (inabilidade de de-

tectar ou reconhecer qualquer estímulo gustativo); disgeusia (distorção na per-

cepção do estímulo gustativo); cacogeusia (percepção extremamente desagra-

dável do estímulo gustativo), fantogeusia (persistência da sensibilidade gustató-

ria na ausência de estímulo);

h) Nervo vestibulococlear: diminuição da acuidade auditiva avaliada por diapasão e

audiometria confirmada pelo Departamento de Otorrinolaringologia;

i) Nervo glossofaríngeo: alteração da musculatura da deglutição e do véu palatino

confirmados pela unidade de Fonoaudiologia e alteração da sensibilidade gus-

tatória do terço posterior da língua;

j) Nervo vago: distúrbios da fonação pós-traumáticos e confirmados pela unidade

de Fonoaudiologia;

k) Nervo acessório: alteração da motricidade dos músculos esternocleidomastoide

e trapézio;

l) Nervo hipoglosso: alteração da movimentação da língua.

Os pacientes foram seguidos em ambulatório próprio para avaliação destas

lesões em períodos regulares e avaliados sempre pelo autor. São encaminhados do

Pronto-Socorro Central e das enfermarias da Santa Casa de Misericórdia de São

Paulo após alta (lesões agudas) ou do Ambulatório de Traumatismo Cranioencefá-

lico quando o diagnóstico da lesão for de aparecimento tardio.

Page 83: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

73

Casuística e Método

No ambulatório aplicou-se protocolo específico de lesão de nervos cranianos

e iniciou-se o seguimento do paciente. Fizeram-se os encaminhamentos necessários

para as unidades de Fisioterapia e de Fonoaudiologia e para os Departamentos de

Oftalmologia e Otorrinolaringologia conforme lesões nervosas detectadas ou sus-

peitas para a confirmação do diagnóstico da lesão, assim como complemento de

exames radiológicos.

O seguimento foi realizado nos intervalos de 30 dias, 60 dias, 90 dias e 180

dias após a primeira consulta ambulatorial.

3.2. Critérios de exclusão

Foram excluídos do estudo indivíduos portadores de TCE com lesões prévias

de nervos cranianos decorrentes de cirurgias prévias, assim como aqueles cujas

lesões de nervos foram decorrentes de diabetes mellitus, esclerose múltipla, neopla-

sias primárias e secundárias, doenças infecciosas, herpes zoster e hemorragia su-

baracnoide espontânea ou traumática prévias com comprometimento de nervos cra-

nianos.

3.3. Análise estatística

Nas análises estatísticas, adotamos o nível de significância de 5% (0,050),

para a aplicação dos testes estatísticos.

Usamos a planilha eletrônica MS-Excel, em sua versão do MS-Office 2010

para a organização dos dados e o pacote estatístico IBM SPSS (Statistical Package

for Social Sciences), em sua versão 21.0, para a obtenção dos resultados.

Aplicou-se o Teste da Razão de Verossimilhança, com o intuito de verificação

do grau de associação entre as variáveis de interesse.

Page 84: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

74

4- RESULTADOS

Page 85: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

75

Resultados

No período analisado, 678 pacientes vítimas de TCE foram admitidos e inter-

nados no Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo, sendo que 71 casos

(10,47%) apresentavam diagnóstico de lesão traumática de nervos cranianos agu-

damente ou de aparecimento tardio.

Dos 678 pacientes admitidos, 482 (71,09%) pertenciam ao gênero masculino

e 196 (28,09%) ao gênero feminino.

Dos 71 casos estudados, 34 casos (47,89%) apresentaram lesão de nervo

craniano único (Tab. 3) e em 37 casos (52,11%) houve lesão combinada de nervos

conforme demonstrado na Tab.4.

Os nervos olfatório (I), facial (VII) e oculomotor (III) foram os nervos mais fre-

quentemente acometidos quando lesados isoladamente (Tab. 3).

Tabela 3. Distribuição por frequência das lesões traumáticas de nervo craniano único.

Nervo craniano Número de casos Porcentagem de lesão

Olfatório (I) 10 29,41%

Óptico (II) 1 2,94%

Oculomotor (III) 7 20,59%

Troclear (IV) 1 2,94%

Abducente (VI) 3 8,82%

Facial (VII) 8 23,53%

Vestibulococlear (VIII) 3 8,82%

Acessório (XI) 1 2,94%

Total 34 100%

Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Miseri-córdia de São Paulo.

Em termos de lesões conjuntas, os nervos facial (VII) e vestibulococlear (VIII)

foram os nervos mais frequentemente acometidos, seguidos pela associação olfató-

rio (I) e vestibulococlear (VIII) (Tab.4).

Não foram encontradas lesões envolvendo os nervos glossofaríngeo (IX),

vago (X) e hipoglosso (XII).

Page 86: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

76

Resultados

Tabela 4. Número e porcentagem das lesões traumáticas em múltiplos nervos cranianos.

Nervos Lesados Número de lesões Porcentagem

VII/VIII 7 18,92%

I/VIII 5 13,51%

I/II 2 5,41%

I/II/V 2 5,41%

I/II/VIII 2 5,41%

I/II/III/V 2 5,41%

I/II/III 1 2,70%

I/III 1 2,70%

I/III/VII 1 2,70%

I/II/III/VI/VIII 1 2,70%

I/II/III/V/VI/VII/VIII 1 2,70%

I/V/VI 1 2,70%

II/III 1 2,70%

II/III/IV 1 2,70%

II/III/IV/V/VI 1 2,70%

II/III/VI/VII/VIII 1 2,70%

II/III/V/VI/VII/VIII 1 2,70%

II/VII/VIII 1 2,70%

III/V 1 2,70%

III/V/VIII 1 2,70%

III/VII 1 2,70%

V/VII 1 2,70%

VI/VIII 1 2,70%

Total 37 100%

I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Miseri-córdia de São Paulo.

No gênero masculino constatou-se a presença de 55 casos (77,46%) com

lesão traumática de nervos cranianos, enquanto o gênero feminino, 16 pacientes

(22,54%) apresentaram o mesmo diagnóstico, numa razão de 3,43 (Fig. 8).

Page 87: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

77

Resultados

A média de idade foi de 35,69 anos em pacientes do gênero feminino com

idades que variaram de 14 a 72 anos. No gênero masculino a média de idade foi de

35,62 anos com variação de13 a 80 anos.

Figura 8. Distribuição por frequência das lesões traumáticas de nervos cranianos por gê-nero.

No tocante a biomecânica do traumatismo, os atropelamentos (20 casos ou

28,17%) constituíram a etiologia principal de lesão traumática em nervos cranianos

(Fig. 9), tanto nos casos com lesão de nervo único, assim como nos casos onde dois

ou mais nervos foram acometidos. Acidentes motociclísticos corresponderam a 12

casos (16,90%) (Fig. 9).

Page 88: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

78

Resultados

Figura 9. Distribuição de frequência por mecanismo de trauma.

A maior parte de nossa casuística apresentou fraturas cranianas (55 casos

ou 77,47%) identificadas por radiografia simples de crânio e tomografia computado-

rizada de crânio. As fraturas cranianas predominaram na região temporal (10 casos

ou 14,08%), seguidas por traços de fraturas que comprometiam mais de um osso

(Fig. 10).

A maioria dos pacientes foi admitida no Pronto-Socorro com avaliações nor-

mais ou discretamente alterada do nível de consciência. Vinte e um pacientes

(29,58%) foram admitidos com pontuação 15 na escala de coma de Glasgow, en-

quanto 13 pacientes (18,31%) foram admitidos com 14 pontos. Porém, 13 pacientes

(18,31%) foram admitidos com 3 pontos na ECGl, refletindo lesões de nervos decor-

rentes de traumatismos com transmissão de alta energia cinética, conforme Figura

11.

Page 89: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

79

Resultados

Figura 10. Distribuição de frequência das fraturas cranianas.

Figura 11. Distribuição de frequência das pontuações da Escala de Coma de Glasgow à admissão dos pacientes.

Page 90: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

80

Resultados

A maioria dos pacientes (62 casos ou 87,32%) não apresentou qualquer indí-

cio de fístula liquórica (espontânea ou por manobras provocativas) durante o período

de internação ou durante o seguimento ambulatorial (Fig. 12). Quando presentes

(sete casos ou 9,85%) houve predomínio de rinoliquorreia. Otoliquorreia esteve pre-

sente em dois casos (2,81%), mas não se detectou a presença de fístula liquórica

retrofaríngea.

Dentre as lesões intracranianas, predominaram os hematomas epidurais (18

casos ou 25,35%), seguidos das contusões cerebrais (17 caos ou 23,94%). Em

quatorze casos (19,71%) não se evidenciaram lesões intracranianas. Os hematomas

intraparenquimatosos traumáticos isolados (não associados a outras lesões) consti-

tuíram os achados menos frequentes das lesões intracranianas (dois casos ou

2,82%) (Fig. 13).

Figura 12. Distribuição de frequência de fístula liquórica.

Page 91: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

81

Resultados

Figura 13. Distribuição de frequência das lesões intracranianas. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HSDA– hematoma subdu-ral agudo; HIP– hematoma intraparenquimatoso; Pn- pneumocrânio; CONT– contusão.

Nervo olfatório (I)

Dos 71 pacientes, 29 (40,85%) apresentaram lesão do nervo olfatório, dos

quais, 10 (34,48%) ocorreram de forma isolada e em 19 (65,52%) casos apareceram

lesões combinadas com outros nervos cranianos, distribuição que se encontra re-

presentada na Tabela 5.

Page 92: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

82

Resultados

Tabela 5. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo olfatório.

Nervos lesados Número de casos

I/VIII 5 I/II 2

I/II/V 2 I/II/VIII 2 I/II/III/V 2 I/V/VI 1 I/II/III 1

I/II/III/VI/VIII 1 I/III/VII 1

I/II/III/V/VI/VII/VIII 1 I/III 1

Total 19 casos

I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Miseri-córdia de São Paulo.

A associação mais frequente envolveu o I e VIII nervos (Tab. 5). A anosmia

bilateral ocorreu em 14 casos, seguida de hiposmia (10 casos), anosmia unilateral

esquerda (três casos), anosmia unilateral direita (um caso) e parosmia (um caso),

demonstradas na Figura 14. Evidenciaram-se alterações gustatórias em sete casos

com lesão de nervo olfatório (9,8%) em nosso trabalho, que incluíram hipogeusia

(três casos), ageusia (três casos) e disgeusia (um caso).

Figura 14. Distribuição de frequência das lesões traumáticas do nervo olfatório. D– direita; E– esquerda.

Page 93: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

83

Resultados

Atropelamentos representaram a etiologia mais frequente na lesão do nervo

olfatório (oito casos), seguidos de quedas de alturas (escadas e lajes) com cinco

casos e quatro casos de acidente motociclístico.

As fraturas cranianas ocorreram em 23 casos (p=0,323), assim distribuídas:

a) supratentoriais foram demonstradas em 15 casos (Fig. 15 e 17) com predomínio

em região frontal; b) três pacientes apresentaram fraturas infratentoriais; c) seis de-

monstraram fraturas mistas (envolvendo mais de um osso, podendo ser supra e in-

fratentoriais) e cinco casos sem evidência de qualquer traço de fratura.

Os hematomas epidurais e as contusões cerebrais (Fig. 15 e 16) ocorreram

em frequências iguais (sete casos cada), seguidos de três pacientes com hemorra-

gia subaracnoide traumática. As lesões focais predominaram (p=0,015) nas lesões

olfatórias e nas gustatórias (p=0,05). Em seis pacientes não houve lesão

intracraniana. Um paciente apresentou lesão gustatória na ausência de lesão intra-

craniana (p=0,028). Apenas um paciente apresentou rinoliquorreia na vigência de

lesão do I nervo (p=0,506).

Figura 15. Fratura occipital (A) e contusão frontal (B) em contragolpe em paciente com le-são traumática de nervo olfatório (setas). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

A

B

Page 94: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

84

Resultados

Figura 16. Contusão frontal em contragolpe (A e B) em paciente com lesão traumática de nervo olfatório (setas). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Figura 17. Tomografia de crânio evidenciando fratura do osso nasal (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

A

B

Page 95: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

85

Resultados

Dez pacientes foram admitidos com pontuação 15 na ECGl e oito com

pontuação igual a 14. Seis pacientes obtiveram pontuação 13, 12 e 11, além de pa-

cientes com pontuações mais baixas (3 e 7) com p=0,033.

A maior parte dos pacientes com lesão de nervo olfatório não apresentava

alteração olfativa detectável no primeiro exame e sim durante o acompanhamento

ambulatorial.

Nervo óptico (II)

As lesões traumáticas do nervo óptico incluíram diminuição da acuidade vi-

sual, alterações do campo visual e do exame de fundo de olho isoladamente ou em

associação.

Acuidade visual

Dezoito pacientes (25,35%) apresentaram alterações de acuidade visual (Fig.

18). Queixas de diminuição de acuidade visual foram incluídas, tendo-se a confir-

mação do diagnóstico realizada pela Disciplina de Oftalmologia. Constatou-se ape-

nas um caso (5,56%) de lesão isolada do nervo óptico. Os 17 casos restantes

(94,44%) apresentaram lesões concomitantes a outros nervos.

Figura 18. Distribuição de frequência da acuidade visual em pacientes com lesão trau-mática do nervo óptico.

Page 96: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

86

Resultados

Ferimentos por projéteis de arma de fogo representaram o mecanismo de

trauma mais frequente, considerando-se diminuição da acuidade visual, alteração de

campo visual e do exame de fundo de olho em conjunto, seguidos dos atropela-

mentos e acidentes automobilísticos, acidentes motociclísticos e agressões físicas

(Fig. 22). No presente estudo, três casos de lesão do nervo óptico foram causados

por ferimentos por projétil de arma de fogo.

Fraturas (Fig. 19 e 21) ocorreram em 14 casos, das quais nove eram supra-

tentoriais (predomínio de lesões frontais – p=0,041), quatro eram mistas e apenas

uma fratura infratentorial quando considerada apenas a diminuição da acuidade vi-

sual. Apontamos cinco casos com fraturas orbitárias em nosso estudo, a maioria

decorrente de mecanismos de trauma com transmissão de alta energia cinética (fe-

rimentos por projétil de arma de fogo, atropelamentos e acidentes automobilísticos).

As contusões cerebrais ocorreram em cinco casos, enquanto os hematomas

epidurais ocorreram em quatro casos, seguidos de três pacientes com hemorragia

subaracnoide traumática e dois pacientes com hematoma subdural agudo (Fig. 23).

Em dois pacientes não houve lesão intracraniana. Três pacientes apresentaram ri-

noliquorreia.

Sete pacientes foram admitidos com pontuação 15 na ECGl e quatro com

pontuação igual a 14.

Page 97: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

87

Resultados

Tabela 6. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo óptico – acuidade visual.

Nervos lesados Número de casos

I/II 2 I/II/VIII 2 I/II/V 2

I/II/III/V 2 II/III/IV 1 I/II/III 1

I/II/III/V/VI/VII/VIII 1 II/III/IV/V/VI 1

II/III 1 II/III/VI/VII/VIII 1 I/II/III/VI/VIII 1

II/III/V/VI/VII/VIII 1 II/VII/VIII 1

Total 17 casos

I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Miseri-córdia de São Paulo.

Campo visual

Alterações do campo visual foram encontradas em 14 pacientes (19,72%). A

maior parte das alterações de campo visual foram geradas por acidentes motociclís-

ticos (três casos), automobilísticos (três casos) e ferimentos por projétil de arma de

fogo. Fraturas de teto orbitário ocorreram em três casos, seguidos de dois casos

com fratura frontal, dois casos com fratura temporal e dois casos que não evidencia-

ram fraturas. Evidenciamos também pacientes com fragmentos ósseos intraorbitá-

rios (Fig. 19 e 21) e paciente com evidência de lesão traumática de nervo óptico es-

querdo (Fig. 20). Três pacientes apresentaram rinoliquorreia (os mesmos pacientes

com alteração da acuidade visual).

À admissão, seis pacientes apresentaram pontuação 15 na escala de Coma

de Glasgow e três pacientes foram admitidos com pontuação 14.

Page 98: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

88

Resultados

Figura 19. Tomografia de crânio evidenciando fragmento ósseo intraorbitário direito (setas). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Page 99: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

89

Resultados

Figura 20. Ressonância magnética de encéfalo evidenciando lesão do nervo óptico esquerdo (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Figura 21. Fragmento ósseo sobre nervo óptico esquerdo (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Page 100: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

90

Resultados

Figura 22. Mecanismos de trauma nas lesões do nervo óptico. AV– acuidade visual; CV– campo visual; FAF– ferimento por projétil de arma de fogo; FAB– ferimento por arma branca.

Figura 23. Lesões intracranianas associadas à lesão traumática do nervo óptico. AV– acuidade visual; CV– campo visual; alt– alterado; HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HSDA– hematoma subdural agudo; HIP– hematoma intraparenquimatoso.

Page 101: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

91

Resultados

Figura 24. Fraturas cranianas associadas à lesão traumática do nervo óptico. AV– acuidade visual; CV– campo visual; arco zig– arco zigomático.

Nervo oculomotor (III)

Em 22 pacientes (30,99%) foram evidenciadas alterações da motricidade

ocular extrínseca e intrínseca do globo ocular. Não encontramos ptose palpebral.

Houve associação de anisocoria com alterações da motricidade ocular extrín-

seca (MOE), ou seja, comprometimento da porção extrínseca e intrínseca do nervo,

assim como a presença de anisicoria sem alterações da MOE (comprometimento

intrínseco exclusivo) e, ainda, pacientes com pupilas isocóricas e fotorreagentes e

com alterações da MOE (comprometimento extrínseco exclusivo), conforme Tabela

7 e Figura 25.

Houve lesão única do nervo oculomotor em sete deles e nos 15 casos res-

tantes houve lesão conjunta de outros nervos, conforme demonstra a Tabela 8.

Page 102: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

92

Resultados

Tabela 7. Distribuição por frequência das lesões traumáticas do nervo oculomotor – componente intrínseco e extrínseco.

Lesão Número de casos

D>E + MOE alterada 5

D>E + MOE normal 5

E>D + MOE alterada 3

E>D + MOE normal 1

PIFR + MOE alterada 8

Total 22 casos

D>E– anisocoria D>E; E>D– anisocoria E>D; PIFR– pupilas isocóricas e fotorreagentes; MOE– motri-cidade ocular extrínseca. Fonte: SAME - Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Mise-ricórdia de São Paulo.

O presente estudo demonstra que atropelamentos, acidentes motociclísticos

e ferimentos por projétil de arma de fogo constituíram as etiologias traumáticas mais

frequentes como lesão do III nervo (Fig. 30). Apenas um caso de ferimento por arma

branca foi causa de lesão de III com anisocoria e alteração da motricidade ocular

extrínseca com fratura de assoalho de órbita (Fig. 26).

As fraturas supratentoriais foram demonstradas em dez casos (Fig. 27 e 28),

enquanto as infratentoriais ocorreram em dois casos e as mistas em cinco casos.

Nos cinco casos restantes não se evidenciaram fraturas cranianas, dos quais dois

casos apresentavam-se com anormalidades da reatividade pupilar (p=0,024).

Page 103: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

93

Resultados

Figura 25. Distribuição de frequência das alterações pupilares e motricidade ocular extrín-seca. D>E– anisocoria D>E; E>D– anisocoria E>D; PIFR– pupilas isocóricas e fotorreagentes; MOE– motri-cidade ocular extrínseca.

Figura 26. Radiografia simples de crânio com ferimento por arma branca em paciente com lesão traumática de III nervo. Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Page 104: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

94

Resultados

Observou-se a ocorrência de sete casos de contusões cerebrais e três casos

de hemorragia subaracnoide traumática. Em quarto pacientes não houve lesão intra-

craniana (Fig. 31).

Figura 27. Tomografia de crânio evidenciando fratura de assoalho de órbita (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Seis pacientes foram admitidos com pontuação 15 na ECGl e mais seis com

pontuação igual a 14 (p=0,012). Observamos ainda outros seis pacientes que à ad-

missão estavam com pontuação 3 na ECGl, evidenciando-se lesão no indivíduo in-

consciente. Dois casos apresentaram rinoliquorreia. O gênero masculino foi acome-

tido em 14 casos (63,64%) e o feminino em oito casos (36,36%).

Page 105: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

95

Resultados

Figura 28. Tomografia de crânio evidenciando fratura em teto orbitário esquerdo (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Figura 29. Tomografia de crânio evidenciando lesão axonial em tronco encefálico (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Page 106: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

96

Resultados

Tabela 8. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo oculomotor.

Nervos lesados Número de casos

I/II/III/V 2 I/III 1 II/III 1 III/V 1

III/VII 1 I/III/VII 1 I/II/III 1

II/III/IV 1 III/V/VIII 1

I/II/III/V/VI/VII/VIII 1 I/II/III/VI/VIII 1 II/III/IV/V/VI 1

II/III/V/VI/VII/VIII 1 II/III/VI/VII/VIII 1

Total 15 casos

I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Miseri-córdia de São Paulo.

Figura 30. Distribuição de frequência das alterações intrínsecas e extrínsecas do globo ocular de acordo com o mecanismo de trauma. D>E– anisocoria D>E; E>D– anisocoria E>D; PIFR– pupilas isocóricas e fotorreagentes; MOE– mo-tricidade ocular extrínseca; FAF– ferimento por projétil de arma de fogo; FAB– ferimento por arma branca.

Page 107: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

97

Resultados

Figura 31. Distribuição de frequência das alterações intrínsecas e extrínsecas do globo ocular de acordo com a presença de lesões intracranianas. D>E– anisocoria D>E; E>D– anisocoria E>D; PIFR– pupilas isocóricas e fotorreagentes; MOE– mo-tricidade ocular extrínseca; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HED– hematoma epidural; HSDA – hematoma subdural agudo; HIP – hematoma intraparenquimatoso.

Nervo troclear (IV)

Constatou-se a lesão do nervo troclear em três casos (4,23%) (Fig. 32). Em

um caso houve lesão exclusiva do mesmo e nos dois casos restantes, lesões con-

comitantes a outros nervos foram observadas (Tab.9). A lesão deste nervo predomi-

nou no gênero feminino.

Tabela 9. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo troclear.

Nervos lesados Número de casos

II/III/IV 1

II/III/IV/V/VI 1

Total 2 casos

II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Mise-ricórdia de São Paulo.

Um caso de atropelamento, um caso de acidente motociclístico e um caso de

queda de altura foram os responsáveis pela lesão do IV nervo (Fig. 33).

Page 108: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

98

Resultados

Uma fratura frontal e outra de teto orbitário estavam presentes e em um caso

não houve evidência de fratura (p=0,042). O hematoma epidural esteve presente em

um caso e nos dois restantes não havia lesão intracraniana detectável (Fig. 34).

Quanto às lesões mistas do complexo motor ocular, a lesão conjunta do

oculomotor e abducente foi a mais frequente (9,52%), seguida pela lesão dos três

nervos conjuntamente (7,73%) e lesão conjunta de oculomotor e troclear (4,16%).

Não houve relato de lesão conjunta do troclear com o abducente.

Figura 32. Distribuição de frequência das alterações extrínsecas do globo ocular por lesão traumática do nervo troclear de acordo com o mecanismo de trauma.

Figura 33. Distribuição de frequência das alterações extrínsecas do globo ocular por lesão traumática do nervo troclear de acordo com a presença de lesões intracranianas. HED – hematoma epidural.

Page 109: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

99

Resultados

Um paciente foi admitido com pontuação 15 na ECGl, um com pontuação

igual a 13 e o terceiro com pontuação 6.

Nervo trigêmeo (V)

Dos 11 pacientes com diagnóstico de lesão do V nervo, a totalidade apre-

sentou lesão associada a outros nervos conforme a Tabela 10.

A raiz V1 foi comprometida mais frequentemente (Fig. 35), seguida da raiz V2

e combinação V1/V2, V2/V3 e três raízes. Não se notou comprometimento exclusivo

da raiz motora do trigêmeo (V3).

Acidentes motociclísticos (quatro casos) e ferimentos por projéteis de arma de

fogo (três casos) foram as etiologias mais frequentes (Fig.36). Nove pacientes apre-

sentaram fraturas cranianas, das quais seis eram supratentoriais, uma infratentorial

e duas mistas. Dois pacientes não apresentaram fraturas.

Tabela 10. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo trigêmeo.

Nervos lesados Número de casos

I/II/V 2

I/II/III/V 2

III/V 1

V/VII 1

I/V/VI 1

III/V/VIII 1

II/III/IV/V/VI 1

II/III/V/VI/VII/VIII 1

I/II/III/V/VI/VII/VIII 1

Total 11 casos

I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Miseri-córdia de São Paulo.

Page 110: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

100

Resultados

Figura 34. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos. V1 – nervo oftálmico; V2 – nervo maxilar; V3 – nervo mandibular.

Dentre as lesões intracranianas, predominaram os hematomas epidurais (três

casos), as hemorragias subaracnoides traumáticas (três casos) e contusões cere-

brais (dois casos) (Fig. 37). Apenas dois pacientes apresentaram rinoliquorreia.

Quatro pacientes foram admitidos com pontuação 15 na ECGl e dois foram

admitidos com pontuação 14.

Figura 35. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos segundo o mecanismo de trauma. FAF– ferimento por projétil de arma de fogo; FAB– ferimento por arma branca; V1- ramo

oftálmico do trigêmeo; V2- ramo maxilar do trigêmeo; V3- ramo mandibular do trigêmeo.

Page 111: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

101

Resultados

Figura 36. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos segundo a presença de lesões intracranianas. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; V1- ramo oftálmico do trigê-meo; V2- ramo maxilar do trigêmeo; V3- ramo mandibular do trigêmeo.

Nervo abducente (VI)

Dez pacientes apresentaram lesão traumática do nervo abducente (Fig. 38),

correspondendo a 14,08% dos casos. Três pacientes apresentaram lesões exclusi-

vas do nervo, enquanto sete apresentaram lesões associadas conforme demons-

trado na Tab. 11. Houve predomínio no gênero masculino.

Tabela 11. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo abducente.

Nervos lesados Número de casos

VI/VIII 1

I/V/VI 1

I/II/III/VI/VIII 1

II/III/IV/V/VI 1

II/III/V/VI/VII/VIII 1

II/III/VI/VII/VIII 1

I/II/III/V/VI/VII/VIII 1

Total 7 casos

I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Miseri-córdia de São Paulo.

Page 112: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

102

Resultados

Figura 37. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca por le-são traumática de nervo abducente. MOE– motricidade ocular extrínseca.

Acidentes motociclísticos constituíram as etiologias mais frequentes (quatro

casos) seguidos de atropelamentos (dois casos) (Fig. 39). Oito pacientes apresenta-

ram fraturas cranianas, das quais cinco eram supratentoriais (predomínio das fratu-

ras temporais – p=0,029), uma infratentorial e duas mistas (Fig. 40). Dois pacientes

não apresentaram fraturas. Apenas um paciente apresentou rinoliquorreia.

Entre as lesões intracranianas, predominaram os hematomas epidurais (qua-

tro casos), seguidos de casos de contusões cerebrais (Fig. 41).

Três pacientes foram admitidos com pontuação 14 na ECGl e dois foram ad-

mitidos com pontuação 13. Sete pacientes mantêm pontuação 5 na escala de resul-

tados de Glasgow e três pacientes mantém pontuação 4.

Page 113: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

103

Resultados

Figura 38. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca (VI nervo) de acordo com o mecanismo de trauma.

Figura 39. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca (VI nervo) de acordo com a presença de fraturas cranianas.

Page 114: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

104

Resultados

Figura 40. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca (VI nervo) de acordo com a presença de lesões intracranianas. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HIP– hematoma intraparen-quimatoso.

Nervo facial (VII)

Vinte e dois pacientes apresentaram lesão traumática do nervo facial, corres-

pondendo a 30,99% dos casos. Oito pacientes apresentaram lesão exclusiva do

nervo, enquanto 14 apresentaram lesões associadas conforme demonstrado na Ta-

bela 12.

A maior parte dos pacientes apresentou disfunção moderada do nervo facial

(Escala de House-Brackmann – Anexo 2), seguida por pacientes com paralisia facial

completa e disfunção moderada a grave (Fig. 42).

Page 115: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

105

Resultados

Tabela 12. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo facial.

Nervos lesados Número de casos

VII/VIII 7

III/VII 1

V/VII 1

II/III/V/VI/VII/VIII 1

II/III/VI/VII/VIII 1

I/II/III/V/VI/VII/VIII 1

I/III/VII 1

II/VII/VIII 1

Total 14 casos

I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Miseri-córdia de São Paulo.

Figura 41. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial de acordo com o comprome-timento funcional (House-Brackmann).

Page 116: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

106

Resultados

Acidentes motociclísticos constituíram as etiologias mais frequentes, seguidos

dos atropelamentos e acidentes automobilísticos (Fig. 44).

Dezoito pacientes apresentaram fraturas cranianas (Fig. 43), das quais qua-

torze eram supratentoriais (onze envolvendo o osso temporal – p=0,027), uma in-

fratentorial e quatro fraturas mistas (duas fraturas envolvendo o temporal). Três pa-

cientes não apresentaram fraturas. As fraturas temporais (exclusivas) ocorreram em

onze casos (Fig. 45), dos quais três eram petrosas longitudinais e uma era petrosa

transversa.

Figura 42. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo a presença de fratu-ras e grau de comprometimento funcional. PMP – petrosa, mastoide e parietal; BCAZ – base crânio e arco zigomático; Longit – longitu-dinal.

Page 117: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

107

Resultados

Figura 43. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo o mecanismo de trauma e grau de comprometimento funcional. AM – acidente motociclístico; AA – acidente automobilístico; QPA- queda da própria altura; QA – queda de altura; FAB – ferimento por arma branca.

Entre as lesões intracranianas (Fig. 46), predominaram os hematomas epidu-

rais (cinco casos) e as contusões cerebrais (quatro casos), com preponderância da

região temporal (p=0,019). Em quatro casos não houve evidência de lesão intracra-

niana. Constatamos a presença de três fístulas liquóricas nasais e dois casos de

otoliquorreia. Dezenove pacientes (86,36%) apresentaram paralisia facial imediata e

três pacientes (13,64%) apresentaram-na de forma tardia.

A associação de lesões de nervos cranianos mais frequente foi a lesão

combinada do facial com o vestibulococlear (sete casos) (Tab. 12).

Page 118: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

108

Resultados

Figura 44. Tomografia de crânio evidenciando fratura longitudinal do petroso esquerdo (se-tas). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Figura 45. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo a presença de le-sões intracranianas e grau de comprometimento funcional. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HSDA– hematoma subdural agudo; HIP– hematoma intraparenquimatoso.

Seis pacientes foram admitidos com pontuação 3 na ECGl, seis pacientes

com pontuação 15 e três foram admitidos com pontuação 14.

Page 119: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

109

Resultados

Nervo vestibulococlear (VIII)

Vinte e quatro pacientes apresentaram lesão traumática do nervo vestibulo-

coclear, correspondendo a 33,80% dos casos (Fig. 47). Três pacientes (12,50%)

apresentaram lesão exclusiva do nervo, enquanto 21 (87,50%) apresentaram lesões

associadas conforme demonstrado na Tabela 13.

Tabela 13. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo vestibulococlear.

Nervos lesados Número de casos

VII/VIII 7 I/VIII 5

I/II/VIII 2 VI/VIII 1

III/V/VIII 1 II/III/VI/VII/VIII 1

I/II/III/V/VI/VII/VIII 1 I/II/III/VI/VIII 1

II/III/V/VI/VII/VIII 1 II/VII/VIII 1

Total 21 casos

I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Miseri-córdia de São Paulo.

Figura 46. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva.

Page 120: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

110

Resultados

Atropelamentos constituíram a etiologia na maior parte dos casos (sete ca-

sos), seguidos por acidentes automobilísticos (quatro casos) e acidentes motociclís-

ticos (quatro casos) (Fig. 48).

Figura 47. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva de acordo com o meca-nismo de trauma. FAF – ferimento por projétil de arma de fogo; pp. - própria.

Figura 48. Distribuição das lesões traumáticas do nervo vestibulococlear segundo a pre-sença de fraturas cranianas.

Page 121: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

111

Resultados

Vinte e dois pacientes apresentaram fraturas cranianas (Fig. 49), das quais

treze eram supratentoriais (cinco temporais e três petrosas longitudinais), quatro in-

fratentoriais e cinco mistas (quatro delas envolvendo o osso temporal). Dois pacien-

tes não apresentaram fraturas (p=0,036).

Entre as lesões intracranianas, predominaram os hematomas epidurais (oito

casos) e as contusões cerebrais (seis casos), de predomínio temporal (p=0,003).

Quatro pacientes não apresentaram lesões intracranianas associadas (Fig. 50).

Figura 49. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva de acordo com a pre-sença de lesões intracranianas. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HSDA– hematoma subdural agudo; HIP– hematoma intraparenquimatoso.

Três pacientes apresentaram rinoliquorreia (p=0,008). Cinco pacientes foram

admitidos com pontuação 15 na ECGl e sete pacientes com pontuação 14.

Nervo acessório (XI)

Descreveu-se apenas um caso de lesão isolada do nervo acessório em indi-

víduo do gênero masculino, vítima de ferimento por arma branca em região cervical

anterior direita. Foi admitido com pontuação 15 na escala de Glasgow.

Page 122: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

112

5- DISCUSSÃO

Page 123: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

113

Discussão

A pesquisa da lesão traumática de nervos cranianos requer persistência para

seu diagnóstico. Acreditamos que este seja o fato para explicar o pequeno número

de trabalhos na literatura que abranjam lesão traumática de todos os nervos crania-

nos. O número de publicações aumenta quando se atenta para o estudo de um

nervo isolado ou para um pequeno número de nervos, como o complexo motor ocu-

lar e os nervos VII e VIII, uma vez que esta pesquisa costuma ser feita por autores

oftalmologistas e otorrinolaringologistas.

Nas lesões traumáticas dos nervos cranianos, a biomecânica do traumatismo

está diretamente ligada ao prognóstico de recuperação funcional do nervo (Bhatoe,

2007).

Além de serem lesados diretamente pelo traumatismo, os nervos cranianos

podem ser lesados por reação tecidual presente em fraturas, aumento na pressão

intracraniana, meningite e por mecanismo de desaceleração, onde comprometi-

mento vascular ou mecanismo de tosquia podem levar à lesão estrutural do nervo

(Bhatoe, 2007).

Pelo fato de os nervos cranianos possuírem longos trajetos intracranianos,

por passarem por forames cranianos (os quais são geralmente envolvidos em linhas

de fratura) e por estarem ancorados perifericamente sendo submetidos à tração

quando do deslocamento encefálico durante o traumatismo em relação ao envoltório

dural, não é de se estranhar que as lesões em nervos cranianos de origem traumá-

tica sejam relativamente frequentes.

As fibras nervosas podem ser lesadas diretamente ou terem seu suprimento

sanguíneo prejudicado pelo traumatismo. As perdas funcionais podem ser temporá-

rias ou definitivas.

Patel et al (2005) afirmam que a maior parte das lesões traumáticas dos ner-

vos cranianos é decorrente de traumatismos com transmissão de baixa energia ci-

nética. Isto está em desacordo com nossos achados, uma vez que a o mecanismo

de trauma predominante nas lesões traumáticas de nervos cranianos foram atrope-

lamentos ou acidentes (automobilísticos ou motociclísticos), ou seja, mecanismos de

trauma com transmissão de altos valores de energia cinética, tanto nas lesões trau-

Page 124: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

114

Discussão

máticas de nervo único, quanto nas lesões associadas. Afirma ainda que o gênero

masculino tem maior acometimento de lesões traumáticas de nervos cranianos, so-

bretudo indivíduos jovens e em idade produtiva.

Nossa casuística também demonstrou predomínio destas lesões em indiví-

duos jovens do gênero masculino, considerando que nossa amostra incluiu 55

(77,46%) pacientes deste gênero.

Na casuística de Hughes (1964), houve maior acometimento do nervo facial,

seguido pelo nervo olfatório.

Patel et al (2005) relatam estudo de 99 pacientes com lesões traumáticas de

nervos cranianos, sendo a maioria portadora de lesões leves (baseadas na escala

de coma de Glasgow à admissão do paciente). Descrevem também que a lesão

traumática de nervos cranianos envolve mais frequentemente o nervo facial e o

oculomotor.

Em nosso estudo, quando observamos a distribuição de frequência da lesão

traumática em nervo único, notamos que o nervo olfatório foi o mais frequentemente

acometido, seguido pelo facial e oculomotor. No tocante à lesão traumática conjunta,

a associação VII/VIII foi a mais frequente (sete casos). Entendemos esta associação

pela proximidade anatômica dos nervos facial e vestibulococlear, desde a sua ori-

gem aparente no tronco encefálico até a passagem de ambos pelo meato acústico

interno.

Somando-se as lesões únicas e associadas, o nervo olfatório foi o mais fre-

quentemente acometido (29 casos), seguido pelo acometimento dos nervos vesti-

bulococlear, facial e oculomotor.

Patel et al (2005) não descrevem lesão traumática envolvendo os nervos cra-

nianos de origem bulbar (IX, X, XI e XII). Nos 71 pacientes analisados neste estudo,

apenas 1 apresentou lesão traumática de nervo acessório (XI).

Nas lesões traumáticas de nervos cranianos nem sempre as fraturas crania-

nas estão presentes. Para Heinze (1969), a lesão dos nervos que constituem o com-

plexo oculomotor na ausência de fraturas cranianas deve-se a mecanismos de de-

Page 125: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

115

Discussão

saceleração brusca que levam à lesão dos nervos, em sua origem aparente no

tronco encefálico.

A maioria dos pacientes estudados (55 pacientes) apresentou traços de fratu-

ras identificáveis à radiografia simples de crânio ou à tomografia computadorizada

de crânio; estas predominaram na região temporal, seguidas por aquelas que aco-

meteram dois ossos em continuidade (têmporo-parietal, frontoparietal).

Deve-se considerar que na data da publicação do trabalho de Heinze (1969),

os métodos diagnósticos eram muito mais simples do que aqueles que dispomos na

atualidade. Por este motivo, acreditamos que a quantidade de pacientes com evi-

dência de fraturas tenha sido muito maior em nosso trabalho.

Das lesões intracranianas focais, os hematomas epidurais e as contusões

constituíram os achados mais frequentes dentre as lesões intracranianas, o que está

de acordo com os mecanismos de trauma com transmissão de alta energia cinética

(Araújo et al, 2012).

No que tange à fístula liquórica, não encontramos na literatura consultada,

registro de associação de fístula liquórica traumática com lesão de nervo craniano.

Diferentemente, em nosso estudo, encontramos nove casos onde ocorreram tal as-

sociação.

Patel et al (2005) relatam que em sua casuística, a maior parte dos pacientes

foi vítima de traumatismo leve, refletido pelas altas pontuações na ECGl à admissão.

Neste estudo, a maioria dos pacientes apresentou pouco ou nenhum com-

prometimento do nível de consciência ao exame admissional, porém encontramos

pacientes que foram admitidos em estado de coma e que apresentavam lesões de

nervos cranianos visíveis ao exame, com comprometimento único ou múltiplo des-

tes.

Isto nos parece contraditório, uma vez que a maior parte dos pacientes foi ví-

tima de traumatismo de alta energia cinética e grande parte não apresentava qual-

quer comprometimento do nível de consciência, ou, quando presente, apenas um

discreto comprometimento deste. Acreditamos, portanto, que não seja o mecanismo

Page 126: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

116

Discussão

de trauma propriamente dito o fator causador da lesão, e sim, a quantidade de ener-

gia cinética transmitida ao segmento cefálico. Ou seja, o paciente pode ter sido ví-

tima de atropelamento, porém o segmento cefálico pode ter sofrido processo de de-

saceleração com discreto comprometimento do nível de consciência e lesão de

nervo craniano por desaceleração.

Para facilitar a discussão dos resultados, serão postos em foco, separada-

mente, os principais itens deste estudo.

5.1. Nervo olfatório (I)

A lesão do nervo olfatório é traduzida por alterações na percepção olfativa e

pode ser completa (anosmia) ou incompleta (hiposmia).

Dos pacientes com lesão traumática de nervo olfatório, a maior parte apre-

sentou anosmia bilateral, seguida de casos de hiposmia. Foram lesões decorrentes,

em sua maioria, de mecanismos de trauma com transmissão de alta ou média ener-

gia cinética (atropelamentos e quedas de altura).

A quantidade de energia cinética transmitida ao crânio durante o traumatismo

não é proporcional ao grau de lesão do nervo olfatório (Kindler, 1936). Nosso estudo

revela a presença de indivíduos vítimas de traumatismos cranianos com transmissão

de baixa energia cinética e que apresentaram lesão olfatória (desaceleração).

A maior parte dos pacientes (82,75%) com lesão de nervo olfatório apresen-

tava fratura craniana. No trabalho de Bhatoe (2007) a fratura da lâmina crivosa do

osso etmoide ocorre em 70% dos casos. Porém, encontramos lesões do nervo ol-

fatório em traumatismos occipitais (dois casos ou 6,06%), o que pode ser explicado

pelo processo de desaceleração do encéfalo e movimento de tosquia das raízes ol-

fatórias na placa crivosa ou avulsão do trato olfatório, mesmo na ausência de fratura

deste osso. A desaceleração sofrida pelo encéfalo no traumatismo occipital pode

levar à formação de contusão frontal com compressão direta do trato olfatório.

Page 127: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

117

Discussão

Nas séries de Leigh (1943) e de Hughes (1964), o impacto foi predominante

nas regiões frontal e occipital (65,8%) e as lesões temporais e parietais ocorreram

em 14,6% das lesões do nervo olfatório. A associação da lesão traumática do nervo

olfatório com outros nervos é frequente, assim como a preservação da sensibilidade

gustatória, que, segundo os autores, pode ser originário de receptores localizados

na nasofaringe.

As fraturas cranianas associadas à lesão do I nervo foram de predomínio

frontal, muitas vezes estendendo-se para a região nasal.

Embora a anosmia possa parecer completa, os pacientes relatam a preserva-

ção da sensibilidade gustatória, o que pode ser explicado por meio de receptores

gustativos presentes na nasofaringe. Porém, muitos pacientes relatam perda (parcial

ou total) concomitante da sensibilidade gustatória (Hughes, 1964).

Deve-se considerar que a lesão do nervo também possa ocorrer em outros

pontos da via olfativa, segundo Goland (1937), afirmando que o traumatismo occipi-

tal levaria a um impacto das estrias olfatórias contra a asa menor do osso esfenoide.

Além disso, o aparecimento da parosmia também não demonstra qualquer

relação com a intensidade do traumatismo (Bhatoe, 2007).

Nossa casuística demonstrou que a maioria dos pacientes com lesão de

nervo olfatório não apresentava alteração olfativa detectável no primeiro exame e

sim durante o acompanhamento ambulatorial. Isto pode ser explicado pela ausência

de processo edematoso na fase aguda, que foi se desenvolvendo ao longo do

tempo, provocando diminuição na sensibilidade olfatória, muitas vezes não perce-

bida pelo próprio paciente e somente detectada quando da aplicação de testes es-

pecíficos.

Comparando-se as alterações olfativas com a Escala de Coma de Glasgow à

admissão, notamos que a maior parte dos pacientes apresentava pontuações de 13

a 15 à admissão. Logicamente, isto foi concluído após a recuperação total do nível

de consciência naqueles com pontuação menor que 15. Dentre todos os nervos

pesquisados, encontramos maior dificuldade na pesquisa de lesão traumática do

Page 128: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

118

Discussão

nervo olfatório, pois a mesma ocorre em qualquer grau de comprometimento do ní-

vel de consciência.

Encontramos apenas um caso de cacosmia, onde a sensação olfativa é

distorcida e não prazerosa, que ocorre geralmente na lesão do lobo temporal.

5.2. Nervo óptico (II)

Embora muitos traumatismos cranianos envolvam a região frontal e as fratu-

ras de órbita sejam frequentes, a lesão ocular é relativamente rara (Hughes, 1964), o

que é explicado pela proteção conferida pela órbita óssea e a relativa mobilidade do

globo ocular.

Lesão traumática isolada do nervo óptico é rara. A porção intracraniana do

nervo é rodeada pelo crânio e encéfalo e está protegida, exceto em traumatismos

com alto componente cinético. A porção orbitária é rodeada por osso e pela gordura

periorbitária. Esta porção é relativamente móvel e capaz de ser estirada com o mo-

vimento ocular ou pela compressão do globo ocular. A porção intracanalicular do

nervo é englobada por canal ósseo rígido, ao qual é parcialmente aderida.

Elston (1984) afirma que a lesão com alto componente cinético é mais fre-

quente no adulto jovem e é decorrente de acidentes automobilísticos ou motociclísti-

cos. Isto está de acordo com nossos achados, onde atropelamentos, acidentes mo-

tociclísticos e ferimentos por projétil de arma de fogo constituíram mecanismo de

trauma nas lesões do II nervo.

Dos 18 casos de lesão traumática de nervo óptico, somente um acometeu o

nervo óptico de forma única (1,4%), o que está de acordo com a casuística de Tur-

ner (1943), que é de 1,6%. Como, normalmente, é necessária alta transmissão de

energia cinética para a lesão do nervo óptico, nervos anatomicamente relacionados

são lesados em conjunto, como o nervo olfatório e componentes do complexo motor

ocular. Nestes casos, a presença de fraturas supratentoriais com predomínio na re-

gião frontal torna-se frequente, além da presença de lesões intracranianas, como

contusões cerebrais.

Page 129: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

119

Discussão

Hematomas intraorbitários comprometem a acuidade visual por compressão

da porção intraorbitária do nervo óptico (Freiwald, 1977), fator não encontrado em

nossa casuística. Porém, contusões ou hematomas envolvendo a via óptica (qui-

asma óptico, região temporal) são causas de alteração da acuidade visual.

Aproximadamente 25% das lesões traumáticas do nervo óptico são causadas

por traumatismos penetrantes (Lewin, 1954), geralmente traduzidas por ferimentos

por projéteis de arma de fogo, representando lesão direta do nervo. Encontramos

três casos (16,66%) de lesão traumática de nervo óptico causada por ferimento por

projétil de arma de fogo levando ao comprometimento da acuidade e campos visu-

ais.

Para Patel et al (2005), 22% dos casos de lesão traumática do nervo óptico

apresentam fraturas que envolvem as diferentes porções da órbita. Considerando-se

os pacientes com fraturas de órbita e comprometimento da acuidade visual, nossa

casuística revela comprometimento orbitário em 27,5% dos casos de lesão do nervo

óptico..

A minoria dos pacientes com lesão traumática de nervo óptico não apresenta

fraturas cranianas, podendo-se explicar a lesão do nervo óptico por lesão indireta ou

por comprometimento de seu suprimento vascular, de acordo com a teoria de Duke-

Elder (1949).

Nota-se que o comprometimento visual pode ocorrer na ausência do com-

prometimento do nível de consciência, independentemente do mecanismo de

trauma, sobretudo nas lesões indiretas.

5.3. Complexo motor ocular

5.3.1. Nervo oculomotor (III)

Trata-se de lesões comumente associadas ao traumatismo craniano em

adultos. Em crianças descrevem-se lesões congênitas, neoplásicas, infecciosas,

vasculares (aneurismas) e migrânia oftalmoplégica como causa de alteração na fun-

Page 130: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

120

Discussão

ção do nervo oculomotor, porém o traumatismo constitui a causa adquirida mais fre-

quente de lesão deste nervo, seguida de processos infecciosos do sistema nervoso

central (Rush, Younge, 1981). São traumatismos com alto componente cinético, ge-

ralmente dirigido à região frontal com fratura craniana e perda da consciência, con-

forme descrito por Miller (1977).

Em nossa casuística predominaram os mecanismos de trauma com transmis-

são de alta energia cinética, tais como atropelamentos e acidentes motociclísticos

associados a contusões cerebrais.

A lesão completa do III nervo resulta em ptose palpebral (apesar de nosso

estudo não ter verificado nenhum caso de lesão do músculo elevador da pálpebra

suerior) e anisocoria com impossibilidade de movimentar o globo ocular em qualquer

direção, com exceção da abdução (se o VI nervo estiver intacto). Nestas circunstân-

cias, a ação do oblíquo superior (IV nervo), na tentativa de movimentar o globo ocu-

lar em sentido inferior, somente fará movimento de rotação do globo ocular.

Sabidamente, as fraturas do teto orbitário são menos frequentes que as do

assoalho da órbita e possuem maior importância clínica devido a possibilidade de

ocorrência de hematoma intracraniano associado. A fratura de teto orbitário pode

levar à lesão da divisão superior do III nervo com paralisia do elevador da pálpebra

superior e reto superior. Nossa casuística demonstrou predomínio das fraturas de

teto orbitário, seguidas pelas fraturas frontais e temporais.

Patel et al (2005) descrevem 23 pacientes com lesão traumática do nervo

oculomotor (incidência de 2,9%) e 50% destes apresentavam lesões associadas de

nervos cranianos. O presente estudo demonstrou que em 68,80% dos casos de le-

são traumática do nervo oculomotor, outro nervo craniano também estava envolvido.

Entendemos que a proximidade anatômica no interior da órbita ou no interior do seio

cavernoso seja responsável por tal associação. Trata-se de nervo cuja lesão pode

ser detectada no paciente inconsciente (Elston, 1984), o que ocorreu em seis

pacientes de nossa casuística.

Page 131: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

121

Discussão

5.3.2. Nervo troclear (IV)

A lesão do troclear (IV) foi detectada pelo sinal de Bielchowsky (descrito em

1940), que consiste na inclinação da face para o lado da lesão na tentativa de ali-

nhar os globos oculares e assim diminuir os efeitos da diplopia. Ocorre em 90% dos

casos de lesão do IV nervo (Mansour, Reinecke, 1986).

Em conformidade com o achado de Burger et al (1970), o IV nervo em raras

ocasiões é lesado isoladamente. Dos três pacientes com lesão traumática de nervo

troclear, apenas um teve lesão única do nervo.

Embora Cantillo (1978) relate caso de paralisia do músculo obliquo superior

direito com evidência de fratura de assoalho orbitário contralateral, não foi encon-

trada nesta pesquisa tal associação.

A maior parte destas lesões está associada ao traumatismo frontal e orbitário,

quando lesão conjunta do nervo óptico e do quiasma óptico também podem apare-

cer, além de rinorreia e fístula carotidocavernosa (Keane, Baloh, 1996). Em acordo

com os achados dos referidos autores, relatamos a presença de um caso com fra-

tura frontal e outro com fratura de teto orbitário.

O IV nervo é o único nervo craniano que possui a totalidade de suas fibras

cruzadas logo após emergir do mesencéfalo. O véu medular superior é o local da

decussação do IV nervo e neste ponto sua estrutura é extremamente fina e facil-

mente deslocada do mesencéfalo. Assim, traumatismo na região frontal causa

transmissão das linhas de força que o lesa na saída no véu medular superior e le-

sões bilaterais do IV nervo são atribuídas à lesão do véu medular superior propria-

mente dito. Concordamos com Keane, Baloh (1996), uma vez que observamos pre-

domínio destas lesões na ausência lesões intracranianas decorrentes de mecanis-

mos com transmissão de alta energia cinética. Por este motivo, a maioria dos

pacientes tem o nível de consciência preservado ou discretamente alterado, possibi-

litando assim o diagnóstico precoce da lesão do nervo.

Na série de Rush, Younge (1981) o abducente foi o nervo do complexo ocu-

lomotor mais frequentemente acometido (7%) pelo traumatismo craniano, seguido

Page 132: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

122

Discussão

pelo troclear (5,5%) e oculomotor (4,7%). Nas lesões múltiplas, o complexo motor

ocular como um todo foi lesado em 1,3% dos casos; os III e IV nervos e os III e VI

nervos foram lesados em 0,6% dos casos. Da mesma forma que Rucker (1958), este

autor não detectou lesão conjunta do troclear com o abducente. É difícil diagnosticar

a lesão do IV nervo na presença de lesão do III nervo pelo pequeno incremento do

déficit depressor (m. oblíquo superior) não poder ser distinguido da paralisia depres-

sora que resulta da fraqueza do m. reto inferior (inervado pelo III nervo). Se não

houver intorsão do globo ocular na mirada inferior, suspeita-se de lesão conjunta

com o IV nervo.

O presente estudo demonstra que a associação de lesões traumáticas de

nervos que compõem o complexo motor ocular foi liderada pela associação III e VI,

seguida pela associação III/IV/VI e III/IV. Não houve associação de lesão entre os

nervos IV e VI.

5.3.3. Nervo abducente (VI)

Nem todas as lesões do abducente resultam de fraturas. O nervo pode ser

contundido, tracionado ou lacerado no momento do traumatismo. A laceração ou a

rotura do nervo são raras e ocorrem quando a fratura envolve a pirâmide petrosa.

Dois casos de nosso estudo não demonstraram fraturas.

Na casuística de Patel et al (2005), a lesão do VI nervo ocorreu em 3,02% dos

casos, que na maior parte dos casos ocorreu em associação com lesão de outros

nervos cranianos, o que está de acordo com nossos achados (sete casos com en-

volvimento múltiplo de nervos cranianos).

Storey, Love (1949) descrevem caso de lesão traumática do nervo abducente

associada à lesão do nervo facial, com recuperação espontânea. Nenhum de nossos

casos apresentou tal associação exclusiva.

Hughes (1964) afirma que o abducente é o nervo do complexo motor ocular

que mais frequentemente é lesado em traumatismos de crânio, seguido pelo oculo-

motor, além de ser frequente a presença de fraturas da porção petrosa do temporal,

paralisia facial e surdez. Nosso estudo está em desacordo com o autor, pois encon-

Page 133: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

123

Discussão

tramos 22 lesões traumáticas de nervo oculomotor, 10 casos de lesão traumática do

abducente e três casos envolvendo o nervo troclear.

Para Rucker (1958), as lesões traumáticas do VI nervo estão frequentemente

associadas à presença de lesões intracranianas, pois se devem a mecanismos com

transmissão de alto componente cinético.

Hematomas epidurais e contusões cerebrais foram as lesões intracranianas

mais frequentes na lesão traumática do VI nervo, decorrentes de acidentes motoci-

clísticos e atropelamentos.

Não constatamos qualquer tipo de lesão cervical nos pacientes portadores de

lesão traumática de VI nervo, conforme descrito no estudo de Schneider, Johnson,

em 1971.

Da mesma forma que na lesão traumática do nervo oculomotor, a lesão

traumática do nervo abducente ocorre mais frequentemente associada à lesão de

outros nervos por sua proximidade anatômica no interior da órbita e seio cavernoso.

5.4. Nervo trigêmeo (V)

O gânglio trigeminal está intimamente relacionado ao osso temporal. Como

suas três divisões partem da fossa média, estas são adjacentes ao ápice petroso.

Qualquer fratura que se estenda do temporal em direção ao clivus pode lesar

o gânglio trigeminal ou qualquer de suas divisões. O nervo é particularmente vulne-

rável no ponto de angulação da raiz sensitiva, onde ultrapassa o forame dural em

direção ao cavo de Meckel. Este forame dural localiza-se na fossa posterior inferior-

mente à margem da pirâmide petrosa (Jefferson, Schorstein, 1955). Apresentamos

um caso com fratura temporal que se estendeu para a região mastoide.

As lesões em ramos terminais do trigêmeo são mais frequentes, traduzidas

por piora ou ausência de sensibilidade na distribuição do nervo. Estas lesões ocor-

rem em ferimentos cortocontusos do couro cabeludo ou da face. Pelo fato de rece-

Page 134: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

124

Discussão

bermos pacientes com lesão traumática de trigêmeo e com preservação do nível de

consciência à admissão, fizemos o diagnóstico precoce de lesão.

As fraturas do ápice do petroso têm alta probabilidade de causar lesão em

ramo trigeminal ou ganglionar, e, dependendo da direção do traço de fratura, podem

associar-se à paralisia facial ou surdez (Jefferson, Schorstein, 1955). Raramente,

fraturas parietais ou frontais levam à lesão trigeminal. Nossa casuística demonstrou

que a maior parte dos pacientes apresentava fraturas cranianas supratentoriais.

As lesões trigeminais ganglionares são incomumente relacionadas à fratura

de base de crânio, enquanto as lesões do ramo maxilar ou ramo infraorbitário são

comuns em fraturas faciais (Jefferson, Schorstein, 1955). Apontamos um caso com

fratura de base de crânio. Em todos os casos, a lesão traumática do trigêmeo ocor-

reu de forma associada, ou seja, outros nervos foram lesados conjuntamente. Se-

gundo os mesmos autores, a lesão traumática da raiz V2 é a mais frequentemente

encontrada, o que está em desacordo com nossos achados, que evidenciaram um

maior comprometimento da raiz V1.

Devido a proteção imposta pelo arcabouço ósseo que envolve o gânglio tri-

geminal, são necessários mecanismos traumáticos de alto componente cinético para

lesá-lo (Summers, Wirtschafter, 1979) tal como ocorre nos ferimentos penetrantes.

Acidentes motociclísticos e ferimentos por projéteis de arma de fogo constituíram os

mecanismos traumáticos mais frequentes associados a hematomas epidurais e he-

morragia subaracnoide traumática nesta pesquisa.

5.5. Nervo facial (VII)

O nervo facial é lesado mais frequentemente por fraturas temporais decorren-

tes de acidentes automobilísticos ou traumatismos penetrantes e não penetrantes

(Lambert, 1984), fato constatado em nossa casuística (acidentes motociclísticos e

atropelamentos). A lesão do VII nervo ocorre associadamente à fratura do temporal

pela presença de cavidades e canais por onde cursa o nervo, além da frequente as-

sociação com o VIII nervo (Lambert, Brackmann, 1984). A lesão concomitante do

Page 135: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

125

Discussão

VIII nervo pode ser explicada pela proximidade anatômica na saída do tronco ence-

fálico, trajeto intracraniano e entrada no meato acústico interno (Warren et al, 2003).

Para Patel et al (2005), o nervo facial é o mais suscetível ao traumatismo

craniano por sua complicada anatomia no interior do osso temporal e proximidade

com a orelha interna. Em 100% dos casos evidenciou fraturas do osso temporal,

sendo que as fraturas longitudinais e as lesões grau V na Escala de House-Brack-

mann foram as mais comumente encontradas.

Nosso estudo evidenciou que a maioria dos pacientes apresentou lesões

moderadas (grau III na escala de House-Brackmann) ou paralisia total (grau VI na

escala de House-Brackmann).

O traumatismo frontal pode resultar em fraturas da fossa craniana anterior e

média, assim como do clivus levando à separação do ápice do petroso da base do

crânio sem lesar a cóclea, cadeia ossicular ou tuba auditiva (Travis et al, 1977).

As fraturas temporais predominaram (11 casos, sendo três longitudinais e

uma transversa), seguidas pelas parietais. Em apenas dois casos não detectamos

fraturas cranianas.

Se o traço de fratura estende-se lateralmente para a orelha média, há surdez

e paralisia facial (Lindman, 1979). Com o deslocamento do traço de fratura na dire-

ção da linha média, pode haver lesão da carótida interna com a formação de fístula

carotidocavernosa.

Otorreia é frequente e causada por laceração dural no teto da cavidade tim-

pânica. A lesão do nervo é tardia e o gânglio geniculado é a região do nervo mais

frequentemente afetada. Em 30% dos casos ocorre hematoma intraneural, em 30%

há rotura do nervo e presença de fragmento ósseo comprimindo o nervo facial em

20% dos casos (Goodwin, 1983). O sinal de Battle pode ser visto. Dois casos de

nossa casuística apresentaram otorragia (9,09%).

As fístulas liquóricas podem aparecer nas fraturas longitudinais ou transver-

sas, porém é menos aparente nas transversas. Os locais mais comuns de fístula são

Page 136: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

126

Discussão

o teto da cavidade timpânica e a mastoide (Goodwin, 1983). Relatamos a presença

de fístula liquórica em cinco casos.

As fraturas transversas associam-se à maior incidência de lesões concomi-

tantes do sistema nervoso central, pois é necessária maior energia cinética para

causá-las (Warren et al, 2003). Exemplos são as hemorragias intraparenquimatosas,

os hematomas epidurais e as contusões em contragolpe. As lesões associadas aos

hematomas epidurais e contusões por contragolpe foram as lesões intracranianas

predominantes. Pelo seu trajeto mais medial, estas fraturas associam-se a menor

incidência de evidências externas, como otorragia e fístula liquórica. Como a mem-

brana timpânica é frequentemente poupada, ocorre a formação do hemotímpano,

conforme descrição de Goodwin (1983).

A paralisia facial tem aparecimento relativamente frequente em diferentes ti-

pos de TCE, podendo ocorrer imediatamente após o traumatismo ou tardiamente

(dias a semanas), segundo Goin (1980). Apontamos 19 casos com lesão de apare-

cimento imediato do VII nervo e três casos de aparecimento tardio.

5.6. Nervo vestibulococlear (VIII)

A lesão do VIII nervo é comumente vista nas fraturas que envolvem a porção

petrosa do osso temporal, sejam elas longitudinais ou transversas (principalmente),

com lesão concomitante do VII nervo e presença de lesões intracranianas com pre-

domínio na região temporal (Warren et al, 2003). Predominaram os atropelamentos

e acidentes automobilísticos como etiologia traumática da lesão do VIII.

Os hematomas epidurais e contusões cerebrais representaram as lesões in-

tracranianas mais frequentes. Diagnosticamos oito fraturas temporais, das quais três

eram petrosas longitudinais.

Pode ocorrer surdez por traumatismo envolvendo a orelha média. Trata-se

geralmente de traumatismo com alta energia cinética e frequentemente associa-se a

fistula liquórica por laceração da dura-máter (Keane, 1976). Os atropelamentos pre-

dominaram neste estudo como causa de lesão traumática do VIII nervo.

Page 137: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

127

Discussão

A surdez ocorre pela presença de sangue ou líquor na orelha média, rotura da

membrana timpânica, deslocamento da cadeia ossicular ou do músculo tensor do

tímpano e lesão da tuba auditiva (Keane, 1976).

A nossa casuística encontrou alteração do oitavo nervo em 24 pacientes

(33,80%) representado por hipoacusia ou anacusia, dos quais três foram afetados

de forma isolada e 21 de forma combinada a lesões de outros nervos cranianos.

A maioria dos pacientes apresentou pontuação 14 e 15 na escala de coma de

Glasgow à admissão.

5.7. Nervo acessório (XI)

O presente estudo inclui paciente do gênero masculino com lesão de nervo

acessório (XI) decorrente de ferimento por arma branca em região cervical,

associado à lesão de plexo braquial. Trata-se de caso isolado na série de 71 casos

(1,40%) de lesões de nervos cranianos, o que traduz raridade desta lesão.

Page 138: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

128

6- CONCLUSÕES

Page 139: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

129

Conclusões

Os resultados obtidos nas condições de realização do presente estudo per-

mitem as seguintes conclusões:

1) As lesões traumáticas de nervos cranianos predominam no gênero masculino

e em adulto jovem;

2) Os atropelamentos e os acidentes motociclísticos constituem o mecanismo de

lesão mais frequente das lesões traumáticas de nervos cranianos;

3) A maioria dos pacientes com lesões traumáticas de nervos cranianos apre-

senta fraturas cranianas detectáveis à radiografia simples de crânio ou à to-

mografia computadorizada de crânio;

4) Os hematomas epidurais e as contusões cerebrais são as lesões intracrania-

nas mais comuns em associação à lesão traumática de nervos cranianos;

5) Os nervos olfatório, facial e oculomotor são os nervos mais frequentemente

lesados, quando se estudou o comprometimento de nervo craniano único;

6) A lesão conjunta dos nervos facial e vestibulococlear predominou no estudo,

seguida pela associação olfatório e vestibulococlear;

7) A presença de fístula liquórica de origem traumática ocorre na minoria dos

pacientes (12,6%) com lesão traumática de nervos cranianos, e, quando pre-

sente, exterioriza-se mais frequentemente por rinoliquorreia;

8) As lesões traumáticas de nervos cranianos predominaram no TCE leve,

mesmo em mecanismo de lesão com alta transmissão de alta energia ciné-

tica.

Page 140: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

130

7- ANEXOS

Page 141: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

131

Anexos

ANEXO 1. Escala de Coma de Glasgow (ECGl)*

ABERTURA OCULAR RESPOSTA MOTORA RESPOSTA VERBAL

1. Ausente 1. Ausente 1. Ausente

2. Ao estímulo doloroso 2. Incompreensível 2. Descerebração

3. Ao estímulo verbal 3. Inapropriado 3. Decorticação

4. Espontânea 4. Confuso 4. Retira à dor

5. Orientado 5. Localiza dor

6. Obedece

(*) Teasdale, Jennett, 1974.

ANEXO 2. Escala de House-Brackmann

GRAU GERAL REPOUSO MOVIMENTO

I - Normal Sem anormalidades

Sem anormalidades

Sem anormalidades

II –Disfunção leve Fraqueza à inspeção próxima. Pode haver

sincinesia

Simetria e tônus normais

Testa: função boa a moderada

Olho: fechamento com-pleto com mínimo esforço

Boca: leve assimetria

III- Disfunção moderada

Diferença óbvia, mas não desfigurante en-

tre os dois lados. Sincinesia ou es-pasmo hemifacial notáveis, mas não

graves

Simetria e tônus normais

Testa: movimento moderado a leve

Olho: fechamento com-pleto com esforço

Boca: levemente fraca com máximo esforço

IV – Disfunção moderada a

grave

Fraqueza óbvia e/ou assimetria desfigu-

rante

Simetria e tônus normais

Testa: nenhum movimento Olho: fechamento

incompleto Boca: assimetria com o

máximo esforço

V – Disfunção grave

Apenas uma movimentação discretamente

perceptível

Assimetria

Testa: nenhum movimento Olho: fechamento

incompleto Boca: movimento discreto

VI – Paralisia to-tal

Sem movimentação

Assimetria Nenhum movimento em testa, olho e boca

Page 142: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

132

Anexos

ANEXO 3. Comparação entre fratura longitudinal e transversa

TIPO DE FRA-

TURA FRATURA LONGITUDINAL FRATURA TRANSVERSA

Frequência 70 a 80% 10% a 30%

Local do trauma Temporal ou parietal Frontal, occipital, parietal

ou mastoide

Orientação da linha de fratura

Paralela ao longo eixo do petroso Perpendicular ao longo

eixo do petroso

Extensão do traço de fratura

A fratura anterior estende-se da es-cama temporal, teto da cavidade

timpânica e porção anterior da cáp-sula ótica para terminar na fossa cra-niana média. A fratura posterior inicia-se no parietal e estende-se às células mastoides ao canal auditivo externo, teto da cavidade timpânica e porção anterior da cápsula ótica para termi-

nar na fossa craniana média

Inicia-se no forame magno e estende-se perpendicular-

mente ao eixo longitudinal do osso temporal, fraturando a

cápsula ótica e terminando na fossa craniana média

Membrana timpâ-nica

Lacerada Intacta

Perda auditiva Condutiva (rotura da cadeia ossicular) Neurossensorial (lesão da cóclea e aparelho vestibular)

Trauma vestibular

Ausente

Presente (tonturas e vertigens, por ro-tura dos componentes vesti-

bulares e cocleares)

Lesão auricular Otorreia (laceração dural no teto da cavidade timpânica)

Hemotímpano (membrana timpânica íntegra)

Paralisia facial Tardia em 10 a 20% Imediata em 40 a 50% por avulsão ou compressão do nervo por fragmento ósseo

Local de lesão do facial

Gânglio geniculado (segmento hori-zontal por hematoma intraneural)

Gânglio geniculado (segmento timpânico) ou

intracanal

Sinal de Battle

Presente (sangramento ao longo da a. auricular posterior ou vv. emissá-

rias do seio sigmoide)

Presente

Paralisia facial Temporária Definitiva

Recuperação Completa Requer cirurgia

Page 143: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

133

Anexos

ANEXO 4. Dados dos pacientes

NN

ome

IdadeG

ênM

ec.trauma

Fístula liqEx neurol entrada

Fx/AfundLIC 1

Local 1LIC 2

Local 2ECG

lAnosm

iaAc visual

RPIII M

OI

III MO

EIV

VIV sens

VIILacrim

AcusiaG

ustaçãoPFP Tardia

Ac. auditivaEquilíbrio

Nistagm

o

1EDCA

48F

Queda pp altura

AusenteCom

atosoAusente

HEDTem

poral EHED

Parietal E3

Norm

alSem

altsN

ormal

E>DAlterada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

2M

CF42

MQ

ueda pp alturaAusente

ConscienteO

ccipitalHED

Frontal DHED

Fossa posterior15

Ano ESem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

3M

VG24

MAcid M

otoAusente

ConfusoTem

poralHED

Temporal E

AusenteN

ão aplicável14

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaIII

Norm

alN

ormal

Norm

alIm

ediataAlterada

Norm

alAusente

4SSF

47M

Agressão físicaAusente

Comatoso

Temporal

HEDTem

poral EAusente

Não aplicável

7N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

AlteradaAlterado

Ausente

5M

WG

36M

Acid Moto

Nasal

ConscienteTeto órbita

HEDFrontal E

Pneumocr

Frontal E15

HipoCom

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

InfraorbitI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

6CJC

28M

DesconhecidoAusente

Comatoso

Base de crânio/Arco zigomat

HIPTem

poral DAusente

Não aplicável

3N

ormal

Com alts

Anormal

D>EAlterada

PreservadoAlterado

PreservadaVI

Norm

alN

ormal

Norm

alIm

ediataAlterada

Norm

alAusente

7ESS

39M

Acid Moto

Nasal

ConscienteTem

poralHED

Temporal E

Pneumocr

Frontal E14

Norm

alCom

altsN

ormal

D>EAlterada

PreservadoAlterado

Supraorbit/InfraorbitVI

AlteradoN

ormal

AlteradaIm

ediataAlterada

Norm

alAusente

8SPL

36M

Queda bicicleta

AusenteConfuso

Occipital

ContusãoFrontal bilat

HSDATem

poral E14

Ano bilatSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

9TRC

32F

Acid AutoAusente

Comatoso

ParietalContusão

Parietal EAusente

Não aplicável

3N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

VIAlterado

Diminuída

Norm

alIm

ediataAlterada

Norm

alAusente

10SCS

35F

Atropelamento

AusenteConfuso

AusenteInchaço

HolocranianaAusente

Não aplicável

14N

ormal

Sem alts

Anormal

D>EPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

11SABM

F19

MFAF

AusenteConsciente

FrontalHSAT

Frontal DAusente

Não aplicável

15Hipo

Com alts

Anormal

D>EAlterada

PreservadoPreservado

SupraorbitI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

12RN

38F

FABAusente

ConscienteAusente

AusenteN

ão aplicávelAusente

Não aplicável

15N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoV2/V3

IIIN

ormal

Norm

alAlterada

Imediata

Norm

alN

ormal

Ausente

13RAS

37M

Agressão físicaAusente

InconscientePetrosa Transv

HSDAFrontal D

ContusãoTem

poral E4

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaIV

Norm

alDim

inuídaAlterada

Imediata

Norm

alN

ormal

Ausente

14DR

54M

Atropelamento

AusenteConsciente

Temporal

ContusãoParietal E

AusenteN

ão aplicável15

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaIII

Norm

alN

ormal

Norm

alIm

ediataN

ormal

Norm

alAusente

15M

CQR

52F

Atropelamento

AusenteConsciente

AusenteAusente

Não aplicável

AusenteN

ão aplicável15

Norm

alCom

altsN

ormal

PIFRAlterada

AlteradoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

16RO

SX20

MQ

ueda bicicletaAusente

InconscienteAusente

ContusãoPonte

AusenteN

ão aplicável9

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoAlterado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AAlterada

Norm

alAusente

17SSM

35F

Acid Moto

Otoliquorréia

InconscienteTem

poralHSDA

Temporal E

ContusãoTem

poral E7

Norm

alSem

altsN

ormal

D>EPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaVI

Norm

alDim

inuídaN

ormal

Imediata

Norm

alAlterado

Presente

18JVSS

13M

Atropelamento

AusenteSonolento

ParietalHED

Parietal DInchaço

Não aplicável

13N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

AlteradoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

19PFAJ

26M

Acid AutoAusente

ConscienteTem

poral/Mastóide

HSATTem

poral DPneum

ocrN

ão aplicável14

Ano ECom

altsN

ormal

E>DPreservada

PreservadoAlterado

SupraorbitVI

AlteradoDim

inuídaN

ormal

Imediata

AlteradaAlterado

Ausente

20M

BSS28

FAcid M

otoAusente

SonolentoTeto órbita

AusenteN

ão aplicávelAusente

Não aplicável

13N

ormal

Com alts

Anormal

E>DAlterada

AlteradoAlterado

V1/V2/V3I

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

21LFPN

25M

Atropelamento

AusenteConsciente

Temporal

HEDParietal E/O

ccipital EAusente

Não aplicável

14Ano bilat

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alAlterada

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

22EVS

46M

Queda altura

Nasal

InconscienteFrontal

HEDParietal D

AusenteN

ão aplicável6

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

AlteradoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

23SJG

40M

Atropelamento

AusenteInconsciente

Petrosa LongitHED

Temporal E

ContusãoTem

poral D9

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AAlterada

Norm

alAusente

24AFA

38M

Atropelamento

AusenteSonolento

ParietalHED

Parietal DAusente

Não aplicável

13Hipo

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

25VM

S38

MQ

ueda alturaAusente

SonolentoFrontal/Tem

poral/Teto órbitaAusente

Não aplicável

AusenteN

ão aplicável14

Ano bilatSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AAlterada

Norm

alAusente

26IFJ

15M

Atropelamento

AusenteCom

atosoPetrosa Longit/Parietal/M

astóideInchaço

HolocranianaAusente

Não aplicável

5N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

VIN

ormal

Norm

alN

ormal

Imediata

Norm

alN

ormal

Ausente

27AF

33F

FABAusente

Comatoso

Teto órbita/Assoalho órbitaAusente

Não aplicável

AusenteN

ão aplicável3

Norm

alSem

altsN

ormal

D>EAlterada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

28GM

S59

FAtropelam

entoAusente

SonolentoTem

poral/Petrosa LongitContusão

Frontal EAusente

Não aplicável

12N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

VN

ormal

Norm

alN

ormal

TardiaN

ormal

Norm

alAusente

29FS

36M

Acid AutoAusente

SonolentoFacial

HSAT/Contusão/Pneumocr

Temporal E

AusenteN

ão aplicável12

Ano bilatSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

AlteradaN

/AN

ormal

Norm

alAusente

30GSA

42M

Agressão físicaAusente

ConscienteFrontal

ContusãoFrontal D

AusenteN

ão aplicável15

Norm

alCom

altsAnorm

alD>E

AlteradaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente31

VLA43

MAtropelam

entoAusente

Comatoso

FacialHSDA

Parietal D/Parietal EContusão

Frontal bilat3

Norm

alSem

altsN

ormal

E>DAlterada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

32AO

MM

Acid AutoN

asalCom

atosoPetrosa Longit

ContusãoFrontal E

AusenteN

ão aplicável3

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaIII

Norm

alN

ormal

Norm

alIm

ediataN

ormal

Norm

alAusente

33VSM

46M

Atropelamento

AusenteInconsciente

Base de crânioHSAT

HolocranianaAusente

Não aplicável

13N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

AlteradaPreservado

PreservadoV2

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

34AASF

72F

Queda pp altura

AusenteInconsciente

Teto órbitaHSAT

PonteContusão

Parietal E10

Ano bilatCom

altsAnorm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

35AG

80M

Queda pp altura

AusenteConsciente

Teto órbitaHIP

Frontal EAusente

Não aplicável

14N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

AlteradaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente36

ASA52

MAtropelam

entoAusente

InconscienteM

astóideContusão

Temporal E

AusenteN

ão aplicável7

13FSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AAlterada

Norm

alAusente

37APR

47M

Queda altura

AusenteConfuso

AusenteInchaço

Temporal D

AusenteN

ão aplicável11

HipoCom

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

V1/V2/V3I

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

38M

GS17

MAcid M

otoAusente

SonolentoCôndilo

HSAT/Contusão/InchaçoFrontal bilat

AusenteN

ão aplicável13

Ano bilatSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

39M

GRM

Queda altura

AusenteConsciente

AusenteAusente

Não aplicável

AusenteN

ão aplicável15

Ano DSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

40EFT

42M

Agressão físicaAusente

ConscienteParietal

AusenteN

ão aplicávelAusente

Não aplicável

14Ano bilat

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente41

MM

33M

FAFAusente

ConscienteTeto órbita/Arco zigom

at/CôndiloContusão

Frontal DAusente

Não aplicável

15Ano bilat

Com alts

Anormal

PIFRAlterada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

42BM

S17

FAcid Auto

AusenteConsciente

AusenteContusão

Frontal EAusente

Não aplicável

15N

ormal

Com alts

Anormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

43LESP

18M

Acid Moto

AusenteCom

atosoAusente

HSATHolocraniana

LADM

esencéfalo3

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaIII

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

44JAS

42M

Atropelamento

AusenteSonolento

ParietalHSDA

Temporal E

InchaçoHolocraniana

11Ano bilat

Com alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

45AJV

53M

Queda pp altura

AusenteInconsciente

Petrosa LongitAusente

Não aplicável

AusenteN

ão aplicável13

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaIII

Norm

alDim

inuídaN

ormal

Imediata

AlteradaAlterado

Ausente46

PS14

FAtropelam

entoAusente

InconscienteTeto órbita

InchaçoHolocraniana

Pneumocr

Holocraniana4

Norm

alSem

altsN

ormal

D>EPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alDim

inuídaN

ormal

Imediata

Norm

alN

ormal

Ausente

47PRP

30M

Acid AutoN

asalConsciente

FacialAusente

Não aplicável

AusenteN

ão aplicável15

HipoSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alDim

inuídaAlterada

N/A

AlteradaN

ormal

Ausente

48EP

38M

Agressão físicaAusente

ConfusoParietal

AusenteN

ão aplicávelAusente

Não aplicável

12N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

VN

ormal

Diminuída

AlteradaIm

ediataAlterada

Norm

alAusente

49CAA

18F

Acid Moto

Otoliquorréia

InconscienteTem

poralHSDA

Parietal EHSAT

Parietal E6

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaII

Norm

alDim

inuídaN

ormal

Imediata

AlteradaN

ormal

Ausente

50FAN

26M

FAFAusente

ConscienteAssoalho órbita

ContusãoTem

poral DAusente

Não aplicável

15N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

AlteradaPreservado

PreservadoV1/V2

IN

ormal

Diminuída

Norm

alN

/AAlterada

Norm

alAusente

51LAG

16M

Acid Moto

AusenteInconsciente

7QHED

Temporal D

AusenteN

ão aplicável12

HipoSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoAlterado

SupraorbitI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

52JJC

48M

Queda altura

AusenteConsciente

Temporal/O

ccipitalHED

Temporal D

ContusãoFrontal bilat

15Ano bilat

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Diminuída

AlteradaN

/AAlterada

Norm

alAusente

53FRN

G30

MQ

ueda alturaAusente

ConscienteAusente

HEDFrontal D

AusenteN

ão aplicável15

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaIV

Norm

alN

ormal

Norm

alTardia

Norm

alN

ormal

Ausente

54O

OA

32M

Atropelamento

AusenteConsciente

Mastóide

HEDTem

poral EAusente

Não aplicável

15N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IIIN

ormal

Diminuída

AlteradaIm

ediataAlterada

Norm

alAusente

55HN

R46

MQ

ueda alturaAusente

SonolentoO

ccipitalHED

Occipital E

AusenteN

ão aplicável14

Ano bilatCom

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alDim

inuídaAlterada

N/A

AlteradaN

ormal

Ausente

56M

CM32

MAtropelam

entoAusente

Comatoso

Temporal/Parietal

HED/HSATFrontal E/Tem

poral EHSAT

Não aplicável

3Hipo

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

AlteradaN

ormal

Ausente

57KCSPF

25M

Queda altura

AusenteCom

atosoTem

poralInchaço

HolocranianaLAD

Não aplicável

3N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IVN

ormal

Norm

alN

ormal

Imediata

Norm

alN

ormal

Ausente

58JCB

62M

Agressão físicaAusente

ConscienteAusente

AusenteN

ão aplicávelAusente

Não aplicável

15N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

AlteradoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

59GCC

37M

Atropelamento

Nasal

Comatoso

AusenteHSDA

Frontal E/Temporal E

AusenteN

ão aplicável3

Ano bilatCom

altsAnorm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Diminuída

Norm

alN

/AAlterada

Norm

alAusente

60PM

24F

Atropelamento

AusenteConsciente

AusenteContusão

Frontal bilatAusente

Não aplicável

15Hipo

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

61BCTM

21F

Acid AutoAusente

ConscienteTem

poralHED

Temporal D

AusenteN

ão aplicável15

Norm

alCom

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaII

Norm

alN

ormal

Norm

alIm

ediataAlterada

Norm

alAusente

62FLGS

18M

Acid Moto

AusenteCom

atosoTem

poralHED

Temporal D

AusenteN

ão aplicável6

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoAlterado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

63LFTN

29M

FAFAusente

Comatoso

Frontal/Teto órbitaContusão

Frontal EAusente

Não aplicável

3Ano bilat

Com alts

Anormal

D>EPreservada

PreservadoPreservado

SupraorbitI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

64CAB

54M

Atropelamento

AusenteConfuso

Mastóide

ContusãoFrontal E

HSATParietal E

14N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

AlteradaN

ormal

Ausente

65M

NS

48M

Acid Moto

AusenteInconsciente

Petrosa LongitHSAT

Occipital E

HSATTem

poral E3

Norm

alSem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaIV

Norm

alDim

inuídaN

ormal

Imediata

AlteradaN

ormal

Ausente

66DASJ

27M

Agressão físicaAusente

ConfusoAusente

ContusãoFrontal E

AusenteN

ão aplicável14

HipoSem

altsN

ormal

PIFRAlterada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

AlteradaN

/AN

ormal

Norm

alAusente

67JES

33M

Acid AutoAusente

Comatoso

AusenteContusão

Parietal DAusente

Não aplicável

3N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

AlteradaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

68JVJ

25M

FABAusente

ConscienteAusente

AusenteN

ão aplicávelAusente

Não aplicável

15N

ormal

Sem alts

Norm

alPIFR

PreservadaPreservado

PreservadoPreservada

IN

ormal

Norm

alN

ormal

N/A

Norm

alN

ormal

Ausente

69IS

45M

Queda pp altura

AusenteConsciente

FrontalAusente

Não aplicável

AusenteN

ão aplicável15

Ano ESem

altsN

ormal

PIFRPreservada

PreservadoPreservado

PreservadaI

Norm

alN

ormal

Norm

alN

/AN

ormal

Norm

alAusente

70VRS

16M

Acid Moto

Nasal

ConscienteFrontal/M

andíbulaAusente

Não aplicável

AusenteN

ão aplicável15

HipoSem

altsN

ormal

PIFRAlterada

PreservadoPreservado

PreservadaII

Norm

alN

ormal

Norm

alIm

ediataN

ormal

Norm

alAusente

71JSF

45F

Atropelamento

AusenteConfuso

Mastóide

ContusãoTem

poral DAusente

Não aplicável

14Ano bilat

Com alts

Anormal

D>EPreservada

PreservadoAlterado

PreservadaI

Norm

alDim

inuídaN

ormal

N/A

AlteradaN

ormal

Ausente

Page 144: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

134

8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 145: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

135

Referências Bibliográficas

Adegbite AB, Khan MI, Tan L. Predicting recovery of facial nerve function following injury from a basilar skull fracture. J Neurosurg. 1991; 75:759-62. Adkins WY, Osguthorpe JD. Management of trauma of the facial nerve. Otolaryngol Clin North Am. 1991; 24:587-611. Adour KK, Boyajian JA, Khan ZM, Schneider GS. Surgical and nonsurgical manage-ment of facial paralysis following closed head injury. Laryngoscope. 1977; 87:380-90. Aguilar EA 3rd, Yeakley JW, Ghorayeb BY, Hauser M, Cabrera J, Jahrsdoerfer RA. High resolution CT scan of temporal bone fractures: association of facial nerve paral-ysis with temporal bone fractures. Head Neck Surg. 1987; 9:162-6. Anderson DL, Lloyd LA. Traumatic lesions of the optic chiasma: a report of four cases. Can Med Assoc J. 1964; 90:110-5. Anderson PA, Montesano PX. Morphology and treatment of occipital condyle frac-tures. Spine. 1988; 13:731-6. Araújo JLV, Saade N, Veiga JCE, Aguiar UP, Todeschini AB. Análise epidemiológica de 210 casos de hematoma epidural traumático tratados cirurgicamente. Rev Col Bras Cir. 2012; 39(4):268-71 Arias MJ. Bilateral traumatic abducens palsy without skull fracture and with cervical spine fracture: case report and review of the literature. Neurosurgery. 1985;16:232-4. Berry H, MacDonald EA, Mrazek AC. Acessory nerve palsy: a review of 23 cases. Can J Neurol Sci. 1991; 18:337-41. Bhatoe CHS. Trauma to the cranial nerves. Ind J Neurotrauma. 2007; 4:89-100. Bolender NB, Cromwell LD, Wendling L. Fracture of the occipital condyle. AJR Am J Roentgenol. 1978; 131:729-31. Burger LJ, Kalvin NH, Smith JL. Acquired lesions of the fourth cranial nerve. Brain. 1970; 93:567-74. Cannon C, Jahrsdoerfer R. Temporal bone fractures. Arch Otolaryngol. 1983; 109:285-8. Cantillo N. A case of superior oblique palsy in an orbitaria floor fracture. Am Orthopt J. 1978; 28:124-6 Cawthorne T. Facial palsy. Br Med J. 1956; 2:1197-200. Chapman LI, Urist MJ, Folk ER, Miller MT. Acquired bilateral superior oblique muscle palsy. Arch Ophthalmol. 1970; 84:137-42. Clark EC, Dodge, HW. Effect of anosmia on the appreciation of flavor. Neurology. 1955a; 5:671-4.

Page 146: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

136

Referências Bibliográficas

Clark EC, Dodge, HW. Extraolfactory components of flavor. J Am Med Assoc. 1955b; 159:1721-3. Cohen IK, Schechter PJ, Henkin RI. Hypogeusia, anorexia, and altered zinc metabo-lism following thermal burn. JAMA. 1973; 223:914-6. Coker NJ, Kendall KA, Jenkins HA, Alford BR. Traumatic intratemporal facial nerve injury: management rationale for preservation of function. Otolaryngol Head Neck Surg. 1987; 97:262-9. Coker NJ. Management of traumatic injuries to the facial nerve. Otolaryngol Clin North Am. 1991; 24: 215-27. Collet FJ. Sur un noveau syndrome paralytique pharyngo-larynge par blessure de guerre. (Hémiplégie glasso-laryngo-scapulo-pharyngée). Lyon Med. 1915;124:121-9. Crompton MR. Visual lesions in closed head injury. Brain. 1970; 93:785-92. Daniels DL, Williams IL, Haughton VM. The jugular foramen: anatomic and computed tomographic study. AJR Am J Roentegnol. 1984; 142:153-8. De Villiers JC. Fracture-dislocation of the petrous temporal bone. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1971; 34:105-6. De Vries-Knoppert WAEJ. Avulsion of the optic nerves. Doc Ophthalmol. 1989; 72:241-5. Duke-Elder WS. Textbook of ophthalmology. St. Louis: CV Mosby; 1949. v.4. Duke-Elder S. System of ophthalmology. St Louis: CV; Mosby; 1972. Duncan NO, Coker NJ, Jenkins HA, Canalis RF. Gunshot injuries of the temporal bone. Otolaryngol Head Neck Surg. 1986; 94: 47-55. Eby T, Pollak A, Fisch U. Histopathology of the facial nerve after longitudinal tem-poral bone fracture. Laryngoscope. 1988;98:717-20. Elston JS.Traumatic third nerve palsy. Br J Ophthalmol. 1984; 68, 538-43. François J, Neetens A, Collette JM. Vascularization of the primary optic pathways. Br J Ophthalmol. 1958; 42:65-80. Freiwald MJ. Penetrating wound of the orbit: a 31-year follow-up. Br J Ophthalmol. 1977; 61:544-6. Ghorayeb BY, Yeakley JW, Hall JW, Jones BE. Unusual complications of temporal bone fractures. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1987; 113:749-5.

Page 147: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

137

Referências Bibliográficas

Goin DW. Facial nerve paralysis secondary to mandibular fracture. Laryngoscope. 1980; 90:1777-85. Goland, P. Olfactometry in cases of acute head injury. Arch Surg. 1937; 35:1173-82. Goodwin WJ. Temporal bone fractures. Otolaryngol Clin North Am. 1983; 16:651-9. Green WR, Hackett ER, Schlezinger NS. Neuro-ophthalmologic evaluation of oculo-motor nerve paralysis. Arch Ophthalmol. 1964; 72:154-67. Griffith IP. Abnormalities of smell and taste. Practitioner. 1976; 217: 907-13. Griffiths MV. The incidence of auditory and vestibular concussion following minor head injury. J Laryngol Otol. 1979; 93: 253-65. Grobman L, Pollak A, Fisch U. Entrapment injury of the facial nerve resulting in frac-ture of the temporal bone. Otolaryngol Head Neck Surg. 1989; 101:404-8. Gross CE, DeKock JR, Panje WR, Hershkowitz N, Newman J. Evidence for orbitária deformity that may contribute to monocular blindness following minor head trauma. J Neurosurg. 1981; 55: 963-6. Haberkramp TJ, Harvey AS, Daniels DL. The use of gadolinium-enhanced MRI to determine lesion site in traumatic facial paralysis. Laryngoscope. 1990; 100:1294-300. Hagan PJ. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1967; 85:85-9. Hagan WE, Tabb HG, Cox RH, Travis LW. Gunshot injury to the temporal bone: an analysis of 35 cases. Laryngoscope. 1979; 89:1258-72. Harker LA, McCabe BF. Temporal bone fractures and facial nerve injury. Otolaryngol Clin North Am. 1974; 7:425-31. Hasegawa S, Yamagishi M, Nakano Y. Microscopic studies of human olfactory epi-thelia following traumatic anosmia. Arch Otorhinolaryngol. 1986; 243:112-6. Hashimoto T, Watanabe O, Takase M, Koniyama J, Kobota M. Collet-Sicard syn-drome after minor head injury. Neurosurgery. 1988; 23: 367-70. Hasso A, Ledington J. Traumatic injuries of the temporal bone. Otolaryngol Clin North Am. 1988; 21:295-316. Hedges TR, Gragouda ES. Traumatic anterior ischemic optic neuropathy. Ann Oph-thalmol. 1981; 13: 625-8. Heinze J. Cranial nerve avulsion and other neural injuries in road accidents. Med J Aust. 1969; 2:1246-9.

Page 148: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

138

Referências Bibliográficas

Hughes B. Blood supply of the optic nerves and chiasm and its clinical significance. Br J Ophthal. 1958; 42:106-25. Hughes B. The results of injury to special parts of the brain and skull: the cranial nerves. In: Rowbotham GF (ed). Acute injuries of the head. 4th ed, Baltimore: Wil-liams & Wilkins; 1964. p. 408-33 Jackson FE, Magi M. Traumatic dislocation of the incus associated with basilar skull fracture. J Neurosurg. 1966; 24:570-2. Jafek BW, Eller PM, Esses BA, Moran DT. Posttraumatic anosmia. Ultrastructural correlates. Arch Neurol. 1989; 46:300-4. Jefferson G, Schorstein J. Injuries of the trigeminal nerve, its ganglion and its divi-sions. Br J Surg. 1955; 42: 561-81. Kamerer DB. Intratemporal facial nerve injuries. Otolaryngol Head Neck Surg. 1982; 90:612-5. Keane JR. Bilateral sixth nerve palsy: analysis of 125 cases. Arch Neurol. 1976; 33:681-3. Keane JR, Baloh RW. Post-traumatic neuropathies. In: Evans RW (ed). The Neurol-ogy of trauma. Philadelphia: W B Saunders; 1996. p. 117-32. Khawam E, Scott AB, Jampolsky A. Acquired superior oblique palsy. Arch Ophthal-mol. 1967; 77:761-8. Kline LB, Morawetz RB, Swaid SN. Indirect injury of the optic nerve. Neurosurgery. 1984; 14:756-64. Lambert PR, Brackmann DE. Facial paralysis in longitudinal temporal bone fractures: a review of 26 cases. Laryngoscope. 1984; 94:1022-6. Lee J, Flynn JT. Bilateral superior oblique palsies. Br J Ophthalmol. 1985; 69:508-13. Leigh AD. Defects of smell after head injury. Lancet. 1943; 244:38-40. Lepore EF. Disorders of ocular motility following head trauma. Arch Neurol. 1995; 52:924-6. Lessell S. Indirect optic nerve trauma. Arch Ophthalmol. 1989; 107:382-6. Lewin HS, High WM, Eisenerg HM. Impairment of olfactory recognition after closed head injury. Brain. 1985; 108:579-91. Lewin W. Cerebrospinal fluid rhinorrhea in closed head injuries. Br J Surg. 1954; 42:1-18.

Page 149: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

139

Referências Bibliográficas

Lin C, Dong Y, Lv L, Yu M, Hou L. Clinical features and functional recovery of trau-matic isolated oculomotor nerve palsy in mild head injury with sphenoid fracture. J Neurosurg. 2013;118:364-9. Lindeman RC. Temporal bone trauma and facial paralysis. Otolaryngol Clin North Am. 1979; 12:403-13. Lindenburg R. Significance of the tentorium in head injuries from blunt forces. Clin Neurosurg. 1975; 12:129-42. Logan WC, Gordon D. Traumatic lesions of the optic chiasma. Br J Ophthalmol. 1967; 51:258-60. Louw GJ. Traumatic bisection of the optic chiasma. Afr Med J. 1954; 28:971-5. Lyle TK. Displacement of the orbitaria floor and traumatic diplopia. Br J Ophthalmol. 1961;45: 341-57. Mansour AM, Reinecke RD. Central trochlear nerve palsy. Surv Ophthalmol. 1986; 30:279-97. McCabe BF. Injuries to the facial nerve. Laryngoscope. 1973; 82: 1891-6. McGovern FH. Facial nerve injuries in skull fractures. Arch Otolaryngol. 1968; 88:536-42. McKennan KX, Chole RA. Facial paralysis in temporal bone trauma. Am J Otol. 1992; 13:167-72. Memon MY, Paine KWE. Direct injury of the oculomotor nerve in craniocerebral trauma. J Neurosurg. 1971; 35: 461-4. Miehlke A. Typical sites of facial nerve lesions. Arch Otolaryngol. 1969; 89:122-6. Milford ML, Loizeaux AD. Facial paralysis secondary to mandibular fracture: report of case. J Oral Surg. 1972; 30:605-7.

Miller NR. Solitary oculomotor nerve palsy in childhood. Am J Ophthalmol. 1977; 83:106-11. Mohanty SK, Barrios M, Fishbone H, Khatib R. Irreversible injury of the cranial nerves 9 through 12 (Collet-Sicard syndrome). J Neurosurg. 1973; 38:86-8. Olarte M, Adams D. Accessory nerve palsy. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1977; 40:1113-6. Osterberg G. Traumatic bitemporal hemianoapsia (sagittal tearing of the optic chi-asm). Acta Ophthalmol (Copenh). 1938; 16:466-74. Parks MM. Isolated cyclovertical muscle palsy. AMA Arch Ophthalmol. 1958; 60:1027-35.

Page 150: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

140

Referências Bibliográficas

Paskind HA. Parosmia in tumorous involvement of olfactory bulbs and nerves. Arch Neurol Psychiatry (Chic.). 1935; 33:835-8. Patel P, Kalyanaraman S, Reginald J, Natarajan P, Ganapathy K, Suresh Bapu KR, et al Post-traumatic cranial nerve injury. Indian J Neurotrauma. 2005; 2:27-32. Ramsay JH. Optic nerve injury in fracture of the canal. Br J Opthalmol. 1979; 63:9, 607-10. Robertson JC, Todd GB, Lobb M. Bilateral vocal cord paralysis due to whiplash in-jury. Br Med J. 1984; 288:1876. Robson FC, Dawes JKK. Delayed facial paralysis of lower motor neuron type follow-ing head injury. J Laryngol Otol. 1960; 74:275-89. Rodger FC. Unilateral involvement of the optic nerve in head injuries. Br J Ophthal-mol. 1943; 27:23-33. Rucker CW. Paralysis of the third, fourth and sixth cranial nerves. Am J Ophthalmol. 1958; 46:787-94. Rucker CW. The cause of paralysis of the third, fourth and sixth cranial nerves. Am J Ophthalmol. 1966; 61:1293-8. Rush JA, Younge BR. Paralysis of cranial nerve III, IV and VI: cause and prognosis in 1000 cases. Arch Ophthalmol. 1981; 99:76-80. Russell WR, Schiller F. Crushing injuries to the skull: clinical and experimental obser-vations. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1949; 12:52-60. Salzmann M. Die Ausreissung des Sehnerven (Evulsio nervi optici). Zeitschr für Au-genh. 1903; 9:489-505. Samborn GE, Gonder JR, Goldberg RE, Benson WE, Kessler S. Evulsion of the optic nerve: a clinicopathological study. Can J Ophthalmol. 1984; 19:10-6. Savino PJ, Glaser JS, Schatz NJ. Traumatic chiasmal syndrome. Neurology. 1980; 30:963-70. Schechter PJ, Henkin RI. Abnormalities of taste and smell after head trauma. J Neu-rol Neurosurg Psychiatry. 1974; 37: 802-10. Schneider RC, Johnson FD. Bilateral traumatic abducens palsy: a mechanism of in-jury suggested by the study of associated cervical spine fractures. J Neurosurg. 1971; 34:33-7. Schubiger O, Valavanis A, Stuckmann G, Antonucci F. Temporal bone fractures and their complications, examination with high resolution CT. Neuroradiology. 1986; 28:93-9.

Page 151: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

141

Referências Bibliográficas

Schunknecht HF, Neff WD, Perlman HB. An experimental study of auditory damage following blows to the head. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1951;60:273-89. Schurr PH. Aberrations of the sense of smell in head injury and cerebral tumors. Proc R Soc Med. 1975; 68:24-6. Sicard JA. Syndrome du Carrefour condylodéchiré postérieur (type pur paralysie laryngée associée). Marseille Med. 1917; 53:383. Simoncelli C, Altissimi G, Freguelli A, Serafini G. Post-traumatic paralytic syndromes of the jugular and condylar foramina. Rev Laryngol Otol Rhinol (Bord). 1989; 110: 115-8. Singh SP, Adeloye A. Hearing loss in missile head injuries. J Laryngol Otol. 1971; 85:1183-7. Stephenson S. Eye symptoms of fractured base of the skull. Br J Opthalmol. 1919; 3:505-9. Storey WE, Love WG. Traumatic bilateral abducent and facial paralysis with good restoration of function. A case report. J Neurosurg. 1949; 6: 539-42. Summers CG, Wirtschafter JD. Bilateral trigeminal and abducens neuropathies fol-lowing low velocity, crushing head injury. J Neurosurg. 1979; 50:508-11. Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20. Sumner D. Posttraumatic ageusia. Brain. 1964b; 87:187-202. Sumner D. Disturbance of senses of smell and taste after head injuries. In: Vinken PJ, Bruyn BW, editors. Handbook of clinical neurology. Amsterdam: Elsevier; 1976. p. 1-25. Swann KW, Heros RC. Acessory nerve palsy following carotid endarterectomy. J Neurosurg. 1985, 63:630-2. Sydnor CF, Seaber JH, Buckley EG. Traumatic superior oblique palsies. Ophthal-mology. 1982; 89:134-8. Takagi H, Miyasaka Y, Kuramae T, Ohwada T, Tsunoda M. Bilateral traumatic abdu-cens nerve palsy without skull fractures or intracranial hematoma: a report of 3 cases and consideration of the mechanism of injury. No Shinkei Geka. 1976;4:963-9. Teasdale G, Jennett B. Assessment of coma and impaired consciousness. A practi-cal scale. Lancet. 1974; 2:81-4. Traquair HM, Dott NM, Rissell WR. Traumatic lesions of the optic chiasma. Brain. 1935; 58:398-411.

Page 152: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

142

Referências Bibliográficas

Travis LW, Stalnaker RL, Melvin JW. Impact trauma of the human temporal bone. J Trauma. 1977; 17:761-6. Tuli S, Tator CH, Fehlings MG, Mackay M. Occipital condyle fractures. Neurosurgery. 1997; 41:368-77. Turner JWA. Indirect injuries of the optic nerve. Brain. 1943; 66:140-51. Turner JWA. Facial paralysis in closed head injuries. Lancet. 1944:756-7. Vernet M. The classification of the syndromes of associated laryngeal paralysis. J Laryngol Rhinol Otol. 1918; 33: 354-65. Walsh FB. Third nerve regeneration: a clinical evaluation. Br J Ophthalmol. 1957; 41: 577-98. Walsh FB, Lindenberg R. Die Veränderungen des Sehnerven bei Indirekten Trauma. In: Entwicklung und Fortschritt in der Augenheilkunde. Stuttgart: Ferdinand Enke; 1963. Warren WL, Bellotte JB, Wilberger JE. Diagnosis and management of seventh and eight cranial nerve injuries due to temporal bone fractures. In: Winn D, Marshall L (eds). Youmans neurological surgery. 5th ed. Philadelphia: W.B. Saunders; 2003. p.5273-83. Wright TA. Accessory spinal nerve injury. Clin Orthop Relat Res. 1975; 108:16-8. Wuest FC. Bitemporal hemianopsia following a traumatic lesion of the optic chiasma. Arch Ophthalmol. 1960; 63:721-3. Wyllie AM, McLeod D, Cullen JF. Traumatic ischemic optic neuropathy. Br J Oph-thalmol. 1972; 56: 851-3. Yanagihara N, Murakami S, Nishihara S. Temporal bone fractures including facial nerve paralysis: a new classification and its clinical significance. Ear Nose Throat J. 1997; 76: 64-71. Younge BR, Sutula F. Analysis of trochlear nerve palsy: diagnosis, etiology and treatment. Mayo Clin Proc. 1977; 52:11-8. Zusho H. Post-traumatic anosmia. Arch Otolaryngol. 1982; 108:90-2.

Page 153: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

143

FONTES CONSULTADAS

Page 154: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

144

Fontes Consultadas

Esta Tese está de acordo com as seguintes normas em vigor no momento desta

publicação:

Normalização para apresentação de Dissertação e Teses da Comissão de Pós-Gra-

duação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Referências: adaptado de International Comittee of Medical Journals Editors (método

Vancouver).

No texto e nas legendas das ilustrações foram utilizadas, em sua maior parte, os

dísticos de acordo com a Terminologia Anatômica adotada pela Comissão de No-

menclatura da Sociedade Brasileira de Anatomia.

Ferreira ABH. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Curitiba: Editora Posi-

tivo; 2009. 2120p.

Houaiss A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Editora Objetiva; 2009.

Page 155: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

145

RESUMO

Page 156: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

146

Resumo

Cannoni LF. Lesões traumáticas de nervos cranianos. [Tese]. São Paulo: Faculdade

de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2014. 202p.

Setenta e um pacientes com diagnóstico de lesão traumática de nervos cranianos

foram estudados, buscando-se determinar os diferentes mecanismos de trauma, a

distribuição por gênero e idade, assim como a presença de lesões cranianas (fratu-

ras e afundamentos) e intracranianas (hematomas, contusões), a incidência de le-

sões isoladas e múltiplas de nervos cranianos, por meio da avaliação semiológica de

cada nervo. Determinou-se também o nível de consciência do paciente à admissão

no pronto-socorro, a presença de lesões traumáticas extracranianas (membros, cer-

vicais, torácicas e abdominais) e a presença de fístula liquórica imediata ou tardia

(rinoliquorreia, otoliquorreia e retrofaríngea). O gênero masculino foi mais frequen-

temente acometido, sendo o atropelamento a etiologia mais comum. A média de

idade foi de 35,6 anos. A ausência de fraturas cranianas e a presença de hemato-

mas epidurais predominaram. Isoladamente, o nervo olfatório (I) foi o mais comu-

mente lesado e a lesão conjunta do nervo facial (VII) e do nervo vestibulococlear

(VIII) predominou. A maioria dos pacientes apresentou discreto ou nenhum grau de

comprometimento do nível de consciência ao exame físico de entrada e as lesões

em membros constituíram as lesões extracranianas mais frequentes. Foram incluí-

dos os aspectos anatômicos principais de cada nervo craniano, assim como sua re-

lação com estruturas ósseas adjacentes. Trata-se de lesões, cujo diagnóstico é fre-

quentemente omitido na avaliação inicial do paciente traumatizado, mas que podem

representar diversos graus de morbidade.

Palavras chave: lesão traumática de nervos cranianos, traumatismo cranioencefá-

lico.

Page 157: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

147

ABSTRACT

Page 158: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

148

Abstract

Cannoni LF. Traumatic lesions to the cranial nerves. [Thesis]. São Paulo: Faculdade

de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2014. 202p.

Seventy-one patients diagnosed with traumatic lesions to the cranial nerves have

been studied in order to determine not only the different traumatic etiologies, but also

the distribution of these lesions according to the gender and the age of the patients,

the presence of cranial (fractures and depressed fractures), intracranial lesions (he-

matomas, contusions) and the incidence of isolated and combined lesions of the cra-

nial nerves considering the individual semiology of each nerve. The patient’s con-

sciousness level on admission and the presence of extracranial lesions, such as

limbs, cervical, thoracic or abdominal lesions and CSF leakage (nasal, ear and phar-

yngeal leakages), were also determined. The male gender was more frequently af-

fected and running over accidents constituted the major cause of lesions. The mean

age was 35,6 years. The absence of cranial fractures and the occurrence of extra-

dural hematomas were more frequently observed. As combined lesions, the facial

(VII) and the vestibulocochlear (VIII) nerves were the dominant lesions, whereas the

single most common one was the olfactory nerve (I). The vast majority of patients

presented with mild or no alteration of the consciousness level on admission and the

limb lesions represented the major number of extracranial lesions. Anatomical as-

pects of each cranial nerve and their relationship with the adjacent bone structures

were also included. These are lesions, whose diagnosis is often omitted during the

initial evaluation of the traumatized patient, and are normally related to different de-

grees of disability.

Key words: cranial nerve injuries, traumatic brain injury

Page 159: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

149

APÊNDICE E LISTAS

Page 160: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

150

Apêndice e Listas

APÊNDICE 1

APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

Page 161: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

151

Apêndice e Listas

APÊNDICE 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU RESPONSÁVEL LE-GAL

1. Nome do Paciente: ................................................................................................................................

Documento de Identidade Nº: ............................................ Gênero: M ( )Ž F ( ) Data Nascimento: .........../............./................ Endereço ..................................................................................... Nº .......... Apto: ..... Bairro: ............................................. Cidade ............................................................. CEP:.......................... Telefone: DDD (............) ..........................................................

2.Responsável Legal ..................................................................................................... Natureza (grau de parentesco, tutor, curador etc.) ..................................................... Documento de Identidade :................................... Sexo: M ( )Ž F ( )Ž Data Nascimento: .........../.........../.............. Endereço: ................................................................................... Nº .......... Apto: ..... Bairro.............................................. Cidade: .............................................................. CEP: .......................... Telefone: DDD (............).........................................................

___________________________________________________________________

II - DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA

1. Título do protocolo de pesquisa: “Análise prospectiva das lesões traumáticas de nervos cranianos”

2. Pesquisador: Luiz Fernando Cannoni CRM: Nº 73786

3. Avaliação do risco da pesquisa:

Sem risco (x) Risco mínimo Risco médio Ž

Risco baixo Ž Risco maior Ž

(probabilidade de que o indivíduo sofra algum dano como consequência imediata ou tardia do estudo)

4. Duração da pesquisa: a duração prevista é de 24 meses.

III - REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PACIENTE OU SEU REPRE-SENTANTE LEGAL SOBRE A PESQUISA CONSIGNANDO:

1. Justificativa e os objetivos da pesquisa

O senhor (a) será acompanhado (a) no Ambulatório de Neurocirurgia (Lesão de Nervos Cranianos) da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e por já apre-sentar lesão de nervo craniano, faremos seu acompanhamento para observação de melhoria ou estabilidade da lesão, além do aparecimento de novos sintomas.

Verificaremos qual (is) nervos cranianos está(ão) lesados e proporemos me-didas que visarão a recuperação funcional do (s) mesmo(s).

Page 162: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

152

Apêndice e Listas

2. Procedimentos que serão utilizados e propósitos, incluindo a identificação dos procedimentos que são experimentais.

O Sr(a). será avaliado por um neurocirurgião que fará o diagnóstico inicial de

lesão (ões) de um ou mais nervos cranianos (nervos localizados na cabeça e que são responsáveis pelo olfato, visão, audição, movimento dos olhos, sensibilidade e movimentação do rosto, sensibilidade e movimentação da língua, movimentação da cabeça). De posse do diagnóstico, vamos propor a melhor forma de recuperação destes nervos (se houver) com acompanhamento fisioterápico, fonoaudiológico e consultas com profissionais das áreas de Oftalmologia (lesões visuais e de movi-mentos dos olhos, imagens duplas) e Otorrinolaringologia (nas paralisias do rosto e nas alterações da audição). O Sr(a). terá acompanhamentos a cada 2 meses em média para se avaliar a progressão ou estabilidade da lesão, assim como apareci-mento de novos sintomas.

3. Desconfortos e riscos esperados - Sem desconforto ou risco

4. Benefícios que poderão ser obtidos

Buscar a melhor forma para recuperação da função do(s) nervo(s).

5. Procedimentos alternativos que possam ser vantajosos para o indivíduo

Os doentes podem manter os métodos de tratamento clínico disponíveis no hospital. O senhor manterá seu tratamento e acompanhamento nas áreas de fisiote-rapia, neurocirurgia, oftalmologia, otorrinolaringologia e continuará acompanhamento com demais equipes médicas.

IV - ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE GARANTIAS DO SU-JEITO DA PESQUISA CONSIGNANDO:

1. Acesso, a qualquer tempo, às informações sobre o exame clínico e propostas de melhoria na função dos nervos cranianos, para dirimir eventuais dúvidas.

Os senhores(as) terão acesso a qualquer momento a informações sobre os benefícios de cada etapa da pesquisa, estando o pesquisador disponível para es-ses esclarecimentos.

2. Liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do estudo, sem que isto traga prejuízo à continuidade da assistência.

Todos têm o direito de sair do projeto a qualquer momento, sem qualquer ônus para os mesmos, sendo que continuarão a serem assistidos da mesma forma.

3. Salvaguarda da confidencialidade, sigilo e privacidade.

Os doentes terão sigilo desta unidade e desse pesquisador. Nunca durante qualquer apresentação da pesquisa serão utilizados nomes ou qualquer outra forma que possa identificar os participantes. O sigilo será absoluto.

Page 163: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

153

Apêndice e Listas

4. Disponibilidade de assistência na Santa Casa de SP, por eventuais danos à saúde, decorrentes da pesquisa.

Os doentes serão atendidos permanentemente no Ambulatório de Neurocirur-gia do Hospital da Santa Casa de SP. Caso haja problemas urgentes o Pronto So-corro do Hospital irá atendê-los de onde poderão contatar com o executor desta pesquisa.

Os senhores receberão uma cópia do termo de consentimento datado e assi-nado.

___________________________________________________________________

V. INFORMAÇÕES DE NOMES, ENDEREÇOS E TELEFONES DOS RESPONSÁVEIS PELO ACOMPANHAMENTO DA PESQUISA, PARA CONTATO EM CASO DE INTER-

CORRÊNCIAS CLÍNICAS E REAÇÕES ADVERSAS.

Nome: Luiz Fernando Cannoni

Endereço: Rua: Dr. Cesário Mota Jr., 112

Vila Buarque – São Paulo SP. Telefone: 2176 7000 - ramal 5574 __________________________________________________________________________________________

VII - CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO

Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o

que me foi explicado, consinto em participar do presente Protocolo de Pesquisa.

São Paulo, _____ de ________________ de 2013.

___________________________________ __________________________________ Assinatura do sujeito da pesquisa Assinatura do pesquisador ou responsável legal (carimbo ou nome Legível)

Page 164: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

154

Apêndice e Listas

APÊNDICE 3

PROTOCOLO DE LESÃO TRAUMÁTICA DE NERVOS CRANIANOS

IDENTIFICAÇÃO

1) Nome_____________________________________ Num. Protocolo _________

Endereço_________________________________________________________

Telefone: __________

Matrícula Santa Casa: _____________________ RG: ________________

2) Idade: _______________ Profissão __________________________

Escolaridade_____________________________

3) Gênero ( ) Fem ( ) Masc

Dia da Internação:____/____/_____ Dia da Alta ____/____/____

MECANISMO DE TRAUMA

A) Desconhecido ( )

B) Conhecido

Acidente Automobilístico ( ) Colisão ( ) Capotamento ( )

Acidente Motociclístico ( ) Colisão ( ) Capotamento ( )

Queda da Própria Altura ( )

Queda de Altura ( ) Laje ( ) Escada ( )

Agressão Física ( )

Ferimento por Projétil de Arma de Fogo ( )

Entrada ______________ Saída__________

Ferimento por Arma Branca ( ) Entrada __________ Saída___________

Atropelamento ( )

Queda de Bicicleta ( )

Page 165: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

155

Apêndice e Listas

FÍSTULA LIQUÓRICA

Não ( ) Sim ( ) Localização: Rinoliquorreia ( )

Otoliquorreia ( ) Lado______ Retrofaríngea ( )

NÍVEL DE CONSCIÊNCIA À ADMISSÃO

Consciente ( ) Sonolento ( ) Confuso ( ) Inconsciente ( ) Comatoso ( )

FRATURA DE CRÂNIO/AFUNDAMENTO DE CRÂNIO

Não ( ) Sim ( ) Fratura ( ) Afundamento ( )

LOCALIZAÇÃO DA FRATURA/AFUNDAMENTO

Frontal ( ) Lado:_____

Temporal ( ) Lado:______

Petrosa ( ) Lado:______ Longitudinal ( ) Transversa ( )

Parietal ( ) Lado:_______

Occipital ( ) Lado:_______

Mastóide ( ) Lado:________

Teto de Órbita ( ) Lado:_______

Arco Zigomático ( ) Lado:________

Base de Crânio ( )

Assoalho de Órbita ( ) Forame Jugular ( )

Mandíbula ( )

Fronto-Basal ( )

Fratura Facial ( )

Fratura de Côndilo Occipital ( )

Forame Jugular ( )

Page 166: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

156

Apêndice e Listas

LESÕES INTRACRANIANAS ASSOCIADAS E LOCALIZAÇÃO

Não ( ) Hematoma Epidural ( ) Hematoma Subdural Agudo ( ) Hemorragia Subaracnoidea Traumática ( ) Contusão Cerebral ( ) Hematoma Intraparenquimatoso ( ) Pneumocrânio ( ) Edema Cerebral ( ) Lesão Axonial Difusa ( )

LOCALIZAÇÃO

Frontal Direito ( ) Frontal Esquerdo ( ) Frontal Bilateral ( ) Temporal Direito ( ) Temporal Esquerdo ( ) Parietal Direito ( ) Parietal Esquerdo ( ) Occipital Direito ( ) Occipital Esquerdo ( ) Fossa Posterior ( ) Holocraniana ( ) Ponte ( ) Mesencéfalo ( ) Não se aplica ( )

FÍSTULA CAROTIDOCAVERNOSA

Não ( ) Sim ( ) Sopro ( ) Frêmito ( ) Proptose ( ) Lado ________________________ Quemose ( ) Dor ( ) Característica_________________ Oftalmoplegia ( ) Diplopia ( ) Perda Visual ( ) Característica_________________

TOMOGRAFIA

Corte Axial ( ) Corte Coronal ( ) Órbita ( )

Page 167: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

157

Apêndice e Listas

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

ESCALA DE COMA DE GLASGOW À ADMISSÃO

3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ( ) 9 ( ) 10 ( ) 11 ( ) 12 ( ) 13 ( ) 14 ( ) 15 ( )

NERVO OLFATÓRIO (I)

Normal ( )

Anosmia Unilateral Direita( )

Anosmia Unilateral Esquerda ( )

Anosmia Bilateral ( )

Hiposmia ( )

NERVO ÓPTICO (II)

Acuidade Visual Sem Alts ( ) Com Alts ( ) ____________ Campo Visual Sem Alts ( ) Com Alts ( ) _____________ Fundo de Olho Sem Alts ( ) Com Alts ( ) _____________ Reatividade Pupilar Normal ( ) Anormal ( ) Hemorragia Vítrea Sim ( ) Não ( ) Midríase por Lesão do Óptico Sim ( ) Não ( )

NERVO OCULOMOTOR (III)

Anisocoria D>E ( ) E>D ( ) Pupilas Isocóricas e Fotorreagentes ( ) Motricidade Ocular Extrínseca Preservada ( ) Motricidade Ocular Extrínseca Alterada ( ) _____________

NERVO TROCLEAR (IV)

Motricidade Ocular Extrínseca Comprometida ( ) Não Comprometida ( )

Page 168: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

158

Apêndice e Listas

NERVO ABDUCENTE (VI)

Motricidade Ocular Extrínseca Comprometida ( ) Não Comprometida ( )

NERVO TRIGÊMEO (V)

Sensibilidade Facial Sem Alterações ( ) V1 ( ) V2 ( ) V3 ( ) Musculatura Mastigatória Sem Alterações ( ) Déficit ( ) Alterações de Sensibilidade R. Supraorbitário ( )___________________

R. Infraorbitário ( )____________________ R. Alveolar Inferior ( )__________________

NERVO FACIAL (VII)

Paralisia Facial Periférica Grau ____________ (vide escala abaixo) Lacrimejamento Sem Alterações ( ) Com Alterações ( ) Acusia Normal ( ) Aumentada ( ) Diminuída ( ) Lado___________ Gustação Normal ( ) Alterada ( ) Lesão Prévia Sim ( ) Não ( ) Lesão Imediata ( ) Lesão Tardia ( ) Não se aplica ( ) Sincinesias Sim ( ) Não ( )

· Grau I: Normal ( ) · Grau II: Disfunção Leve ( ) · Grau III: Disfunção Moderada ( ) · Grau IV: Disfunção Moderadamente Grave ( ) · Grau V: Disfunção Grave ( ) · Grau VI: Paralisia Total ( )

VESTIBULOCOCLEAR (VIII)

Otoscopia Normal ( ) Alterada ( ) _______________ Acuidade Auditiva Normal ( ) Alterada ( ) _______________ Equilíbrio Normal ( ) Alterado ( ) _______________ Nistagmo Ausente ( ) Presente ( ) _______________

Page 169: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

159

Apêndice e Listas

GLOSSOFARÍNGEO/VAGO/ACESSÓRIO (IX, X, XI)

Disartria ( ) Disfagia ( ) Disfonia ( ) Sem Alterações ( ) Reflexo Nauseoso Preservado ( ) Alterado ( ) ______________ Alteração do M. Trapézio ( ) Normal ( ) Alteração do M. Esternocleidomastoideo ( ) Ambos os Músculos ( )

HIPOGLOSSO (XII)

Disartria ( ) Desvio da Língua ( ) Normal ( )

EXAME NEUROLÓGICO NA ALTA

ERGl ____________________________________________________

LESÕES ASSOCIADAS

Tórax – Pulmões____________________________________________ Abdome___________________________________________________ MMSS____________________________________________________ MMII______________________________________________________ Vascular___________________________________________________ TRM ( ) Nível______________________________________ Cervical ( ) Pélvica ( ) Ausentes ( )

Page 170: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

160

Apêndice e Listas

APÊNDICE 4

Page 171: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

161

Apêndice e Listas

Page 172: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

162

Apêndice e Listas

Page 173: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

163

Apêndice e Listas

Page 174: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

164

Apêndice e Listas

Page 175: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

165

Apêndice e Listas

Page 176: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

166

Apêndice e Listas

Page 177: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

167

Apêndice e Listas

Page 178: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

168

Apêndice e Listas

Page 179: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

169

Apêndice e Listas

Page 180: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

170

Apêndice e Listas

Page 181: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

171

Apêndice e Listas

APÊNDICE 5

Page 182: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

172

Apêndice e Listas

Page 183: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

173

Apêndice e Listas

Page 184: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

174

Apêndice e Listas

Page 185: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

175

Apêndice e Listas

Page 186: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

176

Apêndice e Listas

Page 187: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

177

Apêndice e Listas

Page 188: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

178

Apêndice e Listas

Page 189: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

179

Apêndice e Listas

Page 190: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

180

Apêndice e Listas

Page 191: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

181

Apêndice e Listas

Page 192: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

182

Apêndice e Listas

APÊNDICE 6

Page 193: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

183

Apêndice e Listas

Page 194: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

184

Apêndice e Listas

Page 195: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

185

Apêndice e Listas

Page 196: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

186

Apêndice e Listas

Page 197: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

187

Apêndice e Listas

Page 198: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

188

Apêndice e Listas

Page 199: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

189

Apêndice e Listas

Page 200: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

190

Apêndice e Listas

Page 201: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

191

Apêndice e Listas

Page 202: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

192

Apêndice e Listas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Frequência de lesão traumática dos nervos cranianos (Hughes, 1964) ...................................................................................................................

4

Tabela 2. Distribuição do número de pacientes por lesões traumáticas isola-das e múltiplas de nervos cranianos (Patel et al, 2005) ..............................

5

Tabela 3. Distribuição por frequência das lesões traumáticas de nervo craniano único .....................................................................................................

75

Tabela 4. Número e porcentagem das lesões traumáticas em múltiplos nervos cranianos .............................................................................................................

76

Tabela 5. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo olfatório .....................................................................................................

82

Tabela 6. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo óptico – acuidade visual ............................................................................

87

Tabela 7. Distribuição por frequência das lesões traumáticas do nervo oculo-motor – componente intrínseco e extrínseco .............................................

92

Tabela 8. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo oculomotor ................................................................................................

96

Tabela 9. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo troclear ......................................................................................................

97

Tabela 10. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo trigêmeo ....................................................................................................

99

Tabela 11. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo abducente .................................................................................................

101

Tabela 12. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo facial ..........................................................................................................

105

Tabela 13. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo vestibulococlear ........................................................................................

109

Page 203: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

193

Apêndice e Listas

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Traumatismo ocular com contusão retiniana (gentileza dos Drs. Or-lando da Silva Filho e Maurício H. Nakanami, com permissão) ......................

23

Figura 2. Hemorragia vítrea (gentileza dos Drs. Orlando da Silva Filho e Mau-rício H. Nakanami, com permissão) .............................................................

23

Figura 3. Vascularização intraorbitária do nervo óptico (Modificado de Fran-çois et al, 1958) ..........................................................................................

25

Figura 4. Representação esquemática da vascularização das vias ópticas (Modificado de François et al, 1958)....................................................................

26

Figura 5. Fraturas temporais mais comumente encontradas. Modificado de Coker et al, 1987. ................................................................................................

47

Figura 6. Plano da fratura longitudinal passando lateralmente à cápsula ótica. Modificado de Coker, 1991. ................................................................................

50

Figura 7. Plano da fratura transversa com lesão dos canais semicirculares e vestíbulo. O nervo facial é lesado no segmento timpânico. Modificado de Co-ker, 1991..........................................................................................................

51

Figura 8. Distribuição por frequência das lesões traumáticas de nervos cranianos por gênero ..........................................................................................

77

Figura 9. Distribuição de frequência por mecanismo de trauma ........................ 78

Figura 10. Distribuição de frequência das fraturas cranianas ............................ 79

Figura 11. Distribuição de frequência das pontuações da Escala de Coma de Glasgow à admissão dos pacientes ....................................................................

79

Figura 12. Distribuição de frequência de fístula liquórica ................................... 80

Figura 13. Distribuição de frequência das lesões intracranianas ....................... 81

Figura 14. Distribuição de frequência das lesões traumáticas do nervo olfató-rio ...............................................................................................................

82

Figura 15. Fratura occipital (A) e contusão frontal (B) em contragolpe em pa-ciente com lesão traumática de nervo olfatório ...............................................

83

Figura 16. Contusão frontal em contragolpe (A e B) em paciente com lesão traumática de nervo olfatório ...............................................................................

84

Figura 17. Tomografia de crânio evidenciando fratura do osso nasal ............... 84

Figura 18. Distribuição de frequência da acuidade visual em pacientes com lesão traumática do nervo óptico ........................................................................

85

Figura 19. Tomografia de crânio evidenciando fragmento ósseo intraorbitário direito ..................................................................................................................

88

Figura 20. Ressonância magnética de encéfalo evidenciando lesão do nervo óptico esquerdo ..................................................................................................

89

Figura 21. Fragmento ósseo sobre nervo óptico esquerdo ............................... 89

Page 204: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

194

Apêndice e Listas

Figura 22. Mecanismos de trauma nas lesões do nervo óptico ......................... 90

Figura 23. Lesões intracranianas associadas à lesão traumática do nervo óp-tico ...................................................................................................................

90

Figura 24. Fraturas cranianas associadas à lesão traumática do nervo óptico.. 91

Figura 25. Distribuição de frequência das alterações pupilares e motricidade ocular extrínseca .................................................................................................

93

Figura 26. Radiografia simples de crânio com ferimento por arma branca em paciente com lesão traumática de III nervo ........................................................

93

Figura 27. Tomografia de crânio evidenciando fratura de assoalho de órbita.... 94

Figura 28. Tomografia de crânio evidenciando fratura em teto orbitário es-querdo .............................................................................................................

95

Figura 29. Tomografia de crânio evidenciando lesão axonial em tronco ence-fálico ............................................................................................................

95

Figura 30. Distribuição de frequência das alterações intrínsecas e extrínsecas do globo ocular de acordo com o mecanismo de trauma ...................................

96

Figura 31. Distribuição de frequência das alterações intrínsecas e extrínsecas do globo ocular de acordo com a presença de lesões intracranianas ................

97

Figura 32. Distribuição de frequência das alterações extrínsecas do globo ocular por lesão traumática do nervo troclear de acordo com o mecanismo de trauma .................................................................................................................

98

Figura 33. Distribuição de frequência das alterações extrínsecas do globo ocular por lesão traumática do nervo troclear de acordo com a presença de lesões intracranianas ..........................................................................................

98

Figura 34. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos .............. 100

Figura 35. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos segundo o mecanismo de trauma ......................................................................................

100

Figura 36. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos segundo a presença de lesões intracranianas ..................................................................

101

Figura 37. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular ex-trínseca por lesão traumática de nervo abducente .........................................

102

Figura 38. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular ex-trínseca (VI nervo) de acordo com o mecanismo de trauma ..........................

103

Figura 39. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular ex-trínseca (VI nervo) de acordo com a presença de fraturas cranianas ............

103

Figura 40. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular ex-trínseca (VI nervo) de acordo com a presença de lesões intracranianas .......

104

Figura 41. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial de acordo com o comprometimento funcional (House-Brackmann) ............................................

105

Figura 42. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo a pre-sença de fraturas e grau de comprometimento funcional ..............................

106

Figura 43. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo o me-canismo de trauma e grau de comprometimento funcional ...........................

107

Page 205: Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo retrospectivo de

195

Apêndice e Listas

Figura 44. Tomografia de crânio evidenciando fratura longitudinal do petroso esquerdo .............................................................................................................

108

Figura 45. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo a pre-sença de lesões intracranianas e grau de comprometimento funcional ........

108

Figura 46. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva ................... 109

Figura 47. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva de acordo com o mecanismo de trauma ..............................................................................

110

Figura 48. Distribuição das lesões traumáticas do nervo vestibulococlear se-gundo a presença de fraturas cranianas .........................................................

110

Figura 49. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva de acordo com a presença de lesões intracranianas ...........................................................

111