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Fichamento curto do capítulo A Ciência do Concrecto, presente no livro O Pensamento Selvagem, de Lévi-Strauss.
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LÉVI-STRAUSS, Claude. A ciência do concreto. In: O Pensamento Selvagem. Campinas: Papirus
Editora, 1989, pp. 15-51;
Apresentação do texto: Publicado em 1962 pela editora Plon, em Paris, O Pensamento Selvagem
se contrapõe às definições clássicas de totemismo e etnologia. Tendo, dessa forma, referencial ao
livro anterior Levi-straussiano: Le totémisme aujourd’hui, também de 1962.
Problemática: Lévi-Strauss apresentará em O Pensamento Selvagem aquilo considerado como o
reverso do totemismo de Mauss e Durkheim, o homem naturalizado. Aqui, na ciência do concreto,
o autor aproxima a ciência da magia, da arte e da filosofia, relacionando estas a um único eixo de
pensamento humano. Isto é realizado através do aprofundamento da organização do meio social e
natural indígena, e o rompimento pela alteridade da suposta hierarquização entre o primitivo e o
científico moderno. Diferentemente de Durkheim e Mauss, Levi-Strauss não considerará uma
dispersão e diluição da organização social dos povos primitivos na sociedade. O próprio primitivo é
desconstruído, e o pensamento é construído de forma contínua.
Citações e comentários:
1
A CIÊNCIA DO CONCRETO
15 - Inicia o capítulo resgatando a noção entre linguística e antropologia, cara ao estruturalismo.
Boas é então mencionado, afirmando a construção sintática como diferenciação discursiva na língua
chinuque, do noroeste da América do Norte.
16 - Expande-se a elocução para o preenchimento das lacunas do vocabulário segundo
determinado grupo indígena. É primeiramente levantada uma noção utilitária da língua. Handy e
Pukui (1958), Krause (1956) afirmam que é nomeado aquilo que é útil, ou até mesmo nocivo. A
língua se desenvolveria dessa forma sobre o entorno.
17 - “Como nas linguagens profissionais, a proliferação conceitual corresponde a uma atenção
mais firme em relação às propriedades do real, a um interesse mais desperto para as distinções que
aí possam ser introduzidas. Essa ânsia de conhecimento objetivo constitui um dos aspectos mais
negligenciados do pensamento daqueles que chamamos ‘primitivos’. Se ele é raramente dirigido
para realidades do mesmo nível daquelas às quais a ciência moderna está ligada, implica diligências
intelectuais e métodos de observação semelhantes. Nos dois casos, o universo é o objeto de
pensamento, elo menos como meio de satisfazer a necessidades.” Lévi-strauss insere aqui uma
dimensão de alteridade ao afirmar que “cada civilização tende a superestimar a orientação objetiva
de seu pensamento”.
18 a 24 – Lévi-Strauss perpassa exemplos e etnografias sobre o vocabulário indígena, atribuindo
ênfase ao léxico e a importância associada aquele grupo social. Na página 20, ele reconta o
aprendizado de E. Smith Bowen de uma língua indígena através de espécimes botânico. Algo
estranhado inicialmente pela pesquisadora é o ponto culminante do argumento do autor – é
naturalizado a esse povo ensinar através da botânica, pois é ela um ponto fundamental da sua
sociedade. O homem e o meio e sua relação intrínseca à língua. Não obstante, imposta ao etnólogo.
Por fim, Lévi-Strauss realiza uma inversão: “De tais exemplos, que se poderiam retirar de todas as
regiões do mundo, concluir-se-ia, de bom grado, que as espécies animais e vegetais não são
conhecidas porque são úteis; elas são consideradas úteis ou interessantes porque são primeiro
conhecidas.”
24 e 25 - “Pode-se objetar que uma tal ciência não deve absolutamente ser eficaz no plano
prático. Mas, justamente, seu objeto primeiro não é de ordem prática. Ela antes corresponde a
exigências intelectuais ao invés de satisfazer às necessidades.” O que é relevante na questão léxica
e semântica da linguagem, aqui levantada por Levi-Strauss, é o agrupamento de coisas e seres e
como isso constitui um princípio de ordem do universo. “Ora, essa exigência de ordem constitui a
base do pensamento que denominamos primitivo, mas unicamente pelo fato de que constitui a base
de todo pensamento, pois é sob o ângulo das propriedades comuns que chegamos mais facilmente
às formas de pensamento que no parecem muito estranhas.”
26 – Menção aos azande e Evans-Pritchard acerca da bruxaria. “Desse ponto de vista, a primeira
diferença entre magia e ciência seria, portanto, que uma postula um determinismo global e integral
enquanto a outra opera distinguido níveis dos quais apenas alguns admitem formas de determinismo
tidas como inaplicáveis a outros níveis.”
27 - Ele se volta à ordenação científica e a estipulação de um número finito de estruturas para
definir a estruturação como uma prática intrínseca e múltipla – “a estruturação possuiria então uma
eficácia intrínseca, quaisquer que fossem os princípios e os métodos nos quais ela se inspirasse.”
Isso é feito para pensar uma intersecção entre campos distintos, afinal a química dos alimentos e a
sensação olfatória estariam interligados. Desse maneira, o método científico e a estrutura poderiam
se aproxirmar de um estudo da magia, ou até mesmo de uma ordenação não-científica, como a
linguística indígena.
28 - “O pensamento mágico não é uma estréia, um começo, um esboço, a parte de um todo ainda
não realizado; ele forma um sistema bem articulado; independente, nesse ponto, desse outro sistema
que constitui a ciência, salvo a analogia formal que os aproxima e que faz do primeiro uma espécie
de expressão metafórica do segundo. Portanto, em lugar de opor a magia e ciência, seria melhor
colocá-las em paralelo, como dois modos de conhecimento desiguais quanto aos resultados teóricos
e práticos (...), mas n”ao devido à espécie de operações mentais que ambas supões e que diferem
menos na natureza que na função dos tipos de fenômeno aos quais são aplicadas.”
31 - Lévi-Strauss explora a ciência do concreto. A fabricação de ferramentas e materiais, desde
o período neolítico e o cultivo da sensibilidade são afirmados como conhecimentos científicos,
prévios ao seu determinismo. “Essa ciência do concreto devia ser, por essência, limitada a outros
resultados além dos prometidos às ciências exatas e naturais, mas ela não foi menos científica, e
seus resultados não foram menos reais. Assegurados dez mil anos antes dos outros, são sempre o
substrato de nossa civilização.” Bricolage, é retomada continuamente ao longo do texto.
33 - Isso é reforçado pela ideia de signo e a intermediação entre imagem e conceito, formação de
significante e significado. Contraposto ao conceito, o signo possui um escopo limitado – seu campo
de abstração reside no visual/imaginário e no intermédio. Somente ao conceito é possível a
extrapolação. No entanto, ele se demonstra essencial à reflexão mítica – situado como método de
interpretação no meio-caminho entre percepção e conceito.
35 - Oposição entre conceito e signo.