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    A Lngua Brasileira de Sinais

    Apresentao

    Este material - Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS trata-se de forma resumida, da gramticadessa lngua, como forma de subsidiar o seu trabalho pedaggico.

    Objetivos

    Objetivo Geral:

    Oferecer informaes bsicas sobre a gramtica da Lngua Brasileira de Sinais -LIBRAS.

    Objetivos Especficos:

    O professor dever ser capaz de : . conhecer os aspectos mais relevantes de gramtica da LIBRAS; . utilizar os conhecimentos adquiridos para compreender a interferncia da LIBRASnos textos produzidos pelos alunos surdos; . estabelecer com o aluno surdo a comparao entre LIBRAS e Portugus, paraque possa verificar as semelhanas e diferenas; . utilizar - LIBRAS, sempre que se fizer necessrio, para a compreenso dosconceitos e contedos curriculares.

    Informaes Iniciais1. Leia os objetivos especficos do fascculo;2. Estude o texto do fascculo;3. Teste seus conhecimentos, respondendo a avaliao proposta;4. Confira suas respostas com as da chave de correo, no final do fascculo;5. Se for aprovado, passe para o fascculo seguinte;6. Se no conseguir aprovao, reestude o texto;7. Responda novamente a avaliao. Se no conseguir aprovao, consulte o professor aplicador dofascculo;

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    IntroduoLUCINDA FERREIRA BRITO

    Doutora em LingsticaDepartamento de Lingstica e Filologia

    da Universidade Federal do Rio de Janeiro

    As lnguas de sinais so lnguas naturais porque como as lnguas orais sugiram

    espontaneamente da interao entre pessoas e porque devido sua estruturapermitem a expresso de qualquer conceito - descritivo, emotivo, racional, literal,metafrico, concreto, abstrato - enfim, permitem a expresso de qualquer significadodecorrente da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano.

    Por isso, so complexas porque dotadas de todos os mecanismos necessrios aosobjetivos mencionados, porm, econmicas e lgicas porque servem para atingirtodos esses objetivos de forma rpida e eficiente e at certo ponto de formaautomtica. Isto porque, tratando-se muitas vezes de significados que demandamoperaes complexas que devem ser transmitidas prontamente diante de diferentessituaes e contextos, seus usurios tero que se utilizar dos mecanismos estruturaisque elas oferecem de forma apropriada sem ter que pensar e elaborar longamentesobre como atingir seus objetivos lingusticos.

    As lnguas de sinais distinguem-se das lnguas orais porque utilizam-se de um meioou canal visual-espacial e no oral auditivo. Assim, articulam-se espacialmente e sopercebidas visualmente, ou seja, usam o espao e as dimenses que ele oferece naconstituio de seus mecanismos fonolgicos, morfolgicos, sintticos e semnticospara veicular significados, os quais so percebidos pelos seus usurios atravs dasmesmas dimenses espaciais. Da o fato de muitas vezes apresentarem formasicnicas, isto , formas lingusticas que tentam copiar o referente real em suascaractersticas visuais. Esta iconicidade mais evidentes nas estruturas das lnguas desinais do que nas orais deve-se a este fato e ao fato de que o espao parece ser mais

    concreto e palpvel do que o tempo, dimenso utilizada pelas lnguas orais-auditivasquando constituem suas estruturas atravs de seqncias sonoras que basicamentese transmitem temporalmente.

    Entretanto, as formas icnicas das lnguas de sinais no so universais ou o retratofiel da realidade. Cada lngua de sinais representa seus refentes, ainda que de formaicnica, convencionalmente porque cada uma v os objetos, seres e eventosrepresentados em seus sinais ou palavras sob uma determinada tica ou perspectiva.Por exemplo, o sinal RVORE em LIBRAS representa o tronco da rvore atravs doantebrao e os galhos e as folhas atravs da mo aberta e do movimento interno dosseus dedos. Porm, o sinal para o mesmo conceito em CSL (lngua de sinais chinesa)

    representa apenas o tronco com as duas mos semiabertas e os dedos dobrados deforma circular. Em LIBRAS, o sinal CARRO/DIRIGIR icnico porque representa oato de dirigir, porm, tambm convencional porque em outras lnguas de sinais notoma necessariamente este aspecto dos referentes carro e ato de dirigir comomotivao de sua forma mas sim outros.

    Este carater convencional dos sinais icnicos atribui a ele um status lingusticoposto que conhecido o fato de que as palavras das lnguas em geral so arbitrrias.Com isso queremos dizer que ao invs de rotular todos os chamados signoslingsticos de arbitrrios, seria melhor considerar que alguns so motivados ouicnicos, porm, todos so convencionais.

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    Esta proposta no toma como base apenas as lnguas de sinais mas tambm aslnguas orais. Estas tm sido estudadas nos ltimos anos em seus aspectos tambmicnicos. No intuito de tornar alguns conceitos e descrio de eventos mais visveis,palpveis e concretos, as lnguas orais usam noes espaciais para traduz-las. Porexemplo, alguns conceitos temporais so espacializados (uma semana atrs, weekahead(uma semana frente)). Alguns eventos so estruturados cronologicamente oude forma a reproduzir a sua natureza contnua ou iterativa (ele saiu correndo,tropeou no balde e caiu ao invs de ele caiu porque tropeou no balde quando

    saiu correndo; e ele correu, correu, correuat no agentar mais). Cada vez maisalguns lingstas tm salientado estruturas icnicas ou motivadas nas lnguas orais oque mostra que esta caracterstica no se encontra presente apenas nas lnguas desinais e que, portanto, melhor seria preconizar a convencionalidade como propriedadeuniversal dos signos ou formas lingsticas em detrimento da arbitrariedade.

    Com o que dissemos at aqui, podemos concluir que o meio ou canal que distingueas lnguas orais das lnguas de sinais pode privilegiar e explorar caractersticasprprias do canal na constituio das estruturas lingsticas e na sua articulao epercepo. Podem mesmo impor restries aos mecanismos gramaticais comodemonstraremos no decorrer deste texto. Entretanto, essas duas modalidades delngua apresentam de forma, s vezes, distinta estruturas geradas a partir deprincpios universais e, portanto, comuns. Basicamente, lnguas de sinais e lnguasorais so muito semelhantes. As gramticas particulares das lnguas orais e daslnguas de sinais so intrinsecamente as mesmas posto que seus princpios bsicosso respeitados em ambas as modalidades: elas so dotadas de dupla articulao(estruturam-se a partir de unidades mnimas distintivas e de morfemas ou unidadesmnimas de significado), usam a produtividade como meio de estruturar novas formasa partir de outras j existentes, estruturam suas sentenas a partir dos mesmos tiposde constituintes e categorias lingsticas, suas sentenas so estruturadas sempreem torno de um ncleo com valncia, isto , o ncleo que requer os argumentos(complementos) necessrios para a completude do significado que veicula. Todasessas colocaes sero discutidas a seguir atravs da descrio de aspectosestruturais da LIBRAS, os quais sero comparados, sempre que possvel, com osequivalentes em Lngua Portuguesa, no intuito de salientar as diferenas e assemelhanas entre as duas lnguas.

    No entanto, antes de passarmos descrio propriamente dita da LIBRAS, bomenfatizar que como todas as lnguas ela natural, isto , ela por definio natural.Assim, no adequado dizer que a LIBRAS a lngua natural dos surdos brasileiros.No, ela natural devido sua prpria natureza o que a ope a sistemas artificiaiscomo o Esperanto, o Gestuno (sistema de sinais semelhante a um pidgin utilizadopor surdos de vrios pases em sua interao em eventos e encontros internacionais),os diferentes cdigos de comunicao (de trnsito, das abelhas, dos golfinhos, etc.) e

    as diferentes linguas orais sinalizadas (portugus sinalizado, ingls sinalizado,...).Dessa forma, considera-se que a LIBRAS ou deve ser a lngua materna dos surdosno porque a lngua natural dos surdos mas sim porque, tendo os surdos bloqueiospara a aquisio espontnea de qualquer lngua natural oral, eles sim que s vo teracesso a uma lngua materna que no seja veiculada atravs do canal oral-auditivo.Esta lngua poderia ser uma lngua cujo canal seria o tato. Porm, como a alternativaexistente s lnguas orais so as lnguas de sinais estas se prestam s suasnecessidades. As lnguas de sinais so, pois, to naturais quanto as orais para todosns e, para os surdos, elas so mais acessveis devido ao bloqueio oral-auditivo queapresentam, porm, no so mais fceis nem menos complexas. Os surdos sopessoas e, como tal, so dotados de linguagem assim como todos ns. Precisam

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    apenas de uma modalidade de lngua que possam perceber e articular facilmente paraativar seu potencial lingstico e, consequentemente, os outros e para que possamatuar na sociedade como cidados normais. Eles possuem o potencial. Falta-lhes omeio. E a Lngua Brasileira de Sinais o principal meio que se lhes apresenta paradeslanchar esse processo.

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    Estrutura Lingstica da LIBRASLUCINDA FERREIRA BRITO

    Doutora em Lingstica Departamento de Lingstica e Filologia

    da Universidade Federal do Rio de Janeiro

    A LIBRAS dotada de uma gramtica constituda a partir de elementosconstitutivos das palavras ou itens lexicais e de um lxico (o conjunto das palavras da

    lngua) que se estruturam a partir de mecanismos morfolgicos, sintticos esemnticos que apresentam especificidade mas seguem tambm princpios bsicosgerais. Estes so usados na gerao de estruturas lingsticas de forma produtiva,possibilitando a produo de um nmero infinito de construes a partir de um nmerofinito de regras. dotada tambm de componentes pragmticos convencionais,codificados no lxico e nas estruturas da LIBRAS e de princpios pragmticos quepermitem a gerao de implcitos sentidos metafricos, ironias e outros significadosno literais. Estes princpios regem tambm o uso adequado das estruturaslingusticas da LIBRAS, isto , permitem aos seus usurios usar estruturas nosdiferentes contextos que se lhes apresentam de forma a corresponder s diversasfunes lingsticas que emergem da interao do dia a dia e dos outros tipos de uso

    da lngua. Veremos a seguir cada um desses conceitos da definio discutidos e ilustradospor estruturas da LIBRAS.

    1. O Lxico ou Vocabulrio da LIBRAS

    O lxico pode ser definido grosso modo como o conjunto de palavras de umalngua. No caso da LIBRAS, as palavras ou itens lexicais so os sinais. Pensa-sefequentemente que as palavras ou sinais de uma lngua de sinais constituda a partirdo alfabelto manual como por exemplo:

    (1) a) C-E-R-T-O b) M-Y-R-N-A c) C-H-O-P-P

    Entretanto, no este o caso. A soletrao manual das letras de uma palavra emportugus, como no exemplo (1), a mera transposio para o espao, atravs dasmos, dos grafemas da palavra da lngua oral. Isto , um meio de se fazerememprstimos em LIBRAS. Assim, como temos a palavra xerox em portugus que um emprstimo do ingls, os exemplos em (1) ilustram os inmeros emprstimos daLIBRAS.

    (1-a) a soletrao do nome de uma pessoa, isto , de um nome prprio emportugus porque os nomes prprios, em LIBRAS, so diferentes. Assim, quando umapessoa quer apresentar algum a algum, primeiro soletrar seu nome em portugus(M-Y-R-N-A) e, se ele tiver um nome em LIBRAS, este ser articulado em seguida. Oexemplo (2) ilustra um usurio da LIBRAS apresentando uma pessoa chamada Myrnaa seu interlocutor.

    Exemplo (2):A: 3 APRESENTAR 2. NOME M-Y-R-N-A. SINAL MYRNA. ( = Vou apresent-la a voc, o nome dela M-Y-R-N-A. Seu sinal (nome prprioem LIBRAS) Myrna)

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    (1-b) a soletrao de uma palavra em portugus chopp palavra para cujoconceito no h sinal ou palavra em LIBRAS. Neste caso, a palavra escrita doportugus que ser transposta para o espao atravs da soletrao manual.

    (1-a) a soletrao de uma palavra em portugus para cujo conceito h um sinalem LIBRAS o qual no conhecido por um dos usurios, em geral um ouvinte.Exemplo (3):

    A: RESPOSTA CERTO ( = A resposta est certa)

    B: O-QUE ISTO, CERTO (= O que quer dizer este sinal?)A: C-E-R-T-O (= certo)B: O-K ( Ah! Ok)

    Ou ento, uma pessoa pode soletrar C-E-R-T-O para mostrar a uma outra como seescreve esta palavra em portugus. Neste caso, a soletrao manual um meio deverificao, questinamento ou veiculao da ortografia de uma palavra em portugus.

    Entretanto, o sinal mesmo para o conceito certo em LIBRAS o que se segue aolado da ilustrao da soletrao manual da palavra certo:

    C-E-R-T-O CERTO

    Agora sim temos uma palavra de LIBRAS. Podemos perceber que ela noarticulada de forma linear como o so as soletraes em (1). Esta palavra ou sinaltem uma estrutura distinta daquela das soletraes ou das palavras em portugus. Aspalavras, em portugus, so formadas pela justaposio linear de seus componentesou unidades mnimas distintas.

    1.1. Estrura Sublexical dos Sinais a partir de suasUnidades Mnimas Distintivas

    A palavra ou item lexical certo, em portugus, formada dos seguintes componentes ou unidades:em portugus falado

    /sertu/

    Temos aqui cinco sons ou fonemas, isto , cinco componentes ou unidades mnimasda palavra falada certo.

    em portugus escrito

    certo

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    Temos aqui cinco letras ou grafemas componentes da palavra escrita. Noconsideramos a letra uma unidade mnima como o fonema porque o fonema, s vezes, representado, na escrita, por mais de uma letra, como o caso de:

    /xatu/ - chato /x/ - ch

    ou, s vezes uma s letra pode representar mais de um fonema, como em :

    /leksiku/ - lxico /ks/ - x

    Assim, so cinco os componentes ou as unidades mnimas constitutivas daspalavras em portugus. Essas unidades mnimas so chamadas fonemas quesabemos ser seqencialmente combinadas para formar as palavras.

    certo - /s e r t u/ chato - /x a t u/ lxico - /l e k s i k u/

    Em LIBRAS, as unidades mnimas ou componentes da palavra ou sinal CERTO soos seguintes:

    F a configurao de mos l / o movimento linear, para baixo com reteno final

    TBd o ponto de articulao do sinal, isto tronco, busto, lado direito

    (Y,Z) (x,y) a orientao da palma da mo para a esquerda

    S a simetria no movimento ou uso da mo esquerda, realizando o mesmomovimento que a esquerda, tambm como articulador e no apenas como mo deapoio.

    Em portugus, as unidades mnimas ou componentes da palavra certo /sertu/podem ser descritas da seguinte forma:

    /s/ som com passagem obstruda (consoante), surdo, fricativo.

    /e/ som com passagem livre (vogal), sonoro, aberto, mdio.

    /r/ som com passagem obstruda (consoante), sonoro, vibrante.

    /t/ som com passagem obstruda (consoante), surdo, oclusivo.

    /u/ som com passagem livre (vogal) sonoro, fechado, posterior.

    Pode-se observar pela descrio das unidades mnimas de CERTO, em LIBRAS, ede certo, em portugus, que as caractersticas das unidades dos sinais so espaciais(forma da mo ou do slido, movimento linear e com retenso, vetores orientacionaisda mo, etc.) e que as caractersticas das unidades da palavras faladas so denatureza acstico-sonoras (passagem livre ou obstruda dos sons, sonoridade,posio da articulao posterior, frontal, mdia na boca, etc.).

    Como vimos, as palavras da LIBRAS e do portugus se estruturam a partir deunidades mnimas sonoras e espaciais, respectivamente. Essas unidades oufonemas, como j dissemos, so distintivas porque, quando substitudas uma poroutra, geram uma nova forma lingstica com um significado distinto. Por exemplo, em

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    LIBRAS, temos:

    que so duas palavras ou sinais distintos com significados tambm distintos somentepelo fato de o primeiro sinal - APRENDER - ser articulado na testa e de o segundo -SBADO - ser articulado na boca do usurio. Isto , h uma caracterstica espacialdistinta nos sinais, o ponto de articulao, que os distingue. Essas caractersticas, /natesta/ e /na boca/, so unidades mnimas distintivas equivalentes aos fonemas daspalavraspata e bata do portugus, /p/ e /b/, que tambm distinguem as formaslingusticas e seus significados. APRENDER e SBADO, em LIBRAS, e pataebata,em portugus, so pares mnimos porque suas formas fonolgicas so idnticas emtudo, exceto em uma caracterstica espacial (ponto de articulao) para os primeiros e

    fontica (sonoridade) para os ltimos. Vejamos outros pares mnimos em LIBRAS:Pares Mnimos em LIBRAS

    EDUCAR/EDUCAO ACOSTUMAR/COSTUMEPar mnimo distinto pela Configurao de Mo

    VERDE (SP) GELADO (SP)Par mnimo distinto pelo Movimento

    Atravs dos exemplos acima em LIBRAS e em portugus, mostramos que aspalavras da LIBRAS tambm so constitudas a partir de unidades mnimas distintivaschamadas, em lnguas orais, de fonemas. O nmero dessas unidades finito epequeno porque, seguindo o princpio de economia, eles se combinam para gerar umnmero infinito de formas ou palavras.

    Ento, o lxico da LIBRAS, assim como o lxico de qualquer lngua, infinito nosentido de que sempre comporta a gerao de novas palavras. Antigamente,pensava-se que a LIBRAS era pobre porque apresentava um nmero pequeno desinais ou palavras. Pode acontecer o fato de que uma lngua que no usada emtodos os setores da sociedade ou que usada em uma cultura bem distinta da que

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    conhecemos no apresente vocbulos ou palavras para um determinado camposemntico, entretanto, isso no significa que esta lngua seja pobre porquepotencialmente ela tem todos os mecanismos para criar ou gerar palavras paraqualquer conceito que vier a ser utilizado pela comunidade que a usa. Por exemplo, aLIBRAS no tinha um sinal para o conceito lingustica at h poucos anos. medidaque os surdos foram se inteirando do que se faz em lingustica, do que significalingustica, houve a necessidade de gerar um sinal para esse conceito. O sinalLINGUSTICA no soletrao da palavra em portugus, porm, tem um vestgio de

    emprstimo porque a configurao de mo escolhida L (apenas os dedos polegar eindicador estendidos), uma configurao prpria da LIBRAS, porm, que costumarepresentar a letra Lno alfabeto manual. Este sinal realizado com as duas mos,palmas para baixo com o polegar de uma mo quase tocando o da outra, na frente dobusto, fazendo movimentos de rotao positiva e de translao retilnea para os lados.

    Entretanto, no qualquer combinao de unidades mnimas distintivas que serpermitida pela lngua. H restries e devido a elas que vamos dizer que certasformas no so aceitas naquele sistema lingustico enquanto outras o so. Uma formacomo lbreskno ser identificado pelos falantes do portugus como uma forma bemformada ou como uma palavra dessa lngua. Isto porque o padro fonolgico doportugus CV (consoante + vogal) e devido a outros tipos de restries. Na formalbresko uso de vrias consoantes e a sequncia de certos tipos de consoantes fazcom que esta forma fuja aos padres aceitos pela Lngua Portuguesa. Da mesmaforma, uma forma constituda a partir das unidades mnimas da LIBRAS no seraceita enquanto palavra dessa lngua se fugir aos padres que regem a formao desuas palavras. Por exemplo, um sinal em que o articulador principal a moesquerda ou em que a mo direita a mo de apoio no ser considerado umapalavra bem formada da LIBRAS.

    As unidades descritas acima so chamadas unidades mnimas distintivas porquedistinguem palavras, como nos exemplos citados para a LIBRAS, APRENDER eSBADO, que se distinguem pelo ponto de articulao: testa e boca, respectivamente.

    Da mesma forma, as palavras pata e bata, em portugus, se distinguem pelacaracterstica fontica sonoridade, ou seja, a primeira surda e a segunda sonora.Assim, /p/ e /b/ so duas unidades mnimas distintivas ou fonemas e os pontos dearticulao /na testa/ e /na boca/ tambm so unidades mnimas, desta vez daLIBRAS, ou fonemas. Daqui para frente, quando falarmos de fonemas da LIBRASestamos nos referindo s suas unidades espaciais que no tm nada a ver com somou fone, porm, que funcionam igualmente aos fonemas das lnguas orais.

    Como pudemos observar, os princpios e mecanismos que so utilizados naestruturao de palavras a partir de unidades mnimas so os mesmos em portuguse em LIBRAS. O que difere a natureza das caractersticas das unidades que so

    restritas pela modalidade oral-auditiva, em portugus, e pela modalidade visual-espacial, em LIBRAS. devido s mesmas restries que as unidades ou fonemas doportugus se organizam ou estruturam sequencialmente ou linearmente no tempoenquanto que as unidades ou fonemas da LIBRAS se estruturam simultaneamenteou ao mesmo tempo no espao.

    As unidades mnimas distintivas em LIBRAS so as seguintes de acordo com osparmetros Configurao de Mos, Ponto de Articulao, Movimento-Orientao eExpresso Facial. Vejamos esses parmetros no sinal CERTO/CERTEZA, ilustrado aseguir:

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    Figura do sinal certocom seus parmetros

    Configuraes de Mo da LIBRAS

    As 46 configuraes de mo da LIBRAS

    Pontos de Articulao da LIBRAS

    C CABEAtopo da cabea

    T testaR rostoS parte superior dorostoI parte inferior do rostoP OrelhaO olhosN narizB bocad bochechasA zona abaixo do

    preciso tambm empregar certos adjetivos quelocalizam maisprecisamente os pontos de articulao:

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    queixoT TRONCOP pescooO ombroB bustoE estmagoC cinturaB BRAOSS braoQ queixo

    I antebraoC cotoveloP pulsoM MOP palmaC costa da moL1 lado do indicadorL2 lado do dedo mnimoD dedosDp ponta dos dedosDd ns dos dedos (junoentre os dedos e a mo)Dj ns dos dedos

    (primeira junta dosdedos)D1 dedo mnimoD2 anularD3 dedo mdioD4 indicadorD5 polegarV Interstcios entre osdedosV1 Interstcio entre opolegar e o indicadorV2 Interstcio entre osdedos indicador e mdio

    V3 Interstcio entre osdedos mdio e anularV4 Interstcio entre osdedos anular e mnimop PERNAEN ESPAO NEUTRO

    Outros termos so usados para descrever a translaohorizontal de pontos de articulao como imagens de um ponto

    precedente no referencial do corpo:

    Na descrio dos pontos de articulao, so ainda usados osseguintes termos:

    Movimentos e Tipos de Orientao da LIBRAS

    Movimentos internos das mos:

    [ ~ 5 ] extenso gradual dos dedos comeando pelo indicador

    [ As ~ 5 ] extenso gradual dos dedos comeando pelo dedo mnimo

    [ As ] abertura simultnea dos dedos

    [ As ] fechamento simultneo dos dedos

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    [ bO] pinamento (com o indicador e o polegar)

    [ mov ] movimento de tamborilar com os dedos curvos

    [ 5 + mov ] movimento de tamborilar com os dedos estendidos

    [ 54 ~ G ] fechamento gradual de todos os dedos, exceto indicador

    [5 ~ ] fechamento gradual de todos os dedos, exceto polegar

    [ B B ] flexo da mo, com os dedos estendidos

    [ V V ] dobramento e extenso repetidos dos indicador e dedo mdio nas juntasdo meio

    [ V + mov ] movimento de tamborilar com os dedos

    [ V. mov ] movimento de tesoura

    [ As ] extenso do polegar

    [ As L ] polegar e indicador estendidos simultaneamente

    [ B V ] fechamento sbito de todos os dedos exceto indicador e mdio, queflexionam-se

    [ As 3 ] extenso simultnea do polegar, indicador e mdio

    [ As 3 ] extenso simultnea de todos os dedos, exceto o polegar

    [ As 5] extenso simultnea de todos do dedos

    [ L ] extenso do indicador

    [ 3 ] extenso simultnea do indicador e do mdio

    [ 5 ] extenso simultnea de todos os dedos, com o polegar j estendido

    [ G1 X ] flexo repetida do indicador

    [ As V] extenso do indicador e do mdio

    [As I ] extenso do mnimo

    Expresso no manuais da LIBRAS

    RostoParte Superiorsobrancelhas franzidas

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    olhos arregalados

    lance de olhos

    sobrancelhas levantadas

    RostoParte Inferiorbochechas infladasbochechas contradaslbios contrados e projetados e sobrancelhas franzidascorrer da lngua contra a parte inferior interna da bochechaapenas a bochecha direita infladacontrao do lbio superiorfranzir do nariz

    Cabeabalanceamento para frente e para trs (sim)balanceamento para os lados (no)

    inclinao para frente

    inclinao para o lado

    inclinao para trs

    wh

    Rosto e Cabea

    cabea projetada a frente, olhos levemente cerrados,sobrancelhas franzidas (ex.: o que?, quando?, como?, quando,por que?)

    wo cabea projetada para trs, e olhos arregalados (ex.: quem?)

    Tronco

    Movimentos de rotao

    Movimentos de translao (as mos se deslocam no espao)

    RetilneosCircularesContnuosCom retensoFefreadosTensosSimples

    Repetidos

    1.2. Formao dos tens Lexicais ou Sinais a partir deMorfemas

    Mostramos, no item anterior, como se estruturam as palavras das lnguas Portuguesa e LIBRAS apartir de suas unidades mnimas distintivas ou fonemas. Vamos ilustrar agora como se formam aspalavras da LIBRAS a partir de seus morfemas ou unidade mnimas de significao.

    1.2.1. Morfemas Lexicais e Morfemas Gramaticais

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    Os morfemas so unidades que podem ter funes lexicais ou gramaticais. Porexemplo, as palavras casas, construo e impossvel do portugus so constitudasdos seguinte morfemas:

    casa - s (plural) constru- o (nome) possvel- im (negao) morfema lexical morfema gramatical

    Em LIBRAS, nem sempre os morfemas que formam as palavras so equivalentesaos do portugus. Podemos, porm, ilustrar os morfemas da LIBRAS como se segue:

    SENTAR - movimento repetido (marca de nome) BONITO - expresso facial ~~ (marca de grau aumentativo) BONITO - expresso facial (marca de grau diminutivo) FALAR - 2 mos e movimentos longos (aspecto continuativo) PEGAR - Cl:5 Classificador para objetos redondos grandes PEGAR - Cl:F Classificador para objetos pequenos e pequenos PODER - movimentos da cabea (negao): NO-PODER POSSVEL - movimento inverso das mos (negao): IMPOSSVEL

    SABER - movimento da mo para fora (negao): NO-SABER morfema lexical morfema gramatical

    Vejamos algumas ilustraes dos sinais acima:

    FALARFALAR SEM-PARAR

    FALAR PELOS COTOVELOSFALAR + aspecto continuativo

    PEGAR + Cl: 5

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    PODER/POSSVEL NO-PODER IMPOSSVEL

    SABER NO-SABER

    1. 2. 2. Formao de Palavras por Derivao e por Composio

    As ilustraes acima so exemplos de formao de palavras por derivao.CADEIRA derivado de SENTAR atravs do movimento repetido do primeiro;BONITINHO derivado de BONITO atravs da adjuno da expresso facial ~~ ,marca de grau aumentativo; BONITO derivado de BONITO atravs da adjuno doafixo expresso facial , marca de grau diminutivo; FALAR-SEM-PARAR derivadode FALAR atravs da adjuno da mo esquerda e do alongamento dos movimentos,marca de aspecto continuativo; PEGAR-BOLA derivado de PEGAR atravs daadjuno do afixo Cl:5, classificador para objetos redondos grandes; PEGAR-

    AGULHA derivado de PEGAR atravs da afixao do morfema gramatical Cl:F,classificador para objetos pequenos e pequenos; NO-PODER derivado dePODER atravs do afixo negativo, movimentos da cabea para os lados;IMPOSSVEL derivado de POSSVEL atravs da inverso do movimento de parabaixo para os lados, afixo tambm negativo; NO-SABER e derivado de SABERatravs da afixao de um movimento da mo para fora, morfema negativo tambm.

    Atravs desses exemplos, pudemos observar que as primeiras palavras soformadas a partir de seus radicais aos quais se juntam afixos ou morfemasgramaticais, pelo processo de derivao. As palavras ou sinais em LIBRAS tambmpodem ser formadas pelo processo de composio, isto , pela adjuno de dois

    sinais simples em formas compostas. Por exemplo: CASA + CRUZ = IGREJA MULHER + PEQUENO = MENINA HOMEM + PEQUENO = MENINO

    Alguns sinais como SENTAR e CADEIRA so distintos quanto forma para ascategorias verbo e nome, porm, a maioria deles no se distingue quanto scategorias verbo, nome, adjetivo e advrbio. O que vai defin-las como tal suafuno na sentena. Podemos, entretanto, ilustrar alguns casos de palavras quepoderiam ser derivadas de outras como o caso de construir e construo, em

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    portugus. Por exemplo, nas sentenas abaixo, identificamos um mesmo item lexicalcomo nome ou verbo, dependendo da sentena em que aparecem:

    ELE NO LIMPAR-CHO-Cl:Y (com escova) (=Ele no limpou com escova o cho) ELE LIMPAR-CHO-Cl:Y (com escova) NO-Y (=Ele no fez a limpeza do cho com a escova)

    No primeiro exemplo, o item lexical LIMPAR-CHO-Cl:Y tem uma funo verbal.

    Entretanto, na segunda sentena, LIMPAR-CHO-Cl:Y tem uma funo nominal, ouseja, um substantivo porque vem acompanhado de um verbo leve, NO-Y, quedevido sua natureza de verbo sem valncia no pode ser considerado um nome.Neste caso, como os verbos chamados leves sempre vm acompanhados de umnome e como o nico item capaz de preencher esta funo nominal o sinalLIMPAR-CHO-Cl:Y, diremos que ele pode pertencer a ambas categorias:

    LIMPAR-CHO-Cl:Y - verbo LIMPAR-CHO-Cl:Y - nome

    O mesmo ocorre com as demais categorias: adjetivo, advrbio.

    1. 2. 3. Aspecto Verbal

    A LIBRAS, assim como vrias lnguas de sinais e orais, modula o movimento dossinais para distinguir entre os aspectos pontual, continuativo ou durativo e iterativo. Oaspecto pontual se caracteriza por se referir a uma ao ou evento ocorrido eterminado em algum ponto bem definido no passado. Em portugus, quando dizemosele falou na televiso ontem, sabemos que a ao de falar se deu no passado, emum perodo de tempo determinado ontem. Em LIBRAS, temos um sinal FALAR paraum contexto lingstico similar. Por exemplo, ELE FALAR VOC ONTEM (=ele faloucom voc ontem). Entretanto, temos tambm o sinal FALAR-SEM-PARAR que se

    refere a uma ao que tem uma continuidade no tempo como no exemplo ELEFALAR-SEM-PARAR AULA (=ele falou sem parar durante a aula). Vejam estes doissinais:

    FALAR FALAR-SEM-PARAR(aspecto pontual) (aspecto continuativo)

    O mesmo ocorre com o verbo OLHAR que pode sofrer alterao em um ou mais deseus parmetros e, ento, denotar aspecto durativo. Os sinais ilustrados abaixopoderiam aparecer em contextos lingsticos como os que se seguem:

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    OLHAR (pontual)OLHAR VOC ONTEM VOC NO-ENXERGAR (pontual)

    OLHAR (durativo)ELE FICAR-OLHANDO-LONGAMENTE MAR (durativo)

    OLHAR (durativo)ELA PASSAR TODOS-OLHAR-CONTINUADAMENTE (durativo)

    No segundo sinal para olhar, a configurao de mo e o ponto de articulaomudam de G1 para 5 e dos olhos para o nariz. Com isso temos a formao de umaoutra palavra com valor aspectual durativo.

    O verbo VIAJAR com valor aspectual pontual abaixo poderia ser utilizado emsentenas como PAULO VIAJAR BRASLIA ONTEM, enquanto que o sinal verbal comvalor iterativo apareceria em sentenas do tipo PAULO VIAJAR- MUITAS-VEZES. Oaspecto iterativo refere-se a ao ou evento que se d repetidas vezes. Vejamos ossinais abaixo:

    VIAJAR (pontual) VIAJAR (iterativo)

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    Esse tipo de afixao que encontramos na LIBRAS, atravs da alterao domovimento, da configurao de mo e/ou do ponto de articulao do verbo que seriaconsiderado raiz ou radical, no encontrado em portugus.

    1. 2. 4. Itens Lexicais para Tempo e Marca de Tempo

    A LIBRAS no tem em suas formas verbais a marca de tempo como o portugus.Como vimos, essas formas podem se modular para aspecto. Algumas delas tambm

    se flexionam para nmero e pessoa.Dessa forma, quando o verbo refere-se a um tempo passado, futuro ou presente, oque vai marcar o tempo da ao ou do evento sero itens lexicais ou sinais adverbiaiscomo ONTEM, AMANH, HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA-QUE-VEM. Comisso, no h risco de ambigidade porque sabe-se que se o que est sendo narradoiniciou-se com uma marca no passado, enquanto no aparecer outro item ou sinalpara marcar outro tempo, tudo ser interpretado como tendo ocorrido no passado.

    Os sinais que veiculam conceito temporal, em geral, vem seguidos de uma marcade passado, futuro ou presente da seguinte forma: Movimento para trs, para opassado; Movimento para frente, para o futuro; e Movimento no plano do corpo, para

    presente. Alguns desses sinais, entretanto, incorporam essa marca de tempo norequerendo, pois, uma marca isolada como o caso dos sinais ONTEM eANTEONTEM ilustrados a seguir:

    ONTEM ANTEONTEM

    Outros sinais como ANO requerem o acompanhamento de um sinal de futuro ou depresente, mas, quando se trata de passado, ele sofre uma alterao na direo domovimento de para frente para trs e, por si s j significa ano passado. Os sinais deANO e ANO-PASSADO podem ser observados nas ilustraes que se seguem:

    ANO ANO-PASSADO

    interessenta notar, que uma linha do tempo constituda a partir das coordenadas:passado (atrs)- presente (no plano do corpo)- futuro (na frente), pode ser observadatambm em lnguas orais como o portugus e o ingls como mencionado no inciodesse curso. Uma estruturao completamente diferente do tempo foi observada porns na Lngua de Sinais Urubu-Kaapor, lngua de sinais da comunidade indgena

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    Urubu habitante da Floresta Amaznica, onde o tempo futuro para cima e o presenteno torso do usurio dessa lngua. O passado no parece ser marcado.

    Isso levou-nos a considerar que as lnguas Portuguesa e LIBRAS no so todistintas assim naquilo que no depende de restries decorrentes da modalidadevisual-espacial, veiculando,assim, uma viso de mundo muito similar, pelo menos nosaspectos semnticos at o momento estudados por ns.As diferenas que vimos apontando ultimamente na estruturao gramatical e lexicalda LIBRAS e do portugus parecem no apontar tanto para diferenas culturais masso sim devidas ao fato de a primeira usar o espao e de a segunda utilizar o meioacstico, para estruturar os significados lexicais e gramaticais.

    1. 2. 5. Quantificao e Intensidade

    A quantificao obtida em LIBRAS atravs do uso de quantificadores comoMUITO, mas incorporar a quantificao, prescindindo, pois, o uso desse tipo depalavras. Assim, podemos observar nos exemplos com o verbo OLHAR acima que oolhar pontual realizado com apenas um dedo estendido enquanto que os outros doissinais so realizados com as mos abertas, ou seja, com os dedos estendidos. Dessa

    forma, esse tipo de alterao do parmentro Configurao de Mo iconicamenterepresenta uma maior intensidade na ao (FICAR-OLHANDO-LONGAMENTE) ouum maior nmero de referentes sujeitos (TODOS-FICAR-OLHANDO). Essa mudanade configurao de mos, aumentando-se o nmero de dedos estendidos parasignificar uma quantidade maior pode ser ilustrado pelos sinais UMA-VEZ, DUAS-VEZES, TRS-VEZES:

    UMA-VEZ DUAS-VEZES TRS-VEZES

    s vezes, alongando-se o movimento dos sinais e imprimindo-se a ele um rtmomais acelerado, obtem-se uma maior intensidade ou quantidade. Isto o que ocorrecom os sinais FALAR e FALAR-SEM-PARAR, exemplificados acima e com os sinaisLONGE e MUITO-LONGE ilustrados abaixo:

    LONGE MUITO-LONGE

    Como se pode observar, os mecanismos espaciais utilizados pela LIBRAS paraobter significados e efeitos de sentido distinguem-se daqueles utilizados pela LnguaPortuguesa. Nesta, as formas ou marcas so muito mais arbitrrias e se apresentam

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    em forma de segmentos sequencialmente acrescentados ao item ou palavramodificada. Em LIBRAS, ocorre com muita frequncia uma mudana interna, isto ,uma alterao no interior da prpria palavra.

    1. 2. 6. Classificadores

    Como algumas lnguas orais e como vrias lnguas de sinais, a LIBRAS possuiclassificadores, um tipo de morfema gramatical que afixado a um morfema lexical ou

    sinal para mencionar a classe a que pertence o referente desse sinal, para descrev-lo quanto forma e tamanho, ou para descrever a maneira como esse referente segurado ou se comporta na ao verbal.

    Os classificadores em lnguas orais como o japons e o navajo so sufixos dosnumerais e dos verbos, respectivamente.

    Em LIBRAS, como dificilmente se pode falar em prefxo e em sufxo porque osmorfemas ou outros componentes dos sinais se juntam ao radical simultaneamente,preferimos dizer que os classificadores so afixos incorporados ao radical verbal ounominal. Assim, nos exemplos abaixo, pode-se observar o classificador V e V, que

    respectivamente, referem-se maneira como uma pessoa anda e como um animalanda.

    ANDAR (para pessoa) ANDAR (para animal) O classificador em ANDAR (para pessoa) pode ser utilizado tambm com outrossignificados como duas pessoas passeando ou um casal de namorados (no casodas pontas dos dedos estarem voltadas para cima), uma pessoa em p (pontas dosdedos para baixo), etc. Este classificador representado pela configurao de mosem V, como se segue:

    Uma pessoa andando Duas pessoas andando,ou em p namorando ou passeando

    O classificador C pode representar qualquer tipo de objeto cilndrico profundo comoum copo, uma caixa, uma urna como no exemplo abaixo do sinal VOTAR:

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    VOTAR Classificador C

    Outros classificadores podem ser os morfemas representados pelas configuraesde mo B e Y como se segue:

    Classificador B Classificador Y

    O classificador B refere-se e descreve superfcies planas como mesa, parede,cho, etc. enquanto que o classificador Y refere-se e descreve objetos multiformes ou

    com formas irregulares, porm no planos nem finos. O classificador G1 que utilizado para descrever objetos finos e longos.Inmeros so os classificadores em LIBRAS, sua natureza semntica e sua funo.Entretanto, apenas mencionamos alguns a ttulo de ilustrao.

    1. 2. 7. Incorporao de Argumento

    As lnguas orais e de sinais apresentam vrios casos de incorporao deargumento ou complemento. Por exemplo, em portugus, podemos citar o verboengavetar que, em uma anlise sinttico-semntica, poderia ser decomposto em um

    verbo bsico do tipo colocar e em um complemento desse verbo que seria um locativona gaveta. Assim, podemos dizer eu coloquei os livros na gaveta ou eu engaveteios livros. O constituinte na gaveta, um locativo, argumento ou complemento decolocar, foi incorporado a este verbo e em decorrncia disso temos a outra formaverbal engavetar que prescinde do locativo como complemento porque j carrega estainformao em seu prprio item lexical. Temos, pois, uma forma lexical derivada deoutra mais bsica, porm, desta vez no pelo processo de derivao por afixao nempor composio, como discutido acima, mas sim pelo que se chama de incorporaode argumento.

    Em LIBRAS, o processo de incorporao de argumento muito frequente e visveldevido s caractersticas espaciais e icnicas dos sinais. Os trs verbos abaixo

    ilustram esse tipo de incorporao. O primeiro, o verbo BEBER/TOMAR pode serusado sem incorporao em sentenas do tipo:

    BEBER CERVEJA (= eu bebi cerveja)

    Porm, se o objeto direto do verbo for, por exemplo, caf ou ch, o verboincorporar este argumento e teremos formas verbais diferentes, como demonstramas ilustraes a seguir:

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    BEBER, TOMAR BEBER-CAF CH (segurar x-tipo de objeto) em LIBRAS (CI: B A e CI: F)

    Outro exemplo de incorporao pode ser ilustrado pelo verbo ALUGAR/PAGAR-MENSALMENTE em que o verbo PAGAR que normalmente articulado sobre a mode apoio em B passa a ser articulado na mo de apoio (mo esquerda) em G1, amesma do sinal MS. Assim, uma parte deste sinal incorpora-se ao sinal PAGAR,substituindo-a. Vejamos o sinal:

    ALUGAR/PAGAR-MENSALMENTE

    O mesmo processo de incorporao pode ser tambm observado no sinal quederiva do sinal verbal COMER, ao qual se incorpora o objeto direto MA:

    COMER COMER-MA

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    2. Estruturao de Sentenas em LIBRAS

    Costuma-se pensar que as sentenas da LIBRAS so completamente diferentes do ponto de vistaestrutural daquelas do portugus. Realmente, no que diz respeito ordem das palavras ou constituinte,h diferenas porque o portugus uma lngua de base sujeito-predicado enquanto que a LIBRAS uma lngua do tipo tpico-comentrio.

    Nas sentenas do portugus, a ordem predominante : sujeito (S)-verbo(V)-objeto

    (O), normalmente chamada de SVO. Assim, as sentenas se estruturam da seguintemaneira:

    O leo matou o urso. S V O sujeito predicado

    Todos os meninos gostam de futebol S V O sujeito predicado

    Nestas sentenas, alm da concordncia sujeito-predicado que determina quem faz

    o que no evento descrito pelo verbo da sentena, a ordem tambm significativaporque seno no saberamos qual o sujeito da primeira sentena o leo matou ourso porque tanto o constituinte o leo quanto o constituinte o urso podemconcordar com o verbo. Ento, se alterssemos a ordem dos constituintes acima ourso matou o leo, o sujeito deixaria de ser o leo para ser o urso. Alm do mais,h o aspecto semntico dos constituintes e do verbo que permite que tanto um quantooutro constituinte seja o sujeito de matar, isto , aquele que mata.

    Este no o caso da segunda sentena onde o significado dos constituinte todosos meninos e futebol no d margem s duas possibilidades acima. Alm do mais,a concordncia sujeito-predicado nesta segunda sentena fica ressaltada pelo fato deincluirem a marca de plural enquanto que o segundo constituinte futebolest nosingular. Neste caso, a ordem menos relevante para se saber a funo gramatical eo papel semntico dos dois constituintes.

    Entretanto, a primeira sentena poderia ter o seu ltimo constituinte deslocado paraa frente da sentena atravs de operaes como por exemplo a topicalizao:

    O urso, o leo matou ou Ao urso o leo matou tpico comentrio tpico comentrio

    Note-se, porm, que nos dois casos houve necessidade de apelo a mecanismosinusuais do tipo entoao e uso da preposio a. Nestes casos, o urso continua

    sendo o objeto direto de matar e o leo, o seu sujeito, apesar de termos atopicalizao do objeto, isto , apesar do objeto direto ser o tpico da sentena e osujeito e o verbo serem o comentrio do tpico.

    A topicalizao relativamente frequente em portugus, principalmente, na falacoloquial. Entretanto, em LIBRAS, a frequncia maior, diramos at que regrageral.

    Em estudos anteriores, dissemos que a ordem preferencial das sentenas daLIBRAS era SVO quando no havia topicalizao ou verbos com flexo ou direcionais.Porm, estudos mais aprofundados, apesar de no desmentirem o que dissemos,mostraram que a topicalizao muito mais frequente do que se pensa primeira

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    vista em LIBRAS. A ordem tpico-comentrio realmente a preferida quando no hrestries que impeam certos constituintes de se deslocarem. Prem, um grandenmero de sentenas sempre aparece na ordem SVO. Vejamos os exemplos:

    VOC LER JORNAL (= voc leu o jornal?) S V O

    NO-ENXERGAR VOC (= eu no vi voc) V O

    Nestas duas sentenas, a ordem SVO, isto , sujeito-verbo-objeto. O sujeito dasegunda sentena omitido, um argumento implcito, porque a , em LIBRAS, assimcomo em portugus, o sujeito em geral pressuposto pelo contexto ou, quandoreferindo-se primeira pessoa sempre pressuposto como conhecido pelointerlocutor. Assim, se no contexto no est evidente que uma outra pessoa alm daprimeira deve ser o sujeito, este ser a primeira pessoa. Ento, apesar de estaremexplcitos apenas o verbo e o objeto da segunda sentena, sabemos que a ordem SVO. Estes dados reafirmam nossos estudos anteriores, assim como o fato de quequando temos um verbo flexionado na sentena a ordem muito restrita.

    Verbos com flexo com VER, AVISAR, RESPONDER, PERGUNTAR, AJUDAR so

    verbos em que a ordem vai ser sempre SVO. Note-se que no estamos distinguindoaqui objeto direto de objeto indireto porque, em recentes estudos em lingstica, h aproposta de considerarmos os complementos sem preposio como objetos e os compreposio como objetos oblquos. Em exemplos com os verbos acima, podemosnotar a restrio quanto ordem porque o sujeito e o objeto no aparecem na formade constituintes separados dos verbos, mas sim na forma de flexo do prprio verboatravs da direcionalidade de seu movimento, um vetor, cujo ponto de origem refere-se ao sujeito e cujo ponto final refere-se ao objeto. a direcionalidade com esses doispontos que chamada flexo verbal. Vejamos os exemplos:

    1aRESPONDER 2a (=eu respondi a voc)

    3

    a

    PERGUNTAR 1

    a

    VERDADE (=ele perguntou a mim a verdade) VERDADE 3aPERGUNTAR 1a (=a verdade ele perguntou a mim) 1aVER 2a (=eu vi voc) MYRNA 3aAVISAR 3aSERGIO (=Myrna, ela avisou ele, Sergio) 2aAJUDAR 3a - voc-ajudar-ela (=voc a ajudou)

    Como se pode observar, nestes exemplos, o primeiro referente sempre o sujeitoporque representado pela marca que inicia o verbo e o outro referente no verbal o que marcado pela marca final do verbo ou o ponto final do seu movimento, o queresulta na ordem Sujeito- Verbo-Objeto (direto e indireto). O terceiro exemplo acimaapresenta uma topicalizao do objeto direto o que faz com que a ordem seja Objetodir.- Sujeito - Verbo - Objeto ind.Na maioria dos casos, entretanto, a LIBRAS parece preferir, como j dissemos, atopicalizao e o verbo no final da sentena como nos exemplos abaixo:

    PESQUISAR ELA NO-GOSTAR (=pesquisar, ela no gosta) tpico comentrio

    RUA ACIDENTE NO-ENXERGAR (=o acidente na rua eu no vi) tpico comentrio

    CAF ACAR NO-Y (=aucar no caf (ela) no ps) tpico comentrio

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    Note-se, porm, que nos exemplos acima, mesmo seguindo a estrutura tpico-comentrio, a ordem dos constituintes acaba sendo (Locativo) - Objeto - Sujeito-Verbo. Mesmo com topicalizao, parece que temos quase que sempre, pelo menos,tpico-SV (tpico-sujeito-verbo). Na ltima sentena, o sujeito uma terceira pessoa,porm, um argumento implcito porque o enunciador pressupe que o interlocutorsaiba identificar o referente pelo contexto situacional. A ttulo de ilustrao, vejamos overbo EMPRESTAR, variante de So Paulo, e algumas de suas flexes:

    1EMPRESTAR2 2EMPRESTAR1 2EMPRESTAR3 EU-EMPRESTAR-VOC VOC-EMPRESTAR-EU VOC-EMPRESTAR-ELA

    eu emprestei para voc voc emprestou para mim voc emprestou para ela

    Alguns raros verbos com flexo trazem as marcas de sujeito e objeto de forma

    inversa, isto , o objeto marcado primeiro no ponto de origem do movimento do sinalverbal e o sujeito marcado pelo ponto final do movimento do sinal verbal. Vejamos overbo CONVIDAR:

    2 CONVIDAR 1 1 CONVIDAR 2 3 CONVIDAR 2 voc-convidado-eu eu-convidado-voc e le-convidado-voc

    (voc est sendo convi- (eu estou sendo con- (ele est sendo con- dado por mim) vidado por voc) v idado por voc)

    ou (eu o convido) (voc me convida) (voc o convida)

    Vimos que a estruturao das sentenas em LIBRAS quanto ordem dosargumentos (complementos inclusive sujeito) diferente daquela do portugus e queinclusive as marcas de flexo so bastante especficas da modalidade visual-espacialde lngua porque se apoiam na direcionalidade do movimento do sinal.

    Entretanto, vamos enfatizar aqui um nivel estrutural das sentenas em ambas aslnguas em que as semelhanas so bem maiores do que as especificidades. Trata-seda estrutura argumental das sentenas. Desse ponto de vista, toda sentena tem umncleo que o elemento que possui valncia. Em geral, o verbo que possui valnciae, como tal, ele que determina o nmero e tipos de argumentos ou complementosnecessrios. Dentro desta concepo, inclusive o sujeito considerado umargumento. Assim diremos que um verbo como enviar, em portugus, e ENVIAR, emLIBRAS, so verbos com a mesma valncia porque os dois pedem trs argumentosou complementos:

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    Paulo enviouo livro ao amigo LIVRO AMIGO P-A-U-L-O ENVIAR(o livro ao amigo o Paulo enviou)

    Nos dois exemplos, o primeiro em portugus e o segundo em LIBRAS,independentemente da ordem, pode-se observar que as sentenas so constitudasde um ncleo e de trs argumentos ou complementos:

    enviar - ncleo ou palavra com valnciaPaulo - argumento 1, aquele que envia, papel semntico fonte, funo

    gramatical sujeito.amigo - argumento 2, aquele para quem se envia, papel semntico alvo, funogramatical objeto indiretolivro - argumento 3, aquilo que enviado, papel semntico tema, funogramatical objeto direto.

    Esse tipo de anlise das sentenas da LIBRAS e do portugus mostra como aestrutura sinttico-semntica pode ser a mesma.

    Alguns verbos, entretanto, no possuem valncia como os verbos levar, dar e fazerdo portugus e o verbo NO-Y da LIBRAS. Neste caso, teremos uma diferena

    considervel, devido no correspondncia sinttico-semntica nas duas ln-guas.So os chamados verbos leves que podem ser ilustrados pelos exemplos abaixo:

    Ele levou a cabo seus estudos Joo deu uma surra no menino Ns fizemos compras ontem LIMPAR-CHO-ESCOVA NO-Y (a limpeza do cho com a escova, ele no fez)

    Nesses exemplos, o elemento com valncia o nome que acompanha o verbo nosexemplos do portugus e o nome que antecede o verbo no exemplo da LIBRAS. Estenome que o ncleo da estrutura argumental da sentena porque ele que possuivalncia. O verbo carrega apenas as marcas gramaticais. o nome que veicula o

    significado lexical do complexo verbal. Por isso, apesar de se assemelhar a um objetodireto, o nome com valncia no pode receber papel temtico (semntico) o que tornaesse tipo de sentena mais complexo para analisar.

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    Aquisio da Linguagem por Crianas Surdas1

    RONICE MLLER QUADROSMestre em Lingstica

    Doutoranda em Lingstica AplicadaPUC/ RS; interprete de LIBRAS

    Todas as pesquisas desenvolvidas nos ltimos anos sobre a aquisio das lnguas

    de sinais evidenciam que essa pode ser comparada aquisio das lnguas orais emmuitos sentidos. Normalmente, as pesquisas envolvem a anlise de produes decrianas surdas, filhas de pais surdos. Somente esse grupo de crianas surdasapresenta o input lingstico adequado e garantido para possveis anlises doprocesso de aquisio. Entretanto, ressalta-se que essas crianas representamapenas de 5% a 10% das crianas surdas . No Brasil, os estudos envolvem crianassurdas filhas de pais surdos que usam a Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS.

    As lnguas de sinais so sistemas abstratos de regras gramaticais, naturais scomunidades surdas dos pases que as utilizam. Assim como as lnguas faladas, aslnguas de sinais no so universais: cada pas apresenta a sua prpria lngua. Nocaso do Brasil, como j foi citado, tem-se a LIBRAS e, alm dessa, tem-se tambm alngua de sinais usada por uma tribo indgena brasileira chamada Urubu Kaapor,citada por Kakumasu (1968) e Ferreira Brito (1993).

    As lnguas de sinais apresentam-se numa modalidade diferente das lnguas orais-auditivas; so lnguas espao-visuais, ou seja, a realizao dessas lnguas no estabelecida atravs do canal oral-auditivo, mas atravs da viso e da utilizao doespao. A diferena na modalidade determina o uso de mecanismos sintticosespecficos diferentes dos utilizados nas lnguas orais. As lnguas de sinais sosistemas lingsticos independentes dos sistemas das lnguas orais e no souniversais.

    As lnguas de sinais, dentre elas a LIBRAS, parecem apresentar especial interessenas pesquisas lingsticas dentro da perspectiva gerativista. A razo de tal interesseest relacionada possibilidade de determinar os princpios da UGindependentemente da modalidade da lngua. Se isso for possvel, as lnguas desinais podem ser exemplos de lnguas que fortalecem a proposta gerativista quanto existncia de um mdulo da linguagem na mente/crebro do ser humano.

    Quanto aos aspectos estruturais das lnguas de sinais, h dois aspectosfundamentais: (a) o estabelecimento nominal e a pronominalizao e (b) aconcordncia verbal. Os sujeitos e objetos podem ser estabelecidos em um ponto noespao de sinalizao (loc); quando isso ocorre, h um estabelecimento nominal e apronominalizao. Esse estabelecimento completamente espacial e fundamentalpara a concordncia verbal, principalmente com referentes no presentes.

    Considerando que o processo de aquisio das lnguas de sinais anlogo aoprocesso de aquisio das lnguas faladas, as sees seguintes esto subdivididasnos estgios de aquisio adotados nos estudos sobre a aquisio da linguagem. Oestabelecimento nominal, o sistema pronominal e a concordncia verbal seroenfatizados tendo em vista que tais tpicos so fundamentais para o estabelecimentode relaes gramaticais (espaciais).

    Perodo Pr - Lingstico

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    Petitto & Marantette (1991) realizaram um estudo sobre o balbucio em bebssurdos e bebs ouvintes no mesmo perodo de desenvolvimento (desde o nascimentoat por volta dos 14 meses de idade). Elas verificaram que o balbucio um fenmenoque ocorre em todos os bebs, surdos assim como ouvintes, como fruto dacapacidade inata para a linguagem. As autoras constataram que essa capacidadeinata manifestada no s atravs de sons, mas tambm atravs de sinais. Nosdados analisados por Petitto & Marantette foram observadas todas as produes orais

    para detectar a organizao sistemtica desse perodo. Tambm foram observadastodas as produes manuais tanto dos bebs surdos como dos bebs ouvintes paraverificar a existncia ou no de alguma organizao sistemtica.

    Nos bebs surdos foram detectadas duas formas de balbucio manual: o balbuciosilbico e a gesticulao. O balbucio silbico apresenta combinaes que fazem partedo sistema fontico das lnguas de sinais. Ao contrrio, a gesticulao no apresentaorganizao interna.

    Os dados apresentam um desenvolvimento paralelo do balbucio oral e do balbuciomanual. Os bebs surdos e os bebs ouvintes apresentam os dois tipos de balbucioat um determinado estgio e desenvolvem o balbucio da sua modalidade. por issoque os estudos afirmavam que as crianas surdas balbuciavam (oralmente) at umdeterminado perodo. As vocalizaes so interrompidas nos bebs surdos assimcomo as produes manuais so interrompidas nos bebs ouvintes, pois o inputfavorece o desenvolvimento de um dos modos de balbuciar.

    As semelhanas encontradas na sistematizao das duas formas de balbuciarsugerem haver no ser humano uma capacidade lingstica que sustenta a aquisioda linguagem independente da modalidade da lngua: oral-auditiva ou espao-visual.

    Estgio de um Sinal

    O estgio de um sinal inicia por volta dos 12 meses da criana surda e percorre umperodo at por volta dos 2 anos. Karnopp (1994) cita estudos que apontam o incio doestgio de um sinal por volta dos 6 meses em bebs surdos filhos de pais surdosadquirindo lngua de sinais. Por outro lado, sabe-se que os estudos de crianasadquirindo lnguas orais iniciam esse perodo por volta dos 12 meses. Lillo-Martin(1986) observa que as razes apontadas por esses estudos para explicar tal diferenacronolgica baseia-se no desenvolvimento dos mecanismos fsicos (mos e tratovocal). Entretanto, Petitto (1987) argumenta que a criana simplesmente produzgestos que diferem dos sinais produzidos por volta dos 14 meses, analisando essa

    produo gestual como parte do balbucio, perodo pr-lingstico. As primeirasprodues na Lngua de Sinais Americana - ASL incluem as formas chamadascongeladas da produo adulta. So sinais que no so flexionveis, tipo MOTHERna ASL. Quando um sinal apresenta flexes no padro adulto, a criana usa formasmorfofonmicas.

    Petitto & Bellugi (1988) observaram que as crianas surdas com menos de 2 anosno fazem uso dos dispositivos indicativos da ASL. Os dispositivos indicativosenvolvem o sistema pronominal das lnguas de sinais. As crianas omitiam essasindicaes at quando imitavam seus pais. Petitto (1987) e Bellugi & Klima (1989)analisaram a descontinuidade no uso da indicao (apontao) nas crianas surdas.

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    As crianas surdas com menos de 1 ano, assim como as crianas ouvintes, apontamfreqentemente para indicar objetos e pessoas. Mas quando a criana entra noestgio de um sinal, o uso da apontao desaparece. Petitto (1987) sugere que nesseperodo parece ocorrer uma reorganizao bsica em que a criana muda o conceitoda apontao inicialmente gestual (pr-lingstica) para visualiz-la como elemento dosistema gramatical da lngua de sinais (lingstico).

    Estgios das Primeiras Combinaes

    Surgem as primeiras combinaes de sinais por volta dos 2 anos das crianassurdas. Fischer (1973) e Hoffmeister (1978) observaram que a ordem usada pelascrianas surdas durante esse estgio SV, VO ou, ainda, num perodo subseqente,SVO. Meier (1980) verificou que a ordem das palavras utilizada para oestabelecimento das relaes gramaticais.

    Meier (1980) observou que, assim como o Japons e o Croata, nem todos osverbos da ASL podem ser flexionados para marcar as relaes gramaticais em umasentena. H alguns tipos de verbos que apresentam limitaes lexicais e fonolgicas

    para incorporar os pronomes como, por exemplo, os verbos ancorados no corpo,como GOSTAR e PENSAR na LIBRAS. Isso sugere que as crianas surdas devemadquirir duas estratgias para marcar as relaes gramaticais: a incorporao dosindicadores e a ordem das palavras. A incorporao dos indicadores envolve aconcordncia verbal, e essa depende diretamente da aquisio do sistemapronominal.

    No estgio em discusso, as crianas comeam a usar o sistema pronominal, masde forma inconsistente. Os estudos realizados por Bellugi & Klima (1979) detectaramque o padro de aquisio das crianas surdas bastante prximo ao das crianasouvintes. Eles, a princpio, consideravam que seria mais fcil para as crianas surdas

    a aquisio do sistema pronominal.. Os resultados foram surpreendentes. Ospronomes EU e TU na ASL so identificados atravs da indicao propriamente dita, asi mesmo e ao outro, respectivamente. Parece bvio que uma criana aprendesseessa regra rapidamente e a usasse sem cometer erros. Mas o que acontece , naverdade, diferente.

    Assim como na aquisio do Ingls por crianas ouvintes, a aquisio na ASLdesses pronomes apresenta as mesmas caractersticas conforme mencionam osestudos de Petitto (1986, 1987). Petitto (1986) observou que nesse perodo ocorrem'erros' de reverso pronominal, assim como ocorrem com crianas ouvintes. Ascrianas usam a apontao direcionada ao receptor para referirem-se a si mesmas. A

    princpio, causa uma certa surpresa constatar esse tipo de erro nas crianas surdasdevido aparentetransparncia entre a forma de apontao e o seu significado. Essetipo de erro e a evitao do uso dos pronomes so fenmenos diretamenterelacionados com o processo de aquisio da linguagem.

    Petitto descarta a hiptese de mudana de perspectiva, pois, no caso das lnguasde sinais, se essa hiptese fosse verdadeira, as crianas deveriam apresentar errosna perspectiva de todos os sinais. Para Petitto, a criana usa o sinal 'YOU como umitem congelado, no ditico, no recproco e que refere somente a ela.

    Petitto (1987) concluiu que, apesar da aparente relao entre forma e significado daapontao, a compreenso dos pronomes no bvia para a criana dentro do

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    sistema lingstico da ASL. A aparente transparncia da apontao anulada diantedas mltiplas funes lingsticas que apresenta. Se as crianas no entenderem arelao indicativa entre a forma apontada e o seu referente, a plurificao daapontao pode tornar-se uma dificuldade na aquisio dos mecanismos gramaticais.

    Esse estudo nos revela evidncias da descontinuidade da transio dos fatores pr-lingsticos aos lingsticos. Petitto afirma que aspectos da estrutura lingstica e dasua aquisio, parecem envolver conhecimentos especficos da linguagem. Elaconclui que, apesar da relao entre a forma e o smbolo, a apontao e seusignificado, a compreenso das funes da apontao dos pronomes no bviapara a criana dentro do sistema lingstico da ASL. A idia de que a gesticulaopode funcionar lingisticamente to forte, que anula a transparncia indicativa daapontao.

    As semelhanas na aquisio do sistema pronominal entre crianas ouvintes esurdas, sugerem um processo universal de aquisio de pronomes, apesar dadiferena radical na modalidade.

    Hoffmeister (1978) observou que a apontao envolve o sistema pronominal, osistema dos determinadores e modificadores, o sistema de pluralizao e a

    modulao do sistema verbal. No estgio das primeiras combinaes, Hoffmeisterobservou que os objetos so nomeados e referidos somente em situaes do contextoimediato.

    Na LIBRAS, Quadros (1995) observou algumas combinaes de sinais,normalmente envolvendo dois a trs sinais . F omitiu o sujeito de referentes presentessomente quando esse era bvio (presente no contexto do discurso), mas normalmentepronunciou o sujeito. No foi observada a omisso do objeto nesse perodo.Certamente a razo de terem aparecido sujeitos, mas no objetos nulos, estrelacionada ao uso sinttico do espao que ainda no observado, nesse perodo, deforma consistente. Deve-se ressaltar que F no estabeleceu a terceira pessoa em (1b)

    em um ponto do espao. Tal referncia foi interpretada como terceira pessoamediante o contexto e no mediante a utilizao de recursos sintticos. Nos doiscasos o verbo no foi flexionado; portanto, pode-se sugerir que F usa apenas formascongeladas, pois IR um verbo com concordncia na LIBRAS e F usou-osem flexion-lo.

    (1) F (2:4)

    a. AULA iIR. '(Eu) vou aula'.

    b. TRS kBRINCAR AQUI.

    '(Eles) trs brincam aqui'. Exemplos como os ilustrados em (2) mostram que F j usa o sistema pronominalcom referentes presentes de forma adequada.

    (2) a. EU iSAIR. TCHAU! 'Eu estou saindo. Tchau!'

    b. ELEk OLHAR ELEk. 'Elei olhou para elej'.

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    4. Estgio de Mltiplas Combinaes

    Em torno dos 2 anos e meio a 3 anos, as crianas surdas apresentam a chamada exploso dovocabulrio. Lillo-Martin (1986) cita que nesse perodo comeam a ocorrer distines derivacionais(por exemplo, a diferenciao entre CADEIRA e SENTAR). As crianas comeam a usar formasidiossincrticas para diferenciar nomes e verbos. O domnio completo dos recursos morfolgicos dalngua totalmente adquirido por volta dos 5 anos.

    Segundo Bellugi & Klima (1989), a criana surda ainda no usa os pronomesidentificados espacialmente para referir-se s pessoas e aos objetos que no estejamfisicamente presentes. Ela usa substantivos no associados com pontos no espao.Mesmo quando a criana apresenta algumas tentativas de identificao de pontos noespao, ela apresenta falhas de correspondncia entre a pessoa e o ponto espacial.Com referentes presentes no discurso j h o uso consistente do sistema pronominale inclusive indicaes espaciais (indicaes ostensivas).

    Dos 3 anos em diante, as crianas comeam a usar o sistema pronominal comreferentes no presentes no contexto do discurso, mas ainda apresentam erros.Algumas crianas empilhamos referentes no presentes em um nico ponto do

    espao. Petitto & Bellugi (1988) observaram que, de 3 anos a 3 anos e meio, ascrianas usam a concordncia verbal com referentes presentes. Entretanto, elasflexionam alguns verbos cuja flexo no aceita nas lnguas de sinais. Bellugi & Klima(1990) identificam essa flexo generalizada dos verbos nesse perodo comosupergeneralizaes, considerando esse fenmeno anlogo a generalizaesverbais como 'fazi', 'gosti' e sabo nas lnguas orais. Meier (1980) detectou esse usosupergeneralizado observando que, nesse perodo, as crianas usam os verbos comopertencentes a uma nica classe verbal na ASL, a classe dos verbos comconcordncia, chamada por ele de verbos direcionais (figura 19).

    A figura 1 ilustra trs supergeneralizaes feitas pela criana. A primeira, com o

    verbo SPELL, a segunda, com o verbo LIKE e a ltima, com o verbo LIKE; em todosos exemplos foi ilustrada a forma usada pela criana e a forma usada pela me.Esses trs verbos pertencem classe dos no flexionados na ASL. A crianadirecionou os verbos incorporando o objeto das sentenas.

    Segundo Bellugi, Lillo-Martin, O'Grady & vanHoek (1990), por volta dos 4 anos aconcordncia verbal ainda no utilizada corretamente. Quando as crianas deixamde empilhar os referentes em um nico ponto, elas estabelecem mais de um ponto noespao mas de forma inconsistente, pois no estabelecem associaes entre o local ea referncia, dificultando a concordncia verbal. entre 5 e 6 anos que as crianasutilizam os verbos flexionados de forma adequada.

    FIGURA 1: Supergeneralizaes na ASL

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    *SPELL[X:to me]/SPELL *SAY[X: to you]/SAY

    *LIKE[X: to it]/LIKE( Bellugi, vanHoek, Lillo-Martin & O'Grady, 1990:139)

    Observe que nos dois exemplos a criana est flexionando os verbos que noapresentam essa possibilidade na ASL, sendo indicada a agramaticalidade atravs doasterisco. As formas usadas pela me so consideradas gramaticais. Exemplos comoesses podem ser observados na aquisio da LIBRAS.

    Loew (1980) analisou o desenvolvimento da referncia em crianas surdas filhas depais surdos entre 3:1 a 4:6 de idade. A autora apresenta uma sntese da qual foramselecionados os itens sobre indexao (uso pronominal da apontao e aconcordncia verbal) e a estruturao espacial (envolve o estabelecimento de loc) queso apresentados no quadro 1.

    Lillo-Martin (1986) discute alguns efeitos da modalidade espacial no processo deaquisio. Questiona-se a iconicidade das lnguas de sinais. De fato, alguns sinais eprocessos na ASL tm motivao icnica, apresentando alguma relao entre forma esignificado, entre o referente e o referenciado. Lillo-Martin, ao considerar essadiscusso, analisa a seguinte questo: a modalidade de alguma forma facilita aaquisio da linguagem? Os estudos indicam que, apesar de haver uma aparenteiconicidade nas lnguas de sinais, a aquisio do sistema pronominal e a concordnciaverbal so considerados de aquisio tardia, o que ilustrado pelos estudosmencionados at o presente momento. Lillo-Martin cita a concluso de Meier (1981), oqual diz que a modalidade no facilita a aquisio do sistema da concordncia verbal.

    Assim, considerando o input natural que as crianas surdas analisadas nessaspesquisas apresentam, a aquisio da ASL parece seguir um curso lingisticamentesimilar ao desenvolvimento das lnguas orais.

    QUADRO I: Aquisio da indexao e da estruturao espacial na ASL

    PERODOS I (3:1-3:4) II (3:6-3:11) IlI (4:0-4:4) IV (4:6-4:9)

    Indexao

    - infreqente; usoincorreto das formasde citao; no hevidncias de

    identidade dos loc.Uso daconcordncia verbalcom referentespresentes.

    - pouca consistnciano uso da indexao;s vezes um loc

    usado parareferncia de umnico referentedurante o discurso.

    - uso de mltiplosloc; h o uso daconcordncia

    verbal, masevidenciam-seinconsistncias comos locestabelecidos.

    - uso normalmentefreqente econsistente. Os loc

    apresentamidentidade, emboraainda ocorramconfuses ao us-los.

    Estruturaoespacial

    - estabelecimento delocais no claro;no h evidnciasde organizaoespacial; aindexao no usada com loc.

    - estabelecimentoocasional de locais;no h evidncias deorganizaoespacial. Os locsoestabelecidos paracontrastar, mas no

    - estabelecimentode locais maisfreqentes, masainda com funocontrastiva.

    - estabelecimentofreqente de locais;uso do locde formamais consistentecom a indexao.

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    para identificar oreferente.

    Na LIBRAS, Quadros (1995) observou que por volta dos 3 anos e meio ocorre ouso de concordncia verbal com referentes presentes assim como ilustrado em (3).Com referentes no presentes, houve algumas ocorrncias mas de formainconsistente, pois o estabelecimento e a identidade do locno foram identificados deforma substancial, conforme observado nos exemplos em (4).

    (3) L (3:03) a. kPEGARk,. '(Elei) pegou (elej)'.

    b. iCONSERTARk, kQUEBRAR. '(Eu) estou consertando (elei), (elei) quebrou'.

    c. kTOMAR-BANHO kFICAR. '(Elek) continua tomando banho'.

    (4) L (3:03)

    a. CARRO kIRk, CASAk,. '(Elek) foi de carro para casa'.

    M (3:05)

    b. kDARi, PAPAIk kDARi. '(Elek) deu (para mim), o papai (elek) deu (para mim)'.

    Em (3) os locke lockforam estabelecidos em locais reais, isto , o local em queestavam os referentes no contexto do discurso foi usado para indicar os referentessem utilizar a indicao ostensiva. Dessa forma, observou-se que o uso da

    concordncia verbal est presente, omitindo-se o sujeito e/ou objeto da sentena. Em(3a) tanto o sujeito como o objeto so nulos.

    Em (4a), o sujeito nulo no identificado. Nesse tipo de exemplo, a identidade podeser recuperada contextualmente. Talvez L estivessse se referindo a sua professora,mas no se pode afirmar isso, pois o locno foi previamente estabelecido,confundindo a identificao do referente. Em (b) a identidade do loccomo papai ficabvia somente porque M a pronunciou aps sua ocorrncia; e a identidade do locdeprimeira pessoa adequadamente identificada, pois envolve o local real de M, aprimeira pessoa do discurso, um referente presente. Os exemplos ilustrados em (3) e(4) foram coletados em conversas espontneas das crianas.

    Por volta dos 5 anos e meio a 6 anos e meio, a concordncia verbal usada deforma consistente pelas crianas adquirindo a LIBRAS. O uso de sujeitos e objetosnulos torna-se comum nesse perodo. Tambm observam-se alguns exemplos comverbos da classe dos verbos com concordncia com sujeitos pronunciados. Isso foiobservado quando as crianas queriam tornar mais clara a identificao da identidadedo loc, assim como ocorre na linguagem adulta. Foram selecionados alguns exemplosem (5) que ilustram o pronome pronunciado e a sua omisso durante o discurso.

    (5) G (5:11)

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    a. EUi ANDAR-EM-DIREO-AO-CARRO-E-O-CARRO-NA-MINHA-DIREO.iBATERk CARROkQUASE. Eui PARAR, iTRAVAR QUASE iBATERk. 'Eu andeiem direo ao carro e o carro na minha direo. (Eu) quase bati nocarro. Eu parei,(eu) travei, (eu) quase bati (nele)'.

    b. ELEk, k,PESCARk,, PEIXEk,,. k,PESCARk,, MAIS DOIS. k,PESCARk,,MUITOS. 'Eleipescou um peixe. (Elei) pescou mais dois (delesj). (Elei) pescou muitos(delesj)'.

    Em (5a) a sentena foi retirada de uma conversa espontnea em que era relatadoum fato j ocorrido. Observou-se o estabelecimento do locabstrato para 'carro', pois'carro' um referente no presente no discurso. O exemplo (5b) foi retirado de umrelato de uma das histrias. A criana recontava a histria sem o auxlio do livro parareferir-se utilizando as figuras como referentes presentes; assim, foram estabelecidoslocpara o menino e para os peixes, k e k, respectivamente. A criana introduziuesses locprimeiro com os nominais e depois utilizou os lock e k na concordnciaverbal. Nesse exemplo o uso do recurso de omitir sujeitos e objetos foi empregado deforma consistente e adequada.

    No relato de histrias, usualmente as crianas usam as figuras como locais reaisdos referentes; isso tambm observado nas narraes dos adultos, conformemencionado anteriormente.

    O estabelecimento de loccom referentes no presentes no relato das histrias sfoi observado no ltimo perodo. Foi solicitado a G que recontasse a histria sem olharo livro. Observou-se que houve o estabelecimento abstrato de locde forma bastanteconsistente. Em (6a) apresenta-se uma sentena em que G utilizou os loccom osreferentes presentes. Em (6b) h uma sentena em que G utiliza locestabelecidoscom referentes ausentes do contexto do discurso. As duas sentenas produzidas

    referem-se mesma histria. (6) G (5:11)

    a. RATOk PEQUENO kPEGARk,. ELA BRABA kPEGARk,k,, . ELESk,k,,MEDO. 'O ratoipequeno (elei) pegou (elej). Ela ficou braba pois (elei) pegou (elesjy).Elesjytm medo'.

    b. GATOk, MEDO RATOk. RATOkPEGARk,. RATO PEGAR DOIS GATOk,,

    CACHORROk,,. RATO PEGARk,k,,. k,k,,FUGIR. MENINA OLHARk,k,,

    SURPRESA RATO PEQUENO.

    'O gato tem medo do rato. O rato pega (elej). O rato pega os dois: o gato e ocachorro. Orato pega (elesjy). Eles fogem. A menina olha (para elesjy) e fica surpresa porque orato pequeno'.

    Observa-se em (6) que, quando se trata de referentes ausentes do discurso, huma necessidade bem maior de definir claramente esses referentes no espao paraque no haja problemas na identificao dos loc. Essa necessidade devidamente

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    observada por G. G introduziu os locde forma adequada, no deixando dvidas naidentificao dos loc, e omitiu os sujeitos e objetos quando esses podiam seradequadamente recuperados pelo receptor.

    5. Algumas Concluses

    Bellugi & Petitto (1988) ao analisar as descobertas na aquisio da linguagem,concluram que o conhecimento do uso lingstico do espao em ASL que umacriana deve ter, necessariamente, inclui a informao quanto as diferenasgeneralizadas do local de sinalizao; o estabelecimento explcito dos nominais empontos espaciais diferentes; a identificao do local espacial de forma consciente; e, autilizao do local espacial em frases e no discurso de maneira contrastante. Ascrianas parecem adquirir esse conhecimento por volta dos sete anos, quandoatingem a maturidade sobre o sistema referencial da sintaxe.

    Elas finalizam a anlise afirmando que os dados sugerem que a criana surda denascena, com acesso a uma lngua espao-visual proporcionada por pais surdos,desenvolver uma linguagem sem qualquer deficincia . Alm disso, os dados

    apresentados sugerem que os fundamentos da linguagem no esto baseados naforma do sinal, mas sim, na funo lingstica que a serve.

    Todos os estudos mencionados sobre a aquisio da lngua de sinais por crianassurdas concluram que esse processo ocorre em perodo anlogo aquisio decrianas ouvintes.

    Bellugi et alli (1990) apresentam algumas pesquisas que contribuem para educaode surdos e para compreenso do desenvolvimento da linguagem. Um deles foi feitocom crianas surdas filhas de pais ouvintes, cujo o nico meio de comunicaodisponvel era o Ingls Sinalizado (sistema artificial que usa sinais da ASL na ordem

    do Ingls, sistema equivalente ao Portugus Sinalizado no Brasil). Esse estudoinvestigou o uso do espao pela criana. Foi verificado que as crianas,individualmente, transformavam os conhecimentos que tinham do Ingls Sinalizadoquando elas sinalizavam entre si mesmas, tornando essa sinalizao maisespecializada. Essa descoberta indica que a modalidade da lngua apresenta efeitosna forma da lngua. Outro estudo realizado com surdos adultos que adquiriram alngua de sinais em diferentes fases da vida, uns filhos de pais ouvintes, outros filhosde pais surdos apresentou resultados que sugerem que, realmente existe um perodoadequado para o aprendizado da lngua. Ou seja, a aquisio da linguagem muitomelhor quando realizada o mais precocemente possvel.

    Considerando o estudo de Quadros (1995) com crianas surdas filhas de paissurdos sinalizadores da LIBRAS, pode-se sugerir que os dados analisados na ASL emrelao a sintaxe espacial apresentam uma analogia com os dados analisados naLIBRAS. Diante disso, sugere-se que o processo de aquisio desses aspectosobservados envolva aspectos universais.

    Vale mencionar o trabalho apresentado por Rodrigues (1993). O autor apresentauma reflexo sobre a lngua de sinais e sua aquisio por crianas surdas. Ele faz suaanlise de um ponto de vista biolgico e chega as seguintes concluses:

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    a) se a lngua de sinais organizada no crebro da mesma forma que as lnguasorais (conforme vem sendo demonstrado atravs de pesquisas), ento as lnguas desinais so lnguas naturais;

    b) se as lnguas de sinais so lnguas naturais, ento seu aprendizado tem perodocrtico (perodo ideal para a aquisio da linguagem, aps esse perodo a aquisio deficiente e, dependendo do caso, impossvel);

    c) se as lnguas de sinais tm perodo crtico, ento as crianas surdas esto

    iniciando tarde o seu aprendizado; e

    d) se a natureza compensa parcialmente a falta de audio, aumentando acapacidade visual dos surdos (conforme pesquisas realizadas h uma competioentre os estmulos acsticos e visuais), ento est sendo ignorada a maior habilidadedos surdos quando lhes imposta uma lngua oral, ao invs da lngua de sinais.

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    Introduo Gramtica da LIBRASTANYA A. FELIPE

    Professora Titular da UPECoordenadora do grupo de pesquisa da FENEIS

    1. O Universal nas Lnguas

    Pesquisas sobre as lnguas de sinais vm mostrando que estas lnguas so comparveis emcomplexidade e expressividade a quaisquer lnguas orais. Estas lnguas expressam idias sutis,complexas e abstratas. Os seus usurios podem discutir filosofia, literatura ou poltica, alm deesportes, trabalho, moda e utiliz-la com funo esttica para fazer poesias, estrias, teatro e humor.

    Como toda lngua, as lnguas de sinais aumentam seus vocabulrios com novossinais introduzidos pelas comunidades surdas em resposta mudanas culturais etecnolgicas.

    As lnguas de sinais no so universal, cada lngua de sinais tem sua prpriaestrutura gramatical Assim, como as pessoas ouvintes em pases diferentes falam

    diferentes lnguas, tambm as pessoas surdas por toda parte do mundo, que estoinseridos em Culturas Surdas, possuem suas prprias lnguas, existindo portantomuitas lnguas de sinais diferentes, como: Lngua de Sinais Francesa, Chilena,Portuguesa, Americana, Argentina, Venezuelana, Peruana, Portuguesa, Inglesa,Italiana, Japonesa, Chinesa, Uruguaia, Russa, Urubus-Kaapor, citando apenasalgumas. Estas lnguas so diferentes uma das outras e independem das lnguasorais-auditivas utilizadas nesses e em outros pases, por exemplo: o Brasil e Portugalpossuem a mesma lngua oficial, o portugus, mas as lnguas de sinais destes pasesso diferentes, o mesmo acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra, entre outros.Tambm pode acontecer que uma mesma lngua de sinais seja utilizada por doispases, como o caso da lngua de sinais americana que usada pelos surdos dos

    Estados Unidos e do Canad. Embora, surdos de pases com lnguas de sinais diferentes comunicam-se maisrapidamente uns com os outros, fato que no ocorre entre falantes de lnguas orais,que necessitam de um tempo bem maior para um entendimento. Isso se deve capacidade que as pessoas surdas tm em desenvolver e aproveitar gestos epantomimas para a comunicao e estarem atentos as expresses faciais e corporaisdas pessoas.A Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) a lngua de sinais utilizada pelos surdos quevivem em cidades do Brasil onde existem comunidades surdas, mas alm dela, hregistros de uma outra lngua de sinais que utilizada pelos ndios Urubus-Kaapor naFloresta Amaznica.

    A LIBRAS, como toda lngua de sinais, uma lngua de modalidade gestual-visualporque utiliza, como canal ou meio de comunicao, movimentos gestuais eexpresses faciais que so percebidos pela viso; portanto, diferencia da LnguaPortuguesa, que uma lngua de modalidade oral-auditiva por utilizar, como canal oumeio de comunicao, sons articulados que so percebidos pelos ouvidos. Mas asdiferenas no esto somente na utilizao de canais diferentes, esto tambm nasestruturas gramaticais de cada lngua.Embora com as diferenas peculiares a cada lngua, todas as lnguas possuemalgumas semelhanas que a identificam como lngua e no linguagem como, por

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    exemplo, a linguagem das abelhas, dos golfinhos, dos macacos, enfim, acomunicao dos animais.

    Uma semelhana entre as lnguas que todas so estruturadas a partir deunidades mnimas que formam unidades mais complexas, ou seja, todas possuem osseguintes nveis lingsticos: o fonolgico, o morfolgico, o sinttico, o semntico e opragmtico.

    No nvel fonolgico, as lnguas so formadas de fonemas. Os fonemas s tm valor

    contrastivo, no tm significado mas, a partir das regras de cada lngua, se combinampara formar os morfemas e estes as palavras.

    Na lngua portuguesa, os fonemas I m I I n I I s I I a I I e I I i I podem se combinar eformar a palavra I meninas I.

    No nvel morfolgico, esta palavra formada pelos morfemas {menin-} {-a} {-s}.Diferentemente dos fonemas, cada um destes morfemas tem um significado: {menin-} o radical desta palavra e significa criana, o morfema {-a} significa gnerofeminino e o morfema {-s} significa plural.

    No nvel sinttico, esta palavra pode se combinar com outras para formar a frase,que precisa ter um sentido em coerncia com o significado das palavras em umcontexto, o que corresponde aos nveis semntico (significado) e pragmtico (sentidono contexto: onde est sendo usada) respectivamente.Outra semelhana entre as lnguas que os usurios de qualquer lngua podemexpressar seus pensamentos diferentemente por isso uma pessoa que fala umadeterminada lngua a utiliza de acordo com o contexto: o modo de se falar com umamigo no igual ao de se falar com uma pessoa estranha. Isso o que se chama deregistro. Quando se aprende uma lngua est aprendendo tambm a utiliz-la a partirdo contexto.Outra semelhana tambm que todas as lnguas possuem diferenas quanto ao seuuso em relao regio, ao grupo social, faixa etria e ao sexo. O ensino oficial deuma lngua sempre trabalha com a norma culta, a norma padro, que utilizada naforma escrita e falada e sempre toma alguma regio e um grupo social como padro.

    Ao se atribuir s lnguas de sinais o status de lngua porque elas, embora sendode modalidade diferente, possuem tambm estas caractersticas em relao sdiferenas regionais, scio-culturais, entre outras, e em relao s suas estruturasque tambm so compostas pelos nveis descritos acima.

    2. O Sinal e seus Parmetros

    O que denominado de palavra ou item lexical nas lnguas orais-auditivas, so denominados sinaisnas lnguas de sinais.

    O sinal formado a partir da combinao do movimento das mos com umdeterminado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte docorpo ou um espao em frente ao corpo. Estas articulaes das mos, que podem sercomparadas aos fonemas e s vezes aos morfemas, so chamadas de parmetros,portanto, nas lnguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parmetros:

    1. configurao das mos: so formas das mos, que podem ser da datilologia(alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mo predominante (mo direita para os

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    destros), ou pelas duas mos do emissor ou sinalizador. Os sinais APRENDER,LARANJA e ADORAR tm a mesma configurao de mo;

    2. ponto de articulao: o lugar onde incide a mo predominante configurada,podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espao neutro vertical (domeio do corpo at cabea) e horizontal ( frente do emissor). Os sinaisTRABALHAR, BRINCAR, CONSERTAR so feitos no espao neutro e os sinaisESQUECER, APRENDER e PENSAR so feitos na testa;

    3. movimento: os sinais podem ter um movimento ou no. Os sinais citados acimatem movimento, com exceo de PENSAR que, como os sinais AJOELHAR, EM-P,no tem movimento;

    4. orientao: os sinais podem ter uma direo e a inverso desta pode significaridia de oposio, contrrio ou concordncia nmero-pessoal, como os sinaisQUERER E QUERER-NO; IR e VIR;

    5. Expresso facial e/ou corporal: muitos sinais, alm dos quatro parmetrosmencionados acima, em sua configurao tem como trao diferenciador tambm aexpresso facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e TRISTE. H sinais feitos

    somente com a bochecha como LADRO, ATO-SEXUAL. Na combinao destes quatro parmetros, ou cinco, tem-se o sinal. Falar com asmos , portanto, combinar estes elementos que formam as palavras e estas formamas frases em um contexto.

    Para conversar, em qualquer lngua, no basta conhecer as palavras, precisoaprender as regras de combinao destas palavras em frases.

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    3. Sistema de Transcrio para a LIBRAS

    As lnguas de sinais tem caractersticas prprias e por isso vem sendo utilizado mais o vdeo para suareproduo distncia. Existem sistemas de convenes para escrev-las, mas como geralmente elesexigem um perodo de estudo para serem aprendidos, neste livro, estamos utilizando um "Sistema denotao em palavras".

    Este sistema, que vem sendo adotado por pesquisadores de lnguas de sinais em

    outros pases e aqui no Brasil, tem este nome porque as palavras de uma lngua oral-auditiva so utilizadas para representar aproximadamente os sinais.

    Assim, a LIBRAS ser representada a partir das seguintes convenes:

    1. Os sinais da LIBRAS, para efeito de simplificao, sero representados por itenslexicais da Lngua Portuguesa (LP) em letras maisculas. Exemplos: CASA,ESTUDAR, CRIANA, etc;

    2. um sinal, que traduzido por duas ou mais palavras em lngua portuguesa, serrepresentado pelas palavras correspondentes separadas por hfen. Exemplos:CORTAR-COM-FACA, QUERER-NO "no querer", MEIO-DIA, AINDA-NO, etc;

    3. um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que ser representado porduas ou mais palavras, mas com a idia de uma nica coisa, sero separados pelosmbolo ^ . Exemplos: CAVALO^LISTRA zebra;

    4. a datilologia ( alfabeto manual), que usada para expressar nome de pessoas,de localidades e outras palavras que no possuem um sinal, est representada pelapalavra separada, letra por letra por hfen. Exemplos:

    J-O--O, A-N-E-S-T-E-S-I-A;

    5. o sinal soletrado, ou seja, uma palavra da lngua portuguesa que, por emprstimo

    , passou a pertencer LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto manual com umaincorporao de movimento prprio desta lngua, est sendo representado peladatilologia do sinal em itlico. Exemplos: R-S reais, A-C-H-O, QUM quem, N-U-N-C-A, etc;

    6. na LIBRAS no h desinncias para gneros (masculino e feminino) e nmero(plural), o sinal, representado por palavra da lngua portuguesa que possui estasmarcas, est terminado com o smbolo @ para reforar a idia de ausncia e nohaver confuso. Exemplos: AMIG@ amiga(s) e amigo(s) , FRI@ fria(s) e frio(s),MUIT@ muita(s) e muito(s), TOD@, toda(s) e todo(s), EL@ ela(s), ele(s), ME@minha(s) e meu(s) etc;

    7. Os traos no-manuais: expresses facial e corporal, que so feitossimultaneamente com um sinal, esto representados acima do sinal ao qual estacrescentando alguma idia, que pode ser em relao ao:

    a) tipo de frase ou advrbio de modo: interrogativa ou... i ... negativa ou ... neg ... etc

    Para simplificao, sero utilizados, para a representao de frases nas formasexclamativas e interrogativas, os sinais de pontuao utilizados na escrita das lnguasorais-auditivas, ou seja: !, ? e ?!

    b) advrbio de modo ou um intensificador: muito rapidamente exp.f "espantado"etc;

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    interrogativa exclamativo muito Exemplos: NOME ADMIRAR LONGE

    8. os verbos que possuem concordncia de gnero (pessoa, coisa, animal), atravsde classificadores, esto representados tipo de classificador em subescrito. Exemplos:pessoaANDAR, veculoANDAR, coisa-arredondadaCOLOCAR, etc;

    9. os verbos que possuem concordncia de lugar ou nmero-pessoal, atravs do

    movimento direcionado, esto representados pela palavra correspondente com umaletra em subscrito que indicar:

    a) a varivel para o lugar: i = ponto prximo 1a pessoa, j = ponto prximo 2a pessoa, e k' = pontos prximos 3a pessoas, e = esquerda, d = direita;

    b) as pessoas gramaticais: 1s, 2s, 3s = 1a, 2a e 3apessoas do singular;

    1d, 2d, 3d = 1a, 2a e 3apessoas do dual;

    1p, 2p, 3p = 1

    a

    , 2

    a

    e 3

    a

    pessoas do plural; Exemplos: 1sDAR2S "eu dou para "voc",

    2sPERGUNTAR3P "voc pergunta para eles/elas",

    kdANDARk,e "andar da direita (d) para esquerda (e).

    10. s vezes h uma marca de plural pela repetio do sinal. Esta marca serrepresentada por uma cruz no lado direto acima do sinal que est sendo repetido:

    Exemplo