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Saber Humano, ISSN 2446-6298, V. 7, n. 10, p. 105-125, jul./dez. 2017.
LIDERANÇA NA PERCEPÇÃO DOS ACADÊMICOS
DE ADMINISTRAÇÃO SOB A ÓPTICA DO
MÉTODO DE EVOCAÇÃO DE PALAVRAS
Leila Regina de Oliveira Batista1
Alexandre Novicki2
Giovane Lemos3
Resumo: Este artigo aborda a liderança como um tema que gera interesse
tanto no meio acadêmico quanto empresarial, considerando o contexto de
mudança no qual as organizações deparam-se hodiernamente, o que faz
com que necessitem contar com bons líderes em seu quadro funcional. A
liderança produtiva gera bons resultados às empresas e, consequentemente,
crescimento a todos os envolvidos. O alcance das metas estabelecidas pela
empresa depende da influência do líder sobre os seus liderados. Esse
processo passa por várias etapas e todas elas são resultantes de uma
liderança efetiva. Com base nessas premissas, o objetivo do texto é
entender, por meio de estudo bibliográfico e empírico, como a liderança
surge e como é percebida pelas pessoas. O método de abordagem é
dedutivo e a pesquisa é de natureza quanti-qualitativa, através da aplicação
de questionamentos considerados pertinentes à prática da gestão
impulsionados pelo método de evocação de palavras em que o entrevistado
não tem muito tempo para pensar nas respostas. Os resultados obtidos na
pesquisa, realizada com acadêmicos do Curso de Administração do
Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo – IESA, os quais
foram convidados a listar cinco termos que, imediatamente, remetem-nos à
expressão liderança aponta a verificação por meio da frequência e da ordem
das palavras, o tipo de percepção que os futuros gestores têm a respeito do
tema, ou seja, que os acadêmicos de Administração valorizam o líder e
entendem a sua importância para a organização como um todo, mostrando,
assim, o que eles esperam de seus líderes e também como eles podem
liderar no futuro.
Palavras-chave: Liderança; Organização; Evocação de palavras;
Representações sociais.
1 Mestre em Desenvolvimento Organizacional; Especialista em Docência para o
Ensino Superior; Docente do Curso de Administração CNEC/IESA – Santo
Ângelo. <[email protected]>. (55)84098885. 2 Mestre em Ensino de Física; Especialista em Docência para o Ensino Superior;
Licenciado em Matemática e em Física; Professor do IESA.
<[email protected]>. 3 Graduado em Administração CNEC/IESA – Santo Ângelo. <giovane-
Saber Humano, ISSN 2446-6298, V. 7, n. 10, p. 105-125, jul./dez. 2017.
Leadership in the perception of academics of administration under the optics of the words evocation method
Abstract: This article addresses leadership as a topic that generates interest
in both academia and business, considering the context of change in which
organizations are faced today, which makes them need to have good leaders
in their staff. Productive leadership produces good results for companies
and, consequently, growth for all involved. The achievement of the goals
established by the company depends on the influence of the leader over his
or her people. This process goes through several stages and all of them are
the result of effective leadership. Based on these premises, the purpose of
the text is to understand, through a bibliographical and empirical study,
how leadership emerges and how it is perceived by people. The method of
approach is deductive and the research is of quantitative-qualitative nature,
through the application of questions considered pertinent to the practice of
management driven by the method of evocation of words in which the
interviewee does not have much time to think about the answers. The
results obtained in the research, carried out with academics of the
Administration Course of the Cençista Institute of Higher Education of
Santo Ângelo - IESA, who were invited to list five terms that immediately
refer to the expression leadership indicates the verification through the
frequency And the order of words, the type of perception that future
managers have about the subject, that is, that the management academics
value the leader and understand their importance to the organization as a
whole, thus showing what they Expect from their leaders and also how they
can lead in the future.
Keywords: Leadership; Organization; Evocation of words; Social
representations.
Resúmen: Esto artículo se centra en una cuestión de liderazgo como algo
que causa interés tanto en el medio académico como en el contexto de
cambio, en que lãs organizaciones se encontran en el dia de hoy. El
liderazgo productivo genera resultados buenos para empresas y,
consecuentemente, crecimiento a todas las personas que se envuelven. El
alcance de las metas establecidas por la empresa depende de la influencia
del líder acerca de sus subordinados. Esto proceso ha sido muy productivo
para todas las personas. Con base en esas ideas, su objectivo es entender,
por medio de estudio bibliográfico y empírico, como una vanguardia se
presenta y como se percibe por las personas. El método de la exploración es
deducible y la investigación de la naturaleza cuantitativa-cualitativa, por la
aplicación del cuestionamiento de los factores pertinentes a la práctica de la
gestión impulsionados por el método de evocación de palabras en la que se
entrevistó. Los resultados obtenidos en la búsqueda, que se hizo en las
graduaciones de Enseñanza Superior de Santo Ângelo - IESA, las palabras,
el tipo de percepción de los futuros gestores tienen un respeto por el tema, o
sea que los alumnos de Administración valorizan el liderazgo y el
entendimiento de su importancia para una organización como un todo,
además, como ellos pueden liderar en el futuro.
Palabras clave: Liderazgo; Organización, Evocación de palavras;
Representaciones sociales.
Saber Humano, ISSN 2446-6298, V. 7, n. 10, p. 105-125, jul./dez. 2017.
1 INTRODUÇÃO
O tema liderança vem sendo objeto de inúmeros estudos realizados no campo
empresarial e acadêmico com pesquisas de cunho organizacional. Ao longo do tempo,
vem se percebendo a importância do papel do líder no contexto corporativo, haja vista
as inúmeras transformações ocorridas na esfera concorrencial do mercado. As empresas
precisam contar com líderes fortes para garantir a evolução e a estabilidade do negócio
de maneira que tanto organização quanto colaborador possa evoluir profissionalmente.
O líder pode usufruir de determinadas ferramentas de gestão para guiar os seus
liderados, permitindo, assim, crescimento exponencial de suas habilidades. Com base
nas afirmações anteriores, discutir o assunto liderança faz-se necessário.
As organizações buscam na liderança uma base eficaz para a compreensão de
sua missão, bem como a sua definição de maneira clara e visível aos liderados. À
liderança compete orientar, controlar, analisar, dirigir e influenciar pessoas em direção a
um objetivo comum. Logo, pode ser compreendida como um caminho a ser percorrido e
que, normalmente, não tem fim. Durante essa caminhada, o líder constrói a sabedoria de
relacionar-se com as pessoas, conduzindo-as ao alcance das metas e a busca dos
objetivos propostos. Liderar pode ser visto como uma arte que poucos sabem fazer com
excelência. Verdadeiros líderes têm o desejo de ser líder e a capacidade de inspirar as
pessoas a tornarem-se referências naquilo que fazem. Desenvolver competências e
habilidades gerenciais junto aos membros de uma organização é perfeitamente possível,
o difícil é gostar e querer liderar uma equipe (Maximiano, 2011).
Em volta dessa temática, há o questionamento sobre como o líder nasce, é
percebido como tal e quais as principais habilidades que o diferem. Algumas teorias
entendem que a liderança é um dom nato, outras defendem que é um perfil que pode ser
desenvolvido ao longo do tempo. Certo é que liderar não é o mesmo que administrar.
Há também que se discutir a respeito da representação social do líder. A teoria
das representações sociais, introduzida por Moscovici, em 1961, refere-se a “um
conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso
de comunicações interpessoais” (Vergara, 2006, p. 243).
A partir desse contexto, o objetivo do trabalho é entender, por meio de estudo
bibliográfico e empírico, como a liderança surge e como é percebida pelas pessoas. Para
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atingir esse propósito, utiliza-se o método de abordagem dedutivo e a pesquisa de
natureza quantitativa e qualitativa, através de um questionamento sobre como os
acadêmicos percebem a liderança e o papel do líder em um contexto geral, uma vez que
as turmas de Administração integram alunos oriundos de diversos segmentos
organizacionais, modificando, assim, as suas percepções a respeito de como uma boa
liderança deve agir.
Para tanto, foi realizada pesquisa teórica, buscando, a princípio, conhecer o
tratamento dado ao tema por Spector (2010), Gil (2009) e Chanlat (1990), entre outros
autores. Segue-se a pesquisa empírica, com acadêmicos dos oito semestres do Curso de
Administração do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo – IESA,
utilizando-se a expressão “liderança” e o método de evocação de palavras.
O presente artigo divide-se em cinco momentos: esta introdução, que apresenta
o tema, a sua justificativa e o objetivo. No segundo momento, o referencial aborda
liderança, focalizando estilos de liderança, ferramentas de suporte ao líder e o papel da
liderança no século XXI. Na sequência, são apresentados a metodologia, os resultados e
as discussões, e, por fim, as conclusões, destacando as limitações encontradas e as
sugestões para novas pesquisas.
2 LIDERANÇA
O que se entende por liderança? Conforme Vergara (2006, p. 74), liderança
traduz-se na “capacidade de exercer influência sobre as pessoas”. Essa influência dá-se
pela identificação dos subordinados com o líder, alguém que entende as suas demandas,
inspira confiança e pode ajudá-los no meio profissional ou pessoal, embora, nem
sempre, na história da Ciência da Administração se pensasse assim.
Na Grécia clássica, Platão e Aristóteles referiam-se à liderança de forma
diferente. Platão caracterizava os líderes em um Estado ideal, enquanto Aristóteles
tratava sobre a falta de virtude dos candidatos políticos do seu tempo.
Do Egito até os dias de hoje, várias teorias foram desenvolvidas a respeito do
tema liderança. Uma das teorias mais antigas é a de Maquiavel, que, em seu livro O
Príncipe, destaca as dificuldades, os riscos e os desafios para preservar a posição de
líder. Segundo ele, os lideres precisam de firmeza e da preocupação suprema de manter
o poder, a autoridade e a ordem no exercício do governo. Ainda, conforme ele, existem
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duas formas de alcançar-se esse objetivo, a primeira é utilizando a lei, o método próprio
dos homens, e a segunda é a força, o método dos animais. Já para Bass, “o líder deve ser
capaz de dominar as duas formas, pois nem sempre a lei é suficiente para a manutenção
do poder”. (Oliveira, Marinho, 2006, p. 52).
No Egito, os hieróglifos que descrevem as relações de líderes e liderados, dois
mil anos antes de Cristo, referem a três requisitos essenciais para um líder, o faraó:
autoridade, percepção e justiça (Oliveira, Marinho, 2006, p. 11). O papel de líder foi
evoluindo e chegou-se ao conceito de liderança em meados de 1904, despertando o
interesse de pesquisadores apenas na década de 20, conforme explana Jenkins:
Mais especificamente, apenas em 1904 foi que um conceito de liderança foi
criado, e apareceu em um artigo de Lewis Terman. Mas a partir dos anos de
1920 que o conceito de liderança atraiu a atenção dos pesquisadores que
buscavam a compreensão da influência de pessoas sobre comportamentos
desviantes dentro de um determinado grupo e sua influência nas instituições
militares (apud Bendassoli, Magalhães, Malvezzi, 2014, p. 413).
Segundo os referidos autores, no início do século XX, as pessoas não viam
beneficio em aplicar essa teoria no âmbito empresarial, por isso, as pesquisas nessa área
desenvolviam-se muito lentamente. Porém, nos anos 30, o envolvimento de psicólogos
na participação desse estudo ganhou força, principalmente por causa das obras de
cientistas sociais como Mead, Lewin, Homans e Bales. Essa participação foi vital para o
desenvolvimento de teorias sobre liderança organizacional e para entender o
comportamento humano, como exemplificado pelo experimento de Hawthorne.
A liderança foi, aos poucos, deixando de ser sinônimo de apenas dar ordens ou
delegar alguma tarefa, tornando-se mais complexa e motivo de estudo de diversos
pesquisadores ao longo do século XX. Em 1950, o impulso para o estudo da liderança
deu-se em função dos movimentos sindicais que acabaram culminando na divisão
territorial do estudo teórico da liderança. Essa divisão foi sentida principalmente a partir
dos anos de 1960, quando as duas linhas de pesquisa dividiram-se entre a psicológica
(influência interpessoal) e a administrativa.
Ainda de acordo com os referidos autores, nos anos 70, houve a “humanização
do trabalho”, ou seja, as organizações observaram que os líderes necessitavam de
capacidade para lidar com as forças subjetivas dos trabalhadores. Dessa década até hoje,
a liderança tem se tornado cada vez mais estudada, pois o contexto de cada momento da
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história variou não apenas na forma como as pessoas comportavam-se, mas também na
forma de lidar com comportamentos distintos, nas expectativas de cada geração.
Faz-se importante, ainda, acrescentar que a liderança não representa apenas
desenvolver uma função da melhor forma e repassá-la aos seus liderados. Convém
mencionar que a liderança não é apenas habilidades que uma pessoa tem para
desenvolver melhor algumas funções e especificá-las aos demais, Maximiano (2011, p.
280) expõe as variáveis que a justificam: as características do líder, as motivações dos
liderados, as características da missão, o ambiente organizacional e a conjuntura social,
econômica e política.
Por isso, as empresas devem proporcionar um ambiente que permita aos
funcionários a oportunidade de demonstrar a sua capacidade para liderar. Essas
oportunidades podem ser dadas através da autoridade formal ou informal.
O verdadeiro líder, porém não precisa ter um cargo que o defina como tal, pois
“autoridade formal e liderança nem sempre andam e nem precisam andar juntas. A
pessoa que ocupa uma posição de autoridade formal pode não ter liderança informal
sobre seus colaboradores e nem precisar dela” (Maximiano, 2011, p. 278). Todavia,
independente da forma que o líder age, ele precisa comunicar-se com os seus liderados.
O líder “é uma capacidade de síntese de um contexto de relações. É o centro operativo
de mais relações e funções” (Meneghetti, 1996, p. 25).
Nesse contexto, surge o conceito de comunicação, como ela ocorre e qual a sua
importância. Comunicação não é apenas dar e receber informações, mas é, sobretudo, o
entendimento dessas informações e também as suas impressões a respeito de
determinada situação. E é por meio de uma boa comunicação que um líder pode
moldar-se para atender às necessidades de sua equipe, pois só assim ele saberá o que as
pessoas a seu redor necessitam (Matos, 2009).
É a partir da comunicação que se percebe a necessidade de motivar o seu
funcionário. Como ser humano, ele está sujeito a várias situações que tiram o foco do
trabalho. Mas, o que é motivação? É o resultado de um desejo e o comportamento para
atingir tal desejo. O papel do líder é usar uma boa comunicação para descobrir qual é o
desejo que move o seu funcionário e prover as ferramentas para que ele possa alcançá-
lo.
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O líder deve utilizar uma boa comunicação para inserir-se em uma cultura e
poder compreendê-la, pois cultura nada mais é que:
Um fenômeno dinâmico que nos cerca em todas as horas, sendo
constantemente desempenhada e criada por nossas interações com outros e
moldada por comportamentos de liderança, é um conjunto de estruturas,
rotinas, regras e normas que orientam e restringem o comportamento (Schein,
2009, p. 3).
Para o líder, a comunicação é fundamental. Quando inserido em um grupo, ele
precisa entender de forma clara todos os fatores que formam a cultura, para que ele
possa entender como o grupo trabalha em sua própria dinâmica e, assim, tomar as
melhores decisões possíveis. Para poder lidar com essas variáveis todas, o líder precisa
variar o seu modo de agir, dependendo da organização e do grupo no qual está inserido,
por isso, ao longo da história, foram desenvolvidas várias teorias a respeito do
comportamento do líder (Schein, 2009).
O líder “é um estimulador de inteligência e de dialética [...] no seu fazer, agir,
resolver, ele tem também a possibilidade prática, factiva, concreta do fazer criativo”
(Meneghetti, 1996, p. 24 e 27).
A partir da evolução histórica, pesquisadores começaram a perguntar-se: qual é a
maneira mais efetiva de liderar? Surgiram, assim, os estilos de liderança.
2.1 ESTILOS DE LIDERANÇA
O gestor de pessoas deve atuar em diversas funções, entre elas, a de líder e,
como tal, deve visualizar-se um colaborador e não um chefe. Deve adotar o perfil
daquele que detém poder de persuasão e empatia, sem que haja a necessidade de
recorrer ao controle e à coesão como mecanismos para o alcance dos objetivos. Deve
estar de acordo com as políticas, os objetivos e a missão da organização, sem descuidar-
se do valor humano que cada um de seus liderados possui (Gil, 2009).
O referido autor afirma que liderar é um processo complexo, por isso, os seus
estudos dividem-se em diferentes abordagens, sendo que três são as mais discutidas:
“uma que dá ênfase aos traços, outra aos comportamentos do líder e uma terceira
defende que as condições a qual o líder deve tomar a decisão variam de acordo com a
situação” (2009, p. 220).
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A Teoria dos Traços apresenta a premissa de que um líder possui um traço físico
ou de personalidade que o distingue como líder. Para Cecília Bergamini, referenciada
por Jayr Oliveira e Robson Marinho, pesquisadores dessa corrente, apontam três traços
responsáveis pelas qualidades de um líder: “primeiro os traços físicos como aparência,
altura, peso; em seguida, os traços mentais como inteligência, habilidade verbal e
escolaridade; e, por fim, os traços psicológicos como extroversão, autoconfiança,
sociabilidade e controle emocional”. É uma teoria que defende que as pessoas nascem
com características para líder ou liderado. Em 1948, Ralph Stogdill encontrou
resultados inconsistentes e contraditórios à Teoria dos Traços, concluindo que “apenas
os traços não definem um líder”. (2006, p. 12).
Ainda, segundo o enfoque psicológico, a escola behaviorista mudou a
abordagem da personalidade para o comportamento do líder, dando origem aos três
tipos básicos de liderança (autocrático, democrático e laissez-faire). A Abordagem do
Comportamento refere-se ao comportamento de um líder, o qual pode ser aprendido
através do treinamento (Chemers, 1995).
A partir disso, começou-se a pensar não apenas no líder, mas como ele lidava
com o mundo a sua volta. Surgiram as Teorias Situacionais que se concentram no
comportamento do líder, enfrentando diferentes tipos de situações. A Abordagem
Situacional diz respeito ao uso de cada tipo da liderança, de acordo com a situação que
se apresenta na organização, se ele é favorável ou desfavorável. Outras teorias foram
também verificadas, a exemplo das Teorias Transacionais, que “estudam o intercâmbio
de influência entre líderes e liderados”, e das Abordagens Cognitivas, que afirmam que
“a eficácia do líder irá depender do ponto de vista de cada um de seus liderados”
(Oliveira, Marinho, 2006, p. 12).
Todas essas teorias baseiam-se em uma forma de liderança formal, ou seja,
dependem da posição de quem está liderando, mas isso nem sempre caracteriza
liderança. “Autoridade formal e liderança nem sempre andam e nem precisam andar
juntas. A pessoa que ocupa uma posição de autoridade formal pode não ter liderança
informal sobre seus colaboradores e nem precisar dela” (Maximiano, 2011, p. 278).
Um exemplo são os chamados “benfeitores da humanidade”, como Abraão
Lincoln, Winston Churchill e Mikhail Gorbatchev, líderes políticos que garantiram a
união de suas nações em tempos de crise. Esses líderes ilustram o que se chama de
liderança formal. Eles utilizaram a sua posição para poder liderar. O mesmo pode-se
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afirmar de outro grupo de pessoas que utilizou o poder para cometer atrocidades como
Adolf Hitler, Sadam Hussein e Augusto Pinochet.
Mas existe outro tipo de líder, o líder moral, ele não tem uma posição que lhe
permita uma liderança fácil e garantida. Esses líderes, geralmente, têm influência e
autoridade sobre um determinado grupo, independente de sua posição, assim como
Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e Nelson Mandela. Essas três figuras de
autoridade utilizaram o seu carisma, a sua influência e as suas crenças para mover
multidões para os seus objetivos: Gandhi para libertação da Índia contra o domínio
britânico, de forma pacífica; Madre Teresa construiu um império de caridade e
assistência social para os pobres e sofredores; e Mandela lutou contra a opressão racista
do Apartheid na África do Sul (Oliveira, Marinho, 2006, p.20).
É possível notar que grande parte dos autores corrobora que uma das
prerrogativas do líder é a influência em relação aos seus liderados, mas o que é essa
influência? É o poder de persuasão, que nada mais é do que fazer com que o seu grupo
aceite as suas ideias por livre e espontânea vontade, é convencê-los a respeito de uma
ideia em particular, através de argumentos convincentes e certo toque de carisma em
relação a seus liderados.
Em 1959, French e Raven desenvolveram a teoria das Bases do Poder que
consiste em cinco bases que caracterizam a influência e o poder interpessoal. São elas:
Experiência: baseada no conhecimento e na perícia que o superior tem;
Referência: à medida que os subordinados gostam ou se identificam com o
superior;
Legitimidade: o poder inerente ao titulo do superior;
Recompensa: a habilidade do superior de recompensar o subordinado, seja de
forma financeira ou não;
Coerção: a habilidade de o superior de punir os subordinados por falhar ou
por comportamentos inapropriados. (Spector, 2010, p. 495).
Lacombe (2011), por sua vez, apresenta características mais atuais ao papel de
líder, como, por exemplo, confiança em si, crença no que faz, visão clara de onde quer
chegar, capacidade de comunicação e reconhecimento de méritos.
Essas características e teorias não são facilmente aplicadas. Mesmo que elas
sejam universais, o ambiente de trabalho não o é. Há regras, pessoas e climas diferentes,
e o mais importante é que os líderes são diferentes. Um exemplo disso são as mulheres
que vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado de trabalho, mais especificamente
em cargos de gerência.
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Mas por que elas são diferentes se o cargo é semelhante ao do homem? Simples,
existem muitas pessoas (em determinadas áreas de atuação) que não aceitam facilmente
mulheres no comando, pois não conseguem identificar-se com elas em posição mais
elevada na empresa ou acham que elas simplesmente não conseguirão lidar com as
ocupações do cargo e isso, geralmente, põe ainda mais pressão no líder, nesse caso, a
mulher.
Essa ideia é contraposta por Michel Perreault, em sua publicação A
diferenciação sexual no trabalho: condições de trabalho diferentes ou uma questão de
sexo? Nesse sentido, escreve Jean François Chanlat:
As mulheres não são constituídas para efetuar trabalhos nos quais a força
muscular desempenha um papel importante; elas não devem se entregar a
ocupações que exigem um esforço prolongado. Ao contrário, elas se
distinguem pela sua coragem, movimentos rápidos e precisos. A mulher é por
outro lado econômica, previdente por natureza e mesmo gananciosa; um
pequeno ganho suplementar basta por vezes para fazê-la trabalhar acima de
suas forças. (1990, p. 65).
Em síntese, os autores concordam que a mulher é mais indicada para os
trabalhos de gerência/liderança, pois elas possuem características profissionais que as
distinguem dos homens, tornando-as excelentes líderes, independente do local onde
exercem a liderança. Porém, todo e qualquer líder, independente do gênero, necessitará
de ferramentas que o auxiliem em seu trabalho. Essas ferramentas devem ser conhecidas
para serem aplicadas.
2.2 FERRAMENTAS DE SUPORTE AO LÍDER
O líder atua em várias esferas. Como ele faz isso? A maioria das pessoas entende
que o líder restringe-se a delegar tarefas ou dar ordens, mas esse cenário vem mudando
ao longo dos anos. Com as mudanças, surgiram as ferramentas de liderança, as quais
auxiliam o líder no seu trabalho. As mais complexas são o coaching e o empowerment,
porém, quando aplicadas da forma correta, elas tornam-se poderosas ferramentas de
gestão.
O conceito de coaching é utilizado para “desenvolver o funcionário”, seja
através de treinamento ou de feedback para que ele possa melhorar no ambiente de
trabalho, ele também deve auxiliar em qualquer dúvida que o colaborador tenha a
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respeito do trabalho. A consultora norte-americana Florence Stone exemplifica bem o
trabalho de um coach.
Ela afirma que lidar convenientemente com os problemas normais das pessoas
no trabalho talvez não exija mais que dez por cento do tempo do gerente. Mas, apagar
os “incêndios” que são ateados na organização quando esses problemas não são
convenientemente tratados talvez tome cinquenta por cento do seu tempo.
Esses “incêndios” são entendidos como problemas de comunicação entre
gerentes e funcionários, indecisão sobre como fazer o trabalho, erros no trabalho, ou
seja, questões rotineiras, mas que possuem um grande impacto no dia a dia da
organização.
Empowerment é “dar poder” ao funcionário para que ele tenha certo nível de
autonomia para que a tarefa seja executada na forma adequada. Esse poder deve ser
adicional ao que ele já tem. Um exemplo vem da empresa de aviação TAM, na qual
uma simples telefonista pode resolver problemas que, em suas concorrentes, dependeria
da aprovação da alta direção.
Outra ferramenta que pode ser utilizada é o mentoring, isto é, ser o mentor de
um funcionário. Diferencia do coaching no sentido que o mentoring foca em formar
novos líderes, enquanto o coaching dedica-se à vida profissional de todos. O maior
problema desse tipo de ferramenta é que o líder, na maioria das vezes, escolhe alguém
que se identifique com ele e, sem ignorar os demais, auxilia no desenvolvimento de
apenas um funcionário.
Em suma, um líder pode utilizar diversas ferramentas para ser bem-sucedido
dentro da organização. Mas, essas ferramentas não são de fácil aplicação, dependem do
empenho na aplicação. Além disso, o líder deve estar engajado, os colaboradores
também devem, pois todas as ferramentas dependem de alto nível de maturidade por
parte dos colaboradores. Cabe ao líder disseminar essas práticas no contexto atual das
organizações.
2.3 O PAPEL DA LIDERANÇA NO SÉCULO XXI
A partir da segunda metade dos anos 90, certos problemas de saúde relacionados
com o trato psicológico dos trabalhadores foram se tornando cada vez mais comuns e
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esse cenário obrigou as pessoas em cargos de liderança/gerência a buscar o amparo de
profissionais da área e alternativas para solucionar esses problemas (Fiorelli, 2011).
Cabe ao gestor detectar esses distúrbios e ao psicólogo, tratá-los. Uma vez que
sinais foram identificados, o gestor deve entendê-los e trabalhar nas suas causas. Essas
patologias afetam o sujeito na vida pessoal, no trabalho e na carreira. O papel do gestor
é conhecer como funciona o raciocínio do seu funcionário para poder liderá-lo. (Fiorelli,
2011).
Segundo o referido autor, o administrador deve preocupar-se em manter a saúde
mental de seus funcionários, porque distúrbios físicos ou psicológicos na equipe geram
custos à empresa: “redução da produtividade, conflitos com colegas ou superiores,
aumento no custo de vida, gastos com a saúde, medicamentos e consultas médicas”
(2011, p. 261-262).
Para detectar esses sintomas, o líder deve entender como o funcionário pensa e o
que ele sente, levar em consideração fatores como personalidade, pensamentos e
crenças. Cada colaborador é uma individualidade, portanto, um ser único, diferente. “O
gestor dentro de uma organização é um líder e, sobretudo, mediador da atuação,
participação e envolvimento”. É fundamental que possua virtudes: “iniciativa,
determinação, escuta, abertura para sugestões”, para uma liderança rica de significações
(Oliveira, Passos, 2013, p. 36).
Essas significações são subjetivas e estão relacionadas à forma como se
interpretam as situações do dia a dia e a esse processo dá-se o nome de representação
social, que Moskovici entende como “um conhecimento prático, que dá sentido a
eventos anormais, forja as evidências da realidade consensual e ajuda a construção
social da realidade” (Sêga, 2000, p. 128).
Esse fenômeno, na Administração, é a representação de como as pessoas
entendem a liderança de perspectivas distintas: uma pessoa que lidera uma equipe de
produção precisará de conhecimentos distintos de alguém que lidera uma equipe do
setor de vendas.
Essa representação percebida pelos alunos do curso de Administração do IESA
evidencia, no geral, o que eles entendem como um líder ideal no contexto de suas
respectivas organizações. Esse entendimento é fundamental, pois reflete o que o futuro
gestor espera de uma liderança e que tipo de liderança ele poderá adotar no futuro.
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3 METODOLOGIA
A presente pesquisa busca responder ao seguinte questionamento: qual a
percepção de liderança para os acadêmicos de Administração do IESA? Para tanto,
utiliza-se o método de abordagem dedutivo, porque considera que a conclusão está
impressa nas premissas.
A pesquisa é de natureza quantitativa e qualitativa, desenvolvida através do
método de evocação de palavras.
O método de evocação de palavras consiste em um método de aquisição de
dados pelo qual o pesquisador solicita aos entrevistados um determinado número de
expressões que imediatamente vem-lhes à lembrança a partir de uma determinada
palavra denominada expressão indutora.
Para tanto, inicialmente, foi realizada pesquisa teórica, buscando conhecer o
tratamento dado ao tema por Spencer (2010), Gil (2009) e Chanlat (1990), entre outros
autores.
Na pesquisa empírica, aplicada com 136 acadêmicos do Curso de Administração
do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo – IESA, utilizou-se a palavra
“liderança” como expressão indutora, a partir da qual os acadêmicos respondentes
foram convidados a listar cinco palavras que, em suas percepções, remetiam ao termo.
O teste de evocação foi aplicado entre alunos de todos os períodos do Curso de
Administração sob a supervisão dos professores da Instituição. Os dados obtidos foram
listados, e de forma classificatória, em categorias semânticas e aproximações, sendo
que, a forma como aparecem na lista, recebe um grau de importância. Essa classificação
permitiu computar o número de vezes que um termo era citado e a sua classificação
individual, permitindo uma hierarquização de importância dada pelo inconsciente do
entrevistado.
Para a análise dos dados, utilizou-se o método de tratamento de dados proposto
por Pierre Vergès (2001), combinando a frequência de evocação de palavras e a ordem
em que essas palavras são evocadas. Com isso, foi possível calcular a Ordem Média de
Evocação. Entretanto, sugere-se que essa pesquisa seja realizada com acadêmicos de
outras instituições, para que se obtenha uma percepção mais ampla sobre o tema.
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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Contabilizado um total de 517 termos relacionados à liderança, para fins dessa
análise, são apresentados, na tabela 1, os 10 termos mais citados, tornando-se os demais
irrelevantes.
Tabela 1 – Tabela de Frequências
Categorias
Freq.
1º
Freq.
2º
Freq.
3º
Freq.
4º
Freq.
5º
Σ das Freq.
de
Evocação
Ordem
Média
de
Evocação
Motivação
Atitude
Equipe
Confiança
Foco
Comunicador
Responsabilidade
Liderar
Determinação
Organizado
15
7
4
7
1
2
3
9
5
3
10
2
4
1
2
7
7
4
5
5
8
7
4
4
7
2
4
4
3
4
8
10
10
5
8
7
4
0
2
1
8
3
3
5
4
3
1
0
2
1
46
29
25
22
22
21
19
17
17
14
2,85
3
3,16
2,95
3,55
3,1
2,63
1,71
2,47
2,43
Média de
Frequência
=
23,2
Média
ordem
de
Evocação =
2,8
Fonte: Autores – adaptada de Vergara (2006).
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Como é possível visualizar na tabela 1, dos 136 acadêmicos que responderam à
pesquisa, 46 mencionaram a palavra motivação como relacionada ao líder, porém,
destes, apenas 15 entendem que motivação é a primeira coisa que o líder deve
considerar e assim sucessivamente.
Para calcular a Ordem Média de evocação, foi utilizada a seguinte fórmula:
(freq. 1° x 1) + ( freq. 2° x 2) + (freq. 3° x 3) + (freq. 4° x 4) + (freq. 5° x 5)
Soma das Frequências
Para exemplificar esse cálculo de forma prática, utilizando a média de
frequência e a média de ordem de evocação, foi possível classificar as palavras por
importância e relevância (Tabela 2), evidenciando, por meio do gráfico de Importância
de Termos Evocados, a Média de Frequência (23,2) e a Média de Ordem de Evocação
(2,8).
Tabela 2 – Tabela de Relevância
RELEVANTE
POUCO
RELEVANTE
Valores > 23,2
Valores <
23,2
IMPORTANTE Motivação Confiança
Valores > 2,8 Atitude Foco
Equipe Comunicador
POUCO IMPORTANTE Responsabilidade Liderar
Valores < 2,8 Determinação
Organizado
Fonte: Autores – Adaptada de Vergara (2006).
A tabela 2 apresenta o mesmo método de criação de uma matriz BCG,
colocando os maiores valores no canto superior esquerdo e os mais baixos, no inferior
direito; sendo interpretada por quadrantes em que o Primeiro Quadrante é o superior
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esquerdo, o Segundo Quadrante é o superior direito, o Terceiro Quadrante é o inferior
esquerdo e o Quarto Quadrante é o inferior direito.
Os valores atribuídos à importância são referentes à média de ordem de
evocação e os valores da relevância são referentes à média de frequência, de forma que
a tabela 2 pôde ser montada, utilizando os valores da tabela 1 para palavras evocadas de
forma individual. Por isso, é possível visualizar que, no Primeiro Quadrante,
encontram-se os termos com a maior média de evocação, em outras palavras, são termos
que boa parte dos entrevistados evocaram, mostrando que, na perspectiva deles, esses
três termos (Motivação, Atitude e Equipe) são os mais importantes e relevantes para um
bom líder.
Já no Segundo Quadrante, é possível ver palavras que são classificadas com uma
relevância menor, mas com o mesmo grau de importância, ou seja, são características
que um líder precisa desenvolver, mas não em detrimento de outras características ou
atividades. O Terceiro Quadrante é o extremo oposto do Segundo, as características são
relevantes, porém pouco importantes. Expresso isso, é possível interpretar que, embora
essas características sejam importantes, elas devem ser trabalhadas de forma que o líder
já possa pô-las em prática e não um processo como as demais, de forma que são
características mais voltadas à ação prática em uma atividade do que com pessoas, em
resumo, são características que o líder já deve ter desenvolvido antes de liderar, pois são
inerentes a sua posição como líder.
Por fim, o Quarto Quadrante mostra o termo menos relevante e menos
importante. Nesse contexto, apenas a palavra “liderar” enquadra-se nesse bloco, a sua
ordem média de evocação foi a menor de todas, resultado facilmente interpretado, pois
mostra que os acadêmicos de administração não veem liderar como algo fácil ou
simples de ser realizado, pelo contrário, demonstra que, mesmo estando na graduação,
eles entendem a respeito da temática e estão à procura de aprender mais sobre esse
processo.
Posto isso, é possível também entender que os acadêmicos de Administração
veem o líder nas organizações como alguém que deve ter características “internas e
externas”. Característica interna é algo que ele deve desenvolver em si mesmo para que
possa lidar com o trabalho e as pressões do dia a dia. As características externas são
percebidas como as formas de relacionar-se ou interagir com a equipe que está sob a
sua liderança.
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As categorias internas estão relacionadas ao comportamento próprio do líder,
isto é, de ser autoconsciente de seus pontos fortes e fracos e saber trabalhá-los. São
etapas do processo de liderança que lidam fortemente com o emocional e com o
psicológico de cada um. Algumas dessas características citadas na pesquisa estão
representadas na figura 1.
Figura 1 – Características internas do líder
Fonte: Autores.
Embora essas palavras representem parte das funções de um líder, elas devem
ser, primeiro, trabalhadas em si próprio para, então, trabalhar no grande grupo. Como
visto na figura 1, é possível perceber que, entre todas as palavras que se referem a
características internas, as que tiveram uma maior frequência são motivação, atitude,
confiança, foco e determinação. Para essas, dar-se-á ênfase, a partir daqui, por meio de
conceitos e parâmetros relacionais, à teoria verificada neste estudo.
Já na categoria externa, são visualizados os comportamentos que o líder deve
ter/desenvolver ao longo do tempo e dar exemplo sobre como devem ser executados
para que o grupo tenha um modelo a seguir. Não precisa ser algo revolucionário, mas
precisa ser algo com o qual o grupo identifique-se (Figura 2).
Figura 2 – Características externas do líder
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Fonte: Autores.
O gráfico na figura 2 mostra características que um líder deve ter na parte
prática, pois elas são as que auxiliarão na execução de suas tarefas e determinarão a
eficiência como as suas atividades serão executadas.
Todos esses comportamentos são necessários ao bom funcionamento da equipe,
pois o líder precisa saber trabalhar em conjunto, ter boa habilidade de comunicação, ser
responsável, entender como os seus liderados pensam para, então, ser capaz de tomar as
melhores decisões possíveis e ser organizado não apenas na parte prática, mas possuir
um processo lógico de tomada de decisão, para que as pessoas possam entender o
motivo de tais decisões.
Também foi possível perceber, ao longo do levantamento dos dados, que os
conceitos de liderar e liderança evoluem conforme os acadêmicos vão sendo
apresentados a diferentes conceitos e teorias. No primeiro ano, eles atêm-se a conceitos
básicos como os quatro pilares da Administração, pois a sua maior fonte de
conhecimento a respeito do tema é limitada a experiências nos grupos informais,
formados no ensino médio ou nos grupos formais no local de trabalho.
Já no último ano, eles trazem conceitos mais complexos como
empreendedorismo, cooperação, empatia e vários outros, uma vez que, ao longo do
curso, eles são constantemente apresentados a diversas teorias e métodos de gestão,
ampliando e polindo aqueles conceitos que eles detinham previamente.
A maior limitação do método de evocação de palavras para um profundo
entendimento dos resultados é a necessária aplicação de um questionário ou entrevista
para dar contexto às palavras. Mas, como a palavra indutora traz diversos termos e é,
por definição, ampla, tanto o questionário quanto a entrevista tornam-se inviáveis, pois
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a amostragem utiliza acadêmicos de Administração oriundos de diversos setores
empresariais (comércio, indústria, ramo hospitalar, serviço público), o que faz com que
o contexto pesquisado torne-se amplo demais para a utilização dos procedimentos
citados anteriormente.
Mas, se aplicado a um contexto mais delimitado (como a palavra motivação em
específico), o questionário ou a entrevista tornam-se cruciais para auxiliar o método,
uma vez que o pesquisador precisará entender as motivações por trás de cada resposta.
Assim, conclui-se que liderar não é apenas ser amigo do funcionário, é também
ser rigoroso, amigo, professor e chefe.
5 CONCLUSÕES
Por meio do desenvolvimento deste artigo, foi possível verificar que os
acadêmicos do Curso de Administração do IESA possuem uma visão ampla a respeito
do que eles entendem pela expressão liderança.
O estudo empírico mostra a amplitude de percepções dos acadêmicos, o que é
positivo, pois, demonstra uma visão alinhada aos conceitos de liderança analisados no
curso, mesmo os acadêmicos estando atuando em diferentes segmentos organizacionais,
sabem a sua representatividade. Todas as palavras evocadas pelos respondentes
remetem e estão ligadas à expressão indutora. Essa situação evidencia que o acadêmico
tem consciência do papel do líder dentro da organização, desde o processo
comportamental e psicológico até a parte instrumental das competências do líder.
Os resultados apontam que os acadêmicos esperam que os seus futuros líderes
ajudem-lhes a desenvolver não apenas as suas competências, mas também as suas
carreiras, pois, como futuros gestores de Administração, eles estão entrando no mundo
organizacional e, muitas vezes, sentem-se inseguros.
O estudo bibliográfico também permitiu verificar como o conceito de ser um
bom líder varia de acordo com a época, destacando a influência da liderança dentro de
distintas sociedades, períodos políticos e econômicos.
Também foi possível compreender que independentemente da forma como o
líder surge, se ele nasce líder ou se ele torna-se líder, ele deve sempre procurar ser o
mais flexível possível, não apenas para fazer bem o seu trabalho, mas por que, no
mundo atual, onde mudanças são constantes, ele precisa ser capaz de adaptar-se aos
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diferentes cenários econômicos e sociais, para garantir que os seus liderados
permaneçam produtivos, seja do ponto de vista técnico ou psicológico.
Sugere-se novos estudos comparativos abordando o tema, com acadêmicos de
Administração de duas ou três universidades, por tratar-se de um tema amplo, esta
pesquisa serve como impulsionadora, já que cada um dos termos encontrados na
pesquisa poderia ser desenvolvido com um maior aprofundamento, permitindo, assim,
que as ideias, aqui apresentadas, fossem reavaliadas sob uma nova óptica.
Posto isso, é aconselhável à utilização dessa metodologia para ampliar os
conhecimentos a respeito de liderança, porém com um enfoque em uma determinada
área, como setores de mercado a exemplo da indústria ou comércio, ou para áreas
internas dentro de uma empresa, como vendas, produção, administrativo, para que os
resultados possam ser conclusivos.
Conclui-se pela constatação da validade da pesquisa para alcançar o objetivo
proposto, demonstrando a percepção dos acadêmicos do Curso de Administração do
IESA a respeito da temática liderança.
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