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Ligação Química
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UFSC – Departamento de Química
Prof. Marcos Aires de Brito
QMC 3111 – Química Inorgânica Avançada
A ligação Química do ponto de vista da Química Quântica Temos como objetivo que você possa comparar o enfoque da ligação química,
via simetria molecular apresentado em QMC 3111, com o enfoque quântico. Leia este
arquivo, se for necessário releia-o, acompanhe o desenvolvimento matemático
apresentado, para você poder comparar os dois enfoques e assim passar a ter uma
visão mais geral da ligação química. Inicialmente faremos uma revisão quanto ao
Princípio de Pauli, pois este é um princípio central em Química Quântica.
1- Introdução
Átomos Multieletrônicos e o Princípio de Pauli
Wolfgang Pauli, físico austríaco, postulou que dois elétrons não podem ter o
mesmo conjunto de números quânticos (Z. Physik, v. 31, p. 765, 1925). Nesse artigo W.
Pauli analisa, considerando o efeito Zeeman anômalo, a contribuição de Niels Bohr
(Ann. Physik, v. 71, p. 228, 1923) e de E. C. Stoner (Phil. Mag. v. 48, p. 719, 1924), para
a descrição da configuração eletrônica de átomos.
Quando a análise de um sistema com mais de um elétron é comparada com
resultados experimentais, este postulado torna-se necessário como um complemento
à equação de Schrödinger (1926), que prever apenas 3 números quânticos: n, l e ml.
Com a inclusão de ms, um orbital comporta no máximo 2 elétrons com spins contrários
e após o tratamento ondulatório relativístico, realizado por Dirac em 1928, o átomo
passou a ser descrito por quatro números quânticos, como já foi comentado. W. Pauli
recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1945 pela descoberta do princípio de exclusão.
A função de onda que atende a equação de Schrödinger para o átomo de
hidrogênio é representada pela expressão Ψnlm (r) = Rnl (r) Θlm () Φm (ф), em que se
correlacionam os 3 números quânticos n, l e ml. Dirac (1928), para atender ao princípio
2
de exclusão de Pauli (1925) que foi anterior à mecânica ondulatória, introduziu para
átomos com mais de um elétron, as coordenadas de spin como complemento a
equação de Schrödinger.
Introduzindo as coordenadas de spin e fazendo uma aproximação em desprezar
o acoplamento spin-órbita, temos Ψtotal = ΨΨspin ou Ψtotal = Ψnlm (r)Ψspin. Com este
procedimento introduz-se o quarto número quântico e assim o átomo passa a ser
descrito por 4 números quânticos: n, l, ml e ms. Quando se considera o acoplamento
spin-órbita, sendo necessário para átomos pesados, a Mecânica Quântica passa a ser
considerada relativística.
Assim como Ψ, Ψspin também apresenta propriedades de simetria. Para
simplificar a apresentação, utiliza-se uma notação em que ms = + ½ () significando
spin e ms = - ½ () significando spin . Desse modo, a teoria quântica moderna para
o átomo de hidrogênio também pode ser aplicada, através de aproximações, para
átomos multieletrônicos, como hélio e para outros átomos. Para o átomo de hélio no
estado fundamental (1s2), existem 4 possibilidades para ΨΨspin. Os números entre
parênteses se referem aos eletros 1 e 2.
( a ) (1) (2 ) Os elétrons 1 e 2 tem spin + ½
( b ) (1) (2) Os elétrons 1 e 2 tem spin – ½
( c ) (1) (2) + (2) (1) troca de elétrons entre os estados e
( d ) (1) (2) - (2) (1) troca de elétrons entre os estados e
Observe nas possibilidades (c) e (d) que os elétrons foram trocados, entre os
estados e , e foram feitas combinações lineares. Considerando o princípio exclusão
de Pauli, que não permite 2 ou mais elétrons com o mesmo conjunto dos 4 números
quânticos, as possibilidades (a) e (b) ficam descartadas.
3
Realizando a troca de elétrons, pois de acordo com o princípio de incerteza não
podemos distinguir elétrons para a função (c), obtemos a função (cx) = (2) (1) +
(1) (2), ou seja, (c) e (cx) são simétricas quanto à troca de elétrons. Por outro lado,
realizando a troca de elétrons na função (d), obtemos a função (dx) = (2) (1) - (1)
(2). Comparando as duas funções, (d) = - (dx), portanto a função (d) é considerada
antissimétrica para a troca de elétrons. Portanto, através de combinações lineares de
funções de onda, chega-se a uma combinação simétrica e outra antissimétrica.
A combinação linear de funções também é utilizada pela teoria de orbitais
moleculares, para a descrição aproximada das ligações química em moléculas. Essa
teoria pode ter um enfoque matemático-quântico ou pode ser apresentada utilizando-
se (como fazemos em QMC 3111) a teoria de grupo aplicada a Química, em que são
feitas combinações lineares de orbitais atômicos de mesma simetria, para gerar os
orbitais moleculares.
Átomos Multieletrônicos e a Equação de Schrödinger
Pelo princípio exclusão de Pauli elétrons são indistinguíveis, podendo ser
trocados e assim torna-se impossível uma solução exata da equação de Schrödinger
para átomos multieletrônicos ou moléculas, devido à repulsão intereletrônica,
devendo-se tentar soluções aproximadas. Soluções aproximadas da equação de
Schrödinger indicam a energia de um estado particular, por exemplo, para o estado
fundamental ou para os estados excitados, em um átomo multieletrônicos como um
todo, ou uma molécula, mas não para um elétron específico.
Uma opção de aproximação é utilizar uma função de onda do tipo orbitais
atômicos do hidrogênio. O átomo de hélio(Z =2) consiste de um núcleo, de carga +2e e
dois elétrons. Por uma questão de conveniências didáticas esses elétrons serão
numerados como 1 e 2, mas lembre-se que “elétrons são indistinguíveis”.
Considerando as distâncias de cada elétron ao núcleo (r1 e r2) e a distância
4
intereletrônica (r12), conforme a seguinte Figura, é conveniente utilizar o sistema de
coordenadas esféricas polares.
_
_
x
y
z
r1
r2
r12
Representação das coordenadas no átomo de hélio.
Considerando o átomo de hélio devem-se levar em consideração os seguintes
termos para o operador Hamiltoniano: i) a energia cinética (Ec) de cada elétron; ii) a
energia potenciais (V), de atração de cada elétron pelo núcleo; iii) a repulsão
intereletrônica.
Ĥ = Ec - atração + repulsão
Ĥ = - ½ [2(1) + 2(2)]} – 2/r1 – 2/r2 + 1/ r12
Onde,
zyx
zyx
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1
2
2
1
2
2
1
2
2
1
Portanto, EVmm
rrr 1221
2
2
2
2
1
2
,,22
Para o operador Laplaciano, em coordenadas esféricas polares, i se refere ao
elétron 1 ou ao elétron 2, conforme a seguinte expressão:
5
2
2
222
2
2
2 111
iiii
i
iii
i
ii
i
senrrrr
rrsen
seni
Para se tentar uma primeira aproximação para a energia do estado
fundamental (E0), desprezamos o termo de repulsão intereletrônica (+/r12) = último
termo na expressão do Hamiltoniano. Neste caso o Hamiltoniano se transforma em Ĥ0
= ½ (12 + 2
2) - Z/r1 - Z/r2.
Podemos reformular o Hamiltoniano para Ĥ0 = ĥ0(1) + ĥ0(2). Portanto, ĥ0(1)
depende apenas das coordenadas do elétron 1 e ĥ0(2) depende apenas das
coordenadas do elétron 2. Realizando a separação das variáveis, podemos utilizar =
0(1)0(2), ou seja, a função de onda para dois elétrons tem a forma de um produto
entre duas funções orbitais, onde,
0(1) = Rnl (r) Θlm () Φm (ф) (1) ĥ0(1) 0(1)= 00(1)
0(2) = Rnl (r) Θlm () Φm (ф) (1) ĥ0(2) 0(1)= 00(2)
1= - Z2 / 2 (1 / n12) e 2= - Z2 / 2 (1 / n2
2) 0 = 1 + 2 = - Z2 / 2 (1 / n12 + 1 / n2
2)
Sendo n1 = n2 = 1, para a energia do estado fundamental do átomo de hélio,
temos: He = 2 Z2 EH. A partir de EH = energia do estado fundamental do átomo de
hidrogênio (- 13,6 eV), resulta em E0 = - 108, 8 eV. Este seria o valor esperado para o
átomo de hélio, mas este valor corresponde a cerca de 4 vezes o valor experimental = -
79 eV. Portanto, a previsão, desconsiderando a repulsão intereletrônica foi péssima,
devendo ser desconsiderada.
Podemos melhorar a previsão, considerando = 0(1) + 0(2), ou seja, uma
combinação de orbitais atômicos. Considerando que cada elétron se move em um
potencial que reflete a soma da atração nuclear e a blindagem do núcleo pelo outro
elétron, foi introduzido o conceito de carga nuclear efetiva (Zef). Com esse conceito,
6
modificamos o orbital, que passa a ser expresso pela seguinte função 0 = A e-Zefr/a0.
Agora o problema se transforma em determinar Zef, de modo a refletir um melhor
valor para a energia.
No método variacional inicia-se a solução com uma função tentativa, contendo
alguns parâmetros, para se calcular e minimizar o valor da energia com respeito a
esses parâmetros. Várias tentativas podem ser feitas com uma função simples,
variando-se Zef e comparando-se o resultado do cálculo com o valor experimental. O
princípio variacional prever que “dada uma função de onda aproximada, que satisfaz
as condições de contorno (condições impostas) para se resolver o problema, o valor
esperado para as energias calculadas a partir dessa função de onda, sempre resultará
maior que o verdadeiro valor da energia para o estado fundamental”.
A teoria quântica moderna limita a previsão indicando que a solução será
aproximada, ou seja, a solução da equação de Schrödinger conterá erro. Realizando
uma série de tentativas, os pesquisadores teóricos chegaram ao valor Zef = 1.6875 (≈
1.7), como a melhor escolha possível para a carga nuclear efetiva do átomo de hélio,
indicando que um elétron sente aproximadamente 85% da carga do núcleo. Com esse
valor de Zef os cálculos indicam uma energia, 0 = - 77,5 eV, o que é um resultado
satisfatório.
A primeira energia de ionização do hélio, ou seja, a energia necessária para
remover um elétron no processo He He+ + 1e-, é igual a 24,6 eV o que corresponde
à menos que o dobro da energia de ionização do átomo de hidrogênio (+13,6 eV) e isto
confirma que existe um efeito de blindagem do núcleo. É interessante notar que a
segunda energia de ionização do hélio (He+ He2+ + 1e-) sendo igual a 54,4 eV
corresponde a exatamente 4 vezes a energia de ionização do átomo de hidrogênio.
Considerando o efeito da blindagem do núcleo (modelo Hartree ou modelo do
campo médio) e o princípio de exclusão de Pauli, chegamos à configuração eletrônica,
à tabela periódica e as propriedades periódicas dos elementos. A partir desse ponto,
podemos combinar átomos para formar moléculas, o que se constitui na base teórica
7
para o estudo da Química como uma ciência moderna. Portanto, os conceitos
estudados na teoria quântica são fundamentais para a sua formação em Química.
2 - Moléculas e a teoria quântica
Apresentaremos inicialmente alguns aspectos da teoria quântica para a ligação
química em situações simples, ficando as moléculas mais complexas para serem
tratadas de maneira qualitativa, através de aspectos de simetria molecular. Nossa
meta é que você compare os dois enfoques sobre a ligação química.
Teoria da ligação de valência
Por que átomos se combinam para formar moléculas? Seguem alguns
argumentos: Átomos se combinam, pois suas energias totais se tornam menores no
processo; A dimensão da molécula é fixada pelo arranjo de átomos em baixa energia.
O seguinte gráfico ilustra a variação da energia total (E) na molécula de hidrogênio, em
função da distância internuclear (r0).
r
r0 De
D0
E
D0 = Energia de dissociação química
De = Energia de dissociação eletrônica
De _ De = Energia vibracional do ponto zero
r0 = distância de equilíbrio internuclear
► Em pequena distância internuclear a energia é dominada pela repulsão;
► r0 (distância de equilíbrio internuclear) está relacionada com o comprimento das
ligações químicas; Não se pode afirmar que os núcleos estão fixados em r0, pois
contraria o princípio de incerteza de Heisenberg; Mesmo no estado fundamental, a
molécula vibra, portanto r0 indica a separação média entre os núcleos;
8
► As ligações químicas são tratadas em situações extremas, ou seja, como iônicas ou
como covalentes, sendo as ligações reais consideradas intermediárias, com certo
caráter iônico e covalente.
As teorias de valência são subdivididas em: i) Ligação de valência; ii) do orbital
molecular; iii) do campo ligante. Apenas as duas primeiras serão apresentadas neste
arquivo.
A teoria da ligação de valência foi inicialmente aplicada por Heitler e London
(1927) para a molécula de hidrogênio, mas depois Slater e Pauling (1931) estenderam
o modelo para moléculas mais complexas.
O método de Heitler e London para H2
Uma das principais conseqüências da química quântica foi o esclarecimento da
ligação química. A primeira análise aproximada da ligação na molécula de hidrogênio,
utilizando química quântica, foi realizada em 1927 por W. Heitler e F. London. Para
demonstrar o teste de hipóteses geniais e as considerações impostas ao sistema em
estudo (condições de contorno) e assim ser possível uma solução aproximada da
equação de Schrödinger vamos introduzir a solução dessa equação para a molécula de
H2. Conforme a representação a seguir, em que x representa os núcleos, os dois
núcleos são considerados fixos como uma condição de contorno para a solução da
equação de Schrödinger.
x
_ _
xR
ra1
r12
rb2
rb1ra2
Assim como a solução da equação de Schrödinger para o átomo de hélio (com
dois elétrons) a solução para H2 não será exata. Heitler e London utilizaram o método
da perturbação, introduzido por Heisenberg, para a solução do átomo de hélio. Nesse
9
método, para o cálculo da energia de perturbação, que está relacionada com a
interação entre os átomos (H1 - H2) deve-se tentar conhecer a “solução zero” que é a
solução que corresponde ao problema não perturbado, ou seja, implica em ausência
de interação entre os átomos. Para tanto, deve-se considerar o núcleo em posição fixa,
pois estamos interessados nas propriedades eletrônicas de H2.
ĤΨ = EΨ
Ĥ = Ĥ0 + VI
Ĥ = - ћ/2m (21 + 2
2) + V (Hamiltoniano para dois núcleos fixos)
Ĥ0 = - ћ/2m 21 – e2/ ra1 - ћ/2m 2
2 - e2/ rb2 (Hamiltoniano para R = infinito)
VI = e2 (- 1/rb1 – 1/ ra2 + 1/ r12 + 1/ R) (operador de interação)
Considerando R = , a equação pode ser separada em duas equações iguais à
solução para o átomo de hidrogênio, o que constitui uma aproximação. Se for
necessário, recorra aos livros citados como referências ao final deste arquivo, para
você relembrar a solução da equação de Schrödinger para o átomo de hidrogênio. A
solução da equação que satisfaz à “solução zero”, para R = , é Ψa(1) Ψb(2). Nesta
função o elétron 1 está ligado ao núcleo a e o elétron 2 está ligado ao núcleo b. Como
elétrons não podem ser distinguidos, outra solução seria: Ψ = Ψa(2) Ψb(1). Para uma
solução geral, devemos fazer a combinação linear das duas soluções: Ψ = Ψa(1) Ψb(2)
Ψa(2) Ψb(1). O quadrado desta função multiplicado pelo fator de normalização, que é
igual a 1/ 2(1 S), indica a distribuição de elétrons na molécula, conforme a seguinte
expressão:
Ψ2 = Ψa(1)2
Ψb(2)2 + Ψa(2)2Ψb(1)2 2Ψa(1) Ψb(2) Ψa(2) Ψb (1)
.................................................................. .....................................
Parte eletrostática (coulômbica), Energia de troca devido à interação entre os átomos.
A divisão da energia, em coulômbica e de troca, é convencional e não tem
significado físico. Considerando a energia de perturbação, ou seja, a interação entre os
10
átomos, que foi considerada através da combinação linear das funções base, resulta na
energia total (ET).
ET = E - 2E0 = (C A) / (1 S)
C = integral de Coulomb
C = e2 [-1/rb1 – 1/a2 + 1/r12 + 1/R] / Ψa(1)2Ψb(2)2dV1dV2
A= integral de troca
A = e2 [-1/rb1 – 1/a2 + 1/r12 + 1/R] / Ψa(1) Ψb(1) Ψa(2) Ψb(2) dV1dV2
S = integral de recobrimento
S = Ψa(1) Ψb(1) Ψa(2) Ψb(2) dV1dV2
Portanto, ET, C e A, são funções de R. E0 = energia para o estado fundamental
do átomo de hidrogênio e 2E0 = energia de H2, para a aproximação zero, que é igual à
soma das energias para dois átomos de hidrogênio. As integrais A e C são ambas
negativas. Para todos os valores de R a integral A, que contribui para a ligação química,
é menor em valor absoluto que a integral C e S 1. Temos, então, dois valores para a
energia na molécula H2.
E+ = (C + A) / (1 + S) 0 .................................... Estado mais estável
E- = (C - A) / (1 - S) 0 .................................... Estado menos estável
Calculando Ψ2 para a nuvem eletrônica, no estado estável (Ψ+), temos a
distribuição de densidade, que corresponde à concentração de elétrons (nuvem
eletrônica) entre os núcleos. No estado instável (Ψ-), os elétrons tendem a se mover
para fora do centro da molécula, conforme as seguintes representações. Portanto,
mesmo utilizando aproximações, o método, de Heitler e London, demonstra a atração
entre os átomos na molécula de hidrogênio e a formação da ligação covalente.
11
+ +
+++
_
H2
energia
O método de Slater e Pauling para moléculas polinucleares
Através de J. C. Slater e L. Pauling (1931), o método de Heitler e London foi
estendido para moléculas polinucleares. Slater e Pauling consideraram uma função de
onda que atende à ligação entre dois átomos, através de dois elétrons compartilhados.
Este método recebeu a denominação de aproximação ou teoria da ligação de
valência. A função Ψ+ corresponde ao estado singleto, com 2 elétrons de spins
emparelhados (observe a figura anterior), enquanto que a função Ψ- (repulsão)
apresenta dois elétrons com spins paralelos (estado tripleto), que são denominadas de
função ligante (Ψ+) e antiligante (Ψ-) respectivamente.
Como a função ligante apresenta spins paralelos, normalmente se refere a Ψ+
como representativa de ligação por par eletrônico. Slater e Pauling contribuíram para
tornar a idéia original de Lewis, sobre ligação covalente, em um conceito muito mais
preciso e desse modo, o modelo da ligação de valência é considerado uma
aproximação adequada para a descrição da ligação química. Em 1954 Linus Carl Pauling
(E.U.A), recebeu o Prêmio Nobel de Química pelos trabalhos desenvolvidos sobre a
natureza das ligações químicas.
No tratamento da molécula H2, foi considerada apenas a possibilidade de
ligação covalente, H-H, sendo descartadas as possibilidades H+- H- e H- - H+, ou seja, a
função de onda para H2 foi representada por Ψ = Ψa(1) Ψb(2) Ψa(2) Ψb(1).
Considerando a participação de estrutura iônica, devemos fazer uma correção na
função original, Ψ = a Ψat + b Ψion , em aproximação zero a Ψat = Ψ = Ψa(1) Ψb(2)
12
Ψa(2) Ψb(1). Ψion = função de onda que corresponde à contribuição iônica.
Entretanto, como H2 apresenta elevado potencial de ionização e baixa afinidade
eletrônica, seria necessária muita energia, para se admitir o caráter iônico da ligação,
ou seja, o coeficiente b a, prevalecendo o esquema covalente. Em uma análise
inicial da molecular de hidrogênio, cerca de 80% da energia de ligação corresponde a
interação de troca, 15% para a integral de Coulomb e 5% devido a estrutura iônica.
No caso de compostos polares e iônicos é necessário se considerar o termo bΨíon,
pois se torna mais efetivo que o termo aΨat.
A aproximação do orbital molecular
Na época do desenvolvimento da teoria da ligação de valência, outro
tratamento da ligação covalente foi apresentado por F. Hund e Robert S. Mulliken
(1928). Mulliken ganhou o Prêmio Nobel de Química de 1966 pelo seu trabalho
relacionado à ligação química e pela estrutura eletrônica de moléculas através da
teoria do orbital molecular. Interessado em interpretar o espectro de moléculas,
Mulliken estendeu o método utilizado na interpretação do espectro atômico, o que
resultou na aproximação do orbital molecular para a ligação covalente.
O método utiliza a combinação linear de orbitais atômicos para formar orbitais
moleculares. Conhecendo o caráter ligante e antiligante dos orbitais moleculares e a
configuração eletrônica, podemos prever a estabilidade relativa de diferentes
moléculas ou de uma molécula em diferentes estados eletrônicos. O protótipo para o
método é o íon H2+, com um elétron se movendo sob o campo de dois núcleos fixos, de
acordo com o seguinte operador Hamiltoniano.
Ĥ = - ћ/2m 2 – e2/ra – e2/rb + e2/R
Este problema é mais complicado que o problema do átomo de hidrogênio,
pois H2+ não apresenta simetria esférica. Tentando uma solução aproximada e
considerando que a atração de um elétron pelo núcleo, com duas cargas positivas é
grande e não havendo nodo no estado fundamental, mas havendo um nodo no
13
primeiro estado excitado, podemos utilizar as seguintes funções para esses estados
eletrônicos.
L = 1 / 2 (1Sa + 1Sb) ......................... Estado fundamental
A = 1 / 2 (1Sa - 1Sb)........................... Primeiro estado excitado
Para o cálculo das energias relacionadas a estas duas funções, devemos
considerar a média de um Hamiltoniano efetivo (he) para 1 elétron.
i) Para 1
E1 = b(1) he(1)1(1)dV1
= ½( 1Sa(1)he(1)1Sa(1)dV1 + 1Sb(1)he(1)1Sb(1)dV1
+ 1Sa(1)he(1)1Sb(1)dV1 + 1Sb(1)he(1)1Sa(1)dV1
Como 1Sa e 1Sb são equivalentes e he é simétrico nos dois núcleos, as duas
primeiras integrais são idênticas e também as duas últimas integrais, portanto
podemos reescrever E1 (energia para o orbital ligante).
E1 = 1Sa(1)he(1)1Sa(1)dV1 + 1Sa(1)he(1)1Sb(1)dV1 ……………………............. ……………………............... Integral atômica Integral de ressonância
A integral atômica corresponde à média do Hamiltoniano sobre os orbitais de
um único átomo. A integral de ressonância inclui os orbitais atômicos dos átomos a e
b.
Sendo a integral de ressonância = (também denominada integral de
Coulomb, em paralelo à teoria da ligação de valência) e a integral de ressonância = ,
tem-se que E1 = +
14
Para a energia do orbital excitado,
E2 = -
A integral de Coulomb (maior contribuição para ) corresponde a energia do
elétron em um átomo separado, portanto a energia de interação para 1 = E = E1 – EH
e para 2 = E = E2 – EH - .
Sendo os valores de 0, portanto, 1 corresponde ao orbital molecular
ligante, pois diminui a energia da molécula e 2 corresponde ao orbital molecular
antiligante, pois eleva a energia da molécula. Desse modo, 1 eleva a densidade de
carga negativa entre os núcleos enquanto que 2 apresenta um plano nodal entre os
núcleos e conseqüentemente indica uma diminuição da densidade de carga negativa
entre os núcleos. As integrais (atômica) e (de ressonância) são conceitos
fundamentais na teoria do orbital molecular, assim como as integrais de Coulomb, de
troca e de recobrimento, são conceitos centrais na teoria da ligação de valência.
Método Variacional para a Ligação química
A teoria do orbital molecular se aplica melhor a compostos cujas ligações são
tipicamente covalentes. Em um enfoque quântico, a teoria do orbital molecular se
fundamenta no método variacional e ao final desta seção estarão representados os
diagramas de orbitais moleculares para as moléculas H2, C2H4 e C4H6. Considere a
seguir o formalismo do método variacional para ligação química:
1) Cada orbital molecular é escrito através da combinação linear de orbitais atômicos
na molécula, sendo,
k: orbital “k” na molécula.
(1) ... 2211 cc
kkk
k c
15
2) Condição de normalização:
(2) 1 dkk
3) A partir da minimizarão na energia, chega-se à equação secular que representa a
equação de onda:
(3) 0ˆˆ EHEH
4) Realizando a combinação linear de orbitais atômicos para , resulta:
(4) ˆ oEHkk
kc
Para dois termos:
(5) 0ˆˆ2211 EHEH cc
Multiplicando esta equação por 1 e integrando todas as coordenadas espaciais
da função de onda:
(6) 0 ˆ ˆ212111
dEHdEH cc
5) Introduzindo as seguintes definições:
(7) coulomb de integral atômicos orbitais dos energia iiiii
dHH
6) Como a energia representa um número,
(10) sijjijiEdEdE
Desse modo, a equação (6) pode ser reescrita na forma de uma equação
secular:
(11) 012122111 sHcHc EE
(9) torecobrimen de integral
(8) atômicos orbitais de pares entre interação da energia
sij
d
dH
ji
jiijH
16
Do mesmo modo, a equação (5) pode ser multiplicada por 2 e integrada:
(12) 022221211
EE HcsHc
7) As equações (11) e (12) formam um sistema de equações lineares homogêneas em
C1 e C2 e quando, C1 = C2 = 0, a solução é trivial. Através do Teorema de Cramer
(“soluções não triviais para equações lineares homogêneas, existem somente se a
matriz dos coeficientes “Ci” formar um determinante igual a zero”), pode-se
resolver estas equações montar o determinante secular, sendo:
(13) 0
222121
12121111
EE
E
HsHsHEH
HH
ss
S
jiij
jiij
8) Resolver o determinante secular implica em resolver a equação (14) que leva a
duas raízes (E1 e E2) que representam, respectivamente, as energias do estado
fundamental e do primeiro estado excitado.
14 0121221212211
EHEHHH SSEE
i) Caso degenerado (existe recobrimento orbital) moléculas diatômicas
homonucleares (ex.: H2)
H11=H22 =x
H21=H12= y
S21=S12 = z
[x - E]2 - [y – Ez]2 = 0 2 soluções:
a) (x – E1) = - (y – Ez) ou E1 = (H11 + H12) / 1 + S12
b) (x – E2) = + (y – E) ou E2 = (H11 - H12) / 1 - S12
17
Veja a seguir a representação do diagrama de orbital molecular para a
molécula de hidrogênio (H2). Esta molécula apresenta ordem de ligação igual a um,
indicando uma ligação entre os dois átomos de hidrogênio.
__
1
__
2
1
2
ii) Caso não degenerado (não existe recobrimento orbital) moleculas
heteronucleares (ex. C2H4 ; C4H6) utilizar o Metodo de Hückel, que
considera apenas orbitais .
Considere o etileno, C2H4:
C C1 2
0222121
211211
E
E
HEHEHH
S
S
Considerar as restrições do método:
H11= (integral de coulomb)
H21= (atomos adjacentes)
S1j = 0
0
E
E
Dividindo todos os termos por e sendo x= - E/ :
18
0
1
1
x
x
x2 – 1 =0 x= 1
Portanto, E = E1= +
E2 = -
_
+
Considere o butadieno, C4H6:
1
2 3
4
0
100
110
011
001
x
x
x
x
x(x3-2x) – (x2 – 1) = x4 – 3x2 + 1 = 0
x = [(3 5) / 2]1/2
E1 = + [(3 + 5) / 2]1/2 = + 1.62
E2 = + [(3 - 5) / 2]1/2 = + 0.62
E3 = - [(3 - 5) / 2]1/2 = - 0.62
E4 = - [(3 + 5) / 2]1/2 = - 1.62
19
2+
2_
+
_
Comparando a energia de duas moléculas de etileno (4 + 4) com a energia
do sistema de uma molécula de butadieno (4 + 4.48), conclui-se que C4H6 é mais
estavel, devido a delocalização dos 4 eletrons .
Pelo visto neste arquivo, a linguagem utilizada em Química quântica para se
descrever os conceitos químicos, é de natureza matemática. Se você estiver
interessado em saber mais sobre esta abordagem consulte livros de Química
quântica tais como os referenciados a seguir:
1) KARPLUS M. & PORTER R. N. Atoms & Molecules: An introduction for students
of Physical Chemistry – The Benjamin /Cummings Publishing Company, 1970;
2) EYRING H. & KIMBALL G. E. Quantum Chemistry: John Wiley & Sons, 1944;
3) HANNA M. W. Quantum Mechanics in Chemistry: The Benjamin /Cummings
Publishing Company, 1981;