Upload
phungthien
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
Fundada em 18 de Fevereiro de 1808
Monografia
Linfoma de Hodgkin predominância
linfocitária nodular: aspectos
clínicos-epidemiológicos e
patológicos
Marlla Marine Cardoso do Nascimento
Salvador (Bahia), 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
Fundada em 18 de Fevereiro de 1808
Monografia
Linfoma de Hodgkin predominância
linfocitária nodular: aspectos
clínicos-epidemiológicos e
patológicos
Marlla Marine Cardoso do Nascimento
Professor-orientador: Iguaracyra Araujo
Monografia de conclusão do componente curricular MED-B60, do currículo médico da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), apresentada ao Colegiado do Curso de Graduação em Medicina da FMB-UFBA.
Salvador (Bahia), 2012
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária de Saúde, SIBI - UFBA.
N244 Nascimento, Marlla Marine Cardoso do
Linfoma hodgkin predominância linfocitária nodular: aspectos clínicos-epidemiológicos e patológico / Marlla Marine Cardoso do Nascimento – Salvador, 20200712.
27f.
Orientadora: Profª Drª Iguaracyra Araujo Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) –
Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia, 2012.
1. Medicina 2. Epidemiologia. 3. Patologia I. Araújo, Iguaracyra. II. Universidade Federal da Bahia III. Título.
CDU 616
III
Monografia: Linfoma de Hodgkin predominância linfocitária nodular: aspectos clínicos-epidemiológicos e patológicos.
Marlla Marine Cardoso do Nascimento
Professor-orientador: Iguaracyra Araujo
COMISSÃO EXAMINADORA
Membros Titulares: • Iguaracyra Araujo (Presidente), Professor da FMB-UFBA.
• Daniel Athanazio, Professor da FMB-UFBA.
• Juliana Ribeiro Freitas, Professor da FMB-UFBA
TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO: Monografia aprovada pela Comissão, e julgada apta para apresentação pública no III Seminário Estudantil de Pesquisa da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, com posterior homologação do registro final do conceito (apto) pela coordenação do núcleo de Formação Científica. Chefia do Departamento de Patologia da FMB-UFBA.
Salvador (Bahia), 2012
Agradecimentos
Primeiramente, agradeço a Deus pela oportunidade
de poder estudar e realizar este trabalho que
acrescentou muito à minha formação acadêmica.
Muito obrigada especialmente a minha orientadora,
Iguaracyra Araujo, que sem ela certamente eu não
teria conseguido. Obrigada por ter se mostrado
solícita, atenciosa e amiga.
A minha família por estar sempre presente, me
apoiando, incentivando a dar sempre o melhor de
mim e a nunca desistir.
Aos amigos que com certeza tiveram papel
fundamental, pois se fizeram presentes nos
momentos mais difíceis.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram
com a realização desta monografia.
ÍNDICE
LISTA DE FIGURAS 1
LISTA DE TABELAS 1
LISTA DE ABREVIATURAS 2
I. RESUMO 3
II. ABSTRACT 4
III. OBJETIVOS 5
IV. METODOLOGIA 5
VI. INTRODUÇÃO 6
VII. REVISÃO DA LITERATURA 7
VII.1 Aspectos históricos, descoberta, definição. 10
VII.2 Epidemiologia 11
VII.3 Patogênese e aspectos moleculares 12
VII.4 Aspectos morfológicos 13
VII.5 Aspectos imunofenotípicos 15
VII.6 Apresentação clínica 17
VII.7 Transformação para Linfoma Difuso de grandes células B 18
VIII.CONCLUSÃO 18
IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 19
1
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Técnica para obtenção de célula de Reed-Sternberg para exame de
clonalidade.
9
Figura 2. Aspectos morfológicos definidores dos linfomas de Hodgkin
Clássicos e dos LHPLN
10
Figura 3. Aspectos imunofenotípicos dos LHPLN 16
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Evolução comparativa das classificações da doença/linfoma de
Hodgkin.
9
Tabela 2 - Aspectos que corroboram o diagnóstico diferencial entre LDGCB
linfo-histiocítico rico em células T e LHPLN.
14
Tabela 3 – Aspectos imunofenotípicos das células neoplásicas dos LH
Clássicos e LHPLN
Tabela 4 – Estadiamento Clínico de Linfomas de Hodgkin (Classificação de
Ann Harbor) e modificações.
16
17
2
LISTA DE ABREVIATURAS
CG: Centro Germinativo
CD: do inglês, Cluster Designation
DH: Doença de Hodgkin
EBV: do inglês, Epstein-Barr Virus
LDGCBRCT: Linfoma Difuso de Grandes Células B Rico em Células T
LH: Linfoma de Hodgkin
LHc: Linfoma de Hodgkin Clássico
LHEN: Linfoma de Hodgkin esclerose nodular
LHCM: Linfoma de Hodgkin Clássico Celularidade Mista
LHDL: Linfoma de Hodgkin Depleção Linfocitária
LHRL: Linfoma de Hodgkin rico em Linfócitos
LHPLN: Linfoma de Hodgkin Predominância Linfocitária Nodular
LMP: do inglês, Latent Membrane Protein
LNH: Linfoma não-Hodgkin
OMS: Organização Mundial de Saúde
RS: Reed-Sternberg
RNA: do inglês, Ribonucleic Acid
3
RESUMO
Linfoma de Hodgkin predominância linfocitária nodular (LHPLN) é um tipo raro
de Linfoma Hodgkin (LH) com características clínicas e patológicas distintas
dos subtipos de LH clássico (LHC). Embora morfologicamente indistinto do
LHC rico em linfócitos, ao contrário destes, o LHPLN expressa
consistentemente marcadores de linfócitos B na ausência de CD30 e CD15.
Apenas em 2001 esta entidade foi reconhecida pela Organização Mundial de
Saúde (OMS). Desde então estudos buscam a melhor forma de tratamento
para esta condição e veem demonstrando comportamento clínico e
prognósticos distintos quando comparados os pacientes pediátricos com
adultos. Considerando a recente caracterização desta entidade e poucos
estudos na área, resolvemos revisar a literatura sobre LHPLN pediátricos e
adultos. Para tanto foi realizada a busca dos unitermos "predominant" e
"lymphoma" nas ferramentas de busca SCIELO e PUBMED. Exceto por artigos
históricos, foram selecionados apenas artigos que usaram a definição da OMS
para diagnóstico deste linfoma. Concluímos que os casos de LHPLN em
adultos são mais complexos e desfavoráveis quando comparados aos casos
pediátricos. Devido a recente definição desta entidade, publicada no consenso
da OMS em 2001, a maioria dos trabalhos aborda LHPLN sem considerar
aspectos imunofenotípicos característicos, ou seja, indistinto dos LH clássicos
rico em linfócitos, dificultando análise crítica comparativa dos estudos. Embora
existam raros trabalhos sobre Linfoma de Hodgkin no Brasil, observou-se
ausência completa de estudos sobre LHPLN.
4
ABSTRACT
Nodular lymphocyte predominant Hodgkin's Lymphoma (NLPHL) is a rare
Hodgkin's lymphoma with clinical and pathological characteristics of its own,
distinct of others classical Hodgkin's lymphoma subtypes (CHLs). Although
morphologically indistinguishable from the LHC rich in lymphocytes, unlike
these, the LHPLN displays immunophenotypic characteristics of B cells without
expression of CD30 and CD15. This entity was only recognized by World Health
Organization in 2001. Since then, studies have indicated that NLPHL has
distinct clinical course and response to treatment when comparing adults and
children. We decided to review the literature on adult and pediatric LHPLN,
emphasizing the differences in treatment and prognosis. We performed a
systematic literature search including the keywords "predominant" and
"lymphoma" in the search tool SCIELO and PUBMED. Except for historical
articles, we selected only articles that used the WHO definition for the diagnosis
of LHPLN. We conclude that the LHPLN cases occcuring in adults are more
complex and unfavorable when compared to pediatric cases. Because only
recent definition of this entity by the WHO in 2001, most studies include LHPLN
without considering aspects immunophenotypic, or faint of lymphocyte-rich
classical HL, making critical the comparative analysis of these studies. Although
there are few papers on Hodgkin's lymphoma in Brazil, there was complete
absence of studies about LHPLN.
5
OBJETIVOS
Essa revisão tem por objetivo reunir informações clínico-epidemiológicas e
patológicas a respeito de Linfoma Hodgkin predominância linfocitária nodular
por ser esta uma entidade nova que exibe características morfológicas,
imunofenotípicas e clínicas distintas dos subtipos clássicos de Linfoma
Hodgkin.
METODOLOGIA
Foi feita uma revisão da literatura revisão de literatura
Artigos doença da forma admitida pela OMS 2001, usando os unitermos
”Hodgkin”, “Lymphoma” e “predominant” nos sites do Pubmed
(http://www.ncbi.nih.gov/pubmed) e no SCIELO adicionalmente os termos
“Hodgkin” e “predominância” (http://www.scielo.org/php/index.php) foram
selecionados de acordo os critérios de inclusão e exclusão.
Foram critérios de exclusão: relatos de caso, artigos que não usaram a
classificação OMS 2001 ou 2008.
Foram critérios de inclusão: Artigos em língua inglesa, portuguesa, espanhola.
6
INTRODUÇÃO
A Doença de Hodgkin, originariamente descrita por Thomas Hodgkin e
chamada como tal por Samuel Wilks, é uma doença linfoproliferativa maligna
com classificação mais perene da história dos linfomas. A identificação da
célula de Reed Sternberg em fundo inflamatório perdurou por décadas como
sua definição morfológica. Desde a conferência de Rye, ocorrida em 1966,
foram reconhecidos quatro subtipos morfológicos, a saber: Predominância
Linfocitária; Esclerose Nodular; Celularidade Mista e Depleção Linfocitária.
Apesar do reconhecimento morfológico da entidade chamada de
Paragranuloma nodular desde 1944 por Jackson e Parker, esta foi considerada
na classificação de Rye parte do subtipo predominância linfocitária. Apenas em
1994, a classificação REAL propõe a divisão da Doença de Hodgkin em duas
entidades distintas, a Doença de Hodgkin Predominância Linfocitária nodular e
o Linfoma de Hodgkin Clássico, compreendendo os subtipos esclerose nodular,
celularidade mista, depleção linfocitária e provisoriamente o subtipo rico em
linfócitos. Esta nova classificação foi adotada pelo consenso da Organização
Mundial da Saúde (OMS) em 2001 e 2008. Portanto, trata-se de entidade nova
que exibe características morfológicas, imunofenotípicas e clínicas distintas dos
subtipos clássicos de LH, justificativa para esta revisão do tema. Para tanto
realizou-se um estudo de revisão da literatura dos artigos que caracterizassem
a doença da forma admitida pela OMS 2001, usando os unitermos ”Hodgkin”,
“Lymphoma” e “predominant” nos sites do Pubmed
(http://www.ncbi.nih.gov/pubmed) e no SCIELO adicionalmente os termos
“Hodgkin” e “predominancia” (http://www.scielo.org/php/index.php). Exceto
artigos históricos, foram usados artigos que usaram os critérios da OMS,
7
mesmo que de forma implícita. Este trabalho buscou reunir, através de uma
revisão blibliográfica, os estudos presentes na literatura a respeito da forma
predominância linfocitária nodular dos Linfomas Hodgkin, enfatizando as
diferentes formas de tratamento e prognósticos deste subtipo de LH na infânia
e idade adulta.
REVISÃO DA LITERATURA
Histórico
Em 1832 Thomas Hodgkin descreveu uma doença rara acometendo linfonodos
e baço, ““On some morbid appearances of the absorbent glands and spleen”, a qual foi chamada de
Doença de Hodgkin (DH) por Samuel Wilks em 1865 (Jaffe, et al 2008). Desde
1944, Jackson e Parker descreveram uma entidade de melhor prognóstico,
chamada de paragranuloma, muito semelhante a doença de Hodgkin.
Posteriormente Lukes e Butler descreveram que estes “paragranulomas”
poderiam ser nodulares ou difusos, propondo 6 subtipos histológicos, incluindo
Doença de Hodgkin Linfohistiocítica nodular e difusa (Lukes e Butler, 1966).
Por razões práticas, a classificação desenvolvida por Lukes e Butler,
modificada na conferência de Rye em Nova York, 1966
(http://training.seer.cancer.gov/lymphoma/abstract-code-
stage/morphology/rye.html) reconheceu apenas 4 subtipos histológicos da
doença (Tabela1). Apesar dos relatos clássicos morfológicos do que a escola
alemã chamava de Paragranuloma (Harris, 1994), apenas com introdução da
imuno-histoquímica ficou demonstrado que a entidade tinha fenótipo distinto
dos demais subtipos da doença de Hodgkin. Em 1994, a classificação REAL
8
propôs que a Doença de Hodgkin fosse dividida em duas entidades distintas, a
DHPLN distinta dos outros subtipos clássicos de Doença de Hodgkin. (Harris,
1994).
Apesar das grandes controvérsias que cercaram os Linfomas de Hodgkin sobre
a sua origem monoclonal ou policlonal (Pan, XL, 1996; Hummel, 1995), em
1994 Kuppers e colaboradores caracterizaram esta entidade como uma
neoplasia monoclonal de células B. Em 1999, em retratação histórica Hummel
e colaboradores reconheceram que DH era monoclonal em sua origem e que
os resultados de policlonalidade foram induzidos pela dificuldade técnica em
isolar as células malignas das células do fundo reacional (Figura1). Com o
reconhecimento da monoclonalidade foi proposto alteração da nomenclatura
com a substituição do termo Doença por Linfoma. Finalmente, em 2000 os
estudos de Anagnostopoulos e colaboradores demostraram que esta era uma
entidade imunofenotipicamente distinta e a partir de então as classificações da
OMS (2001 e 2008) passaram a adotar o nome Linfoma de Hodgkin e não mais
Doença de Hodgkin.
9
Tabela 1 – Evolução comparativa das classificações da doença/linfoma
de Hodgkin.
Rye, 1966 REAL, 1994 OMS 2001 OMS 2008
Predominância Linfocitária Predominância
linfocitária
nodular
Idem a REAL Predominância
Linfocitátia
nodular
Esclerose Nodular Esclerose
nodular
idem a REAL Esclerose
nodular
Celularidade Mista Celularidade
mista
idem a REAL Celularidade
mista
Depleção linfocitária Depleção
linfocitária
idem a REAL Depleção
linfocitária
Rico
em linfócitos *
Idem a REAL Rico
em linfócitos
*Subtipo provisório
Figura 1: Técnica de obtenção de célula de Reed-Sternberg para exame de
clonalidade. (doação pessoal de Marafiotti, T, 1996)
10
Definição
O Linfoma de Hodgkin Predominância Linfocitária Nodular (LHPLN), como
conhecido atualmente, é uma neoplasia monoclonal, tendo como possível
contraparte benigna células do centro germinativo (Poppema e cols., 2008).
Distinto do LH clássico que é caracterizado morfologicamente pela célula de
Reed-Sternberg e suas variantes em fundo heterogêneo e inflamatório (Figura
2), o LHPLN é constituído por células Linfo-Histiocíticas (L&H) ou células com
núcleos em “pipoca” em meio a linfócitos pequenos, geralmente esboçando
nódulos (Anagnostopoulos e cols., 2000). (Figura 2)
Figura 2: Aspectos morfológicos definidores dos Linfomas de Hodgkin
Clássicos e Linfoma de Hodgkin predominância linfocitária nodular
Hematoxilina & Eosina. Figura à direita: Célula de Reed-Sternberg (seta)
circundada por fundo rico em eosinófilos (ponta de seta) – aumento 400X;
Figura à esquerda: Célula Linfo-histiocítica (cabeça de setas) circundada por
fundo linfocitário – aumento 160X (Fotos publicadas com permissão do
orientador).
11
Epidemiologia
Aproximadamente 8.000 americanos são diagnosticados a cada ano com LH.
(Lee, A. I. e Lacasce, A. S., 2009) Nos países desenvolvidos o LH exibe
distribuição etária bimodal em adultos jovens e velhos. (Lee, A. I. e Lacasce, A.
S., 2009) Já em países em desenvolvimento podemos falar de distribuição em
três picos etários distintos, crianças muito pequenas, adultos jovens e velhos.
(Olu-Eddo e cols., 2011) No nosso meio LH pediátrico ocorre em crianças de 3
a 15 anos de idade (mediana 8,6) e com maior frequencia em meninos (3,1
meninos:1menina).
O LHPLN é raro e corresponde a cerca de 5 a 10% dos LH nos países
ocidentais (Anagnostopoulos e cols, 2000) e a cerca de 5 a 10% de LH
pediátricos. (Nicolin e cols., 2007) No nosso meio o LHPLN corresponde a
7,7.% dos casos de LH pediátricos (Araujo e cols., 2006) O LHPLN aparece
nos estudos epidemiológicos como um tipo de LH, entretanto, devido a
necessidade de imuno-histoquímica para o seu diagnóstico, estes casos são
referidos indistintamente do LHRL, e na maioria das séries clínicas mesmo
atualmente os subtipos não são considerados ou referidos (Sjöberg, 2012).
Alguns estudos descrevem média de idade de apresentação de LHPLN é de 30
a 40 anos, (Al-Mansour e cols., 2011) outros que existem picos de idade, sendo
um na infância e adolescência (Hall e cols., 2007) e outro em pacientes com
mais de 40 anos (Anagnostopoulos e cols., 2000).
12
Como na maioria dos tipos clássicos, em LHPLN os homens parecem ser mais
acometidos do que as mulheres, em uma proporção de 3:1 (Anagnostopoulos e
cols., 2000).
Patogênese
A infecção pelo EBV parece representar um risco significantemente para o
desenvolvimento do LH Clássico.(Jarret e cols., 2002) entretanto não parece
está associada à patogênese de LHPLN.
Os estudos dos LHc indicam que as células HRS provavelmente derivam de
células B de centros germinativos (CG) que adquiriram mutações genéticas
não favoráveis na cadeia variável (V) de imunoglobulina e normalmente teriam
sido submetidas à apoptose, enquanto que as células L&H derivam a partir de
células B de CG antígeno-selecionadas. (Brauninger e cols., 1997) Porém,
diferentes lesões genéticas parecem estar envolvidas na patogênese desses
linfomas. (Schimtz e cols., 2009) As células HRS e L&H geralmente são
responsáveis por 0,1% a 10% das células do tecido, que é uma das razões que
dificultaram e ainda dificultam sua análise molecular. No entanto, o
considerável progresso nos últimos anos tem sido feito na elucidação da
natureza das células HRS e L&H e da patogênese do LH. (Schmitz e cols.,
2009)
Nos LHc o complexo receptor de imunoglobulina fornece importantes sinais de
sobrevivência para o desenvolvimento de células B e a ausência da expressão
de imunoglobulina poderia colocaras células HRS em desvantagem na
13
sobrevivência a menos que ocorressem eventos anti-apoptóticos. A infecção
por EBV é tida como um desses possíveis eventos. (Jarrett e cols., 2002)
Proteínas nucleares desses vírus, como a EBNA e LMP1 têm sido detectadas
em mais de 40% dos casos de LHc com maior frequência em celularidade
mista. (Araujo e cols, 2006) Já se sabe que LMP1 tem potencial oncogênico
por desencadear a expressão e ativação de BCL2 via o caminho de ativação
celular do CD40 permitindo que as células evadam de mecanismos celulares
apoptóticos. (Yung e cols., 2003) As menores taxas de EBV associado a
linfoma Hodgkin são relatadas em adultos jovens (entre 15 e 34 anos)
levantando a possibilidade de que vírus linfotrópicos alternativos estão
implicados na patogênese de casos negativos para EBV. (Yung e cols., 2003)
Apesar de distintas do ponto de vista molecular, as células L&H, semelhante às
células HRS exibem forte atividade constitutiva de NF-kB. Essa atividade
desregulada de NF-kB pode representar um mecanismo patogenético
importante em LHPLN.(Kuppers, 2009) Um outro mecanismo patogênico
hipotético seria a ausência da expressão da Lyn kinase diretamente implicada
na gênese destes Linfomas. Camundongos knock out para Lyn kinase são
super responsivos ao BCR e ativação de cinases, resultando em estimulo à
produção de anticorpos circulantes por células B (Marafioti, 2004).
Aspectos Morfológicos
Baseado nas diferenças no quadro histológico e nas composições celulares,
LH clássico é subdividido nas formas esclerose nodular, celularidade mista,
14
depleção linfocítica e rico em linfócitos. Em LH clássico, as células tumorais
são designadas Hodgkin, Reed-Sternberg (HRS) e lacunares, enquanto que
em LHPLN, elas são conhecidas como células L&H (linfo-histiocíticas). Estes
linfomas diferem ainda dos LHc na composição e microambiente celular, isto é,
o quadro histológico. (Olu-Eddo e cols, 2011; Poppema e cols, 2008).
Alguns trabalhos trazem que histologicamente, o LHPL pode apresentar-se
com dois padrões morfológicos distintos: nodular ou difuso. O subtipo nodular é
caracterizado pela presença de células Linfo-histiocíticas (L&H) ou pipocas
atípicas imersas em um fundo de linfócitos B pequenos, histiócitos que
esboçam em conjunto arranjo vagamente nodular. No subtipo difuso, as células
L&H estão contra um fundo difuso, principalmente de células T reativas. No
entanto permanece controverso se o subtipo difuso pode ser discriminado de
forma confiável do Linfoma B rico em células T, linfo-histiocítico. (Tabela 2) De
acordo com a atual definição da OMS, pelo menos, um padrão nodular parcial
é necessário para o diagnóstico de LHPLN. (Poppema e cols., 2008).
Tabela 2: Aspectos que corroboram o diagnóstico diferencial entre LDGCB linfo-
histiocítico rico em células T e LHPLN
Aspectos Morfológicos e imunofenotípicos dos LDGCB linfohistiocítico, rico em células T e Linfoma de Hodgkin perdominancia linfocitária nodular.
LDGCBRCT Linfoma Hodgkin Predominância Linfocítica Nodular
Arquitetura Excepcionalmente nodular Geralmente nodular
CD20 em células neoplásicas Positivo Positivo
Bcl6 em células neoplásicas Positivo (50-90%) Usualmente positivo (>90%)
EMA em células neoplásicas Positivo (30%) Usualmente positivo
IgD em células neoplásicas Negativo Positivo (27%)
Rosetas CD57+/PD1+ Ausente Presente
Fundo com cel dendriticas CD21+ Ausente na maioria Presente
Fundo com células do Manto IgD+ Variável Ausente
EBV em células neoplásicas Negativo sempre Negativo* Linfocitos TIA-1 positivos no
fundo Presente em maior quantidade Presente em pouca quantidade
*Raros casos
15
Aspectos Imunofenotípicos
Distinto dos Linfomas de Hodgkin Clássico cujas células neoplásicas
expressam CD30 e CD15 e CD20 irregularmente, as células L&H do LHPLN
expressam antígenos de células B (CD20, CD79a) na ausência de CD15 e
CD30. (Anagnostopoulos e cols., 2000;Poppema e cols, 2008) (Figura 3). A
exceção de único trabalho na população vietinamesa, as células L&H dos
LHPLNs não expressam o genoma do EBV.
Várias descobertas correlacionam a origem das células neoplásicas do LHPLN
a células B dos CG.(Kuppers, R 2009) Isso inclui a presença de mutação
somática de genes IgV e rearranjo clonal nessas células em uma fração de
casos. Além disso, estas células expressam marcadores de células B típicos de
CG, incluindo BCL-6 e citidina diaminase induzida por ativação. As células L&H
são observadas em estruturas semelhantes a estruturas foliculares por
exibirem células dendríticas foliculares e células T-helper típicas de CG. (Nam-
Cha, 2008).
As células L&H se assemelham às células B normais em termo de expressão
genética, mas já adquiriram características de células B de memória indicando
que essas células podem derivar de células B de CG tardias, ou seja, situadas
já na transição para células B de memória.(Kuppers, 2009) Embora as
diferenças quanto à expressão de genes sejam claras entre os dois tipos de
LH, o clássico rico em linfócitos e LHPLN, eles também compartilham
características essenciais. (Tabela 3).
16
Tabela 3: Aspectos imunofenotípicos das células neoplásicas dos LH
Clássicos e LHPLN
Comparação fenotípica entre Linfoma Hodgkin clássico rico em linfócitos e linfoma Hodgkin Predominância Linfocítica Nodular.
Antígeno Linfoma Hodgkin Clássico (células HRS) Linfoma Hodgkin Predominância Linfocítica Nodular (células L&H )
CD20 Ocasionalmente positivo Usualmente positivo
Outros antígenos de células B Usualmente negativo Usualmente positivo
CD30 Positivo Negativo
CD15 Usualmente positivo Negativo
EBV Ocasionalmente positivo Excepcionalmente positivo
Expressão de imunoglobulina IgD no fundo Presente Ausente
Células HRS – Células Hodgkin Reed-Sternberg Células L&H – Células Linfohistiocíticas
Figura 3: Aspectos imunofenotípicos dos LHPLN
Esquerda: Hematoxilina & Eosina: Aspecto vagamente nodular (Aumento
100X); Direita: Expressão de CD20 em linfócitos B pequenos de fundo
formando nódulo com célula grande L&H (seta) também CD20-positiva
(Aumento 160X)
17
Apresentação Clínica
O LHPLN difere dos subtipos de LHc pela apresentação clínica com
acometimento preferencial de nódulos linfáticos periféricos, estágio inicial da
doença e uma tendência a recaídas múltiplas e tardias. (Anagnostopolus e
cols., 2000) Comparado com LHc o LHPLN tem sido associado com o
crescimento do tumores menos agressivos e uma linfadenopatia geralmente
precede o diagnóstico em muitos anos. LHPLN geralmente envolve linfonodos
cervicais, axilares e inguinais. O envolvimento mediastinal, esplênico e da
medula óssea é raro. (Diehl e cols., 1999) A maioria dos pacientes apresenta
linfadenopatia localizada (estágio I ou II) e apenas 5-25% dos pacientes
apresentam-se com a doença no estágio avançado (Tabela 4).
Tabela 4 – Estadiamento Clínico de Linfomas de Hodgkin (Classificação
de Ann Harbor) e modificações.
Sistema de estadiamento Ann Arbor com modificações Cotswold para o linfoma de Hodgkin
Estágio 1 – Envolvimento de uma região de linfonodo ou estrutura linfoide.
Estágio 2 – Dois ou mais regiões de linfonodos no mesmo lado do diafragma.
Estágio 3 – Linfonodos em ambos os lados do diafragma.
3.1 – Linfonodos esplênicos, hilares, celíacos, ou portais.
3.2 – Linfonodos para-aórticos, ilíacos, ou mesentéricos.
Estágio 4 – Envolvimento de local extra nodais além daqueles designados.
Características modificadas:
A – Ausência de sintomas.
B – Febre de B, sudorese noturna, perda de peso maior de 10% em 6 meses.
X – Doença volumosa: maior do que um terço do comprimento do mediastino ou diâmetro máximo da massa nodal
maior que 10cm.
E – Envolvimento de único sítio extranodal proximal, contíguo a uma cadeia linfonodal conhecida.
18
ES – Estágio clínico.
CS – Estágio patológico.
O Sistema Ann Arbor com modificações Cotswolds de estadiamento é o atual sistema de estadiamento utilizado para
pacientes com linfoma Hodgkin. Os pacientes são estadiados tanto clinica quanto patologicamente. Eles são
classificados em um dos 4 estágios, tendo como base os locais de envolvimento. Números e letras são designados de
acordo o a quantidade de regiões linfonodais envolvidas e a presença ou ausência de sintomas sistêmicos ou de
doença volumosa ou extensa.
Transformação para Linfoma difuso de grandes células B
O risco de transformação do LHPLN para linfomas agressivos varia de 7 a
30%.(Al-Mansur e cols., 2010) e tem sido subestimado devido a sua ocorrência
tardia, até 20 anos após o seu diagnóstico. Entre fatores de risco para
transformação descreve-se a localização atípica em linfonodos abdominais,
baço, sítios extra-nodais, bem como estadiamento, idade avançada, e
expressão de BCL-2 (Yang e cols., 2007).
CONCLUSÃO
Linfoma Hodgkin predominância linfocitária nodular é uma variação não
clássica e rara de Linfoma Hodgkin. Por ser uma entidade recentemente
definida e por serem poucos ainda os trabalhos encontrados na literatura que
visam defini-lo, conclui-se que ainda são necessárias pesquisas que possam
melhor caracterizar suas características peculiares, tanto em crianças quanto
em adultos para assim melhor dirigir os tratamentos para cada grupo etário.
Pouco se sabe sobre a caracterização da doença em nosso meio. Faz-se
necessário um melhor detalhamento de como acontece sua transformação e
qual seria a melhor conduta nos casos de recidiva.
19
bREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Al-mansour, M., Connors, J. M., Gascoyne, R. D., Skinnider, B., & Savage, K. J.
(2010). Transformation to Aggressive Lymphoma in Nodular Lymphocyte
Predominant Hodgkin ’ s Lymphoma. Clinical Oncology, 28(5), 793-799.
Anagnostopoulos, I., Hansmann, M.-leo, Franssila, K., Harris, M., Harris, N. L.,
Jaffe, E. S., Han, J., et al. (2012). s European Task Force on Lymphoma project
on lymphocyte predominance Hodgkin diseaseb: histologic and
immunohistologic analysis of submitted cases reveals 2 types of Hodgkin
disease with a nodular growth pattern and abundant lymphocytes, 1889-1899.
Araujo, I., Bittencourt, A. L., Mendonça, N., Foss, H.-dieter, Hummel, M., &
Stein, H. (2006). The high frequency of EBV infection in pediatric Hodgkin
lymphoma is related to the classical type in Bahia , Brazil. Virchows Archiv, 315-
319.
Diehl, V., Sextro M., Franklin J., (1999) Clinical Presentation, Course, and
Prognostic Factors in Lymphocyte-Predominant Hodgkin’s Disease and
Lymphocyte-Rich Classical Hodgkin’s Disease. American Society for Clinical
Oncology. Journal of Clinical Oncology, Vol 17, Issue 3 (March),: 776-783
Hall, G. W., Katzilakis, N., Pinkerton, C. R., Nicolin, G., Ashley, S., Daw, S.,
Hewitt, M., et al. (2007). Outcome of children with nodular lymphocyte
predominant Hodgkin lymphoma – a Children ’ s Cancer and Leukaemia Group
report. British Journal of Heamatology, 761-768.
20
Harris, N. L., Jaffe, E. S., Stein, H., Banks, P. M., Chan, J. K. C., Cleary, M. L.,
Delsol, G., et al. (1994). A Revised European-American Classification of
Lymphoid Neoplasmsb: Blood, 84, 1361-1392.
Jaffe E, Harris NL, Stein H et al. Pathology and Genetics of Tumours of
Haematopoietic and Lymphoid Tissues. Lyon: IARC Press 2001; 240–243.
Jaffe, E. S., Harris, N. L., Stein, H., Isaacson, P. G., Jaffe, E. S., Harris, N. L.,
Stein, H., et al. (2010). Classification of lymphoid neoplasmsb: the microscope
as a tool for disease discovery. Blood, 112:4384-4399,2008, 4384-4399.
Jarrett, R. F., Stark, G. L., White, J., Angus, B., Alexander, F. E., Krajewski, A.
Taylor, G. M., et al. (2005). Impact of tumor Epstein-Barr virus status on
resenting features and outcome in age-. Blood, 106, 2444-2451.
Kraus, M. D., & Haley, J. (2000). Lymphocyte Predominance Hodgkin ’ s
Disease. American Journal of Surgery, The, 24(8), 1068-1078.
Marafioti, T., Pozzobon, M., Hansmann, M.-leo, Delsol, G., Pileri, S. A., Mason,
D. Y., Dc, W., et al. (2004). Expression of intracellular signaling molecules in
classical and lymphocyte predominance Hodgkin disease. Blood, 103, 188-193.
Nicolin, G., Ashley, S., Daw, S., Hewitt, M., Wallace, W. H., & Shankar, A.
(2007). Outcome of children with nodular lymphocyte predominant Hodgkin
lymphoma – a Children ’ s Cancer and Leukaemia Group report, 761-768.
21
Pan, L., Diss, T., Peng, H., Norton, A., & Isaacson, P. (2012). Nodular
lymphocyte predominance Hodgkin’s disease: a monoclonal or polyclonal B-cell
disorder? Blood, 2428-2434.
Pellegrino B, Terrier-Lacombe MJ, Oberlin O et al. Lymphocyte predominant
Hodgkin’s lymphoma in children: therapeutic abstention after initial lymph node
resection—a study of the French Society of Paediatric Oncology. J Clin Oncol
2003; 15: 2948–2952.
Pedigo, M. D. (1999). Physical Therapy, Chiropractic Manipulation, or an
Educational Booklet for Back Pain. The New England Journal of Medicine,
340(5), 388-395.
Prakash, S., Fountaine, T., Raffeld, M., Jaffe, E. S., & Pittaluga, S. (2006). IgD
Positive L & H Cells Identify a Unique Subset of Nodular Lymphocyte
Predominant Hodgkin Lymphoma. American Journal of Surgical Pathology,
The, 30(5), 585-592.
Sjöberg, J., Halthur, C., Kristinsson, S. Y., Landgren, O., Nygell, U. A., Paul, W.,
Dc, W., et al. (2012). Progress in Hodgkin lymphomab: a population-based
study
on patients diagnosed in Sweden from 1973-2009. Blood, 119, 990-996.
Yung, L., & Linch, D. (2003). Hodgkin ’ s lymphoma. The Lancet, 361, 943-951.
Olu-Eddo, A. (2011). Hodgkin lymphomab: Clinicopathologic features in Benin
City , Nigeria and update on its biology and classification. Nigerian Journal of
Clinical Practice, 14(4), 440-444.