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7 Unidade 1 Língua e Linguagem Para iniciarmos nossos encontros e reflexões sobre a Língua Portuguesa, convido você a ler este texto de Patativa do Assaré: Poetas clássicos Poetas niversitário, Poetas de Cademia, De rico vocabularo Cheio de mitologia. Se a gente canta o que pensa, Eu quero pedir licença, Pois mesmo sem português Neste livrinho apresento O prazê e o sofrimento De um poeta camponês. Eu nasci aqui no mato, Vivi sempre a trabaiá, Neste meu pobre recato, Eu não pude estudá. No verdô de minha idade, Só tive a felicidade Patativa do Assaré: Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, nasceu na Serra de Santana, próxima à cidade de Assaré, em 1909. De família pobre, perdeu o pai aos oito anos, tendo que trabalhar na roça para garantir o sustento da família. Só fre- quentou a escola a partir dos doze anos, quando passou a escrever poesia e pro- duzir pequenos textos. Aos dezesseis anos ganhou uma viola da mãe e come- çou a compor repentes, apresentando-se em saraus e festas. Foi apelidado de “Patativa”, aos vinte e cinco anos, pois seu canto era parecido com o do pássaro Patativa, ave nor- destina que canta de forma maviosa e singular. Com esse nome artístico, pas- sou a viajar pela região cantando seus repentes e apresentando-se várias vezes na rádio Araripe. Sua obra tem grande importância na literatura cearense. Jarbas Oliveira/Folha Imagem Poeta Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré.

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Unidade 1

Língua e LinguagemPara iniciarmos nossos encontros e reflexões sobre

a Língua Portuguesa, convido você a ler este texto de Patativa do Assaré:

Poetas clássicos

Poetas niversitário,

Poetas de Cademia,

De rico vocabularo

Cheio de mitologia.

Se a gente canta o que pensa,

Eu quero pedir licença,

Pois mesmo sem português

Neste livrinho apresento

O prazê e o sofrimento

De um poeta camponês.

Eu nasci aqui no mato,

Vivi sempre a trabaiá,

Neste meu pobre recato,

Eu não pude estudá.

No verdô de minha idade,

Só tive a felicidade

Patativa do Assaré: Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, nasceu na Serra de Santana, próxima à cidade de Assaré, em 1909. De família pobre, perdeu o pai aos oito anos, tendo que trabalhar na roça para garantir o sustento da família. Só fre-quentou a escola a partir dos doze anos, quando passou a escrever poesia e pro-duzir pequenos textos. Aos dezesseis anos ganhou uma viola da mãe e come-çou a compor repentes, apresentando-se em saraus e festas.Foi apelidado de “Patativa”, aos vinte e cinco anos, pois seu canto era parecido com o do pássaro Patativa, ave nor-destina que canta de forma maviosa e singular. Com esse nome artístico, pas-sou a viajar pela região cantando seus repentes e apresentando-se várias vezes na rádio Araripe. Sua obra tem grande importância na literatura cearense.

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Poeta Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré.

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De dá um pequeno insaio.

In dois livro do iscritô,

O famoso professô

Filisberto de Carvaio.

Foi os livro de valô

Mais maió que vi no mundo,

Apenas daquele autô

Li o premêro e o segundo;

Mas, porém, esta leitura,

Me tirô da treva escura,

Mostrando o caminho certo,

Bastante me protegeu;

Eu juro que Jesus deu

Sarvação a Filisberto.

Depois que os dois livro eu li,

Fiquei me sintindo bem,

E ôtras coisinha aprendi

Sem tê lição de ninguém.

Na minha pobre linguage,

A minha lira servage

(...)

Tarvez este meu livrinho

Não vá recebê carinho,

Nem lugio e nem istima,

Mas garanto sê fié

E não istruí papé

Com poesia sem rima.

Cheio de rima e sintindo

Quero iscrevê meu volume,

Pra não ficá parecido

Com a fulô sem perfume;

A poesia sem rima,

Bastante me disanima

E alegria não me dá;

Não tem sabô a leitura,

Parece uma noite iscura

Sem istrela e sem luá.

(...)

Sou um caboco rocêro,

Sem letra e sem istrução;

Meu verso tem o chêro

Da poêra do sertão;

Vivo nesta solidade

Bem destante da cidade

Onde a ciença guverna.

Tudo meu é naturá,

Não sou capaz de gostá

Da poesia moderna.

Dêste jeito Deus me quis

E assim eu me sinto bem;

Me considero feliz

Sem nunca invejá quem tem

Profundo conhecimento.

Ou ligêro como o vento

Ou divagá como a lesma,

Tudo sofre a mesma prova,

Vai batê na fria cova;

Esta vida é sempre a mesma.

<http://www.releituras.com/patativa_poetclassicos.asp>

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Revendo Conceitos de Linguagem e LínguaVocê deve estar se perguntando sobre o porquê de um poema – e

um poema “escrito errado” – na faculdade. Como é que pode uma coisa dessas, não é mesmo?

Mas acalme-se, é apenas uma provocação para que conceitos arrai-gados sejam revistos. E tratando deles, vamos aproveitar e rever dois: o de língua e o de linguagem.

LinguagemConsidera-se linguagem a nossa capacidade de comunicação por

meio de palavras, imagens, sons, cores, expressões faciais, etc. Levando em conta os meios, a linguagem pode ser dividida em verbal e não ver-bal.

A linguagem verbal se caracteriza pelo uso do verbo. Verbo aqui é compreendido como discurso, como palavra, e não como aquele verbo, classe gramatical, aquele que tínhamos de aprender a conjugar.

Este material, por exemplo, utiliza o verbo (linguagem escrita) e incentiva a linguagem falada, das conversas com os colegas de sala ou do trabalho. Já a linguagem não verbal, como o próprio nome sugere, não faz uso do verbo, mas sim, dos sons, gestos, imagens. Podemos verificar esse tipo de linguagem nos sinais de trânsito, na troca de olhares, nas expressões faciais. Um exemplo prático é quando você olha a pessoa de ombros caídos, com má postura, e você já pensa: – Nossa, o cara está desanimado! – Pois é, trata-se da linguagem que o corpo está usando para comunicar o estado de espírito do sujeito, o que significa que a linguagem pode ser não intencional.

Mas não acordamos e dizemos: – Hoje vou fazer uso somente da linguagem verbal. Nem pensamos: – Hoje está com cara de linguagem não verbal. No cotidiano, é normalmente a combina-ção das palavras e gestos que garante o sucesso nas nossas relações sociais, de nos sentirmos parte do mundo com os outros.

Michael Owen (Inglaterra) comemora gol contra a Alemanha na Copa da FIFA – 2002

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LínguaSe a linguagem é o uso de um sistema que combina o verbal e o

não verbal, a língua é o sistema, ou melhor, é o conjunto de sinais, que organizados, garante a uma determinada comunidade ou grupo, a comunicação. Por essa necessidade ela é estruturada de acordo com certas regras – a temida gramática normatiza essas regras – que são imprescindíveis para a manutenção da Língua.

Dada essa breve revisão sobre Língua e Linguagem, vamos voltar ao texto do início desta aula, afinal, verificar em que ele pode nos aju-dar neste estudo.

Normalmente, e por que não, fortemente e pacificamente está arraigado o conceito de certo e errado no uso da Língua Portuguesa. Ele povoa o imaginário e as nossas escritas e falas, porém talvez seja o momento de revermos tais posições. Inclusive é a opinião do eu-lírico.

Mas quem seria esse eu-lírico? O eu-lírico é o que chamamos de voz no poema. Em um texto em prosa, o equivalente seria o narrador. É importante ter em mente que tanto eu-lírico como o narrador não são os autores dos textos ficcionais. O autor é aquele que cria e escreve a história ou o poema. As ideias ali refletidas podem guardar em si a opinião do autor, porém não é mais ele que fala. Ele passa a ceder esse direito de voz aos seus personagens, narrador ou eu-lírico.

Esclarecido o eu-lírico, vamos voltar a nossa análise:

Eu quero pedir licença,

Pois mesmo sem português

Neste livrinho apresento

O prazê e o sofrimento

De um poeta camponês.

Pensando no assunto, o texto acima não utiliza o português? Está certo ou errado? Está certo ou errado em relação a quê?

Bom, notemos que o texto em questão é organizado em versos e estrofes, que faz uso de rimas e mantém um ritmo e por apresen-tar essas características o classificamos como um poema. À medida que o lemos, vamos levantando hipóteses sobre quem é o autor, e de que classe social faz parte; qual é o objetivo do texto, que realidade

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é apresentada e a quem se destina o texto. Mas o que nos incomoda ainda é o uso de uma variedade da língua que tem pouco prestígio, são palavras como “vocabularo”, “premero”, “sar-vação”, “fulô”, “instruí”, “papé” que nos fazem torcer o nariz – e isso é, grosso modo, preconceito.

Veja que mesmo fazendo uso dessa variedade, ele cumpre sua função de comunicar, ficamos sabendo de como se deu a apresentação do eu-lírico ao mundo letrado (“In dois livro do iscritô o famoso Professo Filisberto di Carvaio”), inclusive o que o autor pensa sobre a poesia e a justificativa para essas escolhas:

Cheio de rima e sintindo

Quero iscrevê meu volume,

Pra não ficá parecido

Com a fulô sem perfume;

A poesia sem rima,

Bastante me disanima

E alegria não me dá;

Não tem sabô a leitura,

Parece uma noite iscura

Sem istrela e sem luá.

Pensando no que foi expresso anteriormente, concluímos que um dos nossos equívocos em relação à Língua Portuguesa é pensar que ela se resume em apenas uma. Se formos um pouco mais observadores, veremos que muitas são as línguas portuguesas. Elas são decorrentes da região onde moramos, da classe social a que pertencemos, dos nos-sos anos de estudo ou da ausência deles, da profissão, da nossa idade, do nosso gênero, da nossa etnia e da situação em que estamos falando ou escrevendo. E essas variedades são percebidas nas diferenças sintá-ticas como o uso de concordância (nós vamos × nós vai); diferenças morfológicas (fulô × flor), lexicais (ramona × grampo de cabelo, mandioca × aipim), fonéticas (caroça × carroça ou a diferença de pronúncia da palavra porta, entre cariocas e paulistanos).

Preconceito linguístico:Segundo o linguista brasileiro Marcos Bagno, a gramática não é a língua. A língua é um enorme iceberg flutuando no mar do tempo, e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível dele, a chamada norma culta. Essa des-crição, é claro, tem seu valor e seus méritos, mas é parcial (no sentido literal e figurado do termo) e não pode ser autoritariamente aplicada a todo o resto da língua – afinal, a ponta do iceberg que emerge representa apenas um quinto do seu volume total. Mas é essa aplicação autoritária, intolerante e repressiva que impera na ideologia geradora do preconceito linguístico.

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Mas vamos com calma, pois esse assunto será tratado, de modo mais pontual, adiante, quando discutiremos a norma culta da Língua Portuguesa.

Depois dessas reflexões, é importante que o poema de Patativa do Assaré deixe de ser considerado um texto errado e que seja visto como o registro de uma variedade da Língua Portuguesa, que merece a mesma consideração que um poema de Camões ou Drummond. Note que o texto citado tem coerência, sentido.

Elementos e Funções da ComunicaçãoVocê leu há pouco que uma das características essenciais de um

texto é fazer sentido, ou seja, que ao ser dito ou escrito seu autor deve levar em consideração o interlocutor. Essa situação é pensada a partir dos seguintes elementos que compõem o ato comunicativo:

• Para que ele tenha significado precisamos de um emissor/falante (quem produz o texto), uma mensagem (texto) e um receptor/destinatário/interlocutor (a quem o texto é destinado).

• Quem vai construir um texto precisa saber sobre o que vai dizer (referente), que código (sistema de sinais) usará e por que meio vai fazer chegar a mensagem (canal).

Esses seriam os elementos básicos. No entanto, a comunicação é um ato social e requer que o falante, ao dizer algo, acabe por escolher um ponto de vista, um assunto, um código, o meio pelo qual sua men-sagem chegará ao seu interlocutor e agirá sobre ele. Lembre-se de que cada mensagem tem uma intenção.

Pessoas falando ao telefone

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Já o receptor/inter-locutor será responsável pela construção do sentido da mensagem. Por conta disso, ele terá que decifrar o código, atribuir significados a partir da sua experiência de mundo (competências, conhecimentos, ideologia). O mesmo se dá no momento da construção da mensagem pelo emissor/falante, esse também usará seu conhe-cimento de mundo para construir sentido.

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Acompanhe o esquema dos elementos de comunicação:

Vamos ver essa teoria na prática.

Contexto: defesa sobre o modo de escrever o texto poético;

Emissor: eu-lírico (dotado de competência – falante da língua portuguesa, conhecimento – sabe das implicações da sua variante lin-guística e ideologia, acredita nesse formato de poema);

Mensagem: o poema;

Receptor: a princípio, os poetas universitários e os de academia;

Canal: livro;

Código: variante da norma culta.

Vamos ver outro exemplo:

O diretor da empresa envia um comunicado pela intranet, lem-brando a necessidade de maior rigor na redação de documentos internos.

Contexto: ambiente empresarial;

Emissor: diretor da empresa;

Mensagem: necessidade de maior rigor na redação de documentos internos;

Receptor: funcionários da empresa;

Canal: Intranet;

Código: Língua Portuguesa.

Como apontado anteriormente, a língua escrita é usada com dife-rentes objetivos. Cada objetivo vai orientar o gênero a ser escolhido e a função da linguagem que vamos favorecer. É claro que uma função prevalece sobre as outras, mas num mesmo texto podemos ter duas ou três funções.

CONTEXTO

MENSAGEMEMISSOR

COMPETÊNCIASCONHECIMENTOSIDEOLOGIA

COMPETÊNCIASCONHECIMENTOSIDEOLOGIA

RECEPTOR

CANAL

CÓDIGO

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As funções essenciais da linguagem, conforme seus objetivos são:

Função referencial – informação bruta, informativa, enxuta, sem comentários.

Função expressiva – presença da voz do emissor/falante, de seus juízos, sentimentos – textos críticos, subjetivos, “impressionistas”.

Função conativa – leva em consideração o interlocutor/destinatário – textos seduto-res, persuasivos.

Função fática – textos que iniciam ou facilitam a comunicação.

Função metalinguística – textos explicativos – definições.

Função poética – textos que valorizam a informação pela forma da mensagem.

Veja como cada função está atrelada a um elemento da comunicação:

CONTEXTO(REFERENCIAL)

MENSAGEM(POÉTICA)

CONTATO(FÁTICA)

CÓDIGO(METALINGUÍSTICA)

RECEPTOR(CONOTATIVA)

RECEPTOR(EXPRESSIVA)

No poema de Patativa do Assaré, há o predomínio da função expressiva. Além dela podemos identificar a função poética e metalin-guística. Acompanhe:

• Função expressiva: centrada no eu, na opinião do eu-lírico.

• Função poética: trabalho com a mensagem, com o texto. Escolha das palavras para que se mantenham rimas, ritmo e sentido.

• Função metalinguística: é um poema que discute a própria natureza do poema/poesia.

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Mas não é apenas por meio da poesia que nos relacionamos, não é mesmo? São muitos os gêneros textuais que organizam a nossa vida diária. Afinal, os textos produzidos em língua oral, ou escrita, devem ser adequados ao gênero e a situação em que estão sendo solicitados. Saber essas informações e utilizá-las a nosso favor é extremamente importante, pois esse reconhecimento das adequações que a Língua pode sofrer é o segredo de um falante de sucesso, já que “a língua não deixa de ser uma atividade social, histórica e cognitiva.” (Marcuschi, 2002).

Língua PadrãoAté agora, você já percebeu que há variedades diversi-

ficadas de língua portuguesa. Porém percebeu também que há uma variedade de maior prestígio: a variedade padrão, a que atende à norma culta. Ela se caracteriza por fazer uso, ou melhor, procurar atender às regras impostas pela gramática normativa.

E aquela conversa de valorizar o poema de Patativa do Assaré assim como o de Camões? Você deve estar se ques-tionando: então não existe o certo e o errado em Língua Portuguesa? Na verdade, o que existe são valores atrelados ao significado social que determinada variante possui, por-que não nos basta saber o que o outro nos diz, mas quem é esse outro.

A norma padrão atende, então, a uma gramática normativa. Nela, são estabelecidas as regras para o uso da concordância, da regência, da pontuação, da acentuação e tantas outras. Como usuários da língua portuguesa, devemos reconhecer e fazer uso dessa variedade quando nos for solicitado, atendendo ao momento de interação social no qual estamos participando.

A seguir vamos ler um fragmento do Samba do Arnesto, do compositor Adoniram Barbosa, e a par-tir desse texto verificar algumas exigências dessa variedade padrão.

Samba do Arnesto

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás.

Nós fumos não encontremos ninguém.

Nós vortemos com uma baita de uma réiva,

Da outra vez nós num vai mais.

<http://letras.terra.com.br/adoniran-barbosa/43968/>

Gramática

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Adoniran Barbosa, compositor, cantor, humorista e ator paulista, filho de imigrantes italianos. Ficou famoso com as músicas “Saudosa Maloca”, “O Samba do Arnesto” e “Trem das Onze”.

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O fragmento da letra da música de Adoniram Barbosa não atende às regras impostas pela norma culta. Veja que na expressão “Da outra vez nós num vai mais” o verbo não concorda com o substantivo a que se refere. Neste caso o pronome pessoal do caso reto “nós”.

No dia a dia, sem poema ou canções, travamos nossa luta com a norma culta. A concordância, a regência e o uso adequado dos prono-mes podem contribuir de modo positivo ou negativo para estabelecer nossa imagem.

Vamos ler sobre os modos como podem ocorrer a Concordância e Regência na Língua Portuguesa padrão.

ConcordânciaPara atender à norma culta da língua, devemos organizar as frases

de modo que haja concordância entre as partes que as formam. Quando o artigo, o adjetivo, o pronome adjetivo e o numeral concordam em gênero e número com o nome a que se referem, se diz que há concor-dância nominal. Já quando o verbo sofre alterações para se adequar em número e pessoa ao seu sujeito, trata-se de concordância verbal.

Usualmente aprendemos a concordância gramatical, ou seja, aquela em que flexionamos (combinamos) o determinante ao determi-nado a que se refere. Lembra-se da história do verbo que combina com o sujeito a que se refere? Ou ainda que o adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere?

Observe os exemplos:

Exemplo: A maioria dos médicos apoiou o colega.

O verbo (apoiou) concordou com o núcleo do sujeito (maioria)

Exemplo: Escolheram a hora adequada.

O adjetivo (adequada) e o artigo (a) concordaram com o substan-tivo (hora).

Além da concordância gramatical, há a concordância atrativa, que é a adequação do pronome ao determinante. Nessa modalidade há quatro casos:

a. apenas um dos vários elementos determinados, escolhendo-se aquele que está mais próximo:

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Exemplo: Escolheram a hora e o local adequado.

O adjetivo (adequado) está concordando com o substantivo mais próximo (local).

b. uma parte do termo determinado que não constitui gramatical-mente seu núcleo.

Exemplo: A maioria dos professores faltaram.

O verbo (faltaram) concordou com o substantivo (professores) que não é o núcleo do sujeito.

c. outro termo da oração que não é o determinado:

Exemplo: Tudo são flores.

O verbo (são) concorda com o predicativo do sujeito (flores).

d. para finalizar, há a concordância ideológica ou silepse.

Exemplo: A gente não sabemos escolher presidente.

O que podemos observar é que a concordância não é feita com o determinado, mas sim com a ideia que ele representa. Como é o caso do vocábulo gente que, nesse caso, representa povo, uma ideia plural. A concordância do verbo saber, para atender à questões gramaticais, deveria ser “sabe” – para concordar com seu determinado, gente.

Veja outro exemplo:

A gente, extasiada com sua fala, gritavam.

O verbo (gritavam) concorda com a ideia da palavra povo (plural) e não com sua forma (singular).

RegênciaVocê está lembrado das aulas de Língua Portuguesa em que seu

professor falava – quando fazia análise sintática – que determinada palavra ou expressão precisava de um complemento para fazer sen-tido? Pois bem, a regência estabelece a relação entre dois termos, se um serve de complemento ao outro. A palavra ou oração que governa ou rege as outras se chama regente; os termos ou oração de que dela dependem são os regidos. Acompanhe alguns exemplos:

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acessível a

admirado a, por

agradável a

comum a, de

desejoso de

generoso com

independente de, em

passível de

útil a, para

É importante lembrar também que a alteração desses complementos altera o sentido do verbo.

Exemplos:

• Aspiro o perfume dela (cheirar)./Aspiro a uma melhoria de salário (desejar).

• Ele visou o alvo (visar = mirar)./Ele visou o documento (visar = dar visto).

Antes de começarmos o estudo da colocação dos pronomes, vamos revisar as classes gramaticais:

Substantivos: são as palavras que dão nomes às coisas, seres, objetos, pessoas: • livro, faculdade, perfume, aluno, Felipe, Silva.

Pronomes: como o próprio nome diz são aquelas palavras que substituem o nome, o substantivo: • eu, você, ele, nós, me, contigo, lhe, os, as.

Adjetivos: são as palavras que usamos para delimitar o sentido de outras palavras:• belo, seco, cheirosa.É preciso ter cuidado com os adjetivos, pois podem aparecer substantiva-

dos, ou seja, terem valor de substantivo:A bonita deixou de dar o recado.

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Advérbios: esses vocábulos modificam verbos, adjetivos e outros advérbios:• Bebeu o café rapidamente. A palavra “rapidamente” modificou o sentido do verbo beber. Não bebeu,

simplesmente, mas o fez rapidamente.

Verbos: são as palavras que indicam um processo que se passa no tempo de modo a exprimir ação, estado, mudança de estado, fenômeno da natureza, existência, desejo, conveniência.• As crianças brincaram durante toda a tarde.• O professor está despreocupado.• O professor ficou preocupado.• Choveu muito naquele verão.• Havia bons modos naquela época.• Quero passar de ano.• Aquela conversa não me convém.

Conjunção: é a palavra que liga duas orações ou dois termos que exercem a mesma função sintática dentro da oração.• O aluno deixou de entregar a tarefa e ficou chateado.

Numeral: indica a quantidade exata de alguma coisa ou a posição que ocupa em determinada série: • primeiro, três, dobro, metade, meio.

Preposição: é a palavra que liga dois termos da oração, subordinando um ao outro:• Minhas filhas moraram em Curitiba.

Artigo: é a palavra que determina o substantivo, indicando o gênero e o número: • A aula foi proveitosa.• As aulas foram proveitosas.

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Interjeição: são as palavras com as quais exprimimos sentimentos súbitos:• ah!, ufa!, ai! ui!.

Emprego dos pronomes oblíquos átonosEu o vi ontem ou Eu lhe vi ontem? Qual dessas construções é cor-

reta de acordo com a norma culta da Língua Portuguesa?

Para respondermos essa questão, precisamos lembrar que o e lhe são pronomes oblíquos, ou seja, são aqueles pronomes que funcionam como complemento do verbo. São eles:

• me, mim, comigo, te, ti, contigo, se, si, consigo, o (os), a (as), lhe (lhes), nos, conosco, vos, convosco.

Porém, aqueles que precisam de maior rigor no uso são:

• o(s), a(s), lhe (s), me, te, se, nos, vos.

Próclise: é a colocação dos pronomes oblíquos átonos antes do verbo. Usa-se a próclise, quando houver palavras atrativas. São elas:

a. Palavras de sentido negativo (não, nada, nunca, ninguém, etc.).

• Ela nem se incomodou com meus problemas.

b. Advérbios.

• Aqui se tem sossego, para trabalhar.

c. Pronomes Indefinidos.

• Alguém me telefonou?

d. Pronomes Interrogativos.

• Que me acontecerá agora?

e. Pronomes Relativos

• A pessoa que me telefonou não se identificou.

f. Pronomes Demonstrativos Neutros.

• Isso me comoveu deveras.

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g. Conjunções Subordinativas.

• Escrevia os nomes, conforme me lembrava deles.

Mesóclise: É a colocação pronominal no meio do verbo. A mesó-clise é usada:

Quando o verbo estiver no futuro do presente ou futuro do preté-rito, contanto que esses verbos não estejam precedidos de palavras que exijam a próclise.

• Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento em prol da paz no mundo.

• Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia nessa viagem.

Ênclise: É a colocação pronominal depois do verbo. A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem possíveis:

1. Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo.

• Quando eu avisar, silenciem-se todos.

2. Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal.

• Não era minha intenção machucar-te.

3. Quando o verbo iniciar a oração.

• Vou-me embora agora mesmo.

4. Quando houver pausa antes do verbo.

• Se eu ganho na loteria, mudo-me hoje mesmo.

5. Quando o verbo estiver no gerúndio.

• Recusou a proposta, fazendo-se de desentendida.

Colocação pronominal nas locuções verbais, ou seja, naqueles casos em que há dois – um principal e um auxiliar. Fazemos uso deles para ampliar o significado dos verbos principais.

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1. Quando o verbo principal for constituído por um particípio:

• O pronome oblíquo virá depois do verbo auxiliar.

Exemplo: Haviam-me convidado para a festa.

• Mas, se antes da locução verbal houver palavra atrativa, o pro-nome oblíquo ficará antes do verbo auxiliar.

Exemplo: Não me haviam convidado para a festa.

2. Quando o verbo principal for constituído por um infinitivo ou um gerúndio:

• Se não houver palavra atrativa, o pronome oblíquo virá depois do verbo auxiliar ou depois do verbo principal.

Exemplo: Devo esclarecer-lhe o ocorrido. / Devo-lhe esclarecer o ocorrido.

• Estavam chamando-me pelo alto-falante. / Estavam-me chamando pelo alto-falante.

• Se houver palavra atrativa, o pronome poderá ser colocado antes do verbo auxiliar ou depois do verbo principal.

Exemplo: Não posso esclarecer-lhe o ocorrido./ Não lhe posso esclarecer o ocorrido.

• Não estavam chamando-me. / Não me estavam chamando.

Observações importantesEmprego de o, a, os, as

1. Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral os pronomes o, a, os, as não se alteram.

Exemplos: Chame-o agora. Deixei-a mais tranquila.

2. Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes finais alteram-se para lo, la, los, las.

Exemplos: (Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.

(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.

3. Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, ão, õe,), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, na, nos, nas.

Exemplos: Chamem-no agora. Põe-na sobre a mesa.

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As formas combinadas dos pronomes oblíquos mo, to, lho, no-lo, vo-lo, formas em desuso, podem ocorrer em próclise, ênclise ou mesóclise.

Exemplo: Ele mo deu. (Ele me deu o livro).

Palavras e expressões que causam dúvidas

Mau ou malMau é um adjetivo, desqualifica uma pessoa ou coisa.

Exemplo: Ele é um mau administrador.

Mal exerce mais de uma função:

como advérbio – Ele canta mal.

como conjunção – Mal o viu, atirou-se nos braços dele.

como substantivo – A corrupção no Brasil é um mal que não tem fim.

A regra prática é a substituição:

Mau por bom

Mal por bem

Dentre ou entreDentre: usa-se com verbos que indicam movimento e que regem,

conforme o caso, a preposição de. Não basta, contudo, o simples aparecimento desse verbo. É necessário que ele reja, realmente, a pre-posição de.

Exemplo : Dentre a multidão saiu uma criança correndo.

Nos demais casos, utilize entre.

Onde ou aonde É preciso tomar cuidado com o uso de palavras cujo significado

desconhecemos. O hábito de usar “onde” indiscriminadamente tem se intensificado.

Onde indica, como advérbio, em que lugar, – “Onde há fumaça, há fogo”.

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Pode ser utilizado como pronome relativo, caso que designa em que lugar; em qual lugar. Refere-se a lugar ou indica noção de local.

Exemplo: A casa onde mora é ensolarada,

Aonde é utilizado com verbos que indicam movimento e que regem a preposição a (como ir e chegar)

Exemplo: Não sei aonde ele vai.

Por que, porquê, porque, por quê• Por que – em frases interrogativas diretas ou indiretas e quando puder

ser substituído por pelo qual, pelos quais, pela qual, pelas quais.

Afinal chegou o dia por que tanto esperei.

• Porquê – tem valor de substantivo e equivale a causa, motivo ou razão. Vem antecedido pelo artigo o.

Não sei o porquê de tanto entusiasmo.

• Porque – Utiliza-se porque em respostas, em explicações ou para introduzir uma finalidade.

Deve estar bem frio porque seu rosto está gelado.

• Por quê – no final das frases interrogativas diretas ou indiretas.

Você está assim triste por quê?

A ou HáNão troque a pela forma verbal há.

A é utilizado para exprimir distância ou tempo futuro.

Exemplo: Daqui a uma semana, estarei de férias.

Há é utilizado para indicar, quando se refere a tempo, o passado,

Neste caso, pode ser substituído por faz.

Exemplo: Ele viajou há um mês.

A nível deNão existe a expressão a nível de na norma culta.

Ao nível de é utilizado quando significa à (na) mesma altura.

Exemplo: Comprou um terreno ao nível do mar.

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Em nível de é usado quando significa em termos (de), no plano (de).

Exemplo: As mudanças serão realizadas em nível de estado (em nível estadual).

GerúndioForma verbal utilizada para expressar uma circunstância ou for-

mar nova construção, quando conjugada com os auxiliares andar e estar, verbos frequentativos ou para expressar ação incoativa de um verbo quando estiver junto dos auxiliares ir e vir.

Verbos frequentativos são aqueles que expressam ação repetida, como pestanejar.

Verbos incoativos são aqueles que exprimem começo de ação ou estado, como alvorecer, anoitecer.

O gerúndio pode tornar o período demasiado longo, além de tirar a habilidade do texto sem acrescentar informação relevante. Deve ser evitado em início de frase. Infelizmente, o uso do gerún-dio virou moda, ainda que deselegante. Acredita-se que tenha surgido de traduções mal feitas de uma estrutura gramatical do inglês, como no exemplo: “Eu vou estar agendando uma visita do técnico.”

Leia o esclarecedor artigo sobre o fenômeno do gerundismo, disponível no site:<http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=104&rv=Gramatica>

O emprego da craseÉ importante saber o porquê de utilizarmos a crase e quando deve-

mos fazê-lo.

A crase origina-se da contração da preposição a com o artigo femi-nino a ou as. Por isso, só há crase diante de uma palavra feminina.

Um recurso prático para sabermos quando utilizar o acento indicativo de crase é substituir a palavra feminina, a respeito da qual se tem dúvida, por uma palavra masculina que tenha a mesma natureza.

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Se dessa substituição resultar “ao” ocorrerá crase.

Exemplos: Ela referiu-se ao amigo de forma carinhosa.

Ela referiu-se à amiga de forma carinhosa.

Mas o uso adequado da crase não se resume a esse tipo de situação.

O acento indicativo de crase é utilizado também:

• Diante de expressões adverbiais de lugar constituídas por nomes de países, estados, cidades. Uma quadrinha pode ser usada como forma de se lembrar rapidamente da regra prática para essa situação:

“Se vai a e volta da, crase há. Se vai a e volta de, crase pra quê?

Exemplos:

Vou à Bahia. (Vim da Bahia.)

Vou a Veneza. (Vim de Veneza.)

• Nas indicações de horas - desde que determinadas.

Exemplo: Eles devem chegar à meia-noite.

• Nas expressões adverbiais, como à tarde, à noite, à toa, às escondidas, à beira de, à procura de, etc.

• Diante da palavra casa, desde que determinada.

Exemplo: Cheguei à casa de meus tios ao entardecer.

• Nas formas pronominais aquele, aquela ou aquilo – desde que resultem da contração preposição a com os pronomes.

Exemplo: Iremos àquele restaurante amanhã.

Há casos em que o acento indicativo de crase é opcional, como:

• Diante de pronomes possessivos.

Exemplo: Refiro-me a sua irmã.

Refiro-me à sua irmã.

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• Diante de nomes próprios femininos.

Exemplo: Enviamos flores a Patrícia.

Enviamos flores à Patrícia.

• Após a preposição “até” que precede substantivos femininos, con-tanto que a palavra antecedente reja a preposição “a”.

Exemplo: Fomos até a academia.

Fomos até à academia.

Estrangeirismos

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Atualmente, tornou-se “moda” a utilização do inglês como recurso de expressão. Ótimo, se você estiver falando e seu círculo de amigos receber a informação adequadamente e sem contestação. Na escrita, porém, não funciona assim. As palavras em língua estrangeira só devem ser utilizadas quando não houver equivalente do termo em língua materna ou quando a linguagem especializada exigir a terminologia.

Utilizar palavras estrangeiras para demonstrar erudição ou por modismo não é aceito pela língua padrão, por um fator óbvio: o texto deve ser um veículo de comunicação abrangente. Como nem todo mundo fala inglês ou outro idioma estrangeiro de forma competente, sua comunicação não é abrangente.

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O Emprego do “Cujo”Cujo só deve ser utilizado quando a relação entre o termo antece-

dente e consequente indicar posse, ou seja: o antecedente é o termo possuidor e o consequente é o ser possuído. Observe o exemplo:

Aqui está o homem que a mulher é professora (típico da oralidade).

Aqui está o homem cuja mulher é professora (típico da escrita formal).

Observe que a utilização correta de cujo não aceita a colocação de um artigo depois:

Está errada a frase: Aqui está o homem cuja a mulher é professora.

Há situações em que cujo, assim como outros pronomes relativos, vêm antecedidos de preposição. Isso ocorre porque o verbo exige preposição.

Veja:

Exemplo: É uma pessoa de cujas atitudes só se pode discordar (discordar de algo).

Os Verbos Haver, Ter, Fazer e ExistirAs confusões com os verbos haver e fazer são comuns na Língua

Portuguesa.

O verbo haver, quando significa existir, apresenta a mesma forma no singular e no plural. Por ser um verbo impessoal, que não tem sujeito, não varia.

Dizemos:

Havia muitos alunos na classe.

E nunca devemos dizer, por se tratar de erro grave:

Haviam muitos alunos na classe.

No caso de o verbo haver formar uma locução com um verbo auxi-liar – como estar, dever, este também ficará no singular.

Exemplo: Deve haver muitas pessoas ali.

Apenas quando o verbo haver significar ter, ele admitirá singular e plural.

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Exemplo: Ainda não haviam tomado todas as vacinas. (Ainda não tinham tomado todas as vacinas).

O verbo fazer também pode ficar invariável, quando designa tempo ou fenômeno da natureza. Em ambos os casos, torna-se impes-soal e não muda no singular e no plural.

“Faz cinco anos que ele partiu”,

É errado dizer “Fazem cinco anos que ele partiu”

“Faz dias ensolarados neste verão”,

É errado dizer “Fazem dias ensolarados neste verão”

“Deve fazer dias ensolarados nesse verão”,

É errado dizer “Devem fazer dias ensolarados nesse verão”.

O verbo existir, por se tratar de verbo regular, conjuga-se tanto no singular quanto no plural. O engano se dá por vir antes do sujeito.

Observe o exemplo:

“Havia muitas pessoas na sala”.

Porém a troca por existir ficará assim:

“Existiam muitas pessoas na sala”.

Verbos que concordam segundo as regras gramaticais, apesar de virem antes do sujeito: bastar; faltar; restar e sobrar, são conjugados do mesmo modo que o verbo existir.

Como construir sentenças utilizando o particípio?Escrevemos “o assassino tinha matado a vítima” ou “o assassino

tinha morto a vítima”?

Escrevemos “o jogador tinha ganhado a partida” ou “o jogador tinha ganho a partida”? ;

Escrevemos “os sequestradores foram presos” ou “os sequestrado-res foram prendidos”?

A regra geral é:

Com os verbos auxiliares ter e haver usa-se o particípio regular do verbo principal.

Exemplos:Ele tinha matado.Ele havia prendido.

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Com os verbos ser e estar emprega-se o particípio irregular do verbo principal.

Exemplos:Ele deveria ter entregue o trabalho em tempo.Nó estávamos sendo presos e seríamos mortos.

Observe a tabela a seguir, que mostra particípios regulares e irregulares de vários verbos.

INFINITIVOPARTICÍPIOREGULAR

PARTICÍPIOIRREGULAR

INFINITIVOPARTICÍPIOREGULAR

PARTICÍPIOIRREGULAR

aceitar aceitado aceito imprimir imprimido impressoacender acendido aceso incluir incluído inclusoanexar anexado anexo isentar isentado isentobenzer benzido bento juntar juntado juntodesenvolver desenvolvido desenvolto limpar limpado limpodespertar despertado desperto malquerer malquerido malquistodispersar dispersado disperso matar matado mortodistinguir distinguido distinto misturar misturado mistoeleger elegido eleito morrer morrido mortoemergir emergido emerso murchar murchado murchoencher enchido cheio ocultar ocultado ocultoentregar entregado entregue omitir omitido omissoenvolver envolvido envolto pagar pagado pagoenxugar enxugado enxuto pegar pegado pegoerigir erigido ereto prender prendido presoexpelir expelido expulso romper rompido rotoexpressar expressado expresso salvar salvado salvoexprimir exprimido expresso secar secado secoexpulsar expulsado expulso segurar segurado seguroextinguir extinguido extinto soltar soltado soltofindar findado findo submergir submergido submersofixar fixado fixo sujeitar sujeitado sujeitofritar fritado frito suprimir suprimido supressoganhar ganhado ganho suspender suspendido suspensogastar gastado gasto tingir tingido tintoimergir imergido imerso vagar vagado vago

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Mas fique atento para as seguintes situações:

• Usadas com verbos auxiliares como “ser”, “estar”, “ficar” e outros, as formas do particípio variam em gênero e número.

Por exemplo: “O acordo foi firmado” e “Os acordos foram fir-mados”; “A proposta foi apresentada” e “As propostas foram apresentadas”.

• Com os verbos auxiliares “ter” e “haver”, o particípio fica invariável:

Por exemplo: “Temos escrito muitos textos para o site”.

Note que se dissermos: “Temos escritos muitos textos para o site”, o significado da frase muda e passa a querer dizer que “Temos prontos muitos textos para o site”.

• Há particípios regulares que podem ser usados também na voz passiva. Assim, podemos ler na imprensa: “O ministro foi fritado por longo tempo” e “A conta foi ocultada rapidamente da fis-calização”. Lembre-se de que o particípio irregular desses verbos é frito e oculto.

• Em alguns verbos que admitem ambos os particípios na voz passiva, uma forma é mais usual que outra conforme o verbo auxiliar:

“O reservatório está cheio”, mas “O reservatório é enchido até a metade diariamente” e “A montanha está envolta em nuvens”, mas “A montanha foi envolvida por forte neblina”.

• Em outros contextos, o mesmo particípio acaba sendo empregado indiferentemente com um ou outro verbo auxiliar:

“O secretário presidencial esteve envolvido em escândalos” e “O secretário presidencial foi envolvido em escândalos”.

• Nas orações reduzidas de particípio ou orações participiais, usa-se apenas a forma irregular:

“Aceso o lampião, os rostos apareceram” (e não “acendido o lampião”) e “Findo o recesso, os deputados continuaram em cam-panha eleitoral” (e não “findado o recesso”).

• Na linguagem atual, a forma regular de três verbos já caiu em desuso: ganhado (ganhar), gastado (gastar) e pagado (pagar). Curiosamente, todas relacionadas com dinheiro.

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• Há ainda algumas exceções à regra, como é o caso do verbo “aceitar”.

O particípio “aceitado” também pode ser usado na voz passiva:

“O convite foi aceito” ou “O convite foi aceitado”.

• Outro caso especial é o de “pego”. Muitos gramáticos opõem restri-ções ao uso dessa redução, recomendando “pegado” tanto com ter e haver como com ser e estar: tinha pegado, foi pegado. Mas, atual-mente, já se admite pegado com ter e haver e pego com ser e estar: havia pegado, foi pego.

• Essas exceções, porém, não autorizam a criação indiscriminada, por analogia, de variações semelhantes para outros verbos, espe-cialmente chegar, trazer e falar. Por mais que já se diga, com muita frequência, que alguém “tinha chego” ou “tinha trago”, os três verbos ainda se conjugam apenas nos particípios regulares: tinha chegado, tinha trazido e tinha falado.

Agora que você conhece um pouco mais a língua e a linguagem e a necessidade de adequação da fala e/ou escrita ao momento de interação social, veremos, na próxima unidade, os processos de escolha do gênero textual adequado a cada situação.