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MA250408 EIXO TEMÁTICO: 3 – REALISMO-NATURALISMO — O MATERIALISMO ESTÉTICO E A CONCRETUDE DA REALIDADE COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS 1) Apontar, nos textos de Machado de Assis, de Ings de Sousa e de Eça de Queirós, elementos do estil o realista-naturalista, através do enredo, da linguagemdos personagens, do foco narrativo, da temática, do tempo e do espaço. 2) Apontar, nos poemas de Olavo Bilac e de Cesário Verde, elementos da poesia parnasiana e realista, tais como: sintático, semântico, lexical e sonoro. 1. Reconhecer as principais características do Realismo-Naturalismo. 2. Elencar as características da poesia parnasiana. 3. Detectar as influências científicas nas produções literárias do Realismo-Naturalismo. 4. Explicar a relevância do romance de Machado de Assis e da novela de Eça de Queirós para a prosa realista. 5. Identificar a presença do estilo realista, nas obras dos escritores luso-brasileiros, em prosa e em versos. 3.1 Realismo, Naturalismo e Parnasianismo - Leitura de O Alienista de Machado de Assis - Leitura dos contos: Voluntário, Acauã, A quadrilha de Jacó Patacho, de Inglês de Sousa - Leitura da novela Mandarim de Eça de Queirós - Leitura de poemas de Olavo Bilac - Leitura de poemas de Cesário Verde REALISMO / NATURALISMO (Aspectos Gerais) FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!! PROFº: ANÍSIO Fale conosco www.portalimpacto.com.br VESTIBULAR – 2009 CONTEÚDO A Certeza de Vencer 08 1 CONTEXTO HISTÓRICO O processo de industrialização, que já entrava em uma nova fase com a utilização da energia elétrica e do petróleo, aliado ao capitalismo crescente, favoreceram o surgimento de uma nova sociedade dividida em duas partes muito distintas. De um lado estava a burguesia dominadora, que controlava as empresas, visando sempre um lucro maior e pouco se importando com a situação do proletariado, que tinha pouca importância no processo econômico e era submetido a duríssimas condições de trabalho em troca de salários miseráveis. Essa divergência, aliada ao desenvolvimento da ciência, serviu de base para uma nova interpretação da realidade, sem idealizações Românticas, gerando novos movimentos filosóficos, científicos e político-sociais. Dentre esses movimentos destacam-se 1 : O positivismo ou comtismo formulado por Augusto, Comte defende o desenvolvimento de uma orientação cientificista do pensamento filosófico, atribuindo à constituição e ao processo da ciência positiva importância fundamental para o progresso de qualquer parte do conhecimento. O positivismo estabelecia que o saber utilitário era superior ao saber metafísico ou teológico. O socialismo científico ou socialismo marxista ou ainda socialismo revolucionário, de Karl Marx e Fridrich Engels, é baseado na doutrina do materialismo histórico. Esse movimento propõe a eliminação das classes sociais e a estatização dos meios de produção, implicando em uma distribuição mais justa e da renda de um país. O evolucionismo, teoria formulada por Charles Darwin. Sistema de história natural cuja conclusão extrema é o parentesco fisiológico e a origem comum de todos os seres vivos, com a formação de novas espécies por um processo de seleção natural, ou seja, predomínio do mais forte sobre o mais fraco. Essa teoria nega, portanto, a posição defendida pelo Cristianismo, de que a origem da vida e de criação divina. A literatura desse período alegou que a seleção natural pregada por Darwin também ocorria com o homem que vive em sociedade. O determinismo de Hypolite Taine. Segundo essa teoria o homem é um produto de leis físicas e sociais. Em linhas mais gerais pode-se dizer que o homem é visto como um produto biológico e o seu comportamento é determinado pelo meio ambiente, pela educação, pelas pressões sociais e pela hereditariedade. Nessa fase da industrialização passou-se a a utilizar a energia elétrica e o petróleo. Ainda nesse período o transporte coletivo passou a ser muito utilizado pelas classes trabalhadoras. A pintura "Vagão de Terceira Classe" de Daumier caracteriza muito bem essa época. 1 CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira: das origens ao Realismo – História e antologia. 11ª ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 2003. O Realismo foi um o movimento artístico, surgido em meados do século XIX, em oposição ao Romantismo e aos excessos do lirismo e da imaginação. O sentimento Romântico e suas visões fantasiosas da vida perderam espaço para o espírito prático Realista. Isso se deu devido ao progresso das cidades, a industrialização, o avanço da ciência e o surgimento de novas correntes filosóficas dentre as quais destacam-se: o Método dialético de Georg Wilhelm Friedrich Hegel; o Positivismo de Augusto Comte; o Darwinismo ou Evolucionismo de Charles Darwin; o Socialismo científico de Karl Marx e o Determinismo de Hyppolite Taine. O Realismo em Portugal tem seu início marcado com a Questão Coimbrã liderada por Antero de Quental e estende-se até 1890, quando Eugênio de Castro publica a obra "Oaristos", dando início ao período Simbolista. O Brasil do período Realista sofreu uma série de transformações políticas, sociais e econômicas. Algumas delas iniciaram- se ainda no período Romântico e tiveram o seu apogeu somente durante o Realismo. Dentre elas podemos citar: os movimentos abolicionistas, que tiveram com conseqüências o fim da escravidão em 1888; a chegada dos imigrantes europeus, em sua maioria italianos e portugueses, que substituíram a mão de obra escrava pela mão de obra assalariada; e o movimento republicano, que teve inicio em 1870 com a fundação do Partido Republicano e ganhou muita força a partir de 1873 com a convenção realizada em Itu em São Paulo. O termo Realismo é de origem francesa. Ele foi usado pela primeira vez em 1855 pelo pintor Gustave Coubert, que intitulou sua exposição de arte, realizada em Paris, como Le Réalisme. A arte de Coubert já demonstrava uma certa oposição à liberdade artística do Romantismo, pois tentava retratar os costumes de sua época. O primeiro romance que refletiu essa nova tendência foi Madame Bovary(1857) de Gustave Flaubert. Em linhas gerais pode-se dizer que as manifestações artísticas realistas sempre existiram e sempre existirão, mas quando se emprega o termo Realismo, faz-se referência ao estilo de época do século XIX O Realismo é uma estética que tem uma espécie de compromisso com o tempo presente e, por isso, vê o mundo de forma objetiva e exata. As suas características refletem as tendências filosóficas da época, ou seja, as idéias positivistas, socialistas, deterministas e darwinistas estão sempre presentes, tanto na literatura quanto nas outras formas de arte. O objetivismo surge como uma espécie de recusa ao subjetivismo e ao individualismo, característicos do período Romântico. Com isso, o personalismo é substituído por uma espécie de não-eu, revelando assim um homem mais universal, voltado para as coisas que estão ao seu redor. A emoção perde seu espaço para a razão e para o materialismo( doutrina que explica em termos evolutivos o problema da origem do mundo, dispensando assim a criação divina.). Os Realistas procuram retratar o homem a partir da observação do seu meio ambiente e dos seus costumes, preocupando-se com o momento presente e com o cotidiano, desprezando o nacionalismo e o passado histórico. A literatura passa então a ser um instrumento de denúncia social, ou seja, contra tudo o que havia de ruim na sociedade. Por isso, é comum encontrar obras que satirizam: o clero, a monarquia, a burguesia e, em especial, a família burguesa. Devido a essa postura ideológica, pode-se dizer que os artistas desse período eram antimonárquicos, antiburgueses e anticlericais. Os personagens dos romances passam a ser muito parecidos com pessoas comuns e representam sempre uma classe social, ou seja,

Literatura - Pré-Vestibular Impacto - Realismo - Naturalismo - Aspectos Gerais

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EIXO TEMÁTICO: 3 – REALISMO-NATURALISMO — O MATERIALISMO ESTÉTICO E A CONCRETUDE DA REALIDADE COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS

1) Apontar, nos textos de Machado de Assis, de Inglêsde Sousa e de Eça de Queirós, elementos do estilorealista-naturalista, através do enredo, da linguagem,dos personagens, do foco narrativo, da temática, dotempo e do espaço. 2) Apontar, nos poemas de Olavo Bilac e de CesárioVerde, elementos da poesia parnasiana e realista, taiscomo: sintático, semântico, lexical e sonoro.

1. Reconhecer as principais características do Realismo-Naturalismo. 2. Elencar as características da poesia parnasiana. 3. Detectar as influências científicas nas produções literárias doRealismo-Naturalismo. 4. Explicar a relevância do romance de Machado de Assis e da novelade Eça de Queirós para a prosa realista. 5. Identificar a presença do estilo realista, nas obras dos escritoresluso-brasileiros, em prosa e em versos.

3.1 Realismo, Naturalismo e Parnasianismo - Leitura de O Alienista de Machado de Assis - Leitura dos contos: Voluntário, Acauã, Aquadrilha de Jacó Patacho, de Inglês de Sousa - Leitura da novela Mandarim de Eça deQueirós - Leitura de poemas de Olavo Bilac - Leitura de poemas de Cesário Verde

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CONTEXTO HISTÓRICO O processo de industrialização, que já entrava em uma nova fase com a utilização da energia elétrica e do petróleo, aliado ao capitalismo crescente, favoreceram o surgimento de uma nova sociedade dividida em duas partes muito distintas. De um lado estava a burguesia dominadora, que controlava as empresas, visando sempre um lucro maior e pouco se importando com a situação do proletariado, que tinha pouca importância no processo econômico e era submetido a duríssimas condições de trabalho em troca de salários miseráveis. Essa divergência, aliada ao desenvolvimento da ciência, serviu de base para uma nova interpretação da realidade, sem idealizações Românticas, gerando novos movimentos filosóficos, científicos e político-sociais. Dentre esses movimentos destacam-se1: O positivismo ou comtismo formulado por Augusto, Comte defende o desenvolvimento de uma orientação cientificista do pensamento filosófico, atribuindo à constituição e ao processo da ciência positiva importância fundamental para o progresso de qualquer parte do conhecimento. O positivismo estabelecia que o saber utilitário era superior ao saber metafísico ou teológico. O socialismo científico ou socialismo marxista ou ainda socialismo revolucionário, de Karl Marx e Fridrich Engels, é baseado na doutrina do materialismo histórico. Esse movimento propõe a eliminação das classes sociais e a estatização dos meios de produção, implicando em uma distribuição mais justa e da renda de um país. O evolucionismo, teoria formulada por Charles Darwin. Sistema de história natural cuja conclusão extrema é o parentesco fisiológico e a origem comum de todos os seres vivos, com a formação de novas espécies por um processo de seleção natural, ou seja, predomínio do mais forte sobre o mais fraco. Essa teoria nega, portanto, a posição defendida pelo Cristianismo, de que a origem da vida e de criação divina. A literatura desse período alegou que a seleção natural pregada por Darwin também ocorria com o homem que vive em sociedade. O determinismo de Hypolite Taine. Segundo essa teoria o homem é um produto de leis físicas e sociais. Em linhas mais gerais pode-se dizer que o homem é visto como um produto biológico e o seu comportamento é determinado pelo meio ambiente, pela educação, pelas pressões sociais e pela hereditariedade. Nessa fase da industrialização passou-se a a utilizar a energia elétrica e o petróleo. Ainda nesse período o transporte coletivo passou a ser muito utilizado pelas classes trabalhadoras. A pintura "Vagão de Terceira Classe" de Daumier caracteriza muito bem essa época.

1 CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira: das origens ao Realismo – História e antologia. 11ª ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 2003.

O Realismo foi um o movimento artístico, surgido em meados do século XIX, em oposição ao Romantismo e aos excessos do lirismo e da imaginação. O sentimento Romântico e suas visões fantasiosas da vida perderam espaço para o espírito prático Realista. Isso se deu devido ao progresso das cidades, a industrialização, o avanço da ciência e o surgimento de novas correntes filosóficas dentre as quais destacam-se: o Método dialético de Georg Wilhelm Friedrich Hegel; o Positivismo de Augusto Comte; o Darwinismo ou Evolucionismo de Charles Darwin; o Socialismo científico de Karl Marx e o Determinismo de Hyppolite Taine. O Realismo em Portugal tem seu início marcado com a Questão Coimbrã liderada por Antero de Quental e estende-se até 1890, quando Eugênio de Castro publica a obra "Oaristos", dando início ao período Simbolista. O Brasil do período Realista sofreu uma série de transformações políticas, sociais e econômicas. Algumas delas iniciaram-se ainda no período Romântico e tiveram o seu apogeu somente durante o Realismo. Dentre elas podemos citar: • os movimentos abolicionistas, que tiveram com conseqüências o fim da escravidão em 1888; • a chegada dos imigrantes europeus, em sua maioria italianos e portugueses, que substituíram a mão de obra escrava pela mão de obra assalariada; e • o movimento republicano, que teve inicio em 1870 com a fundação do Partido Republicano e ganhou muita força a partir de 1873 com a convenção realizada em Itu em São Paulo. O termo Realismo é de origem francesa. Ele foi usado pela primeira vez em 1855 pelo pintor Gustave Coubert, que intitulou sua exposição de arte, realizada em Paris, como Le Réalisme. A arte de Coubert já demonstrava uma certa oposição à liberdade artística do Romantismo, pois tentava retratar os costumes de sua época. O primeiro romance que refletiu essa nova tendência foi Madame Bovary(1857) de Gustave Flaubert. Em linhas gerais pode-se dizer que as manifestações artísticas realistas sempre existiram e sempre existirão, mas quando se emprega o termo Realismo, faz-se referência ao estilo de época do século XIX O Realismo é uma estética que tem uma espécie de compromisso com o tempo presente e, por isso, vê o mundo de forma objetiva e exata. As suas características refletem as tendências filosóficas da época, ou seja, as idéias positivistas, socialistas, deterministas e darwinistas estão sempre presentes, tanto na literatura quanto nas outras formas de arte. O objetivismo surge como uma espécie de recusa ao subjetivismo e ao individualismo, característicos do período Romântico. Com isso, o personalismo é substituído por uma espécie de não-eu, revelando assim um homem mais universal, voltado para as coisas que estão ao seu redor. A emoção perde seu espaço para a razão e para o materialismo( doutrina que explica em termos evolutivos o problema da origem do mundo, dispensando assim a criação divina.). Os Realistas procuram retratar o homem a partir da observação do seu meio ambiente e dos seus costumes, preocupando-se com o momento presente e com o cotidiano, desprezando o nacionalismo e o passado histórico. A literatura passa então a ser um instrumento de denúncia social, ou seja, contra tudo o que havia de ruim na sociedade. Por isso, é comum encontrar obras que satirizam: o clero, a monarquia, a burguesia e, em especial, a família burguesa. Devido a essa postura ideológica, pode-se dizer que os artistas desse período eram antimonárquicos, antiburgueses e anticlericais. Os personagens dos romances passam a ser muito parecidos com pessoas comuns e representam sempre uma classe social, ou seja,

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são personagens típicos: patrão, empregado, escravo, industrial etc. Dessa forma, é possível estabelecer relações criticas entre o texto e a sociedade da época. As atitudes e o comportamento desses personagens são sempre explicadas de maneira objetiva, realista lógica ou cientifica. A objetividade pregada pelos Realistas requer uma linguagem de compreensão imediata, parecida com um texto informativo, ou seja, simples, com períodos curtos e contruída sintaticamente na ordem direta. Assim, as inversões e metáforas, muito utilizadas pelos Românticos, perdem o sentido e, conseqüentemente, o seu espaço Outra característica importante do Realismo é a explicação lógica e racional de todas as atitudes dos personagens e acontecimentos ocorridos. Isso quer dizer que tudo o que é fantasioso e sobrenatural , como por exemplo acasos e milagres, é rejeitado pelos Realistas. Vale lembrar que esses recursos eram muito usados pelos Românticos. Com exemplo pode-se citar a obra Senhora, de José de Alencar, quando Aurélia, a protagonista, enriquece, de maneira casual, ao receber uma herança vinda de um parente que ela sequer conhecia. Para fins didáticos, o quadro abaixo esquematiza as principais diferenças entre o Realismo / Naturalismo e o Romantismo.

ROMANTISMO REALISMO/NATURALISMO

Volta ao passado Análise crítica do tempo presente

Individualismo Universalismo

Emoção Razão

Subjetividade Objetividade

Linguagem metafórica Linguagem direta

Fantasia Fatos observáveis

Imaginação Realidade A aproximação dos termos Realismo e Naturalismo é muito comum nos livros de história da literatura. Em muitos casos eles são usados até como sinônimos. Isso ocorre porque existem muitos pontos em comum entre o romance Realista e o Naturalista. Como exemplo pode-se citar o ataque à burguesia ao clero e à monarquia. As proximidades dessas estéticas são tantas, que, muitas vezes, é difícil classificar um autor e, até mesmo uma obra, como pertencente a essa e àquela corrente literária. Um bom exemplo é o escritor português Eça de Queiros, considerado por muitos críticos literários como sendo Realista e, por outros, como Naturalista. Apesar de toda essa proximidade, é possível encontrar algumas diferenças entre a prosa Realista e a Naturalista. O Naturalismo é fortemente influenciado pela teoria evolucionista de Charles Darwin e da biologia de Taine. Por isso, vê o homem sempre pelo lado patológico. Sob essa ótica o Homem se comporta como um animal, ou seja, não usa a razão, pois os seus instintos naturais são mais fortes. Ainda sob esse ponto de vista, o comportamento humano nada mais é do que o reflexo do meio em que o homem vive (Esse meio é composto por educação, pressão social, o próprio meio ambiente etc.). Esse homem, que ainda é subjugado (dominado moralmente, reprimido, amansado domesticado) pelo fator hereditariedade física, está preso a um destino que ele não consegue mudar. Um bom exemplo disso é o personagem "Pombinha", da obra "O Cortiço", de Aluíso de Azevedo. No início do romance ela era uma jovem cheia de virtudes e destinada ao casamento. No entanto, devido às influências do seu meio, cedeu ao homossexualismo e à prostituição. O Naturalismo aprofunda a visão científica do Realismo, pois acredita no princípio de que somente as leis da ciência são válidas, renegando assim, qualquer tipo de visão espiritualista. Dessa forma, acredita que o comportamento do homem pode ser explicado cientificamente. Então, o escritor naturalista observa o seu personagem muito de perto, buscando conhecer as causas desse comportamento para chegar ao conhecimento objetivo dos fatos e das situações. A temática também é um dos pontos em que há diferenças significativas entre o Naturalismo e o Realismo. Os autores Naturalistas, sempre por meio de uma análise rigorosa do meio social e de aspectos patológicos, trazem para sua obra temas como a miséria, a criminalidade e os problemas relacionados ao sexo como o adultério e o homossexualismo, tanto feminino como masculino. Esses temas são abordados sempre por meio de personagens que representam os grupos marginalizados da sociedade, como por exemplo em "O Mulato", "O Cortiço" de Aluísio Azevedo. Face a tudo o que foi exposto pode-se dizer que todo Naturalista é Realista, porém, nem todo Realista é

Naturalista. Pode-se dizer ainda que o Naturalismo é um prolongamento do Realismo, só que mais intenso. Cesário Verde (1855 - 1886): As quatro partes de “O Sentimento de um Ocidental”. José Joaquim Cesário Verde nasceu em 25 de fevereiro de 1855 na cidade de Lisboa em Portugal. Filho de um lavrador e comerciante, dedicou-se desde muito jovem a essas atividades. No ano de 1873 matriculou-se no curso de Letras da Universidade de Coimbra, mas freqüentou o curso somente por alguns meses. Nesse período, começou a publicar poesias no "Diário de Notícias", no "Diário da Tarde", no "Ocidente" e em alguns outros periódicos. Nessa época também surgem os sintomas mais agudos da tuberculose, doença que o levaria a morte em 18 de julho de 1886. No ano seguinte, Silva Pinto, seu amigo dos tempos de universidade, reúne seus poemas em um livro intitulado "O Livro de Cesário Verde". I – AVE-MARIAS

Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina, O gás extravasado enjoa-me, perturba-me; E os edifícios, com as chaminés, e a turba Toldam-se duma cor monótona e londrina.

(...) Descalças! Nas descargas de carvão, Desde manhã à noite, a bordo das fragatas; E apinham-se num bairro aonde miam gatas, E o peixe podre gera os focos de infecção!

III – AO GÁS

E saio. A noite pesa, esmaga. Nos Passeios de lajedo arrastam-se as impuras. Ó moles hospitais! Sai das embocaduras Um sopro que arrepia os ombros quase nus.

Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso Ver círios laterais, ver filas de capelas, Com santos e fiéis, andores, ramos, velas, Em uma catedral de um comprimento imenso.

As burguesinhas do Catolicismo Resvalam pelo chão minado pelos canos; E lembram-me, ao chorar doente dos pianos, As freiras que os jejuns matavam de histerismo.

Num cutileiro, de avental, ao torno, Um forjador maneja um malho, rubramente; E de uma padaria exala-se, inda quente, Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.

E eu que medito um livro que exacerbe, Quisera que o real e a análise mo dessem; Casas de confecções e modas resplandecem; Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.

Longas descidas! Não poder pintar Com versos magistrais, salubres e sinceros, A esguia difusão dos vossos reverberos, E a vossa palidez romântica e lunar!

Que grande cobra, a lúbrica pessoa, Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo! Sua excelência atrai, magnética, entre luxo, Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.

E aquela velha, de bandós! Por vezes, A sua traîne imita um leque antigo, aberto, Nas barras verticais, a duas tintas. Perto, Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses. Desdobram-se tecidos estrangeiros;

Plantas ornamentais secam nos mostradores; Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores, E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.

Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco; Da solidão regouga um cauteleiro rouco; Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.

"Dó da miséria!... Compaixão de mim!..." E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso, Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso, Meu velho professor nas aulas de Latim!