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Oferecimento
Desenvolvimento e Inovação são indissociáveis. A inovação é o caminho
para a estabilidade econômica, a sobrevivência das empresas e a melhoria
das condições de trabalho.
Por isso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
oferece um conjunto de produtos, linhas de financiamento, fundos e
programas dedicados à inovação, seja ela incremental ou radical, concebida
por centros de pesquisa e por grandes, médias e pequenas empresas.
Em função dos pertinentes registros históricos que traz e das reflexões para
o futuro que enseja, o Livro Branco da Inovação Tecnológica será valioso no
aprofundamento desses instrumentos.
O patrocínio do BNDES à publicação é uma oportunidade de investir numa
obra de referência para os estudiosos do tema no Brasil. Uma iniciativa que
contribuirá para que o Banco e outros agentes públicos e privados possam
continuar avançando nas Políticas de Inovação no país.
Patrocínio
O desafio de promover a inovação em
uma Região em que são grandes as
disparidades tecnológicas entre o semiárido e
as grandes metrópoles localizadas na zona
costeira é um desafio singular, pois as grandes
cidades, em consequência de contar com
maior arcabouço técnico-científico, detêm
maior potencial inovador.
A promoção da inovação em regiões
economicamente deprimidas só pode ser
realizada por instituições financeiras que
contem com instrumentos customizados, com
condições diferenciadas sobretudo para
pequenas e médias empresas e produtores
agroindustriais localizados em regiões
economicamente menos favorecidas. Justifica-
se por isso a importância do Banco do
Nordeste como mais importante indutor do
desenvolvimento da Região Nordeste.
A Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial (ABDI) foi criada com o objetivo de
promover a execução da política industrial , em
consonância com as políticas de ciência,
tecnologia, inovação e de comércio exterior.
Ligada ao Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC), atua
como elo entre o setor público e privado,
contribuindo para o desenvolvimento
sustentável do País por meio de ações que
ampliem a competitividade da indústria.
Atuando na articulação e gerenciamento da
nova política industrial (Plano Brasil Maior) e
com a oferta de estudos conjunturais,
estratégicos e tecnológicos para diferentes
setores da indústria, a ABDI contribui para a
construção de agendas de ação setoriais e para
os avanços no ambiente institucional,
regulatório e de inovação no Brasil.
EMBRAER S.A.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO
DE SÃO PAULO
INDÚSTRIAS QUÍMICAS E FARMACÊUTICAS S.A.
KLABIN
NORTEC QUÍMICA S.A.
ULTRAPAR PARTICIPAÇÕES S.A
INDÚSTRIAS ROMI S.A.
WEG S.A.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE HIGIENE
PESSOAL, PERFUMARIA E COSMÉTICOS
ASSOCIAÇÃO DOS FABRICANTES DE PRODUTOS
MÉDICOS E ODONTOLÓGICOS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA ELÉTRICA E
ELETRÔNICA
LABORATÓRIOS FARMACÊUTICOS S.A.
SANUS FARMACÊUTICA LTDA.
BIOMEDICA IND COM REPRESENTAÇÕES LTDA.
PRODUTOS QUÍMICOS FARMACÊUTICOS LTDA.
Apoio
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE
QUÍMICA FINA, BIOTECNOLOGIA E SUAS ESPECIALIDADES
Este Livro Branco da Inovação Tecnológica procura contar toda a
saga para se construir uma economia alavancada pela inovação
tecnológica, a partir da consciência da indispensabilidade de políticas
públicas. Os vários momentos da história do Marco Legal revelam que o
Brasil começa a compreender um conceito mais simples, direto e
abrangente de inovação.
Não são apenas as grandes indústrias de tecnologia de ponta que
têm direito às políticas públicas para P&D. Um fabricante de telhas
também pode inovar e se diferenciar no mercado. Imagine a explosão
inovativa que o Brasil teria se fosse dado este direito de acesso às dezenas
de milhares de micro, pequenas e médias empresas dos segmentos mais
heterogêneos.
Deixaríamos de sonhar em ser professor Pardal, com invenções
mirabolantes que terminam fechadas em laboratório, para termos
profissionais produtivos em ação. Criaríamos, cada vez mais, produtos e
processos úteis para a sociedade, lucrativos, impulsionadores do
desenvolvimento econômico e da exportação pela conquista de mais e
mais mercados.
As próximas páginas refletem o esforço de reconstituir a jornada
percorrida, por meio de memórias, documentos e depoimentos de
pessoas de contribuíram para que se alcançasse o objetivo proposto.
Considerando a máxima de compreender o passado para planejar o
futuro, esperamos que esta obra contribua para o Brasil adentrar um
segundo estágio, o de aplicar, plena e corretamente, as leis estabelecidas e
tão caras ao setor produtivo.
João Carlos Basilio
Presidente da Protec
Apresentação
Sumário
1. Introdução ........................................................................................................ 13
2. A conquista do incentivo fiscal automático ........................................... 29
3. A polêmica criação da subvenção econômica ................................ 37
4. O uso do poder de compras do Poder Público ................................ 53
5. O financiamento subsidiado à inovação tecnológica ....................... 71
6. O incentivo à inovação nas micro e pequenas empresas .................. 81
7. Considerações finais .................................................................................... 89
segunda Guerra Mundial , ao
A enfraquecer os países centrais,
acelerou a desar t iculação de
praticamente todo o sistema colonial
à época, com exceção de alguns
pequenos países que ainda têm esse
estado até os dias atuais. Também mudou
substancialmente as zonas de influência e até
dependências econômicas em diversas regiões do
mundo. Países, antes dominados, passaram a
empreender o caminho do desenvolvimento próprio,
geralmente baseados no processo da industrialização,
ainda que tardia.
Introdução
Introdução
13
A possibilidade de se inserir de maneira
autônoma no novo cenário de comércio mundial, que
passou a ser regulado pelo Acordo de Bretton Woods
( EUA em julho de 1944, em reunião com a firmado nos
presença de 45 países), abriu um novo horizonte até
para os países derrotados – Alemanha, Itália e Japão –,
cuja ânsia por mercados próprios deflagrara a
Segunda Guerra Mundial. Para tanto, mobilizaram-se
para a conquista do mercado internacional e criaram
políticas públicas objetivando a recuperação de suas
indústrias preexistentes e, especialmente o Japão,
uma forte expansão para setores produtivos que
antes não dominavam. E ainda mais para os países
chamados de emergentes, alguns até colônias ou
economicamente dominados antes da guerra. Todos
os que tiveram êxito na continuidade do crescimento
se basearam no própr io desenvolv imento
tecnológico, gerando e agregando inovações
tecnológicas, cujo montante pode ser bem avaliado
pelas patentes concedidas a esses países pelo USPTO
(sigla em inglês do escritório de patentes americano).
A nossa opção
O Brasil não fez a opção pelo desenvolvimento
tecnológico sistêmico nos anos de 50 a 70, e não criou
nas décadas dos anos 80 e 90 um arcabouço de
políticas públicas de fomento efetivo à nossa indústria
inovadora, embora tenha havido iniciativas positivas
de financiamento a juros baixos. O nosso esforço de
competição ficou, principalmente, por conta daquelas
empresas que se dispuseram a assumir o próprio risco
tecnológico do desenvolvimento das inovações
necessárias para poder disputar o comércio mundial.
Algumas, infelizmente poucas, tiveram
reconhecido êxito e asseguraram a presença bem-
sucedida de seus produtos. A comparação com os
demais países emergentes, porém, mostra que nos
faltavam as políticas públicas indispensáveis de
desenvolvimento tecnológico e inovação. Era,
portanto, uma questão essencial criar essas políticas
pela construção de um Marco Legal de fomento e
estímulo notadamente a criação e a direcionado para
agregação de inovações competitivas.
A incorporação às políticas públicas dos anseios
da sociedade, ou de parte desta, é um processo que
exige criatividade para mobilizar os interessados e
iniciativa para executar o procedimento formal em cada
caso, não havendo uma receita única que possa ser
aplicada indiscriminadamente. Ainda há bem pouco
tempo, tivemos o exemplo bem-sucedido da petição
pública que resultou no projeto de Lei da Ficha Limpa,
hoje implementada. Além disso, há a necessidade de se
criar as condições ambientais apropriadas, como a
estabilidade da moeda, uma taxa de câmbio adequada,
um controle satisfatório das contas públicas e o
investimento público em infraestrutura.
IntroduçãoIntrodução
14
Em 1994 ocorreu a bem-sucedida implantação
do Plano Real e a consequente queda vertiginosa da
inflação, viabilizando a estabilização econômica. O
panorama no Brasil mudou completamente. Era
possível pensar-se em longo prazo, desde que se
acreditasse que o real daria certo. A questão do
crescimento econômico assumiu nova relevância e os
seus baixos níveis desde o início da década dos anos
80 passaram a incomodar alguns segmentos da
sociedade. Isso ensejou a oportunidade de se pleitear
uma mudança de atitude em relação à inovação
tecnológica e à competitividade dos nossos
manufaturados no cenário mundial.
A consciência da necessidade de se criar
políticas públicas para o fomento ao desenvolvimento
tecnológico brasileiro veio, então, com os exemplos
conhecidos dos acelerados crescimentos, pela via do
desenvolvimento tecnológico, de alguns dos países
emergentes de industrialização tardia que se
destacavam principalmente nas décadas de 80 e 90.
Naqueles anos, as economias da Coreia do Sul, Taiwan
e China estavam – aliás, como ainda estão – em plena
ascensão, em contraste com as nossas “décadas
perdidas”, acompanhadas de intensa evolução
tecnológica – a Índia ainda não estava nesse grupo.
No Brasil, inovação ainda era uma palavra rara.
Naquele mesmo ano, circulou a edição do
relatório da Unesco “World Science Report 1993”,
mostrando um amplo panorama mundial do que,
internacionalmente, se chama de R&D (Research and
Development), explicitando com exemplos o papel
fundamental exercido pelas políticas públicas de
fomento às atividades de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) no âmbito do setor produtivo desses países
emergentes asiáticos, especialmente a Coreia. Nada
do que ocorrera nesses países fora fruto das
chamadas leis de mercado, que é hábito cultuar em
certos círculos. Muito ao contrário, prevaleceu a
determinação dessas sociedades em construir as suas
economias para competir com as economias
dominantes no mercado mundial. E vencê-las
amplamente, como está evidenciado hoje pela
profunda e longa crise dos países centrais que estão
perdendo a competitividade de seus produtos.
Esse tema passou a ser objeto das atenções de
um pequeno núcleo na Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) e no Conselho Empresarial de
Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado do
Rio de Janeiro (Firjan), de onde sairiam, mais tarde, as
concepções dos atos que deveriam ser executados
para termos uma resposta brasileira ao desafio da
competit ividade e crescimento pela via do
desenvolvimento tecnológico.
Para iniciar esse posicionamento, o físico
Roberto Nicolsky, então coordenador do Laboratório
de Aplicações de Supercondutores (Lasup) da UFRJ,
Introdução
15
publicou um artigo na página 2 do caderno Mercado
da Folha de São Paulo, no dia 5 de janeiro de 1995,
quando começava um novo governo. Nesse artigo,
cujo título era “O que faz falta à ciência e tecnologia”,
discutia-se, talvez pela primeira vez, com dados do
relatório da Unesco sobre a Coreia, a necessidade de
políticas públicas de fomento ao desenvolvimento
tecnológico em seu lócus natural, a empresa. No
primeiro momento, esse artigo provocou forte reação
nos círculos acadêmicos que atuavam na política
científica oficial.
Em sequência a esse artigo, o professor
publicou outros, debatendo o tema através da
imprensa e de palestras em universidades, institutos
tecnológicos, órgãos públ icos e entidades
empresariais. Nos anos que se seguiram, foram mais
de 20 artigos na imprensa, que hoje podem ser
encontrados na página específica no site da Protec
(www.protec.org.br). Outros autores também o
fizeram, e o tema foi ganhando fôlego em meio à
polêmica sobre a questão crítica do papel das
políticas públicas e do processo de mobilização do
setor produtivo para esse tipo de competitividade. A
palavra inovação surgiu como um polo atrator,
abrindo novos espaços na mídia impressa e até
televisiva.
Nessa fase, Nicolsky encontrou a oportunidade
de expor essa nova preocupação a alguns gestores
públicos específicos da área, como presidentes e
diretores do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e da Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep), e também a dois ministros
de Ciência e Tecnologia, Israel Vargas e Ronaldo
Sardenberg. Duas constatações emergiram dessa
fase. Inicialmente, ficou evidenciada a necessidade de
leis específicas para dar base a políticas públicas de
fomento tecnológico. Em segundo, mostrou-se
necessário que a atuação individual fosse substituída
por uma entidade do setor produtivo com
representatividade específica para expressar esse
posicionamento.
Modelos internacionais
Em 1999, Nicolsky visitou a Coreia do Sul para
conhecer tanto as políticas públicas de fomento à
inovação, quanto a entidade Koita (sigla em inglês da
Associação Coreana de Tecnologia Industrial). A
viagem foi propiciada pela participação em uma
conferência científica. Para melhor aproveitar essa
ocasião rara, solicitou a colaboração da embaixada
brasileira em Seul através do Itamaraty. O embaixador
Sérgio Serra, que então ocupava o cargo (ver
depoimento), agendou reuniões no principal órgão de
gestão da política industrial e tecnológica (Stepi),
assim como na entidade Koita.
Introdução
16
”“ O professor coreano Linsu Kim, prematuramente falecido em fevereiro
de 2003, era um homem de grande visão que se destacava, no mundo
acadêmico, por preconizar a inovação tecnológica como propulsora do
desenvolvimento econômico. Seus livros – e sua ação pessoal – foram de
certa forma determinantes para o rumo tomado pela política sul-coreana de
apoio à inovação tecnológica.
Era também um grande amigo do Brasil, tendo chegado a integrar a
chamada Comissão Brasil-Coreia para o Século XXI, uma ‘comissão de
sábios’, reunindo personalidades dos meios governamentais, acadêmicos e
empresariais dos dois países, que elaborou, na virada do século, um ‘mapa
do caminho’ para as relações bilaterais - que ainda hoje é consultado. Achei
que seria o interlocutor perfeito para o professor Roberto Nicolsky, e agendei
um almoço entre os dois.
Sérgio SerraEx-embaixador do Brasil na Coreia do Sul
17
Também ofereceu um almoço na embaixada,
para o qual convidou o professor Linsu Kim, que por
12 anos esteve à frente do Stepi, justamente durante
os anos 80 e parte dos anos 90, e que à época
presidia o órgão de planejamento estatal da
economia. Linsu Kim, certamente o principal
pensador sobre o desenvolvimento tecnológico de
países emergentes de industrialização tardia,
conhecia muito bem o Brasil, a Finep e a política
brasileira de desenvolvimento, pois aqui esteve
d iver sas vezes . O d iá logo va leu por uma
aprendizagem intensiva sobre a política tecnológica.
A visita à Koita – instituição formada em 1979
para dar suporte, capacitação e certificação ao
estabelecimento de centros de P&D corporativos – foi
proveitosa para compreender a forma de atuação do
sistema coreano. A entidade edita regularmente um
livreto com todos os dados sobre o desenvolvimento
tecnológico do país, sempre se comparando aos
principais países centrais, para ter uma ideia clara do
quanto ainda lhes falta para tornar-se um desses, em
termos de tecnologia. O espírito dominante é medir
resultados e não se satisfazer com o que já se fizera
até então.
1.1. Bases Conceituais
O encontro com Linsu Kim, e a leitura dos
artigos fornecidos por ele e de seu livro “Imitation to
innovation” (traduzido e publicado em 2005 pela
Editora Unicamp), mostrou ao professor Nicolsky a
inadequação do modelo assumido pela política
brasileira de C&T nessa época, o chamado Modelo
Linear (Figura 1), para um país emergente.
Introdução
DESCOBERTA CIENTÍFICA
DESCOBERTA/PESQUISA TECNOLÓGICA (P)
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO (D)
PRODUTO INOVADO NO MERCADO
CONEXÃO IRREALISTA
RECURSOS
Figura 1:
Modelo Linear
Em seu artigo publicado em Industry and
Innovation, página 168, volume 4 (1997), Linsu Kim
d i z : “ Em pa í se s desenvo l v idos , ap rende r
pesquisando (learning by research) por empresas,
universidades e institutos tem um papel dominante
na expansão da fronteira tecnológica”. “Em países em
18
desenvolvimento, ao contrário, aprender fazendo
(learning by doing) e engenharia reversa por
empresas, com limitada assistência de universidades
e institutos, é o padrão dominante de acumulação da
competência tecnológica”.
No Modelo Linear, os recursos públicos são
direcionados essencialmente para as universidades,
esperando-se que estas desenvolvam conhecimento
que depois seria transferido para o tecido produtivo. É
o que está proposto nas leis que criaram os brasileiras
diversos fundos setoriais e que retiram recursos do
setor produtivo para esse fim. Segundo Linsu Kim, a
conexão com o setor produtivo só é eficiente quando
as indústrias já se encontram na fronteira tecnológica,
o que é irreal em uma economia ainda em
desenvolvimento, como a nossa, salvo raros nichos de
excelência. Havia, portanto, a necessidade de um
novo conceito de política pública para a tecnologia.
Isso fica ainda mais claro quando examinamos o
resultado da tabulação realizada pelo economista
russo Guenrich Altshuller com mais de 200 mil
patentes, em sua teoria “Innovatrix”, como mostra a
Figura 2. Vemos que as descobertas de novos
conhecimentos respondem por menos de 1% das
patentes dos países centrais. Ainda que um país
emergente produza uma descoberta, a sua base
industrial provavelmente não estará apta a
transformá-la em produto, salvo raros nichos de
Introdução
excelência, pois se encontra em processo de
“acumulação da competência tecnológica”.
A ida à Coreia mostrou, também, que o principal
indicador universalmente utilizado como medida da
eficácia das políticas públicas de fomento à inovação é
o número de patentes outorgadas no próprio país e
no USPTO, quando se deseja comparar o desempenho
de países. É óbvio que o número de patentes não
explica, isoladamente, o domínio tecnológico, mas
es tá fo r temente co r re l ac ionado , po i s ao
desenvolvimento tecnológico corresponde sempre
um crescimento da geração de patentes.
Assim, a Coreia, um país que obteve teve apenas
oito patentes nos EUA em 1980, quando iniciou o seu
processo de desenvolvimento, já alcançara 3.562 em
CONHECIMENTO
NA
TU
RE
ZA
DA
INO
VA
ÇÃ
O
Problemas rotineiros de projeto (resolvidos
com o conhecimento da especialidade)
Pequenas melhorias em sistemas existentes
(usa o conhecimento de dentro da empresa)
Melhorias fundamentais no sistema existente
(usa o conhecimento de dentro e de fora da
empresa)
Novas invenções (usa o conhecimento
sobre uma dada tecnologia)
1%
Descobertas raras (usa o
conhecimento científico)
50%
25%
15%
9%
Figura 2:
Gráfico de patentes de invenção de Guenrich Altshuller
(Elaboração: Marcelo de Matos)
19
1999, ano da visita. Em 2011, chegou às 12.262,
ultrapassando a Alemanha e, assim, tornando-se o
terceiro país no ranking americano de patentes, atrás
apenas dos EUA e do Japão. E Taiwan, apenas uma ilha,
cresceu em proporção semelhante. Esse desempenho
pode ser visto na Figura 3, comparado ao do Brasil.
Introdução
Figura 3:
Coreia e Taiwan comparados ao Brasil
(Patentes nos EUA, 1980-2011)
1.2. Modelo de Entidade
O modelo da entidade coreana (Koita) exigia
uma integração com os órgãos públicos executores
das políticas industriais e tecnológicas. Isso não era
ainda viável em nosso país. Portanto, seria
interessante conhecer outro modelo de estruturação
do setor produtivo. Assim, foi identificada a Cotec,
uma fundação para inovação tecnológica da Espanha
– um país que precisa ainda desenvolver a sua
tecnologia – que parecia inspiradora. Foi então
visitada por Roberto Nicolsky em 2001, na
oportunidade de outra conferência científica
europeia. A visita mostrou que essa organização,
ainda que tenha sido replicada posteriormente em
Portugal e na Itália, não seria um modelo adequado,
pois seu foco eram a disseminação de informações e a
capacitação de empreendedores e empresas, e não a
construção de políticas públicas específicas.
Assim, ficou claro que a entidade deveria atuar
prioritariamente na construção de políticas públicas
de fomento, pois a que o Brasil tinha – Lei 8.661/1993
– era inapropriada, uma vez que foi concebida com
caráter acadêmico. Ou seja, a lei exigia que o projeto
da empresa (PDTI) fosse submetido à análise e
aprovação da Finep para que lhe fosse autorizado o
uso de um pequeno incentivo fiscal do Imposto de
Renda, que frequentemente não chagava a 5% do
investimento. A empresa perdia, com isso, a iniciativa
e a confidencialidade, e os projetos levavam dois anos
ou mais para a contratação, perdendo-se todo o
sentido de oportunidade para a inovação.
Com essas constatações, restava, portanto,
encontrar o nosso próprio caminho para alcançar o
objetivo de dotar o país de um Marco Legal de
fomento ao seu desenvolvimento tecnológico. Para
20
”
“
Introdução
Lá pelos anos 2000, o professor Roberto Nicolsky foi convidado por mim
para participar do Conselho de Tecnologia da Firjan, e eu percebi que embora
fosse um físico da universidade, ele tinha uma experiência pregressa na indústria
e o discurso de que a inovação se faz na indústria. Foi uma conquista muito boa
para o nosso Conselho, porque não era gente da indústria que falava aquilo, era
gente da universidade. E destoava, porque a universidade estava preocupada
consigo mesma, basicamente. Depois o Roberto veio me procurar para discutir o
esquema funcional que é hoje a Protec. Então, em 2002, com as coisas já
mudando, é fundada a Protec. Fundamos a Protec com grande entusiasmo. Eu
achava que cabia muito bem uma entidade de caráter nacional, que falasse
sobre inovação num mesmo discurso que o nosso, era mais uma instituição a
fazer este tipo de pregação no Brasil. E para isso, a gente achou que o professor
Nicolsky iria dar conta de alçar voo.
Era necessário que não fosse uma coisa da Federação, mesmo porque nós
achávamos que tinha que ter uma conotação nacional, e a partir desse ponto o
Roberto lutou por isso e conseguiu apoio da Abimaq. A Firjan é uma instituição
de caráter regional, enquanto a Abimaq é uma instituição de caráter nacional,
uma associação de indústria de máquinas e equipamentos. Aí você já tinha
duas coisas: Federação de um lado e Abimaq do outro. Foram essas duas que
deram o primeiro apoio decisivo neste sentido e logo depois foi fundada a
Protec. Nesse movimento de fazer, mais algumas Federações entraram, e logo
outras entidades aderiram.
Fernando SandroniPresidente do Conselho de Tecnologia da Firjan
21
”“ Conheci o Roberto Nicolsky no Conselho Empresarial de Tecnologia da
Firjan, onde ele era conselheiro e eu também. Essas ideias sobre inovação
tecnológica - de que necessariamente tinha que ser conduzida pela empresa,
pela indústria - nós dois tínhamos bem. Quando se cristalizou então a ideia
de criar a Protec, naquele momento já ofereci espaço na nossa sede. Acho
muito importante o trabalho conduzido pela Protec. Um trabalho sério de
convencimento de autoridades, com a sistemática e consistente repetição
conceitual, contribuindo decisivamente para a implementação das políticas
de interesse da indústria nacional.
Nelson Brasil1º vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias
de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina)
22
Introdução
tanto, era indispensável procurarem-se as entidades
empresariais da indústria. E assim, por indicações de
uma entidade a outras, foi possível criar uma rede de
discussão sobre a forma de organização.
1.3. Criando uma entidade com fins específicos
A proposta de criar uma sociedade reunindo
entidades do setor industrial ganhou logo, ainda em
2001, a adesão de duas entidades sediadas no Rio de
Janeiro, a Federação das Indústrias do Estado do Rio
de Janeiro (Firjan) e a Associação Brasileira das
Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas
Especialidades (Abifina), que cedeu um espaço para o
início das atividades de captação, a partir de
articulação promovida por Roberto Nicolsky. Alguns
conhecidos do tempo em que o professor trabalhara
em P&D na indústria de São Paulo e um artigo-
manifesto publicado com forte impacto em 4 de
junho de 2001 – ocupando todo o espaço da página
A3, de Opinião, da Folha de São Paulo –
imediatamente resultaram na adesão da Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
(Abimaq). Seu então presidente, Luiz Carlos Delben
Leite, tornou-se o articulador da base operacional em
São Paulo, catalisando a adesão de outras entidades.
Diversas entidades foram, então, convidadas
para integrar o núcleo para ampla discussão do
Entidades fundadoras da Protec
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
(Abimaq)
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)
Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB)
Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia
e suas Especialidades (Abifina)
Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac)
Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas
Inovadoras (Anpei)
Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp)
Centro de Integração de Tecnologia do Paraná (Citpar)
Centro Industrial do Rio de Janeiro (Cirj)
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg)
Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc)
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep)
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan)
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae - Nacional)
1º presidente: Luiz Carlos Delben Leite
23
”“ Nunca tive dúvida da importância de se constituir uma entidade para
a defesa de políticas públicas de fomento à inovação tecnológica. Primeiro,
pela importância do tema. Faz muito tempo que o Brasil tem dado menos
atenção do que devia ao conteúdo de sua produção, e, consequentemente,
de sua pauta de comércio. Também via - e vejo - o tema com uma dinâmica
público-privada, de maneira que alguém precisava, com isenção, fazer essa
‘costura’. A Protec exerceu esse papel. Trouxe o tema para a superfície, criou
desequilíbrios para que avançássemos. Teria sido muito difícil a construção
do marco legal da inovação diretamente pelas entidades fundadoras da
Protec, sem uma organização transversal a todos os setores. É da natureza
humana e corporativa a busca por melhores resultados, e o risco de
assimetria entre os setores seria muito grande. Não estando todos no mesmo
patamar, seja tecnológico, seja financeiro, adensaríamos as diferenças. Este
assunto necessita de uma ‘embaixada’ técnica e política, que faça ajustes e
dedique-se. Este tem sido o papel da Protec.
Horácio Lafer PivaEx-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do
Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), entidades fundadoras da Protec
24
”“ Sempre fui bastante sensível à questão da inovação tecnológica no
setor industrial, prevendo que esta é realmente a chave do futuro para o país.
O discurso do Roberto, então um homem da universidade – ou seja, com
menor contato com o setor industrial –, era também muito sensível a isso.
Então as propostas se somaram e surgiu a Protec. Uma entidade que pudesse
representar o setor industrial e fazer com que houvesse uma convergência
em torno dessa ideia. Um lugar onde pudéssemos estabelecer as bases
necessárias para criarmos os instrumentos que estimulassem o setor
industrial a se voltar de forma mais consistente para a questão da inovação
tecnológica. Levamos a proposta de criação da Protec a várias entidades
setoriais, e a receptividade foi muito boa. A Abimaq recebeu a proposta de
braços abertos e procurou dar força a esse projeto para que ele se tornasse
realidade, e me lembro também da Abinee (associação de fabricantes de
eletroeletrônicos), Abifina (farmacêutica), e Federações como a Firjan, Fiesp,
e Fiemg (MG).
Luiz Carlos Delben LeiteEx-presidente da Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas e Equipamentos (Abimaq)
25
Introdução
formato da nova entidade e da sua missão e valores,
em sucessivas reuniões na sede da Abimaq e da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp). A adesão foi crescendo e as discussões
finalmente levaram a uma convergência final,
resultando um modelo próprio, baseado na
associação apenas de entidades industriais, vedada a
órgãos públicos e empresas.
Com o texto dos Estatutos em mãos, partiu-se
para a convocação da assembleia de fundação, com
editais publicados em três jornais de grande
circulação. A reunião aconteceu no dia 20 de fevereiro
de 2002 na Abimaq, com a presença de 15 entidades,
quando foi fundada a Sociedade Brasileira Pró-
Inovação Tecnológica - Protec.
Em sua missão institucional, está estabelecido
que “como associação civil voltada para a atuação em
prol da inovação tecnológica nacional, terá como
objetivo e finalidade estimular, fomentar e mobilizar
os diversos segmentos da sociedade e dos poderes
públicos em toda e qualquer atividade que promova a
pesquisa e o desenvolvimento de inovações
tecnológicas realizadas no país, tendo em vista elevar
a competitividade e a eficiência das empresas em
geral na produção de bens, processos e serviços,
buscando satisfazer as demandas de seus usuários e
consumidores”.
Imediatamente após sua fundação, a Protec
solicitou uma audiência com o presidente da
República, Fernando Henrique Cardoso, que ocorreu
no dia 4 de março de 2002. Então, o Conselho
Deliberativo da Protec, recém eleito, foi recebido no
Palácio do Planalto com a participação dos ministros
Ronaldo Sardenberg, da Ciência e Tecnologia, e Pedro
Parente, da Casa Civil, além de outras autoridades,
para uma importante audiência (Figura 4). Nessa
oportunidade, Luiz Carlos Delben Leite, o presidente
do Conselho Deliberativo, expôs ao presidente da
República a missão e os valores da nova entidade,
além da importância e oportunidade de se construir
um Marco Legal para a promoção do fomento à
Figura 4:
Audiência com Fernando Henrique Cardoso
Foto
: Folh
a d
e S
ão
Pa
ulo
26
Introdução
inovação tecnológica, agora que esta se tornara o
modo de competição no cenário mundial.
Após a audiência, os membros do Conselho
concederam uma entrevista coletiva à imprensa no
Palácio do Planalto, quando a Protec e o seu ideário de
contribuir para a construção de um arcabouço legal
de fomento ao desenvolvimento de inovações
tecnológicas como via para o crescimento foram
apresentados à sociedade.
Um importante passo para a mudança foi dado
com a articulação das entidades industriais com os
órgãos públicos geradores e executores de políticas
– um movimento viabilizado pela Protec, juntamente
com os seus associados. A mobilização iniciada pela
indústria se desdobrou na construção do Marco
Legal brasileiro da inovação tecnológica, que teve
como primeiro instrumento o incentivo fiscal
automático.
27
inovação tecnológica deve ser a base
A da estratégia competitiva das
empresas. Isso deve ser levado em
c o n t a p o r q u a l q u e r n a ç ã o
emergente que pretenda, pelo
menos, acompanhar a indústria dos
demais países, sem ter de amargar seu confinamento
à condição de produtor e exportador de matérias-
primas naturais ou outros itens de baixo valor
agregado. Portanto, é essencial que a empresa seja
estimulada por políticas públicas como, por exemplo,
os incentivos fiscais para os seus investimentos de
A conquista do incentivo fiscal automático
A conquista do incentivo fiscal automático
29
risco tecnológico. Dessa forma, a empresa desejará
conhecer as regras do fomento e aplicá-las sempre
que tiver de atender a demandas do seu mercado,
principalmente sob pressão da concorrência
internacional. Mais ainda se pensar em exportar.
Até se poderia dizer que o incentivo fiscal já
existia anteriormente no Brasil, ainda que em pequena
dose, porém não na forma conveniente para as oempresas. Desde 1993, a Lei n 8.691 proporcionava
uma pequena renúncia fiscal do Imposto de Renda
caso a empresa apresentasse previamente um
complexo projeto (PDTI) à Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep) para avaliação e aprovação, revelando
as suas entranhas e estratégias. Além disso, o
processo de aprovação levava um longo tempo para
ser finalizado e sufocava a oportunidade da inovação.
Uma lei eficiente tinha de ter o conceito de
automatismo no acesso ao benefício fiscal, deixando à
empresa a oportunidade do uso.
A importante questão do automatismo no uso
do incentivo ao desenvolvimento e agregação de
inovações tecnológicas, como o modo de assegurar a
competitividade da indústria, começou a mudar em
2002, em presença da Protec. Mas como será
mostrado, essa não foi uma tarefa fácil, pois
encontrou muita resistência nos setores ligados à
receita tributária federal.
À época, o governo federal, os empresários e a
sociedade discutiam a chamada minirreforma
tributária para eliminar, ou pelo menos reduzir, a
cascata do Pis/Pasep que elevava o custo dos
produtos para os consumidores. A proposta foi
materializada na Medida Provisória (MP) nº 66, de 29
de agosto de 2002, no intuito de aliviar a acumulação
de impostos na cadeia produtiva e elevar a
competitividade, incentivando as exportações.
Um pouco antes da publicação da MP, em 4 e 5
de julho de 2002, a Protec organizou o I Encontro
Nacional da Inovação Tecnológica para Exportação e
Competitividade (Enitec), para debater estratégias
que levassem à criação de políticas públicas de
fomento à inovação na empresa. Durante o encontro,
o presidente da Protec, Luiz Carlos Delben Leite,
defendeu que o mais eficaz para aquele momento
seria criar um sistema de automatismo para incentivar
os investimentos em inovação tecnológica. Por meio
dele, qualquer empresa que investisse em P&D de
inovações poderia abater os seus dispêndios do
Imposto de Renda, sem solicitar prévia autorização
como está exigido na Lei 8.691.
A proposta foi redigida pela Protec, com
contribuições da Abimaq, Abifina, Firjan e Abinee, e
apresentada em início de agosto de 2002, na forma de
quatro artigos, ao titular da Secretaria da Receita
Federal, Everardo Maciel, que aprovou o conceito do
automatismo e os introduziu na MP 66. Meses depois,
A conquista do incentivo fiscal automático
30
oessa medida provisória foi convertida na Lei n 10.637,
sancionada em 30 de dezembro de 2002, e a proposta
foi transformada nos artigos 39, 40, 42 e 43 do que
ficou chamado de Lei da Minirreforma Tributária (ver o
texto da lei no anexo).
Os quatro artigos representaram o primeiro
fomento à inovação tecnológica dentro do essencial
conceito do automatismo, à disposição da indústria
brasileira. Essencialmente, os incentivos eram o
abatimento adicional, como custo, de 100% dos
dispêndios em P&D e, ainda, outros 100% se a
empresa depositasse uma patente no INPI ou pelo
Patent Cooperation Treaty (PCT).
O aspecto mais relevante e inovador na criação
dessa nova lei foi o fato de que as empresas não
precisavam de autorização prévia de qualquer órgão
governamental para solicitarem, como incentivo
fiscal, a restituição de parte do seu investimento em
P&D através do abatimento no Imposto de Renda e na
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). O
mecanismo é semelhante ao sistema de restituição de
Imposto de Renda para pessoa física no que se refere,
por exemplo, aos gastos com educação.
A lei, porém, veio com uma forte restrição,
introduzida pela Receita Federal na redação desses
artigos. Ou seja, a sua aplicabilidade foi limitada a
empresas que estivessem no regime fiscal de
apuração de lucro real, ou seja, menos de 8% das
empresas brasileiras, apenas as de grande porte, que
em geral já desenvolvem inovações. E entre essas
estão as empresas transnacionais, quase todas
geradoras de inovações em suas matrizes.
Os artigos, porém, não foram aplicados de
imediato por falta de regulamentação. A nova gestão
da Secretaria da Receita Federal, que assumira em 1º
de janeiro de 2003, demorou quase um ano para
produzir a regulamentação dos quatro artigos,
mesmo com a insistência direta da Protec através de
audiência. Afinal, em 23 de dezembro de 2003, foi oemitido o Decreto n 4.928 (ver anexo) que,
surpreendentemente, conseguiu interpretar os quatro
artigos de uma tal maneira que anulava o incentivo
recém criado.
Fora encontrada uma maneira de dizer que a onova lei repetia o que já era praxe desde o Decreto n
3.000, de 26 de março de 1999 – que, em seu artigo o349, regulamentava o artigo 53 da velha Lei n 4.506,
de 1964, a Lei do Imposto de Renda, autorizando
contabilizar os dispêndios correntes em P&D como
simples despesa, dispensando tratá-los como
investimento a ser amortizado. Ou seja, tudo ficou
como “dantes, na casa de Abrantes”, desaparecendo o
incentivo que acabara de ser criado.
Quando o decreto foi publicado, diversas
empresas, que se estimularam com o advento dos
incentivos, não aceitaram a ideia passivamente, pois
A conquista do incentivo fiscal automático
31
oaquele não era o espírito da Lei n 10.637/2002.
I n c o n f o r m a d a s , pa s s a r a m e n t ã o a f a z e r
questionamentos formais à Receita Federal, não
aceitando a sua interpretação. Graças a essas pressões
em várias frentes, aqueles quatro artigos mal
regulamentados foram desdobrados e incorporados
à MP 255 como Capítulo III. A Medida Provisória foi
enviada pelo Governo ao Congresso Nacional no ano
de 2005.
A MP 255 reproduzia em seu artigo 19
praticamente o mesmo texto do artigo 39 da lei
anterior, porém com uma grande diferença: o
incentivo que era de 100% dos dispêndios em P&D
havia sido reduzido para 60%. O parágrafo 1º desse
artigo ampliava a dedução para 80%, se houvesse
contratação adicional de pessoal para as atividades de
P&D. Entretanto, o incentivo de 100% para
patenteamento, da lei anterior, fora reduzido para
20% e somente após a sua concessão, gerando um
forte estímulo para o patenteamento externo, de
custos muito elevados e sem validade . Havia no Brasil
ainda outros artigos de menor interesse.
Na Câmara Federal, a MP 255 teve por relator o
deputado Custódio Mattos, de Minas Gerais. Ao
procurar o relator, a Protec recebeu a informação de
que os índices de incentivo fiscal, substancialmente oreduzidos em relação à Lei n 10.637/2002, eram
cláusulas pétreas, não aceitando a SRF nenhuma
discussão a respeito. Ante esse fato, a Protec solicitou
ao relator que marcasse uma audiência na SRF para
discutir a limitação do benefício a empresas que
apuram lucro real. O secretário adjunto recebeu a
Protec, ouviu, mas não discutiu a posição, tornando
esse quesito em outra cláusula inamovível, assim
como a limitação de só aceitar as despesas incorridas
no ano fiscal.
No entanto , a Le i do Bem apresenta
insegurança jurídica. A SRF tem contestado alguns
usos do benefício, praticamente só aceitando
pesquisa “de bancada”. Por exemplo, se uma empresa
investe no desenvolvimento de um produto que não
fabrica, criando competências e ganhando espaço no
mercado, ainda assim ela corre o risco de não
conseguir o benefício fiscal. O problema é resultado
da falta de um entendimento mais amplo do que é
P&D e uma visão menos ortodoxa do conceito de
inovação, que não consiste apenas em invenções
radicais, mas também – e sobretudo – em melhorias
de produtos e processos.
O benefício final depende das condições de sua
aplicação, representando uma recuperação até o
limite máximo de 27,2% das despesas correntes
incorridas no ano fiscal. lcançarem o valor Isto se elas a
integral do lucro apurado e, ainda, houver aumento
de recursos humanos contratados, atendendo à
complexa regulamentação do Capítulo III da Lei do
A conquista do incentivo fiscal automático
32
oBem, conforme o Decreto n 5.798 de 7 de julho de
2006 (ver anexo). Outros 6,8% dos dispêndios podem
ser recuperados se for concedida uma patente,
porém apenas no exercício fiscal em que esta for
outorgada, o que no Brasil pode significar numa
empresa de muitos anos.
Apesar das limitações, o incentivo da Lei do Bem
é hoje o que melhor funciona no Brasil. O Quadro 2.1
mostra o número de empresas que recorreram ao
benefício, o valor total recuperado e o percentual
deste valor em relação aos investimentos realizados
pelas empresas beneficiárias, desde o ano de 2006,
quando começou a ser aplicada.
Em 2011, informa-se extraoficialmente que o
número de empresas chegou a mais de 800, com
valores de investimento e incentivo. Nota-se que há
uma saturação dos valores de investimento e renúncia
fiscal. O valor desta renúncia ainda é insignificante por
representar menos de 0,05%, ou seja, menos de cinco
centésimos de por cento, ainda sem impacto na
competitividade da economia.
Quadro 2.1: Lei do Bem
Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
A conquista do incentivo fiscal automático
Ano
2006 130 2.190 229
2007 300 5.130 884
2008 460 8.800 1.583
2009 542 8.330 1.383
2010 639 8.620 1.727
Empresas Investimento
em P,D&I (R$ milhões)
Renúncia fiscal
(R$ milhões)
(%) Sobre investimento
10,5%
17,2%
18%
16,6%
20%
33
”“ Os instrumentos de incentivo à inovação representam um avanço,
mas são claramente insuficientes. O número de empresas que usam os
incentivos fiscais da Lei do Bem é cerca de 800 por ano. É um número ridículo,
dado o tamanho do parque industrial brasileiro. A Lei do Bem não se aplica a
empresas que contribuem para o Imposto de Renda pelo lucro presumido.
Elas estão automaticamente excluídas dos benefícios. No entanto, elas
constituem a grande maioria das empresas industriais brasileiras.
Existem obstáculos que já estão razoavelmente mapeados. A Protec, a
Mobilização Empresarial pela Inovação da CNI e a Associação Nacional de
Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) são três orga-
nizações que encaminharam diversas vezes para o governo propostas para a
maioria dos instrumentos legais. E o governo tem – pelo menos em alguns
casos – adotado parte dessas sugestões.
Pedro WongtschowskiDiretor-presidente da Ultrapar,
holding controladora das empresas Ultra
34
m paralelo às articulações junto à
E
Secretaria da Receita Federal para
e s t a b e l e c e r o i n c e n t i v o f i s c a l
automático, o Ministério da Ciência e
Tecnologia (à época MCT, hoje MCTI
com a inclusão da “inovação” na sigla)
enviou ao Congresso Nacional no quarto trimestre de
2002, últimos meses de gestão, o projeto da chamada
Lei de Inovação. O texto foi submetido à consulta
pública na internet. Predominou o debate sobre a
flexibilização da mobilidade e o empreendedorismo
dos pesquisadores acadêmicos, que é de resto o tema
central das atenções deste projeto de lei (PL).
Contudo, o PL desagradou amplamente a academia.
Apesar do nome que lhe fora atribuído, e de
conter um artigo versando sobre a possibilidade
A polêmica criação da subvenção econômica
A polêmica criação da subvenção econômica
37
eventua l e a regu lação de encomendas
tecnológicas pelo Estado, o PL não foi debatido
previamente com as entidades industriais, nem
tinha qualquer tipo de fomento ou incentivo à
inovação tecnológica nas empresas. Ou seja, foi
elaborado na falsa concepção de que inovação
seria um produto exclusivamente acadêmico.
Portanto, não era exatamente um PL de
inovação o que fora proposto; era uma lei que
facilitava a mobilidade temporária de pesquisadores
da universidade para a iniciativa privada. O PL
também proporcionava maior liberdade para as
empresas usarem as instalações das universidades.
O que faltava, então, no topo da legislação brasileira
de incentivo? Já tínhamos o incentivo fiscal
automático. Portanto, faltava uma lei de subsídio, à
semelhança do que acontece em países
desenvolvidos. Tal proposta havia sido rejeitada na
consulta pública.
Sabidamente, o subsídio ao desenvolvimento
tecnológico de inovações é o ponto fulcral das
políticas públicas tanto dos países emergentes,
quanto é a prática consagrada nos países
desenvolvidos, geradores de tecnologia. Aliás, é por
isso que têm economias produtoras de novas
tecnologias. Está consagrado, inclusive, como parte
do artigo 8º (non-actionable subsidies, em inglês)
do acordo que criou a Organização Mundial de
Comércio (OMC), na rodada Uruguai, em 1994.
A polêmica criação da subvenção econômica
Acordo da OMC sobre subsídios
e medidas compensatórias
Parte 4 – Artigo 8
Os seguintes subsídios devem ser considerados não-acionáveis:
(a) assistência para atividades de pesquisa realizadas por empresas
ou instituições de ensino superior ou de pesquisa com base em
contratos com empresas, se: a assistência cobre não mais do que 75
por cento dos custos com pesquisa industrial, ou 50 por cento dos
custos de atividade de desenvolvimento pré-competitivo; e desde
que tal assistência seja limitada exclusivamente a:
(i) custos com pessoal (pesquisadores, técnicos e outro
pessoal de apoio empregado exclusivamente na atividade
de pesquisa);
(ii) custos com instrumentos, equipamentos, terrenos e
imóveis utilizados exclusiva e permanentemente (exceto
em caso de cessão de uma base comercial) para a atividade
de pesquisa;
(iii) custos de consultoria e serviços equivalentes utilizados
exclusivamente para a atividade de pesquisa, incluindo
pesquisa adquirida, conhecimento técnico, patentes etc;
(iv) despesas gerais adicionais incorridas diretamente em
virtude da atividade de investigação;
(v) outras despesas correntes (como as de materiais,
suprimentos e afins) incorridas diretamente em resultado
da atividade de investigação.
38
Uma das providências iniciais do novo titular da
Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico (Setec)
do MCT, Francelino Grando, em 2003, foi retirar o PL
de inovação do Congresso Nacional para revisão do
seu texto, notadamente nas questões da mobilidade
do pesquisador, que produzira forte oposição no
ambiente acadêmico. Esta foi a oportunidade perfeita
para a indústria, através das suas entidades e da
Protec, inserir a proposta de subsídio na lei, além de
outras cláusulas de incentivos.
As primeiras reuniões feitas para discutir as
mudanças no PL contabilizaram dezenas de
interlocutores, principalmente das universidades
públicas, além de representantes de algumas
entidades industriais. A Protec participou de todo este
c i c l o que teve , no i n í c i o , um a d inâm ica
essencialmente acadêmica. Logo ficou claro que ao
setor produtivo não interessava esse debate, mas
exclusivamente o exame da possibilidade de inclusão
de incentivos que justificassem o nome do PL.
Assim, num processo natural as reuniões
começaram a se especializar e os representantes do
setor industrial começaram a atuar diretamente com a
Setec. Levou-se, então, ao secretário a sugestão de
um conjunto de artigos propondo os três principais
fomentos internacionalmente utilizados: os subsídios
prévios, os incentivos posteriores e o uso do poder de
compras do Estado. Mas a resposta da Casa Civil, que
deveria aprovar as alterações do PL, foi desanimadora.
Os incentivos, por ser área da SRF/MF, ficaram
prometidos no artigo 28 para dentro de 120 dias (algo
muito curioso, uma lei que prometia outra lei), e o uso
do poder de compras foi vetado sob a alegação de ointerferia na Lei de Licitações n 8.666/1993, área do
Ministério de Planejamento. E o subsídio foi rejeitado
por ser considerado sem base jurídica.
Assim as nossas sugestões de artigos foram
rejeitadas. Nesse momento levou-se ao secretário
Francelino Grando o texto do próprio artigo 8º do
acordo da OMC e argumentou-se que o subsídio era o
único fomento capaz de romper nas empresas a
barreira inicial de rejeição ao risco, por oferecer-lhes o
seu compartilhamento com o Estado, posto que este
era o maior beneficiário direto e indireto da
agregação de inovações competitivas. O secretário
convenceu-se da fundamental necessidade do País
dispor desse fomento por isonomia com os
emergentes dinâmicos e os desenvolvidos.
Muito contribuiu para o resultado dessas
reuniões o assessor da Setec, o advogado Beto
Vasconcelos, que alertou para o fato de não existir na
legislação brasileira o conceito de subsídio a
empresas. Havia, porém, a subvenção econômica,
limitada a despesas correntes. Essa notícia nos foi
dada pelo assessor em reunião havida na Abimaq, em
São Paulo. Assim, esta contribuição ao novo PL foi
A polêmica criação da subvenção econômica
39
incluída como parágrafo 2º, do artigo 19, e aprovada
pela Casa Civil. A alteração e o artigo 28, que
anunciava uma nova lei de incentivos fiscais em 120
dias, foram mudanças relevantes no fomento ao
desenvolvimento de inovações tecnológicas de
competição.
Quando a redação saiu do forno da Setec para a
aprovação do ministro do MCT, à época Eduardo
Campos, surgiram ataques à proposta de subvenção
partidos até de dirigentes de agências do próprio
MCT. A nossa cultura ainda resistia em aceitar o
conceito de que uma parceria público-privada
pudesse gerar valor para a sociedade. Não
reconhecia, mesmo ante evidências esmagadoras,
que o maior beneficiário de inovações sistêmicas era a
sociedade. A empresa ainda hoje é vista como um
corpo à parte da sociedade, de função privada e
destinada a dar benefícios apenas aos donos.
A ideia de que a subvenção econômica se
traduzia em simples doação a empresas obscurecia o
fato de que investir em inovação tecnológica, cujo
lócus é a empresa, signif ica impulsionar o
desenvolvimento socioeconômico do país, pois a
sociedade é o maior beneficiário da conquista de
competitividade pelas suas empresas. Também se
eclipsava o fato relevante de que os recursos do
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FNDCT), a serem usados para financiar a
subvenção, seriam recolhidos das próprias empresas,
e não da arrecadação tributária.
As leis específicas que criavam os fundos
setoriais e a Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico (Cide) sobre as remessas ao exterior para
pagamento de despesas tecnológicas, como
licenciamento de patentes e serviços tecnológicos,
destinam recolhimentos compulsórios ao FNDCT com
o objetivo de fomentar o desenvolvimento científico e
tecnológico. Quanto ao último, o lógico seria esses
recursos voltarem para o fomento do desenvolvimento
tecnológico das empresas.
Os argumentos embasaram a defesa da
subvenção econômica. Como a proposta estava em
perigo, a Protec e a Abifina tiveram um diálogo
preliminar com o ministro Eduardo Campos, em um
almoço no recinto em que se realizava o congresso de
seu partido, em um hotel de Brasília, em 25 de março
de 2004. O diálogo foi uma importante oportunidade
para discutir a fundo com o ministro o papel da
subvenção econômica, e sua função única de
compartilhamento do risco tecnológico, estimulando
mais e mais empresas a assumirem programas de
inovação.
Além disso, a Protec solicitou o apoio do então
presidente do Conselho Temático de Política
Industrial e Desenvolvimento Tecnológico (Copin),
da Confederação Nacional da Indústria (CNI),
A polêmica criação da subvenção econômica
40
Rodrigo Loures, à época também presidente da
Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep),
para criar uma mobilização das entidades industriais
em defesa da nova redação do PL de inovação.
Por uma dessas felizes coincidências que
ajudam a escrever a história, um grupo desses
representantes estaria presente em Brasília, dentro
de poucos dias, para uma reunião dos comitês
gestores de fundos setoriais. Foi a oportunidade
certa para argumentar em favor da subvenção em
uma audiência com o ministro Eduardo Campos. Ele
recebeu um grupo de mais de 15 representantes e se
comprometeu a manter a subvenção no projeto que
enviaria à Câmara. E a promessa foi integralmente
cumprida.
Quando a proposta chegou ao Congresso, o
relator, deputado Ricardo Zarattini, aceitou a ideia
imediatamente. A indústria trabalhava para que
toda a verba do FNDCT fosse para a subvenção
econômica. Nisto, ganhou um apoiador. Roberto
Jaguaribe, titular da Secretaria de Tecnologia
Industrial (STI), do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (Mdic), também era a
favor de que, se não toda, pelo menos a maior parte
da verba do FNDCT tivesse como destino a
subvenção. A Casa Civil não permitiu que a proposta
fosse à frente. Tentou-se então baixar o percentual
para 80%, o que foi igualmente rejeitado. O mesmo
se deu com a alternativa de 40%.
A Lei de Inovação acabou sendo aprovada em
07 de julho de 2004, sob o número 10.973, e
sancionada em 2 de dezembro de 2004, criando a
subvenção, porém sem um piso para esse
investimento. A lei menciona apenas que será
destinado um percentual mínimo para a subvenção, a
ser def inido em por tar ias interminister iais
posteriores. Elas só foram editadas de 2004 a 2009 e,
ainda assim, o dispêndio estabelecido - 20% do
FNDCT - nunca foi cumprido e, em 2006, se restringiu
a 2% dos recursos. O Quadro 5 mostra a execução dos
recursos do FNDCT.
(R$ milhões ) (R$ milhões )
Pago Ano Previsto
2006
2007
2008
2009
2010
2011
40,04
81,66
270,31
154,54
349,16
337,08
209,60
277,18
322,54
129,39
527,15
358,60
A polêmica criação da subvenção econômica
Quadro 5:
Recursos aplicados na subvenção
41
A subvenção econômica é o principal
mecanismo de fomento à inovação tecnológica para
empresas pequenas e médias, e para o incentivo a
priori no Brasil. Na Organização para a Cooperação e
Desenvolv imento Econômico (OCDE) e em
emergentes dinâmicos, o mecanismo se chama
subsídio. Mas, desde o início, impôs-se forte restrição
ao acesso universal das indústrias. A limitação do
benefício a apenas seis áreas de atuação, ditas
estratégicas, e a três tópicos específicos para cada
uma dessas áreas, impede a capilaridade em todos os
setores, assim deixando de impactar a economia. Os
critérios de execução da subvenção têm gerado muita
polêmica e estão em constante debate, assim como a
regularidade das chamadas públicas para a sua
aplicação. Isso gera insegurança jurídica e incerteza
quanto à disponibilidade desse fundamental recurso
para a inovação.
As sugestões para o formato do edital foram
contínuas ao longo dos anos, coletadas pela Protec
nas edições anuais do Enitec, onde representantes da
indústria trocavam suas impressões, dificuldades e
propostas. Os relatórios eram encaminhados à Finep.
A tensão se manteve, até que, no último edital, em
agosto de 2010, a Financiadora o modificasse
substancialmente. Finalmente, passou-se a exigir que
a empresa postulante estivesse ativa durante, pelo
menos, todo o ano anterior; apresentasse um plano
de negócios; e comprovasse a contrapartida,
identificando a origem desses recursos. Também foi
introduzida a defesa oral do projeto e a visita técnica
às ins ta lações onde as inovações se r iam
desenvolvidas.
As alterações possibilitavam o acesso de
empresas realmente produtivas aos recursos
disponibilizados, dificultando a participação de
empreendimentos criados somente para concorrer à
subvenção, sem qualquer passado nem instalações
próprias. Dificultou também empreendimentos
acadêmicos sem foco no mercado ou condições de
produzir e comercializar, ainda que o produto viesse a
ser desenvolvido.
Oito anos depois de a subvenção econômica ter
sido criada, e seus editais reavaliados e modificados,
começa a ganhar corpo na sociedade o debate sobre
o uso de sua fonte de recursos, o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A
aplicação deste fundo é direcionada também para
outras atividades, como financiamento e ações
transversais. Porém, a gestão desses recursos sofre
constantes retenções ara a reserva de pelo governo p
contingência.
Entre 2006 e 2011, mais de um quarto da verba
foi retido em nome dessa reserva, o que resultou em
R$ 3,2 bilhões indisponíveis para as atividades de
A polêmica criação da subvenção econômica
42
pesquisa e a subvenção. Só em 2011, a arrecadação do
FNDCT alcançou o recorde de R$ 3,5 bilhões, valor
7,7% maior do que a receita prevista em orçamento.
Mas, desse total, apenas R$ 800 milhões (22,3%)
foram efetivamente utilizados em programas de
apoio à pesquisa e subvenção. O fomento criado com
tanto esforço da sociedade está sendo anulado,
comprometendo a capacitação da economia para a
competitividade global.
Com a subvenção econômica, o FNDCT
começou a induzir o desenvolvimento tecnológico, ao
possibilitar a aplicação de uma pequena parcela dos
seus recursos nas empresas, e não somente na
pesquisa acadêmica. São essas aplicações que vão
viabilizar o início do processo de desenvolvimento
FNDCT Arrecadação LOA Pago(R$ milhões)
2004 1.408,40 1.413,08 486,88
2005 1.616,83 1.617,86 571,07
2006 1.850,36 1.716,04 540,17
2007 2.016,07 1.761,98 764,21
2008 2.510,19 2.076,74 767,21
2009 2.639,35 1.701,68 650,25
2010 2.789,07 3.072,94 1.906,49
2011 3.536,98 3.252,98 1.584,63
2012/jan-abril 1.406,33 3.733,45 150,75
Histórico de arrecadação e dispêndio do FNDCT
Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
A polêmica criação da subvenção econômica
tecnológico de inovações nas empresas. E nisto reside
a nossa possibilidade de competir no mercado
globalizado e escapar do alçapão de produzir
commodities e matérias-primas de baixo valor
agregado, que é o perfil atual da nossa economia.
Sabemos que isso não nos dá uma inserção
verdadeiramente autônoma no cenário mundial e
limita o nosso crescimento, além de nos tornar
dependentes dos crescimentos dos países
consumidores, sem termos controle das cotações no
mercado.
43
“Introdução
Em 2004, o governo do presidente Lula enviou ao Congresso Nacional
um projeto de lei sobre inovação tecnológica. Na época, exercendo o mandato
de deputado federal, propus a criação de uma Comissão Especial para agilizar
a tramitação deste projeto e aprovar um substitutivo antes da deliberação
sobre a matéria pelo Plenário da Câmara dos Deputados.
Para a redação final desse substitutivo, no âmbito da Comissão
Especial, importantes emendas foram apresentadas por parlamentares
interessados na matéria e por mim mesmo na qualidade de relator. As
sugestões que recebi, especialmente de representantes da Embrapa, Fiocruz,
além daquelas encaminhadas por conceituadas entidades da área de
inovação, como a Protec, foram extremamente relevantes para o processo.
Também foram importantíssimas as presenças, sempre constantes, de
inúmeros especialistas na matéria durante os debates que ocorreram na
Comissão Especial, destacando-se entre eles Ozires Silva e Roberto Nicolsky.
O substitutivo foi aprovado sem emendas, no Plenário da Câmara, em
07 de julho de 2004. Em novembro desse ano, o Senado Federal havia apro-
vado a matéria, também sem emendas, o que possibilitou a sanção do
Presidente Lula da Lei n° 10.973 – a Lei da Inovação – em 2 de dezembro de
2004, sem ter recebido nenhum veto. Observo que sem a colaboração de dili-
gentes consultores da Câmara e o apoio que recebemos do então ministro de
Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, e também do ministro da Casa Civil,
José Dirceu, não poderíamos ter alcançado a aprovação da Lei de Inovação em
tempo tão curto.
Ricardo ZarattiniEx-deputado federal e relator da Lei de Inovação na Câmara dos Deputados
”44
Como relator da Lei de Inovação, no substitutivo
da Câmara, aprovei várias emendas de minha autoria,
destacando-se entre elas a concessão de subvenção
econômica em programação orçamentária específica,
para atender às prioridades da política industrial e
tecnológica definidas no primeiro mandato do
Presidente Lula. Infelizmente, na época, a área econô-
mica do Governo não fez a devida dotação de recursos
orçamentários para subvenção econômica, o que veio
a ocorrer de fato somente a partir de 2006.
Aprovei também, por meio de emenda de minha
autoria, o artigo 28, propondo que a União fomentasse
a inovação na empresa, mediante a concessão de
incentivos fiscais, e determinando no parágrafo único
desse artigo 28 que o Poder Executivo enviasse, em até
120 dias, contados da publicação da Lei, projeto neste
sentido. Todavia esse prazo não foi obedecido pelo
ministro da Fazenda da época, Antonio Palocci.
Somente no final de novembro de 2005, graças às
nossas sugestões aceitas pelo então relator da Medida
Provisória que deu origem à Lei do Bem, deputado
Custódio Mattos, é que se aprovou nesta Lei, de n°
11.196, de 21 de julho de 2005, o Capítulo III – Dos
Incentivos Fiscais a Inovação Tecnológica (art. 17 ao 26).
Por meio de emendas do relator, introduzi
também na Lei de Inovação artigos prevendo na sua
aplicação algumas prioridades, como assegurar trata-
mento favorecido à empresa de pequeno porte, dando
tratamento preferencial nas compras governamentais
às empresas que investem em pesquisa e no desenvol-
vimento de tecnologia do País – o Buy Brazilian Act
para a inovação.
45
“”
”
“ Não é possível, na legislação, tratar um projeto de ciência, tecnologia e
inovação da mesma forma que se trata um projeto de construção de uma ponte
ou de uma estrada. Neste, você calcula quanto material vai gastar na obra. Já
em um projeto de inovação, você observa o caminho que percorrerá até o resul-
tado final. Ou seja, sabe-se onde ele começa, mas não aonde vai parar. Por isso,
às vezes você mira em uma coisa, depois vê que aquilo é impossível e precisa
mudar o rumo.
A legislação era – e ainda é, em certa parte – muito amarrada nesse
aspecto. Então, se trabalhou muito para que fosse criada uma lei que conferisse
flexibilidade aos projetos de inovação. No final de 2004, saiu a Lei de Inovação.
Tínhamos uma ferramenta legal que permitiria às agências de financiamento
repassar recursos para empresas.
Porém, um grande problema – ainda não resolvido – era a forma como os
órgãos controladores viam tudo isso. Um projeto de inovação muitas vezes pode
ir por água abaixo, pois é realmente algo novo e que não oferece garantias dos
resultados esperados. Para o órgão controlador, isso é uma forma de desperdício
do dinheiro público. O que precisa ser entendido é que esse é o risco natural da
inovação.
Por exemplo, o maior problema que eu via na época era o chamado plano
de trabalho. Um projeto que está sendo desenvolvido pode evoluir e ter a
necessidade de mudar o plano. Para os órgãos controladores, essa mudança é
um pecado mortal. Já fizemos reuniões com os órgãos de controle, como o
Tribunal de Contas da União (TCU) e a Advocacia Geral da União (AGU), para
tentar demonstrar isso. Afinal, é uma cultura nova que se estabelece.
Odilon Marcuzzo do CantoPresidente da Finep de 2005 a 2007. Atual secretário da Agência Brasileiro-Argentina
de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc)
46
Os técnicos da Finep entendiam que, para a
inovação realmente acontecer, precisávamos envolver
as empresas. Aquela ideia de que a inovação se faz na
universidade já não existia mais. O sistema
universitário é um sistema de apoio, um sistema base,
mas o lócus da inovação é a empresa.
Como presidente da Finep, evidentemente tive
muito receio ao elaborar o primeiro Edital de
Subvenção, porque sabia que seria responsável por
algo absolutamente novo no Brasil, onde existe a
cultura de que dinheiro público não é de ninguém.
Tivemos o cuidado de fazer um balizamento firme para
que não ocorressem desvios. Quando as empresas se
inscreviam, tinham que preencher determinados
requisitos. Mesmo assim, teve empresas que entraram
com seus projetos e depois descobrimos que eram
apenas de fachada.
Estávamos mirando em algo fundamental: criar
condições no Brasil para que recursos públicos
pudessem ser investidos como certa garantia para as
empresas desenvolverem novos produtos e processos –
inovar, portanto. Dificilmente o empresário brasileiro
vai colocar recursos próprios em um projeto de risco. Ele
prefere ganhar menos, mas em algo seguro. Acredito
que o encaminhamento foi feito nessa direção, para
que ele entendesse que a inovação é fundamental,
porque a competitividade no mercado internacional é
grande e só com a inovação o produto brasileiro vai
conseguir se posicionar.
47
“”
”
“ Sem dúvida, atribuo a geração de um mecanismo tão importante no
Brasil como a Lei de Inovação a uma posição articulada e consistente da
indústria. E digo mais: a subvenção é um artigo da Lei de Inovação, mas é um
artigo que vale uma lei, tamanha é sua importância. Ele é um grande motor
para a consecução dos diversos objetivos que vêm tratados na Lei. Por
exemplo, o compartilhamento de instalações públicas e privadas, como
laboratórios, era impossível antes no direito brasileiro. Hoje, além de ser
legal, ele é estimulado.
A subvenção chocou nos primeiros momentos os órgãos de controle,
que se depararam com uma novidade revolucionária. Uma novidade que
não se apoia em fundamentos consolidados do direito administrativo com os
quais os órgãos de controle lidam. Afinal, a ideia de que é possível transferir
recursos do Tesouro diretamente para o caixa de empresas, que
naturalmente visam ao lucro, é muito nova. Por séculos nosso direito foi
pautado pela separação entre o público e o privado, com canais de
comunicação sempre tortuosos.
Porém, nesse arco de 10 anos, podemos perceber o efeito do tempo e os
resultados da modificação que a Lei de Inovação trouxe, como essa
facilitação do relacionamento público e privado, que teve seu ápice na
subvenção econômica. Então, foram os setores industriais os responsáveis
por, democraticamente, pressionar setores de governo e o Parlamento para
chegarmos onde estamos hoje.
Francelino GrandoCoordenador da área de educação na equipe de transição do
Governo Lula e ex-secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento
48
”
“ Na época da finalização da Lei de Inovação, eu participava do Comitê
Gestor do Fundo Verde-Amarelo, assim como o professor Roberto Nicolsky.
Havia acontecido um encontro do comitê em Brasília e estávamos fazendo
várias reuniões preparatórias para nossos congressos de inovação, o que
mostrava o número expressivo de empresários e pesquisadores já
comprometidos com a causa. A dificuldade que estávamos tendo com o
processo da lei era fazer com que a subvenção fosse acolhida a tempo de
fazer parte da Lei de Inovação, por conta dos cuidados típicos da burocracia.
Foi quando consegui uma audiência com o ministro da Ciência e Tecnologia
Eduardo Campos, de última hora, e aproveitamos esse colegiado que já
tínhamos reunido para levar o movimento ao Ministério. Na reunião,
coloquei o assunto como algo de importância estratégica, disse que o Brasil
precisava experimentar essa política de subvenção, uma vez que esse
instrumento é usado por países com os quais temos que competir. Diante
dessas evidências, o ministro Eduardo Campos se convenceu de que era uma
boa proposta e, por conseguinte, adotou essa política. Assim, superamos
aquelas intermináveis discussões técnicas e legais, próprias de quando se
examina a aprovação de um novo instituto. No fim, a iniciativa se mostrou
viável e houve uma grande receptividade - a demanda foi bem maior do que
o orçamento definido. E o melhor de tudo foi que o projeto possibilitou a
participação das empresas - e pequenas empresas - no acesso a esses
recursos voltados para a ciência e tecnologia.
Rodrigo LouresPresidente do Conselho de Política Industrial da CNI à época e
atual vice-presidente da CNI
49
”
“ Na década de 90, houve um enorme esforço para organizar um
conjunto de leis que estimulassem as atividades de inovação. Parte desse
alicerce se deve à Lei nº 10.973/04 – a Lei de Inovação -, que dispõe sobre
incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica, com a
ampliação dos mecanismos de subvenção e equalização dos custos de
financiamento. Além da consolidação dos incentivos fiscais na Lei nº
11.196, a Lei do Bem.
Apesar do notório avanço, há questões de insegurança jurídica e
problemas na eficácia da Lei de Inovação. No âmbito dessa lei específica,
foi instituído um importante mecanismo de apoio às empresas por meio
do artigo 19, que autoriza as instituições de fomento a aportarem
recursos não-reembolsáveis diretamente nas empresas – a subvenção
econômica. No entanto, é possível identificar entraves administrativos e
jurídicos, como, por exemplo, a demora na aprovação e liberação dos
recursos; a complexidade dos formulários; e também a dependência da
aprovação dos gastos realizados para que haja fluxo de recursos. O
agravante de ordem jurídica é a ausência de um entendimento comum
entre os órgãos públicos de controle e auditoria, levando insegurança
aos gestores públicos na tomada de decisão acerca dos projetos.
Paulo SkafPresidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
desde setembro de 2004
50
o novo texto do projeto de lei
N (PL) de inovação não foi
possível incluir um artigo que
formalizasse a possibilidade
de uso do poder de compras
do Estado como um incentivo
direto ao desenvolvimento tecnológico e de
inovações nas empresas brasileiras. Após a
designação do relator do PL, deputado Ricardo
Zarattini, foi feita novamente a sugestão,
trazendo já redigido o artigo que havia sido
re je i tado no âmbi to da Secre ta r ia de
Desenvolvimento Tecnológico (Setec) do
Ministério da Ciência e Tecnologia. O relator
O uso do poder de compras do Poder Público
O uso do poder de compras do Poder Público
53
encampou imediatamente a ideia e levou o
artigo, bem como outras emendas que foram
propostas à Comissão de análise do PL, à
apreciação da Casa Civil. Como já era previsto o
seu insucesso, foi preparado um plano B, que
consistia em acrescentar ao artigo 27, que tinha
três incisos versando sobre detalhes muito
diferentes entre si (ver no anexo), um novo inciso,
o IV, com uma declaração de princípio: “dar
tratamento preferencial, na aquisição de bens e
serviços pelo Poder Público, às empresas que
invistam em pesquisa e no desenvolvimento de
tecnologia no País”.
O deputado relator entusiasmou-se com a
ideia – que até chamou de Buy Brazilian Act, à
semelhança da lei americana – e incluiu o novo
inciso imediatamente. O novo texto do PL foi
aprovado na Comissão e no plenário em 7 de
julho de 2004, tornando-se a Lei de Inovação (nº
10.973). Mas a nova lei foi sancionada pelo
presidente Lula apenas em 2 de dezembro de
2004, sem vetos. Estava instituído, ainda que de
modo muito conciso, o novo conceito – fora da Lei
de Licitações – de que as compras de órgãos
públicos devem promover o desenvolvimento
tecnológico do País.
Não foi tarefa fácil transformar um texto de
duas linhas de uma nova lei em realidade.
Enquanto se esperava a regulamentação da Lei de
Inovação, a primeira providência foi a Protec
colocar esse tema em um dos painéis do 5º Enitec,
que se realizou em 9 e 10 de maio de 2005, na
Firjan, Rio de Janeiro. Para participar do evento e
do painel, foi convidado Eduardo Costa, diretor
da Farmanguinhos, órgão da Fiocruz dedicado à
produção de medicamentos.
Neste painel, representantes da Petrobras e
Eletrobras mostraram como as empresas
procediam para assegurar que o fornecedor fosse
uma indústria brasileira: a licitação visava
contratar a fabricação local de modo a viabilizar a
inspeção de surpresa e, assim, assegurar a
qualidade necessária na data da entrega. Contou-
se, até, com o relato do já falecido engenheiro
Antonio Sergio Fragomeni, que por muito tempo
foi superintendente de compras da Petrobras,
que fazia as encomendas. O decreto de
regulamentação, nº 5.563 (ver anexo), foi
publicado em 11 de outubro de 2005, quase um
ano depois, e apenas reproduziu os quatro
incisos do artigo 27 da lei.
Assim, foi substituindo a tradicional licitação
O uso do poder de compras do Poder Público
54
de compras pela encomenda direta de fabricação
dos medicamentos Lamivudina e Zidovudina por
Farmanguinhos (antes importados), que se
introduziu de fato o uso do poder de compra do
Estado como desenvolvedor de tecnologia. A
iniciativa contou também com o apoio do novo
titular da Setec, Luiz Antonio Rodrigues Elias, e da
assessoria jurídica de Denis Borges Barbosa.
Pouco depois, foi decretado o licenciamento
compulsório do medicamento Efavirenz e
encomendada a sua fabricação no país.
Criou-se, então, uma situação estranha,
pois a Lei de Licitações estava vigente, mas havia
um procedimento para encomendar a fabricação
local dos produtos com maior exigência
tecnológica. Esse aparente impasse foi resolvido
com o envio da MP 455 ao Congresso Nacional,
que a transformou na Lei nº 12.349, sancionada
em 15 de dezembro de 2010, alterando e
regulamentando o inciso IV do artigo 27 da Lei de
Inovação. A sua regulamentação foi estabelecida
pelo Decreto nº 7.546, de 2 de agosto de 2011
(institui a Comissão Interministerial de Compras
Públicas); Decreto nº 7.713, de 3 de abril de 2012
(fármacos e medicamentos); e Decreto nº 7.767,
de 27 de junho de 2012 (produtos médicos).
O uso do poder de compras do Poder Público
55
“Quando eu estava na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como professor,
encontrei o Carlos Gadelha, um jovem economista que também trabalhava
na fundação, e começamos a desenvolver o conceito do Complexo Industrial
da Saúde. Um pouco mais à frente – em 2000, 2001 – fizemos um estudo para
o BNDES, um diagnóstico da indústria de vacinas no Brasil: capacidade de
produção, modelo de gestão, perspectivas, potencialidades.
Na Fiocruz, em torno de 2002, criamos o Projeto Inovação, que era um
estudo prospectivo das indústrias do segmento do complexo médico-
industrial e que nos permitiu desenvolver e refinar um pouco mais essa visão
inovadora que é a das relações entre saúde e desenvolvimento. E quando fui
para o Ministério da Saúde, em 2007, levei toda esta discussão debaixo do
conceito de Complexo Industrial da Saúde.
No plano que implantei durante minha gestão, um dos sete eixos era a
questão do Complexo Industrial da Saúde, envolvendo já toda a discussão
sobre compras públicas, o uso do poder de compras do Estado, o
estabelecimento de parcerias público-privadas, o fortalecimento da produção
de genéricos e a ampliação dos investimentos em pesquisa e inovação. E em
2008 e 2009, quando o presidente Lula lançou a nova política de
desenvolvimento produtivo do Brasil, o Complexo Industrial da Saúde estava
lá como eixo estratégico do Governo. E evidentemente que algumas
José Gomes TemporãoMinistro da Saúde do Governo Lula de março de 2007 a dezembro de 2010.
Atual coordenador-executivo do Instituto Sul-Americano de Governo e Saúde,
entidade ligada à União de Nações Sul-Americanas (Unasul)
56
experiências que aconteceram durante essa trajetória fortaleceram nossa
estratégia, como a experiência das PPPs e o licenciamento compulsório do
Efavirenz.
O licenciamento compulsório do Efavirenz foi uma experiência impor-
tante do ponto de vista político para o País. Vínhamos negociando com o labo-
ratório que detinha a patente a questão do preço do medicamento. Não houve
grandes avanços na negociação. Então, pela primeira vez na história do Brasil
- ao contrário de outros momentos, quando o Governo ameaçava fazer o licen-
ciamento compulsório, mas recuava quando conseguia um acordo econômico
que considerava razoável -, o processo foi até o fim. Ou seja, publiquei uma
portaria declarando o Efavirenz medicamento de interesse da saúde pública,
com base na legislação internacional, no tratado de Trips, no acordo de Doha.
Pela norma vigente, o laboratório teve 30 dias para rever a sua posição e tentar
chegar a um acordo com o Governo, o que não aconteceu.
Durante esse período, houve um trabalho extremamente integrado
entre o Ministério da Saúde; das Relações Exteriores, Indústria e Comércio; e
Advocacia Geral da União, para que nos cercássemos de todas as garantias
jurídico-institucionais, legais, econômicas, de que aquela decisão não seria
passível de qualquer tipo de questionamento, sequer jurídico. E 30 dias depois,
o presidente Lula assinou o decreto determinando o licenciamento compul-
sório do produto.
Em um primeiro momento, importamos o genérico da Índia, com o apoio
da Unicef, para substituir o produto de marca, enquanto preparávamos
Farmanguinhos e um conjunto de farmoquímicas privadas para o
desenvolvimento do genérico brasileiro - o que aconteceu não muito tempo
depois. Hoje o Brasil domina totalmente a tecnologia e esse produto é
entregue ao Ministério da Saúde por Farmanguinhos. Isso nos permitiu
economia de divisas. Mais ainda, permitiu que o Brasil passasse a deter todo o
processo de produção desse produto.
” 57
“ Quando eu estava em Farmanguinhos, surgiram questões graves dos
preços que o Ministério da Saúde estava pagando para a aquisição dos
antirretrovirais e também de outros medicamentos. Então propusemos a
licença compulsória do Efavirenz, publicamente. Foi uma inovação
importante no campo gerencial da aquisição dos insumos para a produção
farmacêutica estatal.
Porém, tínhamos muitos problemas, porque as compras satisfeitas
através de importação, em geral pelo preço mais baixo, nos deixavam a
mercê de uma série de falcatruas. Produtos rejeitados em outros lugares
vinham para cá.
Então é uma situação louca, em que o maior nome de laboratório no
Brasil, em termos públicos, uma instituição super respeitada como a Fiocruz,
não tem nenhum instamento jurídico-administrativo que possibilite
trabalhar a produção com eficiência. E começa por isso, porque não
conseguia comprar produto bom dentro dos parâmetros legais, ou a tempo.
A cada vez que a Anvisa faz uma inspeção, se você trocar o princípio
ativo tem que ter uma nova análise da produção. A sistemática? Tinha um
ano de validade. Então, por que comprar o produto? Em vez de comprar o
produto vamos comprar o serviço de produção. Com isso eu faço um contrato
Eduardo de Azevedo CostaEx-diretor de Farmanguinhos, laboratório farmacêutico federal da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Presidente da Fundação Nacional de
Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro)
58
de até cinco anos e posso ir melhorando.
Então a grande inovação, a história do Ovo de Colombo, é: em vez de
comprar o produto, comprar o serviço de produção. E teve um detalhe que
colocamos aí: para nossa capacidade de fiscalização ser boa, queríamos
produção local. Por estímulo nosso, depois saiu uma portaria assinada pelos
ministros do Planejamento, da Saúde e do Desenvolvimento, dizendo que
esse era o modo preferencial de aquisição de produtos na área dos
laboratórios oficiais.
Tivemos muitas contestações dos importadores na Justiça. Lembro de
uma reunião com a juíza que ia julgar o caso. Expliquei para ela o que era
medicamento, coisa e tal. No meio da conversa, quando a juíza ia fazer uma
anotação, pegou a caneta, olhou e jogou no lixo. Era uma caneta tipo
esferográfica. Então ela disse assim: ‘Doutor Eduardo, se licitação pública
não serve nem para comprar caneta que funcione, que dirá para comprar
remédio’. E fez um despacho favorável à gente.
” 59
“ Em 1990, a Finep encomendou um estudo sobre a importância das
compras públicas governamentais no desenvolvimento da tecnologia e
como motor específico para inovação. E o que esse estudo aponta é que as
compras públicas representam um dos meios de interação do Estado mais
importantes para a promoção de um processo inovador, em particular nas
áreas ligadas ao desenvolvimento de novas técnicas, como acontece no setor
espacial e no setor militar.
(...) Algumas empresas vinham sendo contratadas para atender a
encomendas públicas do Estado para o desenvolvimento tecnológico de
medicamentos e fármacos. Por razões da própria imprevisibilidade do
processo, parte delas não conseguia entregar o produto e se encontraram em
colisão com instruções do Tribunal de Contas, não obstante o fato de que a
encomenda fora de desenvolvimento e não de entrega de produto. Ficava
claro que a proposta de usar o instrumento de poder de compra do Estado
para o desenvolvimento tecnológico precisava de uma mutação legislativa
ou, pelo menos, de uma mutação nos parâmetros de análise e de auditoria
contábil que prevaleciam no sistema administrativo, não só da União, como
nas outras estatais brasileiras.
Denis Borges BarbosaAdvogado e consultor na estratégia de compra pública da Lamivudina e
da Zidovudina, com preferência para a fabricação local
60
Essa possível mudança foi proposta pelo artigo 20 da Lei de
Licitações, que permite ao Estado, quando se determina a existência de um
risco técnico, fazer a compra de um serviço de desenvolvimento, aliado ou
não à compra de produtos, de tal forma que o licitante se propusesse a
fazer algum tipo de desenvolvimento tecnológico. No entanto, no texto
que saiu do Congresso, estava dito que o pagamento ao licitante seria
proporcional ao resultado. Ora, se o resultado, que pode ser nenhum,
condiciona o pagamento, isso fazia com que o artigo 20 não pudesse ser
base para uma proposta de sistema de incentivo à inovação.
A mudança desse sistema através de regulamento se tentou fazer
desde a promulgação da Lei de Inovação. Mas só se conseguiu uma
formulação em norma, em julho de 2010 (referência à MP 495,
transformada na Lei 12.349 em dezembro de 2010), quando foi explicitado
que, não obstante o texto da norma legal, haveria a possibilidade de
remuneração mesmo que o resultado não fosse a entrega de um produto
ou a consolidação de uma tecnologia.
” 61
”“ O instrumento das compras públicas não foi mais detalhado na Lei de
Inovação porque não havia maturidade suficiente entre os diversos órgãos
de governo em relação ao tema. A compra governamental é irmã da
subvenção econômica. Estamos falando que é possível usar recurso público
diretamente na iniciativa privada. Vamos imaginar o setor de TI ou de
fármacos, que tem o Ministério da Saúde como um dos maiores compradores
do mundo. Com a compra nacional, existe a demanda. E essa segurança
permite arranjos de capital-indústria. A compra pública é um elemento
constitutivo de um ambiente favorável à inovação.
Francelino GrandoCoordenador da área de educação na equipe de transição do
Governo Lula e ex-secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento
62
”
“ Em consequência das diretrizes aprovadas no art. 28 da Lei de
Inovação, pude batalhar pela introdução de duas emendas na MP do Bem,
modificando a Lei de Licitações (Lei n° 8.666, de 21/06/1993). Ambas foram
aceitas pelo relator Custódio de Mattos.
A primeira acrescentou o inciso IV ao art. 3° da Lei de Licitações, para
dar preferência nas compras governamentais ‘aos bens e serviços
produzidos ou prestados por empresas que invistam em pesquisa e no
desenvolvimento tecnológico do País’.
A outra emenda dispensou, no inciso XXVII do art. 24 da Lei n°
8.666/93, a licitação para o ‘fornecimento de bens e serviços, produzidos ou
prestados no país, que envolvam, cumulativamente, alta complexidade
tecnológica e defesa nacional, mediante parecer de comissão especialmente
designada pela autoridade máxima do órgão’.
Não restam dúvidas de que tais emendas, visando utilizar o poder de
compra governamental, foram fontes de inspiração para a Lei n°
12.349/2010, que detalhou e ampliou seus objetivos.
Ricardo ZarattiniEx-deputado federal e relator da Lei de Inovação na Câmara dos Deputados
63
”
“No ano de 2006, o governo fez uma licitação pública pela primeira vez,
que me lembre, nos últimos 30 anos, visando o serviço de fabricação de dois
antirretrovirais – a Lamivudina e a Zidovudina – para serem transformados em
medicamentos nas instalações de Farmanguinhos.
Esse edital foi contestado na Justiça pelos importadores, acostumados a
ganhar nesse sistema. Então, a Farmanguinhos, à época com a gestão de
Eduardo Costa, se defendeu, mostrando a importância do acompanhamento,
da fiscalização do Estado em um processo de fabricação de um medicamento de
alta relevância para o SUS. Queriam que fosse feito no Brasil por se tratar de um
produto estratégico, como a Petrobras sabidamente realizava naqueles compo-
nentes estratégicos para a área de petróleo. A Abifina entrou nessa defesa, e
ganhamos em primeira e segunda instâncias. Então ficou pacífico que o Estado
pode contratar serviço de fabricação no País por empresas que se disponham a
ocupar esse espaço.
Posteriormente, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, agiu por
ocasião da negociação de um medicamento sob patente – o Efavirenz. Depois de
meses de negociação, tentando uma redução de preço de no mínimo 30%, a
titular da patente disse que só daria o desconto de 3%. Então ele reuniu o setor
produtivo brasileiro, representado pela Abifina, junto com os laboratórios
oficiais, e perguntou se era viável a fabricação no País do princípio ativo pelas
empresas, e do medicamento pelos laboratórios. A resposta foi favorável e,
mesmo com o prazo restrito, as empresas contratadas entregaram o princípio
ativo e os laboratórios oficiais formularam o medicamento a tempo.
Nelson Brasil1º vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias
de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina)
64
”“ O Cristália é um laboratório remanescente de um plano que o governo
criou há uns 25 anos para o desenvolvimento de matérias-primas
farmacêuticas. O projeto não deu certo, apesar de ter empregado uma certa
quantidade de dinheiro, porque o governo tinha a intenção de que nós
produzíssemos commodities e não havia como concorrer com empresas,
muitas delas centenárias, devidamente amortizadas.
Houve, porém, um aperfeiçoamento da ideia básica, que é dotar o País
de capacidade produtiva em matérias-primas. Em vez de pura e
simplesmente dar um financiamento e pedir que se produza tal coisa, o
governo resolveu fomentar de outra maneira, garantindo o consumo do que
se produzisse. Esta é a forma mais saudável e inteligente que existe de
estímulo, porque de nada adianta produzir o melhor produto do mundo se
ninguém comprar de você.
Ogari PachecoPresidente do Conselho de Administração do laboratório Cristália e
atual presidente da Abifina
65
“ Em 1990 houve um processo dramático de abertura. Era um caos
geral. Em dois ou três anos, do parque industrial químico brasileiro,
houve um fechamento de 90 fábricas. O Brasil, hoje, importa cerca de
95% dos farmoquímicos. Nós precisamos recriar uma indústria, e não
expandir uma indústria existente.
Se você for contar indústria farmoquímica de verdade, o País hoje
tem cinco. A China deve ter, com boas práticas de fabricação, umas 100.
A Índia ainda mais. E como é que a gente pode recriar uma indústria
neste cenário? Em primeiro lugar, para produzir você tem que poder
vender e precisa ter mercado. O que é possível? As parcerias público-
privadas e as compras públicas, que podem ser dirigidas.
Foi o que aconteceu com o contrato da Lamivudina. Ele foi
assinado no final de 2006 e a primeira entrega foi em 2007. Esse
contrato foi a razão pela qual acreditamos que haveria uma solução
para o setor e investimos dinheiro, renegociamos com os bancos,
Jean PeterPresidente da Globe Química
66
estruturamos todo o que era possível. Um ano depois, veio o Efavirenz.
Nossa empresa foi escolhida por ser uma farmoquímica com
competência para fabricar. Esses eventos mudam a história. Se não
houvesse o contrato da Lamivudina, nossa empresa não existiria hoje.
Produzir no Brasil é caro. Então, a gente não pode se iludir. O
preço do produto feito no País, por um período de tempo - até que se
tenha escala e também que se compense os custos macroeconômicos -
vai ter que ser mais caro. Essa é uma decisão estratégica que precisa ser
tomada pelo governo, e foi tomada na hora em que se decidiu fazer o
Efavirenz. Nesse caso, foi tomada a decisão dizendo: nós vamos
comprar. É uma decisão cara, mas possibilita a criação de empregos, de
conhecimento, de tecnologia, e isso é uma coisa positiva que
precisamos defender. Essa política é fundamental para o crescimento
do Brasil e precisa ser desenvolvida.
” 67
”“ No artigo 20, a Lei de Inovação ressalta a possibilidade de
utilização do poder de compra do Estado, vinculada à encomenda
tecnológica. De modo complementar, o artigo 27 cita a necessidade de
tratamento preferencial, na aquisição de bens e serviços pelo Poder
Público, às empresas que invistam em P&D no País.
O que se verificou é que o artigo 20 da Lei de Inovação praticamente
nunca foi utilizado e, para a eficácia do artigo 27, falta que a lei de
preferência para produtos nacionais (Lei 12.349/2010) normatize as
questões relacionadas ao conteúdo nacional; estenda a medida para
outros setores não incluídos no Plano Brasil Maior; aplique essa medida
para compras de estados, municípios e estatais; e obrigue a transferência
de tecnologia às empresas nacionais (no caso de compras externas).
Portanto, é preciso aperfeiçoar esse arcabouço legal para que as compras
governamentais se tornem um instrumento de política industrial e
tecnológica, como acontece em outros países.
Paulo SkafPresidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
desde setembro de 2004
68
O financiamento subsidiado à inovação tecnológica m outubro de 2003, em uma sessão
E regular do Conselho Empresarial de
Tecnologia da Firjan, a Abifina fez uma
apresentação sobre a indústria de
fármacos no Brasil. Nessa ocasião, José
Eduardo Pessoa, chefe do Departamento
de Indústrias Químicas do BNDES, convidou para uma
reunião a Protec e o IPD-Farma (Instituto de P&D de
Fármacos e Produtos Farmacêuticos). Este último
consiste em um wall-less institute criado pela Protec
em novembro de 2002 para tentar atuar como
proponente junto a agências de fomento e articular as
atividades de inovação tecnológica na indústria
O financiamento subsidiado à inovação tecnológica
71
farmacêutica. O objetivo do encontro proposto era
criar um diálogo com o grupo que desenvolvia no
BNDES o projeto Profarma, de estratégia setorial
proativa.
A reunião ocorreu alguns dias depois, no
BNDES. José Eduardo Pessoa, Pedro Palmeira e Janusz
Zaporki receberam Joel Weisz, pela Protec; Jean Pierre
Férézou, pelo IPD-Farma; e Roberto Nicolsky, por
ambas entidades. O grupo do BNDES apresentou o
programa Profarma, que estava em evolução e ainda
abrigava duas vertentes: a ampliação da capacidade
produtiva setorial e o apoio a fusões e aquisições -
para reforço da base financeira e da escala das
empresas do setor. A proposta imediatamente feita
pelos representantes da Protec e IPD-Farma foi a de se
criar uma terceira linha, para o estímulo ao
desenvolvimento tecnológico, principalmente nas
empresas não associadas a indústrias multinacionais.
O recurso até então usado, de produzir similares aos
medicamentos de marca lançados no exterior, havia
se esgotado, em 1996, com a introdução da Lei de
Patentes.
A sugestão foi aceita e os três convidados se
comprometeram a trazer a uma nova reunião uma
proposta que pudesse servir de base para a
formulação desse terceiro componente do programa
Profarma. No início de dezembro, esse encontro
aconteceu, e nele foi apresentada a ideia de um
programa de fomento para processo continuado. Ele
seria limitado no tempo de agregação de inovações
de pequeno porte (um pipeline, como se diz no setor),
isto é, de melhorias dos produtos, também chamadas
de incrementais.
O grande diferencial da proposta seria o apoio
através do compartilhamento de risco. O BNDES seria
reembolsado com royalties sobre as receitas
adicionais geradas pelas inovações, em vez do
tradicional financiamento garantido pelo patrimônio.
A proposta se baseava na constatação de que
estatísticas relativas a empresas que agregam
inovações continuadamente são sempre positivas. Os
números indicam um crescimento robusto das
empresas nesses casos, nos exemplos nacionais e do
próprio setor.
A reação dos técnicos à proposta foi
entusiasmada, mas com certa preocupação em
relação às reais possibilidades de implementá-la no
BNDES, dadas as possíveis dificuldades de formulação
jurídica. De fato, em início de março de 2004, um
telefonema de José Eduardo indicou que a barreira
jurídica fora intransponível. A linha de estímulo à
inovação foi implementada, mas na forma de um
financiamento com juros limitados a 6% ao ano,
subsidiados por uma parcela dos lucros do banco.
Hoje, a taxa de juros preferencial já é 3,5% ao ano para
alguns projetos.
O financiamento subsidiado à inovação tecnológica
72
O modelo foi publicamente lançado pelo
BNDES em 31 de março de 2004, nos quadros da
chamada Política Industrial, de Inovação e Comércio
Exterior (PITCE). O novo componente foi denominado
de Profarma P,D&I. A questão patrimonial foi
parcialmente abrandada com a aceitação de aval dos
acionistas até certo limite de operação.
Apesar de transferir o risco tecnológico
integralmente para as empresas, a linha de apoio foi
um sucesso. A demanda reprimida nas indústrias era
muito grande e os juros eram fortemente subsidiados,
reduzindo o custo do investimento em inovação. O
BNDES recebeu dezenas de cartas consultas e mais de
30 projetos foram avaliados (ver tabelas).
O financiamento subsidiado à inovação tecnológica
Tabela 1 - Quantidade de operações contratadas no âmbito do BNDES
Profarma Inovação por ano
Profarma Inovação (Ativa e Ativa-utilizada)
Ano Contratadas
2005 2
2006 2
2007 5
2008 3
2009 4
2010 2
2011 5
2012 0
Total: 23
Tabela 2 - Desembolso anual das operações contratadas no âmbito do
BNDES Profarma Inovação
Profarma Inovação (Ativa e Ativa-utilizada)
Ano Desembolso (em R$ milhões)
2005 17.700
2006 7.305
2007 4.015
2008 13.626
2009 12.702
2010 19.022
2011 120.159
2012 24.500
Total: R$ 219.029,00
Tabela 3 - Quantidade de Cartas Consulta apresentadas ao BNDES
com pleito de financiamento no âmbito do BNDES Profarma Inovação
Profarma Inovação (Total)
Ano Carta Consulta2004 4
2005 7
2006 9
2007 5
2008 7
2009 7
2010 6
2011 9
2012 3
Total: 57
As operações pleiteadas e não contratadas podem
1 - estar ainda em análise no BNDES
2 - ter sido retiradas pelas empresas (desistência)
3 - ter sido realocadas em outras linhas de financiamento
4 - ter sido canceladas Fonte: BNDES 2012
73
final, após o desenvolvimento alcançar a eliminação
quase total do risco tecnológico.
5.1. O BNB e a inovação no Nordeste
O tradicional Banco do Nordeste do Brasil
(BNB), criado por lei há 60 anos e com mais de 55 anos
de operação, assumiu uma posição de liderança para
a região no desenvolvimento de projetos inovadores,
seguindo a tendência do país. Pelas restrições
jurídico-estatutárias a bancos, o BNB tem atuado
através de financiamentos, oferecendo aos projetos
de desenvolvimento tecnológico das empresas da
região taxas de juros subsidiadas. Essa linha especial
para fomentar a agregação de inovações está
designada com o nome de Cresce Nordeste.
Ainda que a redução propiciada pelas taxas
reduzidas, por vezes até negativas, possa estimular as
empresas ao investimento em P&D, sabe-se que não é
esse processo que irá universalizar a criação e o
desenvolvimento permanente de inovações
tecnológicas. A condição de empréstimo não mitiga o
risco tecnológico, mas, ao contrário, superpõe a este o
risco do crédito.
A linha Cresce Nordeste tem relevância para
uma região com déficit de tecnologia própria. É uma
linha que possibilita a importação de tecnologia,
know-how e serviços técnicos, na forma da
O financiamento subsidiado à inovação tecnológica
Em evento realizado pela Abifina na Firjan, em
12 de abril de 2004, o ex-diretor do BNDES e professor
do Instituto de Economia da UFRJ, Fabio Stefano Erber,
disse em sua intervenção sobre a proposta de
fomento pelo compar t i lhamento do r isco,
apresentada pela Protec/IPD-Farma: “Há um amplo
convencimento de que o limitador da inovação
tecnológica não é o custo de financiamento, mas a
incerteza associada a essa atividade e, portanto, não
adianta somente oferecer dinheiro barato”. A
declaração foi registrada no boletim Informando de
maio de 2004, produzido pela Abifina.
Em fevereiro de 2006, outro diretor do BNDES e
também professor do Instituto de Economia da UFRJ,
Antônio Barros de Castro, ampliou o sucesso do
programa Profarma para todos os setores industriais
apoiados pelo BNDES, processo esse que ganhou o
nome interno de “profarmização”. Todo o banco
passou a financiar as iniciativas de inovação das
empresas através de programas e linhas de operação
específicas. Com algumas alterações decorrentes da
experiência de uso, ambos os programas estão até
hoje no elenco das atividades do banco, acumulando
aplicação de recursos da ordem de R$ 3 bilhões.
Portanto, salvo exceções muito específicas, como
parece ter sido o caso da indústria farmacêutica, o
financiamento não atua com eficácia no estímulo ao
início de um programa de inovação, mas apenas no
74
”“ A Protec teve parte em coisas muito importantes que a indústria
usou como vantagem, por exemplo, o Profarma, do BNDES. Esse projeto
foi basicamente feito a três: eu, o professor Roberto Nicolsky (da Protec) e
o Nelson Brasil (da Abifina). Várias vezes fomos à sede do banco, e
expusemos nossas ideias, separadamente e em conjunto.
Dante Alario Jr.Presidente da Alanac na época da fundação da Protec
75
“ Naquele ano de 2003 as coisas aconteceram de forma bastante
acelerada. Do ponto de vista interno da instituição, o presidente do BNDES à
época, o professor Carlos Lessa, acreditava que o banco deveria ter uma
atuação mais significativa, de maior peso, na indústria farmacêutica. Ao
mesmo tempo era o primeiro ano do governo Lula, quando voltou a ser
possível, no âmbito de governo, pensar o Estado como planejador ativo do
processo de desenvolvimento. Foram recriados na época fóruns de discussão
entre governo, associações de classe, empresários, em algumas cadeias
produtivas de interesse mais estratégico - cadeias comerciais que tinham
potencial déficit nas suas balanças comerciais e que poderiam levar a uma
deterioração das contas do país como um todo.
Desses fóruns criados, o que acabou tendo maior importância foi o
Fórum de Competitividade da Cadeia Farmacêutica. Foi um ambiente de
discussão bastante rico, pois contava com pessoas extremamente
colaborativas e despojadas no sentido de apresentar contribuições em prol do
desenvolvimento da indústria farmacêutica no País, e do desenvolvimento do
País como um todo, sem maiores interesses. Essas pessoas eu posso pontuar: o
Roberto Nicolsky, da Protec, o Dr. Nelson Brasil, da Abifina, e o José Correia, da
Abiquif (Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica). Obviamente todos
tinham suas áreas de interesse, mas colocaram naquele momento, naquele
Fórum, os interesses maiores em primeiro lugar.
Pedro PalmeiraResponsável pela área dedicada à química fina do BNDES em 2003,
atuante na implantação do Profarma. Atual chefe do Departamento de Produtos
Intermediários Químicos e Farmacêuticos (Defarma)
76
O ano de 2004 começa com o lançamento da Política Industrial
Brasileira. E o lançamento, do ponto de vista interno do BNDES, induziu uma
aceleração de procedimentos que levariam à formulação de um programa de
ação do banco específico para trabalhar com o setor farmacêutico. Esse
programa tem a sua semente no Fórum de Competitividade.
Lembro-me bem quando o Roberto Nicolsky veio até nós – e isso foi
mais de uma vez – tentando nos passar quais eram os anseios da indústria, o
que o BNDES poderia tentar resolver do ponto de vista da indústria. Por que
não era possível promover a inovação com estes mecanismos tradicionais do
BNDES? Essa foi uma das questões que nós discutimos muito com o Roberto.
Acho que ele é um dos pais - não o único, obviamente - mas um dos pais da
concepção do Profarma.
Em abril de 2004 o Profarma se tornou operacional. Talvez tenha sido
um dos três programas do BNDES com maior aceitação por parte da
indústria, porque rapidamente houve solicitações de financiamento, fazendo
com que o programa construísse uma carteira - em face dele ter sido
construído em conjunto com a indústria.
(...) Ao apresentar o Profarma na Finep, nosso então diretor, já falecido,
o saudoso Antônio Barros de Castro, disse que gostaria de pegar o exemplo
do Profarma e espalhá-lo no BNDES, como uma espécie de profarmização
das linhas do BNDES. Proféticas palavras, porque algum tempo depois a área
de planejamento, que ele conduzia, lançou as linhas de inovação do Banco –
agora não mais somente destinada à área de Saúde e à cadeia farmacêutica
– mas destinadas a todos os setores produtivos da nossa economia.
” 77
”“ Desde a implantação da indústria química e petroquímica no
Brasil, já havia uma compreensão do BNDES, da área empresarial e da
área pública de governo, da necessidade das empresas terem atividades
de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Eu coordenei uma equipe que apresentou a proposta do Profarma,
em 2003. Nós demos um foco muito grande para a indústria química
farmacêutica. O setor era considerado um dos elos fracos na indústria
brasileira, não só no suprimento de matérias-primas, mas também na
capacidade de competição com grandes empresas internacionais.
Nessa época, o nosso diretor, Fábio Erber, tinha uma tradição com a
área de inovação. Ele era economista, mas possuía um olhar voltado para
a inovação, o que incentivou muito a articulação com o governo, e com as
empresas. Acho que essa foi a maior vantagem do Profarma: termos
conseguido sistematizar o primeiro apoio organizado em articulação
com o governo e com empresas.
José Eduardo Lins PessoaChefe do Departamento de Indústrias Químicas do BNDES em 2003,
um dos criadores do Profarma
78
legislação vigente; assim como a instalação de
laboratórios de controle de qualidade e/ou seus
equipamentos; eventual compra e absorção de
tecnologia ou sua transferência; bem como
participação em joint ventures tecnológicas.
Também estão enquadrados na linha os projetos
de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em empresas,
individualmente ou em consórcios de pesquisa. Eles
podem ser apoiados a partir de laboratórios e
departamentos de engenharia de empresas, e em
programas e projetos de P&D de produtos e processos
que incorporem novos conhecimentos executados
diretamente ou por intermédio de centros de pesquisa.
Porém, as inovações desenvolvidas tornam-
se limitadas em situações nas quais a empresa
dispõe do necessário capital de giro e já possui
certeza de seu sucesso. Isso torna a estratégia de
agregar inovações tecnológicas essencialmente
defensivas, até para enfrentar situações de efetiva e
incontrolável ameaça da concorrência. Entretanto,
o desenvolvimento robusto do setor industrial de
manufaturas, acelerando o crescimento do PIB,
como ocorre nos países orientais, só se viabiliza em
um regime de agregação ofensiva de inovações,
como o fazem as empresas e, consequentemente,
as economias emergentes dinâmicas.
O financiamento subsidiado à inovação tecnológica
79
O incentivo à inovação nas micro e pequenas empresas
unca se falou tanto na importância
N das micro e pequenas empresas
(MPE ) pa ra impu l s iona r o
crescimento do Brasi l . E las
expressam o poder criativo do
povo brasileiro, a capacidade de
empreender e de criar alternativas de empregabilidade.
Segundo o Sebrae, em 2010 existiam no país 6,1
milhões de MPE, responsáveis por empregar 15
milhões de pessoas com carteira assinada. É natural
que, diante do debate sobre a criação do Marco Legal
da inovação tecnológica, a questão do universo das
MPE não ficasse imune.
Isso se consolidou em 2006, quando foi criado o
Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de
O incentivo à inovação nas micro e pequenas empresas
81
Pequeno Porte através da Lei Complementar nº 123.
Segundo essa lei, corrigida recentemente em seus
valores, são consideradas microempresas aquelas
que tenham receita bruta anual igual ou inferior a R$
360 mil, e empresa de pequeno porte as que
registrem mais de R$ 360 mil até R$ 3,6 milhões. Essa
mesma lei trata também do estímulo à inovação nas
MPE, em seu Capítulo X.
O Estatuto estabelece, no artigo 65, que a
União, os estados, o Distr i to Federal e os
municípios, além das agências de fomento,
Instituições Científicas e Tecnológicas, núcleos de
inovação tecnológica e instituições de apoio
deverão ter programas específicos para as micro e
pequenas empresas, inclusive as incubadas. E estas
agências e instituições deverão ter a meta de aplicar
nas MPE, no mínimo, 20% dos recursos totais
destinados à inovação.
Nessa última determinação, estabelecendo que
“as instituições terão por meta” o investimento nas
MPE, surge a maior dificuldade. A lei apenas
recomenda a aplicação dos recursos, mas não obriga
o seu cumprimento. Além disso, vincular o percentual
das MPE aos investimentos em inovação pode
significar zero investimento, caso a instituição não
direcione seus recursos para a área. Dessa forma, a Lei
Complementar nº 123 não tem alcançado o seu
objetivo de universalizar o apoio ao desenvolvimento
tecnológico de inovações nas MPE.
Como parte dos movimentos da indústria
para buscar fontes de financiamento à inovação, e de
olho na nova realidade empresarial, antes mesmo da
Lei Complementar 123 ser promulgada, o Senai,
órgão do Sistema Indústria, criou seu Edital de
Inovação em 2004. Voltada para o desenvolvimento
tecnológico de produtos e processos na indústria, a
chamada pública se diferencia por prestar o apoio
adicional dos centros de tecnologia regionais do
Senai nos mais diversos segmentos, desde soldagem
básica até simulações avançadas.
A Protec desenvolveu uma ativa divulgação
desses editais e ministrou mini-cursos de Projetos de
Inovação Tecnológica em diversas unidades
regionais do Senai e do Sesi, baseados no manual
sobre o tema, especialmente escrito por seu diretor,
Joel Weisz. A publicação ainda foi disponibilizada
pelo IEL e Senai - duas instituições do Sistema da
Indústria.
No Edital de Inovação, os projetos têm co-
autoria das unidades regionais do Senai e são geridos
por elas. Os projetos são selecionados pelo Senai
Nacional, que repassa os recursos. Em 2009, o Sesi se
juntou à iniciativa, que passou a contemplar projetos
de inovação social, no intuito de promover impactos
positivos nas condições de trabalho e na qualidade
de vida dos trabalhadores.
O incentivo à inovação nas micro e pequenas empresas
82
Para enriquecimento das ações de inovação e
tecnologia, os projetos aprovados no Edital Senai Sesi
de Inovação passaram a incorporar bolsistas, a partir
de 2008, na categoria de Desenvolvimento
Tecnológico Industrial (DTI), através da parceria
assinada com o Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI), por meio do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Tendo sua relevância reconhecida pelo setor
produtivo, o Edital Senai Sesi de Inovação foi
progressivamente elevando a oferta de recursos. Em
2011, foram selecionados 98 projetos de 96 empresas
para receberem um total de R$ 26 milhões. Ao todo,
399 propostas haviam sido apresentadas. O edital de
2012 atingiu o orçamento recorde de R$ 30 milhões.
O aporte também se justifica pelo retorno obtido
pelos projetos no mercado, acelerando o crescimento
das empresas contempladas. Quando essas
empresas ampliam o faturamento e a folha de
pagamento, elas elevam a parcela de contribuição
para o sistema indústria, fechando um ciclo virtuoso.
Portanto, trata-se de uma relevante iniciativa,
principalmente para as MPE, cuja ampliação não
depende exclusivamente de recursos financeiros,
mas também da disponibilidade dos técnicos das
unidades do Sistema Senai. O serviço está em
processo de express iva ampl iação para o
atendimento da demanda tecnológica das indústrias.
O incentivo à inovação nas micro e pequenas empresas
83
”
“ O Departamento Nacional do Senai iniciou um processo de gestão de
projetos, com o objetivo de garantir o cumprimento de todas as ações
propostas. Para tal, foram estabelecidos critérios de avaliação dos resultados
alcançados pelo Edital Senai Sesi de Inovação, sendo o principal deles a
incorporação da inovação na empresa e no mercado.
Dessa forma, um projeto é considerado ‘caso de sucesso’ se a tecnologia
desenvolvida é oferecida ao mercado, no caso de inovação de produto, ou
inserida na linha de produção da empresa, no caso de inovação de processo.
Como mecanismo de verificação desse indicador, estabeleceu-se uma
parceria com um consórcio de pesquisadores do Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Protec. Essas instituições
entrevistaram representantes das empresas que tiveram projetos aprovados
no edital, nas edições de 2004 a 2007. Do total entrevistado, em 33% obteve-
se evidência clara de inserção bem sucedida e competitiva no mercado.
Com a parceria assinada com o Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), dezenas de bolsistas estão alocados em
projetos de inovação tecnológica, supervisionados por técnicos e gestores da
instituição, sendo uma associação estratégica para incentivar e motivar os
jovens cientistas a desenvolverem o espírito empreendedor e inovador,
associado à prática de gestão e de pesquisa aplicada.
José Manuel de Aguiar MartinsDiretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de 2000 a 2010
Foto
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84
85”
“Os institutos de alta tecnologia do Senai são um ponto de inflexão
da nossa capacidade de prestar serviços e apoio às empresas brasileiras
ligadas ao setor industrial. O Senai já atende, hoje, 20 mil empresas por
ano na área de serviços técnicos e tecnológicos. Pretendemos ampliar
bastante o leque de empresas. Talvez dobrar de 20 mil para 40 mil até
2014. A ampliação vai se dar em escala e, sobretudo, em intensidade e
complexidade dos serviços e capacidade de atendimento das agendas de
pesquisa, desenvolvimento e inovação das empresas. Fazendo uma
conta rápida, o investimento ficará em torno de R$ 1 bilhão.
Em uma análise mais geral do sistema de inovação, o que temos
colocado são dois pontos principais: o primeiro é uma agenda de
fortalecer a constituição de uma plataforma privada de mobilização
para inovação a partir de núcleos que estão se instalando em federações
de indústrias. Já existe uma experiência bem longa da Protec, Anprotec,
Sebrae e CNI, por exemplo, em mobilização. O segundo ponto é
aperfeiçoar os mecanismos de melhoria do marco legal e instrumentos
de políticas públicas em apoio à inovação.
Rafael LucchesiDiretor-geral no Senai Nacional
“ No Rio Grande do Sul, fomos pioneiros no Sebrae com o Edital Inova
Pequena Empresa. Aconteceu em 2009, com a parceria direta do Sebrae
RS com a Finep, a Fapergs e a Fiergs - que, sozinha, cedeu R$ 700 mil para
o projeto. No conjunto, chegamos a R$ 15 milhões.
No ano seguinte, tentamos novamente a parceria com a Finep, mas
não foi possível. Então, tomamos a decisão de fazer uma nova chamada
pública com R$ 16 milhões, exclusivamente do Sebrae-RS. Investimos, no
biênio, R$ 31 milhões.
Esses foram os primeiros editais Inova em que a verba era
direcionada diretamente para a empresa, aproveitando os instrumentos
criados pela Lei de Inovação, em 2005. E foi um marco, pois no passado
era diferente. Por exemplo, aportes como os da Finep sempre iam para
universidades, forçando projetos que alinhassem universidade e
empresa. A partir da Lei de Inovação, isso passou a não ser necessário. O
Brasil esperou muito tempo para que pudessem acontecer investimentos
diretos nas empresas, e isso só foi possível a partir de 2005.
Marcelo CarvalhoDiretor-superintendente do Sebrae RS de 2009 a 2010 e
atual presidente da Badesul, agência de fomento do Rio Grande do Sul
86
87
Vários estudos - inclusive do professor Roberto Nicolsky, do Brito
Cruz, entre outros - mostram que, nos países que mais avançaram em
inovação, há uma política de apoio direto para as empresas. Isso faz com
que elas criem seu centro de P&D próprio, comecem a investir e ter a
inovação como um valor.
Quando percebem que ações como diferenciar produto e inovar em
processo vão gerar retorno financeiro, as empresas passam a criar uma
cultura de longo prazo. A expectativa é que se inverta essa lógica de que
os investimentos são públicos, e os cientistas e engenheiros estão nas
universidades, para um novo cenário em que se tenha de fato uma
atuação forte das empresas fazendo inovação, agregando valor nos
produtos, crescendo com sustentabilidade, criando marcas brasileiras
internacionais.
”
Considerações finais
trabalho da Unesco “World
O Science Report 1993”, ao qual se
seguiram os de 1995 e 1998, foi um
excepcional esforço para construir
o cenário mundial para a ciência e
a tecnologia. Complementando-
os com dados de fontes primárias, como o USPTO e
outras, é possível perceber o papel representado pelo
desenvolvimento de tecnologia própria, como
caminho para o crescimento da economia e seu
Produto Interno Bruto (PIB), sob o impulso das
manufaturas, através de adequadas políticas públicas.
Países já desenvolvidos e ricos – como o
Canadá, os Estados Unidos e os europeus ocidentais –
continuaram também a ampliar as suas fronteiras
Considerações finais
89
tecnológicas com a agregação de novos produtos
criados a partir dos avanços do conhecimento que o
mundo alcançou, e da direta aplicação deste
conhecimento na criação ou melhoramentos de
produtos e processos, principalmente industriais,
protegidos por patentes. Esses procedimentos
passaram a acontecer com o suporte de políticas
públicas até mesmo em países ditos liberais. Por
exemplo, os EUA criaram, em 1951, a National Science
Foundation, baseados na experiência bem-sucedida
do rápido domínio do conhecimento e sua aplicação
na tecnologia nuclear.
É possível constatar, em países desenvolvidos, o
acentuado crescimento dos dispêndios públicos e
privados em pesquisa e desenvolvimento tecnológico
(P&D) em relação ao PIB. O resultado foi um
crescimento expressivo da outorga de patentes de
invenção pelo USPTO (sigla em inglês do escritório de
patentes americano), na segunda metade do século
passado, e até os dias de hoje. Esses dados podem ser
vistos no Quadro 1, referente aos países com maior
número atual de patentes, entre os principais e
maiores países desenvolvidos.
Vemos que esse conjunto de cinco países -
Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França e Reino
Unido - aumentou em 3,1 vezes a obtenção de
patentes no USPTO ao longo de 48 anos. No caso dos
EUA, o crescimento foi até menor - cerca de 2,9 vezes -,
mas ainda sem que o país perdesse sua liderança. Os
quatro demais países juntos não chegam a
representar hoje sequer uma quarta parte da
produção patentária americana, apesar de terem
crescido cerca de cinco vezes mais que o líder no
período.
Pouco depois das experiências desses países no
imediato pós-guerra , novas economias se
dinamizaram. A partir dos anos 70, pequenos países
do extremo Oriente - como Coreia do Sul, Hong Kong,
Ta iwan e também o Japão - l ançaram-se
ofensivamente na disputa por mercados, sendo
chamados na época de “tigres asiáticos”. Essa
iniciativa fez com que eles passassem por um rápido
crescimento. O Japão já havia começado a crescer
antes, mas no imediato pós-guerra ainda não tinha
alcançado a plenitude do desenvolvimento.
Todos esses procedimentos resultaram na
conquista de mais mercados nesses países bem-
sucedidos, através do exercício de políticas públicas
Quadro 1: patentes de invenção outorgadas pelo USPTO
Tabela 1 1963 1970 1980 1990 2000 2011
Estados Unidos 37.714 47.073 37.353 47.391 85.068 108.626
Canadá 606 1.068 1.081 1.859 3.419 5.012
Alemanha 2.338 4.439 5.782 7.614 10.235 11.920
França 853 1.731 2.087 2.866 3.819 4.531
Reino Unido 1.813 2.954 2.405 2.789 3.667 4.307
Considerações finais
90
específicas de fomento e estímulo não apenas para as
indústrias. Foi realizado robusto e contínuo
desenvolvimento tecnológico, com persistente
geração e agregação de inovações - melhorias em
produtos e processos de fabricação -, propiciando
maior competitividade no mercado mundial.
Essas políticas públicas atuaram como força
centrífuga, compensatórias à tendência de
concentração acarretada pelas forças do mercado,
que atua como atrator para novos polos de
desenvolvimento tecnológico e de economias
competitivas.
O exemplo evidente do rápido crescimento das
economias asiáticas dinâmicas levou alguns países –
que no imediato pós-guerra tenderam para
economias focadas no mercado interno, como a
China e a Índia – a se inspirarem nos “tigres” para
buscar a sua solução de inserção autônoma no
mercado internacional.
A China, nos anos 80, e a Índia, nos anos 90,
fizeram adaptações próprias dessa rota dinâmica,
reformulando radicalmente a sua forma de
desenvolvimento. Isso exigiu políticas públicas
culturalmente ousadas de fomento e estímulo à
indústria e ao desenvolvimento tecnológico, como
base para a competitividade. Esses países, inclusive os
“tigres”, passaram a serem chamados de emergentes.
Uma síntese dos resultados pode ser encontrada a
partir do comportamento das patentes no USPTO,
como mostra o Quadro 2 abaixo.
Quadro 2: patentes outorgadas pelo USPTO
Tabela 2 1963 1970 1980 1990 2000 2011
Coreia 0 3 8 225 3.314 12.262
Hong Kong 6 8 27 52 179 419
Japão 407 2.625 7.124 19.525 31.295 46.139
Taiwan 0 0 65 732 4.667 8.781
China 4 6 1 47 119 3.174
Índia 4 16 4 23 131 1.234
Ao cont rá r io dos pa í ses cent ra i s , os
emergentes dinâmicos tiveram um aumento de 171
vezes das patentes outorgadas pelo USPTO. Nota-se
que alguns partiram de zero, como a Coreia - que
hoje é o terceiro patenteador - e Taiwan - que é o
quinto. Até mesmo o Japão, que no imediato pós-
guerra era de longe o maior, cresceu 113 vezes o
conjunto dos demais, que hoje já representa mais da
metade da produção patentária japonesa. Nos
demais países, mesmo que tomemos como base o
ano de 1980, quando todos já tinham patentes,
houve um crescimento de 246 vezes, mais que o
dobro do Japão. E cabe lembrar que apenas uma
pequena fração das inovações tecnológicas é
Considerações finais
91
patenteada. A taxa de desenvolvimento tecnológico
parece até não ter limites.
Entretanto, nem todos os países seguiram a
rota de dirigir os seus esforços para o competitivo
mercado mundial através do investimento no
desenvolvimento tecnológico. A maioria dos países
que no pós-guerra se propunha à industrialização
optava por soluções autárquicas, baseadas nos seus
próprios mercados internos, pela substituição de
importações, mantendo a sua presença no mercado
mundial principalmente através da exportação das
tradicionais matérias-primas, ou commodities. Esse
foi o caso de países como África do Sul, Argentina,
Brasil, Egito, Indonésia, México e muitos outros.
China e Índia também estavam entre estes até a
mudança de rota comentada anteriormente.
Apesar dos esforços desses últimos não terem
tido o êxito dos “tigres” e dos emergentes dinâmicos,
quase todos tiveram reais avanços nas primeiras três
ou quatro décadas do pós-guerra - enquanto foi
possível proteger os mercados internos com
elevadas alíquotas aduaneiras. Os choques do
petróleo, porém, determinaram a falência desse
modelo autárquico. No Quadro 3 podemos
comparar o desempenho no USPTO das patentes –
ou do desenvolvimento tecnológico – desses países.
Vemos que o desempenho dos países acima
foi, em média, um pouco superior ao grupo do
Quadro 1 de países centrais, alcançando 4,2 vezes.
Entretanto foi inferior no conjunto ao grupo dos
países desenvolvidos, com a exclusão dos EUA. O
México apenas oscilou, e outros não demonstram
tendência para se destacar, como a Argentina. A
Malásia foi o que mais cresceu e talvez seja um
emergente dinâmico em início de trajetória.
Entre os demais, o Brasil foi o que mais cresceu
- cerca de 12,6 vezes -, apesar de muito abaixo de
todos do Quadro 2. De qualquer maneira, o balanço
acima mostra um certo grau de dinamismo efetivo,
que bem poderia ser acelerado por políticas públicas
apropriadas e ousadas.
Foi visto que o novo cenário internacional de
competitividade mostra que o investimento no
desenvolvimento de inovações tecnológicas é a base
do crescimento de alguns países emergentes. Nota-
Quadro 3: patentes outorgadas pelo USPTO
Tabela 3 1963 1970 1980 1990 2000 2011
África do Sul 30 50 74 114 111 123
Argentina 19 23 18 17 54 49
Brasil 17 17 24 41 98 215
Egito 0 0 2 1 8 21
Indonésia 0 1 1 3 6 7
Malásia 1 1 0 3 42 161
México 92 43 41 32 76 90
Considerações finais
92
se também que essa possibilidade é exclusiva dos
emergentes.
Os países já desenvolvidos têm de concentrar
seus principais esforços, e recursos, na manutenção
da sua particular fronteira tecnológica - o que
envo lve pesados invest imentos em novas
descobertas, inclusive científicas, com elevado risco
tecnológico. Para um país desenvolvido é arriscado
crescer apenas com inovações em cima das
descobertas dos outros. Afinal, isso daria a um outro
país desenvolvido a oportunidade de lhe tomar a
liderança tecnológica em seu campo, ameaçando
até a própria sobrevivência de suas empresas. As
empresas que têm liderança setorial, em geral têm
de se arriscar na ampliação das fronteiras das suas
tecnologias. E mesmo assim, por vezes sofrem
revezes em alguns produtos, que não conseguiram
acompanhar a taxa de agregação de inovações
tecnológicas das empresas dos países emergentes.
Só para citar exemplos, a gigante da computação
IBM, após lançar o PC e o laptop (Thinkpad), perdeu
para os japoneses - e depois para outros asiáticos - o
primeiro e terminou por vender para a chinesa Lenovo
o segundo, saindo do mercado em ambos os casos. Ou
a sueca Ericsson, que lançou o sistema celular e foi
alijada do mercado de aparelhos pela finlandesa Nokia
e pela americana Motorola, vendendo o direito de
produção para a Sony.
Agora a Nokia, a Motorola e até a Apple estão
enfrentando uma dura competição com a coreana
Samsung no celular e no tablet. Os tradicionais
automóveis alemães estão sendo desafiados
diretamente pelos coreanos. A indiana Tata Motors
recentemente comprou duas marcas inglesas
tradicionais, a Jaguar e a Land Rover.
Ou seja, o mercado das inovações tecnológicas é
o reduto competitivo dos países emergentes
dinâmicos. Essa é a rota que pode reverter o quadro da
nossa indústria, se, mantendo um ambiente
macroeconômico estimulante, aplicarmos de modo
ofensivo e ousado as políticas públicas adequadas ao
fomento da inovação tecnológica. O Marco Legal está
aí. Em vez de perder tempo em torná-lo mais complexo,
como se tudo fosse questão de completitude, devemos
envidar esforços em experimentar a sua aplicação
ampla, universal e irrestrita.
Considerações finais
93
AGRADECIMENTOS
OFERECIMENTO
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES)
PATROCÍNIO
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
(ABDI)
Banco do Nordeste do Brasil (BNB)
APOIADORES
Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina,
Biotecnologia e Suas Especialidades (Abifina)
Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal
Perfumaria e Cosméticos (Abihpec)
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
(Abinee)
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e
Equipamentos (Abimaq)
Associação Brasileira da Indústria de Artigos e
Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalar e
de Laboratórios (Abimo)
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp)
Esta obra não teria sido possível sem o decisivo e inestimável apoio das seguintes instituições:
Aché Laboratórios Farmacêuticos
Biolab Farmacêutica
Braile Biomédica
Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos
Embraer
Hebron
Klabin
Nortec Química
Grupo Ultra
Indústrias Romi
WEG Indústrias
ASSOCIADOS da Protec
Associação Brasileira da Infraestrutra e Indústrias de
Base (Abdib)
Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina,
Biotecnologia e Suas Especialidades (Abifina)
Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal
Perfumaria e Cosméticos (Abihpec)
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e
Equipamentos (Abimaq)
Associação Brasileira da Indústria de Artigos e
Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalar e
de Laboratórios (Abimo)
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
(Abinee)
Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim)
Associação das Empresas Nacionais de Defensivos
Agrícolas (Aenda)
Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais
(Alanac)
Confederação Nacional das Industrias (CNI)
Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb)
Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg)
Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep)
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
(Fiemg)
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp)
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
(Firjan)
Instituto Euvaldo Lodi (IEL)
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento em Fármacos
e Medicamentos (IPD-Farma )
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae)
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)
Ao longo destes 10 anos também pudemos contar com o
apoio das seguintes instituições e empresas:
Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM);
Associação Brasileira da Indústria de Plásticos (Abiplast);
Associação Nacional de Pesquisa. Desenvolvimento e
Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei); Associação
Brasileira de Empresas de Componentes para Couro
Calçados e Artefatos (Assintecal); Braskem; Ciesp; Cirj, Ecil;
Eletrobrás; Federação das Indústrias do Estado do Ceará
(Fiec); Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes);
Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco
(Fiepe); Federação das Indústrias do Estado do Rio
Grande do Sul (Fiergs); Federação das Indústrias de Santa
Catarina (Fiesc); Instituto Aço Brasil (IAB); Petrobras e
Souza Cruz.
Presidente: João Carlos Basilio (Abihpec)
Vice-presidentes:
Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira (Firjan)
Robson Braga de Andrade (CNI)
Paulo Antônio Skaf (Fiesp)
Conselheiros:
Carlos Alexandre Geyer (Alanac)
Celso Antônio Barbosa
Franco Maria Giuseppe Pallamolla (Abimo)
Dante Alario Junior (IPD-Farma)
Humberto Barbato Neto (Abinee)
Luiz Albert Neto (Abimaq)
Ogari de Castro Pacheco (Abifina)
Paulo Godoy (Abdib)
Diretoria:
Roberto Nicolsky (Diretor-geral)
Fabián Nicolas Yaksic Feraudy (Abinee)
Fernando Varella Guedes (Rets)
Marcos Henrique de Castro Oliveira (Abifina)
Ficha técnica
Coordenação: Roberto Nicolsky
Pesquisa e edição: Luciana Ferreira e Natália Calandrini
Consultoria: Fernando Varella
Marketing: Alexandre Nicolsky
Captação de recursos: Michele Murta
Projeto editorial: Ricardo Meirelles e Jessica Gama
Colaboração: André Mitidieri, Fernanda Magnani, Indira Rodrigues,
Ingrid Medeiros, Mariana Sandroni, Priscila Santos e Ukla Fernandes
Formato: 25 x 20,5 cm
Tipologia: Segoe UI (texto) e Arial (Tabelas e gráficos)
Papel: Couchê Matte 115 g
Impressão e acabamento: Daijo Gráfica e Editora Ltda
Tiragem: 2.000 exemplares
Ano 2012