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Comunicação e mobilidade aspectos socioculturais das tecnologias móveis de comunicação no Brasil

Livro Comunicacao Mobilidade AndreLemos

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    Comunicao emobilidade

    aspectos socioculturais das tecnologiasmveis de comunicao no Brasil

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    ReitorNaomar Monteiro de Almeida Filho

    Vice-ReitorFrancisco Jos Gomes Mesquita

    EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    DiretoraFlvia Goullart Mota Garcia Rosa

    Conselho Editorial

    Titularesngelo Szaniecki Perret Serpa

    Caiuby Alves da CostaCharbel Nin El-Hani

    Dante Eustachio Lucchesi RamacciottiJos Teixeira Cavalcante Filho

    Alberto Brum Novaes

    SuplentesAntnio Fernando Guerreiro de Freitas

    Evelina de Carvalho S HoiselCleise Furtado Mendes

    Maria Vidal de Negreiros Camargo

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    Comunicao emobilidade

    aspectos socioculturais das tecnologiasmveis de comunicao no Brasil

    EDUFBASalvador, 2009

    ANDR LEMOSFABIO JOSGRILBERG

    Organizadores

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    2009by OrganizadoresDireitos de edio cedidos

    Editora da Universidade Federal da Bahia - EDUFBAFeito o depsito legal

    NormalizaoAdriana Caxiado

    Flvia Garcia Rosa

    Editorao eletrnica e CapaRodrigo Oyarzbal Schlabitz

    EDUFBA

    Rua Baro de Jeremoabo, s/n - Campusde Ondina,

    40170-115 Salvador-BA

    Tel/fax: (71) 3283-6164

    [email protected]

    Sistema de Bibliotecas - UFBA

    Asociacin de Editoriales Universitarias

    de Amrica Latina y el Caribe

    Associao Brasileira deEditoras Universitrias

    Comunicao e mobilidade : aspectos socioculturais das tecnologias mveis de comunicao no Brasil / Andr Lemos, Fabio Josgrilberg organizadores. - Salvador : EDUFBA, 2009. 156 p.

    ISBN 978-85-232-0658-1

    1. Comunicao de massa - Aspectos sociais - Brasil. 2. Comunicao e cultura - Brasil. 3. Mdia digital - Aspectos sociais - Brasil. 4. Tecnologia da informao - Aspectos sociais Brasil. I. Lemos, Andr. II. Josgrilberg, Fabio.

    CDD - 302.230981

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    SUMRIO

    APRESENTAO.................................................................................................07Andr Lemos, Fabio Josgrilberg

    COMUNICAO MVEL NO CONTEXTO BRASILEIRO.......................11Eduardo Campos Pellanda

    REDES MUNICIPAIS SEM FIO: o acesso internet e a nova agenda dacidade.......................................................................................................................19

    Fabio B. Josgrilberg

    ESPECTRO ABERTO E MOBILIDADE PARA A INCLUSO DIGITALNO BRASIL...........................................................................................................37

    Srgio Amadeu da Silveira

    IDENTIDADE, VALOR E MOBILIDADE:Motoboysem So Paulo.............51Gilson Schwartz

    TECNOLOGIAS MVEIS COMO PLATAFORMAS DE PRODUO NOJORNALISMO......................................................................................................69Fernando Firmino da Silva

    ARTE E MDIA LOCATIVA NO BRASIL.........................................................89Andr Lemos

    APROXIMAES ARRISCADAS ENTRE SITE-SPECIFIC E ARTESLOCATIVAS........................................................................................................109

    Lucas Bambozzi

    REVISITANDO O CORPO NA ERA DA MOBILIDADE.........................123Lucia Santaella

    VDEO-VIGILNCIA E MOBILIDADE NO BRASIL..............................137

    Fernanda Bruno

    SOBRE OS AUTORES......................................................................................153

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    APRESENTAO

    Andr Lemos

    Fabio Josgrilberg

    A histria deste livro, de alguma maneira, um registro dasposssibilidades do atual perodo tcnico. Os textos foram reunidos emmovimento e a distncia.

    Para registrar o tal do zero fictcio de uma narrativa histrica,

    poderamos situar o incio da empreitada no convite feito a ns por KimSawchuk, editora doWi-Journal of Mobile Media (http://wi.hexagram.ca),para coeditar uma edio especial sobre mdias mveis no Brasil. Noincio do trabalho editorial, tratava-se de um conexo Canad-Inglater-ra-Brasil. Kim, na Universidade Concordia, Andr como pesquisador-visitante nas Universidades de Alberta e McGill, todas instituies ca-nadenses e, do outro lado, Fabio como pesquisador-visitante na London

    School of Economics and Political Science, em Londres. Depois de algu-mas discusses, chegamos aos nomes dos autores que esto aqui nestelivro. Todos eles de diferentes partes do Brasil, com suas respectivasatividades e instituies.

    Durante o primeiro semestre de 2009, reunimos os textos e dis-cutamos com Kim, em ano sabtico, mas participando do processocolaborativo. Kim em deslocamentos para uma srie de conferncias e

    reunies pelos Estados Unidos, Itlia e Polnia. O projeto de edioseria concludo aps a volta de Andr e Fabio ao Brasil, no segundo

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    semestre de 2008. Continuamos a trabalhar, Andr e Fabio na Bahia eem So Paulo, respectivamente, como bases, mas tambm em viagenspelo Brasil. Fechamos tudo com uma visita de Kim a So Paulo e o

    recebimento dos artigos enviados pelos autores. Depois veio o processode avaliao dos textos por pareceristas canadenses e brasileiros e a pu-blicao da verso em ingls do projeto no Wi-Journal of Mobile Mediaem agosto de 2009. Os textos aqui reunidos e apresentados so versesem portugus desse material, em alguns casos com adaptaes para opblico brasileiro.

    Por mais que isso seja comum nos dias de hoje, no deixa de ser

    fascinante o fato de que todo o projeto de edio se desdobrou comapenas uma nica reunio presencial em So Paulo, de cerca de duashoras, e que a maior parte do processo colaborativo tenha ocorrido pelainternet, com os organizadores em viagens e deslocamentos os mais di-versos. Este livro foi construdo utilizando as tecnologias da mobilidade:celulares, laptops, redes Wi-Fi... Foram inmeros e-mails de aeroportos,cafs, hotis, universidades... A obra que o leitor tem em mos discute o

    papel cultural, sociocomunicacional e artstico das tecnologias da mobi-lidade; sendo feito, ele mesmo, em mobilidade. Este livro foi produzidoem movimento, cheio de trajetrias inusitadas que no impediram oencontro de ideias, projetos e sonhos.

    Mas falar de tecnologias mveis, mdias mveis, espao urbano emobilidade no Brasil exige uma viso aguada e atenta aos diversos pa-radoxos deste pas. isso que nos explica Eduardo Pellanda em seutexto. Apesar do imenso mercado interno, temos um dos mais carosservios de telecomunicaes do mundo (telefonia fixa, telefonia mvel ebanda larga). O custo mdio desse pacote coloca o pas na 91 posiono ranking geral (price basket)da International Telecommunications Union,ocupando a 114 posio no custo da telefonia mvel, 77 posio nocusto da banda larga. O ranqueamento feito do mais barato para omais caro entre 150 pases nem entramos aqui no custo dos terminaisde acesso mvel (smartphones, notebooks, etc.). Diante de tal cenrio, n-meros oficiais indicavam em junho de 2009 a existncia de 159.613.507

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    acessos ao Servio Mvel Pessoal (SMP), sendo 130.596.366 (81,82%)na modalidade pr-pago e 29.017.141 (18,18%) ps-pago. Do total deacessos (pr e ps), 1.903.030 operavam com o padro WCDMA (3G).

    Por outro lado, dados de 2008 indicam apenas 20% de acesso domiciliar internet em reas urbanas.

    Os paradoxos do mercado de telecomunicaes brasileiro so ape-nas alguns dos problemas tratados neste livro. Outros desafios locaistambm foram motivo de ateno, em especial a questo da vigilncianas sociedades atuais, em texto de Fernanda Bruno, ou a gesto do es-pectro eletromagntico, tratada por Srgio Amadeu da Silveira, tendo

    em vista a questo da incluso digital. Nesse mesmo ponto, Fabio B.Josgrilberg mostra os dilemas e tendncias da entrada de governos mu-nicipais na oferta de redes sem fio de acesso internet.

    Contudo, apesar das dificuldades econmicas, polticas etecnolgicas, as mdias mveis alimentaram diversos projetos inovado-res e criativos no Brasil. As possibilidades das mdias locativas foramexploradas por Andr Lemos e Lucas Bambozzi, mais no contexto daarte eletrnica com as mdias locativas, e tambm por Gilson Schwartz,que aborda o projeto dos Motoboys em So Paulo, mostrando como asmdias mveis podem ajudar a reinventar as relaes sociais no espaourbano, mais precisamente no trfego catico de So Paulo.

    Fernando Firmino da Silva, por sua vez, discute como as recentesformas de comunicao mvel provocam mudanas no jornalismo, tanto

    na prtica dos jornalistas como na estrutura organizacional das redaese das empresas jornalsticas. Assim como as tecnologias da mobilidadeexigem novos esforos tericos para pensar o jornalismo, o texto de Lu-cia Santaella amplia o debate e trata dos possveis desenvolvimentostericos que se fazem necessrios frente s novas relaes humanas comas mdias mveis.

    O leque de discusso amplo. Reunimos neste livro o que h de

    melhor no Brasil na rea das tecnologias mveis de comunicao. Al-guns pesquisadores importantes ficaram de fora, mas novos livros viro.

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    Tentamos, nesse primeiro movimento, reunir um conjunto de pesquisa-dores, e suas respectivas instituies, que tem, no campo da comunica-o, desenvolvido um pensamento de ponta, inovador, de pesquisa e

    formao de recursos humanos no pas na rea das mdias mveis. Preci-samos, efetivamente, enfrentar esta que a nova onda da revoluo dainformtica no campo social: os servios e tecnologias baseados em mo-bilidade e localizao. Por fim, gostaramos de agradecer ao corpo edito-rial doWi-Journal of Mobile Mediapelo suporte dado para a verso ingle-sa do projeto, em especial Kim Sawchuk, a primeira pessoa a vislum-brar esta pequena coleo de textos. Desejamos a todos uma excelente

    leitura, ansiosos por manter o debate sobre os temas aqui tratados emoutros fruns... sempre em movimento.

    REFERNCIAS

    ANATEL. Telefonia celular alcana 159,6 milhes de assinantes emjunho. Disponvel em: . Acesso em: 24 jul. 2009

    COMIT GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Pesquisa sobre o usodas Tecnologias da Informao e da Comunicao no Brasil: TIC Domiclios eTIC Empresas 2008. So Paulo: Centro de Estudos sobre as Tecnologiasda Informao e da Comunicao, 2009. Disponvel em: . Acesso em: 20 out. 2009.

    INTERNATIONAL TELECOMMUNICATIONS UNION-ITU.Measuring the information society. Geneva, 2009. Disponvel em: . Acesso em: 20 out. 2009.

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    COMUNICAO MVEL NOCONTEXTO BRASILEIRO

    Eduardo Campos Pellanda

    O presente texto uma abordagem sucinta sobre o impacto dacomunicao mvel no Brasil. Primeiramente, discutida a relao en-tre os espaos reais e virtuais e seus desdobramentos no campo da mobi-lidade. Posteriormente, h um contraste com os nmeros e peculiarida-

    des no Brasil e uma contextualizao com a comunicao mvel. digno de registro como o tpico da comunicao mvel vem

    crescendo em complexidade no momento em que penetra em diferentesculturas e classes sociais. Em pases como o Brasil, isso provoca umgrande impacto em diferentes camadas econmicas. O aumento de co-nexes resultantes da tecnologia mvel no pas tem proporcionado dife-rentes oportunidades e desafios aos hbitos sociais e aos limites entre

    espaos pblicos e privados. O acesso always-on1com voz e dados temaberto caminho para um novo manancial de distribuio e colaboraode informaes em um contexto onde os aparelhos so hiper-pessoais,pois eles so realmente usados por uma s pessoa, o que no ocorrenecessariamente com o computador pessoal. medida que esses apare-lhos comeam a incorporar mais funcionalidades, comeam a se tornarmais parecidos com computadores. Nessa perspectiva, eles tm uma

    1Termo em ingls que significa conexo permanente.

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    grande relevncia no processo de incluso digital por serem mais bara-tos e estarem em condio ubqua.

    A voz foi um elemento essencial no incio de todo o processo da

    comunicao mvel no Brasil, pois j possibilitou uma nova comunica-o ligando diferentes lugares da cidade. Mas as mensagens de texto, ouSMS, tem rapidamente se tornado a segunda linguagem desta tecnologia,influenciando novas geraes. (RHEINGOLD, 2003) Com o incio dosservios de compartilhamento de udio, vdeo e fotos, outras formas decomunicao afloram dessas possibilidades. O acesso internet comeaa ser o prximo canal de expanso da comunicao mvel no pas

    medida que as redes de telefonia vo se expandindo e os custos comeama baixar com a escala do aumento de usurios. Aparelhos como o Blackberrycomeam a popularizar o uso doe-mailcom serviospush,que proporci-onam o recebimento instantneo de mensagens. Para a navegao empginas web, aparatos como o iPhonecomeam a viabilizar o acesso ub-quo e outrossmartphonesseguem o caminho aumentando a competiono setor. Empresas como Google, Microsoft, HTC e Nokia esto bus-

    cando alternativas para a competio de aparelhos que possuam um cus-to-benefcio mais eficiente. Isso nos leva a crer que a popularizao dosaparelhos deve encaminhar uma maior popularizao da tecnologia. Almdisso, novos servios baseados em coordenadas geogrficas comeam ainteragir com a navegao convencional iniciando uma nova experinciade comunicao.

    Desde o comeo da internet comercial senso comum que o espa-o virtual um oposto do real, fsico ou atual (LVY, 1996) e eles nopossuem uma conexo perceptvel. O espao atual onde esto os tijo-los, o concreto e toda a matria baseada em tomos. o lugar em que sepercebem sensaes na epiderme e se pode tocar nos objetos. Na apa-rente oposio, o espao virtual somente conectado com a informaoque no tangvel. Nosso corpo usualmente imaginado estar conectadoao real e atual e nossas mensagens interconectadas no virtual.

    Todas essas percepes populares esto tambm ligadas ao modocomo se percebe o uso do computador pessoal (PC) conectado internet.

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    O consumo dessa mdia se d dentro das quatro paredes de um quarto,escritrio ou lan house. A informao trocada no ambiente virtual eaplicada no real. A percepo de que a informao se d dentro do

    monitor do computador (TURKLE, 1995) e a existncia do virtualacontece somente neste local.

    As cidades e reas urbanas esto, nesse contexto, deslocadas dainformao, os tomos esto desconectados dos bits (NEGROPONTE,1995) criando uma defasagem e ajudando a percepo equivocada deque real e virtual so opostos, quando, em um olhar mais aprofundado,eles consistem em potncias bilaterais. (LVY, 1996) As cidades possu-

    em guias tursticos, mapas e livros histricos que conectam informaese representaes com o espao fsico. Contudo, essas referncias no soatualizadas em tempo real e no esto diretamente ligadas com os ambi-entes urbanos.

    Quando conectamos lugares fsicos com o ciberespao, temos ocruzamento de conceitos e fronteiras:

    A internet nega as geometrias. Ao mesmo tempo emque ela tem uma topologia definida dos ns

    computacionais e irradia ruas de bits, e tambm aslocalidades dos ns e links podem ser registradas emmapas para produzir surpreendentes tipos de diagra-mas de Haussmann, ela profundamente e funda-mentalmente antiespacial. Nada parecida com a Piazza

    Navona ou a Coperly Square. Voc no pode dizer oufalar para um estranho como chegar l. A internet ambiente [...] (MITTCHELL, 2003, p. 8)

    Essa conexo se d hoje com o suporte dos celulares, PDAs,smartphonese demais aparelhos de computao portteis. Esses dispositi-vos esto imersos nas redes wirelessque se expandem rapidamente emcoberturas e velocidade de banda. O massivo uso de aparelhos comocelulares de maneira intensiva tem transformado a relao homem/m-quina em um ambientecyborg.(MITTCHELL, 2003)

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    A conexo entre as pessoas cria uma rede de SmartMobs(RHEINGOLD, 2003) onde os ns interagem e rapidamente, por exem-plo, se combina um encontro em algum ponto da rea urbana. Rheingold

    (2003) observa isso com mais profundidade em adolescentes que incor-poram o uso dessas tecnologias para a conexo de suas tribos. Esta liga-o entre o jovem e seu aparelho celular to profunda que o telejornalda TV Portuguesa SIC destacou2 uma briga entre um professor quepretendia retirar o dispositivo de uma aluna. A jovem relutou e o epis-dio acabou em violncia fsica.

    A cultura SmartMobspode ser verificada tambm nos atos terro-

    ristas de Madrid em 2004, em que a populao local se reuniu atravsde mensagens de texto. O resultado foi a maior manifestao pblica nacidade desde a Segunda Guerra Mundial.

    Nos atentados de Londres em 2005, aparelhos mveis registra-ram as imagens do metr aps as exploses. Estas imagens foram para asredes de televiso de todo o mundo pelo critrio de informao e no dequalidade tcnica. Os cidados esto equipados com cmeras conectadasque podem relatar fatos antes dos profissionais. (GILLMOR, 2004)

    Os celulares convergem fetiches tecnolgicos com conexesmiditicas. Eles concentram os acervos de contedo com o ponto deligao entre o indivduo e o social:

    [...] no momento em que celulares comeam a conectar

    com a internet e oferecem algumas de suas funes livros, jornais, revistas, conversas por texto ao vivo ouno, telefonia, videoconferncias, rdios, gravao demsicas, fotografia, televiso o celular se torna umacasa remota para comunicaes, uma casa mvel, umpocket hearth, um meio de viagem da mdia.(LEVINSON, 2004, p. 53)

    2 O vdeo pode ser visualizado no YouTube neste endereo:

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    No s os aparelhos celulares representam essa experincia mvel,mas vrios formatos de PC como o UMPC3 ou MID4 tambm fazemparte do contexto. Alm disso, h uma tendncia clara pela eliminao

    de fios dentro das casas entre aparelhos de som, rdios, TV e outroseletrodomsticos.

    Quando todos esses dados e conceitos se aplicam a pases como oBrasil, eles comeam a ter outro valor. Pois uma nao com 3,287,597metros quadrados e 189,987,2915de habitantes torna-se vida por umaexpanso de redeswireless. De fato, as comunicaes sem fio fazem parteda evoluo histrica do pas que, ao mesmo tempo, foi responsvel por

    importantes contribuies para o campo. Alm de ser um dos primeirosa adotar o rdio e a televiso, foi no Brasil que as primeiras experinciasde transmisses sem fio foram realizadas. O padre Roberto Landell deMoura6realizou o experimento de propagao de voz sem fios ao mesmotempo em que o italiano Guglielmo Marconi descobria a tecnologia naEuropa.

    O Brasil tambm um pas de extremas diferenas com partes dapopulao vivendo margem da misria ao mesmo tempo em que umadas naes a adotar mais ferozmente novas tecnologias e culturas digi-tais. O pas possui um sistema de votao eletrnica com tecnologianacional que cobre 100% das localidades. Isso inclui lugares remotosonde a informao precisa ser transmitida por telefones de satlite. OBrasil pioneiro e lder em recolhimento de impostos pela internet, jtendo este servio se incorporado cultura nacional. A populao tam-bm est no topo das naes que mais esto conectadas rede proporci-onalmente ao nmero de internautas7, alm de ser a maioria em comu-

    3Ultra Mobile Personal Computer

    4Mobile internet Device

    5Ver, IBGE. Disponvel em . Acesso em : 21 dez. 2007.

    6Ver, http://en.wikipedia.org/wiki/Roberto_Landell_de_Moura

    7IBOPE/NetRatings

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    nidades virtuais como o Orkut. Outro dado relevante o fato de que,em 2007, pela primeira vez o pas comercializou mais computadorespessoais do que aparelhos de TV. A internet como mercado publicitrio

    tambm passou a receita da TV a cabo.No campo da telefonia celular, o Brasil tem 140 milhes de apare-

    lhos ativos e 81% deste nmero comercializado em planos pr-pagos8.Tal modelo de pagamento responsvel pela grande popularizao dacomunicaowirelessno pas. Apesar de mais cara por minuto se compa-rada aos planos ps-pagos, ela d flexibilidade de pagamentos sobre de-manda. Outra questo que, mesmo se o telefone no possuir crditos,

    o usurio pode ainda assim receber ligaes, o que possibilita conexesmesmo sem despesas.

    Nesse contexto, a comunicao mvel est transformando ativi-dades econmicas e sociais de maneira profunda. Desde um vendedor decachorro quente ambulante que pode oferecer servios de tele-entregaat profissionaisfreelancersque podem ter escritrios mveis. Com isso,vrias funes da economia informal nasceram dessa possibilidade. Taisatividades representam uma importante parcela da economia brasileira.

    Outra questo relevante no contexto do acesso aos meios de teleco-municao o fato de uma grande parcela da populao no ter aindaacesso a telefones fixos. Isso se deve ao fato de reas populosas, mas infor-mais, como as favelas ou reas rurais, no terem infraestrutura para asligaes. Em certas reas, h tambm um desinteresse econmico das em-

    presas, que deste modo, ignoram os locais. Mas a tecnologia sem fio trans-pe este problema por no precisar de ligaes diretas com as residncias.Uma nica base de telefonia celular pode ser responsvel pela existnciade diversas linhas. Essa flexibilidade, aliada a uma expansibilidade, umdos principais fatores de incluso digital da tecnologia.

    Usando o mesmo conceito, prefeituras de cidades como Porto Alegreusam a tecnologia Wi-Fipara distribuir o acesso gratuito internet em

    8Ver, Dados. Disponvel em:

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    reas estratgicas da cidade. Locais de grande visitao turstica ou dedensidade de pequenos negcios so escolhidos para o beneficiamentodesta parcela da populao dando, com isso, mais capacidade produtiva

    e competitiva. Este modelo tambm adotado em pontos tursticos doRio de Janeiro para incentivar a informao e colaborao dos visitantes.

    J em regies remotas da Amaznia, a tecnologia que est sendo testadapela empresa Intel a WiMAX9. Esta conexo permite a cobertura maisampla e viabiliza o acesso rede em lugares extremamente complexospara a transmisso por fios.

    A tecnologia 3G, que permite o acesso em banda larga atravs de

    dispositivos mveis, teve um lanamento massivo no ano de 2008 noBrasil. Todas as capitais e principais centros urbanos j possuem atecnologia e, por acordo com a Agncia Nacional de Tele-comunicaes(ANATEL), as empresas que exploram a telefonia celular devem esten-der a cobertura por todo o pas em 5 anos. O marco representa um fortefator de incluso da populao comunicao digital, pois tambm abran-ge reas onde a banda larga no era possvel. A venda de modemspara a

    conexo de laptops rede 3G teve uma demanda to intensa que osestoques no tinham capacidade de alimentao da procura, fato quemostra a carncia do servio percebido pela populao.

    O exemplo do Brasil nico porque tem caractersticas similares frica, onde a falta de telefones fixos tambm obrigou os pases apularem direto para a tecnologia celular, mas ao mesmo tempo revelaum uso comparvel a pases desenvolvidos nas tecnologias mais avana-das nos grandes centros urbanos. Os 140 milhes de usurios estorapidamente pulando dos servios de voz para os de dados como o aces-so ao ciberespao, proporcionando diversas potencializaes de usos; desdecriminais at socialmente emancipadoras. Como espelhos da realidadeem relao ao espao virtual (LVY, 1996), esse empodeiramento atnica da comunicao digital. Assim como no passado o rdio e a tele-

    9 Worldwide Interoperability for Microwave Access. Ver, endereo eletrnico: http/

    www.wimaxforum.org

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    viso uniram o pas em trocas culturais e informacionais, a comunicaomvel tem a potencialidade de ser ainda mais transformadora em umpas de dimenses continentais e uma populao multicultural e nica

    na velocidade da adoo de novas tecnologias.

    REFERNCIAS

    CASTELLS, M. et al.Mobile communication and society: a globalperspective. Cambridge: MIT Press, 2007.

    GILLMOR, D. We the media:grassroots by the people, for the people.Sebastopol: OReilly Media, 2004.

    LEVINSON, P. Cellphone. New York: Palgrave, 2004.

    LVY, P. O que o virtual. So Paulo: Editora 34, 1996.

    MITTCHELL, W. J.ME++: the cyborg self and thenNetworked city.Boston: MIT Press, 2003.

    NEGROPONTE, N. Vida digital. So Paulo: Companhia das Letras,1995.

    RHEINGOLD, H.Smart mobs. Cambridge: Perseus Publishing, 2003.

    TURKLE, S. A vida no ecr: a identidade na era da internet. Lisboa:Relgio Dgua, 1995.

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    REDES MUNICIPAIS SEM FIO:o acesso internet e a nova agenda da cidade10

    Fabio B. Josgrilberg

    O governo federal brasileiro anunciou, em 10 de outubro de 2008,um edital (N 027/2008-MC) com o objetivo de contratar servios eequipamentos necessrios para:

    [a] implantao de infra-estruturas bsicas de comu-nicao para acesso internet de alta velocidade nosmunicpios, com uso de tecnologias sem fio para trans-misso de dados, voz e imagens, que suportem a rea-lizao de teleconferncias, telemedicina e teleaulasem nvel nacional. (BRASIL. Ministrio das Comuni-caes, 2008)

    Em resumo, a ideia era equipar 160 cidades com redes corporativas,comunitrias,peer-to-peerou fomentar o desenvolvimento de solues hbri-das. No imaginrio, por trs da iniciativa, estava o sonho de criar as chama-das cidades digitais, uma expresso utilizada no texto do prprio edital.

    10As reflexes apresentadas neste artigo tm origem nos resultados do projeto de pesquisa

    Muni-Wi: an exploratory comparative study of European and Brazilian municipal wireless networks(JOSGRILBERG, 2008), financiado pela Fundao de Amparo Pesquisa de So Paulo

    (FAPESP).

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    Ainda em 2008, em So Paulo, o maior centro industrial e finan-ceiro do pas, Marta Suplicy, ento candidata prefeitura pelo Partidodos Trabalhadores (PT), prometeu equipar a municipalidade com acesso

    internet sem fio. Apenas para ajudar a entender a dimenso do proje-to, em 2007, 10.886.518 pessoas viviam em So Paulo em uma rea de1.523 km. (IBGE, 2008)

    interessante ver como, nos ltimos anos, a questo do acesso internet banda larga sem fio se tornou parte da nova agenda dos go-vernos em todos os seus nveis. No entanto, no fundo, trata-se de umantigo problema, a saber, a desigualdade no acesso aos avanos

    tecnolgicos da sociedade, ou, usando a redao do Artigo XVII daDeclarao Universal dos Direitos Humanos, a falta de condies para[...] participar do processo cientfico e de seus benefcios. (UNITEDNATIONS, 1948)

    Ambos os projetos, o do governo federal e o de Marta Suplicy, setornaram alvos de crticas negativas. O edital federal chegou a ser can-celado no final de outubro de 2008. Dentre os principais motivos, des-tacamos as presses devido falta de debate pblico sobre o assunto e anfase em um nico modelo tecnolgico. J a promessa de Suplicy foiatacada com acusaes de se tratar de um sonho impossvel motivadoapenas por interesses de marketing poltico.

    Deixando de lado a discusso sobre o mrito dos projetos citados,o importante notar como o debate sobre a incluso digital, com banda

    larga e at redes sem fio, se tornou pauta de polticos e da mdia. Houveat mesmo desdobramentos inusitados como o lanamento do lbumBanda larga cordel (2008), de Gilberto Gil, ento ministro da Cultura.Apenas por curiosidade, vale a citao de parte da letra da msica qued nome ao CD:

    Quem no vem no cordel da banda larga

    Vai viver sem saber que mundo o seu

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    Mais frente na msica, em um jogo de palavras, Gil (2008),afirma:

    Ou se alarga essa banda e a banda andaMais ligeiro pras bandas do sertoOu ento no, no adianta nadaBanda vai, banda fica abandonadaDeixada para outra encarnao

    bem verdade que a msica no alcanou o topo das paradas

    musicais, mas h de se reconhecer que os versos citados chamam a aten-o do ouvinte a questes centrais relativas incluso digital em quese pese o autor ser na ocasio um ministro de Estado, podendo misturarargumentos de desenvolvimento, direitos humanos e uma boa dose demarketing poltico que, no sejamos ingnuos, tambm faz parte dosatuais processos democrticos. quase como Castells afirmando sobre orisco de desconexo entre o ser e a rede, e a ameaa a populaes

    inteiras que se encontram distanciadas dos atuais fluxos comunicacionais.(CASTELLS, 2000)

    O sonho sobre as redes municipais de acesso internet sem fio e odebate sobre as cidades digitais no Brasil tem incio em meados da dca-da de 1990. poca, destaca-se o projeto de Pira, no Rio de Janeiro.De l para c, e especialmente nos ltimos cinco anos, iniciativas seme-lhantes pululam Brasil afora11.

    No caso de Pira, uma situao em especial levou a municipalidadea repensar o seu plano de desenvolvimento e dar nfase s tecnologias deinformao e comunicao: a privatizao da companhia de eletricidadeque levou a um corte de 1200 empregos, atingindo profundamente avida dos seus cerca de 22.500 habitantes.

    Em meio crise local, a comunidade percebeu que a reorganizao

    da cidade passava pelas tecnologias de informao e comunicao digitais.11 Informaes obtidas com os gestores dos projetos e em sites oficiais das cidades.

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    Assim, a primeira infra-estrutura com vistas ao acesso universal foi insta-lada em 2002, j com o objetivo de transmitir dados, voz e imagens.

    No incio do projeto, a ideia era oferecer internet sem fio, com

    bandas variando entre 128 kbps e 512 kbps, a partir de uma taxa quevariava entre R$ 39,00 e R$ 90,00. O custo da rede e um embate legalcom a Anatel, a agncia reguladora brasileira, levaram os gestores doprojeto a optar, em 2007, por uma infraestrutura hbrida gratuita 13torres, operando em toda a cidade em 5.8 GHz, com cabos complemen-tares acessando diferentes lugares, dependendo das condies geogrfi-cas e de aspectos contingentes relativos arquitetura da cidade ou da

    prpria rede. Aps a deciso da Anatel, a proviso de internet teve deser limitada oferta gratuita e basicamente a equipamentos pblicos,tais como escolas, telecentros, quiosques e alguns hotspots e residnciasem carter piloto.

    Outro caso pioneiro que se tornou famoso no pas foi o da cidadepaulista de Sud Mennucci. Em 2008, o municpio tinha uma populaode 7.714 habitantes, cobrindo uma rea de 591 km2,com 85% dos quaisvivendo na rea urbana. (OKAJIMA, 2007, IBGE, 2008) A iniciativa deSud Mennucci traz um elemento curioso, digno de se tornar objeto depesquisa em outros municpios do pas: a internet foi aberta populaoporque sobrava banda nos servios da prefeitura da cidade.

    Os primeiros estudos do projeto de Sud Mennucci comearam em2002. O objetivo era dar conta das demandas administrativas da prefei-

    tura com vistas a diminuir o custo de conexo com a internet interurba-na discada, a nica possvel poca.

    Um estudo conduzido por tcnicos da prefeitura em parceria coma indstria alcooleira levou soluo de uma rede sem fio, em detrimen-to do uso de fibra tica esta mais cara. Mas em 2003 que o governolocal percebe que possua mais banda do que necessitava aos seus servi-os administrativos. O que fazer? Abriu-se o sinal para a populao em

    2003, que passou a ter a possibilidade de se conectar rede em suasresidncias a partir do uso de antenas especficas.

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    Assim, o novo objetivo do governo local passou a ser a inclusodigital da populao que tambm sofria com as taxas interurbanas deacesso internet. Em setembro de 2003, a cidade tinha 10 usurios

    registrados no projeto municipal, sem falar dos equipamentos pblicos.Entretanto, em 2005, a partir de outro evento digno de nota, que oprojeto decola entre os habitantes. O aumento de registros na prefeitu-ra se deu graas publicao de um artigo de Elio Gaspari, naFolha de

    So Paulo, destacando o projeto de Sud Mennucci. (GASPARI, 2005)Em 2008, o municpio j contava com quase mil usurios registrados.

    Em 2008, a rede sem fio da cidade usava Wi-Fi, trabalhando em

    2.4 GHz, comdesignponto-a-ponto, a 64 kbps por ponto, em linkcon-tratado da Telefnica. A partir de uma antena de 40 m, o cobertor digi-tal alcanava um raio de 10 km.

    Os casos pioneiros, aos quais se poderiam incluir outros no cita-dos aqui, acabaram por influenciar o debate em termos de regulamenta-o. No Brasil e no mundo, a discusso gira em torno do papel dosgovernos locais na proviso de internet. As questes so recorrentes,tais como:

    O municpio ter condies de manter e atualizar a rede a longoprazo?

    A entrada do governo local na proviso de internet inibir omercado local no setor?

    Os municpios podem cobrar pelo uso da rede?

    Qual o modelo de negcio da rede?

    Qual o regime de utilizao do espectro mais adequado?

    Com vistas a regular a entrada de prefeituras na instalao de redes,a Anatel criou em 2007 a licena de Servio Limitado Privado (SLP). Com

    a SLP, tornou-se possvel criar as redes para fins de uso de servios damunicipalidade, de forma gratuita, com restrio ao territrio da cidade.

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    Opcionalmente, o governo pode fazer uso de uma rede menos restritacontratando uma empresa privada ou pblica, operando em regime demercado, com licena SCM (Servio de Comunicao Multimdia).

    Em paralelo, outras discusses seguem na Anatel, como a limpezadas bandas 450 MHz 470 Mhz a fim de deix-las mais disponveispara usos em cidades pequenas ou rurais. Tambm em novembro de2008, a agncia lanou uma consulta pblica sobre os marcos regulatriosdas bandas de 3.400 MHz a 3.600 MHz. Na redao original do texto,aparece a proposta de usar as sub-bandas de 3.400 MHz a 3.405 MHz ede 3.500 MHz a 3.505 MHz para projetos pblicos de incluso digital.

    (ANATEL, 2008)

    As tentativas de regular a entrada do poder pblico no setor deredes sem fio e as restries tecnolgicas ou financeiras no tem diminu-do o otimismo dos gestores pblicos brasileiros. Nem mesmo a notciade descontinuidade ou reduo de investimentos em projetos estrangei-ros, como aconteceu em Chicago, So Francisco e Filadlfia, todos nosEstados Unidos, parece afetar o desejo de ver reas urbanas e ruraiscobertas por redeswireless. H inclusive projetos pensados em nvel es-tadual, como os casos do Rio de Janeiro, Par, Bahia e Amazonas.

    Que o futuro da internet , em grande parte, sem fio um fato. Advida paira sobre o papel dos governos, em todos os nveis, na provisode internet. O bom senso aponta para o melhor equilbrio entre aesdo governo, sociedade civil organizada e mercado. A predominncia de

    um desses atores depende de situaes contingentes. De maneira sim-ples e direta, quando o mercado falha em prover solues que deemconta das demandas sociais, o governo deve promover a criao dessemercado ou atuar diretamente na proviso do servio.

    No Brasil, dados do Comit Gestor da internet (CGI) apontamque apenas 20% da populao brasileira possui acesso residencial internet. (COMIT GESTOR DA INTERNET NO BRASIL, 2009) Ora,

    salvo melhor juzo, esse nmero mais do que suficiente para sustentarargumentos em favor da atuao do governo local nesse setor. As dvi-

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    das que pairam sobre esse tema no podem intimidar gestores pblicosem pases em desenvolvimento.

    O argumento para a entrada do governo municipal na proviso de

    internet simples, como j temos destacado em outros espaos. A inspi-rao vem do grande mestre Milton Santos. A pobreza, explica o gegrafo,, acima de tudo, uma definio poltica que tem a ver com os objetivosque uma sociedade determina para si. (SANTOS, 1979) Portanto, a po-breza no simplesmente um dado estatstico com nfase na renda edefinies de linhas de misria ou coisa que o valha. Na chamada Socie-dade do Conhecimento, o acesso internet em banda larga e, por que

    no, sem fio, deve fazer parte de qualquer definio possvel de pobreza.Como se sabe, hoje, salvo raras excees, a banda larga chega apenasonde h mercado, ou seja, consumidores em condies de comprar osservios oferecidos pelas empresas de telecomunicaes.

    Apesar de haver justificativas evidentes para a entrada dos gover-nos locais no desenvolvimento de projetos de redes sem fio para uso dapopulao, as armadilhas esto espalhadas por todo o caminho. Umarede totalmente pblica e gratuita, sem dvidas, pode inibir o desenvol-vimento local do setor, pode indicar menor criao de empregos e redu-zir a velocidade das inovaes, que, em geral, se favorecem pela compe-tio entre empresas. Os crticos da atuao do governo tambm desta-cam a falta de especialistas em telecomunicaes em muitas prefeiturase a inviabilidade de sustentar o desenvolvimento da rede no longo pra-zo. (JOSGRILBERG, 2008)

    Uma opo seria terceirizar o desenvolvimento e at a operao darede sem fio municipal, favorecendo assim a competio entre diferentesempresas. As parcerias pblico-privadas, contudo, tambm apresentamos seus problemas. O mais srio deles o de colocar em risco os valorespblicos de universalizao e neutralidade da rede. H ainda outras ques-tes, como a possibilidade de ver o governo local amarrado a contratos

    restritos a um nico modelo tecnolgico ou de gesto o que pode setornar um risco para o desenvolvimento da prpria rede.

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    Portanto, importante notar que o desenvolvimento de redeswirelessem nvel municipal, sejam elas totalmente pblicas e gratuitasou em parcerias pblico-privadas, deve buscar solues contingentes

    que dependem do perfil socioeconmico da cidade, das condies geo-grficas e de arquitetura urbana. Sempre haver riscos e benefcios, poisno h soluo perfeita. No obstante tais possibilidades, vale destacarque, seja como for, com a municipalidade administrando ou terceirizandoo desenvolvimento e operao da rede municipal sem fio, a responsabili-dade ser sempre do governo local. (MINOW, 2007)

    Acima de tudo, preciso lembrar que um projeto de rede munici-

    pal sem fio envolve vrias dimenses que precisam estar muito bemarticuladas. Com o objetivo de mapear esses diferentes aspectos, sugeri-mos um modelo com base em um estudo comparativo entre projetosbrasileiros e europeus de redes municipais sem fio (JOSGRILBERG,2008), no qual pudemos identificar algumas facetas que parecem serfundamentais, a saber, comunidade, infraestrutura, modelo de ne-gcio e governana. O detalhamento de cada dimenso pode ser co-

    nhecido no relatrio final da pesquisa. Neste texto, apresentamos umresumo das principais ideias.

    a) Comunidade

    O envolvimento da comunidade na organizao do projeto de redemunicipal sem fio pode ser fundamental para o sucesso do projeto. Vejao caso de Sud Mennucci, citado acima. De incio, parecia no haver umacompreenso adequada do valor da iniciativa.

    A comunidade pode ser inserida por programas de promoo dedemanda, ou seja, de uso da rede, articulando treinamentos efavorecimento para a compra de terminais (notebooks,desktops, PDAs, etc.).Como destacam Mansell e Steinmueller (2000, p. 37), o usurio uma

    categoria enormemente variada e a sensibilidade para a motivao daspessoas, ou falta dela, para se envolver com o novo ambiente virtual ou

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    ciberambiente um pr-requisito para a evoluo econmica e proces-sos sociais

    A participao da comunidade tambm ser importante do ponto

    de vista da governana do projeto, que trataremos adiante, especial-mente no que se refere a questes deaccountability, transparncia de pro-cessos e futuros desenvolvimentos da rede. Essa participao pode sedar, por exemplo, por meio de comits locais.

    b) Governana

    A palavra governana aparece facilmente nas apresentaes de es-pecialistas em gesto usada corretamente ou no. O termo se aplica aorganizaes pblicas ou privadas, mas tambm dentro de contextosmais especficos como, por exemplo, na rea de Tecnologia da Informa-o (TI) ou no terceiro setor.

    Trata-se de tarefa difcil encontrar uma definio para o termo na

    gesto pblica. A origem da ideia pode ser identificada no incio dosanos 1970, quando a expresso se tornou popular nas polticas prescri-tas pelo Banco Mundial para a gesto pblica. Muitos viam nesse movi-mento interesses relacionados estratgia do banco de impor certascondies aos pases, particularmente queles em desenvolvimento, emgeral trazendo um sentido de Estado mnimo em prol do mercado livre.(RHODES, 1996, DOORNBOS, 2001, FREDERICKSON, 2005)

    Contudo, a reflexo sobre o conceito de governana evoluiu com otempo. No caso discutido aqui, as redes municipais sem fio, a definiode Frederickson mais do que suficiente. Para o autor, governana podeser entendida como [...] um conjunto de princpios, normas e papis, ede procedimentos de tomada de deciso ao redor dos quais os atoresconvergem na arena pblica. (FREDERICKSON, 2005, p. 293)

    Em se tratando de redes municipais sem fio, possvel incluiraspectos como abertura da rede (princpios), condio de participao

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    dos atores e de tomada de deciso (normas), funes dos stakeholders(papis), alm dos processos de organizao, de desenvolvimento e desustentabilidade geral da rede (gesto).

    A transparncia dos princpios de governana uma das chavespara a existncia da rede a longo prazo. Tais princpios esto diretamen-te relacionados s demais dimenses (infra-estrutura, comunidade emodelo de negcio).

    c) Infraestrutura

    A infraestrutura talvez seja o elemento que mais chame a atenonos debates sobre as cidades digitais - equivocadamente, diga-se de pas-sagem. Em resumos, estamos falando dehardwaresesoftwaresnecessriospara implantar uma rede municipal sem fio. Destacamos, em seguida,alguns elementos propostos pela literatura especializada sobre o queesses tipos de redes ou similares devem oferecer (BACCARELLI, et al.,2005, GUNASEKARAN; HARMANTZIS, 2007):

    acessibilidade;

    disponibilidade;

    custo acessvel dos servios;

    aplicaes.

    Em meio aos temas tratados dentro do projeto OPAALS, que de-bate, dentre outros assuntos, a criao de ecossistemas digitais, outrosrequisitos bsicos so estabelecidos para comunidades em rede[Community Networks] infrastructures (BOTTOet al., 2008):

    cobertura total e acesso ubquo;

    acesso a partir de terminais mltiplos (desktops, notebooks, PDAs,celulares, etc.);

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    mobilidade, permitindo roamingdentro da rede;

    capacidades geoespaciais;

    qualidade de servio (definio dos tipos de servios esperadosda rede);

    suporte e plataformas para distribuio de servios.

    Com preocupaes mais socioeconmicas, Mansell e Steinmuellerchamam a ateno para o desenvolvimento da rede considerando(MANSELL; STEINMUELLER, 2000):

    designflexvel;

    designinclusivo.

    Em resumo, o objetivo ter acesso rede a qualquer hora, a partirde qualquer terminal, em diferentes formatos, a custo acessvel, em ban-da larga, com umdesignflexvel e inclusivo.

    Dentre as principais possibilidades tecnolgicas sem fio, presen-tes e de um futuro prximo, destacam-se o VSAT (Very Small ApertureTerminal), Wi-Fi (Wireless Fidelity, IEEE 802.11a/b/g/n), WiMAX(Worldwide Interoperability for Microwave Access, IEEE 802.16n) eWi-Mesh e por que no as tecnologias 3G? possvel haver umacombinao destas tecnologias entre si, alm do suporte da rede fixa.

    (fibra tica etc.)

    d) Modelo de negcio

    Um modelo de negcio pode ser definido como uma ferramen-ta conceitual que contm um grupo de objetos, conceitos e suas re-laes com o objetivo de expressar a lgica de negcio de uma em-

    presa especfica. Portanto, cabe considerar quais conceitos e relaespermitem oferecer aos clientes, como isso ser feito e suas

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    consequncias financeiras. (OSTENWALDER; PIGNEUR; TUCCI,2005, p. 5)

    No entanto, a transposio do conceito de modelo de negcio

    para o setor pblico exige cuidados. Isso porque todo modelo de neg-cio possui o seu respectivo ethos; traduzi-lo para ambiente pblico de-manda a reinveno do vocabulrio dado. (ALVES, 2006)

    No caso de redes municipaiswireless, pelo mundo afora, comum sefalar em modelo de negcio. A razo simples. Muitos projetos envolvemdiferentes arranjos com a iniciativa privada que vo desde a instalao at

    a operao da rede. Talvez o conceito de modelo de sustentabilidade finan-ceira fosse mais adequado. Seja como for, as escolhas feitas (parcerias, for-necedores, contratos, etc.) sobre quem paga a conta podem ter um im-pacto direto em princpios democrticos importantes, especialmente noque diz respeito universalizao dos servios.

    O debate sobre os modelos municipais de negcio para redes semfio de acesso internet gira em torno do reconhecimento do governo

    como um promotor ou regulador desses projetos, uma questo di-retamente ligada viso da banda larga como um bem pblico ou algopara ser resolvido pelo mercado (PICOT; WERNICK, 2007, p. 662-663); ou, como propem Gillett e seus colegas, a viso do governo comoum regulador, financiador, desenvolvedor da infraestrutura ou simples-mente como usurio. (GILLETT; LEHR; OSORIO, 2004)

    Como resumem Daggett (2007) e Hughes (2005), os modelos de

    negcio mais comuns so o privado, o pblico, o franchise e o anchor-tenant (empresa-ncora). Acrescentaramos tambm a possibilidade deprojetos comunitrios:

    Privado

    A proviso da rede banda larga sem fio mantida por empresas

    com fins lucrativos. Nesse caso, o governo tem pouca ou nenhuma auto-ridade sobre a rede. (DAGGETT, 2007) Eventualmente, as empresas

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    podem se beneficiar do uso de equipamentos pblicos para instalao deantenas, por exemplo, oferecendo alguma contrapartida como acessogratuito a servios municipais.

    Pblico

    Em geral, adotado quando o regime de mercado no conseguegarantir a universalizao do acesso a custos razoveis. O governo insta-la e opera a rede, podendo ou no contratar empresas terceirizadas.

    Modelo de franquia

    Segundo Daggett, nesse modelo, o governo local garante a umaempresa privada o uso dos equipamentos e vias pblicas por um perodode tempo e a contratada deve oferecer contrapartidas definidas pelamunicipalidade. (DAGGETT, 2007, p. 12) Ainda nesse modelo, poss-vel uma variao em que o governo investe na infra-estrutura passiva

    (torres e backhaul, por exemplo) e permite a instalao e operao porempresas privadas. (HUGHES, 2005)

    Empresa-ncora (anchor-tenant)

    Nesse modelo, a municipalidade se torna o principal cliente deuma empresa que, por sua vez, deve alcanar objetivos de universalizao

    e de servios estabelecidos pela municipalidade. Aqui tambm a prefei-tura pode favorecer o projeto permitindo o uso de equipamentos pbli-cos e acordar algum tipo de contrapartida em funo do resultado finan-ceiro da rede. (DAGGETT, 2007, p. 12)

    Comunitrio

    Por ltimo, vale a referncia ao modelo comunitrio. Nesse tipode arranjo, a prpria comunidade compartilha o seu link de internet

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    entre si. o que acontece, por exemplo, com os projetos OpenSpark(http://open.sparknet.fi) eFon(http://www.fon.com).

    Embora as redes comunitrias tendam a ter sua origem dentro da

    sociedade civil, o governo pode servir como catalisador dessas iniciati-vas. Fica a pergunta: Por que diabos eu deixaria outras pessoas usaremgratuitamente o meu ponto de acesso? A resposta da OpenSpark dire-ta: Porque integrando a comunidade da OpenSparksignifica poder usaro ponto de acessos dos outros. (OPENSPARK, 2008)

    Para encerrar, preciso se ter claro que a deciso sobre a entrada

    dos governos municipais na proviso de internet sem fio contingente.Tambm no h modelo nico de negcio ou tecnolgico. No que serefere tecnologia, em especial, sempre importante no ficar restrito auma nica soluo.

    Tambm fundamental evitar a sobredeterminao da visotecnolgica. preciso ir alm da cidade digital e ter uma compreensomais abrangente da cidade sonhada. Quem sabe, sonhar com as redes

    municipais de internet sem fio a partir de uma cidade educadora ousustentvel.

    REFERNCIAS

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    ESPECTRO ABERTO E MOBILIDADEPARA A INCLUSO DIGITAL NO BRASIL

    Srgio Amadeu da Silveira

    O artigo discute como o sinal aberto impacta a comunicao semfio. Baseando-se em uma anlise qualitativa sobre o que est ocorrendoem algumas cidades brasileiras, busca-se mostrar que a comunicaogratuita incentiva o uso de computadores e redes, reforando as relaes

    sociais locais. Alm disso, demonstra igualmente que a atual regula-mentao das telecomunicaes se d contra o crescimento de redes

    wireless abertas. O seu crescimento requer a implementao das redesabertas no espectro radioeltrico. Defende-se que a implantao de nu-vens de conexowirelessgratuitas nos municpios pode elevar de modoexponencial o uso das tecnologias da informao e da internet em locali-dades onde s havia conexo discada e banda estreita.

    Do mesmo modo que o barateamento e digitalizao das cmarasfotogrficas incentivaram a prtica da fotografia, a reduo ou elimina-o do custo de conexo internet pode incentivar enormemente o seuuso. Assim como o surgimento dosblogs, plataformas de gerenciamentode contedos baseados em interfaces amigveis e gratuitas, ampliou enor-memente a escrita hipertextual e a produo de relatos e notcias nainternet. Alm disso, possvel observar vrios casos em que a gratuidade

    ou baixo custo podem ampliar enormemente o uso das redes de comuni-cao.

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    Sem dvida, disso no se pode concluir que tudo aquilo que gratuito ou barato ser bem sucedido. Quer dizer apenas que no Brasilexiste uma grande demanda reprimida pela comunicao em rede. A

    concentrao de renda, de um lado, e a pobreza da maioria da popula-o, de outro, constituem enormes entraves para a expanso da internete de seus servios no pas. Ao mesmo tempo, as comunidades e indiv-duos mais pobres percebem a importncia da internet. Diversos progra-mas da TV aberta tm disseminado reportagens sobre os benefcios darede, o que elevou o interesse dos brasileiros pela comunicao mediadapor computador.

    O potencial de conexo no pas bloqueado por fatores sociais eeconmicos. Em 2007, no Brasil, ainda havia cerca de 14,1 milhes deanalfabetos com idade igual ou superior a 15 anos. O ndice de Gini,que mede a concentrao de renda, est em queda desde 2004 (0,547),mas, em 2007, atingiu 0,528. O percentual de domiclios com algumtipo de telefone chegou a 77%, enquanto 31,6% desses domiclios pos-suam somente os telefones celulares. A mesma pesquisa constatou que

    88,1% tinham rdio, 94,5% possuam televiso, 26,6% contavam commicrocomputador e somente 20,2% dos domiclios tinham acesso internet (IBGE, 2007). Segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatstica (IBGE) a populao brasileira, em 2007, atingiu189 milhes de habitantes. Estes dados comprovam as grandesdisparidades existentes no pas. (IBGE, 2007)

    necessrio ainda considerar que o custo de comunicao no Bra-sil um dos mais elevados do mundo. Segundo o levantamento realiza-do pela Associao Brasileira de Prestadoras de Servios de Telecomuni-caes Competitivas (TelComp), o megabit, no Brasil, chegou a ser vendi-do por R$ 716,50 por ms, em 2007. (ASSOCIAO BRASILEIRADE PRESTADORAS DE SERVIOS DE TELECOMUNICAESCOMPETITIVAS, 2007) O megabit comercializado pela Tiscali Italianaera equivalente a R$ 4,32 mensais. Na Frana, a Orange cobrava R$5,02 e nos Estados Unidos da Amrica, era possvel pagar R$ 12,75.Manaus, capital do Estado do Amazonas, tinha o custo da conexo ban-

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    da larga, em 2007, 395 vezes mais cara do que a cidade de Tquio, noJapo. (SOUSA; PINHEIRO; ATHAYDE, 2008, p. 28)

    Nesse cenrio, as redes Wi-Figratuitas, mantidas pelos municpi-

    os, podem garantir um espao de concorrncia saudvel com as redes deconexo comerciais mantidas pelas operadoras de telefonia. A presso darede gratuita, com tecnologia barata e sinal amplamente distribudo nascidades, pode melhorar a qualidade dos servios pagos e gerar uma que-da no preo da conectividade. Se a queda do preo dos computadores,no Brasil, a partir do programa governamental PC Conectado, elevousuas vendas (SANDRINI, 2007, p. 28), possvel concluir que a elimi-

    nao ou reduo do custo das telecomunicaes no Brasil pode aumen-tar enormemente o uso das redes.

    NUVENS ABERTAS DE CONEXO

    A seguir, analiso trs municpios brasileiros que oferecem conexo

    gratuita internet para toda a sua populao. So eles: Quissam, noestado do Rio de Janeiro; Sud Mennucci, no estado de So Paulo e Tapira,no estado de Minas Gerais. Quissam possui 17.376 habitantes distri-budos em uma rea de 716 km. Sud Mennucci tem 7.714 habitantesem uma rea de 591 km. Por fim, Tapira alcanou 3.509 moradores e1.184 km de extenso.

    Os trs municpios conseguem atingir 100% de sua rea com o

    sinalwireless. Quissam oferece velocidade de conexo de 128 kbps parapessoas fsicas e 256 kbps para empresas. Sud Mennucci assegura 256kbps para os moradores, independente de seu estatuto jurdico. Tapiragarante conexo superior a 64 kbps para toda a populao.

    A Prefeitura de Sud Mennucci gastou para implantar o projetoR$ 18.000,00 e depois R$ 70.000,00 para ampliar a velocidade, segu-rana e estabilidade da redewireless. J a Prefeitura de Tapira gastou R$

    5.000,00 com equipamentos e antenas para a infra-estrutura de cone-xo. O custo de implantao e manuteno de Quissam no foi divul-

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    gado. O custo mensal de conexo pago pela Prefeitura de Sud Mennuccipara a Operadora de Telecom de R$ 5.800,00. Tapira paga R$ 7.900,00mensais pelo sinal de internet.

    Utilizando o mecanismo do Netcraft possvel identificar que oportal municipal tanto de Quissam como de Sud Mennucci utilizamservidores Linux e web servers Apache. O software livre utilizado narede desses municpios. Os telecentros - locais de acesso pblico interneta partir de computadoresdesktopsdisponveis gratuitamente para a po-pulao - em Quissam tambm so mantidos pela Prefeitura Municipale utilizam GNU/Linux nos seus desktops.

    Nos trs municpios, aps a implantao do acessowirelessgratui-to, ocorreu a elevao rpida e expressiva do nmero de usurios dainternet. Tapira multiplicou por seis o nmero de residncias conectadas internet, Quissam multiplicou por 8 e Sud Mennucci multiplicou por28, o que representa um crescimento surpreendente.

    Quadro 1:Aumento do nmero de residncias com internetFonte:Edital de Cidades Digitais: contribuies esto sendo analisadas (2009) extrados dosrelatos das Prefeituras no http://www.guiadascidadesdigitais.com.br* Estimativa com base no nmero de computadores que existiam na cidade. Como haviasomente 50 computadores, no mximo 50 residncias poderiam ter acesso internet.Provavelmente isto no ocorria.

    Ano deimplantao

    Penetrao dainternet antesda implantao

    Penetraoda internetem 2008

    Crescimento

    TAPIRA

    2005

    50 residncias*

    300 residncias

    6 vezes

    2004

    200 residncias

    1.600 residncias

    8 vezes

    2003

    30 residncias

    840 residncias

    28 vezes

    QUISSAM SUD MENNUCCI

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    A velocidade de crescimento do nmero de residncias conectadasnestes municpios bem superior a obtida pelo mercado se observarmoso crescimento ocorrido na mdia nacional de conexo, registrada na pes-

    quisa promovida pelo Comit Gestor da internet no Brasil. A proporode domiclios com acesso internet no Brasil saltou de 14,49%, em2006, para 17%, em 2007. Tapira, com a menor mdia observada entreos trs municpios aqui citados, em menos de trs anos de acesso gratui-to obteve um crescimento de 500%.

    A formao de nuvens abertas de conexo no Brasil pode incenti-var no somente a aquisio de computadores como tambm a

    conectividade. A gratuidade da comunicao em rede para toda a popu-lao pode ainda melhorar os usos educacionais e culturais, aprimorarainda mais os servios de governo eletrnico, bem como ampliar a inser-o das comunidades locais no comrcio eletrnico global. Na erainformacional, a comunicao deve ser pensada como direito e no so-mente como negcio, ou seja, a gratuidade ajuda a consolidar a ideia dacomunicao como um direito humano essencial.

    O POTENCIAL DO OPENSPECTRUM

    O modelo de regulamentao do uso do espectro eletromagnticoganha importncia cada vez maior devido ao processo de convergnciadigital, e s inmeras possibilidades da computao ubqua e da expan-

    so da comunicao mvel, principalmente se os municpios brasileirosseguirem o exemplo das cidades de Quissam, Sud Mennucci e Tapira epassarem a implementar nuvens de conexo aberta internet.

    No Brasil, o espectro de radiofrequncias est sob o controle doEstado e s pode ser utilizado de acordo com o Plano de Atribuio,Destinao e Distribuio de Faixas de Frequncias no Brasil (PDFF). AAgncia Nacional de Telecomunicao (Anatel) foi incumbida de admi-

    nistrar a utilizao do espectro de radiofrequncias, regulamentando efiscalizando o seu uso. Assim, cada faixa de radiofrequncia foi definida

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    para uma determinada aplicao ou servio, de acordo com o referidoplano. Ele foi recentemente alterado para incorporar a implantao daTV Digital no Brasil.

    No dia 29 de junho de 2006, o presidente do Brasil, Luiz IncioLula da Silva, assinou o Decreto N 5.820 que definiu as regras de im-plantao do Sistema Brasileiro de Televiso Digital Terrestre (SBTVD-T) e da plataforma de transmisso e retransmisso de sinais de radiodi-fuso de sons e imagens. O Decreto interfere na ocupao do espectroradioeltrico brasileiro. O perodo de transio do sistema de transmis-so analgica para o SBTVD-T ser de dez anos, contados a partir da

    publicao do Decreto. Durante este perodo de transio, ocorrer aveiculao simultnea da programao em tecnologia analgica e digi-tal. Os canais utilizados para transmisso analgica sero devolvidos Unio aps o prazo de transio. Estes canais so as faixas de freqnciado espectro eletromagntico que vo de 54 a 88 MHz (canais de 2 a 6) ede 174 a 216 MHz (canais 7 a 13).

    Nos prximos anos, o pas debater o que dever ser feito com asfaixas de frequncia que sero desocupadas quando se encerrarem astransmisses analgicas da TV. Existe a possibilidade de que possam terum uso comum, ou seja, algumas entidades da sociedade civil defendemque aquelas faixas sejam destinadas para o uso livre e comum. Esta rei-vindicao chamada de open spectrum.

    O aparelho de transmisso digital controlado porsoftware pode escanear ou varrer o espectro em buscada melhor frequncia para o envio das ondas em de-terminado momento. Do mesmo modo, os aparelhos

    receptores digitais podem escanear constantementeo espectro para sintonizar uma estao especfica eacompanh-la, mesmo quando ela muda defrequncia. Assim, no necessrio tornar o espectro

    uma propriedade privada de alguns. possveltransform-lo em um espao comum. Uma via em

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    que muitos podem passar, ou seja, transmitir seus si-nais, respeitando os padres de interesse pblico.

    (SILVEIRA, 2007, p. 50)

    O argumento que justifica o controle estatal do espectro que asradiofrequncias so um recurso escasso, limitado. Por isso, os Estadosmajoritariamente utilizam o modelo de explorao baseado em conces-ses e permisses cedidas ao setor privado, em geral, por meio de leiles.Esse seria o melhor modo de impedir a catica interferncia no uso doespectro. Assim, evitaria-se a denominadatragedy of commons, ou seja, o

    uso ineficiente de um recurso causado pelo seu emprego excessivo edescoordenado. Entretanto, diversos pesquisadores consideram que ocontrole estatal ocorreu por outras razes. Gestores polticos na dca-da de 1920 no direcionavam o interesse pblico para a alocao doespectro de rdio atravs da ideia de caos das ondas areas. O que acon-tecia era justamente o oposto; o caos era estrategicamente utilizado paraobter alocao do interesse pblico.72(HAZLETT, 2001, p. 95)

    As tecnologias digitais possibilitam o uso mais inteligente e efici-ente do espectro, neutralizando os possveis rudos e interferncias. Trans-missores e receptores digitais, software-defined radio, smart radio, podemsuperar as restries e interferncias do mundo analgico. Existem vri-as tecnologias de uso simultneo de uma mesma radiofrequncia pordiversos usurios. Por exemplo, at a tecnologia Code Division MultipleAccess (CDMA) j permitia que diversos celulares transmitissem ao

    mesmo tempo na mesma freqncia sem interferncia entre eles, poisseus sinais so separados por cdigos.

    Atualmente, a capacidade do sistema de transmitirinformaes teis aumenta. O mesmo espectro poderealizar mais comunicaes. A inteligncia dos dispo-

    72

    Policy makers in the 1920s were not driven to public interest allocation of radio spectrumby airwave chaos. Just the opposite; chaos was strategically used to procure public interest

    allocation. (Traduo o editor)

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    sitivos est substituindo a capacidade de fora brutaexistente entre eles. Imagine como seriam as auto-

    estradas se os carros no pudessem ser manobrados

    rapidamente para evitar colises e desaceleraes. Te-riam que haver grandes pra-choques entre cada ve-culo para prevenir acidentes, [] precisamente o queexiste no espectro hoje.73(WERBACH, 2003, p. 19,traduo do editor)

    Os canais utilizados para transmisso analgica da TV brasileirasero devolvidos Unio e podem ser colocados disposio de toda asociedade para transmisses digitais. Estes canais, faixas de frequnciade excelente qualidade, podem tornar-se uma grande via comum para ascomunidades, municpios e os diferentes agrupamentos garantirem adiversidade cultural e o efetivo direito comunicao, a partir do acessodireto ao espectro radioeltrico.

    CONCLUSO

    Existem trs tipos puros de uso do espectro radioeltrico: as con-cesses estatais; a privatizao com a formao de mercados secundriosde espectro e o open spectrumoucommons. O modelo de concesses estatais o que foi descrito anteriormente. O modelo de privatizao do espec-tro pretende trat-lo como um bem privado qualquer. Desse modo, as

    faixas de frequncia seriam vendidas pelo Estado a agentes privados quepoderiam us-las da forma mais rentvel possvel, inclusive vendendo-asou alugando-as em um mercado secundrio. O terceiro modelo o base-ado noscommons. O que ele quer chama-se espectro aberto por garantir

    73Nowadays, the capacity of the system to transmit useful information increases. The same

    spectrum can hold more communications. The intelligence of devices is substituting for brute-

    force capacity between them. Imagine what highways would be like if cars couldnt be steeredquickly to avoid collisions and slowdowns. There would have to be huge buffers between each

    vehicle to prevent accidents [...] precisely what exists in the spectrum today.

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    que todos possam usar as frequncias como vias pblicas. Caberia aoEstado definir regras de ordem tcnica para assegurar o uso comum dasfrequncias, tais como limites de potncia, homologao de equipamen-

    tos, orientao para o melhor uso de protocolos de comunicao emdeterminadas bandas. Tal como em uma avenida, o Estado permite quetodos os cidados possam por ela transitar desde que respeitando asregras de trnsito.

    O modelo atual pouco eficiente e gera um poder demasiado paraos controladores da infraestrutura de telecomunicaes, ou seja, paraaqueles que detm o direito do uso exclusivo de faixas do espectro. O

    modelo aqui denominado de privatizao do espectro agrava os proble-mas de ineficincia e concentrao de poder em poucas mos.

    A escolha entre proprietrios e redes de dados sem fiobaseadas no compartilhamento, ganha um novo sig-nificado diante da estrutura de mercado das redes com

    fio e o poder por ela fornecido aos donos de redes ban-

    da-larga para controlar o fluxo de informao na gran-de maioria dos lares. Sistemas sem fio baseados nocompartilhamento se tornam a forma legal primriada capacidade de comunicao que no submete sis-tematicamente seus usurios manipulao por um

    proprietrio da infraestrutura74. (BENKLER, 2006,p. 154, traduo do editor)

    O modelo baseado noscommons tecnicamente vivel e pode am-pliar a diversidade cultural. Pode ainda reduzir os custos da comunica-o, incentivar a produo local e a descoberta de novos usos e o desen-

    74The choice between proprietary and commons-based wireless data networks takes on new

    significance in light of the market structure of the wired network, and the power it gives

    owners of broadband networks to control the information flow into the vast majority of homes.Commons-based wireless systems become the primary legal form of communications capacity

    that does not systematically subject its users to manipulation by an infrastructure owner.

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    volvimento de interfaces de comunicao wireless. Permitir que dentrode uma localidade seja formada com muito mais eficincia redes meshegrande nuvens de conexo aberta, o que viabilizar a telefonia mvel

    gratuita entre os habitantes daquelas localidades. A fuso da voz sobreIP (VoIP) com o sinal aberto nas melhores faixas de propagao do es-pectro pode incentivar a comunicao e a produo cultural e econmi-ca local. Esta hiptese reforada pelo impacto que a comunicaowirelessgratuita causou nos trs municpios aqui analisados. Kevin Werbachalertou:

    Melhorar bandas no-licenciadas j existentes no suficiente. A maioria to estreita e congestionadaque sua utilidade para o espectro aberto limitada.Alm disso, a alta frequncia das mais proeminentesbandas no-licenciadas limita a propagao do sinal.Espectros de baixa frequncia que penetram atravs

    de variaes climticas, coberturas arbreas e muros,iriam prover vantagens significantes a servios comoa conectividade em banda-larga de ltima milha.75

    (WERBACH, 2002, p. 16, traduo do editor)

    Nesse sentido, o Brasil pode dar um salto no uso do espectro. Boaparte das melhores frequncias do espectro ser devolvida ao Estadoquando as transmisses analgicas da TV forem encerradas. Cabe aospesquisadores da comunicao mostrar sociedade brasileira as possibi-

    lidades de transformar estas faixas do espectro em uma grande via p-blica, em um espao aberto. Isto poder ampliar o potencial criativocomunicacional, tecnolgico e cultural da sociedade brasileira.

    75Improving existing unlicensed bands isnt enough. Most are so narrow and congested that

    their utility for open spectrum is limited. Furthermore, the high frequency of the most prominent

    unlicensed bands limits signal propagation. Lower-frequency spectrum that penetrates weather,tree cover, and walls would provide significant advantages for services such as last-mile broadband

    connectivity.

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    REFERNCIAS

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PRESTADORAS DE SERVIOSDE TELECOMUNICAES COMPETITIVAS. Procedimentosadministrativos, 2007. Disponvel em: .

    BENKLER, Y. The wealth of networks:how social production transformsmarkets and freedom, 2006. Disponvel em: . Acesso em: 27 jul. 2009.

    BRASIL. Decreto n 5.820, de 29 de junho de 2006. Dispe sobre aimplantao do SBTVD-T, estabelece diretrizes para a transio dosistema de transmisso analgica para o sistema de transmisso digitaldo servio de radiodifuso de sons e imagens e do servio deretransmisso de televiso, e d outras providncias. Disponvel em:. Acesso em: 27 jul. 2009.

    COMIT GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Pesquisa sobre o usodas Tecnologias da Informao e da Comunicao no Brasil: TIC Domiclios eTIC Empresas 2006. So Paulo: Centro de Estudos sobre as Tecnologiasda Informao e da Comunicao - CETIC.br, 2007. Disponvel em:. Acesso em: 27 jul. 2009.

    COMIT GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Pesquisa sobre o usodas Tecnologias da Informao e da Comunicao no Brasil: TIC Domiclios eTIC Empresas 2007. 2. ed. So Paulo: Centro de Estudos sobre asTecnologias da Informao e da Comunicao - CETIC.br, 2008.Disponvel em: . Acesso em: 27 jul. 2009.

    EDITAL de Cidades Digitais: contribuies esto sendo analisadas.Disponvel em: .Acesso em: 20 out. 2009.

    HAZLETT, T. The wireless craze: the unlimited bandwidth myth, thespectrum auction faux pas, and the punchline to Ronald Coases big

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    joke: an essay on airwave allocation policy.Law & Tech, Havard, v. 14,n. 2, p. 335-545, 2001.

    IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domiclios. Rio de Janeiro, 2007.

    Disponvel em: . Acesso em: 20out. 2009.

    SANDRINI, J. Venda de PCs encosta na de TVs j neste ano.FolhaOnline, 3 fev. 2007. Disponvel em: . Acesso em: 27 jul. 2009.

    SILVEIRA, S. A. Redes virais e espectro aberto: descentralizao edesconcentrao do poder comunicacional. In: SILVEIRA, S. A. (Org.).Comunicao digital e a construo dos commons: redes virais, espectro aberto e

    as novas possibilidades de regulao. So Paulo: Perseu Abramo, 2007.

    SOUZA, A. P.; PINHEIRO, D.; ATHAYDE, P. O Brasil cai na rede.Carta Capital, n. 508, ago. 2008. Coluna Sociedade.

    WERBACH, K. Open spectrum: the new wireless paradigm.Spectrum

    Series Working Paper, n. 6, oct. 2002. Disponvel em: . Acesso em: 27 jul.2009.

    ______. Radio revolution: the coming age of unlicensed wireless,2003. Disponvel em: . Acesso em: 27 jul. 2009.

    STIOS CONSULTADOS

    ANATEL. http://www.anatel.gov.br/

    COMIT GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. http://www.cg.org.br/

    GUIA DAS CIDADES DIGITAIS. http://

    www.guiadascidadesdigitais.com.br/site/

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    QUISSAM. http://www.quissama.rj.gov.br/

    SUD MENNUCCI. http://www.sudmennucci.sp.gov.br/

    TAPIRA. http://www.tapira.mg.gov.br/

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    IDENTIDADE, VALOR E MOBILIDADE:por uma iconomia dos motoboysem So Paulo

    Gilson Schwartz

    O homem nasce livre e em toda parte ele acorrentado. Muitas vezes um homem acredita ser omestre de outros, o que o torna nada mais que umescravo. Como esta mudana ocorreu? Eu no sei.

    Como posso legitim-la? Para esta questo eu esperoconseguir dar uma resposta.

    Rousseau , O Contrato social

    TECNOLOGIA, SEMITICA E CDIGO: o valor doscones

    Somente 2,6% da populao tem o hbito de navegar na internetbrasileira, comparados a 15,6% nos EUA. O Brasil possui menos de umquarto da intensidade do fenmeno de web mobileem relao a socieda-des mais desenvolvidas. Entretanto, a penetrao do telefone mvel elevada, com 140 milhes de telefones e variada gama de servios portoda a extenso continental do Brasil. O acesso internet cresceu com

    lan houses e as condies de custo e crdito para bens de informticamelhoraram.

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    No entanto, permanece a dvida: toda esta incluso digital (emespecial para as chamadas classes C, D e E) representa emancipao ounova escravido?

    O impacto social e econmico do celular condicionado e estimu-lado por todas as mudanas simultneas em outros canais de comunica-o (rdio, TV, imprensa, cinema, Web 2.0) em um sistema do mercadoque se move rpido do industrial para redes de servios. Os nveis eleva-dos das tarifas de telecomunicaes no Brasil, no entanto, contribuempara que os padres de desigualdade de renda sejam reproduzidos, se-no agravados, pela modalidade concentradora de incluso digital e

    miditica no pas.

    Na economia do audiovisual digital, nem oferta e demanda, nememisso e recepo bastam como categorias bipolares para apreenderfenmenos tridicos da informao e da comunicao definitivamente,o espao-tempo foi alterado e cada vez mais plasmado pelos conesdigitais que configuram uma autntica iconomia.

    No capitalismo cognitivo ou do conhecimento, as redes sotecnolgicas e sua apropriao depende da habilidade para formarmetaredes para a gesto das mdias audiovisuais que configuram e ex-ploram cones tpicos do hibridismo entre mundos virtuais e reais.

    Plataformas tecnolgicas e modelos de negcios orbitam em tor-no de inteligncias semiticas que suspendem recorrentemente as hie-rarquias e recriam gradientes de informao imperfeita, assimetrias de

    ateno e enquadramentos do gozo. Ou seja, o dinamismo da iconomiadepende da introduo sistemtica de inovaes e desequilbriostecnolgicos nas interfaces entre seres humanos, mquinas e meio-am-biente.

    A acumulao de ativos (e passivos) intangveis por corporaes eEstados, assim como as novas estruturas e ideologias da governana e daesfera pblica relacionadas promoo do conhecimento e da culturarepousam todas sobre uma energia instvel e se abrem a uma incertezaestrutural que resulta da prpria imaterialidade da informao. Essa eco-

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    nomia da informao constitui mercados em que as assimetrias so or-ganizadas por meio de cones e essa superestrutura icnica to voltilquanto s estruturas supostamente mais estveis reguladas pelo Estado

    ou as aparentemente livres como nos mercados autorregulados do siste-ma financeiro e da mdia.

    A crise global mais recente refora essa incerteza estrutural donovo capitalismo e desafia tanto tericos quanto pesquisadores empricos.Pode ser tambm a crise final da transio entre a economia industrial eas redes de servios que definem as fronteiras de acumulao material eimaterial de uma iconomia, justificando a definio de um programa

    de pesquisas cujo foco est em decifrar o valor de ativos e mercados quese criam, reproduzem e destroem a partir ou animados por fluxos comu-nicativos.

    A busca de uma nova teoria do valor da comunicao e da infor-mao o horizonte no qual se enquadram temas como a virada icnica(depois do linguistic turn, um iconic turnou Ikonische Wende) nas cinciassociais. As inovaes que caracterizam a evoluo da internet, gerandotanto prodgios de P&D (como o projeto genoma, osgridscomputacionaise as nuvens digitais) quanto grandesblockbustersno mercado de interfacesmediais (comoMy Space,Orkut,Napster, Bit Torrent,Second Life, Twitteroui-Tunes).

    Mais que a expanso do potencial da criao de mercados e deriqueza das tecnologias de informao e comunicao (TIC), os modos

    de marcao (miditica) a mercado do conhecimento escondem a chavede leitura numa perspectiva iconmica.

    Uma percepo mais fina da criao e da distribuio de valorna sociedade em rede requer ateno ao coneenquanto ativo em redeque sustenta a inovao na gesto da identidade e da riqueza ampa-rada em infraestruturas digitais de produo, distribuio e financi-amento. um cenrio complexo cuja compreenso requer conheci-

    mentos da engenharia, da economia e dos negcios, da semitica eda midialogia.

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    Nessa nova iconomia, apenas parcial e aparentemente horizon-tal e aberta, os novos excludos passam a enfrentar mais uma barreira entrada que vai alm do acesso ou do uso competente da tecnologia em

    si mesma: o valor depende do potencial icnico apropriado com maiorou menor competncia pelos grupos de usurios cr iativos das e-infraestruturas.

    MOBILIDADE COMO CONE

    No caso especfico do segmento do motofrete (que emprega os

    motoboys), vive-se num estado de fluxo em que servios absolutamenteessenciais para milhes de pessoas desempenham na vida urbana umpapel anlogo ao da circulao sangunea na sustentao da vida indivi-dual.

    No entanto, os prprios motoboystransformaram-se num cone quefunciona como objeto de dio e causador de desordem, morte e fatalida-

    de (acidentes so frequentes, com mais de uma vitima por dia nas ruasde So Paulo). So referidos como expresses do mal, do feio e do pobre,do desqualificado e do infrator.

    O fato, dada a superpopulao dos espaos urbanos, que amobilidade fsica (e a falta dela) transforma-se em vantagem compe-titiva, ou seja, plataforma de negcios para inmeras redes de servi-os. As assimetrias tecnolgicas do transporte e da comunicao tor-

    nam-se mutuamente funcionais, gerando valor pela explorao dotrfego sobrecarregado e da m qualidade de vida em megacidadesps-industriais.

    Inserido numa camada social que se aproxima da grande massadas classes C, D e E, o motoboy saudado como fonte de mobilidade ecomo um empecilho prpria mobilidade e ao comportamento civiliza-do em nossas superpopulosas cidades. Uma descrio interessante do

    fenmeno motoboy em sua relao paradoxal com a sociedade a queserve foi publicada noNew York Timespor Larry Rohter, com ttulo que

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    resume bem a imagem do motoboy(Pedestrians and Drivers Beware! MotoboysAre in a Hurry):

    Em uma cidade com quase 11 milhes de habitantese 4.5 milhes de carros, 32 mil txis e congestiona-

    mentos de trfego com mais de 100 quilmetros, noraro cruzar a cidade pode demorar mais de duas ho-ras. Somente um grupo na maior cidade da Amricado Sul parece imune a tais frustraes e atrasos: o exr-cito audaz dos mensageiros da motocicleta conheci-dos como motoboys. Esta vantagem comparativa,

    entretanto, vem com um custo, porque incansveisvelocistas, zigue-zagueando entre os carros parados,ignorando a sinalizao das vias, eles ameaam regu-larmente pedestres, enfurecem motoristas enquantozumbem entre faixas nas ruas e estradas. (ROHTER,2004)

    Rohter adicionou mais comentrios reveladores:

    [] muitos motoboys, especialmente mais novos,veem-se como os espritos livres ou cowboys urba-nos, desafiando as convenes da sociedade e inveja-dos pelos assalariados padro metidos em carros e es-

    critrios. [] Todos odeiam os motoboys excetoquando necessitam um eles mesmos, disse Cato Ortiz,

    diretor de Motoboys: Vida louca, um documentriorecentemente premiado. (ROHTER, 2004)

    Em suma, a mobilidade um cone da ps-modernidade e umavantagem individualmente batalhada pelos indivduos competidores emespaos urbanos, uma rede viva de agentes mveis afinal necessria,ainda que paradoxalmente ao mesmo tempo descartvel e mrbida, emer-

    gem matizes de uma luta de classes entre aqueles que podem se mo-ver, os motoboys, e aqueles que so mais pegajosos, lentos ou regulados,

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    os motoristas de carros e outros veculos e, finalmente, at os pedestres(h roubos frequentes de pedestres por indivduos atuando em duplassobre motocicletas). Radicaliza-se a oposio entre a estrutura de um

    mundo sticky (pegajoso) e as redes flexveis, os espaos modulares, osfluxos imateriais, as ondas virais, meme-rizveis e contagiosas. (Cf.

    JENKINS, 2009)

    A importncia da mobilidade como um recurso estratgico vitalnas sociedades constitudas por projetos foi discutida exemplarmentepor Boltanski e por Chiapello (1999):

    Em um mundo reticular, o projeto a ocasio e a ra-zo para a conexo [] Os projetos fazem a produ-o e a acumulao possvel em um mundo que, fos-sem puramente conectivo, conteria simplesmente osfluxos, nada poderia ser estabilizado, acumulado ou

    cristalizado.

    Enquanto um trabalhador contribui sem ter acesso aos frutos daacumulao de capital no modo de produo industrial, o motoboy umagente dos fluxos e contribui ao processo de reproduo capitalista emrede nas megacidades, est sempre no lado do crrego infinito de asso-ciaes efmeras, enquanto os clientes, os empreendedores e as autori-dades que regulam o trnsito do motofrete dedicam-se a sugar seusbenefcios e a gozar os frutos acumulados fora do fluxo (a pizza na mesa,

    o pagamento no banco, a droga em casa).

    MOTOANJOS: nascimento de um cone

    O Canal Motoboyfoi lanado em maio de 2007 como um projetode arte pblica por Antoni Abad, um artista espanhol que utiliza atecnologia digital na arte do vdeo e da instalao e trabalha em diversos

    pases com grupos discriminados tais como imigrantes, indivduos comnecessidades especiais, prostitutas, ciganos, taxistas e motoboys. De acor-

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    do com Osava (2008), Abad persuadiu inicialmente 12 motoboys paragravar sua vida diria usando as cmeras dos seus celulares.

    Os acidentes, os crimes, a poluio da gua, os congestionamen-

    tos, arte da rua (como o grafitti) e outros eventos compem um diriovisual cujas fotos, vdeos ou textos curtos so imediatamente lanadosno site do Canal Motoboy. O primeiro lder do grupo, Eliezer Muniz, ummotoboygraduado em Filosofia na Universidade de So Paulo, criou umgrupo de estudo e passou a promover eventos em favor da identidade eda cultura dos motoboys.

    O sonho de Muniz era o de viabilizar 10 mil motoboys relatandoatravs de SMS, fotos e vdeos de todo o pas, criando uma agncia denotcias que ofereceria um diferencial, um ponto de vista mais democr-tico da vida urbana.A revoluo cultural dos motoboys(The Motoboys Cultu-ral Revolution) foi a manchete da edio do Le Monde Diplomatique demaio de 2008 sobre um evento cultural promovido pelo CanalMotoboy.

    No encerramento do projeto de Abad, fui convidado a participarde um debate sobre os efeitos da incluso digital dos motoboys por meiode celulares. Sem emitir juzo sobre o projeto artstico em si, o fato queminha prpria agenda de pesquisa sobre tecnologia e cidade ganhouuma nova inquietao diante do desafio no apenas de usar a culturamotoboycomo um ingrediente numa performance (no lugar da tinta nopincel, a imagem captada por um motoboyfica registrada no site, no livro

    ou no manifesto artstico), como um sujeito/objeto passivo, mas de con-vidar os motoboysa de fato se posicionarem como sujeitos, colocando-osna condio de criadores de cones e empreendedores de projetosemancipatrios.

    Da arte cincia social, surgiu assim uma nova agenda de pesqui-sa, desenvolvimento e inovao para a Cidade do Conhecimento, pos-svel na medida em que se possa inquirir sobre o que resultaria dos

    fluxos de motoboys se eles prprios se apropriassem (por exemplo, pelouso dos celulares) dos potenciais de valor gerados pelas assimetrias icnicas

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    urbanas em que navegam e a partir das quais so explorados cotidiana-mente.

    Tal agenda seria experimentalmente executada por meio de uma

    rede de projetos de motoboys(e motogirls) interessados em constituir umanova identidade, fazendo da mesma cidade que os ameaa um espao deampliao de sua cidadania, um espao de fluxos, mas tambm de medi-aes culturais dialgicas aptas para a produo colaborativa de conhe-cimento, renda e transformao da prpria cidade que os engole.

    Essa mobilizao de motoboyspa