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RADIONOVELAS EDUCATIVAS Tecnologia social e educação popular ANA CLÁUDIA GUEDES OSMAR PANCERA BELÉM ABRIL 2008

Livro das radionovelas

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livro sobre as radionovelas

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  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Tecnologia social e educao popular

    ANA CLUDIA GUEDESOSMAR PANCERA

    BELMABRIL 2008

  • Projeto Radionovelas educativas - em defesa da criana e do adolescenteRealizao: Centro Artstico Cultural Belm Amaznia / Rdio MargaridaCoordenao do projeto: Eugnia MeloCoordenao executiva: Mileny MatosRedao e organizao: Ana Cludia Guedes e Osmar PanceraConsultoria: Carmen Chaves

    Lucileny dos SantosProjeto grfico e diagramao: Jos ArnaudReviso: Helder BentesFotos: Anbal Bente, Eugnia Melo, Marivaldo Pascoal, Vivaldo Pantoja

    Patrocnio:

    Radionovelas educativas: tecnologia social e educao popular /Ana Cludia Guedes (Org.), Osmar Pancera (Org.) . Belm : EDUFPA, 2008.

    72 p. il. ISBN 978 - 85 - 247 - 0432 - 1

    1. Outros servios sociais. 2. Violncia domstica. 3. Violncia sexual. 4. Trabalho infantil. I. Guedes, Ana Cludia

    CDD: 20 - 363

    Dados no Manual do Editor - ISBN

    Catalogao: Ellison dos Santos.

  • ReitorAlex Bolonha Fiza de MelloVice-ReitoraRegina Ftima Feio BarrosoPr-Reitora de AdministraoSimone BaaPr-Reitor de Ensino de Graduao e Administrao AcadmicaLicurgo Peixoto de BritoPr-Reitora de ExtensoNey Cristina Monteiro de OliveiraPr-Reitor de Pesquisa e Ps-GraduaoRoberto Dall'AgnolPr-Reitor de Planejamento e DesenvolvimentoSinfrnio Brito MoraesPr-Reitora de Desenvolvimento e Gesto de PessoalSibele Maria Bitar de Lima CaetanoPrefeito do CampusLuiz Otvio Mota PereiraChefe do GabineteSlvia Arruda Cmara Brasil

    CONSELHO EDITORIALPresidenteRegina Ftima Feio BarrosoMembrosRaimundo Netuno Nobres VillasJoo de Jesus Paes LoureiroMarlene Medeiros FreitasAndra Kely Campos Ribeiro SantosMaria das Graas da Silva PenaLas Zumero

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR

    EDUFPADiretora: Las ZumeroDiviso de Editorao: Jos dos Anjos OliveiraDiviso de Distribuio e Intercmbio: Wilson Nascimento

  • O projeto Radionovelas educativas, da Rdio Margarida, apaixonante. Mexe com as nossas vivncias e se refere ao mundo que queremos para cada criana e cada adolescente. Ele nos interpela a pensar na sociedade que estamos construindo e em nossa responsabilidade com a garantia e a proteo dos direitos da infncia e da adolescncia.

    Este processo essencialmente comunicativo. Isso porque pressupe o compartilhamento de experincias, informaes e conhecimentos. E mais: exige a produo de sentidos em conjunto. Ao trabalhar com as linguagens do rdio e do teatro, o projeto buscou no s capacitar os agentes do Sistema de garantia dos direitos, mas construir com eles cada momento. Procurou ainda ressaltar o papel desses atores como protagonistas na defesa dos direitos de meninos e meninas.

    Qualquer processo de mobilizao social deve ter dois elementos fundamentais: paixo e razo. Se houver amor pela causa, as pessoas incorporam ao dia-a-dia os objetivos que precisam ser alcanados. Da mesma forma, para que haja transformao social necessrio que as aes sejam bem pensadas e organizadas. O projeto Radionovelas atuou nas duas direes. E o relato dessa experincia, com os desafios e as solues encontradas, est materializado neste livro, que se mostra muito mais do que um registro, mas, sim, um caminho para ao.

    Danila CalCoordenadora Agncia Unama de Comunicao pelos

    Direitos da Criana e do Adolescente

  • Introduo1) Princpios e meios

    1.1. Sujeitos de direitos1.2. Assegurando os direitos da criana e

    do adolescente1.3. Enfrentando a violncia1.4. Paradigmas e prtica social1.5. Educao popular

    2) Radionovelas educativas em defesa de crianas e adolescentes2.1. Caminhos da oralidade2.2. Vivncias e aprendizagens

    3) Ao-reflexo transformadora3.1 Ensinamentos aprendidos3.2 Proposies

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    202123

    585966

  • Caros leitores e ouvintes, o Centro Artstico Cultural Belm Amaznia, popularmente conhecido como Rdio Margarida, e a PETROBRAS tm a satisfao de apresentar esta publicao, que representa a sntese de uma experincia inovadora, vivenciada no projeto Radionovelas educativas em defesa do direito da criana e do adolescente, em Belm do Par. Este projeto teve como objetivo a difuso de uma cultura de enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente, oportunizando vivncias de formao, produo e multiplicao da tecnologia social certificada de radionovelas educativas, para os agentes sociais do Sistema de garantia de direitos - SGD na regio metropolitana de Belm do Par.

    A produo deste livro teve como finalidade desenvolver um processo sistemtico de registro da experincia que expressa o ciclo de vida do projeto, ou seja, sua criao, formulao, implantao, monitoramento e avaliao. Para tanto, realizamos alguns procedimentos a fim de elaborar e registrar o movimento desta proposta, a comear pelo planejamento, acompanhado de monitoramento e avaliao do projeto, sendo que este movimento teve como princpio ser construdo com a participao dos sujeitos envolvidos: coordenao da organizao executora, coordenao do projeto, profissionais que facilitaram os momentos formativos, agentes sociais envolvidos e colaboradores.

    Dentre os procedimentos tambm foram realizadas instalaes de espaos coletivos de escuta e troca de conhecimentos e saberes, por meio de grupo focal, com agentes sociais e com alguns profissionais envolvidos na execuo das aes, bem como a avaliao das vivncias oportunizadas pelo projeto, por meio de formulrios avaliativos e depoimentos gravados em udio e vdeo e tambm a consulta aos relatrios do projeto enviados para a agncia patrocinadora.

    A partir desses procedimentos, construmos o registro da presente experincia, estruturado por assuntos e enfoques abordados em forma de captulos. Assim sendo, temos o primeiro captulo, com os princpios norteadores da concepo em defesa dos direitos da criana e do adolescente e o mtodo de educao popular e da proposta desenvolvida pela ONG Rdio Margarida, organizao proponente do projeto. O segundo captulo trabalha com todo o processo de implementao da proposta das radionovelas educativas, abordando a histria da oralidade, da importncia do rdio no Brasil e na Amaznia, at a realizao das estratgias de execuo do projeto.

  • No terceiro captulo trazemos os ensinamentos aprendidos e perspectivas para o enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente. Aqui prioritariamente demonstra-se o que se aprendeu, bem como apresenta-se uma plataforma de propostas que venham a qualificar o enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente, por meio de proposies para o funcionamento do Sistema de garantia dos direitos - SGD.

    Cada captulo vem organizado com conceitos, citaes e depoimentos dos agentes sociais envolvidos, facilitadores, trechos de radionovelas, entre outras informaes, pois a inteno dar seguimento pesquisa-ao na ao, ou seja, produo de conhecimento e interveno social realizada pela ONG Rdio Margarida, bem como o registro histrico, documentao e demonstrao de uma experincia viva e coletiva. Assim, esperamos que cada pgina venha a estimular em voc, leitor ou leitora, uma confirmao e esperana de que sua prtica social pode transformar a sociedade, criar uma nova cultura de enfrentamento da violncia e perspectivas de vida melhor para nossas crianas e adolescentes de Belm do Par, da Amaznia, do Brasil e na construo de um novo mundo de direitos humanos.

    Ateno, cuidado! E estamos em obras ...

  • A criana precisa brincar, olalE tambm tem direito a estudar, olal

    Desse jeito, olal perfeito, olal

    Nunca nunca trabalhar

    Tem direito a ter uma famlia, olalNingum pode explorar e humilhar, olal

    A criana, olalE a sua vida, olal

    Todos devem respeitar

    O trabalho infantil no direito noCrianas e adolescentes longe da explorao

    Cultura, esporte e lazerIsso sim que educao

    A sociedade precisa aprender essa lio

    Letra de msica de: Jos Pereira, Isabel Oliveira, Micheline Ramos, Allan Oliveira, Nazar Bessa, Maria Silva e Lucilia Moreira

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    Ah! A criana uma Pessoa, um Ser em desenvolvimento que possui desejos, vontades, sonhos e fantasias, construindo e desconstruindo a vida numa constante brincadeira. Fala o que sente e o que pensa, trazendo como princpio a verdade. Ora! Se pessoa, tem personalidade, carter, sexualidade, subjetividade e singularidade.

    Toda criana um ser humano, seja africana, asitica, europia ou latino-americana. pessoa que age, chora e ri, fica triste e feliz. Ser criana uma pessoa que hoje criana, mas amanh ser adulto. No inferior, nem objeto ou coisa, mas sujeito de direitos que precisa de todas as oportunidades e facilidades para o seu desenvolvimento pessoal, social. Deve ser respeitada e cuidada pela famlia, comunidade, estado e sociedade.

    1.1. Sujeitos de direitos

    Adolescente tambm pessoa em perodo peculiar de desenvolvimento, momento de travessia do corpo, dos pensamentos e emoes, dos sentimentos. A travessia do meio de um caminho, muitas vezes sem a orientao e a direo para caminhar. Momento importante de desafios e descobertas rumo ao mundo de homens e mulheres. Momento da vida em que mais acontece a busca de si mesmo, na qual comum fantasiar, buscar respostas e identidade prpria, crise religiosa, manifestaes de transformao sexual, atitude anti-social, contradies na conduta em todas as direes, separao gradativa da influncia dos pais e inconstncia no estado de humor.

    ... temos de pensar no significado da adolescncia como fase de transio, ou seja, fase de travessia. E so muitas as travessias da adolescncia. Travessia entre hegemonia da infncia e a autonomia da idade adulta, entre o mundo da educao e o mundo do trabalho, entre a condio de filhos e a possibilidade de fazer filhos.(COSTA, 2000, p. 12)

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    Em sntese, crianas e adolescentes so sujeitos de direitos e em processo de desenvolvimento fsico, mental, psicolgico, moral, espiritual; com tempos e limites flexveis, dependentes de cada cultura e do amadurecimento biopsicossocial de cada um. Assim sendo, seres em desenvolvimento que devem ser compreendidos em suas fases de vida, mas como sujeitos de direitos que tm todos os direitos fundamentais inerentes pessoa, ao ser humano que existe em cada um de ns.

    Considera-se criana, para efeito desta lei, a pessoa at 12 (doze) anos incompletos de idade.(BRASIL, 2004, p. 41, Art.2)

  • 1.2 Assegurando os direitos da criana e do adolescente

    A compreenso que temos que todo direito da criana e do adolescente dever das geraes adultas ( COSTA, 2006, p. 20), que esto constitudas por trs nveis: famlia, sociedade e Estado, em ordem e hierarquia. Este dever vem alicerado basicamente em dois fundamentos:

    Criana e adolescente so prioridade absoluta, ou seja, seus interesses e necessidades devem estar em um patamar superior para a famlia, a sociedade e o Estado, seguindo o princpio da conveno do interesse superior da criana;

    Deve ser garantido criana e ao adolescente a proteo integral, sem prejuzos ao seu desenvolvimento pessoal e social. Quando focamos a proteo integral, nos referimos doutrina de garantia dos direitos exigveis fundamentados em lei que esto dirigidos a todas as crianas e adolescentes indistintivamente, sem nenhuma exceo, assegurando e respeitando sua diversidade.

    A criana e o adolescente tm assegurado trs grandes eixos de direitos:

    Sobrevivncia vida, sade e alimentao;

    Desenvolvimento pessoal e social educao, cultura, lazer e profissionalizao;

    Integridade fsica, psicolgica e moral liberdade, respeito, dignidade, convivncia familiar e comunitria.

    A famlia, a sociedade e o Estado devem colocar a salvos as crianas e os adolescentes de toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso.

    Esses fundamentos so a base que aliceram os instrumentos legais de garantia dos direitos da criana e do adolescente, os quais esto dispostos na Declarao universal do direito da criana, Constituio federal brasileira e Estatuto da criana e do adolescente.

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    ...a doutrina da proteo integral no se dirige a um

    determinado segmento da populao infanto-juvenil,

    mas a todas as crianas e adolescentes sem exceo

    alguma. (COSTA, 2002, p.20)

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    1.3 Enfrentando a violncia

    Ofender o que deve ser inviolvel: a pessoa, a natureza, a ordem moral, jurdica ou poltica. uma relao autoritria de poder, uma coao, imposio. A relao violenta tem como finalidade a dominao, explorao e opresso; converso de diferentes em desiguais; ao que trata um ser humano como uma coisa e no como um sujeito.

    Essa forma de relao com o outro parte do princpio da fora, da coero, da persuaso como mecanismo de resolver conflitos de poder, de governo e domnio de algum, alguma coisa ou situao e circunstncia. As conseqncias da violncia levam ao rompimento de qualquer processo de troca, dilogo, cooperao e solidariedade entre pessoas, alm de negar direitos e desestruturar profundamente identidades.

    Nenhuma criana ou adolescente ser sujeito de qualquer forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia , crueldade e opresso, punido na forma da lei qualquer atentado, por ao ou opresso aos seus direitos fundamentais.(BRASIL, 2004, p. 42, Art.5)

    As normativas internacionais e nacionais, como a Declarao universal dos direitos humanos, Constituio federal brasileira e Estatuto da criana e do adolescente, so os instrumentos legais que apresentam como fundamento a doutrina dos direitos humanos e dos direitos s pessoas em situao peculiar de desenvolvimento.

    Essas leis vm expressando claramente os direitos e deveres do segmento infanto-juvenil.

    O Estatuto da criana e do adolescente vem representando, para a infncia e adolescncia, um significativo avano, pois rompe definitivamente com a doutrina da situao irregular (Cdigo de menores) que se pautava no discurso protecionista do direito titular do menor e de prticas assistencialistas e correcionais.

    Diante disso, a violao desses direitos fundamentais que protegem a infncia e a adolescncia representa, para o Cdigo penal brasileiro, uma forma de violncia delituosa (FALEIROS; FALEIROS, 2007, p.28). A violncia no uma ao isolada, descontrolada, de comportamentos psicologicamente doentios. Mas so processos que culturalmente vm sendo formados, notadamente onde temos a ausncia do Estado e dos padres civilizatrios de sociedade, padres estes baseados numa cultura de paz, cidadania e de direitos humanos.

    Violncia nada mais do que a flagrante manifestao de poder.(Hannah Arendt)

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  • 1.4 Paradigmas e prtica social

    As concepes e vivncias que expressamos, durante nossa vida, no se constituem em aglomerado de pensamentos, palavras e aes desordenadas que, de maneira desinteressada, passam a fundamentar nossas decises e atitudes diante das questes que se apresentam no cotidiano de nossa existncia.

    Essas concepes e prticas sociais esto alinhadas a um determinado paradigma, ou seja, a um conjunto de idias e aes.

    Um paradigma revela a forma de ver, entender e agir em uma determinada prtica social, ou seja, um conjunto de aes e atos humanos que efetivamos sobre questes sociais, nos contextos sociais em que interagimos e atuamos como educadores, participantes dos movimentos sociais, como cidados, posicionando-se frente s conjunturas e acontecimentos.

    Na prtica profissional dos educadores sociais importante a clebre socrtica: Conhece-te a ti mesmo. Assim sendo, saber quem somos, onde estamos e aonde queremos chegar, bem como saber conduzirmo-nos e como iremos alcanar o que buscamos de fundamental importncia e coerncia. Mesmo que tenhamos conhecimento acerca de nossas concepes e opinies, necessitamos tambm construir processos, procedimentos e tcnicas que contribuam para trilhar o caminho desejado e chegar aos objetivos e metas projetadas.

    Para superarmos limites do conhecimento, seja na prtica profissional, individual ou coletiva, precisamos de fundamentos filosficos, tericos, bem como de organizao para o pensamento e para a ao. Neste sentido, falamos de mtodo. Em se tratando de mtodo, falamos de procedimentos, encaminhamentos e balisamentos, para a obteno de resultados, que podem at mesmo no serem previstos, mas que permitiro percorrer as metas e objetivos traados, bem como qual direo seguir e como fazer o caminho. O mtodo a maneira singular de resolver questes, o que possibilita a relao entre a teoria e a prtica. Mesmo que tenhamos grandes e boas idias, no poderemos potencializ-las para a resoluo de situaes e circunstncias, se no dispusermos de uma maneira e modo de fazer com que isto acontea.

    Imaginemos que tenhamos um grande bloco de pedra a nossa frente, com um desafio de transformarmos esta matria bruta, sermos o escultor. Se no dispusermos de uma tcnica, de um modo de fazer e saber usar as ferramentas e instrumentos

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    Paradigma:um campo de pensamento

    e ao. (COSTA, 2006, p. 12).

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    adequados para cortar, lapidar e dar forma matria bruta, continuaremos a ver imovvel e intransponvel o bloco de pedra. Ao contrrio, se tivermos o domnio de como fazer e o instrumental adequado, daremos forma matria bruta e passaremos a ver a esttua, o monumento, a arte, a revelao e o descobrimento do que est contido na natureza, sociedade e pensamento humano. a busca do conhecimento que no est explcito nas coisas, fatos e acontecimentos, mas que necessita ser descoberto, revelado, pesquisado e processado, em movimentos de aproximaes sucessivas, construes do saber e de organizao para a ao.

    Com as informaes e encaminhamentos que antes no eram de meu conhecimento, dificultando no trabalho, agora j tenho respaldo para encaminhar ou fazer procedimentos.

    Com certeza, a partir desta oficina muita coisa vai mudar em minha prtica pedaggica.

    (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)

    O projeto "Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criana e do adolescente" vem acontecendo numa perspectiva de construo coletiva, junto com agentes sociais do Sistema de garantia de direitos, de desenvolver tecnologias sociais que facilitem e fortaleam o enfrentamento violncia contra a infncia e a adolescncia. Este processo vem sendo efetivado por meio de um mtodo de educao popular que adota as linguagens artsticas e meios de comunicao social. Recursos da arte e cincia que compem a base terica e metodolgica de atuao do Centro Artstico Cultural Belm Amaznia - ONG Rdio Margarida, organizao que implementa o projeto "Radionovelas educativas".

    O mtodo de educao popular da ONG Rdio Margarida tem suas fontes de inspirao em milenares artes, como o teatro em geral, o teatro de bonecos, o circo na figura emblemtica do palhao, os jogos e brincadeiras ldicas, bem como a fuso destas antigas linguagens com o novo, com o contemporneo. Assim temos tambm os recursos dos meios modernos de comunicao, unidos a antigas artes e tradies: rdio-teatro ambulante (um outro saltimbanco), o vdeo popular, os programas de rdio, as radionovelas, etc. Pedagogias que a organizao vem desenvolvendo em seus 16 anos de vida.

    A simbiose artstica de comunicar e educar, um movimento de entrelaamento constante, em que a arte e a comunicao so os elementos que facilitam as mediaes sucessivas de aproximao da realidade e, na cultura do senso comum, propiciando a sensibilizao e a ultrapassagem do mundo das necessidades s esferas das liberdades, da cultura que ainda temos e da que queremos que seja transformada, como a violncia contra a criana e o adolescente.

    Nossa proposta manifesta-se objetivamente nesse processo criativo de educar

    1.5. Educao popular

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  • Nossa proposta manifesta-se objetivamente nesse processo criativo de educar educando-se, de comunicar sendo interpretado e redesenhado, de relacionar sujeitos criadores e constitudos por uma cultura estabelecida no dilogo permanente e no ato de desvelar concepes, opinies;

  • educando-se, de comunicar sendo interpretado e redesenhado, de relacionar sujeitos criadores e constitudos por uma cultura estabelecida no dilogo permanente e no ato de desvelar concepes, opinies; desmistificar preconceitos, mitos; compartilhar idias, projetos, desafios, que tambm tm a pretenso de estabelecer a relao de aprendizagem, de troca de possibilidades, oportunidades, esperanas, tristezas, alegrias, de pequenas e grandes vitrias, num movimento que oportuniza a construo e/ou a potencializao de novas prticas, posturas, projetos de vida e transformao das relaes existentes.

    Quando falamos no mtodo de educao popular que adota as linguagens artsticas, estamos falando da influncia, extenso e domnio dos caminhos da Arte: apertadamente, estreitamente, intensamente, ternamente (PANCERA, 2002, p. 40), tudo o que e representa o ser humano, intrinsecamente relacionado com a humanidade, sendo uma plena manifestao de seu ser, da imaginao e (re)criao.

    A arte tem o potencial de leitura e releitura do real, tornando indivduos annimos em sujeitos histricos. Desta forma, tambm agregamos valores arte e ao ato artstico, que, para ns, vm na perspectiva de compromisso com a construo de um mundo melhor para homens e mulheres, crianas, adolescentes, jovens, adultos e idosos, rompendo com preconceitos e violaes da dignidade humana.

    A arte possibilita elevar os homens e a sociedade a marcos superiores de cultura e civilidade. A arte expressa por meio de suas representaes presentes no teatro, escultura, dana, msica, poesia, cinema, fotografia, rdio, televiso, internet, etc.

    Ao longo da nossa jornada pedaggica de experimentao artstica e cientfica, elegemos trs categorias como elementos imprescindveis: comunicao, sentimento e ao transformadora. Estes elementos perpassam e transitam no metdo de educao popular, que adota as linguagens artsticas e os meios de comunicao social. Categorias com as quais podemos compreender melhor nosso trabalho que rene arte, educao e cultura.

    A comunicao, que por ns compreendida como mediadora de informao entre sujeitos, pois oportuniza relaes sucessivas de troca e dilogo entre as pessoas, no se configura em um transmissor e outro receptor. Mas em cidados que dialogam suas experincias e percepes acerca das realidades vivenciadas. o que traz o verbo "comunicar" em ao, tornar comum, fazer saber (CUNHA, 1986, p. 202), seja fato,1

    1 Comunicar, verbo do latim communicare.

    RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

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  • acontecimento, histria de vida. A comunicao alicerada na palavra, nos smbolos e signos, que contm, em seu DNA, a informao a ser transmitida, recebida e decodificada, na qual se trabalham os contedos ideolgicos, os conceitos, preconceitos e juzos de valores culturais (PANCERA, 2002, p. 73).

    A comunicao compartilhada por seres pensantes e ativos que tm uma histria de vida, vivncias, significaes e significados a serem falados, revelados, para que se tornem comuns e possam ser trabalhados, desmistificados, aprofundados, levados a nveis superiores de conscincia e compreenso. Tudo isto s possvel se a ao de comunicar acontecer na perspectiva libertadora e de transformao social e se tiver como princpio que a comunicao entre pessoas faz-se de um EU a outro EU, dimenses do HUMANO que somente podem acontecer entre seres que tm algo em mente e sentimentos a serem trazidos luz, compartilhados e comunicados.

    Na vivncia do projeto de "Radionovelas educativas", tivemos como instrumentos o vdeo, as radionovelas, spots e as msicas temticas que marcaram, para os agentes sociais, uma nova experincia como agentes potencializadores de processos pedaggicos.

    Em nosso dilogo de arte, educao, cultura e comunicao, manifesta-se a outra categoria do mtodo, que o sentimento, palavra derivada do verbo "sentir": experimentar, pressentir, conjeturar (CUNHA, 1986, p.715). Algo alm das emoes em grau e refinamento, prprio daquele que sente, experimenta, conjectura; prprio do sujeito, do subjetivo e da sensibilidade. Sentimento que entendido como rgo das artes, da filosofia e da religio. Todos os seres humanos tm sentimentos, assim como vida e movimento. Sentimento cujo simbolismo passa pelo corao, descrito nas poesias, na msica, na palavra no dita, nas manifestaes de raiva, crena, f, amor, esperana. O sentimento que no pode ser escondido debaixo do tapete, o qual buscamos compreender e relacionar ao nosso fazer.

    No aspecto sentimento desenvolvem-se as maneiras de levar e trazer a informao, para dentro de cada um de ns, a sensibilizao, a emoo que os meios facilitadores transmitem; as mediaes para mexer nas posies, o ldico, que no um fim em s mesmo, mas deve conduzir a uma ao (PANCERA, 2002, p. 73).

    Quando articulamos esse conjunto de idias e parmetros com utilizao de

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    Sinto esperana e coragem no enfrentamento dos

    problemas existentes, pois tive a oportunidade de

    construir associaes importantes entre pessoas.

    Um sentimento de riqueza

    em relao ao assunto, de mudana em relao a certos conceitos e satisfao por ser

    mais uma pessoa que vai poder mudar o mundo!

    (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)

    2

    2 Sentir, verbo do latim sentire.

  • recursos e mediaes propiciadas pela comunicao, pelo ldico e maneiras de levar e trazer informao, para sensibilizar e fazer vir tona sentimentos, porque continuamos com os nossos objetivos de gerar e colaborar para uma ao transformadora, ao que uma palavra com poucas derivaes em vrios idiomas, com o nome bsico de ao, ato (CUNHA, 1986, p.7), que, se no puder ser realizada de uma s vez, partilhada em atos, com unio, organizao de pessoas, grupos e movimentos sociais. Em atos, significa tambm que nesta caminhada possvel sofrer revs e derrotas, mas continuar com persistncia e organizao um teste e desafio a ns mesmos e aos nossos pares.

    Muitas vezes, por circunstncias da vida, nos sentimos desmotivados e desacreditados de que algo possa mudar, mas podemos compreender que possvel fazer e construir tambm a nossa histria e a do nosso coletivo. Esta histria construda por pessoas, classes, movimentos sociais e por tantas outras formas de manifestaes, nas quais, s vezes, no conseguimos ver um resultado imediato.

    Como categoria, a ao corresponde a uma tomada de deciso, manifesta a mediao da vontade do pensado, refletido, com base nas experincias anteriores, permeado pelos sentimentos, a fim de colocar a tica e a moral em movimento, ou seja, a posio poltica na prtica, que uma ao transformadora (PANCERA, 2002, p. 73).

    O projeto "Radionovelas educativas", com o objetivo de difundir uma cultura de enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente, oportunizou vivncia de formao, produo e multiplicao de tecnologia social de radionovelas educativas para agentes sociais do Sistema de garantia de direitos. Nesta relao de sujeitos pensantes, desejantes de uma nova cultura, podemos aprender ao ensinar, estabelecer a comunicao, o dilogo; viver sublimes momentos, emoes e sentimentos de recompensa pelo vivido e praticado. Enfim, temos a convico de que transformamos as nossas vidas para melhor e conhecemos mais a ns mesmos.

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    3 Ao, sulfixo nominal. Castelhano - acin; francs - ation; ingls - ation; italiano - azine; derivado do latim atio.

    RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.(FREIRE, 2002, p. 25)

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  • Fora da vozA voz da gente tudo que se tem

    Na verdade, o que se passa falando,escrevendo, cantando.

    A voz o que h de mais preciosopra quem escuta, querendo saber da vida;

    pra quem duvidae, ouvindo, aprende pelo tom da voz.

    A voz que pensa no fala de qualquer jeito.A voz tem que sair do peito,

    mais do que estar falando,saber por que est falando.

    A voz no pode obedecer a qualquer desmando.A voz de quem quer que seja tem que ser orientada

    por um comando sem vaidade,tem que passar verdade,

    tem que ser frtil,tem que ter humanidade.

    A voz tem que soar poticaTem que ter tica.

    Mrio Fil

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    2.1.1. Da oralidade era de ouro do rdio

    2.1. Caminhos da oralidade

    "O impacto do rdio sobre a sociedade brasileira nesta poca, foi muito mais profundo do que aquele que a televiso viria a produzir 30 anos depois."( MIRANDA apud HISTRIA, [2000?])

    A comunicao oral um dos processos fundamentais que historicamente vm se desenvolvendo de formas diferenciadas, para o estabelecimento de troca de habilidades e conhecimentos entre as pessoas. Por meio da oralidade, homens e mulheres vm construindo culturas, costumes, concepes de mundo num processo contnuo de intercmbio de pais para filhos, de geraes para geraes e de povos para outros povos. Neste processo de relao social que tem por base a linguagem, contam-se histrias e criam-se novas histrias das realidades vividas, nas quais a imaginao e criatividade sempre presentes nos acontecidos e contados, compem cada prosa.

    Mesmo com todo avano tecnolgico na rea da comunicao: televiso, satlite e internet, a regio amaznica e sua diversidade de territrios, povos e saberes, ainda dispe, como potencial de troca de conhecimento e cultura, a oralidade, que uma das bases de interlocuo das populaes indgenas, caboclos, ribeirinhos, entre outros. Quem nunca escutou ou foi um contador de histrias fantsticas que reconstruam fatos e personagens capazes de reinventar a vida? Tambm encontramos nos costumes da regio as chamadas bocas de ferros e aparelhagens que propagam o som nas ruas, feiras, esquinas, festas populares nas quais so feitas projees sonoras de alta proporo, com bastante interlocuo nos microfones por parte dos djs. Utilizando-se do vocabulrio popular, o paraense um povo barulhento, sendo que esta caracterstica bastante influenciada pela cultura da oralidade, de troca entre a populao.

    A era do rdio inicia oficialmente no Brasil em sete de setembro de 1922, com um transmissor de 500 watts, da Westinghouse, no alto do Corcovado - RJ, para 80 receptores. O primeiro programa foi o discurso do presidente Epitcio Pessoa. Os programas de rdio eram exclusivos para uma pequena elite de pessoas que possuam esses caros aparelhos de recepo. A programao tinha como pauta: pera, recitais de poesia, concertos, palestras culturais, entre outros.

    A partir da dcada de 30 comea a se processar uma transformao, pois o erudito passa a dar lugar ao popular, no qual so inseridas as programaes comerciais.

    Em meados dos anos 40, no perodo chamado a era de ouro do rdio, essas transformaes acentuam-se e o nvel de popularidade dos programas triplica em todo o pas. Tambm o momento de surgimento das radionovelas (1942), em uma

    21

  • grande inaugurao com "Em busca da felicidade". Neste perodo a dramaturgia lanou vrios artistas que passaram a ter projeo nacional, por meio das radionovelas, audincias significativas nas principais praas do rdio, embalando sonhos e imaginao de milhes de brasileiros.

    Rdio saltimbanco, visa chamar a ateno, animar,

    brincar, roubar a cena, colocar o espectador como

    ator, agente.(PANCERA, 2002, p. 74)

    2.1.2. Do saltimbanco s radionovelas educativasA ONG Rdio Margarida uma organizao que desde sua fundao vem

    potencializando para si a diversidade da cultura local e suas representaes, principalmente o falado, no que diz respeito ao desenvolvimento do mtodo de educao, que adota as linguagens artsticas e os meios de comunicao social, junto aos diversos pblicos com os quais interage, em esfera regional e nacional.

    Quando a ONG iniciou sua atuao, trouxe como elemento de destaque a rdio-teatro ambulante, uma verso contempornea dos saltimbancos, acompanhada de um nibus antigo da segunda guerra mundial, dotado de equipamentos de udio para projeo de som. Atravs desta rdio, levava arte, comunicao, educao e cultura, com o substancial apoio de teatro, teatro de bonecos, palhaos, locuo e interao ao vivo e a cores com o pblico, cinema ao ar livre, espao cnico mambembe, entre outras atraes, que penetravam em realidades diferenciadas dos bairros perifricos da regio metropolitana de Belm RMB, rompendo com a rotina e resignificando questes do cotidiano, como: violncia, sade, meio ambiente, direitos humanos, dentre outros. Nos contextos em que atuamos, a populao local personagem principal contando suas histrias, denunciando circunstncias, acontecimentos de vida, dando voz e vez a quem no ouvido.

    Projeto Sade alegria - 1996

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    O Sistema de garantia dos direitos da criana e do adolescente constitui-se na articulao e integrao das instncias pblicas governamentais e da sociedade civil, na aplicao de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos de promoo, defesa e controle para a efetivao dos direitos humanos da criana e do adolescente, nos nveis federal, estadual, distrital e municipal.

    (Secretaria Especial dos Direitos Humanos)

    Em continuidade da pesquisa ao na ao, ou seja, estudando o que fazemos, fazendo o que estudamos, com um p nas artes e cultura, e outro na cientificao e replicao do mtodo de educao popular que adota as linguagens artsticas e meios de comunicao social, redesenhamos as radionovelas educativas, como uma das linguagens e meios que demarcam a identidade da ONG implementadora do projeto Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criana e do adolescente. Neste histrico, desde 2003 vimos aperfeioando essa tecnologia social, vencedora de edital e premiao nacional instituda pela Rede Andi e finalista nacional do concurso Prmio de tecnologia social 2005 da Fundao do Banco do Brasil.

    O histrico da ONG e o certificado de tecnologia social foram importantes para que o projeto Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criana e do adolescente fosse aprovado pela seleo do programa Petrobras Fome Zero - 2006, pois oportunizou o reconhecimento de uma das ferramentas ou tecnologias do mtodo de educao popular desenvolvido desde 1994, em parceria com a Universidade Federal do Par, como uma forma estratgica de enfrentamento contra a violncia e de defesa dos direitos da infncia e da adolescncia.

    2.2.1. Justificando espaos e sujeitos

    2.2. Vivncias e aprendizagens

    O projeto Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criana e do adolescente vem sendo uma ao que traz a finalidade da difuso de uma cultura de enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente. Esta ao fez com que se priorizassem sujeitos, contextos e processos metodolgicos, para o enfrentamento da violncia. Quando observamos os processos, no nos referimos unicamente tecnologia das radionovelas, mas a todo um desenvolvimento de procedimentos e tcnicas que contriburam para os produtos e resultados gerados pela vivncia.

    Para implementao das aes do projeto elegeram-se como sujeitos e protagonistas os agentes sociais das organizaes governamentais e no governamentais e, como espao, o Sistema de garantia de direitos SGD da regio metropolitana de Belm, isto por consider-los como estratgicos no enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente. O SGD configura-se no espao de articulao, intercmbio e troca de saberes e experincias entre as organizaes e as pessoas, na perspectiva de execuo dos instrumentos normativos para o desenvolvimento da promoo, defesa e controle dos direitos humanos da criana e do adolescente.

    23

  • A escolha dos agentes do SGD como pblico protagonista da ao ocorreu em virtude de duas questes bsicas que vm interferindo na qualidade do enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente na RMB:

    Quando falamos de sistema, estamos nos referindo aos arranjos interativos de espaos, instrumentos e sujeitos, no interior de cada eixo e na relao entre os trs eixos (promoo, controle e defesa). A realidade do funcionamento do SGD vem revelando curtos-circuitos permanentes nessas relaes, ou seja, nos processos de abordagem, atendimento e resolubilidade das situaes de violao dos direitos da criana e do adolescente. As organizaes no conseguem se articular ou desconhecem a natureza umas das outras, ou simplesmente no utilizam a ao articulada como potencial para o enfrentamento da violncia. Isso fragiliza os instrumentos normativos que, perante a populao, passam a aprofundar um maior descrdito, reforando preconceitos, mitos e inverdades acerca da defesa dos direitos da criana e do adolescente.

    Outra questo que orientou a realizao da vivncia foi a identificao a partir das experincias da ONG executora do projeto, de que as organizaes e os agentes sociais apresentavam necessidade de recursos didtico-pedaggicos que facilitassem a realizao de processos de formao de multiplicadores no enfrentamento da violncia domstica, sexual e de explorao do trabalho infantil. Tambm se destaca um outro elemento peculiar: as temticas tm uma natureza de complexidade e tabus, exigindo dos protagonistas metodologias e instrumentos criativos, dinmicos e que tenham a capacidade de interagir com outras dimenses da natureza humana, como a imaginao, sentimento e compromisso de mudana.

    Por meio dessas duas questes, os problemas e necessidades do SGD e dos sujeitos, o projeto Radionovelas educativas, para efetivao de sua proposta, estruturou as seguintes estratgias para a difuso da cultura de defesa dos direitos da criana e do adolescente:

    Estratgia 1Formao de agentes sociais e produo do CD de radionovelas educativas

    Na finalidade de difuso de uma cultura de enfrentamento da violncia cometida contra crianas e adolescentes, o projeto trouxe como estratgia a oportunidade

    24

    ...e permitiu com que eu visualizasse, essa relao da rede no sentido de tambm

    facilitar o encaminhamento das demandas, das situaes

    que no eram mais diretamente relacionados a

    nossa interveno mais imediata.

    (Agentes sociais do SGD que

    participaram do projeto)

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    ...pra mim foi ampliando na relao pessoal, esse processo criativo na relao com o outro, aprender a trabalhar com um grupo cada vez mais ... Acho que serviu muito pra minha formao profissional, esse aprendizado reforou, ampliou o aprendizado de trabalhar em grupo, de trocar, de escutar o outro, de conhecer as idias do outro, o processo criativo do outro.

    (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)

    de vivncias em espaos coletivos de formao, abordando os seguintes temas: violncia domstica, violncia sexual e trabalho infantil. As questes referentes ao Sistema de garantia de direitos foram elementos presentes em todos os contedos dialogados, bases em todas as rodadas de temticas. Tambm para a formao foi oportunizada a linguagem sobre a tecnologia social potencializada pelo projeto, ou seja, as radionovelas, spots e msicas educativas. Nestes momentos formativos, foram envolvidos 120 agentes sociais de diversas organizaes governamentais e no governamentais, com representantes dos trs eixos do SGD: promoo, defesa e controle.

    O projeto, no desenvolvimento de suas aes, teve como estratgia os processos pedaggicos participativos e os espaos coletivos de criao e produo da tecnologia social, a opo pela construo coletiva, em que cada agente exercitava seu potencial humano e artstico, redescobrindo significados, pessoas e redefinindo a si mesmo. Os espaos coletivos foram os seguintes:

    1) OS EVENTOS DE PARTICIPAO SOCIAL

    O projeto realizou basicamente quatro seminrios que foram portais de abertura ou de fechamento de processos pedaggicos. Em todos estiveram presentes tanto os agentes sociais que participaram das formaes, quanto representantes das suas respectivas organizaes e outros agentes sociais e entidades que foram envolvidos nos momentos de multiplicao do projeto. Foram realizados os seguintes seminrios:

    1.a) Seminrio de abertura e lanamento do projeto na regio metropolitana de Belm.

    Esse momento marcou a abertura oficial do projeto na regio metropolitana de Belm RMB, com a participao de 120 agentes sociais, que foram includos diretamente nas aes do projeto, e 49 organizaes governamentais e no governamentais do Sistema de garantia de direitos dos eixos de promoo, defesa e controle. O projeto tambm realizou, como pauta de seu lanamento, um ato-show no dia 18 de maio, junto com o Frum de enfrentamento contra a violncia sexual da criana e do adolescente, em que se reuniram, em uma passeata, cerca de 1.200 pessoas.

    O seminrio de lanamento teve, como pauta de dilogo, as questes referentes ao sistema de garantia de direitos da criana e adolescente, violncia domstica, violncia sexual e trabalho infantil, alm da exibio de vdeo acerca do trabalho

    25

  • infantil, espetculo de teatro de bonecos e um nobre apresentador, diplomtico da ONG, o palhao Claustrofbico, que teve a natural incumbncia de interagir, animar e ser o mestre de cerimnias do evento, em um ambiente de alegria e criatividade, que tornou a discusso de temas complexos algo acessvel e interessante para os participantes. Na histria da ONG, uma vez mais a arte foi o elemento condutor do processo, em que tivemos oportunidade de proporcionar um espao de debate, com todo o rigor necessrio, mas tambm fizemos isto num movimento dinmico e criativo.

    O evento tambm representou a abertura das rodadas temticas de discusso, das quais os 120 agentes sociais participaram de um momento e espao inicial de sensibilizao, despertando seus interesses para se engajarem nos prximos processos do projeto. Durante a realizao do seminrio, houve um momento em que as organizaes representadas assinaram solenemente um pacto de adeso ao projeto de defesa dos direitos da criana e do adolescente, garantindo a participao efetiva de seus agentes sociais nas atividades do projeto e sua colaborao para o melhor desempenho das prximas etapas. Este momento foi estratgico para a potencializao da colaborao e compromisso institucional e pessoal execuo da proposta.

    representante Veio confirmar que a arte instrumento de sensibilizao eficaz, na medida em que acesso o emocional em toda a sua extenso.Sem dvida a abordagem artstica foi um diferencial no evento.

    (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)

    Assinatura do pacto de adeso ao projeto no seminrio de lanamento

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    Em defesa da criana e do adolescente

    1.b) Seminrio de abertura das rodadas de produo das tecnologias sociais

    Para o incio das vivncias de produo, foi realizado um 2 seminrio envolvendo somente os 120 agentes sociais que estavam participando da formao. Foi um momento importante para sensibilizar os agentes acerca do potencial da arte como mecanismo favorecedor em qualquer processo pedaggico, desfazendo o mito de que a arte seja privilgio de um grupo iluminado. Ela antes inerente a homens e mulheres, desde que tenham a oportunidade e orientao para a produo artstica. Desta forma, as peas de radionovelas e spots foram pontuados como algo totalmente possvel de serem criados pelo grupo dos agentes. Para tanto, foram discutidos os seguintes assuntos:

    A histria do teatro O teatro como representao das manifestaes da vida, mistrios, verdades, vida em sociedade, processo de sujeitos e de criao.

    O potencial da arte na formao de conscincia As vrias formas de linguagem e expresso humana, transmisso de conhecimento, referncias e identidades culturais a servio da transformao social.

    As radionovelas e spots educativos A importncia da oralidade na Amaznia, a vitalidade do rdio e dos meios presenciais de educao em nossa regio, a utilidade das radionovelas, tipos de spots: como o comercial, informativo, documentrio e institucional.

    Matria ressaltando a importncia das radionovelas e spots

  • Neste processo de ensino e aprendizagem, os agentes sociais expressaram que essas vivncias foram algo novo, em seu cotidiano profissional e que isso os levou a terem um maior interesse para melhor conhecer o que eram as radionovelas e spots. Assim o momento em que foram organizadas as duas rodadas: uma de radionovelas e outra de spots, houve profissionais que optaram por se envolver nas duas vivncias. Esta foi uma demonstrao de motivao e disposio dos profissionais a aprender, tendo a experincia do projeto como uma oportunidade que deveriam aproveitar.

    1.c) Encontro de lanamento do kit educativo

    Aps produzirmos em quantidade o kit educativo, com replicao do CD e impresso grfica do guia de orientao, foi realizado o evento de lanamento que teve uma tima repercusso local e regional, com visibilidade nacional. Durante o lanamento foi feita uma massiva distribuio dos kits, apresentao de espetculos com apresentao de uma radionovela ao vivo, msicas do CD, poesia, alm de um vdeo documental da construo da experincia.

    Do evento participaram organizaes governamentais e no governamentais do Sistema de garantia de direitos da regio metropolitana de Belm e de outros municpios do Estado do Par, alm da presena integral dos agentes e suas respectivas famlias, que foram ver o produto de seu aprendizado e capacidade criativa. O lanamento do kit possibilitou uma expressiva visibilidade do projeto, alcanando naquele momento 25 inseres nos meios de comunicao, abaixo especificados:

    TVS: Cultura, Liberal (Globo), RBA ( Bandeirantes), Record, TV Unama;

    Rdios: Unama, Cultura FM, Nazar FM, Liberal AM e FM, Rdio Globo;

    Jornais: O Liberal, Dirio do Par, Comunicado;

    Sites: Pauta Social, ANDI, Ciranda, Abrinq, Risolidria, Fnpeti.

    ...e teve realmente pessoas que faziam de manh aulas

    de spots com o Fil ( o instrutor) e tarde

    radionolvelas com o Renato, isso foi muito legal, demonstrando uma

    necessidade de querer aprender, tendo o projeto como uma oportunidade.

    Desde as rodadas temticas observamos uma nsia de

    aprendizagem das pessoas.

    (Coordenadora do projeto)

    Momentos do show de lanamento do kit educativo

  • O kit educativo do projetoRadionovelas educativascontendo um CD e um guia deutilizao da tecnologia social

    29

  • Matria sobre o projetoRadionovelas educativas

    e o edital do programaPetrobras fome zero

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  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    2) RODADAS DE FORMAO TEMTICA

    As rodadas vivenciais foram uma forma metodolgica de desenvolver o processo de aprendizagem em que se dialogava acerca dos conceitos e debates que envolvem a questo da violncia contra a criana e o adolescente, mas tambm o incio dos arranjos que compem a produo das radionovelas e spots educativos. Diante disto, as rodadas tiveram dois processos diferenciados que foram:

    2.a) O desenvolvimento das rodadas temticas

    As rodadas temticas foram espaos coletivos de troca de experincias e reflexo com o envolvimento dos 120 agentes sociais nos processos de formao acerca das questes de violncia contra a criana e o adolescente, em que o objetivo foi oportunizar um ambiente de dilogo para pensar nos limites e alcance dos temas, bem como traar as possibilidades que qualificassem com os contedos discutidos a produo das tecnologias sociais. Para abordagem da questo da violncia foram instaladas trs rodadas. Cada uma teve um processo dinmico e criativo, os quais foram:

    Rodada temtica: violncia domstica

    A rodada contou com a facilitao da prof. Milene Veloso, oportunidade em que se refletiu e construiu com os grupos o conceito de violncia domstica e as formas em que ela pode se apresentar (fsica, psicolgica, de negligncia, sexual). Para viabilizao destes dilogos, foram desenvolvidos procedimentos pedaggicos em que se construram os seguintes subtemas a serem desenvolvidos:

    Subtema - Pensando conceitos e formas Para este momento, em cada rodada foram realizadas brincadeiras, relaxamento, dinmicas grupais para discriminarem e conceituarem os tipos de violncia domstica, discusses acerca dos conceitos de violncia domstica e seus tipos, por meio de dramatizao, sem usar palavras, entre outros. Para a dinmica de discusso, tiveram as seguintes questes geradoras:

    O que o grupo entende como violncia domstica?

    Quais os tipos e os conceitos que o grupo conhece sobre a violncia domstica?

    O que o grupo sente ao falar desse assunto?

    31

  • RADIONOVELA A CASA DA V MARG

    NARRADOR - Insensvel aos apelos da filha, Renato continua sem desconfiar do que iria acontecer. No elevador, segura a porta e diz:

    RENATO - Vai filha, papai vai ficar te olhando.

    NARRADOR - Ana vai andando triste e arrastando sua boneca no cho, com mochila nas costas, olhando para trs. Renato encoraja a filha a continuar:

    RENATO - Vai Ana, toca a campainha!

    (passos atrs da porta)

    MARG - Oi Ana (fria) Renato, voc no vai entrar e falar comigo?

    RENATO - No d, me, estou atrasado. Amanh nos falamos. Tchau!

    MARG - Entra Ana!

    ANA - V, quero fazer coc !

    MARG (grita) - Menina, j falei que estou ocupada, vai sozinha. No me perturbe mais!

    NARRADOR - Ana ficou apavorada com os gritos da av. Algum tempo depois...

    MARG - Zefinha, vou desligar. Preciso ver o que essa moleca quer. Ela j encheu minha pacincia, depois te ligolembranas aos meninosbeijo, tchau Ana o que foi isso?

    ANA - Vov... no agentei... (choraminga)

    MARG - O que foi, menina?... aahhhh! Sujou todo meu tapete, menina imunda. Voc vai aprender menina nojenta (pancadaria).

    Subtema - As violncias que eu sofri - Este subtema buscava sempre proporcionar um momento onde os participantes entrassem em contato com os episdios de violncia domstica de sua prpria histria de vida, num processo de resignificao da violncia. Aqui foram desenvolvidas as tcnicas de aquecimento, respirao e relaxamento; tcnica retrospectiva com o jornal, levando-os a recordar episdios das diferentes fases de suas vidas; em silncio, todos construram, com massa de modelar, um(a) boneco(a) que representasse a si prprio; houve tambm o corredor de carinho. As questes geradoras de dilogo foram as seguintes:

    Quais as situaes de violncia domstica vividas pelo grupo?

    Quais as idades em que as situaes aconteceram?

    Quem eram os agressores?

    Qual o sentimento que cada participante guarda daquele(s) momento(s)?

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  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    Importante pontuar que essa vivncia de dilogo acerca da violncia domstica entre os grupos de agentes sociais teve um impacto bastante significativo em sua realidade profissional e tambm em suas histrias de vida, sendo que alguns dos participantes no vivenciaram um mergulho profundo em suas lembranas, mas com a conduo profissional competente permitiu-se que as emoes fossem resignificadas.

    RADIONOVELA UMA LIO DE VIDA

    NARRADOR Enquanto seu Felipe corre para a cozinha procura de uma faca, D.Ana foge com Sofia para a casa de um vizinho. No dia seguinte, ao constatar que o marido j tinha sado de casa para o trabalho, volta para casa e decide no levar Sofia para a escola, pois a criana esta muito machucada. Aps alguns dias sem ir a escola, Sofia retorna s aulas. Surpresa, a professora pergunta:

    PROFESSORA - Sofia, o que est acontecendo? Faz trs dias que voc no vem ao colgio no final do horrio, precisamos conversar.

    NARRADOR - Ao conversar com Sofia, a professora aproxima-se da criana e observa, nos braos e nas pernas da criana, manchas roxas, e pergunta:

    PROFESSORA - Sofia, o que foi isso? Por que voc est toda marcada? Conte para mim. Eu s quero lhe ajudar.

    NARRADOR - A menina de cabea baixa comea a chorar.

    SOFIA - Snif.. snif.. Ah! Professora, eu tenho medo de falar... a minha me sempre diz que o que acontece dentro da casa da gente no devemos contar pra ningum! Mas sabe o que foi? Meu pai chega muito tarde bebido e fica gritando, quebra as coisas, bate na minha me e dessa vez bateu at em mim, e tivemos at que dormir fora de casa.

    PROFESSORA - Sim, Sofia, cada famlia tem sua forma de viver, mas violncias, espancamentos, isso no e direito. Eu preciso conversar com sua me. Leve este bilhete para que ela venha amanh mesmo aqui na escola pra falar comigo.

    NARRADOR - Na manh seguinte, no final do horrio da aula, D.Ana comparece escola e conversa com a professora de Sofia.

    PROFESSORA - D.Ana, mandei lhe chamar porque h algum tempo venho notando mudanas no comportamento de sua filha! Ela no apresenta mais os deveres de casa, suas notas esto muito baixas e agora anda faltando aulas, tambm observei que seu corpo est todo marcado, preciso que a senhora me diga o que est acontecendo.

    -

    33

  • Nessa rodada, contamos com a facilitao de Marcel Hazeu - pesquisador, Gabriela Corra - assistente social e Sarah Bahia - psicloga, para refletir sobre o contexto da violncia sexual na perspectiva de seu enfrentamento. Para o caminho pedaggico das rodadas, primeiramente se buscou a definio conceitual da questo com as seguintes dinmicas: apresentao, interao para delineamento do perfil do grupo, exploso de idias para construo de uma viso sobre violncia sexual e expresso dos sentimentos. A partir das expresses dos agentes, refletiu-se a violncia sexual em quatro parmetros: Sociedade = medo; Agressor = animal, covardia; Vtima = trauma, sofrimento e sangue, dor, medo,

    constrangimento; Contexto da violncia sexual = invaso, desrespeito e violao, abuso

    de poder, falta de amor. Outro momento da rodada foi a apresentao dos direitos sexuais: O direito liberdade sexual; O direito autonomia sexual, integridade sexual e segurana do corpo sexual; O direito educao sexual compreensiva; O direito sade sexual; O direito diversidade sexual; O direito privacidade sexual; O direito livre associao sexual; O direito s escolhas reprodutivas livres e responsveis; O direito ao prazer sexual.

    NARRADOR D.Ana, bastante nervosa, diz:

    D. ANA - O problema o Felipe, meu marido! Ele um bom homem, trabalhador, no deixa faltar nada dentro de casa, mas, quando bebe, se transforma em outra pessoa, fica violento, me xinga de tudo o que no presta, me bate, quebra tudo dentro de casa e, pela primeira vez, bateu na nossa filha.

    PROFESSORA - Bem, D.Ana, vejo que o problema mais grave do que eu imaginava. Pelo que a senhora t me contando, vocs so vtimas de violncia domstica h muito tempo, a sra. j deveria ter buscado ajuda, ficando calada, a sra. est sendo cmplice dessa situao e coloca em risco a sua vida e a de sua filha! Violncia domstica crime e precisa ser denunciada.

    -

    Rodada temtica: abuso e explorao sexual

    34

    Medo, angstia, opresso, puxo de orelha, vergonha, animal, covardia, trauma,

    sofrimento, dor, sangue, constrangimento,

    desconhecimento, invaso, violao, estupro, abuso,

    poder, submisso, desrespeito e falta de amor.

    (Dinmica de grupo em que os agentes sociais expressaram

    com uma palavra seu entendimento acerca da

    violncia sexual)

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    RADIONOVELA UMA AULA DE VIDA

    PROF. TEODORA Ei Jess, tu ouviste falar da situao de uma aluna que disse que estava sendo assediada por um dos professores?

    NARRADOR - Algum tempo depois, a jovem Estrela, motivada pela prof. Aline, resolve procurar a diretora Wilma para conversar sobre o ocorrido. Ela estava muito angustiada e chorava sem parar.

    ESTRELA - (chorando compulsivamente) Diretora... eu preciso... preciso lhe contar uma coisa... me ajude por favor.

    DIRETORA - Calma Estrela, estou aqui para ouvir e lhe ajudar. Pode contar o que voc est sentindo.

    ESTRELA - (chorando)... No consigo... No quero me lembrar... Minha me vai me bater... Mas no tive culpa (continua chorando).

    DIRETORA - Estrela, voc pode confiar em mim. Conte o que aconteceu.

    ESTRELA - (respirando fundo e engolindo o choro)... Tudo bem, eu vou contar... No agento mais... Sabe o professor Rufino... que era solteiro, que adorava meninas do meu tipo. Perguntava se eu tinha namorado. Acariciava minhas mos, cabelos... (comea a chorar) Ele tentou me beijar fora... Me agarrou e disse que queria namorar comigo... Me tocava... Mandava eu tocar nele... Eu no queria, mas ele me forou... Disse que no era pra eu contar pra ningum, seno, ele ia me matar... ia matar minha me tambm... Ai meu Deus, diretora... eu no agento mais esconder isso... No agento... No agento...

    DIRETORA - No se preocupe minha filha, ns vamos ajudar voc.

    NARRADOR - Desde ento, a escola Teodorico Mendes vem lutando contra a Violncia sexual, oferecendo palestras informativas sobre o tema, cursos de capacitao para professores, pais e funcionrios em parceria com o Juizado da infncia e juventude e DPCA. A jovem Estrela, graas ao amor e compreenso de sua famlia, vem superando esse trauma e retomando sua vida com a mesma alegria e empenho de antes.

    -

    Refletiu-se sobre os direitos sexuais da criana na perspectiva de garantir o desenvolvimento saudvel da sexualidade infanto-juvenil, para que esse grupo etrio seja livre de qualquer forma de violncia.

    Apresentao das redes de enfrentamento da violncia sexual contra crianas e adolescentes

    Para discusso acerca da rede de enfrentamento, o debate foi orientado a partir dos eixos da responsabilizao, do atendimento e do controle. Para tal, foi desenvolvida

    O que a famlia deve fazer.

    O que as escolas devem fazer para prevenir.

    O que as escolas devem fazer quando identificam uma situao de violncia sexual.

    Falar quais so as responsabilidades das instituies que compem a REDE.

    Falar que a maioria dos agressores so pessoas de confiana e no desconhecidos.

    Informar sobre a REDE de atendimento aos agressores.

    Propostas dos grupos para a produo das tecnologias sociais

    35

  • Nessa rodada, tivemos como facilitadora Bruna C. Monteiro de Almeida pedagoga. O caminho pedaggico foi mediado por atividades de dinmicas de grupo, jogos, exibio de vdeos e exposies dialgicas. O ciclo das discusses foi orientado, neste primeiro momento, pelos instrumentais legais que enfrentam a questo do trabalho infantil, sendo o principal deles, o Estatuto da criana e do adolescente, que traz conceitos fundamentais acerca de:

    INFNCIA E ADOLESCNCIA

    Sujeitos de direitos;

    Proteo integral e prioridade absoluta;

    Condio peculiar de pessoa em desenvolvimento;

    Infncia e adolescncia.

    TRABALHO INFANTIL

    Definio de trabalho infantil, causas e alguns dados;

    Trabalho, mitos e verdades;

    Reproduo do ciclo da pobreza como causa do trabalho infantil;

    As leis nacionais e internacionais;

    Efeitos do trabalho infantil no desenvolvimento pessoal e social.

    SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS

    Importncia do SGD;

    Como se organiza o SGD;

    Potencial do SGD para o enfrentamento do trabalho infantil.

    Rodada temtica: trabalho infantil

    36

    a dinmica da rede emoo , em que se analisou o papel da rede, assim a turma foi dividida em cinco subgrupos para discutir um caso, tendo em vista:

    Descrever a violao sofrida, identificando os diversos atores envolvidos; Identificar a(s) porta(s) de entrada; Identificar o fluxo de atendimento; Identificar fluxo de responsabilizao; Descrever a situao atual da vtima, sua famlia e comunidade; Descrever a situao do(s) agressor(es).

  • Dinmicas dos gruposnas rodadas de dilogo

  • 38

    RADIONOVELA SEDUO NA FESTA DE SO JOO

    NARRADOR Linda, seduzindo Henrique se ps a danar, fazendo com que Henrique ficasse mais solto, risonho e confiante. Certa hora, Henrique diz a Linda.

    HENRIQUE - Amiga, tenho que ir embora! J est ficando tarde! Amanh a gente conversa.

    LINDA - Calma Henrique! No te preocupa! Te levarei prximo da sua casa. A festa est to divertida. Fica, por favor! Vamos procurar um lugar mais tranqilo.

    NARRADOR - Henrique, atordoado com tanta insistncia anda levemente para a beira do rio, e relembra as orientaes de sua me. Linda, desesperada, corre atrs de Henrique e diz:

    LINDA - Henrique, o que est fazendo a? Ainda no v! Vamos brincar?

    HENRIQUE - Brincar de qu?

    LINDA: Do que voc quiser. Hum! Que tal de esconde-esconde? Vai ser bem divertido.

    NARRADOR - Assim fizeram, entretanto, Linda comeou a mudar seu comportamento com Henrique.

    LINDA - Henrique voc confia em mim? Ento eu vou fazer uma coisa que voc vai gostar, ser nosso segredo.

    HENRIQUE - O que ? O que voc est fazendo? Calma! Voc est me machucando! Sai, sai! No quero tirar a minha roupa, deixe eu ir embora. Por favor!

    NARRADOR - Mesmo Henrique no querendo, Linda o beija fora e rasga sua roupa.

    LINDA - Voc to bonito, sua pele bem macia,deixa eu continuar tocando o teu corpo, gostoso!

    HENRIQUE: Nooooooo!

    VILMA - Quando eu era adolescente, fui abusada pela minha tia e isso ficou marcado, me fazendo sofrer at hoje. muito triste quando isso acontece com a gente.

    -

  • RADIONOVELA TRABALHO INFANTIL

    CENA II (via pblica)

    ESPOSA (D ROSA) - Olhe s aquele menino perdendo a sua infncia...

    MARIDO (SR. CARDOSO) - ... mas melhor t trabalhando do que t roubando.

    ESPOSA (D ROSA) - No diga um absurdo desse. Que perspectiva de futuro esse tipo de vida pode oferecer para essa criana?

    NARRADORA - O marido demonstra total indiferena com relao situao do menino, deixando a esposa bastante chateada, o que provocou uma discusso entre o casal:

    ESPOSA (D ROSA) - Eu detesto essa sua postura burguesa.

    MARIDO (SR. CARDOSO) - Eu sou realista... s existe trs alternativas para este menino: trabalhar, roubar ou morrer de fome.

    RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    2.b) Lies da aprendizagem das rodadas temticas

    As abordagens de contedos vivenciadas no projeto permitiram um novo olhar acerca dos instrumentais legais que regem a garantia dos direitos da criana e do adolescente, para alguns agentes sociais que trabalham na rea da segurana pblica. Pois possibilitou uma maior viabilidade de aplicao das leis nos seus respectivos cotidianos profissionais, inclusive, influenciando a prtica profissional de outros colegas de trabalho.

    Quanto questo da violncia, a partir de uma metodologia que teve como base a participao e a criatividade, na qual a produo de radionovelas e spots acabou sendo o elemento mediador na difuso de uma cultura de defesa de direitos humanos, foi importante e desafiador para os participantes terem vivenciado esta experincia, pois tinham que conjugar, dialogar, compreender e comunicar, dentro de um processo pedaggico de ensino e aprendizagem e finalizao desta vivncia em um produto: explcito, simples, ldico, criativo, acessvel, mas preciso e eficaz, enfrentando mitos e inverdades. A experincia apontou profissionalmente, aos envolvidos, uma nova perspectiva de abordar temas considerados complexos, como a violncia, de forma acessvel para pblicos diferenciados que podem ir de crianas a jovens e adultos. Mesmo pessoas que j lidavam com os temas abordados consideraram os espaos de dilogo importantes ao seu desenvolvimento profissional, pois tais espaos lhes possibilitaram novas vivncias de aprendizagem, nas quais ouviram e foram ouvidos por outros colegas que se encontravam no processo de enfrentamento contra a violncia, e se viu materializada sua produo e seu compromisso.

    Ento, tem toda uma metodologia. Eu sabia o que eu queria, mas eu no sabia como transmitir isso pro papel, eu no sabia como falar de uma questo to delicada, uma questo que envolve tanto sofrimento, de uma forma ldica, uma comunicao clara, com uma comunicao que fosse de fcil acesso ao pblico-alvo, que poderia ser crianas e poderia ser adultos. Ento, pra mim, foi muito desafiador todo esse processo.Propostas dos grupos para a produo das tecnologias sociais

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    RADIONOVELA AINDA NO TEMPO DA ESCRAVIDO

    MACACA Dona guia, estava mesmo lhe devendo uma visita, mas tanta coisa acontecendo na mata...

    NARRADORA - E Dona Macaca explica tim, tim, por tim, tim, tudo o que aconteceu at este momento, se diz preocupada com os filhotes de gente.

    MACACA - O que faremos agora, Dona guia?

    GUIA - Os Homens da Lei que tm que tomar providncias, usando de suas resolues. Mas, toma aqui o que eu peguei com o meu bico.

    NARRADORA - Ento Dona guia entrega Dona Macaca um pedao de papel todo chamuscado pelo fogo, dizendo a seguinte leitura:

    (SONOPLASTIA - sons de trovo)

    VOZ DO VENTO - De acordo com a lei dos homens TODOS SO IGUAIS, sem distino de qualquer natureza...TODOS TM DIREITO VIDA, LIBERDADE, IGUALDADE, SEGURANA, PROPRIEDADE.

    MACACA - Ah! Estou me lembrando, esta leitura estava engatada com a Dona Preguia, vou at ela. Passar bem Dona guia, estimo suas melhoras!

    NARRADORA - E, de galho em galho, Dona Macaca atravessa a mata at chegar onde estava a rvore de Dona Preguia.

    -

    3) RODADAS DE PRODUO DAS TECNOLOGIAS SOCIAIS

    Para a produo da tecnologia social (kit educativo: radionovelas e spots, msicas educativas e um guia) tambm foram realizadas rodadas vivenciais acerca das linguagens de radionovelas e spots educativos. As rodadas foram facilitadas por profissionais de experincia no ramo ( o reprter e radialista Mrio Fil e o msico e professor Renato Torres) que construram possibilidades para esclarecer, ao grupo de agentes sociais, o que uma radionovela e um spot; qual a importncia destas linguagens e qual o seu processo de produo.

    A partir do seminrio de abertura das rodadas de produo das tecnologias sociais (comentado no item 1.b), foram realizadas duas rodadas para a produo, uma rodada de produo de radionovelas, com duas turmas, e uma de spots. Os agentes sociais, durante o seminrio, tiveram que optar entre uma das linguagens para se engajarem, sendo que algumas pessoas participaram das duas rodadas por interesse prprio, dispondo de mais tempo de suas vidas e momentos do seu cotidiano. Para as duas vivncias (spots e radionovelas), tivemos o seguinte roteiro de atividades grupais:

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    Em defesa da criana e do adolescente

    Processos grupais para desempenho individual e coletivo

    Para o desenvolvimento artstico dos agentes sociais, foram realizados processos grupais que trabalharam a questo da autoconfiana, confiana no grupo, compromisso, cooperao, entre outros. Assim foram exercitadas tcnicas de teatro e dinmicas de grupo que mexiam com a timidez e o medo, alm do aprimoramento das relaes para a formao de equipes de produo baseadas na cooperao, elemento de fundamental ligao para que os produtos fossem gerados coletivamente. Tambm foram realizados exerccios que aguavam a criatividade coletiva para a identificao de vrias possibilidades de gerar informaes acerca dos temas em foco, sem ter que se apropriar das estratgias da mdia existente, que trabalha com sensacionalismo e exposio das pessoas e do trgico, que no motiva processos reflexivos, mas sentimentos de rejeio, medo, pavor, entre outros.

    RADIONOVELA AINDA NO TEMPO DA ESCRAVIDO

    A Rdio Margarida orgulhosamente apresenta: TRABALHO INFANTIL RURAL. AINDA NO TEMPO DA ESCRAVIDO

    NARRADORA - Numa manh ensolarada, Pedro, menino de seis anos, sai de casa em companhia de sua irm Lcia, de nove anos de idade, em direo a CARVOARIA de DONA DICA, que fica do outro lado da mata. As crianas correm apressadas por terem que produzir muito carvo.

    (SONOPLASTIA - Rudo da mata e vozes de criana de fundo)

    NARRADORA - Toda essa situao, diariamente, est sendo observada por DONA MACACA e seus filhotes. E a Dona Macaca...

    (SONOPLASTIA - Rudo da mata junto com o rudo da macaca caindo do galho)

    MACACA - Eita!!! Ca do galhoai, que dor!e a rvore que estava aqui? Hum!!! A mata s t fumaa!? O que est acontecendo? Vamos meus filhotes quero cuidar bem de vocs.

    Como construir e interpretar personagens

    Em cada grupo, foi abordado, com os agentes sociais, como construir um personagem, sem que o mesmo fosse apelativo, perversivo, destorcivo da realidade, ou seja, houve uma preocupao para que as personagens no impusessem padres preconceituosos, como um bom e outro mau. Assim foi orientado para que cada histria contada expressasse a situao de pessoas da vida real, ou seja, homens e mulheres que praticam violncias, mas que tambm, no seu dia-a-dia, batalham pela sobrevivncia e podem tambm ser violadas em seus direitos.

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    RADIONOVELA A CASA DA V MARG

    A Rdio Margarida orgulhosamente apresenta radionovela educativa: A casa da v Marg.

    INTRODUO NARRADOR - Brbara e Renato vivem juntos e tm uma nica filha, Ana, de cinco anos. Brbara uma mulher muito insegura e ciumenta, disputa ateno do marido com a filha e a sogra, Marg. Renato bem mais velho que Brbara. Sempre viaja deixando sua famlia sozinha. Quando est de folga, tem o hbito de ir sozinho para bares e noitadas.

    Nesta noite, ele chegou com uma velha novidade:

    (Sonoplastia - Barulho de porta abrindo e maaneta girando)

    Outra tarefa tambm pontuada, foi a necessidade de interpretar personagens que no necessariamente fizessem parte de seu carter, porm, sendo necessrio conhecer o comportamento e a atividade de cada um deles, ou seja, como o comportamento, a fala e a ao de um agressor, de uma pessoa que sofreu os maltratos e a agresso, etc. Para isto tambm foram feitos testes de timbre de voz, em que se pontuou a necessidade de concentrar toda a interpretao na voz de cada ator e atriz. Assim foram feitos testes com cada agente envolvido, para a identificao de vozes, conforme o perfil das personagens. Neste processo, alm dos instrutores, contvamos com a participao ativa dos agentes nas decises e motivaes do grupo.

    Oficina de radionovelas

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    Em defesa da criana e do adolescente

    Elaborao de radionovelas e spots

    Para a produo do CD de radionovelas, spots e msicas , em cada rodada, foram divididos trs subgrupos que trabalhavam com as temticas: violncia domstica, violncia sexual e trabalho infantil. E em cada temtica dividiram-se subtemas especficos que abordavam as seguintes dimenses:

    Denncia os roteiros de radionovelas e spots abordaram histrias que denunciavam situaes de violncia. Eles deveriam conter informaes sobre as formas e locais para serem realizadas as denncias;

    Preveno tambm encontraram-se meios de traduzir histrias que tratavam sobre as formas de preveno, bem como as suas conseqncias; apresentando dicas de como reverter as situaes identificadas ou que poderiam vir a ocorrer;

    Mudana de atitude - tambm encontramos histrias que sensibilizaram para mudanas de atitudes em favor da criana e do adolescente. Para cada foco procurou-se equilibrar a quantidade de spots e radionovelas. Mesmo assim, devido a uma boa motivao e vontade dos agentes participantes, a produo de textos de radionovelas foi bem maior do que consta no CD. Neste sentido foram feitas escolhas, bem como se exigiu, do grupo, poder de sntese e interao, para a organizao de idias e objetivos, obedecendo aos critrios de tempo, qualidade, interpretao, bem como trabalhando com as informaes essenciais para os ouvintes.

    A produo de todas as radionovelas e spots foi sensacional, porque mexeu com essas diferenas de pensamento de cada pessoa que participava, cada pessoa tem uma idia diferente, essas idias foram se juntando a outras, e chegamos num processo de formatao que deu um resultado direcionado a um interesse comum, que era os direitos da criana e do adolescente.

    (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)

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    Grupo em momento de criao de roteiro

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    A criao das histrias foi desenvolvida em um processo transdisciplinar, pois contava com a participao de profissionais como psiclogos, assistentes sociais, advogados, pedagogos, educadores populares, lideranas comunitrias, radialistas, estudantes, entre outros. Assim, no momento de formulao dos argumentos e roteiros, todos contribuam, a partir de suas experincias profissionais, potencializando as informaes e corrigindo equvocos. Isto possibilitou uma qualidade nos materiais produzidos.

    Produo de radionovelas e spots educativos

    A partir dos roteiros elaborados, os grupos passaram para a fase de gravao das radionovelas e spots no estdio, em processo coletivo, com o envolvimento de todos na gravao e interpretao de cada radionovela e spot, em um contnuo de aprendizagem dos agentes, dos instrutores e coordenadores do projeto. O CD Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criana e do adolescente teve o seguinte resultado em organizao de faixas :

    Radionovelas sobre v io lncia domstica1-Educar no bater - Violncia domstica 6:172-Reconstruindo um lar - Violncia domstica 6:28

    Spots sobre violncia domstica3 - Maus tratos 1:004 - Psicolgica 1:005 - Negligncia 1:006 - Proteo 1:007 - Fsica e psicolgica 1:008 - Maus tratos 1:009 - Psicolgica 1:00

    Radionovelas sobre violncia sexual 10 -A seduo da internet - Trfico de pessoas 7:1411 -Lenda de sombra e luz - Abuso sexual 7:03

    Spots sobre violncia sexual12 -Turismo sexual 1:0013 - Abuso sexual 1:0014 - Abuso sexual 1:0015 - Abuso sexual 1:0016 -Trfico humano 1:0017 - Abuso sexual 1:00

    18 - Pornografia na internet 1:00 19 - Explorao sexual 1:0020 - Turismo sexual 1:00

    Radionovelas sobre trabalho infantil21 - Um novo amanh - Trabalho infantil rural 6:0122 - O despertar de uma famlia - Trabalho infantil domstico 6:54

    Spots sobre trabalho infantil23 - Trabalho aprendiz 1:0024 - Urbano 1:0025 - Domstico 1:0026 - Urbano 1:0027 - Conseqncias 1:0028 - Rural 1:0029 - ECA 1:0030 - Piores formas 1:00

    Msicas31 - Giramundo - Violncia domstica 2:2932 - No caia na rede - Violncia sexual 2:3033 - Direitos da criana -Trabalho infantil 2:0834 - Uma lio para Zeco - Violncia domstica 2:00

    Assim, no primeiro ms, pra mim, eu fiquei meio impactada. Como a gente vai relacionar tecnologia, criatividade, num processo de construo pra um tema to difcil? Como construir isso?...porque eu sempre, particularmente, tinha muita resistncia com a dimenso tecnolgica, pra entrar no computador, comear a manusear o computador foi uma resistncia muito grande. Quando fiz a oficina com o Renato, uma linguagem totalmente diferente, spot, o que significa isso, era um mundo muito distante, muito novo pra mim.

    Agentes sociais do SGD que participaram do projeto

  • O processo de produo das tecnologias foi um momento de criatividade em que tanto as histrias quanto as interpretaes foram reelaboradas na criao e processo de gravao, contando com o envolvimento participativo durante a construo da aprendizagem. Entre as rodadas temticas e as de produo, estas tiveram um novo cunho para o grupo, pois a maioria dos participantes no tinha conhecimento das tcnicas de estdio e muito menos de seu potencial para este desafio. Houve situaes em que participantes romperam com a resistncia a objetos tecnolgicos. A experincia na produo das radionovelas e spots possibilitou, para os profissionais, uma descoberta de seus potenciais numa dimenso criativa, como por exemplo, pessoas que no imaginavam ter capacidade criativa para interpretar personagens, criar letras de msicas, escrever roteiros, entre outros.

    Gravao de radionovelase spots

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    4) GUIA DE UTILIZAO DO CD RADIONOVELAS E SPOTS EDUCATIVOS Para a elaborao do guia de utilizao do CD Radionovelas e spots educativos, a

    coordenao do projeto instalou rodadas de trocas de pareceres, assim como para as definies de roteiro e contedo do guia com os seguintes sujeitos: Equipe de profissionais do projeto, coordenao da Rdio Margarida e

    colaboradores; Facilitadoras das rodadas temticas.

    Definiu-se que o guia devia ter uma linguagem simples, que pudesse ser entendida por diferentes pblicos que viessem a utiliz-lo, como: professores, educadores sociais, lideranas comunitrias, entre outros. O guia sugere vrias atividades a serem desenvolvidas a partir do CD; tambm se definiu fazer comentrios sobre todos os roteiros das radionovelas, bem como explicar os termos utilizados nas mesmas atravs de um glossrio.

    Pgina do guia de utilizao

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    Em defesa da criana e do adolescente

    ...foi super-importante essa relao interdisciplinar que ela colocou, essa troca de conhecimento, eu conhecer mais, visualizar mais o trabalho da rede que j vinha, trabalho institucional e interdisciplinar, nessa perspectiva, com a rea da educao, sade e assistncia. Mas teve um processo de trs meses consecutivos de convivncia com as vrias pessoas relatando suas diferentes realidades, de forma mais profunda, sistemtica e permitiu com que eu visualizasse essa relao da rede no sentido de tambm facilitar o encaminhamento das demandas, das situaes que no eram mais diretamente relacionadas a nossa interveno mais imediata.

    Agentes sociais do SGD que participaram do projeto

    Estratgia 2

    Mobilizao social e ao integrada das organizaes sociais do SGD da criana e do adolescente

    Para a multiplicao e difuso da defesa dos direitos da criana e do adolescente, consideramos que a tecnologia social produzida foi um dos procedimentos desenvolvidos pelo projeto, mas consideramos que outros processos foram implementados e que geraram bons frutos para a vivncia. A seguir, demonstraremos brevemente estes procedimentos, que provavelmente j vm sendo desenvolvidos por outros sujeitos, todavia, para o projeto, tiveram um potencial estratgico:

    1) MOBILIZAO SOCIAL DAS ORGANIZAES GOVERNAMENTAIS E NO GOVERNAMENTAIS

    A formatao do projeto, alm de ter contribuido na formao de agentes sociais do Sistema de garantia de direitos - SGD, tambm fomentou espaos e processos que possibilitaram a qualidade das articulaes e aes integradas da rede de servios local. Para tanto, os espaos coletivos do projeto tiveram um potencial estratgico para conhecimento de servios, troca de experincias, novos contatos para aes integradas, entre outros. Para que os espaos cumprissem essa finalidade, uma das atividades fundamentais da proposta foi um processo intensivo de mobilizao das organizaes governamentais e no governamentais do SGD. Isto ocorreu desde o incio da experincia, com a realizao dos seguintes procedimentos:

    1.a) Mapeamento das organizaes governamentais e no governamentais da regio metropolitana de Belm que compem o Sistema de garantia de direitos. Para construo do mapa, foram articuladas informaes da seguinte forma:

    Disponveis na prpria organizao executora do projeto; Coordenao do projeto; Frum do direito da criana e do adolescente e de enfrentamento contra a violncia sexual. A partir deste levantamento, produzimos um documento que conta com nome da organizao, endereo, contato de fone, e-mail e contato de pessoas.

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    1.b) Abordagens diferenciadas a partir da natureza de cada organizao, divididas da seguinte forma:

    Individual reunies com dirigentes do rgo para apresentao da proposta e celebrao do acordo para participao no projeto.

    Coletiva reunies coletivas, principalmente com as organizaes da sociedade civil.

    1.c) A realizao de apresentaes do projeto, com sensibilizao de organizaes, era feita por exposio do projeto em powerpoint, alm da demonstrao do recurso didtico de CDs de radionovelas j produzidos pela Rdio Margarida. A finalidade era sensibilizar as organizaes para uma adeso integrada na execuo das atividades do projeto, no sentido de compreender a proposta como uma ferramenta de difuso dos direitos da criana e do adolescente, contribuindo para a efetiva ao de suas respectivas misses institucionais das entidades que compem o SGD - Sistema de garantia dos direitos.

    1.d) Assinatura do pacto de adeso pela difuso dos direitos da criana e do adolescente pelas organizaes parceiras envolvidas na execuo. O pacto teve a finalidade de consolidar compromissos de contrapartida das organizaes para participao efetiva no processo do projeto, tanto na liberao de agentes sociais, como na posterior realizao de sua multiplicao.

    2) AO INTEGRADA NO ENFRENTAMENTO DA VIOLNCIA CONTRA A CRIANA E O ADOLESCENTE

    O movimento permanente de dilogo com as organizaes, tanto na mobilizao para as atividades do projeto quanto durante as rodadas, foi importante para a potencializao de uma perspectiva de atuao em rede, em que os participantes avaliaram que seu fazer era importante para o enfrentamento e tambm continua de fundamental importncia que as organizaes do SGD estejam mais prximas em aes integradas.

    Essa perspectiva de integrao das aes esteve presente na execuo do projeto, tanto que um de seus primeiros procedimentos de articulao foi o contato com os conselhos e fruns envolvidos no cotidiano de controle e defesa dos direitos da criana e do adolescente, com o intuito de fortalecer os movimentos e disponibilizar as

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    atividades do projeto para unificar agendas. Para tanto, realizamos aes de massa, em conjunto com as instncias de defesa dos direitos da criana e do adolescente, nos seguintes eventos:

    2.a.) Em 18 de maio, no dia de enfrentamento da violncia sexual contra a criana e o adolescente, realizamos o pr-lanamento do projeto, com o conjunto de entidades governamentais e da sociedade civil, em caminhada pelas ruas da cidade de Belm.

    2.b.) Em 20 de maio, na Praa da Repblica realizamos o lanamento da ao para a populao geral da cidade.

    2.c.) O lanamento do kit educativo contou com a participao de cerca de 400 pessoas, onde tivemos a presena tanto de organizaes governamentais quanto no governamentais do SGD da regio metropolitana de Belm.

    No processo de articulao, conseguimos vrias formas de parcerias, para:

    Participao de agentes sociais nos processos formativos, no sentido de liberao dos mesmos;

    Sesso de espaos e outros materiais para realizao de eventos e rodadas temticas, de produo e de multiplicao;

    Veiculao do Minuto do ECA ( radionovelas e spots) nas rdios da cidade.

    Apresentao de teatro de bonecos no lanamento do projeto

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    Estratgia 3

    Multiplicao da cultura de enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente

    O projeto Radionovelas educativas traz, como uma das estratgias de multiplicao da cultura de enfrentamento contra a violncia, a distribuio gratuita de 5000 kits (CD e guia de orientao) didtico-pedaggicos, que inicialmente foram pensados para alcanar o territrio paraense e posteriormente a regio norte do Brasil, mas a sua repercusso e necessidade de materiais educativos leva, por solicitaes, o kit para todo o territrio brasileiro.

    Realizaram-se, neste momento do projeto, as rodadas de multiplicao, no estado do Par, s quais foram facilitadas pelos agentes sociais. A seguir, demonstraremos brevemente esta etapa do projeto.

    1) RODADAS DE MULTIPLICAO NAS ORGANIZAES

    1.1.) Processo de organizao coletiva das rodadas de multiplicao

    As rodadas de multiplicao representam, na metodologia do projeto, um processo de resignificao da aprendizagem vivenciada pelos agentes sociais que participaram das rodadas de formao e produo. O objetivo destas rodadas que, cada agente ou grupo de agentes, retorne o que aprenderam para as suas respectivas instituies e locais de trabalho, por meio de atividades sugeridas no kit didtico-pedaggico, atendendo diretamente aos usurios, bem como, promovendo a distribuio do kit para outros agentes multiplicadores, com demonstrao das possibilidades de sua utilizao. Assim a inteno continua sendo a de multiplicar e potencializar o uso da tecnologia social e gerar um maior engajamento de instituies e pessoas no enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente.

    Para o desenvolvimento dessa proposta, primeiramente houve a realizao de um planejamento com os agentes sociais que iriam facilitar a multiplicao em suas respectivas organizaes e assim se estruturaram grupos de trabalho, a fim de integrar a rede de servio e otimizar recursos. Para tanto, dividiram-se os participantes em cinco grupos, com as seguintes composies :

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    Grupo 1: Defensoria pblica/ Naeca Juizado da infncia e juventude Polcia rodoviria federal Polcia civil / CiepasDelegacia de proteo criana e ao adolescente (DPCA/ DATA)Agncia Unama de notcias.

    Grupo 2:

    Fundao Papa Joo XXIII FUNPAPA, rgo responsvel pela coordenao da poltica de assistncia social no municpio de Belm.

    Grupo 3:

    Fundao da criana e do adolescente do Par FUNCAP, orgo responsvel pelo atendimento scio-educativo do Estado.

    Grupo 4:Secretaria estadual de educao SEDUCSecretaria estadual de desenvolvimento social SEDESCentro integrado de servios aos portadores de necessidades especiais - Cisne

    Grupo 5:

    ONGs

    Cada grupo elaborou uma proposta para as oficinas de multiplicao e, a partir do planejamento, os grupos seguiram encontros sistemticos (grupo 1, grupo 2, grupo 3, grupo 4) .

    1.2.) Rodadas de multiplicao nas organizaes do SGD

    A efetivao das rodadas de multiplicao foram ocorrendo de forma gradual, uma vez que foi necessria a flexibilidade com aquilo que foi planejado, pois as organizaes parceiras tiveram dificuldades quanto s suas agendas internas. A meta foi envolver 700 pessoas nas rodadas de multiplicao em todo o estado do Par.

    Para a realizao das rodadas, realizou-se a mobilizao junto aos gestores das instituies participantes, por meio de contatos e visitas institucionais, reunies de

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  • Momentos das rodadasde multiplicao

  • RADIONOVELASEDUCATIVAS

    Em defesa da criana e do adolescente

    acompanhamento com o grupo de multiplicadores para o planejamento das oficinas, bem como a participao da coordenao durante as rodadas. As rodadas de multiplicao realizadas foram as seguintes:

    Juizado da infncia e juventude e Defensoria pblica Participao de 32 agentes sociais;

    Polcia rodoviria federal Participao de 100 agentes sociais;

    Seduc, Sedes, Cisne Participao de 75 agentes sociais;

    Critas Participao de sete agentes sociais;

    Agncia Unama pelos direitos da criana e do adolescenteParticipao de 43 agentes sociais;

    FUNCAPParticipao de 41 agentes sociais;

    FUNCAP / MARABParticipao de 50 agentes sociais;

    FUNPAPAParticipao de 70 agentes sociais;

    CIEPASParticipao de 53 agentes sociais;

    ONGSParticipao de 15 agentes sociais;

    POLCIA / CIOPEParticipao de 631 agentes sociais;

    Agentes de sade de AnanindeuaParticipao de 130 agentes sociais;

    Importante destacar que houve desdobramentos da ao, ou seja, outras organizaes do SGD buscaram o projeto para serem orientadas ou mesmo para realizarem campanhas de enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente. Como exemplo, temos a campanha que foi desenvolvida pela Polcia rodoviria federal PRF, de combate explorao sexual de crianas nas estradas. Para o desenvolvimento desta ao, a representante da PRF no projeto de Radionovelas realizou palestras de sensibilizao para caminhoneiros, utilizando o material distribudo e utilizado no projeto. Tambm a Polcia rodoviria federal realizou um

    ...que eu tenho que fazer boa parte e que o pouco que eu fizer faz diferena. Ento essa a importncia do processo que o pouco que a gente faz, faz diferena, que a gente no vai resolver tudo, que a gente no vai ter a perfeio que a lei diz, mas conhecendo as outras instituies e as outras pessoas que fazem alguma coisa que a gente v...

    ...eu me sinto esse multiplicador, eu tenho ainda mais responsabilidade de ser um multiplicador, antes eu trabalhava, eu tinha aquela viso s no meu trabalho, hoje no! Na minha casa, na minha famlia, na minha rua, bairro, na igreja, enfim, pra onde eu vou, eu tenho essa obrigao de ser esse multiplicador cada vez mais.

    Agentes sociais do SGD que participaram do projeto

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    mapeamento da violncia sexual infanto-juvenil nas estradas dos municpios do Par. Em funo deste fato, a participante desta instituio no projeto de Radionovelas, Isabel Oliveira, elaborou uma proposta de formao para os policiais, a partir do material recebido pelo projeto.