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Planejamento Urbano e Meio Ambiente Autoras Gilda A. Cassilha Simone A. Cassilha 2009 Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br

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  • Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Autoras

    Gilda A. CassilhaSimone A. Cassilha

    2009

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  • 2008 IESDE Brasil S.A. proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorizao por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

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    C345 Cassilha, Gilda A.; Cassilha, Simone A. / Planejamento Urbano e Meio Ambiente. / Gilda A. Cassilha; Simone A. Cassilha.

    Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 176 p.

    ISBN: 978-85-7638-766-4

    1. Meio ambiente urbano - Planejamento 2. Planejamento ur-bano 3. Urbanizao 4. Urbanismo - Planejamento I. Ttulo II.

    Cassilha, Simone A.

    CDD 711.4

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  • Sumrio

    Questes urbanas | 7Construindo o panorama da problemtica urbana | 7Elementos constitutivos da base urbana | 10

    Histria urbana | 17Evoluo das cidades | 17A cidade como convenincia de mercado | 18Planejamento de cidades | 25Macrozoneamento urbano | 27

    Rede urbana no Brasil | 29Os municpios e as cidades brasileiras | 29Lei Orgnica Municipal (LOM) | 33Rede de cidades | 35

    Estatuto da cidade | 41Constituio de 1988 | 41Estatuto da Cidade Instrumentos | 42

    Plano Diretor | 51Plano Diretor | 51Metodologia para o desenvolvimento do Plano Diretor | 55

    Componentes do planejamento | 63Planejamento municipal | 63Planejamento urbano | 65Tamanho das cidades/densidade urbana | 66

    A questo ambiental | 73A questo ambiental no planejamento urbano | 73Legislao ambiental | 75Bacias hidrogrficas/impactos ambientais | 77

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  • Zoneamento urbano | 83Uso do solo/sistema virio/transporte pblico | 83O zoneamento de uso e ocupao do solo urbano | 85Parmetros urbansticos | 88

    Acessibilidade e mobilidade urbana | 95Sistema virio | 95Hierarquia viria | 97Dimensionamento das vias | 98Transporte pblico | 101

    Desenho urbano | 107Desenho urbano | 107Custos de urbanizao | 110Valor da terra | 111

    Legislao de parcelamento do solo | 117Parcelamento do solo urbano | 117Aspectos legais | 119Aspectos locais para o parcelamento do solo urbano | 121

    Guetizao da cidade | 127Condomnios horizontais | 127Legislao para condomnios horizontais | 129Guetizao da cidade | 131

    Incorporaes imobilirias | 135Elementos para a concepo de territrio | 135Mercado de terras | 137Empreendimentos mais adequados | 138

    ndices urbansticos | 145Ocupao real | 145Ocupao legal | 146reas para adensamento | 147

    Empreendimentos imobilirios | 153Intervenes urbansticas | 153Recuperao urbana | 156Parcerias na produo do mercado imobilirio | 156

    Gabarito | 161

    Referncias | 169

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  • ApresentaoA coisa mais indispensvel a um homem reconhecer o uso que

    deve fazer do seu prprio conhecimento.

    Plato

    Toda a experincia que se possa ter em relao ao estudo das cidades com certeza no ir ser capaz de defini-la

    totalmente.

    As cidades, como organismos vivos e complexos, justamente por conter toda a interatividade possvel entre os

    indivduos, sejam elas positivas ou negativas, podem transformar o cotidiano das pessoas no maior dos pesadelos ou

    na melhor das experincias.

    Cada vez que olhamos para as pessoas nas ruas, nas praas, nas lojas, nas escolas, nos nibus e nos mais variados

    compartimentos que a cidade produz, descobrimos mais e mais sobre essa fantstica experincia que a aglomerao

    urbana.

    Quando tocamos as mos das pessoas em algum canto da cidade e podemos ensinar como conservar o meio

    ambiente com o simples ato de respeitar a mata ao longo de algum riacho, tambm estamos viajando pelo universo

    urbano.

    E, por fim, quando convidamos as pessoas para o nosso convvio em nossa casa ou para realizar algum tipo de

    negcio, como a venda de um lote ou de uma edificao, sabendo que estes esto em perfeita consonncia aos

    parmetros exigidos pela Prefeitura Municipal, estamos nos apropriando dos benefcios da urbanizao.

    A cidade, porm, no to romntica e legal em todos os seus aspectos, pois justamente ao ter que abrigar todas

    as pessoas que ela se dirigem na busca ao atendimento de suas necessidades, pode no ter as respostas imediatas

    para isso, e de certa forma pode frustrar as expectativas de determinados grupos de pessoas.

    Ns, urbanistas, tentamos deixar essa experincia urbana um pouco mais atenuada ao estudarmos constantemente

    o meio urbano, assim como atravs do planejamento urbano programar melhor as atividades na cidade.

    Nesta pequena obra que por ora apresentamos, procuramos deixar um pouco mais claro este universo fantstico

    e muito rico do ponto de vista das relaes humanas, que a cidade. Nesta viagem vamos conhecer os aspectos mais

    relevantes que precisamos para compreender, inclusive, como podemos planejar a cidade e conservar o meio ambiente.

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  • Questes urbanas: estabelecendo uma viso global

    da dinmica urbana, seus efeitos positivos e negativos

    Gilda A. Cassilha*

    Simone A. Cassilha**

    Construindo o panorama da problemtica urbanaAs cidades so mutantes, vo crescendo e se modificando pelas aes das atividades dirias das

    pessoas, cada uma com sua forma prpria de apropriao, intervindo no espao das mais variadas ma-neiras. A partir dessas intervenes, sem que sejam tomadas as devidas providncias, comeam a surgir problemas por todos os lados.

    Alguns problemas so comuns a todo o tipo de sociedade, independente da etnia ou do espao urbano ou rural, porm alguns deles podem ser considerados como tipicamente da populao urbana. Violncia no trnsito, disputa entre gangues, so crimes recorrentes encontrados nas grandes cidades, pois a pobreza e os contrastes sociais ficam mais evidentes no espao urbano. A segregao social, as-sim como a pobreza, est diretamente ligada degradao ambiental. So conseqncias diretas de tal

    * Mestre em Administrao Pblica pela EAESP/FGV. Especialista em Gesto Tcnica do Meio Urbano pela PUCPR. Especialista em Paisagismo pela PUCPR. Arquiteta e Urbanista pela UFPR.** Especialista em Gesto Tcnica do Meio Urbano pela PUCPR. Arquiteta e Urbanista pela PUCPR.

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  • 8 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    degradao as enchentes, os desmoronamentos de terras e a poluio de crregos, rios e mananciais para o abastecimento, tornando muitas vezes a gua imprpria para o consumo humano, sendo esta questo, em alguns momentos, to sria, que se torna irreversvel.

    De um modo geral, a populao mais carente presente no meio urbano possui uma maior parcela de responsabilidade pela degradao do meio ambiente, e tambm quem mais sofre diretamente com os efeitos negativos dessa degradao, pois possuem menos recursos para sua prpria defesa. Isso acaba por tornar ainda mais evidente a injustia social encontrada nas grandes cidades. Em levantamento reali-zado pelo Instituto Datafolha, em 2007 existiam 12,4 milhes de pessoas vivendo em favelas no Brasil.

    Nas imagens a seguir podemos visualizar os efeitos nocivos ao meio ambiente urbano, em algu-mas situaes.

    Enchentes causadas por grandes reas impermeveis. Lixo sem controle ambiental nas margens dos crregos.

    Ocupaes irregulares em morros.

    Poluio do mar.Cemitrios em rea de fragilidade ambiental.

    Deslizamentos em encostas.

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  • 9|Questes urbanas: estabelecendo uma viso global da dinmica urbana, seus efeitos positivos e negativos

    O desenvolvimento das cidades um gran-de desafio. medida que a malha urbana cresce desordenada e demasiadamente, a demanda por infra-estrutura aumenta. E quanto mais rpido for o crescimento, maior torna-se o desafio. O crescimento populacional das cidades deveria ser acompanhado por maior oferta de infra-estrutura e servios bsicos, principalmente os relacionados ao saneamento bsi-co, demonstrando, desta forma, a preocupao com o ambiente natural em que vivemos e com as condi-es mnimas de salubridade para a populao.

    Porm, o que normalmente se observa que a disposio final do lixo fica em local indevido e contamina o solo, o cemitrio encontra-se ao lado da nascente de um rio, as pocas de chuvas provo-cam enchentes desastrosas e desmoronamentos de terras, que destroem a pavimentao das ruas e at mesmo as moradias.

    Alm disso, alguns outros fatores relevantes devem ser levados em considerao, como o conse-qente aumento da poluio atmosfrica e a menor vida til da pavimentao das vias urbanas, o que traz altos custos para a cidade como um todo. Tambm a grande importncia dada aos veculos parti-culares atualmente est demonstrando o grande despreparo das cidades para tal contingente, visto os constantes congestionamentos.

    O que vem acontecendo tambm, como forma de degradao da vida urbana, diz respeito aos espaos tidos como pblicos (praas e pontos de encontro como os calades) que esto sendo aban-donados e trocados por locais fechados, considerados de maior segurana. A populao de mdia e alta renda se sente amedrontada e se isola em condomnios e espaos enclausurados, acabando por no mais vivenciar sua prpria cidade.

    Outro aspecto que convm ressaltar como problemtica urbana vem a ser a abertura dos merca-dos internacionais e a conseqente globalizao. Isso vem provocando uma fragmentao social, con-centrando a riqueza gerada nas mos de minorias.

    As afirmativas de crescimento desordenado das cidades no fazem parte de uma regra geral, pois existem cidades que ganham populao e, apesar disso, continuam se desenvolvendo organizadamen-te e oferecendo uma adequada qualidade de vida comunidade. Outras perdem populao, parecem ter parado no tempo e se desorganizam em busca de atrativos para a retomada do desenvolvimento.

    Grande contingente de veculos nas vias urbanas causando congestionamentos.

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  • 10 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Nesse contexto, vemos tambm cidades com incremento populacional estrondoso, ao ponto de surgirem do nada em curto espao de tempo, como o caso da intensa urbani-zao que vem acontecendo na China. Nesse caso, o grande desafio vem a ser o desenvolvi-mento econmico acompanhado de uma qua-lidade de vida e respeito ao meio ambiente de forma sustentvel.

    O mais complicado, nesse ltimo caso, o crescimento ser acompanhado pela oferta de postos de trabalho e de moradia para to-dos, assim como o provimento dos servios bsicos, principalmente os de saneamento. Tambm os aspectos relativos s questes am-bientais na maioria das vezes ficam sem ser respeitados.

    Uma cidade, no importa sua localizao geogrfica ou seu tamanho, deve ter preocupa-es como coleta seletiva do lixo, abastecimento de gua potvel, rigor na localizao dos diversos usos: residencial, comercial, de servios ou industrial, existncia de locais de lazer para o uso pblico como praas e parques, enfim, uma dimenso de cidade a ser vivida por uma comunidade e que deve possuir obrigatoriamente certo nvel de organizao.

    Elementos constitutivos da base urbanaO territrio da cidade, em sua parte fsica, constitudo tanto de elementos do meio natural quan-

    to do meio antrpico, e que vo dar sustentao ocupao e forma urbana.

    Ao descrever uma cidade, ocupamo-nos predominantemente da sua forma; essa forma um dado concreto que se refere a uma experincia concreta: Atenas, Roma, Paris. (ROSSI, 2001, p. 70).

    Realmente, quando nos lembramos de algumas cidades logo nos vem lembrana um smbolo caracterstico dessas cidades. Assim ao pensarmos no Rio de Janeiro imaginamos a Esttua do Cristo Redentor, o Morro do Po de Acar ou a Praia de Copacabana. Ao falarmos em Salvador pensamos no Pelourinho ou no Mar de Itapu. Em Recife logo lembramos da Praia da Boa Viagem. Em Belm o Merca-do Ver-o-Peso. Em Porto Alegre a Rua da Praia. Em Curitiba a Rua das Flores ou a pera de Arame.

    Se pensarmos em cidades mundo afora nos lembraremos da Torre Eiffel em Paris ou a Esttua da Liberdade em Nova Iorque. Podemos tambm lembrar das Montanhas dos Alpes na Sua ou da Cordi-lheira do Andes no Chile.

    Esses referenciais nos remetem ao mar, praia, morros, montanhas, que so elementos do meio natural; ou s Esttuas ou Torres, que vm a ser elementos construdos pelo homem, ou seja, antrpico.

    Nas cidades, os elementos do meio natural como cursos dgua, ou seja, os rios e suas nascentes que formam as bacias hidrogrficas, a vegetao, as encostas dos morros, os lagos e as formas topogrfi-

    Imagens de novas aglomeraes urbanas na China.

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    7.

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  • 11|Questes urbanas: estabelecendo uma viso global da dinmica urbana, seus efeitos positivos e negativos

    cas, se contrapem aos elementos do meio antrpico, que por sua vez, so representados pelas diversas formas de edifcios e construes, pelas ruas, avenidas, viadutos, parques e praas.

    As formas topogrficas vo formando a paisagem da cidade, na medida em que as diversas alti-tudes, ao serem ocupadas com edifcios mais altos, outros mais baixos, casas, vias e fbricas, passam a promover o suporte para o desenvolvimento das atividades humanas.

    Essa antropizao do territrio a partir da apropriao dos elementos do meio natural, onde o homem executa transformaes para que possa ocupar determinadas reas, pode acontecer de forma planejada, ou na maioria das vezes de forma indiscriminada, indevida e irregular. Essas aes sem a devida preocupao com a conservao do suporte natural ocasionam uma grande impermeabilizao do solo, perda de reas verdes sem a devida compensao, poluio do solo, da gua e do ar, causando transtornos para a cidade e a conseqente m qualidade de vida aos habitantes.

    Essa relao do homem com a natureza sem o devido equilbrio permite um domnio do territrio de forma agressiva, onde o valor da terra, em cada espao da cidade, dependendo da situao qual foi submetida, ao contrrio de ter uma valorizao adequada, passa a valer muito menos pelo fato da explorao inadequada.

    Ao invs de um crescimento organizado, o crescimento das cidades do sculo XXI conta com gran-des assentamentos baseados na ocupao de reas no propcias, que alm da degradao ambiental, produz misria e poluio. As cidades esto aumentando no com edifcios bem resolvidos, adequados ao seu uso, como edifcios de escritrios com o devido dimensionamento para estacionamento de ve-culos e edificaes que observem a legislao pertinente, mas sim com edificaes precrias e irregula-res por todas as partes.

    A casa, a rua, a cidade, so pontos de aplicao do trabalho humano; devem estar em ordem, seno se opem aos princpios fundamentais que temos como eixo; e, desordem, nos fazem frente, nos travam, como nos trava a natureza, ambiente que combatemos todos os dias. (CORBUSIER, 2004, p. 19).

    A gesto da cidadePara que a cidade possa atender s demandas de todos os habitantes, necessrio um controle

    das diversas atividades e de todas as transformaes que nela ocorrem de forma no s a atender s necessidades da populao, mas a respeitar os limites do meio de sustentao natural. Dessa forma, a ci-dade, tida como uma grande concentrao de pessoas e atividades e um espao de convivncia pblica, deve estabelecer limites e condutas para a vida harmoniosa entre os cidados.

    Por trs da viso da organizao urbana est a idia da realizao de algo funcional e ordenado. Para que isso ocorra, devem ser implantadas regras e mecanismos por parte da administrao da cidade, que consegue, dessa forma, domin-la e control-la como um todo.

    A gesto urbana deve se valer de um conjunto de instrumentos, principalmente a legislao urba-nstica bsica de uso e ocupao do solo, atividades, tarefas e funes que visam assegurar o adequado funcionamento de uma cidade. Visa garantir no somente a administrao da cidade, como tambm a oferta dos servios urbanos bsicos e necessrios para que a populao e os vrios agentes privados, pblicos e comunitrios, muitas vezes com interesses opostos, possam desenvolver e maximizar suas oportunidades de forma harmoniosa.

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  • 12 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Essa gesto deve estar baseada nos princpios da eficincia, eficcia, economicidade e eqidade, e diz respeito a polticas, planos, programas e prticas que procurem assegurar que o crescimento popula-cional seja acompanhado por acesso infra-estrutura, habitao e emprego (funes da cidade).

    No municpio brasileiro, a gerncia local competncia dos poderes executivo e legislativo, responsveis pela organizao municipal e conseqentemente pela gesto da cidade. O poder execu-tivo, cuja autoridade mxima o prefeito municipal, vem a ser o responsvel direto dessa gerncia, e o que executa e administra os bens e servios municipais e urbanos. O poder legislativo represen-tado pela cmara de vereadores, que so os representantes legais da populao, escolhidos pelo voto popular. o poder legislativo que elabora as leis que regem o municpio e a cidade. Tambm possui a atribuio de fiscalizar as aes do poder executivo. O judicirio, terceiro poder, somente administra os conflitos entre os cidados, as entidades e o poder pblico.

    Foi Montesquieu, um cientista poltico francs, quem idealizou um sistema de poderes que de-veriam ter atribuies especficas e funcionamento independente uns dos outros.

    Dependendo da maneira como est estruturado o governo local, o municpio ter um melhor ou pior desenvolvimento e atendimento aos anseios da populao. Isso ir depender da estrutura organizacional da administrao municipal, da capacidade e quantidade dos recursos humanos, ma-teriais, financeiros e legais, do inter-relacionamento entre os poderes (municipal, estadual, federal) e da forma como os interesses locais esto representados.

    As atribuies das autoridades municipais passam inclusive pelas questes relativas apropria-o do solo municipal e urbano, assim como ao cumprimento das leis. O controle da problemtica municipal e urbana deve ser debitado gerncia da cidade, que, fazendo valer as leis urbansticas e municipais relativas ao ordenamento da apropriao do solo e do meio ambiente, produz cidades ca-pazes de atender s necessidades da populao e propiciar maior qualidade de vida comunidade.

    A participao da comunidade na gesto da cidade possui carter extremamente importante, ainda que seja esta, na maior parte do tempo, uma atividade apenas para cumprir as determinaes legais e regulamentaes preestabelecidas.

    H tambm as diversas formas de manifestaes pblicas, como as de cunho reivindicatrias, que indiretamente produzem uma co-participao na gesto da cidade. So nesses momentos que a populao assume papel na gesto da cidade, pois em busca de seus ideais tornam-se agentes do desenvolvimento das polticas pblicas.

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  • 13|Questes urbanas: estabelecendo uma viso global da dinmica urbana, seus efeitos positivos e negativos

    (Novas) mediaes com a mundializao do capitalismo(RAICHELIS, 2006)

    Para problematizar a questo social na sociedade brasileira contempornea, em especial na ci-dade de So Paulo, toma-se como ponto de partida a anlise da questo social sob a tica histrico-conceitual, uma vez que ela no unvoca, ensejando diferentes entendimentos.

    Do ponto de vista da sua gnese histrica universal, segundo Donzelot (1987), a questo social emerge na Frana em meados do sculo XIX, mais precisamente em 1848, diante das lutas operrias e da violenta represso que a elas se segue; sua intensificao relaciona-se ao radical antagonismo entre o direito propriedade e o direito ao trabalho.

    Para Netto (2001), a expresso questo social passou a ser utilizada por volta de 1830 (cf. tam-bm CASTEL, 1998) para evidenciar um fenmeno novo, fruto da primeira etapa de industrializao na Europa ocidental o pauperismo que atingia em larga escala a populao trabalhadora no con-texto da emergncia do capitalismo urbano-industrial.

    Se a polarizao entre ricos e pobres no constitua nenhuma novidade, era radicalmente nova a dinmica da pobreza que se ampliava e generalizava entre a grande massa da populao. Pela primeira vez, a pobreza no era resultado da escassez, mas, ao contrrio, era fruto de uma sociedade que aumentava a sua capacidade de produzir riqueza.

    Desse longnquo contexto histrico at os nossos dias, a questo social no desapareceu nem foi equacionada, mas certamente foi assumindo diferentes configuraes e manifestaes relacionadas histria particular de cada sociedade nacional, de suas instituies, de sua cultura. importante observar que foram as lutas sociais que transformaram a questo social em uma questo poltica e pblica, transitando do domnio privado das relaes entre capital e trabalho para a esfera pblica, exigindo a interveno do Estado no reconhecimento de novos sujeitos sociais como portadores de direitos e deveres, e na viabilizao do acesso a bens e servios pblicos pelas polticas sociais.

    O agravamento da questo social produto desse amplo processo e indissocivel da respon-sabilidade pblica dos governos de garantir trnsito livre para o capital especulativo, transferindo lucros e salrios do mbito da produo para a esfera da valorizao financeira.

    O resultado desse processo tem sido o agravamento das desigualdades sociais e o crescimento de enormes seg-mentos populacionais excludos do crculo da civilizao, isto , dos mercados, uma vez que no conseguem trans-formar suas necessidades sociais em demandas monetrias. As alternativas que se lhes restam so a violncia e a solidariedade. (IAMAMOTO, 2005, p. 97).

    Esse cenrio expressa-se no Brasil exatamente no contexto das mudanas polticas e institucio-nais que se tornaram visveis a partir da promulgao da Constituio de 1988, que, com todos os seus limites, avanou na definio e mesmo na extenso de direitos sociais e polticos. Mas so avan-os que vieram na contramo de um movimento internacional o qual gerou o aumento da pobreza e da desigualdade social e o fortalecimento de ideologias contrrias universalizao dos direitos sociais legalmente definidos pela Carta Constitucional.

    Texto complementar

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  • 14 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Leituras da cidade transformaes no cenrio urbano H uma vasta literatura sobre a questo urbana e os processos de mudana social nas cidades

    relacionada s novas formas de pobreza urbana e segregao espacial e social.

    O conceito de espoliao urbana, cunhado por Kowarick em 1979, forneceu a pista para a com-preenso das contradies urbanas nas grandes metrpoles brasileiras. A espoliao urbana foi definida como ausncia e precariedade de servios de consumo coletivo que, junto do acesso terra, se mostram necessrios reproduo urbana dos trabalhadores. Implcita nessa noo a presena de uma somatria de extorses como resultado das mltiplas excluses que sofrem os moradores e trabalhadores das cida-des da periferia capitalista.

    Em textos anteriores (ROSA e RAICHELIS, 1982 e 1985), escritos nessa dcada com base em pesquisas desenvolvidas para o movimento de loteamentos clandestinos da cidade de So Paulo, anotvamos que

    verifica-se na dinmica do crescimento urbano um intenso processo de expulso da populao trabalhadora do cen-tro das cidades para a periferia, em funo da valorizao do solo urbano e da especulao imobiliria; proliferam loteamentos clandestinos, favelas, desprovidos de infra-estrutura urbana e dos servios necessrios vida na cidade (RAICHELIS; ROSA, 1982, p. 72).

    O quadro a seguir sintetiza as principais idias desenvolvidas por Valladares at os anos 1980:

    Virada do sculo XXTrabalhadores x vadiosClasses perigosas

    Cortio

    Dcadas de 1950-1960Populao marginalSubempregoPopulaao de baixa renda

    Favela

    Dcada de 1970-1980

    Setor informalEstratgias de sobrevivnciaMoradoresTrabalhadores pobres x bandidos

    Periferia

    Considerando essas reflexes, retomamos o esquema proposto por Valladares para a anlise da po-breza urbana at os anos 1980 e, a ttulo de ensaio, esboamos o seguinte quadro para as dcadas de 1900-2000.

    Observando o quadro sntese a seguir e, se confirmadas algumas das pontuaes analticas desen-volvidas nesse ensaio, constata-se no cenrio urbano atual sinais inquietantes da dinmica social explosi-va presente nas grandes metrpoles brasileiras como So Paulo:

    .

    Dcadas de 1990-2000

    Trabalhador x desocupado

    Desemprego, precarizao e informalizao do trabalho

    Naturalizao da pobreza e banalizao da violncia

    Pobres e miserveis subcidados

    Criminalizao da pobreza retorno das classes perigosas, violncia, pobreza e bandidagem

    Modelo centro-periferia e emergncia de novas centralidades.Periferizao acentuada (casas precrias, loteamentos clandestinos, cortios da periferia, ocupaes de terra) rua cortio favela

    enclaves fortificados distantes do centro

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  • 15|Questes urbanas: estabelecendo uma viso global da dinmica urbana, seus efeitos positivos e negativos

    A realidade urbana de So Paulo revela, como nenhuma outra cidade brasileira, a sntese das contra-dies mais dramticas da questo social contempornea.

    Aqui, nesse imenso territrio, a partir do qual se organiza a dinmica do capitalismo no Brasil, se expressa mais claramente do que em qualquer outra metrpole do pas a espoliao urbana, a subcidadania, a dinmica das lutas e reivindicaes por melhores condies de moradia e de trabalho. Verdadeiro laboratrio social, a Grande So Paulo com seus cortios, suas favelas, suas invases e moradias autoconstrudas, seus bairros ricos, seus con-domnios fechados continua nesse final de sculo XX e incio do XXI como o grande desafio compreenso dos problemas urbanos no pas (VALLADARES, 2000).

    Finalmente, h um movimento que se desenvolve no tecido social urbano que transcende a lgica das polticas oficiais e da racionalidade privatista do mercado. Trata-se da poltica dos usos e contra-usos da cidade no cotidiano do espao pblico que

    demarca diferenas e cria transgresses na paisagem urbana ao subverter os usos esperados constitui lugares que configuram e qualificam os espaos urbanos como espaos pblicos, na medida em que os torna locais de disputas prticas e simblicas sobre o direito de estar na cidade, de ocupar seus espaos, de traar itinerrios, de pertencer, enfim: ter identidade e lugar (LEITE, 2004, p. 25).

    Atividades1. Observe e liste alguns problemas urbanos em sua cidade inerentes ao ordenamento de algumas

    atividades e que poderiam ser melhorados com simples atitudes.

    2. Em sua cidade, os elementos antrpicos predominam sobre os naturais?

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  • 16 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    3. Quem gerencia uma cidade?

    Para refletirO Show de Truman: o show da vida. Direo de Peter Weir. EUA, 1998.

    O filme mostra a invaso de privacidade nas vidas das pessoas que pode acontecer nas cidades. Truman (True e Man que em ingls significam homem verdadeiro) vive em uma cidade litornea chamada Seaheaven, onde tudo parece perfeito e em sincronia, para que ele nunca pense em abando-n-la.

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  • Histria urbana: evidenciando as diversas

    formas que ao longo da histria se constituram no processo da

    formao das cidades

    Evoluo das cidades

    A cidade antigaEra uma fortaleza, o reduto e abrigo em tempos de guerras e invases.

    As primeiras manifestaes a definirem uma cidade como forma de ocupao de um territrio fo-ram as plantaes perenes, as construes de templos religiosos e as obras de irrigao, disponibilizan-do gua a todos os habitantes. A partir do momento em que o homem comeou a dominar a natureza e us-la a seu favor, pde fazer dela um local para sua sobrevivncia.

    A cidade tornou-se ento um local de produo, alm de moradia, e assim, com o excedente gerado, iniciaram-se os mercados como forma de comercializao e troca dos mais diversos produtos, gerando lucros e riquezas.

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  • 18 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    A convivncia em um povoado requeria regras comuns, a fim de garantir a ordem local e auxiliar na gesto da cidade. Para a formulao dessas regras, deveria haver uma organizao poltica, gerando, necessariamente, uma hierarquizao da sociedade.

    A cidade como convenincia de mercadoQuando o nvel de produo ultrapassa o da prpria subsistncia, gerando uma produo exce-

    dente, iniciam-se possibilidades de comercializao e troca de mercadorias. Assim, cada indivduo, como detentor da produo de determinado produto, passa a se especializar nessa produo. So institudos ento, nos centros das cidades, os mercados. Essa produo especializada torna-se diferenciada tambm entre o campo e a cidade. O campo produz matria-prima, a qual a cidade transforma em produto. Assim comea a diviso das reas e das atividades: no campo, a produo, e na cidade, a transformao e a co-mercializao.

    Iniciam-se as trocas e as es-pecializaes entre as cidades. Essas trocas exigiam que duas ou mais ci-dades tivessem que ter uma mesma poltica em relao ao comrcio, e conseqentemente economias ur-banas semelhantes. Na Antiguidade, isso gerou a unio de vrias cidades em um nico poder, ou seja, dentro de um mesmo imprio.

    O centro das cidades passa a ser o centro de mercado e de con-sumo. Onde antes apenas se via acontecer a praa de trocas, passou a se perceber uma vida pblica: a

    populao se reunia para fazer compras, conversar e passear, alm de ter uma maior participao na vida poltica.

    A partir de um determinado momento as cidades comearam a ser organizadas conforme seus mercados, sendo tambm influenciadas pelos mercados das cidades vizinhas. Isso passou a atrair para os centros urbanos muitas pessoas em busca de produtos e servios. Camponeses largaram o campo por di-versos interesses presentes nos grandes centros, em busca das mais diversas atividades e at mesmo pelas diferentes manifestaes artsticas.

    A cidade vista conforme suas atividades econmicas, de acordo com a quantidade de servios que oferece, e, alm disso, a cidade o local onde acontecem as mais diversas manifestaes, onde ocorre a reunio de pessoas conforme grupos dos mais diversos interesses.

    Uma cidade, para ser considerada como tal, no necessita possuir um nmero mnimo de habitantes, pois essas regras variam conforme o pas onde se encontram. A real configurao para que determinado espao seja considerado como cidade o tipo de atividade a que se dedicam seus habitantes atividades

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    Ilustrao do sculo XX que retrata, em uma cidade inglesa do sculo XIV, a venda de mercadorias: tecidos esquerda e alimentos cozidos em bancadas nas casas. O porco direita um lembrete da agricultura ainda presente nas cidades medievais.

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  • 19|Histria urbana: evidenciando as diversas formas que ao longo da histria se constituram no processo da formao das cidades

    no-agrcolas, a maior densidade demogrfica, os servios oferecidos, a sede do poder poltico, podendo ou no oferecer o atendimento s necessidades mnimas de bens e servios para a populao.

    Ho de ser analisados diversos aspectos como: noo de espao (rea da cidade), densidade de-mogrfica (relao pessoas x territrio) e construda (relao metros quadrados construdos x territrio), aglomerao, tamanho, emprego e poder.

    Linha do tempo

    Povos nmadesA subsistncia dos povos pr-histricos, co-

    nhecidos como nmades, dava-se pela caa, pesca e explorao da natureza. No produziam modi-ficao no espao, somente se adaptavam a ele e o seu raio de ao, para tanto, deveria ser muito grande. A caa e a coleta de alimentos sustenta-vam menos de quatro pessoas por quilmetro quadrado (MUMFORD, 1982, p.17). Os primeiros traos encontrados de povoados permanentes foram no perodo mesoltico, h quinze mil anos. Esse processo foi se desenvolvendo e, cerca de trs mil anos depois, j no perodo neoltico, iniciou-se o processo de plantio de sementes, com o domnio do cultivo de gros e a domesticao e criao de animais.

    Ao dominar a natureza e o posterior domnio da agricultura tornaram possvel o estabelecimento de moradia fixa. Para que isso se realizasse era apenas necessrio estar prximo a rios e crregos, permi-tindo assim a irrigao das plantaes e o seu desenvolvimento. A dominao dos processos agrcolas foi o passo mais importante para que o homem deixasse de ser nmade e pudesse se estabelecer em um local fixo.

    Assim surgem as primeiras aldeias e a idia de famlia e vizinhana, com a cooperao entre as aldeias e a convivncia, pacfica ou no, entre as comunidades. Com sua alimentao assegurada e a moradia fixa, houve aumento significativo da natalidade e reduo da mortalidade.

    Iniciou-se ento um processo de disseminao das aldeias agrcolas. Os homens montados a ca-valo podiam percorrer distncias maiores em menor espao de tempo, e dominar mais e mais terri-trios. Outro fator de relevante importncia foi o surgimento dos utenslios, da metalurgia, e da roda, proporcionando o desenvolvimento das carroas puxadas por bois e cavalos.

    Inicia-se a diferenciao entre a aldeia e a cidade, representada pelo tamanho, tipologia de ativi-dades e pelos servios ofertados. Em uma aldeia ou povoado, apenas se via a agricultura como forma de explorao da terra. J na cidade eram oferecidos servios dos mais variados possveis, como fabricao de artefatos, prestao de servios religiosos e militares, enfim, um espao baseado no comrcio e servios.

    Lepenski Vir, na Srvia, um dos principais locais de estudo dos primeiros assentamentos humanos.

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  • 20 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Tambm uma das caractersticas mais importantes da cidade primitiva era servir a um Deus po-deroso. Quando esse poder passa a ser exercido pelo Rei, a cidade comea a ficar mais organizada, e assim a vida comea a prosperar. Nesse sentido todos os moradores passam a confiar em seu superior e creditar a ele a prosperidade.

    Os Imprios da Antiguidade foram disseminadores de cidades, pois elas eram pontos de apoio para manter a supremacia militar nas regies conquistadas. (SOUZA, 2005, p. 45).

    H 5 000 anos Dessa poca existem registros das for-

    mas de organizao poltica pelos Conselhos de Ancios das aldeias. Esse tipo de organiza-o era responsvel pelo povoado, criando, aplicando e julgando regras, expressando o consenso entre os homens. A idade das pes-soas, nessa poca, era a nica capaz de criar a hierarquizao e autoridade dessas socieda-des.

    A localizao das cidades se dava nor-malmente prximas a rios navegveis ou mes-mo junto ao mar, pelo fcil transporte e aces-sibilidade, como os Rios Nilo, Tigre, Eufrates e Indo. As fortificaes e os locais de permann-cia para os reis e deuses se desenvolviam no topo dos morros ou em penhascos, sendo este

    um local estratgico e que permitia a visualizao de todo o territrio ao redor.

    A cidade era smbolo da riqueza e do poder, e tambm disputada pela dominao pblica. Quem a ela no pertencesse representava uma imagem de poder inimigo e opressor.

    E foi esse domnio de poder e a demasiada busca por ele que se iniciaram as batalhas e guerras por parte da realeza, na busca de mais territrios. O poder acumulado e os territrios conquistados eram smbolos de status e poder. As guerras foram estabelecidas e institudas pelos povos, escravizando os mais fracos e primitivos. Assim se deu o desenvolvimento da cultura urbana.

    H 2 000 anosNessa poca surgiram as cidades com forma

    amadurecida, com casas enfileiradas criando espa-os de circulao (ruas), canais de drenagem reves-tidos de tijolos e latrinas internas.

    Babilnia foi a maior cidade da Antigidade, possuindo mais de quinhentos mil habitantes e gran-de importncia como centro religioso. Por isso foi di-versas vezes dominada, destruda e reconstruda. Khorsabad Iraque.

    Krak des Chevaliers Sria.

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  • 21|Histria urbana: evidenciando as diversas formas que ao longo da histria se constituram no processo da formao das cidades

    As cidades ento deveriam ser fortificadas a fim de garantir sua segurana e a integridade da populao. Eram conhecidas por cidadelas e seus habitantes recebiam o ttulo de cidados. Possuam muralhas, fossos, baluartes e poderio militar estruturado, assim como um palcio real para a fixao do rei como responsvel por aquele espao. Outro aspecto caracterstico dessas cidadelas era a go-ra ou praa central, onde todos os acontecimen-tos urbanos ocorriam, alm dos vrios edifcios pblicos como teatros, estdios, ginsios, centros educacionais e culturais.

    Com o surgimento do Imprio Romano veio a representao da paz entre os povos e as cidades passaram a no ter mais muros, apresen-tando intensa urbanizao e grande prosperida-de. A cidade de Roma no ano de 274 a.C. possua 1 345 hectares.

    Sculos V e VINessa poca havia a preocupao com o planejamento das cidades com a inteno de que estas

    no crescessem simplesmente para onde a onda de crescimento as levasse. A configurao ortogonal, conhecida como tabuleiro de xadrez, norteava ento esse planejamento. As ruas tinham hierarquias definidas e as habitaes possuam parmetros a serem seguidos, como a necessidade de terraos.

    Quanto ao planejamento de suas cidades, os gregos no tinham teorias definidas. Plato e Arist-teles diziam que as dificuldades deveriam se resolver na prtica.

    Protgoras de Abdera (Abdera, 480 a.C. Siclia, 410 a.C.) dizia que: o homem a medida de todas as coisas, das coisas que so, enquanto so, das coisas que no so, enquanto no so., concluindo um pensamento de Herclito de feso (datas aproximadas: 540 a.C. 470 a.C. em feso, na Jnia).

    Os romanos seguiram bastante os padres helnicos no planejamento de suas cidades. Roma passou de uma cidade insignificante a maior potncia do Mundo Antigo em curto espao de tempo.

    Em cem anos, Roma saltou de 400 mil para 1,2 milho de habitantes. A ex-panso das cidades romanas se deu com algumas principais caractersti-cas como: nfase nas infra-estruturas ligadas ao transporte, diviso dos territrios em quadras (algo parecido com o que observamos em nossas ci-dades atualmente), e a explorao de novos territrios que serviam princi-palmente como abastecimento para a metrpole Roma.

    Os romanos foram pioneiros na forma de irrigao de seus territ-

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    Atenas Grcia.

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    Coliseu Roma.

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  • 22 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    rios. Construram os aquedutos, que traziam gua de montanhas e locais distantes, e serviam para abaste-cer a cidade. Tambm foram os primeiros a demons-trar preocupaes com o esgotamento sanitrio, que era feito por galerias subterrneas, que continuam em perfeito estado de uso at hoje.

    A partir do sculo V, juntamente com a queda do Imprio Romano, tiveram incio as invases br-baras. O comrcio e servios dos centros urbanos foram abandonados e grande parte da populao urbana retornou para o campo. A sociedade passou a ser moldada pelo sistema feudal e pelo sistema religioso, representando e disseminando a fora do cristianismo, onde os bispos exerciam funes de go-vernantes.

    A economia feudal baseava-se na agricultura e era dominada pelos senhores feudais, que, em troca de trabalho garantiam para os habitantes proteo e apoio militar.

    As cidades ento voltaram a possuir muralhas e tiveram seu tamanho reduzido consideravelmen-te, retornando ao nvel de subsistncia.

    O prolongamento das muralhas s aldeias vizinhas marcava o incio de novas cidades. Um anel no entorno dessas muralhas comeou a ser ocupado pelos mercadores, que passaram a se fixar permanen-temente nestes locais criando os burgos.

    A configurao da cidade se dava com ruas radiais, a partir de uma praa central onde se localiza-vam as igrejas e os mercados, locais de grande importncia para convivncia entre os indivduos.

    Sculos XI a XV Nessa poca ocorreu o maior desenvolvimento da economia urbana, com a criao de associa-

    es de comerciantes e artesos, com o intuito de fortalecer suas posies econmicas e sociais.

    O maior exemplo de cidade dessa poca Constantinopla, concebida em forma triangular, com 6 milhas (1 milha equivale a 1 609,344 metros) de um ngulo ao outro. Possua muralhas altas e 1 milho de habitantes.

    Veneza, fundada no sculo VI, foi atingida pelas invases brbaras e no sculo XI torna-se grande cidade, sendo conhecida como cidade dos comerciantes, possuindo 200 mil habitantes.

    Alguns problemas urbanos j comeavam a aparecer como a falta de esgotamento sanitrio e drenagem urbana. O crescimento do comrcio comeou a impulsionar as pessoas para as cidades. Nes-se perodo algumas cidades tiveram um relevante crescimento, como Florena, com 90 mil habitantes.

    No sculo XIV, Paris contava com 75 mil moradores, 352 ruas e 15 mil contribuintes.

    Pela falta de servios urbanos e higiene, houve o alastramento de algumas epidemias. Em meados do sculo XIV estima-se que a peste negra tenha dizimado cerca de um tero da populao da Europa.

    Haarlem Pases Baixos.

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  • 23|Histria urbana: evidenciando as diversas formas que ao longo da histria se constituram no processo da formao das cidades

    No sculo XV, com a inveno da plvora e dos canhes, houve a explorao e conquistas de novos territrios. Mas as cidades dessa poca eram a expresso da negao da cidade medieval, com becos e ruas estreitas, passando a sofrer com a transmisso de doenas.

    As transformaes por que passaram as antigas cidades no Renascimento baseavam-se na busca por traados urbanos baseados em critrios racionais e geomtricos, com aspectos como simetria e proporo. Esses estudos tiveram como resultado plstico o formato de estrelas, com espaos para a parte administrativa e as reas funcionais urbanas.

    Casale Monferrato Itlia.

    Sculo XVIEsse perodo foi marcado pela fixao do rei numa mesma cidade e o aparecimento da cidade

    capital.

    Tambm foi marcado pelas ocupaes iniciais na Amrica, com as primeiras cidades fundadas pelos colonizadores espanhis com traados pr-determinados, influenciados pelas metrpoles euro-pias, como a Cidade do Mxico e Cuzco, no Peru. Filadlfia, na Pensilvnia (EUA), fundada em 1683, foi desenhada por Thomas Holme, com 512 ha, ruas com 15m de largura e avenidas com 35m de lar-gura. Tambm a cidade de Washington, no Distrito de Columbia (EUA), foi estabelecida por topgrafos, tendo um pr-estudo de implantao.

    A cidade de Lima (Peru), fundada em 1535, possua 300 ha; Buenos Aires (Argentina), em 1583, 345 ha.

    Sculo XIX Caracterizado pela Revoluo Industrial, o de-

    senvolvimento das cidades foi diretamente influen-ciado por esse acontecimento histrico. O desenvol- Estao Taipei MRT Shimen.

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  • 24 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    vimento tecnolgico se deu da seguinte forma: 1837 telgrafo, 1850 energia eltrica, 1857 elevador, 1859 oleoduto, 1880 iluminao eltrica, 1883 motor exploso, 1896 rdio. A expanso industrial induziu o incremento dos servios e conseqentemente aumentou a necessidade destes pela popula-o. Algumas necessidades tornaram-se mais evidentes como o sistema virio, o transporte urbano e a questo da moradia.

    As cidades foram ento moldadas pela tecnologia: automveis, metr, nibus, telecomunicaes e os transportes impulsionaram um crescimento acelerado dos centros urbanos.

    Expresso biarticulado Curitiba.

    O desenvolvimento do plano ortogonal de Nova Iorque (EUA) foi pioneiro em termos de or-denamento urbano, com princpios de favorecimento para o desmembramento do territrio. Conseqentemente foi se desenvolvendo a atividade comercial e a preocupao com as fi-nanas se mostrou elemento de suma importncia para a economia baseada na produo e comercializao de bens. O arranha-cu, proporcionado pela inveno do elevador, foi a mani-festao mais dramtica da atividade comer-cial e dominava a paisagem da cidade como um todo.

    Sculo XXIOs tempos atuais esto sendo condicionados cada vez mais pelo domnio das comunicaes e da informatizao. As relaes socioeco-nmicas esto se dando atravs de contatos no-presenciais. Isso nos reporta a questionar a noo de territrio. Quem administra o ter-ritrio virtual? Qual a noo de territrio que temos a partir dessas relaes?

    Se para o conceito de cidade a noo de ter-ritrio fundamental, onde o espao mais importante do que o tempo, como podere-mos imaginar as relaes interpessoais onde a noo de tempo se torna mais importante do que a de espao?

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    Empire State Building Nova Iorque.

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  • 25|Histria urbana: evidenciando as diversas formas que ao longo da histria se constituram no processo da formao das cidades

    Surge assim a representao do conceito de desterritorializao, ligado ao papel que as atuais tecnologias representam para a reestruturao de um novo modelo de desenvolvimento eco-nmico.

    O territrio pode se desterritorializar, isto , abrir-se, engajar-se em linhas de fuga e at sair do seu curso e se destruir. A espcie humana est mergulhada num imenso movimento de desterritorializa-o, no sentido de que seus territrios originais se desfazem ininterruptamen-te com a diviso social do trabalho, com a ao dos deuses universais que ultra-passam os quadros da tribo e da etnia, com os sistemas maqunicos que a levam a atravessar cada vez mais rapidamente, as estratificaes materiais e mentais. (GUATTARI; ROLNIK, 1 996, p. 323).

    As informaes quase instantneas que acontecem a todo tempo nos dias atuais esto real-mente transformando as cidades. A era da informao est introduzindo uma nova forma urbana, a cidade informacional. (CASTELLS, 1999, p. 488).

    Com o desenvolvimento dessa linha do tempo que apresentamos at aqui, enfocando as di-menses das cidades atravs dos tempos, suas transformaes e suas tendncias. Cabe agora refletir como essas tendncias iro afetar as cidades, o mercado de terras, a valorizao imobi-liria e as relaes socioeconmicas.

    Planejamento de cidadesEm cada poca houve um tipo de preocupao com a institucionalizao do ordenamento das

    cidades. Em 1 859: Plano Cerda Barcelona; em 1916: Traado Sanitrio das Cidades Saturnino de Brito; em 1928: Declarao de La Sarraz funes da cidade: habitar, trabalhar e recrear; em 1933: Carta de Atenas que foi um grande marco para o moderno urbanismo.

    A Carta de Atenas foi elaborada durante o IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado na cidade de Atenas no ano de 1933, tendo como um dos seus principais participantes o arquiteto e urbanista Le Corbusier, que foi um dos primeiros a compreender as transformaes que o automvel exigiria dentro planejamento urbano.

    A Carta trata da chamada Cidade Funcional e sintetiza o Urbanismo Racionalista. Ela prega a se-parao da cidade em reas distintas: reas residenciais, de recreao e de trabalho. Prope, no lugar do carter e da densidade das cidades tradicionais, uma cidade-jardim, na qual os edifcios se localizam em reas verdes pouco densas. At essa data a cidade era pensada por suas trs funes: habitar, trabalhar e recrear. Alm destes pontos, foi neste documento que primeiro se pensou na insero dos veculos na cidade. Estes estavam comeando a tomar sua importncia no mbito da locomoo urbana, sendo assim de extrema importncia o planejamento da 4. funo da cidade: circular.

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    Nova Iorque Estados Unidos.

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  • 26 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Em setembro de 1952, na cidade de La Tourrete, Frana, em reunio do Grupo Economia e Huma-nismo1, foram fixadas as novas dimenses do Planejamento Territorial, atravs da Carta do Planejamento Territorial. O principal objetivo deste Planejamento seria criar, pela organizao racional do espao, con-dies de valorizao da terra e as situaes mais convenientes ao desenvolvimento humano de seus habitantes. Pensou-se ento que o planejamento deveria ser tratado como um processo, incluindo a preocupao com a participao popular.

    Em Bogot, na Colmbia, em 1958, foi realizado pelo Centro Interamericano de Vivenda e Plane-jamento (CINVA), o Seminrio de Tcnicos e Funcionrios em Planejamento Urbano, onde foi elaborada a Carta dos Andes2, que se constitui um documento sobre o Planejamento Territorial Contemporneo. Nessa Carta foi pensada a 5. funo da cidade: o lazer tendo como preocupao o meio ambiente.

    O Plano Piloto para a Capital Federal Braslia realizado em 1960 com projeto urbanstico de Lcio Costa, o resultado de uma influncia da Carta de Atenas. As zonas urbanas so bem definidas e sepa-radas: edifcios pblicos, setor residencial, hoteleiro, comercial e bancrio, com grandes espaos entre as edificaes e a circulao bem definida. Outro exemplo de urbanismo racionalista a cidade de Chan-dighard na ndia, projeto de Le Courbusier, com a proposta de um tratamento homogneo das funes urbanas, sem as diferenas socioeconmicas entre as classes sociais.

    1 O reverendo Padre Lebret, dominicano francs, em 1941 fundou o movimento Economia e Humanismo a partir do qual, em companhia de Franois Perroux, construiu e ilustrou a problemtica e a prtica da Economia Humana, preocupada, fundamentalmente, em gerar uma nova aproximao dos estudiosos sociais realidade, abrindo-se a uma viso global da dinmica das sociedades e das culturas.2 A Carta dos Andes definiu: planejamento um processo de ordenamento e previso para conseguir, mediante a fixao de objetivos e por meio de uma ao racional, a utilizao tima dos recursos de uma sociedade em uma poca determinada. O planejamento , portanto, um processo do pensamento, um mtodo de trabalho e um meio para propiciar o melhor uso da inteligncia e das capacidades potenciais do homem para benefcio prprio e comum.

    A cidade de Hong Kong, na China, em vista que permite identificar reas residenciais (ao fundo), comerciais (nas margens do canal), de lazer (parque em primeiro plano) e de circulao (avenidas prximas ao parque e o prprio canal).

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  • 27|Histria urbana: evidenciando as diversas formas que ao longo da histria se constituram no processo da formao das cidades

    O marco referencial para o ordenamento das cidades brasileiras veio com a Lei Federal 6.766/79, do Parcelamento do Solo Urbano, que define basicamente os parmetros para loteamentos e desmem-bramentos do solo urbano, sendo que os municpios integrantes de regies metropolitanas devem ter obrigatoriamente seus processos, referentes aprovao de parcelamento do solo urbano, analisados pelo rgo metropolitano, juntamente com a Prefeitura local.

    A Constituio Federal de 1988 diz em seu artigo 18 que: a organizao poltico-administrativa da Repblica Federativa do Brasil compreende a Unio, os estados, o Distrito Federal e os municpios, todos autnomos. Essa autonomia produz municpios capazes de definir seus rumos e aes, reforando seu papel e responsabilizao na formulao da poltica urbana. Ela trata da poltica urbana, presente pela primeira vez numa Constituio brasileira, como tambm define a funo social da propriedade privada urbana.

    A partir da promulgao da Lei 10.257 de 10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Ci-dade, h a previso de instrumentos urbansticos em que, a partir da lgica da cidade democrtica, os interesses coletivos devam ser priorizados em detrimento dos individuais. H tambm a interferncia no direito de propriedade privada com o objetivo de conter a especulao imobiliria.

    Um dos avanos mais importantes da Constituio de 1988 foi sem dvida a incluso da popula-o, como co-responsvel pela conduo do planejamento das aes no municpio e na cidade.

    Macrozoneamento urbanoO macrozoneamento urbano uma forma de atribuir na cidade cada funo especfica em seu de-

    vido lugar. Ele tem por base a distino necessria entre as diferentes atividades na cidade: habitacional, industrial, comercial e atividades destinadas ao lazer.

    O estabelecimento das aptides como as tendncias de ocupao, a vocao da cidade e sua importncia na insero regional so de extremo valor para se ter um diagnstico definido do espao urbano e saber em que se deve investir para que a cidade se desenvolva com carter nico.

    O macrozoneamento urbano tambm prev a diviso da rea urbana em espaos homogneos: rea de consolidao, reas de intensificao, reas de expanso urbana e reas especiais (preservao ambiental e paisagstica). Para a concepo do macrozoneamento se faz necessria a observao das 5 funes da cidade: habitar, trabalhar, recrear; circular e lazer.

    Posteriormente ao macrozoneamento, deve ser elaborado o zoneamento urbano, em que para cada uma das cinco funes, em determinado local da cidade, deve ser definido parmetro diferenciado para a ocupao. Por exemplo: as zonas residenciais devem ser diferenciadas: locais com habitaes unifamiliares, mais horizontalizadas ou com residncias coletivas, mais verticalizadas; as zonas com co-mrcio local, com menor porte, ou com comrcio geral, de maior porte.

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  • 28 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Texto complementarDa diviso do trabalho social

    (DURKHEIM, 1955)

    [...] no queremos dizer que as circunscries territoriais esto destinadas a desaparecer com-pletamente, mas apenas que passaro para o segundo plano. As instituies antigas nunca desvane-cem diante das novas instituies, a ponto de no mais deixarem vestgios de si mesmas. Elas persis-tem, no apenas por sobrevivncia, mas porque persistem tambm algumas das necessidades a que correspondam. A proximidade material constituir sempre um vnculo entre os homens; por con-seguinte, a organizao poltica e social com base territorial certamente subsistir. Apenas ela no ter sua atual preponderncia, precisamente porque esse vnculo perde a fora. De resto [...] sempre encontraremos divises geogrficas, inclusive na base da corporao. Alm disso, entre as diversas corporaes de uma mesma localidade ou de uma mesma regio, haver necessariamente relaes especiais de solidariedade que sempre reclamaro uma organizao apropriada (DURKHEIM, 1955, p. 436).

    Este texto, embora escrito h algum tempo, parece muito atual e deve proporcionar uma re-flexo sobre a solidariedade e a unio que devem permear as relaes entre os indivduos. Como o estabelecimento de um sistema de relaes que unam uns aos outros, e que pode ser duradouro a partir dos deveres e direitos de cada um. Pode-se fazer uma analogia entre esse paradigma e as questes imobilirias decorrentes.

    Atividades1. Em que se ocupam os habitantes das cidades?

    2. Quais os pontos convergentes entre a cidade antiga e a cidade atual?

    3. Qual a tendncia das relaes territoriais nas cidades?

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  • Rede urbana no Brasil: reconhecendo as estruturas urbanas

    formadas a partir das centralidades regionais

    Os municpios e as cidades brasileirasA Constituio do Imprio de 1854 introduziu no Brasil o conceito de municpio como organizao

    territorial e com as suas diversas denominaes. Anteriormente, o que existia eram as vilas e as cidades, com organizao constituda pelos trs poderes: Executivo, Legislativo e Judicirio, eleitos pelo povo. A seguir, tabela com a situao das vilas e cidades criadas at o ano de 1720.

    Os centros urbanos apresentavam ento uma vida que pode ser caracterizada como intermitente. Cessado o movimento decorrente do afluxo de senhores de terra, tinham uma aparncia de abandono e desolao [...] (REIS, 1968, p. 97).

    Ao se iniciar o desenvolvimento da produo com mtodos cientficos (BENEVOLO, 1998, p. 443) surge uma nova conformao para as cidades, pois o negcio das trocas, das compras e das vendas es-peculativas, representado pelas operaes dos excedentes produtivos do campo, realizava-se nas reas urbanas que ofereciam um maior suporte para essas trocas.

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  • 30 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Vilas e cidades criadas at o ano de 1720 no Brasil

    Sculo XVI Sculo XVII Sc. XVIII at 1720

    Alagoas 3 Bahia 4 5 1Cear 1Esprito Santo 2 1 Guanabara 1 Maranho 2 1Minas Gerais 8Par 4 Paraba 1 Paran 2 Pernambuco 2 1 1Piau 1Rio De Janeiro 6 Rio Grande Do Norte 1 Santa Catarina 1 1So Paulo 6 10 1Sergipe 1 2 Total 18 37 15Total Geral 70

    O resultado desse nimo sobre a estrutura das cidades foi dplice. Os interesses do dinheiro pro-gressivamente dominaram os interesses da terra, no traar e construir os novos bairros da cidade. O que talvez mais significativo ainda que toda a terra tinha escapado deteno feudal e estava sujeita venda ilimitada, tornando-se cada vez mais um meio de fazer dinheiro. A terra feudal era concedida por um prazo de 99 ou 999 anos; pelo menos trs geraes. Esse sistema favorecia a continuidade e reduzia o movimento ascensional dos preos. Quando a terra se tornou um produto, e no um bem permanente, fugiu a qualquer espcie de controle comunal. (MUMFORD, 2001, p. 451).

    A partir da os municpios e consequentemente as cidades, no Brasil, no pararam de se multipli-car e de se contrapor ao campo. No Brasil, em 1900, 9,4% da populao total morava em cidades e 100 anos depois, em 2000, foi atingida a marca de 81,23% de residentes na rea urbana.

    No quadro a seguir so apresentados os dados que comprovam essa inverso campo cidade, e que exatamente em decorrncia dessa questo que enfrentamos, nos dias de hoje, dificuldades na formulao do conceito de cidade.

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    8.

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  • 31|Rede urbana no Brasil: reconhecendo as estruturas urbanas formadas a partir das centralidades regionais

    Evoluo urbana no Brasil 1872/2000

    Crescimento da populao urbana no Brasil

    Ano Percentual urbano (%)Populao total

    (em milhes)1872 5,90 9,91890 6,80 14,31900 9,40 17,41920 10,70 30,61940 31,24 41,31950 36,16 51,91960 44,93 70,21970 55,92 93,11980 67,59 119,11990 75,59 146,81996 78,36 157,02000 81,23 169,8

    O Brasil possui altas taxas de urbanizao, superiores at mesmo do que em pases como a Mal-sia, com 52,1%, a Nigria, com 37,7% e a ndia, com 26,3% (Banco Mundial, 2000).1

    A falta de controle pelas autoridades pblicas, que justamente quem deveria zelar pelo ter-ritrio, faz com que a velocidade da ocupao urbana produza em quase toda parte cidades indisci-plinadas2, desprovidas de infra-estrutura bsica como servios pblicos, principalmente os que dizem respeito sade, educao e segurana, que no conseguem atender s demandas. As ruas, as pra-as, os parques estruturados servem apenas a uma parcela da populao. Outra parcela se v obrigada a produzir uma cidade marginal, ilegal, irregular e morar nas periferias das cidades, onde as reas so mais baratas e tambm desprovidas de benfeitorias.

    Outra caracterstica da urbanizao desigual o exagerado ritmo de crescimento das periferias pobres em relao aos centros urbanizados. Enquanto a taxa mdia de crescimento anual das cidades brasileiras de 1,93%, o crescimento na periferia de So Paulo chega a taxas de 4,3% ao ano (MARICATO/Projeto Moradia, 2000)3.

    O Brasil, em 2007, est dividido administrativa e politicamente em 27 unidades federativas 26 Estados e um Distrito Federal. Nelas esto localizados os 5 564 municpios brasileiros (IBGE/2007).

    A distribuio dos municpios no Brasil por unidades da Federao est expressa no quadro a seguir:

    1 BANCO MUNDIAL. Relatrio Sobre o Desenvolvimento Mundial 2000/2001. Banco Internacional de Reconstruo e Desenvolvi- mento/Banco Mundial, Washington, D.C.2 reas urbanas ocupadas sem o devido controle urbanstico. 3 Projeto Moradia, elaborado na ONG paulista Instituto Cidadania entre 1999 e 2000.

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  • 32 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Municpios por unidades da FederaoUnidade da Federao Nmero de Municpios

    Acre 22Alagoas 102Amap 16Amazonas 62Bahia 417Cear 184Distrito Federal 1Esprito Santo 78Gois 246Maranho 217Mato Grosso 141Mato Grosso do Sul 78Minas Gerais 853Par 143Paraba 223Paran 399Pernambuco 185Piau 223Rio de Janeiro 92Rio Grande do Norte 167Rio Grande do Sul 496Rondnia 52Roraima 15Santa Catarina 293So Paulo 645Sergipe 75Tocantins 139Total 5168

    De acordo com dados do IBGE Censo Demogrfico de 2000, a distribuio populacional no Brasil apresenta muitas desigualdades, havendo concentrao da populao nas zonas litorneas, especial-mente no Sudeste e na Zona da Mata nordestina. Outro ncleo importante a regio Sul. As reas me-nos povoadas situam-se no Centro-Oeste e no Norte.

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  • 33|Rede urbana no Brasil: reconhecendo as estruturas urbanas formadas a partir das centralidades regionais

    Lei Orgnica Municipal (LOM) importante salientar que os municpios possuem autonomia constitucional para dispor sobre

    assuntos de carter municipal e regional, porm devem respeitar os estudos e proposies advindas dos organismos de abrangncia nacional, inclusive os que tratam das regionalizaes.

    Dessa forma a LOM, conceituada como um conjunto de normas elaboradas para dar diretriz e sus-tentao ao pleno funcionamento dos poderes governamentais, especificamente aos que abrangem as cidades, poder prever tambm as questes relativas ao desenvolvimento da regio na qual o municpio esteja inserido, pelos planos nacionais.

    Pela Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 18 de setembro de 1946, o sistema democrtico foi restaurado colocando fim ao regime do chamado Estado Novo que ha-via sido conduzido por Getlio Vargas.

    Em seu artigo 28, fica assegurada a autonomia do municpio brasileiro, pela eleio dos prefeitos e vereadores e pelo estabelecimento de um poder local, capaz de administrar o municpio de forma a atender os interesses da populao.

    Na Constituio da Repblica Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, est prevista uma inovao, em seu artigo 29:

    Art. 29. O municpio reger-se- por lei orgnica votada em dois turnos com o interstcio mnimo de 10 (dez) dias e aprovada por dois teros dos membros da Cmara Municipal que a promulgar, atendidos os princpios estabelecidos nesta Constituio, na Constituio do respectivo Estado e os seguintes preceitos: [...]

    A primeira Lei Orgnica dos municpios brasileiros a partir da Constituio de 1988 representou at ento um fato indito para a democracia nacional. Cada um dos municpios, por fora constitucio-nal, teve que formular e aprovar a sua Lei Orgnica, que em pequena escala representa quase que uma Constituio municipal.

    Os municpios, portanto, funcionaram como legtimas Assemblias Constituintes, fato que ja-mais ocorrera desde a Constituio Republicana de 1891. (CMARA MUNICIPAL DE POOS DE CALDAS, 2007).

    A Constituio de 1988, ao garantir a autonomia poltica do municpio pela eleio do prefeito, do vice-prefeito e dos vereadores, mediante pleito direto e simultneo realizado em todo o Pas, passa a reconhecer que o governo local constitudo por esses agentes polticos.

    Dessa forma, a composio atual das cmaras de vereadores dos municpios brasileiros deve res-peitar a proporcionalidade com a populao do municpio, estar de acordo com a Lei Orgnica de cada um deles e com os limites estabelecidos pelo artigo 29, da Constituio Federal.

    O quadro a seguir demonstra como devem ser os limites atuais para a composio das cmaras municipais, sendo que o nmero de vereadores de cada uma delas deve observar a proporcionalidade com o nmero de habitantes, e no com o nmero de eleitores do municpio.

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  • 34 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Limites atuais para a composio das Cmaras Municipais

    Populao dos municpios Nmero de vereadoresMnimo Mximo

    At 1 milho de habitantes 9 21At 5 milhes de habitantes 33 41Acima de 5 milhes de habitantes 42 55

    A Lei Orgnica Municipal deve fixar tambm a remunerao dos agentes pblicos prefeito e vereadores, observando o disposto nas emendas constitucionais pertinentes ao assunto. Outras ques-tes importantes que devem estar includas so as que dizem respeito eleio do prefeito e do vice-prefeito, a organizao das funes legislativas e fiscalizadoras da Cmara Municipal, a cooperao das associaes representativas no planejamento municipal.

    A Constituio de 1988, no artigo 30, fala da competncia dos municpios como:

    I - legislar sobre assuntos de interesse local;

    [...]

    III - instituir e arrecadar os tributos de sua competncia, bem como aplicar suas rendas, sem prejuzo da obrigatorieda-de de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;

    IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislao estadual;

    V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso, os servios pblicos de interesse local, includo o de transporte coletivo, que tem carter essencial;

    VI - manter cooperao tcnica e financeira com a Unio e o Estado, programas de interesse local [...];

    [...]

    VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do par-celamento e da ocupao do solo urbano;

    IX - promover a proteo do patrimnio histrico-cultural local, observada a legislao e a ao fiscalizadora federal e estadual.

    Outra questo fixada pela Constituio em seu artigo 31 e que deve constar nas leis orgnicas municipais diz respeito fiscalizao do municpio, que ser exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal. E tam-bm prev em seu pargrafo 1. do mesmo artigo, que o controle externo da Cmara Municipal, este dever ser exercido com o auxlio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Municpio ou dos Conse-lhos ou dos Tribunais de Contas dos Municpios, onde houver, e ainda em seu pargrafo 2. dispe que vedada a criao de Tribunais, Conselhos ou rgos de Contas Municipais.

    Sendo o municpio uma entidade autnoma para decidir sobre os seus prprios rumos, cabe aqui ressaltar a importncia de se incluir um captulo, em sua Lei Orgnica, que faa meno ao estudo da sua localizao regional, como tambm de que forma a rede de cidades na qual est inserido possa a vir influenciar o seu desenvolvimento.

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  • 35|Rede urbana no Brasil: reconhecendo as estruturas urbanas formadas a partir das centralidades regionais

    Rede de cidadesO IBGE classifica a rede urbana brasileira em uma hierarquia de acordo com o tamanho e impor-

    tncia das cidades.

    Um centro urbano pode ser definido pelo territrio que funcionalmente se encontra dependente dele, para um determinado nmero de funes. a funo urbana que define o papel da cidade em sua regio de influncia: cidade plo, cidade universitria, cidade porturia, cidade dormitrio, entre outras. Essa funo vem a ser o conjunto de atividades que a cidade oferece como comrcio mais desenvolvido, uma maior oferta de servios especializados, ou at mesmo o nmero de indstrias ou de escolas.

    As categorias de cidades mais importantes no Brasil esto demonstradas no quadro a seguir:

    Classificao das cidades brasileiras por populao

    Cidade Populao* Classificao IBGE** IDH***So Paulo 11 016 703 Grande metrpole nacional 0,841Rio de Janeiro 6 136 652 Metrpole nacional 0,842Belo Horizonte 2 399 920 Centros metropolitanos regionais 0,839Porto Alegre 1 440 939 0,865Recife 1 515 052 0,797Salvador 2 714 119 0,805Belm 1 428 368 Grandes metrpoles regionais 0,806Curitiba 1 788 559 0,856Fortaleza 2 416 920 0,786Goinia 1 220 412 0,832Manaus 1 644 690 0,774

    * Dados obtidos junto ao IBGE Censo 2000 ** Dados obtidos junto ao PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.

    *** O IDH de uma localidade composto de ndices relativos expectativa de vida (longevidade), grau de escolaridade (educao) e nvel de renda da populao daquela localidade.

    As funes desempenhadas pelas cidades, cada uma com as suas especificidades, e cujas funes passam a ser complementares, acabam por formar uma rede de cidades, com um grau de dependncia mtua. A partir dessas relaes entre os espaos urbanos, a busca para a satisfao das diversas neces-sidades se constitui numa hierarquia de cidades, onde cada uma delas adquire determinada funo dentro da rede.

    Poderamos definir uma rede de cidades como sendo um conjunto de espaos urbanos forman-do um sistema, que engloba pequenas, mdias e grandes cidades, constituindo assim uma hierarquia urbana.

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  • 36 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Na dcada de 1933, Walter Christaller4 formulou a Teoria dos Lugares Centrais que diz que a cen-tralidade traduz a extenso das funes prestadas pelo lugar central, sendo que centros urbanos que possuam funes mais raras, mais especializadas, apresentam ndices de centralidade mais elevados.

    Mapa de centralidades de Christaller

    O conceito de localidade central ou centralidade organiza-se segundo avaliao da concentrao das atividades econmicas. Esse arranjo espacial resulta de um agregado de decises: a localizao de um aeroporto, de uma rodovia, de uma rea industrial, por exemplo. So duas questes a serem analisa-das: um aspecto diz respeito ao limiar da procura, ou seja, um mnimo de procura que justificaria a oferta de um bem em determinado local, garantindo a visibilidade da oferta. O outro aspecto seria quanto ao alcance do investimento, ou seja, a distncia e o custo mximo que o consumidor est disposto a percor-rer para utilizar determinado bem.

    Essas duas questes levam variao do tipo e funo do investimento, e assim, determinam a hierarquizao das funes desempenhadas por cada um deles. Isso viria a justificar a implantao fun-cional dos bens e equipamentos num lugar central.

    As funes e graus de dependncia que a partir disso vo se formando leva ao estabelecimento da hierarquia de cidades e relao centroperiferia.

    Essa relao (centroperiferia) tem produzido o cenrio das grandes cidades subdesenvolvidas, no incio do sculo XXI, que apresenta um alto grau de pobreza, oriundo da natureza estruturalmente desequilibrada da industrializao e da urbanizao perifricas.

    Surge ento o conceito de planejamento estratgico, alicerado em mudanas geopolticas, eco-nmicas, sociais e tecnolgicas, que tm reflexo sobre o desenvolvimento urbano. As cidades sendo tratadas como plos de crescimento econmico, como catalisadoras da crise social e como difusoras da inovao.

    4 Christaller (1933): Die Zentralen Orte in Suddeutschland Os Lugares Centrais no Sul da Alemanha. Desenvolveu de forma dedutiva uma teoria para explicar o nmero de centros, a sua dimenso e distribuio no espao. A Teoria dos Lugares Centrais, que foi desenvolvida por Christaller e refinada por Lsch, utilizada para prever o nmero, o tamanho e o mbito das cidades numa regio. A teoria baseia-se numa simples extenso da anlise de reas de mercado. As reas de mercado variam de setor para setor, dependendo de economias de escala e da procura per capita, de modo a que cada setor tenha um padro de localizao diferente. A Teoria dos Lugares Centrais mostra como os padres de localizao de diferentes setores se conjugam para formar um sistema regional de cidades. O SULLIVAN, A. Urban Economics. 4. ed. New York: McGraw-Hill, 2000, p. 119.

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  • 37|Rede urbana no Brasil: reconhecendo as estruturas urbanas formadas a partir das centralidades regionais

    A idia seria tratar a cidade com o enfoque mercadolgico, lugar central dos investimentos p-blicos e privados, cooperativa dentro da sua rea de influncia, mas competitiva em relao s outras regies, inclusive com atuao mais voltada globalizao.

    Os projetos urbansticos atualmente, e que provocam um impacto em determinadas regies, ga-nham fora pela atuao mais gil na mtua cooperao entre o poder pblico com os investimentos privados.

    As grandes celebraes mundiais olimpadas, feiras, campeonatos partem atualmente para investimentos em cooperao com agentes externos, que adquirem responsabilidades nestes projetos, como a comercializao futura dessas reas para que sejam incorporadas malha urbana existente.

    O planejamento estratgico se pauta pela viso de que a nica maneira de se pensar o futuro das cidades inseri-las numa rede de cidades-globais, na qual a problemtica central deve ser a competiti-vidade urbana (VAINER, 2000).

    As agncias multilaterais e seus idelogos j desenharam a cidade ideal do limiar do sculo XXI: a cidade produtiva e competitiva, globalizada, conectada a redes internacionais de cidades e de negcios. Concebida e pensada como empresa que se move num ambiente global competitivo, o governo desta cidade se espelha no governo da em-presa: gesto empresarial, marketing agressivo, centralizao das decises, pragmatismo, flexibilidade, entre outras, seriam as virtudes das quais dependeria cada cidade para aproveitar as oportunidades e fazer valer suas vantagens competitivas no mercado de localizao urbana. (MANIFESTO, 2001)5.

    Dentro dessa tica de cidade-regio, surgem como principais atores desse processo os empre-endedores imobilirios, com funes muitssimo importantes para o desenvolvimento das cidades. As parcerias entre estes, a comunidade e o poder pblico provocam a ocupao de determinadas reas, indicando as diversas tendncias de ocupao e valorizando todo um entorno agregado.

    [...] os investidores preferidos para cooptao dos promotores foram os fundos de penso... Entre 1990 e 1998, os in-vestimentos dos fundos de penso no mercado imobilirio passaram de 2 para aproximadamente US$ 8 bilhes [...] A associao dos promotores imobilirios com esses investidores possibilitou a construo de uma grande quantidade de edifcios modernos [...] cujos locatrios preferidos foram as grandes corporaes multinacionais. (NOBRE, 2000, p. 144).

    Embora a estrutura das cidades possa vir a se modificar pela ao dos investimentos pblico-privados, os ganhos socioeconmicos so extremamente favorveis. Contudo, no se pode esquecer de que a funo da cidade e da regio deve ser explicitada, e as aes futuras devem observar os efeitos sobre o meio ambiente.

    A apropriao da terra urbana vista pela tica do mercado e as reas urbanas cada vez mais escas-sas proporciona uma movimentao frentica para os espaos ainda no ocupados dentro do perme-tro das cidades. Isso vem ocasionado a ocupao de reas perifricas cuja infra-estrutura acaba por ser financiada pelo capital privado, influenciando no aumento do valor da terra dessas reas. Como conse-qncia esses espaos esto sendo ocupados pela classe de maior poder aquisitivo, o que influencia o esvaziamento dos centros urbanos.

    As caractersticas atuais da conformao perifrica urbana, denominada por alguns autores como urbanizao dispersa, mostra-nos uma influncia na formao das atuais redes de cidades. Essa rede vai reforando cada vez mais o papel das especialidades urbanas, a partir dos interesses e da acessibilidade oferecidas.

    5 MANIFESTO de lanamento da idia de uma Rede Brasileira de Planejadores pela Justia Social, Porto Alegre, criada no dia 27/01/2001, no Frum Social Mundial de Porto Alegre.

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  • 38 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    Texto complementar

    Metrpole, legislao e desigualdade(MARICATO, 2003)

    Introduo O processo de urbanizao brasileiro deu-se, praticamente, no sculo XX. No entanto, ao con-

    trrio da expectativa de muitos, o universo urbano no superou algumas caractersticas dos pe-rodos colonial e imperial, marcados pela concentrao de terra, renda e poder, pelo exerccio do coronelismo ou poltica do favor e pela aplicao arbitrria da lei.

    As mudanas polticas havidas na dcada de 1930, com a regulamentao do trabalho urbano (no extensiva ao campo), incentivo industrializao, construo da infra-estrutura industrial, entre outras medidas, reforaram o movimento migratrio campo-cidade.

    No final do sculo XX, algumas dcadas depois, a imagem das cidades brasileiras parece estar associada violncia, poluio das guas e do ar, criana desamparada, trfego catico, enchentes, entre outros inmeros males.

    Uma das caractersticas do mercado residencial privado legal no Brasil (como em todos os pa-ses perifricos ou semiperifricos) , portanto, sua pouca abrangncia. Mercado para poucos uma das caractersticas de um capitalismo que combina relaes modernas de produo com expedien-tes de subsistncia. A maior parte da produo habitacional no Brasil se faz margem da lei, sem financiamento pblico e sem o concurso de profissionais arquitetos e engenheiros (MARICATO, 2001 e Instituto Cidadania, 2000).

    No de se estranhar que em tais situaes pode ocorrer o desenvolvimento de normas, com-portamentos, mecanismos, procedimentos extralegais que so impostos comunidade pela violn-cia ou que so aceitos espontaneamente e at desejados.

    Entre o legal e o ilegal, arbtrio e ambigidade No se trata de um Estado paralelo ou universo partido. A realidade bem mais complexa.

    Uma ambigidade entre o legal e o ilegal perpassa todo o conjunto da sociedade do qual no esca-pa, mas ao contrrio, ganham posio de destaque s instituies pblicas.

    notvel a tolerncia que o Estado brasileiro tm manifestado em relao s ocupaes ilegais de terra urbana. Esse processo significativo em suas dimenses, se levarmos em conta, especialmente, a grande massa de migrantes que rumou para as cidades neste sculo e que se instalou ilegalmente, j que no teve acesso ao mercado imobilirio privado e nem foi atendida pelas polticas pblicas de habi-tao. Aparentemente constata-se que admitido o direito ocupao, mas no o direito cidade.

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  • 39|Rede urbana no Brasil: reconhecendo as estruturas urbanas formadas a partir das centralidades regionais

    A maior tolerncia e condescendncia em relao produo ilegal do espao urbano vem dos governos municipais aos quais cabe a maior parte da competncia constitucional de controlar a ocupao do solo. A lgica concentradora da gesto pblica urbana no admite a incorporao ao oramento pblico da imensa massa, moradora da cidade ilegal, demandatria de servios pblicos. Seu desconhecimento se impe, com exceo de aes pontuais definidas em barganhas polticas ou perodos pr-eleitorais. Essa situao constitui, portanto, uma inesgotvel fonte para o clientelis-mo poltico.

    A falta de alternativas habitacionais, seja via mercado privado, seja via polticas pblicas sociais , evidentemente, o motor que faz o pano de fundo dessa dinmica de ocupao ilegal e predatria de terra urbana. A orientao de investimentos dos governos municipais revela um histrico com-prometimento com a captao da renda imobiliria gerada pelas obras (em geral, virias), benefi-ciando grupos vinculados ao prefeito de planto. H uma forte disputa pelos investimentos pblicos no contexto de uma sociedade profundamente desigual e historicamente marcada pelo privilgio e pela privatizao da esfera pblica.

    Qualquer anlise superficial das cidades brasileiras revela essa relao direta entre moradia po-bre e degradao ambiental. Isso no quer dizer que a produo imobiliria privada ou que o Estado, atravs da produo do ambiente construdo, no causem danos ao meio ambiente. So abundan-tes os exemplos de aterramento de mangues em todo o litoral do Pas para a construo de condo-mnios de lazer. Ou poderamos citar as indefectveis avenidas de fundo de vale com canalizaes de crregos to ao gosto dos prefeitos municipais e de uma certa engenharia das empreiteiras (para ficarmos em apenas dois exemplos relativos ocupao urbana do solo). O que interessa chamar ateno aqui que grande parte das reas urbanas de proteo ambiental esto ameaadas pela ocupao com uso habitacional pobre, por absoluta falta de alternativas. As conseqncias de tal processo atingem toda a cidade, mas especialmente as camadas populares.

    Atividades1. Cite e descreva trs conseqncias da intensa urbanizao descontrolada.

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  • 40 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    2. Explique as diferenas entre crescimento e desenvolvimento procurando exemplos prticos para ilustrar a questo.

    Para refletirO IDH ndice de Desenvolvimento Humano est diretamente influenciado pelos ndices

    relativos expectativa de vida, ao grau de educao e a nveis de renda.

    Faa uma reflexo sobre qual seria, em sua cidade ou municpio, a questo mais fcil de ser resolvida para que o IDH local pudesse aumentar.

    Consultar o site:

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  • Estatuto da cidade: revelando as ferramentas

    institucionais que regulam a poltica urbana

    Constituio de 1988Em seu prembulo, a Constituio da Repblica Federativa do Brasil, em texto promulgado em 5

    de outubro de 1988, diz:

    Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assemblia Nacional Constituinte para instituir um Estado De-mocrtico, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem precon-ceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a soluo pacfica das con-trovrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

    A Constituio brasileira j possui, at 12 de dezembro de 2006, 59 reformas em seu texto original, sendo 53 emendas constitucionais e 6 emendas constitucionais de reviso. Em 5 de outubro de 1993, foi aprovada a nica reviso constitucional prevista.

    A preocupao com as cidades fica evidente no texto constitucional pela primeira vez, numa Constituio brasileira, num captulo dedicado Poltica Urbana Captulo II, nos artigos 182 e 183.

    Cabe lembrar aqui que o Brasil j possuiu seis textos constitucionais anteriormente Constituio de 1988. So eles: Constituio de 1924, de 1891, de 1934, de 1937, de 1946 e de 1967. Porm, a Consti-tuio de 1988 mostra um reconhecimento ao municpio brasileiro ao defini-lo como ente federativo, in-clusive sendo (re)conhecida como a constituio municipalista. Assim, o municpio passou efetivamente a constituir uma das esferas de poder, ao qual foi dado autonomia e atribuies, at ento inditas em nossa histria.

    Esse material parte integrante do Curso de Atualizao do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.iesde.com.br

  • 42 | Planejamento Urbano e Meio Ambiente

    A nova ordem constitucional de 1988, em seu artigo 18, diz que: A organizao poltico-adminis-trativa da Repblica Federativa do Brasil compreende a Unio, os estados, o Distrito Federal e os muni-cpios, todos autnomos [...].

    Essa autonomia produz municpios capazes de definir seus rumos e aes, reforando o seu papel e a responsabilizao na formulao da poltica urbana.

    A Constituio passa a definir a funo social da propriedade privada urbana. Com a regulamen-tao dos captulos 182 e 183, a partir da promulgao da Lei 10.257 de 10 de julho de 2001 conhecida como Estatuto da Cidade, h a previso de instrumentos urbansticos nos quais, a partir da lgica da cidade democrtica, os interesses coletivos devam ser priorizados em detrimento dos individuais. H tambm a interferncia no direito de propriedade privada com o objetivo de conter a especulao imo-biliria.

    Estatuto da Cidade InstrumentosUm dos avanos mais importantes da Constituio de 1988 foi sem dvida a incluso da popula-

    o como co-responsvel pela conduo do planejamento das aes no municpio e na cidade.

    As dificuldades para a garantia do processo participativo so muitas, mesmo porque a popula-o deve estar organizada em grupos de interesses e de representatividade, assim como estar apta a enfrentar discusses tcnicas a cerca da cidade e do municpio, e com as quais no est muitas vezes familiarizada.

    Por outro lado, os agentes do desenvolvimento municipal necessitam empreender esforos no sentido de mudanas comportamentais para possibilitar a atuao dos mais diversificados interesses.

    A problemtica urbana no assunto recente. Porm, recente o enfrentamento dessas questes de forma democrtica, discutida por todos e com todos os cidados. A comunidade, o Poder Pblico, empresrios, entidades rep