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GUILHERME OLI PALOMA LEITE Remoto e Improvável PRIMEIRA EDIÇÃO SÃO PAULO 2014

Livro: Remoto e Improvável¡ se vão alguns anos de amizade, de trabalhos, alegrias e chateações com as fotos repetidas diversas vezes porque você nunca gostava da sua pose. Nunca

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GUILHERME OLI PALOMA LEITE

Remoto e Improvável

PRIMEIRA EDIÇÃO

SÃO PAULO 2014

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Oli, Guilherme Remoto e improvável / Guilherme Oli, Paloma

Leite. -- 1. ed. -- São Paulo : PerSe, 2014.

ISBN 978-85-8196-769-1

1. Ficção brasileira I. Leite, Paloma. II. Título.

14-10612 CDD-869.93

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

Capa: Juca Levy

Copidesque e Revisão: Paloma Leite

Diagramação: Guilherme Oli

“Se resistimos às nossas paixões, é mais pela fraqueza delas

que pela nossa força" François de La Rochefoucauld

Este livro é para você que, olhando para o teclado, já sentiu seus dedos se

petrificarem, incapazes de digitar e dar vasão a uma emoção tão exigente.

Para você, que inúmeras vezes deu F5 ou desconfiou do servidor, deu pancadas no

monitor ou soprou o celular, na espera de uma mensagem que deveria estar ali,

diante dos seus olhos.

Ou para você que, segundos após o envio, desejou que houvesse o comando Ctrl + Z

para todas as mensagens e e-mails impensados, precipitados ou dolorosos.

Também para você que, diante da tela, já se sentiu dentro de uma bolha. Impotente

frente à prisão que é ausência de uma resposta. Da prisão que é a ausência de

palavras para fazer brilhar seus sentimentos ao outro.

E para você, que se sente protegido e senhor absoluto das lágrimas de dor e

sorrisos de triunfo que apenas uma tela já pode testemunhar e ocultar.

Porque, se “cartas de amor são ridículas”, em tempos digitais, ridículos

somos nós, amantes à mercê.

P.S.1: A vocês, amigos que nunca se recusaram a conceber a matéria-

prima, executar o amor e sofrer a transformação. A vocês que, enquanto

Bia e Tarso trocavam e-mails e teciam suas histórias, estiveram em

nossas vidas, não apenas naquele âmbito remoto do mundo digital, mas

no carinho, no apoio, na crítica, na verdade, na coragem e no amor.

P.S.2: Juca, tempos atrás, o casal Bia e Tarso era uma ideia, uma

história remota e improvável. Mas, se hoje têm cor e uma capa lindona e

tão delicada, é graças a você, que se prontificou a conhecê-los com tanto

carinho! Um amigo artista e amado.

P.S.3: Paulo, esse livro é pra você também! Porque chegou para ficar

enquanto Tarso e Bia se conheciam. Pela parceria, pelo apoio diário e

pela motivação que me deu para escrever, publicar e aprender a

cozinhar. E, claro, por ter sido nosso primeiro leitor, que quase ficou

sem dormir para terminar de ler e contar, todo empolgado, o que tinha

achado. Obrigado por tudo. Te amo!

De: Guilherme Para: Paloma Assunto: Muito obrigado!

"Sábios em vão Tentarão decifrar

O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas

Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização"

E se os tais sábios da música do Chico Buarque tentassem decifrar as bobagens que a gente diz, com certeza iam achar que somos dois malucos. Mas talvez a gente seja mesmo, não é? Já se vão alguns anos de amizade, de trabalhos, alegrias e chateações com as fotos repetidas diversas vezes porque você nunca gostava da sua pose. Nunca mesmo! Mas, aqui: será que você se lembra de que Remoto e Improvável não foi nossa primeira história? Pois é, a primeira nós criamos na estação de trem, enquanto víamos uns filhotinhos de rato brincando nos trilhos e imaginávamos um diálogo para eles. Só sendo dois "sem-noção" assim pra parceria dar tão certo!

"Vem, me dê a mão

A gente agora já não tinha medo"

E, sem medo, que bom que finalmente saiu nosso primeiro livro! Fico feliz e orgulhoso demais que tenha sido junto contigo. Obrigado por esse e pelos próximos projetos que virão!

De: Paloma Para: Guilherme Assunto: RES: Muito obrigado! Um prenúncio de noite qualquer na pardacenta estação de trem de São Caetano. O ano era 2009. Já havia passado o horário de pico e já não eram muitas as pessoas que se aglomeravam ali na plataforma. Um jovem ratinho perambula entre os trilhos e descobre que uma criança descuidada deixou cair um cheetos bem ali, onde os ratos mais velhos o proíbem de ir. E o cheetos brilhava ao sol poente como se fosse ouro ao meio-dia. Não se demora em chamar outro ratinho amigo para, de súbito, em sua incontinência adolescente, irem juntos se aventurar naquela perigosa missão de buscar o petisco. Satisfeitos por terem obtido sucesso na busca antes de serem massacrados pelo trem, nossos heróis, camuflados pelas sombras do submundo onde moram, tecem o seguinte diálogo: - Você reparou que um rapaz e uma garota estavam nos observando lá de cima? - Reparei sim… O que é que tem? - Perguntou o segundo ratinho, a lamber os dedos de cheetos, muito blasé. - Fiquei aqui imaginando uma história para eles. Acho que ainda serão grandes companheiros, talvez sejam parceiros em algumas empreitadas, ou até escrevam um livro juntos… - Ah, será? Sei não… A menina me pareceu meio medrosa, meio pancada… Por exemplo, ela não teria coragem de buscar o cheetos no meio do trilho do trem. - Tem razão. Não teria. Mas ele vai acreditar nela. Ele vai tomá-la pela mão e dizer: “Vamos!”. É por isso que ela tem tanta sorte de tê-lo como amigo.

REMOTO E IMPROVÁVEL

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Prefácio Na maioria das histórias de amor, um casal que compartilha dos mesmos sonhos e valores se apaixona. Tudo flui sem embaraço, até tropeçar em uma impureza, que formava uma dobra, que precipita uma erosão de abismos ou cordilheiras, ou ter de enfrentar uma daquelas tempestades que, fulminantes, prenunciam o fim do mundo. Quando iniciamos o que se tornaria o “Remoto e Improvável”, não pretendíamos criar uma epopeia de amor, nem um casal e seu paraíso particular. Tarso e Bia não foram criados um para o outro. Não foram criados para serem almas gêmeas, nem para serem felizes para sempre. Nós, autores, não tínhamos um plano para eles, nem de transformá-los em um livro. Cada um de nós criou um personagem e, a cada troca de e-mail, passou a pensar e viver como ele, cada qual em seu universo. Lançamos os dois em um ambiente comum, para que se conhecessem e cuidamos para que não fossem indiferentes um ao outro. Depois criamos a distância, o tempo, a fé, o destino, a insegurança, a desconfiança, as diferenças, o ciúme, o senso de prudência… os inimigos clássicos de toda persistência amorosa e deixamos que Tarso e Bia ficassem à deriva dos fenômenos de seus corações, sem combinarmos o que aconteceria a eles, entre eles e com eles. Assim, eles poderiam se apaixonar um pelo outro, um contra o outro, poderiam ser felizes ou infelizes, poderiam se separar ou se abandonarem. Eis que eles ganharam vida e construíram o romance deles de uma forma remota e improvável. Eles tomaram as rédeas de seus destinos sem que nós, autores, pudéssemos decidir nada ou combinar nada, ficamos à mercê dos sentimentos e ações deles. Talvez vocês não se identifiquem com nenhum deles. Não faz mal, eles também não se identificaram um com o outro. Mas se apaixonaram. Esperamos que você também.

Guilherme e Paloma

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EM MARÇO

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Enviada em: 2ª Feira, 04 de março de 2013 (08h31) De: Gerência Nacional Força de Vendas Para: Team Força de Vendas BR Assunto: Lembrete Convenção

Prezados, bom dia! Estamos aqui para lembrá-los da nossa convenção, a realizar-se de seis a dez de março de 2013, na cidade de São Paulo. Por ora, todas as reservas de passagens e hospedagens já estão feitas. Caso necessitem de qualquer apoio, entrem em contato com seu Líder Direto. Será um prazer recebê-los! Até breve! Atenciosamente, Romualdo Santana Gerência Nacional de Força de Vendas

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Enviada em: 2ª Feira, 04 de março de 2013 (09h54) De: Tarso Lima Para: Edson Ribeiro Assunto: Chegando a hora!

Olá, meu amigo, tudo bem? Está animado para a viagem? O pessoal parece meio preocupado, um monte de gente que nunca andou de avião, nunca foi pra São Paulo, bando de caipira, não é? É, que nem eu... Pode fazer a piada que eu não ligo não. Olha, tenho fé que vai tudo sair muito bem, que será uma boa viagem. Iremos e regressaremos em paz, se Deus quiser. Antes de ir para Rio Preto pegar o avião, eu te telefono. Assim a gente divide o mesmo táxi pra lá. Esteja em paz. Abraços, Tarso Lima Supply Chain

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Enviada em: 3ª Feira, 05 de março de 2013 (16h02) De: Bia Luz Para: Kadu Assunto: Salva sua musa!

Kadu, me ajuda! Vou ficar na empresa até altas horas e depois tem o "drink da diretoria". Tudo por conta dos preparativos para a maldita convenção! (Não sei por que tanto capricho, só vai dar coxinha e jeca). Tô no jet lag ainda, haja pó para disfarçar as olheiras! Anyway, preciso que você coloque ração para o Leon Tolstói pra mim antes da meia-noite, se não ele vira Gremlin!!! Fica no armário da cozinha, dentro da lata que tem estampa do gato da Alice (e não me roube a lata!!!). Nem precisa se incomodar, porque Tolstói não vai fazer o menooooor caso das suas ternurinhas, tá? Não é nada pessoal, ele puxou à mamãe aqui. Não vai aceitar carinhos só para fazer média com você. Gatinho blasé... A chave está com o Seu Ney. Ah, ele acha que nós namoramos, acredita? Você mal se mudou para nosso prédio e ele acha que eu já estou traçando. Deve ser porque faz um tempinho que não recebo visitas de outros homens em casa, comendo fora ultimamente… rsrs Quase disse a ele que não existem héteros educados e bonitos como você, mas dar satisfação para porteiro crente pra quê? Para ele ficar me chamando para o culto de novo? Hahaha! Trouxe um mimo de Londres para você (e é Burberry, tá, phyno!?) Bisou!