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Livro TOP CVM - Relação Com Investidores

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  • TOPPROGRAMA DE TREINAMENTO

    DE PROFESSORES

    RELAES COM INVESTIDORES

    DA PEQUENA EMPRESA AO MERCADO DE CAPITAIS

  • Comisso de Valores Mobilirios

    Instituto Brasileiro de Relaes com Investidores

    1a edio

    Rio de Janeiro

    IBRI CVM

    2014

    RELAES COM INVESTIDORES

    DA PEQUENA EMPRESA AO MERCADO DE CAPITAIS

  • Convidamos os leitores a entrarem em contato conosco para o envio de sugestes e dvidas sobre este material.

    Coordenao de Educao FinanceiraSuperintendncia de Proteo e Orientao aos InvestidoresComisso de Valores Mobilirios Rua Sete de Setembro 111, 5 andar CEP 20.050-901 Rio de Janeiro/RJ [email protected] www.investidor.gov.br

    1 edioData da ltima atualizao:17/04/2014

    Relaes com investidores: da pequena empresa ao mercado de capitais / Instituto Brasileiro de Relaes com Investidores; Comisso de Valores

    Mobilirios. Rio de Janeiro: IBRI : CVM, 2014.103p. : il.

    ISBN

    1. Mercado de valores mobilirios. 2. Relaes com investidores. I. Instituto Brasileiro de Relaes com Investidores. II. Comisso de Valores Mobilirios.

    CDD 332.6322

  • 2014 - Comisso de Valores Mobilirios

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

    Este livro distribudo nos termos da licena Creative Commons Atribuio - Uso no comercial - Vedada a criao de obras derivadas 3.0 Brasil. Qualquer utilizao no prevista nesta licena deve ter prvia autorizao por escrito da Comisso de Valores Mobilirios.

    Comisso de Valores Mobilirios

    PresidenteLeonardo Porcincula Gomes Pereira

    DiretoresAna Dolores Moura Carneiro de NovaesLuciana Pires Dias Roberto Tadeu Antunes Fernandes

    Superintendente GeralAlexandre Pinheiro dos Santos

    Superintendente de Proteo e Orientao aos InvestidoresJos Alexandre Cavalcanti Vasco

    Coordenador de Educao Financeira Lus Felipe Marques Lobianco

    Equipe TcnicaAnalistas da Coordenao de Educao FinanceiraJlio Csar DahbarMarcelo Gomes Garcia Lopes

  • Colaboradores

    Jennifer AlmeidaLuiz Fernando DistadioLuiz Roberto dos Reis CardosoRodney Vergili

    Diagramao e Capa

    Leticia Brazil

  • Esta obra disponibilizada de acordo com os termos da licena Creative Commons Atribuio - Uso no comercial - Vedada a criao de obras derivadas 3.0 Brasil (by-nc-nd)

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    Esta uma descrio simplificada baseada na licena integral disponvel em:creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/legalcode

  • LIVRO DE DISTRIBUIO GRATUITA. VEDADA A SUA COMERCIALIZAO

    A verso eletrnica deste livro pode ser obtida gratuitamente em: www.investidor.gov.brwww.ibri.gov.br

    Este livro foi elaborado com finalidade educacional. Sua redao procura apresentar de forma didtica os conceitos relacionados aos temas aqui abordados. Os exemplos utilizados e a meno a servios ou produtos financeiros no significam recomendao de qualquer tipo de investimento.

    As normas citadas neste livro esto sujeitas a mudanas. Recomenda-se que o leitor procure sempre as verses mais atualizadas.

    As opinies, conceitos e concluses existentes nesta publicao e de seus colaboradores no refletem, necessariamente, o entendimento da CVM ou do IBRI.

  • Apresentao:

    Nas ltimas duas dcadas, o desenvolvimento do mercado de capitais nacional propor-cionou o desenvolvimento empresarial e estimulou a adoo mais ampla de prticas de sustentabilidade e de governana corporativa, ampliando as possibilidades de captao de recursos por empresas de diferentes portes. Ao mesmo tempo, fruto da estabilidade econmica e de uma srie de avanos institucionais que se traduziram em incentivos ao empreendedorismo, houve um crescimento expressivo no nmero de empreendedores brasileiros.

    Em 2012, de acordo com a pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor Empre-endedorismo no Brasil Relatrio Executivo), 30,2% dos indivduos adultos da popula-o brasileira eram empreendedores iniciais ou estabelecidos, o que significa dizer que 36 milhes de brasileiros com idade de 18 a 64 anos estavam envolvidos na criao ou administrao de algum tipo de negcio. O levantamento tambm indica uma signifi-cativa evoluo do tema, considerando que essa taxa era de 20,9%, em 2002.

    To relevante quanto a taxa de empreendedorismo total a proporo de empreen-dedores por oportunidade (aqueles que optam por iniciar um novo negcio mesmo quando possuem alternativas de emprego e de renda), atualmente de 69,2%, proporo que no incio da pesquisa GEM era da ordem de 42%.

    No entanto, para empreender de forma bem sucedida, no basta ter uma boa ideia e a capacidade de gesto, preciso capital. Os recursos prprios, provenientes da gerao de caixa do negcio ou do investimento dos atuais scios, so fontes importantes, mas tm limitaes e normalmente no so capazes, por si ss, de sustentar o crescimento indefinidamente. Para mudar de patamar, pode ser conveniente ou mesmo necessrio acessar recursos de terceiros.

    nesse momento que o acesso ao mercado de capitais pode se mostrar uma alternativa vantajosa para financiar projetos de crescimento. Em tal contexto, a capacidade de de-senvolver relacionamentos duradouros com investidores, sejam fundos de investimen-to (venture capital ou private equity), sejam titulares de aes ou ttulos de dvida distri-budos publicamente, mostra-se um fator crtico para a concretizao de um plano de expanso, pois acessar recursos de terceiros significa admitir novas partes interessadas no sucesso dos negcios.

  • Quem coloca seu capital em um empreendimento de terceiro quer, em maior ou menor grau, ter alguma voz na definio dos rumos e na tomada de decises. Quer estar bem informado dos riscos emergentes e ter meios de fiscalizar, em maior ou menor grau, os negcios. Assim, o relacionamento com investidores no cuida apenas da abordagem e da atrao desses investidores, mas tambm do desenvolvimento de relaes, aps o aporte, que possibilitem uma convivncia produtiva, alinhada aos objetivos comuns. Essa relao requer transformaes que vo alm das questes estritas do planejamento de fontes de financiamento, exigindo mudanas de ordem cultural.

    Foi pensando no evidente interesse pblico em que pequenas e mdias empresas am-pliem as possibilidades de acesso ao financiamento por meio do mercado de capitais, e no papel estratgico que a atividade de Relaes com Investidores pode desempenhar nesse processo, que a Comisso de Valores Mobilirios (CVM) e o Instituto Brasileiro de Relaes com Investidores (IBRI) conceberam o desenvolvimento deste livro, com o objetivo de introduzir os principais pontos a serem considerados no relacionamento com investidores.

    Por ser um tema vasto e com diversas fontes de informaes tcnicas, imparciais e gra-tuitas, muitas delas citadas ao longo deste trabalho, entendemos que a primeira edio deste livro uma contribuio adicional, que, sem a inteno de substituir as obras mais abrangentes e especializadas, chama a ateno para um tema crtico que nem sem-pre tratado de forma sistemtica e integrada.

    Assim como a CVM e instituies parceiras, integrantes do seu Comit Consultivo de Educao, tm feito em iniciativas similares, como o Livro Mercado de Valores Mobili-rios Brasileiro, pretendemos que esta primeira edio seja uma obra viva, permanen-temente atualizada e aprimorada, com as sugestes e comentrios dos leitores.

    Boa leitura!

    LEONARDO P. GOMES PEREIRAPresidente da Comisso de Valores Mobilirios

    GERALDO SOARESPresidente do Conselho de Administrao do

    Instituto Brasileiro de Relaes com Investidores

  • SUMRIO1 . A ECONOMIA E AS PEQUENAS E MDIAS EMPRESAS 14

    2. OPORTUNIDADES PARA CAPTAO DE RECURSOS 26

    3. DESAFIOS NA COMUNICAO DA EMPRESA 46

    4. COMO AGREGAR VALOR COM AS PRTICAS DE

    RELAES COM INVESTIDORES 68

    IMPORTNCIA DO RI NO RELACIONAMENTO COM OS AGENTES PROVEDORES DE CAPITAL 74

    ANEXO - ESTUDOS DE CASO 86Senior Solution SA 86Helbor SA 94

    LISTA DE BOXES - CAIXAS DE CONTEDO COMPLEMENTAR 99

    LISTA DE FIGURAS 99

    LISTA DE GRFICOS 100

    BIBLIOGRAFIA 100

  • 1 A ECONOMIA E AS PEQUENAS E MDIAS EMPRESAS

  • 14 15A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    1. A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas

    Introduo

    Ter uma razovel compreenso do cenrio econmico fundamental para qualquer empreendedor. Sem negligenciar a importncia dos fatores especficos do mercado onde se pretenda atuar, compreender o comportamento e a tendncia de variveis econmicas agregadas, como o nvel de atividade da economia, o desemprego, a in-flao e as taxas de juros, algo de absoluta relevncia para a conduo dos negcios, embora o entendimento de seu impacto, de forma direta ou indireta, no dia a dia dos negcios no seja simples.

    Neste captulo pretendemos apresentar uma breve introduo sobre os principais assun-tos macroeconmicos e as perspectivas para a economia, comentando, sempre que rele-vante, o possvel impacto para as empresas, notadamente as de pequeno e mdio porte.

    Macroeconomia: alguns fatores relevantes

    J ressaltamos a importncia de entender o ambiente econmico em que a empresa opera. Esse ambiente, porm, deve ser analisado sob dois enfoques: de um lado, a atu-ao das unidades econmicas individuais (consumidores, investidores, trabalhadores, empresas etc.), suas preferncias, decises e interaes em mercados, o que chamamos de microeconomia; de outro, o comportamento agregado da economia, resultado de mi-lhes de escolhas individuais e particulares, ou, como conhecida, a macroeconomia.

    Podemos comparar as anlises macro e microeconmicas para melhor entender as suas finalidades e as informaes proporcionadas por ambas:

    . Anlise macroeconmica: o objetivo fundamental analisar as variveis agregadas em uma economia, como o nvel geral de preos, o produto agregado, o nvel de emprego, a taxa de juros, a taxa de cmbio etc. Nesse sentido, os relatrios macroeconmicos so importantes ferramentas de acompanhamento da econo-mia, pois auxiliam no direcionamento das estratgias dos negcios de modo geral. Em decorrncia disso, saber o que est acontecendo no ambiente econmico mais amplo pode ter muitos benefcios sobre a tomada de deciso, fornecendo dados im-

  • 14 15A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    portantes para a elaborao de cenrios, oportunidades e desafios para a empresa. Alguns pontos importantes so: inflao, renda, PIB (Produto Interno Bruto), investimentos privados e do governo, cmbio e mo de obra, entre outros. Cabe ressaltar que tais relatrios refletem as interpretaes dos seus autores sobre o es-tado geral da economia e as suas perspectivas, no curto, mdio ou longo prazos, sendo recomendvel o acesso a mais de uma anlise ou opinio.

    . Anlise microeconmica: leva em considerao a demanda e a oferta de um determinado produto ou servio ou de um setor especificamente. O econo-mista, ao realizar essa anlise, leva em considerao, alm do prprio preo, as cotaes de outros bens, a renda do consumidor e as suas preferncias. Em outras palavras, pode-se dizer que a microeconomia analisa como a empresa e os consu-midores interagem e decidem sobre o preo e a quantidade de um determinado produto ou servio. Assim interessante notar que essa anlise direcionada, sendo usada especificamente para aquele setor ou indstria. Para isso, alguns indicadores usados so: demanda e oferta de um produto, comportamento dos custos de produo, nvel de concorrncia existente no setor, grau de essenciali-dade do produto, entre outros.

    Embora essas anlises sejam apresentadas separadamente, evidente que esto inti-mamente relacionadas,porquanto as variveis agregadas da macroeconomia refletem o resultado de milhes de decises de indivduos e firmas.

    As escolhas de uma unidade econmica, no entanto, esbarram na limitao de recur-sos da economia, de modo que uma opo se faz, normalmente, em detrimento de outra. Ao escolher uma alternativa, abre-se mo de outra. Um claro exemplo a de-ciso de consumir e poupar. Uma famlia precisar dividir sua renda disponvel entre consumo e poupana, de modo que se optar por consumir mais no presente, poupar menos, o que provavelmente afetar suas possibilidades de consumir no futuro.

    Outro exemplo seria uma deciso de investimento de um poupador que analisa dois produtos financeiros distintos. Diante das caractersticas que cada modalidade de aplicao possui, o investidor sabe, implicitamente, que, ao escolher uma opo, des-cartar a rentabilidade esperada da aplicao no escolhida.

    Esse raciocnio simples nos permite introduzir o importante conceito de custo de oportunidade, que ser novamente mencionado ao tratarmos da estrutura de capital da empresa. Ao tomar uma deciso, analisando os custos e benefcios de cada opo,

  • 16 17A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    abrimos mo das possibilidades alternativas, que so deixadas de lado. Aquilo de que se abre mo representa o custo de oportunidade da deciso, e isso se aplica incluisve deciso de empreender.

    Passemos, agora, a uma breve introduo sobre algumas das variveis relevantes para a compreenso da conjuntura econmica.

    Crescimento do PIB

    O primeiro ponto o nvel de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). De um ponto de vista, o PIB representa a soma de todos os bens e servios finais produzidos durante determinado perodo, includos nessa conta os gastos do governo e investi-mentos realizados, tanto privados quanto pblicos. Esse um indicador de extrema importncia ao sinalizar o nvel da atividade econmica e suas variaes, ou seja, se h crescimento ou no, e em que ritmo. O quadro abaixo indica o crescimento do PIB no perodo compreendido entre 1990 e 2012. Perodos de maior crescimento refletem um dinamismo maior, o que em geral benfico para as atividades empresariais.

    Grfico 1 - Crescimento (%) do PIB - Produto Interno Bruto - no Brasil

    Fonte: Dados Banco Central do Brasil.

    Variao geral de preos: inflao

    Um fator importante na economia - seja de uma regio especfica ou de um pas - o comportamento geral dos preos dos diversos produtos e servios comercializados. A inflao definida pelo aumento persistente e generalizado no nvel geral dos pre-

  • 16 17A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    os. As metodologias para medi-la so variadas.

    Nos EUA, por exemplo, o FED (do ingls, Federal Reserve), equivalente ao Banco Central do Brasil, trabalha com o conceito de ncleo da inflao, essa metodologia exclui itens relativos a alimentos e energia, que por sua vez so acompanhados por outros ndices. J na maioria dos pases como Canad e Brasil, o ndice oficial usado pelas respectivas autoridades monetrias inclui uma cesta de produtos e servios mais variada, conhecido como ndice cheio. Especificamente no Brasil, o Banco Central acompanha o IPCA (ndice Nacional de Preos ao Consumidor Amplo) di-vulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). O grfico a seguir apresenta a variao desse ndice desde 1996.

    Grfico 2 - Variao (%) do IPCA - ndice Nacional de Preos ao Consumidor Amplo

    Fonte: Dados IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica).

    Pode-se notar que o pas teve um histrico sensvel relativo a esse indicador. Mas, afinal, como a inflao interfere nos negcios de uma empresa? Embora o impacto em uma determinada organizao no seja necessariamente o mesmo verificado em outra atuante num setor distinto, a tendncia de aumento ou de queda dos preos atinge os agentes do mercado como um todo. A inflao afeta o custo dos insumos, interfere na percepo dos preos praticados na economia de um modo geral e, por isso, as expectativas na precificao dos produtos ou servios ficam mais sensveis a alteraes. Essa mudana na poltica de preos pode impactar o retorno do investi-mento realizado, j que o comportamento do consumidor tende a se alterar.

  • 18 19A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    Produtividade

    A produtividade do trabalho em uma economia muito importante para a compe-titividade e crescimento sustentvel do seu PIB. De fato, quanto mais eficiente for um pas em sua capacidade de produzir bens e servios, mais favorveis sero as condies para elevao dos padres de vida da populao. Entre os fatores que con-tribuem para o aumento da produtividade, podemos destacar a introduo de novas tecnologias e a maior capacitao/qualificao dos trabalhadores.

    A ideia central que as organizaes, sejam elas governamentais ou privadas, uti-lizem as inovaes tecnolgicas para aperfeioar o emprego dos demais recursos, conferindo-lhes assim uma importante vantagem competitiva frente a tcnicas menos inovadoras.

    Investimento

    Nem tudo que produzido em uma economia imediatamente consumido, causan-do uma variao nos estoques de mercadorias. Da mesma forma, h bens que so produzidos para aumentar ou repor (em funo do desgaste natural) a capacidade de produo futura de outros bens e servios, a chamada formao bruta de capital fixo (FBCF). . O investimento em uma economia, portanto, pode ser entendido como a soma de dois fatores: a variao de estoques e a FBCF.

    por meio da FBCF que se aumenta a capacidade futura de produo, ou seja, o esto-que de capital total empregado no pas, .o que essencial para o crescimento do PIB. O consequente aumento da oferta de produtos e servios resultante dos investimen-tos equilibra a presso sobre os preos, auxiliando assim o equilbrio entre a oferta e a demanda no mercado.

    Cenrio econmico atual

    O Brasil um pas com vasto mercado consumidor interno, o que confere importante potencial de crescimento. Alguns fatores so essenciais para que todo esse potencial seja convertido em atividade econmica real, de forma que as empresas e as pessoas possam se beneficiar dessa potencial gerao de riqueza.

    Nos ltimos anos, verificou-se no pas uma srie de condies macroeconmicas be-nficas advindas do ambiente internacional, alm do mercado consumidor em as-

  • 18 19A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    censo e baixo nvel de desemprego. A consolidao da estabilizao da economia, acompanhada do aprofundamento de polticas pblicas voltadas reduo das desi-gualdades na distribuio de renda, permitiu que o pas retirasse milhes de pessoas da pobreza extrema, ao mesmo tempo em que assistia a um movimento, sem prece-dentes, de ampliao da classe mdia.

    Esse cenrio, no entanto, apresenta desafios, no apenas decorrentes da conjuntu-ra internacional, mas internos. necessrio continuar e aprofundar o processo de incluso social e econmica de extratos importantes de sua populao, aumentar a produtividade da economia, incentivando a inovao, qualificando trabalhadores e modernizando a infraestrutura, e fornecer acesso adequado aos servios financeiros a empresas e consumidores.

    No que se refere ao cenrio da atividade empreendedora, pode-se dizer que houve mudanas nos ltimos anos e cada vez mais os brasileiros tm reconhecido as opor-tunidades de negcios e sua capacidade de explor-las. O anseio de abrir um negcio prprio chega a superar o desejo de se ter uma carreira tradicional, como mostram as pesquisas GEM (Global Entrepreneurship Monitor) e Empreendedores Brasileiros 2013 Perfis e Percepes).

    A pesquisa GEM, lanada em1999 por duas instituies estrangeiras (Babson College e London Business School), cobre atualmente mais de 60 pases, representando um dos mais desenvolvidos programas de pesquisa em empreendedorismo, investigando o com-portamento dos indivduos no que se refere a abrir e gerenciar um negcio. No Brasil, a iniciativa conduzida pelo IBQP (Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade) e conta com a parceria tcnica e financeira do SEBRAE (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas). A partir de 2011, passou a contar tambm com apoio tc-nico do Centro de Empreendedorismo e Novos Negcios da Fundao Getulio Vargas.

    No Brasil, foram entrevistados 10 mil indivduos, entre 18 e 64 anos, representativos da populao brasileira e residentes nas cinco regies do Pas. Alm disso, os pesqui-sadores entrevistaram 87 especialistas de diversos segmentos da sociedade. De acor-do com os entrevistados, 43,5% afirmaram preferir empreender a ter uma carreira em uma empresa (24,7%).

    Essa preferncia confirmada pela Pesquisa Empreendedores Brasileiros 2013 Per-fis e Percepes, realizada pela Endeavor Brasil, organizao de fomento ao empreen-dedorismo. A pesquisa foi constituda por meio de duas amostras: uma representati-

  • 20 21A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    va da populao brasileira, com 2.240 respostas recolhidas, e outra caracterizando o empreendedor nacional, com mil participantes.

    Os respondentes afirmaram que preferem ter um negcio prprio (76%) a serem em-pregados ou funcionrios de terceiros. Essa a segunda maior taxa do mundo, ficando atrs somente da Turquia (Eurobarometer, 2012), como atesta a pesquisa. De fato, a vontade de empreender alta entre os brasileiros, visto que mais da metade dos entre-vistados acha provvel ou muito provvel abrir um negcio no prazo de cinco anos.

    A evoluo no aumento de empreendedores iniciais (nascentes ou novos) ou estabeleci-dos no perodo de 2002 a 2012, como indica a pesquisa GEM, compatvel com o maior dinamismo da economia brasileira no perodo. O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu, em grande parte com base na expanso do mercado interno, abrindo, assim, espao para atividades empreendedoras de diversos tipos. possvel notar tambm crescimen-to no nmero de empreendedores por oportunidade, aqueles que optam por iniciar um novo negcio mesmo quando possuem outras opes de empregos e renda, ou ainda, para manter ou aumentar sua renda pelo desejo de independncia no trabalho.

    Box 1: O que uma pequena e mdia empresa?

    A definio do porte das empresas depende significativamente da metodologia adotada por rgo/entidade ou, at mesmo, por pas. Nos Estados Unidos, por exemplo, as chamadas SMEs small and medium enterprises so aquelas que empregam at 500 empregados, ou seja, o principal parmetro adotado o nmero de colaboradores. Em pases de menor desenvolvimento, considerando a dimen-so mais reduzida de seus mercados, as pequenas e mdias empresas so geral-mente consideradas as que empregam at 250 trabalhadores.

    No Brasil, existem diferentes metodologias. A tabela abaixo contm trs impor-tantes referncias nessa classificao, quando da elaborao deste trabalho: SE-BRAE, Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei n 123/2006) e BNDES.

  • 20 21A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    Tabela 1 - Classificaes de Porte das Empresas no Brasil

    PORTE/SETOR INDSTRIA COMRCIO E SERVIOS RECEITA BRUTA ANUAL

    Classificao SEBRAE

    ColaboradoresClassificao BNDES

    Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei

    n 123/2006)

    Microempresas At 19 At 9 At R$ 1,2 milho R$ 60 mil a R$ 360 mil

    Empresas de Pequeno Porte De 20 a 99 De 10 a 49

    Acima de R$ 1,2 at R$ 10,5 milhes

    R$ 360 mil a R$ 3,6 milhes

    Mdias De 100 a 499 De 50 a 99Acima de R$ 10

    milhes at R$ 60 milhes

    -

    Grandes 500 ou mais 100 ou mais Acima de R$ 60 milhes -

    Fonte: SEBRAE, Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei n 123/2006) e BNDES.

    Evidentemente, o fato de se tratar de uma empresa menor no significa que os desa-fios sejam menores. A perenidade depender da capacidade de superao de obst-culos e dificuldades. Um dos mais desafiadores assegurar os recursos financeiros necessrios para o empreendimento.. De fato, entre aqueles que acham pouco pro-vvel empreender no futuro, a maioria aponta esse fator como o principal motivo de desencorajamento. Com efeito, ideias com bom potencial de sucesso dependem, para viabilizao, entre outras coisas, de fontes de captao de recursos a custos que no tornem o negcio invivel.

    Outras questes desafiadoras esto ligadas qualificao. Entre os quatro maiores problemas enfrentados pelos empreendedores brasileiros citados na pesquisa da En-deavor (2013), trs deles esto relacionados falta de conhecimento dos seguintes temas: gesto de pessoas (1 em cada 4 empreendedores), fluxo de caixa e como ad-ministrar um negcio. Essa circunstncia chama a ateno para a importncia da educao e da profissionalizao. Outros fatores comumente apontados como im-portantes para o sucesso do empreendedor esto relacionados experincia, espe-cialmente no setor de atuao, como indica um estudo realizado por Filion (2008), e motivao. Neste caso, diferencia-se o empreendedor por oportunidade, aquele que viu uma oportunidade de mercado e busca explor-la, daquele que o faz por uma necessidade, por exemplo, de recolocao profissional.

  • 22 23A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    Box 2: Caractersticas da motivao dos empreendedores

    A pesquisa GEM analisou a motivao dos empreendedores, segundo algumas caractersticas demogrficas. Acompanhe a seguir os principais pontos:

    . A proporo de empreendedores por oportunidade maior entre homens (73,9%) do que nas mulheres (64,5%);

    . A proporo de empreendedores por oportunidade maior entre os mais jovens;

    . Quanto maior a escolaridade, maior a proporo de empreendedores por oportunidade; e

    . Os maiores potenciais de empreendedores por oportunidade se encon-tram nas menores faixas de renda. Segundo a pesquisa, pode-se levantar a hi-ptese de que, dadas as condies recentes de dinamismo do mercado interno da economia brasileira, a taxa de empreendedorismo por oportunidade ele-vada mesmo em faixas de renda relativamente baixas.

    Box 3: Erros a serem evitados pelos empreendedores

    Especialistas em empreendedorismo e startups indicam os comportamentos e aes que devem ser evitados:

    . No executar um plano de negcios que caracterize bem como funciona o mercado que vai atuar, qual o tamanho e seus concorrentes (diretos e indiretos);

    . No estudar o mercado de atuao do negcio, seja ele nacional e/ou internacional;

    . Misturar finanas pessoais com a da empresa;

    . No estabelecer conexes importantes para o negcio;

    . No buscar capacitao e orientao sobre o negcio e temas relacionados;

    . Escolher um segmento de negcio objetivando apenas o retorno financeiro e no por uma vocao;

    . No investir em mo de obra qualificada; e

    . Abandonar a vida pessoal.

  • 22 23A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    A importncia e os desafios das pequenas e mdias empresas na economia

    Os empreendedores so grandes propulsores da economia. As PMEs (pequenas e mdias empresas) so embries de grandes companhias, e apresentam um elevado potencial de inovao e de adaptao a mudanas ambientais, permitindo a criao de empregos a custos mais baixos e, principalmente no caso dos pases emergentes, a interiorizao da atividade econmica.

    Nesse sentido, os pequenos e mdios empreendimentos trazem potenciais benefcios para a economia. De um lado, podem desempenhar um papel decisivo na criao de novos postos de trabalho, contribuindo para o aumento do nvel de emprego e redu-o da pobreza. De outra parte, so tambm fonte de inovao, contribuindo para o desenvolvimento do talento empreendedor e, a partir de determinada escala de produo, para a competitividade de exportao. Por fim, esses negcios adicionam uma maior flexibilidade estrutura industrial e promovem um grande dinamismo na economia.

    Os dados parecem confirmar esses benefcios. De acordo com o SEBRAE (2014), as micro e pequenas empresas no pas so responsveis por 70% das vagas de trabalho criadas e pela criao de riqueza na ordem de 25% do PIB. Outro indicador relevante o nmero de pequenas e mdias empresas exportadoras no Brasil, que cresceu de 8.900 para 12.917 no perodo entre 1998 e 2008.

    Evidentemente, existem desafios a serem enfrentados, especialmente no que se refere reduo de ineficincias, que no apenas podem impactar negativamente o retorno dos empreendedores, mas tambm afetar consumidores, pelo acesso a produtos e ser-vios de qualidade potencialmente inferior ao que poderiam ter caso houvesse maior competitividade nos negcios (Deloitte, 2007).

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    CAPTULO 1

    A Competitividade nos Setores de Comrcio, de Servios e do Turismo no Brasil: Perspectivas at 2015 Cenrios Econmicos. 2008. Disponvel em:

  • 24 25A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    nsf/21D2DA2F347B09FD832574E90062D7E4/$File/NT0003A26A.pdf >. Acesso em: 06 jan. 2014.

    BACHA, Edmar Lisboa; Oliveira Filho, Luiz Chrysostomo (Orgs.). Mercado de Capitais e dvida pblica: tributao, indexao e alongamento. Rio de Janeiro: Contracapa Editora, 2007.

    Empreendedores Brasileiros: Perfis e Percepes 2013. Disponvel em: . Acesso em: 10 jan. 2014.

    Empreendedorismo no Brasil: Relatrio Executivo. Pesquisa GEM Global Entrepreneurship Monitor. 2012. Disponvel em: . Acesso em: 08 fev. 2014.

    IBGE Sistema Nacional de ndices de Preos ao Consumidor. Disponvel em: . Acesso em: 06 jan. 2014.

    IPEA - Relatrio Radar N 28. Disponvel em: . Acesso em: 07 jan. 2014.

    Ita BBA - Publicaes de Conjuntura Macroeconmica. Disponvel em: . Acesso em: 07 jan. 2014.

    OECD - Education at a Glance 2013. Disponvel em: . Acesso em: 04. jan. 2014.

    SEBRAE: Estudos e Pesquisas. 2014. Disponvel em: . Acesso em: 06 jan. 2014.

    TECNOLOGIA E COMPETITIVIDADE NA ECONOMIA BRASILEIRA. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 08 jan. 2014.

  • 24 25A Economia e as Pequenas e Mdias Empresas Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    2 OPORTUNIDADES PARA CAPTAO DE RECURSOS

  • 26 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    2. Oportunidades para captao de recursos

    Independentemente do porte ou do setor, a atividade empresarial requer a disponi-bilidade de recursos financeiros, prprios ou de terceiros. A realizao de investi-mentos como construo de novas plantas industriais ou a implantao de projetos de modernizao tecnolgica exigem recursos que nem sempre esto imediatamente disponveis, sendo necessrio recorrer a fontes externas empresa.

    Nesse sentido, o sistema financeiro oferece mecanismos que permitem a canalizao dos recursos financeiros dos agentes superavitrios (famlias ou empresas), mediante uma remunerao, para aquelas pessoas ou entidades que deles necessitem.

    Para compatibilizar as necessidades dos agentes econmicos, os intermedirios finan-ceiros cumprem a funo de captar os recursos, repassando-os s empresas para viabi-lizar os seus projetos, propiciando, desse modo, uma alocao dos recursos financeiros em uma economia de mercado. Nesse esquema de intermediao financeira, a taxa de juros cobre os custos da operao e remunera a instituio financeira e nada mais representa do que o custo cobrado pelo uso do dinheiro. Em um emprstimo bancrio, por exemplo, ela resulta da soma do custo de captao do banco, do risco de crdito para essa modalidade e da margem que a instituio recebe pelo emprstimo.

    Ao aumentar a taxa bsica SELIC (Sistema Especial de Liquidao e de Custdia), utilizada como referncia pela poltica monetria brasileira, o COPOM (Comit de Poltica Monetria do Banco Central) age para poder conter o aumento dos preos (inflao), atuando na demanda. Ao tornar mais caro o endividamento, o movimento contribui para reduzir o consumo.

    Dessa forma, sempre que h necessidade de elevar a taxa bsica de juros como me-dida de poltica monetria, desafios adicionais so colocados para o empreendedor para manter as operaes rentveis. Nesse contexto, a estruturao de controles in-ternos, com a produo contnua de relatrios da situao financeira da empresa e sua atuao no mercado, entre outras informaes teis, mostram-se uma questo estratgica, que podem impactar no acesso a recursos de terceiros. Alm disso, uma adequada estrutura interna contribui no apenas para viabilizar financiamentos, mas tambm apoia o prprio funcionamento da empresa, possibilitando uma melhor in-terao entre suas diversas reas.

    Portanto, ao definir a adequada combinao de fontes internas e externas de finan-

  • 27Oportunidades para captao de recursos

    ciamento das atividades, a administrao da empresa age de forma estratgica para a viabilizao de seus objetivos. Isso porque o sucesso da gesto no pode ser avaliado puramente do ponto de vista do xito na comercializao dos produtos ou servios, mas tambm pelo resultado apresentado, que, por sua vez, impactado pela sua es-trutura de capital.

    Essa estrutura representa a forma pela qual a companhia financia suas atividades, considerando o capital prprio e de terceiros, seja de longo, mdio ou curto prazo. Ela tambm reflete ou consequncia das escolhas realizadas pelos gestores, sendo certo que cada fonte possui caractersticas e custos diferentes.

    O capital do prprio empreendedor tambm tem um custo, chamado custo de opor-tunidade, que representa a remunerao que poderia ser obtida no seu emprego em outra alternativa. Alm disso, a aplicao preponderante de recursos prprios pode criar dificuldades adicionais na ocorrncia de situaes imprevistas, como na ausn-cia ou na insuficincia de reservas para aproveitar oportunidades de investimento que venham a surgir.

    Em algum momento ser necessrio levantar recursos junto a terceiros, especialmen-te se houver projeto de expanso das atividades e no for possvel, ou for mais caro (considerando o custo de oportunidade), financi-lo com recursos provenientes do caixa da empresa ou dos scios. Seja pela insuficincia dos recursos prprios, seja por uma questo de custo, pode ser necessrio ou conveniente obter recursos de fontes externas empresa, como novos acionistas ou credores (emprstimos e financiamen-tos de instituies financeiras ou ttulos de dvida diretamente emitidos pela compa-nhia e colocados junto a investidores, como debntures).

    No caso dos credores da empresa, os custos so normalmente bem definidos (ou pelo menos sua forma de clculo) na contratao, embora haja grande variao, em fun-o das diferentes possibilidades oferecidas por instituies financeiras e entidades de fomento. O presente captulo introduz algumas opes, mas certo que apenas uma anlise concreta das diversas alternativas disponveis, em cada momento da eco-nomia em geral e do setor, poder apontar as escolhas mais adequadas.

    Em geral, obrigaes com o pagamento de juros e principal de emprstimos so exi-gveis independentemente da existncia de lucro, ou mesmo quando h prejuzo. Por isso, embora existam vantagens na utilizao de capital de terceiros, se h excesso de endividamento, a percepo de risco pode elevar os custos de financiamento. Presses

  • 28 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    adicionais ocorrero quanto mais de curto prazo for essa dvida, o que tambm pode se refletir em dificuldades no acesso a novos recursos ou em maiores taxas de juros.

    Manter o contato permanente com o banco e outros intermediadores financeiros possibilitar o acompanhamento da situao econmico-financeira da empresa por esses agentes, criando uma cultura interna de divulgao de informaes. Aliado a isso, os gestores no podem perder o foco de elaborar um planejamento financeiro e cuidar para que as metas sejam seguidas. Vulnerabilidades na gesto podem levar, principalmente micro e pequenas empresas, a problemas de variada gravidade, po-dendo mesmo resultar na insuficincia de capital de giro, forando o acesso a fontes de recursos emergenciais de curto prazo mais caras, diante da situao da empresa.

    O planejamento financeiro auxiliar os empreendedores a estabelecer com antecedncia as aes a serem executadas, a estimar recursos e definir responsabilidades para o alcan-ce dos objetivos e a prever as ocorrncias futuras e estar preparado para agir de forma a evitar surpresas desagradveis no funcionamento e na gesto do empreendimento.

    Existem diversas ferramentas que podem contribuir para o processo de gerenciamen-to de uma empresa, como o fluxo de caixa e o oramento. A adoo dessas ferramen-tas contribui para a gesto dos recursos financeiros, ajudando a evitar situaes de insolvncia ou falta de liquidez, que representam srias ameaas para a continuidade dos negcios.

    Estreitar o relacionamento com a instituio financeira com a qual a empresa se rela-ciona, mostrando que a organizao se preocupa com esses aspectos, pode significar ter acesso a outros instrumentos para captar recursos menos onerosos. Financiamen-tos destinados a micro e pequenos empresrios que desejam investir em mquinas ou na produo rural, por exemplo, oferecem taxas de juros mais baixas.

    Muitos bancos oferecem linhas de crdito para micro e pequenos empreendedores que desejam investir em negcios que buscam uma ao sustentvel. O relatrio Financia-mento da Sustentabilidade nas Micro e Pequenas Empresas - do SEBRAE (2012) FCO Empresarial - aponta o papel de destaque dos bancos pblicos federais em funo de sua atuao como gestores dos Fundos Constitucionais de Financiamento, a exemplo do FNO (Fundo Constitucional do Norte), FNR (Nordeste) e FCO (Centro-Oeste), bem como do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que tm como propsito de origem o desenvolvimento regional sustentvel e a gerao de emprego e renda.

    Entre as instituies pesquisadas pelo SEBRAE, nove instituies financeiras represen-

  • 29Oportunidades para captao de recursos

    tadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social), bancos comerciais, agncias e bancos de desenvolvimento publicaram em seus websites, pro-gramas e linhas de financiamento com estreita finalidade ao fomento da sustentabilidade.

    importante que a empresa se prepare adequadamente desde a fase inicial e, medi-da que for expandindo sua atuao, busque aproveitar outras possibilidades de capta-o menos onerosas e mais flexveis com relao ao seu fluxo de caixa.

    Conhecendo as opes de captao no mercado

    O mercado financeiro segmentado em nichos de atuao conforme o apetite de risco do investidor e as expectativas dos empreendedores. Para cada estgio evolutivo da empresa ocorre uma necessidade de financiamento especfica, existindo um seg-mento da indstria de capital de risco especializado.

    As empresas encontram-se em diferentes estgios de maturidade, o que faz com que suas necessidades de financiamentos/investimentos estejam de acordo com seu est-gio atual de desenvolvimento. A maturidade de uma empresa pode ser representada por diversos aspectos, como: idade da empresa, volume de faturamento, nmero de clientes, nmero de produtos, entre outros elementos.

    Figura 1: Fontes de Recursos Financeiros no Ciclo das Empresas

    Fonte: Debntures ANBIMA.

  • 30 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    A seguir, destacamos algumas opes de captao de recursos, explicando brevemen-te suas principais caractersticas. Para produtos, servios e operaes do mercado de capitais, recomenda-se a consulta ao Livro Mercado de Valores Mobilirios Brasilei-ro, do Comit Consultivo de Educao da CVM, disponvel na pgina da CVM na In-ternet (www.cvm.gov.br) e no Portal do Investidor (www.portaldoinvestidor.gov.br)..

    . O desconto de ttulos ou duplicatas a operao bancria de entrega de valor de um ttulo ao seu detentor, antes do prazo de vencimento, mediante o pagamento de determinada quantia. Na operao, cede-se ao banco duplicatas ou notas a vencer em troca de pagamento vista de um valor menor do que o do ttulo. Geralmente se cobra, alm do juro antecipado, Imposto sobre Operaes Financeiras (IOF) e uma Taxa de Abertura de Crdito (TAC) com o objetivo de cobrir despesas operacionais dos bancos.

    Esse tipo de operao no se caracteriza por compra e venda, ou seja, no vencimento do ttulo, caso ele no seja pago pelo devedor, a empresa que descontou a duplica-ta assume a responsabilidade por seu pagamento. Muitas empresas fazem uso dessa operao para obter capital de giro, ou seja, obter recursos financeiros para utilizar em suas atividades operacionais.

    . O factoring uma operao financeira na qual a empresa vende seus direi-tos creditrios que seriam pagos a prazo por meio de ttulos a um terceiro, que compra os papis vista, mas com um desconto. Esta operao voltada sobretudo para a prestao de servios financeiros a pequenas e mdias empre-sas, para colaborar na gesto de caixa e estoques, controle de contas a pagar e a receber, negociaes com fornecedores, entre outros.

    Nesse tipo de operao, a empresa de factoring adquire os direitos creditrios resultantes das vendas mercantis a prazo realizadas por empresas-clientes. Sendo assim, a empresa de factoring adquire todo o risco inerente ao crdito concedido pela empresa vendedora. Identificam-se nessa operao trs tipos de agentes, a saber: a empresa de factoring, a empresa-cliente ou cedente dos direitos e a empresa compradora dos bens e servios.

    A empresa de factoring proibida de conceder crdito. Seu lucro formado pela di-ferena entre o valor nominal dos crditos mercantis adquiridos e o preo pago pela compra desses ttulos.

    Neto (2008) aponta que h diversas modalidades de factoring no Brasil e cita algumas delas. O factoring tradicional, como o autor chama, envolve a aquisio vista de di-

  • 31Oportunidades para captao de recursos

    reitos creditrios provenientes de vendas a prazo realizadas por uma empresa-cliente. Existem casos em que a empresa de factoring passa a controlar os fluxos de caixa da empresa-cliente, exercendo assim a gesto financeira de curto prazo.

    Tambm possvel fazer a intermediao na compra de matrias-primas para em-presa-cliente por meio de uma operao de factoring. Com a negociao direta com fornecedores, possvel conseguir melhores condies de compra.

    Outra modalidade citada por Neto (2008) quando a operao de factoring envolve um adiantamento de recursos por conta de vendas ainda no realizadas, obrigando a empresa-cliente a resgatar a operao na casa de factoring em data futura.

    . Outra possibilidade que as empresas podem optar so os commercial pa-pers (notas promissrias comerciais), que so conhecidos por ttulos de crdito emitidos por empresas constitudas como sociedade por aes, com objetivo de captar recursos para o capital de giro. uma alternativa s operaes de emprs-timos bancrios convencionais, permitindo geralmente uma reduo nas taxas de juros pela eliminao da intermediao financeira bancria.

    Os commercial papers so negociados no mercado por um valor descontado, sendo recomprados pela empresa emitente pelo seu valor nominal. Nesse tipo de negocia-o, fica implcita uma taxa efetiva de juros, que o ttulo paga aos investidores. Esses ttulos apresentam boa liquidez, por conta da possibilidade de recompra pela prpria empresa emitente ou pelos dealers (agentes que adquirem os ttulos e os revendem ao pblico em geral, incluindo uma margem de lucro).

    . Uma opo de investimento remunerada por taxa de juros e vinculada va-riao cambial com lastro em recebveis de exportao o export note. O ttulo emitido por uma empresa exportadora de produtos e servios e, portanto, uma alternativa de investimento exclusiva a exportadores.

    O investidor que compra export note visa principalmente a proteger-se (o que no mercado conhecido como fazer hedge) de oscilaes cambiais, uma vez que ttulos export notes sejam expressos em moeda estrangeira. As multinacionais que necessi-tam prestar contas em dlares a suas matrizes, gerando uma necessidade constante de proteo dos ativos nesta moeda optam pelo export note. um ttulo negociado por meio de um desconto, incorrendo o investidor em Imposto de Renda na fonte.

    . A securitizao de recebveis uma prtica financeira muito utilizada no

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    mercado de capitais, de forma a agrupar vrios tipos de direitos de crdito como faturas emitidas, vencidas ou no,, emprstimos, entre outros e os con-verter em ttulos padronizados negociveis. Por meio da securitizao de receb-veis, possvel que a empresa levante fundos no mercado sem comprometer seus atuais nveis de endividamento de balano.

    Na securitizao de recebveis, o direito de crdito transferido na forma de ttulos para vrios investidores e esses papis so caracterizados por um compromisso de pagamento futuro, de principal e juros, a partir de um fluxo de caixa proveniente da carteira de ativos selecionados. Essa operao normalmente utilizada para obten-o de fundos e diviso de riscos. uma forma de transformar ativos relativamente no lquidos em valores mobilirios lquidos, transferindo riscos associados a eles para os investidores que os compram.

    . As linhas de crdito subsidiadas do BNDES para pequenos e mdios empre-endedores despontam como importante fonte de financiamento para empres-rios a juros menores dos que so praticados no mercado. Alm disso, as linhas de crdito oferecem tambm custos mais baixos e podem ser uma boa oportunidade para alavancar as operaes da empresa sem comprometer boa parte de sua liqui-dez e do capital de giro.

    A tendncia que o volume de negcios do BNDES com as pequenas e mdias em-presas continue em ascenso.

    Nesses 11 anos iniciados em 2003, o carto BNDES j realizou mais de 2,6 milhes de operaes, no valor total de R$ 38,1 bilhes, com tquete mdio de R$ 14,3 mil, atendendo empreendimentos de menor porte em 97,3% dos municpios brasileiros.

    O carto BNDES consiste em uma linha de crdito rotativo e pr-aprovada ex-clusiva para MPMEs, com limite de at R$ 1 milho por banco emissor (Brades-co, Banco do Brasil, Caixa Econmica Federal, Banrisul, Ita Unibanco, Sicoob e BRDE), taxa de juros (de 0,97% ao ms em janeiro de 2014) e pagamento em at 48 prestaes mensais fixas.

    Atualmente, o BNDES FINAME opera sob as regras do Programa de Sustentao do Investimento (BNDES PSI), com taxas para as MPMEs (4,5% ao ano), em janeiro de 2014, para a aquisio de bens de capital.

    No ano de 2002, a Senior Solution, empresa que atua h mais de 17 anos no setor bra-

  • 33Oportunidades para captao de recursos

    sileiro de TI (Tecnologia da Informao), conseguiu aprovao de emprstimo junto ao BNDES por meio do programa denominado BNDES Prosoft (Programa BNDES para o Desenvolvimento da Indstria de Software e Servios de Tecnologia da Infor-mao). O case da companhia est disponvel na ntegra no Anexo do livro.

    . As debntures so ttulos de longo prazo emitidos pelas sociedades por aes e destinadas, normalmente, ao financiamento de projetos de investimento ou para o alongamento do perfil de endividamento das empresas. Na operao, o tomador de recursos (empresa que emite o ttulo) compromete-se a pagar ao aplicador (debenturista) o capital investido acrescido de juros em determinada data previamente acordada. Para emitir uma debnture a empresa tem que ter uma escritura de emisso, onde esto descritos todos os direitos conferidos pelos ttulos, suas garantias e demais clusulas e condies da emisso.

    Esse tipo de investimento acaba por satisfazer, de maneira mais econmica, as neces-sidades financeiras das sociedades por aes, evitando operaes de curto prazo mais caras junto ao mercado financeiro. Ao identificar a necessidade de captar recursos de terceiros, a administrao da companhia deve levar ao Conselho de Administrao ou Assembleia Geral a proposta de emisso de debntures, para aprovao.

    Algumas debntures so emitidas com clusula de repactuao, onde permitida ao final de cada perodo combinado, uma livre negociao entre os debenturistas e a empre-sa emitente com relao aos rendimentos oferecidos. Essa clusula permite que as partes ajustem novas condies de remunerao do capital investido. Caso algum debenturista no concorde, a empresa obrigada a promover o resgate obrigatrio antecipado dos ttulos adquiridos, pagando todos os rendimentos previstos antes da repactuao.

    Cabe ao Conselho de Administrao ou Assembleia fixar as condies de emisso, tais como: montante, nmero de debntures, prazo, data de emisso, juros, des-gio (desconto), amortizaes ou resgates programados, conversibilidade ou no em aes, atualizao monetria, entre outros temas relacionados. Os debenturistas, de sua parte, contam com a figura do agente fiducirio.

    O agente fiducirio uma terceira parte envolvida na escritura de emisso, tendo como responsabilidade assegurar que a emitente cumpra as clusulas contratuais.

    As debntures tm diferentes formas de garantias, conforme previstas na escritura de emisso, sendo as mais comuns: garantia real, garantia fidejussria, flutuante, qui-rogrfica e subordinada. Na garantia real, todos os ativos da sociedade emissora so

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    dados como garantia aos debenturistas pelo pagamento dos seus direitos creditrios. A garantia fidejussria a debnture em que se oferece ao ttulo a coobrigao por fiana de uma terceira pessoa, geralmente na forma de garantia acessria.

    Na garantia flutuante, os titulares das debntures assumem uma prioridade geral sobre os ativos da sociedade emissora, sem que haja qualquer impedimento na ne-gociao dos bens. A garantia quirogrfica caracteriza-se por debenturistas que no tm preferncia sobre os ativos da sociedade emissora (garantia real), concorrendo em idnticas condies com os demais credores quirogrficos.

    A garantia subordinada permite que, em caso de liquidao da sociedade emissora, os investidores tero o privilgio para reembolso do capital aplicado somente em re-lao aos acionistas. Os juros provenientes da operao podem ser pagos periodica-mente durante todo o prazo de emisso do ttulo ou ao final no momento do resgate.

    A distribuio das debentures pode ser realizada de forma pblica, com o registro de uma oferta pblica de distribuio junto CVM. Neste caso, a empresa deve escolher uma instituio financeira que exercer o papel ser o coordenador lder, responsvel por estruturar e coordenar todo o processo.

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    Figura 2: Fluxo de emisso de debntures

    Fonte: ANBIMA1

    As debntures podem ser emitidas no tipo simples ou conversveis em aes. As primeiras prometem ao debenturista uma remunerao sobre o valor do investimento, enquanto que as debntures conversveis do a opo de converter o valor do resgate em aes da empresa emitente, de acordo com uma frmula de converso previamente definida.

    Com o objetivo de adequar a emisso de debntures s taxas de juros vigentes no mercado no seu lanamento, os ttulos podem ser negociados com gio ou desgio. Pode-se prever, tambm, contanto que conste na escritura de emisso, que a debn-

    1 Figura extrada da fonte secundria: www.debentures.com.br/processodeemissao/fluxodeemissao.asp

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    ture tenha diversas formas de remunerao.

    O Bovespa Fix, na BM&FBOVESPA, um ambiente integrado de negociao, liqui-dao e custdia de ttulos privados de renda fixa (dvida corporativa), como de-bntures, CRIs, notas promissrias, cotas de FIDCs, entre outros. As operaes so fechadas via sistema eletrnico pelo melhor preo, obedecendo a ordem cronolgica de entrada das ofertas.

    O Bovespa Fix foi constitudo com o objetivo de oferecer maior liquidez e transpa-rncia, divulgao de preos em tempo real no mercado secundrio de renda fixa, reduzir os custos de transaes e promover maior eficincia aos negcios. Dentro da plataforma Bovespa Fix existe o Soma Fix que, baseado nela, tambm possibilita que novos participantes e emissores de valores mobilirios integrem-se a esse segmento do mercado de balco organizado.

    Ao buscar uma composio otimizada dos recursos tomados de terceiros, a Helbor optou pela emisso de debntures e utilizou os recursos levantados por meio desse instrumento para a aquisio de terrenos, incio da construo de empreendimentos e, algumas vezes, como capital de giro para quitar dvidas de curto prazo. O case da empresa est disponvel no anexo do livro. J na seo Combinao de instrumentos de funding encontra-se o relato da empresa sobre esses ttulos.

    Outra possibilidade que merece ateno est relacionada ao financiamento infraes-trutura, onde h grande necessidade de investimentos. O mercado de capitais brasi-leiro pode desempenhar um papel relevante na viabilizao das necessrias transfor-maes desse setor. Com o objetivo de aumentar a participao do setor privado no financiamento a esses investimentos, o Governo Federal editou a Medida Provisria 517/2010, convertida na Lei n 12.431/2011, concedendo incentivos fiscais sobre os rendimentos dos investidores do mercado de capitais que aplicarem recursos em in-vestimentos, com destaque para infraestrutura.

    Esses incentivos tm o intuito de reduzir o custo do financiamento de investimen-tos no setor privado, viabilizar novas emisses de ttulos e valores mobilirios no longo prazo, bem como incentivar o desenvolvimento do mercado secundrio desses papis. O incentivo consiste na iseno ou na reduo do Imposto de Renda (IR) incidente sobre os rendimentos da aplicao financeira em ttulos ou valores mobi-lirios emitidos por empresas com a finalidade exclusiva de financiar investimentos em geral e de infraestrutura.

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    A emisso de debntures incentivadas para financiar investimentos em infraestrutu-ra considerados prioritrios pelo Poder Executivo Federal autorizada nos termos do artigo 2 da referida lei, onde tambm so previstas as alquotas do incentivo para o investidor residente no pas, pessoa fsica ou jurdica. No art. 3, a Lei trata das condi-es para que investidores, residentes e no residentes, obtenham o incentivo quando aplicarem recursos em fundos de investimentos.

    O artigo 4 trata do incentivo para investidores residentes aplicarem recursos por meio dos Fundos de Investimentos em Participaes em Infraestrutura (FIP-IE) e Fundos de Investimentos em Participaes em Produo Econmica Intensiva em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovao (FIP-PDI).

    O Incentivo fiscal sobre os rendimentos das debntures consiste em:

    . Alquota 0% (zero por cento) quando auferidos por pessoa fsica residente no pas e investidores no residentes.

    . Reduo da alquota para 15% (quinze por cento), em definitivo, quando auferidos por pessoa jurdica tributada com base no lucro real, presumido ou arbitrado, pessoa jurdica isenta ou optante pelo Regime Especial Unificado de Arrecadao de Tributos e Contribuies devidos pelas Microempresas e Empre-sas de Pequeno Porte (Simples Nacional).

    Box 4: Quem pode emitir debntures incentivadas*

    Para captar recursos a serem implementados em projetos de investimentos em infraestrutura considerados como prioritrios pelo Poder Executivo Federal podem emitir debntures incentivadas:

    . A Sociedade de Propsito Especfico SPE, concessionria, permissio-nria ou autorizatria de servios pblicos, ou sua controladora, se constitu-das sob a forma de sociedade por aes.

    . As debntures tambm podem ser emitidas pela controladora da SPE, con-cessionria, permissionria ou autorizatria de servios pblicos, desde que a controladora tambm seja constituda sob a forma de sociedade por aes.

    Fonte: Guia Debntures de Infraestrutura Como acessar os Incentivos Fiscais da Lein12.431/2011 para investir em Transportes e Logstica do Ministrio dos Transportes.

  • 38 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    Private Equity e Venture Capital

    O mercado de private equity e venture capital tem conquistado considervel espa-o no mercado brasileiro e, consequentemente, desponta como mais uma forma de captao de recursos para as empresas. Segundo a ABVCAP (Associao Brasileira de Private Equity & Venture Capital), trata-se de um tipo de investimento que en-volve a participao em empresas com alto potencial de crescimento e rentabilidade, por meio da aquisio de aes ou de outros valores mobilirios como debntures conversveis, bnus de subscrio, entre outros com o objetivo de obter ganhos expressivos de capital no mdio e longo prazo. Esses fundos fazem fundamentadas anlises de mercado e seleo das empresas que representam boas oportunidades de investimento.

    Os investidores brasileiros tm olhado para o setor como opo de investimento. De acordo com informaes de relatrio de consolidao de dados do setor no Brasil em 2011/2012, elaborado pela ABVCAP e pela KPMG, nos ltimos anos o setor de private equity e venture capital registrou crescimento de R$ 19,6 bilhes, ou 31%, no capital comprometido de 2012 em relao a 2011. O capital comprometido dos inves-tidores nacionais cresceu 46,5% em 2012 em relao ao ano anterior, enquanto o dos investidores estrangeiros cresceu 17,6%.

    Uma das caractersticas dos aportes de private equity e venture capital o prazo de permanncia na empresa prximo de trs a quatro anos e, em startups, de aproxi-madamente cinco anos. Esses fundos investem em empresas selecionadas pelo seu potencial de crescimento e qualidade de gesto.

    Por meio dos fundos de private equity e venture capital, pequenas e mdias empre-saspassam a dispor de oportunidades adequadas para financiar o seu crescimento, com apoio para a criao de estruturas adequadas de governana corporativa, foco no crescimento e na lucratividade, bem como na sustentabilidade futura do negcio.

    Enquanto o venture capital est relacionado com empreendimentos em fase mais ini-cial, o private equity est ligado a empresas mais maduras, em fase de reestruturao, consolidao e/ou expanso de seus negcios. A essncia do investimento est em com-partilhar os riscos do negcio, fazendo uma unio de esforos entre gestores e investi-dores para agregar valor empresa investida. Os investimentos podem ser direcionados para qualquer setor que tenha perspectiva de grande crescimento e rentabilidade no longo prazo, segundo o foco de investimentos definido pelos investidores ou fundos.

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    Uma das opes de financiamento que a Senior Solution buscou foi via fundos de private equity e venture capital para viabilizar o desenvolvimento de projetos de sof-tware. O case completo da empresa est disponvel no anexo do livro.

    BOVESPA MAIS

    No Brasil, ainda preciso desmistificar a ideia de que o mercado de capitais para empresas de grande porte. O mercado norte-americano tem, por exemplo, compa-nhias listadas em bolsa de valores de setores bastante diversificados e de pequeno e mdio porte, como churrascaria, cassino, hotis, fbrica de jeans, entre outras.

    O mercado de capitais hoje uma importante fonte de financiamento a empresas de grande porte no Brasil. Somente no ano de 2007, sessenta e quatro companhias optaram pela abertura de capital. Entre 2008 e 2013 foram mais trinta e sete. Porm, ainda nota-se um mercado pouco utilizado para captao por empresas de pequeno e mdio porte.

    Com o objetivo de mudar esse cenrio, foi lanado, em 2005, o BOVESPA MAIS, a fim de proporcionar que essas empresas acessem o mercado de capitais de forma gradual, por meio de um mercado de balco organizado, possibilitando apoio e visibilidade.

    Segundo informaes da BM&FBOVESPA, esse segmento de listagem foi criado para empresas que desejam acessar o mercado de capitais forma gradual. Essa estratgia possibilita uma preparao adequada e progressiva, ao mesmo tempo em que aumenta a visibilidade da companhia junto aos investidores. Dessa forma, o Bovespa Mais foi estruturado para permitir a realizao de captaes menores, comparativamente com o Novo Mercado, permitindo a atrao de aplicadores de mais longo prazo, ainda que em menor nmero comparativamente com os segmentos tradicionais de mercado de bolsa, que estejam dispostos a acreditar no potencial de desenvolvimento da empresa.

    A possibilidade de listar a empresa e dispor de alguns anos para realizar uma oferta pblica uma condio que facilita a preparao para as exigncias maiores de uma listagem tradicional. Os incentivos abrangem tambm reduo de alguns custos, como a iseno da taxa de registro, cobrada pela BM&FBOVESPA para registro de companhias, e o desconto gradual na taxa de manuteno de listagem, sendo 100% no primeiro ano.

    Considerando, no entanto, que o financiamento de pequenas e mdias empresas por meio de distribuio de suas aes junto ao pblico investidor ainda incipiente,

  • 40 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    iniciativas recentes vem sendo implementadas para diagnosticar possveis entraves e apontar solues institucionais adequadas.

    Um exemplo que merece meno est traduzido no relatrio Utilizao do Merca-do de Capitais para o Financiamento de Pequenas e Mdias Empresas por Meio de Aes, diagnstico preparado por grupo de trabalho composto pela ABDI (Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial), BNDES (Banco Nacional de Desenvol-vimento Econmico e Social), BM&FBOVESPA ( Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros S.A.), CVM (Comisso de Valores Mobilirios) e FINEP (Agncia Brasileira de Inovao). O documento contm o relato das experincias de sete pases Austr-lia, Canad, China, Coria do Sul, Espanha, Polnia e Reino Unido -, sintetizando as regras e prticas dos mercados acionrios alternativos, nos quais pequenas e mdias empresas emitem aes com o objetivo de captar recursos financeiros para o desen-volvimento de suas atividades.

    O estudo identificou uma maior utilizao do mercado de capitais como fonte de finan-ciamento de pequenas e mdias empresas nos mercados analisados. H tambm um alinhamento de interesses, de forma a reduzir a percepo de risco dos investidores. A existncia de uma rede de intermediao que alcana investidores para essas com-panhias e a presena de cultura de investimento e risco foram tambm identificadas.

    Outras medidas identificadas pelo estudo:

    . criao de incentivos tributrios especficos para investidores que aportam recursos nessas empresas;

    . fomento criao de veculos de investimento especficos para esse mercado;

    . formulao de normas especficas para facilitar o acesso dessas empresas ao mercado de capitais, incluindo normas de disclosure (transparncia); e

    . concesso de auxlio financeiro s empresas para cobrir os custos associados ao processo de pr-listagem.

    Vale ressaltar que, independentemente do segmento de mercado em que as empresas esto inseridas, elas esto sujeitas a padres de transparncia de informaes e a exi-gncias de governana corporativa. Portanto, ainda que possa haver uma implemen-tao gradual de requisitos mais rgidos e reduo de custos de algumas obrigaes, certo que a listagem exige preparao para as transformaes estruturais e culturais

  • 41Oportunidades para captao de recursos

    exigidas para uma companhia com valores mobilirios distribudos junto ao pblico investidor.

    A oferta pblica inicial, passo natural para uma companhia que lista suas aes em mercado de bolsa ou balco organizado, permite a captao de recursos financeiros junto ao pblico investidor. O mercado de capitais tambm representa uma porta de sada para investidores que apoiaram inicialmente seu projeto de expanso, como fundos de investimento, permitindo a entrada de scios com objetivos mais alinha-dos ao novo momento da companhia.

    comumente apontada como vantagem da abertura de capital de uma companhia a possibilidade de acesso a opes de financiamento mais baratas que outras modalidades de captao, mas, sem dvida, no se pode desconsiderar os benefcios dos estmulos a melhorias em controles internos e em melhores prticas de Governana Corporativa.

    Por outro lado, fato que o desempenho da empresa ser submetido a constante es-crutnio dos investidores, que possuem o direito de fiscalizar os administradores e de participar pelo menos em algumas das deliberaes sociais. O controlador do neg-cio, que muitas vezes fundou a empresa e construiu seu caminho de sucesso com al-guma autonomia, deve avaliar se est preparado para dar satisfaes de suas decises.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    CAPTULO 2

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  • 43Oportunidades para captao de recursos

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  • 44 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

  • 45Desafios na Comunicao da Empresa

    3 DESAFIOS NA COMUNICAODA EMPRESA

  • 46 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    3. Desafios na Comunicao da Empresa

    A comunicao deve fazer parte do dia a dia das empresas independentemente do seu porte e no deve ser um imperativo apenas das grandes organizaes. A comu-nicao deve tambm estar na lista de prioridades das pequenas e mdias empresas. Estabelecer um processo de comunicao significa conhecer profundamente a orga-nizao, quais so seus pontos fortes e fracos, buscando o contnuo aperfeioamento das operaes, alm de entender a dinmica de trabalho dos seus colaboradores e a comunidade em que est inserida. Isso significa saber onde buscar as informaes dentro da prpria companhia sempre que necessrio e fazer a comunicao correta com os pblicos estratgicos.

    Ao solicitar um emprstimo em um banco, por exemplo, a empresa que incentiva a adoo de controles internos e sistemas de gesto contbil ter mais facilidade em apresentar dados que lhe sero solicitados pela instituio financeira. Ser mais gil e assertiva ao apresentar informaes, pois se beneficiar da integrao promovida no ambiente corporativo. Em ocasies em que necessitar interagir ou for questio-nada por fornecedores, clientes e at mesmo a comunidade local, estar mais bem preparada e munida de informaes, pois a sua postura de ser proativa no desejo de informar e no apenas divulgar o que exigido e obrigatrio.

    Empresas conscientes dos benefcios do processo de comunicao tendem a ser mais preparadas e proativas em suas aes, seja no seu cotidiano ou em momentos de cri-ses. preciso que os gestores da companhia estejam sempre preparados para contar a histria corporativa e mesmo que esta no seja to positiva quanto esperada preciso oferecer detalhes para que investidores e todos os pblicos de interesse da empresa possam entender o seu funcionamento e fazer projees para o seu futuro. Esse his-trico precisa fazer sentido para o entendimento dos pblicos estratgicos.

    Para uma organizao relacionar-se com diferentes pblicos e atender diversas de-mandas preciso procurar responder a perguntas de cada um dos interessados na companhia.

    A comunicao corporativa deve abranger os diversos segmentos de pblico da em-presa e ser diferenciada para que a companhia seja percebida como opo de inves-timento. A poltica de portas abertas o direcionador do trabalho promovido pela organizao.

  • 47Desafios na Comunicao da Empresa

    Como implantar uma rotina de comunicao

    Apresentao equivocada de um produto ou servio, um menor cuidado com o site da empresa ou nas mensagens enviadas s partes interessadas e o tratamento ina-dequado dos clientes por funcionrios so alguns exemplos do uso inadequado da comunicao com seus pblicos. A boa comunicao no necessria apenas para grandes organizaes e est disponvel mesmo para oramentos menores, desde que adequadamente planejada.

    Nesse planejamento, algumas questes precisam ser respondidas: Como quer se co-municar e ser vista?; Qual o pblico de interesse?; Qual o meu mercado?; Quais so os clientes atuais e potenciais?; Quais so meus fornecedores?; Quais os meus parceiros?, dentre outras questes. Esclarecidos esses pontos, o passo se-guinte analisar quais so as ferramentas de comunicao adequadas e disponveis, bem como os recursos.

    As pequenas e mdias empresas devem explorar seus diferenciais, especialmente no que diz respeito qualidade do seu capital humano. Oferecer treinamento (palestras ou cursos) para funcionrios e colaboradores, ou apenas realizar pequenos ajustes em aes e comportamentos, ajuda a evitar muitos problemas de comunicao. Muitas vezes, o dono do negcio um excelente articulador e comunicador e deve explorar essa qualidade nos diversos relacionamentos da companhia com o mercado.

    A comunicao deve estar associada e sincronizada com o contexto poltico, social e ambiental da empresa, exigindo assim maior habilidade com o objetivo de fazer com que a sua comunicao desperte interesse e ateno. fundamental que o empreende-dor esteja constantemente informado sobre o que acontece no mundo, especialmente ao seu redor para que possa analisar como os fatos cotidianos afetam o seu negcio.

    Para isso, preciso dar um tratamento especial aos dados, ou seja, usar inteligncia estratgica para que as informaes no sejam utilizadas em sua forma bruta e per-cam valor. Os gestores devem analisar a relevncia de determinada informao para o negcio e trabalh-la da melhor maneira possvel de forma que ela seja til para os pblicos estratgicos.

    Cada empresa dever descobrir aos poucos as melhores tcnicas de comunicao que sejam adequadas ao seu perfil, como: propaganda, promoo de vendas, marketing direto e digital, dentre outras. Algumas preferem focar mais na comunicao falada, outras preferem e tm mais facilidade na comunicao impressa. Os erros e acertos

  • 48 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    fazem parte do aprendizado e preciso tentar constantemente, pois a comunicao est em constante evoluo.

    Um ponto que no deve ser ignorado pelos gestores o uso das mdias sociais, apesar de muitos relutarem em utiliz-las com receio de no controlar o que exposto. Os empreendedores devem interagir nas redes sociais conectadas como canais de rela-cionamento com seu pblico a fim de cativar os clientes com a filosofia da empresa.

    Transparncia, ateno, respeito ao pblico e tica no saem de moda. Portanto, as em-presas devem se pautar por esses princpios para conduzir sua rotina de comunicao. Colocar-se no lugar do outro, muitas vezes, ajuda a compreender o que o pblico espera da companhia e assim o processo de comunicao tende a ser mais simples.

    Box 4: Conhea quem so os pblicos estratgicos da empresa

    Os pblicos estratgicos das companhias so o conjunto de pessoas que tm in-teresses diretos ou indiretos no negcio, como clientes, acionistas, investidores (atuais e futuros), analistas, bancos e entidades de investimentos, colaboradores e funcionrios, fornecedores, imprensa, governo, rgos reguladores e autor-reguladores. Eles destacam-se no seu relacionamento com a organizao, pois tm o papel de transmitir a mensagem da empresa dentro do seu crculo de co-nhecimento, por isso engaj-los e motiv-los cada vez mais fundamental para manter a imagem e credibilidade da companhia.

    Box 5: Comunicao X Propaganda

    Muitas empresas confundem comunicao com propaganda. A propaganda tem foco em valorizar a marca e como a empresa gostaria de ser vista. J na comu-nicao, o objetivo o relacionamento com os pblicos estratgicos, ou seja, baseada no dilogo.

    A comunicao uma atividade essencial para a empresa, visto que tem o objeti-vo de integrar a companhia em suas diversas esferas, o que se refletir na forma de dialogar com os pblicos externos (clientes, fornecedores, bancos).

    A propaganda uma maneira especfica de apresentar determinada informao sobre um produto, servio ou empresa com o objetivo de influenciar uma atitu-de ou comportamento para uma posio ou causa.

  • 49Desafios na Comunicao da Empresa

    Box 6: A mensagem certa

    Faz parte do dia a dia do empreendedor apresentar-se em palestras e reunies ou conduzir uma conversa com clientes, colaboradores, fornecedores ou possveis investidores.

    preciso ser objetivo e tentar identificar o interesse do interlocutor e acima de tudo muito importante saber ouvir.

    A seguir, veja algumas dicas para uma boa apresentao:

    . Compartilhar histrias e experincias ajuda a prender a ateno da au-dincia, especialmente se contar exemplos pessoais de superao de desafios;

    . Atentar para o perfil do pblico e adequar a mensagem. Investidores que-rem saber da sade financeira da empresa, lucros e resultados, j os clientes desejam informaes sobre produtos e servios;

    . Cuidado com a linguagem verbal e corporal. Falar demais, gaguejar, andar de um lado para o outro so sinais de falta de confiana;

    . Ao utilizar apresentaes de Power Point no economize na parte visual e no use textos longos. Vale lembrar que ler tudo o que est escrito na apresen-tao deixar a audincia desinteressada; e

    . Treine a apresentao com outras pessoas antes e simule algumas perguntas.

    A comunicao e a Profissionalizao da Empresa

    A excelncia na comunicao diferencia as empresas que pretendem ganhar espao no mercado daquelas lentas, burocrticas e que no privilegiam a transparncia com seu pblico estratgico.

    Em qualquer ambiente ou setor, o processo de comunicao deve refletir a realidade empresarial, ou seja, ela deve compartilhar o seu desenvolvimento gerencial, financeiro e operacional e no esconder ou manipular informaes que no sejam positivas.

    Encarar a comunicao como um ativo um relevante diferencial do negcio signi-fica prezar por fornecer informao de maneira equitativa, levando sempre em conta

  • 50 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    as necessidades dos investidores da empresa e demais interessados. A importncia da comunicao deve ser compreendida por todos os nveis da companhia e praticada com criatividade, a fim de construir uma imagem positiva da empresa perante o mer-cado investidores, analistas e demais pblicos.

    Ao se estabelecer um processo de comunicao eficaz ser possvel captar recursos a custos menos onerosos por meio do mercado acionrio, ttulos de renda fixa, opera-es de private equity e venture capital. Outro ponto importante a justa avaliao e precificao da empresa perante o mercado. Alm disso, as organizaes que pos-suem um tratamento especializado no relacionamento com seus investidores e de-mais pblicos tm conquistado ganhos na rea de Governana Corporativa, melhor estruturao no atendimento ao mercado e maior abertura de canais de relaciona-mento com os pblicos estratgicos.

    Atualmente, os investidores conseguem acessar grande nmero de informaes em tempo real, por meio de diversos canais de comunicao. Portanto, fornecer uma co-municao adequada um diferencial valioso. Para isso, importante investir cons-tantemente no treinamento dos colaboradores e produzir um fluxo de informao de qualidade, seja pela comunicao interna, institucional ou com a imprensa e os diversos pblicos estratgicos.

    Saber comunicar corretamente os fluxos de informaes relevantes para acionistas, in-vestidores e demais interessados exige trabalho contnuo, como explica Jasmine Hogg, especialista em gesto e contabilidade, no artigo Gesto de negcios: A arte das Rela-es com Investidores* De acordo com Hogg, as empresas que no possuem atividade de Relaes com Investidores podem sofrer complicaes no processo de comunicao.

    A autora menciona no artigo os resultados de pesquisas promovidas pela Associao de Relaes com Investidores da Austrlia (do ingls, The Australasian Investor Re-lations Association) nos Estados Unidos e Austrlia. Um dos estudos identificou que gestores de fundos esto dispostos a pagar um prmio de at 10% para as empresas que fazem um bom trabalho de Relaes com Investidores. Por outro lado, aqueles que fizerem um trabalho pobre em RI podem sofrer um desconto nos preos das aes das companhias em at 25%.

    O primeiro passo para ser assertivo no processo de comunicao entender como os pblicos estratgicos da empresa pensam e trabalham com a informao disponi-

  • 51Desafios na Comunicao da Empresa

    bilizada pela companhia. Os analistas sell side*2 e buy-side*, por exemplo, apesar de terem diferentes perspectivas utilizam a mesma informao para avaliar a empresa. Ao analisarem os relatrios e informaes de uma organizao, os profissionais ten-tam retirar o maior nmero possvel de informaes para descobrir se a empresa vai crescer, estagnar ou ainda se outra tem uma estratgia melhor.

    Dados sobre o plano estratgico da companhia, o desenvolvimento de novos servios ou produtos, melhorias de processos de produo, inclusive que privilegie a produ-tividade dos colaboradores, programa de reduo de custos, entre outros, devem ser amplamente divulgados. Alm disso, a empresa deve estar preparada para fornecer informaes sobre sua posio em relao concorrncia, ou seja, a sua participao no setor em que atua e o que a empresa est fazendo para manter ou melhorar a sua posio no mercado.

    Vale ressaltar que a diferena de interpretao de dados de uma empresa pode ter substancial impacto sobre sua avaliao dependendo da maneira como ela se comu-nica com o mercado. Para evitar avaliaes negativas, fundamental conhecer as regras que regem o mercado local e at mesmo internacional, caso a organizao tenha negcios no exterior. A CVM disponibiliza em seu site (http://www.cvm.gov.br/) material sobre leis, medidas provisrias, ofcios-circulares, pareceres e resolu-es do Conselho Monetrio Nacional que regem o mercado financeiro brasileiro.

    O mercado de capitais brasileiro est em constante evoluo e passa por contnuas transformaes para estar no mesmo patamar que os mercados mais maduros. A divulgao completa (full disclosure) e ser claro sobre a mensagem que se quer trans-mitir so regras de ouro para as empresas que desejam obter sucesso no mercado financeiro e de capitais.

    Montando um programa de RI

    Empresas em estgio avanado de desenvolvimento e com estrutura organizacional um pouco mais robusta tm optado por investir na atividade de Relaes com In-vestidores para que consigam cumprir com as obrigaes legais pois muitas so companhias de capital aberto ou pretendem se tornar e querem tambm aprimorar cada vez mais o relacionamento com seus pblicos estratgicos.

    * (do ingls, Business management: The art of investor relations), publicado em 2012, no site do Instituto de Revisores Oficiais de Contas da Austrlia (do ingls The Institute of Chartered Accountants Australia).

  • 52 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    A seguir sero destacados os principais pontos para se elaborar um bom programa de RI, que podem servir como fonte de informao e ideias para que as pequenas e mdias empresas adaptem a sua realidade ou at mesmo possam adotar medidas conforme forem amadurecendo.

    Companhias conscientes dos benefcios do processo de comunicao costumam fazer estudos de targeting, ou seja, focando pblicos de interesse em termos de perfil de investidores, alm de antecipar demandas dos diversos pblicos, eliminando la-cunas provenientes de falhas de comunicao.

    Montar um programa de RI requer alinhamento e perfeita sintonia da empresa com seus gestores e a rea de RI, pois somente dessa maneira a organizao ser capaz de forne-cer informao de qualidade, ampliar e conquistar mais investidores, identificar a base acionria mais adequada ao seu perfil e adaptar a mensagem da empresa ao mercado.

    Os empreendedores e os profissionais que exercero a atividade de RI tm importante papel de acessar informaes estratgicas, bem como retroalimentar o dilogo entre empresa e mercado com um fluxo ininterrupto de informaes. Deve-se partir da premissa que os responsveis por elaborar e conduzir o processo sejam profundos conhecedores da empresa, inclusive o setor em que a companhia est inserida. O pro-grama tambm deve atender todos os pblicos estratgicos da organizao e contar com informaes que estejam em linha com questes do cotidiano da companhia.

    Figura 3: Fluxo de Retroalimentao em RI

    Fonte Secundria: IBRI - Instituto Brasileiro de Relaes com Investidores.

  • 53Desafios na Comunicao da Empresa

    Planejamento Estratgico

    Definir a estratgia da companhia para o mercado o primeiro passo na elaborao de um bom programa de RI. Nessa fase, a empresa, via gestores e RI, deve focar nas suas vantagens competitivas e estabelecer um canal permanente de comunicao com outras reas da companhia como Controladoria, Financeira, Jurdica, Comu-nicao e Contbil para se abastecer de informaes que ajudem a traar um plano estratgico eficaz. Esse canal vai ajudar no fluxo de comunicao interna dentro da empresa, bem como aumentar a interao entre as reas da organizao.

    Essa estratgia deve levar em considerao o perfil dos investidores e compatibiliz-los com a histria da companhia. O ideal que a empresa encontre equilbrio entre os perfis dos investidores que podem variar de moderado, conservador, agressivo e at mesmo aqueles que procuram foco no crescimento da companhia ou prezam por liquidez.

    So essenciais as prticas de selecionar e avaliar os profissionais capazes de promover a comunicao com o mercado e executar tarefas dirias da empresa. Alm disso, o profissional deve ser comunicativo e ter a capacidade de transitar por todas as reas da companhia, como usurio e fornecedor de dados e informaes.

    O contnuo aprendizado e a capacitao dos profissionais da organizao devem ser constantemente incentivados pela empresa, seja por meio de cursos, partici-pao em conferncias, palestras e eventos promovidos por entidades e rgos do mercado. Nas Relaes com Investidores, o responsvel deve mostrar que conhece o mercado de atuao da companhia, o produto ou servios oferecidos, sempre gerenciando com viso estratgica.

    Percepo do mercado

    A percepo do mercado, ou seja, a maneira como os clientes, investidores, acionis-tas, analistas e demais pblicos enxergam a atuao da empresa um bom termme-tro para avaliar se a empresa est indo na direo certa, ou no. As comparaes do desempenho da companhia com seus concorrentes permitem a correo de rotas que no estavam dentro do planejamento.

    Os gestores e o RI devem ficar muito atentos para o feedback do mercado e no se prender se o mercado foi justo ou no, mas sim avaliar o teor das manifestaes. Mui-tas empresas optam tambm pela contratao de estudos de percepo para verificar como a companhia enxergada pelo mercado.

  • 54 Relaes Com Investidores da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais

    Oramento

    Elaborar um oramento destinado s atividades de comunicao e de RI muito im-portante, considerando-se as caractersticas e necessidades especficas da empresa. Entre os itens bsicos encontram-se as despesas para a realizao de reunies pbli-cas com analistas e investidores, elaborao e manuteno do site, teleconferncias, elaborao e publicao de relatrios, entre outros.

    Devem ser considerados tambm gastos com publicidade legal; tradues e ou pes-quisas; servios jurdicos, visto que algumas empresas contratam escritrios de advo-cacia externos; divulgao da companhia em mercados internacionais; e programas de treinamento e educao continuada em RI.

    Atendendo diferentes pblicos

    A estratgia de comunicao precisa ser adaptada com base no pblico que se quer atingir. O ponto de partida deve ser a viso e percepo do outro, pois somente assim a comunicao fluir.

    Para uma organizao relacionar-se com diferentes pblicos e atender diversas deman-das preciso alinhar a mensagem internamente. Independentemente do porte, a em-presa precisa alinhar as mensagens dos gestores ou, em muitos casos, dos proprietrios do negcio que reportaro externamente. Caber, assim, a esses porta-vozes manter a mensagem que a empresa quer divulgar em permanente consistncia com os pblicos e sua estratgia de comunicao precisa ser adaptada com base no pblico que se quer atingir. Em outras palavras, a aplicao dessa rotina pode ser implantada simplesmente pensando em