Livro_terras Tradiocionalmente Ocupadas

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  • Comunidade Itaquera, rio Jauaperi rr /am, (foto Ana Paulina).

  • Audincia Pblica em defesa do Dec. 4887, Cmara dos Deputados,

    Braslia, 2007 (foto: A. Wagner).

  • Comunidade Itaquera, rio Jauaperi rr/am, 2007 (foto: Acervo).

  • Comunidade Sater-Maw Yapyrehyt. Redeno,Manaus, 2008 (foto: Glademir S. dos Santos).

  • Terras de quilombos, terras indgenas,babauais livres, castanhais do povo,faxinais e fundos de pastos: t e r r as t r a d i c i o n a l m e n t e o c u pa das

    2. ed io

    Alfredo Wagner Berno de Almeida

    Coleo Tradio e ordenamento jurdico, vol. 2projeto nova cartografia social da amaznia

  • alfredo wagner berno de almeida, 2008

    projeto grfico e diagramao Rmulo do Nascimento Pereira

    revisoWillas Dias da Costa

    foto da capaA. Wagner Tambor de crioula do Quilombo S Assim, Alcntara (ma)

    projeto nova cartografia social da amaznia

    (ppgsca-ufam / Fundao Ford / ppgda-uea)

    projeto processos de territorializao, conflitos e movimentos sociais na amaznia

    (fapeam / cnpq)

    Rua Jos Paranagu, 200Centro. Manaus Am cep 69005 130

    [email protected]

    Almeida, Alfredo Wagner Berno de

    Terra de quilombo, terras indgenas, babauais livre,

    castanhais do povo, faixinais e fundos de pasto: terras

    tradicionalmente ocupadas. Alfredo Wagner Berno de

    Almeida. 2. ed, Manaus: pgscaufam, 2008.

    192 p.

    isbn 978-85-7401-402-9

    i. Questo agrria Movimentos sociais 2. Terras indgenas

    3. Terras de negros. i. Ttulo

    cdd: 303.6cdu 301.175:333.013-6

  • S U M R I O

    apresentao 17

    terras tradicionalmente ocupadas:processos de territorializao,

    movimentos sociais e uso comum

    Introduo 25

    A instituio das Terras tradicionalmente ocupadas 33

    A Abrangncia do significado de Terras 48tradicionalmente ocupadas

    Os limites das categorias censitrias e cadastrais 69

    Os movimentos sociais 80

    Os processos de territorializao 118

    Referncias bibliogrficas 127

    terras de preto, terras de santo,terras de ndio uso comum e conflito

    Sistemas de uso comum na estrutura agrria 133

    Uso comum nas regies de colonizao agrria 142

    Uso comum nas regies de ocupao recente 159

    Diferenciao interna e antagonismos 162

    anexos

    Projeto de Lei do Legistlativo Municipal n.04/2005 179que cria a Lei do licuri livre ou lei do ouricuri

    sua preservao, extrativismo e comercializao Cmara Municipal de Antonio Gonalves

    Decreto n. 889. Prefeitura Municipal de Curitiba 183Outorga de permisso de uso para implantao

    do memorial de cultura cigana

  • Oficina dos Faxinais, Irati pr, 2008 (foto: A. Wagner).

  • TABELAS E QUADROS DEMONSTRATIVOS

    Quadro 1 57

    Terras tradicionalmente ocupadas

    (categorias de autodefinio, movimentos, atos,

    agencias oficiais competentes, poltica governamental,

    estimativa de rea e populao de referencia)

    Quadro 2 73

    Formas de reconhecimento jurdico das diferentes

    modalidades de apropriao das denominadas terras

    tradicionalmente ocupadas (1988-2005)

    Quadro 3 108

    Movimentos Sociais (perodo ou ano de fundao,

    sede, rede de organizaes vinculadas, representao)

    Tabela 1 83

    Relao dos municpios com as maiores propores

    de autodeclarados indgenas, com indicao das

    Unidades da Federao de referencia, populao

    total dos municpios e de indgenas. Brasil 2000

    Tabela 2 84

    Relao dos Municpios com as maiores populaes

    de autodeclarados indgenas e proporo em relao

    populao total dos municpios, com indicao

    das Unidades da Federao de referencia

    Brasil 2000

  • Croquis elaborados em oficinade mapas de Fundos de Pasto,Casa Nova ba, 2007(foto: A. Wagner).

  • AARJ: Associao dos Artesosdo Rio Jauaperi

    ACBANTU: Associao CulturalACIBRIN: Associao das

    Comunidades Indgenas do Rio Negro

    ACIMRN: Associao dasComunidades Indgenas doMdio Rio Negro

    ACINCTP: Associao Comu-nitria Indgena AgrcolaNhengatu

    ACIRI: Associao dasComunidades Indgenas do Rio Iana

    ACIRU: Associao dasComunidades Indgenas do Rio Umari

    ACIRX: Associao dasComunidades Indgenas do Rio Xi

    ACITRUT: Associao dasComunidades Indgenas deTaracu, Rio Uaps e Tiqui

    ACNUR: Alto Comissariadodas Naes Unidas paraRefugiados

    ACONERUQ: Associao dasComunidades Negras RuraisQuilombolas do Maranho

    ADCT: Ato das DisposiesConstitucionais Provisrias

    AGM : Associao Galibi-Marworno

    AINBAL: Associao Indgenado Balaio

    AIPAT: Associao dosProfessores Indgenas doPovo Assurini do Trocara

    AISMA: Associao IndgenaSater Maw do Rio Andir

    AIX: Associao IndgenaXerente

    AM: AmazonasAMAI: Associao das Mulheres

    de Assuno do Rio IanaAMARN: Associao das Mulhe-

    res Indgenas do Rio NegroAMIK: Associao das Mulheres

    Indgenas KambebaAMISM: Associao das

    Mulheres Indgenas SaterMaw

    AMITRUT: Associao dasMulheres Indgenas de Taracu, Rio Uaps e Tiqui

    AMTAPAMA: Associao dosPovos Tupi do Par

    AMTR: Associao de MulheresTrabalhadoras Rurais

    APINA: Associao dos PovosWaipi

    APIO : Associao dos PovosIndgenas do Oiapoque

    APIR : Associao dos Profes-sores Indgenas de Roraima

    APITU: Associao dos PovosIndgenas do Tumucumaque

    APK: Associao dos PovosKarintiana

    APOINME: Articulao dosPovos Indgenas do Nordeste,

    13

    SIGLAS E ABREVIATURAS

  • Minas Gerais e EspritoSanto

    APRECI: Associao de Preser-vao da Cultura Cigana

    ARCINE: Associao Rural dasComunidades Indgenas doRio Negro

    Art.: ArtigoASPA: Associao Pariwawi

    (Povo Xavante)ASSEMA : Associao de reas

    de Assentamento do Estadodo Maranho

    ATRIART: Associao das TribosIndgenas do Alto Rio Tiqui

    CACIR: Conselho de Articula-o das ComunidadesIndgenas e Ribeirinhas

    CCC: Centro de Cultura CiganaCE: Constituio EstadualCF: Constituio FederalCEFET: Centro Federal de

    Educao TecnolgicaCGTSM: Conselho Geral da

    Tribo Sater MawCGTT: Conselho Geral da

    Tribo TicunaCIM: Conselho Indgena MuraCIMAT: Conselho Indgena

    Munduruku do Alto TapajsCIPK: Conselho Indgena

    PepCahyc KrikatiCIR: Conselho Indgena

    de RoraimaCITA: Conselho Indgena

    dos Rios Tapajs e ArapiunsCIVAJA: Conselho Indgena

    do Vale do Javari

    CNPT: Centro Nacional deDesenvolvimento Sustentadodas Populaes Tradicionais

    CNS: Conselho Nacional dosSeringueiros

    COAPIMA: Coordenao dasOrganizaes e Articulaesdos Povos Indgenas doMaranho

    COIAB: Coordenao Indgenada Amaznia Brasileira

    COIS: Coordenao das Orga-nizaes Indgenas Suru

    CONAQ: Coordenao Nacionalde Articulao das Comuni-dades Negras RuraisQuilombolas

    CONIB: Confederao Israelitado Brasil

    COPIAM: Conselho dos Profes-sores Indgenas da Amaznia

    CPI-AC: Comisso Pr-Indiodo Acre

    CUNPIR: Coordenao da Uniodas Naes Indgenas deRondnia, Norte do MatoGrosso e Sul do Amazonas

    FCP: Fundao Cultural Palmares

    FEPOIMT: Federao dos Povose Organizaes Indgenas doMato Grosso

    FOCCITT: Federao das Orga-nizaes e dos Caciques eComunidades Indgenas daTribo Ticuna

    FOIRN: Federao das Organiza-es Indgenas do Rio Negro

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  • FSPA: Frum Social Pan-Ama-znico

    FUNAI: Fundao Nacional do ndio

    GTA: Grupo de TrabalhoAmaznico

    INCRA: Instituto Nacional de Colonizao e ReformaAgrria

    MA: MaranhoMAB: Movimento dos

    Atingidos por BarragensMABE: Movimento dos

    Atingidos pela Base Espacialde Alcntara

    MALUNGU: CoordenaoEstadual das Associaes deRemanescentes de Quilombosdo Estado do Par

    MDA: Ministrio do Desen-volvimento Agrrio

    MEIAM: Movimento dos Estudantes Indgenas doAmazonas

    MIQCB: Movimento Interesta-dual das Quebradeiras deCco Babau

    MMA: Ministrio do MeioAmbiente

    MMC: Movimento deMulheres Camponesas

    MMTR-AM: Movimento de Mu-lheres Trabalhadoras Ribeiri-nhas do Estado do Amazonas

    MONAPE: MovimentoNacional dos Pescadores

    MOPEMA: Movimento dosPescadores do Maranho

    MOPEPA: Movimento dosPescadores do Par

    MORA: Movimento dos Ribeirinhos do Amazonas

    MRRA: Movimento dos Ribeirinhos e Ribeirinhas do Amazonas

    MPIVJ: Movimento dos PovosIndgenas do Vale do Juru

    NAEA: Ncleo de Altosestudos Amaznicos

    OASISM: Organizao dosAgentes Indgenas de Sadedo Povo Sater Maw

    OGPTB: Organizao Geral dosProfessores Ticuna Bilinge

    OIBI: Organizao Indgena daBacia do Rio Iana

    OPAMP: Organizao do PovoApurin da Bacia do RioPurus

    OPIAC: Organizao dos Pro-fessores Indgenas do Acre

    OPIAM: Organizao dos PovosIndgenas do Alto Madeira

    OPIM: Organizao dosProfessores Indgenas Mura

    OPIMP: Organizao dos PovosIndgenas do Mdio Purus

    OPIPAM: Organizao dosPovos Indgenas Parintintindo Amazonas

    OPIR: Organizao dos PovosIndgenas de Roraima

    OPIRE: Organizao dos PovosIndgenas do Rio Envira

    OPISM: Organizao dos Profes-sores Indgenas Sater Maw

    15

  • OPITARJ: Organizao dosPovos Indgenas de Tarauace Jordo

    OPITTAMP: Organizao dosPovos Indgenas Tor,Tenharim, Apurin, Mura,Parintintin e Pirah

    OSPTAS: Organizao de Sadedo Povo Ticuna do AltoSolimes

    PA: ParPE: PernambucoPNCSA: Projeto Nova Carto-

    grafia Social da AmazniaPNPCT: Poltica Nacional de

    Desenvolvimento Sustentveldos Povos e ComunidadesTradicionais

    PPGSCA: Programa de Ps-Graduao Sociedade eCultura na Amazonia

    PR: ParanPRODEX: Projeto de Desenvol-

    vimento ExtrativistaPVN: Projeto Vida de Negro

    (MA)RESEX: Reserva ExtrativistaSEPRO: Secretaria de Produo

    do Estado do AcreTO: TocantinsUCIRN: Unio das Comuni-

    dades do Rio Negro/Ilha das Flores

    UEA: Universidade Estadual do Amazonas

    UEMA: Universidade Estadualdo Maranho

    UFAM: Universidade Federal doAmazonas

    UFMA: Universidade Federal doMaranho

    UFPA: Universidade Federal doPar

    UNAMAZ: Associao deUniversidades Amaznicas

    UNEMAT: UniversidadeEstadual do Mato Grosso

    UNCIDI: Unio das Comuni-dades Indgenas do Distritode Yauaret

    UNI: Unio das Naes Ind-genas

    UNI/ACRE: Unio das NaesIndgenas do Acre/ Sul doAmazonas

    UNI/TEF: Unio das NaesIndgenas do Mdio Solimes

    UNIRT: Unio das Comu-nidades Indgenas do RioTiqui

    UPIMS: Unio dos Povos Ind-genas Munduruku e Sater

    USAGAL : Unio de Sindicatos eAssociaes de Garimpeirosda Amaznia Legal

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  • APRESENTAO

    A cogitao de paralelismo e cotejo, somada ao prop-sito de buscar aproximar simultaneamente diferentesinstrumentos tericos, distintas realidades localizadas ediferentes momentos histricos, me levou a reunir doistextos para compor este livro: um elaborado em fins de1985 e o outro em meados de 2004 e comeo de 2005.Vinte anos separam estes dois trabalhos, que ora apresen-to numa ordem de exposio invertida, comeando do maisrecente para o mais recuado. Vistos em perspectiva, peloolhar da leitura crtica, esto diretamente ligados minhaexperincia profissional enquanto antroplogo voltadopara o estudo de antagonismos sociais em torno das moda-lidades de uso comum dos recursos naturais por diferentesgrupos e povos tradicionais. O que ressaltam, em princ-pio, que tais modalidades de apropriao no encontramnecessariamente correspondncia formal no ordenamentojurdico e na ao do Estado.

    So textos aproximveis ademais, porquanto acham-se referidos tambm a momentos de transio ou a situa-es histricas peculiares em que grupos sociais e povospercebem que h condies de possibilidade para enca-minhar suas reivindicaes bsicas, para reconhecer suasidentidades coletivas e mobilizar foras em torno delas eainda para tornar seus saberes prticos um vigoroso instru-mento jurdico-formal.

    17terras de quilombos, terras indgenas, babauais livres, castanhais do povo,faxinais e fundos de pastos: terras t radic ionalmente ocupadas Alfredo Wagner

    Berno de Almeida

  • O primeiro texto foi escrito nos ltimos meses do anode 1985 e no comeo de 1986. Refere-se a argumentos acio-nados na redefinio dos instrumentos da ao fundiriaoficial, sobretudo aqueles de natureza cadastral, queposteriormente foram retomados nos debates da Assem-blia Nacional Constituinte. Participei de tal redefinio apartir de meu trabalho no extinto mirad1, contribuindona montagem de uma Coordenadoria de Conflitos Agr-rios e tambm chamando a ateno, a partir de verificaesin loco, para modalidades de uso comum da terra, manti-das margem da ao oficial, tais como as chamadas:terras de preto, terras de santo, terras da santa,terras de ndio, terras de caboclo, terras soltas ouabertas, terras de herdeiros sem formal de partilha hinmeras geraes e suas variantes, terras de parentes eterras de ausente, dentre outras.

    O fulcro da polmica, na qual se colocava este traba-lho de mapeamento da diversidade de apropriaes, erarepensar a lgica de reestruturao formal do mercado deterras, que considera o fator tnico, os laos de parentesco,as redes de vizinhana e as identidades coletivas comoformas de imobilizao dos recursos bsicos, que impedemque as terras sejam transacionadas livremente como merca-dorias. Nos fundamentos desta anlise uma luta contra oseconomistas formalistas, que imaginam as mesmas cate-gorias econmicas para todo e qualquer povo ou socieda-de e um modelo de propriedade homogneo, coadunadocom as vicissitudes do mercado de terras.

    Este primeiro artigo foi coetneo da emergncia denovas identidades coletivas e dos denominados novosmovimentos sociais, definidos por Hobsbawm, comopossuindo razes locais profundas, conscincia ambiental,critrios de gnero, e se agrupando em torno das mesmas

    18

  • reivindicaes, atravs de um critrio poltico-organizativo.Os sujeitos em pauta passavam de uma existncia atomi-zada para uma existncia coletiva, objetivada em movimen-tos sociais, tais como os movimentos indgenas, agrupadosem torno da uni, o Movimento dos Sem Terra e o Conse-lho Nacional dos Seringueiros, simbolizando os denomina-dos povos da floresta.

    O segundo artigo se coloca para alm do surgimentodestes movimentos e focaliza seus desdobramentos. Decerta maneira atualiza o anterior. Assim, no incio da dca-da de 90 foram as chamadas quebradeiras de coco baba-u e os quilombolas que se colocaram na cena polticaconstituda, consolidaram seus movimentos e articularamestratgias de defesa de seus territrios, juntamente comoutros povos e comunidades tradicionais, tais como oscastanheiros e os ribeirinhos. Alm destes comearama se consolidar no ltimo lustro, as denominadas comu-nidades de fundos de pasto e dos faxinais. Estes movi-mentos, tomados em seu conjunto, reivindicam oreconhecimento jurdico-formal de suas formas tradicionaisde ocupao e uso dos recursos naturais. E exatamentedisto que trata o segundo texto aqui apresentado, re-atua-lizando o primeiro, distinguindo-se dele ao enfatizar asautodefinies dos agentes sociais e no apenas as designa-es que utilizam para nomear as extenses que ocupam,e focalizando os fenmenos recentes, onde o tradicional considerado como atrelado a fatos do presente e s atuaisreivindicaes dos movimentos sociais. Nesta anlisesurpreendem , aqui e ali, tanto as diferenas e disparidades,quanto as semelhanas e identificaes nos vrios sentidosque assume o saber tradicional convertido em reivindi-cao ou mesmo num dispositivo jurdico, como seria ocaso das Leis Municipais do Babau Livre, no Maranho,

    19

  • Par, Tocantins e Piau ou das Leis Municipais dos Faxi-nais, no Paran, ou ainda daquela do Ouricuri Livre, emmunicpio do serto da Bahia. O reconhecimento jurdico-formal das prticas de uso comum, mediante a ao dosmovimentos sociais, permite registrar conquistas efetivas,contrariando simultaneamente tanto as interpretaesdeterministas de que se estaria diante de uma crise dotradicional mediante o crescimento demogrfico, quantoas interpretaes evolucionistas que reiteram uma crisedos comuns indicativa de seu trgico declnio ou de umatendncia inexorvel ao desaparecimento.

    Nos fundamentos desta anlise tem-se uma luta teri-ca contra a fra dos esquemas interpretativos dos posi-tivistas no direito, que sempre querem confundir etnias,minorias e/ou povos tradicionais dentro de uma noogenrica de povo, elidindo a diversidade cultural, e contraa ao sem sujeito de esquemas inspirados nos estruturalis-mos, que privilegiam e se circunscrevem s oposies sim-tricas entre comum e individual, entre coletivo eprivado, entre propriedade e uso, entre recursosabertos e fechados, entre tradicional e moderno,menosprezando a dinmica das situaes concretas produ-zidas pelos povos e grupos tradicionais nas suas relaessociais com seus antagonistas histricos. O modelo depropriedade comum, concebido pelos legisladores paraharmonizar a homogeneizao jurdica dos registros cadas-trais de terras, e as interpretaes absolutas do usocomum, que aparecem nos documentos oficiais com fina-lidade de recenseamento agropecurio, so aqui relativiza-dos e considerados como noes pr-concebidas, quecontraditam as aes mobilizatrias dos chamados povostradicionais e suas categorias intrnsecas de apropriaodos recursos naturais.

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  • Constru este ponto de vista a partir do trabalho decampo e de tcnicas vrias de observao direta. Para tantoparticipei de inmeros encontros2 durante os dois lti-mos anos: de quilombolas (no Maranho e Par), dospovos dos faxinais (no Paran), das quebradeiras de ccobabau (no Tocantins, no Piau e no Maranho), dascomunidades de fundos de pasto (na Bahia), do regionaldo gta no Acre, das comunidades tradicionais (emGois e Braslia). Organizei, juntamente com Rosa Aceve-do Marin, seminrios sobre Populaes Tradicionais equestes de terra no Frum Panamaznico (Par eAmazonas) e no Frum Social Mundial (Caracas). Entre-vistei lideranas, acompanhei mobilizaes, como aquelasdos quilombolas atingidos pela Base de Lanamentos deFoguetes de Alcntara e me expus no debate amplo, aomesmo tempo em que realizei meu trabalho de pesquisasobre critrios de representao diferenciada dos movimen-tos sociais na construo de suas respectivas territoriali-dades especficas. Com os resultados produzi o segundotexto e o reescrevi depois de publicado. fora de ouvirme dizerem repetidas vezes que valeria a pena acrescentarinterpretaes complementares e tambm republicar ostextos, trabalhei com afinco para prepar-los com vistas auma nica publicao. Comecei a preparar este materialpara publicao a partir de uma discusso detida comJoaquim Shiraishi Neto sobre a relevncia de recuperarmosestas prticas jurdicas localizadas e estas formas organiza-tivas, que impelem os movimentos sociais para o plano jur-dico-formal e para a cena poltica, notadamente no planolegislativo.

    Esta discusso ganhou corpo, quando da execuo emequipe das tarefas de pesquisa no Projeto Nova Cartogra-fia Social da Amaznia. Envolvidos no trabalho de campo

    21

  • e nas atividades de elaborao de mapas, fascculos, livrose folhetins, fomos levados a discusses mais detidas e conta-tos mais demorados em cada uma das oficinas de mapas3que realizamos, as quais me impeliram a rever discusses epressupostos4 e a compreender com mais discernimento algica de atuao de diferentes movimentos sociais5, comono caso dos atingidos pela Base de Lanamento de Fogue-tes de Alcntara, da Coordenao Nacional de Articu-lao das Comunidades Negras Rurais Quilombolas e doMovimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Baba-u. Este processo de discusso no apenas contribuiu paraa elaborao do texto que abre este livro, como tambmcontribuiu decisivamente, num sentido mais amplo, paraprpria idia da coleo Tradio & Ordenamento Jur-dico, da qual ele faz parte como segundo volume.

    alfredo wagner berno de almeida

    Antroplogo. Professor-visitante do Programa de Ps-Graduao Sociedade e Cultura na Amaznia Universidade Federal

    do Amazonas e pesquisador Fapeam-cnpq.

    22

  • 23

    notas Apresentao

    1. O mirad (Ministrio da Reforma e do DesenvolvimentoAgrrio) foi criado em maro de 1985, quando findou a ditadu-ra instaurada com o golpe militar de 1964. Foi um Ministriode transio poltica, criado para elaborar e aplicar um planonacional de reforma agrria ampla e massiva. Com a fora dosinteresses da contra-reforma foi, entretanto, extinto trs anosdepois sem atingir seus objetivos.

    2. O significado de encontro, no lxico dos movimentossociais, corresponde a um mecanismo de deciso, equivalente auma assemblia, a uma reunio deliberativa ou a uma consultarealizada pela coordenao junto queles que so por ela repre-sentados. Este termo ganhou fora a partir de 1985, quando semanifestam os primeiros indcios de uma crise na mediao exer-cida pelo movimento sindical, cujas decises principais eramtomadas em assemblias das quais participavam exclusivamen-te os scios quites obrigatoriamente referidos a uma mesmabase territorial. A participao nos denominados encontrosmostra-se mais flexvel, adotando critrios de participaocoadunados com a situao de conflito diretamente referida.

    3. Entre julho de 2005 e fevereiro de 2006 foram realizadas nombito do pncsa treze oficinas, que consistem em reunies comno mximo 30 participantes, selecionados pelos prprios movi-mentos sociais de referencia, para definir em cima de basescartogrficas j conhecidas previamente pelos participantes,quais os elementos relevantes para compor o mapeamento socialde seu prprio povo ou grupo.

    4. Nesta dinmica de discusses queria agradecer em especial aoscolaboradores e pesquisadores referidos ao pncsa, a saber:

  • 24

    Joaquim Shiraishi Neto, Rosa Acevedo Marin, Cynthia deCarvalho Martins, Ana Paulina Aguiar Soares, Solange Gayoso,Franklin Plessman, Erika Nakazono, Jurandir Novaes, AnicetoCantanhede, Arydimar Gaioso, Noemi M. Porro, LucieneFigueiredo, Rodrigo Lopes e Fabiano Saraiva, que de diferen-tes maneiras contribuiram com seus resultados efetivos depesquisa e suas participaes nas oficinas de mapas parareforar nossas convices.

    5. Aqui gostaria de agradecer principalmente coordenao doMovimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babau,na pessoa de Maria Adelina, mais conhecida como Dada; coordenao do Grupo de Trabalho Amaznico (gta), napessoa de Maria de Aquino,mais conhecida como Leide; coor-denao do Movimentos dos Atingidos pela Base Espacial deAlcntara, nas pessoas de Dorinete Serejo, mais conhecidacomo Neta, de Srvulo Borges, mais conhecido como Borjo, ede Inaldo Diniz, e s coordenaes de Malungu CoordenaoEstadual Quilombola do Par, da Aconeruq-Associao dasComunidades Negras Quilombolas do Maranho, da Conaq Coordenao de Articulao das Comunidades Negras RuraisQuilombolas, do Movimento dos Ribeirinhos e Ribeirinhas doAmazonas, do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Ribei-rinhas do Estado do Amazonas e da Central de Fundos de Pastode Senhor do Bonfim e tambm aos conselheiros do Congressoda Cidade de Belm, que participaram das oficinas de mapas,representando os indgenas, os quilombolas urbanos e os deno-minados afroreligiosos.

  • TERRAS TRADICIONALMENTE

    OCUPADAS : PROCESSOS DE TERRITO-

    RIALIZAO, MOVIMENTOS SOCIAIS

    E USO COMUM

    N as duas ltimas dcadas estamos assistindo em todoo Pas, e notadamente na Amaznia, ao advento denovos padres de relao poltica no campo e na cidade.Os movimentos sociais no campo, que desde 1970 vem seconsolidando fora dos marcos tradicionais do controleclientelstico e tendo nos Sindicatos de Trabalhadores eTrabalhadoras Rurais uma de suas expresses maioresconhecem, desde 1988-89, certos desdobramentos, cujasformas de associao e luta escapam ao sentido estrito deuma entidade sindical, incorporando fatores tnicos,elementos de conscincia ecolgica e critrios de gnero ede autodefinio coletiva, que concorrem para relativizaras divises poltico-administrativas e a maneira convencio-nal de pautar e de encaminhar demandas aos poderes pbli-cos2. Para efeitos deste texto pretendo analisar a relaoentre o surgimento destes movimentos sociais e os proces-sos de territorializao que lhes so correspondentes. Atri-buo nfase nestes mencionados processos s denominadasterras tradicionalmente ocupadas, que expressam umadiversidade de formas de existncia coletiva de diferentespovos e grupos sociais em suas relaes com os recursos danatureza. No obstante suas diferentes formaes histri-cas e suas variaes regionais, elas foram institudas no

    1

    25terras de quilombos, terras indgenas, babauais livres, castanhais do povo,faxinais e fundos de pastos: terras t radic ionalmente ocupadas Alfredo Wagner

    Berno de Almeida

  • texto constitucional de 1988 e reafirmadas nos dispositi-vos infraconstitucionais, quais sejam, constituies esta-duais, legislaes municipais e convnios internacionais.

    As dificuldades de efetivao destes dispositivos legaisindicam, entretanto, que h tenses relativas ao seu reco-nhecimento jurdico-formal, sobretudo porque rompem coma invisibilidade social, que historicamente caracterizouestas formas de apropriao dos recursos baseadas princi-palmente no uso comum e em fatores culturais intrnsecos,e impelem a transformaes na estrutura agrria. Emdecorrncia tem-se efeitos diretos sobre a reestruturaoformal do mercado de terras, bem como presses para quesejam revistas as categorias que compem os cadastrosrurais dos rgos fundirios oficiais e os recenseamentosagropecurios.

    O fato dos legisladores terem incorporado a expres-so populaes tradicionais na legislao competente3 edo governo t-la adotado na definio das funes dosaparatos burocrtico-administrativos, tendo inclusive cria-do, em 1992, o Conselho Nacional de Populaes Tradicio-nais, no mbito do ibama4, no significa exatamente umacatamento absoluto das reivindicaes encaminhadaspelos movimentos sociais, no significando, portanto,uma resoluo dos conflitos e tenses em torno daquelasformas intrnsecas de apropriao e de uso comum dosrecursos naturais, que abrangem extensas reas principal-mente na regio amaznica, no semi-rido nordestino e noplanalto meridional do Pas. Em dezembro de 2004, porpresso dos movimentos sociais, o governo federal decretoua criao da Comisso de Desenvolvimento Sustentvel dasComunidades Tradicionais 5 com vistas a implementaruma poltica nacional especialmente dirigida para taiscomunidades. A expresso comunidades, em sintonia

    26

  • com a idia de povos tradicionais deslocou o termopopulaes, reproduzindo uma discusso que ocorreu nombito da Organizao Internacional do Trabalho (oit)em 1988-89 e que encontrou eco na Amaznia atravs damobilizao dos chamados povos da floresta no mesmoperodo. O tradicional como operativo foi aparentemen-te deslocado no discurso oficial, afastando-se do passadoe tornando-se cada vez mais prximo de demandas dopresente. Em verdade o termo populaes, denotandocerto agastamento, foi substitudo por comunidades,que aparece revestido de uma conotao poltica inspiradanas aes partidrias e de entidades confessionais, referi-das noo de base, e de uma dinmica de mobilizao,aproximando-se por este vis da categoria povos. Seusrepresentantes passam a ter institudas suas relaes comos aparatos de poder e integraro a mencionada Comis-so, consoante o Art. 2 2, do referido decreto, cuja fina-lidade precpua consiste em estabelecer uma PolticaNacional de Desenvolvimento Sustentvel. Por mais queestes termos e expresses estejam se tornando lugares-comuns do discurso oficial pode-se asseverar que o senti-do de terras tradicionalmente ocupadas e suasimplicaes encontra-se, entretanto, implcito.

    Em 7 de fevereiro de 2007, menos de 3 anos depois deinstituda a referida Comisso, atravs do Decreto n. 6040foi instituda a Poltica Nacional de DesenvolvimentoSustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais(pnpct). No Art. 3 procedeu-se definio das principaisnoes em pauta, quais sejam: povos e comunidades tradi-cionais, territrios tradicionais e desenvolvimentosustentvel. Para efeitos da argumentao aqui produzi-da vale sublinhar que o decreto presidencial considera oseguinte:

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  • Povos e Comunidades Tradicionais: grupos cultural-mente diferenciados e que se reconhecem como tais, quepossuem formas prprias de organizao social, queocupam e usam territrios e recursos naturais comocondio para sua reproduo cultural, social, religiosa,ancestral e econmica, utilizando conhecimentos, inova-es e prticas gerados e transmitidos pela tradio.

    As formas prprias mencionadas, quando traduzidas paraplanos, programas e suas aes respectivas remetem inva-riavelmente, consoante os termos da pnpct, para prti-cas comunitrias e situaes de uso comum dos recursosnaturais.

    Em termos analticos, pode-se adiantar, que taisformas de uso comum designam situaes nas quais ocontrole dos recursos bsicos no exercido livre e indi-vidualmente por um determinado grupo domstico depequenos produtores diretos ou por um de seus membros.Tal controle se d atravs de normas especficas, combi-nando uso comum de recursos e apropriao privada debens, que so acatadas, de maneira consensual, nos mean-dros das relaes sociais estabelecidas entre vrios gruposfamiliares, que compem uma unidade social. Tantopodem expressar um acesso estvel terra, como ocorreem reas de colonizao antiga, quando evidenciamformas relativamente transitrias caractersticas dasregies de ocupao recente. Tanto podem se voltar prio-ritariamente para a agricultura, quanto para o extrativis-mo, a pesca ou para o pastoreio realizados de maneiraautnoma, sob forma de cooperao simples e com baseno trabalho familiar. As prticas de ajuda mtua, incidin-do sobre recursos naturais renovveis, revelam um conhe-cimento aprofundado e peculiar dos ecosssistemas de

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  • referencia. A atualizao destas normas ocorre, assim, emterritrios prprios, cujas delimitaes so socialmentereconhecidas, inclusive pelos circundantes. A territoriali-dade funciona como fator de identificao, defesa e fra,mesmo em se tratando de apropriaes temporrias dosrecursos naturais, por grupos sociais classificados muitasvezes como nmades e itinerantes. Laos solidrios ede ajuda mtua informam um conjunto de regras firma-das sobre uma base fsica considerada comum, essencial einalienvel, no obstante disposies sucessrias porven-tura existentes. Em virtude do carter dinmico destasformas de apropriao dos recursos que preferi utilizara expresso processo de territorializao (Oliveira Filho:1999) em vez de insistir na distino usual entre terra eterritrio, que vem sendo adotada notadamente nasformulaes inspiradas nos trabalhos de P. Bohannansobre a representao da terra entre os Tiv. Embora Oli-veira Filho faa distino entre processo de territorializa-o e territorialidade, que considera um termo maisprximo do discurso geogrfico, recuperei o termo comoutro significado, aquele de uma noo prtica designadacomo territorialidade especfica para nomear as delimi-taes fsicas de determinadas unidades sociais quecompem os meandros de territrios etnicamente configu-rados. As territorialidades especficas de que tratareiadiante podem ser consideradas, portanto, como resul-tantes de diferentes processos sociais de territorializao ecomo delimitando dinamicamente terras de pertencimen-to coletivo que convergem para um territrio.

    Por seus desgnios peculiares, o acesso aos recursosnaturais para o exerccio de atividades produtivas, se dno apenas atravs das tradicionais estruturas intermedi-rias do grupo tnico, dos grupos de parentes, da famlia, do

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  • povoado ou da aldeia, mas tambm por um certo grau decoeso e solidariedade obtido face a antagonistas e emsituaes de extrema adversidade e de conflito6, que refor-am politicamente as redes de solidariedade. Neste sentidoa noo de tradicional no se reduz histria, nem topouco a laos primordiais que amparam unidades afetivas,e incorpora as identidades coletivas redefinidas situacional-mente numa mobilizao continuada, assinalando que asunidades sociais em jogo podem ser interpretadas comounidades de mobilizao7. O critrio poltico-organizativosobressai combinado com uma poltica de identidades,da qual lanam mo os agentes sociais objetivados emmovimento para fazer frente aos seus antagonistas e aosaparatos de estado.

    Alis, foi exatamente este fator identitrio e todos osoutros fatores a ele subjacentes, que levam as pessoas a seagruparem sob uma mesma expresso coletiva, a declara-rem seu pertencimento a um povo ou a um grupo, a afirma-rem uma territorialidade especfica e a encaminharemorganizadamente demandas face ao Estado, exigindo oreconhecimento de suas formas intrnsecas de acesso terra, que me motivaram a refletir novamente sobre aprofundidade de tais transformaes no padro tradicio-nal de relaes polticas.

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  • 31

    notas Terras Tradicionalmente ocupadas:processos de territorializao, movimentossociais e uso comum

    1. Meus agradecimentos Fundao Ford, que propiciou recur-sos para a execuo deste trabalho, e ao antroplogo AurlioVianna com quem debati a montagem dos quadros demonstra-tivos.Agradeo ainda ao advogado Joaquim Shiraishi Neto, pelasinformaes a respeito dos faxinais, e ao mestrando em antro-pologia da ufba, Franklin Plessman pelo levantamento de dadossobre os chamados fundos de pasto. Uma primeira versodeste artigo, mais reduzida e com o mesmo ttulo, foi publicadapela Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. Vol. 6,n. 1. anpur, maio de 2004. pp. 9-32.

    2. Este texto retoma questes analisadas em Universalizao eLocalismo-Movimentos Sociais e crise dos padres tradicionaisde relao poltica na Amaznia. Reforma Agrria. Ano 19 No.1 abril junho de 1989. abra (Associao Brasileira de ReformaAgrria) pp. 4-7.

    3. A Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000, que regulamenta oArt. 225 da Constituio Federal e institui o Sistema Nacionalde Unidades de Conservao da Natureza, menciona explicita-mente as denominadas populaes tradicionais (Art. 17) oupopulaes extrativistas tradicionais (Art. 18) e focaliza a rela-o entre elas e as unidades de conservao (rea de proteoambiental, floresta nacional, reserva extrativista, reserva dedesenvolvimento sustentvel).

    4. CF. Portaria/Ibama, n. 22-n, de 10 de fevereiro de 1992 quecria o Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das

  • Populaes Tradicionais-cnpt, bem como aprova seu Regi-mento Interno.

    5. CF. Decreto de 27 de dezembro de 2004, in Dirio Oficial daUnio Seo i Atos do Poder Executivo, Ed. n. 249, 28 dedezembro de 2004 p. 4. Em abril de 2005 este Decreto foi reedi-tado com o n. 10.408 (no conseguimos localizar a referenciaprecisa de sua publicao). Em 13 de julho de 2006 um decretopresidencial, publicado no Dirio Oficial da Unio, de 14 dejulho de 2006 Seo 1 pg. 19, alterou denominao, compe-tncia e composio da Comisso Nacional de Desenvolvimen-to Sustentvel das Comunidades Tradicionais.

    6. Barragens, campos de treinamento militar, base de lana-mento de foguetes, reas reservadas minerao, reas deconservao como as chamadas unidades de proteo integral,rodovias, ferrovias, gasodutos, oleodutos, linhes de transmis-so de energia, portos e aeroportos em sua implementao temgerado inmeros conflitos sociais com grupos camponeses,povos indgenas e outros grupos tnicos.

    7. Este conceito de unidades de mobilizao refere-se aglutina-o de interesses especficos de grupos sociais no necessaria-mente homogneos, que so aproximados circunstancialmentepelo poder nivelador da interveno do Estado atravs depolticas desenvolvimentistas, ambientais e agrrias ou dasaes por ele incentivadas ou empreendidas, tais como as chama-das obras de infraestrutura que requerem deslocamentoscompulsrios. So estas referidas unidades que, nos desdobra-mentos de suas aes reivindicativas, possibilitaram a consolida-o de movimentos sociais como o Movimento dos Atingidospor Barragens (mab) e o Movimento dos Atingidos pela Base deFoguetes de Alcntara (mabe), dentre outros.

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  • A INSTITUIO DAS TERRAS

    TRADICIONALMENTE OCUPADAS

    A s teorias do pluralismo jurdico, para as quais o direi-to produzido pelo Estado no o nico, ganharamfora com a Constituio de 1988. Juntamente com elas ecom as crticas ao positivismo, que historicamente confun-diu as chamadas minorias dentro da noo de povo,tambm foi contemplado o direito diferena, enuncian-do o reconhecimento de direitos tnicos. Os preceitosevolucionistas de assimilao dos povos indgenas etribais na sociedade dominante foram deslocados peloestabelecimento de uma nova relao jurdica entre o Esta-do e estes povos com base no reconhecimento da diversida-de cultural e tnica. No ato das disposies constitucionaistransitrias foi instituda, inclusive, consoante o Art. 68,nova modalidade de apropriao formal de terras parapovos como os quilombolas baseada no direito proprie-dade definitiva e no mais disciplinada pela tutela, comosoa acontecer com os povos indgenas. Estes processos derupturas e de conquistas, que levaram alguns juristas a falarem um Estado Pluritnico ou que confere proteo a dife-rentes expresses tnicas, no resultaram, entretanto, naadoo pelo Estado de uma poltica tnica e nem tampou-co em aes governamentais sistemticas capazes de reco-nhecer prontamente os fatores situacionais que influenciamuma conscincia tnica. Mesmo levando em conta que opoder efetivamente expresso sob uma forma jurdica ouque a linguagem do poder o direito, h enormes dificul-dades de implementao de disposies legais desta ordem,

    33terras de quilombos, terras indgenas, babauais livres, castanhais do povo,faxinais e fundos de pastos: terras t radic ionalmente ocupadas Alfredo Wagner

    Berno de Almeida

  • sobretudo em sociedades autoritrias e de fundamentoscoloniais e escravistas, como no caso brasileiro. Nestestrs lustros que nos separam da promulgao da Consti-tuio Federal tem prevalecido aes pontuais e relativa-mente dispersas, focalizando fatores tnicos, mas sob agide de outras polticas governamentais, tais como a pol-tica agrria e as polticas de educao, sade, habitao esegurana alimentar1. Inexistindo uma reforma do Estado,coadunada com as novas disposies constitucionais, asoluo burocrtica foi pensada sempre com o propsitode articul-las com as estruturas administrativas preexis-tentes, acrescentando sua capacidade operacional atribu-tos tnicos. Se porventura, foram institudos novos rgospblicos pertinentes questo, sublinhe-se que a competn-cia de operacionalizao ficou invariavelmente a cargo deaparatos j existentes.

    Os problemas de implementao daquelas disposiesconstitucionais revelam, em decorrncia, obstculosconcretos de difcil superao principalmente na homolo-gao de terras indgenas e na titulao das terras dascomunidades remanescentes de quilombos. Conforme j foisublinhado as terras indgenas so definidas como bens daUnio e destinam-se posse permanente dos ndios, eviden-ciando uma situao de tutela e distinguindo-se, portanto,das terras das comunidades remanescentes de quilombos,que so reconhecidas na Constituio de 1988 como depropriedade definitiva2 dos quilombolas. No obstante estadistino relativa dominialidade, pode-se afirmar queambas so consideradas juridicamente como terras tradi-cionalmente ocupadas seja no texto constitucional ounos dispositivos infraconstitucionais e enfrentam na suaefetivao e reconhecimento obstculos similares. De igualmodo so consideradas como terras tradicionalmente

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  • ocupadas, e enfrentam obstculos sua efetivao, aque-las reas de uso comum voltadas para o extrativismo, apesca, a pequena agricultura e o pastoreio, focalizadas pordiferentes instrumentos jurdicos, que buscam reconhecersuas especificidades, quais sejam:

    os dispositivos da Constituio Estadual no Mara-nho falam em assegurar a explorao dos baba-uais em regime de economia familiar e comunitria(Art. 196 Constituio do Maranho de 1990),

    na Bahia falam em conceder o direito real de conces-so de uso nas reas de fundo de pasto (Art. 178 daConstituio da Bahia de 1989);

    no Amazonas o captulo xiii da Constituio Esta-dual denominado Da populao ribeirinha e dopovo da floresta3. Contempla os direitos dos ncleosfamiliares que ocupam as reas das barreiras de terrasfirme e as terras de vrzeas e garante seus meios desobrevivncia (Arts. 250 e 251 da Constituio doAmazonas, de 1989).

    As ambigidades que cercam a denominao depopulao ribeirinha tendem a ser dirimidas. Assim,as distines internas ao significado da categoria ribei-rinhos que muitas vezes utilizada consoante umcritrio geogrfico, em sinonmia com habitantes dasvrzeas, abrangendo indistintamente todos os que selocalizam nas margens dos cursos dgua, sejam povosindgenas, grandes ou pequenos criadores de gado oupescadores e agricultores vo ser, todavia, delimita-das pelo Movimento dos Ribeirinhos do Amazonas,pelo Movimento de Preservao de Lagos e pelo Movi-

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  • mento de Mulheres Trabalhadoras Ribeirinhas. Estesmovimentos tem os grandes pecuaristas, os criadoresde bfalos e os que praticam a pesca predatria emescala comercial como antagonistas, bem como os inte-resses envolvidos na construo de barragens, de gaso-dutos e de hidreltricas4. A mobilizao poltica,prpria destes conflitos, tem construdo uma identida-de riberinha, que atributo dos que esto referidos aunidades de trabalho familiar na agricultura, no extra-tivismo, na pesca e na pecuria, a formas de coopera-o simples no uso comum dos recursos naturais e auma conscincia ecolgica acentuada5.

    A Lei Estadual do Paran de 14 de agosto de 1997que reconhece formalmente os faxinais como siste-ma de produo campons tradicional, caractersticoda regio Centro-Sul do Paran, que tem como traomarcante o uso coletivo da terra para produo animale conservao ambiental. (Art. 1); as Leis municipaisaprovadas no Paran que reconhecem os criatrioscomuns. Estas Leis Municipais deste fevereiro de 1948,como aquelas reconhecidas pela Cmara de So Joodo Triunfo (Lei n. 09 de 06/02/48) e pela CmaraMunicipal de Palmeira (Lei n. 149 de 06/05/77),buscam delimitar responsabilidades inerentes ao usodas terras de agricultura e de pastagens, com as respec-tivas modalidades de cercamento.

    As Leis municipais aprovadas no Maranho, no Pare no Tocantins desde 1997, mais conhecidas como Leisdo Babau Livre, que disciplinam o livre acesso aosbabauais, mantendo-os como recursos abertos inde-pendentemente da forma de dominialidade, seja posse

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  • ou propriedade.Desde 1997 esto tramitando projetosde lei ou foram aprovadas mais de dez Leis Municipaisno Estado do Maranho (Municpios de Lago do Junco,Lago dos Rodrigues, Esperantinpolis, So Luis Gonza-ga, Imperatriz, Capinzal do Norte, Lima Campos), noEstado do Tocantins (Municpios de Praia Norte, Buri-ti) e no Estado do Par (Municpio de So Domingosdo Araguaia) defendendo o uso livre dos babauais.

    Na regio onde prevalecem as comunidades defundos de pastos, no Estado da Bahia, comeam aser reivindicadas tambm as chamadas Leis do LicuriLivre. Constituem um dispositivo anlogo quelereivindicado pelas quebradeiras de coco babau e aprimeira lei foi aprovada pela Cmara de Vereadoresdo Municpio de Antonio Gonalves (ba) em 12 deagosto de 2005. Trata-se da Lei n. 4 que protege osouricuzeiros e garante o livre acesso e o uso comum pormeio de cancelas, porteiras e passadores aos catadoresdo licuri e suas famlias, que os exploram em regimede economia familiar e comunitria (Art 2o. Pargra-fo Primeiro). O ouricuri, tambm chamado licuri eainda aricuri ou nicuri, possui uma amndoa rica emnutrientes e serve de complemento alimentar para ospequenos agricultores de base familiar6 (Vide Anexo i).

    Nesta diversidade de formas de reconhecimento jurdicodas diferentes modalidades de apropriao dos recursosnaturais que caracterizam as denominadas terras tradicio-nalmente ocupadas, o uso comum de florestas, recursoshdricos, campos e pastagens aparece combinado, tanto coma propriedade, quanto com a posse, de maneira perene outemporria, e envolve diferentes atividades produtivas exer-

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  • cidas por unidades de trabalho familiar, tais como: extra-tivismo, agricultura, pesca, caa, artesanato e pecuria.

    Considerando que a emergncia e o acatamento formalde novos dispositivos jurdicos refletem disputas entrediferentes foras sociais, pode-se adiantar que o significa-do da expresso terras tradicionalmente ocupadas temrevelado uma tendncia de se tornar mais abrangente ecomplexo em razo das mobilizaes tnicas dos movimen-tos indgenas (coiab, uni, apoinme), dos movimentosquilombolas, que esto se agrupando deste 1995 na hojedenominada Coordenao Nacional das ComunidadesNegras Rurais Quilombolas (conaq) e dos demais movi-mentos sociais que abrangem os extrativismos do babau,da castanha e da seringa7, bem como o pastoreio e asreas de criatrios comuns. A prpria categoria popula-es tradicionais tem conhecido aqui deslocamentos noseu significado desde 1988, sendo afastada mais e mais doquadro natural e do domnio dos sujeitos biologizadose acionada para designar agentes sociais, que assim se auto-definem, isto , que manifestam conscincia de sua prpriacondio. Ela designa, neste sentido, sujeitos sociais comexistncia coletiva, incorporando pelo critrio poltico-organizativo uma diversidade de situaes correspondentesaos denominados seringueiros, quebradeiras de coco baba-u, quilombolas, ribeirinhos, castanheiros e pescadores quetem se estruturado igualmente em movimentos sociais8. Adespeito destas mobilizaes e de suas repercusses navida social, no tem diminudo, contudo, os entraves pol-ticos e os impasses burocrtico-administrativos queprocrastinam a efetivao do reconhecimento jurdico-formal das terras tradicionalmente ocupadas.

    Alis, nunca houve unanimidade em torno destaexpresso. Nas discusses da Assemblia Nacional Cons-

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  • tituinte a expresso terras tradicionalmente ocupadass preponderou pela derrota dos partidrios da noo deterras imemoriais, cujo sentido historicista, remontandoao perodo pr-colombiano, permitiria identificar oschamados povos autctones com direitos apoiados tosomente numa naturalidade ou numa origem que nopoderia ser datada com exatido. Um dos resultados maisvisveis deste embate consiste no pargrafo 1.o do Art. 231da Constituio Federal de 1988:

    So terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios aspor eles habitadas em carter permanente, as utilizadaspara suas atividades produtivas, as imprescindveis preservao dos recursos ambientais necessrios a seubem estar-estar e as necessrias a sua reproduo fsicae cultural, segundo seus usos, costumes e tradies.

    A ocupao permanente de terras e suas formas intrnsecasde uso caracterizam o sentido peculiar de tradicional.Alm de deslocar a imemorialidade este preceito constitu-cional contrasta criticamente com as legislaes agrriascoloniais, as quais instituram as sesmarias at a Resoluode 17 de julho de 1822 e depois estruturaram formalmen-te o mercado de terras com a Lei n. 601 de 18 de setembrode 1850, criando obstculos de todas as ordens para que notivessem acesso legal s terras os povos indgenas, os escra-vos alforriados e os trabalhadores imigrantes que comea-vam a ser recrutados9. Coibindo a posse e instituindo aaquisio como forma de acesso terra, tal legislao insti-tuiu a alienao de terras devolutas por meio de venda,vedando, entretanto, a venda em hasta pblica, e favoreceua fixao de preos suficientemente elevados das terras10,buscando impedir a emergncia de um campesinato livre. A

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  • Lei de Terras de 1850, nesta ordem, fechou os recursos emenosprezou as prticas de manter os recursos abertos sejaatravs de concesses de terras, seja atravs de cdigos deposturas, como os que preconizavam o uso comum de agua-das nos sertes nordestinos, de campos naturais na Amaz-nia ou de campos para pastagem no sul do Pas11.

    A efetivao dos novos dispositivos da ConstituioFederal de 1988, contraditando os velhos instrumentos legaisde inspirao colonial, tem se deparado com imensos obst-culos, que tanto so urdidos mecanicamente nos aparatosburocrtico-administrativos do Estado, quanto so resultan-tes de estratgias engendradas seja por interesses que histo-ricamente monopolizaram a terra, seja por interesses denovos grupos empresariais interessados na terra e demaisrecursos naturais12. Mesmo considerando a precariedade dosdados quantitativos disponveis possvel asseverar que osresultados de sua aplicao pelos rgos oficiais tem se mos-trado inexpressivos, sobretudo no que tange s terras indge-nas, s comunidades remanescentes de quilombos e s reasextrativistas. No caso destas ltimas no h uma reservaextrativista13 sequer regularizada fundiriamente e o percen-tual de reas assim declaradas no alcana 5% das reas deocorrncia de babauais, castanhais e seringais. Com respeitos terras indgenas tem-se pelo menos 145 processos admi-nistrativos tramitando, acrescidos de 44 terras por demar-car e 23 outras para homologar, isto , mais de 1/3 semqualquer regularizao e intrusadas de maneira efetiva.

    No caso das comunidades remanescentes de quilom-bos, em 15 anos de aplicao do Art. 68, os resultados soda mesma ordem, igualmente inexpressivos, a saber:

    Oficialmente, o Brasil tem mapeado 743 comunidadesremanescentes de quilombos. Essas comunidades

    40

  • ocupam cerca de 30 milhes de hectares, com umapopulao estimada em 2 milhes de pessoas. Em 15anos, apenas 71 reas foram tituladas. (EmQuesto, 20/11/003)14

    A separao aumenta quando estes dados so confronta-dos com aqueles produzidos por associaes e entidadesvoluntrias da sociedade civil. Eles se mostram segundouma subestimao mediante as 1.098 comunidades rema-nescentes de quilombos apontadas por mapeamento preli-minar realizado com base em dados de levantamentos queesto sendo realizados pela conaq, pela aconeruq, pelopvn-smdh e por projetos acadmicos na Universidade deBraslia e na Universidade Federal do Par.

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  • notas A Instituio das terras tracidionalmente ocupadas

    1. Para uma anlise desta lgica de interveno governamental,consulte-se: Almeida, A W.B. de Nas bordas da poltica tni-ca: os quilombos e as polticas sociais in Boletim Informativodo NUER vol. 2 n. 2. Florianpolis. ufsc. 2005 pp. 15-44.

    2. No Brasil a condio de ex-escravos como proprietrios,atravs de uma forma comunitria, s aparece legalmente como Art. 68 do adct de 1988. Nem aps a Lei de Liberdade dosndios , do perodo pombalino, de 1755, e nem aps a Abolioda Escravatura de 1888 foram definidos preceitos legais que asse-gurassem o acesso terra aos libertos. Para efeito de contrasterecorde-se que nos Estados Unidos com a abolio da escrava-tura foi constituda formalmente uma camada de blackfarmers e o processo de elevar os ex-escravos condio de cida-dos implicou em investi-los da identidade de proprietrios.No Brasil apenas alforriados, ou beneficirios de doaes pordisposio testamentria e filhos naturais de senhores de escra-vos tiveram a possibilidade de se converterem em proprietrios,ou seja, foi um processo individualizado e no referido a umacamada social propriamente dita. Com o Art. 68 a titulao defi-nitiva das terras aparece condicionada expresso comunitria.

    3. CF. edio da Constituio do Estado do Amazonas, organi-zada por Celso Cavalcanti e Ronnie Stone. Manaus.Valer Edito-ra, 2a. edio, 2001 pp. 197, 198.

    4. Nos conflitos que envolvem as barragens detectamos tambma expresso beiradeiros em sinonmia com ribeirinhos. Paramaiores esclarecimentos consulte-se A. oswaldo sev filho

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  • (org.) Tenot-m-Alertas sobre as conseqncias dos proje-tos hidreltricos no Rio Xingu.So Paulo. irn, 2005 pp. 29-54 .

    5. Neste sentido que se pode asseverar que os limites de suaabrangncia transcendem o Estado do Amazonas e se estende-riam das barrancas do Rio Acre aos campos e tesos da Ilha deMaraj, onde os pescadores enfrentam uma grande exploraopecuria, extensiva e monopolizadora dos recursos hdricospelo cercamento arbitrrio de rios, igaraps e bordas dos lagos.

    6. A amndoa do ouricuri e o leo vegetal so comercializadosnas feiras nordestinas.Na Bahia o cefet (Centro Federal deEducao Tecnolgica) est iniciando um programa de valoriza-o de plantas do semi-rido, focalizando o potencial nutritivodo licuri, com projeto de preparo de alimentos para uso princi-palmente em merendas escolares.O licuri faz parte das oleagino-sas e esto sendo feitos estudos, tal como no caso do babau,para inclu-lo na produo de biodiesel. O Municpio de Anto-nio Gonalves o terceiro maior produtor do licuri, envolven-do os povoados de So Joo, Caldeiro, Atravessado, Conceio,Macacos, Santana, Jibia, Barra, Bananeira e Alto da Cajazeira.Em 2004 a produo comercializada de licuri no Municpioalcanou 240 mil quilos.

    7. A Constituio do Estado do Acre, de 3 de outubro de 1989no registra qualquer artigo referente aos seringueiros, mesmoque tenha sido promulgada num perodo histrico em que afigura poltica do seringueiro sintetizava a vida poltica daque-la unidade da federao. Os seringueiros, enquanto contribuindocomo soldados da borracha, durante a ii Guerra Mundial,aparecem contemplados, entretanto, pelo Art. 54 do adct de1988. Os povos indgenas, que no foram objeto de qualquermeno nas Constituies do Acre de 01 maro de 1963 e de 26

    43

  • de abril de 1971, ganharam fora e expresso poltica a partirda Constituio acreana de 1989 e de suas respectivas emendastal como a n. 23 de 2001. A mobilizao dos seringueiros eraautoevidente e, mesmo com a intensidade dos conflitos de terras,talvez tenha prescindido de disposies jurdicas ao contrrio dospovos indgenas.O documento final do Zoneamento ecolgico-econmico do Acre, publicado em 2000, ressalta seringueiros,ribeirinhos e colonos, enfatizando que 11% do Estado do Acreso ocupados por resex e Projetos de Assentamentos Agroex-trativistas.

    8. Entendo que o processo social de afirmao tnica, referido aoschamados quilombolas, no se desencadeia necessariamente apartir da Constituio de 1988 uma vez que ela prpria resul-tante de intensas mobilizaes, acirrados conflitos e lutas sociaisque impuseram as denominadas terras de preto, mocambos,lugar de preto e outras designaes que consolidaram decerto modo as diferentes modalidades de territorializao dascomunidades remanescentes de quilombos. Neste sentido a Cons-tituio consiste mais no resultado de um processo de conquistasde direitos e sob este prisma que se pode asseverar que a Cons-tituio de 1988 estabelece uma clivagem na histria dos movi-mentos sociais, sobretudo daqueles baseados em fatores tnicos.

    9. Para se observar a atualidade destes problemas criados a partirda Lei de Terras de 1850 destaque-se que uma das representa-es ao i Encontro Nacional das Comunidades Tradicionais refe-riu-se aos chamados pomeranos ou pomernios, queforam recrutados mediante o risco de germanizao como traba-lhadores das plantaes cafeeiras e chegaram ao Brasil em1858. Foram mantidos como fora de trabalho imobilizadadurante dcadas. Seus descendentes esto estimados em 150 milpessoas, sendo 50 mil no interior do Esprito Santo e mais parti-

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  • cularmente no Municpio de Pancas onde se encontram ameaa-dos de despejo dos 17 mil hectares que ocupam e que sopretendidos para criao de uma unidade de proteointegral.Foram apresentados como pomeranos remanescentes,de confisso luterana, cuja regio de origem foi extinta. Esto seorganizando nos ltimos anos, a partir da ameaa de expulsodas terras que tradicionalmente ocupam.Para maiores dadosconsulte-se o peridico Pommerblad-Informativo das comuni-dades Germnicas no Brasil, que foi fundado em 17 de marode 1998, em Vila Pavo (es). E ainda: port, Ido Parquia Evan-glica de So Bento. Grfica Ita Ltda.Vitria. 1980. Esta ltimareferencia bibliogrfica busca estabelecer uma histria de resis-tncia a partir das famlias pioneiras agrupadas historicamen-te segundo uma expresso religiosa.

    10. A doutrina do sufficiently high price tomada do sistema decolonizao sistemtica de Wakefield, cuja influncia na elabora-o da Lei de Terras de 1850 assinalada por diferentes juristas.Para um aprofundamento consulte-se: Cirne Lima, R. Pequenahistria territorial do Brasil : sesmarias e terras devolutas. Goi-nia. Ed. ufg, 2002 pp. 82-100, e tambm o Parecer Sesmariase Terras Devolutas, apresentado ao General Ptolomeu de AssisBrasil, Interventor Federal no Estado de Santa Catarina, em 1944.

    11. Relativizando esta interpretao pode-se afirmar que a Lei deTerras de 1850, quando porventura manteve recursos abertos,favoreceu os grandes pecuaristas reconhecendo o uso comum doscampos naturais. O Art. 5, 4 dispe o seguinte, neste sentido:Os campos de uso comum dos moradores de uma ou mais fregue-sias, municpios ou comarcas, sero conservados em toda a exten-so de suas divisas e continuaro a prestar o mesmo uso, conformea prtica atual, enquanto por lei no se dispuser o contrrio.Gevaerd Filho considera que este artigo introduziu no direito brasi-

    45

  • leiro a figura do compscuo e se refere s terras pblicas emrazo das disposies que distinguem o uso da ocupao.Para tanto menciona o Aviso de 5 de julho de 1855, que rezava oseguinte: os campos de uso comum a que se refere o Art. 5, 4,acima transcrito, poderiam apenas ser usados e no ocupados porpessoas que nele quiserem se estabelecer. Para um aprofunda-mento consulte-se j.l. gevaerd filho Perfil histrico-jur-dico dos faxinais ou compscuos- anlise de uma forma comunalde explorao da terra. Revista de Direito Agrrio e MeioAmbiente. Curitiba. Instituto de terras, Cartografia e Florestas-itcf. Agosto de 1986 pp. 44-69. Consulte-se tambm campos,nazareno j. de Terras de uso comum no Brasil Um estudode suas diferentes formas. Tese de doutorado apresentada aoCurso de pg em Geografia Humana da Faculdade de Filosofia,Letras e Cincias Humanas da usp em fevereiro de 2000. 258 pp.12. Est-se diante de conflitos que contrapem os agentes sociaisdestes domnios de uso comum s novas estratgias empresa-riais de uma poderosa coalizo de interesses, que articulaempreendimentos diversos: usinas de ferro-gusa, carvoarias,siderrgicas, indstrias de papel e celulose, refinadoras de soja,frigorficos e curtumes, mineradoras, madeireiras, empresas deenergia eltrica e laboratrios farmacuticos e de biotecnologia.

    13. Consoante o Art. 18 da Lei N. 9.985, de 18 de julho de 2000:A Reserva Extrativista uma rea utilizada por populaesextrativistas tradicionais, cuja subsistncia baseia-se no extrati-vismo e, complementarmente, na agricultura de subsistncia ena criao de animais de pequeno porte, e tem como objetivosbsicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populaes,e assegurar o uso sustentvel dos recursos naturais da unidade.De acordo com o Art. 23: A posse e o uso destas reas ocupa-das pelas populaes tradicionais nas Reserva Extrativistas e

    46

  • Reservas de Desenvolvimento Sustentvel sero regulados porcontrato (...).

    14. Esta breve retrospectiva crtica da aplicao do Art. 68 doadct foi divulgada pela Secretaria de Comunicao de Gover-no e Gesto Estratgica da Presidncia da Repblica, atravs doEm Questo de 20 de novembro de 2003, Dia Nacional da Cons-cincia Negra. O reconhecimento pblico do nmero inexpres-sivo de titulaes realizadas funcionou como justificativa parauma ao governamental especfica, posto que nesta mesma datao Presidente Lula assinou o Decreto n. 4887, regulamentando oprocedimento para identificao, reconhecimento, delimitao,demarcao e titulao das terras ocupadas por remanescentesdas comunidades de quilombos. Este ato do poder executivo teriacorrespondido, portanto, necessidade de uma intervenogovernamental mais acelerada e gil, condizente com a gravida-de dos conflitos envolvendo as comunidades remanescentes dequilombos.

    47

  • A ABRANGNCIA DO SIGNIFICADO

    DE TERRAS TRADICIONALMENTE

    OCUPADAS E AS DIFICULDADES

    DE EFETIVAO

    D e 1988 para c o conceito de terras tradicionalmenteocupadas, vitorioso nos embates da Constituinte, temampliado seu significado, coadunando-o com os aspectossituacionais, que caracterizam hoje o advento de identida-des coletivas, e tornou-se um preceito jurdico marcantepara a legitimao de territorialidades especficas e etnica-mente construdas.

    Em junho de 2002, evidenciando a ampliao do signifi-cado de terras tradicionalmente ocupadas e reafirmando,o que os movimentos sociais desde 1988 tem perpetrado,o Brasil ratificou, atravs do Decreto Legislativo n. 143,assinado pelo Presidente do Senado Federal, a Conveno169 da oit, de junho de 1989. Esta Conveno reconhececomo critrio fundamental os elementos de autoidentifica-o, reforando, em certa medida, a lgica dos movimentossociais. Nos termos do Art. 2 tem-se o seguinte:

    A conscincia de sua identidade indgena ou tribal deve-r tida como critrio fundamental para determinar osgrupos aos quais se aplicam as disposies destaConveno.

    Para alm disto, o Art. 14 assevera o seguinte em termos dedominialidade:

    48terras de quilombos, terras indgenas, babauais livres, castanhais do povo,faxinais e fundos de pastos: terras t radic ionalmente ocupadasAlfredo Wagner

    Berno de Almeida

  • Dever-se- reconhecer aos povos interessados os direi-tos de propriedade e de posse sobre as terras que tradi-cionalmente ocupam.

    Alm disto o Art. 16 aduz que:

    sempre que for possvel, esses povos devero ter odireito de voltar a suas terras tradicionais assim quedeixarem de existir as causas que motivaram seu trans-lado e reassentamento.

    Este direito de retorno se estende sobre um sem nmero desituaes distribudas por todo pas, que resultaram emdeslocamentos compulsrios de populaes inteiras de suasterras por projetos agropecurios, projetos de plantio deflorestas homogneas (pinus, eucalipto)1, projetos de mine-rao, projetos de construo de hidreltricas, com grandesbarragens, e bases militares.

    O texto da Conveno, alm de basear-se na autodefi-nio dos agentes sociais, reconhece explicitamente a usur-pao de terras desde o domnio colonial, bem comoreconhece casos de expulso e deslocamento compulsrio eamplia o espectro dos agentes sociais envolvidos, falandoexplicitamente na categoria povos no exatamente emsinonmia com populaes tradicionais. Para um resumodas cidas polemicas entre os favorveis adoo do termopovos e aqueles que defendiam o uso de populaes valereproduzir a verso da prpria oit em sua publicao oficial2:

    Durante trs anos, a oit trabalhou para a adoo daConveno, discutindo se na nova Conveno mudariapor povos o termo populao utilizado na Conven-o 107. A deciso de usar o termo povos resultou

    49

  • de longas discusses e consultas dentro e fora dasreunies. Acordou-se finalmente que o termo corretoseria o de povos j que este reconhece a existncia desociedades organizadas com identidade prpria, em vezde simples agrupamentos de indivduos que compartemalgumas caractersticas raciais ou culturais. Depois demuita discusso, ficou tambm decidido que: O usodo termo povos nesta Conveno no dever serinterpretado como tendo qualquer implicao com oque se refira a direitos que possam ser atribudos ao ditotermo no direito internacional (Pargrafo 3 do Artigo1). A introduo desse pargrafo atendia, em parte, expressa preocupao de vrios governos de que o usocomum do termo povos implicasse, nesse contexto,o reconhecimento, no mbito do direito internacional,de que povos indgenas e tribais possam separar-se dospaises em que habitam.Concluiu-se que no competia oit decidir sobre como esse termo devia ser interpre-tado no direito internacional. (tomei et alli: 1999:29).

    No caso da formao histrica brasileira pode-se dizer quetal dispositivo abre possibilidades para reconhecimento demltiplas situaes sociais que abarcam uma diversidade deagrupamentos tornados invisveis pelas pretenses oficiais dehomogeneizao jurdica da categoria povo desde o pero-do colonial. A pluralidade implcita na noo de povospubliciza diferenas. Ao mesmo tempo chama a ateno paraterritorialidades especficas, que tem existncia efetiva dentrodo significado de territrio nacional, apontando para agru-pamentos constitudos no momento atual ou que histori-camente se contrapuseram ao modelo agrrio exportador,apoiado no monoplio da terra, no trabalho escravo e emoutras formas de imobilizao da fora de trabalho.

    50

  • Este texto da Conveno abre, assim, lugar para umareinterpretao jurdico-formal. Os desdobramentos sociaisdos quilombos, dos movimentos messinicos e das formasde banditismo social, que caracterizaram a resistncia aoimprio das plantations na sociedade colonial, ganhamfora neste contexto, do mesmo modo que as formas asso-ciativas e de ocupao que emergiram no seio das grandespropriedades monocultoras a partir da sua desagregaocom as crises das economias algodoeira, aucareira, cafeeirae ervateira. Na Amaznia ganharam vulto com o declnioda empresa seringalista e dos donos de castanhais e baba-uais que monopolizavam a economia extrativista e utili-zavam mecanismos de imobilizao da fora de trabalho.

    Estas novas formas de ocupao e uso comum dosrecursos naturais emergiram pelo conflito, delimitando ter-ritorialidades especficas, e no tiveram at 1988 qualquerreconhecimento legal. As territorialidades especficas podemser entendidas aqui como resultantes dos processos de terri-torializao, apresentando delimitaes mais definitivas oucontingenciais, dependendo da correlao de fora em cadasituao social de antagonismo. Distinguem-se neste sentidotanto da noo de terra, estrito senso, quanto daquela deterritrio, conforme j foi sublinhado, e sua emergnciaatm-se a expresses que manifestam elementos identitriosou correspondentes sua forma especfica de territorializa-o. Para efeito de ilustrao pode-se mencionar resumida-mente as chamadas terras de preto, terras de ndio (queno se enquadram na classificao de terras indgenas,porquanto no h tutela sobre aqueles que as ocupam perma-nentemente), terras de santo (que emergiram com a expul-so dos jesutas e com a desagregao das fazendas de outrasordens religiosas) e congneres, que variam segundo circuns-tancias especficas, a saber: terras de caboclos, terras da

    51

  • santa, terras de santssima (que surgiram a partir dadesestruturao de irmandades religiosas), terras de herdei-ros (terras sem formal de partilha que so mantidas sob usocomum) e terras de ausentes (almeida, 1989: 183-184).

    A Constituio Federal de 1988 e a Conveno 169da oit logram contemplar estas distintas situaes sociaisreferidas s regies de colonizao antiga, assim comoaquelas que caracterizam regies de ocupao recente, aorecolocar no tempo presente o sentido de terras tradicio-nalmente ocupadas, libertando-o da imemorialidade,da preocupao com origem, do passado e de categoriascorrelatas.

    Numa tentativa de sntese montei um quadro demons-trativo amplo, contendo sete colunas e suas respectivassubdivises. Nele, registro primeiramente as categorias deautodefinio, que enquanto identidades coletivas se obje-tivaram em movimentos sociais. Sob este prisma ascomunidades tradicionais passam a ter uma expressopoltico-organizativa com critrios de representatividadeprprios. A seguir, evidenciando o grau de reconhecimen-to formal que lograram alcanar, enumero os instrumentosjurdico-formais que lhes so correspondentes, bem comoas agencias governamentais a quem compete efetivar asmedidas decorrentes. Finalmente registro, em duas colunas,os dados mais lacunosos, isto , as estimativas que concer-nem extenso em hectares das territorialidades em pautae s suas respectivas informaes demogrficas. Os dadosquantitativos referentes s reas totais e populao dereferncia ainda so fragmentrios e incompletos, conten-do imprecises vrias. A construo de uma srie estatsti-ca mais definitiva certamente depende de umrecenseamento criterioso. Mesmo que mencionadosformalmente em documentos oficiais no possuem a fide-

    52

  • dignidade necessria. No caso das terras indgenas consis-tem no somatrio das reas mencionadas nos processosadministrativos de delimitao e/ou demarcao, dado apblico amplo. No caso das comunidades remanescentesde quilombos tampouco existe um levantamento criterio-so e tudo se derrama em estimativas, sempre crescentes,quer de rgos oficiais, quer dos movimentos quilombo-las. Em se tratando das reas extrativistas existem os levan-tamentos geogrficos e os mapas florestais com registro deincidncia de manchas que agrupam espcies determinadas,respondendo s indagaes de onde se localizam os casta-nhais, os seringais, os babauais, os arumanzais, os ouri-cuzeiros, os aaizais etc. Existem tambm documentosoficiais, como os decretos, que registram as reas de reser-vas extrativistas e seus memoriais descritivos com os corres-pondentes em hectares. Arrolei-os todos.

    Quanto aos denominados fundos de pasto e faxi-nais no h sequer estimativas referentes ao seu nmeroou s extenses em jogo. Coloquei-os, alm disto, na colu-na das categorias de autodefinio, embora no se refiramexplicitamente aos agentes sociais, mas s formas de uso daterra. Os agentes sociais, que comeam a ser chamados defaxinalenses e de moradores de comunidades de fundode pasto, se agrupam em torno destas formas e so elasque emprestam a denominao de suas organizaes. Nestaordem foi que considerei que elas poderiam ser aproxima-das das categorias definitrias. As informaes a elas refe-ridas provem de participantes de movimentos sociais, deentidades confessionais ou de estudiosos. As chamadasterras soltas ou terras abertas, embora verificadas emtrabalhos de pesquisa no serto central do Cear e no sertopernambucano, no foram includas porquanto no conse-gui verificar com maior discernimento quem so os agen-

    53

  • tes sociais a elas referidos e quais as formas organizativasque lhes seriam correspondentes.

    Com os chamados ribeirinhos e pescadores3 tem-seque os lagos, rios e quaisquer cursos dgua de seu uso edomnio, seriam bens da Unio, correspondendo aoschamados terrenos de Marinha e seus acrescidos 4. Asdistines entre eles aparecem atravs das diferentes orga-nizaes voluntrias, que os representam, no impor-tando que tenham ocupaes econmicas aproximveis.O carter voluntrio destas organizaes de base econ-mica heterogenea distingue-as das denominadas colniasde pescadores registradas no ibama e dos sindicatos depescadores artesanais, mesmo quando incidem sobre ummesmo municpio ou bacia hidrogrfica.

    Por dificuldades tericas, de relacionar povos quemantm sua identidade sem estarem ligados permanente-mente a um determinado territrio, como naquelas situa-es sociais aqui focalizadas, no inclu no quadro osciganos, que so representados notadamente pela Asso-ciao de Preservao da Cultura Cigana (apreci), queh poucos anos comeou a se organizar no Paran e j temsede em So Paulo e no Rio Grande do Sul. Por seremconsiderados nmades e desterritorializados5, alm demarcados por estigmas desde o perodo colonial, os ciga-nos so usualmente apresentados como desvinculados deuma rea fisicamente delimitada6. Na i Conferencia Nacio-nal de Promoo da Igualdade Racial, realizada em Brasliana primeira semana de julho de 2005, os delegados ciga-nos7 apresentaram proposta de criao de centros para arecepo de ciganos em cidades com mais de 200 milhabitantes. Afirmaram tambm, durante o i EncontroNacional de Comunidades Tradicionais, realizado emLuziania (go), de 17 a 19 de agosto de 2005, estar discu-

    54

  • tindo a formalizao do aproveitamento provisrio deterras, principalmente para os grupos de criadores, queso nmades e permanecem acampados em cada rea porcerca de 90 a 120 dias. Trata-se de um processo peculiar deterritorializao, que no envolve posse ou propriedade deterras. Os acampamentos ciganos so voluntria epermanentemente mudados de lugar, consistindo nummodo de viver e de ser. Distinguem-se, neste sentido, daque-les dos chamados sem terra ou daqueles outros queabrigam os denominados refugiados, que um termodefinido pelo acnur (Alto Comissariado das NaesUnidas para os refugiados)8, e populaes compulsoriamen-te deslocadas. O uso de terras e pastos comuns que osciganos, tal como outros povos tradicionais, no ocupamde modo permanente, mas aos quais tem acesso eventualpara suas atividades bsicas foi reconhecido pelo Art. 14 daConveno 169 como um direito adicional e no comouma alternativa do direito de propriedade (tomei eswepston, 1999:46). Para efeito de exemplo pode-se citaruma situao localizada de institucionalizao de taisterras: em fins de 2004 a Prefeitura de Curitiba cedeu emregime de comodato uma rea de 30.600 metros quadra-dos, prxima Cidade Industrial no local denominadoFazendinha, para a organizao de um acampamentotemporrio para os ciganos que passam pela cidade. Emtermos jurdicos a rea cedida por emprstimo gratuito epor tempo indeterminado ou no (Vide anexo).

    No caso daqueles que se autodefinem como atingi-dos destaquei povos e grupos que, a partir da implanta-o de grandes projetos oficiais, seja de construo dehidreltricas, seja de montagem de bases militares, perde-ram ou se encontram em conflito, ameaados de perdersuas territorialidades de referencia. Os memoriais descriti-

    55

  • vos dos decretos de desapropriao por utilidade pblicafuncionaram como fonte, bem como aqueles arrolados empercias antropolgicas e os dados divulgados pelos repre-sentantes dos movimentos sociais respectivos.

    O carter fragmentrio das informaes quantitativase os riscos de dupla contagem no autorizam uma opera-o de soma capaz de propiciar com inteireza e exatidouma expresso demogrfica ou um determinado total emhectares. Embora ao final deste texto tenha ousado propor,para efeito de contraste, uma reflexo mais geral face estrutura agrria, cabe sublinhar que os trabalhos depesquisas localizados, correspondentes a cada uma dassituaes sociais focalizadas, devem ser mais aprofundadosantes de permitir generalizaes. Os trabalhos etnogrfi-cos e as tcnicas de observao direta podero permitir umconhecimento concreto destas mencionadas situaes eautorizar posteriores snteses.

    Para apoiar as informaes levantadas montei notas derodap, buscando complement-las e proceder, quandopossvel, a esclarecimentos com base notadamente emcartilhas, cadernos de formao, panfletos, fascculosinformativos e boletins divulgados periodicamente pelosprprios movimentos sociais. Os levantamentos bibliogr-ficos assinalados buscam superar, em certa medida, a preca-riedade dos dados disponveis. As lacunas censitriasevidenciam, cada uma a seu modo, o quanto a preocupa-o com estas chamadas comunidades tradicionais aindaest ausente das formulaes estratgicas governamentaise quo complexas so as questes a elas relativas.

    A leitura do quadro demonstrativo, mediante este arra-zoado de adendos e ressalvas, torna-se em certa medidaautoevidente, mas de todo modo limitada, porquantodistante de abranger o problema de maneira completa.

    56

  • Categoria Movimento Legis lao Agncia Oficial Poltica Estimativa de Populao de Social Competente Governamental rea (Hectares) Referncia

    PovosIndgenas

    Quilombolas

    coiab(CoordenaoIndgena daAmazniaBrasileira)

    apoinme(Articulaodos Povos

    Indgenas doNordeste,

    M.Gerais eE.Santo)

    uni(Unio das

    NaesIndgenas)

    conaq(CoordenaoNacional deArticulao

    dasComunidadesNegras RuraisQuilombolas)

    Constituio da RepblicaFederativa doBrasil (cf)

    cf

    Ato dasDisposies

    ConstitucionaisTransitrias

    (adct)

    Decretos

    05/10/88

    05/10/8820/11/0324/05/04

    funai

    fcpmda

    incra

    Polticaindigenista

    PolticaNacional dosQuilombos

    110 milhes

    30 milhes

    734.127indgenas

    (1)

    2 milhes depessoas

    (2)

    Art. 231 - So reconhecidos aos ndiossua organizao social, costumes, ln-guas, crenas e tradies, e os direitosoriginrios sobre as terras que tradicio-nalmente ocupam, competindo Uniodemarc-las, proteger e fazer respeitartodos os seus bens.

    1 So terras tradicionalmente ocupa-das pelos ndios as por eles habitadas emcarter permanente, as utilizadas parasuas atividades produtivas, as impres-cindveis preservao dos recursosambientais necessrios a seu bem-estare as necessrias a sua reproduo fsicae cultural, segundo seus usos, costumese tradies.

    2 As terras tradicionalmente ocupa-das pelos ndios destinam-se a sua possepermanente, cabendo-lhes o usufrutoexclusivo das riquezas do solo, dos riose dos lagos nelas existentes.

    Arts. 215 e 216 - reconhecem as reasocupadas por comunidades remanes-centes de quilombos como parte do pa-trimnio cultural do Pas.

    Art. 68 Aos remanescentes das co-munidades de quilombos que estejamocupando suas terras reconhecida apropriedade definitiva, devendo o Esta-do emitir-lhes os ttulos respectivos.

    Decreto 4.887 Regulamenta procedi-mentos titulao Instruo Normativa n. 16-Incra

    Ato Data Texto

    57

  • Categoria Movimento Legis lao Agncia Oficial Poltica Estimativa de Populao de Social Competente Governamental rea (Hectares) Referncia

    Seringueiros

    Seringueirose

    Castanheiros

    cns(Conselho

    Nacional deSeringueiros)

    cns

    Decreto

    Lei

    Lei ChicoMendes

    (Acre)

    Decretos

    30/01/90

    8/07/00

    13/01/99

    05/07/99

    1990

    1997

    1998

    2004

    mma (3)ibamacnpt

    sepro-ac

    mmaibamacnpt

    Ambiental eExtrativista

    prodex

    Ambiental eAgrria

    17 milhes(4)

    resex5.058.884

    163.000extrativistas

    sendo que emresex33.300

    Dec. n. 98.897 regulamenta resex uti-lizada por populaes extrativistas.

    Lei n. 9.985 Regulamenta o art.225,& 1., incisos i, ii, iii e vii da cf,institui o Sistema Nacional de Unidadesde Conservao da Natureza.

    Lei Est. n. 1277

    Dec. Est. n. 868

    Reservas Extrativistas de Seringa e Cas-tanha Decreto n. 98.863, de 23 de janeirode 1990 (Cria a resex do Alto Juru).rea aproximada 506.186 ha. Popula-o estimada 3.600 Decreto n. 99.144, de 12 de maro de1990 (Cria a resex Chico Mendes).rea aproximada 970.570 ha. Popula-o estimada 7.500 Decreto n. 99.145, de 12 de marode 1990 (Cria a resex do Rio Cajari).rea aproximada 481.650 ha. Popula-o estimada 3.800Decreto n. 99.166, de 13 de maro de1990 (Cria a resex do Rio OuroPreto). rea aproximada 204.583 ha.Populao estimada 700 Decreto s/n, de 04 de maro de 1997(Cria resex do Mdio Juru). rea de253.226 ha. Populao estimada 700 Decreto s/n, de 06 de novembro de1998 (Cria a resex Tapajs-Arapiuns).rea de 647.610 ha. Populao estima-da 16.000 Decreto de 08 de novembro de 2004.(Cria a resex Verde para a Sempre.rea de 1.258.717,2009 ha Decreto de 08 de novembro de 2004.(Cria a resex Riozinho do Anfrsio.rea de 736.340, 9920 ha

    Ato Data Texto

    58

  • Categoria Movimento Legis lao Agncia Oficial Poltica Estimativa de Populao de Social Competente Governamental rea (Hectares) Referncia

    Quebradeiras-de-ccobabau

    miqcb(MovimentoInterestadual

    dasQuebradeiras

    de CcoBabau)

    ConstituioEstadual doMaranho

    LeisMunicipais

    Decretos

    16/05/90

    1997-2003

    1992

    mmaibamacnpt mda

    Ambiental eAgrria

    18,5 milhes(5)

    resex36.322

    400.000extrativistas,

    sendo queem resex

    3.350

    Art. 196 Os babauais sero utiliza-dos na forma da lei, dentro de condi-es, que assegurem a sua preservaonatural e do meio ambiente, e comofonte de renda do trabalhador rural.Pargrafo nico Nas terras pblicas edevolutas do Estado assegurar-se- a ex-plorao dos babauais em regime deeconomia familiar e comunitria.

    Leis Municipais: n. 05/97 de Lago do Junco (ma). n. 32/99 de Lago dos Rodrigues (ma). n. 255/ dez. 99 de Esperantinpolis(ma). n. 319 /2001 de So Lus Gonzaga(ma). n. 49/ out. 2003 de Praia Norte (to). n. 1.084/2003 de Imperatriz (ma). n. 306/ out. 2003 de Axix (to). pl n. 466/2003 de Lima Campos (ma). pl n. ..... de Capinzal do Norte ( ma). pl n. 58 de 11/08/2003 de Buriti (to). pl s/n So Domingos do Araguaia (pa).

    Reservas Extrativistas do Babau Decreto n. 532, de 20 de maio de1992 (Cria a resex Mata Grande). rea aproximada 10.450 ha Decreto n. 534, de 20 de maio de1992 (Cria a resex do Ciriaco). rea aproximada 7.050 ha. Decreto n. 535, de 20 de maio de1992 (Cria a resex do Extremo Norte).rea aprox. 9.280 ha. Decreto n. 536, de 20 de maio de1992 (Cria a resex Quilombo do Fre-chal). rea aproximada 9.542 ha.

    Ato Data Texto

    59

  • Categoria Movimento Legis lao Agncia Oficial Poltica Estimativa de Populao de Social Competente Governamental rea (Hectares) Referncia

    Pescadores

    Ribeirinhos

    Atingidospor

    barragens

    monape

    Movimentodos

    Ribeirinhos doAmazonas(mora)

    (6)

    Movimento dePreservao de

    Lagos

    mab

    Decretos

    ConstituioEstadual

    doAmazonas

    Decretos

    1992

    1997

    1989

    1977-92

    mma

    mmaibma

    mmemda

    Ambiental

    AmbientalProVrzea(ppg-7)

    Energtica

    resex1.444

    em resex600

    mais de 1 milho de

    pessoas preju-dicadas e

    expulsas denossas terras

    pela construo de usinas

    hidreltricas (7)

    Decreto n. 523, de 20 de maro de1992. Cria resex de Pirajuba). reade 1.444 ha. Populao estimada 600pessoas.

    Decreto s/n, de 3 de janeiro de 1997.Cria a resex de Arraial do Cabo). s/i

    Art. 250 O Estado, ..., acompanharos processos de delimitao de territ-rios indgenas, colaborando para a suaefetivao e agilizao, atuando preven-tivamente ocorrncia de contendas econflitos com o propsito de resguardar,tambm, os direitos e meios de sobrevi-vncia das populaes interioranas,atingidas em tais situaes, que sejamcomprovadamente desassistidas.

    Art. 251 v 2 (...) viabilizar ousufruto dos direitos de assistncia,sade e previdncia, em especial o pre-visto no Art. 203, v, da Constituio daRepblica, pelos integrantes de outrascategorias extrativistas, pela populaoribeirinha e interiorana em geral.

    Decretos de desapropriao por utili-dade pblica para implantao de hidre-ltricas desde final dos anos 70: uhe de Sobradinho e uhe de Itapa-rica no Rio So Francisco, uhe de Itaipu na Bacia do Rio Paran, uhe de Machadinho e Ita na Bacia doRio Urugua, uhe de Tucuru no Rio Tocantins,etc.

    Ato Data Texto

    60

  • Categoria Movimento Legis lao Agncia Oficial Poltica Estimativa de Populao de Social Competente Governamental rea (Hectares) Referncia

    Atingidos p/Base de

    Alcntara

    Fundos depasto

    Faxinal

    mabe

    ArticulaoEstadual deFundos eFechos de

    Pasto Baianos

    Central deFundos eFechos dePasto de

    Senhor doBonfim (ba)

    Central deFundos dePasto de

    Oliveira dosBrejinhos (ba)

    (8)

    Decretos

    ConstituioEstadual da

    Bahia

    DecretoEstadual(Paran)

    Lei Estadualn. 15673

    Setembro1980

    Agosto1991

    1989

    14/08/97

    13/11/07

    mdmdaaebmct

    mda

    mda

    itcf

    Aero-espacial

    Agrria

    Agrria

    85 mil

    3.000famlias

    20.000famlias

    mais de 10.000famlias

    Dec. n. 7.820 declara de utilidade p-blica para fins de desapropriao rea 52mil ha. para instalao do Centro deLanamento de Alcntara.

    Dec. presidencial aumentando reapara 62 mil ha.

    Art. 178 Sempre que o Estado consi-derar conveniente poder utilizar-se dodireito real de concesso de uso, dispon-do sobre a distribuio da gleba, o prazode concesso e outras condies.

    nico No caso de uso e cultivo daterra sob forma comunitria o Estado, seconsiderar conveniente, poder concedero direito real de concesso de uso a asso-ciao legitimamente constituda, inte-grada por seus reais ocupantes, agravadade clusula de inalienabilidade, especial-mente nas reas denominadas de fundode pasto e nas ilhas de propriedade doEstado, sendo vedada a esta a transfe-rncia de domnio.

    Regulamento da Lei de Terras do Esta-do da Bahia, Interba. Art. 20No 1, do art. 1 diz: entende-se por sis-tema Faxinal: o sistema de produo cam-pons tradicional, caracterstico da regioCentro-sul do Paran, que tem como traomarcante o uso coletivo da terra para pro-duo animal e a conservao ambiental.Fundamenta-se na integrao de 3 com-ponentes: a) produo animal coletiva, solta, atravs dos criadouros comunit-rios; b) produo agrcola policulturaalimenta de subsistncia para consumo ecomercializao; c) extrativismo florestalde baixo impacto manejo de erva-mate,araucria e outras espcies nativas.O Estado do Paran reconhece os Faxi-nais e sua territorialidade.

    Ato Data Texto

    61

  • notas ao quadro

    (1) No Brasil h cerca de 220 etnias e 180 lnguas. As terras indgenas

    correspondem a 12,38 % das terras do pas. Os indgenas totalizam

    734.127 pessoas, cuja distribuio por regio a seguinte: 29% na

    Regio Norte, 23% no Nordeste, 22% na Regio Sudeste, 14% no

    Centro-Oeste e 12% na Regio Sul. cf. ibge, Censo Demogrfico de2000.

    (2) Oficialmente, o Brasil tem mapeado 743 comunidades remanescen-

    tes de quilombos. Essas comunidades ocupam cerca de 30 milhes de

    hectares, com uma populao estimada em 2 milhes de pessoas. Em

    15 anos apenas 71 reas foram tituladas. (Em Questo, 20/11/2003).

    Em 2004, pela primeira vez, o Censo Escolar do Ministrio da

    Educao (mec) pesquisou a situao educacional dos remanescentesde quilombos. Os primeiros resultados assinalam que atualmente, so

    49.722 alunos matriculados em 364 escolas, sendo que 62% das ma-

    trculas esto concentradas na Regio Nordeste. O Estado do Mara-

    nho o que possui maior nmero de alunos quilombolas, mais de 10

    mil que frequentam 99 estabelecimentos.(cf. Irene Lobo AgenciaBrasil, 06/10/2004).

    (3) No foram catalogadas as Leis Ambientais Municipais concernentes

    s Polticas Municipais do Meio Ambiente que disciplinam as aes

    dos Conselhos Municipais do Meio Ambiente e dispem sobre as de-

    mandas de uso os recursos naturais dos diferentes grupos sociais.

    Um exemplo seriam as leis n. 16.885 e 16.886 de 22 de abril

    referidas ao Municpio de Marab (pa). Consulte-se tambm as refe-rncias aos Municpios de Altamira, Santarm, Paragominas, Uruar,

    Porto de Moz e Moju (pa) e Mncio Lima e Xapuri (ac) in:Toni, F. e Kaimowitz, D. (orgs.) Municpios e Gesto Florestal na

    Amaznia. Natal: A.S. Editores, 2003.

    (4) Os castanhais na Amrica do Sul abrangem uma extenso de 20

    milhes de hectares. A Zona Castanheira no Peru, na parte oriental do

    departamento de Madre de Dios, estimada em 1,8 milhes de hec-

    tares. A regio castanheira da Bolvia localiza-se em Pando e estima-

    da em 1,2 milhes de hectares. No Brasil os maiores castanhais esto

    entre os rios Tocantins e Xingu, assim como em Santarm, as margens

    do rio Tapajs, seguindo-se as zonas dos rios Trombetas e Curu. No

    estado do Amazonas a maior incidncia no Solimes, vindo a seguir

    a regio do rio Madeira. No estado do Acre as maiores concentraes

    de castanheiras esto na Zona dos rios Xapuri e Acre. No Amap a

    maior incidncia no rio Jar. Estas reas perfazem uma extenso es-

    timada em 17 milhes de hectares, superpondo-se muitas vezes s

    reas de incidncia de seringais. cf. Bases para uma Poltica Nacio-nal da Castanha. Belm, 1967.

    cf. Borges, Pedro. Do Valor Alimentar da Castanha-do-Par.Rio de Janeiro, sai-Ministrio da Agricultura 1967, pgs. 12 e 13; e

    cf. Clay, J.W. Brasil nuts. The use of a keystone species for con-servation and development. En: Harvesting wild species. C. Freese,

    Ed. The John Hopkins University Press; 1997. pp. 246-282.

    Para um aprofundamento das articulaes entre extrativistas de

    diferentes paises amaznicos consulte-se: Porro, Noemi et alli (orgs.)-

    Povos & Pueblos-Lidando com a globalizao-As lutas do povo ex-

    trativista pela vida nas florestas da Bolvia, Brasil e Peru. So Luis,

    miqcb/Herencia/Candela/str de Brasilia, 2004, pp. 34.

    (5) Os babauais associam-se a outros tipos de vegetao, sendo pr-

    prios de baixadas quentes e midas localizadas nos Estados do Mara-

    nho, Piau, Tocantins, Par, Gois e Mato Grosso. Nas referidas uni-

    dades da federao ocupam em conjunto uma rea correspondente a

    cerca de 18,5 milhes de hectares, conforme Ministrio da Indstria e

    Comrcio-sit, Mapeamento e levantamento de potencial das ocorrn-cias de babauais. Braslia: mic/sit, 1982. As principais formaes en-contram-se na regio de abrangncia do Programa Grande Carajs,

    62

  • notadamente, no Maranho cuja rea delimitada totaliza 10,3

    milhes de hectares. No Tocantins e no Par registram-se respectiva-

    mente 1.442.800 hectares e cerca de 400.000 hectares. No Estado do

    Piau s reas de ocorrncia de babau correspondem 1.977.600 ha.

    Considerando-se apenas a denominada regio do Programa Grande

    Carajs, tem-se aproximadamente 11,9 milhes de hectares de ocor-

    rncia de babauais, ou seja, 63,4% do total nacional das reas de

    ocorrncia. Correspondem a 13,2% da regio de abrangncia do

    Programa Grande Carajs. Sobressai o Estado do Maranho, com

    mais de 71% da rea global dos babauais. CF. Almeida, A. W. B. de.

    As Quebradeiras de Cco Babau: Identidade e Mobilizao. So

    Lus: miqcb Caderno de Formao n. 1, 1995, pgs. 17,18.Para fins de atualiza