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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” LIXO E DESPERDÍCIO, PERSPECTIVA NUMA SOCIEDADE DE CONSUMO LIGIA MARIA MAGALHÃES Rio de Janeiro 2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

LIXO E DESPERDÍCIO,

PERSPECTIVA NUMA SOCIEDADE DE CONSUMO

LIGIA MARIA MAGALHÃES

Rio de Janeiro

2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

LIXO E DESPERDÍCIO,

PERSPECTIVA NUMA SOCIEDADE DE CONSUMO

Monografia apresentada a Universidade Candido

Mendes como requisito para a conclusão do Curso

de Pós-Graduação em Marketing Globalizado.

Por: Lígia Maria Magalhães Orientador: Prof Marcos La Rosa

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DEDICATÓRIA

A todos que compartilharam deste sonho tornando-o realidade.

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RESUMO

O lixo, que já é um dos grandes problemas mundiais, poderá tornar-se

um pesadelo se não forem tomadas medidas sérias para reduzir a quantidade

de materiais orgânicos e inorgânicos desperdiçados diariamente. No momento

em que se luta contra a fome, o país perde U$ 4 bilhões por ano em

desperdício de frutas, hortaliças, verduras e grãos.

Como produzimos cada vez mais resíduos, aumentamos nossos

problemas ambientais, comprometendo nossos parcos recursos financeiros e,

principalmente, desperdiçamos irresponsavelmente recursos naturais. Temos

um modelo de sociedade que prima pelo novo, pelo supérfluo e pelo

descartável. À medida que compreendemos que o problema do lixo não se

resolverá apenas com novas tecnologias, aparece a importância de

trabalharmos por uma nova mentalidade que produza atitudes diferentes, que

eduque e modifique hábitos.

No nível das empresas, as condições de fabricação do produto, seus

materiais componentes, insumos do seu processo de fabricação e os efeitos

dos seus resíduos e suas condições de biodegradabilidade no contato com a

natureza são e serão, cada vez mais, questionadas pelos clientes no ato da

compra. Nos casos de produtos que necessitem ser embalados, sempre que

possível, observa-se a tendência de utilizar embalagens de material reciclável .

A reciclagem do lixo assume, pois, um papel fundamental na

preservação do meio ambiente. Além de diminuir a extração de recursos

naturais ela devolve para a terra uma parte de seus produtos e reduz o

acúmulo de resíduos nas áreas urbanas.

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METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica norteado pelas

vivências adquiridas no cotidiano.

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SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................................... 4

METODOLOGIA ................................................................................................ 5

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7

CAPÍTULO I – O MARKETING COMO AGENTE DE CONSUMO ................. 12

1.1 - Enfoque inicial da função de marketing ................................................... 12

1.2 - Reflexões sobre a ação do marketing como alavanca de consumo ....... 14

1.3 - Marketing Verde ...................................................................................... 16

1.4 - Responsabilidade Social das empresas em uma economia globalizada ....... 19

CAPÍTULO II – EMBALAGENS ...................................................................... 21

2.1 - A era dos descartáveis ........................................................................... 21

2.2 - Função necessária da embalagem .......................................................... 22

2.3 - Gestão Ambiental ........................................................................................... 24

2.4 - O fenômeno das embalagens PET .......................................................... 25

2.5 - A Embalagem Longa Vida ....................................................................... 25

CAPÍTULO III – A INDÚSTRIA, O CONSUMIDOR E O PODER PÚBLICO;

PRODUÇÃO, CONSUMO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ..... 27

3.1 - O lixo em toda a sua extensão ................................................................ 27

3.2 - A participação da indústria ...................................................................... 29

3.3 - O papel do consumidor ............................................................................ 30

3.4 - A ação do Poder Público no gerenciamento dos resíduos sólidos ................. 32

CAPÍTULO IV – COLETA SELETIVA E RECICLAGEM, TRANSFORMANDO

O LIXO EM MATÉRIA-PRIMA ........................................................................ 35

4.1 - A importância da reciclagem .......................................................................... 36

4.2 - O que pode ser reciclado ......................................................................... 37

4.3 - Os prós e os contras da reciclagem ........................................................ 38

4.4 - Coleta seletiva ......................................................................................... 39

4.5 - A importância da reciclagem das latas de alumínio ................................ 40

CONCLUSÃO .................................................................................................. 42

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 45

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INTRODUÇÃO

Não é de hoje que assuntos ambientais despertam o interesse de

todos. Cada vez mais as pessoas estão associando fenômenos como “El

Nino”, chuvas fora da estação, destruição da camada de ozônio, aumento de

crianças com problemas respiratórios, efeito estufa, entre tantos outros, com

uma série de agressões ambientais que indústrias, governos e a sociedade em

geral têm feito ao longo dos anos.

A partir do momento que as pessoas fazem esta associação entre

causa e efeito, e percebem que agressões ambientais comprometem sua

qualidade de vida, passam a exigir produtos ecologicamente corretos, posturas

ambientais adequadas das indústrias, dos governos e da sociedade em geral.

Com isto, a indústria percebe a importância de investimentos ambientais. É

exatamente isto que o seu cliente deseja e vai exigir cada vez mais. E

aprimorando seu desempenho ambiental, mais do que obter benefícios para a

sua imagem, estará se tornando mais competitiva e conseguirá melhorar o seu

desempenho econômico, pois investir em meio ambiente é também reduzir o

consumo de matérias-primas, de energia, diminuir a geração de resíduos,

prevenir acidentes, entre outros.

Há apenas alguns anos, toalhas de papel feitas de material reciclado

eram rejeitadas como inferiores, até mesmo como sujas. Uma embalagem

extra, acrescentava valor a produtos de consumo concorrentes. Mais era mais,

mais branco era melhor, e ser descartável era prático. Porém tudo isto está

mudando, a tendência ambiental do consumidor está se movendo com rapidez,

chegou uma nova era do marketing. Ganha corpo uma revolução destinada a

deter o mau uso dos recursos do planeta, os consumidores estão preocupados

com sua qualidade de vida, menos agora está valendo mais, e as decisões de

compra são cada vez mais influenciadas pelo impacto que os produtos

produzem ao meio ambiente.

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No momento em que se luta contra a fome, o país perde U$ 4 bilhões

por ano em desperdício de frutas, hortaliças, verduras e grãos. O processo

começa no plantio, avança com a estocagem e a comercialização e termina na

cozinha de nossas casas, quando muitas vezes jogamos fora o que e mais

nutritivo. Parte desse desperdício poderia ser evitado com o uso de

embalagens adequadas e melhor manuseio. É importante ressaltar que a

embalagem tem como principal função proteger os alimentos e as mais

variadas mercadorias, permitindo a venda desses produtos em qualquer lugar e

época do ano.

Não é difícil admitir que uma das principais coisas que distinguem os

seres humanos dos outros seres vivos é a aquisição da capacidade de agir

sobre a natureza, nicho ecológico de todas as formas de vida, para criar suas

próprias condições de existência.

Não é só a criatura humana que produz resíduos em suas atividades.

Os animais e vegetais também, por exemplo, as carcaças de presas

devoradas, cascas de frutos, folhas e galhos que caem das árvores. A

humanidade, porém, no curso de sua história, tem encontrado dificuldades

crescentes para dar destino aos seus resíduos. O ser humano é o único ser

natural capaz de comprometer o meio de forma irreversível.

O local mais antigo, descoberto na Noruega, destinado a depósito de

lixo, basicamente para ossos, cinzas e cacos, remonta à Idade da Pedra. Por

outro lado, vamos encontrar em plena Idade Média e parte da Idade Moderna,

cidades européias onde se jogava indiscriminadamente e diretamente nas ruas

lixo, fezes e urina, com os quais fartavam-se porcos, gansos e pássaros. O

odor era insuportável e criavam-se condições especiais para a proliferação de

epidemias como o cólera. Daí pode vir nossa “tradição” de “jogar fora” o lixo,

entendendo “fora” especialmente o espaço público: ruas, praças, rios, etc.. É

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no final do século XVIII e início do século XIX que a questão da higiene pública

começa a ganhar corpo, basicamente por motivos olfativos, pois era terrível

suportar os odores. Em fins do século XIX começa a existir o tratamento

diferenciado para o lixo e o esgoto. No início do século XX começam a ser

implantadas na Europa e nos EUA formas mais audaciosas de coleta e

tratamento do lixo doméstico, inclusive com a tímida utilização de usinas de

reciclagem e de incineração.

Mas é mesmo a partir do final da Segunda Guerra Mundial, com o

advento da “era do consumo de massa”, que a questão do lixo ganha

destaque. Não só há um aumento drástico da quantidade gerada, como muda

o tipo de lixo. Houve época em que o lixo era na quase totalidade, degradável.

Podia ser reabsorvido pela natureza sem maiores problemas, como no

exemplo das tribos indígenas, antes claro do contato com a civilização. Agora

não mais prepondera o orgânico, mas crescem os produtos não degradáveis,

como os plásticos e os resíduos químicos.

Na onda do consumismo, produtos duráveis dão lugar aos menos

duráveis. A prática de reformar e consertar desde utensílios domésticos até

vestimentas dá lugar à de descartar. Ainda é comum ouvir que “os produtos

antigos eram mais duráveis.” Mas hoje já se começa a perceber, inclusive nos

países industrializados, que é preciso reverter esse quadro de consumo

desenfreado.

Ao longo dos séculos, as áreas para depósito de lixo têm servido aos

arqueólogos e historiadores como fonte preciosa para estudar hábitos e estilos

de vida de nossos antepassados. Ali configura-se o modo de vida de cada

época. Certamente, para os arqueólogos do futuro, os vazadouros e aterros da

nossa sociedade industrial indicarão uma sociedade voltada para o desperdício

e com uma precária visão da sua relação com a natureza.

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Cada pessoa gera, durante toda a vida, uma média de 25 toneladas

de lixo. Uma montanha de restos de comida, papel, plástico, vidro , etc.. Apesar

de produzir essa quantidade de resíduos, a maioria das pessoas acha que

basta colocar o lixo na porta de casa e os problemas acabam-se. Grande

engano, os problemas estão só começando, apesar de se afastarem do

alcance da vista das pessoas. Dados do IBGE de 1995, mostram que cerca de

80% das 100.000 t. de lixo domiciliar coletado no Brasil, todos os dias, são

depositados em lixões a céu aberto. Nesses locais, o líquido gerado na

decomposição do lixo, o chorume, penetra no solo, contaminando as águas

subterrâneas; os gases provocam explosões e fogo. O mau cheiro é sentido de

longe e o lixo atrai ratos, moscas, baratas e gente. Gente pobre, que não tem

outra forma de sobreviver, que vive de catar materiais para vender e se

alimentam de restos de comida estragada ou contaminada.

Com o passar dos anos não só a quantidade de lixo tem aumentado

nos centros urbanos mas também a sua composição. Grandes quantidades de

materiais não degradáveis como plástico e tóxicos são jogados nos canais,

córregos, rios e praias que estão abarrotadas de detritos e contaminados.

Encostas com toneladas de lixo são transformadas em avalanches mortíferas

nas épocas de chuvas.

Segundo dados da Agenda 21, documento produzido por 170 países

que participaram da ECO-92, aproximadamente 5,2 milhões de pessoas,

incluindo 4 milhões de crianças morrem por ano de doenças relacionadas com

o lixo. Metade da população urbana nos países em desenvolvimento não tem

serviços de despejo de lixo sólido. Globalmente, o volume de lixo municipal

produzido dobraria até o final do século e novamente antes do ano de 2025.

Como produzimos cada vez mais resíduos, aumentamos nossos

problemas ambientais, comprometendo nossos parcos recursos financeiros e,

principalmente, desperdiçamos irresponsavelmente recursos naturais. Temos

um modelo de sociedade que prima pelo novo, pelo supérfluo e pelo

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descartável. À medida que compreendemos que o problema do lixo não se

resolverá apenas com novas tecnologias, aparece a importância de

trabalharmos por uma nova mentalidade que produza atitudes diferentes, que

eduque e modifique hábitos.

Para cuidar do planeta precisamos todos passar por uma

alfabetização ecológica e rever nossos hábitos de consumo. Importa

desenvolver uma Ética do cuidado.(Boff,2000 p.134).

Princípios como, construir uma sociedade sustentável, respeitar e

cuidar da comunidade dos seres vivos, melhorar a qualidade da vida humana,

modificar atitudes e práticas pessoais, conservar a vitalidade e a diversidade do

planeta, gerar uma estrutura para integrar desenvolvimento e conservação,

darão corpo ao cuidado essencial com o planeta. O cuidado essencial é a ética

de um planeta sustentável.

A consciência ecológica é inseparável da consciência social, como a

luta pela proteção da natureza é inseparável da luta pela realização da

condição humana. Cabe a escola enquanto organização social complexa,

responsável pelo acesso de todos ao conhecimento socialmente produzido,

contribuir, junto com outras organizações e movimentos sociais, com a

realização de um projeto educacional capaz de desenvolver nas novas

gerações saberes e valores que permitam participar do ordenamento social e

ecológico.

O conceito de cidadania envolve uma e outra. Direito e exercício

desse direito nas praticas sociais, a cidadania pressupõe um ordenamento das

relações dos indivíduos entre si, da estrutura das relações sociais e deles com

a natureza. Isso implica, ao mesmo tempo, conhecimento e compromisso

político.

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CAPÍTULO I

O MARKETING COMO AGENTE DE CONSUMO

Com o lixo se amontoando em nossas comunidades, florestas sendo

devastadas e o ar se tornando cada vez mais irrespirável, ganha corpo uma

revolução destinada a deter o mau uso dos recursos de nosso planeta,

revolução esta que vem ocorrendo nos supermercados, pequenos varejistas e

grandes revendedores. Para consumidores preocupados com sua qualidade de

vida, menos agora vale mais, e as decisões de compra são cada vez mais

influenciadas pelo impacto que os produtos tem no meio ambiente.

1.1. Enfoque inicial da função do marketing

Em sua forma inicial, o estudo do marketing surgiu da economia,

especialmente da compra e venda de mercadorias agrícolas. Dessa maneira, o

enfoque inicial sobre o marketing apresentava uma orientação para a

mercadoria. Uma orientação administrativa ao estudo do marketing

desenvolveu-se através do método de ensino de casos na faculdade de

administração de Harvard, e somente no fim da década de cinqüenta e começo

de sessenta é que os primeiros livros-texto de marketing apareceram com uma

verdadeira orientação administrativa.

Dentro do ponto de vista previamente mantido pelo marketing, as

vendas eram a principal função de marketing e o volume de vendas era a

chave da lucratividade, em virtude das economias de escala na produção em

massa. O novo conceito de marketing oferecia outra visão, aquela de que a

satisfação do cliente, e não o volume de vendas, era a chave para a

lucratividade. A principal função administrativa de marketing era coordenar e

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dirigir todas as operações da empresa no sentido de criar um cliente satisfeito.

Peter Drucker em sua articulação do conceito de marketing chegou a declarar

que o lucro não era o principal objetivo da firma, mas que a criação de um

cliente satisfeito era o principal objetivo, e o lucro simplesmente a medida do

sucesso em consegui-lo.

Inúmeras forças contribuíram para o desenvolvimento do conceito de

marketing como uma filosofia da administração nos anos cinqüenta. A procura

reprimida de muitos produtos de consumo, legados dos anos de guerra,

finalmente foi satisfeita. A renda do consumidor estava crescendo constante e

substancialmente, dando ao consumidor um novo arbítrio em suas aquisições e

deslocando suas despesas para as categorias de produtos e serviços

postergáveis, ou seja indo da necessidade para o luxo.

O conceito de marketing colocou o cliente exatamente no meio das

atividades de planejamento da empresa. Pedia informações atuais e precisas

sobre o cliente, e as despesas com pesquisas de marketing cresceram

bastante durante a década de cinqüenta.

O consumidor era rei sob o conceito de marketing. Seus desejos

sempre variando por bens e serviços eram continuamente dirigidos pelas

atividades de pesquisa de marketing. O fluxo dos produtos aumentava tanto em

quantidade como em variedade, muito embora nem sempre se pudesse dizer o

mesmo quanto à qualidade. O consumidor médio em 1970 estava adquirindo,

quase mais que o dobro do valor em bens e serviços que havia adquirido no

ano de 1950.

O consumerismo, movimento social surgido nos Estados Unidos, nos

anos 60, procurava aumentar os direitos e poderes do comprador em relação

aos vendedores, passou a exigir um grau mais elevado de responsabilidade e

compreensão no servir o consumidor, não apenas no momento da venda, mas

também através de todo ciclo de vida sócio-ecológico do produto. Assim as

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decisões de marketing passaram a considerar o uso de recursos naturais, a

poluição ambiental durante a produção, os efeitos ambientais do produto

durante o uso e o seu descarte.

Cada vez mais os estudiosos de marketing acreditavam estar

ocorrendo um deslocamento fundamental dos valores do consumidor, um

deslocamento para longe do consumo e do materialismo e no sentido de uma

definição mais ampla da qualidade de vida. O consumo estava sendo encarado

de maneira mais séria, à medida que as pessoas compreendiam como os

resultados de seu consumo influenciavam as outras pessoas.

1.2 . Reflexões sobre a ação do marketing como alavanca de

consumo

A crescente conscientização e preocupação quanto ao impacto das

atividades de marketing sobre o consumo, apontam para : O marketing faz com

que as pessoas comprem coisas que não precisam, a comunicação de

marketing cria valores materialistas. Talvez seja essa a crítica mais freqüente

ouvida sobre o marketing. A distinção feita entre as necessidades e as

vontades, em que o primeiro é mais básico e mais legítimo como motivador do

comportamento de compra do que o último. Segundo o historiador Arnold

Toynbee esta seria a distinção: Necessidades, seriam as exigências materiais

mínimas da vida. Vontades genuínas, vontades que reconhecemos

espontaneamente, sem precisar ficar sabendo pelas agências de propaganda

que queremos algo que nunca pensaríamos querer se estivéssemos quietos

para descobrir por nós mesmos nossas vontades. Procura não desejada,

procura criada pela propaganda acima e além das vontades genuínas.

Distinções tão fortes mas, incompletas na medida que deixa dúvidas a

cerca de quem determinará as “exigências materiais mínimas da vida”.

Certamente elas são diferentes hoje do que eram há diversos anos atrás e

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mais ainda do que eram há centenas de anos passados. Há ainda a

necessidade de se determinar a extensão que as formas de comunicação do

marketing são de fato capazes de influenciar as necessidades e /ou vontades

dos consumidores.

Já na década de 70, nos Estados Unidos, país onde o marketing era

estudado e copiado por profissionais em todo o mundo, era observado de um

lado o paradoxo do sucesso do marketing e, de outro, a crítica generalizada em

relação ao impacto das decisões de marketing sobre o meio ambiente social e

físico, incluindo os problemas da fraude, da poluição do meio ambiente e a

influência do marketing sobre a mídia de massa.

A grande preocupação dos aplicadores do marketing já naquela

época era lidar com suas dimensões sociais e políticas, onde as questões mais

discutidas eram: a prática do marketing é responsável pelos valores

materialistas de nossa sociedade? O materialismo é inadequado como objetivo

de vida pessoal? A proliferação de produtos e serviços é um desperdício de

escassos recursos da produção, fundados em diferenças triviais e de outro

modo indesejáveis? As atividades de marketing prejudicam o meio ambiente;

alguns dos problemas mais sérios são os referentes às embalagens

descartáveis e os referentes à utilização indevida de recursos naturais

escassos para a criação de novos produtos? A propaganda e outras formas de

comunicação de marketing fazem com que as pessoas adquiram produtos que

não necessitam?

É consenso que a comunicação de marketing é responsável pelos

valores sociais prevalentes, na extensão em que estimulam e desenvolvem

aqueles valores, mas a responsabilidade primordial pelos valores materiais não

pertence a comunicação de marketing.

Talvez o aspecto distintivo de nossa sociedade seja o de que

enquanto houver tantas coisas materiais que puderem gratificar o ego ou servir

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como símbolos de status haverá pouca concordância regular sobre que objetos

deverão servir a essas funções.(Webster Jr.,1978 p. 70)

1.3. Marketing Verde

Em poucos anos, os valores ambientais mudaram, preocupadas em

proteger suas vidas e sua subsistência, as pessoas resolveram agir nas

prateleiras de supermercados, fazendo as compras penderem para produtos

considerados ambientalmente saudáveis e rejeitando aqueles que não o são.

Isso foi chamado de consumerismo ambiental e provocou uma reviravolta no

marketing.

Nesta nova era do marketing, os produtos passaram a ser avaliados

não apenas com base em desempenho ou preço, mas na responsabilidade

social dos fabricantes. Valor agora incluía a salubridade ambiental do produto e

da embalagem, sendo que cada vez mais isto envolverá o impacto a longo

prazo de um produto na sociedade após ser usado. A qualidade é uma imagem

que não mais se separa do impacto ambiental.

Com os consumidores examinando minuciosamente os produtos em

toda fase do ciclo de vida, empresas pioneiras reconhecem que o

esverdeamento corporativo deve se estender a todos os departamentos. Além

de equipes ambientais, o esforço deve unir marketing, pesquisa e

desenvolvimento, produção, projeto de embalagem etc...

Representando potencialmente o maior desafio de todos, os

profissionais de marketing que pretendem desenvolver e comercializar com

êxito produtos ambientalmente saudáveis devem primeiro provar suas

credenciais ambientais. Não é suficiente falar a linguagem verde; as empresas

devem ser verdes. Longe da questão de apenas fazer publicidade, a

abordagem satisfatória de preocupações ambientais requer um esverdeamento

completo que vai fundo na cultura corporativa. Somente por intermédio da

criação e implementação de políticas ambientais fortes e profundamente

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valorizadas é que a maioria dos produtos e serviços saudáveis podem ser

desenvolvidos. E é só por meio da criação de uma ética ambiental que abranja

toda a empresa que estratégias de marketing podem ser executadas.

Desenvolver produtos ambientalmente saudáveis que os consumidores

comprarão, além de ser bastante desafiador, traz recompensas ótimas. Os

empreendedores cada vez mais estão constatando que estratégias de produtos

relacionados ao ambiente podem aumentar os benefícios existentes, produzindo

assim produtos mais duradouros, que tem melhor sabor e, em muitos casos,

custam menos, criando novas oportunidades de vendas.

Algumas diretrizes podem ser seguidas com o objetivo de acumular

maiores recompensas numa estratégia completa para o esverdeamento do

produto, como avaliar as suas implicações ambientais em toda fase de seu

ciclo de vida, optar por redução na fonte em relação à reciclagem e incorporar

os desejos do consumidor quanto a qualidade, viabilidade e conveniência.

Muitos administradores de negócios estão descobrindo que quando

se trata de redução na fonte, por exemplo, no uso de menos materiais, menos

significa mais. Como a produção de produtos e embalagens com fonte reduzida

freqüentemente custa menos, as economias no custo podem ser passadas

adiante para os consumidores. Esses produtos, em geral mais convenientes

para o consumidor, também podem ser mais eficientes para armazenagem e

estocagem dos varejistas.

Alguma cautela é recomendada para o uso de inventário de ciclo de

vida como ferramenta de marketing, pois algumas críticas colocaram em dúvida

o que foi patrocinado pela Procter &Gamble, que comparava fraldas de pano e

fraldas descartáveis . A conclusão apontou para uma igualdade dos impactos

ambientais, quando se computava a energia e água associadas à coleta e

lavagem de fraldas de pano. Posteriormente esta pesquisa foi contestada e

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uma nova apontava para a superioridade ambiental das fraldas de pano em

relação às descartáveis de papel.

O desenvolvimento de produtos considerados verde podem ser

agrupados em quatro áreas:

Aquisição e Processamento de Matérias-Primas

• Conservação de recursos naturais como água, terra e ar

• Proteção de hábitats naturais e espécies ameaçadas.

• Minimização de lixo e prevenção de poluição

• Transporte

• Uso de recursos renováveis

• Uso de materiais reciclados

Questões de Produção e Distribuição

• Uso mínimo de materiais

• Liberação de tóxicos

• Geração/manuseio de lixo

• Eficiência energética

• Uso de água

• Emissões para o ar, terra e água

Questões de Uso de Produto e Embalagens

• Eficiência energética

• Conservação de recursos naturais, tais como água

• Saúde do consumidor e segurança ambiental

Questões de Uso Posterior/Descartabilidade

• Reciclabilidade e facilidade de reutilização e reparo

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• Durabilidade

• Biodegradabilidade

• Seguro quando colocado em aterro sanitário

1.4. Responsabilidade Social das empresas em uma economia

globalizada

A globalização da economia e a abertura dos mercados aumentaram a

concorrência, ampliando desafios e perspectivas para novos empreendimentos.

Tecnologias avançadas especialmente de informática, comunicação e produção,

impactam cada vez mais as empresas e suas operações.

O empreendedor da atualidade precisa ser ético nos negócios,

preocupar-se com a qualidade, buscar e dominar informações entender os

anseios do cliente, preservar o meio ambiente e, para isto é preciso capacitar-

se para criar uma empresa verdadeiramente competitiva.

A responsabilidade social das empresas na preservação do meio

ambiente e os próprios efeitos do consumo de seus produtos na saúde dos

seus clientes são fatores que terão, cada vez mais, peso na decisão do

empreendedor.

Em nossos dias crescem na sociedade os movimentos de

preservação do meio ambiente e a crítica social aos acidentes ecológicos que

poluem ou danificam o planeta. Assim, acima dos interesses comerciais, o

empreendedor deve respeitar a biodiversidade, ou seja, evitar que qualquer

conseqüência resultante de sua atividade empresarial comprometa as

condições de sobrevivência de todas as formas vivas presentes na natureza.

No nível das empresas, as condições de fabricação do produto, seus

materiais componentes, insumos do seu processo de fabricação e os efeitos

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dos seus resíduos e suas condições de biodegradabilidade no contato com a

natureza são e serão, cada vez mais, questionadas pelos clientes no ato da

compra. Nos casos de produtos que necessitem ser embalados, sempre que

possível, observa-se a tendência de utilizar embalagens de material reciclável .

A tendência das empresas é personalizar seus produtos e serviços, dirigindo-

os para segmentos ou nichos específicos de mercado. Isto requer uma

comunicação com o cliente que utilize conceitos e palavras que ele conhece e

vivência; assim, ela tem que ser direta e ajustada a clientela. Com o nível de

informação de natureza global disponível nos meios de comunicação, o cliente

está se tornando cada vez mais exigente e consciente da sua importância

como centro das decisões empresariais, e com isso pressionando novos graus

de responsabilidade social no marketing. É um mundo diferente daquele da

década de cinqüenta, que criou o conceito de marketing. Um consumidor mais

socialmente responsável estará exigindo cada vez mais um especialista de

marketing socialmente responsável.

Ficou claro que a preocupação com o meio ambiente não é uma

moda passageira ou até mesmo uma tendência a curto prazo. Uma nova era

de marketing nos atinge, requerendo um empenho sincero para a reconciliação

das necessidades do meio ambiente com as do consumidor. Os

administradores de marketing que fizerem isto satisfatoriamente terão muitas

recompensas pessoais: maiores fatias de mercado, imagem melhorada,

maiores lucros, para não mencionar as recompensas pessoais de fazer

negócios dentro dos limites das maiores éticas ambientais e sociais possíveis.

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CAPITULO II

EMBALAGENS

Do ponto de vista da degradação ambiental, o lixo representa mais do

que a poluição. Significa também muito desperdício de recursos naturais e

energéticos. Somos invadidos, a todo momento, pelo desejo de consumir mais

e mais supérfluos, transformados em necessidades pelo mercado e que

rapidamente viram lixo. As embalagens, destinadas à proteção de produtos,

passam a ser estímulo para aumentar o consumo, valorizando o produto.

2.1. A era dos descartáveis

Em toda parte do mundo, a propaganda comercial de jornais, rádio e

televisão incentiva as pessoas a adquirir vários produtos e a substituir os mais

antigos pelos mais modernos. Relógios, brinquedos, sapatos, eletrodomésticos,

eletroeletrônicos etc. ficam logo “fora de moda” e se transformam em lixo. Os

computadores, por exemplo, sofreram tantas modificações que, no Japão e em

outros países desenvolvidos, já formam enormes depósitos de sucata mesmo

quando ainda funcionam. Na Europa e nos Estados Unidos encontramos

verdadeiros “cemitérios de automóveis”, formados por carros abandonados por

seus donos, que não encontram novos compradores, pois a maioria deles

procura sempre adquirir os últimos lançamentos do mercado.

Nos dias atuais, os objetos em geral tem menor durabilidade,

quebram-se facilmente e necessitam de reposição a curto prazo. Estamos

vivendo, então, a era dos descartáveis, isto é, dos produtos que são utilizados

uma única vez ou por pouco tempo e em seguida são jogados fora.

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Atualmente, fraldas, copos, lenços, coador de café, até mesmo

toalhas são lançados no lixo, logo após seu uso. O mesmo acontece com

canetas, lâminas e aparelhos de barbear. Computadores e máquinas

copiadoras, como xerox ou fax, também contribuem com um imenso volume de

papéis, rapidamente inutilizado.

Na era dos descartáveis, as embalagens de bebidas e de alimentos,

feitas principalmente de alumínio, plástico ou papel, passaram a ser produzidos

em larga escala, substituindo os recipientes que até pouco tempo era

totalmente reutilizáveis, como as garrafas de cerveja e de refrigerantes feitas

de vidro. As modernas redes de lanchonete, ao servir um simples sanduíche

acompanhado de bebida, oferecem caixinhas de papelão ou de isopor,

guardanapos, talheres, copos e canudos que serão depositados numa lixeira

minutos depois.

Esse tipo de lixo reflete basicamente o modo de vida moderno e

agitado das grandes cidades. Em geral, quanto mais rica e industrializada for

uma determinada região, maior será o consumo de descartáveis.

Consequentemente, a quantidade de lixo produzido por seus habitantes será

mais elevada, com plásticos, papéis e latas em abundância.

2.2. Função necessária da embalagem

Proteger adequadamente o alimento é uma vantagem ambiental que

não deve ser desconsiderada no ciclo de vida da embalagem. A excelência em

proteção torna-se importante quando se analisa o resíduo sólido municipal, ou

seja, o lixo gerado no nosso dia-a-dia: No Brasil, cerca de 65% da composição

deste resíduo é matéria orgânica, como alimentos estragados.

Aproximadamente, a quinta parte das frutas e hortaliças que chegam as

cidades são perdidas durante a fase de comercialização em supermercados,

quitandas ou feiras livres. Se todos os sistemas de embalagem protegessem

tanto quanto as embalagens longa vida, a quantidade de alimentos estragados

seria muito menor, resultando em uma redução na quantidade total de lixo.

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Os produtos que utilizam a embalagem longa vida podem ser

armazenados fora da geladeira, apesar de sua perecibilidade, reduzindo o

possível consumo de eletricidade destes equipamentos. A geração de energia

elétrica traz uma série de impactos ambientais: uma usina hidrelétrica precisa

criar uma barragem que destruirá a fauna e flora de uma grande área, além de

modificar o equilíbrio ambiental de toda a região em que se instala. Usinas

nucleares ainda trazem o risco de um vazamento radioativo, não esquecendo

que seus resíduos ainda são um problema insolúvel para a geração presente e

uma ameaça de conseqüências desconhecidas para as gerações futuras. Mais

do que isto a maioria dos refrigeradores ainda usam CFC’s como gás de

refrigeração. Os vazamentos destes gases prejudicam a camada de ozônio,

que dá proteção à vida do planeta contra radiações.

É importante ressaltar que protegendo melhor o alimento diminui-se a

quantidade desperdiçada entre a produção e o consumo, significando que será

necessário uma produção industrial menor para atender a mesma demanda ou

alimentar um número maior de pessoas reduzindo parte da fome existente em

nosso país.

Sabe-se que nos processos industriais acontecem uma série de

impactos ambientais devido ao uso de água, energia, geração de resíduos

entre outros e, ao otimizá-los, o impacto ambiental para cada quilograma de

produto consumido diminuirá. Historicamente, as indústrias tem mostrado que

as ações para redução dos impactos ambientais, oriundas do processo

industrial, são tomadas de maneira desorganizada. Isso, do ponto de vista

ambiental e econômico é extremamente desastroso.

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2.3. Gestão ambiental

Para organizar as ações que uma empresa deve tomar para seu

gerenciamento ambiental, surgiram os sistemas de Gestão Ambiental e dentre

eles, destaca-se o modelo proposto pela norma ISO 14001, que se baseia na

Melhoria Contínua, no Desenvolvimento Sustentável e no atendimento a

Legislação.

A implementação de um Sistema de Gestão Ambiental começa com a

definição da política e com o levantamento dos aspectos e impactos ambientais

da empresa. Depois, são analisados os principais pontos de melhoria e

definidos os objetivos e metas da empresa. Para alcançar tais objetivos são

formulados e implementados planos de ação, como ETE (ESTAÇÃO DE

TRATAMENTO DE EFLUENTES) e PRS (PLANTA DE RESÍDUOS SÓLIDOS). Para o

sucesso da ISO 14001, é fundamental a participação de todos na identificação

dos aspectos ambientais e nas ações para reduzir os seus impactos ao meio

ambiente.

Quando uma empresa adota implementar essa norma, ela está se

comprometendo com a melhoria contínua, com o desenvolvimento sustentável

e com o atendimento a legislação, obtendo uma série de benefícios

econômicos e mercadológicos.

Uma política empresarial de gestão ambiental deve buscar benefícios

internos e externos. Do ponto de vista interno, já é possível computar os

benefícios econômicos diretos em diversas empresas que adotam sistemas de

gestão ambiental. As vantagens se relacionam com a economia de energia. e

matéria-prima, melhorias na saúde e comportamento do trabalhador.

Externamente, os benefícios associam-se à imagem que cada

empresa constrói perante um importante parceiro: o consumidor. Este, cada

vez mais consciente e exigente com os aspectos sócio-ambientais, passa a

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optar por produtos que tenham implícitos em seu processo produtivo e na

etapa pós- consumo, esforços para torná-lo cada vez mais “ecoamigável “, a

partir de uma avaliação positiva de seu ciclo de vida.

2.4. O fenômeno das embalagens Polietileno Tereftalato (PET)

O boom das embalagens PET ocorreu quando as tecnologias de

transformação permitiram a produção das embalagens em larga escala e baixo

custo. Nessa ocasião, grandes fabricantes passaram a substituir embalagens

tradicionais pelas práticas embalagens de PET. O crescimento foi tão

expressivo que a produção nacional de PET saltou de 70 mil toneladas em

1994 para 260 mil toneladas em 2000. A expectativa é que o PET substitua

gradualmente outros materiais na produção.

A indústria e a sociedade estão se adaptando para tratar o volume de

descarte decorrente dessa abrupta mudança dos hábitos de consumo. Embora PET

não seja o plástico mais produzido, apenas 7,5%, é reciclável em 100%, e reutilizá-

lo ajudaria a aumentar a vida útil dos aterros e lixões, entre outros benefícios.

As taxas de reciclagem de PET no Brasil que já superam a marca de

20%, podem ser consideradas excelentes dado o tempo que o país iniciou essa

atividade, porém, elas precisarão equiparar-se rapidamente aos melhores

padrões internacionais que variam em 30% e 40%.

2.5. A embalagem longa vida

A embalagem Tetra Brik Asséptica ou longa vida como é mais conhecida

é uma das mais modernas para preservação de alimentos como leite e sucos de

frutas por muitos meses, mantendo bactérias e outros microorganismos longe dos

alimentos. Nenhum preservativo artificial é adicionado ao produto. Como o alimento

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é selado, na ausência de oxigênio, ele pode ser armazenado sem refrigeração,

economizando energia da geladeira e de caminhões frigoríficos. O peso da

embalagem é outro fator importante a ser considerado, pois para embalar um litro

de alimento, são necessários somente 28 gramas de material, economizando

recursos e gasto de combustível durante o transporte.

A embalagem tetra brik asséptica é composta de várias camadas de

material; papel, polietileno de baixa densidade e alumínio. Eles criam uma barreira

que impede a entrada de luz, ar, água e microorganismos. Ao mesmo tempo, não

permite que o aroma dos alimentos saia da embalagem. A proteção contra a luz é

muito importante, pois ela destrói importantes vitaminas presentes nos alimentos,

principalmente leite e sucos. O oxigênio presente no ar produz uma reação de

oxidação, causando redução na qualidade dos produtos. As embalagens são feitas

de papel duplex (75%), plástico (20%), e alumínio (5%).Além desses três materiais

há também tinta, usada na impressão dos rótulos. Esta tinta é atóxica, usando a

água como solvente e pigmentos orgânicos ao invés de metais para a coloração,

sendo adequada para a indústria alimentícia.

Após o envase, as embalagens ganham a forma de caixinhas, que

poderão ser facilmente dispostas lado a lado, colocadas em caixas maiores e

empilhadas. Assim, 1000 litros de produto ocuparão um volume apenas pouco

superior a este valor, facilitando o transporte entre a indústria alimentícia e os

pontos de distribuição.

No Brasil, o transporte de produtos é crítico, tanto do ponto de vista

econômico, quanto ambiental. Cerca de 63% do total transportado é levado por

caminhões, consumindo combustível e despejando dióxido de carbono (CO2 ) na

atmosfera. Os principais fatores para melhorar o transporte e reduzir seus impactos

ambientais são as diminuições de peso e volume de carga. Quanto maior o peso ou

volume não aproveitado no transporte, maior o consumo de combustível e a

emissão de fumaça. Dentro desse contexto, pode-se dizer que a redução do peso

das embalagens pode contribuir para amenizar os impactos ao meio ambiente.

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CAPÍTULO III

A INDÚSTRIA, O CONSUMIDOR E O PODER PÚBLICO

PRODUÇÃO, CONSUMO E GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS

SÓLIDOS

O lixo, que já é um dos grandes problemas mundiais, poderá tornar-se

um pesadelo se não forem tomadas medidas sérias para reduzir a quantidade

de materiais orgânicos e inorgânicos desperdiçados diariamente. O fato é que

as soluções existem; no entanto é necessário um esforço mútuo para colocá-

las em prática. O papel das prefeituras e comunidades é de extrema

importância para a implantação de um sistema para minimizar os impactos

causados pelo lixo, por outro lado, as empresas precisam estar cada vez mais

engajadas no processo de facilitar o destino final de seu produto mesmo após o

consumo. O papel da população também é essencial pois é o consumidor que

tem o poder de exigir uma destinação adequada e ambientalmente correta.

3.1. O lixo em toda a sua extensão

O homem colocando o lixo para o lixeiro, ou jogando-o em terrenos

baldios, resolve o seu problema individual não se dando conta que as áreas de

depósito de lixo das cidades estão cada vez mais escassas e que o lixo jogado

nos terrenos, encostas e rios só faz contribuir para o desenvolvimento e

transmissão de doenças e destruição de fontes necessárias a vida.

Para a preservação do meio ambiente o tratamento do lixo deve ser

considerado como uma questão de toda a sociedade e não um problema

individual. O artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988 estabelece que: “Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente

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equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo

para as presentes e futuras gerações“. O grande desafio da atualidade é promover

o desenvolvimento sustentável entendido como desenvolvimento capaz de

satisfazer as necessidades presentes sem comprometer as necessidades das

gerações futuras.

No Brasil muitos municípios estão começando a entender a necessidade

de estabelecer políticas para o destino do lixo doméstico, procurando implantação

de coletas seletivas e passando à prática de tratamento do lixo orgânico. Estas

práticas são muito importantes em um país que segundo o IBGE descarta 76% de

todo o lixo a céu aberto, 13% em aterros controlados, 10% em aterros sanitários e

apenas 1% passa por tratamento.

Lixo é todo e qualquer resíduo sólido resultante das atividades humanas.

A definição e a conceituação dos termos “lixo” e “resíduo” diferem conforme a

situação em que são aplicadas. Na linguagem corrente, o termo resíduo é tido

praticamente como sinônimo de lixo. Lixo é todo material inútil. Resíduo é palavra

adotada muitas vezes para significar sobra no processo produtivo, geralmente

industrial. É usada também como equivalente a “refugo” ou “rejeito”.

O lixo brasileiro, em média é composto de 65% de matéria orgânica,

que na maior parte são restos de alimentos, 30% são os chamados de

materiais recicláveis compostos por papel, embalagens cartonadas (longa

vida), vidros, plásticos e metais. Assim, apenas 5% da massa total dos

resíduos urbanos caracterizam-se como rejeitos, em geral materiais perigosos

ou contaminados, e poderiam ser de fato designados como lixo, por não serem

passíveis de reciclagem, reuso ou compostagem.

O lixo pode ser classificado como domiciliar, comercial, hospitalar,

industrial, público que resulta da varrição dos espaços públicos, e especial ,

resíduos volumosos, tóxicos e da construção civil. O lixo pode também ser

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classificado de acordo com sua composição química em orgânico, quando

resultante de restos de ser vivo animal ou vegetal e inorgânico quando

resultante de material sem vida. O lixo inorgânico é composto principalmente

por materiais de embalagens. O vidro, o metal e os plásticos correspondem a

10% do lixo inorgânico. O papel e o papelão, porque podem ser reciclados, são

considerados como inorgânicos e representam 25% do total deste tipo de lixo.

Grande parte das cidades brasileiras, 26% das capitais, 73% dos

municípios com mais de 50 mil habitantes e 70% dos municípios com menos

de 50 mil habitantes, lançam seu lixo diretamente sobre o solo sem tratamento,

nos chamados lixões, causando a poluição do ambiente e a proliferação de

animais que podem causar sérias doenças. Um numero bastante significativo

de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza hoje se alimentam e vivem

de recolher materiais encontrados nestes depósitos de lixo a céu aberto, sem

qualquer tipo de proteção, e expostos a diversos tipos de contaminação.

Entretanto, apesar de calamitosa do ponto de vista ambiental e sanitário e

degradante socialmente, a maioria da população não se aflige com a situação e

nem sequer toma conhecimento dos lixões que em geral se localizam distantes

dos centros urbanos.

Para solucionar este tipo de problema é necessário o gerenciamento

integrado do lixo urbano que envolve diversas formas de atuação, como a redução

da geração do lixo orgânico, aterros sanitários, compostagem, incineração e

reciclagem. Mas, estas ações seriam bastante minimizadas se houvesse um

compromisso das grandes indústrias pela chamada redução na fonte, isto é,

diminuir ao máximo a quantidade de lixo gerada no processo produtivo.

3.2. A participação da Indústria

A Procter & Gamble eliminou os papelões de seus antitranspirantes.

Este passo, que requereu alguns ajustes na embalagem primária, ajudaram a

eliminar 80 milhões de folhas de papelão por ano, reduzindo os custos de

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produção em 20%. Produtos concentrados, além de criarem menos lixo,

também ocupam um quarto do espaço nas prateleiras dos varejistas, sendo

mais baratos de transportar e armazenar. A Coca-Cola têm reduzido o peso de

suas embalagens no decorrer dos últimos anos, sobretudo para baratear o

custo. Importantes fabricantes de produtos de consumo vêm aumentando o uso

de teor reciclado em garrafas de plástico para seus produtos domésticos de

limpeza e lavanderia. Apenas como exemplo, as garrafas de detergente para

lava-louças da Colgate-Palmolive são feitas de 100% de PET reciclado pós-

uso, fato este estampado em negrito nos rótulos do produto. A pressão

legislativa americana exercida sobre os fabricantes para reduzir a quantidade

de lixo sólido de embalagens, fizeram as estratégias de reutilização e refil

desfrutarem de popularidade renovada. O aparelho Sensor da Gillette, com

15% do mercado norte-americano provou que os consumidores mudaram de

descartáveis para o sistema de refil. A inovação ajudou a Gillette a aumentar a

liderança em tecnologia de barbear.

Em 1990, a Volkswagem, sediada na Alemanha, antecipou-se a uma

lei que requeria que uma infra-estrutura para reciclagem de automóveis

estivesse em vigor por volta de 1994 e dessa forma se tornou o primeiro

fabricante de automóveis do mundo a estabelecer um programa-piloto para

reciclar sucatas de carro. Também na Alemanha, a BMW projetou um carro

para desmontagem e reciclagem.

3.3. O papel do consumidor

A redução do consumo é uma tarefa árdua, pois tudo em nossa

sociedade conspira para consumirmos o máximo possível. Mudanças de atitudes,

comportamentos, hábitos e valores de populações inteiras, tem grandes desafios à

sua frente. Multiplicam-se as formas que o consumo e o estilo de vida atual

encontram para colocar a população como um todo em posição passiva e, ao

mesmo tempo voraz por novidades ou formas cômodas de se movimentar para,

num círculo vicioso, encontrar no consumo sua forma de se realizar.

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Novas formas de atrair a população, principalmente a infantil, tem se

apresentado especialmente simpáticas, disfarçadas com brindes e presentes. O

que está em jogo é levar esta enorme população de pequenos a interessar-se pelo

consumo desde cedo, socializando-os para incluir este hábito como um de seus

mais importante rituais, o de colecionar. Desde os álbuns mais diversificados com

suas figurinhas até objetos de tipos diferentes. O que importa é a quantidade, o

completar. O colecionador em geral envolve objetos supérfluos, que acabam sendo

rapidamente jogados fora, pelo seu excesso e por não incluírem possibilidades de

uso mais ricas. Aprende-se a adquirir despreocupadamente reforçando o descaso

desde cedo com as conseqüências do consumo.

O reaproveitamento e redução de consumo estão entrelaçados.

Quando ocorre um, a outra entra como um complemento. O reaproveitamento,

para poder acontecer de uma forma inteira, pressupõe a visão das

possibilidades de transformação prazerosa. Roupas, alimentos, objetos velhos,

restos de materiais, se converterão em desafio para atos de criação. Vai-se

percorrendo o caminho exatamente oposto ao consumo, no qual o comprador é

passivo, ignorante dos meios e do processo. O reaproveitamento sofre um

grande preconceito, normalmente é associado à pobreza, a dificuldades

financeiras ou então à avareza. Especialmente nas classes mais abastadas isto

fica muito visível, havendo uma associação constante do novo com status e

preocupação com a imagem. Isto repercute nas classes populares, que se

miram nos valores da classe alta, não valorizando sua experiência de

reaproveitamento. Uma grande bagagem de sabedoria popular acaba sendo

omitida por vergonha. Uma outra faceta relacionada ao preconceito tem a ver

com certo constrangimento de oferecer um bem já usado. Isto fica claro nos

aniversários e nas datas festivas, em que a exigência do novo é absoluta.

A preocupação com a preservação ambiental vem recolocar o

reaproveitamento em sua verdadeira dimensão. O reaproveitamento pode se dar de

múltiplas formas: através do repasse ou da troca, vislumbrando novos usos e

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finalidades, transformando visualmente os objetos, estimulando artistas e artesãos a

reutilizarem materiais descartados. Tem a ver com uma mentalidade criativa e um

olhar que percebe a problemática do lixo e deseja colaborar.

3.4. A ação do Poder Público no gerenciamento de resíduos

sólidos

A gestão do lixo, que garante a não proliferação dos lixões, pressupõe um

bom serviço de limpeza urbana. A responsabilidade pela coleta e pela destinação

adequada do lixo é da prefeitura de cada município. A coleta de resíduos

domésticos é realizada pela própria prefeitura, ou por firmas especializadas

contratadas pela municipalidade. Para as firmas especializadas, normalmente

pagas por tonelada recolhida, não há grande interesse na coleta em áreas de difícil

acesso, que dificultam os serviços e prejudicam o equipamento.

O lixo passa por um processo de exclusão: ele é “posto para fora de

casa”, devendo cumprir ritos de passagem, respeitando regras próprias. Assim, não

pode ser deixado em qualquer lugar, deve ser acondicionado, em sacos e latas de

lixo, havendo horários estabelecidos para seu recolhimento.

Grande parte do lixo doméstico, cerca de 90% do total de 76% que é

coletado em todo o Brasil tem seu destino final desviado para vazadouros,

encostas, rios e alagados. Certamente se houvesse uma fiscalização eficiente o lixo

seria levado para os aterros sanitários, usinas de compostagem, incineração ou

reciclagem, locais adequados para o seu tratamento.

Os aterros sanitários são instalações de destino final do lixo e devem ser

criteriosamente localizados e bem projetados com fundamento em critérios de

engenharia e normas operacionais específicas, permitindo uma confinação segura

em termos de controle da poluição ambiental e proteção do meio ambiente . Em

qualquer sistema de gerenciamento de lixo, ambientalmente correto, mesmo se

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forem implantadas outras formas de tratamento como incineração e compostagem,

é indispensável a existência de um aterro sanitário. Isto porque a composição do

lixo sempre apresenta um percentual de rejeitos.

Nos aterros sanitários o lixo é colocado dentro de valas forradas com

lonas plásticas, compactado várias vezes por um trator e depois recoberto com uma

camada de 15 a 30 cm de terra, evitando que atraia moscas, ratos e urubus. Os

gases e o chorume resultantes da decomposição do lixo são coletados e tratados

para não causar mau cheiro e contaminação dos lençóis freáticos. Os aterros

sanitários, entretanto tem vida útil de curta duração e as cidades apresentam

escassez de áreas disponíveis para esse fim.

A compostagem é uma forma de tratar a matéria orgânica contida no lixo.

Por esse processo a matéria orgânica é decomposta e o produto resultante pode

ser misturado à terra deixando-a mais fofa e com maior capacidade de reter a água,

favorecendo o crescimento das plantas. O emprego da compostagem diminui o

volume do lixo contribuindo para aumentar a vida útil dos aterros sanitários. O custo

do transporte limita a comercialização do composto orgânico, portanto, a sua

produção não pode estar muito distante do consumidor.

A incineração ou queima de lixo é uma das formas adequadas para

tratar o lixo urbano, os resíduos perigosos como o lixo hospitalar, alimentos

estragados e remédios fora do prazo de validade. O vapor produzido pela

incineração gira uma turbina com o objetivo de gerar energia elétrica. A

incineração reduz também a quantidade do lixo nos aterros sanitários. A

incineração, na verdade é o processo de redução de peso e volume do lixo

através de combustão controlada. A redução de volume é geralmente de mais

de 90% e a de peso de cerca de 70%. Este processo, entretanto, exige o total

controle da emissão dos gases poluentes. São cada vez mais rigorosas as

normas estabelecidas para a construção e a operação de incineradores. Em

parte por esta razão; em parte em função das pressões da opinião pública e de

grupos ambientalistas; e em parte também por seus elevados custos, o número

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de incineradores vem diminuindo em alguns países como EUA, embora em

outros sua presença continue a ser considerada imprescindível como no Japão.

A reciclagem trata o lixo como matéria-prima a ser reaproveitada para

fazer novos produtos e traz vários benefícios para a população. Diminui a

quantidade de lixo enviada aos aterros sanitários, diminui a extração de recursos

naturais, diminui o consumo de energia, diminui a poluição, contribui para a limpeza

da cidade, conscientiza os cidadãos a respeito do destino do lixo e gera mais

empregos. Pela importância social e econômica merecerá aprofundamento em

capítulo especial.

É importante salientar que um programa de reciclagem é uma opção

eficiente de manipulação de resíduo sólido, quando os benefícios ambientais e

econômicos superam os custos ambientais e econômicos. Alguns processos de

reciclagem podem gerar mais poluição que o envio para o aterro sanitário ou

incineração do material. A reciclagem é uma das formas de resolver o problema do

lixo, entretanto não é a única. A redução na fonte, isto é, reduzir o peso da

embalagem para proteger determinado produto, ainda continua sendo a melhor

opção. A incineração com recuperação de energia também é viável em algumas

localidades. Por último, mas, não menos importante, o aterro sanitário controlado,

também deve ser considerado no gerenciamento integrado do resíduo sólido.

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CAPITULO IV

COLETA SELETIVA E RECICLAGEM, TRANSFORMANDO O

LIXO EM MATÉRIA-PRIMA

Há mais de cinqüenta anos existe no Brasil um personagem bastante

conhecido: o catador de papel e papelão que anda pelas ruas nos centros das

cidades, puxando seu carrinho e remexendo os sacos de lixo na calçada.

Eventualmente, encontramos catadores que passam de casa em casa

recolhendo colchões, móveis e outros utensílios abandonados pelos donos,

além de vidro e ferro-velho, vendidos em seguida aos sucateiros.

A catação é o processo de reaproveitamento do lixo mais antigo de

que se tem notícia no país. Devido a essa tradição, o Brasil ocupava no final da

década de 80 uma posição de destaque mundial na recuperação de papel e

papelão, à frente dos Estados Unidos e Canadá. Ainda hoje, o comércio de

sucata continua sendo um bom negócio, movimentando quantias consideráveis

de dinheiro e exercendo grande influência na economia nacional.

Nos últimos anos, porém, com o uso crescente de embalagens

descartáveis, uma série diversificada de produtos existentes no lixo, tais como

objetos plásticos e latas de alumínio, passou a ser aproveitada comercialmente

através da implantação de programas de reciclagem.

Reciclar significa transformar os restos descartados pelas residências,

fábricas, lojas e escritórios em matéria-prima para a fabricação de outros

produtos. Não importa se o papel está rasgado, a lata amassada, ou a garrafa

quebrada. Ao final, tudo vai ser dissolvido e preparado para compor novos

objetos.

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4.1. A importância da reciclagem

Todos os bens de consumo e alimentos que abastecem o homem

provêm de matéria-prima fornecida pela natureza. Da terra extraímos ouro,

prata, ferro, alumínio e demais minérios, essenciais na industrialização de latas

de embalagem, aparelhos eletrodomésticos, etc.. As árvores produzem vários

tipos de madeira empregados na fabricação de móveis, portas, revestimento de

pisos, servindo também para a confecção de papel e papelão. Todos os

objetos de plástico sintético são derivados de compostos provenientes de

petróleo. Nossa alimentação é obtida graças ao cultivo da lavoura e das áreas

de pastagem.

Dessa forma, existe um contínuo transporte de materiais do campo

para as áreas urbanas. Ao mesmo tempo que extraímos recursos da natureza,

estamos transferindo permanentemente esses produtos para as cidades, onde,

depois de usados, eles se acumulam na forma de lixo, poluindo o ambiente.

A reciclagem do lixo assume, pois, um papel fundamental na

preservação do meio ambiente. Além de diminuir a extração de recursos

naturais ela devolve para a terra uma parte de seus produtos e reduz o

acúmulo de resíduos nas áreas urbanas. Os benefícios obtidos nesse processo

são enormes para a sociedade, para a economia do país e para a natureza.

Para a sociedade, porque de um lado, poupa as fontes não

renováveis de energia e, de outro, reduz o impacto ambiental do descarte de

embalagens. Há ainda os aspectos da redução do custo do lixo e do aumento

da vida útil de locais de deposição do lixo. Para a indústria porque ela se

beneficia das vantagens econômicas representadas pela reutilização do

descartado. Para o País pelo que representa em economia de divisas, uma vez

que propicia redução nas importações de matéria-prima.

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4.2. O que pode ser reciclado

Nem tudo que vai para o lixo pode ser reaproveitado. Entre os

produtos não-reaproveitáveis, denominados rejeitos, encontramos desde

objetos pessoais, como guarda-chuva e caneta, até pilhas, lâmpadas, ou

sujeira recolhida do quintal ou embalagens cuja composição não permite sua

utilização como matéria-prima.

O lixo possui uma diversidade enorme de materiais, e os rejeitos

variam conforme a origem dos detritos, os hábitos da população, o período do

ano, entre outros aspectos. Resta ainda uma série de produtos que pode ser

recuperada, sendo os mais conhecidos o papel e o papelão, as latas, os vidros

e os plásticos. Contudo, para que o aproveitamento de qualquer tipo de resíduo

seja compensador, ele deve estar presente no lixo em concentração

considerável, ser de fácil separação e ter valor como matéria-prima. Em geral,

o mesmo produto pode ser reciclado repetidas vezes, desde que atenda a

essas exigências.

Dentro do universo dos resíduos domiciliares, as principais fontes de

recicláveis hoje são os lixões, presentes na maioria dos municípios brasileiros.

Nesses locais encontramos papel e papelão em abundância, latas de ferro e

alumínio, objetos plásticos e, em menor porcentagem, vidros.

As áreas comerciais, em que predominam lojas e escritórios,

fornecem continuamente papel e papelão. Por sua vez, as indústrias produzem

uma grande quantidade e variedade de resíduos, como sucatas metálicas,

borrachas, plásticos e madeiras, que podem ser usados como matéria-prima

por outras fábricas. Há também uma fonte considerável de detritos recicláveis

nos entulhos de construções, sobretudo areia, pedras e tijolos.

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4.3. Os Prós e os Contras da Reciclagem

É comum em discussões públicas e privadas, calorosas polêmicas

sobre a reciclagem do lixo. Alteram-se posições de cunho essencialmente

emocional com outras baseadas em análises racionais do tema.

Entre tais razões, são mencionadas a crescente poluição ambiental,

que atinge o solo, o ar, os rios e os mares; a escassez e os custos crescentes

da energia; os custos e o eventual esgotamento das matérias-primas; as

dificuldades e a magnitude dos investimentos requeridos para captação e

suprimento de água potável; a raridade e os custos de aterros sanitários e

incineradores, além dos incômodos acarretados à população; o interesse social

em se envolver a população em um esforço coletivo na salvaguarda dos

interesses ambientais.

Em outras situações, levantam-se vozes em oposição à prática da

reciclagem, ressaltando os altos custos com que as prefeituras devem arcar

para viabilizar a coleta seletiva do lixo, ação tida como essencial para que a

reciclagem se difunda e consolide. Argumenta-se também com a ausência de

mercado para os produtos recicláveis, cujo preço de venda não consegue, via

de regra, cobrir os custos de coleta, transporte e processamento evolvidos.

Alheios a esta polêmica, há muitos anos os setores industriais ligados

à produção de materiais recicláveis vêm promovendo a reciclagem do lixo e

conduzem programas voltados a sua expansão. Trata-se de ação que

consideram economicamente conveniente, queixando-se apenas do pouco

envolvimento, tanto das prefeituras quanto da população, em questão de tão

elevada importância.

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4.4. Coleta seletiva

A coleta seletiva, que consiste basicamente na separação dos

materiais que serão jogados no lixo, é a maior aliada dos programas de

reciclagem. O processo pode ser iniciado nas casas, bem como em escolas,

escritórios, lojas, restaurantes ou outro tipo de estabelecimento que queira

participar de uma campanha dessa natureza. Para tanto, as pessoas devem

ser bem orientadas, separando corretamente os materiais usados na

reciclagem, como papel e papelão, vidros, plásticos e latas.

Os materiais originados nos diversos pontos da cidade devem ser

encaminhados a uma usina de reciclagem, onde são separados, prensados e

amarrados em fardos para facilitar o transporte até as fábricas que aproveitam

as diferentes matérias-primas.

A primeira experiência organizada e documentada de coleta seletiva

de lixo foi implantada no bairro de São Francisco, cidade de Niterói, em 1985

através da cooperação entre a Universidade Federal Fluminense e o Centro

Comunitário de São Francisco. O objetivo era disseminar a idéia da

recuperação de materiais, aproveitando a tradição dos catadores e sucateiros,

e desenvolvendo atividades de baixo custo, adaptáveis as cidades brasileiras,

cultural e socialmente bastante diferenciadas.

Apesar do pequeno número de prefeituras que declaram ter

programas de coleta seletiva, menos de 100, os catadores de materiais

recicláveis estão presentes em 3800 municípios, de acordo com a pesquisa do

UNICEF de 2000. Atuando ao lado dos serviços municipais, esse exército de

trabalhadores informais, semi-analfabetos, miseráveis, desvia entre 10% e 20%

dos resíduos urbanos para um circuito econômico complexo, que passa por

intermediários e termina nas empresas de reciclagem de plástico, vidro, papel,

alumínio e ferro.

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Mesmo com todas as dificuldades, esses trabalhadores informais dos

lixões e das ruas das cidades são hoje os responsáveis por 90% do material

que alimenta as indústrias de reciclagem no Brasil, fazendo do país um dos

maiores recicladores de alumínio do mundo. Além de terem um importante

papel na economia, os catadores diminuem a quantidade de lixo a ser tratada

pelas municipalidades. Possuem muitos conhecimentos específicos e

habilidade para identificar, coletar, separar e vender os recicláveis. Garimpam

no lixo o nosso desperdício de recursos naturais que retornam ao processo

produtivo como matéria-prima secundária.

4.5. A importância da reciclagem das latas de alumínio

A lata de alumínio foi introduzida no país ao final da década de 80,

especificamente para atender as indústrias de cerveja e refrigerantes, substituindo

totalmente as embalagens feitas até então de folha-de-flandres. Apesar de ser mais

cara que a embalagem anterior, ela é mais leve e fina, permitindo que o líquido seja

refrigerado em menos tempo, além disso, como não possui emendas, a lata de

alumínio evita a formação de fungos.

Por ser mais leve que o aço e não enferrujar, o alumínio é também

empregado numa ampla variedade de produtos, desde eletrodomésticos, até carros

e aviões.

Esse metal é encontrado em abundância na crosta terrestre. Formando

um minério chamado bauxita, cuja purificação, na qual ele é obtido, exige um

consumo enorme de energia. Por isso, o uso comercial do alumínio era limitado e

só se tornou possível após o aparecimento das usinas hidrelétricas, a partir da

década de 20, quando a eletricidade ficou mais acessível.

A indústria de alumínio consome aproximadamente a décima parte da

energia elétrica gerada no país. A eletricidade gasta para fabricar uma única latinha

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descartável daria para manter uma televisão ligada durante três horas! O Brasil

produz todo mês cerca de 64 milhões de latas de alumínio. Imagine a quantidade

de energia que está sendo desperdiçada em centenas de embalagens jogadas nas

lixeiras. Cada tonelada de alumínio reciclado possibilita a economia de 5 toneladas

de bauxita, o que representa uma menor demanda energética, evitando a

construção de novas usinas para essa finalidade.

Reciclagem é um dos conceitos mais caros ao ambientalismo

contemporâneo, aquele marcado pela proteção e recuperação dos recursos

naturais, como forma de preservá-los para as gerações futuras. Esse conceito de

ambientalismo contrasta radicalmente com o estilo de vida adotado pela sociedade

industrial moderna, típica dos países do primeiro mundo e que tem sido copiada nos

últimos anos, pelos países em desenvolvimento como o Brasil.

A característica central dessa sociedade industrial é o desperdício, é o uso

indiscriminado dos recursos naturais, sem a preocupação com o seu futuro, se eles

estarão preservados para as novas gerações. A grande orientação da sociedade

industrial é o uso desenfreado de um recurso natural e o seu descarte imediato, tão

logo o uso é feito.

Com essa perspectiva, a reciclagem é um ato de pura cidadania, na

medida em que está implicada nele a preocupação com o futuro do planeta e de

todos os seus moradores. Afinal, a cidadania ocorre quando uma pessoa ou um

grupo de pessoas deixa a sua posição cômoda, de defender apenas os seus

interesses, para olhar pelo bem comum, pelo futuro de sua coletividade.

Reciclar, enfim, é dar valor à vida, e a todas as formas de vida, pelo que

elas representam em si mesmas. É ter consciência de que todos, seres humanos,

animais, vegetais, fazem parte de uma grande e bela comunidade, e de que é dever

de todos lutarem para que essa comunidade continue bela para a atual e para as

futuras gerações.

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CONCLUSÃO

Se planejamos para um ano, plantamos arroz

Se planejamos para 10 anos, plantamos árvores

Se planejamos para 100 anos, preparamos pessoas

(Provérbio chinês)

A palavra de ordem é eliminar o desperdício, controlando o

consumo, racionalizando o uso dos produtos industrializados, revendo nossos

hábitos, orientando e educando as novas gerações sobre a preservação

ambiental e a urgência na busca de soluções conjuntas para o problema do lixo

urbano e industrial. Os resíduos tem que ser vistos como algo que pode e deve

ser útil e não como uma constante ameaça a população.

Indiscutivelmente a educação ambiental é um dos instrumentos mais

importantes para promover as mudanças necessárias nos cidadãos. Ela poderá

garantir num processo contínuo a revisão de valores e comportamentos para a

transformação social, provocando o incômodo de passá-los de desconhecedores

dos problemas para espectadores; de espectadores para atores e produtores das

soluções; de desinteressados para comprometidos e co-responsáveis pelas ações;

de responsáveis pelos problemas para parceiros das soluções; de indiferentes para

apaixonados pelo tema. O processo educativo deve atingir toda a sociedade,

chamando a atenção para a necessidade da redução da geração de resíduos como

forma de economizar o planeta. Recursos naturais preciosos são rapidamente

transformados em materiais supérfluos que rapidamente vão para o lixo e passam

a poluir o solo, a água e o ar.

No mundo inteiro, a prioridade é minimizar o lixo a partir de três

princípios prioritários, os 3 Rs : reduzir o consumo de produtos e o desperdício

de materiais; reutilizar e reciclar os materiais. Nessa hierarquia consideramos

que reduzir ou evitar a geração do lixo nas fontes geradoras causa menos

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impacto do que reciclar os materiais após o seu descarte. Entretanto implantar

o primeiro R é um grande desafio, porque significa interferir na sensação de

liberdade e de felicidade das pessoas ou mesmo de poder pessoal que advém

com o direito de consumir quanto quiser. Antes de comprar o consumidor deve

pensar na sua responsabilidade como gerador de lixo e de desperdício e no

poder que pode exercer sobre a indústria no sentido de torná-la mais

socialmente responsável.

A reutilização deve ser um exercício permanente de criatividade. Deve

ser incentivada a reutilização de embalagens não contaminadas para uso em

conservas ou doces; papéis escritos só de um lado; envelopes, papéis para

embrulho de presente. Deve-se dar apoio a estabelecimentos que lidem com

bens usados como brechós e sebos e a instalação de oficinas de reparos para

recuperação, restauro ou recondicionamento de produtos, aumentando a vida

útil de roupas, sapatos, aparelhos e mobiliário.

O aspecto essencial da reciclagem é que ela implica em um novo

estilo de vida, em uma nova forma de ver as múltiplas formas de vida do

planeta Terra, que é a casa comum de todos. Os recursos naturais deixam de

ser vistos apenas como algo que deve estar à plena disposição dos seres

humanos, que podem usá-los ao seu bel prazer. Também está diretamente

ligada ao conceito de reciclagem uma nova postura em relação à vida, distante

do consumismo típico, de produtos e de pessoas, que tem infelizmente

caracterizado a nossa sociedade.

Para que a reciclagem se expanda mais rapidamente, será

fundamental a superação de alguns argumentos como por exemplo, que seu

alto custo inviabiliza a sua utilização em larga escala. De fato, em seus

primórdios, a reciclagem tinha custos mais altos do que as fórmulas tradicionais

de destinação de resíduos, mas o avanço tecnológico tem resultado na

redução significativa destes custos.

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O lixo é um material mal amado. Todos desejam dele descartar-se. O que

é pior, o lixo é inevitável. Não se consegue parar de produzi-lo, todos os dias. Além

disso, do processo produtivo resulta sempre a geração de resíduos, de duas formas

distintas: em um primeiro momento, como conseqüência do próprio ato de produzir;

posteriormente, após a cessação da vida útil dos produtos. Em decorrência, pode-

se dizer que praticamente toda a produção mundial de bens, realizada diariamente,

mais cedo ou mais tarde, irá transformar-se em lixo. Ao mesmo tempo que cresce

o volume de lixo produzido, resultante do aumento desvairado do consumo, são

cada vez mais caras, mais raras e mais distantes as alternativas tradicionais de

disposição do lixo em aterros. Também a incineração, cujos custos são muito

elevados, apresenta os percalços de suas desagradáveis e nocivas emissões. Só

resta buscar, por um lado, a minimização da geração de resíduos, e, por outro, a

reciclagem desses resíduos, já que sua produção é inevitável. Talvez assim o lixo

possa ser menos mal amado. Com a reciclagem, com seus ganhos ambientais,

com a economia de energia e de matérias-primas que proporciona, ficará mais claro

que amar o próprio lixo é uma questão de amor próprio.

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BIBLIOGRAFIA

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SITE

www.cempre.org.br

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ÍNDICE

DEDICATÓRIA .................................................................................................. 3 RESUMO ........................................................................................................... 4 METODOLOGIA ................................................................................................ 5 SUMÁRIO .......................................................................................................... 6 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7 CAPÍTULO I – O MARKETING COMO AGENTE DE CONSUMO ................. 12 1.1 - Enfoque inicial da função de marketing ................................................... 12 1.2 - Reflexões sobre a ação do marketing como alavanca de consumo ....... 14 1.3 - Marketing Verde ...................................................................................... 16 1.4 - Responsabilidade Social das empresas em uma economia globalizada ....... 19

CAPÍTULO II – EMBALAGENS ...................................................................... 21 2.1 - A era dos descartáveis ........................................................................... 21 2.2 - Função necessária da embalagem .......................................................... 22 2.3 - Gestão Ambiental ........................................................................................... 24 2.4 - O fenômeno das embalagens PET .......................................................... 25 2.5 - A Embalagem Longa Vida ....................................................................... 25

CAPÍTULO III – A INDÚSTRIA, O CONSUMIDOR E O PODER PÚBLICO; PRODUÇÃO, CONSUMO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ..... 27 3.1 - O lixo em toda a sua extensão ................................................................ 27 3.2 - A participação da indústria ...................................................................... 29 3.3 - O papel do consumidor ............................................................................ 30 3.4 - A ação do Poder Público no gerenciamento dos resíduos sólidos ................. 32

CAPÍTULO IV – COLETA SELETIVA E RECICLAGEM, TRANSFORMANDO O LIXO EM MATÉRIA-PRIMA ........................................................................ 35 4.1 - A importância da reciclagem .......................................................................... 36 4.2 - O que pode ser reciclado ......................................................................... 37 4.3 - Os prós e os contras da reciclagem ........................................................ 38 4.4 - Coleta seletiva ......................................................................................... 39 4.5 - A importância da reciclagem das latas de alumínio ................................ 40

CONCLUSÃO .................................................................................................. 42

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 45 FOLHA DE AVALIAÇÃO ................................................................................ 47

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Instituto de Pesquisas Sócio-Pedagógicas

Pós-Graduação “Latu Sensu”

Título da Monografia ____________________________________________

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Data da entrega: _________________________________________________

Avaliado por ______________________________________ Grau __________

Rio de Janeiro ____ de _____________________ de ________.

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Coordenador do Curso