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INDÍGENAS NA UNIVERSIDADE: Uma reflexão a partir do ingresso na universidade federal do Pará-ufpa Luani Lobo da Gloria 1 Luana dos Santos Barbosa 2 Maíra Fabiani Ferreira 3 Maria do Socorro Rayol Amoras Sanhes 4 Winnie Lo Rohoma da Costa Lima de Oliveira 5 RESUMO Objetiva discutir a política de ações afirmativas destinadas aos povos indígenas, particularmente, da política educacional de ingresso no ensino superior público por meio da política de cotas, na Universidade Federal do Pará-UFPA. Para tanto, analisa as diretrizes educacionais voltadas aos povos indígenas; apresenta os dados do ingresso de alunas/os pelas Cotas Indígenas na UFPA; toma o relato oral de uma discente indígena da UFPA, Putira Sacuena, para analisar a experiência de ser uma aluna indígena na Universidade. Os resultados sinalizaram que essa política é uma conquista da resistência indígena, mas o projeto de uma universidade pluriétnica apresenta inúmeros entraves. PALAVRAS-CHAVE: ações afirmativas. Indígenas. Educação. UFPA. ABSTRACT Objective to discuss affirmative action policy for indigenous peoples, in particularly, educational policy of entry into public higher education through the quota policy, at the University Federal of Pará-UFPA. Therefore, analyzes policy educational for indigenous peoples; presents the data of the admission of students Indigenous in the UFPA; takes the oral report of an indigenous student from UFPA, Putira Sacuena, to analyze the experience of being an indigenous student at the university. The results showed that this policy is an achievement ofindigenous resistance, but the design of a university multiethnic presents numerous obstacles. KEYWORDS: Affirmative actions. Indigenous people. Education. Ufpa 1 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal do Pará - UFPA, Bolsista do programa Conexões de Saberes-UFPA, [email protected]; 2 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal do Pará - UFPA, [email protected]; 3 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal do Pará - UFPA, [email protected]; 4 Doutora em Antropologia e professora do curso de Serviço Social e Pesquisadora do GEP INTERFACES, Universidade Federal do Pará- UFPA, [email protected]; 5 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal do Pará, [email protected].

Luani Lobo da Gloria Luana dos Santos Barbosa Maíra ... · diversidade étnica, recortada por territórios tradicionalmente ocupados, os quais ao longo de ... para o eixo educacional,

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INDÍGENAS NA UNIVERSIDADE: Uma reflexão a partir do ingresso na universidade federal do Pará-ufpa

Luani Lobo da Gloria1

Luana dos Santos Barbosa2 Maíra Fabiani Ferreira 3

Maria do Socorro Rayol Amoras Sanhes4 Winnie Lo Rohoma da Costa Lima de Oliveira5

RESUMO Objetiva discutir a política de ações afirmativas destinadas aos povos indígenas, particularmente, da política educacional de ingresso no ensino superior público por meio da política de cotas, na Universidade Federal do Pará-UFPA. Para tanto, analisa as diretrizes educacionais voltadas aos povos indígenas; apresenta os dados do ingresso de alunas/os pelas Cotas Indígenas na UFPA; toma o relato oral de uma discente indígena da UFPA, Putira Sacuena, para analisar a experiência de ser uma aluna indígena na Universidade. Os resultados sinalizaram que essa política é uma conquista da resistência indígena, mas o projeto de uma universidade pluriétnica apresenta inúmeros entraves. PALAVRAS-CHAVE: ações afirmativas. Indígenas. Educação. UFPA.

ABSTRACT Objective to discuss affirmative action policy for indigenous peoples, in particularly, educational policy of entry into public higher education through the quota policy, at the University Federal of Pará-UFPA. Therefore, analyzes policy educational for indigenous peoples; presents the data of the admission of students Indigenous in the UFPA; takes the oral report of an indigenous student from UFPA, Putira Sacuena, to analyze the experience of being an indigenous student at the university. The results showed that this policy is an achievement ofindigenous resistance, but the design of a university multiethnic presents numerous obstacles. KEYWORDS: Affirmative actions. Indigenous people. Education. Ufpa

1 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal do Pará - UFPA, Bolsista do programa

Conexões de Saberes-UFPA, [email protected]; 2 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal do Pará - UFPA, [email protected];

3 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal do Pará - UFPA, [email protected];

4 Doutora em Antropologia e professora do curso de Serviço Social e Pesquisadora do GEP –

INTERFACES, Universidade Federal do Pará- UFPA, [email protected]; 5 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal do Pará, [email protected].

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I. INTRODUÇÃO

Este trabalho é parte dos estudos propostos pelo programa Conexões de

Saberes: Dialogo entre a Universidade e comunidades populares (PCS) - UFPA, que visa

promover entre suas inúmeras vertentes de atuação a articulação de debate voltado para a

temática de Ações Afirmativas em especial da politica de cotas dentro das instituições de

ensino publico superior, e de reflexões realizadas pelo Grupo de Estudos e Pesquisas

Interfaces, do Curso de Serviço Social da UFPA, que tem como objetivo, a partir da

interlocução com a Antropologia, discutir questões referentes às temáticas de “gênero,

família e geração em contextos específicos da Amazônia”. Uma região marcada pela

diversidade étnica, recortada por territórios tradicionalmente ocupados, os quais ao longo de

séculos constroem estratégias de resistência para permanecer em seus lugares, acessar

direitos e preservar seus campos epistemológicos (AMORAS e PONTES, 2016).

Segundo Paixão (2010), o mundo ocidental que conhecemos foi talhado pelo

projeto colonial europeu, iniciado entre os séculos XV e XVI. Período que também dá início

a uma longa trajetória de exploração de povos das chamadas culturas primitivas, isto é, de

todos aqueles identificados como potenciais produtores de riquezas. Nasce, nesse contexto,

um sistema de dominação, onde a ciência aplicada é direcionada ao mundo prático da vida

e dos negócios, sob tecnologias de apropriação da cultura e da natureza.

A chamada população indígena que habita o território brasileiro tem um longo

processo de distanciamento forçado daquela população que habitava essas terras antes do

contato com o povo oriundo da outra margem do atlântico. Melhor dizendo, é um processo

longo de desenraizamento instalado pelas diversas formas de violências empregadas pelos

colonizadores contra esses povos e que se atualiza no tempo: genocídios, etnocídios,

escravidão, massacres, pauperização, deslocamentos forçados e outras. Contudo, esse

processo chega aos dias atuais enfrentando a resistência indígena, mesmo sob o número

diminuto desses povos: de um lado, o racismo, a sujeição e a exploração e, de outro, a

resistência indígena e seus enfrentamentos na luta pela afirmação do território étnico

tradicionalmente ocupado e pela garantia de direitos.

A população indígena do ano de 1500, que girava em torno de cinco milhões,

atualmente, reduziu-se a 896,9 mil indígenas (IBGE, 2010). Considerando, obviamente, os

séculos que se passaram, ademais dos inúmeros conflitos que decorreram da relação entre

os indígenas e os brancos, em qualquer discussão acerca das questões que dizem respeito

a esses povos não se pode deixar de evidenciar as mudanças culturais e socioculturais

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impostas, as quais impactaram e impactam em grande proporção no modo de vida e na

forma de organização social desses povos.

Desde o ano de 2010 a UFPA, por meio de ações afirmativas da política de

reserva de vagas, tem recebido indígenas de diversas etnias e na maioria jovens6.

Gonçalves (2010) postula que, as “iniciativas de inclusão ao ensino superior, dos grupos

sub-representados, tem sido a promoção da diversidade no espaço universitário”, ou seja,

nesses espaços constroem suas redes de solidariedades e de organização política para

enfrentar uma série de dificuldades e fazer negociações. É de suma importância salientar

que, a luta pelo direito à educação básica pública e diferenciada dos currículos escolares

nacionais e acesso ao ensino superior com equidade e qualidade, é resultado do

entendimento critico dos indígenas acerca das grandes perdas causadas pelos impactos

desse processo histórico de colonialismo onde, para “tal compreensão sobre a natureza não

é difícil entender o motivo pelo qual a universidade, neste mundo Ocidental, foi entendida

como um espaço tão impenetrável às raças inferiores”. (PAIXÃO, 2010, p. 6)

Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo fazer uma breve discussão

acerca das políticas de ações afirmativas destinadas aos povos indígenas, mais

particularmente, da política educacional de ingresso no ensino superior público por meio da

política de cotas, de acordo com a Lei nº 12.711/2012. Para tanto, está organizado da

seguinte forma: no primeiro tópico, destaca-se as diretrizes educacionais voltadas para os

povos indígenas; no segundo, discute os direito desses povos e seus desafios; no terceiro,

apresenta os dados do ingresso de alunas/os pelas Cotas Indígenas na Universidade

Federal do Pará (UFPA); no quarto e último tópico, toma o relato oral de uma discente

indígena da UFPA Eliene Rodrigues – Putira Sacuena, mestranda em Biomedicina, para

analisar a experiência de ser uma aluna indígena na universidade.

A intenção, portanto, é trazer para dentro da universidade a discussão entre

alunas/os indígenas e não indígenas, acerca do acesso ao ensino superior publico por meio

das políticas de cotas . Esse diálogo se faz importante e urgente para a garantia de um

acesso com qualidade a esses alunos e alunas, visando a construção de uma universidade

que garante a voz pluriétnica, tal como alunas e alunos indígenas têm reivindicado e

promovido espaços de debates. Para isso, realiza anualmente o fórun do Encontro nacional

de Estudantes Indígenas (ENEI7).

6 Estamos considerando parâmetros etários previstos pelo Estatuto da Juventude vigente que

considera jovem dos 15 aos 29 anos. 7 O Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas - ENEI é um espaço reservado de caráter anual que

visa reunir estudantes indígenas do ensino superior de todo o Brasil durante alguns dias de evento, proporcionando articulação de saberes, discussão e socialização de experiências de pesquisas no

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II. DIRETRIZES EDUCACIONAIS VOLTADAS A POVOS TRADICIONAIS

A Educação de qualidade é um direito de todo o cidadão, garantida desde a

formulação da constituição de 1988. Para Siss et al. (2010), o sistema educacional ocupa

uma posição histórica e fundamental em meio a articulação de uma cidadania plena em

meio aos diferentes segmentos populacionais de qualquer sociedade. Esta educação deve

ocorrer de maneira que possa vir a proporcionar um bom desempenho e desenvolvimento,

sob condições que possam vir a assegurar a liberdade de expressão, a dignidade humana e

levando em consideração a valorização e articulação da multiplicidade de saberes e de

culturas existentes neste vasto território nacional.

Para Gomes (2001), as ações afirmativas como politicas publicas visam

combater a discriminação racial e étnica, de gênero, de origem, bem como reparar

minimamente as discriminações praticadas outrora. Deve, assim, perscrutar a igualdade e

equidade a bens fundamentais. A atualização das Diretrizes Curriculares da Educação

Nacional é uma reivindicação dos grupos que acessam o ensino público por meio das

políticas de cotas, pois é imprescindível contemplar a multiplicidade dos chamados povos

tradicionais reconhecidos na atualidade, estejam eles habitando os espaços urbanos ou

rurais.

De acordo com Cajueiro (2008), as instituições de ensino superior públicas, com

base na autonomia das universidades, garantida pela Constituição de 1988, realizam

processos seletivos diferenciados (sistema de cotas, reserva ou suplementação de vagas)

para acesso de indígenas, . No Estado brasileiro, as diretrizes educacionais são instituídas e

amparadas pela Lei nº 9.394/96 (LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional),

que articula diversos órgãos federativos, tais como: a União, o Distrito Federal, os Estados

federais e Municípios, onde cada frente torna-se responsável por formular seu sistema de

ensino, porém, enquadrado nas diretrizes curriculares da política nacional de educação.

De acordo com os dados oferecidos pelo IBGE (2012); INEP (2011) e censo

escolar (2010), a população indígena está estimada em 896 mil indígenas que, trazendo

para o eixo educacional, chega a aproximadamente 246 mil indígenas frequentando

regularmente da educação básica infantil ao ensino médio. Algo que, sem dúvida, significa

uma enorme conquista histórica dos povos indígenas brasileiros.

III. DIREITO DOS INDÍGENAS À EDUCAÇÃO E OS SEUS DESAFIOS

ensino superior indígena, abordando os mais diversos saberes sejam eles locais, educacionais, saúde, gestão territorial, direito, entre outros assuntos.

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O acesso aos direitos deveria ser garantido pelo Estado a todos os cidadãos,

contudo, são restritos. Embora o Estado afirme que todos possuem direitos e que tais

direitos tornam mulheres e homens iguais, na prática, há uma clara ausência de direitos à

população mais pobre. O Estado e a lei asseguram a legalidade aos proprietários de bens e

serviços e excluem o direito das chamadas minorias, isto é, o Estado acaba por omitir e

camuflar a igualdade de direitos, como estudou Carnoy (2013, p. 20):

[...] nas analises do estado que se apoiam na visão pluralista a ideia de que o governo pretende servir aos interesses da maioria, mesmo que, na pratica, nem sempre o faça. O governo esta a serviço do povo, colocado lá por esse povo para

cumprir tal função. Assim, os povos indígenas vivem em seus territórios sob diversos conflitos, pois

desde a implantação do projeto colonial são perseguidos pelos grandes empreendimentos

de exploração das riquezas naturais onde esses povos habitam. Ao focar os direitos

indígenas no Brasil, percebe-se que o maior desafio na atualidade é garantir o direito ao

território, que implica a garantia de um campo epistemológico que mobiliza saberes,

religiosidades, crenças, tradições, valores e suas formas de fazer polítia. Por isso, a

educação escolar indígena precisa ser específica, diferenciada, intercultural,

bilíngue/multilíngue e comunitária, para que assim ocorra construam seus projetos de

étnodesenvolvimento. São, portanto, reivindicações dos movimentos de resistência indígena

que, nos últimos tempos, têm pressionado o governo federal a cumprir o que determina a

Constituição Federal-1988 e a implementar a legislação nacional que fundamenta a

Educação Escolar Indígena. O movimento de resistência tem se constituído numa

importante ferramenta de avaliação da política pública e social, como discute OFFE (1984,

p. 430

[...] A politica social pura e simplesmente não dispõe de um volume adequado de “alavancas” sociais, cuja manipulação pudesse assegurar o êxito da estratégia preventiva; por isso essa politica depende dos resultados de “estratégias conflituosas de avaliação” entre classes sociais e grupos, os quais decidem sobre o “êxito” da politica estatal.

Apesar de a população indígena ter assegurado o direito à educação pública,

não significa que o acesso seja sem entreves, pelo contrário, como por exemplo, alunos

indígenas que acessam a universidade por meio da política de cotas, não disponibilizam de

meios que garantam de maneira satisfatória a permanência nessa instituição de ensino. São

inevitáveis as evasões, pois os entreves não são apenas de ordem econômica, uma vez que

envolvem preconceitos, estigmas, discriminações, estereótipos, isto é, diversas formas de

exclusão desses discentes no interior das matrizes curriculares dos cursos, das

metodologias e didáticas de ensino e no relacionamento com alunos não indígenas e

professores.

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Com a Lei nº 12.711 sancionada em 29 de agosto de 2012, a Universidade Federal

do Pará (UFPA), passou a destinar duas vagas extras por curso para indígenas e quilombolas.

Essas reservas de vagas foram validadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), garantindo o

acesso às instituições de ensino público superior em todo o território nacional. Com isso, o

Tribunal decidiu que as políticas de Ações Afirmativas na universidade estão de acordo com a

constituição e são necessárias para corrigir o histórico de discriminação racial no Brasil, uma vez

que:

[...] a política social deve ter como meta a universalização. É a instrumentalização de direitos assegurados pelo estado a qualquer cidadão que venha sofrer os efeitos negativos daquelas contingências por elas contempladas. (ABRANCHES, 1987.p.15).

Todavia, faz-se necessário mais que apenas politicas de ações afirmativas

voltadas para o ingresso ou acesso ao ensino superior público, é necessário que haja a

articulação do chamado conhecimento acadêmico com os saberes dos povos tradicionais

indígenas e de seus mais diversos grupos étnicos, no sentido de se fortalecer a produção de

saberes dentro das instituições para se garantir uma maior plurietnicidade das

Universidades (GRÜMBERG, 2005).

IV. O ÍNDIO NA UNIVERSIDADE: Políticas de cotas na universidade federal do Pará.

FONTE: Centro De Registro e Indicadores Acadêmicos da UFPA (Ciac)

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O gráfico 1 mostra os dados quantitativos do número de discentes ingressantes

entre os anos de 2010 – 2015 na UFPA a partir de seus respectivos cursos e cidades de

ingresso, totalizando uma somatória de 118 ingressantes nessa instituição de ensino público

superior por meio da reserva de vagas. O gráfico 2 articula o conhecimento e maior

entendimento acerca dos cinco maiores cursos de ingresso pelos discentes indígenas, que

são: odontologia (campus Belém); Direito (campus Belém); Medicina (campus Belém);

Engenharia Florestal (campus Altamira); e Enfermagem (campus Belém).

Segundo a discente indígena Putira Sacuena, a demanda e escolha dos cursos

não depende exclusivamente da escolha pessoal, mas de um consenso retirado na

comunidade que, em geral, leva em consideração as demandas existentes na ladeia do

discente indígena, para que depois de formado possa ingressar em instituições

responsáveis pela garantia dos direitos e implementação de políticas aos indígenas e, desse

modo, oferecer maior suporte e apoio à sua comunidade. E por fim, o gráfico 3 mostra o

ingresso nesse período de tempo por município, destacando a cidade de Belém como o

maior município de procura por esses discentes, que caracteriza a somatória de 67

ingressos no campus Belém entre os anos de 2010 – 2015.

Apesar do aumento de vagas na universidade -, com alteração no Sistema de

Ações Afirmativas que se deu a partir do processo seletivo de 2016, ampliando a reserva de

vagas para candidatos autodeclarados pretos, quilombolas e indígenas, onde a política de cotas

obteve um salto de 40% para 78% do número de vagas destinadas - a realidade dos alunos

indígenas é totalmente diferente, pois , como já mencionado anteriormente, enfrentam

várias dificuldades durante sua permanência na instituição. Dificuldades essas, que são o

principal motivo que os levam a desistir do curso ao qual ingressaram, tais como as

financeiras que implicam despesas com o deslocamento de sua comunidade para os

centros urbanos; acompanhamento dentro das salas de aula por conta do ensino ser

diferenciado do ensino recebido na educação básica ; preconceito velado de alunos não

indígenas, professores e demais funcionários da Universidade; abandono por parte de

órgãos responsáveis pela assistência estudantil e permanência com qualidade, entre outros

fatores existentes.

São dificuldades, contudo, que têm sido tomadas por esses alunos como

bandeiras de lutas. É importante destacar que “A politica social intervém no hiato derivado

dos desiquilíbrios na distribuição [...], assim como na promoção da igualdade”

(ABRANCHES, 1987), e que o indígena ao chegar à universidade, de maneira geral, emerge

e atua nos movimentos, na organização e na afirmação étnica, na luta pelo seu

reconhecimento social, político e cultural, pelos seus direitos básicos de viver na terra e ter

respeitado suas territorialidades, por saúde, por educação de qualidade, etc. Os indígenas

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que continuam na universidade e acreditam que a mesma é uma aliada de suma

importância para sua afirmação étnica, de construir ou reforçar a identidade coletiva dos

povos indígenas e obter conhecimentos necessários para intervir nos inúmeros problemas

sociais que são vítimas.

V. ÍNDIGENA NA UNIVERSIDADE, POR PUTIRA SACUENA.

Como vimos o acesso dos indígenas à universidade não ocorre sem

dificuldades. São problemáticas históricas de racismo e exclusão que acompanham a

população indígena ao longo de séculos de afirmação do projeto colonial, porém, a

universidade que, em tese, é um lugar de questionamento e reflexão sobre tais

problemáticas, pela ação de seus agentes, contribui para que o acesso com qualidade da

população indígena ao ensino superior público seja prejudicado, como nos relatou Putira

Sacuena da etnia Baré, do povo Baré do estado do Amazonas, discente do curso de

mestrado em Biomedicina, acerca da vivência indígena na universidade. A princípio

perguntamos como ela avaliava o processo seletivo diferenciado às comunidades indígenas

(informação verbal)8:

[...] Bom, eu avalio tudo isso assim, como uma política afirmativa muito boa, e que ela precisa de um reajuste, onde a Universidade Federal do Pará precisa tá se comunicando é com os alunos indígenas com a base indígena que são nossas aldeias, para que tudo possa de uma certa forma trazendo mais melhoria pras nossas comunidades. (Entrevista 1).

Muito presente em sua fala é falta de comunicação entre a Universidade e os

alunos indígenas para aprimoramento de sua adaptação e desta feita assegurar sua

permanência na Instituição com qualidade ate o fim de sua graduação. Entendendo isso

como uma denúncia, perguntamos em seguida quais as dificuldades encontradas ao

adentrar na instituição e como ela avaliava a rotina fora da sua comunidade:

As dificuldades encontradas na instituição são inúmeras. Uma delas a gente sabe que é o acompanhamento pedagógico, né, a gente sabe que o nosso ensino é totalmente precário ainda [...] A rotina é totalmente diferente, nós não somos acostumados geralmente de tá pegando muito ônibus, de ter uma rotina de um lado pro outro [...] geralmente a gente vem de comunidades muito calmas, muito paradas, né, você não tem essa agitação toda, professores dando aula e no outro dia já querem trabalho, então é muita coisa e você tem de se acostumar com isso porque esse é o caminho que a gente tem que realmente tomar pra poder se formar. (Entrevista 1).

Neste relato é possível perceber a confirmação de uma das dificuldades

enfrentadas por essas/es alunas/os, como já mencionado anteriormente, sobre a questão da

8 Entrevista concedida por SACUENA, Putira. Entrevista I. [jan.2016]. Entrevistador: Luani Lobo da

Glória. Belém, 2016. 1 arquivo .mp3 (32 min). A entrevista na integra encontra-se transcrita em acervo pessoal do entrevistador.

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falta de acompanhamento pedagógico, “professores dando aula e no outro dia já querem

trabalho”, fato que dificulta o aprendizado destes, por conta do próprio de uma não

familiaridade com a metodologia e conteúdos de ensino, o que acaba por ocasionar, muitas

vezes, a reprovação e evasão. Sobre isso perguntamos a ela se existia na universidade,

algum programa ou ação voltada para a permanência dos discentes indígenas:

A universidade na verdade ela abriu as portas para uma população diferenciada, mas, realmente a gente consegue observar que ela não foi preparada para que essa diferença entrasse nela e pudesse permanecer. Então a gente tem várias situações né voltadas pra essa questão da permanência, não só a questão da bolsa, mais a questão desse aluno acompanhar tudo, então pra isso, né, já a discussão de há muito tempo, desde 2011 quando a associação de estudantes indígenas foi formada, a gente vem lutando para que acontecesse um nivelamento, pra que acontecesse um acompanhamento pedagógico pra esse aluno, então somente esse ano a gente conseguiu ver né, que o núcleo de inclusão social o NIS, teve essa preocupação e agora a gente pode dizer que começa a ver uma luz no fim do túnel, que tá começando a funcionar. [...].(Entrevista 1).

Compreendemos que os estudantes indígenas estão cientes dos seus direitos e

buscam a garantia dos mesmos, no entanto, sabemos que não são apenas os problemas

pedagógicos seus maiores desafios, mais complexo que isto é o fato de ainda terem que

lidar com o preconceito. Sobre esta temática, perguntamos a Putira Sacuena sua opinião

sobre o preconceito sofrido por conta de todo o estereótipo criado acerca da cultura

indígena:

A questão do preconceito, a gente sabe que é uma questão bem complicada [...]. Primeira coisa, a sociedade toda criou um estereotipo pra nós em que a gente tinha de ficar nas nossas comunidades reservados [...] e de repente vê um indígena na universidade, vê um indígena buscando tudo isso, então a sociedade não foi preparada para presenciar tudo isso. [...] então você percebe também que o número de evasão ultimamente e também pelo preconceito quando o indígena chega pintado na sala de aula, aí os colegas parece que tem medo de se sujar com ele, não chamam para fazer o trabalho porque acham que ele não tem capacidade, então você tem várias situações, você tem o preconceito institucional. Então, você sabe que tem professores que acham que você não deveria tá ali, professores que não tem essa sensibilidade do diferente,[...] mas, eu acho muito importante da gente não desistir, continuar, porque a sociedade, precisa entender quer nós estamos numa universidade, nós temos capacidade e que este preconceito formado, ele pode ser eliminado, eu acredito muito nisso. (Entrevista 1).

Os relatos de Putira confirmam a realidade já denunciada pelo movimento dos

alunos indígenas das universidades federais, como mostra o relatório do IV ENEI, onde as

falas transcritas, seja dos palestrantes ou dos ouvintes, evidenciaram a importância e

necessidade de afirmação étnica e cultural desses discentes indígenas dentro da

universidade pública. Compreendem que somente pela organização política haverá o

fortalecimento do combate de todas as possíveis e existentes formas de violências sofridas

por esses povos dentro da academia e da sociedade em geral.

É imprescindível salientar a importância da política de cotas à população

indígena como possibilidade de acesso às mais diversas áreas do conhecimento.

Mas, que precisa garantir a interlocução e a articulação de saberes entre

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conhecimento indígenas e não indígenas na produção do conhecimento

cientif ico. Quanto à oferta de condições de permanência, as ações pedagógicas precisam

dialogar com processos de ensino mais democráticos e compartilhados. Sobre o

enfrentamento do preconceito, são questões de cunho estrutural que reproduzem as

infelizes representações que se têm dos povos indígenas. Com isso, consideramos que a

universidade deve priorizar ações de desconstrução de preconceitos e eliminação de

qualquer tipo de exclusão. E, acima de tudo, assumir um compromisso ético e político por

meio de estratégias de eliminação da evasão das/os alunas/os indígenas.

VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A política pública de educação tem um papel fundamental para diminuir a

distância e o preconceito entre discente indígena e não indígena, como garantia dos direitos

sociais. Segundo a constituição de 1988, os indígenas passaram a ter seus direitos

protegidos por leis, onde devem ter garantia sobre sua terra, sobre saúde, educação

diferenciada intercultural bilíngue/multilíngue e comunitária, direito de ingresso às

instituições públicas de ensino superior, entre outros.

A Universidade Federal do Pará desde 2010, como mostrou este trabalho, já

garante o direito ao indígena de acesso ao ensino superior, mesmo que as reservas de vagas

oferecidas ainda não sejam suficientes e que a evasão seja recorrente, com isso, há de se

identificar os erros, buscando mudanças amplas, consistentes e que integrem diversas ações,

pois, fica claro, segundo os pontos que foram abordados, que devemos levantar questões

não só sobre as condições de manutenção desses estudantes, como também sobre a

perspectiva de democratização, abordada na universidade para que haja de fato um

ambiente acadêmico pluriétnico.

Não basta, no caso indígena, criar cotas e esperar que os estudantes façam por

si todo o trabalho que um sistema de ensino inteiro precisaria se articular para garantir

direitos. É importante levar em consideração todo o período de permanência dos alunos

indígenas dentro das instituições de ensino, para que possam ter uma experiência mais

acolhedora, respeitosa e plural. Para isso, evidencia-se a necessidade de sempre dialogar

com eles, incorporando recursos que os ajudem a ter uma formação digna, equidista e

proveitosa.

Para que as cotas aos povos indígenas sejam de fato uma conquista e não uma

ilusão, é necessário que haja a participação da política de assistência, de saúde, de

habitação, de trabalho, entre outras. Acreditamos nessas ações como fundamentais para

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que o acesso de estudantes possa ser visto enquanto garantia de direitos a povos que

sempre estiveram à margem, tanto da universidade, quanto do Estado brasileiro.

Há um longo caminho pela frente a percorrer pelos povos indígenas, ainda muito

deve se fazer, pois seus direitos são frequentemente violados, seus costumes dizimados em

prol da dita “modernização”. Garantir direitos a esses povos significa reconhecer e considerar as

escolhas e o modo como desejam permanecer em seus lugares, para que, de algum modo

possível, amenizem-se os danos outrora causados pela destruição de seus territórios.

VII. REFERÊNCIAS

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