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Lucy não gosta de regras

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Lucy acha a vida chata, cheia de nãos. E você? Descubra o que vocês têm em comum.

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Copyright © 2008 por Nancy N. RuePublicado originalmente por Zondervan, Grand Rapids, Michigan, EUA

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da Nova Versão Internacional (NVI), da Sociedade Bíblica Internacional, salvo indicação específica.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/02/1998.

É expressamente proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem prévia autorização, por escrito, da editora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Rue, Nancy

Lucy não gosta de regras / Nancy Rue; traduzido por Elis Voichicoski — São Paulo: Mundo Cristão, 2011. (Série Lucy)

Título original: Lucy Out Of Bounds.

1. Ficção — Literatura infantojuvenil I. Título II. Série.

11–04837 CDD — 028.5

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura infantojuvenil 028.52. Ficção: Literatura juvenil 028.5Categoria: Ficção

Publicado no Brasil com todos os direitos reservados por:Editora Mundo CristãoRua Antônio Carlos Tacconi, 79, São Paulo, SP, Brasil, CEP 04810-020Telefone: (11) 2127-4147Home page: www.mundocristao.com.brblog: garotasdefe.com.br

1a edição: setembro de 2011

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Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é

transitório, mas o que não se vê é eterno.2Coríntios 4:18

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sumário

umdoistrês

quatrocincoseisseteoitonovedez

onzedozetreze

catorzequinze

dezesseisdezessete

dezoito

91633497186

100118133145157171185195207221239246

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um

Por que o TJ é o meu melhor amigo, apesar de ele ser um garoto e de quase todos os garotos serem uns malas sem alça:

Lucy enfiou a caneta no elástico que prendia o rabo de ca-valo e olhou para Marmelada, seu gato cor de laranja, todo enrolado na cadeira de balanço. Ele piscou, como se tivesse escutado o que ela havia escrito e estivesse profundamente ofendido.

— Não tô falando de você, seu bobo — ela disse. — Você é um “Garoto Felino”. É diferente de um “Garoto Humano”. Se é que a gente pode chamar a maioria dos garotos de humanos.

Tirando a caneta do emaranhado de cabelos loiros (e se perguntando como tinha enroscado só de ficar ali sete segun-dos), Lucy voltou à lista sobre TJ.

• Elemoradooutroladodarua.Agentepodesinalizarumpro outro se um de nós está de castigo. Normalmente é ele. Mas hoje sou eu.

• Elenãoachabobagemandardebicicleta.• Elegostadefuteboldomesmojeitoqueeu,enãoligaseeusou

melhor do que ele. Nós dois queremos ser jogadores profissionais.

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Marmelada bocejou alto e lambeu os beiços.— Tá bom, tá bom, já tô chegando à parte mais importante.• Elenãoficapassandoamãonasminhascostaspraverseeu

tô usando sutiã e tirar um barato — como ALGUNS garotos fazem.Eca!

Lucy franziu a testa. Da última vez que tia Karen veio de El Paso, ficou falando que era hora de Lucy comprar um sutiã. Será que com onze anos Mami usava sutiã? Provavelmente esse não era o tipo de pergunta que Lucy poderia fazer ao Papi sem morrer de vergonha. Apertou a caneta e voltou a escrever.

• QuandotôchutandopedraseoTJmeperguntaoqueacon-teceu,seeurespondoquenãoquerofalar,elediz“tábom”eaía gente vai chutar bola.

• Elenuncameolhacomoseeufosseumaalienígena,comoou-traspessoasfazem.TipoaMora,quandoeudigoquenuncavou usar sutiã. Nunca.

• QuandomemetoemalgumaencrencaporcausadoTJeoPapi quer saber o que aconteceu, o TJ assume toda a culpa. Excetoessaúltimavez.Maséporqueeunãodeixei.OTJiaseencrencarmuitomaisqueeu.Então,euassumiaculpae,por causa disso, tô de castigo o dia inteiro.

Lucy largou a caneta e sacudiu a mão, deixando os dedos baterem uns contra os outros. Tinha escrito um monte. Inéz, sua nanny nos dias de semana, sempre dizia que as listas de Lucy eram seu jeito de orar. Portanto, mesmo correndo o risco de ficar com dor na mão pelo resto da vida, ela se sentia melhor quando escrevia.

Estava na cara que as listas também deixavam Marmelada mais feliz. No momento, tinha se enrolado em uma bola e pa-recia uma tangerina. Suas formas rechonchudas aumentavam e diminuíam com a respiração tranquila. Também dava para ou-

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vir roncos vindos de dentro do baú meio aberto onde Lollipop, a gatinha redonda e preta, tirava uma soneca.

Devia ser um tédio total ser gato. Sempre que se sentiam contentes, resolviam lamber as patas peludas e cochilar. Só de pensar nisso, Lucy teve vontade de quicar porta afora e ir jogar bola, ou andar de bicicleta no deserto com TJ, ou, na falta de coisa melhor, ir ver que barulheira era aquela que Papi estava fazendo na cozinha.

Quando se está de castigo, porém, não se pode fazer nada disso. Pelo menos, o vento forte típico do mês de março havia parado de soprar contra a casa, e as longas sombras criavam listras nas paredes azuis do quarto de Lucy. Isso significava que o dia de castigo estava quase acabando e amanhã ela poderia começar do zero.

Com todo cuidado, Lucy colocou o Caderno de Listas no travesseiro e ajoelhou na cama, apoiando o queixo no parapeito da janela para ver o que estava acontecendo na rua San Martín. Era um daqueles sábados sonolentos, exceto pelo som distante de marretas na rua Tularosa, onde alguns operários trabalha-vam para transformar um hotel velho, caindo aos pedaços, em um restaurante.

Os algodoeiros que ladeavam sua rua soltavam pequenas nuvens de fibras brancas. Entre essas nuvens e as folhas no-vas da primavera, Lucy não conseguia enxergar a casa de TJ tão bem quanto no inverno. Não dava para ver se ele estava mandando sinais com a lanterna que usava para fazer sombras no lençol que cobria a janela do segundo andar. Quando ele fazia um coelho, queria dizer “Vou dar um pulo aí”. Chifrinhos indicavam que Januária, a irmã mais nova de TJ, estava esgo-tando a paciência dele.

A barulheira de Papi na cozinha parou de repente demais. Marmelada se esticou feito uma mola e ficou em pé no assento

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da cadeira de balanço, com todos os pelinhos laranjas eriçados. Marmelada só se movia com essa agilidade quando era hora de comer.

Lucy saiu da cama, foi até a porta e gritou “Papi?”, no mes-mo instante que o pai disse “Lucy?”

Ela correu pelo corredor largo, sem se dar o trabalho de des-lizar no tapete indígena, como sempre fazia. Quase trombou com Papi na porta da cozinha. As mãos dele estavam estendi-das, indicando para ela se acalmar. Mas ele próprio parecia tão tranquilo quanto um gato a caminho do veterinário. O rosto de nariz triangular e queixo quadrado estava pálido e receoso. Lucy sentiu a boca secar.

— O que foi, Papi?— Não sei. Preciso que você olhe.Ele inclinou a cabeça em direção à porta dos fundos.— Não gostei nada de um som que ouvi no quintal. Não

quero que você saia.— Por quê?— Acho que é algum tipo de gato selvagem.— No nosso quintal?Papi esfregou a palma da mão no braço de Lucy.— Devo estar exagerando. Mas é melhor verificar.Lucy foi em direção à porta.— Pela janela, Lucy — Papi disse.Lucy arrastou uma cadeira para perto da pia e subiu no

assento. Fazia quatro anos que Papi havia perdido a visão e, até hoje, ela não conseguia entender como ele sempre sabia exa-tamente o que ela estava fazendo, ou ia fazer. TJ também não entendia. Pensava que Lucy podia aprontar um monte sem que Papi percebesse, mas estava enganado.

Inclinando-se sobre a pia, Lucy afastou a flor-de-maio para poder se apoiar no parapeito da janela. Àquela hora, o quintal

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parecia mais um quebra-cabeça de sombras e, a princípio, ela não viu nada de estranho, exceto...

— Xiii...— Que foi, Lucy?— Parece que a Artemis atacou o lixo de novo. Rasgou o

saco com aquela comida tailandesa horrível que a tia Karen trouxe. Espalhou tudo — Lucy começou a descer da cadeira. — Vou lá recolher.

— Continue olhando — Papi disse. — Fechei as latas de lixo com a corda elástica. A Artemis não ia conseguir abrir.

Lucy não lembrou Papi que, em se tratando de lixo nojento, Artemis, a gata caçadora, era praticamente uma versão felina do Exterminador do Futuro. Colocou um joelho na pia e olhou entre as cortinas de xadrez vermelho outra vez.

— A corda ainda está no lugar — informou. — Artemis deve ter aberto um buraco na lixeira.

— Artemis não.— Tem um buracão lá.— Dá para ver marcas de garras?Lucy encostou a testa na janela e sentiu um calafrio percor-

rer a coluna. Perto de onde o plástico cinza havia sido rasgado, ela percebeu marcas grossas que cortavam a lata de lixo, como se alguém tivesse arranhado com um prego gigante.

— Sim. E não são da Artemis. Nem do Marmelada. Nem da Lollipop. Nem do Carranca...

— Que bom que só temos quatro gatos — Papi disse —, senão, ia levar dias para terminar a lista — Papi havia recu-perado seu jeito seco e calmo de falar. — Continue olhando enquanto eu telefono para o delegado Navarra.

Lucy colocou o outro joelho na pia e se ajeitou. Ainda bem que tinha lavado e secado toda a louça na tentativa frustrada de se livrar do castigo, mesmo sabendo que Papi nunca se deixava enrolar.

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Daquela posição, Lucy podia observar todo o quintal, que ia desde o enorme sabugueiro mexicano até a cerca que en-volvia a casa como uma fileira de dentes cinzas. O guarda-sol ainda estava fechado em cima da mesa do pátio, as cadeiras apoiadas na parede da casa, esperando o tempo esquentar o suficiente para Papi usá-las. O portão lateral meio torto mal aparecia sob uma cortina de trepadeiras quase em flor, o mes-mo tipo de trepadeira que cobria a edícula e começava a subir pela árvore morta perto da cerca, nos fundos da casa.

— Não sei o que era, mas não tá mais aqui — Lucy disse.Papi apertou uma tecla do celular e guardou-o no bolso.

Duas linhas profundas se formaram entre suas sobrancelhas.— Isso não é nada bom.— Por quê?— O delegado está vindo para cá. Vai pensar que foi in-

venção nossa. Melhor você fazer como os gatos e procurar por movimento. No alto, não no chão.

Lucy voltou o olhar para o alto da cerca, o telhado da edí-cula e o arco acima do portão. Nenhum movimento. Quando olhou para a árvore morta, porém, viu uma sombra passar.

— Que foi? — Papi perguntou.— Acho que vi alguma coisa e...— Shhh!Lucy ficou imóvel enquanto Papi virava a cabeça e escutava.

Dizem que, na verdade, os cegos não têm uma audição melhor do que outras pessoas, mas Papi era capaz de ouvir uma teia de aranha balançando no canto da parede.

— É a Artemis? — ele perguntou.Mais uma vez, Lucy procurou no alto da cerca, onde Artemis

Hamm normalmente se equilibrava quando caçava um ca-mundongo ou uma codorniz que estivesse apenas tentando manter os filhotes junto dela. Nem sinal de Artemis.

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Só então Lucy escutou o que Papi provavelmente havia es-cutado: o rosnado baixo que a gata caçadora soltava quando outro gato tentava roubar a presa que ela havia tido todo o trabalho de caçar.

— Debaixo da árvore morta... — Papi colocou as duas mãos nos ombros de Lucy. — É a Artemis?

Lucy viu a pelagem malhada. Dava a impressão de que Deus não tinha conseguido se decidir que tipo de gato queria que Artemis fosse. Ela estava debaixo da árvore morta, olhan-do para cima, como se a árvore tivesse criado vida.

E tinha mesmo. Lucy engasgou quando viu uma pata e de-pois outra, cada uma do tamanho da cabeça de Artemis, des-cendo pelo tronco da árvore, tapando os buracos de pica-pau, até que orelhas pontudas, peludas e maléficas apareceram.

— É um lince! — ela gritou. — Papi, ele tá indo pra cima da Artemis!

Papi soltou os ombros de Lucy, e ela desceu da pia em dois tempos, mas não antes que ele levantasse a mão.

— Você fica dentro de casa. Sem discussão.— Ele vai pegar a Artemis!— Vai pegar você também. Vou ligar para o delegado

Navarra de novo e...O resto da frase se perdeu no meio de um grito tão horrível

que até Papi pareceu virar uma estátua. Lucy subiu na pia outra vez e grudou o rosto contra o vidro. O lince já estava quase no chão, mas, felizmente, não carregava na boca o corpo desfale-cido de Artemis.

Fora o lince, o único ser vivo em cena, com uma pá na mão e uma expressão de terror absoluto no rosto, era TJ.

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