17

Click here to load reader

Luiz Felipe Miguel Segurança e desenvolvimento Peculiaridades da ideologia de sg nacional no Brasil.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • Dilogos Latinoamericanos

    Segurana e desenvolvimento:peculiaridades da ideologia da segurana nacional no

    Brasil

    Luis Felipe Miguel*

    A segurana nacional foi o mantra comum das ditaduras militaresque, entre as dcadas de 1960 e 1980, proliferaram pela Amrica Latina. Aexpresso remetia a uma mesma doutrina, gerada nos Estados Unidos eadotada pelas foras armadas do subcontinente: a necessidade de privilegiaro combate ao chamado inimigo interno, isto , aos pretensos agentesinfiltrados do comunismo internacional. Via de regra, isto se traduzia narepresso aos movimentos populares, cujas reivindicaes ameaavam apaz social e, portanto, possuam carter subversivo.

    Este quadro foi comum aos diversos regimes militares latino-americanos; mas, por outro lado, ocorreram diferenas significativas naaplicao dos preceitos da segurana nacional. Na Argentina, aps o golpede 1976, os militares promoveram a desindustrializao do pas,entendendo-a como medida necessria para a desativao do movimentooperrio. No Chile governado pelo general Augusto Pinochet, adotou-seuma poltica econmica de extremado liberalismo, inspirada nas idias deMilton Friedman. Um caso excepcional ocorreu no Peru, em que aideologia da segurana nacional foi reinterpretada de forma antiimperialistae socializante aps o golpe de 19681.

    O presente artigo focaliza o caso brasileiro. No existem dvidassobre a importncia da doutrina de segurana nacional para as forasarmadas do Brasil. Ela foi um elemento significativo na constituio daidentidade militar2 e tornou-se pensamento oficial de Estado durante aditadura iniciada em 1964. A Escola Superior de Guerra (ESG), desde adcada de 1950 o principal centro militar de estudos do Pas, foi aresponsvel pela difuso da ideologia. Mas, ao mesmo tempo, deu-lhefeies prprias, combinando-a com elementos da tradio do pensamentopoltico brasileiro em especial o desenvolvimentismo autoritrio deOliveira Vianna e Alberto Torres e com o estudo da geopoltica. Oresultado foi uma doutrina que inclua a busca de um aceleradodesenvolvimento econmico como momento essencial da promoo da

  • 41

    segurana nacional. Assim, os militares brasileiros no poder consideraramparte de sua misso, tanto quanto reprimir os grupos esquerda no espectropoltico, estimular a industrializao para substituio de importaes edesenvolver a infra-estrutura produtiva, em especial estradas etelecomunicaes.

    O desenvolvimentismo e o culto da geopoltica so caractersticasnacionais, que deram a face distintiva da ideologia da segurana nacionalbrasileira. A represso aos grupos subversivos estava, assim, inseridanuma viso do destino do pas, que os militares julgavam fadado a se tornaruma grande potncia, tanto blica quanto econmica.

    A Escola Superior de GuerraA ESG foi criada logo aps o trmino da Segunda Guerra Mundial.

    Seus fundadores foram, em sua maioria, oficiais que haviam participado daFora Expedicionria Brasileira (FEB) e lutado na Itlia contra o Eixo, sobo comando dos Estados Unidos. A ligao com os EUA foi constitutiva daESG desde a sua idealizao. Segundo seu primeiro comandante, omarechal Oswaldo Cordeiro de Farias, ela pretendia reunir em si asatribuies do Industrial College e do War College estadunidenses, aomesmo tempo em que contribuiria para a integrao entre os vrios ramosdas foras armadas3. Desde o incio, a escola se pautou pela doutrina daguerra total, segundo a qual a preparao para a guerra exige esforos emtodos os campos da vida social.

    A partir de 1954, sob a influncia da U. S. Army School of theAmericas (USARSA, a Escola do Panam), a ESG passou a ter nochamado inimigo interno sua maior preocupao4. Em 1973, a doutrinada ESG foi codificada no Manual bsico da Escola. Tratava-se de umainterpretao completa do Pas, seu passado, presente e futuro. O elementomais importante era a apresentao dos Objetivos NacionaisPermanentes, isto , dos valores perseguidos pela nao. Eles incluam asoberania, a integrao nacional, a integridade territorial, a democracia(numa forma apropriada realidade brasileira) e o progresso. Estesseriam os interesses vitais do Brasil; eram operacionalizados nosObjetivos Nacionais Atuais. Alm disso, o Manual listava os bices epresses a serem enfrentados e determinava o Conceito EstratgicoNacional que daria forma a este enfrentamento nos campos econmico,poltico, psicossocial e militar5. Vrias edies, cada uma compequenas alteraes, foram feitas do Manual bsico, mesmo aps o retornodos civis ao poder.

    Fica clara a adeso a uma idia orgnica da nao, j a partir dacrena na existncia de interesses nacionais objetivos e observveis. Alm

    UsuarioRealce

  • 42

    disso, notvel que o pensamento da ESG, tal como codificado no Manuale obras complementares, compe-se de uma srie de conceitos estanques,fixados rigidamente. O importante parece ser desvendar, enunciando-a, aessncia de objetos que no so construtos tericos, mas elementosempiricamente constatados. Uma vez desvelada, tal essncia simplesmente, ou seja, paira a-historicamente. A conceptualizao e seucomplemento, a taxionomia, representam os dois grandes esforos dadoutrina. Neste modelo de pensamento se enquadram os idelogos edivulgadores da ESG, como o general Meira Mattos, o professor JosAlfredo Amaral Gurgel, a professora Therezinha de Castro e mesmo ogeneral Golbery do Couto e Silva, que foi, entre os intelectuais ligado Escola, o terico de maior envergadura.

    Durante o regime militar, e mesmo depois, os cursos da ESG eramfreqentados por oficiais das trs armas e por civis, consideradosrepresentativos das vrias elites nacionais (o empresariado, asuniversidades e a burocracia estatal). Entre os professores (o chamadocorpo permanente da escola) tambm havia civis e militares. O cursoexigia dedicao exclusiva durante um ano; os estagirios visitavam asdiversas regies do pas, conheciam obras voltadas para o desenvolvimentonacional como Itaipu ou Carajs e era de praxe que, ao final, fossembrindados pelo governo dos Estados Unidos com um convite para visitarWashington. Nos anos 1990, com a criao de cursos avanados de polticae estratgia para oficiais dentro de cada arma, a ESG perdeu muito de suaimportncia como parada obrigatria na carreira de quem quisesse alcanaros nveis mais altos da hierarquia militar.

    Praticamente em todos os estados da Federao existem sucursaisinformais da ESG so as associaes dos diplomados da ESG (Adesg),que continuam em funcionamento, embora tenham perdido muito de suainfluncia. As Adesgs promovem seminrios e cursos curtos, com o intuitode divulgar a doutrina. Para todos os efeitos, so organizaes autnomas,sem qualquer vnculo com o Estado, as foras armadas ou a prpria escola.

    De forma bem geral, possvel dizer que as trs fontes e as trspartes constitutivas do pensamento militar brasileiro, em sua versodominante a partir de meados dos anos 50, traduzida justamente nadoutrina da Escola Superior de Guerra, so o pensamento autoritriodesenvolvimentista, a doutrina da segurana nacional e a geopoltica.Outras influncias, como o positivismo e o integralismo, tambm tm sidoassinaladas; estas trs, porm, so as mais prximas e mais importantes.

    A doutrina da segurana nacionalA doutrina da segurana nacional possui origem externa: trata-se da

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

    UsuarioNotaDurante os anos JK no foi. A ESG ficou isolada neste perodo.

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

  • 43

    ideologia exportada pelos Estados Unidos para consumo das forasarmadas sul e centro-americanas, no contexto da guerra fria. Seupressuposto bsico era um conflito global entre ocidente e comunismo,cabendo aos EUA a defesa do hemisfrio contra as agresses do blocosovitico. Mas a estratgia sovitica seria, cada vez mais, a de evitar umconfronto aberto, optando pela expanso das fronteiras ideolgicas.

    Trocando em midos, os soviticos investiriam em aes subversivascontra os governos pr-ocidentais, podendo para isso usar as armas daagitao de massas, da guerra revolucionria, do terrorismo ou mesmoaproveitar a existncia de governos vacilantes. Notadamente, o conflitoentre capital e trabalho concebido como um corpo estranho nas suasrelaes naturais, estas marcadas pela cooperao e complementaridade6.

    Existiriam, assim, um inimigo interno7 agentes subversivos aservio do expansionismo sovitico travestidos de cidados nacionais euma agresso interna, categoria que englobava quaisquer aesanticapitalistas ou mesmo apenas reformistas. A doutrina, importanteassinalar, no via apenas uma combinao de objetivos entre oexpansionismo de Moscou e a ao esquerdista interna, mas uma absolutacoordenao; para o general Golbery do Couro e Silva, a guerra subversivae a agresso externa sovitica devem ser encaradas como duas facetas deuma mesma hiptese de guerra8. Ainda mais claro o Manual bsico daESG: A guerra revolucionria , em verdade, a expresso de uma polticaexterna revolucionria9.

    A faceta agresso interna seria o alvo principal das aesdefensivas dos pases da Amrica do Sul e Central. Haveria, portanto, umaespcie de diviso internacional do trabalho militar do ocidente, cabendo sforas armadas latino-americanas tarefas essencialmente policiais. Isto setraduziu inclusive na poltica de Washington para a venda de materialblico a esses pases (onde se buscou reduzir a venda de equipamentosdestinados guerra convencional). Por outro lado, a intervenoestadunidense na vida poltica dos pases da Amrica Latina, promovendo aderrubada de regimes pouco confiveis, era condizente com o carterexterno de agresso sovitica de que estaria revestida qualquer aorevolucionria ou reformista.

    Neste modelo de guerra total, a defesa contra o inimigo interno, aluta contra a subverso, se d em todas as esferas da vida social; envolvedesde o controle do fluxo de informaes (o campo de batalhapsicossocial) at o modelo de desenvolvimento econmico. Nas palavrasdo general Aurlio de Lyra Tavares, ainda antes do golpe de 1964 noBrasil:

    No quadro dessa ameaa [o comunismo], os problemas

  • 44

    relevantes da Segurana Nacional se transferem do campo militarpara o social, o econmico e o poltico, mas, principalmente, para osocial e econmico, pelo que passaram a preponderar, napreocupao dos governos, a paz e a estabilidade sociais, queconstituem, na presente conjuntura, o verdadeiro front sujeito aoataque do Comunismo10.

    Haveria necessidade de empreender a batalha em todos os campos,elegendo a segurana nacional como meta mxima, qual se sacrificariam,inclusive, a liberdade e o bem-estar da nao11. Isto implicava, tambm,uma denncia contra o Estado liberal-democrtico, tido como incapaz degarantir sua segurana (embora, paradoxalmente, seja este Estado queencarne o ideal ocidental pelo qual se bate). Conforme o general Golberydo Couto e Silva, o Ocidente uma sociedade democrtica, aberta infiltrao da propaganda inimiga e que, respeitando a conscincia doindivduo e a dignidade da pessoa humana, no pode reprimir com eficciaa atuao desagregadora da quinta coluna sovitica, dos simpatizantes eteleguiados comunistas12.

    Uma interpretao da doutrina da segurana a que faz AlfredStepan, ao v-la como o momento de viragem da misso tradicional dedefesa externa das foras armadas, o velho profissionalismo, para umnovo profissionalismo voltado segurana interna13. Tal interpretaono incompatvel com a que vem sendo feita at o momento, embora anfase do autor nos aspectos exclusivamente internos corporao militar desprezando a influncia tanto dos Estados Unidos quanto da burguesiabrasileira, igualmente assustados com a possvel escalada do movimentopopular no pas e vendo nas foras armadas um escudo oportuno merecesse maior discusso.

    O pensamento autoritrio brasileiroA Primeira Repblica brasileira (1889-1930), aps um breve perodo

    de governos militares, caracterizou-se pelo domnio das oligarquiasestaduais. A Constituio de 1891 concedia ampla autonomia aos estadosfederados, fruto da influncia da constituio dos Estados Unidos, mastambm das sucessivas rebelies regionais que marcaram o SegundoReinado (1840-1889). Como observou Jos Antnio Giusti Tavares, ofederalismo brasileiro nasceu de um movimento oposto ao estadunidense.Nos EUA, o Estado federal foi o resultado de um esforo de concentraodo poder, antes disperso entre as 13 ex-colnias quase soberanas; no Brasil,foi fruto de um movimento visando a descentralizao14.

    A predominncia das oligarquias rurais na conduo da economiaemperrava a industrializao do pas. O pensamento autoritrio

    UsuarioRealce

  • 45

    desenvolvimentista nasce em oposio a essa situao, apontando acentralizao do poder poltico como uma necessidade para impulsionar ocrescimento e a industrializao. Era clara a defesa de um Estado forte;na definio de Bolvar Lamounier, tratava-se de um sistema ideolgicoorientado no sentido de conceituar e legitimar a autoridade do Estado comoprincpio tutelar da sociedade15, que, em muitos autores, com maior oumenor nitidez, foi resvalando para simpatias pelo fascismo.

    Alberto Torres foi o pai desta corrente de pensamento; OliveiraVianna, seu representante mais destacado. Torres, falecido em 1917, bateu-se como publicista e como parlamentar pela reviso da Constituiode 1891. Chegou a redigir um projeto de constituio reformada. Entre asprincipais inovaes, estava a dilatao dos poderes da Unio, ao ponto datotal descaracterizao do federalismo: Unio era reservado o direito deintervir nas provncias a qualquer momento, tendo inclusive o direito depriv-las da autonomia16. Tambm previa a ampliao do mandatopresidencial para oito anos, com eleio por um colgio de notveis, paraevitar uma alternncia no poder que julgava perniciosa17, e a criao de umquarto poder, o poder coordenador, com o direito de intervir nos demaispoderes18. Seu propsito era a concentrao do poder, medida queconsiderava indispensvel para a formulao de qualquer projeto nacional.

    Discpulo de Alberto Torres, Oliveira Vianna conhecidoprincipalmente por suas teorias raciais e seu projeto de arianizao doBrasil, que no interessam no momento19. Ele encampou e radicalizouvrias propostas de Torres. Considerava necessria a criao do quartopoder por entender que a instabilidade poltica e administrativa daRepblica derivava da inexistncia de um poder poltico vitalcio, entre ospoderes pblicos temporrios, criados pela Constituio Republicana20.

    Seu antiliberalismo se manifesta no menosprezo ao poder legislativo,que gostaria de substituir por um rgo tcnico de estilo corporativo21. Umexecutivo forte, um judicirio vigilante e eventualmente o podercoordenador so as peas-chave de seu sistema: O Poder Judicirio e oPoder Executivo so os grandes poderes cuja organizao nos devepreocupar, de maneira precpua, numa obra sria de reviso[constitucional]. O Poder Legislativo, na sua modalidade parlamentar, , aocontrrio do que parece, de importncia secundria22.

    Ele rompe com o instituto do sufrgio universal, julgando perniciosaa participao popular na poltica: O governo uma funo de elite e selites, portanto, cabe eleger os agentes supremos do governo23. OliveiraVianna confessa que, a rigor, s h espao para o parlamento, em seusistema, por ser necessrio atender ao sentimento das massas populares edas elites, que ainda continuam a consider-lo a expresso simblica da

    UsuarioRealce

  • 46

    liberdade poltica24. Temendo o conflito de interesses, por desagregadordo Estado, sonhava substituir a poltica pela tcnica: era hora dedesintegrar a poltica de partidos25.

    Embora tenha escrito que o leitmotiv de sua obra foi o postulado dapreeminncia do princpio da autoridade sobre o princpio da liberdade26,Oliveira Vianna jamais chegou a renegar por completo a democracia e oliberalismo. Como para Alberto Torres, tratava-se, simplesmente, deeliminar o divrcio entre o pas legal e o pas real; nas palavras doprprio Oliveira Vianna, de superar a divergncia entre a norma jurdicaelaborada pela elite e a ao real do povo-massa, que a desconhece e serecusa a obedec-la27.

    Segundo sua viso, haveria uma longa caminhada at a construo deum verdadeiro Estado-nao, com uma verdadeira cidadania. At l, no setratava de combater a democracia, mas de entender que ela no possuasolo frtil para florescer no Brasil. Era necessrio criar, atravs de mtodosautoritrios, as condies para que a democracia fosse implantada numfuturo menos ou mais distante. O mesmo estilo de autoritarismoinstrumental28 que Eurico Figueiredo identifica no discurso do marechalCastelo Branco, o primeiro presidente do ciclo militar, em que

    a categoria democracia tratada como um ideal a serimperativamente atingido, mas que no pode, no aqui e agora,materializar-se. [...] A democracia [...] percebida como umconceito que paira acima e alm da histria brasileira, mas que, porisso mesmo, jamais se visualiza no mbito da realidade imediata. Oliberalismo do Marechal-Presidente situa-se no mbito da prognose,da antecipao; o seu autoritarismo no mbito do presente vivido29.

    A necessidade de um Estado forte, centralizador, intervencionista,capaz de promover o desenvolvimento econmico; a crena na eficcia dautilizao de mtodos autoritrios para o aprimoramento da cultura poltica;a desconfiana em relao aos conflitos de interesses e a vontade desubstituir a poltica pela tcnica; especialmente a viso da organizaocomo o problema vital do Brasil so idias que se disseminaram noexrcito brasileiro, ento confrontado com a poltica anti-industrializante eantimilitarista da Primeira Repblica. Elas esto presentes tanto no discursodos chamados jovens turcos, que pregavam a profissionalizao dasforas armadas nos anos 1910 (embora no necessariamente suadespolitizao), quanto entre os tenentes insurrectos da dcada de 1920. Eat entre oficiais legalistas, que combatiam os tenentes, como o generalGis Monteiro. Mais ainda: uma concepo que aparece mesmo entreaqueles tenentes, liderados por Lus Carlos Prestes, que se dirigiram para ocomunismo e erigiram uma nova sntese autoritria sob a gide do

    UsuarioRealce

  • 47

    stalinismo.Tambm descende de Torres e Oliveira Vianna a noo de que os

    poderes tradicionais da democracia representativa no so capazes depromover o desenvolvimento nacional. H necessidade de um poder que seexera sobre os poderes, como o poder moderador do Imprio. As forasarmadas incorporaram este papel, inclusive adotando explicitamente umdiscurso de poder neutro30. Embora, como se sabe, sua atuao polticano tenha sido jamais marcada por essa neutralidade.

    O pensamento autoritrio da Primeira Repblica embutiu na doutrinada ESG um desenvolvimentismo que no , de forma nenhuma, inerente ideologia da segurana nacional. Nele, o autoritarismo visto como oinstrumento necessrio de fato, imprescindvel para romper a letargianacional, dissipar o conflito de interesses desagregador e orientar todas asforas da nao, de forma unnime, na direo do progresso material. Namedida em que tal progresso ambicionado por todos e a todos beneficiar,o autoritarismo est legitimado.

    A geopolticaDesde antes da difuso da ideologia da segurana nacional, a

    geopoltica j estava presente no pensamento militar brasileiro. Elaalimentava os sonhos da grande potncia continental e mundial. Nocontexto da guerra total contra a subverso comunista, a geopoltica tevesua importncia redobrada, uma vez que ela afianava que o pas era obaluarte do ocidente no Atlntico Sul e, portanto, merecedor de umaparceria privilegiada com a nao lder (os Estados Unidos).

    A geopoltica nasceu com o alemo Friedrich Ratzel, na segundametade do sculo XIX. Sua idia central a de que a geografia rege a vidados Estados, levando a melhor os Estados que souberem interpretar aquiloque ela lhes destina. Alm disso, o Estado uma natureza orgnica enada contradiz mais a natureza do orgnico que esta rgida circunscrio[em fronteiras]31.

    Posteriormente, o sueco Rudolf Kjellen, que cunhou o termogeopoltica, exacerbaria a viso organicista do Estado, encarando-o comoum ser vivo com vontade prpria, necessitado de espao vital. Antecipa,assim, Karl Haushofer e sua escola geopoltica alem, que forneceriam umabase ideolgica para o expansionismo hitlerista. O quarto grande nome dageopoltica o ingls sir Halford Mackinder, que desenvolveu a idia deheartland, o corao da terra. O domnio do heartland seria a chave para aconquista da Ilha do Mundo (formada pela Europa, sia e frica) e, apartir da, de todo o globo. No centro do heartland estaria a Europaoriental. Essa teoria inspirou a formao do cordo sanitrio entre a

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

  • 48

    Alemanha nazista e a Unio Sovitica no perodo entre-guerras32. Sem serpropriamente um geopoltico, o historiador Arnold J. Toynbee tambm amplamente citado nos estudos da matria.

    J foi demonstrado que, por baixo de leis universais e frasesdefinitivas, a geopoltica est longe de merecer o estatuto cientfico queatribui a si mesma. Christian Caubet assinala que os determinismosgeogrficos s se impem como evidncias porque falta, muitas vezes,conferir sua validade em funo de um contexto histrico preciso33.

    A geopoltica brasileira tem como precursor o general MrioTravassos, que a estudou j nos anos 1930. Seus maiores cultores, porm,foram os generais Golbery do Couto e Silva e Carlos de Meira Mattos,merecendo destaque, entre os civis, a professora Therezinha de Castro. Emtodos eles, o pensamento geopoltico j surge combinado com a doutrina dasegurana nacional Golbery escreveu suas principais obras da metadedos anos 1950 at o comeo da dcada de 1960, enquanto os outros doisproduziram principalmente durante os governos militares.

    Uma viso comum a todos eles que o Atlntico Sul representaa retaguarda vital de todo o mundo do Ocidente. Qualquer

    penetrao importante, a, de um inimigo comprometer certamentetodo o sistema defensivo do mundo ocidental, sobretudo porquetornar, desde logo, extremamente vulnerveis as comunicaesmartimas e areas, de que o Atlntico Sul o palco insubstituvel ea Antrtida, o ferrolho34.

    Assim, pela sua prpria presena dominante nesta regio, o Brasilest magistralmente bem situado para realizar um grande destino35.Caberia aos Estados Unidos compreenderem a importncia do Brasil,oferecendo-lhe uma parceria privilegiada em relao aos outros pases daAmrica do Sul, especialmente a Argentina, e assegurando-lhe a posio depotncia continental36.

    Outro motivo sempre presente nas vises da geopoltica do Brasil aintegrao nacional. O pas visto como excessivamente concentrado nacosta; para sua segurana, necessrio efetivar o tamponamento dasfronteiras um processo no apenas militar, mas demogrfico, cultural eeconmico. Da a nfase na necessidade de expanso do ecmeno para ointerior, no desenvolvimento dos transportes e da comunicao.

    O destino do Brasil, que a prpria natureza traou, sua grandeza. Ageopoltica brasileira criou toda uma teleologia nacionalista para embasaressa afirmao37. Mas, como adverte o general Meira Mattos, sem lideranae coeso interna as maiorias e minorias nacionais se perdero nos desvossectrios da polmica estril e a nao se desencontrar de seu destino38.Portanto, a grandeza do Brasil no prescinde do autoritarismo atravs

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

  • 49

    deste que aquela se realiza.

    O intervencionismo militarComo se v, as trs fontes empurram os militares para a

    interveno direta na gesto da vida nacional. Incorpora-se a isso odiscurso da superioridade moral (e mesmo tcnica) do militar. Os bacharisfardados da Repblica Velha, que se julgavam cientificamente preparadospara oferecer solues a todos os problemas nacionais39, esto bemprximos da ESG, a casa onde se estuda o destino do Brasil. Bastantecaracterstica, principalmente, a oposio entre o poltico preso aosgrupos que o apiam e incapaz de tomar medidas firmes que prejudicariamseu eleitorado e o militar altrusta e descompromissado.

    A denncia da hipocrisia dos polticos uma constante no discursomilitar. Um exemplo folclrico desta postura a declarao do generalFigueiredo, ento sucessor indicado do presidente Geisel, explicando porque no possua temperamento para o cargo: Quando no gosto de umsujeito, no gosto na cara e deixo de cumprimentar de uma vez. E sei queum Presidente da Repblica, em certas ocasies, tem que fingir que estouvindo com prazer a conversa pegajosa de um empresrio picareta ou deum poltico aproveitador40. A afirmao da superioridade moral daprofisso militar parece ser uma constante entre as foras armadas dosdiversos pases41, ao que se soma o desprezo pelo poltico profissional.

    Um eco deste discurso a afirmao, por um brazilianista simpticoao regime militar, de que as eleies presidenciais pr-1964 eram disputasde popularidade, nas quais milhes de cidados fazem sua escolha entreuma poro de candidatos que percorrem o pas, prometendo o impossvele no raro alardeando um nacionalismo xenfobo42. Em contrapartida, omarechal Castelo Branco, mesmo hostilizado pela nao, cumpria o seudever43. No mesmo sentido, o general Mdici anunciava, ainda antes de suaposse, que gostaria que o meu governo viesse, afinal, a receber o prmioda popularidade, entendida no seu legtimo e verdadeiro sentido decompreenso do povo. Mas no pretendo conquist-la, seno com oinaltervel cumprimento do dever44.

    De fato, a doutrina da ESG clara ao desvincular a legitimidade dosgovernos da soberania popular. Tal legitimidade verificada em funo daadequao, ou no, da plataforma de governo aos Objetivos NacionaisPermanentes45. De acordo com a doutrina, so as elites que interpretamas aspiraes nacionais e fixam tais Objetivos46; na prtica, tais elites seencontram reunidas na prpria ESG. Desta forma, cabe escola, ou seja, sforas armadas, decidir sobre a legitimidade do governo. Como notaMichel Schooyans, h aqui um movimento onde as foras armadas

  • 50

    hipostasiam o Estado e, atravs delas mesmas, identificam-no nao47.Apresentada de forma mais acabada na doutrina da ESG, a defesa do

    direito militar de interveno na vida poltica est presente no discurso depraticamente todos os segmentos da corporao. Ela aparece, por exemplo,no manifesto de lanamento da revista A Defesa Nacional, rgo dosjovens turcos, oficiais que desejavam a profissionalizao do exrcito e aquem se atribui uma inteno despolitizadora48. No editorial do primeironmero, em outubro de 1913, era escrito:

    debalde que os espritos liberais, numa justificada nsia defuturismo, se insurgem contra as intervenes militares na evoluosocial dos povos: um fato histrico que as sociedades nascentestm necessidade dos elementos militares para assistirem suaformao e desenvolvimento, e que s num grau j elevado decivilizao elas conseguem emancipar-se da tutela da fora, queassim se recolhe e se limita sua verdadeira funo.

    Sem desejar, pois, de forma alguma, a incurso injustificadados elementos militares nos negcios internos do pas, o Exrcitoprecisa entretanto estar aparelhado para a sua funo conservadorae estabilizante dos elementos sociais em marcha e preparadopara corrigir as perturbaes internas, to comuns na vidatumulturia das sociedades que se formam49.

    E notvel a semelhana nas opinies sobre esta questo aparticipao poltica dos militares entre dois oficiais to distantesideologicamente quanto os generais Gis Monteiro, principal lder doexrcito durante o Estado Novo, e Nelson Werneck Sodr, intelectualmarxista. Gis, em sua longa entrevista a Lourival Coutinho, manifesta suaantipatia ao ex-presidente Washington Lus por querer a obedinciapassiva, o automatismo, o soldado servo, como depois aconteceu no tempode Hitler, de Mussolini e outros dspotas que tm aparecido, comalternativas e atenuaes, aqui mesmo na Amrica do Sul50.

    E afirma o general Werneck Sodr, num texto detalhesignificativo escrito ainda sob o impacto do golpe de 1964:

    A noo de que as Foras Armadas devem alhear-se doproblema poltico, to vivamente defendida pelos representantes dolatifndio e do imperialismo, que as pretendem resguardar paraintervenes antipopulares, antidemocrticas e, conseqentemente,antinacionais, fica bem ntida, no seu verdadeiro e claro sentido,quando se afirma a necessidade do cumprimento, por elas, dasegunda parte de sua misso, que a de assegurar o livredesenvolvimento da economia nacional, problema de essncia

  • 51

    poltica profunda. Essa parte da misso inseparvel da outra, mastambm especfica das Foras Armadas, e nesse sentido queoperam em participao poltica, e no em distanciamentopoltico51.

    Alm disso, todas as trs correntes que formam o pensamento militarbrasileiro contribuem com uma espcie de desconfiana em relao sinstituies democrticas seja porque elas seriam fracas demais parapromoverem o desenvolvimento nacional e garantirem a segurana, sejaporque existiria uma vontade do organismo estatal que as precede etranscende. Mas a esta desconfiana se aliam contraditrias manifestaesformais de respeito democracia liberal, como fica patente de modoexemplar na famosa carta de Floriano Peixoto ao general Neiva, escrita em1887: Como liberal que sou no posso querer para meu pas o governo daespada, mas no h quem desconhea, a esto os exemplos, de que eleque sabe purificar o sangue do corpo social que, como o nosso, estcorrompido52.

    A hegemonia da ideologia da ESGLigada a instituies civis, como o Instituto Brasileiro de Ao

    Democrtica (IBAD) ou o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), aEscola Superior de Guerra desempenhou um papel importante napreparao do golpe de estado de maro/abril de 1964. Conhecida como aSorbonne militar brasileira, foi nela que se gestou o projeto que seriaimplantado no pas aps o golpe. Em geral, o projeto da ESG identificadocom uma ala das foras armadas, os sorbonnistas, s vezes chamados decastelistas (do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiropresidente do ciclo militar).

    No entanto, inegvel que a doutrina da ESG dominou todo oregime militar brasileiro. O projeto da escola, a rigor o nico programaestruturado presente nas foras armadas, foi hegemnico em todo o perodoautoritrio. As diferenas existentes eram mais de nfase e de matiz. Ocredo comum no perigo comunista, nas solues autoritrias, nodesenvolvimento econmico fomentado pelo Estado e no futuro do Brasil-potncia unia os militares. Eles estavam convencidos da necessidade desufocar o movimento popular, excessivamente ativado nas ltimas fases darepblica populista, para criar um clima de paz social. Aliada aobarateamento da mo-de-obra, que viria como conseqncia previsvel darepresso ao sindicalismo, esta paz tornaria o pas atraente aosinvestimentos externos53.

    Esta linguagem era comum a duros e brandos, nacionalistas eentreguistas uma plataforma comum, da qual todos comungavam,

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

  • 52

    mesmo com desavenas de enfoque, de timing ou pontuais. necessrioesclarecer aqui que, ao contrrio de muitos autores, trabalho com a hiptesede que os conflitos ocorridos entre setores das foras armadas,especialmente do exrcito, durante o regime militar foram mais a expressode tenses conjunturais, provocadas muitas vezes pelas disputassucessrias, do que propriamente o enfrentamento entre programasdivergentes. No se trata de negar a existncia de diferentes setores noexrcito, ou de recusar validade tese de que a compresso do regimepoltico pelas foras armadas traz os conflitos polticos e partidrios paradentro da corporao militar54, embora ela merea ser relativizada. O quejulgo necessrio redimensionar a coeso e influncia destes grupos. Se oprocesso pensado em termos de partidos e programas, como faz, porexemplo, Elizer Rizzo de Oliveira, surgiro contradies e lacunasdificilmente explicveis. Basta lembrar a ampla abertura do pas ao capitalestrangeiro proporcionada pelo nacionalista Costa e Silva, ou a polticaexterna independente e o ambicioso programa de industrializao pesadainaugurados pelo liberal-entreguista Ernesto Geisel.

    Da mesma maneira, as freqentes converses de brandos emduros e vice-versa mostram que a linha divisria entre estas duasposies estava longe de ser to ntida quanto querem algumas anlises.Apenas como exemplo, os dois smbolos da linha-dura no governo Geiselchegaram a seus cargos como liberais. O general Sylvio Frota tornou-seministro do Exrcito como escolha pessoal do presidente, aps a morte doministro Dale Coutinho este sim, uma concesso aos setores maisradicais. E o comandante do II Exrcito, general Ednardo dvila Melo,afastado do cargo aps o assassinato do jornalista Wladimir Herzog, fora,segundo Thomas Skidmore, saudado por muitos como sendo muito maisesclarecido do que o seu antecessor linha-dura, general Humberto de SouzaMello55. Recorde-se, ainda, que o substituto de Frota, general FernandoBethlem, poderia facilmente ser classificado como um prottipo do linha-dura, tendo assinado, um ms antes de chegar a ministro, um manifestodelirantemente anticomunista, em que se colocava contra a desmilitarizaodo poder56.

    necessrio no ver, em suma, mais coerncia e menos oportunismonos partidos militares do que se v nos partidos civis brasileiros. Osconflitos internos ocorridos durante a ditadura e mesmo depois delamostram, por outro lado, a existncia de um espao para a linha-dura, isto, para a manifestao das teses mais fundamentalistas dentro dacorporao. Segundo Guillermo ODonnell e Phillipe Schmitter, com osquais concordo nesse ponto, as divises entre duros e brandos, moderados eradicais, no so atributos permanentes de cada ator e devem ser

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

  • 53

    inferidos a partir do comportamento estratgico de atores especficosquando em confronto com as escolhas abertas pela transio57. O espaoda linha-dura no Brasil foi ocupado por diversos lderes, sucessivamente Costa e Silva, Albuquerque Lima, Sylvio Frota, Octvio Medeiros, NewtonCruz e mesmo, j no governo civil de Jos Sarney, os irmos Joo eEuclydes Figueiredo. Cada um deles, porm, preencheu com um contedodiferente esse espao.

    O setor das foras armadas que de fato se opunha ideologia da ESGfoi expurgado aps o golpe. Em 1964, foram expulsos 20 dos 102 oficiais-generais do exrcito58. O nmero total de punies incerto; as estimativasvariam grandemente, mas sem dvida milhares de militares foramatingidos, quase todos j em 196459. Assim, as clivagens internas durante aditadura no reproduzem aquelas preexistentes, j que o setor nacionalista-reformista ou legalista, personificado por oficiais como o marechalHenrique Teixeira Lott e o general Newton Estillac Leal, foi efetivamenteafastado.

    Em 1985, os civis voltaram ao poder, aps uma complexanegociao em que foram dadas importantes garantias aos chefesmilitares60. No governo Jos Sarney (1985-90), a ideologia da EscolaSuperior de Guerra permaneceu hegemnica dentro das foras armadas,apesar das fissuras que se abriam, devidas redemocratizao interna e distenso externa, que culminou no colapso da Unio Sovitica61. Nosgovernos seguintes, a visibilidade poltica dos militares declinou demaneira notvel. No entanto, se muitas das premissas da doutrina da ESGse tornaram absolutamente insustentveis, por outro lado muito pouco ounada se avanou no sentido de reforma a educao militar e de dotar asforas armadas brasileiras de uma perspectiva profissional compatvel coma neutralidade poltica que, numa democracia, elas devem manter.

    Notas

    * Doutor em Cincias Sociais (Unicamp). Professor do Departamento de Cincia Poltica daUniversidade de Braslia. Pesquisador do CNPq.1 Ver Major Victor Villanueva, O golpe de 68 no Peru, Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira,1969; Alfred Stepan, Estado, corporativismo, autoritarismo, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980;Joseph Comblin, A ideologia da segurana nacional, Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira,1978, pp. 171-7.2 Edmundo Campos Coelho, Em busca de identidade. Rio de Janeiro, Forense-Universitria,1976.3 Marechal Osvaldo Cordeiro de Farias, Meio sculo de combate (depoimento a AspsiaCamargo e Walder de Ges), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981, p. 409.4 Elizer Rizzo de Oliveira, As foras armadas: poltica e ideologia no Brasil (1964-1965),Petrpolis, Vozes, 1976, p. 23.5 ESG, Manual bsico, Rio de Janeiro, ESG, edies de 1973, 1976, 1977/78 e 1986, passim.

    UsuarioRealce

    UsuarioRealce

    UsuarioNotaEnto havia uma diviso. E este pessoal obteve vitrias.

    UsuarioRealce

  • 54

    Ver tb. ESG, Fundamentos tericos, Rio de Janeiro, ESG, 1983, passim.6 Elizer Rizzo de Oliveira, As foras armadas: poltica e ideologia no Brasil (1964-1965), op.cit., p. 39.7 A Europa a fortaleza de Hitler/Diz Goebbels a cada criana./Mas onde j se viu umafortaleza/Onde os inimigos esto no s do lado de fora/Mas tambm do lado de dentro?Bertolt Brecht, A fortaleza Europa, em Poemas (1913-1956), S. Paulo, Brasiliense, 1990, p.231.8 General Golbery do Couto e Silva, Planejamento estratgico, Braslia, Editora UnB, 1981, pp.40-1.9 ESG, Manual bsico, op. cit., edio de 1976, p. 101.10 General Aurlio de Lyra Tavares, Compreenso de segurana nacional, em Tavares et al.,Segurana nacional, So Paulo, Servio de Publicaes da Fiesp, 1962, p. 22.11 General Golbery do Couto e Silva, Geopoltica do Brasil, Rio de Janeiro, Jos Olympio,1981, p. 14.12 Id., p. 237. Ver tb., sobre a incapacidade de autodefesa das instituies democrticas, JosAlfredo Amaral Gurgel, Segurana e democracia, Rio de Janeiro, Jos Olympio, 1975, pp. 21-3.13 Alfred Stepan, The new professionalism of internal warfare and military role expansion, emStepan (org.), Authoritarian Brazil, New Haven, Yale University Press, 1973, pp. 47-53.14 Jos Antnio Giusti Tavares, O sistema poltico brasileiro, em Jos Antnio Giusti Tavarese Ral Enrique Rojo (orgs.), Instituies polticas comparadas dos pases do Mercosul. Rio deJaneiro: FGV, 1998, p. 232.15 Bolvar Lamounier, A formao de um pensamento poltico autoritrio na PrimeiraRepblica: uma interpretao, em Boris Fausto (org.), Histria geral da civilizao brasileira:o Brasil republicano (vol. 2), So Paulo, Difel, 1985, p. 356.16 Alberto Torres, A organizao nacional, Braslia, Editora UnB, 1982, p. 214.17 Id., pp. 257-8.18 Id., p. 241.19 Sobre este aspecto do pensamento de Vianna, ver Nelson Werneck Sodr, A ideologia docolonialismo, Petrplis, Vozes, 1984, pp. 141-51; Clvis Moura, As injustias de Clio, BeloHorizonte, Oficina de Livros, 1990, pp. 197-212.20 Francisco Jos Oliveira Vianna, Problemas de poltica objetiva, Rio de Janeiro, Record, 1974,p. 58.21 Evaldo Amaro Vieira, Oliveira Vianna e o Estado corporativo, So Paulo, Grijalbo, 1976,passim.22 Vianna, op. cit., pp. 36-7.23 Francisco Jos Oliveira Vianna, Ensaios inditos, Campinas, Editora da Unicamp, 1991, p.220.24 Francisco Jos Oliveira Vianna, Problemas de organizao e problemas de direo, Rio deJaneiro, Record, 1974, p. 185.25 Francisco Jos Oliveira Vianna, Instituies polticas brasileiras (vol. 2), Belo Horizonte,Itatiaia, 1987, p. 132.26 Francisco Jos Oliveira Vianna, Problemas de organizao e problemas de direo, op. cit.,p. 100.27 Francisco Jos de Oliveira Vianna, Instituies polticas brasileiras (vol. 1), Belo Horizonte,Itatiaia, 1987, pp. 20-1.28 Para o conceito de autoritarismo instrumental, ver Wanderley Guilherme dos Santos, Ordemburguesa e liberalismo poltico, So Paulo, Duas Cidades, 1978, pp. 104-6.29 Eurico de Lima Figueiredo, Os militares e a democracia, Rio de Janeiro, Graal, 1980, p. 123.30 Ver, por exemplo: Cel Inf QEMA Jos Fernando de Maya Pedrosa, O exrcito e a sociedadebrasileira, A Defesa Nacional n 714, Rio de Janeiro, 1984; Cel Av RR Nelson Jos Abreu do

  • 55

    de Almeida, Foras armadas: apenas segurana externa?, A Defesa Nacional n 742, Rio deJaneiro, 1989.31 Friedrich Ratzel, As leis do crescimento espacial dos Estados, em Friedrich Ratzel:geografia, So Paulo, tica, 1990, p. 176.32 Para uma sntese destes autores, ver Shiguenoli Miyamoto, Geopoltica e autoritarismo: ocaso brasileiro, Revista de Cultura Vozes v. LXXVIII, n 10, Petrpolis, 1984, pp. 752-3.33 Christian Caubet, Por uma (nova?) epistemologia da geopoltica, em Caubet et al., CinciasSociais Hoje, So Paulo, Vrtice, 1985, p. 300.34 General Golbery do Couto e Silva, Geopoltica do Brasil, op. cit., p. 191.35 Id., p. 213.36 Id., p. 51.37 Um dos mais claros exemplos est em General Carlos de Meira Mattos, A geopoltica e asprojees do poder, Rio de Janeiro, Biblioteca do Exrcito Editora, 1977, pp. 84-102.38 General Carlos de Meira Mattos, Brasil: geopoltica e destino, Rio de Janeiro, Jos Olympio,1986, p. 72.39 Manuel Domingos Neto, Linfluence trangre et la formation des groupes et tendances ausein de larme brsilienne (1889-1930), em Alain Rouqui (org.), Les partis militaires auBrsil, Paris, Presses de la Fondation Nationale de Sciences Politiques, 1980, p. 50.40 General Joo Baptista de Oliveira Figueiredo, O livro dos pensamentos do generalFigueiredo, editado por Carlos Wagner Morais, So Paulo, Alfa-mega, 1978, p. 10.41 Declaraes de oficiais estadunidense sobre seu prprio sacerdcio aparecem em MorrisJanowitz, O soldado profissional, So Paulo, GRD, 1967, pp. 117-8. Para uma viso da auto-imagem militar na Academia de Agulhas Negras, ver Celso Castro, O esprito militar, Rio deJaneiro, Jorge Zahar, 1990, passim.42 John W. F. Dulles, Castello Branco: o presidente reformador, Braslia, Editora UnB, 1983, p.5.43 Id., p. 16.44 General Emlio Garrastazu Mdici, O jgo da verdade, Braslia, Secretaria de Imprensa daPresidncia da Repblica, 1970, p. 16.45 ESG, Manual bsico, op. cit., edio de 1976, p. 224; edio de 1977-8, p. 37. Observe-se quesua existncia [dos Objetivos Nacionais Permanentes] independe de que estejam explicitadosna Constituio ou em outros textos legais (ESG, Manual bsico, op. cit., edio de 1986, p.31).46 Antnio de Arruda, A Escola Superior de Guerra: histria de sua doutrina, So Paulo, GRD,1983, p. 78.47 Michel Schooyans, Demain, le Brsil?, Paris, Les ditions du Cerf, 1977, p. 14.48 A imagem despolitizadora dos jovens turcos, difundida especialmente por EdmundoCampos Coelho e Jos Murilo de Carvalho, contestada por diversos autores. Quartim deMoraes assinala que os jovens turcos desejavam a adoo do modelo estatal prussiano (JooQuartim de Moraes, A esquerda militar no Brasil (vol. 1), S. Paulo, Siciliano, 1991, pp. 87 e119). Ver tambm Alain Rouqui, Les processus politiques dans les partis militaires au Brsil,em Rouqui (org.), Les partis militaires au Brsil, op. cit., p. 16; Leila Maria Corra Capella,Militares e organizao nacional, em Capella et al., Cincias sociais hoje, So Paulo, Vrtice,1988, p. 174.49 Reproduzido in Estado-Maior do Exrcito, Histria do Exrcito brasileiro (vol. 2), Braslia,Estado-Maior do Exrcito, 1972, p. 805. Ortografia atualizada.50 Lourival Coutinho, O general Ges depe, Rio de Janeiro, Coelho Branco, 1956, p. 39.51 Nelson Werneck Sodr, A histria militar do Brasil, Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira,1979, p. 409.52 Cit. in Emlia Viotti da Costa, Da monarquia repblica, So Paulo, Brasiliense, 1987, p.281.

  • 56

    53 Em linhas gerais, o modelo burocrtico-autoritrio de ODonnell d conta desta plataforma.Ver especialmente Guillermo ODonnell, Reflexes sobre os Estados burocrtico-autoritrios,So Paulo, Vrtice, 1987, p. 21; Contrapontos, So Paulo, Vrtice, 1986, pp. 21-2; tb. a sntesecrtica de David Collier, Resumo do modelo autoritrio-burocrtico, em Collier (org.), O novoautoritarismo na Amrica latina, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982, pp. 32-7. A tese doaprofundamento da industrializao, acusada de economicista, foi em geral considerada oponto fraco do modelo burocrtico-autoritrio. O prprio ODonnell se desvinculou dela(Guillermo ODonnell, Introduo edio brasileira de Reflexes sobre os Estadosburocrtico-autoritrios, op. cit., pp. 13-4). Vale lembrar que as ditaduras do Cone Sulreestruturaram a economia em resposta a determinantes objetivos da fase do desenvolvimentocapitalista, mas sobretudo para fazer face crise poltico-social que determinara a intervenomilitar (Manuel Antonio Garretn, Em torno da discusso sobre os novos regimes autoritriosna Amrica Latina, Dados v. 27, n 3, Rio de Janeiro, 1982, p. 172).54 Samuel Finer, The man on horseback, Boulder, Westview, passim; Walder de Ges, O novoregime militar no Brasil, Dados v. 27, n 3, Rio de Janeiro, 1982, p. 265.55 Thomas Skidmore, Brasil: de Castelo a Tancredo, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988, p. 347.56 O manifesto Bethlem est reproduzido em Hugo de Abreu, O outro lado do poder, Rio deJaneiro, Nova Fronteira, 1979, pp. 135-6.57 Guillermo ODonnell e Philippe C. Schmitter, Transies do regime autoritrio: primeirasconcluses, So Paulo, Vrtice, 1988, p. 121. Sobre os limites da distino entre duros ebrandos, ver tb. Manuel Antonio Garretn, Modelo e projeto polticos do regime militarchileno, em Bolvar Lamounier (org.), A cincia poltica nos anos 80, Braslia, Editora UnB,1982, p. 61.58 Alfred Stepan, Os militares na poltica, Rio de Janeiro, Artenova, 1975, p. 123.59 O Projeto Brasil: Nunca Mais, que trabalhou apenas com dados extrados de processosinstaurados pelo prprio regime, identificou 729 denunciados por indisciplina militar numuniverso de 7367 rus (Arquidiocese de So. Paulo, Perfil dos atingidos, Petrpolis, Vozes,1988, p. 12). Dados recolhidos pelo Iuperj em diversas fontes, incluindo o Dirio Oficial e aRelao dos inelegveis do TSE, apontam 1502 militares aposentados, reformados oudemitidos entre 1964 e 1973 (1147 apenas em 1964); cf. Santos (coord.), Que Brasil este?, S.Paulo, Vrtice, 1990, p. 251. Dos punidos nas trs armas, 1313 esto classificados pela patente;entre estes aparecem 43 oficiais-generais, 240 oficiais superiores e 292 oficiais subalternos (id.,p. 254). J segundo a Associao Democrtica e Nacionalista de Militares Cassados, o expurgoteria atingido 407 oficiais e 7080 praas (Maria Carolina Falcone, Tribuna da Imprensa, 7/3/85,p. 2). Soares, citando o peridico alternativo Coojornal, fala em 4682 punies polticas at1977, sendo quase um tero de militares (cerca de 1550 militares, portanto; cf. Glucio AryDillon Soares, As polticas de cassaes, Dados n 21, Rio de Janeiro, 1979, p. 69). Asdivergncias so significativas fruto de sistemticas de pesquisa diferenciadas mas noresta dvida de que as punies, ocorridas principalmente no primeiro ano da ditadura,alteraram o perfil das foras armadas.60 Luis Felipe Miguel, Aspectos militares da gnese da Nova Repblica. Mosaico, vol. 2, n1. Vitria, 1999, pp. 141-51.61 Luis Felipe Miguel, Permanncia e crise da ideologia de segurana nacional entre osmilitares no governo Sarney. Cadernos de Estudos Sociais, vol. 15, n 2. de Estudos Sociais,vol. 15, n 2. Recife, 1999, pp. 269-98.