Como funciona a lula

Autor: Stephanie Watson

lulas

H mais de 300 anos, comearam a circular histrias sobre uma besta cheia de braos, com tentculos to

longos quanto o mastro de um navio, que vivia no fundo do mar. Um aperto dos braos enormes dessa

criatura monstruosa "poderia envolver um navio de quinhentas toneladas e jog-lo nas profundezas do

mar", escreveu Jules Verne em seu romance defico cientfica clssico "Vinte mil lguas submarinas"

Embora no exista realmente essa criatura, as lendas provavelmente basearam-se nas vises da lula

gigante, criaturas reais, mas elusivas, que podem chegar a mais de 18 metros de comprimento com

tentculos de at 9 metros. Alguns animais despertaram admirao e medo, como a lula gigante.

Os primos menores das lulas gigantes so mais conhecidos, embora no menos fascinantes. As lulas so

criaturas rpidas, geis e surpreendemente inteligentes, com crebros mais prximos em relao aos

mamferos do que os peixes ou rpteis.

Nesse artigo, voc conhecer a lula, encontrar alguns dos animais incomuns que fazem parte dessas

espcies, e descobrir o que aconteceu quando os cientistas finalmente ficaram frente a frente com a

misteriosa lula gigante.

Comendo uma lula Diversos animais e pssaros gostam de comer lula, incluindo

a baleia cachalote, o albatroz de cabea cinza, o atum, o marlim, o tubaro, as focas e os pingins. Em virtude de vrios tipos de peixes terem predileo por lulas, elas so um prato excelente. A lula tambm faz parte da dieta do ser humano. Normalmente,

preferimos lulas cobertas com pedaos de po e fritas como calamari, ou cozidas e ensopadas como parte de vrios

pratos de frutos do mar. Embora vrios pases do mundo comam lulas, elas so especialmente populares em regies que beiram o

Mar Mediterrneo. Imagem usada sob a GNU

Free Documentation License Calamari frito

Anatomia da lula

Autor: Stephanie Watson

As lulas so, na verdade, moluscos, embora tenham uma aparncia um tanto diferente de seus parentes,

os gastrpodes(lesmas), e os bivalves (mariscos). Ao contrrio de outros moluscos, que possuem uma

casca externa dura, a lula possui um corpo externo macio e uma casca interna. As lulas fazem parte da

classe Cefalpodes (o que significa "ps na cabea"), um grupo que tambm inclui o polvo, o choco e o

nutilo. Os cefalpodes so divididos ainda em octpodes, com oito tentculos (polvo) e decpodes, com

dez tentculos (choco e lula).

Imagem de domnio pblico Uma variedade de cafalpodes na subclasse coleoida,

que inclui lula, polvos e choco, de "Art Forms of Nature" de Ernst Haeckels

A lula surgiu durante um estgio particularmente generoso na linha do tempo ecolgico - h 500 milhes de

anos durante o perodo cambriano. Surgiram tantos grupos de animais diferentes nesse perodo que os

cientistas o chamaram de "exploso cambriana". Originalmente, existiram milhares de espcies de

cefalpodes. Atualmente, permanecem somente quatro - lulas, chocos, polvos e nutilos.

A lula mais antiga provavelmente era a criatura mais lenta que vivia nas guas rasas. Hoje, as lulas so

criaturas versteis - podem construir suas casas em uma variedade de ambientes marinhos, do mar

profundo s guas superficiais do litoral.

A lula possui vrios tamanhos e aparncias. Podem variar de 2,5 centmetros a mais de 20 metros de

comprimento. A maioria das lulas tem um corpo alongado, em forma de tubo, com uma pequena cabea.

Possuem 10 tentculos (dois deles so mais longos para agarrar a presa), alinhados com as fileiras de

ventosas. Algumas variedades possuem ganchos semelhantes a garras no lugar das ventosas ou junto

com elas. No centro dos tentculos existe uma boca com um bico semelhante ao de um papagaio que

envolve uma lngua ssea afiada (chamada rdula). Os olhos das lulas so grandes e ficam nas laterais de

sua cabea.

As lulas so, junto com os polvos, alguns dos mais inteligentes dos invertebrados (animais que no

possuem coluna vertebral), com um crebro bem desenvolvido e maior em relao ao corpo dos animais

do que a maioria dos peixes e rpteis. Alm disso, possuem um sistema nervoso sofisticado.

O corpo das lulas envolvido em uma cavidade muscular e macia chamada manto, que fica atrs da

cabea. medida que a gua circula na cavidade do manto, ela passa pelas guelras, e a lula absorve o

oxignio para respirar. Abaixo da cabea, existe um tubo chamado funil. Os excrementos so expelidos

por meio do funil, assim como a tinta de defesa das lulas.

Na prxima seo, aprenderemos mais sobre os hbitos de uma lula e sobre a forma como ela utiliza seus

funis.

A vida de uma lula

Autor:

Stephanie Watson

O funil de uma lula age como um motor a jato, transformando-a em uma poderosa nadadora. Ele puxa a

gua para dentro da cavidade de seu manto expandindo seus msculos. O manto estica como uma um

elstico, em seguida, contrai e empurra violentamente a gua para fora atravs do funil. A lula move-se

para trs, a cauda primeiro. Ao fugir de um predador, uma lula pode se impulsionar muito depressa,

chegando ao comprimento de 25 vezes seu corpo por segundo.

Com seu corpo macio, as lulas so presas vulnerveis. Elas contam com sua velocidade e agilidade, assim

como com seu sistema de camuflagem como defesa. Antes de a lula fugir do predador, ela solta uma

fumaa de uma substncia escura chamada spia. Isso confunde temporariamente o agressor,

possibilitando que a lula escape.

Imagem cedida por NOAA Ocean Explorer

Uma lula, assustada com a presena de uma Remotely Operated Platform for Ocean Science (ROPOS), que

desce ao fundo do mar, reage defensivamente esguichando a tinta

Para se confundir com o ambiente, a lula possui milhares de clulas de pigmentao em seus tentculos

chamadascromatforos, presas aos minsculos msculos. Os cromatforos expandem-se ou contraem-se

para mudar a cor ou o contorno da pele da lula para igualar-se ao fundo (essas mesmas clulas tambm

ajudam a lula a atrair um companheiro e a comunicar-se com outra lula). A lula ainda pode mudar a textura

de sua pele para imitar o ambiente levantando pequenas pontas e salincias.

As lulas so carnvoras e preferem alimentar-se de peixes pequenos, caranguejos, camares e outras

lulas. Uma lula se aproximar lentamente de sua presa, ficando longe da viso, at que o animal esteja a

seu alcance, e lanar seus tentculos para apanhar a comida. A lula, ento, puxa o alimento at a boca

com os tentculos. Ela usa seu bico afiado, semelhante ao de um papagaio, para arrancar pedaos, e a

rdula afiada em sua lngua tritura a comida e a empurra para a garganta da lula.

Imagem cedida por NOAA Ocean Explorer

Uma lula no fundo do mar, conforme visto do submarino JSL

A lula reproduz-se sexualmente. Uma fmea pode produzir milhares de ovos, que ela armazena no ovrio.

Na lula macho, o esperma produzido no testculo e armazenado em um saco. Durante o acasalamento, o

macho usa um tentculo especial para transferir os pacotes de esperma para dentro da cavidade do manto

da fmea ou ao redor de sua boca, onde os ovos esto esperando. Em seguida, a fmea expele a massa

gelatinosa de ovos fertilizados de seu funil ou de sua boca e esconde-os sob pedras ou em buracos. Aps

quatro a oito semanas, o filhote nasce. Ao nascer, uma verso menor de seus pais. Alimenta-se de

criaturas minsculas chamadas plncton at chegar vida adulta.

O tempo de vida da lula curto - seu ciclo de vida todo de apenas um ano. Aps o acasalamento,

geralmente as lulas morrem.

Uma abundncia de calamari

De acordo com muitos cientistas, o aquecimento global est tendo um efeito profundo - e geralmente negativo - sobre as espcies animais. Entretanto, para a lula, o fenmeno pode

realmente ser mais uma bno do que uma desgraa. A pesquisa mostrou que os sucos digestivos da lula so mais produtivos em guas mais quentes e, como resultado, ela tende a ficar maior e mais desenvolvida conforme a temperatura da gua aumenta. Como prova disso, os pescadores fora das costas da Nova Zelndia e Austrlia dizem que pegaram quantidades maiores de lulas nos ltimos anos. No entanto, nem todas as lulas parecem se beneficiar do aquecimento global. Os cientistas

afirmam que as que vivem nos fundos mais frios podem no sobreviver em guas mais suaves.

Tipos de lula

Autor: Stephanie Watson

Existem cerca de 300 espcies diferentes de lula. As duas principais subordens da lula

so myopsida e oegopsida. Os membros da subordem myopsida vivem em guas relativamente rasas.

Seus olhos so cobertos por uma membrana transparente, e os tentculos possuem ventosas, em vez de

ganchos. Vamos ver alguns membros comuns da subordem myopsida.

Lula da Califrnia (Loligo opalescens) - as lulas da Califrnia vivem em guas rasas, prximo do contorno

da costa no leste do Oceano Pacfico, do norte do Mxico ao Alasca. So abundantes nas guas da Baa

de Monterey, Califrnia, onde foram encontradas por pescadores pela primeira vez em 1800.

Lula comum (Loligo vulgaris) - a lula comum pode ser encontrada no Mar Mediterrneo e no leste do

Oceano Atlntico. Elas vivem em profundidades de 20 a 250 metros e normalmente so pequenas,

pesando cerca de 1,5 quilogramas e medindo 42 centmetros de comprimento.

Lula de recifes do Caribe (Sepioteuthis sepioidea) - como o prprio nome sugere, essa lula vive no Mar

do Caribe. A lula em forma de torpedo assemelha-se mais ao choco do que lula - mais larga e possui

barbatanas maiores do que a maioria das outras variedades de lula.

Imagem cedida por Hans Hillewaert, usada sob a Creative

Commons Attribution ShareAlike License 2.5 Lula europia

Os membros da subordem oegopsida vivem no oceano e no mar profundo. No possuem crnea sobre os

olhos e seus tentculos so alinhados com as ventosas e/ou os ganchos. Abaixo seguem algumas

variedades comuns da subordem oegopsida.

Lula de barbatana curta (Illex illecebrosus) - vive no Oceano Atlntico, da Flrida Terra Nova, Canad.

Essas lulas possuem um perodo migratrio mais longo que o normal. Elas viajam para o sul para botarem

seus ovos em guas mais quentes.

Lula luminescente de mar profundo (Taningia danae) - essa lula vive em profundidades de mais de

900 metros no Atlntico Norte, e longe das costas das Bermudas, Hava, Japo, Austrlia e Nova Zelndia.

Para sobreviver em um ambiente to escuro, esse tipo de lula cria sua prpria luz (bioluminescncia),

criada pelos rgos chamados defotforos. A Taningia danae ganhou esse nome do navio de pesquisa

dinamarqus, Dana, que, em 1931, capturou uma dessas lulas ao lado da costa das Ilhas de Cape Verde.

Imagem cedida por E.Widder/HBOI/NOAA Ocean Explorer

A lula bioluminescente, mostrada aqui com peixe, gua-viva e camaro bioluminescentes, mora no oceano, a 500

metros de profundidade

Lula de Humboldt (Dosidicus gigas) - ela vive no leste do Pacfico. Essas criaturas enormes ganharam o

apelido de "demnio vermelho" devido a sua pele vermelha e a seus ataques cruis. So impiedosas com a

presa e so conhecidas por estarem atrs dos tubares. A lula de Humboldt cresce a uma proporo

surpreendente - quando adulta, pode atingir de 2 a 4,5 centmetros de comprimento e pesar at 50

quilogramas.

Imagem cedida por NOAA Encyclopedia of the

National Marine Sanctuaries Lula vampira

Nas profundezas dos Oceanos Atlntico e Pacfico, pares de olhos vermelhos incandescentes cortam a

escurido. Pertencem lula vampira do inferno (Vampyroteuthis infernalis), parte de sua prpria ordem de

lulas - Vampyromorpha. O nome sinistro das lulas vampiras deve-se a sua aparncia - olhos vermelhos,

corpo preto e tentculos palmados que se assemelham capa do Drcula. Entretanto, apesar de sua

aparncia assustadora, a lula vampira , na verdade, bastante dcil. Ela fica imvel na gua at que sua

presa se aproxime, e, ento, captura o alimento com os tentculos palmados.

A seguir, veremos as lulas gigantes e colossais para conhecer a verdade que est por trs das lendas.

Monstros do fundo do mar: lula gigante e colossal

Autor: Stephanie Watson

Durante milhares de anos, as pessoas contavam histrias sobre enormes

monstros marinhos cheios de braos. Em "Odissia", de Homero,

Odisseu teve que navegar ao redor de um monstro com vrias cabeas

chamado Cila. Jules Verne, posteriormente, descreveu o ataque de uma

lula gigante ao submarino Nutilo, em "Vinte mil lguas submarinas".

Essas lendas provavelmente basearam-se nas aparies reais da lula

gigante (Architeuthis), o maior invertebrado do mundo e o maior membro

de sua espcie.

Esses animais enormes, que vivem no fundo do Oceano Atlntico,

podem chegar a 18 m de comprimento e pesar aproximadamente 500 kg.

Possuem olhos do tamanho de bolas de futebol, alm de tentculos de

10,6 m de comprimento, alinhados com as ventosas que medem 5 cm de

dimetro cada.

Sabe-se muito pouco sobre as lulas gigantes, pois raramente so vistas.

At pouco tempo, a nica vez que os cientistas viram uma lula gigante foi

quando a encontraram no estmago de baleias cachalote (seus nicos

predadores). As cicatrizes em forma de ventosas nas mandbulas e

lbios das baleias so a prova da batalha que elas travavam para

capturar a presa.

Imagem cedida por NASA/SeaWiFS

Uma lula gigante foi capturada por uma traineira de guas profundas nas guas da Nova Zelndia e

Austrlia, em 1999

Em 2005, uma equipe de bilogos marinhos japoneses conseguiu tirar fotografias da esquiva lula gigante

nadando no fundo do Oceano Pacfico pela primeira vez. Levou trs anos para os cientistas localizarem a

lula, o que eles concluram seguindo as espcimes migratrias das baleias cachalote. Eles tiraram as fotos

enquanto a lula estava atacando a isca em uma linha. A lula ficou presa na linha e lutou por mais de quatro

horas para se soltar. Durante o esforo, ela perdeu um de seus tentculos, que os cientistas recuperaram.

Media 5,5m de comprimento. Um ano depois, os pesquisadores finalmente conseguiram prender uma lula

gigante.

Imagem cedida por Consumer

Guide Product No livro "Vinte mil lguas

submarinas", de Jules Verne, uma lula gigante

ataca um submarino

Imagem cedida por Associated Press/KOJI SASAHARA/

Tsunemi Kubodera do National Science Museum do Japo, HO

Uma lula gigante ataca uma lula na isca quando foi presa pela equipe de pesquisa Tsunemi Kuboderas nas Ilhas

de Ogasawara, sul de Tquio, em 4 de dezembro de 2006. Com aproximadamente sete metros de

comprimento, a lula morreu no processo de captura.

Nos ltimos anos, os cientistas tambm passaram a estudar mais o parente igualmente assustador da lula

gigante, a lula colossal (mesonychoteuthis hamiltoni). Em 2007, um barco da Nova Zelndia estava em

uma expedio de pesca nas guas antrticas, quando sua linha prendeu alguma coisa muito maior do que

um peixe. O pescador lutou durante quase duas horas para puxar a lula colossal para o barco. Ela pesava

495kg e, de acordo com informaes do ocorrido, quando estava sendo cozida, teria produzido calamaris

"do tamanho da roda de um trator." A lula colossal foi congelada e levada aomuseu nacional da Nova

Zelndia para mais estudos.