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magazine music to my ears

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revista elaborada na unidade curricular de design no decorrer do curso de ecm

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Novembro, 2011 musictomyears.com | Music to my ears | 2

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Editorial

As voltas que a vida dá

Na Indústria da música, a pergunta que vale um milhão de dólares é a que diz respeito ao futuro dessa mesma indústria. Todos nós, que vivemos a música de uma forma intensa -seja por motivos profissionais seja por razões do mais apaixonado amadorismo -, sabemosque por estes dias decorre uma revolução pouco silenciosa e que tem vindo a afectar decisivamente tudo o que está relacionado com a música. Desde a forma de a fazer até à maneira de a ouvir, passando pelos métodos da sua promoção e dis-tribuíção, tudo, mas mesmo tudo, foi posto em causa desde que se abriu uma caixa de Pandora chamada idade digital. Ao contrário do que ainda acontecia há pouco mais de meia dúzia de anos, hoje não existe um caminho, defini-tivo e seguro no que diz respeito à edição de música. Nem vale a pena relembrar o caso dos Radiohead, de Prince, de Paul McCartney, de Madonna, ou dos U2, que reeditam a sua obra com um requinte mais que sofisticado, publicam DVD’s à razão de cada digressão ou apostam em formatos que escapam ao âmbito meramente musical, como o filme U2 3D capaz de mostrar os quatros músicos em três dimensões. Dizia eu que, em simultâneo com esta resolução, estão igualmente acontecer transformações, essas sim mais silenciosas, que não têm o aparato nem a visi-bilidade que possuem as notícias sobre pirataria ou o novíssimo gadget que vai mudar definitivamente as nos-sas vidas. Está actualmente em desenvolvimento um novo mundo que não se revê na oposição típica da indústria discografica do Século XX: a contradição entre o artista genuíno ou autêntico e as grandes multinacionais do disco é coisa que hoje em dia, faz cada vez menos sentido. Se se pegar nos casos citados, percebe-se porque os artis-tas com uma marca estabelecida e Palmáres denomeada dispensão hoje tão facilmente os serviços das editores discográficas. O mais interessante ou o mais perverso é que em relação de forças se alterou radicalmente e hoje são os arautos da independência ou as bandas em processo de ascensão que dependem verdadeiramente dessas editoras. Se Radiohead se podem dar ao luxo de oferecer a sua música, isso só acontece porque têm um historial e uma “marca” que lhes permite cobrar um dos cachets mais elevados da época de festivais - o que muito provávelmente os afastará de terras portuguesas este ano. O universo sucede com grupos e artistas em ínicio de car-reira: não podem dispensar o departamento promocional de uma editora e vão ter que rever a sua posição face a todo o negócio da música. As voltas que a vida dá.

Directora Editorial Raquel Mestre ([email protected])

CoordenaçãoAna Ventura ([email protected])

Editor Carlos Mestre ([email protected])

Editor GráficoRodrigo Madeira ([email protected])

RedacçãoLia Pereira ([email protected])

Mário Rui Vieira ([email protected])

PUBLICIDADE

Directora ComercialMaria Santos ([email protected])

Directora de PublicidadePaula Vieira ([email protected])

Publicidade InternetImpressa.com ([email protected])

MARKETINGDirecção de Marketing e Projectos

especiais e Assinaturas Mónica Balsemão

GERÊNCIAPeriodicidade: Mensal

Direcção de ProduçãoManuel Parreira

Tiragem27.000 exemplares

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CurtasJamie Cullum gosta do sangue quente dos portugueses. Recor-da a passagem pelo Algarve num concerto neste verão.

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CurtasM.I.A. sempre polémica, e sem «papas na língua» fala sobre o seu álbum e o processo de compôr.

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16 Quem é? Com a sua voz, conquistou tudo e todos. Adele é a primeira artista a alcançar, ainda viva e ter uma canção e um álbum como número um nas paradas de sucesso ao mesmo tempo na Inglaterra desde Os Beatles em 1964.

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Sumário

RadarNum minuto nem sequer estavam lá, no minuto seguinte já eram um grande fenómeno. Os britânicos xx, quarteto trans-formado em trio tão enigmático quanto o nome que escolheu, assinaram um dos álbuns mais elogiados de 2009.

Especial Amy Winehouse

“Pessoas loucas como eu não vivem muito mas vivem como querem.”A vida e a morte de uma mulher frágil, uma grande voz que a decadência calou aos 27 anos. “As estrelas caem cedo”Morte da cantora, é a nova vítima da Maldição dos 27. Trata-se de um grupo de artistas associados à lenda da maldição dos 27 anos, que surgiu após a

morte de muitos ídolos da música com essa idade.

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PormenoresLady Gaga: quem é, afinal, esta rapariga?

Ela domina a paisagem mediática como poucos artistas e, arriscamos dizer, nenhuma cantora da actualidade. A mulher de « Poker Face» parece ter aparecido do nada mas, a Music to My Ears mostra-lhe a árvore genealógica de Lady Gaga:

artisticamente falando, claro.

Discos deRadiohead - Com a oferta de down-loads do seu último álbum, os Radio-head puseram em causa o futuro da indústria fonográfica, tal como con-hecemos. Não são só os CD’s que

estão a acabar, a venda de música digital também ficou em risco.

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3654

+ Mais Frente

4 Opinião

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Guia

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Feedback

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On Air

Todos vestem estrelas nos pés

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CapaDepois de três longos anos de es-pera, desde que o Viva La Vida foi lançado, eis que o Mylo Xyloto - quinto disco de estúdio da carreira do Coldplay surge na totalidade.M.Xyloto pretende-se conceptual e a abarcar R&B, mas no fundo é a fórmula Coldplay: rifs contagiantes, ‘wooh-oh’s, sons perto de U2 em alguns casos (Major Minus) e o resultado são temas pop que não se amam logo mas que contagiam com velocidade, todos possíveis singles. O dom de se reinventarem, ao mesmo tempo que se imitam.

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frente

O que a nossa redação anda a ouvir

Apresentamos as 15 canções que mais rodam na nossa revista e também algumas novas entra-das para que escolha as melhores.O teu Top, fica atento às novidades da semana no nosso sitewww.musictomyears.com

A Escolha da Equipa Music to

my Earstem o apoio de:

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7

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1Coldplay“Paradise”Editora: EMI

Lady Gaga“You and I”Editora: Interscope

Mumford & Sons“The Cave”Editora: Island

30 Seconds to Mars“Hurricane”Editora: Capitol Records

Adele“Someone like You”Editora: Columbia

David Guetta feat Usher“Without You”Editora: EMI

The Script“Science and Faith”Editora: Epic

Christina Perri“Jar of Hearts”Editora: Atlantic

9LMFO“Party Rock Anthem”Editora: Interscope

The Fray“Heartbeat”Editora: Producer

11Jessie Jay“Nobody’s Per-fect”Editora: Universal

12Snow Patrol“This Isn’t Every-thing You Are”Editora: Fiction

13B.o.B.Ghost in the Ma-chine”Editora: Atlantic

14One Republic“Good Life”Editora: Streamline

15Evanescence“Want you Want”Label: Wind-up Re-cordsMais recente entrada

music to my ears aprova

Scarlett Johansson ‘Anywhere I lay

my head’

Para os mais desatentos a ac-triz Scarlett Johasson apre-senta no álbum de estreia dez versões de temas de Tom Waits (editados entre 1976 e 2006) e um original. “Fawn” abre o disco em pro-gressiva orgia instrumental, mas só três minutos e meio depois se ouve a voz de starlet. E o queixo cai (“Town with No Cheer” é a canção): Porquê? Porque não se sabe bem o que pensar. A esperada rouquidão sensual é substituída por uma voz grave, e sem pingo de sentimento. Johansson atirou-se ao repertório de Waits sem pensar nas consequências e o resultado, da sua parte, é pouco satisfatório. As paisa-gens etéreas/sombrias pensa-das por Dave Sitek (Tv On the Radio) salvam Anywhere I Lay My Head da desgraça.

TOP MUSIC TO MY EARS

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NOTÍCIASMTV EMA: Lady GaGa, 30 Seconds To Mars e Justin Bieber foram os grandes vencedores

Katy Perry, Adele e Bruno Mars foram outros artistas a receber pré-mios dia 6 em Belfast, Irlanda do Norte. Queen levaram para casa

o troféu Ícone Global e actuaram ao vivo com vocalista convidado.

Lady GaGa e 30 Seconds To Mars foram os grandes vencedores dos MTV Europe Music Awards, cuja cerimónia se realizou no dia 6 de No-vembro à noite em Belfast, na Irlanda do Norte. Lady Gaga, a artista norte-americana, que atuou no evento, levou para casa quatro prémios (Melhor Artista Feminina, Melhor Can-ção e Melhor Vídeo, por “Born This Way”, e Melhores Fãs). Os 30 Seconds To Mars saíram da festa dos EMA com dois galardões (Mel-hor Banda Alternativa e Mel-hor Atuação no MTV World Stage), Justin Bieber também (Melhor Artista Pop e Mel-

hor Artista Maculino) e Bruno Mars também (Revelação do Ano e Melhor Artista Push). Aos Queen foi entregue o prémio de Ícone Global. A banda tocou ao vivo um medley que incluiu os temas “We Are The Champions”, “The Show Must Go On” e “We Will Rock You”, com o cantor norte-americano Adam Lambert como vocalista.

Lista completa dos vencedores:Melhor CançãoLady GaGa - “Born This Way”

Melhor Artista ao Vivo

Katy Perry

Melhor Artista PopJustin Bieber

Revelação do AnoBruno Mars

Melhor Artista FemininaLady Gaga

Melhor Artista MasculinoJustin Bieber

Melhor Artista Hip-hopEminem

Melhor Artista RockLinkin Park

Melhor VídeoLady Gaga - “Born This Way”

Melhor Artista Alternativo30 Seconds To Mars

Melhor World Stage30 Seconds To Mars

Melhor Artista PushBruno Mars

Melhores FãsLady Gaga

Melhor Artista do Reino Unido e IrlandaAdele

Melhor Artista GlobalBIGBANG

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Novembro, 2011 musictomyears.com | Music to my ears | 9

O dia em que eu liguei a aparelhagemRui Miguel Abreu sugere os sons do silêncio. Não necessariamente aqueles que Simon & Garfunkel cantaram, mas os que não cabem nos auscultadores de enfiar no ouvido.

Já ninguém usa a ex-pressão “aparelhagem” para se referir ao sistema de som pessoal. Até porque já ninguém tem “sistemas de som”. Talvez seja a consequência direta dos dias que vivemos: por um lado, a tecnologia permite que car-reguemos a música para toda a parte, por outro, indicam os retratos desta geração... hum... aflita, vive-se cada vez até mais tarde em casa dos pais e talvez a profusão de watts não seja a melhor forma de pas-sar despercebido. Talvez seja por tudo isso. Ainda assim, não compreendo que se respeite tão pouco a música ao pon-to de a confinar a minúsculos altifalantes de plástico que se metem dentro das orelhas, a microscópicas colunas escondi-das algures no espaço que não está ocupado pelo ecrã tátil dos telemóveis ou ainda às terríveis e temíveis colunas dos laptops. Neste arranque de ano letivo, tenho podido conversar com alunos de vários cursos ligados à música e só um de-les, precisamente aquele que exibia a barba mais grisalha, usou a expressão “aparelha-gem” para se referir ao seu sistema de som pessoal, o eq-uipamento que usa para ouvir música. A maior parte dos out-ros alunos chega a estranhar a pergunta. “O que usas para ouvir música?” Provavelmente, se colocasse a questão numa qualquer língua exótica não iria obter uma reação muito diferente. Ou seja, mais grave

do que haver quem eleja como método para ouvir música os auscultadores genéricos que recebeu com o leitor de mp3 ou a pobre imitação de colunas que os fabricantes de com-putadores portáteis oferecem com os seus modelos, é hav-er quem já pense que não há outra maneira de ouvir música. Felizmente, os fluxos da moda têm alguns efeitos positivos. Vejo cada vez mais gente nos transportes públicos com auscultados decentes nos ouvidos. Talvez seja inspira-ção direta dos jogadores de futebol que fazem o caminho entre o aeroporto e o auto-carro com vários modelos dos auscultadores desenhados pelo Dr Dre nos ouvidos, ou talvez seja apenas porque dão mais pinta, mas a verdade é que vejo cada vez mais os logos da Sennheiser ou da Nixon na cabeça das pessoas. Nesse ponto podíamos estar pior. Ainda assim, usar “Beats by Dr Dre”, “Masterblasters” ou “HD 25s” para ouvir ficheir-

os comprimidos a 128 kbps é como usar um Audi Q9 para lavrar terra de semear batatas. Toda a gente nos diz que nunca se fez e nunca se ouviu tanta música. Talvez seja verdade em relação à quantidade, mas não ten-ho grandes dúvidas que toda essa música também nunca soou tão mal. Não é apenas esta cultura da compressão de ficheiros, que de facto esmaga a alta definição que a músi-ca - toda a música - exige, com a própria indústria a en-trar no jogo com as “loudness wars” e a nivelar a qualidade pelo menor denominador co-mum, as tais coisas minúscu-las que se enfiam nos ouvidos ou que imitam de forma mis-erável uma resposta minima-mente decente às frequências na parte de trás do telemóvel. Vivemos portanto mer-gulhados num oceano de “mé-dios” a pender mais para o lado dos “agudos” e já nin-guém sabe realmente a que soa o kick de uma 808, o que é um subgrave, como é que um baixo nos pode acer-tar em cheio no estômago e ligar-nos à mais profunda da vibrações, ao ponto de acha-rmos que estamos a captar o movimento das placas tectóni-cas debaixo dos nossos pésTermino com a pergunta mais importante de todas: será que ainda alguém sabe a que soa o silêncio? É o som que se segue ao momento em que desligo a aparelhagem.

opinião

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O meu verdadeiro amor pela música só nasceu quando com-ecei a tocar guitarra e desenvolvi uma paixão por Kurt Cobain, Pearl Jam e Iron Maiden”

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curtas

Jamie Cullum

Aos 31 anos, Jamie Cullum é uma das maiores estrelas de um género que, nas suas próprias palavras,« tem tanto a ver com jazz como com pop». Na «ressaca» do verão em que voltou a Portugal para ac-tuar no evento Allgarve, o inglês de sangue birmanês encontrou tempo para falar com a Music to my ears ao telefone - estava em Los Angeles, no final de uma digressão pelos Estados Unidos, à espera de apanhar o avião para o Japão, onmde iria actuar no festival Fuji Rock. Uma vida que é um priv-ilégio, diz-nos.

Já actou em Portugal várias vezes, sempre com grande sucesso. Que ideia guarda do público português?Quando acabámos a digressão no Reino Uni-do, há uns meses, o nosso primeiro concerto foi em Lisboa. Para nós, a paixão do público português foi uma lufada de ar fresco! Tam-bém adoramos tocar para o público inglês, mas eles não têm a capacidade de mostrar o seu entusiasmo que os portugueses têm. Quando nos adoram, os portugueses mani-festam isso de forma inequívoca.

É conhecido por saltar para cima do piano e outras tropelias em palco. É uma forma de diminuir a distância que o separa do público?Julgo que sempre mostrei bastante entusi-asmo em palco, mas [o lado físico da per-formance] tem a ver sobretudo com o au-mento da minha confiança: a confiança que tenho no meu instrumento e na minha voz, também. À medida que essa confiança vai crescendo, também as actuações se tornam mais energéticas. Se andares para ali aos saltos e a música sofrer com isso, não vale a pena mas, no meu caso, julgo que mel-horei musicalmente ao mesmo tempo que também me tornei mais capaz de entreter.

Começou a tocar piano aos 8 anos. Consegue ficar muito tempo afastado dele?Realmente começei a tocar piano com essa idade, mas o meu verdadeiro amor pela música só nas-ceu quando comecei a tocar guitarra, aos 11 ou 12 anos. Aí é que a coisa se deu e desenvolvi uma paixão por vários músicos daquele tempo, como o Kurt Cobain, os Pearl Jam, os Iron Maiden e outras bandas rock.

O seu primeiro disco, em 1999, foi uma edição de 500 cópias custeada por si. Os seus pais não quiseram ajudá-lo, ou preferiam que fosse ad-vogado ou médico?Nesse aspecto o meu irmão mais velho, Ben, abriu caminho. Quando ele era adolescente os meus pais tentaram convencê-lo a escolher uma carreira mais estável e convencional. Mas quando perceberam que o que ele queria mesmo era fazer música, apoiaram-no sempre. Q u a n d o chegou a minha vez, devem ter pensado:«Oh, que se lixe!»(risos). Eles foram criados em tem-pos diferentes e muito mais complicados e o facto de quererem que nós tivéssemos profissões mais seguras só teve a ver com o afecto e afecto que sentem por nós. Quando perceberam que a nossa paixão pela música era genuína e pelas razões certas, aceitaram-na. E agora têm um grande orgulho em nós, estão sempre nos nossos con-certos!

Quando lançou o álbum Catching Tales, em 2005, foi incluída no «revival» do jazz. E não gostou. Porquê?As pessoas andavam a dizer que o jazz tinha morrido e tinha sido ressuscitado por pessoas como eu. Mas a meu ver, o jazz nunca morreu: os media é que decidem pegar nisso quando se lembram. Além disso, o que eu faço tem tanto a ver com jazz como com pop e rock. O «nosso nascer do jazz» foi uma invenção dos media.

O Piano a seus pés

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O que é mais importante na sua música- experimentar, inovar,chocar?Tenho pessoas a toda a hora no meu site, a dizer: isto causa epilepsia! Não conseguimos que o vídeo do « Boyz» passasse na TV - disseram que era demasiado perigoso. Mas eu quero fazer as coisas difíceis para condicionar as pessoas a lidar com a dificuldade. Alargar as fronteiras - a nível visual ou sonoro. Forçar as pessoas, a lib-ertar o seu espírito. Sen dúvida que sou teimosa. Se faço uma música e as pessoas dizem «isso é nojento!», só me apetece fazer mais. Sei que a minha música pode ser desconfortável, mas a longo prazo, acredito que vão agradecer.

Onde vai buscar a inspiração paras as letras que debita nas canções? O novo álbum pretende apresentar a fealdade à cultura americana. Eu sou completamente influ-enciada pela cultura americana mas agora estou numa posição em que posso influenciar a cultura americana. Mas como é que vou fazer isso, de forma séria e honesta? A cantar «shake that ass»? Não: pensa antes num pau de bambu, pensa num homem com um braço e uma perna no Ruanda... E a «Bamboo Banga» é isso, quer eles gostem quer não. Já disseste a palavra e ela já está na tua cabeça. Não acredito em jun-tar palavras só para juntar versos.

Acha que Arular contribuiu para o surgir de música mais livre? Creio que é um álbum que derrubou a música que nos estava a condicionar. A minha música tem a ver com desmontar coisas: se o hip-hop fosse um carro, tirava-lhe as peças e deixava-as ali, para outras pessoas fizessem o que quis-sessem com elas. Pessoas como Bondo do Rolê e Spank Rock são muito importantes e estão a provar que podes fazer música nova, mais di-vertida ou interessante e sem regras.

M.I.A.SEM LEI

curtas

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Novembro, 2011 musictomyears.com | Music to my ears | 13

Teve medo de não conseguir igualar o impacto de Arular?Nem por isso, porque sabia que o meu primeiro disco não era o melhor que eu podia fazer. Quando andava a apresentá-lo em digressão sentia: isto é um rascunho. Mesmo neste disco, acho que estou a 78% do objectivo. Há coisas em ti que não consegues comunicar bem e por isso recorres a outros canais - vais pintar ou cantar. É assim comigo. Enquanto tiver assuntos, terei música.

Ao falar da luta política do seu pai, quis promover a causa dos Tigres Tamil?A forma como a vida me estava a correr, ou guardas tudo para ti e começas a fazer terapia, ou escreves canções e dizes «vejam como o mundo é engraçado! Aconteceu-me isto e olhem no que deu, agora sou uma estrela pop! Salvem-me deste pânico!».Tudo o que te acontece tem uma razão e se conseguires articulá-la e incluí-la no teu tra-balho, é porque já consegues fazer coisas a partir da tua própria vida - e isso ninguém te pode tirar.

Estava preparada para ser adoptada como ícone pop do sécu-lo XXI? Acho que já me consegui habituar à ideia. É muito estranho, porque quando faço música sin-to-me como as pessoas que fazem filmes alter-nativos e tentam que lhes financiem os projec-tos, e ninguém lhes liga nenhuma, tirando três pessoas no mundo inteiro. Quando trabalho num disco, é algo com que tenho uma relação pes-soal - e ainda não aprendi a fazer o resto. Acho que agora não interessa ser uma estrela pop. Não sei se vai fazer de mim uma grande mul-her. Quero continuar ligada ao chão, às pessoas, à rua. Se amanhã alguém me disser «és uma merda» e eu tiver que ir trabalhar para uma loja numa esquina em Hackney ... é na boa.

Porque decidiu gravar "Jimmy" versão de um tema de Bol-lywood?Quando tinha seus anos, durante a guerra no Sri Lanca, não havia comida em lado nenhum. Eu estava sempre a dançar e havia estranhos que iam ter com a minha mãe e diziam «viemos buscar esta menina, porque precisamos de uma dançarina para fazer os outros miúdos dançar». Foi assim que me tornei numa agitadora de fes-tas profissional - cantava o «Jimmy» com uma coreografia e punha os outros miúdos a dançar. Ganhava comida assim, aos seis anos. Quis gra-var uma canção que faz parte da minha vida. Eu

gostava dela na altura.

Curiosidade:M.I.A. pode não querer ter nada a ver com o «star-system», mas já andou em digressão com a estrela Gwen Stefani. « Ela é uma máquina» revela M.I.A. «Tem uns oito negócios e todos os dias dividia o seu tempo: duas horas disto, duas horas daquilo, e depois o concerto. São 100 pes-soas em digressão, tem um contabilista com ela na estrada, deixa-me tonta!» confessa. «Como é que ela continua a fazer música e dar concer-tos à medida que envelhece como mulher?! E eu estava grávida. Eu só pensava “porque é que não desistes?” Era o que eu fazia: se vendesse milhões de discos, tchau! Ia divertir-me.»

“Se faço uma música e as pessoas me dizem: isso é nojento!, só me apetece

fazer mais.”

Depois do festim urbano-tribal de Arular, bap-tizado em honra do pai, M.I.A. volta à carga com Kala, o nome de sua mãe. Mark E. Smith, dos Fall, foi a grande inspiração da entrega vocal que, continua a surpreender, em «Boyz» ou «Bird Flu».

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Estrelas Cadentes

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A palidez do trio formado no Sul de Londres, a sua timidez, serenidade depressiva e sobriedade são os elementos que tornam o som do The XX misteriosamente sexy. Preto. A cor que utilizam em todos os shows demonstra o refúgio interno dos integrantes, por trás de um visual noir, escon-dem-se no palco para deixar que apenas suas canções hipnotizem, emocionem e confundam os presentes.

Por Raquel Mestre

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Tudo começa em 1998 numa escola londrina com tradição em alunos músicos e estranhos (Hot Chip, Burial, For Tet). Provavelmente, os XX seriam aquele tipo de estudantes calados, observadores, mas que não eram considerados nerds ou losers pelo simples facto de serem imperceptíveis demais. “Nós aceitamos que somos pes-soas frágeis. Definitivamente, somos amantes e não guerreiros”, disse a vocalista Romy Madley Croft em entrevista ao site interviewmagazine.com.Em algum momento, na Elliott School, Jamie Smith (bateria electrónica), Romy Mad-ley Croft (vocalista e guitarrista), Oliver Sim (co-vocalista e baixista) e Baria Qureshi (teclado) conheceram-se e resolveram começar a tocar covers de algumas de suas bandas favoritas como Pixies, Rihanna, The Cure, Tinna Tunner, entre outras. As in-fluências, sobretudo, são outro ponto curioso sobre o The XX.Apesar do som introvertido e do ar tímido que transpassam, alguns dos músicos que os inspiraram estão exactamente do outro lado da moeda e eles não negam adorar o pop R&B de Rihanna, Aaliyah, Missy Elliott, Ginuwine, Mariah Carey, Justin Timberlake e Tinna Turner.Após o início das versões por diversão, gravaram seu primeiro álbum pelo selo Young Turks. Intitulado como The XX, o disco foi lançado entre Dezembro de 2008 e Abril de 2009 e apresenta as músicas autorais “Intro”, “VCR”, “Crystalised”, “Is-lands”, “Heart Skipped a Beat”, “Fantasy”, “Shelter”, “Basic Space”, “Infinity” , “Night Time” e “Stars”. No disco bónus, há versões covers de “Teardrops”, do Womack & Womack, “Do You Mind”, de Kyla, “Hot Like Fire”, da Aaliyah, “Blood Red Moon” da Sandra D e “Insects”, a única autoral.A maioria das músicas segue as mesmas regras de composição, sequências de linhas de baixo, construções simples de guitarra, efeitos electrónicos, bateria mini-malista e o contraste entre a voz suave de Romy Madley Croft e a grave de Oliver Sim. Com um clima denso, sombrio e letras sobre solidão, sexo e relacionamentos, a banda pode muito bem ser considerada como a actualidade do pós punk. Talvez se PIL, The Fall, Joy Division, The Cure e Echo & The Bunnymen não tivessem existido, o The XX seria um conjunto de ‘branquinhos’ ingleses metidos a fazer hip-hop.No final de 2009, a banda teve sua primeira baixa. A tecladista Baria Qureshi deixou a banda. Segundo o site da Revista NME (New Musical Express), Baria optou por não participar de um show em Londres e a banda cancelou várias apresentações pela Europa. Após este episódio, a vocalista Romy Croft disse que Baria não voltaria mais à banda e não seria substituída. Para Jamie Smith, “eu acho que dizer que ela saiu por ‘diferenças pessoais ‘ seria a maneira padrão para falar sobre isso. Eu acho que é apenas a intensidade de estar em digressão, a relação entre os integrantes fica muito complicada”.Como um trio ou quarteto, o grupo segue fazendo concertos em todo o mundo e a previsão de lançamento de seu segundo álbum é para 2012. Apesar de terem ini-ciado a banda como um passatempo, conquistaram uma legião de fãs, figuraram nos Top 10 de revistas importantes, participaram da trilha sonora de séries, ganharam prémios e tocaram nos principais festivais do mundo.

São o trio sensação do momento e alimentam um certo secretismo em seu redor. Conheça a história dos xx , responsáveis por um dos álbuns de 2009.

Radar

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Novembro, 2011 musictomyears.com | Music to my ears | 17

Vem aí o segundo álbum?

Os The xx anunciaram no seu site oficial que entraram em estúdio

para gravar o segundo disco. A banda também pretende transformar um site num blog para postar “inspirações, fo-tos e músicas favori-

tas”. A primeira música postada pela banda é ‘Interceptor’, do duo

francês Together.

Em 2010, o The xx gan-hou o prêmio inglês Mercury Prize com seu álbum de estreia, que leva o nome da banda e conta com os hits ‘Crystalised’ e ‘Islands’.

Têm vindo a recolher elogios de todos os la-dos: a imprensa britânica cola-lhes rótulos tão elogiosos quanto “surpreendentemente bons” ou “refrescantes” e acusa-os de escrever canções pop clássicas quase perfeitas.

Em entrevista ao site de música Pitchfork, a voz masculina dos xx, Oliver Sim, explica que tudo começou quando aos 15 anos começou a trocar ideias com a voz feminina do projec-to, Romy Madley-Croft. “Quando começámos a fazer umas jams, era tudo muito distorcido, tentávamos ver quem conseguia tocar mais alto. Mas rapidamente percebemos que as-sim não íamos a lado algum. Somos pessoas muito descontraídas, por isso não faria sentido produzir aquele tipo de música ruidosa que as pessoas esperam de um grupo de miúdos com 19 anos”.

“As nossas primeiras canções foram escritas antes de quaisquer experiências de enamo-ramento, mas tínhamos situações verdadeiras das quais falar”, explica Romy Madley Croft à revista Interview.

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ADELENuma semana em que volta a ser número 1 da Hot 200 da Billboard, e que atinge a marca de 1 milhão de álbuns vendidos nos Estados Unidos da América (a primeira artista a consegui-lo este ano), a Music to my Ears mostra quem é esta «superstar».

Não faço música para os olhos, faço música para os ouvidos”

Quem é?

Adele Laurie Blue Adkins atraiu a atenção da XL Recordings com suas três demos no seu perfil no MySpace e acabou por assinar com a gravadora. Desde a sua estreia, o álbum 19 de Adele foi aclamado pela críti-ca e foi um sucesso em vendas. O álbum estreou em número um e recebeu três certificações de platina no Reino Unido. A sua carreira de sucesso nos Estados Unidos começou após uma apresentação sua no pro-grama Saturday Night Live em 2008. Adele lançou o seu se-gundo álbum 21 em 24 de Ja-neiro de 2011 na Inglaterra e dia 22 de Fevereiro nos Estados Unidos. O álbum foi um sucesso comer-cial e com a crítica, vendendo 208 mil cópias na primeira se-mana de vendas no Reino Uni-do estreando em primeiro lugar na UK Albums Chart e também liderou as paradas de vendas em vários países. O CD tam-bém estreou muito bem nos Estados Unidos alcançando a primeira posição na Billboard 200 vendendo 352 mil cópias na primeira semana.

Depois de uma aclamada performance ao vivo no BRIT Awards de 2011, a canção “Someone Like You” chegou ao primeiro lugar das paradas de sucesso no Reino Unido, enquanto o álbum também permaneceu como número um no país. A Official Charts Company anunciou que Adele é a primeira artista a alcançar, ainda viva, uma canção e um álbum como número um ao mesmo tempo na Inglaterra desde Os Beatles em 1964. Em Outubro, a sua gravadora Columbia Records anun-cia que ela passará por uma cirurgia nas cordas vo-cais e ficará um longo período de repouso. A pre-visão é que ela volte a cantar só em 2012.

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guia

29 de NovembroCansei de Ser Sexy / Porto – Hard Club / 21:00 / 24 €

2 de DezembroPedro Abrunhosa / Braga – Theatro Circo / 21:30 / 20 €

3 de DezembroB Fachada / Viseu – Teatro Viriato / 16:00

5 de DezembroRodrigo Leão /Porto – Casa da Música / 21:00 / 25 €

7 de DezembroJosé Cid / Lisboa – Campo Pequeno / 22:00 / 15 €

8 de DezembroThe Smashing Pumpkins / Lisboa – Campo Pequeno / 20:00 / 25 €

9 de DezembroAna Moura /Portimão – Arena / 22:00 / 15 €

10 de Dezembro Xutos & Pontapés / Lisboa – Campo Pequeno / 21:30 / 20 €

Clã / Torres Novas – Teatro Virgínia / 16:00 / 2 € Mafalda Veiga / Vila Nova de Famalicão / 21:30 / 15 €

15 de DezembroAmor Electro / Amadora – Dolce Vita Tejo

16 de DezembroLuísa Sobral / Guimarães – Centro Cultural Vila Flor

17 de DezembroRihanna / Lisboa – Pavilhão Atlântico / 19:30 / 35 €

19 de DezembroDeolinda / Lisboa – Casino Lisboa / 22:30 / livre

31 de DezembroThe Gift / Lisboa – Casino Lisboa / livre

Concertos

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Amy Winehouse(1983-2011)

A estrela que vai ficar

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Especial Amy Winehouse

Tornou-se um alvo fácil para os tablóides, com histórias de drogas, bebidas e conflitos conjugais a cada esquina. Gerou amores e ódios, encantou e desiludiu. Metade génio, metade espalha-brasas. Morreu em casa. Amy tinha tudo para ser grande, mas o corpo não deixou.

Toda a gente sabia que aconteceria, inevitavelmente. O fim avisava-se há já alguns anos, quando as actuações em palco começaram a e chamar mais a atenção de tablóides do que propria-mente de amantes da música. Amy Jade Winehouse cultivava amores e ódios e à sua volta à velocidade com que dava tragos de uísque em palco. Foi encontrada morta em casa, e a causa da morte terá sido uma combi-nação fatal entre ecstasy de má quali-dade álcool que ditou o destino da cantora. Nascida no Norte de Londres em 1983, no seio de uma família judia, in-teressou-se desde cedo pela música. “Frank”(2003) foi a sua entrada triunfal. O álbum de estreia foi nomeado para o Mercury Prize, prestigiado prémio britânico. Três anos depois chegar-ia “Back to Black”, a encantar meio mundo com uma voz quente e rouca que acompanhava letras pessoais e profundas. O álbum que reunia temas como “Rehab” ou “You Know I’m no Good” venceu cinco das seis nomea-ções em que estava nomeado para os Grammy, Um terceiro álbum póstumo sai em Dezembro. Disco chama-se Li-oness: Hidden Treasures e inclui in-éditos e demos Amy, bem como uma versão de “Garota de Ipanema”.Mark Ronson e Salaam Remi, os produ-tores que trabalharam mais de perto com Amy Winehouse, são os respon-sáveis por compilar este Lioness: Hid-den Treasures , que descrevem como uma prova do que era Amy “enquanto artista, mas também como sua ami-ga”.

Por trás das músicas envolventes e melancóli-cos, estavam graves problemas com álcool, drogas e aina uma relação destrutiva com o ex-marido Blake Fielder-Civil. Com 27 anos, Amy morreu e consigo levou o eyeliner carregado, o cabelo negro, a cintura de vespa e a voz enorme.

1

2

1. Amy Winehouse com 2 anos de idade, em 1985. A infância foi passada em Enfield, sul de Londres. Amy parecia-se muito com a mãe, Janis Winehouse, farmacêutica.

2. Aos 7 anos, com o seu irmão Alex e os avós.

“Era uma criança linda - sempre activa, sempre curiosa. Era muito alegre mas também muito tímida. Nunca foi uma criança fácil”

Jane Winehouse

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Até tem nome: beehive, por fazer lembrar uma colmeia. A senhora que criou o famosos penteado dos anos 50 e 60 foi Margret Vinci Heldt, dona do cabeleireiro a que emprestava o mesmo nome, em Chicago. O penteado que se ba-seia em formar um grande alto no topo da cabeça, foi recupera-do pela cantora que trouxe para o nosso milénio. Amy inspirou-se nas The Ronettes, uma banda feminina dos anos 60.

Respirava Blues e R&B. Em cri-ança ouvia Frank Sinatra com o pai, mas foi aos 13 anos que re-cebeu a primeira guitarra para logo depois começar a escrever.

No antebraço direito, um pás-saro com a frase “Never clip my wings” que traduzido seria “Nun-ca me cortem as asas”. Uma fer-radura (símbolo de sorte ), uma boneca pin-up e a expressão “menina do papá” aparecem no braço esquerdo. No peito exibia um pequeno bolso onde estava escrito o nome do ex-marido- “Blake’s ou do Blake”. Na bar-riga, mesmo ao lado do umbi-go tinha desenhada uma âncora com as palavras “Hello Sailor”. Ao todo, “12 ou 13” tatuagens, disse numa entrevista.

De um lado, os escãndalos relacionados com a sua vida pessoal e amorosa, com álcool e drogas à mistura, do outro, os rasgados elogios feitos à sua voz, escrita e interpretação. Grandes nomes da música elogiaram Amy, a britânica esquálida e magricela que brotava uma voz forte e rouca que tantas vezes parecia demasiado potente para o seu corpo.

Anatomia de Amy

Enquanto tiver voz, sou a mulher mais feliz do mundo.”

Cabelo

Peito

Tatuagens

Voz

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Um professor Inglês investigou e o semanário britâni-co New Musical Express deu os primeiros sinais de alarme: de acordo com Mark Bellis, aparentemente especialista em futurologia do «quinanço», os músi-cos têm a tendência para morrer cedo. A novidade não é propriamente bombástica e torna-se rapi-damente um assunto corriqueiro quando as razões de tão precoce mortalidade são reveladas - só o consumo desregado de drogas e o abuso de álcool vale um terço das certidões de óbito. De acordo com este estudo, a esperança média de vida de um músico dado aos prazeres proibidos é - espante-se - 35 anos menor do que a de um comum mortal do mundo ocidental.Mas há mais: suicídios, doenças do coração e todas as variantes cancerígenas são potenciais ceifeiras a pairar sobre a cabeça deo músico que se quer estouvado. O estudo retira quaisquer perspectivas de longevidade ao incauto manipulador de guitar-ras, baixos, baterias ou microfones quando avisa que o simples facto de se fazer parte de uma ban-da de sucesso já significa fazer descontos ( e não exactamente para a reforma).O stress é evidentemente, um alvo a abatere viajar pelo mundo pode ser enriquecedor culturalmente mas faz mal à cabeça - o jet lag altera drasti-camente, os padrões de sono dos nossos génios favoritos. Carros e aviões comportam igualmente, uma quota-parte de riscos. Com base nestes condi-cionalismos, o NME prevê que Pete Doherty não passa dos 34 anos; Beth Ditto (das Gossip) podem vir despedir-se deste mundo aos 39. Por sua vez, a neófita ( e mais ajuízada) Kate Nash terá o praz-er de conhecer os netos.A Music to my ears consultou o respeitável Death Clock(www.deathclock.com), a chacinar desde os 90’s, e apurou resultados surpreendentes:Jeff Buckley, falecido em 1994, poderia afinal ter vivido até 2014; se não tivesse sido alvejado mor-talmente em 1980, Jonh Lennon levaria uma vida santa até 2029. Por sua vez, Keith Richards, dos Rolling Stones, já deve três décadas ao criador - as previsões mais optimistas não lhe vaticinavam

sinais vitais depois de 1977.

As estrelas caem cedo

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Coldplay

REGRESSAM

COM “MYLO XYLOTO”

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Coldplay

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capa

Um dos maiores grupos do planeta está de volta, e a Music to my ears, teve acesso a palavras exclusivas da banda de Chris Martin sobre o último trabalho da banda, intitulado ‘Mylo

Xyloto’, que chega este mês às lojas de todo o mundo.

Quando Chris Martin deu a entender que o último álbum dos Coldplay podia ser exactamente isso – o último, o produtor Brian Eno tinha outras ideias. O guitarrista Jonny Buckland explica: «o Brian é uma pessoa inspiradora. Ele escreveu-nos uma carta depois de termos acabado o álbum que dizia ‘isto estava bom, mas acho que conseguimos ir mais longe, podemos fazer mais’ e portanto, de certa forma con-tinuámos por causa disso».

O baterista Will Champion acrescenta, «o Chris tem a mania de dizer que este pode ser o nosso último álbum mas na altura, depois de termos acabado o álbum, sen-timos genuinamente que não havia mais nada a dar – não há mais ideias, por isso a ideia de gravar outro disco é aterradora!». Deve atribuir-se a Eno o crédito de ter conseguido extrair o máximo de Mylo Xyloto - o 5.º álbum da banda – o mais excitante, o que flui melhor desde o Rush of Blood to the Head, de 2002. Amea-çando ter singles de sucesso potencialmente mais clássicos que o antecessor Viva La Vida And Death To All His Friends lançado em 2008, é provável que com este álbum confirmem a sua posição como a maior banda do mundo, e ultrapassem os nove milhões de vendas do álbum anterior.

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Conversando no Bakery es-túdio em Hampstead – de-pois de terem acabado de definir o alinhamento durante o almoço – a banda parece estar relaxada, embora ad-mita estar ansiosa de saber como o mundo vai reagir a um disco que começou como um «álbum acústico calmo», que a determinado ponto já pretendia ser uma banda sonora para um filme ani-mado ao estilo Yellow Sub-marine (ideia abandonada porque ia demorar mais de cinco anos a fazer), e ag-ora vê-se como um álbum conceptual de synth-infused pop progressivo.

O baixista Guy Berryman explica, «ia ser uma es-pécie de banda sonora para um filme que íamos escrev-er, que tinha uma história. Chegámos bastante longe, definimos os personagens e depois abandonámos a ideia e seguimos noutra direcção, mantendo elementos do ál-bum acústico e da banda sonora, por isso acabou por ser um álbum ao qual chegámos de uma forma pouco convencional».

O vocalista Chris Martin – que revelou na semana pas-sada à Music Week como acabou por ficar a colabo-ração da Rihanna no futuro single Princess Of China – não descarta a ideia de de-screver Mylo Xyloto como um álbum conceptual. De facto, contrariando o impulso de fazer downloads individ-uais dos temas, ele diz que fizeram deliberadamente um trabalho que os fãs iam querer ouvir por inteiro.

«O álbum é sobre pessoas que se perderam num am-biente muito assustador, e encontraram-se para ultra-passar isso. É uma história de amor basicamente. Mas não tem muitos dragões e montanhas, que é o que acho que as pessoas asso-ciam a álbuns conceptuais! Sentimos que o álbum está sob ameaça como formato, e que devemos mesmo faz-er um esforço de unir tudo bem. Tudo faz sentido como uma coisa una. Por isso, se querem encontrar uma nar-rativa através do álbum con-seguem, que é uma coisa que nos deu imenso prazer fazer».

A produção foi entregue à confirmada equipa con-stituída por Markus Dravs, Daniel Green, Rik Simpson e com Eno, que também tem o crédito de “composição adicional” com o anteri-or manager Phil Harvey (o 5.º membro não oficial da banda) num crucial papel de director criativo. Berryman acrescenta, «houve elemen-tos que foram os mesmos, mas sentimos como total-mente diferentes».

De facto, as sessões de gravação não foram só tempo a experimentar no estúdio Bakery e no estú-dio The Beehive, foi tam-bém enquanto estavam em digressão em Miami, Nova Iorque, Los Angeles e To-kyo, onde acabaram o ál-bum. Champion acrescenta: «foi crucial, porque podía-mos ver que o prazo es-tava cada vez mais perto e aquelas horas que tivemos naqueles estúdios à volta do

mundo foram mesmo pre-ciosas».

Miles Leonard, presidente da Parlophone concorda que a banda fez um álbum mar-cante. «Demorou um pou-co a fazer, mas a banda saiu de uma tour enorme e começou a escrever e a fazer experiências com al-gumas músicas. E é aí que Brian entra e desconstrói as músicas e as reconstrói de novo. Depois alguém como o Markus toma o controlo, senta-se atrás da secretária e apresenta aquele som rock». Ocorreram semanal-mente desde Fevereiro, re-uniões de planeamento me-ticulosas com a editora por uma digressão de no mínimo 18 meses – possivelmente levando a banda a territóri-os novos como a África do Sul, Europa de Leste, o Su-doeste Asiático e a China. Leonard enfatiza que ape-sar de já terem 50 milhões de álbuns vendidos, nada é tomado como garantido pe-los Coldplay, e é particular-mente elogioso em relação à atenção pelo detalhe que a 3d Management mostrou em relação aos dois singles que saíram antes do lan-çamento álbum. Especial-mente porque permitiu à banda ouvir o novo mate-rial em digressão durante o Verão, incluindo em Glaston-bury, onde mostraram aos U2 como cativar uma mul-tidão num festival. Leonard explica «Vemos como uma vantagem a desvantagem de termos mais musicas a ro-dar. Hoje em dia as pessoas precisam de ouvir mais do que um single, para fica-rem convencidas a comprar

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um álbum». Embora franca-mente seja provavelmente o álbum de 2011 em que me-nos precisarão de ser con-vencidos.

Uma abordagem popComo forma de combater o de-clínio geral de vendas para bandas rock, o manager dos Coldplay, Dave Holmes, ar-riscou uma ‘abordagem pop’ ao disco, com a escolha dos dois primeiros singles, Ev-ery Teardrop Is A Waterfall e Paradise.

«Quando já sabemos que temos canções que chegam para um disco, começamos a pensar na altura ideal para o lançar e neste caso tive uma abordagem não-tradicional do tema. Deci-dimos lançar um single, em Junho, sem falar muito so-bre o disco durante uma di-gressão que também ajudou a lançar um ‘buzz’», expli-cou. «’Deixar a música falar por si’, disse eu ao grupo. Mas as pessoas hoje em dia perdem a atenção tão rapi-damente- vejo bandas rock por um single, e o disco e depois tudo desaparece… Ao fazer a abordagem das duas canções as pessoas sentem-se envolvidas, e não há muitas bandas a fazer isso no momento».

Holmes – há 11 anos man-ager da banda – concorda que a excitação geral em torno de Mylo Xyloto é se-melhante à que precedeu A Rush of Blood to the Head, mas diz que a sua ambição não é só vender mais dis-cos. «Eu acho que este vai sair-se ainda melhor do que o anterior, eu gostava que

assim fosse, mas não gira tudo a volta das vendas, importa também ter canções que resistam o teste do tem-po... seria óptimo sair desta ‘campanha’ com mais can-ções dessas no reportório», finaliza.

Mylo XylotoGravadora(s) Parlophone

Número Título 1. “Mylo Xyloto”2. “Hurts Like Heaven”3. “Paradise” 4. “Charlie Brown”5. “Us Against the World” 6. “M.M.I.X.” 7. “Every Teardrop Is a Waterfall” 8. “Major Minus” 9. “U.F.O.” 10. “Princess of China”11. “Up in Flames” 12. “A Hopeful Transmission”13. “Don’t Let It Break Your Heart” 14. “Up with the Birds”

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Mylo Xyloto Track-By-Track por Chris Martin

Mylo Xyloto (pronuncia-se My-low Zy-lotoe)

«Significa aquilo que vocês quiserem. Para mim, significa liberdade de expressão e podem pensar em novas pala-vras se quiserem. Nada é… ainda há coisas que se podem inventar e as palavras começadas por X são poucas, por isso pensamos em acrescentar uma»

Hurts like Heaven«É a típica faixa de abertura- uma espécie de chamada às armas. É um… aquecimento».

Paradise«Se alguma vez ganhássemos o concurso X Factor, se-ria talvez com esta canção. Obviamente nunca o faremos, creio que não somos suficientemente bonitos para ir ao programa».

Charlie Brown«A única canção que alguma vez escrevemos numa casa de bonecas. Eu estava a pernoitar numa casa onde tinham daquelas casas de boneca Wendy mas transformei-a num pequeno estúdio porque a minha filha não gostava da casa. Naquele dia voltei de um concerto do Bruce Springsteen em Los Angeles e decidi ver o que resultava de tudo aq-uilo»

Us Against The World«[o disco] É tudo suposto ser uma espécie de história onde tudo se encaixa, e esta são os dois personagens das duas canções anteriores quando se encontram. È acerca de conhecer alguém que amamos e sentirmo-nos po-derosos… quando conhecemos alguém e de repente tudo parece certo outra vez».

Every Teardrop Is A Waterfall«É o tema central do disco, acerca de tentar mudar. Par-adise é sobre isto também, tentar transformar em boas as coisas más. Nós como banda já vivemos muitos inci-dentes de pessoas serem agressivas face a nós ou algo assim. Pelo que o disco é alimentado por uma espécie de fogo que é virar essa energia negativa em positividade. E creio que todos nós nas nossas vidas temos algo as-sim»

M.M.I.X.«O título veio da frase ‘Mat McGinn is awesome’ [‘Mat McGinn é fantástico’, em referência ao técnico de guitarra de longa data] pelo que não sei porque saiu soletrada as-sim. Não representa nada, é só uma colecção de letras»

Major Minus

«É uma canção género vilão do James Bond. A ovelha negra do disco, a má»

UFO«A acústica… foi o primeiro tema escrito para o álbum na verdade, e a sequência de acordes nela aparece mais vezes. È uma espécie de uma oração: Há sentimentos perdidos no disco e outros ganhos, e esta encarna um pouco de ambas»

Princess of China (com Rihanna)«Na verdade eu escrevia-a praticamente para Rihanna, mas depois gostei demasiado dela para a dar. Depois ficou claro que era uma espécie de uma luta de casal. Lev-ei cerca de um ano a ganhar coragem, e quando lhe pedi ela não se negou logo. To-quei parte no piano e ela disse logo, «Oh,

okay!”»

Up In Flames«Escrevemos essa há muito pouco tempo e gravamo-la em cinco países em sete dias. Foi divertido. Foi quando sabíamos que ía-mos conseguir completar o disco porque o Will- que é sempre o mais difícil de agradar na banda- depois de ouvir disse ‘ok esta-mos prontos’»

A Hopeful Transmission/Don’t Let It Break Your Heart«Desta vez queríamos acabar um disco com um final feliz e acho que conseguimos, algo que nunca pensei que fizéssemos. Por alguma razão resultou e isto foi num dia já muito tarde e é uma boa canção porque podemos bater nos instrumentos com a maior força que conseguimos e isso para um grupo como os Coldplay é algo muito agradável»

Up With The Birds«Foi quando pensamos acerca de uma história que soasse a fim do filme, esse tipo de coisa»

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feedback

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São 5h da manhã e acabei de chegar do concerto [da Lady Gaga em Lisboa]. Só consigo descrever com uma palavra o espetáculo que vi: único. Podem dizer o que quiserem da Lady Gaga, que é um fenómeno passageiro, que não traz nada de novo à música... A verdade é que quem viu este concerto percebe o porquê do seu sucesso. Tem uma voz que aguenta diferentes registos, uma figura interessante, o guarda-roupa é simplesmente divino, os bailarinos brilhantes, os cenários pareciam tirados de um filme de Hollywood e, acima de tudo, comunica com o público. Esfor-çou-se para falar português e falou tanto com o público, passou tantas mensagens que até parecia uma palestra de como au-mentar a autoestima.Os discursos que fez foram muito coerentes, válidos e impor-tantes na sociedade actual. Pensar bem naquilo que somos por oposição ao que queremos parecer. Foi, como ela disse, um hino à liberdade: cada um é como é e ninguém tem nada a ver com isso! Mais o carinho que ela demonstrou com os fãs, entregando algumas coisas, guardando outras e estando muito próxima fi-sicamente de nós todos, é algo que não se vê muitos artistas fazerem. Foi simplesmente inesquecível, Ela mostrou ser muito profissional , atenta a todos os pormenores, humilde, empenhada em dar o seu melhor e genuína. Conseguiu mostrar o lado humano que muitas vezes não transparece nestas situações!Resumindo: Lady Gaga, parabéns e obrigada por este espetáculo

Carta do mês

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Os discos de. . .

Impossível dissociar o primeiro ál-bum dos Radiohead do sucesso de «Creep», canção hino que assenta como uma luva a um período em que os Nirvana eram reis e sen-

hores. Descrita como «uma mistura entre U2 e os Pixies», a banda de Oxford estava longe de garantir o estatuto que hoje con-hece.

Pablo Honey (1993)The Bends (1995)

The Bends, essencialmente, um disco de guitarras, atirou «High and Dry» «Fake Plastic Trees» e «Street Spirit (Fade Out)» para os toes. A imprensa encontrava em

Thom Yorke o «próximo mártir», traçando paralelos com o (então recentenmente) fa-lecido Kurt Cobain.

Este álbum mudou o es-tatuto da banda. É con-siderado como concep-tual sobre a sociedade de consumo, a desagrea-

gação social e a prevalência da tecnologia sobre o factor humano. Mais emocional, Thom Yorke e companhia teceram baladas como «Karma Police», « No Surprises» e « Paranoid Android». O públicou aderiu sem reservas.

Ok Computer (1997)

Muito mais experimental e obtuso do que qualquer dos predecessores. Foi o primeiro a benefeciar do efeito - internet: des-

pertando interesse nas canções novas e gerando reconhecimen-to. Novas pistas exploradas: elec-trónica, música clássica contem-porânea, krautrock e jazz.

Kid A (2000)

Recupera os novos am-bientes introduzidos pelo seu antecessor (os dois foram descritos pela banda como: «gémeos

separados à nascença»). O fac-tor «ambient» é acentuado, dando azo a comparações com o tra-balho «tutelar» de Brian Eno nos anos 70.

Amnesiac (2001)

Da inocência não intelectualizada de Pablo Honey ao álbum que revolucionou a indústria do disco (In Rainbows), passando pelo pilar maior do rock complicado dos anos 90, Ok Computer - os Radiohead vistos do lado de dentro dos álbuns.

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Os Radiohead anunciaram através de um «post» do guitar-rista Jonny Greenwood no site oficial - que o novo álbum In Rainbows, estaria disponível para download no site da banda, decidindo os fãs qual o preço justo a pagar por ele. De acordo com o Nielsen Soundscan, os Radiohead vendem todos os anos cerca de 300 mil discos de fundo de catálogo, número que - mesmo em tempo de «vacas magras» - não é negligenciável pelas grandes editoras.

Esta acção dos Radiohead tem uma interpretação óbvia: os artistas estabelecidos deixaram de ver na função das edito-ras discográficas um meio de atinguir os seus fins. Um executivo não identificado de uma editora multinacional europeia referiu-se ao «caso» Radiohead como «mais uma ferida de morte» na indústria. E verbaliza o que parece ser a opinião generalizada:« se a melhor banda do mundo não quer fazer parte de nós, não sei o que restará mais a este negócio». Para Rober Sandall articulista do Sunday Times este foi «o dia em que a indústria morreu». E explica-o assim « discos, CD’s, ou downloads foram despromovidos ao estatuto de ferramen-tas promocionais- utéis para vender bilhetes de concertos e parafernália de fâs». A questão que hoje se coloca é: agora que uma das bandas mais populares (e credíveis) da actualidade ofereceu a sua música sem pedir dinheiro em troca, será legitimo esperar com o consumidor volte a pagar a música que quer ouvir? A resposta mais provável é um

retundo «não».

«É uma ideia fantástica porque devolve a respons-

abilidade à consciência da das pessoas e trata as pessoas

como gente crescida»

Johnny Marr, ex-guitarrista dos Smiths

« É, definitivamente, o príncipio do fim do velho modelo. Com as perdas nas vendas de CD’s, as

bandas vão ser pagas pelas pes-soas que vão aos concertos e

compram «merchandising»

Alan Mcgee, editor discográfico que descobriu os Oasis

Sucedendo na discogra-fia a I Might Be Wrong - Live Recordings, é visto como um regres-so ao som de guitarras

que marcou a produção da banda na segunda metade da década de 90. Menos visíveis, as experimen-tações electrónicas e o tempero jazzístico cederam terreno a um som mais convencional, com rock declarado em «2+2=5» e «There There».

Hail to the Thief (2003)

Editado primeiro como download digi-tal, pode ser visto como um prolonga-mento estilístico de Hail To The Thief, compreendendo elementos das várias fases da banda, do rock abrasivo de «

Bodysnautchers» à delicadeza acústica de «Faust Arp». A edição especial do álbum tem oito temas, incluindo « Up On The Ladder», interpretada nos concertos portugueses de 2002, não incluída em Hail To The Thief.

In Rainbows (2007)

Eles estão a virar a música do avesso

Thom Yorke e parceiros editam álbum na In-ternet e só podem gorjeta em troca. Especial-istas aplaudem e declaram o fim da indústria discográfica.

As opiniões

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Novembro, 2011 musictomyears.com | Music to my ears | 36

O que têm Karen O, M.I.A., Sid Vicious e Billie Joe Armstrong em comum? Todos vestem os pés com All Star

Ténis com história A ideia de criar calçado com sola de borracha valeu ao norte-americano Marquis M. Converse o ínicio de uma aventura que faz este ano 100 anos. A em-presa de sapatos nasceu em 1908 mas só nove anos depois foi lançada a linha desportiva, na qual estava incluída a bota de lona conhecida por All Star. A ajuda do basquetebolista Chuck Taylor (cuja assinatura persiste até hoje) levou posteriormente a ajustes preciosos para a prática desportiva. A época áurea dos ténis pensados pela Converse foi a década de 50. Com o advento da cultura rock foram adopta-dos pelo rockabillies - e também Hollywood começou a prestar atenção ao femómeno, quando James Dean se deixou fotografar com os ténis calçados. Nos anos

60, a marca começou a produzir linhas de vestuário e acessórios usados por desportistas de elite e um cada vez maior número de figuras públicas de outras áreas. Devido à grande procu-ra a marca começou a fabricar em diferentes cores e materiais, mas também a ter de lidar com a competição cerrada de mar-cas como a adidas, a nike, ou a reebok. Como reacção, já na década de 80, a empresa inves-tiu em pesquisas biomecânicas para aumentar a resistência do calçado, mas acabou por perd-er a corrida para outras mar-cas (deixou inclusive de ser o calçado oficial da liga de bas-quetebol). Apesar de nos anos 90, a popularidade da Converse ter aumentado ( em muito impul-sionada pelo fenómeno grunge), a empresa foi acumulando dívi-das e em 2001 declarou falência. Comprada pela Nike dois anos depois, deslocou todas as suas fábricas para países asiáticos.

Todos usam estrelas nos pés

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O rock nasce nos pés Para marcar o 100º aniversário da Converse, a marca associou-se a algumas figuras proeminentes do panorama musical ( e não só) numa campanha denominada Connectivity. Lançada em mais de 75 países basea-se numa imagem que prende pelos pés ídolos do pas-sado e presente, como Karen O (Yeah Yeah Yeahs), M.I.A., Com-mon, Billie Joe Armstrong (Green day), Joan Jett, o basquetebolista Dwyane Wade, o actor James Dean e o jornalista musical Hunter S. Thompson. Serão também levadas a cabo campanhas locais com Ian Curtis dos Joy Division a ser adicionado às personalidades supraci-tadas no anúncio britânico. Num artigo publicado pelo jornal britânico Guardian, Karen O, M.I.A. e Lightspeed Champion são inquiridos sobre os ténis. Karen O não pensou duas vezes antes de participar na campanha da Converse, « estou feliz por apoiar um sapato que os meus pés têm conhecido tão intimamente ao longo das minhas explorações pelo rock’n’roll». M.I.A. exalta a possibilidade de adaptação dos ténis, « customava personalizá-los quando andavam na escola - e escrever neles, pintar com spray». O londrino Lightspeed Champion assume ter começado a usar All Star influenciado por uma fotografia dos The Strokes. « Os Converse são fáceis. São bonitos quando novos e quando com-pletamente gastos - de facto provavelmente são ainda mais bonitos completamente gastos».

Hunter S. Thompson

Dwyane Wade

Sid Vicious

M.I.A.

James Dean

Karen O

Common

Joan Jett

Billie Joe Armstrong

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Surgiu do nada e em menos de dois anos tornou-se uma das artistas mais impor-tantes da constelação pop mundial. Lady Gaga soma e segue, entre números 1 em topes de venda, recordes de admiradores em redes sociais. polémicas, perucas e vestidos de bifes... É de forma controversa, mas eficaz, que se vê envolta numa teia de relações de influências com admiradores, detratores e seguidores.

A lista de influências de Gaga é infindável, mas Madonna é talvez a mais flagrante. Partil-ha com ela um objectivo: revolucionar a pop. Freddie Mercury, Elton John e David Bowie têm lugar no seu altar de santinhos: consid-era o falecido vocalista dos Queen uma «das maiores personalidades do mundo pop», com Elton John já cantou em diversas ocasiões; e Bowie é um dos seus maiores ídolos, pela ca-pacidade de reinvenção e estilo andrógino.

Primeiro Beyoncé pediu-lhe para cantar em «Vid-eo Phone» e aparecer no teledisco. Gaga retribuiu, convidando a parceira de Jay-z para um dueto em «Telephone». Num concerto em Nova Iorque, Gaga cantou dois temas com Yoko Ono, a quem agradeceu por ser «uma inspiração para tan-tas mulheres».Mika foi fotografado com Gaga em Londres, tendo refutado depois o rumor de que a cantora seria hermafrodita.O «namoro» mútuo entre os Scissor Sisters e Gaga vai ser consumado na digressão da cantora, com os nova-iorquinos a fazer as primeiras partes.Marilyn Manson can-tou com Gaga numa remistura de «Love Game» e não lhe poupa elogios:« é uma grande artista e uma grande cantora», disse ao jornal Observer.

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Novembro, 2011 musictomyears.com | Music to my ears | 39

A teia de GagaPode não andar por cá há muito tempo, mas já conse-giu ditar algumas regras, respeitosamente seguidas por artistas entretanto se afirmaram. Ke$ha aposta numa atitude choque.Adam Lambert, concorrente do programa American Idol, é amigo de Gaga e já assumiu venerar os seus conselhos. Nicky Minaj, muda de peruca e de indumentária tantas vezes como Gaga.

Por vezes elogiam-na, outras vez-es criticam-na, mas nenhuma lhe fica indiferente. Christina Aguilera sempre disse que não tinha prob-lemas com Gaga, mas não hesi-tou em tentar copiá-la num tele-disco recente. Britney Spears era a maior «princesinha» da pop até ela chegar, mas é sempre muito vaga quando a questionam sobre a autora de «Telephone». Riha-na quer fazer um dueto com ela, mas recusa-se a opinar sobre a colega de profissão. Katy Per-ry dá-lhe muito valor, mas con-sidera que foi longe de mais no vídeo de «Alejandro» no qual en-gole um crucifixo.M.I.A não pode vê-la nem pintada:« é um bom mimo. Soa mais a mim do que eu própria!», disse ao NME.

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