mahatmas imaginários

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    1/13

    OS MAHATMAS IMAGINRIOS

    A esotericista russa, Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) crescentemente est sendoreconhecida como a figura central na renovao ocultista do sculo dezenove, com umainfluncia que tem sido sentida em campos diversos, tais como a poesia, poltica e

    astrologia. Blavatsky melhor conhecida, entretanto, como a fundadora do movimentoda Teosofia moderna, que est baseado em princpios que ela afirmava ter recebido dehomens vivos que ela denominou de 'Adeptos', 'Mestres' ou 'Mahatmas'.

    Embora tanto no passado como no momento atual, muitas organizaes derivativasincorporaram estes Mestres em seu conjunto de crenas, a realidade histrica dospatrocinadores ocultos de Blavatsky nunca foi investigada seriamente. Isto poderia serparcialmente devido falsa suposio sobre a qual todos os relatos foram baseados -que as afirmaes de Blavatsky sobre os seus Mestres devem ser aceitas ou rejeitadasintegralmente, nunca em partes. Entretanto, existe uma outra possibilidade que poderiarepresentar a verdade: que os mestres foram pessoas reais que sofreram um processo de

    ficcionalizao fantstica nos relatos de Blavatsky.

    Os 'Mestres' de Blavatsky evoluram em alguns poucos anos, desde o John King defama nos meios espritas da poca, a Tuitit e Serapis Bey da Fraternidade Egpcia deLuxor at finalmente se centralizarem nos Mahatmas (grandes almas) hindus. Debaixode sua alegada orientao, Blavatsky (frequentemente conhecida como HPB), seu scioHenry Steell Olcott e outros, estabeleceu a Sociedade Teosfica (ST) em Nova Iorqueem 1875. Trs anos depois, os adeptos dirigiram Blavatsky e Olcott para a ndia, o quemarcou o incio de um perodo no qual a existncia dos Mahatmas foi amplamentedebatida.

    Na ndia, a Sociedade cresceu rapidamente, principalmente devido s viagens dos seusfundadores e pelo sucesso de sua revista, O Teosofista. Os dois Mahatmas que mais seenvolveram com a Sociedade Teosfica durante os anos hindus de HPB foram Morya eKoot Hoomi ou Kuthumi, que se dizia realizarem maravilhosos feitos psquicos atravsdela. HPB insistia que havia permanecido anos estudando ocultismo com eles no Tibete,onde estes adeptos nascidos na ndia residiam.

    A correspondncia com Morya e Koot Hoomi foi instrumental para atrair um grandenmero de anglo-hindus proeminentes para a Sociedade. O mais notvel dessesconversos foi o editor de jornais, A.P. Sinnett, que escreveu dois livros 'O Mundo

    Oculto' e 'Budismo Esotrico', baseado nas cartas dos Mahatmas. Estas cartasfreqentemente chegavam de formas peculiares. No outono de 1880, HPB foi visitarSinnett e sua esposa em Simla; durante a sua visita, os Sinnett ficaram espantados comos fenmenos ocultos que HPB realizou com o alegado auxlio dos Mestres. Primeiro, aSra. Sinnett recebeu uma nota de Koot Hoomi encontrada no topo dos ramos de umarvore. Poucos dias depois, uma xcara e um pires materializaram-se inesperadamentedebaixo de um arbusto para um hspede num piquenique durante a manh e um brocheque havia sido perdido miraculosamente apareceu para um outro hspede durante oalmoo. Antes que HPB sasse de Simla, uma nota de Koot Hoomi, juntamente com umoutro broche materializou-se dentro de um travesseiro que pertencia Sra. Sinnett.Depois que a Sociedade Teosfica mudou-se para Adyar em 1882, as cartas dos

    Mahatmas freqentemente eram recebidas num armrio denominado de 'sacrrio',

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    2/13

    localizado dentro da 'Sala Oculta', adjacente ao dormitrio de HPB. Elas tambm caramdo teto em vrias lugares e apareceram nas margens de correspondncias seladas.

    Ao redor de 1890, a Teosofia havia adquirido muitos discpulos hindus e estavacomeando a atrair tambm um grande nmero de europeus. Mas naquele ano, dois

    empregados desiludidos, Alexis e Emma Coulomb fizeram acusaes de fraude contraBlavatsky, afirmando que eles haviam participado na fraude de fenmenos psquicosdirecionados para provar a existncia dos Mahatmas. Entre as acusaes dos Coulombestava a de que o 'Sacrrio' estava montado de maneira a permitir com que as cartaspudessem nele ser introduzidas atravs de um painel corredio nos fundos, fazendo comque estas parecessem ter-se materializado paranormalmente. Suas acusaes fizeramcom que Richard Hodgson desse incio a uma investigao, sendo enviado ndia pelaSociedade Inglesa de Pesquisa Psquica. Hodgson conclui que os Mestres realmente noexistiam e que todas as suas supostas manifestaes eram fraudulentas. Os Tesofosrejeitaram este relatrio como tendo se baseado nas mentiras dos Coulombs.

    No decorrer de um sculo, a opinio sobre o relatrio de Hodgson ficou polarizada entreaqueles que o consideravam como uma prova definitiva de fraude e aqueles que orejeitaram como totalmente injusto. Um sculo depois, em 1986, a Sociedade para aPesquisa Psquica publicou uma crtica, pelo especialista em caligrafia, VernonHarrison, que desacreditou alguns elementos cruciais do caso de Hodgson contraBlavatsky. Mas os Tesofos super-valorizaram isto como uma espcie de vinganacompleta quando de fato muitas questes levantadas por ele permanecem ainda semresposta.

    Embora houvessem realmente Mestres reais conduzindo HPB naquela poca, acorrespondncia de Koot Hoomi, pelo menos em parte, foi provada como fraudulenta,como se pode notar nas cartas recebidas por Olcott em Junho de 1883, dando instruespara forjar cartas para Sinnett. Primeiro, Morya escreveu: 'a menos que voc coloque oseu ombro na prpria roda, Kuthumi Lal Singh ter de desaparecer de cena nesteoutono. Muito fcil para voc.' (1) Isto foi reiterado duas vezes, quando um outro adeptoapareceu com a mensagem de Morya 'para colocar toda a sua alma na resposta a A.P.S.por K.H. Nesta carta esto em jogo os frutos do futuro. Que possa esta ser mostradacom honra para todos' (2). Finalmente, uma segunda carta de Morya fechou com aseguinte nota: 'Seja cuidadoso sobre a carta a Sinnett. Ela deve ser realmente uma cartaadptica.' Embora Hodgson estivesse errado em confiar nos Coulombs comotestemunhas verdicas estava justificado em suspeitar que as cartas dos Mahatmas no

    eram aquilo que se dizia que eram.Na primavera de 1885, Blavatsky deixou a ndia para sempre. Durante os prximos doisanos, ficou em vrios lugares da Europa, trabalhando na sua magnum opus, 'A DoutrinaSecreta'. Em 1887 foi para Londres, onde gastou os seus quatro ltimos anos de vidarodeada por discpulos que a adoravam. Durante este perodo publicou 'A DoutrinaSecreta', 'A Chave para a Teosofia' e 'A Voz no Silncio', assim como muitos artigos deperidicos em ingls e francs. Morreu em 8 de Maio de 1891, deixando um legado deopinies amargamente divididas sobre os seus Mestres, seus fenmenos ocultos e suasdoutrinas Teosficas.

    Muitos ocultistas subsequentes incorporaram os Mestres de Blavatsky em seusensinamentos. Seus descendentes espirituais diretos incluem figuras tais como Gottfried

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    3/13

    de Purucker, Charles Whitman Leadbeater, Alice Bailey e Elizabeth Clare Prophet, queafirmaram manter comunicaes com os Mahatmas de HPB. Mais indiretamente, aSociedade Antroposfica de Rudolf Steiner e a Antiga e Mstica Ordem de RosaeCrucis (AMORC) de H. Spencer Lewis e a Fraternidade Rosacruz de Max Heidel, todasafirmam que seus fundadores foram instrudos por adeptos que lembram aqueles

    descritos por Blavatsky. Os Mestres Secretos da Ordem Hermtica do AmanhecerDourado e da Ordo Templi Orientis esto claramente prximos dos Mestres Teosficos.O professor caucasiano-grego G.I.Gurdjieff afirmava que os seus ensinamentosemanavam do 'circulo da humanidade consciente', que tambm lembra a fraternidade deadeptos de HPB (notemos que o prprio Gurdjieff e mesmo o seu principal expoente,Ouspensky, afirmaram ter estudado profundamente o material Teosfico, j que socontemporneos de Blavatsky; portanto, no podemos afirmar em que medida noincorporaram os conceitos da Teosofia no sistema de idias de Gurdjieff). Nos casosmais extremos, os Mestres so vistos como A Grande Loja Branca, uma espcie degoverno secreto do mundo, que sofre uma oposio por mgicos negros malignos paradesfazer os seus planos benevolentes.

    Essa doutrina de uma guerra mgica incessante entre duas lojas opostas d origem auma srie igualmente incessante de fantasias paranicas. Entre as formas mais comuns,temos as iluses de grandeza (Sou o verdadeiro agente dos Mestres'), de perseguio ('ALoja Negra est me perseguindo'), de influncia ('Os eventos so controlados pelosMestres ou pelos seus oponentes') e referncias (mensagens dos Mestres aparecendo deformas inesperadas). Tal parania conferiu, compreensivelmente, uma reputao aosMestres como sendo produtos de mentes desequilibradas. Mas, contrariamente aos seussucessores do sculo vinte, Blavatsky deixou uma abundncia de pistas sobre asidentidades histricas dos seus reais mestres, embora estas fossem ignoradasamplamente.

    Para lidar com esses mistrios, ser necessrio olhar por detrs do mito ocultista queimpediu um exame srio deste assunto. Meus cinco anos de cuidadoso exame dasidentidades dos patrocinadores de HPB forneceram um grande volume de informaesslidas sobre seus aliados ocultos. Ao justapor suas estrias dos Mestres com osregistros histricos, torna-se possvel determinar se ela realmente trabalhou numaespcie de acordo secreto com uma sucesso de lderes espirituais e polticos. Muitoainda continuar obscuro e algumas das identificaes dos adeptos que aqui proponhoso bastante especulativas, mas freqentemente so bvias e simplesmente bem vistade quem quiser verific-las.

    A fascinao de Blavatsky com o Tibete como fonte dos Mestres estava enraizada emsua experincia ainda em criana com a tribo Kalmuck, que praticava o BudismoTibetano numa regio prxima a Astrac, no sul da Rssia. (Seu av materno foi oadministrador nomeado pelo governo tzarista para Kalmuck e para os colonos alemesna rea). Adolescente, Blavatsky familiarizou-se com a Maonaria Rosacruz praticadapelo seu bisav, Prncipe Paul Doulgouki, em cuja grande biblioteca ocultista ela passoumuitas horas. O prncipe Paul havia pertencido ao Rito da Estrita Observncia, fundadona Alemanha ao redor de 1754, que afirma ter emanado de uma rede mundial deSuperiores Desconhecidos e haviam rumores que ele havia se encontrado com osfamosos magos do sculo dezoito conhecidos como os Condes Cagliostro e Saint

    Germain. O 'Conde Alessandro di Cagliostro', como se auto-denominava, haviapromulgado o seu Rito Egpcio de Maonaria no final do sculo dezoito na Europa,

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    4/13

    atraindo um grande interesse da aristocracia com os seus feitos mgicos e afirmaesgrandiosas. ltima vtima da Inquisio, tornou-se um mrtir Manico cuja memriafoi um ponto de convergncia para os oponentes da Monarquia e da Igreja Catlica.

    Duas geraes depois, os lderes revolucionrios italianos Giuseppe Mazzini e Giuseppe

    Garibaldi tornaram-se heris para os radicais por toda a Europa. Exerceram parte de suainfluncia atravs da liderana de sociedades como os Carbonari e os Ritos Manicosde Mnfis e Mizraim, que preservaram a herana de Cagliostro. Ainda jovem e tendoabandonado o seu marido (um homem de meia-idade com quem havia se casadoimpetuosamente aos dezessete anos), HPB viajou extensamente na companhia de AlbertRawson, um artista americano e mais tarde, com Agarti Metrovitch, um cantor de perahngaro. Ambos eram de convices polticas radicais, filados Maonaria Egpcia deCagliostro e com o Rosacrucianismo. Blavatsky parece ter estado ligada com o exiladoMazzini em Londres, nos anos 1850. Admitiu ter acompanhado Metrovitch para a Itliaem 1867 para lutar ao lado de Garibaldi contra as foras papais na batalha de Mentana,onde foi seriamente ferida.

    Durante os anos entre 1850 e 1860, Blavatsky familiarizou-se com o Sufismo, Cabala,Druzos e Cristianismo Copta.. Paolos Metamon, um mago Copta teve Blavatsky eRawson como discpulos no Cairo, nos anos 1850. Este ltimo ainda era o seu mentorvinte anos depois e aparentemente foi o modelo original do seu mestre 'Serapis Bey'.Nos anos 1870 no Cairo, ela j estava associada com vrios outros esotericistas.Provavelmente entre eles estaria Jamal ad-Din al-Afghani, uma reformador poltico,professor Sufi e Franco-Maon, que mais tarde foi at a ndia na mesma poca deBlavatsky e Olcott. Outras figuras do Cairo de onde ela poderia ter derivado ainspirao para seus 'Mestres' foram Louis Bimstein, judeu polons que mais tardetornou-se 'Max Theon', professor de Filosofia Csmica (auxiliado por sua esposa, Alma,uma mdium inglesa, Theon publicou os seus ensinamentos num peridico denominadoLa Revue Cosmique, publicado em Paris. Seu mais importante converso foi MirraAlfassa Richard, que mais tarde veio a ser conhecida como 'a Me', a companheira deSri Aurobindo em seu ashram em Podicherry, India. Richard incorporou osensinamentos de Theon com os de Aurobindo. Theon gastou seus quarenta anos finaisde vida na Algria, onde morreu em 1927), assim como o vice-cnsul e lder ManicoRaphael Borg. HPB, Metamon e Bimstein tentaram fundar uma sociedade oculta noCairo em 1871 mas o esforo falhou.

    Depois de mudar-se para Nova Iorque em 1873, Blavatsky reuniu-se novamente com

    Rawson e encontrou-se com os seus associados Maons e Rosacruzes, sendo o maisimportante deles, Charles Sotheran, que tornou-se um co-fundador da ST. Sotheranpertencia Societas Rosicruciana in Anglia e ao Rito Manico de Mnfis, amboshonrando Cagliostro. A ST tambm estava ligada misteriosa Fraternidade de Luxor,no Egito, com que Bimstein estava filiado. Logo depois da fundao da ST, Blavatskyanotou em seu dirio que ela havia recebido a ordem de fundar uma 'sociedade secreta,como a loja Rosacruz.' (4)

    J em 1879, Blavatsky e Olcott estavam considerando tornar a ST numa ordemmanica, para isto sendo aconselhados por Sotheran e outros. Assim seria difcilsuperestimar a influncia das sociedades secretas de ento nos anos iniciais da histria

    Teosfica.

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    5/13

    Depois de sua chegada ndia em 1879, entretanto, novas foras estava atuando pordetrs da cena e tornaram-se influncias muito importantes sobre Blavatsky.Inicialmente ela e Olcott honraram como seu mestre a Swami Dayananda Sarasvati, ofundador do grupo reformador conhecido como Arya Samaj. Dayananda denunciavatodas as prticas hindus e doutrinas oriundas do perodo ps-Vdico e desejava

    remodelar a sociedade hindu baseado numa interpretao dos Vedas. Das memrias deOlcott torna-se claro que Blavatsky insistia que o Swami era um dos seus Mestres; maistarde, depois de entrar em queda de prestgio devido sua intolerncia religiosa ele foisuplantado por outros Mahatmas hindus.

    Quando o fluxo de cartas dos Mahatmas estava no seu auge, no incio de 1880, a STestava filiada com uma organizao reformista Sikh, a Singh Sabha e a uma rede demarajs Sikhs e Indianos, numa coaliso secreta que se opunha aos missionrioscristos. Thakar Sing Sandhanwalia, presidente-fundador da Amritsar Singh Sabha,corresponde de forma muito intrigante s pistas deixadas sobre Koot Hoomi nos escritosde Olcott e Blavatsky. Seu movimento Singh Sabha enfatizava uma renovao dos

    estudos Sikhs e de sua literatura, promoveu ideais de reforma semelhantes aos domovimento Arya Samaj e foi especialmente eficiente em melhorar a educao noPunjab. A ST tambm estava ligada com outras organizaes reformistas, como aAssociao Indiana e o Congresso Nacional Indiano, que estavam devotados renovao da cultura indiana e obteno de uma autodeterminao nacional.

    O Maraj Rambir Singh de Kasmir corresponde de vrios modos com Morya, tal comodescrito por Blavatsky e foi indubitavelmente um dos maiores patrocinadores do seutrabalho na ndia. J que os seus vassalos incluam Muulmanos, Budistas, Cristos eSikhs, Ranbir Singh estava profundamente motivado em promover a fraternidadereligiosa. Ele era hindu, devotado filosofia Vedanta, mas apoiou a traduo epublicao de escrituras de todas as fs representadas em seu reino. Vrios outrosmarajs, incluindo os de Indore, Faridkot e Benares, ou se filiaram ST ou tornaram-seseus patrocinadores.

    Embora muitas das descries de Blavatsky de Morya e Koot Hoomi tenham sido feitasno sentido de criarem confuso, ainda assim ela incluiu uma quantidade suficiente deinformaes precisas que permitem com que se possa compor um caso persuasivo noque se refere s suas identidades histricas. Em 1880, as cartas dos Mahatmas estavamcheias de referncias ao Punjab e Kashemira. Mas ao longo de poucos anos, umaestria de dissimulao sobre a sua residncia num ashram Tibetano foi promovida e

    um nmero de testemunhos foram produzidos como ttica diversionria. As cartasMahatma davam instrues precisas de como realizar este engano, por exemplo,dizendo ao jovem discpulo hindu de Blavatsky, Mohini Catterji, para 'afirmar toconvincentemente quanto podia e fazer com que as testemunhas se encontrassem emDarjeeling e Dehra'.(5)

    Blavatsky realmente manteve conexes no Tibete; o explorador bengali Sarat ChandraDas, que gastou mais de um ano ali, era ntimo de Olcott. Debaixo da autorizao doprimeiro-ministro do Panchem Lama, Das obteve um grande nmero de textosautnticos que parece ter transferido para HPB atravs de Olcott, para serem utilizadosem seus escritos. Mas esta ligao muito indireta corte do Panchem Lama (situada em

    Shigatse, Tibete do sul), nada tinha a ver com Morya ou Koot Hoomi, embora HPB

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    6/13

    fizesse esforos elaborados para retratar seus Mahatmas hindus como residentes deShigatse.

    Em 1883, em pleno processo de gerao de mitos, Olcott e alguns companheirosviajaram para Amritsar e Jammu, supostamente por instrues de Morya e Koot Hoomi,

    que os encontraram naqueles lugares. O registro histrico mostra que receberam as boasvindas em Lahore dadas pelos lderes do Singh Sabha e por Ranbir Singh. Asimprovveis afirmaes sobre o Tibete representaram tticas diversionrias de tamanhosucesso que sequer Hodgson e escritores subsequentes procuraram pelos Mahatmas emoutros lugares. Enquanto que a suspeita de Hodgson era de que HPB e os supostoschelas (discpulos) dos Mestres estavam engajados numa fraude se justificava, ele foialm disso. Erroneamente concluiu que os Mestres no existiam e que a misso deBlavatsky era de promover os interesses da Rssia.

    Para HPB, a negao de Hodgson da existncia dos Mestres era infinitamente prefervel sua suspeita da verdade de que estes eram apenas disfarces, como pode ser visto numa

    carta que ela escreveu em 1886 para Sinnett:

    Sei de uma coisa, que se tudo chegar ao pior ponto e a verdade dos Mestres e as noesde honra vierem a ser questionadas - ento eu faria uso de um expediente desesperado.Eu proclamaria publicamente que eu apenas fui uma mentirosa, uma farsante e tudo omais que Hodgson quer me fazer parecer, que eu realmente INVENTEI os Mestres eque, atravs deste 'mito', do Mestre K.H. e M., protegeria os reais K.H. e M. dooprbrio. O que salvou a situao no Relatrio que os Mestres so totalmentenegados. Se Hodgson tivesse tentado adiantar a idia de engano e questionado a idia deque Eles estavam ajudando ou encorajando ou mesmo favorecendo uma farsa atravs doSeu silncio- eu j teria me adiantado e confirmado ante o mundo tudo que era dito demim e desaparecido para sempre. (6)

    HPB tinha vrias razes para preferir a acusao de ter inventado os Mestres quela deconspirar com eles num plano para iludir as pessoas. Ela havia visitado a ndia ao redorde 1857 e novamente em 1869, e havia se devotado explorao espiritual naquele pascom a mesma intensidade que o havia feito noutros lugares. Alguns de seus antigosconhecidos das visitas anteriores estavam envolvidos em sua deciso de recolocar-se nandia em 1878-1879 e deram boas vindas sua ajuda contra os esforos dosmissionrios Ocidentais. Mas tambm existia um aspecto poltico na sua relao com osMestres que, se exposto, poderia causar srios problemas tanto para ela quanto para

    eles.Os objetivos publicamente admitidos pela ST eram genuinamente valorizados porBlavatsky e seus mestres da ndia, Egito e no Ocidente. Como geralmente soapresentados, eles so: 1) formar o ncleo de ma fraternidade universal, 2) estudarreligio, cincias e filosofias comparadas e 3) investigar as leis ocultas da natureza e ospoderes inatos na humanidade. Mas subjacentes a estes objetivos unnimes, haviamvrias agendas ocultas. Os Mestres Manicos e Rosacruzes por detrs da formao daST tinham como objetivo a promoo de Blavatsky como um sucessor do sculodezenove de Cagliostro. Seu principal objetivo era de reviver o ocultismo Ocidental ecriarem oposio ao Cristianismo Dogmtico. Depois de chegar India, HPB

    desenvolveu uma segunda agenda oculta definida pelos marajs e lderes religiosos comquem havia se aliado secretamente. Em termos amplos, esta agenda apresentava

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    7/13

    objetivos de revivescncia cultural Hindu e reforma social. Mas isto deixava espaomais do que suficiente para interpretaes conflitantes, como tornou-se quase queimediatamente claro com Swamy Dayananda. Na ocasio do relatrio definitivo deHodgson, Ranbir Singh estava morto e o movimento Singh Sabha estava dividido emnumerosas faces hostis entre si, disputando os privilgios dos aristocratas Sikhs. Uma

    exposio total no apenas iria demonstrar os envolvimentos, Blavatsky numacontrovrsia poltica quanto iria deflacionar a f dos Teosofistas na invulnerabilidadedos Mestres. A negao pura e simples da existncia dos Mestres por Hodgson noafetou os crentes e, num certo sentido, protegeu HPB.

    Mas HPB no estava inteiramente satisfeita com o impasse resultante, que injustamentea havia estigmatizado como uma falsa possuidora de ensinamento esotrico. De fato, asua busca pelo conhecimento oculto havia sido to ampla e extensa quanto outras queconhecemos na histria deste tipo de 'busca' e ela estava determinada em prov-la aofazer de seu livro 'A Doutrina Secreta' um clssico do esotericismo, o que de fatoocorreu. Embora at certa extenso o sucesso de seus escritos posteriores minoraram a

    dor do relatrio de Hodgson, HPB sentia-se aprisionada pelo mito dos Mestres, emboraeste tivesse sido amplamente inventado por ela.

    Chamar de mero mito quela ocultista dos Mestres no ' negar o seu valor ou validez,mas pelo contrrio, caracterizar sua funo para aqueles que aceitam. Os alegadosescritos dos mestres so considerados como uma escritura sagrada; so vistos comoverdades eternas preservadas por uma fraternidade secreta de mbito mundial etransmitidos humanidade medida que torna-se capaz de receb-las. A verso mticadas relaes de HPB com os Mestres retrata-os como uma fraternidade sobre-humanamonoltica que a escolheu como seu mensageiro para a humanidade. Sua busca seencerrou, de acordo com esta verso, aos vinte anos quando ela primeiro encontrou ummisterioso sbio hindu em Londres; da para a frente ela foi um mero instrumento nasmos dos mestres revelando os seus ensinamentos progressivamente, debaixo de ordensdiretas. A Teosofia foi um antigo corpo doutrinrio que ela descobriu inteiro etransmitiu intacto.

    De fato, a vida de HPB forneceu encontros contnuos com professores espirituais devrias tradies espirituais e nacionalidades. Sua peregrinao levou-a de MestresManicos a Xeiques Sufis, da Cabala ao Vedanta, do Espiritismo ao Budismo semseguir qualquer ordem em particular. Desde o incio da sua infncia at o final de suavida estava constantemente acrescentando novos conhecimentos quilo que j havia

    armazenado de conhecimento oculto. A sua Teosofia foi uma brilhante sntese deelementos oriundos de dezenas de fontes no-relacionadas. Mas ela mitologizou a suabusca pelos mestres de tal maneira, que a sua prpria busca permaneceu secreta. Suafascinao adolescente com o mundo misterioso da Maonaria oculta, na qual Mestresocultos enviavam ordens que no podiam ser questionadas oriundas de localizaesdesconhecidas no Oriente levou-a a a apresentar as suas experincias de acordo com ummodelo hierrquico elaborado. Na realidade os seus Mestres constituam no umahierarquia estvel, mas uma rede em constante evoluo.

    Sejam quais forem as maravilhas que Blavatsky tenha testemunhado nas suas viagens,estas provavelmente foram exageradas nos seus relatos para Olcott e outros na Amrica.

    Mas, fazendo parte da sua tendncia inata em exagerar as coisas, havia tambm aqueleapetite desesperado de Olcott e outros discpulos pelo miraculoso. Suas necessidades

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    8/13

    em acreditar em Mahatmas quase divinos fez com que HPB viesse a gerar um mitoquasi-politesta de que mais tarde viria a se lamentar. Numa carta que ela escreveu paraFranz Hartmann, claramente reconhece a extenso em que os Mestres da SabedoriaTeosfica eram imaginrios:

    Onde voc se refere 'nia' dos iludidos e ao 'imaginrio' dos Mahatmas de Olcott - vocest absoluta e tristemente certo. No vi a coisa toda por quase oito anos? No luteicontra a imaginao ardente e esguichante de Olcott, tentando par-lo a cada dia daminha vida? No havia eu mesmo lhe dito que... se no visse os Mestres debaixo dassuas prprias luzes e no cessasse de falar e inflamar as imaginaes das pessoas queele seria considerado como o responsvel por todo o mal que poderia sobrevir Sociedade Teosfica? No lhe foi dito que no haviam tais Mahatmas que como Rishispodiam segurar o Monte Meru na ponta dos seus dedos e sarem voando com os seuscorpos (!!) como quisessem e que eram (ou eram imaginados pelos tolos) mais deusessobre a terra do que um Deus no Cu poderia s-lo, etc, etc.? Tudo isto eu vi, previ,desesperei-me, lutei contra e, finalmente, desisti da luta, totalmente impotente. (7)

    Estes protestos revelam uma memria bastante distorcida da sua relao com Olcott,que havia iniciado com um intenso esforo por parte de HPB de estimular aquelemesmo entusiasmo pelos Mestres, que mais tarde veio a se arrepender de t-lo feito.Realmente, na sequncia da investigao de Hodgson, Olcott estava acusando HPB peladesgraa causada pelos fenmenos que ela havia protagonizado em nome dos Mestres.Em Agosto de 1885, ela queixou-se a Sinnett que Olcott havia 'admitido cautelosamenteque eu poderia ter substitudo algum tipo de truque pelos fenmenos reais e que, detempos em tempos, eu sofria de aberraes mentais'. Na sua perspectiva, isto implicaque Olcott estava se confessando como o 'primeiro e principal confederado nos ditosfenmenos-truques. (8)

    Na poca em que HPB escreveu a Hartmann em Abril de 1886, as desvantagens emfocalizar a ateno sobre os Mestres haviam tornado-se abundantemente claras. De fato,no ms precedente, Olcott havia ameaado demitir-se da presidncia da ST a menos queela prometesse 'um total abandono do sensacionalismo' que, dizia ele, havia 'arruinadotrs quartos da ST.' (9) Mas HPB protestou, dizendo que o processo iniciou-se demaneira totalmente inocente:

    Bem, eu contei-lhe toda a verdade. Disse a ele que eu havia conhecido Adeptos, os'Irmos' no somente na ndia e para alm de Ladakh, mas no Egito e na Sria - porque

    existem 'irmos' l at os dias de hoje. Os nomes desses 'Mahatmas' sequer eramconhecidos na poca, uma vez que somente recebiam esta denominao na ndia. Que,fossem conhecidos como Rosacruzes, Cabalistas ou Iogues - estes Adeptos eramAdeptos em todos os lugares - silenciosos, secretos, que se afastavam e que nunca sedivulgavam inteiramente..(10)

    A idolatria dos Mestres iniciou-se quando Olcott encontrou algum em Bombaim eaumentou medida que a Sociedade ampliou o seu nmero de membros na ndia:

    Olcott enlouqueceu. Era como o asno de Balao que viu o anjo! Ento veio Damodar,Servai e vrios outros fanticos, que comearam a cham-los de 'Mahatmas' e, pouco a

    pouco, os Adeptos foram transformados em Deuses sobre a Terra. Comearam a apelara eles e a realizarem sua puja (adorao)e a cada dia tornavam-se cada vez mais

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    9/13

    lendrios e miraculosos... Vi com terror e ira o falso caminho que estavam trilhando. Os'Mestres', como todos imaginavam, devem ser omniscientes, omnipresentes,onipotentes... A idia de que os Mestres fossem homens mortais limitados inclusive emseus grandes poderes, nunca passou pela cabea de ningum, embora eles mesmostivessem escrito isto repetidamente. (11)

    Haviam acusaes mais do que suficientes para todos, embora inicialmente HPBrecusou-se em admitir a sua poro: Seria culpa de Olcott? Talvez em parte. Seriaminha culpa? Absolutamente nego-a e protesto contra a acusao. No culpa deningum. Apenas a natureza humana e a falncia da sociedade moderna e das religiesem fornecerem algo s pessoas que seja mais elevado e mais nobre do que a nsia pordinheiro e honras - situa-se no seu fundo. Coloque esta falncia num lado e os danos econfuso produzidos nos crebros das pessoas pelo espiritismo moderno, voc ter oenigma resolvido.(12)

    Mas, numa reflexo posterior, HPB admitiu que a sua responsabilidade pelas vises

    falsas dos Mestres era maior que a de Olcott: Se algum tem de ser acusado sou eu.Dessacralizei a santa Verdade, ao permanecer passiva demais frente a toda essadessacralizao, que foi desencadeada por um excesso de zelo e por idias falsas. (13)

    A incapacidade de Blavatsky em corrigir as vises distorcidas de seus Mestres foiparcialmente causada pela necessidade de manter as suas identidades em segredo.Depois do relatrio de Hodgson, ela virtualmente parou de realizar fenmenosparanormais e raramente referia-se aos Mestres. Ela insistia que a sua 'Doutrina Secreta'deveria ser julgada por seus mritos apenas, e no apoiada em qualquer alegadaautoridade. Embora tenha tentado recuperar algo da imagem dos Mahatmas que haviaretratado, no estava disposta a identificar quem eles eram realmente, ou a admitirpublicamente em que extenso eles haviam sido mitificados. Isto provavelmente seriadevido ao papel poltico que desempenhavam, por exemplo: os anos finais de ThakarSingh foram devotados a uma conspirao anti-britnica com o objetivo de restaurar oseu primo, o Maraj Dalip Singh, deposto, novamente no trono. Mas ela tambm deveter tido medo de desfazer o trabalho da sua vida e de minar o movimento Teosfico seadmitisse as limitaes excessivamente humanas dos Mestres. A ambivalncia de HPBsobre este assunto em seus anos finais iluminada por uma estranha deciso que elatomou, enquanto editora do jornal Teosfico, Lucifer.

    Franz Hartmann, a quem HPB havia confessado o seu desencanto sobre o culto aos

    Mahatmas, havia sido o seu principal defensor durante o processo de investigao pelaSociedade para Pesquisas Psquicas. Nascido na Alemanha, Hartmann havia estadovrias vezes na Amrica quando entrou em contato com a Teosofia no final dos 1870.Depois de se ligar Sociedade, viajou para a ndia, onde permaneceu por nove meses namatriz em Adyar. Ali ele envolveu-se em luta contra Emma e Alexis Couloumb, cujasacusaes de fraude conduziram ao relatrio Hodgson. Ele publicou um livretorespondendo s acusaes dos Couloumbs, e permaneceu um Tesofo ao longo de todasas lutas que se seguiram. Ainda assim, a linguagem das cartas de HPB em 1886demonstram que ele havia ficado profunda e tristemente desiludido com o culto aosMestres e a liderana de Olcott.

    Trs anos mais tarde, a angstia de Hartmann sobre os Mahatmas imaginrios produziuum fascinante trabalho literrio, The Talking Image of Urur ('A Imagem Falante de

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    10/13

    Urur'), que importante pelas circunstncias de sua publicao, quanto pelos seuscontedos. Embora represente uma stira amarga da Teosofia, dos Mestres e da prpriaHPB ainda assim, Blavatsky a publicou no Lucifer. Em seu prefcio, Hartmann explicaque todos os eventos descritos naquela estria eram verdadeiros e que os personagensso misturas de pessoas vivas. Mas, acrescenta ele, ' esta no foi escrita com o propsito

    de atirar descrdito sobre nenhuma pessoa que possa imaginar-se aqui caricaturizada,'mas com o nico propsito de mostrar os absurdos que uma busca meramenteintelectual de verdades espirituais pode conduzir.' Respeitosamente ele dedica o livroaos seus 'amigos pessoais e professores', HPB e Olcott, mas no podemos imaginar queficaram muito contentes com aqueles retratos.

    O roman clef de Hartmann refere-se a um jovem chamado Pancho, vivendo em SoFrancisco, que convertido a acreditar numa Misteriosa Fraternidade de Adeptos porum tal de Mr. Puffer, um palestrante-ambulante da Sociedade para a Distribuio deSabedoria. Pancho o segue para a matriz da Sociedade, em Urur, frica do Sul. Osmembros mais conhecidos desta Misteriosa Sociedade so Rataboumatchi e Krahibashi,

    adeptos poderosos que vivem num enclave secreto no deserto da Lbia. A Sociedade dirigida por um americano, Capito Bumpkins, mas deriva seus ensinamentos de umacuriosa esttua falante que o porta-voz da Misteriosa Fraternidade. A Imagem Falanteresponde a todas as perguntas infalivelmente, com a ajuda dos adeptos e atraiu a atenode muitos buscadores.

    Logo depois de chegar a Urur, Pancho visita a Imagem Falante, mas fica perplexo comas suas mensagens. Em alguns momentos, ela emite uma luz irreal e emite verdadesprofundas, mas com maior freqncia, reflete os preconceitos dos questionantes, comose fosse um espelho e meramente confirma as suas supersties. Seus ensinamentosmais sbios so os menos compreendidos pelos crentes. Quando um investigador enviado pela Sociedade para a Descoberta de Cincias Desconhecidas, encontra a matrizem Urur num pandemnio, causado pela caseira, Madame Corneille e seu marido, que

    juntaram suas foras contra os missionrios, para denunciar a Imagem Falante.

    No pice da controvrsia, a Imagem desaparece de Urur. Pancho logo depois tambmsai e, no final da estria, ele a acaba encontrando novamente numa pequena cidadeitaliana. Quando a imagem lhe conta que a sabedoria que provm do oriente a melhore deve ser aceita, ele retruca, 'Existe apenas uma nica sabedoria, porque existe apenasuma nica verdade e nem oriunda do Leste ou Oeste, mas pela aquisio do auto-conhecimento.' (15). Isto quebrou o encanto que prendia a alma da Imagem Falante

    sua forma inanimada. Depois de uma discusso sobre a natureza da verdade divina, amensagem final da Imagem Falante conclui a estria:

    'Nenhum homem pode ensinar a verdade para o outro se esta no se manifesta nele eatravs dele. No siga aqueles que de voz alta afirmam serem capazes de conduzi-lospara a verdade, mas busquem pelo prpria verdade...'

    'E sobre a Misteriosa Fraternidade?' perguntou Pancho. Ele no recebe nenhumaresposta. Ante os seus olhos uma grande transformao aconteceu. A luz no interior daImagem comeou a brilhar cada vez mais intensamente e a prpria imagem tornou-secada vez mais etrea e transparente. Era como se toda a substncia que a compunha

    houvesse se transformado numa nuvem de luz vivente... Finalmente, at mesmo aquelaaparncia de nuvem desapareceu; no havia nada do carter material restando, a

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    11/13

    Imagem havia tornado-se alma inteiramente - um raio de glria sobrenatural - quelentamente dissipou-se. (16)

    Quando HPB foi liberada do servio aos Mestres Ocultos, ingressou na parte maisprodutiva da sua carreira. Somente depois de abandonar a ndia que comeou a

    escrever os livros pelos quais melhor lembrada na atualidade. A concluso deHartmann expressa a sua percepo da transformao pela qual HPB passou quandoabandonou todas as afirmaes sensacionais e os fenmenos e podia concentrar-se nadivulgao das verdades que havia vislumbrado nos seus anos de busca.

    Embora tenha mais tarde desenvolvido atividades na Maonaria, Rosacrucianismo e naOrdo Templi Orientis, Hartmann permaneceu um Tesofo. Estabeleceu uma SociedadeTeosfica independente na Alemanha, tenazmente oposta ao cultos dos Mestres, talcomo ocorria na ST em Adyar, agora debaixo da liderana de Annie Besant.

    Em Maro de 1889, HPB escreveu um artigo para Lucifer, intitulado On Pseudo-

    Theosophy ('Sobre a Pseudo-Teosofia'), onde responde a uma estria publicada noDaily News sobre a novela de Hartmann. O jornal relatou que alguns Teosofistasestavam preocupados por esta publicao e sugeria que 'as dvidas que haviam sidolevantadas no seriam facilmente respondidas.' (17) HPB responde que ela estavapublicando a novela de Hartmann precisamente no sentido de despertar dvidasnaqueles que viessem a se reconhecer nela. Acrescenta, 'Este nosso procedimento -publicar uma stira, que aos pobres de esprito, parece estar direcionada contra seusdeuses e grupelhos somente porque so incapazes de perceberem a filosofia e a moralsubjacente nela, criou bastante controvrsia.' (18)

    Mas embora alguns ficassem ofendidos, HPB pergunta-se, 'Se Mme. Blavatsky -presumivelmente a prpria Imagem Falante - no encontra objees em ver-serepresentada como um tipo de papagaio medinico, porque ento 'outros teosofistas'iriam objecionar?' E acrescentou: 'Se o primeiro objetivo de nossa Sociedade no for odo estudo do nosso prprio eu, mas em descobrir as faltas em tudo e todos exceto emns, ento realmente a ST estar condenada - como j est em certos centros - a ser umaSociedade de Admirao Mtua, um assunto digno para uma stira to mordaz de umapessoa to arguta quanto o autor de 'A Imagem Falante de Urur'.(19) Isto praticamenteapoiava as perspectivas de Hartmann, e a sua publicao da novela era uma claraafirmao de que os seus patrocinadores adeptos eram muito mais humanos e menosdivinos do que os Mahatmas imaginrios que ele satirizava.

    Num artigo no publicado, escrito nos ltimos anos de sua vida, HPB conclui aindaassim que a sua divulgao dos Mestres no lhes havia causado nenhum dano: Um dosprincipais fatores no redespertar de Aryavarta (ndia) que foi parte do trabalho daSociedade Teosfica, foi o ideal dos Mestres. Mas, devido a uma carncia de

    julgamento, discrio e discriminao, assim como as liberdades assumidas com os seusnomes e Personalidades, grandes erros e confuses nasceram referentes a eles. Eu estavadebaixo de um juramento sagrado de nunca revelar a verdade integralmente paraningum... Tudo que me era permitido revelar era que eles existiram em algum lugarcomo grandes homens, que alguns deles foram Hindus e que tinham conhecimentocomo ningum mais... e tambm que fui um chela de um deles... Eles eram chamados de

    'Mahatmas'... Estas confuses iniciais, ainda assim, a prpria idia dos Mestres e acrena neles, j trouxe o seu fruto bom na ndia. Seu maior desejo era o de preservar o

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    12/13

    verdadeiro esprito religioso e filosfico da antiga ndia, defender sua antiga sabedoriacontida nos seus Darsanas e Upanishads contra os assaltos sistemticos dos missionriose, finalmente, despertar o esprito tico e patritico naqueles jovens onde quase veio adesaparecer. (20)

    Num estado de esprito menos esperanoso, HPB lamentou sobre os efeitos indesejveissobre o trabalho de sua vida, no seu ltimo livro: 'A Chave para a Teosofia': ...Cadasociedade cheia de truques e fraudulenta, para propsitos comerciais, agora clamaabertamente estar sendo guiada e dirigida por 'Mestres' frequentemente situados muitomais acima do que os nossos... Tivssemos ns atuado dentro do sbio princpio dosilncio, ao invs de correr em direo notoriedade, tal dessacralizao nunca teriaocorrido... Mas intil chorar sobre o que foi feito e podemos apenas sofrer naesperana de que as nossas indiscries possam ter tornado um pouco mais fcilencontrar o caminho destes Mestres.(21)

    Embora os pretensos agentes dos Mestres so mais numerosos do que nunca, o acesso a

    professores genunos de tradies esotricas autnticas aumentou numa taxacomparvel. Tanto os temores quanto as esperanas de Blavatsky sobre a influncia daTeosofia foram confirmadas no sculo que se seguiu s palavras que ela mesmaescreveu.

    Notas:

    1. C.J. Jinarajadasa, editor, Letters from the Masters of Wisdom, segunda srie, (Adyar,ndia, Theosophical Publishing House, 1973), pp. 80-81.

    2. Ibidem, p.85.3. Ibidem, p.86.4. Sylvia Cranston, HPB: The Extraordinary Life and Influence of Helena Petrovna

    Blavatsky, Founder of the Modern Theosophical Movement (New York:Tarcher/Putnam, 1993), p. 132.

    5. Jinarajadasa, p.108.6. H.P. Blavatsky, Letters of H.P. Blavatsky to A.P. Sinnett (Pasadena, Calif.:

    Theosophical University Press, 1973), p. 171.7. H.P. Blavatsky, Letters of H.P.B. to Hartmann, The Path, Maro de 1896, p. 368-69.8. Blavatsky , Letters to Sinnett, p.111.9. Ibidem, p. 334.10. Blavatsky , Letters to Hartmann, p. 369-70.

    11. Ibidem, p. 370.12. Ibidem, p. 371.13. Ibidem, p. 372.14. Franz Hartmann, The Talking Image of Urur (New York, Loevell, 1890).15. Ibidem, p.285.16. Ibidem, p.287.17. H.P. Blavatsky, On Pseudo-Theosophy, Collected Writings, vol 11, (Wheaton, Ill.:

    Theosophical Publishing House, 1973), p. 46.18. Ibidem, p.47.19. Ibidem, p. 49.20. H.P. Blavatsky, Why I Do Not Return to ndia, Collected Writings, vol.13, p. 158-

    59.

  • 8/8/2019 mahatmas imaginrios

    13/13

    21. H.P. Blavatsky, The Key to Theosophy (Los Angeles: Theosophical Company,1973), p. 301.

    Publicado no TentculoTraduo NoKhooja