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Informativo Nº 70 Brasília (DF) Maio de 2017 InformANDES SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN Ataques aos direitos sociais intensificam adoecimento docente O aumento da carga de trabalho, a precarização das condições de trabalho, a mercanlização do ensino, a expan- são desordenada das instuições de ensino e o produvismo são algumas das fontes relevantes de adoecimento no trabalho docente. A situação irá se aprofundar com os recentes ataques aos direitos sociais, como as contrarreformas da Previdência e Trabalhista, bem como as recém-aprovadas Lei da Terceirização e a Emenda Constucional 95 – que congela o orçamento da União por 20 anos. 8 a 11 FORA TEMER! NENHUM DIREITO A MENOS! OCUPE BRASÍLIA - 24 DE MAIO! Derrotar as contrarreformas Trabalhista, da Previdência e a Terceirização!

Maio de 2017 Ataques aos direitos sociais intensificam ...portal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-inf-992184149.pdf · so, explosão e incitação ao crime. Só no dia 4 de maio,

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Informativo Nº 70Brasília (DF) Maio de 2017InformANDES

SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN

Ataques aos direitos sociais intensificam adoecimento docente

O aumento da carga de trabalho, a precarização das condições de trabalho, a mercantilização do ensino, a expan-são desordenada das instituições de ensino e o produtivismo são algumas das fontes relevantes de adoecimento no trabalho docente. A situação irá se aprofundar com os recentes ataques aos direitos sociais, como as contrarreformas da Previdência e Trabalhista, bem como as recém-aprovadas Lei da Terceirização e a Emenda Constitucional 95 – que congela o orçamento da União por 20 anos. 8 a 11

FORA TEMER! NENHUM DIREITO A MENOS! OCUPE BRASÍLIA - 24 DE MAIO! Derrotar as contrarreformas Trabalhista, da Previdência e a Terceirização!

InformANDES/20172

EXPEDIENTEO Informandes é uma publicação do ANDES-SN // site: www.andes.org.br // e-mail: [email protected] responsável: Giovanni Frizzo // Redação: Bruna Yunes Drt-DF 9045, Renata Maffezoli Mtb 37322 Edição: Renata Maffezoli // Diagramação: Renata Fernandes Drt-DF 13743

Editorial

O ilegítimo governo Temer e sua base aliada estão usando de todos os artifícios e manobras para aprovar a qualquer custo

os projetos que retiram direitos da classe trabalhadora: mudança de parlamenta-res na comissão especial, que poderiam votar contra a PEC 287/16; emendas parlamentares que somam mais de um bilhão de reais para deputados em troca do compromisso de votarem a favor da proposta do governo, isto é, a utilização do dinheiro público para aprovar um projeto que vai contra os interesses da maioria da população; e o cerceamento à entrada de cidadãos e cidadãs no Congresso Nacional para acompanhar as discussões e votações das comissões. Essa ardilosa estratégia compõe um teatro de horrores, em que a democracia e o povo foram alijados do palco e da plateia, em nome da sanha sem precedentes dos representantes do capi-tal, que não querem perder nem mais um minuto na aprovação das contrarreformas Trabalhistas e Previdenciária.

Tudo isso sob o impacto da vitoriosa jornada de mobilizações da classe tra-balhadora e juventude, que culminou na Greve Geral do dia 28 de abril, momento histórico de resistência e avanço da luta dos trabalhadores e trabalhadoras contra o conjunto dos ataques desferidos pelo

O Congresso Nacional sitiado, a “dança” dos deputados e as emendas parlamentares: vale tudo para acabar com os direitos da classe trabalhadora!

ilegítimo governo Temer. Mesmo com a manipulação escandalosa das informações pela imprensa burguesa e repressão brutal da polícia nos estados, o movimento pa-redista mostrou o ânimo e a capacidade de organização das Centrais sindicais, Sindicatos e movimentos sociais, que em unidade, deram um passo fundamental na conscientização da população e forta-lecimento da resistência, com repercussão internacional. Uma Greve Geral construída nos comitês, frentes e fóruns nos Estados e municípios, que contou com a participa-ção ativa do ANDES-SN, que desde 2015 aprovou a construção da Greve Geral, e vem trabalhando diuturnamente pelo for-talecimento da unidade em torno de uma pauta comum contra a retirada de direitos.

Se de um lado o governo tem pressa e utiliza de todos os artifícios para acabar com as conquistas dos trabalhadores e tra-balhadoras, por outro lado, cresce no seio da população, que se mostrou amplamente favorável à Greve Geral, a crença de que, por meio da luta, será possível barrar essa avalanche de ataques. A indicação pelas centrais do “Ocupe Brasília”, no período de 22 a 26 de maio, com acampamento, atividades políticas e culturais e uma grande marcha no dia 24, será mais uma demons-tração de força do conjunto da classe. O objetivo é que “Ocupe Brasília” cause o

mesmo impacto sobre a classe política e a população, desembocando em uma nova Greve Geral, mais forte que a do dia 28.

Nesse contexto, o ANDES-SN deve redobrar o seu empenho na construção dessas atividades de mobilização na pers-pectiva de uma mudança na correlação de forças. Devemos nos empenhar, junto com sindicatos e movimentos sociais, na ida de centenas de ônibus para Brasília na grande marcha nacional e no aumento da pressão junto aos parlamentares nos Estados. Nossas assembleias gerais devem ser pautadas pela organização da luta e pelo envolvimento da categoria nas atividades de rua. Devemos disputar a consciência da população na batalha da informação, produzindo materiais e realizando perma-nentes debates, escancarando as enormes falácias dos argumentos divulgados acerca das reformas Trabalhista e Previdenciária.

Não há tempo a perder para nós, pois como disse o poeta cearense, “Há perigo na esquina”, mas diferente do que ele nos disse no mesmo poema, temos a certeza de que eles não venceram e o sinal não está fechado para nós, porque nossa capacidade de luta é infindável, e porque pressentimos com todo ardor “o cheiro da nova estação”.

Vamos ocupar Brasília! Fora Temer!

InformANDES/2017 3Movimento Docente

De 15 a 19 de maio, as seções sindi-cais do ANDES-SN nas Instituições Estaduais e Municipais de Ensino Superior (Iees/Imes) intensificaram

as atividades de mobilização para marcar a Semana Nacional de Lutas Unificadas, conforme deliberação do 36º Congresso do Sindicato Nacional, realizado em janeiro em Cuiabá (MT).

Durante o período, ações pautaram a defesa da garantia e a ampliação do finan-ciamento público e mais recursos públicos para as universidades estaduais e municipais e contra a apropriação do fundo público pelo capital privado resultando em privatização, gestões antidemocráticas, precarização e o sucateamento das instituições.

Caroline de Araújo Lima, 1ª vice-presi-dente da Regional Nordeste 3 do Sindicato Nacional e da coordenação do Setor das Iees/Imes, ressaltou que a semana de lutas nas estaduais e municipais é um período importante no calendário do ANDES-SN, pois destaca a situação vivenciada nas Iees/Imes, e acontece em um momento em que, em vários estados, os governos encaminharam seus projetos de lei de di-retrizes orçamentárias (LDO), que contêm os recursos que serão repassados para as instituições públicas de ensino.

“E, essa semana de 15 a 19 de maio, a partir do que foi deliberado nas centrais sindicais, teve um elemento diferenciador, que é a luta contras as reformas, alinhando a luta das estaduais e municipais à pauta nacional para barrar as contrarreformas da Previdência, Trabalhista e a terceiriza-ção. Então, diferente dos outros anos, essa semana será de mobilização em defesa dos serviços públicos e dos direitos, na ótica de ‘nenhum direito a menos’, e de que a defesa

Docentes das Instituições Estaduais e Municipais realizam semana unificada de lutas

do serviço público passa também pela defesa da carreira docente e das universidades estaduais e municipais”, comenta.

A diretora da Regional Nordeste 3 do ANDES-SN ressaltou ainda o fato de que os ataques que ocorrem em nível federal, também se reproduzem nas esferas esta-duais e municipais, como o desmonte da Previdência Social e da Educação Pública. “Essa semana se apresenta com o desafio de dar continuidade à construção da unidade na ação contra as reformas, e alinhar a luta das estaduais a essa pauta nacional”, completa.

Desmonte das universidades públicasNo dia 12 de maio, durante a reunião

conjunta dos setores das Ifes e das Iees/Imes foi realizado, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), um painel, que abordou a situação das Iees e Imes pelo país. A atividade, apresentada pelos docentes, expôs a realidade vivenciada nos estados e munícipios, a política de desmonte das universidades públicas, e evidenciou a similaridade dos ataques vivenciados.

O painel das estaduais deixou claro justa-

mente isso. Como que há uma articulação dos estados com o projeto hegemônico de desmonte das universidades públicas. "Cada estado caminha por vias diferentes, mas com o mesmo objetivo. Pudemos perceber que há uma posição dos governos estaduais de privatizar as universidades públicas, e isso não é um caso isolado, específico. As estratégias são diferentes, mas o objetivo é o mesmo. Para nós, ficou muito evidente que há uma intenção de desmonte das universidades pública no país”, comentou Mary Falcão, 2ª vice-presidente da Regional Sul do ANDES-SN e também da coordenação do Setor das Iees/Imes.

A diretora da Regional Sul do Sindicato Nacional citou como exemplos as três esta-duais do Rio de Janeiro – onde os professores estão com salários e 13º atrasados -, do Ceará, do Paraná, da Bahia, de São Paulo e a da Paraíba – que está em greve devido aos desmontes impos tos pelo governo do estado. “Não nos resta a mínima dúvida de que há um projeto em andamento de desmontar a universidade pública e privatizar. Há uma intenção de transferência dos fundos pú-blicos para as instituições privadas”, avalia.

PLP 343/17A Câmara dos Deputados concluiu

no início de maio a votação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 343/17. O texto, que agora segue para a análise do Senado, suspende o pagamento das dívidas estaduais com a União por três anos, prorrogáveis por mais três, desde que sejam adotadas medidas como privatização de empresas públicas, congelamento de salários e até demissão de servidores.

InformANDES/20174Mundo do Trabalho

Mais de 40 milhões de traba-lhadores e trabalhadoras pararam o Brasil no dia 28 de abril em oposição às con-

trarreformas da Previdência e Trabalhista em curso no país, segundo estimativas das centrais sindicais organizadoras da Greve Geral. O resultado dessa paralisação foi um impacto negativo de mais de R$ 5 bilhões, apenas, no faturamento do comércio no país, de acordo com a Federação do Comércio de São Paulo (FecomercioSP).

Considerada a maior greve geral já feita no país desde 1989 - quando 35 milhões de trabalhadores protestaram contra o congelamento de salários e a criação de uma nova moeda, entre outros – a mobilização do dia 28 de abril também teve um saldo político muito positivo e sinalizou ao governo e empresariado, que os trabalhadores não aceitam as contrarreformas postas.

Por todo o país, piquetes e barricadas trancaram rodovias, acessos às entradas das cidades, de fábricas, montadoras, side-rúrgicas, metalúrgicas, prédios de serviço público, bancos, universidades, escolas, garagem de ônibus, empresas, comércios, portos, aeroportos, paralisando diversos ramos econômicos. Metrôs, ônibus e trens de diversas localidades não circularam por 24h. Dezenas de instituições federais, estaduais e municipais de ensino superior amanheceram com as portas trancadas.

As seções sindicais do ANDES-SN re-alizaram manifestações em frente aos campi, com panfletagens, aulas públicas e, também, integraram outros atos como trancamento de rodovias, garagens de

Após Greve Geral, centrais convocam ocupação de Brasília

ônibus e comércios. Ademais, os docentes ainda participaram das grandes manifes-tações unificadas, em todos os estados do Brasil.

Forte repressãoInfelizmente, além da expressividade

do movimento grevista e a força de mo-bilização dos trabalhadores, a violência e a repressão impostas pelas forças policiais também marcaram o 28 de abril e, assim como os protestos que antecederam a data da Greve Geral, e os realizados no dia 1° de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores.

Em São Paulo, a polícia militar reprimiu com bombas de gás, jatos d’água e spray de pimenta o ato que saiu do Largo do Batata rumo à residência do presidente Michel Temer. Em outro ato, três militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foram presos - sem provas, apenas a partir do testemunho de policias militares -, acusados de cometer incêndio crimino-so, explosão e incitação ao crime. Só no dia 4 de maio, é que saiu uma decisão do desembargador Otávio de Almeida Toledo aceitando o pedido de habeas corpus da defesa, liberando os manifestantes.

Já em Goiânia (GO), a violência contra o estudante Mateus Ferreira da Silva, de 33 anos, chocou o país. Imagens do estudante sendo covardemente agre-dido por um policial militar circularam nas redes sociais. Após a agressão no dia 28 de abril, o estudante deu entrada no Hospital de Urgência de Goiás (Hugo) e foi submetido a uma cirurgia com as equipes da Neurocirurgia e Maxilofacial, após per-manecer na Unidade de Terapia Intensiva

(UTI), teve alta no dia 11. No Rio de Janeiro, milhares de pessoas foram às ruas no dia 28 de abril para protestar contra as reformas do governo e sofreram brutal repressão da polícia militar, no centro da capital fluminense. Trabalhadores e estudantes concentrados em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) foram atacados por bombas. Mais à frente, quando a multi-dão já entrava na avenida Rio Branco, a Tropa de Choque lançou gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Houve correria. Muitos passaram mal ao inalar o gás. Por fim, quando o ato unificado acontecia na Cinelândia, reunindo dezenas de milhares de pessoas, a PM outra vez avançou contra os manifestantes e, novamente, bombas foram lançadas, inclusive contra os carros de som e palco, forçando a dispersão dos manifestantes.

A diretoria do ANDES-SN divulgou uma nota de repúdio a todas e quaisquer formas de repressão às manifestações. “Estes atos revelam a truculência, a arbitrariedade e o caráter autoritário deste governo ilegítimo, que intensificou a escalada da violência e da criminalização contra os movimentos sociais que já estavam em curso nos últi-mos anos no país”, diz um trecho da nota.

De acordo com Eblin Farage, presiden-te do ANDES-SN, a violência policial tem como objetivo inibir e fazer recuar aqueles que lutam por seus direitos. E, apesar da forte repressão, a Greve Geral foi avaliada de forma positiva, porque foi construída em ampla unidade e articulação com as centrais sindicais, movimentos sociais, frentes e organizações políticas.

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InformANDES/2017 5Mundo do Trabalho

Após Greve Geral, centrais convocam ocupação de Brasília

“A Greve Geral no dia 28 de abril de-monstrou que é possível parar esse Brasil e dar um passo à frente na organização dos trabalhadores. Porém, para barrar o conjunto de retrocessos em curso, é ne-cessário que nos desafiemos para a cons-trução de uma grande mobilização no dia 24 de maio, para continuar pressionando o governo a parar com esse processo de retirada de direitos”, aponta.

A presidente do Sindicato Nacional avalia ainda que, com as mobilizações, as paralisações e o diálogo que está sendo feito com os parlamentares, em especial, nos estados, foi possível ‘atrasar’ o crono-grama de votação da PEC 287. “O recado da população aos parlamentares é de que se eles votarem a favor das perdas de di-reitos dos trabalhadores, eles não voltam ao Congresso Nacional em 2018”, disse.

Ocupe BrasíliaDiante das conquistas da Greve Geral,

no próximo dia 24 de maio será realizado o “Ocupe Brasília”, que trará caravanas de todo país para realizar uma grande manifestação contra a retirada de di-reitos trabalhistas e previdenciários e a revogação da Lei das Terceirizações na capital federal.

A data, convocada mais uma vez de forma unificada pelas centrais sindicais, coincide com a previsão do início da vo-tação da contrarreforma da Previdência no Plenário da Câmara dos Deputados. Além da ocupação, durante o mês de maio serão realizadas diversas atividades de mobilização.

Para Eblin, é fundamental que as seções sindicais e secretarias regionais envidem esforços para a realização da caravana à Brasília, em articulação com as demais entidades e movimentos sociais nos esta-dos. A perspectiva, segundo a presidente do ANDES-SN, é reunir cerca de 100 mil pessoas na manifestação.

“O nosso desafio é trazer professores e professoras de todo o Brasil para ocuparem Brasília junto com os demais trabalhadores. É necessário que façamos de forma articu-lada, organizando caravanas nos estados com os movimentos sociais e estudantis e também outras categorias. Esse é um momento decisivo, no sentido de mostrar ao governo a nossa disposição de lutar pela não retirada de nossos direitos. Por isso, é fundamental que intensifiquemos também a pressão nos estados, a partir das nossas deliberações, expondo os parlamentares, que votam a favor das contrarreformas, e fazendo manifestações na porta da casa deles”, ressaltou.

No dia 25 de abril, mais de três mil indígenas tomaram a Esplanada dos Ministérios em manifestação contra os ataques aos direitos dos povos originários e pela demarcação de suas terras. Eles participam do 14° Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília (DF), que reuniu lideranças de diversas etnias entre 24 a 28 de abril. Foi a maior mobilização indígena dos últimos anos.

A manifestação - que contava coma presença de idosos, crianças e etnias que não tem contato com população urbana -, foi duramente reprimida pelas polícias legislativa e militar do Distrito Federal, que usaram de bombas, gás lacri-mogênio, spray de pimenta e balas de borracha para dispersar a manifestação.

Quatro indígenas foram detidos, e os manifestantes seguiram no gramado em frente ao Congresso, sob ataque da polícia, aguardando a liberação dos seus parentes.

Já no dia 30 de abril, indígenas da etnia Gamela foram brutalmente atacados por pistoleiros no Povoado de Bahias, município de Viana, localizado há 214 quilômetros de São Luís (MA). Os pistoleiros, munidos de armas de fogo, facões e paus, armaram uma emboscada para os indígenas, que se retiravam da área tradicional, retomada na sexta-feira, 28 de abril, dia da Greve Geral no país.

InformANDES/20176Movimento Docente

Contrarreformas e terceirização têm impacto na Educação Pública

O pacote de ataques que vem sendo levado a cabo pelo go-verno de Michel Temer, com grande apoio do Legislativo e

Judiciário, tem como um dos principais objetivos o desmonte dos direitos sociais e dos serviços públicos. As contrarre-formas da Previdência e Trabalhista, assim como a recém-aprovadas Lei das Terceirizações e Emenda Constitucional (EC) 95 – que prevê o congelamento dos recursos primários da União por 20 anos -, dão continuidade à contrarreforma do Estado, preconizada por Bresser Pereira durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, e aprofundam as orientações neoliberais contidas na cartilha do Banco Mundial, apresentada na década de 90 com indicações para diminuir o papel do Estado e ampliar a inserção do mercado nas políticas sociais.

Para Plínio de Arruda Sampaio Junior, professor de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), o ajuste ne-oliberal, radicalizado pela ‘camarilha comandada por Temer’, destrói o arre-medo de políticas públicas, construído ao longo dos últimos oitenta anos. “Saúde, educação, saneamento básico, transpor-te, lazer, cultura devem virar grandes negócios. Os recursos públicos devem ser canalizados para alimentar as burras dos rentistas dependurados na dívida publica”, explica o docente.

A Lei das Terceirizações, aprovada em março, permite a terceirização irrestrita tanto no setor privado quanto público, inclusive da atividade fim. Com a nova lei, a União, os governos estaduais e as prefeituras terão amparo legal para ter-ceirizar não só os serviços de apoio das escolas e universidades. Os professores e todos os demais profissionais ligados ao magistério poderão ser contratados sem a necessidade de concurso.

Já a contrarreforma Trabalhista – que foi aprovada na Câmara e agora tramita no Senado como PLC 38/2017 - altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para prever, entre outras medidas, a pre-valência do acordo sobre a lei, contratos temporários, contratação de trabalha-dores como pessoa jurídica, jornada de trabalho de até 12 horas diárias, banco de horas e trabalho em casa.

Poderão ser negociados ainda o enqua-dramento do grau de insalubridade e a prorrogação de jornada em ambientes in-salubres, sem licença prévia do Ministério do Trabalho, além da regulamentação para o trabalho intermitente, modali-dade que permite que trabalhadores sejam pagos por período trabalhado. O PLC 38/2017 também enfraquece a ação das entidades sindicais, pois retira a exi-gência de os sindicatos homologarem a rescisão contratual no caso de demissão bem como de representação sindical no

local de trabalho.De acordo com Jorge Luiz Souto

Maior, professor de Direito do Trabalho Brasileiro da Universidade de São Paulo (USP), as medidas atingem diretamente o serviço público, pois corroboram a lógica privatista. “A terceirização visa, sobretudo, aniquilar o concurso públi-co e o conceito de carreira no serviço público, destruindo a independência dos profissionais que atuam no setor público. No geral, a reforma [trabalhista] busca fragmentar ainda mais a classe trabalhadora, impedindo sua atuação coletiva para a melhoria de suas condi-ções de trabalho e de vida. No que se refere aos servidores públicos isso se dá pela terceirização e pelo impedimento ao exercício do direito de greve, que se aliam, claro, à denominada PEC do fim do mundo [EC 95], já aprovada”, explica.

Ataques à EducaçãoDiante de tantos ataques, a Educação,

assim como demais direitos sociais, está sob séria ameaça. Tanto seu caráter pú-blico e gratuito quanto a qualidade serão diretamente afetados, considerando o desmonte da carreira do Magistério Superior e precarização das condições de trabalho impostas, entre outras medidas, pela contrarreforma Trabalhista e pela Lei das Terceirizações, bem como pela EC 95 – que entre outras medidas suspende a realização de concursos públicos.

O 1º tesoureiro e encarregado de Relações Sindicais do ANDES-SN, Amauri Fragoso de Medeiros, reforça que o con-junto de ataques bem ordenado impacta toda a classe trabalhadora, e também as universidades públicas e os docentes. “Através de uma série de ações, que eu diria, concatenadas e organizadas a partir do poder Judiciário, do Legislativo e do Executivo na tentativa de minimizar o Estado, e levar em consideração o papel da universidade pública, numa concepção de que, como estamos na periferia do capitalismo, nós não teríamos o papel de cumprir com a criação do conhecimento. Ou seja, o único ato que caberia, nas condições, às nossas universidades bra-sileiras é de reproduzir o conhecimento gerado pelo centro do Capital”, explica.

InformANDES/2017 7Movimento Docente

Processo de privatização das IESJorge Souto Maior lembra que a inten-

sificação do processo de terceirização e privatização da força de trabalho na Educação Pública é anterior às contrarre-formas atuais. Em abril de 2015, na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1923, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou constitucionais as Leis 9.637/98 e 9.648/98, legitimando a privatização do Estado nos setores da saúde, educa-ção, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente por inter-médio de convênios, sem licitação, com Organizações Sociais (OS).

“Naquele instante já se abriu, com maior vigor, a porta para a privatização e com as ‘reformas’ em curso o que se almeja é eliminar de vez a ideia de um Estado Social Democrático no Brasil, que foi, ademais, uma promessa da Constituição de 1988, que sequer con-seguimos experimentar de verdade. Neste contexto, é mais que evidente que a educação pública, que tem resistido bravamente e até recuperado seu espaço

nos últimos anos, tende a sofrer danos ainda mais profundos, caso todas essas reformas sejam levadas a efeito”, analisa o jurista Souto Maior.

O diretor do ANDES-SN, Amauri Fragoso de Medeiros, também destaca a terceiri-zação via entidades públicas de caráter jurídico privado, como OS e fundações, e lembra ainda que, um ano antes da decisão do STF, ainda durante o governo de Dilma Rousseff, o então presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães, chegou a declarar durante um debate, que a Capes, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Ministério da Educação (MEC) pretendiam criar uma OS para contratar docentes para as Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) por meio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

A liberação das OS e a ampliação da terceirização para a atividade fim, em con-junto com o fim do abono permanência e as contrarreformas da Previdência – que levará um grande número de docentes a se aposentar com receio das mudanças caso a lei seja aprovada - e a Trabalhista

– que aponta para a precarização das re-lações e contratos de trabalho, e ainda a EC 95, que congela as despesas primárias e implicitamente suspende os concursos públicos, criam, de acordo com o 1º tesou-reiro do ANDES-SN, um terreno propício para a terceirização na contratação de docentes e técnico-administrativos.

“As universidades vão passar por um processo no qual o movimento docente tem uma importância fundamental, porque, por enquanto, nós ainda temos um aspecto importante que é o artigo 207 da Constituição, que garante a auto-nomia universitária, que ainda funciona, pelo menos administrativamente. Então, teremos como atuar nos conselhos uni-versitários para que não seja liberada a contratação de professores via tercei-rização ou via OS, mas a perspectiva é que, com o ataque que se faz, e com a desestruturação da carreira docente, que entre outras coisas destrói a dedicação exclusiva, dá as condições suficientes para que as contratações de professores nas universidades sejam através de OS ou de firmas terceirizadas”, avalia Medeiros.

InformANDES/20178Matéria Central

O aumento da carga de trabalho, a precarização das condições de trabalho, a mercantilização do ensino, a expansão desor-

denada das instituições de ensino supe-rior (IES) e o produtivismo são algumas das fontes relevantes de sofrimento no

Ataques aos direitos sociais intensificam adoecimento docente

trabalho docente, conforme o resultado de algumas pesquisas realizadas com a categoria das IES no país. pesquisas Os levantamentos, ainda escassos, mostram um cenário preocupante enfrentado por professoras e professores, que sofrem desde reações alérgicas a giz e distúrbios

vocais, passando por estresse, assédio moral, depressão e até casos de suicídio.

D e s d e 1 9 8 3 , a O r g a n i z a ç ã o Internacional do Trabalho (OIT) aponta essa categoria profissional como a se-gunda colocada na lista de profissões mais propensas a desenvolver doenças

InformANDES/2017 9Matéria Central

de caráter ocupacional. Os docentes estão expostos, cotidianamente, a ruídos, movimentos repetitivos, trabalho em pé, material de trabalho inadequado e antiergonômico, intenso uso da voz e o acúmulo de tarefas diversificadas. Além dos problemas do dia-a-dia, a expansão universitária de forma precarizada, as crescentes exigências de produtivismo acadêmico e as pontuações da avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) são apontadas por pesquisas como principais responsáveis pelo aumento de quadros de sofrimento e adoecimento.

Para agravar o quadro, a tramitação no âmbito legislativo das contrarrefor-mas da Previdência e Trabalhista, as, já aprovadas, Lei das Terceirizações- que permite a terceirização em todas as áreas nas esferas pública e privada -, a Emenda Constitucional (EC) 95 - que congela os gastos públicos por 20 anos -, e o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação - que aprofunda a privatiza-ção da ciência e tecnologia públicas -, resultarão em consequências perversas para a carreira docente e, logo, para as relações de trabalho nas instituições públicas.

“Se o docente não entra nesta mara-tona do produtivismo, ele é taxado de preguiçoso. Existe uma engrenagem de fabricar doentes que é o Lattes. Hoje em dia, o que está acima de tudo é o quanto você produz de artigos. Vemos também muitos professores levarem trabalho para o seu lar para dar conta de todas as atividades da instituição. As contrarreformas em curso interferem na saúde do trabalhador e, caso aprovadas, o impacto será catastrófico na vida dos docentes, que terá uma sobrecarga maior e por mais tempo. Aposentar será uma exceção”, ressaltou Sirliane de Souza Paiva, 2° vice-presidente da Regional Nordeste I e da coordenação do Grupo de Trabalho de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA) do Sindicato Nacional.

Precarização no BrasilA pesquisadora Izabel Cristina Borsoi,

professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explica que a pre-carização das condições de trabalho nas universidades não é algo novo. No caso específico do Brasil, as medidas gover-namentais direcionadas às instituições públicas, e postas em prática nos anos 1990, afetaram o cotidiano e a saúde

dos docentes.No âmbito da carreira, houve altera-

ções nos critérios para aposentadoria e para progressões funcionais, criação de normas produtivistas de avaliação de desempenho individual, cortes de be-nefícios, como quinquênios, anuênios e licenças-prêmio. Quanto à remuneração, a perda de poder aquisitivo do salário e, até recentemente, o crescimento da par-ticipação dos valores adicionais salariais no total remuneratório, em detrimento de reajustes do salário-base –também contribuiu para o quadro atual.

Aliada a isso, a expansão univer-sitária - proposta pelo Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Públicas Federais (Reuni) -, com o surgimento de novos campi e o aumento vertiginoso da quantidade de cursos de graduação e de pós-graduação, impactou de maneira brutal a relação numérica professor-aluno e aprofundou problemas infraestruturais, pedagógicos, administrativos e financeiros, especifica-mente das instituições federais de ensino (IFE), e revelou-se desastrosa quanto à qualidade acadêmica e precarizou as condições de trabalho docente.

As crescentes exigências em torno do desempenho e da produtividade científica são apontadas também como responsáveis pelo aumento de quadros de sofrimento e adoecimento entre os professores universitários, como a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional (intimamente ligada à depressão), que é um estresse que acomete profissionais que traba-lham com qualquer tipo de cuidado, havendo uma relação de atenção direta, contínua e altamente emocional com outras pessoas. Para Izabel Cristina Borsoi, é muito provável que a carga de responsabilidade seja a causa principal da síndrome entre os docentes.

Segundo a pesquisadora da Ufes, o aprofundamento dos problemas, somado ao aumento da insegurança por causa das políticas de crescente contenção de veWrbas destinadas à edu-cação, afetam as condições de trabalho docente, que irão piorar ainda mais com a aprovação das contrarreformas. “No caso dos docentes, a pesquisa que fiz já apontava o esgotamento de professores e professoras muito antes de se aproxi-marem da idade de aposentadoria, isso pelo regime atual. Muitos relatavam estar contando os dias para se afastarem dos encargos da universidade, ou porque estavam extremamente fatigados devido

à excessiva demanda acadêmica, ou porque já se percebiam adoecendo ou, mesmo, doentes. Diante disso, acredito que a tendência será de piora da saúde dos docentes”, explica a docente.

“Já no caso da Lei das Terceirizações, ela abre, dentro do serviço público, espaço para termos um trabalhador que irá ser tratado como sendo de segunda categoria. Terá os mesmos encargos do servidor concursado, mas terá menor salário, maior precarização de direitos e também falta de apoio sindical. Como não terá vínculo direto com a instituição, não terá carreira, portanto também não terá motivos para se comprometer com o trabalho que assume”, completou.

Precarização do trabalho e produtividade A pesquisa citada por Izabel Cristina,

“Precarização do trabalho e produtivi-dade: implicações no modo de vida e na saúde de docentes do ensino público superior”, foi realizada com professores de uma universidade pública federal e os resultados apontaram que a procura de ajuda médica e/ou psicológica é mais

"Esse negócio das publicações na Capes. Não interessa se você tem orientandos, se você tem pesquisa, se você tem livro. Interessa é que você tem três artigos, não importa se você é o quinto ou décimo autor. Eu estou até repensando a minha vida. Estou próximo de me aposentar. A única coisa que me deixa muito feliz é que eu contribuí para formar muitos alunos, tanto na graduação quanto no mestrado".

Homem, 58 anos, Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas* *Depoimento retirado da pesquisa “Precarização do trabalho e produtividade: implicações no modo de vida e na saúde de docentes do ensino público superior”.

InformANDES/201710Matéria Central

frequente entre docentes de progra-mas de pós-graduação, principalmente entre mulheres com maior número de orientandos. Eles indicaram, também, que a diversidade de atividades, quase todas obrigatórias - delimitadas e con-sideradas parâmetro de avaliação do desempenho acadêmico individual e co-letivo – leva muitos desses professores ao sofrimento e ao adoecimento. Dos 80 docentes que assinalaram ter pro-curado ajuda médica e/ou psicológica nos últimos dois anos, 62,5% estavam em programas de pós-graduação. Além disso, mais de 80% deles informaram ter problemas como enxaqueca, cistite e crises gástricas.

De acordo com a pesquisadora da Ufes, as queixas mais frequentes dos docentes são de ordem psicoemocional, como depressão e ansiedade. Ela afirma haver, também, um conjunto de descon-fortos físicos que os próprios docentes não reconhecem como doença, mas que limitam a capacidade de trabalho.

“É difícil sintetizar, mas a principal causa de sofrimento e adoecimento entre docentes é a demanda excessi-va de atividades acadêmicas - aulas, orientações de estudantes, pesquisa, publicações, relatórios de trabalho, reuniões, participação em bancas -, que

não permite que eles redimensionem suas jornadas de trabalho para incluir, no seu cotidiano, tempo efetivo para o descanso, o lazer, a familiar e social, isto é, condições para recompor de maneira adequada as energias físicas e mentais consumidas no trabalho. Um dado importante é que a maioria dos docentes costuma trabalhar em jornadas que invadem a esfera privada, o espaço doméstico. O ambiente doméstico se torna uma extensão do ambiente da universidade”, disse.

Daqueles que informaram que buscam atendimento médico/psicológico, 50% disseram participar de bancas de qua-lificação e de defesa de mestrado/dou-torado, 51,4% publicam seus trabalhos e 51,3% afirmaram orientar alguma monografia, dissertação ou tese.

“Uma vez doente, o docente tem queda de sua produtividade, o que, de alguma forma afetará sua vida profissio-nal. Mais de um terço dos integrantes da pesquisa afirma não se sentir produ-tivo, apesar de trabalhar muito”, disse a pesquisadora.

Izabel Cristina Borsoi avalia que seria importante redimensionar o trabalho docente de modo equilibrado entre as atividades que formam o tripé da uni-versidade: ensino, pesquisa e extensão, principalmente, diante dos ataques que estão ocorrendo no mundo do traba-lho e político, em esfera global, e não somente no Brasil.

“Deveriam ser pensadas, de fato, como tendo a mesma importância, mas deixando aos docentes a possibilida-de de escolha do campo em que eles mais sentem à vontade e seguros para investirem a maior parte do seu tempo de trabalho, sem que fossem cobra-dos ou cerceados pelas suas escolhas. Precisaríamos que a relação numérica professor-aluno fosse mais equilibrada para evitar a sobrecarga das atividades de ensino, do modo como temos hoje. Seria necessário reduzir a burocracia que tem tomado tempo precioso dos docentes. Precisaríamos ter condições de trabalho adequadas e decentes para que professores e professoras pudessem realizar suas jornadas de trabalho de oito horas na própria instituição, com hora para iniciar e terminar. Seria sau-dável que houvesse maior colaboração e mais solidariedade entre colegas e que evitássemos criar ambientes competiti-vos que, como sabemos, interferem de modo negativo nas relações interpesso-ais e na saúde dos docentes”, explicou.

“A minha concepção era de que não estava sendo produtiva porque eu não estava conseguindo escrever artigo. Aí, eu descobri, na terapia, como eu estava produtiva, como que estava sendo produtiva, por exemplo, nesse trabalho de extensão... Mas a concepção é ‘não é produtivo’. Se você não publica três artigos, seu nome vai com ‘bolinha’, com ‘zerinho’”.

Mulher, 52 anos, Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas*

* Depoimento retirado da pesquisa “Precarização do trabalho e produtividade: implicações no modo de vida e na saúde de

Estresse e depressão na pósEm outubro de 2013, pós-graduandos

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizaram uma pesquisa sobre as condições socioeconômicas dos estudantes de pós-graduação dessa universidade. A pesquisa foi conduzida simultaneamente entre estudantes do lato sensu (cursos de especialização) e stricto sensu (mestrado e doutorado) da universidade. Os números apon-taram explicitamente a deterioração das condições de vida dos estudantes do mestrado e doutorado: 50,50% dos entrevistados afirmaram apresentar problemas de sono, insônia ou sono não restaurativo; e 41,20% afirmaram ter diminuído a motivação.

Pesquisa do ANDES-SNDiante de inúmeros casos de adoeci-

mento docente no Brasil e no mundo, o ANDES-SN lançou em novembro do ano passado, durante o VI Encontro Nacional de Saúde do Trabalhador Docente, re-alizado na cidade de Feira de Santana (BA), uma cartilha para instrumenta-lizar as seções sindicais na realização de uma pesquisa nacional sobre saúde docente. O levantamento permitirá que o Sindicato Nacional obtenha um panorama nacional das condições de trabalho e do adoecimento docente e fundamentará as estratégias de luta acerca dessas questões. Entre as per-guntas sugeridas pela cartilha estão: ‘Sente-se reconhecido em seu local de trabalho?’, ‘Você se sente pressionado por metas de produtividade?’, ‘Você considera suas condições de trabalho precarizadas?’.

“Desde o primeiro Encontro Nacional sobre a Saúde do Trabalhador, sentimos a necessidade de termos mais dados sobre o adoecimento docente, pois sempre quando pautávamos o tema, os relatos de problemas psicológicos, assédio moral, o produtivismo, insalu-bridade e periculosidade eram muito contundentes. E o professor - mesmo doente e às vezes sem saber que está -, continua no trabalho, pois tem uma sensação de responsabilidade. Muitos adoecem lentamente, outros chegam a enfartar ou ter um acidente vascular cerebral (AVC), e quando isso acon-tece ninguém relaciona ao trabalho e não existe interesse da universidade, que não quer se responsabilizar pela doença e morte do trabalhador. Então, se fez mais que necessário montar esse questionário, que foi construído a

InformANDES/2017 11Matéria Central

Outros países

Em 2006, uma pesquisa realizada pelo grupo de Psicologia, Clínica e Saúde da Universidade de Múrcia (UM), na Espanha, com 1,1 mil servidores da instituição - entre professores e técnico-administrativos - revelou que 44,36% disseram sofrer “mobbing” – termo em inglês "to mob" significa "agredir" -, ou assédio moral no local de trabalho. Destes, 83% afirma-ram sofrer estresse crônico; 67,8%, tristeza; 54% insônia; e 8% pensamentos suicidas. Os efeitos do “mobbing” sobre a vítima são ansiedade, insônia, falta de apetite ou apetite excessivo, dores fortes de cabeça, tonturas, esgotamento e depressão. Mais de um terço dos que afirmaram sentir estresse apresentam sintomas físicos. Os entrevistados afirmaram sofrer também com os “stalkers” - palavra inglesa que significa "perseguidor". Desses, 51,6% relataram que os “stalkers” distorcem o que é dito no trabalho, 49% afirmaram que estes avaliam o trabalho de forma injusta ou viés negativo, 44% que inventam boatos e calúnias que ferem a imagem dos entrevistados. Segundo o professor José Buendía, coordenador da pesquisa, por trás das agressões, o propósito, na maioria das vezes, é que as vítimas abandonem a academia, já que elas não podem ser demitidas.

muitas mãos, em diversas reuniões do GTSSA do Sindicato Nacional, em ofici-nas, debates, com profissionais da área da saúde do trabalhador”, disse Maria Sueli, da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Paraná (Apufpr-Seção Sindical do ANDES-SN), onde a pesquisa já foi aplicada e adaptada de

acordo com a realidade da seção sindical.Maria Sueli observou também o efeito

didático na aplicação do questionário. "Percebemos que, à medida que aplicá-vamos o questionário, víamos o efeito político de percepção dos professores, que tomaram consciência de que é preciso descansar e ter momentos de

lazer”, disse Maria Sueli. “Do que vale tantos pontos no Lattes? Daqui para frente temos que trabalhar no sentido da prevenção, combater o produtivismo, o assédio moral, e a questão do suicídio em decorrência do trabalho. E isso é muito grave”, pontuou.

Para Sirliane de Souza Paiva, coorde-nadora do GTSSA do Sindicato Nacional, a pesquisa sobre a saúde do trabalha-dor é fundamental diante dos ataques postos. “Só conseguiremos ter dados se fizermos este levantamento e comparar-mos com os coletados nos próximos 10 anos. Os dados que levantaremos agora serão baseados na atual política. Com qualquer tipo de mudança de cenário, continuaremos brigando para reverter esses ataques, mas precisamos além da luta, ter esses dados”, disse.

Encontro sobre saúde do trabalhadorEm 2009, o ANDES-SN realizou o seu

1° Encontro sobre Saúde do Trabalhador, em São Paulo.

No ano seguinte, durante do 29° Congresso na cidade de Belém (PA), a temática do adoecimento docente passou a ter um caráter central na pauta de lutas do Sindicato Nacional, tendo sido discutida em todos os setores (fe-derais, estaduais e particulares). Foram deliberadas ações com o objetivo de fazer com que a entidade se aproprie da produção acadêmica sobre a temática do adoecimento dos trabalhadores da educação. “É possível observar com o decorrer dos anos que a questão da saúde docente tem ocupado um espaço cada vez mais central nas discussões do Sindicato Nacional”, concluiu a diretora do ANDES-SN.

12 InformANDES/2017Entrevista

Aprofundamento da política neoliberal ataca a Educação Pública

No início de maio, o ANDES-SN realizou o V Seminário Estado e

Educação, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Cerca de 200 pessoas participaram do encontro realizado em parceria com a Associação dos Docentes da Ufes (Adufes SSind.), que teve como tema central “A Educação como Direito e como Prática da Liberdade".Valdemar Sguissardi, docente das universidades Federal de São Carlos (UFSCar) e Metodista de Piracicaba (Unimep), participou da mesa “Internacionalização e Mercantilização da Educação”, e abordou a expansão da privatização e mercantilização na educação universitária. Sguissardi concedeu entrevista

Como você avalia a precarização da Educação, em especial do Ensino Superior, nos últimos anos?

Valdemar Sguissardi: A preca-rização da Educação Superior nos últimos anos é um fenômeno que dá continuidade ao que vinha ocorrendo antes, mas que se agrava a cada dia mais, seja com a questão econômica, com a questão política que domina o país, e isso repercute imedia-tamente no setor, pois não há separação entre o que ocorre na educação em geral e que está ocorrendo na política e na eco-nomia. Ora, se a racionalidade neoliberal está tomando conta da economia e do Estado, naturalmente, essa racionalidade de transformar tudo em mercadoria, seja o ensino, os currículos, as pesquisas, as in-vestigações e a própria extensão universi-tária, leva necessariamente ao aumento da precarização do trabalho, das condições de trabalho, especialmente na pós-graduação, mas também na graduação, isso falando da universidade pública. Para não falar da gravíssima situação de precariedade de condições de trabalho nas instituições pri-vadas, mercantis.

Como você vê a ameaça da privatização da educação pública, do Ensino Superior, com a decisão recente do STF de liberar a cobrança das pós-graduações?VS: Imaginar que através da [cobran-

ça] pós-graduação latu senso se consiga aumentar os recursos [das instituições], quando isso é obrigação do Estado, é um equívoco. Portanto, uma decisão como esta do Supremo, que contraria, do meu ponto de vista, o que fala a Constituição Federal, é a abertura de uma porta - dentro das políti-cas do atual governo, da forma como estão propondo as reformas Trabalhista e da Pre-vidência - para que, daqui a pouco, o Con-gresso modifique a Constituição, faça uma emenda constitucional e torne a educação estatal pública nas federais, estaduais, mu-nicipais, paga, de tal forma a chegarmos a 100% de ensino superior pago no país. O Brasil já é campeão mundial, está entre os países do mundo em que apenas 24% das matrículas são gratuitas - ou nem todas gratuitas, as municipais não são - em torno de 20% das matrículas são gratuitas. Um dos menores índices do mundo, mesmo os Estados Unidos, que têm cerca de 70% das matrículas da educação superior. Aqui no Brasil, o fundo público, além das federais, ele financia, através do Fies e do Prouni, apenas as instituições privadas e, de modo particular, – porque são maioria absoluta - as privado-mercantis.

Durante três dias, o V Seminário Estado e Educação promoveu diversos debates, que aprofundaram questões relacionadas ao avanço da mercantilização, da privatiza-ção e o recrudescimento do conservadorismo no campo educacional brasileiro.

Segundo Olgaíses Maués, 3ª vice-presidente do ANDES-SN e da coordenação do grupo de trabalho em Políticas Educacionais (GTPE) do Sindicato Nacional, o Seminário foi extremamente positivo, tanto do ponto de vista de público quanto da qualidade dos debates.

“Tivemos um público significativo, graças ao trabalho expressivo da Adufes-SSind., que acompanhou os debates e participou ativamente das discussões nos grupos de trabalho. Debatemos assuntos como privatização e mer-cantilização, gênero, inclusão de pessoas com deficiência na Educação, os projetos conservadores que rondam o ensino, e a contrarreforma da Previdência. Os expositores

fizeram ótimas avaliações críticas, com dados consistentes e apresentaram perspectivas de mudanças”, comentou.

Após as mesas, os participantes se dividiram em grupos de trabalho, nos quais a discussão se deu acerca da cons-trução de um Projeto Classista e Democrático de Educação. Após os GTs, foi realizada a Plenária Final com os encami-nhamentos apontados pelos grupos, e que serão debatidos no 62°Conad, que acontecerá entre os dias 13 e 16 de julho desse ano, na cidade de Niterói (RJ).

Educação como direito e prática da liberdade

ao InformANDES sobre como a intensificação da política neoliberal ataca a educação pública. Confira.

13Entrevista

InformANDES/2017

Como você vê o recrudescimento do conservadorismo no país, que se reflete de forma explícita na educação, com o avanço da proposta do ‘Escola sem Partido’ e o cerceamento da liberdade de pensamento nas escolas?VS: É uma contradição, é um absurdo,

em termos mundiais eu diria, porque não é só no Brasil que ocorre esse movimento. Mas, é tão contraditório, que parece piada. Como é possível conciliar a liberdade de pensamento nas universidades, na edu-cação em geral, no ensino médio com o cerceamento da análise histórica? Como é que um historiador vai poder falar sobre qualquer evento histórico, desde a Inde-pendência, a proclamação da República, a revolução de 30 ou a ditadura empresarial--militar, se ele não puder explicar as várias correntes, as várias posições, etc. Ou seja, o livre debate, a livre expressão do pensa-mento é essencial à instituição de educa-ção, seja ela educação básica ou educação superior. Então, é uma contradição nos termos e na realidade, impossível aceitar isso como algo sério.

“essa racionalidade de transformar tudo em mercadoria, seja o ensino, os currículos, as pesquisas, as investigações e a própria extensão universitária, leva necessariamente ao aumento da precarização do trabalho, das condições de trabalho”

E quais são as perspectivas de enfretamento a essa conjuntura?VS: Como esse é um movimento mundial,

e que tem tudo a ver com a racionalidade neoliberal, que toma conta da economia, dos Estados, das políticas públicas, eu não vejo possibilidades de enfrentar isso se a gente não enfrentar de forma global tam-bém. A desigualdade social, por exemplo, que agora vai se agravar imensamente com a contrarreforma da Previdência e Trabalhista, com a terceirização, tem que ser combatida de todas as formas. A única maneira que eu vejo, a maneira mais eficaz pelo menos, é democratizar a educação superior, a educação em geral, para a redu-ção das desigualdades. Por isso, a luta tem que ser primeiro na questão de combater o

neoliberalismo, a racionalidade neoliberal que invade a economia, amplia a desigual-dade e ataca todos os movimentos sociais que possam defender os direitos que foram conquistados em 200 anos e que arriscam ser destruídos em um ou dois anos.

E como essas condições impactam no dia-a-dia do professor docente? VS: Existem as condições objetivas, reais,

de salário, de cortes de investimentos. E existem as questões psicológicas. Porque nós somos seres humanos, e o clima que se cria de desânimo, de medo dos riscos e perdas de direitos. Muita gente vai se apo-sentar, eventualmente, mesmo não queren-do vai se aposentar precipitadamente, com medo de que a perda seja maior se deixar para daqui a um ano, dois ou três anos. Então, todo esse clima, essa política econô-mica, que é fundamentalmente econômica e social, afeta necessariamente as condições de trabalho e vai acelerar a precarização da educação superior, do docente seja nas instituições públicas, seja nas instituições privadas, ou privadas mercantis. Então, não é nas universidades públicas, mas nas priva-

das [os docentes] estão em situação muito mais precá-ria, de apreensão total, de falta de segurança. Agora, com a terceirização muitos serão contratados por edi-tais, nos quais as pessoas dizem quanto querem receber, quem pedir me-nos será contratado. Está acontecendo isso em vários municípios, mas eu não duvido que daqui a pouco essas instituições privado--mercantis passem a fazer isso porque a legislação permitirá.

*Entrevista concedida à Giselle Pereira e Vívia Fernandes – Adufes SSind.

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InformANDES/201714Movimentos Sociais

No dia 13 de maio de 1888, a es-cravidão foi abolida legalmente no país, através da assinatura da Lei Áurea, pela princesa Isabel.

Apesar do marco histórico, 129 anos depois, negras e negros ainda enfrentam, coti-dianamente, as consequências dos quase quatro séculos de escravidão. Desigualdade social, exploração, criminalização e racismo permeiam nossa sociedade.

“Simbolicamente, na historiografia oficial, o 13 de maio de 1888 é a data em que foi assinada a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil. Por trás desse evento, se vincula a ideia de benevolência da prin-cesa Isabel, lembrada como ‘redentora’. Mas a história não revela que, da corrosão do sistema escravista, também fez parte a resistência dos negros escravizados, a exemplo dos quilombos e outras formas de luta”, avalia Cláudia Durans, 2ª vice--presidente e uma das coordenadoras do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, Etnicorraciais, Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) do ANDES-SN.

A diretora do Sindicato Nacional ressalta que, apesar da soltura de milhares de escra-vos, não foram assegurados ganhos mate-

13 de maio: Racismo é fruto da abolição inconclusa no país

riais ou simbólicos, para que a população negra fosse socialmente inserida e tivesse acesso à educação, saúde, moradia, etc.

Pós-aboliçãoUm ano após a abolição da escravatura,

foi proclamada a República no Brasil, em 1889. Mesmo com a mudança no sistema político, a população negra, mais uma vez, foi deixada à margem da sociedade. “No período pós-abolição, a maioria da população negra foi jogada a uma situação de ‘marginalização’ social, ocupando pa-lafitas e favelas. Em quase sua totalidade estava desempregada ou trabalhando em serviços precarizados. Não se reparou este segmento social, que passou mais de 350 anos escravizado, vivendo em condições sub-humanas. Passados 129 anos da abo-lição, a situação de hierarquização social e discriminação racial se mantém em todas as instituições sociais, constituindo um racismo estatal e institucional”, criticou a 2ª vice-presidente do ANDES-SN.

Para reverter esse quadro de margi-nalização, logo após a abolição, os ex--escravos e seus descendentes criaram os movimentos negros no Brasil, inicialmente

eram dezenas de grupos, que em poucos anos passaram de centenas em diversos estados.

“A comunidade negra criou centenas de espaços de sociabilidade pelo país, como clubes sociais, como o conhecido Club 13; clubes de futebol, imprensa negra – entre eles, os jornais Raça, de Uberlândia [MG], e Alvorada, de Pelotas [RS] que focavam nas mazelas que afetavam a população -, movimentos de operários negros, etc. Nestes locais, os membros dos movimen-tos de mobilização racial negra no Brasil questionavam a forma não reparativa que a comunidade foi inserida no mundo livre”, conta Caiuá Cardoso Al-Alam, 1° secretário da Regional Rio Grande do Sul do ANDES-SN.

O diretor do Sindicato Nacional relata que até 1920, as comunidades negras celebravam o dia 13 de maio, como uma data que marcava uma trajetória de lutas e conquistas do movimento negro e o próprio fim da escravidão, mesmo que tenha sido negado aos negros direitos fundamentais, como o acesso à terra, moradia, escola, saúde, entre outros.

“O movimento negro começa a questio-

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InformANDES/2017 15Movimentos Sociais

nar de maneira mais enfática a situação da população no país, a falta de repara-ções e o próprio 13 de maio. E isso se formaliza em 1971, quando se propõe o 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, em homenagem a morte de Zumbi dos Palmares”, disse.

Cláudia corrobora com o pensamento de Caiuá, e afirma que a Lei Áurea é con-siderada apenas uma conquista jurídica, já que a população negra permaneceu em uma situação desprivilegiada e com o encargo de lutar contra o preconcei-to racial e por melhores condições de vida. “Em contraponto a esse discurso oficial, o movimento negro reconhece e indica o 13 de maio como Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo e para lembrar o nascimento do escritor negro Lima Barreto, que nasceu antes do fim da escravidão no país, em 1881. Já a tão propagada liberdade é comemorada no dia 20 de Novembro”, explicou Cláudia.

A data virou a lei nacional n°12.519 em 2011, quando foi instituído oficial-mente o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, homenageando o principal representante da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial e que liderou o Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos dos engenhos, por índios e brancos pobres expulsos das fazendas.

Cauiá Al-Alam ressalta ainda outras conquistas da trajetória de luta pela inclusão social e superação do racismo. “Foram os negros no movimento que buscaram a sua intelectualização desde o final do século XIX e vêm pautando a sua agenda da reparação e consolidan-do diversas conquistas, que não são benesses do estado brasileiro, como a abolição da escravidão, o racismo como crime inafiançável, a inserção do estudo da história da África e da culta afro-brasileira nas escolas, a política de cotas nas universidades, dentre outras conquistas”, disse o diretor do ANDES-SN.

Agenda Regressiva O aprofundamento da política de

ajuste fiscal e os recorrentes cortes no orçamento da União, intensificados nos últimos anos, atingem diretamente servi-ços públicos como saúde, educação, mo-radia, transporte e, consequentemente, as pessoas que mais se beneficiam deles, a população negra e periférica. As con-trarreformas da Previdência e Trabalhista em curso, e as, já aprovadas, Lei da Terceirização e a Emenda Constitucional

95 - que congela os gastos públicos por 20 anos-, são duros ataques à população negra, em especial, às mulheres, que enfrentam, cotidianamente, as violações sistemáticas do Estado Democrático de Direito. [Ver box]

"Os ataques são destinados à população quilombola, à juventude negra quando é assassinada, quando lhe negam o acesso à educação, às mulheres negras, que enfren-tam relações precárias de trabalho e serão ainda mais prejudicadas com as contrarre-formas. O governo Temer ignora a realidade brasileira”, critica o docente.

Somando-se a isso, pontua Cláudia, é importante observar que o encarceramento da população negra também aumentou. “Em doze anos, o crescimento carcerário foi de mais de 620%, o que nos leva a concluir que há um controle social dos negros no país e há uma política de segurança pública calcada na repressão, encarceramento e na construção de presídios”, disse.

ANDES-SNHistoricamente, o ANDES-SN vem cons-

truindo políticas de combate ao racismo e, principalmente, de reconhecimento à necessidade de políticas de reparação à população negra. No 35° Congresso, rea-lizado em 2016 na cidade de Curitiba (PR), o Sindicato Nacional aprovou importantes resoluções relacionadas à questão étnicorra-cial, que buscam intensificar a luta contra o racismo, a defesa e a ampliação das ações afirmativas, assim como continuar no engajamento da denúncia do genocídio da juventude negra. Nesse ano, no 36° Congresso, que aconteceu em janeiro, na cidade de Cuiabá (MT), os docentes deliberaram pela intensifi-cação da defesa de ações afirmativas, com amplia-ção de cotas étnicorraciais para negros e indígenas nas Instituições de Ensino Superior, com garantia de políticas adequadas de permanência es-tudantil, inclusive nos cursos de pós-graduação.

“O Sindicato, por ser uma organização da classe trabalhadora, tem que ter um projeto de emancipação da classe, para isso é preciso com-preender os problemas sociais de forma ampla, isto significa que, além das questões econômicas, é preciso combater o machismo, racismo e lgtfobia”, finalizou Cláudia Durans.

Números da desigualdade

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2004 e 2014, 39,1% das mu-lheres negras estavam inseridas em relações precárias de trabalho: com renda de até dois salários mínimos e sem carteira assinada. Seguidas, nesta ordem, por homens negros (31,6%), mulheres brancas (27%) e homens brancos (20,6%). Quando o recorte é a violência sofrida pela po-pulação negra, os números mostram que morrem, proporcionalmente, mais negros que brancos.

Quanto à vitimização da popula-ção negra no país, dados divulgados pelo Mapa da Violência 2016 apon-tam o aumento de 71,7%, em 2003, para 158,9%, em 2014. Enquanto, no mesmo período, a taxa de homicídio da população branca caiu de 14,5%, em 2003, para 10,6%, em 2014. Ou seja, morrem 2,6 vezes mais negros que brancos vitimados por arma de fogo. O mesmo acontece com a taxa de homicídios de mulheres, o percentual de mortes de mulheres negras e pardas cresceu 19,5%, en-quanto a taxa de homicídios contra mulheres brancas caiu 11,9%.

16 InformANDES/2017Internacional

Em fevereiro de 1917, trabalhado-ras russas se levantaram contra a opressão e deram início a uma greve de cinco dias, que teve

papel fundamental na construção da Revolução Russa, de outubro do mesmo ano. As condições miseráveis enfrenta-das pela população russa sob o czarismo se agravaram com o ingresso do país na 1º Guerra Mundial, que provocou a escassez de alimentos e levou a uma inserção maciça das mulheres no mer-cado de trabalho - no setor agrícola elas representavam 72% da mão-de-obra e 50% no setor das indústrias.

Com jornadas de 10 a 12 horas e sem alimento para a família, no dia 23 daque-le mês - Dia Internacional das Mulheres (no calendário russo da época), mulheres de Petrogrado paralisaram o trabalho nas fábricas, no comércio e nas suas casas, e foram às ruas reivindicando pão para seus filhos, que morriam de fome, e a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial, que consumia as vidas de seus maridos.

“Se podemos afirmar que a Revolução Russa de outubro de 1917 tem seu início no “domingo sangrento” de 22 de janeiro de 1905, podemos considerar que 24 de fevereiro é o momento em que a

100 anos da Revolução Russa: Fevereiro e o protagonismo das mulheres

curva da história pende para o lado dos revolucionários bolcheviques, a partir da ação até certo ponto espontânea e radical das mulheres de Petrogrado. Digo espontânea porque os sovietes, mesmo os mais radicais, não tinham programado greves para o dia 23, nem mesmo os bolcheviques tinham lançado chamados públicos para tal”, explica Vitor Wagner Neto de Oliveira, 1º vice-presidente da Regional Planalto e da coordenação do Grupo de Trabalho de História do Movimento Docente do ANDES-SN.

As manifestações duraram cinco dias e ganharam grande adesão dos demais trabalhadores. Da palavra de ordem que exigia pão para alimentar seus filhos, desmembraram-se outras, como o fim da autocracia e da guerra. As mulheres conseguiram ainda apoio dos soldados à causa. Logo depois, o Czar abdicou e foi substituído por um governo provisório liderado pela burguesia.

“De 1905 à fevereiro de 1917, pode-mos dizer que a Rússia fez sua Revolução democrática burguesa, pelas mãos e cabeças dos operários e camponeses, homens e mulheres, e acelerou o tempo histórico rumo à revolução vitoriosa sob a direção dos bolcheviques”, analisa o coordenador do GTHMD do ANDES-SN.

-De acordo com o diretor do ANDES-SN, o movimento iniciado pelas mulheres em fevereiro de 1917 deixou profundas lições, que hoje continuam a orientar organizações, que reivindicam a tradi-ção da Revolução Russa e do Partido Bolchevique. “Essas lições, de certa forma, foram sistematizadas nas 'Teses de Abril', propostas que Lênin apresen-tou logo quando chegou à Petrogrado, em 26 de abril de 1917, vindo do exílio. Nelas, o revolucionário aponta para a necessidade de avançar para além da revolução democrática, um programa para a revolução socialista: “Todo poder aos sovietes!” dizia Lênin. Outubro de-monstrou o acerto desta tese”, comenta.

Segundo o docente, uma das princi-pais lições da Revolução é que os tra-balhadores e as trabalhadoras devem “tomar em suas mãos a história, devem ser protagonistas. Outra lição é de que as instituições do Estado, inclusive as instituições democráticas como o su-frágio, tem seus limites porque regem a ordem burguesa, protegem os interesses do grande Capital e não do trabalho”, destaca.

De 1917 para 2017Assim como a mobilização mulheres

em seu Dia Internacional, em 1917 na Rússia, foi um marco importante para a organização da luta da classe trabalha-dora, cem anos, em diversas partes do mundo, as mulheres tomaram as ruas no 8 de março em defesa de seus direitos. No Brasil, manifestações com centenas de milhares de pessoas foram o início de uma série de atos e uma crescente mobilização, que resultou na Greve Geral de 28 de abril e na ocupação de Brasília em 24 de maio.

“O Dia Internacional da Mulher em 1917, em Petrogrado, desatou o nó da Revolução. E não é exagero dizer que o 8 de Março classista de 2017, no Brasil, quando milhares de mulheres traba-lhadoras saíram às ruas, desatou o nó da luta contra a tentativa de retirada de direitos - as contrarreformas da Previdência e Trabalhista-, colocando a perspectiva da Greve Geral no horizonte próximo, cobrando das centrais sindicais um protagonismo”, avalia o diretor do ANDES-Sindicato Nacional.