77
Maiquel Machado da Silva O JOGADOR DE FUTEBOL NA MÍDIA: UMA RELAÇÃO ENTRE JORNALISMO ESPORTIVO E PSICOLOGIA DO ESPORTE Santa Maria, RS 2013

Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

Maiquel Machado da Silva

O JOGADOR DE FUTEBOL NA MÍDIA: UMA RELAÇÃO ENTRE JORNALISMO

ESPORTIVO E PSICOLOGIA DO ESPORTE

Santa Maria, RS

2013

Page 2: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

2

Maiquel Machado da Silva

O jogador de futebol na mídia: uma relação entre jornalismo esportivo e psicologia do esporte

Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Jornalismo – Área de Ciências Sociais, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obtenção do grau de Jornalista – Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Gilson Luiz Piber da Silva

Santa Maria, RS

2013

Page 3: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

3

Maiquel Machado da Silva

O jogador de futebol na mídia: uma relação entre jornalismo esportivo e psicologia do esporte

Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Jornalismo – Área de Ciências Sociais, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obtenção do grau de Jornalista – Bacharel em Jornalismo.

__________________________________________________ Prof. Ms. Gilson Luiz Piber da Silva (Orientador - Unifra)

________________________________________________ Prof. Ms. Alexandre Maccari Ferreira (Unifra)

_________________________________________________ Prof. Ms. Marcos Daou (Unifra)

Aprovado em ........... de ..................................... de ...............

Page 4: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

4

“Futebol é a melhor invenção do homem”. Mauro Cezar Pereira, jornalista e

comentarista esportivo.

Page 5: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

5

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, professor Gilson Piber, que, de forma atenciosa e séria, contribuiu para

que o trabalho alcançasse os objetivos de forma satisfatória, sendo sempre interessado e

disposto, estimulando a todo momento na busca pelo conhecimento.

Aos professores Alexandre Maccari Ferreira e Marcos Daou, por permitirem a consolidação

das ideias para a realização deste trabalho, agregando conhecimentos de aspectos

interdisciplinares para o estudo do futebol, além da comunicação e do esporte.

Aos demais mestres do curso, pelas lições acadêmicas e profissionais que moldaram e foram

decisivas para a minha construção enquanto jornalista.

A todas as pessoas especiais, que sempre estiveram ao meu lado nesta jornada: avó Lydia

Machado da Silva (in memorian), mãe Marilene Machado da Silva, esposa Francine Linden

da Silveira, filhos Bruno Gabriel Linden Machado da Silva e Bernard Luan Linden Machado

da Silva, e aos amigos, em especial: Fabrício, Ericson e Francisco Márcio.

Faço uma referência especial ao amigo e incentivador Alexander Rossatto Tittelmeyer pelas

contribuições pontuais e parceria, sempre em busca do objetivo comum o engrandecimento

das pesquisas sobre futebol.

Page 6: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

6

RESUMO A atividade esportiva profissional em geral e o futebol, especificamente, são praticados por homens e mulheres que dedicam grande parte de sua juventude a treinos e competições. Por se tratar de área de amplo interesse social, o esporte recebe cobertura especializada por parte dos veículos de comunicação. Os atletas realizam suas práticas esportivas diante de repórteres, locutores, cinegrafistas e comentaristas, além do público em geral. Em virtude disso, suas performances acabam estampadas nos jornais impressos e em outras mídias. O trabalho busca compreender se o desempenho dos jogadores de futebol é influenciado pela divulgação midiática. Desse modo o objetivo principal do presente estudo é compreender as afetações do jornal impresso no aspecto psicológico dos atletas, quando produz reportagens relativas aos mesmos, e em que medida tal influência pode interferir na performance do jogador de futebol. Este trabalho se propõe a analisar a relação entre o jornalismo esportivo e a psicologia do esporte, por meio de entrevistas com jogadores do Riograndense Futebol Clube, do município de Santa Maria (RS), em que são abordadas questões referentes à cobertura feita pelo jornal Diário de Santa Maria, durante a disputa da Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho de 2013. São abordados, ainda, os indícios de afetação por parte dos jogadores de futebol e as possibilidades para diminuir os efeitos destas influências. Palavras-chaves: Jornalismo Esportivo; Psicologia do Esporte; Futebol, Campos Sociais.

Page 7: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

7

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................8

2. CONTEXTUALIZAÇÕES......................................................................................10

2.1 O JORNALISMO ESPORTIVO NO BRASIL....................................................10

2.2 O ESPORTE.........................................................................................................12

2.3 A PSICOLOGIA DO ESPORTE.........................................................................17

2.4 O FUTEBOL........................................................................................................21

3. CAMPOS SOCIAIS: O CAMPO JORNALÍSTICO E ESPORTIVO................28

4. O JORNALISMO ESPORTIVO E A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE..... 31

5. PERCURSO METODOLÓGICO .........................................................................34

6. AS ENTREVISTAS COM OS JOGADORES.......................................................37

7. AS ENTREVISTAS COM AMIGOS OU FAMILIARES DOS

JOGADORES...........................................................................................................44

8. A ANÁLISE DAS ENTREVISTAS.........................................................................49

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................54

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................56

11. ANEXOS ...................................................................................................................59

Page 8: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

8

1 INTRODUÇÃO

O presente Trabalho Final de Graduação, cujo título é “O jogador de futebol na

mídia: uma relação entre jornalismo esportivo e psicologia do esporte”, aborda a questão da

mediação entre dois campos do conhecimento humano, através do qual procuramos analisar

como os jogadores de futebol se identificam nas reportagens jornalísticas que tratam sobre

eles.

O tema é considerado relevante, pois estudos que relacionem o jornalismo esportivo

aos aspectos da psicologia esportiva são ainda escassos. Apesar destas áreas do

conhecimento pertencerem ao campo de estudo das Ciências Humanas, sendo a psicologia

também ligada à área da saúde, são ainda restritas as pesquisas que aproximem ambas.

É importante analisar as questões que envolvem as manchetes e os textos

jornalísticos relacionados ao futebol, pois esta modalidade esportiva tem um importante

papel, tanto social quanto profissional, no caso dos atletas. Além de diversas implicações

nas áreas da política, da economia, da cultura, entre outras.

De maneira superficial, é fácil assumir que o futebol é interpretado da mesma forma

por todos aqueles que o jogam como atletas competitivos, já que as regras, os objetivos e as

habilidades requeridas são as mesmas para todos, independentemente da categoria, posição

ou clube em que atuam.

Entretanto, o valor psicológico para a participação esportiva varia de jogador para

jogador e isto significa que eles sentem diferentes emoções, possuem diferentes expectativas

e são motivados de forma individual.

A extensão e o envolvimento popular do futebol brasileiro podem somente em parte

explicar porque jogadores jovens se engajam tão precocemente em uma atividade que os

leva a treinar e competir intensivamente e, muitas vezes, os faz viver em alojamentos,

isolados de suas famílias, em cidades distantes. No entanto, quais são os fatores psicológicos

que uma determinada manchete ou reportagem de um jornal pode fazer com que o

desempenho/performance dos jogadores sofra alguma influência, tanto positiva como

negativa?

Page 9: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

9

A literatura da Psicologia do Esporte tem mostrado que, dentre as razões mais

comuns relacionadas à prática esportiva, estão à competência física, a aceitação social e o

divertimento.

O futebol, como qualquer atividade humana, não é somente a expressão de

necessidades biológicas, mas também de necessidades psicológicas e dos valores que

permeiam sua prática.

No capítulo denominado “Contextualizações” é realizada uma exposição histórico-

social das principais áreas envolvidas neste estudo, quais sejam: o Jornalismo Esportivo no

Brasil, o Esporte, a Psicologia do Esporte e o Futebol. E traçado um breve percurso

conceitual e um recorte da linha cronológica dos aspectos diretamente relacionados ao tema

proposto neste trabalho.

A seguir, no capítulo “Campos Sociais - o Campo Jornalístico e Esportivo”, onde são

apresentados os conceitos sociológicos de Pierre Bourdieu e as contribuições dos seus

estudos sobre Campos Sociais. O Jornalismo Esportivo e a Construção da Realidade é um

capítulo que faz uma relação entre o segmento jornalístico, pertencente ao jornalismo, e o

conceito da construção social.

A Análise das Entrevistas busca compreender as afetações dos jogadores de futebol

diante da sua exposição na cobertura jornalística do jornal Diário de Santa Maria. Para

finalizar são apresentadas as “Considerações Finais” do trabalho realizado, fazendo um

fechamento do estudo que foi desenvolvido.

Page 10: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

10

2 CONTEXTUALIZAÇÕES 2.1 O JORNALISMO ESPORTIVO NO BRASIL

A relação entre o jornal impresso e o jornalismo esportivo, em território nacional,

data de 1856, com O Atleta. Ainda podemos acrescentar o surgimento, em 1886, do jornal

Sport e Sportman, que trazia conceitos científicos sobre físico e mente, e circulava em São

Paulo.

Em 1910, o jornal A Fanfulha atingia grande parte da colônia italiana em São Paulo e

trazia relatos sobre futebol em página inteira, inclusive em uma de suas edições convocou os

imigrantes a criarem um time de futebol. Desta feita surgiu o Palestra Itália, atual Palmeiras.

Mais tarde, o Correio Paulistano dedicou duas colunas para o turfe e uma para o futebol em

suas edições.

Pereira (2000) conta que no Rio de janeiro os jornais preocupam-se mais com o

evento social em torno das partidas do que com o jogo propriamente dito. Isso é por conta de

um caráter elitista reforçado nos primeiros anos do futebol no Brasil.

Somente em 1922, os grandes jornais passaram a dedicar, nas suas capas, fotos de

quatro a cinco colunas sobre futebol. Os jornais do Rio de Janeiro concediam maior espaço e

destaque para as coberturas futebolísticas.

O jornalismo esportivo no Brasil começou a conquistar espaço maior na imprensa a

partir da década de 1930, período marcado pela profissionalização do futebol, em 1933.

Surge um importante jornal impresso dedicado ao esporte, no Rio de Janeiro, em 1931: o

Jornal dos Sports, de propriedade de Mário Filho, um dos precursores do jornalismo

esportivo e entusiasta do esporte. E em São Paulo, desde 1928, as páginas de segundas-feiras

do A Gazeta, de Cásper Líbero, já faziam sucesso e nelas destacou-se o jornalista Tomaz

Manzoni, por sua dedicação ao jornalismo esportivo.

No Rio Grande do Sul, o Correio do Povo lançou em 1949 a Folha Esportiva, que

durou até 1963. Na década de 60, o Estado de São Paulo, abriu espaço para os esportes em

suas edições, sendo o último dos grandes a investir em tal especialização.

Foi na década de 60 que os grandes jornais impressos do país cederam espaços para o

jornalismo esportivo impresso, que sobrevive até hoje nos cadernos esportivos, recebendo

até manchetes de capa. Porém, sem receber um espaço fixo, depende sempre da quantidade

de informações da semana ou da notícia merecer importância para seu público, em grande

parte dos impressos diários nacionais.

Page 11: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

11

Em âmbito estadual, no dia 1º de outubro de 1895, foi fundado o jornal Correio do

Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser

propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo hoje, o jornal de maior circulação na

região sul do país, conforme dados do Instituto de Verificação de Circulação (IVC), com

média de 184.674 mil exemplares/dia, no ano de 2012.

Em Santa Maria, foi fundado em 9 de outubro de 1934, o jornal A Razão, sendo o

primeiro jornal diário a circular na cidade. O jornal Diário de Santa Maria, do Grupo RBS,

iniciou suas atividades em 19 de junho de 2002, conta com uma equipe de mais de 30

profissionais, sendo o jornalista Rogério Giaretta Júnior o editor de Esportes.

É interessante citar que, em 1997, o diário Lance! foi criado, e trouxe uma aposta na

cobertura esportiva nacional, com ênfase em Rio de Janeiro e São Paulo, onde estavam

localizadas as suas redações. Atualmente, o Lance! é o jornal impresso segmentado de maior

circulação no país, com 80.238 mil exemplares/dia, no ano de 2012, conforme dados do

Instituto de Verificação de Circulação (IVC).

Page 12: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

12

2.2 O ESPORTE

A trajetória do esporte na história da humanidade pode ser assim dividida:

Por um período pré-helênico, com expressa remissão ao povo mais antigo (pré-história), e o povo egípcio, o qual mais se agitou, e que os desportes eram praticados por sua elite social, na satisfação do ócio, do entretenimento e como uma forma de publicidade afirmativa, inclusive como instrumento para a estabilização social; b) por um período grego, da Grécia clássica, que evidentemente equivale ao seu apogeu, por meio dos Jogos Olímpicos; c) período romano, até o imperador Theodosio, que proibiu os jogos devido à violência assumida nos embates, e que, segundo os dados históricos pesquisados, retornaram com o imperador Justiniano, que adorava cavalos, com as festivas corridas de bigas e quadrigas (dois e quatro cavalos); d) período da Idade Média, meio nebuloso, atravessado por práticas isoladas em torneios festivos, marcado pela epopéia das Cruzadas e alianças feudais, precário de dados mais significativos atinentes aos desportes; e) a era moderna da vida de nossa civilização, o qual o foco mais se concentra no trabalho restaurador atribuído ao empenho da figura notável do dedicado Barão Pierre de Fredi Coubertin (1863/1937), nascido na França, conhecido como o “pai” do olimpismo moderno, e responsável pelo alavancamento dos esportes (Senger, 2006, 6).

Os maiores feitos no esporte da Antiguidade estão situados na história clássica da

Grécia. O destaque é atribuído aos atletas gregos, dotados de um espírito guerreiro de

competição, o qual simbolizava as ideias daquele período, nos seus confrontos, nos embates

dos Jogos Olímpicos, com dados mais seguros, de que teriam se iniciado no ano 776 a.C.

(uma referência dos anais, por ser a data mencionada na inscrição do atleta de nome

Coroebos ou Coribus, da cidade de Elis, próxima à Olímpia, como o vencedor de uma

corrida de velocidade), que era o ponto culminante das representações festivas e que acabou

concorrendo de forma decisiva para o contorno das desavenças, das crises políticas e das

atividades beligerantes entre os povos gregos.

Desde aquela época, o esporte já estava envolvido com a realidade socioeconômica

daquele momento histórico, além de uma forte ligação com instituições militares e

religiosas, fato marcante dos primórdios esportivos. O princípio dos Jogos Olímpicos deu-se

nos jogos da pequena cidade de Olímpia, situada na região do Peloponeso ocidental, há 300

km de Atenas e 75 km de Esparta (cidades de maior vulto na época), e que tinha uma

localização geográfica privilegiada, ao pé de uma colina e na confluência de dois rios, cujos

jogos passaram ali a ser celebrados com certa regularidade, revestidos de um caráter festivo.

Page 13: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

13

Em síntese, os jogos de Olímpia, como um torneio, caracterizavam-se por uma

pluralidade de atividades de disputas, de âmbito competitivo, no mesmo evento, com as

competições realizadas periodicamente, de quatro em quatro anos (como acontecem na

atualidade), e com mensageiros designados, os quais comunicavam a trégua olímpica para

todo o povo grego, em sua maioria envolvidos nos conflitos bélicos mencionados, como

práticas de competição de caráter esportivo que duravam cinco dias e que eram disputadas

em um espírito guerreiro e de efetivo confronto nos embates. Havia um misto de trégua

momentânea nas dissidências entre os povos, de festividade, de aproximação, de pacificação

e de louvor aos deuses, cuja dedicação num dia, precisamente o terceiro dia dos jogos, era

em honra a Zeus, o pai de todos os deuses e protetor dos jogos. Os vencedores dos jogos

recebiam prêmios simbólicos com a ostentação de um reconhecimento social sobrenatural,

pois além do coroamento como vencedor (primeiro coroa com ramas de oliva, e depois de

louro), dentre os prêmios mais curiosos havia os privilégios, de uma passagem exclusiva de

saída e de entrada na muralha da cidade (a polis), e, o mais significativo, o recebimento de

uma pensão vitalícia da cidade como reconhecimento, além dos bueis (cabeças de gado) e

ânforas contendo óleo de oliva (especiaria de valor), sem mencionar a consagração artística

com destaque para a imagem desportiva.

Estes jogos são considerados o embrião das “Olimpíadas”, que chegam aos dias

atuais restauradas pelo trabalho entusiasta e dedicado do Barão Pierre de Fredi Coubertin,

reconhecido como um grande “anglófilo”, cujo trabalho veio a desenvolver na Inglaterra,

considerada nessa época pela literatura especializada, diante das atenções do

desenvolvimento da revolução industrial, o berço dos esportes do período moderno.

O futebol surgiu neste contexto, inserido nos esportes modernos, assim como as

modalidades que hoje são praticadas de maneira padronizada na maioria dos países do

mundo, por exemplo, o atletismo, o boxe, o tênis, o remo, o basquete e o vôlei. A origem do

esporte moderno se deu entre o final do século XVIII e meados do século XIX, na Europa,

tendo como base a Inglaterra. Configurados a partir dos valores de uma sociedade burguesa,

considerada elitista, ou seja, era privilégio das classes aristocráticas e da alta burguesia.

O conceito moderno de esporte, para Mandell (Mandell, 1986:292), formou-se no

Reino Unido em conformidade com os desejos de diversão ou de ostentação das novas e

ambiciosas classes sociais, e só depois disso espalhou-se pela América e por outros países da

Europa. A Inglaterra é considerada como a pátria do esporte moderno não apenas porque os

Page 14: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

14

ingleses inventaram ou regulamentaram boa parte das modalidades esportivas hoje

praticadas. É assim considerada também por ter introduzido uma série de inovações que

mudaram a feição dos jogos e competições atléticas. Segundo ele, exemplos de novas ideias

introduzidas são os obstáculos nas corridas (para incrementar a excitação até a linha final), a

mensuração de disparidades (como nas apostas), os conceitos de “esporte amador” e

“esporte limpo”, e a noção de recorde esportivo. Ainda mais profundas e difíceis de

especificar são algumas bases conceituais que estruturam o esporte moderno, como as

concepções sobre o inteiro desdém da vontade individual a um propósito coletivo (trabalho

de equipe) e sobre os resultados obtidos com planejamento de longo prazo (benefícios do

treinamento).

Um passo importante na afirmação do esporte foi a criação de clubes esportivos por

aqueles que queriam continuar a praticar esportes depois da vida escolar ou universitária. O

primeiro clube desse tipo foi fundado em 1831: o Leander Rowing Club.

A comprovação de que o esporte está intrinsecamente ligado à sociedade e o seu

contexto econômico, político e cultural, pode ser observado, por meio da interpretação de

Mandell. Ele afirma:

À medida que a sociedade inglesa era transformada pela industrialização, uma tendência à racionalização, à padronização, ao cálculo e à mensuração tornava-se cada vez mais predominante na vida cultural da Inglaterra. Paralelamente, esses atributos viriam caracterizar os passatempos populares ingleses. O esporte, de modo semelhante à manufatura e aos negócios, tornou-se cada vez mais dirigido para obter eficiência e resultados comprováveis estatisticamente. Assim como os movimentos concomitantes no direito e na administração pública (que conduziram para codificações, constituições e normatizações), no esporte notou-se um movimento que o tornaria codificado e civilizado por regras escritas, as quais foram impostas por entidades reguladoras e aplicadas por árbitros neutros (juízes). Dessa forma, segundo o autor, o esporte cumpriu um papel importante na reconstituição da identidade do povo inglês, num período de transição para a vida urbana e de difícil adaptação a um novo modo de vida (Mandell, 1986, p.151).

Em razão da reconhecida influência cultural que a nação inglesa exerceu no século

passado, a palavra “Sport” foi adotada de modo generalizado em outros países para designar

as modalidades modernas de competição competitiva, lúdica ou recreativa.

À medida que o esporte se propagava, o seu significado social ia se ampliando e se

diversificando. Nos últimos 200 anos, conforme as sociedades capitalistas se transformavam

em suas estruturas, a maioria das práticas esportivas foi se distanciando de sua feição

aristocrático-elitista. Com a popularização, o esporte ganhava novas dimensões, cuja lógica

Page 15: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

15

interna se fundamentaria em relações mercantis. A expansão do consumo de bens culturais

se traduziu, no mundo esportivo, na valorização do espetáculo e na sua apropriação pela

indústria do entretenimento. A partir daí, um novo conceito surge, o chamado esporte-

espetáculo, ligado diretamente à indústria cultural e ao capitalismo. Não por acaso, essa

nova dimensão se desenvolveu notadamente nos Estados Unidos, nação que neste século se

converteria em paradigma de uma sociedade de consumo de massa.

O esporte passou a constituir-se como atividade arraigada no cotidiano da sociedade,

por apresentar algumas características básicas: secularização, igualdade de chances,

especialização dos papéis, racionalização, burocratização, quantificação e busca de recordes.

É interessante o comentário do jurista brasileiro especializado, professor e advogado, Álvaro

Melo Filho, ao expressar um dado curioso e relevante, na seguinte reflexão:

a) a ONU reúne 176 nações, enquanto a FIFA congrega 200 países; b) as roupas desportivas (trainings, tênis, e etc.) estão incorporados ao modus vivendi da sociedade atual, daí proclamar-se o desporto como um “meio de civilização”; c) o espaço ocupado pelo desporto na imprensa escrita, falada e televisada é abundante em qualidade e quantidade, por ser uma temática de primeira magnitude; d) a copa do mundo da França é assistida por 41 bilhões de telespectadores e o futebol gera empregos diretos e indiretos para 450 milhões de pessoas com um movimento financeiro anual de 250 bilhões de dólares; e) a progressiva mercantilização do desporto fá-lo corresponder, presentemente, a 2,8% do comércio mundial (...) Os significativos dados estatísticos e financeiros do fenômeno desportivo jungidos às variadas e múltiplas espécies de prática desportiva atestam que o desporto é parte integrante e indissociada dos hábitos cotidianos dos cidadãos e revelam o verdadeiro sentido e alcance da lapidar assertiva de que “o desporto é um idioma universal, apesar de não ser nenhuma língua”. Nessa perspectiva, o desporto avulta como uma poderosa linguagem universal de comunicação para favorecer a paz internacional e para estreitar a compreensão mútua entre povos de diferentes culturas (Melo Filho, 1998, p. 142).

Na contemporaneidade, o esporte divide-se em alguns tipos distintos, como esporte

de alto rendimento ou rendimento, esporte educativo e esporte de lazer, por exemplo. Porém,

uma proposta de conceituação pode ser encontrada na definição do professor Valdir

Barbanti:

Esporte é uma atividade competitiva institucionalizada que envolve esforço físico vigoroso ou o uso de habilidades motoras relativamente complexas, por indivíduos, cuja participação é motivada por uma combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos (Barbanti, 2012, p. 57).

É possível verificar que, assim como a vida, o esporte possui características que

aproximam o homem de sua realidade social, sejam as vitórias em quadra ou no mercado de

trabalho, sejam as derrotas no jogo ou na carreira profissional ou ainda no aspecto familiar.

Page 16: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

16

Os acidentes de trabalho e as lesões esportivas são algumas de muitas analogias que podem

ser feitas entre o esporte e o cotidiano do homem.

Page 17: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

17

2.3 A PSICOLOGIA DO ESPORTE

A Psicologia do Esporte representa uma das disciplinas da ciência do esporte e

constitui um campo da psicologia aplicada.

Segundo Nitsch:

a Psicologia do Esporte analisa as bases e efeitos psíquicos das ações esportivas considerando por um lado a análise de processos (cognição, motivação, emoção) e, por outro lado a realização de tarefas práticas do diagnóstico e da intervenção. (Nitsch, 1989, 29)

A Psicologia do Esporte e do exercício é o estudo científico de pessoas e seus

comportamentos no contexto do esporte e dos exercícios físicos e a aplicação desses

conhecimentos.

A função da Psicologia do Esporte consiste na descrição, explicação e no prognóstico de ações esportivas, com o fim de desenvolver e aplicar programas, cientificamente fundamentados, de intervenção, levando em consideração os princípios éticos (Nitsch, 1986,189).

Da maneira como se encontra organizada hoje, a Psicologia foi reconhecida como

profissão apenas em 1962. Dessa forma, podemos considerá-la uma área ainda jovem, sendo

a Psicologia do Esporte uma nova área de conhecimento da Psicologia, tanto para

psicólogos, que a reconhecem como uma especialidade (Conselho Federal de Psicologia,

2001), quanto para profissionais do esporte, sejam eles atletas, técnicos ou dirigentes.

O trabalho dos profissionais de Psicologia do Esporte pode ser feito através da

intervenção oferecida em uma prática esportiva, tendo como consequência o aumento do

rendimento esportivo dos atletas e/ou a superação de situações adversas, a fim de atingir um

adequado estado de saúde mental e consequente aumento da performance esportiva. O

psicólogo do esporte, ao realizar seu trabalho em conjunto com a comissão técnica, pode

atuar em situações de isolamento, agressividade, coesão de grupo, motivação, estresse,

superação da dor física, ansiedade e quaisquer fatores que influenciem no desempenho dos

atletas em suas modalidades esportivas.

A Psicologia do Esporte também se desenvolve como ciência. Porém, é necessário

que se trabalhe com exatidão científica e atenção na prática esportiva para que não se

converta em uma Psicologia que simplifica todos os fenômenos. Outro aspecto é que a

Page 18: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

18

prática esportiva é um campo ideal de investigação para a Psicologia do Esporte. Ela

necessita do esporte para comprovar suas teorias e aplicar seus métodos.

Na década de 1920, surgiram os primeiros laboratórios e Institutos de Psicologia do

Esporte, tendo japoneses, russos, norte-americanos e alemães como principais estudiosos.

Em 1979, foi fundada a Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e

da Recreação (SOBRAPE). Inicialmente, os estudos davam ênfase aos aspectos próximos à

fisiologia, os chamados condicionantes reflexos. Ao longo dos anos, outros temas como

motivação, personalidade, agressão e violência, liderança, dinâmica de grupo, bem-estar

psicológico, pensamentos e sentimentos de atletas e vários outros aspectos da prática

esportiva e da atividade física foram sendo incorporados à lista de preocupações e

necessidades de pesquisadores e profissionais.

A abrangência dos estudos da Psicologia do Esporte abarca o fenômeno esportivo em

toda a sua complexidade, visando à compreensão da dinâmica das relações envolvidas entre

atletas, técnicos, dirigentes, mídia e patrocinadores, não é apenas uma Psicologia de

rendimento de atletas e equipes, mas uma Psicologia Social do Esporte. O debate sobre a

função e o papel da Psicologia do Esporte passa necessariamente pela discussão do que é o

fenômeno esportivo e como tem sido construído e explorado o imaginário esportivo na

atualidade.

No futebol brasileiro, o marco inicial da Psicologia do Esporte é datado de 1958,

quando se iniciaram os estudos de João Carvalhaes, um profissional com grande experiência

em Psicometria (área da psicologia que estuda as capacidades psicomotoras dos indivíduos).

Carvalhaes atuou junto ao São Paulo Futebol Clube, equipe sediada na capital paulista, na

qual permaneceu por cerca de 20 anos, além de integrar a comissão técnica da seleção

brasileira que foi à Copa do Mundo de Futebol em 1958, a qual conquistou o primeiro título

mundial para o país, na Suécia.

O Brasil ocupa a posição de liderança na América Latina, na área de Psicologia do

Esporte, tendo em vista o grande número de publicações, congressos e laboratórios

existentes. No Brasil, a Psicologia do Esporte tem sido considerada como um ramo

emergente da Psicologia, tanto em congressos científicos da Psicologia como em seus cursos

de graduação. Ao se considerar a história do desenvolvimento dessa especialidade, nota-se

que seu surgimento é semelhante ao desenvolvimento da Psicologia Geral. Neste sentido,

Page 19: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

19

para compreender sua evolução faz-se necessário entender o seu conceito, o seu percurso

histórico e seu estado científico atual.

Para Weinberg e Gould (Weinberg e Gould, 2001, 28), “a Psicologia do Esporte e do

Exercício é um estudo científico de pessoas e seus comportamentos em atividades esportivas

e atividades físicas, e a aplicação deste conhecimento”. Essas definições são essenciais para

entender que a Psicologia do Esporte, além de ser uma disciplina acadêmico-científica, é

também um campo de intervenção profissional que envolve conceitos da Psicologia e das

Ciências do Esporte.

A Psicologia do Esporte se ocupa da análise e modificação de processos psíquicos e

de ações esportivas. Autores da área partem do principio de que a ação esportiva representa

um comportamento intencional e psiquicamente regulado. Estudos desenvolvidos, em

grande parte, baseiam-se no princípio da teoria da ação.

Os sujeitos investigados são os envolvidos no esporte ou exercícios, como atletas, treinadores, árbitros, professores, psicólogos, médicos, fisioterapeutas, espectadores e pais (Becker, 2000, p. 19).

São aspectos estudados pela Psicologia do Esporte: o perfil dos atletas, a atenção, a

concentração, a motivação, a emoção, o estresse no esporte, as perdas, as frustrações, a

capacidade de resistência, a ansiedade, a ativação, o desempenho, os grupos esportivos, o

trabalho em equipe, a liderança e as formas de comunicação.

No aprofundamento dos estudos, a Psicologia do Esporte tem entendido cada vez

mais que o esporte, contextualizado sócio-politicamente, e, a partir daí, pode ser um

instrumento de interpretação da realidade, por meio da discussão e da reflexão crítica de sua

prática concretizada na atuação direta das ações educativas e socializadoras. Sendo assim,

apresenta uma revolução da discussão de paradigma e das dívidas da psicologia com a

sociedade.

No âmbito nacional, o primeiro trabalho de intervenção antecede a criação da

SOBRAPE e da ISSP, tendo sido realizado em 1958 por João Carvalhaes, psicólogo do São

Paulo Futebol Clube, o qual posteriormente fez trabalhos com a seleção brasileira de futebol.

Outro profissional foi Athaide Ribeiro da Silva, que trabalhou em 1962 e 1963 na seleção

brasileira de futebol. Casal (2007) comenta que não é casual a Psicologia do Esporte no

Page 20: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

20

Brasil ter começado com o futebol, já que este é o esporte nacional, portanto o de maior

investimento econômico e visibilidade social.

Observamos em entrevistas com técnicos de futebol, no artigo Técnicos de futebol e

a prática da psicologia no esporte, que ainda é tratada como distante a participação de

psicólogos em comissões técnicas.

“No futebol profissional, ainda tem muitas restrições, apesar de exemplos como o de Luiz Felipe, que utiliza a psicologia no trabalho dele, e como o Parreira, que usa não a psicologia, e sim a questão de motivadores (...) para ganhar o campeonato”. (De Lima Argimon, Irani et al. 2006, 3)

A comissão técnica, por sua vez, costuma ter dificuldade em perceber que todas

questões visam à vitória, até porque o psicólogo, muitas vezes, também pode ter dificuldade

em explicar isto em uma linguagem acessível, tanto ao técnico quanto aos atletas.

No futebol, assim como em outras modalidades, todo esforço deve ser realizado para

alcançar a vitória. Porém, a Psicologia do Esporte, algumas vezes, é utilizada como uma

ferramenta secundária no meio esportivo ou até como o último recurso. Alguns técnicos ou

dirigentes esportivos entendem que a atuação do psicólogo é restrita a situações especiais e

emergenciais, não possuindo a noção de prevenção e trabalho contínuo.

O psicólogo, por sua vez, parece ter dificuldade em mostrar à equipe técnica que a

maneira como cada um se transforma dentro do campo, como cada um reage frente a

situações de pressão, é parte da personalidade da pessoa. Por isso, parece que só as

habilidades físicas são valorizadas, mas sabe-se que físico e emocional estão interligados. O

conhecimento dos aspectos técnicos, físicos e psicológicos contribui, com intensidades

diferentes, no resultado específico de cada atleta. Acreditamos, ainda, que a formação na

área da Psicologia do Esporte no ensino superior deve ser aprimorada e incentivada para

facilitar a inserção do psicólogo no meio esportivo.

Page 21: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

21

2.4 O FUTEBOL

O futebol está presente em quase todas as culturas do mundo. Chineses, japoneses,

italianos, gregos antigos, persas, vikings e muitos outros povos já jogavam algum tipo de

jogo com bola nos primórdios da humanidade. Os chineses, por exemplo, praticavam um

jogo semelhante 3.000 anos atrás. Na Grécia antiga e em Roma, os jogos de bola eram

utilizados para preparar soldados para a guerra. Já na América do Sul e na América Central

existiu um jogo chamado "Tlatchi", semelhante ao futebol. Porém, todas estas possíveis

origens são consideradas especulações.

A Inglaterra é considerada o berço do futebol, pois foi lá que o esporte realmente

começou a tomar a forma como é praticado hoje. Em 1863, duas associações de jogos de

bola (Futebol Association e Futebol tipo Rugby) se separaram, devido aos partidários do

rugby não aceitarem um jogo em que era proibido segurar a bola com as mãos. Essa

divergência acabou dando origem a The English Football Association (EFA), primeira

associação inglesa, pode-se assim dizer mundial, de futebol. Neste mesmo ano, foram

definidas as primeiras regras do jogo, que contabilizavam 14 e foram sendo aprimoradas

com o passar dos anos pela International Board. A entidade possui autonomia para a

regulamentação das regras do jogo e reúne-se periodicamente para definir modificações nas

regras do futebol.

Apenas oito anos depois, a EFA já contabilizava 50 clubes membros. A primeira

competição mundial (a FA Cup) aconteceu no mesmo ano. Antes de se ouvir sobre o futebol

na Europa, já aconteciam partidas internacionais na Grã-Bretanha. A primeira delas foi em

1872, entre Inglaterra e Escócia.

Depois da Associação Inglesa de Futebol, vieram à associação escocesa (1873), a

associação de Gales (1875) e a irlandesa (1880). Devido à influência britânica na época, o

futebol começou a se espalhar por outros países. As seguintes associações (não britânicas)

foram Holanda e Dinamarca (1889), Nova Zelândia (1891), Argentina (1893), Chile (1895),

Suíça e Bélgica (1895), Itália (1898), Alemanha e Uruguai (1900), Hungria (1901) e

Finlândia (1907). Quando a Fifa foi fundada em Paris, em maio de 1904, havia sete países

membros: França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Espanha (representada pelo Madri FC),

Suécia e Suíça. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) surgiu em 1919.

Page 22: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

22

Charles Miller foi o introdutor do futebol no Brasil. Ele nasceu em São Paulo, no ano

de 1874. Em 1884, concluiu seus primeiros estudos e foi completar sua formação

profissional na Europa. Estudou no Banister Court School Southampton, na Inglaterra, onde

conheceu o futebol e aprendeu a jogá-lo. Naquele país chegou a jogar na seleção de

Hampshire, contra o Corinthians londrino. De volta ao Brasil, Miller não foi apenas o

organizador do esporte no país, mas também um bom jogador. Miller introduziu o caráter

competitivo no futebol, com a aplicação de regras, artimanhas e limitações nas partidas.

Dentre os fundamentos futebolísticos, o brasileiro, descendente de ingleses, era adepto do

drible, o que pode ser uma das explicações do futebol-arte, tipicamente brasileiro. Charles é

o criador do drible conhecido por chaleira. Em 1910, quando parou de jogar, começou a

apitar jogos, o que fez até 1914.

O primeiro jogo disputado em território nacional que se tem noticia, segundo

Guterman (2009), foi em 14 de abril de 1895, quando o São Paulo Railway vence,u por 4 a

2, o The Team of Gaz. A primeira entidade paulista responsável por organizar o futebol foi

criada em 1901, pelos clubes pioneiros. Em 1902, foi organizado o primeiro campeonato

oficial no Brasil e o São Paulo Athletic Club foi o primeiro campeão de futebol no país.

Miller foi o primeiro artilheiro, ao marcar onze gols no certame. Os participantes da

competição foram São Paulo Athletic Club, Sport Club Germania, Sport Club Internacional,

Club Atlético Paulistano e Associação Atlética Mackenzie College. Charles Miller morreu

em 1953.

No Rio de Janeiro, o precursor do futebol foi Oscar Alfredo Cox, que percorreu

caminho semelhante ao de Miller. Ele estudou no colégio La Chantelaine, em Lausanne, na

Suíça. Lá teve seus primeiros contatos com o futebol e, quando regressou definitivamente

para o Brasil, trouxe uma grande quantidade de material esportivo. Organizou as primeiras

equipes e disputas locais. É um dos fundadores do Fluminense Futebol Clube, um dos mais

antigos clubes de futebol no Brasil, fundado para a prática deste esporte. Depois que outros

clubes foram organizados, o primeiro campeonato carioca foi disputado em 1906, com o

Fluminense sagrando-se campeão.

A comprovação de que o futebol era um esporte elitista pode ser confirmada pelo

fato de seus precursores, no Brasil, terem trazido os ensinamentos e os equipamentos para a

prática da modalidade de suas passagens pelo continente europeu. Homens de famílias

tradicionais de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e de outros estados

Page 23: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

23

passaram a reunirem-se e fundarem clubes para a prática do futebol entre o fim do século

XIX e o começo do século XX. Alguns clubes que já existiam e possuíam equipes de outras

modalidades esportivas, como críquete e remo, por exemplo, também acabaram adotando o

futebol.

Na Inglaterra, o esporte bretão era associado às baixas classes sociais, principalmente

por terminar em pancadaria e depredação. A classe mais abastada relutava em aceitar a

presença de outras camadas sociais e defendia a preservação do cavalheirismo e do jogo

limpo. A autoria do gesto de saudação à torcida ao início das partidas é dada ao zagueiro

João Evangelista Belfort Duarte, que jogou no Mackenzie e no São Paulo Athletic. A

equipe do Paulistano criou um grito de guerra - “Aleguá”, uma mistura de francês (allez),

inglês (go) e indígena (ack), todas palavras com o mesmo significado avante. Cabe ressaltar

que, na Psicologia do Esporte, os gritos de guerra têm a função de representar a identidade

de uma equipe esportiva.

Nas primeiras partidas, chamadas de “match”, começaram a surgir os craques. No

time do Paulista Germânia, Herman Friese foi reconhecido como um atleta completo e

grande conhecedor do esporte. Impunha-se pelo seu estilo viril, ou seja, pelo futebol- força.

Registros nos jornais da época, como o Estado de São Paulo, davam conta de suas belas

atuações.

Naquela época, um fenômeno que se repete na atualidade chamava atenção, o vigor

físico de atletas veteranos. Um exemplo ocorreu em 1906, quando um time de ingleses, da

África do Sul, enfrentou um combinado paulista. O time estrangeiro venceu a partida por 6 a

0, apesar da crônica esportiva descrever os jogadores como de idade madura, sendo um

deles careca, motivo de chacota da torcida local. No entanto, os ingleses foram aclamados ao

final da partida, pela mesma imprensa por dar lições de futebol aos brasileiros e apresentar

um ótimo vigor físico.

As primeiras três décadas do século XX foram marcadas pelo embate entre o

amadorismo e o profissionalismo. Para a elite aristocrática brasileira da época, o

amadorismo era confortável, pois permitia que os jovens aristocratas pudessem conciliar a

prática do esporte com seus estudos. No entanto, a presença de operários e gente pobre aos

poucos foi aumentando nos times paulistas e cariocas que disputavam os campeonatos

futebolísticos da época.

Page 24: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

24

Outras oposições marcaram os primeiros tempos do futebol em terras tupiniquins.

Podemos citar a elite x pobreza, brancos x negros e times do subúrbio x time das cidades. O

amadorismo permitia a disputa destemida e desprendida da obediência às táticas e à técnica

inerentes ao futebol. O terreno de jogo não precisava ser um campo, as várzeas dos rios

serviam como palco para os jogadores descomprometidos.

O profissionalismo do esporte muda a postura dos praticantes que agora deveriam

respeitar as regras, cumprir obrigações empregatícias e os dirigentes de clubes obedecerem

às leis trabalhistas. A partir de 1933, no governo de Getulio Vargas, a prática esportiva do

futebol profissional passou a vigorar, uma nova fase surgiria ali.

As literaturas acadêmica e jornalística contribuíram para a construção e remontagem

do surgimento do futebol no Brasil. Os textos sobre este tema dão conta da chegada de um

novo esporte, trazido por ingleses e voltado para as classes mais abastadas economicamente,

as chamadas “elites sociais”. Neste contexto o livro O negro no futebol brasileiro (NFB), do

jornalista Mário Filho, por ser um dos únicos a abordar o futebol no início do século XX,

tornou-se referência para os pesquisadores, apesar de algumas discordâncias a respeito do

tema racismo e democratização racial apresentado pela obra.

O livro de Mário Filho traz um panorama desde a chegada do futebol, dando ênfase

nas questões raciais e sociais, como a dificuldade de aceitação dos negros e dos pobres em

competições futebolísticas. O negro, segundo o autor, foi protagonista no processo de

popularização do futebol em terras nacionais. O racismo estaria na desconfiança de que os

pretos e mulatos não teriam o necessário equilíbrio psicológico em momentos decisivos

(Gordon Jr., 1996). Desde aquela época já havia relações da prática esportiva com os

aspectos psicológicos, apesar da ideia anterior demonstrar um pensamento discriminatório.

Relativo às questões sociais, o Bangu é uma referência no que tange a participação

de proletários no futebol brasileiro. No dia 8 de março de 1893 foi inaugurada a Companhia

Progresso Industrial do Brasil, fábrica de tecidos de capital português, no distante e até então

praticamente despovoado arrabalde de Bangu, na cidade do Rio de Janeiro. Técnicos e

funcionários de diversas nacionalidades, principalmente ingleses, integravam os quadros da

empresa. Bastou pouco tempo para que os técnicos ingleses que trabalhavam na fábrica

organizassem um clube no qual pudessem se dedicar à prática desportiva durante os

momentos de lazer.

Page 25: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

25

Após algumas tentativas frustradas, finalmente, em 17 de abril de 1904, contando

com o apoio dos diretores da fábrica, começavam as atividades do The Bangu Athletic Club,

inicialmente voltado à organização de jogos de football, cricket e lawn tennis (Hamilton,

2001, 69), que, ao contrário de outros clubes ingleses da cidade, como o Paysandu, não

restringia o ingresso de elementos de fora da comunidade britânica. Neste time também foi

possível o aparecimento do “operário-jogador”, já que para completar o time, alguns

trabalhadores da companhia ingressavam na equipe.

A localização em uma periferia distante do centro da cidade, num bairro de classe

baixa, estimulou o futebol para pessoas até então marginalizadas no esporte bretão. Neste

contexto, foi no Bangu que surgiu o primeiro negro a atuar em um time de futebol no Brasil.

Seu nome, Francisco Carregal, em 1905.

Arthur Friedenreinch, El Tigre, é considerado por alguns autores, como Marcos

Guterman (2002), o primeiro grande herói brasileiro. Paulista, filho de Matilde, negra e

lavadeira, e Oscar, alemão e comerciante, Fried foi ídolo de sua época, responsável pelo gol

que garantiu o primeiro titulo de expressão da Seleção Brasileira, o Sul-Americano de 1919,

disputado no Rio de Janeiro.

O jornal O Esporte Paulista destacou Friedenreinch como o melhor centroavante do

mundo, em sua edição de 22 de março de 1925 (2002), em matéria que relatou uma partida

entre o Paulistano e o Stade de Français, ocorrida durante uma excursão do time brasileiro

na Europa. Fried marcou cerca de 560 gols em sua carreira e atuou ainda pelo Germânia,

onde iniciou sua trajetória esportiva, passando ainda pelos times do Ypiranga, Mackenzie,

Americano, Paulista, Atlas, Payssandu, Paulistano, Flamengo, Internacional, Atlético

Santista, Santos, São Paulo e Dois de Julho.

Outros estudos trazem Fried como símbolo da democratização do futebol, embora

não tenha posto fim no racismo existente no país. Sua pele morena e o nome alemão

transformaram sua imagem miscigenada no retrato da aglutinação entre as diferentes classes

sociais e raças que compunham o futebol brasileiro.

O NFB adequa-se às demandas de construção da identidade nacional, a partir do

futebol. Gilberto Freyre, no artigo Football mulato, destaca a mistura das raças como fator

para a boa participação brasileira na Copa do Mundo de 1938. Isso evidencia uma

demonstração de como historicamente foi construída a identidade nacional via futebol.

Page 26: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

26

A industrialização no Brasil contribuiu para a urbanização das cidades e, por

consequência, as pessoas começaram a unir-se em associações e sociedades. Estas deram

origem à criação de clubes de futebol. Neste sentido, as ferrovias foram os meios pelos quais

a industrialização chegou ao interior do país, junto com o pensamento da prática esportiva e

o futebol como consequência. As ferrovias levaram o esporte bretão por todo o interior do

Brasil, inclusive o Riograndense Futebol Clube, de Santa Maria (RS), que surgiu em 7 de

maio de 1912, criado por ferroviários.

O Vasco da Gama representa o símbolo da mudança do amadorismo para o

profissionalismo. Fundado em 1898, como um clube de remo, no ano de 1922 foi aceito para

a disputa do campeonato da 1ª divisão carioca, sagrando-se campeão em 1923, feito

histórico para a abertura do esporte aos negros e trabalhadores, que desbancaram times

compostos por estudantes da elite aristocrática da época. O técnico do time cruz maltino era

o uruguaio Ramon Platero, que exigia de seus comandados uma maratona de treinos que não

era comuns nos demais times. Os jogadores eram atraídos ao clube pela promessa de

remuneração por vitória, às vezes em dinheiro, às vezes em troca de animais (razão pela qual

a prática viria a ser conhecida como o bicho, hoje comum no futebol).

O rádio foi um dos meios de comunicação mais importantes para a difusão do

esporte bretão entre as camadas sociais populares. Os locutores esportivos com sua

criatividade atraiam cada vez mais fãs nas transmissões esportivas. Casos, por exemplo, do

jovem locutor Nicolau Tuma, da Rádio Sociedade Educadora Paulista, e de Ary Barroso,

que tocava uma gaita ao invés de gritar gol, tudo isso acontecia na década de 1930.

O primeiro torneio mundial organizado pela Fifa ocorreu em 1930, no Uruguai, com

a participação do país-sede, além de Argentina, Bélgica, Bolívia, Brasil, Chile, EUA,

França, Iugoslávia, México, Paraguai, Peru e Romênia. O Uruguai foi o campeão ao superar

a Argentina na final por 4 a 2.

Entre 1951 e 1958, o número de aparelhos de TV no Brasil saltou de 7 mil para 344

mil. Na mesma época eram contabilizados 8 milhões de aparelhos de rádio. Os meios de

comunicação estavam crescendo e dando ao futebol maior notoriedade e visibilidade em

todo o país.

O famoso episódio do Maracanaço, onde o Brasil foi derrotado pelo Uruguai por 2 a

1, na final da Copa do Mundo de 1950, em pleno Maracanã, com mais de 175 mil

Page 27: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

27

torcedores, está marcado na memória e no imaginário coletivo dos brasileiros até hoje. Na

véspera do jogo, o jornal A Noite publicou uma página com as fotos de todos os jogadores

da Seleção Brasileira sob o título “Estes são os campeões do mundo”. Consta que Varella, o

capitão uruguaio, comprou vários exemplares do jornal e mostrou a seus companheiros de

time, para estimulá-los, indicio da possível influência da mídia no campo esportivo, que

trataremos posteriormente.

Page 28: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

28

3 CAMPOS SOCIAIS: O CAMPO JORNALÍSTICO E O ESPORTIVO

É fundamental pensar o jornalismo e a mídia e sua relação com a sociedade. Dentro

deste contexto, podemos analisar o atravessamento dos diversos campos do jornalismo entre

si e entre a realidade social. Os campos podem ser definidos como, por exemplo,

econômico, político, entretenimento e o que é tratado neste trabalho: a relação entre o campo

jornalístico e o esportivo.

Um dos pensadores que melhor definiu conceitos fundamentais da teoria dos campos

sociais foi o francês Pierre Bourdieu. Seus estudos contribuem para o entendimento de que o

campo é o contexto onde acontece a prática. O campo é tido como um fato social total, para

usar uma expressão difundida por Marcel Mauss (1988). É um constrangimento lógico e

social, ao mesmo tempo. Temos, por exemplo, o campo acadêmico, o político e o

econômico, sendo que este último é tido como importante, influenciando diversos outros

campos. Há conflitos em todos os campos, e:

cada campo produz sua illusio, um ´encantamento`, um senso prático no jogo, um senso prático do que está em jogo no campo (Girardi Junior, 2007, p. 67).

Estes campos coexistem com suas regras, leis próprias e autonomia, importante

contribuição nos estudos dos campos sociais de Adriano Rodrigues (2000), que descreve um

campo social como:

Uma instituição dotada de legitimidade indiscutível, publicamente reconhecida e respeitada pelo conjunto da sociedade, para criar, impor, manter, sancionar e restabelecer uma hierarquia de valores, assim como um conjunto de regras adequadas ao respeito desses valores, num determinado domínio específico de experiência (Rodrigues, 2000, p. 193-194).

Apesar de autônomos, é evidente o atravessamento entre os campos, o que pode

ocasionar modificações, não estruturais, mas na forma com que se relacionam e na produção

de sentidos. O campo midiático e jornalístico atua na mediação entre os demais campos, esta

a sua razão de ser.

Os campos sociais se fortalecem a partir das lutas travadas internamente entre seus

atores, e diante de ameaças externas cada campo tem a capacidade de acelerar ou desacelerar

Page 29: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

29

o seu funcionamento. A confluência dos campos e instituições propicia a homogeneidade

social, exercendo, assim, a moderação social.

Como exemplo desta convivência intercampos, podemos citar a Copa das

Confederações de 2013, que foi realizada no Brasil, com ampla cobertura midiática (campo

midiático), e ocorreu em meio a manifestações populares que cobravam, entre outros pontos,

transparência nos gastos públicos com estádios (campo político e econômico).

O campo midiático constrói sentidos e significados sociais, sendo assim legitimado

pelos outros campos, que precisam dele para ganhar publicidade e inserção no debate

público, promovido pelos meios de comunicação. Sanfelice (2010) destaca:

O poder do campo midiático é um elemento essencial para que os demais o tenham como suporte e o legitimem. O campo midiático torna-se uma arena, ou um estádio da Idade Antiga e Média, onde o povo se aglomerava para ver espetáculos circenses, lutas de gladiadores e até mesmo julgamento e morte de pessoas em público. Esse processo acontece hoje mediado e midiatizado pelas mídias, que, via dispositivo eletrônico, tem uma ligação com os receptores (Sanfelice, 2010, p.5).

As ciências da natureza, as ciências sociais, a psicologia e as tecnológicas (como a

informática) contribuem aos estudos da comunicação no sentido de compreensão de seu

núcleo central, através de investigações diretamente ligadas à mídia, ou com seus estudos

sobre interações e produção social de sentido.

Os acontecimentos midiáticos se dão na intersecção e relação do campo da imprensa

com os diferentes campos sociais, ou seja, são transformadas em notícias as ocorrências

situadas em tempos, espaços e condições consideradas relevantes pelos profissionais da

comunicação; acontecimentos reconhecidos pertinentes enquanto notícia.

O campo jornalístico não é tão autônomo a ponto de se sobrepor ao político, ao

social e ao econômico. No entanto, é essencial que o jornalismo transite livremente e

interaja com todos os campos sociais, para que desta forma cumpra o seu papel de informar

e mediar. O atravessamento dos campos sociais com o campo jornalístico representa um

caminho natural e fundamental para o processo de construção das notícias.

Page 30: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

30

O campo esportivo tem sua visibilidade ampliada por meio do trabalho desenvolvido

pelos jornalistas esportivos. Este campo rico em significados reais e simbólicos foi descrito

assim por Bourdieu (1989):

O universo do esporte não é um espaço fechado em si mesmo. Ele está inserido num universo de práticas e consumos, eles próprios estruturados e constituídos como sistema. Há boas razões para se tratar às práticas esportivas como um espaço relativamente autônomo, mas não se deve esquecer que esse espaço é o lugar de forças que não se aplicam só a ele. (Boudieu, 1989, p. 210).

A definição trazida por Bourdieu nos permite associar como força aplicada ao campo

esportivo a psicologia do esporte, além de outras, como o aspecto financeiro, social e

cultural, por exemplo. O esporte contemporâneo explora a sua essência física em prol do

consumo, que faz deste campo um negócio cada vez mais rentável, muito em função da

difusão midiática. Por se tratar de uma mercadoria (as transmissões esportivas) a se alinhar

em função da conjugação entre o imaginário social do espectador/consumidor (circunscrito

ao indivíduo) e ao imaginário coletivo.

O campo esportivo ocupa espaço significativo na imprensa (campo jornalístico e

midiático), e o discurso produzido atrai uma audiência segmentada composta por um público

cada vez mais expressivo. Esta difusão midiática permite a democratização das informações

esportivas.

O futebol possui um lugar de destaque nos noticiários esportivos, por se tratar de um

esporte popular no Brasil. A construção de notícias futebolísticas segue técnicas de produção

jornalística, nivelando com campos como a economia e cultura, por exemplo.

Os protagonistas das capas e manchetes de jornais são em muitos casos os próprios

jogadores de futebol, no caso deste trabalho atores e plateia (leitores) das notícias esportivas.

O fato desta cobertura midiática contemplar a vida social destes homens, dando publicidade

dos acontecimentos profissionais e pessoais aos demais envolvidos no campo esportivo

(dirigentes, torcedores, entre outros), cria uma esfera particular para os jogadores, ora

figuras públicas frente os holofotes da mídia, ora leitores dos seus próprios sucessos ou

fracassos.

Page 31: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

31

4 O JORNALISMO ESPORTIVO E A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE

O jornalismo esportivo, sendo um segmento do jornalismo, está fundamentado nas

práticas deste. Dessa forma, como Traquina defende, os profissionais do campo jornalístico

definem, em última análise para a sociedade, as notícias e contribuem ativamente na

construção da realidade.

A construção da realidade social no campo esportivo pode ser comprovada por meio

da construção dos mitos, dos atletas que se tornam ídolos e, assim, o seu comportamento e

seus trejeitos acabam por ser imitados por seus fãs e admiradores. Por meio dos veículos de

comunicação de massa, os atletas passam a ter maior visibilidade.

Os jogadores de futebol podem ser considerados protagonistas dentre os demais

atores da modalidade no campo esportivo. A presença deles nas manchetes e notícias de

jornais ocupa um espaço significativo, efeito da popularidade deste esporte em relação aos

demais no Brasil.

Ao mesmo tempo em que é ator, o jogador de futebol também é espectador (leitor)

deste campo social esportivo construído por meio dos órgãos de imprensa e publicado em

forma de notícias diárias. Estes papéis antagônicos podem, de certa forma, causar conflito

em função da maneira como estes jogadores se identificam nas reportagens em que eles

mesmos são personagens.

A construção social da realidade pode ser considerada uma apreensão que, mesmo se

vista pelo jornalismo, está envolvida em um processo de elaboração, pelo impacto das

instituições e dos processos sociais na criação e definição dos fatos sociais, isso falando do

todo. Portanto, também se aplica aos campos jornalístico e esportivo. Considerando o

contexto de partilhamento coletivo de significado para a compreensão da realidade, as

notícias, uma vez ligadas a uma dimensão social e histórica, atuam:

constituindo e reconstituindo as significações sociais; mas também definindo e redefinindo, constituindo e reconstituindo modos de fazer as coisas – os processos existentes nas instituições existentes (TUCHMAN, 2009, p. 104).

Traquina (2001) situa dois grupos de teorias que “partilham o paradigma da notícia

como construção social”: a teoria estruturalista e a teoria etnoconstrucionista. Como explica

o autor, para ambas as teorias:

Page 32: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

32

as notícias são o resultado de processos complexos de interação social entre os agentes sociais: os jornalistas e as fontes de informação; os jornalistas e a sociedade; os membros da comunidade profissional, dentro e fora da sua organização (Traquina, 2001, p. 85-86).

As notícias como “construção” rejeitam a noção de “notícias como espelho do real”

por diversas razões. Primeiramente, porque estabelecem uma distinção “radical entre a

realidade e os media noticiosos que devem ‘refletir’ essa realidade, porque as notícias

ajudam a construir a própria realidade”. Em segundo lugar, porque, uma vez que o

jornalismo trabalha com a linguagem, não existe nesta a possibilidade de uma transmissão

direta dos significados inerentes aos acontecimentos. E, em terceiro lugar, porque, segundo

o viés construcionista, os meios de comunicação noticiosos estruturam sua representação

dos acontecimentos devido a diversos fatores (profissionais, organizacionais, orçamentários

etc.).

Do ponto de vista jornalístico, todo esse processo, que relaciona e contextualiza

teoricamente com algumas correntes interpretativas, deixa claro como, no âmbito de uma

atuação jornalística na construção social da realidade, se destaca pelas práticas de produção

(ação e leitura) sobre os fenômenos do mundo uma “realidade jornalística” específica. E esta

pode ser tensionada pelos conceitos que oferecem as teorias acima citadas para pensar

práticas sociais outras, e que, por esse motivo, pode ser colocada em evidência tanto por sua

dimensão pessoal quanto por sua dimensão institucional.

Para Pontes e Silva (2009, p. 48), a partir das ideias de Berger e Luckmann para

pensar a construção social da realidade e, nesse sentido, a “realidade jornalística”, dois eixos

devem ser determinados. Primeiramente, se partimos do pressuposto de que os fatos da

sociedade se apresentam aos homens como coisas, “o jornalismo possuiria uma realidade

independente de qualquer ator individual, ainda que esse fosse o maior dono de

conglomerados de mídia do mundo”. Em segundo lugar, e por outro lado, se a sociedade é

vista como:

constituída pela atividade que expressa um significado subjetivo, ou seja, a realidade social é vivida pelo indivíduo que age nela, torna-se necessário reconhecer o que é o jornalismo para que este exista num universo de leitores e que algumas dessas pessoas se especializem e tomem essa prática profissional como parte de sua subjetividade. Portanto, há um processo de ação no jornalismo e interiorização dessa ação na consciência dos indivíduos (Pontes; Silva, 2009, p. 49).

Page 33: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

33

Nesse contexto, está configurada uma racionalidade jornalística, que respeita certos

parâmetros, certos controles discursivos, mas que, ao mesmo tempo, orienta-se de uma

especificidade que foge a esse regime. Tal racionalidade contém informações que buscam

refletir uma racionalidade diversa - contemporânea e social - encadeando uma série de

saberes (discursos, conhecimentos) produzidos no interior de outras instituições sociais, em

sistemas peritos (GIDDENS, 2002) específicos que habitam o cotidiano formal e informal.

Tais saberes, reunidos dentro de um sistema perito determinado – o jornalismo (MIGUEL,

1999) – configuram, pois, uma “hermenêutica jornalística”, cujas objetivações dão a ver

distintas realidades. E o cruzamento de seus respectivos universos intersubjetivos (sociais)

coloca em evidência a complexidade que mobiliza uma ação e, consequentemente, a

constituição, pelo e no cotidiano, de uma realidade - também - jornalística.

Toda esta noção teórica contempla o conceito de construção social da realidade

independente dos campos que perpassam o jornalismo, reforçando as teorias que defendem o

aspecto humano em detrimento às técnicas mecanicistas aplicadas ainda, só que

ultrapassadas por teorias estruturalistas e pós-estruturalistas.

Page 34: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

34

5 PERCURSO METODOLÓGICO

A consolidação do tema de pesquisa deu-se a partir da ideia fixa de estudar o futebol

como fenômeno social e suas repercussões nas mais diversas áreas da vida social. Ao cursar

a disciplina optativa de Jornalismo Esportivo, entre agosto e novembro de 2008, no curso de

Jornalismo, e as disciplinas optativas de História do Futebol, em julho de 2012 , no curso de

História, e de Psicologia do Esporte, no curso de Psicologia da Unifra, entre agosto e

novembro do mesmo ano, foi possível amadurecer e definir o tema deste trabalho.

Definido o tema “O jogador de futebol na mídia: uma relação entre Jornalismo

Esportivo e Psicologia do Esporte”, o primeiro passo foi a escolha do veículo e da

plataforma de comunicação a ser analisada: rádio, internet, televisão ou jornal. Foi escolhido

o jornal impresso, tendo em vista ser o meio de comunicação tradicional e mais antigo ainda

em uso, além de suas páginas representarem documentos registrados em papel, que possuem

uma força comunicacional de grande expressão.

O jornal escolhido para ser o objeto de estudo foi o Diário de Santa Maria, que

possui grande capacidade de circulação na cidade de Santa Maria e região central do Rio

Grande do Sul. Segundo dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC) de agosto de

2011, a média diária de circulação paga foi de 19.502 exemplares, tal dado reforça a

abrangência regional deste veiculo de comunicação. A definição pelo time do Riograndense

foi em virtude de ser a equipe mais antiga de Santa Maria, fundada em 7 de maio de 1912 e

ter a sua história intrinsecamente ligada ao momento marcante local, do apogeu da Viação

Férrea na cidade, tendo inclusive como primeiro time-base os funcionários da Viação Férrea

do Rio Grande do Sul (VFRGS). Cabe ressaltar a grande identificação dos bairros Itararé e

Perpétuo Socorro, que ficam nas imediações do estádio, com o clube. A inauguração do

Estádio dos Eucaliptos, data de 1935, ele localizado na Rua Felice Beltrame, s/n. A primeira

partida realizada no local foi vencida pelo Sport Club Internacional pelo placar de 7 a 1, no

dia 14 de julho, daquele ano. Uma curiosidade é que a bola do referido jogo foi lançada ao

campo de avião, e a partida foi transmitida pela Rádio Difusora de Porto Alegre.

O recorte de tempo do estudo foi o período da disputa da Divisão de Acesso do

Campeonato Gaúcho de 2013, de março a julho. O critério de escolha dos jogadores levou

em conta a posição em que atuavam, sendo selecionados um de cada setor (goleiro, lateral,

Page 35: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

35

zagueiro, meio-campo e atacante). Preferencialmente optamos por jogadores titulares, em

função da maior exposição na imprensa, tendo em vista que a reserva acaba por diminuir a

visibilidade do atleta. Enquanto, geralmente, os titulares podem ser considerados os atores

principais, aos reservas, cabe o papel de coadjuvantes, salvo raras exceções. Cada um dos

cinco jogadores participantes do estudo indicou um familiar ou amigo próximo (apenas um)

para ser entrevistado, sendo que um dos jogadores indicou uma familiar que residia em outra

cidade e não foi possível realizar a entrevista, em função de dificuldade de contato com a

mesma.

Os métodos de pesquisa utilizados no trabalho foram a pesquisa bibliográfica, em um

primeiro momento, onde foi feito um apanhado sobre os principais trabalhos científicos já

realizados sobre o tema escolhido e que são revestidos de importância por serem capazes de

fornecer dados atuais e relevantes. Foram pesquisadas publicações avulsas, livros, jornais,

revistas, vídeos e Internet para ter um panorama amplo, antes de partir para a segunda fase,

que foram as entrevistas abertas. A técnica de entrevistas abertas atende principalmente

finalidades exploratórias, sendo bastante utilizada para o detalhamento de questões e

formulação mais precisas dos conceitos relacionados. Em relação a sua estruturação, o

entrevistador introduz o tema e o entrevistado tem liberdade para discorrer sobre o assunto

sugerido. É uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão. As perguntas são

respondidas dentro de uma conversação informal. A interferência do entrevistador deve ser a

mínima possível. Este deve assumir uma postura de ouvinte e apenas em caso de extrema

necessidade, ou para evitar o término precoce da entrevista, pode interromper a fala do

informante.

A entrevista aberta é permite a obtenção de uma maior quantidade de informações

sobre determinado tema, segundo a visão do entrevistado, e também para obter um maior

detalhamento do assunto em questão. Ela é utilizada geralmente na descrição de casos

individuais, na compreensão de especificidades culturais para determinados grupos e para

comparabilidade de diversos casos, segundo Minayo.

Os questionários aplicados eram divididos em dois modelos: um para os jogadores e

outro para os seus familiares ou amigos. Ambos eram compostos por oito perguntas que

tinham o intuito de compreender a relação dos atletas com a leitura do jornal Diário de Santa

Maria, a identificação individual e coletiva com as reportagens a respeito do Riograndense e

Page 36: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

36

as possíveis afetações que as matérias poderiam causar nos jogadores. As perguntas dos

questionários, na íntegra, estão no anexo 11.1.

As reportagens escolhidas para análise dos atletas foram as seguintes, que estão

disponíveis na íntegra, no anexo 11.2:

- No encalço da primeira divisão, página 12, de 2 de maio de 2013;

- Além do clássico, os bastidores, página 13, de 2 de maio de 2013;

- Não faltou só o gol, página 13, de 13 de maio de 2013;

- Motivos incertos, página 14, de 14 de maio de 2013;

- Bobeou, ele pega!, página 14, de 24 de maio de 2013;

- Com salário em dia, time pega o Panambi, página 13, de 30 de maio de 2013;

- Mais três pontos na conta, página 13, de 31 de maio de 2013.

Os jogadores, bem como seus familiares ou amigos, também poderiam, durante a

entrevista, relatar alguma outra reportagem da editoria de Esportes, do Diário de Santa

Maria, dentro do período analisado, que pudesse contribuir com as questões abordadas neste

trabalho.

Page 37: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

37

6 AS ENTREVISTAS COM OS JOGADORES

Dos cinco jogadores do Riograndense entrevistados, quatro (A, B, C e D)

responderam que costumavam ler o jornal Diário de Santa Maria durante a disputa da

Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho de 2013 (de março a julho). Sendo que estes

realizavam a leitura entre três e seis vezes por semana. Inclusive, foi dito por um dos

entrevistados, que havia assinatura do jornal no local onde alguns atletas realizavam as

refeições, nas imediações do estádio. Um dos atletas (C) disse que algumas vezes realizava

a leitura somente da editoria de Esportes. Apenas um jogador (E) disse que não tinha o

hábito de ler jornais, somente quando havia alguma notícia que considerasse muito

importante.

Quanto à preferência de leitura na véspera ou após os jogos do time, três jogadores

(B, C e D) responderam que preferiam ler o jornal após as partidas. O jogador D justificou

que assim poderia ter uma análise de quem está fora do jogo, e que inclusive as reportagens

poderiam servir como subsidio para a reunião do grupo e da comissão técnica, que ocorria

no dia seguinte após as partidas. Apesar de ler frequentemente o jornal, o jogador C disse

que dava atenção especial às reportagens dos dias após os jogos. O jogador A disse que fazia

a leitura na véspera, pois davam, segundo ele, mais foco no esporte e no Riograndense,

enquanto que, após as partidas, não era sempre que ele lia, em função do cansaço, pois

acordava tarde. Disse ainda que, se o time vencia, a leitura era feita com mais interesse. O

jogador A afirmou que observava classificação e se tinha alguma foto dele. Caso tivesse, ele

a recortava e guardava. O jogador E, conforme foi dito anteriormente, não possui o hábito de

ler jornais.

Ao ser pedido para que os jogadores fizessem uma avaliação sobre as reportagens

que abordavam o time do Riograndense, as respostas foram as seguintes: o jogador A disse

que acreditava que elas tinham fundamento, nem sempre o jogador conseguia externar o que

acontecia nos bastidores, às vezes, não saia do vestiário. Dessa forma, segundo ele, algumas

vezes as reportagens não condiziam com a realidade, pois os jogadores ficavam retraídos e

não falavam tudo aos jornalistas. Outras vezes, os jornalistas se omitiam em função do

trabalho deles. Nesse campeonato, citou o jogador A, por exemplo, que faltou estrutura

extracampo e houve atraso de salários. Ele afirma que às vezes encontrava opiniões lúcidas

de alguns jornalistas, no entanto, os torcedores não sabiam o que acontecia. Em desabafo,

ele declarou que jogador não era máquina e acabava levando para dentro de campo, e isso

Page 38: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

38

era ruim, principalmente quando as situações difíceis se arrastavam. Havia desgaste e o

jogador vivia no limite. O jogador A enfatizou que buscava fazer o melhor, levar o time para

a 1ª Divisão, queria premiações, mas não queria ser tratado como mercenário. O jogador B

respondeu que os repórteres do Diário de Santa Maria acompanhavam bastante a rotina no

clube, o dia a dia, então era fácil para eles colocarem o que acontecia no cotidiano, o que

acontecia nos jogos. Declarou, ainda, que o que eles acompanhavam (repórteres), eles

colocavam. Destacou que eles (repórteres) não inventavam e não tiravam nada do que

acontecia nos jogos e nos treinos. Arrematou dizendo que então o que eles colocavam era

aquilo ali mesmo que ocorria. O jogador C disse que poderia ser dada mais ênfase ao time

do Riograndense, pois de repente tinha uma matéria um pouco maior, e outras vezes só um

trechinho muito curto. Ele disse que devia ser divulgada um pouco mais a marca do clube.

Enfatizou que o espaço dado ao Internacional e ao Grêmio diminui os times locais, que

poderiam ser mais valorizados, pois os dois times já têm uma carência bastante grande no

lado financeiro e, se a imprensa não ajuda, aí fica complicado.

Porém, o jogador C afirmou que o que era dito sobre o Riograndense no jornal Diário

de Santa Maria foi a realidade. O jogador D analisou que muitas vezes faltava algo nas

reportagens. Antigamente, em 2010, quando ele jogou no clube, o jornal favorecia muito a

outras equipes, tanto o Internacional de Santa Maria como outros times. Ele afirmou que

sempre saem algumas matérias do Riograndense que tem tudo a ver com a realidade. Em

2013, conforme ele melhorou bastante, mas não soube dizer se foi pela campanha do

Riograndense. O jogador E salientou que o jornal Diário de Santa Maria não dá a

importância devida para o futebol. Ele declarou que uma cidade onde existem dois times

jogando um campeonato, isso deveria ser mais destacado no jornal. Assim, não tem muita

motivação por parte dos atletas, falou o jogador E.

Na questão que tratou a respeito da opinião dos jogadores, sobre como eles se

identificavam com uma reportagem que tratasse sobre a performance individual em um jogo,

as respostas foram as seguintes: o jogador A falou que ele procurava avaliar, pois é bastante

crítico. Como jogava em uma posição defensiva, ele aparecia pouco para a torcida. Ele dizia

que às vezes acontecia de fazer uma jogada de efeito, mas geralmente ele ficava na

contenção, haviam muitos choques, os jogos ocorriam em campos ruins, com lama, mas

sempre os jogadores buscavam dar o melhor em todas as partidas. Na maioria das

reportagens em que aparecia, ele se identificava, só que às vezes sentia que havia jogado

mal, mas fez um gol, por exemplo, e aí ele era endeusado, enfatizou o jogador A. Outras

Page 39: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

39

vezes, ele achava que tinha jogado muito bem e aí o time perdia e eles acabavam sendo mal

avaliados. O jogador A pensa que deveriam avaliar a atuação do jogador, independente do

resultado. O jogador B respondeu que, às vezes em que falaram dele, não modificaram em

nada, não alteraram em nada, e ainda falaram bem até, conforme ele havia pensado sobre a

própria atuação. Ele afirmou que se autoavaliava diariamente para tentar melhorar sempre,

então o que os jornalistas escreviam sobre os erros e acertos, ele procurava memorizar o que

era escrito no jornal para tentar sempre melhorar. O jogador B disse que avaliava a opinião

dos jornalistas do jornal Diário de Santa Maria, e a opinião dos outros (profissionais) sobre o

jogo para tentar sempre melhorar. O jogador C declarou que normalmente as reportagens

estavam de acordo, porém, em certas ocasiões, ele discordava, por questões táticas. Ele disse

que de repente os jornalistas tinham uma análise de fora, mas o jogador tinha que fazer algo

diferente daquilo que o torcedor ou que os jornalistas achavam que devia ser o correto, por

questões táticas daquilo que o treinador pedia. Às vezes, achavam que poderia ter sido um

pouco mais adiantada a defesa. Aquelas coisas que os jogadores conversam diariamente, de

trabalho na semana. Então, de jogo a jogo, às vezes mudava, dependendo do adversário,

relatou o jogador C. Para o jogador D, as reportagens do jornal Diário de Santa Maria eram a

realidade, ele achava que o que estava acontecendo dentro de campo, estava ali, e os

jornalistas observavam e escreviam as matérias. Ele afirmou que, às vezes, tinham fatos que

eles (profissionais) não colocavam do que acontecia extracampo ou sobre um dia que o

atleta não estava bem.

O jogador D deu exemplo do que aconteceu no dia de uma entrevista, que ocorreu

após um jogo, e ele havia passado mal antes desta partida. Ele disse que estava sendo

medicado para gripe e acabou vomitando antes do jogo. Ele comentou que são fatos que

acontecem e o jogador não fala. A maioria das vezes, segundo o jogador D, publicam o que

acontece e são coerentes.

O jogador E disse que já leu reportagens em que aparecia o seu nome, mas nenhuma

que falasse somente sobre ele. Quando os jornalistas descrevem as jogadas, é aquilo mesmo,

ressaltou. Ele afirmou que lhe falaram já de notícias que diziam que ele havia falhado. O

jogador E declarou que se identifica com o que está nas matérias e trabalha para ter o

reconhecimento das pessoas e da imprensa.

Ao perguntar para os jogadores, se eles consideravam que uma reportagem tratando

sobre a sua performance, poderia influenciar no seu desempenho nas próximas partidas ou

Page 40: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

40

treinos, as respostas foram as seguintes: o jogador A disse que se a reportagem falasse bem

dele, com certeza, pois daria mais confiança. Ele disse que era bom ser elogiado, ajudava a

divulgar o trabalho, melhorava a autoestima, e ela ia lá em cima. Reportagens que

destacavam a atuação ajudam a atuar bem nas próximas partidas, segundo o jogador A.

“Quando a reportagem fala mal, a autoestima baixa, a gente fica sem confiança, vai para as

jogadas com medo e retraído, para os jornalistas e a torcida não pegarem no pé da gente”,

desabafou o jogador A. Ele pensa que as matérias têm boa e má influência. Se ele começava

na reserva e entrava bem em um jogo, automaticamente, ganhava espaço no time. O dia a

dia era importante, pois nos treinamentos as chances apareciam, e a imprensa acompanhava

a rotina no clube, afirmou o jogador A. Ele ainda lembrou que uma vez, quando jogava no

Brasil de Pelotas, ele estava no banco e entrou como capitão do time. Ele disse que foi

elogiado por sua atuação e saiu uma reportagem “bacana” no jornal, na época.

O jogador B disse acreditar que as reportagens influenciam sim. Ele falou que,

mesmo falando mal ou bem, isso acaba sempre influenciando, porque o jogador sempre quer

mostrar mais. O jogador B afirmou que, se a matéria falou bem, ele quer mostrar um

pouquinho mais, para esse tipo de reportagem continuar saindo, falando coisas boas dele.

Porém, se falou mal, ele quer reverter esse quadro, quer que volte a falar. Então, influencia,

porque o jogador quer sempre melhorar, quer sempre que falem bem, concluiu o jogador B.

O jogador C afirmou que não, porque hoje até pela experiência já adquirida, pela

rodagem dele, isso já não interfere mais. Porém, ao ler uma reportagem, ele se diz tranquilo,

que procura assimilar, filtrar o que tem de certo e o que tem de errado e tendo uma

autocrítica. Lê o que foi citado na matéria, se for verdade, irá tentar melhorar para a próxima

partida.

O jogador D afirmou que depende muito da pessoa que escreveu a reportagem. Para

ele, às vezes, até ajuda bastante, quando os jornalistas falam bastante sobre ele, apoiam, aí o

jogador já vai com mais confiança para o jogo. O jogador E declarou que as reportagens não

influenciam em seu desempenho. Para as coisas negativas que publicam, ele não dá à

mínima, mas sempre é bom quando falam bem dele, dá mais motivação e incentivo.

Ao serem questionados se consideravam que era dada maior ênfase para algum tipo

de noticia na derrota ou na vitória, os jogadores responderam que: o jogador A afirmou que,

“quando o time perde, a imprensa bate mais, a tempestade é maior, ninguém presta e tem

que ser achado um culpado. Se fica três ou quatro jogos sem ganhar em função disso,

Page 41: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

41

acabam aparecendo às dispensas de jogadores para dar uma mexida no time”. O jogador B

afirmou que “era difícil de medir, porque os jornalistas estão sempre acompanhando

certinho, mas agora, por exemplo, o time teve uma fase boa recentemente e eles estavam

falando bem, a equipe teve um 1º turno bom, só que na derrota o jornal sempre fala um

pouquinho mais, dão um pouquinho mais de ênfase nas derrotas. Sempre fica mais marcada

a derrota”, enfatizou o jogador B.

O jogador C disse que “tem sido normal, para a vitória e para a derrota, tem sido a

mesma ênfase, não tem desequilíbrio para a vitória e para a derrota”. Pelo que ele tem

acompanhado aqui (Santa Maria), os jornalistas têm sido bem coerentes. O jogador D

declarou que acontece dos jornalistas falarem um pouco mais na derrota. “Eles batem um

pouquinho mais”. Citou o que havia acontecido no jogo do Inter-SM (Inter-SM 1x4 Aimoré,

dia 26/06) em que “perderam em casa, é complicado, estão praticamente fora e hoje nós

levamos três em casa (Riograndense 2x3 Ypiranga, dia 27/06), aí a imprensa vai falar dos

aspectos negativos somente”, explicou o jogador D.

O jogador E disse que, desde que ele está aqui (Santa Maria), a imprensa deu mais

importância para as derrotas do time e não para as vitórias. “Porque quando a equipe venceu

sete jogos seguidos, falou-se pouco, mas quando perdeu um jogo, estavam tentando

descobrir aonde que tinham errado, o que é que estava acontecendo, que o time não era o

mesmo”.

Na questão que abordou a reação de cada jogador quando alguém falava que havia

lido uma notícia falando mal ou bem dele, as respostas foram as seguintes: o jogador A

afirmou que, quando a notícia foi boa, era maravilhoso. Ele colocou na Internet para mostrar

para seus familiares e amigos, e melhorou o ego. Se a notícia é ruim, ele procura assimilar,

mas depende da pessoa que lhe contou, pois nem todas as criticas são boas e ajudam ele a

melhorar, algumas são mal-intencionadas.

O jogador A disse que sabe que não irá agradar a todos e tem de aprender a conviver

com as críticas, mas tem também que tomar cuidado com a “traíragem”. “Jogador tem que

ser ‘vaselina’, segundo ele, absorver bem as críticas e sempre andar cercado de pessoas boas

e dar ouvidos para os que são melhores ainda no que fazem”. O jogador B declarou que, às

vezes, que lhe falaram, sempre foram sobre notícias boas, aí ele não sabia, por exemplo, se

havia sido publicada uma foto dele, alguma notícia dele especificamente, mas quando lhe

Page 42: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

42

contavam, a reação dele era ficar feliz, por ser lembrado. A primeira reação era essa, depois

ele procurava saber o que havia sido publicado. O jogador B disse que acompanha, no

jornal, por exemplo, quando vai mudar o time, se ele estava jogando, ou se irá sair do time

titular, mas se é opção do treinador, não há o que fazer, segundo ele. Mas de ficar mal, ele

não costuma, porque ele nunca foi assim, consegue absorver.

O jogador C relatou que, falando bem, tranquilo, ele procura ver, valorizar, ler a

matéria para ver realmente, na autoavaliação, se foi o que aconteceu. Também quando é mal,

ele procura analisar se foi aquilo que aconteceu de ruim no jogo e se foi aquela a avaliação,

ou se foi alguma coisa muito forte e que foi colocada errada. O jogador C afirmou que

procura também saber quem foi o jornalista responsável pela matéria para debater o que ele

viu no jogo, o porquê daquela avaliação.

O jogador D afirmou que fica feliz, quando lhe contam de uma notícia falando bem

ou falando mal. Segundo ele, pelo menos está sendo reconhecido o seu trabalho. Ele disse

ainda que quando lhe passam que a noticia falou mal dele, ele “fica de cara”, mas “tem que

engolir, não adianta, futebol é assim, sempre vai ter uma crítica”. O jogador tem que ter

cabeça para aguentar e continuar, enfatiza o jogador D.

O jogador E disse que quando falam que viram uma noticia boa, isso é que o

incentiva a continuar com a profissão, porque é uma carreira curta, se não aproveita e se

joga futebol é porque tem condições, e o jogador trabalha sempre para melhorar e dar o seu

melhor. A recompensa que se tem é esse reconhecimento das pessoas que falam bem dele. O

jogador E declarou que supondo que a equipe conquistasse o acesso a Primeira Divisão do

Campeonato Gaúcho neste e ano, Santa Maria iria reconhecer estes jogadores, e pessoas que

nunca os viram, iriam reconhecer e os atletas deixariam seus nomes marcados na história do

Riograndense. O jogador E disse ainda que se falam de uma noticia que falou mal dele, batia

uma tristeza, pois ele não queria que falassem de suas falhas, mas “não dá para abaixar a

cabeça, tem que pensar para frente, assumir os erros e continuar”.

Foi pedido para que os jogadores dessem, caso quisessem, um depoimento final

sobre o que pensam do jornalismo esportivo de Santa Maria. Os jogadores C e D não

desejaram registrar nada. O jogador A disse que a imprensa acompanha o dia a dia, sabe

quem é quem, observa o foco e o comprometimento dos jogadores. Ele acredita que seria

melhor um apoio maior ao futebol profissional local e que a imprensa tem o poder de mudar

Page 43: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

43

os conceitos dos torcedores, pois o esporte pode divulgar a cidade de forma positiva em

outros lugares. O jogador B afirmou que gostaria de elogiar a imprensa local porque

acompanha bem o dia a dia do clube, para saber o que eles estão falando também, porque o

que os jornalistas publicam, não foi nenhuma notícia plantada por alguém que queria

inventar alguma coisa. “Os jornalistas sempre estão acompanhando a escalação do time, os

treinamentos, quem entra, quem está treinando bem, quem está em condições de entrar no

jogo, que está preparado para jogar”. Segundo o jogador B, isso não é em todo lugar que

tem, que a imprensa acompanha dessa forma. “Tem lugar que só colocam quem está

jogando e quem não joga não é lembrado. Aqui não, eles acompanham bastante, quem

merece espaço, está trabalhando eles estão observando bem”.

O jogador E declarou que, pelo que vê, o jornalismo esportivo de Santa Maria é bem

completo, apesar de não dar muita importância para os times daqui, porque ainda tem um

espaço muito grande para a dupla Grenal. “Eles fazem uma cobertura de fora, de tudo que

está acontecendo no clube”.

Page 44: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

44

7 ENTREVISTAS COM AMIGOS OU FAMILIARES DOS JOGADORES

Foram entrevistados quatro familiares ou amigos indicados por cada jogador do

Riograndense, sendo um familiar (D) e três amigos (A, B e C). Os entrevistados A, B e C

responderam que costumavam ler o jornal Diário de Santa Maria durante a disputa da

Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho de 2013 (de março a julho). A frequência de

leitura era de três a seis vezes por semana. A amiga C afirmou que realizava a leitura quatro

vezes por semana, porém, da edição online do jornal Diário de Santa Maria. O familiar D

disse que não era natural de Santa Maria, onde residia há dois anos e, em função de trabalhar

em dois empregos, não tinha tempo de ler os jornais.

Dois entrevistados (A e B) preferiam ler os jornais na véspera dos jogos. A amiga B

disse que preferia ler na véspera dos jogos, porque ela já saberia o que esperar do time, para

criar expectativa. Porque, depois da partida, ela já sabia o que havia acontecido, somente iria

ler, iria ficar o que poderia ter acontecido, aí não criaria um vínculo com aquele jogo, com a

notícia daquele jogo. A amiga C declarou que realiza a leitura depois dos jogos, para ver

como o time estava sendo visto fora do campo, porque, às vezes, lá dentro, tem uma visão, e

aí do lado de fora passam outra.

Na questão que tratou sobre a avaliação, por parte dos entrevistados, das reportagens

que abordavam o time do Riograndense, as respostas foram as seguintes: o amigo A disse

que as reportagens traziam o que realmente acontecia. A amiga B afirmou que, às vezes,

tinham coisas a mais, outras vezes, coisas a menos, mas nem tudo era divulgado para os

jornais, para os repórteres. Ela conta que, na maioria das vezes, era bem a realidade, até

porque o presidente estava sendo bem sincero. No início da campanha do Riograndense na

Divisão de Acesso, as reportagens estavam bem motivadoras, aí depois elas começaram a

mudar. Tem a realidade boa e a realidade ruim, e quando estava na ruim, (a imprensa) estava

massacrando de mais, estava apertando muito naquela tecla de que os jogadores foram

embora, de que assim iria perder força, declarou à amiga B. Mas depois voltou, foi um

“mix”. “Quando estava na boa, ajudava, quando estava na ruim, piorava. Pode ajudar

falando a verdade, mesmo quando a situação está ruim”. A amiga B disse que era aquilo

mesmo que ela lia no jornal, pelo que ela enxergava, e pelo que estava sendo exposto (na

notícia). Ela disse que sabe que tem algumas coisas que acontecem, por debaixo dos panos,

que não é exposto, que os repórteres nem sabem, ou às vezes sabem e não colocam, mas a

maioria das coisas eles não sabem.

Page 45: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

45

Ao serem indagados como identificavam seus familiares/amigos (jogadores) com

uma reportagem que tratava sobre a performance deles no jogo, responderam que: o amigo

A disse que as reportagens falavam o que ocorria mesmo, dentro daquilo que aconteceu. A

amiga B afirmou que normalmente falava bem, e não sabia se era porque ela era amiga, mas

que era muito fã do jogador. “Acho que quando falava bem, era nota dez, era bem o que ele

jogava. Ele é muito bom jogador, ele faz gol e só não faz quando não passam a bola para ele.

Senão ele vai e busca a bola”. Geralmente, ela levava as reportagens para ele, separava,

junto com seu pai, para entregar ao jogador. A amiga C declarou que o que estava na matéria

era como o seu amigo (jogador) tinha jogado. Por exemplo, “colocavam que ele tinha

substituído (outro jogador) e aí ele entrava bem, e assim era colocado no jornal, que ele

havia entrado bem no jogo”. Ela achava ao menos, pois ele fazia uma correria. “Tanto que

ele entrou e não saiu mais do time”, destacou a amiga C. O familiar D disse que em

conversas com o seu cunhado (jogador), percebia o comportamento dele, o jogador postava

algumas coisas no Facebook, que havia sido o melhor em campo, ele sempre acompanhava,

sobre críticas também que eram feitas pelo jornal.

Ao perguntar, para os entrevistados (amigos/familiares), se eles consideravam que

uma reportagem tratando sobre a performance do jogador, poderia influenciar no

desempenho dele nas próximas partidas ou treinos, as respostas foram as seguintes: o amigo

A afirmou que as reportagens podiam, sim, influenciar. Ele acreditava que sim, até porque

dava mais uma moral, o jogador ficava mais motivado, enfim, motivação, motiva mais até.

“Quando falava mal, também influencia, acredito que dos dois jeitos”. O amigo A enfatizou

que até quando falava mal servia para ver os erros. “Fazia refletir, mas de afetar para jogar

mal, acho que não. Mais para reflexão”.

A amiga B declarou que sim, as reportagens poderiam influenciar no desempenho do

jogador. “Porque se ele foi bem e a reportagem retratou isso, ou às vezes, até um pouquinho

mais, dá aquele empurrãozinho, o animo dele vai mudar, o ego. Se ele não foi tão bem, mas

foi um jogo isolado, e aí já comentam isso, baixa um pouquinho a estima, a autoestima

dele”. Ela destacou que teve uma reportagem que falou bem e “ele comentou que isso dava

uma força para ele, era bom porque ele estava sendo reconhecido. O reconhecimento é

importante em qualquer área, imagina para quem está ali no esforço, esforço físico”,

acrescentou à amiga B.

Page 46: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

46

A amiga C disse que, com certeza, as reportagens poderiam influenciar no

desempenho do jogador. Segundo ela, poderia influenciar porque se ele passava

despercebido, talvez, é que vai muito dele né. “Entrei no jogo e não falaram nada sobre

mim” ou não iria ter repercussão nenhuma da atuação dele ou iria afetar de forma negativa:

“Ah, ninguém me viu”. Agora uma notícia boa, aí também ele pode levar aquilo se

acomodar ou não: “Ah, todo mundo está vendo, vou continuar”, então, acho que, com

certeza, afeta.

O familiar D disse que acreditava que as reportagens podiam influenciar no

desempenho dele, pois ele (o jogador) é muito explosivo. “Se tiver reportagens falando mal

dele, ele iria querer provar que podia mais, e se fosse elogiando, ele iria manter o mesmo

padrão, ele gosta de mostrar que pode”.

Ao serem questionados se consideravam que era dada maior ênfase para algum tipo

de notícia na derrota ou na vitória, os amigos/familiares responderam que: o amigo A disse

que considerava equilibrado. Até quando o Riograndense estava naquela fase boa, ganhando

vários jogos direto, aí deram mais ênfase. “Acho que a boa fase foi mais destacada”. A

amiga B afirmou que a derrota era dada mais ênfase. “Na vitória, parece que eles fazem um

comentário. Não sei se vende mais, mas é uma notícia que prende só que acaba

prejudicando, porque a torcida vai vê o lado ruim, e quando a noticia é ruim, eles não botam

o que está acontecendo de bom também. O apesar de estar assim... tem isso. Aí a torcida fica

chateada, fica decepcionada”. A amiga B disse, ainda, que o jornal poderia se policiar mais.

“Esse ano o Riograndense teve uma fase muito boa, aí quando está ruim, mudou totalmente,

aí tem a chance de vender aquela noticia. Quando está bem, está ganhando, ganhou de novo,

ganhou o terceiro jogo. Riograndense é massacrado em Pelotas, perde para o Brasil, isso

chama mais atenção”, salienta a amiga B.

A amiga C declarou que esse ano ela viu mais destaque na vitória porque o time teve

uma sequência boa, “eles estavam vindo de uma sequência boa, então foi dado assim um

destaque maior. Até nas derrotas, eles (o Diário) tentavam achar uma coisa positiva”. O

familiar D disse que depende muito de como está a classificação do time, “quando estava

bem, eles estavam destacando, quando estava mal, eles caiam em cima, acho que jornal tem

que ter notícia”.

Page 47: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

47

Na questão que abordou a reação de cada jogador quando alguém falava que havia

lido uma notícia falando mal ou bem dele, na visão de seus familiares/ amigos, as respostas

foram as seguintes: o amigo A disse que se ele conhecia e via que, por exemplo, que falaram

e havia sido um equívoco, ele não dava muita importância. “Se falam o correto, eu vejo que

a reportagem está fazendo o seu trabalho correto. Eu percebo a reação do meu amigo

(jogador) no humor dele, mais sério quando perde e mais descontraído quando vence”.

A amiga B declarou que, “quando falava bem, ele ficava “super feliz”, empolgado”.

É porque ela conhece ele, e faz até uma propaganda dele, gostaria muito que ele jogasse no

Riograndense e ele veio e foi muito bem. “Ele ficava feliz ao saber que tinham falado bem

dele no jornal e contava para a família. Se a notícia era ruim, ele dizia: “Ah, pois é,

acontece”. “Ele tentava aceitar e eu já ficava brava, ele não, mas é assim mesmo, nem

sempre se poderia estar em uma fase boa”. Ele tentava me explicar: “não, não fui tão bem

assim, aconteceu mesmo”, assumia o erro. A amiga B dizia “não acredito que falaram isso e

ele me dizia: não, mas calma, é assim mesmo”.

A amiga C afirmou que lembrava que chegou a comentar com ele alguma coisa

(boa), e ele ficou bem feliz, foi humilde. “Ele não iria se abater, ele é bem pé no chão (no

caso de uma notícia ruim)”. O familiar D disse que, “se uma notícia falava bem, ele ficava

entusiasmado. Se fosse uma noticia ruim, ele ficava bravo, dizia que não era bem assim,

geralmente, ele não assumia, ele dizia que estavam pegando no pé dele”.

Foi pedido para que os familiares/amigos dessem, caso quisessem, um depoimento

final sobre o que pensam do jornalismo esportivo de Santa Maria. O amigo A não desejou

registrar nada. A amiga B disse que o interesse no jornalismo esportivo está crescendo por

parte dos jornalistas. Com isso, o esporte está sendo valorizado. “O trabalho dos jornalistas

esportivos é muito bom, eles estão sempre acompanhando nos estádios, estão procurando,

pesquisando. Tem sempre na Internet, eles postam, no jornal, sempre tem alguma notícia

nova, uma curiosidade”.

A amiga C declarou que o jornalismo esportivo em Santa Maria está evoluindo

bastante, “eles estão procurando saber mais do dia-a-dia do clube. Eles estão tirando um

pouco o foco só do futebol, eles estão indo buscar o futebol de salão. Os jornalistas estão

dando bastante ênfase nesses trabalhos de formação, tipo o da AVF (Associação Vôlei

Futuro), do Atlético, do Novo Horizonte, da Patinação do Clube Recreativo Dores. Então é

Page 48: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

48

legal, porque eles estão dando destaque para o esporte escolar, que é muito difícil,

antigamente, só saia o campeão, agora eles estão mostrando desde como começa a

competição. Isso é bom para quem está de fora ver o todo. Por exemplo, o Colégio

Riachuelo foi campeão, tudo bem, mas e o que aconteceu antes? Mas como é que foi? E aí

os jornalistas estão destacando tudo que está sendo feito e não é só dupla Rio-Nal, Rio-Nal e

Rio-Nal”, salientou a amiga C.

O familiar D diz que acreditava que o espaço dedicado ao esporte era pequeno,

faltava espaço. Às vezes, ele via que a matéria poderia ser mais desenvolvida. “O incentivo

ao esporte é muito pequeno, e não há muitas noticias sobre outros esportes, a maior parte é

só futebol. O próprio jornal poderia incentivar a prática de outros esportes”, destacou o

familiar D.

Page 49: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

49

8 A ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Neste parágrafo introdutório da análise das entrevistas, é interessante citar algumas

notícias jornalísticas do campo esportivo, especificamente do futebol, objeto de estudo deste

trabalho, que marcaram as carreiras de alguns jogadores e a trajetória de alguns times, com

as respectivas matérias jornalísticas no anexo 11.3 até 11.10. Estas notícias, selecionadas

abaixo, relacionam-se com fatores psicológicos que podem influenciar o desempenho dos

esportistas:

- Isolamento (11.3): caso Marcelo Moreno, no time do Grêmio, no início da

temporada de 2013. Logo em seguida, ele foi transferido para o Flamengo e não conseguiu

repetir seu desempenho em 2013, quando marcou 23 gols, em 57 jogos. Neste ano, jogou

apenas 23 vezes e marcou cinco gols.

- Agressividade (11.4): o excesso de agressividade do jogador Edmundo

rendeu-lhe um apelido de “Animal”, além da fama de encrenqueiro, violento e o

envolvimento constante em polêmicas.

- Ansiedade (11.5): equipes em situação de rebaixamento, como o Náutico

Capibaribe, em 2013, no Brasileirão, tendem a errar mais, conforme Machado:

a ansiedade é outro fator psicológico que interfere na performance esportiva. Entende-se a ansiedade como uma resposta emocional determinada a um acontecimento que pode ser agradável, frustrante, ameaçador, entristecedor e cuja realização ou resultado depende não apenas da própria pessoa, mas também dos outros (Machado, 1997).

- Estresse (11.6): o estresse, dado como estado emocional negativo, se

manifesta como uma reação inespecífica do organismo frente a qualquer exigência que pode

ser compreendida como um produto da tridimensionalidade entre os sistemas social,

biológico e psíquico do ser humano, segundo Silva (2004); Ferreira, Simim, Noce, Samulski

& Costa (2009). Neste caso, poderíamos citar o treinador do Botafogo em 2013, Oswaldo de

Oliveira, que teve um mal súbito ao final da partida contra o Grêmio, que segundo laudo

médico foi ocasionado por estresse.

- Liderança (11.7): o espírito de liderança do capitão do tetracampeonato

mundial Dunga e, atualmente treinador, é reconhecido por quem trabalha com ele.

Page 50: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

50

- Coesão de grupo (11.8): equipes vencedoras se destacam por terem um

grupo coeso. É o caso do Cruzeiro em 2013.

- Motivação (11.9): a equipe do Palmeiras, campeã da Copa do Brasil de

2012, assistiu a um vídeo motivacional antes da decisão com o intuito de estimular os

jogadores para a partida.

- Baixa autoestima (11.10): Lesões podem provocar a diminuição da

autoestima dos atletas. O técnico Cuca, do Atlético Mineiro, cita uma lesão para queda de

rendimento do atacante Bernard.

A intenção de fazer este apanhado de notícias e relacioná-las com fatores que

desencadeiam afetações ao desempenho dos jogadores de futebol é para comprovar que a

imprensa participa ativamente do processo de mediação entre os fatos sociais que rodeiam as

carreiras dos jogadores e a trajetória dos times e sua audiência. No caso deste trabalho, o

público-alvo é constituído por jogadores e seus amigos ou familiares.

A partir das respostas do questionário aplicado aos jogadores do Riograndense e de

seus familiares ou amigos, é possível verificar indícios de afetações causadas pelas

reportagens do jornal Diário de Santa Maria, durante a cobertura da Divisão de Acesso do

Campeonato Gaúcho 2013 (março a julho). Estas afetações indicam, em certa medida, a

influência do campo jornalístico no campo esportivo, ou seja, uma confluência de campos

sociais.

A leitura do jornal Diário de Santa Maria por parte de sete dos nove entrevistados

demonstra a ampla aceitação, o prestígio e ainda a credibilidade deste veiculo por parte da

comunidade de Santa Maria e entre os atletas do Riograndense. A frequência de leitura

também, em certo ponto, indica o interesse pelos fatos do cotidiano, em se manter

informado, por exemplo, tendo em vista que estes sete entrevistados liam o jornal três vezes

ou mais na semana.

Três dos cinco jogadores entrevistados relataram sobre a preferência da leitura do

jornal, normalmente após os jogos. Isso pode demonstrar que eles tinham interesse em saber

de certa forma a análise jornalística do desempenho deles, conforme os indícios em suas

respostas, inclusive no depoimento do jogador D, que ressaltou a utilização das reportagens

na reunião entre atletas e comissão técnica no dia posterior ao jogo, enquanto que dois dos

Page 51: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

51

quatro familiares/amigos de jogadores entrevistados preferiam ler as notícias na véspera, o

que indicou que eles tinham maior interesse em criar uma expectativa daquilo que

assistiriam ou poderiam esperar de um determinado jogo.

Quanto à identidade coletiva do time do Riograndense nas reportagens do jornal, as

respostas indicam que os jogadores reconhecem a dedicação dos jornalistas em

acompanharem os jogos, treinamentos e rotina da equipe. Os entrevistados citaram, ainda,

que muitos fatos extracampos e de bastidores acabam não sendo contemplados nas matérias,

por omissão ou por falta de conhecimento destes fatos por parte dos jornalistas.

Um relato interessante do jogador A dá conta de sua percepção em relação aos

aspectos extracampo. Ele diz que o jogador não é máquina e, às vezes, acaba levando

(frustrações) para dentro de campo. O jogador C destacou que o espaço dado à dupla Grenal

diminui os times locais, e o jogador E disse também que o espaço dado pelo jornal Diário de

Santa Maria não é o devido, pois em uma cidade onde há dois times disputando uma

competição profissional, deveria ter mais destaque no jornal.

No aspecto que tange à identidade individual, por meio das respostas é possível

compreender que houve bastante variação nas percepções. O jogador A disse que acontecia

de em uma partida ele não ter jogado tão bem, mas ter marcado um gol, aí ele era

endeusado, enquanto que em um jogo que ele teve um desempenho melhor e a equipe

perdeu, isto não era reconhecido. O jogador B disse que procurava memorizar o que era dito

nas notícias para ele tentar melhorar, este é um relato importante como indicio da afetação

do campo jornalístico no esportivo.

O jogador C disse que discordava de algumas reportagens, por elas fugirem do

entendimento tático e técnico por parte dos jornalistas, que às vezes desconheciam as ordens

repassadas pelo treinador, que deveriam ser executadas pelos atletas, apesar da discordância

da imprensa e da torcida. O jogador D destacou que algumas coisas não são ditas aos

jornalistas, como por exemplo, quando ele passou mal antes de uma partida. O jogador E

salientou que trabalha para ter o reconhecimento das pessoas e da imprensa.

Quanto à possibilidade de influencia ou afetação no desempenho dos atletas a partir

das reportagens do Jornal Diário de Santa Maria, principal questão desenvolvida neste

trabalho, conforme os relatos dos entrevistados foi possível perceber que há indícios desta

afetação. Os relatos dão conta de que as reportagens podem influenciar o desempenho dos

Page 52: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

52

jogadores, por exemplo, quando o jogador A disse que se uma reportagem fala bem dele

daria mais confiança e melhoraria a autoestima. Ele complementou ainda dizendo que

quando a reportagem fala de algo ruim, a autoestima baixa, fica sem confiança, vai para as

jogadas com medo e retraído, para os jornalistas e a torcida não “pegarem no pé”. O jogador

B disse que se a matéria fala bem, ele quer mostrar mais e, se fala mal, quer reverter o

quadro. O jogador C se contradisse, apesar de dizer que não havia influência, ele afirmou

que se soubesse de uma matéria que falasse mal, ele iria tentar melhorar para a próxima

partida. O jogador D disse que se os jornalistas falam bastante e incentivam, o jogador vai

com mais confiança para o jogo. Já o jogador E, mesmo afirmando que não havia influência,

disse que as reportagens que falam bem dele dão mais motivação e incentivo.

Ainda sobre a questão anterior, os familiares/amigos dos jogadores foram unânimes

em afirmar que havia influência das reportagens no desempenho dos atletas. O Amigo A

citou a motivação nas matérias positivas e a reflexão nas negativas. A amiga B disse que o

ânimo muda e o ego nas matérias que falam bem, e nas que falam mal, baixa a autoestima. O

familiar D afirmou que o jogador (seu parente) era muito explosivo e se saísse uma matéria

falando mal, ele iria querer provar o contrário e, se fosse elogiando, iria quere manter o

mesmo padrão.

Dos cinco jogadores entrevistados, quatro disseram que é dada mais ênfase nas

reportagens que tratam sobre a derrota, do que as de vitória. Eles justificaram dizendo que

quando o time perde, tem que se achar um culpado. Já os familiares/ amigos tiveram

opiniões divergentes e citaram argumentos um pouco evasivos.

A respeito da reação dos jogadores ao serem comunicados de notícias ruins ou boas,

foi possível perceber que existe um reforço da influência das reportagens, citada

anteriormente. Os jogadores destacaram que ficam felizes ao serem comunicados de notícias

boas, que servem de incentivo profissional. O jogador E afirmou que quando é comunicado

de uma notícia ruim, bate uma tristeza. Os familiares/ amigos disseram que percebiam as

reações dos atletas ao receberem as notícias boas e ruins. Eles destacaram inclusive a

mudança de comportamento e humor, mais sério na derrota e mais descontraído na vitória,

conforme citou o amigo A. Entusiasmo e bravo, relatou o familiar D.

Segundo os entrevistados que registraram considerações acerca do jornalismo

esportivo em Santa Maria, entendemos que os jogadores e familiares/amigos consideram os

Page 53: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

53

aspectos positivos da participação atuante da imprensa local no dia a dia dos clubes de

futebol locais, apesar da queixa do espaço ainda grande dedicado à dupla Grenal. Ainda foi

dito que a imprensa tem o poder de mudar conceitos e inclusive incentivar a prática de

outros esportes.

Page 54: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

54

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na atualidade, o futebol se tornou um negócio altamente lucrativo. Em consequência,

os jogadores de futebol acabam por criar grandes expectativas seja aos seus familiares, que

dependam financeiramente deles, dos seus clubes, que detêm o contrato, e dos seus

empresários, que fazem a intermediação entre os interesses do atleta e do clube. Todas estas

perspectivas recaem sobre os ombros dos jogadores. Apesar d e o futebol do interior, longe

dos grandes centros, não contar com o mesmo aporte de capital, os jogadores estão inseridos

no mesmo mercado e recebem a atenção dos veículos de imprensa. Estão em evidência no

âmbito local e regional, são manchetes de jornais, entrevistados em programas de emissoras

de rádio e televisão, tendo seus desempenhos e suas vidas publicadas, tornado-se pessoas

públicas, personalidades desta sociedade em que estão inseridos.

Desta feita, um estudo como este, que foi proposto para analisar o jogador de futebol

na mídia: uma relação entre jornalismo esportivo e psicologia do esporte, torna-se

importante ao trazer uma visão interdisciplinar de campos dos saberes confluentes, um

espaço de trocas entre a comunicação e a psicologia, buscando, por que não, a mediação e as

contribuições da sociologia.

O trabalho que desenvolveu-se em paralelo com a competição a qual o time do

Riograndense estava disputando – Divisão de Acesso 2013 do Campeonato Gaúcho - e foi

concluído após a mesma, atingiu seus objetivos por meio da proposta metodológica, sendo

que a legitimação dos argumentos foi efetivada através da entrevista com os próprios atores

do campo esportivo, os jogadores e além deles, os seus familiares ou amigos, que trouxeram

a contribuição de quem acompanha de perto a carreira, as adversidades e as alegrias desta

profissão tão sonhada na infância por muitos brasileiros.

Ao final de todo este processo, foi possível encontrar indícios de que os campos

sociais, neste caso o campo jornalístico e o campo esportivo, estão em constante

confluência, os atravessamentos entre si são de certa forma o que os fazem tão fascinantes,

tão tradicionais e em constante mutação.

Quanto aos aspectos psicológicos, em particular da psicologia do esporte, é

importante aos jornalistas compreenderem, ou ao menos, terem a noção dos fatores que

Page 55: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

55

podem ser desencadeados a partir das reportagens jornalísticas para a recepção por parte da

audiência, neste caso, dos leitores, incluídos, neste grupo, os próprios jogadores.

Aos dirigentes esportivos, em particular de futebol, cabe salientar a importância do

trabalho de um psicólogo do esporte na comissão técnica das equipes, inclusive para fazer

esta mediação entre o jornalismo esportivo e os atletas. O Riograndense não possuía um

profissional desta área durante o período de realização do estudo.

É importante que profissionais de diversas áreas (educação física, medicina,

comunicação, fisioterapia, direito, administração, entre outras) trabalhem de forma integrada

para que os objetivos de conquistas e sucesso sejam alcançados no futebol. Não há uma

fórmula ou receita de bolo para o sucesso, no entanto é preciso seriedade e competência na

gestão e planejamento das equipes esportivas e como consequência a repercussão na mídia

será positiva.

O Brasil atravessa uma década marcada pela realização de mega eventos esportivos

no país, que iniciou-se com os preparativos para a Copa das Confederações realizada de 15 a

30 de junho deste anos, da Copa do Mundo de 2014, dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro

de 2016 e da Universíade 2019. É um período propicio para reflexão e análise do papel do

jornalista esportivo na cobertura não somente destes grandes jogos, mas também da

cobertura cotidiana de outras modalidades, dos projetos de inclusão social por meio do

esporte, e de todas as outras temáticas abarcadas neste contexto. Não se pode perder a

oportunidade de evoluir e buscar constantemente o exercício de uma mediação social de

qualidade, tendo em vista que esta é a essência do jornalismo.

Page 56: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

56

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVARO FILHO, Melo. Comentários a Lei n. 9.615/98. Brasília: Brasília Jurídica, 1998.

BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica – História da Imprensa Brasileira. São

Paulo:Ática, 1990.

BARBANTI, Valdir. O que é esporte?. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v.

11, n. 1, p. 54-58, 2012.

BECKER JUNIOR, B. (2000). Manual de psicologia do esporte e exercício. Porto Alegre:

NOVAPROVA.

BERNI, A. A. D. ; Cardoso, Trícia A. ; FLÔRES, João Rodolpho Amaral ; Fraga, Rosana V.

; Henrique Cignachi ; LUZ, C. O. H. ; Pinto, Nathalia L. ; Tittelmeyer, Alexander R. .

RIOGRANDENSE FUTEBOL CLUBE - No coração gaúcho, 100 anos rubro-

esmeraldino. 2012

BORELLI, Viviane. O esporte como uma construção específica no campo jornalístico.

Trabalho apresentado no NP18 – Núcleo de Pesquisa Mídia Esportiva, XXV Congresso

Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

BRACHT, Valter. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. 2ª.ed. Ijuí: Ed: Unijuí,

2003. (Coleção educação física)

CASAL, H. M. V. (2007). Fatos e reflexões sobre a história da Psicologia do Esporte.

Em Brandão, M. R. F. e Machado, A. A. Coleção Psicologia do Esporte e do Exercício, v. 1.

São Paulo: Atheneu.

COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo Esportivo. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2004.

(Coleção Comunicação).

CRATTY, B. J. Psicologia do esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1984.

DE LIMA ARGIMON, Irani et al. TÉCNICOS DE FUTEBOL E A PRÁTICA DA

PSICOLOGIA NO ESPORTE. CEP, v. 91010, p. 003.

EDUCAÇÃO FÍSICA. Qual é a origem do Futebol? Secretária da Educação do Paraná.

Disponível em:

http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=345

ESPORTE INTERATIVO. Náutico contrata psicólogo para ajudar jogadores.

Disponível em:

http://br.esporteinterativo.yahoo.com/noticias/n%C3%A1utico-contrata-psic%C3%B3logo-

para-ajudar-os-jogadores-151704714.html

Page 57: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

57

ESPORTE UOL. Grêmio exclui Marcelo Moreno e define prazo para resolver

'problema'. Disponível em:

http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2013/04/15/gremio-exclui-marcelo-

moreno-e-define-prazo-para-resolver-problema.htm

ESPORTE UOL. Vídeo que motivou Palmeiras usou Kleber (Judas), cornetadas e

títulos em cima do Corinthians. Disponível em:

http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/copa-do-brasil/ultimas-

noticias/2012/07/13/video-que-motivou-palmeiras-usou-kleber-judas-cornetadas-e-titulos-

em-cima-do-corinthians.htm

FERREIRA ,Fernando da Costa. Futebol de classe: a importância dos times de fábrica

nos primeiros anos do século XX Disponível em:

http://www.efdeportes.com/efd90/times.htm

FILHO, Mario. (1964), O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro, Civilização

Brasileira.

FRANCO JR, Franco Júnior. A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade. Companhia

Das Letras, 2007.

FREYRE, Gilberto, Football mulato, ARTIGO, Diario de Pernambuco, 17 de junho de

1938

GALEANO, E. Futebol ao sol e à sombra. Trad. de Eric Nepomuceno e Maria do armo

Brito. Porto Alegre: L & PM, 1995.

GEORGE. Elevating the game, black men and basketball. New York: Harper Collins

Publishers, 1992 GORDON JR, César C. "Eu já fui preto e sei o que é isso”, História

Social dos Negros no Futebol Brasileiro: segundo tempo." en Pesquisa de Campo/Revista do

Núcleo de Sociologia do Futebol/UERJ 3/4 (1996): 65-78.

GIRARDI JR., Liráucio (2007), Pierre Bourdieu: questões de Sociologia e Comunicação.

São Paulo: Annablume, Fapesp.

GUTERMAN, Marcos. O futebol explica o Brasil: uma história da maior expressão

popular do país. Editora Contexto, 2009.

HELAL, R.; Soares, A J. e Lovisolo, H. (orgs.) A invenção do país do futebol: mídia, raça

e idolatria. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.

LANCENET. Cuca relembra lesão para queda de rendimento de Bernard.

Disponível em:

http://www.lancenet.com.br/atletico-mineiro/Cuca-lembra-lesao-rendimento-

Bernard_0_926307555.html#ixzz2iUvOUaMq

Page 58: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

58

LUNA, Sérgio Vasconcelos de. Planejamento de pesquisa: uma introdução. 2ª edição.

São Paulo: EDUC, 1999.

MACHADO, A. A. Psicologia do esporte: temas emergentes. Jundiaí: Ápice, 1997

MANDELL, D. Richard. Historia cultural del deporte. Barcelona: Edicions Bellaterra.

1986.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade.

6ª Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1996.

NITSCH, J. (1989) Psychoregulatives Training im Leistungssport. In Gambler, H.et al.

Psichology, Diagnostik und Beratung im Leistungssport. Frankfurt: Deutscher Sportbund.

O TEMPO. Everton Ribeiro elogia entrosamento e vê Cruzeiro mais coeso.

Disponível em:

http://www.otempo.com.br/superfc/futebol/everton-ribeiro-elogia-entrosamento-e-

v%C3%AA-cruzeiro-mais-coeso-1.141478

RODRIGUES, A. D. A emergência dos campos sociais. In: REVAN, R. S. (org.).

Reflexões sobre o mundo contemporâneo. Teresina: UFPi, 2000.

RUBIO, Kátia. Psicologia do esporte: interfaces, pesquisa e intervenção. Casa do

Psicólogo, 2000.

SANFELICE, Gustavo Roese. Campo midiático e campo esportivo: suas relações e

construções simbólicas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 31, n. 2, 2010.

SPORTV NEWS. Médico relaciona estresse emocional a problema de Oswaldo de

Oliveira. Disponível em:

http://sportv.globo.com/site/programas/sportv-news/noticia/2013/10/medico-relaciona-

estresse-emocional-problema-de-oswaldo-de-oliveira.html

WEINBERG, R. S. & GOULD, D. (2001). Fundamentos da Psicologia do Esporte e do

Exercício. Porto Alegre: Artes Médicas.

ZERO HORA. Edmundo se irrita com marcação e briga em coletivo. Disponível em:

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/esportes/noticia/2007/06/edmundo-se-irrita-com-marcacao-

e-briga-em-coletivo-1538048.html

ZERO HORA. Ex-comandantes de Dunga falam sobre estilo de liderança e de trabalho

do técnico colorado. Disponível em:

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/esportes/inter/noticia/2013/04/ex-comandantes-de-dunga-

falam-sobre-o-estilo-de-lideranca-e-de-trabalho-do-tecnico-colorado-4119714.html

Page 59: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

59

11 ANEXOS

11. 1 Questionários

11.1.1 Questionário aplicado aos jogadores

Você costuma ler o Jornal Diário de Santa Maria?

Se sim, quantas vezes por semana?

Você costuma (prefere) ler o jornal na véspera ou após os jogos do seu time?

Como você avalia as reportagens que abordam o time do Riograndense?

Como você se identifica com uma reportagem que trata sobre a sua performance no

jogo?

Você considera que uma reportagem tratando sobre a sua performance pode

influenciar em seu desempenho nas próximas partidas ou treinos?

Você considera que é dada maior ênfase para algum tipo de notícia: derrota ou

vitória?

Qual sua reação quando alguém fala que leu uma notícia falando mal ou bem de você?

Considerações sobre o jornalismo esportivo de Santa Maria

Page 60: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

60

11.1.2 Questionário aplicado aos familiares ou amigos dos jogadores

Grau de parentesco com o jogador

Você costuma ler o jornal Diário de Santa Maria?

Se sim, quantas vezes por semana?

Você costuma ler o jornal na véspera e/ou após os jogos do seu time?

Como você avalia as reportagens que abordam o time do Riograndense?

Como você identifica seu familiar/amigo (jogador) com uma reportagem que trata

sobre a performance dele no jogo?

Você considera que uma reportagem tratando sobre a performance do seu familiar

(jogador) pode influenciar no desempenho dele nas próximas partidas ou treinos?

Você considera que é dada maior ênfase para algum tipo de notícia do time do seu

familiar (jogador): derrota ou vitória?

Qual a reação do seu familiar (jogador) quando alguém fala que leu uma notícia

falando bem ou mal dele?

Considerações sobre o jornalismo esportivo de Santa Maria

Page 61: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

61

11.2 Reportagens do Diário de Santa Maria

Page 62: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

62

Page 63: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

63

Page 64: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

64

Page 65: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

65

Page 66: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

66

Page 67: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

67

Page 68: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

68

11. 3

Page 69: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

69

11.4

Page 70: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

70

11.5

Page 71: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

71

11.6

Page 72: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

72

11.7

Page 73: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

73

Page 74: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

74

11.8

Page 75: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

75

11.9

Page 76: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

76

11.10

Page 77: Maiquel Machado da Silva - Jornalismo-Unifra/RS · Povo, o mais antigo em atividade no Estado. Em 1970 o jornal Zero Hora passou a ser propriedade do Grupo RBS, fundado em 1964, sendo

77

11.11