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50 | ABRIL 2010 MANEJO DE INVASORAS NA SAFRINHA É possível reduzir a dose dos herbicidas pós-emergentes na safrinha em relação à safra normal, já que na segunda safra as daninhas são menos vigorosas Aildson Pereira Duarte, Andréia Cristina Silva Hirata, Karina Batista e Robert Deuber, pesquisadores do Instituto Agronômico, de Campinas/SP Divulgação

MANEJO DE INVASORAS NA SAFRINHAzeamays.hospedagemdesites.ws/wp-content/uploads/2013/05/... · 2013. 5. 29. · milho safrinha, com destaque para o ca-pim-carrapicho (Cenchrus echinatus)

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MANEJO DE INVASORAS

NA SAFRINHAÉ possível reduzir a dose dos herbicidas pós-emergentes na

safrinha em relação à safra normal, já que na segunda safra as daninhas são menos vigorosas

Aildson Pereira Duarte, Andréia Cristina Silva Hirata, Karina Batista e Robert Deuber,pesquisadores do Instituto Agronômico, de Campinas/SP

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Omilho “safrinha” é semeado dejaneiro até março e, quase sem-pre, após a cultura da soja. É culti-

vado em condições ambientais menos fa-voráveis ao desenvolvimento das plantas emcomparação à safra de verão. Temperatu-ras baixas no ar atmosférico e deficiênciashídricas no solo reduzem a taxa de desen-volvimento do milho e das plantas infes-tantes na safrinha. Essas condições pecu-liares, por reduzir a taxa de decomposiçãodos ingredientes ativos dos herbicidas nasplantas, possibilitam o emprego de meno-res doses dos herbicidas na safrinha.

Visando a antecipar a implantação do mi-lho safrinha, sua semeadura é realizada aomesmo tempo em que a soja é colhida emárea subsequente, tornando escassa a dis-ponibilidade de tratores e mão de obra paraa aplicação de herbicidas nesse momento. Anecessidade de flexibilizar a época das ope-rações agrícolas e a pequena reinfestaçãodas plantas infestantes têm levado à priori-zação do uso dos herbicidas pós-emergen-tes. Pode ser necessária a dessecação deplantas daninhas remanescentes da soja,sendo comum realizá-la imediatamenteapós a semeadura do milho safrinha.

Espécies predominantes — Levanta-mentos realizados pelo Instituto Agronô-mico (IAC) no estado de São Paulo (Du-arte & Deuber, 1999) mostraram a predo-minância de amendoim-bravo (Euphorbiaheterophylla), soja (Glycine Max), trapoe-raba (Commelina benghalensis), picão-pre-to (Bidens pilosa) e nabiça (Raphanus sa-tivus). Há, entretanto, um crescente nú-

mero de gramíneas que vão se tornandoimportantes, talvez por sua adaptação aoambiente da safrinha, bem como pelo em-prego contínuo de práticas de manejo dacultura e das plantas infestantes pouco efi-cientes no controle das gramíneas. O em-prego contínuo apenas do ingrediente ati-vo atrazine em pós-emergência tem seleci-onado algumas espécies nas lavouras demilho safrinha, com destaque para o ca-pim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e opicão-preto (Bidens pilosa) (Duarte e Deu-ber, 1999; Duarte, 2004).

Controle químico — Como já menci-onado, os herbicidas pós-emergentes sãoutilizados quase que exclusivamente no con-trole das plantas infestantes do milho, comtendência de aumento dos ingredientes ati-vos que controlam as folhas estreitas. Osherbicidas em uso são o 2,4-D, o atrazine,o nicosulfuron, a mistura de foramsulfu-ron + iodosulforon, o mesotrione e o tem-botrione. Deve-se lembrar que a escolhade um herbicida isolado ou de uma formu-lação contendo dois ou mais herbicidasdeverá ser feita com base no levantamentoprévio da infestação existente no local dalavoura.

É possível reduzir a dose dos herbici-das pós-emergentes na safrinha em rela-ção à safra normal, devido ao menor vigordas plantas daninhas nesse período. Estu-dos realizados no IAC/Agência Paulista deTecnologia dos Agronegócios (APTA) so-bre adequação de doses de atrazina emmilho safrinha demonstraram que nesseperíodo pode-se reduzir a dose do produto

comercial atrazina mais óleo vegetal para1,5 a 2,5 litros/hectare. A mistura de óleojunto com a atrazina é importante e, no casode óleo mineral, este deve ser misturadodiretamente na água do tanque do pulveri-zador (cerca de 1,0 l/ha). O óleo mineralou vegetal pode ser omitido quando se apli-ca nicosulfuron + atrazina (Deuber & Du-art, 1999). O controle de gramíneas, empós-emergência, tem sido mais difícil e dis-pendioso do que o das folhas largas emgeral. Nas lavouras de milho safrinha comproblemas de folhas estreitas pode-se utili-zar o nicosulfuron, mesotriona ou tembo-triona. Geralmente estes produtos são apli-cados junto com atrazine para melhorar suaeficiência, especialmente para o controlede certas espécies de folhas largas (Duartee Deuber, 1999).

O nicosulfuron atua como inibidor daenzima ALS (acetolactase sintetase) impe-dindo a formação de diversos aminoáci-dos. As plantas afetadas apresentam-se ini-cialmente com coloração amarelada, pas-sando depois a vermelho-púrpura. O me-sotrione e o tembotrione inibe a biossínte-se de carotenoides, interferindo na ativida-de da enzima HPPD (hidroxifenil-piruva-to-dioxigenase) nos cloroplastos. Os sin-tomas se caracterizam por branqueamen-to das plantas daninhas com posterior ne-crose e morte dos tecidos vegetais dentrode uma a duas semanas.

Ressalte-se que algumas cultivares demilho apresentam alta suscetibilidade ao ni-cosulfuron, devendo-se informar se é in-dicado ou não para uso em lavouras com

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SAFRINHA

determinada cultivar ou, quando seu usofor imprescindível, programar a semeadu-ra de cultivar resistente. Geralmente, emcondições de estresse por frio e/ou seca, afitotoxicidade destes herbicidas é ainda maisacentuada.

Nas lavouras de milho safrinha comproblema de folhas estreitas pode-se utili-zar o nicosulfuron na dose de 0,50 a 0,75l/ha, em mistura com a atrazina, que é umexcelente herbicida para o controle do ca-pim-carrapicho. O mesotrione apresentaexcelente controle do picão-preto, porémprecisa ser associado ao nicosulfuron paracontrole do capim-carrapicho. Já o tem-botrione mais atrazine é a mistura que apre-senta espectro mais amplo de espécies con-troladas, porém ainda não foram divulga-dos resultados de adequação de doses parao milho safrinha.

Devido ao aumento da infestação e,consequentemente, do banco de sementesdas espécies capim-carrapicho, picão-pretoe leiteiro, o seu melhor controle por estasmisturas pode contribuir para facilitar omanejo das plantas infestantes e reduzir oscustos com aplicações de herbicidas amédio prazo. Em trabalho realizado peloIAC/APTA, os tratamentos óleo vegetal(3000 ml/ha) + nicosulfuron (400 ml/ha)e óleo vegetal (3000 ml/ha) + nicosulfuron(200 ml/ha) + mesotrione (150 ml/ha) re-sultaram em aumentos significativos na pro-dutividade do milho safrinha em compara-ção com a testemunha no mato, mas nãodiferiram do óleo vegetal (3000 ml/ha) iso-lado (Deuber et al., 2005).

É comum o uso de 80 ml/ha de 2,4-Dem associação com atrazine e/ou outro her-bicida pós-emergente visando a aumentara eficiência do controle de algumas espé-cies de folhas largas, tais como a trapoera-ba (Commelina benghalensis), e/ou redu-zir o dispêndio financeiro com herbicidasno milho safrinha (Duarte & Deuber,1999). Mesmo na ausência de sintomasvisíveis de fitotoxicidade (plantas tortas ou

em forma de chicote), o uso do 2,4-D podecausar prejuízos na produtividade de grãos.Deuber et al. (2005) verificaram que trêsde dez híbridos estudados reduziram sig-nificativamente a produtividade de grãoscom a aplicação de 2,4-D.

Tecnologia Roundup Ready — Umdos aspectos mais importantes a se levarem conta é o melhor manejo do mato já nalavoura da soja. Com o emprego relativa-mente recente do glifosato na cultura dasoja, devido à predominância no mercadode variedades transgênicas Roundup Rea-dy, poderão ocorrer alterações na comuni-dade vegetal infestante do milho safrinhacultivado em sucessão, com a redução ouaumento da importância relativa de algu-mas espécies. O emprego concomitante, apartir da próxima safra, de cultivares desoja e milho transgênicos Roundup Readyampliará o leque de alternativas para o con-trole eficiente das plantas daninhas no mi-lho safrinha. No entanto, o uso seguido econtínuo do glifosato nas culturas de sojae milho safrinha poderá acentuar o proble-ma de algumas espécies, como a trapoera-ba (Commelina sp.), e até mesmo aceleraro aparecimento de novas plantas resisten-tes a este ingrediente ativo.

Consórcio com plantas forrageiras– O consórcio entre a cultura do milho e asplantas forrageiras pode favorecer o ma-nejo de plantas daninhas. De forma geral,tem se observado viabilidade agronômicano consórcio do milho com plantas forra-geiras, tanto na produção do milho quantono estabelecimento da forrageira, atenden-do aos objetivos de formação de pastagem,bem como de aumento na produção depalha para cobertura morta do solo, após acolheita mecânica do milho (Jakeleitis etal., 2004). O IAC e Polos Regionais, daAPTA, estão desenvolvendo um trabalhode pesquisa e difusão de tecnologias sobreconsórcio de milho safrinha e plantas for-rageiras na região paulista do Médio Para-napanema. O milho foi semeado no mês

de março, no espaçamento entre as linhasde 0,90 metro e população inicial de 52.500plantas por hectare, e diferentes espéciesde capins foram implantadas simultanea-mente, em caixa com disco de sorgo naentrelinha do milho. Adicionou-se um tra-tamento extra de capim-marandu semea-do a lanço. As amostragens de plantas da-ninhas foram realizadas em julho de 2008,no estádio de enchimento de grãos do mi-lho safrinha, contando o número de indiví-duos de cada espécie e determinando amassa seca total.

Confirmou-se que neste sistema, comapenas uma linha do capim alternativa naentrelinha do milho, não é necessário her-bicida para a supressão da forrageira por-que as condições ambientais peculiares dooutono e a adubação apenas do milho pro-porcionam o desenvolvimento rápido domilho em relação aos capins, evitando acompetição inicial. Logo, não há diferençade produtividade entre a área sem e comconsórcio (Cecon, 2007, Batista et al.,2010).

Concluiu-se que os consórcios milhosafrinha e plantas forrageiras distribuídasna entrelinha do milho promovem reduçãona massa seca e densidade de plantas dani-nhas. Por exemplo, em Campos NovosPaulista, o capim-marandu semeado a lan-ço e o milho solteiro apresentaram maiormassa seca total de plantas daninhas. A dis-tribuição desuniforme do capim na semea-dura a lanço explica a alta infestação deplantas daninhas neste tratamento. Ressal-te-se que, entre os locais, foram verifica-das diferentes respostas das plantas dani-nhas nos consórcios com as plantas forra-geiras, devido ao ambiente (condiçõesmeteorológicas e solo) e ao banco de se-mentes serem distintos entre as localida-des, que influenciam no estabelecimento edesenvolvimento da espécie forrageira e domilho safrinha e, consequentemente, inter-fere no balanço competitivo destas com asplantas daninhas.