Upload
others
View
2
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL
MANEJO E USO DA VEGETAÇÃO NATIVA POR AGRICULTORES TRADICIONAIS DA COMUNIDADE SANTANA, REGIÃO DA MORRARIA, CÁCERES - MT.
RENATO RIBEIRO MENDES
CUIABÁ MATO GROSSO - BRASIL
2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL
MANEJO E USO DA VEGETAÇÃO NATIVA POR AGRICULTORES TRADICIONAIS DA COMUNIDADE SANTANA, REGIÃO DA MORRARIA, CÁCERES - MT.
Renato Ribeiro Mendes Engenheiro Florestal
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo
Dissertação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do Título de Mestrado em Agricultura Tropical.
CUIABÁ - MT JULHO 2005
FICHA CATALOGRÁFICA
C) M538m Mendes, Renato Ribeiro.
Manejo e uso da vegetação nativa por agricultores
tradicionais da Comunidade Santana, região da Morraria,
Cáceres – MT. / Renato Ribeiro Mendes. – Cuiabá: o autor,
2005.
103 p.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato
Grosso, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária.
Índice para catálogo sistemático:
1. Recursos florestais 2. Estudo etnobotânico 3. Valoração
As Árvores
As árvores são fáceis de achar Ficam plantadas no chão Mamam do sol pelas folhas E pela terra Também bebem água Cantam no vento E recebem a chuva de galhos abertos Há as que dão frutos E as que dão frutas As de copa larga E as que habitam esquilos As que chovem depois da chuva As cabeludas As mais jovens mudas As árvores ficam paradas Uma a uma enfileirada Na alameda Crescem para cima com as pessoas Mas nunca se deitam Crescem como as pessoas Mas não são soltas nos passos São maiores Mas ocupam menos espaço Árvore da vida Perdão pelo coração que eu desenhei em você Com o nome do meu amor.
Jorge Benjor / Arnaldo Antunes
AGRADECIMENTOS À Deus e ao meu anjo da guarda, pela proteção. Aos meu pais Erval e Onir que sempre me apoiam em todos os momentos. Ao Prof. Rodrigo pela orientação, pela oportunidade de aprendizado e desenvolvimento. À Débora, companheira de todas as horas, pela grande força, pelo constante incentivo e por compartilhar. Ao Seu Catulino e Dona Cecília por me receberem e compartilharem o seu modo de vida comigo. Aos agricultores que contribuíram com valiosas informações para este estudo, meu agradecimento e grande admiração. As árvores, que são muito especiais. À Universidade Federal de Mato Grosso, pela oportunidade de realizar esse trabalho e a CAPES pelo apoio financeiro. Aos Professores Sebastião Carneiro Guimarães, Maria de Fátima Barbosa Coelho, Márcio de Nascimento, Joana Maria Ferreira Albrecht e Carlos Alberto Moraes Passos pela leitura crítica e sugestões. Aos companheiros do “Projeto Morraria” Mauro, Helionora, Daniela, Virgínia e Rui. E aos colegas de mestrado Luíz Carlos, Rene, Jorge, Marizette, Reginaldo, Ronaldo, Leo, Patrícia e aos demais que até o momento não me recordei. Ao Libério, técnico do Herbário da UFMT, pela ajuda na identificação das espécies florestais. As floresteiras Lucinéia e Cris pela contribuição na coleta de dados no inventário das áreas de pousio.
SUMÁRIO RESUMO ...................................................................................................... IV
ABSTRACT................................................................................................... VI
1. INTRODUÇÃO............................................................................................1
2. REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................3
2.1. Manejo e uso dos recursos da vegetação nativa. ....................................3
3 . METODOLOGIA ......................................................................................10
3.1 Localização e características da área de estudo ....................................10
3.2. Seleção da área e dos informantes para o estudo etnobotânico. ..........13
3.2.1. Entrevistas. .........................................................................................16
3.2.2. Observação direta e observação participativa ....................................16
3.2.3. Coleta e identificação do material botânico.........................................17
3.3. Análise florística e fitossociológica em áreas de pousio (capoeiras). ....18
3.4. Valoração econômica dos recursos florestais de uso direto da flora
nativa......................................................................................................21
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................24
4.1. Manejo da vegetação nativa no cultivo da terra.....................................24
4.2. Uso dos recursos da vegetação nativa. .................................................47
4.3. Análise florística e fitossociológica em áreas de pousio. .......................67
4.4. Descrição, quantificação e valoração econômica dos recursos
florestais nativos.....................................................................................82
5. CONCLUSÕES.........................................................................................91
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................93
Manejo e Uso da Vegetação Nativa por Agricultores Tradicionais da Comunidade Santana, Região da Morraria, Cáceres - MT.
Autor: Renato Ribeiro Mendes Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo
RESUMO
Este trabalho é parte de um estudo, denominado projeto Morraria,
que integra o Programa de Estudos de Sistemas Agrícolas (ProSA) da
Universidade Federal de Mato Grosso. O ProSA tem como objetivo geral
pesquisar sobre o conhecimento tradicional, definido de maneira simplista
como conjunto de saberes de agricultores tradicionais sob diversos
aspectos. Partindo da hipótese de que o papel estratégico dos recursos
florestais nativos de uma Unidade Produtiva (UP) é o somatório da
necessidade de conservá-lo, devido sua importância na UP, com a
necessidade de eliminá-lo, para que seja possível a implantação de roças e
pastagens, a presente pesquisa teve como objetivo entender como
agricultores tradicionais, que habitam por várias gerações uma antiga área
de sesmaria, utilizam e manejam a vegetação nativa. Observou-se que o
manejo da vegetação nativa para o cultivo da terra, ainda guarda influência
indígena e se enquadra no sistema de corte - queima - pousio. A atividade
extrativista vegetal abrange um conjunto significativo de práticas, cuja
finalidade principal é o consumo. No estudo etnobotânico foram levantadas
171 etnoespécies da flora nativa, com variadas formas de uso, distribuídas
em 50 famílias botânica. A dependência dos agricultores pelos recursos
florestais nativos gera conhecimento sobre classificações fisionômicas do
ambiente, fenologia, características silviculturais, habitat preferencias das
espécies e critérios de seleção e manejo. A quantificação e valoração
econômica dos recursos florestais nativos utilizados nas moradias,
benfeitorias relacionadas à criação animal, cercamento das unidades de
manejo, lenha e móveis/utensílios, variou de 943,32 (R$/ano) a 7.356,63
(R$/ano), conforme o grau de dependência por madeira da UP. O inventário
realizado em duas capoeiras, uma com três, e outra com oito anos de
pousio, permitiu obter informações sobre a presença e a disponibilidade, de
acordo com o diâmetro, das 21 espécies florestais mais utilizadas nas UPs.
A estrutura populacional da vegetação da capoeira com três anos de pousio
apresentou densidade absoluta (DA) de 16.300 indivíduos por hectare,
distribuídas em 61 espécies, e a capoeira com oito anos de pousio, 16.850
indivíduos por hectare, distribuídas em 57 espécies. Os estudos mostraram
que esses agricultores, com baixo poder aquisitivo de compra, dependem de
áreas com capoeiras em diferentes estágios de sucessão, para obterem os
recursos madeireiros para diversas finalidades, e que falta de áreas
destinadas ao pousio florestal pode comprometer a reprodução das suas
Unidades Produtivas.
Palavras-chave: recursos florestais, estudo etnobotânico, valoração.
ABSTRACT Management and Use of the Native Vegetation by Traditional Farmers of the Santana Community, Morraria Region, Cáceres - MT.
This paper is part of a study, called Morraria project, which
integrates the Program of Studies of Agricultural Systems (ProSA) of the
Federall University of Mato Grosso. The ProSA’s general aim is to research
about the traditional knowledge, defined in a simple way as a set of
knowledge of traditional farmers under several aspects. Based on the
hypotheses that the strategic role of the native forest resources of a
Productive Unity (UP) is the sum of the need of preserving it, due to its
importance in the UP, with the necessity of eliminating it, so that the
implantation of vegetable gardens and grazing grounds will be possible, this
research aimed at understanding how the traditional farmers, that have lived
for several generations in an ancient area of allotment, use and manage the
native vegetation. It was observed that the management of the native
vegetation for the planting of the land still has Indian influence and fits in the
slash - burn – fallow system. The extractivist activity comprises a significant
set of practices, whose main purpose is the consumption. In the ethnobotanic
study 171 ethnospecies of the native flora were surveyed, with several ways
of use, distributed into 50 botanic families. The farmers’ dependence on the
native forest resources generates knowledge about the physiognomic
classification of the environment, phenology, silvicultural characteristics,
favorite habitats of the species and criteria of selection and management.
The determination of the quantity and the economic value of the native forest
resources used in the households, improvements related to animal raising,
fencing of the management units, firewood and furniture/utensils, varied from
943,32 (R$/year) to 7.356,63 (R$/year), according to the degree of
dependence on wood of the UP. The inventory carried out in two woodlands,
one with three, and the other with eight years of fallow, allowed getting
information about the presence and the availability, according to the
diameter, of the 21 most used forest species in the UPs. The population
structure of the woodland’s vegetation with three years of fallow presented
absolute density (DA) of 16.300 individuals per hectare, distributed into 61
species, and the woodlands with eight years of fallow, 16.850 individuals per
hectare, distributed into 57 species. The studies showed that these farmers,
with low income to acquire goods, depend on the areas with woodlands in
different stages of progression, in order to obtain wood resources for different
uses, and that the lack of areas reserved for the forest fallow can endanger
the reproduction of its Productive Units.
Key words: forest resources, ethnobotanic study, value.
1
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é um país tropical que tem como uma de suas
características grande biodiversidade, percebida ao longo de todo território.
Na flora a riqueza de espécies, ocorre em diferentes biomas, associada à
variações de clima, relevo e solo. Outro aspecto marcante é a diversidade
cultural e sócio-econômica de sua população.
A atividade agrícola também é muito diversificada, conseqüência
de diferentes padrões ambientais e culturais, resultando em vários tipos de
sistemas agrários1: uns mais compatíveis com as condições ambientais
existentes e outros responsáveis pela grande perda de biodiversidade e
degradação dos recursos naturais.
A capacidade de conservação in situ da biodiversidade e dos
recursos naturais pelos agricultores tradicionais já é comprovada. Esses
agricultores encontram-se mais próximos à terra e possuem amplo
conhecimento sobre a natureza. Possuem técnicas de manejo, acumulada
ao longo de gerações, baseadas na compreensão aprofundada sobre o
ambiente em que vivem (Goméz-Pompa & Kaus, 1992; Hildebrant, 1987;
Caballero, 1986). Esta particularidade permitiu a esses agricultores
construírem uma agricultura própria, otmizando apenas os recursos naturais
disponíveis (Azevedo, 2003).
No contexto atual de desaparecimento de informações vinculadas
ao saber tradicional, devido ao abandono e substituição por modelos
1 “Expressão conceitual de um tipo de agricultura historicamente constituído e geograficamente localizado, composto de um ecossistema cultivado característico e de um sistema social produtivo definido. É caracterizado pelos tipos de instrumentos, de energia, de particularidades dos procedimentos técnicos e de conhecimentos utilizados, bem como das relações sociais envolvidas” (Mazoyer e Roudart , 2001).
2
diferentes, surge a importância de estudos voltados para essa categoria de
agricultores. A conservação da diversidade biológica está intimamente
relacionada com a manutenção da diversidade cultural. Portanto,
“compreender, resgatar e divulgar a importância do conhecimento tradicional
não apenas enriquece a ciência, como também pode gerar hipóteses e
direcionar pesquisas futuras”, contribuindo dessa forma com novas
possibilidades para agricultura e a conservação da biodiversidade (Diegues,
1994).
A presente pesquisa, de caráter exploratório e descritivo, teve
como objetivo entender como os agricultores da comunidade Santana,
utilizam e manejam a vegetação nativa, partindo da hipótese de que o papel
estratégico dos recursos florestais nativos de uma Unidade Produtiva (UP) é
o somatório da necessidade de conservá-lo, devido sua importância na UP,
com a necessidade de eliminá-lo, para que seja possível a implantação de
roças e pastagens. Para tanto, os objetivos específicos incluíram: descrever
os processos de manejo da vegetação nativa; identificar os recursos da flora
nativa utilizados pelos agricultores; quantificar e valorar os recursos
madeireiros nativos de uso direto nas UPs.
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Manejo e uso dos recursos da vegetação nativa.
Os estudos etnocientíficos, com as suas variadas ramificações
(etnobiologia, etnobotânica, etnosilvicultura, etnoagronomia etc), em que as
comunidades tradicionais e indígenas desempenham papel fundamental,
têm ganhado força nos últimos anos. Segundo Diegues (2000), a etnociência
parte da lingüística para estudar o conhecimento das populações humanas
sobre os processos naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao
conhecimento humano do mundo natural. A etnociência conjuga a base do
saber das ciências naturais com as ciências sociais, a fim de conhecer a
classificação e o uso dos recursos naturais por parte de comunidades
tradicionais e indígenas, e em que medida se detecta a influência humana
na manipulação e manutenção de sistemas ecológicos (Balée, 1989; Posey,
1984).
A etnobiologia, uma das ramificações da etnociência é definida
como o “estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por
qualquer sociedade a respeito da biologia. Em outras palavras, é o estudo
do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a
determinados ambientes. Neste sentido, a etnobiologia relaciona-se com a
ecologia humana, mas enfatiza as categorias e conceitos cognitivos
utilizados pelos povos em estudo” (Posey, 1986).
A etnobotânica, outro segmento da etnociência, se ocupa no
estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer
sociedade a respeito do mundo vegetal; este estudo engloba tanto a maneira
como o grupo social classifica as plantas e os usos que dão a elas. Por meio
da etnobotânica, são analisadas as relações entre os seres humanos e os
4
recursos vegetais, procurando responder questões como: quais plantas
estão disponíveis, quais plantas são reconhecidas como recursos, como o
conhecimento etnobotânico está distribuído na população, como os
indivíduos diferenciam e classificam a vegetação, como esta é manejada e
quais os benefícios derivados das plantas (Posey, 1986). Portanto, muitos
aspectos despertam a atenção na pesquisa etnobotânica, como os alimentos
utilizados na região, materiais utilizados na construção, os recursos
utilizados como lenha, as práticas de agricultura, domesticação de plantas
dentre outros (Alcorn, 1989). Nos últimos anos os estudos etnobotânicos
também vêm tentando quantificar o potencial utilitário revelado pelo
conhecimento local de comunidades tradicionais e povos indígenas na busca
de alternativas aos severos desmatamentos das regiões tropicais e para a
conservação da biodiversidade (Toledo et al., 1995).
De acordo com Cardona (1985) citado por Amorozo (1996), o
termo etnobotânica é encontrado na literatura com duas conotações. A
primeira delas diz respeito à “uma verdadeira botânica científica, mas
recortada sobre o habitat, uso etc. de uma etnia específica” e seria realizada
por alguém com treinamento em botânica científica. A segunda enfoca “a
ciência botânica que possui uma etnia específica”, e seria realizada por
alguém com treinamento em antropologia e por quem se interesse como
uma dada etnia classifica seu mundo natural, sendo estas duas vertentes de
estudos complementares, o que significa na cooperação entre cientistas do
campo das ciências naturais e das ciências humanas.
Reforçando essa afirmativa, Witte (1998) escreve que a
etnobotânica tem suporte de outras ciências, já que ela possui
pesquisadores da botânica, antropologia, geografia, história, arqueologia,
sociologia etc, sendo um campo interdiciplinar que compreende o estudo e a
interpretação do conhecimento, significado cultural, manejo e usos dos
elementos da flora.
O caráter interdisciplinar que envolve a pesquisa etnocientífica é
de fundamental importância para o desenvolvimento de estudos mais
elaborados, e conseqüentemente, de maior credibilidade científica. Tendo
5
em vista a obtenção de melhores resultados, esse caráter interdisciplinar
requer mais que a simples associação de dados, requer a elaboração e
conseqüente desenvolvimento conjunto das pesquisas, conduzida por um
grande envolvimento entre diversos profissionais das áreas afins. Para que
isso seja possível é necessário que ocorra efetivamente a troca de
informações durante as várias fases da pesquisa, principalmente a
correlação entre elas, pois as informações obtidas de uma delas podem
interferir e muito nos resultados da outra, podendo até afetar a validade dos
resultados (Marques, 2002; Viertler, 2002).
De acordo com Marques (2002) o que hoje é chamado de
etnociência (ou etnociências) já emergiu no panorama científico como um
campo de cruzamento de saberes e tem evoluído por meio de um diálogo
frutífero entre as ciências naturais e as ciências humanas e sociais. Tem -se
como exemplo para estudos etnobotânicos, dependendo das circunstâncias
e de acordo com os objetivos, a associação de várias técnicas, como
entrevistas (técnica básica da pesquisa antropológica) e coleta de materiais
botânicos (técnica básica da pesquisa biológica). Podendo ainda recorrer a
outras técnicas, oriundas de várias disciplinas, dentre elas: análises
quantitativas e qualitativas, valorações econômicas e análises lingüísticas,
que são consideradas técnicas complementares, e que devem ocorrer de
forma integrada, uma dando respostas às questões que a outra não
consegue dar quando usada de forma isolada.
O uso dos recursos florestais nativos madeireiros e não-
madeireiros por comunidades tradicionais e indígenas é citado em vários
trabalhos científicos. De acordo com Tewari e Campbell (1996), mais de 500
milhões de pessoas que vivem nas redondezas das florestas tropicais
dependem de seus recursos para sobreviverem. Dubois (1996) cita o
exemplo de comunidades rurais da Amazônia (caboclos) que necessitam
dos recursos florestais para o sustento da população local, que consomem
frutos como alimento; folhas, cascas e sementes como medicamento, e
madeiras e fibras para construção de casas, utensílios e benfeitorias rurais.
Os Caiçaras, comunidade tradicional do litoral paulista, também são
6
dependentes da flora nativa para os mais diversos fins; utilizam madeira
para fabricação de móveis, embarcações e rodas de carro-de-boi, vigamento
e construções rurais, várias plantas medicinais e alimentícias, fibras para
confecção de cestos, balaios etc (Adams, 2000).
Muitas populações tradicionais manejam o ambiente em que
vivem para obtenção dos recursos da vegetação nativa. Posey (1986)
discute sobre o uso e remanejamento das florestas e savanas por povos
indígenas brasileiros, apontando a dependência de densas populações pelas
florestas secundárias manejadas. Este autor ressalta o hábito muito
difundido entre os Kayapó em transplantar espécies da flora nativa,
classificada como “agricultura nômade”, para facilitar a obtenção de
recursos.
Um estudo etnobotânico conduzido entre os índios Kayapó da
aldeia Gorotire, no sul do Pará, mostra que eles não somente usam todas as
espécies encontradas no apêtê (ilhas de vegetação), mas também plantam a
maioria dessas espécies. Das 120 espécies encontradas no inventário, 90
(75%) foram consideradas como espécies plantadas (Posey e Anderson,
1985). O manejo de cerrado pelos Kayapó parece basear-se na
heterogeneidade ambiental; esses índios aumentam a diversidade e a
manutenção de aglomerados de vegetação ricamente diversificada, dentro
de um ambiente relativamente inalterado, tanto em savanas abertas como
florestas fechadas. Esta tática de manejo visa à manutenção de
comunidades múltiplas durante gerações Baleé (1989) caracteriza algumas
formações da vegetação na floresta Amazônica como conseqüência da
manipulação humana. Nestas formações, o autor destaca algumas espécies
como indicadores de distúrbios ocorridos na vegetação primária.
Denominadas de florestas antropogênicas, essas formações são compostas
por espécies de palmeiras (inajá Maximiliana maripa, tucumã Astrocaryum
vulgare, babaçu Orbignya phalerata), bambus e algumas frutíferas como a
castanha (Bertholletia excelsa), que ocupam grandes extensões de área na
floresta amazônica.
Segundo Dubois (1990) as comunidades tradicionais da
7
Amazônia (caboclos e índios) têm modificado notavelmente a paisagem
florestal primária e secundária. Os cultivos anuais durante breves períodos
em clareiras feitas no interior de áreas com vegetação nativa têm favorecido
em muitos casos formações florestais com um número limitado de espécies
arbóreas. Quase todas estas espécies são boas colonizadoras e crescem
facilmente nestes espaços. Em muitas partes da Amazônia encontram-se
antigos bosques com predomínio da castanha (Bertholletia excelsa).
No estado do Maranhão, a palmeira babaçu (Orbignya spp.),
desempenha uma função determinante na economia regional. Esta espécie
forma maciços secundários praticamente puros, que cobrem uma superfície
de mais de 100.000km2, em locais de solos moderadamente férteis e de boa
estrutura, onde ocorreram queimadas na vegetação primária (Teixeira et al.,
2000).
Na região de Iquitos, na Amazônia peruana, agricultores praticam
uma ordenação florestal intensiva, mediante ao manejo, para obterem
produtos florestais, para consumo e para comercializar. Esses agricultores
utilizam as parcelas queimadas e plantam algumas espécies perenes como
a castanha (Bertholletia excelsa), o caju (Anacardium occidentalle) e palmito
(Euterpe precatoria) que são vendidas juntamente com carnes e couros de
animais caçados e carvão vegetal. Essas espécies são proveniente do corte
de árvores de áreas de pousio com mais de vinte e cinco anos, que serão
novamente utilizadas para agricultura temporária (Dubois, 1996).
As rápidas mudanças sociais, culturais e econômicas afetam
fortemente o conhecimento local sobre o uso de recursos naturais (Benz et
al., 2000; Caniago e Siebert, 1998; Amorozo e Gély, 1988). Os problemas
decorrentes dessa perda cultural são irreversíveis e, com ela, as
possibilidades de desenvolver sustentavelmente uma região com base na
experiência local são reduzidas. Todos esses aspectos já vêm sendo
discutidos por diversos autores (Albuquerque, 1999; Rêgo, 1999; Begossi,
1998; Diegues, 1994). Segundo (Begossi et al., 2002), o estudo das
populações humanas sob a ótica da ecologia (modelos e conceitos) é útil
para entender o comportamento humano e suas transformações, em
8
especial o de subsistência. O foco da Ecologia Humana na subsistência
deve-se aos seguintes fatores: a) as ferramentas da ecologia são aplicadas
em especial ao mundo natural; b) no mundo natural, as populações vivem
em estreita relação de consumo e dependência com o ambiente local; c) o
comportamento de subsistência inclui processos de decisões sobre como
obter, escolher e consumir recursos; d) conforme as populações tornam-se
urbanas, os processos de decisão passam a depender mais de fatores
econômicos que ecológicos.
Portanto, pelas comunidades tradicionais apresentarem fluxo
socioculturais dinâmicos fez com que Begossi (2001) fizesse comparações
entre as comunidades tradicionais aos estudos de fragmentos florestais,
analisados sob perspectivas do conceitos ecológicos de resiliência e efeito
de borda. Segundo a autora, a resiliência é determinada por uma seqüência
de liberação e re-organização, sendo considerada como a magnitude de
perturbações que podem ser absorvidas antes que mudanças em um
sistema ocorram. E a abordagem de efeito de borda está relacionada ao
isolamento e tamanho dos fragmentos florestais ou comunidades tradicionais
influenciado pelo tipo e tamanho da vizinhança. Isso pode determinar maior
ou menor conservação da “cultura tradicional”, reduzindo ou ampliando o
efeito de borda. Essas mudanças culturais fez com que a autora
classificasse as comunidades como sistemas neotradicionais, por
apresentarem elementos de sistemas tradicionais como de sistemas
recentes e emergentes. Assim as populações neotradicionais são as que
possuem tanto conhecimentos tradicionais quanto uma bagagem de novos
conhecimentos provenientes de fora. As populações apresentam novas
variedades de conhecimentos adquiridos, mas podem existir diferenças na
proporção do que é velho e do que é novo. Naturalmente, muitos
comportamentos aprendido de sociedades externas não são ecologicamente
adaptativos e nem todas as tradições podem ser consideradas como
ecologicamente “sustentáveis”. Segundo a autora, os pontos-chave são as
possibilidades de se adquirirem novas variedades, mantendo a variabilidade
para adaptação a mudanças. A fronteira cultural flexível das comunidades
9
neotradicionais pode diminuir a inércia cultural e torná-la mais acessíveis a
novos valores culturais, o que pode levar a adaptações e práticas culturais
que auxiliem a aumentar a resiliência.
10
3 . METODOLOGIA
Esta pesquisa é parte de um estudo denominado projeto Morraria,
que integra o Programa de Estudos de Sistemas Agrícolas (ProSA) da
Universidade Federal de Mato Grosso. Esse programa tem como objetivo
geral pesquisar o conhecimento tradicional, definido de maneira simplista
como conjunto de saberes de agricultores tradicionais sob diversos
aspectos. O Projeto Morraria, atualmente com seis subprojetos, busca
compreender a construção do conhecimento, o entorno agroecológico,
socioeconômico e histórico-cultural e a forma de ocupação do território por
agricultores tradicionais que habitam, por várias gerações, uma antiga área
de Sesmaria2 numa região conhecida como Morraria, no município de
Cáceres, estado de Mato Gross (MT).
3.1 Localização e características da área de estudo
A área de estudo está localizada numa região conhecida como
Morraria, cerca de 45 km do município de Cáceres, sudoeste do estado de
Mato Grosso, na latitude 16º04’00” e longitude de 57°41’00” (Figura 1).
A região possui características topográficas marcada por vales,
cercados por um conjunto de serras paralelas com altitude variando de 200 a
620 metros (BRASIL,1982). A vegetação nativa dos vales compreende
fitofisionomias que variam de cerrado, campo cerrado e cerradão e as serras
são cobertas por uma vegetação classificada como floresta estacional
2 Sesmarias são domínios titulados ou não, que quando tornados espólios permaneceram indivisos por várias gerações, sem que houvesse partilha formal, destacando-se o vínculo moral e significativo entre a terra e o parentesco. A sesmaria, que foi a primeira forma jurídica de apropriação e ocupação do território brasileiro, está extinta desde julho de 1822 (Castro, 2001).
11
decídua, que se caracteriza por perder as folhas na época mais seca (Sano
e Almeida, 1998). Atualmente, pode-se observar um mosaico de vegetação
secundária (capoeiras) em diferentes estágios de sucessão, resultante do
cultivo itinerante, e pastagens (Figura 2 e 3).
A região, que pertence ao domínio morfoclimático chamado de
Morrarias, é embasada em rochas calcárias e possui clima com duas
estações bem definidas. A precipitação pluviométricas anual está em torno
de 1.216,2 mm, com cerca de 80% das chuvas concentradas entre setembro
e abril, e uma estação seca entre maio e agosto. A temperatura média na
estação mais fria é de 21o C e 32 o C no verão (Castro, 1994).
Brasil
N
Mato Grosso
Cáceres
FIGURA 1. Localização do município de Cáceres.
12
FIGURA 2 - Vista aérea da região da Morraria, Cáceres (MT) (Fonte: SEMATUR)
FIGURA 3 - Aspecto da paisagem na comunidade Santana, Morraria, Cáceres (MT)
13
3.2. Seleção da área e dos informantes para o estudo etnobotânico.
Na primeira fase do projeto Morraria foram levantados dados
sociais, culturais e econômico de 40 unidades produtivas (UPs), das
comunidades Santana, Taquaral, Água Branca e Vila Aparecida. Nessa fase,
por meio de entrevistas fechadas (questionários) foram levantados dados
como nome completo e apelido dos agricultores, rotas migratórias, número
de membros da família, sexo, idade, nível de escolaridade, fontes de renda,
etc. A partir desses dados foi feito um diagnóstico preliminar na tentativa de
entender o modo de vida do grupo de agricultores em estudo. Essas
informações estão disponíveis no banco de dados do projeto Morraria,
portanto não serão abordadas de forma específica neste trabalho.
A comunidade Santana foi selecionada devido a existência de
agricultores tradicionais (objeto de estudo do projeto Morraria) e pela
facilidade de locomoção entre as UPs.
Foram considerados agricultores tradicionais aqueles que não se
inseriram por inteiro nos modelos tecnológicos da agricultura industrial,
baseados na intensificação do uso dos recursos naturais e na introdução de
insumos externos em seus sistemas de produção (Azevedo, 2003). De
acordo com Diegues (2000) e Diegues (1994), os agricultores tradicionais se
caracterizam:
a) pela dependência por uma estreita relação com a natureza, os
ciclos naturais (sazonalidade) e os recursos naturais renováveis com os
quais se constrói um modo de vida;
b) pelo conhecimento aprofundado da natureza e de seu ciclos que
se reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos
naturais. Esse conhecimento é transferido por oralidade de geração em
geração;
c) pela noção de território ou espaço onde os grupos sociais se
reproduz econômica e socialmente;
d) pela moradia e ocupação desse território por várias gerações,
ainda que alguns membros individuais possam ter se deslocado para os
14
centros urbanos e voltado para a terra de seu antepassados;
e) pela importância das atividades de subsistência, ainda que a
produção de mercadorias possa estar mais ou menos desenvolvidas, o que
implica numa relação com o mercado;
f) pela reduzida acumulação de capital;
g) pela importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal
e às relações de parentesco ou compadrio para o exercício das atividades
econômicas, sociais e culturais;
h) pela tecnologia utilizada que é relativamente simples, de impacto
limitado sobre o meio ambiente;
i) pela auto-identificação ou identificação pelos outros de se
pertencer a uma cultura distinta das outras.
Depois da seleção inicial da área de amostragem e das UPs, os
agricultores foram procurados, individualmente, para que fossem informados
de forma bem clara, o motivo da pesquisa e a necessidade da colaboração
deles. A seleção final dos informantes (e das UPs) só ocorreu depois que os
mesmos concordaram em participar do trabalho.
O trabalho foi realizado em 10 UPs da comunidade Santana, num
total de 11 UPs que se encaixavam no critério de seleção. Colaboram na
pesquisa 17 informantes, sendo 11 homens adultos, 3 jovens adolescentes e
3 mulheres adultas. Dos 17 informantes, 8 homens participaram das
entrevistas formais e 6 pessoas (5 homens e 1 mulher) foram considerados
como informantes-chave, assim entendidos como possuidores de
conhecimento mais extenso sobre as plantas, seus usos e do ambiente onde
vivem (Azevedo e Coelho, 2002).
Para definição de uma amostra representativa, foi usada a técnica
da escolha aleatória dos membros da comunidade até que as informações
por eles fornecidas tornassem repetitivas (Gil, 1995). Além desse
instrumento, a composição da amostra foi definida por indicações de
pesquisadores que trabalharam na primeira fase do projeto Morraria. A pesquisa etnobotânica foi utilizada como instrumento para
levantar e documentar o conhecimento tradicional dessa amostra de
15
agricultores, considerados como o grupo de pesquisa. Esse conhecimento
tradicional foi observado no que se refere à identificação, usos e manejo dos
recursos da flora nativa.
Foram realizadas seis visitas a campo, no período de maio de
2003 a dezembro de 2005, com tempo de permanência entre 1 e 17 dias,
num total de 40 dias (Tabela 1). Quando o tempo de permanência
ultrapassou 1 dia, o pernoite era realizado em acampamento no quintal de
uma das UPs selecionadas. Isto foi muito positivo para pesquisa, pois essa
estadia na “casa” de dois informantes-chave (casal) contribuiu para a criação
de um vínculo de amizade e confiança que era traduzida em vários
depoimentos orais e informais da história de vida desses e dos demais
agricultores da comunidade. O tempo de contato com os informantes tem
sido relatado como importante, e possibilita maior interação e compreensão
das inter-relações que se estabelecem (Amorozo, 1996).
TABELA 1. Visitas realizadas a campo no período de coleta de informações da pesquisa.
Visita/Data Permanência Atividades realizadas
Mai 2003 1 dia Reunião coletiva com agricultores das comunidades para apresentação do projeto Morraria.
Ago 2003 3 dias Conversa individual com agricultores da comunidade Santana para agendamento das entrevistas.
Fev 2004 17 dias Coleta de dados.
Jun 2004 1 dia Visita informal.
Set 2004 9 dias Coleta de dados.
Dez 2004 9 dias Coleta de dados.
A coleta de dados foi feita com o objetivo de levantar dados
qualitativos e quantitativos. Para isso houve a associação de várias técnicas,
como entrevistas informais e formais (semi-estruturada e abertas);
observação direta e observação participativa, caminhadas pelas UPs,
16
inventários, coleta de material botânico e registro fotográficos, conforme
recomendado por (Azevedo e Coelho, 2002; Viertler, 2002).
3.2.1. Entrevistas. Nas entrevistas formais, sempre marcadas antecipadamente,
utilizou-se o modelo semi-estruturado. Esse tipo de entrevista foi utilizado
para coleta de informações qualitativas, mais dirigidas, na qual foi preparado
um roteiro de tópicos para que não fosse esquecido nenhum aspecto
considerado previamente importante. Esse roteiro funcionou de forma
dinâmica e aberta, onde, na medida em que o informante respondia, ocorria
espontaneamente à proposição de novos tópicos a serem abordados.
As entrevistas foram registradas resumidamente de forma escrita
num diário de campo e gravadas em fita cassete de forma simultânea. A
gravação só ocorreu quando houve permissão do agricultor. Depois, as
entrevistas foram transcritas exatamente como gravadas, preservando o
modo e a fala do agricultor.
Nas entrevistas informais, as anotações não foram feitas
presencialmente, e sim pós-relato. Essas entrevistas geralmente ocorriam
durante as refeições, nas horas de descanso, nos encontros ao acaso com
agricultores (às vezes em grupo), nas caminhadas pela UP para coleta de
lenha e/ou produtos da roça e na hora de apartar o gado. As transcrições
foram feitas no mesmo dia das entrevistas, de forma a não prejudicar
qualquer informação coletada.
3.2.2. Observação direta e observação participativa
Nas atividades desenvolvidas no cotidiano dos agricultores, como
coleta de madeira para lenha, cabo de ferramentas e construção, e nas
queimadas em áreas de pastagens, foi adotada a técnica da observação
participativa, na qual o pesquisador se envolve na execução das atividades.
As informações sobre os processos de colheita, armazenagem e
beneficiamento de produtos provenientes da roça, “limpeza” de pasto,
17
acompanhamento do processo de regeneração em áreas de pousio e a
constatação do uso direto dos recursos da vegetação nativa nas UPs foram
obtidas por meio da observação direta no campo. Como sugere Azevedo e
Coelho (2002) a observação direta dos usos e dos conhecimentos sobre a
vegetação nativa, deve contar com uma contextualização das informações
obtidas para o entendimento mais completo dos processos.
3.2.3. Coleta e identificação do material botânico
A coleta de material botânico para identificação foi feito na própria
comunidade. Três informantes-chave, que possuiam bastante conhecimento
da flora local, participaram ativamente do processo de coleta que se
procedeu da seguinte forma: As espécies utilizadas foram levantadas nas
entrevistas (formais e informais), em observações direta e participativas e
nas caminhadas pelas UPs. A partir desse levantamento foi feito uma lista
das espécies com seus respectivos usos e locais de ocorrência. À medida
que se construía essa lista com entrada de novas espécies, também
procedia-se a coleta do material botânico.
Para a coleta do material botânico foi utilizado tesoura de poda,
facão, podão, prensa de madeira, jornal, papelão, fita adesiva e saco de
ráfia. Fotografias também foram utilizadas para identificar algumas espécies
de palmeiras.
Foram coletadas três amostras de cada espécie, de forma
representativa em relação ao aspecto geral da planta (filotaxia dos ramos no
galho e das folhas e quando possível ramos com flores e frutos) (Silva,
2002). Devido a proximidade dos locais de coleta, esses materiais eram
acondicionados em sacos de ráfia e levados para serem organizados e
prensados na moradia do informante.
Cada amostra era acondicionada entre folhas de jornal junto com
uma etiqueta escrita a lápis com o nome popular da espécie, data, local de
coleta e nome do informante. A etiqueta era presa ao ramo como uma fita
adesiva para evitar perda no manuseio das exsicatas. Depois desse
procedimento as amostras eram colocadas na prensa (Figura 4).
18
A coleta do material foi realizada nos últimos dias da visita a
campo no intuito de conservar características como a cor e evitar a
contaminação com fungos.
FIGURA 4 - Exsicatas para identificação botânica.
As amostras foram identificadas no herbário central da
Universidade Federal de Mato Grosso e contou com o auxílio de três
técnicos do herbário e de material bibliográfico (Lorenzi, 2002; Silva, 1998;
Lorenzi, 1992; Santos, 1987).
3.3. Análise florística e fitossociológica em áreas de pousio
(capoeiras).
As coletas de dados para o estudo florístico e fitossociológico
foram realizadas em duas áreas, uma com três e outra com oito anos de
pousio. A área total foi medida com trena e possuía 0,62 hectares (ha) para
o local com 3 anos de pousio e 0,80 ha para o local com 8 anos de pousio.
19
Em cada sítio foram alocadas duas parcelas quadradas, de 10 m x 10 m
totalizando 0,02 ha, distribuídas de forma sistemática aleatória. As parcelas
foram delimitadas com piquetes e barbante, e subdivididas em subparcelas
de 2 x 10 m a fim de facilitar a análise demográfica das plantas (Castellani,
2002).
A análise florística contou com ajuda de dois informantes-chave
que informavam o nome popular das espécies que conheciam. A coleta das
plantas amostradas seguiu os mesmos procedimentos citados no item 3.2.3.
Os dados de campos das espécies arbustivas e arbóreas foram
obtidos em um nível de abordagem: foram incluídos todos os indivíduos com
circunferência ≥ 3,0 cm medido a 15,0 cm do solo. As avaliações foram
feitas em todos os indivíduos das parcelas que atendiam esse requisito,
sendo tomados os dados de circunferência (cm) a 15,0cm do solo e altura
total (em metros). Quanto às espécies de cipós – japecanga (Smilax sp) e
tripa-de-galinha (Bauhinia glabra) foram apenas contabilizados o número de
indivíduos encontrados nas parcelas.
Na medição da circunferência utilizou-se uma fita métrica. A
altura, definida como o comprimento da base do indivíduo ao nível do solo
até o ápice foi medida com uma fita métrica aderida a uma vara de taquara.
Análise quantitativa do inventário
As estimativas dos parâmetros da estrutura horizontal, obtidas por
meio dos dados do inventário, incluíram a densidade, a freqüência e a domi-
nância. Esses parâmetros foram calculados por meio das seguintes
expressões (O’Brien e O’Brien, 1995):
A. Densidade Absoluta (DA) e Densidade relativa (DR)
An
DA ii =
em que
ni = número de indivíduos amostrados da i-ésima espécie; e A = área amostrada, em hectares.
20
100.NDADR1
iii ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∑==
S
i
em que DA i = densidade de indívíduos da i - ésima espécie; e N i = número total de indivíduos amostrados por hectare B. Freqüência Absoluta e Freqüência Relativa
100xT
ii uu
FA =
em que
ui = número de unidades amostrais com a ocorrência da i-ésima espécie; e
uT = número total de unidades amostrais.
100.FAFAFR1
iii ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∑==
S
i
em que
FAi = freqüência absoluta da i - ésima espécie
FA = freqüência de todas as espécies
C. Dominância Absoluta e Dominância Relativa
AAB
DoA ii =
sendo ABi a área basal da i-ésima espécie, expressa em m2/ha, obtida da
soma das áreas individuais a partir da fórmula do círculo = Σπd2/4, em que d
é o (diâmetro a altura de 15cm do solo).
100.DoADoADoR1
iii ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∑==
S
i
em que
DoA = Dominância absoluta total da i - ésima espécie
21
3.4. Valoração econômica dos recursos florestais de uso direto da flora nativa
Para a valoração dos recursos florestais primeiramente foram
identificados todos os recursos de uso direto da vegetação nativa nas
Unidades Produtivas. Posteriormente esses recursos foram quantificados
por meio de contagem do número de peças de madeira utilizadas e
medições do comprimento e diâmetro para madeiras cilíndricas e
comprimento, largura e espessura para madeiras serradas.
Para medir o consumo médio diário de lenha de uma casa com
quatro pessoas foram tomados dados de diâmetro e comprimento e peso de
todas as peças de madeira utilizadas no fogão durante 30 dias (Figura 5). O
volume em metros cúbicos (m3) foi calculado com base na fórmula do
volume do cilindro reto e posteriormente convertido em metro esteres (mst)
de madeira como proposto por Santos (1987).
FIGURA 5 – Medição do peso da lenha.
22
A valoração desses recursos seguiu o princípio da atribuição de um
valor monetário aos mesmos. A idéia básica é saber quanto custaria a
aquisição no mercado desses bens ou similares, ou de tecnologias
alternativas que possam substituir determinado bem (Pinedo-Vasquez et al.,
1992).
Para abordar a escala temporal da valoração (valor(R$)/ano) as
madeiras foram divididas em duas categorias: madeira branca e madeira de
cerne. As madeiras brancas são as de baixa durabilidade quando exposta ao
tempo, por isso são substituídas a cada 2 anos. A distribuição do valor no
tempo para madeiras de cerne foi considerada de 25 anos.
Foi recorrido ao uso de tecnologia alternativa de substituição
quando não havia no mercado produtos de tal natureza, e
conseqüentemente valores/preço desses bens ou de similares. Todas as
coberturas com folhas de indaiá (Attalea geraensis), palmeira típica da
região amplamente utilizada pelos agricultores em suas benfeitorias (Figuras
6 e 7), foram valoradas de com base na tecnologia alternativa de
substituição (valor de telhas de amianto).
A tomada de preço foi feita no município de Cáceres, por meio de
informações, em estabelecimentos comercias consumidores de lenha
(padarias e pizzarias), em serrarias, depósitos e importadores de madeira
(aroeira Astronium urundeuva proveniente da Bolívia).
23
FIGURA 6. Vista externa de uma moradia com cobertura de indaiá (Attalea geraensis).
FIGURA 7. Vista interna de uma moradia com cobertura de indaiá (Attalea geraensis).
24
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Manejo da vegetação nativa no cultivo da terra.
A agricultura tradicional praticada por esses agricultores guarda
influência marcante da tradição indígena (Baleé, 1989). Seus roçados e suas
roças se enquadram no sistema de pousio. Esse modelo de agricultura, que
derruba, queima e alterna, em uma mesma área, períodos de cultivo e
períodos de pousio florestal é ainda praticada em várias regiões tropicais por
agricultores vinculados ao saber tradicional (Leal, 2004; Noda, 2002;
Begossi, 2002; Adams, 2000; Kato e Kato, 2000; Altieri, 1992; Gomez-
Pompa e Kaus, 1990).
As áreas cultivadas existentes nas unidades produtivas (UPs),
apresentam roças e pastagens para criação extensiva de gado (Figuras 8 e
9). Suas roças são baseadas no policultivo e procuram atender basicamente
o consumo da família e de suas criações (porcos e galinhas). Dentre a
grande diversidade de espécies encontradas nas roças, a mandioca, o arroz,
o feijão, o milho e a banana assumem papel principal nos cultivos por serem
a base da alimentação dos agricultores e de suas criações (Tabela 2).
Todas UPs estudadas possuem roças, mesmo que não seja no
seu interior, como verificado em uma delas, que possui roças em outras
áreas por não ter local apropriado para essa atividade, reforçando o conceito
de espaço funcional3 (Azevedo, 2003).
3 A noção de território implica na existência de um determinado espaço sobre o qual o agricultor tem controle. Está, assim, associada à idéia de poder sobre um conjunto de recursos essenciais à reprodução da UP. O território pode ter dois significados. De um lado, o espaço fundiariamente destinado ao agricultor, seja por compra, assentamento ou posse. De outro lado, significa também aquele espaço que pode extrapolar o da propriedade “legalmente” estabelecida, mas que é essencial para reprodução da UP.
25
FIGURA 8 - Roça em uma unidade produtiva da comunidade Santana.
FIGURA 9 - Área de pastagem em uma unidade produtiva da comunidade Santana.
26
TABELA 2 – Espécies observadas nas roças das unidades produtivas estudadas (período: maio de 2003 a dezembro de 2004).
Nome popular Nome científico Família
Abacaxi Annanas comosus L. Bromeliaceae
Abóbora Curcubita sp. Cucurbitaceae
Amendoin Arachis hypogea Leguminoseae
Arroz Oryza sativa L. Gramineas
Banana Musa spp. Musaceae
Batata-doce Solanum sp. Solanaceae
Café Coffea arabica L. Rubiaceae
Cana-de-açucar Saccharum officinarum L. Gramineae
Cará Dioscorea sp. Dioscoreaceae
Feijão Phaseolus vulgaris L. Leguminoseae
Inhame Dioscorea sp. Dioscoreaceae
Mamão Carica papaya L. Caricaceae
Mandioca Manhiot esculenta Crantz Euphorbiaceae
Maxixe Cucumls sp. Cucurbitaceae
Melancia Citrullus vulgaris Schrad Cucurbitaceae
Milho Zea mays L. Gramineae
Pimenta Capsicum sp. Solanaceae
Quiabo Malvaceae Albelmoschus esculentus
A pecuária extensiva e a criação de pequenos animais também
fazem parte da atividade produtiva desses agricultores (Tabela 3). As
pastagens para criação de gado estão presentes em 50% das UPs
estudadas. Essa atividade é realizada em pequenas áreas e caracteriza-se
por apresentar baixa produtividade que decorre, principalmente, da escassez
de alimento durante o período seco, quando a disponibilidade de forragem
nativa e plantada é bastante reduzida. A criação de porcos e galinhas estão
presente em todas as UPs estudadas. São as principais fontes de proteína
animal desses agricultores.
27
TABELA 3 - Criação animal nas Unidades Produtivas de agricultores tradicionais da Comunidade Santana.
Criações Nº de Unidades Produtivas (UP)
Cachorro 10
Galinha d’angola 8
Galo/Galinha 10
Gato 10
Peru 5
Bovino 5
Eqüino 2
Suíno 10
Assim, quase que somente em nível de subsistência é a relação
desses agricultores com a terra. A venda externa não é a meta final para os
produtos, embora ocorra em pequena escala, pois além das dificuldades
encontradas para transportar a produção, não há aceitação no mercado das
variedades produzidas. As trocas envolvendo produtos locais por não locais
assumem relevante importância, já que serve como fonte alternativa para
aquisição de outros produtos, ou mesmo para a circulação do pouco dinheiro
que é revertido em outros elementos necessários. Essas particularidades
também foram observadas nos trabalhos de Castro (2001); Ribeiro (1998);
Moreno (1993) e Felix et al. (1984) que trabalharam com agricultores
remanescentes de áreas de sesmarias em outras localidades no estado de
Mato-Grosso.
A escolha dos agricultores do local para o cultivo de roças e
pastagens atende alguns critérios previamente definidos.
“Eu prefiro uma mata fechada, uma mata boa né, que eu vejo que é uma mata sempre levantada, fresca, que ela já mostra, indica que aquela terra já serve, pode dar certo, né, que pertence mais beira rio e cê começa a plantar já começa a produzi, que a parte de campo não
28
produzi, no campo tem a pedra, ali tem a terra pura, tem chão de areia, tudo tem ali ” (se referindo a uma área de campo próximo a sua casa).” (Sr. Catulino)
“Agente escolhe o lugar pra fazer a roça onde tem a mata mais enfaxada, quando tem mais folha, aí indica uma faixa melhor. Aqui mais na bera do rio já é terra de cultura, tem um mato mais levantado, uns paus mais grosso” (Sr. Armindo).
“Escolhe a capoera mais levantada e dexa a mais baixa, mato baixo suja muito. O brejo tem mato levantado mas não serve.” (Sr. Benedito)
“A terra que pertence o bacuri ela costuma ser boa, ela produz né, se nega pra uma coisa mas pra outra ela sai. Muitas vezes pode nega pro milho mas sai pro pasto.” (Sr. Totó)
“Na terra que tem assim, angico, peroba, ingarana, cumbaru, manduvi, cedro, essa madeira assim indica que toda planta quo cê planta sai.” (Sr. Antônio)
“Ali onde parece terra de cultura mas não é, é um pedregal, um lugar feio, lugar de pedra, aí eu dexei ele então, esse é um cerrado fraco que agente fala dele, aqui mais em cima é campo, ele tá entre o campo e a terra de cultura, onde tem aquela roça.” (Sr. Catulino)
“Onde dá terra boa dá galho grosso, onde dá galho finin é terra ruim” (Sr. Máximo)
“Aqui já derrubou e jogamo capim, aqui é cerrado. As roça a gente faz nessa faixa aqui de baixo” (Sr. Armindo)
“No campo limpo não dá prá pô braquiara não, só no mais grossin né.(se referindo a presença de espécies arbóreas). Aí pega. O proveito que agente tira é que o gado também come aquele capim, cata um pouco” (Sr. Catulino)
A análise dos depoimentos orais dos agricultores permitiu verificar
que os critérios vegetação nativa, tipo de solo e paisagem, são analisados
de forma conjunta, não havendo separação clara entre eles. Os cultivos das
roças são feitos em terrenos de maior fertilidade, geralmente associadas a
29
cursos d’água (mata ciliar). As pastagens ocupam áreas onde o terreno
possui menor fertilidade.
Essas falas relacionam o saber à percepção de relevo,
localização da terra, tipos de solos, microclima, vegetação, estágio de
sucessão ecológica, uso da terra e outros aspectos do ambiente natural.
Cada um desses aspectos tem sido abordado na literatura. Martin (1995)
em seus estudos relaciona a qualidade do solo com base na vegetação que
esse suporta, mostrando que espécies indicadoras revelam a localização de
nutrientes em solos ricos ou sítios onde a terra está erodida e lixiviada.
Azevedo (2001) também observou esse comportamento em agricultores do
Vale do Guaporé (MT), que e além de espécies indicadoras, usavam a
aparência da vegetação na classificação de determinado sítio.
Características como umidade, cor, textura e utilidade foram levantadas
como os principais critérios de classificação do sítio, verificando também
que as relações entre a distribuição do solo e topografia são freqüentemente
melhor entendidas, quando se incluiu fertilidade relativa de terras próximas
de rios e áreas florestadas (Alves, 2004). Índios Kayapó fazem suas
distinções verticais e horizontais baseadas na cor, textura e capacidade de
drenagem, o que lhes permite predizer os componentes resultantes da flora,
chamando a atenção que para cada tipo de ecozona o manejo é feito de
forma distinta, segundo suas características específicas (Posey, 1987).
A região da comunidade Santana, compõe-se de uma grande
variedade de ecótonos, mais complexa que os compartimentos
paisagísticos homogêneos reconhecidos, na divisão de cerrado, cerradão e
campo-cerrado. De acordo com a classificação dos agricultores dessa
comunidade, diversas variações podem ser percebidas na região,
mostrando a grande heterogeneidade de ambientes percebida por eles. O
mesmo acontece no trabalho de Posey (1984), na região amazônica, que
levantou quase quarenta zonas ecológicas nas variações de campos,
matas, serras e ilhas, e, que apresentavam relações específicas com
plantas e animais.
30
As roças sempre ocorrem em áreas abertas no interior da
vegetação nativa (Figura 10) e são baseadas na agricultura de corte e
queima, na fertilidade natural dos solos sem o uso de mecanização, e no
pousio da terra (depois da colheita, as clareiras são abandonadas para
permitir a renovação da cobertura vegetal e o descanso do solo). As roças
desses agricultores são chamadas de roça-de-toco ou roça-de-coivara.
FIGURA 10 – Roça-de-toco implantada no meio de uma clareira da vegetação nativa,
comunidade Santana. “Roça aqui só tem essa e uma capoera ali, que vou voltá nela daqui uns dois ano.” (Sr. Armindo)
“Tem vez que a roça fica um ano, dois ano, três ano, aí dexa levantar o mato pra fazê outra roça, aí dexa dois, três anos e volta.” (Sr. Benedito)
“Nós táva cuidando de outro lugar, aí venceu lá, agora vão vim pra cá, derrubá essa capoera.” (Sr. Armindo)
O agricultor realiza sua própria ordenação territorial rotacionando
temporalmente suas áreas de roças a fim de permitir o restabelecimento da
fertilidade do solo. O auge da produção agrícola se dá nos primeiros anos de
plantio, em que os nutrientes do solo se encontram mais disponíveis. Logo
31
após o terreno cultivado já não produz satisfatoriamente, obrigando os
agricultores a derrubarem outra porção de mata. Segundo Metzger (2000) a
quantidade e qualidade desses nutrientes dependem da fertilidade natural do
solo e da quantidade de biomassa da vegetação que anteriormente se
encontra sobre a área.
“Primeira coisa que fiz foi roçá né, roçá de foice, cortando o mais fino né, aí depois, terminei de roçá, entrei com machado derrubando o mais grosso, aí as madera que agente viu que poderia ter ficado agente dexô. Eu dexei o cedro, o ipê. O angico agente mata, ele resseca a terra, mata planta da gente. Depois que derruba deixa 30 a 60 dias e taca fogo, mas se vê que vai chovê agente queima antes disso. Nem que fica muita coivara, depois ajunta e queima de novo, é melhó que ficá a roça pra quemá. O tempo mudô, tá diferente, já quema. Porque é o seguinte, muitas vezes esse período de roçada já tem um mês ou mais de mês roçado sequim, na foice, né, aí derrubou no machado com 15 dias pode ponha fogo. Isso aconteceu naquela rocinha ali, derrubei em setembro mas só que já tava roçado de foice desde o mês de julho, comecei em julho já tinha pauzim seco, aí derrubou com oito dia de derrubado, eu tava com um companheiro aí, aí eu falei sabe o que o tempo tá bom pra chovê, vou lá punha fogo, ficou muita coivara, mas a coivara só da derrubada num foi difícil de juntá não, limpá. A coivara é depois que agente põe fogo, tá derrubado, aí o fogo entra e queima, aí sobra gaiada de pau que não quemô, aqueles varotes que não quemô, vai acatrancando a terra aí vô de machado corta e amontoa, faz um monte grande, desocupa a terra aí vem com a palha e põe fogo. Então a gente não pode segurá não. Aí vem a chuva agente tem que coivará e plantá.” (Sr. Catulino)
A limpeza da área para o cultivo segue etapas bem definidas.
Todos os agricultores citaram a mesma seqüência nesse procedimento:
limpeza da área/corte da vegetação existente - queima - plantio - colheita -
pousio, havendo algumas variações na intensidade de uso do solo e no
tempo de pousio das áreas destinadas as roças. Quanto ao calendário há
certa flexibilidade nas atividades de limpeza, mas elas ocorrem sempre no
período mais seco do ano (maio a setembro), que antecede a época de
32
plantio. A Tabela 4 mostra as atividades realizadas para a produção agrícola
ao longo do ano nas unidades produtivas.
TABELA 4 – Calendário de atividades relacionadas ao manejo da vegetação nativa para produção agrícola nas unidades produtivas da comunidade Santana.
Ecossistema Atividade Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Roçada X X
Derruba X
Queima X X
Coivara X X
Plantio X X X
Mata
ou
Capoeira
Capina X X X
Na tabela 4 quando se fala em mata, se refere a áreas que já
foram utilizada para atividades agrícolas e se encontra em estágio mais
avançado de sucessão.
As principais ferramentas utilizadas na derrubada de árvores são
a foice e o machado. Das 10 UPs estudadas, oito nunca utilizaram
motosserra no processo de abate de árvores.
“Os pau grosso agente deixa, madera grossa pro machado, dá muito trabalho.” (Sr. Máximo) “Madera grossa dá uma cansera pra derrubá, então dexa ela lá.” (Sr. Benedito)
As árvores que possuem aproximadamente diâmetro acima de 80
cm, de qualquer espécie, madeira de cerne ou madeira branca, são
deixadas em pé. Isto ocorre devido a dificuldade e ao desgaste físico para o
agricultor em abatê-las. Foram encontrados indivíduos arbóreos em áreas
de roça e pastagem, de várias espécies com circunferência a altura do peito
variando de 4,0 a 5,5 m e altura estimada de 30 m. Essas árvores são
remanescentes da vegetação primária que existia no local.
33
“Agente dexa as aroeiras, cumbaru, piúva porque já num tem muito mais, se algum dia precisá pra frente” (Sr. Armindo)
“Costuma dexá o cedro, cumbaru, aroeira, pode precisá no futuro.” (Sr. Duda)
“Tem as árvores no pasto pra fazê sombra, se tira tudo fica sem sombra pro gado. Tem a quimeira, barbatimão que também é remédio.” (Sr. Armindo)
O corte seletivo de árvores também é feito segundo outros critérios.
Além do diâmetro, como citado anteriormente, a seleção está relacionada
com as espécies que possuem algum valor de mercado ou de uso na UP,
conhecidas como madeira de cerne; quando há intenção de fazer sombra
para o gado nas pastagens; e para utilizar como mourão vivo no cercamento
das unidades de manejo das UPs (Figuras 11, 12 e 13).
FIGURA 11 - Árvore de ipê (Tabebuia sp.) como remanescente da vegetação primária em
área que atualmente está com 12 anos de pousio.
34
FIGURA 12 - Árvores no meio da pastagem para fazer sombra para o gado em uma
Unidade Produtiva da comunidade Santana.
FIGURA 13. Árvore de açoita-cavalo (Luehea sp.) usada como moirão-vivo na cerca da roça em uma Unidade Produtiva da comunidade Santana.
35
“O angico estraga o capim, aí agente tira ou mata ela e dexa lá pra pegá pra lenha depois.” (Sr. Armindo)
“O angico onde ele tá funcionando, a lavoura não sai, é tanto onde a sombra dele pega a lavoura é mais fraca, ele tem um tipo de coisa que não dêxa i pra frente, agente roleta o tronco dele, mata ele mas dexá em pé, que ele dá uma lasca pra fazer uma cerca, a galhada dá uma lenha boa, antonce dexá em pé que tem alguma serventia.” (Sr. Antônio)
“O angico resseca a terra, onde tem ele, aí tem que tirá, o que tá debaixo dele é prejudicado, num sai direito.” (Sr. Catulino)
Quando a espécie é um angico (Anadenanthera sp.) esta é
anelada na intenção de provocar a morte da planta sem derrubá-la (Figura
14). Todos agricultores afirmaram esse procedimento nas entrevista em
relação a essa espécie.
Segundo Abreu (2004), o angico sintetiza determinados
metabólitos secundários que, quando liberados no ambiente, interferem na
germinação e no desenvolvimento de outras plantas (alelopatia).
FIGURA 14 - Angico anelado na beira de uma roça de arroz e mandioca, Comunidade Santana.
36
O tamanho do roçado nas UPs varia de acordo com a capacidade
da força de trabalho da família e de suas necessidades, sendo que essas,
às vezes, não são supridas em nível de cada sistema de produção.
“Área de roça hoje tem uma ali, pequinininha, dá uma base de 50 braças por 25, duas tarefas de 25, uma chacrinha de nada.” (Sr. Armindo)
A área de roçado variou de 0,3 a 0,7 ha. A unidade de medida
local mais comum adotada pelos agricultores da comunidade Santana, é o
sistema de braças, onde cada braça corresponde a 2,20 m de comprimento.
A Tabela 5 mostra outras unidades de medidas utilizadas pelos agricultores.
37
Tabela 5 - Unidades de medidas adotadas pelos agricultores tradicionais da comunidade Santana
Unidades Braças Braças quadradas
Metros m2 Hectares Alqueires
Tarefa mínima 12 12 x 12 26,4 x 26,4 696,96 0,070 0,029
Tarefa de 15 15 15 x 15 33,0 x 33,0 1,089 0,1406 0,045
Tarefa de 25 25 25 x 25 55,0 x 55,0 3.025 0,3025 0,125
2 alqueirinhos 100 100 x 100 220,0 x 220,0 48.400 4,84 2
A metade de 100 braças quadradas
- 100 x 50 220,0 x 110,0 24.200 2,42 1
Tarefa 10 x 12 - 10 x 12 22,0 x 26,4 580,8 0,058 0,024
Tarefa de 30 30 30 x 30 66,0 x 66,0 4.356 0,436 0,180
Tarefa de 40 40 40 x 40 88,0 x 88,0 7.744 0,774 0,320
Tarefa de 12 x 14 - 12 x 14 26,4 x 30,8 813,12 0,081 0.033
Fonte: Elaborado a partir dos depoimentos dos agricultores da comunidade Santana (Informação pessoal).
38
Apenas duas UPs utilizaram trator no preparo da área para
implantação de pastagem. Esse fato confirma a predominância de
ferramentas manuais de menor impacto ao ambiente.
“A terra tá com a natureza que veio mesmo. A terra mecanizada fica boa, só que acaba ligeiro. A chuva carrego o polvilho. É difícil tê uma terra que só empoça né. Mecaniza ela, o polvilho vai embora na água.” (Sr. Antônio) “Na terra mecanizada, num sai muito broto, então não encapoera direito, só sai mato finim.” (Sr. Duda) “Vem os broto da terra, das planta que tinha, raiz né, sai da terra. A raiz que tá guardada e volta” (Sr .Catulino)
Os agricultores têm certa resistência ao uso de trator por terem
pequenas áreas de cultivo e por esse implemento causar degradação do
solo. Segundo os relatos, o uso da mecanização prejudica as brotações das
raízes das árvores que saem do solo nas áreas que estão em pousio. Isso
retarda o processo de sucessão secundária da vegetação nativa, aumentado
o tempo para o reestabelecimento da capoeira. A capoeira desempenha
uma série de funções importantes. Entre as principais estão o acúmulo de
nutrientes na biomassa vegetal durante o tempo de pousio, o melhoramento
da estrutura do solo (Goss, 1991), a conservação da mesofauna e
microfauna subterrânea (Diekmann, 1997), a supressão do crescimento de
ervas daninhas (Wiesenmüller, 2000). Além disso, a capoeira possui
importância prática e econômica: fornece lenha; material para construção,
produtos de uso extrativista e plantas medicinais (Homma, 1993). Em termos
biológicos, a capoeira é essencial para conservação da biodiversidade e
constitui um importante reservatório genético (Copabianco, 2001). Segundo (Wiesenmüller, 2004), agricultores tradicionais da região
de Capitão-do-Poço (PA) que utilizaram tratores para preparo de plantios,
realizando destocamento com a intenção de impedir o crescimento da
vegetação lenhosa, mais aração e gradagem, em áreas com menos de 2 ha
citaram os efeitos negativos dessa prática, e em nenhum caso os
39
agricultores consideraram essa técnica em substituição ao preparo manual.
A razão mais freqüente relatada está relacionada aos custos elevados, que
não foram compensados por aumentos na produção e nas perdas, até totais,
em monoculturas de feijão e pimenta-do-reino, que segundo o autor, podem
estar relacionadas a diminuição da capacidade de armazenamento de água
nas camadas superficiais após o preparo do solo. Todas as áreas
mecanizadas com plantios temporários foram abandonadas depois da
primeira colheita. O autor comenta que essas áreas geralmente ficaram
improdutivas, pois associações de plantas invasoras substituíram a capoeira
e dificultaram e até impediram o crescimento de espécies lenhosas.
Diekmann (1997) também verificou esses fatos na região da
Bragantina (AM) e alertou sobre a diminuição da disponibilidade de
nutrientes para plantas cultivadas como conseqüência do preparo
mecanizado. Janssen e WienK (1990) consideram a mecanização contínua
inapropriada para agricultores tradicionais, principalmente pelos impactos no
agroecossistema. Eles acrescentam que esse tipo de preparo pode ser
realizado somente mediante a altos insumos financeiros.
A Figura 15 ilustra uma área de roça abandonada ha oito meses,
após ter sido cultivada sem o uso de mecanização no preparo do solo, onde
percebe-se uma diversidade de espécies nativas e algumas espécies
agrícolas que existia na roça.
40
FIGURA 15 - Área abandonada ha oito meses, após ter sido cultivada sem uso de mecanização no preparo do solo. Detalhe para muda de gonçaleiro, cumbaru, pés de mandioca e mamão.
O manejo de brotações em áreas de pastagens também assume
um importante papel na manutenção da fertilidade dessas áreas.
“É capoera né, mas fala pasto né. Como ele taí agente vai procurar limpá, arrumá tudo certinho, quando limpa é pasto, desse jeito aí agente considera também como pasto, tá plantado braquiara, mas no momento tá encapoerado. É o sistema da gente vivê né. É uma capoera danada, fui formando devagar, sapecava uma bolinha, plantava capim, aí roçava, num tava muito apresado, aí roçava, sujou, roçava. Agora o pasto tá baixo, rapado, num carece de fogo. Agora se ele crecê e ficá macegoso, seco, tem que punhá fogo. Mas desse jeito entro na foice e dexo o mato espaiado no chão, aí apodrece a bagacera na terra, aí o capim brota no meio dele, aí como o gado vai pisando, vai derretendo, é assim. A não ser que ficá muito alto, quando roça tem que punha fogo, é, mas igual taí num precisa. A normalidade é limpar uma, duas vez por ano. Cresce muito rápido, tá fechado mas tá fino. O bom que esse mato derrete na terra.” (Sr. Catulino)
41
O manejo das brotações de algumas espécies arbóreas nativas
que ocorrem no meio do capim em áreas de pastagem pode ser visualizado
na Figura 16.
FIGURA 16 - Pasto em área onde não houve preparo do solo com máquina. Detalhe no manejo da rebrota da vegetação nativa adotado pelo agricultor. Mais atrás uma área com vegetação nativa em pousio de 10 anos. (Foto tirada em março de 2004)
Esse método de construção da fertilidade do solo com o
aproveitamento da vegetação nativa, baseados na ciclagem de nutrientes,
diminui o empobrecimento do solo da pastagem. Se agricultores como esses
ficarem na dependência de insumos externos, na forma de adubos químicos,
mais comprometido ficará seu sistema produtivo, pois os mesmos não
possuem capital para adquirí-los. Portanto, existe uma lógica nessa forma de
manejo. O que para alguns pode parecer desleixo e falta de cuidado com a
pastagem, para esse agricultor significa uma forma de diminuir as perdas de
nutrientes e manter certo nível de matéria orgânica na área, demonstrando
uma opção adaptativa ao manejo. Percebe-se dessa forma que o seu
42
conceito de pastagem é outro, diferente da maioria dos técnicos que hoje
prestam assistência no campo.
A agricultura de corte e queima se faz presente na comunidade
Santana há um longo tempo, e segundo os agricultores entrevistados a
região não possui mais florestas primárias devido a essa forma de manejo
da vegetação nativa. Um agricultor (Sr. Armindo) com 78 anos em seu relato
disse.
“Nos nascemo e sempre criemo aqui. Primero nós moremo naquela cana véia lá em baixo, depois nos passemo aqui pra cá. Já era tudo mato, capoeira levantada”
“Quando vim morá aqui, era um capoerão levantado. Já tinha sido derrubada pelos mais antigos” (Sr. Máximo)
“Cheguei aqui há mais o menos vinte quatro anos atrás. Usei a madeira da capoeira para fazê a casa, já era capoera trabalhada” (Sr. Benedito)
Os agricultores da comunidade Santana dão preferência em
derrubar a vegetação secundária (capoeira) do que a vegetação primária. Há
uma lógica nesse processo, visto que é mais fácil derrubar e queimar a
vegetação secundária do que a vegetação primária, em função do tamanho
das árvores. Gómez-Pompa e Kaus (1990) também observaram essa
preferência em relação ao manejo da vegetação nativa em agricultores
tradicionais do México no preparo de áreas para o cultivo agrícola. O mesmo
acontece com os caiçaras no litoral paulista (Adams, 2000).
Jordan e Kline (1972) citam em seus estudos sobre ciclagem de
nutrientes em florestas tropicais que a vegetação secundária, com dez ou
mais anos de pousio, não possuem necessariamente estoques de nutrientes
menor quando comparado às florestas primárias, e o banco de sementes no
solo na vegetação secundária com essa idade também é reduzido, o que
facilita o manejo das culturas agrícolas pelos agricultores. Denich (1991),
Juo e Manu (1996), Mackensen et al. (1996) e Hölscher et al. (1997),
considera-se necessário um período mínimo de sete a dez anos de pousio
para reposição das perdas de nutrientes na região do Pará. Na Mata
43
Atlântica, a floresta secundária continua a acumular biomassa por muitas
décadas, mas os nutrientes tende a acumular-se mais rapidamente na
primeira década (Whitmore, 1990).
O uso controlado do fogo na limpeza da área constitui o principal
agente fertilizador do solo, cuja acidez é neutralizada pelo alto pH das
cinzas. Após uma queimada, ocorre o aumento na concentração de todos
nutrientes do solo, ao mesmo tempo em que o nível de toxidade do alumínio
é reduzido, disponibilizando nutrientes e favorecendo o crescimento das
plantas cultivadas, além se constituir numa das principais ferramentas para a
limpeza da área, o fogo também é responsável pela aceleração da
decomposição da matéria orgânica nas camadas superiores do solo e no
controle de pragas e doenças (Denich, 1991). Esse sistema tradicional de
derruba e queima é o instrumento mais eficaz ao alcance do agricultor, por
promover a fertilização gratuita do solo e por ser um processo menos
oneroso para produção de subsistência.
Estudo realizado no início dos anos 80 na região do Ribeira,
estado de São Paulo, comparou três métodos de limpeza de terreno
recoberto por floresta secundária para fins agrícolas (plantio de milho), sem
uso do arado: queima total, sem remoção dos resíduos da vegetação;
amontoa, sem queima da biomassa (enleiramento); e remoção dos restos,
sem queima, utilizando trator de esteira e lâmina (destoca). Nessas
condições, a queima da vegetação apresentou melhores resultados em
termos de fertilidade e condições físicas do solo, resultando numa maior
produtividade das roças de milho na primeira safra (Hernani et al., 1987).
Vários autores também citam os efeitos negativos da agricultura
tradicional de corte e queima para o ambiente de forma geral. No trabalho
desenvolvido por Mackensen et al. (1996) foram quantificadas as principais
perdas de nutrientes desse sistema. Depois da queimada, apenas uma
fração dos nutrientes armazenados na vegetação fica disponível para o
sistema de produção em forma de cinzas. Significantes proporções de
nitrogênio, enxofre, magnésio, potássio e cálcio (até 98%, 68%, 33%, 43%,
31%, respectivamente) perdem-se na queima por volatilização e transporte
44
de partículas na fumaça. Além de nutrientes essenciais, também 98% do
carbono estocado na biomassa entra na atmosfera. Além das perdas de
nutrientes, foi observado que as repetidas queimadas ocasionaram aumento
na infestação de gramíneas e ciperáceas (Kanashiro e Denich, 1998).
Segundo esses autores o uso inadequado do fogo pode provocar a
destruição dos mecanismos biológicos de reposição da vegetação nativa e
viabilizar a formação de uma comunidade final dominada por espécies
resistentes ao fogo. Nessas áreas, a biomassa e o número de espécies não
aumentam com o tempo.
“A terra muito queimada não é boa não, sapecada é boa, se queima demais não produz.” (Sr. Antônio)
Para esse método de preparo da terra para plantio funcionar, é
necessário o respeito à freqüência de utilização das queimadas, devido ao
fato de que a maioria dos nutrientes está estocada na biomassa e não no
solo. É preciso da disponibilidade de áreas para os períodos de pousio longo
(maior que dez anos).
Diversos fatores ligados ao manejo agrícola podem influenciar a
dinâmica da paisagem em áreas de agricultura de corte e queima, em
particular o tempo de pousio, o tempo de cultivo, a proporção de terra
utilizada anualmente para o cultivo e a distribuição espacial das áreas
cultivadas (Metzger, 2000).
“Primeiro aqui era tudo comum, não tinha nada de divisão. Daqui uns tempo pra cá já foi mudando, já fazendo cerca. Nós aqui fomo empurrado pra pedra (serra). Agora ficou mais comprimento, o nosso era 50 alqueires aí... .Agora tem na base de uns 12 alqueires. De pasto é uns 10 alquieires.” (Sr Armindo)
Nessa comunidade a diminuição do tempo de pousio está
relacionado principalmente com a perda da posse da terra dos agricultores
para fazendeiros de gado e o ciclo de pecuarização a qual algumas UPs
estão submetidas atualmente (derruba – queima – plantio da roça –
45
formação de pastagem).
“Agente derruba, queima, planta a roça e depois põe capim.” (Sr. Gonçalo) “Essa roça aqui fico capoeira, eu rocei, ficou capoeira de novo, parei uns 3 anos, fiquei trabalhando pra lá, fora daqui, parei de trabalhá aqui, ficou a capoeira. Aí quando voltei de novo já tava uma capoeira com varinha assim, aí quebrei ela todinha, sapequei com fogo e formei de pasto.” (Sr. Catulino)
Um sistema agrário de uso comum da terra tem como premissa o
uso comum dos recursos naturais, que viabiliza a extração de recursos da
vegetação nativa, à agricultura de coivara (corte-queima) e o acesso comum
à pastagem, permitindo a pecuária extensiva de pequeno porte. Os
agricultores remanescentes das “Terras de Sesmarias” no Estado de Mato
Grosso são exemplos típicos desse sistema agrário (Castro 2001; Moreno,
1993; Ribeiro, 1989).
No Brasil, ainda são poucos os estudos e pesquisas sobre
espaços de uso comum e processos socioculturais a eles associados
(Diegues, 2001). Têm-se como propriedade comunal, quando os recursos
são manejados por uma comunidade identificável de usuários
interdependentes. Esses usuários excluem a ação de indivíduos externos,
ao mesmo tempo em que regulam o uso por membros da comunidade local.
Internamente à comunidade, os direitos aos recursos normalmente não são
exclusivos ou transferíveis, e sim freqüentemente igualitários em relação ao
acesso e ao uso, diferindo do livre acesso que é caracterizado pela ausência
de direitos e propriedade bem definida (Mckean e Ostrom, 1995; Fenny et al,
1990).
Como observado em diversos levantamentos de campo (Alves,
2004; Costa, 2004; Godoy, 2004; Castro, 2001; Ferreira, 1994; Ribeiro,
1989) o acesso à pastagem e as florestas foram manejadas em regime
comunal pelos agricultores das áreas de sesmarias, principalmente até
década de 70. Atualmente, depois de esse regime comunal passar por
46
modificações, principalmente no que se refere à questão fundiária e perda
da posse da terra, uma reorganização espacial da distribuição das famílias
nas terras da comunidade foi imposta. Na prática o que se observa
atualmente é que apesar dos cercamentos e o reordenamento das famílias
na área, ainda pode-se observar traços do regime comunal.
A conjugação desses fatores diferenciou os sistemas de produção
quanto a pressão dos agricultores sobre o meio biofísico. O resultado disso
foi o desaparecimento da cobertura vegetal com matas primárias e capoeiras
(vegetação secundária) com mais de 12 anos de pousio, em locais
favoráveis para cultivo. Atualmente, elas só ocorrem em áreas que não
prestam para o cultivo de roça ou pastagem. Este grau de intensificação do
uso da terra apresentou como conseqüência a exploração de áreas com até
dois a três anos de pousio, como citado em alguns depoimentos. As formas
de manejo desses agricultores vêm se modificando e incorporando novos
valores que buscam um desenvolvimento econômico para garantir suas
novas necessidades de consumo. Os agricultores têm consciência das
conseqüências negativas da mudança na forma de manejo dos recursos
naturais e esse é um dos principais problemas que enfrentam.
A redução do tempo de pousio tem levado a progressiva
diminuição do potencial de produção de biomassa das capoeiras e,
conseqüentemente, do acúmulo de nutrientes, resultando na queda
gradativa da produção agrícola por unidade de área, pois o funcionamento
dos sistemas de produção ainda continua baseado na fertilidade natural dos
solos. Nesse contexto, atualmente, os sistemas de cultivos estão sendo
orientados exclusivamente para as áreas de cobertura vegetal com
capoeiras novas, onde as parcelas agrícolas são cultivadas por um ou dois
ciclos de cultura, depois deixadas em pousio por período nunca superior a
oito anos, o que tem diminuído a produtividade dessas áreas devido ao
esgotamento dos solos e problemas com pragas e doenças.
Portanto, como relatado por Felipin et al. (2000), torna-se evidente
que essa forma de manejo, em todas as suas etapas (corte da vegetação -
queima - plantio - colheita - pousio) está relacionada com a questão da
47
disponibilidade de terras e a cobertura florestal. O abandono de áreas de
roça, ou sistema de pousio, favorece o início da sucessão secundária da
vegetação nativa, onde o tempo de regeneração desta vegetação é bastante
variável em função do tipo de vegetação anteriormente existente no local, da
intensidade de uso da área anteriormente cultivada e da disponibilidade de
áreas adequadas para a próxima roça ser aberta. A agricultura de pousio,
em determinados contextos sociais e ambientais, é exemplo de prática
ambiental adequada. Entretanto, esta constatação não exclui a necessidade
de aprimorar os conhecimentos referentes aos efeitos desta no contexto
socioeconômico e ambiental onde esta locada a parcela da população que a
pratica.
4.2. Uso dos recursos da vegetação nativa.
Durante as visitas a campo foi observado variadas formas de uso
direto dos recursos da vegetação nativa nas UPs. Para a obtenção desses
recursos os agricultores praticam o extrativismo, que é compreendido como
um conjunto de atividades de extração, quer se relacione com produtos de
origem vegetal quer se trate de produtos de procedência animal. O
extrativismo, tanto num caso como no outro, sempre se refere a produtos
ofertados pela natureza, ou seja, produtos que não são cultivados ou
criados.
A caça é uma atividade posta em ação, principalmente, com
finalidade de complementar a fonte de proteína animal (Figura 17).
O extrativismo vegetal realizado pelos agricultores da
comunidade Santana abrange um conjunto significativo de práticas. Todos
eles fazem coleta de variados produtos da flora nativa, cuja finalidade
principal é o consumo. Estes produtos (madeira, folhas de palmeiras, lenha,
plantas medicinais, frutos, cipós, taquaras, etc) são estratégicos para uso
nas UPs e prestam-se aos mais diferentes fins, todos imprescindíveis à vida
camponesa.
48
FIGURA 17 - Preparo da caça (cotia) para alimentação.
No extrativismo da madeira emprega-se, em sua maioria o
machado na derrubada das árvores, e na forma de retirada, a força do
trabalho humano e animal. Essa é uma tarefa árdua, que geralmente é
realizada pelos homens e filhos mais velhos.
No levantamento etnobotânico realizado junto aos os agricultores
foram citadas 171 etnoespécies da flora nativa, distribuídas em 50 famílias.
Dessas, 91 foram identificadas a nível de espécie, 59 a nível de gênero e 5 a
nível de família. Do total levantado, 17 espécies ficaram apenas com o nome
popular, pois não foi possível coletar material botânico, por se tratar de plantas
encontradas somente em locais distantes. Na Tabela 6 são apresentados as
etnoespécies levantadas, classificadas por família botânica, bem como seu porte
e forma de uso.
49
Tabela 6 - Relação das espécies citadas pelos agricultores da comunidade Santana, seu porte e suas formas de uso.
Legenda AL: Alimento ET: Estaca para cerca CT: Construção IB: Imbira CF: Cabo de ferramenta LE: Lenha EC: Espera de caça MD: Medicinal SB: Sombra UT: Utensílios
Família e Espécies Nome popular, Nome científico
Porte Formas de uso
ALISMATACEAE
Chapéu-de-couro (Echinodorus sp.) Herb MD
ANACARDIACEAE
Aroeira (Myracroduon urundeuva) Fr. All Arb CT; ET; MD; SB; LE
Caiá (Spondia lutea) L. Arb EC; LE
Caju (Anacardium occidentale) L. Arb AL
Cajuzinho-do-mato Arb AL
Gonçaleiro (Astronium fraxinifolium) Schott Arb CT; ET; LE
Tapiriri (Tapirira guianensis) Aubl. Arb UT
ANNONACEAE
Araticum (Annona coreacea) Mart. Arb AL
Ata-do-campo (Lughetia lanceolata) Mart Arb CT; LE
Ateira (Annona sp) Arb CT; LE
Não identificada (Unonopsis sp.) Arb LE
Pimenta-de-macaco (Xylopia aromatica) Mart. Arb CT; rolo de fumo
Pindaíba (Xylopia aromatica) (Lam.) Mart. Arb CT; rolo de fumo
Pinha-do-mato (Annona sp.) Arb AL
APOCYNACEAE
Cipó-canoinha Cipó MD
Guatambu (Aspidosperma australe) Muell. Arg. Arb CT; CF; ET; LE
Peroba-rosa (Aspidosperma sp.) Arb CT; CF; ET; LE
Perobinha (Aspidosperma sp.) Arb CT; CF; ET; LE
Mangava-mansa (Hancornia speciosa) Gomez Arb AL
ARECACEA (Palmae)
Acuri (Attalea phalerata) (Mart.) Burret Arb AL; CT; EC
Aguaçu (Orbignya speciosa) (Mart.) Barb. Rodr. Arb AL; CT
Continua...
50
Família e Espécies Nome popular, Nome científico
Porte Formas de uso
Bocaiúva (Acrocomia aculeata) (Jacq.) Lodd. Arb AL; CT; EC
Bacuri (Attalea phalerata) (Mart.) Burret Arb AL; CT; EC
Buriti (Mauritia flexuosa) Arb UT
Gueroba Arb Al
Indaiá (Attalea geraensis) Arb CT
Tucum (Bactris cuyabensis) Barb. Rodr. Arb UT
Vassoura (Allogoptera sp.) Arb CT; UT
ASTERACEAE
Assa-peixe (Vernonia sp.) Arbust MD; LE
Picão (Bidens sp.) Herb MD
BIGNONIACEAE
Ipê (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE
Ipê-amarelo (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE
Ipê-branco (Tabebuia sp.) Arb CT; CF; LE
Ipê-maniçoba (Tabebuia sp.) Arb Sem uso
Ipê-roxo (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE; MD
Caroba (Jacaranda sp.) Arb CT; LE; MD
Carobão (Jacaranda sp.) Arb CT; LE; MD
Para-tudo (Tabebuia aurea) (Manso) Arb CT; MD; LE
Pexinga (Tabebuia spp) Arb CT; CF; LE
Piúva (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE; MD
Piúva-amarela (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE
Piúva-roxa (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE; MD
Ipê-tapioca (Cybistax antisyphilitica) (Mart.) Mart. Arb CT; CF; LE
Unha-de-lagartixa (Machifadenia ungisgati) Cipó CT
BOMBACACEAE
Barriguda (Ceiba sp.) Arb LE
Imbiruçu (Pseudobombax sp.) Arb LE
Imbiruçu branco (Pseudobombax sp.) Arb LE
Paineira (Chorisia sp.) Arb UT; LE
BORAGINIACEAE
Louro-preto (Cordia glabrata) (Mart).DC Arb CT; ET; LE
Continua...
51
Família e Espécies Nome popular, Nome científico
Porte Formas de uso
BROMELIACEAE
Abacaxi-do-mato (Annanas sp.) Herb AL
Gravatá Herb Sem uso
BURSERACEAE
Mescla (Protium heptaphylum) (Aulb) March Arb CT; LE; MD
CARYOCARACEAE
Pequi (Caryocar brasiliense) Cambess. Arb AL; SB
CECROPIACEAE
Embaúba (Cecropia sp.) Arb CT (bica); MD
COMBRETACEAE
Carne-de-vaca (Combretum leprosum) Mart. Arb CT; ET; LE
Pau-de-bicho (Terminalia argentea) Arb Sem uso
Tarumarana (Buchenavia tomentosa) Eichl. Arb EC
DILLENIACEAE
Lixeira (Curatella americana) L. Arb LE; UT
EUPHORBIACEAE
Cansação (Cnidosculus cnicocodendron) Griesb. Arbust Sem uso
Cascudinho (Maprounea guianensis) M.Arg. Arb LE
Sangra-d’água (Croton sp.) Arb MD; LE
Urucurana (Croton sp.) Arb MD; LE
FLACOURTIACEAE
Chá-de-frade (Casearia sylvestris) Sw. Arb MD; LE
Espeteiro (Casearia gossypiosperma) Briquet Arb CT; ET; LE
Pururuca (Casearia rupestris) Eichler Arb CT; ET; LE
GUTTIFERA
Guanandi (Callophyllum brasiliensis) Camb. Arb CT; ET; LE
ERREREACEAE
Salsa-parrilha (Errerea sarsaparrilha) Herb MD
LAURACEAE
Caneleira (Ocotea sp.) Arb CT; ET
Canela (Nectandra sp.) Arb CT; ET
Continua...
52
Família e Espécies Nome comum, Nome científico e Autor
Porte Formas de uso
LECYTIDACEAE
Imbira (Cariniana sp.) Arb CT; ET; LE; MD; IB
Jequitibá (Cariniana sp.) Arb CT; ET; LE; MD; IB
Jequitibá-branco (Cariniana sp.) Arb CT; ET; LE; MD; IB
Pilão-de-macaco (Cariniana sp.) Arb CT; ET; LE; MD; IB
LEGUMINOSAE - CAESALPINOIDEAE
Carvão-vermelho(Diptychandra auriantica) (Mart) Arb CT; ET; LE
Guarapeira (Apuleia sp.) Arb CT; ET
Jatobá (Hymenea stigonocarpa) Mart. Ex Hayne Arb CT; ET; LE; MD
Pata-de-vaca (Bauhinia sp.) Arb LE; MD
Pé-de- boi (Bauhinia sp.) Arb LE
Tripa-de-galinha (Bauhinia glabra) Cipó CT; MD
Tripa-de-ganso (Bauhinia sp.) Cipó CT
Velame (Sclerolobium paniculatum) Benth Arb CT; ET;MD
LEGUMINOSAE - MIMOSOIDEAE
Amarelinho (Plathymenia reticulata) Benth Arb CT; ET; LE
Angico (Anadenanthera sp.) Arb CT; ET; LE
Angico-branco (Albysia sp.) Arb CT; ET; LE
Angico-branco (Acácia polyphylla) DC Arb CT; ET; LE
Barbatimão(Stryphonodendron polyphyllum) (Mart.) Arb CT; ET; LE; MD
Escorrega-macaco (Acacia polyphylla) DC Arb CT; ET; LE
Farinha-seca (Acacia polyphylla) DC. Arb CT; ET; LE
Ingá (Inga sp.) Arb ET; LE
Tamboril (Enterolobium contortisiliquum ) Morong Arb CT; ET; LE
Timbuva (Enterolobium contortisiliquum ) Morong Arb CT; ET; LE
Vinhático (Plathymenia reticulata) Benth Arb CT; ET; LE
LEGUMINOSAE - PAPILIONOIDADEAE
Abrobrão (Erytrina fusca) Lourt. Arb Sem uso
Abrobrir (Erytrina fusca) Lourt. Arb Sem uso
Angelim (Vatairea macrocarpa) (Benth.) Ducke Arb LE; MD
Cabriúva (Dalbergia sp.) Arb CT; ET; LE
Cumbaru (Dipteryx alata) Vog. Arb CT; ET; SB; AL Continua...
53
Família e Espécies Nome popular, Nome científico
Porte Formas de uso
Jacarandá (Machaerium opacum) Mart Arb CT; ET
Morcegueira (Andira inermis) (Sw.) Kunth ex DC Arb CT; ET; UT
Mulungu (Erytrina sp.) Arb MD
Sucupira-branca (Pterodon emarginatus) Vog. Arb CT; ET; MD
Sucupira-preta (Bowdichia virgilioides) Kunth. Arb CT; ET; MD
Osso-seco (Platypodium elegans) Vog. Arb CT; ET; LE
LOGANIACEAE
Quina (Strychnos pseudoquina) A St. – Hil. Arb MD
LYTHRACEAE
Carijó (Physocalina scaberrimam) Pohl. Arb CT; ET; LE
Mangava (Lafoensia pacari) A St. – Hil. Arb AL; MD; ET; CT; LE
MALPIGHIACEAE
Canjiquinha (Byrsonima verbacifolia) (L.) Rich Arb Al; LE
Mirici (Byrsonima verbacifolia) (L.) Rich Arb Al; LE
MELIACEAE
Araputanga (Swietenia macrophyla) King Arb CT; ET
Cedro (Cedrela fissilis) Vell. Arb CT
MIRYSTICACEAE
Pau-de-sebo (Virola sebifera) Aubl Arb CT; ET; LE
MONIMIACEAE
Negramina (Siparuna guianensis) Aubl. Arb MD; LE
MORACEAE
Algodão-do-mato (Brosimum sp) Arb MD
Carapiá (Dorstenia sp.) Herb MD
Mama-cadela (Brosimum gaudichaudii) Tréc. Arb CT; ET; LE; MD
Figueira (Ficus sp.) Arb SB
Figueira-mata-pau (Ficus dendrocida) HBK Arb Sem uso
MYRTACEAE
Cascudinho (Psidium sp.) Arb LE
Goiabinha (Psidium sp.) Arb EC; LE
OLEACEAE
Limãozinho (Ximenia sp.) Arb LE Continua...
54
Família e Espécies Nome popular, Nome científico
Porte Formas de uso
OPILACEAE
Tinge-cuia (Agonandra brasiliensis) Miers Arb MD; CO; LE
POACEAE
Taboca Bambu CT; UT
POLYGONNACEAE
Canjiquinha (Coccoloba cujabensis) Casar Arb EC; AL
Novateiro (Triplaris brasiliana) Cham. Arb LE
RHAMNACEAE
Cabriteiro (Rhamnidium elaeocarpum) Reiss Arb CT; ET; LE
RUBIACEAE
Cruzeirinho (não identificada) Arb Sem uso
Genipapo (Genipa sp.) Arb CT; ET; LE; CF; AL
Marmelada (Alibertia sessilis) (Vell.) K. Schum Arb AL; LE; MD
Quina-branca (Coussarea hydrangeifolia) Schult. Arb ET; LE
Veludo (Guettarda viburnoides) Cham.&Schtdl Arb LE
RUTACEAE
Mama-cadela (Zantoxylum riedelianum) Engl. Arb CT; ET; CF; LE
Mamica-de-porca (Zantoxylum rhoifolium) Lam. Arb ET; LE
SAPINDACEAE
Café-bravo (Matayba sp.) Arb LE
Camboatã (Cupania sp.) Arb CT; ET; LE; EC
Pau-de-pombo (Matayba sp.) Arb CT; ET; LE
Saboneteira (Sapindus saponaria) L. Arb ET; LE
Timbó (Magonia glabrata) A ST.-Hil. Arb CT; ET; LE
SIMAROUBACEAE
Pau-de-perdiz (Simarouba versicolor) A.St.-Hil. Arb ET; LE; MD
SMILACACEAE
Japecanga (Smilax sp.) Cipó MD
STERCULIACEAE
Chico-magro (Guazuma ulmifolia) Lam. Arb CT; ET; LE; MD
Manduvi (Sterculia striata) A St.-Hil & Naud Arb LE; AL; EC
Rosquinha (Helicteres sp.) Arb LE
Continua...
55
Família e Espécies Nome popular, Nome científico
Porte Formas de uso
TILIACEAE
Açoita-cavalo (Luehea sp.) Arb CT; ET; LE; MD
Janguadeiro (Apeiba tibourbou) Aubl Arb LE; IB; MD
Pente-de-macaco (Apeiba tibourbou) Aubl Arb LE; IB; MD
Rosquinha Arb ET; LE
ULMACEAE
Carniúba (Trema micrantha) (L.) Engl Arb LE
Periquiteira (Trema micrantha) (L.) Engl Arb LE
VERBENACEAE
Andú (Lantana sp.) Arbust LE
Tarumã (Vitex sp.) Arb AL
Gervão (Stachytarpheta cayenensis) (Lcrich) Herb MD; UT
VOLCHYSIACEAE
Cambará (Vochysia sp.)
Carvão-branco (Callistene fasciculata) (Spr.) Mart. Arb CT; ET; LE; MD
Pau-terra (Qualea grandiflora) Mart. Arb LE
ZINGIBERACEAE
Caninha-do-brejo (Costus spiralis) (Jacq) Herb MD
ESPÉCIES NÃO IDENTIFICADAS
Caja Arb
Cipó-dágua Cipó UT
Cipó-pombo Cipó UT
Faveiro Arb
Insulina Herb MD
Jassarana-do-brejo Cipó LE
Louro-branco Arb ET; LE
Mamoninha Arb LE
Moreira Arb LE
Mulher-pobre Arb LE
Pau-de-anta Arb Sem uso
Peixinho Arb LE
Pimenta-dagua Arbut Sem uso
Pitomba Arb AL
Continua...
56
Família e Espécies Nome popular, Nome científico
Porte Formas de uso
Purga-de-lagarto MD
Sapé Herb MD; CT
Seputá Arb AL
Sovadeiro Arb IB
Taiúva Arb Sem uso
As formas de uso direto dos recursos da vegetação nativa estão
associadas principalmente a construção de algumas benfeitorias (moradias,
abrigos, currais, chiqueiros, galinheiros, pontes etc), fabricação de utensílios
(pilão, cocho, peneira, vassoura, calha para captação de água etc), estaca
para cerca, confecção de cabo de ferramentas, móveis, lenha, alimentação,
espera de caça, sombra e uso medicinal.
De acordo com a Tabela 6, nota-se a diversidade de plantas
utilizadas pelos agricultores tradicionais da comunidade Santana. Existem
espécies que possuem fins bens específicos, como a quina (Strychnos
pseudoquina), usada como medicinal e o indaiá (Attalea geraensis), palmeira
que tem suas folhas utilizadas nas coberturas das moradias. E outras
espécies são mais plásticas nas suas formas de uso, a aroeira (Myracroduon
urundeuva), por exemplo, é usada como caibros, esteios, alicerce
(baldrame), estaca para cerca, lenha e uso medicinal. A peroba-rosa
(Aspidosperma sp.) é usada para caibros, esteios, cabo de ferramenta e
lenha. Dentre as espécies de cipó, a tripa-de-galinha (Bauhinia glabra), além
de ter uso medicinal, é muito utilizada nas UPs para fazer amarrios das
estruturas de madeiras (Figura 18).
FIGURA 18 - Amarrio feito com cipó tripa-de-galinha (Bauhinia glabra).
De acordo com as entrevistas e observações diretas foi possível
verificar que, apesar da grande diversidade de plantas utilizadas, existe um
grupo de 21 espécies que possuem preferência de uso e foram citadas por
todos agricultores (Tabela 7). Essas espécies são amplamente conhecidas e
utilizadas nas UPs da comunidade Santana, são plantas fornecedoras das
madeiras ditas “linheiras”, com as dimensões (comprimento e diâmetro) que
os agricultores utilizam nas suas benfeitorias. As características silviculturais
destas espécies, como rápido crescimento e capacidade de rebrota,
permitem a coleta contínua desses recursos nas capoeiras. A forma,
resistência, durabilidade e facilidade de obtenção e manejo são os principais
critérios na seleção dos recursos madeireiros nativos.
A dependência dos agricultores pelo recurso florestal estreita sua
relação com a vegetação nativa. Isso gera conhecimento sobre as
classificações fisionômicas, fenologia, características silviculturais, habitat
preferenciais e critérios de seleção e manejo da flora.
57
58
Tabela 7 - Espécies que os agricultores da comunidade Santana possuem preferência de uso.
Espécies utilizadas Formas de Uso dos Recursos Florestais Nativos Nome popular Nome científico Esteios Alicerce Cobertura Barrote Amarrio Móveis Porta e
Janela Cerca Lenha Curral e
ChiqueiroCabo de
ferramenta Aroeira Myracrodruon urundeuva X X X X Gonçaleiro Astronium fraxinifolium X X X Cumbaru Dipteryx alata X X X X Carvão-branco Callisthene fasciculata X X X X Carvão-vermelho Diptychandra auriantica X X X X Ipê Tabebuia sp. X X X X X Ata-do-campo Lughetia lanceolata X X X X Cabriteiro Rhamnidium elaeocarpus X X X X Carne-de-vaca Combretum leprosum X X X X Carijó Physocalymma scaberrimum X X X X Espeteiro Casearia gossypiosperma X X X X Guatambu Aspidosperma sp. X X X X X X X Pururuca Rapanea ferruginea X X X Tripa-de-galinha Bauhinia sp. X Indaiá Attalea geraensis X Cedro Cedrella fissilis X X Ipê-branco Tabebuia spp. X X X X X Angico Anadenanthera sp. X X Peroba Aspidosperma australe X Farinha-seca Acacia polyphylla X Canela Ocotea sp. X X
59
O agricultor busca esses recursos em diferentes locais, devido a
grande variação nas dimensões das peças de madeira utilizadas na UP. A
Figura 19 ilustra o uso de diferentes recursos da flora nativa na cozinha de
um agricultor. As folhas de indaiá (Attalea geraensis) da cobertura são
obtidas na sua maioria em área de campo. As madeiras com menores
dimensões utilizadas nas paredes (barrotes) e as taquaras de bambu são
encontradas nas capoeiras mais novas (com até 10 anos de pousio).
FIGURA 19 – Diferentes recursos utilizados na cozinha de um agricultor tradicional da comunidade Santana. Madeira, “apá”(peneira de taquara), bambu e folhas de indaiá na cobertura.
Essas informações estão coerentes com a literatura, que relata
que as espécies que fornecem esses recursos ocorrem de maneira mais
expressiva em formações abertas e capoeiras novas, sendo raras em
capoeiras antigas ou florestas primárias sombrias. São espécies
consideradas do grupo ecológico das pioneiras, possuem crescimento rápido
e madeira leve (Carvalho 1994; Lorenzi, 1991;). Outra particularidade é que
essas peças de madeira são colhidas em rebrotas de algumas espécies
arbóreas que já foram manejadas. Isto permite que o agricultor obtenha de
um mesmo indivíduo várias peças (Figura 20).
60
FIGURA 20 - Rebrota de um indivíduo arbóreo da espécie carijó (Physocalymma
scaberrimum) em uma capoeira com 8 anos de pousio. Detalhe que um indivíduo potencialmente pode fornecer três peças de madeira.
As madeiras utilizadas para fazer esteios, alicerces (baldrame),
por possuírem maior dimensão e durabilidade (FIGURA 21), são
encontradas apenas nas capoeiras em estágios mais avançados de
sucessão. Essas espécies são classificadas como secundárias e tardias
(Carvalho, 1994).
61
FIGURA 21 – Moradia de um agricultor tradicional da comunidade Santana
As Figuras de 22 a 28 ilustram variadas formas de uso direto dos
recursos da vegetação nativa nas UPs da comunidade Santana.
As espécies utilizadas para fazer cocho possuem como
característica madeira macia. São utilizadas árvores com diâmetro em torno
de 30 cm. Para fazer a calha para captação da água da chuva o agricultor
retira a camada mais macia que fica no interior do caule da bocaiúva
(Acrocomia aculeata), deixando a camada dura mais externa. A vassoura é
feito com ramos de gervão (Stachytarpheta polyura), espécie de porte
herbáceo encontrada na beira de trilhas, nos quintais e nas áreas de roças
recém abandonadas, no início de pousio. Portanto, para atender a
necessidade dos agricultores, deve haver capoeiras em vários estágios de
sucessão para que haja oferta de diferentes recursos para uso nas unidades
produtivas.
63
FIGURA 24 – Chiqueiro feito com barrotes de madeira proveniente de capoeira nova e piso de madeira de capoeira mais antiga.
FIGURA 25 - Calha de bocaiúva (Acrocomia aculeata) para coleta de água da chuva.
64
FIGURA 26 - Pinguela de tora de madeira.
FIGURA 27 - Cerca de “pau-a-pique” para evitar entrada de alguns animais silvestres e
domésticos.
65
FIGURA 28 – Vassoura feita com ramos de gervão (Stachytarpheta polyura).
A lenha é o único recurso que possui vários locais para coleta. Ela
é obtida tanto nas capoeiras (novas ou antigas) como nos restos de coivaras
das roças. Os restos de coivara são importantes fontes desse recurso,
devido à grande quantidade de madeira que não é totalmente queimada no
preparo da área para implantação das roças. A principal vantagem é a
facilidade na coleta. É também dos restos de coivara que são provenientes
as madeiras utilizadas para armazenar e bater o arroz colhido nas roças
(Figuras 29 e 30).
66
FIGURA 29 - Toras de madeiras provenientes dos restos de coivaras utilizadas para fazer pilhas de arroz no campo antes de beneficiá-lo.
FIGURA 30 - Estrutura de madeira utilizada para bater arroz
67
As plantas comestíveis silvestres são utilizadas em menor número
e o seu consumo é ocasional, não estando presente na comunidade como
elemento de complementaridade dietética. São consumidos quando ofertado
pelo ambiente e mesmo nessa situação, alguns recursos não são
procurados.
4.3. Análise florística e fitossociológica em áreas de pousio.
No levantamento florístico e fitossociológico realizado em duas
áreas de capoeiras, uma com três anos de pousio e outra com oito anos de
pousio, verificou-se que muitas das espécies utilizadas pelos agricultores
estão presentes nessas áreas.
Na capoeira com três anos de pousio, uma área de transição
entre cerrado e mata ciliar (terra de cultura) (Figura 31), foram levantadas 61
espécies, destas 52 foram identificadas, sendo pertencentes a 25 famílias
botânicas (Tabela 8). Nesta capoeira foi observado espécies arbóreas e de
cipós, dentre elas estão o guatambu (Aspidosperma sp.), o cabriteiro
(Rhamnidium elaeocarpum), a piúva (Tabebuia sp.), a ata-do-campo
(Lughetia lanceolata) e a tripa-de-galinha (Bauhinia glabra). As famílias
Annonaceae, Apocynaceae, Bignoniaceae e Sapindaceae foram as mais
representativas quanto ao número de espécies.
As espécies arbóreas foram predominantes no levantamento,
embora algumas espécies de cipó apresentaram alta densidade, como
exemplo a japecanga (Smilax sp.), espécie de uso medicinal e a tripa-de-
galinha (Bauhinia glabra).
Na parcela 1 foram inventariados 134 indivíduos, destacando-se
as seguintes espécies arbóreas: timbó (Magonia glabrata), pau-terra (Qualea
grandiflora), pata-de-vaca (Bauhina sp.), guatambu (Aspidosperma sp.) e
pau-de-bicho (Terminalia argentia). Na parcela 2 houve maior densidade de
indivíduos, perfazendo um total de 192 indivíduos amostrados; dentre as
espécies arbóreas de maior ocorrência estão: ata-do-campo (Lughetia
lanceolata), pururuca (Casearia rupestris), cabriuva (Dalbergia sp.), mamica-
de-porca (Zantoxylum rhoifolium) e a piúva (Tabebuia sp.), espécies mais
68
comuns em terra de cultura, segundo o agricultor. A Tabela 9 apresenta os
parâmetros fitossociológicos obtidos neste levantamento.
FIGURA 31 - Aspecto da capoeira com 3 anos de pousio
Das espécies presentes, cerca de 25% apresentaram distribuição
em ambas parcelas, sendo que o timbó (Magonia glaba) e a mamica-de-
porca (Zanthoxylum rhoifolium) apresentam maior número de indivíduos.
Uma comparação entre a densidade e a dominância, demonstra que as espécies mais representativas (de maior densidade) são as que possuem maior área basal relativa, ou seja, a maioria dos indivíduos ocupa mesma área. Portanto, não há dominância de nenhuma espécie em particular num período de três anos de pousio, que é caracterizado por certa homogeneidade no diâmetro dos indivíduos amostrados. Em florestas nativas (ineqüiâneas) em estágios mais avançados de sucessão, ou em clímax essa característica de homogeneidade de diâmetros não ocorre, já que algumas espécies podem ser pouco representativas e possuir maior área basal (maior dominância) que os indivíduos que possuem maior densidade (O’brien e O’brien, 1996).
69
TABELA 8 - Espécies levantadas na capoeira com três anos de pousio em uma Unidade
Produtiva da Comunidade Santana.
Nome popular Nome científico Família
Açoita-cavalo Luehea sp. Lythraceae
Algodão-do-mato Brosimum sp. Moraceae
Angico Anadenathera macrocarpa Leg. Mimosoideae
Ariticum Annona dioica Annonaceae
Arnicão Eupatorium odoratum Asteraceae
Assa-peixe Verninia sp. Asteraceae
Ata-do-campo Lughetia lanceolata Annonaceae
Barbatimão Stryphonodendron polyphyllum Leg. Mimosoideae Cabriteiro Rhamnidium elaeocarpus Rhamnaceae
Cabriúva Dalbergia sp. Leg. Papilionoideae
Café-bravo Mataiba guianensis Sapindaceae
Camboatã Cupania vernalia Sapindaceae
Canela Ocotea sp. Lauraceae
Cansação Cnidosculus cnicocodendron Euphorbiaceae
Carapia Dorstenia sp. Moraceae
Carijó Physocalina scaberrimam Lythraceae
Carne-de-vaca Combretum leprosum Combretaceae
Carobão Jacaranda sp. Bignoniaceae
Cascudinho Psidium sp. Myrtaceae
Chá-de-frade Casearia sylvestris Flacourtiaceae
Cruzeirinho Não identificada Rubiaceae
Cumbaru Dipteryx alata Leg. Papilionoideae
Espécie 1 Glateria sp. Annonaceae
Espécie 2 Conarus suberosus Conaraceae
Espécie 3 Hymantantus laciolata Apocynaceae
Espécie 4 Cupania sp. Sapindaceae
Espécie 5 Eugenia sp. Myrtaceae
Gonçaleiro Astronium fraxinifolium Anarcadiaceae
Guatambú Aspidosperma autrale Apocynaceae
Continua...
70
Nome popular Nome científico Família
Ipê-branco Tabebuia sp. Bignoniaceae
Japecanga Smilax sp. Smilacaceae
Lixeira Curatella americana Dilleniaceae
Louro Cordia sp. Boraginaceae
Louro-branco Cordia glabrata Boraginaceae
Mamica-de-porca Zantoxylum rhoifolium Rutaceae
Mandioca-brava Manihot sp. Euphorbiaceae
Marmelada Alibertia sessilis Rubiaceae
Osso-seco Platypodium elegans Leg. Papilionoideae
Paineira Chorisia sp. Bombacaceae
Pata-de-vaca Bauhinia sp. Caesalpinaceae
Pau-de-bicho Terminalia argentea Combretaceae
Pau-terra Qualea grandiflora Vochysiaceae
Peroba Apidosperma sp. Apocynaceae
Pindaíva Xylopia aromatica Annonaceae
Piúva Tabebuia sp. Bignoniaceae
Píuva-felpuda Tabebuia sp. Bignoniaceae
Pururuca Casearia rupestris Flacourtiaceae
Quaresmeira Tibouchina granulosa Melastomaceae
Timbó Magonia glabrata Sapindaceae
Tripa-degalinha Bauhinia sp. Leg. Caesapinoideae
Tucum Bactris inundata Palmae
Vassoura Allogoptera sp. Palmae
Não identificada 1
Não identificada 2
Não identificada 3
Não identificada 4
Não identificada 5
Não identificada 6
Não identificada 7
Não identificada 8
71
TABELA 9 - Parâmetros fitossociológicos na capoeira com 3 anos de pousio em uma Unidade Produtiva da comunidade Santana.
Nome DA DR(%) FA FR (%) DoA DoR(%)
Açoita-cavalo 150 0,920 1 1,316 0,062 0,248
Algodão-do-mato 50 0,307 1 1,316 0,006 0,026
Angico 50 0,307 1 1,316 0,0004 0,002
Ariticum 100 0,613 1 1,316 0,037 0,148
Arnicão 300 1,840 2 2,632 0,301 1,211
Assa-peixe 100 0,613 1 1,316 0,022 0,088
Ata-do-campo 1450 8,896 1 1,316 5,133 20,679
Barbatimão 100 0,613 1 1,316 0,074 0,298
Cabriteiro 200 1,227 2 2,632 0,085 0,343
Cabriuva 1050 6,442 1 1,316 0,413 1,664
Café-bravo 200 1,227 2 2,632 0,020 0,082
Camboatá 50 0,307 1 1,316 0,031 0,124
Canela 50 0,307 1 1,316 0,044 0,177
Cansanção 650 3,988 2 2,632 1,679 6,763
Carapiá 150 0,920 1 1,316 0,000 0,000
Carijó 150 0,920 2 2,632 0,386 1,557
Carne-de-vaca 300 1,840 1 1,316 0,800 3,224
Carobão 100 0,613 1 1,316 0,018 0,072
Cascudinho 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014
Chá-de frade 250 1,534 2 2,632 0,086 0,345
Cipó 50 0,307 1 1,316 0,019 0,079
Cruzeirinho 50 0,307 1 1,316 0,005 0,022
Cumbaru 200 1,227 2 2,632 0,017 0,070
Gonçaleiro 150 0,920 1 1,316 0,019 0,078
Guatambu 350 2,147 2 2,632 0,264 1,064
Ipê-branco 50 0,307 1 1,316 0,005 0,020
Japecanga 100 0,613 1 1,316 0,000 0,000
Lixeira 100 0,613 1 1,316 0,032 0,130
Louro 450 2,761 2,632 0,461 1,856 2 Continua...
72
Nome DA DR(%) FA FR (%) DoA DoR(%)
Louro-branco 100 0,613 1 1,316 0,026 0,103
Mamica 800 4,908 2 2,632 2,816 11,344
Mandioca-brava 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014
Marmelada 50 0,307 1 1,316 0,554 2,230
Espécie 1 100 0,613 1 1,316 0,030 0,120
Espécie 2 50 0,307 1 1,316 0,038 0,154
Espécie 3 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014
Espécie 4 50 0,307 1 1,316 0,006 0,026
Espécie 5 50 0,307 1 1,316 0,005 0,021
N identificada 1 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014
N identificada 2 50 0,307 1 1,316 0,024 0,098
N identificada 3 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014
N identificada 4 50 0,307 1 1,316 0,039 0,157
N identificada 5 100 0,613 1 1,316 0,009 0,036
N identificada 6 50 0,307 1 1,316 0,004 0,015
N identificada 7 50 0,307 1 1,316 0,005 0,020
N identificada 8 50 0,307 1 1,316 0,141 0,567
Osso-seco 150 0,920 1 1,316 0,015 0,058
Paineira 50 0,307 1 1,316 0,008 0,032
Pata-de-vaca 950 5,828 2 2,632 0,905 3,646
Pau-de-bicho 250 1,534 1 1,316 0,546 2,199
Pau-terra 1300 7,975 2 2,632 1,294 5,215
Peroba 400 2,454 2 2,632 1,193 4,808
Pindaíba 250 1,534 1 1,316 1,149 4,630
Piúva 450 2,761 2 2,632 0,596 2,402
Piúva-felpuda 100 0,613 1 1,316 0,068 0,273
Pururuca 1150 7,055 1 1,316 0,188 0,758
Quaresmeira 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014
Timbó 1400 8,589 2 2,632 5,058 20,377
Tripa-de-galinha 550 3,374 1 1,316 0,000 0,000
Tucum 200 1,227 1,316 0,038 0,153 1
Continua...
73
Vassoura 300 1,840 1 1,316 0,025 0,102
Total 16.300 100,00 100,00 24,820 100,00 DA: Densidade absoluta (no de indivíduos por hectare); DR: Densidade relativa; FA: Freqüência absoluta (no de parcelas em que ocorre a espécie); FR: Freqüência relativa; DoA: Dominância absoluta (área em m2 por hectare que cada espécie ocupa); DoR: Dominância relativa.
No total de espécies inventariadas, mais da metade possuem
algum registro de uso, e 18,0% delas não foram citadas ou o uso é
desconhecido. De acordo com o levantamento 47,5% são apontadas como
espécies utilizadas em construções rurais e 6,5% são utilizadas como cabo
de ferramentas. Para produção de energia (lenha), 65,5% das espécies
foram citadas e 21,3% para algum uso medicinal.
O inventário na capoeira com oito anos de pousio foi realizado em
um local próximo a um rio (mata ciliar) (Figura 32), sendo assim observou-se
uma mudança na composição florística, quando comparada com a capoeira
com 3 anos.
FIGURA 32 - Aspecto da capoeira com oito anos de pousio.
74
Foram encontradas 57 espécies na área amostrada, destas 44
foram identificadas, sendo pertencentes a 30 famílias botânicas (Tabela 9).
Nesta capoeira as famílias Leguminosae, Anacardiaceae, Annonaceae,
Apocynaceae, Rubiaceae e Sapindaceae foram as mais representativas
quanto ao número de espécies. Foram observados espécies como o
gonçaleiro (Astronium fraxinifolium), o guatambu (Aspidosperma sp.), a
aroeira (Myracroduon urundeuva), a piúva (Tabebuia sp.), o açoita-cavalo
(Luehea sp.) e a tripa-de-galinha (Bauhinia glabra).
Na parcela 1 foram inventariados 174 indivíduos, destacando-se
as seguintes espécies arbóreas: negramina (Siparuna guianensis), cabriteiro
(Rhamnidium elaeocarpus), gonçaleiro (Astronium fraxinifolium) e a pindaíba
(Xylopia auriantica). Na parcela 2 houve menor densidade de indivíduos,
perfazendo um total de 163 indivíduos amostrados; dentre as espécies
arbóreas de maior ocorrência estão: guatambu (Aspidosperma sp.), lixeira
(Curatella americana), cabriteiro (Rhamnidium eleocarpus) e a peroba
(Aspidosperma sp.). Na Tabela 10 estão os parâmetros fitossociológicos
obtidos neste levantamento.
Uma comparação entre a densidade e a dominância, demonstram
que as espécies mais representativas não são as que possuem maior área
basal relativa (DoR) como aconteceu na capoeira com 3 anos de pousio.
Esta afirmativa pode ser confirmada analisando como exemplo a ata-do-
campo (Lughetia lanceolata), o carijó (Physocalina scaberrimam )e a mama-
cadela (Brosimum gaudichaudii).
75
TABELA 9 – Espécies levantadas na capoeira com oito anos de pousio, em uma UP da comunidade Santana.
Nome popular Nome científico Família
Açoita-cavalo Luhea sp. Tiliaceae
Amescla Protium heptaphylum Burseraceae
Angélica Não identificada Rubiaceae
Angico Anadenanthera sp. Leg. Mimosoideae
Araticum Annona coreacea Annonaceae
Aroeira Myracroduon urundeuva Anacardiaceae
Ata-do-campo Lughetia lanceolata Annonaceae
Cabrito Rhamnidium elaeocarpum Rhamnaceae
Cabriúva Dalbergia sp. Leg. Papilionoideae
Café-bravo Matayba sp. Sapindaceae
Canela Ocotea sp. Lauraceae
Cansação Cnidosculus cnicocodendron Euphorbiaceae
Carijó Physocalina scaberrimam Lytraceae
Caroba Jacaranda sp. Bignoniaceae
Cascudinho Psidium sp. Mytaceae
Chá-de-frade Casearia sylvestris Flacourtiaceae
Chico-magro Guazuma ulmifolia Sterculiaceae
Cipó-canoinha Não identificada Apocynaceae
Embaúba Cecropia sp. Cecropiaceae
Espécie 1 Miconia albicans Melastomaceae
Espécie 2 Licania sp. Chrysonbalanaceae
Espécie 3 Palicuraia sp. Rubiaceae
Espécie 4 Hirtella sp. Chrysonbalanaceae
Espécie 5 Tibouchina sp. Melastomaceae
Espécie 6 Trichilia elegans Meliaceae
Espécie 7 Nercia hermafrodita Nyctanginaceae
Espécie 8 Myrcia albotomentosa Myrtaceae
Continua...
76
Nome popular Nome científico Família
Espécie 9 Cordia insignis Boraginiaceae
Gonçaleiro Astronium fraxinifolium Anacardiaceae
Guatambu Aspidosperma australe Apocynaceae
Indaiá Attalea geraensis Palmae
Ipê-tapioca Cybistax antisyphylitica Bignoniaceae
Jacarandá Machaerium opacum Leg. Mimosoideae
Jequitibá Cariniana sp. lecytidaceae
Limãozinho Ximenia sp. Olacaceae
Lixeira Curatella americana Dilleniaceae
Mama-cadela Brosimum gaudichaudii Rutaceae
Marmelada Alibertia sessilis Rubiaceae
Manduvi Sterculia striata Sterculiaceae
Mirici Byrsonima verbacifolia Malphigiaceae
Morcegueira Andira inermis Fabaceae
Negramina Siparuna guianensis Monimiaceae
Pata-de-vaca Bauhinia sp. Leg. Caesalpinoideae
Pau-de-pombo Matayba sp. Sapindaceae
Pente-de-macaco Apeiba tibourbou Tiliaceae
Pindaíba Xylopia aromatica Annonaceae
Piúva Tabebuia sp. Bignoniaceae
Tapiriri Tapirira guianensis Anacardiaceae
Timbó Magonia glabrata Sapindaceae
Tripa-de-galinha Bauhinia sp. Leg. Caesalpinoideae
Velame Sclerolobium Paniculatum Leg. Caesalpinoideae
Vinhático Plathymenia reticulata Leg. Mimosoideae
Não identificada 1
Não identificada 2
Não identificada 3
Não identificada 4
77
TABELA 10 - Resultado do levantamento fitossociológico da capoeira com 8 anos de pousio em uma Unidade Produtiva da comunidade Santana.
Nome popular DA DR FA FR (%) DoA DoR(%)
Açoita-cavalo 300 1,780 1 1,176 0,206 0,533
Amescla 350 2,077 2 2,353 0,354 0,916
Angélica 200 1,187 1 1,176 2,747 7,111
Angelim 50 0,297 1 1,176 0,039 0,101
Angico 50 0,297 1 1,176 6,787 17,569
Ariticum 150 0,890 1 1,176 0,186 0,483
Aroeira 200 1,187 2 2,353 0,231 0,598
Ata-do-campo 150 0,890 2 2,353 0,315 0,815
Cabrito 1150 6,825 2 2,353 0,954 2,469
Cabriúva 100 0,593 1 1,176 0,255 0,661
Café-bravo 150 0,890 2 2,353 0,032 0,082
Canela 100 0,593 1 1,176 0,141 0,364
Cansanção 400 2,374 1 1,176 0,118 0,306
Carijó 100 0,593 2 2,353 1,955 5,061
Caroba 150 0,890 2 2,353 0,035 0,091
Cascudinho 250 1,484 2 2,353 0,311 0,805
Chá-de-frade 150 0,890 2 2,353 0,324 0,840
Chico-magro 50 0,297 1 1,176 0,056 0,145
Cipó-canoinha 50 0,297 1 1,176 0,000 0,000
Embauba 200 1,187 1 1,176 1,712 4,432
Espécie 1 50 0,297 1 1,176 0,005 0,014
Espécie 2 150 0,890 1 1,176 0,039 0,101
Espécie 3 50 0,297 1 1,176 0,005 0,013
Espécie 4 50 0,297 1 1,176 0,006 0,015
Espécie 5 50 0,297 1 1,176 0,015 0,039
Espécie 6 50 0,297 1 1,176 0,003 0,009 Espécie 7 50 0,297 1 1,176 0,006 0,016
Espécie 8 50 0,297 1 1,176 0,013 0,033
Fruta-algodão 50 0,297 1 1,176 0,003 0,009
78
Nome popular DA DR FA FR (%) DoA DoR(%)
Gonçaleiro 400 2,374 1 1,176 0,295 0,763
Guatambu 1450 8,605 2 2,353 2,052 5,311
Indaiá 400 2,374 2 2,353 0,035 0,091
Jacarandá 50 0,297 1 1,176 0,004 0,012
Japecanga 950 5,638 2 2,353 0,000 0,000
Jequitibá 100 0,593 1 1,176 0,776 2,009
Limãozinho 150 0,890 1 1,176 0,100 0,260
Lixeira 750 4,451 1 1,176 1,454 3,764
Mama-cadela 50 0,297 1 1,176 1,849 4,786
Marmelada 150 0,890 1 1,176 0,146 0,378
Morcegueira 50 0,297 1 1,176 0,008 0,020
N indentificada 1 150 0,890 1 1,176 0,216 0,559
N indentificada 2 100 0,593 1 1,176 0,070 0,181
N indentificada 3 50 0,297 1 1,176 0,006 0,016
N indentificada 4 50 0,297 1 1,176 0,031 0,081
N indentificada 5 50 0,297 1 1,176 0,004 0,011
N indentificada 6 50 0,297 1 1,176 0,004 0,012
N indentificada 7 50 0,297 1 1,176 0,018 0,046
N indentificada 9 50 0,297 1 1,176 0,015 0,039
N indentificada 10 50 0,297 1 1,176 0,006 0,015
N indentificada 11 50 0,297 1 1,176 0,023 0,060
Negramina 1500 8,902 2 2,353 1,600 4,141
Orelha-de-burro 50 0,297 1 1,176 0,004 0,010
Pata-de-vaca 250 1,484 2 2,353 0,104 0,269
Pau-de-pombo 150 0,890 1 1,176 0,036 0,094
Pau-de-sebo 50 0,297 1 1,176 0,146 0,378
Pau-terra 150 0,890 2 2,353 0,158 0,408
Pente-de-macaco 50 0,297 1 1,176 0,005 0,012
Peroba 750 4,451 1 1,176 9,772 25,296
Pindaíba 850 5,045 2 2,353 0,855 2,215
Piúva 50 0,297 1 1,176 0,024 0,063
79
Nome popular DA DR FA FR (%) DoA DoR(%)
Rosquinha 50 0,297 1 1,176 0,050 0,131
Tapiriri 1100 6,528 2 2,353 1,195 3,093
Timbó 150 0,890 2 2,353 0,189 0,490
Tripa-de-galinha 1400 8,309 2 2,353 0,000 0,000
Veludo 150 0,890 1 1,176 0,326 0,843
Vinhático 150 0,890 1 1,176 0,198 0,512
TOTAL 16850 100,00 100,00 38,630 100,00 -
DA: Densidade absoluta (no de indivíduos por hectare); DR: Densidade relativa; FA: Freqüência absoluta (no de parcelas em que ocorre a espécie); FR: Freqüência relativa; DoA: Dominância absoluta (área em m2 por hectare que cada espécie ocupa) DoR: Dominância relativa.
No total de espécies inventariadas, mais da metade possuem
algum registro de uso e 17,0% delas não foram citadas ou o uso é
desconhecido. De acordo com o levantamento, 33,9% das espécies são
utilizadas em benfeitorias rurais e 6,7% como cabo de ferramentas. Para
produção de energia (lenha) 69,5% das espécies foram citadas, e 15,23%
tem algum uso medicinal.
Esta análise comprova o papel estratégico das capoeiras. Além
de elas contribuírem para o restabelecimento da fertilidade do solo no
período de pousio, elas são importantes fontes de recursos para os
agricultores tradicionais.
Algumas plantas do grupo de 21 espécies que os agricultores
mais utilizam nas UPs estão presente nas duas áreas de capoeiras. A
Tabela 11 apresenta a variação da disponibilidade dessas espécies de
acordo com a classe de diâmetro entre as duas áreas de pousio.
80
TABELA 11 – Estimativa da densidade absoluta e o número de usos das 21 espécies mais utilizadas pelos agricultores da comunidade Santana nas duas áreas de capoeiras.
Capoeira 3 anos
Capoeira 8 anos Nome
popular
Nome científico
Classe de diâmetro
DA DA
No de
usos
1,00 - 5,00 50 - 5,01 - 10,00 - - Angico
Anadenanthera macrocarpa acima de 10,01 - 50
3
1,00 - 5,00 - 150 5,01 - 10,00 - 50
Aroeira
Myracrodruon urundeuva acima de 10,01 - -
5
1,00 - 5,00 950 100 5,01 - 10,00 300 50
Ata-do-campo
Lughetia lanceolata acima de 10,01 200 -
2
1,00 - 5,00 400 1050 5,01 - 10,00 - 50
Cabriteiro
Rhamnidium elaeocarpus acima de 10,01 - 50
3
1,00 - 5,00 50 50 5,01 - 10,00 - 50
Canela
Ocotea sp. acima de 10,01 - -
2
1,00 - 5,00 150 50 5,01 - 10,00 - -
Carijó
Physocalymma scaberrimum acima de 10,01 - 50
3
1,00 - 5,00 250 - 5,01 - 10,00 - -
Carne-de-vaca
Combretum leprosum acima de 10,01 50 -
3
1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -
Carvão-branco
Callistene fasciculata acima de 10,01 - -
4
1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -
Carvão-vermelho
Diptychandra auriantica acima de 10,01 - -
3
1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -
Cedro
Cedrella fissilis acima de 10,01 - -
1
1,00 - 5,00 400 - 5,01 - 10,00 - -
Cumbaru
Dipteryx alata acima de 10,01 - -
4
1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -
Espeteiro
Casearia gossypiosperma acima de 10,01 - -
3
1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -
Farinha-seca
Acacia polyphylla acima de 10,01 - -
3
1,00 - 5,00 150 400 5,01 - 10,00 - -
Gonçaleiro
Astronium fraxinifolium acima de 10,01 - -
3
81
Capoeira 3 anos
Capoeira 8 anos Nome
popular
Nome científico
Classe de diâmetro
DA DA
No de
usos
1,00 - 5,00 300 1400 5,01 - 10,00 50
Guatambu
Aspidosperma sp. acima de 10,01 50
4
1,00 - 5,00 400 5,01 - 10,00
Indaiá
Attalea geraensis acima de 10,01
1
1,00 - 5,00 350 50 5,01 - 10,00 100
Ipê
Tabebuia sp. acima de 10,01
4
1,00 - 5,00 50 5,01 - 10,00
Ipê-branco
Tabebuia spp. acima de 10,01
3
1,00 - 5,00 200 400 5,01 - 10,00 150
Peroba
Aspidosperma australe acima de 10,01 50
4
1,00 - 5,00 1150 5,01 - 10,00
Pururuca
Rapanea ferruginea acima de 10,01
3
1,00 - 5,00 550 1400 5,01 - 10,00
Tripa-de-galinha
Bauhinia glabra
2 acima de 10,01
DA: Densidade absoluta (no de indivíduos por hectare).
As duas áreas de pousio podem ofertar algumas das espécies
que os agricultores utilizam. O carvão-vermelho (Diptychandra auriantica), o
carvão-branco (Callistene fasciculata),o espeteiro (Casearia
gossypiosperma), o cedro (Cedella fissilis) e a farinha-seca (Acacia
polyphylla) são as espécies que não foram encontradas nessas áreas.
Segundo os agricultores, essas espécies não são comuns nesses sítios.
Nessas capoeiras, pode-se verificar que as maiores densidades
de indivíduos ocorrem nas menores classes de diâmetro. A comparação
entre os diâmetros das peças de madeira que os agricultores utilizam nas
UPs, com os indivíduos disponíveis nessas áreas de pousio, mostra que
nesse estágio de sucessão, essas capoeiras só podem ofertar madeiras com
pequenas dimensões, geralmente utilizadas como barrote, cabo de
ferramenta e alguns produtos não madeireiros como ervas medicinais e
cipós. Esta avaliação aponta para necessidade de haver capoeiras em
estágios mais avançados de sucessão para atender a demanda dos
82
agricultores nos demais recursos madeireiros utilizados nas UPs.
4.4. Descrição, quantificação e valoração econômica dos recursos
florestais nativos.
Os valores monetários atribuídos aos recursos florestais de uso
direto foram divididos em cinco categorias de uso: moradia, benfeitorias
relacionadas à criação animal, cercamento das unidades de manejo das
UPs, lenha, móveis e utensílios.
As moradias dos agricultores são de madeira, construídas com a
técnica de pau-a-pique, barreadas e cobertas com folhas de indaiá, embora
também existam casas feitas de alvenaria e cobertas com telhas de amianto.
O piso é de chão batido e, em grande parte das moradias, mesmo
as construídas de alvenaria, as cozinhas são separadas das casas e são
feitas de pau-a-pique, sem ser barreadas, para diminuir o calor e a fumaça
produzida pelo fogão a lenha.
Os banheiros também são separados das casas, e as vezes nem
existem. Para tomar banho utilizam um cercado de madeira ou palha que
fica no quintal, quando não o fazem nos rios e córregos.
Para facilitar a quantificação dos recursos da vegetação nativa, as
peças de madeiras utilizadas na moradia foram divididas de acordo com a
sua função (Tabela 12).
O alicerce é a peça de madeira, que pode ser serrada ou bruta,
que fica deitada em contado com a superfície do chão e serve de base às
paredes. Essa peça possui diâmetro que varia de 15 a 25 cm e é feita com
madeira resistente e muito durável como aroeira (Myracroduon urundeuva),
carvão-branco (Callistene fasciculata) e carvão-vermelho (Dipychandra
auriantica).
O esteio é a peça de madeira de sustentação vertical que recebe
a maior carga em relação as demais estruturas. Essa peça geralmente
possui diâmetro que varia de 15 a 20 cm e dois comprimentos: um maior que
fica posicionado no meio da construção, em ambos os lados, e outro menor
que fica nos cantos. Esses dois comprimentos permitem que o telhado tenha
83
duas águas. As madeiras utilizadas para fazer esteio são resistentes e
duráveis, pois ficam em contato com a umidade do solo. A aroeira e o
cumbaru são exemplos de espécies utilizadas para esse fim.
O barrote é uma peça de madeira com várias finalidades na
construção, empregado principalmente para fazer as paredes das moradias
(casa e cozinha). Possui, em média, comprimento de 1,7 m e diâmetro de 7
a 8 cm. Várias espécies são utilizadas para esse fim, como o carijó
(Physocalymma scaberrimum), a carne-de-vaca (Combretum leprosum) e o
cabriteiro (Rhamnidium elaeocarpus). Essas peças possuem baixa
durabilidade quando em contato com umidade, necessitando substituições
freqüentes, geralmente a cada 2 anos.
As linhas e travas são peças de madeiras utilizadas de maneira
horizontal sobre a qual assentam as tesouras do telhado. As madeiras
utilizadas para esse fim possuem diâmetro em torno de 10 a 13 cm e
comprimento de 7 a 9 m. Deve apresentar resistência moderada, já que não
fica em contato com a umidade do solo, e ser leve. A ata-do-campo
(Lughetia lanceolata), o espeteiro (Casearia gossypiosperma) e o vinhático
(Plathymenia reticulata) são espécies que prestam para essa finalidade.
Caibros e ripas são empregados em armações de telhados. Os
caibros possuem diâmetro em torno de 6,5 cm e as ripas de 4,0 a 5,0 cm. As
espécies empregadas para esse fim são o guatambu e a pururuca
A taboca é uma espécie de bambu utilizada para prender os
barrotes das paredes da cozinha e para dar sustentação ao barro nas
paredes das casas, possuindo diâmetro de 3,0 a 3,5 cm.
A madeira serrada é empregada para fazer portas, janelas e
móveis. Os móveis são simples e consistem em prateleiras, bancos e mesas.
De maneira geral pode-se observar a grande quantidade de
madeira empregada nas construções das moradias dos agricultores. As UPs
1, 5, 6 e 8 foram as que tiveram menor número de peças de madeira. Esses
valores são menores porque as moradias das UPs 1 e 6 são feita de
madeira serrada adquirida no mercado, e as UPs 5 e 8 são casas feitas de
alvenaria.
84
TABELA 12 - Classificação e quantificação dos recursos madeireiros na construção das moradias (casa, cozinha, banheiro e banho) da Comunidade
Santana.
Alicerce Esteio Linha e Trava Barrote Caibro Ripa Taboca Madeira serrada
UP N°
Peças
Comp.
Total (m) N°
Peças
Comp.
Total (m) N°
Peças
Comp.
Total (m) N°
Peças
Comp.
Total (m) N°
Peças
Comp.
Total (m) N°
Peças
Comp.
Total (m) N°
Peças
Comp.
Total (m) N°
Peças
Comp.
Total (m)
1 8 34,00 25 70,10 12 58,50 82 141,70 25 70,50 23 92,00 - - - -
2 24 71,40 41 116,20 21 90,00 1011 2022,0 66 298,80 32 192,00 438 1453,0 79 73,28
3 14 46,80 25 74,60 16 82,80 400 672,00 52 186,20 62 372,00 304 1071,6 76 78,18
4 29 100,10 39 122,40 23 113,60 676 1181,8 66 242,40 101 599,00 254 755,40 169 259,60
5 6 18,00 19 68,00 14 71,50 283 476,30 16 38,40 30 180,00 64 275,20 63 62,58
6 16 54,30 19 74,10 16 77,50 20 42,80 55 137,50 18 126,00 - - 13 15,80
7 16 57,00 26 82,30 16 79,00 875 1596,0 67 210,50 48 264,00 252 1197,0 - -
8 12 34,40 19 60,20 12 54,00 560 947,20 34 81,60 62 372,00 282 974,80 61 60,23
9 12 49,50 23 69,20 13 85,90 704 1194,0 64 256,00 94 533,00 278 1265,0 45 39,28
10 16 46,60 24 75,00 17 109,60 816 1390,0 52 262,80 42 262,00 482 1523,0 180 240,90
85
As benfeitorias relacionadas à criação animal também empregam
grande quantidade de madeira (Tabela 13). Os galinheiros e chiqueiros são
feitos com madeiras que possuem baixa durabilidade, chamadas pelos
agricultores de madeira branca. Segundo as entrevistas, os chiqueiros e
galinheiros são refeitos a cada dois anos, o que chama a atenção para
necessidade de áreas com capoeiras novas para fornecer recurso madeireiro.
Na construção do curral utiliza-se, de preferência, para fazer os palanques e
mourões, madeira de alta resistência e durabilidade (aroeira ou caneleira)
conhecida como madeira de cerne. Nas varas horizontais utilizam madeiras que
são resistentes ao impacto (ipê, faveiro e outras).
Segundo o agricultor da UP 2 as peças de caneleira e aroeira do seu
curral estão com mais de 25 anos e apresentam bom estado de conservação
(Figura 33).
FIGURA 33 - Curral com mourões de caneleira (Ocotea sp.) com 25 anos de uso. Unidade
Produtiva 2.
86
TABELA 13 - Uso dos recursos madeireiros na infra-estrutura relacionada a criação animal na Comunidade Santana.
Chiqueiro Galinheiro Curral UP
Diâmetro
(cm) N° Peças
Comp. Total(m)
N° Peças
Comp. Total(m)
N° Peças
Comp. Total (m)
3,5 - 12,0 32 128,00 175 471,70 - - 13,0 - 18,0 8 8,00 9 30,00 - -
1
acima de 19 - - - - - - 3,5 - 12,0 284 682,20 58 143,00 81 186,50 13,0 - 18,0 - - 17 39,80 41 110,70
2
acima de 19 4 4,00 2 2,40 1 3,00 3,5 - 12,0 210 367,30 11 28,00 - - 13,0 - 18,0 - - - - - -
3
acima de 19 - - - - - - 3,5 - 12,0 266 648,40 196 272,00 35 90,20 13,0 - 18,0 47 705,00 - - 2 1,20
4
acima de 19 - - - - 4 8,40 3,5 - 12,0 8 23,20 - - 201 603,00 13,0 - 18,0 - - - - 66 165,00
5
acima de 19 - - - - - - 3,5 - 12,0 78 277,20 - - - - 13,0 - 18,0 14 42,00 - - - -
6
acima de 19 17 25,50 - - - - 3,5 - 12,0 97 230,00 - - - - 13,0 - 18,0 - - - - - -
7
acima de 19 - - - - - - 3,5 - 12,0 114 305,00 6 17,40 100 220,00 13,0 - 18,0 - - - - 2 5,60
8
acima de 19 3 3,90 - - 1 3,00 3,5 - 12,0 104 230,80 3 6,40 - - 13,0 - 18,0 - - - - - -
9
acima de 19 2 2,40 - - - - 3,5 - 12,0 125 229,40 58 143,00 - -
10 13,0 - 18,0 - - 17 39,80 - - Acima de 19 4 4,80 2 2,40 - -
As cercas são feitas com madeira branca e madeira de cerne; as
estacas de madeira branca, como acontece nas outras estruturas, também têm
que ser substituídas a cada dois anos. A Tabela 14 mostra a quantidade e o
valor desse recurso madeireiro nas UPs.
87
TABELA 14 - Quantificação e valoração de estacas de madeira utilizadas para fazer cerca nas Unidades Produtivas, Comunidade Santana.
Recurso Madeireiro - Cerca Madeira de Cerne N° Peças
Madeira Branca N° Peças
UP
2,20 m*
Valor (R$)
2,20 m* 4,00 m*
Valor (R$)
N° Peças Total 10,00 m*
Valor Total (R$)
1 38 506,54 - - - - 38 506,54
2 91 1.210,30 764 407 4 8.404,40 1.266 9.614,70
3 90 1.197,00 633 - - 1.392,60 723 2.589,60
4 86 2.266,10 367 - - 807,40 453 3.073,50
5 68 904,40 764 407 4 8.404,40 1.243 9.308,80
6 39 519,87 - - - - 39 519,87
7 - - 160 352,00 160 352,00
8 29 546,53 764 407 4 8.404,40 1.243 9.308,80
9 - - - - - - - -
10 414 5.518,62 - - - - 414 5.518,62 * Comprimento da peça de madeira (metros) Cotação do Dollar: U$ 1,00 = R$ 2,242
As UPs 2, 5 e 8 possuem uma roça em comum, na qual foi feito um
cercado para inibir a entrada de animais silvestres como porco-do-mato,
capivara e veado. Nesse cercado foram gastos 1221 peças de madeira com
comprimento médio de 4,0 m e 13 cm de diâmetro e 426 peças de 2,20 m de
comprimento e 10 cm de diâmetro, totalizando 1647 peças de madeira. Esse
dado pode causar certo espanto e parecer desperdício de madeira, mas na
verdade esses agricultores estão aproveitando a madeira da capoeira que foi
derrubada para a implantação da roça, portanto não se trata de desperdício e
sim aproveitamento do recurso madeireiro. Essa prática está cada vez mais em
desuso. Segundo os agricultores atualmente as capoeiras que são derrubadas
para fazer roças não chegam a produzir madeiras com essas dimensões
(comprimento e diâmetro) devido ao pouco tempo de pousio.
88
A lenha é outro recurso madeireiro usado em todas UPs, apesar de
algumas possuírem fogão a gás. O consumo de lenha foi quantificado e
valorado em uma UP com quatro pessoas, por um período de 30 dias (Tabela
15). TABELA 15 - Valor e consumo mensal de lenha em uma Unidade Produtiva da Comunidade
Santana.
No Medidas No de estacas Peso (Kg) Volume (m3 ) Estere (mst ) Valor (R$)
1 22 21,00 0,13 0,22 2,47
2 21 19,00 0,16 0,27 2,94
3 23 24,50 0,14 0,24 2,61
4 25 23,00 0,12 0,21 2,28
5 25 27,00 0,18 0,29 3,21
6 37 31,50 0,25 0,41 4,56
7 8 8,80 0,05 0,08 0,88
8 12 20,50 0,11 0,19 2,08
9* 18 25,50 0,09 0,15 1,66
10* 17 27,30 0,09 0,15 1,66
11 25 26,00 0,15 0,25 2,73
12* 14 29,61 0,08 0,13 1,47
13 * 11 22,70 0,08 0,13 1,47
14 * 13 27,10 0,08 0,13 1,47
Total 271 333,51 1,71 2,86 31,47 * Espécie utilizada: Angico (Anadenanthera macrocarpa) Cotação do Dollar: U$ 1,00 = R$ 2,242
Todos os tipos de madeira têm uso potencial para lenha nas UPs.
Apesar da preferência pelo angico (Anadenanthera macrocarpa), a facilidade de
obtenção é o principal critério de utilização do recurso lenha. Normalmente a
coleta é feita quase que diariamente, o espaço médio entre uma coleta e outra
nesse caso foi de dois dias. O consumo de lenha varia em função da espécie
utilizada, quando se usa a espécie angico, que possui maior poder calorífico
(Andrade e Carvalho, 1998), o número de estacas consumidas e o volume é
menor quando comparados a outras espécies florestais.
89
O consumo mensal foi de 2,86 mst (esteres) por mês. Sharma (1993)
em seu trabalho com agricultores tradicionais na Nicarágua, verificou o
consumo médio mensal de 2,3 mst de lenha por família com 6 a 7 membros e
3,7 mst por família com 15 a 18 membros, mostrando que a variação no
consumo de lenha não é proporcional ao número de pessoas.
Segundo Shaffler e Prochnow (2002), em capoeiras com idade entre
15 e 30 anos obtem-se em média 60 mst de lenha por hectare sem fazer corte
raso. Essa quantidade varia de região para região e também depende das
espécies da área que está sob manejo.
Na Tabela 16 está o valor do investimento em recursos madeireiros
caso os agricultores tivessem que adquirí-los no mercado. Dentro das cinco
categorias de uso dos recursos madeireiro, a moradia e estacas para cerca são
as que consomem mais madeira e conseqüentemente com maiores valores
monetários. TABELA 16 – Valoração econômica dos recursos madeireiros utilizados nas Unidades
Produtivas.
Valoração econômica total (R$)
UP Moradia Criação
animal Estaca p/
cerca Móveis e Utensílios
Ponte e Pinguela Total
1 1.767,79 895,60 506,54 101,00 160,00 3.430,93 2 9.810,90 6.919,16 9.614,70 248,00 406,67 26.999,433 5.520,20 620,40 2.589,60 234,00 424,73 9.388,33 4 8.653,02 1.056,88 3.073,50 1.065,03 470,85 14.319,285 3.620,39 4.437,94 9.308,80 236,74 406,67 18.010,546 2.463,26 1.490,89 519,87 745,10 30,00 5.249,12 7 4.777,20 290,00 352,00 22,00 - 5.441,20 8 5.377,16 1.770,96 9.308,80 338,66 406,67 17.202,259 5.776,75 251,60 - 186,56 424,73 6.639,64
10 4.902,31 827,94 5.518,62 11.798,13409,26 140,00 Cotação do Dollar: U$ 1,00 = R$ 2,242
90
Os valores monetários das UPs 2, 5 e 8 são mais elevados devido à
grande quantidade dos recursos madeireiros utilizados para cercar uma roça
que possuem em comum.
Ao incluir a escala temporal, devido ao período de durabilidade das
benfeitorias os valores monetários alteram (Tabela 17).
TABELA 17 - Custo anual dos recursos madeireiros utilizados nas Unidades Produtivas.
Valoração econômica total anual (R$/ano)
UP Moradia Criação
animal Estaca p/
cerca Móveis e Utensílios
Ponte e Pinguela Lenha* Total
1 269,98 447,95 90,98 54,40 80,00 - 943,32
2 1.664,45 727,97 4.633,28 300,66 30,27 - 7.356,63
3 975,31 224,15 837,68 121,81 212,37 - 2.371,32
4 1.649,77 1.056,88 488,67 388,71 235,43 409,32 4.228,78
5 585,92 191,34 4.564,82 105,28 30,27 - 5.477,63
6 304,00 631,35 109,00 368,67 15,00 - 1.428,02
7 1.652,48 121,00 176,00 36,67 - - 1.986,15
8 1.120,25 235,88 5.382,37 102,40 30,27 - 6.871,17
9 1.473,99 125,80 - 96,21 212,37 - 1.908,38
10 1.577,53 344,97 220,78 166,82 70,00 - 2.380,10 * consumo de lenha foi medido em apenas uma UP. Cotação do Dollar: U$ 1,00 = R$ 2,242
Quando se adiciona a escala temporal nos valores dos recursos
madeireiros percebe-se que, quanto maior o uso de madeira branca na
construção das benfeitorias, proporcionalmente maior é o valor monetário
anual. Isto acontece devido à necessidade de se trocar as peças de madeira de
dois em dois anos, o que não acontece com as madeiras de cerne, que
possuem durabilidade maior que 25 anos. Portanto, quanto maior o uso de
madeiras brancas, maior é a dependência do agricultor pela vegetação nativa.
91
5. CONCLUSÕES.
A vegetação nativa proporciona uma ampla variedade de produtos
madeireiros e não-madeireiros que vêm sendo explorado pelos agricultores há
várias gerações. Os resultados mostraram um amplo conhecimento dos
agricultores sobre o ambiente em que vivem: conhecimentos específicos sobre
os recursos naturais, formas de cultivo da terra; o uso e comportamento das
plantas (nativas ou cultivadas); a classificação de ambientes e conhecimentos
sobre tecnologias apropriadas a sua forma de manejo.
A retirada da vegetação nativa para exploração agrícola é uma
prática comum. Mas para os agricultores tradicionais da comunidade Santana,
que tiveram suas áreas reduzidas, a necessidade de retirar a vegetação nativa
para o cultivo assume papel contraditório, pois os recursos advindos dessa
vegetação são estratégicos para reprodução de suas Unidades Produtivas
(UPs).
O ciclo de pecuarização (formação de pastagens), cada vez mais
freqüente nas UPs, tem diminuído a quantidade de áreas destinadas ao pousio
florestal, e conseqüentemente diminuído a quantidade de capoeiras e recursos
da flora nativa. Essa situação pode comprometer a reprodução das unidades
produtivas, antes mesmo do esgotamento de outros recursos naturais. Esses
agricultores, com baixo poder aquisitivo de compra, necessitam de áreas com
capoeiras em diversos estágios de sucessão, para obterem os recursos
madeireiros e não-madeireiros da flora nativa, e para recuperação da fertilidade
do solo, através do pousio de áreas cultivadas.
92
Existe a necessidade de se aprofundar o conhecimento sobre a
dinâmica das capoeiras manejadas pelos agricultores, para conhecer a
distribuição horizontal e vertical das populações florestais e o potencial de
incremento no diâmetro dos indivíduos arbóreos. Dessa forma é possível de se
ter uma estimativa da disponibilidade de recursos da flora nativa para atender a
demanda das UPs ao longo do tempo e propor alternativas de uso do solo que
sejam compatíveis com o modo de vida desses agricultores.
93
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, J.C de. Potencial alelopático do angico-vermelho (Anadenanthera peregrina (L.) Speg): efeito sobre a germinação de sementes e ciclomitótico de plântula de alface (Lactuca sativa L.) e canafístula (Peltophorum dubium (Spring.) Taub.). 1997. 55p. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Lavras. Lavras.
ADAMS, C. Caiçaras na Mata Atlântica: pesquisa científica versus planejamento e gestão ambiental. São Paulo: Annablume. 336p. 2000.
ALBUQUERQUE, U. P. La importancia de los estudios etnobiológicos para establecimiento de estrategias de manejo y conservación en las florestas tropicales. Biotemas v.12. 1999. p. 31- 47.
ALCORN, J. B. Process as resouce: the traditional agricultural ideology of Bora and Huastec resouce management and its implications for reaserch. In POSEY, D. A. ; BALÉE, W. Resource management in Amazônia: indiginous and folks strategies. New York: The New York Botanical Garden, 1989. p. 63 -77.
ALVES, S.A. Percepção dos agricultores em relação ao solo e seu uso, em comunidades tradicionais, da região da Morraria, Cáceres, MT. 2004, 237p. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós Graduação em Agricultura Tropical. Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá. MT.
ALTIERE, M.A. Agroecologia, conocimento tradicional y desarrolo rural sustentable. Formación Ambiental, v. 3. n. 5. 1992. p. 10 -12.
94
AMOROZO, M. C de M. A abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas medicinais. In Di Stasi, L. C. Plantas Medicinais: arte e ciência. Um guia de estudo interdiciplinar . São Paulo: USP. 1996. p. 47 - 68.
AMOROZO, M.C.M.; GÉLY, A.L. Uso de plantas medicinais por caboclos do Baixo Amazonas, Barcarena, PA, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Botânica v. 4. 1988. p. 47-131.
ANDRADE, A. M. e CARVALHO, L. M. de Potencialidades energéticas de oito espécies florestais do Estado do Rio de Janeiro. Floresta e Ambiente. v. 5, n.1. p. 24 – 42. 1998.
AZEVEDO, R.A.B de. Os agricultores tradicionais e a agronomia: a difícil compatibilidade dos modelos conceituais. In: COELHO,M de F.B; COSTA J.P.; DOMBROSKI, J.L.D. Diversos olhares em etnobiologia, etnoecologia e plantas medicinais. Cuiabá: Unicen, 33 - 44, 2003 p.
AZEVEDO, R.A.B de e COELHO,M de F.B. Métodos de investigação do conhecimento popular sobre plantas medicinais. In: RODRIGUES,A.G; ANDRADE, F.C. de; COELHO, F.M.G; COELHO,M de F.B.; AZEVEDO, R.A.B de; CASALI, V.W.D. Plantas medicinais e aromáticas: etnoecologia e etnofarmacologia. Viçosa: UFV, Departamento de Fitotecnia, 2002, 320p.
AZEVEDO, R.A.B de. Indicadores Agronômicos em Unidades de Produção de Agricultura Familiar. Viçosa. 2001, 306 f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
BALÉE, W. The culture of Amazonian Forests. In: POSEY, D.A.; BALÉE, W. Resource Management in Amazonia: indigenous and folk estrategies. Economic Botanic. v.7. p. 1 – 21. 1989.
BALÉE, W.; GÉLY, A. Maneged forest succession in Amazonia: the Kaapor case. In: POSEY, D.A.; BALÉE, W. Resource management in Amazonia: indigenous and folk estrategies. Economic Botanic. v.7. p. 129 – 158. 1989.
95
BENZ, B.F.; CEVALLOS, J.; SANTANA, F.; ROSALES, J. GRAFF, M. Losing Knowledge about plant use in the Sierra de Manantlan Biosphere Reserve, Mexico. Economic Botany. v. 54. p. 183 - 191. 2000.
BEGOSSI, A.; HANAZAKI. N.; SILVANO. R. A. M. Ecologia humana, etnoecologia e conservação. In: AMOROZO, M. C. de M.; MING, L. C.; SILVA, S. P. Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio Claro: UNESP. p. 93 – 128. 2002.
BEGOSSI, A. Resiliência e populações neotradicionais: os Caiçaras (Mata Atlântica) e os Caboclos (Amazônia). In: DIEGUES, A. C.; MOREIRA, A. C. C. Espaços e Recursos Naturais de Uso Comum. São Paulo. NUPAUB – USP. p. 205 – 239. 2001.
BEGOSSI, A. Extractive reserve in the Brazilian Amazon: an example to be followed in the Atlantic Forest? Ciência e Cultura. v. 50. p. 24 -28. 1998.
BORN, G.C.C. Plantas medicinais da Mata Atlântica (Vale do Ribeira - SP): extrativismo e sustentabilidade. 2000. 289f. Tese (Doutorado em Saúde Pública). Departamento de Saúde Ambiental, USP, São Paulo, SP.
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Secretaria Geral. Projeto RADAMBRASIL. Brasília. Geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro: IBGE, 1982.660p.
CABALERO, J. Etnobotanica y desarollo: La busqueda de nuevos recursos vegetables. In:IV Congresso latinoamericanode botanica. Simposio de etnobotánica. Medelin, Colômbia, ICFES n. 46, 1986.
CANIAGO, I.; SIEBERT, S.F. Medicinal plant ecology, knowledge and conservation in Kalimantan, Indonesia. Economic Botany v.52. p. 229 - 250. 1998.
96
CAMPOS,M. D. Etnociências ou etnografia de saberes, técnicas e práticas? In: AMOROZO, M. C. de M.; MING, L. C.; SILVA, S. P. Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio Claro: UNESP. p 46 – 92. 2002.
CARVALHO, P. E. R. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais, potencialidades e uso da madeira. EMBRAPA – CNPF, Centro Nacional de Pesquisas Florestais; Brasília. 1994. 640 p.
CASTELLANI, D.C. Critérios para o manejo sustentado de plantas medicinais em ecossistemas da Mata Atlântica. 2002, 294 f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
CASTRO, S. P. A festa na terra da parentalha: festeiro, herdeiros, parentes. Sesmarias na baixada cuiabana Mato-Grossense. 2001. 457p.(Tese de doutorado) - USP, São Paulo, SP.
CASTRO, L. H.; RODRIGUES, M. A.; ASSAD, E. D. Definição e regionalização dos padrões pluviométricos dos cerrados brasileiros. In: ASSAD, E. D. Chuva nos cerrados: análise e especialização. EMBRAPA Cerrados: Brasília. p. 13 - 23. 1994.
COSTA, M. Condicionantes de procedimentos técnicos de agricultores tradicionais de três comunidades da região da Morraria, Cáceres, MT. 2004.139 p (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós Graduação em Agricultura Tropical. Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá. MT.
COTTON, C.M. Ethynobotany: Principles and Applications . Chichester: Wiley, 1996, 424p.
COPABIANCO, J. P. R. Biodiversidade na Amazônia brasileira: avaliação e ações prioritárias para conservação, uso e repartição de benefícios. São Paulo: Estação Liberdade. Instituto Socioambiental. 2001. 188 p.
97
DENICH, M. Estudo da importância de uma vegetação secundária nova para o incremento da produtividade do sistema de produção na amazônia oriental brasileira. GTZ, Eschborn. 1991.
DIEGUES, A. C. Repensando e recriando as formas de apropriação comum dos espaços e recursos naturais, In: DIEGUES, A. C. e MOREIRA, .A. C. C. Espaços e recursos naturais de uso comum: NUPAUB - USP, São Paulo. 2001, 294p.
DIEGUES, A . C. Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. São Paulo: EDUSP, 2000. 210 p.
DIEGUES, A. C; ARRUDA, R. S. V; SILVA, V. C. F et al Os saberes tradicionais e a biodiversidade no Brasil:Biodiversidade e Comunidades Tradicionais no Brasil. São Paulo: NUPAUB-USP, 2000. 153 p.
DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: NUPAUB-USP, 1994. 163 p. DUBOIS, J.C.L. Utilización de productos florestales madereros y no madereros por los habitantes de los bosques amazónicos . Unasylva, v. 186, n.47, p. 8 - 15, 1996.
DUBOIS, J.C.L. Secondary forests as a land-use resource in frontier zones of Amazonia. In: ANDERSON, B. A. Alternatives to deforestation: steps towardsustainable use os the amazon rain forest. Columbia University Press. New York. P. 183 - 184. 1990.
FELIPIN, A. P.; RESENDE, R.U.; RIBEIRO, R.J. Agricultura de pousio e controle ambiental. In: DIEGUES, A. C.; VIANA, V. M. Comunidades tradicionais e manejo dos recursos naturais da Mata Atlântica. São Paulo: NUPAUB. p.111 –119. 2000.
FELIX, P.C.N.; DANTAS, T. V. S.; BUZIGNANI, M.T.P.; MELO, J.M.M. Produção e consumo da cultura rural no município de Cuiabá: Seduc - Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Cuiabá – MT, 1984. 90 p.
98
FERREIRA, E. C. Posse e propriedade: A luta pela terra em Mato Grosso.. (Dissertação de mestrado). Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 1984, 199 p
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4ed - São Paulo: Atlas, 1995, 207p.
GODOY, D. S. Estrutura e função de quintais de unidades produtivas das comunidades de Santana e Nossa Senhora da Guia, Cáceres, MT. (2004) (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós Graduação em Agricultura Tropical. Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá. MT.
GOMÉS-POMPA, A. & KAUS, A. “Taming the Wildrness Myth”. In: I Biocience v. 42. n. 4, 1992.
GOMÉS-POMPA, A. & KAUS, A. Traditional management of tropical forests in Mexico. In: ANDERSON, B. A. Alternatives to deforestation: steps towardsustainable use os the amazon rain forest. Columbia University Press. New York. p. 45 - 64. 1990.
GOSS, M. J. Consequences of the activity of roots in soil. In: ATKINSON, D. Plant root growth: an ecological perspective. Oxford . British ecological Society. p. 171 – 186. 1991.
HERNANI, L.C.;SAKAI, E.; ISHUMURA, I.; LEPSH, I. Influência de métodos de limpeza de terreno sob floresta secundária em latossolo amarelo do Vale do Ribeira (SP). Revista Brasileira de Ciência do Solo. v. 11. p. 205 - 213. 1987.
HILDEBRANT, von M. Hombre y Naturaleza: una interpretación indígena del ecosistema amazónico. Tübinger Geographische Studiem, n. 95, p 125 - 139. 1987.
HÖLSCHER, D.; MÖLLER, R. F..; DENICH, M. ; FÖLSTER, H. Nutrient input – output budget of shifiting agriculture in eastern Amazonia. Nutrient Cycling in Agroecosystems. Dordrecht. v. 47. p. 49 – 57. 1997.
99
HOMMA. A. K. O. Extrativismoa na Amazonia: limites e oportunidades. Brasília: EMBRAPA – SPI, 1993, 202 p.
JANESSEN, B. H.; WIENK, J. F. Mechanized annual cropping on low fertility acid soils in the humid tropics: a case study of Zanderij soils in Suriname. Universities Agricola Wegeningen, 1990.
JUO, A. S. ; MANU, A. Chemical dynamic in slash-and-burn agriculture. Agriculture Ecosystems & Enviroment. v. 58, n. 1, p. 49 – 60. 1996.
JORDAN, C. F & KLINE, J. R. Mineral cycling: Some basic concepts and their application in a tropical rain forets. Annual Review of Ecology and Systematics. v. 3. p 33 -50. 1972.
KANASHIRO, M. ; DENICH,M. (EDs) Possibilidades de utilização e manejo adequado de áreas alteradas abandonadas na amazônia brasileira. MCT/CNPQ, Brasília (Studies of Human Impact n Forest and Floodplains in the Tropics) 1998. 157p.
KATO, M.S.A.; KATO, O.R., DENICH, M.; VLEK, P.L.G. Fire-free alternatives to slash-and-burn for shifting cultivation in the eastern amazon region: the role of fertilizer. Field crops research. v. 62. p. 225 – 237. 2000.
LEAL, E, C. Potencial de regeneração da capoeira após preparo de área com queima e sem queima na região Bragantina. In: MENEZEZ, M. N. A; NEVES, D. P. Agricultura familiar: pesquisa,formação e desenvolvimento. Belém:UFPA/CCA/NEAF. v. 4. n. 4, p. 370 - 400. 2004.
LIMA, R.C. Pequena história territorial do Brasil: Sesmaria e terras devolutas. Secretaria de Estado da Cultura. Fac-Smile, 4° edição, Mato Grosso. 1991. 112 p.
LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa, SP: Instituto Planetarium. v. 2 . 2002. 368 p.
100
LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa, SP: Instituto Planetarium. v. 1 . 1992. 352 p.
MACKENSEN, J., HÖLSCHER, D., KLINGE, R., FÖLSTER. H, Nutrient transfer to the atmosphere by burning of debris in eastern Amazonia Forest. Ecological Manage. v. 86. p. 121 – 128. 1996.
MARQUES, J. G. W. Olhar (des)multiplicado. O papel interdisciplinar e do qualitativo na pesquisa etnobiológica e etnoecológica In: AMOROZO, M. C. de M.; MING, L. C.; SILVA, S. P. Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio Claro: UNESP.p. 30 – 46. 2002.
MARTIN, G. J. Ethynobotany: a methods manual. London: Chapman & Hall, 1 ed., 1995. 263 p.
MAZOYER, M. e ROUDART, L. História das agriculturas do mundo: do neolítico à crise contemporânea. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. 519 p.
METZGER, J. P. Dinâmica e equilíbrio da paisagem em áreas de agricultura de corte-e-queima com pousio curto e longo na região da Bragantina. In: Seminário sobre manejo da vegetação secundária para a sustentabilidade da agricultura familiar da Amazônia oriental. Belém: Anais. 2000. 221p.
MORENO, G. Os (des) caminhos da apropriação capitalista da terra em Mato Grosso. (Tese de doutorado). USP , São Paulo, 1993, 620 p.
NODA, H. Conservação dos recursos genéticos hortícolas amazônicos por agricultores tradicionais do Alto Solimões, Amazonas. In: ALBUQUERQUE, U. P. et al. Atividades em etonobiologia e etnoecologia. SBEE (Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia: Recife. 2002. p.133 - 145.
O’BRIEN, M. J. P.; O’BRIEN, C. M. Ecologia e modelamento de florestas tropicais. Belém: FCAP, 1995. 400p.
101
PÁDUA, M.T.J. Preservação da biodiversidade “in situ” no Brasil. Boletim Funatura, Ano 6, n. 6, p. 4 - 5. 1993.
PINEDO-VASQUEZ, M; ZARIN, D; JIPP, P. Eeconomic returns from forest conversion in the Peruviam Amazon. Ecological Economics, v.6 n.2, p.63 -173, 1992.
POSEY, D. A. Etnobiologia e ciência de folk: sua importância para Amazônia. Tubinger Geographische Studien. n. 95. p.95 - 108. 1987.
POSEY, D. A. Manejo da floresta secundária, capoeiras, campos e cerrados (Kayapó). In: Ribeiro, D. Suma etnológica Brasileira. Petrópolis. FINEP. v.1. p. 173 –188. 1986.
POSEY, D e ANDERSON, A.,B. Manejo de cerrado pelos índios Kayapó. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. v. 2. n. 1. p. 77 – 98. 1985.
POSEY, D. A. Os Kayapó e a natureza. Ciência Hoje, v. 2, n. 12, p. 35 - 41, 1984.
POSEY, D. Indigenous knowledge and development: na ideological bridge to the future. Ciência e Cultura. v. 35. n. 7. p 877 - 894. 1983.
RÊGO, J.F. Amazônia: do extrativismo ao neoextrativismo. Ciência Hoje. v.25. p. 62 - 65. 1999.
RIBEIRO, I. C. Sesmeiros. Cuiabá: EdUFMT, 1998. 223p.
SANO, M.S; ALMEIDA, S.P. Cerrado: Ambiente e Flora. Embrapa Cerrado: Brasília. 1998. 223p.
SANTOS, E. Nossas madeiras. Ed. Itatiaia: Belo Horizonte. 1987. 313p.
102
SCHAFFLER, W. B.; PROCHNOW, M. Mata Atlântica. In : SCHAFFLER, W. B.; PROCHNOW, M. A Mata Atlântica e você: como preserver, recuperar e se beneficiar da mais ameaçada floresta brasileira. Brasília: APREMAVI, p. 12 - 44. 2002.
SHARMA, P. N. Natural resourse conservation with peoples’ participation in the uplands of the Maribios volcanic ranges of Nicaragua. II. Adapitation of conservation tecnology to farmes. Turrialba , v. 43, n 3, 1993, p 171 -182.
SILVA, J. A. Transformação na agricultura e migrações em Mato Grosso na década de 70. . Dissertação (Mestrado em Economia). Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2003.
SILVA, R. C. V. M da Coleta e identificação de espéciemes botânicas. Belém: Embrapa Amazônia Oriental. Documento 143, 40p. 2002.
SILVA, S. R. Plantas do cerrado utilizadas pelas comunidades da região do Grande Sertões Veredas. FUNATURA (Fundação pró-natureza). Brasília, 1998, 109.
TEWARI, D. D.; CAMPEBELL, J. Y. El auge de los productos florestales no madereros en la India. Unasylva, v. 187, n. 47. 1996. p. 26 -31.
TOLEDO, V.M. et al. La selva útil: etnobotânica quantitativa de los grupos indígenas del trópico húmedo de México. Interciência, v. 20, n. 4. 1995. p. 177-187.
TOLEDO, V.M. Peasantry, agroindustrialy, sustainability: the ecological and historical basis of rural development. IICA: Mexico. 1995. 27p.
VIETLER, R. B. Métodos antropológicos como ferramente para estudos em etnobiologia e etnoecologia In: AMOROZO, M. C. de M.; MING, L. C.; SILVA, S. P. Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio Claro: UNESP. p. 11 – 30. 2002.
103
VILLALOBOS, R.; OCAMPO, R. Productos no maderables del bosque en Centroamérica y el Caribe. Costa Rica: CATIE/OLAFO, 1997. 103 p.
WHITMORE, T.C. An introduction to tropical forest. Oxford: Clarendom Press, 1990. 112 p.
WIESENMÜLLER, J. D. Catálogo de critérios e indicadores para avaliação dos recursos naturais, do manejo e da produção agrícola sustentável da agricultura familiar no nordeste Paraense em áreas de terra firme. Cadernos do NAEA. 2004.
WITTE, S. L. La investigación etnobotânica y su integración a programas de desarrollo en salud. Raices, n.19. p. 9 - 13. 1998.