13
MANGUE NOS JORNAIS – A PROVÍNCIA E JORNAL DO RECIFE (1900- 1939) 1900-1909 1. O Mangue é lugar de excluídos e pessoas de baixo-meretrício; 2. Muitos anúncios de venda de lenha do mangue 3. Toro de mangue usado como arma 4. “Atirar-se ao mangue” - comum 5. Várias ocorrências de Serviço de Higiene no mangue entre 1906-1915 Jornal do Recife, Quinta, 1 Março 1900 Criações rendosas "A uma milha de New-Harmony há outro sítio possuído por um alemão que faz criação de sanguessugas. O sítio desse industrioso tinha pouco valor por ser quase todo de mangue, mas o dono mandou vir da Alemanha centenas de sanguessugas e as deitou nos mangues." Jornal do Recife, Terça, 28 Agosto 1900 Limpeza Pública Reclamação dos moradores das ruas do Mangue e da detenção sobre o acúmulo de lixo. Jornal do Recife, Quinta, 17 Outubro 1901 Lamaçal "O fiscal da freguesia de S. José deve lançar as suas vistas para a grande quantidade de lama putrida na rua do Mangue em frente a uns casebres. Segundo nos informam o inconveniente lamaçal origina-se das águas servidas que os habitantes das referidas casinhas atiram constantemente para o leito das ruas." A Província, Terça, 18 Março 1902 "Segundo nos dizem, no beco do Mangue e na rua Palma reúne-se quase sempre um grupo de vagabundos, usando de um vocabulário inconveniente, que impede às famílias de chegarem às janelas.

Mangue Nos Jornais

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trechos sobre as visões do mangue nos jornais pernambucanos entre 1900-1930.

Citation preview

Page 1: Mangue Nos Jornais

MANGUE NOS JORNAIS – A PROVÍNCIA E JORNAL DO RECIFE (1900-1939)

1900-1909

1. O Mangue é lugar de excluídos e pessoas de baixo-meretrício;

2. Muitos anúncios de venda de lenha do mangue

3. Toro de mangue usado como arma

4. “Atirar-se ao mangue” - comum

5. Várias ocorrências de Serviço de Higiene no mangue entre 1906-1915

Jornal do Recife, Quinta, 1 Março 1900

Criações rendosas

"A uma milha de New-Harmony há outro sítio possuído por um alemão que faz criação de sanguessugas. O sítio desse industrioso tinha pouco valor por ser quase todo de mangue, mas o dono mandou vir da Alemanha centenas de sanguessugas e as deitou nos mangues."

Jornal do Recife, Terça, 28 Agosto 1900

Limpeza Pública

Reclamação dos moradores das ruas do Mangue e da detenção sobre o acúmulo de lixo.

Jornal do Recife, Quinta, 17 Outubro 1901

Lamaçal

"O fiscal da freguesia de S. José deve lançar as suas vistas para a grande quantidade de lama putrida na rua do Mangue em frente a uns casebres. Segundo nos informam o inconveniente lamaçal origina-se das águas servidas que os habitantes das referidas casinhas atiram constantemente para o leito das ruas."

A Província, Terça, 18 Março 1902

"Segundo nos dizem, no beco do Mangue e na rua Palma reúne-se quase sempre um grupo de vagabundos, usando de um vocabulário inconveniente, que impede às famílias de chegarem às janelas.

É caso para intervenção da polícia"

A Província, Quarta, 16 Abril 1902

"O cano da galeria de esgotos, na rua do Mangue, está obstruído, e por tanto não dá vasão as águas de chuva, havendo por isso muita lama, ali."

A Província, Domingo, 10 Agosto 1902

Page 2: Mangue Nos Jornais

"A comissão competente do senado concordou com a abertura do crédito de 237 contos de réis para obras de saneamento do Canal do Mangue."

A Província, Sexta, 13 Março 1903

“Pede-se atenção da polícia contra uns vagabundos que todas as noites, de 7 e meia as 9 e meia horas da noite, reúnem-se no beco do Mangue, em S. José, e procedem inconvenientemente, chegando a atirar pedras em transeuntes.”

A Província, Sábado, 20 Junho 1903

“Da rua do Mangue atiraram anteontem à tarde uma pedra que alcançou e feriu a mulher de nome Candida Adelaide no quintal da casa n.150.”

A Província, Terça, 1 Setembro 1903

“Na rua da Concordia, no trajeto da rua de S. João ao beco do Mangue, reúnem-se alguns meninos vadios que costumam desrespeitar as famílias que por ali transitam.”

A Província, Terça, 22 Setembro 1903

“Faz-se preciso notar que o Correio da Manhã esqueceu de tomar em consideração as obras da grande avenida central e do canal do Mangue, as quais não figuravam no primitivo plano.”

Jornal do Recife, Domingo, 10 Janeiro 1904

“Uma ala do 10º Batalhão de infanteria, sob o comando do respectivo major, foi encarregada, à tarde, do policiamento do canal do Mangue, onde têm sido frequentes os assaltos aos bondes.”

A Província, Sábado, 11 Junho 1904

“Alguns prejudicados reclamam a quem competir, o mau hábito de vários moradores nos becos de Bernardo e do Mangue atirarem para a rua da Detenção, lixos, esteireiras, colchões velhos, etc. Com a chuva a imundície torna-se intolerável.”

Jornal do Recife, Sexta, 3 Março 1905

“Os resíduos de nossa fábrica apenas são lançados junto ao mangue, são dali imediatamente retirados por pessoas do povo que os aproveitam para a alimentação de animais domésticos.” (reclamação do sr. Dr. Waldevino Walnderley sobre o despejo de resíduos da fábrica do jornal, de modo a causar mal cheiro e doenças)

Jornal do Recife, Quarta, 29 Março 1905

“Vão bem adiantadas as obras no canal do Mangue.”

A Província, Domingo, 18 Junho 1905

“Com vistas à inspetoria de higiene remeteram-nos as seguintes queixas: Na rua dos Caldeireiros, onde afirmam, criam-se porcos em alguns quintais; na rua do Mangue, muita falta de aceio entre os prédios ns. 46, 48 e 50. Pelo que em ambas as ruas tornam-se necessárias as visitas domiciliares.”

Jornal do Recife, Domingo, 30 Julho 1905

Page 3: Mangue Nos Jornais

“Intimou a Companhia Draynage para no prazo de 48 horas concertar o aparelho do prédio n.147 à rua Augusta. Em sua nota de serviço requisitou a retirada do depósito de lixo que existe à travessa do mangue.”

Jornal do Recife, Quarta, 11 Outubro 1905

“O comerciante Antonio Ferreira da Cruz tentou suicidar-se, atirando-se ao canal do mangue.”

A Província, Domingo, 26 Agosto 1906

Serviço de Higiene

“O dr. Hortencio visitou 26 casinhas dos quadros ns. 1 e 3 do beco do mangue. (...) O dr. Hortencio intimou os proprietários dos quadros ns. 1 e 3 do beco do mangue para caiarem e pintarem os ns. 11, 12 13, 14, 15, 22, 23, 24, 25 e 26, e ladrilharem a área do aparelho.”

A Província, Terça, 28 Agosto 1906

Serviço de Higiene

“O dr. Hortencio de Azevedo intimou os proprietários dos prédios ns. 5 do beco do mangue, para em 15 dias, fazer esgoto das águas pluviais.”

1910-1919

1. Outras ocorrências: “Tratar na rua do Mangue”; “ocorreu no beco do Mangue”

2. Mais e mais ocorrências da repartição de higiene na rua do Mangue

Jornal do Recife, Terça, 30 Abril 1912

“Illm. sr. dr. capitão prefeito do Recife. – Chamo a atenção para a nota junta, por cópia, na qual o dr. Paulo de Aguiar, comissário de higiene, reclama desta inspetoria, providências afim de que sejam cumpridas as determinações impostas, pelo mesmo comissariado a inquilina do prédio n.7, do quadro n.3, do beco do Mangue, em S. José, que apesar de intimida e multada persiste em recusar a vacinação que lhe foi imposta de acordo com os arts 1, 2 e 3; do art. 9; do capítulo XII; seção 4ª; título II; da lei municipal n.4.”

Jornal do Recife, Domingo, 26 Outubro 1913

Parahyba

“O governo do Estado, tendo recebido um ofício do doutor Barbosa Gonçalves, ministro da viação, pedindo ao mesmo providências para evitar que se praticassem cortes de mangue e destruir currais de pescaria, dentro do porto de Parahyba, tomou medidas necessárias para impedir de vez a dragagem daquela madeira, verificando também não existir dentro do porto, os referidos currais.”

Jornal do Recife, Sábado, 10 Abril 1915

Page 4: Mangue Nos Jornais

“N.505 - Sr. dr. Eudoro Correia, m.d. Prefeito do município do Recife. – Solicito vossas providências no sentido de serem os carroceiros da limpeza pública obrigados a levar todo o cisco para os fornos de incineração. A despeito dos pedidos feitos aos carroceiros (porque esta diretoria não pode dar ordens aos mesmos, que são de repartição estranha) estes por indolência deitam grande número de carroças do lixo no mangue existente em frente aos fornos, muito embora não haja atualmente razão para isso. Peço, pois, vossas ordens no sentido de cessar aquela prática. - Saudações.”

A Província, Segunda, 31 Janeiro 1916

Um sucedâneo da anilina

RIO, 30. “O cônsul yankee recebeu uma comunicação do ministério do comércio dos Estados Unidos, dizendo que as experiências feitas com o mangue brasileiro deram excelente resultado. A árvore aludida fornece 36% de matéria tânica, sendo a sua casca aproveitada, depois de seca para matéria cortante, substituindo com vantagem as anilinas. O cônsul norte-americano declarou que se acha pronto para servir de intermediário para a exportação dos novos produtos descobertos.”

Jornal do Recife, Quarta, 12 Julho 1916

“Na comunidade S. José da Paiva, município do Cabo, contrata-se fornecimento de lenha de mata e de mangue, em pequena ou grande escala, a vontade dos srs. contratantes. É ótimo o porto de embarque.”

A Província, Segunda, 25 Fevereiro 1918

Novas indústrias

“RIO, 21. Os industriais Carlos Bandeira e Julio Brandão conseguiram com a madeira de mangue combinar o fabrico de ácido bropico (?) gesso, e soda cáustica e cloreto de cálcio, mostrando um forno de sua propriedade, em Bemfica. Os mesmos requereram licença à prefeitura para retirar madeiras existentes nos mangues em Bemfica. Pensam os aludidos industriais resolver o problema de soda cáustica.”

Jornal do Recife, Quarta, 18 Junho 1919

O “Conceição”

“Com um carregamento de 202 sacas de casca de mangue chegou ontem, às 12 horas e 50 minutos a este porto, o ‘cutter’ nacional Conceição, do comando do mestre João dos Santos. O Conceição veio de Canguaretama.”

1920-1929

1. Constante venda de lenha de mangue vermelho e casca do mesmo

2. Compra de folhas de mangue

3. Aforamento de terreno de marinha

A Província, Sábado, 29 Maio 1920

Exportação – em 27 de maio de 1920

Page 5: Mangue Nos Jornais

“- Para o Exterior: Vapor “São Michael”, para New York: Rossbach Brazil Company, 111 fardos com 23165 kg de peles de cabra e carneiro. Vapor “Avon”, para Lisboa: Azevedo C. 70 caixas com 6358 kg de cigarros e 18 caixas com 1700 kg de fumo desfiado e A. L. Santos & C. 6 caixas com 1438 kg de vaquetas, 3 fardos com 630 kg de pedaços de couro, 6 ditos com 1342 kg de raspas de sola, 2 fardos com 437 kg de sola e um saco com 3 kg de caixas de mangue.”

Jornal do Recife, Sábado, 19 Novembro 1923

A drenagem da cidade

“O progredir do nosso Recife obrigará de certo a extinção completa das zonas de mangue do centro; essa extinção tão necessária não se conseguirá de maneira eficaz sem a rede de canais de drenagem, radical solução da engenharia sanitária para o saneamento das superfícies alagadas.”

A Província, Quinta, 25 Dezembro 1924

“Acresce a tudo isso a falta de conforto, acomodando-se 800 e mais trabalhadores em três barracões, dormindo em tarimbas sem colchões, perseguidos pelo ‘maroine’, por ser zona de mangue.”

Jornal do Recife, Sábado, 17 Julho 1926

Pau D’Alho terra infeliz!

A água que hoje aquela Prefeitura oferece aos seus municipes é de péssima qualidade e, só milagrosamente e por gotas aparece nos domicílios que possuem instalações no seguinte horário: das sete às nove, e das quinze às dezessete horas; e isso mesmo, nos dias em que esse milagre se efetua; na segunda-feira doze deste, esse milagre não se efetivou; nem mesmo no chafariz apareceu uma gota d’água durante o dia. O tanque que serve de reservatório está se transformando num nojento mangue; e o chafariz com as suas imundas paredes e a grande falta de asseio ali existentes, estão a reclamar as providências do nosso departamento de saúde.

Page 6: Mangue Nos Jornais

1930-1939

1. Frase recorrente nos jornais: "Evidentemente por morrer um caranguejo não se cobre o mangue de luto"

2. Mangue, lugar fedido e sujeito a despejo de lixo; onde acontecem muitos crimes

Jornal do Recife, Quinta, 10 Julho 1930; Terça, 5 Agosto 1930

Oitenta mil sacos de café destruídos

“Na cidade de Santos prossegue o trabalho para a inutilização de 80 mil sacos de café de tipos baixos. Foi lembrado em primeiro lugar empregar o café moído para adubo nas terras, mas não deu o resultado esperado, assim estão eles sendo atirados num mangue no lugar denominado Allemôa.” (Rio)

Jornal do Recife, Quinta, 17 Novembro 1930

Cortes de madeira em mangues

- Proibição para defender o regime das águas, navegação e conservação dos portos.

Jornal do Recife, Quinta, 19 Fevereiro 1931

Carnaval

“A população dos morros formando batucadas medonhas na praça Onze de Junho, avenida e no Mangue e disputaram os prêmios concedidos.”

Jornal do Recife, Quinta, 14 Janeiro 1932

SAL...PICOS...

O carnaval vem aí

mas não se ouve falar,

o povo desanimado

não tem gosto pra brincar.

Deve ser a pindaíba,

ouvi eu dizer alguém;

o povo não se diverte

sem ter um reles vintém.

Não creio. Não creio nisso.

Nem há nesse mundo inteiro

Page 7: Mangue Nos Jornais

quem não se atire no mangue

por se encontrar sem dinheiro.

Quem tem "arame", é verdade,

no frevo acha a vida sopa

e o pobre quer disfarçar-se

mas não sabe com que roupa.

Mas o pobre, meus senhores,

diz com toda a razão

se não anda de automóvel,

vai no carrinho de mão!

- Sa'-Poty

Jornal do Recife, Quinta, 16 Junho 1932

Os Maruins em Giquia e na Estancia, carta dos moradores como em A Província.

A Província - Quinta, 18 junho 1932

Maruins no Jiquia

“Recebemos de diversos moradores no Jiquia: ‘Diante da grande quantidade de maruins, que tem aparecido no trecho que vai do Jiquia ao bairro da Estância, ao ponta das famílias não poderem dormir e nem chegar às janelas de suas residências. – vimos solicitar a atenção dos poderes competentes afim de ser minorado esse mal. Dizem que, o que faz germinar os maruins é o mangue, e este sendo cortado eles desaparecem, como têm desaparecido no Pina e em outros lugares. Portanto, os moradores do trecho referido suplicam dos poderes do Município ou do Estado uma providência a respeito. O corte aos mangues não se impõe somente para o bem-estar dos que morem nessas partes, mas também para o bom nome de Pernambuco e de suas administrações ante a apreciação dos passageiros que o Graf Zeppelin tem desembarcado aqui e de sua tripulação, lá fora. É verdade que não é uma obra de fachada, mas ninguém poderá negar ser de grande utilidade além de humana.’ ”

Jornal do Recife, Quarta, 19 Outubro 1932

Conflitos sobre conflitos na zona do Mangue

"Os jornais mostram-se alarmados com os conflitos havidos na zona do Mangue, onde está localizado o meretrício" (RJ)

Jornal do Recife, Terça, 25 Outubro 1932

Ferido num conflito do mangue, morreu um cabo do 21º B. C. (RJ)

Jornal do Recife, Sexta, 3 Março 1933

O Mangue carioca sob grande sarceiro

Page 8: Mangue Nos Jornais

"Houve um grande conflito no Mangue, no bairro do baixo meretrício, saindo feridos 5 soldados, 4 civis e uma mulher, a maioria a bala." (RJ)

Jornal do Recife, Quinta, 9 Março 1933

“Os desordeiros do Mangue carioca dando trabalho à justiça.” (RJ)

Jornal do Recife, Quarta, 15 Março 1933

O melhor meio de acabar com os conflitos do Mangue carioca (RJ)

Jornal do Recife, Quinta, 22 Março 1934

Sal Fino

"Sai do mangue o maruim pra azucrinar os mortais.

Sai tudo quanto é de ruim

Só tu, oh! Maia, não sais?”

Jornal do Recife, Domingo, 1 Julho 1934

- Domingueiras -

Um cemitério para cães (reclamação de um cemitério pra cães que só beneficiou as classes altas e negligenciou os pobres)

"Evitem os governantes a rebeldia dos desesperados. Concedam, nesse cemitério, longe dos tumultos ricos, um trecho de terra, sem árvores e sem flores, onde se enterrarão, amanhã, os cães sem dono, os cães miseráveis da Zona do Mangue e do morro da Favela.

Deem-lhes, como se faz com as criaturas, a vala comum dos humildes e dos anônimos."

Jornal do Recife, 1 Janeiro 1938

"Nos arrabaldes da cidade, perdida no meio dos mangues, vive uma população minada de sífilis, mal alimentada e sem instrução. Vive ou vegeta dentro de quatro paredes tortas, de barro grosseiro, olhando o mangue, eternamente. E de tanto vê-lo e senti-lo, já se acostumou a querer-lhe bem.

É aí que o álcool estimula gestos criminosos e aparecem os curandeiros, o "espiritista" que arranja empregos e desmancha casamentos...

É aí que o mísero sapo é cosido e as velas entopem de luz os caminhos sórdidos e lamacentos.

Também o Xangô aparece localizando os toques nos terreiros dos Pais de Santos...

Começa o drama de uma raça, que avança desordenadamente para uma crença ao som de melopeias e de danças uniformemente ritmadas.

Os atabaques completam a paisagem."

Page 9: Mangue Nos Jornais

MANGUE NOS JORNAIS – DIÁRIO DE PERNAMBUCO (1900-1939)

01 Novembro 1901 – edição 161

(sobre o RJ) “Aqui também o número de descalços é enorme, podendo-se aliás observar o extrangeiro escandalisado com isso (...) Toda a infinita variedade dos maus odores assaltam o nosso pobre nariz por essas ruas, tendo o sceptro da porcaria a do Senador Euzebio, onde existe o archi fedorento, o hyper nauseabundo e celebérrimo Canal do Mangue, que só por si basta para comprometer e tornar da cor do seu pixe pútrido a reputação desta cidade digna de uma melhor administração municipal.”

25 Dezembro 1903 – edição 292

“O rio Passarinhos, imundo mangue em frente à detenção, encheu alagando os terrenos marginaes.”

27 Fevereiro 1910 – edição 46

“A superstição ainda existe, mesmo nas classes cultas da sociedade...”

“A respeito dessa cultura que não beija o ladrilho das egrejas e nem pede misericórdia ao Deus vingador, mas recorre a feitiçaria de uma negra velha aguardentada e boçal ou de um mulato pernóstico enfronhado em mysterios. É um singularíssimo traço de nossa psychologia. No Rio, o poeta Mucio Teixeira deu para cultivar o occultimo e as suas profecias anunciadas, como ele diz, a sombra das sete palmeiras do Mangue...”

20 Setembro 1910 – edição 239

Lei que proíbe edificação de mocambos

“Há mocambos situados na maré, em pleno mangue, como se a previdência dos moradores quisesse que os caranguejos viessem, por si mesmos, para as panelas vazias!”

29 Março 1916 – edição 87

SERVIÇO FLORESTAL – Foi apresentado na Câmara dos Deputados estaduais o projeto n. 60, criando em Pernambuco um “Serviço florestal” que regulará o corte de lenha e das madeiras para o uso, em geral, e atenderá à conservação das nossas florestas, promovendo, ao mesmo tempo, a sua reconstituição, formação e aproveitamento. (...) Mas porque não se legislar também sobre a devastação das árvores denominadas ‘mangues’, cuja utilidade é bem conhecida, tanto para combustível e para esse fim taladas com uma selvageria assoladora; como, ainda aplicáveis a determinadas indústrias; além de serem tão benéficas à saúde pública, como protetoras das vazas lodosas, dos terrenos alagadiços, impedindo a ação direta e perniciosa dos raios solares, por ocasião das vazantes das marés? A prefeitura da Capital Federal decretou, anos passados, severas medidas contra esses abusos, estabelecendo multas de 30$000 a 200$000, afim de punir a destruição de “mangues”,

Page 10: Mangue Nos Jornais

mandando ao mesmo tempo proceder oficialmente, ao replantio dessas arvores. O corte desses ‘mangues’ ali só é permitido perante licença: ou então em caso de ser necessário fazer-se algum aterro; e, mesmo para esse fim, o requerente depositará nos cofres da municipalidade, como caução, a quantia em que forem avaliadas as despesas prováveis para a plantação de novos ‘mangues’, na hipótese de não ter sido o aterro levado a efeito. Notam-se nessas disposições previdência e garantia. É, portanto, oportuno cogitar no assunto, criando-se aqui também dispositivos de repressão sobre o corte dos ‘mangues’, como os que o projeto 60 estabelece para o corte de lenha e de madeiras das nossas desprezadas e devastadíssimas florestas”.

20 Agosto 1917 – edição 236

08 Novembro 1919 – edição 302

“Em contraste com a beleza das aningas se estremostra a displicência dos mangues. Bem perto do Atlântico, nos terrenos baixos, erige-se ele da terra encharcada. Cmo é soturno e melancólico o manguezal! À superfície do solo arqueiam-se em várias redes as raízes vermelhas da árvore que emblema a eterna desesperança posta junto às águas tristonhas e paludosas. Desde o arbusto insignificante até a árvore de tronco notável pelo diâmetro, de cerrada copa e grandes ramos que menciam os galhos no ar, às saudáveis lufadas da ventania, admira-se em bela gradação, nossa plaga desértica. Parece que, se aquela infanda vegetação flutuasse produziria apenas os pomos insapidos de Bahr-el-Loth, cuja miniatura ali se vê remoçosa no refluxo das marés, ofegante nos turbilhões da preia-mar. Desconforta, quando a vista se queda neste painel, a monotonia com que ele se estende em paragens enormes, sem o contraste de outra vegetação. Oprime o espírito a maninhez dessa planta egoísta, que não floresce nem frutifica. Símbolo vegetal de uma região esterilizada pelos sais marinhos, o mangue, aparentemente ressequido, reçuma de seiva e de vitalidade.”