Seminário preparatório da III Conferência Estadual de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.

A Saúde do trabalhador é uma conquista dos trabalhadores brasileiros, prevista na Constituição Federal de 1988 como parte do direito universal à saúde e de competência do SUS!

Antes, a saúde no Brasil ou era um benefício previdenciário restrito aos contribuintes, ou um bem pago na forma de assistência ou uma ação de misericórdia.

No Brasil, o sistema público de saúde sempre atendeu aos trabalhadores. Porém, como uma prática diferenciada, que leva em conta os impactos do trabalho sobre o processo saúde/doença, surgiu apenas no decorrer dos anos 80, estimuladas pelas mudanças políticas e sociais, pela 8ª CNS e pela Reforma Sanitária.

Com a CF de 1988, na seção que regula o Direito à Saúde, passou a ser ação do SUS, conforme o seu Art. 200:

Art.200 – Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da Lei: “(...) II – executar as ações da vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador (...)”.

“A Lei Orgânica da Saúde – LOS (Lei 8.080/90), que regulamentou o SUS e suas competências no campo da ST, considerou o trabalho como importante fator determinante/condicionante da saúde. No seu artigo 6º, define ST como:

“um conjunto de atividades que se destina, através de ações de vigilância epidemiológica e sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho”.

O termo Saúde do Trabalhador refere-se a um campo do saber que visa compreender as relações entre o trabalho e o processo saúde/doença.

A Saúde do Trabalhador constitui-se em uma área da Saúde Pública.

Tem como objetivos “a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada no SUS” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, p. 17).

Nesta acepção, são concebidos a saúde e a doença como processos dinâmicos, estreitamente articulados com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade em determinado momento histórico, com base na concepção de que o modo de inserção dos homens, mulheres e crianças nos espaços de trabalho contribui decisivamente para formas específicas de adoecer e morrer (LAURELL; NORIEGA, 1986).

O campo da ST é um campo multiprofissional, interdisciplinar e intra e intersetorial.

Trabalhadores são homens e mulheres, independentemente de sua localização, urbana ou rural, de sua forma de inserção no mercado de trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público ou privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativados, aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou desempregado.

A área de Saúde do Trabalhador caracteriza-se por uma intensa multiplicidade disciplinar e temática.

Desafio da elaboração de uma política transdisciplinar e construtivista que dê conta da dinâmica do trabalho e da sua relação com a saúde, a partir do cotidiano do mundo do trabalho com suas relações humanas e técnicas.

A Coordenação Nacional de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde tem a finalidade de coordenar, em âmbito federal, as ações de Saúde do Trabalhador articuladas nos três níveis de gestão do SUS (federal, estadual e municipal), através de assessoria e cooperação técnica prestadas aos estados e municípios.

É, também, responsável pela proposição e formulação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador, coordenando as ações nessa área em consonância com os princípios e diretrizes do SUS e em articulação com outros ministérios.

Para articular no âmbito do SUS, ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde dos trabalhadores, foi criada a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador - RENAST (Portarias);

a ser desenvolvida de forma articulada entre o Ministério da Saúde, as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, sob a coordenação nacional.

Criar ferramentas que possibilitem ao SUS uma intervenção eficaz sobre os fatores de risco, condicionamentos de agravos à saúde em expressivos contingentes populacionais.

Romper com o ponto de estrangulamento no fluxo de produção de diagnósticos de doenças relacionadas ao trabalho por meio da criação de uma rede de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs), integrados ao sistema hierarquizado de atenção à saúde.

A estruturação da RENAST está sendo organizada e implantada através de ações na rede de atenção básica, na rede assistencial de média e alta complexidade do SUS, na rede de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador – CEREST e na vigilância em saúde.

Os CERESTs constituem-se numa ferramenta estratégica para a disseminação das práticas em saúde do trabalhador no SUS.

Pólos irradiadores, em um determinado território, da cultura da produção social das doenças, a partir das explicitações das relações entre processo de produção e processo saúde/doença, assumindo a função de suporte técnico e científico desses campos do conhecimento junto aos profissionais de todos os serviços da rede do SUS.

Mais de 200 no Brasil;12 no RS;Problemas de funcionamento: porta paralela

ao SUS, modelo assistencialista e individual.

A Atenção Básica representa um importante ponto de articulação e de ações em ST, pois se constitui uma porta de entrada de trabalhadores e trabalhadoras no SUS e, por estar na ponta do sistema, apresenta uma ligação mais direta com os problemas de saúde local.

Prestada de forma resolutiva e com qualidade, a AB deve ser capaz de responder à maioria das necessidades de saúde.

A identificação de riscos, danos e necessidades, condições de vida e trabalho que determinam as formas de adoecer e morrer dos trabalhadores.

Propiciar o estabelecimento da relação entre o adoecimento e o processo de trabalho nas práticas de vigilância, o que contribui, certamente, para a qualidade de atenção à saúde do trabalhador em toda a rede de serviços do SUS.

Assim, as ações de ST devem ser incluídas formalmente na agenda da rede básica de atenção à saúde. Dessa forma, amplia-se a assistência já ofertada aos trabalhadores, na medida em que passa a olhá-los como sujeitos a um adoecimento específico que exige estratégias, também especificas, de promoção, proteção e recuperação da saúde.

Compreendida como o eixo fundamental capaz de consolidar as práticas de saúde do trabalhador no SUS, na perspectiva da prevenção dos agravos decorrentes da relação saúde/trabalho e da promoção da saúde.

É por intermédio das ações compreendidas no campo da vigilância que se terá a capacidade de interromper o ciclo processo/ambiente de trabalho/doença/morte, corrente no Brasil.

A participação do controle social se dá de diversas maneiras na ST;

Importantes pontos de discussão e de atuação do controle social são os Conselhos de Saúde e as Conferências de Saúde e de Saúde do Trabalhador.

Saúde do trabalhador nos três níveis de gestão (federal, estadual e municipal);

Atenção básica, média e alta complexidade;Atenção Básica (ESF, ACS, Postos e

unidades) é muito importante; Intrasetorial (assistência e vigilância); Intersetorial (outras secretarias e

ministérios).

Registro de informações – subnotificações;Ausência de uma anamnese ocupacional;Ausência de um diagnóstico situacional: do

que adoecem os trabalhadores? Inserção das ações de saúde do trabalhador

no SUS – pouco conhecimento, mais uma atividade, rede paralela (CEREST);

Falta de RH nos municípios.

A recomendação dos que estão diretamente envolvidos com questões relacionadas à ST em sua forma integral são negociações permanentes envolvendo trabalhadores, empresas e seus órgãos representativos. E ainda, a presença do Estado para garantir a integridade física e psíquica dos trabalhadores e o comprometimento da sociedade como um todo.

Camila C. JacquesConselheira Estadual de Saúde

Comissão Organizadora da 3ªCEST