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Manifesto de lançamento da Avante!

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Manifesto de lançamento da Avante S21, tendência interna do Partido dos trabalhadores.

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Manifesto de Fundação

AVANTE S21!Tendência Interna do Partido dos Trabalhadores

Nascemos no meio de um vendaval. Sob o fogo cruzado de uma ofensiva conservadora sem paralelo desde de o Golpe de 1964, um conjunto de homens e mulheres petistas, com história de militância social e partidária, ousam organizar uma nova corrente política no PT. Estamos aqui para dizer que não desistimos do nosso partido, que essa ferramenta de organização popular construída nas lutas sociais do campo e da cidade, e na própria institucionalidade, precisa de mudanças políticas, organizativas e culturais profundas para não correr o risco de superação histórica.

Somos socialistas e reafirmamos o socialismo como horizonte estratégico e não como algo distante ou intangível. O socialismo, para nós, não é uma mera citação protocolar em teses ou documentos, mas objeto de novas e constantes formulações que dialoguem com a radicalização da democracia, com a inovação de práticas e posturas, com a efetivação do poder popular e de novos padrões de produção e consumo.

Acreditamos que é possível seguir em frente. Para estancar a crise, fazer correções, avançar em nossas lutas e utopias é que propomos oito pontos estratégicos ao Partido. Um eventual recuo do PT ou do campo popular não significará o ascenso de forças renovadas da esquerda, mas sim a ocupação de espaços pelos setores mais conservadores. Por isso, AVANTE, porque o futuro nos pertence!

1. PARTIDO COM PROGRAMA. O PT só continuará tendo relevância para a sua classe e para os seguimentos populares se voltar a atuar por seu Programa. Os últimos anos foram marcados por uma atuação exclusiva frente a conjuntura, frente aquilo que é possível fazer no Governo. É preciso o contrário, um programa popular por reformas estruturais que oriente sua militância para o máximo tensionamento das possibilidades que o sistema capitalista apresenta, tendo como horizonte estratégico a ruptura para o socialismo. A Reforma Agrária, o fortalecimento da agricultura agroecológica, a Reforma Urbana, a forte taxação do sistema e das transações financeiras, a redução da jornada de trabalho sem redução de salário e a radical crítica às desigualdades e ao modelo vigente de produção, que coloca em xeque a sustentabilidade ambiental, são exemplos de tensões que devem hierarquicamente orientar nossa atuação;

2. PARTIDO COM HORIZONTE ESTRATÉGICO SOCIALISTA. Que o PT atualize imediatamente sua leitura sobre a etapa atual de desenvolvimento do sistema capitalista, que continua a produzir bárbaras desigualdades e crises nacionais em nome da acumulação de capital, e promova uma profunda reflexão sobre o papel do movimento social, do Partido e do Governo em sua atuação nacional e na América Latina. Nosso papel é caminhar sempre em direção ao socialismo, entendido enquanto controle social sobre os meios fundamentais de produção, da saúde, da educação, do transporte de massas e de segurança. Não é possível continuar

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convivendo em um sistema que corrói o planeta e seu meio ambiente, que corrói a qualidade de vida da humanidade e que, em 2016, fará com que a riqueza de 1% da população ultrapasse a dos outros 99%. E aos que acham antiquado falar em socialismo, afirmamos que o capitalismo não pode ser visto como estágio supremo da evolução humana!

3. PARTIDO COM ADVERSÁRIOS E ALIADOS CLARAMENTE DEFINIDOS. O que parece óbvio acaba por não ser tão simples. Evidentemente que nossos inimigos são o facismo (sim, é preciso incluí-lo frente a recente conjuntura), a burguesia predatória, o grande capital e o sistema financeiro. Porém, suas derivações e propostas se apresentam sob formas ardilosas, com forte apoio dos oligopólios de comunicação, que fazem confundir a classe trabalhadora e a população. Recentemente, junto à tentativa golpista de ataque à democracia, uma série de retrocessos ganharam espaço no vácuo de nosso desgaste. Para repactuar o diálogo da esquerda com o povo é fundamental o alinhamento do PT com uma grande agenda de unidade nacional forjada em conjunto com os movimentos sociais através da Frente Brasil Popular, nossos reais aliados no projeto de transformação do país. Vale lembrar que o PT não é um canal de mediação (vocação de governos), sobretudo porque faz “parte de uma parte”, a medida em que tem lado, tem classe, tem adversários e aliados;

4. PARTIDO OUSADO NA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS. É preciso avançar na compreensão de que a luta de classes não está somente no conflito capital-trabalho, mas também na luta das mulheres, dos negros e negras, da população LGBT, dos indígenas, dos imigrantes, da população em situação de rua, dos direitos das crianças e dos adolescentes, pelo envelhecimento saudável, enfim, de todos e todas que são alvo da opressão, da violência, da injustiça e da desigualdade. A luta de classes também se expressa em uma visão espúria que defende que algumas pessoas são dignas de serem tratadas como seres humanos e outas não, e é exatamente isto que se expressa através da cultura do ódio. Mais que nunca é hora de afirmar que o problema não está nos pobres, mas na pobreza; não está nas pessoas com deficiência ou sofrimento psíquico, mas na exclusão e falta de acesso e oportunidades; não está nas mulheres, mas no machismo; não está nos negros e negras, mas no racismo; não está naqueles que querem a liberdade de amar, mas na LGBTfobia. Trata-se de formar uma sociedade que queira e lute por aniquilar com a exploração, a miséria, o preconceito, a violência! Não é à toa que, na crise, a principal agenda de nossos adversários é fazer retroceder agendas trabalhistas e, notadamente, agendas de Direitos Humanos. O PT e seus governos não podem seguir recuando nessa pauta e ceder aos fundamentalismos, independente do ataque ou das pressões que sofra dos setores mais conservadores. Além de toda a agenda “tradicional” dos Direitos Humanos, o PT deve reafirmar sempre sua defesa do internacionalismo, através do apoio a todos os povos que lutam por sua emancipação e desenvolvimento social; a defesa da paz, através da solução negociada dos conflitos internacionais e do desarmamento nuclear de todos os países; encarar verdadeiramente o debate sobre a descriminalização e a regulação das drogas, que poderá diminuir o poder econômico das organizações criminosas e a espiral de violência que assola o país; a descriminalização do aborto, com garantia de atendimento pelo SUS e da autodeterminação da mulher sobre o seu corpo; a extinção do serviço militar obrigatório, além da desmilitarização das polícias, com o fim dos autos de resistência; e sua luta contra o genocídio da juventude negra. Para nós, a luta pelos Direitos Humanos é central na construção do socialismo e o PT deve ser ousado em seu discurso e em sua prática neste tema;

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5. DEFESA DA DEMOCRACIA, DO PODER POPULAR, DO PT, DA SOBERANIA NACIONAL, DA PETROBRAS E DO PRÉ-SAL. As tentativas golpistas recentes nos fazem recordar que 1964 não é tão distante assim. A defesa da democracia e da valorização da política está mais do que na ordem do dia. Porém, para o PT, a Democracia e a construção do poder popular nunca foram algo formal, mas sim um processo vivo de constante evolução. Defendemos a democracia participativa, o financiamento público e exclusivo das campanhas, o voto no partido e um Congresso Unicameral. Defendemos uma Política Nacional de Participação Social seja aberta a referendos, plebiscitos, participação popular na definição do orçamento e que se realize a democratização dos meios de comunicação, fortalecendo instrumentos alternativos para a comunicação com a sociedade que hoje é refém dos grandes oligopólios. Defendemos também a democratização do judiciário, através de eleições e mandatos definidos, em todos os níveis. Mas para além disso, é preciso construir os instrumentos do poder popular, da participação direta de massas enquanto sujeito ativo no controle das políticas públicas e no controle do próprio Estado. O Estado, no regime capitalista, serve, em última instância, aos interesses do capital e para a repressão dos de baixo e, justamente por isso, é fundamental mantê-lo sob profundo controle social, direta ou indiretamente. Por outro lado, a defesa do PT é atualíssima não apenas frente aos ataques da burguesia, mas também porque é necessário um partido vinculado ao mundo do trabalho e aos movimentos sociais, socialista e de intervenção unificada nestes movimentos, com profundidade democrática e ética nas relações internas e no exercício de mandatos e funções. Defendemos a soberania nacional e as riquezas geradas pelo petróleo e, ainda, um entendimento de que a República deve ser compreendida como o compromisso com o bem comum;

6. PARTIDO COM NOVO OLHAR SOBRE OS MOVIMENTOS SOCIAIS, POPULARES E SINDICAL. O mundo tem assistido, na última década, a formação de um novo tipo de movimento social e, mesmo, de um novo comportamento coletivo: os indignados. Há uma transformação do ativismo contemporâneo, uma geopolítica de indignação global. Quando menos se esperava essa geopolítica apresentou seus efeitos ao Brasil em 2013, a partir da luta dos estudantes pelo passe livre no transporte público, e tem gerado um rompimento de estruturas e uma crise de representação que fazem surgir novos tipos atores, não só na juventude. Com este novo cenário, o PT entrou em certa crise de compreensão, afinal, não dá para ser comandante do motim e, ao mesmo tempo, comandante do navio. Para compreender os movimentos sociais atuais temos que lhes perceber como um iceberg. A parte visível são os protestos, os repúdios, enfim, os escrachos. Mas tem uma dinâmica interna que fica subsumida. São movimentos de transbordamento, que sempre querem ampliar suas pautas, mas que quando chegam no ápice em seu diálogo com a sociedade, na rua, acabam se defrontando com questões mais complexas e a indignação, por vezes, não se transforma em projeto coletivo. Entender os diversos modelos de organização social e popular no Brasil é algo central à construção de um partido de esquerda e o nosso PT deve estar em permanente construção. A crise do capitalismo iniciada em 2008 continua a gerar desigualdades em escala crescente e não apenas com vieses econômicos e sociais, mas que se materializam também através da cultura e do preconceito. Acreditamos ser fundamental a atuação nos diversos movimentos sociais e populares, seja na luta urbana ou rural, contra o latifúndio nacional e internacional, seja nas lutas comunitárias e nas periferias, onde os movimentos sociais são um “braço” importante para a superação destas desigualdades, buscando criar aproximações entre os movimentos

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tradicionais e estes, de novo tipo, dos indignados. Além disto, precisamos apostar na renovação partidária e sindical, que passa pelo fim das reeleições indefinidas, com limitação da continuidade de dirigentes em suas direções, além de lutar por mais investimentos em políticas públicas ao mundo do trabalho, autonomia e liberdade sindical, além do fim do imposto sindical obrigatório;

7. PARTIDO DA JUVENTUDE E DA RENOVAÇÃO. Um dos maiores desafios do PT é disputar a juventude brasileira com os valores da sociedade do consumo, em uma disputa sobre a hegemonia cultural do capitalismo, onde a ideia de solidariedade está apartada da vida em sociedade. Ao mesmo tempo, o fato de ser governo no país aumenta a responsabilidade do Partido e de seu Governo em oferecer razões e apresentar uma agenda de novos direitos para a juventude, sinalizando que esta é protagonista do nosso projeto estratégico. É a partir destes elementos que o PT e os movimentos sociais se renovarão e se conectarão com a atual geração de jovens. Por isso, defendemos que o PT construa uma Frente de Massas Autônoma, Libertária e de Luta, capaz de formar uma combativa militância identificada com nosso programa, mas com autonomia política que lhe dê condições de apresentar suas formulações críticas e pressionar o partido e nossos governos à esquerda.

8. PARTIDO VIVO NAS INSTÂNCIAS, SEM O PED. Existe uma crescente constatação dentro do PT que aponta o início do Processo de Eleições Diretas como o principal responsável pelo enfraquecimento das instâncias de base do Partido. O PED se tornou instrumento que visa quase exclusivamente o controle da máquina partidária em detrimento, consciente ou não, a articulação de luta social. É urgente a revisão do PED, não com a volta pura e simples do modelo congressual, mas com a criação de novo mecanismo que combine a participação direta do filiado na escolha das direções, com a característica congressual que é a da formação de um espaço capaz de gerar debate político e concertação de forma simultânea. Também defendemos que o PT agregue no seu funcionamento as formas de participação que defende na Reforma Política, como plebiscitos, referendo e consultas que devem ser convocados sob diversos temas, onde a militância do PT deve ser convocada também para definir as posições políticas do Partido.

ESTE MANIFESTO É UM CONVITE AO NOVO, é um convite a uma tendência radicalmente democrática e a um novo polo de formulação da esquerda do PT. Um polo de formulação para sacudir o partido, afastar letargias e omissões. Nossa militância tem os seguintes compromissos inarredáveis com a defesa:

1. Do Socialismo;

2. Do PT como instrumento de luta da classe trabalhadora;

3. Do internacionalismo, da solidariedade entre os povos e da paz;

4. Dos Direitos Humanos;

5. Do feminismo;

6. Das lutas dos diferentes movimentos sociais e populares emancipatórios;

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7. Da Democracia e do poder popular;

8. Do meio ambiente e da sustentabilidade em repúdio ao padrão de acumulação predatório atual;

9. Da ética nas relações internas, nos movimentos sociais e na vida;

10. Da CUT como um patrimônio político dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras;

11. Da igualdade racial e do combate ao racismo;

12. De uma agenda política, econômica e social que honre e amplie a trajetória de conquistas e os compromissos públicos eleitorais do PT;

13. Do SUS como patrimônio do povo brasileiro; da cultura como estratégica ao desenvolvimento e à emancipação social; e da educação inclusiva, cidadã e de qualidade, como um direito essencial a todos e todas.

AVANTE S21!Brasil, 27 de outubro de 2015