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MATÉRIA: CONTRATOS CIVIS LIVRO: MANUAL DE DIREITO CIVIL VOL. 3 – CONTRATOS – 4º EDIÇÃO – ROBERTO SENISE LISBOA – ED. SARAIVA CONTRATOS DE DOAÇÃO (pg. 207 – 217): Referência legislativa: art. 199, §4º da CF; arts. 538 a 564 do CC; Lei 10.211/2001; Lei 9.434/1997; Lei 4.701/ 1965 Noções do Instituto: Conceito: Doação é contrato por meio do qual uma parte assume a obrigação de entregar à outra, a título gratuito, determinado bem, que é por esta aceito. Objeto: A doação pode ter por objeto mediato a entrega de um bem móvel ou imóvel, que é transferido pelo doador, em caráter definitivo, ao donatário. A doação também é utilizada para a transmissão de determinados bens fora do comércio, a saber: a doação de órgãos, tecidos e de partes regeneráveis do corpo (como leite materno, sêmen, sangue etc.). Características: A doação é um contrato unilateral, consensual e gratuito. Ainda como característica da doação temos a formalidade, embora admita-se a doação verbal quando esta tiver por objeto bens móveis de pequeno valor, cuja tradição se fizer de imediato. A doação pode ser expressa ou tácita, valendo esta última apenas no caso de doação pura ou simples. A doação pode ser solene, caso em que a forma escrita será adotada, quando se tratar de bem móvel de grande valor; exigindo-se, ainda, a escritura pública, no caso de bem imóvel. A transferência gratuita do bem deve se dar mediante ato inter vivos. Se o bem somente vier a ser transferido em razão de disposição testamentária (ato mortis causa), não há doação, mas legado, submetendo-se o herdeiro legatário às normas jurídicas que versam sobre a sucessão por morte. Aceitação: O doador pode oferecer o bem e conceder um prazo para que o donatário manifeste a sua aceitação ou não. Considera-se que o silêncio do donatário ciente do prazo configura a sua aceitação, desde que a doação não imponha qualquer encargo ao beneficiário. Tradição: A doação é um contrato unilateral e, como tal, os riscos da coisa devem ser assumidos pelo doador (res perit debitori). Se a coisa perecer em poder do doador por sua culpa, na vigência do contrato, ele deverá indenizar o donatário. Não se aplica à doação a evicção, salvo nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, se outra orientação não houver sido adotada pelas partes no negócio jurídico (Evicção é a perda de um direito real sobre um bem, por força de decisão judicial transitada em julgado. A evicção pode ser total ou parcial. Sua natureza jurídica é de garantia fixada por lei, que se acha presente em todos os contratos onerosos – ver pg. 155 à 157). À doação com encargo se aplica a teoria dos vícios redibitórios. As demais modalidades de doação não se sujeitam à teoria dos vícios (Vícios Redibitórios são defeitos ocultos existentes à época da contratação que, não observados por aquele que obteve a coisa, proporcionam a sua inutilidade ao uso ou a diminuição do seu valor. Nos

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MATÉRIA: CONTRATOS CIVISLIVRO: MANUAL DE DIREITO CIVIL VOL. 3 – CONTRATOS – 4º EDIÇÃO – ROBERTO SENISE LISBOA – ED. SARAIVA

CONTRATOS DE DOAÇÃO (pg. 207 – 217):Referência legislativa: art. 199, §4º da CF; arts. 538 a 564 do CC; Lei 10.211/2001; Lei 9.434/1997; Lei 4.701/ 1965Noções do Instituto: Conceito: Doação é contrato por meio do qual uma parte assume a obrigação de entregar à outra, a título gratuito, determinado bem, que é por esta aceito. Objeto: A doação pode ter por objeto mediato a entrega de um bem móvel ou imóvel, que é transferido pelo doador, em caráter definitivo, ao donatário. A doação também é utilizada para a transmissão de determinados bens fora do comércio, a saber: a doação de órgãos, tecidos e de partes regeneráveis do corpo (como leite materno, sêmen, sangue etc.). Características: A doação é um contrato unilateral, consensual e gratuito. Ainda como característica da doação temos a formalidade, embora admita-se a doação verbal quando esta tiver por objeto bens móveis de pequeno valor, cuja tradição se fizer de imediato. A doação pode ser expressa ou tácita, valendo esta última apenas no caso de doação pura ou simples. A doação pode ser solene, caso em que a forma escrita será adotada, quando se tratar de bem móvel de grande valor; exigindo-se, ainda, a escritura pública, no caso de bem imóvel. A transferência gratuita do bem deve se dar mediante ato inter vivos. Se o bem somente vier a ser transferido em razão de disposição testamentária (ato mortis causa), não há doação, mas legado, submetendo-se o herdeiro legatário às normas jurídicas que versam sobre a sucessão por morte. Aceitação: O doador pode oferecer o bem e conceder um prazo para que o donatário manifeste a sua aceitação ou não. Considera-se que o silêncio do donatário ciente do prazo configura a sua aceitação, desde que a doação não imponha qualquer encargo ao beneficiário. Tradição: A doação é um contrato unilateral e, como tal, os riscos da coisa devem ser assumidos pelo doador (res perit debitori). Se a coisa perecer em poder do doador por sua culpa, na vigência do contrato, ele deverá indenizar o donatário. Não se aplica à doação a evicção, salvo nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, se outra orientação não houver sido adotada pelas partes no negócio jurídico (Evicção é a perda de um direito real sobre um bem, por força de decisão judicial transitada em julgado. A evicção pode ser total ou parcial. Sua natureza jurídica é de garantia fixada por lei, que se acha presente em todos os contratos onerosos – ver pg. 155 à 157). À doação com encargo se aplica a teoria dos vícios redibitórios. As demais modalidades de doação não se sujeitam à teoria dos vícios (Vícios Redibitórios são defeitos ocultos existentes à época da contratação que, não observados por aquele que obteve a coisa, proporcionam a sua inutilidade ao uso ou a diminuição do seu valor. Nos contratos de doação com encargo, torna-se possível o desfazimento da avença ou o abatimento do preço pago pelo interessado para obtenção da coisa – ver pg. 149 à 154). A doação em comum para mais de uma pessoa considera-se feita em partes iguais, salvo convenção em sentido contrário. E, nesse caso, se os beneficiados forem casados, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge que sobreviver. O doador não é obrigado a pagar juros moratórios pela não entrega do bem. É nula a doação: - de todos os bens sem a reserva de parte ou de renda suficiente para a subsistência do doador, mesmo que o donatário assuma o encargo temporário ou até mesmo vitalício de manter a subsistência do doador;- quanto à parte que exceder àquela que se poderia dispor por testamento, no momento da liberalidade.É anulável, por sua vez, a doação feita pelo cônjuge adúltero ao seu cúmplice, devendo o cônjuge inocente ou os herdeiros reclamar judicialmente em até 2 anos após a dissolução da sociedade conjugal. A doação à entidade futura caducará em 2 anos se ela não vier a existir nesse período.Elementos: São elementos do contrato de doação:

1. A liberalidade do doador.Obs.: A doação realizada por causa do merecimento do donatário não perde a sua característica de liberalidade, assim como a doação remuneratória e a gravada.

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A liberalidade excessiva do doador que o conduz à insolvência é passível de desconstituição mediante pedido formulado por qualquer credor prejudicado. Tal situação poderá, contudo, prevalecer caso o donatário assuma o passivo do doador (hipótese característica de novação subjetiva, extinguindo-se a relação obrigacional antecedente e desvinculando-se o doador por completo de seu cumprimento perante o credor interessado) (Novação é a criação de obrigação nova, para extinguir uma anterior. É a substituição de uma dívida por outra, extinguindo-se a primeira. A existência dessa nova obrigação é condição de extinção da anterior. Dá-se a novação quando, por meio de uma estipulação negocial, as partes criam uma nova obrigação, destinada a substituir e extinguir a obrigação anterior. Novação subjetiva: ocorre quando há substituição dos sujeitos da relação jurídica. Dá-se novação subjetiva, em duas hipóteses: 1. Por mudança de devedor – novação subjetiva PASSIVA (“quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor”, segundo dispõe o art. 360, II, do Código Civil); 2. Por mudança de credor – novação subjetiva ATIVA (“quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este”, nos termos do art. 360, III, do Código Civil);).

2. A aceitação da liberalidade, por parte do donatário.Obs.: Não há contrato de doação sem que o donatário concorde e aceite receber a coisa. A aceitação poderá ser expressa ou tácita, neste último caso identificável mediante a análise da conduta do beneficiário. A aceitação do donatário apenas constituirá o contrato de doação proposto pelo doador quando ela verificar antes do falecimento, tendo em vista que a doação não se confunde com a declaração unilateral de vontade e, portanto, não vincula o doador aos seus termos pelo simples fato de ele ter emitido a sua vontade nesse sentido. O contrato pressupõe consensualismo e a celebração do negócio inter vivos, motivo pelo qual a declaração do doador decai com a sua morte, caso a aceitação não seja declarada antes do óbito.

3. A intenção do doador de efetivar a transferência definitiva e gratuita da propriedade (animus donandi).

Obs.: O doador deve agir de forma espontânea, séria e livre no sentido de beneficiar o donatário com o bem, sem exigir, em princípio, alguma contraprestação. A doação pode ser efetivada em prol de mais de uma pessoa (doação conjunta), considerando-se a obrigação assumida pelo doador como obrigação divisível, exceto se o doador expressamente tiver estabelecido o direito de acrescer em prol do sobrevivente ou de outrem.Tipos de Doação:

1. Doação pura ou simples: É aquela realizada sem qualquer ônus ou restrição para o donatário e independentemente de qualquer outro evento. Na doação pura, dispensa-se a aceitação do donatário absolutamente incapaz. Considera-se modalidade de doação pura ou simples a chamada doação contemplativa, ou seja, aquela realizada por força da admiração que o doador tem pela pessoa do donatário.

2. Doação impura: É aquela que se sujeita aos elementos acidentais do negócio jurídico que lhe modificam o conteúdo. As principais formas de doação impura são: a doação condicional, a doação a termo e a doação com encargo.

3. Doação condicional: É a que depende da ocorrência de um evento futuro e incerto (às vezes pode nem sequer vir a suceder), independentemente do arbítrio exclusivo de uma ou de ambas as partes. Pode ser dar mediante condição suspensiva (inicial) ou por condição resolutiva (final). Na doação condicional suspensiva ou inicial os efeitos do contrato somente terão inicio a partir do evento. Na doação condicional resolutiva ou final os efeitos do contrato de transferência gratuita do bem se extinguirão com a ocorrência do evento, retornando a coisa ao patrimônio do doador.

4. Doação a termo: É a que depende da verificação de um evento futuro e certo ou, ao menos determinável. Pode ser: doação a termo suspensivo (inicial) ou a doação a termo resolutivo (final). Na doação a termo suspensivo ou inicial o contrato de doação somente terá efeitos a partir do evento esperado pelas partes. Na doação a termo resolutivo ou final a ocorrência do evento aguardado implica a extinção do contrato, com o retorno da coisa ao patrimônio do doador.

5. Doação com encargo, onerosa ou modal: É a doação efetivada mediante tarefa imposta ao donatário (obrigação de fazer), em prol do doador, de terceiro ou da coletividade. A doação modal possui eficácia desde o momento em que o contrato é celebrado, pouco importando que o encargo ainda venha a ser cumprido. Caso o encargo não seja efetivado pelo donatário, o doador poderá desfazer o contrato. O MP possui atribuição constitucional para exigir o cumprimento do encargo após a morte do doador, se o modo se demonstra benéfico para os titulares de interesses socialmente relevantes.

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6. Doação remuneratória: É a que se consubstancia, na realidade, em gesto de retribuição pelos serviços prestados pelo donatário, cuja atividade não possibilita ao prestador a cobrança judicial. Ex.: a concessão de gorjeta, pelo serviço do manobrista. A doação remuneratória é uma necessidade moral que o doador possui de compensar o donatário pelos serviços que lhe foram prestados.

7. Doação periódica: É a efetuada de forma sucessiva e em intervalos de tempo, ao respectivo beneficiário. Ex.: a doação mensal de alimentos. A doação em forma de subvenção periódica se extingue com a morte do doador. Todavia, o doador pode estipular norma diferenciadora, segundo a qual a doação subsiste até a morte do donatário. É a doação periódica uma forma de constituição de renda a titulo gratuito, cuja obrigação não se transfere em desfavor dos herdeiros.

8. Doação com reversão: É possível a doação com cláusula reversiva, no caso de o donatário falecer antes do doador, o que proporcionará a este último o retorno do bem ao seu patrimônio. A cláusula reversiva não pode beneficiar terceiro e a ele não se estende. Se o doador e o donatário forem comorientes, não se verifica a reversão, sendo o bem doado transmitido, por herança, aos herdeiros do donatário.

9. Doação a descendente: A doação de bem feita por um ascendente em favor de um descendente é considerada como um adiantamento da legitima, ou seja, antecipação da outorga de parte de bens cuja propriedade será transmitida aos sucessores hereditários. A doação em prol do descendente deverá se submeter à posterior conferencia, mediante a colação.

10. Doação ao cônjuge e ao convivente: É possível a doação ao cônjuge e ao convivente. Tanto o cônjuge sobrevivente como o convivente sobrevivente podem pleitear o direito à sucessão hereditária. No primeiro caso, deve-se verificar o regime de bens adotado para o casamento que se extinguiu com a morte do de cujos. Na outra hipótese, deve-se analisar se encontram-se presentes os pressupostos para o reconhecimento da união estável como entidade familiar e quais bens foram adquiridos em conjunto e onerosamente pelo de cujos e pelo convivente. Muito embora a lei civil torne possível a inserção de um ou de outro no concurso à sucessão hereditária, cônjuge supérstite ou sobrevivente ou, ainda, o convivente supérstite, somente poderá se insurgir contra a doação a descendente por força de antecipação da legitima, daí havendo a necessidade de seu consentimento (outorga uxória ou autorização marital, conforme o caso). Já a doação que contempla o cônjuge ou convivente é possível, não se podendo concluir que haveria, nesse caso, adiantamento da legítima. Proíbe-se, contudo, a doação simulada ou em fraude à lei de bens conjugais, contemplando-se uma pessoa que se encontra em concubinato com o doador, ainda, que o negócio seja feito por interposta pessoa.

11. Doação a nascituro: Doação ao nascituro é contrato unilateral por meio do qual uma pessoa decide contemplar o nascituro com determinado bem. Admite-se doação ao nascituro, desde que conte com a aceitação de seus pais. A doação ao nascituro é de natureza condicional suspensiva, podendo gerar efeitos mediante o nascimento com vida.

12. Promessa de doação: É o negócio jurídico por meio do qual uma pessoa se compromete a doar um bem em prol de outra. Por meio desse negócio, assume o promitente doador uma obrigação de fazer, que deverá ser cumprida em conformidade com o que dispõe o contrato de promessa, que deve conter, pois, todos os pressupostos de validade e de eficácia do negócio jurídico que se afigurarem compatíveis com a sua natureza jurídica. Não se confunde a promessa de doação com a doação a termo, que é doação que se concretizará mediante o advento do evento futuro e certo. Maria Helena Diniz entende que a promessa de doação é incompatível com a própria natureza do instituto, porque não se pode admitir que o promitente donatário possa ter o direito de reclamar a sua execução, sob pena de se viabilizar uma doação coativa e conversível em perdas e danos. Recorda a autora de jurisprudência, ademais, que afirma que não se pode impor um benefício, pois o ato de liberalidade não comporta execução forçada. O entendimento de Pontes de Miranda e de Cunha Gonçalves, que se afigura mais convincente, devendo-se ressaltar a possibilidade da promessa de doação se houver o pacto de donando. Como a doação é um contrato consensual, nada impede que o ajuste de vontades entre doador e o donatário se limite à promessa de firmar o contrato sem qualquer modalidade, no período avençado. Além disso, é de observar a situação que ocorre quando da promessa de doação em benefício de outrem, caso em que sucederá a promessa bilateral de doação, ou seja, ambos os negociantes procederão ao consenso de outorgar bem em prol de terceiro. A tese coativa da doação prometida deve ser afastada, porque o contrato decorre do voluntarismo das partes, manifesto por ocasião da celebração do negócio jurídico consensual. A alegação de coação sobre a vontade do

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promitente doador é inconsistente, pois ele se torna devedor desde a celebração da avença e, portanto, deve se submeter à exigibilidade decorrente do vínculo jurídico. A adoção da tese da coatividade poderia levar a equívocos inadmissíveis, como o de supor que um devedor fosse injustamente coagido ao cumprimento normal de sua obrigação, em qualquer negócio jurídico. A promessa bilateral de doação é cláusula inserida em um negócio jurídico de conteúdo mais amplo por meio do qual as partes deliberam que um terceiro será por elas beneficiado. Admite-se a promessa de doação aos filhos, em caso de separação ou divórcio, incumbindo à defesa dos interesses dos menores contemplados com o benefício advindo do acordo de dissolução da sociedade conjugal não somente aos seus genitores (que, na verdade tornam-se genuínos devedores solidários perante os filhos contemplados), como também do MP (que atua na defesa dos interesses individuais indisponíveis dos filhos incapazes) e do Poder Judiciário. É vedada, porém, a doação de bem alheio. Washington de Barros e Maria Helena Diniz estabelecem que tal doação somente se viabilizará em caráter excepcional através da ratificação do ato praticado pelo doador por ocasião de sua aquisição do bem que já foi doado.

13. Doação de bem comum: A doação de bem comum é possível, porém sempre depende do consentimento de ambos os proprietários. Assim, a doação do bem imóvel que seja de propriedade de ambos os cônjuges, em comunhão, depende do consentimento mutuo. Se o bem de um dos cônjuges, todavia, não se submeteu à comunicação dos aquestos, isto é, não se comunicou ao outro cônjuge em virtude do regime patrimonial adotado para a sociedade conjugal, a hipótese será de bem particular e não comum, tornando-se desnecessário o consentimento prévio do outro consorte para a concretização da doação. Outra será a situação quando o bem se encontrar sob o regime de co-propriedade ou compropriedade (propriedade conjunta).

Revogação da doação: Revoga-se a doação:1. Antes da aceitação do donatário, até mesmo porque ainda não se formou o contrato;2. No caso de ingratidão do donatário;

Obs: A ingratidão do donatário é tipificada por lei, sendo possível a revogação a esse pretexto, quando o donatário:

a. Atentar contra a vida do doador, salvo no caso de legítima defesa;b. Ofender a integridade física do doador;c. Proferir calúnia ou injúria grave contra o doador, podendo-se aí incluir a difamação;d. Recusar a prestar alimentos dos quais o doador necessitava para subsistir.

A ação revogatória da doação deve ser proposta em 1 ano, cujo termo inicial é data na qual o doador ou seus herdeiros, no caso de homicídio consumado pelo donatário em desfavor daquele, vierem a tomar conhecimento do fato. O direito de revogar a doação não se estende aos herdeiros, que podem, no entanto, prosseguir na ação intentada pelo doador antes de sua morte e ainda não concluída. A revogação por ingratidão não prejudica os direitos do 3º de boa fé nem obriga o donatário à restituição de frutos percebidos até citação processual válida. Não é preciso a condenação criminal do donatário para que se torne possível a revogação da doação. Por outro lado, não se revogam, por ingratidão, as doações:

I. Com encargo já cumprido;II. Puramente remuneratórias;III. Realizadas em cumprimento de obrigação natural;IV. Para determinado casamento.3. No caso de doação com encargo não cumprido, uma vez que a doação modal importa em obrigação,

embora secundária, assumida pelo donatário para a satisfação dos interesses não patrimoniais do doador (benefício honorifico a este ou benefício patrimonial ou moral para 3º). Inexistindo prazo assinado para o cumprimento do encargo, o doador deverá proceder à notificação judicial do donatário, fixando um prazo razoável para o cumprimento da obrigação assumida.

Cessão de órgãos e tecidos: A transmissão de órgãos e tecidos pode se dar mediante a autorização do titular do direito personalíssimo. Viabiliza-se, desse modo, a transferência de partes separadas do corpo de uma pessoa em benefício de outra, para fins medicinais ou meramente estéticos. Nesse sentido, deve-se diferenciar se a parte separada do corpo é destacável ou regenerável. Entende-se por parte separada do corpo mediante destaque aquela que é simplesmente retirada segundo os interesses do seu titular. Como o direito à vida constitui-se no fundamento e pressuposto dos demais direitos da personalidade, não se pode permitir a retirada injustificada de órgãos ou tecidos que possa ofender ou prejudicar a integridade física ou psíquica de uma pessoa, salvo para se proteger a sua vida, saúde ou segurança. Considera-se possível a extração de um

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dos chamados órgãos dúplices, desde que o outro órgão não extirpado possa exercer a atividade que naturalmente deve realizar. É o que se verifica, por exemplo, no transplante de rim. As partes separadas regeneráveis podem ser transmitidas pelo seu titular quando lhe aprouver, desde que não se prejudique ou ofenda a sua vida, nem a sua integridade física ou psíquica. Isso explica porque a transfusão de sangue pode ser realizada até onde o organismo pode suportar. Se a parte separada é regenerável e sua dissociação com o corpo não tem condições de prejudicar a integridade biopsíquica do interessado, ele poderá livremente dela dispor, inclusive mediante remuneração, quando entender que é o caso. Ex.: venda de cabelo. Em conformidade com a legislação vigente, o incapaz não poderá autorizar qualquer disposição de seus órgãos ou tecidos a menos que os seus pais ou o responsável legal expressamente o permita. A Lei nº 10.211/01, expressamente consigna que a remoção de órgãos e tecidos de pessoa falecida (remoção post mortem) somente poderá se verificar mediante autorização prévia de seu responsável legal, a saber: o ascendente, descendente, colateral de 2º grau ou o cônjuge.

CONTRATOS DE LOCAÇÃO (pg. 225 – 228)Referência legislativa: arts. 565 a 578 do CC.Conceito: Locação de coisa é contrato por meio do qual o proprietário de um bem infungível (o locador) transfere provisoriamente a posse a outra parte (o locatário), mediante o pagamento de remuneração periódica. Trata-se de contrato de uso e gozo de bem infungível, consensual, bilateral e oneroso. Obs.: Se a coisa cedida a título temporário puder ser substituída por outra de mesma espécie, qualidade e quantidade, a hipótese será de contrato de mútuo oneroso, em virtude da remuneração ajustada, que terá a natureza de juros. A infungibilidade do bem é, portanto, elemento essencial do contrato de locação da coisa. Torna-se possível a locação de coisa móvel e fungível por natureza, porém infungível por convenção, como sucede, por exemplo, com a locação de queijo ou de vinho por meio da cláusula ad pompam vel ostentationem, que destina o bem para simples exposição pública e deleite. O contrato de locação de coisa possui como elementos básicos: o consenso das partes, o bem e a remuneração pelo uso temporário dele (aluguel). Admite-se a locação de coisa por prazo determinado e por prazo indeterminado. A locação por tempo determinado finda com o advento do seu termo final, independentemente de aviso ou notificação. Se o locatário, porém, continuar na posse da coisa sem oposição da outra parte, apesar de vencido o prazo contratual, haverá a presunção de prorrogação automática da locação, adotando-se o mesmo valor de aluguel e o prazo indeterminado. Com isso, o contrato somente se terá por extinto mediante a notificação do locador ao locatário, que deverá restituir a coisa ao seu proprietário, sob pena de arcar com o aluguel que o locador vier a arbitrar, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, ainda que motivados por caso fortuito. O arbitramento excessivo poderá ser reduzido por decisão judicial. Por outro lado, se a coisa alugada foi vendida a outrem, o novo proprietário não estará obrigado a respeitar a locação, a não ser que alguma cláusula preceitue sobre a sua vigência, por ocasião da compra do bem. Assim, a alienação do bem móvel a terceiro não submete este aos termos do contrato de locação, a não ser que o contrato expressamente estabeleça tal direito em prol do locatário e esteja registrado em cartório. Na locação de coisa por tempo determinado, falecendo o locador ou o locatário, os direitos são automaticamente cedidos em favor de seus herdeiros respectivos. A sublocação de coisa infungível é admissível, respondendo o sublocatário pelo dano que porventura vier a dar causa. Tratando-se de contrato acessório, a sublocação vincula-se aos termos do contrato principal, pouco importando se ela é total ou parcial. O sublocatário tem o direito de preferência na aquisição da coisa infungível que foi a ele locada e permanecerá com o bem até o final da locação.Obrigações do Locador: O locador ou senhorio tem as seguintes obrigações:

1. Entregar a coisa ao locatário, acompanhada de seus pertenças;2. Garantir o uso pacífico do bem em favor do locatário, durante o período de vigência da locação;3. Resguardar o locatário dos embaraços e turbações de terceiros sobre o bem locado;4. Promover os meios para possibilitar a manutenção da coisa que esteja sob risco de deterioração

durante o contrato;5. Responder por vício ou defeito da coisa anterior ao início da locação;6. Indenizar o locatário por benfeitorias necessárias e úteis implementadas na coisa;7. Dar preferência ao locatário para aquisição do bem, nas mesmas condições que o oferecerá a 3º.

Verificando-se a alienação a terceiros de forma regular, devidamente precedida da notificação premonitória do locatário, o adquirente não terá a obrigação de manter a locação, a menos que no contrato expressamente conste a cláusula de vigência.

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8. Nos contratos com prazo determinado, o locador não poderá reaver a coisa locada antes do termo final, a não ser que venha a arcar com as perdas e danos daí rsultantes.

Enquanto não for indenizado, o locatário poderá exercer o direito de retenção sobre a coisa. Tais obrigações se estendem, salvo convenção em sentido contrário, a título de obrigação solidária ao locatário ou sublocador, que acaba por locar a coisa a outrem, mediante a prévia autorização do locador.Obrigações do Locatário: O locatário ou inquilino é obrigado a:

1. Arcar com os custos da manutenção regular e normal da coisa, durante a vigência da locação. O locatário tem a obrigação de conservar a coisa como se fosse sua, durante o período de contratação.

2. Dar a coisa locada a finalidade para a qual ela contratualmente ou por natureza se destina. O locador pode obter o desfazimento do contrato e a indenização por perdas e danos, no caso de o locatário vir a conferir à coisa destinação diversa do pactuado ou a danificar, por abuso de direito, o bem.

3. Pagar pontualmente o aluguel. Se a locação não tiver sido celebrada com o oferecimento de garantia (caução real ou caução fidejussória), o aluguel poderá ser exigido antecipadamente.

4. Comunicar imediatamente ao locador eventual turbação ao bem, por parte de terceiro;5. Restituir a coisa no estado em que a recebeu, ao término do prazo ficado em contrato, ressalvado o

desgaste normal devido ao uso regular do bem;6. Nos contratos com prazo determinado, o locatário não poderá restituir a coisa ao locador antes do seu

termo final, a não ser que aceite arcar com o pagamento da multa contratual.Responsabilidade pelo risco da coisa: Sendo a locação de coisa móvel um contrato bilateral, em princípio incide a res perit creditoris. Se a coisa alugada se deteriorar sem culpa do locatário, este poderá obter a redução proporcional do aluguel ou o desfazimento do contrato, se o bem não se prestar mais ao fim contratado. Encontrando-se o locatário em mora, ainda que não tenha culpa, arcará com os riscos da deterioração.LOCAÇÃO DE GARAGEM: Conceito: Locação de garagem é contrato por meio do qual o locador da coisa cede mediante remuneração e por prazo temporário o direito de uso e gozo de vaga de garagem. Trata-se de contrato consensual, comutativo, oneroso e bilateral. A vaga de garagem pode ser demarcada ou não. O locatário é quem responde pelo riso da coisa locada, exceto se decorrente de caso fortuito ou de força maior.

LOCAÇÃO PREDIAL (pg. 229 – 245)Referência legislativa: Lei 8.245/1991.Conceito: Locação Predial é o contrato por meio do qual o locatário ou inquilino obtém a transferência provisória da posse de um imóvel ou de sua fração, construído mediante o pagamento periódico de remuneração (aluguel) ao locador. O contrato de locação predial é consensual, bilateral, oneroso e comutativo. Muito embora vigore o princípio da liberdade da forma, o contrato de locação de imóvel deve ser celebrado sob a forma escrita, nas seguintes hipóteses:

A. Na cessão de locação, sublocação ou no empréstimo parcial ou total do imóvel (art. 13);B. Na resolução de contrato escrito de locação de imóvel para fins residenciais, se o locatário

continuou na posse do bem, apesar de o termo final já ter se verificado (art. 46);C. Na renovação de contrato escrito de locação de imóvel para fins não residenciais (art. 51, I);

O prédio pode ser rústico ou urbano. Prédio Rústico é aquele que se destina à economia rural, em suas diversas formas de exploração: agrícola, pecuária, extrativista e agroindustrial. Prédio Urbano é aquele que se destina ao uso residencial ou à economia desvinculada das atividades ligadas ao uso da terra. A diferença entre o prédio rústico e o urbano não é geográfica, mas sim de utilidade que se confere ao bem. Assim, se o imóvel se encontra fora da área urbana de um município, porém seu proprietário lhe confere destinação diversa da economia rural, a locação por ele eventualmente celebrada será urbana.Espécies de locação de imóvel:O imóvel pode ser locado para os seguintes fins:

A. Locação residencial urbana;B. Locação não residencial, incluindo-se a comercial;C. Locação para exploração agrícola ou pecuniária de prédio rústico; eD. Locação de temporada (time sharing).

Regras comuns da locação de imóveis:Todo contrato de locação de coisa pressupõe: consensus, res e aluguel. Não há locação sem a convergência de vontades do locador e do locatário, que fixam os parâmetros pertinentes à cessão do bem, sua finalidade e

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o pagamento decorrente da sua utilização. Muito embora o locador seja normalmente o proprietário do bem, nada impede que a locação se verifique por meio de outra pessoa que, embora locadora, não é a proprietária da coisa. A coisa objeto da locação deve ser corpórea, sob pena de se verificar o contrato de cessão de direitos, e não propriamente a alocação. O aluguel é a remuneração paga pela utilização e fruição temporária da coisa provisoriamente entregue ao locatário. Há regras comuns para: a locação civil residencial, a locação não residencial e a locação de temporada.São elas:

A. O contrato de locação de imóvel pode ser celebrado por qualquer prazo;B. O contrato de locação de imóvel celebrado por prazo superior a dez anos necessita de outorga

uxória ou de autorização marital.C. Pode haver sublocação, mediante a concordância prévia do locador, se a locação for de prédio

urbano.Nas demais modalidades de locação de imóvel, a sublocação é implícita à natureza do negócio. A sublocação decorre d contrato firmado entre o locatário (sublocador) e o terceiro (sublocatário), cujo negócio jurídico é acessório em relação à locação. Não há, pois, qualquer vínculo entre o locador e o sublocatário. Em caráter excepcional, a lei pode expressamente autorizar que o locador atue diretamente contra o sublocatário pelo fato de ele estar na posse direta da coisa, exigindo o cumprimento do conteúdo do negócio. O sublocatário possui os mesmos direitos obtidos pelo sublocador no contrato principal. Consequentemente, o sublocatário é o responsável subsidiário perante o locador, pela falta de pagamento. Assim, havendo o locador proposto a ação de despejo por falta de pagamento em face do locatário, o sublocatário deverá ser cientificado, para que possa atuar como assistente do locatário na relação processual, até mesmo porque ele é quem terá que responder pelo pagamento dos aluguéis, caso o locatário não o faça. Além disso, o sublocatário responderá por qualquer dano que tenha causado ao imóvel. A extinção do contrato de locação resolve a sublocação, assegurando-se o pagamento de indenização em prol do sublocatário, a ser arcada pelo sublocador, Nesse caso, deve-se conferir um prazo para que o sublocatário saia do imóvel. Havendo benfeitorias necessárias efetuadas no imóvel pelo sublocador, ele terá direito a indenização correspondente, podendo, até que ela seja paga, exercer o direito de retenção. Situação parecida ocorre com as benfeitorias úteis, porém o direito de retenção e o direito de indenização somente são cabíveis mediante a prévia autorização do proprietário para a implementação dessa categoria de benfeitoria. Equiparam-se aos locatários ou sublocatários em direitos e obrigações os ocupantes de habitações coletivas multifamiliares. Tratando-se de prédio rural, a hipótese será de arrendamento rural.

D. Havendo mais de um sujeito em um ou ambos os polos da relação jurídica, entende-se que a responsabilidade contratual dos locadores ou locatários é solidária.

E. O locador pode exigir do locatário uma dessas garantias, se não decidir por exigir o pagamento do mês vincendo, até o sexto dia útil:

1. Caução, em bens móveis ou imóveis;2. Fiança; ou3. Seguro de fiança locatícia.F. A extinção do contrato por resilição ou resolução se firma nos seguintes preceitos:1. Nos contratos de prazo determinado:

1.1 Durante o prazo de duração do contrato, é vedada a retomada do imóvel, provocada por ato do locador;

1.2 A denúncia unilateral do locatário antes do término do prazo contratual importa no pagamento da multa pactuada ou fixada judicialmente, a título de cláusula penal, salvo se efetuar a notificação premonitória do locador, com prazo de 30 dias.

2. Nos contratos de prazo indeterminado:2.1 O locatário pode denunciar o contrato, mediante notificação premonitória de 30 dias, sob pena

de pagar o correspondente a 1 mês de aluguel e encargos;2.2 O adquirente do imóvel ou o compromissário comprador com cláusula de irrevogabilidade

poderá denunciar a locação, com notificação premonitória de 90 dias;3. Em qualquer situação, igualmente extinguem o contrato de locação de imóvel:

3.1 O distrato, que é o negócio jurídico que põe termo ao negócio jurídico anteriormente celebrado e que se encontrava vigente;

3.2 A infração legal ou contratual;3.3 O descumprimento do pagamento do aluguel e encargos;

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3.4 A necessidade da realização de reparos urgentes.G. O contrato de locação de imóvel não se extingue necessariamente com a morte.

Morrendo o locador, a sua situação jurídica contratual é assumida, em sub-rogação, pelos herdeiros. Morrendo o locatário, a sua situação jurídica contratual é assumida, em sub-rogação:

A. Na locação residencial, observa-se a seguinte ordem: o cônjuge ou o companheiro supérstite, o herdeiro necessário e o dependente do de cujos. Se um dos cônjuges ou dos conviventes locar o imóvel, o outro poderá prosseguir como locador, no caso de morte.

B. Na locação não residencial, o espólio ou o sucessor do negócio.H. Nos casos de separação, divórcio ou extinção da união estável, a locação prosseguirá

automaticamente com aquele que permanecer no imóvel.I. No caso de alienação do bem, o direito de preferência é conferido, primeiramente ao sublocatário

e, caso ele não venha a exercê-lo, ao locatário, com prazo de 30 dias, sob pena de responder o locador com o pagamento de indenização por perdas e danos.

J. O locatário será indenizado tão somente pelas benfeitorias necessárias e pelas benfeitorias úteis, estas últimas se previamente autorizadas.

Direitos e obrigações do locador:O contrato de locação de imóvel confere os seguintes direitos em benefício do locador:

A. O penhor legal sobre os bens móveis que o locatário tiver no prédio, como garantia do pagamento dos aluguéis.

B. Privilégio especial sobre utensílios domésticos dos prédios urbanos e rústicos, para fins de recebimento dos alugueis.

C. Exigir uma das seguintes garantias locatícias:1. A caução real sobre bens móveis, procedendo-se ao registro de penhor junto ao cartório de títulos e

documentos;2. A caução real sobre bens imóveis, procedendo-se à hipoteca junto ao cartório de registros de

imóveis;3. O pagamento de caução em dinheiro, em até três vezes o valor do aluguel, por meio de depósito em

caderneta de poupança;4. A caução fidejussória, destacando-se a fiança locatícia;5. O seguro de fiança locatícia, correspondente ao pagamento de uma taxa mensal ou anual para

garantir o pagamento dos aluguéis;D. Autorizar a sublocação, cessão ou o empréstimo do bem a terceiros;E. Obter judicialmente a revisão do valor do aluguel após três anos da vigência do contrato;F. Promover a ação de despejo por falta de pagamento ou, ainda, a ação de despejo por denúncia

motivada ou imotivada;G. Reaver a posse direta do bem para si, ao término da vigência do contrato.

Se, por acaso, o locador pretender reaver a posse direta do bem para si antes do termo final do negócio jurídico, deverá arcar com o pagamento de perdas e danos em favor do locatário, que poderá, por sua vez, exercer o direito de retenção até o recebimento do valor a ser arbitrado judicialmente.São obrigações do locador:

A. Entregar o imóvel, assim como seus acessórios, garantindo ao locatário o seu uso pacífico;Obs.: A linha telefônica pode ser retirada do imóvel, havendo ajuste das partes neste sentido. Caso contrário, deve-se entender que ela integra o imóvel como pertença.

B. Responder por vícios anteriores à locação;C. Fornecer quitação específica do aluguel e, se exigido por ocasião da entrega das chaves,

descrição minuciosa do estado do bem;D. Pagar: taxa de administração imobiliária, impostos, taxas, seguro contra incêndio e despesas

extraordinárias de condomínio;A obrigação de pagar impostos, taxas e seguro contra incêndio pode ser transferida para o locatário, caso as partes convencionem nesse sentido.

E. O proprietário não pode, durante a locação, mudar a destinação do imóvel;F. Proceder ao pagamento de indenização de benfeitorias necessárias e, se previamente autorizou,

ao pagamento por benfeitorias úteis realizadas no imóvel pelo locatário;G. Observar o direito de preferência do locatário ou do sublocatário, se houver tal contrato

acessório, caso pretenda alienar o bem locado.

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Para tanto, o locador deverá notificar quem se encontra na posse direta do bem (o locatário ou o sublocatário), para que efetue o depósito alusivo à quitação, na mesma forma e condições que oferecerá a terceiros. A preferência é exercida primeiramente pelo sublocatário, porque ele é quem se acha na posse direta da coisa.Direitos e obrigações do locatário:São obrigações do locatário:

A. Pagar o aluguel e os encargos legais e contratuais, entre eles: despesas ordinárias de condomínio, água, luz, gás etc.;

B. Utilizar-se do imóvel para o fim convencionado;C. Cuidar do imóvel como se fosse seu, restituindo-o, ao termo final do contrato, no estado em que

o recebeu, consideradas as deteriorações normais decorrentes do uso;D. Comunicar imediatamente o locador sobre turbação de terceiro ou reparo que o proprietário

deva efetuar;E. Reparar os danos que provocar, por si ou seus moradores, no bem;F. Observar a convenção de condomínio e o regulamento interno do prédio;G. Permitir a vistoria do locador ou de seu mandatário no imóvel.

A concessão de garantia real ou pessoal não é uma obrigação do locatário enquanto não houver convenção a respeito do assunto.REGRAS PRINCIPAIS DA LOCAÇÃO RESIDENCIAL:As principais regras da locação de imóvel para fins residenciais são as seguintes, observados os dois principais regimes jurídicos existentes: o da locação com prazo igual ou superior a 30 meses e o da locação com prazo inferior.

A. A locação com prazo igual ou superior a 30 meses:- Extingue-se com o advento do seu termo final, independentemente de notificação premonitória;- Prorroga-se por ato inequívoco de permanência do locatário por mais de 30 dias após o seu termo final e por ausência de oposição do proprietário, caso em que o novo prazo será indeterminado, tornando-se a locação original em contrato com prazo indeterminado, que pode ser denunciado a qualquer tempo, mediante notificação premonitória (denuncia vazia).B. A locação com prazo inferior a 30 meses:1. Pode ser celebrada de forma verbal ou por escrito;2. Findo o prazo estabelecido, prorroga-se automaticamente, por prazo indeterminado, caso em que a

retomada poderá se dar:2.1 Pela extinção do contrato de trabalho, se este deu causa à locação.2.2 Para uso próprio, do cônjuge ou companheiro, de ascendente ou de descendente, sem imóvel

residencial próprio.2.3 Para demolição e ou edificação aprovadas pela administração pública.2.4 Se a locação durar mais de cinco anos ininterruptos.2.5 Por distrato.2.6 Por infração à lei ou ao contrato, incluindo-se aqui o não pagamento de aluguel ou de encargo.2.7 Para reparos urgentes.

REGRAS PRINCIPAIS DA LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL:As principais regras da locação de imóveis para fins não residenciais são as seguintes:

A. O contrato por prazo determinado não é automaticamente renovado, cessando de pleno direito com o advento do termo final, independentemente de notificação. A locação é, pois, celebrada por tempo determinado e prazo certo;

B. Quando o locatário continuar no imóvel por mais de 30 dias após o termo final do contrato, sem oposição do locador, considera-se prorrogada a locação, por prazo indeterminado;

C. O contrato por prazo indeterminado pode ser denunciado por escrito, conferindo-se prazo de 30 dias para desocupação do imóvel, a partir da notificação premonitória;

D. A relação locatícia entre locador e locatário pessoa jurídica, com o objetivo de destinar o bem aos seus respectivos titulares, diretores, sócios, gerentes, executivos ou empregados, é considerada locação não residencial;

E. A locação não residencial poderá ser renovada, caso o locatário assim o deseje, quando, cumulativamente:

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- O contrato escrito tiver prazo determinado de, no mínimo, cinco anos, ou o somatório do período locatício corresponder a lapso temporal equivalente;- O locatário esteja explorando a mesma atividade de mercancia há, no mínimo três anos.

F. O locador não é obrigado a renovar o contrato quando:- Tiver que efetuar obras ou modificações substanciais no imóvel, por determinação do poder público;- O bem for retomado para uso próprio ou transferência de fundo de comércio diverso, existente há mais de 1 ano, com participação majoritária do próprio locador, do seu cônjuge, de ascendente ou descendente.

G. No caso de extinção da sociedade por morte, é possível a sub-rogação do direito de renovação, permanecendo o sócio sobrevivente no mesmo ramo de atividade;

H. A ação renovatória deve ser proposta entre 1 ano e 6 meses antes do término do contrato por prazo determinado, sob pena de decadência;

I. A locação celebrada por entidade autorizada e fiscalizada pelo poder público de saúde, de ensino, de asilo, ou por entidade religiosa pode ser desfeita:- Pela quitação do compromisso de compra e venda do imóvel a terceiro, devidamente registrado;- Pelo distrato;- Pelo descumprimento de obrigação contratual; e- Pela realização de reforma urgente determinada pelo poder público.

REGRAS PRINCIPAIS DA LOCAÇÃO EM SHOPPING CENTER:A relação jurídica celebrada entre lojistas e empreendedores de Shopping Center é considerada locação não residencial. Na locação de espaço, loja, ou ambiente em shopping Center, não se podem cobrar do locatário as seguintes despesas:

1. Obras ou substituições de equipamento, modificativas do projeto ou memorial descritivo;2. Reformas ou acréscimos;3. Pinturas;4. Entradas de ar e luz;5. Esquadrias externas; e6. Indenizações trabalhistas e previdenciárias.

Em shopping Center, o locador não poderá recusar a renovação, sob o pretexto de que pretende a retomada do bem, para fins de uso próprio ou transferência do fundo de comércio seu ou de sua família, desde que seja diverso daquele existente. A ação renovatória deve ser proposta no prazo de 1 ano e 6 meses antes do término do contrato por prazo determinado.REGRAS PRINCIPAIS DA LOCAÇÃO DE TEMPORADA:Locação de temporada (time sharing) é aquela que se realiza durante período não superior a noventa dias, para fins de: laser, tratamento de saúde, residência temporária, entre outros. A locação de temporada pode ocorrer tanto sobre imóveis situados na área urbana como na rural, pouco importando, destarte, se ele se encontra situado na orla marítima ou não. Assim, situações outras podem perfeitamente ser contempladas, desde que com a finalidade citada anteriormente. Imóveis situados em estâncias hidrominerais, na praia, no campo, enfim, pouco importa a localização geográfica do bem.A locação de temporada se destina a suprir provisoriamente, até o prazo máximo constante da legislação civil vigente, os interesses das partes. O locador pode exigir o pagamento antecipado dos alugueres se não obteve para si as garantias locatícias (caução, seguro fiança ou fiança). Nos contratos de temporada o locador tem o direito de cobrar antecipadamente os aluguéis quando a locação não tiver sido garantida por meio de caução real ou fidejussória. Com o termo final do contrato, permanecendo o locatário no imóvel por mais de 30 dias, sem oposição do locador, considera-se prorrogada a locação por prazo indeterminado. A partir de então, o aluguel não mais poderá ser exigido antecipadamente, mas apenas mensalmente, já que o contrato passa a ser regido pelas normas aplicáveis às locações de imóveis residenciais. Prorrogada a locação de temporada por prazo indeterminado, somente caberá denuncia em um desses casos:

1. Após 30 dias da prorrogação;2. Para uso próprio do locador ou de sua família;3. Por força da extinção do contrato de trabalho do qual ela se originou;4. Pelo distrato;5. Pelo descumprimento das obrigações pactuadas; e6. Para a realização de reforma urgente determinada pelo poder público.

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Ação revisional de aluguel:A ação revisional de aluguel é a medida judicial de rito sumário destinada a fixação de nova remuneração a ser paga pelo locatário, na locação de imóveis residenciais. A ação revisional pode ser proposta de três em três anos, para a atualização do valor do aluguel, conforme o valor do mercado. Retroagindo seus efeitos à data da citação. Tanto o locador como o locatário possuem legitimidade ativa ad causam, buscando por essa via judicial, respectivamente, a majoração ou minoração do valor pactuado. O fiador não integrará o polo passivo da relação processual, porém deverá ser cientificado da existência da causa. Afinal, ele pode vir a interferir no feito na qualidade de assistente do locatário. Encontrando-se em ordem a petição inicial, o juiz designará audiência de tentativa de conciliação. O requerido deverá ser citado com antecedência mínima de 30 dias em relação à audiência, contados da data da juntada do mandado de citação devidamente cumprido. Durante a ação revisional, pode ser fixado aluguel provisório de até 80% do valor do pedido, devido a partir da citação e sujeito aos reajustes na forma disposta em contrato, bem como à revisão judicial a qualquer tempo. Não cabe ação revisional:

1. Quando o valor tenha sido convencionado de forma amigável; ou2. Na pendência de prazo para desocupação do imóvel.

Obs.: No curso da ação revisional, é possível a homologação de acordo de desocupação do bem.Frustrada a tentativa de conciliação, o julgador concederá ao requerido oportunidade para apresentar em audiência a sua contestação, por escrito ou verbalmente (caso em que se procederá a redução a termo). Na audiência de instrução e julgamento, as partes terão as oportunidade de produzirem a prova testemunhal que entenderem pertinente. E, apesar de se tratar de procedimento de rito sumário, a jurisprudência vem entendendo cabível a produção de prova pericial após a audiência. Descabe a fixação das verbas de sucumbência em ação revisional d aluguel, cujo desiderato limita-se à obtenção do novo valor do objeto do contrato de locação. A execução das diferenças eventualmente apuradas no curso da ação revisional será efetuada nos próprios autos principais, porém o novo aluguel arbitrado pelo juiz somente entrará em vigor mediante o registro da sentença junto ao cartório de títulos e documentos.Ação renovatória:A ação renovatória é medida judicial destinada à continuidade da relação locatícia não residencial. A ação renovatória pode ser proposta pelo locatário ou sublocatário do imóvel, que deve juntar com a petição inicial prova:

1. Do contrato escrito com prazo determinado, de cinco anos, ou cujo lapso temporal atinja essa quantidade de anos;

2. De exploração da mesma atividade comercial no ponto por, no mínimo, três anos; e3. Do cumprimento do contrato e da quitação dos alugueres e demais encargos.

Além disso, deverá indicar fiador e as condições de renovação do contrato.O locador poderá contestar a ação, alegando:

1. Melhor proposta de terceiro;2. A necessidade de retomada do bem para uso próprio ou transferência do seu fundo de comércio ou

de seu cônjuge, ascendente ou descendente;3. A modificação do imóvel, que aumente o valor do negócio ou da propriedade;4. A realização de obras no imóvel, por determinação do poder público;5. Que o autor-locatário não preencheu os requisitos da lei;6. Que a pedido do locatário não atende ao valor de mercado da coisa.

Ao contestar a demanda, o locador poderá obter, mediante pedido expresso, a fixação do aluguel provisório de até 80% do pedido. O locador poderá, ainda, solicitar a fixação do prazo ou do índice de reajuste do aluguel. Proferida a sentença, as diferenças dos alugueres vencidos devem ser executadas e pagas em uma única parcela, se for renovada a locação. A sentença que julgar improcedente a renovação deverá estabelecer prazo de até 6 meses para desocupação do imóvel.Ação de despejo:Despejo é a expulsão do inquilino (locatário ou arrendatário) do imóvel por ele ocupado. A ação de despejo é medida judicial auto-executável em que se identifica a presença de uma breve etapa cognitiva de rito ordinário. Ela pode ser proposta: pelo proprietário, pelo locador, pelo sublocador e pelo adquirente do imóvel. São fundamentos para a propositura da ação de despejo:

1. A realização de reparos urgentes, determinados pelo poder público;2. A demolição, edificação licenciada ou realização de obras que aumentam a área construída,

autorizadas pelo poder publico, na locação residencial;

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3. A demolição, edificação licenciada ou reforma do imóvel, que veio a ser adquirido por terceiro, que resulte em aumento da área útil em 50%, na locação não residencial;

4. Para fins de denuncia vazia;5. Para uso próprio, do cônjuge ou companheiro, ascendente ou descendente, que não disponha de

imóvel residencial;6. Pela falta de pagamento, caso em que deve ser apresentado, juntamente com a petição inicial, cálculo

discriminado do valor do débito, abrangendo-se alugueres em atraso e acessórios;7. Pelo descumprimento de obrigação contratual diversa do pagamento do aluguel.

Nos três primeiros casos, a petição inicial deve ser instruída com cópia da prova de propriedade do imóvel ou do compromisso de compra e venda registrado. No terceiro e nos demais casos, concordando o locatário com a desocupação, o juiz poderá determiná-la, fixando o prazo de 6 meses para tanto, a contar da citação, sob pena de expedição de mandado de despejo. Tratando-se de locador casado, faz-se necessária a outorga uxória ou a autorização marital, conforme o caso. Torna-se dispensável, assim, a citação do cônjuge, a menos que ele tenha subscrito o documento. O procedimento comporta a realização dos seguintes atos processuais: citação do réu e ciente o sublocatário porventura existente, abre-se prazo de 15 dias para a contestação. Nesse caso, o réu adotará uma das seguintes posturas:

1. Oferecerá a contestação, hipótese em que o juiz poderá antecipadamente julgar o feito, se assim entender, ou saneá-lo, determinando a abertura da instrução para a posterior elaboração de sentença;

2. Não contestará o feito, caso em que o juiz poderá de imediato proferir sentença; ou3. Procederá a purgação da mora, efetuando o depósito integral ou parcial do valor devido (se for

parcial, poderá ocorrer a complementação, sob pena de prosseguimento do feito pela cobrança da diferença e eventual concretização do despejo).

Toda matéria de defesa pode ser alegada pelo locatário na contestação, porém não se pode esquecer que a ação de despejo contém uma fase executória aequitatis causa. Por outro lado, não é possível ao locatário oferecer embargos por direito de retenção de benfeitorias, o que pode ser feito tão somente por ocasião da contestação ao pedido de despejo. As principais regras da ação de despejo são as seguintes:

1. Cabe deferimento liminar do pedido de desocupação, no prazo de 15 dias:1.1 Pela resolução do distrato, ou seja, do acordo extintivo da locação, ajustado entre locador e

locatário;1.2 Pela extinção do contrato de trabalho que originou a locação;1.3 Pelo advento do termo final da locação de temporada;1.4 Pela morte do locatário, sem sucessor contratual autorizado por lei;1.5 Pela permanência do sublocatário no imóvel, apesar de extinta a locação.

O locador requerente deverá, nas hipóteses acima mencionadas, prestar caução judicial equivalente a três meses de aluguel.

2. Na ação de desejo por falta de pagamento é cabível a purgação da mora, em até quinze dias após a decisão judicial que autorize o depósito a esse titulo.

Sendo insuficiente o depósito, o locatário deve proceder à sua complementação, em 10 dias. Não será cabível a emenda da mora se o locatário já tiver se utilizado desse expediente por duas vezes no período de um ano anterior ao ajuizamento da ação.Obs.: Purgação ou Emenda da Mora (art.401 CC) : Conceito: É a extinção dos efeitos futuros do estado moroso, em decorrência da oferta da prestação pelo devedor, acrescida de todas as perdas e danos até o dia da oferta, ou ainda, em face da prontificação do credor em receber a coisa, pagando todos os encargos advindos com sua demora em receber. Cessação da mora: a purgação da mora extingue os efeitos futuros desta, mas não os pretérios. A cessação ocorrerá por um fato extintivo de efeitos pretéritos e futuros, como ocorre quando há extinção da obrigação por novação e remissão de dívidas.Ação de consignação em pagamento:A ação de consignação em pagamento é medida judicial por meio da qual o locatário efetua o depósito judicial dos valores devidos a título de aluguel e demais encargos para se pôr fim à obrigação, porque:

A. O valor do aluguel era duvidoso;B. O locador achava-se em lugar incerto e não sabido;C. O locador se recusou a receber o aluguel ou o encargo;D. O locador tornou-se pessoa não conhecida do locatário.

A ação de consignação em pagamento de alugueis deve ser efetuada pelo próprio locatário, podendo o seu sucessor hereditário igualmente propor a demanda judicial. A consignação é cabível a qualquer tempo até a

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data da propositura da ação de despejo. Após, somente caberá a eventual purgação da mora. A ausência da citação do locador retira a validade dos depósitos judiciais porventura firmados. Por outro lado, o requerido poderá ser citado a comparecer em cartório para retirar o valor correspondente à locação. O recebimento importará em confissão e procedência do pedido. Ao contestar a ação, o locador poderá alegar:

A. Que não se recusou o recebimento da quantia devida, motivo pelo qual não sucedeu mora creditoris;B. Que recusou, por motivo justo, o recebimento do aluguel ou do encargo; ouC. Que o depósito não foi integral ou não se verificou no prazo e local do pagamento.

Além de oferecer contestação, o locador poderá oferecer reconvenção, requerendo o despejo e a cobrança dos valores que entender cabíveis. Finda a instrução, após as alegações finais das partes ao autos são encaminhados ao julgador para proferir sentença. Em sendo julgada procedente a ação, o locatário será notificado pelo juiz para desocupar o imóvel em determinado prazo, sob pena de despejo mediante a utilização de força policial.Garantias locatícias:O locador tem o direito de exigir alguma garantia de que o aluguel lhe será pago. Havendo previsão contratual a respeito, o locatário poderá assumir a obrigação de prestar as seguintes garantias:

1. Fiança Locatícia: contrato celebrado entre o locador e o fiador para a garantia de pagamento do aluguel, caso o locatário não venha a cumprir a sua obrigação;

2. Seguro de Fiança Locatícia: é o negócio jurídico por meio do qual o locatário efetua o pagamento periódico de um prêmio, normalmente mensal, à seguradora, que assumirá a responsabilidade pelo pagamento dos alugueis, em caso de inadimplência do locatário. Esta garantia não pode ser cumulado com qualquer outra garantia.

3. Caução em dinheiro: cujo valor depositado em caderneta de poupança não pode exceder a três vezes o valor do aluguel;

4. Caução real: é a garantia de outros bens móveis, ou ainda, imóveis, dada pelo locatário, ao locador.

CONTRATO DE FIANÇA (pg. 268 - 273)Referência legislativa: arts. 371 e 818 a 839 do CC.Conceito: Fiança é o contrato pode meio do qual uma das partes (o fiador) se obriga perante a outra parte (o credor de outro contrato) a garantir o pagamento devido pelo terceiro (afiançado), que é parte em contrato diverso celebrado com o credor, caso não venha a adimplir com suas obrigações. Trata-se de contrato acessório pessoal de garantia, que se destina a reforçar a situação de uma das partes, responsabilizando-se o fiador a satisfazer a obrigação, caso o devedor não a cumpra. A fiança é um contrato unilateral, gratuito, intuito personae, de garantia fidejussória e acessório. Não se admite fiança sem a adoção de forma escrita. As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, salvo se resultantes da incapacidade pessoal do devedor. Como o contrato de fiança é concluído entre o credor e o fiador, é correto afirmar que ele pode ser realizado sem a necessidade de anuência do devedor. Assim, o credor não é obrigado a aceitar o fiador indicado pelo devedor. Em princípio, todas as pessoas capazes com disponibilidade de bens podem ser fiadoras, salvo aquelas às quais a lei não confere legitimação. Ex.: o leiloeiro não pode ser fiador.Além da fiança convencional, duas outras modalidades devem ser lembradas:- Fiança Legal: a fiança legal é determinada para a garantia de bens e direitos. Ex.: o tutor tem seus bens afiançados para garantir os bens do pupilo.- Fiança Judicial: como sucede nas ações possessórias, para os efeitos de reintegração.Fiança Civil e Mercantil. Aval e Caução: A fiança pode ser civil ou mercantil, neste último caso porque decorre de um contrato empresarial. A distinção existia antes do novo Código, porque a fiança comercial se presume solidária, enquanto a fiança civil se presume subsidiária. Assim, o fiador comercial responde solidariamente pelo pagamento da dívida, enquanto o fiador civil responde, em principio, acessoriamente. Extinta a parte I do Código Comercial a partir da entrada em vigor do novo Código, as regras de fiança foram uniformizadas, daí se possibilitando a conclusão de que a fiança somente acarreta a responsabilidade solidária se ela decorrer de contrato ou de lei, pouco importando se a sua natureza é civil ou mercantil. Obs.: Não se confunde a fiança com o aval, nem com a caução. Aval é garantia dada em título de crédito. A fiança é garantia pessoal contratual. O aval é garantia posta em título de crédito. Enquanto a fiança somente gera responsabilidade solidária quando prevista em lei ou por força da renúncia do fiador ao benefício de ordem, o aval importa na responsabilidade solidária entre o devedor e o avalista. Caução é o depósito de um bem como forma de garantia do cumprimento de uma obrigação. Não é da essência da fiança o depósito

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garantidor da dívida. Por força de contrato, o fiador assume a responsabilidade de cumprir a obrigação, porém não é compelido, desde logo, a efetuar um depósito assecuratório da sua solvência.Garantia fidejussória e garantia real: A fiança também não se confunde com os direitos reais de garantia, quais sejam: a hipoteca, o penhor e a anticrese. A fiança é uma garantia fidejussória ou pessoal, ou seja, recai sobre todo o patrimônio daquele que se responsabiliza pela solvência do devedor, até o cumprimento de todas as obrigações afiançadas. A hipoteca incide sobre coisa imóvel, enquanto o penhor se aplica a um bem móvel, salvo disposição legal em sentido contrário. Apesar de o universo da garantia dada ao credor para o cumprimento da dívida ser bem mais abrangente quando se fala em fiança, ele é genérico, isto é, não específico, por recair sobre todo o patrimônio pessoal. Entretanto a garantia real é bem mais eficiente em prol do credor, pois ele pode perseguir a coisa onde quer que se encontre e com quem que esteja.Alcance da fiança:A fiança compreende o valor principal e todos os acessórios a ele, incluindo-se as despesas judiciais, contados desde a data da citação do fiador. A fiança pode ser total ou parcial, conforme alcance ou não o valor integral do débito principal. Nada impede que a fiança não recaia sobre todo o valor do débito, mas apena sobre parte dele. A fiança pode corresponder a um valor menor que o da obrigação principal se for contraída em condições menos onerosas. Contudo, se ela exceder o valor da dívida ou vier a se tornar mais gravosa, somente valerá até os limites da obrigação. Nesse caso, a responsabilidade do fiador ficará limitada pela obrigação afiançada. A fiança pode garantir tanto dívidas existentes como dívidas futuras. Tratando-se de fiança sobre dívida futura o fiador somente poderá ser demandado pelo credor quando a obrigação principal do devedor se tornar liquida e certa.Benefício de ordem:Toda fiança civil proporciona a responsabilidade subsidiária do fiador, salvo convenção em contrário. Benefício de ordem é exceção oposta pelo fiador, que tem por finalidade impedir que ele seja obrigado a efetuar o pagamento da dívida não adimplida pelo garantido. Pelo benefício de ordem, o fiador pode exigir, por ocasião da contestação, que primeiramente sejam executados os bens do devedor. Para tanto, deverá nomear os bens do devedor livres e desembaraçados existentes no mesmo município, cujo valor de venda judicial a ser arrecadado se demonstre o suficiente para solver a obrigação. O benefício de ordem não poderá ser invocado pelo fiador se ele:- o tiver renunciado expressamente;- se obrigou como responsável solidário, isto é, como se fosse o principal devedor;- se o devedor principal (afiançado) for insolvente ou falido. Efeitos da fiança:Verificando o credor que o fiador deve ser acionado para o pagamento do débito e não havendo a possibilidade de se aplicar o benefício de ordem em favor do garantidor, ele deverá efetuar o pagamento da dívida. As obrigações do fiador subsistem até o total cumprimento da obrigação. Cumprida a obrigação pelo fiador, este se sub-rogará nos direitos do credor perante o devedor, para fins de regresso.Fiança conjunta:Fiança conjunta é a garantia pessoal múltipla do cumprimento da obrigação principal. Nesse caso, o credor obtém mais de uma pessoa a afiançar a solvência do devedor principal. A fiança em conjunto prestada a um só débito por mais de uma pessoa acarreta a responsabilidade solidária entre elas, a menos que se reservem no benefício de divisão.Subfiança:Subfiança é o subcontrato da fiança, cuja finalidade é garantir a solvência do fiador perante o credor da relação jurídica principal. O subfiador recebe o nome de abonador, porque assume a posição de garantidor do fiador, ou seja, tornar-se o fiador de que o fiador do devedor principal é solvente para pagar a dívida. A responsabilidade do abonador é subsidiária à do fiador, ainda que este (primeiro fiador) venha a renunciar ao benefício de ordem. O abonador, no entanto, poderá renunciar ao benefício de ordem, hipótese na qual a sua responsabilidade equivalerá à do fiador. Haverá fiança conjunta.Abonação:Abonação é o reforço da fiança. A abonação pode ser: subjetiva ou objetiva. Tratando-se de abonação subjetiva, obtém o ingresso de outro fiador, seja mediante a formação da fiança conjunta ou por meio da subfiança, anteriormente exposta. Se a abonação for objetiva, declarar-se-á o aumento patrimonial do fiador, que poderá demonstrar tal fato, mediante a juntada de títulos de propriedade.Retrofiança:

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O fiador pode exigir a retrofiança. Retrofiança é a exigência, pelo fiador, da inserção de outro fiador, para os fins de eventual ação regressiva. A retrofiança não se confunde com o pedido do credor de aumento da garantia que lhe foi dada. Decorre da vontade do fiador, que prefere se assegurar de que poderá vir a receber, de alguma forma, pelo pagamento a que eventualmente tiver que proceder, no lugar do devedor principal. Assim, se o fiador tiver que efetuar o cumprimento da obrigação principal, ele terá outra pessoa, que não apenas o devedor, para se valer do direito de regresso e recuperar aquilo de despendeu.Benefício de divisão:Benefício de divisão é a exceção oposta pelo fiador, segundo a qual ele somente responderá pelo valor da dívida em observância ao rateio do valor do débito principal entre os fiadores existentes. O benefício da divisão pressupõe, destarte, a fiança conjunta sem responsabilidade solidaria. Só há benefício da divisão na fiança conjunta, pois é nessa situação jurídica que os fiadores respondem concomitantemente pela prestação inadimplida. Assim, o valor total do débito principal que não foi pago será dividido entre os fiadores, para que cada um contribua com a sua parte no adimplemento da obrigação. O percentual ou cota-parte a ser suportado por cada co-fiador pode não se demonstrar proporcional ou equitativo, por força de cláusula expressa que estabelece uma divisão diferenciada. O fiador que efetuar o pagamento integral da dívida se sub-rogará nos direitos do credor, em face dos demais. Não se confunde o benefício de divisão com a subfiança, uma vez que nessa última somente haverá a responsabilidade do subfiador se o fiador principal e o fiador não arcarem com o pagamento da dívida.Exoneração da fiança:O fiador pode ser exonerado da fiança, pouco importando se a sua responsabilidade é subsidiária ou solidária. Extingue-se a fiança, além dos casos ordinários de extinção dos contratos quando:- extingue-se o contrato principal;- o credor concede moratória ao devedor;- é impossível a sub-rogação dos direitos do fiador;- o credor aceita prestação diversa daquela que foi originariamente ajustada;- a compensar da dívida do fiador com a do seu credor afiançado.O fiador pode também se exonerar da fiança por ele assinada sem limite de tempo, notificando o credor a esse respeito. Por garantia, ficará ainda sujeito às suas consequências pelo prazo de 60 dias, contados da notificação. No caso de insolvência ou incapacidade do fiador, este deve ser substituído.

COMODATO (pg. 260 - 262)Referência legislativa: arts. 579 a 585 do CC. Contratos de empréstimo: Contrato de empréstimo é o negócio jurídico por meio do qual uma parte obtém, temporariamente, a posse de determinado bem, para conservá-lo, podendo dele se utilizar a título gratuito ou oneroso. Os contratos de empréstimo são contratos reais, isto é, contratos que possuem eficácia tão somente com a entrega da coisa.Conceito de comodato:Comodato é contrato por meio do qual uma das partes (o comodatário) obtém da outra (o comodante) a transferência provisória de um bem, para uso. Trata-se de contrato de empréstimo unilateral, real, temporário e, em regra, gratuito. Pode ser objeto do contrato de comodato qualquer bem infungível ou inconsumível, nos termos da legislação civil. No entanto, admite-se a infungibilidade por convenção das partes, por meio da cláusula ad pompam vel ostentationem, hipótese na qual o comodatário se utilizará de bem fungível por natureza, como se infungível fosse, para os fins de decoração em determinadas ocasiões ou festividades, sem que venha a destruí-lo. Ex.: queijos e vinhos raros, flores etc.Prazo:Apesar de temporário, o contrato de comodato pode ou não ter fixado prazo determinado, conforme o que for estabelecido pelas partes a esse respeito. Caso o comodato não tenha prazo determinado, presumir-se-á que este será aquele necessário para o uso conferido. Em se tratando de comodato por prazo indeterminado, somente caberá a retomada do bem antes do período necessário para o uso nos moldes avençados quando houver decisão judicial reconhecendo necessidade urgente e imprevista do comodante.Principais regras:As principais regras do comodato são:

a. O contrato somente se aperfeiçoa com a entrega da coisa;b. Os tutores, os curadores e os administradores em geral não podem dar em comodato os bens que

estão confiados à sua guarda, a menos que tenham autorização especial para tanto;

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c. São obrigações do comodante:- Entregar o bem, conforme ajustado;- Velar pelo uso pacifico do bem entregue em comodato, durante o prazo contratual.

d. São obrigações do comodatário:- Usar a coisa, conforme ajustado, sob pena de responder por perdas e danos;- Conservar a coisa como se fosse sua;- Responder por danos da coisa, enquanto esta estiver em seu poder.

e. Se vier a incorrer em mora, o comodatário responderá pelo pagamento de aluguel da coisa arbitrada pelo comodante e por seus riscos, seguindo-se as regras da locação;

f. O comodatário jamais poderá obter restituição pelas despesas decorrentes do uso da coisa emprestada, durante o prazo contratual;

g. Se o objeto do comodato for abandonado pelo comodatário, mesmo que tenha procurado salvaguardar os seus bens, este responderá por perdas e danos, ainda que se trate de caso fortuito ou de força maior;

Trata-se de exceção à regra res perit creditori, segundo a qual o comodatário não é obrigado a pagar qualquer indenização por caso fortuito.

h. No caso de comodato conjunto, isto é, de duas ou mais pessoas serem comodatárias, a responsabilidade delas será solidária.

MÚTUO (pg. 263 - 265) Referência legislativa: arts. 586 a 592 do CC; Decreto 22.626/1933; Lei 1.521/1951.Conceito de mútuo: Mútuo é o contrato por meio do qual uma parte (o mutuário) obtém da outra (o mutuante) a transferência provisória de um bem fungível e consumível. Trata-se de contrato de empréstimo de coisa fungível, real, unilateral, temporário e, em regra, gratuito. A gratuidade do contrato de mútuo não implica a exoneração do mutuário em restituir bem fungível de mesmo gênero, qualidade e quantidade ao mutuante. O empréstimo da coisa fungível transfere ao mutuário o domínio da coisa emprestada. É possível o mútuo a titulo oneroso, vindo a arcar o mutuário com um pagamento que se acresce a obrigação de restituir bem fungível, ao término de vigência do contrato.Mútuo oneroso e gratuito:O mútuo pode ser:

a. Mútuo gratuito;b. Mútuo oneroso ou feneratício, incidindo juros sobre o valor da dívida.

Prazo do mútuo:O mútuo é de natureza temporária, logo deve ter prazo fixado pelas partes. Caso não esteja estabelecido o prazo contratual, considera-se este:

a. Ao menos, de 30 dias, em se tratando de mútuo a dinheiro;b. Até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, para consumo ou semeadura;c. Aquele que o mutuante vier a declarar, salvo em se tratando de relação jurídica regida pela

legislação de defesa do consumidor.Mutuário incapaz:O mútuo celebrado com mutuário menor de idade não pode ser dele cobrado, nem mesmo de seu representante ou assistente legal, ou de seu fiador, por se tratar de obrigação natural. Torna-se possível, contudo, a cobrança do empréstimo feito a menor de idade quando:

a. Houver ratificação ou convalidação do ato por ele praticado, pelo seu representante ou assistente legal;

b. Ele tiver adquirido bens durante o serviço militar, o magistério ou outra função pública, limitando-se a execução sobre o resultado patrimonial deles;

c. O empréstimo for contraído a titulo de alimentos;d. Ele obteve o empréstimo maliciosamente.

Principais regras do mútuo:São regras básicas do contrato de mútuo:

a. A entrega da coisa simboliza a transferência da sua propriedade ao mutuário e a celebração do contrato;

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b. O mútuo de dinheiro corrente ou de moedas de ouro e prata pode se resolver pela simples devolução da espécie e quantidade emprestadas, conforme a oscilação de mercado, ou com o pagamento de juros (mútuo feneratício);

c. A cláusula de juros é admitida, inclusive nas coisas fungíveis diversas de dinheiro, com ou sem capitalização;

Presume-se que os juros são devidos se o mútuo se destina a fins econômicos. Sua taxa será aquela que se achar em vigor para as obrigações referentes aos impostos federais.

d. O pagamento de juros não estipulados não pode ser reavido ou imputado ao capital devido, por se tratar de obrigação natural;

e. A notória modificação da situação financeira do mutuário antes do vencimento da obrigação possibilita ao mutuante a exigência da garantia de restituição do empréstimo.

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS (pg. 281 a 287)Referência Legislativa: arts. 593 a 609 do CC.Conceito: Prestação, locação ou alocação de serviços é o contrato por meio do qual uma das partes (o locador ou o prestador) desempenha uma atividade para a satisfação dos interesses da outra parte (o locatário ou o tomador dos serviços), mediante remuneração, durante determinado período.Características: É a prestação de serviços um contrato consensual, bilateral e oneroso, por prazo determinado. Toda a espécie de atividades ou trabalho em sentido amplo é por ela regulada. Qualquer serviço lícito material ou imaterial pode ser objeto de alocação. Por isso, o contrato de prestação de serviços consubstancia uma obrigação de fazer. Contudo, as profissões regulamentadas que prestam serviços se submetem aos seus respectivos estatutos, assim como as atividade sujeitas á legislação específica. A prestação de serviços é contrato que pode adotar qualquer forma não proibida por lei. Se adotada a forma escrita, porém uma das partes não souber ler, proceder-se-á à assinatura a rogo, acompanhada da assinatura de duas testemunhas do negócio.Sujeitos: Quem presta serviços é chamado de prestador ou locador, e quem os recebe é chamado de tomador dos serviços ou comitente.A falta de discriminação dos serviços a serem executados pelo prestador enseja a conclusão segundo a qual o prestador deverá realizar quaisquer serviços compatíveis com suas forças e condições.A sub-rogação pessoal somente poderá efetuar-se mediante a anuência da outra parte.Prestação de serviços e contrato de trabalho:Não se confunde o contrato de prestação de serviços com o contrato individual de trabalho, muito embora este último seja o resultado da evolução daquele e da autonomia posterior conferida ao direito do trabalho, o mais antigo ramo do direito social.O contrato individual de trabalho diferencia-se da prestação de serviços, entre outros, pelos seguintes motivos:

1. A prestação de serviços é contrato no qual não há dependência econômica entre as partes, enquanto no contrato de trabalho há dependência econômica do empregado em face do empregador;

2. O contrato de trabalho possui como tônica a subordinação do empregado perante o empregador, nos limites da função para a qual ele foi contratado, enquanto na prestação de serviços prepondera a autonomia do prestador;

3. A obediência hierárquica decorre do contrato de trabalho, o que não sucede no contrato de prestação de serviços, ou seja, no contrato de prestação de serviços o prestador não deve obediência ao tomador.

4. O contrato de trabalho pode ser prorrogado por tempo indeterminado, enquanto a prestação de serviços não pode exceder o prazo de 4 anos.

Não se confunde, ainda, o contrato de prestação de serviços com o contrato de aprendizagem, por meio do qual um mestre se obriga a ensinar determinado ofício ao aprendiz.Remuneração:A retribuição ou a remuneração paga pelos serviços prestados denomina-se salário, honorário ou preço. É paga em sua integralidade, normalmente após a execução do serviço, podendo as partes convencionar eventual adiantamento ou mesmo o parcelamento das prestações por parte daquele que contratou os serviços. A remuneração se dá mediante a entrega em dinheiro ou, ainda, de vestuário, alimentação, transporte ou moradia. Não havendo previsão de como se dará o pagamento da remuneração e nem existindo acordo entre as partes a esse respeito, a retribuição se submeterá a arbitramento, observando-se: o costume

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local, o tempo de serviço e sua qualidade. Por isso, não se presume a gratuidade do contrato de prestação de serviços. Se o serviço vier a ser prestado por pessoa que não possui a habilitação necessária para tanto ou não preencha algum requisito legal, quem o prestou não pode cobrar a remuneração a ele normalmente correspondente. Entretanto, o juiz de direito poderá, nesse caso, fixar uma compensação razoável em favor do prestador, se ele agiu com boa-fé, desde que não tenha se verificado qualquer violação a norma jurídica de ordem pública.Prazo do contrato:Como todo contrato, a prestação de serviços é contrato de prazo determinado. Permite-se, como prazo máximo de duração do contrato, o período de 4 anos para os serviços em geral, ainda que eles não venham a ser concluídos. Pouco importa se o contrato tinha por objeto a execução de uma obra certa e determinada que ainda não se concluiu. Também não constitui motivo para que o prazo exceda ao máximo constante da lei o pagamento de divida de quem o presta. O puro e simples advento do termo final legal obsta a continuidade da atividade. Não se conta no prazo de vigência do contrato o período de tempo em que o prestador de serviços, por sua culpa, deixou de realizar a atividade. Em se tratando de prestação de serviços agrícolas, o Código anterior presumia o prazo contratual de 1 ano agrário, o que equivale à época da colheita ou da safra principal do tomador dos serviços, porém tal dispositivo não consta do CC de 2002.Aviso prévio:Durante a vigência do contrato de prestação de serviços, torna-se possível o seu desfazimento antecipado, mediante a utilização de aviso prévio. Aviso prévio é a comunicação de que a prestação de serviços não prosseguirá. O prazo do aviso prévio varia conforme o prazo de vigência do contrato:

1. Antecedência de véspera, no contrato com prazo inferior a 7 dias;2. Antecedência de 4 dias, no contrato com pagamento de salário, entre 7 e 15 dias;3. Antecedência de 8 dias, no contrato com pagamento de salário, em prazo igual ou superior a 30 dias.

No contrato de prestação de serviços sem a consignação expressa de prazo, este será aquele adotado pelos costumes locais ou em decorrência de sua natureza. Nesses casos, igualmente se faz necessário o aviso prévio para a sua extinção, observada a tabela anterior.Extinção do contrato. Despedida por justa causa:A prestação de serviços pode ser extinta:

1. Pelo término do prazo de contratação;2. Pela conclusão da atividade para a qual o prestador foi contratado;3. Por inadimplemento de qualquer das partes;4. Pela impossibilidade de continuação do contrato decorrente do advento de força maior;5. Pela morte de qualquer das partes;6. Pela extinção decorrente de resilição unilateral.

A resilição unilateral recebe o nome de despedida. Há despedida com justa causa e sem justa causa. Despedida com justa causa é forma de resilição unilateral do contrato por motivo previsto na lei. Despedida sem justa causa é forma de resilição imotivada, isto é, sem fundamento previsto em lei. A despedida é, portanto, modalidade de denúncia que pode ser efetuada tanto pelo tomador como pelo prestador da atividade. O prestador pode se ausentar por justa causa, assim reconhecida pelo julgador, que desconstituirá o vínculo jurídico existente. O novo CC deixou de lado a técnica adotada pelo Código de 1916 de estabelecer uma relação de casos de despedida por justa causa, considerando que em cada caso concreto poderá se vislumbrar ou não a sua ocorrência. O rol constante da Lei de 1916 de despedida com justa causa exercida pelo prestador de serviços pode servir de inspiração ao julgador no caso concreto. É o seguinte:

a. O exercício de função pública;b. A morte do tomador;c. A falta de habilitação superveniente do prestador para o prosseguimento do serviço, por força maior;d. O prestador sofre ameaça de dano iminente e considerável;e. O prestador não recebe alimentos do tomador, apesar de previamente isto ter sido ajustado;f. O rigor excessivo do tomador;g. O tomador exige que o prestador realize serviços superiores às suas forças;h. O descumprimento das obrigações contratuais do tomador;i. O prestador sofre ofensa pessoal ou á sua família, cometida pelo tomador;j. O cumprimento de obrigação legal incompatível com o serviço contratado.

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No sistema anterior, que não foi adotado pelo novo CC, o prestador tinha o direito ao salário vencido nas quatro primeiras hipóteses e, nas demais, ao salário vencido acrescido de 50% do que receberia até o termo final do contrato. A despedida por justa causa cometida pelo tomador também se sujeita, no sistema do CC de 2002, às causas reconhecidas pelo julgador no caso concreto. Não há um rol fixado pela lei. Porém a relação apresentada pela legislação de 1916 pode servir de inspiração ao julgador. Essa relação fixa as hipóteses em que o tomador também pode denunciar o contrato de prestação de serviços por justa causa, ora relacionadas:

a. A enfermidade do prestador de serviços;b. A incapacidade superveniente do prestador para o desempenho da atividade;c. A imperícia do prestador;d. A força maior que inviabilize a prestação dos serviços;e. O mau procedimento do prestador ou os vícios incompatíveis com a normalidade;f. A ofensa cometida contra a honra do tomador ou de sua família.

No sistema de 1916, o prestador despedido não era obrigado a restituir a retribuição vencida, já que a ela tinha direito. Todavia, respondia por perdas e danos, nas duas últimas hipóteses. O novo CC silencia sobre os efeitos da despedida com justa causa sobre a remuneração pactuada. A remuneração vencida e paga é, no sistema do novo CC, direito do prestador. Caberão assim, eventuais perdas e danos, apuradas no caso concreto por aquele que se sentir prejudicado.Despedida sem justa causa:A despedida sem justa causa é despedida vazia, isto é, sem a existência de fundamento jurídico. O prestador de serviços que oferece a despedida sem justa causa tem direito ao recebimento tão-somente da remuneração vencida, porém se sujeita ao pagamento de perdas e danos causados por força de resilição unilateral. Durante a vigência do contrato por prazo determinado ou para a execução de uma obra, o prestador não pode se ausentar sem justa causa, sob pena de responder por perdas e danos. O tomador que oferece a despedida sem justa causa do prestador de serviço tem a obrigação de efetuar o pagamento da retribuição vencida e de mais 50% daquela que iria vencer até o termo final do contrato. A pessoa que iniciou a prestação dos serviços tem o direito de exigir do tomador uma declaração de que realizou o negócio jurídico contratado. Esse mesmo direito subsiste quando houver sido despedido sem justa causa ou tiver justo motivo para deixar o serviço.Serviços agrícolas:A alienação do prédio agrícola no qual o serviço esta sendo prestado não importa em extinção da prestação do serviço. Por outro lado, o aliciamento de prestadores de serviços já contratados por outrem acarreta o pagamento de indenização por perdas e danos em prol do tomador, no importe correspondente ao valor que seria devido ao prestador, em dois anos. Essa regra era aplicada pelo CC de 1916 tão-somente aos contratos agrícolas e o valor a ser pago correspondia ao dobro do que era devido ao prestador. Com o novo CC, a norma foi estendida a todos os contratos de prestação de serviços, e não apenas aos agrícolas, consignando-se o valor como o correspondente ao de dois anos de prestação de serviços.

CONTRATO DE EMPREITADA (pgs. 288 a 293)Referência Legislativa: arts. 610 a 626 do CCConceito: Locação de obra ou empreitada é contrato por meio do qual o empreiteiro ou locador é contratado para realizar determinada obra, mediante remuneração fixa ou proporcional ao serviço. É um contrato consensual, bilateral, comutativo e oneroso, por prazo determinado. Muito embora seja elemento do contrato de empreitada a realização de atividade humana, tal como sucede na prestação de serviços, o seu objeto é a entrega de uma obra no final do prazo contratual.Empreitada de lavor e de materiais. Responsabilidade pelos riscos: A locação de obra pode ser celebrada, conforme a sua natureza, como empreitada de lavor ou empreitada mista.Empreitada de lavor, também conhecida por confecção, produção, construção ou execução da obra, é aquela em que o fornecimento de materiais é obrigação do dono da obra. Na empreitada de lavor, o dono da obra responde pelo risco do material até o momento em que o entrega ao empreiteiro, para que este possa desempenhar a sua atividade e cumprir as obrigações. Aliás, se o empreiteiro apenas forneceu a mão-de-obra, todos os riscos do material são suportados pelo dono da obra até a tradição ao empreiteiro, que responderá pela deterioração a partir de então. Se o material vier a perecer, sem culpa das partes, antes de ser entregue ao empreiteiro, este não perderá a remuneração à qual teria direito. Se o empreiteiro tiver reclamado anteriormente contra a qualidade ou quantidade do material, não caberá a sua responsabilidade

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pela deterioração. O empreiteiro é obrigado a ressarcir o dono da obra pelos materiais que dele recebeu, caso venha a inutilizá-los por imperícia ou negligência. Empreitada de materiais ou mista é aquela em que o fornecimento dos materiais é obrigação do empreiteiro. A empreitada de materiais não se presume. É fixada pela lei ou pela vontade das partes. Na empreitada mista, o empreiteiro se responsabilizará pelos riscos do material por ele fornecido até a entrega da obra e a contento do dono da obra. Essa responsabilidade deixara de existir se o dono da obra se encontrar em mora de os receber.Remuneração. Preço fixo absoluto e relativo. Marché à forfait. A remuneração cabível na empreitada é denominada preço. O preço pode ser fixado conforme vários critérios de pagamento, a saber: o preço global, o preço fixo absoluto e o preço fixo relativo.A empreitada por preço global ou marché à forfait é aquela em que a remuneração é paga pelo conjunto da obra, deixando-se de lado qualquer pagamento decorrente de seu fracionamento. Se ocorrer redução do preço do material ou da mão-de-obra em percentual superior a 1/10 do preço global ajustado, proceder-se-á à revisão da remuneração, a fim de que se assegure a diferença apurada em favor do dono da obra.A empreitada a preço fixo absoluto é aquela em que a remuneração é determinada a partir da variação decorrente da elevação ou diminuição dos custos da mão-de-obra e dos materiais.Já a empreitada a preço fixo relativo é aquela em que a remuneração é determinada a partir da oscilação do preço de alguns dos componentes da obra.Empreitada ad mensuram: Empreitada ad mensuram é o contrato de locação de obra cuja remuneração é determinada por medida, unidade ou etapa. O pagamento será feito em favor do empreiteiro com base na divisão, medida ou fracionamento da obra. Considera-se vistoriada pelo dono da obra a parte da obra em decorrência da qual o pagamento da remuneração se verificou. A contar da data em que se efetuou a medição, o dono da obra tem prazo decadencial de 30 dias para reclamar por vício da obra. Tal prazo decadencial restringe-se à medição e não ao vício resultante da obra entregue em seu conjunto.Obrigações das partes. Solidez da obra: O dono da obra tem as seguintes obrigações:

a. Entregar o material, se a empreitada ajustada for exclusivamente de lavor.b. Efetuar o pagamento da remuneração do empreiteiro, na forma fixada pelo contrato.c. Receber a obra, quando concluída, salvo se executada em desconformidade com as instruções já

comunicadas ao empreiteiro.O dono da obra poderá se recusar a receber a obra se o empreiteiro se afastou das instruções que lhe foram dadas ou não executou o projeto conforme previamente havia sido ajustado. Poderá o dono da obra, se assim preferir, receber a obra ao invés de rejeitá-la, procedendo desta feita ao abatimento proporcional do preço.Já o empreiteiro possui as seguintes obrigações:

a. Fornecer os materiais de qualidade compatível para a realização da empreitada, se contratada na forma mista.

b. Proceder à execução da obra em conformidade com o projeto ou com o ajuste firmado com o dono da obra.

O empreiteiro que se obrigar a executar a obra em conformidade com o plano aceito pelo dono da obra não terá direito de exigir acréscimo no preço, senão por modificações posteriores introduzidas no projeto por determinação do dono da construção. Neste caso, não se torna necessária a previsão escrita da modificação do preço, devendo o dono da obra proceder aos pagamentos que advierem da modificação a que ele deu causa. Por outro lado, o dono da obra não pode promover alterações de médio ou de grande porte no projeto por ele aprovado, a menos que motivos de ordem técnica ou fatores supervenientes demonstrem a inconveniência ou a excessiva onerosidade da execução do projeto original. A unidade estética da obra projetada, porém, deverá ser preservada, dada a criação intelectual do autor do projeto.

c. Permitir que o dono da obra proceda ao acompanhamento da obra.d. Dar quitação das prestações recebidas do dono da obra.e. Responder pela solidez e pela segurança da obra executada.

Tratando-se de empreitada de edifícios ou de outras construções consideráveis, o empreiteiro de empreitada mista, responderá durante 5 anos pela solidez e pela segurança do trabalho, dos materiais e do solo. Essa responsabilidade é objetiva, tornando-se suficiente para a reparação do dano o nexo de causalidade entre a atividade exercida pelo empreiteiro e o vício da obra concluída. Para que o empreiteiro possa ser responsabilizado pela violação do dever de segurança mencionado, o dono da obra deverá propor a reclamação judicial cabível no prazo de 180 dias, a contar da data em que o vício for constatado.

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Suspensão da obra e extinção do contrato: Suspensão da obra é medida que tem por finalidade a sua paralisação temporária. A suspensão da obra pode se dar por iniciativa do dono da obra ou do empreiteiro. Para que se verifique a suspensão por iniciativa do dono da obra, é necessário que o dono da obra tenha pago as despesas e os lucros referentes aos serviços já efetuados pelo empreiteiro, além de indenização equivalente àquilo que o empreiteiro teria ganho se a obra tivesse sido concluída. Já a suspensão por iniciativa do empreiteiro poderá ocorrer quando:

a. Houver culpa contratual do dono da obra.b. Presente a força maior.c. As modificação ao projeto exigidas pelo dono da obra se afigurarem desproporcionais ao projeto

provado, em face de seu vulto e natureza.d. Sobrevierem dificuldades imprevistas e de ordem geológica, hidráulica ou similar que tornem a obra

excessivamente onerosa, a exigir a revisão do preço constante do projeto.Por fim, extingue-se o contrato de empreitada pelas formas ordinárias de término do contrato, exceto por morte. A morte de qualquer das partes não extingue o contrato de empreitada, a menos que ele tenha sido celebrado em virtude das qualidades pessoais do empreiteiro.A despedida pode se dar, tal como na locação de serviços: por justa causa e sem justa causa. Na despedida sem justa causa, submete-se o denunciante ao pagamento de indenização por perdas e danos. E, sendo o dono da obra o denunciante, deverá pagar a remuneração vencida. Apenas como critério, por analogia, pode-se conceder ao empreiteiro despedido sem justa causa o direito ao recebimento de metade do valor das parcelas vincendas. Já na despedida com justa causa, o empreiteiro somente terá direito, em principio, a remuneração vencida, enquanto nenhum direito assistirá o dono da obra. A necessidade de reparação por perdas e danos tão somente se atesta mediante a existência de prova do prejuízo.

CONTRATO DE DEPÓSITO (pgs. 275 a 279)Referências Legislativas: arts. 627 a 652 do CCConceito: Depósito é um contrato real, por meio do qual uma das partes (o depositário) recebe da outra (o depositante) uma coisa móvel, para guarda e conservação temporária. Não há depósito se o depositário é o próprio proprietário da coisa. Trata-se o contrato de depósito de negócio jurídico real, bilateral e formal (somente admitido por escrito, a menos que se trate de depósito legal).Espécies de depósito: O depósito pode ser classificado: pela natureza, pela onerosidade e pela regularidade.Por natureza o depósito pode ser:

a. Voluntário , quando livremente estipulado pelas partes.b. Legal , decorrente de obrigação imposta por lei ou em se tratando de depósito necessário ou

miserável.Depósito necessário é aquele que ocorre em virtude de caso fortuito ou força maior.

c. Judicial , quando determinado pelo Poder Judiciário, no curso de um processo.O depósito de coisa litigiosa é denominado de sequestro.Pela onerosidade o depósito pode ser:

a. Gratuito , que é a regra, excetuando-se o depósito necessário, que se presume oneroso.b. Oneroso , importando em contraprestação.

Sob o enfoque da regularidade o depósito pode ser:a. Regular , que é o depósito puro e simples, conforme a noção já exposta.b. Irregular , quando o depositante pode fazer uso da coisa depositada, vindo inclusive a consumi-la.

O depósito regular impõe ao depositário, portanto, a restituição da mesma coisa, ao passo que o depósito irregular permite a sua substituição, em virtude da fungibilidade ou da consuntibilidade do bem.Regras principais do depósito voluntário: As principais regras do depósito voluntário são as seguintes:

a. O depósito voluntário somente pode ser celebrado por escrito, por instrumento público ou particular.b. O depositário não pode usar a coisa, sob pena de furto de uso e de indenização por perdas e danos.

Como se afirmou, o depósito irregular é exceção a essa regra.c. São obrigações do depositário:

- Guardar e conservar a coisa com o cuidado e diligência cabível, como se fosse sua.- Restituir a coisa, ao final do contrato, com seus acessórios e frutos.

A restituição da coisa deve ocorrer no local em que ela foi guardada, correndo as despesas por conta do depositante.O depositário somente poderá vir a se recusar a restituir a coisa depositada em duas hipóteses:

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- Alegando que a mesma não pertence ao depositante; ou- Se vier a opor compensação fundada em outro depósito.

d. São obrigações do depositante:- Pagar as despesas de conservação, incluindo-se os prejuízos decorrentes do depósito, e- Ressarcir eventuais prejuízos.

e. O depositante pode exigir a restituição da coisa mesmo antes do termo final fixado em contrato, salvo quando:- O depositário suspeitar, com fundamento, de que a coisa sob sua guarda e objeto de furto ou roubo (caso em que o bem será entregue ao depositário público ou equivalente); ou- Tiver conhecimento, mediante notificação, de que se trata de coisa em litígio, por embargo ou execução judicial.

f. O depositário pode exercer o direito de retenção, caso não venha a ser ressarcido pelas despesas com o bem;

Se as despesas não forem demonstradas, o depositário poderá exigir caução ou, não se verificando isso, a remoção da coisa ao depósito público.

g. O depósito fechado, selado, colado ou lacrado não pode ser violado pelo depositário ou por terceiro, presumindo-se a culpa daquele no caso de violação, que responderá com o pagamento de indenização por perdas e danos;

h. O depositário que, motivadamente, não puder continuar exercendo a sua função, poderá se valer do depósito judicial da coisa que lhe foi entregue, caso o depositante se recuse a receber o bem para si;

i. Em se tratando de vários depositantes e de coisa divisível, o depositário entregará a cada um deles a sua parte sobre a coisa, a não ser que entre eles ocorra a solidariedade;

j. O herdeiro do depositário que vier a alienar o bem, de boa-fé, deverá assistir ao depositante na reivindicação da coisa, restituindo ao comprador o preço recebido;

k. No caso de incapacidade superveniente do depositário, o seu representante ou assistente legal deverá, de imediato, restituir a coisa ao depositante; requerendo, caso seja impossível se afigurar a restituição, a nomeação de um depositário judicial;

l. O depositário não responde por força maior, mas deverá demonstra-la, para se exonerar da responsabilidade;

O Código de 1916 também exonerava a responsabilidade do depositário por caso fortuito, mas assim não procedeu o novo Código.

m. No caso de perda do bem por força maior, o depositário que recebeu outra coisa em seu lugar deverá pagar as acessões desta última em prol do depositante;

n. O depósito de coisa fungível considera-se mútuo, e é regido pelas regras desse contrato.Regras principais do depósito necessário: Destacam-se, entre as regras do deposito necessário:

a. O depósito necessário não se presume gratuito.b. O depósito de bagagens se equipara ao depósito necessário, respondendo os hospedeiros e

estalajadeiros por furto ou roubo delas.Neste caso, a remuneração do depósito encontra-se incluída no preço da hospedagem.Prisão Civil: A sanção mais grave que pode ser aplicada contra o depositário, tanto no depósito voluntário, como no necessário, é a sua prisão civil. O depositário considerado infiel pode ter em seu desfavor a prisão civil decretada, por período não superior a 1 ano. Depositário infiel é aquele que, recebendo para guarda e conservação determinado bem, acaba por deixar de restituir, sem justo motivo, o depósito reclamado pelo depositante ou ordenado pelo Juiz de Direito. Além da decretação da prisão civil, o depositário infiel poderá ser condenado ao pagamento de indenização por perdas e danos.Garagem de Veículos: Contrato de Garagem é negócio jurídico por meio do qual o garagista se obriga a guardar e custodiar em um determinado local, mediante remuneração, o veículo trazido por uma outra pessoa, o usuário. Trata-se de contrato consensual, bilateral, comutativo, informal, oneroso, e atípico. O local ou o espaço físico não precisa necessariamente ser uma garagem. Por esse contrato, o garagista tem a obrigação de proporcionar ao usuário um local para ali guardar e custodiar o seu veículo. É vedado ao garagista se utilizar da coisa para si durante a sua custódia. A obrigação do garagista é de resultado, responsabilizando-se pelos danos que a coisa vier a sofrer, assim como pela sua perda, salvo por força maior ou caso fortuito. Nas relações de consumo, o contrato de garagem é forma de prestação de serviços remunerada que enseja a responsabilidade objetiva do fornecedor, que não se exonera do dever de reparar o dano senão vier a ser comprovada a culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. Sua responsabilidade existe,

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portanto, mesmo por força maior ou caso fortuito, já que essas excludentes não são aplicáveis, entre nós, às relações de consumo. A cláusula de não indenizar não gera qualquer efeito nas relações de consumo entre o garagista fornecedor e o usuário de seus serviços.

CONTRATO DE TRANSAÇÃO (pgs. 376 a 379)Referência Legislativa: arts. 840 a 850 do CCConceito: Transação é o negócio jurídico por meio do qual o credor e o devedor põem termo ao litígio existente ou na iminência de existir, por meio de concessões mútuas e recíprocas. A transação é, portanto, o acordo entre as partes sobre a prevenção (transação preventiva ou extrajudicial) ou sobre a extinção de um litígio (transação judicial) no qual há concessões mútuas visando ao cumprimento da obrigação. A transação é negócio jurídico consensual, oneroso, e bilateral (sinalagmático). Distingue-se a transação dos contratos de transmissão de bens. A transação não se confunde com os contratos benéficos, pois a concessão mútua importa em onerosidade. Por outro lado, a transação é distinta dos contratos onerosos, pois o seu objetivo é uma coisa duvidosa, havendo uma controvérsia entre as partes, a esse respeito. O Código de 1916 incluía a transação como uma forma indireta de adimplemento da obrigação. O novo Código a coloca como um negócio jurídico, o que é mais apropriado.Elementos: São elementos da transação:

a. A dúvida ou o litígio, ainda que extrajudicial, entre as partes (res dubia). A dubiedade acerca da existência da coisa ou de elemento da relação jurídica é demonstrada pela contradição entre as partes, ainda que relativa.

b. A existência de concessões mútuas. As concessões mútuas devem ser equivalentes, para que não se verifique qualquer prejuízo considerável a uma das partes, em detrimento da outra ou de terceiro porventura beneficiado pela transação.

c. A capacidade para transigir. Para fixação da capacidade de transigir da parte deverão ser levadas em consideração as normas jurídicas aplicáveis à incapacidade absoluta e relativa. Cumpre observar que o relativamente incapaz poderá se beneficiar com a transação que lhe for vantajosa, se ela se fizer mantida. O relativamente incapaz por idade pode vir a obter os bens: profectícios, castrenses e adventícios. Bens profectícios são aqueles cujo domínio é reservado para o responsável legal do relativamente incapaz, a quem cabe a sua administração. Bens castrenses são os que foram adquiridos durante o serviço militar ou a profissão das letras. Bens adventícios são os que foram adquiridos por doação ou sucessão hereditária. O relativamente incapaz somente poderá transigir mediante assistência, nos dois últimos casos, pois os bens profectícios não integram o patrimônio do menor para tal fim. Além das normas referentes ás incapacidades absoluta e relativa, também é vedada a transação pelo devedor excutido e pelo devedor falido. Devedor excutido ou expropriado é aquele cujos bens foram objeto de penhora no curso de um processo judicial. Devedor falido é aquele em desfavor de quem foi decretada judicialmente a quebra ou a bancarrota.

Falta de legitimação: Algumas pessoas, por falta de autorização legal, são impedidas de transigir em determinadas situações, apesar de serem plenamente capazes para a prática dos atos e negócios civis em geral. São elas:

a. O tutor e o curador, no exercício de suas funções;b. O marido e a mulher, quanto aos bens imóveis;c. Os pródigos;d. O mandatário sem poderes especiais;e. O sócio sem poderes de administração;

Regras básicas da transação: As principais regras da transação são as seguintes:a. Não há transação condicional;b. A transação produz os efeitos da coisa julgada, limitando às partes;c. Não há modificações, revisão ou rescisão da transação;d. A cláusula nula prejudica todo o negócio jurídico em tela;

Todavia, se forem independentes entre si os direitos analisados pela transação, a nulidade de cláusula referente a um não atinge a cláusula sem qualquer ligação, que trata do outro.

e. A transação sobre diversos direitos que contiver alguma cláusula inválida prevalece quanto aos demais direitos;

f. Admite-se a cláusula penal na transação;g. Somente podem ser objeto de transação os direitos patrimoniais privados;

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h. A transação não obsta o ajuizamento da demanda ou a propositura de ação penal;i. A transação concluída entre o credor e o devedor exonera automaticamente o garantidor da dívida;j. A transação deve ser interpretada de forma estrita;k. A transação somente possibilita a declaração ou o reconhecimento de direitos, nunca a sua

transmissão;l. A transação sobre direitos sub judice pode se dar:

- Por instrumento público ou particular, aquele quando a lei expressamente o prescrever; ou- Mediante termo nos autos, subscrito pelas partes e homologado pelo juiz.

m. A transação extrajudicial pode dar-se mediante instrumento público ou privado, na presença dos procuradores dos transigentes ou, ainda, do Promotor de Justiça;

A transação extrajudicial possui eficácia executiva, desde que preenchidos os requisitos legais: objeto, obrigações, forma de cumprimento, data, local, assinatura das partes e duas testemunhas;

n. A transação somente pode ser anulada por: dolo, coação ou erro essencial sobre a pessoa ou a coisa em questão;

o. A transação celebrada entre um dos credores solidários e o devedor importa na extinção da obrigação deste perante os demais credores;

p. A transação celebrada entre um dos devedores solidários e o credor extingue a dívida em relação aos demais coobrigados;

q. A transação das obrigações decorrentes de ato ilícito obsta a ação penal pública;r. A aquisição de novo direito sobre a coisa renunciada ou transferida, por um dos transigentes, não

impedirá o exercício dos seus direitos;s. É nula a transação sobre litígio cuja sentença judicial já transitou em julgado quando:

- Alguma das partes desconhecia a existência da sentença judicial; ou- Constatar-se, por título descoberto, que nenhuma das partes tinha direito sobre o objeto da transação.