Manual de Direito Internacional

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MANUAL DE D IREITO DO COMRCIO I NTERNACIONALE

DEFESA COMERCIAL

LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO ORGANIZADORA

COMISSO DE COMRCIO INTERNACIONAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL SEO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - OAB/RJ 2004 -2006

Capa, Design e Projeto Grfico: Filipe Souza Contatos: Telefone: (21) 9358-5701 E-mail: [email protected] Impresso: Quatro Centro Cpias Rua Costa Lobo, 93 - Benfica - Rio de Janeiro/RJ Telefone: 21-2234-7329

PALAVRAS DOS CO-PATROCINADORES

PALAVRAS DOS CO-PATROCINADORESDe acordo com a Organizao Mundial do Comrcio, mais de 80% do

fluxo de comrcio mundial se d entre a Amrica do Norte, Europa e sia. A Amrica do Sul e Central respondem por apenas 3% do fluxo de comrcio mundial.

Considerando-se a Amrica do Sul e Amrica Central, o Brasil responde por 35% das exportaes e 28% das importaes da regio. O Brasil , portanto, ator relevante e vem conquistando espao no apenas nos foros de negociao, como tambm em novos mercados. A relevncia do papel desempenhado pelo Brasil nesse cenrio, en-

tretanto, no se reflete em investimento na capacitao de pessoas para atuar nessa rea. A partir dessa constatao, o Instituto Mundi foi ideali-

zado com o propsito de promover a difuso de conhecimentos na rea de comrcio internacional e auxiliar os atores brasileiros na difcil tarefa das negociaes internacionais, particularmente aquelas travadas no mbito da Organizao Mundial do Comrcio (OMC)

Instituto Mundi parabeniza e apia a iniciativa da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/RJ de elaborar o Manual de Direito do Comrcio Internacional e Defesa Comercial.

com esse esprito de valorizao da difuso de conhecimento que o

Apesar da crescente e vitoriosa participao do Brasil no mecanismo de soluo de controvrsias da OMC, o pas dispe de escassa literatura

sobre esses relevantes temas. Por isso, estudiosos e interessados pela matria acabam recorrendo, na maioria das vezes, a obras e autores es-

trangeiros. O Manual , sem dvida, uma excelente alternativa para aqueles que querem iniciar o estudo dessa disciplina. De fato, o comrcio e as negociaes internacionais hoje afetam o

cotidiano de todo tipo de negcio e envolvem uma srie de conhecimentos especficos. Deficincias nestas reas expem os governos e as empresas a grandes e indesejados riscos, e, sobretudo, perda de oportunidades comerciais para parceiros mais eficientes e mais atentos ao que ocorre no mundo.

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PALAVRAS DOS CO-PATROCINADORES

atua. Em conjunto com renomadas instituies de ensino, est altamente capacitado a formatar, coordenar e realizar cursos, conferncias e seminrios, j que conta com corpo tcnico especializado nas matrias relevantes para a obteno de novos mercados e a defesa dos interesses comerciais brasileiros no exterior.

no intuito de suprir esta lacuna no mercado que o Instituto Mundi

Apoios a essas iniciativas so fundamentais para contribuir com a formao de excelncia de profissionais capazes de compreender os instrumentos contratuais e normativos do comrcio internacional que afetam a atuao dos agentes privados, e aptos a auxiliarem os setores pblico e privado a utilizarem esses instrumentos em seu benefcio. INSTITUTO MUNDI para Estudo e Pesquisa em Comrcio,

Arbitragem & Negociaes Internacionais.

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INTRODUO

INTRODUONos ltimos anos, o adensamento do comrcio internacional tornou-

se um fato inexorvel. Como resultado dessa transformao, um novo direito surgiu para regular a estrutura alicerada na ordem jurdica da Organizao Mundial do Comrcio - OMC.

O DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL tem como objeto o estudo da atividade mercantil internacional, caracterizando-se como um verdadeiro direito internacional econmico. Num mundo globalizado onde as relaes comerciais entre os pases so cada vez mais prximas e

interdependentes, acreditamos ser de grande utilidade criao deste Manual, que visa orientar advogados, empresrios, economistas, operadores de comrcio exterior e estudantes sobre o aparato legal e funcional da Organizao Mundial do Comrcio, buscando acentuar os desafios e as barreiras que se impem aos interesses brasileiros nesse segmento.

Nesse passo, estimular o estudo desse novo direito, que inclu o conhecimento de disciplinas complementares como as cincias econmicas e administrao de empresas, se afigura uma tarefa importante e necessria, a fim de que em um futuro prximo tenhamos um corpo de profissionais habilitados para defender direitos e representar interesses e posies de carter comercial do pas, nos foros internacionais competentes.

estudo da DEFESA COMERCIAL, matria de importncia estratgica e de conhecimento fundamental para os agentes econmicos. Isso se justifica

De forma a complementar essas informaes, trazemos, tambm, o

uma vez que, em um mundo cada vez mais competitivo, o manejo, a conduo e aplicao precisa e adequada dos instrumentos de defesa, como o

dumping, subsdios e salvaguardas, ferramentas legais que compem essa especialidade, impem-se como conhecimentos fundamentais aos empresrios e produtores brasileiros contra as prticas desleais de comrcio, que, no sendo diligentemente corrigidas, podem causar srios prejuzos aos interesses econmicos nacionais.

Assim, com o objetivo de contribuir com a difuso desses relevantes temas, ainda pouco explorados no mbito do direito brasileiro, a Comisso de Comrcio Internacional da Ordem dos Advogados do Brasil Seo doMANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL5

INTRODUO

Estado do Rio de Janeiro - OAB/RJ tem o prazer de apresentar o MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL, primeiro compndio do gnero a reunir essas disciplinas aos leitores.

A presente obra divide-se em seis Partes. A primeira dispe sobre o Direito do Comrcio Internacional, seu surgimento, suas origens, regras e princpios. A segunda Parte se dedica a analisar os principais Acordos da Organizao Mundial de Comrcio, para, a seguir, na Terceira Parte, dis-

correr sobre seu mecanismo de soluo de controvrsias. A Quarta Parte analisa as modalidades das medidas de defesa comercial existentes. Em seguida, a Quinta Parte estuda a utilizao desses procedimentos luz da legislao nacional, apresentando tambm estatstica das investigaes relacionadas ao tema no Brasil. Ao final, esse captulo, traz, tambm, um til Anexo que relaciona as leis e as normas aplicveis ao tema no pas. A

sexta e ltima parte deste Manual contempla um completo glossrio no qual so explicados com detalhamento termos tcnicos, e definidas siglas e conceitos comumente utilizados nas reas estudadas.

Esperamos, dessa forma, que a presente obra possa contribuir para estimular o debate acerca dos desafios, diretrizes e resultados da poltica

comercial brasileira, bem como conscientizar o pblico sobre a repercusso e relevncia dessas escolhas no nosso dia-a-dia. Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2006.

LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO Organizadora

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APRESENTAO

APRESENTAOOrganizao Mundial de Comrcio (OMC), baseia-se em um conjunto de regras (rules based system) que criam direitos e obrigaes entre os Membros da OMC, na atualidade formada por 149 Estados. Essas regras esto dispostas no Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio (General Agreement on Tariffs and Trade - GATT 1994), no Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios (General Agreement on Trade in Services - GATS) e no Acordo O sistema multilateral de comrcio, consubstanciado nas normas da

sobre Aspectos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comrcio (Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights TRIPS).

O conjunto de acordos que compem o sistema multilateral de comrcio, portanto, constitui o que se caracterizaria como o Direito Material

da Organizao Mundial de Comrcio. Ao lado desse conjunto de regras da OMC encontra-se o Mecanismo de Soluo de Controvrsias, inscrito no

Entendimento Relativo s Normas e Procedimentos sobre Soluo de Controvrsias, tambm conhecido como DSU (Dispute Settlement Understanding). Ou seja, o Mecanismo de Soluo de Controvrsias da OMC faz parte da prpria essncia do sistema do sistema multilateral de comrcio. Juntamente com o Direito Material, portanto, os Membros da OMC

tm resguardada a prerrogativa de recorrer ao Mecanismo de Soluo de Controvrsias para fazer valer os direitos garantidos pelo conjunto dos

acordos da Organizao. O Mecanismo de Soluo de Controvrsias da OMC, dessa maneira, constitui o Direito Processual da OMC, ao estabelecer os procedimentos que devem ser seguidos pelos Membros, quando da existncia de conflitos relacionados violao de Direito Material, estabelecido nos acordos GATT 1994, GATS e TRIPS.

O Mecanismo de Soluo de Controvrsias representa uma evoluo nas relaes institucionais entre Estados, na medida em que se destina a regulamentar definitivamente as disputas de natureza comercial entre os Membros da OMC. Isso no significa que o antigo GATT 1947 no dispu-

sesse, ele prprio, de um mecanismo de soluo de controvrsias. Ocorre, porm, que as disputas comerciais cursadas pelo antigo sistema careciam de fora suficiente fora para que as Partes Contratantes (denominao dos Estados que integravam do GATT 1947) pudessem defender seus di-

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APRESENTAO

reitos de maneira efetiva. Durante as negociaes da Rodada Uruguai, que resultaram na criao da OMC, foram introduzidas quatro mudanas fundamentais no Mecanismo de Soluo de Controvrsias, com o objetivo de reforar substancialmente o sistema.

dadeiro sistema processual quase-judicial e orientado por regras (rule oriented), que passou a: i) aplicar-se a todos os acordos da OMC; ii) ter

O Mecanismo de Soluo de Controvrsias da OMC tornou-se um ver-

instncia revisora, o rgo de Apelao; iii) ter as decises dos rgos judicantes (relatrios do Comit de Arbitragem e do rgo de Apelao) aplicadas de forma cogente (legally binding); iv) ter as decises que emanam de tais rgos judicantes adotadas automaticamente. Vale dizer, os relatrios somente no so adotados se todos os Membros da OMC se opuserem, por consenso. Em contrapartida, no antigo sistema de resoluo de conflitos do GATT 1947, qualquer Parte Contratante podia vetar a adoo do relatrio do Comit de Arbitragem (o que normalmente ocorria com a parte perdedora).

O Mecanismo de Soluo de Controvrsias da OMC foi amplamente utilizado pelos Membros da Organizao em mais de 11 anos de existn-

cia, alcanando atualmente o nmero de 345 casos. O Brasil tem participado ativamente do Mecanismo desde sua criao, sendo que, at o presente, atuou como parte em 51 disputas comerciais, seja como demandante, demandado ou terceira parte. O nmero de atuaes do Brasil como parte nos casos da OMC fica atrs somente das participaes dos EUA, Unio Europia e Canad, considerados grandes litigantes no sistema. Ou seja,

entre os pases em desenvolvimento, o Brasil o maior usurio do sistema. A consolidao das regras multilaterais de comrcio da OMC e a crescente importncia do Mecanismo de Soluo de Controvrsias no cenrio internacional reforam a necessidade de o Brasil continuar a se capacitar e a desenvolver quadros para atuar no mbito das disputas comerciais mul-

tilaterais. Esse desafio deve ser encarado como um objetivo contnuo, de mdio e longo prazos, tanto do Governo, quanto dos diversos atores ex-

tra-governamentais, muito embora existam situaes e demandas que no podem esperar o amadurecimento daquele objetivo. No caso de pases com escassez de recursos (financeiros e humanos) como o Brasil, portanto, esse desafio muitas vezes necessita ser atingido sobre la marcha.

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APRESENTAO

no Mecanismo de Soluo de Controvrsias da OMC, torna-se necessrio recorrer - com a ajuda do setor privado - assessoria de quadros extra-

Com vistas a atender s demandas prprias participao do Brasil

governamentais, detentores de conhecimento sobre as normas do sistema multilateral de comrcio e sobre as legislaes nacionais concernentes a cada caso. O envolvimento de atores extra-governamentais, quando bem gerenciado, pode concorrer decisivamente para a disseminao de conhe-

cimento altamente tcnico entre integrantes do Governo brasileiro e profissionais voltados para questes de comrcio internacional, entre os quais se destacam os profissionais do direito.

O presente Manual de Direito do Comrcio Internacional e Defesa Comercial certamente contribuir para esse esforo conjunto do Governo brasileiro e de atores extra-governamentais, que tem por objetivo a disseminao de conhecimento sobre as normas multilaterais de comrcio e a formao de quadros nacionais para atuarem nas disputas comerciais da OMC. A iniciativa da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/RJ de tornar mais didtica complexa normativa da OMC, por meio do presente Manual, deve receber total apoio dos agentes envolvidos com as questes relacio-

nadas ao sistema multilateral de comrcio e do Direito do Comrcio Internacional. Braslia, 28 de julho de 2006.

do Ministrio das Relaes Exteriores - MRE

CONSELHEIRO FLVIO MAREGA Coordenador Geral de Contenciosos

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COMISSO DE COMRCIO INTERNACIONAL DA OAB/RJ

COMISSO

DE

COMRCIO INTERNACIONAL

DA

OAB/RJ

Representantes:

SRGIO SOARES SOBRAL FILHO Presidente

LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO Vice-presidente Membros e colaboradores que participaram da elaborao desta obra:

ALEXANDRE BITENCOURT CALMON BRUNO LEAL RODRIGUES CLVIS TORRES JNIOR DANIEL PIRES CARNEIRO FERNANDA CRESPO FERREIRA FLVIA DO VALLE ROCHA FREDERICO DO VALLE MAGALHES MARQUES GABRIELLA GIOVANNA LUCARELLI DE SALVIO GUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHO LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO PAULA ALONSO THEMISTOCLES MENESES NETO

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RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABTICA - 2006

RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABTICA - 2006ALEXANDRE BITENCOURT CALMON Bacharel em Direito pela Universidade Cndido Mendes (2001). Curso de Extenso sobre o Sistema Legal norte-americano pela George Washing-

ton University. International Law Institute. Washington, D.C., EUA (ago/set -2003). Curso de Extenso em Direito Societrio e Mercado de Capitais pela Fundao Getlio Vargas (ago/dez - 2003). Ps-graduado em Direito Internacional pela Escola Superior de Advocacia (2005). Professor Titular

de Direito Comercial pela Universidade Santa rsula - USU. Professor Assistente em Direito Societrio pela USU (2002-2003). membro do Rotary Club (2002), da Sociedade Americana de Direito Internacional (2003) e da Associao de Advogados do Rio de Janeiro (2003). Advogou na Advogou na CVRD (1999-2000), no Xavier, Bernardes Bragana (2000-2003). Atualmente trabalha no Carneiro e Sesana Associados. Macleod Dixon Consultores em Direito Estrangeiro (2004-hoje). Membro da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/RJ

BRUNO LEAL RODRIGUES Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (1996). Ps-graduado (MBA) em Direito de Empresas pelo Instituto Brasi-

leiro de Mercado de Capitais IBMEC (2001). Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho (2005). Professor da disciplina de Direito da Concorrncia pela CEPED-UERJ. Professor de Ps-graduao da disciplina de Planejamento Tributrio (Fundao Getlio Vargas). Advogou no Castro, Bar-

ros, Sobral, Gomes Advogados (1995/2000), Siqueira Castro Advogados S/ C (2000-2005) e J. G. Assis de Almeida e Associados Sociedade de Advogados. Membro da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/RJ

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RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABTICA - 2006

CLVIS TORRES JNIOR Graduado em Direito pela Universidade Catlica de Salvador (1989), LL.M. em Direito Internacional , Comrcio e Finanas pela Tulane Law School,

New Orleans, USA (2003), MBA pela Fundao Getlio Vargas, So Paulo, Ps-graduao em Gerenciamento e Liderana Empresarial no MIT, em Massachusetts, USA, e IMD, na Sua. Diretor Jurdico Corporativo da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), desde abril de 2003. Responsvel pelas reas societria, projetos internacionais, joint ventures e novos investimentos, fuses e aquisies, operaes financeiras, comrcio internacio-

nal e contencioso internacional, bem como pela negociao de todos os contratos e demais questes jurdicas de projetos da CVRD fora do Brasil,

incluindo Austrlia, Moambique, Peru e China. Scio do escritrio Machado, Meyer, Sendacz & Opice Advogados durante o perodo de Abril de 2000 a Abril de 2003, com expressiva atuao na rea societria, banking e project finance, tendo sido responsvel pela abertura do escritrio na Bahia e Ce-

ar. Advogado do IFC International Finance Corporation (World Bank Group ), em Washington-DC. Membro da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/RJ

DANIEL PIRES CARNEIRO Bacharel em Direito pela Universidade Cndido Mendes Centro (2004),

Membro do Ncleo de Pesquisa de Direito e Economia Linha de Pesquisa de Direito Societrio - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2004).

Atualmente est cursando sua Ps-graduao em Law and Economics na Universit de Bologna e University of Manchester. palestrante e autor de diversos artigos. Membro da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/ RJ

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RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABTICA - 2006

FERNANDA CRESPO FERREIRA Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004) Participou do Curso de Direito Internacional pela City University London

(2002-2003). Participou do Curso Bsico de Importao e Exportao pela Universidade Cndido Mendes UCAM (2000). Participou do Programa de Poltica Comercial da Embaixada Brasileira em Washington (maio/set/2005). membro do ABCI Institute - Analistas Brasileiros para o Comrcio Inter-

nacional. Atualmente trabalha no Centro Brasileiro de Relaes Internacionais CEBRI.

FLVIA DO VALLE ROCHA Bacharel em Direito pela Universidade Santa rsula USU (2000), PsGraduao em Comrcio Exterior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000), Ps-Graduao em Relaes Internacionais pela Universidade Cndido Mendes (2001), Mestranda em Direito Internacional e Integrao

Econmica ela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000), Bolsista da Enterprise and Investment Lawyers Course (Development Law Organization IDLO, Roma Itlia. Professora Contratada de Direito Internacional Privado Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Professora Substituta de Di-

reito Internacional Pblico da Universidade Bennett (RJ), Professora Convidada da disciplina de Instituies de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Prestadora de servios de Consultoria Jurdica para o ex-Ministro das Relaes Exteriores do Brasil, Luiz Felipe Lampria (Lampreia Consultores).

FREDERICO DO VALLE MAGALHES MARQUES Graduado em Direito pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de

Janeiro (1996). Mestre em Direito Internacional e Integrao Econmica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2000). Doutor em Direito Inter-

nacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2004). Visiting Fellow na University of Baltimore e na Georgetown University, USA (2002/ 2003). Advogado da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), desde outubro de 2003, com atuao nas reas de projetos internacionais, joint ventures

e novos investimentos, contratos internacionais e regulatrio (ANTT, ANTAQ

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RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABTICA - 2006

e ANEEL). Gerente Jurdico da rea de Contratos da Brasil Telecom (2000/ 2002). Advogado do escritrio Lobo & Ibeas Advogados (1999/2000) e da Odebrecht Engenharia e Construo (1998/1999).

GABRIELLA GIOVANNA LUCARELLI DE SALVIO Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994). Ps-Graduao em Direito da Empresa e da Economia pela Fundao Get-

lio Vargas (1998); Mestre (LL.M.) pela University of Warwick, Inglaterra (1999). Pesquisadora-bolsista da Corte Permanente de Arbitragem na Haia, Holanda (2003). Integrante do Programa de Capacitao para Jovens Advogados junto Misso do Brasil em Genebra (maio a agosto de 2004) e junto Coordenao Geral de Contenciosos do Ministrio das Relaes Exteriores (setembro a dezembro de 2005). Advogou na Companhia Vale do Rio

Doce - CVRD (1996-1998), no Veirano Advogados (1999 - 2001) e no Xavier, Bernardes Bragana (2001-2006). coordenadora do Ncleo de Estudos

de Soluo de Controvrsias (NESC) no Rio de Janeiro. Membro da Comisso de Comrcio Internacional e da Comisso de Arbitragem da OAB/RJ.

Scia do escritrio Xavier, Domingues, Advogados Ministra aulas e palestras na rea de comrcio internacional. Autora de artigos sobre o tema.

GUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHO Bacharel em direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997), MBA em Direito da Economia da Empresa, Funda-

o Getlio Vargas (1999), Mestre em Relaes Internacionais pelo Instituto de Relaes Internacionais PUC/RJ (2006). Ministrou curso sobre Mercado Financeiro e de Capitais Associao dos Especialistas em Traduo do Rio de Janeiro (2001), aulas ministradas na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro de Teoria Geral do Processo (1996). Advogado responsvel pelo departamento jurdico JGP S/A, - empresa de

gesto de recursos de terceiros (2004), advogou no escritrio Castro, Barros, Sobral, Gomes Advogados (2005). Membro da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/RJ

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RESUMO CURRICULAR DOS AUTORES POR ORDEM ALFABTICA - 2006

LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO Bacharel em Direito pela Universidade Cndido Mendes (1992). Mes-

tre em Direito Constitucional e Teoria do Estado pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (1997). Ps-Graduada em Direito Comunitrio pelo Centro de Estudos Europeus da Universidade de Coimbra (1995). Curso de Direito Internacional Privado na Academia de Direito Internacio-

nal de Haia - Holanda (1995). Curso de Direito Internacional das Organizaes dos Estados Americanos OEA (1995) Professora de Mediao e Arbi-

tragem Internacional do Centro de Estudos das Amricas da Universidade Cndido Mendes (2003-2004). Participou do Programa de Poltica Comercial da Embaixada Brasileira em Washington (set/2005 jan/2006). membro do ABCI Institute - Analistas Brasileiros para o Comrcio Internacional

e do Ncleo de Estudos de Soluo de Controvrsias (NESC) no Rio de Janeiro. Vice-presidente da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/ RJ. Trabalhou como assistente de pesquisa na Fundao Getlio Vargas FGV (1992-1994), foi consultora da Bruno Bros Consulting (1998-2000). Atualmente advogada associada do escritrio Castro, Barros, Sobral Gomes Advogados. Autora de diversos artigos e trabalhos sobre o tema.

PAULA ALONSO Bacharel em Direito pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (2002). Ps-graduao de especializao em Direito Tributrio pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributrios IBET (2005). Membro da Ordem dos Advogados do Brasil, Seo do Rio de Janeiro (2003). Scia do escritrio Xavier, Domingues, Campos da Silva Advogados Associados.

THEMISTOCLES MENESES NETO Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994).

Exerce a funo de gerente no Departamento de Integrao da Amrica do Sul, da rea de Comrcio Exterior do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES). LLM na London School of Economics (20032004). Membro da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/RJ.

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Sumrio

Palavra dos Co-Patrocinadores....................................................................03 Introduo...................................................................................................05 Apresentao ..............................................................................................07 Membros da Comisso de Comrcio Internacional da OAB/RJ que participaram desta obra ..............................................................................10 Resumo Curricular dos Autores por ordem alfabtica..................................11

PARTE II. DIREITO DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO................................24 1. O surgimento do GATT e as Origens da Organizao Mundial

de Comrcio OMC........................................................................25 2. PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMRCIO - GATT 1994..............33 2.1. Princpio da No-Discriminao: Princpios da Nao Mais Favorecida e do Tratamento Nacional...................................33 2.1.2. Princpio da Nao Mais Favorecida (NMF)........33 2.1.3. Excees ao Princpio (NMF)....................................34 2.2. Princpio do Tratamento Nacional.............................................35 2.3. Princpio da Liberalizao do Comrcio....................................35 2.4. Princpio da Reciprocidade ......................................................37

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Sumrio

2.5. Princpio da Proteo ao Mercado Domstico...........................39 2.6. Princpio do Desenvolvimento: tratamento especial pases em desenvolvimento......................................................39 3. MOMENTOS DE TRANSIO: A CRIAO DA OMC...................................40 3.1. O que a OMC?.........................................................................41 3.2. Regras Bsicas da Lei e da Poltica da OMC...............................42 3.3. Princpio do Tratamento Nacional.............................................43 3.4. Acesso a Mercados, Encargos Aduaneiros, Limitaes Quantitativas e Barreiras No-Tarifrias................................44 3.5. Transparncia, Previsibilidade e Justia.....................................44AUTORES:

GUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHO E THEMISTOCLES MENESES NETO

PARTE IIII. RESUMO DOS PRINCIPAIS ACORDOS CONSTITUTIVOS DA OMC............. .46 1. Acordo de Agricultura .............................................................................49 1.1. Acesso a Mercados....................................................................51 1.2. Suporte Domstico....................................................................52 1.3. Subsdios Exportao..............................................................54

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Sumrio

1.4. A Clusula da Paz...................................................................55 1.5. Comit de Agricultura e obrigaes de notificao..................56 1.6. Relao do Acordo de Agricultura com os demais Acordos da Rodada Uruguai........................................................................56 2. Acordo sobre Barreiras Tcnicas - Acordo TBT........................................57 3. Acordo sobre Aplicao de Medidas Sanitrias e Fitossanitrias Acordo SPS...............................................................................................60 4. Acordo de Direito de Propriedade Intelectual Relacionado ao Comrcio Acordo TRIPS.............................................................................................64 4.1. Estrutura do Acordo TRIPS........................................................64 4.2. Princpios Bsicos......................................................................65 4.3. mbito de abrangncia e as normas especficas de cada direito de propriedade intelectual.......................................................66 4.4. Conselho de TRIPS..................... ...............................................69 4.5. Mecanismo de Soluo de Controvrsias..................................69 4.6. Implementao do Acordo TRIPS..............................................69 5. Acordo Geral sobre Comrcio em Servios Acordo GATS......................70 5.1. mbito de Aplicao.................................................................70 5.2. Os Modos de Prestao de Servios.......................................71 5.3. Princpios do GATS...................................................................71

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Sumrio

5.4. Clusula da Nao Mais Favorecida (NMF)..................................72 5.5. Clusula de Tratamento Nacional (TN).......................................72 5.6. Listas de Compromissos Especficos..........................................72 5.7 . Excees ao cumprimento das obrigaes do GATS.................73 5.8. A oferta de servios na OMC......................................................74 5.9. As controvrsias relativas a servios no mbito do GATS..........74AUTORES:

BRUNO LEAL RODRIGUES, GABRIELLA LUCARELLI DE SALVIO LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO E PAULA ALONSO

PARTE IIIIII. SISTEMA DE SOLUO DE CONTROVRSIAS NA OMC..............................74AUTORES:

CLOVIS TORRES JUNIOR E FREDERICO MARQUES

PARTE IVIV. MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL............................................................83 1. Medidas antidumping..............................................................................84 2. Medidas compensatrias..........................................................................89 3. Medidas de salvaguarda...........................................................................92 4. Quadro Comparativo dos Instrumentos de Defesa Comercial..................95AUTORES:

FLVIA DO VALLE ROCHA E LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO

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Sumrio

PARTE VV. DEFESA COMERCIAL NO BRASIL...............................................................97 1.1. A Estrutura da Defesa Comercial no Brasil................................97 1.2. Organograma do Sistema de Defesa Comercial no Brasil......99 1.3. O Procedimento Administrativo..............................................100 1.3.1. Pedido..........................................................................100 1.3.2. Anlise Preliminar/Adequao da Petio..................100 1.3.3. Instruo e Defesa ....................................................101 1.3.4. Medidas Provisrias...................................................102 1.3.5. Compromissos...........................................................103 1.3.6. Encerramento da Investigao...................................103 2. Salvaguardas Relativas a Produtos Chineses.............................106 2.1. Salvaguardas Relativas a Produtos Chineses. Salvaguardas Txteis. Quadro Resumo............................109

3. Salvaguardas Relativas a Produtos Chineses. Resumo.........................................................................................110 3.1. Modalidades. Salvaguardas Transitrias. Decreto n. 5.556/06........................................................110 3.2. Condies Necessrias...................................................110

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Sumrio

3.3. Competncias.................................................................111 3.4. Trmites.........................................................................111 3.5. Prazos.............................................................................112

2. INVESTIGAES RELACIONADAS DEFESA COMERCIAL NO BRASIL. ESTATSTICAS...............................................................................................114 3. LEGISLAO.............................................................................................114 3.1. Medidas Compensatrias.......................................................115 3.2. Medidas antidumping.............................................................115 3.3. Medidas de Salvaguarda.........................................................115AUTORES:

ALEXANDRE BITENCOURT CALMON E LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO

PARTE VIAUTORES:

DANIEL GOMES CARNEIRO E FERNANDA CRESPO FERREIRA

GLOSSRIO .................................................................................................117 BIBLIOGRAFIA...............................................................................................155

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MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL

PARTE IDIREITO DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIOGUSTAVO SEIGNEMARTIN DE CARVALHO THEMISTOCLES MENESES NETO

MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL

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O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO

1. O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO - OMCA OMC foi criada a partir das negociaes da Rodada Uruguai, que demoraram ao redor de 08 anos (1986-1994) para serem concludas, e

iniciou seus trabalhos oficialmente em 1o de janeiro de 1995. Apesar de seu nascimento recente, a OMC pode ser considerada como parte de um longo processo de institucionalizao da ordem econmica internacional. Sua concepo e origens podem ser traadas at o perodo da criao do

Fundo Monetrio Internacional e do Banco Mundial, e alguns dos princpios por ela incorporados, muitos deles j presentes no Acordo Geral sobre Ta-

rifas e Comrcio GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e fundamentais ao comrcio internacional, remontam ao sculo XIX e at mesmo Idade Mdia.

Sua origem remonta ao final da 2 Guerra Mundial quando Estados Unidos e Gr-Bretanha iniciaram uma srie de negociaes para estabelecer os termos da nova ordem econmica internacional (FINLAYSON & Zacher, 1981; JAMES, 1996). Havia um consenso nos crculos polticos dos pases

aliados quanto aos problemas a serem resolvidos (BORDO, 1993), e o surgimento dos totalitarismos e contradies que levaram 2 Guerra Mundial 1 era diretamente atribudo por esses crculos s conseqncias da crise econmica da dcada de 30 do sculo XX (LIPSON, 1982; OMC 2003b)

. Problemas como a volatilizao das moedas nacionais aps o abandono do padro-ouro, as desvalorizaes cambiais perseguidas pelos pases na

tentativa de assegurar a competitividade no comrcio internacional, a falta de liquidez mundial, a retrao dos investimentos e a adoo de diversos entraves ao comrcio internacional deviam ser resolvidos de maneira definitiva para que se garantisse o crescimento econmico e a paz mundial. O

grande desafio dos idealizadores do sistema era combinar as preocupaes e os interesses distintos das duas potncias.

Duas verses clssicas deste argumento esto no livro de E. H. Carr, Vinte Anos de Crise, 1919-1939: Uma Introduo ao Estudo das Relaes Internacionais, editado no Brasil pelo Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais da Universidade de Braslia e pela Editora Universidade de Braslia, e no livro de Charles Kindleberger, The World in Depression, 1929-1939, editado pela editora da Universidade da Califrnia.24

1

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O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO

Assim, ao longo do ano de 1943, equipes de ambos os governos, chefiadas do lado britnico por John Maynard Keynes e do lado norte-ame-

ricano por Harry Dexter White, iniciaram negociaes para criar uma ordem mais institucionalizada e extensa, que tivesse por objetivo corrigir os problemas experimentados no perodo entre guerras e promover uma maior estabilidade no sistema econmico internacional.

mo e a liberdade de comrcio praticada durante o sculo XIX. Os processos econmicos e polticos desencadeados durante o final do sculo XIX e o fenmeno da guerra total, pela qual o Estado demonstrou sua capacidade de intervir e mobilizar todos os recursos da sociedade (presente em menor

Mas estas negociaes no procuraram apenas restaurar o liberalis-

escala na 1 Guerra Mundial e aperfeioado na 2 Guerra Mundial), deixaram profundas marcas nos sistemas econmicos, principalmente dos pa-

ses europeus. Exemplificando este compromisso instvel entre o liberalismo e o intervencionismo estatal nacionalista, a Carta do Atlntico, assinada em agosto de 1941, e o Pacto de Ajuda Mtua, assinado em fevereiro de 1942, ambos entre a Gr-Bretanha e os Estados Unidos, previam a aceitao do princpio da no-discriminao no comrcio internacional pelos britnicos, em contrapartida ao compromisso de respeito, pelos Estados Unidos, da prioridade dada pela Gr-Bretanha busca do pleno emprego (BORDO, 1993; EICHENGREEN, 1996).

tuies que comporiam esta nova ordem, preparada pelas equipes de Keynes e White e posteriormente utilizada como ponto de partida para a Confe-

Tais divergncias se refletiram na proposta de constituio das insti-

rncia de Bretton Woods, realizada no estado norte-americano de New Hampshire em 1944 e que reuniu a Gr-Bretanha, os Estados Unidos e mais 44 pases aliados. Do confronto entre os ideais liberais e os ideais nacionalistas, que formou o que John Gerard Ruggie chamou de Liberalis-

mo Implcito (embedded liberalism) (RUGGIE, 1982), nasceram as principais instituies do novo sistema, posteriormente batizado de Sistema de Bretton Woods: o Fundo Monetrio Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a Reconstruo e o Desenvolvimento (ou, simplesmente, Banco Mundial).

A questo da criao da Organizao Internacional do Comrcio (International Trade Organization, no original, OIC em portugus) uma

amostra interessante dos problemas deste Liberalismo Implcito do ps-

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O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO

guerra. A criao da OIC estava nos planos originais da Conferncia (RUGGIE, 1982; EICHENGREEN, 1996; KEYLOR, 2001), principalmente por

influncia da delegao norte-americana3 . A revalorizao do comrcio multilateral no sistema internacional era visto, tanto pelo governo quanto pelos setores industriais norte-americanos, como uma das garantias para a paz e para a sustentao da expanso da economia norte-americana (LIPSON, 1982; EICHENGREEN, 1996; KEYLOR, 2001). Alm do mais, um sistema baseado na liberdade comercial e na no-discriminao era visto por aqueles setores como uma oportunidade para resolver diversas distores e barreiras criadas no comrcio internacional, como o sistema

de preferncias imperiais criado pela Gr-Bretanha em 1931 e os acordos bilaterais assinados pela Alemanha nazista com os pases do Leste Euro-

as generalizadas quanto questo comercial, a criao da OIC foi deixada em segundo plano e somente em dezembro de 1945 foi retomada pelo governo norte-americano (JAMES, 1996).

peu (BORDO, 1993; EICHENGREEN, 1996), alm de servir de controle ao lobby protecionista norte-americano 4 . No entanto, diante das divergnci-

As negociaes que se seguiram culminaram com a preparao e aceitao dos Estatutos da OIC por 56 pases na Conferncia de Havana de 1947 5. Ironicamente, os estatutos no foram ratificados pelo Congresso

3

A liberalizao do comrcio foi elevada a um dos objetivos do FMI, includa no artigo 1 de seus estatutos, mas no houve consenso sobre como promov-la. A prpria redao do artigo mostra o conflito de interesses entre a liberalizao comercial e a proteo do mercado domstico: o FMI teria por funo promover a expanso equilibrada e balanceada do comrcio internacional, contribuindo para a promoo e manuteno de altas taxas de emprego e de renda real. (JAMES, 1996) (traduo livre). Basta lembrar que alguns autores atribuem uma parcela de culpa pelo declnio do comrcio internacional nos anos que antecederam a 2 Guerra Mundial resposta protecionista do governo norte-americano crise da dcada 30, simbolizada pela tarifa Hawley-Smoot, de 1930, que aumentou tarifas sobre produtos agrcolas e industrializados em mdia em 59% (KEYLOR, 2001). Kindleberger alega em sua obra sobre a depresso norte-americana (citada na nota 1) que as conseqncias da crise mundial poderiam ter sido minimizadas caso os Estados Unidos tivessem garantido a liquidez do sistema internacional, fornecendo emprstimos e importando os produtos produzidos no resto do mundo (KINDLEBERGER, [s.d.]). Isto, no entanto, no ocorreu. Uma mostra de como a crise de 1930 exacerbou o sentimento protecionista norte-americano est no fato do governo atribuir a responsabilidade pela crise superproduo mundial de matrias-primas e cartelizao das economias europias (KINDLEBERGER, 1996 (1978).26

4

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O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO

norte-americano, em uma reverso do ambiente positivo anterior, e a idia acabou sendo abandonada pela administrao Truman (FINLAYSON &

ZACHER, 1981; RUGGIE, 1982; JACKSON, 1994; EICHENGREEN, 1996; JAMES, 1996; OMC, 2003a). A ordem econmica internacional do ps-guerra aca-

bou assim sustentada por apenas duas das trs colunas institucionais inicialmente planejadas: o FMI, quanto s questes cambiais e de financiamento de curto prazo da balana de pagamentos, e o Banco Mundial, quanto s questes de investimento e financiamento de longo prazo.

o paliativa para promover um arcabouo institucional mnimo para a regulao do comrcio internacional. Em paralelo e na esteira das negociaes para a criao da OIC, foi realizada, em 1947, uma conferncia com o objetivo de registrar as concesses tarifrias e as regras de comrcio

Com o impasse na criao da OIC, acabou-se optando por uma solu-

mnimas acordadas pelas partes integrantes das negociaes 6. O resultado foi registrado no GATT, que deveria ser o primeiro de diversos acordos a serem negociados sob os auspcios da OIC (FINLAYSON & ZACHER, 1981). Com os problemas envolvendo a criao da OIC, o GATT passou de um acordo provisrio a um arranjo paliativo com status de definitivo (FINLAYSON & ZACHER, 1981; OMC, 2003a).

1947, com a concluso da Conferncia de Genebra, ao passo que a Carta da ITO somente foi concluda em 1948. Mesmo sabendo que o acordo de-

O GATT, portanto, teve sua negociao concluda em novembro de

veria ficar subordinado Carta da ITO, alguns negociadores julgavam necessrio que o GATT entrasse em vigor imediatamente. De acordo com os analistas da poca, a demora na implementaao

do acordo poderia dar azo divulgao antecipada dos resultados obtidos, o que apontava para a necessidade de se implementar o quanto antes os acordos tarifrios alcanados em novembro de 1947.

5

Durante a Conferncia de Havana (1947-1948) os pases criaram o primeiro embrio da atual OMC, poca no efetivada, mas substituda provisoriamente (durante meio sculo) pelo GATT. Um dos objetivos principais da conferncia, sem dvida, foi aproveitar a autoridade conferida pelo Congresso norte-americano ao executivo para o corte de tarifas atravs da extenso da validade do Reciprocal Trade Agreements Act de 1934 (FINLAYSON & ZACHER, 1981; JACKSON, 1994).MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL27

6

O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO

De outra parte, outra motivao para imediata entrada em vigor do GATT, pressionava especialmente os negociadores americanos. Pois tais

negociaes foram entabuladas sob a autorizao legislativa concedida em 1945, por trs anos, e a demora na implementao do acordo poderia forlos a submeter o acordo apreciao do poder legislativo de seu pas.

Por outro lado, os governos enfrentavam dificuldades para a implementao imediata do acordo, sobretudo no plano jurdico. De fato,

o ordenamento jurdico interno de alguns pases exige prvio exame pelo poder legislativo para que as obrigaes sejam incorporadas ao

ordenamento jurdico domstico. Diante de tal requisito jurdico, os governos avaliavam que submeter o acordo tarifrio e depois a Carta da futura organizao internacional, significaria muito desgaste poltico interno.

Para evitar submeter os acordos apreciao do legislativo em duas etapas, em vez de um nico pacote, os pases concordaram com a adoo de um Protocolo de Aplicao Provisria (Protocol of Provision Application). Tal Protocolo tinha duas disposies fundamentais: a primeira consiste na forma de aplicao do GATT, ou seja, as partes I e III, seriam apli-

cadas imediata e incondicionalmente, sem qualquer exceo. A parte II, por sua vez, somente seria aplicada no que no conflitasse com a legisla-

o domstica dos pases existente poca em que o pas se tornou parte no acordo. Esta segunda parte ficou conhecida como clusula do av (grandfathers rights) e na prtica permitia aos pases continuar aplicando sua legislao interna, ainda que em conflito com o disposto no GATT. Dessa forma, o GATT entrou provisoriamente em vigor, situao que perdurou at a concluso da Rodada Uruguai em 1986.

A partir da Rodada de Tquio, novos temas foram inseridos na agenda do GATT e os pases passaram a discutir questes como servios, meio ambiente, propriedade intelectual, dentre outros.

das de negociaes multilaterais, com nfase na reduo de tarifas. Com efeito, sob o GATT conseguiu-se a reduo de tarifas na ordem de 40% 7 .

Durante o perodo de vigncia do GATT, foram realizadas sete roda-

7

JACKSON, John et al. Legal Problems of International Economic Relations. Minnesota: West Group, 2002.28

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O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO

A ltima dessas rodadas de negociao iniciou-se em 1986, em Punta del Este, Uruguai e teve a durao de 8 (oito) anos. Conhecida como Rodada

Uruguai, essa ltima Rodada de Negociaes do GATT considerada uma das mais ambiciosas, pois alm do aprofundamento no corte de tarifas,

trouxe inovao institucional; acordos sobre servios; agricultura; investimentos, dentre outros. O Acordo de Marrakesh, assinado em 15 de abril de 1994, tem como

objeto principal a criao da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), com natureza jurdica de pessoa de direito pblico internacional, que goza dos

privilgios e imunidades conferidos pela Conveno das Naes Unidas sobre Privilgios e Imunidades de Agncias Especializadas 8 . Conforme j salientado acima, dentre outros dispositivos, o Acordo

de Marrakesh estabelece os objetivos, as funes e a estrutura da OMC. No que se refere ao acordo sobre bens, cabe destacar o Artigo II do Acordo de Marrakesh, que estabelece a forma de incorporao dos acordos pr-OMC ao sistema inaugurado com a concluso da Rodada Uruguai.

dro institucional comum para a conduo das relaes comerciais entre seus membros nos assuntos relacionados com os acordos e instrumentos legais conexos includos nos Anexos ao presente acordo9

De acordo com o pargrafo 1, do Artigo II, a OMC constituir o qua-

.

Ou seja, conforme delineado pelos negociadores de 1948, de acordo com a norma acima transcrita, o Acordo de Marrakesh funciona como uma

superestrutura, qual os demais acordos foram incorporados 10 . o que se verifica nos demais pargrafos do artigo em tela, assim redigidos:

8

Aprovada pela Assemblia Geral em 21 de novembro de 1947.

9

Traduo oficial. Decreto n. 1.355, de 30 de dezembro de 1994, publicado no Dirio Oficial da Unio, Suplemento ao n. 248-A, Seo 1, de 31 de dezembro de 1994, p.1 e seguintes. A doutrina americana e inglesa referem-se ao Acordo de Marrakesh como um umbrella agreement (acordo guarda-chuva, em traduo livre), pois os demais acordos ficam sob sua proteo. Alguns autores (Deborah Cass) se referem constitucionalizao do direito do comrcio internacional, traando um paralelo com a famosa pirmide de Kelsen.MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL29

10

O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO

1, 2 e 3 (denominados a seguir Acordos Comerciais Multilaterais) formam parte integrante do presente Acordo e obrigam todos os Membros.

2. Os acordos e os instrumentos legais conexos includos nos Anexos

(denominados a seguir Acordos Comerciais Plurilaterais) tambm formam parte do presente Acordo para os Membros que o tenham aceito e so obrigatrios para estes. Os acordos comerciais plurilaterais no criam obrigaes nem direitos para os membros que no os tenham aceitado. 4. O Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comrcio 1994, confor-

3. Os acordos e os instrumentos legais conexo includos no Anexo 4

me se estipula no Anexo 1A (denominado a seguir GATT 1994) juridicamente distinto do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comrcio com data de 30 de outubro de 1947, anexo Ata Final adotada por ocasio do encerramento do segundo perodo de seses da Comisso Preparatria da

Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Emprego, posteriormente retificado, emendado ou modificado (denominado a seguir GATT 1947).11

emendas e modificaes, ao Acordo de Marrakesh e rebatizado de GATT 1994. Antes um documento autnomo, o GATT passou a ser um dos quatro anexos que compem o Acordo de Marrakesh. Isso no significa, entretanto, que sua importncia foi diminuda, pelo contrrio, o GATT 1994 contm os princpios basilares sobre o qual est montado todo o sistema jurdico que disciplina as relaes econmicas internacionais.

O antigo GATT 1947 foi incorporado, com todas as suas retificaes,

tarifrias, o GATT deixou diversas questes importantes para serem abordadas no mbito da OIC e que acabaram sem um tratamento institucional especfico (FINLAYSON & ZACHER, 1981). No entanto, alguns princpios fundamentais do comrcio e do direito internacionais, sempre temperados pelo

Uma vez que seu objetivo principal era o de registrar concesses

Liberalismo Implcito, estavam a ele incorporados e formaram o arcabouo institucional que permitiu o florescimento do comrcio mundial no psguerra e, posteriormente, a retomada da idia de criao de uma organizao para a regulao do comrcio.

11

Ver nota 2, acima.MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL

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O SURGIMENTO DO GATT E AS ORIGENS DA ORGANIZAO MUNDIAL DE COMRCIO

MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL

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PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMRCIO - GATT 1994

2. PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMRCIO - GATT 1994 2.1 PRINCPIO DA NO-DISCRIMINAO: PRINCPIOS DA NAO MAIS FAVORECIDA E DO TRATAMENTO NACIONAL 2.1.2 PRINCPIO DA NAO MAIS FAVORECIDA (MOST FAVORED NATION)O princpio que pode ser apontado como a pedra basilar do GATT o Princpio da No-Discriminao, ou Princpio da Nao Mais Favorecida In-

condicional (Unconditional Most Favored Nation), previsto no artigo 1.1 do acordo (FINLAYSON & ZACHER, 1981; LIPSON, 1982).

Esse princpio geral do direito internacional do comrcio encerra em sua nomenclatura uma contradio com seu objetivo. Com efeito, o escopo do princpio no conceder privilgio a determinados parceiros comerciais, na verdade, o Princpio da Nao Mais Favorecida (NMF) estabelece a

obrigao de que qualquer vantagem, favor, privilgio ou imunidade concedido por um membro da OMC a outro, deve ser imediata e incondicionalmente estendido aos demais membros da OMC. O Princpio da No-Discriminao se baseia no princpio clssico da

NMF, formulado no Tratado de Comrcio Anglo-Francs de 1860 (o Tratado de Cobden-Chevalier) e depois reproduzido em outros tratados bilate-

rais no resto da Europa (LIPSON, 1982). Por esse Princpio, em sua formulao clssica, as partes contratantes

estavam obrigadas a estender mutuamente quaisquer redues de tarifas que aplicassem aos produtos importados de terceiros. Quando se espalhou para outros pases europeus com compromissos recprocos, este sistema a princpio bilateral de reduo de tarifas acabou se tornando verdadeiramente multilateral. Como j mencionado, aplicao do Princpio da NMF incondicional

e bastante ampla, diferenciando-se do princpio clssico em trs aspectos. Em primeiro lugar, no se aplicava apenas a tarifas aduaneiras, mas a to-

das as regras de comrcio previstas no GATT. Em segundo lugar, se aplicava igualmente e diretamente a todos os membros do GATT. Por fim, se aplicava a tarifas e concesses mesmo que no tivessem sido objeto de negociao entre os membros do GATT (FINLAYSON & ZACHER, 1981). Por-

tanto, o Princpio NMF abrange no s tarifas e medidas alfandegrias, bem como tributos internos, taxas e regulamentos que afetem a circulao, distribuio e uso dos produtos.

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MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL

PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMRCIO - GATT 1994

Dentre os vrios motivos para adoo do princpio da NMF, a doutrina12 destaca a remoo de obstculos vantagem comparativa e o estmulo livre concorrncia e a competio.

2.1.3 EXCEES AO PRINCPIO DA NMFApesar de sua importncia, o Princpio NMF comportou diversas ex-

cees, como a que permitiu a continuidade dos sistemas imperiais de preferncias tarifrias da Gr-Bretanha e da Frana (expressamente prevista no artigo 1.2 do GATT) e a que permitiu a criao de unies aduaneiras e reas de livre comrcio (Artigo XXIV), no interesse da maior integrao econmica dos pases membros destes acordos (artigo 24 do GATT) (FINLAYSON & ZACHER, 1981; RUGGIE. 1982). Assim, na prtica internaci-

onal, tanto nos tratados bilaterais, quanto nos multilaterais (inclusive na OMC), o princpio da NMF somente concedido aos pases que esto dispostos a concederem a mesma condio (reciprocidade) 13. Outras excees fundamentais permitiam ainda a discriminao por intermdio da im-

posio de quotas para a proteo do balano de pagamentos e da imposio de medidas antidumping e de salvaguarda contra prticas de comrcio desleais. Posteriormente, a Rodada Tquio oficializou a aplicao de preferncias discriminatrias em favor dos pases em desenvolvimento atra-

vs do Sistema Geral de Preferncias - SGP (Artigo XXVIII) (Generalized System of Preferences)14 (FINLAYSON & ZACHER, 1981).

12

MATSUSHITA, Mitsuo; SCHOENBAUM, Thomas J. e MAVROIDS, Petros. The World Trade Organization: Law, Practice, and Policy. Londres, Oxford, 2004. Apesar de sua longa existncia (e prtica) nas relaes econmicas internacionais, o princpio da NMF no tem a natureza jurdica de um costume internacional. Isto implica, portanto, no fato de que somente pode ser alegado com base em tratado bilateral ou multilateral. Houve tentativas mal sucedidas de se estabelecer o princpio da NMF como um princpio geral de direito internacional, como a iniciativa de 1978, da Comisso de Direito Internacional da ONU, e a Carta de Direitos e Deveres Econmicos dos Estados publicada em 1974 pela Assemblia Geral da ONU.14 13

O Sistema Geral de Preferncias foi criado por meio de acordo aprovado em outubro de 1970 pela Junta de Comrcio e Desenvolvimento da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), a agncia das Naes Unidas para o Desenvolvimento e o Comrcio, e prev a reduo de tarifas pelos pases membros da Organizao para a Cooperao e o Desenvolvimento Econmico (Organization for Economic Co-operation and Developement, em ingls) para determinados produtos exportados por pases em desenvolvimento (Ministrio do Desenvolvimento, da Indstria e do Comrcio Exterior, [s.d.]).MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL33

PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMRCIO - GATT 1994

2.2 PRINCPIO DO TRATAMENTO NACIONAL (NATIONAL TREATMENT PRINCIPLE)O Princpio do Tratamento Nacional (PTN) obriga a no discriminao

entre produtos nacionais e estrangeiros. Em outras palavras, no que se refere aos bens, o PTN estabelece que uma vez desembaraado na alfndega e aplicado eventuais impostos e/ou tarifas, os produtos importados devem receber o mesmo tratamento dispensado aos produtos da mesma natureza produzidos no pas. Caso contrrio, o tratamento discriminatrio pode inviabilizar as concesses tarifrias estabelecidas com base no Artigo II, do GATT 1994.

O Artigo III, do GATT 1994, que veicula o princpio ora em tela, estabelece que nenhuma lei, regulamento ou tributao pode modificar desfa-

voravelmente as condies de concorrncia entre produtos domticos ou importados similares. O pargrafo 1, do Artigo III, contm princpios gerais e serve como

contexto para a aplicao dos demais pargrafos. Ademais, o pargrafo 1 estabelece o escopo de aplicao do Artigo III, a saber: 1. tributos internos e cobranas 2. leis, regulamentos e requerimentos que afetem a venda, transpor tem distribuio ou uso do produtos

3. regulamentos internos que exijam mistura, processamento ou uso do produtos em propores determinadas. O objetivo do Artigo III , portanto, garantir a efetiva igualdade de

oportunidade dos produtos importados para competir com os produtos domsticos e, tambm, evitar que medidas adotadas no mbito domstico

afetem as concesses tarifrias (conforme destacado acima) e limitar as medidas protetivas aos controles de fronteira.

2.3 PRINCPIO DA LIBERALIZAO DO COMRCIOComo visto anteriormente, o Princpio da Liberalizao do Comrcio estava por trs do impulso (principalmente por parte do governo norte34

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PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMRCIO - GATT 1994

tarifrias como, por exemplo, as quotas de importao (EICHENGREEN, 1996). Apesar deste princpio no ter sido unnime entre os pases (espe-

americano) de criao da OIC e de eliminao de barreiras no-

cialmente os europeus), no foi abandonado juntamente com os planos de criao da OIC. Inspirado no imperativo de proteo do pleno emprego e

de estabilidade econmica, o princpio foi elevado pelo artigo 12 do GATT ao status de uma das normas bsicas do sistema (FINLAYSON & ZACHER, 1981; RUGGIE, 1982).

No incio, as primeiras negociaes para a liberalizao no mbito do GATT se concentraram na reduo de tarifas (FINLAYSON & ZACHER, 1981;

LIPSON, 1982; OMC, 2003a). A primeira rodada de negociaes 15, que coincidiu com a prpria instituio do GATT, em Genebra, conseguiu redues expressivas nas tarifas, em grande parte por concesses dos Estados Unidos (FINLAYSON & ZACHER, 1981; LIPSON, 1982; EICHENGREEN, 1996). As Rodadas de Genebra (1947), Annecy (1949), Torquay (1950-1951), e Dillon (1960-1961) pouco avanaram nas redues (FINLAYSON & ZACHER,

1981; LIPSON, 1982; EICHENGREEN, 1996). A rodada Kennedy (1964-1967) conseguiu romper o imobilismo graas s mudanas no cenrio econmico europeu e autorizao do Congresso norte-americano para o corte expressivo de tarifas, mas no trouxe grandes avanos no campo de medidas no-tarifrias (com exceo da aprovao de regras para a aplicao de medidas antidumping) (FINLAYSON & ZACHER, 1981; LIPSON, 1982). Ape-

nas a Rodada Tquio 16 (1973-1979), que estudaremos com mais vagar no Acordo sobre Barreiras Tcnicas, procurou atacar de maneira mais sistemtica a utilizao de barreiras no-tarifrias e outros empecilhos ao comrcio atravs da aprovao de cdigos como o de Compras Governamen-

tais (Government Procurement Code), de Licenciamento de Importaes (Import Licensing), de Barreiras Tcnicas (Technical Barriers) e de Subsdi-

os e Medidas Compensatrias (subsidies and Countervailing Duties) (FINLAYSON & ZACHER, 1981; OMC, 2003a). Finalmente, a Rodada Uruguai15

No mbito do GATT, as redues tarifrias e eventuais alteraes nas regras de comrcio foram promovidas atravs de rodadas multilaterais de negociao. Antes da OMC, as rodadas foram as de Genebra (1947), Annecy (1949), Torquay (1951), Genebra (1956), Dillon (1960-61), Kennedy (1964-1967), Tquio (1973-1979) e Uruguai (1986-1994) (OMC, 2003a). Com a criao da OMC, a negociao atravs do sistema de rodadas foi mantida, estando atualmente em discusso a Rodada de Doha. A Rodada Tquio ser estudada com mais detalhes no captulo IV, quando ser pormenorizado na anlise sobre o Acordo sobre Barreiras Tcnicas.

16

MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL

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PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMRCIO - GATT 1994

procurou ampliar o escopo das redues tarifrias, alm de promover uma maior discusso da questo agrcola.

2.4 PRINCPIO DA RECIPROCIDADEO Princpio da Reciprocidade possui uma longa histria no apenas

no comrcio internacional como tambm no direito internacional. Segundo o saudoso Professor Celso Mello, o princpio encontrado em tratados

datados do sculo XII e XIII (MELLO, 2000) e a idia de que um pas que se beneficia de concesses feitas por outro deve estender a este os mesmos benefcios sem dvida constituiu a base do Princpio da Nao Mais Favorecida.

includo como uma das principais normas do GATT no artigo 28 e at a dcada de 60 se constituiu em uma exigncia legal interna norte-america-

Por influncia do governo norte-americano, o mesmo princpio foi

na para a conduo de negociaes comerciais (FINLAYSON & ZACHER, 1981). Apesar de muito importante para a interpretao e o desenvolvimen-

to do GATT, a aplicao do Princpio da Reciprocidade na prtica se revelou muito mais complicada. O Liberalismo Implcito que permitiu a criao do

GATT tambm permitiu a aplicao desigual dos princpios comerciais quando fosse do interesse dos Estados envolvidos proteger seus mercados nacionais; algumas alteraes propostas ao GATT, a aprovao do Trade Expansion Act pelo Congresso norte-americano em 1962 17, a excluso

dos pases em desenvolvimento do requisito da reciprocidade em 1965 e a criao do SGP, em 1971, comprometeram ainda mais a aplicao do Princpio da Reciprocidade. Com isso, ele acabou se restringindo ao conceito de Cobertura Comercial (trade coverage), pelo qual a reciprocidade pas-

sou a ser avaliada com relao ao volume de importaes coberta pelas concesses tarifrias (FINLAYSON & ZACHER, 1981). Como efeito no-desejado desta viso limitada, ao invs de assegurar um tratamento igualit

17

Com o Trade Expansion Act, os negociadores norte-americanos deixaram de estar obrigados a negociar com base em uma reciprocidade de item por item ou produto por produto e passaram a adotar uma reciprocidade baseada em pacotes (FINLAYSON & ZACHER, 1981).36

MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL

PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRE COMRCIO - GATT 1994

rio das partes, o princpio permitiu a predominncia dos pases desenvolvidos nas trocas comerciais, seja pelo tamanho de seus mercados internos,

seja por sua capacidade de oferecer concesses tarifrias, especialmente em produtos e matrias-primas que no afetassem diretamente sua eco-

nomia domstica ou lhe fossem complementares (FINLAYSON & ZACHER, 1981).

2.5 PRINCPIO DA PROTEO AO MERCADO DOMSTICOComo visto acima, a preocupao dos pases europeus (e especial-

mente da Gr-Bretanha) com os efeitos que a liberalizao comercial poderia ter sobre suas economias no ps-guerra levaram relativizao dos

princpios da Liberalizao do Comrcio e da Reciprocidade incorporados ao GATT, atravs da insero de clusulas de escape que permitissem

aos pases membros adotarem salvaguardas temporrias especficas quando as mudanas nos ambientes domstico e internacional pudessem causar desestabilizao de suas economias domsticas (FINLAYSON & ZACHER, 1981; LIPSON, 1982).

quantitativas pelos pases membros para responder a distores na balana de pagamentos, benefcio ainda mais ampliado para os pases em desenvolvimento pelo artigo 23.B. Por sua vez, o artigo 19 (e tambm o artigo 28) conferia o benefcio de excees s regras do GATT nos casos de

Assim, o artigo 12 permitia, por exemplo, a imposio de restries

desorganizao dos mercados locais, atravs da imposio de quotas ou de alterao das tarifas mximas a que os Estados haviam se comprometido, desde que comprovada a ocorrncia de danos substanciais ou potenciais indstria nacional, fossem promovidas consultas entre as partes (importadores e exportadores) sobre a imposio das barreiras e estas no fossem discriminatrias (FINLAYSON & ZACHER, 1981; LIPSON, 1982).

aspectos importantes do comrcio internacional terminaram excludos do GATT ou de algumas obrigaes do acordo, como questes relativas a compras governamentais e reas de livre comrcio e unies aduaneiras, excetuadas do Princpio da Nao Mais Favorecida; o setor de agricultura, excetuado da proibio da imposio de quotas; a exportao de matrias-primas, excetuada da proibio de subsdios exportao; e questes relativas a imperativos de segurana nacional, sade e moralidade pbliMANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL37

Como antes mencionado, alm dessas clusulas de escape, diversos

3. MOMENTOS DE TRANSIO: A CRIAO DA OMC

cas, excetuados de modo geral das regras do acordo (FINLAYSON & ZACHER, 1981). Alm disso, diversas prticas discriminatrias e barreiras

ao comrcio simplesmente no eram sequer objeto de discusso, j que pela chamada grandfather clause medidas adotadas antes da adeso ao acordo no estavam sujeitas a suas regras (FINLAYSON & ZACHER, 1981; JACKSON, 1994).

muitos casos mantiveram diversas excees e possuam carter plurilateral, ou seja, de aplicao restrita aos signatrios e no tendo carter obrigatrio (OMC, 2003a).

Os acordos posteriores assinados para a soluo destas questes em

2.6 PRINCPIO DO DESENVOLVIMENTO: TRATAMENTO ESPECIAL PASES EM DESENVOLVIMENTOO Princpio do Tratamento Especial aos pases em desenvolvimento foi acrescentado ao GATT em 1965, mas j vinha sido debatido desde me-

ados dos anos 50, com o aumento do nmero de pases em desenvolvimento subscritores desse acordo. No entanto, no incio, os pases desenvolvidos estavam mais preocupados em proteger suas indstrias locais e suas reservas internacionais e as atenes estavam voltadas para a importao; desta forma, o artigo 28 foi revisado em 1955 para permitir mais flexibilidade aos pases em desenvolvimento na imposio de restries importaes (FINLAYSON & ZACHER, 1981).

Com a introduo no GATT da chamada Parte IV, em 1965, o tratamento privilegiado dos pases em desenvolvimento ganhou importncia (ao menos simblica) muito grande, e o Princpio da Reciprocidade foi formalmente relativizado, ganhando ainda mais importncia com a aceitao

do Princpio do Desenvolvimento aps a Rodada Tquio. Outras alteraes, como a exceo tambm criada pela Rodada Tquio proibio de subsdios para a exportao de matrias-primas e a permisso formal de sistemas de preferncias e a criao do SGP, procuraram reforar a posio dos pases em desenvolvimento (FINLAYSON & ZACHER, 1981).

H controvrsias quanto aos efeitos reais de todas estas excees sobre o comrcio exterior dos pases menos desenvolvidos. Apesar dos benefcios criados para a exportao de produtos primrios, pouco se avan38

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3. MOMENTOS DE TRANSIO: A CRIAO DA OMC

ou na liberalizao de produtos agrcolas (que compem a maior parte da

pauta de exportaes destes pases), altamente protegidos pelos pases desenvolvidos. Alm disso, o incentivo para a criao de barreiras ao comrcio por parte dos pases em desenvolvimento prejudicou fortemente o chamado comrcio sul-sul, tornando estes pases ainda mais dependentes dos mercados desenvolvidos (OMC, 2003a).

3. MOMENTOS

DE

TRANSIO: A CRIAO

DA

OMC

sua criao, o GATT apresentava problemas e sofria um grande desgaste. Apesar de ter ajudado a promover, juntamente com o sistema de Breton Woods, o crescimento da economia mundial e o aumento substancial das trocas comerciais, principalmente entre os pases desenvolvidos, ao final

Ao tempo do incio da Rodada Uruguai, em 1986, quase 40 anos aps

dos anos 70 e incio dos anos 80 o GATT passou a enfrentar diversos questionamentos e movimentos crescentes de restrio ao comrcio (atravs da imposio de barreiras tarifrias mas, em especial, pela crescente utilizao de barreiras no-tarifrias), algumas em clara afronta a seus princpios, outras permitidas pelas brechas e imprecises do acordo (LIPSON, 1982; OMC, 2003a).

brechas do GATT e portanto no considerados abertamente como ilegais, estavam os acordos de Restries Voluntrias Exportao, ou RVE (em

Dentre as restries mais usadas, justamente porque construdos nas

ingls, Voluntary Export Restraints), usados at hoje. A grande vantagem dos RVE era o fato de que enquanto as regras do GATT voltavam-se com a imposio de barreiras discriminatrias importao, os Acordos RVE representam uma restrio voluntria aplicadas pelos exportadores a seus prprios produtos (LIPSON, 1982).

Apesar de mais visveis, os RVE no eram as nicas barreiras a se beneficiarem das brechas nas regras do GATT, os subsdios exportao tambm representavam entrave considervel ao comrcio no mbito do acordo, principalmente pela dificuldade de identific-los (LIPSON, 1982). Mas as crticas ao GATT no se limitavam apenas aplicao e ao

escopo de suas regras. Muitas crticas eram direcionadas s dificuldades de adaptao do acordo s novas condies do comrcio internacional, cada vez mais complexo e envolvendo um nmero crescente de particiMANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL39

3. MOMENTOS DE TRANSIO: A CRIAO DA OMC

pantes, a maioria pases em desenvolvimento (OMC, 2003a). A primeira tentativa de se fazer uma reforma ao GATT veio com a Rodada Tquio, que falhou em promover alteraes em questes relevan-

tes como agricultura e medidas de salvaguarda, como veremos mais detalhadamente no Acordo sobre Barreiras Tcnicas. Alguns acordos rela-

tivos s barreiras no-tarifrias foram criados, contudo a natureza no imperativa destes fez com que apenas um reduzido nmero grupo de pa-

ses aderissem a esses acordos (OMC, 2003a). Ademais, o fato de no serem estes acordos multilaterais, no estimulou sua adeso pela maioria dos membros.

A falhas da Rodada Tquio em promover as mudanas necessrias ao sistema acabaram levando Rodada Uruguai, considerada por muitos como

a rodada mais ambiciosa j proposta. Apesar da falta de acordo em diversos assuntos, as negociaes atingiram progressos significativos, entre outros estendendo a cobertura de suas regras a setores anteriormente excludos, como o de servios e de propriedade intelectual, estabelecendo novas regras a respeito de subsdios e alterando os procedimentos para resoluo de disputas (JACKSON, 1994).

mada da idia de criao de uma organizao internacional para a promoo da liberalizao do comrcio, abandonada h mais de 40 anos juntamente com a criao da OIC e finalmente implementada atravs da OMC.

Mas a conseqncia mais importante da Rodada Uruguai foi a reto-

3.1 O QUE A OMC?Em alguns aspectos, a OMC difere da OIC na abordagem e maneira

pela qual atua. Sua carta possui objetivos mais limitados que os da OIC e, ao invs de regular de maneira direta diversos aspectos do comrcio inter-

nacional, procura proporcionar uma estrutura institucional para a implementao do acordado por seus membros durante as rodadas de ne-

gociaes substantivas, como no caso da Rodada Uruguai (JACKSON, 1994). Primeiramente, a organizao se constitui em um frum para facilitar e promover a negociao entre os Estados e a soluo pacfica de controvrsias relativas ao comrcio internacional (OMC, 2003a).

mrcio internacional para os pases membros, mas incorpora como anexos40

Assim, a OMC no estabelece diretamente ou dita as regras de co-

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3. MOMENTOS DE TRANSIO: A CRIAO DA OMC

seus estatutos as regras acordadas nas negociaes multilaterais, como o prprio GATT, incorporado ao arcabouo institucional da OMC pelo par-

grafo 1 do artigo 16 de seus estatutos com as alteraes introduzidas na Rodada Uruguai, e que serve como um acordo guarda-chuva para o comrcio de bens (JACKSON, 1994; OMC, 2003a).

Atualmente, a estrutura da OMC composta por cinco partes diferentes. A primeira constituda por um tratado guarda-chuva estabelecendo a OMC e criando uma estrutura burocrtica e organizacional formal para a organizao. As demais partes formam os anexos ao tratado que estabelece a OMC: a primeira contm os acordos especficos estabelecendo as regras e os princpios gerais para cada uma das reas sujeitas regulao,

sendo o GATT (atualizado pela Rodada Uruguai) utilizado para a cobertura do comrcio de bens, o Acordo Geral Sobre o Comrcio de Servios (em

ingls, General Agreement on Trade in Services, ou simplesmente GATS) utilizado para o setor de servios, e o Acordo sobre Aspectos de Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comrcio (em ingls, TradeRelated Aspects of Intellectual Property Rights, ou simplesmente TRIPS) utilizado para questes de propriedade intelectual; uma parte contendo alguns acordos especficos de aceitao opcional, como o de Compras Go-

vernamentais; uma parte relacionada aos mecanismos de soluo de controvrsias; e uma parte final contendo as regras para a reviso das polticas de comrcio exterior dos pases membros (JACKSON, 1994; OMC, 2003a).

tantes da Rodada Uruguai e de suma importncia para a organizao, como o Acordo sobre Agricultura (em ingls, Agreement on Agriculture), o Acordo sobre Medidas Sanitrias e Fitossanitrias (em ingls, Agreement on Sanitary and Phytosanitary Measures) e o Acordo sobre Barreiras Tcnicas ao Comrcio (em ingls, Agreement on Technical Barriers to Trade).

Ainda em anexo ao GATT esto diversos acordos substantivos resul-

3.2 REGRAS BSICAS DA LEI E DA POLTICA DA OMCComo visto, a OMC no possui os mesmos objetivos da OIC, servindo mais como um frum para a soluo de disputas atravs das regras acordadas pelos Estados do que uma organizao com autonomia para regular diretamente o comrcio internacional. Os princpios e regras adotados pela OMC so aqueles acordados pelos Estados-membros nos diferentes acorMANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL41

3. MOMENTOS DE TRANSIO: A CRIAO DA OMC

dos e na verso do GATT atualizada pela Rodada Uruguai. Em conseqncia, os princpios orientadores e regras bsicas previstos originalmente

no GATT tambm foram incorporados disciplina da OMC, com algumas modificaes. Resumidamente, so os seguintes: a) Princpio da no-discriminao - O Princpio da No-Discriminao

determina que um pas membro no discrimine entre seus parceiros comerciais, adotando tarifas e prticas mais benficas ou restritivas para uns e no para outros. Este est intimamente relacionado aos princpios da Nao Mais-Favorecida e do Tratamento Nacional (OMC, 2003a), sendo tambm chamado de Princpio da Nao Mais-Favorecida Incondicional.

b) Princpio da nao mais-favorecida - O Princpio da Nao MaisFavorecida em sua formulao clssica determina que quaisquer benefcios concedidos a terceiros sejam estendidos s partes contratantes. No caso do GATT e da OMC, o princpio se aplica a todos os membros da organiza-

o; desta forma, quaisquer benefcios concedidos a um de seus membros devem ser estendidos aos demais. Tanto na disciplina do GATT quanto na OMC, o princpio considera-

do como um dos mais importantes do comrcio internacional, estando previsto nos artigos 1o do GATT, artigo 2 do GATS e 4 do TRIPS. No entanto,

tambm na OMC o Liberalismo Implcito significa que o Princpio da Nao Mais-Favorecida possui reservas e excees, como por exemplo quanto a questes de moralidade e sade pblicas e segurana (OMC, 2003a).

3.3 PRINCPIO DO TRATAMENTO NACIONALO Princpio do Tratamento Nacional est relacionado aos princpios da No-Discriminao e da Reciprocidade. Produtos, servios e marcas e patentes importados devem ter o mesmo tratamento que os produtos, servios e marcas e patentes locais. Vale lembrar que pela definio dada pela

OMC, o princpio somente vlido quando os produtos, servios e marcas e patentes entram no mercado domstico, o que significa que tarifas no so consideradas como uma violao do Princpio do Tratamento Nacional (OMC, 2003a). O princpio se encontra formalizado nos artigos 3 do GATT, 17 do

GATS e 3 do TRIPS.42

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3. MOMENTOS DE TRANSIO: A CRIAO DA OMC

3.4 ACESSO A MERCADOS, ENCARGOS ADUANEIROS, LIMITAES QUANTITATIVAS E BARREIRAS NO-TARIFRIASUm dos principais objetivos da OMC garantir que o processo de

liberalizao do comrcio internacional tenha prosseguimento como acordado pelos Estados membros nos acordos substantivos e na Rodada Uruguai. O Princpio do Acesso a Mercados, intimamente relacionado aos princpios de No-Discriminao e de Liberalizao (conforme previsto no GATT)

pretende assegurar que as barreiras no-tarifrias sejam gradativamente abandonadas e que, por sua vez, as barreiras tarifrias (ou seja, encargos aduaneiros) sejam tambm progressivamente diminudas, nos nveis acordados e estabelecidos pelos Estados nos acordos substantivos. impor-

tante lembrar que entendimentos oriundos do Liberalismo Implcito 18 e das demandas dos pases em desenvolvimento levaram relativizao do Princpio do Acesso a Mercados e, principalmente, chamada liberalizao progressiva para facilitar o ajuste domstico por parte de pases desen-

volvidos e em desenvolvimento (JACKSON, 1994; OMC, 2003a). No Acordo sobre a Agricultura, por exemplo, a diminuio prevista para as tarifas aplicadas pelos pases desenvolvidos foi de 36% durante o prazo de 6 anos e, para os pases em desenvolvimento, de 24% no prazo de 10 anos.

(em ingls, tarification) de diversas barreiras no-tarifrias, ou seja, pela eliminao de limitaes e barreiras quantitativas ao comrcio e pelo cl-

O processo de liberalizao se deu atravs do processo de tarifizao

culo e estabelecimento de uma tarifa que garantisse os mesmos nveis de proteo anteriores a tarifizao (OMC, 2003a). Ao contrrio de restries no-tarifrias e quantitativas, como as quotas, as tarifas asseguram algum nvel de proteo aos mercados domsticos sem distorcerem os fluxos comerciais, uma vez que atuam diretamente atravs do sistema de preos, sendo mais flexvel e ajustvel (LIPSON, 1982). Os acordos da OMC tam-

bm procuraram regularizar diversas prticas que embora no configurem barreiras propriamente ditas, distorcem o comrcio internacional, como a concesso de subsdios aos produtores domsticos (OMC 2003a).

18 A estabilidade internacional e a autonomia das polticas internas foram caracterstica do perodo do entre guerras. O compromisso com o liberalismo implcito segundo se convencionou em chamar, significava o intento de permitir aos governos seguirem polticas que estimulassem o crescimento keynesiano em seus pases, sem romper com a estabilidade monetria internacional.

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3. MOMENTOS DE TRANSIO: A CRIAO DA OMC

cupaes dos Estados com a proteo de seus mercados domsticos, diversas restries podem ser aplicadas pelos Estados- membros, inclusive algumas de cunho no-tarifrio (OMC, 2003a). Regras especficas sobre a aplicao de salvaguardas, previstas no artigo 19 do GATT, por exemplo,

Como o processo de tarifizao progressivo e est sujeito s preo-

permitem a utilizao temporria de restries importao em casos emergenciais, incluindo at a possibilidade de aplicao de quotas.

3.5 TRANSPARNCIA, PREVISIBILIDADE E JUSTIAFinalmente, um dos princpios mais importantes da OMC o da Trans-

parncia e da Previsibilidade. Em muitos casos, o compromisso de no se elevar tarifas ou criar outros entraves e limitaes ao comrcio so to importantes quanto os compromissos de reduo de tarifas. A transparncia quanto s prticas e aos nveis tarifrios adotados pelos diversos pases membros considerada essencial para assegurar investimentos e o aumento das trocas comerciais (OMC, 2003a), mas tambm importante

para assegurar a defesa dos pases membros contra a imposio de medidas de salvaguarda por parte de outros membros. A transparncia assegurada de diversas maneiras na estrutura legal

da OMC e est intimamente ligada aos princpios de Liberalizao e de Acesso a Mercados. A eliminao de barreiras no-tarifrias; os compro-

missos obrigatrios de reduo de tarifas (chamados em ingls de Binding Commitments) alcanados e registrados nos acordos substanciais anexos Carta da OMC; e a reviso e divulgao das prticas e regras de comrcio praticadas pelos pases membros individualmente (OMC, 2003a), so exemplos prticos da regra de transparncia na OMC.

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PARTE IIRESUMO DOS PRINCIPAIS ACORDOS CONSTITUTIVOS DA OMCBRUNO LEAL RODRIGUES GABRIELLA GIOVANNA LUCARELLI DE SALVIO LUIZELLA GIARDINO BARBOSA BRANCO PAULA ALONSO

MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL

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RESUMO DOS PRINCIPAIS ACORDOS CONTITUTIVOS DA

OMC

RESUMO

PRINCIPAIS ACORDOS CONSTITUTIVOS DA OMCDOS

rias de Acordos: os Acordos Multilaterais e os Plurilaterais. Vejamos cada um deles. a) Acordos Multilaterais:

A OMC acumula como uma de suas funes administrar duas catego-

So os acordos e instrumentos jurdicos conexos includos nos anexos 1, 2 e 3 que formam parte do Acordo Constitutivo da OMC e so vinculantes para todos os membros. So esses:

Anexo 1A: Acordos multilaterais sobre o comrcio de bens:

Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio de 1994 (GATT 94); Acordo sobre a Agricultura;

Acordo sobre a Aplicao de Medidas Sanitrias e Fitossanitrias; Acordo sobre Txteis e Confeces; Acordo sobre Obstculos Tcnicos ao Comrcio; Acordo sobre as Medidas em Matria de Investimentos Relaciona das com o Comrcio; Acordo sobre a Aplicao do Artigo VI do GATT (dumping);

Acordo sobre a Aplicao do Artigo VII do GATT (valorao adua neira); Acordo sobre a Inspeo Prvia Expedio; Acordo sobre Normas de Origem;

Acordo sobre os Procedimentos para o Trmite de Licenas de Im portao; Acordo sobre Subsdios e Medidas Compensatrias; Acordos sobre Salvaguardas. Anexo 1B:

Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios e Anexos GATS. Anexo 1C: Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Re lacionados com o Comrcio TRIPS.

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RESUMO DOS PRINCIPAIS ACORDOS CONTITUTIVOS DA

OMC

Anexo 2: Entendimento Relativo s Normas e Procedimentos que Regem a So luo de Controvrsias.

Anexo 3: Mecanismo de Exame de Polticas Comerciais. b) Acordos Plurilaterais: 19

Anexo 4: Acordo sobre o Comrcio de Aeronaves Civis, Acordo sobre

Contratao Pblica, Acordo Internacional dos Produtos Lcteos, Acor do Internacional de Carne Bovina. A seguir, vamos estudar alguns dos principais Acordos dos Anexos 1

e 2.

19 Os acordos relacionados no Anexo 4 so de adeso voluntria e o Brasil aderiu somente ao Acordo Internacional de Carne Bovina.

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ACORDO DE AGRICULTURA

ACORDO DE AGRICULTURAestabelecer um sistema de comrcio justo e orientado pelo mercado. O processo de reforma deve ser iniciado atravs de negociaes de compromissos sobre as redues dos mecanismos de apoio e de proteo ao setor, e atravs do estabelecimento de regras e disciplinas do GATT, fortalecidas e operacionalmente mais eficazes (GATT, 1994). O Acordo de Agricultura aplica-se, conforme seu Artigo 2, aos bens agrcolas informados no Anexo I do Acordo, compreendendo os itens constantes dos Captulos 1 a 24 do Sistema Harmonizado20 , com a excluso de produtos da pesca e com a incluso de treze outros produtos classificados fora dos captulos acima mencionados21 . o nico setor econmico que possui um acordo multilateral especfico22

Segundo o Acordo, o objetivo da negociao na rea agrcola o de

.

O Acordo de Agricultura foi uma inovao decorrente da Rodada Uruguai, e surge como uma tentativa de submeter, ainda que gradativamente, os produtos agrcolas aos princpios e aos acordos multilaterais de livre comrcio, tendo em vista que sob a gide do GATT 47 vrias Partes Contratantes excepcionavam o setor agrcola da aplicao plena das disciplinas dos acordos multilaterais por meio de acordos especficos, quotas,

barreiras no tarifrias, subsdios, licenas de importao discricionrias, etc.

20

O denominado Sistema Harmonizado de Descrio e Codificao de Mercadorias, ou simplesmente Sistema Harmonizado consiste em uma lista de classificao de mercadorias estabelecida pela Organizao Internacional de Aduanas, que passou a vigorar a partir de 1988. O Sistema Harmonizado contm 99 captulos divididos em 21 sees, e fornece uma classificao padro, que utilizada por todos os membros, de at seis dgitos, sendo possvel que os membros detalhem suas tabelas incluindo sub-classificaes. Os produtos classificados sob os seguintes cdigos do Sistema Harmonizado: 2905.43; 2095.44; 33.01; 35.01 a 35.05; 3809.10; 3823.60; 41.01 a 41.03; 43.01; 50.01 a 50.03; 51.01 a 51.03; 52.01 a 52.03; 53.01; e 53.02. O acordo sobre aviao civil um acordo plurilateral. O Acordo Multifibras no mais vigora.MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL49

21

22

ACORDO DE AGRICULTURA

A interveno estatal no setor agrcola mediante a concesso de subsdios, manuteno de preos mnimos, regulao de estoques, etc. defendida sob os mais variados argumentos, desde a necessidade de produo de alimentos at a importncia de evitar o xodo rural, sendo especialmente intensa nos pases desenvolvidos23

.

Nesse contexto, o Acordo de Agricultura foi o primeiro passo para incluir o setor agrcola nas disciplinas dos acordos multilaterais da OMC. Entretanto, no obstante a existncia do Acordo, o setor agrcola sofre grandes presses protecionistas, principalmente por parte dos pases desenvolvidos, no alcanando por essa razo, o mesmo grau de liberalizao dos demais setores.

tentes: acesso a mercados; suporte domstico e subsdios exportao. Vejamos a seguir cada uma dessas vertentes.

O Acordo disciplina o comrcio de bens agrcolas atravs de trs ver-

23

O Tratado que institui a Comunidade Europia, por exemplo, dispe em seus artigos 32 a 38, sob a poltica agrcola no mbito do mercado comum, estabelecendo que dentre seus objetivos inclui-se a estabilizao de mercados e o aumento do rendimento individual do que trabalham na agricultura.50

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ACORDO DE AGRICULTURA

1.1 ACESSO A MERCADOSEm relao ao acesso a mercados, o acordo implicou em converso

das restries comerciais existentes, tais como quotas, em tarifas (tariffication). Durante a Rodada Uruguai as Partes Contratantes converteram gran-

de parte das restries no-tarifrias em tarifas, e informaram essas tarifas atravs de listas de compromissos (schedules) anexas ao Acordo 24 .

derou, em princpio, qual tarifa conferiria o mesmo nvel de proteo conferido pela medida no-tarifria. Assim, por exemplo, se sob a gide de

O processo de converso de medidas no-tarifrias em tarifas consi-

uma medida no-tarifria importavam-se cem unidades, a tarifa aplicada permitiria que penas cem unidades fossem importadas. O artigo 4 do Acordo probe a manuteno ou imposio de qualquer

outra restrio diversa dos limites tarifrios informados em suas listas de compromissos 25 . Dessa forma, os membros acordaram uma reduo progressiva das tarifas consolidas, a partir da entrada em vigor do acordo, que se deu, como todos os Acordos decorrentes da Rodada Uruguai, em 1995.

A reduo seria de trinta e seis por cento ao longo de seis anos para os pases desenvolvidos, e de vinte e quatro por cento ao longo de dez anos para os pases em desenvolvimento.

No obstante os compromissos de acesso a mercado, os membros no definiram a possibilidade de impor medidas de salvaguarda especiais (special safeguard measures SSG), em relao a alguns produtos.

As SSG podem ser impostas se, cumulativamente: (a) o membro tiver convertido suas restries no-tarifrias em tarifas, em relao aos pro

24

Em relao a bens, as listas de compromissos dos membros so compostas de quatro partes. A Parte I compreende as concesses NMF, isto , as tarifas consolidadas de cada membro. A Parte II compreende as concesses relativas a acordos preferenciais. A Parte III compreende as concesses em relao a medidas notarifrias. A Parte IV compreende as concesses em relao a suporte domstico e subsdios exportao no que concerne a bens agrcolas. As listas de compromisso fazem parte do Acordo para todos os fins legais.MANUAL DE DIREITO DO COMRCIO INTERNACIONAL E DEFESA COMERCIAL51

25

ACORDO DE AGRICULTURA

imposio da SSG 26 . Se estas duas condies tiverem sido cumpridas, as SSG podem ser impostas se, alternativamente: (a) as importaes atingirem um determinad