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MANUAL DE EDUCAÇÃO INTER-PARESEM
DIREITOS E SAÚDE SEXUAL & REPRODUTIVA
A S S O C I A Ç Ã O P A R A O P L A N E A M E N T O D A F A M Í L I A
Trabalho com jovens em situação de vulnerabilidade,marginalidade e exclusão social
“Educação Inter-pares em Direitos de Saúde Sexual e Reprodutiva”, constitui na edição inglesa uma referência no trabalho com jovens de grupos vulneráveis, marginalizados e socialmente excluídos, nas organizações que trabalham e advogam a maior qualidade e pró-actividade da educação inter-pares com e entre jovens. A edição portuguesa, aqui apresentada pela APF no contexto do projecto ROSA (Responsabilidade, Oportunidade, Solidariedade e Acção), contribui para reforçar a abordagem da Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos, no contexto quer da Igualdade de Oportunidades e Não Discriminação quer do Empoderamento das pessoas jovens, como factores essenciais ao Desenvolvimento e Inclusão Social, inerentes à boa consecução dos Direitos Humanos.
Este manual, testemunho da pró-actividade de rapazes e raparigas de vários países europeus, além de um contributo para a difusão de Educação Interpares e de um modelo de qualidade testado, pretende também incentivar a participação de jovens em iniciativas e decisões relativos à sua Saúde e Educação Sexual e Reprodutiva, numa perspectiva de Direitos Humanos.
A Associação para o Planeamento da Família (APF) é uma Organização Não Governamental com estatuto de IPSS, com fi nalidades de saúde, criada em 1967. A APF tem estatuto de ONG para o Desenvolvimento, estatuto de Associação de Família e membro do Conselho Nacional das Famílias e do Conselho Consultivo da Secção das ONG da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG). É uma das mais de 180 associações de todo o mundo federada na Internacional Planned Parenthood Federation (IPPF). Tem 7 Delegações Regionais: Açores, Alentejo, Al-garve, Centro, Lisboa, Tejo e Sado, Madeira e Norte e desenvolve a sua actividade com base em trabalho profi ssional e voluntário.
A APF tem como objectivos principais contribuir para o avanço do direito humano fundamental de todas as pessoas a fazerem escolhas livres, responsáveis e informadas na sua vida sexual e reprodutiva, e advoga para que esse direito seja exercido; assegurar que a igualdade de oportunidades e o direito ao planeamento familiar, na saúde sexual e reprodutiva continuem a ser prioridades nas políticas de desenvolvimento nacional e internacional e dar resposta às necessidades não resolvidas em Educação Sexual, Planeamento Familiar e Serviços e cuidados de Saúde Sexual e Reprodutiva, indo especialmente ao encontro de necessidades de pessoas e grupos sociais mais marginalizados e desfavorecidos.
MANUAL DE EDUCAÇÃO INTER-PARESEM
DIREITOS E SAÚDE SEXUAL & REPRODUTIVA
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Ficha Técnica
Título Original - Peer education handbook on sexual and reproductive health and rightsEscrito por Robert Zienoly e IPPF-ENEdição inglesa de Poonam Thapa e Liuska Sanna
Edição Portuguesa- Manual de eduçação inter-pares em direitos & saúde sexual e reprodutivaTradução: Ana Madeira, para a APFAdaptação e Revisão Técnica: Alice Frade e Bárbara Vilar com a colaboração de Elsa FariaDesign gráfi co - António Portela, APFISBN - 978-972-8291-24-2Impressão- Alfaprint, LdaAPF, Lisboa 2008Depósito Legal: 28 4567/08
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Í n d i c e d e C o n t e ú d o sPrefácios
Crescer em Responsabilidade
Jovens: Agir para tornar o mundo num lugar melhor
Abreviaturas
Secção 1 –Introdução
Programas de educação inter-pares para jovens vulneráveis, marginalizados/as e socialmente
excluídos/as
Secção 2 – Introdução à educação inter-pares
Transmitir e partilhar informação e desenvolver capacidades essenciais
Secção 3 – Temas fundamentais em direitos e em saúde sexual e reprodutiva
Compreender os temas
Secção 4 – Assuntos de saúde sexual e reprodutiva
Conceitos e defi nições
Secção 5 – Gerir programas de educação inter-pares
Fase I – Planear um programa
Fase II – Implementar um programa
Fase III – Monitorizar e Avaliar
Secção 6 –Trabalhar com grupos vulneráveis, marginalizados e socialmente excluídos
Grupos vulneráveis: uma defi nição
Pessoas que vivem com VIH/SIDA
Utilizadores de drogas injectáveis (UDI)
Crianças particularmente em risco: crianças da rua, crianças órfãs e crianças sem
acompanhamento parental
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Indíce 3
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Trabalhadores/as do sexo, prostituição e tráfi co sexual
Minorias sexuais – homosexuais, homens que têm sexo com homens, lésbicas, bissexuais,
transsexuais e transgéneros
Minorias étnicas e culturais ou grupos sócio-culturais específi cos
Pessoas que vivem com “limitações físicas”
Secção 7 – Ferramentas para planear e gerir um workshop
Organizar workshops
Glossário
Recursos
Anexos
Anexo 1: Contrato de workshop para formação de educação pelos pares
Anexo 2: Formulário de Avaliação
Anexo 3: Questionário Pré-formação
Anexo 4: Exemplos de jogos e exercícios recomendados para educadores/as inter-pares
Anexo 5: Minuta para relatório de um workshop de educação inter-pares
Anexo 6: Não estás sozinho/a
Anexo 7: Europa: TAMPEP apoia trabalhadores do sexo enquanto educadores/as inter-pares
Anexo 8: Informação sobre o uso de drogas injectáveis
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Indíce4
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Crescer em responsabilidade…
Ser jovem é questionar o mundo que o rodeia e encontrar
caminhos, mais sinuosos ou mais lineares, que permitam
a vivência desse percurso pleno de emoções e de
sentido. Neste processo, é sabido o quanto a interacção
entre os pares é muitas vezes factor condicionador e de
infl uência das escolhas que rapazes e raparigas fazem. A
importância dos pares é tanto mais realidade quanto mais
nos aproximamos de grupos vulneráveis, marginalizados
e socialmente excluídos (VMSE) e constatamos as
barreiras da cultura, tradições, crenças, tabus, mitos,
preconceitos,….
Uma intervenção efi caz junto destes grupos deve,
efectivamente, privilegiar aquela que mais possibilita
o processo de identifi cação entre os diferentes
intervenientes. A formação/educação pelos pares,
assume-se como uma estratégia rica e facilitadora da
interacção com públicos que, pelas suas características
de vulnerabilidade, se agregam em verdadeiras
“ilhas” sociais. Só assim, é possível estabelecer uma
comunicação promotora da motivação para a mudança
e adopção de comportamentos responsáveis e estilos de
vida saudáveis.
Estamos conscientes de que ainda muito se encontra
por fazer na promoção da saúde sexual e reprodutiva e
na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos. Importa
possibilitar e facilitar uma maior acessibilidade aos meios,
quer técnicos quer de conhecimento, daqueles que por
algum motivo se encontram numa situação de VMSE.
A APF Portuguesa, ao longo dos anos, tem chamado
particular atenção para esta realidade. Desde sempre,
procurou promover acções de intervenção em contextos
e espaços onde a vulnerabilidade bio-psico-social se
encontra presente, reconhecendo que as pessoas são os
actores principais em todas as fases da sua intervenção.
Este manual refl ecte os princípios do trabalho que se
têm desenvolvido e procura dar voz a uma realidade
muitas vezes esquecida. A simplicidade da linguagem,
o seu pragmatismo, permitem-nos “viajar” para um
mundo paralelo e questionar as nossas metodologias
de intervenção confrontando-nos com emoções e
sentimentos muitas vezes desconhecidos.
Projectos como este revelam o quanto rapazes e raparigas
podem ser pró-activos no desenvolvimento de acções de
intervenção comunitária pretendendo incentivar à sua
participação na formação interpares.
Neste sentido, é com grande satisfação que a APF
Portuguesa acolhe esta iniciativa, esperando que este
documento se traduza numa referência ao desafi o
da intervenção com grupos VMSE e uma motivação
para todos os actores sociais da Educação/Formação
inter-pares.
O percurso de cada um será sempre uma opção individual.
Cabe ao profi ssional, promover uma retaguarda segura
para que essas opções se façam na plena consciência
e responsabilidade dos direitos e deveres enquanto ser
humano e cidadão.
A edição e disseminação deste Manual pretende ainda
contribuir para o reforço da abordagem da saúde e direitos
sexuais e reprodutivo das pessoas jovens no contexto da
igualdade de oportunidades e não discriminação, como
factor essencial ao desenvolvimento, inclusão social e
boa consecução dos direitos humanos.
Manuela Moura
Direcção Nacional da APF
Março de 2008
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Prefácio 5
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Jovens: Agir para tornar o mundo num lugar melhor
Em 1995 a Rede Europeia da Federação Internacional
para o Planeamento da Família (IPPF-EN) adoptou o
mote “Faz acontecer… Fá-lo agora” como Estratégia
Europeia para a Juventude. Desde então, a IPPF-EN
tem demonstrado o nosso compromisso com este mote
através de várias iniciativas bem sucedidas que têm
dado a conhecer ao mundo aquilo que os e as jovens
podem fazer e ser. Rapazes e raparigas podem assumir
a responsabilidade, participar em debates sobre direitos
sexuais e reprodutivos, incluindo o VIH/SIDA, e lutar por
uma causa que vise tornar o mundo num lugar melhor
- conseguem lidar com o desconhecimento e falta de
informação que rodeia as suas vidas e inspirar o mundo
adulto através das suas acções.
Isto foi manifestado no projecto regional “Promover os
Serviços de Saúde Sexual e Reprodutiva e os Direitos
Humanos de Jovens e Adolescentes nos Balcãs”. Este
manual é um refl exo da participação no projecto de
cinco organizações da juventude, sedeadas na Sérvia,
Montenegro, Croácia, Macedónia e Kosovo, e da APF
da Bósnia e Herzegovina. Muito deste conteúdo é o
resultado das vozes e das experiências de colaboradores/
as e voluntários/as destas organizações. Ele reforça as
nossas convicções de que as escolhas da saúde sexual e
reprodutiva devem ser respeitadas e que a diversidade
deve ser valorizada e celebrada – convicções que são
mais do que evidentes na Europa.
A promoção e defesa colectiva de assuntos relacionados
com o género, a cultura, os direitos e a justiça motivaram
a elaboração deste manual. Partindo das fragilidades da
vida das pessoas, do embaraço da vulnerabilidade, do
receio da negação, da solidão da vergonha, da raiva de
alguém envolvido num abuso de agressão, da dor de
uma pessoa que vive com VIH/SIDA e das difi culdades
do crescimento e desenvolvimento pessoal, este manual
valoriza a mensagem “a vida das pessoas é essencial”.
O manual vai para além da acção face à infecção e à
doença, e ajuda a apresentar e a conhecer as situações
através do olhar de outras pessoas. Encoraja a
compreensão, o amor, o entendimento e a esperança, na
medida em que responde à questão “para onde vamos a
partir daqui?” Para além disso, oferece competências que
permitem a todas as pessoas tomarem a responsabilidade
e direccionarem as suas próprias vidas, concedendo a
outras o direito de viver com dignidade.
Através deste projecto, a nossa experiência nos Balcãs
foi além dos programas convencionais para e com jovens.
Ele desafi ou rapazes e raparigas a apreenderem de uma
forma diferente a entrada num mundo mais vulnerável
que o seu – o dos/das jovens que vivem na pobreza, o
dos/das marginalizados/as e os/as jovens socialmente
excluídos/as. A essência da informação e da educação
inter-pares é a simplicidade. A quem mais se abriria
senão a um/a amigo/a, a alguém que conhece e em quem
confi a, que se encontra em circunstâncias semelhantes
e que tem uma experiência semelhante? Por esta razão,
o conceito de inter-pares mantém-se efi caz em unir as
pessoas. Este projecto provou ser um meio excepcional
para comunicar com mensagens directas sobre a vida e
as suas complexidades, colocando, contudo, toda a gente
à vontade. A parte mais reconfortante é saber que os/
as jovens envolvidos/as no projecto, “a minoria sortuda”
como um participante os descreveu, estão capacitados
para assumir os temas e o diálogo sobre os assuntos para
além do projecto, e para os tornar elementos integrantes
do seu trabalho e das suas vidas.
Aos rapazes e raparigas corajosos que “lutaram esta
luta” dizemos: não estão sós na procura de soluções.
Nós estamos convosco em todos os momentos dessa
procura.
Vicky Claeys
Directora Regional
Rede Europeia da IPPF
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Prefácio6
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A b r e v i a t u r a sCRE Crianças em Risco Especial
D e SSR Direitos e Saúde Sexual e Reprodutiva
DIU Dispositivo Intra-Uterino
FHI Family Health International
HSH Homens que têm Sexo com Homens
IEC Informação, Educação e Comunicação
IPPF Federação Internacional para o Planeamento da Família
IPPF-EN Rede Europeia da Federação Internacional para o Planeamento da Família
IST Infecções Sexualmente Transmissíveis
LGBT Lésbicas, Gay, Bissexual e Transgénero
MGF Mutilação Genital Feminina
OMS Organização Mundial de Saúde
ONG Organização Não Governamental
PID Pessoas Internamente Deslocadas
PVSIDA Pessoas que Vivem com VIH/SIDA
SIDA Síndrome da Imunodefi ciência Adquirida
SIECUS Conselho de Informação e Educação Sexual dos Estados Unidos
SSR Saúde Sexual e Reprodutiva
UDI Utilizador de Drogas Injectáveis
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Ciência, a Cultura e a Ciência
UNFPA Fundo das Nações Unidas para a População
UNHCR Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
UNICEF Fundo das Nações Unidas para as Crianças
VIH Vírus da Imunodefi ciência Humana
VMSE Vulneráveis, Marginalizados e Socialmente Excluídos
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva -Abreviaturas 7
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Secção 1
Introdução
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Secção I – Introdução
Programas de educação inter-pares para jovens vulneráveis, marginalizados/as e socialmente excluídos/as
A quem se destina este manual?
Este manual dirige-se a educadores/as inter-pares,
formadores/as coordenadores/as e organizações não
governamentais (ONG) que desejem gerir programas de
educação inter-pares destinados a jovens, em particular
jovens inseridos em comunidades e grupos vulneráveis,
marginalizados e socialmente excluídos (VMSE).
Porquê usar este manual?
Este manual constitui um recurso útil. Contém
ferramentas concretas, abordagens e estratégias – com
exemplos da vida real – que podem ajudar quando se
trabalha com populações VMSE.
De que forma é que este manual é diferente?
Embora existam muitos documentos e manuais sobre
o tema da educação inter-pares, existe também uma
necessidade crescente de melhorar os programas,
abordando as temáticas específi cas com que se defrontam
as pessoas jovens VMSE em todo o mundo.
Este manual foi concebido para responder a essa
necessidade. Mais importante ainda, oferece ideias
para encorajar jovens a participar e a envolverem-
se no processo de educação inter-pares o mais
empenhadamente possível, de modo a que os programas
que estão a ser desenvolvidos melhor correspondam às
suas necessidades.
O estilo de escrita
Este manual refl ecte o contributo e as ideias de muita
gente (sendo esta a forma como a educação inter-pares
funciona na vida real), incluindo educadores/as inter-
pares, profi ssionais de saúde, pessoas dos grupos VMSE
e aquelas que têm experiência em trabalhar com estes.
“Nós” e “Eles”
Irá notar que as frases estão algumas vezes conjugadas
na primeira pessoa e outras na terceira. A razão para esta
diferenciação reside no facto de muitos dos conteúdos
e ideias serem de educadores/as inter-pares de vários
países e de vários grupos, incluindo as populações VMSE
abrangidas por este programa. Assim, a conjugação
na primeira pessoa representa as experiências e lições
apreendidas por educadores inter-pares em todo o
mundo, enquanto a conjugação na terceira pessoa
provêm de outras fontes.
Quem são os/as “intervenientes”?
Utilizamos o termo “interveniente” e o tipo de
interveniente – primário, secundário e chave – em vez de
expressões como populações e grupos alvo, benefi ciários
ou audiência. Neste manual:
Intervenientes primários são jovens entre os 10 e os
24 anos, incluindo jovens vulneráveis, marginalizados e
socialmente excluídos (VMSE);
Intervenientes secundários são as pessoas que trabalham
directamente com jovens;
Intervenientes-chave são as pessoas cujo apoio indirecto
é essencial para o sucesso de um programa ou de um
projecto.
Para uma explicação mais detalhada dos intervenientes,
veja a secção 5.
Uma colecção rica de vozes
Esperamos que esta colecção rica em vozes e em
perspectivas dê vida a este manual e espelhe pessoas reais
em situações reais. Refl ecte o modo como os diálogos e
a formação da educação inter-pares se faz e como deve
ter lugar. Tal como foi mencionado, os/as educadores/
as inter-pares são, por vezes, oriundos/as de grupos
vulneráveis, marginalizados e socialmente excluídos. Se
este estilo de escrita nos tem ou mantém envolvidos de
modo a que possamos compreender, teremos então sido
bem sucedidos no trabalho que realizámos.
Porque precisamos de programas de educação
inter-pares?
As pessoas entendem-se melhor com as experiências
do seu próprio grupo e rapazes e raparigas não são
excepção. Conseguem compreender as experiências de
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Introdução 11
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vida, stress, desafi os e vulnerabilidades umas das outras,
assim como as barreiras e os obstáculos com que os seus
pares se defrontam na procura de melhor saúde.
Em espaços de educação formal, frequentemente
são adultos com formação específi ca em educação ou
professores/as que leccionam os temas curriculares.
Porém, o grupo pode desempenhar um papel bastante
mais importante em questões de carácter mais pessoal,
social e psicológico. O grupo pode também ter algo único
para oferecer – a sua refl exão sobre a experiência e
motivação.
A saúde sexual e reprodutiva (SSR) é uma área na qual
os factores psicológicos e sociais – tais como, a percepção
das “normas sociais” (aquilo que pensamos ser o mais
comum) e a “modelação do comportamento” (seguindo
os exemplos estabelecidos pelos pares) – desempenham
um papel fundamental. Os programas de educação
inter-pares são importantes para a mudança social, para
garantir a existência de pares responsáveis e lideranças
dentro das comunidades de jovens. Alguns podem
desempenhar papéis chave e desenvolver intervenções
no terreno, quando necessário.
O que se encontra neste manual?
Embora, essencialmente, escrito por educadores inter-
pares, o manual apresenta-se também como uma
ferramenta útil para formadores (de educadores/as
inter-pares), formadores coordenadores (que formam
os formadores) e as ONG que gerem programas de
educação inter-pares. O manual encontra-se dividido em
9 secções:
Neste momento está na Secção 1, a Introdução, que
explica o objectivo deste manual.
A Secção 2 defi ne uma abordagem sumária da educação
inter-pares, com conceitos básicos, metas e objectivos,
vantagens e desvantagens da utilização da educação
inter-pares, bem como o papel de um/a educador/a
inter-pares.
A Secção 3 oferece as defi nições de alguns dos assuntos
mais importantes na educação inter-pares na medida em
que se relacionam com os direitos e a saúde sexual e
reprodutiva (DeSSR). Esta secção inclui conceitos como
direitos humanos, sexo e sexualidade, e temas sociais
como o estigma, a discriminação, o género e a cultura.
A Secção 4 defi ne e explica assuntos centrais de saúde
sexual e reprodutiva.
A Secção 5 descreve as fases da gestão dos programas
de educação inter-pares:
A primeira fase diz como planear o seu
programa com os intervenientes que possam
estar interessados, como recrutar educadores
inter-pares e como construir um curriculum;
A segunda fase foca-se na implementação,
explicando modelos e teorias relacionadas com
a educação inter-pares e algumas das técnicas/
metodologias utilizadas;
A terceira fase diz como monitorizar ou registar
e avaliar o desenvolvimento do programa inter-
pares.
Na Secção 6 são discutidas as formas de envolver e
trabalhar com grupos VMSE, começando com defi nições
e ideias gerais sobre vulnerabilidade e exclusão social,
incluindo sete grupos específi cos:
• Pessoas que vivem com VIH/SIDA (PVSIDA)
• Utilizadores de drogas injectáveis (UDI)
• Crianças em risco especial (CRE), incluindo
órfãos e crianças da rua
• Trabalhadores/as sexuais
• Minorias sexuais (homossexuais, lésbicas,
bissexuais, transgéneros)
• Grupos étnico-culturais específi cos
• Pessoas com limitações físicas ou psíquicas
Para cada caso, existe uma descrição do grupo, das
limitações e dos obstáculos com que se deparam. Para
além disso, são descritas alguns exemplos de boas
práticas.
A Secção 7 oferece um kit de formação que dá exemplos
de como organizar um workshop específi co, jogos quebra-
gelo e exercícios que educadores/as inter-pares podem
utilizar, bem como exemplos de formulários, questionários
para avaliação, testes e relatórios de workshops.
No fi nal do manual encontram-se vários anexos com
exemplos de acções de formação e para a elaboração
de questionários. Existe também uma lista de recursos
úteis para a educação inter-pares, incluindo websites,
manuais e materiais pedagógicos.
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Introdução12
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Secção 2
I n t r o d u ç ã o à E d u c a ç ã o I n t e r - p a r e s
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Secção 2 – Introdução à Educação Inter-pares
Transmitir e partilhar informação – desenvolver capacidades essenciais
O que é a educação inter-pares?
A educação inter-pares é um método de educação
que permite às pessoas que têm algo em comum (tal
como: idade, género, condição social, interesses, etc.)
comunicar umas com as outras, de forma a transmitir
informação e a desenvolver competências. O objectivo
é motivar para a alteração de comportamentos menos
saudáveis.
Aprendemos a ser educadores/as inter-pares através de
programas que nos ajudam a desenvolver as capacidades
necessárias para desenvolver a educação formal e/ou
informal.
É um facto…
Através da educação inter-pares, adolescentes e jovens
adultos/as podem ensinar e aprender temas de saúde,
tais como:
● saúde sexual e reprodutiva;
● prevenção do VIH/SIDA e outras infecções
sexualmente transmissíveis (IST);
● violência de género;
● prevenção de uso abusivo de substâncias;
● … e muito mais.
A educação inter-pares não é restrita a jovens. Ela
pode ter lugar com todos os grupos desde que possuam
alguma característica em comum.
Os nossos objectivos na educação inter-pares
Um dos nossos objectivos na educação inter-pares
é o de promover mudanças nas vidas dos/as jovens
infl uenciando positivamente as suas atitudes, crenças
e comportamentos. Outra das fi nalidades da educação
inter-pares é apoiar, promover e reforçar atitudes e
comportamentos saudáveis onde eles já existem.
As metas e objectivos da educação inter-pares variam
dependendo:
● dos intervenientes
● do enfoque do programa específi co
● da abrangência do projecto
● do contexto da interacção ou intervenção
As metas do programa de educação inter-pares
normalmente incluem:
● a passagem de conhecimento através do ensino
de dados e de factos com vista a criar consciência
sobre alguns assuntos, como é o caso da saúde
(por exemplo, saúde sexual e reprodutiva,
utilização abusiva de substâncias, violência de
género);
● ajudar os intervenientes primários a desenvolver
competências fundamentais (por exemplo,
capacidade de negociação, capacidade na
tomada de decisão e procura de informação
sobre métodos de sexo seguro);
● motivar os intervenientes primários a manter ou
a desenvolverem comportamentos saudáveis e
seguros, de forma a reduzir o risco de exposição
ao VIH/SIDA e a outras IST.
O impacto da educação inter-pares
Um bom programa de educação inter-pares ajudará um/
a jovem a desenvolver e reforçar:
● auto-confi ança, auto-estima
● responsabilidade
● atitudes assertivas
● capacidade de comunicação
● capacidade para ouvir as outras pessoas
● competências de organização e de gestão (para
os/as líderes)
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 2 15
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Cenários formais vs informais
Educadores inter-pares são formados para vários tipos de trabalho em diferentes ambientes, tanto formais como
informais.
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 2
Cenários formais Cenários informaisEm cenários formais, existe, normalmente, uma
audiência ou grupo de pessoas específi co, tal como uma turma de alunos/as ou de recrutas militares. A educação formal pode acontecer nas escolas,
universidades, organizações comunitárias como os clubes ou campos de férias. As datas e os momentos são normalmente defi nidos para uma sessão única ou
para um programa mais alargado.
É provável que o/a educador/a defi na o programa e estabeleça objectivos com o grupo. Muitos
desenvolverão uma avaliação formal utilizando um pré ou pós–teste para avaliar o impacto do programa.
A educação inter-pares pode também acontecer de uma forma informal, tal como num encontro de rua, num clube, café, festa ou discoteca, onde potenciais
intervenientes primários tendem a encontrar-se socialmente, ou por outras razões. Este tipo de
educação inter-pares tende a ser mais espontânea, menos estruturada, de menor duração e mais
individualizada.
Alguns utilizam o termo “PEER OUTREACH”, o qual pode referir-se a vários níveis de intervenção nas
comunidades da população – alvo. A educação inter-pares acontece quando existe uma aprendizagem
real durante um encontro, mais do que uma simples acção tal como a distribuição de um folheto ou um
preservativo.
Vantagens e desvantagens da educação inter-
pares
O que torna a educação inter-pares vantajosa?
● A educação inter-pares é culturalmente
apropriada – a educação inter-pares oferece
mensagens culturalmente adequadas com
origem dentro da própria cultura. A educação
funciona cuidadosamente dentro de certas regras
de modo a não ofender/intimidar as pessoas,
ainda que “desafi e” as normas que estigmatizam
e discriminam.
● A educação inter-pares é baseada na
comunidade – a educação inter-pares
desenvolve-se a um nível comunitário, apoiando
e fornecendo outros programas e fazendo
a ligação a outras estratégias baseadas na
comunidade. Isto torna-a mais focada e dirigida
para a comunidade onde se desenvolve.
● A educação inter-pares é aceite pelos
intervenientes primários – muitos referem
que se sentem mais confortáveis em partilhar
com um grupo de pares as suas preocupações
pessoais, tais como as associadas à sexualidade.
Isto é particularmente verdade quando pessoas
da mesma geração trocam ideias e refl exões
úteis sobre problemas semelhantes.
● A educação inter-pares é económica
– educadores inter-pares podem oferecer um
serviço importante, de forma efi ciente e a baixo
custo.
● A educação inter-pares encerra uma
abordagem amigável – em cenários informais,
um/a educador/a inter-pares pode estar
“no lugar certo, no momento certo” para se
aperceber de um problema ou comportamento
de risco, e responder adequadamente numa
relação de ajuda. Educadores/as inter-pares
podem, por vezes, encorajar e acompanhar
amigos/as, apoiando-os/as quando necessitam
de se deslocar, por exemplo, quando precisam
de dirigir-se a um serviço de saúde ou centro de
atendimento/ aconselhamento.
Quais são os problemas ou riscos?
A educação inter-pares pode apresentar algumas
desvantagens, particularmente, se for apenas,
parcialmente implementada.
● A pressão do grupo – os pares podem afectar
as pessoas, especialmente as mais jovens, de
um modo negativo se essa pressão de grupo
for utilizada com propósitos menos adequados.
Podemos pressionar alguém para ganhar
aceitação num grupo utilizando drogas, fumando,
ingerindo álcool ou tendo relações sexuais não
16
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protegidas, não consentidas ou não desejadas.
● Falta de experiência – enquanto educadores/
as inter-pares, podemos enfrentar problemas
com os quais poderemos não saber lidar quando
começamos a desenvolver o nosso trabalho
na comunidade, transmitindo informação
incorrecta.
● Fronteiras sócio-culturais – estas podem
tornar-se visíveis quando jovens falam sobre sexo
ou sexualidade. Em algumas comunidades é difícil
falar sobre sexo e sexualidade, especialmente
se as pessoas adultas pensarem que estão
a encorajar a ideia de um comportamento
promíscuo e de correr riscos.
● Falta de reconhecimento – até agora, a
educação inter-pares não foi ainda reconhecida
em alguns locais como uma forma efectiva,
consistente e legítima de fazer a diferença.
Qual é o papel de um/a educador/a inter-pares?
Educadores/as inter-pares desempenham um papel
muito importante na promoção da saúde junto dos/as
jovens. Podemos servir como “modelos de acção” dando
informação fundamental e exacta, e promovendo atitudes
que conduzem a um comportamento mais saudável e
responsável entre os pares. Uma das maneiras de o fazer
é vivendo nós próprios de uma forma saudável.
Os nossos papéis e conhecimento podem diferir,
dependendo do programa e das populações-alvo que
se pretendem atingir. Muitos de nós têm formação
e estamos envolvidos em mais do que uma disciplina
ou actividade. Uma vez familiarizados com as técnicas
da educação inter-pares, podemos aplicá-las a uma
série de temas e de situações. Envolver o/a mesmo/a
educador/a em mais de um tipo de actividade em vez
de formar sempre alguém de novo pode ajudar a reduzir
custos, mas também reduz a diversidade e promove o
empoderamento.
Exemplos de actividades para programas de
prevenção de VIH com educação inter-pares
● Aumentar a consciência e conhecimento
do VIH e das outras infecções sexualmente
transmissíveis;
● Motivar e apoiar comportamentos redutores de
risco, incluindo o uso de preservativo e a opção
informada pela abstinência;
● Ministrar e estruturar educação/informação
sobre preservativos e a sua disponibilidade;
● Ensinar cuidados e formas de apoio a pessoas
que vivem com VIH/SIDA.
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 2 17
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Secção 3
Temas fundamentais em direitos e saúde sexual e reprodutiva
Secção 3 – Temas fundamentais em direitos e saúde sexual e reprodutiva
Compreender os temasSecção 3
– Temas fundamentais em direitos e Saúde Sexual Reprodutiva
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Secção 3 - Temas fundamentais em Direitos e Saúde Sexual e Reprodutiva
Compreender os temasAs pessoas que defi nem políticas e programas necessitam de compreender todos os temas quando
implementam programas de educação inter-pares que
promovem a saúde sexual e reprodutiva. Nesta secção
vamos explorar alguns destes temas, incluindo:
● acesso
● direitos humanos
● direitos reprodutivos
● direitos sexuais
● conceitos de sexo e de sexualidade
● discriminação e estigma
● religião
● género
● cultura
● risco
● emporwerment / empoderamento
● auto-desenvolvimento
● competências comportamentais
O Acesso
Uma defi nição possível: modos, formas ou acto de
abordagem; a condição de permitir a entrada; o direito
ou privilégio de abordar, atingir, entrar ou fazer uso de
algo; designar programas feitos por e para o público em
geral e torná-los acessíveis.
Em Direitos e Saúde Sexual e Reprodutiva, o acesso
refere-se a…
“… promover e facultar a informação e educação sobre
direitos e saúde sexual e reprodutiva, e reduzir/eliminar
que uma pessoa possa ser descriminada com base em
condições fi nanceiras, origem étnica ou sócio-cultural,
crenças religiosas ou políticas, orientação sexual ou
qualquer outro factor”. Plano Estratégico da IPPF-EN
2004-2008.
Os/as jovens podem não ter acesso à informação e à
educação no seu contexto familiar e as instituições
educativas e a sociedade civil não providenciarem os
meios para isso.
Implicações da inacessibilidade dos serviços
“Muitas pessoas adolescentes e jovens (rapazes e
raparigas, casados e solteiros) podem ser e/ou tornar-
se sexualmente activos/as antes dos 20 anos de
idade, embora possam ter falta de acesso a serviços
de contracepção, de prevenção e cuidados face às
infecções sexualmente transmissíveis, de cuidados e
aconselhamento durante a gravidez. Para muitos/as
jovens, os horários de abertura ou a localização dos
serviços torna-os inacessíveis, ou os cuidados são muito
dispendiosos. Há países onde os cuidados de saúde
requerem o consentimento de familiares (pais/mães ou
cônjuges) ou pode, por um qualquer instrumento legal,
ser proibido o acesso de adolescentes a esses serviços.
Para além disso, a atitude de alguns profi ssionais de saúde
pode tendencialmente desencorajar os/as adolescentes a
procurarem aconselhamento ou tratamento relacionados
com Saúde Sexual e Reprodutiva”.
OMS, Departamento da Saúde e Desenvolvimento Infantil
e Adolescente.
A abordagem baseada no direito à saúde sexual e
reprodutiva
Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo
1º
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e direitos.”
Os direitos humanos são para todas e para cada pessoa
individualmente, qualquer que seja a cor da pele, origem
étnico-cultural, sexo, idade, lugar na família, orientação
sexual, religião ou participação política. Os direitos
sexuais e reprodutivos são uma parte integrante dos
direitos humanos, o que signifi ca que cada pessoa deve
ser capaz de viver uma vida sexual satisfatória, não
coerciva e livre de riscos.
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 3 21
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• Escolha – para acederem a informação e educação
correctas, adequadas e não discriminatórias,
para escolherem livre e responsavelmente
• Direitos – para assegurar os seus direitos
à vivência da sua sexualidade e dos seus
relacionamentos sócio-afectivos.
Ajudando os Jovens
“Sinto que tenho sorte por ter descoberto o quão
maravilhoso é estar informado e feliz com a minha
sexualidade apesar da fraca educação sexual que tive
quando cresci. Agora quero estar activamente envolvido
em ajudar outras pessoas a evitar vicissitudes e a
experimentar aquele prazer”.
Voluntário, 23 anos de idade, “Faz acontecer…
Fá-lo agora”, Grupo de Trabalho da Estratégia
Europeia, 1995.
“Faz acontecer… Fá-lo agora”
Outro marco foi o desenvolvimento em 1995 da
Estratégia Europeia para a Juventude “Faz acontecer…
Fá-lo agora”. Esta estratégia foi o resultado daquilo que
um grupo de jovens explorou, reviu e considerou como
necessidades da saúde sexual dos jovens, sugerindo
a forma como programas e políticas futuras poderiam
melhorar a vida dos jovens considerando as suas
preocupações. As recomendações dessa estratégia são
ainda uma ferramenta valiosa para a avaliar se e de que
forma as necessidades e os direitos em saúde sexual e
reprodutiva das pessoas jovens estão a ser respeitados
e cumpridos.
Plano estratégico 2004 - 2008
Todos estes passos contribuíram para o plano estratégico
2004 - 2008 da IPPF-EN. Com adolescentes e jovens a
ter acesso a formação nos temas do programa, a IPPF-
EN está a trabalhar para assegurar que:
“…todos os adolescentes e jovens tenham consciência
dos seus direitos sexuais e reprodutivos, tenham a
capacidade de fazer escolhas informadas e tomar
decisões relativamente à sua saúde sexual e reprodutiva
e sejam capazes de gerir a sua autonomia”.
Quem desenha, planeia e disponibiliza programas de
educação inter-pares sobre a saúde sexual reprodutiva
e educação sexual necessita de ter conhecimento sobre
estes direitos e as suas implicações. Estes direitos devem,
por seu lado, fazer parte das competências educacionais
para adolescentes e jovens.
Direitos reprodutivos
“Os direitos reprodutivos englobam certos direitos
humanos que são já reconhecidos por muitas legislações
nacionais, documentos internacionais sobre os direitos
humanos e outros documentos de consenso. Estes direitos
baseiam-se no reconhecimento do direito básico de todas
as pessoas e casais decidirem livre e responsavelmente
o número, intervalo de tempo e momento do nascimento
dos seus fi lhos/as e de terem a informação e meios para
o fazerem”.
UN, Programa de Acção adoptado na Conferência
Internacional sobre População e Desenvolvimento, Cairo,
5-13 Setembro 1994, parágrafo 7.3
O direito de escolha da pessoa
Os direitos sexuais são direitos que dizem respeito à
sexualidade. Para a IPPF os direitos sexuais devem
assegurar o direito de decidir se, quando, como e com
quem ter relações sexuais. Isto signifi ca que as mulheres,
homens, adultos e jovens têm o direito de recusar
relações sexuais e a sua integridade corporal tem de ser
respeitada.
A visão, os valores e a missão da IPPF-EN refl ectem o
princípio central de que a saúde e a escolha sobre a vida
sexual e reprodutiva constituem direitos humanos de
todas as pessoas.
As iniciativas para jovens da Rede Europeia da
IPPF
Estes princípios orientam a IPPF-EN no seu compromisso
e trabalho para a promoção e avanço dos direitos à saúde
sexual e reprodutiva, incluindo dos e para jovens.
Em Junho de 2001, as equipas que estiveram a trabalhar
com a IPPF-EN desenvolveram um documento sobre os
direitos e saúde sexual e reprodutiva dos/as jovens, no
qual se reconhecia que, embora nem todos os rapazes
e raparigas tivessem relações sexuais, a maioria é
sexualmente activa, e todos/as têm os mesmos direitos
sexuais e reprodutivos das pessoas adultas. Estes direitos
incluem a informação e acesso a serviços, os quais
permitem aos jovens viver a sua sexualidade de uma
forma segura e tranquila. No âmbito destes programas
deve ser garantido às crianças, adolescentes e jovens
um ambiente “seguro, pedagógico e confi ante” para as
suas discussões pessoais, mesmo quando pais e mães
estejam envolvidos/as. A IPPF-EN defende que os/as
jovens devem ter acesso aos serviços de saúde sexual e
reprodutiva que permitam:
• Saúde – para salvaguardar a sua saúde sexual
e reprodutiva através do acesso a serviços e
respectivos cuidados;
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 322
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Enquadramento legal
A Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento (CIPD), em 1994, afi rmou a mudança
da abordagem demográfi ca para uma abordagem
baseada nos direitos à saúde sexual e reprodutiva. A
IPPF interpretou e aplicou, em 1993, a linguagem dos
direitos humanos para reforçar e tornar mais explícita a
ligação entre os Direitos e a Saúde Sexual e Reprodutiva
na sua “Carta de Direitos Sexuais e Reprodutivos”.
Esta carta, de carácter legal, expressa os direitos
humanos básicos na medida em que eles se aplicam
à vida sexual e reprodutiva de cada pessoa, tendo-se
baseado nos tratados internacionais sobre os direitos
humanos, reconhecidos e ratifi cados por muitos países
em todo o mundo. Embora sem obrigatoriedade legal, a
Carta tornou-se uma ferramenta para defender os casos
em que os governos não traduzem os acordos assinados
a nível internacional num compromisso de acção a nível
nacional.
Ferramenta para defender a Saúde Sexual e
Reprodutiva (SSR)
“ Em todos os países, existe uma variedade de leis,
políticas e práticas, que afectam os direitos da saúde
sexual e reprodutiva. Estes enquadramentos podem
referir-se à oferta de informação e educação sobre SSR
e/ou regular o acesso ao planeamento familiar e outros
serviços essenciais de saúde sexual e reprodutiva.
Infelizmente, estas leis, políticas e práticas normalmente
obstruem, limitam ou proíbem o usufruto dos direitos
à SSR. A falha de um governo em agir sobre um certo
assunto pode também negar ou afectar negativamente o
usufruto destes direitos. Em ambos os casos, a restrição
aos direitos sexuais e reprodutivos corresponde, à
luz da lei internacional, a uma violação dos direitos
humanos, no caso de o governo ter ratifi cado
tratados que reconhecem esses direitos”.
“Carta da IPPF sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos
– Orientações”
Organizações e profi ssionais que trabalham na área da
saúde sexual e reprodutiva precisam de compreender
a legislação nacional sobre os direitos da saúde sexual
e reprodutiva, uma vez que esta pode restringir o
âmbito do seu trabalho. Quando estão conscientes do
enquadramento legal vigente, as organizações podem
planear estratégias e programas, e garantir que os
governos estejam atentos face aos compromissos que
assumiram nacional e internacionalmente, e disponíveis
para responder às necessidades das pessoas em matéria
de SSR.
Conceitos de sexo e de sexualidade1
Defi nições, linguagem e normas relacionadas com a
sexualidade devem ser contextualizadas culturalmente
uma vez que a sexualidade pode ter especifi cidades
a nível cultural. Enquanto o signifi cado atribuído às
defi nições dado nesta secção pode diferir de cultura
para cultura, e até dentro das próprias comunidades, é
importante reconhecer que a cultura não é um “dado”,
mas um processo dinâmico e evolutivo. Qualquer forma
de violência, discriminação, estigmatização ou coerção
feita em nome da cultura e da tradição não pode ser
justifi cada. Estas acções têm sido e devem continuar
a ser desafi adas e abordadas em qualquer agenda de
desenvolvimento que tenha por base os direitos humanos.
Isto é particularmente signifi cativo no campo da saúde
sexual e reprodutiva.
Sexo
No contexto da saúde sexual e reprodutiva, o sexo é
defi nido como um estatuto biológico individual, tanto
masculino como feminino.
O termo “sexo” pode também ter os seguintes
signifi cados:
● instinto, uma vez que se manifesta como um
comportamento
● relações sexuais
● órgãos genitais
Identidade sexual
A identidade sexual é o conceito de si próprio(a) enquanto
ser sexual, incluindo a “identidade de género” e a
orientação sexual. A “identidade de género” refere-se ao
sentimento individual de se ser masculino ou feminino.
A orientação sexual refere-se ao sentimento e atracção
erótica, romântica ou afectiva relativamente a pessoas
do sexo oposto, do mesmo sexo ou de ambos os sexos.
Cientifi camente falando, a identidade sexual é uma parte
integrante da sexualidade humana que, por seu turno,
é parte do desenvolvimento do ser humano ao longo de
todas as fases da sua vida, apresentando componentes
físicas2, psicológicas e sociais.
Os programas de saúde sexual e reprodutiva necessitam
de ser compreensíveis e holísticos. Devem igualmente
reconhecer a diversidade da condição sexual humana
para ajudar a abolir a estigmatização, discriminação e a
exclusão social.
Sexualidade
A sexualidade humana é uma parte natural do
desenvolvimento humano através de cada fase da vida e
1 SIECUS, Fazer a Ligação: Saúde Sexual e Reprodutiva – defi nições da terminologia da saúde relacionada com a sexualidade.
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 3
2 Defi nições da OMS e da SIECUS.
23
secção3final r p q.indd 5secção3final r p q.indd 5 30-10-2008 10:27:5430-10-2008 10:27:54
inclui componentes físicas, psicológicas e sociais3.
A saúde sexual implica uma abordagem positiva à
sexualidade humana e constitui uma parte essencial da
saúde sexual e reprodutiva. Ela é a integração dos aspectos
somáticos, emocionais, intelectuais e sociais de uma
pessoa de formas que são positivamente enriquecedoras
e promotoras da personalidade, comunicação, amor e
das relações humanas4.
As pessoas que planeiam e dinamizam a educação
inter-pares necessitam de saber o que signifi cam estes
termos nas suas próprias comunidades, idiomas e
culturas. Uma compreensão clara do modo como jovens
e pessoas adultas entendem a sexualidade pode levar a
questões sobre práticas que infl uenciam uma vida sexual
enriquecedora, mais segura e responsável.
Assuntos sociais
Discriminação
A palavra “discriminar” refere-se a ver ou notar as
diferenças. Num contexto social “discriminação”
refere-se aos momentos em que tratamos os outros
desfavoravelmente por eles serem diferentes de nós.
Tratar algumas pessoas melhor do que outras por causa da
etnia, origem, idade, religião, sexo ou orientação sexual
é igualmente uma forma de discriminação. Enquanto
educadores/as inter-pares, é nosso dever assegurar que
todas as pessoas são tratadas com igual respeito e que
têm as mesmas oportunidades. Devemos também ter
como objectivo aprender e educar sem discriminação.
Estigma
“Estigma” é uma palavra usada para descrever vergonha,
rótulo social ou desacordo.
As pessoas em certos grupos são, por vezes, vistas
pela sociedade onde vivem como desavergonhadas ou
minoritárias ou marginais. Quando isto acontece, dizemos
que estão a ser “estigmatizadas”. Um exemplo dá-se
quando as pessoas decidem que certos estilos de vida
ou características são vergonhosas de alguma maneira
ou não respeitosas para com a sua cultura ou sociedade.
Elas têm então uma atitude crítica para estigmatizar as
pessoas que têm essas características aparentemente
“diferentes”.
Estas características são por vezes determinadas pelo
comportamento, o qual pode ser algo que as pessoas
estigmatizadas não conseguem controlar.
É um facto…
Pessoas que vivem com o VIH/SIDA podem experimentar
a discriminação, independentemente da forma como
contraíram a doença.
Religião
A Religião pode ser defi nida como um sistema de
crenças baseadas num ser sobrenatural, divino, sagrado
e transcendental, bem como o conjunto de rituais e
códigos que derivam dessas crenças. Existem várias
religiões e crenças religiosas no mundo, baseadas
em diferentes conjuntos de crenças e com sistemas
de adoração com vista a demonstrarem a devoção ao
seu Deus (ou Deuses). O Cristianismo, o Islamismo, o
Judaísmo, o Hinduísmo ou o Budismo são as religiões
mais comuns em todo o mundo e cada uma tem diferentes
agrupamentos, seitas, tipos ou “movimentos”.
Existe uma grande diversidade no modo como as pessoas
observam, interpretam e seguem as regras ou leis das
suas religiões. Estas regras e leis podem prescrever
estilos de vida que normalmente e de uma forma mais ou
menos explicita fazem referência aos direitos e à saúde
sexual e reprodutiva.
Exemplos do impacto da religião nos Direitos e
SSR
● As relações sexuais antes do casamento são
proibidas em muitas religiões.
● Em algumas religiões as relações sexuais são
proibidas entre pessoas do mesmo sexo.
É comum a várias religiões que algumas leis e regras
tomem precedência sobre outras.
O que precisamos de saber
Enquanto educadores/as inter-pares, precisamos de
compreender as principais regras das religiões, nas quais
se integram as pessoas com quem estamos a trabalhar.
Isto dir-nos-á aquilo que é importante relativamente a
Direitos e SSR dentro destes grupos.
Se formados por pessoas bem informadas, educadores/
as inter-pares podem também promover, e sempre que
a religião justifi que, uma declaração aberta e que haja
uma aprendizagem para a redução do risco ou de práticas
prejudiciais.
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 3
3 Defi nições da OMS e da SIECUS.4 OMS – Defi nições e Indicadores no Planeamento da Família, Saúde da Mãe e da Criança e Saúde Reprodutiva utilizadas no Comité Regional da OMS para a
24Europa.
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Género
O género corresponde à construção social do ser homem
ou mulher. O género é uma categoria de análise das
ciências sociais que utilizamos para explicar o poder
assimétrico de homens e mulheres num determinado
conceito sócio-cultural. Hoje, a expressão género é
frequentemente utilizada (embora erradamente) como
substituta da palavra sexo.
Os papéis do género
Dentro das culturas existem “papéis do género” que são
são considerados mais masculinos ou mais tipicamente
femininos. Os atributos considerados masculino ou
feminino podem ser claros em muitas culturas, ou
partilhados por ambos noutras.
Exemplos de papéis estereotipados mantidos em
nome da tradição
● Masculino – agressivo, dominante, desportivo,
que ganha dinheiro.
● Feminino – sensível, submisso (ao homem), que
cuida das crianças.
À medida que as sociedades evoluem, os papéis rígidos
atribuídos a homens e a mulheres tendem a esbater-se.
Períodos de transição, podem criar tensões relativamente
aos papéis de cada género. Existem programas
estruturados para abordar aspectos sobre os papéis do
género em mudança.
Compreender os papéis do género, transição e mudança
afi gura-se muito importante na educação inter-pares.
A discriminação baseada nestes papéis, em nome da
tradição, leva frequentemente a práticas sociais e sexuais
pouco seguras e produz vulnerabilidade, especialmente
para raparigas e mulheres. Educadores/as inter-pares
necessitam de aprender como apoiar a identidade de
género, mas também reconhecer os pontos em que as
pessoas poderão ser mais vulneráveis à discriminação e
ao abuso de direitos.
Cultura
“Cultura” refere-se aos costumes e conquistas de uma
dada civilização ou comunidade.
Os costumes tendem a modifi car-se ao longo do tempo.
Alguns podem ser parte de uma cultura mais antiga e
tradicional, e outros parte de uma cultura adaptada e
mais moderna, resultantes da própria dinâmica sócio-
cultural
Em muitas culturas, a experiência do género leva a
diferentes expectativas e a um entendimento diferenciado
de direitos. A evolução positiva dos direitos da mulher é
uma das mudanças que está presentemente a ocorrer em
muitas culturas, e uma das que tem muitas implicações é
a abordagem de género. Como “ninguém vive isolado”, as
negociações e um entendimento razoável entre homens
e mulheres são aspectos importantes da sociedade e do
desenvolvimento.
O que precisamos de saber
Para sermos bons e boas educadores/as inter-pares,
necessitamos de compreender a cultura em que
trabalhamos. Isto permite identifi car quais as forças
e vulnerabilidades que as normas e as expectativas
culturais acomodam.
Por exemplo, no passado poderia não ser tolerado que
uma mulher falasse abertamente de sexo ou do uso
de contraceptivos. Um/a educador/a inter-pares pode
ajudar a lidar com esta situação mostrando como as
normas culturais podem ser desafi adas e modifi cadas
quando elas afectam os direitos individuais. As ameaças
e riscos à saúde sexual e reprodutiva como o VIH/SIDA,
outras infecções sexualmente transmissíveis ou violência
baseado no género constituem igualmente razões de
mudança.
Risco
“Risco” é o termo usado para referir uma situação que
pode conduzir a uma perda, a um ferimento ou a perigos
vários.
Existe mais do que um tipo de risco. Ele pode não ser
visível, como é o caso do risco de contrair uma infecção
(VIH/SIDA, por exemplo), ou sê-lo (no caso um membro
partido num acidente de automóvel, por exemplo).
Alguns riscos são psicológicos, por exemplo, quando a
pessoa faz alguma coisa ou tem uma experiência que
possa ser traumática.
A educação inter-pares ensina aos intervenientes
primários técnicas de “redução de risco” demonstrando,
por exemplo, como se usam adequadamente algumas
protecções como o preservativo ou se treina o pedir
ajuda.
Empowerment / Empoderamento
O termo “empower” signifi ca dar a uma pessoa ou a um
grupo o sentimento de poder ou autoridade.
A educação inter-pares normalmente “dá o poder” aos
jovens, ou a outros grupos vulneráveis, de assumir mais
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 3 25
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autoridade/responsabilidade sobre a sua saúde e os seus
estilos de vida pessoais. É normalmente uma questão de
tornar os jovens conscientes da forma como se podem
ajudar uns aos outros a aprender, em vez de deixarem
a aprendizagem a cargo de sistemas mais tradicionais
onde as fi guras de autoridade, tais como professores,
pais e médicos são os responsáveis pelo ensino.
Comportamento e práticas sexuais
Existem actividades sexuais nas quais as pessoas se
envolvem, e que podem variar desde a auto-estimulação ou
masturbação até aos encontros físicos. O comportamento
sexual pode incluir a estimulação de partes do corpo e
relações sexuais de vários tipos, incluindo oral, anal e
vaginal. Ele é normalmente a expressão da sexualidade
de alguém, incluindo a orientação sexual e a atracção.
Os comportamentos e as práticas são determinados
ou provocados por um conjunto complexo de factores
biológicos, psicológicos, sociais e ambientais. Algumas
pessoas têm menor possibilidade de escolha das práticas
sexuais devido a circunstâncias de vida, que incluem
expectativas e normas culturais. Não estar consciente da
escolha sobre práticas sexuais conduz, normalmente, a
uma maior vulnerabilidade.
O que precisamos de saber
Enquanto educadores/as inter-pares, podemos ser mais
efi cientes se compreendermos os aspectos em que os
intervenientes primários são vulneráveis. Se nos focarmos
apenas nos perigos e ameaças associados ao sexo e à
sexualidade, poderemos ser considerados repressivos.
Ter uma abordagem positiva sobre sexo e sexualidade
signifi ca transmitir a mensagem de que, num contexto
apropriado, saudável e seguro, e no momento certo
das nossas vidas, sexo e sexualidade podem ser uma
expressão e um aspecto maravilhoso do ser humano.
Podemos aprender a ter uma atitude positiva face ao
sexo e à sexualidade, e um programa sólido de educação
sexual constitui um bom ponto de partida.
Lembre-se…
Jovens e sexualidade
Desenvolvimento pessoal
Leva algum tempo até uma pessoa compreender
e conhecer o seu ser sexual. Aprendendo o que é
pessoalmente importante e como melhor se expressar,
uma pessoa pode tornar-se um/a educador/a inter-
pares efi ciente.
Muitas pessoas atravessam um período de meses ou anos
(frequentemente durante a adolescência) questionando
quem são, qual a sua identidade e orientação sexual,
como se podem expressar enquanto seres sexuais e
aquilo que os guia e atrai. Um/a educador/a inter-pares,
que olhou para dentro do seu coração e da sua mente
e não julga os outros, está mais capacitado para ajudar
outros/as jovens a procurar e compreender o caminho
para o estado adulto.
Compreendermo-nos a nós próprios pode ser um processo
difícil e assustador. Se, por exemplo, uma pessoa vive
numa cultura fortemente discriminatória e estigmatizante
de pessoas com uma orientação homossexual, pode ser
difícil e atemorizador reconhecer e aceitar que ele ou ela
sejam atraídos por pessoas do mesmo sexo.
Um bom/boa educador/a inter-pares, qualquer que seja
a sua orientação sexual, será capaz de ensinar de modo
a permitir a qualquer pessoa sentir-se segura de ser
aquilo que é.
Capacidades de comportamento
Para ter melhores possibilidades de crescer com uma boa
saúde sexual e reprodutiva, uma pessoa necessita de um
conjunto de competências.
● Ele ou ela necessitam de saber tomar decisões
saudáveis sobre a sexualidade e as relações
sexuais.
● As capacidades de negociação são também
importantes nesta área da vida. Estas
representam a capacidade de alguém pedir e
obter o que necessita de parceiros ou amigos
de modo a manter-se tão saudável e seguro(a)
quanto possível.
● Algumas pessoas podem desejar manter-
se abstinentes ou esperar para ter relações
sexuais e neste caso necessitam de ter as
chamadas “competências de recusa” – sabendo
como e quando dizer “não” efi cientemente.
Aqui é necessário chamar a atenção para a
importância de saber ouvir e receber um “não“
adequadamente.
● Outros podem ter decidido ter sexo, mas
necessitam de saber como convencer o parceiro
a fazê-lo com segurança, por exemplo, utilizando
o preservativo.
Secção 4
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 326
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Secção 4
Assuntos de saúde sexual e reprodutivaSecção 4 - Assuntos de saúde sexual e reprodutiva
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Secção 4 - Assuntos de Saúde Sexual e Reprodutiva
Conceitos e defi niçõesOs/as educadores inter-pares que trabalham na
promoção dos direitos e da saúde sexual e reprodutiva
considerarão útil a compreensão dos conceitos e da
terminologia básica, nomeadamente o signifi cado de:
● Saúde sexual
● Saúde reprodutiva
● Concepção
● Contracepção
● Abstinência
● Aborto
● Infecções sexualmente transmissíveis e VIH/
SIDA
Nesta secção abordaremos cada um separadamente.
Conceito de saúde sexual e reprodutiva
Saúde sexual
A saúde sexual é a integração das características
somáticas (físicas), emocionais, intelectuais e sociais da
sexualidade. Ela enriquece positivamente a vida de uma
pessoa e melhora a sua personalidade, comunicação e
capacidade de amar.
A saúde sexual encerra uma abordagem positiva à
sexualidade. Neste sentido, os cuidados da vida sexual
devem dizer respeito à promoção da vida e das relações
pessoais e não apenas ao aconselhamento e cuidados
destinados à concepção ou às infecções sexualmente
transmitidas1.
Saúde reprodutiva
A saúde reprodutiva diz respeito ao bem-estar físico,
mental e social em todos os aspectos relacionados
com o sistema reprodutor. Não é apenas a ausência
da doença ou enfermidade (em particular, a física). A
saúde reprodutiva implica que as pessoas possam ter
uma vida sexual segura e satisfatória, com a liberdade
de poderem escolher se, quando e com que regularidade
se reproduzem.
Homens como mulheres têm o direito de estar informados
e de terem acesso a:
● métodos de planeamento familiar seguros,
efectivos, acessíveis e adequados à escolha
individual;
● informação sobre acesso a serviços de aborto
seguro;
● serviços de cuidados de saúde que permitam às
mulheres ter uma gravidez e um parto seguros
e que ofereçam aos casais a possibilidade de
terem uma criança saudável2.
Fecundação
Capacidade biológica da reprodução. É o processo de
fusão do espermatozóide com o óvulo, o qual leva ao
desenvolvimento de um embrião.
Quando o homem ejacula, um elevado número de
espermatozóides desloca-se em direcção ao óvulo.
Quando um deles penetra o invólucro do óvulo, este é
fertilizado e a mulher engravida.
Contracepção
A contracepção é defi nida como qualquer meio para
evitar a gravidez. Existem métodos de contracepção
temporários e permanentes.
Métodos temporários3
● Abstinência durante o período fértil
● Coito interrompido
● Utilização de períodos de infertilidade natural
● Utilização de um aparelho intra-uterino (DIU)
● Utilização de métodos hormonais (pílula
contraceptiva, anel vaginal, adesivo contraceptivo,
implante, injectável, etc.)
● Utilização de uma barreira que previne o
movimento ascendente dos espermatozóides
para o tracto genital feminino (por exemplo,
preservativos, diafragma e espermicidas)
Métodos permanentes
Esterilização masculina e feminina - vasectomia e
laqueação das trompas.
O impacto do VIH/SIDA
O aparecimento do VIH/SIDA trouxe uma nova dimensão
à contracepção. É agora necessário prevenir a transmissão
de IST, incluindo o VIH/SIDA, assim como a gravidez.
Prevenir simultaneamente as IST e uma gravidez
não desejada é designado por “dupla protecção”. A
“dupla protecção” faz-se através do uso constante do
preservativo, associado a outro método contraceptivo.
Adaptado da Organização Mundial de Saúde – Educação e Tratamento na Sexualidade Humana: A Formação de Profi ssionais de Saúde, Um Relatório de um encontro da OMT, Séries de Relatórios Técnicos 572, 1975.
2 Adaptado do Programa de Acção adoptado na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, Cairo, 5-13 Setembro 1994, par. 72.
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 4
3 Adaptado da OMS – Defi nição de trabalho usada pelo Programa Especial de Investigação e Formação da Investigação na Reprodução Humana e a Divisão da Saúde Familiar..
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Abstinência
Abstinência sexual corresponde à opção voluntária de
não ter sexo.
O sexo tem um signifi cado diferente de pessoa para
pessoa. Para alguns, ele pode signifi car apenas uma
relação sexual com a introdução do pénis na vagina,
para outros, pode incluir sexo anal, sexo oral ou outras
formas de actividade sexual como o beijar ou acariciar.
A defi nição de sexo determina o signifi cado de abstinência
e existe alguma discussão sobre o verdadeiro signifi cado
da abstinência. Deve esta ser considerada como uma
abstenção às relações sexuais, ou a qualquer outra forma
de comportamento sexual?
A abstinência é também um assunto de debate na
educação sexual. Nos Estados Unidos, por exemplo, há
jovens que estão a ser ensinados que a abstinência até
ao casamento é o único comportamento sexualmente
aceitável. Tais programas não oferecem informação sobre
outros métodos contraceptivos, nem sobre a prevenção
do VIH. Para além disso, a defi nição de casamento é a
do casamento heterossexual numa concepção de família
tradicional, que com frequência falha na resposta às
necessidades das pessoas com diferente orientação
sexual, tais como homossexuais e bissexuais.
Aborto
O aborto induzido ou interrupção voluntária da gravidez
é utilizado para pôr fi m a uma gravidez já estabelecida;
pode ser feito com fármacos ou cirurgicamente. Após as
24 semanas (o número de semanas varia de acordo com
a legislação de cada país), o aborto é muito raro e é
realizado quando existem fortes razões de saúde para
o fazer.
A maioria dos abortos espontâneos - quase 90% -
ocorrem no primeiro trimestre de gravidez. Menos de
11% ocorrem no segundo trimestre.
O aborto de risco é um procedimento para interromper
uma gravidez não desejada, realizado por alguém que
não possui as competências necessárias para o fazer
4 Adaptado de: Divisão da Saúde Familiar e do Programa Especial de Investigação e Formação da Investigação na Reprodução Humana – Conferência Internacional sobre
ou que ocorre num ambiente sem condições clínicas
adequadas, ou ambos4.
Em muitas partes do mundo, o aborto é ainda um
importante factor de discriminação contra as mulheres,
e o direito legal à escolha representa um assunto político
importante. Um aborto realizado sem segurança é um
dos grandes perigos para a saúde da mulher, uma vez
que pode levar à sua morte ou de a incapacitar para toda
a vida.
IST e VIH/SIDA
IST são infecções passadas de uma pessoa para outra
através de relações sexuais ou outros comportamentos
sexuais (sexo oral ou anal, por exemplo), quando não é
utilizada protecção de forma correcta e regular.
Existem pelo menos 25 infecções sexualmente
transmissíveis diferentes. Estas podem ser de causa
bacteriana, viral ou parasitária. A infecção com o maior
impacto é a causada pelo VIH, que está na base do
desenvolvimento da SIDA. Existem outras infecções
sexualmente transmissíveis como a clamídia, a gonorreia,
o herpes e as hepatites.
● Algumas IST podem ser tratadas ou controladas
através de fármacos, como os antibióticos.
● Algumas causam efeitos prejudiciais a longo
prazo para a saúde e podem até levar à morte
(como é o caso da SIDA). Actualmente, não
existe cura para o VIH, mas existe tratamento
que permite retardar ou diminuir os seus efeitos
(anti-retrovirais).
● Algumas infecções não demonstram sintomas
durante muito tempo. Quando isso acontece -
alguém que não tem consciência de ter contraído
a infecção, pode transmiti-la a outra pessoa.
Os capítulos seguintes passam da teoria à prática através
da explicação de diferentes componentes dos programas
para a educação inter-pares, e através da oferta de
ferramentas e explicações úteis.
Manual de educação inter-pares em direitos e saúde sexual e reprodutiva - Secção 430
População e Desenvolvimento, Cairo, 5-13 Setembro 1994.
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Secção 5
Gerir um programa de educação inter-pares
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Secção 5 – Gerir um programa de educação inter-pares
Fase 1 - Planear o programaQuem, porquê e onde?
Tal como muitos outros assuntos na assistência técnica,
um dos erros mais comuns foi permitir a especialistas
originários de países onde a educação inter-pares tinha
sido desenvolvida, a imposição das ideias sobre aquilo
que deveria ser feito noutros países e regiões. Embora
este tipo de erro se tenha repetido muitas vezes, é
agora reconhecido que para o sucesso dos programas de
educação inter-pares é fundamental as pessoas aos quais
se dirigem se apropriem dos mesmos. Intervenientes
locais devem benefi ciar do trabalho desenvolvido e têm
um papel a desempenhar no sucesso e sustentabilidade
do programa.
“Os intervenientes podem ser pessoas-chave, bem como pessoas
que tenham particular interesse no programa de educação
inter-pares, tais como pessoas da audiência à qual se dirige.
Uma vez que esta é a chave do sucesso e da sustentabilidade
do programa, as pessoas devem ser envolvidas desde e a partir
da fase de desenho do projecto de modo a que este responda
às suas preocupações, necessidades e prioridades, e a fomentar
um sentimento de propriedade relativamente ao programa.
O envolvimento antecipado também ajuda os programas de
educação inter-pares a capitalizar as potenciais contribuições
dos intervenientes, nomeadamente no que diz respeito a
recursos fi nanceiros e humanos.
Estes programas precisam de estabelecer de forma clara o
modo como irão benefi ciar os intervenientes. É necessário
também desenvolver intervenções complementares para
educar e mobilizar os intervenientes a apoiar a alteração de
comportamentos junto do grupo a que o programa se dirige”1.
Defi nir intervenientes
A seguinte defi nição de intervenientes foi pensada por
parceiros do programa da educação inter-pares e do
VIH/SIDA, coordenado pela Rede Europeia da IPPF em
2001-2003. Este manual é um dos outputs/produtos do
projecto.
Intervenientes primários – pessoas para as quais é
dirigida a informação e cujo comportamento e práticas o
projecto visa infl uenciar.
Exemplo:
Todos/as adolescentes e jovens entre os 10 e os 24 anos,
com um enfoque especial em grupos marginalizados ou
socialmente excluídos, tais como, jovens infectados pelo
VIH/SIDA.
Intervenientes secundários – intermediários cujas
competências e capacidades serão melhoradas de modo
a oferecer informação e serviços ao primeiro grupo.
Exemplo: Organizações não governamentais (ONG) para
e de juventude, relevantes no país.
Intervenientes-chave – alianças inseridas no projecto
e cujo apoio é fundamental para ele funcionar.
Exemplo: Políticos, técnicos e dirigentes de serviços
ofi ciais, legisladores, representantes judiciais.
Porquê a importância do apoio?
A educação em saúde sexual dirigida a jovens é, por
vezes, um assunto controverso em todo o mundo.
Batalhas difíceis aconteceram e persistem enquanto as
posições políticas e religiosas são debatidas. Embora o
dever de muitos governos e ministros da saúde seja o de
“salvar vidas e não de salvar almas”2, existe ainda uma
necessidade urgente de defender os direitos sexuais e
reprodutivos em muitas regiões do mundo.
Defender a educação sexual
As organizações que defendem o direito à informação e
à educação sexual constituem uma fonte de investigação
e informação técnica importante. Estas organizações
incluem:
● A Federação Internacional para o Planeamento
da Família. A IPPF tem mais de 148 membros
associados em todo o mundo.
● O Conselho de Educação e de Informação sobre a
Sexualidade para os Estados Unidos (SIECUS). As
suas valiosas publicações mostram a necessidade
e o valor da informação e educação sexual para
jovens.
● Outras organizações globais do sistema das
Nações Unidas, tais como a UNFPA, UNICEF,
UNESCO, OMS e a UNHCR representam fontes
valiosas de informação para o apoio à construção
da educação inter-pares – e também da educação
em saúde sexual e reprodutiva – enquanto parte
de um programa mais alargado.
● Existem também várias organizações não
1 A Educação pelos Pares e o VIH/SIDA: Experiência Passada, Orientações Futuras. Horizon, Conselho da População 2001, do Sumário Executivo.Dr Neil Schram, LA SIDA task force:”Até o governo ver que é o seu dever salvar vidas, não salvar almas, continuaremos a ver o vírus a espalhar-se.” Do documentário Linhas Comuns: Histórias Vindas do Quilt, HBO 1989 e 2003 Telling Pictures, Coutirie, B, Epstein, R, and Friedman, J..
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 5 33
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governamentais tais como a APF, ASTRA e a
EPHA na Europa, PathFINDER e Engender Health
nos EUA, entre tantas outras.
Mostrar o valor do trabalho
Os resultados credíveis baseados na investigação
demonstram repetidamente que a educação sexual
ajuda a tomar decisões mais informadas e saudáveis.
Não promove a existência de mais parceiros ou um
envolvimento sexual precoce. Por outro lado, os
resultados mostram que existe uma maior probabilidade
de jovens usarem protecção quando iniciam as relações
sexuais.
Algumas conclusões têm sido retiradas de encontros
internacionais contextualizados nos direitos humanos,
com a explicitação que os/as jovens têm o direito básico
à informação, educação e serviços de saúde sexual e
reprodutiva.
Envolver representantes de grupos VMSE (vulneráveis,
marginalizados e socialmente excluídos)
É fundamental envolver pessoas de grupos VMSE em
todas as fases de desenvolvimento do programa. Embora
isto seja genericamente aceite em teoria, na prática não
acontece com a regularidade necessária.
As difi culdades…
Na prática, representantes e membros destes grupos
são frequentemente excluídos.
Alguém da organização responsável pelo programa pode
necessitar de ir para o terreno identifi car e envolver
pessoas pertencentes a estes grupos podendo ser
necessário incentivos para gerar um envolvimento mais
consistente e permanente.
Pode também demorar algum tempo e exigir maior
esforço para ganhar o respeito e a confi ança das pessoas
dos grupos VMSE e de as encorajar a envolverem-se
num programa de educação inter-pares.
… e aos benefícios
Pessoas dos grupos VMSE são capazes de ter uma melhor
ideia de como, quando e onde trabalham com populações
e comunidades que representam/integram. Podem-se
obter ganhos muito signifi cativos quando estas pessoas
fazem parte da equipa do programa.
Estudo de Caso
O feedback de um workshop da IPPF- Europa realizado
em Sarajevo, em Agosto de 2003, demonstra o valor do
envolvimento de alguém de um grupo VMSE.
Um dos elementos facilitadores do workshop foi a
presença de um homossexual infectado com o VIH e
outro foram as respostas de alguns participantes ao seu
envolvimento:
“Eu apreciei imenso o testemunho de uma pessoa que
vive com o VIH. Foi a primeira vez que assisti a um
testemunho destes, fi quei chocado e profundamente
sensibilizado. Isto marcou e irá marcar o meu trabalho
nesta área. Penso que foi muito corajoso da sua parte
e nunca esquecerei esta pessoa uma vez que o seu
testemunho me ensinou imenso”.
“O testemunho de uma pessoa que vive com o VIH
ajudou-me efectivamente a compreender melhor e a ter
menos preconceitos relativamente a muitas coisas. Muito
obrigado pela sua participação”.
“O testemunho da pessoa que vive com VIH foi muito
triste mas, ao mesmo tempo, muito vivido. Fiquei
satisfeito por ter conhecido alguém como ele. Ele é a
prova de quem vive com o VIH/SIDA e os homossexuais
não são diferentes das outras pessoas e de que não
deveremos nunca apontá-los ou fazê-los sentir rejeitados
ou excluídos.”
No caso do workshop em Sarajevo, a pessoa que deu
o testemunho foi também envolvida no planeamento e
realização do workshop. Intervindo como um formador,
possuía um forte sentido de como, quando e de quais os
temas a abordar na sua intervenção.
É importante seleccionar e preparar cuidadosamente
um/a orador/a convidado/a que prestará um testemunho
pessoal. O facto de se estar infectado com o VIH ou de
se estar de alguma forma vulnerável, marginalizado ou
de pertencer a um grupo socialmente excluído não são
factores que qualifi cam imediatamente essa(s) pessoa(s)
para falar sobre o assunto. Em alguns lugares, existem
organizações com “gabinetes de oradores”, que treinam
e apoiam as pessoas a falar em eventos desta natureza.
A pessoa que fala sobre vulnerabilidade ou experiência
de vida tem de estar bem preparada e de compreender o
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tipo de situação que vai abordar.
Antes de contactar potenciais pessoas para a equipa ou
convidadas, importa assegurar que são as pessoas certas
para desenvolver determinada tarefa. Por exemplo,
coloque questões para aferir do grau de abertura
relativamente a atitudes menos discriminatórias, tais
como “se um amigo próximo lhe dissesse que estava
infectado com o VIH, o que é que lhe diria?”.
Construir a equipa
Enquanto certos programas levam pouco tempo a
desenvolver as competências dos educadores que os
integram, outros precisam de mais recursos para atingir
o mesmo objectivo. Daí advém a reputação de que a
qualidade de um programa inter-pares se refl ecte e analisa
na qualidade dos pares formados e supervisionados. Um
plano curricular extenso e claro pode exigir mais de 50
horas de formação de modo a obter educadores inter-
pares qualifi cados e competentes.
De que precisa para criar uma boa equipa?
● Um ambiente propício à formação, não
preconceituoso e que seja aberto e seguro;
● Experiências inovadoras e motivadoras (tais
como: conhecer pessoas que vivem com VIH ou
com diferentes realidades);
● Aprendizagem através de experiências (jogos,
exercícios, brainstorming);
● Oportunidades para no terreno ser educador/a
inter-pares;
● Tempo e recursos para preparar e praticar
antecipadamente a ida para o terreno;
● Uma equipa forte confi ante e securizante;
● Um ambiente que inclua momentos de diversão
e boa disposição;
● Retiros ou viagens de campo que promovem os
laços de relacionamento e espírito de grupo;
● Transmitir aos participantes o sentimento de que
eles podem fazer a diferença;
● A capacidade para explorar e resolver confl itos
dentro do grupo;
● A atenção aos incentivos e motivação (podem
incluir lanches, certifi cados, saídas em grupo,
créditos pelo trabalho comunitário desenvolvido,
aprovação e agradecimentos pelos destinatários,
atenção dos mass media, entre outros).
O que é necessário para se ser um bom/boa
educador/a inter-pares?
O potencial de liderança constitui um dos melhores
indicadores de um bom/boa educador/a inter-pares. Por
“líder” não entendemos apenas uma pessoa que gosta
de se mostrar “chefe”, mas, antes, alguém que tem a
capacidade de liderar e de partilhar com os elementos
da sua equipa.
Quais são as características de um/a bom/a
educador/a inter-pares?
● Potencial de liderança;
● Boa capacidade para ouvir as outras pessoas;
● Capacidade para comunicar de forma clara e
persuasiva com os seus pares; a experiência
de falar em público é também um aspecto
importante;
● Auto-confi ança;
● Ser respeitado, ter a confi ança e empatia por
parte do grupo;
● Ser capaz de trabalhar em equipa;
● Não ser preconceituoso/a;
● Estar motivado/a e comprometido/a com o
programa;
● Ser capaz de respeitar a confi dencialidade;
● Potencial para representar um modelo a seguir
por parte dos pares;
● Disponibilidade de representação/dramatização,
que pode ser útil no caso de utilizar a dramatologia
enquanto técnica.
Como escolher os/as educadores/as inter-pares
Existem diversas formas de selecção e recrutamento de
educadores inter-pares e cada uma encerra um nível de
avaliação diferente.
Alguns programas são muito abertos relativamente
a quem se pode candidatar, requerendo apenas que a
pessoa interessada preencha os requisitos defi nidos
(veja na secção seguinte como estabelecer um contrato).
Outros possuem uma selecção ou processo de avaliação
mais rigoroso, que visa estabelecer um padrão a ser
respondido pelos/as participantes do programa.
Processo de selecção
O processo de selecção deveria idealmente envolver
outros jovens, em particular aqueles que já trabalham
como educadores/as inter-pares. O/a candidato/a pode
necessitar de preencher um questionário, que pode conter
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questões sobre a experiência, a motivação e o carácter
pessoal. Sendo um assunto por vezes considerado
complexo e sensível, o processo de selecção deverá
envolver igualmente uma entrevista pessoal.
Atenção: O melhor nem sempre é o melhor!
Tenha cuidado para não recrutar apenas educadores
inter-pares “super-estrelas”, isto é, aqueles/as que se
distinguem e se diferenciam dos seus pares devido às
suas conquistas, popularidade ou outras características
pessoais.
Num processo de selecção altamente competitivo e
rigoroso, pode existir uma tendência para seleccionar
os que conseguiram mais realizações - os candidatos
talentosos que mais se distinguem. Porém, se a equipa
de selecção termina o processo com um número
desproporcionado de educadores/as de pares com muito
talento, pode dar-se um retrocesso. Os/as educadores/
as podem ter menos em comum com a audiência a quem
se dirige o programa, que poderá ter difi culdade em os
considerar pares efectivos.
Alguns dos maiores sucessos acontecem quando a
audiência se relaciona bem com um/a educador/a inter-
pares que seja mais parecido com ela e menos com
um “carácter modelo”. Quando os pares na audiência
vêm que, por exemplo, alguém alguma vez foi “do tipo
indisciplinado” ou que um amigo “cool” leva o VIH ou as
IST a sério e tem comportamentos preventivos, é mais
provável que prestem atenção ao problema.
É fundamental tentar envolver os intervenientes primários
no processo de selecção. Uma vez que a educação inter-
pares se dirige frequentemente a alvos em risco e a
populações vulneráveis, que recruta de educadores/as
inter-pares pode ter a necessidade de averiguar onde é
que estas populações vivem ou passam o seu tempo.
A lista que a seguir se apresenta defi ne um conjunto
adicional de critérios para o recrutamento de educadores
/as inter-pares, tendo sido adoptada de um estudo da
autoria de Anne Calves para a IPPF.
O Recrutamento3
Qualidades e Critérios de Recrutamento
● Um/a educador/a inter-pares será bem aceite
na comunidade onde vai desenvolver o seu
trabalho.
● A selecção de educadores inter-pares não deve
ser uma responsabilidade apenas dos/as gestores
/as dos programas. O processo de recrutamento
deve envolver docentes, líderes da comunidade,
líderes religiosos e de organizações de juventude
na identifi cação e recomendação de potenciais
candidatos/as.
● O processo de recrutamento deve ser antecedido
pelo estabelecimento de critérios de selecção
claros e objectivos. As opiniões de educadores/
as inter-pares mais experientes e dos grupos-
alvo sobre “aquilo que faz um/a educador/a
inter-pares bem sucedido” devem ser tidas
em consideração. Isso torna os critérios mais
realistas e encoraja os/as jovens a confi ar na
pessoa seleccionada.
● Os educadores/as inter-pares deveriam
demonstrar o seu compromisso face à fi losofi a do
programa, aos seus objectivos, metas e sistemas
de organização e devem estar disponíveis
para trabalhar de acordo com os requisitos do
programa.
● De entre os atributos pessoais chave devem
constar a capacidade para:
- Comunicar sobre assuntos sensíveis
- Ser uma pessoa de confi ança
- Ser comprometido/a com a causa
- Ser discreto/a e tolerante
- Ser dinâmico/a e assertivo/a
- Agir como um modelo para jovens
● Uma vez formado/a, deve ser capaz de
facilitar uma discussão de grupo e de assumir
responsabilidades.
● As características sócio-demográfi cas necessárias
devem depender dos intervenientes primários.
A idade limite para os/as educadores/as inter-
pares situa-se normalmente entre os 18 e 25
anos, embora em alguns casos este factor seja
menos importante do que as capacidades e
atributos acima mencionados.
Estabelecer um contrato – o que vamos acordar em
fazer
Um contrato estabelece as expectativas relativamente a
educadores/as inter-pares, formadores/as e à organização
que recebe o programa de formação. Embora muitos
programas operem sob as melhores intenções, devem
ser acordados os níveis de expectativas e de resultados
dos programas de forma a evitar mal entendidos e
incongruências.
Alguns consideram a educação inter-pares como um
hobby ou que é aceitável que ela seja temporal para
3 Adaptado de Recrutamento de Educadores de Pares (pág. 3), em Manual da Educação pelos Pares – A Educação pelos Pares: Promover com Sucesso a Saúde
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 536
Sexual e Reprodutiva dos Jovens – Guidelines FIPF Vision 2000 Funds, 2002.
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cada pessoa. O contrato que especifi que quais são as
expectativas para os/as educadores/as inter-pares torna
mais fácil a gestão do programa. Se alguém quebrar
sistematicamente este acordo, então haverá uma base
sufi ciente para questionar se as pessoas que o integram
são de facto as mais adequadas e se devem, ou não,
continuar a fazer parte da equipa.
Como exemplo de um Contrato para um Workshop
Formativo sobre a Educação Inter-pares, veja o Anexo
I.
A organização patrocinadora deve também estar de
acordo relativamente a algumas condições relativas ao
seu papel e comportamento face à formação. Ela pode,
por exemplo, assegurar que a formação vai decorrer
num ambiente seguro ou acordar em oferecer o apoio
e supervisão adequados à equipa de formação. Pode
igualmente haver um acordo sobre o incentivo, tal como
um certifi cado de participação na formação ou do serviço
prestado.
O contrato torna-se, assim, um indicador da seriedade
do programa e do compromisso assumido por ambas as
partes.
Como aprendemos a ser bons/boas educadores/as
inter-pares?
Vários pessoas devem ter algo a dizer no desenvolvimento
do plano curricular da formação destinado a um programa
de educação inter-pares, nomeadamente:
● pessoas pertencentes às populações–alvo
● pessoas com experiência em programas de
formação de educação inter-pares
● cientistas do comportamento (tais como
psicólogos/as, técnicos/as sociais e conselheiros/
as)
● coordenador(es) de programas
● formadores/as
● pessoas de populações vulneráveis relevantes
● especialistas em temas médicos e clínicos
● pais/mães
● líderes religiosos locais
● pessoas do Ministério da Saúde
● especialistas de marketing social
O curriculum pode variar em dimensão. Enquanto alguns
programas de educação inter-pares oferecem apenas
algumas horas de formação, outros oferecem mais
de 50 horas, ao longo de várias sessões e dando uma
experiência formativa mais aprofundada e adequada.
Assuntos a cobrir na formação base de educação inter-pares
● Introdução e orientação do programa;
● “Quebrar o gelo” e mobilizar as pessoas para o
trabalho em equipa;
● Redigir um contrato;
● O modelo básico holístico para a educação
inter-pares;
● Conhecimento das preocupações e interesses
dos/as participantes;
● Introdução às necessidades locais, assuntos e
problemas abordados pelo programa;
● Introdução à linguagem da sexualidade humana
● Desenvolvimento bio-psico-social;
● Reprodução humana;
● Conhecimento de valores e atitudes dos vários
intervenientes;
● Género, papéis, identidade e sexualidade;
● Orientação sexual (heterossexualidade,
homossexualidade, bissexualidade);
● Discriminação e estigma;
● Saúde sexual e reprodutiva, natalidade,
gravidez e parentalidade;
● Trauma sexual, incluindo o assédio, abuso e
violência sexual;
● Práticas sexuais seguras;
● Problemas e infecções sexualmente
transmissíveis;
● VIH/SIDA:
- informação genérica
- defi nição do problema
- informação médica básica, por exemplo a
- prevenção primária e secundária
- aconselhamento e despistagem
- tratamento
- viver com VIH/SIDA
- cuidado e apoio
● Uso de drogas e de substâncias e a dependência
química;
● Formar o formador relativamente às
capacidades de apresentação;
● Como construir uma agenda/programa para um
workshop ou uma intervenção.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 5 37
transmissão e os vários níveis de doença
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Fase 2 – Implementar um programafacilidade de compreensão. Ele propõe que um programa
deva ser perceptível se tiver como objectivo alterar
comportamentos de risco relacionados com a saúde, e
sugere que deva transmitir informação importante,
tal como, factos relacionados com a saúde (vias de
transmissão das infecções/doenças, sinais e sintomas
destas, comportamentos de risco, entre outros). Esta
informação, por si só, nem sempre é sufi ciente para
provocar uma alteração de comportamentos. Neste
sentido, o modelo propõe que um bom programa deva
também ensinar as competências comportamentais
necessárias para evitar o problema de saúde. Por exemplo,
o programa, idealmente, ensinaria os seus participantes
a utilizar correctamente um preservativo ou a forma de
negociar o sexo mais seguro com o/a parceiro/a.
As pessoas podem necessitar, também, da motivação
ou da “razão” para alterar os seus comportamentos de
risco, devendo um bom programa trabalhar o interesse
dos participantes.
Finalmente, um bom programa tornará claro onde e
como é que uma pessoa pode obter recursos de modo
a reduzir comportamentos de risco. Os recursos podem
incluir informação sobre preservativos, barras de látex
e serviços de saúde, tais como, o aconselhamento e
despiste do VIH/SIDA e das outras infecções sexualmente
transmissíveis.
Como é que o modelo funciona na educação inter-
pares
Com quatro componentes básicos, o Modelo IMCR permite
aos/às educadores/as inter-pares verifi car facilmente se
a sua agenda/programa inclui um elemento de cada um
dos quatro componentes que o integram.
Os/as educadores/as podem decidir sobre os factos mais
importantes a transmitir aos participantes e quais as
capacidades que devem demonstrar ou “modelar” (por
exemplo, através do desempenho de papéis) para a
audiência-alvo. Podem ainda encorajar o treino destas
capacidades no âmbito da acção de formação. Os/as
educadores/as podem decidir sobre qual a melhor forma
de motivar a sua audiência de modo a que esta leve a sério
a mensagem. Podem também trazer um/a convidado/a
que seja portador/a do VIH/SIDA, mostrar um vídeo que
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 5
O que faz com que tudo funcione?
Tem sido sugerido que defensores da educação inter-
pares raramente se referem às teorias quando delineiam
projectos. Alguns investigadores são da opinião de que
a educação inter-pares é um método à procura de uma
teoria, em vez da aplicação de uma teoria à prática4.
Todavia, o processo e intervenção de um programa
de educação inter-pares deveria ser apoiado por
enquadramentos ou modelos teóricos que explicam
o racional que se encontra subjacente. Potenciais
fi nanciadores sentir-se-ão igualmente mais confortáveis
perante a existência de modelos ou teorias.
Alguns educadores/as inter-pares podem estar menos
interessados/as na teoria, mas compreendê-la ajudá-
los-á a delinear as agendas e as intervenções dentro de
um contexto mais lógico e compreensível.
Têm sido propostos vários modelos e teorias para o
enquadramento dos programas de educação inter-pares,
dos quais se destacam:
Modelos relacionados com a educação inter-pares
● Modelo da Informação, Motivação, Capacidades
Comportamentais e Recursos (IMCR)5
● Modelo Trans-teórico ou de Estádios de
Mudança6
● Modelo de Crença na Saúde7
Teorias utilizadas na educação inter-pares
● Teoria da Aprendizagem Social8
● Teoria da Acção Sustentada9
● Teoria da Educação Participada10
● Teoria da Difusão da Inovação11
Para evitar listas e explicações exaustivas, este manual
explica três modelos úteis no contexto da educação
inter-pares.
Modelo da Informação, Motivação, Capacidades
Comportamentais e Recursos (IMCR)12-13 – um
modelo do “o quê”, “porquê”, “como”, “quem”,
“onde” e “quando”
Este modelo é bastante útil dada a sua simplicidade e
4 Turner G. Shepherd J. Um método em busca de uma teoria: educação pelos pares e a promoção da saúde. Health Educ. Res. 1999 Apr. 14 (2): 235-47.
5 Zielony, R e Lewis, T. (1995) adaptação baseada no trabalho de Fisher, J.D. e Fisher, W.A. Changing AIDS Risk Behaviour Psychological Bulletin, 1992: 111:455-474.6 Prochaska, J.O. & Velicer, W.F. (1997) O Modelo Trans-teórico da Alteração do Comportamento da Saúde. American Journal of Health Promotion, 12 (1), 38-48 Prochaska, J.O. and DiClemente, C.C. “Em Direcção a um Modelo de Mudança Compreensível.” Em Miller, W.R. e Heather, N. (eds.) 3-27, Tratar Comportamentos Viciados,
7 Janz, N.K. e Becker, M.H. O Modelo de Crença na Saúde: Uma Década mais Tarde Education Quarterly, 1984, II: 1-47.8 Bandura A. Fundamentos do pensamento e da acção: uma teoria cognitiva social. Engelwood Cliffs, NJ, Prentice Hall, 1986.9 Fishbein M. Ajzen, I, Crença, atitude, intenção e comportamento: uma introdução à teoria e à investigação, Reading, MA, Addison-wesley, 1975.
10 Freire P, Pedagogia dos Oprimidos, New York, Sealbury Press, 1979 .11 Rogers E. Difusão das Inovações, New York, Free Press, 1983.12-13 Zielony, R. e Lewis, T. (1994) adaptação baseada no trabalho de Fisher, J.D. e Fisher, W.A. Changing AIDS Risk Behaviour Psychological Bulletin, 1992: 111:455-
38
New York Plenum, 1986.
474 / Teorias e Modelos da Educaçãopelos Pares, Manual da Formação de Formadores em Educação pelos Pares, UNFPA 2003.
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tenha impacto, ou dar informação sobre recursos locais
sob a forma de contactos telefónicos, moradas e horários
de serviços de saúde e outro tipo de informação.
Modelo de Crenças de Saúde (MCS)14-15 – Como
é que as nossas crenças afectam os nossos
comportamentos relativamente à saúde
Originalmente desenvolvido nos anos 50 por Hochbaum,
Kegels e Rosenstock, o MCS é usado tanto para explicar
como para prever o comportamento relacionado com a
saúde. Este modelo foca-se nas atitudes e crenças das
pessoas relativamente a assuntos relacionados com
a saúde e a forma como aqueles permitem prever os
comportamentos face a esta.
O modelo sugere que agir sobre a saúde depende de
variados factores, os quais incluem aquilo que a pessoa
pensa sobre os riscos ou ameaças pessoais. A pessoa
deve, assim, ter a noção de quais são as hipóteses de
contrair ou ter determinado problema de saúde. A pessoa
pode também ser afectada pelos sentimentos de quão
provável é que uma alteração no seu comportamento
produza resultados positivos. Este modelo tem ainda
em consideração o que pode funcionar como barreiras
à mudança, tais como, custos ou difi culdades que
resultariam do facto da pessoa fazer alguma coisa.
Para além disto, este modelo sugere a possível existência
de circunstâncias internas ou externas que podem levar
a pessoa a agir. Uma destas circunstâncias pode ser um
sintoma, difi culdade física ou um acontecimento externo
que estimule a consciência sobre o problema.
Finalmente, foi sugerido que a “auto-efi cácia” deveria ser
incluída enquanto factor neste modelo16. Isto signifi ca
que os sentimentos ou percepções de que desenvolver
com sucesso um determinado tipo de comportamento
pode ter um impacto no desenvolvimento da doença.
Educadores/as inter-pares devem ser capazes de
compreender de que forma é que as suas audiências-
alvo se relacionam com estes assuntos. Os seguintes
factores/exemplos/questões-chave podem ajudar a ligar
este modelo à educação inter-pares:
Susceptibilidade percebida
A percepção que uma pessoa tem relativamente
às hipóteses ou risco em contrair um problema de
saúde. Questão-chave: Quais são as hipóteses de eu
ser infectado/a com o VIH/SIDA ou de contrair outras
infecções sexualmente transmissíveis?
Percepção da gravidade
A percepção de uma pessoa relativamente à gravidade
da condição ou problema de saúde e às consequências
que daí podem advir. Questão – chave: Quão nefasto é
contrair o VIH/SIDA ou uma IST?
Percepção dos benefícios
Esta é a percepção da pessoa face à probabilidade de
obter um ganho ou benefício positivo através da acção
ou comportamento por si desenvolvido. Questão – chave:
De que forma é que usar protecção me vai ajudar?
Percepção das barreiras
Esta é a percepção das difi culdades, nomeadamente, dos
custos psicológicos ou tangíveis, de agir de determinada
forma. Questão – chave: O que difi cultará usar protecção
ou dizer “não”?
Orientações para a acção
Estas são as situações que podem desencadear a acção
ou levar a uma alteração de comportamento. Podem ser
incidentes físicos, um sintoma que dá sinal a nível físico, ou
situações ou experiências externas, tais como relatórios
de imprensa ou outras experiências que estimulam a
acção. Questão – chave: Que tipo de situação me pode
levar a ser mais cuidadoso/a?
Auto-efi cácia
Um aditamento à teoria original, isto signifi ca a confi ança,
sentimento ou crença na capacidade de desempenhar
uma acção de forma efi caz. Questão – chave: Serei eu
capaz de me proteger efi cazmente?
Como é que o modelo funciona na educação inter-pares
O MCS pode ser muito útil na educação inter-pares uma
vez que conduz o/a educador/a a refl ectir sobre o que
é que pode levar as pessoas a usar protecção, quão
ameaçadas elas se podem sentir relativamente à doença
e quão capazes são e se sentem capazes de alterar o seu
comportamento.
Modelo Trans-teórico ou de Estádios de Mudança17–
quais os passos para alterar o comportamento?
Desenvolvido por Prochaska e DiClemente em meados
dos anos 80, este modelo sugere que a alteração
comportamental tende a ocorrer através de uma série
de passos ou estádios. De acordo com este modelo, os
estádios iniciam-se antes da pessoa ter sequer pensado
sobre ou ter contemplado a hipótese de mudar. O
modelo analisa vários estádios que a pessoa percorre
no processo de mudança de comportamento, desde o de
tomar consciência de uma necessidade até à tomada de
decisão em mudar e de manter essa mudança durante
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 5
14-15 The Communication Initiative –ctheories-Health Belief Model (Detailed) http://www.comminit.com/ctheories/sld-2929.html. Apêndice B: Selected Planning Frame
16 http://www.fhi.org/en/aidscap/aidspub/behres/bcr4theo.html#anchor224342”»Family Health International’s Webpage: Behaviour Change – a Summary of four major
17 Prochaska, J.O. and DiClemente, C.C. “Towrds a Comprehensive Model of Change” In Miller, W.R. and Heather, N. (eds.), 3-27, Treating Addictive Behaviors, New York
39Plenum, 1986.
Theories as cited in the Communication Initiative-ctheories-Health Belief Model (Detailed) http:www.comminit.com/ctheories-sld-2929.html.
works, Social Science Theories, and Models of Change in Making Health Communications Work, A Planner´s Guide http://cancer.gov/pinbook, US Dept. of Health and Human Services Public Health Service, National Institutes of Health, National Cancer Institute.
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um período de tempo. A denominação “trans-teórico” foi
escolhida dado o modelo ser inspirado em várias teorias
da alteração comportamental.
Os estádios defi nidos no modelo são:
1. Pré-contemplação – a pessoa pode não ter a
intenção de desenvolver qualquer acção e pode
nem sequer estar a pensar sobre o problema ou
o risco.
2. Contemplação – a pessoa tem intenção de agir
mas ainda não o fez.
3. Preparação – a pessoa tenciona agir e tem-se
estado a preparar para o fazer, tendo já dado
alguns passos para a alteração de comportamento
e assumido que o vai fazer no espaço de um
mês.
4. Acção – a pessoa já alterou o seu comportamento
ou já agiu.
5. Manutenção – a pessoa não só alterou o
comportamento como tem conseguido manter
o novo comportamento durante pelo menos um
período de seis meses.
Como é que o modelo funciona na educação inter-
pares?
Esta teoria foi incluída neste manual dado o seu
valor para a compreensão dos vários estádios que as
pessoas, normalmente, percorrem até alterarem o seu
comportamento, sendo valiosa quando se está a trabalhar
apenas com a pessoa e não com um grupo.
Se nunca se tiver pensado sobre um problema ou sobre
alterar um comportamento, ou ter sentido qualquer
sensação de risco ou vulnerabilidade, torna-se claro
que é necessária a criação de uma consciência sobre a
natureza do problema ou do risco. Se, por outro lado,
alguém tenha tomado a decisão de tentar mudar, o
educador de pares pode ter de se focar em ajudar pessoas
a aprender as capacidades necessárias à mudança.
Ainda noutro exemplo, e no caso de uma pessoa ter já
alterado o seu comportamento mas o efeito dos factos
que terão motivado a mudança estar a esmorecer, pode
ser necessário reabilitar aquilo que inicialmente motivou
ou inspirou a alteração de comportamento.
É importante notar que este modelo pode ser mais
difícil ou complicado de aplicar em cenários de grupo no
contexto da educação inter-pares, isto porque muitos
participantes se encontram em diferentes estádios de
mudança e o foco, tipo de abordagem ou de intervenção
podem não funcionar para todos de igual maneira.
Na defi nição de um programa para um grupo, é útil tentar
abranger todo o tipo de pessoas recorrendo a vários tipos
de actividades e de pontos focais. Parte do programa
pode dirigir-se àqueles que estão ainda na fase de pré-
contemplação e ainda não tenham pensado muito no
problema, podendo esta ser a fase de criar notoriedade
em torno do mesmo. Outras partes do programa podem
focar-se mais em ajudar aqueles que já se encontram
na fase de “contemplação” a prepararem-se para
assumir a concretizar a(s) mudança(s). Por exemplo,
alguns participantes podem necessitar de ajuda para
negociar com os seus companheiros/as os momentos de
espera relativamente às relações sexuais ou ao uso do
preservativo. Outros poderão ter já chegado à fase de
acção e necessitam de reforçar ou ajudar a manter o seu
comportamento positivo relativamente à sua saúde.
Competências e técnicas
Competências
Algumas competências são particularmente importantes
quando se trabalha com grupos VMSE:
● Paciência – necessitará de tempo para se
aproximar das pessoas que fazem parte da
sua audiência e de ganhar e manter a sua
confi ança.
● Tolerância e relação sem preconceitos – seja
honesto(a) consigo próprio(a) e esteja atento/a a
preconceitos que possa ter relativamente a estas
pessoas. Não julgue segundo os seus próprios
preconceitos mas discuta-os com docentes,
supervisores/as e colegas de equipa antes de
entrar em contacto com grupos VMSE.
● Compreender as suas necessidades – é necessário
perceber que as suas prioridades podem ser de
ordem alimentar e de habitação (é necessário
que os participantes destes grupos tenham
acesso a este tipo de bens antes de acederem
a informação e outros serviços). Além disso, as
pessoas normalmente não desejam descontinuar
ou alterar comportamentos não seguros apenas
porque lhes dirá que o seu comportamento é
de risco (por exemplo, no caso da prostituição).
Talvez seja sufi ciente ajudar a diminuir o risco ao
qual se expõem. Esta abordagem pode ser mais
produtiva e útil do que tentar oferecer-lhes um
novo tipo de vida, um trabalho ou a oportunidade
de participarem na educação inter-pares.
● Reajustamento – os seus encontros com
grupos VMSE nem sempre decorrerão como
o previamente planeado, o que implica que
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 540
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tenha de pensar rapidamente e de ajustar as
actividades planeadas de modo a que sejam o
mais construtivas e profícuas possível.
● Comunicação e Negociação adequadas –
durante o contacto com pessoas VMSE, deverá
comunicar de uma forma que resulte na
compreensão daquilo que diz e na vontade de
levar os/as participantes a cooperar consigo.
Assim, apreender as técnicas que potenciem a
aproximação torna-se essencial (veja a caixa de
texto intitulada “Comunicação”).
Técnicas de Comunicação:
Conselhos da comunidade VMSE
Educadores/as inter-pares que trabalham connosco
nos grupos VMSE necessitam de compreender como
nos contactar e devem ser capazes de se adaptarem às
regras estabelecidas.
O trabalho connosco deve tomar a forma de interacção
“de uma para uma“. Por exemplo, no caso de pessoas
envolvidas na prostituição, no qual a presença de uma 3ª
pessoa pode constituir um obstáculo à comunicação. (Isto
é igualmente aplicável a muitos outros grupos, tal como
o de jovens em campos de refugiados ou instituições).
Um contacto breve, que dure alguns minutos pode ser
muito efi caz numa primeira conversa. Não insista em
encontros longos, nem deixe que se prolonguem mais do
que aquilo que é desejado pelos participantes.
Onde ocorre o encontro
É importante que o local do encontro connosco seja mais
comum e aceitável para nós do que para si, o/a educador/
a inter-pares. Pode ser na rua, num parque, na periferia
da cidade ou num campo de refugiados. Pode ser num
café ou em qualquer outro lugar onde habitualmente nos
veja (chamados “workshops em ambiente”). É irrealista
que assuma que nos desloquemos ao seu clube ou à sua
organização. Com o decorrer do tempo e no momento em
que tenha sido construída uma confi ança mútua, poderá
desenvolver um trabalho mais de acordo com as regras
estabelecidas, tais como os convencionais workshops de
grupo.
Deve também modifi car as técnicas de trabalho de acordo
com as nossas necessidades. Enquanto educador/a
inter-pares, deverá desde o início reconhecer bem estas
necessidades, sendo importante passar algum tempo
connosco, nos locais onde vivemos, e conhecer as nossas
capacidades, necessidades e atitudes.
Comunicação
Em primeiro lugar, deve estudar os nossos canais de
comunicação e ajustar o tipo de linguagem, tendo em
consideração a forma como melhor apreendemos a
informação.
Fotografi as e brochuras apelativas que “falam”
directamente connosco são suportes mais efi cazes do
que os estudos com informação científi ca. Este tipo de
dados é importante para o trabalho desenvolvido junto
de pessoas iletradas, com baixa escolaridade ou que não
falam a língua do país onde residem.
É também importante ter atenção aos elementos do nosso
grupo que têm menores capacidades de compreensão.
Nestes casos, pode usar fi lmes de curta duração com
música apropriada, sem texto ou legendas.
O desempenho de papéis é também importante no
desenvolvimento de competências e na divulgação de
informação. A simulação (por exemplo, a demonstração
do uso do preservativo masculino ou feminino com
o recurso um modelo anatómico base) pode ser mais
efectiva do que qualquer tipo de material escrito.
Naturalmente, as pessoas que vivem com grupos VMSE
compreendem melhor as necessidades dos seus pares.
Para procurar canais efectivos para comunicação, pode
procurar alguém que ajude a implementar o programa
(tal como um líder informal de um grupo ou organização
juvenil, ou jovens de grupos VMSE). Isto pode resultar
numa relação mais próxima e efectiva e pode oferecer
uma valiosa informação de apoio sobre o grupo–alvo. É
bom para a pessoa que assume este papel obter formação
sobre educação inter-pares através do vosso programa.
Se não vivermos no seio de um grupo VMSE e não
experimentarmos as suas condições de vida, saberemos
muito menos sobre as suas necessidades do que aqueles
que o fazem. Devemos conhecer estes grupos bem
como as suas necessidades através de pessoas que os
representam. Estas são as melhores pessoas para ensinar
sobre as suas necessidades, motivações e expectativas.
Uma forma muito efi caz de obter esse tipo de insights/
contributos é através da organização de focus grupos.
Trabalhar com focus grupos ou grupo focal
Os focus grupos são habitualmente constituídos por 6 a
12 pessoas que apresentam características homogéneas,
por exemplo, o género, o mesmo intervalo de idades,
educação, cultura, profi ssão, orientação sexual ou
outras. Por exemplo, um focus grupo com raparigas e
mulheres envolvidas em actividades prostitutivas pode
ter mais sucesso se não incluir rapazes e homens, dada
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a natureza íntima e pessoal de algumas questões. Os
encontros de grupos focais devem decorrer em ambientes
confortáveis e simpáticos onde participantes se possam
sentir à vontade de modo a facilitar o espírito de grupo.
Após a apresentação do/a educador/a e dos/as
participantes e de ter sido criada uma atmosfera positiva,
o/a educador/a explica porque é que aquele grupo está
reunido e aquilo que vai ser discutido (por exemplo, o uso
da contracepção). O/a educador/a terá já previamente
preparado as questões a colocar a todo o grupo.
O/a educador/a deve incentivar a participação sem criticar
ou julgar as opiniões dos/as participantes, posicionando-
se apenas como moderador/a. O objectivo é aprender
o mais possível sobre as experiências dos membros
do grupo de modo a planear actividades futuras (por
exemplo, a melhor forma de ensinar pessoas dos grupos
VMSE sobre a temática da contracepção). As regras
aplicadas aos workshops são aquelas que aplicam aos
focus grupos.
O focus grupo tem uma duração normal de uma hora,
uma hora e meia. O/a educador/a deve ser fl exível,
amigável e cuidadoso/a no sentido de assegurar que
cada participante tenha espaço e tempo para intervir e
dizer o que desejar e que ninguém monopolize o tempo.
Quando uma questão fi ca respondida, o/a educador/a
segue para a seguinte e assim procede até ao fi nal do
conjunto de questões defi nidas.
A pessoa que organiza o grupo focal/focus grupo
pode assegurar igualmente que esteja presente
um/a observador/a cuja tarefa seja a de registar
cuidadosamente as respostas e refl exões de todos
os participantes, mas sem gravar os seus nomes de
modo a manter a sua privacidade. O observador deverá
registar também o ambiente em que decorre o grupo
focal e procurar experiências e refl exões semelhantes.
O/a observador/a deve ser apresentado/a ou deve-se
identifi car no início do encontro.
No fi nal, deve ser dada a oportunidade aos participantes
de dizerem algo que não foi possível dizer no decorrer
do encontro ou de formularem as questões que
entenderem. Para retirar o melhor partido do focus grupo
é aconselhável que o/a educador/a seja apoiado por
outras pessoas educadoras, supervisores, consultores e
outros especialistas na preparação, facilitação e análise
dos resultados do encontro.
Técnicas
As técnicas mais utilizadas no trabalho de grupo são:
● trabalho individual
● trabalho em pares ou em pequenos grupos
● criação e discussão de ideias (brainstorming)
● técnica do “aquário” conversação “em círculo”
● desempenho de papéis
● discussão de grupo
● jogos
● workshops criativos
● avaliação
● apresentação de vídeos
Trabalho individual
Cada participante no grupo é envolvido separadamente
numa tarefa específi ca; é focado nas suas atitudes e
pensamento e procura a sua própria solução ao problema
proposto.
Quando se trabalha desta forma, é importante que o/
a educador/a sublinhe que não existem respostas boas
nem respostas más mas que todas as respostas são
válidas uma vez que refl ectem um insight pessoal. O/
a educador/a deve encorajar os/as participantes mais
hesitantes a exprimir as suas opiniões pessoais sobre os
problemas em questão sem, porém, forçar ou colocar as
pessoas pouco à vontade.
Trabalhar em pares ou em grupos pequenos
Pares ou grupos de quatro a seis participantes – o
número óptimo de num grupo pequeno – são envolvidos
numa determinada tarefa. Os diferentes grupos devem
estar sufi cientemente separados uns dos outros de modo
a trabalharem isolados de factores de distracção.
Os/as participantes são divididos aleatoriamente por
pares ou grupos pequenos, devendo ser reagrupados
de acordo com cada nova tarefa distribuída. Cada
grupo pode eleger o/a seu/sua líder ou facilitador para
registar as conclusões a que chegaram, devendo ainda
escolher a pessoa que irá apresentar os resultados a
toda a audiência do encontro. Esta pessoa não se deverá
esquecer das limitações de tempo e deverá assegurar
que os participantes do grupo respondam aos assuntos
abordados.
Criação e discussão de ideias (brainstorming)
A criação e discussão de ideias em grupo é uma técnica
que envolve uma contribuição espontânea de ideias por
parte de todos os elementos do grupo, sendo pedido
a estes que façam associações livres a determinado
assunto, utilizando apenas uma ou poucas palavras para
expressar as suas ideias. O/a educador/a inter-pares
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deverá registar as ideias apresentadas num quadro ou
papel de cenário. Este é um bom método para envolver
todo o grupo e para pensar livremente sobre um assunto,
podendo ser igualmente usado para a resolução de
problemas, em grupo.
Através desta técnica os/as participantes geram todo
o tipo de respostas, e o/a educador/a de pares que
facilita o processo deve anotá-las e nunca agir de forma
apreciativa relativamente ao valor das ideias expressas.
No fi nal, o grupo pode categorizar ou organizar as ideias
apresentadas e discuti-las abertamente. Esta é uma
boa forma de o/a educador/a inter-pares ter uma ideia
do pensamento e do conhecimento que o grupo tem
relativamente a um dado assunto.
Técnica do “aquário”
Um par ou um pequeno grupo desenvolve uma
determinada actividade no centro de um círculo, com os
restantes participantes a agir como observadores que
irão fazer comentários e dar sugestões após a sessão.
No caso dos participantes actuarem junto de um grupo
maior, dever-se-ão preparar antes, organizando-se em
grupos pequenos e ganhar confi ança.
Conversação “em círculo”
Os/as participantes discutem determinados assuntos
pela ordem seguinte: o primeiro a começar é aquele
que se senta à esquerda (ou à direita) do/a educador/
a, sucedendo-se aquele que está ao seu lado, e assim
sucessivamente até o círculo estar completo.
O/a educador/a assegura-se que todas as pessoas no
grupo se ouvem uma às outras. É possível usar a regra
“passo” que permite aos participantes que não estejam
à vontade não terem de falar, passando a palavra ao
elemento seguinte. Estes participantes podem e devem,
porém, ser incluídos na conversação depois de iniciada a
conversa, se assim o desejarem.
Desempenho de papéis (actuação)
O desempenho de papéis (actuação) é uma técnica
na qual pares ou um grupo de pessoas simulam ou
desempenham situações do dia-a-dia. As personagens,
as situações e os conteúdos são pré-defi nidos tendo em
conta as suas relações e identidade pessoal.
Outra hipótese que pode tornar a actuação num método
de entretenimento fascinante é a improvisação. Criam-se
diálogos e cenas ao longo do jogo tomando parte activa
na construção e no desenrolar da história.
Esta técnica pode ser utilizada para apresentar um tema e
explorar atitudes e valores, podendo igualmente ajudar-
nos a conhecer-nos a nós próprios, praticar a tolerância
e analisar os nossos próprios comportamentos. Após
a actuação, o/a educador/a coloca questões de forma
a facilitar a discussão sobre como as personagens se
comportaram e de como os cenários eram semelhantes
ou diferentes dos da vida real. O/a educador/a pode
ainda perguntar às pessoas se elas podem pensar
em orientações ou estratégias alternativas que as
personagens podiam ter tomado ou utilizado.
Discussões de grupo
As discussões são oportunidades para partilhar ideias
e refl exões sobre determinado tema e para analisar
atitudes. Aqui, o papel do/a educador/a é seguir a direcção
da discussão, para estimular a participação de todos os
elementos, colocar questões, ouvir os participantes e,
no fi nal, sumariar as conclusões fi nais resultantes da
intervenção de todas as pessoas.
Avaliação
A avaliação é uma resposta àquilo que foi conseguido na
educação inter-pares. É importante que os/as educadores/
as saibam utilizar técnicas de avaliação em qualquer
programa que defi nam. A avaliação permitirá obter um
quadro claro de quão bem as pessoas apreenderam a
informação, assim como o seu grau de satisfação face à
formação.
O pré e pós-teste é uma boa ferramenta para avaliar
o grau de informação dos/as participantes face ao
tema. A fi cha de avaliação é anónima, com questões
breves e de escolha múltipla. Isto ajudará quem planeia
os programas a melhorar os seus métodos quando
desenham actividades futuras de educação inter-pares.
Algumas destas ideias são descritas com maior detalhe
na fase 3 “Monitorizar e Avaliar”
Criar um ambiente de aprendizagem adequado
É tarefa do/a educador/a de pares criar e manter os
ambientes de aprendizagem mais adequados para a
educação inter-pares, tanto em sala como no campo. Este
ambiente deve ser tanto física como psicologicamente
seguro e confortável. O espaço de formação óptimo deve
ter tantos dos atributos defi nidos nas listas seguintes
quanto possível.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 5 43
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Espaço psicológico – uma checklist
● Desenvolvimento de um conjunto de regras base,
tais como um contrato criado com os contributos
dos participantes.
● Uma atmosfera de ensino positiva na qual é
estimulada a participação e a produção de ideias
é motivada e não julgada.
● Respeito pela confi dencialidade pessoal.
● Protecção através de uma cuidadosa supervisão
psicológica para que o conteúdo do ensino não
seja demasiado surpreendente ou distante para
os/as participantes.
● Um conjunto de referências de recursos médicos
e psicológicos para o caso da ocorrência de uma
emergência médica ou de um/a participante
sentir a necessidade de debater/analisar assuntos
pessoais com profi ssionais.
● A capacidade do líder excluir um participante
do programa, no caso de este constituir uma
ameaça à segurança e bem-estar de outros
participantes.
● A possibilidade de crescer e aprender em
equipa.
● Oportunidades para visitas de terreno.
● A capacidade de apoiar a resolução de confl itos
logo que a necessidade surja.
● Aceitar que toda a gente é igualmente importante
e merecedora de respeito em qualquer
circunstância, e a obrigatoriedade do mesmo.
● Consentimento parental da participação de
menores no programa, quando se justifi car
● Um ambiente que transmita aos participantes
que a sua participação é útil.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 5
Espaço físico – uma checklist
● Espaço para trabalhar confortavelmente, tanto
sentado como a andar de um lado para o outro.
● Assentos confortáveis ou um espaço cómodo
para se sentarem.
● Temperatura agradável.
● Luminosidade adequada.
● Bom isolamento do ruído exterior.
● Boa acústica do espaço, que permita que as
pessoas se possam ouvir umas às outras.
● Nada que distraia visualmente os participantes e
isolamento face a olhares do exterior.
● Comida e bebidas adequadas nos momentos de
intervalo.
● Espaço que permita que todas as pessoas se
vejam umas às outras.
● Um espaço em local seguro.
44
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Fase 3 - Monitorizar e avaliar
qualquer programa de educação inter-pares que esteja
a decorrer de modo a garantir o conhecimento integral
do processo. Estes programas são criados para atingir
metas e objectivos muito específi cos, pelo que uma boa
avaliação e monitorização clarifi carão os seus progressos
e conquistas.
Monitorização
Monitorização corresponde a avaliar quantitativamente a
operacionalização do programa.
Ela verifi ca o que está a acontecer diária e mensalmente,
tal como o número de eventos educacionais ou sessões de
formação desenvolvidas, o número de formandos ou de
pessoas do grupo – alvo abrangidas e outros objectivos
que possam ter sido previstos no plano do programa.
Avaliação
Existem dois grandes tipos de ferramentas de avaliação
utilizadas na visualização do sucesso do programa – a
avaliação de processo (as séries de acções direccionadas
para os objectivos do projecto) e a avaliação dos
resultados (ou de impacto) do programa junto dos
seus grupos – alvo. Além disso, os dois tipos de medição
que as pessoas utilizam para avaliar o funcionamento
do programa são de carácter qualitativo (relativo à
qualidade de alguma coisa) e quantitativo (relativo à
quantidade ou frequência de algo).
Embora estas palavras possam parecer de carácter
técnico, é importante conhecê-las e apreender o seu
signifi cado.
A avaliação de processo refere-se ao levantamento do
grau de cobertura e de concretização das actividades que
foram planeadas no âmbito do programa.
Os principais dois sub-componentes para monitorizar o
processo na educação inter-pares são:
● o processo de formação de educadores/as inter-
pares;
● as actividades desenvolvidas por educadores/as
inter-pares18.
Num livro de referência sobre a monitorização e avaliação
de programas de VIH/SIDA dirigidos a jovens, os autores
Webb e Elliot descrevem alguns dos indicadores que
podem ser usados para medir tanto a formação como as
actividades desenvolvidas por educadores/as19.
Aspectos importantes na formação de educadores
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 5
Conhecer os seus limites enquanto educador/a
inter-pares
Para além das oportunidades para crescer e para
fazer a diferença que a educação inter-pares oferece,
existem também riscos na tentativa de atingir grupos
VMSE através deste tipo de educação. Alguns dos
riscos advêm da tentativa de empoderar pessoas que
podem não conseguir posicionar-se como especialistas
ou profi ssionais quando lidam com assuntos sensíveis
e importantes relacionados com a saúde com pessoas
vulneráveis. Isto lembra a necessidade de boa/adequada
formação e supervisão de educadores/as inter-pares sob
pena de veicularem informação incorrecta, serem pouco
motivadores enquanto modelos a seguir ou reforçarem
preconceitos existentes. Além disso, se não forem
adequadamente formados para entender a natureza dos
limites relativos a assuntos como a sexualidade humana,
podem inconscientemente desenvolver comportamentos
pouco empáticos ou inapropriados ou desculpar tais
comportamentos no grupo. No entanto, muitos destes
riscos podem, igualmente, ocorrer dentro de sistemas
mais tradicionais se não houver sufi ciente e adequada
formação e/ou desempenharem correctamente as suas
funções.
Podem também existir riscos para os/as educadores/as
se forem trabalhar para ambientes hostis ou perigosos
sem supervisão. Algumas audiências podem rejeitar a
“franqueza” do discurso de educadores/as inter-pares,
outras podem questionar o valor das pessoas enquanto
educadoras inter-pares, outras podem, ainda, estar
cansadas de ouvir falar sobre os temas e criar resistência
à participação no programa.
Educadores/as inter-pares que não tenham experiência
em interagir com certos grupos ditos vulneráveis podem
acabar por alinhar em comportamentos arriscados
se não forem bem formados e supervisionados. Uma
supervisão próxima feita por profi ssionais bem treinados
e cuidadosos é a forma mais efi caz de assegurar que a
experiência educacional seja apropriada e efi caz tanto
para participantes como para os/as educadores/as inter-
pares.
Assegurar o sucesso quer da monitorização quer
da avaliação
É importante monitorizar e avaliar correctamente
18 Adaptado de: Learning to Live: Monitoring and evaluating HIV/AIDS programmes for young people, Webb. D., and Elliot, L., Save the Children Fund, 2000.
19 Veja a nota 7 pág. 22.
45
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incluem:
● Processo de formação;
● Informação recebida ou o que os educadores/as
aprenderam através da formação;
● Estratégias de ensino aprendidas sobre como
negociar a utilização de preservativo;
● Alterações nas suas vidas em resultado do seu
envolvimento no projecto.
Os autores assinalam também que o processo de
monitorização pode focar-se na produção de dados, o
que demonstra que educadores/as estão a desenvolver
as actividades especifi cadas e a obter um grau de
cobertura relevante.
Medições das actividades de educadores/as
incluem:
● Proporção de educadores de pares e de grupos
de educadores/as activos/as por área;
● Taxa de desistência de educadores/as inter-
pares;
● Número de pessoas atingidas por área
(segmentadas por idade e género, se possível)
● Número e frequência das sessões;
● Número de preservativos masculinos e femininos
distribuídos gratuitamente ou distribuídos através
de acções de marketing social;
● Número de pedidos de preservativos;
● Número de materiais de informação, educação
e comunicação distribuídos (tais como posters e
folhetos);
● Questões colocadas por participantes em
encontros.
Monitorização e avaliação bem sucedidas: um exemplo
do Vietname.
Hoje existem sistemas concebidos para monitorizar e
avaliar programas de educação pelos pares delineados
para atingir pessoas de grupos VMSE e que estão a
contribuir para o sucesso destes programas e para a
melhoria de esforços futuros20.
Num dos exemplos, a educação inter-pares foi utilizada
para atingir jovens utilizadores de drogas na cidade de Ho
Chi Minh, no Vietname. Como resultado deste projecto,
foram construídos indicadores específi cos que podem ser
utilizados em inquéritos sobre o conhecimento, atitudes e
práticas (veja o Inquérito KAP no glossário), constituindo
uma ferramenta para monitorizar o programa.
A seguir, encontra uma versão adaptada da lista dos
indicadores. Alguns deles, adaptados apropriadamente,
podem aplicar-se a outros grupos. Ao longo do tempo,
estes indicadores podem ser usados na avaliação de
impacto de muitos projectos de educação inter-pares.
Indicadores
Cobertura
● Número de pessoas contactadas na população–
alvo;
● Número de bens de prevenção distribuídos (por
exemplo: seringas e preservativos);
● Número de utilizadores de drogas injectáveis e
trabalhadores de sexo que recebem preservativos
e seringas/agulhas.
Resultados
● Percentagem da população – alvo que fuma, usa
drogas injectáveis ou tem sexo não protegido;
● Percentagem de pessoas que sabe onde comprar
ou aceder a preservativos e equipamento de
injecção esterilizado;
● Perfi l de idades da primeira utilização de drogas
ou primeiras relações sexuais não protegidas;
● Percentagem de crianças/jovens da população
– alvo que informa ter seringa própria ou não ter
preservativos;
● Percentagem de crianças/jovens que percepciona
a sua vulnerabilidade ao VIH;
● Percentagem da população–alvo que já fez o
teste ao VIH.
Estes indicadores mostram algumas das formas como se
pode monitorar o sucesso de um projecto e o seu impacto
numa comunidade vulnerável. Com uma monitorização e
avaliação adequadas, é possível adaptar ou replicar as
lições aprendidas num projecto noutras áreas ou junto
de outras populações.
Conhecer a importância da avaliação
Há alguma tendência para evitar os detalhes da
monitorização e da avaliação de programas de educação
inter-pares. Aqueles que podem não estar “inclinados”
para estudar o trabalho desenvolvido no âmbito de
um programa, preferindo dar continuidade à educação
inter-pares no terreno, podem não ter a noção de quão
importante e essencial é o processo para o sucesso global
do programa bem como para a sua sustentabilidade.
Pode existir a tendência para ver e sentir, intuitivamente,
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 5
20 Reaching marginalized young people: the case of peer education for drug users em Ho Chi Minh City, Vietnam, em Learning to Live: Monitoring and evaluating HIV/AIDS
46
programmes for young people, Webb. D., and Elliot, L., Save the Children Fund, 2000.
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que as coisas parecem estar a correr muito bem. De
acordo com várias perspectivas, porém, isso não é
sufi ciente. Entidades fi nanciadoras e promotoras do
programa vão querer saber que o seu apoio está a ser bem
aplicado. É necessário tentar medir se o programa está
realmente a ter impacto no conhecimento, competências
comportamentais, motivação ou em tudo aquilo que
estiver incluído nas metas quantifi cáveis do projecto.
É frequente, no fi nal de um workshop de educação inter-
pares, a equipa de formadores/as sair com a sensação
de foi muito bem sucedida. No entanto, quem questiona
o valor da educação inter-pares vai de facto querer saber
se o programa tem impacto no comportamento ou,
simplesmente, deixa uma boa sensação nos participantes,
algumas vezes referida como “o factor sentir-se bem”.
Sem conhecer o processo do programa é difícil identifi car
qual terá sido o problema quando alguma coisa corre
mal ou quando, de alguma forma, o programa foi mal
sucedido.
Num manual de educação inter-pares produzido pela
IPPF em 2002 pode ler-se:
“A monitorização e a avaliação das actividades
desenvolvidas por educadores/as inter-pares devem
ser cuidadosamente planeadas, recorrendo a técnicas
quantitativas e qualitativas para identifi car as forças e
fraquezas do projecto.
A monitorização das actividades de educadores/as
inter-pares pode ser desenvolvida por colaboradores
no projecto, educadores mais experientes e também
por membros da comunidade, tais representantes da
direcção do projecto e docentes.
Os procedimentos da monitorização podem incluir visitas
de supervisão, relatórios de actividades e encontros
regulares. A utilização de discussões e inquéritos
qualitativos junto de grupos focais que incluam tanto
benefi ciários do programa como educadores inter-pares,
poderá oferecer contributos para introduzir melhorias no
projecto em áreas específi cas.
As avaliações do projecto devem incluir indicadores de
processo e de impacto. As ferramentas de avaliação
devem ser bem formuladas e dirigir-se a outputs e
realizações específi cas da educação inter-pares. Por
exemplo, a informação processual recolhida pode
incluir o número de jovens abrangidos através dos
workshops e o número de preservativos distribuídos. O
impacto pode ser medido através de questionários pré
e pós programas e questionários comportamentais. A
informação recolhida para efeitos de monitorização e
avaliação deve ser compilada, analisada e disseminada
sistematicamente para que lhe possa ser atribuída algum
valor. Nos casos em que isto é feito de forma efi caz. A
monitorização pode representar uma contribuição vital
para o planeamento e gestão do programa. A referência
a informação quantitativa apoiará também a evolução do
impacto e constrangimentos do programa”21.
Para uma explicação mais detalhada sobre métodos de
investigação da avaliação que podem ser utilizados nos
programas de educação inter-pares, consulte Learning to
Live: Monitoring and Evaluating HIV/AIDS Programmes for
Young People, Save the Children Fund, 2000. Esta edição
contém ideias relevantes sobre programas dirigidos a
jovens, relações com intervenientes, opções estratégicas
para abranger jovens e uma grande variedade de ideias
úteis para delinear a avaliação de programas.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 5
21 De: Monitoring and evaluation pg.12, Peer Education Manual – Peer Edducation: Successfully Promoting Youth Sexual and Reproductive Healht – Guidelines IPPF Vision
47
2000 Funds, 2002.
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secção 6
Trabalhar com grupos vulneráveis, marginalizados e socialmente excluídos
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Secção 6 – Trabalhar com grupos vulneráveis, marginalizados e socialmente excluídos
Grupos Vulneráveis: uma defi niçãoSe procurar a palavra “vulnerável” no dicionário,
provavelmente encontrará todo o tipo de palavras que se
relacionam com ela: indefeso, desprotegido, susceptível,
fraco, criticável, ferido, atacável e em perigo/risco.
As defi nições da palavra “marginalizado” descreve as
situações que estão na margem ou na fronteira, fora
do percurso dominante sem importância fundamental.
Os objectos marginalizados são defi nidos como estando
localizados na linha divisória da consciência e às vezes
perto do limite mais baixo da qualifi cação, aceitação ou
função.
Uma vez que a palavra “social” se refere à sociedade
e o termo “exclusão” signifi ca estar fora ou distante
de um local, grupo ou privilégio, a “exclusão social”
refere-se às situações em que as pessoas são afastadas
de privilégios ou de se incluírem nos aspectos sociais da
sociedade que se encontram acessíveis a outros. Esta
exclusão pode ocorrer no âmbito de uma diversidade de
eventos sócio-culturais, encontros, clubes, sociedades,
grupos de apoio, eventos culturais e outros. Enquanto
o ser marginalizado se refere a uma posição de limite,
de fronteira da cultura, embora existindo o potencial de
fazer parte dela mesmo que não numa posição central,
a exclusão social é um termo mais forte, sugerindo que
uma pessoa ou o seu grupo não seja de modo algum
incluído nessa sociedade, ou seja, em risco de rejeição.
O impacto pode ser similar para grupos marginalizados
e socialmente excluídos. Por exemplo, numa comunidade
onde a educação sexual seja providenciada pelo sistema
escolar, podem não haver materiais ou programas
culturalmente sensíveis e adequados às populações
marginalizadas ou socialmente excluídas. O programa
pode ser defi nido para atingir apenas a cultura vigente
ou dominante.
Níveis de tolerância
Em algumas culturas, se somos homossexuais podemos
ser tolerados, mas nunca aceites ou bem-vindos. Neste
contexto, os programas de educação sexual num sistema
escolar pode, pelo menos, reconhecer a nossa existência
e possivelmente fornecer alguns materiais de apoio à
aprendizagem. Noutras culturas, a intolerância pode
ser tão absoluta que as pessoas com uma orientação
homossexual são socialmente excluídas. Neste tipo de
comunidades, pode não existir nenhuma referência sobre
homossexualidade. Se existir uma referência, pode ser
para sugerir segregação, punição ou penalização. Aqui,
a exclusão social pode levar a uma completa falta de
materiais e recursos para as pessoas com a mesma
ou diferente orientação sexual aprenderem sobre
sexualidade.
A forma como a sociedade trata os grupos marginalizados
ou socialmente excluídos pode tornar-nos vulneráveis,
embora possamos ganhar força através da nossa defesa
e auto-capacitação.
Causas potenciais
Existem várias causas potenciais para a vulnerabilidade e
marginalização no seio das populações e dos indivíduos.
Estas causas podem ter as suas raízes em aspectos
de ordem biológica, física, psicológica, sócio-cultural,
económica, étnica, religiosa, ambiental, histórica e
política.
Quaisquer que sejam as razões, existem programas
especifi camente delineados para ter em consideração
a vulnerabilidade e a marginalização. O objectivo é
reduzir as ameaças às pessoas que possuem este tipo de
vulnerabilidades e reforçar as suas defesas.
Neste manual, o termo “vulnerável” descreve grupos
mais expostos ao risco ou menos bem protegidos do que
a “corrente comum” da sociedade. Os grupos tradicionais
podem ter alguma susceptibilidade a problemas de
saúde, incluíndo a sexual e reprodutiva, embora menor
que estes grupos.
Na secção seguinte, o leitor é convidado a olhar para
o mundo da vulnerabilidade de um modo que desloca
a experiência das meras palavras para a imaginação e
recordação pessoal.
Quando os/as jovens tomam conhecimento dos
lados mais difíceis da vida
Pode ser um pouco difícil ou mesmo desconfortável
pensar e aprender sobre vulnerabilidade e exclusão social
dado estas experiências de vida estarem frequentemente
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6
51
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associadas à dor, trauma, tristeza e dureza. A vida para
algumas pessoas dos grupos mais vulneráveis das nossas
sociedades apresenta, por vezes, elementos de tragédia.
Porém, pode haver o potencial para a mudança, para o
sucesso e para a felicidade.
Pode-se pensar que não é justo expor rapazes e raparigas
às facetas mais difíceis da vida. Por outro lado, por
vezes não é dada importância sufi ciente a este facto,
sendo muitos jovens com acesso à televisão, jornais,
internet ou à própria vida de rua, diariamente expostos
a novas notícias ou outras evidências relacionadas
com discriminação, violência, guerra, abuso, crime e
vitimação.
Enquanto educadores/as de pares temos conhecimento
das difi culdades no contexto da educação inter-pares,
temos de nos capacitar para fazer a diferença no mundo
dado que podemos transformar a tristeza em energia
para uma vida positiva e tentar melhorar a vida de outros
jovens.
Tornar a educação inter-pares mais pessoal
Enquanto educadores de pares que tentam ajudar
pessoas oriundas de grupos VMSE, como é que
poderemos compreender as suas vulnerabilidades a um
nível pessoal? Isto pode acontecer naturalmente com
alguns de nós devido às nossas situações de vida. Talvez
nós sejamos, ou tenhamos sido, membros de grupos
marginalizados, vulneráveis ou socialmente excluídos.
Para os restantes de nós, poderemos ter de olhar para
dentro de nós e recorrer à nossa imaginação, temos
de ir além das palavras e chegar ao nosso coração, às
nossas experiências. Vamos dar-nos alguns momentos
para pensar sobre a vulnerabilidade. Tentem imaginar
algumas das situações seguintes, as quais podem ou não
ser-lhe familiares.
Há dias em que nos sentimos mais fortes, no topo,
energéticos e optimistas relativamente à gestão da nossa
vida. Outros dias podemo-nos sentir menos confi antes,
menos entusiasmados e “em baixo”, menos seguros e
mais ameaçados pelo que nos rodeia. Causas diferentes
podem estar na origem destes vários estados de espírito,
algumas internas, outras externas. O importante de
notar é que existe uma diferença entre estas sensações.
Em certos dias sentimo-nos mais fortes, como se nada
nos pudesse fazer mal, e noutros dias sentimo-nos mais
vulneráveis. O reconhecimento destas diferenças pode
abrir caminho a uma melhor compreensão ou recordação
de como é estar vulnerável.
Um estranho num local hostil – a perspectiva sócio-
cultural
Talvez já tenha viajado até um local, vila, cidade ou
país menos familiar. Já alguma vez se sentiu ameaçado
nessa situação? Talvez não tenha encontrado alguém
que o pudesse ajudar. Talvez as características físicas
como o vestuário, a cor da pele ou outras possam tê-lo
distinguido e tornado diferente daqueles que o rodeavam,
tendo eventualmente sentido que as pessoas o acharam
um estranho.
Pergunte-se a si próprio…
● Como se sentiu?
● As pessoas olharam para si porque era
diferente?
● Sentiu a hostilidade de algumas pessoas face
à sua pessoa, talvez por alguma razão que não
conhecesse ou compreendesse?
● Já alguma vez esteve num local onde pensasse
que se as pessoas soubessem quem era, ou de
onde vinha, poderia estar efectivamente em
perigo?
Imagine estes vários cenários durante alguns momentos.
Imagine que uma palavra ou a aparência, ou o facto
de alguém reconhecer alguma coisa sobre si o poderia
colocar em perigo. Está neste momento a entrar no
mundo do estigma, do preconceito e da discriminação.
Quando o seu corpo é vulnerável – a perspectiva
biológica ou física
Dediquemo-nos agora um pouco a uma refl exão sobre a
vulnerabilidade biológica e/ou física. De que forma é que
as seguintes palavras ou situações o fazem sentir? Já
alguma vez as experimentou?
Pense sobre…
● Quando esteve a correr ou a fazer bastante
exercício fi ca completamente ofegante e sente
uma dor pontiaguda num dos seus membros;
● Quando esteve doente e com uma febre elevada
ou quando sofreu de uma gripe tão violenta que
mal conseguia levantar a cabeça da almofada;
● Quando é que já esteve numa situação de fome,
sede ou desidratação extrema;
● Se já alguma vez teve uma incapacidade física
de alguma ordem;
● Quando partiu um membro do corpo e
possivelmente necessitou de algum tipo de apoio
ou de ser engessado;
● Quando é que se deslocou a uma clínica a foi
sujeito a um exame genital, tanto para um exame
ginecológico como para um despiste a IST ou a
uma hérnia;
● Quando fez um teste de despiste à infecção pelo
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VIH e depois esperou pelos resultados;
● Se sentiu com medo de ser assaltado por alguém
que era maior e mais forte e/ou estava bêbado
ou fora de controlo;
● Se foi capturado ou ameaçado com uma arma.
Sentir-se emocionalmente vulnerável ou o “bode
expiatório” num grupo – a perspectiva social ou
psicológica
Relativamente à vulnerabilidade psicológica.
Pergunte-se a si próprio…
● Já alguma vez se sentiu ansioso, amedrontado,
triste ou deprimido?
● Já alguma vez perdeu alguém que amava?
● Já alguma vez se sentiu confundido sobre quem
é ou como comportar-se?
● Já alguma vez se sentiu perdido ou só?
Para compreender a vulnerabilidade social, podemos
pensar sobre se alguma vez demos conta de nos sentirmos
rejeitados ou não aceites num grupo de pessoas, ou se
fomos um “bode expiatório”. Já alguma vez sentiu que
algum jovem estava a ser gozado e posicionado como
“bode expiatório”. A pessoa escolhida pode sentir-se
realmente mal.
Imagine…
Pense na forma como as pessoas homossexuais são
tratadas, especialmente entre jovens. Imagine que é
heterossexual e que de repente todos à sua volta são
homossexuais. Imagine que muitas das brincadeiras e
insultos são direccionados a heterossexuais. Imagine que
se torna um verdadeiro insulto chamar “heterossexual”
a alguém.
A perspectiva ambiental
Já alguma vez esteve num local ou num ambiente que
parecia perigoso?
Poderiam existir inúmeras razões associadas a este
perigo. Pode ser um local onde o ar está muito poluído.
Talvez já tenha estado num local onde existia um tipo
de fumo que o fez sentir que estava a afectar os seus
pulmões, fazendo-o suster a respiração ou cobrir a sua
boca com um pano através do qual respirava. Pode já
ter tido dúvidas face à qualidade da água mas não tinha
nada para beber, pode já ter estado num lugar gelado,
frio e húmido sem possibilidade de se aquecer ou de se
secar durante algum tempo.
Muitas pessoas vivem em sítios pouco saudáveis devido
a várias razões, incluindo razões de ordem económica.
Esta situação pode apenas ser alterada através de
uma forte defesa e consciência pública. Tentar sair de
condições de vida perigosas pode colocar riscos de outra
ordem se, por exemplo, as pessoas não tiverem recursos
económicos para residir em ambientes mais seguros.
Pessoas menos escrupulosas, sabendo da vulnerabilidade
de uma pessoa podem tentar aproveitar-se da situação
oferecendo-lhes uma situação “melhor”. A altura em
que a pessoa perceber que tal não aconteceu pode
ser tarde demais. As condições de vida e as suas
fragilidades, conduzem, também, a que seja a própria
pessoa a procurar alternativas para a sua situação
encontrando, por vezes, uma resposta mais imediata e,
aparentemente, fácil em determinados estilos de vida.
Por vezes, as pessoas vivem em bairros perigosos ou
entre um grupo de pessoas envolvidas em estilos de vida
perigosos. Alguns jovens podem crescer num ambiente
rodeado de consumo de drogas, violência ou outros
padrões de risco.
Grupos vulneráveis, marginalizados e socialmente
excluídos: perspectivas daqueles que os
conhecem
Nesta secção do manual serão explorados vários grupos
para melhor o ajudar a entender alguns dos assuntos
com que se confrontam. Registando os exemplos e as
sugestões de visualização acima sugeridos, torna-se
claro que existe muito para aprender e para considerar
quando se pretende atingir os grupos VMSE em qualquer
população. É, pois, importante compreender quais são
as barreiras e obstáculos que enfrentamos ao tentar
ajudá-los, as melhores práticas que conhecemos para o
fazer e as lições apreendidas quando se trabalha com
estas populações.
No fi nal, é tarefa do/a educador/a de pares apreender e
reconhecer os padrões de discriminação e estigmatização
na sua cultura de modo a tornar-se um/a educador/a bem
sucedido/a e a lutar contra tais problemas. Exemplos
de necessidades específi cas são referidos nas secções
seguintes.
Os grupos cobertos nesta secção são:
● Pessoas que vivem com VIH/SIDA
● Utilizadores de drogas injectáveis
● Crianças expostas a riscos especiais
● Trabalhadores/as de sexo
● Minorias sexuais
● Minorias étnicas e culturais
● Pessoas com desafi os físicos e mentais
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6 53
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Um grupo de investigadores1 sugere o seguinte
relativamente a sub-grupos de jovens em situações de
risco elevado:
“Jovens que sejam homossexuais, bissexuais,
transsexuais, sem abrigo, foragidos, consumidores de
drogas intra-venosas, encarcerados, em sistema de
internato, mentalmente doentes e que tenham sido
sexual ou fi sicamente abusados estão mais expostos ao
risco da infecção pelo VIH dada a sua maior exposição
nas suas redes sociais”.
Estes investigadores referem também com base em
algumas fontes que encontraram que:
“ Em geral, jovens vulneráveis apresentam uma maior
taxa de problemas sociais e de saúde que outros
jovens”1.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6
1 Shriver,M.D, Everett, C., Morin, S.F. Structural interventions to encourage primary HIV prevention among people living with HIV, AIDS 2000, 14 (suppl I) S1 – S6.
54
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Pessoas que vivem com VIH/SIDA“Esta é a maior ameaça à humanidade que alguma vez
existiu”.
Uma citação emocionada feita em 2003 por Bono,
vocalista da banda U2, que contribuiu para uma
consciência pública global sobre o VIH/SIDA.
Descrição do grupo
“Pessoas que vivem com o VIH/SIDA” (PLWHA) é um
termo usado para descrever as pessoas que foram
infectadas com o vírus da imunodefi ciência humana (VIH)
e/ou podem enquadrar-se no critério de diagnóstico do
síndrome da imunodefi ciência adquirida (SIDA). Uma
vez chegado ao critério para o diagnóstico da SIDA,
considera-se que vivemos com SIDA se a contagem das
células T (uma medida relativa ao número de glóbulos
brancos) ultrapassa o valor de referência.
A forma como continuamos a viver depois de
descobrirmos que estamos infectados pelo VIH depende
também de factores sócio-culturais e psicológicos, bem
como da nossa experiência de vida. Como iremos viver
com a doença depende não apenas das nossas atitudes
relativamente ao assunto mas também das reacções da
nossa família, colegas, amigos e da sociedade em geral.
Aquilo que magoa é o facto da qualidade da nossa vida
social ser, muitas vezes, diminuída dadas as reacções
negativas e o estigma que a sociedade coloca sobre
nós.
Para alguns, é como se morrêssemos duas vezes. Uma é
a morte física, a outra uma espécie de “morte social” que
deriva da maneira como somos tratados pela sociedade
que nos rodeia2.
Barreiras e obstáculos a serem ultrapassados
Estigma
Se a sociedade nos estigmatiza e trata aqueles que
vivem com VIH/SIDA como “não desejados”, “diferentes”
ou “perigosos”, podemos experimentar a alienação e o
isolamento. Esta situação não nos permite exercer os
direitos básicos, como o direito ao trabalho, à educação,
à amizade, à saúde e aos serviços sociais. Quando estas
situações ocorrem, a nossa reacção pode ser de descuido,
de evitar programas e serviços de saúde e de viver uma
vida menos saudável e de forma menos responsável.
Esta reacção resulta num aumento dos riscos individuais
e sociais.
As pessoas estigmatizam e discriminam por duas razões:
medo e ignorância. Ambas se alimentam e actuam em
ciclo.
O estigma associado ao VIH/SIDA tem sido amplamente
documentado:
● a percepção generalizada de que é o PLWHA
o responsável por ter a doença ou a infecção
(culpabilização);
● a noção de ser uma doença terminal (fatal);
● o facto de ser contagiosa (pode alastrar-se); e,
● o facto dos seus sintomas poderem ser visíveis3.
A prevenção do estigma entre as pessoas que vivem
com o VIH/SIDA necessita de ser feita através de um
trabalho a realizar sobre as estruturas e as políticas. Um
obstáculo à prevenção é assumir como acto de “crime”
o facto de não se contar ao parceiro, em situações
sexuais específi cas, que se é portador da doença. Outros
obstáculos incluem as leis que limitam a imigração e as
viagens, a obrigatoriedade da notifi cação da doença ao
parceiro e uma base de dados de portadores de VIH4-5.
“Eu sinto-me bem”
Um dos assuntos com que jovens portadores de VIH
têm de lidar é com a disparidade entre sentirem-se
bem e, no entanto, precisarem de medicação. Tal como
refere Futterman, isto pode constituir um desafi o,
particularmente porque muitos adolescentes vêm as
coisas de forma isolada. Nesta medida, importa que
jovens portadores da doença compreendam a evolução e
comportamento do vírus e a forma como a medicação pode
ajudar a retardar a doença, mesmo em circunstâncias
onde não existem sintomas visíveis.
Esconder a doença
Um dos obstáculos para ultrapassar, relativamente
aos jovens que vivem com o VIH/SIDA, relaciona-se
com problemas que ocorrem quando tentam manter o
secretismo sobre a sua doença. Futterman nota que é
positivo quando o jovem rapaz ou rapariga pode falar
com um adulto, tal como o pai ou a mãe.
“Porém, temos numerosos adolescentes que não partilham
a informação sobre a sua doença devido ao receio de
perderem o amor dos seus pais, de serem expulsos de
suas casas ou de serem fi sicamente violentados.
O resultado da tentativa de esconder a infecção pode
por vezes signifi car esconder a medicação, o que, por
seu turno, pode afectar a certeza de esta estar a ser
correctamente tomada e seguida.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6
2 Herek, G. Aids and stigma. Am Behav Sci 1999, 42: 1102 - 1112.3 Shriver,M.D, Everett, C., Morin, S.F. Structural interventions to encourage primary HIV prevention among people living with HIV, AIDS 2000, 14 (suppl I) S1 – S6.4-5 Herek, G. Aids and stigma. Am Behav Sci 1999, 42: 1102 - 1112.
55
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Assuntos psicológicos
Futterman sublinhou os aspectos psicológicos que
relacionam a epidemia do VIH com os jovens. A autora
refere a forma como muitos jovens portadores do VIH
têm histórias de abuso sexual e/ou físico. Futterman
nota também que estes jovens podem também ter um
diagnóstico de doença mental, tais como a depressão
ou a dependência abusiva de substâncias psicoactivas.
Alguns destes problemas estão para além daquilo que
um/a educador/a de pares pode lidar, embora deva
saber que são importantes identifi car e referenciar para
um encaminhamento especializado.
As “co-morbidades” são problemas que ocorrem em
conjunto. Segundo a autora, quando não identifi camos
e não respondemos a estas “co-morbidades” (co-
morbilidade), isso pode impedir os jovens de aprenderem
a lidar e colaborar com a doença, incluindo a toma
correcta da medicação prescrita.
Boas práticas lições aprendidas
A ligação entre prevenção e apoio.
Em países onde não existe acesso à medicação para o
VIH/SIDA, será mais difícil convencer ou encorajar as
pessoas a realizarem o teste de diagnóstico de forma bem
sucedida. Assim, os/as educadores/as interessados/as
numa prevenção com sucesso devem ver o seu trabalho
no âmbito de uma perspectiva mais ampla – a da luta
contra o VIH/SIDA e pelos direitos das pessoas que
vivem com esta doença, devendo, também, lutar pela
obtenção de apoio e medicação destinada às pessoas a
quem é diagnosticada a doença.
Compreender a discriminação e oferecer cuidado e
apoio
Uma das melhores maneiras de preparar o/as educadores/
as de pares para trabalhar na área do VIH/SIDA é ajudar
a compreender o signifi cado e implicações do estigma,
discriminação, cuidados e apoio. A seguir encontram-
se alguns dos tópicos que deveriam ser incluídos nessa
preparação. Educadores/as de pares podem, por seu
lado, escolher trazer algumas das suas ideias para o
grupo-alvo.
Assuntos Áreas de Formação
Objectivos educacionais
Porque é que discriminamos?
Formas de discriminação
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 656
● Aceitar o VIH como uma doença como qualquer outra;
● Explorar as razões pelas quais as pessoas agem de forma discriminatória;
● Compreender os vários tipos de discriminação;
● Enfrentar os nossos próprios medos, preconceitos e informação incorrecta sobre o
VIH;
● Respeitar os direitos das pessoas que vivem com o VIH/SIDA;
● Compreender a forma como podemos ajudar a sociedade a alterar actos
discriminatórios contra os portadores da doença;
● Aprender formas de cuidado e apoio.
● Porque não estamos devidamente informados sobre a doença e a forma como é (e
não é) transmitida;
● Porque temos medo;
● Porque o VIH é considerado um tabú e continua a ser associado à homossexualidade,
prostituição, uso de drogas e outros comportamentos das populações
estigmatizadas;
● Para sentir que nos estamos a proteger a nós e àqueles que amamos.
● Movimentos de proibição ou limitação do acesso de pessoas portadoras da doença
a serviços de saúde, seguros, lojas, parques infantis, escolas, etc;
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Os direitos das pessoas portadoras de VIH
VIH/SIDA e direitos humanos no local de trabalho
Todos os países e todas as organizações devem preparar
um estatuto ou um conjunto de regras específi cas para
protegerem os trabalhadores que vivem com VIH/
SIDA de modo a seguir o estabelecido pela Convenção
Internacional dos Direitos Humanos.
É necessário que estas regras sejam consistentes com os
seguintes direitos:
● Pessoas com VIH/SIDA devem ser tratadas da
mesma forma que aquelas que sofrem, por
exemplo, de uma doença oncológica ou de outra
doença crónica.
● Os empregadores devem capacitar os seus
empregados para o facto das pessoas que vivem
com VIH/SIDA não colocarem em perigo os seus
colegas.
● As organizações e os sindicatos devem informar/
formar os trabalhadores sobre a temática do VIH/
SIDA de forma a prevenir e a evitar eventuais
medos.
● O teste do VIH/SIDA não deve nunca ser imposto
pela entidade trabalhadora.
● Uma pessoa seropositiva não é obrigada a reportar
a sua condição à instituição na qual trabalha.
Se essa pessoa infectar intencionalmente, deve
ser sinalizada de acordo com o quadro legal
vigente.
● As pessoas portadoras de VIH não devem ser
culpabilizadas ou discriminadas pela sua situação
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6 57
● Ameaças no local de trabalho, que, muitas vezes, resultam na perda de emprego;
● Fragilidade e cortes das formas de relação com membros da família e outros;
● Violação constante dos direitos humanos e dos princípios éticos (protegidos por uma
declaração).
Os direitos das pessoas portadoras de VIH e das pessoas que vivem com SIDA são
protegidos pela declaração dos direitos humanos. Estes são:
● Tolerância;
● Não discriminação;
● Direito a cuidados e à solidariedade;
● Direito à liberdade de movimento, deveria incluir também o direito a viajar
por motivos de residência, de trabalho ou turísticos;
● Direito à educação;
● Direito à protecção da saúde;
● Direito ao trabalho;
● Direito à protecção da privacidade.
Com esta declaração, as responsabilidades das pessoas portadoras de VIH são também
regulamentadas, tal como:
● A serem informadas;
● A serem cooperantes;
● A serem tolerantes;
● A cooperarem com instituições e pessoal de saúde;
● A cuidar dos outros.
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e as pessoas que o fazem devem ser sinalizadas
de acordo com o quadro legal vigente.
● As pessoas portadoras de VIH não podem ser
excluídas e substituídas nos seus postos de
trabalho devido à sua doença.
● As pessoas portadoras de VIH têm o direito de
receber tratamento ou aconselhamento médico
com justifi cação no emprego.
● As pessoas portadoras de VIH deveriam ter
acesso à possibilidade de trabalhar em regime
de part-time quando necessário de modo a
poderem deixar o trabalho quando necessitam de
ser hospitalizadas e voltar quando se encontram
em condições para o fazer.
● Este estatuto deve estar sob a supervisão da
empresa, sindicatos e várias organizações.
Frequentemente, e em países onde as leis supostamente
protegem as pessoas com VIH/SIDA, é difícil segui-las
ou provar que estão a ser violadas. É raro que alguém
seja “ofi cialmente” despedido de um emprego por ser
portador de VIH/SIDA6.
Podem os jovens ajudar?
Em algumas culturas, as pessoas que vivem com
VIH/SIDA, incluindo as pessoas jovens, estão entre
as lideranças mais activas, mais conhecidas e mais
bem sucedidas para lutar a favor e pelos direitos das
nossas comunidades. A sua participação na defi nição
e implementação de programas destinados a esta
população vulnerável é essencial.
“Enquanto o estigma, ou a própria ameaça de estigma,
desempenha um papel fundamental na determinação da
aceitação das intervenções de pessoas infectadas com o
VIH, assim como o sucesso ou fracasso de quase todas
as intervenções, o combate ao estigma é um assunto
onde as pessoas com VIH/SIDA desempenharam desde
sempre um papel particularmente activo e positivo”7.
Neste âmbito, um dos recursos mais valiosos é a Rede
Global de Pessoas que Vivem com VIH/SIDA (GNP+).
Esta é uma rede global para e de pessoas que vivem
com VIH/SIDA. O Secretariado-geral está sedeado em
Amesterdão, na Holanda.
“O objectivo geral do GNP+ é o de trabalhar para
melhorar a qualidade de vidas das pessoas portadoras de
VIH/SIDA, através de um apoio a nível nacional, regional
e global, para a capacitação das pessoas portadoras da
doença”8.
Quem de entre nós é VIH+ tem um papel crucial na
prevenção
Em algumas comunidades, falamos cada vez mais sobre
as nossas experiências de vida no âmbito dos programas
para a prevenção do VIH/SIDA. Isto acontece porque nos
colocamos directamente em contacto com as pessoas, o
que torna a informação mais real e credível. De acordo
com muitos jovens, este é o tipo de educação/prevenção
mais efi caz.
Um sumário
Um relatório das Nações Unidas9 sublinha os 10 passos
que os países, especialmente os governos, deveriam
dar enquanto parte integrante dos seus esforço na
prevenção:
1. Acabar com o silêncio, o estigma e a vergonha
2. Disponibilizar informação e conhecimento aos/às
jovens
3. Dotar os/as jovens de competências de vida e
educação sexual
4. Disponibilizar serviços destinados a jovens
5. Promover testes e aconselhamento voluntário e
confi dencial sobre VIH
6. Trabalhar com os/as jovens e promover a sua
participação
7. Envolver os/as jovens que vivem com VIH/SIDA
8. Criar ambientes de apoio seguros
9. Chegar e trabalhar com jovens em risco
10. Reforçar parcerias e monitorizar os progressos
Rede social de apoio
Existe um grande volume de informação sobre experiências
de pessoas que vivem com VIH/SIDA. Neste momento,
procuramos formas de nos socorrermos de um volume
massivo de informação e de uma alargada rede social de
apoio para enfrentar o futuro. Há países onde já existem
fortes redes de apoio e outros que planeiam estabelecê-
las e implementá-las. Muitas destas organizações e
muitas comunidades de indivíduos portadores da doença
publicam informação na Internet. Se procurar informação
on line, encontrará múltiplos exemplos do que podemos
fazer para lutar contra esta condição e sobreviver. Alguns
dos países mais desenvolvidos tiveram uma experiência
intensiva nos primeiros anos da epidemia (uma epidemia
global) e conquistaram muito conhecimento sobre as
6 Levy, P. Personal communication, Nov, 2003.7 Ibidem.
9 United Nations Development Programme: State of the World´s Population Report, Oct. 2003.8 www.gnpplus.netWebsite Nov I 2003 .
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 658
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formas de prevenção, cuidados e apoios, assim como
lutar contra a doença.
Podemos ter uma ideia do apoio necessário, através da
leitura do que foi escrito por pessoas que compreendem
como é enfrentar um teste de VIH positivo. O anexo 6,
contém um exemplo das palavras escritas em apoio às
pessoas que, nos Estados Unidos, estão a enfrentar esta
situação. Foi escrito para uma organização denominada
“O Corpo Positivo”. Aquilo que é escrito poderá ter valor
para muitas pessoas que têm um diagnóstico positivo
e que vivem noutras partes do mundo, podendo servir
como um modelo a ser adaptado.
É necessário compreender que as pessoas que vivem
com VIH/SIDA deveriam poder ter uma vida normal e
completa: trabalhar, aprender, socializar e aproveitar
os melhores aspectos da vida. Alguns de nós estão
também infectados, embora não doentes, não devendo
ser automaticamente tratados como tal. Actuando
responsavelmente, vamos proteger-nos a nós mesmos
assim como àqueles que nos rodeiam.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6 59
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Utilizadores de Drogas Injectáveis (UDI)Esta secção pretende oferecer informação precisa e
objectiva para a redução dos riscos e danos potenciais
associados ao uso de drogas injectáveis. O objectivo é
o de apoiar educadores/as de pares nas suas funções
de promover a saúde. Reconhecemos que existem
comunidades de pessoas que estão envolvidas com
drogas injectáveis e que apoiam programas de redução
de danos visando ajudar os e as jovens num cenário
temporal defi nido e diminuir a sua exposição ao risco.
A informação nesta secção e no Anexo 8 não foi escrita
nem disponibilizada de nenhuma forma para encorajar
ou sugerir o uso ou o uso continuado de drogas
injectáveis.
Descrição do grupo
As citações seguintes refl ectem histórias verídicas da vida
de pessoas que trabalharam em educação inter-pares.
“Eu lembro-me… Tinha-me acontecido alguma coisa horrível.
O meu coração estava despedaçado. Então, o meu primo mais
novo (na altura eu ainda pensava que podia confi ar nele)
chegou e pôs o seu braço à volta dos meus ombros e disse: não
te preocupes, eu tenho uma coisa que te vai tirar a dor. Essa
foi a primeira vez que me injectei. Eu era 12 anos mais velho.
Nunca pensei que pudesse vir a ser alguém que viesse a ser
agarrado.
“Eu trabalhei numa clínica de toxicodependência durante
alguns anos. Pensei sempre que era suposto ver as pessoas
que costumava ver nos fi lmes, sabe, os estereótipos. Comecei
a conhecê-las ao longo do tempo. Muitas delas eram boas
pessoas que tinham tido azar ou feito escolhas que desejariam
nunca ter feito. Muitas das pessoas não correspondiam aos
estereótipos. Estas eram aquelas que se preocupavam com as
outras, que se esforçavam bastante para fazer o que tinham a
fazer de modo a sobreviverem. O poder da dependência química
era forte e tentavam ajudar-nos a compreender a epidemia da
SIDA. Metade delas já se encontrava infectada”.
“As pessoas que injectam drogas provêm de todos os grupos
sociais, alguns com poder económico. Alguns de nós iniciam
cedo a sua experiência. É raro ouvir dizer que estamos curados,
desde que nos tornámos adictos. A realidade é que uma vez
viciados, sabemos que essa dependência está sempre presente
no nosso passado. Por isso, dizemos que estamos a recuperar.
As pessoas não compreendem que a dependência é uma doença,
como muitas outras”.
Para muitos jovens, a adolescência é normalmente o
período da primeira experimentação de drogas e também
a altura do início da dependência.
Na última década, alguns países enfrentaram problemas
com drogas e com dependência. Hoje, assiste-se a uma
taxa de crescimento rápido dos problemas associados
ao consumo de substancias psicoactivas e às suas
dependências.
A idade do início de uso parece estar a descer em
algumas países, atingindo as escolas de ensino básico.
Existe igualmente um problema de violência associada
ao abuso do consumo de drogas. Simultaneamente,
existem poucas instituições a lidar com este problema
que atinge fortemente as famílias. Muitas das famílias
não possuem competências/força para lidar com estes
problemas, em parte também porque a própria família
fi ca isolada e receosa de ser “rotulada”.
Em alguns países é fácil obter drogas e consumi-las em
espaços públicos, como cafés e outros locais. Muitas
vezes, as famílias só reconhecem o problema depois dos
sinais se tornarem muito evidentes.
Muitas das substancias psicoactivas podem diminuir a
capacidade de pensar de forma crítica, o que pode levar
a comportamentos de risco, incluindo sexuais. Neste
âmbito, é óbvio que existe uma necessidade crucial de
actuar para diminuir os riscos das infecções sexualmente
transmissíveis, incluindo o VIH/SIDA.
Barreiras e obstáculos a serem ultrapassados
Outros assuntos devem ser considerados quando se
refl ecte sobre jovens e o uso das drogas injectáveis.
Os riscos de injectar drogas
É óbvio que o uso de drogas injectáveis fora de um
cenário com supervisão médica comporta diversos níveis
de risco. Passamos a listar e a descrever alguns destes
riscos:
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● Incapacidade de avaliação – o uso de drogas
injectáveis altera o funcionamento físico,
psicológico e biológico de diversas maneiras,
dependendo do tipo de substancia utilizada, da
quantidade tomada ou das características físicas,
psicológicas e biológicas individuais. O resultado
mais provável é a diminuição da sua capacidade
para avaliar as situações, facto que pode colocar
as pessoas em perigo acrescido.
● Vulnerabilidade aos riscos sexuais – o uso
de substancias psicoactivas pode levar a um
aumento dos riscos de ordem sexual por variadas
razões. Pode causar “desinibição”, o que signifi ca
que as inibições normais tidas por uma pessoa
diminuem, podendo a pessoa ter comportamentos
de risco não calculados. Esta desinibição pode
incluir uma não tomada de atenção aos riscos de
infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o
VIH. Se o parceiro de alguém também se injecta,
então, estatisticamente falando, em muitas
populações existe uma maior probabilidade que
ele ou ela se exponha à infecção do VIH por via
da partilha de seringas.
● Vício ou dependência química - um dos
maiores problemas com o uso de drogas é o de
que, muito provavelmente, ele irá resultar num
vício e numa dependência física, psicológica,
ou ambas. Embora a maioria das pessoas,
provavelmente, diga que começaram a usar
drogas sem esperar ou querer fi car dependentes
delas, uma vez que a dependência se instala,
assemelha-se a uma doença e torna-se muito
difícil de ultrapassar.
● Impacto no estado emocional e no
funcionamento psicológico – o uso de drogas
injectáveis pode ter um profundo impacto em
estados emocionais, por exemplo, a euforia,
hiper-estimulação, sedação, redução ou aumento
de ansiedade e depressão.
Difi culdades dentro do sistema de prestação de
cuidados de saúde
As pessoas consumidoras de drogas injectáveis podem
ter alguma difi culdade em se relacionar com serviços
e profi ssionais de saúde e apoio. São frequentes os
sentimentos de desconfi ança, estigma ou medo de
denúncia que podem resultar num afastamento dos
próprios serviços e cuidados clínicos.
Algumas destas preocupações podem resultar de uma
experiência efectiva de discriminação e estigmatização.
Daí que seja importante investir na formação e informação
de profi ssionais que interagem com UDI no que respeita
ao conhecimento sobre substâncias psicoactivas,
dependência química e tratamento.
Conhecer e compreender a cultura da droga
Educadores/as de pares precisam de conhecer e entender
as questões associadas às toxicodependências nas
populações com que trabalham, para serem capazes de
demonstrar empatia e conhecimento dos assuntos com
que as pessoas consumidoras de drogas se confrontam:
drogas/substâncias que estão a ser usadas, os seus
efeitos, os padrões de uso, os sintomas típicos de ressaca,
entre outros. Para diferentes tipos de droga/substâncias
existem padrões específi cos de uso e riscos associados.
O potencial de dependência de drogas como a heroína e
cocaína é muito elevado.
Como modo de conseguir dinheiro para a aquisição de
substâncias, há pessoas utilizadoras de drogas como
heroína, cocaína e outras, que com frequência recorrem
a actividades prostitutivas aumentando assim os riscos
e as necessidades de prevenção face a infecções
sexualmente transmissíveis, incluindo o VIH/SIDA.
Educadores/as de pares devem ter conhecimento sobre
a parafrenália usada pelo consumidor; os agentes de
esterilização como lixívia e locais de troca de seringas
ou de injecção assistida. Algumas pessoas pensam que
com a injecção subcutânea (não directamente na veia)
não fi cam expostas ao risco VIH/SIDA. É necessário que
saibam que isto não é verdade e que continuam em
risco.
Assuntos sociais
Existe uma variedade de assuntos sociais que fazem
parte da vida dos utilizadores de drogas injectáveis:
● Medo de sentenças criminais e respectivas
consequências prisionais – utilizadores
de drogas injectáveis estão frequentemente
envolvidos em actividades ilicitas pelas quais
podem ser presos. Por isso, podem vivenciar
algum stress por terem de se esconder com
frequência e de se preocupar com o possível
aparecimento da polícia. Para aqueles que são
pais ou têm outros dependentes, isto pode ser
particularmente stressante. Em alguns casos, o
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6 61
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facto de se ser preso pode acarretar a ameaça
de perda da custódia de crianças.
● Cultura da violência e ameaças – o mundo das
drogas injectáveis encontra-se habitualmente
cercado de violência. Isto pode ser provocado
pela economia da droga e pelo desespero de
algumas pessoas na obtenção desta.
● Elevados níveis de infecção entre os pares
podem, por vezes, aumentar o risco –
utilizadores de drogas injectáveis tornaram-se
mais expostos ao risco da infecção de algumas
doenças, incluindo o VIH/SIDA e vários tipos de
hepatite.
O que é importante para os/as educadores/as de
pares?
Com o objectivo de melhor compreender o mundo das
drogas injectáveis, é importante que os/as educadores/
as compreendam desde logo a sua própria relação com
o uso de substâncias de vários tipos. Normalmente,
temos a tendência de nos “medicarmos” de forma a nos
sentirmos melhor. Alguns fazem-no ingerindo substâncias
ricas em açúcares (chocolates, bolos, doçaria), cafeína,
bebidas alcoólicas, bebidas quentes/frias ou outras
substâncias legais. Não desejando equacionar estes
exemplos à luz das drogas injectáveis, importa porém
compreender como é que as pessoas acabam por se
tornar dependentes e a encontrar formas de ajudar a
quebrar essa dependência.
Importa referir que não existe nada tão efi caz para a
formação dos educadores sobre o uso de substâncias
como conhecer e aprender directamente com a
recuperação de utilizadores de drogas ou, pelo menos,
ver documentários fi lmados sobre o assunto.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 662
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Crianças particularmente em risco: crianças da rua, crianças órfãs e crianças sem acompanhamento parental
Descrição do grupo
Existem muitas causas ou razões pelas quais alguns de
nós acabam por viver nas ruas, por exemplo, alguns de
nós são órfãos que perderam o pai ou a mãe, ou ambos,
ou simplesmente não temos ninguém que tome conta
de nós; alguns de nós sofrem de abandono por uma
série de razões, outros tiveram de fugir para procurar
segurança dado ser perigoso estar em casa. Quando um
pai ou uma mãe é alcoólico/a ou toxicodependente e se
tornam violentos, pode ser ameaçador fi car em casa;
alguns de nós descobriram que eram homossexuais e
decidiram que seria melhor desaparecer. Alguns de nós
têm pais que trabalham todo o dia e não conseguem
tomar conta de nós. Alguns de nós estavam em famílias
que tiveram de abandonar rapidamente a casa sem que
nunca mais pudessem voltar, por exemplo, por situação
de guerra ou confl itos armados.
Os exemplos abaixo referidos tipifi cam algumas situações
que passam pela cabeça de jovens de grupos vulneráveis.
Embora as três histórias descrevam cenários imaginados,
elas representam a realidade de muitos milhares de
crianças, crianças essas que acabam a viver sob grande
risco, situações de abandono por via de uma ausência de
acompanhamento ou apoio familiar.
“Quando o meu pai morreu e a minha mãe teve de começar a
trabalhar para nos educar, deixou de ter tempo para nos dar
atenção. Começou a sair todas as noites para ganhar dinheiro.
Sei que às vezes lhe batem no trabalho e que ela chora bastante.
Tive de começar a tomar conta dos meus irmãos mais pequenos,
foi desde aí que tudo se começou a complicar na escola”.
“Quando eu tentei explicar ao meu pai que gostava de outros
rapazes, ele fi cou louco. Sabia que não valeria a pena tentar
fi car em casa depois dessa conversa dado que ele não estava
preparado para assumir um fi lho homossexual. Mas uma vez
que não consigo arranjar um bom emprego, saio algumas noites
para tentar arranjar dinheiro de qualquer forma. Não vos vou
dizer os esforços que às vezes tenho de fazer para ter um lugar
abrigado para dormir e dinheiro sufi ciente para comer, mas
alguns dos outros miúdos da rua são espertos e mostraram-me
o que fazer”.
“Então este tipo disse-me que gostava de mim e que casaria
comigo logo que mudássemos para um lugar melhor, noutro
país, para ter uma vida melhor. Até os meus pais acreditaram
nele. Agora, a única coisa que lhe interessa é que eu faça
o dinheiro sufi ciente todas as noites, sob pena de me bater
violentamente. Sinto-me muito envergonhada comigo mesma.
Se tentasse regressar a casa acho que ele me matava e se
fugisse, de qualquer forma não poderia enfrentar de novo os
meus pais e os meus amigos. Estou encurralada aqui”.
Obstáculos e barreiras a serem ultrapassados:
perspectivas de crianças em risco
Alguns dos aspectos que envolvem as crianças,
particularmente, em risco incluem:
● Estar em desvantagem – falta do poder ou da
infl uência que os adultos normalmente usam.
● Estar institucionalizado e, logo, não ter acesso
a muitos dos direitos e privilégios que os jovens
podem ter num ambiente familiar.
● Ter falta de modelos fortes e consistentes, o
que pode fragilizar e tornar mais vulnerável com
adultos ou jovens mais velhos e experientes.
● Poder ser infl uenciados por “maus” modelos,
pelo facto de haver pouca orientação e selecção
face a com quem aprender e em quem confi ar.
● Falta de informação, o que pode penalizar a nossa
experiência escolar e de ensino/aprendizagem.
● Desenvolver comportamentos de sobrevivência.
● Desenvolvemos um tipo de escudo protector para
lidar com os desafi os do dia-a-dia relativamente
àquilo que podem ser circunstâncias
anormalmente trágicas ou cruéis.
● Sofrer de síndrome do stress pós-traumático ou
de stress crónico.
● Podemos estar sujeitos a níveis altos de
violência.
● Podemos estar em vulnerabilidade física, com
doenças ou incapacidades.
As situações de vida destes jovens colocam-nos em
risco acrescido devido a difi culdades nos seus universos
biológico, ambiental, psicológico e social.
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Considerações psicológicas
Depressão e ansiedade
Alguns de nós que vivem estas situações sofrem de
depressão e de ansiedade, podendo experimentar o
pessimismo e angústia. Estes estados podem ser reacções
a situações difíceis que ocorrem nas nossas vidas e que
afectam a forma como nos sentimos face ao futuro, bem
como o nosso interesse ou motivação para tomarmos
conta de nós próprios. Em casos mais graves, estes
estados podem conduzir a um comportamento auto–
destrutivo, a um auto-abandono ou à agressão. Alguns
de nós envolvem-se em lutas e em confusão, o que pode
ser uma forma de chamar à atenção das pessoas que nos
rodeiam e que potencialmente nos poderão ajudar.
Trauma
Nos ambientes de jovens como nós podem existir
muitos traumas (perturbações emocionais profundas) de
variados tipos. Alguns de nós sofrem de grandes perdas,
tais como a perda e luto de uma mãe ou de um pai,
ou de ambos, bem como de irmãos. Alguns vivem lado
a lado com o abuso físico e/ou sexual em casa, o que
representa um trauma contínuo e prolongado no tempo.
Nos casos mais extremos, podemos sofrer de um tipo
de “síndrome” psicológico (conjunto de sinais e de
sintomas que tendem a acontecer ao mesmo tempo). Se
o impacto for muito grande, então teremos um problema
na forma como funcionamos ou uma “desordem”. Um
exemplo é aquilo a que se chama “perturbação de stress
pós–traumático”, que signifi ca que temos problemas
resultantes de um acontecimento muito difícil, muito
perturbador ou traumático. Podemos ter pesadelos
constantes sobre esse acontecimento ou podemos estar
sempre a “vivê-lo” através de recordações que nos levam
a revivê-lo. Além disso, alguns de nós podem viver com
uma imensa ansiedade, experimentar uma reacção mais
violenta do que o normal e podemos recear a morte.
Um impacto duradouro e comum do trauma deixa-nos um
pouco adormecidos, sem reacção ou emoção. Podemos
não reagir da mesma forma que as outras pessoas, uma
vez que passámos a estar habituados a dar atenção a
situações marcantes e a “coisas” que nos afectam de
forma imediata. Neste contexto, um/a educador/a de
pares pode ter de se esforçar mais para obter a nossa
atenção ou reacção a situações como os riscos do VIH e
outras infecções sexualmente transmissíveis, ou drogas.
Um exemplo de um trauma extremo para jovens é quando
temos de sair das nossas casas e, com isso, deixar para
trás alguns dos nossos direitos e pertenças.
Considerações do meio envolvente
Jovens em risco especial podem ter de lidar com condições
de vida rudes e difíceis. Os lugares onde vivemos podem
ser muito desconfortáveis, frios, poluídos, barulhentos
e perigosos. Pode ser, por exemplo, impossível fazer
os trabalhos escolares ou ir para a escola porque,
regularmente, temos de tomar conta dos nossos irmãos
mais novos.
Factores sócio–culturais
Podemos sentir a solidão, ter menos hipóteses de brincar
com amigos e de passar menos tempo com as nossas
famílias. Existem menos adultos à nossa volta que cuidem
de nós ou que tenham tempo para nós, que nos abracem
e nos ajudem a ultrapassar os nossos problemas. Alguns
adultos que nos rodeiam podem querer tirar partido de
nós e existem poucas ligações com um mundo espiritual
e social de apoio.
Factores biológicos
Como somos jovens, podemos estar a reagir às alterações
que estão a acontecer no nosso corpo. Tal como os jovens
desta idade, temos alterações hormonais e de humor que
provocam fortes sensações sexuais em alguns de nós, e
muitas vezes, não temos ninguém que nos diga como
lidar com estes sentimentos. Alguns de nós alimentam-
se mal porque não temos ninguém por perto que nos
diga o que comer. Alguns de nós contraem o VIH e outras
infecções sexualmente transmissíveis. Alguns de nós têm
relações sexuais não consentidas ou desejadas.
Uma vez que muitos de nós não conseguem ir à escola
ou concentrar-se nos estudos, não aprendemos sobre
o corpo humano como os outros alunos e alunas. Além
disso, muitos de nós não têm hábitos de leitura o que
signifi ca que a informação escrita não nos ajuda muito.
Boas práticas e lições aprendidas
O que se segue são alguns exemplos de aspectos que
têm a ver com órfãos e as boas práticas descritas e
publicadas no site da Family Health International (www.
fhi.org). Muitas destas ideias podem ser generalizadas
e aplicadas na resposta a assuntos relacionados com
crianças e jovens em risco, embora muito do que foi
escrito se dirija a crianças e jovens afectadas pelo VIH/
SIDA.
As referências comuns dos cuidados de apoio a órfãos
e a outras crianças e jovens vulneráveis derivaram da
aprendizagem em vários países e das experiências de
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 664
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desenvolvimento, sobrevivência infantil, fi lhos da guerra
e de programas relacionados com o VIH/SIDA.
Estas referências sublinham que as intervenções para
disponibilizar cuidados e apoio a órfãos, a crianças e
jovens vulneráveis deveriam:
● Enfatizar os cuidados comunitários
em vez dos cuidados institucionais: os
recursos dispendidos para fi nanciar os cuidados
institucionais de uma só criança podem apoiar
muitas mais crianças se forem efi cientemente
usados para apoiar uma iniciativa gerada na
comunidade. A institucionalização de crianças e
jovens separa-os das suas famílias e comunidades
e, frequentemente, atrasa um desenvolvimento
infanto-juvenil saudável.
● Reforçar os cuidados e colaborar com as
capacidades de famílias e comunidades:
reforçar a capacidade das comunidades para
preencher o vazio crescente da rede de segurança
e de apoio, tradicionalmente, disponibilizada pela
família alargada pode se a forma mais efi ciente e
mais sustentável para o apoio a órfãos e a outras
crianças e jovens vulneráveis. As famílias e as
comunidades desempenham também um papel
crucial na identifi cação de crianças e jovens que
se encontram mais necessitadas de apoio, tanto
as que estão infectadas com o VIH/SIDA como
aquelas que sofrem de outras vulnerabilidades.
● Envolver crianças e jovens: crianças e jovens
não são um simples grupo–alvo a ser apoiado,
passivo e sem poder, mas sim um grupo de actores
capazes e com recursos importantes para se
envolverem numa resposta comunitária ao VIH/
SIDA. Envolver activamente crianças e jovens
em iniciativas de apoio pode contribuir para uma
auto–estima positiva de efi cácia e cultivar
competências sócio-comportamentais e
afectivas que podem utilizar no futuro.
● Construir uma colaboração alargada entre
os vários intervenientes em todos os
sectores: para ir de encontro às necessidades
de crianças (em risco especial), têm de existir
redes alargadas e um esforço dirigido ao
envolvimento de governos, da sociedade civil
e das organizações não governamentais em
iniciativas partilhadas de acção comunitária.
● Aplicação de uma perspectiva de longo
prazo: a defi nição de um programa requer uma
abordagem sustentável e replicável. Embora o
apoio material seja importante, é necessário
assegurar que os projectos da comunidade
não são orientados e motivados apenas pelo
apoio material, mas pelo sentido de pertença e
responsabilidade relativamente aos mesmos.
● Integração com outros serviços: uma vez que
os problemas experimentados por crianças órfãs
e/ou vulneráveis começam bastante antes da
morte dos seus pais, os cuidados com as crianças
afectadas com o VIH/SIDA deveriam começar o
mais cedo possível. Os serviços destinados a estas
crianças deveriam ser integrados nos cuidados
comuns, tais como o aconselhamento e teste de
diagnóstico voluntário ao VIH, a prevenção da
transmissão vertical, entre outros.
● Ligar cuidados e prevenção: crianças órfãos
e/ou vulneráveis estão muito expostas ao risco
da infecção do VIH devido à pobreza e à perda
de cuidados e de protecção parental. Por esta
razão, os programas de cuidados devem incluir
uma forte componente de prevenção dirigida a
crianças e jovens10.
10 http://www.FHI.org/en/HIVAIDS/Publications/FactSheets/carorphans.htm © Family Health International (FHI).
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Estudo de caso
O que é que faz a “Outside in”?
É uma agência de serviço social dedicada ao serviço dos
jovens e adultos sem abrigo e com baixo rendimento.
Esta agência iniciou a sua actividade em 1968 e tem
desde então continuado a rever os serviços que presta
de modo a ir de encontro à evolução das necessidades
daqueles que serve. Os programas que existem incluem
uma clínica de saúde comunitária, um programa
dedicado a ajudar jovens sem abrigo a conquistar uma
vida autónoma e educação de risco.
Por que é que há jovens sem abrigo?
Existe um número estimado de 2000 jovens sem abrigo
em Portland, Oregon, EUA e existem muitos mitos
relacionados com o seu estatuto de sem abrigo. Os jovens
acabam por fi car na rua por múltiplas razões, embora a
maioria fuja de lares violentos e abusivos.
● 90% dos jovens relatam a existência de alguma
forma de violência nos seus lares;
● 36% das raparigas relatam uma história de
abuso sexual durante a infância, com a primeira
ocorrência a acontecer aos sete anos de idade.
Estas jovens fogem para a rua na esperança de
uma maior segurança;
● Alguns jovens encontram-se abandonados pelos
seus pais. Uma criança foi deixada sozinha com
um negociante de droga durante um período
de tempo indefi nido. Outro voltou para casa
tendo deparado com a saída dos pais sem terem
deixado qualquer contacto ou informação;
● Outros jovens voltaram-se para a rua devido à
pobreza, desemprego, dependência de álcool/
droga e/ou condições de saúde mental dentro
das suas famílias. Estes jovens não sentem
esperança num futuro positivo no seu presente
meio ambiente;
● 30% dos jovens sem abrigo integram minorias
sexuais. Estes jovens e as suas famílias não
conseguem, por exemplo, lidar com as várias
complexidades de uma identidade sexual/de
género em desenvolvimento que ocorra fora
da norma estabelecida . Muito frequentemente
os jovens acreditam que a sua vida melhorará
quando forem para a rua.
Como é que respondemos à necessidade?
“Outside in” tem tido um sucesso arrebatador, ajudando
jovens sem abrigo de Portland a fazer a transição das
ruas para vidas estáveis.
● 80% dos jovens do programa de alojamento de
transição não voltam à rua;
● ”Outside in” tem sido aplaudido pela inovação
que imprime aos seus serviços dirigidos a jovens
sem abrigo, tendo recebido o primeiro prémio,
alguma vez atribuído a um programa da Oregon
Shelter Network (Rede de Abrigo de Oregon);
● “Outside in” recebeu o prémio “Cares” do
American Health Care Systems, que reconhece
o trabalho das agências que se distinguem pela
inovação e qualidade dos serviços que prestam.
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Trabalhadores/as do Sexo, Prostituição e Tráfi co Sexual
Descrição do grupo
Existem muitas razões pelas quais milhões de jovens
vendem, anualmente, o seu corpo, sendo a sobrevivência
a principal motivação para o fazerem. As pessoas
envolvidas em actividades prostitutivas e as pessoas que
as exploram estão, normalmente, escondidas. Contudo,
existe um grande conhecimento sobre o tipo de vida e
os riscos que lhe estão associados, tal como a violência
(física e/ou psíquica), a discriminação, a perda dos
direitos humanos fundamentais e a elevada exposição a
IST, nomeadamente ao VIH/SIDA. Os clientes procuram
habitualmente jovens, uma vez que acreditam que estes
estão ainda livres da infecção do VIH. Adolescentes que
são sexualmente explorados/as, com frequência, não
possuem poder para exigir relações sexuais seguras
utilizando, por exemplo, um preservativo ou pedindo
a alguém que o use. As raparigas encontram-se mais
expostas ao risco do que os rapazes. Em geral, estes
jovens raramente recorrem aos serviços de saúde e têm
um acesso limitado à informação. É conhecida também
a existência de “preços” diferentes para relações sexuais
com e sem preservativo.
Estes assuntos demonstram a necessidade de melhorar
os esforços para proteger crianças e jovens da exploração
sexual.
O que segue é um excerto de um artigo que descreve a
situação no Nepal, mas que pode ser aplicável em todo
o mundo:
“…a maior parte das mulheres e dos homens de
diferentes partes do país envolvidos no ´trabalho do
sexo´ fazem-no essencialmente para resolver problemas
alimentares. Devido à falta de instrumentos legais,
regras e regulamentações específi cas e claras, os
trabalhadores do sexo estão a sofrer muitos problemas
com clientes, proxenetas, família, sociedade e com a
administração, principalmente com a polícia. Na nossa
sociedade e cultura, o trabalho do sexo não é aceite nem
reconhecido como profi ssão. Os trabalhadores do sexo
são considerados como ́ socialmente ofensivos´. Há entre
os trabalhadores/as do sexo quem sente e pensa que o
trabalho do sexo é imoral. Do mesmo modo, não estão
conscientes dos seus direitos (legais, constitucionais e
humanos) e da sua situação11”.
Outro exemplo é o perfi l dos trabalhadores do sexo
Roma, na Europa:
Quem são os/as trabalhadores/as do sexo Roma e
como é que operam?12
● A maioria tem menos de 25 anos;
● “Trabalham” normalmente muito longe do sítio
onde vivem;
● A maioria é imigrante;
● Têm um grupo de clientes muito rotativo;
● 30% Consome drogas injectáveis;
● A maioria tem como proxeneta ou ´gestor´ o
namorado ou o marido.
Barreiras e obstáculos a serem ultrapassados:
perspectivas dos trabalhadores do sexo ou pessoas
em situação de prostituição
Estereótipos
Somos fortemente estereotipados em muitas culturas.
Temos frequentemente de suportar uma discriminação
signifi cativa em virtude do nosso estilo de vida e somos,
muitas vezes, tratados como cidadãos e cidadãs de
segunda categoria. Em muitas culturas é comum utilizar-
se a palavra “prostituta(o)” num contexto depreciativo,
como um tipo de acusação. Somos frequentemente
tratados como pessoas “sujas” uma vez que o sexo é,
muitas vezes, tratado como um assunto “sujo”. O impacto
deste tipo de atitude sobre nós pode ser psicologicamente
devastador.
Assuntos relacionados com a auto-estima
A nossa auto-estima é frequentemente desafi ada dada
a forma negativa como somos encarados em muitas
culturas e até pelos nossos clientes e proxenetas.
Alguns de nós faz isto porque não existe outra opção –
precisamos de dinheiro para sobreviver. Alguns fazem-no
por outras razões. Alguns por se envolverem com drogas
e terem de “vender serviços sexuais” para garantir
dinheiro de modo a não entrar na ressaca.
Alguns de nós ganham bastante dinheiro e, por vezes,
até gostam do que fazem, apesar das pessoas loucas
que apanhamos na rua. As pessoas normalmente nem
se preocupam em saber quem somos ou porque estamos
11 Metodologia para um modelo de alteração de comportamento compreensível.12 Nikolov, N Working with Migrant and Roma Sex Workers´ Plenary Presentation from Report Seminar “Sex, Drug Use, Mobility and HIV/AIDS in Central and Eastern
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Europe” June 5-8, 2003 Prague, Czech Republic.
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aqui. Algumas só nos desprezam… Porém, vêm a correr
para nós quando têm problemas em casa ou quando
necessitam dos nossos serviços.
Abuso físico e violência
Somos vulneráveis de várias formas, uma das quais é
a de abuso físico por parte de clientes e proxenetas. O
nosso dia-a-dia de trabalho está rodeado de crime e de
violência.
A indústria do tráfi co
Podem existir efeitos horríveis nas vidas daqueles que
acabaram neste negócio através da indústria do tráfi co
sexual. Existem milhares de pessoas como nós em todo
o mundo. Por vezes, prometiam-nos o casamento logo
que mudássemos para um novo lugar. No início, tudo
parecia que íamos para um lugar novo por uma razão
legítima, tal como o amor, um novo emprego ou uma
vida melhor. Se já estivéssemos numa situação má,
parecia que iríamos sair dela. Uma vez sufi cientemente
afastados das nossas famílias, acordávamos para a
rudeza da vida. Para muitos de nós, foi preciso algum
tempo para perceber que tínhamos sido completamente
enganados. O tráfi co é um grande negócio. Começam a
aparecer programas para nos ajudar e tentar salvar.
O uso de substâncias e a dependência química
As pessoas envolvidas na prostituição têm com alguma
frequência problemas relacionados com o consumo
excessivo de drogas, o que nos torna mais vulneráveis.
Podemos ter de trabalhar em situações muito difíceis para
obter dinheiro sufi ciente para suportar o nosso vício. Isto
pode levar-nos a ter um comportamento mais arriscado
do que teríamos noutra situação.
Vergonha: culpabilização sobre o papel parental
Para aqueles que têm fi lhos, pode ser difícil e muitas vezes
fazer-nos sentir mais vergonha. Podemos ter de ir para
cidades onde alguém nos poderá conhecer. Se as nossas
famílias alguma vez descobrissem o que fazemos, seria
devastador. Por vezes, parece que as outras pessoas – os
nossos clientes e proxenetas – nos incutem vergonha, de
modo a não terem de olhar para eles próprios.
Depressão
A depressão associada à prática prostitutiva advém
de elementos como o perigo, doença, violência, abuso
sexual e emocional, dependência de drogas, que lhe são
inerentes.
Assuntos de saúde e infecções
Por vezes, temos de lidar com infecções resultantes
do nosso “trabalho”, sobretudo quando não utilizamos
sempre o preservativo. E mesmo quando usamos
podemos, por exemplo, apanhar herpes por termos
tocado em zonas onde o preservativo não protege. Isto
implica a ida a clínicas e check-ups frequentes. Alguns de
nós podem fi car com problemas de infertilidade devido
a infecções não tratadas a tempo, como é o caso da
Clamídia. Existem problemas físicos que podem ocorrer
nas mucosas (tecido que forra as paredes da vagina)
como resultado da existência de múltiplos encontros
sexuais. Uma pessoa pode fi car magoada por ter muitos
parceiros, podendo causar “úlceras” (feridas nas paredes
da vagina). Isto, por vezes, cria uma situação física
propícia a uma infecção, como a do VIH.
Anonimato
É provável que um/a trabalhador/a do sexo ou prostituto/
a que deseje ajudar e ensinar os seus pares se preocupe
em manter o anonimato. Se isto não for garantido, poderá
ser-lhe difícil confi ar o sufi ciente na organização para
participar na formação e para se envolver no grupo.
Boas práticas e lições aprendidas
Educadores/as de pares que podem apoiar
os trabalhadores/as do sexo, prostitutas e
prostitutos
Para um/a educador/a de pares ser bem sucedido/a no
seu trabalho sobre saúde sexual e reprodutiva e assuntos
relacionados, deve ser empático e capaz de abordar as
pessoas com uma atitude não repreensiva e sem fazer
juízos de valor. É por isso consensual que quem é ou já foi
trabalhador sexual pode estar entre os mais qualifi cados
para saber como, quando e onde nos podem envolver na
educação inter-pares.
Trabalhadores do sexo/prostitutos/as enquanto
educadores inter-pares
Dois profi ssionais na área da prevenção da SIDA, L. Brussa
e H. Mongard, já ofereceram algum aconselhamento
prático e descrições dos passos recomendados para
formar educadores inter-pares13. O seu trabalho é
baseado numa organização chamada Transnational AIDS/
SIDA Prevention Among Prostitutes in Europe Project
(TAMPED). Embora muita da descrição da formação e dos
conceitos chave se adapte a uma abordagem standard
de um curso de formação destinado a educadores inter-
13 Brussa, L. e Mingard, H. Organization and carrying out training for peer educators. In: Research for Sex Work I, 1998.
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pares que trabalham com grupos VMSE. Eles referem o
seguinte:
● Quando se escolhe um nome para o curso de
formação para educadores inter-pares com
pessoas que estão ou estiveram envolvidos em
actividades prostitutivas evitem usar termos como
“trabalhadores do sexo”. Os autores mencionam
que muitas destas pessoas vêem a prostituição
como uma condição temporária e não de
identidade. Sugerem assim que se deve evitar o
uso de um nome ou designação específi ca, de um
título que identifi que o programa como estando
relacionado com o trabalho sexual, tráfi co ou
prostituição. Os autores sugerem a utilização de
títulos genéricos como, por exemplo “Prevenção
e Higiene”.
● Outra importante recomendação é a de que
os formadores/as do curso devam estar
familiarizados com o fenómeno do trabalho
sexual, tráfi co e prostituição.
● À semelhança do que deveria acontecer em todos
os cursos de educação inter-pares, recomenda-
se a participação de alguns convidados, tais
como profi ssionais de saúde, que trabalhem no
aconselhamento clínico de contracepção, um/a
educador/a de pares formado ou um/a técnico/a
de serviço social.
● Os participantes no curso devem ser
recompensados monetariamente de forma
simbólica, pelo tempo e esforço dispendidos na
sua participação e por uma possível perda de
trabalho devido à sua participação no workshop.
● Investigação e o uso de boas práticas de
investigação.
● De modo a desenvolver uma boa formação de
educação inter-pares, é importante ser capaz de
reunir informação de suporte com uma “avaliação
de necessidades”. Esta é uma forma de saber o
que está realmente a acontecer na população–
alvo e quais são as necessidades existentes.
Outra investigadora, Pyett referiu:
“Provavelmente será dito que investigar o “trabalho do
sexo” não é uma tarefa fácil, especialmente quando a
população é desconhecida e se encontra escondida
devido à natureza ilegal do seu trabalho. Além disso, os
trabalhadores sexuais têm boas razões para não confi ar
nos investigadores e para resistir à investigação. Como é
que podemos ultrapassar estes obstáculos?”
A autora sublinha que precisamos de construir relações
de trabalho com estas pessoas para que possamos actuar
enquanto investigadores e aprender conjuntamente
a fazer investigação de uma forma adequada, efi caz e
útil.
A importância de manter a confi dencialidade
Uma estratégia que Pyett descreve é a de envolver as
organizações locais e outras que actuam para os direitos
de “trabalhadores do sexo”, a completar questionários
distribuídos em envelopes selados e os devolver à
equipa de investigação durante um período de seis
meses. A investigação demonstrou que, se feito de
forma correcta, é possível reunir informação sobre a
avaliação de necessidades, o que constitui uma ajuda
valiosa na defi nição e implementação dos programas de
educação inter-pares dirigidos a pessoas em situação
de prostituição. Num segundo estudo, que pretendia
abranger “trabalhadores do sexo” mais vulneráveis não
abrangidos na primeira fase da investigação, foram feitas
entrevistas mais pormenorizadas de modo a analisar
assuntos de saúde, risco e segurança entre mulheres
identifi cadas como vulneráveis. Estas mulheres eram
muito jovens e inexperientes, toxicodependentes, sem
abrigo ou imigrantes. As entrevistas foram conduzidas
por trabalhadores sexuais treinados/as para o efeito.
As vantagens em envolver trabalhadores sexuais
enquanto investigadores de pares foram evidentes,
especialmente no que respeita à sensibilidade, confi ança,
e grau de confi dencialidade estabelecidos com as
mulheres entrevistadas.
Pyett concluiu:
“…os trabalhadores do sexo não apenas prestam
uma valiosa contribuição enquanto investigadores de
pares, mas também… se a investigação deve marcar
uma diferença nas vidas dos trabalhadores do sexo, é
com vista a uma vantagem mútua que o fazemos em
conjunto”.
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Minorias sexuais – homossexuais, homens que têm sexo com homens, lésbicas, bissexuais, transsexuais e transgéneros
Descrição do grupo
É comum muitas culturas terem uma abordagem
demasiado simplista do espectro da sexualidade
humana. No entanto, entre as pessoas que fazem parte
das chamadas “minorias sexuais” existe uma enorme
diversidade.
Muito frequentemente, pensa-se que as pessoas são
apenas heterossexuais ou homossexuais (gays no caso
dos homens e lésbicas no caso das mulheres). Em
algumas culturas pode haver o reconhecimento de que
algumas pessoas são atraídas por ambos os sexos. Neste
caso, podem ser defi nidas como bissexuais.
Existe, no entanto, o argumento de que a sexualidade
humana poder recair nas linhas de investigação de Alfred
Kinsey14. No âmbito do seu trabalho de investigação,
Kinsey refere que as preferências e atracção sexual das
pessoas tende a recair num continuum com indefi nições
aqui e ali. Enquanto muitas pessoas têm uma orientação
exclusivamente heterossexual ou homossexual, outras
poderão ser predominantemente uma coisa ou outra,
tendo simultaneamente uma atracção pelo mesmo
sexo ou pelo sexo oposto. Assim, existem homens que
são essencialmente atraídos por mulheres, mas que
também possuem uma atracção por outros homens. Este
continuum é denominado Escala de Kinsey15. Tal como
pode ser visto na escala, cada número de 0 a 6 indica um
nível diferente de orientação sexual:
0=exclusivamente heterossexual
1=predominantemente heterossexual, incidentalmente
homossexual
2=predominantemente heterossexual, mais do que
incidentalmente homossexual
3=igualmente heterossexual e homossexual
4=predominantemente homossexual, mais do que
incidentalmente heterossexual
5=predominantemente homossexual, incidentalmente
heterossexual
6=exclusivamente homossexual
À luz deste espectro de “preferência sexual” ilustrado na
Escala de Kinsey, algumas pessoas são da opinião de
que as reacções violentas e discriminatórias para com
pessoas LGBT (homofobia) podem advir de pessoas que
não conseguem aceitar que a sua própria orientação
sexual seja também por pessoas do mesmo sexo.
Barreiras e obstáculos a derrubar: perspectivas de
gays, de homens que têm sexo com homens, de
lésbicas e de bissexuais
Em muitas culturas ou sociedades, é considerado
tabu/proibição ter sexo com pessoas do mesmo sexo.
Enquanto gays ou homens que têm sexo com homens
(HSH), apercebemo-nos de que as pessoas não querem
falar sobre a nossa situação, recusando admitir sequer
a nossa existência. Esta reacção acontece também com
as lésbicas, sendo uma reacção que leva à homofobia,
descrita como o medo e ódio irracional dos homens
que têm sexo com homens, das lésbicas e da própria
homossexualidade. Historicamente, a heterossexualidade
a as assumpções sobre sexo e procriação assumiram
a regra social, cultural e moral enquanto opostas à
homossexualidade. Tudo o que não fi zesse parte de um
quadro de heterossexualidade era considerado contra as
regras e, logo, errado.
As relações entre o mesmo sexo tendem, ainda a ser
estigmatizadas através de medidas como o isolamento
social, a marginalização e até sentenças de prisão. Tal
como os homens gay, HSH e lésbicas, somos tratados
como “diferentes” e com frequência referidos com nomes
pejorativos. A homofobia não é apenas uma forma de
pensamento, ela expressa-se directamente através de
comportamentos agressivos contra nós.
Para grupos homossexuais, podem-se aplicar os
mesmos princípios e modelos dos outros grupos
vulneráveis, marginalizados e socialmente excluídos.
Em algumas culturas e sociedades a marginalização e
invisibilidade é tão grande que chegam a pensar que
nós não existimos ou que existem apenas meia dúzia
de pessoas homossexuais. A realidade é que existimos
em quantidade signifi cativa na maioria das sociedades.
14 Kinsey, Alfred C. e tal. (1948/1998). Sexual Behaviour in the Human Male. Philadelphia: W.B. Saunders; Bloomington: Indiana U. Press.
15 http://www.kinseyinstitute.org/resources/images/rating-scale.jpg.
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Tendemos a viver em comunidades algo fechadas e que
são mantidas quase “secretas” excepto junto de pessoas
que entendem e compreendem. Essencialmente, temos
receio das reacções das pessoas à nossa orientação
sexual.
Discriminação e atitudes: “O que é que eles estão
a tentar provar?”
A discriminação de pessoas das minorias sexuais é fácil
de verifi car em alguns exemplos clássicos que fazem
parte do quotidiano.
Por exemplo, quando um homem e uma mulher são vistos
a beijar-se romanticamente na rua, as pessoas dão pouco
por isso. Em algumas das nossas sociedades a tendência
é assumir que os dois estão intimamente envolvidos. Se,
porém, a mesma acção romântica estiver a acontecer
entre duas pessoas do mesmo sexo, a experiência e a
resposta da maioria das pessoas é claramente diferente.
As expressões públicas de amor entre duas pessoas
do mesmo sexo podem ser compreendidas como actos
de rebelião, exibicionismo ou tentativa de provar algo.
Ao ver dois homens a beijarem-se romanticamente, as
pessoas podem questionar-se sobre ”porque é que eles
têm de fazer isto em público?”, “será que estão a tentar
provar algo?”. É fácil ver como isto é discriminatório se
compararmos as observações feitas no primeiro exemplo
face às do segundo exemplo.
A homossexualidade pode ser uma contradição face
às expectativas familiares, sociais e pessoais, o que
representa uma fonte primária de confl ito em torno
destes assuntos. Os que comunicam a sua orientação
sexual tornam-se, por isso, alvo de violência física e
psíquica. A discriminação é normalmente expressa e
somos consideradas pessoas doentes, muitas vezes
afastados dos nossos fi lhos e despedidos dos nossos
empregos. Devido a esta situação, muitos de nós têm
vidas duplas, homossexual e heterossexual, privada e
pública.
Pais e mães de pessoas que pertencem às chamadas
“minorias sexuais” culpam-se muitas vezes pela
orientação sexual dos seus fi lhos e fi lhas, assumindo-a
como uma doença ou um defeito que projectam de e em
si próprios. Emoções parentais típicas são:
● raiva;
● sentimentos de culpa e de vergonha;
● receio de ser marcado pela sociedade e de ser
estigmatizado.
As reacções das famílias podem ser demonstradas da
seguinte forma:
● atitudes e/ou comportamentos violentos;
● serem enviados para instituições de saúde mental
para serem “curados”;
● serem enviados a psicólogos ou psiquiatras
para uma “desprogramação” de modo a serem
“convertidos” à normalidade;
● alguns pais rejeitam mais ou menos os seus
fi lhos, afastando-os ou eliminando-os da sua
vida ou retiram os direitos de herança.
Experiências reais de vida
As seguintes citações do livro “Os Nossos Corpos,
Nós Próprios” descrevem alguns dos pensamentos e
sensações que as lésbicas podem ter quando chega a
altura de aceitar a sua identidade sexual e de a revelar
aos outros.
“Eu senti um forte compromisso político e social com as mulheres
e um fascínio pelas lésbicas, mas assustou-me pensar que
talvez quisesse amar uma mulher – os meus pais explodiriam,
o meu ex-marido tentaria obter a custódia dos nossos fi lhos, as
minhas amigas poderiam pensar que eu saía para as seduzir.
Tive também medo que isso fosse uma escolha contra os
homens em vez de o ser pelas mulheres. Finalmente, um dia
disse para mim própria: “por agora, sou uma lésbica” e uma
das peças importantes da minha identidade encaixou-se no seu
lugar. Estou satisfeita por ter assumido ser lésbica antes de ter
uma amante mulher”.
“Quando fui para o colégio existiam apenas outras duas
estudantes negras, que vinham de famílias de uma classe
média confortável. Senti-me tão deslocada perante elas como
perante os alunos brancos também da classe média. Comecei
a tomar consciência de uma atracção para com as mulheres, a
qual passava a vida a reprimir.
Dado estar fora do meu meio social, aparecia sempre de forma
dura e agressiva e as pessoas começaram a acusar-me de ser
lésbica. Estava aterrada face ao facto de as minhas fantasias
poderem ser visíveis de alguma maneira e comecei então a
namorar para disfarçar (…).
O movimento feminino apoiou-me porque pude ver outras
mulheres com coragem para mudar as suas vidas. O seu
exemplo deu-me a coragem de ver que me estava a enganar a
mim própria pretendendo ser “normal”. (…) A minha vida tem
sido muito mais rica e muito mais feliz desde então”.
“A minha melhor amiga durante treze anos quebrou a nossa
amizade alguns meses depois de lhe ter dito, e há dez anos que
não sei nada dela. Não interessa há quanto tempo se conhece
uma pessoa, nunca podemos saber exactamente o que esperar
quando nos declaramos/assumimos.” 16
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6
16 Boston Women´s Health Book Collective, Our Bodies, Ourselves, For the New Century (Touchstone, 1998). Uma nova edição de Our Bodies, Ourselves vai ser publica
71
da pela Touchstone na primavera de 2005.2 – http://www.kinseyinstitute.org/resources/images/rating-scale.jpg.
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Nos países ocidentais, a expressão “declaramos” ou
“assumimos” é utilizada para descrever o processo de
declaração pública de pertença a uma minoria sexual.
Em alguns países da Europa Central e de Leste, tentamos
escondermo-nos, a nós próprios e à nossa orientação,
embora isto não signifi que que a possibilidade e a
viabilidade dessa declaração vá ser possível a curto ou
médio prazo nos nossos países.
Prevenir a discriminação
Para prevenir a discriminação, é necessário aceitar a
escolha livre em todos os aspectos da vida. Só assim, as
pessoas das “minorias sexuais” poderão exercer os seus
direitos, em plano de igualdade. É ainda fundamental
aceitar que embora a nossa orientação sexual seja
diferente, isso não nos faz inferiores, nem com menos
direitos e oportunidades de cidadania.
Através de programas inter-pares com referenciais
positivos de sexualidade saudável (pessoas que vivem
livremente a sua orientação e identidade sexual,
trabalham, estudam, tem amigos e uma vida social
“integrada”) conseguimos combater o preconceito.
Um dos maiores obstáculos que as pessoas das “minorias
sexuais” enfrentam é o estigma e a discriminação
impostas pela sociedade. “A homofobia da sociedade
pode impedir a implementação efectiva de programas
de prevenção destinados aos jovens gays, o que pode
desencorajá-los de aceder aos serviços de prevenção”17.
A intensidade do estigma e da discriminação conduz
normalmente a um elevado grau de secretismo em torno
da orientação sexual das pessoas.
É necessário aceitar que o enfoque das mensagens
sobre saúde sexual e reprodutiva dirigidas aos jovens
das minorias sexuais não condenam nem promovem a
homossexualidade mas, ao invés, agem responsavelmente
em torno de um problema de saúde pública18, no caso
específi co do VIH/SIDA.
Viver escondido
Um dos problemas de abordagem àqueles que pertencem
a minorias sexuais é, por vezes, a natureza escondida de
alguns aspectos das suas vidas. Devido à discriminação
associada à orientação sexual, as pessoas têm uma
existência mais fechada ao nível da sua vida sexual e
romântica. Esta situação pode difi cultar o contacto com
alguém que pode ser reservado relativamente à sua
orientação sexual e estilo de vida.
Tentar manter a nossa orientação sexual escondida leva,
por vezes, a que ocultamos as nossas relações afectivas
dos nossos vizinhos. De forma a evitar que “suspeitem”
de uma relação homossexual, alguém pode tentar evitar
ser visto com a mesma pessoa muito frequentemente.
Para alguns, isto pode levar também a evitar participar
em acontecimentos públicos com uma reconhecida
associação à ´cultura´ gay ou lésbica.
O desejo ou necessidade de manter secreta a orientação
sexual conduz a um reforço do anonimato nos encontros
e estilo de vida, o que pode traduzir-se num menor
conhecimento de potenciais parceiros.
Este estilo de vida “secreto” pode também levar a um
maior sentimento de solidão e isolamento.
Um aspecto que, em particular, pode promover
a discriminação é a assunção de que as pessoas
pertencentes às minorias sexuais são hedonísticas, o
que signifi ca que são focados na procura do prazer. Pode
assumir-se que agem por impulsos que são criticados
ou proibidos pelas convenções sociais, o que pode gerar
ressentimento entre as pessoas, vergonha ou confusão
relativamente os seus próprios impulsos, fantasias e
sentimentos.
Apenas um ser sexual…
Em muitas das nossas sociedades, quando é percebido
que uma pessoa se distingue por algum tipo de diferença,
esta é automaticamente escrutinada. Assim, quando se
sabe que uma pessoa é homossexual, existe alguma
tendência para, em primeiro lugar, nos avaliar através da
nossa sexualidade ao invés de qualquer outros aspectos
da nossa identidade.
Vergonha e culpa
Existem aspectos psicológicos importantes em torno do
sexo e da orientação sexual resultantes do que nos têm
ensinado sobre o que está “bem” ou “mal”, “próprio” ou
“impróprio”, “aceitável” ou “vergonhoso”.
Sistema legal
Em muitas das nossas sociedades, o sistema legal tem
tornado difícil assumir e enquadrar a orientação e o estilo
de vida das pessoas que fazem parte das chamadas
“minorias sexuais”, o que leva a mais uma barreira à
comunicação sobre assuntos de saúde considerados
importantes.
“Mas eu não sou gay”
Muitos adolescentes que têm ou tiveram relações sexuais
com pessoas do mesmo sexo, independentemente da
sua orientação sexual, não se consideram em risco
face à infecção do VIH, pois não se identifi cam, nem
consideram relevantes as mensagens de prevenção
17 Grossman, A.H. Homofobia: a cofactor of HIV disease in gay and lesbian youth: Journal of the Association of Nurses in AIDS Care. 1994; 5:39-43) como citado na
18 University of California San Francisco Fact Sheet intitulada “what are young gay men´s HIV prevention needs?” from HIV Prevention: Looking Back, Looking Ahead,
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 672
University of California San Francisco Fact Sheet intitulada “what are young gay men´s HIV prevention needs?” from HIV Prevention: Looking Back, Looking Ahead, Coates, T. and Makadon, H.J., preparado por Robert Hays, PhD, April 1995
Coates, T. and Makadon, H.J., preparado por Robert Hays, PhD, April 1995
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dirigidas a homossexuais ou bissexuais. Isto acontece,
quando um/a jovem se identifi ca como heterossexual
com um comportamento homossexual descontinuado.
Também um homem pode não se considerar gay por não
assumir o papel de “passivo” na relação sexual.
Boas práticas e lições apreendidas
Proteger as pessoas convidadas
Quem organiza programas deve encontrar formas de
garantir a segurança e confi dencialidade das pessoas
convidadas pertencentes a grupos vulneráveis,
marginalizados ou socialmente excluídos. Quem organiza
deve colocar a questão: “Conseguirei criar um ambiente
de aprendizagem sufi cientemente seguro para as pessoas
que conseguem e irão partilhar as suas experiências
pessoais?”.
Programas ao nível da comunidade têm tido uma elevada
taxa de sucesso junto de adolescentes. Foi revelado
que:
“…um programa bem sucedido promoveu através de uma
variedade de actividades sociais realizadas em pequenos grupos
e dirigidas pelos próprios jovens, uma norma de sexo mais
seguro entre adolescentes gay”.
O programa aferiu que adolescentes envolvidos/as em
sexo pouco seguro e que normalmente não participariam
em workshops, eram mais abordáveis através de
actividades menos formatadas, tais como a dança, as
noites de cinema, picnics, concertos e jogos de voleibol.
Em muitas partes de mundo, as comunidades de
minorias sexuais começaram a lutar. Tem-se verifi cado
activismo político, estabelecimento de direitos humanos
e o reconhecimento destes grupos, o que tem contribuído
para os incluir, ver representados e aceitá-los abertamente
na sociedade.
Existem actualmente organizações que têm formas
bem sucedidas de abordar, educar e apoiar as pessoas
das minorias sexuais. Com a informação disponível na
Internet, por exemplo, qualquer educador/a inter-pares
que queira trabalhar com pessoas de minorias sexuais
pode encontrar uma enorme quantidade de recursos.
Alguns deles estão listados na secção de recursos deste
manual.
Utilização de termos neutros em género
De entre as várias formas de abranger as pessoas
pertencentes a minorias sexuais na educação pelos
pares, uma das mais importantes é através da linguagem
neutra e inclusiva quanto ao género na educação para a
saúde sexual e reprodutiva.
Muitos programas foram dirigidos à “população em
geral”, o que quer dizer que assumem o estatuto
heterossexual dos participantes. Quando tais programas
são implementados no terreno, a não ser que sejam
bem pensados, eles tendem a usar exemplos de
heterossexualidade uma vez após outra, perpetuando
assim sentimentos de exclusão relativamente às
pessoas LGBT. Estes programas não incluem temas como
encontros sexuais entre pessoas do mesmo sexo ou a
necessidade das medidas de prevenção. É crucial obter
a certeza de que educadores inter-pares são treinados
para utilizar uma linguagem neutra e inclusiva quanto
ao género, tanto quanto seja possível e apropriado. Um
exemplo é aprender a usar a palavra “parceiro sexual”
em vez de se assumir o género do parceiro.
Compreender os estilos sexuais
Uma organização útil que tem um website é o Hetrick
Martin Institute /HMI (www.hmi.org), que se encontra
ligado à Harvey Milk School. Estes institutos foram criados
para a protecção de jovens pertencentes às minorias
sexuais. O website fornece informação e estatísticas
sobre jovens LGBT. O seguinte excerto é da sua página
Web e contém estatísticas e factos sobre jovens nos
Estados Unidos.
Jovens LGBT nas escolas
● 41.7% de jovens LGBT não se sentem seguros
nas suas escolas;
● 28% de jovens gay deixam a escola anualmente,
o triplo da média nacional;
● 68% de jovens LGBT reportaram sofrer de algum
tipo de assédio ou violência;
● 46% de jovens LGBT reportaram a ocorrência
de assédio verbal, 36.4% assédio sexual e 6.1%
confrontos físicos;
● 86.7% de jovens LGBT reportaram ter ouvido
comentários homofóbicos por parte dos
empregados da faculdade ou da escola.
O Suicídio
● Jovens LGBT têm três vezes mais tendência para
cometer suicídio;
● 40% de jovens LGBT tentaram o suicídio por
comparação aos seus pares heterossexuais.
As atitudes de estudantes relativamente a assuntos
de jovens LGBT
● 40% de alunos/as do ensino secundário dizem
ser preconceituosos relativamente às pessoas
homossexuais.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6 73
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Outro recurso disponível para jovens envolvidos/as na
educação inter-pares é o website www:Youthresource.
com. Este é um projecto de Advocates for Youth, sedeado
em Washington DC.
Na sua introdução pode ler-se:
“Sentes-te um pouco virado ao contrário quando são colocadas
questões relativas à tua orientação sexual, identidade de género
ou saúde sexual? Talvez fosse útil partilhares as tuas dúvidas
e preocupações com alguém que já esteve na mesma situação
que tu…”
Este website tem um conjunto de links para outros
sites de organizações que apoiam jovens, incluindo os
que fazem parte de minorias sexuais, e onde se podem
encontrar histórias pessoais, informação sobre bem-
estar e saúde sexual e outros links para grupos de jovens
e outros tópicos.
No site da organização denominada Pais/Mães, Famílias
e Amigos/as de Lésbicas e Gays (Parents, Families and
Friends of Lesbians and Gays – PFLAG) pode encontrar
dados sistematizados sobre jovens de “minorias sexuais”,
incluindo tópicos sobre discriminação e saúde mental.
Neste site também encontra assuntos dirigidos a pais
e fi lhos que pertencem a “minorias sexuais”, recursos,
linhas de apoio, entre outras coisas.
Por exemplo, numa folha de dados da PFLAG, pode ler-
se:
“Estudantes gays e lésbicas sentem que não se fazem notar
nas suas escolas. A imperceptibilidade da sua presença
é normalmente reforçada pelo perfi l heterossexual que
marca o seu ambiente, o que faz com que jovens gays e
lésbicas se sintam invisíveis, desapoiados e isolados”.
O website da PFLAG fornece estatísticas sobre assuntos
como o suicídio e taxas de abandono escolar, violência,
sem abrigo, VIH/SIDA, atitudes de estudantes e
colaboradores da comunidade escolar, depressão e
saúde.
O excerto seguinte é outro exemplo do tipo de informação
valiosa que podemos obter através de organizações como
a PFLAG:
Porque é que “exibem” a sua orientação sexual?
Desenvolvido por Pais/Mães, Famílias e Amigos/as de
Lésbicas e Gays
Gays, lésbicas e bissexuais são normalmente “acusados”
de exibir a sua sexualidade quando se assumem enquanto
tal, quando demonstram publicamente os seus afectos
com um parceiro do mesmo sexo, quando usam símbolos
ou t-shirts gay ou, participam em paradas gay.
Podemos sentir-nos desconfortáveis com as manifestações
públicas de afecto dos nossos fi lhos com os seus parceiros
ou parceiras do mesmo sexo. Porém, recordem-se que
todos os casais – hetero ou homossexuais – demonstram
publicamente os seus afectos porque amam os seus
parceiros. Mas parem e pensem: é-vos igualmente
desconfortável assistir a manifestações públicas de
afecto entre heterossexuais?
Aquilo que as pessoas chamam “exibição” pode ser
apenas a expressão de um comportamento descontraído
e natural. Noutras circunstâncias, pode ser uma
decisão política declarar a sexualidade de uma pessoa
na t-shirt que esta veste ou pela sua participação num
evento público. Em culturas que tanto ignoram como
desvalorizam a homossexualidade, a expressão pública
da orientação sexual de uma pessoa pode representar
um acto de auto–afi rmação importante.
Se se preocupa com possíveis reacções negativas
relativamente a qualquer tipo de comportamento que
identifi que o(a) seu (sua) fi lho(a) como homossexual,
lembre-se que alguns gays, lésbicas e bissexuais irão
censurar o seu próprio comportamento por partilharem
esses mesmos receios. Mas é da responsabilidade do(a)
seu(sua) fi lho(a) tomar essa decisão.
Tal como em qualquer programa de educação inter-
pares, pode ajudar obter o apoio parental, organizações
como a PFLAG podem oferecer recursos e ideias de como
ajudar pais/mães a apoiarem os rapazes e raparigas de
“minorias sexuais” que desejem actuar em programas
inter-pares.
PFLAG oferece respostas simples às questões que podem
ser levantadas no âmbito da educação inter-pares e
que digam respeito às minorias sexuais. Aqui fi ca um
exemplo do seu website:
Quais são as causas que levam a que uma pessoa
tenha uma determinada orientação sexual?
A forma como uma pessoa desenvolve uma determinada
orientação sexual não é sufi cientemente compreendida
pela comunidade técnica e científi ca. Várias teorias
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propuseram já diferentes causas subjacentes à orientação
sexual, incluindo factores genéticos e hormonais. Porém,
a actual maioria da comunidade científi ca partilha a
opinião de que a orientação sexual das pessoas é moldada
na infância através de interacções complexas de factores
biológicos, psicológicos e sociais.
A orientação sexual é uma escolha?
Não. A orientação sexual da maior parte das pessoas
emerge no início da adolescência sem ter ocorrido uma
experiência sexual prévia. Algumas pessoas dizem
tentar esforçadamente, e ao longo do tempo, alterar
a sua orientação sexual (da homossexualidade para a
heterossexualidade), sem sucesso. Por estas razões,
a psicologia considera que a orientação sexual não é,
para muita gente, uma escolha consciente que possa ser
voluntariamente alterada.
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Minorias étnicas e culturais ou grupos sócio-culturais específi cosDescrição do grupo
“Maioria” e “minoria” são noções que se relacionam
com a atribuição ou divisão de poder. Estas noções
relacionam-se também com o número de pessoas que
são identifi cáveis dentro destes grupos. Os “grupos
minoritários” são em regra menos poderosos e
numericamente mais pequenos. Também é possível que
o termo “minoria” se refi ra a grupos que podem, embora
maiores em número, ter menos poder. Um exemplo disso
é o rácio entre o número de homens e de mulheres, com
a proporção de mulheres a ser maior (51%). Porém, do
ponto de vista do poder, as mulheres possuem menos
direitos e são, por isso, ainda consideradas como uma
“minoria” em algumas culturas.
Alguns outros grupos podem ser considerados como
minorias, tais como aqueles que têm raízes étnico-
culturais diferentes da “maioria” ou uma fi liação
religiosa diferente. Um exemplo é o da comunidade
cigana na Europa com uma população estimada entre 7
e 8.5 milhões, é considerada a maior minoria étnica da
Europa.
Pertencer a um grupo minoritário pode levar a:
● ser sujeito à indiferença;
● ser “invisível” na sociedade;
● ter uma posição mais fraca em eventos
sociais (mesmo naqueles que os afectam
directamente);
● ter um poder económico mais fraco;
● ser tratado como exterior;
● isolamento;
● estigmatização;
● discriminação;
● perda de direitos humanos.
Muito frequentemente, há atitudes hostis directas contra
membros de grupos minoritários. A vida sob estas
condições fragiliza a saúde e os direitos das pessoas.
Além disso, as circunstâncias culturais e as necessidades
específi cas resultantes da vivência num grupo minoritário
afectam a forma como lidar com os problemas que estes
grupos enfrentam. Estes aspectos devem ser tidos em
consideração no momento de planear as actividades.
Pessoas refugiadas e internamente deslocadas
(PID)
Ser refugiada ou deslocada constitui uma experiência de
vida chocante, levando habitualmente a integrar uma
minoria étnico-cultural num novo lugar.
Estas experiências representam um tipo de ataque às
necessidades humanas: desde as necessidades básicas
(alimentação e abrigo) até às necessidades sociais (tal
como, o controle da própria vida, a pertença a grupos, as
relações com os outros, o atingir metas e ambições).
A condição de pessoa refugiada é especialmente
chocante para adolescentes pelo facto de se encontrarem
numa fase específi ca e exigente da vida (crescimento
físico, formação da identidade, o início da carreira
profi ssionail,…). Esta fase é muito complexa e pode
ser dolorosa. Todos os acontecimentos inesperados
tendem a atrasar a obtenção e o desenvolvimento de
tarefas e aumenta o risco de nos tornarmos vulneráveis
a infl uências negativas. A chegada a uma nova sociedade
signifi ca que as minorias étnico-culturais se confrontam
com uma série de perdas e de mudanças relacionadas
com:
● a sociedade de origem;
● pares;
● familiares;
● escola;
● hábitos;
● amor;
● memórias.
Considerando a experiência como um todo, é como
perder uma boa parte da nossa identidade. O idealismo,
muito associado à juventude, é diminuído. Muito
frequentemente, isto leva a uma vida sem escolhas e por
vezes a comportamentos auto-destrutivos e socialmente
prejudiciais. Estes e estas jovens vivem expostos a riscos
como a violência, IST, incluíndo o VIH/SIDA, gravidezes
não desejadas e precoces e a outras ameaças. As suas
famílias são, frequentemente, muito pobres e caem
na extrema pobreza de uma forma repentina, o que
signifi ca um risco acrescido para a sua saúde física,
mental e social. A sexualidade é uma componente
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 676
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normal e esperada da adolescência. Viver em condições
de privação, especialmente em campos para pessoas
refugiadas e deslocadas, coloca em risco as necessidades
de rapazes e raparigas:
● encontrar um parceiro;
● divertir-se;
● assegurar uma boa vida afectiva - sexual.
Ao mesmo tempo, são frequentemente privados da
possibilidade de obter informação importante bem como
privados do uso dos serviços e cuidados de saúde.
O planeamento de actividades com pessoas refugiadas
e deslocadas deve ser baseado na compreensão
das necessidades específi cas no âmbito das novas
circunstâncias de vida. Integrar programas pode dar-
lhes a força para:
● se ligarem à sociedade;
● compreendê-la melhor;
● relacionar-se com os seus pares;
● integrarem-se com as suas comunidades.
Isto reduz os riscos que podem enfrentar e aumenta a
possibilidade de serem capazes de controlar as suas vidas
e de agir responsável e construtivamente no futuro.
Jovens das minorias étnico-culturais que sejam
também refugiados ou deslocados podem constituir
fontes fi dedignas de informação em todas as fases da
programação. São eles que conhecem melhor os seus
pares, hábitos, necessidades e expectativas.
Barreiras e obstáculos a serem ultrapassados
Abordar com sucesso as minorias étnico-culturais é um
factor crítico de importância no universo da saúde sexual
e reprodutiva, em todo o mundo. Em alguns países,
existem porém problemas inerentes a essa abordagem.
A cultura predominante é diferente em diversos aspectos
da das minorias étnico-culturais num dado país. Estas
diferenças podem englobar crenças e práticas religiosas,
práticas de saúde, costumes e rituais de namoro e
casamento, relações humanas de vária ordem, situação
económica, práticas educacionais, representação e
direitos humanos. Todos estes aspectos podem constituir
barreiras à educação e às melhores práticas de saúde
dentro de um país. Pode conduzir também a uma falta
de poder político e, com ela, a uma falta de recursos
fi nanceiros.
As difi culdades enfrentadas pela população cigana num
país europeu é um exemplo dos problemas com que se
debatem as minorias étnico-culturais na região, os quais
necessitam de abordagens especfi cas19.
Situação geral das pessoas Roma na Bulgária
● Elevados níveis de desemprego;
● Baixa qualidade de vida e pobreza;
● Ausência de cuidados de saúdes;
● Ausência ou pouca procura de cuidados
médicos;
● Taxa de natalidade elevada;
● Gravidezes precoces;
● Falta de recursos e difi culdades culturais nos
cuidados com crianças;
● Elevada taxa de iliteracia;
● Não acesso a seguros;
● Comunidades muito isoladas;
● Comunidade percepcionada como uma minoria
não integrada.
Na apresentação de um seminário sobre “Sexo, Consumo
de Drogas, Mobilidade e VIH/SIDA na Europa Central e
de Leste”, realizado em 2003, o apresentador lista alguns
dos preconceitos mais comuns relativamente às pessoas
Roma, em particular, às pessoas em prostituição. É claro
que os preconceitos são extremamente estereotipados.
Preconceitos relativamente a pessoas Roma,
envolvidas na prostituição
● “Sujos” ;
● “Estúpidos” ;
● “Roubam”
● “São portadoras de infecções e espalharão as
doenças” ;
● “São pessoas inúteis que não conseguem
desenvolver um trabalho positivo” ;
● “Não querem qualquer outro tipo de trabalho, e
é por isso que trabalham na prostituição” ;
● “São preguiçosas”.
Boas práticas e lições apreendidas
Está uma checklist desenvolvida sobre “os elementos
necessários para um trabalho efectivo com Roma”20. A
lista é um exemplo porque pode ser generalizada aos
princípios de educadores/as inter-pares usam para
trabalhar efectivamente com outras minorias étnicas e
culturais.
19 Nikolov, N. Working with Migrant and Roma Sex Workers´Plenary Representation from Report Seminar “Sex, Drug Use, Mobility and HIV/AIDS in Central and Eastern
20 idem.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6 77
Europe” June 5-8, 2003 Prague, Czech Republic.
07_secção6final r p q.indd 2907_secção6final r p q.indd 29 30-10-2008 10:41:0830-10-2008 10:41:08
Elementos necessários para o trabalho com pessoas
envolvidas em actividades prostitutivas
● Melhor compreensão e consciência do seu modo
de vida (aspectos culturais e sociais);
● O recrutamento e envolvimento nos serviços
disponibilizados;
● Trabalhar de forma consistente e demorada
para a construção de uma relação segura e de
confi ança;
● Ser capaz de se envolver rapidamente para
oferecer simultaneamente cuidados de longo
prazo;
● Ajudar a aceder e valorizar um sistema regular
de cuidados e de monitorização da saúde;
● Trabalhar para conquistar um melhor contacto
com as pessoas utentes numa relação presencial
individual;
● Design e publicação de recursos cultural,
linguística e visualmente adequados;
● Capacidade de comunicar recorrendo a uma
linguagem clara, directa e simples;
● Encorajar esforços e sucessos;
● Ter uma atitude não avaliativa.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 678
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Pessoas que vivem com “Limitações físicas”
Descrição do grupo
As pessoas que vivem com limitações físicas de vária
ordem são de todas as culturas, com diferentes
personalidades, tal como qualquer outra pessoa. Alguns
de vós poderão reconhecer-nos como pessoas que
costumam designar por “incapazes” ou “defi cientes”.
A palavra “desafi ados” ou “pessoa com defi ciência”
funciona melhor segundo a opinião de muitos de nós.
Pode ser menos condescendente, o que nos permite não
sentir que somos desprezados ou julgados inferiores pela
nossa diferença.
O facto de vivermos com “desafi os ou limitações físicos”
signifi ca que podemos ter um detalhe físico que torna
a vida diária mais difícil do que aquela que têm outras
pessoas, o que signifi ca que é preciso derrubar as
barreiras. O que é que isto quer dizer? Em alguns casos,
podemos não conseguir usar um ou mais do que um dos
nossos cinco sentidos: ver, ouvir, cheirar, saborear ou
tocar da mesma forma que muitas pessoas conseguem.
Noutros casos, podemos não ter o mesmo número de
braços, pernas, mãos, dedos das mãos ou dos pés,
como a maioria das pessoas, ou, pelo menos, não se
movimentarem da mesma forma.
Para alguns de nós, tem sido assim desde que nascemos.
Para outros, alguma coisa aconteceu e transformou os
nossos corpos.
Em alguns casos isto aconteceu como resultado da
genética. Noutros resultou do consumo de alguns tipos de
medicamentos que as nossas mães possam ter tomado
durante a gravidez. Alguns de nós perderam um membro
ou uma capacidade em resultado de alguma coisa que
fi zemos ou de alguma coisa que não fi zemos. A alguns
de nós ocorreu algo internamente sem que ninguém
fi zesse nada. Algumas vezes, isto ocorreu devido a uma
doença ou infecção de algum tipo.
Barreiras e obstáculos a serem ultrapassados
Exclusão social – não nos mantenham invisíveis
– estamos mesmo aqui!
Para simplifi car as coisas, muitas pessoas tendem a
assumir que, até prova em contrário, todas as pessoas
são mais ou menos iguais – têm duas mãos, dois braços,
dois olhos, duas pernas,… Isto torna tudo mais fácil, pelo
menos para aquelas que têm algum tipo de defi ciência/
”desafi os/limitações”. Mas a vida não é assim para
todos nós e pode magoar sentir que somos sempre a
excepção.
A ideia de não ter ou de perder um membro (um
braço ou uma perna), ou perder a visão ou a audição,
amedronta. Assim, muitas pessoas evitarão ou manterão
uma “distância confortável” das pessoas que enfrentam
certas “limitações físicas”. Isto evita terem de pensar
ou sentir o medo ou tristeza que elas próprias poderiam
sentir se estivessem na mesma situação.
Pensem por um momento sobre o que seria se estivessem
deste lado, se fossem um dos que são “evitados”.
No fi nal, para muitos de nós que encontram barreiras
e obstáculos, não existe apenas o desafi o físico para
ultrapassar, mas também os desafi os emocionais que
o acompanham e que são muitas vezes criados pelos
nossos pares e pela própria sociedade.
Estigma e discriminação – às vezes somos
maltratados/as e insultados/as
A maioria de vós está provavelmente consciente do tipo
de nomes que nos podem chamar. Ouvimos calúnias a
pessoas com desafi os tais como “coxo”, “paralítico” ou
“inválido”. Por vezes, estes termos são utilizados para
falar sobre pessoas como um insulto. Pensem como será
o impacto destas palavras quando vivemos com estas
limitações ou desafi os.
Trauma
Aqueles que têm desafi os congénitos (desde a nascença)
apresentam diferenças face àqueles cujo desafi o resultou
da perda de uma capacidade. Ter tido uma capacidade
como a visão ou a audição, ou a capacidade de andar e
tê-la perdido por via da cegueira ou de uma paralisia,
por exemplo, pode ser especialmente perturbador.
Mas, passado algum tempo de adaptação às novas
circunstâncias de vida, podemos tornar-nos fortes e
aprender a viver.
A maioria de nós, não deseja o confronto com o
sentimento de pena ou compaixão, ou que assumam
que não conseguimos fazer nada. Muitos de nós, prefere
que nos ofereçam ajuda se as pessoas pensarem que
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 6 79
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efectivamente necessitamos dela e não que façam por nós
aquilo que assumem que não consigamos fazer. Algumas
coisas poderão ser mais difíceis de fazer e poderão
ocupar-nos mais tempo, mas mesmo assim poderemos
preferir fazê-las mesmo que em tempo diferente.
Podem necessitar de compreender que existem algumas
diferenças na forma como expressam a vossa simpatia e
empatia. Com simpatia, é como dizer ”Oh, coitadinho…
Sinto muita pena por si”. Esqueça! Nós não precisamos
da sua compaixão. Não se incomodem. Se, por outro
lado, tiverem um pouco de “empatia”, isso signifi ca que
estão a tentar compreender como é que seria ser um de
nós e tentar uma identifi cação com o nosso caso. Isso
facilita uma mútua compreensão.
Boas práticas e lições aprendidas
As pessoas que entre nós vivem com desafi os físicos
devem ser abordadas de acordo com a nossa idade e
capacidades. Os “canais” normais para disponibilizar
informação nem sempre são efi cazes. Os métodos e
técnicas de trabalho com as pessoas que têm uma
incapacidade visual ou que ouvem com difi culdade devem
ser ajustados às capacidades.
Quando planeiam trabalhar connosco é necessário
compreender as nossas necessidades específi cas e
requerer profi ssionais com mais experiência para vos
ajudar. Lembrem-se que não devem olhar para nós
como “pequenos” ou com “menos valor”. Além disso, a
forma como vamos reagir irá depender do vosso grau de
compreensão e entendimento das nossas necessidades e
direitos. Algumas pessoas pensam que não temos desejos
ou necessidades sexuais e reprodutivas. Essa atitude é
completamente errada e deverá ser colocada de lado.
Ajudar pessoas com os nossos desafi os implica saber
abordar a nossa sexualidade de uma forma saudável e
construtiva.
Na educação inter-pares são frequentemente realizados
jogos e exercícios que envolvem actividades físicas.
Por vezes estas actividades envolvem correr, apanhar
coisas, andar, saltar etc... Uma boa ideia é assegurar
que existem jogos e exercícios planeados para que todas
as pessoas participem.
Quando existem jogos e exercícios físicos que não
conseguimos fazer, existem algumas coisas que podem
ser feitas para nos ajudar. Primeiro, é possível alterar ou
mudar o jogo para que o possamos fazer. Se isto for de
todo impossível, existem outros passos que se podem
dar. Por exemplo, podemos jogar apenas parte do jogo
com alguma ajuda. Talvez alguém nos possa ajudar a
mover. Se não conseguirmos apanhar algo, talvez a
pessoa ao nosso lado possa partilhar a tarefa de apanhar
de novo. Às vezes é-nos atribuído um papel no jogo de
modo a que possamos participar enquanto júri, se for
necessário. Pode ser nossa tarefa, por exemplo, ver
se alguém atravessa uma linha que não seja suposto
atravessar ou podemos participar sendo a pessoa
responsável pela cronometragem.
É óptimo quando somos convidados para participar da
melhor forma que conseguirmos, enquanto parte do
grupo ou de alguma forma importante no evento, jogo
ou exercício. Isto pode também ajudar todo o grupo em
termos dos objectivos de criação de espírito e confi ança
de e entre os elementos da equipa. Se aprendermos a
confi ar no grupo, isso é muito importante para nós e para
o grupo como um todo. Nessa altura seremos realmente
parte da equipa.
Se formos educadores/as de grupo isso também transmite
uma mensagem importante para as audiências . Diz-se
que nem todos temos de ser perfeitos/as ou super seres
humanos para sermos importantes ou ouvidos. Diz-se
que toda a gente conta e que pode fazer a diferença,
com o seu contributo.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 680
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Secção 7
Ferramentas para planear e dirigir um workshop
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Secção 7 - Ferramentas para planear e dirigir um workshop
É importante para educadores/as inter-pares a trabalhar
com grupos VMSE conseguirem abordar as relações
entre estes grupos, saúde sexual e reprodutiva (SSR),
e assuntos de saúde relacionados. Existem várias
vulnerabilidades que conduzem ou são resultado de
problemas relacionados com a SSR. Este conjunto de
ferramentas foi desenhado a partir de uma fórmula
simples que pode ajudar educadores/as de pares a
planear e dirigir workshops que lidem com a SSR e os
vários assuntos de saúde com ela relacionados. Esta
fórmula pode ser utilizada para abordar assuntos como
as IST, nomeadamente o VIH/SIDA, toxicodependência
e abuso sexual. A última parte deste conjunto de
ferramentas é uma colecção de jogos e exercícios que
podem ser utilizados por educadores/as inter-pares como
icebreakers (quebra-gelo) e team-building (sentido de
grupo).
Organizar workshops 1-2-3
1 Zielony R., adaptado de Peer Education Programs for Adressing Health Issues 1999.
2 Zielony R. & Tunick, R, adaptado das secções do Peer Education Manual, 92nd St. Y NYC, 1996.3 Adaptado das secções do Y-Peer, “Peer Education Training of Trainers Manual” 2003.
Quando um grupo de educação inter-pares planeia
apresentar um workshop, devem previamente preparar
e acordar numa agenda. Idealmente, o workshop deveria
ser ensaiado uma semana antes do evento, ou pelo
menos uns dias antes. Pode haver o risco de educadores/
as pensarem que se encontram melhor preparados do
que efectivamente estão, embora isto só se torne visível
aquando do ensaio geral.
Educadores/as devem receber formação para dirigir
um workshop educacional, interactivo e devem estar à
vontade com as técnicas a utilizar. Devem também ser
capazes de gerir uma audiência de jovens de uma forma
cuidada e apropriada.
As actividades a decorrer no âmbito do workshop e o
tempo para cada uma mudará de acordo com a idade
da audiência e com a duração da própria apresentação.
Quando defi nirem a agenda, educadores/as de pares
podem acordar entre si sobre a pessoa responsável pela
dinamização de cada actividade, embora devam também
considerar outras alternativas para o caso de alguém não
poder comparecer.4
Aqui está uma agenda, onde se utiliza o “X” para
assinalar um assunto de saúde (exemplo: IST, VIH/SIDA,
toxicodependência ou abuso sexual).
4 Este modelo é uma adaptação e expansão de uma agenda originalmente desenvolvida por R. Zielony para o 92nd Street YMCA em Nova Iorque, com o apoio de vários
Modelo para uma agenda
● Inquérito a participantes;
● Iniciar;
● Ice-breaker/quebra-gelo (por exemplo, palavras
chave para assinalar com uma cruz) ;
● Sim’s e Não´s: Criar um espaço seguro para
trabalhar em conjunto;
● Brainstorming/Chuva de ideias (refl exão e
discussão de ideias em grupo) ;
● Testemunhos pessoais;
● Obter factos: perguntas e respostas;
● Roleplay/treino de situações e novos papéis;
● Fecho e discussão;
As explicações relativas a estes exercícios são
disponibilizadas nas páginas seguintes
Defi nir a agenda com um Inquérito a participantes
De modo a ajudar educadores/as de pares a compreender
a sua audiência e a defi nir a agenda apropriada do seu
workshop, é útil distribuir um questionário, de preferência
alguns dias antes do seu início (para um exemplo de
questionário, ver o Anexo 3). O questionário também
pode também ser dado quando as pessoas entram na
sala, no dia do workshop. Dê-lhes 10 minutos para o
preencher e peça-lhes para o fazer sem recorrer à ajuda
dos seus amigos. Depois de recolher os questionários,
os/as educadores/as de pares podem dar uma vista
de olhos rápida de modo a avaliar o conhecimento e
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 7 83
educadores de pares adolescentes. Rebecca Tunick, uma educadora de pares ajudou a coordenar o primeiro draft.
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a atitude daqueles que estão em vias de “ensinar” e,
simultaneamente, de conhecer as necessidades em que
se devem focar.
Iniciar5
Os workshops de educação inter-pares benefi ciam de
um exercício de preparação inicial que explica o seu
propósito e as diferentes motivações de participação.
Esta introdução variará de acordo com a agenda
escolhida e com o nível de conhecimento e os interesses
das pessoas. De seguida encontram-se dois exemplos
de exercícios introdutórios que podem ser utilizados por
grupos de educação inter-pares.
Introdução 1
A realidade de viver com X
Todas as pessoas dizem os seus nomes, o porquê da
sua participação no workshop e qual o seu interesse e
preocupação relativamente ao assunto a ser abordado.
Quando a última pessoa da fi la tiver terminado as
apresentações, ele ou ela diz “A realidade do (X) é a de
que, de um modo ou de outro, ela afecta todos nós que
aqui se encontram hoje nesta sala. Todos temos de lidar
com o facto de que (este assunto) existe neste mundo
e que directa ou indirectamente tem um impacto nas
nossas vidas. Isso signifi ca que todos nós somos
pessoas que vivem com X”. (Quando adequado, os/as
apresentadores/as podem acrescentar “Não tem de ser
ou ter X para ser afectado por isso”).
Introdução 2
“Eu sou uma Pessoa Afectada por (X)”
Este exercício de atracção de atenção pode ajudar a
estabelecer rapidamente as razões do workshop e a
forma como X afecta todas as pessoas. Deve ter-se
cuidado quando se utiliza esta abordagem pois o grupo
pode percepcioná-la como depreciativa: alguns/as
educadores/as de pares chegaram à conclusão que o
grupo pode não compreender que o/a educador/a não
é na verdade afectado/a por X de uma forma directa
ou pessoal. Cada grupo de educadores inter-pares deve
decidir se este é ou não um exercício apropriado à sua
audiência e ao seu próprio nível de à vontade.
Para usar esta abordagem, os/as educadores/as inter-
pares alinham-se em frente do grupo. A primeira pessoa
da fi la diz: “Olá, eu chamo-me (nome) e sou afectada por
X (exemplo: IST, toxicodependência, abuso sexual,…)”.
Todas as pessoas da fi la devem fazer esta introdução até
5 Adaptado de secções do Y-Peer, “Peer Education Training of Trainers Manual” 2003
que a última tenha terminado. Depois, esta última pessoa
deve fazer uma pausa e dizer: “Para algumas pessoas
esta parte da apresentação pode gerar confusão. Podem
ter acreditado que todos nós estamos a viver X. Mas
não é isto que estamos a dizer. O que estamos a tentar
dizer é que nós – individualmente e todas as pessoas
– tem de lidar com o facto de que X existe e, directa
ou indirectamente, tem um impacto nas nossas vidas.
Portanto, de uma certa maneira, todos somos “pessoas
afectadas por X” (se for relacionado com o VIH/SIDA,
pode-se acrescentar “Não têm de estar infectados para
serem afectados”).
Icebreaker - “Palavras-chave para (X)”
Um/a educador/a inter-pares lidera o exercício e outros
dois fi cam por detrás dele e escrevem num papel de
grande dimensão previamente colocado na parede.
Quem estiver a apresentar o exercício refere: “De modo
a aprender sobre X, é importante ser capaz de falar
sobre o assunto a diversos níveis. Não queremos ofender
ninguém, mas iremos fazer um exercício destinado a
aumentar a confi ança para abordar e falar do assunto”.
Em seguida, pede às pessoas para fazerem associações a
X, podendo a audiência utilizar gíria e calão. Educadores/
as de pares devem estar preparados/as para dirigir a
participação sugerindo também algumas associações.
Porém, devem ter o cuidado de não dominar a sessão
ou competir com o grupo na discussão. Quando o grupo
deixa de ter palavras para expressar as associações,
deve passar para um novo tópico.
O objectivo deste exercício é o de fazer com que todas as
pessoas se sintam mais confortáveis a discutir a temática
e fazer com que toda a gente saiba que “neste workshop,
nada do que é dito é demasiado rude ou vulgar dado
que existe uma razão para o dizer. Estamos aqui com
motivação para aprender sobre um tema sério”.
Este exercício pode ser algo intimidatório para algumas
pessoas, é útil iniciar o trabalho em pequenos grupos de
5 a 8 pessoas. Cada um destes grupos terá a sua própria
placa e marcador onde o/a porta-voz do grupo escolhido
registará as palavras e expressões proferidas pelo grupo.
Num evento maior, educadores/as podem ter de circular
pela da sala para aferir do progresso de cada grupo. Esta
solução signifi ca que as pessoas participantes não se
sentem pressionadas para proferir palavras à frente de
toda a audiência. É ideal ter pelos menos um/a educador/
a inter-pares a trabalhar com cada pequeno grupo.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 784
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Sim’s e Não´s: Criar um espaço seguro para
trabalhar em conjunto
De modo a fazer com que todos os/as participantes
se sintam confortáveis e seguros, é importante que
apresentadores/as e o grupo estejam de acordo
relativamente a um conjunto de orientações de
funcionamento, o que pode incluir:
“Direito a passar” - o direito de não participar em
determinada parte do workshop relativamente à qual se
sentem desconfortáveis;
“Confi dencialidade” – respeitar a informação privada
das pessoas; isto implica chegar a um acordo com a
audiência no sentido de ninguém poder vir a revelar
exteriormente qualquer informação pessoal partilhada
no workshop;
“Proibição de vaiar” – de modo a evitar, ofender ou
humilhar alguém;
“Uma pessoa de cada vez” – pedir às pessoas que
permitam que se fale para o grupo, sem que outras
estejam a falar ao mesmo tempo.
Alguns grupos de educadores/as inter-pares gostam de
seguir o sistema de regras referido no acrónimo “CRABS”
ou “ROPES”, que têm um conjunto semelhante de regras.
Por exemplo, uma lista de regras base que segue o
acrónimo CRABS, representa:
Confi dencialidade: As pessoas não partilharão
informação pessoal sobre os outros.
Respeito: As pessoas devem respeitar todos os
participantes do grupo. Isto signifi ca que não podem
haver ataques pessoais e que todos/as devem deixar
os/as colegas a partilhar os seus pontos de vista. Use a
afi rmação do “Eu”, tal como “Eu sinto que”, em vez de
“Não, tu estás errado(a), a coisa certa é”.
Atenção: Ouça o que a outra pessoa está a dizer. Assim,
não só terá maior probabilidade de aprender alguma
coisa como a pessoa que está a falar se vai sentir mais
confortável na sua intervenção.
Be open (Seja aberto): Para aproveitar o máximo do
workshop, as pessoas devem ser encorajadas a falar da
sua experiência pessoal. Arrisque – não tenha medo de
falar…
Sensibilidade: Seja sensível às outras pessoas e ao seu
historial de vida. Não faça generalizações.
Depois de serem apresentadas estas regras base, é altura
de perguntar “Existe mais alguma regra que alguém
gostasse de ver observada?”
Brainstorming (partilha, discussão e refl exão de
ideias em grupo)
Esta é uma das técnicas mais importantes para envolver
os/as participantes numa refl exão aberta e criativa sobre
um tema. Neste exercício as pessoas são divididas em
pequenos grupos de 6 a 8 elementos. Um grupo mais
pequeno pode formar menos grupos e os grupos mais
rápidos podem avançar para uma segunda questão a ser
colocada para refl exão. Numa audiência mais alargada,
mais do que um grupo pode trabalhar a mesma questão,
ou pode abranger um maior número de questões. Se
houver uma equipa de educadores/as inter-pares, estes
distribuem-se por entre os grupos.
A cada grupo é dada uma questão para refl exão e
discussão e defi nido um tempo limite para o fazer. Quem
dinamiza o exercício pode encorajar os grupos e ajudar
a pensar em mais respostas com ideias ou pistas sobre
como responder às questões colocadas.
O formato das questões pode seguir a seguinte
orientações:
1. Porque é que algumas pessoas (têm ou se
envolvem em) X?
2. Quais poderão ser algumas das razões para
(esperar para experimentar/abster-se) X?
3. Quais serão as alternativas a (ser/fazer) X?
4. Porque é que algumas pessoas não se protegem
de X? (quando adequado)
5. Como é que pode encorajar alguém a tornar-se
mais seguro relativamente a X?
Aqui estão exemplos de listas de respostas exemplo
a cinco questões colocadas para refl exão e discussão
durante um workshop sobre prevenção e saúde sexual:
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 7 85
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Porque é que algumas pessoas têm sexo?
● Diversão;
● Sabe bem; prazer; gozo;
● Os amigos fazem-no;
● Liberdade;
● Rebelião;
● Aborrecimento; ter alguma coisa para fazer;
● Aventura;
● Curiosidade; experimentação;
● Enamorado;
● Seguir o exemplo de outro;
● Pressão do/a parceiro/a;
● Pressão dos pares;
● Por dinheiro/sexo para sobrevivência;
● Pensar que estão apaixonados;
● Hábito/vício;
● Porque podem;
● Hormonas;
● Para fugir a outros problemas;
● Natureza humana; actividade natural;
● Ver na televisão ou nos fi lmes; pressão dos mass
media;
● Ignorância; desinformação;
● Obcecados;
● Medo de rejeição; para manter uma relação;
● Status: é porreiro; para provar a masculinidade;
● Para ter um bebé; reprodução;
● Poder;
● Violação;
● Ser adulto;
● O risco é excitante;
● Vulgar, luxúria;
● Para explorar o corpo;
● Á procura de amor; para sentir carinho;
● Popularidade;
● Intimidade;
● Conquista;
● Não querer ser virgem;
● Imaturidade;
● Fugir à realidade;
● Alivia o stress;
● Descompressão emocional;
● Para ganhar experiência;
● Para esconder os seus sentimentos;
● Intoxicação.
Quais são as razões para esperar ou abster-se?
● Não ter vontade;
● Má disposição;
● Não estar preparado;
● A primeira vez deve ser especial;
● Não gostar de sexo;
● O sexo magoa;
● Não estar apaixonado/a;
● Não querer ser usado/a;
● Não querer um bebé;
● Não querer apanhar uma infecção sexualmente
transmissível;
● Medo;
● Não conhecer o historial do/a parceiro/a;
● Religião;
● Ter medo de ser “apanhado” pelos pais/família;
● O sexo não valer a pena;
● Não estar com a pessoa certa;
● Ser demasiado jovem;
● Não estar confortável consigo ou com a outra
pessoa;
● As consequências serem grandes;
● As pessoas não a podem chamar de “vulgar” ;
● Querer continuar virgem;
● Ser contra os valores.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 786
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Quais são as alternativas às relações sexuais?
● Dar as mãos;
● Masturbação mútua;
● Sexo telefónico; cibersexo;
● Fantasiar;
● Apalpar/tocar/acariciar;
● Massajar;
● Beijo nos lábios;
● Sexo seco (sexo com roupa) ;
● Roçar os pés;
● Fazer um piquenique;
● Tomar banho juntos;
● Conversas longas;
● Dança; dança erótica;
● Dar um longo passeio romântico a dois;
● Ver fotografi as sexy, ver fi lmes pornográfi cos;
● Usar objectos sexuais (mantê-los esterilizados,
se forem partilhados);
● Utilizar alimentos de forma criativa;
● Lamber o corpo, excepto em feridas abertas ou
membranas mucosas;
● Dizer palavrões;
● Ler romances escaldantes;
● Meditar;
● Fazer exercícios em conjunto;
● Roçar o corpo;
● Métodos herbais/holísticos; acupunctura ;
● Beijar apaixonadamente;
● Sexo oral;
● Dormir com alguém;
● Diga “Eu amo-te”; pronuncie os seus sentimentos
através de palavras mas com uma expressão
física;
● Partilha de hobbies.
Por que é que algumas pessoas não usam protecção/prevenção?● Demasiado caro;
● Estraga a disposição, não é romântico;
● Embaraço;
● Não sei como usar;
● Não é tão bom quando se usa o preservativo;
● Alergia;
● Estraga a espontaneidade;
● Não é 100% efi caz ou seguro;
● Vai contra as crenças – religiosas, regras do grupo, etc.;
● Não querer parecer promíscuo;
● Implica que o sexo foi planeado;
● Falta de poder; luta pelo poder;
● Baixa auto-estima;
● Recusa do parceiro;
● Medo de rejeição; colocar a relação em risco;
● Egoísmo;
● Sentimentos de invencibilidade; negação;
● Não querer admitir a responsabilidade;
● Excitação de correr o risco;
● Difi culdade do acesso a preservativos;
● Puro desmazelo;
● Confi ança absoluta na história sexual do/a
parceiro/a; negação de outras relações;
● Ignorância, inexistência da consciência dos riscos
envolvidos;
● Auto–destruição;
● Confi anças noutros métodos contraceptivos que
não são efi cazes na protecção de doenças (coito
interrompido…);
● Alergia;
● Masculinidade; Machismo;
● Casamento;
● Desejar engravidar;
● Raiva; agressão;
● Fidelidade; uma relação monogâmica;
● Ansiedade;
● Esquecimento no momento, mau planeamento;
● Esconder a actividade sexual ou a sexualidade;
● Colocar a responsabilidade no outro versus
serem ambos responsáveis.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 7 87
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Como é que se encoraja o parceiro/a, a usar protecção/prevenção?
● Os preservativos evitam a gravidez bem como
a transmissão de infecções sexualmente
transmissíveis e o VIH;
● Eu tenho cuidado contigo;
● Eu não quero que adoeças ou que morras;
● Sem protecção não há amor;
● Eu não quero fi car doente ou morrer;
● Se realmente te preocupasses comigo
concordarias em usar protecção;
● Se não usares o preservativo, esquece-me;
● Abstêm-te se não houver protecção;
● Melhor com segurança do que com pena;
● Torne isto num jogo; coloque o preservativo no
seu parceiro;
● Diga “ Vou gostar mais se usarmos protecção”;
● O sexo é mais suave e facilita com preservativo
lubrifi cado;
● Os preservativos aumentam o período de
erecção;
● Proteja, não infecte;
● Se queres estar comigo usa o preservativo. Não
quero ser infectado(a) com o VIH, portanto usa-
o ou vai-te embora;
● Fale sobre sexo com antecedência – ao telefone
ou numa conversa normal;
● Coloque o preservativo ao seu parceiro durante
o processo de excitação de modo a ele ter
difi culdade em recusar;
● Eu não sei com quem é que estiveste antes;
● Poderemos voltar a fazê-lo e fazê-lo se
sobrevivermos à primeira vez;
● Um caso de uma noite ou uma situação de nove
meses?;
● Existem preservativos de várias cores e
sabores;
● A SIDA não discrimina;
● Hoje usamos o meu (sugestão de incluir o
preservativo feminino).
Testemunho pessoal
Na próxima parte da apresentação, uma pessoa que vive
com X aparece e fala sobre as suas experiências. Esta
pode ser a parte mais forte, a mais valia da apresentação.
É importante conhecer bem a pessoa e assegurar que
fala bem em público e que se encontra perfeitamente
preparado(a) para a apresentação. Encoraje-o(a) a
falar sobre coisas que possam estar relacionadas os
participantes, especialmente de experiências pessoais,
tais como, a sua vida diária e como é que se sente
relativamente a ela. Outra opção, é a de mostrar um
documentário ou um vídeo sobre X e o seu impacto sobre
a vida das pessoas e do planeta.
Deve ter-se em atenção a escolha do orador, pois este
deve estar seguro na sua abordagem. Por exemplo,
não deve estar em risco de poder “desorganizar-se”
por falar sobre as suas experiências pessoais enquanto
toxicodependente. Isto pode acontecer se ele/ela não
tiver tido ainda tempo sufi ciente para recuperar ou se não
tiver tido a oportunidade de estar com o seu terapeuta e
garantir uma conversa pós-Workshop.
Obter os factos
A parte da apresentação que se segue é a parte principal
do processo ensino/ aprendizagem. Enquanto os factos
são apresentados os/as educadores/as expõem os factos
chave e respondem às questões colocadas.
Uma área importante a ter em conta é a redução dos
riscos de X. Neste exercício, o/a educador/a dá pistas
sobre factos relacionados com a redução de riscos de X.
De seguida, apresentamos um exemplo para discussão
do VIH/SIDA. Primeiro, deve ser apresentado o seguinte
quadro:
A redução dos riscos de VIH/SIDA:
Não permita os seguintes fl uidos:1__________________2__________________ 2a.______________3__________________ ou4__________________
na sua:_____________ou sobre as suas:__________________localizadas:_______,________,_________,________,_
De seguida, o/a educador/a começa por direccionar os
participantes à descoberta do que deve ser colocado nos
espaços em branco perguntando, por exemplo, “Quais
são os quatro fl uidos que podem transmitir o VIH?”
Depois pode perguntar “de que sistema e tipos de partes
do corpo devemos manter afastadas do contacto com os
fl uidos?” As respostas correctas são as seguintes:
A redução dos riscos de VIH/SIDA:
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 788
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Não permita:
1 sangue
2 sémen
2a. Fluído pré-ejaculatório
3 fl uídos vaginais
4 leite materno6
na sua: corrente sanguínea
ou sobre as suas: mucosas
localizadas: vagina, ânus, pénis, boca, olhos, nariz.
Após as respostas e de o/a educador/a ter preenchido
todos os espaços em branco, explicará então toda a
informação de forma clara e detalhada.
Treino de situação, “faz-de-conta”, role-play
Os exercícios de treinos de situações são cenas simples
e improvisadas que permitem introduzir factos e
informação sobre um tópico seleccionado enquanto,
simultaneamente, expõem os/as participantes a situações
diárias relacionadas com o tópico. Ajuda também a
construir ou a melhorar as capacidades para lidar com o
tópico. Estes exercícios podem adquirir várias formas. Os
exemplos seguintes são os dois mais frequentes.
Para começar, os/as educadores/as sugerem situações do
“dia-a-dia” que um número pré-defi nido de participantes
encenam espontaneamente. Podem também atribuir
papéis específi cos a cada participante.
Aqui fi ca uma lista de situações que podem ser valiosas
para os workshops que versam sobre VIH, IST, drogas e
sexualidade:
1. Demonstração de colocação de preservativos
masculino e feminino;
2. Uso de drogas/álcool ;
3. Bebedeira que numa festa acaba em sexo;
4. Como limpar um kit de injecção.
5. Período janela: período entre o comportamento
de risco e o resultado da análise/teste ao VIH/
Sida;
6. Teste: informação, números, locais;
7. Diferença entre preservativos de látex e de tripa
de cordeiro;
8. A descoberta do preservativo pelo pai ou pela
mãe;
9. Uso de barra de látex no sexo oral;
10. Devo fazer o teste?;
11. Comunicar o estatuto de VIH; apoiar alguém que
seja seropositivo;
6 Deve ser referido, porém, que em países onde a água potável não está disponível as regras podem ser algo diferentes relativamente à amamentação. A amamentação
12. Tópicos heterossexuais e homossexuais – Estou
preparado? Devemos usar preservativo? O que é
que os meus amigos vão pensar?;
13. Lubrifi cantes;
14. Fluído pré-ejaculatório;
15. Novos tratamentos ou novas drogas;
16. Assédio sexual.
Treino de situação - novos papeis7
Esta é uma outra forma de preparar os/as participantes.
Duas pessoas iniciam uma cena improvisada. Quando a
cena parece estar no auge, ou alguém precisa de “ser
salvo”, outra pessoa dá um toque num dos intervenientes
originais e inicia uma nova cena, ou continua aquela que
está em curso. O outro actor improvisa a resposta.
As cenas podem ser construídas sobre os mesmos
tópicos, tal como explicado no parágrafo sobre treino de
situações, “faz-de-conta” e role-play.
Fecho e discussão
A audiência é convidada a partilhar perguntas, respostas
ou comentários que têm sobre as actividades do
workshop. Esta é uma oportunidade para rever assuntos
que podem ter surgido durante os role-play, tais como as
escolhas feitas pelas personagens que eram retratados
por participantes e/ou educadores/as. Idealmente, o
role-play serve como uma “rampa de lançamento” para
a discussão. Igualmente, se existir um/a convidado/a,
essa pode também ser a altura para interagirem com
ele(a).
Findos os trabalhos do workshop, educadores/as devem
fi car por perto durante alguns minutos de modo a que
as pessoas possam abordá-los com comentários ou
questões. Alguém pode querer perguntar algo de pessoal
ou precisar de apoio, e pode sentir-se mais à vontade
individualmente do que colocar a questão no decorrer do
workshop.
Quebra-gelo, jogos e exercícios8
Os exercícios e jogos podem ser utilizados não apenas
nas apresentações como também na sua preparação.
Existem muitos exercícios que podem ajudar os/as
educadores/as de pares a sentir-se mais confortáveis.
Estes jogos ajudam os/as participantes a sentirem-se
mais confortáveis e mais à vontade com o grupo.
Furacão (ou”Um vento frio sopra…”)
Este exercício é divertido e activo, mobilizando os/as
participantes a saírem das suas cadeiras e a andarem
7 Adaptado de uma técnica ensinada por Stacy Block, Peer Education Programme “Refl ections”, Brunswick, New Jersey.8 Adaptado de secções de Zielony, R. & Tunick, R. Peer Education Manual, 92nd St. Y NYC, 1996. Esta secção inclui uma descrição de jogos e exercícios criada e/ou sub
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 7 89metida por um número de educadores pelos pares e de instrutores, incluindo Shira Piven, dramaturga. A fonte original para muitos deles é desconhecida.
exclusiva e consistente em algumas áreas parece oferecer resultados mais positivos do ponto de vista da saúde, e minorar riscos de transmissão do VIH do que a combinação de leite materno com leite artifi cial.
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de um lado para o outro. O jogo começa com o grupo
sentado com as cadeiras em círculo em torno de uma
pessoa. Existe menos uma cadeira do que a totalidade
dos participantes). O objectivo é que a pessoa do centro
consiga uma cadeira e outra fi que no meio do círculo. O
jogo funciona da seguinte forma:
A pessoa que fi ca no centro em pé começa uma frase
com: “Um vento frio sopra para qualquer um que…” e
termina-a com um facto sobre si e que é verdadeiro.
Por exemplo, se estiver a usar jeans, poderá dizer:”Um
vento frio sopra para qualquer pessoa que esteja a usar
jeans”. Às pessoas a quem também se aplica aquilo que
é dito levantam-se imediatamente e correm através do
círculo para encontrar uma cadeira deixada livre por
outra pessoa (não podem apenas mudar para a cadeira
que fi ca ao seu lado). A pessoa que está no meio do
círculo corre também para arranjar um lugar. No fi m
vai fi car uma outra pessoa em pé. Essa pessoa ocupa
o centro do círculo e o processo é repetido, dando-se
continuidade ao jogo.
As escolhas não estão limitadas a coisas físicas. Podem
incluir, atitudes, experiências de vida, etc. Por exemplo,
se uma pessoa acredita no apoio aos outros que querem
ser abstinentes, ele ou ela podem dizer “Um vento frio
sopra para qualquer pessoa que acredita que as pessoas
que querem ser abstinentes devam ser apoiadas na
sua decisão”. Ele ou ela podem afi rmar “Um vento frio
sopra para qualquer pessoa que pensa que devem ser
disponibilizados preservativos nas escolas secundárias”.
O jogo acaba quando o/a facilitador/a (ou o grupo)
decide terminá-lo.
A Kitty quer um cantinho
Os membros do grupo colocam-se em círculo e uma
pessoa começa por ser a “Kitty”. A pessoa no meio do
círculo (a “Kitty”) anda em redor do círculo dizendo “a
Kitty quer um cantinho”. A pessoa a quem a Kitty pede
responde “Pergunta ao meu vizinho”, e a “Kitty” move-
se no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio,
dirigindo-se ao participante seguinte. À medida que a
“Kitty” vai falando, as pessoas que formam o círculo
correm para trocar de lugar, por detrás da “Kitty”. A
“Kitty” tenta tomar o lugar de alguém que está a correr
para mudar de lugar e quando consegue, a pessoa que
fi cou sem lugar no círculo é a nova “Kitty”.
Jogo de corpo hou-ha
Este exercício é óptimo para animar a disposição do
grupo. Todas as pessoas em círculo; uma pessoa emite
um som e faz um movimento corporal. A pessoa ao
seu lado imita-a de imediato. O barulho e o movimento
corporal são repetidos por todo o círculo até à pessoa que
os originou, e que volta a repeti-los. A pessoa ao lado cria
agora o seu próprio barulho e movimento, que percorrem
novamente o círculo, e assim sucessivamente.
O jogo do sim ao nome
Aqui está uma forma efi caz para aprender o nome das
pessoas. Este é um bom jogo para treinar e praticar
capacidades de audição assim como para ajudar a ensinar
“o dar e receber” necessário para uma boa técnica de
drama. O jogo envolve as pessoas dispostas em círculo
a moverem-se para espaços onde outras tinham estado,
depois de chamarem pelos seus nomes e de obter um
sim. O jogo funciona da seguinte maneira:
Primeiro, todos se dispõem em círculo apresentando-
se várias vezes até as pessoas fi carem familiarizadas
com os nomes. Alguém começa por dizer o nome de
uma pessoa. Essa pessoa responde “sim” e a pessoa
que chamou move-se para a substituir no seu lugar,
recordando que é proibido mover-se até se ter ouvido o
“sim”. A pessoa cujo nome foi chamado segue o mesmo
procedimento.
Jogo para nomes e bola lançada9-10
Este exercício é óptimo para ensinar educadores inter-
pares de pares sobre o valor e elementos de uma boa
comunicação. Todos os participantes se dispõem num
círculo e apresentam-se uma ou duas vezes. Alguém vai
buscar um objecto para rodar (por exemplo, uma bola de
papel amassado). Essa pessoa entra em contacto visual
com outra e diz o nome dessa pessoa, rodando a bola.
Se alguém se esquecer do nome de alguém, pode-se
pedir para repetir. Depois de alguns minutos, pode ser
introduzida uma segunda e depois uma terceira bola, o
que aumenta o caos e o riso.
Pode então dar ao grupo a tarefa de tentar, por exemplo,
descobrir 10 ou 15 nomes sem que se deixe cair a bola,
caso contrário terá de se dar novamente início ao jogo. A
instrução é de que sejam envolvidas três bolas no jogo.
Quando isto tiver sido feito, pode-se introduzir a
discussão. A discussão pode iniciar-se com a questão de
9 Adaptado de um exercício ensinado por Robert Eckert, NDRI (Narcotic and Drug Research Incorporated.
10 Revisto no Peer Education TOT Manual, 2003 Y-Peer UNPFA, UNICEF, UNESCO, WHO.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 790
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como é que os participantes se sentiram com o jogo.
Depois, pode-se debater a ideia de como atirar a bola
(de uma pessoa para a outra), pode ser considerada
uma metáfora em comunicação. O facilitador deve pedir
ao grupo para identifi car requisitos necessários para o
sucesso do jogo. Tais como: contacto visual, chamar
alguém pelo nome, ter a certeza que as pessoas estão
preparadas para receber a bola (ou a mensagem), atirá-
la directamente para a pessoa, não a atirar quando
outra bola está a ser atirada, e daí por diante, são tudo
elementos importantes para incluir no jogo.
Jogo de associação de nomes
Este é outro exercício divertido que ajuda os participantes
a aprender nomes. Cada jogador escolhe uma acção que
começa com a primeira letra do seu nome.
Sebastião: “Eu sou o Saltador Sebastião” (ele salta).11
Rita: “Ele é o saltador Sebastião (ele salta). E eu sou a
risonha Rita” (ela ri).
Carla: “Ele é o saltador Sebastião (ele salta). Ela é a
risonha Rita” (ela ri). E eu sou a corredora Carla” (ela
corre).
Passa um aplauso12
Todas as pessoas se dispõem em círculo. Para passar um
aplauso, deve contactar visualmente a pessoa que se
encontra a seguir a si e bater palmas ao mesmo tempo
que ela. Esta pessoa contacta com o olhar a pessoa que
está ao seu lado e aplaude. Essa pessoa bate palmas com
as duas pessoas e depois volta-se, entra em contacto
visual com a pessoa seguinte e aplaude com ela. O ritmo
instala-se e o líder pode dizer “mais depressa” ou “mais
devagar” para alterar o ritmo dos aplausos.
O que é que estás a fazer?
Este exercício pode ajudar a preparar os participantes
para a actuação. Todos se dispõem em círculo. Uma
pessoa começa a representar uma acção através de
mímica, por exemplo balançar uma bola imaginária. A
pessoa à sua esquerda pergunta: “O que é que estás a
fazer?”.
A pessoa que parece estar a balançar a bola responde,
mas diz que de facto está a fazer outra actividade, por
exemplo, pescar um tubarão. Esta resposta pode ser
espontânea e a primeira coisa que lhe surge. A pessoa
que colocou a questão deve então representar, através
de mímica, a informação sobre a actividade que recebeu
(neste caso, pescar um tubarão), o mais criativamente
possível. Quem está sentado junto da 2ª pessoa pergunta
11 n.t Mantêm-se aqui a terminologia da acção em inglês de modo a que a mecânica do jogo seja perceptível. Neste caso, a inicial do nome, o J(ason), corresponde e
12 Eckert, Bob, The Life Institute (Learning Institute for Functional Education), Peer Education Programme “Refl ections”. Bergen, New Jersey, USA.
então “O que é que está a fazer?” A pessoa que está
a “pescar um tubarão” responde com a primeira ideia
que lhe vem ao pensamento, sendo a vez da pessoa que
fez a pergunta representar o que foi dito na resposta
recorrendo à mímica, e assim sucessivamente.
Construir uma máquina
Isto pode ajudar a apreender o valor do trabalho em
equipa. Uma pessoa começa com um movimento
acompanhado de um som repetitivo e ritmado. Outra
pessoa junta-se à pessoa e associa-se ao trabalho de
construção da máquina produzindo um som e movimento
com um ritmo diferente. Isto continua até que todos, à
excepção do facilitador, tenham contribuído para por a
máquina a trabalhar. Ao longo do jogo, o facilitador pode
dizer aos participantes para desacelerarem e aumentarem
o ritmo ou pararem. O trabalho da máquina deve estar
“sincronizado” em todas as partes.
Corda (ou pretzel)13
Todos as pessoas se dispõem num círculo apertado,
levantando a sua mão direita e a agarrar a mão direita
de outra pessoa. Depois, cada um levanta a sua mão
esquerda e agarra a mão esquerda de uma outra pessoa.
Sem “desamarrar” as mãos, devem sair daquele nó (ou
“desamarrar” a corda) e voltar ao círculo. Se o grupo
começar a fazê-lo facilmente, podem introduzir algumas
variantes: não se poder falar, só sussurrar, etc.
Atenção: As pessoas que participam neste jogo devem
ser advertidas antes do começo para serem cuidadosas
evitando magoar, tendo atenção para não torcer os
braços, pisar, etc.
Espelho
Em pares, cada participante refl ecte exactamente aquilo
que as mãos do parceiro estão a fazer. A pessoa que
lidera o par deve dar a vez ao outro. Às vezes, não é
claro de quem é a iniciativa; idealmente os elementos do
par trabalham em conjunto, fazendo turnos na liderança
e no refl exo.
Dizer a verdade
Este exercício pode ajudar a mostrar quão fácil é fazer
afi rmações sobre os outros. Todos os jogadores são
instruídos para escreverem alguma coisa sobre eles
próprios que seja verdade mas que ninguém na sala
saiba. Devem ser previamente avisados que aquilo
que vão escrever será eventualmente revelado a todo
o grupo, por isso deve ser algo com o qual se sintam
confortáveis em partilhar com todos. Cada pessoa
13 Adaptado do exercício “Knots/Giant Knot”, New Games for the Whole Family, Dale N. LeFevre, Rerigree Books, 1988
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 7 91
inspira a inicial da acção J(umping).
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escreve o seu nome no papel e entrega-o ao facilitador.
Este escolhe um dos segredos e de seguida escolhe três
membros para integrarem um painel, incluindo a pessoa
que escreveu o segredo escolhido, sem revelar qual o
segredo. De seguida o facilitador escolhe três juízes e lê
o segredo e cada membro do painel tenta convencer o
júri e a audiência de que ele é o autor do segredo que
foi lido. A pessoa de quem é o segredo não pode faltar
à verdade.
Cada juiz dirige uma pergunta a cada membro do painel
para determinar a quem pertence o segredo. Depois
das respostas, os juízes votam o nome da pessoa que
associam ao segredo; só no fi nal a pessoa a quem
pertence o segredo se revela.
A outra metade
O facilitador escreve pares de palavras em cartões ou
quadrados de papel. Cada cartão deverá ter uma palavra,
tal como “cabelo”, tendo um cartão correspondente com
a palavra par, tal como “escova”. Outros exemplos de
pares de palavras são: marcador – livros, maçaneta –
porta, cachorro – quente, bola – neve, saltar – corda,
chá - verde. É dado a cada participante um cartão com
uma palavra escrita e começa então a procura da pessoa
com o cartão complementar.
Levantar em conjunto
Este é um outro exercício de construção de espírito de
equipa. Os participantes dividem-se em pares. Cada par
senta-se no chão com as costas voltadas, dão os braços
e tentam levantar-se em simultâneo, fi cando com os
seus braços ligados todo o tempo. Depois de terem feito
isto, os pares associam-se em 3, depois em 4 e assim
sucessivamente até que todo o grupo tenta fazê-lo em
conjunto.
Querido(a), eu amo-te
Este exercício é uma boa forma de introduzir algum
divertimento e riso num workshop. O grupo senta-se
em círculo fi cando uma pessoa ao centro. A pessoa ao
centro aborda alguém do grupo e diz “Querido(a), amo-
te, podes rir por favor?” Essa pessoa tem de responder
sem sorrir ou rir. A pessoa a quem foi feita a pergunta
diz: “Querido(a), eu também te amo, mas não posso
sorrir”. Se o participante responder desta forma sem se
rir, então a pessoa que está no centro deve dirigir-se a
outro participante e fazer a mesma pergunta. O objectivo
é sair do centro dizendo: “Querido(a), eu amo-te, podes
sorrir por favor?” da forma mais divertida possível para
que a pessoa a quem é feita a pergunta responda a sorrir
ou a rir.
Corrida do preservativo
Esta é uma boa forma de testar o conhecimento dos
participantes sobre a colocação dos preservativos.
Depois de terem sido ensinados sobre como colocar
correctamente um preservativo, o grupo é dividido em
duas equipas. A cada pessoa é dada uma embalagem
com preservativos. As equipas concorrem entre si para
colocar de forma correcta, o seu preservativo num
modelo anatómico. Se alguém fi zer alguma coisa de
errado, é-lhe dado outro preservativo e tem de começar
tudo de novo.
Palavra-chave para um sexo mais seguro14-15-16
Esta é uma boa forma de ajudar os participantes a
lembrarem-se de palavras-chave relacionadas com o
sexo seguro e a prevenção do VIH/SIDA. O grupo divide-
se em dois grupos que se sentam frente a frente. Mostra-
se a palavra-chave a um grupo, uma palavra relacionada
com o sexo seguro e que é escolhida pelos facilitador.
O objectivo do grupo ao qual é mostrada essa palavra
é o de tentar que o outro grupo a descubra, dando-lhe
duas ou três palavras que sirvam de pista sem, porém,
revelarem qual é a palavra-chave. Uma pessoa dá uma
pista e a pessoa do outro grupo que está à sua frente
tenta adivinhar a palavra. Se tiver errado, a pessoa a
seguir àquela que a pista, fá-lo novamente e a que se
encontra à sua frente tenta descobrir. O jogo continua
a desenrolar-se desta forma até que a palavra seja
descoberta. Algumas das palavras que se podem utilizar
como pista são: membranas mucosas, clítoris, pénis,
preservativo, SIDA, etc.
Comboio
Os participantes formam duas ou três fi las. Todos têm
de fechar os olhos, à excepção do último participante
que dá as orientações. Se ele/ela aperta os ombros da
pessoa que está à frente, isso signifi ca que eles devem
continuar a direito, se tocar no ombro esquerdo, signifi ca
que deverão virar à esquerda, se o fi zer no ombro
direito, signifi ca que deverão virar à direita. Todos os
participantes fazem isto à pessoa que está à sua frente
e precisam de ter atenção para não chocar contra o(s)
outro(o) comboio(s).
14 Adaptado de um conceito usado no High Risk Adolescent Project “H-RAP” Curriculum of Westover Consultants in Washington DC. USA.
16 Peer Education TOT Manual, 2003 Y-Peer UNFPA, UNICEF, UNESCO, WHO.15 Adaptado de Zielony, R. & Tunick, R., Peer Education Manual, 92 nd St. Y NYC, 1996.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva - Secção 792
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Glossário
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glossariofinal r q p.indd 2glossariofinal r q p.indd 2 30-10-2008 11:29:1130-10-2008 11:29:11
GlossárioAAborto: interrupção voluntária ou involuntária da
gravidez. O aborto induzido (voluntário) é utilizado para
pôr fi m a uma gravidez já estabelecida; pode ser feito
com medicação ou cirurgicamente.
A maioria dos abortos espontâneos (involuntários) –
cerca de 90% - ocorrem durante o primeiro trimestre da
gravidez.
Abstinência: ausência de relações sexuais por vontade
própria. Uma relação sexual pode ser entendida de
forma diferente por pessoas diferentes. Algumas pessoas
entendem que uma relação sexual envolve apenas a
penetração do pénis na vagina; outras pessoas incluem
neste conceito práticas como o sexo oral, sexo anal e
preliminares.
Abstinência periódica: ausência de relações sexuais
durante determinado período de tempo. Os casais
evitam as relações sexuais durante o período fértil do
ciclo menstrual. A efi cácia deste método depende da
capacidade do casal em identifi car o período fértil e da
motivação/disciplina para praticar a abstinência quando
necessário.
Aconselhamento: processo de comunicação biunívoco
no qual uma pessoa ajuda outra a identifi car as suas
necessidades, em termos de saúde sexual e reprodutiva,
e tomar decisões responsáveis e conscientes. O
aconselhamento é caracterizado por uma troca de
informação, discussão, refl exão e deliberação.
Aconselhamento e diagnóstico voluntários
(ADV): processo através do qual uma pessoa inicia
o aconselhamento que lhe permite fazer uma escolha
informada sobre a realização do teste do VIH. Esta decisão
deve ser inteiramente da escolha da pessoa que terá de
ter a certeza de que o processo é confi dencial. O ADV
tem um papel vital a desempenhar no âmbito de uma
variedade compreensível de medidas para a prevenção e
cuidados do VIH, e deveria ser promovido. Os benefícios
potenciais do ADV para as pessoas incluem: uma melhoria
do estado de saúde através do aconselhamento nutricional
e o acesso mais atempado aos cuidados e prevenção/
tratamento das infecções/doenças relacionadas com o
VIH; apoio emocional; melhor capacidade para lidar com
a ansiedade relacionada com o VIH; consciência
das opções para a prevenção da transmissão vertical de
infecções/doenças; e, motivação para iniciar ou manter
um comportamento sexual mais seguro e minimização
dos danos associados ao uso de drogas. Outros benefícios
incluem a doação segura de sangue.
Adolescência: período de transição da infância para o
estado adulto. Este processo comporta fases distintas:
puberdade, com predomínio das alterações físicas;
adolescência propriamente dita, com predomínio das
alterações psicológicas; e, juventude que compreende
o processo de mudanças para a inserção social. A
Organização Mundial de Saúde usa o intervalo dos
10 aos 19 anos para defi nir a idade da adolescência,
subdividindo a adolescência primária – dos 10 aos 14
anos – e a adolescência tardia – dos 15 aos 19 anos.
Advogar/Advocacy: é o termo usado para descrever
diferentes formas de construir apoio político, público e
fi nanceiro para um tema ou causa especifi ca. Advogamos
para aumentar o apoio para uma causa e infl uenciar
outros, a construir um ambiente favorável e em simultâneo
tentar promover um quadro legislativo coerente e
adequado a esse facto, o que implica promoção, defesa
e visibilidade. Campanha ou delineação de estratégias
que visam contribuir para alterar propostas e medidas
de política, posicionamentos, ou programas em qualquer
sector institucional. Signifi ca defender, recomendar ou
apelar a favor de uma ideia perante outras.
Assintomático: estado no qual não existem sinais e/
ou sintomas de determinadas infecções/doenças, por
exemplo, quando uma pessoa está infectada pelo VIH e
não apresenta qualquer sinal/sintoma.
Avaliação: estudo no qual podem ser utilizados vários
tipos de técnicas de recolha e análise de informação, no
sentido de determinar se um programa está a implementar
as actividades planeadas e se está a atingir os objectivos
propostos através dessas mesmas actividades.
BBarras de Látex: são folhas quadradas de látex,
material muito semelhante ao dos preservativos.
Foram inicialmente produzidas para os doentes de
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva -Glossário 95
glossariofinal r q p.indd 3glossariofinal r q p.indd 3 30-10-2008 11:29:1130-10-2008 11:29:11
estomatologia, pois serviam para evitar que fragmentos
de materiais usados durante as intervenções caíssem
na garganta. São também utilizadas para cobrir a vulva
durante a prática de sexo oral de forma a reduzir/evitar
o risco das infecções sexualmente transmissíveis.
Bissexual: orientação sexual na qual a pessoa é atraída
por pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto.
CCapacidade de negociação: capacidade necessária
para conseguir comunicar e ser assertivo relativamente
às suas necessidades, por exemplo, a capacidade de
negociar com o parceiro o uso do preservativo.
Capacidade de recusa: capacidade de dizer “não”
quando alguém tenta encorajar uma pessoa a fazer algo
que não tem vontade.
Célula T-HELPER: célula cd4 essencial ao sistema
imunitário; célula atacada pela infecção do VIH.
Confi dencialidade: informação ao dispor de uma pessoa
e não disponibilizada a outros, a não ser sob autorização
da pessoa a quem essa informação diga respeito.
Contracepção: métodos utilizados para prevenir uma
gravidez.
Contracepção de Emergência: método contraceptivo
a que se pode recorrer depois de uma relação sexual em
que não foi utilizada contracepção ou quando existe falha
no método contraceptivo utilizado regularmente, como
por exemplo, o rompimento de um preservativo ou falha
na toma da pílula. Existem dois tipos de contracepção
de emergência: hormonal, também conhecida por “pílula
do dia seguinte” que deve ser tomada até 120 horas
seguintes à relação sexual, e o Dispositivo Intra-Uterino
de cobre (DIU) ou aparelho. Este deve ser colocado por
um/a ginecologista até cinco dias após a relação sexual
e actua ao impedir que a nidação ocorra (implantação do
óvulo fecundado no útero).
Contracepção hormonal: Métodos sistémicos de
contracepção constituídos por progesterona combinada
com um estrogénio ou uma progesterona isolada. Os
métodos oferecidos incluem comprimidos, injecções,
implantes e o sistema intra-uterino (SIU). Todos eles são
reversíveis.
Contracepção oral (CO): Veja Contracepção
Hormonal
DDiscussão em focus grupo: método qualitativo de
investigação utilizado para estabelecer as razões pelas
quais as pessoas se comportam de determinadas
formas. A técnica envolve normalmente discussões
aprofundadas com pequenos grupos de pessoas (8
– 10). Um moderador promove a discussão em grupo
lançando tópicos específi cos que são importantes para
um projecto ou actividade futura e em seguida encoraja
uma troca de ideias e sentimentos livre e aberta.
Dispositivo intra-uterino (DIU): método de
contracepção de longo prazo e reversível que envolve a
inserção no útero de um dispositivo pequeno e fl exível,
feito de cobre e/ou plástico.
Dupla protecção: protecção de uma gravidez não
desejada e das infecções sexualmente transmissíveis,
incluindo o VIH. A protecção dupla pode ser conseguida
utilizando o preservativo associado a outro método de
contracepção. É particularmente relevante quando as
intervenções são focadas em grupos que se encontram
em situações de vulnerabilidade, tais como os jovens,
pessoas envolvidas em actividades prostitutas, etc.
EEducação sexual: educação sobre todas as matérias
que tenham a ver com a expressão da sexualidade,
tais como, processos reprodutivos, puberdade e
comportamento sexual, contracepção, protecção face a
infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o VIH/
SIDA, as relações, parentalidade, as atitudes face à
sexualidade, os papéis sexuais, as relações de género
e as pressões sociais de se ser sexualmente activo(a),
prevenção de violência, comportamentos de risco e
pedidos de ajuda, entre outros. Este tipo de educação
oferece informação sobre os serviços de saúde sexual
e reprodutiva. Pode incluir também formação para a
obtenção de capacidades de comunicação e de tomada
de decisão.
Manual de educação inter-pares em direitos de saúde sexual e reprodutiva -Glossário96
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Epidemia: doença infecciosa que se espalha rapidamente
por muitas pessoas numa cidade, região ou país.
Equidade de género: aplicação da justiça em todos os
assuntos de género. Isto aplica-se tanto à composição
das estruturas de poder como à divisão social do trabalho.
Insistir na igualdade absoluta dos números pode não
ser sempre equitativo. Na área da saúde reprodutiva,
onde as mulheres suportam a maior parte dos custos,
perigos e esforços (físico, mental, social, económico), é
normalmente considerado justo que as mulheres devam
controlar uma maior proporção do processo de tomada
de decisão. As oportunidades iguais para as mulheres e
para os homens requerem que ambos tenham desde o
início um estatuto e um acesso igual ao conhecimento e
aos recursos, portanto, pode ser necessário em alguns
processos utilizar a chamada discriminação positiva.
Escolha Informada: decisão voluntária de uma pessoa
utilizar ou não um método contraceptivo (ou aceitar um
serviço de saúde sexual e reprodutiva) depois de ter
recebido informação adequada relativamente às opções,
riscos e benefícios de todos os métodos disponíveis.
O exercício de ter direito ao acesso ao planeamento
familiar como direito à tomada de decisões responsáveis
e informadas sobre a gestação, requer uma informação
completa sobre os benefícios, propósitos e prática do
planeamento familiar e das consequências pessoais,
familiares e sociais do comportamento reprodutivo
individual.
Espectro Viral: medida que avalia a quantidade de
vírus no organismo, num determinado momento. O teste
é, por vezes, usado para ter uma ideia do que está a
acontecer no sistema imunitário da pessoa, se esta é
portadora da infecção provocada pelo VIH.
Espermicida: contraceptivo químico inserido na
vagina antes da penetração. Os espermicidas são
mais efi cazes quando usados em conjunto com outros
métodos contraceptivos, tais como, o preservativo
ou o diafragma. Este método pode também oferecer
uma protecção limitada/reduzida contra as infecções
sexualmente transmissíveis. Em algumas mulheres
pode provocar alguma irritação, podendo esta situação
levar a uma maior vulnerabilidade de contrair infecções.
Os espermicidas estão disponíveis sob várias formas:
cremes, gel, espumas e cones. Alguns preservativos
contêm espermicida. Veja também Nonoxynol 9.
Esterilidade: incapacidade total e permanente para
procriar.
FFecundidade: processo que consta da penetração de
um espermatozóide num óvulo e que habitualmente
ocorre nas Trompas de Falópio; capacidade fi siológica
de uma mulher ou homem conceberem. Veja também
fertilidade.
Fluído Pré-ejaculatório: durante a fase de excitação,
após a erecção, o pénis liberta um fl uido. Serve de
lubrifi cante da uretra, de forma a facilitar a expulsão do
esperma durante a ejaculação. Este líquido/fl uído pode
conter espermatozóides, pelo que o seu contacto com a
vulva pode originar uma gravidez.
Fertilidade: capacidade biológica da reprodução.
GGay: homosexual masculino.
Género: palavra utilizada para designar questões de
identifi cação social associadas ao sexo de uma pessoa,
tanto masculino como feminino. Para além desta, existem
outras defi nições que levam a uma compreensão mais
profunda do termo. “Identidade de género” é a forma
como as pessoas se identifi cam a elas próprias, em que
incluem sentimentos pessoais e o julgamento que fazem
sobre quem são.
HHeterossexualidade: atracção sexual por parceiros do
sexo oposto.
Homens que têm sexo com homens (HSH): Relativo
a qualquer homem (gay, bissexual ou heterossexual),
que por qualquer razão e em algum momento se envolva
sexualmente com outro homem.
Homossexualidade: atracção sexual por pessoas do
mesmo sexo.
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IIdade Reprodutiva: intervalo de idades no qual as
pessoas são capazes de procriar. A expressão pode ser
aplicada a homens e a mulheres. O intervalo entre os
15–49 anos de idade é o mais considerado, sendo que o
de intervalo de 15–44 é frequentemente reconhecido.
Igualdade de Género: igual representação de mulheres
e homens. A igualdade de género não implica que os
homens e as mulheres sejam considerados iguais, mas
sim que têm igual valor, que devem ser tratados da mesma
forma e ter os mesmos direitos e oportunidades.
Imunodefi ciência: quebra ou incapacidade de
funcionamento de certas partes do nosso sistema
imunitário que tornam uma pessoa mais vulnerável a
determinadas infecções/doenças que, numa situação
normal, não se desenvolveriam.
Indicador: medida que pode ser registada, coleccionada
e analisada de forma a permitir a medição de um
conceito complexo, de tal forma que o/a investigador/a
(ou gestor/a) possa estabelecer uma comparação entre
os resultados obtidos e os resultados esperados.
Infertilidade: É defi nida como a incapacidade das
pessoas e/ou casais, que têm relações sexuais sem
contracepção, de iniciar uma gravidez num determinado
período de tempo. A infertilidade pode ter várias causas
e soluções.
Informação, Educação e Comunicação (IEC):
programa que assegura que os “clientes” ou “potenciais
clientes” dos serviços de saúde sexual e reprodutiva
tenham acesso a meios que lhes permitam tomar
decisões responsáveis sobre a gestação e a sua saúde
sexual e reprodutiva. A informação envolve a produção
e divulgação de informação genérica e técnica, factos e
assuntos, de modo a criar consciência e conhecimento. A
comunicação é um processo planeado que visa motivar
as pessoas a adoptarem ou a manterem atitudes e
comportamentos saudáveis, enquanto a educação,
tanto formal como informal, é um processo de facilitação
da aprendizagem que permite aos que estão a aprender
a tomada de decisões responsáveis e informadas.
LLésbica: mulher homossexual
Linfadenopatia: infl amação dos gânglios linfáticos
(normalmente no pescoço, atrás das orelhas, virilhas
ou axilas), que indica que o sistema imunitário está a
desenvolver uma resposta a uma infecção ou a uma
doença.
MMembranas Mucosas: tecidos rosados e húmidos que
forram seis orifícios corporais: olhos, nariz, boca, ponta
do pénis (tracto urinário), vagina e ânus.
Métodos Barreira: métodos que evitam a gravidez
através de um bloqueio físico ou químico da entrada do
esperma na cavidade uterina. Alguns destes métodos,
em particular o preservativo, ajudam a prevenir infecções
sexualmente transmissíveis, incluindo o VIH. Os
métodos barreira incluem capas cervicais, preservativos
masculinos e femininos, diafragmas, espermicidas e
espumas.
Microbicidas: a palavra “microbicida” refere-se
a uma variedade de produtos diferentes que têm
uma característica comum: a capacidade de evitar a
transmissão sexual de VIH e outras infecções sexualmente
transmissíveis (IST) quando aplicados topicamente. Um
microbicida pode ser produzido em diferentes formas,
incluindo gel, creme, supositórios, esponja ou anel.
Alguns dos microbicidas que estão a ser investigados
previnem a gravidez, outros não. Actualmente, não estão
a ser comercializados.
Monitorizar: acompanhamento contínuo das actividades
que assegura que estas se estão a realizar de acordo
com o plano e que estão distribuídas, e/ou que assinala
uma necessidade do seu reajustamento. A monitorização
segue e regista os resultados obtidos, a utilização das
pessoas, de fornecimentos e equipamentos, e o dinheiro
dispendido relativamente aos recursos disponíveis,
de modo a que se alguma coisa correr mal se possam
adoptar rapidamente medidas de correcção.
Monogamia: uma pessoa tem um único parceiro sexual
durante um determinado período de tempo.
Mutilação Genital Feminina (MGF): todos os
procedimentos que envolvem a remoção parcial ou total
dos órgãos femininos ou que provoquem lesões dos
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mesmos tendo por base razões culturais ou fi ns não
terapêuticos.
NNonoxynol 9: espermicida que ajuda a evitar uma
gravidez quando usado como método barreira, mas que
não protege contra infecções sexualmente transmissíveis,
incluindo o VIH. Por vezes, o uso frequente desta
substância pode irritar o interior da vagina e o ânus e,
subsequentemente, aumentar o risco de contrair uma
IST.
PPandemia: epidemia que afecta vários países.
Papéis do Género: dentro das culturas, existem “papéis
do género” os quais são considerados tipicamente
femininos ou masculinos. Os atributos considerados
típicos do género feminino ou masculino podem ser claros
em muitas culturas, ou partilhados por ambos, noutras.
Período Janela: período entre o momento de infecção
e o momento em que podem ser detectados anticorpos
através de um teste sanguíneo. O período janela para o
VIH pode durar até três meses, no entanto, o vírus pode
ser detectado mais cedo.
Planeamento Familiar: conjunto de acções e cuidados
de saúde a que todas as pessoas têm direito, de forma
gratuita, independentemente do seu sexo, idade ou
estado civil. O objectivo principal do planeamento familiar
é ajudar as pessoas a viverem a sexualidade de forma
gratifi cante, sem receio de gravidezes não desejadas e a
planearem o nascimento dos seus fi lhos. De uma forma
geral, o planeamento familiar contribui para a saúde da
mulher, das crianças, dos homens e da família.
Precauções Universais: precauções comuns – por parte
dos profi ssionais de saúde, em escolas e noutros locais
– de forma a prevenir infecções geradas pelo contacto
sanguíneo, lidando com as pessoas como se todas
fossem potenciais portadoras de infecções (exemplo:
uso de luvas protectoras).
Preservativo: método de barreira que, quando
usado correctamente, evita uma gravidez e também
o contágio de infecções que se transmitem por via
sexual, incluindo o VIH/SIDA. Existem dois tipos de
preservativo: o preservativo masculino constituído por
látex ou poliuretano, que é colocado no pénis quando
este fi ca erecto; e, o preservativo feminino constituído
por poliuretano ou latex que é colocado no interior da
vagina, fi cando o aro no exterior, sob a vulva.
Prostituta/o: pessoa que se envolve numa actividade
sexual com outra pessoa em troca de dinheiro, bens e/
ou droga. O termo inclui aqueles que ganham dinheiro
através do trabalho sexual e numa base regular, assim
como aqueles que o fazem, casualmente, informalmente
ou esporadicamente. Prostitutos/as podem ser homens,
mulheres ou transgéneros; podem ser adultos,
adolescentes e crianças. O termo “prostituto/a” é
considerado preconceituoso em algumas culturas, por
isso, pode ser preferível utilizar outra designação como
“trabalhador do sexo” ou “trabalhador do comércio
sexual”.
QQuestionário de Conhecimento, Atitudes e Prática
(CAP): questionário realizado junto de um grupo alvo
para estabelecer o nível de conhecimento (por exemplo,
informação sobre saúde sexual e reprodutiva), as
atitudes prevalecentes (por exemplo, relativamente ao
uso de protecção, à actividade sexual), e a situação
actual relativamente ao comportamento efectivo (tal
como o uso de contracepção).
RRedução do Risco: técnicas ou estratégias que podem
ser usadas de modo a reduzir o risco de transmissão
de uma doença infecciosa. A utilização do preservativo
constitui uma técnica de redução de risco da transmissão
sexual de várias infecções sexualmente transmissíveis.
Regulação da Fertilidade: processo através do qual
uma pessoa ou um casal regula a sua fertilidade. Os
métodos utilizados incluem, entre outros, atrasar a
gestação, usar contracepção, obter tratamento para a
infertilidade, interromper gravidezes não desejadas.
Remoção/Coito Interrompido: um método de
planeamento familiar antigo que confi a na capacidade
masculina de retirar o pénis da vagina antes da ejaculação.
Este continua a ser um método comum em muitos países.
É um método muito pouco efi caz na prevenção de uma
gravidez ou de uma IST (ver fl uído pré-ejaculatório).
Resistência: alguns vírus desenvolveram, ou irão
desenvolver, uma barreira a certos medicamentos. Se,
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por exemplo, alguém tem um vírus resistente à estirpe
AZT do VIH, ele/a necessitam de usar uma medicação
diferente para ajudar a combatê-lo.
Resistência aos medicamentos: quando um
microorganismo (vírus, bactéria, etc.) não é afectado por
determinada medicação. Isto pode acontecer ao longo do
tempo, mesmo depois do medicamento ter sido efi caz, ou
seja, quando alguém interrompe o uso de determinado
medicamento durante um período, o microrganismo
reproduz-se de tal forma que não consegue ser afectado
pela “droga”. Uma pessoa pode também ter sido infectada
por uma estirpe já resistente ao medicamento (se essa
for a natureza da fonte da infecção).
SSecreção Vaginal: saída de um fl uído ligeiramente
viscoso pela vagina.
Sémen (esperma): líquido esbranquiçado que contém
espermatozóides (células reprodutoras masculinas)
produzido nos testículos e segregado através do órgão
genital masculino.
Seropositivo: resultado positivo a um teste sanguíneo
para detecção de uma infecção/doença, por exemplo, o
termo aplicado a um teste sanguíneo onde os anticorpos
do VIH foram encontrados. Se alguém for diagnosticado
como seropositivo, isso sugere que a pessoa está
infectada.
Sexo Anal: relação sexual em que o pénis penetra o
ânus.
Sexo não Seguro: práticas sexuais sem a utilização
de protecção às infecções sexualmente transmissíveis -
sexo oral, vaginal ou anal sem uso de preservativo ou
barrras de látex; pode incluir masturbação mútua, fi s-
ting ; analingus (sexo oral-anal, sem o uso de protecção
adequada); e a partilha de acessórios sexuais que não
tenham sido previamente esterilizados ou não cobertos
por um preservativo. Durante o sexo não seguro os fl ui-
dos que podem transmitir o VIH são fl uídos pré-ejacula-
tórios, esperma, fl uido vaginal e/ou sangue.
Sexo Oral: prática sexual durante a qual existe um
contacto entre a boca e os genitais, por exemplo, fellatio
(a boca que estimula/acaricia o pénis) e cunnilingus (a
boca que estimula/acaricia a vagina).
Sexo Seguro: toda a prática sexual que tenha como
objectivo reduzir o risco de transmissão do VIH e de outras
infecções sexualmente transmissíveis. Comportamentos
sexuais seguros incluem o uso correcto e sistemático
de preservativo, bem como em situações especifi cas a
opção informada pela abstinência sexual.
Sexo Vaginal: relação sexual durante a qual o pénis
penetra a vagina.
Síndrome: combinação de sintomas de certas doenças
que, em conjunto, tende a demonstrar uma entidade de
doença particular. A SIDA é uma síndrome e não uma
doença simples, uma vez que, quando uma pessoa tem
SIDA pode apanhar uma variedade de doenças porque o
sistema imunitário se encontrar enfraquecido.
Síndrome da Imunodefi ciência Adquirida (SIDA):
causada pelo Vírus da Imunodefi ciência Humana (VIH).
Acredita-se que quase toda a gente infectada com o
VIH desenvolverá eventualmente a SIDA uma vez que
o sistema imunitário é progressivamente enfraquecido
pelo VIH.
TTerapia Anti-Retroviral Muito Activa (TARMA):
nome dado a regimes de tratamento recomendados
pelos principais especialistas de VIH que suprimem
agressivamente a reprodução viral e o progresso da
doença do VIH.
Teste Rápido: existem diversas formas de realizar um
teste rápido ao VIH que permitem a uma pessoa obter
os resultados num prazo mais curto do que os dos testes
normais. Alguns envolvem tirar sangue, recolher uma
amostra do muco oral ou de urina. Porém, os resultados
dos testes rápidos, se forem positivos, são preliminares
e têm de ser seguidos de um teste de confi rmação mais
completo.
Transmissão vertical/Transmissão de Mãe para
Filho (TDMF) : transmissão de uma infecção/doença de
uma mulher para o seu fi lho durante a gravidez, parto
e/ou amamentação.
VVagina: órgão sexual feminino que conta com um canal
cuja abertura fi ca no centro da vulva e que se estende
até ao colo do útero.
Vírus da Imunodefi ciência Humana (VIH): vírus que
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causa SIDA (destrói gradualmente o sistema imunitário,
tornando-o vulnerável, enfraquecendo as defesas do
organismo face a agressões externas). Existem dois
tipos de vírus: VIH1 e VIH2. Mundialmente, o vírus
predominante é o VIH1. O VIH2 demonstrou uma
maior prevalência na África Central e Ocidental. Ambos
os tipos de vírus são transmitidos através do contacto
sexual, de sangue infectado (incluindo infecção através
de equipamento de injecção de droga não esterilizado)
e da mãe para o fi lho (tanto antes como durante o
nascimento ou através da amamentação), e parecem
causar SIDA. Porém, o VIH2 é transmite-se menos e o
período entre a infecção inicial e a doença é mais longo.
É-se seropositivo a partir do momento que se é infectado,
mas só se tem SIDA quando o sistema imunitário começa
a fi car debilitado e a pessoa começa a manifestar sinais
e/ou sintomas de doenças oportunistas (tuberculose,
pneumonia, linfoma, sarcoma de Kaposi, etc.).
VIH Negativo (VIH-): Inexistência comprovada de anticorpos de VIH no sangue de alguém sujeito a testes de sangue específi cos.
VIH Positivo (VIH+): Existência comprovada de anticorpos de VIH no sangue de alguém sujeito a testes de sangue específi cos.
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Recursos
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RecursosWebsites
www.advocatesforyouth.orgwww.ambientejoven.orgwww.apf.ptwww.catholicsforchoice.orgwww.cig.gov.ptwww.europeer.orgwww.fhi.org www.idt.ptwww.inr.ptwww.ipad.mne.gov.ptwww.ippf.orgwww.juventude.gov.ptwww.mobileaids.orgwww.sida.ptwww.siecus.orgwww.thebody.comwww.unfpa.orgwww.unicef.orgwww.unric.orgwww.youthaids.orgwww.youthHIV.orgwww.youthpeer.com/resources.htm#guidelineswww.youthpeer.orgwww.youthresource.comwww.youthshakers.org
Livros e Publicações
● International Planned Parenthood Federation (IPPF), Peer Education: Successfully Promoting Youth Sexual and Reproductive Health, Guidelines (London: IPPF Vision 2000 Funds, 2002).
● A Brodala and J Mulligan, The PeerAid Book, Approaches to Setting Up and Running Young People´s Peer Education Projects (London: SV Education for Citizenship, 1999).
● Bundeszentrale fur gesundheitliche Aufklarung (BZgA), Peer Education. A Manual for Practioners (Cologne: BZgA, 2001).
● D Flanagan and H Mahler, How to create an effective peer education project: guidelines for prevention projects (Durham, NC:FHI, 1996).
● International Planned Parenthood Federation (IPPF), The Peer Education Approach in Promoting Youth Sexual and Reproductive Health: Lessons Learn´t (London: IPPF Vision 2000 Funds, 2001).
● United Nations Educational, Scientifi c and Cultural Organization (UNSECO), Peer Approach in Adolescent Reproductive Health Education: Some Lessons Learned (BangkoK: UNESCO Asia and Pacifi c Regional Bureau for Education, 2003).
● Associação para o Planeamento da Família (APF),
Crescer: adolescência- a idade das mudanças
explicada por quem já a viveu.
● Associação para o Planeamento da Família (APF),
Passaporte Imigrante (2007).
● Associação para o Planeamento da Família (APF),
Questões sobre gravidez (2007).
● Associação para o Planeamento da Família (APF),
Rapazes(2007).
● Associação para o Planeamento da Família (APF),
Raparigas(2008).
● Alice Frade e António Manuel Marques, Abusos
sexuais em crianças e adolescentes (APF 1997)
● António Manuel Marques, Duarte Vilar, Fátima
Forreta, Educação Sexual no 1º ciclo: um guia
para professores e formadores (Texto Editores
2006).
● Alice Frade, António Manuel Marques, Célia
Alverca, Duarte Vilar, Educação sexual na escola:
guia para professores, formadores e educadores
(Texto Editores 1992).
● Kit Contraceptivo (APF 2008).
Contactos úteis
Associação para o Planeamento da Família
Portal de Saúde Sexual e Reprodutiva
www.apf.pt
APF Sede Nacional
Rua Artilharia Um, nº 38, 2º dto | 1250-040 Lisboa
T. +351 21 385 39 93 | F. +351 21 388 73 79
APF Açores
Av. Antero de Quental, Edif. CTT, 9C 2º andar sala 2.13
9500-160 Ponta Delgada
T./F. +351 296 28 51 99 | [email protected]
APF Alentejo
Bairro da Cruz da Picada lote 33 loja 2
7000-772 Évora
T. +351 266 746 855 | [email protected]
Manual de educação inter-pares em saúde e direitos sexuais e reprodutivos - Recursos 105
09_Recursosfinal.indd 309_Recursosfinal.indd 3 30-10-2008 11:19:2930-10-2008 11:19:29
APF Algarve
Edifício Ninho de Empresas- Estrada da Penha
8000-273 Faro
T. +351 289 880 570 | [email protected]
APF Centro
Avenida Fernão de Magalhães, 151- 2º A
3000-176 Coimbra
T. +351 239 825 850 | [email protected]
APF Lisboa, Tejo e Sado
Rua Artilharia Um, nº 69, 1º
1250-038 Lisboa
T.+351 21 383 23 92 | apfl [email protected]
Manual de educação inter-pares em saúde e direitos sexuais e reprodutivos - Recursos106
APF Madeira
Rua da Vargem- 30 r/c
9000-705 Funchal
T. +351 291 766 089 | [email protected]
APF Norte
Rua Arnaldo Gama, nº 64- 2º
4000-049 Porto
T. +351 22 208 58 69 | [email protected]
Sexualidade em Linha – 808 22 2003
2ª a 6ª feira das 10h às 19 h e Sábado das 10h às 17
h
Linha Opções – 707 2002 49
2ª a 6ª feira das 12 às 20h
09_Recursosfinal.indd 409_Recursosfinal.indd 4 30-10-2008 11:19:2930-10-2008 11:19:29
Anexos
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10_anexosfinal r p q.indd 210_anexosfinal r p q.indd 2 30-10-2008 11:25:5730-10-2008 11:25:57
Anexo 1
Contrato de workshop de formação de educação pelos pares1
As seguintes regras base foram defi nidas por um grupo
de participantes num workshop organizado pela IPPF-
Europa.
Como membro desta formação, eu assumo o compromisso
em fazer o meu melhor para cumprir as seguintes
regras:
- Respeitar os/as colegas.;
- Fazer afi rmações na primeira pessoa (Eu);
- Ser pontual;
- Não fumar durante o período de trabalho (mesmo
que estejamos a trabalhar num espaço exterior);
- Ouvir as outras pessoas;
- Recordar que não existem questões “certas” ou
“erradas”;
- Fazer parte do grupo;
- Não utilizar telemóvel;
- Respeitar a confi dencialidade;
- Não expressar ou agir de acordo com preconceitos;
- Não desvalorizar as outras pessoas;
- Respeitar e tirar partido do direito de “passar a vez”
quando apropriado;
- Não demonstrar com o olhar avaliação ou reprovação
sobre aquilo que alguém diz ou faz;
- Respeitar o direito de todos à diferença;
- Seguir os meus sentimentos;
- Regra do pedir “desculpa (se sentir que magoou
ou ofendeu alguém) e de expressar que se sente
ofendido (se se sentir magoado/a ou ofendido/a) por
alguém”;
- Comunicar de forma simples e clara, compreensível
por parte de todos os participantes;
- Falar uma pessoa de cada vez.
Para além disso:
- Eu comprometo-me a levar a sério esta formação
inter-pares;
- Eu comprometo-me a estar consciente da minha
responsabilidade neste trabalho;
- Eu comprometo-me a participar activamente;
- Eu comprometo-me a não ofender ninguém e a pedir
desculpa se necessário;
- Eu comprometo-me a tentar não expressar qualquer
preconceito pessoal;
- Eu comprometo-me a tentar ultrapassar qualquer
preconceito pessoal;
- Eu comprometo-me a sugerir em vez de impôr;
- Eu comprometo-me a tentar ser tolerante com as
outras pessoas;
- Eu compreendo que a assiduidade é um pressuposto
da acção de formação, do trabalho e das actividades,
e que as faltas sucessivas poderão colocar em questão
a minha capacidade para continuar a integrar este
programa;
- Eu tentarei ser um bom elemento da equipa enquanto
participante deste programa;
Manual de educação inter-pares em saúde e direitos sexuais e reprodutivos - Anexos 109
…………………………………………
Data
(Por favor, escreva o seu nome acima)
(Assinatura acima)
Testemunhado por………………………
Data……………………………………
10_anexosfinal r p q.indd 310_anexosfinal r p q.indd 3 30-10-2008 11:25:5730-10-2008 11:25:57
Anexo 2
Formulário de Avaliação (exemplo)1
Este tipo de formulário constitui um exemplo de uma avaliação de actividades específi cas e o seu valor percepcionado
por parte dos participantes.
Data……………………………….. Local…………………………………………………
Local do workshop……………………………….. Quantos dias participou?...............
De que forma considerou útil os seguintes exercícios de formação?
Nada útil Um pouco
útil
De alguma
forma útil
Muito útil Excelente
1. Preparação
2. Exercício Quebra-gelo
com palavras sinónimas
de sexo
3. O que fazer e o que
não fazer: orientações
para o workshop
4. Chuva de ideias/
Brainstorming
5. Testemunho pessoal
– pessoa convidada ou
fi lme
6. VIH/SIDA
7. Teatro, actuação ou role playing
Manual de educação inter-pares em saúde e direitos sexuais e reprodutivos - Anexos
1 Zielony, R. Draft desenvolvido no contexto de um International Workshop Development para a UNFPA e outras organizações – 2003.
110
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Anexo 3
Questionário pré – formação (exemplo)Este é um exemplo actualizado de um questionário usado com uma comunidade Bucharian na cidade de Nova
Iorque.
Questionário anónimo sobre o VIH/SIDA e a sexualidade
A. É masculino ou feminino? Masculino Feminino
B Que idade tem? (faça um círculo na idade correspondente) 12 13 14 15 16 17 18 19 20 mais do que 20
……………………………………………………………………………………………………………….
1. O período médio entre a infecção do VIH e o aparecimento de sinais e sintomas é de mais de oito
anos.
Verdadeiro Falso Desconheço
2. A vaselina e o óleo estragam o látex dos preservativos.
Verdadeiro Falso Desconheço
3. Por favor, coloque um X em todos os fl uidos corporais que transmitem o VIH/SIDA:
Sangue Leite materno Saliva Sémen
Suor Lágrimas Urina Fluido vaginal
Neste questionário, a relação sexual signifi ca penetração vaginal ou penetração anal.
4. Não é problema os rapazes/homens da minha idade terem relações sexuais.
1 Concordo em absoluto 2 Concordo 3 Discordo 4 Discordo em absoluto
5. Não é problema as raparigas/mulheres solteiras da minha idade terem relações sexuais.
1 Concordo em absoluto 2 Concordo 3 Discordo 4 Discordo em absoluto
6. Os meus amigos pensam que não há problema em rapazes solteiros da minha idade terem relações
sexuais.
1 Concordo em absoluto 2 Concordo 3 Discordo 4 Discordo em absoluto
7. Os meus amigos pensam que não há problema em raparigas solteiras da minha idade terem
relações sexuais.
1 Concordo em absoluto 2 Concordo 3 Discordo 4 Discordo em absoluto
8. Não há problema em pessoas solteiras da minha idade terem sexo oral.
1 Concordo em absoluto 2 Concordo 3 Discordo 4 Discordo em absoluto
9. A excitação sexual sob o efeito de álcool ou de droga pode aumentar o risco de contrair o VIH/
SIDA ou infecções sexualmente transmissíveis.
1 Concordo em absoluto 2 Concordo 3 Discordo 4 Discordo em absoluto
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10. Se a Clamídia não for tratada, o que pode causar numa mulher?
…………………………………………………………………………………………………………………………
11. Se uma universidade tiver 2 000 estudantes, quantas escolas seriam necessárias para receber
todos os rapazes e raparigas que contraem uma infecção sexualmente transmissível neste país
num ano?
1 5 10-20 21-30 31-40 50 ou mais
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Anexo 4
Exemplos de jogos e exercícios recomendados para educadores/as inter-paresOrganizar o trabalho de grupo
1. Uma discussão sobre:
Quais são os obstáculos à afi rmação dos direitos das pessoas que são seropositivas e/ou que vivem
com a SIDA- se o grupo parecer estar retraído, o facilitador pode estimular a discussão colocando questões sobre
quais os direitos que existem à data/que deviam existir relativamente ao casamento, emprego, parentalidade,
confi dencialidade, acesso a medicação, etc.
2. Um workshop sob o tema “Cria o teu próprio slogan”.
Objectivo: percepcionar o preconceito e a discriminação relativamente às pessoas seropositivas e à SIDA.
Materiais necessários: quadro, canetas de cor e cartões em branco (para os participantes colocarem ao peito)
Tempo necessário: cerca de 30 – 40 minutos, dependendo do tamanho do grupo
O que é que o educador deve fazer?
1. Dividir o grupo em subgrupos e pedir a cada subgrupo que faça um brainstorming sobre o tema “O que é que
as pessoas necessitam de saber sobre o VIH e sobre SIDA de forma a protegerem-se a elas próprias e a outras
pessoas da infecção. Além disso, pode perguntar “De que forma é que as pessoas são descriminadas relativamente
ao VIH/SIDA?”.
2. Pedir a cada subgrupo para escrever todos os slogans que identifi quem ou criem e que tenham a ver com
discriminação.
3. Quando várias ideias tiverem já sido anotadas no quadro, o educador deve pedir a cada participante para escolher
uma delas e escrevê-la no seu cartão.
4. Perguntar qual o slogan que parece ser mais efi caz e porquê e o que é que pensam que iria acontecer se o
usassem em público durante vários dias.
5. Solicitar voluntários para usar em público os cartões ou pins com a frase escolhida e, preparar-se para discutir
as reacções no encontro seguinte.
3. Desempenho de papéis
Objectivo: Descobrir e discutir “Porque é que algumas pessoas discriminam?”
Situação 1 – O/a responsável de um jardim de infância decide permitir, ou não, o acesso de uma criança àquela
instituição.
Uma mulher que está sentada à sua frente deseja que o fi lho seja aceite nesse jardim de infância. Já ouviu dizer
que essa mulher é consumidora de drogas, que tem SIDA e que o seu ex-marido também era toxicodependente
seropositivo. Enquanto responsável do jardim de infância, está determinado/a a não deixar que esta criança ingresse
na instituição porque assume que a criança está igualmente infectada.
Situação 2 – Guilherme, um aluno do 8ª ano. Na turma existe um novo aluno, o Marco que é seropositivo. Eu e o
Marco fi cámos grandes amigos, ele disse-me que está infectado pelo VIH. Ninguém na escola conhece este facto.
Como não sabia o que é que isso signifi ca, perguntei aos meus pais. Não obtive uma explicação sobre o que signifi ca
ser seropositivo, mas os meus pais proibiram-me de continuar a ser amigo do Marco. Decidi falar com o Marco sobre
o assunto e continuar a ser seu amigo.
4. Jogo: “valores e sentimentos” ou barómetro
Objectivo: uma oportunidade para uma expressão aberta e honesta dos sentimentos e pensamentos.
Número de participantes: Todos.
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Tempo necessário: cerca de 15 minutos.
Materiais necessários: uma sala de aula grande e três placares bem visíveis, cada um com uma das seguintes
expressões: “Concordo”, “Discordo” e “Não tenho a certeza”
Método utilizado: Quem dirige o workshop lê em voz alta uma das afi rmações de “Valores e sentimentos” abaixo
descritas. Depois, baseando-se nos seus sentimentos sobre a afi rmação, cada um dos participantes coloca-se ao lado
do placar que representa a resposta por si seleccionada (“Concordo”, “Discordo” ou “Não tenho a certeza”). É então
solicitado a alguns participantes para explicarem a sua escolha.
Este mesmo processo é utilizado para as restantes afi rmações de “Valores e sentimentos”. Mais tarde deve ser
promovida a discussão sobre a forma como as pessoas responderam a todas as afi rmações e como é que se sentiram
relativamente à sua participação no exercício.
Importante: não existem respostas certas ou erradas; apenas atitudes, valores, sentimentos ou sensações. Além
disso, o/a educador/a deve manter-se imparcial enquanto os participantes expressam o seu ponto de vista.
1. Precisamos de tratar as pessoas portadoras de VIH com respeito, dignidade e simpatia.
2. A homossexualidade é uma orientação sexual válida e aceite.
3. A SIDA é transmitida por estrangeiros.
4. Uma pessoa portadora do VIH deve estar registada enquanto tal em instituições do poder local.
5. As pessoas portadoras do VIH devem informar os seus parceiros sexuais sobre a sua condição.
6. Uma mulher grávida portadora do VIH deve abortar.
7. Uma pessoa portadora do VIH não pode trabalhar na área da saúde.
8. As pessoas que vivem com SIDA devem ser isoladas no caso de não seguirem os conselhos médicos.
9. Ninguém se deve preocupar sobre o estatuto serológico a não ser a própria pessoa.
10. Portadores de VIH e seus descendentes não deveriam frequentar as escolas.
11. Os fi lhos de pessoas portadoras de VIH devem ser retiradas da vivência com os pais.
12. As instituições e pessoas que discriminam as pessoas infectadas com o VIH deveriam ser punidas por lei.
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Anexo 5
Minuta para relatório de um workshop de educação inter-pares
Manual de educação inter-pares em saúde e direitos sexuais e reprodutivos - Anexos
Educadores inter-pares podem utilizar este exemplo de relatório para fornecer às suas organizações informação
sobre os workshops que apoiaram/realizaram.
Data:………………………………..
Local de realização:……………………………………..
Instituição(ões) patrocinadora(s)/parceira(s):………………………………………
Número de participantes:………………........ Idade média dos participantes:………..
Dados demográfi cos: número de participantes do sexo feminino ……..
número de participantes do sexo masculino…….
Entrega de questionário pré-workshop? Sim Não
Entrega de questionário pós-workshop? Sim Não
Foi realizada a avaliação do questionário? Sim Não
Pode existir também uma checklist (separada ou integrada) dos conteúdos:
VIH/SIDA…………………………….
IST………………………………….....
Contracepção……………………….
Violência de Género………………..
Uso abusivo de substâncias………
O formulário pode ter subsecções mais específi cas, tais como:
Informação básica sobre o VIH/SIDA……………………………………
Teste do VIH………………………………………………………………………….
Técnicas de prevenção………………………………………………………….
Espectro da doença……………………………………………………………….
Tratamento…………………………………………………………………………….
Orador convidado………………………………………………………………….
Vídeo………………………………………………………………………………………
Resumo do workshop (incluindo sucessos e desafi os):………
Análise dos inquéritos “pré” e “pós” workshop...........................
Assuntos importantes que surgiram e que devem ser registados…………………….
Resultados da avaliação do workshop……………………………………………………
Planos de Follow–up………………………………………………………………………
Educadores/as inter-pares responsáveis pelo workshop:……………………………..
115
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Anexo 6
“Não está sozinho/a”Existem mais de um milhão de pessoas como nós
nos Estados Unidos. Não se isolem.
Por Jim Lewis e Michael Slocum, ex–editores da
Body Positive
Talvez tenha sido diagnosticado como seropositivo muito
recentemente, talvez já o soubesse há algum tempo,
mas é a primeira vez que procura informação ou apoio. É
necessário saber que não está só.
Obter um resultado positivo num teste ao VIH não
signifi ca que tenha SIDA, mas provavelmente o VIH é
a maior ameaça com que alguma vez se confrontou ao
longo da sua vida. Este vírus pode permanecer inactivo
no seu corpo durante muito tempo, ou não. Se agora
estiver saudável, pode ainda vir a desenvolver algum
tipo de problema de saúde relacionado com o VIH. Pode
desenvolver SIDA. Permanecem ainda muitas incertezas
em torno do VIH e embora não exista actualmente uma
“cura” para a infecção, existe tratamento. É importante
actualizar a sua informação e fazer escolhas informadas
relativamente à sua saúde.
Muitas pessoas portadoras do VIH vivem neste momento
vidas felizes e com qualidade. Muitas são saudáveis e
não evidenciam qualquer sintoma da doença. Muitas
escolhem fazer tratamentos e tomar medicação que
possiblitam prolongar as suas vidas. Assim, e face à
severidade da doença, existe esperança. Não tem de
olhar para o resultado positivo de um teste ao VIH como
se de uma sentença de morte se tratasse.
É importante que tenha chegado a esta conclusão.
Apesar do choque que possa ter tido devido ao resultado
positivo do teste, sentir-se-á melhor se souber que
pode aprender algo sobre a doença e decidir o que quer
fazer. O facto de se preocupar consigo ao ponto de ter
decidido fazer o teste e o facto de estar a ler esta texto
demonstram que se preocupa com a sua saúde. Por isso,
dê algum crédito a si mesmo(a). Já deu os passos iniciais
importantes para cuidar de si e deve contentar-se com
esse facto.
Há alguns anos atrás, aqueles que obtiveram resultados
positivos ao VIH tinha poucos locais onde pudessem
recorrer para procurar apoio. Estas pessoas sentiram-se
como se estivessem num terreno pantanoso. Felizmente,
muita coisa mudou. Sabemos mais sobre o VIH e foram
constituídas muitas organizações em todo o mundo para
oferecer informação e apoio a pessoas que vivem com
o vírus. Muitas já enfrentaram as dúvidas e questões
relativas à vivência com a doença, e muitas se seguirão.
Não tem de enfrentar esta situação sozinho(a). Existem
muitas pessoas para o(a) apoiar.
A sua Saúde Emocional
Saber que está infectado(a) é com frequência assustador.
Mesmo que tenha vindo a suspeitar da doença há já algum
tempo, saber que é portador(a) do VIH pode ser uma
experiência traumática. A obtenção de um resultado de
VIH positivo já levou pessoas a deixar os seus empregos,
a escreverem rapidamente o seu testamento e a
despedirem-se da família e dos amigos,até descobrirem
que não estão doentes e que provavelmente vão viver
durante muitos mais anos. É comum percepcionar estes
ímpetos como uma sentença de morte imediata, embora
isso não represente a verdade.
O que está a sentir agora é perfeitamente normal. Raiva,
medo, confusão, adormecimento, ansiedade, depressão
– todas são reacções naturais às notícias com que foi
confrontado(a). Se já tivesse sabido disto há algumas
semanas atrás, podia dar por si a viver um dia normal e,
de repente, lembrar-se que é seropositivo(a). É comum
que esta recordação lhe surja violenta e rapidamente,
vez após vez, de repente e vinda do nada. Não vai
enlouquecer se isto acontecer. O seu humor pode variar
entre uma tristeza absoluta num momento e uma raiva
extrema noutro imediatamente a seguir. Isto também é
normal.
O primeiro passo para atravessar esta turbulência
emocional é ter consciência daquilo que sente. Não
se surpreenda por se ver a viver o dia num estado de
choque. Permita-se não sentir nada. As suas emoções
voltarão rapidamente. Esta é apenas uma forma de
“desligar” para se permitir a capacidade de lidar com o
problema.
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Se se estiver a sentir zangado(a), não há problema. Este
vírus está a ameaçar a sua própria existência. É normal
sentir e expressar esta raiva. Se estiver com medo, tome
consciência dos seus medos. Está a pensar sobre coisas
que amedrontariam qualquer pessoa. É-lhe permitido
sentir tudo aquilo que sente. Não seja muito severo (a)
consigo nem pense que tem de ser forte. Não tem de ser
nada, a não ser você próprio.
Medo da Doença e da Morte
Quase toda a gente tem medo de fi car doente e de morrer.
Se for jovem, talvez nem nunca tenha sido confrontado
com a morte de alguém próximo. Normalmente,
pensamos na morte enquanto algo que acontece quando
somos idosos. Talvez nunca tenha realmente considerado
a realidade da sua própria morte antes disso. Agora, de
repente, é seropositivo(a) e a sua mortalidade torna-se
muito real. Pode recear a dor, os hospitais, ou o facto de
se tornar menos agradável ao olhar dos outros à medida
que a doença e o seu estado físico evoluem.
A sua reacção à ideia de adoecer ou de morrer pode
percorrer um de dois caminhos. Pode decidir que
defi nitivamente vai viver e que não existe maneira do
vírus o(a) “apanhar”. Esta é uma reacção denominada de
“negação” – recusar enfrentar algumas possibilidades de
viver com o VIH. Se se estiver a sentir desta forma, tente
recordar-se que é importante ter esperança para levar a
sua vida em frente. Porém, pode ser perigoso se deixar o
medo ou a negação tomarem conta de si próprio/a.
Percorrendo o outro caminho, poderia escolher lidar com
o assunto decidindo de forma absoluta que vai morrer
desta doença e que não há nada que possa fazer para o
evitar. Se for nesta direcção pode dar consigo a fantasiar
sobre a sua própria doença e morte. Deve recordar-
se que existem muitas pessoas portadoras de VIH que
estão a viver vidas produtivas, felizes e que pode viver
como elas se fi zer esta escolha. É bom encarar todas as
possíveis consequências desta infecção, mas não ao ponto
de a vivência do dia de hoje se tornar menos importante
do que o medo do futuro. Isto ajuda a relembrar que
toda a gente morrerá e que isso não evita ou demove as
pessoas de viverem o presente.
Começar de Novo
Uma das verdades associadas a um resultado positivo
do VIH é a de que, uma vez conhecido, nunca mais vai
deixar de o ser. Para o melhor e para o pior, a sua vida
será para sempre diferente. Pode estar a experimentar
grandes sentimentos de perda, pode sentir que certas
áreas da sua vida estão agora nas mãos de médicos,
companhias de seguros e sintomas. Isto pode fazer com
que sinta que tem menos controlo sobre a sua própria
vida e pode causar-lhe uma imensa ansiedade.
Saiba isto – não tem de desistir ou de perder o controlo
da sua vida. Munindo-se de informação e decidindo
informada e responsavelmente fazer aquilo que é melhor
para si, rapidamente se aperceberá que é a pessoa que
sempre foi. É a sua vida, o seu corpo, a sua saúde,
independentemente de quão bem intencionados a sua
família, os seus amigos ou o seu médico possam ser, não
têm o direito de assumir o controle da sua vida. Permita-
se a si mesmo(a) demorar algum tempo a decidir aquilo
que quer fazer. Depois, faça-o.
Pode achar que muitas das prioridades na sua vida mudam
rapidamente. Se estiver a considerar fazer alterações
importantes na sua vida, assegure-se apenas que
pensou sobre elas profundamente. Muitas das pessoas
portadoras do VIH introduziram grandes mudanças na
forma como vivem. Muitas quebraram hábitos, tais como
beber e fumar. Muitas terminaram relações negativas ou
deixaram empregos que efectivamente detestavam. O
facto de enfrentar a possibilidade de se fi car doente ou
de morrer torna as nossas vidas melhores na medida em
que passámos a ter de agir em áreas que previamente
ignorámos ou adiámos a nossa intervenção. A morte
vista assim pode ser assunto muito motivador.
Algumas pessoas culpam-se por terem contraído a
doença. Este tipo de sentimento de culpa é bastante
destrutivo. Independentemente da forma como contraiu
a infecção, não foi a um sítio específi co nem fez alguma
coisa em particular com a intenção de se infectar -
então porquê culpar-se disso? Já está a enfrentar um
momento especialmente difícil, não precisa de se punir
pelo resultado do teste do VIH. A tristeza profunda é
um dos sentimentos que as pessoas portadoras do
VIH sentem em algum momento. Pode ter pena de si
próprio(a), face à possibilidade da sua própria morte.
Para muitos de nós, o vírus não está apenas a afectar as
nossas vidas, mas as vidas daqueles que mais amamos.
Muitos já perderam amigos e entes queridos devido ao
VIH, ou conhecem pessoas portadoras desta infecção.
Permita-se a si próprio(a) expressar a sua tristeza e os
seus medos de alguma forma. Permita-se chorar. Estes
sentimentos são valiosos e normais; ignorá-los não vai
fazer com que desapareçam.
Pode também sentir-se destruído(a) de alguma forma
– que ninguém quererá tocar-lhe ou amá-lo(a) ou que
é agora menos desejável por ser seropositivo(a). Pode
sentir que nunca mais conseguirá amar, que ninguém
Manual de educação inter-pares em saúde e direitos sexuais e reprodutivos - Anexos 117
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quereria estar consigo se soubesse da sua condição.
Estes sentimentos passarão. Você não é um “bem
danifi cado”. Continua a ser uma pessoa válida, tão capaz
de dar e receber amor como anteriormente. Pode tomar
as suas próprias decisões, relaxar e aproveitar cada dia
da sua vida. Isto pode representar uma luta e pode ter de
encontrar novas formas de lidar com a vida quotidiana,
mas vale a pena fazê-lo.
Obter Apoio
Muitos de nós, cresceram com a ideia de que cada um
deve enfrentar as coisas individualmente, por si próprio.
Pedir ajuda ou procurar apoio é um comportamento
normalmente associado a fraqueza. Consequentemente,
uma resposta muito comum a um resultado do VIH
positivo é desistir, baixar os braços. Isolamo-nos a
nós próprios, escondendo a nossa condição. Isto pode
revelar-se muito doloroso.
A sua vida não tem de ser escura e pesada. É possível
ter uma atitude positiva quando se é portador de VIH
– milhões de pessoas têm-na diariamente – mas é
muito mais difícil levar a sua vida para a frente e viver
alegremente quando está a tentar fazê-lo sozinho(a).
Não existe a necessidade de lidar com esta situação a
sós e provavelmente é errado tentar fazê-lo. Não é a
única pessoa a fazê-lo. Conheça outras pessoas que
estão a viver uma situação semelhante e aquilo que
têm para oferecer. Ouvir apenas alguém a falar sobre
a forma como teve de se ajustar a uma vivência com o
vírus pode ser o sufi ciente para tomar consciência que a
vida continua a ser uma coisa boa, que pode continuar
a amar e a rir. E pode fi car igualmente surpreendido(a)
por saber que a própria partilha da sua situação pode
ajudar outras pessoas. Aos partilharmos os assuntos que
nos dizem respeito, cada uma das nossas vozes confere
força a outros.
Grupos de apoio tais como os da Body Positive nos
Estados Unidos e a Positivo em Portugal constituem um
meio poderoso para a aprendizagem de como lidar com
este novo começo. Existem grupos de apoio oferecidos
pelas organizações de VIH/SIDA através do país. Se não
conhece nenhuma organização na sua área contacte-nos
através do número 808 222 003. Se não houver nenhum
grupo de apoio na sua área, você pode ser a pessoa que
pode iniciar um. Lembre-se apenas que: os milhões
de pessoas que vivem com o VIH de forma bem
sucedida são pessoas que procuraram o apoio de
que precisavam. Onde quer que esteja, pode procurar
apoio, ou os meios para o criar. Não faz sentido enfrentar
os mesmos assuntos sem nos ajudarmos uns aos outros.
Não estamos sozinhos. E você também não.
Michael Slocum e Jim Lewis foram editores da Body
Positive. As organizações de VIH/SIDA em todo o mundo
reeditaram “You Are Not Alone” nos seus idiomas.
Este artigo foi providenciado por Body Positive, Inc.
Existe um conjunto de artigos escritos pela Body Positive
e disponíveis em: http://www.thebody.com
Sexual Health Exchange, 1998 – n.º 4
Manual de educação inter-pares em saúde e direitos sexuais e reprodutivos - Anexos118
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Anexo 7
O seguinte excerto foi retirado da publicação Transnacional
AIDS/IST Prevention among Migrant Prostitutes in Europe Project (TAMPEP), reimpresso com a permissão do Royal
Tropical Institute (KIT), Amesterdão, Holanda.
Europa: TAMPEP apoia trabalhadores do sexo enquanto educadores/as inter-pares
Sexual Health Exchange, 1998 – nº 4
O Projecto Transnacional AIDS/IST Prevention among
Migrant Prostitutes in Europe (TAMPEP) encontra-se activo
na Áustria, Alemanha, Itália e Holanda. As intervenções
feitas no seu âmbito atingem 23 grupos de trabalhadoras
do sexo e transsexuais que emigraram de África, Europa do
Leste, América Latina e Sudoeste Asiático. A metodologia
do TAMPEP é baseada no trabalho desenvolvido através
de mediadores culturais e de educadores inter-pares/
apoiantes. Mediadores/as são profi ssionais de trabalho
de campo e têm o mesmo background étnico ou cultural
do grupo–alvo. Educadores/as de pares/apoiantes
são trabalhadores do sexo que ajudam a promover e
a facilitar práticas e comportamentos mais saudáveis
e que participam no desenvolvimento de materiais de
prevenção adaptados às necessidades específi cas dos
grupos – alvo apoiando, ainda, o trabalho de avaliação e
análise das intervenções.
A experiência com o TAMPEP monstra que o estabelecer
um grupo de educadores inter-pares não deve ser o único
ou o principal objectivo da intervenção. Pelo contrário,
deve ser parte de uma abordagem mais global que inclui
seminários, workshops e outras actividades de campo
que visam oferecer um suporte de apoio à adopção de
práticas e de comportamentos mais seguros. Isto porque
nem sempre os/as trabalhadores/as do sexo conseguem
infl uenciar efi cazmente os seus clientes ou proprietários
de espaços de trabalho. Os/as mediadores/as culturais,
por outro lado, podem intervir, abordando e respondendo
a perguntas sobre condições de trabalho pouco seguras
ou a medidas policiais repressivas.
A migração de trabalhadores/as do sexo – entre e dentro
dos países – pode limitar o impacto dos projectos que
baseiam a sua efi cácia na repetição dos contactos com o
grupo – alvo. É necessário manter um ciclo contínuo de
actividades por parte dos educadores de pares de modo
a replicar a formação dirigida a trabalhadores/as sexuais.
Os/as mediadores/as podem tentar manter contactos
com os/as educadores/as inter-pares que se mudaram
para outro local – isto contribuiria para uma maior
disseminação das mensagens de promoção da saúde
junto de uma base de pessoas muito mais alargada.
Deve igualmente ser reconhecido que a própria natureza
do trabalho sexual pode tornar difícil a intervenção do/a
educador/a. Sentimentos de competição e inveja não são
raros e alguns trabalhadores podem mesmo achar difícil
aceitar que colegas estão a ganhar conhecimento e poder
por via da sua intervenção enquanto educadores/as.
Para além disso, os/as educadores/as inter-pares devem
ser capazes de desempenhar um novo papel: podem ser
considerados “insiders” enquanto trabalhadores sexuais
e “outsiders” enquanto educadores/as.
No âmbito do TAMPEP chegou-se à conclusão que
os mais bem sucedidos trabalhadores sexuais que
intervieram na qualidade de educadores/as inter-pares
são líderes dos grupos onde se inserem. Estes possuem
um conhecimento básico da saúde, vocação educacional
e excelentes capacidades de comunicação. Mais à frente
estes elementos são caracterizados por elevados níveis
de ambição e de motivação.
Nas intervenções levadas a cabo pelo TAMPEP, foram
dispendidos 2-3 meses para completar todas as
actividades relacionadas com a selecção, formação
e acompanhamento de educadores/as pares. Os/as
educadores/as são formados/as em cursos com 10
– 12 participantes; recebem uma pequena avença de
participação para cobrir perdas remuneratórias durante
o período do curso e como forma de reconhecimento
do tempo e energia dispendidas na formação. Os/as
formadores/as participam também na organização do
próprio curso, que tem normalmente uma denominação
neutra e geral, tal como “Prevenção e Higiene”. Isto
porque muitos trabalhadores sexuais não encaram o
trabalho do sexo como uma actividade profi ssional – ao
invés, consideram-na uma ocupação temporária e por
vezes passageira. Cada sessão inclui oradores convidados
tais como profi ssionais de saúde e equipas de centros
de aconselhamento em saúde sexual e reprodutiva, em
contracepção, assistentes sociais e educadores inter-
pares já formados. No fi nal do curso, é entregue um
Manual de educação inter-pares em saúde e direitos sexuais e reprodutivos - Anexos 119
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certifi cado de participação àqueles que o completaram.
Isto representa um símbolo de reconhecimento, tanto
junto dos seus pares como junto de membros de
instituições de serviço público com os quais têm ligação.
As actividades de acompanhamento monitorizadas
por mediadores culturais do TAMPEP incluem: o apoio
de educadores inter-pares no desempenho da função
promotores de saúde; informação e dados adicionais
e actualizados, bem como materiais educacionais não
incluídos no curso básico e a facilitação de contactos
entre educadores/as inter-pares e o pessoal de saúde
pública e organismos ofi ciais.
Baseado em mais de 5 anos de trabalho, o TAMPEP refere
que os princípios são importantes para os projectos de
educação pelos pares vocacionados para a temática
do “trabalho do sexo”, são as seguintes: os programas
de educação inter-pares devem ser contextualizados
numa base mais alargada que contemple a auto-estima,
a saúde, a segurança e os direitos cívicos, incluindo
a protecção dos direitos dos trabalhadores sexuais
migrantes (a existir) ;os programas de educação inter-
pares devem evitar ter como base as organizações de
base exclusivamente comunitária;o cenário do trabalho
sexual evolui continuamente (a “procura” do mercado,
as nacionalidades dos trabalhadores sexuais, as
políticas governamentais, etc.), o que implica que os
modelos e programas de educação inter-pares devam ser
continuamente (re)adaptados para abranger a evolução
dos vários factores.
Ciclos contínuos de recolha de informação, implementação
e avaliação das dinâmicas de trabalho e os resultados
dos programas transnacionais de educação inter-pares
são condições básicas necessárias para obter resultados
positivos quando se trata de conseguir a alteração de
comportamentos de saúde.
Desde a data em que este artigo foi escrito, o
programa expandiu-se consideravelmente. Para
obter mais informações pode consultar o site www.
tampep.com
Manual de educação inter-pares em saúde e direitos sexuais e reprodutivos - Anexos120
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Anexo 8
Informação sobre o uso de drogas injectáveisPretende-se que esta secção ofereça informação precisa
e desapaixonada, reduzindo o potencial efeito nefasto
do uso das drogas injectáveis. O objectivo é apoiar os/
as educadores/as inter-pares a melhorar o estado de
saúde das suas comunidades e grupos de pertença.
Reconhecemos que existem comunidades de pessoas que
estão envolvidas nas drogas injectáveis e que apoiam os
programas que visam a redução de riscos e danos a elas
associados, apoiando rapazes e raparigas a libertarem-
se desta dependência dentro de uma moldura temporal
própria e apropriada, mantendo-os em segurança
durante esse período.
A informação nesta secção, a qual oferece guidelines
para um acto de se injectar mais seguro, não é,
de forma alguma, escrita ou disponibilizada para
encorajar ou sugerir o uso ou o uso continuado de
drogas injectáveis.
Informação sobre o uso de drogas injectáveis
Atenção: Este anexo contém algumas descrições
relacionadas com o uso de drogas injectáveis. Qualquer
pessoa que esteja a recuperar de uma dependência
pode escolher não ler estas descrições a não ser que
esteja preparada para revisitar algumas das emoções
e sentimentos associados à utilização de drogas. Muita
desta informação proveio de experiências de pessoas
que consomem drogas.
Obsessão e Dependência de Drogas
As pessoas que têm uma dependência de substancias
psicoactivas experimentam um período que é
caracterizado por uma vontade obsessiva e avassaladora,
nomeadamente, o momento de obter a droga para a
consumir. Utilizadores de drogas injectáveis descrevem
frequentemente um sentido de extraordinária urgência
na procura de uma forma em obter o material necessário
para injectar a droga. Muitas pessoas não compreendem a
diferença entre o uso de uma droga para fi ns “recreativos”,
e a sensação de necessidade extrema que ocorre quando
o uso ocasional deu lugar a uma dependência e a uma
doença. “Eu não teria feito nada, e quero dizer nada…”
Podem existir muitas alterações de comportamento nas
pessoas utilizadoras de drogas.
Aspectos a saber sobre o uso de drogas
injectáveis
A pessoa que trabalha com utilizadores de drogas
injectáveis deve conhecer os padrões e práticas
relacionadas com o consumo. Somente tendo
conhecimento destes detalhes é que consegue ensinar a
reduzir os danos e os riscos de uma prática de injecção
não sujeita a condições assépticas.
Injectar de forma segura2
Embora a injecção de drogas não seja de todo apoiada
ou recomendada, para aqueles que o fazem é importante
fazer todos os possíveis para reduzir os riscos e danos
associados. Aprender a injectar-se de forma mais segura
é diminuir esse risco e a esta prática se chama de
redução de danos. Isto signifi ca que embora a utilização
de drogas injectáveis seja prejudicial, existem formas de
reduzir os efeitos negativos associados ou de prevenir o
pior.
Este texto consiste numa resenha de factos
médicos, técnicas de injectar drogas, os saberes do
toxicodependente/”drogado” (um termo de rua) e outra
informação. O processo de preparação e planeamento
do injectar das substâncias é uma das coisas mais
importantes que uma pessoa pode fazer para prevenir
um mal potencial. Antes de se injectar, a pessoa tem
de avaliar a segurança da situação, tendo a certeza de
que vai consumir a dose habitual (ou inferior) de forma
a não colocar em risco as suas funções vitais prevenindo
assim, uma overdose. Deve também utilizar material
esterilizado e preparar a droga numa superfície limpa.
Escolher o local mais seguro para consumir
drogas
Alguns locais são mais seguros para consumir drogas
do que outros. O consumidor de drogas injectáveis deve
ter as outras pessoas em consideração. Após o consumo
deve colocar o material contaminado num contentor
apropriado e deixar o local em condições de higiene
adequadas.
Com o que é que as pessoas utilizam drogas?
É importante para pessoas utilizadoras de drogas terem
o apoio de outras que conhecem a sua dependência,
especialmente em casos de urgência como uma overdose.
Por vezes, pessoas toxicodependentes do grupo de
pertença podem oferecer apoio mútuo. Se uma pessoa
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estiver preocupada por um/a amigo/a estar a consumir
uma grande quantidade de droga, pode tentar assegurar
que alguém esteja presente, junto dessa pessoa, de
modo a prevenir uma possível overdose.
Equipamento e materiais utilizados na prática de
injectar drogas
● Seringa esterilizada
● Garrote
● Colher ou carica
● Filtro ou algodão
● Toalhetes com álcool
● Ácido cítrico ou ascórbico
● Água destilada
É muito importante que as pessoas que utilizam drogas
injectáveis saibam que devem ter alguns cuidados, tais
como, utilizar sempre uma seringa nova e esterilizada. O
local da injecção não deve ser o mesmo, isto é, deve-se
alternar o local do “chuto” de forma a evitar possíveis
hematomas e ter consciência de que existem zonas
mais perigosas de injectar do que outras. A pessoa deve
desinfectar a pele onde vai injectar, usando o toalhete
com álcool, e só depois injectar-se no sentido da
circulação do sangue. A agulha deve estar na direcção
do coração. O garrote deve ser desapertado antes da
pessoa começar a injectar-se. Para manter as veias em
menos mau estado, o consumidor de drogas injectáveis
deve usar uma pomada ou gel, aplicando-a 10 minutos
depois do “chuto”, massajando cuidadosamente a veia.
Deve também utilizar um fi ltro ou algodão novo em cada
“chuto” e ter o cuidado de não deitar fora o material
utilizado de forma a que possa colocar em risco a saúde
das outras pessoas. A pessoa deve procurar um lugar
sossegado, e sempre que possível, deve lavar antes as
mãos. Deve também desinfectar com álcool o local onde
vai dar a injecção e utilizar água destilada (se utilizar
água da torneira deve fervê-la antes). Para fazer o
“caldo” deve ser utilizado o ácido cítrico ou ascórbico no
lugar do limão ou vinagre.
Existem programas de troca de seringas que distribuem
gratuitamente kits que têm como objectivo a redução de
riscos e danos para utilizadores de drogas injectáveis.
Limpar os utensílios
Para cada “chuto” deve ser utilizado uma seringa nova
esterilizada. Se não for possível fazer a troca, então o
consumidor deve desinfectar a seringa usada (atenção:
só a utilização do próprio material protege do VIH/SIDA
e das hepatites).
Para desinfectar o material deve-se lavar inicialmente
com água, depois, deve-se encher a seringa de lixívia
diluída e deixá-la lá durante algum tempo (pelo menos
30 segundos). De seguida, deve-se despejar e repetir o
procedimento mais duas vezes. Se a pessoa não tiver
lixívia, pode utilizar álcool a 70º. Por último, deve-se
bombear a seringa com água duas vezes.
Preparar uma dose
Uma preparação limpa e higiénica (asséptica) da droga
diminuirá o risco de transmissão de infecções que podem
penalizar seriamente a saúde do indivíduo. Existem
diversas coisas que as pessoas utilizadoras de drogas
injectáveis devem fazer antes de preparar a sua dose.
Primeiro, deve-se lavar as mãos cuidadosamente com
sabão de modo a eliminar vírus e bactérias alojados nas
mãos. Deve-se usar uma superfície lisa para preparar
o “chuto” e a pessoa deve assegurar-se que o kit que
vão utilizar contém material esterilizado. Deve-se ter
atenção, pois existem pessoas que revendem kits com
utensílios já usados, mas dizendo que são novos. É mais
seguro esperar até ao momento de uso para abrir os kits
de agulhas e seringas esterilizadas.
Escolher onde se injectar
A maior parte das pessoas utilizadoras de drogas tem
de mudar a parte do corpo onde se injectam de modo a
reduzir a possibilidade de infecção e a manter as veias
em bom estado. Se não o fi zer periodicamente, as veias
enfraquecem e o acto de injectar torna-se mais difícil.
Consequentemente, as infecções podem atacar o local
e causar danos sérios. A pessoa utilizadora de drogas
injectáveis deve utilizar alternadamente ambos os lados
do corpo. Não deve picar as artérias, nem determinados
zonas do corpo, como por exemplo, o pescoço ou o
pénis.
Limpar e preparar a zona do corpo a ser picada
É recomendável usar álcool para limpar a zona a injectar,
ou usar o toalhete distribuído no Kit. De seguida, colocar
uma banda elástica (garrote) no bíceps, baixar a mão e
fechar o punho. Normalmente, a banda elástica (garrote)
é solta logo a seguir à injecção de forma a permitir que
o sangue volte a circular normalmente.
Preparação fi nal
Se a agulha estiver na veia, o utilizador puxará o êmbolo
da seringa para cima. Se entrar sangue escuro, está
numa veia. Se não houver sangue, ou se aparecer numa
quantidade muito pequena, a agulha não entrou na veia.
Se for este o caso, reinicie normalmente todo o processo.
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O sítio onde foi espetada a agulha fi ca inchado e o efeito
da droga é diminuído. Isto pode resultar num abcesso ou
noutro problema.
Retirar a agulha
Depois de uma injecção bem sucedida, retirará a agulha
com cuidado, utilizando o mesmo ângulo com que se
injectou. De forma a prevenir um hematoma, desaperte a
banda elástica antes de começar a injectar-se. Pressione
fi rmemente o local onde se vai injectar de forma a ajudar
a coagulação. Não passe álcool uma vez que este pode
aumentar o sangramento.
Deitar fora, e de forma apropriada, os utensíliosO utilizador de drogas injectáveis deve levar o lixo
(material restante, já utilizado) para um centro de troca
de seringas.
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MANUAL DE EDUCAÇÃO INTER-PARESEM
DIREITOS E SAÚDE SEXUAL & REPRODUTIVA
A S S O C I A Ç Ã O P A R A O P L A N E A M E N T O D A F A M Í L I A
Trabalho com jovens em situação de vulnerabilidade,marginalidade e exclusão social
“Educação Inter-pares em Direitos de Saúde Sexual e Reprodutiva”, constitui na edição inglesa uma referência no trabalho com jovens de grupos vulneráveis, marginalizados e socialmente excluídos, nas organizações que trabalham e advogam a maior qualidade e pró-actividade da educação inter-pares com e entre jovens. A edição portuguesa, aqui apresentada pela APF no contexto do projecto ROSA (Responsabilidade, Oportunidade, Solidariedade e Acção), contribui para reforçar a abordagem da Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos, no contexto quer da Igualdade de Oportunidades e Não Discriminação quer do Empoderamento das pessoas jovens, como factores essenciais ao Desenvolvimento e Inclusão Social, inerentes à boa consecução dos Direitos Humanos.
Este manual, testemunho da pró-actividade de rapazes e raparigas de vários países europeus, além de um contributo para a difusão de Educação Interpares e de um modelo de qualidade testado, pretende também incentivar a participação de jovens em iniciativas e decisões relativos à sua Saúde e Educação Sexual e Reprodutiva, numa perspectiva de Direitos Humanos.
A Associação para o Planeamento da Família (APF) é uma Organização Não Governamental com estatuto de IPSS, com fi nalidades de saúde, criada em 1967. A APF tem estatuto de ONG para o Desenvolvimento, estatuto de Associação de Família e membro do Conselho Nacional das Famílias e do Conselho Consultivo da Secção das ONG da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG). É uma das mais de 180 associações de todo o mundo federada na Internacional Planned Parenthood Federation (IPPF). Tem 7 Delegações Regionais: Açores, Alentejo, Al-garve, Centro, Lisboa, Tejo e Sado, Madeira e Norte e desenvolve a sua actividade com base em trabalho profi ssional e voluntário.
A APF tem como objectivos principais contribuir para o avanço do direito humano fundamental de todas as pessoas a fazerem escolhas livres, responsáveis e informadas na sua vida sexual e reprodutiva, e advoga para que esse direito seja exercido; assegurar que a igualdade de oportunidades e o direito ao planeamento familiar, na saúde sexual e reprodutiva continuem a ser prioridades nas políticas de desenvolvimento nacional e internacional e dar resposta às necessidades não resolvidas em Educação Sexual, Planeamento Familiar e Serviços e cuidados de Saúde Sexual e Reprodutiva, indo especialmente ao encontro de necessidades de pessoas e grupos sociais mais marginalizados e desfavorecidos.