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A formação de agentes sociais de esporte e lazer: A
experiência do Programa Esporte e Lazer da Cidade
Organizadoras:
Pamela Siqueira Joras
Mayara Cristina Mendes Maia
Coleção GRECCO
2016
Manual prático para registros de memórias do Programa Segundo Tempo
3
Apresentação da Coleção
A coleção GRECCO é um projeto editorial do Grupo de Estudos
sobre Esporte, Cultura e História, vinculado ao Centro de Memória do
Esporte da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Visa a publicação de livros
eletrônicos privilegiando obras clássicas e contemporâneas no campo
da Educação Física em interface com as Ciências Sociais e Humanas.
História, Memória, Gênero, Sexualidade e Mídia são temas de maior
interesse.
Coordenadora da Coleção:
Silvana Vilodre Goellner
Conselho Editorial:
André Luiz dos Santos Silva (FEEVALE)
Angelita Alice Jaeger (UFSM)
Ivone Job (UFRGS)
Lívia Tenório Brasileiro (UPE)
Ludmila Mourão (UJF)
Meily Assbú Linhales (UFMG)
Victor Andrade de Melo (UFRJ)
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Copyright ® 2016 Centro de Memória do Esporte
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Reitor: Rui Vicente Oppermann
Vice-reitora: Jane Fraga Tutikian Pró-reitora de Extensão: Sandra de Deus
Vice-pró-reitora de Extensão: Claudia Porcellis Aristimunha
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança - ESEFID Diretor: Alberto Reinaldo Reppold Filho Vice-diretor: Flávio Antônio de Souza Castro
Centro de Memória do Esporte - CEME Coordenadora: Silvana Vilodre Goellner
Revisão: Naila Touguinha Lomando
Projeto Gráfico (Capa): Nina Figueira Sodré Projeto Gráfico e diagramação (Miolo): Pamela Siqueira Joras
Qualquer parte ou o todo desta publicação pode ser reproduzida,
desde que citada corretamente a fonte.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da ESEFID/UFRGS
A formação de agentes sociais de esporte e lazer: A experiência do
Programa Esporte e Lazer da Cidade
Organização: Pamela Siqueira Joras e Mayara Cristina
Mendes Maia
Porto Alegre:
Centro de Memória do Esporte da Escola de Educação Física,
Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, 2016.
317 p.: il. (Coleção Grecco)
1. Programa Esporte e Lazer da Cidade. 2. Esporte. 3. Lazer.
I. Joras, Pamela Siqueira; Maia, Mayara C. M. organizadoras.
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Sumário
Apresentação ................................................................................... 8
Mayara Cristina Mendes Maia e Pamela Siqueira Joras
Depoimento de André Hnerique Chabaribery Capi .................. 11
Depoimento de Carmen Lilia Cunha Faro ................................. 39
Depoimento de Claúdia Marins de Souza e Luis Roberto Malheiros
Junior ............................................................................................. 50
Depoimento de Cláudio Gualberto...........................................61
Depoimento de Cleber Augusto Gonçalves Dias ...................78
Depoimento de Christiane Luce Gomes ...................................... 85
Depoimento de Coriolano Pereira da Rocha Júnior ................92
Depoimento de Elisângela Chaves ............................................ 100
Depoimento de Eneida Feix......................................................111
Depoimento de Gilmar Tondin.................................................145
Depoimento de Joana Lessa Fontes Silva ...............................168
6
Depoimento de José Alfredo Debortoli ..................................... 179
Depoimento de José Nildo Alves Cau ....................... ................188
Depoimento de Keni Tatiana Vazzoler Areias ........................ 197
Depoimento de Khellen Cristina Pires Correia Soares.........203
Depimento de Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto ........ 210
Depoimento de Lieselote Inês Schmidt....................................222
Depoimento de Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti..................231
Depoimento de Luis Carlos Lira ........................ .......................241
Depoimento de Luciano Pereira da Silva ................................ 248
Depoimento de Luis Otávio Neves Mattos...............................259
Depoimento de Luis Carlos Vianna Bhorer ............................. 266
Depimento de Maria Leonor Brenner Ceia Ramos .................. 274
Depoimento de Rodrigo Barbosa Terra .................................285
Depoimento de Scheylazat Presciliano Ribeiro ...................... 294
7
Depoimento de Silvano da Silva Coutinho .............. ................302
8
Apresentação
O Ministério do Esporte, por intermédio da Secretaria Nacional de
Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (SNELIS) desenvolve muitos
programas sociais que contribui para que o esporte e o lazer sejam
tratados como políticas e direitos de todos. O Programa Esporte e lazer da
Cidade (PELC) se desenvolve, especificamente em sua essência, com
função de proporcionar a prática de atividades físicas, culturais e de lazer
envolvendo todas as faixas etárias e incluindo pessoas com deficiência,
além de estimular a convivência social, a formação de gestores e
lideranças comunitárias e fomentar a pesquisa e a socialização do
conhecimento.
Ligado por dois eixos centrais que são a Implantação e
Desenvolvimento de Núcleos de Esporte Recreativo e de Lazer, nas
diversas regiões do Brasil e Formação Continuada – ação educativa
continuada para o público profissional envolvido, e atendendo núcleos
urbanos e também comunidades rurais, povos e tradicionais, o Programa
tem por objetivos centrais nortear ações voltadas para públicos
diferenciados nos núcleos lazer e esporte recreativo; estimular a gestão
participativa entre os atores locais direta e indiretamente envolvidos;
orientar entidades convenentes para estruturar e conduzir políticas
públicas de lazer e esporte recreativo; promover a formação continuada de
agentes sociais de lazer e esporte recreativo; incentivar a organização
coletiva de eventos de lazer e esporte recreativo para envolver a população
local para além dos núcleos; e reconhecer as qualidades da cultura local
na apropriação do direito ao lazer e ao esporte recreativo.
Através da manutenção de uma política de atendimento para a
população brasileira, foram implementadas algumas ações ao longo do
desenvolvimento do Programa, almejando aprimorar o processo. Assim, o
Centro de Memória do Esporte (CEME) surge como uma parceria com o
Ministério do Esporte para a realização de registros que buscam a
9
preservação da memória das práticas corporais e esportivas no Brasil e
vem elaborando estratégias capazes de dar visibilidade aos Programas
Sociais mais relevantes. O objetivo desse livro se concretiza ao passo que
através de diálogos com agentes sociais do PELC, materializamos as
narrativas com a finalidade de apresentar e resguardar o trabalho
realizado nas formações e nas experiências de execução desses agentes
sociais. Poder enxergar o caminho da memória repleto com suas
experiências vividas em diversos tempos e contextos possibilita além do
ato de reconhecimento dos povos, de suas histórias e da importância
dessas intervenções, um encontro com as pegadas falhas, os avanços
alcançados e os progressos ainda necessários.
10
Depoimento de André Henrique Chabaribery Capi
Entrevistado: André Henrique Chabaribery Capi
Nascimento:
Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos
Data da entrevista: 20 de novembro de 2015
Transcrição: Ian Massumi Carneiro Ogawa
Copidesque: Pamela Joras
Pesquisa: Pamela Joras
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
Formação; trajetória; ingresso no PELC; preparação para ser formador;
principais assuntos abordados; formações do PELC; envolvimento agentes
sociais e comunidade; avaliações; qualificação do programa.
11
Porto Alegre, 20 de novembro de 2015. Entrevista com André Henrique
Chabaribery Capi a cargo da pesquisadora Luiza Aguiar dos Anjos para o
Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte.
L.A – Obrigada André, pelo tempo disponibilizado, queria que você
começasse me falando um pouco sobre a sua formação.
A.C – Formado em Educação Física por uma fundação. Comecei a
licenciatura plena em 1993 e concluí em 1996, fiz uma especialização na
área de exercício físico, saúde e “personal training” em 1999. Em 2004
ingressei no mestrado em Educação Física na área de concentração de
lazer e estou fazendo doutorado aqui na UFMG1, meu ingresso foi em
2012 e tenho prazo para finalizar até setembro de 2016 no Programa de
Pós-Graduação e Estudos do Lazer.
L.A – E você pode falar um pouco mais especificamente dessa temática do
lazer ao longo da sua trajetória, tanto em pesquisa quanto em atuação?
A.C – Bom, a minha inserção no lazer foi pelo viés da atuação profissional
como recreador, como animador de festa, monitor de festa em colônia de
férias, em clubes ainda como estudante de educação física, isso em final
de 1993, início de 1994. Eu comecei a trabalhar como monitor de festas e
fiz isso durante uns oito ou nove anos. Paralelo a isso eu era professor,
era inicialmente monitor de natação e hidroginástica e fazia paralelamente
esse trabalho de animação de festa e fui levando isso durante um bom
tempo. Em 1999 eu ingressei em um grupo de pesquisa na UFSCar2 para
tentar entender melhor o que era essa recreação que me incomodava, tive
um primeiro contato [silêncio] com o lazer mesmo, que até então eu
trabalhava na perspectiva de executar ações e desenvolver atividades com
crianças em clubes. Eu queria entender um pouco melhor isso. Em 2002,
eu assumi a coordenação de um clube na cidade que eu moro, era
1 Universidade Federal de Minas Gerais
2 Universidade Federal de São Carlos
12
professor do clube e me convidaram para ser coordenador de esporte e
lazer. Foi o divisor de águas para eu falar agora para vocês entenderem
um pouco melhor o que é isso. Eu comecei a procurar cursos de pós-
graduação na área e foi quando eu achei a UNIMEP3 que tinha um
mestrado em educação física e tinha essa linha de pesquisa em lazer, meu
ingresso com a pesquisa se deu por aí. Fui fazer o mestrado, primeiro
como aluno especial e depois consegui ingressar em 2004 como aluno
regular. Comecei a me aprofundar mesmo nos estudos de lazer, e de lá pra
cá foram aparecendo várias oportunidades de atuar no campo em outra
perspectiva, aí eu defini mesmo essa área como uma área que eu queria
me aprofundar, estudar. Algumas coisas foram acontecendo
concomitantemente, antes de terminar o mestrado ingressei como
professor universitário, não com disciplina ligada ao lazer, mas com o
tempo foram surgindo as disciplinas de lazer e recreação para eu
trabalhar. Terminando o mestrado, tive possibilidade de participar do
edital para entrar como formador do PELC4 em 2007. Terminando o
mestrado, depois de cinco, seis anos, eu resolvi tentar continuar os
estudos na área do lazer e prestei aqui o processo seletivo na primeira
turma da UFMG da pós em estudos do lazer e estou aí nessa caminhada.
L.A – Você mencionou já seu ingresso em 2007, você desde 2007 está
continuamente dentro do programa?
A.C – Desde 2007 continuamente, em 2010 teve uma mudança, foi
destituído um grupo que tinha que foi constituído por esse edital de 2007,
e eu optei por tentar novamente permanecer. Teve todo um processo
seletivo que exigia o nosso envolvimento com a pós-graduação,
especificamente com uma instituição federal, era um dos pré-requisitos e
eu não tinha esse vínculo, mas acho que isso também acabou sendo um
elemento que me provocou a continuar esse processo formativo. Eu
elaborei o projeto, você tinha que mandar um projeto, além da inscrição,
3 Universidade Metodista de Piracicaba
4 Programa Esporte e Lazer da Cidade
13
tinha que mandar um projeto, esse projeto ia ser avaliado junto com o
currículo e depois, em uma segunda fase, seria a entrevista. Eu falei: “Ah
vou mandar o projeto e depois se eu for classificado para continuar como
formador vou procurar possibilidades de me vincular a uma instituição
federal para poder ser formador” então isso me fez, em 2010, me
matricular como aluno especial aqui no... Ainda não tinha o doutorado na
UFMG, o caminho foi me matricular como aluno especial em algumas
disciplinas no mestrado aqui, eu me envolver com disciplinas de mestrado
na UFSCar que é outra federal mais próxima da cidade na área da
educação, e isso também me ajudou a delinear um pouco e a me provocar
a concorrer ao doutorado, por exemplo. Depois de ter o ingresso no
doutorado, então esse vínculo já estava estabelecido, porque eu consegui
ingressar em uma universidade federal.
L.A – E como você entende que aconteceu sua preparação para exercer
essa função de formador?
A.C – Eu tinha uma compreensão de trabalhar com programas e projetos,
especificamente com programas públicos, projetos públicos de esporte e
lazer foi o primeiro. Eu atuava no setor corporativo, um clube social
recreativo, e a proposta, a compreensão que se tem de programas de
esporte e lazer nesse setor, no setor corporativo, setor privado é diferente
do setor público, o como atuar enquanto formador, a qualificação, ela foi
se dando mesmo com a pós-graduação. Acho que conseguiu ampliar a
possibilidade de intervenção, entender um pouco melhor como pode ser
essa atuação, principalmente na perspectiva... de entender a área do
lazer, quais são as possibilidades, o vínculo com os grupos de pesquisa e a
própria proposta do programa, como a formação é um eixo norteador, ela
acaba permitindo que a gente vá reconstruindo, resignificando, qual é a
nossa função? Qual que é o nosso papel? Como é esse trabalho? Quais
são os elementos que devem nortear nossa ação? O próprio programa, as
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características do programa, nos ajudam na nossa qualificação, na
atuação como formador.
L.A – Como que você planeja e organiza as formações que você vai
executar?
A.C – O próprio programa ele nos propõe, propõe não, ele define algumas
metodologias, alguns eixos norteadores, algumas diretrizes. A gente faz o
planejamento das formações sempre dialogando com esses documentos
que chamamos de diretrizes e uma delas, por exemplo, é você sempre
considerar as características do convênio, então o PELC já teve alguns
formatos de conveniamento. Antes existia conveniamento com ONG5s e
com o setor público, hoje é só com o setor público. Quando era com ONG,
levávamos a característica da instituição e do local onde essa ONG ia
desenvolver o programa. Qual era a parceria? Era com clube? Era com
uma associação de moradores? Era com uma associação comunitária?
Desde 2012, não vou me recordar assim exatamente quando ficou definido
que só poderia ser com setor público. A gente leva em consideração a
característica da cidade, da população, do bairro, tentava entender um
pouquinho se essa cidade já tinha política publica de esporte e lazer ou
não. Quais eram as características dos agentes sociais que eles estavam
pensando em contratar. Analisávamos o projeto pedagógico, que a gente
chama de PP, é o primeiro documento que consultamos, por exemplo, é
nesse PP que a instituição, a entidade, inserem essas informações, o por
quê de estar solicitando o projeto, qual o objetivo dela, justificativa, as
características da cidade. E a partir daí, a gente também procura buscar
outras informações através do contato com o responsável por essa
entidade, que chamamos de gestor, a gente usa um pouco dessas
estratégias para poder pensar e planejar a programação dessas formações
sempre considerando quais são os temas de conteúdos que estão
previstos. São quatro módulos, hoje, o edital é de quatro módulos, e é
5 Organizações não governamentais
15
interessante falar também que esse formato da formação foi sendo
reconstruído, ressiginificado ao longo do programa. Se pensarmos, em
2007, quando a gente ingressou enquanto formador, e acho que é um
dado interessante, a própria forma que a gente se relacionava com as
entidades para fazer a formação é diferente de hoje. Em 2007 quem
entrava em contato com o formador era a própria entidade, eu fui fazer
uma primeira formação em 2010, de 2007 a 2010 eu não fiz nenhuma
formação, talvez por ainda não ter o contato com as instituições, com as
prefeituras, com as ONGs, e éramos um grupo de setenta e sete
formadores. Os formadores que já tinham mais articulação, que estavam
desde 2004 nos projetos do PELC, tinham mais acesso a isso, inclusive,
foi um dos elementos que na minha concepção provocaram essa mudança
no grupo de formadores e fez com que a secretaria e o ministério
pensassem em outra forma de contratar esses formadores de 2007 até
2011, 2012, quando mudou esse processo de contratação, que a gente
virou bolsista, também foi provocado por isso. Quem está fazendo essas
formações? Eles pensaram em várias estratégias, “ah, vai ter o nome dos
formadores no site do ministério, e a entidade entra lá e seleciona o que
está mais próximo da sua...” “Ah, uma cidade do norte vai ver se tem
algum formador no norte e vai entrar em contato com ele, par....Ah não
deu certo, põe lá o nome de todos os formadores e o formador que tiver lá
em primeiro é o que está na vez da formação. A própria gestão da
formação do município entender que não tinha um grupo de técnicos, um
grupo de profissionais dentro do ministério para fazer a gestão dessa
formação também foi um motivo. Então vamos tentar uma parceria com
uma instituição pública, uma universidade que tem um pouco dessa
expertise na área da formação e talvez esse também tenha sido o critério
para fazer a parceria com a UFMG que historicamente tem uma trajetória
nos estudos do lazer desde lá atrás, tendo o mestrado, enfim, então esse
diálogo constante com as diretrizes do programa, com as características
da entidade é o que norteia o nosso planejamento pedagógico.
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L.A – E tem alguma temática específica que você procura dar maior ênfase
ao longo das formações?
A.C – Isso depende muito de qual módulo. O módulo introdutório, e é uma
discussão que esta tendo nos nossos... Sempre tem nos nossos encontros.
A gente tenta qualificar, por exemplo, os conceitos básicos de cultura,
esporte e lazer, tenta fechar essa formação, esse módulo introdutório um
com a grade horária. Como pensar uma grade horária que vá permitir ao
convênio disponibilizar para a comunidade atividades diversificadas, que a
gente trabalha com uma concepção de lazer, em que o lazer não é só o
esporte, mas muita entidade ainda busca o conveniamento achando que o
PELC é um programa de esportes. Desconstruir essa concepção, primeiro,
de que esporte é esse? Ainda eles colocam o esporte dentro de uma mesma
sacola, o que é o esporte recreativo, o esporte participativo? É o mesmo
esporte de competição? Desconstruir um pouco isso e mostrar que o lazer
tem outras atividades que podem ser desenvolvidas para a comunidade é
um desafio, depois concretizar isso na grade horária. O nosso desafio do
módulo introdutório, por exemplo, é pegar o PP deles, que já vem
formatado, eles elaboraram uma grade horária para poder fazer o projeto,
e mudar essa grade horária, até porque quando eles contratam os agentes
sociais, e esses agente sociais vão para formação, muitas vezes o gestor
não teve essa compreensão ao ler o edital, de que o lazer é constituído de
várias atividades, não só de esporte, ele contempla essa grade horária, fica
mais fácil da gente ajuda-lo a reorganizar. Mas quando ele não entende,
ele fica fechado ainda como o lazer só no viés esportivo, desconstruir isso
e fazer os agentes sociais entenderem que eles podem trabalhar com
outros conteúdos, mesmo que ele não tenha formação para isso. As vezes
ele tem uma experiência em outro tipo de atividade e ele pode levar isso
para o programa, é o desafio do módulo introdutório, por exemplo. Nos
outros módulos, a gente tenta desenvolver outras temáticas que são
importantes, como por exemplo, o planejamento participativo que é o que
vai permear toda a proposta do programa que é chegar lá na frente e
17
contribuir com a política publica daquela cidade, como essa política
pública que ta chegando lá com o PELC tem uma proposta de ação e pode
contribuir com a qualificação da política pública que a cidade já tem.
Muitas cidades não tem talvez o PELC vá ser um pontapé inicial para ela
começar a pensar nessa política pública, provocar que as ações do
convênio, as oficinas, os eventos, valorizem esse envolvimento da
comunidade, para que a comunidade se aproprie do lazer como um direito
social, para que as pessoas entendam que o lazer também é um direito
social assim como a saúde, como é a educação, para, de repente, essa
própria comunidade criar demanda nesse município. Enfim, são temáticas
que eu entendo significativas para que não seja um programa passageiro.
Vai lá, passou, atendeu a comunidade durante aquele período que está
previsto, hoje são vinte quatro meses, quatro de estruturação e vinte de
atendimento, e acaba. Depois dos vinte quatro meses não ficou nada. O
planejamento participativo, o envolvimento das pessoas nas ações,
apropriação das pessoas, de alguns elementos que estão previstos no
programa como, por exemplo, o conselho gestor, o que é esse conselho
gestor? A atuação do controle social, então são todos os elementos que a
gente bate muito na formação, trabalha bastante para conscientizar que o
programa não é só oferecer um rol de atividades e que vai ser passageiro e
vai terminar.
L.A – E quais são as suas principais estratégias metodológicas?
A.C – Eu trabalho muito com a estratégia da ação comunitária, ela se
apropria dessa valorização da participação das pessoas, desse
compartilhamento de tarefas, de estratégias, de desenvolvimento, de
planejamento das ações, de execução das ações, de avaliação das ações. É
uma estratégia que vai mapear toda essa comunidade, vai tentar
identificar quem são as pessoas, quem são os grupos que já são
referências na comunidade e podem ajudar nesse processo que a gente
chama de sensibilização, depois da operacionalização e desenvolvimento
18
das ações, do mapeamento. Eu entendo a ação comunitária como uma
estratégia que ajuda o convênio entender, os agentes sociais entenderem
que o programa não é para ser feito para as pessoas, mas é para ser feito
com as pessoas. Durante as formações, eu uso muito de estratégias em
que essas características da ação comunitária, ela fica bem estabelecida,
eu vou trabalhar um tema sobre barreiras para vivência do lazer, a gente
trabalha com o esquete, por exemplo. Então vamos lá, um grupo vai tentar
fazer uma cena aí de um deficiente tentando ter acesso ao esporte e lazer
com essas dificuldades que ele encontra o idoso, a criança, eu trabalho
muito com dinâmica. Uma das estratégias é usar a ação comunitária, mas
na prática é desenvolver essa estratégia de ação comunitária através de
dinâmicas em que eles possam compreender como se concretiza. Dividir o
grupo em comissões, dividir o grupo que esta lá na formação, o grupo dos
agentes, tem vinte agentes sociais, nos três dias de formação cada grupo
de agente vai desenvolver, vai desempenhar um papel ao longo dos três
dias de formação, para eles já irem se apropriando disso, de como é
importante você trabalhar coletivamente, não individualmente. São todas
as estratégias que a gente vai tentando articular com as diretrizes do
programa, com os conceitos centrais do programa, “ó, esta vendo, aqui
está acontecendo a participação, aqui está acontecendo o trabalho
coletivo” para que através dessas estratégias, eles possam concretizar o
que efetivamente o programa quer.
L.A – Queria que você me falasse um pouco da visita técnica, como é que
você organiza? Qual você acha que é a importância dela?
A.C – Essa visita técnica você fala...
L.A – Um estudo de realidade
A.C – Visita técnica que a gente faz no módulo introdutório ou essa visita
pedagógica que a gente faz depois que o projeto já esta implantado?
19
L.A – Primeiramente eu queria que você falasse dessa primeira...
A.C – Essa é uma das estratégias que a gente usa para tentar entender,
por exemplo, qual que é o espaço que vão acontecer as oficinas, é uma
praça? É um salão comunitário? É uma escola? É uma quadra? É um
ginásio? Quem são essas pessoas que ficam no entorno? Eu tento ir
pontuando para eles “olha, quem já usa esse espaço? Que atividades que
já acontecem nesse espaço?” A visita técnica é importante para isso, para
apontar para os agentes sociais como a gente pode considerar a realidade
para a nossa intervenção. Se é um espaço que prioritariamente acontece
só oficina de esportes para homens, o que o convênio tem que fazer? Qual
a estratégia que os agentes sociais, coordenador de grupo, tem que pensar
para que outras pessoas acessem aquele espaço para além de homens
adultos que joguem futebol. Como eu posso pensar a estratégia para levar
a mulher para aquele espaço? Para levar a criança? Para levar o idoso? Se
aquele espaço é pouco acessível para pessoas com necessidades especiais,
que tipo de ação eu posso fazer? Onde tem deficiente físico ou pessoas
com necessidades especiais na comunidade? Tem algum posto de saúde
onde eu posso buscar informações sobre esse público? A escola tem
pessoas com essas características? E na escola eu posso ir divulgar o
programa para essas pessoas? Enfim, o estudo da realidade, essa visita
técnica, é importante para isso, para mapear o que já tem quem acessa
quem não acessa? Porque não acessa? E ai pensar estratégias para
permitir o acesso, a construir a grade horaria. Não adianta eu já pensar
em um torneio de futebol para adultos, porque já tem o futebol para
adultos lá, eu tenho que pensar em atividades artísticas, atividades de
ginástica, atividades esportivas para as meninas, para as crianças, para
os idosos, para a gente democratizar o acesso desse espaço. Então esta lá,
“democratização do esporte recreativo do lazer para as pessoas” é um dos
objetivos do programa, estamos dialogando com isso, se a gente não faz o
estudo da realidade, não tem como apontar concretamente o que eles
20
podem fazer, porque muitas vezes o agente social que é contratado para
trabalhar nesse núcleo, não é daquele bairro, e mesmo que ele seja, às
vezes, ele tem uma compreensão restrita de esporte e lazer. Aquilo que eu
falei lá no início do nosso bate papo. Se ele entende o esporte só no viés da
competição, do esporte de alto rendimento, da escolinha de esportes só
para quem sabe, e a gente não faz essa análise da realidade, não discute
isso, ele vai continuar fazendo, pensando a oficina para esses grupos,
então aquele que quer participar de uma oficina esportiva, mas não tem
habilidade, tem vergonha porque sempre erra, ele também não vai ter
acesso. A visita é importante para isso, para apontar um pouquinho o que
já tem e quais são os desafios que a gente tem para superar, para
efetivamente, permitir o acesso de outras pessoas ao esporte recreativo ao
lazer.
L.A – E com relação à visita pedagógica, aquela que você vai quando já
está em funcionamento?
A.C – O papel da visita pedagógica ajuda a gente a entender o que foi... Se
eles estão usando estratégias, por exemplo, para democratizar o acesso a
esse espaço, a gente vai voltar a esses espaços, a esses núcleos, para ver
quem está ocupando aquele espaço, se continua só o homem jogando
futebol? Ah não, já tem lá aula de ginástica, aula de dança, aula de
artesanato, já tem criança frequentando. A visita pedagógica ajuda a gente
a monitorar e a entender se o núcleo, se os agentes sociais, se o
coordenador de núcleo, estão desenvolvendo estratégias e ações para
democratizar o acesso naquele espaço. E fora os outros aspectos que estão
previstos no programa, a identidade visual, tem lá a placa do programa,
tem a grade horária fixada, o coordenador faz o acompanhamento das
inscrições, está conseguindo atingir as metas quantitativas que é ter o
número mínimo de inscritos por oficina para atingir as quatrocentas
pessoas que estão previstas, se é o PELC Urbano, as duzentas pessoas
previstas se é o PELC Vida Saudável, enfim, na verdade agora é o
21
Programa Vida Saudável, não é mais o... Que antes tinha o PELC núcleo
Vida Saudável, agora o Vida Saudável é um programa independente do
PELC. A visita pedagógica é importante por isso, nos dá elementos para
monitorar, acompanhar se o programa... Se o convênio está desenvolvendo
ações que se articulam com o que está previsto no programa, que é o
trabalho coletivo, envolvimento das pessoas, valorizar a participação da
comunidade, valorizar a cultura local, se as atividades estão sendo
diversificadas, se não é só atividade esportiva, se o público está sendo
diversificado. A visita pedagógica contribui nesse sentido, tanto pra gente
pensar no que vamos abordar no modulo de avaliação, a visita pedagógica
acontece um dia antes do modulo de avaliação, lógico que a gente já
enviou a programação, mas é o que está sendo debatido no encontro, por
exemplo, programação foi elaborada, nós entramos em contato, fizemos
uma série de perguntas para o coordenador. Eu, particularmente, eu
envio um roteiro para o coordenador antes de elaborar a programação,
então isso também é uma estratégia de mapear a realidade “ó, o que esta
acontecendo aí? Quais são as dificuldades que vocês tem? Tem algum
tema específico que a gente trata na formação? Está tendo uma
dificuldade? Daqueles encaminhamentos que a gente deixou do modulo
introdutório alguns ainda estão pendentes?” então a gente elabora a
programação nessa perspectiva, mas a gente chega na visita pedagógica e,
as vezes, a gente identifica alguns elementos que ele não apontou para
mim nesse dialogo antes de organizar a programação que eu vejo que é
fundamental eu tratar. Então, às vezes, eu vou inserir, eu vou dar mais
ênfase em algum tópico que já está previsto na programação, algum
conteúdo, ou vou inserir algum conteúdo que não está previsto porque ele
não... O que ele me respondeu para esse roteiro que eu enviei anterior a
elaboração da programação não contemplou, mas eu percebi na visita
pedagógica. Propositalmente, a visita pedagógica, ela acontece um dia
antes do Módulo de Avaliação um para poder ser uma referência para a
nossa formação, ela é fundamental nesse sentido.
22
L.A – E você já atuou em formações tanto no Vida Saudável quanto no
Urbano e nos povos tradicionais?
A.C – Não, no PCT6 não tive oportunidade ainda, até porque eu acho que
eu não tenho uma qualificação [riso] para isso, mas se tiver demanda,
lógico que a gente vai tentar dialogar e buscar informações com os outros
colegas que já atuaram nesse programa, no PCT, mas eu tenho atuado
bastante no PELC Todas as Idades que agora é PELC Urbano e no Vida
Saudável.
L.A – Você tem alguns cuidados especiais para além dos já previstos nas
diretrizes quando planeja algo para uma formação para o PELC Urbano e
Vida Saudável?
A.C – Como assim?
L.A – Que tipo de preocupação você tem quando vai planejar para um ou
para outro?
A.C – Considerar as especificidades de cada convênio, de cada programa.
O PELC Urbano, o PELC Todas as Idades, ele também prevê atendendo o
público idoso, o que diferencia do Vida Saudável? É que o Vida Saudável é
especificamente é para pessoa, no último edital, acima de sessenta anos.
Então, inclusive, está se qualificando isso nas diretrizes do Vida Saudável,
que é trabalhar com o conceito de promoção da saúde, protagonismo da
pessoa idosa, trabalhar com o estatuto da pessoa idosa, quais são os
cuidados? É a gente buscar algumas estratégias, eu tento pegar alguns
textos, alguns artigos que falam desse público, pegar algumas referências,
alguns vídeos que trabalham a temática ligada à pessoa idosa. No PELC
Urbano, trabalhar com coisas que possam remeter a esses grupos, no
grupo de crianças, grupo de adultos, grupo de idoso, de deficiente físico. É
6 Povos e Comunidades Tradicionais
23
uma estratégia que eu gosto muito, essa da esquete para as pessoas
entenderem, assumirem um pouco o papel da pessoa que tem uma
necessidade especial ou uma deficiência física, como é isso? Por que eles
não vão num espaço participar de uma atividade de lazer? Será porque
eles não têm necessidade disso ou porque eles têm vergonha? Então como
concretizar isso? Porque às vezes eu fico lá falando quarenta minutos,
uma hora sobre, mas se eu não uso essa estratégia, que é eles
representarem essa dificuldade que a pessoa idosa tem ou que o deficiente
tem, eles não conseguem compreender isso. É o que a gente tem percebido
que essas estratégias práticas, essas dinâmicas, elas ajudam as pessoas a
compreenderem. Isso não significa que eles vão se apropriar disso, muitas
vezes você volta na visita pedagógica e eles tiveram dificuldades, depende
muito do grupo, tem grupos de agentes sociais que você tem pessoas com
alguma formação, tem grupos que você tem meio a meio, tem grupos que
todos os agentes sociais não tem formação, então o PELC está sendo um
ponto zero para alguns, para outros não, já esta sendo outro estágio, já
tiveram outras experiências. Isso vai depender muito do grupo.
L.A – E que resultados você tem observado das formações nos agentes nos
grupos?
A.C – Da formação que nós formadores desenvolvemos com eles ou do
programa em si?
L.A – Como você vê isso sendo apropriado por eles ao longo desse
processo?
A.C – Isso também, a gente fala na própria formação que o programa, ele
tem, no papel dos coordenadores, um divisor de águas, se você tem um
coordenador de núcleo, um coordenador pedagógico, um coordenador
geral que entende qual que é a proposta do programa e se apropria dessa
proposta, a gente consegue perceber uma mudança significativa nos
24
agentes sociais. Eu tive convênio, por exemplo, que a coordenadora,
gestora do programa do convênio é da área da educação física, tem pós-
graduação, estudou essa questão do lazer, o resultado que se teve foi
muito positivo, por exemplo, conseguiu a continuidade do programa, de
parte do programa. Depois que acabou o convênio com o PELC, a entidade
que era parceira na cessão do espaço contratou uma das coordenadoras
para dar continuidade, alguns agentes sociais que eram, na época,
estudantes de educação física se sentiram motivados para fazer pós-
graduação, eles organizaram trabalhos para apresentar em congressos a
partir do PELC, então enquanto o PELC estava se desenrolando na
formação em serviço, ela criou uma estratégia de provocar esses agentes
sociais a produzir uma pesquisa sobre o PELC e outros convênios. A gente
vê que o agente social está ali pela grana, ele desenvolve ali o que está
proposto pra ele, mas em um viés bem simples, então isso vai depender
muito da característica... A gente fala de quem é o gestor do convênio.
Tem muitos convênios que os agentes sociais mudam muito, porque às
vezes eles arrumam outro estágio dentro da educação física que paga uma
bolsa melhor, ele abandona o convênio e aí você tem que trabalhar com
outro agente social. Mas a gente tem percebido que o próprio PELC tem
pensado estratégias para cada vez que ficar mais... Os agentes sociais, que
são eles que vão dar o tom, a qualidade, para a ação lá na ponta, são eles
que atendem a comunidade, então tem a EAD7 então tem muitos agentes
sociais que estão aderindo a EAD para tentar ter uma qualificação melhor,
a formação em serviço é outro gargalo, como eu falei, se você tem um
coordenador que entende o papel da formação em serviço, ela vai
acontecer, se a formação em serviço acontece, quando a gente volta no
módulo de avaliação percebe que o debate, a forma como eles organizam o
núcleo, as oficinas, o planejamento, o monitoramento e avaliação, tem
outra característica, porque esta tendo ali um coordenador atuante, que
entende que essa formação é fundamental para qualificar as ações.
7 Educação à distância
25
L.A – E algo de acompanhamento dos núcleos, após o fim do convênio,
mesmo que informal?
A.C – Olha, na minha experiência, eu estou tendo uma experiência atual
com o convênio de uma cidade do estado de São Paulo que eles, por
exemplo, especificamente nesse convênio, eles criaram seminários. Agora
em dezembro, o convênio entrou em setembro, eu fiz o módulo
introdutório dois, final de setembro agora, eles vão fazer um seminário de
esporte e lazer agora em dezembro, inclusive, eles me convidaram para
participar da mesa. Eles vão discutir o esporte, que esporte é esse que a
cidade pensa enquanto política pública? É uma cidade que tem uma
política pública já faz um bom tempo, mas sempre entendeu o esporte
mais no viés só das escolinhas de esporte, não pensava o esporte e o lazer
para todos, para pessoa idosa, para mulher, para o adulto, para a criança.
Pensava mais na formação esportiva das escolinhas e nas equipes de
competição. Eu vejo nesse convênio, por exemplo, um movimento dos
gestores, da prefeitura que estavam na frente do... Que são funcionários
de carreira e que estavam a frente do PELC, eles mudando essa
compreensão do esporte e lazer. Especificamente nesse convênio, o último
edital para contratar profissionais para atuarem na secretaria, para
profissionais de carreira, eles pensaram em um edital para não contratar
técnicos específicos de algumas modalidades, mas sim pensaram em um
edital, fizeram um processo seletivo para contratar profissionais que
possam atuar nessa perspectiva do esporte e do lazer, não só da escolinha
de esporte. Eu acho que é uma ação interessante. Um coordenador de
núcleo que participou... Eles tiveram três convênios com o PELC, o que
participou do primeiro convênio do PELC, ele foi convidado para ser gestor
da secretaria e ele passar a trabalhar com a formação dos professores da
secretaria, e trabalhar já dialogando com alguns elementos do PELC. A
gente tem visto que em algumas cidades é aquilo que eu te falei lá atrás, o
PELC passou e a gente até perde o contato, essa foi uma cidade que a
gente manteve contato, algumas delas o PELC passou só.
26
L.A – Que pontos você identifica que podem ainda ser melhorados no
trabalho do PELC?
A.C – Em relação a formação?
L.A – Em relação ao programa como um todo, pode ser com relação a
formação ou outros elementos que você acha interessante.
A.C – Olha só, eu acho que esses encontros que a gente tem que é esse
momento que a gente está aqui, desses encontros de formadores, eles
sempre nos provoca a pensar exatamente o que pode avançar. Hoje, eu
entendo assim, como gargalo, é a gente qualificar esse sistema de
monitoramento, que é um programa que se tem que é o MIMBOE8 que vai
facilitar esse contato entre nós, formadores, e entidade, entidade e o
próprio ministério. Eu acho que a gente conseguir avançar com a
finalização, na verdade, finalização não, porque o programa ele vai sempre
estar tendo novas demandas, mas o programa efetivamente começar a ser
mais utilizado. Quando a gente saiu da sala para a entrevista é o que
estava sendo debatido nós vamos ter que ter um momento para falar “ai ó,
parou, agora é só programa” para a gente efetivamente poder utiliza-lo
mais e se apropriar mais disso. Um dos objetivos do programa, além de
monitorar e acompanhar, é também criar indicadores, que até então com
essa proposta física de mandar relatório via e-mail dificulta um pouco
essa sistematização de dados, que é um pouco o que o ministério quer.
Ter esses indicadores e para qualificar ainda mais para onde o programa
pode ir, para onde o programa pode caminhar. A gente poder nas nossas
formações ter... Acho que a parte do programa facilita isso, sensibilizar
mais os gestores da importância da formação. Talvez até a gente pensar
mais nessas nossas formações in loco quais são as estratégias que podem
qualificar ainda mais os agentes sociais e os coordenadores de núcleo, da
8 Programa de Avaliação e Monitoramento do Programa Esporte e Lazer da Cidade
27
importância da formação em serviço, por exemplo, da importância da
constituição do conselho de gestor, que são dois elementos importantes
para sensibilizar a comunidade. Se você não tem um grupo gestor, o
conselho gestor que é levar representantes da comunidade para debater o
programa, como que eles vão se apropriar e entender o lazer como um
direito social se constituir enquanto grupo para tornar um grupo de
pressão que vá reivindicar o lazer e o esporte como um direito social?
Pensar nessas estratégias que sensibilizem o gestor, o agente social, o
coordenador de núcleo para essa sensibilização da própria comunidade.
L.A – André, do roteiro a gente já passou por vários pontos, mas eu queria
saber se você quer colocar alguma outra coisa, se alguma coisa eu não te
perguntei e você acha importante ou se quiser fazer uma consideração
geral.
A.C – Acho que foi contemplado tudo no seu roteiro, mas acho que é frisar
isso mesmo, o desafio do PELC sempre estar assim... semestralmente e
também presencialmente. A cada seis meses a gente se encontra
presencialmente. Nós temos também encontros bimestrais ou trimestrais
via plataforma do Hangout9 que tem convidados, que vem debater alguns
temas que a gente mesmo demanda. O planejamento participativo,
educação popular, o último foi semana passada sobre o EAD, enfim, são
estratégias que o convênio tem. O programa tem sempre como norte a
formação, como qualificar a nossa formação, a formação dos formadores,
para que isso também possa qualificar a formação dos agentes sociais
para que chegar lá na ponta. Talvez algo que eu queria destacar é a
necessidade que o programa tem de ser um pouco menos burocrático no
processo de conveniamento e eu acho que perpassa um pouco pela
necessidade que a própria área de esporte e lazer tem que é na formação
do gestor. A gente vê que, às vezes, a coisa é tão simples, mas o gestor da
prefeitura não tem preparo nenhum para isso, para entender o que é um
9 Plataforma de mensagens instantâneas via áudio e ou vídeo pela internet
28
projeto, onde ele vai buscar esse recurso, como ele vai usar esse recurso,
ele entender que um recurso público depois exige um acerto de contas,
uma prestação de contas, que é isso que às vezes inviabiliza. Alguns
entraves, por exemplo, a gente faz a formação do módulo introdutório e
demora um tempão até que esse convênio tenha a tal da ordem de início
para ele começar a atender a comunidade. A desburocratização seria um
aspecto importante para se pensar. Talvez, estar pensando isso para a
próxima diretriz que vai sair agora em 2016, mas enfim... Ah, e queria
também deixar registrado que isso que vocês estão fazendo é um pouco do
que eu estou estudando no meu doutorado. Estou tentando entender
como que é a trajetória desses formadores, as primeiras perguntas que
você fez, por exemplo, tem um monte de dados de todos os formadores,
qual que é a formação? Qual foi a trajetória? Enfim, e o que esse
envolvimento com o PELC contribuiu com a construção dos saberes deles
sobre lazer, sobre políticas públicas, sobre esportes. Nós também estamos
nessa caminhada de tentar entender o papel da formação desses
profissionais que estão como formadores do PELC.
L.A – Bacana, em breve sua tese estará no nosso banco de dados[Riso], em
breve nem tão breve, está no meio do processo.
A.C – Estou finalizando. Já coletei todos os dados, agora só estou
analisando.
L.A – Você defende já no final do ano que vem?
A.C – Eu posso defender até setembro, mas eu quero defender antes.
[Risos]
L.A – Está certo. André, muito obrigada.
[FINAL DA ENTREVISTA]
29
Depoimento de Carmen Lilia Cunha Faro
Depoimento de Claudia Marins de Souza e Luis Roberto
Malheiros Junior
Depoimento de Cláudio Gualberto
30
Depoimento de Cléber Augusto Gonçalves Dias
Entrevistado: Cleber Augusto Gonçalves Dias
Nascimento: não informado
Local da entrevista: UFMG - Belo Horizonte
Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos e Christiane Garcia Macedo Data
da entrevista: 23/10/15
Transcrição: Gustavo Bernardi
Copidesque: Ivone Job
Pesquisa: Ivone Job
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
A formação inicial do entrevistado; Temática das pesquisas; Envolvimento
com Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC); Funções que exerce no
Ensino a Distância; Conteúdos do Curso a distância; Preparação de
tutores do curso; Relação ou especificidade nos materiais produzidos para
o curso a distância com relação à Vida saudável e aos povos indígenas e
comunidades tradicionais; Novas materiais que estão sendo elaborados
para o curso; Como foram escolhidos os novos materiais do curso;
Diagnósticos e resultados a respeito do curso EAD; Estrutura do curso;
Como são escolhidos os utores e profissionais que trabalham no curso;
Como acontece o processo de divulgação do curso; Considerações finais.
31
Belo Horizonte, 23 de outubro de 2015. Entrevista com Cleber Augusto
Gonçalves Dias a cargo das pesquisadoras Luiza Aguiar dos Anjos e
Christiane Garcia Macedo para o Projeto Garimpando Memórias do Centro
de Memória do Esporte.
L.A – Queríamos que você começasse falando da sua formação.
C.D – Minha formação, bom.. Eu me graduei em Educação Física numa
universidade privada do Rio de Janeiro chamada Universidade Castelo
Branco e se eu não estiver enganado entre os anos 2000 e 2004. Logo em
seguida eu fiz um curso de especialização em Educação Física Escolar na
Universidade Federal Fluminense e já na sequência eu fiz o curso de
mestrado na UFRJ10 em história comparada. Imediatamente depois eu
ingressei no doutorado em Educação Física na Unicamp. Do ponto de
vista da minha formação é isso.
L.A – Você podia falar um pouco das temáticas das suas pesquisas?
C.D – No final da graduação, na universidade privada não tem muito essa
dimensão da pesquisa. Você basicamente vai lá para assistir aula. No
entanto, no último semestre do curso eu conheci o Edmundo11 que era
também professor da Universidade Federal Fluminense que foi, inclusive,
quem me chamou atenção para o curso de especialização que tinha lá que
era gratuito, etc. Ele ofereceu uma disciplina optativa sobre esportes de
aventura, o assunto na ocasião, me interessei bastante em particular pelo
primeiro, porque nunca gostei de natureza. Eu achava estranho as
pessoas terem prazer em irem para o meio do mato, se exporem a um
certo sofrimento etc. Como ele tinha uma pegada de pesquisa e eu tinha o
hábito de ler muito, eu sempre li muito, eu tinha esse interesse. Embora,
fizesse isso não de maneira organizada, era totalmente desorganizado.
Mas, me aproximei do Edmundo em uma pesquisa que ele começou a
10
Universidade Federal do Rio de Janeiro 11
Edmundo de Drummond Alves Júnior
32
fazer sobre os lugares do Rio de Janeiro e seus frequentadores que
praticavam o esporte de aventura em determinadas praias, montanhas,
para escalar, saltar de asa delta. Acho que foi aí a minha entrada no
universo da pesquisa. No mestrado, eu também estive nesse projeto, com
bolsa de apoio técnico da FAPERJ12 já trabalhando com o Edmundo na
UFRJ. Logo em seguida, no mestrado, eu decidi fazer um estudo
comparando os esportes de aventura no Rio de Janeiro na década de 60
com o processo de desenvolvimento urbano da cidade. Era a comparação
entre práticas esportivas e a materialidade urbana da cidade, seus planos
urbanísticos, suas reformas e tal. No doutorado eu decidi fazer um estudo
sobre o início do processo histórico de usar espaços naturais para a
prática de lazer, ou seja, a história do lazer na natureza entre o final do
século XVIII e o começo do século XIX. Depois eu ingressei na
Universidade Federal de Goiás onde eu comecei a estudar a história do
esporte em regiões periféricas e é o que eu estou fazendo até hoje. Depois,
fui para a Universidade de Mato Grosso e um pouco também aqui em
Minas Gerais, no interior de Minas Gerais não Belo Horizonte e uma parte
da região amazônica, o sertão do Brasil, nessas partes mais fora dos
grandes centros metropolitanos.
L.A – Como começou o seu envolvimento com o PELC?
C.D – Estou lembrando uma experiência que tive anterior ao PELC. Houve
uma época que o Ministério do Esporte lançou um edital para pessoas que
quisessem atuar como formadores do PELC. Eu me inscrevi, lembro que
tinha que fazer um documento e uma proposta de formação, talvez um
memorial, se eu não estiver enganado. Acabei sendo selecionado junto
com outros 77 formadores, e eu era o número 78, não sei nem como é que
se fala o número 78, mas eu era o 78 colocado. Esse foi o meu primeiro
contato com o PELC, mas na prática esse grupo operava muito pouco
porque havia esses 78 formadores, mas eram os núcleos que organizavam
12
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
33
os PELC nos diferentes municípios e que selecionavam os formadores que
eles queriam Acabou que eu nunca fui convidado para nenhuma formação
porque eles acabavam selecionando um grupo muito restrito, mas ainda
assim, foi uma primeira formação porque cheguei a ir para Brasília
participar de reuniões onde eles expunham como funcionava o PELC.
Depois disso eu larguei e fiquei um tempo sem nenhum um tipo de
contato. Quando eu me transferi de Goiânia para Belo Horizonte para
trabalhar aqui na UFMG, o Hélder13 já estava envolvido com a
coordenação desse processo formativo do PELC, e já não se organizava da
mesma maneira que na época que eu tive envolvido. Então ele me
convidou para participar especificamente nesse curso que aconteceu a
distância, não nos cursos de formação presencial.
L.A – E que funções você exerce dentro dessa educação a distância?
C.D – É eu atualmente sou o coordenador operacional. Basicamente cuido
de uma parte administrativa do curso, então eu contrato e demito pessoas
quando necessário cuido da emissão de passagens, de diárias, de
certificados, toda essa parte de gerência burocrática e administrativa do
curso.
L.A – Você acompanhou a constituição dos conteúdos desse curso EAD?
C.D – Sim. A EAD funciona da seguinte maneira: eu e o Luciano
estudamos primeiro como era o processo do PELC e o seu processo de
formação. Conversamos com a Andréa14 e com a Ana Elenara15 , lá em
Brasília, para ouvir a opinião delas a respeito do tipo de conteúdo que
seria necessário para o curso. Com base nos estudos que nós fizemos do
material e na conversa que nós tivemos com elas fizemos uma primeira
proposta. Além desses dois elementos que eu citei fizemos uma terceira
13
Hélder Ferreira Isayama 14
Andréa Ewerton Nascimento 15
Ana Elenara da Silva Pintos
34
fase, bem importante, que foi a aplicação de um questionário para os
formadores, num encontro que teve em Vitória. Eles estavam fazendo um
encontro de avaliação e nós aplicamos um questionário que basicamente
perguntava para eles o que eles achavam importante de ser apresentado
para os tutores que trabalham no PELC em termos de conteúdo. Então,
com base nessas três informações elaboramos uma primeira minuta de
conteúdos que poderiam ser importantes de serem abordados no curso.
Essa foi a maneira e se chegou à conclusão de que basicamente, não
escapou muito da opinião básica do que a Ana Elenara e a Andréa falaram
o que também foi reforçado pelos formadores.
L.A – E como foi o processo de preparação dos tutores para exercerem a
sua função?
C.D – Basicamente, como foi tudo muito rápido, muito, muito corrido, nós
tivemos que começar o curso em poucos meses, além de cuidar de todo o
processo burocrático de contratação, ir na FUNDEP16 e etc. Essas partes
mais burocráticas, basicamente fizemos um encontro no final de semana
aqui em Belo Horizonte. Nós tivemos a opção deliberada de só contratar
pessoas que residiam em Belo Horizonte para ser tutor, porque embora o
curso seja a distância, teoricamente eles poderiam estar em qualquer
lugar do Brasil, mas a gente fez questão de que todos estivessem em Belo
Horizonte justamente porque nesse primeiro momento achamos
importante que tivesse o contato mais cotidiano com os tutores. Foi um
encontro no final de semana em que apresentamos um pouco dos
princípios de funcionamento da EAD, do funcionamento do PELC, e do
processo de formação do PELC. Por último falamos sobre os materiais,
como funcionaria o curso a distância e sobre a plataforma que seria
usada.
16
Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa
35
L.A – Existe alguma especificidade nos materiais produzidos pra EAD com
relação ao Vida Saudável e ao Povos Indígenas e Comunidades
Tradicionais?
C.D – Alguma especificidade?
L.A – Exato.
C.D – Na verdade não. É um ciclo porque em um primeiro momento nós
elaboramos oito materiais para diferentes, como se fossem diferentes oito
disciplinas. Agora estamos fazendo uma segunda rodada com mais oito,
por exemplo, vai ter material dedicado só ao esporte, lazer e idosos e
depois terá um outro material dedicado a esporte, lazer e povos
tradicionais, então a especificidade diz respeito a esse conteúdo, mas na
prática acho que na oferta do curso não tem um direcionamento.
L.A – E na definição desses novos oito materiais vocês passaram por uma
fase de diagnóstico?
C.D – Não, dessa vez foi mais intuitivo. O Ministério do Esporte... Em
Brasília junto com os formadores e eles já tinham uma percepção de
determinados conteúdos que percebiam como sendo carentes e que
deveriam ser mais e melhor desenvolvidos. Então eles sugeriram uma
série de tópicos que deveriam ser tratados, por exemplo, eles incitaram a
questão dos idosos, dos povos tradicionais, dos povos indígenas, a questão
da gestão administrativa de projetos de esporte e lazer. O que mais eles
falaram foi em dança, que vai ter agora um material sobre dança. Então a
partir do que eles foram comentando, a partir da percepção deles sobre as
carências, nós sugerimos esses materiais.
L.A – Você já consegue observar alguns resultados, ver alguns elementos e
resultados de avaliações do processo?
36
C.D – Têm alguns processos que a gente monitora. A primeira coisa que
chama atenção é o nível de evasão realmente grande, não saberia dizer um
número preciso, mas eu chutaria em torno de setenta a oitenta por cento
dos alunos. Ou eles se inscrevem e não começam o curso ou começam o
curso e não terminam, então é um número muito grande. Isso não é
exatamente um problema do curso porque a gente nota também que
muitas pessoas não têm clareza do que se trata ao simplesmente se
inscreverem. Mas, recentemente nos últimos dois três meses isso tem
mudado. Numa primeira avaliação, o processo de recrutamento e de
mobilização talvez precise ser aprimorado. Talvez na nossa proposta
inicial o curso tenha ficado demasiadamente complexo para as
características das pessoas que trabalham no programa. Uma dificuldade
grande é que há um nível heterogêneo de formação, então tem pessoas
que não têm nem o ensino fundamental concluído até pessoas que estão
fazendo o mestrado como alunos do curso a distância. Essa diversidade de
formação é um desafio muito grande porque você tem que elaborar um
material e organizar o processo pedagógico do curso de modo a atender
essas diferentes expectativas. No entanto, eu acho que o material ficou
mais próximo de quem é universitário do que quem não é. Tenho a
impressão, falando de uma maneira bastante subjetiva, que a maioria das
pessoas que trabalham no curso como tutores, não tem formação
universitária. Talvez o material não devesse privilegiar o público não
universitário e eu acho que os primeiros oito materiais não fizeram isso.
Esse é um segundo dado de avaliação que, em certa medida, também pode
explicar o nível de evasão. Há dificuldade de lidar com a linguagem escrita
e o material foi muito concentrado no texto escrito. Criaram páginas e
páginas de material escrito, então fica difícil se as pessoas não têm o
domínio, a familiaridade com a leitura e com a escrita. Tudo acontece
através de textos: o cara lê e escreve o que ele entendeu do que leu, depois
ele lê o que o tutor acha do que ele escreveu, então o tempo inteiro você
está concentrado em habilidades de leitura e escrita e como essa é uma
37
habilidade, às vezes, não tão fluente pra todo mundo, isso talvez tenha
sido uma dificuldade. Eu acho que isso é um elemento de avaliação, o
material tem que ser mais multi-midiático, não tão escrito, mais vídeos,
mais áudios, com mais coisas que não necessariamente a leitura de
textos.
L.A – Você pode falar um pouco do formato do curso?
C.D – Inicialmente ele contava com oito módulos sendo que os quatro
primeiros eram obrigatórios e os quatro últimos eram optativos. Dos
quatro eles tinham que escolher dois. Depois nós abrimos uma seleção
para oitocentos alunos que não preencheu todas as vagas. Uma vez que
não preencheu todas as vagas uns dois meses depois de começar a
primeira turma nós fizemos uma nova seleção pra tentar preencher as
vagas que estavam ociosas e não preenchemos. Então fizemos uma
terceira seleção para tentar, então fizemos três entradas do curso. No
terceiro ingresso notamos que a ideia de fazer um curso sequencial era
um complicador e que estava dificultando mais do que facilitando. Nós
decidimos a partir daquele momento que não seriam mais oito módulos
dos quais o aluno faria quatro obrigatórios e dois optativos. Ele faria um
único módulo que simplesmente escolheria, não teria mais uma sequência
de módulos. Atualmente, a dinâmica do curso é assim: a cada,
aproximadamente, dois meses a gente abre e divulga uma seleção, as
pessoas interessadas se inscrevem no curso e durante sessenta dias elas
vão fazer um módulo que elas escolherem dos oito módulos oferecidos.
Então na prática a cada dois meses a gente oferece oito módulos que
acontecem simultaneamente, e isso vai se repetindo a cada sessenta dias.
A estrutura é basicamente essa.
C.M – Cleber você poderia falar como são escolhidos os tutores e o pessoal
que trabalha nessa equipe EAD?
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C.D – A equipe da coordenação é basicamente composta de professores da
UFMG, em particular da Escola de Educação Física, com exceção da Maria
Terese17 que trabalha no curso a distância e é professora da Faculdade de
Educação e da professora Eliane18 que é supervisora de tutores e trabalha,
se eu não estiver enganado, no Centro Pedagógico ou no COLTEC19 , são
essas duas exceções e os demais que trabalham no curso a distância e no
presencial de formação são professores da Escola de Educação Física.
Então, qual foi o critério? São pessoas que, basicamente, tem algum tipo
de ligação acadêmica com o estudo do lazer. Não tem nenhum professor
assim, sei lá, da biomecânica trabalhando nisso. São professores da área
das ciências humanas que trabalham com políticas públicas, com história
do esporte com coisas relacionadas a essa temática. Já os tutores não têm
ligação com a UFMG. Nós abrimos um edital que tinha a exigência de
residir em Belo Horizonte. Pessoas de diferentes partes de Belo Horizonte
se inscreveram e tiveram que apresentar um currículo e uma carta de
intenção com determinado número de páginas justificando porque elas
queriam participar e porque elas achavam que deveriam participar e qual
era a experiência prévia delas com atividades profissionais de esporte e
lazer. A partir disso montamos uma banca e a gente fez uma seleção e são
as pessoas que trabalham até hoje, não houve uma segunda seleção.
L.A – E como acontecem os processos de divulgação dos cursos EAD?
C.D – Têm várias formas no processo de divulgação dos cursos: primeiro o
próprio Ministério do Esporte divulga já que tem contato com as
prefeituras e com os núcleos que oferecem as atividades do PELC, por e-
mail e às vezes, por meio de material impresso. O Ministério divulga o
curso incentivando as pessoas a se inscreverem. Não é obrigatório, ou
seja, só participa quem quiser. Recentemente a gente começou a fazer
uma segunda estratégia que talvez tenha sido a mais bem sucedida que é
a divulgação nos momentos em que acontecem as primeiras formações
17
Maria Terese Marques Amaral 18
Eliene Lopes Faria 19
Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais
39
presencias para o PELC. Uma parte das pessoas que trabalha no curso a
distância, nessas formações, elas têm um pequeno momento para
explicarem como funciona o curso, do que se trata, como é que faz para
participar, eles tentam explicar de uma maneira mais presencial como
funciona o curso a distancia. Eu acho que tem funcionado porque boa
parte dos alunos que temos hoje foi recrutada nesses momentos.
L.A – E a divulgação para o público externo ao PELC?
C.D – Por enquanto, tenho a ideia que o curso seja para as pessoas que
trabalham no PELC, embora na prática não se tenha controle. Qualquer
pessoa que se inscreva a gente não tem como saber se a pessoa é ou não é
do PELC, então não tem uma estratégia de 10 Colégio Técnico da UFMG
divulgação para pessoas de fora do PELC, embora, há essa possibilidade
de a gente tentar divulgar para estudantes de graduação de Educação
Física de algumas universidades ou do norte, do centro-oeste de algumas
regiões que tenham pouca adesão do curso pra tentar divulgar mais o
próprio PELC dessas regiões.
C.M – Cleber para concluir: tem mais alguma coisa que você queira
registrar dessa sua participação do PELC?
C.D – O que eu gostaria de registrar para memória, digamos, assim para a
eternidade sobre esse curso, primeiro é que a ideia é muito interessante, a
ideia de oferecer uma formação para pessoas que trabalham e que estão
atuando profissionalmente nesse âmbito é uma ideia interessante. Em
segundo lugar, a ideia de usar recursos informacionais de comunicação
para oferecer a distância também é uma ideia interessante. Por outro lado
eu acho que a linguagem que a gente está fazendo talvez não seja uma
linguagem ainda inteiramente adequada, dado o perfil e as características
das pessoas que trabalham, desses trabalhadores que estão lá. O suporte
tecnológico que a gente usa também para oferecer esse curso
40
provavelmente não é o adequado. Talvez um investimento mais efetivo
devesse ser feito. Uma última consideração que eu faria é com relação aos
custos. Uma das coisas que nos motivou a oferecer num processo
formativo a distância era a possibilidade de oferecer alguma coisa que
tinha um custo benefício muito maior com um custo menor e que poderia
ser com uma certa facilidade reproduzível, poderia ser aplicado numa
quantidade muito grande de trabalhadores e isso não está se mostrando
exatamente verdadeiro. O curso ainda é um curso relativamente caro dado
o número de alunos que a gente atende. Se nós conseguíssemos completar
todas as vagas, o tempo todo, ele seria um curso extremamente barato,
mas como a gente não consegue a relação custo aluno ainda é uma
relação relativamente cara. Talvez, precisasse pensar mecanismos para
tornar o custo benefício do curso ótimo, não é um curso ótimo nesse
sentido. Então, acho que o que eu registraria para a posteridade é isso
para que, se no futuro alguém quiser refazer e continuar fazendo alguma
coisa nesse sentido.
L.A – Muito obrigado pelo seu tempo e disponibilidade.
[FINAL DA ENTREVISTA]
41
Depoimento de Christianne Luce Gomes
Entrevistada: Christianne Luce Gomes
Nascimento: não informada
Local da entrevista: Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia
Ocupacional – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo
Horizonte
Entrevistadoras: Luiza Aguiar dos Anjos e Christiane Garcia Macedo Data
da entrevista: 23/10/2015
Transcrição: Juliana Prado Cross
Copidesque: Pamela Siqueira Joras
Pesquisa: Silvana Vilodre Goellner
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
Formação acadêmica; Trajetória na nos Estudos de Lazer; Inserção no
Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC); Função dentro do PELC;
Parceria entre Ministério do Esporte e Universidade Federal de Minas
Geais (UFMG); Integrante da equipe gestora do PELC na UFMG; Projetos
trabalhados no PELC; Como o PELC trabalha com o Ministério Público e
com as comunidades; Programa Vida Saudável; Conteúdos trabalhados no
Vida Saudável; Principais desafios para a formação e agentes sociais;
Políticas Públicas de esporte e lazer; Contribuições do PELC/Vida
Saudável.
42
Porto Alegre, 23 de outubro de 2015. Entrevista com Christianne Luce
Gomes a cargo das pesquisadoras Luiza Aguiar dos Anjos e Christiane
Garcia Macedo para o Projeto Garimpando Memórias do Centro de
Memória do Esporte.
L.A. – Christianne, obrigada por ceder seu tempo para conversar com a
gente. Queria que você começasse falando da sua formação.
C.G. – Bom, eu sou Licenciada em Educação Física, me formei em 1992.
No ano seguinte eu fiz uma Pós-Graduação em Lazer aqui na UFMG20
também; em 1994 eu fiz o Mestrado em Educação Física que terminei ao
final de 1995. Depois eu fiz o Doutorado de 1999 até 2003 e dentro dessa
formação eu fiz o Pós-Doutorado nos anos de 2011 e 2012. A minha
formação foi toda realizada na UFMG e o Pós-Doutorado foi feito na
Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, na Argentina.
L.A. – Você pode falar um pouco das suas temáticas de pesquisa?
C.G. – Durante minha trajetória na UFMG, no ano que vem eu completo
vinte anos de professora efetiva, eu sempre pesquisei o Lazer. Mas, a
partir das suas articulações com outros termos, por exemplo, lazer e
educação e desdobrando um pouco mais a formação profissional e
acadêmica, mas a minha temática principal sempre foi o Lazer. Nos
últimos dez anos eu venho pesquisando o Lazer em um contexto latino-
americano. Eu fiz também um curso de formação em cinema, então, mais
recentemente eu tenho feito estudos, trabalhos, disciplinas relacionando
lazer e turismo. Minha pesquisa atual eu faço com apoio do CNPq21 e
vincula as temáticas de lazer, mulher e cinema.
L.A. – E como começou a sua inserção no PELC22 ?
20
Universidade Federal de Minas Gerais 21
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 22
Programa Esporte e Lazer da Cidade
43
C.G. – Começou em 2010 quando o Ministério do Esporte fez um contato
conosco para nos responsabilizarmos pela parte de formação do PELC. Eu
já conhecia o PELC antes, eu tenho colegas que foram formadores do
PELC, mas o meu primeiro envolvimento mesmo se deu nesse momento,
então, são cinco anos de 2010 para cá. E a minha contribuição, a minha
participação no PELC se deu principalmente para ajudar a sistematizar,
avaliar, acompanhar os processos formativos presenciais.
L.A. – Tu podes falar um pouco mais do processo de constituição em 2010
e da inserção da UFMG no processo e na sua contribuição específica nesse
trabalho?
C.G. – A UFMG acabou sendo convidada para dar um suporte acadêmico
nessa parte justamente pela tradição que ela tem no que se refere ao
Lazer. Nós, por exemplo, temos o Centro de Estudos e Recreação - Celar -
que foi constituído em 1990, então, são vinte e cinco anos. Se a gente
considerar hoje, de trabalhos, projetos, propostas e ações de ensino,
pesquisa e extensão em termos de política editorial também. Além disso,
uma outra razão que pesou, eu imagino que tenha pesado, foi o fato de
termos constituído aqui na UFMG , inicialmente em 2006, o Mestrado em
Lazer que cinco ou seis anos depois passou a constituir um Programa de
Pós-Graduação em Estudos do Lazer com mestrado e doutorado. Embora
esse Programa esteja lotado aqui na Escola de Educação Física da UFMG,
o que para nós é muito importante porque pela própria história de
envolvimento da Educação Física com as iniciativas ligadas a Recreação e
o Lazer, então é importante que a Escola tenha acolhido esse Programa.
Ele é um programa interdisciplinar e conta com profissionais e professores
com formações diferenciadas. A maioria tem formação em Educação
Física, mas temos também vários profissionais com outras formações
ligadas às áreas de Ciências Humanas e Sociais. Certamente esse é um
ponto que destaca a participação da UFMG como uma instituição
importante e qualificada para contribuir com a parte de formação do
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PELC, tanto é que esse mestrado ainda é o único que tem no Brasil. São
cinco na América Latina e é também a universidade que tem o único
programa de doutorado nessa área na América Latina e fora daqui só
mesmo na América do Norte, na Europa, e em outros países da Oceania.
L.A. – Você poderia falar um pouco da participação do Ministério do
Esporte nessa parceria com vocês?
C.G. – É uma parceria muito interessante porque um dos aspectos que
confere um sentido ao nosso fazer cotidiano na universidade, é uma
interação maior com a comunidade... O Programa Esporte e Lazer da
Cidade com o Ministério do Esporte foi uma possibilidade muito rica de
nos aproximarmos da comunidade via políticas públicas, que é um
aspecto primordial e estamos sempre procurando investir, qualificar e
contribuir dentro do que nos cabe, das nossas possibilidades. Essa
parceria tem sido muito profícua e por causa disso, porque nós temos
saberes e experiências diferentes. O que acontece é uma troca, um
compartilhamento e essa aproximação acaba sendo importante tanto para
a universidade quanto para o órgão público como Ministério do Esporte.
Claro que a nossa preocupação primordial está relacionada com a
garantia do direito ao lazer e é isso que nos une, é isso que temos em
comum aqui na UFMG, uma preocupação muito forte. Nós vivemos em um
país marcado por desigualdades sociais das mais diversas naturezas então
ficamos bastante preocupados com isso e a garantia efetiva do PELC, que
foi gestado com essa preocupação de possibilitar que o lazer e o esporte
chegassem às áreas socialmente mais vulneráveis do nosso país, para que
ele pudesse ser vivido como uma prática cotidiana.
L.A. – Qual é a sua função dentro do PELC e que atividades ela demanda?
C.G. – Eu integro a equipe gestora do PELC na UFMG, PELC Vida
Saudável que hoje já constitui um programa independente, mas antes era
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uma das possibilidades do próprio PELC, mas eles estão intimamente
articulados. Na equipe gestora a minha função está relacionada com a
coordenação da formação. Agora, como a gente tem propostas de
Educação à Distância, da formação presencial tendo a interação também,
mas enquanto responsabilidade é nesse aspecto que eu estou inserida.
Minhas atribuições, como membro da equipe de coordenação da formação
do PELC, incide principalmente nos aspectos pedagógicos que estão
presentes na formação. Por exemplo, eu estou sempre envolvida com as
questões ligadas aos objetivos da formação, da sistematização e isso
atualmente são quatro módulos, então, como se dá esse processo? Com
quais objetivos? Quais conteúdos também são pertinentes de serem
abordados nos quatro módulos. Nós fizemos recentemente uma revisão
desses conteúdos e possivelmente esse processo... Possivelmente não, esse
processo não terminou, então, a gente continua fazendo isso e eu estou à
frente desse processo. Além disso, para levantar maiores fundamentos
para a formação eu também estou envolvida com a seleção de materiais
didáticos, textuais e audiovisuais que possam enriquecer com a formação
dos agentes sociais. Nós temos temáticas novas, por exemplo, e há uma
responsabilidade em buscar materiais que sejam adequados também ao
público porque muitas vezes agentes sociais são pessoas da própria
comunidade e nem sempre tem uma formação acadêmica. Precisamos
pensar em textos e materiais adequados também a esse público, para que,
de fato, se consiga qualificar a formação deles, porque eles é que estão na
ponta, eles fazem de fato o PELC acontecer. Essa é uma das atribuições
que vem sendo assumidas por mim e além dessas uma participação
também se refere ao planejamento e a realização dos encontros anuais,
dos encontros de formação de formadores. Dou também um suporte aos
formadores, articuladores e outros membros da equipe com necessidades
de discutir alguma coisa mais ligada a essa dimensão pedagógica da
formação.
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C.M – Você pode falar mais detalhadamente como se organiza essa
formação dos quatro módulos? Você recebe o material dos formadores e
devolve para eles com sugestões ou você manda o material com a seleção
de materiais, inclusive, se eles vão trabalhar algum texto, vídeo passam
por ti?
C.G. – O PELC tem as suas diretrizes que são divulgadas, por exemplo, os
editais públicos. Essas diretrizes têm que ser seguidas e as diretrizes
atuais definem, estabelecem que a formação seja desenvolvida em quatro
módulos, então, tem o módulo introdutório um que prepara o grupo para
realmente desenvolver aquele trabalho nos núcleos de esporte recreativo e
de lazer. Tem uma introdução e a equipe, normalmente quando ela não se
conhece, tem a oportunidade de se conhecer a equipe que vai trabalhar
localmente. Esse contato é direto que o grupo tem com o formador e
também nesse primeiro módulo esse grupo de agentes sociais e
coordenadores, que vão fazer o PELC acontecer, tem acesso a uma série de
informações institucionais, políticas, pedagógicas relacionadas ao esporte,
criatividade e ao lazer. Esses conteúdos também são sistematizados e
definidos pelo próprio Ministério, mas não de uma forma fechada; são
vários conteúdos e o formador tem liberdade para escolher entre aquelas
possibilidades e entre outras até que não estejam elencadas ali, o que ele
considera mais pertinente para fazer aquele trabalho com aquela realidade
local. Tem certa flexibilidade também porque o respeito às peculiaridades
locais é uma diretriz acolhida pelo PELC. Então, é isso sobre o Módulo
Introdutório I; depois tem o Módulo Introdutório II. Muitas vezes a equipe
pode sofrer alguma modificação ou algum agente social por alguma razão
não vai poder participar, tem que ser substituído. Então é um momento
em que é possível retomar os fundamentos que foram trabalhados no
primeiro contato, acrescentar e aprofundar outros considerando os
objetivos do PELC para esse momento. Depois são dois módulos
avaliativos: tem o Módulo de Avaliação I onde todo mundo se reúne para
ver o que está e o que não está dando certo, onde estão as lacunas, o que
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pode ser feito para melhorar. Esse é um momento muito importante
porque de fato o PELC já está implantado, já está em andamento e o grupo
avalia como o trabalho está sendo desenvolvido, o que foi possível
conseguir e os novos rumos a serem dados para equacionarem as
dificuldades e as fragilidades percebidas. Mais para o final tem o último
Módulo de Avaliação, o II, porque uma das preocupações do PELC é
também que esse tipo de proposta tenha continuidade, mas de uma forma
com autonomia, para que as pessoas possam buscar outras formas de
mobilização da comunidade, para que elas reivindiquem, por exemplo, do
poder público municipal os meios para que o trabalho continue
acontecendo. De fato, esse é um grande desafio, mas muitas vezes, é
alcançado, e por isso que são interessantes as propostas que se têm.
Muitas vezes, querem priorizar entidades que ainda não implantaram
PELC. Nos editais públicos, muitas vezes é colocada dessa forma, às vezes
é aberto, então é possível ter uma continuidade. Mas para que a
autonomia e a autogestão sejam alcançadas é imprescindível que as
pessoas estejam mobilizadas e engajadas para continuar trabalhando em
prol da garantia do direito ao esporte e lazer sem depender
necessariamente do auxílio financeiro concedido pelo Ministério do
Esporte.
L.A. – E o que as comunidades tradicionais de povos indígenas e o Vida
Saudável demandaram da equipe gestora?
C.G. – Demandou o seguinte: nós somos atualmente três professores
responsáveis por esta parte de coordenação da formação e os três estão
envolvidos com essas três possibilidades. Mas para uma divisão interna de
responsabilidades cada um fica mais responsável por um programa. No
meu caso: sou uma pessoa, que digamos, faço um investimento acadêmico
maior no programa Vida Saudável que é voltado para idosos acima de
sessenta anos, atende esse público específico e tem as suas
peculiaridades. Por exemplo, eu estava falando para vocês os módulos
introdutórios para dar conta dessas peculiaridades e os conteúdos,
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sabemos que tem alguns que são similares para todos. Por exemplo, uma
discussão sobre as políticas públicas de esporte e lazer no nosso país são
importantes para essas três possibilidades, mas no Vida Saudável, por
exemplo, tem também um trabalho para que as pessoas conheçam as
políticas específicas para esse público. Então um conhecimento maior
sobre o Estatuto do Idoso, sobre a Política Nacional do Idoso, as
possibilidades de promoção da saúde que também focam mais esse
público que é mais específico para eles, então internamente, fazemos essa
divisão, mas só para ter um investimento maior porque está todo mundo
envolvido com as três possibilidades.
C.M – Poderia falar um pouco mais das temáticas... Tem alguma temática
que é mais trabalhada no Vida Saudável como especificidade e não tanto
nos outros?
C.G. – Tem. Por exemplo, algo que é muito comum na velhice está
relacionado com as quedas. O idoso perde o seu equilíbrio com mais
facilidade, ele tende a cair e isso é muito sério, porque a última coisa que
a gente quer é que, por exemplo, o idoso quebre o fêmur e tenha que ficar
acamado por vários meses. Então essa, por exemplo, é uma temática que
é trabalhada: prevenção de quedas. Os formadores são qualificados e
qualificam também os agentes sociais. Outra temática que tem a ver com
acessibilidade, uma série de cuidados que é preciso ter com relação ao
espaço para que de fato permita o acesso do idoso. Muitas vezes o idoso
tem plenas condições físicas e psicológicas de fazer qualquer tipo de
proposta que é desenvolvida pelo PELC e que não está relacionada apenas
com os exercícios, têm outras oficinas, trabalhos manuais, trabalhos
sociais, os eventos em que se aborda uma multiplicidade de interesses
culturais relacionados ao lazer. Essas questões precisam ser
consideradas, a questão do horário, do local também é importante porque
muitas pessoas podem, por exemplo, preferir realizar determinadas
oficinas em um horário, mas será que nesse horário é pertinente para
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aquele público local que está ali? Vai atender os seus interesses ou não?
Então é preciso estar atento a isso. As doenças que acometem esse tipo de
pessoas, comuns também na velhice, então, aprofundar um pouquinho e
conhecer mais sobre isso, qualifica melhor os profissionais para
trabalharem com esse grupo. A gente vai um pouco nessa direção
tentando mapear os elementos que são importantes para que o trabalho
de fato dialogue com as especificidades do grupo e, claro, as realidades
são heterogêneas e a gente sabe que têm aspectos em comum, mas têm
outros também que são totalmente particulares, então, é preciso também
estar atento a essas questões.
L.A. – Existe alguma uma aproximação de vocês com o programa
Academia da Saúde e até com outros professores daqui da casa mais
ligados ao campo da Fisiologia. Você poderia falar dessas parcerias, dessa
aproximação?
C.G. – Então, com esse trabalho eu não estou diretamente envolvida, por
isso prefiro deixar que os meus colegas que assumiram esta
responsabilidade falem mais sobre isso.
C.M. – Nas formações presenciais vocês têm trabalhado com a questão da
saúde pelo próprio nome do programa ser Vida Saudável. Isso tem gerado
alguma demanda para os formadores?
C.G. – Tem gerado demandas, muitas, é uma coisa recente, mas
principalmente em termos de um conhecimento maior, de conceitos e
práticas ligadas à promoção da saúde. Trabalhamos com um grupo de
formadores experientes, na sua maioria professores universitários com
uma longa trajetória e sabemos que essa perspectiva de formação de todos
nós tem que ser continuada e essa têm sido uma questão colocada.
Alguns apresentam um pouco mais de dificuldades outros não, outros já
têm uma familiaridade um conhecimento maior sobre essa perspectiva,
50
mas o grupo como um todo está envolvido e interessado em aplicar, em
ampliar os seus conhecimentos e também em aplicá-los no dia a dia da
formação. No próximo mês, em novembro, vamos ter um encontro de
formação de formadores e essa será uma das questões colocadas. Nós
vamos avaliar onde estão as maiores dificuldades dos formadores com
relação aos conteúdos. Muito deles, como eu falei, são novos e foram
introduzidos agora no PELC. É impossível dar conta de tantos temas que
são muito diversificados. Posso até passar para vocês o que a gente
levantou e está em processo, mas para que de fato se consiga fazer um
trabalho que dialogue com as questões da área da saúde para o grupo
social específico de idosos.
L.A. – E como se dá o processo de avaliação das formações realizadas?
C.G. – Ao final da formação os participantes dão retorno, eles preenchem
um questionário ensino-prática... Até tem uma pergunta que eu não
respondi, se vocês quiserem depois levar para o lugar certo não tem
problema. No início da minha participação no PELC eu recebia as
propostas de programação dos módulos. Eu avaliava, observava as
especificidades do grupo que estavam sendo consideradas ou não, se os
objetivos estavam claros, coerentes, se os textos escolhidos pelo formador
para trabalhar com os conteúdos eram adequados para aquele grupo de
agentes sociais, se não era uma leitura muita acadêmica que ia perder a
sua riqueza, digamos assim. A partir daí eu fazia uma avaliação de todos
esses elementos, além das metodologias que a pessoa escolhia, os filmes
que ela separava para ver etc. Tudo isso compõe uma proposta de
formação e, a partir daí, eu fazia um diálogo com esse formador. Se
estivesse tudo tranquilo, tudo pertinente, ótimo, vamos lá, vamos
desenvolver esse módulo. Se fosse percebida alguma dificuldade, por
exemplo, uma visita técnica que normalmente é feita nos núcleos se ela
não tiver sistematizada e articulada com os objetivos do PELC para que
realmente aquela visita fizesse um sentido e fizesse uma diferença nas
51
vidas das pessoas o grupo vai, mas vai observar o quê? O que se espera
com essa visita? Então tinha toda uma sistematização e era dado um
retorno para o formador ou formadora e se estabelecia um diálogo, uma
interlocução. Na medida em que o trabalho e a equipe foram crescendo
também foi ampliado esse trabalho, passou a ser feito pelos articuladores
regionais. São eles que acompanham o dia-a-dia das programações e dos
relatórios, São duas etapas: a primeira é a programação e depois o
relatório que o formador elaborava depois do trabalho realizado. Nós
fazíamos essa interlocução para ver o que deu certo, o que não deu, o que
foi proveitoso, características do grupo e questões das mais diversas era
colocado ali. O formador também era encarregado de aplicar os
questionários para que os agentes sociais pudessem avaliar os
questionários. Eles também eram analisados para que pudéssemos
conhecer a percepção dessas pessoas sobre o trabalho realizado. Outra
iniciativa está relacionada com as visitas em que são feitas por todas as
pessoas ligadas ao grupo da equipe gestora, do Ministério do Esporte aos
articuladores. Eles acompanham a formação, vão junto com o formador,
conhecem o grupo, vêem como esse andamento está sendo feito. Isso vai
também permitir que a avaliação seja feita porque são feitos registros
sobre as visitas e esse processo atualmente vem sofrendo mudanças e vem
sendo aprimorado. Então tudo isso agora vai ficar registrado nesse
sistema como um banco de dados realmente e facilita o acompanhamento
e avaliação por parte das pessoas.
L.A. – Acompanhando esses relatórios que informações você obteve e
achas mais relevantes para pensar a continuidade do Programa?
C.G. – Bom, uma coisa que eu sempre gostei está relacionado com o
potencial que esse tipo de trabalho tem do ponto de vista do esporte
recreativo do lazer. Ter a possibilidade de transformação da realidade que
é uma coisa que se fala muito, mas às vezes fica no discurso. Quando a
gente consegue perceber isso na prática é muito rico, eu até me lembro de
52
um trabalho que acompanhei em Maceió em uma área realmente bastante
vulnerável socialmente. Os trabalhos que faziam lá eram fantásticos, com
música, percussão, coral, cinema, capoeira e tinha também a dança das
oficinas que eu assisti e pude acompanhar. É muito interessante! Quando
eu falo desse potencial o que eu quero dizer? Esse trabalho de percussão,
por exemplo, era feito com latas porque a liderança comunitária de lá
tinha percebido que tinha muito lixo, era tudo colocado ali e tinha muita
lata. Então, começou daí, mas ele trabalha com a lata, claro que tem uns
tambores também, mas ele trabalhava com a lata para sensibilizar aquele
grupo de jovens para essas questões. Isso tem um sentido muito grande!
Outro grupo também de lá, trabalhava com canto oral, escolhia as
músicas que tinham letras que provocavam reflexões naquele grupo de
jovens que estavam com ele. Eram crianças e adolescentes e na verdade o
coral era isso. É muito bacana quando você vê pessoas preocupadas, não
apenas em ocupar o tempo ou fazer de qualquer jeito ou até trabalhar com
esporte nos módulos das escolinhas esportivas. A proposta não é essa. A
proposta é que o lazer em cada contexto local que o PELC possa ser
desenvolvido realmente dialogue, abra a mente das pessoas para repensar
determinados aspectos e quem sabe a partir daí contribuir para que
algumas mudanças sejam feitas. Eu falo que quando as pessoas
conseguem enxergar essas questões já é um grande avanço porque é
assim que a gente vai caminhando. C.M. – Você chegou a fazer visitas em
núcleos?
C.G. – Fiz esse, por exemplo, foi um que eu fiz.
C.M. – Desses núcleos você vê reflexo da formação dos formadores, da
formação com os formadores desses módulos da EAD23 lá no núcleo?
C.G. – Da EAD ainda não porque está recente. Vamos agora tentar
trabalhar com material didático que foi produzido para os cursos à
23
Educação a Distância
53
distância nas formações presenciais porque são materiais que tratam de
temáticas 100% pertinentes ao PELC, em uma linguagem clara, acessível.
Entendemos que isso vai qualificar as formações presenciais também esse
material. Que mais você me perguntou?
C.M. – Se a formação tem reflexo lá na ponta, no núcleo?
C.G. – Eu consigo ver, claro que não o tempo inteiro. Têm lugares que, por
exemplo, reproduzem a lógica das escolinhas de esporte e dentro dessa
lógica, muitas vezes, as meninas e as mulheres ficam excluídas. Se a
gente pensar, como eu já constatei também, em determinados horários na
parte da manhã eu chegava ao núcleo e só tinham meninos, porque,
provavelmente, as meninas estavam cuidando da casa, dos irmãos
menores, assumindo essa responsabilidade. Isso é só um exemplo que eu
estou dando para dizer que o PELC não estava alcançando o seu objetivo
porque se ele é para garantir o direito de todos e ali naquele horário,
naquela comunidade um público alvo eram realmente as crianças e
adolescentes, as meninas estavam fora dessa possibilidade. Muitas vezes,
pelo tipo de atividade escolhida, a gente sabe que muita menina gosta de
futebol, mas às vezes não são todas, tem outra possibilidade que seja de
interesse das meninas também então se elas não podem nesse horário,
elas não estão comparecendo. Por que não estão comparecendo? Uma
outra questão também, o PELC tem o compromisso de envolver pessoas
com deficiências, essas pessoas estão participando, elas estão sendo
incluídas também a partir dessa possibilidade? Se não estão, por que? A
meta tem que ser alcançada, então se é para todos e nós temos que
acompanhar justamente para garantir isso.
L.A. – Você indicou algumas coisas e eu fiquei aqui pensando... Quais são
os principais desafios para a formação que você identifica?
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C.G. – Bom, eu acho que os principais desafios estão realmente ligados a
que essa proposta faça a diferença. Ela tem que realmente acrescentar
naquele contexto local, não pode ser só para quebrar o galho, preencher
um tempo ocioso, se ocupar ou para oferecer atividades para as pessoas
sem nenhum custo para os participantes. A gente sabe que isso é
financiado por recurso público para ser visto como uma possibilidade
mais barata ou sem custo nenhum, e não é isso. Tem um desafio aqui
político, social e a diferença tem que ser 4 Ensino à Distância. feita a
partir dessa perspectiva, numa mudança cultural efetiva. Compreender
mesmo as possibilidades de vivência do lazer que são inúmeras,
diversificar essa possibilidade de vivência, permitir que isso potencialize
as características locais. Então tem que ter um diálogo com a cultura local
e outra coisa é instrumentalizar as pessoas para que elas compreendam a
sua realidade. Estou falando sua realidade em termos do direito ao
esporte, ao lazer, mas que instrumentalize as pessoas para que elas
compreendam que o poder público deve fazer isso, deve oferecer isso a
elas E tem uma diferença aí, tem uma desigualdade na apropriação desse
direito que é um direito social. As pessoas precisam compreender isso e
pensar em alternativas para que a sua realidade possa realmente ser
transformada, senão acaba caindo em uma prática assistencialista. Eu
vejo esse como um grande desafio, ampliar a percepção das pessoas para
essas possibilidades, porque esporte e lazer são temáticas muito
importantes. É um campo da vida, mas esse campo dialoga com vários
outros, reproduzem os mesmos aspectos mais amplos que incidem sobre a
educação, a saúde, o transporte, moradia e segurança esse conjunto de
outros direitos sociais que a gente tem. O lazer é parte desse processo e as
pessoas precisam despertar para uma cidadania plena relacionada com a
possibilidade de vivenciar, de ter garantidos todos os seus direitos e não
apenas um deles como se uns fossem mais importantes do que os outros e
para formação eu vejo que isso é um grande desafio.
L.A. – Chris tem alguma coisa que você gostaria de registrar?
55
C.G. – Não, depois se vocês quiserem ter acesso a esse trabalho que
estamos fazendo atualmente de sistematização dos conteúdos e tudo eu
coloco a disposição.
L.A. – Muito obrigada pela disponibilidade.
[FINAL DA ENTREVISTA]
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Depoimento de Coriolano Pereira da Rocha Júnior
Depoimento de Elisangela Chaves
Entrevistado: Elisângela Chaves
Nascimento: não informado
Local da entrevista: Universidade Federal de Minas Gerais – Belo
Horizonte
Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos
Data da entrevista: 20/11/2015
Transcrição: Leila Carneiro Mattos
Copidesque: Jamile Mezzomo Klanovicz
Pesquisa: Pamela Joras
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
Formação; Temáticas do mestrado e doutorado; Temática do lazer na sua
trajetória; Como surge a EAD; Formato do curso; Escolha dos temas para compor os módulos; Perfil dos alunos que participam do curso; Desafios
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dentro da EAD; Quem são os autores; Divulgação da abertura de novas turmas; Quem pode fazer o curso; Resultados das formações; Pontos a
serem melhorados; Formação dos tutores; Relação com o Ministério.
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Belo Horizonte, 20 de novembro de 2015. Entrevista com Elisângela
Chaves para o Projeto Memórias do PELC e Vida Saudável a cargo da
pesquisadora Luisa Aguiar dos Anjos.
L. A. – Elisângela, muito obrigada por me receber aqui, primeiro queria
que você falasse da sua formação?
E. C. – Eu, que agradeço que bom que a gente está fazendo isso. Bom eu
me formei em Educação Física formação superior na Universidade Federal
de Viçosa, me graduei com dupla habilitação em 1995, fui para a
Educação Física por uma trajetória de formação em dança, também com o
Balé Clássico o Jazz desde a infância, após a minha graduação em Viçosa
em 1995, eu fiz uma Especialização em Dança Moderna Educacional
também lá em Viçosa e depois Mestrado e Doutorado em Educação aqui
na UFMG24 terminei o doutorado em 2013, e aí depois desse processo eu
me concursei aqui na UFMG e me transferi para cá.
L. A. – E quais eram as temáticas do seu mestrado e doutorado?
E. C. – Mestrado eu trabalhei com a Escolarização da Dança aqui em
Minas Gerais, trabalhei com assuntos documentais oficiais assim,
legislação, programas, currículos escolares e fiz um recorte na década de
1920, 1930 que o momento que em termos de legislação eu localizei a
inclusão e a exclusão da dança junto aos Programas de Ensino de Minas
Gerais e no doutorado eu trabalhei com a primeira Escola de Dança em
Minas Gerais que foi criada por uma professora que se chamava Natália
Lessa e que aceitava somente meninas, então eu trabalhei com essa
perspectiva da educação feminina via Dança, o título da tese é Uma escola
de graça, saúde e beleza: Natália Lessa, a dança e a educação da
feminilidade, ela tem essa proposta e é um curso que foi criado em 1934
funcionou até a década de 1980, teve toda uma trajetória, era uma pessoa
de Educação Física, não era uma bailarina e aí a minha pesquisa de
doutorado foi sobre essa temática relacionada à dança e a educação da
feminilidade.
24
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
59
L. A. – E como é que você percebe a temática do lazer ao longo da sua
trajetória?
E. C. – Então, foi uma grata surpresa quando eu cheguei aqui, porque eu
sempre tive um namoro distante eu não sou uma pesquisadora do campo,
pensando a dança na educação física eu sempre tive o lazer como alguém
que dialoga comigo, mas nunca foi uma área de investimento para mim e
aí quando eu cheguei aqui o Elder me convidou para... Começou com
convites assim, “faz um parecer de projeto do Mestrado”, “Vem participar
de tal coisa” e aí tinha a proposta da EAD25 eu tenho na minha trajetória
profissional uma proximidade com a extensão, eu trabalhei muitos anos lá
na... Como professora da UNIMONTES26 e trabalhei muito tempo na Pró
Reitoria de Extensão com essas experiências de cursos e capacitações
“etc”, e aí ele me convidou para fazer parte desse grupo da EAD, mas a
princípio como supervisora e aí eu fui me aproximando mais da questão
do lazer, mas não foi uma área de investimento acadêmico para mim até
então, mas há uma perspectiva desde a minha vinda da minha inserção
nesse grupo, principalmente, na Pós-graduação onde eles sentem uma
carência de pessoas que discutam objetos que estão relacionados com o
corpo, com a dança na perspectiva histórica que eu tenho visto, mas não
só. Então a minha relação com o lazer ela está sendo construída mesmo e
minha entrada no PELC27 ela teve muito mais a ver com experiência
administrativa até, vamos dizer assim, de coordenação, de implementação
de projetos, do que a temática em si, ele até brincava comigo na época,
dizendo assim “não, vai se apropriando da coisa que eu preciso de alguém
que toque esse negócio aí”, então vamos lá, e então foi muito nessa
perspectiva e está sendo muito... Como eu vou dizer, não só promissor,
mas instigante para mim, porque eu estou me identificando com questões
que eu tinha um certo distanciamento nessa minha trajetória e que está
me agradando muito, assim, em termos de motivação mesmo para estar
aqui junto desse grupo, o PELC é muito apaixonante assim, eu estou bem
cativada pela proposta que eu só conhecia de acompanhamento quanto
profissional da área essa coisa toda.
L. A. - Quando que aconteceu esse convite e se a ideia da EAD ela
antecede a sua entrada?
25
Educação a Distância – EAD. 26
Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. 27
Programa de Esporte e Lazer da Cidade – PELC.
60
E. C. – Antecede a minha entrada, quando eu cheguei eu me tornei
professora aqui em fevereiro de 2014, esse projeto já estava pronto, aí
quando eu cheguei assim, sei lá março, abril o Helder28 me convidou para
compor a equipe do projeto que ia ser implementado. O projeto já estava
pronto, eu entrei como eu te falei como supervisora da EAD e de monitoria
era outra questão e aí essa proposta a gente começou de fato a trabalhar
em agosto de 2014, mas eu nesse lugar de supervisora, esse lugar da
coordenação que eu faço hoje, quem ocupava era o Luciano Pereira da
Silva e aí a gente começou a trabalhar com essa proposta nesse período
então, eu não fiz parte desse momento de elaboração da proposta da EAD
ela já estava aí, eles me apresentaram eu gostei, e aí entrei com essa
função de supervisora o que aconteceu é que no final do ano o Luciano foi
remanejado com a saída do senhor Ricardo para o Pós- Doc e aí eles me
convidaram a assumir a coordenação geral, isso foi em janeiro,
praticamente, desse ano, é janeiro de 2015, no final do ano já tinha essa
questão eu já sabia dela, mas a gente não conversava essa colocação e aí
teve essa troca de funções, aí eu assumi a coordenação geral, o Luciano
assumiu o lugar do Silvio e aí então, eu estou de coordenadora Geral da
EAD desde janeiro, janeiro de 2015.
L. A. – E você sabe dizer o que tem antecedido a sua entrada, como que
surge essa ideia o que ela vem a cumprir?
E. C. – Sim! Então, a ideia da EAD era tanto uma... Eu não gosto muito da
palavra complementação, mas ela é um suporte a mais do processo de
formação dentro do PELC, entendendo que tanto para os formadores
quanto para os agentes, coordenadores nessa rede que faz o PELC
funcionar, mas também algo que possibilitasse uma abrangência dos
princípios do PELC, desde a gestão participativa até a discussão da
política em si, e das perspectivas de política do que compõe não só a
essência do PELC, mas a capilaridade que ele nos possibilita enquanto
uma política que pode partir não só dessa iniciativa do Município, do
Estado, da Secretaria, das Instituições e o Ministério, mas como
incorporação mesmo de uma conscientização coletiva da população nessas
modalidades, e aí a EAD foi entendida por esse grupo que já estava
trabalhando como a possibilidade mais viável, rápida e barata para que
28
Helder Ferreira Isayama.
61
isso acontecesse, um investimento não que ele seja barato, eu falei barato,
lógico que é um investimento, mas é um investimento que possibilita uma
abrangência maior do que se a gente fosse deslocar pessoas para cumprir
isso, essas formações de forma presencial e aí ouve uma compreensão de
que a EAD que também, para, além disso, e até ontem a gente discutia
isso aqui no encontro da produção de materiais, porque a produção de
material da EAD tanto que a gente está diversificando isso ele está
pensada com um curso a distância “online”, mas há um investimento em
autores em referências nas áreas, e que produziram material que os
formadores, por exemplo, hoje já usam no próprio processo e que vai ser
publicado futuramente, para a gente entender que é um material que
contém uma contribuição muito significativa para o PELC e para essa
discussão do Esporte e do Lazer no viés dos princípios que a gente vem
trabalhando, a gestão participativa, política pública ampliada, da
formação de serviços, ponto importante para nós também.
L. A. – E como que é o formato do curso?
E. C. – Aí, vem uma questão que eu faço parte da história [riso], o curso
foi pensado não como pré-requisitos, mas ele foi pensado como módulos
obrigatórios e módulos optativos, a lógica era que o aluno tinha que fazer
quatro módulos obrigatórios, as temáticas desse módulo era uma Gestão
participativa no PELC; Princípios metodológicos no PELC; Avaliação e
diagnóstico da realidade, e depois ele faria módulos optativos que a gente
ofereceria quatro e eles escolheriam dois, essa foi à estrutura que foi
aprovada e foi iniciada pelos cursos, só que como esse processo foi muito
dificultado, no princípio, a gente teve uma... Havia uma proposta de um
curso piloto de um ano, voltado para um público de cem no máximo
duzentas pessoas, mas quando chegou esse processo em agosto de 2014,
houve uma demanda da SNELIS29 de acelerar esse processo de ampliar
essa quantidade de pessoas, a gente tem consciência que isso é uma
demanda por ter uma condição de investimento no Ministério, por ser um
ano marcante, que era o ano de eleição, e dessa proposta inicial da equipe
que eu não fazia parte ainda, houve uma super ampliação, porque havia
encontros regionais nesse segundo semestre de 2014, e a equipe aqui
aceitou o desafio de não fazer esse piloto, mas já fazer uma movimentação
ampla e aí a gente teve uma captação de alunos muito elevada, eu acho...
Eu não sei o número exato, mas eram oitocentos e poucos alunos se
29
Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer Inclusão Social – SNELIS.
62
cadastraram para fazer esses encontros regionais que estavam
acontecendo pelo país todo, e aí a gente se equipou para atender isso, só
que essa solicitação de matrícula ela não se efetivou, então a gente se
preparou para oitocentos, e aparecerem seiscentos e até o final do ano as
pessoas foram saindo. E nesse diagnóstico o que a gente identificou é que
boa parte começou a sair, porque percebeu que não ia dar conta de fazer
um curso com essa temporalidade, a estrutura inicial é que compreendia
cento e vinte horas de curso, o que daria aí na média oito meses, se não
me engano, é isso, quarenta e cinco, depois eu tenho que olhar essa...
Mas, assim, o aluno teria que permanecer no curso quase um ano, e aí as
pessoas foram evadindo e aí nessa evasão perante a gente já ter
estruturado, porque isso implicou contratação de tutor, tutores suficientes
para atender a gente fez uma avaliação junto ao Ministério e resolveu
mudar a estrutura do curso, então, ele deixou de ser um curso que tinha
módulos obrigatórios optativos para ser um curso de módulos isolados,
até porque a construção dele não foi nessa lógica de pré requisito, cada
módulo ele se define. Eu não falei dos módulos optativos, optativos são:
Financiamento; Políticas de Esporte e Lazer; Esporte Lazer e Saúde;
Roteiro para a Elaboração de Projetos; [palavra inaudível 13:26]; Esporte
Recreativo e Lazer. E aí a gente tem a proposta que está sendo elaborado
um módulo sobre Dança, que é Lazer e Dança, porque há um índice de
que a dança é a segunda atividade mais realizada nos núcleos e agora a
gente tá fazendo uma outra demanda para o ano que vem, que é uma
demanda que a SMELIS nós passou também, junto “né”, equipes e a
SMELIS avaliando o que a gente poderia ampliar. Então essa estrutura
que você me pergunta, hoje a gente funciona como módulos isolados, a
gente oferece oito módulos porque os módulos de Dança ainda não estão,
e esses módulos as pessoas vão caminhando por eles, nós mantivemos um
acumulo que começou por setembro, mas que foi até o final, mas que foi
infelizmente se evadindo e aí a gente tem conseguido ter um acesso maior
as pessoas, porque ele é mais atrativo pelo fato de você conseguir cumprir,
e em dois meses você termina o módulo, recebe a certificação, o que a
gente tem proposto é que se a pessoa faz essa carga horária de cento e
vinte e ela cumpre seis módulos do curso, aí a gente emite um certificado
completo, porque ele fica como curso de aperfeiçoamento, para quem tem
curso superior isso faz a diferença para quem tem carreira ou concursos,
esse tipo de coisa.
L. A. – Não, eu estou conseguindo compreender a lógica toda, e como é
que foi a escolha dos temas que iam compor esses oito módulos?
63
E. C. – Então, aí a parte da história que eu não participei, vou te falar o eu
sei. Esse estudo pelo que eu entendi do projeto, pelo que as pessoas me
falam, ele saiu de uma análise da equipe do PELC daqui, junto a equipe
do Ministério, de estar vendo com os formadores e com os relatórios do
PELC, as temáticas que eram mais carentes, o que ficava lacunável nesse
processo da formação. Então os formadores... Isso é o que eu sei, acho
que algumas pessoas talvez saibam te falar isso melhor, porque
participaram do processo, como o Luciano, a Maria Teresa30 que é a nossa
coordenadora pedagógica, o Helder, acho que o Cleber31 também
participou disso, de estar reportando aquilo que os formadores entendiam
que ficava lacunável junto aos agentes e coordenadores, e que eles não
tinham tempo hábil para explorar, então é uma... E ao mesmo tempo que
é o grande desafio na formação do PELC, ao mesmo tempo a carência de
orientações mais de intervenção do dia a dia, do trabalho cotidiano do
PELC, então os materiais eles são um pouco nessa vertente, eles tem ao
mesmo tempo uma ideia de uma formação mais básica conceitual, mas
também temos materiais que estão ligados a uma orientação, que está
muito longe de ser um receituário, mas uma orientação para que eles
consigam refletir e criar sobre a prática para implementação das
atividades, do cotidiano, no funcionamento dos programas. Tanto que tem
pouco essa... Os conteúdos que foram previstos para serem obrigatórios
eles cumprem pouco essa função, o que é uma avaliação, qual a
importância da avaliação no processo do programa, qual é a gestão... O
que é a gestão participativa, porque o PELC usa de gestão participativa
como metodologia, quais são os princípios metodológicos, o que... E aí vem
um conteúdo uma abrangência histórica, mas também conceitual da
construção da Política Pública de Lazer no Brasil, o outro que é o
diagnóstico da realidade, o que é um diagnóstico, pensando que o
diagnóstico é uma metodologia uma ferramenta muito importante para a
implementação do programa, e aí quando a gente vai para os optativos
eles já tem uma orientação mais focada, financiamento o que é, como é
feito, como é que custa, qual é a importância da busca dele, Esporte Lazer
e Saúde, então, qual é essa relação Esporte Recreativo a questão da dança
entrando também, então a elaboração de projeto, o que é elaborar um
projeto, então não é uma relação onde os moldes não são pensados nem
descritos assim, desse aqui é para pensar a teoria, esse aqui é a prática,
mas são módulos que pensam muito essa perspectiva de uma formação de
conscientização e ao mesmo tempo de implementação desse processo, a
30
Maria Tereza Amaral. 31
Cleber Dias.
64
ideia... Eu leio muito assim, se você perguntar “como é que foi?”, eu não
estive no como é que foi, mas a interpretação que eu tenho é do que foi
produzido, quando eu entrei no programa esse material já estava sendo
elaborado, esse processo já tinha sido orientado, mas eu acho que as
temáticas surgiram muito dessas lacunas e dessa compreensão do que
era necessário e fundamental para que os agentes e coordenadores do
PELC pudessem ter acesso e aprofundamento.
L. A. – E você consegue identificar, certo perfil dos alunos que tem
efetivamente participado dos cursos?
E. C. – Então, esse é o desafio da EAD que a gente está reestruturando a
equipe, hoje à gente tem uma série de instrumentos, a gente está
construindo, a gente não tem ainda, a gente está em processo de
construção para fazer essa averiguação, o perfil é o grande desafio da
EAD, porque nós temos alunos, e assim, como nós temos as pessoas que
participam... Que são as pessoas que participam do PELC, agentes que
não tem escolaridade completa nem o Ensino Fundamental e nós temos
Pós-graduandos e nós temos gestores de estado, gestores de município,
funcionários de carreira, professores universitários, estudantes é uma
diversidade de “A” a “Z”, e que é o grande desafio, porque nós somos
formados em uma lógica de organização de escolaridade, não é assim,
então, eu penso um curso para o Pós-graduação, eu penso um curso para
a graduação e esse curso atende a todos, é o grande desafio, então, a
gente não tem um perfil. O que a gente tem tentado fazer e que está em
fase de experimentação, nós estamos terminando agora módulos que
tiveram essa... Quando a gente tem uma demanda grande de alunos, que
é a maior dificuldade do curso, que nós não temos tendo demandas
grandes, infelizmente, isso é uma meta para o ano que vem que é ampliar
a demanda de alunos para o curso, a gente tem agrupado pensando a
escolaridade, porque no princípio do curso a gente percebeu muito, e isso
é um dado da EAD inclusive, quando você tem um desnível de informação,
tipo eu tenho alunos que não tem o ensino médio junto com uma turma
que tem alunos da graduação e Pós-graduação, quando a gente com uma
ferramenta muito útil explorada pela EAD que é o Fórum de Debates, que
todo mundo entra para bater papo, eu jogo uma temática e as pessoas
entram ali para discutir, há uma tendência das pessoas que não tem nível
de escolaridade, que não tem uma linguagem rebuscada em termos
acadêmicos, principalmente, delas não entrarem naquela sala, elas ficam
só contemplando e isso definitivamente não atende a perspectiva do que a
65
gente quer para elas, então a gente começou a tentar formar por
escolaridade por entender que as pessoas ficam mais a vontade, não que a
gente tenha essa identificação, mas é a linguagem, é o nível do debate,
então essa turma que eu falei que está desde o começo, é uma turma que
a gente está achando interessante, porque eles estão fazendo todos os
módulos, é um grupo de umas quinze pessoas, então, aí são quinze
pessoas onde nós temos formadores, professores universitários, técnicos
de secretárias de esporte do país, é turma que tem um perfil de identidade
e interesse pela questão, esse grupo, por exemplo, esse grupo mantém um
nível de diálogo que já é um grupo [palavra inaudível 22:17], que já é um
grupo que tem outras comunicações. A gente não conseguiu fazer isso
com outros ainda, então essa perspectiva do perfil ela ainda é um
complicador, e aí eu queria só acrescentar um dado que é bem em relação
à EAD, é que a EAD ela exige um conhecimento tecnológico que é muito
tranquilo quando a gente pensa de um universitário para lá, mas não é
tranquilo para essas outras pessoas, então um dado que a gente tem e
que eu não tenho numericamente ainda porque, logicamente, esse é um
processo que a gente espera ter até março do ano que vem, a gente tem
alguns dados, mas são muito imprecisos, é que o fato da educação a
distância chegar a muitos lugares é muito positiva, mas a gente não sabe
se ele vai chegar em todos esses agentes, porque a dificuldade tecnológica
é muito grande desde o acesso a internet, a familiarização com o processo
de estudo e do estudo a distância, o que gera muito evasão, porque nós
somos um curso que estamos sentindo isso, então quando eu penso,
assim “quem é de fato que está no curso?”, aí você falou do perfil, os mais
ligados são os que estão com o nível de escolaridade, de graduação,
principalmente, eu não tenho isso como um dado, mas a gente tem isso
muito claro quando a gente olha os perfis, então, há uma tendência disso,
mas não há uma... Não é a nossa intenção, a intenção não é que o curso
fique só para as pessoas que tenham curso superior ou estão em processo
de formação, mas a gente também tem essa limitação à gente sabe que
não vai dar para chegar e nós estamos começando agora Povos e
Comunidades Tradicionais a gente vai chegar com a EAD lá, depende de
onde essa população está às comunidades que estão perto dos centros
podem ser que sim, mas as que estão isoladas elas não vão ter acesso
tecnológico e gente não vai ter como enxergar isso, então é um perfil muito
flexível, mas que tende a ter uma continuidade maior das pessoas que tem
esse acesso tecnológico e interesse para além do PELC, que é uma
demanda que a gente tem tido também, que é o estudante não só de
Educação Física são as pessoas que estão envolvidas ou com as políticas
públicas, ou com as Secretarias de Esporte e Turismo que é uma
demanda que a gente tem que ter.
66
L. A. – E para além da própria comunicação entre os alunos, o perfil ele
também pode interferir na sessão material para treinamentos complexos
ou na linguagem, como é que vocês trabalham com esses desafios?
E. C. – Isso foi uma coisa muito bacana que a gente fez esse ano, foi o
seminário de avaliação que já era previsto, como eu te falei, a ideia
começou, aliás, a gente considera isso, que a gente está saindo do projeto
piloto agora, que era um ano de tramitação, inclusive para testar o
material e aí a gente fez essa revisão em agosto desse ano finalzinho de
julho, agosto e essa revisão foi uma reunião muito bacana que eu nunca
tinha visto no meio acadêmico, enquanto PELC, no entanto inclusive por
isso a gente trouxe todos os autores que sentaram com todos os tutores e
supervisores da equipe da EAD, nossos coordenadores para dar um
“feedback” para eles do material, porque o material é escrito por
acadêmicos que se envolvem com o PELC, a maioria tem experiência, mas
que estão acostumados a fazer um grupo e a EAD ela não pode ficar
fechada nessa visão acadêmica para esse curso, porque nós não estamos
buscando acadêmicos para serem [palavra inaudível 26:20], também eles
mas, não só e aí a gente fez muito essa avaliação de uma filtragem quando
a gente trabalha com a EAD o material por mais que ele tenha sido
elaborado, então vamos pensar esses primeiros materiais eles tem uma
média de sessenta páginas, para a linguagem EAD ele é transposto, a
gente faz uma transposição didática de pensar esse material e aí tem uma
equipe que é a Maria Teresa Amaral que faz isso, que é a nossa
coordenadora pedagógica ela tem uma equipe que faz uma transposição
do material para linguagem EAD e isso foi feito por uma dificuldade da
plataforma que a gente acessava que é a plataforma e-Proinfo do
Ministério da Educação ela tem muitas limitações que a gente não
esperava ter, então ela ficou uma linguagem ruim, o material não é um
material agradável em relação a muitos outros que a gente tem de EAD, aí
a gente está mudando agora para plataforma “moodle” fazendo isso, já
revisado desse processo, os autores já mexeram no material, esse material
vai ser publicado que a gente entende que ele impresso é muito
importante para estar nesses núcleos, como uma fonte de consulta, mas a
linguagem EAD toda revista e aí muito mais dinâmica com interatividade,
uma coisa que a gente teve dificuldade na plataforma anterior, era a
questão da interatividade que é fundamental para o ensino a distância e
aí a gente está fazendo essa mudança focando, principalmente, esse
público que não é o público acadêmico, então é um material muito mais
67
resumido mesmo, é um resumo para a gente que está no meio acadêmico,
a gente resumiu, resumiu, resumiu, que a ideia é essa “né”, que ele tenha
acesso rápido a informação e que ele tenha também condição de
aprofundamento e essas condições estão lá, então a EAD tem muito essa
lógica, você tem ali uma apresentação da temática e “links” que te façam
pensar, mas como é isso, aí tem um “link” que fala assim “assiste tal
documentário”, “veja tal filme”, “acesse o material na íntegra” está lá em
PDF, ou tem tal tese, tem tal reportagem e assim por diante, a lógica é
muito essa de que você tem uma apresentação simplificada, o termo que a
gente tem usado é essa, é simplificado, muitos autores na hora que olham
falam assim, “nossa mas...”, olha está lá, saiba mais, o saiba mais vai te
levar para isso.
L. A. – Os autores eles são pessoas que fazem parte da equipe do PELC ou
eles são convidados e a atuação deles se resume a composição desse
material?
E. C. – Alguns foram só convidados outros fazem parte do PELC à gente
tem autor que é formador, a gente tem autor que é parte da equipe de
coordenação da EAD, mas são poucos autores... Deixa eu pensar se tem
alguém, não, acho que todos os autores já tiveram algum tipo de
envolvimento com o PELC, mesmo que não esteja agora, já participaram
anos atrás ou no processo de implementação, talvez os mais novatos
assim, foi o... Mas, o Luciano já estava no PELC antes, eu e o Gustavo que
entramos por último que estamos elaborando o da dança, mas agora, você
que saber do que já foi?
L. A. – Pode falar do que está vindo também!
E. C. – É que a gente está em um processo de elaboração, a gente fez um
“workshop” agora mês passado, foi com os novos autores, nesses novos
autores nós temos pessoas que não tem vinculação, porque os novos
materiais eles estão vinculados a outras demandas também deliberadas
pelo Ministério, pela SNELIS e pelos formadores de temáticas que tem o
mesmo processo lacunáveis, mas elas foram mais pensadas no sentido
dos sujeitos atendidos, então a gente tem temáticas como: portadores de
necessidades especiais, idosos e aí a ideia foi buscar pessoas que
68
dialogam com essas temáticas, pesquisadores que dialogam com isso, mas
que tenham alguma relação com a perspectiva do lazer, aí nesse grupo a
gente tem pessoas que não estão vinculadas ao PELC, tanto que eles
receberam uma quantidade de material também sobre o PELC para eles
entenderem o programa para tentar estabelecer esse diálogo, a ementa
deles compõe isso, então a gente fez o “workshop”, inclusive, fazendo esse
processo e organizando a escrita desse material, tem infância, tem... Acho
que dois autores, dois ou três que são próximos do PELC, a questão dos
indígenas como Quilombolas e Comunidades Tradicionais, mas a gente
deve ter ainda metade dos autores não estão vinculados ao PELC, mas
tem temática de pesquisa nessas populações.
L. A. – E quantos são os novos módulos que vocês estão produzindo?
E. C. – São nove, eu não vou saber de cor, Juventude, Idoso, Infância,
Deficiência, Quilombolas, Indígenas, tem um módulo que não tem a ver
com a população e sobre Gestão e a Dança. É porque essa parte... Nós
somos quatro coordenadores na EAD e eu não... Apesar de eu estar na
geral essa parte é o Cleber e a [palavra inaudível] que cuidam, então eu
não estou com clareza da temática, mas é isso.
L. A. – E como que acontece a divulgação no momento de abertura de
novas turmas?
E. C. – Então, a divulgação tem sido constante, como é que a gente tem
captado os alunos? Indo as formações divulgando, os próprios formadores
fazendo isso também não oficialmente eles tem feito isso de forma informal
a partir do ano que vem eles tem que fazer isso oficialmente, mas a gente
também manda alguém da EAD quando a formação é muito grande para
divulgar e a abertura das turmas na verdade a turma não é a partir da
divulgação a gente vai recebendo um fluxo contínuo e aí a cada mês a
gente tem como montar um grupo e começar uma nova turma, a
divulgação é feita via “e-mail” a gente entra em contato com as pessoas via
“e-mail” informando que vai até aquela data e que ele tem aquela vaga
garantida para começar o curso e aí a gente enturma esse aluno e ele
começa. Uma estratégia que foi a mais eficiente até agora que tem dado
certo que a gente vai investir mais o ano que vem, é uma divulgação do
69
próprio Ministério, o Ministério encaminha ofícios para as Prefeituras...
Para a Prefeitura não é verdade, foi para as Secretárias de Estado, para as
Secretárias de Estado e para os programas que já estão em funcionamento
essa é a mais eficiente, porque na hora que o gestor recebe ele encaminha
isso para a equipe dele e a gente tem recebido um número bem bacana,
isso funcionou muito no meio do ano agora no final foi menos, mas aí eles
entram em contato e a gente começa o processo todo via “e-mail” à
mudança da plataforma, inclusive, vai nos ajudar nisso, porque ele
consegue fazer “on-line” hoje não tem como, o aluno não consegue entrar
para o curso acessando, ele precisa... A gente precisa colocá-lo na
plataforma, então mudar isso, também acho que vai ajudar bastante,
porque é uma autonomia maior uma agilidade maior para o processo, a
gente está bem, a plataforma nos limitou muito, inclusive nesse processo
de acessibilidade das pessoas ao curso.
L. A. – Eu tenho conhecimento de que não existe uma exclusividade dos
agentes do PELC para poder participar do curso outras pessoas
desvinculadas também podem participar, isso era uma intenção de vocês
poderem abrir ou isso aconteceu simplesmente?
E. C. – Isso aconteceu perante a percepção que havia uma demanda,
porque as pessoas começaram a procurar e perante a evasão grande que
eu relatei antes, quando a gente percebeu que muita gente tinha se
colocado onde estava eu acho que ficou... Mas, de toda a forma, desde a
criação, e aí eu posso até estar sendo negligente nessa informação, mas
pelo que eu entendi, desde a criação, nunca foi exclusivo para o agente, a
ideia era ter um curso que atendesse o território nacional, assim que está
posto, oferecido pelo Ministério de forma gratuita e para quem tem
interesse, porque havia desde que eu entrei pelo menos, essa coisa assim,
prioritariamente é o agente, eu não vou deixar o agente de fora para
aceitar alguém que não tenha, mas a gente não teve essa situação na
verdade a gente tem uma condição de atender um número maior do que a
gente está atendendo, a gente tem uma equipe com condições disso, as
turmas não tem atingido o número máximo de alunos, então para nós não
tem sido um problema, um dado que a gente está levantando é esse, que a
gente precisa de maior investimento nos programas, porque está ficando
muito [palavra inaudível 36:38] assim, a quantidade de pessoas que são
vinculadas com as pessoas que não são vinculadas, isso não é um
problema, mas nos incomoda na medida que, porque que as pessoas que
estão no PELC não estão fazendo curso? E aí vem um dado que a gente
70
ainda não tem, quantos por cento realmente tem dificuldade? Eu estou
trabalhando com uma hipótese, por exemplo, Fortaleza hoje, Fortaleza a
gente fez um alto investimento de divulgação e houve um retorno, é um
governo muito grande, a gente tem um número... É um convênio... Acho
que é o maior convênio que a gente tem hoje dentro do PELC, e as pessoas
se inscreveram e participaram e lá, por exemplo, as pessoas que estão no
interior elas evadiram, elas não conseguem e o que a gente tem não como
dado ainda, mas como informação pelos formadores e pela própria equipe
de lá, é que eles estão com muita dificuldade de conexão, mas também é
um público e eu estive lá pessoalmente fazendo uma divulgação e essa
captação de alunos, eu tive umas quatro pessoas que me pediram para
ensinar como se fazia um “e-mail”, então a gente têm essas variáveis todas
no mesmo local, há uma dificuldade de conexão da internet, há uma
dificuldade por parte do público em relação à tecnologia, mas a gente tem
um número muito grande de alunos, o nosso maior número de alunos
hoje se concentra em Fortaleza, porque é um programa grande, então
como eu estou te falando, assim, o processo da divulgação a gente começa
no ano que vem de uma forma mais organizada para atingir esses focos
em Fortaleza ela está sendo um piloto para a gente entender como é que
isso se “dá”, lá a gente fez uma divulgação intensiva, houve uma inscrição
intensiva e também uma evasão intensiva, então a gente está aí com esses
dados para fazer... Eu brinco que a gente ainda não chegou no qualitativo,
a gente está só apagando incêndio ainda da parte da implementação, da
análise do material, mas a gente precisa é o foco para 2016 a gente
entender melhor essas relações da EAD com o processo da formação de
serviço mesmo dos agentes.
L. A. – Então, vocês tem conseguido perceber algum resultado das turmas
que estão se formando mesmo que venham de um único módulo, o que
vocês já tem de informação com relação aos resultados das formações?
E. C. – Isso é uma coisa bacana, porque são os formadores e os tutores
que nos passam. A gente tem alguns relatos, não é o qualitativo que eu
reforço, mas assim, a gente tem muito relato de pessoas, por exemplo, que
já começam a fazer projetos a partir do curso, que mudam a forma de
organizar trabalho, que é o que a gente espera que aconteça. Nesse
encontro que a gente fez de avaliação, que os tutores trazem as
experiências foi muito bacana perceber assim, por exemplo, que pessoas
que procuraram o curso de Educação Física, isso foi relatado até esses
dias aqui, pessoas que estavam no curso à distância, e fizeram a
71
formação, e falaram com os formadores “a gente fez o vestibular agora, a
gente fez o processo seletivo para poder fazer o curso”, entendeu que vai
ser bacana, então assim, essas coisas começam a retornar. Eu não tenho
dado assim, por exemplo, a coordenação de um determinado núcleo
mudou a estrutura de trabalho, mas a gente tem esse relato do aluno a
gente fala assim, nossa eu revi o que eu estava fazendo, vou implementar
essa proposta, principalmente, essa relação do diagnóstico nosso material
pensa muito nessa lógica de que o agente ele precisa ter um diagnóstico
da realidade dele para intervir, que ele busca ali e não lá, não é o que está
fora que ele está vivendo, e aí eu acho que essa questão do diagnóstico
algumas atividades que fazem que eles busquem o próprio Município
entender a realidade local, essas trocas a gente tem recebido, de perceber
e falar assim, “nossa eu nem tinha pensado que eu podia fazer isso, aqui
mesmo” ou “que aqui tem essa...” e eu acho que isso a gente tem tido de
forma ainda muito espalhada, são as informações que a gente precisa
condensar agora, na verdade a gente tem um desafio grande para 2016
que é sair da lógica do instrumental que a gente tem feito, preparar o
material, por na plataforma, para as análises qualitativas do que de fato
está acontecendo, mas a gente tem tido retornos muitos positivos,
inclusive, o próprio Ministério, quando eu me encontro com a Ana32 e com
a Andréia33 elas comentam que algum lugar que elas foram alguém falou
da EAD, “eu vi, me ajudou...” é ainda a crença de que vai dar certo, está
dando certo.
L. A. – Você já me falou algumas coisas ao longo da fala, mas de qualquer
forma eu vou perguntar se tem alguma coisa que ficou faltando e se você
quiser sistematizar e os principais pontos que você acha que devem ser
melhorados e os próximos passos que a EAD tem que tomar?
E. C. – Então, aí vamos lá, primeiro é a divulgação eu acho que a gente...
E aí já tem prerrogativas para isso, ano que vem o Ministério vai
desencadear material gráfico que são cartazes e panfletos para todos os
núcleos, e aí Universidades a gente começa o ano que vem, a gente está
fazendo um piloto aqui na UFMG aqui em uma turma, mas a gente vai
fazer não é só a divulgação, divulgação e captação de aluno. O que é
divulgação e captação? É que eu preciso convencer, além de divulgar, a
convencer as pessoas a se inserirem nesse processo, a gente faz um plano
32
Ana Elenara da Silva Pintos. 33
Andréia Everton.
72
agora de ação regional, então a região norte do país é a região que menos
tem Programas do PELC e que menos temos alunos também, então à
gente vai começar toda a proposta daqui da UFMG e foi acatada pela
SNELIS, a gente vai fazer um programa de captação de alunos no nível de
formação mesmo, que havia uma resistência, mas que a gente tem sido
um potencial para que essas localidades incentivem o poder público a
buscar o próprio PELC, então a gente começa pelas Universidades
públicas as Federais no norte, oferecendo inclusive turmas mesmo,
oferecendo vagas para alunos e aí a gente não vai trabalhar só com aluno
da Educação Física, prioritariamente, para tempo cronológico de contato,
mas as Universidades que tiverem cursos correlatos que tenham interesse
também, fazendo esse chamamento até porque como eu disse a gente tem
condição de atender a isso e está entendo ser um investimento de
divulgação do próprio PELC via EAD, para além da divulgação e captação
de alunos é a adaptação da linguagem EAD que está em processo, à gente
entende que esse um ano material, não foi um material em uma
linguagem de EAD adequada para permanência do aluno, à gente teve um
número de evasão também, porque o aluno entra e aí a linguagem estava
muito acadêmica ainda, então isso está em processo, mas vai para teste,
está elaborado e vamos ver o que isso, essa revisão essa mudança da
plataforma e da adaptação do material gera, eu acho que esse é outro
grande desafio que está sendo implementado com mais recursos, o outro é
a melhoria dessa organização pedagógica das turmas, como eu relatei a
gente está fazendo esses testes, então eu pego pessoas que tem curso
superior, pessoas que tem pós-graduação, a gente tem tentado aglomerar
isso, mas é uma tentativa, porque isso depende da demanda que eu tenho
às vezes as pessoas cursam, por exemplo, é o Módulo Financiamento, é
um módulo que não tem uma procura muito grande, por exemplo, e aí eu
não tenho aluno suficiente para montar por escolaridade, eu tenho quatro
que não tem curso superior, eu tenho dez que tem graduação e tenho dez
que tem pós, eu não consigo montar uma turma para cada um, eu acabo
aglomerando esses alunos, então se a gente tiver uma captação maior um
número maior talvez gente consiga qualificar melhor a formação das
turmas, e um outro desafio que é uma perspectiva pedagógica nossa da
equipe que a gente não sabe justificar se a gente vai conseguir pela
mesma questão, pela quantidade de pessoas que procuram, é a relação de
mistura regional que você tem ali na mesma turma pessoas de localidades
muito diferentes, a gente faz um pouco isso hoje, mas não é fácil pelo
mesmo motivo, porque se eu só tenho quinze pessoas querendo um
módulo, eu tenho que colocar aquelas quinze se elas são da mesma cidade
ou não do mesmo nível de escolaridade ou não porque não é funcional, o
valor que se investe por curso criar turmas muito pequenas, mas eu acho
73
que é um desafio e que se a gente tiver uma demanda grande nos
possibilite talvez um maior diálogo que é uma premissa de as pessoas
terem essa expectativa, inclusive, da identidade local delas, mas dessa
diversidade que eu acho que se “dá” quando a gente está pensando em
território Nacional e que está embutida lá no projeto também de que as
pessoas apesar de estarem na sua localidade que elas tenham a percepção
de como essa localidade tem particularidades culturais, regionais, e a
gente entende pedagogicamente que isso é muito atrativo para um curso
EAD, “dá” um outro dinamismo dessa... Inclusive para o aluno falar dele,
que é um processo interessante. Ele escolhe nos mínimos detalhes, eu
acho que os grandes desafios estão aí e essa experiência que na EAD
todos nós que trabalhamos, a equipe como um todo não tinha uma grande
experiência com educação a distância, mas independente dessa
experiência a gente também não tem esse perfil de curso muito
popularizado, normalmente, os cursos a distância eles tem um foco muito
bem determinado, faço um curso para enfermeiros, faço um curso para
professores do Ensino Médio, nós fizemos um curso para a população
interessada, então esse desafio é o maior que tem feito com que o trabalho
da EAD também tenha um alto investimento na tutoria, porque os tutores
precisam ter esse jogo de cintura de lidar com esses públicos diferentes,
de pessoas que estão em locais e condições diferentes de discutir as
temáticas propostas pelo curso.
L. A. – Já que você citou os tutores como é que foi a formação para que
eles atuassem?
E. C. – Então, eles têm, tiveram... Estão tendo ainda, na verdade a gente
tem uma série de ações de formação tutorial, primeiro que a seleção foi
feita priorizando pessoa que já tivessem algum envolvimento com as
temáticas do curso no lazer ou com ensino a distância, a gente não
conseguiu pessoas a priori era isso, a gente queria gente que estivesse
discutindo Política Pública e Lazer e quisesse ser tutor, não foi suficiente,
aí a gente caiu para quem tinha experiência com EAD, Educação e a gente
fez essa seleção com pessoas que residissem aqui em Belo Horizonte,
entendendo que a gente precisava fazer o processo de formação. O
processo de formação parte desde o uso da plataforma, ao estudo do
material, cada módulo desse é feito um “workshop” com os autores e os
tutores, então eles recebiam o material e ia continuando dessa forma, é
uma experiência positiva que a gente vai manter assim, eles recebem o
material com antecedência, e a gente faz um “workshop” os autores vêm
74
até aqui e acontece esse momento de “workshop” mesmo, de dúvidas,
material, debates, o que pode ser explorado, o que não pode, o que está
complicado, nesse é um dos momentos, inclusive, algumas já eram
revisadas tipo o autor proíbe algum tipo de avaliação e os tutores já
percebem assim, olha não vai ser possível, a gente teve muito esse
problema a avaliação foi toda revista, a gente tinha trabalhos solicitados
pelos autores que eram compatíveis a Pós Graduação sabe, a forma de
elaborar o trabalho, a quantidade de leitura, e aí, por exemplo, chegava...
Isso é um dado que a gente tem, chega no momento da avaliação, chegava
no momento “né”, isso já é passado a gente já alterou isso, aí ele sumia. O
aluno vem cursando, aí ele faz as quinze aulas aí quando chega na aula
que começa a avaliação aí o aluno some e aí o tutor fica atrás dele, mas
assim ele some por conta da avaliação, a gente reviu muito essa
perspectiva do nível e do padrão da avaliação, porque os nossos autores
eles estão vinculados, muitos foram para uma lógica do que a gente faz em
graduação, por exemplo, da ideia de que o aluno tem que estudar,
estudar, essas pessoas não tem essa formação não tem essa cultura do
estudo, então, elas evadiam nesse momento, aí não faz atividade avaliativa
e saia do curso, e a gente não tem como incluí-los... Alguns a gente tem
feito esse trabalho, eu acho importante falar isso, eu não falei, a gente tem
feito um trabalho muito intenso de busca dos alunos que evadiram, desde
o começo do curso, de ir atrás e a gente teve sucesso de uns 50%
(cinquenta por cento), que para EAD é um número muito bom eles terem
voltado, inclusive, quando mudou para módulo, porque a gente teve essa
justificativa, “esse é um curso muito longo eu vou viajar, sair de férias no
final do ano”, então assim, a ideia do módulo essa divulgação que ele pode
voltar e fazer um módulo pelo menos em sessenta dias tem funcionado,
então a gente faz um trabalho muito intenso de busca, nós temos na
plataforma inscritos mil quinhentos e trinta pessoas mais ou menos que
já se inscreveram, não que terminaram o curso, que terminaram um terço
disso mais ou menos, que se tem ficado ativo na plataforma, então a gente
vai a trás desses outros mil e tantos e ainda continuamos esse processo,
agora, por exemplo, a gente passou isso para a equipe do Ministério para
que eles também façam acesso, porque há uma diferença de quando a
UFMG procura e quando o Ministério procura, então a gente está usando
dessa estratégia também, a formação dos tutores, desculpe para voltar aí
a temática, e além disso, a participação deles nos eventos do Ministério
em relação ao PELC, então tudo que desde que a EAD foi criada toda a
vez que tem uma reunião, seja com uma reunião, seja com os
conveniantes para orientação... Mas, quando tem a reunião com os
convênios à gente sempre tem aberto a possibilidade de um grupo de EAD,
como eles têm também ao processo de formação com a ideia de que eles
75
precisam se apropriar dessa realidade, porque ela aparece o tempo todo,
quando você trabalha com os agentes e aí eles entenderem como funciona
o PELC, é muito importante. Então para o material, os autores vieram,
para o programa a equipe do Ministério veio, então, a Ana veio mais de
uma vez para poder falar do funcionamento para que eles entendam a
estrutura e todos os eventos que envolvem o PELC a gente sempre tem um
grupo da EAD e aí a gente vai diversificando as pessoas para que eles
tenham acesso a entender melhor como o programa funciona, então, se o
evento é dos formadores se eles estão em Brasília à gente levou em vários,
reunião de avaliação do programa, reunião com os conveniados, a gente
tem tido sempre essa presença, não só de nós coordenadores que estamos
envolvidos, mas também dos tutores para que eles multipliquem isso, e aí
nos nossos encontros aqui a gente já fez um seminário, mas aí quem vai
repassar faz um relatório e aí é repassado para equipe como um todo
porque a maioria dos nossos tutores não tinha envolvimento com o PELC
também a gente tem alguns inclusive que já trabalharam em gestões de
implementação do PELC no Município, a maioria não, então a gente fez
esse processo e continuou fazendo para ter essa proximidade e essa
compreensão do que é o programa em si.
L. A. – E como é a relação de vocês com o Ministério, o que são demandas
deles com a EAD como é que vocês se relacionam?
E. C. – É tudo compartilhado, a gente tem uma autonomia muito bacana
de deliberação, mas a gente tem um pacto desse compartilhamento
mesmo, para tudo, então essa demanda tanto nossa para eles, quanto
deles para nós, ela é compartilhada, não tem nada que seja imposto de lá
para cá, ou, daqui para lá, isso é uma... Existe uma parceria muito
agradável, inclusive, é obvio que em alguns momentos as demandas deles
não são atendidas por nós e nem a nossa por eles, pelas várias questões
do processo a gente teve algumas questões estruturantes que foram
difíceis no começo, então a gente criou mais linhas do que a gente
pensava da EAD, que é um espaço fundamental que tem acesso, os
tutores tem que estar trabalhando onde o técnico de informática fica, que
é uma referência, isso demorou um ano por questões burocráticas de
contrato, porque não era previsto que se alugasse ou se o aluguel era mais
caro que comprar, então a gente fez um termo aditivo de alteração do
contrato, então essas coisas são burocráticas e demoram, infelizmente,
são duas instituições federais que tem todo o tramite interno para
76
conseguir essa demanda, então isso não atrasou o trabalho, mas
dificultou em parte, a gente agora está com essa condição estrutural, por
exemplo, mas a relação tem sido muito dessa demanda, e, de avaliações
constantes, porque a gente emite relatórios semestrais, semestrais ou
anual e desse acompanhamento que eles fazem do que a gente está
desenvolvendo... Uma questão, por exemplo, que eu já citei que ainda a
gente está... Agora... Na verdade mês que vem, vai ser o primeiro mês de
fato que a gente vai fazer, são os dados que a gente tem condição de
fornecer para o Ministério, essa mudança por módulo, ela gerou um
volume muito maior numérico mesmo, de falar assim “quantos alunos
estão cursando EAD hoje?”, e aí vem essa questão eu acesso plataforma
eu fico sabendo agora quantos que estão em atividade, mas quantos
concluem de fato, quantos excluíram, quantos saíram, por que motivos,
são dados mais difíceis de estarem o tempo todo, então a gente criou uma
sistemática de fornecer isso de uma forma mais organizada que é
fundamental para a gestão, que é fundamental para alimentar a própria
secretaria e o próprio Ministério, mas é uma relação muito tranquila e
que... Como eu te falei é muito conjunta, então para te dar um exemplo,
autores que vão escrever os materiais, a gente tem trabalhado assim,
então quem que a gente conhece, quem que a gente sabe que tem uma
produção significativa “tá” à gente faz... A gente vai lá e diz “a gente está
pensando nessas pessoas”, tem outra sugestão? Tem, sempre tem, e aí a
gente analisa se pode ou não, vamos ver qual que é literalmente, abre o
Lattes vamos ver qual é a produção, como é que está, e isso fica acordado,
esse atendimento é feito mais diretamente com a Ana Elenara e com a
Andreia Everton que são as pessoas que de fato se reúnem conosco para
essas decisões, e é coletivo mesmo é colegiado, eu brinco assim, “é o
colegiado da EAD PELC”, porque nós somos quatro coordenadores, mais o
Helder que o coordenador geral, que participa de todos esses momentos,
temos supervisores de tutoria que são três e aí eu acrescentei isso a pouco
tempo, também sob aprovação delas uma necessidade que não foi
pensada a princípio, que é a equipe de secretaria da EAD, em que eu
transferi uma tutora que é a Luciene da tutoria, como processo de
articulação de transito de registro, inclusive, e uma pessoa com apoio
técnico, porque nós não tínhamos uma secretaria do curso por mais que
ele seja “online” ele tem um documentação histórica, um registro que tava
no meu “pen drive”, no “pen drive” do outro coordenador, e que agora com
essa sala e com essa equipe mais o “TI” que já estava desde o começo, a
gente consegue fazer melhor, então agora a gente está nesse processo de
documentação, de arquivamento, sistematizações de ações, de organização
de cronogramas para todos os setores do curso, estava tudo muito... Como
é que eu vou dizer, a gente tem trabalhado coletivamente, mas as coisas
77
estavam muito individualizadas, então agora a gente está com essa
sistemática que essas pessoas conversam com todas as coordenações,
fazem os registros, e fazem também as propostas, então a Lucilene, por
exemplo, é a pessoa que hoje me auxilia muito nesse processo, porque na
hora de atualizar essas informações você tem uma demanda de
quatrocentas pessoas e aí eu tenho que saber os perfis para fazer, e isso
era feito por mim, sozinha antes, então a gente consegue hoje ter uma
normatização melhor e apuração desses dados, que é meio tudo em
“Excel”, criar fórmulas para poder juntar e que eram informações que a
gente não estava conseguindo tê-las.
L. A. – Os quatro coordenadores, é você, a Maria Tereza, o Cleber, e...?
E. C. – A Maria Cristina Rosa que é coordenadora da tutoria.
L. A. – Sim, e os supervisores?
E. C. – Os supervisores é o Gustavo Cortes, a Isabel Coimbra e a Eliene
Faria.
L. A. – Do meu roteiro acho que é isso, tem alguma coisa que eu não te
perguntei que você queria acrescentar Elisangela, uma colocação, um
comentário?
E. C. – Não tenho! Tem, assim, eu acho que a gente trabalhar com
projetos acadêmicos que estão vinculados a gestão, gera até um incômodo
quando algumas pessoas entram no universo acadêmico, eu acho a EAD
dentro do PELC uma grande sacada assim, do Ministério mesmo, assim,
pensando a política, não é só por essa lógica que as pessoas falam assim,
“a modernização venceu”, eu inclusive sou uma pessoa que já tive e ainda
tenho muitas resistências com a Educação a Distância, eu falo as vezes,
“você é coordenadora!”, eu sou a coordenadora de um curso a distância
que eu acredito ser funcional, tenho dificuldade de pensar assim, ensinar
dança a distância tenho muita dificuldade, inclusive estou sofrendo muito
para elaborar esse material, porque não é um material para ensinar
78
dança, é diferente também, mas ele discute a dança para dar uma
perspectiva para essas pessoas de como que a dança, vivencialmente,
pode ser ou não um bom conteúdo, mas eu acho que é uma grande
sacada, porque... E aí eu estou falando de uma pessoa que está muito de
fora do PELC, eu estou a um ano e meio em contato com essas pessoas,
muito encantada, não só com a proposta, mas também com a dedicação
das pessoas, eu acho que o obstáculo de um curso a distância eu percebo
cada vez mais como que isso é importante para o PELC por potencializar a
riqueza presencial que o PELC tem, que é o que acontece na ponta, como
a gente fala, e o que acontece na ponta é muito rico para nós aqui na
Universidade, então o que eu queria, assim, para finalizar que eu falo
dessa valorização, é que eu antes de participar desse projeto, eu ouvia
muitas criticas em relação a essa vinculação Universidade, Ministério para
desenvolvimento de políticas, e hoje eu estando dentro do processo, eu
acho isso de uma riqueza tão imensa por que ela nutre, duas pontas
muito importantes na mesma instância que é federativa, que é nós que
estamos na academia, nos problemas, nas pesquisas no nosso programa
aqui, entender o que de fato acontece lá, quem está lá poder usufruir do
que nós conseguimos avançar aqui, que é uma regrinha básica que está
imbuída nessa tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, mas que a
Universidade nem sempre de fato consegue chegar lá, principalmente,
para a realidade que a gente tem aqui que é de ter um programa que é
pioneiro e que tem uma fonte de nutrição fantástica, e que ao mesmo
tempo retorna de uma forma muito rápida para o Ministério e para as
políticas nesse conhecimento, então e a EAD ela entra como uma ponta de
um avanço, porque a EAD ainda é uma questão... Ela está aí a muitos
anos, mas a expansão dela no Brasil é muito lenta, aliás, muito lenta em
relação a outros países inclusive, ela entra com uma tecnologia que a
gente tem condição de enfrentar e beneficiar muito mais pessoas, então eu
acho que é um casamento que tende a ser feliz, eu não sei se duradouro,
porque isso depende de muitas questões, das políticas, das financeiras,
mas eu acho que é um projeto audacioso que tem dado certo e tende a dar
mais certo.
L. A. – Muitíssimo obrigada!
E. C. – Eu que agradeço a oportunidade.
[FINAL DA ENTREVISTA]
79
Depoimento de Eneida Feix
Depoimento de Gilmar Tondin
Entrevistado: Gilmar Tondin
Nascimento: 24/02/1959
Local da entrevista: Parque Tamandaré – Porto Alegre
Entrevistadoras: Pamela Joras e Leila Carneiro Mattos
Data da entrevista: 25/09/2015
Transcrição: Leila Carneiro Mattos
Copidesque: Suellen Ramos
Pesquisa: Suellen Ramos
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
Formação em Educação Física; envolvimento com esporte e lazer;
preparação para ser formador do PELC; formações realizadas; regiões de
formação; grupo de estudos PELC; encontros dos formadores; ações
desenvolvidas; impacto social do PELC;
80
Porto Alegre, 25 de setembro de 2015entrevista com Gilmar Tondin a
cargos das pesquisadoras Pamela Joras e Leila Carneiro Mattos para o
Projeto Memórias do Programa Esporte e Lazer da Cidade.
P.J. – Gilmar, primeiro queria te agradecer por conceder esse tempo para
conversar um pouquinho sobre o PELC, e eu queria que tu começasses
falando sobre a tua formação e como a temática do lazer apareceu na tua
trajetória.
G.T. – Bom, eu sou formado em Educação Física, me formei na UFSM34
em mil novecentos e oitenta e um, em junho de oitenta e um, eu sou da
barra oitenta B. Quando eu me formei em Santa Maria eu vim a Porto
Alegre fazer especialização, fiz uma especialização em Ciência do Esporte,
fiquei um semestre estagiando no Lapex35 quando o Lapex era lá no lado
do ginásio, ainda não era no prédio novo bonito e maravilhoso que está
agora, isso no segundo semestre de oitenta e um, em oitenta e dois eu fiz
uma especialização em Educação Psicomotora com o Negrine36. Então eu
comecei a trabalhar em Porto Alegre, Inicialmente, vim a Porto Alegre só
para estudar e acabei trabalhando, e ficando até hoje. Foi surgindo
oportunidades de emprego, primeiro uma escola, foi surgindo uma
escolinha de jardim de infância, fui construindo toda minha trajetória
profissional na escola. Lá pelas tantas em oitenta e quatro, oitenta e cinco,
eu fiz um concurso para a Prefeitura e quando fui chamado em oitenta e
sete me apresentaram a possibilidade de trabalhar em uma praça, eu
pensei: “como assim trabalhar em praça?” eu trabalhava em escola, aliás,
eu trabalhava em três escolas, uma escola grande o João XXIII, trabalhava
em duas escolinhas pequenas uma era “O Chapeuzinho Vermelho” e a
outra “Pequeno Príncipe” em pontos distantes da cidade, eu viajava muito
para dar aula.
34
Universidade Federal de Santa Maria. 35
Laboratório de pesquisa do exercício – ESEFID/UFRGS. 36
Airton da Silva Negrine.
81
P.J. – E era concurso para professor aqui em Porto Alegre?
G.T. – Sim! Como professor da Rede Municipal de Ensino. Quando eu
assumi me apresentaram essa possibilidade, alias o atual Secretario de
Esportes, Edgar Meurer37, na ocasião era o supervisor. Nessa ocasião a
supervisão de Esportes e Lazer de Porto Alegre era vinculada a SMED38,
Esporte e Lazer na verdade, a Recreação Pública estava vinculada a
SMED, ela estava lá porque era o mesmo concurso, a chamada era uma
sequência de pessoas para assumir, o Edgar estava lá e me convidou para
trabalhar. Na ocasião achei interessante porque ele me propôs um horário
noturno consequentemente não precisava abrir mão das minhas escolas
durante o dia, passei a trabalhar três noites, eram três noites mais o
sábado de manhã. E assim eu entrei no que chamavam de Recreação
Pública, foi essa minha entrada, foi assim que começou. E de lá para cá...
Eu nem imaginava que tivesse trabalho em praças, em parques na cidade
Porto Alegre, financiado pelo poder público, custeado pelo poder público.
Foi assim o primeiro conhecimento da entrada e de lá para cá, a minha
vida mudou total em relação à compreensão e a possibilidade da
atividade física da educação física no campo da educação, em especial a
educação física não escolar.
P.J. – E como tu conheceste o PELC39? Tu já tinhas ouvido falar como
política?
G.T. – Bom, o PELC em si não é uma coisa muito diferente daquilo que eu
faço desde oitenta e sete, trabalhar com comunidades, com atividades
recreativas e esportivas focadas para atender as pessoas ou ser mais um
elemento de lazer para melhorar a qualidade de vida das pessoas fora de
seu horário de trabalho. A história do PELC é assim, no primeiro Governo
37
José Edgar Meurer. 38
Secretaria Municipal de Educação. 39
Programa Esporte e Lazer na Cidade.
82
do Lula40 quando o Agnelo41 era o ministro, ele esteve em Porto Alegre.
Quando ele veio a Porto Alegre, eu e a Rejane Rodrigues42 fomos a uma
audiência no gabinete do prefeito, e nessa ocasião ele estava construindo
a política de esportes para o Governo Federal, que não existia, era um
ministério novo e não existia uma política pública de esporte e lazer.
Nessa ocasião nós sugerimos a ele um projeto para trabalhar com as
comunidades de esporte e lazer, exatamente como é o PELC. Ele comprou
essa ideia. Naquele mesmo ano nós realizamos, não sei se foi a primeira
ou segunda Conferência Municipal de Esportes de Porto Alegre e
chamamos o Orlando Silva que na ocasião era o Secretario Executivo e
que depois substituiu o Agnelo quando ele saiu para concorrer a cargos
eletivos, o Orlando assumiu o Ministério do Esporte. O Orlando esteve
aqui conosco como Secretario Executivo para fazer a fala de abertura dá
nossa conferência, ou seja, ficamos muito próximos do Orlando, pela
identidade política, ideológica, pela identidade das Políticas Públicas em
relação ao esporte e lazer, dessa forma as coisas foram se configurando. A
Rejane na ocasião foi, digamos sondada, inclusive, para ocupar a
Secretaria Nacional de Esporte e Lazer...
P.J. – E tu conheceste ela trabalhando na Prefeitura?
G.T. – Sim! Sim! Nós nos conhecemos há mais de vinte e cinco anos
trabalhando juntos, sempre, ela trabalhava no Ararigbóia43 e agora esta
lá de novo. Ela voltou a origem. Dá para falar muito sobre isso, da nossa
trajetória como colegas de trabalho por muito tempo. Então foi dessa
forma que nós tivemos, eu e a Rejane, o primeiro contato com o PELC.
Bom, a partir do momento que o Ministério definiu o secretario que foi o
Lino Castellani e o Luiz Fernando Verones44 do Rio Grande do Sul, natural
40
Luiz Inácio Lula da Silva. 41
Agnelo Queiroz. 42
Rejane Penna Rodrigues. 43
Parque Ararigbóia. 44
Luiz Fernando Veronez
83
de Pelotas, assumiu junto com o Lino a Secretaria e criaram o PELC. Eu
acho que isso foi em dois mil e três. Nesse meio tempo nós pela primeira
vez... Porto Alegre também conseguimos captar recursos do Governo
Federal para implantar um projeto na área de esporte e lazer que até
então nunca tínhamos conseguido. Então o Ministério liberou um aporte
de recursos e nós iniciamos um projeto que nós não chamamos de PELC
aqui em Porto alegre, nós chamamos de PIEC45 financiado pelo Governo
Federal. Por aqui a gente utilizou o titulo de PIEC localizado próximo a
atual Arena do Grêmio onde foi construído um grupo habitacional
popular com financiamento do FONPLATA e ai nós fizemos o trabalho
exatamente como é o PELC hoje, de articular as comunidades, desenvolver
Programas de Esporte e Lazer, não só para as crianças mas para os
jovens, para os adultos e idosos. Então foi assim que eu conheci o PELC,
na sua origem. Um pouquinho depois com a saída... No primeiro ano de
gestão do Agnelo, ou melhor, no terceiro ano de gestão do Ministério, o
Lino que era o secretario sai. E, quem assume? A Rejane. Isso era dois mil
e seis eu acho, ou dois mil e cinco.
P.J. –Tu participaste desse processo de construção do PELC de escrever o
projeto?
G.T. – Não, não participei. Só com ideias na conversa com o Agnelo,
reforçado depois com o Orlando. A elaboração teórica e documental, não
participei. Eu acho que nem a Rejane. Até porque nós tínhamos
divergências políticas internas em relação ao grupo que estava lá. Lino,
Luiz Fernando Veronez e nós, que dava o maior acirramento nas
discussões na Setorial Estadual do PT46 quando vinham para o RS as
pessoas que integravam o Ministério, nas reuniões da setorial estadual do
PT. As discussões eram acirradas e nós éramos de grupos distintos e por
tanto a gente não sentou para escrever o programa, mas também não
fomos convidados, não sei como é que foi a elaboração do projeto.
45
Projeto Integrado Entrada da Cidade. 46
Partido dos Trabalhadores.
84
Quando o Lino saiu quem assumiu foi a Rejane, isso no quarto ano da
primeira gestão do Ministro Agnelo, eu acho que ainda era o Agnelo não
lembro sobre essa passagem no Ministério , a Rejane vai saber falar
melhor sobre isso. Quando a Rejane assumiu o cargo de Secretária
Nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social, tomou conhecimento do
programa com mais profundidade, isso ela comentou conosco, comigo,
com outras pessoas... “olha gente nós temos PELC e tem uma formação do
PELC e o que eu pretendo e gostaria que essa formação fosse dada por
pessoas que estão no campo, que atuam e que possam levar uma
formação para os agentes e monitores; coisas concretas e que deem
sugestões e ideias e a forma de como trabalhar cotidianamente com essas
políticas públicas”, que é o que nós fazíamos aqui em Porto Alegre. Esse
trabalho com comunidade, em praças, parques, existe desde mil
novecentos e vinte e seis em Porto Alegre, existe uma história de
construção, de idas e vindas que está no DNA da gente daqui da SME.
Dessa forma a Rejane convidou o grupo de formadores, existia outro
pequeno grupo do pessoal de São Paulo e do Rio, e ela levou isto para o
Brasil todo, convidou uma galera do Sul, muitos aqui da Secretaria de
Esportes, e uma dessas pessoas fui eu. Aqui no Sul a gente organizou um
grupo de formadores chamado Coletivo de Formadores do Sul e por isso,
quando a gente ia dar as formações, não ia um formador só, iam um, dois,
três até quatro, uma formação em São Lourenço do Sul47, por exemplo,
nós fomos entre quatro, na cidade de Feliz48 nós fomos em seis
formadores. A gente não ia lá dar a formação pelo pró labore da bolsa, a
gente ia dar a formação porque queria passar o que nós fazíamos aqui e
ainda fazemos em Porto Alegre para essas pessoas que iam iniciar uma
Política Pública de Esporte e Lazer pela primeira vez, nos seus municípios.
P.J. – E quantos eram do Sul?
47
Município do estado do Rio Grande do Sul. 48
Município do estado do Rio Grande do Sul.
85
G.T. – Daqui do Sul éramos seis, inicialmente seis, uma era a Carmem
que hoje é a Presidente do CREF. Eu, a Carmem49, a Lisi50, que é a
Coordenadora Pedagógica da SME, o Luiz Boher, que esteve na gerência
de Eventos, a Eneida51 e a Loreti52, que eu me lembre os primeiros seis
foram estes, depois se incorporou nesse grupo o Ednaldo53 da Unisinos,
mas não no coletivo, se incorporou como formador, a Silvana54 de Caxias55
e o Amilton Toldo, que hoje ele é nosso colega da SME, esses três, o
Matheus56 também, o Matheus não chegou a fazer nenhuma formação,
mas ele chegou, lá no inicio, a fazer parte dos formadores e a participar de
algumas reuniões dos formadores, mas do Coletivo do Sul eram seis
pessoas depois entrou a Silvana, o Dinho e o Amilton, lá já no final ,antes
de conveniar com a UFMG57. Com o conveniamento com a UFMG mudou
um pouquinho a forma de agenciamento das formações pelos formadores.
P.J. – Tu podes comentar um pouquinho como foi essa mudança?
G.T. – Sim. Antes como era? Antes do conveniamento com a UFMG, o
processo deu início com um convite feito diretamente pela Rejane. A
Andrea Ewerton58 trabalhava com a Rejane e convidou um grupo do
Nordeste, do Norte, do Pará59, assim, tinha o Coletivo do Sul e o Coletivo
do Norte, algum pessoal de Minas60 e um grupo de Paulistas e Cariocas,
basicamente esse grupos que constituíam um universo de setenta e sete
formadores e funcionava assim, e nessa época nesse período ai não era só
Município que poderia captar recursos do PELC, eram Município, ONGS,
enfim não era tão restrito .
49
Carmen Lilia da Cunha Faro. 50
Lisi Inês Schimidt. 51
Eneida Feix. 52
Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti 53
Nome sujeito à confirmação. 54
Nome sujeito à confirmação. 55
Município do estado do Rio Grande do Sul. 56
Nome sujeito à confirmação. 57
Universidade Federal de Minas Gerais. 58
Andrea Nascimento Ewerton. 59
Estado brasileiro. 60
Minas Gerais, estado brasileiro.
86
P.J. – O Aldo.
G.T.- O Aldo Rebello quando assumiu, depois do Orlando, cortou a
possibilidade das ONGS poderem captar recursos, porque dava muito
problema de prestação de contas. Nesse período do grupo de setenta e sete
formadores, antes do conveniamento com a UFMG era da seguinte forma,
a entidade recebia recursos, tinha que fazer a formação, ligava para o
ministério, o ministério acionava os formadores, se esse pedido de
formação chegasse aqui no Sul, no nosso grupo era assim, tinha uma
pessoa que coordenava, essa pessoa recebia o contato do ministério e
verificava quem tinha disponibilidade e procurava fazer, mais ou menos,
uma escala “oh! Gilmar e Léo tem essa formação em tal lugar sob
responsabilidade de vocês, podem dar conta?”, “Podemos!”. Então nós
íamos fazer essa formação.
P.J. – E, quem era a coordenadora de vocês?
G.T.- Era, eu acho que era a Loreti no final ficou a Loreti. O que
aconteceu? Porque eram setenta e sete diminuiu? Pela ordem, antes foi
convite da Rejane, e ai depois a Rejane abriu um Edital Público, a Rejane
e a Andrea abriram um edital público, para quem quisesse se cadastrar,
para eesse edital público era necessário elaborar uma proposta de
formação, foi ai que o grupo inicialmente de cinquenta e poucos passou
para setenta e sete, porque muitas pessoas se credenciaram e foram
aprovadas, dessa forma o grupo ficou maior. Se eu não estou enganado
houve uma notificação do Tribunal de Contas da União apontando que o
Ministério não podia constituir o grupo de formadores desta forma,
vinculados diretamente ao Ministério do Esporte. Porque alguns faziam e
outros não faziam determinadas formações? Tinham formações, tinham
formadores, que faziam mais formações e outros faziam menos e alguns
não fizeram. E que não podia ter essa vinculação direta de formador lá no
87
Ministério porque a gente poderia criar um problema administrativo.
Então a Rejane e o Ministério fizeram um conveniamento com a UFMG
para repassar a responsabilidade para a UFMG do Programa de Formação,
diga-se de passagem, isso foi um grande ganho para o PELC porque o
Ministério s não conseguia dar conta do volume de trabalho que estava
acontecendo no PELC. Nesta época o PELC estava ‘voando’ em termos de
Programa Social, e o ME não conseguia dar conta dessa demanda de
formações e o acompanhamento das questões pedagógicas e burocráticas
do PELC. As exigências, para o Ministério, eram muitas: ler relatórios,
devolver relatórios, era humanamente impossível dar conta de tudo. Eu
acho que foi um salto de qualidade o conveniamento do a UFMG. Tinha,
também, as formações dos formadores, então era muita coisa. Quando
conveniou com o Ministério, com a UFMG digo, para mim foi um grande
ganho, muito bom. Ouve um novo processo de contratação: a UFMG
abriu um edital público com algumas exigências porque é um Órgão
Federal, o formador tinha que estar vinculado a um Órgão Federal, tinha
que ter uma vinculação com alguma Instituição Federal, hoje tem que ter
uma vinculação com Instituição de Ensino, não necessariamente Federal,
mas na ocasião tinha essa exigência, então, alguns formadores não
tinham esse vinculo mas podiam buscar. Casualmente, neste período de
mudanças de contratação de formadores, entrei no mestrado, com isso
mantive o vínculo com instituição de ensino, mas também , havia a
possibilidade para os formadores cursarem disciplinas especiais em
programas de pós graduação, cursar especialização, enfim, podia fazer
isso para firmar convênio com a UFMG. Teve um grupo que se rebelou,
não quis, não aceitou e acabou não se inscrevendo no edital até porque ia
diminuir bastante o número de formadores, em função da nova
estruturação que a UFMG desenhou junto com o Ministério, não havia
necessidade de setenta e sete, era em torno de trinta, trinta e cinco,
então muitos não se inscreveram até porque nem todos seriam
aproveitados, muito não se inscreveram e outros novos se inscreveram.
Desses trinta e cinco nem todos foram aprovados, era para ficar vinte e
88
cinco e acabou ficando vinte e dois, foi bem exigente o critério de seleção
deste edital, com proposta por escrito, entrevista com a equipe gestora.A
entrevista que eu participei foi aqui na UFRGS, entrevista regional. Foram
realizadas entrevistas em três ou quatro regiões do Brasil . O Ministério e
a UFMG vieram até o Sul, então,quem tinha interesse aqui na Região Sul
de atuar com formador tinha que fazer essas entrevistas aqui na UFRGS.
Teve em Minas, teve em Recife, ou seja, distribuída pelo Brasil. E foi isso
que aconteceu, foi um processo, fazendo uma síntese rápida de como se
deu esse processo de constituição dos atuais formadores, foi isso. De lá
para cá essa articulação da UFMG e os formadores que a gente chama
Sistema de Formação ou Programa de Formação que vem se qualificando,
vem ampliando, os seminários de formadores ( encontros semestrais) tem
sido bem qualificados, achei que só tivemos ganhos, muitos ganhos, foi
um grande salto de qualidade essa delegação de responsabilidade para a
UFMG. E para UFMG também, eles dizem que para eles foi um grande
ganho pedagógico, fazer essa vinculação, porque de que forma eles teriam
tanta atuação no campo como eles tem hoje, eles estão no Brasil todo, a
UFMG esta no Brasil todo, eles conhecem toda a Política de Esporte e
Lazer da periferia dos Municípios por intermédio do Ministério e dos
formadores, está tudo lá nas mãos deles para fazer pesquisa, para fazer
estudo. Ai uma opinião muito pessoal, eu acho que inclusive qualificou o
Programa de Mestrado e Doutorado deles, porque ampliou o número de
formadores que buscaram fazer mestrado e doutorado, ampliaram as
pesquisas sobre o PELC, nossa, foi um ganho muito bom para a UFMG.
P.J.- Então, como foi esse teu processo de preparação para ser formador
tanto do Ministério, além do que tu já comentou, desse teu envolvimento
como funcionou essa preparação, vocês se reuniam, tinha curso, como é?
G.T. –Bom, eu acho que uma formação como a gente faz na formação
inicial se fores considerar que a formação inicial é aquela acadêmica, se tu
fizer uma analogia da minha formação enquanto profissional de Educação
89
Física ou Educador e a minha formação enquanto formador do PELC, a
minha formação inicial para ser formador do PELC ela vem desde oitenta
e sete quando eu entrei na supervisão de esportes recreação e lazer de
Porto Alegre. Neste momento comecei a identificar outras possibilidades,
outras formas de pensar a atuação do esporte como um espaço de lazer,
como um espaço de socialização, como mais uma atividade dentro de um
conjunto de possibilidades de um programa social de esporte e lazer.
Então eu acho que vem de lá. Quando nós fomos convidados pela Rejane
para assumirmos a função de formador, e não era formador, era outro
nome que nós tínhamos, parece que era supervisor. Eu fazia parte de um
grupo de formadores do sul e passamos a nos reunir, nós fazíamos
reuniões sistemáticas para construir a formação, para construir os slides
e muitos destes slides são usados até hoje, a gente organizou toda uma
formação e para chegar a essa programação de formação foram
necessários muitas leituras e estudo para a elaboração final.. A nossa
prática até então era organizar eventos, elaborar planejamento
pedagógico, e para que a gente pudesse, digamos, transformar ou levar a
nossa prática do cotidiano, nossa experiência como professor de praça, de
parque, coordenador pedagógico e coordenador de unidade recreativa, nós
tínhamos que sistematizar e fundamentar a nossa prática, então a gente
também se formou como formador nessa discussão coletiva, nessa
discussão com esse o grupo de seis pessoas. Outra característica de grupo
de formadores do sul, nós nunca íamos sozinhos fazer a formação, íamos
dois, três porque um dava o Feedback do outro, um era a consciência do
outro, era o grilo falante de um e outro.
P.J.- E essa sistematização que tu comentou agora era regional?
G.T.- Era Regional.
P.J.- Em nível nacional vocês não se reuniam?
90
G.T.- Sim! Eu vou chegar lá. Essa formação desse grupo do Sul foi muito
bom e ao mesmo tempo nacionalmente o Ministério organizava um ou
dois encontros anuais com todos os formadores e muitas vezes, e algumas
vezes, junto com os pesquisadores da Rede Cedes, claro que ai ficava um
grupão. Ocorriam seminários muito grandes, com cento e tantas pessoas
e ai bom, não aprofundava tanto os temas mesmo que se quisesse,
mesmo que tivesse uma preocupação de aprofundar temas, de trabalhar
o cotidiano, não é a mesma coisa que tu discutir em seis pessoas. O
Coletivo do Sul, era uma iniciativa nossa, daqui do sul, e tinha também
por iniciativa do Ministério esses encontros de formadores duas vezes por
ano, tanto que no contrato hoje, no atual edital, no contrato que temos
com a UFMG, temos que além de estar disponível para trabalhar as
formações dos convênios, nós temos que participar dos dois encontros
anuais de formadores. Sábado agora, amanhã, tem Encontro de
Formadores do Sul aqui em Porto Alegre, na casa da Léo61, só não vai
estar a Kenny62 que é paulista e que se integrou agora ao grupo de
formadores do sul, porque ela já tinha agendado uma viagem e ela não
pode desmarcar, mas vão estar reunidos aqui, eu a Eneida, a Silvana que
vem de Caxias e a Léo. A Léo agora tem um papel, que antes não existia,
de articulador regional, ela é responsável para acompanhar as formações
da Região Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Ou seja, no
primeiro semestre a gente se reuniu em Brasília, a gente tem obrigação
por contrato e tem que participar de dois encontros anuais quando
chamado pelo Ministério, além do nosso trabalho como formador. Assim,
temos a nossa formação enquanto formador e o nosso compromisso
também de formador. A UFMG também organiza com uma certa
frequência chats de discussão pelo skype, a gente tem alguns contatos
vistuais para discutir temas específicos. É claro que nem todos conseguem
participar, eu sou um que tenho dificuldades de participar desses
encontros on-line porque esses eles acontecem a noite e eu trabalho a
61
Maria Leonar Brenner Céia Ramos. 62
Keni Tatiana Vazzoler Areias.
91
noite. Para estas situações os encontros ficam gravados e eu ouço no dia
seguinte.
P.J. - E o PELC ele esta dividido hoje não é? Tem o “PELC Urbano”, os
“Povos Tradicionais”, tem o “Vida Saudável”...
G.T. - Agora o “Vida Saudável”... Antes o PELC era “PELC Todas as Idades
e Vida Saudável”, agora mudou, agora é “Programa Vida Saudável” e
“PELC Urbano” e o outro “PELC dos Povos Tradicionais”.
P.J.- E tinha uma época que havia o PRONASCI63 também?
G.T. – Pronasci, sim, eu fui um dos formadores do PRONASCI.
P.J.- Tu chegaste a atuar em todos eles?
G.T.- Não, todos não. Atuei em vários convênios do Sul e que
aconteceram dentro da disponibilidade que tinha. O Ministério do Esporte
tinha setenta e sete formadores e para não abrir um novo processo de
contratação de formadores, destacou vinte distribuídos regionalmente
para dar conta do PRONASCI que era um convênio com o Ministério da
Justiça e que ocorreu na época em que o Tarso64 foi Ministro, o Tarso teve
uma experiência positiva aqui em Porto Alegre quando ele foi prefeito, de
desenvolver o “Esporte à Meia-Noite”, na prefeitura de Porto. Aconteceu lá
na Restinga65 numa região de bastante violência, com problemas sociais
muito sérios, e ele gostou da ideia de fomentar o trabalho de “Esporte à
Meia-Noite”, inspirado no prefeito de Nova York que para diminuir a
violência urbana, dentre muitas ações, iluminou as ruas e criou bastante
quadrinhas de basquete nas esquinas. Dessa forma, as pessoas ficavam a
noite jogando. Quando o Tarso foi prefeito de Porto Alegre, na segunda
63
Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania. 64
Tarso Genro. 65
Bairro situado na zona sul da cidade de Porto Alegre.
92
gestão, nós criamos um projeto chamado “Esporte à Meia-Noite” na
Restinga, com a perspectiva de desenvolver o ”Esporte à Meia–Noite” e o
futebol. Quando o Tarso assumiu o Ministério da Justiça... Veja a ligação:
quando foi prefeito a Rejane Rodrigues era a Secretária Municipal de
Esportes de Porto Alegre. E, quando ele assumiu o Ministério da Justiça, a
Rejane era a Secretária Nacional do Esporte, Lazer e Inclusão Social do
Ministério do Esporte. Se e criaram esse projeto junto com o PRONASCI. O
PRONASCI era uma estrutura maior, tinha várias coisas, uma delas era o
PELC PRONASCI. Eu trabalhei em algumas formações deste programa que
foram muito bons, por exemplo, Cachoeirinha66. Cachoeirinha
desenvolveu um PRONASCI que depois por vários problemas, alguns
políticos e outros orçamentários, eu diria mais políticos do que
orçamentários, o Tarso saiu do Ministério da Justiça e não foi mais
repassado o recurso financeiro para o Ministério do Esporte desenvolver o
PELC/PRONASCI. Então, não foi uma atuação muito duradoura, eu estive
no PRONASCI em Cachoeirinha, Canoas67 e São Leopoldo68. Na minha
avaliação o que funcionou melhor foi Cachoeirinha, porque eles focaram a
faixa etária do programa, que era de 15 a 24 anos. Em Canoas e São
Leopoldo, fizeram um PELC para todas as idades, fugindo da proposta
original de atender jovens na idade entre 15 e 24 anos.
P.J. - E agora que separou o Vida Saudável tu também continuas atuando
nele ou é só no PELC?
G.T. – Eu nunca havia atuado no Vida Saudável, até esse ano, mas por
uma opção mesmo eu sempre dizia que não tinha interesse em trabalhar
com o público idoso. Eu não sei se eu quero me envolver com um público
idoso porque eu acho que tem muitas pessoas trabalhando com essa faixa
etária e poucas pessoas hoje na Educação Física, trabalham com crianças
e adolescentes. Aqui... Fazendo um parêntese, aqui na Secretaria de
66
Município do estado do Rio Grande do Sul. 67
Município do estado do Rio Grande do Sul. 68
Município do estado do Rio Grande do Sul.
93
Esportes de Porto Alegre muitas pessoas trabalham com grupo de idosos,
poucos, pouquíssimos trabalham com criança e adolescente, primeiro
porque é mais difícil, tem que buscar os alunos. O adulto e o idoso é só
fazer um ‘estalar de dedos’ que eles vêm, estão ai. E cada vez mais tem um
público adulto. Não que eu não ache importante, acho que tem que olhar
e cuidar, e temos que olhar e cuidar do público adulto e idoso porque eles
estão ai e aumentando ano a ano. Nós estamos envelhecendo em uma
condição física boa, muitos. Para dar um exemplo, eu trabalho aqui e
trabalho no Ararigbóia. Tanto aqui quanto no Ararigbóia nós temos uma
lista de espera e todas as vagas estão preenchidas para adulto e idoso. Me
pergunta se os grupos para as crianças estão todos lotados, não! Tem que
estar correndo sempre atrás de criança e adolescente, porque não tem, é
difícil. Por várias razões: segurança, internet, várias coisas, não é apenas
um fator . Porque criança tem. A gente oferece um trabalho de qualidade,
sistemático, com professor qualificado, com um espaço qualificado, como
é o caso do Ararigbóia, que tem um ginásio e com material qualificado, e
que não precisar pagar. Como assim que não tem? Tem que fazer um
estudo interessante sobre isso. A gente sabe que alguns fatores inibem a
participação das crianças, mas... Então por conta disso e também porque
eu nunca trabalhei, nunca estudei com esse segmento do idoso, eu optei,
sempre que era demandada alguma formação para o PELC do Vida
Saudável, eu sempre abria mão. Por outro lado alguns colegas gostam...
Gostavam mais do idoso, como tem gente que gosta dos “Povos
Tradicionais” não é? E, este, fui convidado pela Beleni69 que trabalha e
pesquisa a comunidade indígena, na UFMT70. Me convidou para participar
do Seminário o ano passado e criar toda a política de esportes para as
comunidades indígenas. Quando a Beleni me convidou eu disse: “Bah!
Beleni, eu te agradeço muito, seria muito interessante, mas, depois eu não
vou trabalhar com esse segmento, então deixa a vaga para outra pessoa”.
Claro que seria interessante ir para o Mato Grosso ficar um tempo
estudando, participar de seminários, mas vou tirar lugar de outra pessoa
69
Nome sujeito à confirmação. 70
Universidade Federal de Mato Grosso.
94
que talvez possa aprofundar e levar isso para frente, não achei justo e
correto. Eu sou amigo dela no Face71 volta e meia ela manda os materiais,
disponibilizou vários materiais dos Povos Indígenas, dos estudos dela, mas
estudar isso, não tenho interesse por essa razão, não que eu não ache
interessante, vou fazer uma disciplina agora no PPG da Educação, que
trata dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais. Eu não tenho
preconceito com isso, mas não vou focar nisso, neste momento não, até
porque a minha carga de trabalho não permite isso.
P.J. - E como são desenvolvidas as atividades de Formação junto com os
núcleos?
G.T.- Não existe uma formação direta... Deixa eu entender direito. A
formação dos convênios?
P.J. – Isso.
G.T. - Fica melhor para eu entender, porque a gente não faz uma atuação
direta no núcleo, com exceção das visitas técnicas que eu acho que já devo
ter comentado alguma coisa, hoje tem diferença visita técnica, visita
pedagógica. Mas as formações elas acontecem da seguinte forma: quando
o PELC iniciou, o convênio era de dez meses, depois ampliou para doze,
depois para quatorze, depois para dezoito e hoje são vinte e quatro. As
formações eram, uma de módulo introdutório e outra de avaliação... Não
sei se tu chegaste a fazer? Em Santa Maria eu fiz isso, trinta e duas horas
de módulo inicial depois trinta e dois de avaliação lá no final. Nesse meio
do caminho a gente dividiu o módulo introdutório continuou ficando com
trinta e duas, ai dividimos o Módulo de Avaliação: Avaliação I e Avaliação
II. Avaliação I feita na metade do convênio, convênio de doze meses, e
avaliação II no final do contrato, a grosso modo, no final do convênio de
dezesseis horas ou de doze meses. Foi mudando, mudando... Hoje como
71
Facebook.
95
são as formações? Hoje os convênios do edital dois mil e quatorze tem a
duração de vinte e quatro meses. As formações tem o Módulo
Introdutório I, Módulo Introdutório II, Avaliação I, Avaliação II. O Módulo
Introdutório I são vinte e quatro horas, não mais trinta e duas, o Módulo
Introdutório II são mais vinte e quatro horas e tem o Módulo de Avaliação
com dezesseis horas e mais a visita técnica, que a gente tem que fazer um
dia antes, e depois tem a Avaliação II. Quando nós somos solicitados...
“Gilmar hoje tu está recebendo...” É sempre por e-mail. “Temos a
formação no Município tal, dia tal, para...” Quando eu recebo esse
comunicado... “O Módulo Introdutório I, para a cidade tal, do edital tal”.
Então eu sei, eu vou seguir as diretrizes do edital correspondente, terei
que ver o edital, se é dois mil e doze eu sei que são trinta e duas horas,
agora já não mais, então eu só vou receber convênios novos do edital de
dois mil e quatorze que vai ser Módulo Introdutório I de vinte e quatro
horas. O edital é um e nós já estamos trabalhando no outro. Então o
Módulo Introdutório I é de trinta e duas horas o outro Módulo Introdutório
I do novo é vinte e quatro. De posse dessas informações eu pego o edital,
dou uma revisada aqui e, mais ou menos eu sei o que vai ser
desenvolvido, procuro saber aquelas coisas básicas: quantos núcleos?
Quantos formadores? Quantos agentes? Quantas pessoas além dos
agentes participarão da formação? Se der, eu quero saber qual a origem?
Quem são essas pessoas? É diferente tu trabalhar uma formação na
UFSM que são todos acadêmicos e graduados e pós- graduados, do que
trabalhar lá na cidade de Ponta Grossa que é o pessoal da comunidade
que não tinha nem o primeiro grau completo. Eu tinha que pensar a
linguagem sobre o mesmo tema, muito diferente. Não posso levar um texto
acadêmico para discutir com o pessoal da comunidade agora se eu levo
um texto mais simples para vocês lá da UFSM, vocês iam reclamar e
também não ia atingir o objetivo. De posse desses dados organiza-se o
programa da formação, se elabora a formação, cuidando das diretrizes e
os conteúdos básicos que o Ministério, por exemplo, aponta que a gente
deve seguir. Os formadores tem muita flexibilidade de usar as
96
metodologias diferentes e readequar os conteúdos, para qualificar as
formações. Para isso não existe um engessamento, mas tem uma diretriz,
objetivos, diretrizes que nós temos que seguir e está correto.
P.J.- E a formação de maneira geral tem uma parte teórica, tem uma
parte mais prática ou...
G.T. – Sempre, eu volto lá na origem de quando eu fui convidado e depois
fui seguindo até ser formador. Eu por origem e pelo meu cotidiano eu não
sou uma pessoa que trabalha dentro de uma sistematização do
conhecimento acadêmico, eu trabalho com o público usuário/beneficiário,
meu trabalho é mais executivo. Eu tenho que pensar que o público que vai
participar das formações não tem o hábito de ficarem sentados por muito
tempo e discutir conceitos e teorias. Então eu sempre procuro interagir as
trinta e duas horas, com atividades e metodologias que envolvem os
agentes, desde dinâmicas pedagógicas, dinâmicas de integração, não
necessariamente precisam ter uma ligação direta com tudo que eu vou
trabalhar. Por exemplo, se eu vou trabalhar a avaliação eu trabalho com
uma dinâmica específica para avaliação, mas não necessariamente eu
trabalho dessa maneira com todos os conteúdos. Mas eu posso fazer uma
brincadeirinha, por exemplo: a brincadeirinha da salada de frutas ou uma
brincadeira e um jogo cooperativo, nó humano, sei lá, faço uma dança
das cadeiras cooperativa. Estas dinâmicas servem para movimentar os
agentes, para as pessoas também terem um repertório de atividades, que
o PELC aponta como atividades lúdicas e que podem ser utilizadas dentro
do cotidiano das aulas. Então funcionam como uma estratégia para
movimentar e integrar as pessoas, mas também como uma forma de
repertório e também para as pessoas não ficarem enfadadas nem ficarem
o tempo todo sentadas. Esse é o principio básico, sempre interagir
conteúdos teóricos com atividades práticas e também com dinâmicas.
Nem um conteúdo que eu for trabalhar, vai ser desvinculado de uma ação
prática, não necessariamente uma prática de movimentar, mais uma
97
prática de ler um texto, de ver um vídeo, depois debater sobre o vídeo,
vinculado aquele conteúdo. Além disso, eu também faço no Módulo
Introdutório I, no II e até na Avaliação I, um turno de atividades práticas
ou aquela atividade prática que a gente socializa que cada um faça, dessa
maneira tem uma forma de se conhecerem: tu vai ser monitora de
trabalhos manuais, tu vai ser monitora de dança eu vou ser monitor de
lutas. Bom, em que momento a gente vai conseguir fazer uma troca? Tu
mostrares o que tu fazes para mim e eu mostrar o que eu faço para vocês
é muito interessante. Assim, eu aproveito a formação, ou uma parte da
formação, para os agentes socializarem suas habilidades, esse momento
da formação eu chamo de miniaula ou troca de experiências. Nos Módulo
Introdutório I e Introdutório II, procuro fazer essas trocas, mas também,
sempre procuro levar alguns elementos especialmente do esporte, que o
esporte é uma dificuldade as pessoas pensarem, entenderem e
trabalharem o esporte de uma forma não competitiva, não tecnicista. A
maior dificuldade que os nossos colegas tem, especialmente os mais
antigos e lá do interior mais ainda. Então eu tenho que levar, e tenho que
mostrar para eles e não ficar só no discurso de como pode trabalhar o
esporte, de uma outra forma com neutralidade e que isso não fique uma
coisa chata. Eles dizem assim: “ninguém vai querer praticar esporte que
não seja para ganhar, ganhar... E disputa aquela coisa...”. Não, a gente
não joga para perder, ninguém vai jogar para perder, mas tem outras
formas de jogar e de trabalhar o esporte que não seja apenas a forma
competitiva, de colocar uma fila de criança atrás da bola, um chuta, e os
outros vinte e cinco esperando. Isso é algo que não se faz mais, isso já
está passadíssimo. Então tem que mostrar para eles como pode fazer e
trabalhar o esporte de forma diferente. Enfim, em síntese é isso. Muita
movimentação na aula e também tu tem moral para dizer “gente nós
vamos precisar da atenção de vocês que agora esse conteúdo tem que ser
estendido um pouquinho mais, porque quando a gente vai trabalhar o
conteúdo ‘cultura’, que é mais difícil para as pessoas entenderem, ou
quando vai teorizar sobre o lazer e seus diferentes conceitos: do
98
Marcellino72, do Dumazedier73, do Mascarenhas74, as diferenças que tem
entre um e outro, de onde vem”. Historiar um pouco isso, saber o que é
lazer. Enfim, não vou falar de toda a formação aqui, mas essa é uma parte
que eu sempre digo para as pessoas que participam: “o que faz diferente
entre o educador e o bom educador, é que o bom educador é aquele que
sabe o que faz e que tem fundamento no que está fazendo”, porque se eu
quiser fazer uma atividade... o que muda é a intencionalidade, a intenção
que um educador dá para uma atividade pode ser diferente do outro. Eu
acho que o que faz a diferença é se tu sabe o que está fazendo e o que é
pretendido com aquilo que está fazendo, não só para ficar preenchendo
horário vago. Então procuro puxar um pouco por isso e deixo sempre
bastante referencial teórico e bibliografia, levo alguns, deixo sempre aberto
um canal de comunicação para perguntarem e dialogarem, o máximo que
eu vou dizer é “eu não sei”, mas vou dizer onde talvez tu possas
encontrar. E hoje com a tecnologia do mundo virtual de poder acessar
tudo, fica muito fácil. Dicas de filmes, enfim. Às vezes levo textos, sempre
projeto um pouco mais de textos, porque se eu não uso o texto durante a
formação eu digo: “olha, fica esse texto para vocês utilizarem nas
formações em serviço”, porque os coordenadores locais apresentam muita
dificuldade em organizar as formações de serviço, que é de
responsabilidade do Coordenador de Núcleo ou do Coordenador Geral do
Convênio dar conta dessas formações, a tendência sempre é ficar restrito
as questões do cotidiano e de assuntos administrativos, da falta, da
chamada, do problema, nunca tentam... Não buscam fazer uma análise,
uma reflexão, poucos fazem isso, uma análise uma reflexão, sobre o
cotidiano, sobre outras questões que não aquelas administrativas e
funcionais.
P.J.- E as visitas, Gilmar? Tu comentaste um pouco antes. Tu podes me
falar como elas foram incluídas?
72
Nelson Carvalho Marcellino. 73
Joffre Dumazedier. 74
Fernando Mascarenhas.
99
G.T.- As visitas elas tem um propósito que é, primeiro mostrar para o
conjunto dos agentes a comunidade que eles irão trabalhar, porque o
PELC não é uma unidade básica. Deixa eu explicar melhor: O PELC não
tem uma estrutura igual em todos os lugares, por exemplo, se eu for para
o Ceará não tem condições de fazer visita técnica no Ceará com cento e
cinquenta pessoas. Ela fica extremamente prejudicada. Até fizemos visita
em dois ou três núcleos, mas fizemos somente com os coordenadores que
eram vinte e cinco. Imagina colocar cento e quarenta pessoas dentro de
ônibus para visitar núcleos?! Isso não tem condições de fazer. Daria para
fazer, mas levaria a formação toda para fazer isso, ainda mais que isso
envolvia Municípios da grande Fortaleza. Lembra daquelas viagens que a
gente fazia lá em Santa Maria? Eu estou falando de Santa Maria um
Município que é de porte médio e que não eram tão distantes assim os
núcleos, e a gente levava um dia, às vezes um turno e meio e chegava o
dia cansado. Mas qual é o objetivo de visitar os núcleos? A primeira visita
é socializar e mostrar aos diferentes monitores e pessoas envolvidas a
realidade que eles irão vivenciar e de apontar, de pensar em alternativas e
possibilidades de atuação naquele espaço, de indicar e identificar
lideranças comunitárias naquele espaço. O PELC não deve e não pode
funcionar somente com ofertas de atividades, mas também com uma
interação e uma integração entre lideranças comunitárias que essa é,
digamos, a parte que eu acho mais legal e a parte que dá mais sentido e
que muda um pouco a lógica de ser simplesmente uma oferta de
atividades físicas do Poder Público à população. Não, é também uma
oferta, mas é uma lógica de trabalhar próximo, articulado e que as
comunidades se sintam não somente recebendo um trabalho, mas que se
sintam protagonistas na elaboração de projetos, no entendimento geral de
todo o funcionamento, entender que aquilo é uma verba do Governo
Federal, que vai ter prazo de validade, que eles têm que se mobilizar para
pressionar e questionar junto ao Poder Público local para que ele financie
e dê continuidade. Tem outras questões... Que eles podem trabalhar as
100
relações entre as comunidades e o PELC vai ser um órgão facilitador, o
PELC tem que organizar um conselho gestor para que as pessoas possam
conhecer participar e opinar sobre o programa. Então é isso que a gente
procura fazer. A segunda visita dos núcleos, ela acontece em função do
núcleo em funcionamento, ai nós formadores vamos até os locais para
acompanhar as atividades, não fazer análise didática do que é trabalhado,
nós não vamos lá fazer uma avaliação sobre a qualidade da aula. Não,
nós vamos olhar como está se dando a relação das pessoas ali na
comunidade, se tem lideranças comunitárias, não me interessa conversar
só contigo, assistir e bater foto da tua aula. Me interessa conversar com os
alunos, me interessa conversar com alguma liderança comunitária da
volta.
P.J. Esta é a visita técnica?
G.T. – Esta é a visita técnica, de acompanhar... Tem outra visita também
que é acompanhar a parte administrativa, que é uma atribuição nova para
nós, mas lá no núcleo é isso. Quando ele já esta em funcionamento o
objetivo é acompanhar e poder dar opiniões, pode dar uns “pitacos”, e de
identificar problemas, identificar dificuldades a partir dos relatos das
pessoas/beneficiários. Agora eu vou à cidade de Estrela e, a gente
identificou uma série de dificuldades, obviamente pela experiência da
gente vamos dar sugestões ou iremos provocar que eles pensem nas
soluções que às vezes a solução esta na frente e eles não conseguem
identificar, não conseguem ver. Então a gente funciona como, digamos,
um catalisador para que essas soluções possam vir a acontecer. Então,
inicialmente, tem esse propósito, de mostrar as possibilidades que eles
não identificaram ou não enxergaram no seu espaço. E a segunda, já com
o núcleo em funcionamento, a agente poder acompanhar e fazer o registro
e depois poder dialogar sobre aquela atividade que esta acontecendo.
P.J. – E esta visita nova que tu comentaste?
101
G.T. - Essa é uma visita nova de um dia inteiro, uma visita que está
vinculada, associada à formação do AV l, que é o momento em que a gente
não somente faz uma análise pedagógica e política pedagógica da
atividade de campo, mas também faz uma análise de outras informações,
outros dados que tem a ver também com a parte administrativa. Quem
fazia isso a tempos atrás eram os técnicos do Ministério, que agora, até
fazem eventualmente, mas não tem condições de fazer visita
cotidianamente em todos os núcleos, em todos os convênios.
P.J.- E quais os lugares que tu atua como formador?
G.T.- Que eu já atuei?
P.J.- Que tu já atuou, se tu tens uma noção mais ou menos de quantas tu
já fez?
G.T.- Não, só se eu parasse para contar, mas muitas, deixa eu ver.
Estrela, Feliz, Ivoti, Ponta Grossa, Jaguarão, Bagé, aqui em Santa
Catarina, Dionísio Cerqueira, Estrela já falei, Curitiba, Natal, Fortaleza,
Maracajá, Porto Alegre...
P.J. – Então ela não é regionalizada?
G.T. – Era para ser [risos]. Santa Maria. Em algumas dessas cidades eu
fui mais uma vez, Santa Maria fiz formações em mais de do que um
convênio, Santa Maria como tiveram dois convênios acho que fui umas
quatro, cinco vezes. Para Ponta Grossa, como eles fizeram dois ou três
convênios se eu não me engano, fizeram em períodos diferentes, eu fui
acho que umas seis vezes para Ponta Grossa. O que tu tinha me
perguntado?
102
P.J. - Eu te perguntei se essas formações não eram regionalizadas?
G.T. - Quando nós fizemos o convênio com a UFMG o nosso contrato era
atuar no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, esse era o limite.
Mas bom, as coisas não andam exatamente como a gente programa
inicialmente. O que aconteceu? O Ceará fez um convênio grande Ceará, o
Rio de Janeiro também teve um convênio grande e eu fui convidado para
fazer a formação do Rio, mas não fecharam as datas que eu tinha
disponível. Quando têm esses convênios muito grandes como esse do
Ceará com cem núcleos, não dá para se restringir apenas aos formadores
da Região Norte ou Nordeste, então a galera do Sul... Sul e Sudeste vão
ajudar. Ou então quando é muito regionalizado, atualmente não tem
muitas formações no Sul, as formações são mais concentradas no Centro-
Oeste, no Sudeste e no Nordeste. O que está acontecendo? Nós estamos
subindo. A ida para Natal foi um pedido especial do coordenador de lá que
era meu amigo, então ele gostaria muito que eu fosse dar a formação. Que
para mim foi um problema, porque eu levei uma semana inteira entre o
deslocamento e a formação. A formação foi terça, quarta, quinta e sexta.
Imagina foi terça, quarta e quinta, nós passamos três dias lá, aí levei
segunda para ida e sexta a volta, ou seja, semana toda. Tem essa
preocupação também de ser organizado para facilitar um pouco o
deslocamento também e porque fica menos pesado o tempo de viagem. É
muito diferente sair um formador de Minas para ir até Pernambuco do que
sair um formador de Porto Alegre e de Caxias para ir até Pernambuco, o
custo de transporte é muito, muito diferente, então a ideia inicial é
regionalizar, mas quando tem uma demanda, nós também como em
alguns casos aconteceram, que os formadores do Nordeste vinham para o
Sul em uma época que o Sul tinha muita formação, tanto que quem veio
aqui trabalhar na formação do PELC na cidade de Santa Maria foi um
colega de Vitória, que veio dar uma formação em Arroio do Sal, foi um
colega de Brasília e um Paulista veio dar uma formação em Panambi,
então essas coisas acontecem.
103
P.J. – E quais áreas vocês costumam abordar nas formações?
G.T. – Basicamente, o conceito de cultura, conceito de lazer e conceito de
esporte, pela ordem.. Esses são os conceitos básicos que tem que
trabalhar. Qual é a concepção de cultura do PELC? Qual é a concepção de
lazer? Quais os referenciais teóricos que a gente utiliza e que referenciais
teóricos se pensa o esporte? Não é qualquer esporte que se prática no
PELC. Não é esporte de rendimento, não é esporte escolar, é o esporte de
participação dentro daquela divisão da LDB75 que é aceita e que hoje
avançou felizmente. O conceito de esporte participação para esporte lazer,
esporte recreativo, está bem ampliado o conselho esta bem legal, além
disso... Bom, só com isso dá conta de tudo? Não. A gente trabalha
planejamento, planejamento pedagógico...
[INTERRUPÇÃO DE GRAVAÇÃO] 76.
G.T. – Então é uma questão de entendimento. Bom, tu entendes estes
conceitos, como é que tu vais trabalhar isso? O que tu precisa? A gente
pensa assim, se eu for trabalhar e dialogar com pessoas que tem uma
formação superior e essa formação superior está vinculada ao campo
pedagógico, é tranquilo. Falar sobre os planejamentos, sobre a didática,
sobre a metodologia é tranquilo. Agora, quando o agente é uma pessoa,
mesmo com curso superior, que são enfermeiros, administradores,
informática ou que estão dando uma oficina qualquer, porque dominam
um determinado conteúdo...(O PELC permite isso, porque dominam uma
determinada técnica de capoeira, ou de artesanato, ou oficina de
percussão). Quem é que da oficina de percussão? Pensa que é o músico da
Universidade? Não, é o mestre da Escola de Samba, é o percussionista que
não tem noção muitas vezes de um planejamento organizado e muito
menos para organizar um evento, então o formador trabalha, além dos
75
Lei de Diretrizes e Bases. 76
Entrevistado atendeu o telefone.
104
conteúdos teóricos, desenvolve e orienta a elaboração do planejamento
pedagógico, trabalha planejamento de eventos e trabalha outros
conteúdos que são coisas paralelas, como é integração social, enfim vários
conteúdos paralelos.
P.J.- E tu destacaria alguma coisa das formações realizadas aqui na
Região Sul? Tu trabalhaste aqui, trabalhou no Nordeste, enfim em outros
lugares tu terias algum destaque nessas formações que realizou?
G.T.- Eu estou pensando, nunca me fiz essa pergunta [risos]. Mas é
interessante, eu não diria assim Norte e Nordeste.
P.J. – Sim, nos lugares que tu atuaste Centro-Oeste...
G.T. - O que eu percebo no PELC e trocando isto com os formadores,
muitos deles concordam comigo, com os que eu conversei. Normalmente o
PELC do interior em Municípios menores ele dá mais resultado, as
pessoas se integram mais, interagem mais, se dedicam mais ao programa.
Acho que, por vários motivos, agora estou colocando as hipóteses que não
chegam a ser medidas, mas que fazem sentido, por exemplo: Municípios
menores, muitos deles nunca tiveram uma política pública de esporte e
lazer, política pública financiada pelo Estado, financiada pelo Poder
Público de ofertar e de disponibilizar para as pessoas de todas as faixas
etárias essas atividades gratuitas com um profissional qualificado. Isso faz
muita diferença. Segundo, as pessoas são mais dedicadas, tanto quem
ministra a oficina quanto quem pratica, ou seja os alunos. Não sei dá
para afirmar isso, mas essa situação é o que muitos formadores
comentam. Mas eu vou dar grande destaque que ao meu ver supera essa
constatação, a meu ver é: naqueles convênios onde tem um Coordenador
Pedagógico dedicado e sério e que atua como Coordenação Pedagógica,
esse faz toda a diferença. Claro que no Município menor com poucos
núcleos ele consegue dar uma qualidade melhor, nos Municípios maiores
105
que tem esse trabalho também conseguem fazer um trabalho bom, não dá
mesma qualidade porque tem uma rotatividade muito grande de
monitores devido o valor da bolsa. Em Municípios grandes a oferta de
possibilidades, de bolsas e de outros bicos é maior do que em municípios
menores. Mas um aspecto que me chama atenção, quando eu vou (eu não
fui muitas vezes), mas quando eu saio da Região Sul, as pessoas gostam
muito e querem saber muito... no Nordeste, querem saber muita coisa do
Sul. Quando eu vou trabalhar as formações aqui e que eu trago algumas
coisas de lá, ou vídeos, as pessoas ficam fascinadas com a ideia de poder
conhecer o PELC do outro lado, depois do Mampituba77. Olha é muito raro
um convênio que não apareca nos instrumentos de avaliação “sugestões”,
não somente às formações, mas sugestões ao PELC: intercâmbio,
conhecer, interagir, integrar com outros convênios, outros Municípios,
outros locais para poder fazer trocas. Antigamente já teve isso, não para
todos agentes, mas no tempo da Rejane e da Andréa quando estavam no
Ministério tinha o Encontro Nacional do PELC que participavam os
coordenadores gerais e alguns Coordenadores de Núcleo, mas não todos
os agentes porque não tinha nem espaço para todos participarem, mas
tinha esses Encontros Nacionais, eram bem interessantes e muito bons.
P.J. - E na tua opinião como essas formações elas impactam nos núcleos?
G.T. - Eu estudei isso na dissertação de mestrado. As formações, quando
tem a formação com a presença do formador, ela não resolve tudo, ela
funciona como, digamos uma mola propulsora, ela funciona como um
estopim para desencadear outros momentos e sacudir as pessoas e
também durante a formação é o momento que as pessoas focam e olham
para o PELC naquele momento, ou seja, toda a concentração toda a
atenção esta voltada para o PELC, então as pessoas conseguem fazer uma
análise um pouco melhor, conseguem abstrair um pouco sobre as suas
dificuldades, sobre as suas qualidades naquele momento quando esta
77
Município do Estado do Rio Grande do Sul.
106
ocorrendo a formação. Cria-se um clima, uma áurea em que todos juntos
procuram discutir, debater uma mesma temática. Elas ajudam e acho que
elas estimulam. O fato de hoje ter quatro formações é muito bom porque
os agentes não ficam um tempo muito longo sem um contato com os
formadores, é uma avaliação minha. O fato de se ter mais avaliações faz
também com que o coordenador fique ligado nisso, “teve o Módulo
Introdutório I em seguida vai ter dois”, ela já vai ter que ficar pensando e
não vai se desligar total da preocupação com a formação. Sobre a
avaliação de formadores eu penso, ela é boa, ela estimula, ela instiga, mas
ela não dá conta de tudo. Quem vai dar contar, vai complementar e vai
dar qualidade a isso é o coordenador, e aí sim, ter um Coordenador
Pedagógico faz a diferença, porque se não, a reunião pedagógica fica
limitada somente a questões administrativas, ou nem sai, as pessoas vão
passar a discutir ou refletir sobre o PELC só quando o formador voltar,
então, ela ajuda muito, tanto que não é uma visão minha sobre o meu
trabalho como formador, esta é uma análise a partir das observações dos
diálogos e mais: das leituras e dos registros dos instrumentos de avaliação
das formações, tu conhece os instrumentos de avaliação do PELC?
L.M.- Alguma coisa.
G.T. – Eu não sei se eu tenho algum aqui, acho que não, eu estou com a
pastinha de Estrela, mas eu tirei as avaliações. O instrumento de
avaliação é um instrumento padrão, mas ele tem nuances um pouquinho
diferente do I, II, III e IV. O Módulo Introdutório I e II, Avaliação I e II, e ai
têm algumas questões fechadas e algumas questões abertas que o agente
pode opinar, “qual é a parte mais importante?”, “o que ficou para ti da
formação?”, “o que tu sugere para a formação”, “criticas sobre a
formação”, enfim, esta aberto para poder abrir e criticar e os formadores
fazem uma síntese disso. O que nós percebemos que muitas das temáticas
do dia a dia, eles apontam como coisas positivas e boas e que fazem a
diferença nas formações, por exemplo: avaliação. Nota-se que o tema
107
avaliação, o agente não trabalha só a questão teórica da avaliação, mas
trabalha o sentido e o significado que se dá para avaliação e quando pensa
no momento de avaliar ele vai qualificar o seu trabalho e vai melhorar o
trabalho. A partir deste exercício de avaliar o seu trabalho ele passa a
enxergar diferente a avaliação, senão para que serve avaliar? Outros falam
do planejamento, outros falam da elaboração de projetos, outros falam do
modo diferente de como começou a enxergar o esporte, outros falam que
nunca tinha pensado no tema cultura dessa forma. Esses conteúdos, a
formação ajuda as pessoas a pensarem a refletirem sobre aqueles
conteúdos naquele momento. E uma coisa que surge muito e aparece
muito e é um dos itens mais citados, “passou muito rápido a formação,
precisamos ter mais horas”. E olha, pensar que se faz uma formação em
trinta e duas horas é bastante tempo, em quatro dias, oito horas por dia.
E as pessoas dizem isso, “alguns conteúdos foram rápidos”, “precisamos
ter mais aulas praticas”, isso é a questão clássica das formações,
“precisaríamos ter mais aulas práticas, atividades práticas”. E não cabe,
não tem como encaixar muitos momentos com atividades práticas. Tem
formador que nem trabalha a atividade prática e ai vai um pouco de cada
trabalhar as formações. Eu não gostaria de participar de um curso, de
uma formação para trabalhar com um público de agentes sociais de
esporte e lazer e ficar trinta e duas sentado ouvindo ou simplesmente
trocando ideias, acho que em algum momento a gente tem que interagir
tem que realizar atividades práticas. Eu não abro mão, pelo menos um
turno das formações do Modulo Introdutório I, Introdutório II e quando
solicitado Avaliação, porque O Ministério não aponta nas diretrizes das
formações dos módulos de avaliação a realização de atividades práticas.
Outros exemplos de diretrizes: as visitas técnicas tem que ser feita no AVI
e no AVII não precisa. O Ministério não exige que eu coloque atividade
prática, o Ministério não exige que eu coloque dinâmicas de integração,
que eu inclua dinâmicas para eles, no entanto, quer que eu desenvolva o
conteúdo com aquele referencial teórico e com aquela política pedagógica.
108
É isso. Como eu vou rechear isto, que estratégias serão utilizadas é
responsabilidade de cada formador.
P.J. - E de uma forma geral o que tu destacarias do PELC? Do programa
de maneira mais abrangente.
G.T. - O PELC é um programa social humanizante. Eu acho, eu acho não,
eu penso do PELC um programa que qualifica a vida a relação das
pessoas, é uma pena que poucos enxerguem isso, especialmente os
Governos de maneira geral que não destinam muitos recursos para isso,
não vou entrar nem naquela discussão "olha, vamos investir um real...”
não é nem esse o papo “ vamos investir um real no Esporte e no Lazer que
ai é cinco reais a menos na saúde”, não precisamos nem entrar nessa
discussão, nem precisa entrar assim “é saúde”, saúde vem a reboque, é
condição inerente o praticante de atividade física não exagerada, porque é
exatamente isto, tu fazer uma atividade física ou praticar qualquer
atividade física moderada vai te trazer benefícios fisiológicos. Eu penso o
PELC com outro olhar, que é uma maneira de as pessoas romperem um
pouco aquela lógica que a gente vive hoje cada vez mais egoísta, cada vez
menos olhando para os outros, olhando só prá si. Acho que o PELC ajuda
um pouco a construir essas novas relações e eu digo para os agentes:
“olha, o PELC é uma oportunidade da gente mostrar para as pessoas que
existe uma outra forma de se relacionar, especialmente quando trabalha
com crianças e adolescentes que não é aquela forma agressiva, aqui no
PELC todos tem lugar, todos tem vez, todos são bem vindos, isto não
significa “oba, oba” no trabalho dos agentes.
[INTERRUPÇÃO DE GRAVAÇÃO]78 .
G.T. – Eu penso isso do PELC, que o PELC é uma oportunidade boa de
mostrarmos para as pessoas que existe uma forma diferente de se
78
Entrevistado atende o telefone.
109
relacionar, mais humana, mais alegre e que bom que temos esse
instrumento para poder trabalhar isso. Eu sempre digo que me sinto
privilegiado de trabalhar eu um programa desses, porque, imagina quem
trabalha de Assistente Social que drama deve ser, trabalhar com o
dramalhão, com a doença, não só com a doença física, a doença
emocional, a doença da violência. Nossa! Então eu acho que o PELC ajuda
a minimizar um pouco as agruras da sociedade e das pessoas. Isso é o
PELC, acho que é uma política que está muito longe de ser uma política
universal, que deveria ser universal, mas está longe de ser por várias
razões uma delas que eu vejo é que, normalmente, os gestores municipais
não enxergam, não dão importância. Não vamos longe, olha o nosso
Governador aqui no RS, primeiro ato dele “vamos enxugar a máquina
administrativa”, qual que ele enxugou? Enxugou a Secretaria de Esporte e
a Secretaria de Políticas das Mulheres, e depois não enxugou mais nada,
ele ia enxugar a Cultura, não enxugou. Ele vai reduzir a máquina. O que
ele faz? Extingue a FUNDERGS79, já demitiu todos os funcionários que
eram contratados, tinha mais de quarenta, já demitiu, os que vão ficar são
só os CCs80. Então, poxa vida, nós estamos falando de um momento em
que o nosso país, ano passado teve a Copa do Mundo aqui em Porto
Alegre, ano que vem temos Olimpíadas. Mas ao mesmo tempo temos
Municípios no interior, municípios pequenos que e conseguem perceber a
importância do esporte e lazer e mesmo depois que o convênio com PELC
termina, conseguem, não mantê-lo na sua estrutura e com todos os seus
agentes, mas consegue manter essa política, então, temos um caminho
longo pela frente.
P.J. - E no que diz respeito ao papel da inclusão social do PELC, tu
acredita que ele vem cumprindo de uma forma mais positiva ou esta em
processo ainda?
79
Fundação de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul. 80
Cargos de Confiança.
110
G.T. - Eu acho que a gente está avançando nisso, mas eu diria que nós
estamos longe do razoável, até porque é um programa de abrangência
nacional. O PELC, nossa, permite uma possibilidade de inclusão e eu vou
transferir o que eu tenho ouvido muitas vezes, como eu falei para vocês,
quando eu vou para as visitas eu não vou só para olhar e para falar com o
professor, eu vou para olhar, falar com o professor na formação, mas para
falar com as pessoas beneficiárias e lideranças comunitárias, também. Eu
quero ouvir delas o que elas estão achando do PELC, como elas enxergam
o PELC mesmo, se elas têm noção do que elas estão fazendo. E nós
ouvimos muito, especialmente de adultos e idosos “nossa, a minha vida
mudou completamente, passei a conhecer mais pessoas, passei a não
tomar mais remédios para a minha depressão, eu era uma pessoa
deprimida”. Isso eu ouço sempre em todas as formações, agora eu vou
para Estrela e vou ouvir de novo isso. Eu fazer a seguinte pergunta aos
beneficiários durante as visitas pedagógicas: “o que mudou na vida de
vocês depois que vocês passaram a frequentar as aulas aqui?”
Especialmente para os adultos. As crianças talvez não consigam abstrair
isso, mas os adultos conseguem, e o idoso. “Mudou?”. “vocês estão se
limitando a se encontrar com as pessoas só aqui ou em outros momentos
também?”, “ aqui a gente vem, mas além daqui a gente está se
encontrando fora, estamos nos encontrando em outros momentos,
estamos fazendo laços de amizade”. E isso vai ficar não é gente?
Entendeu? Que é isso que fica. Se acabar o PELC esses laços de amizade
vão continuar, então acho que o PELC ajuda muito nisso. Ele como um
Programa Federal, de abrangência nacional está muito longe.
L.M – Gilmar, posso te fazer uma pergunta? Gostaria de saber. Tu és um
formador? Dessas unidades todas que tu fez, vamos supor, em Santa
Maria, Feliz, esses lugares todos que tu visitou e tu fez essa formação para
esses agentes, tu tens notícia de que essa tua formação em algum
momento, alguma deu errado? Que alguma não teve esse resultado efetivo
que o PELC propõe? Que o Governo Federal com esse programa propõe
111
para as pessoas? Em alguma dessas regiões que tu já visitou, que tu saiba
ou que tu tenha noticia. Porque às vezes o programa nem sempre é
perfeito, às vezes ele não consegue atingir e por uma questão política, uma
questão de convênio, alguma uma questão de assim. E eu gostaria de
saber se tu sabes disso e como o programa intervém diretamente quando
há esta questão que não consegue atingir o objetivo?
G.T. – Eu sei... Bem prático, eu conheço dois municípios aqui da grande
Porto Alegre inclusive, em que eu fui formador, tiveram problemas. Um
deles o Ministério não renovou o convênio, porque percebeu que... E a
gente percebia, nas formações quando se fazia as visitas pedagógicas que
o trabalho não era articulado. Eu vou te dar um exemplo, eu fui a um
município que na época estava programada a visita do formador em uma
associação comunitária para uma atividade. Cheguei lá neste local junto
com o Coordenador Geral do Município, mais duas pessoas da Prefeitura.
Chegamos naquele local, o espaço estava fechado e nem sequer o
coordenador de núcleo estava presente, chegou muito depois sem a chave,
ou seja, não acessamos o local, então eu te pergunto: não esta evidente
que não havia trabalho ali? Não está evidente que não tem articulação
nenhuma ali? Bom, o resultado disso é que o Governo Federal... poderia
reovar o convênio, não o fez , porque era um convênio do PRONASCI e a
possibilidade de uma renovação automática, renovação não é o termo
correto, mas sim novo convênio, não ocorreu. Em um outro município
também, e é um município que eu faço questão de dizer que era um
município que o prefeito era do mesmo partido do Presidente, ou seja, do
PT, o convênio foi interrompido, tiveram que devolver o dinheiro, então
existem essas coisas também. Esses exemplos são de município em que
eu fui formador, mas tenho conhecimento de outros estados, do Rio
especialmente, que as pessoas tiveram que devolver o dinheiro, e muito
dinheiro, porque não deu certo, ou porque gerenciaram mal, ou não
trataram com seriedade, várias razões. Problemas desde pegar dinheiro
112
para contratar pessoas porque foram amigas de um político tal, então
essas coisas acontecem, entre outros problemas.
P.J. – E na tua opinião o que poderia ser feito hoje no projeto para que ele
pudesse se qualificar um pouco mais?
G.T. – Bom, o convênio tem alguns gargalos e que são complicados. Eu
não sei se é possível dentro da legislação, se é possível fazer isso. Eu falei
no termo renovação, não existe renovação. E eu percebo, noto e o
Ministério também sabe disso, que em alguns municípios o PELC é muito
bom, que eles mereceriam ter uma continuidade, um aporte financeiro
para dar continuidade no programa, no novo convênio. Isso não ocorre,
essa possibilidade não existe na velocidade que seria necessária para
evitar interrupções entre um convênio e outro, no mesmo município.
Deixa eu só voltar um pouquinho antes disso, o Ministério pensa, ele
sabe que não tem recursos para todos os Municípios para desenvolver o
PELC, então o que tem como uma de suas premissas? É que com a
implantação do PELC e o conveniamento do PELC a gente consiga
mobilizar, eu digo a gente porque eu também sou parte disso, que a gente
consiga mobilizar os gestores locais e as comunidades sobre a importância
e a necessidade de assumir o PELC como política pública local, ou seja,
que o prefeito consiga enxergar isso e consiga gradativamente colocar no
seu orçamento e municipalizar o programa. Alguns Municípios
conseguem. O Ministério está preocupado com essa realidade e percebe
que precisa mais tempo de convênio e por conta disso passou de dez
para doze, quatorze, vinte e quatro meses para dar mais tempo e mais
recurso para que o município se organize e possa incluir no orçamento
municipal os custos do programa. Em minha opinião e na opinião do
Ministério, mesmo que tivesse um segundo conveniamento para dar
continuidade, e isso não é fácil de resolver administrativamente, ou seja,
ao concluir um convênio e retomar imediatamente um novo, demora
muito tempo, as vezes demora quase um ano, então, ficar quase um ano
113
parado, o trabalho fica completamente desarticulado. E a gente sabe que
trabalhar com comunidade, articular é difícil, desarticular é muito fácil,
rearticular é mais difícil ainda. Esse é um dos gargalos dessa renovação,
isso é um dos problemas. Bom, eu acho que o outro problema é essa
grande dificuldade financeira de poder expandir o PELC para vários locais.
E o que mais eu acho que poderia ser? Bom, eu acho que esse é o maior
problema do PELC: o excesso de burocracia. Burocracia para liberar o
dinheiro, para liberar o recurso, por conta da legislação de aplicação de
recursos. As Universidades Federais devem vivenciar isso e têm
dificuldades, esse problema para os municípios fica ampliado para a
terceira ou na quarta potência. E também, os municípios pequenos tem
dificuldade de acessar o Ministério, é muito difícil. Tem município que
acaba desistindo do recurso, não consegue captar o recurso porque não
consegue entrar no SICONV81, não consegue se apropriar do SICONV,
não consegue dar conta da parte burocrática, enfim, esse mais dos
problemas enfrentados no PELC.
P.J. – Gilmar, tem alguma coisa que a gente não perguntou e tu gostarias
de comentar?
G.T.- Não, nós falamos bastante não é [risos]? Eu acho que o PELC é uma
política pública que qualifica a relação das pessoas, hoje, é uma política
pública muito séria, administrada e gerenciada por pessoas muito sérias,
tanto do Ministério com a Ana Elenara, não dá para falar de todo o
Ministério porque eu conheço pouco as pessoas que, atualmente, estão
gerenciando o Ministério, muitas pessoas mudaram, quanto da UFMG
que tem uma equipe muito seria e qualificada. Quando uma política
pública é tratada com seriedade, como ela vem acontecendo, a chance de
ela dar certo é maior. Mesmo entendendo que ela perdeu espaço, e quando
eu digo que ela perdeu espaço é porque ela perdeu espaço de poder dentro
do Ministério, mas perdeu também espaço financeiro e política pública
81
Sistema de Convênios.
114
não se faz sem recurso, aliás, não é que não se faz sem recurso, não se
faz. Porque para desenvolver uma política pública, precisamos de três
alicerces, três pilares: o recurso financeiro, humano e infraestrutura.
Então, se tu não tens um dos três, não vai implementar uma política
pública. Não adianta ter o recurso humano e não ter a infraestrutura, ou
não ter o recurso financeiro. E hoje o PELC está, digamos, ele está
magrinho perto do que ele já esteve. Tomara que esse novo Ministro... Ele
apontou e o novo secretário apontou, também, que estão muito
impressionados com a abrangência do PELC. E eu acho... Não acho, tenho
certeza disso: o PELC é um Programa de abrangência social inigualável,
especialmente o PELC Urbano. Ele atinge a criança, o adolescente, o
adulto, o idoso e procura atender também as pessoas com necessidades
especiais. Esse é um gargalinho que a gente também não consegue dar
conta. Tem o PELC para Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais,
tem também o Vida Saudável que abrange só idoso acima de cinquenta
anos. Outros programas do Ministério, como por exemplo, o Programa
Segundo Tempo é legal, mas trabalha com uma camada da população. O
Programa Segundo Tempo Universitário, também, atua com uma camada
da população. Esse programa, o PELC, a meu ver atinge todos, é um
programa universal, e eu não conheço mas, pode ser que tenha um
programa tão abrangente e tão universal quanto o PELC. Ele abre várias
possibilidades, não é só esporte, não é só trabalho manual, não é só
musica.
P,J. – Era isso Gilmar. Leila queres perguntar mais alguma coisa?
L.M. – Não.
P.J. – Então era isso por gostaria de agradecer, dizer que a gente vai voltar
e que o Centro de Memória está à disposição.
[FINAL DA ENTREVISTA]
115
Depoimento de Joana Lessa Fontes Silva
Entrevistado: Joana Lessa Fontes Silva
Nascimento: não informado
Local da entrevista: Universidade Federal de Minas Gerais
Entrevistadora: Jamile Mezzomo Klanovicz
Data da entrevista:
Transcrição: Jamile Mezzomo Klanovicz
Copidesque: Pamela Joras
Pesquisa: Pamela Joras
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
Formação; Temática do lazer; Como se envolveu com o PELC; Círculos
Populares; Preparação para ser formadora; Atribuições como Articuladora;
Diferenças de planejamento nos PELCs; Organizações das formações;
Estratégias metodológicas; Resultados núcleos e agentes;
Acompanhamento aos núcleos; Processo de municipalização; Experiências
que marcaram; Melhorias para o programa.
116
Belo Horizonte, 20 de novembro de 2015. Entrevista com Joana Lessa
Fontes Silva a cargo da pesquisadora Jamile Mezzomo Klanovicz para o
Projeto Memórias do PELC.
J. K. – Bom dia Joana!
J. S. – Bom dia Jamile!
J. K. – Agradeço a tua disponibilidade por estar cedendo esta entrevista. E
gostaria que tu iniciasse contanto um pouco da tua formação.
J. S. – Eu sou licenciada plena em Educação Física pela Universidade de
Pernambuco, uma Universidade Estadual, sou mestre em Sociologia pela
Universidade Federal de Pernambuco e sou Doutora em Sociologia pela
mesma Universidade, a Federal de Pernambuco.
J. K. – E como que a temática do lazer apareceu na tua trajetória?
J. S. – Então, na verdade o lazer ele vem lá desde a graduação, porque eu
participei do movimento estudantil, lá na Escola Superior de Educação
Física de Pernambuco e naquele momento, era um momento muito
efervescente de discussão das políticas públicas, então, tinha um grupo
muito atuante discutindo o direito ao esporte e lazer, e como ele deveria
ser materializado enquanto política pública, e como parte do movimento
estudantil nós fomos chamados naquele momento a contribuir com os
companheiros que estavam discutindo em Recife isso. E que era um grupo
muito atuante que também já tinha vindo do movimento estudantil de
Pernambuco lá da Educação Física. E que a partir da entrada do PT no
governo municipal, na prefeitura, eles tiveram um espaço que era a
diretoria geral do esporte, para levar projetos, levar uma proposta de um
projeto específico que se chamasse Círculos Populares de Esporte e de
Lazer para dentro da prefeitura de Recife, e aí nós do movimento
estudantil fomos chamados a contribuir desde o início. Então nós fomos
117
fazer arrastão do lazer, em uma comunidade de assentamento, de
movimento sem teto, depois participamos dialogando com o pessoal na
proposição, antes mesmo de já estar no governo, e nesse âmbito de
estagiária mesmo, é que eu participei de um projeto piloto em Brasília
Teimosa com um grupo de idosas em que era exatamente esse estudo,
vamos dizer assim, de como é que a gente deveria trabalhar com esse
direito do esporte e lazer na prática, o que é que isso significava, e aí a
gente já trazia algumas experiências que os colegas tinham acumulado
junto a esses espaços que estavam muito efervescentes, então, tinha o
seminário de políticas públicas, esporte e lazer que estava acontecendo
muito naquele momento, tinha experiências municipais que já estavam
em curso, eu não sei te precisar bem, porque naquele momento eu não
tinha consciência que eu tenho hoje, eu consigo olhar para trás e me
localizar, mas naquele momento eu ainda não estava tão atenta a essas
coisas, então eu não sei precisar algumas coisas com muito detalhamento,
mas eu lembro que o grupo foi para o seminário de Caxias do Sul, o
seminário de Políticas Públicas, então era um momento muito
efervescente. E a partir desses movimentos nos Círculos Populares é que
daí em diante o lazer foi continuando a me... [risos].
J. K. – E como iniciou o teu envolvimento com o PELC?
J. S. – Então, tem uma forma direta e uma forma indireta [risos]. Do ponto
de vista mais direto, eu iniciei meu vínculo com o PELC, eu acredito que
em 2008, que foi quando eu assumi em Formadora a partir de um
chamado, eu não lembro ao certo se foi um chamado ou um edital, meio
que uma convocatória, eu não vou lembrar ao certo o que é que foi, mas
foi quando juntou o que a gente chama de os Grupos dos Setenta e Sete.
Então eu participei como Formadora do PELC, e aí fui me engajando,
passei acho que eu fiquei 2007, 2008, aí como eu tinha bolsa de Mestrado
na época eu me desliguei, porque começou a funcionar como bolsa, e
depois fiz uma seleção para consultora regional, passei no Nordeste e
118
agora estou como Articuladora regional. E de forma indireta, porque o
PELC ele emerge, na verdade, dessas experiências anteriores que eu já
tinha tido, que a gente sempre fala “Belém, Recife e Porto Alegre, são as
cidades que inspiram o PELC”, e a gente em Recife fazia convênios com o
Ministério do Esporte através do PELC, para colocar os Círculos Populares
em ação, porque na verdade a diferença entre os dois projetos estava
muito mais ligada às especificidades locais, do que propriamente uma
diferença de projeto. Então os Círculos Populares, mesmo os Círculos
tendo surgido antes do PELC, mas ele era o nosso PELC de Recife vamos
dizer assim. E tinha esse vínculo institucional com o Ministério do
Esporte.
J. K. – Certo! E tu poderias falar um pouco mais sobre o que seriam esses
Círculos Populares?
J. S. – Sim, os Círculos Populares do Esporte e Lazer foi um projeto
municipal, na verdade foi um grande projeto que se tornou programa e
voltou projeto, que orientou as políticas públicas de Recife, então, como
projeto ele estava muito pautado nos Círculos de Convivência, então
semelhante ao PELC, nós difundimos, nós íamos para as comunidades
criar núcleos de esporte e lazer e aí levando atividades variadas,
discutindo com a comunidade, apresentado o projeto, implantando, uma
série de coisas. A experiência de Brasília Teimosa foi muito interessante,
inclusive, porque nós chegamos lá a partir de uma demanda que estava
colocada, ao mesmo tempo, no orçamento participativo que tinha indicado
para a gente aquela área, como uma área de intervenção, que estava se
solicitando, e, a partir das lideranças políticas naquele momento que
colocavam que queriam uma atividade da prefeitura lá, e aí a gente vai,
então, conhecer Brasília Teimosa, fazer porta a porta, a gente vai
apresentar no Conselho de Moradores o projeto, discutir se aquele projeto
efetivamente iria para lá, então reunião com as lideranças comunitárias,
eu lembro muito claramente assim, uma reunião com a liderança
119
comunitária em um Teatro que nós temos lá, o Teatro Barreto Júnior e
quem estava à frente naquele momento era Jamerson Almeida, que é um
dos... Digamos que um dos pioneiros lá em Recife, que estava à frente
deste processo. E aí, a partir disso, eles topam o projeto e a gente começa
a ter oficinas de cultura corporal, ou seja, vários conteúdos para os
idosos, e aí é um trabalho muito bacana, porque era ao mesmo tempo,
lidar com as expectativas que estavam sempre colocadas para o idoso, que
é de fazer algum tipo de exercício físico com a possibilidade de
efetivamente conhecer a cultura cultural, e aí era muito gostoso, porque a
ginástica, por exemplo, ela não se limitava a Ginástica Localizada então a
gente foi levar a Ginástica Olímpica, a Ginástica Artística, e todo mundo
“mas, como é que os idosos vão fazer Ginástica Artística?”, aí elas faziam
velinha, coisas bem elementares, mas que traziam para esse grupo, além
do exercício físico, como conhecimento real, delas dizerem “viu, tá vendo,
eu já fiz Ginástica Artística”, não é no nível do rendimento, mas tem toda
uma apropriação. E aí depois, além disso, na verdade paralelamente, as
coisas não são muito sequenciadas, iam se estruturando ações para as
diversas problemáticas que estavam lançadas, então teve a criação do
Esporte do Mangue e era voltada para a juventude, principalmente, a
juventude radical que tinha uma demanda muito forte na cidade, porque
sofria muito com a repreensão policial, com os estigmas. Tinha outro
projeto que era sobre o futebol de várzea, que era outro grupo muito ativo
que de forma geral era recebido nas políticas públicas a partir de moeda
de troca, e eles mesmos só sabiam fazer isso, eles só sabiam ir para a
prefeitura pedir medalha, material e dinheiro, e aí a gente conseguiu
construir com eles uma outra relação, então, a gente construiu um
campeonato que era todo discutido, e lógico todas as resistências, todas
as dificuldades, mas era exatamente esse processo de construir uma
cultura nova, uma cultura de participação, que era diferente para os
projetos e aí ia se criando outros elementos, a formação que era muito
importante para a gente nos Círculos, nas verdade era isso que
estruturava a possibilidade da gente efetivamente conseguir dar conta
120
desse desafio, e as pessoas terem muito claro o que era criar essa cultura
diferente, cultura de participação, cultura lúdica, o que era pensar o
esporte e lazer de uma forma diferente.
J. K. – E como que ocorreu a tua preparação para se tornar formadora?
J. S. – Então, na verdade, eu me torno Formadora exatamente por essas
experiências dos Círculos Populares, então, por causa dessa experiência a
gente vai para a formação do PELC com muita tranquilidade, com muito
conforto, que era expandir a experiência que a gente já tinha vivido
localmente para ir para o PELC agora, e eu lembro que as nossas
formações, eram formações bem pancada, assim, era Pablo Aschmann,
Gramisc, Paulo Freire, Pistrak, então, e aí eram formações que a gente
tinha que ler os autores, a gente tinha que discutir, a gente tinha que
refletir sobre isso, e tentar e fazer as relações, o coletivo de autores estava
muito na base das nossas reflexões e era muito isso, e ter contatos
também com as experiências que estavam colocadas, como mais
avançadas, como por exemplo, o Teatro do Oprimido, a gente fez oficinas,
a gente trouxe vários colegas da Educação Física para dialogar com a
gente sobre o que estava sendo proposto naquele momento sobre esporte,
sobre dança, sobre lazer, então era um processo de reflexão bem bancada
[risos].
J. K. – E hoje, quais seriam as tuas atribuições como Articuladora?
J. S. – Como Articuladora, eu preciso dizer que eu morro de saudades de
ser Formadora, porque Formadora tem uma relação, assim, com a prática
“né”, com os convênios, com as cidades, que é muito diferente e é muito
gostosa. E eu lembro com muito carinho das várias formações que eu fiz
dentro do PELC, e inclusive, nesse desafio de criar estratégias para colocar
a perspectiva de construir junto, em prática. Como Articuladora hoje, a
gente fica mais nesse papel de tentar aprimorar, não sei se é aprimorar,
121
mas de dialogar, de orientar essas questões pedagógicas que hoje estão
sob o comando da UFMG em parceria com o Ministério do Esporte, então,
a partir dessa construção que é feita dentro do grupo que está lotado aqui
na UFMG buscando contribuir, a gente se volta para orientar os
programas, para discutir o embasamento que está sendo dado
pedagogicamente para as ações, aqui nesse encontro, por exemplo, a gente
está com uma reflexão muito grande sobre a questão da educação
popular, então, como é que essa discussão da educação popular foi se
perdendo, um pouco, ao longo do tempo pelas demandas mesmo que
estão colocadas pelo projeto, demandas técnicas, demandas políticas, e
etc. Então a gente hoje está fazendo uma retomada, uma volta, opa, o que
é que ficou, o que é que precisa se reatualizar, e a gente vai construindo
um pouco junto na verdade, essa articulação, porque a gente tem um
grupo de Articuladores muito experiente, então, o Articulador ele não tem,
ainda que não tenha, como não ter um processo hierárquico, por causa do
nível de responsabilidade, mas ele se coloca mais em um papel
colaborativo, de orientação, de organização das atividades do PELC, e de
tentar olhar para os documentos que a gente está criando, e extrair
algumas informações que nos ajudem a avançar.
J. K. – E como que as tuas experiências como Formadora contribuíram
para essa tua função atual?
J. S. – Decisivamente, decisivamente, ser Formadora foi poder conhecer a
minha própria realidade, eu tive a alegria tanto como Formadora como
Consultora, no primeiro momento, de estar lotada no Nordeste que é a
minha região, e de com isso conhecer a realidade mais... Vamos dizer
assim, porque precária não é um nome que engloba o todo, porque tem a
precariedade, mas tem as singularidades das questões nordestinas, e aí o
interior do Piauí, o Maranhão, o interior do Rio Grande do Norte, Ceará,
Paraíba, Aracajú, acho que o único estado que eu não fui, foi a Bahia, não
fui para nenhuma cidade, mas os outros estados eu fui para algumas
122
cidades e pude ter esse contato com a realidade local, esse contato com...
O que as pessoas efetivamente pensam, querem, estão vivenciando para o
bem e para o mal. Para o bem, no sentido que tem os seus modos de vida
que são muito próprios, e para o mal que a “TV” consegue chegar aonde
Deus não chega [risos], pra ser uma pouco radical. Então, a construção de
uma cultura hegemônica, homogênea ela está muito forte, ela choca com a
construção do PELC, e aí esse para mim é um grande desafio. Eu lembro
que eu fui para Assú no Rio Grande do Norte, estava como Consultora
nesse momento, e a gente fazia... Eu fazia uma reflexão com um grupo lá,
um grupo de futebol que tem em todos os PELC, eu acredito, acho que não
no Vida Saudável, mas o PELC sempre vai ter uma turminha de futebol, e
eu dizia “ai que legal, vocês estão vivenciado futebol, futebol não, futsal,
porque era em uma quadra... Vocês estão vivenciando futsal, mas vocês
tem um desafio que é criar o futsal de Assú, então vocês precisam
conhecer tudo do futsal, como ele está sendo trazido para vocês, mas o
desafio é a partir desse conhecimento criar o futsal de Assú, porque tem o
futsal que vai ser de Assú e de nenhum outro lugar”, então essa precisava
ser a diferença, e aí falando sobre isso eu lembrei da minha primeira
formação que foi muito marcante, foi em Campina Grande com o SESI, e
aí assim o sistema “S” ele tem uma grande contribuição no lazer, mas Do
ponto de vista muitas vezes da forma como, ele se estrutura na sociedade,
a gente fica, digamos, sem imaginar como vai ser o processo, aí o PELC de
Campina Grande era uma parceria do SESI com o Ministério do Esporte,
que naquele momento ainda fazia convênios com outras instituições que
não fossem, necessariamente, prefeitura e governo do estado. O que
infelizmente isso não pode mais ser feito. E aí, eles solicitaram o PELC,
mas eles entraram com um primeiro desafio, que era: as atividades do
SESI são só para o pessoal que tem relação com a indústria, relações
familiares e tal, e são pagas, uma taxa menor, mas são pagas, e aí eu
chegava lá para dizer “não, o PELC não pode ser pago, e o PELC não pode
restringir só as famílias dos industriários”, eles deitaram, “e agora?”
[risos], “o que a gente faz, onde fomos nos meter?” [risos], mas foi muito
123
gostoso, porque o grupo que foi colocado naquele momento, era um grupo
muito disposto, e disposto inclusive a refletir. E aí eu lembro que quem
ganhou o apelido da época, que eu não sabia se era ótimo ou se era
péssimo, era as duas coisas, porque se é as duas coisas você anula. Era
de uma coordenadora fantástica lá da Bahia, que dizia “Joana, você é uma
palavra cruzada nível difícil” [risos], “você está trazendo muita coisa nova
para a gente, e a gente está tentando entender e estabelecer essa relação”,
só que acho que o trabalho... Eu acho que o ótimo está apontado no final,
porque eu tive... Eu acompanhei os três módulos, aliás, eram dois
módulos na época, que era módulo introdutório e avaliação. E aí, o
módulo de avaliação nesse desafio de construir junto, eu queria que eles
participassem mais, aí eu enviei uma carta para os coordenadores,
dizendo “que a gente iria começar a construir o processo e que queria
muito a participação deles, e queria que eles respondessem algumas
perguntas, aí eu perguntava quais eram as expectativas em relação à
formação; o que é que eles gostariam que tivessem contemplados e tal” e
eles responderam, e a partir das respostas deles, eu construí a
programação. Aí quando eu construo a programação que mandam aí eles
“Joana...”, me mandam de volta “Joana, fizemos algumas modificações,
considerando algumas reflexões, inclusive, que você fez com a gente”, no
segundo dia da formação, nós estamos garantindo a ida a uma fazenda
que vamos ter banho de piscina, vamos ter diversas atividades, já que
você nós falou que o esporte e lazer são um direito, e não são um direito
só da comunidade, são um direito também dos agentes sociais” [risos], era
um argumento “né” [risos]... Isso significa que o meu trabalho tinha dado
certo [risos], até o ponto, que a argumentação para se fazer todo um
processo de lazer com os próprios agentes, estava dada, passava pelo
direito, e foi muito bacana a gente fazia as oficinas nessa fazenda, a gente
dormiu na rede embaixo da árvore, e por ser a Formadora todo mundo tira
foto “olha a Formadora dormindo embaixo da árvore!”[riso], e daí foi muito
gostoso a formação com eles, e das próprias alternativas, e perspectivas
que eles criaram para lidar com essa outra realidade, que era a realidade
124
deles, que era a realidade de SESI, não era uma realidade de ONG, não
era realidade de prefeitura e tal, então foi muito bacana e aí assim, essas
vivências é que me possibilitaram acessar ao PELC de um outro olhar.
Porque eu acho que se eu não tivesse tido essas vivências, esse contato
com a realidade, seria mais difícil para mim, me manter em uma
perspectiva de tentar garantir que a realidade local seja, efetivamente, a
prioridade, seja efetivamente, este elemento que precisa flexibilizar, do
técnico ao político e ao pedagógico. É algo que eu tenho uma... Tem uma
poesia do Drummond que todas as formações eu levei, inclusive com a voz
dele que é linda, que é Mãos dadas, e que ele fala bem isso, “o meu tempo,
é o tempo presente, ainda que eu considere o futuro e o passado, o meu
tempo é o tempo presente”, então é muito isso, como é que a gente lida
com o hoje, mas também nesse diálogo com as coisas que estão se
perdendo a partir das contradições desse hoje, a partir dar contradições
que estão sendo colocadas nesse presente.
J. K. – E quais seriam as diferenças nos planejamentos das formações
entre o PELC Todas as Idades, o PELC Povos e Comunidades Tradicionais
e o Vida Saudável?
J. S. – Então, do ponto de vista ideal ou do ponto de vista real? [risos]. Do
ponto de vista real, eu acho que a gente está em um processo de
construção dessas diferenças, porque o PELC ele surge em uma
perspectiva de todas as idades, exatamente, tentando abarcar essa
dimensão mesmo universalizadora, que é uma das diretrizes do PELC, e
ele abrange o Vida Saudável por uma demanda, que vai sendo posta
naquele momento que é esse trabalho com a pessoa idosa. Quando vêm os
Povos e Comunidades Tradicionais vem por uma demanda de articulação
política mesmo, então os Povos e Comunidades Tradicionais estão em
pauta política do governo no momento, e entram na agenda do PELC. Só
que daí, você conseguir fazer as devidas transposições para a realidade
tanto dos próprios... Cidades que devem receber os convênios, como de
125
nós da equipe formadora, não é algo simples, porque, por exemplo, os
Povos e Comunidades Tradicionais eles sempre nos colocam em cheque. E
é uma reflexão que a gente fez aqui e que a gente tenta lidar ao máximo,
então, por exemplo, os Povos e Comunidades Tradicionais tem uma
dificuldade de relação histórica com as prefeituras, porque as prefeituras
tenderam historicamente a invisibilizar esses povos, porque as prefeituras
encaravam esses povos, como problemas e como atraso, só que hoje o
PELC só pode fazer convênio com instituição pública. Então, quando você
faz um Povo e Comunidade Tradicional com a prefeitura, você tem que
ralar para chegar efetivamente [risos] no Povo e Comunidade Tradicional,
porque a prefeitura tende a trazer ao seu centro. A mesma coisa, quando a
gente vai estar o contrário. Então você faz um convênio... Agora as
meninas agora estavam relatando, Campinas do Piauí, não Campinas do
Piauí é PST, mas tem outros convênios, deixa eu ver se eu lembro um
exemplo concreto, que é mais tranquilo. Quando você vai para... É não
estou lembrando um exemplo concreto, mas a gente tem muitos convênios
com cidades pequenas do interior dos estados, e que muitas vezes tem
esses Povos e Comunidades Tradicionais, mas eles próprios não têm esse
conhecimento e a gente tem que estar preparado para cavar um pouco da
realidade. E aí para a gente ver isso nos programas, termina muitas vezes
vindo a realidade que a equipe, digamos assim, que está colocada lá, os
coordenadores de forma geral, que a gente para fazer a programação tem
mais contato, os formadores diretamente e a compreensão que o formador
teve a partir da pesquisa que ele fez em relação aos locais, e aí tem a
questão do acumulo, as questões das diretrizes, então os programas eles
terminam dialogando muito com as questões dessa realidade. O Vida
Saudável que agora se emancipou, mas que para mim ainda é muito
PELC, é quem eu poderia dizer que trás diferenciais nos seus programas,
pela questão do envelhecimento mesmo. Então o tema do envelhecimento
que não tem como fugir, é independente, e que é algo que as nossas
diretrizes já apontam como uma necessidade de aprofundamento, mas a
gente está fazendo um esforço de tentar garantir, por exemplo, nos
126
programas dos Povos e Comunidades Tradicionais a própria discussão,
pelo menos do marco legal dos Povos e Comunidades Tradicionais, da
questão de identidade e território, com elementos que precisam estar
colocados lá efetivamente.
J. K. – Hoje tu realizas alguma visita nesses núcleos?
J. S. – Não necessariamente, na verdade a visita ela é uma indicação
minha. Se tem algum convênio que identifico que tem alguma
problemática aí eu vou fazer essa visita, como consultora regional eu tinha
mais esse papel de visitar, hoje é menos.
J. K. – Sim. E na época que tu era formadora, como que tu planejava e
organizava as formações?
J. S. – Era uma delícia, então, como eu falei o exemplo de Campina
Grande, tinha um primeiro momento de pesquisa, muito grande sobre a
cidade, e aí a pesquisa ia desde os pontos de vista das questões mais de
informação, de conhecimento geral, quanto à população do município,
como eles se configuravam economicamente, se ele era mais rural ou mais
urbano, essas coisas. Mas... Também, e eu acho que principalmente, por
uma questão específica minha, as questões culturais e locais, e uma
orientação que o PELC também trás para essa questão da valorização da
cultura local. Então eu sempre procurava poesias que são de pessoas de
lá, músicas de artistas de lá, coisas que pudessem fazer, trazer esse
debate. E paralelamente, um contato com o convênio, que aí ia depender
do próprio convênio, então se ele já estava mais estruturado tinha um
contato com o coordenador, com a pessoa responsável no módulo
Introdutório, naquele momento, a gente tinha uma facilidade, comparando
hoje com a realidade que os formadores têm, porque como era uma
relação muito de fazer aquela formação, então a gente tinha toda uma
disponibilidade de colocada, então a gente conseguia mergulhar mais
127
nessa coisa. E aí a gente ia dialogando com os responsáveis pelo convênio,
no sentido de estruturar, as algumas vezes conseguia que ele trouxesse
sugestões, outras vezes não. Já no Módulo de Avaliação, aí a coisa já toma
um pouco de forma, porque era quando a gente conseguia, efetivamente,
que as pessoas participassem, porque elas já tinham feito, as coisas
estavam em andamento. Então era dialogar sobre a programação, sobre o
que deveria ter, como foi o caso de Campina Grande, que eles
estruturaram muita coisa, era orientá-los sobre a questão dos relatos de
experiência, que coisas eles precisavam pontuar para estar presente, e a
partir disso, construir junto, então, essa programação, e também sempre
fiz questão, eu fazia meio que uma apostila, então eu pegava textos que eu
achava interessantes relacionados a cada diretriz, relacionado aos temas
principais, um pedaço do manual de implementação, e colocava “né”, fazia
um caderninho mesmo e levava, pedia para eles tirarem xerox, e aquilo
também era uma forma da gente se basear e eles terem um referencial
para acessarem sempre sobre o programa.
J. K. – E quais estratégias metodológicas tu costumavas utilizar?
J. S. – Tudo que tu imaginar, assim, eu lembro que eu usava desenho,
colagem, dinâmicas variadas, pintura a dedo, teatro, música, as próprias
oficinas esportivas, dança. E aí estava muito ligado também ao que tinha
no local, caça ao tesouro, adoro fazer caça ao tesouro ou caminhada
orientada, dependendo do lugar, se dá tempo de fazer uma [palavra
inaudível], dá tempo de colocar os prismas, trabalha muito com “slides”,
principalmente, com foto, tentando trazer a questão dá... Porque eu gosto
muito da reflexão que o Victor Mello faz sobre animação cultural, sobre a
educação de sensibilidade, então as minhas escolhas metodológicas
sempre passavam por isso, então não bastava para mim, falar, eu
precisava fazê-los sentir, então, essa era uma demanda muito forte para
mim, precisa fazê-los sentir no corpo, vamos dizer assim, alguns elementos
e esses elementos iam desde a desigualdade social, eu lembro que eu
128
usava muito a Ilha das Flores, que era uma forma de colocar como ponto
de partida, corporalmente, essa desigualdade social. Tinha um outro que
eu achei também, que era uma grupo sobre os direitos humanos, Direitos
Humanos, a exceção e a regra, que também é muito bom, na verdade é
um curtazinho feito todo com fotos, que era... Na verdade era a divulgação
que eles construíram para uma série de curtas sobre direito humano que
foi realizado, e aí era muito bacana, participei do PELC Pronasci, então,
tinha discussão de juventude, e aí era fazer roda, era discutir com o que
existia naquele momento na cidade e os próprios conhecimentos dos
agentes, o que eles traziam de conhecimento para a gente refletir junto. Aí
teve várias coisas, depois eu mando os programas para vocês, eu tenho
tudo guardado, eu tirava foto dos cartazes, fazia um relatório final bem
contextualizado para mandar para o próprio convênio, tinha tudo, poesia,
música, todas as estratégias que fizessem isso, que fizessem as pessoas
sentirem, como o PELC deveria fazer sentir, acho que era um isso.
J. K. – E que resultados, tu consegues observar nos agentes e nos núcleos
a partir dessas formações?
J. S. – Então, era muito variado, porque é essa coisa “né”. Eu assisti uma
palestra agora a pouco do [palavra inaudível] falando da pesquisa ação, e
era a primeira coisa que ele dizia “participar é uma relação de escolha
também do sujeito”, então, quando os sujeitos se engajavam eles tendiam
a ter uma relação de emoção com o PELC, e aí os Módulos de Avaliação
tendiam a ser muito emocionantes por isso. Por que a gente fazia todo um
esforço do sentir e o sentir trazia muita emoção, e os resultados no
mínimo eram mais assistencialistas, vamos dizer assim, porque acho que
o primeiro ponto, a gente se sensibiliza e a gente se toca no sentido de
dizer “eu preciso ajudar, preciso fazer algo para ajudar!”, até uma reflexão
mais aprimorada de construção do direito social coletivamente, então a
gente ia de uma coisa até a outra, vamos dizer assim, então, a gente
percebia que alguns agentes pelo menos tinham essa sensibilização
129
quanto à desigualdade social que estava instalada, e que o esporte e lazer
estavam fazendo parte daquilo, não era algo que estava desconectado
disso, até uma reflexão maior sobre a necessidade de políticas públicas,
de se estruturar o esporte e lazer dentro da cidade, de se buscar maiores
ações dentro das próprias instituições governamentais. Então tinha...
Tiveram várias, Maceió foi um exemplo belíssimo, uma ONG, era uma
ideia... O PELC ele foi na verdade... Sabe aquela coisa, a semente que já
está colocada? Aí você joga a semente, e a semente irriga, assim, faz uma
árvore linda, foi muito... A minha visão de Maceió, eu tenho um
videozinho para passar para vocês, foi muito disso, então eles
efetivamente criaram o PELC de Maceió, eles efetivamente deram a cara de
cada bairro e de suas contradições, desde os bairros mais engajados até
os que tinham uma dificuldade maior de politizar as reflexões, e aí eles
fizeram banda de latinha, eles fizeram... Eles conseguiram estruturar
vídeo, oficina de vídeo, se articular com um ponto de cultura que já existia
na região, fortalecer, criar, eles criaram o Festival lindo, integrando
diferentes núcleos, e aí tinha essa coisa do núcleo menos politizado, mas
participava junto com o mais politizado e as coisas iam formando relações
que a gente nunca sabe onde vai dar, e aí foi um trabalho muito bonito
deles saberem e deles questionarem o poder público. E aí eu lembro que
tinha Jaraguá, que eles conseguiram a partir do PELC fortalecer uma
liderança para ocupar a associação dos moradores, garantirem um ponto
de cultura para lá, e brigar por um território pesqueiro que estava sendo
disputado para a instalação de um “shopping” empresarial, alguma coisa
assim. E aí por muito tempo ainda a coordenadora me mandava “olha
Joana a gente está fazendo isso, as meninas estão engajadas”, e aí fizeram
uma exposição linda na nossa formação de avaliação, era eu e Diná na
época, então uma rede de pesca com as fotos, então se apropriava, se
apropriava dessa construção, mas a partir muito disso, se era uma
população que estava solicitando este direito, então, eles agarravam o
direito com todas as suas forças, outras populações que já não
precisavam, era algo a mais, então, não necessariamente, por vezes era
130
vivenciar com muita alegria, mas não passava do vivenciar, então muito
dinâmico essa questão dos resultados, mas acho que a gente tem
resultados muito bonitos, muito bonitos, a partir exatamente... Acho que
essa coisa do engajamento, do envolvimento elas também cativa, por isso
que para mim é muito forte essa coisa do sentir. O outro ele também sente
o teu compromisso, e a tua disposição e ele se permite ou não se engajar
nisso, e não necessariamente passa por um processo de reflexão racional,
que precisa vir junto, mas que não necessariamente passa. Então é muito
legal!
J. K. – E tem algum acompanhamento dos núcleos após o fim do convênio
deles?
J. S. – Não!
J. K. – Não.
J. S. – Não tem, na verdade os PELCs que conseguiram ter continuidade,
algum tipo de renovação, alguma coisa, é que são experiências
acompanhadas, porque vieram renovando. Nem tem renovação “né”, mas
vieram conseguindo junto ao Ministério ter outra parceria, tanto que outra
coisa que mudou no PELC foi essa questão da duração, que era só um ano
e virou dois anos, pelo reconhecimento disso, tu não tinha como que o
direito arraigasse a cidade com um ano, com um ano as pessoas estão
começando perceber que aquilo parece ser importante para a sua cidade
[riso], então, quando a gente fala de sociedade, os processos... O tempo ele
é diferente, acho que era legal a gente criar um relógio social, assim, para
perceber que, a nível de sociedade, o tempo, ele é muito diferenciado,
muito diminuído, então, não, a gente não tem acompanhamento, no
máximo quem manteve algum tipo de relação com os convênios pode ter
um diálogo, mas não.
131
J. K. – Não tem.
J. S. – Não, terminou com o PELC.
J. K. – Tu percebe que os núcleos tem obtido êxito no processo de
municipalização?
J. S. – “Es la question?” [risos]. Então, eu acho que do ponto de vista
institucional o esporte e lazer ganhou visibilidade, mas é complicado você
dizer que não avançado com a quantidade de secretaria, de diretoria que
se criou no Brasil inteiro. Então, do ponto de vista da institucionalização,
eu acho que no mínimo a gente gerou inquietação, e gerou inquietação que
essas políticas podem ser melhores e maiores do que eram, a maioria,
geralmente, inexistente. E aí, quando a gente vai para município pequeno
isso é muito forte, isso é muito forte. Por outro lado, acho que as questões
políticas, e aí, a situação que a gente viveu hoje no Ministério do esporte, é
um retrato disso, ainda fazem com que o esporte seja a necessidade não
básica, vamos dizer assim, a necessidade não básica que no final pode
ficar para depois, pode ser rifada de alguma forma por interesses políticos,
então, isso faz perder muito. Em Recife a gente teve esse processo muito
forte, principalmente, quando você tem um embate político forte, a
tendência é do grupo que vem, querer te fazer desaparecer, mas você não
consegue fazer desaparecer quando arraigou na cidade. Então, por
exemplo, uma grande sacada do CPEL foi ter conseguido se espraiar,
assim, na cidade e formar pessoas, os agentes sociais eles são
fundamentais. Na verdade se o PELC consegue deixar alguma coisa, é
pelas pessoas que ele forma, e aí é muito legal quando a gente volta para
algum convênio, ou conversa com algum gestor e aí você vê que os agentes
formados pelo PELC, estão no Segundo Tempo, estão no Projeto Cultura,
estão em tudo que é canto. Por que é isso, quando você forma as pessoas,
as pessoas vão dar continuidade aos processos, mas de um ponto de vista
mais institucionalizado ainda é uma moeda de troca o esporte e lazer, a
132
gente ainda não tem uma pesquisa sobre isso, que seria legal a gente ter
esse retorno, mas do ponto de vista da minha percepção é isso, a gente
tem um impacto, acho que até indo um pouco com o que eu trabalhei na
minha tese, acho que a gente criou uma figuração social mínima, que as
prefeituras requerem, então, é muito difícil você ver uma prefeitura que
passa por um PELC ou outros projetos, que conseguem não fazer mais
algum tipo de projeto para o município. Isso não quer dizer, porém, que
ele vai estar sendo realizado do ponto de vista da sua politização, de não
ser algo só assistencial, só da atividade pela atividade, mas eu acho que
esse primeiro passo da estrutura do projeto, a necessidade de olhar para o
esporte e lazer, nesses... Acho que a gente está a doze anos com o PELC, e
essas políticas todas devem ter uma margem de quinze anos, e nesses
quinze anos acho que é o que a gente consegue fazer avançar, e aí
dependo das questões políticas, alguns municípios conseguiram,
efetivamente, institucionalizar o PELC, com alguma experiência similar e
outros não.
J. K. – E há algum núcleo que tu tenhas acompanho mais próximo, e que
está experiência tenha te marcado?
J. S. – Pois é eu acho que Campinas Grande foi uma experiência
marcante, essa experiência no SESI, Maceió foi uma experiência muito
marcante, devido a esse elemento. Tive a oportunidade de acompanhar na
minha própria cidade, o governo de Pernambuco e a Universidade Federal
fizeram um convênio na época e eu fui formadora. E aí o governo de
Pernambuco, nossa foi uma oportunidade fantástica de relação com o
meu próprio estado, e suas contradições, por outro lado, infelizmente, foi o
convênio que... Por essas questões políticas, nossa, sofrido [risos], difícil,
difícil, e você via, claramente, as dificuldades que eram colocadas, mas
agora assim, de lembrança e acho que são as que ficaram marcantes
mesmo, é o [palavra inaudível 48:54] lá de Maceió que é o [palavra
inaudível 48:56] e Campina Grande, acho que são os dois assim... O
133
Lauro de Freitas também, apesar que foi o PELC Pronasci que... Eu não
lembro se eu fiz todos os módulos, acredito que não, mas também foi tudo
muito marcante pela diferença da própria constituição da cidade, era uma
cidade muito negra, e aí eu cheguei a ter sido... Do preconceito as avessas,
então a agente social, eu discutindo preconceito, foi dizer “o professora...”,
todo mundo refletiu, concordando e tal “o professora, mas tem o contrário
também, minha vó que me criou que era negra, ela me colocava em cima
do telhado para pegar sol para eu ficar com cor de gente” [risos], e é claro
que a gente sabe que é exceção, não é regra e a gente faz toda uma
discussão, mas eu lembro que isso me marcou muito forte, das
contradições que estão colocadas no próprio espaço e aí eu lembro que foi
um “uá”, todo mundo espantado e ao mesmo tempo rindo e aí eu tentei
exatamente mostrar para ela, que esse processo também é um processo de
resistência, é um processo de exclusão social que estão imposto aquele
grupo, mas foi assim, algo incrível. Eu acho que esses três são os que me
veem mais forte a memória agora, são os que... Tem Várzea da Paraíba
também, mas que aí depois eu não pude continuar, eles fizeram avaliação
em um momento que eu não tinha como estar perto, infelizmente, uma
cidade de dois mil habitantes que jurava que não tinha desigualdade
social, a desigualdade social mais invisível, porque ela está nas ruas, e aí
foi muito legal a gestora dizendo “Joana, você nos alerta para uma coisa
que a gente não tinha pensado, as pessoas tem vergonha”, por ser uma
cidade muito pequena as pessoas tem vergonha de passar necessidade,
então elas passam necessidade dentro de casa, não quer dizer que
necessidade não existe, mas é uma outra forma de desigualdade social
que está colocada, e aí foi uma reflexão muito bacana, muito bacana, mas
aí vinha também os mitos e tabus que são criados nos interiores do
nordeste brasileiro “ai Joana, você é muito inteligente você tem que ir para
São Paulo”, “ai menina você está se perdendo, você tem que ir para São
Paulo”, e aí era isso, o ideal que era criado para essas cidades é São Paulo,
não era a sua própria cidade, não é nem João Pessoa [risos], é São Paulo.
Então eu tenho lembranças muito legais desses processos de reflexão, foi
134
um processo... Na verdade, eu acho que eu aprendi mais, eu aprendi
muito, foi um aprendizado na veia, sobre o que é efetivamente tudo isso
que a gente se propunha no PELC.
J. K. – E dentro do programa tu consegue identificar alguma coisa que
deveria haver alguma melhora para o programa?
J. S. – Então, eu acho que nós temos muitos desafios, e o desafio maior é
que a gente está em uma conjuntura muito difícil, então eu lembro... Eu
estou escrevendo um artigo sobre educação popular agora para a revista e
fazendo essa reflexão, e aí uma das coisas que o Gadotti fala no livrinho
dele O que é Educação Popular, é que aquela... É que toda aquela
movimentação da educação de adultos, todos os movimentos de educação
e cultura popular que foram criadas surgiram, a partir de uma conjuntura
e de um contexto social muito favorável, muito disponível a resolver os
problemas sociais que estavam colocados, e quando a gente começa o
PELC, a gente está nesse sentimento, a gente está em governos
democráticos populares que estão na esperança da população, que estão...
Que são efetivamente a disposição da população para mudança, para
resolver os seus problemas sociais, para modificar as estruturas desiguais
que estão colocadas, então, é um momento de muita esperança, de muita
criatividade, de muita disposição, de muito engajamento e hoje a gente
está exatamente no revés, exatamente de desencanto, de desesperança, de
achar que aqueles que a gente colocou no poder, se engajaram na
estrutura burocrática de tal forma que não conseguiram romper com
algumas coisas importantes, que a esperança pudesse dar continuidade,
mas tenho dúvidas também se diante do processo social mais amplo se
essa esperança tem como durar muito mais tempo, mas é uma coisa
histórica, que faz parte do nosso contexto social de disputa mesmo, de
disputa política, acho que o PELC eu acho que hoje ele tem um primeiro
desafio que é o de sobreviver [risos], o primeiro desafio hoje do PELC é de
sobreviver mantendo princípios dentro de uma conjuntura política que é
135
de desesperança, que é de negação de toda uma contribuição histórica e
política que foi dada pela esquerda no Brasil, e que hoje a mídia faz
questão de colocar como se fosse só balela, como se, efetivamente, isso
não tivesse acontecido na prática. Eu acho fantástico os relatos quando a
gente vai para as comunidades mesmo, a gente fez uma atividade lá na
rural, e chamou os agricultores, eu estou muito envolvida na questão da
extensão rural hoje, que é onde eu trabalho, e aí um colega que é muito
esquerdista foi fazer uma discussão sobre as políticas de governo, muito
assistencialistas, e que o PT e que a esquerda fez, aquele discurso bonito
de que a esquerda se perdeu, o PT não fez nada. E um agricultor com
muita propriedade disse “amigo, só quem pode saber a importância do
bolsa família, é quem viveu, mais ninguém, então não venha dizer que
bolsa família não presta, porque você não foi lá saber a diferença que isso
fez na vida da gente”. A mesma coisa um colega da Federal do Piauí, por
exemplo, que diz, “Joana, a energia elétrica chegou agora no interior do
Piauí, uma coisa que é tão tradicional para a gente, mas que chegou
agora, trator, carro pipa, só puderam ser acessadas na maioria das
cidades, por causa desse governo”, uma coisa que as pessoas as vezes não
olham, é a própria interiorização das universidades, a possibilidade foi
dada por este governo, porque os outros precisam que os interiores fossem
sempre dependentes, porque para os outros o campo, por exemplo, não é
espaço de vida, é um espaço de mercadoria para a cidade. Então, assim,
essas coisas que estão arraigadas de contribuição, vêm sendo distorcida
pela mídia e o PELC vai junto, mas é o PELC que conseguiu chegar em
interiores que jamais se imaginava falar em lazer, em esporte, em direito
social, então, ele é uma das políticas públicas que consegue lançar isso,
mas ele normalmente vive um desafio de sobreviver, de sobreviver
enquanto PELC. Eu lembro com muito pesar quando os Círculos
Populares terminaram, um gestor virou para um coordenador amigo
nosso, um gestor novo que assumiu lá o local e disse, “que nós tínhamos
um convênio com o PELC”, e aí ele disse “Você quer que a gente nas
comunidades chame de Círculos Populares ou você quer que a gente
136
chame de Esporte e Lazer da Cidade?”, aí ele disse “quando você vai na
feira, e você quer um refrigerante, importa se Coca ou Fanta?”, e aí o meu
colega parou e relatou isso para a gente, então esse é o desafio do PELC,
não se tornar mais um refrigerante, porque é a tendência, é a tendência
da conjuntura política que está colocada hoje no nosso país, então acho
que de todas as contradições que podem haver, esse é o desafio maior
dele, é sobreviver diante da conjuntura que está colocada hoje, sobreviver
com princípios, sobreviver voltado para as classes populares, como foi a
sua ordem de existência, digamos assim. Então eu acho que esse [risos]...
Todos os outros ficam no chinelo diante desse.
J. K. – Teria alguma coisa que eu não te perguntei que tu gostarias de
colocar? Que ficou faltado talvez.
J. S. – Não, acho que não, tenho muitas memórias, eu vou enviar muitos
materiais para vocês e a partir disso, eu acho que vou rememorando
também as coisas. Mas acho que era isso, as deliciosas memórias
puderem ser revisitadas.
J. K. – Eu agradeço em nome do Centro de Memória do Esporte. Muito
obrigada!
[FINAL DA ENTREVISTA]
Depoimento de José Alfredo Debortoli
137
Depoimento de José Nildo Alves Cau
Entrevistado: José Nildo Alves Caú
Nascimento:
Local da entrevista:
Entrevistadora: Jamile Mezzomo, Luiza Aguiar e Rejane Rodrigues
Data da entrevista: 19 de novembro de 2015
Transcrição: Kenia Gouvea Garrafiel
Copidesque: Silvana Vilodre Goellner
Pesquisa: Jamile Mezzomo Klanovicz
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Belo Horizonte, 19 de novembro de 2015. Entrevista com José Nildo Alves
Caú a cargo da pesquisadora Jamile Mezzomo, Luiza Aguiar e Rejane
Rodrigues. Para o Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do
Esporte.
J.K. – Eu gostaria que tu iniciasses contando um pouco então da tua
formação.
J.C. – Certo. Então, sou formado em educação física, da cidade de
Pernambuco. Tenho mestrado em educação na Federal82 e hoje sou
doutorando em educação. E assim, falar um pouco também da formação é
a minha formação quanto também quanto militante, acho uma área da
educação física de passar de DA83 a DCE84, coordenação do executivo de
curso e chegar ao CBCE85. Também tem essa parte da minha formação
política e a formação de gestor público, então assim, entrei na prefeitura
82
Universidade Federal de Pernambuco 83
Diretório Acadêmico 84
Diretório Central de Estudantes 85
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte
138
do Recife86 no primeiro governo de João Paulo87, a gente ainda recém
saído da Universidade ele entrou na gestão em dois mil e entre dois mil e
três na prefeitura de Olinda88 inicialmente. Comecei a trabalhar com
Luciana [palavra inaudível – 0:01:19], depois passei oito anos na
prefeitura do Recife gestor, inicialmente diretor na área do lazer, depois
passei diretor de esporte e juventude até dois mil e oito. E formador do
PELC89, acredito que na segunda turma, não sei exatamente, eu não me
lembro se foi dois mil e sete...
L.A. – Dois mil e seis
J.C. – Dois mil e seis aí foi a segunda turma dos setenta, que eu lembrei, o
grupo de setente como disse. E até hoje, ate hoje aí nesse processo de
formação desse tarbalho, junto dos agentes do PELC.
J.K. – E como que a temática do lazer apareceu na tua trajetória?
J.C. – Temática do lazer apareceu com a vida da política de esporte e lazer
em Recife, porque antes na universidade mal tive uma disciplina de
recreação. E assim uma atuação num projeto de extensão muito
incipiente, mas a atuação no setor de esporte e lazer foi a partir da
política. A partir da gestão pública e que a partir daí eu fui me
aproximando e vivenciando nessa experiência.
J.K. – E como tu chegou a conhecer o PELC?
J.C. – O PELC (risos). Assim, o PELC, pelo menos para a minha entender
de experiência, ele a partir da gestão em dois mil, dois mil e três, mais
especificamente foi quando a gente começou a constituir a política
municipal, se populariza na prefeitura do Recife. Começou a estruturar
um programa que tem o nome de Ciclos Popular Esporte e Lazer que ele
vem ter uma relação muito forte com a questão do movimento cultura
popular de Paulo Freire90. Então assim todo uma... Essa leitura da
questão do lazer do ele veio, bebeu nessa caneca, nesse movimento de
cultura popular. Então a partir daí a gente estruturou, começou a
86
Recife/PE 87
João Paulo Lima e Silva 88
Olinda/PE 89
Projeto Esporte e Lazer na Cidade 90
Paulo Reglus Neves Freire
139
estruturar essa política de esporte e lazer, ou seja, vem maturando na
oportunidade com a eleição do Presidente Lula91, a gente começou ir,
logicamente, a prefeitura de Recife na gestão do prefeito João Paulo.
Houve um investimento maior, houve essa, esse investimento do governo
federal no sentido desse programa, então a gente começou. E foi, se eu
não me engano, paralelo a essa estruturação também do PELC. Então foi
a partir dessas experiências que, se eu não me engano, aí a experiência
com gestor nós fomos Recife, Belém92 e outras capitais. E essa experiência
dos Ciclos Populares ela foi uma das que com esse apoio também
contribuiu para esse processo de estruturação eu diria formulação, até
hoje eu identifico muito bem isso das diretrizes que hoje o PELC ele vem
se estruturando e foi essa relação aproximação. Então essa relação com o
PELC vem dessa base da discussão dos Ciclos Populares Esporte e Lazer e
que (silêncio) era uma grande dificuldade naquele momento para a gente
gestor diferenciar, porque era PELC era Ciclos Populares era discussão de
identidades mesmo. Identidade de nível de discussão de gestão mesmo
essa identificação, é que na verdade era, hoje, ele se consolida com o viés
que a gente trabalhava no em dois mil e três, dois mil e cinco aí mais
especificamente. Então essa, na minha leitura, havia essa esse processo
de formação também havia essa relação de (silêncio) não diria [palavra
inaudível – 0:04:49] seria crise, mas essa identificação da identidade, de
saber até onde é o PELC até onde a... E teve uma operacional até que
ponto os Ciclos Populares ele teria que estar dando também a visibilidade
ao PELC, uma vez que era recurso e era um programa que estava vindo
nessa, na política que estava vindo a nível do governo federal. Então a
gente viveu muito com isso, mas, hoje, pelo o que eu tenho conhecimento,
hoje ele realmente agora ele tem, ele foi se consolidando enquanto PELC,
enquanto identidade do PELC a partir da política lá no “geraldão”.
L.A. – Pode descrever um pouco mais como era o funcionamento dos
Ciclos Populares?
91
Luis Inácio Lula da Silva 92
Belém/PA
140
J.C. – Ciclos Populares era... Não diferencia dessa lógica do PELC, ou seja,
a perspectiva das oficinas sistemáticas, ou seja, desenvolvimento de ciclos
de convivência, que hoje a gente chama núcleo, mas chamava de ciclo de
convivência de infância, juventude, adulto e idoso. Então você tinha esse
ciclo de convivência nas diferentes comunidades. A gente chegou o
momento de ter, acho, se não me engano, até quarenta, quarenta núcleo
por bairro na cidade. E havia essa formatação, as oficinas no caráter
sistemático, os eventos também nesse mesmo viés. Se você pegar o livro
dos Ciclos Populares você vai olhar ali e está a estrutura que o PELC tem
hoje, então tinha esse caráter de sistemático e tinha um evento na
perspectiva de integração, de ampliação tanto a nível local como também a
nível de integração de todos os núcleos, ciclos de convivência do
programa. A questão das linguagens, as manifestações era muito nessa
perspectiva da diversidade, atender o máximo a perspectiva da diversidade
e da cultura, da cultura local. Valorizar a cultura local, isso também tem
questão de Recife, a questão da... Isso era muito forte. A dança, o teatro, a
música que aí na linha da percussão, os esportes, que aí dentro dessa
estrutura dos Ciclos Populares você tinha também outras ações. No caso
do futebol que era futebol participativo que fazia parte também dessa... A
parte de juventude tinha a relação também dentro dessa política como
questão da juventude radical, que era juventude ligadas as praticas
alternativas, bandas, os grupos de banda underground, skatista, pessoal
do bicicross, pessoal do [palavra inaudível 0:07:13], mas tudo dentro de
um, de um programa. Então era esse... E isso é o viés do PELC, hoje,
nessa perspectiva das ações que ele tem se desenvolvido. Então é nessa
linha que ele se estruturava. Outro elemento, por exemplo, que não sei se
está na pergunta, mas foi a questão da formação. A formação era outra
coisa que, por exemplo, nós não tínhamos essa, por exemplo essa relação
do [palavra inaudível 0:07:40] ministério, formador, parte da formação a
gente terminar estruturando conduzida pelo programa. A gente tinha os
encontros de formação anual, encontro de formação continuada do
programa que era justamente nessa linha de fortalecimento das
141
identidades, da cultura popular, era da questão da participação. Então
todo ano tinha um grande encontro envolvia todos os formadores, além
das formações semanais que nós tínhamos um dia também para esse
processo de formação da equipe. Então, hoje, ainda se assemelha tudo na
lógica do PELC, o viés da gente ter esse, hoje, a gente não está vendo que
a nível de PELC os grandes encontros, que eram encontros de
socialização, de troca de experiência e isso também tinha nos Ciclos, que
você envolvia todos os segmentos envolvidos no programa, desde o público
lá aos educadores. Todo mundo trocando, no processo de troca de
experiência e que isso PELC tenta tem também isso, hoje, tem isso como
um elemento muito forte.
J.K. – Tu falou que iniciou como gestor e como que foi a tua preparação
para se tornar um formador? Tanto a parte da oferecido pelo próprio
ministério como a tua busca por isso.
J.C. – Experiência de vida minha (risos). A experiência na gestão, ou seja,
experiência na partida realidade. Ou seja, você foi preparado para ser
gestor? Não. A gente foi... A medida que a gente foi vivenciando as
experiências e desafiando no dia a dia, a gente chegou o momento de você
entrar, por exemplo, a gente não sabia... Na universidade a gente não
tinha tipo “o que é uma política pública?” pra gente noventa e oito,
noventa e sete. Para a gente, a gente não tinha leitura, não tinha não
sabia nem o que a gente... Aí foi nesse processo que a gente foi
identificando a necessidade de tratar determinadas questões e isso aí a
formação continuada ela foi fundamental. A contribuição de alguns
representantes da universidade, por exemplo, hoje, foi Marcelino, foi
Victor Melo, foi pessoal da cultura, não lembro aqui, ligado a cultura
popular, como realidade de oportunidade de nos encontros... Da gente
essa nossa dificuldade de lidar e entender aquele, por exemplo, a lógica do
movimento e cultura popular demandava esses encontros para a gente
buscar, buscar essas fragilidades da gente. Então a gestão, ser gestor ele
foi construído num processo num processo de vivência do programa.
Então essa política ela, hoje... Hoje o meu papel de formador ele bebe
142
muito na minha experiência de gestor, ou seja, parte do que eu faço hoje
ele tem muito do desse processo de construção enquanto gestor, enquanto
ao mesmo tempo agente social ali vivenciando, trocando experiência,
construindo novas possibilidades e isso foi no dia a dia. Então essa
questão, um elemento que eu acho que eu gosto de registrar muito, acho
que foi... Para a gente foi muito desafiador naquele momento foi quando o
Ministério ele promoveu aquela questão da publicação daquele livro dos
vermelho, brincar, jogar...
R.R. – Jogar e Viver.
J.C. – Que ali foi justamente desafiou a gente a sistematizar a experiência
que a gente estava vivenciando. E isso para a gente, a gente tinha vivência
assim... A experiência que a gente já tinha acumulado era muito grande,
mas assim, a gente não tinha tanto essa preocupação desse cuidado de
sistematizar. Ou seja, aquilo construir... Deixar aqueles elementos ali,
além da história da vida de uma política. Eu acho que foi a partir daquele
momento que grande parte do trabalho da gente foi no promovendo um
ENAREL93, Recife puxando para discutir, foi levando no seminário
nacional de política pública. Tudo isso espaço de formação para a gente.
Foi vindo para Caxias do Sul para um seminário nacional de política
púbica trazendo trinta gestores, trazendo educadores para socializar
experiência, ir para a mesa, discutir aquela experiência. Então acho que
isso foi muito rico e que interferiu, hoje, na nossa formação enquanto hoje
enquanto um educador que está atuando no programa. Então assim, eu
me vejo muito quando eu estou nessa experiência das formações e esse
processo de construção que a gente vê o quando é rico essa experiência
que a gente vive. Ninguém tira isso da gente, então acho que essa relação
de formador e o PELC foi algo que fez a gente entender o que é política
pública, que a gente não tinha, não tem esse elemento dentro da
universidade.
J.K. – Trabalha exclusivamente com o PELC urbano ou tu já atua na Vida
Saudável e os povos tradicionais também?
93
Encontro Nacional de Recreação e Lazer
143
J.C. – Todos (risos). Dos três (risos). Experiência com muito mais com o
PELC urbano, eu tive esse trabalho, mas assim tive uma experiência com
povos das comunidades tradicionais foi no Maranhão, com quilombola,
que aí foi um desafio porque não era... Tinha raízes do quilombola, mas
não era expressivo. Foi muito mais uma estratégia de poder captar o pleito
junto lá no edital. Mas assim, mas a gente conseguiu, ou seja, foi um
desafio porque à medida que você identificava questão da identidade
cultural ali nas comunidades que você estava trabalhando, ele não se
reconhecia enquanto povos tradicionais. E aí o PELC fez um grande
desafio de trazer essa reflexão junto com eles e aí eles começaram a se
identificar a partir de como o PELC estava tratando. Então isso, para mim,
foi um desafio. Não tive esse desafio que a Rejane94 e outros já tiveram de,
dos povos indígenas. Eu acho que eu não sei se eu... Disse não, só você
transpassar para você informar não, mas é um ideia muito desafiador.
Muito diferente o, as experiências que a gente acumulou, mas não quer
dizer que a gente não venha a ter aonde ir.Na maioria das ações que eu
tenha trabalhado é com o PELC urbano. Então assim, tenho feito
principalmente dos pequenos municípios de Pernambuco, não, do
Nordeste. E assim, as experiências ela tem mostrado para a gente uma
grande riqueza e reflete um pouco do que tem sido o PELC na formação
dos sujeitos sociais. Ou seja, das pessoas hoje, por exemplo, como eu
estava relatando hoje de manhã as pessoas elas passam pelo PELC,
passam a vivenciar uma experiência ao longo do PELC durante um
convênio, eles são logo captados para outras ações porque eles passam
por um processo de formação, então à medida que eles vão sendo,
dominando a o conhecimento, a tecnologia com a relação lidar com as
políticas públicas eles já são levados para os setores. Vivenciei isso
recentemente, o coordenador, que não é um coordenador ele está no
Segundo Tempo, o coordenador está no Mais Educação, então há essa
grande contribuição que o programa está dando não só a nível da política
94
Rejane Penna Rodrigues
144
do esporte e lazer, mas formando um quadro, hoje, para atuar em
diferente sentido aí nas políticas públicas.
L.A. – Pode falar um pouco das estratégias que você usou nesse caso do
núcleo da, dos povos tradicionais da comunidade quilombola?
J.C. –Não, eu trabalho, olha assim, eu trabalho com o método que é o
método da é opção e dentro da linha da (riso) da proposta do PELC, mas
não, hoje, eu não vejo isso muito uma coisa muito efetiva, que é o método
da prática social. Que aí eu já venho bebendo da minha experiência, da
experiência que quando iniciou a discussão dado movimento cultura
popular que é o método da prática social, que a gente trouxe a partir
dessa relação da leitura da realidade. Você se aproximar dos municípios,
compreender todo aquele contexto para você poder intervir. Então eu acho
que isso, grande parte, por exemplo, lá no Maranhão os povos
comunidade tradicional foi a partir dessa leitura. Então sim, eu tive que
me aprofundar, poder entender o que era o povo quilombola. Qual a
relação com o estado do Maranhão. Qual a relação com as manifestações
esportivas e culturais que está inrraigado (acho que quis dizer “arraigado”
0:15:44) naquela cultura e puxar, também, esses agentes onde é que está
essa identidade que eles têm, eles identificam, mas não reconhecem.
Então foi a partir desse, da problematização dessa realidade e aí a gente
começar instrumentalizar com conhecimento. Trabalhar texto, trazer
desafiar eles a trazerem pessoas que eles identificam como sendo uma
referência naquela tradição ali que eles reconhecem quanto quilombola. E
a partir daí a gente começar construir quais seriam as possibilidades de
desenvolver dentro das oficinas. Ou seja, desafiar eles, ou seja, trabalhar
com na dança o tambor de crioula, trabalhar no esporte, ou seja, práticas
que esteja relacionado com essa cultura no sentido de buscar, valorizar
essa cultura. E não deixar de reconhecer, lógico, as práticas
contemporâneas, mas focar nisso aí. E assim eu desafiei eles, e assim,
fechou com grande festival, um grande evento assim que eles me
superaram. E tinha uma especificidade porque era na universidade, então
tinha uma série de dificuldades porque lidar a grande parte da equipe era
145
o estagiária da área da educação física. E assim é um diferencial nesse
processo que é uma grande resistência pessoal que está nesse processo de
formação por dentro da academia.E quando você pega um convênio do
interior que a maioria do pessoal só tem o ensino médio, mas tem um
elemento muito forte eles têm um domínio de uma determinada
linguagem. Eu tenho o domínio [palavra inaudível 0:17:15] já tenho aquela
minha experiência com teatro. Já tenho aquela minha experiência com
capoeira. Eu já tenho aquela minha experiência com artesanato e isso as
pessoas elas conseguem sistematizar e fazer dar consequência isso. Mas
isso demanda também uma atenção da gente como, eu estava dizendo
hoje, um grande foco no planejamento, ou seja, fazer com que essas
pessoas entendam qual é a tecnologia, qual é o conhecimento que está por
trás disso aí para que elas comecem, ela tenha, ela domine aquela técnica
a partir da experiência de vida dela, mas puder qualificar e se aproximar
no sentido de repercutir na vida das pessoas com aquele trabalho. Então
assim eu acho que essa experiência do Maranhão, como outras
experiências que também desafiam a gente, de você num convênio quando
lá no meio do convênio, um lá noventa pessoas, noventa por cento da
equipe ela, há uma mudança na equipe. Você se desafiar, novamente você
vai ter que retomar um processo que você já tem iniciado e dar um
direcionamento de trabalho. Aí você chega no final com um grande evento,
como foi hoje eu estava apresentando, a questão da experiência como a
[palavra inaudível – 0:18:23]. E foi nesse sentido. Eu peguei, houve um
introdutório,mas assim, houve mudança na equipe coisa e a gente da um
em um módulo só eu ter que fazer dois módulos para poder botar no rumo
da o trabalho e você ver o resultado daquilo. Trabalho com perna de pau
onde você vê as idosas andando de perna de pau com todo cuidado, você
vê as idosas fazendo capoeira. E aí? Isso todo mundo usa o perfil da gente
aí todo mundo é de ensino médio. Mas tem todos os cuidados, tem todo,
ou seja, um envolvimento e isso também repercute na nossa formação.
Então isso o PELC ele está na vida, pelo menos na minha vida, esse
processo da vivência, da ação comunitária tem sido um elemento que a
146
universidade não me deu, mas o PELC ele alimenta constante isso aí para
a gente.
J.K. – Sim. E como que são desenvolvidas as atividades de formação do
programa?
J.C. – Em que sentido? Sentido... A metodologia?
J.K. – Isso. É. Seria...
L.A. – É. Como que você planeja e como que isso é organizado em termos
cronológicos?
J.C. – Sim. Não [palavra inaudível – 0:19:26], mas as vezes dentro do
método a gente foi assim, partir da prática social para, suponho, por
exemplo, eu preparar uma proposta de formação, eu preciso conhecer
aquela realidade. Preciso dialogar com município. Primeiramente eu
preciso fazer a pesquisa para poder situar qual a pesquisa, que aí como
qualquer outra, levantar informações sobre o município, mas poder
estabelecer o diálogo com os agentes, com os coordenadores técnicos.
Buscar no PP, lá no projeto político pedagógico o que que está ali, o que é
que... E a partir desse diálogo com o município a gente começar construir
a proposta de trabalho. E essa proposta de trabalho eu construo
novamente estabelecendo esse diálogo com ele até chegar e vim para o
processo de aprovação, que agora junto da articulador e a UFMG95 para
poder a gente encaminhar. Então esse é o primeiro momento e essa
vivência lá. Então num processo de formação você vai desde do da
proposta ali, não quer dizer que aquela proposta ela vai se materializar ou
não. Vamos ver diante da realidade, como é que ela vai surtir o efeito.
Então de primeiro momento apresentar novamente essa proposta no
processo de formação, ver se vai ser necessário se fazer ajuste naquela
proposta e a partir daí começar o processo de problematização. Então,
pegar vídeos, que no primeiro momento eu faço muito relação de análise
de conjuntura situando dentro do onde é que está esse município, porque
esse processo está chegando nesse município, chegou nesse município?
Qual a necessidade de estar atendendo que demanda? Ou seja, a partir
95
Universidade Federal de Minas Gerais
147
daí começar a problematizar a partir de vídeos diferentes vídeos que faça
ele entender que tipo de sociedade, que tipo de sujeito está por trás dessa
discussão de uma análise de conjuntura bem mais ampla. Se for povos de
comunidades tradicionais relacionado com esse programa. Se for o PELC
urbano buscar contextualizar aquela população. Qual o público
adulto/idoso daquela comunidade? Qual o público de juventude? Qual o
público? Tem que ter esses elementos para no primeiro momento eu poder
problematizar com ele a realidade. E situar numa conjuntura muito mais
ampla. No segundo momento também aí a vem aí a questão da
problematização que é tentar já situando no PELC no sentido de “o que é o
PELC?” Quais são as bases que apontam o horizonte que o programa ele
deve, ao final, a gente apontar enquanto possibilidade de transformação?
Então essa relação da realidade, partir daquela realidade, passar por esse
momento de problematização porque quem tem os elementos e as
informações são eles que vivenciam aquela realidade. E a partir daí para o
outro momento que é o momento de instrumentalizar, então a gente vai
discutir os conceitos, como [palavra inaudível 0:22:11] cultura, esporte,
lazer, planejamento, ou seja, vou estar começando a instrumentalizar com
novos conhecimento para a eles. Então a partir de dinâmica, a partir de
exposição, a partir de curtas, ou seja, trabalhar um novo conhecimento
para ele, para ele não vai estar mais naquele processo do, que a gente
diria, da prática social inicial. O conhecimento que eles adquiriram a
partir da experiência de vida, mas já vai estar dialogando com um novo
conhecimento, com a base sistematizada sobre a o que o PELC se propõe.
E a partir daí a gente entra no outro momento, que também que é dentro
da parte da instrumentalização, que é o planejamento. Como planejar? Ou
seja, uma a oficina. Como planejar um evento? E dentro da perspectiva do
planejamento participativo. Então a gente vai, traz de novo para dialogar
sobre o que é um planejamento participativo. Como se dá essa relação? E
aí fecha ao final desse planejamento participativo a construção de uma
atividade que eles já possam experenciar os na prática o que se foi
planejado dentro da perspectiva do que o PELC se propõe. E que para a
148
gente formador também é o momento de você olhar o que é que aponta de
limitação no grupo, o que é, para você poder retomar quando você
retornar para avaliação ou retorno a pratica social, o que foi que eles
apontaram no sentido de avançar. O que que identifica enquanto
dificuldade do grupo que a gente precisa trabalhar melhor, para que eles
se aproximem o máximo do que o programa se propõe nesse perspectiva
da mudança da realidade. Então é dentro dessa perspectiva. Então tem
todo uma lógica, uma estrutura que aí para mim é o meu norte no meu
trabalho. Então meu método é esse que eu aprendi a partir da experiência
lá de dois mil e três, dois mil e quatro, dois mil e cinco que a gente veio
vivenciando essa experiência a partir desse método. Então essa formação
lá ela ainda é elemento que dá essa segurança a gente nesse processo que
a gente está vivenciando.
J.K – Sim. Em relação as visitas aos núcleos, como que são realizadas as
visitas técnicas e as visitas pedagógicas?
J.C. – Certo. Assim, as visitas técnicas, no meu caso, é uma parte também
da formação no caso do módulo introdutório e no AV1. Dentro da
formação, no segundo dia de formação a gente tem, quando vai antes de
discutir a questão dos interesses culturais do lazer, a questão de toda
essa... A gente vai, prepara um roteiro pré estabelecido com algumas
questões que eu quero que os grupos observem nos espaços. O que que
determinado espaço apresenta de potencialidade, apresenta quanto limite
para que a gente possa pensar o desenvolvimento das ações do programa.
Então tem um roteiro pré estabelecido onde eles vão observar quais, o que
que tem ali de, o que ele consegue identificar enquanto possibilidade. Eu
não digo, mas eles, nesse momento, eles que vão apontar o que é possível.
Lá naquela, naquele centro cultural o que é possível desenvolver ali? Aí
que eles vão dizer, se é uma atividade com dança, se é uma atividade com
esportes, se é uma... Ou seja, eles nesse primeiro momento é o momento,
nessa visita técnica, muito mais de levantar esses elementos para quando
a gente for pro planejamento participativo eu já vou com olhar a partir
daquela realidade que eles identificaram e que eu também vou ter o meu
149
olhar para poder dialogar com eles dentro desse processo da formação.
Então a visita técnica tem muito mais caráter. Já na visita, a visita
pedagógica, no AV1, eu tenho utilizado muito a estratégia como a gente
não tem ainda um, tinha um modelo padrão, uma linha, a gente começou
a... Começou a acontecer a visita pedagógica, acho que eu fiz duas visitas
pedagógicas, e assim, eu estruturei uma lógica. Primeiro, como é um dia
eu tiro, normalmente, a primeira manhã para uma conversa com gestores,
isso aí normalmente é acontecido com o prefeito, o secretário,
coordenador, coordenador de núcleos, e discutir sobre algumas questões
que a gente identifica no programa que tenha limitações e que precisa ser
tratada. Como também é o espaço para, por exemplo, eu trato nesse
momento, na visita pedagógica, por exemplo, ter os grandes parte dos
convênios ele não tem clareza quanto rendimento do convênio. Então é
uma coisa que gente tem identificado. E eles não tem clareza que esses
fatos, que aquele recurso eles poderiam usar. Então nesse momento a
gente faz esse diálogo, também aponta possibilidade no sentido de como
eles podem estar utilizando recurso para potencializar o trabalho ali,
numa relação com o que vai estar sendo trabalhado no módulo de
avaliação 1. Como também a partir dessa visita pedagógica a gente vai “in
loco” nas comunidades conhecer como é que o programa está
acontecendo, como é... Conversar com os participantes do programa e aí a
gente, como diz, a gente descobre muita coisa nesse momento do da visita
pedagógica, no diálogo ali quando eles normalmente eles fazem, criam
normalmente uma atividade para a gente. Mobilizam as pessoas, muitas
vezes eles querem, terminam querendo manipular esse espaço, mas aí
onde vem a experiência da gente, a gente começa a se aproximar das
pessoas, começa a dialogar e as coisas começam a ter acesso às
informações. O coordenador que... Só faz mais de um mês que não
aparece lá. Aí chegou a idosa, estava o coordenador de núcleo assim
próximo só para enumerar “fulano, vai fazer quase dois meses que você
não vai lá no núcleo”. Isso na frente da gente. [palavra inaudível 0:27:45]
da gente. Então assim, são essas situações que você, possibilita você se
150
aproximar do público, captar essas informações para depois você também
retomar no segundo momento, até porque a gente vai.... Após a visita a
gente tem o modo de avaliação um, então esses elementos eles dão
sustentação também a nossa nossa avaliação um. Então, problemas que a
gente identifica no programa, nessa visita pedagógica ele é tratado dentro
da formação. Se for questão de gestão a gente vai tratar no momento com
a gestão. Se for questão de ordem mais pedagógica a gente vai tratar
dentro do processo de formação ali no av um.
J.K. – E, aproximadamente, quantas foramações que tu já realizou?
J.C. – (risos) É, é um bocado. (silêncio). Mas é.. Assim, eu acho que de
dois mil e sete para cá, eu me lembro de umas quarenta formações não
[trecho inaudível –0:28:49]. Porque se eu for considerar formação no
convênio, que era um convênio... Eu não estou nem considerando isso.
Estou considerando, eu vou considerar os três módulos a gente vai... É,
vezes três. Da contagem do convênio, assim, eu tenho feito bastante. O
ano passado e esse ano eu fiz uma quantidade significativa. Tenho certeza
que não foi menos que umas vinte e cinco formações não. Então assim, eu
tenho já... Agora também foi de dois mil e sete para cá. Em alguns
momentos a gente tinha que estar brigando para poder, poder fazer uma
formação. Então aquela estrutura inicial do processo de formação, por
sinal eu fui um dos que geriu uma crise nesse momento em função das
[palavra inaudível – 0:29:29] situações que eu acho que possibilitou a
gente qualificar, hoje, esse trabalho da gente junto com a UFMG. Eu acho
que foi numa crise, num processo desse de direcionamento ou de
determinadas formações que era briga mesmo. Era... criou um, como
diria, é tribos. Então a tribo de formadores [palavra inaudível – 0:29:50]
tanto tribo de formadores. E isso era muito ruim. Nós éramos setenta
formadores e você não conhecia todos os formadores. Você tinha um
momento então se tinha os blocos de um grupos. E foi a partir desse
trabalho de junto com a UFMG e junto com Ministério com essa condição
política que eu acho que é muito acertada que qualificou muito o processo
da gente em todos os sentidos. Desde o trabalho da formação do formador
151
como também no sentido de qualificar todo esse processo que a gente vem
vivenciando, ou seja, como disse antes o convênio ele a gente começou
com um convênio que era um convênio de nove meses. Passou para
quatorze, de quatorze passou para dezoito, de dezoito chegamos a vinte e
seis. E isso é resultado da reflexão coletiva. Porque a medida que criava
espaço, por exemplo, lá na ponta os agentes e todos os gestores eles
questionavam quando eles estavam começando a materializar, gostar da
política, construir a família PELC como ele têm essa coisa muito forte, o
convênio encerrava. Então, esse retorno de criar espaço que a gente
pudesse avaliar foi fundamental para essa nova perspectiva no trabalho
da gente e no retorno agora que a gente perceber chegar convênio hoje
com vinte e quatro meses para a gente. Para quem viveu esse, vem
vivendo essa experiência ao longo aí de dez anos, sabe que isso foi uma
conquista política muito grande. Algumas pessoas não, mas para quem
vem acompanhando todo esse miudinho, isso a gente qualificou
consideravelmente e está qualificando.
J.K. – Certo. E que estratégias metodológicas tu costuma utilizar?
J.C. – Estratégias metodológicas é questões para mim o elemento de
sempre, a questão do da oficina de planejamento participativo, utilização
de vídeos, desde a problematização de curtas que eu possa problematizar,
mas vídeos que tenha um cunho que traga para discutir a realidade.
Problematizar. Exposição oral, utilização de textos não leitura densa, uma
leitura até pelo perfil de quem a gente está trabalhando, leitura coletiva,
construção de mural coletivo, ou seja, que eles possam, por exemplo,
nesse trabalho da de levantar os limites e a possibilidade, quer dizer,
trabalho coletivo que eles possam se aproximar cada vez... Até porque a
gente está lidando com os princípios do programa que é o norte do nosso
trabalho. Então a questão do trabalho coletivo, a questão da perspectiva
da auto-organização, então isso tem que se refletir também nos métodos
que eu vou estudar, utilizar ali. Então esses elementos aí você vai
dinâmica, eu não tenho muito perfil de dinâmica, mas eu termino
utilizando algumas. Eu tenho outras formas de trabalhar, mas não muito
152
na brincadeira. Eu exploro muito deles, eu faço, se utilizo desse elemento
até para conhecer a prática deles. E utilizo uma estratégia que aí, até para
conhecer mais, que é o como o resultado do trabalho do planejamento
participativo é a questão do lazer que eu caracterizo junto com ele que é a
questão do lazer. Porque como a Silvana [0:32:59] estava apresentando ali,
ela se utiliza com os agentes, eu não. Eu desafio eles, a dentro da
formação nos quatros dias, nenhum dos dias, no penúltimo dia fazer um
evento como resultado do planejamento participativo. Fazer um evento
com a questão do lazer para a comunidade. Então eles vão buscar público
de alguns programas que já existem no município e eles vão colocar em
prática esse estrutura de mobilização, organização do evento dentro
daquelas condições. E isso é muito bom para você conhecer os agentes,
que você muitas vezes tem um agente é muito caladinho ali, você não da
nada por ele, isso já aconteceu. Quando tu vai lá na experiência no
sentido de abordar as pessoas, no sentido de conversar, o cara é tem um
domínio muito, muito forte nessa relação. E aí você da possibilidade de tu
avaliar, avaliar ter outro olhar nessa avaliação. Então essas estratégias ela
está muito nessa relação do diálogo. A estrutura de nunca, sempre estar
trabalhando na questão do formato, no ciclo, puder estar olhando frente a
frente. O diálogo ele é algo que tem que estar sempre presente. Não
adianta eu ir para uma formação só derramar conhecimento ali com eles,
que é muito pesado. A bagagem de conhecimento que a gente leva,
principalmente no módulo introdutório, que era anterior a [palavra
inaudível 0:34:15] também já avançamos são dois agora, já deu uma
qualificada. É muito conhecimento. E assim, você poder abrir pro diálogo
para poder conversar, poder trocar essa relação mais dialógica. Então
acho que isso é o foco nas minhas estratégias metodológicas.
J.K. – Sim. E já observou um resultado assim de uma formação para
outra, de um...
J.C. – Você diz de convênio ou de núcleo? Não, de convênio, né? Sim. Você
tem... Assim, [palavra inaudível – 0:34:47] não adianta... Aí eu vou fazer
essa, essa minha comparação. Se você fazer um trabalho, isso não é
153
desmerecer, fazer um trabalho, como já disse, com pessoal que já tem um
certo, já passa pela universidade [palavra inaudível – 0:35:02] isso é um
elemento que eu identifico muito forte que não tem como não diferenciar
com os demais. Que é a questão desse pessoal que vem da educação
física. Infelizmente, acho que não é culpa deles, mas dentro da vivência
que eles têm ainda hoje, está tendo mais um pouco na experiência com
algumas políticas públicas, mas essa resistência a querer se apropriar do
que o programa se propõe. Eles acham que aquele conhecimento que eles
já, o conhecimento tem que ser aquilo que eles já trazem da universidade
é aquilo, e não está aberto ao diálogo muitas vezes. Eles têm resistência a
essa forma do PELC atuar. E você dar transformações do serviço público
que convida alianças comunitárias, com os agentes comunitários do
esporte e lazer, com o pessoal que já tem essa identidade com muito mais
próxima da comunidade. É uma diferença grande. O resultado do
trabalho, nível de [palavra inaudível – 0:35:57] deles com trabalho, o
resultado lá na ponta, no sentido de aproximação com o público, no
sentido de querer se desafiar e querer fazer. Então eu acho que isso eu
colocaria essas duas situações que para mim marca muito. Isso não quer
dizer que não tenha gente boa também lá na área da educação física. Tem
muita gente boa que também tem muitos já têm uma certa experiência
com programas ou políticas sociais. E isso interfere na formação deles
muito.
J.K. – Na tua opinião, tu acha que as formações têm algum impacto nos
núcleos?
J.C. – Muito (risos). Se tem. Então assim, aquilo que eu tinha falado, então
o impacto quando eles falam em impacto a gente vai muito para a questão
de impacto... Tem um objetivo ali. Objetivo da formação é que você possa
qualificar esses formadores para poder atuar dentro de uma perspectiva
que o PELC se propõe. Então para mim impacto ele vai fazer com que
realmente esse programa seja materializado lá na ponta mostrando essa
possibilidade de transformação. Então você vê, por exemplo, no trabalho
lá do PELC quando você vê esse nível de envolvimento dos agentes,
154
quando você essa... A mudança. Como eu, eu estava vendo hoje no DVD
que eu apresentei hoje de manhã sobre Major Sales/RN [0:37:25],
experiência de Major Sales e olhando para um rapaz lá que ele tinha, ele
estava em um evento que aparece falando lá no vídeo, na apresentação, eu
olhando voltando, memorizando ele quando o rapaz não falava nada. O
rapaz não intervia. Ou seja, eu estava esperando ele começar a falar
“Como é que a gente vai construir? Como é a gente dialogar se você, se
você não fala?” Eu cobrava para ele falar nas formações como a
coordenadora também. Então a coordenadora ela mal falava. E quando vai
hoje num.. Tanto foi eu posso citar dois convênios que eu acho que me
marcou muito nisso aí, foi [trecho inaudível – 0:38:04] esse de Major
Sales. Coordenador... Tanto esse menino como a coordenadora eles eram
pessoas que eram calados. Não interviam em nada, não falavam. E depois
eles já como agente fazendo um trabalho belíssimo com as oficinas. O cara
fala, o cara discute politicamente as questões com o grupo. Ele busca o
que o grupo também aprofunda [palavra inaudível – 0:38:26] isso na
verdade. Você vendo isso acontecer é que você essa formação de pacto na
formação de quadros para atuar no setor. No caso dessa agente que foi,
ela começou atuar como agente e hoje é coordenadora já no segundo
convênio. E assim, o perfil dela, como eu dizia, eu cobrava muito. Ela
começou olha “Você...” Ela disse “Não, porque quando você vai para
avaliação no AV1 você começa nessa fase de avaliação tudo estava
belíssimo. Aí você começa apontar os problemas no processo de
formação.” E ela disse “Não, porque está bom.” Eu disse “Olha, você não
deve, você no seu papel de coordenadora você jamais deve perder de vista.
Você deve cobrar das pessoas enquanto profissional. E não como muitos
de vocês têm uma preocupação em função da relação afetiva. E isso é um
elemento que você não cobrar. Porque eu vou cobrar de você enquanto
profissional que está respondendo como coordenadora. Para que eu fiz
isso? A mina deu um salto qualitativo quando eu fui para o da
culminância, ou seja, acho que uns seis meses para poder se desafiar e
reestruturar dentro do plano de ação deles quando eu fui pro festival com
155
outra postura. O evento... Ou seja, você via ela como um, ela conduzindo
a atividade, ou seja, a pró atividade dela, o processo de condução você via
o quanto ela cresceu. E assim, e isso [trecho inaudível – 0:39:45]quanto a
nossa coordenadora... Era outra coordenadora. Então isso foram exemplos
que eu trago mais recente que você vê esse nível de mudança. Você vê
como... Hoje eu estava tomei no depoimento de antes, tive a oportunidade
de ver o depoimento do Joaquim de [palavra inaudível – 0:40:03] ele foi o
coordenador geral do primeiro convênio. Hoje ele é secretário no município
e ele diz ele não vê o quanto o programa ele impactou na minha no sentido
de hoje eu sou o secretário de educação, mas a experiência no trato com o
planejar, com o olhar realidade para poder pensar minhas ações isso tem
repercutido a minha vida. E o PELC ele foi esse elemento, foi no
planejamento e na importância da gente valorizar a cultura, a cultura
local. Algo que ficou para o resto da minha vida e que hoje eu estou
utilizando na secretaria de cultura. Então assim, são essas questões.
Impacto aí se a gente for a gente vai passar aqui a tarde tentando
identificar. Então existe diferença, principalmente que essa política ela
tem impactado muito na formação de novos quadros. Isso é a tese que eu
digo que ela tem materializado.
R.R. – Como é que impacta na vida do formador?
J.C. – Formador impacta no a cada dia quando você se desafia essa
experiência, por exemplo, principalmente a gente eu que vendo a
experiência lá de gestor, atuando como gestor, atuando tendo toda a
minha experiência, você quando está na universidade é aquela utopia de
tentar querer fazer algo que realmente transforme. Ou seja, a gente que
ter vontade [trecho inaudível – 0:41:20]é aquela coisa que a gente via
muito da teoria, num coletivo de propor muito distante. E hoje você se vê
nessa possibilidade ali junto da comunidade de poder contribuir para
aquela mudança. Não, eu estou vendo. Eu estou contribuindo. E você se
sente, e quando tu ver a coisa acontecendo você fica muito feliz porque
você sabe que aquela tua experiência que você tanto sonhava ela está
sendo materializada. E está mexendo com a vida das pessoas, que muitas
156
vezes a gente pô! Professor de educação física o que é que a gente vai
fazer? Vai atuar dentro da escola? Vai ser aquela coisa de aula que a gente
tanto critica, que a gente tanto, na Universidade, questionava? Aquela
forma a educação física do.... Então hoje eu me vejo muito mais além
disso aí. Então eu vejo a contribuição no sentido da de quantos sujeito...
Eu acho que cada experiência, cada formação você adquire novos
conhecimentos. E para mim, por exemplo, poder circular, ou seja, a
experiência como conhecer essa vivência cultural de Major Sales, de Joca
Claudino, aí tu vai para o Maranhão. Você tem essa possibilidade de
conhecer porque exige de você que você se aprofunde naquilo dali. Como é
que eu vou contribuir para elevar o nível de consciência das pessoas, de
conhecimento das pessoas, se eu não me preparo para isso? Então isso
para mim tem sido desafio constante. Por isso que eu digo a questão da
experiência com povos indígenas para mim eu acho que ainda seria um
desafio, porque iria exigir muito para eu poder lidar com aquela nova
experiência. Então é da mesma que eles impactados com as experiências
do trabalho dele nós também somos, porque é algo que está ajudando na
nossa formação.
R.R. – Tu acha, assim, várias vezes essa experiência foi pela [trecho
inaudível – 0:42:58], mas não tivemos a oportunidade de, podia
rapidamente falar sobre essa experiência [trecho inaudível – 0:43:04].
J.C. – Isso. A experiência do teste, também dessa de Major Sales, como eu
tinha falado de manhã, ela surgiu em função de problemática que eu
identifiquei no programa, que foi a problemática da grande dificuldade
deles planejarem. Por ser um público, na maioria, de pessoal do ensino
médio, eles tinha uma dificuldade muito grande de poder planejar e de
poder estabelecer metas no sentido de chegar olhar “não, no final do
convênio em quero, acho que alcançar aquilo ali.” Ou seja, eu peguei o
convênio numa primeira, no primeiro pleito do convênio já peguei no AV1,
que era outro colega que tinha feito o introdutório, então já peguei o AV1 e
AV2. Então conseguia começar a trabalhar com eles, eles já responderam
com evento, com festival, estrutura já se aproximando, dominando um
157
pouco da base conceitual do PELC. Aí eu vou para essa segunda
experiência “poxa! Vai ser legal”. Só que mudou a equipe. Ficou, só
ficaram dois agentes. Aí ficaram dois agentes, mas parece que foi a coisa
correta. Os dois agentes que realmente eles tinham domínio da base
conceitual,como estavam começando a entender melhor ainda o que quero
dizer. Então, está acabando o convênio no primeiro. Era bom que nós
tivéssemos outra experiência, quando a gente está começando a dominar
encerrou. Eu disse “não, olha...” Foi quando eles submeteram para um
novo pleito e a gente trabalhou. Então eu comecei, a partir da dificuldade
que eu identifiquei, eu senti necessidade de trabalhar com temas com
eles. Tematização. Jogar temas que eu pudesse criar unidade de
planejamento com eles. Então foi a partir dessa estruturação dessa
temática onde eles escolheram, no planejamento participativo no AV1, eles
definem um tema que eles que vai perpassar todas as oficinas. E que
tenha relação com a cultura local. Aí nesse aqui eles pegaram [palavra
inaudível – 0:45:05] PELC, resgatando a história do caboclo e
apresentando os bastidores do concurso. Porque o caboclo? Porque o
concurso de caboclo é um evento na cidade, fez agora vinte e cinco anos, e
que é justamente algo muito forte nessa cidade de três mil oitocentos
habitantes. E eles conseguem reunir, nesses momentos, quase quinze mil
pessoas da região como todo é conhecido como um todo, em torno de
quinze mil pessoas. Então foi a partir do que eles se proporam. Então a
oficina de dança de caboclo que tem uma oficina de dança de caboclo.
Começou a trabalhar no sentido de puder resgatar história. Então dentro
da pesquisa de entrevistar as pessoas que eram liderança ligado ao
cantador, é aquele cara que foi dos primeiros núcleos de caboclo. Aquele
prefeito que estimulou a criação do grupo de caboclo. Junto com a oficina
de artesanato [palavra inaudível – 0:45:58] ou seja, sistematizar aquela
dificuldade. Foram sistematizar todo esse processo de pesquisa, e eu me
lembro também de formação, através da produção do documentário, que
esse documentário está aí, e preparar. A questão a dança preparar as
apresentações para o festival que é a grande culminância, vai acontecer
158
agora em dezembro o fechamento, né. Isso aqui seria um dos produtos
que iria ser apresentado, no que foi apresentado no festival de caboclo
desse ano, onde foi apresentado o documentário para quinze mil pessoas
em praça pública e apresentação do grupo de caboclinho do PELC. Então
eles foram, apresentaram, ou seja, apresentaram o resultado do trabalho
deles. Então a medida que eu tematizei eu desafiei para ele criar essa
unidade, porque era oficinas muito fragmentadas. Era atividade pela
atividade e não conseguiam perceber os princípios. Muitas vezes até
trabalhava o princípio, mas eles não tinham a leitura, os elementos
necessários para poder compreender. E hoje não, eles conseguem, no
planejamento e no pensar das atividades deles, entender onde é que cada
princípio ele consegue se articular. Então essa questão de trabalhar com
tematização foi o que deu algum resultado aqui desse material e que vai
ter agora o resultado com a exposição de todos, tudo o que foi produzido
como resultado do convênio. A questão das exposições, a questão das
atividades, o torneio de futebol, por exemplo, era a grande resistência. Na
parte de esporte. Eles estão... A ideia surgiu dentro, por exemplo, todos os
times que vão participar, isso de infância, adultos e idosos que era uma
coisa que eles conseguiram envolver também o público de veterano lá, eles
vão estar caracterizado de caboclo com as camisas identificando todos os
grupos que eles conseguiram levantar na pesquisa que fizeram. E isso
repercutiu na formação em serviço, porque exigiu deles pesquisarem,
exigiu deles buscar memórias, acervo de que eles tratam como imagem
agora desse momento, mas vão buscar também imagem quando as
pessoas estão retratando de uma determinada situação. Eles foram
buscar esse acervo nas pessoas que tinham e foram buscar também na
formação em serviço fora, pessoas que tinham, que estavam pesquisando
sobre o caboclo na universidade, no estado do Rio Grande do Norte, que lá
tem um campus lá. Foram buscar o pessoal que estava pesquisando para
contribuir no processo de formação. Então essa experiência aqui ela foi
uma experiência que eu vejo, hoje, acreditar mais ainda na possibilidade
da cultura popular como elemento norteador do nosso trabalho. Porque
159
está aí, eu acho que dentro da sua especificidade, dentro das limitações é
possível se o PELC se aproximar do que ele se propõe. Não dá para ser
simplesmente só entretenimento, atividade que aí as pessoas por si só
fazem isso aí. Aí não vejo a gente apontar, enquanto a política que
realmente possa transformar a realidade, com algo que em vez de
transformar eu vou levar as pessoas para uma perspectiva de uma
conformação.
L.A. – E vocês fazem algum tipo de acompanhamento após o encerramento
do convênio?
J.C. – Após o encerramento?
L.A. – Isso. Mesmo que informal
J.C. – Não. Isso aí eu faço, tanto que uma coisa que eu não citei. Esse
convênio aqui de Major Sales ele está vivendo uma um processo de um
novo conveniamento, só que esse novo conveniamento aí já foi uma coisa
que nós dialogamos e construímos. A prefeitura ela está dividindo os
custos nesse convênio, ou seja, a participação dele nesse convênio, um
novo convênio, onde o município entra bancando a parte de recursos
materiais, ou seja, material permanente, material de consumo e
divulgação, e o ministério entra agora com aporte do recurso humano que
é o que, de certa forma, é o mais pesado para o município. Então a gente
já teve uma reunião no ministério com a participação do prefeito,
coordenador e já foi, já está no processo de iniciando a discussão da
construção do novo PP. Que ele seria um projeto piloto dessa nova
perspectiva de municipalização, ou seja, vai criando um vínculo maior
com o município. Uma responsabilidade maior no sentido da assumir essa
política municipal, ou seja, então o PELC ele está cumprindo com o
momento induzindo também essa municipalização da política de esporte e
lazer. Então acho que esse convênio ele trouxe, como outros convênios
estão trazendo, essa esse olhar da gente que foi a partir desses diálogos da
reflexão com o ministério, com os formadores e com a UFMG estar
possibilitando a gente vê essa experiência. E dessa continuidade, assim,
da continuidade também tem a questão que a gente estabelece o canal de
160
diálogo com os coordenadores a gente não pede isso aí quando tem
sempre está alimentando a informação. A questão assim a questão da
EAD foi outro elemento, assim, que acho que veio agora ajudar muito
nesse elo com eles. Está buscando, mesmo quando termina os convênios
“Como é que eu faço para fazer um curso optativo? Eu terminei agora e o
convênio acabou. E aí?” Então eles têm buscado muita gente disso
também de buscar, não parar mais buscar dar continuidade a esse
processo. E a gente tem feito, dentro da medida do possível, ou seja,
querendo ou não também, a gente estabelece vínculos de amizade nesses
locais. O que você consegue hoje consegue. Se eu for pro Ceará, se eu for
para a Paraíba hoje eu tenho um ciclo de amizade muito grande. Porque
você deixa muita amizade, você deixa muita referência nesse teu trabalho
que é também outra coisa que contribui nessa impacta também na vida
da gente. Você saber que tem pessoas ali que você chegar ali será muito
bem recebido.
R.R. – Tanto essa política que tem o PELC para a comunidade tu acha que
tem também para os formadores, por exemplo, os princípios e diretrizes,
né, essa questão dialógica mesmo ela vem acompanhando também os
formadores do PELC, com os encontros, poder falar um pouquinho sobre
isso?
J.C. – Não, assim, é uma, um elemento que com esse trabalho de
qualificação que com a entrada da UFMG ela qualifica, tem qualificado
esse processo. Só que a gente sabe que parte da essa apropiação do
conhecimento, esse compromisso político com a mudança ele há graus de
diferenciação dentro desse processo do de formadores. Têm formadores
que são extremamente comprometidos, tem um grupo que é muito forte
que eu conheço, mas esses que outros a gente percebe que há, não há um
nível de preocupação com a repercussão desse trabalho. Aí é onde olha
essa questão dos princípios, ou seja, é cumprir, fazer entender, cumprir
com aquele convênio. Só que a gente que tem uma formação política acho
que a grande maioria aqui já tem envolvimento com gestão pública, ele vai
além disso aí, vai além de cumprir uma missão de ser formador ali,de
161
cumprir aquilo que tu tem que cumprir teu relatório, cumprir tua
proposta de trabalho. Não. Eu acho que existe outros no nível acima disso
aqui, tem um compromisso político que eu acho que isso é fundamental. E
assim, a UFMG ela tem tido esse cuidado de sempre trazer para debater,
como esse encontro agora, então nem todo mundo tem esse mesmo olhar
no sentido da relação dialógica, da reflexão, no sentido da mudança
mesmo. Então eu acho que não existe, todos não estamos nesse patamar
de comprometimento político não. Infelizmente, mas faz parte, né.
J.K. – Quais aspectos que tu destacarias em relação ao trabalho do PELC?
J.C. – Que aspectos? O trabalho do PELC eu acho que o destaque, para
mim, fundamental, ou seja, é tudo mas tem um elemento que eu acho que
é a formação de sujeitos aí para transformar a realidade. Ou seja, ele é
uma política que vem no sentido de numa perspectiva afirmativa aí de
direitos, ela tem um elemento fundamental nesse sentido da
democratização do acesso. Fazer com que as pessoas comecem a perceber
esse que ele tem direito, que aquilo ali é dele, ninguém está dando, mas,
além disso, eu acho que você poder contribuir para a formação dos
cidadãos que estão ali, no sentido de poder exercer a sua cidadania, poder
ter elementos de poder fazer a leitura da sua realidade, do seu contexto,
da sua situação e onde você está inserido, eu acho que isso é um aspecto
para mim fundamental. Sem desconsiderar os outros, que aí é a formação,
essa questão de poder criar essa cultura do esporte, do lazer no município
mudando esse estilo, mudando o estilo de vida das pessoas. Uma nova
adoção, uma nova atitude diante da realidade que eles vivem. Então isso a
gente tem dialogado nas nossas formações e isso também tem tido
feedback deles nessa perspectiva. E que eu acho que é um elemento
fundamental, independente de PELC contribuir para formação do cidadão.
Eu acho que é um aspecto que acho que a gente nunca deve abrir mão,
principalmente se a gente acredita na mudança.
J.K. – Sim. Na tua opinião, o que seria possível fazer para qualificar mais
o programa? O que tu acha que poderia ser feito?
162
J.C. – Olha, uma das... Eu acho que para qualificar o programa quando a
gente... Uma das questões que eu acho que, hoje, um dos principais
objetivos do PELC e democratizar o acesso. E quando tu pressupõe
democratizar o acesso, pressupõe fazer com que esse programa seja
ampliado. Se chega a mais municípios que as pessoas realmente possam
ser atendidas, ou seja, eu digo muito isso nas minhas formações “Óh, se
vocês têm uma meta estabelecida e atender a quatrocentas pessoas, a
medida que eu fico satisfeito atendendo as pessoas, é bom a gente
começar a pensar quantas pessoas estão deixando de acessar o esporte, o
lazer enquanto direito. Porque está tendo investimento público ali. E esse
investimento público tem essa intenção de fazer com que o PELC ele possa
ampliar, ele possa criar, começar a mudar essa realidade a partir do
acesso, da elevação do nível de conhecimento” Então por isso que eu acho
que nos aspectos que a gente precisa tratar mais hoje é essa questão de
ampliar, mas ampliar com pé no chão, ou seja, ampliando a, tem sempre
essa tendência de ampliar, mas também qualificando cada vez mais as
pessoas que vão estar atuando. Qualificar as pessoas que estão lá
enquanto agente, mas mais na frente pode estar sendo gestores, atuando
no seu município. Então acho que quanto mais a gente buscar qualificar
esse processo de formação, de todos os sentidos, formação do formador e
formação de quem está lá na ponta, eu acho que isso aí acho que é um
dos elementos que o PELC ele não deve abrir mão disso, porque acho que
é isso o diferencial, no meu olhar isso é o diferencial nessa política de
esporte e lazer. Porque imagina o PELC sem essa processo de formação,
sem esse algo que fosse solto, deixasse o município conduzir essa
processo formativo. Deixasse ele conduzir, por exemplo, só através da
formação a formação em serviço, pode ter certeza que o resultado seria um
desastre. Então isso não sou eu que digo, não, são os agentes que dizem
isso também. O diferencial desse programa é a formação. Ele disse que
nunca viram um programa que via lá, acompanha, que faz esse processo
de instrumentalizar, dialogar com a comunidade, construir saída
conjunto. Isso eles sempre reforçam no trabalho que a gente tem feito, que
163
acho que a gente não poderia abrir mão jamais disso aí. Eu acho que isso
é a coluna de sustentação do programa.
[FINAL DA ENREVISTA]
Depoimento de Keni Tatiana Vazzoler Areias
Depoimento de Khellen Cristina Pires Correia Pinto
Depoimento de Lieselote Inês Schmidt
164
Depoimento de Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti
Entrevistada: Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti
Nascimento: 19/11/1964
Local da entrevista: Parque Araribóia – Porto Alegre
Entrevistadores: Suellen Ramos, Priscila Praz Premavati e Leila Mattos
Data da entrevista: 11/11/2015
Transcrição: Alexandre Luz Alves
Copidesque: Jamile Mezzomo Klanovicz
Pesquisa: Alexandre Luz Alves
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Observações:
Sumário
PELC; Programa; Prefeitura; Formações; Núcleos; Inclusão Social; Qualificação; Grupos;
Evolução Pedagógica.
165
Porto Alegre, 11 de novembro de 2015. Entrevista com Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti a
cargo das pesquisadoras Suellen Ramos, Priscila Praz Premavati e Leila Mattos para o
Memórias do PELC e Vida Saudável.
S.R. – Vamos voltar falando das formações em dupla.
L.R. – O nosso grupo que foi chamado de coletivo do sul, a gente se reunia para estudar e
além de se reunir para estudar e a gente dividia os textos para levar para casa para a
semana seguinte a gente debater sobre os textos e sobre como a gente falaria, de que
maneira falaria para o público que estava para nos ouvir. A Leu sempre teve muito claro
isso com ela de como a gente tinha que ver o público e como a gente ia trabalhar e falar,
se era mais científico, se era mais a língua deles. Essa preocupação tinha no nosso grupo e
a outra preocupação era de trabalhar em dupla, a gente decidiu desde o inicio a
orientação era um formador por curso e a gente resolveu que seriam dois. A gente
sempre iria em dupla, para um apoiar o outro para fazer a parte pratica, um conhecia
mais a parte do esporte, o outro mais brincadeira, então a gente conseguia fazer um
curso bem dinâmico e que o pessoal chegava no final do curso assim e nem tinha cara de
cansado. Começava na sexta e terminava domingo, a gente fazia manhã tarde e espichava
a noite para poder completar as quarenta horas da carga horária. Eu lembro que no final
tu só agradecia que tinham aprendido muito, tinha sido muito bom que já tinha uma linha
de como tinha que trabalhar, agora eu vou falar a frase: “Eu nunca estudei tanto na
minha vida quanto para o PELC”. Nem para a faculdade, a gente tinha que ler livros, mas
para o PELC a gente suou. Para montar um curso legal, um curso dinâmico, um curso que
tivesse teoria e pratica e que fosse um curso acessível para todas as pessoas que
estivessem escritas ali como agentes do PELC.
S.R. – E na tua opinião essas formações tiveram impacto nos núcleos?
L.R. – Com certeza por que as avaliações eram estrondosas, a gente chegava no hotel. A
gente tinha um horário para fazer as avaliações, para compilar... Não, vamos fazer agora a
noite, por que a gente sempre estava louco para ver o que eles escreviam, nos primeiros
166
a gente ficava até de madrugada, vamos fazer hoje, a gente tem que ler, a gente pedia
para não colocar o nome para não se expor. Então eles escreviam muita coisa, eles
agradeciam muito, agradeciam que tinham aprendido, que tinha sido muito bom, que
queriam que a gente voltasse, não só daqui a seis meses, que a gente fosse lá para olhar o
trabalho para avaliar e essas avaliações eram importantes para nós por que elas
levantavam ainda mais o nosso astral, a gente está no caminho certo. Essas avaliações
iam para Brasília, eu não sei como foi recebido, mas para nós eu vou te dizer que sempre
teve elogios. Eu acho que a Regiane em nenhum lugar que foi na época das cidades, eu
lembro que tu foi em Santa Vitória, que tu foi no Chuí, que tu foi em Feliz, eu acredito que
nenhuma cidade ela tenha tido qualquer reclamação nossa, nunca faltamos a não ser a
vez que os guris erraram o Chuí com Ijuí e foi muito engraçado por que eles foram para
Ijuí. O guri falava Ijuí no telefone e eles compraram passagens para Ijuí e o guri dizia:
“Onde é que vocês estão?”. Eles respondiam: “A gente está aqui na frente da rodoviária”.
E o guri disse: “Mas eu também estou, como é que vocês estão vestidos?”. E eles
respondem: “A gente está vestido assim...”. E o guri: “Mas eu não estou vendo ninguém
aqui, eu vou dar a volta, mas onde é que vocês estão?”. Depois de várias ligações o
pessoal esperando em Ijuí: “Mas afinal de contas, em que cidade vocês estão?”. E eles
responderam: “Ijuí”. Ai o cara lá do Chuí disse: “Mas aqui é Chuí”. Ela disse que só não
teve um infarto por que não era a hora e agora como faz para chegar em Chuí de Ijuí? Foi
muito engraçado, mas depois quem foi dar o curso em Chuí fui eu, foi muito engraçado, o
pessoal já estava na expectativa de esperar, mas foi muito bom. Foi um período de quatro
ou cinco anos muito bacana, maravilhoso.
S.R. – Está destacando assim vários pontos positivos e do quanto as formações impactam
nos núcleos, mas eu não posso deixar de perguntar se tu destaca também algum ponto
negativo?
L.R. – Os positivos são sempre os que ficam, mas a gente teve alguns problemas, a gente
teve problemas de verba em algumas prefeituras, eu não vou dizer quais. Mas a gente
tinha que se posicionar, fazer reunião com o responsável pela prefeitura que faz o
projeto, que encaminha que assina, do comprometimento, onde ia a verba. A gente teve
167
alguns locais, eu acho que foram poucos, se eu não me engano, de todas as cidades que
fui, por que eu acompanhei o curso, eu acho que foi em dois que a gente teve que sentar
com o pessoal da prefeitura e dar o redirecionamento, ou a gente mandava a avaliação
para lá para acabar. Podia fazer isso também a gente voltava do lugar e a coisa não estava
acontecendo, tá fazendo o que com o dinheiro? Então eu acho que foram dois lugares
mais pesados, não convém listar quais são, mas foram dois assim que teve uma metade
do curso de avaliação que a gente ficou só na batalha ligando para Brasília para tentar ver
o que ia acontecer por que o pessoal reclamava que não chegava material, que não tinha
isso para as oficinas, que não tinha aquilo. Mas como que não tem se o dinheiro já veio?
Então teve duas cidades, foi bem triste, teve choradeira, o pessoal chorava que não tinha
como trabalhar e estava tirando dinheiro do bolso, também teve coisas negativas. Mas
foram coisas que a gente pode administrar sem problema nenhum, não precisou se
interromper nenhum curso, as coisas tomaram um novo rumo realmente, mas era uma
parte do curso que ninguém queria, a gente não gostava de trabalhar com isso, mas teve.
A gente teve muito mais coisas positivas, o resultado foi positivo do que negativo,
negativa mesmo acho que não teve, para nós não teve. Mas teve essas outras coisas, não
foram tão boas, a gente teve que dar esse redirecionamento, eu não posso dizer pontos
negativos, eu realmente não tenho muitos. A não ser essas coisas mais de prefeitura, de
verba, que a nossa parte era mesmo toda relativa com o PELC, com os acontecimentos,
com as coisas, com as oficinas, com os materiais. Vocês já olharam o projeto de
prefeitura? Já chegaram a ver algum? Ali vem a verba destinada, certinha para comprar o
que, tem que ter né?
S.R. – Mas de um modo geral, no teu ponto de vista o PELC cumpria com o objetivo da
inclusão social?
L.R. – Cumpria mesmo, teve tantos lugares, tanta gente que nunca teve acesso a nada,
pessoas com sessenta anos que nunca souberam na vida o que era brincar com uma bola
de basquete, verificar pulso em uma caminhada, uma aula de dança, tinha muitas oficinas
de dança, crianças com aula de percussão, a gente assistiu uma aula, acho que foi em
Feliz ou Ivoti as crianças fazendo percussão. São coisas, como tu vai achar uma coisa
168
negativa numa iniciativa que traz resultado, eu acho que a gente teve muita sorte aqui no
sul, por que é o sul as pessoas abraçam as causas. Mas em todos os PELCS que eu
acompanhei nenhum deles deixou de executar as tarefas da primeira reunião que a
gente... Tiveram que trocar agentes, que a coisa não estava (palavra inaudível) ai
dispensavam e contratavam pessoas com o perfil mais específico, as coisas sempre foram
assim, muito artesanato, muita aula de violão, percussão, oficina de dança, ginástica,
alongamento para a terceira idade, oficinas de dança, ginástica, várias coisas, muitas
coisas boas. As vezes a gente chegava era um grupo que não tinha muito, mas depois do
curso eles se achavam, eu lembro que aqui em Porto Alegre em uma formação teve uma
menina que chegou e disse assim: “Eu vou ter que fazer isso?”. Ai eu olhei para ela: “Se tu
não quiser fazer isso, tu pede demissão agora, por que tu vai brincar com criança, tu vai
limpar o ranho da criança, por que tu vai ter criança ranhenta, criança fedorenta, tu vai
ter de tudo e tu vai ter gente cheirosinha, mas tu vai ter que trabalhar e são pessoas que
tu vai ter de atender da mesma maneira”. As pessoas se inscrevem e elas não sabem para
onde elas estão indo, não tem noção do que é um projeto, um projeto social, trabalhar
em vilas, em locais aonde não chega mesmo...
S.R. – Na tua opinião o que é necessário para o programa se qualificar ainda mais?
L.R. – Estou afastada agora, eu não sei. Eu vou falar do nosso grupo, eu acho que a gente
tinha que tentar aproximar cada vez mais a pratica da teoria. Por que quando tu vai para
um projeto que tu tem pessoas que se inscrevem para trabalhar e o que eu vou fazer? As
vezes as pessoas não tem essa dimensão e tu recebe um curso de quarenta horas e a
pessoa sai de lá sabendo que ela vai fazer, eu acho que isso merece estrelinhas mil e
priorizar que as pessoas entendam o que é aquele projeto, eu acho que o avanço é isso, é
como que as pessoas vão chegar lá para trinta ou quarenta agentes que estão na
expectativa, que vão trabalhar em um projeto receberem como é que funciona o projeto,
por que se eles não souberem ali nesse curso, como é que vai funcionar, o que eles tem
que fazer, o lugar de cada um dentro do projeto. Eu acho que tem que aprimorar isso,
levar para eles como deve funcionar o projeto e dentro desse um ano... Eu não sei se é
169
um ou dois... É por que o pessoal chorava muito quando chegava na reunião de avaliação
final, tem que continuar, mas não éramos nós que fazíamos continuar...
R.R. – Tu achavas assim tu fazia o modulo introdutório, fazia também...
S.R. – Tu trabalhou só no PELC ou tu chegou a trabalhar também com os povos indígenas,
Vida Saudável?
L.R. – Só no PELC...
R.R. – Dois aspectos que eu queria saber; primeiro, tu notou evolução pedagógica no
aprendizado mesmo sendo recreativo, como evoluía as oficinas e as ações e segundo, os
agentes conseguiam manter os seus grupos? Esses grupos iam se esvaziando ao longo do
tempo?
S.R. – Das que eu conseguia acompanhar eu acho que eles evoluíram, por que a gente ia
na avaliação no meio do semestre, seis meses depois a gente voltava lá. Então a gente via
uma organização bem pedagógica, tinham chamada, o grupo que estava determinado lá,
abria inscrições. Quando a gente sai do primeiro módulo, a gente já sai de lá sabendo o
que eles vão fazer, já está determinado, vai ter grupo disso e disso. Quando tu chega para
avaliar aqueles grupos tem inscrição, tem o grupo, a gente faz uma avaliação, eles
apresentam o que eles, levam os grupos para se apresentar, se é dança, se é ginástica.
Então isso deu para ver que teve essa evolução, o pessoal mantinha o grupo, tinha grupos
que iam até o final. No final do ano se apresentavam para nós na avaliação e eles tinham
essa organização, acho que a evolução pedagógica era legal por que dependia muito
também do coordenador geral, quando ele era um profissional da área ele conseguia, por
que eles tinham reuniões também depois que a gente ia embora. Então eles conseguiam
se organizar pedagogicamente por que eles tinham chamada, eles tinham presenças,
faltas direitinho, eles contavam as pessoas, a gente via pelas chamadas que eles
acrescentavam, o grupo aumentava, diminuía conforme a chuva, se eram coisas na rua,
futebol. Então a gente conseguia ver isso, acho que todos eles evoluíram
170
pedagogicamente também. Eu acho que eles saiam do PELC prontos para arrumar um
emprego na área, mesmo não sendo profissionais da área. Muitos deles foram ótimos
profissionais, eles saíram, eu vou te dizer, entre eles mesmos como a pessoa não dava
conta, eles já trocavam, eles substituíam. Nunca precisou a gente chegar e dizer para
dispensar fulano, ciclano... Aqui em Porto Alegre eu não acompanhei, eu fui em uma
avaliação só por que eu já estava com cargo na prefeitura, eu evitei de fazer a formação
aqui em Porto Alegre, aqui eu não acompanhei, mas aqui teve vários que foram
demitidos, vários que foram trocados. As outras que eu acompanhei foi bem pouco. Os
grupos se mantinham por que sempre teve muita gente participando do PELC por que era
muito divulgado, tinha muito cartaz, muita coisa, a visita nos núcleos quando a gente
chegava a gente fazia visita, a prefeitura já tinha determinado, então de manhã era visita
nos núcleos, a gente ia ver se era adequado, se não era, se eram espaços públicos, se
eram espaços privados, iriam atender crianças da onde, então tudo isso era visto por nós.
Eu acho que isso também era importante, a gente fazer a visita, olhar, ver aonde eles
iriam trabalhar, que crianças eles iam atender, a gente acompanhava toda a divulgação,
os cartazes, tudo a gente mandava por email, a gente dava um “ok”. A gente fez um bom
trabalho.
S.R. – Meus parabéns.
L.R. – E a Rejane está ai, a nossa chefe, com todos que vocês vão falar as pessoas vão
dizer a mesma coisa, eu tenho certeza por que a gente dava curso um dia ia com a Leu,
outra vez eu ia com a Lise, outra vez eu ia com o Luis e a gente nunca era a mesma coisa.
A gente sorteava para a gente ver, até por que a gente dividia tudo, então a gente dava
uma equilibrada. Foi um período de aprendizagem, muita leitura e foi muito bom. Eu só
tenho a agradecer pelo convite mesmo para mim foi maravilhoso.
S.R. – Muito obrigado Loreti.
[FINAL DA ENTREVISTA]
171
Depoimento de Luis Carlos Lira
Entrevistado: Luis Carlos Lira
Nascimento: 19/05/1971
Local da entrevista: UFMG – Belo Horizonte
Entrevistadora: Jamile Mezzomo Klanovicz
Data da entrevista: 19/11/2015
Transcrição: Adriana Zimmermann
Copidesque: Pamela Siqueira Joras
Pesquisa: Pamela Siqueira Joras e Silvana Vilodre Goellner
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
172
Sumário
Formação acadêmica; Trajetória profissional; Envolvimento com a
temática do lazer; Atuação como formador do Programa Esporte e Lazer da
Cidade (PELC); PELC Todas as Idades, Vida Saudável e Povos Indígenas e
Comunidades Tradicionais; Estratégias metodológicas; Visitas técnicas e
pedagógicas; Resultados ao longo das formações; processo de
municipalização; Acompanhamento dos núcleos após o fim do convênio.
Belo Horizonte, 20 de novembro de 2015, entrevista com Luis Carlos Lira
a cargo da pesquisadora Jamile Mezzomo Klanovics para o Projeto
Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte.
J.K. – Eu agradeço primeiramente pela disponibilidade em ceder a
entrevista e queria que me contasse um pouco da tua formação.
L.L. – Eu fiz a minha graduação em Licenciatura Plena em Educação
Física e me formei na Universidade do Estado do Rio de Janeiro no ano de
1997. Logo após eu integrei o curso de Mestrado em Educação na mesma
Universidade e conclui no ano de 2000. A partir disso, eu passei por todo
o processo de preparação profissional e dei aulas em escolas públicas e
particulares no estado do Rio de Janeiro e no estado de Minas Gerais. No
ano de 2003 eu adentrei na Universidade Estadual de Montes Claros e no
ano de 2004 na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nessa sou professor
até hoje nas disciplinas de Ginástica Artística e Educação Física
Gerontológica. Terminei recentemente meu doutorado na Universidade
Católica de Brasília onde eu fiz um estudo da motivação para as práticas
de lazer de pessoas idosas. Atualmente estou atuando aqui no Programa
tendo participando de várias formações do Grupo de Formadores.
J.K. – Certo! E quando a temática do lazer apareceu na tua trajetória?
173
L.L. – Bom, a temática do lazer vem desde a época da minha graduação,
mais especificamente voltada para a temática da pessoa idosa, para a
questão da atividade física para pessoas idosas. Nessa perspectiva da
prática das vivências do lazer, vem nesse patamar, tanto que a minha
memória de licenciatura, a minha dissertação, mestrado e tese foram
voltados ao campo do lazer, para a questão das atividades físicas. No
mestrado para as questões educacionais da pessoa idosa. Recentemente,
atuo nessa preocupação em entender a motivação dos idosos para
participar de atividades de projetos que abarcassem o maior número de
atividades do lazer.
J.K. – E como conheceu o PELC?
L.L. – Comecei a conhecer a partir de 2003 com a implantação de uma
política pública de esporte e lazer pensada na Secretária Nacional de
Desenvolvimento de Esporte e Lazer, antiga SNDEL. Vinha
acompanhando, até que houve o processo seletivo de formadores no qual
dentro dessas vertentes do Programa de Esporte e Lazer na Cidade tinha o
PELC núcleo Vida Saudável. Entrei nesse processo de seleção para
compor o grupo de formadores do Vida Saudável e foi por esse caminho
que eu entrei e participo do grupo de formadores.
J.K. – Certo! Como foi a tua preparação para se tornar um formador?
L.L. – Então por toda essa minha trajetória acadêmica, meus estudos
atrelados à questão das entidades de lazer para as pessoas idosas. Algo
importante assim que, vamos dizer, eu não estudava a questão específica
do lazer, mas a partir de 2006 eu passei a integrar o grupo de formadores.
Nesse momento eu começo a me debruçar mais sobre o assunto, a
temática do lazer e participei de todas as formações, encontros,
seminários, ENAREL96 , encontros nacionais da temática.
96
Encontro Nacional de Recreação e Lazer.
174
J.K. – Sim, e hoje atuas no PELC Todas as Idades e no PELC Povos e
Comunidades Tradicionais?
L.L. – Na verdade eu atuo mais no PELC Todas as Idades e no PELC Vida
Saudável. No Povos e Comunidades Tradicionais eu ainda não tive a
oportunidade de atuar, mas é algo novo para nós e estamos passando por
processo de formação para também atuar, mas atualmente não.
J.K. – Certo!
L.L. – Povos e Comunidades Tradicionais agora é Povos Indígenas e
Comunidades Tradicionais.
J.K. – Mudou?
L.L. – Sim. E tem o Vida Saudável também.
J.K. – Tem, são três?
L.L. – São três.
J.K. – E tem alguma diferença no planejamento na formação de cada um
deles?
L.L. – Sim, em cada um desses porque são programas distintos. No caso, o
Vida Saudável tal diferença ocorre em um atendimento específico para
pessoas idosas. No planejamento e organização há diferenças porque o
Vida Saudável é pensado na preparação dos agentes sociais para atuar em
um grupo específico, que são os idosos, já no PELC Todas as Idades a
gente trabalha uma perspectiva mais ampla e a ênfase é dada para a
175
questão do atendimento de pessoas idosas. Ela não é tão específica dado
ao maior, e agora faltou a palavra...
J.K. – Proporção?
L.L. – Faixa etária da população que é atendida entendeu? Então tem essa
diferença no planejamento e na organização das ações, em termos até
mesmo de atividades que são as vivências corporais que são desenvolvidas
nas formações.
J.K. – Como planeja e organiza essas atividades de formação do
Programa?
L.L. – Para realização da formação?
J.K. – Sim.
L.L. – Tão logo a gente recebe a solicitação para realizar uma formação nós
entramos em contato com a entidade que vai desenvolver o Programa,
convênio. Nos pautamos pelo perfil dos agentes, em termos de
escolaridade, quem são esses atores que vão participar, fazemos um
estudo da realidade do município, conversando até mesmo com os
coordenadores desses convênios ou fazendo consultas via internet de
possibilidades em termos culturais, de espaços que a cidade proporciona.
A partir disso a gente faz toda essa estruturação, atendendo também as
diretrizes, o que tem em termos de conteúdos a serem trabalhados em
cada um dos seus módulos. A diferença vai ocorrer em termos de
conteúdos de acordo com os módulos que nós iremos desenvolver na
formação.
J.K. – Certo! Tem alguns temas que são obrigatórios que são as diretrizes.
Tu busca inserir outros temas nessas formações?
176
L.L. – Esses temas que são inseridos geralmente são a partir do módulo
introdutório 2. Atualmente e nas avaliações, na avaliação 1, porque ao
término da formação do módulo introdutório 1 e da avaliação e módulo
introdutório 2 os agentes sociais todos os participantes de
desenvolvimento do convênio, preenchem uma ficha de avaliação da
formação e ali tem um item que pede que eles façam uma solicitação de
temas que sentem necessidade para contemplar num próximo módulo de
formação. Se ali a gente percebe indicação de alguma temática e a gente
observa dentro da realidade que se conhece o local onde vai ser
desenvolvido, a gente insere na outra, no módulo posterior.
J.K. – Que tipo de estratégias metodológicas tu costumas utilizar?
L.L. – Bom, trabalha-se a questão da exposição, da metodologia expositiva
dialogada, dinâmicas de grupos, com vivências corporais e com projeção
de vídeosclips, longa metragens. No caso de longa metragem e curta
metragem, usamos tanto aqueles voltados para a questão, chamado da
linha mais alternativa de filmes, quanto com grandes, como filmes do
grande circuito e os alternativos até mesmo para eles perceberem essas
diferenças. A partir disso mostramos para eles como é importante estar
trabalhando isso com a comunidade e elas não ficarem condicionadas a
um modelo, a uma forma de vídeos
e filmes que estão só ligados ao grande circuito.
J.K. – Certo. E em relação às visitas aos núcleos, como são realizadas as
visitas técnicas e as visitas pedagógicas?
L.L. – Nós somos responsáveis pelas visitas pedagógicas, nós as fazemos
em que momento? No primeiro momento, no módulo introdutório 1 onde
nós vamos trabalhar com os agentes o reconhecimento dos espaços onde
eles vão atuar que às vezes muitos deles não conhecem e para também
entender qual é o espaço que aquele convênio vai desenvolver as
atividades. A partir desse momento a gente vê a viabilidade ou a
177
inviabilidade da utilização daqueles espaços para desenvolvimentos dos
núcleos. Neste caso, a gente pede, solicita que seja alterado o local do
núcleo. Mas, na perspectiva pedagógica trabalhar com o processo de
reconhecimento dos espaços e de maximização em termos de
ressignificação dos espaços e não só pensar o espaço como uma estrutura
física pautado em uma infraestrutura que possibilite as práticas
esportivas. Precisamos ver outros espaços em que a gente passa a dar
novos significados e com isso as atividades são realizadas nesse espaço,
tanto atividades de cunho social, cultural, quanto atividades físico
esportivas. Num segundo momento a gente vê as questões de extrair o
máximo do espaço para o desenvolvimento de atividades, até mesmo com
a questão da diversidade de atividades, então trabalhar com eles, esse
exercício de eles verem o espaço com várias alternativas. Já no módulo
introdutório 2, nós fazemos a visita pedagógica com os núcleos em
funcionamento para a gente perceber se o que a gente trabalhou em
termos de conceitos no módulo introdutório 1, a forma como eles
assimilaram e como ele estão trabalhando nesses dois meses iniciais. É
aquele momento: “Isso está errado, essas atividades estão sendo
realizadas dentro do que nós programamos das diretrizes do Programa”. A
gente começa a debater com eles e mostrar as situações que estão dentro
das diretrizes e situações que não estão de acordo com as diretrizes, então
faz um ajuste. No módulo avaliação 1 nós fazemos a visita pedagógica, um
dia anterior ao contato e mais uma vez a gente vê aquelas correções que
se fez. Vamos fazendo esse acompanhamento todo, e se vê também a
questão metodológica, a questão em termos de materiais, tanto no módulo
introdutório 2. Nessa visita, se vê se os materiais chegaram, foram
comprados, porque isso pode interferir diretamente na questão de
desenvolvimento do programa, nas questões pedagógicas. Então a gente
faz essa visita pedagógica para ver a questão de identificação dos núcleos,
se está sendo feito, se já foi feita, se está dentro dos padrões, então, essas
visitas tem essa finalidade.
178
J.K. – E consegues ver algum resultado nos agentes e no núcleo ao longo
das formações que são realizadas?
L.L. – Sim, a gente consegue ver algumas questões de organização da
própria comunidade resultando em situações que às vezes o convênio
termina, se extingue porque tem lá o prazo, mas alguns grupos continuam
se encontrando, se organizam até mesmo para dar uma contribuição para
a gente que antes era remunerado pelo convênio e depois deixa de ser
remunerado. A própria comunidade, muitas vezes, se organiza para isso.
Existem casos de a prefeitura continuar com algumas atividades mediante
até mesmo uma solicitação da comunidade e alguns casos pelo
entendimento da importância do lazer para a comunidade. Se observa isso
ao longo desse tempo em que atuamos. E até mesmo por relato dos
agentes, nas suas avaliações o que que contribui na formação deles
enquanto profissionais. Isso é algo bastante recorrente e é interessante
que ao término de cada uma das formações eles recebem certificados e
isso faz um diferencial em termos de preparação para outros trabalhos.
Eles valorizam bastante essa questão da formação, então a gente vê os
resultados e até mesmo nos relatos, um olhar diferente em relação a
questão do lazer, olhar diferente da sua prática pedagógica, ainda mais
atrelada a questão das atividades físico esportivas daqueles esportes
tradicionais que a gente consegue sensibilizá-los para o entendimento que
no lazer não há uma preocupação na ênfase do treinamento para formar
um jogador, ou uma dançarina, ou um artista de pintura, de artesanato,
não, mas sim uma perspectiva de entendimento que o lazer deva ser
vivenciado, usufruído em um momento de satisfação e prazer daqueles
que escolheram estar ali naquele momento, então isso é bem interessante
de observar.
J.K. – E existe algum acompanhamento dos núcleos após o fim do
convênio deles?
179
L.L. – Após o fim do convênio não se continua acompanhando, se faz
contatos posteriores no sentido de saber se a prefeitura encampou a ideia
ou a organização. Diante daquilo que eu te falei do que eu percebo é mais
nesse contato: “Não continuou, mas aquele grupo do núcleo tal eles
continuaram. Ah! a prefeitura assumiu, mas não assumiu todas as
atividades por causa da questão de recursos”. Dessa forma e depois
dessas informações a gente não continua no acompanhamento, porque
temos que atender outras demandas e fica
complicado, particularmente para mim.
J.K. – E tu consegue perceber se os núcleos tem obtido êxito em um
processo de municipalização?
L.L. – Olha, eu vou puxar um pouco na memória, eu esqueci agora o nome
da cidade, fica mais ou menos a 160 km aqui de Belo Horizonte A
prefeitura encampou, tanto que na época num processo de envolvimento
do convênio tinha um clube que tinha fechado na cidade e o prefeito
encampou e revitalizou o clube que passou a esse núcleo, um centro de
convivência para pessoas idosas com uma questão do Vida Saudável. Teve
um também perto de Uberlândia, como é que é ..., o problema agora são
os nomes, é que é perto de Uberlândia chamada cidade do abacaxi,
Canápolis. Lá a prefeitura deu continuidade com
algumas atividades em virtude de uma solicitação da comunidade, então
esses dois me vêm agora na memória. Eu terminei um agora em
Itaquaquecetuba, em São Paulo e esse convênio foi bem interessante. Em
todos os momentos da formação o prefeito se fez presente, e terminou
agora na semana retrasada. Fiz o último módulo de avaliação e a gente
conversando e tudo ele ficou sensibilizado, porque participou além das
formações, dos eventos que o programa desenvolvia ao longo da sua
execução. Ele foi a todos eles e o relato que nós tivemos, tanto dos agentes
quanto dos coordenadores, que mesmo que se não conseguisse uma
prorrogação de prazo ele iria dar continuidade. Mais um convênio que
180
posteriormente eu vou entrar em contato para saber o que foi feito em
termos de continuidade nesse processo de municipalização. Na última
formação que eu fiz, foi a primeira do módulo introdutório 1 em Cornélio
Procópio no Paraná. Além do prefeito foi uma vereadora e dentro da
formação já começamos a discutir essa questão da municipalização e da
importância de uma estruturação do marco legal em termos de cobrança
mantendo a comunidade lá, os agentes para a vereadora no sentido de leis
que venham a respaldar a continuidade do atendimento pelo município
em termos de responsabilidade. Isso vai ocorrer num outro processo de
desenvolvimento de ações que vão repercutir na Assembleia Legislativa.
Assim eu espero que a gente vá trabalhando esse processo de
municipalização. Então a gente trabalha dessa forma.
J.K. – E quais pontos tu consegues identificar que podem ser melhorados
no programa?
L.L. – Bom o que eu vejo... Você diz em termos pedagógicos ou
estruturais?
J.K. – Qualquer um dos dois.
L.L. – Olha nesse tempo todo em que se está atuando, vamos fazendo
ajustes. As reuniões nessas formações de formadores são duas, uma a
cada semestre, vamos sempre buscando melhorar. Uma das coisas que
hoje está se discutindo é essa questão, uma diretividade dos conteúdos
que devam ser trabalhados. Existem vários conteúdos e tentamos uma
uniformização deles para que, no caso da impossibilidade de um
formador, que fez um módulo e tenha algum empecilho de fazer o outro
módulo o que vem já sabe o que foi trabalhado para dar continuidade.
Então a gente está avançando nessa questão. Nessa última formação,
tenho observado que a gente tem que avançar. Já avançamos com a
questão da educação a distância. É uma ferramenta que contribui no
processo de formação continuada que nós ainda continuamos a fazer. Em
181
termos de sugestão de textos para serem estudados e discutidos entre um
módulo de formação e outro e a educação a distância trabalha com outros
conteúdos que nós não conseguimos esgotar. Ela vem complementar o
processo de formação dentro dos encontros presenciais, a gente tem que
melhorar e saber outros conteúdos tem que estar dando uma melhorada
nesse aspecto.
Outra questão, isso é característico de uma educação à distância, é a
questão da evasão e da participação desses agentes no ambiente virtual de
aprendizagem, então é um processo que a gente deve melhorar, mas a
gente está ainda engatinhando. Tem mais ou menos um ano e meio a dois
anos que a gente já vem discutindo o processo de implantação. Foi
implantado e a gente percebe algumas dificuldades junto aos agentes,
alguns nem e-mail têm, tem a questão da escolaridade, já se está
pensando em montar grupos nesses cursos de acordo com a sua
escolaridade, você vai fazer uma releitura do discurso acadêmico e passar
para esses agentes sociais. Apesar de alguns convênios terem grande
número de pessoas que são formadas a gente trabalha muito com pessoas
da comunidade. Então, em termos
estruturais..., para eu pensar algumas questões mais burocráticas, tenho
um olhar de formador e não de gestor, mas às vezes acho que a gente
pode estar dando uma melhorada, mas isso eu deixo mais a cargo dos
gestores do Programa.
J.K. – Era isso que eu tinha para perguntar para ti. Teria alguma coisa
que eu não te perguntei e tu gostarias de compartilhar?
L.L. – Bom, seria um agradecimento por vocês estarem fazendo isso. Acho
importante essa questão do registro que passa a fazer história da
implantação de uma política pública de esporte e lazer no nosso país. Ela
é necessária e é urgente e a tem a questão dos grandes convênios, dos
legados, que está sendo um grande desafio. Nessa formação a gente está
também discutindo bastante os convênios que tem um número grande de
182
núcleos e isso tem demandado a nós muitos estudos em termos de
estrutura para atendimento desses grandes convênios com uma
metodologia de atendimento e que permita uma qualificação das
formações. Como o volume de pessoas que atua em termos de formação
nesses grandes convênios é muito grande, então a gente está conseguindo
esse processo de estruturação até o que se tem feito hoje no
desenvolvimento dessas formações já vem mostrando aspectos positivos,
mas também aspectos negativos em algum momento, depende também da
infra estrutura que o convênio tem pra realização das formações.
J.K. – Então era isso! Muito obrigado, eu agradeço em nome do Centro de
Memória do Esporte.
[FINAL DA ENTREVISTA]
Depoimento Luciano
183
Depoimento Luis Otávio Neves Matos
Entrevistado: Luiz Otávio Neves Mattos
Nascimento:
Local da entrevista: Niterói - RJ
Entrevistadoras: Pamela Joras e Rejane Rodrigues
Data da entrevista: 18 de março de 2016
Transcrição: Kenia Gouvea Garrafiel
Copidesque: Silvana Vilodre Goellner
Pesquisa: Pamela Siqueira Joras
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
Sua formação e início da carreira como professor. Envolvimento com a
temática do lazer. Início do PELC. Primeiros formadores do PELC. Cidades
pilotos. Dificuldades para começar o Programa. Cidadãos da cidade terem
consciência do direito ao lazer.
184
Niterói, 18 de março de 2016. Entrevista com Luiz Otávio Neves Mattos a
cargo das pesquisadoras Pamela Joras e Rejane Rodrigues para o Projeto
Memórias do PELC97 e Vida Saudável do Centro de Memória do Esporte.
P.J. – Primeiro eu gostaria de te agradecer por disponibilizar tempo para
nos atender e eu gostaria que tu começasse falando sobre a tua formação,
teu envolvimento com educação física e a tua trajetória.
L.O. – Então, eu sou graduado em educação física na Universidade Gama
Filho. Me graduei. Eu entrei em 1981, me formei em 1984. Como todo
mundo na educação física acaba, e na educação acaba sendo assim, hoje,
eu estava inclusive comentando em uma aula sobre isso, a gente acaba
atuando já desde que, desde que está se formando, enfim. Então a minha
trajetória sempre foi no âmbito escolar, mesmo no processo da formação,
trabalhando como estagiário em escola, enfim e com treinamento
esportivo. Durante um bom tempo na minha vida joguei voleibol então
comecei também, nesse processo da universidade, de trabalhando com
iniciação esportiva e com treinamento esportivo em clube e associação de
funcionários, em comunidades, enfim. E formado, logo em seguida, eu me
formei em 1984, em 1985 houve o concurso para a rede estadual, um
grupo de pessoas aqui do nosso grupo fez o concurso, a gente passou e
desde 1985 eu sou professor, era professor, quer dizer, não sou mais
agora porque estou na universidade, mas professor da rede estadual de
ensino no Rio, dando aula em um município da Baixada Fluminense
chamado Nova Iguaçu e ao mesmo tempo dando aula no setor privado, em
uma escola privada também na periferia do Rio na zona oeste. E em 1988
teve um outro concurso, também para a rede estadual, a gente fez, a gente
teve direito a ter duas matrículas. Agora está mudando por causa das 40
horas, mas na época eram matrículas de 16 horas, dois tempos em sala
de aula, quatro tempos de atividades pedagógicas. A partir de 1988 eu
tinha duas matrículas no estado, paralelo a isso tinha um emprego
também na rede privada, trabalhava no Clube de Regatas Flamengo com
97
Programa Esporte e Lazer da Cidade
185
treinamento de voleibol, trabalhava no, continuei trabalhando na
associação de funcionários, da época, Banco Nacional da Habitação do
BNH, agora é Caixa Econômica. A gente treinava as equipes de vôlei, de
atletismo. Trabalhava em um colégio na antiga escola alemã do Rio de
Janeiro o colégio Cruzeiro, também com voleibol, com iniciação esportiva,
treinando as equipes que participavam dos Jogos Estudantis, enfim.
Minha trajetória, até talvez os dez aos iniciais da minha formação, ainda
misturava escola e clube, treinamento, mas depois as décadas de 90 já
comecei priorizar só escola e trabalhava na rede estadual e na rede
privada. Então foi isso. Acho que no final da década de 80 eu comecei a
ficar só com escola, foi quando eu... E paralelo a isso militando em um
movimento de professores, saído do movimento estudantil militando no
movimento profissional, na época a Rejane98 acompanhava isso no
movimento da oposição a APEF99(?). A gente era oposição a PEF, formava
um grupo grande no Brasil que a gente fazia as nossas militâncias em
nível estadual e nível nacional a gente militava para tentar ganhar a
FBAPEF100(?) (Federação Brasileira das APEF’S). E isso também acabou
levando a gente para o movimento sindical, acabei dirigindo, sendo
dirigente sindical aqui no Rio durante muito tempo, do SEPE101 (Sindicato
Estadual de Profissionais da Educação) e fui presidente do SEPE durante
muito tempo, também no SEPE de... Porque o SEPE é um sindicato
estadual que tem as suas ramificações nos municípios, como eu era
professor em Nova Iguaçu fui presidente do SEPE de Nova Iguaçu
também. Então paralelo às aulas, enfim, o magistério, a militância política
também acabou para além do partido da militância partidária da
militância sindical e foi.
P.J. – E a temática do lazer? Como é que ela surgiu nessa tua trajetória?
L.O. – Então, a temática do lazer... Na verdade eu inicio a minha
militância mesmo, assim de orgânica, não foi no PT102 nem foi no
98
Rejane Penna Rodrigues 99
Associação de Professores de Educação Física 100
Federação Brasileira das Associações de Professores de Educação Física 101
Sindicato Estadual de Profissionais da Educação 102
Partido dos Trabalhadores
186
movimento estudantil, mas especialmente no movimento de bairros.
Sempre morei na periferia, morava em um bairro periférico onde minha
mãe mora até hoje com minha irmã, com meus irmãos. A gente começou a
participar, era muito forte no Rio, no Brasil, mas no Rio era muito forte o
movimento de associação de moradores. Antes da década de 90 você
tinha, final da década de 90, você começou a ter muito apropriação desses
espaços pelo tráfico, não o narcotráfico, mas o tráfico de drogas. E o
segmento disse assim que perceberam que ali você tinha um nicho, uma
forma de você ganhar eleição, onde você ter voto. Eleição que eu digo
majoritária, eleição de executivo, legislativo. Mas até então você tinha,
com todos os vícios [palavra inaudível – quatro minutos e quarenta e dois
segundos] tinha um movimento comunitário era muito forte. E eu comecei
a participar no meu bairro desse movimento talvez porque, pelo fato de eu
ter sido, de eu ter jogado, a gente menino de brincar na rua de jogar já em
clube, eu comecei a ter um interesse dentro da associação, eu era
dirigente, eu era diretor de relação de formação. Eu não me lembro
exatamente, relação institucional, eu não me lembro qual era a minha
função na direção, o cargo exatamente, mas isso daí não importava se
tinha tão pouca gente para fazer tudo. Mas a gente tinha uma atuação
forte no bairro para questão de resolver os problemas dos moradores e no
âmbito do lazer do tentar ver se a gente conseguia fazer o bairro, que era
um bairro até bom na periferia, mas um bairro com muita possibilidade
de lazer para as crianças, para os jovens. E a gente começou a ter
algumas ações junto as Secretarias, na época você tinha a tal das ruas de
lazer aqui no Rio de Janeiro e a gente começou... Era o recurso que a
gente tinha, a gente não tinha essa compreensão crítica do lazer que a
gente passou a ter, mas enfim. A gente começou a buscar essas ruas de
lazer para o nosso bairro. E aí começamos despertar essa... Talvez você fez
a pergunta agora, mas em termos de início dessa relação com essa
temática, vamos dizer assim, de uma forma de uma outra forma de
organização, foi na associação de moradores. Quando a gente para o
trabalho, assim, no dia a dia da escola, você não tem muita relação com
187
isso porque o dia a dia da escola é um dia muito específico, muito, o dia a
dia da escola é muito específico, mas mesmo assim, na escola que eu dava
aula a gente teve uma... Eu fui convidado pela diretora da escola privada
de trabalhar com uma disciplina com terceiro ano do ensino médio. Essa
escola ela é uma escola rica na zona sul do Rio. É uma escola que os
alunos quando chegam, a escola começou a disputar, ela não disputava
vestibular, não participava, não tinha. É uma escola que foi crescendo,
tinha só os anos iniciais. Quando ela chegou no terceiro ano ela começou
a participar disso, em virtude disso os alunos começaram a ser ter um dia
a dia muito puxado voltado para essa coisa do ranking, enfim. E a diretora
me convidou e disse: “Seu Luis, você não quer fazer um trabalho com
terceiro ano?” E eu dava aula para eles direto desde pequeno até o nono
ano, parava, eu falei: “Vocês tem que parar de me ver. Eu parar de ver
vocês. Vocês estão de saco cheio de mim.” Aí no primeiro e segundo ano
eu parei de dar, ela me convidou para pegar o terceiro. Ela falou assim:
“Ah! Você vem aqui, faz uma atividade, não vai valer nota mesmo.”
Entendeu? Eu falei: “Vem aqui, dou uma atividade para eles à tarde.” Eu
falei assim “Se é para pegar vou pegar uma coisa séria.” Eu tinha vontade
de fazer um projeto de lazer com eles. E aí ficou. É muito parecido com o
que o Edmundo103 faz aqui em uma disciplina que chama de
“Extramuros”. Eu comecei a organizar um currículo, um programa de
uma disciplina que eles da educação física que eles organizaram as aulas
todas no mês, quer dizer, duas aulas obrigatórias por semana, juntava
tudo em um sábado e nos fazíamos uma atividade de lazer com eles. A
ideia da atividade era conhecer pontos do Rio de Janeiro que a gente pode
conhecer de graça, com poucos recursos, e botar eles para fazer uma
atividade que eles não faziam. Então era vim de bicicleta até aqui em
Niterói, visitar o MAC104, era subir a pedra da gávea, fazer tudo o que eles
não faziam. Eles faziam nos Estados Unidos, faziam na Europa, mas não
faziam aqui. Foi uma possibilidade de desenvolver a temática do lazer na
escola. A gente apresentou isso em vários lugares, a gente tinha chamado
103
Edmundo de Drummond Alves Junior 104
Museu de Arte Contemporânea de Niterói
188
de inclusão ao lazer funcionalista, diretarista, compensatório, falava:
“Tudo bem, mas vai lá para a escola ver o que é, o que dá para fazer lá na
escola.” Então foi uma forma de abordagem, mas não é um tema tão fácil
de se abordar, mas na militância partidária a gente, por uma situação
conjuntural, aqui no Rio de Janeiro, o Governador Garotinho105 tinha
como vice dele a Benedita da Silva106, uma parlamentar do PT. E ela foi
vice, fez a campanha, na época o PT se aliou ao PDT107 foi uma conjuntura
muito específica logo depois das eleições que a gente perdeu para o
Collor108, e havia uma dificuldade de diálogo entre o PT e o PDT aqui no
Rio. O Lula109 e o Brizola110 conseguiram fazer uma discussão mais,
enfim, os militantes não se ouviam, apesar de estar em um campo muito
próximo de esquerda, mas a gente não se ouvia. E a gente conseguiu fazer
o Garotinho era do PDT, era um Brizolista ele, se dizia Brizolista, a gente
fez essa aliança a Benedita sendo a vice. Até então a Secretaria de Esporte
estava na mão do PDT e o Garotinho saiu para ser candidato a presidente,
aí ele rompeu com o PDT e saiu contra, enfim, já tinha saído, não tinha o
que devia mais nada, nenhuma satisfação ao Brizola e saiu candidato a
presidente. A Benedita teve que assumir porque ela era vice do
governador e ao assumir foi uma polêmica danada... O PT, porque o que a
gente faz aqui? Assume, mas ela não tinha como dizer não, se ela não
assume ia ter que assumir o presidente da câmara da assembleia
legislativa. E aí o PT decidiu assumir e ao assumir você tem que assumir
os cargos, então a Secretaria de Esporte e Lazer que era uma Secretaria
que não tinha essa, não tinha essa estrutura que ela tem hoje por causa
dos Jogos Olímpicos, por causa da Copa. Era uma secretaria que o grande
forte dela era a SUDERJ111, que é a autarquia Superintendência de
Desportos do Rio de Janeiro, era quem tocava a política da secretaria era
a SUDERJ. A SUDERJ, boa parte da energia dela, gastava com o
105
Anthony William Matheus de Oliveira 106
Benedita Sousa da Silva Sampaio 107
Partido Democrático Trabalhista 108
Fernando Affonso Collor de Mello 109
Luis Inácio Lula da Silva 110
Leonel de Moura Brizola 111
Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro
189
Maracanã112 porque manter aquele negócio aquela loucura lá, e tinha
algumas ações específicas de atendimento ao público de iniciação. Atendia
um jovem de dezessete anos, crianças e jovens até dezessete anos e os
idosos. Tinham projetos de natação, de hidroginástica, iniciação ao vôlei.
Fora isso a SUDERJ era Maracanã, Maracanã, administrar aquela loucura
lá, dias de jogos e visitações. Quem era o secretário uma pessoa chamada
Francisco113 “Chiquinho da Mangueira”, que é uma pessoa muito
complicada, não vale a pena ficar falando na entrevista, mas enfim, era o
secretário e a gente assumiu a Secretaria de Esporte e Lazer, não a
presidência não a Secretaria, a gente, na verdade, não existia a Secretaria,
era a SUDERJ estou falando aqui depois é que se criou uma Secretaria
extraordinária. A gente assumiu a SUDERJ, o presidente não era do nosso
grupo, era uma pessoa ligada a Benedita, mas a SUDERJ tinha uma
estrutura, tem até hoje, que era o presidente e tinha duas vice
presidências, uma vice presidência administrativa que tratava de
Maracanã e outra vice presidência de esporte que tratava dessas
iniciações desses projetos. O vice presidente de esporte foi o Ribamar114,
que você vai entrevistar hoje à tarde, e existia três diretorias, uma
diretoria de esporte comunitário, uma diretoria de esporte de alto
rendimento, de rendimento, de alto rendimento, e uma diretoria de
esporte que era mais, não era mais, é uma coordenação ligada a mim que
era diretoria de coordenação de esporte para pessoas com deficiência. Aí a
gente assumiu, o PT, a gente no PT já tinha uma formulação de alguma
forma de militarista, a gente tinha uma, não uma formulação, mas já
tinha um núcleo de esporte e lazer aqui no Rio, esqueci de falar isso, no
PT a gente já tinha fundado a nossa forma de organização do PT. Era
nuclear, a Rejane sabe muito bem disso quanto isso foi importante para o
PT, então a nossa forma de contribuição no PT, a minha, desse grupo que
acabou indo para a SUDERJ, era nos núcleos de bairro, eu tinha uma
112
Estádio Jornalista Mário Filho 113
Francisco Manoel de Carvalho 114
José Ribamar Pereira Filho
190
militância no meu núcleo de bairro que a fundou o PT lá no Valqueire115,
onde eu morava, o núcleo da educação e o núcleo do esporte e lazer. Esses
núcleos da educação e do bairro eles eram núcleos que tinham uma
frequência maior de reunião, tinha uma vida maior, uma vida mais
intensa. O núcleo de esporte e lazer tinha um grupo muito bom que veio
da militância da APEF, da oposição a APEF, a gente fundou esse núcleo e
também a gente tinha uma organização razoável. E ali existiam algumas
formulações que viam muito em função da nossa militância na educação
física não do lazer especificamente, mas na educação física escolar. Com a
entrada da Benedita no governo a gente foi chamada a assumir e foi a
gente, não tinha mais ninguém no Rio que tinha referência dentro do PT,
então o Ribamar chamou a vice-presidência, quem assumiu a outra
diretoria foi um cara que não é nem ligado ao esporte de alto rendimento,
deve conhecer Walter Russo116, que trabalhou nos Jogos Olímpicos e o
outro que assumiu é o Luis Claudio que é um companheiro nosso do PT,
que trabalhou a coordenação de esporte pessoas com deficiência. Aí ali
começou uma vida. Nós tivemos nove meses no governo, teve a eleição no
final do ano e a Benedita não ganhou e ali a gente teve, a gente começou a
buscar um contato com colegas nossos, com Rejane, com Andrea117, lá no
Pará, com o Jamerson118, Pernambuco, para a gente começar a tentar ver.
Trouxemos algumas pessoas aqui para fazer um debate com a gente,
pessoas de São José dos Campos, que a prefeitura não era nossa, um
secretário também de Belo Horizonte. Eu sei que a gente começou a trazer
pessoas aqui para a gente começar a conversar muito no sentido de
pensar o que seria o lazer, uma política de esporte e lazer no Estado.
Porque a gente tinha algumas, a gente já tinha algumas experiências bem
interessantes, Rejane lá no Sul em municípios, em Estado a gente tinha
uma dificuldade e até hoje a gente tem dificuldade entender um pouco
qual é o papel do estado nisso. E aí foi uma experiência nossa
115
Vila Valqueire 116
Walter Russo de Souza Junior 117
Andrea Nascimento Ewerton 118
Jamerson Antônio de Almeida da Silva
191
administrativa de gestão e de formulação porque a gente teve que formular
alguma coisa para o Estado. Como eu falei, assim, pensar em política, o
Brasil como não tem um sistema ainda organizado, pensar em política
pública local é município. Pensar em política pública estadual é uma
sobreposição de atividades. O Estado faz a mesma coisa. A SUDERJ fazia
a mesma coisa que o município fazia. Os projetos que chegavam do
Governo Federal, na época do Fernando Henrique119, depois começaram a
chegar na época do Lula, as ações finais eram a mesma, as mesmas,
então a gente colocou isso como desafio. Qual é o papel? Foi o nosso
grande lema do governo. Se a gente ganhasse a eleição, talvez com certeza
continuaria, mas o nosso lema era entender qual era uma política de
esporte e lazer para o estado. Então nesse sentido a gente teve uma
formulação razoável, a gente mandou muito material depois lá para o
ministério, pro Lino120 e tudo mais. Então acho que no âmbito do lazer, da
gestão do lazer, da elaboração, acho que começa por aí, talvez por esse
interesse em níveis de bairro, dentro da escola, esses espaços que eu tive e
depois na gestão mesmo.
P.J. – E como é que se deu teu envolvimento com o PELC?
L.O. – Então aí isso daí eu já estava no ministério, quer dizer, a gente com
a experiência que a gente teve, aqui no Rio, e com a experiência que a
gente teve nessa formulação e na composição nacional, na disputa, na
representatividade política, é aquela coisa assim bem simples. Quem
chegou, teve gente que chegou lá antes porque tinha disponibilidade, eu
me lembro que na época a gente conseguiu reunir um grupo de pessoas
para pensar nisso, pessoas que estavam muito referenciadas. No CBCE121,
no CBCE foi uma coisa importante, uma referência. A própria militância
nossa também na FBPF. A gente conseguiu reunir um grupo de pessoas
para pensar como é que a gente ocuparia aquele lugar lá, porque o
governo de transição estava montado e nós não tínhamos ninguém lá para
pensar no esporte e lazer. A gente conseguiu definir, porque estava todo
119
Fernando Henrique Cardoso 120
Lino Castellani Filho 121
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte
192
mundo muito ocupado, a gente na gestão no Rio, mesmo perdendo a
eleição a gente tinha combinado com a governadora de ir levar tudo
bonitinho até o final, porque a gente chegou lá com tudo destroçado, tudo
destroçado, os caras destruíram tudo, levaram memória de computadores,
a gente não teve nada, nem dinheiro a gente tinha a gente fez milagre aqui
no estado. Mas a gente se comprometeu. A governadora pediu a gente pra
gente levar até o final tudo bonitinho, então a gente não podia sair daqui.
Então quem foi, foi o Veronez122, quem foi coupar o governo de transição
foi o Veronez. A gente tentou alimentar ele... Porque ninguém tinha uma
formulação, ninguém tinha consistência, tinha em nível municipal, mas
em nível... Preparar um PPA123, PPA, preparar... A gente foi aprendendo e
o Veronez, acredito que tenha se movimentado bem lá para correr atrás de
ajuda, de suporte no ministério do planejamento, a gente de alguma forma
tentava ajudar. E aí o Veronez foi e na discussão, no processo de
discussão onde oposição política no ministério, a gente não tinha um
nome para ser secretário, não tinha um nome, houve muito especulação
da nossa parte, a gente não tinha muito... A gente tinha muita capacidade
de formular, mas a gente não tinha muito trânsito com o núcleo duro que
estava se formando naquele período de indicação de nomes. A gente
buscou na época até o Juarez Soares124, na época que era filiado ao PT,
procuramos o Sócrates125 na época também, mas nenhum deles mostrou
interesse, depois se recuou, enfim. Surgi o nome do Lino, o nome do Lino
como uma possibilidade de consenso entre esse grupo que estava, não era
uma coisa assim 100% consenso, mas foi o que saiu. Pela própria
militância dele na educação física e pela formulação dele na área do lazer
também. Não tinha muita experiência de gestão, mas a gente falou assim:
“Um cara que tenha um nome.” Porque, na verdade, o ministro também
queria um nome. Nem ministro tinha ainda para tu ter ideia, nem o
Agnelo126 estava definido ainda. Mas a gente precisava de gente que
122
Luiz Fernando Camargo Veronez 123
Plano Plurianual 124
Juarez Soares Moreira 125
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira 126
Agnelo dos Santos Queiroz Filho
193
tivesse nome, enfim. Aí foi isso. O Lino foi nessa discussão de indicação,
de composição, de equilíbrio de força, não sei o que. O Rio, como eu tive
uma experiência... Eu não sei porque Rio Grande do Sul não entrou, a
entrevista com a Rejane também, mas eu não sei porque que não entrou.
R.R. – Porque na época vocês tinham uma sintonia maior em até disputas,
às vezes, Rio, São Paulo, Brasilia, entendeu? E nós estávamos mais
distante.
L.O. – Entendi. Tu estava na gestão também? Não estava?
R.R. – Eu estava na gestão do município ainda.
L.O. – Então é isso, é isso. Tinha gente na gestão, eu sei que teve isso. Eu
me lembro que a Andrea não estava na gestão lá em cima, eu acho que
tinha perdido você, lá no Pará. O Marcelo127 também estava lá em
Pernambuco. O Jamerson não quis vir, não podia vim, indicou o Marcelo.
E aqui no Rio o Ribamar não queria porque estava... Aí foi uma questão...
Na verdade nosso nome era o Ribamar, mas o Ribamar estava com o filho
pequeno, tinha acabado de separar e eu tinha acabado de casar, enfim, aí
e fui a bola de vez. O Rio tem que estar lá e aí teve a indicação do meu
nome. Então foi isso. Andreia do Pará, eu do Rio... Aí teve uma questão
também de força de representação, a representatividade política que e
também a própria condição de eu colocar “eu só vou para lá se eu tiver
algum cargo, eu ter ajuda de custo e que eu tenha condição de vir para o
Rio” porque eu tava com a minha mulher não quis vir. Minha mulher
tinha acabado de, a gente tinha acabado de casar. E aí a negociação
chegou ao cargo da direção, daí a gente estava compondo aquele... Até
isso foi um processo de compor como é que seria a secretaria, a gente
pegou exemplo de outras secretarias. Tinha umas no mesmo modelo
dessa, quer dizer, a secretaria, os dois departamentos, o departamento de
ciência e tecnologia, o departamento de esporte e lazer...
R.R. – É que isso é muito importante reforçar, não existia o ministério do
esporte. Não existindo o ministério não se tinha estrutura de nada. Tinha
que começar do zero.
127
Marcelo de Almeida Pereira
194
L.O. – Não. Ah não. É verdade. Estrutura, né? Você tinha a secretaria, na
época, a secretaria nacional de esporte, a secretaria nacional de esporte
que era uma secretaria ligada ao ministério do esporte e turismo. Então
você tinha uma secretaria nacional, que era o secretário era Lages na
época, depois eu não lembro se teve outros, acho que o Lages saiu a gente
assumiu, acho que foi direto. Porque o Lula logo que entrou, em 2003,
logo no primeiro, uns dos primeiros decretos dele, logo no início de
janeiro, foi criar o ministério do esporte. Sinceramente até hoje a gente
não sabe de onde veio essa força, isso é um mistério, da onde veio essa
força, por onde ele foi cutucado. O Agnelo não era o nome, o Agnelo surge
depois, porque era um cara que era médico, tinha tido aquele...
R.R. – Porque teve a lei Agnelo Piva128
L.O. – Não. Ele teve uma, ele foi esperto, conseguiu pegar, o Piva129 tinha
morrido (confirmar se morreu). Ele foi relator da Lei e levou a frente.
Então o Agnelo acabou sendo um nome, um cara com nome, um médico,
um cara que tinha uma expressão, um parlamentar e que tinha essa
história com o esporte por causa da Lei Agnelo Piva. Por causa da Lei que
depois ele acabou assumindo, mas enfim. O Lula queria e, como a Rejane
falou, a gente precisava criar uma estrutura e a estrutura foi criada nesse
sentido. Pegamos modelos de outros ministérios, não tinha muita
capacidade de, o PCdoB130 já estava nessa história também participando
dessa discussão e aí se construiu essas três secretarias: Secretaria de
Esporte de Alto Rendimento, Secretaria de Desenvolvimento de Esporte e
Lazer e Secretaria de Esporte Educacional. E dentro da SMDE, da
secretaria nacional, ficou essa composição. Uma diretoria de Esporte e
Lazer, Desenvolvimento de Esporte e Lazer, de Política Sociais de Esporte
e Lazer, uma diretoria de Ciência e Tecnologia do Esporte, que aí teve as
coordenações. Aí daí para baixo coordenações são mais ou menos iguais
às outras, coordenação geral, coordenação não sei o que. Uma estrutura
mais ou menos igual a das outras parte do Governo Federal. Mas acho
128
Lei Agnelo\Piva Nº10.264 129
Pedro Franco Piva 130
Partido Comunista do Brasil
195
importante sublinhar isso que a Rejane falou, porque a gente começou um
processo novo, um Ministério novo que, como eu te falei, alguém deve ter
uma informação privilegiada, mas a gente até hoje não sabe de onde
surgiu, qual foi a força que levou o Lula. Foi um dos primeiros decretos do
Lula criar o Ministério em 2003, janeiro de 2003. Talvez o Lino saiba, não
sei. Porque o Lino também veio depois.
P.J. – E nessa composição, como surgiu a ideia do PELC?
L.O. – Então, a gente quando o Lino conseguiu disponibilidade para ir
primeiro, foi o Veronez, Veronez fazendo parte do governo de transição,
antes não se pensava em nada ainda de um programa. Mas assim, como
teve que preparar o PPA, o Plano Plurianual, a gente começou... O Lino foi
em seguida, eu acho que a Andrea já conseguiu ir, não me lembro
exatamente, eu fui o último a chegar por causa me liberar aqui das coisas
aqui. E aí a gente já estava, já estava assim nesse processo de construção
de um programa de lazer. A ideia era um programa de lazer não era
programa de esporte, era programa de lazer. Só que o PCdoB já estava
instalado no ministério, já estava lá definido o nome do Agnelo nesse
período já para abril, mais ou menos, março. Não existia ministro em
março, para tu ter ideia, mas eu acho que já estava instalado, o governo
ali já estava, o Lino também chegou nessa época, eu cheguei em abril. E aí
o que acontece, essa ideia teve que ser, a gente economizou na ideia
porque teve que abraçar a temática do esporte, porque é o Ministério do
Esporte. A ideia do lazer que a gente trazia com muito forte da nossa ideia
do lazer do trabalhador, do direito ao acesso ao lazer teve que ser mediada
e se cria a ideia de um programa de esporte e lazer, que com todo o
cuidado que se teve, assim no início, da temática do lazer não engolir o
esporte, a temática do esporte não engolir a temática do lazer, mas a gente
lutou isso a vida inteira, mas se pautou o programa. Quando o programa
ficou se tornou um programa orçamentário, porque na verdade ele não se
torna um programa orçamentário de imediato, ele entra no PPA, mas ele
era o último ano do PPA anterior, então você está trabalhando com o
último ano do último orçamento. Ele vai entrar como uma peça
196
orçamento, como uma ação orçamentária, como um programa
orçamentário no outro ano que é outro PPA. Então, mas a gente conseguiu
fazer um desenho, estava desenhado o programa com as ações lá, eu não
me lembro se ele já tinha todas as treze ações na época, acho que não,
não me lembro, ou tinha, não me lembro, mas enfim. A gente foi falar com
o ministro para a gente conseguir implantar o programa. O PCdoB tinha
emplacado a ideia do Segundo Tempo131 já, porque na verdade foi só a
transformação do esporte da escola, o programa esporte da escola que eles
deram uma boa maquiada, criaram uma marca muito interessante foi o
Segundo Tempo, não sei se foi uma competência grande ter criado isso. E
foi a menina dos olhos do ministério, ou seja, para conseguir dinheiro
para o PELC é que o bicho pegou, a gente não tinha dinheiro, e o Lino...
(risos) Vou falar na entrevista, não te como... O Lino nunca foi um bom
negociador. O Lino nunca admitiu o fato, isso também é interpretação de
algumas pessoas pode não ser a dele, mas eu falo sempre falei para ele,
não teve muita clareza do papel dele ali, entendeu? Era um secretário
dentro do ministério que não era nosso, o ministério, a hegemonia, a
maioria do PCdoB, que era um partido que não tinha uma história no
esporte, que viu ali uma possibilidade de crescer, enfim. Eles são muito
competentes nesse sentido, de abraçar uma causa e dando o jeito deles
ali, vão, mobilizam os quadros que eles têm no Brasil, enfim. E a gente
precisava de um bom negociador ali na secretaria, entendeu? Uma pessoa
que compreendesse a conjuntura, fragilidade nossa para começar. O Lino
começou nesse sentido, mas ele se irritava, ele não tinha esse perfil. A
Rejane é mais, tem mais essa flexibilidade, o Lino não tinha esse perfil. E
foi se irritando, enfim. Mas a gente viu que não tinha muito espaço, mas
mesmo com toda essa dificuldade do Lino ele conseguiu, assim, ele foi lá
atrás, conseguiu emplacar... O que o Agnelo cedeu para a gente foi assim
“Vou dar para vocês dez municípios. Tem dinheiro para vocês emplacarem
esse negócio aí em dez municípios.” Porque ele não acreditava, o Agnelo
via aquilo. Porque a visão do cara clássico, de ver o esporte. “Mas lazer?
131
Programa Segundo Tempo
197
Eu pensei em botar esporte para essas crianças fazer” E o nosso programa
tinha esse perfil de pegar da criança até o idoso aí que ele “puff”, enfim,
ele autorizou a gente a implantar o programa em dez municípios do Brasil.
Aí começou a loucura porque o Lino quando falou para a gente essa
noticia a gente começou a procurar como é que a gente vai trabalhar. Caiu
mais na minha secretaria, no meu departamento isso porque era o que a
gente tratava políticas sociais de esporte e lazer. A gente sentou a equipe
eu, o André e o Marcelo e começamos a procurar critérios para eleger dez
municípios em um universo de cinco mil e quinhentos municípios, cinco
mil quinhentos e sessenta e tal municípios. Quais são os critérios que a
gente vai adotar? E aí a gente sentou, conversou várias vezes com o Lino
nesse grupo que a gente tinha que mesclar critérios de ordem, de ordem
de vulnerabilidade socioeconômica e critérios políticos. De vulnerabilidade
socioeconômica não teve desacordo, agora de critério político teve
desacordo porque assim “Qual o critério político?” Como o Lino nunca teve
uma... Ele teve, não vou falar “ele nunca teve”, ele teve uma trajetória
política sim, participou de governo lá em São Paulo, mas nunca teve... O
Lino sempre foi um cara muito mais acadêmico... Se vocês olharem aqui,
de vez em quando aparece umas cabecinhas de tartaruga aqui, tem
bastante tartaruga aqui por incrível que pareça... Mas o Lino ele tinha
dificuldades quando a gente falava assim “Não é importante de pensar,
porque não” aí a fala dele “Não, porque nós temos que ter um programa
republicano, porque se a gente levar essa programa para a prefeitura do
PT” o PCdoB fez isso direto, mas a gente não podia, porque não sei o que,
aquela visão do Lino muito, não vou dizer pura, assim, mas com falta de
habilidade de entender o momento que a gente estava vivendo. A gente
precisava, a compreensão que nós tínhamos eu, o André e o Marcelo era
que o programa tinha que exatamente chegar num lugar que pudesse
“bombar”, porque se ele chega em um lugar que ele não tivesse o mínimo
de estrutura, o mínimo de confiabilidade política, ele poderia minguar. Aí
o argumento para convencer o ministro, que a gente não pensava nesse
caminho de convencer o Agnelo, ia minguar. Então a gente queria que
198
houvesse no Lino exatamente isso “Óh! É importante esse programa
chegar em lugares que ele tenha alguma estrutura física” Porque não
adianta você implantar o programa num município que tenha seja de alta
vulnerabilidade socioeconômica e que não tenha espaço físico que ele não
vai acontecer. Que não tenha algum pessoal, algum órgão que trate da
temática do esporte e do lazer e que esse município tenha alguma relação
de confiança, a gente tenha alguma relação de confiança política, não
partidária, política. Isso foi muito difícil, muito difícil porque o Lino tinha
esse argumento que é um argumento difícil de você rebater. Vamos
combinar que é difícil porque quando ele diz “Temos que levar o programa
onde tenha o PT” Está certo. O Brasil... O PT está no governo, o PT não
manda no Brasil, mas a gente tinha uma outra compreensão que era uma
compreensão estratégica, enfim, isso foi muito difícil. Foi muito difícil e se
aliou a outro lado difícil que foi o critério de definir dez municípios de alta
vulnerabilidade. Quando você abre o mapa do Brasil, IBGE132, o Brasil
vindo do Fernando Henrique todo assim com raríssimas exceções, então
para onde você vai? Você joga, cruza lá, bota critério de pobreza, não sei o
que, analfabetismo, bah! Uma porrada de municípios. Abre um outro
critério, cruza, bah! A gente ficou desesperado. Aí a gente falou assim
“Cara, o que vai ter que pesar vai ser o critério político” entendeu? Porque
nós não temos, a gente começou a ver municípios muito pobres, muito
pobres que se enquadrava nesse critério, mas que não tinha estrutura
administrativa para receber um programa, não ia ter nem gente para
poder tocar isso lá e a gente não tinha certeza de que aquilo ia avançar.
Então eu, por exemplo, tive uma polêmica danada, por exemplo, eu
propus que Niterói fosse, porque Niterói estava sendo administrado pelo
PT, e aí o que acontece, Niterói aparece nos noticiários como terceiro
IDH133 do Brasil, mas se você sair aqui de Niterói, hoje melhorou muito,
mas se você saísse naquela época aqui de Niterói e fosse para dentro, a
tragédia do Morro do Bumba não é à toa aquela tragédia que morreu
gente, tem gente que está sumida até hoje porque ficou enterrada lá no
132
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 133
Índice de Desenvolvimento Humano
199
lixão. É muito sério aqui em Niterói, mas acontece que Niterói cresceu com
essa coisa do IDH, então porque vai botar em Niterói se o IDH é alto? Eu
falava “Cara, não é isso. Vocês têm que ir lá visitar, eu conheço Niterói” Ai
já começou ali [trecho inaudível – vinte e nove minutos e trinta e um
segundos] Aí, enfim, conseguimos emplacar dez municípios levando em
consideração esse critério e o que definiu... Aí o Lino engoliu. Eu não sei te
precisar exatamente como é que foi essa engolida, ele vai falar para vocês
ou vai falar de outro jeito, mas assim de alguma maneira ele engoliu,
porque realmente a gente implantou em Santa Catarina em Dionísio
Cerqueira que era do PT, em Bagé era do PT, o Mainardi134, em Ipatinga
era do PT em Minas Gerais, em Xapuri era do PT, em Ji Paraná era do PT.
Houve uma tentativa do Marcelo, na época, de levar para Caeté, não,
Caeté esteve, Caeté esteve. Só que Caeté foi o que caiu logo de cara,
porque exatamente por isso, Caeté era PT se não me engano.
R.R. – É importante tu reforçar isso, porque nós estamos tentando visitar
esses núcleos todos. E se tem algum que não há assim uma necessidade
da gente ir, porque se tu puderes assim dizer o que
L.O. – Caeté acho que caiu, mas tem que ir em todos, Caeté acho que
caiu, todos funcionam, Caeté acho que caiu.
R.R. – Caetés a gente teria o que fazer lá? Teria com quem falar?
L.O. – Não sei. Acho que vocês podem até falar com o Marcelo, que o
Marcelo nem sei se tem o que contar, mas Caeté acho que caiu porque
não teve, exatamente por isso, por que... Mas eu acho até que foi bom
num universo de dez, um cair, com a dificuldade que a gente teve de
mapear. Nós não podíamos ir lá, a gente tinha uma dificuldade danada,
não era assim o Agnelo não liberava passagem assim. Depois é que a
gente começou a ir. Então assim, Caeté acho que caiu porque não teve
essa estrutura. O Marcelo pode falar até melhor que ele que
acompanhava, a gente se dividiu um pouquinho, eu ficava coordenando,
Andrea e Marcelo dividiam, mas eu ficava muito em campo também. Mas
assim, o Marcelo teve mais contato. E Caeté acho que caiu nesse quadro
134
Luiz Fernando Mainardi
200
de que era muito vulnerável, não tinha estrutura e não se sustentou.
Então começou a dar problema, não teve como receber concretamente o
projeto, repasse de recurso federal. Agora, todos os outros vingaram, cada
um na sua maneira, todos eles vingaram. Xapuri vingou com suas
características, Ipatinga vingou. Uns melhores do que os outros. É, o
PELC tem essa beleza, porque ele tem essa coisa de chegar e traduzir, e
ter a cara do local, ter a cara do local. Agora eu estou me falhando os
outros lugares.
P.J. – Juína, Castanhal...
L.O. – Ijuína. Castanhal, Castanhal no Pará. Castanhal vingou também.
P.J. – Imperatriz
L.O. – Agora... Imperatriz, Imperatriz eu fui punido algumas vezes,
também vingou. Ijuína que eu não me lembro, Ijuína era, Ijuína?
R.R. – É Juína.
L.O. – Ah! Juína. É. Juína.
R.R. – Ji Paraná.
L.O. – Ji Paraná é Rondônia. Ji Paraná... Juína é em que lugar Juína?
Agora é um lugar que me...
R.R. – A gente tinha, nós temos um mapinha disso aí.
P.J. – É.
L.O. – Tá, mas assim, com certeza dos dez o Caetés caiu. Eu não sei se
Caetés caiu e entrou outro no lugar, agora estou na duvida, agora pegou.
Quem pode falar melhor, a Andrea é boa de memoria pra caramba para
isso e o Marcelo também. Mas enfim. Qual era a tarefa? Era um dinheiro
para a gente implantar o núcleo, o núcleo do PELC, o núcleo do até com
aquela formação básica de quatro, uma pessoa cuidando, eu não me
exatamente qual era a estrutura inicial. O dinheiro que tinha era para
pagar esse pessoal, para comprar material de construção, material
permanente, aquela coisa e aí fazer, fazer os projetos. Você fazer os
projetos para poder fazer a transferência, aí os municípios não tinham,
estavam com inadimplência, foi uma loucura. Agora, eu, o que eu
chamaria atenção sobre essa característica assim, houve municípios que
201
absorveram muito melhor e tocaram muito mais rápido porque tem
estrutura. Bagé é o exemplo. Bagé o Mainardi lá era um entusiasta e tinha
estrutura no município, tinha técnico para acompanhar. O Dionísio
Cerqueira, negocinho desse tamanho, oito mil habitantes, não, treze mil
habitantes, na época, não sei como é que está hoje em dia, mas o prefeito
também foi um entusiasta, botou gente para acompanhar, tocou. Niterói
também tinha uma pessoa aqui ótima, que era Juliana, que era assessora
do prefeito, também entusiasta botou para tocar. Então dependia muito
do local. Só que isso, mesmo se acontecendo bem, isso não gerou lá no
Ministro o que a gente queria que gerasse “Óh! Está vendo, o negocio está
certo” O Agnelo nunca acreditou. Ele nunca acreditou eu acho que por
algumas razões, uma delas porque ele acha, a visão tosca do que o esporte
é o que tem que ser “No Ministério do Esporte tem que ter esporte, negocio
de lazer é viagem intelectual do Lino” E por outro lado porque também
tinha uma disputa acirrada do PCdoB, o dinheiro tinha que ir para eles
não para a gente. Porque botar azeitona na empada dos caras lá?
Entendeu? Vocês viveram isso também, continuaram vivendo, não sei se a
conjuntura, atual hoje, com essa coisa da Frente Brasil135 a gente
mudaria se a gente estivesse nessa composição lá, pela própria história
que a gente está vivendo política. Mas assim, na época foi muito isso, acho
que esses dois fatores, o fato do Agnelo não lidar tecnicamente bem com o
tema e por ter que canalizar dinheiro para o Segundo Tempo. Para o
Segundo Tempo é pro esporte de alto rendimento e quem foi para o
esporte do alto rendimento num primeiro momento foi a Paula136, a Paula
que foi para lá, a do basquete.
R.R. – Magic Paula
L.O. – A Magic Paula. Depois é que e não me lembro quem foi para lá. Foi
o... Não me lembro agora exatamente quem foi, foi o que ficou, o André, o
André...
R.R. – André Arantes
135
Frente Brasil Popular 136
Maria Paula Gonçalves da Silva
202
L.O. – André Arantes. É. Mas assim, e aí [trecho inaudível – trinta e quatro
minutos e trinta e sete segundos] mostrar como é que pensousse naquilo
ali. Botar alguém lá que me de tranquilidade no esporte de alto
rendimento, jogar muito dinheiro no Segundo Tempo e administrar esses
caras aqui. Então acho que isso levou a gente ficar meio sufocado. Aí num
determinado momento a gente começou a entender mais como é que
funcionava a estrutura, aí eu sugeri que a gente... Também foi uma
pancada com o Lino, porque o Lino era difícil, não sei o que, não podia
ouvir nada, admitia que vinha sempre da cabeça dele, que ele que era o
grande intelectual, que a gente buscasse recurso nos parlamentares. Que
na hora que os caras perceberam que o programa era legal, que o
programa podia fazer com pouco dinheiro muito barulho e que os prefeitos
também não são bobos viam que a gente tinha, né, tinha retorno para
eles. A gente falou assim “Cara, é pelos parlamentares” E a gente teve o
maior sucesso, a gente ia para aquele para o Congresso, a gente fazia um
sucesso do caramba, todo mundo queria saber. O retorno é que era uma
merda, mas assim, não vinha porque muitas vezes o município não tinha
condição, prefeito não tinha...
R.R. – Mas foi gradativamente foi aumentando.
L.O. – Foi aumentando, mas assim, foi uma estratégia certeira que a gente
fez. O Lino não apostou muito nessa estratégia no inicio não, ele queria
era enfrentamento com o Agnelo, reverter, mas não é, é impossível
acontecer aquilo ali. Então a gente começou a ter uma destinação
orçamentária vinda das emendas cada vez um pouquinho maior grada,
como a Rejane falou, gradativamente, entendeu? E o PELC, eu acho
assim, que cresceu muito pouco. Não por incompetência de quem estava
lá, cresceu muito pouco pela conjuntura, pela corelação de força, mas
cresceu. Agora, eu não sei se vocês estão tocando nisso na entrevista, mas
tem um aspecto que eu acho que também é importante no PELC que foi a
gente também aprendeu uma coisa que a gente nunca tinha feito, apesar
de a gente ter tido experiências locais muito interessantes, mas nós
éramos muito blindados pela própria história do Lino. Isso tem que
203
reconhecer. Nós não conseguíamos levar ninguém para lá. A gente tentou
levar a Rejane, a gente tentou levar o Marcellino137 (confirmar), tentou
levar o Bramante138 (confirmar), tentou levar o Jamerson para... É isso
que eu quero ficar, porque eu vou falar uma coisa assim que ele pode ser
até que ele discorde, mas a Andrea vai concordar e o Marcelo vai
concordar. Nós só conseguimos botar o PELC, porque o PELC tinha uma
ação, tem uma ação que é fundamental que é essa de formação. Você não
tem como fazer o PELC acontecer se não tiver formação, porque o cara que
está lá é um cara que é um prático, um cara que está ali ralando há muito
tempo, conhece muito da comunidade, mas a gente queria é passar alguns
conselhos importantes para ele. E esse, essa coisa da formação era
primeira ação, hoje é mais ainda é mais primeira ainda, era primeira ação.
A gente tinha que chegar, formar esse cara para começar a tocar o negócio
e o negócio não saía e o Lino não autorizava. A gente queria levar o
Jamerson para lá, chamar a Rejane, chamar esses caras para dar uma
geral para a gente chamar a... A Andrea [palavra inaudível - trinta e sete
minutos e de segundos] já tinha vivido a experiência do Pará, de Belém,
mas a gente queria dialogar com esse povo para a gente montar um curso
de trinta e duas horas. Esse já tinha acordo, esse é uma capacitação de
trinta e duas horas, esse tinha acordo. Só não tinha acordo para sair. Aí o
Lino emperrava, emperrava, finalmente a gente conseguiu levar Jamerson,
não sei como a gente conseguiu esse negócio lá, a gente levou o Jamerson,
a gente levou o Marcellino só quando você entrou né?
R.R. – Só quando eu entrei.
L.O. – Marcellino só foi quando a Rejane entrou. A gente conseguiu numa
jogada que a gente fez lá que eu não sei como é que foi, não me lembro,
consegui levar o Victor Melo139 que nem é um gestor, Victor Melo é um
teórico, apesar de ser meu amigo, mas é verdade. E, acho que foi
Jamerson e Victor Melo, e Carlão.
R.R. – O Carlão
137
Nelson Carvalho Marcellino 138
Antonio Carlos Bramante 139
Victor Melo de Andrade
204
L.O. – Não sei por que o Carlão também apareceu lá, também foi uma
jogada que a gente fez, foi uma jogada, a gente fez uma jogada para o Lino,
para enganar o Lino. E aí a gente sentou e montou, eu tomei a frente
dessa história junto com o assistente a gente montou uma. Apresentei a
Andrea e o Marcelo, a gente fez alguns ajustes aí ficou pronto o primeiro
curso de formação do PELC, isso foi... Primeiro lugar que a gente
experimentou a formação do PELC foi em Dionísio Cerqueira. A gente
montou... Ah não. E aí teve outra, montagem do grupo de capacitadores. A
gente chamava de capacitadores, foi maior também problema “como é que
a gente vai montar?” não sei o que. E o Lino, nessa hora, eu acho que ele
cedeu. Ele viu que o negócio tinha acontecer, ele tava tentando vetar, não
sei o que, aí ele deu uma relaxada. A gente montou um grupo, não me
lembro, mas acho que foram dez inicial, não sei. Me lembro que, eu me
lembro quem tava fazendo a formação era Carlão, eu não me lembro os
primeiros formadores.
R.R. – Diná140, Mascarenhas141
L.O. – Diná. No primeiro foi o Mascarenhas não.
R.R. – O próprio Ribamar não foi formador?
L.O. – Cara, Rejane, eu tenho isso em algum lugar, mas eu não sei
exatamente os nomes. Andrea guarda isso tudo, mas assim...
R.R. – A Andrea deu uma entrevista bem grande, mas acho que ela não
chegou comentar, ela estava com uma trajetória de muitos anos de PELC.
L.O. – Uhum. Muita coisa na cabeça.
R.R. – Ficou muita coisa eu acho que esse foco ela não
L.O. – Mas olha só, é legal você resgatar esse primeiro grupo, mas assim, o
Ednaldo142 eu tenho certeza, o Carlão eu tenho certeza, porque sabe está
misturando na minha cabeça Escola Aberta.
R.R. – É
L.O. – Está misturando Escola Aberta. Escola Aberta teve muita gente
também desse grupo, mas enfim, a gente conseguiu montar um grupo que
140
Diná Teresa Ramos de Oliveira 141
Fernando Mascarenhas 142
Edinaldo da Silva Pereira Filho
205
a gente deu um curso, lá em Brasília, para esse grupo e deu um curso...
Ah! Victor Melo. Victor Melo participou da primeira. O Victor Melo é que
foi para Dionísio comigo.
R.R. – Olha só.
L.O. – Victor Melo foi para Dionísio comigo. Eu me lembro até... Vou
contar uma história engraçada aqui. Victor Melo, primeira formação,
Dionísio era aquela população assim lavrador mesmo, as pessoas assim
que tinha um trabalho lá na comunidade, mas eram lavradores, pessoas
bem assim humildes.
R.R. – Parecia aquele filme maravilhoso que foi em Dionísio, não foi?
L.O. – Foi. Foi em Dionísio.
R.R. – Filme maravilhoso.
L.O. – E aí aquela coisa, todo mundo sentado lá, Secretaria de... O prefeito
foi, a secretária de educação estava lá com a gente, a mulher do prefeito
que tinha sido secretária sentado lá, o Victor... Essa é emblemática, Dona
Rejane, não sei se te contei já isso?
R.R. – Não
L.O. – O Victor pega uma música, ele queria começar a formação ao invés
de falando ele começar com uma música. Ele pegou uma música, um
poema do Waly Salomão143 que é um já morreu, mas é um cara louco, era
um intelectual, um cara da cultura nossa. Só que é um poema assim bem,
assim, como é que a gente fala? Da periferia, uma coisa assim, uma
linguajar completamente louco, entendeu? Que faz sentir mais louco. Uma
música de fundo, ai o Victor falou assim “Boa tarde” se apresentou, bom
dia, sei lá, ligou aquele negócio. Aí todo mundo ficou assim, escutou
aquele negócio, terminou, ninguém sabia o que estava acontecendo (risos),
aquela loucura. Aí a secretária estava lá atrás de mim falou assim
“Professor, que esse cara está fazendo lá na frente?” Porque o Victor fala
muito de cinema, não sei o que.
R.R. – Não e ele tem aquele estilo também muito a vontade.
143
Waly Dias Salomão
206
L.O. – Cabelão, não sei o que. Aí ela falou assim, levantou o braço, ela
falou “Professor, posso falar uma coisa?” “Fica a vontade, secretária” ela
levantou “Professor, o senhor sabe quantos quilômetros fica o cinema
mais próximo daqui de Dionísio Cerqueira onde é que fica?” O Victor
começou a falar que eles tinham que ir para cinema “O cinema mais
próximo daqui de Dionísio Cerqueira fica a 150 km daqui” (risos).
Conclusão, o Victor fez a formação, mas depois no final ele falou assim
“Luizão...” Ah! Não. Ele fez a primeira parte e a Diná fez a segunda, ele
não pôde, o Victor nunca pode ficar em lugar nenhum o tempo inteiro. Aí
ele falou assim “Luizão, eu quero te falar uma coisa, eu não quero mais
fazer capacitação nesse tipo, eu sou um cara urbano. Me bota lugar
urbano, não me bota nesse lugar que eu não conheço nada disso” (risos)
Achei legal que ele mesmo foi humilde falar, mas enfim, essa coisa, a
gente começou a fazer a formação com esse formato de trinta e duas horas
discutindo cultura, discutindo conceito de cultura, discutindo critério de
lazer, conceito de esporte, discutindo conceito de cultura popular, de
educação popular. Era um curso bem redondinho, bem legal, mas a gente
foi aprimorando ele com o tempo. E foi o que foi fez o PELC andar, porque
se não, se fosse depender do Lino não saía do lugar. E não sei o que ele
queria botar ali, mas a gente fez aquilo de primeira, ficou bem redondo.
Eu acho que eu tenho essa formação desde o início.
R.R. – Tem como nos conseguir?
L.O. – Eu tenho isso, eu tenho isso sim. Eu tenho isso sim, eu posso
mandar para vocês. Tenho ela depois da modificação que a gente fez da
primeira, foi a base da Escola Aberta. Foi a base da Escola Aberta. Então
acho assim... E aí a gente conseguiu fazer, botar o PELC para funcionar
porque tinha capacitação, porque uma ação fundamental para gente. E
depois tinha uma ida de novo... A volta que estava no programa, que eu
não gostava muito e que eu acho que a volta não tinha que ser uma volta
difícil localização, tinha que ser uma volta de colher o que tinha
acontecido e refazer uma capacitação, uma capacitação com tempo menor,
mas você colhendo o que tinha acontecido a partir dali depois de uns seis
207
meses e fazer de novo. Os convênios eram uns doze meses, era um
convênio... Na verdade até o convênio sair, acabar ficando muito curto,
então muitas das vezes a gente não conseguia fazer isso. Essa vontade
que tinha de voltar e dar uma capacitação alinhada ao que se já tinha
acontecido nessa formação, como resultado dessa capacitação inicial. Isso
eu queria levar, porque eu acho assim que era uma ação fundamental no
PELC. É ainda até hoje.
R.R. – É ainda até hoje.
L.O. – Mas foi ela que fez o PELC andar.
P.J. – Falou que um dos municípios que caiu foi Caetés e um dos que
deram mais certo desses dez pilotos?
L.O. – Cara, eu acho assim, eu acho que Ipatinga deu muito certo, Bagé.
Cada um com seu perfil.
R.R. – Ipatinga ainda não era consórcio então na primeira vez.
L.O. – Não, não, não foi. Depois eles é que começaram a estimular. A gente
aprendeu muito com os municípios porque eles começaram a ver que eles
podiam fazer o consórcio. O Ministério... A gente convencer “Cara, não tem
dinheiro vamos fazer consórcio” Mas Ipatinga é que sinalizou isso para
gente, entendeu? Mas assim, o que eu diria, cada um a sua maneira, cada
um do seu jeito, um mais esportivizado do que outro. Bagé era muito
esportivizado, entendeu? Mas assim, muito certinho, como Bagé era muito
frio o menino lá arrumou agasalho do PELC, nunca mais vou esquecer
disso, não tinha... A roupa do PELC era aquela roupa lá do Segundo
Tempo, que eles produziam lá no Pintando a Liberdade144. O programa
Pintando a Liberdade era calça, camisa do PELC, mas o prefeito, mesmo
sem dinheiro, botou dinheiro dele, fez um agasalho para todo mundo.
Todo mundo. Então tinha uma coisa...
R.R. – Te lembra que lá o PELC construiu até um ginásio.
L.O. – Construiu ginásio, teve dinheiro, teve dinheiro o PELC. Então
assim, eu acho que cada um na sua maneira. Acho que Ipatinga foi muito
144
Programa Pintando a Liberdade
208
bom, Niterói também foi muito bom, Bagé foi muito bom, Dionísio
Cerqueira foi muito bom, esses são os que eu lembro mais assim.
R.R. – Xapuri?
L.O. – Xapuri também com muita, com as características muito próprias
lá também deles. Eles viveram problemas lá depois por causa de negócios
desvio de grana assim, mas assim como também Ji Paraná, mas assim
também vingou. Agora, eu não posso, eu vou estar, acho que é melhor
botar na mão de quem fala melhor, eu posso estar... Eu fui a Ji Paraná
duas vezes, assim, para acompanhar capacitação, para ver e fui também a
Maranhão.
R.R. – Imperatriz.
L.O. – Imperatriz duas vezes, fui com o Lino, inclusive, uma vez, que o
Lino não ia, o Lino tinha isso ele não ia. Tinha esse problema dele não
botar o pé no chão, entendeu? E a gente queria levar. Consegui rebocar o
Lino para... Ele mandava o Veronez.
R.R. – O Veronez vai ser um bom complemento para essa entrevista.
L.O. – É. Porque o Veronez, por exemplo, teve a coisa da ciência e
tecnologia que tinha para tocar as pesquisas e tudo mais, mas assim, o
que eu posso te dizer é isso. E os outros que eu não vou me arriscar a
dizer que foi ruim ou mal porque eu não acompanhei tanto. Eu fui... Mas
assim, não te... A impressão que eu tive indo as vezes que eu fui, que não
foram tantas como eu acompanhei os outros, mas assim, pelos relatos que
a gente tinha nos relatórios, na execução, os relatórios de execução, a
quantidade de pessoas frequentando, as novidades, a gente não teve
muita notícia boa não. Mas acho também que isso tem muito a ver com a
própria divisão do Brasil, a região Sudeste e a região Sul tem muito mais
suporte, muito mais formulação. Lá as pessoas sempre tiveram muito
mais dificuldade, enfim, acho que faz, tem a ver um pouco com a história
do Brasil mesmo essa divisão que mudou muito dos últimos anos, mas
ainda tinha muito isso no início.
P.J. – E esse primeiro grupo de formadores, assim, e quantas pessoas
eram formadas mais ou menos e como que ela...
209
L.O. – Isso que eu estou te falando eram dez, cara, eu não consigo
lembrar, posso mandar, eu vou achar isso daí, posso mandar para vocês,
mas eram dez ou nove não me lembro. E a distribuição era de acordo com
o tempo que eles tinham, mas a gente começou a bota uns mais
vinculados a um lugar, porque já se conhecia mais a realidade. Porque na
verdade, como falei, eles iam numa e eram, uma vez, e depois a ideia era ir
voltar de novo para fazer essa discussão mais aprofundada. O Governo
não... O Ministério não liberava essa segunda. A gente conseguiu fazer
algumas poucas. Os relatórios devem ter isso registrado, mas assim, e
procurávamos essas pessoas eram, como é que se diz, uma grade de
horários de alocação das pessoas que tinham que respeitar o tempo delas
no trabalho delas e também a disponibilidade que a gente tinha para fazer
nos núcleos. Porque no início, primeiro foi Dionísio, mas depois começou a
ter uma avalanche quando. Quando começou a autorizar a execução
porque o dinheiro, o governo estava feito aí tinha que fazer a formação.
Então tu começava, começou a ter a correria, mas enfim, todo mundo se
dividindo, eu me dividia, Andréia também. Eu acompanhava, Andrea
acompanhava e o Marcelo acompanhava, sempre tinha um de nós. Era
pequeno ainda.
R.R. – A equipe que vocês tinham, nesse inicio do Ministério, para
trabalhar com o PELC lá administrativamente, como é que era?
L.O. – Não. Eu, eu dirigindo, Andrea coordenando, Marcelo coordenando,
aí depois tinham os técnicos. Betinha, Ana, Cidinha, Cidinha veio depois,
o Mario, o Leandro depois veio, mas enfim. Era esse grupo que não ia a
campo. Depois de muito tempo porque a Bete... A Bete a Rejane sabe é
uma pessoa que tem uma competência muito grande porque ela trabalhou
com [palavra inaudível – quarenta e sete minutos e vinte e oito segundos],
ela é uma pessoa. Então ela podia ir para campo, mas a gente não
confiava nela. A gente não confiava pelo fato deles saberem que ela tinha
transitado muito com esse governo, ela tinha uma certa coisa, depois ela
se acostumou com a gente, mas ela tinha uma certa resistência. Não
pegou isso. Bete tinha uma coisa chegando os vermelhinos aí, entendeu?
210
Vou tomar conta dessa merda aqui. E a Bete foi uma conquista, um
processo de conquista dela, ela era uma pessoa muito competente. Depois
ela começou ir para o campo, mas inicialmente era eu, Andrea, eu, Andrea
e Marcelo no campo.
R.R. – [palavra inaudível – quarenta e sete minutos e cinquenta e quatro
segundos]
L.O. – E o Lino não ia não, estou te falando. Não sei porque ele não ia, aí
vou fazer juízo de valor. Eu consegui rebocar ele para lá, para esse lugar
aí, era no Maranhão, esqueci do nome.
P.J. – Imperatriz
L.O. – Imperatriz, mas ele não ia. Também não sei se ele tinha que ir, era
secretário, mas eu acho bom o secretário conhecer, saber do que tu está
falando até porque ele gostava de discutir lazer, o Lino.
R.R. – Depois qual era a sensação que tu tinha com relação ao que vocês
projetaram e como evoluiu o PELC enquanto tu ainda estavas lá?
Alcançou? Porque foi uma idealização. Foi um sonho de certa maneira.
Política pública.
L.O. – É, Andrea... Oh Rejane, eu acho o seguinte, eu já falei isso [trecho
inaudível – quarenta e oito minutos e trinta e quatro segundos] nossa na
campanha da Dilma145, até falei isso com a Andrea no email que e mandei.
Menina lá, aqui de Brasilia, a baixinha.
R.R. – Antonieta146 (confirmar)?
L.O. – Antonieta falou: “Ah! Luis, não é bem assim.” Eu penso seguinte
assim, a gente pensou um programa, idealizou um programa de lazer,
fizemos, a gente fez as concessões necessárias, [palavra inaudível –
quarenta e oito minutos e cinquenta e cinco segundos] no Ministério de
Esporte, não era o Ministério do Esporte e Lazer, era o Ministério do
Esporte. Essa temática é uma temática muito fluida, não está claro. Os
gestores não pensam. Se você perguntar ao Lula, hoje, que que ele fazeria,
ele vai falar muito parecido que ele falava naquela época. Então assim, é
um tema em disputa. O lazer é uma temática que é disputada até na
145
Dilma Vana Rousseff 146
Antonieta Martins Alves
211
Europa, imagina aqui que é tão recente. Então eu acho assim, com todo
essa nossa dificuldade acho que a gente conseguiu criar uma marca.
Agora, eu acho que há coisas no PELC que desde o início a gente insistiu
demais, eu acho que a gente tinha... Talvez a ação do Vida Saudável tenha
sido uma saída, que é essa coisa da internacionalidade. O pessoal que
trabalha aqui com isso, eu discuto muito. Eu estou lá em a ver onde eu fiz
o pós doutorado agora, tinha uma menina que pesquisava isso também e
ela vivia isso. Ela trabalha projetos em Portugal por toda a política para
idoso todo equipamento de idoso do lado tem uma creche. Do lado é um
equipamento de educação infantil. É isso. Isso já demonstra claramente a
visão que o gestor tem, porque tem criança tem que ter velho, é quase
igual na cabeça do gestor. Então e ela, ela fazer uma pesquisa essa
menina sobre os projetos, que projetos mais vingaram quando
trabalhavam intergeracionalidade? Então ela falou que a área de artes e
cultura era que mais vingavam, segundo essa menina, o nome dela é
Sacha147. Quando entrava esporte, qualquer coisa, não vingava. Então
esse era uma temática eu acho que a gente criou muita expectativa nela, a
gente botou muito utopia nela, mas a gente não conseguiu, ficou muito no
conceito e a gente não conseguiu porque faltou compreender mais a
realidade. É difícil fazer isso. E acho que o Vida Saudável, de certa forma,
cumpriu um papel aí. Uma ação orçamentária, não tinha muito dinheiro,
mas cumpriu um pouco o papel. Mas acho assim, como política de política
de esporte e lazer eu acho a gente criou uma marca, mas, Rejane, eu acho
assim, enquanto a gente não criar um sistema nesse país a gente não vai
conseguir, porque é difícil o governo brasileiro federal ficar afomentando
isso, entendeu? A ideia do Lino, isso o Lino tem um mérito que ele insistiu
muito com isso, que era ideia e ele falava isso o tempo inteiro e a gente
tinha concordância, é um mérito dele. Não só esse, ele teve outros méritos
também, mas o Lino tem um mérito assim muito forte que era de dizer o
seguinte “Nós estamos conceituando um trabalho, a gente está querendo
criar um conceito no Brasil” Por isso... E eu vou falar uma coisa, acho que
147
Sacha Vieira
212
o tiro que o Agnelo deu na gente, dar dez para a gente, dez município só
por um lado não foi ruim, por um lado foi bom porque eu acho que
política pública tem que ser feito por projeto piloto. Projeto piloto talvez
dez fosse muito, quando a gente tivesse mais dinheiro para implantar de
forma regional, fazer uma coisa mais. Porque o projeto piloto é necessário
se não você gasta dinheiro à toa, você tem que fazer, experimentar. A
gente não conseguiu fazer isso, experimentar, conseguiu na nossa forma,
no nosso jeito, mas como uma política, assim clara, como a gente colocou
no papel a gente não conseguiu. Porque a ideia nossa, Rejane deve, não
sei se está escrito em algum lugar, a ideia original do Lino, e que seu
equívoco político, é que nós deveríamos chegar, fomentar, ao chegar o
local se apropriou, a gente vai embora, deixa ali a semente plantada. O
prefeito falava “Vocês estão loucos”. Volta Redonda, por exemplo, aqui o
exemplo de Volta Redonda. A gente fez, vocês vieram para cá, a gente
mostrou para vocês que a gente sabe fazer, vocês vão embora agora? Não.
Agora vocês tem que ficar.
R.R. – Tinha muito prefeito que já nem queria porque nós íamos abrir as
possibilidades e depois eles não queriam arcar.
L.O. – Exatamente. Porque a ideia do PELC original era essa. Você
fomentar, criar estrutura local que não existisse, existia por exemplo, uma
secretaria, alguma coisa que tomasse conta, começasse a botar dinheiro
no orçamento e eles tocasse o projeto. A gente viveu uma polêmica porque
o cara não queria isso, ele queria (risos). Por isso que eu falo, raros são os
exemplos como o do Mainardi que começou a tocar, mas não queria que
nós saíssemos de lá, mas começou a tocar. De Ipatinga que também
começou a botar recurso próprio. Niterói não botou, aqui em Niterói era
inadimplente por causa do governo anterior, mas Ipatinga, Bagé, Dionísio
Cerqueira começou a botar dinheiro próprio. Então acho assim que como
política a gente criou uma marca, mas enquanto a gente não tiver o
sistema eu não sei se essa marca fica, entendeu Rejane? Eu não sei
porque, porque é muito difícil a gente ir lá em Brasília fomentar isso, é
muito dinheiro, é muito tempo é muito grande o Brasil, entendeu? Mas
213
acho assim, nós criamos uma marca, nós criamos uma marca, um
programa que pode ser copiado e ser ajustado localmente como o Escola
Aberta também. Escola Aberta foi uma marca, hoje tem governos
municipais que fazem Escola Aberta, mas assim, eu acho que criou uma
marca. Acho que criou uma marca.
P.J. – Quer perguntar mais alguma coisa?
R.R. – Não.
L.O. – Fechou?
R.R. – É que na verdade [palavra inaudível – cinquenta e três minutos e
vinte e sete segundos] na verdade tu vontade tanto na Andrea falava, a
gente fica conversando, quando lembra “Mas e isso?” (risos) Mas essa
parte eu não posso. O que eu ia dizer, uma parte importante que ficou era
o seguinte, a comunidade se apropriar do direito ao lazer. Porque se ela
nunca teve nem sabe que pode ter.
L.O. – Ah! Eu posso falar sobre isso.
R.R. – Ah! Pois é, então pode.
L.O. – Porque isso é uma coisa que é...
R.R. – Isso eu acho importante.
L.O. – Porque eu acho que é uma coisa... Nós tínhamos a intenção, não só
do gestor. Assumir o programa e tocar, mas a pessoa se sentir autônoma,
usar o seu tempo livre de forma crítica que era o grande barato nosso. Ele
perceber que ali era um direito dele. Eu quando... O segundo edital,
porque... Ah! Eu não vou entrar na esfera do Veronez porque a esfera dele
e do Lino, mas assim, todo o processo de construção das pesquisas, do
DESTEC, foi um processo meio complicado. Primeiro não teve edital,
foram os amigos, os amigos (risos), depois a gente começou a ter edital.
Mas no segundo edital, na gestão que tu já estava lá, até conversei, na
época, com a Cássia um pouco que eu tinha feito exata na segunda
rodada do meu projeto, na segunda, que era exatamente isso. Até o título
o projeto era “Os órfãos do PELC: como andam?” Então a minha ideia era
pesquisar acho que uns dois núcleos do Rio [trecho inaudível – cinquenta
e quatro minutos e quarenta e quatro segundos] um núcleo de Niterói, um
214
do Rio, eu não me lembro mais onde, para entender se a população se
apropriou. Que a minha intenção era exatamente essa, para saber se a
gente conseguiu emplacar no cidadão local essa compreensão de que o
lazer é um direito dele e ele lutar por isso. Isso a gente não tem, não sei
está rolando alguma pesquisa nesse sentido ou se tem, mas eu não tenho,
se eu for falar eu vou falar com um dado impressionista. Por exemplo,
aqui em Niterói onde houve parou e ficou por isso mesmo. Sempre quando
a gente dava capacitação a gente dava exemplo do Cristovam148, do
Cristovam Buarque em Brasília. O Cristovam Buarque ele perdeu, ele era
do PT ele perdeu a eleição para o Roriz149 quando ele era do PT. E o
Cristovam ele é uma das marcas do governo. O Cristovam foi a Brasília
você tem que atravessar na faixa e o carro para. E o Cristovam ele
começou essa marca ficou no governo dele, ele levou para a Câmara,
votaram, aprovou, ficou a marca. Mas o Cristovam também no final do
mandato começou a tentar ocupar mais do Lago Paranoá com
equipamento de lazer, ele começou a botar ônibus de graça, acho que era
R$1, não sei quanto é que era, de graça, para as pessoas da periferia irem
para o lago, para a margem do Paranoá porque o Paranoá é um lago que
foi criado para aumentar umidade da cidade não foi para rico ficar
construindo mansão a borda nem para botar clube naquela borda. E o
Paranoá deixou de ser... Aí ele começou implantar. Ele perdeu eleição
para o Roriz, ele já tinha alguns equipamentos já construídos na beira do
Paranoá. É Paranoá o nome daquele?
R.R. – É. Lago Paranoá.
L.O. – E aí quando ele perdeu a eleição, o Roriz a primeira coisa que ele fez
foi tentar dar uma cravada para tirar as travessias com o argumento de
que estava tendo muito gente atropelada. Mentira. Ele não conseguiu fazer
isso. A população manteve aquilo. Em contrapartida o que aconteceu no
Lago Paranoá ficou e foi abandonado.
R.R. – Foi abandonado.
148
Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque 149
Joaquim Domingos Roriz
215
L.O. – Ou seja a compreensão de que aquilo era um direito do cara não foi
apropriado. Eu acho que o PELC vive um pouco isso. A gente não
conseguiu por uma série de razões, acho nem incompetência do gestor.
R.R. – Mas é que o PELC se não conseguiu sensibilizar todas, até porque
não atuou diretamente em várias comunidades como se gostaria e no
tempo necessário para a educação se consolidar.
L.O. – Isso.
R.R. – Ele avançou muito, no meu entendimento, dentro das
universidades.
L.O. – É verdade
R.R. – No conhecimento da nossa área com relação ao lazer e a política
pública.
L.O. – Não, isso é verdade. Na produção. Agora, isso tem que se traduzir
lá, Rejane, tem que se traduzir lá na ponta isso, porque não da para esse
conhecimento ficar ali dentro só. Eu falo aqui ó. Eu falo isso aqui todo dia.
A gente fala todo dia na universidade. Eu acho que o... É verdade, gerou
muita produção nessa área porque muitas pessoas começaram a se
interessar, estudar o Segundo Tempo, estudar o PELC. É uma... A criação
do Ministério foi uma virada de página no Brasil, entendeu?
R.R. – Eu acho que em termos de políticas sociais foi.
L.O. – Foi virada. Foi virada. Foi virada porque independente da crítica ou
não a gente pode partir daí, entendeu? A gente pode partir daí. Agora,
acho assim, eu não tenho, acho que valeria a pena estimular pesquisa
nesse sentido para ver a compreensão da população nesse sentido, se
apropriar desse direito porque realmente a gente, a gente vê que a gente
começa, muita gente começa do zero, é para começar um projeto começa
do zero. Mesmo onde já teve alguma coisa tu começa do zero.
[FINAL DA ENTREVISTA]
216
Depoimento de Luis Carlos Bhorer
Depoimento de Maria Leonor Ceia Brenner Ramos
Depoimento de Rodrigo Barbosa Terra
Entrevistado/a: Rodrigo Barbosa Terra
Nascimento: 03/12/1968
Local da entrevista: EEFFTO/UFMG - Belo Horizonte
Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos
Data da entrevista: 19/11/2015
Transcrição: Adriana Zimmermann
Copidesque: Silvana Vilodre Goellner
Pesquisa: Luiza Aguiar dos Anjos
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
Trajetória profissional; envolvimento com temática do lazer; atuação como
formador do PELC. Formado em EF pela UFRJ, Doutor em EF pela
Universidade Gama Filho, professor da Universidade Católica Dom Bosco
(MS), assessor especial da Prefeitura Municipal de Corumbá (MS) e
formador do PELC.
217
Entrevista com Rodrigo Barbosa Terra dia 20 de novembro de 2015,
entrevistadora Luiza Aguiar.
L.A. – Primeiramente muito obrigado Rodrigo por ceder espaço em um
momento que eu sei que tem muita coisa importante acontecendo. Queria
que você começasse me falando sobre a sua formação.
R.T. – Eu sou professor de Educação Física formado na UFRJ em 1991,
tenho uma especialização em Didática e Metodologia do Ensino Superior,
fiz um Mestrado em Educação e Doutorado em Ciência do Exercício e do
Esporte.
L. A. . – E como é que a temática do Lazer esteve presente ai na sua
trajetória?
R. T. – Na verdade a temática do lazer entrou na minha vida em um viés
talvez diferente de quase todos os outros, não foi via academia, foi via
gestão, durante um determinado momento da minha vida eu fui Secretário
do Esporte do estado do Mato Grosso do Sul e ao pensar a gestão do
estado, a gestão pública, eu acabei me deparando de uma maneira mais
séria vamos dizer assim, não que eu não tivesse visto isso antes, mas de
maneira mais séria, em uma preocupação em desenvolver políticas de
lazer, políticas públicas de lazer e ai com isso me interessei pelo assunto e
comecei a ter contato com várias pessoas, participar de vários eventos
científicos e tal, e acabei me dedicando um pouco mais a isso, meu
mestrado já começa a trabalhar nesta área e o doutorado também, então
na verdade foi um viés diferente do que eu acho que a maioria que foi da
academia e acabou caindo aqui na gestão do PELC, o meu foi via gestão e
foi pra academia e agora volta pra gestão, agora não, já a um tempo, ao
executar esse trabalho do PELC.
L. A. A. – E quando você acabou essa secretaria?
218
R. B. T. – Foi do período de 99 até 2004.
L. A. A. – E quais foram as temáticas, de forma sucinta, do seu mestrado e
doutorado?
R. B. T. – O mestrado foi um estudo de caso de um parque público do
Mato Grosso do Sul, que eu havia sido secretário, que a gente desenvolvia
um projeto de lazer comunitário, bastante semelhante a esse do PELC,
mas mais localizado, e a gente estudou esse parque e do doutorado
estudei a questão da gestão de mega eventos esportivos.
L. A. A. – E como você conheceu o PELC?
R. B. T. – Também na gestão, no momento em que o Ministério do Esporte
lança a proposta do PELC ele... Possivelmente uma das primeiras
reuniões, não tenho bem certeza disso, mas possivelmente uma das
primeiras reuniões onde a proposta inicial do PELC foi apresentada, foi em
uma reunião do fórum dos secretários estaduais do esporte, e eu era
secretário na época e lá foi o primeiro contato com o programa e me
interessei imediatamente pela questão do programa e como eu tinha um
contato muito próximo com as pessoas que estavam dentro do Ministério e
também era secretário estadual e de uma mesma base político-partidária
que eu atuava no governo do estado também era do governo federal, então
tinha uma relação muito próxima da questão, de trocar informações,
tecnologias e tal, então de uma maneira não oficialmente, mas eu acabei
ajudando, dando sugestões dicas, na construção inicial mesmo do
programa e logo em seguida a minha saída da secretária de esportes, que
acaba o governo, eu sou convidado então para participar mais
diretamente, na época acho que o nome nem era formador, acho que era
chamado de consultor na época disso que a gente chama hoje de
formação, desse grupo de formação.
219
L. A. A. – E você teve algum tipo de preparação pra assumir essa função
de formador consultor?
R. B. T. – Não, oficialmente não a preparação que eu tive foi essa de ter
essa experiência já como secretario lá na gestão estadual e de ter por isso
contato com o PELC de ter projetos semelhantes a esses que aconteceram
na gestão estadual, mas não teve uma formação específica pra isso “pra
você ser formador precisa ter passado por isso e por isso o por aquele
curso” enfim formação mais específica não, acho que inclusive não existe
isso para ninguém.
L. A. A. – E você atua tanto no PELC Todas as Idades - Urbano, quanto
Vida Saudável e o PELC Comunidade e Povos Tradicionais?
R. B. T. – Não existe formalmente essa divisão, dos formadores que vão
atuar mais em um ou mais em outro, essa divisão formal não existe, mas
a gente percebe que há uma preferência por aquele que tem uma... Se
debruçam mais a esses temas, principalmente de comunidades
tradicionais, eu nunca participei de nenhuma formação dessas de
comunidades tradicionais, até porque não sou um estudioso mais a fundo
dessas questões, então assim acabo ficando mais no PELC Urbano
mesmo, mas se for o caso enfim terei que me dedicar um pouco mais, na
questão da programação de construir a programação, com certeza teria
que ter um esforço muito maior, porque não é um área que eu domino
tanto, mas toparia, até porque o programa é um programa só, a idéia é
levar uma política de esporte e lazer de qualidade para todas as regiões do
país.
L. A. A. – E como é que é o seu processo de planejamento e organização
das atividades de formação?
220
R. B. T. – Da programação em si?
L. A. A. – Isso.
R. B. T. – Bom assim a gente tem todo um meio que um ritual já colocado,
você recebe a informação de que você foi convidado para fazer aquela
formação, então você procura, então o Ministério do Esporte e agora a
UFMG fazem isso, tem feito isso cada vez de forma mais organizada e
sistematizada, no espaço os contatos de quem são as pessoas que cuidam
do programa lá, geralmente do coordenador geral, do coordenado
pedagógico, tem um orientador pedagógico dentro do ministério que agora
executa uma função bem interessante, então a gente faz uma relação com
essas pessoas antes procura saber como é que é a realidade lá da região e
a partir disso tenta construir uma programação que seja mais próxima
possível daquilo que a gente vai encontrar lá, confesso pra você que isso
nem sempre é muito fácil, porque às vezes a gente não consegue contato
com as pessoas, liga e elas não atendem, às vezes esta muito corrido não
da tempo de ligar porque perde o prazo e tipo “ó você tem que entregar
essa programação daqui a dois, três dias”, ou você não encontra, ou
mesmo você consegue falar com a pessoa, mas você percebe que ela
também, a pessoa lá do local, não esta tão inteirada assim como você
gostaria que ela estivesse, mas o ideal é esse, o ideal é que a gente consiga
ter um tempo hábil pra conversar de uma forma um pouco mais
aprofundada com essas pessoas, tanto com as pessoas ligadas à parte
pedagógica do ministério, quanto aquelas responsáveis por essa parte lá
do município enfim do local onde vai funcionar o programa e tentar
construir a partir dessa lógica mais local, logicamente que respeitando as
diretrizes, objetivos do programa, uma programação que atenda e que
respeite essa realidade local.
221
L. A. A. – E tem alguma temática que você costuma dar maior prioridade,
que você entende que é mais cara ao programa ou aos contextos que você
se envolveu até o momento?
R. B. T. – Olha, assim, eu acho que essa formação ela é um momento de
você instrumentalizar aquelas pessoas que vão atuar no programa e o
programa é um programa que ainda não é tão conhecido assim, e tem
uma outra questão, eu tenho a opinião de que o programa é um programa
que não é tão conhecido, que é complexo, que essa temática do lazer ela
não é comum a todos, não são tantas pessoas que dominam a temática do
lazer como a gente domina, porque a gente estuda isso no nosso dia a dia,
mesmo as pessoas que atuam, principalmente no campo da educação
física, não tem esse domínio tão grande, então assim é importante que a
gente tente conseguir instrumentalizar as pessoas que vão atuar com
algumas informações, com algumas ferramentas que na minha concepção
são importantes, então eu procuro tentar trabalhar com essas
ferramentas, então por exemplo a questão das diretrizes, é um questão
muito importante que eu dou uma ênfase muito grande, a questão do
planejamento pedagógico lá do tal do PP, também uma outra questão
bastante importante e sem dúvida nenhuma os conceitos básicos do lazer,
porque eu fico sempre pensando o seguinte, como é que eu vou montar,
eu se fosse um coordenador de núcleo, um agente, como é que eu vou
montar uma grada horária de qualidade com, apresentando uma
capacidade grande de atividade diversificada se eu não conheço nem quais
são essas atividades, se eu não conheço nem quais são os interesses do
lazer, então assim, eu sempre fico pensando em especial no módulo
introdutório 1 a gente tem que ter essa capacidade de passar todas essas
informações, todas essas ferramentas pra que ao final eles tenham
condições de montar uma grade horária qualificada, eu sempre fico
pensando o seguinte, o produto final do módulo introdutório 1 é a grade
horária qualificada, só que pra chegar a essa grade horária qualificada
eles precisam de uma série de informações, então eu sempre procuro
222
trabalhar de uma maneira mais forte essas informações, e logicamente
que tentando também, e não é uma tarefa fácil, mas a gente tenta fazer ao
longo da formação, verificar quais são as fragilidades daquele grupo, que a
gente percebe que determinados grupos eles compreendem melhor um
determinado tema e não tão bem outro, então a gente tenta encontrar nos
primeiros momentos da formação quais são essas fragilidades e ai tentar
reforçar mais aquilo que a gente entende que eles precisam de mais
reforço.
L. A. A. – E quais são as suas principais estratégias metodológicas?
R. B. T. – O PELC trabalha com uma série de estratégias metodológicas e
ai tentando fazer conexão com a pergunta anterior sua, a partir do que a
gente verifica de instrumentos que são importantes para a construção,
estou falando mais especialmente do módulo introdutório 1, que o produto
é a grade horária, então a gente precisa encontrar um formato que dê
conta de passar esses instrumentos para eles, essas ferramentas, então a
gente tem ai uma vasta possibilidade que vem sendo trabalhada de
estratégias metodológicas, por exemplo uma delas é a visita, acho que a
visita técnica aos locais de funcionamento do núcleo é uma estratégia
muito importante, existe hoje dentro do grupo de formadores uma certa,
alguns acham que não há necessidade da visita, outros acham que há
necessidade de visita, eu sou um daqueles que acham eu há necessidade
da visita, em especial no módulo introdutório 1 e no módulo introdutório
2, eu acho que é importante que o agente, que o futuro agente, que o
futuro coordenador conheça realmente aonde ele vai atuar, quais são as
possibilidades de atuação, que ele tenha um olhar diferente pra aqueles
espaços, que ele possa ter um olhar que dê um novo significados àquele
espaço, que dê um novo significado às atividades que ele pode cumprir
naquele espaço, então sim voltando a tua pergunta são várias as
estratégias metodológicas e uma delas que eu considero das mais
importantes é a visita.
223
L. A. A. – Você podia me falar como é que você organiza essa visita técnica
e também falar um pouco da visita pedagógica.
R. B. T. – A visita pedagógica é uma coisa muito nova ainda, eu na
verdade só fiz acho que uma ou duas visitas pedagógicas é uma coisa que
é recente no programa, a visita técnica não, na verdade existe ainda até
uma confusão, até no ponto de vista da terminologia que quer dizer
[palavra inaudível 12:41] visita técnica, na verdade a gente esta chamando
agora essa visita técnica de estudo da realidade, e a visita pedagógica uma
visita pedagógica mesmo, então assim a visita técnica a gente procura
criar um roteirozinho que na verdade nem é meu, é um roteiro que o
grupo de formadores criou e a gente mais ou menos tem usado aquele
roteiro padrão, apresenta esse roteiro para o grupo antes, faz uma
conversa preparatória de como que essa visita vai acontecer, qual que é a
importância dessa visita, o que nós vamos ver lá, essa coisa de resignificar
espaço, resignificar atividades, apresenta o roteiro pra eles, explica o que
que é o roteiro, se eles tem alguma dúvida, que que eles vão encontrar e
esse roteiro é bem detalhado, o que que eles precisam estar olhando,
desde se tem bebedouro, se tem banheiro, até como, o que que tem ao
redor do espaço, que tipo de comunidade que tem lá, tentar conversar se
for possível com alguma liderança comunitária ou com aquelas pessoas
que estiverem ali em volta no momento, se tem mais crianças, se te mais
idoso, se tem comunidade carente em volta, se o acesso é fácil enfim tem
um roteiro bem detalhado, então a gente apresenta isso para eles, explica
o que é, faz a visita, eu procuro fazer com que a visita seja feita, quando
são grupos grandes, organizada pelos coordenadores de núcleos, quer
dizer o coordenador de núcleo é meio que responsável por aquele grupo de
agentes ir com ele, logicamente que a gente faz a visita junto, acompanha
e vai tirando dúvidas e a gente volta para o local e ai depois faz uma
análise, uma reflexão sobre a visita, o que eles viram, se era aquilo
mesmo, que novidades que eles tem, como é que eles enxergaram os
224
locais, eles acham eu tem condições ou se não tem, o que precisa mudar,
acha que o local deve ser aquele mesmo, se eles conseguira conversar com
a comunidade enfim a gente faz uma avaliação do que aconteceu na visita,
eu acho que tem funcionado e eu acho também que essa visita tem
avançado muito, ela tem ficado cada vez mais qualificada vamos dizer
assim, antes a visita era feita meio que cada um fazia do jeito que queria e
muitas vezes me perguntei “poxa será que essas visitas dessa forma
servem para alguma coisa, ou se a gente não tá é perdendo tempo” mas
hoje eu estou convencido de que o formato melhorou muito e que elas são
importantes, e que quem sabe ainda preciso melhorar ainda mais, que
elas possam ser realmente cada vez mais um instrumento importante de
estudo da realidade e que dai vem ao encontro das nossas diretrizes que
uma delas é trabalhar a partir do estudo da realidade, é trabalhar
respeitando a diversidades desse Brasil tão grande é isso.
L. A. A. – E com relação às visitas pedagógicas ainda que seja algo novo, o
que você tem a dizer sobre isso?
R. B. T. – Então volto a dizer, é algo novo, acho que a gente ainda precisa
avançar nelas, o próprio formulário a gente ainda não tem convicção, eu
sou um dos que não tem convicção que ele é o melhor formulário, acho
que tem coisas que a gente, que não precisam estar ali, um instrumento
de coleta de dados, acho que tem algumas informações exageradas, acho
que tem algumas informações que o ministério pode pegar ou a UFMG
pode pegar direto com o responsável ou pelo convênio... Mas assim eu
acho que são importantes, principalmente no momento que ela acontece,
ela acontece lá no AV1 em um momento onde você pode ainda corrigir o
rumo, ela é mais, acho que ela é mais detalhada ela é mais rigorosa vamos
dizer assim, no momento em que você... Porque como você separa da
formação, apensar de ser no mesmo momento mas é um dia específico, eu
acho que você foca mais nisso, você deixa um pouco a formação de lado
“bom a formação passou, agora eu vou realmente olhar com outro olho,
225
com outro olhar” nós formadores né, então a gente tem a possibilidade de
olhar com calma, cada um dos locais, o que esta acontecendo, e ai ver
alguns detalhes que às vezes podem ter passado batido, a questão da
identificação, pode conversar um pouco melhor com as pessoas que estão
ali atuando, não só os agentes, mas também os usuários, então acho o
instrumento importante, mas volto a dizer, na minha opinião ele ainda,
diferente lá do estudo da realidade ou da visita técnica, esse instrumento
é um instrumento que ainda precisa, agente precisa experimentar ele um
pouco mais a gente precisa avaliar ele um pouco mais e ajustar, acho que
ele ainda não é o produto final ainda, acho que ele ainda precisa ser
melhorado por todos nós, não é critica a ninguém não, acho que por todos
nós, acho que nós ainda estamos aprendendo a lidar com a visita
pedagógica porque ela ainda é uma coisa muito nova.
L. A. A. – E que resultados que você já tem percebido de uma formação
para outra nos núcleos que você participou de mais de uma formação, do
território 1 para o 2, do AV 1 até ao final do conveniamento?
R. B. T. – Como assim, que resultados?
L. A. A. – Como que você percebe a formação surtindo efeito nos agentes,
no funcionamento do núcleo?
R. B. T. – Isso é tão complexo, eu estou no programa desde 2007 então eu
perdi muito já as contas de quantas formações eu fiz e essas formações
elas tem mudado muito, a gente esta em um formato muito novo ainda,
esse formato de módulo introdutório 1, módulo introdutório 2, avaliação
1, avaliação 2, visita pedagógica é uma coisa muito nova, muito nova
mesmo, tem gente que ainda não fez todos, eu por exemplo só fiz um
módulo introdutório 2, mas assim antes de responder diretamente a
pergunta queria fazer rapidamente um relato dessas mudanças, que eu
acho que elas tem sido para melhor, a gente começou lá no início de 2000
226
e poucos que era só módulo introdutório e módulo de avaliação e a gente
chegou a conclusão que não valia a pena ir lá fazer uma avaliação só para
dizer “ó acabou” faz uma avaliação de processo, acabou tal avalia e deu
certo não deu certo, avalia e acabou, e durante um tempo a gente debateu
sobre isso, debateu e chegou a conclusão que precisa ter um módulo de
avaliação no meio e isso foi um avanço danado, porque a gente podia
voltar lá antes e dizer “olha não esta muito bem por aqui, porque que
vocês não fazem desse outro jeito” e dai a gente percebeu que isso foi
muito bacana porque realmente mudava, a gente chegava nesse momento
e eles falavam assim “poxa mas que bom que você veio aqui agora e disse
isso porque agora a gente já sabe mais ou menos como vai fazer e vamos
poder mudar as coisas” e isso ajudava muito, com essa vinda agora com o
módulo introdutório 2 essa questão tem melhorado ainda mais porque,
você vai lá no módulo introdutório 1 e apresenta os instrumentos, as
ferramentas pra que eles possam construir a grade horária e efetivamente
a execução do programa, dois meses depois você volta lá, porque uma
coisa é você em uma sala apresentar como funciona e o que tem que ser
feito, outra coisa é ele chegar á na comunidade e fazer isso realmente
acontecer, como a gente imagina que deva acontecer, então eles tem essa
experiência de dois meses a partir da apresentação e da formação inicial,
até o módulo introdutório 2, então na verdade o módulo introdutório 2 é
meio que um início de avaliação, acho que é quase como um módulo de
avaliação, porque você retoma algumas questões que não ficaram tão
claras e foram trabalhadas no módulo introdutório 1, mas principalmente
você verifica o que esta acontecendo dois meses depois e ainda de forma
muito cedo, muito inicial você tem condições de começar já a fazer
ajustes, então quer dizer foi realmente um avanço essa mudança, e agora
com a visita pedagógica e o módulo de avaliação 1 você realmente
consegue fazer correções de rumo e ai indo direto para a tua resposta pra
tua pergunta, resposta da tua pergunta, a gente tem exemplos e exemplos,
tem alguns locais que você chega no módulo introdutório, vãos falar agora
o módulo de avaliação ainda porque o módulo introdutório 2 é muito novo,
227
mas você chega no módulo introdutório 1 e praticamente todos os agentes
saíram, às vezes a coordenação saiu, às vezes mudou até a gestão do
convênio e ai você chega no módulo de avaliação 1 e praticamente esta
tudo zero, é quase o módulo introdutório 1 de novo, então o que avançou?
Praticamente nada, você quase que perdeu aqueles meses todos, mas
também você chega a alguns lugares que não mudou quase ninguém e
você percebe que eles estão desenvolvendo o programa e no módulo de
avaliação 1 e volto a dizer, ainda naquele momento em que não existia o
módulo introdutório 2, é o primeiro contato que você tem com eles depois
que você foi no módulo introdutório 1, quer dizer você tem um primeiro
contato pessoal de tudo aquilo que você planejou junto com eles lá no
módulo introdutório 1 pra ver se realmente esta acontecendo e na maior
parte das vezes, quase que cem por cento das vezes você percebe que
precisa fazer ajustes e que eles precisam mudar alguns rumos e eles são
super favoráveis a isso e o relato é recorrente de “poxa que bom que vocês
vieram, que você voltou aqui, que a gente não tinha entendido direito, a
gente tava fazendo uma coisa que não era bem assim, agora nós
entendemos” então há uma mudança realmente de comportamento e de
desenvolvimento das ações, mas ai tem um outro fator que é complicado,
complicador dessa história porque nem sempre você consegue você
mesmo voltar lá todas as vezes e isso não é legal, porque às vezes você faz
o módulo introdutório 1, mas você não é a mesma pessoa que vai lá e
volta em uma avaliação 1, e assim não é uma falha de ninguém, e porque
às vezes não é possível porque a pessoa sei lá esta doente, ou porque ela
esta em outra formação, é verdade que a UFMG ela tenta fazer com que o
mesmo formador volte e isso é muito importante, mas nem sempre isso é
possível e quando isso não é possível não é legal, porque não que o outro
formador não tenha capacidade, não é isso, mas é que é outra relação,
você ainda não conhece as pessoas, então você chega no módulo de
avaliação 1 não foi você que fez o módulo introdutório 1, você tem meio
que conhecer todo mundo de novo, entender, conhecer os locais, meio que
você chega lá sem as condições necessárias, ai você não sabe se são os
228
mesmos se não são, então não é bacana, o legal quando dá tudo certo e
isso não é sempre que acontece, não saberia dizer o percentual, mas não é
tão alto, quando dá tudo certo é o mesmo formador faz todas as formações
e os mesmos agentes, ou pelo menos a maioria deles, em especial dos
coordenadores permanecem, quando isso acontece a gente realmente
percebe que as coisas fluem e ocorrem de uma maneira muito mais
satisfatória de quando essas questões não acontecem.
L. A. A. – E teve alguma formação em específico que te marcou por algum
motivo quaisquer, qualquer? Algum exemplo especial, exitoso? Enfim.
R. B. T. – Assim, acho que essa pergunta vale o que vem primeiro à cabeça
né, e o que mais vai ser bacana, assim eu gosto daqueles que já tem
experiência, por mais que seja até contraditório porque o ministério tem
trabalhado muito a história da autogestão e da municipalização, mas é
claro a olhos claros, aqueles convênios que já fizeram algumas vezes eles
estão a frente dos ouros, quando a gente chega a um lugar que aquela
mesma entidade já esta no seu segundo, ás vezes terceiro convênio, a
gente chega lá e percebe que as coisas andam bem mais fáceis, eles já
sabem o que eles precisam fazer, mas é bem concreto acabe de voltar de
uma formação a semana atrás de Campo Grande Mato Grosso do Sul, eles
estão no sexto convênio e é basicamente a mesma equipe da prefeitura, da
fundação municipal de esportes, logicamente que os agentes quarentões
mudaram muitas vezes, mas o pessoal da gestão é o mesmo, então a gente
chega lá e praticamente não tem mais problema, eles já sabem tudo já
licitado, eles já contratam os agentes procurando perfis profissionais
diversificados, então eles já sabem que tem que ter gente do teatro, eles já
sabem que ter que ter gente da educação física, do esporte, mas eles já
sabem que tem que ter gente da música, da dança, enfim eles procuram
trabalhar então a gente chega lá e já esta tudo muito mais fácil, enquanto
a gente chega em locais que o pessoal ainda vai começar a licitar os
materiais a gente chega lá e os materiais já estão comprados e eles
229
apresentam os materiais na formação, então assim claramente como o
programa é um programa muito complexo de difícil execução tanto do
ponto de vista técnico burocrático, quanto do ponto de vista pedagógico
não é um programa simples e eu acho que essa é a beleza dele, eu sempre
digo que o que na minha opinião o PELC é o melhor programa público de
lazer e de esporte já feito no país, na história do país e ele é tão bom assim
porque ele é difícil, porque ele é complexo, porque ele atende todas as
faixas etárias, ele atende todos os conteúdos do lazer ele trabalha com a
realidade local, com respeito a diversidade, então quer dizer ele é um
programa complexo é difícil de fazer, estão em resumo quando a gente
chega em um local onde as pessoas já passaram por isso, já erraram
muito, executando um dois três convênios as coisas funcionam bem mais
fácil e a tendência é que aconteça com mais sucesso.
L. A. A. – E como é que é essa possibilidade de fazer o convênio
novamente, quando isso pode acontecer e existe alguma situação que isso
não pode acontecer, uma vez que existe um princípio de que depois haja
uma municipalização, uma autogestão?
R. B. T. – Do ponto de vista legal não existe impedimento nenhum, até
porque o convênio pode ser feito a partir de duas perspectivas, a partir da
abertura do edital ou a partir da emenda parlamentar e então
principalmente se for a partir da emenda parlamentar se tiver um
deputado federal, um senador que queira continuar colocando recurso
dele e da emenda dele individual no PELC, é bom que isso aconteça, aliás,
era bom que acontecesse mais, não há impedimento, então o município o
estado vão continuar recebendo aquela emenda e continuar fazendo ovos
convênios, como você sabe não existe renovação de convênio, acabou o
convênio a possibilidade é ter um novo convênio, então isso em alguns
lugares tem acontecido quando a gesta municipal, estadual percebe que é
importante e quer continuar captando esse recurso, ela continua entrando
nos editais ou continua mobilizando seus parlamentares continuar
230
colocando nas suas emendas, eu não sei, eu confesso pra você que eu não
tenho certeza ainda se isso não é bom, que o município ou o estado
continue se articulando pra continuar captando recurso, porque tem uma
linha de pessoas que acham que não, que em determinado momento ele
não tem mais que fazer isso, que ele tem que se virar por conta própria,
mas se virar por conta própria também é captar recurso, que afinal de
contas os recursos do Governo Federal é pra isso, são para serem
disponibilizados para estados e municípios em especial para os
municípios, então se virar é continuar com bons projetos nos editais
abertos, continuar mobilizando seus senadores e seus deputados federais
para continuar captando recurso e que bom que seja pra área de lazer e
esporte e não para outras áreas, então eu não sou daqueles que acham
que não “que agora o município que tem que ter recursos próprios para
isso” ou pelo menos que tenha que ter recursos só para isso, em resumo o
que eu quero dizer é o seguinte, que os recursos para o desenvolvimento
do programa do PELC sejam próprios só do município, então acho que é
muito bacana quando você percebe que o município se envolveu e
continua se mobilizando para isso, colocado mais recursos dele também,
mas também continuando tentando captar recursos de outras esferas
como por exemplo do Governo Federal e eu acho que municipalizar vai pra
além d você ter um programa de lazer sendo desenvolvido no município,
municipalizar política de esporte e lazer eu acho que é você perceber que
naquele local se criou uma secretaria de esporte que não existia, ou uma
fundação de esporte que não existia, carimbou recursos para isso, agora
tem recursos destinados para políticas de lazer e esportes, se criou um
conselho municipal de esportes ou estadual, se contrata pessoal
especializado, tem concurso público para cotratar profissionais que atuem
nessa área, então às vezes a gente esta muito preocupado se o município
fez com que o PELC virasse municipal mas não esta preocupado em
verificar essas outras questões que talvez sejam até mais importantes,
porque isso é que vai definir mesmo que uma política pública municipal
de lazer e de esporte realmente se enraíze naquele local, então é isso.
231
L. A. A. – E que pontos que você identifica que poderiam ser melhorados
dentro do PELC?
R. B. T. – A vish maria são inúmeros [risos] mas assim uma coisa é
verdade a gente não pode deixar de reconhecer tem melhorado, tem
melhorado, eu acompanho o PELC praticamente deste que ele nasceu,
como formador desde 2007 a gente percebe que tem melhorado e quase
que ano a ano, quase que sei lá semestre a semestre, sem dúvida tem
melhorado mas esse é um processo que eu acho que não vai acabar
nunca, toda vez que melhora alguma coisa a gente descobre outra, porque
ele cresce, ele se aprofunda, ele avança, ele chega em lugares que não
estava chegando, ai pra isso a gente tem que monitorar melhor, a gente
tem que avaliar melhor, a gente tem que acompanhar então enfim esse
processo é um processo que não vaia acabar nunca, mas assim tem que
continuar melhorando, aço que o sistema que a gente criou de
monitoramento e acompanhamento ainda é um sistema que precisa
melhorar muito, sem dúvida ele avançou mas ainda não, ele não dá conta
de atender a demanda necessária, existe ainda um e isso é um problema
do Governo Federal como um todo, é muito burocrático carregar essa
burocracia não é fácil, os municípios não conseguem desenvolver isso de
forma tão simples, então a gente precisa tentar, logicamente respeitando a
legislação que não é simples, mas respeitando a legislação tentar enxugar
um poço dessa burocracia, diminuir um pouco das exigências pra que o
município fique mais ágil e consiga fazer as coisas de maneira mais
rápida, muitas vezes a gente perde quase um ano fazendo uma licitação
um ano e meio fazendo uma licitação de materiais, então assim tem que
encontrar um formato que isso aconteça de uma maneira mis simples,
mais ágil. Eu acho que a gente precisa pensar e agora fiquei sabendo que
esta sendo encaminhado nesse sentido, uma forma de capacitar as
pessoas que entram no projeto quando abre o editar ou mesmo os projetos
que entram via as emendas parlamentares, lês ainda são projetos muito
232
aquém do que podem ser, então esta se criando uma forma, se não me
engano estão chamando de caravanas pedagógicas, que a gente vai fazer
uma formação dos gestores ou das pessoas que vão entrar com o projeto e
isso vai facilitar muito inclusive a nossa vida, porque se a pessoa que esta
construindo a proposta ela já entende minimamente como funciona a
coisa toda, ela vai construir uma proposta mais capacitada, mais
qualificada, sei também que estão mudando as diretrizes mais uma vez,
as diretrizes tem mudado direto, mas estão mudando mais uma vez,
dando mais agilidade, dando mais facilidade, organizando melhor, então
por exemplo hoje falando pontualmente de uma questão que e acho séria,
na proposta precisa ter uma grade horária e essa grade horária não serve
para praticamente nada, porque quando a gente chega lá na formação a
gente muda a grade horária inteira, porque quem faz a grade horária,
primeiro que ela não entende o que é o PELC, ela faz só pró forma, ela não
sabe ainda onde vai funcionar, ela não sabe qual que é o perfil dos
agentes, ela não teve nenhuma preocupação com o estudo da realidade, se
aquelas ações são realmente as atividades que a comunidade quer, então
assim ter a grade horária na proposta inicial na minha opinião é
absolutamente desnecessária, e parece que agora eles estão realmente
tirando essa questão da grade horária, então enfim precisa mudar
algumas coisas, mas o que é animador é que as pessoas que estão gerindo
o PELC tanto aqui do UFMG mas liga a formação quando o pessoal do
ministério, eles estão atentos a isso e tem procurando mudar e avançar
cada vez mais e isso vai continuar acho que sempre e é bom que continue
porque vai sempre melhorar.
L. A. A. – Fundamental. Rodrigo tem alguma coisa que você queria
acrescentar, do roteiro a gente finalizou, queria saber se você tem alguma
outra consideração final para fazer?
R. B. T. – Acho que não, acho que a gente tratou de tudo, assim só para
elogiar mais essa iniciativa, voltado a história de melhorar, essa iniciativa
233
da memória bem bacana porque afinal de contas como eu falei, não é
opinião só minha é de muitas pessoas e é uma opinião minha que eu
sempre bato nisso, acho que o PELC é um programa que é o melhor
programa construído na história do nosso país nessa área de políticas
públicas de lazer e esporte é uma tecnologia que assim na verdade eu
tenho dito isso muito, a gente construiu um programa que tem pelo
menos até agora muita dificuldade de chegar em todos os cantos do Brasil
porque ele é muito complexo e burocrático, então ele é um programa que
não tem muita escala, mas ele é um programa que construiu uma
tecnologia que vai ficar, não tem governo que entre que vai acabar com
essa tecnologia, o que a gente precisa agora é fazer com que as pessoas se
apropriem dela, tanto gestores municipais e estaduais, profissionais,
universidade, se apropriem dessa tecnologia e essa questão da construção
dessa proposta da memória do programa é mais uma ferramenta da gente
poder fazer com que um maior número de pessoas se apropriem dessa
tecnologia porque, por que não em um futuro próximo secretários
municipais de esporte se apropriem dessa tecnologia e não precisem só
ficar acessando o governo federal, eles mesmos possam com seus recursos
desenvolver, que não precisa ser o nome do PELC mas que sejam
programas que tenham essa tecnologia desenvolvida, então acho que essa
é a maior riqueza do PELC esse é o maior legado que ele vai deixar e essa
iniciativa de vocês vai contribuir para que isso se perpetue e a gente possa
sei lá daqui a cinco, dez, vinte anos ter ainda gente acessando essas
plataformas levantando esses dados e construindo efetivamente
propostas, não só do ponto de vista da pesquisa que é importante mais
pessoas escrevendo sobre isso, pesquisando sobre isso, publicando sobre
isso, mas que efetivamente nas gestões também, que essa tecnologia
possa fazer com que o maior número de programas sejam desenvolvidos
pelo Brasil afora e com isso, que eu acho que é o mais importante, um
maior número de pessoas no Brasil possam estar tento a oportunidade da
prática do lazer e do esporte de qualidade, legal?
234
L. A. A. – Sim muito obrigado Rodrigo.
[FINAL DA ENTREVISTA]
235
Depoimento de Schylazart Presciliana Ribeiro
Entrevistada: Sheylazarth Presciliana Ribeiro
Nascimento: 24/12/1978
Local da entrevista: EEFFTO/UFMG – Belo Horizonte
Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos
Data da entrevista: 22/10/2015
Transcrição: Adriana Zimmermann
Copidesque: Pamela Joras
Pesquisa: Pamela Joras
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
Doutoranda em Estudos do Lazer / UFMG; Mestre em Estudos do Lazer /
UFMG. Especialista em Educação Escolar / Universidade Gama Filho;
Graduada em Educação Física Licenciatura / UFMG. Docente do curso de
Educação Física (bacharelado e licenciatura) da Centro Universitário de
Sete Lagoas – UNIFEMM; Docente na graduação de Educação Física da
UEMG unidade Ibirité. Formadora do PELC. Trajetória profissional;
envolvimento com temática do lazer; atuação como formadora do PELC.
236
Porto Alegre, 22 de outubro de 2015. Entrevista com Sheylazarth
Presciliana Ribeiro a cargo do/a pesquisador/a Luiza Aguiar dos Anjos
para o Projeto Memórias do PELC e Vida Saudável.
Luiza Aguiar dos Anjos – Entrevista com Sheylazarth Ribeiro, dia
22/10/2015 com Luiza. Primeiro queria agradecer sua
disponibilidade, ceder seu tempo para conversar com a gente, primeira
coisa queria que você falasse um pouco da sua formação.
Sheylazarth Presciliana Ribeiro – Eu sou formada em Educação
Física aqui na UFMG, fiz uma especialização em Educação Física
Escolar pela Gama Filho, ela teve um curso aqui e eu fiz esse curso, o
Mestrado eu fiz aqui em Lazer no Mestrado em Lazer aqui das UFMG
também e o Doutorado eu to fazendo aqui agora também e fora isso eu
tenho uma ligação muito forte com política pública porque eu já fui
gestora do programa Segundo Tempo da cidade de Contagem aqui em
Minas Gerais e foi nessa época que eu me interessei então por começar
a estudar, voltei fiz um mestrado, eu to fazendo um doutorado nessa
área de políticas públicas e o PELC ele acabou sendo uma
oportunidade de formação também porque como eu trabalhava, vim
pra universidade e estudar aqui, foi exatamente na época que a federal
assumiu a educação física, que assumiu essa parceira com o
Ministério do Esporte pra ajudar na formação e ai eu comecei a
participar do processo seletivo pela experiência que eu já tinha, mas
evidente que são programas muito diferentes,mas acabou que foi um
braço da minha formação que veio das experiências que eu tive no
programa.
237
L.A – E como é que o lazer entrou na sua trajetória, em que momento
e de que forma?
S.R – Nossa é difícil explicar isso porque nem eu sei muito bem não,
mas eu sempre participei de grupos de jovens da igreja e essas ações
acabavam sendo importantes porque a gente planejava eventos da
ordem lá da juventude, então a gente fazia brincadeiras e logo depois
eu vim fazer educação física, agora um ponto muito interessante é que
o mercado da época que eu era estudante era muito legal pra fazer
colônia de férias, pra fazer recreação, eventos, animação de festa,
trabalhei muito nessa época, só que acabou que eu passei no concurso
público de professora de educação física e eu fui atuar na escola,na
escola o lazer entrava como conteúdo das aulas que eu trabalhava,
mas eu era professora de educação física de formação, depois eu
acabei indo pra ACM a Associação Cristã de Moços, a ACM fazia
intercâmbios culturais pra trabalhar com recreação fora, mas o lazer
os estudos do lazer eu vim estudar lazer, o sistematizar só aconteceu
por causa da política pública de esporte e lazer que eu fui trabalhar
em Contagem e ai foi por isso que eu sistematizei e sabia que tinha um
grupo aqui que chamava Polis, ele ainda existe, o Polis me recebeu e a
gente começou a fazer estudos de política pública de esporte e lazer e
ai tinha uma linha de pesquisa do mestrado que abarcava essa
temática, então eu me especializei nessa linha exatamente por essa
trajetória, a influência do lazer não necessariamente influenciou os
meus estudos, mas foi muito mais essa política pública que
influenciou meus estudos no lazer.
238
L.A – E você falou que iniciou no PELC a partir desse editar, me fala
um pouquinho desse seu início, como é que você foi preparada pra
ingressar e o que te motivou a ingressar nesse programa.
S.R – Eu meio que percebi quando comecei a trabalhar nas prefeituras
que a atuação de um gestor ele pode ter, não é que ele tenha mais
alcance que de um professor, mas a gente vê resultados mais claros do
que o de um professor, eu não sei se foi essa relação um pouquinho de
ansiedade de ver os resultados que me fez apaixonar com a ideia de
estudar as políticas públicas, e ai o Segundo Tempo foi um braço e
quando eu cheguei aqui e vi essa oportunidade do PELC começando
um trabalho nessa parceria do UFMG que era nova, porque antes o
Ministério tinha outro processo de contratação de formadores, quando
eu percebi isso eu falei “a eu quero entrar nesse grupo também” fiz
uns estudos na época sobre o PELC, me organizei e consegui passar
nesse edital e fui selecionada e foi muito legal porque os estudos que a
gente tava fazendo aqui na UFMG no mestrado tinham muita relação
com os estudos de formação de agentes sociais do programa, eu estava
trabalhando com a formação dos profissionais, formação dentro da
política pública e entrei em um grupo de formação de agentes sociais,
ou seja, a formação também na política pública e a grande ideia disso
a grande sacada era que a política pública ela não podia ser de
qualquer jeito, ela precisava ter uma organização, uma sistematização
pra atingir as pessoas que estavam trabalhando com os beneficiários
se não o esporte ou o lazer o que fosse a oficina que fosse oferecida,
por exemplo, no PELC seria parecida com qualquer outra e tinha uma
239
questão política envolvida, essa questão política ela era muito ligada a
ideias revolucionárias, então assim há teorias que mostram que existe
condição de transformar uma realizada e é exatamente essas teorias
que a gente tava verificando, assimilando, entendendo aqui na
Universidade no mestrado e que a gente tava conseguindo também por
em prática lá no programa, então pra mim foi uma combinação na
época casou perfeitamente, sabe isso me ajudou a compreender que eu
queria meio que trabalhar com isso mesmo.
L.A – E me fala do processo da formação em si, você recebeu também
uma formação para os formadores, como que era essa formação e
ainda como é que isso se faz.
S.R – A formação ela é constante, a gente normalmente se encontra
duas vezes por ano para fazer encontros e conversas e diálogos, a
gente sempre dialoga, existem grupos de WhatsApp que a gente vai
conversando, existem encontros via Hangout né que a gente faz e vai
conversando também sobre as questões deformação, então a formação
dos formadores pra mim ela é um ponto fundamental porque se a
gente estanca as transformações também e o formato dos relatórios, o
formato da programação que a gente é obrigado a fazer quando nós
somos obrigados a fazer uma formação todos esses documentos
exigem um cuidado especial, então a gente tem que estudar,toda vez
que eu recebo uma formação pra auxiliar o município ou o Governo
Estadual ou a Universidade eu tenho que me debruçar sobre que tipo
de convênio é aquele, como se organiza, quais são as relações daquele
convênio com o Ministério o que ele já vem produzindo, se ele já teve
240
PELC, se ele já teve outro programa se não teve, então a gente faz uma
busca geral no município que leva a gente a conhecer algumas
realidades e outras ações que o município já executa de política
pública, esses estudos às vezes eles ajudam o município mas a gente
também entende que nem sempre a gente dá conta de tudo e a
formação então pra mim ela se dá na formação do formador ela se dá
nesses dois sentidos, tem as ações que são executadas aqui dentro,
coordenadas e organizadas pelo pessoal da UFMG mesmo a gente
chama esses encontros de formadores, tem os encontros que são
virtuais, todas vez que a gente vai na formação com outro formador a
gente acaba compartilhando estratégias de trabalho, compartilhando
textos, materiais mesmo e também conhecimento, a gente ouve o outro
falar e percebe uma nova forma talvez de ministrar ou de falar de um
determinado conteúdo e acho que também os documentos que a gente
tem que produzir, eles de certa forma podem, eles tem possibilidade de
ser uma formação, ajudar a gente na formação também.
L.A – E que tipos de atividades, como você costuma realizar dentro das
suas formações qual a forma que você utiliza para poder fazer a
formação diretamente nos núcleos?
S.R – Primeiro eu tento entender, se eu não conheço a cidade eu tento
interpretar ela um pouco melhor, então eu converso muito com os
coordenadores antes de montar a programação eu tento fazer isso tudo
em conjunto, quando chego lá eu evito tentar levar uma coisa pronta,
então eu tento construir muito com eles, principalmente a parte das
ideias que a gente tem da educação popular que rege o nosso
241
programa, então essa ideia ela faz muito sentido dentro do contexto do
PELC não dá pra separar formação das diretrizes do programa e da
ideologia dele, a ideologia dele é que a gente acredita que o lazer tem
uma capacidade de junto com outras políticas públicas fazer com que
a pessoa possa ter um acesso aos seus direitos e isso tem que ser
fortalecido na nossa formação, para que os agentes também percebam
que além deles terem direito a população também tem então o vínculo
da educação popular pra que eu escolha as metodologias, por exemplo,
de construção coletiva ela parte por esse principio do lazer como
direito, então quando eu chego nos núcleos essa construção que a
gente tenta fazer nos núcleos não, quando eu chego pra formação eu
tento conversar com os agentes, conversar com os coordenadores,
conversar com a coordenação geral e montar esse mapa, ou seja, como
que vai acontecer toda a organização da formação nesses, agora a
gente tem quatro módulos de formação, nesses quatro encontros que a
gente vai ter, além de tudo influencio muito pra que eles façam o EAD
a educação à distância e ai nesse encontro que a gente organiza cada
ação que eu escolho ela provavelmente é voltara pra aquela realidade,
então por exemplo, tem lugares eu já fui à Universidades que o curso
foi totalmente expositivo porque eu percebia que eles tinham uma
demanda por algumas informações e a lógica escolar que estava
vinculada à universidade pra eles funcionava muito bem as aulas
expositivas, eu dava textos então eu mandava os artigos antes para
eles lerem e a gente, e eles liam sabe, isso era muito interessante, as
universidades, por exemplo, eu tento atingir o perfil daquele grupo que
esta lá, quando eu vou eu tento entender qual é o perfil se são
estudantes de educação física ai a gente tem um outro perfil de
242
agente, então a gente tem que montar uma formação que seja, que
tenha muitas dinâmicas, que sejam muito movimentadas, eu faço
muito teatro, passo filmes pra gente dialogar a partir dos filmes, levo
textos e ai os textos eles normalmente alguns eu consigo ter sucesso
outras vezes não ai vai variante, se o agente é da comunidade eu deixo
eles falarem muito porque eles tem uma experiência gigante, então eu
tento fazer uma formação muito de escuta pra perceber como que é a
comunidade ai eu vou tentando implementar os elementos do
programa, as diretrizes dentro desse processo, então varia muito do
agente e a grande vantagem do PELC é que eu tenho essa
possibilidade, eu tenho essa liberdade de trabalho a partir do grupo e
da necessidade dele.
L.A – E você atua no Programa Vida Saudável ou no Programa
Comunidades Indígenas e Polos Tradicionais ou os núcleos que você
atuou foram só os específicos do PELC?
S.R – Não, eu já atuei em todos.
L.A – E que diferenças você identificou nesse processo de formação
nesses espaços?
S.R – Pois é as diferenças são muito grandes, de fato isso também foi
uma dificuldade que eu tive que me capacitar melhor para cada tipo de
PELC e as leituras são completamente distintas, quando a gente vê a
construção do direito do velho, a construção do direito do indígena ou
dos quilombolas ou dos ciganos ou dos outros grupos das
243
comunidades tradicionais elas foram através de uma luta diferença de,
por exemplo, de como a gente encontra a construção do PEL que a
gente vai chamar de urbano que é pra todas as idades, então a gente
tem que trazer a tona essa luta que foi essa constituição como que se
constituiu aqui, como que se constituiu aqui, parte da própria
essência da construção de como eles ganharam um programa pra eles,
não é ganharam, como que a luta gerou uma ação, uma política
pública que hoje é pensada pra essas pessoas especificamente, então
eu não tenho, eu tenho clareza que quando eu vou falar de PELC
comunidades tradicionais eu tenho que levar um histórico distinto,
para os velhos um histórico distinto uma possibilidade distinta e outra
coisa uma realidade de esporte e lazer distinta também, por exemplo, a
gente trabalha com prevenção e quedas, com a ideia de saúde e
qualidade de vida muito mais, eu pelo menos, atuo muito mais no
PELC Vida Saudável do que no PELC Urbano ou no PELC
Comunidades Tradicionais, então os conteúdos vão ganhando
dimensões diferentes também, evidente que também a partir dos
agentes, se eu chego por exemplo pra trabalhar com PELC Vida
Saudável e são profissionais, são pessoas estudantes de educação
física ou pessoas da educação física que já tem estudos ou grupo de
estudo na faculdade que já trata daquilo então a gente tem que fazer
uma leitura, às vezes eu não falo de prevenção e quedas e vou falar de
uma outra coisa que eu acho que é mais importante pra aquele grupo,
então a gente vai estudando a realidade e percebendo em que ponto
que a gente pode ajudar melhor os agentes a se relacionarem com a
comunidade.
244
L.A – E como você tem visto os resultados ao longo desse processo
entre os quatro módulos, que mudança você destacaria de um módulo
para o outro nos núcleos?
S.R – Eu não consegui ainda fechar um convênio com quatro módulos
eu acabei, mas eu já consegui fechar um convênio inteiro e já
trabalhei, eu ainda não fiz nenhum AV1 e nem AV2 então eu não
consigo distinguir esses, mas antes a gente tinha um módulo
introdutório em quatro dias, algumas pessoas achavam que era
cansativo, outras pessoas achavam que tinha que ter mais dias que
eles não compreenderam ainda como era o programa, mas
basicamente o que vejo de um módulo, ai por exemplo, o módulo
introdutório para o módulo de avaliação era o choque de realidade dos
agentes, a gente vai ali com a teoria toda interessante e tal e dai pro
AV1 do módulo introdutório 1 para o AV1 eles caem numa realidade
ímpar, que eles falam assim Scheyla nossa mas não dá pra fazer isso,
ou não dá pra fazer isso eu tive que resolver os problemas, então o
módulo de AV1 é um módulo de escuta completamente porque eles
estão ansiosos pra falar, eles querem mostram o que eles encontraram
na realidade e cabe a gente ouvir e tentar ajuda-los a resolver as
questões que estão ali colocadas especialmente para eles lembrarem
qual é o objetivo do programa, porque muitas vezes eles se perdem no
objetivo, eles acham assim não vou, tenho que dar conta dessa oficina
e não conseguem perceber que a oficina faz parte de algo maior, então
sempre estar lincando essas duas coisas é o caminho de busca pra
mim enquanto formadora e do AV1 para o AV2 eu percebo que tem
assim uma organização do núcleo a maioria das falas do AV2 do
245
módulo de avaliação 2 estão relacionadas à ideia de agora que eu
consegui essa habilidade o programa acaba, estão ligas nessa ordem,
então agora que eu capturei o que é a gente tem que explicar, a gente
vem com essa explicação desde o início, ele é um programa que tem
início, meio e fim, é um programa pra que a comunidade se aproprie
da lógica do direito e você tem que ajudar essa comunidade a se
apropriar pra que ela lute pra que continue, mas essa ideia não é uma
ideia fácil de capturar porque a pessoa também quer continuar
trabalhando, ainda mais se ela tem afinidade com a prática dela, mas
essa então é a distinção maior entre os módulos, o módulo
introdutória tem um ideia, o módulo de avaliação tem anseios e
debates sobre o que eles estão fazendo de certo e o que estão fazendo
de errado e o módulo final ele tem uma ideia de experimentação, de
experiência adquirida, que eu acho que é bem legal eu acho que ele vê
isso quando eu consigo ver isso eu acho, mesmo que eles estejam
tristes porque esta finalizando, a ideia de lazer e esporte como direito
eu acho que tem conseguido alcançar uma grande parte das pessoas.
L.A – E você teve notícias de núcleos que você acompanhou como
formadora ou de colegas que conseguiram mantes a continuidade das
atividades após o fim do convênio?
S.R – Sim tem coisas que são interessantes, a gente agora tem que
tentar estudar a ideia de municipalização não é uma ideia fácil de ser
abarcada porque falar de municipalização não é só continuar as ações,
no meu entendimento é continuar as ações com o ideal do PELC pelo
simples sentido, tem muitas prefeituras que já fazem ações, mas que
246
as vezes tem outro foco, o foco não esta no direito social, esta por
exemplo em adquirir um troféu, mostrar que o futebol da cidade é
bacana, mostrar que os velhos estão perdendo peso, que os velhos
estão indo menos ao hospital, ok eu não estou desprezando nenhuma
dessas ideias, eu acho elas super interessantes, mas a ideia do PELC
ela parte da lógico de assim “olha é um direito conquistado então ele
tem que ser dado independente dessas outras questões que possam vir
a surgir em função dessa prática” então municipalizar com a lógica do
PELC eu conheço duas ações, uma ação que é a Plug Minas, de Ivoti
que a gente tem notícias e é a mais divulgadas entre nós formadores, a
gente tem em Igarapé através de uma formadora também eu tive essa
notícia e eu estou agora esperando que tem uma cidade que chama
Barroquinha no Ceará que ele esta em eminencia de aprovar o projeto
porque eles não tinham na prefeitura a Secretaria de Esportes não
existia no organograma deles então em função do PELC a secretaria
surge e agora eles querem manter a secretaria com essas pessoas,
então eles estão organizando para que eles consigam fazer essas
contratações, tão logo eu tenho ai dou essas confirmações pra vocês,
eu estou aqui na torcida também por eles, e lá como eu fiz a formação
eu tenho um pouco dessa clareza houve um avanço muito grande, eu
fiz o AV1 e fiz o AV2 eu não fiz o módulo introdutório deles, mas a
ficha deles caiu muito bem na ideia do esporte enquanto direito, então
eu acho que lá se essas pessoas conseguirem permanecer na
prefeitura tal qual o secretário, que também participou de alguns
encontros, eu acho que as ações podem ser muito parecidas com a que
o programa deixou lá.
247
L.A – E como é que é o diálogo e a relação de vocês formadores
presenciais com os tutores do EAD?
S.R – Eu acho que ainda tem que ter, eu tenho mais esse diálogo
porque eu faço curso de EAD, então eu fiz essa busca, não é
obrigatório pra gente que é formador, outra forma que eu venho
percebendo é ir nas formações, e ai a gente acaba ficando amigo e tem
pessoas que a gente conhece, então essas pessoas que eu conheço a
gente sempre dialoga, por exemplo,aqui a gente tem a Cida tem a
Jeanifer, tem a Lidiane, então essas são pessoas que constantemente
eu estou encontrando, a gente conversa e a gente vai debatendo sobre
o que tem acontecido no EAD o que vem acontecendo nas
formações,por exemplo, um curso de EAD que não dá certo ou some
muita gente, a gente quando volta da formação vai perguntando
porque isso acontece e tal, mas um diálogo que firme um relação de
debate ou de uma conversa mais formalmente ou mais legitimada isso
a gente não tem, e ai eu vou ser sincera não sei se existe essa
necessidade também porque eu acho que são programas que a gente
pode, são ações que a gente tem notícia até pelo agente, o agente que
esta fazendo o curso ele também dá essa notícia pra gente, então eu
não sei se precisa colocar isso em formato de congresso, de fórum não
sei se tem essa necessidade, eu vejo o que vem acontecendo todos os
encontros eles são coletivos o pessoal de EAD tem tempo, tem uma
fala também, mas a fala que eu vejo mais interessante é nessa
conversa “você que esta em tal grupo que é de Betim, você que ficou
coma turma que atingiu mais gente de tal lugar,como é que ta lá?”
então esse diálogo acontece também.
248
L.A – Tem algum tema fora os próprios temas que estão incluídos
dentro dos módulos que já estão previstos para que todos os
formadores trabalhem que você busca incluir e por entender que ele é
importante ser inserido que você tenha percebido, como é que você faz
essa escolha?
S.R – A escolha ela vai muito, agora eu tenho tentando, até já
expliquei isso um pouquinho, eu tento me pauta na ideia que o
Ministério construiu coletivamente, até porque nós participamos da
construção agente acaba tendo que legitimar um pouquinho desse
conteúdo que esta lá escrito e foi aberto, então a gente também
poderia inserir os conteúdos lá colocados, mas eu acho que a forma de
escolher ela esta muito relacionada à necessidade dos agentes de um
determinado convênio, por exemplo, convênios muito grandes, eu
acabo seguindo muito as propostas que esta colocada nas diretrizes do
Ministério para formação em função de não conseguir muitas vezes
alcançar um grupo de,às vezes eu estou com cinquenta pessoas na
sala e a gente tem que ficar conversando e é muito complicado atingir
ou entender todo mundo, então a gente acaba se relacionando com o
grupo, eu sei que não dá pra atender todas as necessidades, mas em
um convênio de um, dois ou três núcleos, na verdade eu falo eu adoro
os convênios de quatro núcleos que tem a quantidade de pessoas que
eu posso ouvir bem e eles falam bem a gente consegue partilhar
informações ali muito bem e esses realmente escolho um filme melhor,
um filme melhor não, um filme melhor para aquela realidade, escolho
uma temática,ou se às vezes a aula ia ser expositiva eu percebo que
249
eles gostam de música então eu troco pra uma música, então eu vou
trocando ao longo da formação algumas metodologias, mas as
temáticas elas acabam sendo contempladas especialmente as
temáticas que se relacionam com a diretriz, então se a gente
percebe,por exemplo, que um núcleo tem pessoas com alguma
dificuldade de relação, por exemplo, com a questão homossexual eu
acabo me voltando muito pra isso no núcleo, porque a ideia de direito
ela perpassa por essa lógica, então o que rege muito as minhas ações é
tentar alcançar a ideia de direito junto com essas pessoas, mas de
uma forma bem suave tento a partir da lógica deles mostrar que as
outras pessoas também tem essa necessidade então a metodologia, o
conteúdo acaba sendo mais trabalhado ou menos trabalhado quando
eu tenho essas percepções, quando eu nãotenho eu acabo abarcando
mais a diretriz mesmo do Ministério.
L.A – Tem alguma outra coisa que você gostaria de registrar, que você
ache importante e que eu não te perguntei?
S.R – Ai Luiza eu não sei (risos) deixa eu pensar, olha eu acho que o
registro que eu tenho, que é quase um depoimento agora falando
dessa forma é que mesmo que eu tenho clareza que esses programas
que a gente vem atuando mesmo que a gente não dê conta de
transferir a lógica de direito, transferir o acesso pra todos os
beneficiários, de alguma forma eu tenho percebido que a pessoa que
mais sai mudada de todo esse processo é o agente, então eu acredito
que é um política pública a formação dentro do programa PELC, ela
tem ela consegue de alguma forma, é evidente que por essas
250
metodologias por essa leitura que a gente tenta fazer por estudos
dessa realidade, a gente tem conseguido tocar esses agentes sociais e
inclusive construído uma identidade de agente, tem pessoas, por
exemplo, que eu conhecia do convênio do Recife do Geraldão que lá
tinha um grupo e também tem uma história muito bacana, um grupo
que já estava tentando construir uma luta pra legitimar essa figura do
agente de esporte e lazer e essas relações então, essa ideia de lutar
essa ideia de transformar essa ideia de mostrar que esporte e lazer é
tão, são direitos a ponto de legitimar uma figura um novo cargo
público tem alcançado algumas pessoas e eu acho que isso dá uma,
mostra uma possibilidade da gente ter uma sociedade um pouco
diferenciada nesse processo de leitura do que vem sendo proposto nas
grandes mídias ou pelo mercado o lazer pode ser relido através desses
agentes e eu acho que é por causa desse encontro que existe dos
formadores do Ministério com essa leitura que eles construíram
através de muita luta também da história do PELC dentro do
Ministério é de muita luta, então tudo isso vem mostrando que a
sobrevivência do Programa Esporte e Lazer ela vem, pra mim ela tem
muito sentido, principalmente quando a gente encontra os agentes
você conversa com eles pela internet eles vem mostrando o que eles
vem fazendo, as ligações que ele tem com a comunidade. Então esse é
um depoimento que eu quero deixar registrado porque a gente também
tem que acreditar, se o formador não acredita a gente não tem muito
braço pra atuar, mas não é simples não é uma coisa simples.
L.A – Muitíssimo obrigada pelo seu tempo e por nos esclarecer tudo
que foi perguntado.
251
[FINAL DA ENTREVISTA]
252
Depoimento de Silvano da Silva Coutinho
Entrevistado: Silvano da Silva Coutinho
Nascimento: 27/07/1972
Local da entrevista: EEFFTO/UFMG – Belo Horizonte
Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos
Data da entrevista: 19/11/2015
Transcrição: Luiza Loy Bertoli
Copidesque: Silvana Vilodre Goellner
Pesquisa: Silvana Vilodre Goellner
Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner
Sumário
Formação acadêmica; Trajetória profissional; Envolvimento o Programa
Esporte e Lazer da Cidade (PELC); Atribuições de colaborador;
Demanda inicial de aproximação; Programa Segundo Tempo;
Municípios, setores e núcleos; Formadores dos núcleos; Segunda
demanda; Envolvimento do PELC; Sistema Único de Saúde; Programa
Vida Saudável; Núcleo de Apoio a Saúde da Família; Apropriação dos
agentes e os próximos avanços do PELC na saúde.
253
Belo Horizonte, 19 de novembro de 2015. Entrevista com Silvano da
Silva Coutinho a cargo da pesquisadora Luiza Aguiar dos Anjos para o
Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte.
L.A. – Silvano, muito obrigada pela tua disponibilidade de conceder um
tempinho para conversar conosco. Queria Silvano, que você me falasse
um pouco da sua formação.
S.C. – Eu sou graduado em Educação Física. Fiz mestrado e doutorado
em Saúde Pública na Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo. Então esse meu caminho depois foi direcionado para estudar as
questões relacionadas à saúde pública, saúde coletiva no mestrado e
doutorado, e depois uma complementação no pós-doutorado.
L.A. – E em algum momento a sua trajetória temática do lazer esteve
inserida?
S.C. – Antes de falar do lazer na minha formação profissional, posso
falar um pouco mais profissionalmente, quando trabalhei por doze
anos em escola de ensino fundamental e médio, eu organizava eventos
de lazer que eu já desenvolvia na escola e em clubes recreativos, todas
as questões de eventos relacionados ao lazer. E aí no doutorado,
quando eu venho trabalhar com as competências do profissional de
Educação Física para atuar na atenção básica, o lazer apareceu um
pouco ali, mas não que era o foco principal, mas apareceu como uma
indicação de que o profissional deve ter conhecimentos sobre o lazer,
254
atividades de lazer para utilizar este conhecimento no desenvolvimento
das ações na atenção básica.
L.A. – E me esqueci de te perguntar, hoje você está inserido no ensino
superior dando aula para Educação Física? S.C. – Eu dou aula no
curso de Educação Física, na Universidade Estadual do Centro Oeste
do Paraná, Unicentro, campus de Irati.
L.A. – E quando que você tomou conhecimento do PELC ?
S.C. – Eu era formador, era membro da Equipe Colaboradora do
Programa Segundo Tempo desde 2008. Eu morava no estado de São
Paulo e ali eu coordenava uma equipe e, com o final do meu
doutorado, eu não continuaria mais em São Paulo e iria auxiliar em o
Programa com alguma ação no estado do Paraná, mas surgiu uma
necessidade do PELC de estar aproximando suas ações do Ministério
da Saúde, querendo começar as discussões relacionadas à promoção
da saúde e em conversa com os gestores do PELC e do Programa
Segundo Tempo, eu comecei a auxiliar o PELC em algumas reuniões
nesse sentido e depois acabei vindo a compor a equipe do PELC e
saindo do Segundo Tempo. Mas já conhecia de escutar falarem do
Programa, sim. Mas vim conhecer mais profundamente quando eu
passei de membro da equipe colaboradora do Programa Segundo
Tempo para consultor do PELC. E também a partir de nossas reuniões
e das formações que eu participei no Programa. L.A. – E quando que
foi essa mudança? S.C. – Uma aproximação ocorreu no segundo
semestre de 2012, mas a mudança de fato aconteceu em 2013
255
L.A. – E quais são as suas atribuições enquanto colaborador? S.C. –
Enquanto consultor, a função de colaborar aqui nessa equipe, é ajudar
a pensar as questões de promoção da saúde junto aos programas
PELC e Vida Saudável e, a princípio, veio dessa demanda de tentar
uma aproximação entre os Ministérios da Saúde e do Esporte, então,
de tentar uma política intersetorial. Então essa foi a primeira
demanda, comecei a participar das reuniões em que uma equipe do
Ministério do Esporte ia ao Ministério da Saúde, participar de
discussões com pessoas ligadas ao Programa Academia da Saúde, do
Ministério da Saúde E nesse primeiro momento, a minha demanda era
auxiliar nessa política intersetorial. Hoje, essa demanda é ajudar a
pensar dentro do Programa Vida Saudável e do PELC, as questões
relacionadas à promoção da saúde, como que nós podemos ali por
meio das atividades recreativas, esportivas, culturais, também estar
olhando de uma forma ampliada para promoção da saúde e produção
de material, tudo que Silvano da Silva Coutinho 3 estiver relacionado a
essa questão da saúde, eu e a Danusa150 estamos atuando nessa
consultoria.
L.A. – E você poderia falar um pouco sobre aquela demanda inicial da
aproximação?
S.C. – Ok. É importantíssimo sim, porque foi onde viemos trabalhar
aqui. Como nessa minha formação eu sou muito ligado a questão da
saúde pública, estudei muito política pública de saúde, foi onde, acho,
que eles sentiram que eu poderia contribuir e de fato contribui. Nós
150
Danusa Dias Soares
256
começamos a fazer algumas reuniões com algumas pessoas ligadas ao
Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde. Então a
professora Deborah Malta151 , a Danielle Cruz152 que atuava, não
tenho certeza se atualmente ela atua, mas atuava, nesse setor, que
são pessoas que ajudaram na implementação da Política Nacional de
Promoção à Saúde, onde tem a citação das práticas corporais da
atividade física, é um dos eixos dessa política. Então a política lá da
saúde que fala de um elemento que está muito presente no Ministério
do Esporte que são as questões das práticas corporais e a atividade
física e, também, dessas pessoas relacionadas ao Programa Academia
da Saúde. Então, o que a Ana Elenara153 , as pessoas ligadas ao PELC
visualizavam aí? Nós temos lá a Academia da Saúde, que é um
programa que incentiva ter um espaço com possibilidade para
promover a saúde, tanto por meio de práticas corporais como por meio
de artesanatos, por meio de práticas culturais, reuniões de grupos.
Então é um espaço construído nos municípios que solicitam, recebem
uma verba para construir o espaço. Estes espaços do Academia da
Saúde possuem uma área de ginástica, de caminhada, e esse espaço
não tinha uma definição clara de como realizar essas atividades e o
PELC tem uma proposta metodológica clara de como desenvolver
atividades recreativas, desportivas, ou seja, práticas corporais em
espaços diversos. E aí, pensou-se nesse “casamento” dos dois
programas. Um olhar inicial, foi perceber que algumas localidades
possuíam o Academia da Saúde e também um núcleo do PELC e aí nos
perguntávamos - por que não fazer alguma ação intersetorial neste
151
Deborah Carvalho Malta 152
Danielle Keylla Alencar Cruz 153
Ana Elenara da Silva Pintos
257
município? Foi desta forma que começamos essa aproximação. No
entanto, cada programa tem uma burocracia, tem uma questão de
como o recurso é repassado, a questão do Ministério da Saúde a verba
é repassada direto para a prefeitura, no nosso já é feito um
conveniamento, então fomos esbarrando em várias questões, mas
conseguimos chegar ao final do ano de 2014 com a realização de um
projeto piloto no município de Maracanaú, na grande Fortaleza. Foi
um projeto piloto juntando as expertises dos ministérios da Saúde e do
Esporte. Nesta oportunidade realizamos uma capacitação, reunindo
atores de todos esses espaços, então monitores, agente social de
esporte e lazer do PELC com pessoas ligadas a academia da saúde,
pessoas ligadas ao NASF, que é o Núcleo de Apoio à Saúde da Família,
pessoas ligadas à unidade básica de saúde e foi feita uma formação
para que pudéssemos pensar juntos em como seria trabalhar nessa
perspectiva. Não temos ainda muitos frutos, porque acabou que, com
as mudanças de governo não houve possibilidade ainda de dar
continuidade. Existe o esforço do Ministério do Esporte de estar
retomando essa aproximação, mas um esforço onde os secretários e os
ministros possam conversar, e a partir disso, lá de cima, se eles
decidirem que é possível fazer essa parceria, nós vamos retomar este
projeto, este movimento.
L.A. – Como se fez a escolha desse município? E, agora, as atividades
foram interrompidas em função dessa mudança?
S.C. – Isso. Enquanto projeto intersetorial, sim. Enquanto PELC, ele
continua existindo, porque a escolha, respondendo a sua pergunta, foi
258
que identificamos um município que iria começar um programa do
PELC e que também estava iniciado um programa, uma Academia da
Saúde recente. Então o que queríamos trabalhar com a política
intersetorial, a gente queria identificar um espaço em que essas duas
políticas já estivessem presentes e, claro, que tivesse um aceite dos
próprios conveniados lá de fazer essa experiência junto conosco, não
era algo impositivo, mas houve muita abertura deles, e na capacitação
eu pude participar, a formação foi muito produtiva, eles visualizando
essas possibilidades de entrelaçamento. Então por isso que foi essa
escolha, mas não continuou no acompanhamento de forma
intersetorial, talvez, não posso te afirmar com certeza, possa estar
acontecendo pelo próprio estímulo que a gente colocou pela formação,
pode ser que eles estejam fazendo algumas coisas juntos
intersetorialmente, mas oficialmente para um acompanhamento,
monitoramento, formação do ministério do esporte e da saúde, isso
não está acontecendo.
L.A. – Você se recorda qual que era o formador responsável por aquele
núcleo?
S.C. – Não me recordo agora, mas a gente consegue levantar isso, acho
que facilmente, porque é um convênio grande de Fortaleza que eu acho
que é o convênio do Governo do Ceará, então esse era um dos núcleos
de um convênio grande e que não deve ter um formador só ligado a ele,
eles tem um formador que trabalhou com vários núcleos e um deles
era “Maracanaú”. Então, talvez, como estamos vendo ali, não é...
259
Trabalha no Módulo, no outro Módulo é outro formador, eu acho que
não tem somente um formador “linkado” a esse núcleo, não.
L.A. – Agora eu queria que você falasse um pouco da segunda
demanda que é a questão da produção de materiais.
S.C. – Nós temos agora, que já aconteceu, pelo menos uma ou duas
turmas do curso EAD154 que estamos ofertando, e ali tem um módulo
chamado Esporte, Lazer e Saúde. Nesse módulo, eu e a Danusa somos
responsáveis para escrever, construir o módulo que está acessível para
as pessoas. Tem três grandes objetivos por aí: um deles é auxiliar as
pessoas a olharem a saúde de uma forma ampliada, o que chamamos
de Conceito Ampliado de Saúde. Conceito Ampliado de Saúde quer
dizer: não olhar só para o viés biológico da saúde, ou não só para a
ausência de doenças, não é assim. “A senhora sai de casa e vai fazer
uma atividade de dança” a gente quer saber quantas calorias ela
perdeu. Isso é algo mais ligado ao viés mais biológico; é importante? É
importante, mas não queremos olhar só por esse viés. “A senhora está
participando de certa atividade de dança novamente, porque ela tem
hipertensão e isso vai diminuir seus níveis pressóricos” está ligado
muito na questão da doença. É importante? É importante, mas não
queremos olhar só para isso, que a gente entende que isso é um
conceito mais restrito, segundo alguns autores de saúde. A gente quer
olhar de uma forma mais ampliada essa senhora saiu de casa, era
uma pessoa mais isolada e foi participar de uma atividade, isso fez
com que ela fizesse novas amizades, que ela saísse mais de casa, não
154
Educação à Distância
260
ficasse tão lá isolada, que ela sorrisse. Talvez se ela nem estiver com
uma perda, um gasto calórico alto, mesmo assim temos que entender
que ali está se produzindo saúde para essa pessoa, essa alegria que
ela está tendo, esse fazer amizade, esse partilhar com outro, faz parte
de um conceito mais ampliado de saúde que não olha só para a
ausência de doenças, não olha só para as questões biológicas, para os
ganhos, benefícios biológicos que a atividade física pode trazer. Então,
uma das coisas é essa. A partir do momento em que a gente olha para
a saúde de uma forma ampliada, a gente também entende que não
estamos lá somente trabalhando a atividade física, a gente quer
trabalhar com práticas corporais. Diferença básica entre os dois. Não
adianta também entender o conceito e na prática também não
resolver, mas é que a atividade física é muito ligada à atividade que eu
faço para gastar energia acima dos meus níveis de repouso. Então é
um conceito de queima calórica também muito ligada aquilo que
acabei de falar de saúde. Práticas corporais é aquela atividade que tem
um significado para a pessoa, então estamos trabalhando também
nesse... A prática corporal tem que ser realizada, mas ela tem que ter
um significado para a pessoa que está realizando, além de só uma
queima de calorias, mas também para algumas pessoas isso também é
muito significativo, o importante é que tenha. Exemplo: se eu tenho
um grupo de homens lá no PELC, do Vida Saudável, que estão fazendo
dança: “Ah, eu queria fazer algo que fosse mais, que me desafiasse
mais, que eu queimasse mais calorias”, para eles aquilo é significativo,
aquilo é uma prática corporal. Por exemplo, vou fazer um grupo de
corrida envolvendo aquele grupo, porque para eles é significativo
aquilo. Agora não precisa ser para todo mundo isso, talvez pra outro
261
grupo seja uma atividade oriental, como por exemplo, yoga, tai chi
chuan, que tenha mais de significado, que tenha uma concentração e
isso então... É aí que entramos na questão do conceito de prática
corporal: uma atividade que tenha realmente significado para as
pessoas. O primeiro aspecto: as pessoas entenderem a saúde de uma
forma ampliada e o conceito de práticas corporais. Outra questão que
tem no nosso texto são as políticas públicas de saúde, se a gente quer
que as pessoas lá na ponta, nos núcleos do PELC, enxerguem uma
possibilidade de intersetorialidade, é importante que elas conheçam as
políticas públicas atuais. Então ali apresentamos rapidamente: “Quais
são os princípios do SUS155 , a Política Nacional da Atenção Básica que
é a principal política que organiza o sistema de saúde do Brasil, a
Política Nacional de Promoção da Saúde, o Programa Academia da
Saúde, o NASF que é o Núcleo de Apoio a Saúde da Família, todos eles
já trazem algum apontamento para a importância das práticas
corporais para a saúde das pessoas. Isso já é algo que está muito claro
dentro do Ministério da Saúde e que está aparecendo cada vez mais
nos documentos do Ministério da Saúde. Então trouxemos este
aspecto como conteúdo para que as pessoas entendam quando eles
ouvirem falar do Academia da Saúde saibam o que é, saibam que dá
para ter algum entrelaçamento. A gente imagina que isso possa
estimular o agente social a buscar essa parceria. E o terceiro aspecto
seria a questão de falar um pouco sobre alguns agravos crônicos,
sobre diabetes, sobre hipertensão, obesidade e para que tendo esse
público dentro de um núcleo do PELC os agentes estejam, ao menos,
um pouco preparados para trabalhar quais os cuidados eles tem que
155
Sistema Único de Saúde.
262
ter para trabalhar com um público específico, mas é claro, o material
não é suficiente para falar de todos os públicos específicos, mas esses
citados são os que costumam ser mais presentes quando se trabalha
com o público idoso.
L.A. – Existe algum envolvimento de vocês também no PELC - Todas as
idades e PELC – Povos e Comunidades Tradicionais?
S.C. – A ideia agora que estamos pensando em algumas propostas
para auxiliar tanto o grupo de formadores, como as pessoas que
trabalham lá na ponta, os agentes, é pensar em como a saúde também
é produzida nesse espaço. Independente de você estar falando saúde,
exemplo, se eu tenho um grupo em uma comunidade tradicional
indígena que eles demonstram que as atividades que eles fazem são
atividades de muitos jogos, muita movimentação, muita socialização, a
gente quer começar a trabalhar um pouco mais com isso pra
identificar que aquela atividade também é uma atividade de saúde, por
mais que estejamos falando: “Vamos promover a saúde agora”, mas ela
é uma atividade saudável, ela é uma atividade de saúde que queremos
identificar e falar mais nas formações também. E isso pode ser em
todas as idades, então, a partir do momento em que você consegue
olhar a saúde de uma forma ampliada, entender o conceito de práticas
corporais com a atividade que tem, atividade que se realize e que tenha
significado; isso pode ser levado também para pensar a saúde lá no
Todas as Idades e nas Comunidades Tradicionais, mesmo que eu não
fale: “Vou promover a saúde agora”, porque o principal do PELC é
trabalhar com a questão do esporte e lazer. Não é um programa de
263
promoção à saúde, mas já que a promoção da saúde está junto nisso,
queremos também estar olhando lá na frente como incentivar isso nos
diferentes núcleos, diferentes formatos dentro do PELC.
L.A. – E você já fez alguma visita a núcleo ou participou de formação,
exceto aquele projeto piloto?
S.C. – Sim. Eu participei da formação do Módulo Introdutório I, em
Balsa Nova no Paraná. A formadora era a Silvana8 e era uma formação
do Programa Vida Saudável, e tive a oportunidade, no primeiro
momento, de estar auxiliando as pessoas a conversarem um pouco
sobre a promoção da saúde, sobre tudo isso que eu falei de pensar na
saúde de forma ampliada. Então eu participei de uma formação e isso
foi no começo desse ano.
L.A. – E como é que você acha que foi a apropriação dos agentes,
desses conceitos, dessas ideias?
S.C. – A gente percebe que ele, ao falar sobre o conceito ampliado da
saúde, principalmente, é algo que ajuda com que eles visualizem as
possibilidades de atividade... [INTERRUPÇÃO NA GRAVAÇÃO] 156
L.A. – Agora eu me perdi.
156
A entrevista foi interrompida para troca do local em função de
ruídos externos que estavam atrapalhando a gravação.
264
S.C. – Estávamos falando sobre a questão da apropriação. Nós falamos
das pessoas que participaram do que eu pude intervir um pouco...
Meu objetivo naquela formação era mais um acompanhamento da
formação, mas eu tive a oportunidade de falar um pouco sobre
promoção da saúde. E aí que a gente teve... Porque aí se preocupou em
perceber essa questão de falar do conceito ampliado de saúde, falar em
diferenciar. Eu lembro que na fala que eu tive, principalmente,
diferenciei promoção da saúde de prevenção de doença. É importante
falar na questão de prevenção de doenças, mas a gente não olhar para
as pessoas só a partir da doença, e aí abriu um pouco mais os
horizontes de pensarem em qual o público que eles querem atingir.
Nós queremos pessoas às vezes que nem estejam doentes, ou que a
gente nem saiba que estão doentes, ou que as próprias pessoas nem 8
Silvana Regina Echer sabem que estão doentes, o nosso objetivo é
trazê-las pro Programa para incentivá-las a ter uma vida mais
saudável, ter uma vida mais alegre, mais feliz, ampliar as condições de
vida delas, e isso, ao falar do conceito ampliado de promoção da saúde
acho que ajudou a visualizar um pouco mais esse público e as
atividades que podem ser desenvolvidas nesse sentido.
L.A. – E em que pontos você acha que o PELC tem que avançar no que
tange a sua participação mais ligada na questão da saúde?
S.C. –Acho que uma das coisas seria pensar, por isso estamos fazendo
esse esforço, tentar fazer essa aproximação com as outras políticas
públicas. É um esforço que não demanda só do PELC, mas a gente
pode estar falando um pouco mais para eles sobre essas políticas e aí,
265
lá na ponta, eles podem se motivar ou não, porque no final das contas,
acreditamos que as coisas acontecem mesmo lá no núcleo, é lá que
tem que chegar a informação e as iniciativas, então a gente só pode
estimular isso. Então eu acho que a minha participação aqui, falando
um pouco mais das políticas públicas, pode ajudar. E principalmente,
acho também, falar sobre essa questão do conceito ampliado de saúde,
ou seja, na produção de materiais didáticos ou em formações que
participarmos, esperamos que os agentes envolvidos possam se
atentar para dois aspectos importantes deste olhar ampliado: Primeiro
aspecto - ter clareza de que os determinantes sociais da saúde
influenciam fortemente no processo saúde-doença. Isto quer dizer que
as ações de esporte e lazer planejadas e desenvolvidas devem levar em
consideração o contexto social que os beneficiários estão envolvidos,
pois este contexto é carregado de determinantes e condicionantes que
influenciam a condição de saúde das pessoas, tais como, segurança,
transporte, saneamento, ambiente para a prática de atividades físicas,
moradia, emprego, entre outros. Por exemplo, um bairro seguro com
uma praça bem cuidada que fica num local de fácil acesso para a
população, pode facilitar o envolvimento dos beneficiários às ações do
Programa. Se a ideia for boa, mas não considerar estes determinantes,
a mesma pode fracassar. E um segundo aspecto – ter consciência de
que a saúde não pode ser somente entendida como ausência de
doenças. Sobre este aspecto, quando falamos com os agentes nas
formações, eles demonstrar que tem este entendimento, esta
consciência, mas, muitas vezes, programam e pensam as ações em
função de grupos de agravos ou doentes, como por exemplo,
diabéticos, hipertensos, obesos. Pensar em ações para estes grupos é
266
importante, no entanto outros aspectos ligados a uma visão mais
positiva de saúde também devem ser considerados como, por exemplo:
participar de uma atividade de dança pela satisfação de conhecer
melhor o seu corpo; caminhar ou correr para superar seus limites
pessoais e pelo desafio que a atividade proporciona; participar de um
grupo de reflexão sobre algum tema importante para a vida como
forma de se sentir acolhido e pertencente a um grupo; participar de
um grupo de dança pelo prazer de estar junto com as pessoas. Enfim,
pretendo agregar ao Programa trazendo conceitos oriundos da saúde
coletiva para sustentar as ações desenvolvidas pelos convênios, pois
tenho certeza que muitos dos nossos convênios, para não dizer todos,
realizam ações que trazem benefícios à saúde das pessoas, mas
quando são questionados sobre esta dimensão acabam por destacar
somente o fato de alguma pessoa “doente” que melhorou do sintoma
específico daquela doença, desconsiderando outros benefícios
importantes que aquela ação proporcionou, como já foi citado
anteriormente.
L.A. – Acho que é isso Silvano. Tem alguma coisa que a gente não
perguntou e que você gostaria de trazer?
S.C. – Não me recordo. Acho que acabei introduzindo algumas coisas
fora do que você perguntou que eu fui falando, quando fiquei mais
tempo falando. Eu acho que não, eu acho que é isso, é pensar nisso. A
gente espera que... As coisas estão muito... São dois direitos essenciais
das pessoas, direito ao esporte e lazer, o direito a uma saúde, a gente
só quer estar auxiliando de alguma forma que essas políticas
267
possam... As pessoas podem ir pensando nisso e esses programas
possam auxiliar as pessoas a viverem melhor. Acho que é isso. L.A. –
Muitíssimo obrigada.
[FINAL DA ENTREVISTA]
268
CENTRO DE MEMÓRIA DO ESPORTE
www.ufrgs.br/ceme
E-mail:
Telefone:
(051) 3308 5879