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Preparado por: Fernando Simões Casimiro Perito Principal 2 (PP2) Julho de 2014 Manual sobre a concepção e execução de operações estatísticas

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Preparado por: Fernando Simões Casimiro

Perito Principal 2 (PP2) Julho de 2014

Manual sobre a concepção e

execução de operações estatísticas

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Índice 1 Apresentação ...................................................................................................................................... 3

2 Introdução .......................................................................................................................................... 4

3 Por onde começar? Um programa de acção e um plano de apuramentos ....................................... 4

4 O que é um Programa de Acção? ....................................................................................................... 5

4.1 Que estrutura para o Programa de Acção? ................................................................................ 5

4.1.1 Introdução/Apresentação/Enquadramento ....................................................................... 6

4.1.2 Identificação e definição das unidades estatísticas a observar e respectivas variáveis

primárias e derivadas ......................................................................................................................... 6

4.1.3 Tipo de observação (directa e exaustiva, directa com amostragem, administrativa) ....... 9

4.1.4 Desenho de questionários ................................................................................................ 11

4.1.5 Operações experimentais ................................................................................................. 13

4.1.6 Legislação específica ......................................................................................................... 13

4.1.7 Organização de ficheiros .................................................................................................. 14

4.1.8 Organização dos trabalhos de campo .............................................................................. 15

4.1.9 Sistema de registo e tratamento de dados ...................................................................... 16

4.1.10 Controlo e avaliação da qualidade ................................................................................... 19

4.1.11 Publicidade ....................................................................................................................... 22

4.1.12 Cartografia ........................................................................................................................ 22

4.1.13 Princípios da orçamentação da actividade estatística ..................................................... 27

4.1.14 Relatório final ................................................................................................................... 28

4.1.15 Cronograma ...................................................................................................................... 29

5 Programa de Difusão (os resultados) ............................................................................................... 32

5.1 O que é um Programa de Difusão? ........................................................................................... 32

5.2 Organização do Programa de Difusão ...................................................................................... 35

6 A utilização de ficheiros administrativos para a produção de estatísticas oficiais .......................... 36

6.1 Fases de preparação do procedimento administrativo, para utilização estatística ................. 37

6.2 A experiência demográfica na utilização de registos administrativos e as regras inerentes ao

registo civil ............................................................................................................................................ 38

6.3 Os 12 cuidados a ter na utilização dos registos administrativos para fins estatísticos ............ 40

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1 Apresentação

O presente manual destina-se a apoiar a formação de técnicos superiores, técnicos e técnicos médios

do Sistema Nacional de Estatística de Angola na componente de concepção e execução de inquéritos e

recenseamentos estatísticos.

A sequência das fases de preparação de uma operação estatística nem sempre são percebidas em toda

a sua dimensão e complexidade e muitas pessoas ainda têm como referência a ideia que uma

operação estatística se prepara começando por fazer um questionário a “imaginar perguntas que

façam sentido para observar a população estatística de referência”.

Assim, tomou-se como referência um modelo de preparação e execução de um recenseamento da

população, assumindo que quando se percebe o enquadramento da preparação e execução de um

recenseamento, é possível ajustar o respectivo quadro de referência para planear e executar qualquer

outra operação estatística menos complexa.

As recomendações mundiais das Nações Unidas, editadas em 2008, reconhecem esta complexidade no

seu parágrafo 1.77 ao descreverem “o recenseamento da população e habitação (ou o próprio

recenseamento da população) é talvez a operação estatística mais extensa, complicada e cara que um

país pode realizar, porque é composta por uma série complexa e inter-relacionada de actividades”.

Na sua parte final também se procura fazer o enquadramento da utilização dos ficheiros

administrativos para produzir estatísticas oficiais. É um assunto de importância crescente, tanto pelo

facto de que existe ainda um significativo conjunto de actividades administrativas que podem ser

muito bem utilizadas para produzir estatísticas, como por ser um tema estatístico bastante actual nos

aspectos relacionados com a redução da carga estatística sobre os cidadãos e as empresas.

Luanda, Julho de 2014

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2 Introdução A concepção e execução de uma operação estatística seguem um modelo muito semelhante

ao de qualquer outro projecto que se pretenda realizar: é necessário definir o que se pretende

atingir e depois estruturar um conjunto coerente e sequencial de actividades orientadas para

atingir o objectivo estabelecido.

Vamos utilizar o exemplo de um prédio construído de acordo com as normas de segurança,

enquadramento paisagístico e esteticamente bonito e adequado ao fim a que se destina, por

exemplo alojar várias famílias em apartamentos individuais. Para um prédio destes, à

semelhança de qualquer outro que obedeça às normas estabelecidas, é necessário fazer um

projecto de arquitectura, calcular os elementos necessários para a sua resistência ao peso que

vai suportar, a forma como se vão organizar as famílias que lá vão viver, definir os tipos de

materiais que se vai utilizar, definir uma sequência de actividades, etc. Ou seja, no caso de um

prédio, toda a gente sabe que tem de ter, pelo menos, alicerces, paredes e telhado … e não se

pode começar pelo telhado porque nem sequer existem paredes para o suportar!

Assim, vamos ver como se concebem e executam as operações estatísticas, tomando como

referência as mais complexas que são os recenseamentos, mas cujos princípios essenciais

também se aplicam às mais simples e até às correntes, designadamente na utilização dos

dados administrativos para produzir estatísticas oficiais.

3 Por onde começar? Um programa de acção e um plano de

apuramentos Quem quer construir um prédio e dispõe de um terreno específico para isso, encomenda um

projecto a um arquitecto com um “caderno de encargos” (tipo e dimensões do prédio, quanto

está disposto a gastar, etc).

Ora quem (os utilizadores, a começar pelo governo) quer determinados resultados estatísticos

que não existem e que ainda não são produzidos de forma corrente, necessita de saber as

condições técnicas, organizativas e financeiras para os produzir e então … encomenda um

projecto ao INE ou a outra entidade do SEN. Aqui o INE assume-se, simultaneamente, como o

arquitecto, o engenheiro e a empresa de construção que vai conceber e executar o projecto

até à sua conclusão … que são os resultados estatísticos definitivos, devidamente difundidos e

respeitando os princípios técnicos do Sistema Estatístico Nacional (SEN).

Assim, os instrumentos fundamentais para desencadear o processo de uma operação

estatística, que responda às necessidades efectivas e específicas dos seus utilizadores, são os

seguintes:

Um programa de acção onde se definem todos os procedimentos

metodológicos e organizativos fundamentais;

Um Programa

de Acção

+

Um Plano de

Apuramentos,

devidamente

integrado num

Programa de

Difusão

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Um plano de apuramentos, integrado num programa de difusão, onde se

identificam e descrevem todos os resultados a apurar nas diversas fases do

tratamento de dados.

4 O que é um Programa de Acção? O Programa de Acção é o documento base que orienta toda a preparação e execução de uma

operação estatística.

Ao definir os procedimentos técnicos essenciais e as várias fases do trabalho a desenvolver,

este programa constitui-se como o documento de referência que suporta, organiza e

calendariza todas as fases do trabalho a desenvolver, tanto para os responsáveis da execução

como para os utilizadores.

Por outro lado, a actividade estatística tem uma visibilidade crescente e é muito importante

que o Sistema Estatístico Nacional (SEN), através do Conselho Nacional de Estatística (CNEST),

dê resposta às questões decorrentes dessa visibilidade, nomeadamente pronunciando-se

sobre as questões técnicas mais sensíveis e também sobre a oportunidade e importância de

cada operação estatística. O Programa de Acção será também um elemento importante de

explicação escrita dos procedimentos que são utilizados, o qual deve ser apreciado pelo

CNEST, sempre que tal for considerado oportuno e adequado. De salientar que no CNEST estão

representados os principais utilizadores estatísticos, para além de todos os produtores de

estatísticas oficiais.

Um outro aspecto importante é o facto de se construir uma estrutura de informação técnica

que oriente a construção dos questionários. Frequentemente, a preparação de uma operação

estatística começa pelo desenho dos questionários, sem que esteja previamente definida uma

estrutura conceptual de referência que suporte o desenho e conteúdo desses mesmos

questionários. Basta verificar o exemplo das recomendações internacionais as quais se

concentram sobretudo na estrutura organizativa e conceptual das unidades estatísticas e

variáveis primárias e derivadas. Os questionários derivam destas estruturas conceptuais, as

quais devem ser devidamente adaptadas para cada operação estatística antes de serem

concebidos os questionários.

Em paralelo com o Programa de Acção deve também ser preparado o Programa de Difusão, o

qual tipifica e calendariza todos os produtos de difusão, com especial destaque para o plano

de apuramentos.

4.1 Que estrutura para o Programa de Acção? Um Programa de Acção deve conter uma estrutura de temas que oriente toda a preparação

e execução da operação estatística. Apresenta-se, seguidamente, um modelo de estrutura e de

Documento

estratégico e

orientador da

preparação e

execução, destinado:

- Ao CNEST

- Ao executante

- Aos

utilizadores dos

resultados

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organização de conteúdos que procura responder aos principais temas que este programa

deve abordar, bem como os elementos mais determinantes que esta abordagem deve conter.

4.1.1 Introdução/Apresentação/Enquadramento

Neste subcapítulo devem ser abordados assuntos que permitam perceber as razões que

justificam a realização da operação estatística em causa.

Uma das primeiras justificações, passa por descrever como foi identificada a necessidade de

produzir a informação estatística em causa, a qual pode fundamentar-se em necessidades do

seguinte teor e que podem ser determinantes individual ou conjuntamente:

Necessidade de informação identificada pelo governo;

Cumprimento de recomendações internacionais, nomeadamente as

regionais;

Cumprimento do plano de actividades do Sistema Estatístico Nacional, cuja

justificação já foi assumida quando da sua introdução no plano de actividades.

Um outro aspecto determinante será a referência à necessidade de legislação específica.

Trata-se de um processo normalmente longo e que exige procedimentos específicos de

preparação e cuja aprovação final e publicação deve ser feita o mais rapidamente possível,

logo que é tomada a decisão de realizar a operação estatística. Deste modo, a sua referência,

logo na abertura, permite dar um destaque especial a este assunto.

Sempre que uma operação estatística tem antecedentes históricos, também se pode fazer

uma abordagem a este tema, tomando como referência os seguintes conteúdos: sequência

histórica com identificação da data e caracterização das operações idênticas, nomeadamente

com um breve resumo dos aspectos mais relevantes de cada uma delas.

4.1.2 Identificação e definição das unidades estatísticas a observar e respectivas

variáveis primárias e derivadas

O principal objectivo de qualquer operação estatística é produzir informação que responda às

condições técnicas do SEN, definidas na Lei Nº 3/11 de 14 de Janeiro (Lei do SEN), a saber:

autonomia técnica, fiabilidade, imparcialidade, pertinência, autoridade estatística, segredo

estatístico, coordenação estatística e acessibilidade estatística.

Todos estes princípios devem estar presentes e claros para todos os intervenientes no

momento em que se começa a preparar uma operação estatística, uma vez que em todos eles

existe uma componente determinante que condiciona a parte técnica propriamente dita.

Antes de passarmos à organização do conteúdo técnico, justifica-se também voltar à Lei do

SEN, para verificarmos qual a definição de um elemento determinante para qualquer operação

estatística e que é o conceito de “unidade estatística” que se encontra definido no nº 6 do

artigo 2º da referida Lei:

Justificação

da operação

estatística:

- Porquê?

- Para quê?

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Como pode ser observado na definição anterior, a unidade estatística é a “pedra angular” de

qualquer operação estatística uma vez que constitui o elemento de referência para observação

e reúne um conjunto de características que se chamam “variáveis”. Ou seja, unidade

estatística e variável/características são dois elementos que não existem um sem o outro na

actividade estatística.

De notar que as palavras “pessoa” e “população” que existem no conceito de unidade

estatística têm um sentido muito mais vasto do que o de pessoa humana (singular) ou

empresa (colectiva) ou “população humana”. Neste conceito de unidade estatística, um prédio

ou um veículo automóvel também estão incluídos na palavra “pessoa”, quando se pretende

observar a “população” constituída pelo “parque edificado” ou pelo “parque automóvel” de

um país ou de uma determinada área específica. A data de construção de um prédio é uma

variável da unidade estatística “prédio”, enquanto a data de registo ou a cilindrada de um

automóvel são variáveis da unidade estatística “automóvel”.

Assim, a variável é um elemento caracterizador da unidade estatística.

Um outro elemento importante, antes de “construir” o quadro técnico de referência é a

distinção entre variável de observação/primária e variável derivada.

A variável de observação/primária é a variável que é observada directamente em cada

unidade estatística através de um questionário ou de qualquer outro método de recolha de

dados. Exemplo: o sexo ou o estado civil nas pessoas, bem como a actividade económica ou o

volume de negócios numa empresa.

A variável derivada é aquela cujos dados se apuram através da combinação de mais do que

uma variável primária. Exemplos: a taxa de analfabetismo que combina as variáveis primárias

“saber ler e escrever” e a ” idade” ou o valor acrescentado bruto de uma empresa que é obtido

através da combinação do” valor da produção” e o “valor dos consumos intermédios”.

Um outro aspecto muito importante são as classificações que são utilizadas para tipificar e

classificar tanto as variáveis primárias como as derivadas. Assim, temos dois tipos de

classificações:

Classificações de suporte à codificação, descritivas de conteúdos e códigos para

“converter” as respostas alfabéticas de determinadas variáveis primárias em códigos

numéricos ou alfanuméricos; são exemplos a Classificação de Actividades Económicas

(CAE) e a Classificação Nacional de Profissões (CNP);

Unidade

estatística:

- Elemento de

observação

- Elemento de

caracterização

Há muitas e

variadas

“populações

estatísticas”

Varáveis primárias e

derivadas, enquanto

elementos

caracterizadores da

unidade estatística

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Classificações “organizativas” das modalidades de uma ou mais variáveis primárias ou

derivadas; são exemplos os casos das classificações dos níveis de ensino, da dimensão

dos aglomerados populacionais, da situação na profissão, etc.

Temos classificações que são utilizadas em variadas operações estatísticas, como é o caso da

CAE e da CNP e que não necessitam de ser especificadas, para além da indicação do respectivo

nome e versão que vai ser utilizada para classificar a respectiva variável.

Contudo, há outras classificações específicas de um número restrito de operações estatísticas

que tanto podem decorrer de recomendações internacionais como de convenções nacionais e

que necessitam de ser devidamente tipificadas e descritas neste capítulo de caracterização

técnica do conteúdo técnico a observar na operação estatística. A maior parte destas

classificações são constituídas como variáveis derivadas, apesar de serem tipificadas muitas

vezes como classificações. Por exemplo nos recenseamentos da população utiliza-se a

classificação “dimensão do aglomerado populacional/lugar” que não é mais do que uma

variável derivada que combina o número de residentes nos lugares segundo um conjunto de

escalões de dimensão populacional.

Temos as classificações standardizadas e de utilização internacional para todas as operações

estatísticas que as utilizam. No caso das variáveis primárias temos os exemplos mais habituais

que são a Classificação da Actividade Económica (CAE) para classificar a variável primária

“actividade económica” de empresas e pessoas activas, bem como a Classificação Nacional de

Profissões (CNP) para classificar a variável primária “profissão” das pessoas activas. A

identificação da versão destas classificações, que vai ser utilizada, deve estar indicada junto da

definição e tipificação de cada variável que a utiliza.

Muitas operações estatísticas são realizadas com objectivos nacionais e internacionais,

designadamente para dar cumprimento a recomendações de organizações internacionais

relevantes, como é o caso da ONU. Assim, é importante pôr em evidência a adequabilidade

conceptual entre as recomendações e a prática nacional, indicando se existem ou não

diferenças.

Então, o presente subcapítulo deve listar e definir todas as unidades estatísticas e variáveis

primárias e derivadas, bem como as respectivas classificações gerais e específicas que são

utilizadas, na base de uma sequência de conteúdo do seguinte tipo:

Unidade estatística/Variável Comparabilidade

internacional

Exemplo

Unidade estatística X Pessoa humana

o Variável primária X1 o Sexo

o Variável primária X2 o Data de nascimento

o Variável primária X3 o Estado civil

o Variável primária X4 o Nível de instrução

o ….

o Variável primária Xn

o Variável derivada Xd1 o Taxa de analfabetismo

o Variável derivada Xd2 o Relação de

Classificações:

- Para converter

descritivos

alfabéticos em

códigos

- Para organizar

modalidades de

variáveis

primárias ou

derivadas

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Unidade estatística/Variável Comparabilidade

internacional

Exemplo

masculinidade

o Variável derivada Xd3 o Dimensão do aglomerado populacional

o Variável derivada Xd4 o Sector de actividade económica

o …

o Variável derivada Xdn

Unidade estatística Nn

o ……..

O conteúdo deste subcapítulo constitui o principal referencial de análise do conteúdo a incluir

nos questionários, bem como na estruturação dos apuramentos e indicadores a disponibilizar

no âmbito do programa de difusão.

4.1.3 Tipo de observação (directa e exaustiva, directa com amostragem, administrativa)

A produção de estatísticas oficiais pressupõe sempre que se recolham dados junto das várias

unidades estatísticas na base de um plano de acção que estabelece também a forma como se

determinam a escolha e o método de observação de cada unidade estatística que constitui o

respectivo universo.

Quando nos referimos à actividade estatística temos sempre por referência o termo

“universo”, porque o objectivo essencial de todas as operações estatísticas é medir e

caracterizar o universo de referência da respectiva operação, como podemos verificar nos

seguintes exemplos:

O universo de um censo da população e habitação, são todas as pessoas residentes

ou apenas presentes no país, bem como todas as construções destinadas à

habitação de pessoas (humanas);

O universo de um recenseamento às empresas de um país são todas as empresas

que existem no respectivo país;

O universo de um inquérito às famílias, são todas as famílias residentes no país;

O universo dos nascimentos num determinado ano, são todos os nascimentos

ocorridos no país nesse mesmo ano;

O universo das matrículas anuais no sistema de ensino são todas as escolas

incluídas nesse mesmo sistema (onde é suposto estarem todos os alunos

matriculados num determinado ano lectivo).

Assim, o universo estatístico de uma determinada operação estatística é independente da

forma como se decide observá-lo, mas condiciona fortemente os métodos de observação a

utilizar. Não se pode fazer um recenseamento da população todos os anos através do

UNIVERSOS

ESTATÍSTICOS

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método da recolha de dados por entrevista directa, porque seria muito caro e complexo de

implementar. Mas já se pode fazer um recenseamento da população todos os anos se for

possível utilizar ficheiros administrativos que sejam fiáveis quanto à actualidade do seu

conteúdo e cobertura do respectivo universo. Há vários países do mundo que fazem um

recenseamento da população todos os anos.

Se o registo automóvel estiver actualizado, apesar da sua dimensão, nada impede que se faça

um recenseamento todos os anos com as características que estão definidas no respectivo

registo.

Se todos os nascimentos forem devidamente registados no registo civil, nada impede que se

faça um recenseamento todos os anos sem qualquer complicação estatística desde que sejam

recolhidos os respectivos dados junto das conservatórias do registo civil.

Contudo, como nem todos os registos funcionam adequadamente ou nem sequer recolhem

muitas vezes os dados estatísticos necessários à actividade estatística, opta-se por realizar

inquéritos por amostragem.

Mas o objectivo maior da amostragem é exactamente o de medir e caracterizar o universo

estatístico de referência através da observação de uma parte reduzida desse mesmo universo.

Para isso, essa parte do universo deve ser escolhida segundo critérios científicos que garantam

a representatividade do respectivo universo.

Então, que tipos de observação estatística podemos considerar?

Directa e exaustiva: neste tipo de observação todas as unidades estatísticas são

observadas/inquiridas directamente, seja por entrevista directa ou por

autopreenchimento dos questionários; são exemplos os recenseamentos, desde os

mais complexos e de larga visibilidade pública, como é o caso da população; ou os

que passam despercebidos do público e são realizados anualmente, como é o caso

das matrículas e do aproveitamento escolar no sistema de ensino, as doenças de

declaração obrigatória no sistema de saúde, o registo e abate de embarcações de

pesca, ou as dormidas no sistema hoteleiro.

Directa com amostragem: neste tipo de observação utiliza-se uma amostra de

unidades estatísticas que são representativas do universo em causa e cujos dados

são recolhidos directamente, seja por entrevista directa ou por

autopreenchimento; este procedimento amostral pressupõe que existe uma base

de selecção da respectiva amostra, que pode ser de natureza areolar (com base

numa selecção de áreas do território e posterior selecção de unidades estatísticas)

ou com base em ficheiros administrativos previamente organizados para a

extracção de amostras; os exemplos mais correntes são o Inquérito ao Emprego,

cuja amostra é de tipo areolar e o Inquérito Harmonizado à Empresa cuja amostra é

retirada do Sistema Geral de Entidades (SGE) no qual estão os dados actualizados

de todas as empresas existentes no país, num determinado momento.

Administrativa: neste tipo de observação, utilizam-se apenas os dados

administrativos para produzir informação estatística; a recolha dos dados

Todas as unidades

estatísticas existentes no

universo são observadas

directamente

Amostras areolares –

Inquérito ao Emprego

Amostras extraídas

de ficheiros

administrativos - SGE

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administrativos pode ser feita através da utilização directa dos dados existentes

nos ficheiros, sempre que estes estão disponíveis em suporte electrónico, ou por

via da recolha de dados específicos existentes em registos em suporte de papel;

são exemplos os dados das importações que o INE recebe das Alfândegas em

suporte digital e os dados sobre nascimentos, óbitos e casamentos registados nas

Conservatórias do Registo Civil que o INE recolhe através de instrumentos

específicos em papel porque ainda não tem acesso aos respectivos ficheiros

electrónicos.

Quando se concebe uma operação estatística é fundamental ter em atenção o tipo de observação

estatística que vai ser feita e descrevê-la tão objectivamente quanto possível. Existem

condicionamentos importantes que derivam do tipo de observação e dos ficheiros que são utilizados,

como a actualidade, o acesso a suportes adequados do respectivo ficheiro e até mesmo o

relacionamento institucional para aceder aos ficheiros necessários à operação estatística.

4.1.4 Desenho de questionários

Os questionários estatísticos são instrumentos que se destinam a recolher dados de uma forma clara e

facilitadora do relacionamento com o respondente. Daí que a estruturação e redacção das perguntas

devem ser orientadas para facilitar a compreensão por parte das pessoas, seja por via da entrevista

directa, seja por via do autopreenchimento.

Assim, os questionários estatísticos são compostos por um conjunto de perguntas, ordenados segundo

uma sequência que deve induzir um processo de resposta consistente e facilitador da resposta. Para

conseguir estes objectivos, há 3 regras fundamentais a ter em conta:

Compreensão, no sentido de que devem ser utilizados termos que sejam acessíveis e

delimitem claramente o objectivo da pergunta; perguntar a uma pessoa que trabalha

numa empresa qual é a sua actividade económica, é mais impreciso e complicado do

que perguntar-lhe qual é a actividade económica da empresa onde trabalha; por vezes

pode até ser necessário adicionar uma pergunta do tipo “O que faz a empresa onde

trabalha?”; já para as pessoas que trabalham individualmente, pode ser mais simples

porque as tarefas que executam podem ser mais facilmente referenciáveis a uma

actividade económica maioritária;

Capacidade de resposta por parte do respondente, no sentido de que os dados a

recolher devem ser de acesso fácil para o respondente; não se deve perguntar a uma

criança de uma determinada família quais são as despesas que a família realiza

durante uma semana … porque obviamente não são as crianças que tratam desses

assuntos; não se deve perguntar a um operário de uma empresa qual é o volume de

negócios da empresa onde trabalha;

Relação entrevistador-entrevistado; a sequência das perguntas de um questionário

deve deixar para o fim as perguntas mais exigentes, em termos de resposta, no sentido

de ganhar primeiro a confiança do respondente; começar a recolha de dados de uma

Experiências específicas da

área administrativa:

Importações;

acontecimentos

demográficos registados

(universo diferente do real,

devido a falhas no registo)

Perguntas precisas

e perceptíveis pelo

respondente

Perguntas

adequadas aos

conhecimentos do

respondente

Perguntas

organizadas para

ganhar a confiança

do respondente

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família com uma pergunta sobre o seu rendimento, não é a melhor opção para

estruturar o conteúdo do respectivo questionário; assim, deve começar-se por

questões de outra natureza, como a explicação dos objectivos do inquérito e

perguntas menos invasivas da privacidade individual como a idade, sexo, profissão,

etc.

Os questionários estatísticos são compostos por perguntas que podem ser classificadas segundo 3

tipos:

Pergunta fechada, na qual todas as hipóteses de resposta estão pré-codificadas; estas

perguntas são muito eficazes na recolha de dados porque não têm necessidade de

codificação ou da interpretação da escrita, como se pode ver no exemplo seguinte:

Pergunta aberta, na qual se pode escrever a resposta de forma individualizada; estas

perguntas são as mais trabalhosas em termos estatísticos porque necessitam de

interpretação da escrita e codificação do respectivo conteúdo, como se pode ver no

exemplo seguinte:

Pergunta semi-aberta (ou semi-fechada); neste tipo de perguntas procura-se

aproveitar as vantagens de ambos os anteriores tipos de perguntas, no sentido de

garantir a pré-codificação para situações muito frequentes e economizar espaço do

questionário para situações menos frequentes, como pode ver no exemplo seguinte:

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4.1.5 Operações experimentais

As operações experimentais são elementos absolutamente fundamentais à preparação de qualquer

operação estatística. A actividade estatística está tão sujeita a procedimentos de experimentação

como qualquer outra porque o risco de erros nesta actividade é muito elevado.

Uma operação estatística é composta por várias componentes: questionários, método de recolha,

sistema de formação, modelo organizativo do trabalho no terreno, registo e tratamento dos dados.

Todas as componentes da operação estatística devem ser objecto de experimentação de modo a

garantir o funcionamento integrado das várias componentes.

Existe uma operação experimental específica para o conjunto da operação, mas deve haver a

preocupação de fazer uma experimentação sempre tão integrada quanto possível.

Assim, as operações experimentais são tipificadas de acordo com o seguinte:

- Testes, orientados sobretudo para experimentar determinadas componentes da operação,

com especial destaque para os questionários, estrutura do terreno, etc. Normalmente, o

primeiro teste a realizar é dos questionários e respectivas instruções, tendo em conta que se

trata de um instrumento que condiciona todos os procedimentos técnicos seguintes, desde a

formação das pessoas até ao sistema de tratamento de dados e difusão de resultados.

Antes de passarem para as operações experimentais no terreno, tanto os questionários como

as instruções podem ser testadas “em laboratório” constituído por pessoas da respectiva

instituição com níveis de instrução diferentes. Esta primeira fase de testes internos, embora

não permita evitar os testes de campo, pode trazer importantes sugestões de melhoria antes

de passar aos testes de terreno que são muito mais difíceis e custosos.

Deve-se aproveitar os testes também para ir testando outras componentes críticas da

operação como a organização do trabalho de campo, os modelos de formação e os modelos e

valores de pagamento das pessoas que trabalham no campo. Estes aspectos também serão

devidamente testados no inquérito-piloto mas, por vezes, as conclusões do inquérito-piloto já

podem aparecer tardiamente, nomeadamente para fazer alterações orçamentais.

- Inquérito-piloto: o inquérito-piloto é sempre a última operação experimental e deve ser

realizado em condições tão semelhantes quanto possível às da operação final. Algumas

recomendações internacionais apontam para que seja realizado um ano antes da data prevista

para a operação definitiva, como é o caso dos recenseamentos da população e habitação.

O inquérito-piloto é um ensaio geral da operação e, como tal, deve ser organizado para

experimentar o funcionamento de toda a estrutura prevista, na perspectiva de que deve

abranger todos os procedimentos que vão desde os trabalhos de campo até ao tratamento e

difusão dos resultados.

4.1.6 Legislação específica

Algumas operações estatísticas têm necessidade de legislação específica porque a sua

execução necessita de procedimentos que, por vezes, não fazem parte dos procedimentos

habituais nas operações estatísticas.

Aumentar os

conhecimentos

e ganhar

confiança!

Ensaio geral,

onde se

experimentam

todas as

componentes da

operação

Experimentação

… passo a passo!

Mas com

regularidade pré-

determinada!

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14

Alguns destes procedimentos podem estar relacionados, por exemplo, com o envolvimento

“obrigatório” de estruturas regionais e locais para as quais o INE não tem autoridade para “dar

ordens”.

Noutros casos é necessário organizar procedimentos administrativos, nomeadamente

relacionados com a organização financeira em termos administrativos mais “fluentes” do que

os procedimentos habituais. Em operações mais complexas e com forte intervenção de

pessoas contratadas a nível regional e local, é necessário garantir procedimentos de

pagamento “a tempo e horas”.

Assim, para garantir que os procedimentos necessários sejam assumidos por todas as

entidades visadas, sem conflitos de responsabilidades, prepara-se legislação específica que

organiza e determina o envolvimento das estruturas em causa, nomeadamente reorganizando

os procedimentos administrativos.

Um outro efeito colateral da legislação específica, é o facto de dar maior importância e

visibilidade à operação em causa, em relação às restantes.

4.1.7 Organização de ficheiros

Há operações estatísticas do tipo recenseamento cuja abordagem no terreno tem

condicionantes completamente diferentes.

Num recenseamento da população, todas as áreas povoadas do território têm de ser cobertas

e não existe outra alternativa para o fazer, na ausência de ficheiros administrativos de

qualidade.

Num recenseamento de empresas torna-se muito difícil e até impraticável andar a cobrir

todo o território à procura das empresas que possam existir em cada pequena área do

território.

Assim, determinadas operações estatísticas necessitam de utilizar ficheiros administrativos

para organizarem e dimensionarem os trabalhos de campo, ou para extrair amostras para

realizar inquéritos por amostragem no universo de referência.

Normalmente o problema mais importante não se coloca no acesso aos referidos ficheiros,

mas sim na qualidade e actualidade do seu conteúdo.

Há uma característica sempre presente e praticamente inevitável nos ficheiros administrativos

e que é a seguinte: os ficheiros administrativos são construídos para “legalizar” a existência de

uma determinada entidade (empresa, pessoa, edifício, alojamento, viatura, etc); por isso a

principal preocupação desses ficheiros é garantir a existência legal dessa entidade, sempre que

algum procedimento administrativo (inspecção, identificação, abertura de uma conta bancária,

voto eleitoral, etc) necessita dessa informação. Assim, há sempre muito mais preocupação no

registo dessas entidades do que no seu abate, sempre que deixam de existir. Esta situação

resulta fundamentalmente da inexistência de procedimentos eficazes de controlo das

entidades que estão efectivamente activas, porque existe desinteresse dessas entidades em

reportarem a situação real à estrutura administrativa e a estrutura administrativa raramente

Clarificação de

responsabilida

des, de

direitos e

obrigações

Ficheiros

desactualizados

devido a registos

indevidos,

desactualizados

ou de cobertura

limitada

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tem condições para garantir um controlo permanente sobre o stock dos registos. Em resumo,

normalmente é muito mais fácil entrar num ficheiro administrativo, do que sair dele!

Obviamente que temos estado a abordar o sector estruturado da economia (entidades

registadas e com existência legal)! Quando se pretende abordar o sector informal da economia

(“empresas” familiares não registadas, prestadores individuais de serviços, etc), os

procedimentos implicam, quase sempre, a realização de inquéritos com base em amostras

areolares.

Um ficheiro cheio de entidades inexistentes constitui um esforço adicional muito considerável

nos trabalhos de campo e pode criar enviesamentos muito significativos na extracção de

amostras.

Deste modo, qualquer operação estatística que tenha necessidade de utilizar ficheiros

administrativos tem de reservar um tempo e um conjunto adequado de procedimentos para

verificar a qualidade do referido ficheiro. Por exemplo nas empresas, pode utilizar-se o

controlo fiscal e os pagamentos à segurança social, no sentido de verificar se uma determinada

empresa está ou não a pagar impostos ou contribuições para a segurança social e há quantos

anos. Este trabalho de verificação centralizada pode garantir uma diversificação de

procedimentos no terreno, como evitar andar indefinidamente à procura de uma empresa ou

estabelecimento que já não existe, por vezes há dezenas de anos.

4.1.8 Organização dos trabalhos de campo

A organização dos trabalhos de campo assume sempre uma importância muito grande, na

medida em que é um factor determinante da qualidade da operação estatística, tanto nos

aspectos qualitativos relacionados com a cobertura e a fiabilidade da informação recolhida,

como da percepção dos utilizadores que são também respondentes. Muitas vezes, a lógica de

raciocínio das pessoas num recenseamento é: eu não fui recenseado, logo o trabalho está

mal feito! É necessário desmistificar isto mas, antes de tudo, é necessário garantir que o

trabalho de campo não tem falhas graves.

Esta organização tem sempre a ver com estruturas organizativas do país e pessoas, pelo que os

procedimentos habituais implicam definir categorias de responsabilidade e responsabilidades

específicas.

As categorias de responsabilidade (Coordenador Nacional, Coordenador Provincial, Municipal

ou Comunal) devem ter sempre associadas as respectivas funções tendo como referência o

seguinte:

Quem responde pela responsabilidade organizativa e envio de informação de controlo

em cada nível?

Quem responde pelo controlo dos custos e dos pagamentos a cada interveniente?

Quem responde pela formação dos intervenientes em cada nível da organização?

Sector estruturado

versus sector

informal da

economia

Momento

adequado e

tempo suficiente,

para analisar e

melhorar os

ficheiros

administrativos

necessários a uma

operação

estatística

Quem faz:

O quê?

Quando?

Como?

No terreno!

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Quem responde pela organização da recolha de dados e envio do material recolhido

para o respectivo centro de tratamento de dados, em cada nível da estrutura

organizativa?

Quem recolhe os dados em cada nível?

Quem faz os pagamentos e com que instrumentos de controlo?

Numa operação estatística complexa e de grande dimensão quantitativa e geográfica, é

fundamental conseguir ter uma organização descentralizada, mas muito bem hierarquizada e

coordenada a nível central.

4.1.9 Sistema de registo e tratamento de dados

O registo e o tratamento dos dados são das tarefas mais críticas de uma operação estatística.

Se a recolha de dados no terreno é a fase dos trabalhos que tem mais visibilidade pública, o

registo e tratamento dos dados são as que “apanham” com todas as falhas no trabalho que

vem do terreno e onde será necessário encontrar soluções para que toda a informação fique

coerente.

Enquanto o tratamento de dados tem de ser feito em todas as operações estatísticas, o registo

de dados centralizado ou descentralizado apenas se aplica nas situações em que são utilizados

questionários em papel. Quando a recolha de dados é feita por via electrónica (ficheiros

administrativos, recolha presencial ou telefónica com computadores portáteis, internet), não

há necessidade de registo e até mesmo o tratamento é bastante mais simples, porque muitas

regras de validação podem ser inseridas no acto da recolha de dados.

Hoje em dia, sempre que há questionários em papel, para fazer o registo dos dados já existem

sistemas de leitura óptica bastante eficientes e que constituem uma alternativa consistente ao

registo manual, pelas seguintes razões:

Em vez de “dois olhos + dois braços + uma cabeça pensante” multiplicados pelo

número de pessoas que fazem o registo, temos apenas um “olho”,

independentemente do número de máquinas e uma única “cabeça pensante” que

aplica as mesmas regras nas mesmas situações de reconhecimento;

Em vez de uma larga quantidade de pessoas que necessitam de ser organizadas e

motivadas para garantir padrões adequados de produtividade e qualidade, temos um

número bastante reduzido de pessoas a trabalhar com máquinas (que não necessitam

de ser motivadas); estas máquinas podem trabalhar 24 horas por dia e manter os

padrões de produtividade e qualidade;

Tudo isto se deve hoje aos equipamentos de leitura óptica bastante eficientes e

produtivos, e a um conjunto de “softwares” a que se dá o nome de “motores de

reconhecimento” que podem ser programados para diferentes níveis de confiança da

informação que reconhecem.

Transformar os

dados

provenientes de:

Questionários em

papel

Ou

De outros suportes

Em dados

electrónicos e

consistentes

Registo manual ou

electrónico?

Muitas centenas de

olhos, braços e

"cabeças pensantes”

no registo manual

Apenas um olho e

uma cabeça

pensante no registo

electrónico/leitura

óptica

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17

Obviamente que, apesar do elevado nível tecnológico disponível, ainda existem situações que

escapam e devem ser resolvidas pelos humanos, devido à sua complexidade. Contudo, trata-se

sempre de um residual de situações que constitui uma ínfima parte do trabalho. Tudo o que é

“maçudo”, “repetitivo” e automatizável, fica para a máquina e constitui a maior parte do

trabalho.

Tanto o registo como o tratamento de dados são efectuados “sob a vigilância” de um conjunto

de regras de validação. As regras de validação não são mais do que normas (algoritmos) que

definem o que se deve fazer numa situação em que é digitado um dado que não está previsto

ou que é incoerente com outro referente normalmente à mesma unidade estatística; ou

mesmo quando uma determinada pergunta que devia ter resposta não a tem. Estas regras

também controlam o tipo de preenchimento de cada campo, no sentido de determinar se o

que lá foi inscrito corresponde ou não ao que lá deve estar:

o Se um campo é definido como alfabético, só lá podem estar letras;

o Se é definido como numérico, só lá podem estar números;

o Se é definido como alfanumérico, pode ter números e letras.

Assim, temos regras de validação dos seguintes tipos:

Regras de domínio, aquelas que validam o conjunto de valores possíveis de

uma variável; os valores possíveis de uma variável são os que identificam a

resposta a cada modalidade; se, por exemplo, na variável sexo a modalidade

masculino está pré-codificada com 1 e a modalidade feminino está com 3,

não pode aparecer uma modalidade com 2;

Regras de coerência, aquelas que validam a consistência dos conjuntos de

valores de duas ou mais variáveis; por exemplo, uma criança com 5 anos de

idade, não pode ser casada na variável estado civil;

Regras de estrutura, aquelas que validam a dimensão e o tipo de dados

(formato) de uma variável; a dimensão e o tipo de formatos são

características pré-determinadas para cada campo que vai ser preenchido;

por exemplo, se o campo do ano de nascimento apenas pode ter 4 dígitos e

aparecerem 5, existe um erro de estrutura, porque a dimensão é superior à

possível; se um campo tem formato numérico, significa que não podem

aparecer letras.

Há também uma terminologia estatística corrente bastante importante quanto à classificação

de cada tipo de regras: fatais e de aviso. Estas regras são sobretudo importantes nas fases do

trabalho que antecedem as correcções automáticas (correcções realizadas sem a intervenção

de qualquer operador).

As regras fatais, tal como o nome indica, nunca poderão ser ultrapassadas sem que os dados

em causa sejam alterados para ficarem aceitáveis.

As regras de aviso são apenas alertas que podem ser programados para um único alerta ou

uma sequência de alertas (aparecer mais do que uma vez, por exemplo).

Os “polícias

electrónicos”

da consistência

estatística

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Apesar do grande desenvolvimento dos sistemas de regras de validação automática, ainda

existem situações que podem ser mais facilmente corrigidas através do recurso a validação

manual (através do operador), porque a alternativa automática pode exigir regras bastante

complexas. Por exemplo o sexo em branco com indicação do nome, é mais fácil de corrigir

manualmente do que através de regras automáticas.

O sistema de regras de validação, sobretudo no que se refere às regras de coerência, dispõe

actualmente de modelos de decisão de natureza determinística (correcção pré-determinada) e

probabilística (correcção que depende de uma matriz que é alimentada por valores dos

registos semelhantes e que são utilizados para corrigir respostas ou preencher respostas que

estão em branco). Estes sistemas aumentam muito a capacidade de correcção e imputação de

dados e não introduzem alterações muito significativas no conteúdo da informação estatística

que está a ser objecto de tratamento.

O sistema de correcções automáticas mais conhecido a nível internacional é o de correcções

determinísticas e “hot deck”, concebido por dois estaticistas canadianos (Fellegi e Holt) em

1976. Este sistema estabelece um conjunto básico de regras que avaliam o conteúdo das

respostas em função da coerência de cada variável com variáveis relacionadas.

Imputações determinísticas - Este tipo de método envolve o recurso a informação de outras

variáveis de forma a determinar a resposta à variável em falta ou incoerente. É baseada na

metodologia “if – then” com base em regras pré-estabelecidas. Por exemplo, se a idade já está

dada como certa e é inferior a 16 anos, o indivíduo não pode ter um curso superior no nível de

ensino.

Imputação por Hot-deck – Este é um método de imputação dinâmica, cuja atribuição de

valores é realizada de acordo com as respostas encontradas para a última unidade estatística

com características semelhantes e relevantes para a imputação em causa. Estas características

semelhantes são o que designamos por variáveis de restrição, ou seja, as condições que devem

ser iguais para que o valor constante nessa outra unidade estatística seja utilizado.

Assim, no caso que vimos anteriormente da criança com 5 anos que é também casada, o

sistema pode verificar outras variáveis como o nível de instrução, a actividade económica, etc

e se verificar que há apenas uma variável incoerente num conjunto alargado de outras

variáveis, faz a correcção com menor impacto. Se a criança supostamente de 5 anos tiver

indicação de nível de ensino elevado, profissão, ramo de actividade económica e até uma

relação de parentesco de cônjuge, muito provavelmente o erro está apenas na idade.

Um outro aspecto muito importante no tratamento de dados, imediatamente após a

conclusão do processo das validações e antes de chegar aos apuramentos, sob a forma de

quadros ou de indicadores, é a especialização dos registos. Cada unidade estatística, para

além das respostas com base nas variáveis primárias, pode beneficiar muito dos

procedimentos de tratamento se passar a ter um conjunto de informação que a classifica com

a respectiva categoria de uma variável derivada. Por exemplo a variável derivada “população

segundo o sexo e a dimensão dos aglomerados populacionais” apura-se muito mais facilmente

se, para além do sexo, existir uma classificação de cada registo individual com a classificação

Correcções

automáticas,

através dos

modelos

determinístico e

“hot deck”

A criança

casada que

pode não ser

criança

Especializar os

registos … para

tornar mais

fáceis e seguros

os apuramentos

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do aglomerado populacional onde reside. Caso contrário é necessário estar a construir um

algoritmo muito mais complexo, de cada vez que se pretende fazer um apuramento deste tipo.

Nas operações estatísticas cuja recolha e tratamento de dados se baseia em procedimentos de

amostragem, é necessário fazer a extrapolação dos dados da amostra para o universo. Este

processo de extrapolação deverá ser feito com um conjunto de ponderadores que permitem

garantir que um determinado dado da amostra seja multiplicado por um factor que representa

o seu “peso” no respectivo universo. Por exemplo se uma determinada amostra representa

10% do universo, a extrapolação significa que os respectivos valores devem ser multiplicados

por 10, para corresponderem aos valores do universo.

4.1.10 Controlo e avaliação da qualidade

O controlo e a avaliação da qualidade são procedimentos fundamentais nas operações

estatísticas, pelas seguintes razões: qualquer operação está sujeita a erros e os utilizadores são

cada vez mais exigentes quanto à “demonstração” da qualidade dos dados que o SEN

disponibiliza.

Existem dois conjuntos de procedimentos para controlar e avaliar a qualidade dos dados

estatísticos:

Controlos dos procedimentos de recolha, tratamento e análise dos dados;

Inquéritos autónomos de cobertura/qualidade

4.1.10.1 Controlos dos procedimentos de recolha, tratamento e análise dos dados

Nos controlos dos procedimentos, o objectivo essencial consiste organização de um conjunto

de instrumentos que permitam controlar a execução da recolha de dados tanto em relação à

quantidade como à qualidade.

Por exemplo a verificação da cobertura em cada área pode fazer-se através da quantidade de

unidades estatísticas estimadas e efectivamente observadas ao longo do processo; já na

verificação do conteúdo, deve analisar-se uma amostra do trabalho de cada entrevistador,

para verificar se os questionários estão correctamente preenchidos.

No controlo do tratamento dos dados, deve haver um controlo de “entradas e saídas” no

sentido de que a quantidade de unidades estatísticas registadas em cada nível geográfico seja

consistente com os valores que existem nos procedimentos de controlo do trabalho de campo,

para evitar perdas indevidas de unidades estatísticas. Nas regras de validação, hoje é

relativamente fácil introduzir contadores que permitem saber quantas vezes é que cada regra

“actuou” o que permite perceber o impacto das alterações decorrentes de cada regra.

Já quanto à análise dos dados, há procedimentos relativamente standardizados para algumas

áreas estatísticas, os quais permitem detectar as incongruências mais relevantes, para além

das análises comparativas do chamado “sobe e desce”. Assim, os métodos de análise imediata

podem ser do seguinte tipo:

Da amostra

para o

universo!

- Controlo de

“entradas e saídas”

- Contadores nas

regras de validação

Controlos de

cobertura e

conteúdo no terreno,

por amostra

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20

Comparação dos dados mais recentes com os equivalentes imediatamente anteriores

ou com as séries temporais equivalentes no sentido de determinar se a variação

ocorrida é razoavelmente explicável; se um determinado valor sobe ou desce

desmesuradamente sem explicação consistente, é melhor investigar o que se passou

para trás; suponhamos que de um ano para o outro os dados estatísticos referentes às

exportações cresceram 50%, sem que algo relevante o justifique; estes dados devem

ser exaustivamente investigados antes de serem difundidos. Claro que este

procedimento apela sempre aos limites para accionar estas análises adicionais;

contudo estes limites devem fazer parte dos procedimentos de análise regular e não

são possíveis de determinar de igual forma para a generalidade das operações

estatísticas, dadas as especificidades de cada uma.

Um outro aspecto importante, tanto para a análise dos dados das operações

estatísticas não correntes como até para algumas correntes, é a recolha da percepção

que alguns utilizadores têm dos resultados; por vezes os valores sobem e descem mais

por falhas de resposta do que por alterações efectivas na realidade que está a ser

medida. Há, frequentemente, indicadores associados que não suportam os resultados

estatísticos obtidos e que podem ser utilizados para os descredibilizar. Por exemplo,

as associações profissionais da pesca confirmam as quebras ou os aumentos de

pescado? As quebras de pescado correspondem a falhas no abastecimento? As

empresas de construção e o consumo de aço e cimento são coerentes com a

actividade da construção medida pelas respectivas estatísticas? Os actos médicos

praticados nos hospitais reflectem a actividade efectiva das unidades de saúde em

causa? Os números de alunos matriculados no sistema de ensino, nos vários níveis da

desagregação geográfica, são coerentes com os rácios professores/alunos e com as

taxas de escolaridade, tanto brutas como líquidas?

Nalgumas áreas estatísticas, como é o caso da demografia, há mesmo indicadores de

referência que reflectem a qualidade dos dados de uma forma bastante consistente; a

relação de masculinidade nos nascimentos não pode afastar-se significativamente do

valor que toma como referência o facto de nascerem 105 meninos por cada 100

meninas, sob pena dos dados não serem considerados fiáveis; os índices de Wipple,

de irregularidade e combinado das Nações Unidas, bem como a equação da

concordância têm valores esperados que avaliam a qualidade dos dados

demográficos, sobretudo nas componentes da população por idade e sexo e sobre a

população total. Estes índices estão amplamente estudados e são “ferramentas”

muito eficazes sobretudo na verificação das variáveis idade e sexo.

Este conjunto de procedimentos permite seguramente identificar os principais problemas

decorrentes da análise dos dados e garantir uma consistência acrescida da sua qualidade.

4.1.10.2 Inquéritos autónomos de cobertura/qualidade

Os inquéritos autónomos de cobertura/qualidade, são operações estatísticas que visam avaliar

a qualidade com base numa segunda observação, relativamente desfasada no tempo e na

organização, mas mantendo a mesma referência temporal da operação original.

“Sobe e desce”

A consistência dos

dados

“confrontada”

com indicadores

externos

Utilização de índices

de consistência,

específicos da área

estatística

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Assim, trata-se de duas operações estatísticas em que o objectivo da segunda é exactamente

avaliar a qualidade dos dados da primeira.

São inquéritos executados no terreno com base numa amostra de unidades estatísticas que foi

extraída com base no trabalho original e na qual vai ser realizada uma nova observação, por

pessoas diferentes e que não conhecem os dados iniciais, para além da identificação das

unidades estatísticas. Esta identificação visa garantir que as comparações dos dados

(matching) são feitas com a melhor precisão possível.

Estes inquéritos permitem a análise da cobertura e do conteúdo das unidades estatísticas

observadas, tomando como referência as duas observações efectuadas em cada unidade.

As diferenças verificadas tanto na cobertura como no conteúdo são assumidas sempre como

erros da operação inicial. Este pressuposto parte do princípio que os dados recolhidos no

âmbito do inquérito de cobertura/qualidade/pós censitário são sempre de melhor qualidade

do que os da operação que está a ser avaliada.

No quadro a seguir podemos verificar como são organizados os dados para avaliar a cobertura

e o conteúdo:

Operação estatística inicial

Inquérito de qualidade

Resultado

Avaliação da cobertura

Unidade estatística A Existe Existe Sem erro de cobertura

Unidade estatística B Não existe Existe Com erro de cobertura “por

defeito”

Unidade estatística C Existe Não existe Com erro de cobertura “por

excesso”

Avaliação do conteúdo

Profissão da unidade estatística A (Indivíduo)

Pedreiro Pedreiro Sem erro de conteúdo

Profissão da unidade estatística B (Indivíduo)

Pedreiro Padeiro Com erro de conteúdo

Enquanto a cobertura procura averiguar sobretudo se a unidade estatística em causa foi ou

não observada na operação original, o conteúdo visa sobretudo verificar se as variáveis de

cada unidade estatística foram ou não observadas de forma igual, em ambas as operações

estatísticas.

De relevar que estes inquéritos autónomos, para medir a qualidade dos dados de uma

operação estatística, podem ser utilizados em qualquer operação estatística com recolhas de

dados no terreno. O facto de se chamarem pós-censitários em muitas situações não significa

que possam ser feitos apenas em operações censitárias.

A QUALIDADE:

- Da cobertura

- Do conteúdo

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4.1.11 Publicidade

A publicidade é uma forma de levar ao conhecimento das pessoas a existência de um

determinado produto ou serviço. Devido à sua frequência, as pessoas estão mais habituadas

ao modelo de publicidade comercial cujo objectivo é levá-las a consumir o produto ou serviço

decorrente dessa publicidade.

Na actividade estatística, a publicidade tem em vista, sobretudo, objectivos de natureza

informativa e didáctica e deve ser trabalhada nessa perspectiva.

Uma boa campanha publicitária tem efeitos muito positivos, directos e indirectos, sobretudo

no decorrer dos trabalhos de campo, dado que, ao levar uma operação estatística ao

conhecimento do público, permite atingir os seguintes objectivos gerais:

Anula o factor surpresa que, normalmente, é prejudicial nestas operações

Permite criar nas pessoas a predisposição para a resposta

Pode proporcionar uma explicação antecipada sobre a operação que se vai realizar

Atribui, à operação, interesse nacional

Dá maior importância ao nome da instituição que a executa

Assim, a escolha dos meios publicitários a utilizar está relacionada com os públicos-alvo que

tanto podem ser empresas como a população em geral, ou apenas alguns estratos da

população, como por exemplo a população escolar. Quando se trata de estratos específicos da

população, os meios a utilizar são mais orientados para os locais onde esses estratos se

encontram. Por exemplo, se o objectivo é atingir a população escolar, talvez seja melhor ir às

escolas do que estar a privilegiar meios de cobertura nacional ampla e de elevados custos

como é o caso da televisão.

Um outro aspecto muito importante, é que a preparação de uma campanha publicitária já

exige conhecimentos muito específicos. Assim, é melhor entregar o trabalho a quem sabe, que

são as agências publicitárias, sobretudo para publicidade à escala nacional.

4.1.12 Cartografia

A cartografia e a estatística são actividades com cada vez maiores afinidades, tanto nos

procedimentos de produção, como de difusão estatística. A difusão estatística é cada vez mais

geoinformação e cada vez menos números desagregados com base numa classificação

administrativa simples, como é o caso das desagregações geográficas descritivas (Província de

….Município de … etc).

Por isso, a produção e difusão de informação estatística deve apoiar-se numa estrutura

cartográfica desenhada e estruturada especificamente para apoiar a actividade estatística. Esta

importância é tal que, nalguns países, a actividade estatística e cartográfica estão sedeadas na

mesma instituição. Quando isso não acontece, o relacionamento institucional entre as

Estatística e

Cartografia:

uma união

quase

perfeita!

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diferentes instituições é muito estreito, sobretudo para a realização de algumas operações

estatísticas mais complexas, como é o caso do recenseamento da população.

Assim, a função da cartografia na actividade estatística é um elemento determinante em duas

subactividades: trabalhos de campo e difusão estatística.

4.1.12.1 A cartografia no apoio aos trabalhos de campo

A função da cartografia nos trabalhos de campo pode sintetizar-se nos seguintes objectivos:

Evitar a existência de áreas não cobertas;

Evitar a dupla cobertura de áreas de trabalho;

Georreferenciar as unidades estatísticas.

Os dois primeiros objectivos são dos “primórdios” da ligação entre a cartografia e actividade

estatística; foram sobretudo desenvolvidos por via da actividade estatística censitária

relacionada com a população e a habitação e ainda hoje têm uma função crucial na garantia da

qualidade da actividade censitária. Tanto a subcobertura como a sobrecobertura de áreas do

território são problemas bastante complexos tanto de garantir como de verificar, embora

aparentemente um (sobrecobertura) pareça mais fácil de resolver do que o outro.

O terceiro objectivo passou a ter uma importância ainda maior com os desenvolvimentos

tecnológicos ocorridos mais recentemente; este “ganho” de importância decorre do

desenvolvimento dos Sistemas de Informação Geográfica (SIGs) e da cartografia digital, que se

transformaram numa ferramenta extremamente potente para o tratamento e difusão

estatística.

Como se pode verificar na imagem a seguir, cada edifício contem um número de identificação,

devidamente enquadrado na imagem e no sistema e no sistema de codificação de cada edifício

existente no terreno. Incluindo a identificação administrativa e estatística

(Distrito/Município/Freguesia/Secção Estatística/Subsecção Estatística/Edifício).

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Exemplificando: a identificação nacional do edifício 012 da subsecção, delimitada na parte de

baixo da figura, assume automaticamente o seguinte código até edifício: 11062303002012.

Os alojamentos, as famílias e os indivíduos são integrados neste sistema de codificação de

acordo com as seguintes regras:

o Os alojamentos são numerados, sequencialmente e dentro de cada edifício, de 01-99;

o As famílias são numeradas, sequencialmente e dentro de cada alojamento, de 01-99;

o Os indivíduos são numerados, sequencialmente e dentro de cada família, de 01-99;

Deste modo este sistema permite georreferenciar todos os indivíduos de uma forma integrada

e de acordo com a sua localização até ao pormenor mais fino da habitação.

Este sistema de georreferenciação pode ser aplicado a toda a actividade estatística, desde a

recolha de dados até aos estudos de pormenor, uma vez que todas as unidades estatísticas

(empresas, estabelecimentos, veículos, etc), localizadas no terreno em função de um

determinado endereço, podem ser observadas com base neste mesmo modelo de

georreferenciação.

Normalmente, existe cartografia oficial que delimita as áreas administrativas, mas o principal

problema da actividade estatística é que essas delimitações estão bem identificadas na

Da cartografia

analógica ao

SIG: um salto

enorme para a

produção e difusão

estatística!

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cartografia mas, quando se chega ao terreno, ou estão desactualizadas, porque já ocorreram

alterações na ocupação do solo ou são muito difíceis de localizar. Com cartas de média e

pequena escala (escalas com denominador superior a 10.000) ou de baixo nível de resolução

na cartografia digital, os problemas de delimitação são bastante imperceptíveis, pelo que as

delimitações são mais fáceis sobre a cartografia, mas muito mais difíceis de aplicar no terreno,

sobretudo quando se trata de resolver delimitações de pormenor que não sejam suportadas

por acidentes de terreno bem visíveis.

Por outro lado, muita da actividade estatística, como é o caso da censitária, necessita de

delimitar áreas a um nível geográfico inferior ao administrativo, como é o caso das secções

estatísticas; nestes casos, é imprescindível o suporte cartográfico de grande escala e a

utilização de acidentes de terreno, facilmente identificáveis localmente. Nem sempre é

possível fazê-lo com o rigor adequado. Por isso os problemas de sub e de sobre-cobertura.

Assim, as principais funções da cartografia, no apoio dos trabalhos no terreno, podem

sintetizar-se nos seguintes pontos:

-Garantia de qualidade da cobertura;

-Delimitação das áreas de actuação de cada entrevistador;

-Orientação dos entrevistadores no processo de observação das unidades

estatísticas;

-Referenciação dos limites administrativos;

-Demarcação das áreas de observação dentro de cada unidade administrativa de

base;

-Referenciação de cada unidade estatística a um determinado ponto da localização

geográfica;

-Extracção de áreas para reobservação, com vista a efectuar controlos areolares de

qualidade.

Claro que uma boa cartografia não evita todos os problemas de sub e sobrecobertura, mas

ajuda a preveni-los. Alguns dos problemas descritos anteriormente podem decorrer também

de um trabalho local mal executado, mas isso tem mais a ver com a competência dos

intervenientes locais do que com a cartografia.

4.1.12.2 A cartografia como suporte da difusão estatística

A informação estatística difundida sob a forma georreferenciada representa um ganho

significativo sobre os antigos modelos de quadros alfanuméricos, porque associa a informação

a uma geografia específica. Por outro lado permite processos de selecção e tratamento de

dados com representação gráfica muito mais atraente e de fácil leitura para os utilizadores.

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26

Ou, uma outra forma de organizar a informação estatística de acordo com uma escala:

Das estatísticas

clássicas

(números)

À geoinformação

(números

georreferenciado

s)

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27

Ou ainda, com uma escala, um gráfico de distribuição das unidades administrativas e a evolução entre

dois momentos temporais:

A visão de conjunto da evolução desta mesma área entre os dois momentos é muito mais

completa e sugestiva por via do cartograma do que através de uma quadro numérico onde

nem sequer é possível localizar as “vizinhanças” das respectivas áreas.

4.1.13 Princípios da orçamentação da actividade estatística

O orçamento de uma operação estatística é sempre um elemento crítico, devido ao facto da

maioria das operações estatísticas serem de duração plurianual e dependerem de fundos

públicos que devem ser adequadamente enquadrados pelo Orçamento Geral do Estado em

cada ano. Assim, para operações estatísticas mais complexas, como é o caso do censo da

população, é necessário ter um quadro de referência relativamente seguro e experimentado

para determinar valores consistentes com o trabalho que cada actividade implica.

Os custos de uma actividade estatística podem estruturar-se de acordo com o seguinte:

Custos directos de pessoal: são custos que decorrem da contratação de pessoal, tanto

do quadro como contratado especificamente para a operação específica; de notar que

estes custos normalmente implicam também custos adicionais para o empregador,

como é o caso da segurança social, os quais devem ser incluídos neste processo de

orçamentação; estes custos devem excluir os custos de pessoal que é pago através de Tipos de custos

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28

aquisições de serviços, como é o caso de entrevistadores recrutados especificamente

para recolher dados;

Outros custos directos: são todos os custos que decorrem da preparação e execução

da operação estatística e que estão para além dos referentes ao pessoal contratado;

são os custos das deslocações, dos subsídios de deslocação e viagens relacionados com

a actividade específica, da aquisição de todas as espécies de serviços, desde serviços

especializados de publicidade e assistência técnica como a contratação de pessoas

para fazerem a recolha dos dados, a aquisição de consumíveis como esferográficas,

papel e toner, etc; de salientar que estes custos devem ser sempre apenas os

imputáveis à actividade estatística específica;

Custos indirectos: são os custos de natureza institucional, como rendas, energia, etc,

que não são específicos da actividade estatística, mas que também contribuem para a

respectiva actividade de forma indirecta; o cálculo destes custos não é da

responsabilidade do gestor do projecto;

Custos de investimento: os bens de investimento, como viaturas, computadores, etc e

que são bens duradouros, normalmente são utilizados por várias operações

estatísticas, pelo que o seu custo deveria ser repartido por todas as actividades em

que são utilizados; contudo, em determinadas operações estes bens de investimento

são de tal modo essenciais que acabam por ser orçamentados como custo da operação

estatística em que são adquiridos, pelo menos enquanto custo de aquisição.

Assim, a preparação do orçamento de uma operação estatística, que é sempre da

responsabilidade do respectivo gestor, deverá ter em conta os seguintes procedimentos:

Analisar os custos de uma operação idêntica anterior, que possam servir de referência

quanto ao tipo e dimensão dos custos efectivos;

Determinar, com precisão, quais os custos determinantes e críticos da operação,

sobretudo em termos de pessoal, investimentos e aquisições de serviços

especializados (mão de obra necessária para os trabalhos no terreno e no tratamento

de dados, aquisições de equipamento e de serviços especializados da área informática,

publicidade, impressão e distribuição de material no terreno, etc);

A “experimentação” dos custos nas operações experimentais, de modo a assegurar

que reflectem bem o custo real de cada actividade;

Nos custos com pessoal, referentes sobretudo a aquisições de serviços relacionados

com a recolha dos dados, deve ser dada uma atenção especial ao efeito motivador da

remuneração, no sentido de garantir que há empenho através de um pagamento

adequado do trabalho pessoal que esta recolha de dados implica.

4.1.14 Relatório final

As operações estatísticas, sobretudo as não correntes, devem constituir um referencial de

experiência para os vindouros, sobretudo no sentido de passar conhecimentos e experiência,

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29

não só sobre o que aconteceu com a operação em causa, como também projectar alguns

aspectos que podem ser mais importantes para ter em consideração.

A elaboração de um relatório final, não só deve constituir uma obrigação de natureza interna,

como deve ser elaborado com um claro objectivo de se constituir como um elemento de

transmissão de conhecimentos e experiência.

Assim, o conteúdo do relatório final, devera ter um capítulo específico de apreciação sobre

cada uma das actividades mais importantes, com especial destaque para as seguintes:

Operações experimentais;

Organização e execução dos trabalhos no terreno

Registo e tratamento dos dados

Difusão da informação estatística

Orçamento

Cumprimento do cronograma

Principais lições aprendidas (este tema pode ser repartido como subcapítulo

em cada capítulo anterior, no sentido das lições aprendidas estarem

referenciadas a cada um dos temas a abordar)

Este relatório tem sobretudo objectivos de avaliação para uso interno (INE) e eventualmente o

CNEST, quando as operações estatísticas são de grande visibilidade. De qualquer forma, o

CNEST também é um espaço devidamente reservado para que estes relatórios possam ser

analisados em todas as suas vertentes, sem qualquer tipo de constrangimentos.

4.1.15 Cronograma

O cronograma é o elemento de controlo temporal da execução de cada actividade de uma

operação estatística. É através do cronograma que se organiza e controla todo o

desenvolvimento e implementação de uma operação estatística, desde a fase da concepção

até ao seu encerramento que deve culminar com o relatório final.

Para que o cronograma desempenhe cabalmente a sua função organizativa e de controlo, é

necessário que a estrutura de actividades também seja devidamente desagregada. A

desagregação das actividades deve permitir definir, com precisão, os respectivos resultados e

ter em conta as respectivas precedências (não se pode testar os questionários, enquanto não

estiver definido o seu conteúdo; não se pode começar a fazer a programação informática do

registo e tratamento dos dados, enquanto os questionários não assumirem a forma definitiva).

Por outro lado, convém sublinhar que um cronograma geral de uma operação estatística não

substitui cronogramas específicos para determinadas actividades onde a necessidade de

controlos mais finos se impõe. Podemos programar o momento para ter concluída a

programação informática da operação mas, para além disso, tem de haver um cronograma

específico para determinar o executante e os prazos para a realização de cada programa e de

cada conjunto de programas.

- Descrição de

procedimentos

- Avaliação de

procedimentos

- Passagem de

testemunho

Cronograma

geral

Cronogramas

específicos

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30

Um outro aspecto também relevante, relaciona-se com o facto de uma actividade poder ser

desenvolvida em contínuo temporal ou não. Algumas actividades têm precedências que

implicam desenvolvimentos descontínuos, pelo facto de necessitarem dos avanços noutras

áreas, para continuarem o desenvolvimento. Por exemplo a preparação do relatório final deve

ser objecto da recolha descontínua de elementos para apoiar a sua elaboração no final da

operação.

Um outro aspecto também muito importante na actividade de planeamento e inserção do

mesmo no cartograma, relaciona-se com o ponto de referência para planeamento das

actividades. Assim, há actividades num projecto que são por natureza “inadiáveis”, porque

decorrem de obrigações institucionais cuja violação pode ter sérias consequências políticas.

Na constituição dos Estados Unidos da América está previsto que em todos os anos

terminados em zero deve ser realizado um recenseamento da população. O não cumprimento

desta regra constitucional seria bastante problemático.

Contudo, existem outras razões que, não sendo tão mandatórias, têm um forte cunho

institucional, como por exemplo o cumprimento do plano de actividades do SEN.

Assim, no planeamento de uma operação estatística deve tomar-se sempre como referência os

chamados “momentos inadiáveis”, no sentido de que tudo tem de ser planeado e executado

de modo a garantir que os resultados das respectivas actividades foram atingidos de modo a

garantir a sequência das restantes actividades. Por exemplo, num recenseamento da

população, todos os questionários têm de estar impressos e devidamente distribuídos pelo

território no momento censitário. Daí que todos os procedimentos das actividades

directamente relacionadas devem ser “planeadas para trás, de modo a garantir o resultado no

momento certo, como se pode verificar no modelo seguinte de cronograma:

“Momentos

inadiáveis”,

enquanto

marcos

temporais de

referência

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31

Esta página é apenas a primeira de um cronograma censitário que é mais extenso. Serve para mostrar a estrutura de actividades e a sua sequência

temporal.

CRONOGRAMA DAS PRINCIPAIS ACTIVIDADES CENSITÁRIAS

ANTES DA DATA DO RECENSEAMENTO DEPOIS DA DATA DO RECENSEAMENTO

2 1/2 anos 2 anos 1 1/2 anos 1 ano 1/2 ano

Ja

ne

iro

Fe

ve

reir

o

Ma

rço

Ab

ril

Ma

io

Ju

nh

o

Ju

lho

Ag

osto

Se

tem

bro

Ou

tub

ro

No

ve

mb

ro

De

ze

mb

ro

Ja

ne

iro

Fe

ve

reir

o

Ma

rço

Ab

ril

Ma

io

Ju

nh

o

Ju

lho

Ag

osto

Se

tem

bro

Ou

tub

ro

No

ve

mb

ro

De

ze

mb

ro

1- Programa e Plano de Apuramentos

1.1-Estudo Preparatório 1.1

1.2-Análise interna 1.2

1.3-Análise externa (Grupo de Trabalho) 1 1.3

1.4- Estimativa Orçamental por grandes actividades 1.4

1.5-Aprovação 1.5

2- Cartografia 2.1-Definição do modelo cartográfico a utilizar 2.1

2.2-Recolha de cartas 2.3-Trabalhos de campo 2.4-Desenho e reprodução dos suportes cartográficos

3-Questionários e instrumentos auxiliares 3.1-Estudo de conteúdo 3.1

3.2-Desenho para testes 3.2

3.3-Desenho definitivo 3.3

3.4-Impressão definitiva

4-Operações experimentais 4.1-Estudo do programa 4.1

4.2-Estudo metodológico 4.2

4.3-Teste dos questionários 4.3.1-Execução 4.3.1

4.3.2-Apuramento de resultados 4.3.2

4.3.3-Relatório 4.3.3

4.4-Inquérito piloto 4.4.1-Execução 4.4.1

4.4.2-Apuramento de resultados 4.4.2

4.4.3-Relatório 4.4.3

5-Legislação 5.1-Estudo de áreas a cobrir 5.1

5.2-Elaboração do projecto de legislação 5.2

5.3-Análise interna e externa 5.3

5.4-Aprovação e publicação

6-Cadeia informática 6.1-Estudo de meios informáticos 6.1

6.2-Concepção do sistema 6.2

6.3-Análise funcional 6.3

6.4-Análise orgânica 6.4

6.5-Registo e validação 6.5.1-Concepção 6.5.1

6.5.2-Análise/programação

6.5.3-Testes

6.5.4-Verificação e correcção

6.6-Correcções automáticas

-Actividade contínua -Actividade descontínua

CRONOGRAMA DE

ACTIVIDADES

CRONOGRAMA DAS PRINCIPAIS ACTIVIDADES CENSITÁRIAS

ANTES DA DATA DO RECENSEAMENTO DEPOIS DA DATA DO RECENSEAMENTO

1/2 ano 1/2 ano 1 ano 1 1/2 anos 2 anos

Ja

ne

iro

Fe

ve

reir

o

Ma

rço

Ab

ril

Ma

io

Ju

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Ju

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Ag

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Se

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Ou

tub

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Ja

ne

iro

Fe

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reir

o

Ma

rço

Ab

ril

Ma

io

Ju

nh

o

Ju

lho

Ag

osto

Se

tem

bro

Ou

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ro

No

ve

mb

ro

De

ze

mb

ro

Ja

ne

iro

Fe

ve

reir

o

Ma

rço

Ab

ril

Ma

io

Ju

nh

o

2.2

2.3

2.4

3.4

4.4.3

5.4

6.5.2

6.5.3

6.5.4

6.6

Page 32: Manual sobre a concepção e execução de operações estatísticasleadershipbt.com/INE/images/SEN/Formacao/Concepo-e-Execuo-de-… · Assim, tomou-se como referência um modelo

32

5 Programa de Difusão (os resultados) A difusão é uma das funções mais nobres do Sistema Estatístico Nacional, uma vez que é o

culminar natural e obrigatório de qualquer operação estatística. Sem difusão, não há

estatísticas oficiais, tal como está determinado na lei do SEN, já referida anteriormente.

A Lei 3/11 de 14 de Janeiro e a difusão estatística!

……

Assim, a difusão de resultados estatísticos torna-se uma obrigação e uma condição para que uma

determinada informação estatística possa ser considerada como estatísticas oficiais.

Devido a esta e outras razões, que derivam da necessidade de organizar a produção dos suportes

adequados de difusão, qualquer operação estatística necessita de ter um programa de difusão.

5.1 O que é um Programa de Difusão? Um programa de difusão é um documento estruturado o qual deve conter uma indicação precisa

sobre quais os produtos estatísticos e as respectivas datas, que cada operação estatística

disponibiliza. No fundo, o programa de difusão incorpora a verdadeira “razão de ser” de uma

operação estatística: difundir informação estatística oficial para todos os utilizadores que

necessitem dela.

Embora o Programa de Difusão e os respectivos produtos (Plano de apuramentos e restantes

produtos a disponibilizar) apreçam nesta parte final, não significa que não devam ser desenvolvidos

no final de todo o processo de preparação. Trata-se apenas de uma questão organizativa do

conteúdo deste manual. Em rigor absoluto, o plano de apuramentos (conjunto de quadros de

Estatísticas

oficiais? ….

Só se forem

públicas!

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33

dados e indicadores) até deverão constituir um dos primeiros trabalhos de preparação, logo que

estejam definidas as unidades estatísticas a observar e respectivas variáveis).

Os produtos estatísticos mais típicos são os seguintes:

Quadros de dados: são normalmente matrizes de dupla entrada, constituídas por um

título, cabeçalho e coluna indicadora, de acordo com o seguinte:

Quadro … -População segundo o número de lugares e sexo, por escalão da dimensão do lugar

Área geográfica e administrativa

Número de lugares População segundo o sexo

Total Masculino Feminino Total do país Total Todos os lugares 5.000.000 ou mais habitantes 1.000.000-4.999.999 habitantes 500.000-999.999 habitantes 100.000-499.999 habitantes 50.000-99.999 habitantes 20.000-49.999 habitantes 10.000-19.999 habitantes 5.000-9.999 habitantes 2.000-4.999 habitantes 1.000-1.999 habitantes 500-999 habitantes 200-499 habitantes Menos de 200 habitantes População fora dos lugares … Divisão administrativa a seguir …..

O título deve sempre começar pelo universo de referência, segundo (o cabeçalho) por

(coluna indicadora).

Estes quadros têm de ser desenhados com bastante antecedência para serem descritas

as fórmulas de cálculo de cada cruzamento linha/coluna e serem devidamente

programados pela informática.

Para muitas operações estatísticas existem planos de apuramentos definidos nas

recomendações internacionais, como é o caso do recenseamento da população; a

principal função destes quadros de apuramentos das recomendações internacionais é

garantir que os vários países respondem às necessidades internacionais de dados com

matrizes iguais e devidamente normalizadas.

Indicadores: os indicadores são valores que resultam, normalmente, da combinação de

duas ou mais variáveis e que pretendem responder a necessidades específicas de um

grande número de utilizadores, através de um número simples e de fácil interpretação;

os indicadores facilitam muito a utilização de séries temporais porque comparam

Organização da

informação

estatística para

difusão

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34

facilmente a evolução ao longo do tempo. Muitos indicadores são constituídos por um

conjunto de “dimensões” que permitem replicar o quadro estatístico que lhe serve de

base, se forem utilizadas na totalidade.

Com base no quadro anterior podemos ter um indicador que permite aceder à maioria

da informação daquele quadro sob a forma de indicador, em vez de estar a verificar

toda aquela informação:

População segundo a dimensão do lugar e sexo (define-se as dimensões dos

lugares que se pretende e o sexo) … e o sistema informático fornece

rapidamente os respectivos dados.

Exemplo com a “Idade da mulher no nascimento do primeiro filho, por escalão

etário e nível de escolaridade”

A vantagem dos indicadores, em relação aos quadros, advém do facto do utilizador

poder organizar os seus dados através de um modelo de auto-tabulação (extrai apenas

os dados que lhe interessa e organiza-os da forma que melhor lhe convém).

Page 35: Manual sobre a concepção e execução de operações estatísticasleadershipbt.com/INE/images/SEN/Formacao/Concepo-e-Execuo-de-… · Assim, tomou-se como referência um modelo

35

Cartogramas: são produtos que combinam a informação numérica com a informação

geográfica e que lhe acrescentam uma significativa “mais valia”, porque permitem

associar, simultaneamente, séries de dados sobre uma mesma geografia e a

comparação com as unidades geográficas vizinhas.

2001-2011

5.2 Organização do Programa de Difusão A difusão dos resultados estatísticos deve ser organizada em termos de tempo e conteúdo.

Como os resultados estatísticos são produzidos numa sequência de fases de tratamento dos dados,

para muitas delas existe alguma pressão dos utilizadores para disponibilizarem resultados o mais

rapidamente possível. Por vezes, como é o caso dos recenseamentos da população, existe uma

expectativa muito grande para conhecer alguns resultados, como é o caso dos dados sobre

população residente segundo o sexo e a respectiva desagregação geográfica.

Assim, para garantir a resposta às necessidades mais urgentes dos utilizadores, a difusão de

resultados pode ser organizada numa sequência que decorre das fases de tratamento dos dados. É

também fundamental que a escolha dos resultados a divulgar em cada fase seja feita tendo em

conta duas preocupações fundamentais: consistência dos valores a todos os níveis em que são

difundidos e a garantia de que nas fases seguintes os valores difundidos não apresentam desvios

significativos em relação aos valores anteriores.

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36

Os resultados a difundir podem então ser organizados nas seguintes três fases:

Preliminares: são resultados que procuram disponibilizar informação com base em

contagens simples das unidades estatísticas e com um número muito limitado de variáveis;

por exemplo, a população segundo o sexo e a desagregação geográfico-administrativa; os

totalizadores de edifícios e alojamentos por área administrativa; os totalizadores de

empresas e estabelecimentos por unidade administrativa; etc;

Provisórios: são resultados que podem ser apurados nos níveis intermédios de tratamento

dos dados, quando já é possível ter um conjunto de variáveis suficientemente coerente e

consistente; normalmente são resultados obtidos numa fase em que já houve o tratamento

com base nas regras de coerência dos primeiros níveis das validações e que já não serão

sujeitos a correcções significativas; grandes grupos etários na população (menos de 15; 15-

64; 65 ou mais); níveis de instrução agregados (primário, secundário, superior); número de

empresas por grandes grupos da CAE; número de empresas segundo a natureza jurídica;

etc.

Definitivos: são os resultados finais que passam a constituir a informação de referência da

operação estatística; estes resultados devem ser apenas apurados definitivamente quando

todo o processo das regras de validação está concluído; a sua difusão só deverá ocorrer

após a análise de consistência técnica estar concluída.

Os produtos estatísticos definidos anteriormente (Quadros, Indicadores e Cartogramas) podem ser

utilizados em todas as fases de difusão dos resultados, uma vez que os dados apurados podem ser

disponibilizados sob todas estas formas em cada uma daquelas fases.

Obviamente que os resultados definitivos constituem sempre a maior quantidade de informação a

disponibilizar, porque é suposto que os dados sobre cada unidade estatística já devem ter sido

objecto de todos os tratamentos de coerência. Assim, a estruturação dos resultados em

preliminares, provisórios e definitivos deve ser organizada em crescendo de quantidade e

qualidade da informação estatística disponibilizada em cada fase.

6 A utilização de ficheiros administrativos para a produção de

estatísticas oficiais A utilização de ficheiros administrativos na produção de dados estatísticos é uma tendência

crescente dos sistemas estatísticos e tem sido fortemente impulsionada por três factores

determinantes:

A redução de custos;

A existência de ficheiros informatizados que facilitam o acesso aos respectivos

dados;

A preocupação com a sobrecarga estatística sobre os cidadãos e as empresas. Há

uma resistência crescente na resposta directa a questionários estatísticos e é

necessário encontrar formas alternativas de recolher informação.

Sequência na

difusão da

informação:

cada vez

mais e de

melhor

qualidade!

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37

Contudo, ainda subsistem muitas situações em que os ficheiros não estão informatizados, mas a

sua utilização para fins estatísticos impõe-se devido à própria natureza do acto administrativo. É o

caso dos registos civil, automóvel, predial, comercial, etc.

Assim, podemos tipificar a utilização dos registos para fins estatísticos de acordo com o seguinte:

- Exploração estatística de ficheiros informatizados na origem administrativa

Esta situação é ainda reduzida, embora seja aquela para a qual se deverá avançar. Existem já experiências bem conseguidas nas áreas das estatísticas do comércio externo e do ensino superior;

- Recolha de dados estatísticos junto de processos administrativos, através de questionário ou quadros específicos

É uma situação em que o processo administrativo não está informatizado e/ou estruturado para aproveitamento estatístico directo, pelo que a única solução, que é forçosamente de recurso, passa por recolher alguns dados através de questionário específico (processos que se encontram apenas em suporte de papel), ou de produzir apuramentos para fins estatísticos, quando os ficheiros originais estão informatizados. Estão neste caso a grande maioria das estatísticas que são produzidas através da recolha administrativa. São os casos do registo civil, educação, saúde e justiça, cuja recolha é feita através de questionários ou quadros específicos (em papel ou em suporte digital), nos quais se procura colher os dados estatísticos que são necessários à respectiva área.

6.1 Fases de preparação do procedimento administrativo, para utilização

estatística

A utilização dos ficheiros administrativos para a produção directa de estatísticas oficiais

não é um processo imediato, na maior parte das situações, e exige uma preparação

adequada de procedimentos que garantam a qualidade dos resultados obtidos.

Por outro lado, existe uma “sensação de poder relativo” por parte dos vários detentores de

ficheiros administrativos, pelo facto destes ficheiros terem sido criados para satisfazer um

determinado conjunto de necessidades. Esta situação torna a intervenção estatística um

pouco suspeita de se intrometer, descobrindo até eventuais debilidades nesses ficheiros,

podendo ser interpretado como uma diminuição desse poder.

Contudo, o efeito de harmonização de ficheiros acaba por ser um estímulo ao aumento da

sua qualidade, até porque o confronto das eventuais divergências com outras fontes ajuda

a implementar medidas de correcção que, de outra forma, dificilmente seriam

implementadas.

Alternativas na

utilização dos

registos

administrativos

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38

Seguidamente enunciam-se alguns procedimentos fundamentais e necessários a esta

adaptação:

Determinação objectiva das necessidades estatísticas em causa, o que pressupõe um plano de resultados a disponibilizar e uma descrição técnica exaustiva, associada aos respectivos conceitos, variáveis e modalidades das variáveis;

Avaliação das potencialidades do registo administrativo existente, quanto à satisfação da componente estatística;

Identificação das eventuais incompatibilidades de natureza conceptual e de conteúdo entre o registo administrativo e as necessidades estatísticas;

Determinação de alternativas de execução:

Utilização do momento administrativo para preenchimento de um instrumento pu-ramente estatístico;

Recolha de dados estatísticos através da consulta aos processos administrativos;

Inserção das necessidades estatísticas no procedimento administrativo enquanto um todo;

Informatização dos procedimentos administrativos (e estatísticos), se não estiver feita;

Evolução para um modelo único que, no acto da recolha de dados, não faça qualquer distinção entre as componentes administrativa e estatística;

Evolução para o registo electrónico local e transmissão também por via electrónica (In-ternet ou suporte magnético).

Estes procedimentos têm subjacente a colaboração estreita e interessada entre os vários

serviços administrativos e a função estatística, o que não isenta a necessidade de uma clara

orientação política nesse sentido. Caso contrário, os problemas serão tantos que

tornarão muito forte a tendência para a desistência!

6.2 A experiência demográfica na utilização de registos administrativos e as

regras inerentes ao registo civil

De acordo ainda com as recomendações das Nações Unidas, um sistema de registo civil é

entendido como “ o contínuo, permanente, obrigatório e universal registo da ocorrência

e características dos acontecimentos pertencentes à população, determinados por

decreto ou regulamento, de acordo com as exigências legais do respectivo país”.

Dos

administrativos

à informação

estatística oficial

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39

Nesta definição estão subjacentes os princípios da obrigatoriedade legal e do respeito

pelas normas de cada país, mas o registo de todos os acontecimentos vitais é o objectivo

que define o essencial deste sistema.

Os princípios fundamentais que devem ser seguidos por este sistema de registo, pelo

menos em termos estatísticos, são os seguintes:

Cobertura universal Este princípio pressupõe que todos os acontecimentos vitais ocorridos num determinado

território sejam “contabilizados” e caracterizados pelo sistema;

Continuidade Este princípio implica que a observação dos acontecimentos seja feita de modo a

garantir informação que possa reflectir as flutuações de curto prazo nos acontecimentos,

designadamente as mensais e sazonais;

Confidencialidade Este princípio visa garantir que o acesso a dados de natureza individual apenas seja per-mitido a pessoas e autoridades devidamente autorizadas para o efeito. Ou seja, os ele-mentos individualizáveis que o cidadão fornece à Administração apenas deverão ser usados para os fins pré-definidos, de modo a garantir que o cidadão possa fornecer os dados individuais correctos sem qualquer receio de que eles possam prejudicar o seu di-reito à privacidade.

Difusão regular A informação estatística sobre os acontecimentos vitais, aliás como a grande maioria da

informação estatística, interessa à sociedade enquanto tal e não apenas aos poderes

públicos, pelo que deve ser disponibilizada regularmente para que todas as pessoas e

entidades interessadas a possam consultar e analisar. Associada também a este

princípio, está a ideia de que esta regularidade da difusão deve ter em conta a

oportunidade, ou seja a informação deve ser disponibilizada em prazos que permitam a

sua completa utilização enquanto caracterizadora dos acontecimentos e capaz de induzir

medidas oportunas de política.

O exemplo do registo civil como fonte de estatísticas administrativas é apenas um exemplo que está

devidamente regulamentado a nível internacional. Contudo estas regras são claramente generalizáveis a

todos os registos administrativos passíveis de serem utilizados para fins estatísticos.

É sensato e normal que os registos administrativos dos cidadãos sejam utilizados para substituir

procedimentos muito mais caros e duplicadores de custos e esforço, como é o caso da produção estatística

alternativa por outras vias. Mesmo nas situações em que é necessário usar procedimentos estatísticos

específicos para colher a informação administrativa e trabalhá-la para a transformar em estatística, como é

o caso da recolha estatística específica dos dados do registo civil, provoca custos e trabalho adicionais de

tal maneira elevados que justificam muito bem a integração dos procedimentos estatísticos nos respectivos

procedimentos administrativos, de modo a potenciar a utilização conjunta.

As regras “de

ouro” das

estatísticas

oficiais que

utilizam

registos

administrativos

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6.3 Os 12 cuidados a ter na utilização dos registos administrativos para fins

estatísticos Embora os ficheiros administrativos sejam uma fonte de importância crescente na produção das

estatísticas oficiais, há um conjunto de cuidados a ter na sua utilização, sobretudo tendo em conta que

estes registos podem conter problemas que podem condicionar significativamente a utilização dos

respectivos dados.

O Instituto de Estatística do Canadá, no seu manual de métodos e práticas em inquéritos, aponta para um

conjunto de 12 cuidados a ter na sua utilização e a comparação das alternativas na utilização de dados

administrativos contra a realização de inquéritos estatísticos.

A utilização de dados administrativos depende dos conceitos que lhes estão subjacentes, definições, e

cobertura (e na medida em que estes factores permanecem constantes), a qualidade, a base na qual os

dados são recolhidos e tratados e a oportunidade da sua disponibilização. Estes factores podem variar

significativamente, dependendo da fonte administrativa e do tipo de informação. Antes de decidir a

utilização de dados administrativos, eles devem ser devidamente avaliados, tendo em contas as seguintes

considerações:

i. Oportunidade

Dependendo da fonte de informação, um inquérito ou outra actividade estatística que utiliza dados

administrativos deve ser capaz de produzir resultados num período de tempo mais curto do que um

inquérito por amostra. Reciprocamente, um programa administrativo deve ser mais lento a produzir dados

do que um inquérito por amostragem (particularmente se a fonte administrativa constitui um

recenseamento ou se os dados em causa têm de ser recolhidos junto de várias entidades governamentais).

O tratamento de dados administrativos, depois de recebidos, deve ser particularmente lento se forem

utilizados e combinados muitos ficheiros.

ii. Custo

Muitas das etapas de um inquérito são eliminadas (particularmente, a recolha de dados), o que reduz

significativamente os custos.

iii. Sobrecarga estatística

Se forem utilizados dados administrativos em substituição de um questionário, não existe sobrecarga de

resposta.

iv. Cobertura

A população-alvo é definida através de procedimentos administrativos, o que pode não coincidir com os

procedimentos estatísticos.

v. Conteúdo

Uma vez que o conteúdo é definido através de procedimentos administrativos, pode acontecer que nem

todas as variáveis de interesse estatístico estejam cobertas pelos dados administrativos.

vi. Conceitos e definições

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O programa administrativo, concebido com outros objectivos, pode usar conceitos e definições diferentes

das que são requeridas por um inquérito estatístico. De facto, os conceitos utilizados pela fonte

administrativa podem não ser os mais adequados para os objectivos do inquérito estatístico em causa.

vii. Erros de amostragem

Se os dados administrativos cobrirem toda a população-alvo (isto é, um censo), então não há erros de

amostragem. Se os dados administrativos substituem os dados para uma amostra da população, então os

erros de amostragem também existem nesta amostra.

viii. Erros não amostrais

O controlo dos erros não amostrais é muitas vezes mais difícil do que para um inquérito por amostragem.

Os dados administrativos podem conter mais erros ou omissões do que os dados de um inquérito

(tornando a edição e a imputação cruciais). Também quando as pessoas ou as empresas têm a percepção

que podem beneficiar ou ser prejudicadas com base nos dados que fornecem à fonte administrativa em

causa, podem existir enviesamentos nos dados fornecidos. Nalguns casos, os dados administrativos podem

conter menos erros do que os dados de inquéritos, como por exemplo, quando a impossibilidade de se

recordar da resposta adequada pode impedir o respondente de responder com precisão às respectivas

perguntas ou quando o respondente tenta “arredondar” a sua resposta a uma pergunta de um inquérito

(por exemplo sobre o rendimento).

ix. Controlo de qualidade

A qualidade da recolha, do registo e da codificação dos dados estão sob controlo do programa

administrativo e pode ser menos rigorosa do que os padrões de qualidade utilizados pelo INE. Portanto, é

necessário implementar uma avaliação contínua ou periódica da qualidade dos dados, em cada uma das

fases de recolha e tratamento.

x. Fiabilidade da fonte administrativa

A fonte administrativa dos dados pode não ser fiável quanto à capacidade de fornecer dados sempre que

for necessário. Também é possível que a cobertura, conteúdo e conceitos possam mudar ao longo do

tempo. Portanto é fundamental colaborar com os responsáveis do sistema administrativo e manter

contacto para estar actualizado quanto às mudanças de conceitos, definições, cobertura, frequência e

oportunidade que podem afectar a sua utilização para fins estatísticos e impulsionar mudanças que possam

aumentar, em vez de diminuir, a sua utilização para fins estatísticos.

xi. Formato dos dados

Os dados administrativos podem não estar num formato conveniente para utilização estatística. Por

exemplo, os dados podem estar apenas numa forma agregada, enquanto o INE deve preferir registos

individuais para cada unidade. Os dados podem provir de mais do que uma fonte, introduzindo assim o

problema da ligação (matching) e standardização dos dados com base em diferentes formatos. Além disso,

os ficheiros também podem não estar devidamente documentados com os descritivos do seu conteúdo.

xii. Questões de privacidade

O uso de dados administrativos pode colocar preocupações acerca da privacidade da informação do

domínio público, particularmente se os registos administrativos forem ligados com outras fontes de dados.

Portanto, devem considerar-se as questões relacionadas com a privacidade e o controlo do segredo

estatístico, especialmente quando se faz a interligação de ficheiros.

Fiche

iros ad

min

istrativos versu

s in

qu

érito

s estatísticos

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Torna-se assim evidente que a utilização de dados administrativos para fins

estatísticos oficiais deve ser antecedida de uma avaliação técnica exaustiva e

consistente no sentido de garantir que os utilizadores não incorram em erros de

informação.