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Os Direitos do Homem na Literatura Manuel Alegre Biograf ia Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda. É um escritor e politico que estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador do CITAC (Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), membro do TEUC (Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra), campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redactor da revista Vértice e colaborador de Via Latina. As mãos Com mãos se faz a paz se faz a guerra. Com mãos tudo se faz e se desfaz. Com mãos se faz o poema – e são de terra. Com mãos se faz a guerra – e são a paz. Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra. Não são de pedras estas casas mas de mãos. E estão no fruto e na palavra as mãos que são o canto e são as armas. E cravam-se no Tempo como farpas as mãos que vês nas coisas transformadas. Folhas que vão no vento: verdes harpas. De mãos é cada flor cada cidade. Ninguém pode vencer estas espadas: nas tuas mãos começa a liberdade. Em 1962 foi mobilizado para Angola como oficial miliciano, foi preso pela policia politica por não querer participar na guerra colonial. Até 2 de Maio de 1974,viveu em Paris e mais tarde em Argel, onde foi locutor da emissora Voz da Liberdade. Conhecido pela actividade politica, tem-se dedicado também a atividade literária, com incidência particular na poesia. Em 1999 foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa. Artigo nº2 Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Letra para um hino É possível falar sem um nó na garganta é possível amar sem que venham proibir é possível correr sem que seja fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta. É possível andar sem olhar para o chão é possível viver sem que seja de rastos. Os teus olhos nasceram para olhar os astros se te apetece dizer não grita comigo: não. É possível viver de outro modo. É possível transformares em arma a tua mão. É possível o amor. É possível o pão. É possível viver de pé. Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver sem fingir que se vive.

Manuel Alegre

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Manuel Alegre Biografia

Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936

em Águeda. É um escritor e politico que estudou Direito na

Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente

estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto

Delgado. Foi fundador do CITAC (Centro de Iniciação Teatral

da Academia de Coimbra), membro do TEUC (Teatro de

Estudantes da Universidade de Coimbra), campeão nacional

de natação e atleta internacional da Associação Académica

de Coimbra. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redactor da revista

Vértice e colaborador de Via Latina.

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.Com mãos tudo se faz e se desfaz.Com mãos se faz o poema – e são de terra.

Com mãos se faz a guerra – e são a paz.Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.

Não são de pedras estas casas masde mãos. E estão no fruto e na palavraas mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpasas mãos que vês nas coisas transformadas.

Folhas que vão no vento: verdes harpas.De mãos é cada flor cada cidade.Ninguém pode vencer estas espadas:nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967

Em 1962 foi mobilizado para Angola como oficial miliciano,

foi preso pela policia politica por não querer participar na

guerra colonial.

Até 2 de Maio de 1974,viveu em Paris e mais tarde em

Argel, onde foi locutor da emissora Voz da Liberdade.

Conhecido pela actividade politica, tem-se dedicado

também a atividade literária, com incidência particular na

poesia. Em 1999 foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa.

Artigo nº2

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as

liberdades proclamados na presente Declaração, sem

distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo,

de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem

nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer

outra situação.

Letra para um hino

É possível falar sem um nó na gargantaé possível amar sem que venham proibiré possível correr sem que seja fugir.Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chãoé possível viver sem que seja de rastos.Os teus olhos nasceram para olhar os astrosse te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo. Épossível transformares em arma a tua mão.É possível o amor. É possível o pão.É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.É possível viver sem fingir que se vive.É possível ser homem.É possível ser livre livre livre

Manuel Alegre, Letras para um hino, s/data