14
Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano

Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

Manuel BandeiraO olhar terno para o cotidiano

Page 2: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

Biografia

• Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura.

• Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema Os Sapos o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922.

Page 3: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

A poética de Bandeira• Manuel Bandeira possui um estilo simples e direto.• Bandeira foi o mais lírico dos poetas. Aborda temáticas cotidianas

e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares.

• Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais.

• Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver.

• Doente dos pulmões, Bandeira sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra.

Page 4: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

O grupo dos cinco – Anita Malfatti

Page 5: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

Projeto literário da primeira geração modernista brasileira

• Busca pela identidade nacional• Abandono das perspectivas passadistas e

liberdade formal• Aproximação entre fala e escrita na linguagem

Page 6: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,
Page 7: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,
Page 8: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

Os sapos• Enfunando os papos,

Saem da penumbra,Aos pulos, os sapos.A luz os deslumbra.

• Em ronco que aterra,Berra o sapo-boi:

- "Meu pai foi à guerra!"- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"

• O sapo-tanoeiro,Parnasiano aguado,

Diz: - "Meu cancioneiroÉ bem martelado.

• Vede como primoEm comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimoOs termos cognatos.

• O meu verso é bomFrumento sem joio.

Faço rimas comConsoantes de apoio.

• Vai por cinqüenta anosQue lhes dei a norma:

Reduzi sem danosA formas a forma.

Page 9: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

Poética• Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportadoDo lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o

cunho vernáculo de um vocábulo.Abaixo os puristas

• Todas as palavras sobretudo os barbarismos universaisTodas as construções sobretudo as sintaxes de exceção

Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis• Estou farto do lirismo namorador

PolíticoRaquíticoSifilítico

De todo lirismo que capitula ao que quer que seja forade si mesmo

De resto não é lirismoSerá contabilidade tabela de co-senos secretáriodo amante exemplar com cem modelos de cartas

e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.• Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbadosO lirismo difícil e pungente dos bêbedosO lirismo dos clowns de Shakespeare

• - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Page 10: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

Poema Tirado de uma Notícia de Jornal

• João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem númeroUma noite ele chegou no bar Vinte de NovembroBebeuCantouDançouDepois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Page 11: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

Pneumotórax• Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.

A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Page 12: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

Teresa• A primeira vez que vi Teresa

Achei que ela tinha pernas estúpidasAchei também que a cara parecia uma perna

• Quando vi Teresa de novoAchei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

• Da terceira vez não vi mais nadaOs céus se misturaram com a terraE o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

Page 13: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

O Bicho• Vi ontem um bicho

Na imundície do pátioCatando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,Não examinava nem cheirava:Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,Não era um gato,Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Page 14: Manuel Bandeira O olhar terno para o cotidiano. Biografia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho 1886 - 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte,

O último poema

• Assim eu quereria o meu último poema.Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionaisQue fosse ardente como um soluço sem lágrimasQue tivesse a beleza das flores quase sem perfumeA pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidosA paixão dos suicidas que se matam sem explicação.