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Departamento de Engenharia e Ciências do Mar Curso: Licenciatura em Engenharia Civil Projeto Fim de Curso Mindelo, 2013 ESTUDO DA MANUTENÃO E REABILITAÇÃO DE INFRAESTRUTURAS PORTUARIAS AUTOR: Derys Neves Rodrigues ORIENTADOR: Engº Carlos Alberto Gomes

Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

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Page 1: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

Departamento de Engenharia e Ciências do Mar

Curso: Licenciatura em Engenharia Civil

Projeto Fim de Curso

Mindelo, 2013

ESTUDO DA MANUTENÃO E REABILITAÇÃO DE

INFRAESTRUTURAS PORTUARIAS

AUTOR: Derys Neves Rodrigues

ORIENTADOR: Engº Carlos Alberto Gomes

Page 2: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

I

Agradecimentos

A realização deste projeto só foi possível graças a pessoa e entidades que me prestaram o

auxílio mais que necessário. A elas deixo o meu mais sincero agradecimento, pela sua

dedicação, disponibilidade e compreensão, fundamentais para os resultados conseguidos.

Ao Engenheiro Carlos Gomes, meu orientador, pelos conhecimentos transmitidos e pelo

apoio e disponibilidade demonstrado durante a realização do trabalho.

À professora Ayline Soares, pela valiosa colaboração e apoio na elaboração do projeto.

À equipa técnica da ENAPOR, em especial ao Engenheiro Francisco Santos, por facultar os

documentos necessários ao estudo dos portos de Cabo Verde.

Ao Engenheiro Olívio Andrade, pela grande colaboração e apoio transmitidos.

À minha família, pelo apoio, compreensão e paciência dedicados durante todo o período de

realização deste projeto.

Page 3: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

II

"O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário"

Albert Einstein

Page 4: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

III

Resumo

Este documento representa um trabalho de investigação realizado e apresentado para obtenção

do grau de Licenciado em Engenharia Civil.

Cabo Verde é um país em desenvolvimento, porem, a sua dependência para com a importação

é uma realidade ainda longe de ser ultrapassada. As necessidades básicas obrigam a uma

movimentação de cargas essencialmente através de portos, correspondendo nos principais

portos do país uma elevada utilização com consequente diminuição dos parâmetros de

conforto e segurança dessas infraestruturas.

O trabalho visa realçar a importância da manutenção de infra-estruturas portuárias e investigar

soluções de manutenção para os diferentes tipos de portos existentes, com maior ênfase às que

se adaptam aos nossos portos, com o intuito de serem futuramente aplicadas.

A pesquisa começa pelo conhecimento das infra-estruturas, tanto das suas características

funcionais como dos processos construtivos. Principalmente para os tipos de portos utilizados

em Cabo Verde, a pesquisa também passa por conhecer as metodologias de inspeção e

manutenção destas infra-estruturas, bem como soluções de reabilitação a serem aplicadas,

quando necessárias.

Neste trabalho é analisado um caso de estudo real, onde se pretende elaborar uma inspecção

onde se possa avaliar o estado da infraestrutura e propor soluções de melhoramento. Trata-se

do Porto Grande do Mindelo, construído em 1962. É feita ainda a quantificação e

orçamentação dos trabalhos referentes a um projeto de reparação de um troço deste porto.

Palavras-chave: portos, inspecção, manutenção, reabilitação.

Page 5: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

IV

Abstract

This document is a research work conducted and submitted for the degree of graduation in

civil engineering.

Cape Verde is a developing country. However, its dependence on imports is a reality far from

being outdated. The basic needs demand a cargo handling primarily through ports,

corresponding in the main ports of the country at a high utilization with consequent reduction

of the parameters of comfort and security of these infrastructures.

The paper aims to highlight the importance of maintaining port infrastructure and

maintenance solutions to investigate the different types of existing ports, with greater

emphasis on those that fit our ports, in order to be applied in the future.

The search begins for knowledge infrastructure, both their functional characteristics as the

construction processes. Mainly for the types of ports used in Cape Verde, the research also

involves knowing the methodologies of inspection and maintenance of these infrastructures

and rehabilitation solutions to be applied when necessary.

In this paper we analyze a real case study, where it intends to develop an inspection where we

can assess the state of the infrastructure and propose improvement solutions. This is the port

of Mindelo, built in 1962. Will be quantified and budgeting of work on a project to repair a

section of this port.

Keywords: port, inspection, maintenance, rehabilitation.

Page 6: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

V

INDICE

Agradecimentos .......................................................................................................................................... I

Resumo .................................................................................................................................................... III

Abstract ................................................................................................................................................... IV

INDICE ................................................................................................................................................. V

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 9

1.1. Problematização ......................................................................................................................... 10

1.8. Estrutura do trabalho ...................................................................................................................... 11

2. CARACTERIZAÇÃO DAS INFRAESTRUTURAS PORTUÁRIAS ............................................... 13

2.1. Classificação das infraestruturas portuárias ................................................................................ 14

2.1.1. Quanto a Natureza ................................................................................................................... 14

2.1.2. Quanto a Localização ............................................................................................................... 15

2.1.3. Quanto a Utilização ................................................................................................................. 16

2.1.4. Quanto à estrutura .................................................................................................................... 17

2.2. Acessórios portuários ............................................................................................................... 20

2.2.1.Defensas .................................................................................................................................. 20

2.2.2. Cabeços de amarração .............................................................................................................. 21

2.2.3. Montagem dos acessórios ......................................................................................................... 21

2.3. Agitação marítima .................................................................................................................... 22

2.3.1. Correntes ................................................................................................................................ 23

2.3.2. Marés ..................................................................................................................................... 23

2.3.3. Ondas marítimas ...................................................................................................................... 24

2.4. Tempo de vida das infraestruturas ................................................................................................ 24

3. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS PORTOS DE CABO VERDE .............................................. 26

3.1. Porto Grande ................................................................................................................................... 26

3.2. O Porto Novo ............................................................................................................................. 27

3.3. Porto do Tarrafal ........................................................................................................................ 27

3.4. Porto da Palmeira ....................................................................................................................... 28

3.5. Porto de Sal-rei .......................................................................................................................... 28

3.6. Porto Inglês ............................................................................................................................... 29

3.7. Porto da Praia ............................................................................................................................. 29

3.8. Porto Vale Cavaleiros ................................................................................................................. 30

3.9. Porto Furna ................................................................................................................................ 30

Page 7: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

VI

4. PROCESSOS CONSTRUTIVOS E TECNOLOGIAS UTILIZADAS EM INFRA-ESTRUTURAS

PORTUÁRIAS ....................................................................................................................................... 31

4.1. Projeto e dimensionamento de obras portuárias .................................................................................... 31

4.2. Trabalhos iniciais (Dragagem) ........................................................................................................ 31

4.4. Construção de estruturas de gravidade ............................................................................................. 32

4.4.1. Infraestrutura em blocos de betão .............................................................................................. 33

4.4.2. Infraestrutura em caixotões e aduelas ........................................................................................ 34

4.5. Construção ponte cais em betão armado ........................................................................................... 34

4.5.1. Construção da superstrutura da ponte cais .................................................................................. 36

4.6. Estruturas flutuantes ....................................................................................................................... 36

5. CARACTERIZAÇÃO DA INSPEÇÃO E DA MANUTENÇÃO DE INFRA-ESTRUTURAS

PORTUÁRIAS ....................................................................................................................................... 38

5.1. Princípios de degradação do betão ................................................................................................... 40

5.1.2. Ataques químicos .................................................................................................................... 40

5.1.3. Ataques físicos ........................................................................................................................ 43

5.1.4. Outros tipos de ataque .............................................................................................................. 43

5.2. Técnicas de inspecção .................................................................................................................... 43

5.2.1. Inspecção visual ...................................................................................................................... 44

5.2.2. Medições ................................................................................................................................ 44

5.2.3. Ensaios ................................................................................................................................... 44

6. INSPEÇAO NO PORTO GRANDE ................................................................................................ 46

6.1. Caracterização das patologias .......................................................................................................... 47

6.1.1. Corrosão generalizada das armaduras – Patologia estrutural ............................................................ 47

6.1.2. Perda da massa de betão nas arestas das vigas de coroamento – Patologia superficial ........................ 48

6.1.3. Destacamento da massa de betão na fase lateral de frentes de acostagem – Patologia superficial ........ 49

6.1.4. Abertura de junta de dilatação entre vigas de coroamento (1) – Patologia estrutural .......................... 50

6.1.5. Abertura de junta de dilatação entre vigas de coroamento (2) – Patologia estrutural .......................... 51

6.1.6. Desgaste do pavimento – estética .................................................................................................. 52

6.1.7. Acessórios portuários (defensas) ................................................................................................... 53

7. TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO DE INFRA-ESTRUTURAS PORTUARIA ............................... 54

7.1. Reparação da corrosão das armaduras .............................................................................................. 54

7.1.1. Reparação electroquímica ......................................................................................................... 54

7.1.2. Substituição do betão contaminado ............................................................................................ 58

7.1.3. Inibidores de corrosão .............................................................................................................. 59

7.2. Reparação superfície betão (fissuras, algas, erosão) ........................................................................... 60

7.3. Reparo de Estacas .......................................................................................................................... 61

7.4. Correção de desassoreamento do fundo ............................................................................................ 61

7.4.1. Pedras soltas “Rip-rap” ............................................................................................................ 61

7.4.2. Blocos de betão ....................................................................................................................... 62

Page 8: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

VII

7.4.3. Gabiões................................................................................................................................... 62

7.4.4. Geotêxteis ............................................................................................................................... 62

7.5. Correção da erosão no pé do muro ................................................................................................... 63

7.6. Reforço de fundação ....................................................................................................................... 63

7.6.1. Sistema de ancoragem submersa U.W.A (under water anchor) .................................................... 64

7.6.2. Estaca tipo raiz ........................................................................................................................ 66

7.6.3. Jet Grouting ............................................................................................................................ 67

8. PROPOSTA DE MANUTENÇÃO PARA O NÓ 1 DO CAIS DO PORTO GRANDE. ..................... 68

Descrição da situação actual do terminal do meio (cais 3 e 4) ................................................................... 68

Metodologia de execução ...................................................................................................................... 70

9. Conclusões ....................................................................................................................................... 75

Referências Bibliográficas ........................................................................................................................ 77

INDICE DE FIGURAS

Fig. 1- Porto artificial de Hamburgo, Alemanha (hafen-hamburg.de) ........................................................ 14 Fig 2 – porto fluvial de Itajaí, Brasil (Stramari, 2005) ............................................................................... 15 Fig 3 – Terminal offshore (Tato, 2007) ...................................................................................................... 16 Fig 4 – Porto de carga geral, Porto Grande, Mindelo (topicos123.com) .................................................... 16 Fig 5 – Terminal petroleiro (Stramari, 2005) ............................................................................................. 17 Fig 6 – Terminal especial roll-on roll-off (Stramari, 2005) ........................................................................ 17 Fig 7 – estrutura contínua do Porto Inglês na ilha do Maio (enapor.cv) ..................................................... 18 Fig 8 – Esquema de paramento fechado (A) e paramento aberto (B) (Tato, 2007) .................................... 18 Fig 9 – Esquema de estrutura discreta (Tato, 2007) ................................................................................... 19 Fig 10 – Esquema de obras de proteção de portos de atracação (Tato, 2007) ............................................ 20 Fig 11 – Defensas (maritimeinternational.com) ......................................................................................... 21 Fig 12 – Tipos de cabeços de amarração (trelleborg.com) ......................................................................... 21 Fig 13 – Esquemas de montagem de cabeços de amarração (trelleborg.com) ............................................ 22 Fig 14 – Montagem de Defensa com parafusos em Porto Novo ( arquivo pessoal) ................................... 22 Fig 15- Estudo da agitaçao maritima em modelos fisicos (LNEC, 2006) .................................................. 23 Fig 16 – Esquema do movimento das águas oceânicas (monografias.com) ............................................... 23 Fig 17 – Efeito do sol e da lua sobre as marés - quarto crescente e quarto minguante (Ribeiro, 2011) ..... 24 Fig 18 – Representação gráfica do tempo de vida útil (Sabattini, 2009) .................................................... 25 Fig 19 – Porto Grande de Mindelo (enapor.cv) .......................................................................................... 26 Fig 20 – Porto Novo de Santo Antão (enapor.cv) ...................................................................................... 27 Fig 21 – Porto de Tarrafal em São Nicolau (enapor.cv) ............................................................................. 27 Fig 22 – Porto de Palmeira no Sal (enapor.cv) ........................................................................................... 28 Fig 23 – Porto de Sal Rei na Boavista (enapor.cv) ..................................................................................... 28 Fig 24 – Porto Inles no Maio (enapor.cv) ................................................................................................... 29 Fig 25 – Porto da Praia em Santiago (enapor.cv) ....................................................................................... 29 Fig 26 – Porto de vale dos Cavaleiros no Fogo (enapor.cv) ....................................................................... 30 Fig 27 – Porto de Furna na Brava (enapor.cv) ............................................................................................ 30 Fig 28 – Perfil de estrutura em blocos de betão no porto de Porto Novo (ENAPOR, 2011) ...................... 33 Fig 29 – Armazenamento dos blocos e seu posicionamento no Porto Novo (arquivo pessoal) ................. 33 Fig 30 – Fabrico de aduelas em estaleiro (esq.) e construção de caixotão (dir.) (Ribeiro, 2011) ............... 34 Fig 31 – Detalhes de viga de coroamento no Porto Novo (foto tirado na obra, arquivo pessoal) .............. 34 Fig 32 – Perfil de infra-estrutura sobre estacas (Ribeiro, 2011) ................................................................. 35

Page 9: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

VIII

Fig 33 – Betonagem de estaca moldada (esq.) e cravação de estaca pré-fabricada (dir.) (Ribeiro, 2011) .. 35 Fig 34 – Pontão da Marina do Mindelo, em estacas moldadas e quadradas (arquivo pessoal) .................. 36 Fig 35 – Estrutura flutuante da Marina do Mindelo (foto tirada no local, arquivo pessoal) ....................... 37 Fig 36 - perigo de corrosão em função da profundidade (Carvajal, 2011) ................................................. 39 Fig 37 – Corrosão de armadura por ataque de sulfatos (Carvajal, 2011) .................................................... 40 Fig 38 – Esquematização do processo de corrosão (Bissa, 2008) .............................................................. 41 Fig 39 – Corrosão de armaduras por ataque de cloretos (mundodaimpermeabilizacao.blogspot.com) ...... 41

Fig 40 – Medição da profundidade de carbonatação do betão (Silva, 2007) .............................................. 42

Fig 41 – Danos causados devido ao embate de embarcações (foto tirado no Porto Grande) ..................... 43

Fig 42 – Layout do Porto Grande (enapor.cv) ............................................................................................ 46

Fig 43 – corrosao de armaduras no Porto grande (arquivo pessoal, foto feita no local) ............................. 47

Fig 44 – perda de massa de betão na frente de acostagem (arquivo pessoal, foto feita no local) ............... 48

Fig 45 – destacamento do betão na frente de acostagem (arquivo pessoal, foto feita no local) ................. 49

Fig 46 – junta de dilatação aberta (arquivo pessoal, foto feita no local) .................................................... 50

Fig 47 – junta de dilatação aberta após acidente (arquivo pessoal, foto feita no local) .............................. 51

Fig 48 – ilustração da erosão no pavimento do cais (arquivo pessoal, foto feita no local) ......................... 52

Fig 49 – mau estado das defensas (arquivo pessoal, foto feita no local) .................................................... 53

Fig 50 - Princípio de funcionamento da protecção catódica (Lourenço, 2011) .......................................... 55

Fig 51 - Ânodos de protecção catódica (Lourenço, 2011) .......................................................................... 56

Fig 52 - Processo de migração iónica no betão (Lourenço, 2011) .............................................................. 57

Fig 53 - Processo de realcalinização (Silva, 2007) ..................................................................................... 58

Fig 54 – Aplicação de pinturas inibidores de corrosão (Carvajal, 2011) .................................................... 60

Fig 55 – esquema representativo do “Rip- Rip” (Dziekaniak, 2005) ......................................................... 62

Fig 56 - Terreno de fundação competente (Dziekaniak, 2005) .................................................................. 64

Fig 57 - Terreno de fundação pouco competente (Dziekaniak, 2005) ........................................................ 64

Fig 58 - Equipamento de perfuração de ancoragem submersa (costafortuna.com) .................................... 65

Fig 59 - Partes principais que constituem o sistema de perfuração submerso U.W.A. (costafortuna.com) 65

Fig 60 – perfil de estrutura reforçada com estaca raiz (Dziekaniak, 2005) ................................................ 66

Fig 61 - Metodologia executiva de estacas raiz (geocities.ws) ................................................................... 66

Fig 62 - Sistemas de jet Grouting (Carletto, 2009) ..................................................................................... 67

Fig 63 – Perfil atual do nó 1 do Porto Grande (arquivo ENAPOR) ........................................................... 69

Fig 64 – Ilustração da planta do nó 1 (arquivo pessoal) ............................................................................. 69

Fig 65 – cais com defensas de pneus (pt.dreamstime.com) ........................................................................ 71

Fig 66 – Detalhes do elemento de betão (arquivo pessoal) ........................................................................ 72

Page 10: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

IX

1. INTRODUÇÃO

As infraestruturas portuárias são obras que requerem uma grande aplicação monetária

devido a sua grande envergadura, isto é, constituem investimentos de alto valor

económico-financeiro. Sendo assim, o tempo de espera para a obtenção do retorno do

investimento ou do lucro, deverá ser também considerável. Neste sentido, há que

garantir que a estrutura seja resistente o suficiente para que possa gerar o lucro exigido e

que se possa recuperar o investimento.

Para garantir a durabilidade destas infraestruturas, alem de serem exigidos projetos bem

elaborados e boas práticas construtivas, são necessárias inspeções e manutenção

periodicas, e algumas obras de reabilitação quando necessárias.

O fato de existirem diferentes tipos de embarcações e navios, e ainda condições

ambientais, geológicas, atmosféricas e marítimas, variados e particulares de cada região,

leva a que hajam diferenciadas formas de soluções acostáveis, e consequentemente

técnicas de construção diferentes.

As técnicas construtivas são adotadas conforme o projeto da infraestrutura. Projeto este

que deve ser feito com o conhecimento rigoroso das condições naturais do local, do tipo

de utilização a que se pretende para o porto, e ainda dos equipamentos e da operação

portuária referentes a infraestrutura em questão.

Isto mostra que a manutenção de infraestruturas portuárias não pode ser pensada e

estudada de forma generalizada, pois os diversos tipos de estruturas possuem detalhes

particulares que devem ser analisadas separadamente de forma a descobrir a melhor

forma de se preservar cada uma delas.

Para cada caso é necessário conhecer as possíveis anomalias que poderão afetar o

desempenho da infraestrutura, a origem dessas anomalias, e as melhores formas de

tratamento e correção possíveis. Dessa forma se procede com a elaboração de um plano

de inspeções e manutenção a ser seguido durante toda a vida útil de cada obra.

Elaborar o plano de inspeções é o primeiro passo quando se pretende fazer uma

manutenção periódica, e esta tem como base o projecto, onde se encontram as

características fundamentais e relevantes à elaboração desse plano.

Com o seguimento de uma manutenção planificada, os trabalhos não interferem com o

funcionamento normal do porto, e evitam-se obras de maior envergadura. Estas obras,

de reabilitação, são mais exigente em termos económicos e mais complexos em termos

Page 11: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

10

de execução, devendo estas ser estudadas e analisadas pormenorizadamente para cada

tipo de estrutura, devido as particularidades destas.

Daí a necessidade de se fazer um estudo da manutenção e reabilitação de infraestruturas

portuárias, de modo a conhecer as melhores formas de garantir a durabilidade e o bom

funcionamento destas.

1.1. Problematização

O clima marinho e a operação constante nos portos ao longo dos anos levam a uma

perda gradativa do desempenho das infraestruturas portuárias, além de que o

envelhecimento natural dos materiais utilizados nas construções também contribui para

essa perda. Neste sentido, A manutenção torna-se imprescindível para a garantia de

durabilidade destas mesmas infraestruturas.

Dessa forma a manutenção deve ser planificada e acompanhada de inspeções periódicas,

podendo-se facilmente detetar patologias no seu estágio inicial, isto é, não agravadas.

Com isto os trabalhos de reparação serão de menor envergadura e também menos

dispendiosas.

Seguir um plano de inspeções e manutenção para uma infraestrutura implica gastos em

termos de materiais, equipamentos e de mão de obra, alem de exigir um serio

acompanhamento por parte dos responsáveis pela infraestrutura. Estes são motivos que

podem levar ao não seguimento das manutenções, só se agindo em casos de acidente.

Por outro lado, abdicando das inspeções, corre-se o risco de se detetar anomalias em

estado avançado, comprometendo a segurança dos que utilizam estas infraestruturas e

implicando grandes obras de reabilitação. Quando planeadas, as inspeções não alteram o

funcionamento normal da infraestrutura, e a manutenção não provoca constrangimentos

nem para os operadores portuários e nem para os utentes. Já as obras de reabilitação,

alem de muito mais custosas que as de manutenção, implicam transtornos em termos da

logística da operação portuária, podendo mesmo levar à suspensão temporária das

operações nos portos.

Contudo, a reabilitação não é aplicada somente em caso de acidentes, ou quando

existam deteriorações precocemente provocadas, esta é também necessária quando o

desempenho da infraestrutura se encontra abaixo dos níveis mínimos exigidos. Isto

devido a natural diminuição de desempenho que acontece com o passar dos anos,

mesmo procedendo-se com a manutenção. As obras de reabilitação são, neste caso,

executadas para repor os níveis de segurança e conforto das infraestruturas.

Page 12: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

11

1.2. Metodologia

Para elaborar um plano de manutenção de uma infra-estrutura portuária, e conhecer os

processos para sua reabilitação, foi realizado uma pesquisa exploratória, baseada na

analise documental associado à entrevistas a profissionais dessa área, pois tal como

explica Gil, 1991esta pesquisa “visa proporcionar maior familiaridade com o problema

com vistas a torna-lo explicito ou construir hipóteses. Envolve levantamento

bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiencias praticas com o

problema, análise de exemplos que estimulem a compreensão. ”

Com esta pesquisa pretende-se adquirir conhecimentos para aplicação imediata dos

resultados, com vista a corrigir irregularidades presentes em estrituras portuárias. E por

ser um projecto de carácter técnico, teve uma forma de abordagem quantitativa, pois,

pretende-se quantificar a extensão de patologias e elaborar de tabelas de calculo para

orçamentação.

Para cumprir com os objectivos deste trabalho, há situações específicas onde se

abordam detalhes e aspectos especiais. Este procedimento técnico é descrito por Ponte,

2006 como estudo de caso, por ser “uma investigação que se assume como

particularista, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação especifica que

se supõe ser único ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir o

que há nela de mais essencial e característico e desse modo, contribuir para a

compreensão global de um certo fenómeno. ”

1.8. Estrutura do trabalho

Este projeto é constituído por 9 capítulos, incluindo a introdução e as conclusões, onde

são abordados os seguintes assuntos:

No capítulo I aborda-se toda a parte relativa ao tema, problematização e metodologia

utilizada.

No capítulo II procede-se com a caracterização das infraestruturas portuárias,

classificando os portos quanto a sua localização, quanto a utilização, quanto a natureza e

quanto a estrutura, e descrevendo o ambiente marinho e os acessórios portuários

utilizados.

Page 13: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

12

No capítulo III faz-se uma caracterização dos principais portos existentes em Cabo

Verde, descrevendo o seu aspecto físico.

No capítulo IV faz-se uma descrição dos diferentes processos construtivos e

tecnologias utilizadas na construção de portos e estruturas portuárias auxiliares.

O capítulo V começa-se a tratar de forma aprofundada a temática da manutenção,

fazendo a caracterização das inspeções e das formas de manutenção existente. Aborda-

se também neste capítulo os princípios de degradação destas infraestruturas.

O capítulo VI corresponde a uma inspecção feita no Poro Grande, onde são

identificadas as patologias, as suas possíveis causas e também as soluções possíveis de

correcção.

O capítulo VII descreve técnicas de reabilitação e correcção de anomalias nos tipos de

estruturas portuárias utilizadas predominantes em Cabo Verde.

No capítulo VIII corresponde a um estudo de case, que é a elaboração de um projecto

de reparação de um dos terminais do Porto Grande, incluindo a orçamentação.

O capítulo IX corresponde ao resumo das principais conclusões do trabalho.

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13

2. CARACTERIZAÇÃO DAS INFRAESTRUTURAS PORTUÁRIAS

O conceito de porto está ligado a alguns aspectos básicos como condições de abrigo,

profundidade e acessibilidade ao porto, área de retroporto, acessos terrestres ou

aquaviários e impacto ambiental. (Alfredini, 2006)

O abrigo

O porto deverá garantir às embarcações proteção contra ventos, ondas e correntes

marítimas. Além disso, deve apresentar condições facilitadas de acesso à costa, onde

será realizada por meio da obra de acostagem, a movimentação de carga ou passageiros.

Deverá também fornecer pontos de amarração para os cabos das embarcações,

garantindo durante a operação portuária, reduzidos movimentos e com o mínimo de

esforços de atracação sobre a estrutura portuária. (Alfredini, 2006)

A profundidade e acessibilidade

O canal de acesso, bacia portuária e berços de acostagem, devem apresentar

profundidade de água e espaço de manobras compatíveis com as dimensões das

embarcações: comprimento, largura e calado(medida da parte submersa do barco).

(Alfredini, 2006)

A area de retroporto

É denominada de retroporto a área de apoio ao porto para a movimentação de cargas,

como pátios de armazenagem, estocagem, administração portuária, oficinas, etc., além

de abrigo e suporte quando se tratando se terminais de passageiros. (Alfredini, 2006)

Acessos terrestres e aquaviários

Para haver uma eficiente chegada ou retirada de cargas e passageiros do porto, deverão

ser previstos acessos terrestres como rodovias e ferrovias, e/ou ainda acessos

aquaviários como hidrovias. Tais acessos deverão ser implantados ou adequados de

forma compatível com a logística do controle das operações, e considerando a

localização dos pólos da infra-estrutura de produção local e regional. (Alfredini, 2006)

O impacto ambiental

Atualmente a implantação de um novo empreendimento portuário exige um estudo

multidisciplinar de impacto ambiental para a obtenção junto às agências e órgãos

Page 15: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

14

governamentais a licença ambiental prévia (LAP), licença ambiental de instalação (LAI)

e licença ambiental de operação do sistema portuário (LAO). Certamente a construção

de um porto, resulta em grandes implicações ao meio físico e biológico adjacente, além

de mudanças sócio-econômicas na região, que devem ser cuidadosamente analisadas.

(Alfredini, 2006)

2.1. Classificação das infraestruturas portuárias

2.1.1. Quanto a Natureza

As características primordiais de abrigo e acessibilidade são determinantes para uma

classificação inicial de um porto. (Alfredini, 2005)

Portos naturais

São caracterizados pela inexistência ou reduzidas obras de melhoramentos usadas para

criar condições de abrigo e acessibilidade, pois sua localização e características naturais

já as provêm para as embarcações convencionais. Geralmente são portos estuarinos1

com canais de barras e boa estabilidade. (Alfredini, 2005)

Portos artificiais

Ao contrário dos portos naturais, os portos artificiais necessitam de obras de

melhoramentos que facilitem o acesso e ofereçam condições de abrigo às embarcações.

(Alfredini, 2005)

Fig. 1- Porto artificial de Hamburgo, Alemanha (hafen-hamburg.de)

1 Ambiente aquático de transição entre um rio e o mar

Page 16: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

15

2.1.2. Quanto a Localização

Do ponto de vista de sua localização, as obras acostáveis podem ser exteriores ou

marítimas, interiores ou fluviais, portos ao largo ou lacustres.

Portos exteriores ou marítimos

São os portos situados diretamente na costa. Podem ser classificados em dois tipos:

salientes à costa (ganhos à água), quando são implantados aterros que avançam sobre o

mar; encravados em terra (ganhos à terra), quando são compostos por escavações

formando canais e bacias. (Alfredini, 2005)

Portos interiores ou fluviais

Os portos interiores podem ser estuarinos, lagunares ou no interior de deltas. Os portos

estuarinos localizam-se em uma desembocadura ou foz de rio alargada e extensa, como

uma baía fechada e estreita, onde misturam-se água doce e salgada conforme a corrente

fluvial e dos fluxos de marés do mar.. (Stramari, 2005)

Fig 2 – porto fluvial de Itajaí, Brasil (Stramari, 2005)

Portos ao largo

São os portos localizados distantes da costa, ao largo da zona de arrebentamento de

ondas, sendo que em alguns casos podem até mesmo não possuir abrigo. São também

denominados de terminais offshore1. (Mason, 1981)

1 Estrutura especial situada ao largo da costa

Page 17: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

16

Na figura que se segue apresenta-se um terminal do tipo offshore, onde se observa neste

caso, um berço de atracação protegido por um molhe em “L” e ligado à zona de

retroporto por uma longa ponte de acesso.

Fig 3 – Terminal offshore (Tato, 2007)

2.1.3. Quanto a Utilização

O ponto de vista mais importante para a classificação dos portos é sem dúvida, o da

função da obra. Podem ser portos de carga geral e portos especializados.

Portos de carga geral

São os portos comerciais que movimentam cargas em geral, acondicionadas em

qualquer recipiente como sacarias, barris, caixas, bobinas, etc., em quantidades,

consideradas pequenas. Nestes portos, a princípio, qualquer carga pode ser

movimentada, havendo uma tendência geral de acondicionar estas cargas em

contentores. (alfredini, 2005)

Fig 4 – Porto de carga geral, Porto Grande, Mindelo (topicos123.com)

Page 18: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

17

Portos especializados

São os portos ou terminais especializados em movimentação de determinados tipos de

cargas como: granéis sólidos (como minério de ferro), granéis líquidos (terminais

petroleiros) e terminais pesqueiros. Além disso, pode ter outras funções como lazer

(marinas), fins militares (bases navais) entre outras. (Alfredini, 2005)

Fig 5 – Terminal petroleiro (Stramari, 2005)

Terminais Roll-on Roll-off1 (Ro-Ro)

Neste tipo de terminal, o carregamento é feito de forma direta com o auxílio de rampas

que ligam o cais ao interior do navio pelas laterais ou pela popa. Necessitam de

estruturas especiais que permitam este manejo de carga além de área de retroporto

especializada. (Stramari, 2005)

Fig 6 – Terminal especial roll-on roll-off (Stramari, 2005)

2.1.4. Quanto à estrutura

As soluções estruturais adotadas em obras portuárias podem estabelecer uma relação

interessante entre elas. Pode-se classificar as estruturas convencionais existentes em

contínuas ou discretas. (Mason, 1982)

1Embarcações para transporte de carga de rodas, tais como automóveis, caminhões ou reboques que são

conduzidos dentro e fora do navio em suas próprias rodas.

Page 19: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

18

Os equipamentos utilizados pelos terminais carregadores são fatores determinantes para

a escolha da estrutura a ser utilizada. As soluções mais comuns são as denominadas de

estruturas de cais ou plataforma contínuas, pois necessitam de carregadores deslizantes

que irão movimentar-se durante a realização do serviço. (Mason, 1982)

Quando se tratar de terminais para carga de minérios, por exemplo, sistema estrutural a

ser adotado consiste em elementos estruturais discretos. (Mason, 1982)

Estrutura contínua

Este tipo de estrutura origina, normalmente, as soluções de cais de paramento aberto ou

fechado.

Fig 7 – estrutura contínua do Porto Inglês na ilha do Maio (enapor.cv)

Na estrutura de cais de paramento fechado, faz-se uso de uma cortina frontal que

assegura a contenção do terrapleno de retaguarda. Para o cais de estrutura de paramento

aberto, dispensa-se a cortina frontal e executa-se uma plataforma, suavemente sobre

talude, a partir do extremo interno da secção estrutural, até atingir a linha de dragagem.

(Mason, 1982)

Fig 8 – Esquema de paramento fechado (A) e paramento aberto (B) (Tato, 2007)

Page 20: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

19

Estrutura discreta

A solução estrutural portuária com elementos discretos consiste em subdividir os

esforços e transmiti-los aos elementos isolados, que exercem funções específicas para

cada acostagem como suporte de equipamentos e amarração dos navios.

A opção de se utilizar este tipo de estrutura depende do tipo de equipamento a ser

utilizado e das possibilidades de separar as funções dos diversos elementos estruturais.

Todavia, reduz significativamente os custos da obra comparativamente ao sistema com

estrutura contínua. (Mason, 1982)

Fig 9 – Esquema de estrutura discreta (Tato, 2007)

Obras de melhoramento

As estruturas auxiliares constituem obras de melhoramento dos portos. As obras podem

ser classificadas num primeiro estágio em externas ou internas. As obras externas estão

sujeitas às ondas e correntes, sendo as obras de abrigo os molhes1, quebra-mares

2 e

diques3; as obras de melhoria de condições de acesso as guias correntes; canais de

acesso e as esperas de evolução.

As obras internas são implantadas nas áreas abrigadas, como: obras de acostagem,

estruturas para o equipamento de movimentação de carga, retroporto, (áreas de

estocagem, vias e pátios rodo ferroviários, oficinas, docas secas e estaleiros.

Serviços de dragagem são comuns como obras de melhoramentos, podendo representar

em vultuoso investimento. (Mason, 1982)

1 Obra de protecção com um extremo em terra e outro dentro de água 2 Obra de protecção com os dois extremos dentro de água 3 Obra de protecção com os dois extremos em terra

Page 21: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

20

Fig 10 – Esquema de obras de proteção de portos de atracação (Tato, 2007)

2.2. Acessórios portuários

Os acessórios portuários são um conjunto de elementos presentes na infraestrutura que

incitam o bom funcionamento desta, incluindo a atracação de navios.

2.2.1.Defensas

As defensas marítimas são uma parte integrante e de importância preponderante das

instalações portuárias. Os sistemas de defensas são a primeira fronteira entre um navio e

a estrutura de acostagem.

Existem vários tipos de defensas, tais como as defensas de madeira, defensas gravíticas,

defensas hidráulicas e defensas de borracha. Os diferentes tipos de cais podem ter tipos

diferentes de defensas, uma vez que a aplicação destas depende essencialmente da sua

solicitação e da qualidade do material, ligado à longevidade que se pretende. (Leal,

2011)

As condições das defensas aplicadas devem ser verificadas ao longo da sua vida útil,

uma vez que estas podem ser desgastadas por diversos fatores, tais como o clima, o tipo

de sistema e a frequência e tipo de navios que o utilizam. As inspeções devem ser feitas

regularmente, de forma a detetar falhas no sistema que possam causar problemas graves

ao funcionamento normal dos portos e dos cais em questão. (Leal, 2011)

Page 22: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

21

Fig 11 – Defensas (maritimeinternational.com)

2.2.2. Cabeços de amarração

Os cabeços são elementos utilizados na amarração dos navios e têm por finalidade

minimizar os seus movimentos. A disposição atribuída a estes elementos depende das

dimensões das embarcações e do tipo de acostagem. Os cabeços estão disponíveis em

uma ampla variedade de formas, avaliações de carga e materiais. (Ribeiro, 2011)

Fig 12 – Tipos de cabeços de amarração (trelleborg.com)

2.2.3. Montagem dos acessórios

Existem varias opções de instalação de cabeços de amarração e defensas, sendo mais

comum o uso de chumbadores embebidos no betão. Alguns métodos alternativos

Page 23: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

22

incluem parafusos associados a tubos embebidos no betão, e ancoras em materiais

epoxi1, para estruturas existentes. (maritimeinternacional.com)

Fig 13 – Esquemas de montagem de cabeços de amarração (trelleborg.com)

Fig 14 – Montagem de Defensa com parafusos em Porto Novo (foto tirado na obra, arquivo pessoal)

2.3. Agitação marítima

No âmbito da manutenção de portos, importa conhecer com pormenor a agitação

marítima, essencialmente nos arredores das infraestruturas.

Como se poderá ver as variações das ondas marinhas influenciam diretamente na

operação portuária, a começar pela atracação/desatracação dos navios que, em muitos

casos, dependem do nível da maré para que navios de calado maior que a profundidade

do cais, possam atracar/desatracar. Depois que o navio já está atracado, a variação das

ondas influenciam na sua movimentação, tanto em altura como também no

distanciamento do cais, e que pode até gerar acidentes, como o rompimento dos cabos

de amarração.

1 Plástico termofixo que se endurece quando se mistura com um agente catalisador ou endurecedor

Page 24: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

23

Fig 15- Estudo da agitaçao maritima em modelos fisicos (LNEC, 2006)

2.3.1. Correntes

Corrente marinha é o movimento de translação, permanente e continuado de uma massa

de água dos oceanos. É também conhecida como corrente oceânica e pode acontecer

também em mares mais extensos. (Garrison, 2010)

Este movimento de massa de agua tambem provoca movimentos não desejados nas

embarcaçoes, podendo dificultar a sua atracaçao ou a acostagem.

Fig 16 – Esquema do movimento das águas oceânicas (monografias.com)

2.3.2. Marés

O efeito das marés tem importante repercussão na escolha do tipo de estrutura de

acostagem, uma vez que determina as alturas máximas e mínimas, de preia-mar e baixa-

mar respectivamente, com base num determinado período de ocorrência.

As marés têm origem em efeitos gravitacionais da Lua e do Sol, aos quais podem

associar-se os efeitos locais devido à morfologia da costa e aos possíveis aspectos de

ressonância em bacias fechadas. (Ribeiro, 2011)

A preia-mar (maré alta) está desfasada de 12 horas aproximadamente da preia-mar

seguinte. A baixa-mar (maré baixa) ocorre nos instantes de tempo intermédios entre os

instantes de níveis máximos. (Ribeiro, 2011)

Page 25: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

24

Fig 17 – Efeito do sol e da lua sobre as marés - quarto crescente e quarto minguante (Ribeiro, 2011)

2.3.3. Ondas marítimas

Existem vários tipos de ondas marítimas que estão associadas a diferentes solicitações

externas que as causam. O tipo mais importante e mais comum são as ondas de

superfície. Estas ondas são geradas pela acção do vento e denominam-se vagas de

vento. (Pereira, 2008)

À medida que o vento começa a fazer-se sentir, a sua turbulência provoca flutuações de

pressão na superfície do mar, o que produz pequenas ondas com comprimentos quase

insignificantes. Assim que as ondas são formadas, começam a viajar ao longo dos

oceanos transportando a energia com poucas perdas. (Pereira, 2008)

2.4. Tempo de vida das infraestruturas

O tempo de vida das infraestruturas portuárias é um dado muito importante para o

estudo da manutenção das mesmas, pois esse tempo, previsto no projeto, só é alcançado

se se respeitar as condições de manutenção preventiva especificadas. Apesar de ser um

parâmetro difícil de se calcular de forma precisa, devido ao conhecimento não muito

rigoroso do desempenho e duração dos materiais e da sua reação aos adversos e

instáveis ambientes a que estão expostos, as infraestruturas possuem um período de

tempo ao qual devem desempenhar as suas funções a que foram projetadas, com o mais

elevado desempenho, conservando a sua segurança, estabilidade, aptidão em serviço e

aparência aceitável. Mesmo com a devida manutenção, a queda gradativa do

desempenho da infraestrutura é um acontecimento natural, chegando a um ponto em que

os níveis de serviço e de segurança já estarão abaixo do aceitável, terminando assim o

tempo de vida útil do projeto. Com isto serão necessárias obras de requalificação para

manter o mesmo funcional.

Page 26: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

25

A previsão do tempo vida dos projetos é feita baseando-se em experiencias de obras

anteriores, em ensaios laboratoriais e em métodos probabilísticos. (Sabattini, 2009)

Desse modo prevê-se que para diferentes tipos de infraestruturas, existam diferentes

tempos de vida útil, pois o tipo de utilização e as exigências de construção são também

diferentes. Por exemplo os portos concebidos em betão, geralmente, têm em projeto um

tempo de vida definido para 50 anos.

Fig 18 – representação gráfica do tempo de vida útil (Sabattini, 2009)

Page 27: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

26

3. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS PORTOS DE CABO VERDE

A escolha de um determinado tipo de estrutura portuária depende de alguns parâmetros

a considera, como sendo as condições naturais, atmosféricas e geológicas de cada lugar,

dos tipos de embarcações a utilizarem o cais, os equipamentos portuários necessários e

ainda a quantidade de trafego esperado para o porto.

Com isto, não é de estranhar que os portos cabo-verdianos tenham características

distintas, pois sendo o nível de desenvolvimento das ilhas diferentes, isso reflecte-se nas

soluções acostáveis utilizadas em cada uma destas. Não obstante, as diferenças em

termos de condições ambientais afectam directamente a escolha dessas mesmas

soluções.

Neste capítulo faz-se a descrição das características físicas de cada um dos portos em

funcionamento em Cabo Verde.

3.1. Porto Grande

Fig 19 Porto Grande de Mindelo (enapor.cv)

É dotado de três molhes unidos pelo cais de acesso, totalizando 1,75 Km de cais, a

profundidades entre 3,5 e 12 metros. Dispõe de um cais de pesca com 240 metros de

comprimento, a profundidades entre 3 e 4,8 metros, e um terrapleno de 3 hectares, onde

estão localizados os armazéns.

Possui ainda um terminal de cabotagem, para carga de mercadorias e de passageiros,

concebido fora do porto comercial, por forma a facilitar os trabalhos nos navios de

Longo Curso e também poder proporcionar melhores condições aos passageiros e

transportadores domésticos. O terminal possui 230 metros de perímetro de acostagem

subdivididos em 3 postos de atracação para navios de Cabotagem e duas rampas Ro-Ro.

(enapor.cv)

Page 28: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

27

3.2. O Porto Novo

Fig 20 Porto Novo de Santo Antão (enapor.cv)

O porto foi alvo recentemente de obras de expansão, possuindo no momento um cais

polivalente com115 m de comprimento e 6 metros de profundidade mais um cais de

apoio com 40 m de comprimento e 3 metros de profundidade. (enapor.cv)

3.3. Porto do Tarrafal

Fig 21 Porto de Tarrafal em São Nicolau (enapor.cv)

Possui 137 metros de comprimento de cais, divididos em duas partes, e uma rampa Ro-

Ro. Para o depósito de mercadorias, existe no porto um armazém coberto com uma área

de 450 m2. (enapor.cv)

Tabela 1:caracteristicas fisicas do porto de Tarrafal (enapor.cv)

Cais Comprimento (m) Largura (m) Profundidade (m)

01 83.00 25.00 -5.00

02 54.00 30.00 -3.05

Page 29: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

28

3.4. Porto da Palmeira

Fig 22 Porto de Palmeira no Sal (enapor.cv)

O molhe acostável estende-se por um comprimento de 234 metros, contendo uma rampa

Ro-Ro. Para além da actividade comercial de transporte de mercadorias e passageiros,

comporta também actividades industriais relacionadas com náutica de recreio e

marítimo-turísticas. Para o armazenamento de mercadorias possui uma área coberta de

450m2, um terrapleno descoberto com 5.605m

2. (enapor.cv)

Tabela 2:caracteristicas fisicas do porto de Palmeira (enapor.cv)

Cais Comprimento (m) Largura (m) Profundidade (m)

01 144.00 45.00 -1.00 a -4.10

02 90.00 25.00 -6.20

3.5. Porto de Sal-rei

Fig 23 Porto de Sal Rei na Boavista (enapor.cv)

Este porto, que se localiza na ilha da Boa Vista, encontra-se no momento e estará

finalizado em 2015, com 160 m de comprimento, 7 m de profundidade e 90 m de

largura, uma área de terrapleno com cerca de 2 hectares, destinado a parque de

contentores. Possui ainda uma rampa Ro-Ro. (enapor.cv)

Page 30: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

29

Tabela 3:caracteristicas fisicas do porto de Sal rei (enapor.cv)

Cais Comprimento (m) Largura (m) Profundidade (m)

01 80.00 25.00 -5.00

02 20.00 15.00 -5.00

3.6. Porto Inglês

Fig 24 Porto Inles no Maio (enapor.cv)

O Porto Inglês dispõe de 265 metros de molhe acostável perpendicularmente à costa.

Possui também 1 terrapleno, de forma rectangular com 140m x 50m e uma superfície de

7000 m2. É o único porto executado integralmente sobre estacas. (enapor.cv)

Tabela 4: caracteristicas fisicas do porto Inglês (enapor.cv)

Cais Comprimento (m) Largura (m) Profundidade (m)

01 112.00 14.50 -04.80

02 150.00 14.50 -07.80

3.7. Porto da Praia

Fig 25 Porto da Praia em Santiago (enapor.cv)

Page 31: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

30

Dispõe actualmente de dois cais em "L", totalizando 690 metros, a profundidades entre

5 e 9 metros, Possui um cais de pesca com 55 metros de comprimento, 24.5 metros de

largura e 3 metros de profundidade, um terminal de passageiros com 146 metros de

comprimento completa as infra-estruturas acostáveis do porto da Praia. (enapor.cv)

3.8. Porto Vale Cavaleiros

Fig 26 Porto de vale dos Cavaleiros no Fogo (enapor.cv)

O porto foi reconstruído no ano 2000 e está localizado na parte norte da ilha, num local

de mar aberto. Possui duas frentes de acostagem, uma com 75 metros e outro com 30

metros, sendo que ambas têm 10 de largura e profundidade de 5 metros. É dotado ainda

de uma rampa Ro-Ro. O porto foi construido com recurso a tres metodolofias. O cais 1

é consebida em aduelas de betão armado, o cais 2 foi executado em lage vigada sobre

estacas, enquanto que o cais 3 foi feita com blocos maciços. (enapor.cv)

3.9. Porto Furna

Fig 27 Porto de Furna na Brava (enapor.cv)

Trata-se de um porto localizado numa pequena baía natural, O porto é constituído por

apenas um cais com 30 metros de comprimento, 6 de profundidade, e uma rampa Ro-

Ro. Este porto encontra-se actualmente em fase de expansão.. (enapor.cv)

Page 32: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

31

4. PROCESSOS CONSTRUTIVOS E TECNOLOGIAS UTILIZADAS

EM INFRA-ESTRUTURAS PORTUÁRIAS

4.1. Projeto e dimensionamento de obras portuárias

O projeto e dimensionamento destas obras envolvem conhecimentos de natureza

tipicamente multidisciplinar, a serem encontrados nas áreas da Hidrodinâmica e

Hidráulica Marítima, Geotecnia, Estática e Dinâmica das Estruturas, Engenharia Naval,

Navegação e Equipamentos, Operações e Planeamento Portuário. (Ribeiro, 2011)

De forma resumida, em fase de projeto e dimensionamento de estruturas portuárias,

devem ser percorridas algumas etapas essenciais, sendo estas:

A definição do tipo de estrutura, de acordo com a sua função e as condições ambientais,

climaticas, hidráulicas e geotécnicas do local escolhido; A determinação dos parâmetros

de projecto, esforços e acções de cálculo, em função do tipo de embarcações a serem

utilizadas, bem como dos equipamentos portuários; E a escolha dos acessórios

necessárias, além do dimensionamento de obras complementares.

4.2. Trabalhos iniciais (Dragagem)

Dragagem é o processo de recolocação de sedimentos e solos para fins de construção e

manutenção de vias aquáticas, de infraestruturas de transporte, de aterros e de

recuperação de solos. Para além disso, constitui uma atividade que consiste na limpeza,

desobstrução, remoção ou escavação de material de fundo de rios, lagos, maré, baias e

canais. (Soares,2009)

Para construção de uma infraestrutura portuária, a dragagem permite atingir, após

sondagem, solos suficientemente estáveis que sirvam de base para fundação da

superstrutura.

As principais e mais utilizadas técnicas de dragagem podem ser agrupadas em três

grupos: dragagem mecânica, dragagem hidráulica ou pneumática e dragagem

hidrodinâmica. (Soares,2009)

4.3 Construção dos portos de Cabo Verde

Sendo as características naturais de cada ilha diferentes, torna-se necessário a adopção

de técnicas e metodologias de construção diferentes para cada porto, e

consequentemente uma abordagem diferente para cada um destes em relação a

manutenção.

Page 33: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

32

Apesar das adversidades das condições ambientais, os tipos de estruturas utilizadas em

cada porto têm sido semelhante, sendo também utilizado os mesmos tipos de materiais.

Na maioria dos portos faz-se uso de estruturas gravíticas, sendo utilizados blocos

maciços de betão e aduelas de betão armado, assentes sobre um manto de fundação

Este tipo de estrutura é adoptado quando o solo de fundação é resistente o suficiente

para suportar o peso da superestrutura, é o caso dos portos de Porto Novo em Santo

Antão, Porto Grande em São Vicente, porto de Tarrafal em São Nicolau, porto de

Palmeia no Sal, porto de Sal Rei na Boavista, porto da Praia em Santiago, porto de

Furna na Brava e uma parte do porte de Vale dos Cavaleiros no Fogo.

Um outro tipo de estrutura utilizado, embora minoritariamente é a estrutura sobre

estacas, que é utilizado nos portos de Porto Inglês no Maio e num dos cais do porto

Vale dos Cavaleiros no Fogo. Esta é uma estrutura não gravítica e é adoptada quando o

solo de fundação permite a implementação de estacas, quer moldadas, quer cravadas,

sendo no caso dos portos de Vale dos Cavaleiros e do Porto Inglês as estacas são de

betão armado, moldadas no local. Sendo executada sobre as estacas uma superestrutura

de betão armado como pavimento suporte dos equipamentos portuários.

4.4. Construção de estruturas de gravidade

Esta solução é escolhida quando o terreno de fundação apresenta características

favoraveis à utilização de fundações diretas. Neste tipo de estrutura o peso próprio terá

um papel fundamental para a estabilidade do conjunto, implicando a obtenção de

resultados de dimensionamento para uma estrutura de enorme envergadura, e

consequentemente elevada exigência a quando da execução, em termos de condições

logísticas e de espaço.

A sua idealização pode ser feita por assimilação de um bloco maciço com paramento

exterior vertical, para que nele possam acostar as embarcações, e paramento interior que

apresenta por vezes uma configuração ligeiramente diferente. Esta diferença no

paramento interior faz-se notar pela existência de larguras transversais maiores na base

da estrutura aproveitando-se dessa forma o efeito estabilizador do peso próprio das

terras do local. (Munhá, 2008)

As técnicas mais usuais são: blocos de betão maciço pré-fabricados, caixotões e aduelas

pré-fabricados e enrocamento.

Page 34: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

33

4.4.1. Infraestrutura em blocos de betão

Do ponto de vista estrutural caracterizam-se por consistirem em colunas de blocos de

betão pré-fabricados sobrepostos que, quando colocadas de forma contígua formam um

paramento vertical que permite a acostagem das embarcações. As colunas são colocadas

sobre um prisma de enrrocamento de fundação, cujas principais funções são a

regularização do fundo e a distribuição da carga transmitida da estrutura para o terreno

natural de fundação. (Munhá, 2008)

Os blocos têm configuração aproximadamente de paralelepípedos com dimensões

variáveis consoante a sua localização na “pilha”. Os que se localizem na parte inferior

do cais apresentam geralmente maior largura transversal procurando-se aproveitar o

efeito do peso próprio dos solos. (Munhá, 2008)

Fig 28 – Perfil de estrutura em blocos de betão no porto de Porto Novo (ENAPOR, 2011)

É uma solução que se assume como de simples dimensionamento e execução, e

geralmente garante altos níveis de durabilidade, mas por outro lado, há uma elevada

exigência ao nível de materiais e equipamentos, alem de que a estrutura possui elevados

coeficientes de reflexão de ondas. (Munhá, 2008)

Fig 29 –armazenamento dos blocos em estaleiro e seu posicionamento no Porto Novo (foto tirado na obra,

arquivo pessoal)

Page 35: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

34

4.4.2. Infraestrutura em caixotões e aduelas

Os caixotões e aduela caracterizam-se por serem peças ocas em betão armado, pré-

fabricados, moldadas em estaleiro e depois transportadas para o local da obra, onde são

enchidas primeiramente com água para afundar e posteriormente preenchidas com areia,

enrocamento, ou com betão, que providenciará o peso próprio necessário à estrutura

para que se mantenha estável. A diferença é que as aduelas constituem elementos de

menores dimensões que permitem um manuseamento facilitado, enquanto o caixotão

constitui um único elemento de maiores dimensões e exige portanto equipamentos de

grande porte. (Munhá, 2008)

Fig 30 – Fabrico de aduelas em estaleiro (esq.) e construção de caixotão (dir.) (Ribeiro, 2011)

Depois da colocação e do enchimento dos pré-fabricados segue-se à construção do

coroamento, usualmente constituída por vigas de betão armado moldadas no local.

Fig 31 – Detalhes de viga de coroamento no Porto Novo (foto tirado na obra, arquivo pessoal)

4.5. Construção ponte cais em betão armado

Estes portos são constituídos por uma estrutura de betão, maioritariamente lajes vigadas,

suportadas por elementos de fundação profunda, como é o caso de estacas, que

transferem os esforços da parte superior da estrutura para a camada mais firme do

maciço rochoso. Constitui metodologia menos dispendiosa, menos trabalhosa, a pesar

de necessitar de equipamentos especiais. (Dias, 2009)

Page 36: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

35

Fig 32 – Perfil de infra-estrutura sobre estacas (Ribeiro, 2011)

A grande vantagem dos portos sobre estacas está associada à geotecnia, pois muitas

vezes a camada resistente do solo se encontra a profundidades muito elevadas,

viabilizando a execução desse tipo de estruturas . O cais sobre estacas permite transferir

as cargas a essa camada sem necessidade de grandes ou de nenhuma escavação. (Dias,

2009)

As estacas podem ser Pré-fabricadas ou executadas no local, tendo sequencias

construtivas diferentes. As estacas pré-fabricadas são elementos colocados por

introdução forçada no terreno, podendo ser utilizado um martelo simples, um martelo de

duplo efeito ou um vibrador. Para a execução de estacas de betão armado moldadas no

local, primeiramente se abre o furo com equipamento apropriado, seguindo-se a

colocação das armaduras e posterior betonagem, sendo esta betonagem executada com

recurso a sonda e feita de baixo para cima. (Dias, 2009)

Fig 33 – Betonagem de estaca moldada (esq.) e cravação de estaca pré-fabricada (dir.) (Ribeiro, 2011)

Page 37: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

36

4.5.1. Construção da superstrutura da ponte cais

Os cais fundados em estacas têm uma superstrutura típica de laje vigada, encastrada nas

estacas de fundação, que têm como objetivo: contra-ventar as estacas nas direções

longitudinal e transversal, formar uma plataforma utilizável, que permita a circulação de

pessoas e equipamentos necessários à exploração do cais. (Dias, 2009)

A execução da superstrutura pode ser realizada com recurso a elementos pré-fabricados,

pode ser betonada no local, ou ainda pode haver uma associação entre estas duas

técnicas. Enquanto os elementos pré-fabricados em betão armado permitem uma rápida

execução, a estrutura executada integralmente no local cria, durante a construção, um

contraventamento total das estacas, dada a sua rigidez. (Dias, 2009)

Fig 34 – Pontão da Marina do Mindelo, em estacas moldadas e quadradas (arquivo pessoal)

4.6. Estruturas flutuantes

As estruturas flutuantes são soluções que não são fundadas directamente no solo,

consistem num pontão ou outro tipo de plataforma flutuante e num sistema de

ancoragens que liga a estrutura a um ponto fixo sobre o solo. Este tipo de solução é

normalmente utilizado quando as condições do solo não são adequadas, como é o caso

de solos argilosos muito moles ou camadas lodosas profundas. Estas estruturas são

também usadas em grandes profundidades de água e eventualmente em locais com

grandes amplitudes de maré, onde a fundação de estacas não é possível ou a sua

execução torna-se demasiado dispendiosa. O recurso a estas estruturas é bastante

frequente no caso de marinas para embarcações de recreio ou estruturas de suporte à

atividade piscatória. (Dias, 2009)

Page 38: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

37

Fig 35 – Estrutura flutuante da Marina do Mindelo (foto tirada no local, arquivo pessoal)

Page 39: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

38

5. CARACTERIZAÇÃO DA INSPEÇÃO E DA MANUTENÇÃO DE

INFRA-ESTRUTURAS PORTUÁRIAS

A manutenção pode ser descrita como a combinação de todas as acções técnicas e

administrativas, incluindo as de supervisão, destinadas a manter ou recolocar uma peça

constituinte da estrutura em um estado no qual possa desempenhar uma função

requerida. (ABNT, 1994)

Existem diferentes formas de se fazer a manutenção, sendo a sua classificação alvo de

certas divergências. De uma forma mais detalhada e abrangente, pode-se classificar a

manutenção em seis tipos diferentes: manutenção preventiva, manutenção preditiva,

manutenção corretiva não Planeada, Manutenção corretiva planeada, manutenção

defetiva e engenharia de manutenção.

Entretanto, de forma geral se considera duas categorias de manutenção, a Preventiva e a

Corretiva, sendo os demais tipos derivados dessas duas categorias principais.

Segundo a Norma Brasileira NBR-1994 A Manutenção corretiva é a “Manutenção

efetuada após a ocorrência de uma pane e édestinada a recolocar um item em condições

de executar uma função requerida”. (ABNT, 1994) Isto é, corresponda a actividade

necessária para corrigir uma falha que ocorreu em algum elemento da estrutura.

Consiste na reparação, restauro ou substituição de componentes danificados.

A Manutenção Preventiva define-se como “manutenção efetuada em intervalos

predeterminados, ou de acordo com critérios prescritos e destinada a reduzir a

probabilidade de falha ou a degradação do funcionamento de um item”. (ABNT, 1994)

Por outras palavras, contrariamente á Manutenção Corretiva, a Manutenção Preventiva

procura evitar e prevenir antes que a falha efetivamente ocorra, sendo a sua essência a

substituição de peças ou componentes antes que atinjam a idade em que passam a ter

risco de falha.

O processo de manutenção deve servir de apoio para que a produção consiga atingir

seus objetivos, ou seja, ele deve estar adequado às suas necessidades. Este alinhamento

desejado entre o processo de manutenção e os objetivos de produção é alcançado com

um bom planeamento da manutenção.

O planeamento de manutenção é resultante do processo, que deve ser desenvolvido com

base nas estratégias de produção e deve estar consequentemente orientado pelo

planeamento estratégico da empresa. Todos os problemas afins a manutenção (falta de

Page 40: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

39

material no local de trabalho, insuficiência de mão de obra programada, etc.) podem ser

evitados se existir um planeamento bem feito para as atividades, onde os materiais e a

mão de obra sejam alocados de maneira correta, as ferramentas sejam preparadas com

antecedência e estejam no local de trabalho para a execução dos serviços. (Fabro, 2003)

Para propor um plano de manutenção é necessário conhecer as características da

estrutura e as ações a que está sujeita e deve-se verificar como a estrutura evolui ao

longo da sua exposição a essas ações tais como: ondas, ventos, marés e correntes, etc.

Sendo que o material mais utilizado nas infraestruturas portuárias de Cabo Verde é o

betão, com ou sem armaduras, neste trabalho serão enfatizados inspeções e obras de

manutenção referentes a este tipo de estruturas.

Em ambiente marinho o betão está exposto a diversos tipos de agressões. As agressões

físicas como a erosão, abrasão e impactos, as agressões químicas como a carbonatação e

ataque de iões sulfatos e cloretos, e ainda ataques biológicos através de microrganismos.

Um betão saudável possui um carácter básico, com PH entre 12,5 e 12,7. Esta

característica permite-lhe manter a sua rigidez mecânica e proteger as armaduras contra

corrosão.

Fig 36 - perigo de corrosão em função da profundidade (Carvajal, 2011)

Zona aérea: elevada ingestão de sal, devido ao elevado nível de vapor de água no ar.

Corrosão das armaduras por iões cloreto.

Zona de respingo: ação direta do mar (ondas, respingue). Corrosão das armaduras e

erosão.

Zona das marés: marés altas e baixas. Corrosão de armadura, ataque químico por sais,

a erosão mecânica e biológica.

Page 41: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

40

Zona Submersa: Corrosão de armadura, ataque químico por sais, a erosão mecânica e

biológica.

5.1. Princípios de degradação do betão

5.1.2. Ataques químicos

Ataque de iões sulfato

O ataque de iões provoca a expansão, o desprendimento e a fissuração do betão, devido

a formação de etringita1 que gera o aumento do volume e amolecimento da massa do

material.

Os iões sulfato reagem com a portlandita2 do cimento gerando a etringita.

É formada uma grande quantidade de água de cristalização, gerando um aumento do

volume e o aparecimento de fissuras na pasta endurecida de cimento e ao redor da

etringita, o que provoca um aumento da permeabilidade. (Carvajal, 2011)

Fig 37 – Corrosão de armadura por ataque de sulfatos (Carvajal, 2011)

Ataque de iões cloreto

Os iões cloreto tornam possível a oxidação do aço para valores de PH em que ela seria

passivo. Estes são transportados para dentro do betão por mecanismos de absorção

capilar e de permeabilidade.

1 Pasta formada com a supersaturação do cimento (C6ASH32) 2 Produto da reação do cimento portland com a agua (hidróxido de cálcio Ca(OH)2)

Page 42: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

41

Fig 38 – Esquematização do processo de corrosão (Bissa, 2008)

Logo após o inicio da hidratação do cimento do betão, forma-se uma película de oxido,

firmemente aderente ao aço, (FeO3). Os iões cloreto destroem esta película em presença

de água e oxigénio. Ultrapassada esta película, os iões ativam a superfície do aço

formando um ânodo, sendo o cátodo a superfície passivada. (Bissa, 2008)

Algumas reações do processo de corrosão podem ser descritas como se segue:

Zonas anódicas1 (reações de dissolução do ferro - oxidação):

Zonas catódicas2 (reações de redução do oxigénio):

Quando o betão permanece constantemente submerso, os cloretos penetram até

profundidades consideráveis, mas não haverá corrosão, a menos que haja corrosão no

interior do betão. (Bissa, 2008)

Fig 39 – Corrosão de armaduras por ataque de cloretos (mundodaimpermeabilizacao.blogspot.com)

1 Pólo negativo de uma fonte eletrolítica com tendência a ceder eletrões 2 Pólo positivo de uma fonte eletrolítica com tendência a receber eletrões

Page 43: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

42

Acção de sais de magnésio

Os sais magnésicos presentes na água reagem com a portlandita que reage com o

aluminato tricalcico (constituintes do cimento) gerando compostos expansivos e

consequente degradação do betão. (Carvajal, 2011)

Carbonatação

A carbonatação é a perda de alcalinidade do betão, provocada pela reação do hidróxido

de cálcio da pasta de cimento com o dióxido de carbono, formando carbonato de cálcio,

fazendo baixar o PH de 12,5 para 9,4, fator importante para o inicio da corrosão das

armaduras. (Bissa, 2008)

A corrosão das armaduras é caracterizada pela transformação do ferro metálico em

óxido de ferro. É acompanhado pelo aumento do volume do varão, causando a expansão

e fissuração do betão, e consequente perda de resistência mecânica tanto no aço como

no betão. (Bissa, 2008)

Fig 40 – Medição da profundidade de carbonatação do betão (Silva, 2007)

Reação alcalis agregado

A reação alcalis agregado é um processo químico que ocorre em estruturas de betão,

onde alguns constituintes mineralógicos dos agregados reagem com hidróxidos

alcalinos (provenientes do cimento, de agregados ou de agentes exteriores) que estão em

solução nos poros do betão. Com a reação forma-se um gel higroscópio expansivo,

ocasionando movimentações diferenciais na estrutura e aparecimento de fissuras.

(Nogueira, 2010)

Page 44: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

43

5.1.3. Ataques físicos

Impactos das embarcações, acostadas ou em processo de acostagem, a erosão e abrasão,

resultantes das acções do mar e do vento, provocam alguns estragos na estrutura, como

a rotura do betão.

Fig 41 – Danos causados devido ao embate de embarcações (foto tirado no Porto Grande)

5.1.4. Outros tipos de ataque

Degradação proveniente da decomposição vegetal, ataque de algas e resíduos

industriais. Este tipo de ataque induz aos ataques físicos e provoca alterações estéticas

das infraestruturas.

5.2. Técnicas de inspecção

A inspeção caracteriza-se essencialmente na análise de certos parâmetros da estrutura,

tanto do estado atual, como da sua evolução. Existem três formas de executar as

inspeções:

As inspeções periódicas, que são realizados em intervalos regulares de tempo

previamente estabelecidos em um programa, para observar e coletar dados sobre as

condições das estruturas, detetando mudanças que poderiam envolver reparos sobre

eles;

Inspeção detalhada, feita nas áreas assinaladas a quando das inspeções periódicas. São

pouco frequentes durante os primeiros anos da estrutura;

Inspeções especiais, geralmente são executados antes e depois de grandes reparações ou

reforços. (Carvajal, 2011)

Page 45: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

44

5.2.1. Inspecção visual

Esta inspeção é caracterizada essencialmente pela analise presencial da situação da

infraestrutura, tanto da parte submersa como da parte emersa. Baseia-se na análise de

imagens fotográficas e filmagens subaquáticas feitas por uma equipa de mergulhadores.

Pela observação visual pode-se identificar as seguintes anomalias: abertura de juntas de

dilatação, fragmentos destacados e descamação da superfície do betão, depósitos de sais

nas superfícies (eflorescencias), manchas de ferrugem, infiltrações, abertura de juntas,

erosão nos revestimentos, perda progressiva da massa do betão e deficiências nas

defensas e nos cabeços de amarração.(Carvajal, 2011)

5.2.2. Medições

Com recurso a aparelhos especiais fazem-se análise para detetar problemas que possam

passar despercebidos com uma simples inspecção visual. O levantamento topográfico

para medir os movimentos verticais e horizontais da estrutura e assentamentos das

fundações. O levantamento batimétrico usando sensor acústico posicionadas com GPS

para verificar mudanças produzidas nos perfis do fundo do mar (assoreamento1 e

desassoreamento2) e das estruturas. São feitas também análises de fotografias aéreas,

ensaios de resistência estruturais para determinação de parâmetros estruturais e

geotécnicas, podendo ser recolhidas amostras para análise laboratorial. (Carvajal, 2011)

5.2.3. Ensaios

Os ensaios podem ser feitos no local ou em laboratórios, e servem para avaliação das

características mecânicas do betão e do aço. Os ensaios mais utilizados são: ensaio de

quantificação de difusão de cloretos e sulfatos, ensaio de penetração da carbonatação,

teste de reação alcalis-agregado, resistência a abrasão por desgaste, teste de ultrassom,

vibração acelerada, medição da capacidade do betão para reagir como eletrólito e

conduzir correntes de corrosão, entre outros.

Ensaio de penetração da carbonatação

Este ensaio é realizado em amostras recolhidas na estrutura, utilizando-se a

fenolftaleina, um composto orgânico indicador acida-base. É preparada uma solução 2%

em Etanol, que quando em contato com o meio, em pH acido <7,0 permanece incolor e

em pH meio básico ou alcalino> 7,0 da uma cor rosada. (Silva, 2007)

1 Depósito de sedimentos no solo no fundo submerso

2 Perda de sedimentos no solo no fundo submerso

Page 46: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

45

Ensaio de penetração de cloretos

Este ensaio caracteriza-se também na recolha de amostra na superfície do betão para,

em laboratório, se determinar a percentagem de cloretos existentes no material. As

amostras utilizadas neste ensaio são geralmente em forma de pó, retirado do betão a

diferentes profundidades com um berbequim. (Silva, 2007)

Ensaios magneticos

Estes ensaios têm por finalidade a detecção de varões de aço e do recobrimento do

betão. Podem ser feitos com um parcómetro, que é um aparelho que permite a formação

de um campo magnético de intensidade conhecida, onde a interferência de algum

material metálico altera a intensidade desse campo. (Reis, 2001)

Page 47: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

46

6. INSPEÇAO NO PORTO GRANDE

Para a elaboração de uma inspecção física de uma infraestrutura, é de extrema

importância ter conhecimento das suas características estruturais, do ambiente

envolvente, da sua forma de uso e da sua evolução ao longo dos anos desde o começo

do seu funcionamento.

A inspecção no Porto Grande foi realizada apenas no porto comercial, exceptuando o

terminal de cabotagem. Trata-se de uma inspecção sobretudo visual, mas onde ficaram

identificadas zonas onde poderá ser feita uma inspecção mais detalhada. Toda a área do

porto e todo o perímetro das frentes de acostagem Foram inspeccionadas, onde foram

identificadas anomalias a nível superficial e estrutural. Anomalias essas que

caracterizadas neste capítulo, indicando as causas mais prováveis e as possíveis

soluções de reparação

O PORTO GRANDE

O Porto Grande fica localizado à entrada da ilha de S. Vicente, numa baia semicircular

com dois quilómetros de raio, naturalmente protegida das fortes correntes marítimas. As

suas águas calmas e transparentes atingem profundidades que variam entre os 11 e os 30

metros.

Construído em 1962, o Porto Grande é dotado de três molhes unidos pelo cais de

acesso, totalizando 1,75 Km de cais, a profundidades entre 3,5 e 12 metros e um

terrapleno de 5,5 hectares. Dispõe de um cais de pesca com 240 metros de

comprimento, a profundidades entre 3 e 4,8 metros, e um terrapleno de 3 hectares, onde

estão localizados os armazéns.

Possui ainda um terminal de cabotagem, para carga de mercadorias e de passageiros,

concebido fora do porto comercial. Além da gare marítima, o terminal possui 230

metros de perímetro de acostagem subdivididos em 3 postos de atracação para navios de

Cabotagem e duas rampas roll on / roll off. (Enapor.cv)

Fig 42 Layout do Porto Grande (enapor.cv)

Page 48: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

47

6.1. Caracterização das patologias

6.1.1. Corrosão generalizada das armaduras – Patologia estrutural

A corrosão das armaduras estende-se por todos os elementos de betão armado

existentes no cais, principalmente nas vigas de coroamento onde há um contacto

directo com a água do mar.

Fig 43 corrosao de armaduras no Porto grande (arquivo pessoal, foto feita no local)

MEDIÇÕES E ENSAIOS A REALIZAR

Devem ser feitas análises químicas para se determinar as causas da corrosão, e analises

que determinem a extensão da anomalia.

Os ensaios a realizar são: ensaios de penetração da carbonatarão e da penetração de iões

cloreto, iões sulfato e de sais magnésio. Ensaios estes apresentados no capitulo 5.2.

CAUSAS DA PATOLOGIA

Sendo que há contacto directo da estrutura com a água do mar, as causas mais prováveis

dessa patologia são os ataques químicos, podendo ser ataque de iões cloreto, iões sulfato

e sais magnésio. A carbonatação é também uma possibilidade na parte aérea do cais.

A descrição desses ataques esta desctita no capitulo 5.1.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS DE REPARAÇÃO

A reparação da corrosão das armaduras poderá ser feita pelo uso de métodos distintos.

Poderá ser utilizado o método electroquímico com as técnicas de dessalinização,

realcalinização e protecção catódica, descritas no capitólio 7.1.

A reparação poderá passar também pela substituição do betão contaminado e limpeza

das armaduras para retirar o material deteriorado, e aplicação de um produto inibidor de

corrosão, quando o novo betão já estiver colocado.

Page 49: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

48

6.1.2. Perda da massa de betão nas arestas das vigas de coroamento – Patologia

superficial

Elevada perda de massa de betão nas bordas das vigas de coroamento em várias zonas

da frente de acostagem do cais.

Fig 44 perda de massa de betão na frente de acostagem (arquivo pessoal, foto feita no local)

MEDIÇÕES E ENSAIOS A REALIZAR

Esta é uma anomalia que é claramente visível sem equipamento especial e fácil de

medir com fita métrica.

CAUSAS DA PATOLOGIA

Esta anomalia resulta de batidas de embarcações atracadas ou em fase de atracação.

Estes acidentes acontecem normalmente devido a precariedade das defensas portuárias,

pois existem zonas onde não há defensas e zonas onde estas estão já deterioradas e sem

capacidade de proteger a estrutura.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS DE REPARAÇÃO

A reparação da superfície passará pela recolocação da massa de betão em falta pelos

métodos descritos no capitólio 7.2.

Para complementar, deverá ser feita uma substituição da maioria das defensas portuárias

em todas as frentes de acostagem e uma melhor distribuição destas para que a estrutura

esteja protegida em todo o seu perímetro.

Page 50: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

49

6.1.3. Destacamento da massa de betão na fase lateral de frentes de acostagem –

Patologia superficial

Em certas zonas das frentes de acostagem, nas laterais, existem perdas de massa de

betão, onde se pode observar inclusive a exposição destas armaduras.

Fig 45 destacamento do betão na frente de acostagem (arquivo pessoal, foto feita no local)

MEDIÇÕES E ENSAIOS A REALIZAR

Esta é uma anomalia que pode ser observada com uma simples analise visual, mas

podem ser feitos ensaios para determinar a extensão do ataque em zonas não visíveis, e

para verificar a existência de outros tipos de ataques…

CAUSAS DA PATOLOGIA

Esse destacamento e perda de massa de betão é pela corrosão das armaduras, que ao

aumentar o seu volume fazem pressão sobre o betão, levando ao destacamento e perda

de massa do mesmo. Uma outra causa deste problema serão as batidas das embarcações.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS DE REPARAÇÃO

As soluções a ter em conta passarão por retirar todo o betão contaminado, fazer a

limpeza e tratamento das armaduras, e por fim fazer o preenchimento dos espaços com

um novo betão. As técnicas de recolocação do betão, tanto dentro como fora de água,

estão descritas no capitólio 7.2.

Page 51: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

50

6.1.4. Abertura de junta de dilatação entre vigas de coroamento (1) – Patologia

estrutural

É uma anomalia pontual, somente verificada em um segmento do porto. Consiste numa

elevada abertura de junta de dilatação entre duas vigas de coroamento situadas num

estremo de um dos cais do porto.

Fig 46 junta de dilatação aberta (arquivo pessoal, foto feita no local)

MEDIÇÕES E ENSAIOS A REALIZAR

A anomalia pode ser identificada com uma simples observação visual e o afastamento

pode ser medido com uma régua.

Para se descobrir as causas dessa patologia são necessários algumas medições especiais

tais como um levantamento topográfico para verificar se houve deslocamento horizontal

ou vertical da estrutura, levantamento batimétrico e inspecção visual submarina para

verificar o estado das fundações e do solo fundo submerso.

CAUSAS DA PATOLOGIA

As causas possíveis para esse problema podem ser as seguintes:

1_assentamento diferencial do solo de fundação, devido ao desassoreamento do mesmo

2_a erosão e cavitação no pé do muro cais

3_perda de capacidade de suporte da fundação, devido a perda de elementos que o

compõem e a compactação do mesmo solo.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS DE REPARAÇÃO

Dependendo do tipo de causa para este problema assim será tomado as decisões a cerca

das técnicas de intervenção. A descrição das técnicas de correcção da patologia está

descrita no capitolo 7.4.,tendo em conta cada uma das causas apontadas acima.

Page 52: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

51

6.1.5. Abertura de junta de dilatação entre vigas de coroamento (2) – Patologia

estrutural

É uma anomalia pontual, localizada numa esquina de um dos cais. Corresponde ao

deslocamento, em poucos centímetros, de uma viga e consequente abertura de junta de

dilatação.

Fig 47 junta de dilatação aberta após acidente (arquivo pessoal, foto feita no local)

MEDIÇÕES E ENSAIOS A REALIZAR

É uma patologia visível com uma simples análise visual, e devido a sua causa não se

considera necessária a realização de mais ensaios.

CAUSAS DA PATOLOGIA

A causa deste problema é resultante da batida violenta de uma embarcação em processo

de atracação, portanto, devido a um acidente.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS DE REPARAÇÃO

A solução lógica para este problema consiste na recolocação da viga no seu lugar

apropriado para que possa desempenhar as funções para os quais foi concebida. Uma

das técnicas possíveis para esta reparação passa pelo sistema de ancoragem submersa

(U.W.A.), descrita no subcapítulo 7.6.1.

Page 53: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

52

6.1.6. Desgaste do pavimento – estética

Em toda a área do porto o pavimento se encontra com alto grau de desgaste, aparecendo

pedras pontiagudas à superfície, pequenas depressões e até mesmo armaduras expostas.

Fig 48 ilustração da erosão no pavimento do cais (arquivo pessoal, foto feita no local)

MEDIÇÕES E ENSAIOS A REALIZAR

Mesmo sendo claramente visível o estado do pavimento ainda se pode fazer alguns

ensaios para uma melhor análise.

Ensaios físicos para verificar a resistência a abrasão do pavimento, e testes químicos

para verificar a penetração da carbonatarão, dos iões cloreto e da reacção alcalis-

agregado.

CAUSAS DA PATOLOGIA

A causa mais provável é a abrasão, sendo esta causada pelo trafego das pessoas e dos

equipamentos portuário ou pelo escorregamento de objectos pesados. Neste caso, o

tempo também constitui um factor determinante para esta anomalia, pois o material vai

envelhecendo com o passar dos anos e aumentando as probabilidades de

enfraquecimento e perda de resistência.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS DE REPARAÇÃO

A solução mais viável passará por fazer um melhoramento da camada de desgaste em

todo o pavimento do porto.

Page 54: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

53

6.1.7. Acessórios portuários (defensas)

Degradação das defensas em todo o perímetro das frentes de acostagem, não podendo

exercer a função a que foram concebidas que é proteger tanto os navios atracados como

a própria estrutura.

Fig 49 mau estado das defensas (arquivo pessoal, foto feita no local)

MEDIÇÕES E ENSAIOS A REALIZAR

Com uma simples analise visual pode-se verificar o mau estado desses acessórios.

CAUSAS DA PATOLOGIA

Além das inúmeras batidas dos navios contra estas defensas, o tempo também constitui

um factor degradante para a sua degradação, isto porque com o passar dos anos o

material vai envelhecendo e se tornando menos eficaz.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS DE REPARAÇÃO

A solução para este tipo de problema é a substituição de todas as defensas existentes no

cais e ainda acrescentar mais algumas nas frentes de acostagem, para uma boa absorção

das cargas de impacto aquando da atracação dos navios.

Page 55: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

54

7. TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO DE INFRA-ESTRUTURAS

PORTUARIA

A Manutenção preventiva garante o bom funcionamento das infraestruturas portuárias

durante todo o tempo do projecto, mas a existência de fatores pouco controláveis, ou

mesmo incontroláveis, tais como condições ambientais muito severas, acidentes, ou até

o próprio envelhecimento natural dos materiais usados na construção, levam a que

sejam previstas e executadas obras de reabilitação e requalificação nas estruturas, para

garantir os níveis admissíveis da segurança e da estética das infraestruturas.

Estas obras podem ser de reparação superficial ou de reforço das estruturas e devem ser

executadas tanto na parte emersa da estrutura (aérea) como na parte submersa.

A seguir são apresentadas algumas soluções de reparação que podem ser aplicadas em

estruturas do tipo gravíticas, por ser a solução acostavel mais utilizada em Cabo Verde.

7.1. Reparação da corrosão das armaduras

De entre diversos métodos utilizados para proteger as estruturas de betão armado da

corrosão, destacam-se a utilização de pinturas inibidoras de corrosão, as reparações

eletroquímicas (protecção catódica, dessalinização e realcalinização) e a substituição

parcial ou total do betão de recobrimento por outro de melhor qualidade.

7.1.1. Reparação electroquímica

Uma reparação electroquímica é definida pela imposição de uma corrente elétrica, entre

um elemento externo à estrutura e as armaduras de betão armado, que leva à interrupção

da corrosão destes elementos por repassivação das armaduras, ou por remoção dos iões

agressivos (cloretos) ou ainda por reinstalação da alcalinidade da solução existente nos

poros do betão. (Silva, 2007)

As técnicas de reparação electroquímica usadas para reduzir a corrosão das armaduras

em estruturas de betão armado são:

− Realcalinização;

− Dessalinização;

− Proteção catódica.

Todos os métodos eletroquímicos têm princípios e detalhes em comum sendo que a

principal diferença entre eles reside na intensidade da corrente imposta e na duração do

tratamento.

Page 56: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

55

Quadro 1 – Comparação das reparações eletroquímicas (Silva, 2007)

Técnica Proteção catódica Dessalinização Realcalinização

Objetivo Polarização da armadura a

um potencial de protecção

Remoção de cloretos

no betão

Aumento do pH

do betão

Duração da

polarização Permanente 6 a 10 semanas 1 a 2 semanas

Densidade

de corrente 3 a 20 A/m2 0.8 a 2 A/m2 0.8 a 2 A/m2

Proteção catódica

A protecção catódica baseia-se na inversão do potencial das armaduras do betão para

um estado mais eletronegativo, de modo a que estas passem a funcionar como cátodo e

a corrosão se reduza a valores ínfimos. Este efeito é conseguido através da passagem de

uma corrente elétrica de baixa intensidade, de um ânodo exterior, para as armaduras

(cátodo), através do betão.

Fig 50 - Princípio de funcionamento da protecção catódica (Lourenço, 2011)

A corrente contínua pode ser obtida: ligando o aço a um ânodo de sacrifício, que se

dissipa gradualmente (protecção catódica por ânodos de sacrifício), ou usando um

ânodo inerte e uma fonte externa de alimentação de corrente contínua (protecção

catódica por corrente imposta)

Esta técnica é de elevada eficácia na reparação de estruturas de betão armado expostas a

um ambiente marítimo e contaminado por cloretos uma vez que consegue remover

Page 57: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

56

totalmente os agentes agressivos e permite controlar a corrosão de uma forma eficaz

durante o período de vida da estrutura.

Para além da remoção dos cloretos, a protecção catódica origina ainda a produção de

iões hidróxido que levam a um aumento da alcalinidade da solução e,

consequentemente, à restauração da película passiva.

Os materiais mais utilizados como ânodo na protecção catódica são: malhas e fitas de

titânio, em partes aéreas, e varões e fitas de titânio, e ânodos galvânicos em partes

submersas. (Silva, 2007)

Fig 51 - Ânodos de protecção catódica (Lourenço, 2011)

Dessalinização

A dessalinização é um método de reparação eletroquímica que possibilita remover iões

cloreto da camada de betão superficial. O processo envolve a passagem de uma corrente

elétrica imposta entre as armaduras (cátodo) e um ânodo aplicado à superfície de betão

provisoriamente, durante o período de tratamento. As reacções que ocorrem no ânodo

originam a formação de iões hidróxido que repõem a alcalinidade do betão na zona das

armaduras, sendo desta forma restaurada a passivação das armaduras.

Este método é particularmente eficaz no caso de estruturas contaminadas com cloretos

por via externa e em que estes se aproximam das armaduras sem que os danos devidos à

corrosão sejam muito severos. Posteriormente ao tratamento, deverá ser aplicado um

revestimento que restrinja a entrada de cloretos e a absorção de água de modo a permitir

prolongar a acção do tratamento.

Dependendo do teor e do tipo de distribuição dos cloretos no betão, da qualidade do

betão, da distribuição das armaduras e da corrente aplicada, o método pode necessitar de

Page 58: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

57

atuar durante algumas semanas a vários meses até que se atinja um teor de cloretos

juntos das armaduras inferior ao crítico. (Silva, 2007)

Fig 52 - Processo de migração iónica no betão (Lourenço, 2011)

No processo de migração iónica, os iões com carga negativa (cloretos) afastam-se das

armaduras (negativo) e são removidos para o ânodo (positivo).

Realcalinização

Este tipo de tratamento é especialmente indicado para estruturas em que a corrosão é

originada por carbonatação já que provoca um aumento do PH da água existente nos

poros do betão e restaura a película passiva, anteriormente destruída pela carbonatação.

O princípio geral de funcionamento é idêntico ao dos restantes tratamentos

eletroquímicos, envolvendo a passagem de uma corrente elétrica entre o ânodo (malha

aplicada exteriormente e envolvida por uma solução eletrolítica que, no caso da

realcalinização, costuma ser uma pasta de celulose com 1 molar de carbonato de sódio)

e um cátodo (armaduras do betão). (Silva, 2007)

Page 59: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

58

Fig 53 - Processo de realcalinização (Silva, 2007)

Durante o tratamento, o eletrólito é transportado para o betão carbonatado por eletro-

osmose1 e migração de iões, produzindo um meio altamente alcalino. Analisando a

Fig.53, constata-se que o primeiro efeito da realcalinização é a criação de produtos de

reação alcalinos junto às armaduras, devido à eletrólise, e junto à superfície do betão,

devido à absorção, eletro-osmose e difusão do eletrólito. No fim do processo, todas as

zonas entre as armaduras e a superfície do betão terão um PH altamente alcalino.

A realcalinização é um tratamento temporário e tem uma duração de 1 a 2 semanas,

aplicando-se uma intensidade de corrente entre 0.8 e 2 A/m2. Para terminar, o ânodo é

removido e a superfície da estrutura fica no seu estado original. (Silva, 2007)

7.1.2. Substituição do betão contaminado

O objetivo deste tipo de tratamento é a substituição do betão superficial contaminado,

por betão novo de melhor qualidade ou uma argamassa de reparação, diminuindo-se,

assim, a velocidade de desenvolvimento da deterioração devido à maior protecção

contra a penetração de agentes agressivos que estes novos elementos conferem, sendo

1 Movimento de líquido, induzido por um potencial elétrico, através de um material poroso

Page 60: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

59

que o novo betão deve ser similar ao betão antigo no tamanho dos inertes e no fator

agua/cimento (Silva, 2007)

Procede-se primeiro com a retirada de todo o material deteriorado e com a limpeza da

área a ser tratada. Depois, a aplicação do novo betão pode ser feita de duas formas: da

maneira tradicional, utilizando formas que serão preenchidas com o betão, sendo estas

retiradas após a cura, ou fazendo uso de betão projetado, que é um betão

pneumaticamente projetado a alta velocidade sobre uma superfície. Esta segunda

técnica requer o uso de um compressor de ar, uma bomba de água a alta pressão, e

mangueiras para transporte do betão, da água e do ar comprimido, não havendo,

obrigatoriamente necessidade da existência de energia elétrica no local da obra,

podendo todo o equipamento funcionar somente a ar comprimido. (Silva, 2007)

A substituição do betão pode ser feita de forma parcial ou total, havendo vantagens e

desvantagens para ambas as soluções. Enquanto a substituição parcial seja

economicamente mais competitiva do que a total, esta ultima é do ponto de vista

técnico, uma solução muito eficaz uma vez que, somente com uma reparação

generalizada é que o agente agressor será completamente removido

A escolha do método de reparação terá então de se basear numa análise de custos de

cada reparação ao longo do período de vida pretendido para a estrutura. (Silva, 2007)

7.1.3. Inibidores de corrosão

Os inibidores de corrosão são substâncias químicas, em forma de pó, líquido ou gel,

que, quando é aplicada durante o fabrico do betão, retarda o início da corrosão e,

quando é aplicada superficialmente em estruturas já construídas, reduz a velocidade da

corrosão. Este efeito consegue-se geralmente através da formação de uma camada muito

fina de compostos químicos (que variam consoante o tipo de inibidores e o seu

fabricante), o que permite controlar e retardar a corrosão uma vez que afeta a reação

anódica de dissolução do ferro. (Silva, 2007)

Os inibidores de corrosão aplicados à superfície do betão (migratórios) não se revelam

eficazes uma vez que o seu baixo coeficiente de difusão através do betão faz com que o

produto não atinja o nível das armaduras que carecem de protecção. (Farinha, 2006)

Page 61: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

60

Fig 54 – Aplicação de pinturas inibidores de corrosão (Carvajal, 2011)

7.2. Reparação superfície betão (fissuras, algas, erosão)

Os reparos superficiais nos muros cais são feitos quando o betão apresenta fissuras,

desgaste por abrasão, vegetação marinha entre outros. Enquanto todas estas anomalias

se apresentam na parte submersa da estrutura, somente algumas delas se encontram na

parte aérea, tendo estas o mesmo tratamento, porem, com métodos diferentes.

O primeiro passo é a retirada de todo o crescimento marinho presente nas paredes,

seguido pela retirada de todo o betão que esteja deteriorado.

A recolocação do betão em uma superfície seca pode ser feita tradicionalmente com o

uso de formas ou por betão projetado. Já o reparo de uma superfície que esteja submersa

torna-se mais exigente na execução.

Para aplicar o betão dentro de água, existem dois métodos de execução. (Filho, 2008)

Uma maneira é a chamada prepacked (pré-embalado) onde a forma é montada submersa

e é cheia com brita. Depois, através de tubos, colocados no meio da brita, é feita a

injeção da massa de cimento. Essa injeção, que pode ser efetuada tanto por pressão

quanto por gravidade, é feita de baixo para cima até a forma transbordar. Esse

transbordo é necessário para que a primeira quantidade de betão, contaminada pela água

do mar, seja descartada.

A outra maneira de se fazer a betonagem submersa é colocar o produto pronto

diretamente na forma, com o uso de sonda. Enche-se a forma com o betão até

transbordar, o que também evita que a estrutura seja formada com o betão contaminado

pela água do mar.

Page 62: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

61

Esses processos de betonagem requerem o acompanhamento de mergulhadores, que

verificam a calda subindo dentro da forma e evitam os vazamentos. Além desse

acompanhamento, também existem cuidados com o controle do tempo de injeção e

lançamento do betão, além do controle da retirada da sonda. O tubo deve subir dentro da

forma paulatinamente à medida que o nível do betão em lançamento também sobe, sem

deixar que passe acima do nível do betão, pois isso alteraria as qualidades do concreto

com a contaminação da água do mar. (Filho, 2008)

7.3. Reparo de Estacas

Quando se trata das estruturas sobre estacas de betão armado, como acontece nos portos

de Vale dos Cavaleiros e do Porto Inglês, também sobre estes elementos estruturais

pode-se identificar patologias, tais como rompimento ou deterioração. Quando as

etsacas se encontram rompidas, a solução mais provável é a sua remoção e substituição

por outra, mas no caso de apresentarem deterioração do seu material constituinte pode-

se fazer uma reparação. O reparo é feito pelo método de encamizamento ou de

“jacketing”, onde sobretudo se promove o aumento da resistência de uma estaca

existente pelo envolvimento da mesma por um betão novo. Primeiramente faz-se a

retirada de todo o betão deteriorado, produto de corrosão e também das algas e outros

materiais marinhos, de seguida faz-se o encamizamento da estaca, envolvendo-o com

uma forma de metal ou de fibra, e finalmente encher a forma com o novo betão.

Também para este tipo de reparação pode-se utilizar as duas formas de colocar o betão

dentro de água, descritas anteriormente. (Dziekaniak, 2005)

7.4. Correção de desassoreamento do fundo

Devido a acção marítima e ao movimento de água provocada pelas hélices dos navios, o

solo submerso sofre perda de matérias, podendo causar a desestabilização da fundação

no pé do muro. Existem vários métodos para se proteger o solo contra o

desassoreamento, podendo-se destacar o uso de pedras soltas, blocos de betão, gabiões,

e geotêxteis. (Dziekaniak, 2005)

7.4.1. Pedras soltas “Rip-rap”

É a técnica mais simples de protecção do fundo, podendo que pode ser construída com

materiais localmente disponíveis, sendo normalmente feito de pedras de tamanhos entre

100 e 500 mm. Dependendo das condições hidráulicas pedras maiores podem ser

necessárias.

Page 63: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

62

A estabilidade do “rip-rap” depende da forma, tamanho e peso das pedras, tanto quanto

da sua granulometria. Para melhor estabilidade, as pedras utilizadas no “rip-rap” devem

ter a forma de bloco e tamanho uniforme. (Dziekaniak, 2005)

Fig 55 – esquema representativo do “Rip- Rip” (Dziekaniak, 2005)

7.4.2. Blocos de betão

O sistema dos blocos de betão é semelhante ao das pedras soltas pois a estabilidade das

suas camadas é dependente da estabilidade dos blocos individuais. Se uma força não

esperada causar o deslocamento de um bloco, isto pode se tornar o começo de uma

grande rotura. Para evitar este problema, pode-se fazer uso dos blocos conectados por

cabos pois estes cabos os unem em uma ou mais direções, o que fornece maior

estabilidade contra deslocamentos por forças não esperadas ou assentamento do solo.

(Dziekaniak, 2005)

7.4.3. Gabiões

Neste método, faz-se a protecção do fundo comgaiolas preenchidas com pedras. Estas

são feitas com uma malha polímera ou PVC (cloreto polivinílico) coberto com malha de

arame de aço.

São relativamente flexíveis na presença de piso instável e/ou movimento da água. Isto

permite que uma estrutura de gabiões se deforme sem rotura ou perda de eficiência. São

fortes o suficiente para suportar substancial velocidade do fluxo e também são

permeáveis, não requerendo nenhum sistema de drenagem.

Como desvantagens tem-se o alto custo e a desconfiança sobre sua durabilidade,

principalmente em relação ao arame em ambiente marinho severo. (Dziekaniak, 2005)

7.4.4. Geotêxteis

Os geotêxteis são malhas flexíveis, permeáveis, e resistentes a tensões e rasgos e

capazes de reter o solo. São feitos de poliéster, polipropileno ou substâncias similares.

A sua função primária como sistema de protecção do fundo é prevenir a migração das

Page 64: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

63

partículas do solo subjacente para fora deste, sendo suficientemente permeável. O

material precisa ter aberturas pequenas o suficiente para impedir a passagem do solo, e

precisa ser permeável o suficiente para permitir o fluxo livre da água sem induzir

elevação da carga sobre a estrutura de protecção do fundo. (Dziekaniak, 2005)

7.5. Correção da erosão no pé do muro

O pé do muro de gravidade também sofre erosão devido, principalmente, a deslocação

de água provocada pelos hélices dos navios.

Para a solucionar este tipo de problema, podem ser aplicados as seguintes técnicas:

betão lançado por funil “tremie”, pré-colocação de agregados com posterior injeção de

graute e a colocação de sacos preenchidos com concreto.

Com o método “tremie” leva-se o betão fresco, com propriedades próprias para

aplicação submersa, até o pé do muro, por um tubo rígido ou flexível de 150 a 300 mm

de diâmetro complementado com um alimentador dentro do qual o betão é abastecido.

No fim da operação, os vazios provocados pela erosão estarão completamente

preenchidos pelo betão. (Dziekaniak, 2005)

No caso do graute, o vazio é inicialmente preenchido com agregados graúdos soltos,

sendo, de seguida, o espaço livre entre esses agregados preenchido com a injeção de

graute por meio de um tubo. O graute é um tipo de betão onde os agregados são de

menores dimensões.

O método dos sacos preenchidos por betão consiste na colocação de sacos com betão

dentro da cavidade. Como a pasta de cimento é normalmente espremida para fora dos

poros dos sacos, acontece uma certa cimentação no conjunto. (Dziekaniak, 2005)

7.6. Reforço de fundação

O deslizamento e o derrube de muros cais de gravidade são consequências do

assentamento e da perda de capacidade de suporte da fundação e dos terrenos

adjacentes. (Dziekaniak, 2005)

As soluções técnicas aplicadas na resolução destes problemas, basicamente consistem

em reforçar os elementos de fundação, para normalizar a estabilidade da infraestrutura.

Em situações desta, são geralmente usadas estacas raiz, ancoragens e Jet Grouting para

melhoramento do solo de fundação.

Page 65: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

64

Fig 56 - Terreno de fundação competente (Dziekaniak, 2005)

Fig 57 - Terreno de fundação pouco competente (Dziekaniak, 2005)

7.6.1. Sistema de ancoragem submersa U.W.A (under water anchor)

Este sistema consiste em instalar ancoragens submersas horizontais utilizando-se a

técnica miniJET®1, sendo a maneira mais rápida de instalar ancoragens em condições

operacionais especialmente problemáticas. (costafortuna.com)

1 Técnica de introdução de barras de aço com furo central, rosqueaveis e de alta resistência

Page 66: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

65

Fig 58 - Equipamento de perfuração de ancoragem submersa (costafortuna.com)

A técnica prevê que as ancoragens submersas sejam instaladas por meio de um

equipamento especial para a perfuração comandada da superfície e posicionada sobre o

muro do porto.

O sistema é formado por meio de um equipamento de esteiras que efetua as operações

de movimentação de toda a máquina. Por sua vez, esta é composta por um braço

mecânico que utiliza uma torre telescópica para sustentar a Unidade de Perfuração

Robotizada.

As atividades de perfuração/injeção são realizadas na profundidade do projeto e são

completamente executadas por meio de um controle remoto. Com esta técnica, as

ancoragens horizontais são instaladas exatamente onde as cargas transmitidas para as

paredes do porto atingem o valor máximo. (costafortuna.com)

Fig 59 - Partes principais que constituem o sistema de perfuração submerso U.W.A. (costafortuna.com)

Page 67: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

66

7.6.2. Estaca tipo raiz

Estaca raiz é uma estaca de betão armado, betonado no local, caracterizado pelo seu

pequeno diâmetro, variando entre 80 a 410 mm.

Esta pode atuar tanto como reforço da fundação do cais, como travamento dos blocos do

muro cortina em caso de deslizamento. É instalado perfurando desde a superfície do cais

até se atingir o solo de fundação, atravessando toda a parede de blocos.

Fig 60 – perfil de estrutura reforçada com estaca raiz (Dziekaniak, 2005)

A perfuração é executada por meio de uma perfuradora rotativa ou roto-percussiva,

terminando quando se atinge a cota desejada. Feito o furo, passa-se à montagem das

armaduras da estaca, em forma de gaiola, com os estribos helicoidais. A injeção do

microbetão é efetuada sob pressão, rigorosamente controlada, em sentido ascendente,

colocando-se inicialmente o tubo de injeção no fundo do furo. (Dziekaniak, 2005)

Fig 61 - Metodologia executiva de estacas raiz (geocities.ws)

Page 68: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

67

7.6.3. Jet Grouting

A técnica do Jet Grouting consiste na aplicação de uma elevada energia cinética de

desagregação da estrutura do terreno natural através de potentes jatos horizontais.

O seu efeito é conseguido pela acção da mistura de uma calda de cimento (que é

injetada durante a degradação do solo existente) com as partículas do solo desagregado

dando origem a um maciço rochoso com melhores características mecânicas e menor

permeabilidade. (Dziekaniak, 2005)

Fig 62 - Sistemas de jet Grouting (Carletto, 2009)

O processo tem início com o posicionamento e nivelamento do equipamento no solo

submerso a tratar. Seguidamente, introduz-se a vara no terreno com o auxílio de um jato

de água vertical até atingir-se a profundidade inferior do tratamento. Quando atingida,

pára-se o jato de água vertical, imprime-se um movimento rotacional constante à vara

enquanto se bombeia calda pelo seu interior e se faz penetrar no solo decomposto.

Simultaneamente a vara vai sendo elevada a uma velocidade igualmente constante.

O principal obstáculo do método prende-se com a dificuldade de prever com exatidão o

resultado final uma vez que o método substitui parcialmente (e não totalmente) o solo o

que dá origem a um material heterogéneo e com características de difícil controlo

rigoroso. (Dziekaniak, 2005)

Page 69: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

68

8. PROPOSTA DE MANUTENÇÃO PARA O NÓ 1 DO CAIS DO

PORTO GRANDE.

Neste capítulo pretende-se fazer a orçamentação e a quantificação dos trabalhos,

aquando de uma intervenção a realizar para a correcção de anomalias presentes numa

parte do cais do porto comercial do Porto Grande, tratando-se do terminal do meio,

correspondente ao nó 1, onde se encontram os cais nº3 e nº4. As soluções propostas de

reparação foram idealizadas para que houvesse um custo mínimo, e que fossem

utilizados meios locais. Este capítulo foi elaborado com apoio directo de profissionais

ligados a obras portuárias e marinhas, com entrevistas e acompanhamento à obra no

Porto grande.

A elaboração deste projecto de intervenção foi feita com base numa inspecção visual e

superficial executada previamente, e apoiando-se num relatório de uma outra inspecção-

geral realizada anteriormente, onde foram analisadas tanto a parte aérea do cais, como

da parte subaquática. Esse relatório, (Leningrado, 1989), descreve a situação em que a

infraestrutura se encontrava no momento e assinala zonas onde haveria uma possível

intervenção futura. De acordo com o mesmo relatório a parte submersa da estrutura

encontra-se em bom estado, estando os blocos bem assentes e sem sinais de

deslocamentos e com afastamentos aceitáveis das juntas. Na impossibilidade de realizar

uma inspecção completa deste terminal, para realização deste trabalho, considera-se que

a estrutura se encontra no mesmo estado descrito no relatório inspecção anterior.

Descrição da situação actual do terminal do meio (cais 3 e 4)

Durante a inspecção realizada superficialmente foram sendo identificadas diversos tipos

de anomalias, tais como a perda de massa de betão nas vigas de coroamento,

assentamento em algumas áreas do pavimento, abertura de juntas de dilatação e

degradação de acessórios.

Em relação aos acessórios, constata-se que enquanto os cabeços de amarração se

encontram bem afixadas nos seus lugares e desempenhando a sua função em pleno, já as

defensas portuárias se encontram em sua maioria em muito mau estado, sendo

necessária a substituição das mesmas em todo perímetro desses cais.

Nas frentes de acostagem, as bordas das vigas de coroamento se encontram desgastadas,

e é claramente visível a perda de massa de betão nesses elementos. É necessária a

Page 70: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

69

recolocação dessa quantidade de betão perdido em todo o perímetro dessas mesmas

frentes de acostagem.

Foram identificadas algumas aberturas de juntas de dilatação no extremo desse terminal,

entretanto algumas delas não atingiram um afastamento critico, não necessitando de

intervenção imediata, mas devendo ser sempre verificadas para acompanhar a sua

evolução. Existe no entanto uma abertura de junta, cuja evolução é tal, que há

necessidade de intervenção imediata. Esta situa-se no extremo sul do cais nº3.

Analisando o pavimento, pôde-se identificar zonas onde o assentamento diferencial tem

algum realce. Esse assentamento é mais acentuado na zona adjacente ao local em que se

situa a junta com abertura elevada, concluindo-se que essa anomalia terá sido causado

pelo desaparecimento do material constituinte do núcleo, devido a sua migração pela

fenda. Neste caso será necessária uma intervenção para fazer um melhoramento das

camadas de fundação do pavimento. As outras zonas onde se verifica o assentamento do

pavimento são: 1º, nas áreas adjacentes aos muros cortina e 2º numa zona especial no

meio do cais, isto porque o cais actual é resultado de uma extensão do cais antigo, tanto

em comprimento como em largura. Sendo que o assentamento do cais antigo já havia

sido estabilizado, a parte acrescentada, devido ao assentamento, começa a ficar alguns

centímetros mais baixo que o antigo. Nessa zona também há necessidade de

regularização do pavimento.

Fig 63 Perfil atual a meio do nó 1 do Porto Grande (arquivo ENAPOR)

Fig 64 Ilustração da planta do nó 1 (arquivo pessoal)

Page 71: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

70

Metodologia de execução

CORRECÇÃO DAS ARESTAS DAS VIGAS DE COROAMENTO.

Começa-se com a abertura de uma secção de 100x50 cm com auxílio de equipamento de

corte e martelo demolidor, seguido pela limpeza da secção aberta. De seguida faz-se a

preparação e a montagem das armaduras no local, fazendo a ligação da armadura nova

com a já existente com o uso de soldadura. Terminada a armação da secção da viga

coloca-se a cofragem e por último é feita a betonagem.

CORRECÇÃO DO ASSENTAMENTO DIFERENCIAL DO PAVIMENTO.

O assentamento do pavimento encontra-se localizado em 4 zonas da área do cais e estas

estão assinaladas no desenho como AP1, AP2, AP3 e AP4.

Nas zonas AP1, AP2 e AP3 a causa de assentamento é o mesmo, e com isto a

metodologia de correcção será similar. Começa-se com a retirada manual de todo o

Pavê nessa área e a retirada da areia com pá carregador. De seguida prossegue-se com a

demolição da camada de base feita com betão C8/10 com retroescavadora e posterior

demolição da camada sub-base de tout-venant com o mesmo equipamento. Terminada

esta tarefa faz-se o reenchimento do material de fundação que havia sido arrastado e

ocasionado o assentamento. Feito o reenchimento e compactação da fundação, repõem-

se as camadas de sub-base e base, sempre compactando cada uma das camadas com

cilindro de rasto liso. Culmina-se as tarefas com a colocação e regularização da camada

de areia de 3cm e a recolocação do Pavê manualmente.

Na zona AP4 não há muita possibilidade de fuga de material de fundação sendo o

assentamento causado essencialmente pela compactação das camadas de fundação

superficiais. Contudo, a metodologia de execução é a mesma que a das outras zonas

acima relatadas, apesar da causa do assentamento ter sido diferente.

MELHORAMENTO DO SISTEMA DE DEFENSAS PORTUARIAS.

Como foi referido anteriormente as defensas do cais de meio do Porto Grande se

encontram na sua maioria debilitadas, estando a ser utilizadas pneus de equipamentos

pesados em algumas zonas de acostagem, pneus esses também já deteriorados. Para

solucionar este problema será feita a substituição de todas as defensas deterioradas. O

sistema de defensas recomendado será o uso de pneus que já vem sido usado, pois, de

acordo com o observado, quando este elemento é bem instalado, funciona em pleno

Page 72: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

71

amortecendo os impactos das embarcações. Esta opção é tida como de mínimo custo se

se considerar que a entidade que gere a movimentação nos portos possui em stock os

peus usados pelos equipamentos. Entretanto, deverão ser realizadas inspecções

periódicas a essas defensas para verificar o seu estado, sendo sempre substituídas as que

estiverem danificadas.

Fig 65 cais com defensas de pneus (pt.dreamstime.com)

CORRECÇÃO DA ABERTURA DA VIGA

A correcção deste problema será feita em duas etapas distintas. Numa delas procede-se

com a correcção do assentamento do pavimento adjacente ao local, e na outra a

correcção propriamente dita da abertura.

Para a correcção do assentamento, serão seguidas todas as etapas referentes as zonas

AP1, AP2 e AP3. Entretanto, estando esta junta com uma abertura de mais de 10cm,

será colocada uma malha de geotêxtil de 2 m de largura na área adjacente à abertura

para impedir o vazamento de materiais finos para fora do núcleo de fundação do

pavimento.

Portanto, primeiramente faz-se a retirada do pavimento, da areia, da camada de base e

de sub-base. Terminadas as escavações verifica-se a extensão do problema, e

considerando-se que este caso não seja mais grave do que aparenta, segue-se os

trabalhos com a colocação da malha de geotêxtil desde a camada de fundação até a

superfície do pavimento. De seguida faz-se a recolocação do material de fundação, das

camadas sub-base e base, com a devida compactação. Por fim é colocada a areia e o

Pavê.

De acordo com a opinião de um especialista na área de obras marítimas, os blocos

constituintes do cais devem, funcionar apenas com a distribuição vertical das cargas até

Page 73: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

72

a fundação, não havendo transferência de esforços entre duas colunas. Portanto essa

abertura não constitui grande perigo em termos estruturais, desde que os assentamentos

estejam estabilizados, e que se garanta que não haverá arraste de material para fora da

fundação do pavimento. Porem, terá de ser garantida a segurança de pessoas e

equipamentos no decorrer das operações portuárias. Seguindo este raciocínio, os

trabalhos propostos não serão para eliminar a abertura na integra, mas sim para

promover o seu desaparecimento na parte superior do cais. Esta operação será feita

colocando-se uma placa de betão de 0.5x3.20x1.50m feita no local, sobre as vigas de

coroamento. Portanto, faz-se uma demolição de uma secção de 0.5x0.7m em toda a

largura de cada uma das vigas adjacentes à abertura, para colocação da placa de betão,

de forma que esta fique regularizada com a superfície das vigas.

Fig 66 Detalhes do elemento de betão(arquivo pessoal)

A seguir é apresentada a tabela que representa a proposta de orçamentação e

quantificação dos trabalhos, elaborada depois de feitas todas as medições. Os preços

estão em conformidade com o mercado actual, tendo sido feita pesquisa previa.

Page 74: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

73

Tabela 5 Orçamento estimativo

Art.

DESIGNAÇÄO DOS

TRABALHOS

UN

Q

PREÇO

UNITARIO

TOTAL

POR

ARTIGO

TOTAL

POR

CAPIT.

1 I. Mobilização 3.000.000

1 Mobilização e desmobilização de

estaleiro

un 1 3.000.000,00 3.000.000

2 II. Reparação de arestas de

vigas de coroamento

15.999.120

2.1 Demolição para seccionamento

da viga 1:0,5, incluindo a

limpeza e transporte para

vazadouro

m3 248,80 8.500 2.114.800

2.2 Fornecimento e montagem das

armaduras para as vigas

KN 199,04 10.500 2.089.920

2.3 Fabrico e montagem das

cofragens das vigas.

m2 260,00 9.000 2.340.000

2.4 Fornecimento e colocação e

aplicação de betão C25/30

m3 248,80 38.000 9.454.400

3 lII. Reparação do pavimento 22.739.328

3.1 Levantamento e transporte do

Pavimento superficial para zona

de armazenamento

m2 2235,70 250 558.925

3.2 Levantamento da almofada de

areia, incluindo o transporte ao

vazadouro

m3 67,07 3.700 248.159

3.3 Demolição da camada de base,

terreno muito duro de espessura

20 cm, incluindo transporte ao

vazadouro

m3 447,14 3.500 1.564.990

Page 75: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

74

3.4 Escavação da camada de sub-

base de espessura 15 cm,

incluindo transporte ao

vazadouro

m3 335,36 800 268.288

3.5 Reenchimento e regularização da

fundação de areia e respectiva

compactação

m3 111,79 150 16.769

3.6 Reenchimento e regularização e

compactação da camada sub-

base de tout-venant

m3 335,36 4.500 1.509.120

3.7 Reenchimento e regularização e

compactação da camada base de

betão C8/10

m3 447,14 21.000 9.389.940

3.8 Colocação de almofada de areia

de 3 cm

m3 67,07 250 16.768

3.9 Colocação do pavimento

superficial

m2 2235,70 4.100 9.166.370

4 IV. Reparo da fenda da viga

danificada

128.400

4.1 Demolição para seccionamento

das bordas da fenda 0,75:0,5

m3 2,40 8.500 20.400

4.2 Execução do elemento de betão

armado

un 1,00 108.000 108.000

5 V. Reparação do sistema de

defensas

1.890.000

5.1 Desmontagem das defensas

deterioradas

un 50,00 12.800 640.000

5.2 Preparação e montagem das

defensas de pneus usados

un 50,00 25.000 1.250.000

Valor Total 43.756.848

Page 76: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

75

9. Conclusões

O trabalho constitui um contributo para o conhecimento das diferentes soluções de

estruturas de acostagem, bem como as diferentes soluções de manutenção e reparação

das mesmas. A escolha de cada solução é baseada em vários parâmetros, tais como a

localização, as condições geológicas, as condições atmosféricas, e o tipo de utilização a

que se pretende para o porto, isto porque existem diferentes tipos de equipamentos

portuários de variadas envergaduras, e uma vasta gama de embarcações com tamanhos e

utilidades diferentes.

Não obstante o facto de os diferentes tipos de estruturas estarem expostas a ambientes

com características similares, a manutenção de cada um destes é feita de forma singular,

devido a peculiaridade das suas características estruturais e funcionais.

O ambiente marinho é considerado como muito agressivo para os materiais utilizados

na construção destas infraestruturas, devido ao poderio do mar, pela força das ondas,

das marés e dos ventos, e pela sua composição química, particularmente os sais

solúveis, podendo provocar a deterioração parcial ou generalizada da infraestrutura.

O conhecimento das possíveis deteriorações permite elaborar planos de inspecção,

manutenção recuperação para as instalações portuárias. Problemas tanto a nível

superficial, como estrutural, devem ser tratados logo no seu estado inicial, evitando

custos elevados de reparação. Isto porque quanto mais tempo se demora para corrigir

um problema, mais este se agrava, e consequentemente, mais dispendiosas ficam os

encargos do seu tratamento. Por esta razão, a filosofia de manutenção adotada deve ser a

preventiva e não a corretiva, isto porque somente efetuando inspeções periódicas,

previamente programadas, é que é garantido detetar a existência de tais problemas na

infraestrutura.

As exigências de manutenção das infraestruturas devem ser indicadas pelos projetistas,

pois estas serão seguidas pelos técnicos responsáveis aquando da elaboração do plano

de inspecção. Isto porque elaborar um plano rigoroso exige conhecimentos a nível da

estrutura, da geomorfologia do local, da agitação marítima, das condições atmosféricas

e do funcionamento ou da logística de utilização da infraestrutura.

As inspeções e as obras de manutenção quando planejadas não interferem com o

funcionamento normal da infraestrutura, enquanto as reparações, dependendo da

gravidade do problema, provocam grandes inconvenientes para os utilizadores dos

Page 77: Manutenção e Reabilitação de Infraestruturas Portuarias

76

portos, repercutindo para a imagem e para os lucros das entidades que gerem estas

infraestruturas. Isto porque a reabilitação/reparação geralmente constitui obras

complexas, de elevada exigência em termos de execução, o que pode provocar a

paralisação das operações normais destas infraestruturas.

Considerando o exposto acima conclui-se que é de extrema importância programar e

monitorizar a manutenção das infraestruturas portuárias por forma a incrementar a

segurança, a promover a longevidade a aumentar a poupança e, finalmente, diminuir o

custo total da obra.

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