Mão na luva

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    MÃO NA LUVAMÃO NA LUVAODUVALDO VIANNA FILHOODUVALDO VIANNA FILHO

    PERSONAGENSPERSONAGENSELEELA

    PRIMEIRO ATOPRIMEIRO ATO

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    (ABRE O PANO. OS DOIS ESTÃO SENTADOS, SEPARADOS, CANSADOS. TALVEZ ELATENHA CHORADO. UM APARTAMENTO BEM MONTADO. JANELA NO FUNDO. SILÊN-CIO LONGO)ELE

    — Quer dizer que você vai embora mesmo, assim?( Tempo. Ela faz que sim ) Está certo.Deve ser talvez melhor, quem sabe.( Pausa ) Ontem tudo não estava bem?( Pausa ) Nove anos. . .

    or que mesmo?( Pausa ) ELA — ! "ente não anda assim lon"e assim?. . . #e sinto mal, $reciso $ros dois.

    ELE — %.( Pausa ) &ai $ra casa da tua mãe?

    ELA — 'm tem$o, com as crian(as. E.

    ELE — &e)o elas no domin"o?

    ELA — %, quando $uder, de noite $assa lá.

    ELE — *laro. ! babá?

    ELA — Ela vai.( Tempo )

    ELE — +enho de acordar cedo...

    ELA — - se tem de acordar cedo quando está esse rio.( Tempo )

    ELE — /ulho. . . )ulho de sessenta e seis.

    ELA — /ulho.( Tempo ) !"osto.. . setembro... outubro...

    ELE —( Tempo ) Novembro... dezembro... 0eliz Natal.( Semi-sorriem )

    ELA — ra você tamb1m.( Tempo ) Onde a "ente $assou o Natal?)

    ELE — Qual?

    ELA — Qualquer um

    ELE

    — Não $assamos nenhum nas !ntilhas...ELA — 2h, 1

    ELE — Nem em 3lumenau... earl 4arbor... num est5dio da aramount... 3rest67itovs8...

    (REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)ELA

    — Não 1 melhor você ir lá? &em cá, vou com você, não conhe(o nin"u1m mas di"o boa6noite, 0eliz Natal, 0eliz Natal, $ronto, 0eliz Natal...ELE

    — De$ois, de$ois vamos.

    ELA — /á são três da manhã, que horas são? O eminente 3andeira essoa — não oi? — convidou s- os eleitos da reda(ão da revista, s- você e mais quatro "ênios, então? Eu a$roveito e

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    conhe(o um 3andeira essoa de $erto, como vai?.ELE

    — Niet, niet.ELA

    — or minha causa?ELE

    — !h, não: Está lá o aulinho de !lmeida que trabalha,é claro, em todos os lu"ares,éclaro; #ilton l ndia.. . Dan5bio!zul. . . @ranada.. . 3otucatu...( !onga Pausa )ELA

    — Que horas você tem de acordar cedo?ELE

    — ! audiênciaé As oito. ete, 1.( Pausa )ELA

    — e osse As oito e cinco, aB $odia acordar As sete e cinco.( Semi-sorriem. Ela se levanta. Anda a esmo )ELE

    — Não cabe recurso da sua decisão?ELA

    — Não.( Pausa. Ela continua andando )ELE

    — or que a tua $ernaé bonita, hein? Nove anos de mist1rio que não descubro... Qual queé a lei áurea de $erna?ELA ( !onga pausa. Sorri )

    - Não $ode terminar de re$ente.ELE

    — !cho que do )oelho $ra baiCo tem que ser maior que a coCa daqui $ra baiCo.. . Ondeéque eu li isso não sei, 1 a medida da &ênus.( P"ra #unto dela. $ede palmos. Ela quieta )

    (REVERSÃO DE LUZ. FLASH-BACK. ELA ESTÁ RINDO MUITO, A SAIA LEVANTADA)ELE — or que a tua $ernaé bonita, hein? Oito meses de mist1rio que não descubro. Qual que 1

    a lei áurea de $erna...? Não $ode terminar de re$ente, 1 isso.( %o $la>6bac8,muito &ai'o( entram as falas dos dois: #ul)o( agosto(..*( etc. )ELE

    — &ocê não 1 $intora, ei? 0a(a o avor de entender a $erna de mulher.ELA ( Ri )

    - Do )oelho aqui $ra baiCo tem que ser um $ouco maior que a coCa. % a medida da &ênusde #ilo. ( Ele mede palmos. Riem )

    (REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)

    (ELE MEDE PALMOS. ELA DE SAIA ABAI ADA, SEM RISOS)(REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)(ELE MEDE PALMOS. RI. RIEM. BEIJA A PERNA DELA. ELA MANT!M A SAIA

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    LEVANTADA)(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)

    (ELE MEDE PALMOS, SEM RISOS. A SAIA ABAI ADA. TEMPO. SAI OPLAY-BACK)ELE

    — Que oi?ELA

    — Nada.( +az um carin)o nele ) Eu 1 que alei da &ênus um dia...( Semi-sorriem. ,mtempo grande )ELE

    — Não $osso não.ELA

    — &ai.ELE

    — Não $osso não, não $osso não.ELA

    —. . . icou decidido, )á.ELE

    —. .. não $osso não, não $osso não.ELA

    —. . . $ode sim. . .( Ele a enla a. ei#a-a forte. Se &ei#am )ELE

    — /uro, estou sabendo disso a"ora, que não vou a" entar.ELA

    —. .. tamb1m não, tamb1m não...ELE

    —... vem...ELA

    —. ..não...ELE

    —. . . vem..(REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)

    ELA — &em.

    ELE — &em. !qui na $raia, aqui.

    ELA —.. .louco, seu.

    ELE

    — Na $raia, aqui.ELA — e a$arece al"u1m e..

    ELE — Deve rezar — 1, a)oelha e reza. &em.

    ELA6 &em. &em.

    (REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)ELE

    —... vem...ELA

    —.. .não...ELE — . . . vem . .

    F

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    ELA — . . . $or avor assim não, avor.( Ele procura arrast"-la ) Não az, lar"a, lar"a, $elo amor

    de — lar"a.( Ele larga. !onga pausa )ELE

    — Não vai. em mim não vai conse"uir viver, você:( ausa) +enho de acordar cedoamanhã.Sai. ,m tempo grande. /olta. Senta-se. Ri. Tempo ) !h, meu... que coisa ridBcula. Nossa.

    ( Ri muito. Tempo grande ) Está na moda come(ar vida nova, então? !ntes era se"uran(a, a"oraé aelicidade que está na moda?( Pausa longa ) O aulinho de !lmeida vai subir sábado com a "ente $ro sBtio, trouCe umas "ravuras $ra você da Euro$a, diz que lindas, vai subir sábado com a "ente e $ediu...ELA

    — or avor.( !onga pausa )(BAI O ENTRA OPLAY-BACK DO "VEM, VEM# NA PRAIA)

    ELE — #e diz $or quê.

    ELA — /á disse. Não quero mais viver com você.

    ELE — GNão estou bem, não vale a $ena maisH, nãoé )usto, e s- isso você ala — tem de

    eC$licar, de$ois de nove anos você olha $ra minha cara e diz de re$ente que vai embora, Gnão estou bem, não vale a $ena maisH, quem ica com os ilhos...ELA

    —. . . não 1 de re$ente...ELE

    — . .. de re$ente, de re$ente — assim não — de re$ente, ontem você $assou o dia $rocurando rede nova $ra levar $ro sBtio, ia azer so$a de tartaru"a, Gonde eu arran)o, meu Deus, acisterna está outra vez. ra mim alar com o 3andeira essoa $ra dar um recado $ra !nita que elaarran)a tartaru"a. . .( Saio $la>6bac8 )ELA

    — 4á tanto tem$o a "ente sabe, tanto tem$o. - que eu estava...ELE

    — O que estava o quê?ELA

    — Não sei, em ormol, sonotera$ia, assim.( Revers o de luz. 0lash6bac8 )ELA

    — Quero ver se $onho $iso no chão, sabe? Que você acha, vamos verI cer mica ou tábua,cer mica, se or, sem encerar que ica mais bonito...ELE

    — *er mica ou tábua, cer mica ou tábua, tábua:ELA — +ábua,é sim, eu $re iro — sabe? — não sei, mais bonito, mais quente, ica mais canto,

    não ica? Não taco, tábua inteira correndo toda a sala, estirada, a !nita está arre$endidBssima de ter $osto cer mica, que ela $Js. &ou ver com o car$inteiro, vou ver o $re(o, a "ente decide maisquando você che"ar lá, mas eu acho tábua melhor mesmo, liCada, como casa de &ila =ica..(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE) (OS DOIS ESTÃO NA POSI$ÃO ANTERIOR)ELE

    — or que você vai embora?ELA

    — 0alar, alar $ra que, não sei.

    ELE — +em de saber, vou escrever minhas mem-rias e $reciso re"istrar as razKes, entende?Descul$e, eu sei que você tem muita di iculdade em saber o que quer mas tenta vai, vai.

    L

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    (REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)ELE

    — !qui na $raia, aqui.ELA

    — e a$arece al"u1m e...ELE

    — Deve rezar — 1, a)oelha e reza. &em.( 0eitam-se ) abe $or que 1 que eu te amo? O teutem$o 1 assim $arecido com o tem$o das coisas. &ocê nunca sente aquela necessidade de ser im$revista. 0eito tri"o nascendo. #ulher lon"a. &ocê 1 eito tomar banho de cascata. abe o quequer, sabe o que te querem, )unta os dois )untos. &ocê 1 mão na luva.(*hama6aI) #ão na luva.ELA

    — 4ein?ELE

    — #ão na luva.ELA

    — 4ein?( Se &ei#am )(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)

    ELE — &ai, vai, tenta, anda, o que 1 que você quer al1m de consertar a cisterna? Não lhe sabe

    bem a vida? erá o mar, o barulho do mar te incomoda? Quem sabe $assar sinte8o de novo? &amosassinar o *orreio da #anhã ao inv1s do /ornal do 3rasil? E isso? E seu eu deiCasse crescer suBssas?

    (REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)(NOPLAY-BACK, BAI O, ENTRA O DIÁLOGO "DE REPENTE, DE REPENTE#)ELA

    — #eu Deus, como oi bom, meu De... não sei se choro, se rezo...ELE —( Canta )

    - 2rerê, solta teu canto. *anta mais. *anta mais. No sertão do *ariri: roletários do mundointeiro, $reservai o amor: 7evai6o at1 o im: !t1 o desconhecido:( /olta a cantar )ELA ( Canta enquanto ele fala )

    - 2rerê, solta teu canto.( 1s dois cantam #untos( rindo( desencontrados )(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE) (OPLAY-BACK SAI)

    ELE — 7amentável. &ocê icou lamentável, O que quis? Nada, nunca tentou nada, eito $lanta

    no sol, resolveu $intar — u"iu, vou ser "rá ica — u"iu, — não, não, tornou6se a mais amosaconsertadora de cisterna de +eres-$olis, 1 mesmo, não...ELA

    — Quero ir embora sabe $or quê? orque não a" ento mais você, essa se"uran(a que vocênão tem não en...

    ELE — Eué que não a" ento mais você:(REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)

    (COMO SE FALASSEM COM PESSOAS. ANDAM PELO PALCO, CUMPRIMENTAM)OS DOIS

    — 0eliz Natal. 0eliz Natal.ELA

    — Não 1 melhor mesmo você ir na esta?ELE

    — Não a" ento mais aquilo.( Cumprimenta uma pessoa ) 0eliz Natal.ELA

    — 0eliz Natal.( Para Ele ) &ocê ez duas re$orta"ens assinadas, aB az dois meses que nãote dão mais nenhuma ...ELE

    M

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    — 0eliz Natal. /esus oi $or ali...( Riem ) Não a" ento. aulinho de !lmeida, #ilton

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    ELA — +em "ente demais olhando, olha.( Ele ri )

    ELE — Que você está dan(ando?

    ELA — Eu, valsa.

    ELE — +amb1m vou dan(ar valsa, então. Estava $ensando em blue.( Riem. /alsam ) Daqui a $ouco você corre o cha$1u. . .( Riem e dan am )

    (REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)(DAN$AM %UIETOS, DE ROSTO COLADO, UM LONGO TEMPO)

    ELA — &ocê continua com muito charme. Nunca vi alma com tantas tem$eraturas em tão $ouco

    tem$o, você.( 0an am ainda )ELE

    — Estou calmo a"ora. /uro. #inha di"nidade de macho não ica mais erida, $alavra.*almo. #e diz $or quê.( 0an am )ELA

    — !s razKes ou os atos?ELE

    — ! du$la.ELA

    — !s razKesI você não me conhece. =eli"ião que você não $ratica essa de conhecer as $essoas, viver em tribo.ELE

    — 4á al"umas $essoas que não "ostam de ser conhecidas como são, quem são.( la>6bac8 &ai'o da cena de dan a na rua ) +êm medo da tribo.ELA

    — N-s vamos discutir a noite toda e os dois vão ter razão, eu e você.

    ELE — Evidentemente.( Riem ) E os atos?

    ELA — re eria não alar de atos.

    ELE — 0alemos de atos. &ocê tem um outro?

    ELA

    — +alvez.( la>6bac8 p"ra. Param de dan ar ) ELE — % um outro?

    ELA — Não sei...

    ELE — *laro, 1 um outro, GtriboH, GtoureiroH, o diabo, $ra que alar disso, 1 um Outro, claro,

    tem razão, $erdoe, 1 um outro...ELA

    — +em ou não, não 1 $or isso, você tem uma outra, nunca $ediu $ra se$arar...ELE

    — E o quê?ELA — Nada que não 1 isso.

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    ELE — or avor.

    ELA — &amos. . . nada, vamos $arar.

    ELE — Estamos come(ando, inalmente come(ando. DeiCa uma vez na vida o $razer de ser

    entu$ida, uma vez, ala.ELA — ! #o(a da *a$a, você não vive com a #o(a da *a$a?

    ELE — !t1 a"ora vivo com você, são três da manhã.

    ELA — Então está bem.

    ELE — Que #o(a da *a$a? @isela, ela?

    ELA — &ocê não az questão que todo mundo saiba? *laro, ela.

    ELE — O que, hein? 3ebeu? .......

    ELA —. .. não quero discutir sobre isso, não discuti antes.

    ELE — . . . tantas vezes, @isela 1 minha ami"a, )á alei $ra você, você brincava comi"o...( Ela

    ri )ELA

    — ... )á tem um ano essa hist-ria de vocês.ELE

    —... que hist-ria, que hist-ria, você bebeu, que hist-ria?( Revers o de luz s3 nela )(ELA FAZ UM DIÁLOGO COM UMA AMIGA IMAGINÁRIA. ELE FAZ M&MICA NO TEMPO PRESENTE, DE %UEM DÁ E PLICA$'ES. RI. P'E A MÃO NA CABE$A. PEGA NO ROSTO DELA. DIZ %UE NÃO)ELA ( /oz da amiga )

    - &ocê conhece essa @isela @rei?( Ela mesma ) Não, não conhe(o não, !nita.( /oz daamiga ) abe qual 1 o a$elido dela? G#o(a da *a$aH.( Ela mesma — Ri ) En"ra(ado.( /oz da amiga )

    ensei que você conhecesse. Está sem$re com seu marido, sem$re.( Ela mesma ) Ele me alou dela.( /oz da amiga ) !h, alou $ra você dela. Ela 1 linda.( Ela mesma ) 3onita, sim. ( /oz da amiga )3onita — ah, que 1 isso?: Deslumbrante:( 1 $la>6bac8repete 4deslum&rante* enquanto a luz dela

    volta para o tempo presente )(REVERSÃO DE LUZ S NELA. TEMPO PRESENTE)(ELE FALA AGORA COMO SE ESTIVESSE EMENDANDO O %UE ESTAVA DIZENDO. O PLA -BACK, AP S UM PE%UENO TEMPO, SAI)ELE

    — . . . entendeu? E uma menina descabelada — nossa, mais de vinte minutos não dá comela, tal a a"onia que ela tem, s- vendo. Eu quero a)udar a mo(a, s- isso.( Ela ri muito ) Está bem.Estou a$aiConado $or ela.ELA

    — Não quero discutir isso não, $alavra, não im$orta, $alavra.( Revers o de luz s3 paraele )

    (ELE FALA COMO SE ESTIVESSE COM GISELA. ELA, NO TEMPO PRESENTE, FAZ M&- MICA DE %UEM FALA %UE NÃO %UER DISCUTIR, %UE NÃO ! ISSO)ELE

    R

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    — @isela, eu te amo @isela, @isela @azela, @isela @azela. . .( Ri como se ol)asse as pernas de 5isela ) or que a tua $erna 1 bonita, hein? ão três meses de mist1rio. . .( Ri. $ede palmos como se medisse a perna de 5isela. ,m tempo. )

    (REVERSÃO DE LUZ SOBRE ELE. TEMPO PRESENTE)ELA ( Como se estivesse emendando o que dizia )

    - ... e eu )urei que não ia discutir sobre isso, )urei isso.

    ELE — or causa de @isela. /uro. /uro. *omo você acredita? Não tenho nada...ELA

    —.. não quero saber, não quero...ELE

    — ... meu amor, amor, $or causa disso? Não, amor, meu amor...(BEIJA-A. SEGURA-A. ELA SE AFASTA. ELE A APERTA)

    ELA — % bom você não ter nada com a #o(a da *a$a, 1 melhor, ela anda desarvorada atrás do

    Silson 7ima não sei o que, aquele ra$az, 1 casado tamb1m, homem belBssimo. &ocê conhece ele?ELE

    — #ais ou menos. Ouve, eu..ELA

    — . . . que ela $ára o carro dela na $orta do $r1dio dele, $assa a noite ali, dorme no carro,sete da manhã está lá, oito...ELE

    —. . . não sei, não 1 verdade, não..ELA

    —. . . 1 verdade..ELE

    —... não sei, não interessa, ouve...ELA

    — .. . eu sei, se sabe de tudo, 1 verdade sim...ELE

    —. .. está bem, meu amor...

    ELA — ... ela está a$aiConada $or esse ra$az, tentou se matar..

    ELE — . . . esse menino 1 que $arece que não sai da $orta da casa dela.( Ela come a a rir ) . . .

    que 1 um viciado.. .( Ela ri mais ) @isela teve um caso com ele e a"ora o"e como o diabo da cruz...( Ela ri mais )

    ELA — 0oi assim que a #o(a da *a$a te disse?ELE

    — ára com isso.ELA

    — ! #o(a da *a$a o"e como o diabo da cruz, 1?ELE

    — /á disse $ra $arar, não disse? Não interessa.ELA

    — Ele $ensa que o mundo tem esconderi)os, olha, tem ante$aros: #e alaram sabe o quê?Que de você ela s- quer mesmo 1 as ca$as das revistas.

    ELE — Não se)a assim, que coisa mesquinha e.ELA

    TU

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    — Não sou eu, meu amor, disseram, disseram que você 1 corno, que você 1 corno.ELE

    — &ai, $or avor, $or avor.ELA

    — *orno, chi res, você 1 corno:ELE

    — omba, $omba.ELA — *omo o diabo da cruz, 1, conta de novo...

    ELE — elo amor de Deus:

    ELA —. . . o"e como o diabo da cruz de você, de você:

    ELE ( Segura-a forte ) — Quer que eu mostre as cartas de @isela? Quer? 2m$lorando $or mim? Descrevendo o

    cor$o dela, hein, como se estivesse na cama comi"o?( +alam meio #untos )ELA

    — Ela sai com todo mundo, aulinho de !lmeida, esse Silson, aquele ator ami"o seu,abino, 3ra"uilha !berta, não saiu com 3ra"uilha !berta.. .( Em determinado momento Ela

    come a a dizer 4p"ra( p"ra6 ) ELE

    — Estou nua $e"ando meu $eito $equeno que cabe inteiro na sua mão, no meu $eito a"ora,quente como se osse me detonar, eu osse eC$lodir de amor, vem, minha coCa, meu vestido ro(aminha coCa, ando na rua, meu vestido ro(ando minha coCa sem aná"ua $ra $ensar em você, meeCcitar, at1 ter sede, a "ar"anta seca $ensando em você..ELA

    — ára, meu amor, $ára. ára.( Se a&ra am ) ( Revers o de luz. 0lash6bac8 ) ( 0an am )ELA

    — +em "ente demais olhando, olha.( Ele ri ) ELE

    — Que você está dan(ando?ELA

    — Eu, valsa.

    ELE — +amb1m vou dan(ar valsa, então.( /alsam ) ( Revers o e luz. Tempo presente )

    (OS DOIS ABRA$ADOS. LONGA PAUSA)ELA

    — ! "ente vai acordar as crian(as.ELE — %.( !onga pausa ) +chau.( Ela sorri. Ele d" uns passos ) Quer que eu durma na sala?

    ELA — Não.. . vou arrumar um $ouco isso e vou deitar...( Ele sai. Ela arruma coisas( cinzeiros(

    despe#a cinza( guarda a garrafa de 7)is89. ) ( $uito &ai'o entra o $la>6bac8da praia: 4/em( vem*: Ele volta. Ela o ol)a. Sorriem. Tempo. Ela mostra um cinzeiro: ) Olha, eu com$rei num bazar caindoaos $eda(os, velho.. . um conto e duzentos...ELE ( E'amina )

    — % cristal?ELA

    — !cho que 1, o velhinho queria s- um conto e quinhentos, iquei $echinchando uma horao velhinho, coitado. . . &ale mais.( Sorriem. Ele vai para uma #anela ) 0oi o "overnador $essoalmente quem alou com você?

    TT

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    ELE — %.

    ELA — Ke aquele teu terno escocês.

    ELE — Não 1 melhor um escuro?

    ELA — Oito horas da manhã não 1 hora de encontrar "overnador.ELE

    — 4ora de verdureiro.ELA

    — Ele quer te nomear o quê?ELE

    — . . . $arece que o car"o de demJnio ainda está va"o.. .( !ongo sil2ncio. Ela vai até a #anela. Tempo )ELA

    — Que navio será aquele, está vendo?ELE

    — resos $olBticos venezuelanos. . .( Ela ri )ELA

    —. . . 1... está bem $esado...ELE

    — ... então 1 $ara"uaio. . . $reso $olBtico $ara"uaio.. .( Riem )(REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)

    (OS DOIS NA MESMA POSI$ÃO. SILÊNCIO)ELA

    — ortela $ediu mesmo demissão da revista?ELE

    — %.ELA

    — 3andeira essoa aceitou?ELE

    — !ceitou. ( !onga pausa )ELA

    — 0oi $orque cortaram aquelas duas re$orta"ens dele?ELE

    — %.( Pausa )ELA

    — 3andeira vai continuar cortando re$orta"em?ELE — 2m$ortou aquelas máquinas novas, muito dinheiro, que não tem $ra $oder $a"ar, a

    revista não $ublica de a"ora em diante determinadas coisas...ELA

    — ortela $erdeu a indeniza(ão?( Ele faz que sim ) *ortaram tamb1m aquela sua 5ltimare$orta"em mesmo?( Ele faz que sim ) &ocê vai sair?ELE

    — Não.ELA

    — E o )ornal que vocês iam azer?

    ELE — &amos azer.ELA

    T9

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    — Dá )eito?( Ele faz que sim ) Que você tem?ELE

    — Dar uma $orrada no 3andeira essoa.( Tempo )(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)

    ELE — &ou montar uma rota de navio $ra $reso $olBtico. Encho a burra, não encho?( Riem.

    ,m tempo ) Não tenho mais nada com a #o(a da *a$a... eu... eu iquei com ela acho que $or tuacausa...ELA

    — 2h, outro barco, mais $ara"uaio...( Tempo )ELE

    — &iu? !cusado não alando. 0az tem$o que não se ala aqui. Desde. . . três anos. &ocênunca me $erdoou o ne"-cio da !na #aura.

    (TEMPO)ELA

    — !ntes da !na #aura)á não se alava..ELE

    — or causa disso eu — 1, eu iquei com essa @isela, eu. . .( Tempo )ELA

    — G@isela, minha mulher s- ala em cinzeiro, bazar, velhinho, tábua, cisterna de sBtio, bezerro.H( Riem )ELE

    —3eba.ELA

    — abe? O bezerro morreu.ELE

    — 0ala s1rio comi"o.ELA

    — 1rio. O bezerro morreu.ELE

    — 0ala s1rio comi"o.( Revers o de luz. 0lash6bac8 ) ELA

    — 0ala s1rio comi"o.

    ELE — % isso. ortela não vem almo(ar ho)e aqui $orque acho que está de mal comi"o, deu

    uma descul$a es arra$ada.ELA

    — or quê?ELE — Quem entende o ortela? *ham$olion alou com ele e icou zaran"a e $eidão.

    ELA — 0ala s1rio.

    ELE — !ntes icou chateado que eu não $edi demissão da revista, a"ora que eu vou no )ornal

    de vez em quando, resmun"o, eu resmun"o? ELA ( Ri )

    — or avor, ala s1rio comi"o.(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)

    ELE — or avor, ala s1rio comi"o.ELA

    T

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    — #as era uma besteira, )á alamos isso, ele mesmo concordou que era, ui lá no )ornala)udar mas.ELA

    — 0icou no lu"ar dele na revista.ELE

    — Não queria, que 1 isso? 3andeira essoa insistiu seis meses comi"o, você não lembra

    que — $elo amor de Deus não ala comi"o dessa maneira:ELA — Então res$onde $ra ele.

    ELE — #as o que você está querendo? #as meu Deus: #as está descon iando de mim? 4an?

    /á não eC$liquei tudo, mas o que, han? Onde n-s estamos?(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)

    ELA — 0oi antes da !na #aura que a "ente deiCou de se alar. 0oi antes. !quela hist-ria do

    ortela eu tive medo de você.(REVERSÃO DE LUZ S PARA ELE. ELA CONTINUA NO PRESENTE. ELE FALA PARAUM LUGAR ONDE ELA ESTARIA)ELE

    — #as — ahn — não ica me olhando com essa cara como se eu sou $ersona"em deDostoievs8i: Não admito: O )ornal não $ode dar certo, )á eC$liquei, eC$liquei, eC$liquei, ui láa)udar mas não dá, com ortela não dá...ELA

    — +ive medo.( Repete isso )ELE

    — ortela está no )ornal $orque está "anhando com o romance sim, e o )ornal não $a"a,mas meu romance 1 uma merda, 1 uma merda, $ronto. +eu ordenado no #inist1rio 1 quê? odetodo mundo descon iar de mim, na minha casa não, que você $ensa que 1 $ra alar assim? 0icaquieta )á, ica quieta:

    (REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)ELA

    — 3ateu a $orta. 3ateu todas as $ortas que encontrou, oito dias batendo $ortas.ELE ( Se a&ra a nela )

    — 2sso oi az quatro anos, eu — $ra que... — eu... estava certo, tinha razão, vocêconcordou de$ois, não oi o $roblema do ortela, $ra que lembrar? — estou sentindo aquilo denovo, eu tamb1m não tinha certeza, $recisava de você e você. . . o seu rancor, eu tinha razão, vocêconcordou de$ois. . . andava na rua como se tivesse uma cruz na cara, cruz na alma. . . )usto naquelahora você soltou minha mão. . . 3andeira essoa não deiCou que eu me demitisse, queria sumir,

    acho que oi o 5nico que me a)udou. . eu sentava nesta sala, você $assava...(REVERSÃO DE LUZ S PARA ELA. ELA PASSA)ELE

    — . . . não me olhava.. .( Ela passa ) #e olha, me olha. . .( Ela passa de novo. Ele ficaol)ando. Ela volta a passar. Ela fala em m mica. Ele diz o que ela est" falando ) G*ustodinhotele onou $ra você do 3anco, que tem uma re$orta"em. . .G( Ela passa. Ele fala com a imagem delaque continua a passar de um lado para o outro. 0e vez em quando diz uma coisa ) #enina. #enina.#e olha.. . EC$lico de novo, eu sei, bati $orta, vamos ver se eu errei, mas me mostra antes quecon ia em mim... con ia em mim...( Ela p"ra. +az m mica de falar de novo ) G! que horas você vem )antar ho)e? &ou che"ar tarde que saindo do #inist1rio vou( Ela volta a passar ) #e olha. . . meolha

    (REVERSÃO DE LUZ S PARA ELA. TEMPO PRESENTE)(OS DOIS PARADOS. ELA DELICADAMENTE PASSA A MÃO NO SEU ROSTO. BEIJA-O)ELA

    TL

  • 8/19/2019 Mão na luva

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    — !B você trouCe as rosas.ELE ( Sorri )

    — O loreiro me via, s- altava chorar de ale"ria.ELA

    — =osas de manhã, rosas quando voltava $ara o )antar com rosas...( Revers o de luz paraos dois. 0lash6bac8 )

    (MAS ELA CONTINUA NA POSI$ÃO DO TEMPO PRESENTE. S ELE SE MOVIMENTA NOFLASH-BACK ELE SAI E TRAZ ROSAS)ELA

    — =osas quando eu acordava.. .( Ele mima que fala. Ela fala o que ele est" dizendo )G erdoe, meu amor, eu ui muito violento, con esso estou con uso( Ele sai. Traz mais rosas ) =osas brancas, lindas. !marelas. &ocê sem$re teve muito bom "osto, sem$re.( Ele continua trazendorosas. 1s &ra os dela est o c)eios de flores ) Eu queria você não as rosas. &ocê in"ia que nãoli"ava que seu romance não tinha eito sucesso, rindo dos crBticos.( Ele mima que fala de novo )G erdão, amor, estou con uso. . .G( Ele sai. /ai &uscar rosas ) &ocê não queria mais olho no olho. %isso? #eu silêncio você quer? %. #as meu amor eu me sinto mal. . .( Ele parado( ol)ando para ela )% isso que ele quer? Ele deve ter razão. ortela 1 tão. . . reciso que ele tenha razão.( 1l)a para ele.Toma posi o. Sorri. Agora contracena com ele no passado ) uCa, meu amor, que rosa linda, quecoisa tão vermelha, que linda. erdão, seu bobo, não sei, iquei $ateta com essa sua bri"a com o

    ortela e — mas que rosa linda você. .. te amo, te amo. . .( Se a&ra am. 0an am. Ela carregada derosas )

    ELE — Que você está dan(ando?

    ELA — Eu, valsa.

    ELE — +amb1m vou dan(ar valsa, então.( Riem. /alsam. Riem cada vez mais ) Que você está

    dan(ando?ELA

    — Eu, valsa.ELE

    — Que você está dan(ando?ELA

    — Eu, valsa.( Ela sai com suas rosas. Ele continua dan ando sozin)o( rindo. )(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)

    ELA — !B você me eC$licou tudo de$ois das rosas. Não devia ter $erdido, sabe? &erdade, a

    "ente não deve entre"ar, mesmo que se)a melhor...( Revers o de luz s3 para ele )(ELE SE SENTA COMO SE ESTIVESSE FALANDO COM ELA SENTADA NA SUA FRENTE. ELA FICA NA LUZ DO TEMPO PRESENTE, DE P!)ELE

    — O ortela, eu, o andoval e o #ilton

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    — 7embrava e lembrava que o ortela cansava de dizer Gesse or(amento nem =oc8 eller,assim não vai sair nada, ica no $a$elH.ELE

    — Eu e o #ilton izemos, você sabe disso tudo, está ouvindo?( +az como quem d" um&ei#o nela ) +e amo muito. 7embra as noites que eu e o #ilton $assamos aqui, você ez ca 1. .ELA

    — 'ma noite azia o $lano do )ornal, outra noite com aulinho de !lmeida, *ustodinho,vamos na EmbaiCada da 2tália, tem um )antar na Esso, vamos na casa do re$resentante da*ol5mbia.ELE

    — O 3andeira essoa — sabe como 1 o 3andeira — encasquetou de com$rar aquelasmáquinas nos Estados 'nidos, Gmonto o melhor $arque "rá ico da !m1rica 7atina, $orque monto, $orque imH, com$rou as máquinas sem dinheiro — $a"a uma $arte em dinheiro, $arte em silêncio.ELA

    — 0az quase cinco anos, tem ainda três máquinas que nem usou, você sabia, dizia $roortela, um comBcio os dois, $ro 3andeira essoa dizia que era isso mesmo, sensacional...

    ELE ( +alando com ela imagin"ria ainda. Enquanto ele fala( ela vem e senta. Ele termina falandodiretamente com ela )

    — !B o 3andeira come(ou a cortar re$orta"em. ortela resolveu sair, estava terminando oromance, )á não estava uncionando muito bem na che ia, assoberbado, a$roveitou quis sair, aBresolveu que n-s todos tBnhamos que sair. Estava tudo combinado $ra daB a um ano. andoval oiatras dele, eu e o #ilton $ulamos. O andoval, viu ontem? &eio $edir $ra voltar $ra revista, que estásem dinheiro, a mulher imensa, o )ornal não $a"a. 0oi isso. 0ui lá a)udar no )ornal, o que eu $odia,

    ortela me olha do Olim$o, aB escreveu aquilo.. . 0oi isso? Não oi?ELA

    — *laro. erdão. erdoa.ELE ( ei#a-a( terno )

    — ode acontecer tudo comi"o, tudo menos você $erder a con ian(a em mim.ELA

    — Não.ELE

    — #ão na luva?ELA

    — 4ein?( Ele a &ei#a( delicado. ) (REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)

    (UM TEMPO LONGO. ELE A BEIJA, DELICADO)ELE

    — #ão na luva.

    ELA — 4ein?

    ELE ( Tempo. Ri ) — *omo era a *laudinha quando azia $i$i?

    ELA ( Ri muito. ;mita crian a &atendo com a m o no c) o( num c) o mol)ado de pipi. 0epois passa no rosto )

    — i$i. i$i.( Riem )ELE

    — Dá um bei)o no titio.( Ela &ei#a-o como crian a. Ele a &ei#a como crian a. Riem )ELA ( Passando a m o no c) o e no rosto dele )

    — a$a. i$i. i$i.( Riem muito )ELE ( Passa a m o no rosto dela ) — i$i. i$i.( Se sorriem( ternos ) Não oi o caso do ortela, não, aquilo oi alta de treino

    TP

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    nosso um com o outro. ! "ente icou em lua de mel de$ois...ELA

    — /á era di erente.ELE

    — e divertiu tanto, ria, ria, tão linda, linda de ser esma"ada. #ãe.ELA

    — Eu estava achando at1 bom, mais ácil. . . Não era mais com or(a, olho no olho... #asnão 1 mais ácil, não.ELE

    — 0oi o nosso melhor ano. i$i. i$i.( Riem ) DaB, !na #aura.( Revers o de luz. 0lash6 bac8 )ELE

    — Olha, eu estou terrivelmente a$aiConado $or outra mulher.( Revers o de luz. Tempo presente )ELA

    — Não oi ácil, não.(REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)

    ELE — Olha, eu estou terrivelmente a$aiConado $or outra mulher.( Revers o de luz. Tempo

    presente )ELA

    — *láudia tinha o quê? Dois anos, #arcinho tinha acabado de nascer.(REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)

    ELE — Olha, eu estou terrivelmente a$aiConado $or outra mulher.( Revers o de luz. Tempo

    presente )ELE

    — &ocê nunca me $erdoou.ELA

    — Que raiva me deu se$arar você daquela mulher, que raiva, você $ensava que era $or minha causa, era $or você — aquela vaca. &ou embora, como? eu $ensava — com crian(a? olta?*omo? &ocê sorrindo su$erior das minhas mesquinharias, não sair de casa, me en eitava,alcacho ra, a vaca:ELE

    — 0oi !na #aura, sim.ELA

    — ensou que era $or $aiCão que eu azia isso $or você? Era $or hi"iene:ELE

    — #eu amor, isso acabou, vamos.ELA — #e olhavam com cara de coitada, Gcomoé que a" enta isso não seiH, todo mundo sabia,

    o $obre homem condenado a des$ertar $aiCão: Outros diziamI G$or que ela não deiCa ele ser eliz?HE eu não $odia dizerI 1 uma vaca, entende? em$re a mo(a da moda? &ocê 1 um leviano, não sabeescrever romance az ic(ão de você mesmo, que raiva, tinha de chorar )unto, $er"untar dela, ouvir con idência, ah eu.ELE

    — Eu "ostei muito de !na #aura, de verdade.ELA

    — @ostou, "ostou, você não tem tem$o de "ostar de nin"u1m que tem de $assar o

    uni orme que você usa o tem$o todo, tem que $assar o uni orme de realizado que você usa e...ELE — li isso que você não a" enta em mim, não 1? Não so ro, não ran)o, nem "emo, minha

    T

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    19/40

    tranq ilidade su oca, n1? Quer que eu coma vidro e...ELA

    — Eu "ostei, eué que "ostei, eu sim. 'm ano de$ois, em silêncio, quieta, sem nin"u1m $recisar saber, era $ra mim e $ra ele, não 1 $ros outros, eu iquei a$aiConada, eu...ELE

    —. . . $or quem? .

    ELA — . . . $or quem, $or quem, claro, essa 1 sua $rimeira $er"unta, $or quem, $or quem, $or

    quem...ELE

    —... $or quem?...ELA

    — . . . mundo 1 corrida de cavalo, nãoé< não...ELE

    —. . . $or quem... $or...ELA

    — . . . que interessa a"ora? #as...ELE

    — . . . diz, quero ver, $or quem? que.ELA

    — . . . *arlos 0eli$eELE

    — . . . ortela? o

    ELA — . . . *arlos 0eli$e da ilva ortela. . . *ar...

    ELE — . . . você teve al"uma coisa com ele?( Ela ri ) &ocê teve al"uma coisa com ortela?

    Não, ala a"ora, ah, não, ala, tem de dizer, temELA

    — . . . seis meses, todas as noites, todos os dias, sem$re, sem$re que ele me chamava eu iadormir com ele, seis meses. . .( Ele d" um tapa nela ) *arlos 0eli$e da ilva ortela.( 1utro tapa )ELE

    — uta.( Ela ri ) ára com isso, hist1rica.( ate ) uta. . .( ate ) Eu contei tudo da !na#aura. !na #aura era uma mulher: &iva, entende? &iva: &ocê. . . sua . . . DeiCei ela $or você. . .( Ela ti Ele &ate ) 4ist1rica. . sai daqui. . . vai sair )á sim, a$anha suas coisas amanhã, de$ois deamanhã sem eu estar aqui, vem escondida, sai )á. . .( Empurra. Ela come a a se de&ater. Ele a

    empurra )ELA — &ocê acorda as crian(as, $or avor, as crian(as.

    ELE ( Empurra-a ) — uta. uta.

    ELA — elo amor de Deus, você me machuca.

    ELE — #achuco. #achuco. ( Ele empurra. Ela se de&ate. ,m tempo. 1s dois se a&ra am forte.

    ei#am-se violentamente. / o se agac)ando até o c) o. $eio c)oram. 1s dois deitam no c) o.

    C)oram e se &ei#am ) ( Revers o de luz. 0lash6bac8 )(OS DOIS CANTAM DESENCONTRADOS)ELE

    TR

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    — 2rerê. olta teu canto. *anta mais. *anta mais. No sertão do *ariri.ELA

    — 2rerê. olta teu canto. *anta mais. *anta #ais.( ,m tempo. Cantam desencontrados )(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)

    (OS DOIS CHORAM E SE BEIJAM. ELE COME$A A ABRIR A BLUSA DELA)ELE

    — #eu amor. #eu amor.ELA — !mor. !mor. ( ,m tempo. 3lac86out)

    TERMINA O PRIMEIRO ATO

    SEGUNDO ATOSEGUNDO ATO

    (ABRE A CENA. OS DOIS ESTÃO DEITADOS NO CHÃO, LADO A LADO. ELA DE OLHOS FECHADOS. UM LONGO E TEMO TEMPO. PLA -BACK DE "IRERÊ#, MUITO BAI O,UM PE%UENO TEMPO. SAI O PLA -BACK.)ELA

    — #eu Deus, como oi bom. . .( !ongo tempo ) !mor.

    ELE — !mor. . . ( Se d o as m os )ELA

    — 4á quanto tem$o não era tão bom, tanto...ELE ( Canta )

    — +ão lon"e, de mim distante. Onde irá, onde irá meu $ensamento?( Sorriem macio ) % $orque você tem lábio ino demais, $or isso, $ele seca, nariz de rainha má, $or isso, s- sua cabe(a 1 bonita assim assim, e seus olhos, $or isso...ELA

    — ! ma(ã do meu rosto 1 linda, nin"u1m tem aqui em cima dos olhos, quem tem a ma(ãem cima dos olhos?( Eles riem macio )

    ELE ( Come a a cantar. A partir do segundo verso ela acompan)a. Rindo ) — !marra amarra, $e"a $e"a, emenda emenda, *aiCeiro venha $ra venda que o matutoquer com$rar.

    9U

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    OS DOIS ( $eio desencontrados — $eio cantando( meio falando ) — #estre do o"o toca o o"o na "iranda

    #ete os $1s, sarta de banda nos aris taratatá.(RIEM MACIO. UM TEMPO. SE OLHAM. ELE PASSA A MÃO NO CHÃO E DEPOIS NACARA DELA)ELE

    — a$a. i$i. i$i.( Riem. ,m passa a m o no rosto do outro ) ELA — i$i. i$i.( ,m tempo grande )

    (REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)ELA

    — #o(o, eu queria subir $ro sBtio ho)e mais tarde, daB não vou no )antar — 1 ruimdesolador $ra você?ELE

    — !h, que $ena, mas eu subo amanhã...

    ELA — Que horas? &ocê não tem de encontrar com aquele homem — nãoé do "overno de

    @oiás? — que quer uma re$orta"em,é @oiás ou #ato @rosso?ELE

    — Nem eu sei — oi bom você lembrar —, o que aquele "overnador ez? Nada. &ou botar oto"ra ia de boi, tome boi...

    ELA — Ke tamb1m o bezerro. obe de$ois de amanhã, nada de icar $or aB com @iselas, eu sei.

    ELE — Olha a boba.

    ELA — Quero ver se $onho $iso no chão, sabe? Que você acha, vamos verI cer mica ou tábua?

    *er mica, se or, sem encerar, que ica mais bonito...ELE

    — *er mica ou tábua, cer mica ou tábua, tábua:ELA

    — +ábua, 1 sim, eu $re iro, sabe — não sei, mais bonito, mais quente, ica mais canto, nãoica? Não taco, tábua inteira correndo toda a sala, estirada, a !nita está arre$endidBssima de ter

    $osto cer mica que ela $Js.ELE

    — #as com calor cer mica 1 melhor quando ica quente, não 1?ELA

    — !h — ah, isso que eu $enso, vou — tamb1m vou ver com o car$inteiro, vou ver o $re(o, a "ente decide mais quando você che"ar lá, mas eu acho tábua melhor mesmo, liCada, comocasa de &ila =ica, +omaz !ntJnio @onza"a, assim incon idência, bem lar"a assim, vou ver direito...ELE

    — 2ncon idência, 2ncon idência.( ,m sil2ncio. Sorriem ) ELA

    — !quele seu tro$ical marrom )á che"ou do al aiate, mandei a$ertar a cal(a, icou umdand>, com$rei uma camisa azul $ra ele, azul mineiro, de$ois você vê.ELE

    — Obri"ado, ve)o, claro, -timo.ELA

    — Não esquece o im$osto $redial at1 amanhã.( $ostra a ca&e a ) !"enda. ( Ri. Sai )(REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE)(OS DOIS NO CHÃO, SEM FALAR, RINDO, PASSANDO PIPI UM NA CARA DO OUTRO,

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    #an"ue...HELA

    — Daqui a $ouco ele tele onaI G!nita ez um $ato lindo, vem cá comerH.ELE

    — %, mas ho)e )á marquei com o andoval, 7ouren(o, =aimundo, $arece que vêm todos oscomunas, vamos ver esse ne"-cio da editora duma vez, não a" ento mais, come(o de novo, $onho

    tamanco mas não a" ento mais o =as$utin do 7ar"o da *arioca, não:ELA — !h, você não me avisou que eles vinham, mandei a em$re"ada embora... Dou sus$iro

    $ra eles, essa em$re"ada s- az sus$iro, )á viu?... 'm es$a"uete eu a(o, A bolonhesa ou ai su"o, A bolonhesa ou ai su"o...( +ala enquanto sai ) V bolonhesa...

    (REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE) (OS DOIS PARADOS)ELE

    — 0oi a mulher que mais amei, quem sabe acho que a 5nica...( !onga pausa ) &ocês iamem hotel?ELA ( !onga pausa )

    — Ele "ostava... $or causa do barulho dos outros...( Ele d" o mesmo tapa nela. !onga pausa )ELE

    — &ocê estava com aquele hist1rico em hotel, sabe o que eu estava azendo? *rBtico dearte, um $or um, atrás deles $ra alar bem daquela sua eC$osi(ão ridBcula, eC$osi(ão de merda quevocê encasquetou, que o ortela deve ter metido na sua cabe(a: De remorso eu azia, $or causa da!na #aura, $ra te azer bem, você em hotel? Eu alando com.. .? % $uta? &ocê em hotel? % $uta?ELA

    6 %.ELE

    — DeiCei !na #aura $or você, ras"ado, $or sua causa, Deus do c1u, Deus do c1u, nuncamais quero ter remorso, voltei $ra você $or quê? $ra quem?( Come a a dar pancadas contra umm3vel Ela em sil2ncio ) EC$osi(ão de merda. EC$osi(ão de merda. EC$osi(ão de merda.( 0" uma=ltima e violenta pancada. $ac)uca muito a $ o ) Onde ele está a"ora? *om a bunda no #1Cico, a $rimeira coisa que ez oi $Jr a bunda na EmbaiCada do #1Cico, 1 ácil ser antástico, antástico 1

    antástico?( !onga pausa )ELA

    — Que você tem na mão?ELE

    — . . . interessaELA

    — Que 1?

    ELE — /á disse que não interessa, estou re$etindo que não interessa não estou? Eu iqueitartamudo?

    (REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)ELA

    — !h, você disse que ia ser um esc ndalo a re$orta"em $ra 7i"ht se saBsse — eu li, nãoachei, icou discreto, não achei assim.ELE

    — +ive de azer eu mesmo, senão saia aquele ditirambo. 3andeira essoa altou me bei)ar na boca de lBn"ua, G$ublica $elo amor de Deus estou sem dinheiro, $elo amor do DiaboH.ELA

    — G elo amor do DiaboH 1 en"ra(ado.( Sorriem. Pausa ligeira ) O andoval, o 7ouren(otele onaram o dia inteiro que querem azer outra reunião $ara o ne"-cio da editora.ELE

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    — *hi, $reciso arran)ar uma noite, eles alam tanto, $arará $arará, não se combina nada,tem um tal de alionov, querem $ublicar um livro do alionov, ah, não a" ento não.ELA

    — Ei, sabe que o car$inteiro, um ilho duma mãe, botou tábua de se"unda no sBtio, estãoran"endo que — me a)uda a alar com o car$inteiro, que ele sem$re usa cha$1u =amenzoni, tenhomedo.. .( Sorriem ) ( Revers o de luz. Tempo presente )

    (ELA ESTÁ FAZENDO UMA BANDAGEM NA MÃO DELE. TEMPO LONGO)ELA — D-i?( Ele faz que n o com algum esfor o ) &ai na audiência amanhã assim?

    ELE — E. 0ica eCtrava"ante.( !onga pausa ) O que o ortela te dizia?( Ela o ol)a. Sorri. +ica

    séria. Tempo )ELA

    — G*omo vai, acho que vai chover, esse $er ume 1 *abochard?H( Pequeno tempo ) G&ocê 1muito delicada demais, se enreda em tudo que te $edem, cuidado, um )á morreu na cruz, outro W$ar delicatesse ) ai $erdu ma vie . . . E uma es$1cie de aristocracia. .. *uidado com o rancor que vemde$oisH. . . #e chamava de !uto da *om$adecida.( Continua fazendo a &andagem. !ongo sil2ncio.

    Enorme sil2ncio )ELE

    — Que ele dizia de mim?( 1utra longa pausa )ELA

    — . . . que no &ietnã os vietcon"s construBram uma estrada de erro de cinq entaquilJmetros, ele me contou, e cobriram com bambu. *inq enta quilJmetros cobertos de bambu, queo trem $assava embaiCo escondido. .( Tempo ) Está doendo?ELE

    — Não.ELA

    — Está, sim. 2nchou muito, olha.( Tempo ) ELE

    — Não entendi.ELA

    — 2sso. . .( Tempo longo ) . . que a elicidade não 1 ser eliz, 1 querer ser eliz. . . então elescobriram cinq enta quilJmetros com bambu, acho que 1 isso que ele achava de você, me disse quevocê era a $essoa mais inteli"ente que ele conheceu e mais com talento $ra ser inteli"ente, 1 sim,que ele era s- mais eC$editoI Gestou sem$re $re$arado e matulãoH, ele diz ia, Gdou sem$re um )eitoque amanhã eu vou caber no )eito que ele vier, venho com ele siamêsH — que você, não, que vocêqueria ho)e s-, e deva"ar assim deva"ar a "ente come(a a não "ostar do uturo, não quer o diase"uinte, $ nico do dia se"uinte, de dormir... que você via)ava no banco que senta de costas. . .( ,m

    longo tempo ) (REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK)(ELE FAZ TODOS ESSESFLASH-BACKS DE MÃO ENFAI ADA MESMO)ELE

    — !h, não, está lá o aulinho de !lmeida que trabalha, 1 claro, em todos os lu"ares, 1claro, #ilton

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    — Que você, não, que você queria ho)e s-, e deva"ar assim deva"ar a "ente come(a a não"ostar do uturo, não quer o dia se"uinte, $ nico do dia se"uinte, de dormir. . . que você via)ava no banco que senta de costas. . .( !ongo sil2ncio. Ele levanta. Anda um pouco( procura se espregui ar com naturalidade. Senta de costas para ela. ,m tempo. P>e a m o na ca&e a sem estardal)a o.

    Parado. ,m tempo grande. Ela vai para ele( senta-se no &ra o da poltrona. +icam parados umlongo tempo. la>6bac8Ientra &ai'o a cena do 4;rer2 G,m pequeno tempo. Sai o $la>.bac8 ) Não

    ica assim. . . &ocê sem$re $rimeiro machuca. .. de$ois se machuca. . .( !ongo tempo. Ele com am o na ca&e a. Ela mansa come a a c)orar. C)ora mais. C)ora forte( sentido )ELE

    — ára com isso. . . $ára com isso. ára de ter $ena de mim, o quê? Não quero nada seu, $ára. . .( Sacode-a ) #as vai $ra lá, não cola, sai de $erto, CJ, CJ...ELA

    — #eu Deus, ha meu Deus...ELE

    — #as $or que você icou comi"o, hein? Não $edi, $edi? Não $edi, eu...ELA

    — #e solta...ELE

    — Quieta ali no seu canto eito um bicho, um coelho de olho vermelho ali no canto,équente a casa, nãoé< Os m-veis, hein? que m-veis, não são não? a vista, han, esse mar, J$a: em

    alar nada, da @esta$o, você era minha @esta$o, 0ritz? 0ritz.ELA

    — #e deiCa, $or avor..ELE

    — O chuveiroé bom, não? ducha ria e quente, rio e quente, e a varanda? $ra tomar banhode sol nua, at1 me eCcita, sabe? com um co$o de ernod,é< o massa"ista? calada no seu canto, umcoelho, as tábuas do sBtio, sabe o que você me deu, 0ritz? as tábuas do sBtio, mais nada..

    (REVERSÃO DE LUZ S PARA ELA)(ELE FICA NO TEMPO PRESENTE, FALANDO EM CIMA DA FALA DELA, %UE ! DITA MAIS BAI O. NO MEIO DA FALA, ELE CHEGA A RESPONDER COMO RESPONDEU NACENA PASSADA, MAS O TEMPO DA RESPOSTA NÃO COINCIDE COM O TEMPO DA PERGUNTA. FALAM JUNTOS)ELA

    — Não taco, tábua inteira correndo toda a sala, estirada, a !nita está arre$endidBssima deter $osto cer mica que ela $Js. *omo casa de &ila =ica, +omaz !ntJnio @onza"a. assim2ncon idência, bem lar"a assim, vou ver direito.( Repete isso até ele come ar a dizer 4p"ra comisso6( quando ent o ela falar" mais alto a sua fala )ELE

    — e eu soubesse que você estava me es$iando, essa est-ria imbecil de t5nel de bambu detrem de vietcon" que se odam, eu dizia G ora, mo(a, ora daquiH, cer mica ou tábua, cer mica outábua, tábua, G ora daquiH eu ia dizer, estou no mundo, @race , lá, sem sinal de mão e contra6mão, sem "uarda de tr nsito, /une !ll>son, lá não tem, com a r1dea a$ertada na boca, me ras"ou olábio in erior aqui, o bridão aqui, o lábio in erior. 2ncon idência, incon idência, $ára com isso, $áracom isso:( Ela est" repetindo a mesma fala mais alto ) ára com isso:(REVERSÃO DE LUZ PARA ELA. TEMPO PRESENTE) (ELA ESTÁ PARADA. %UIETA)ELE

    — ára com isso, eu devia dizer, $ára:.. . *oelho com a sua cenoura, out: lam: or quevocê não alava, 3elinda?ELA

    — Eu alava.ELE — Quero saber $or que você não alava, 0ritz 3elinda?

    9L

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    ELA — Era s- o que eu azia o tem$o todoI alar, alar, tinha medo do silêncio, de re$ente $ode

    ter um silêncio, alava, alava o que vinha.(REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK S PARA ELE)

    ELE — Não sou #ilton

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    —. ..o amor... ELE

    — 7evai6o at1 o im: !t1 o desconhecido.ELA

    —. . . levai6o.

    ELE — O desconhecido 1 a terra do homem:( Se &ei#am ) ( Revers o de luz. Tempo presente )(O PLAY-BACK PÁRA DE ESTALO. OS DOIS NA POSI$ÃO %UE ESTAVAM ANTES)ELE

    — #as o que você queria de mim? de uni orme branco? um Nazareno, um 2maculado*oncei(ão? Estou su)o, estou assim, aqui, me mancharam aqui, aqui, $uiu, $uiu, que se vai azer?&ocê não 1 ca$az da sua vida, quer viver a minha? &iver $or dois? Nin"u1m esca$a assim, entende? Não $osso me eCibir $ra você, não a(o circo, não sou mulher barbada, não sou você: Não souvocê: No mundo há uma eia batalha e.ELA

    — . . . muito eia, ortela icou no )ornal es$erando, te tele onava, você oi três vezes,sorriu, deu cinco id1ias lindas im$ossBveis e.ELE

    — . . . não vou dar satis a(ão de coisa que aconteceu há quatro anos, s1culos, vamos evenhamos, você )á discordou do ortela? 0ala aB: 0ica de olho es"azeado, morde o maCilar, vaisubir em cima de mim, vai me morder a car-tida, então eu vou dizer Gnão vou no )ornalH, isso 1 des6vario? *inco mil eCem$lares tirados A mão quase, e — Gsabe, ortela? @uttember" )á morreuH — iadizer isso $ra ele? 4ein? Discordo da linha do seu )ornal, não oi assim que se combinou:? GO

    indicato dos 0azedores de 3rioche ede em #ovimentada !ssembl1ia a Nacionaliza(ão do#in1rio 3rasileiroH. Não vou lá, não vou, sou vidrado em dar cor nas coisas, vidrado, mas quandotinha sete anos tomei uma vacina contra ti o aqui no rabo, olha a marca, não vou: /ornal $ra oitentae três $essoas, subiu $ara oitenta e sete. Eu nãoELA

    — . . . ácil assim, não — ah, que brioche? !h, assim? +inha mais coisa, e tem de dizer averdade mesmo que se)a $ra oitenta e.ELE

    — . . . que verdade, =osa de 7uCembur"o, quê? Eu discordava da linha daquele )ornal, nãocabe na sua cabe(a, assionária? Não...ELA

    — . . . qual 1 a linha que você concorda? Quem )á disse, na sua o$inião, al"uma coisarazoável sobre o mundo, quem? Não lembro de...ELE

    — . . . $J, entendi, entendi, quer que eu se)a lBder das 7i"as *am$onesas, não 1? ou ummar"inal amoso, o *ara de *avalo? cam$eão da travessia =io6Niter-i, que tal eu ser a #aria Esther 3ueno? Quando al"uma coisa neste $aBs oi resolvida com berro, "ente em$ilhando m-vel naesquina do Ouvidor, de barricada e #arselhesa, e — quando? Nunca: ortu"al criou o $aBs doche"a $ra cá, oi com isso que os ortelas acabaram, vieram de chicote na terra do so á: +em umac5$ula e o resto 1 icterBcia, deiCe o $ovo $ra lá um tem$o, sentado na cal(ada de marmita, na ila do2$ase, no #i"uel *outo es$erando va"a, d-i, mas deiCe um $ouco, acenderam a a"ulha olha no quedeu, a bunda na EmbaiCada do #1Cico e o resto 1 silêncio, 1, o resto 1 4amlet.ELA

    — Quer dizer que não $recisa de 3olBvar?ELE

    — Que 3olBvar, meu Deus, a =ua 3olBvar, que 3olBvar, minha mãe?ELA — Na 5ltima reunião que vocês izeram $ra azer a Editora, az um ano que vocês re5nem,

    9P

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    não teve reunião, que você ala o tem$o todo, sem$re, dessa vez, que altava um 3olBvar, G alta um3olBvar, andoval, me dêem um 3olBvar e eu levantarei o mundoH.

    (REVERSÃO DE LUZ.FLASH-BACK S PARA ELE)(ELA CONTINUA SENTADA NO TEMPO PRESENTE. DIZEM AS MESMAS COISAS. S%UE ELA FALA MAIS DEVAGAR. DIZ O %UE ELE DISSE NO TEMPO PASSADO. MAIS DEVAGAR. ELE FALA DEPRESSA)

    ELE ( Ela &em mais devagar e &ai'o ) - 'm *árdenas, andoval: Nem $e(o 7enin, 7ouren(o. *árdenas: &ocês $ro issionalizaram tudo e não têm mais lBder $orque alia intestino lá dentro remoendo at1 come(ar a dizer a voz de Deus, at1 dar 3olBvar, #arti, icar lá na c5$ula? +ira car"o daqui, $Ke ali, acolá,não, deiCa eu alar, quer mais his8>? 0alta sol, revolu(ão 1 no sol, camisa aberta, cavalo,man"ueira, len(o molhado no nariz, $orta de lo)a echando uma atrás da outra, $rrrrá, $rrrrá, que tal"ente $ublicar um livro G recisa6se de um 3olBvarH, "enial, a bio"ra ia desses caras todos? abequem $ode ilustrar o livro? como $ublica(ão es$anhola, $or baiCo da letra, eu tenho aqui, vem ver,es$eraa .

    (REVERSÃO DE LUZ. TEMPO PRESENTE PARA ELE TAMB!M)ELA

    —. . . alta sol, revolu(ão 1 no sol, cami...ELE

    — . . . &ocê vai se se$arar de mim $or causa do 3olBvar? omba, oi o 3olBvar: Eu $ensando que 1... — mas 1 o 3olBvar. Então está certo. &ocê tem um "ravador, 1? ez curso na *2!?

    abe o que eu sou? 'm homem sem talento $ra ser sozinho, $ronto. 'm racassado $ra ser sozinho.&ou azer o quê? 0icar desem$re"ado? *omo o =a ael, dois anos em biscate? *omo 7icBnio,!milcar, X1 oares, di"namente ora de tudo? Em com$anhia imobiliária, em$resa de $ublicidade, $orque se en"ole menos sa$o? Eu en rento. *omo 1? % assim? Que venha. Não $ode sair essare$orta"em? Não $ode. #as não sou ca$acho, não, não sou #ilton

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    6 %.ELE

    — e não osse assim muito trabalho eu $re eria que você osse a"ora. E muito trabalho?ELA

    6 Não.ELE

    — &ocê a$anha as crian(as outro dia.ELA — Não há d5vida.

    ELE — Quer que eu chame um táCi? reciso do carro amanhã.

    ELA — or avor.( Ela sai para dentro. Ele pega o telefone( disca. ,m tempo. % o ouve(

    desliga. ,m tempo. Ela volta com uma pequena valise )ELE

    — Nin"u1m atende.ELA

    — 0az mal, $e"o um lá embaiCo.ELE

    — *laro, essa hora 1 ácil.ELA

    — !t1 lo"o. ( /ai saindo( ele n o responde. Tempo ) ELE

    — Quem 1 o novo, hein? Descul$e a curiosidade.ELA

    — % um ra$az, $intor, "rá ico, você não conhece — araiva, conhece?ELE

    — /á ouvi alar, araiva, de barba, outro descontente.ELA

    — !o contrário, 1 um contente, talvez demais. Não sabe ainda que 1 assim.ELE

    — &ocê está a$aiConada $or ele?

    ELA — !cho que não sou mais ca$az.

    ELE — % um )ovem, não, bem mais mo(o que você, 1 amor materno?ELA

    — Deve ser.ELE — &ão morar )untos?

    ELA — 0ica desele"ante?

    ELE — elo menos a"ora $odia me $ou$ar.

    ELA — erá $ou$ado.

    ELE — !"rade(o muito.

    ELA — 2ma"ine.ELE

    9R

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    "ente $assou uma noite atravessando escombro, a"ora eu estou aqui você aB, olho no olho...ELA

    — erá?ELE

    — Descon iada, sem$re descon iada. Eu não quero ser assim, sabe? &ou me livrar disso.De noite eu $ensava, $enso, acendo ci"arro, você está dormindo, não sabia que você tinha

    $ercebido, entende? Então eu me a astei, bebi minha "asolina sozinho, você na varanda nua, uiicando lon"e. Eu $ensavaI nem $ra me $erceber ela serve? Estou aqui ras"ado no lábio in erior. . . Não era nada disso. Era s- dist ncia. Estou eliz que você sabe de tudo de mim. #ão na luva.ELA

    — 4ein?ELE

    — #ão na luva.ELA

    — 4ein?( Ele passa pipi no rosto dela. % o com tanto estardal)a o. Temo. Sorriem )

    ELE — 3om6dia. E você de novo. 3om6dia.

    ELA — 3om6dia.

    ELE ( Canta &em terno ) — e"a o $ato, a$ara o "ato 0ortunato

    Oi lê lê a$ara o "ato e bota o "ato no lu"ar !$ara a $i$a e roda a $i$a $i$a bamba..

    3om6dia, minha mulher. 3om6dia, minha mulher.( ei#a-a. Ela se dei'a &ei#ar. Pega amito dela( come a a rodar ) &ocê ainda me a" enta no corru$io?ELA

    — Não sei..ELE

    — &ai. . . vai. . .( Come a a rodar com ela ) +em $erna curta você, cot-, cot-. &ai. . .vai. . .( Ele corrupia mais forte. Ela se dei'a levar ) Quero ver.ELA

    — Quero ver.

    ELE — &ai cair lá no mar, hein?( Rodam. Ela se desequili&ra. Perde. Ele ri ) *onheceu, $a$uda?

    #equetre a. . . $eralvilha. . . bu arinheira. ebumbrada. . . $echisbeque. . 6 )i"a)o"a. . . boni rate. . .trocas e baldrocas... boi de cu branco. . 6( Ela ri cada vez mais. A cada palavra ele a &ei#a. Se

    &ei#am ) Quero te amar.ELA — +amb1m.

    ELE — Quero te amar.( / o descendo novamente para o c) o )

    ELA — +amb1m.( Ele a&re a &lusa dela. 3lac86out.)

    (PLA -BACK NO ESCURO REPETE AS PALAVRAS %UE ELE DISSE* ME%UETREFA. PERALVILHA. . . ETC. E OS RISOS. A LUZ ACENDE. ELA L+NGUIDA, ESTÁ DE COMBINA$ÃO, PARADA. O VESTIDO NA MÃO, COME$A A COLOCÁ-LO LENTAMENTE. ELE P'E A CAMISA. OS DOIS SE OLHAM FI OS.)

    ELE ( /ai para ela. ei#a-a ) — Descobri tudo, sabe? +enho tanta coisa na cabe(a, não sei onde come(o, um ro)ão naalma. *alma, calma, senta aqui. recisava a tem$estade, sabe? ! crise. abe? a elicidade a "ente

    T

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    tem obri"a(ão, tudo calado, tudo triste, aB então a "ente tem de ser eliz. +em de ter um casal eliz,mesmo que se)a um s-, eito $almeira em uracão da 0l-rida, se anunciando, está me ouvindo? Nãodiz que sim $or delicadeza.ELA

    — Não, estou.ELE

    — #e dá um bei)o.( ei#a ) De cabe(a $ra baiCo izeram, o amor ica lá no 5ltimo, ser elizlá no 5ltimo, antes vem casa $r-$ria, as desilusKes, a or(a $ra se desiludir, de$ois o quê?documentos em ordem, as taCas, de$ois um $orto se"uro, o #onte ascoal, de$ois se"urar aviolência que sua na "ente, onde vou nos eriados, de$ois a$roveitar, a$roveitar o que $uder, queestou cum$rindo os dois mil e dezessete e cinq enta mandamentos, me deiCa a$roveitar aqui Asoca$a, de$ois? de$ois sair do anonimato, ila, sala de es$era, u"ir da televisão, tenho que ver tele6visão sem$re, sem$re? de$ois, $or 5ltimo, vem o amorI $obre, marraio, amor 1 marraio.ELA

    — Quando tem, a "ente quer que ele resolva tudo, coitado.ELE

    — *oitado.ELA

    — !mor s- a" enta amor, mais nada, não 1 esconderi)o, não 1 alber"ue, $omada de ão3enedito...ELE

    — Então n-s vamos azer um "rande amor. Quer?ELA

    — Quero.ELE

    — !mor, um amor tranq ilo, a "ente ica com cara de #adona, está bem?( Ela faz que sim ) *ada "esto nosso ica marcado no ar, o su)eito $assa $or ali uma hora de$ois, está lá o "esto.ELA

    — em nenhuma a li(ão.ELE

    — Damos todas as "arantias $ra ele, a "ente az a editora, o dia todo azendo a editora,icamos aristocratas, s- se conversa com "ente viva...( Come a a dan ar com ela ) andoval.andoval 1 bom. 4á quanto tem$o não alo com =aimundo, o $onderado =aimundo. - "ente viva.

    ELA — -.

    ELE — &amos ao m1dico e ele costura minha $erna na sua, icamos siameses.

    ELA

    — !B não $ode dormir )unto, bei)ar na boca.ELE — Dormimos na rua, na esquina do Ouvidor, tiro a rou$a, deito no chão, bei)o seu $eito,

    ico em cima de você...ELA

    — +odo mundo olhando?( 0e vez em quando param de dan ar. Recome am )ELE

    — E. =ezando, maldizendo..ELA

    — Não $ode ter soberba. - uma vez $or ano a "ente dorme na =ua do Ouvidor. Não alomais de tábua.

    ELE — - uma vez $or ano a "ente vê onde tem de $Jr tábua. Escrevo livro, um livro $or diasobre como 1 o mundo, você az a $arte "rá ica, vou escrever um )ornal de oitenta e três $essoas.

    9

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    ELA — ! vizinha do U com$ra, ela 1 minha ami"a, vendo $ra mais "ente...

    ELE — 3andeira essoa eu queimo em $ra(a $5blica, a 7i"ht, "overnador de @oiás, todos os

    adidos de EmbaiCada, aulinho de !lmeida, #ilton

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    ELE — O que você quiser, s- tem dor de corno quem ama.

    ELA — E quem não ama. Os americanos tamb1m adoraram *uba, quando ela se libertou de$ois

    oi $ão e á"ua.ELE

    — Não az, eu 1 que estou livre, olha minha cara, deve estar com três olhos, sou eu denovo, $or avor, $or...ELA

    — Não az assim, amor, alta cinco minutos.ELE

    — #e a$roveita, me a$roveita, me.ELA

    —. . . alta cinco minutos, amor...ELE

    — . . . estou dizendo $or avor, não se)a covarde, não, $or avor, te amo, te amo. . . te $erdi? Então está errado eu conserto, te $erdi? Então errei, sua cora"em, essa $aciência, cascata,mudo a"ora.ELA

    — &ou azer uma com$ressa, inchou demais, dorme um $ouco que você tem audiência.ELE

    — Não vou na audiência.

    ELA — or avor.

    ELE — /á disse que não vou, $ode ir embora se quiser, não vou.

    ELA — &ocê trabalhou tanto $ra conse"uir isso.

    ELE — Disse que não vou.

    ELA — Não az assim, me sinto mal.

    ELE — Não vou, quero que esse "overnador se rale, se oda.

    ELA — Olha, amanhã você tem de ir no adido da 0ran(a e se alará sobre vinhos, tem a

    cam$anha do /oão em +eto, o que oi que che"ou, um cam$eão in"lês de $esca submarina?

    lembra, no sábado o @overnador da araBba vai no sBtio do 3andeira essoa, aulinho de !lmeidavai, *ustodinho, #ilton

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    tudo isso, ala a"ora não sei $orque, mudou três vezes os m-veis daqui, mudou tudo três vezes, sabequanto custa? N-s viemos )untos at1 onde a "ente che"ou, )untos, você tem de icar comi"o $ra sair )unto, esses vestidos loucos que você usa, hein? !"ora não vem comi"o, a cul$a 1 s- minha? 4ein,

    anta Yrsula, hein...ELA

    — ... altam cinco minutos, não az assim...

    ELE — . . . sou o melhor que tem $or aB que não desisti, eu sei de mim $elo menos, sei: !melhor revista 1 essa, sou res$eitado, se tivesse cha$1u era tudo de cha$1u na mão: &ocê veio )unto,não me deiCa, covarde: Quanto custa você? abe? me ras"aram no lábio in erior, aqui: ensouquanto custa al"uma vez o )ardim $ara o sBtio? +rês meses se metendo em casa de $lanta, quantocusta? Quanto custa você $oder dizer que vai embora, quanto? orque sou eu quem vai te sustentar,não 1 o menino, 1? % o menino?ELA

    — ára com isso.ELE ( Se agarra nela )

    — Estou $edindo seis meses, de$ois te dou o nirvana, lutão, te dou lutão, )uro, mea)uda..ELA

    — Não quero nada seu.ELE

    — Quer, quer. Quer que eu continue assim e você $arasita de mim, mas livre, não 1? Demãos lim$as? +em a minha que )á está acostumada a revolver bosta, não 1? tem.ELA

    — ai daB, sai daB.ELE

    — elo amor de Deus, entende? 0ica comi"o, o que 1 que eu vou...

    ELA — O que 1 que você vai dizer $ros outros?

    ELE — Não, não, não 1 nada disso.

    ELA — O queé que você vai dizer, como 1 que vai eC$licar?

    ELE — Nada disso, estou alando.

    ELA — G*omo 1 que vou eC$licar que aquela mulherzinha me deiCou? *omo 1...

    ELE — or avor.ELA

    — #e deiCa ir.ELE

    — Não.

    ELA — #e deiCa.

    ELE — Não sai. Não sai.

    ELA — &ou embora.ELE

    L

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    6 Dou $orrada em você.ELA

    — . . . vou embora...ELE

    —... não dá um $asso ora...ELA

    —... vou que vou...ELE —... te cubro de $orrada. . .( Ela pega a valise. 1s dois lutam )

    ELA —. . . deiCa...

    ELE —. . . )á disse que não sai, Blvia, não sai...

    ELA —. . . lar"a..

    ELE —. . .não vai viver com nin"u1m A minha custa...

    ELA —... no)o, no)o...

    ELE — . . . vai viver com o menininho, 1, você deve eCcitar o menininho. Ele deve ter a

    im$ressão que não eCiste nin"u1m com mais cora"em que você...ELA

    — . . . está com medo de icar sem mulher, tem a @isela, a !ntonieta, todas, @isela atendea $artir do meio dia.. .( Ele d" um tapa nela. Pega a valise. 1s dois &rigam ) #e deiCa...ELE

    — &ai tentar o canto do cisne, está muito velha, hein, muito ...ELA

    —. . . vou embora $orque te odeio, te odeio, te odeio 75cio...ELE

    — ... $ára com isso..ELA

    — . . . te odeio, 75cio aulo 0reitas.ELE

    —. . . você acorda as crian(as, os vizinhos...ELA

    — . . . odam6se, te detesto, detesto, odeio, raiva.

    ELE — . . . $ára com isso.ELA

    —. . . olha o que você ez de mim, vara verde, tremendo como vara ver..ELE

    — . . . cala a boca.

    ELA —. . . sabe que o 3andeira essoa tem um a$artamento no 7eme, no quinto6andar?

    ELE —. ..o quê...?

    ELA — ... no quinto andar, não sabe? abe. Esquina da =ua !nchieta, sabe sim.ELE

    M

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    — . . . o que 1 isso?ELA

    —. . . mas eu me vin"uei de você, me vin"uei, me vin"uei 75cio aulo.. . $uni n-s dois,c-lera do c1u $ros dois...ELE

    —... ala o que 1 isso...?

    ELA — ... ui lá, 75cio, vara verde, ui lá, tem um quarto com luz vermelha, sabe? Ele sentanuma cadeira, ica sentado numa cadeira num quarto de luz vermelha. O 3andeira essoa, quandovocê não subia $ro sBtio, ele ia lá, não levava a !nita e alava, alava, $edia, $edia, no 7eme, quintoandar, sabe? 'm quarto com luz vermelha, nunca oi lá? Nunca levou a @isela lá? 3andeira diz queem$resta sem$re, você deve ter dormido com @isela no mesmo lu"ar, você sentou na cadeira, hein?#e vin"uei do que você ez comi"o, do que eu iz comi"o, tinha $razer de ir lá, meu Deus,res$ira(ão $resa, como se osse o /uBzo 0inal, ele ica sentado, sabe? @ordo, $ede as coisas, $ede ascoisas $ra mim azer, no quinto andar, lá no 7eme, ele alava de você, sentado, icava $er"untando,onde será que ele está a"ora, onde será que o seu marido está a"ora, sentado, luz vermelha, eu

    icava andando, de$ois deitava, $assava a mão no meu $eito, ele alando de você, onde será. . . (ELE, COM UMA VIOLÊNCIA INAUDITA, VAI NO PESCO$O DELA. S COM A MÃO BOA. APERTA, VIOLENTO. ELA NÃO ESBO$A UM GESTO DE DEFESA, ATERRADA. ELE APERTA, APERTA. LARGA. ELA CAI NUM CANTO, SUFOCADA, SEMI-GEMENDO,GANINDO. ELE SE LARGA NUMA POLTRONA. FI O. ESTÁTICO. UM TEMPO IMENSO. ELA SE RECUPERA LENTAMENTE. LENTA, PEGA A VALISE E LENTAMENTE SAI. ELE FICA PARADO NA MESMA POSI$ÃO. UM TEMPO IMENSO. OLHA A SUA MÃO ENFAI ADA. E AMINA-A CUIDADOSAMENTE)ELE

    — . . . será que quebrou?. . . melhor azer uma com$ressa, não 1?. radio"ra ia vou noerzedelo. . . s- che"a meio6dia. . . deve estar quebrado isso, olha. . . erzedelo s- che"a meio6dia

    ter(as e quintas, amanhã 1 ter(a? . . . melhor você tele onar $ra casa dele. . . vai te alar da!ssocia(ão #1dica. . . s- ala disso, lembra?. . . acho que quebrou mesmo. . . &ai, como 1 otele one dele? M. . . F L. . . não. . . três cinco. . . três sete? . . . eu sei de cor. . . você sabe. . . M6

    P L. M6 P L. er eito. *omo 1? M6 P L. er eito. M6 P L. er eito. M6 P L. er e( P"ra. !onga pausa. 3lac86out,m tempo. %o escuro. la>6bac8muito &ai'o( quase inaud vel. 1 trec)o6;rer2( solta teu canto*( musicado( cantado com orquestra. Acende a luz. Ele est" de terno e

    gravata( a m o #" sem fai'a( sentado na mesma posi o. ,m tempo. Pega o telefone. 0isca )@isela? E. *omo vai? Estou com saudade sua. . . #e encontra ho)e? !manhã então. . . &ai $rosEstados 'nidos, viva. *laro, deve estar atra$alhadBssima. . . Quanto tem$o? eis meses termina umano #e manda um $ostal dum assalto a um banco. . . Não, não 1 boato, não. !t1 que en im. #ese$arei dela, 1. . . +inha de ser... 3oa via"em. *uidado $ra não te mandarem $ro &ietnã. Selcome.

    'm bei)o. ( 0esliga. Tempo. !iga de novo ) !na #aura está? or avor... 1 um ami"o dela.. .( Tempo. Espera. 0esliga o telefone. Sacode a ca&e a. Parado um tempo. Pega o caderno de endere os(consulta. Tempo. 0esiste. ?oga-o no c) o com viol2ncia. Tempo enorme. Pega o caderno de novo.

    Recondiciona as pequenas p"ginas que se soltaram. 5uarda-o. Enfia-se na poltrona. Tempoenorme ) E ele $ediu ao enhorI Z7ivrai6me deste su$lBcioH. !o que o enhor res$ondeuI ZNão $osso. +u o izeste:H( Parado um tempo ) 'ma lo)a que vendesse coisas $ra quebrar, ras"ar. .ras"ar. . .( %ovo imenso sil2ncio. Ela entra( com a sua valise. !onga pausa )ELA

    6 *omo vai?( Tempo )ELE

    — 3em. *omo vai?

    ELA ( 1utra longa pausa ) — Eu. . . eu queria icar aqui, $osso?( %ova pausa )

    P

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    ELE — Não deu certo?

    ELA — . . . $re iro não alar.

    ELE — Não deu certo?

    ELA 6 Não.ELE

    — osso saber $or quê?ELA

    — *ora"em...ELE

    — Entendo.

    ELA — Queria icar aqui, trazer as crian(as.

    ELE — *omo quiser.( Pausa longa ) Estamos condenados um ao outro.

    (NOVA LONGA PAUSA. SORRIEM TRISTES)ELA

    — &ou buscar as crian(as no )ardim. &ai )antar em casa?ELE

    — &ou.ELA

    — 0alou com a em$re"ada?ELE

    — Não.ELA

    — Eu alo. e desse tem$o de com$rar camarão... &em al"u1m )antar?ELE

    — aulinho de !lmeida talvez $asse.ELA

    — Ele não "osta de camarão.ELE

    — Quer que eu vá buscar os meninos? &ocê está cansada.ELA

    — Não.. . *omo vai no novo car"o?

    ELE — #uito trabalho, não queria deiCar a revista, não sei como vou azer.ELA

    — ros dois não dá, 1?ELE

    — &ou tentando, o 3andeira não quer que eu saia.ELA

    — *laro.ELE

    — Diz que me derruba se eu saio da revista.

    ELA — +e dá um "ol$e de estado, 1?( +alam normalmente num tom cordial e cotidiano. la>6 bac8I1 4;rer2* em orquestra e canto come a e vai su&indo até m o se ouvir mais o que eles

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    falam )ELE

    — +ive de azer eu mesmo, senão saBa aquele ditirambo $ra 7i"ht. 3andeira essoa altoume bei)ar na boca de lBn"ua.ELA

    — !quele seu tro$ical marrom )á che"ou do al aiate, mandei a$ertar a cal(a.

    ELE — Não vou azer re$orta"em $ra 7i"ht não senhor, eC$licar $orque tem de aumentar atari a.ELA

    — Não taco, tábua inteira correndo toda a sala, estirada.ELE

    — Nem eu sei, oi bom você lembrar, o que aquele "overnador ez?ELA

    — Ei, sabe que o car$inteiro ilho duma mãe. .ELE

    — Querem $ublicar um livro do alionov, ah, não a" ento, não.ELA

    — Ele sem$re usa cha$1u =amenzoni, tenho medo.ELE

    — &ou botar oto"ra ia de boi, tome boi.ELA

    — Não esquece o im$osto $redial.ELE

    — Na minha mão vira bazar.ELA

    — *omo casa de &ila =ica.ELE

    — Olha 3andeira, olha 3andeira.ELA

    — +omaz !ntJnio @onza"a.

    ELE — Olha 3andeira, olha 3andeira.

    ELA — N-s vamos discutir a noite toda e os dois vão ter razão, eu e você.

    ELE — N-s vamos discutir a noite toda e os dois vão ter razão, eu e você.

    ELA — N-s vamos discutir a noite toda...ELE

    — Os dois vão ter razão, eu e ..... .( +icam falando isso. %o $la>6bac8,o 4;rer2* c)ega aom"'imo. Tudo p"ra de estalo. 3lac86out)

    9P de )ulho de TRMM

    Oduvaldo &ianna 0ilhonasceu no Rio de ?aneiro em @ B ( fil)o do dramaturgo 1duvaldo/ianna e de 0eocélia /ianna. Com a idade de tr2s meses fez a sua estréia como 4ator* aparecendono filme 3onequinha de eda,dirigido pelo pai.

    0os tr2s aos cinco anos viveu em uenos A ires( acompan)ando o pai que precisou e'ilar-

    R

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    se por motivos pol ticos. %a volta ao rasil( a fam lia fi'ou-se em S o Paulo( onde /ianin)aingressou em @ DB na +aculdade de Arquitetura da ,niversidade $ac8enzie( que cursou até oterceiro ano. $ais tarde( matriculou-se na +aculdade de +ilosofia da mesma ,niversidade( masnem c)egou a freq ent"-la( pois Fquela altura #" estava profundamente enga#ado — por enquantoapenas como ator — no teatroG inicialmente( a partir de @ DH( no Teatro Paulista do Estudante( e a

    partir da fus o dos dois grupos em @ D no Teatro de Arena.

    Em @ DI — ano do seu casamento com a atriz /era 5ertel — escreve sua primeira pe a(3ilbao, &ia *o$acabana. Em @ DJ( ano em que nasce o seu primeiro fil)o( /in cius( ele tem as suasduas primeiras pe as sucessivamente lan adas no Arena: *ha$etuba 0utebol *lubee 3ilbao, &ia*o$acabana,esta no Teatro das Segundas-feiras. A perman2ncia de /ianna no Teatro de Arenac)ega ao fim em @ K( quando ele se muda para o Rio( onde participa( logo depois( da cria o doCentro Popular de Cultura( do qual se torna o principal dramaturgo e um dos principaisanimadores.

    0epois do golpe de @ H funda( #unto com um grupo de amigos( o Teatro 1pini o( cu#oespet"culo de inaugura o( o sho O$inião,&aseia-se num te'to de sua autoria( de parceria com

    Armando Costa e Paulo Pontes( e no qual ele tra&al)a tam&ém como ator( assim como faz na produ o su&seq ente do grupo( 7iberdade, 7iberdade,de $illLr +ernandes e +l"vio Rangel.

    %os dez =ltimos anos de sua vida 1duvaldo /ianna +il)o dedica-se a uma frenéticaatividade como autor de teatro ( com v"rias pe as na época proi&idas pela Censura ) e de televis o(ve culo cu#a dramaturgia ele revolucionou através de contri&ui >es decisivas( como as adapta >esde #ed1ia — cu#a idéia C)ico uarque e Paulo Pontes aproveitariam para escrever @ota D á"ua — e Noites 3rancas,o seriado ! @rande 0amBlia,criado em dupla com Armando Costa( e osespeciais O #orto do Encantado a5da o ovo, #orre e ede assa"eme +urma, #inha Doce+urma;como ator de teatro( cinema e televis oG como ensa sta( e( esporadicamente — em O *asal,de parceria com 0aniel +il)o — como roteirista de cinema.

    0o seu segundo casamento ( @ IK ) ( com $aria !=cia $arins( teve um casal de fil)os( Pedro ;vo e $ariana( nascidos em @ IM e @ IB( respectivamente. ,m dia ap3s o nascimento de $ariana su&meteu-se a uma cirurgia( na tentativa de e'tirpar o cNncer que come ava a minar o seu organismo. %em a opera o nem um posterior tratamento nos Estados ,nidos conseguiramvencer a doen a que aca&ou por mat"-lo( aos BI anos de idade( no dia @ de #ul)o de @ IH.

    A maior parte da o&ra de /iannin)a ac)a-se praticamente inédita( pelo menos em livro. Algumas pe as( entre as quais *ha$etuba 0. *.e *or$o a *or$o, foram pu&licadas em revistas. e*orrer o 3icho e"a, e 0icar o 3icho *ome,escrito de parceria com +erreira 5ullar( foi lan ado

    pela Editora Civiliza o rasileira em @ . 1 ent o Servi o %acional de Teatro ( )o#e instituto %acional de Artes C2nicas ) editou( cumprindo o regulamento do Concurso %acional de 0ramaturgia( a$a 4i"hirtee =as"a *ora(ão, o&ras vencedoras do referido concurso em @ J e@ ID( respectivamenteG mas a limitad ssima tiragem de a$a 4i"hirte praticamente n o c)egou acircular( pois a pe a ac)ava-se proi&ida na épocaG enquanto a tam&ém muito insuficiente tiragem

    de =as"a *ora(ão se esgotou logo ap3s o seu lan amento. ,m generoso pro#eto de pu&lica o dao&ra completa de /ianna( empreendido por Edi >es $uro( n o passou do primeiro volume( editadoem @ J@( e que re=ne as quatro primeiras pe as do autor: 3ilbao, *ha$etuba, ! #ais6&alia &ai!cabar, eu Ed"ar, e Quatro Quadras de +erra. A mais recente — e important ssima — contri&ui o para a &i&liografia de /ianna foi o volume &ianinha — +eatro, +elevisão, olBtica,organizado por +ernando Pei'oto e lan ado pela Editora rasiliense em @ JB( reunindoentrevistas( ensaios e outros escritos te3ricos( que revelam um pensamento cr tico de uma

    profundidade admir"vel.