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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL MAPEAMENTO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA AÇÕES DE CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA DO RIO DESCOBERTO Thaiane Vanessa Meira Nascente dos Santos Brasília, dezembro de 2016.

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

MAPEAMENTO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA AÇÕES DE

CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA DO

RIO DESCOBERTO

Thaiane Vanessa Meira Nascente dos Santos

Brasília, dezembro de 2016.

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

MAPEAMENTO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA AÇÕES DE

CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA DO

RIO DESCOBERTO

Aluna: Thaiane Vanessa Meira Nascente dos Santos

Orientador: Prof. Dr. Henrique Marinho Leite Chaves (EFL/UnB)

Linha de Pesquisa: Manejo de Bacias Hidrográficas.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Engenharia Florestal da

Universidade de Brasília, como parte das

exigências para obtenção do título de

Engenheira Florestal.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família, em especial à minha mãe, Tânia Regina Meira, por terem sido fonte

de apoio e inspiração durante toda a minha graduação. Essa vitória dedico a vocês.

Agradeço a toda a toda equipe de professores e colaboradores do Departamento de Engenharia

Florestal, por sua solicitude e presteza. Agradeço também a equipe do Colégio Ideal de

Taguatinga/DF por terem me dado a base para cursar a minha graduação.

Agradeço a cada um dos meus professores da graduação, em especial ao meu orientador

Henrique Chaves pela atenção e direcionamento na condução desta pesquisa. Agradeço

também ao professor Eraldo Matricardi pela colaboração e auxílio no processamento dos

dados. Agradeço à prof. Rosana Cristo Martins, pela orientação do meu projeto de iniciação

científica e ao professor José Roberto Rodrigues pela orientação do projeto Beija-FAL.

Agradeço a cada um dos meus amigos floresteiros por todos os momentos que compartilhamos,

cada uma das risadas, pela ajuda mútua para realização de cada tarefa, enfim, por tudo o que

vivemos juntos. Agradeço especialmente à amiga Maria Tereza Leite Montalvão e ao Ivo Ian

Leão pela colaboração em vários detalhes desta pesquisa.

Agradeço ao Instituto Brasília Ambiental – IBRAM a oportunidade de realizar estágio no

Programa Adote uma Nascente, em especial aos colegas da Gerência de Monitoramento:

Vandete Maldaner, Guilherme Thomé, Sandreani Nascente, Carlos Rocha, Renata Mongin,

Kamila Menezes, Leandro Gregório, Almir Figueiredo, Rodrigo Santos, Airton Santos,

Petrônio Diego, Leilane Lara, Patricia Valls e Filipe Garcia.

Agradeço ao Ministério do Meio Ambiente - MMA pela oportunidade de realizar estágio no

âmbito da parceira com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, para a

identificação dos gargalos para aplicação das Leis 12.651/2012 e 10.711/2003. Em especial

agradeço aos colegas Luisa Rocha, Ísis Felippe, Ana Paula Silva, Henrique Marques, Mariah

Luciano, Ana Teixeira, Regina Sambuichi, André Jardim e Mateus Motter.

Agradeço ainda ao Centro de Formação da Câmara dos Deputados pela oportunidade de

realizar estágio na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Agradeço a

cada um dos colegas da equipe, em especial ao chefe Aurenilton Araruna, Marcelo Costa,

Eliane Oliveira, Gleisson Mangueira, Jordânia Alves, Wallace Oliveira e Larissa Bezerra.

Agradeço aos parceiros de ecoturismo científico e educação ambiental do projeto Beija-FAL

por cada momento compartilhado. Em especial aos queridos Matheus Alves, Gabriel

Postiglioni, Milena Coelho, Geórgia Franco, João Carlos, Victória Matos, Eduardo Horowitz e

Fernanda Graciano.

Agradeço ao Sítio Geranium, e à querida Abadia Barberato, pela oportunidade de aprender e

vivenciar experiências incríveis no viveiro de ervas medicinais. Agradeço à toda equipe do

GAIA Brasília pelos ensinamentos valiosos transmitidos durante toda a extensão do curso.

Agradeço também ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio

pela oportunidade de realizar o programa de voluntariado no Parque Nacional da Serra da

Bocaina (RJ).

Finalmente agradeço ao Meliá Hotels International, em especial à Cinthia Guedes, pela parceria

e confiança na realização de ações para restauração de nascentes. Agradeço também aos

senhores Francisco e Gracilene da nascente Aurora e ao sr. Paulo, da nascente Bela Vista, pelo

carinho e confiança.

A cada um de vocês, o meu MUITO OBRIGADA!!!

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RESUMO

A Bacia Hidrográfica do Rio Descoberto possui 1.289,42 km² e está localizada na divisa

oeste entre o Distrito Federal e o estado de Goiás, sendo responsável por mais de 60% do

abastecimento de água destinado ao consumo humano no Distrito Federal. Sua região

vem sofrendo uma intensa ocupação do solo que resulta na conversão de áreas naturais

em áreas agrícolas e urbanas, o que tem afetado a quantidade e a qualidade da água da

bacia, de modo que ações de recuperação ambiental e conservação do solo são agora

necessárias. A análise multicritérios é um método que permite a análise de várias

alternativas, útil para o manejo de bacias hidrográficas pois utiliza vários critérios

relacionados ao objeto de estudo, possibilitando identificar alternativas mais adequadas

dentre as consideradas. Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo selecionar

áreas prioritárias para conservação de solo e recuperação ambiental na Bacia do Rio

Descoberto, visando ao aumento da quantidade e da qualidade da água, com base em

análise de múltiplos critérios em ambiente SIG. Para atingir os objetivos, foram

analisados os usos atuais das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e para as demais

áreas da bacia foi feito uma análise multicritério para definir a prioridade de ações de

conservação de solo e recuperação ambiental, segundo os fatores: Distância à rede de

drenagem, Fator Número-Curva (CN), Erodibilidade e Declividade. Foram necessários

os planos de informação: limites da bacia hidrográfica, mapa de uso e cobertura do solo,

rede de drenagem, mapa de solos, mapa de áreas urbanas e modelo digital de elevação –

DEM. Os resultados obtidos foram o mapa de APPs e os respectivos usos do solo

identificados nessas áreas e o mapa de áreas prioritárias para ações de conservação de

solo e recuperação ambiental nas áreas fora das APPs. Ambos os mapas finais foram

reclassificados, de maneira a apresentar três graus de prioridade. Observou-se que 31,70%

do total de APPs da Bacia do Rio Descoberto foram consideradas de alta prioridade para

ações de recuperação, por estarem em áreas urbanas, com solo exposto ou sob cultivos

agrícolas. Em relação à análise multicritérios, 47,01% da área analisada foi classificada

como de alta prioridade de intervenção, por apresentar simultaneamente valores críticos

para todos os fatores. Foi verificado o potencial da região para a aplicação de programas

de pagamentos por serviços ambientais, visto que foram identificadas diversas situações

em que investimentos são necessários, como na recuperação de áreas de preservação

permanente e na adoção de boas práticas de manejo em cultivos agrícolas.

Palavras-chave: engenharia florestal, sustentabilidade, manejo de recursos hídricos,

análise multicritérios, áreas de preservação permanente, conservação do solo e da água,

manejo de bacias hidrográficas, modelagem ambiental, uso e cobertura do solo.

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ABSTRACT

The Descoberto’s River Basin covers an area of 1.289,42 km² and is located in the west

border between Distrito Federal and Goiás, being responsible for more than 60% of water

supply for human uses in Distrito Federal. It’s region has been suffering an intense

process of human occupation, with conversion of natural areas to urban and agricultural

uses, which has been affecting the quality and the quantity of the water in this watershed,

so that environment restoration and soil conservation practices are now required. The

multicriterial analysis is a method that permits the simultaneous analysis of multiple

alternatives to the same object, being useful to watershed’s management because it makes

possible to select the most adequate alternatives among all considered. In this context, the

present work aims to select priority areas to soil conservation and environment restoration

practices, aiming to enhance water’s quality and quantity, based on a multicriterial

analysis in GIS. To reach the goals, the permanent preservation areas where analyzed by

their current soil cover and use and to the other areas of the basin was made a multicriterial

analysis to define their priority to soil conservation and environment restoration practices,

under the following criteria: Curve number factor, soil erodibility, slope and distance to

the drainage network. The following information layers where necessary: watershed

boundaries, land use/land cover map, drainage network, urban areas map and digital

elevation model. The obtained results shows the mapping of the permanent preservation

areas and their current land use and the map of the priority areas for soil conservation and

restoration practices beyond the permanent preservation areas. Both the final maps where

reclassified to three classes of priority. It was observed that 31,7% of all the permanent

preservation areas were considered of high priority to environment restoration practices,

because they are under urban areas, agricultural crops or exposed soil. Regarding to the

multicriterial analysis, 47,01% of the analyzed area was considered of high priority of

intervention, for presenting critical values for all the criteria. It has been verified the

potential of the region to host a project for payment for environmental services, since

many investment situations are necessary, like in the restoration of the permanent

preservation areas and in the adoption of sustainable management practices to agricultural

crops.

Key words: forest engineering, sustainability, water resources management,

multicriterial analysis, permanent preservation areas, soil and water conservation,

watershed management, environmental modelling, land use/land cover.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11

2. PROBLEMAS DE PESQUISA .............................................................................. 12

2.1. Questões de pesquisa ........................................................................................... 12

3. OBJETIVOS ........................................................................................................... 13

3.1. Objetivo Geral ..................................................................................................... 13

3.2. Objetivos Específicos .......................................................................................... 13

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 13

4.1. Problemática ambiental da Bacia do Rio Descoberto ......................................... 13

4.2. Bacia hidrográfica como unidade de planejamento ............................................. 15

4.3. Conservação do solo e da água em bacias hidrográficas ..................................... 15

4.4. Áreas de preservação permanente ....................................................................... 17

4.5. Geoprocessamento aplicado ao manejo de bacias hidrográficas ......................... 18

4.6. Análise multicritérios como ferramenta para tomada de decisão ........................ 20

4.6.1. Critérios de priorização .................................................................................... 22

I. Distância à Rede de Drenagem ............................................................................... 22

II. Número-Curva - CN ............................................................................................... 23

III. Erodibilidade do Solo .......................................................................................... 24

IV. Declividade .......................................................................................................... 25

5. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 26

5.1 Caracterização da área de estudo ..................................................................... 26

5.2 Base de dados ................................................................................................... 28

5.2.1 Rede de Drenagem.................................................................................... 28

5.2.2 Imagem LANDSAT ................................................................................. 30

5.2.3 Modelo Digital de Elevação (MDE) ......................................................... 31

5.2.4 Mapa de áreas urbanas .............................................................................. 32

5.2.5 Mapa de solos ........................................................................................... 33

5.3 Metodologia ..................................................................................................... 34

5.3.1 Limite da bacia hidrográfica ..................................................................... 34

5.3.2 Geração do mapa de uso e cobertura do solo ........................................... 35

5.3.3 Análise de áreas de preservação permanente ........................................... 36

5.3.4 Análise multicritérios ............................................................................... 37

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 42

6.1 Uso e cobertura do solo ................................................................................... 42

6.2 Áreas de Preservação Permanente ................................................................... 46

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6.3 Análise Multicritérios ...................................................................................... 53

6.3.1 Fator I: Distância à rede de drenagem ...................................................... 53

6.3.2 Fator II: Número-Curva (CN)................................................................... 56

6.3.3 Fator III: Erodibilidade ............................................................................. 58

6.3.4 Fator IV: Declividade ............................................................................... 60

6.4 Mapa de restrições ........................................................................................... 63

6.5 Áreas prioritárias para ações de conservação de solo e recuperação ambiental

na Bacia do Rio Descoberto ....................................................................................... 64

6.6 Medidas de conservação do solo e recuperação ambiental .............................. 68

7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 72

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 73

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização da Bacia do Rio Descoberto ...................................................... 27

Figura 2: Rede de drenagem da Bacia do Rio Descoberto, indicando as localizações do

Lago do Descoberto e do reservatório Corumbá IV. ...................................................... 29

Figura 3: Imagem orbital obtida pelo Sensor OLI, a bordo do satélite LANDSAT 8

(RGB 321) ...................................................................................................................... 30

Figura 4: Modelo Digital de Elevação TOPODATA extraído para a Bacia do Rio

Descoberto, com indicação da localização da rede de drenagem ................................... 31

Figura 5: Localização das áreas urbanas na Bacia do Rio Descoberto (Adaptado de

SIEG, 2010) .................................................................................................................... 32

Figura 6: Mapa de solos da Bacia do Rio Descoberto .................................................. 33

Figura 7: Fluxograma dos passos seguidos para a análise multicritérios. ..................... 38

Figura 8: Classificação hidrológica dos solos da Bacia do Rio Descoberto ................. 39

Figura 9: Mapa de uso do solo da Bacia do Rio Descoberto ........................................ 43

Figura 10: Mapeamento de Áreas de Preservação Permanente na Bacia do Rio

Descoberto. ..................................................................................................................... 47

Figura 11: Uso do solo nas Áreas de Preservação Permanente da Bacia do Rio

Descoberto. ..................................................................................................................... 48

Figura 12: Reclassificação do mapa de áreas de preservação permanente, de acordo

com os critérios de priorização demonstrados na Tabela 9. ........................................... 51

Figura 13: Distância euclidiana em relação à rede de drenagem. ................................. 54

Figura 14: Reclassificação do mapa de distância à rede de drenagem, de acordo com os

critérios de priorização demonstrados na Tabela 6. ....................................................... 55

Figura 15: Espacialização do coeficiente CN na Bacia do Rio Descoberto, de acordo

com o grupo hidrológico de solo e o tipo de uso do solo. .............................................. 56

Figura 16: Reclassificação do mapa do Fator CN, de acordo com os critérios de

priorização demonstrados na Tabela 7. .......................................................................... 57

Figura 17: Valores de referência de erodibilidade aplicados aos solos identificados na

Bacia do Rio Descoberto. ............................................................................................... 58

Figura 18: Reclassificação do mapa de erodibilidade dos solos, de acordo com os

critérios demonstrados na Tabela 6. ............................................................................... 60

Figura 19: Mapa de declividade (em graus) da Bacia do Rio Descoberto. ................... 61

Figura 20: Reclassificação do mapa de declividade, de acordo com os critérios

demonstrados na Tabela 6. ............................................................................................. 63

Figura 21: Mapa de restrições aos objetivos da análise multicritérios na Bacia do Rio

Descoberto. ..................................................................................................................... 64

Figura 22: Mapa de áreas prioritárias para ações de conservação de solo e recuperação

ambiental na Bacia do Rio Descoberto, classificadas em três níveis de prioridade. ...... 65

Figura 23: Uso do solo nas áreas consideradas de alta prioridade para ações de

conservação e recuperação ambiental na Bacia do Rio Descoberto. .............................. 67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Códigos atribuídos aos tipos de uso de solo .................................................. 35

Tabela 2: Tipos de áreas de preservação permanente analisadas e suas respectivas

metragens. ....................................................................................................................... 37

Tabela 3: Descrição dos grupos hidrológicos de solo de acordo com Sartori (2004, apud

SARTORI et al., 2005), bem como os tipos de solos correspondentes. ......................... 38

Tabela 4: Valores tabelados de Número-Curva (CN) de acordo com o tipo de uso do

solo e com o grupo hidrológico a que o solo pertence. .................................................. 40

Tabela 5: Valores de erodibilidade para os diferentes tipos de solos encontrados na

Bacia do Rio Descoberto. ............................................................................................... 40

Tabela 6: Escores utilizados para reclassificar os mapas, de acordo com a fragilidade

ambiental. ....................................................................................................................... 41

Tabela 7: Classes de uso e suas respectivas áreas ......................................................... 43

Tabela 8: Classes de uso identificadas nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) da

Bacia do Rio Descoberto. ............................................................................................... 49

Tabela 9: Reclassificação das APPs em 3 classes de prioridade de intervenção,

definidas em função do tipo de uso observado. .............................................................. 49

Tabela 10: Quantificação das áreas de preservação permanente em cada classe de

prioridade. ....................................................................................................................... 52

Tabela 11: Quantificação de áreas prioritárias para ações de conservação em relação à

sua distância em relação à rede de drenagem. ................................................................ 55

Tabela 12: Quantificação das áreas prioritárias para ações de conservação de solo e

recuperação ambiental na Bacia do Rio Descoberto. ..................................................... 66

Tabela 13: Quantificação das classes de uso do solo identificadas nas áreas de alta

prioridade para ações de conservação ambiental na Bacia do Rio Descoberto. ............. 68

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1. INTRODUÇÃO

A Bacia do Rio Descoberto é responsável por mais de 60% do abastecimento de

água destinado ao consumo humano no Distrito Federal, mas sua região vem sofrendo

uma intensa ocupação do solo por meio da conversão de áreas naturais em áreas agrícolas

e urbanas (NUNES, 2014). Araújo et al. (2011) destacam que o crescimento demográfico

acelerado no Distrito Federal, aliado ao manejo inadequado e intensivo dos solos, tem

comprometido a disponibilidade hídrica de forma quantitativa e qualitativa, de forma que

já se verifica a necessidade de estudos que subsidiem a elaboração de planos e diretrizes

voltados para a preservação dos recursos hídricos e sua utilização de forma sustentável.

Para Pires et al. (2002), as principais causas de ameaças à qualidade ambiental em

uma bacia hidrográfica estão relacionadas às atividades não sustentáveis, que visam

apenas o lucro imediato e ignoram os custos ambientais e sociais da degradação

ambiental. Dentre os impactos de maior ocorrência em bacias hidrográficas estão

elencados problemas de erosão dos solos, enchentes, perda da qualidade da água e

aumento do risco de extinção de elementos da fauna e flora.

Gerenciar os recursos naturais com enfoque na conservação e recuperação

ambiental é fundamental para a conservação do solo e da água, elementos essenciais de

sustentação dos sistemas agrícolas e naturais (ALBUQUERQUE et al., 2010). Os autores

enfatizam a importância da aplicação de técnicas conservacionistas visando ao

desenvolvimento de sistemas sustentáveis, de modo que a otimização no uso do solo e da

água contribua para a mitigação de impactos ambientais.

Para Câmara e Medeiros (2006), na gestão do território sob uma ótica moderna,

toda ação de planejamento, ordenação ou monitoramento do espaço deve incluir a análise

dos diferentes componentes do ambiente, o que inclui o meio físico-biótico, a ocupação

humana e seu inter-relacionamento. Portanto, resolver problemas e tomar decisões sobre

o uso sustentável de recursos naturais geram uma demanda por integração de dados, além

de conhecimento de um amplo espectro de disciplinas (LASKAR, 2003).

As avaliações multicritério - AMC são ferramentas de apoio ao planejamento e à

decisão, onde, por meio de técnicas estatísticas e matemáticas, criam-se condições que

possibilitam a combinação e a comparação de cenários, evidenciando o gerenciamento de

opções de escolha (GRISOTTO et al., 2012). Francisco et al. (2007) destacam a utilidade

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do ambiente SIG para especializar e possibilitar a análise multicritérios, dando suporte ao

planejamento ambiental, especialmente para áreas com maior enfoque ambiental.

Os Sistemas de Informações Geográficas - SIGs realizam a integração de dados

provenientes de diferentes áreas da ciência, permitindo a análise de múltiplos aspectos de

um determinado assunto (NUNES, 2014). Para Pires et al. (2002), os SIGs e as imagens

orbitais, obtidas por sensoriamento remoto, são importantes instrumentos para a gestão

de bacias hidrográficas, pois auxiliam na determinação de medidas de manejo ambiental.

Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo selecionar áreas prioritárias

para conservação de solo e recuperação ambiental na Bacia do Rio Descoberto, visando

ao aumento da quantidade e da qualidade da água, com base em análise de múltiplos

critérios em ambiente SIG.

2. PROBLEMAS DE PESQUISA

A Bacia do Rio Descoberto é a fonte de abastecimento de água de mais da metade

da população do Distrito Federal, porém órgãos ambientais já estão em estado de atenção

por possibilidade de escassez hídrica (ADASA, 2016). O processo desordenado de

ocupação do solo e a conversão de áreas naturais para uso antrópico vêm afetando a

quantidade e a qualidade da água da bacia (ARAÚJO et al., 2011), de modo que ações de

recuperação ambiental e conservação do solo são agora necessárias, tanto do ponto de

vista ambiental quanto legal.

A priorização de áreas para ações concretas de recuperação ambiental se faz

necessária, para que a eficiência na alocação dos recursos seja alcançada. Ações de

conservação do solo estão sendo difundidas e comprovadas como eficientes para a

contenção de processos erosivos, que tanto afetam a qualidade da água e a produtividade

agrícola. Já a recuperação e a preservação de remanescentes florestais são vistas como

necessárias para a manutenção da biodiversidade e do ciclo hidrológico.

Dessa maneira, entender quais áreas estão envolvidas no provimento de

determinados serviços ambientais facilita o planejamento territorial e a compatibilização

de atividades, em prol de um maior benefício social, econômico e ambiental.

2.1. Questões de pesquisa

O presente trabalho envolve as seguintes questões de pesquisa: Qual a situação

atual de uso do solo da bacia do rio Descoberto? Quais fatores são mais relevantes para

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escolha de áreas para conservação do solo e recuperação ambiental? Qual a situação atual

das áreas de preservação permanente exigidas pelo Código Florestal? Além das áreas de

preservação permanente, quais áreas devem ser priorizadas em projetos de recuperação

ambiental? Que medidas poderiam ser adotadas para recuperar e conservar áreas

prioritárias na bacia?

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

O presente trabalho tem como objetivo selecionar áreas prioritárias para

conservação de solo e recuperação ambiental na Bacia do Rio Descoberto, visando ao

aumento da quantidade e da qualidade da água, com base em análise de múltiplos critérios

em ambiente SIG

3.2. Objetivos Específicos

• Diagnosticar a situação atual de uso do solo da Bacia do Rio Descoberto.

• Localizar as áreas de preservação permanente e identificar os usos atuais

nessas áreas.

• Selecionar critérios para a priorização de áreas para ações de conservação de

solo e recuperação ambiental.

• Analisar diferentes fatores de priorização de áreas para conservação de solo e

recuperação ambiental por meio de análise multicritérios em ambiente SIG.

• Selecionar áreas prioritárias para a conservação de solo e recuperação

ambiental.

• Propor medidas alternativas de conservação e recuperação de áreas prioritárias

na bacia estudada.

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1. Problemática ambiental da Bacia do Rio Descoberto

A Bacia do Rio Descoberto localiza-se na divisa oeste entre o Distrito Federal e o

estado de Goiás, e é responsável por mais de 60% do abastecimento de água destinado ao

consumo humano no Distrito Federal (NUNES, 2014). O suprimento de água foi

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viabilizado pela construção de uma barragem no rio Descoberto, que deu origem ao

reservatório do lago do Descoberto, que atualmente atende as demandas das cidades de

Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Riacho Fundo, Recanto das Emas, Santa Maria,

Gama, Núcleo Bandeirante, Candangolândia, Guará, Cruzeiro e parte de Brasília

(BRASIL, 2009, apud NUNES, 2014).

Para Nunes (2014), a região do Alto Rio Descoberto (área à montante do

reservatório) vem sofrendo uma intensa ocupação do solo por meio da conversão de áreas

naturais em áreas agrícolas e urbanas, principalmente após a construção da barragem. A

autora destaca que tais ocupações, caso não respeitem um planejamento adequado,

constituem ameaças aos recursos naturais, com possíveis impactos para a qualidade dos

recursos hídricos.

Araújo et al. (2011) destacam que o crescimento demográfico acelerado no

Distrito Federal, aliado ao manejo inadequado e intensivo dos solos, tem comprometido

a disponibilidade hídrica de forma quantitativa e qualitativa. Os autores verificaram que

os diferentes usos e ocupações das terras nas áreas próximas à região das nascentes do

Rio Descoberto influenciaram no teor de cloreto da água, indicando uma possível

descarga de esgoto nos córregos.

Do Carmo et al. (2003) realizaram um estudo geoquímico para caracterização da

qualidade da água na bacia do Rio Descoberto e verificaram altas concentrações de

elementos como P (fósforo), Mn (manganês), K (potássio), Ca (cálcio), Mg (magnésio) e

Ba (bário), demonstrando os efeitos da atividade antrópica na região e a contribuição do

Distrito Federal no processo de alteração geoquímica na bacia. Os autores observaram

que grande parte dos afluentes do Rio Descoberto, como o Rio Melchior, recebem

efluentes domésticos sem tratamento, evidenciando a possibilidade de contaminação

desses mananciais tão importantes para o abastecimento público.

Araújo et al. (2011) defendem a necessidade de estudos que subsidiem a

elaboração de planos e diretrizes voltados para a preservação dos recursos hídricos e sua

utilização de forma sustentável. Nesse sentido, enfatizam o potencial do

geoprocessamento para acompanhar o desenvolvimento e a implementação de políticas e

ações de desenvolvimento sobre a área da Bacia do Rio Descoberto.

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4.2. Bacia hidrográfica como unidade de planejamento

A bacia hidrográfica é uma porção do território limitada por divisores

topográficos, que atua como um reservatório de água e sedimentos. Essa formação

geográfica recolhe a precipitação e é drenada por um conjunto de cursos d’água, de forma

que toda a vazão efluente é descarregada em uma seção única, chamada exutório

(FREIRE & DE OMENA, 2005).

Para Pires et al. (2002), o conceito de bacia hidrográfica envolve explicitamente

o conjunto de terras drenadas por um corpo d´água principal e seus afluentes. As bacias

hidrográficas são consideradas por muitos autores como unidades ideais para o

planejamento do território (BERNARDI et al., 2012; PIRES et al., 2002; LORANDI &

CANÇADO, 2002), pois integram a paisagem e apresentam sistemas ecológicos e

hidrológicos relativamente coesos (DASMANN et al., 1973, apud PIRES et al., 2002).

Esse conceito foi consagrado no Brasil, estando disposto na Lei Federal n°

9.433/97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH (BRASIL, 1997).

De acordo com a lei, a gestão dos recursos hídricos deve ser realizada de maneira

descentralizada, tomando como unidade territorial a bacia hidrográfica. Dentre as

diretrizes gerais de ação para a implementação da PNRH encontra-se a gestão integrada

dos recursos ambientais, ou seja, a gestão dos recursos hídricos deve ser realizada de

maneira associada e articulada à gestão de outros recursos ambientais, visando a uma

integração das políticas de planejamento numa mesma base territorial.

Lorandi & Cançado (2002) defendem três pontos principais a serem considerados

no planejamento e gerenciamento de bacias hidrográficas: a) incorporação de todos os

recursos ambientais da área de drenagem e não apenas o hídrico; b) adoção de abordagem

de integração dos aspectos ambientais, sociais, econômicos e políticos; e c) inclusão, na

utilização dos recursos, dos objetivos de qualidade ambiental desses recursos, visando ao

aumento da produtividade e à diminuição dos impactos e riscos ambientais na bacia de

drenagem.

4.3. Conservação do solo e da água em bacias hidrográficas

Para Minella et al. (2010), trazer o princípio do desenvolvimento sustentável para

o campo do real significa realizar um esforço para aperfeiçoar as metodologias de

gerenciamento dos recursos naturais, de modo a atender as necessidades atuais sem

comprometer as necessidades futuras. Para Albuquerque et al. (2010), gerenciar os

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recursos naturais com enfoque na conservação e recuperação ambiental é fundamental

para a conservação do solo e da água, elementos essenciais de sustentação dos sistemas

agrícolas e naturais. Os autores destacam a importância da aplicação de técnicas

conservacionistas visando ao desenvolvimento de sistemas sustentáveis, de modo que a

otimização no uso do solo e da água contribua para a mitigação de impactos ambientais.

Pires et al. (2002) destacam que as principais causas de ameaças à qualidade

ambiental em uma bacia hidrográfica estão relacionadas às atividades não sustentáveis,

as quais ignoram os custos ambientais e sociais da degradação ambiental, visando apenas

o lucro imediato. Segundo os autores, os impactos de maior ocorrência em bacias

hidrográficas estão associados aos problemas de erosão dos solos, sedimentação de canais

navegáveis, enchentes, perda da qualidade da água e do pescado e aumento do risco de

extinção de elementos da fauna e flora.

A erosão, do ponto de vista edafológico e ambiental, é um processo que promove

o arraste de nutrientes, partículas e materiais do solo, reduzindo a produtividade agrícola

e produzindo poluição e assoreamento de cursos d’água, sendo considerada uma das

principais causas da degradação dos solos nas regiões tropicais (DE MARIA, 2010).

Para Sobral Filho et al. (1982), no Brasil, os primeiros esforços voltados à

conservação do solo e da água se concentraram nas práticas mecânicas de terraceamento,

construção de curvas de nível e de canais escoadouros, além do plantio em nível ou em

faixas (apud DE ANDRADE et al., 2010). De Andrade et al. (2010) destaca que

gradualmente as práticas conservacionistas foram avançando no Brasil, sendo

incorporadas diversas outras técnicas para proteger o solo, como o plantio direto, que atua

protegendo as camadas superiores do solo contra o impacto das gotas de chuva, evitando

o transporte desses materiais.

A sustentabilidade da produção agrosilvipastoril, que garanta segurança alimentar

e preservação ambiental, está associada ao planejamento do uso da terra e ao manejo do

solo e da água, com adoção de sistemas conservacionistas (DE ANDRADE et al., 2010).

De acordo com os autores, os sistemas conservacionistas envolvem tanto a adoção de

práticas de baixo impacto ambiental para manejo do solo e de culturas agrícolas, quanto

a proteção às formações de vegetação natural e a recuperação de áreas degradadas.

A vegetação desempenha um papel fundamental no balanço de energia e no fluxo

de volumes de água (TUCCI, 2006). Atua como uma proteção ao solo, interceptando as

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gotas de chuva, de modo a reduzir seu impacto sobre a superfície do solo. Também

desempenha papel importante no ciclo hidrológico, através da evapotranspiração de suas

folhas. Além disso, a vegetação ripária atua como uma barreira ao transporte de

sedimentos, diminuindo a velocidade do escoamento superficial e evitando o

assoreamento de rios e alta quantidade de sólidos em suspensão nas águas.

O “Perfil do Ecossistema do Cerrado” (ISPN, 2016) destaca que a vegetação

realiza um serviço indireto fundamental por meio de seu papel na hidrologia dos estoques

e fluxos superficiais de água. Além de manter a disponibilidade de água ao longo do

tempo, a cobertura vegetal também é essencial para a qualidade da água. Os benefícios

desses serviços não se limitam à sua origem, restando-se compartilhados com toda a

extensão do curso d’água.

Desta forma, a manutenção da vegetação ripária tem efeito direto e relevante na

segurança hídrica, portanto torna-se de extrema urgência a convergência de ações de

recuperação ambiental, conservação da biodiversidade e gestão dos recursos hídricos, no

sentido de que suas efetividades sejam elevadas.

4.4. Áreas de preservação permanente

As áreas de preservação permanente são locais importantes para a prestação de

serviços ecossistêmicos, como a manutenção do ciclo hidrológico e a proteção do solo.

Segundo a Lei de Proteção da Vegetação Nativa, 12.651/2012 (BRASIL, 2012),

considerada como o novo Código Florestal, entende-se por Área de Preservação

Permanente - APP: “Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função

ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a

biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o

bem-estar das populações humanas”.

A Lei Federal 12.651/2012, estabelece alguns tipos de restrições administrativas

visando compatibilizar as atividades humanas à conservação da natureza, de acordo com

o tipo de APP. Nesse sentido, é de grande importância identificar as áreas que, segundo

a legislação, deveriam ser de preservação permanente. Justamente por suas importantes

funções ambientais, como assegurar a qualidade e a quantidade de recurso hídrico, estas

áreas devem, salvo casos excepcionais previstos em lei, ser mantidas com a cobertura

vegetal nativa.

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4.5. Geoprocessamento aplicado ao manejo de bacias hidrográficas

Segundo Câmara e Davis (2001), o termo Geoprocessamento refere-se à disciplina

do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da

informação geográfica. Suas ferramentas computacionais, chamadas de Sistemas de

Informação Geográfica, ao integrar e armazenar dados com informações espaciais,

permitem a realização de análises complexas.

Câmara e Davis (2001), destacam o grande potencial do Geoprocessamento no

Brasil, pois o país tem dimensões continentais e verifica-se uma grande carência de

informações adequadas para a tomada de decisões sobre os problemas urbanos, rurais e

ambientais. Câmara e Medeiros (2006) defendem que, na perspectiva moderna de gestão

do território, toda ação de planejamento, ordenação ou monitoramento do espaço deve

incluir a análise dos diferentes componentes do ambiente, o que inclui o meio físico-

biótico, a ocupação humana e seu inter-relacionamento.

Para Druck et al. (2004), o termo Sistemas de Informação Geográfica (SIG) é

aplicado para sistemas que realizam o tratamento computacional de dados geográficos e

armazenam a geometria e os atributos dos dados que estão georreferenciados, isto é,

localizados na superfície terrestre e representados numa projeção cartográfica. Nunes

(2014) faz um debate acerca da importância da utilização do SIG como ferramenta de

integração de dados para apoiar o planejamento e a gestão ambiental, por meio de uma

análise multifuncional dos valores ecológicos, socioculturais e econômicos da região.

Com a espacialização dos dados é possível analisar a relação causa-efeito entre os

componentes ambientais e montar cenários sobre as possibilidades de intervenção.

Em um SIG, existem basicamente dois formatos de dados, que são representações

das entidades do mundo real: Dados vetoriais e Dados matriciais (também chamados de

Raster). Segundo Câmara e Monteiro (2001), a representação matricial consiste no uso

de uma malha quadriculada regular sobre a qual se constrói, célula a célula, o elemento

que está sendo representado. Já o formato vetorial representa as feições como pontos,

linhas ou polígonos. Ao vetor associa-se um banco de dados que armazena seus atributos

(BECKER, 2002).

Os SIGs permitem a múltipla análise de diferentes dados temáticos acerca de um

determinado assunto, realizando a integração de dados provenientes de diferentes áreas

da ciência, como as do sensoriamento remoto, da cartografia, da biologia, das ciências

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sociais, entre outras, a fim de que se obtenha a representação do mundo real (NUNES,

2014).

Menezes (2012) defende o Sensoriamento Remoto como uma das mais bem-

sucedidas tecnologias de coleta automática de dados para o levantamento e monitoração

dos recursos terrestres em escala global. O autor cita que a definição mais aceita para o

termo Sensoriamento Remoto é a seguinte: “É uma técnica de obtenção de imagens dos

objetos da superfície terrestre sem que haja um contato físico de qualquer espécie entre

o sensor e o objeto”.

No Sensoriamento Remoto, o objeto imageado é registrado pelo sensor por meio

de medições da radiação eletromagnética que o objeto emite ou reflete. São exemplos de

produtos de sensoriamento remoto as imagens obtidas de satélites e as fotografias aéreas

(MENESES, 2012).

Pires et al. (2002) destacam a utilização de SIGs e de imagens orbitais, obtidas

por sensoriamento remoto, na gestão de bacias hidrográficas, pois auxiliam na

determinação de medidas de manejo ambiental. O objetivo do manejo integrado de bacias

hidrográficas é a compatibilização entre produção e preservação ambiental. Busca-se uma

adequação da interveniência antrópica às características biofísicas dessas unidades

naturais, sob gestão integrativa e participativa, de forma que sejam minimizados impactos

negativos e se garanta o desenvolvimento sustentado (SOUZA & FERNANDES, 2000,

apud SANTANA, 2003).

Os SIGs permitem armazenar e sobrepor diversas informações espaciais da bacia

hidrográfica, permitindo a comparação e correlação entre as informações. Pires et al.

(2002) enumeram algumas das diversas funcionalidades desses sistemas, incluindo a

possibilidade de gerar bancos de dados geocodificados, elaborar modelos para

entendimento da paisagem e executar modelagens espaciais, além de auxiliar os

tomadores de decisão na definição de diretrizes em relação ao planejamento territorial

numa bacia hidrográficas.

Becker (2002) destaca a relação essencial entre a abordagem conceitual de bacias

hidrográficas e de sistemas de informação geográficas, pois ambos trazem

intrinsicamente a noção de espaço. Os padrões e processos que ocorrem dentro de uma

bacia hidrográfica são fortemente determinados ou associados à sua posição no espaço,

absoluta ou relativa a outros objetos. Em SIG essa premissa também se mostra verdadeira,

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pois todos os dados apresentam uma localização única e inequívoca, uma vez

georreferenciados a um sistema de coordenadas.

Segundo Becker (2002), a importância do conceito de escala deve ser considerada

na análise dos processos ecológicos em uma bacia hidrográfica. O autor cita o estudo de

Hunsacker & Levine (1995), que utilizaram SIG para analisar a influência de processos

terrestres, da escala e da resolução dos dados sobre a qualidade da água em duas regiões

dos EUA. Os pesquisadores, ao encontrarem resultados conflitantes, observaram que a

discrepância poderia ser atribuída às diferenças na resolução dos dados e à abordagem

realizada, pois alguns conceitos válidos em escala de bacia, podem não ser fieis se

adotados a nível de curso d’água.

Para Goodchild & Quatrocchi (1997), o conceito de escala pode ser utilizado no

contexto espacial, temporal ou qualquer outra dimensão da pesquisa, podendo referir-se

à magnitude de um estudo ou ao seu grau de detalhamento (apud Becker, 2002). August

et al. (1996), conforme citado por Becker (2002), destacam a vantagem de os

procedimentos realizados em SIG serem independentes de escala, tornando possível a

modelagem espacial tanto a nível local, de alto detalhamento (grande escala), ou num

nível regional, de baixa resolução (pequena escala). Porém, a profundidade da análise e a

confiabilidade dos dados está intrinsicamente relacionada à escala de análise e à resolução

espacial e temporal dos dados.

4.6. Análise multicritérios como ferramenta para tomada de decisão

Resolver problemas e tomar decisões sobre o uso sustentável de recursos naturais

geram uma demanda por integração de dados, além de conhecimento de um amplo

espectro de disciplinas (LASKAR, 2003). Francisco et al. (2007) defendem que a análise

multicritérios é um método de análise de alternativas para resolução de problemas, que

utiliza vários critérios relacionados ao objeto de estudo, possibilitando identificar as

alternativas prioritárias dentre as consideradas.

Para Grisotto et al. (2012), as avaliações multicritério - AMC são ferramentas de

apoio ao planejamento e à decisão, onde, por meio de técnicas estatísticas e matemáticas,

criam-se condições que possibilitam a combinação e a comparação de cenários. Os

autores ressaltam que este tipo de análise evidencia o gerenciamento de opções de

escolha, buscando orientar a tomada de decisão na direção de uma escolha acertada.

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Diversos autores têm utilizado a abordagem de múltiplos critérios para a análise

de adequação de áreas à determinados objetivos (VETORAZZI, 2006; SARTORI, 2010;

CAIXETA et al., 2012; VALENTE & VETORAZZI, 2005; FRANCISCO et al., 2007;

BOCHNER, 2010). Francisco et al. (2007) destacam a utilidade da espacialização da

análise multicritérios em ambiente SIG, como suporte ao planejamento ambiental de áreas

degradadas e de outras áreas com maior enfoque ambiental, como as Áreas de

Preservação Permanente (APPs).

Nossack et al. (2011) utilizaram a análise multicritérios para a definição de áreas

prioritárias para a recuperação florestal, visando à conectividade entre fragmentos. Para

a análise dos critérios, foi utilizada a Combinação Linear Ponderada. Os autores

destacaram a adequabilidade da análise ao objetivo do estudo, por entenderem o método

como fácil, flexível e robusto, além de aplicável a outras situações de análise ambiental.

Sartori (2010) realizou uma análise multicritérios para definir áreas prioritárias à

conectividade entre fragmentos florestais. Concluiu que a AMC, em ambiente SIG, é

adequada ao mapeamento de áreas prioritárias à restauração florestal em bacias

hidrográficas. O autor destaca a grande utilidade do Processo Analítico Hierárquico

(AHP) para a comparação dos fatores, de modo a reduzir a subjetividade na determinação

da importância relativa de cada um deles.

Vetorazzi (2006), citando Jankowski e Adrienko & Adrienko (2001), faz um

debate acerca do papel dos mapas como fonte de estrutura em problemas de decisão

espacial multicritérios. O autor defende que na AMC o papel dos mapas extrapola a mera

exibição do espaço geográfico de decisão e de resultados. Tornam-se, na verdade,

“índices visuais”, que possibilitam ao usuário o ordenamento de opções de decisão,

assinalando as prioridades e aumentando as opções de saída, pelo conhecimento derivado

dos mapas.

Para definir áreas prioritárias à restauração florestal visando à conservação de

recursos hídricos por meio de avaliação multicritérios, Vetorazzi (2006) utilizou os

fatores “adequação do uso da terra”, “erodibilidade do solo”, “erosividade da chuva”,

“proximidade à malha viária” e “proximidade à rede hidrográfica”. Seus fatores foram

definidos com auxílio da Técnica Participatória, com consulta à bibliografia e com

embasamento em sua experiência prévia em projetos análogos.

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Valente (2005) utilizou a abordagem multicriterial em ambiente SIG para

definição de áreas prioritárias para conservação e preservação florestal numa bacia

hidrográfica do estado de São Paulo. Por meio de revisão de literatura, embasamento em

projetos anteriores e do uso da Técnica Participatória, a autora definiu os seguintes fatores

para sua análise: “proximidade entre fragmentos de maior área nuclear”, “proximidade à

cobertura florestal”, “proximidade à rede hidrográfica”, “distância aos centros urbanos”,

“distância à malha viária” e “vulnerabilidade à erosão”, tendo posteriormente à realização

de análise de sensibilidade entre os parâmetros optado por não utilizar o fator

“proximidade à malha viária”.

Para definição de áreas prioritárias à conectividade entre fragmentos florestais por

meio de análise multicritérios, Sartori (2010) utilizou-se da Técnica Participatória para

definir os fatores importantes à sua análise. Foram eles: “proximidade entre fragmentos

de maior área nuclear”, “proximidade da cobertura florestal”, “proximidade da rede

hidrográfica”, “distância aos centros urbanos”, “declividade” e “erodibilidade do solo”.

Chaves & Alipaz (2007), citando estudo do “Habitat Conservation Trust Fund”

(2003), destacam que indicadores de sustentabilidade em bacias hidrográficas devem ser

disponíveis (públicos e de fácil acesso), compreensíveis (de fácil entendimento por ampla

gama de não-especialistas), relevantes (que reflitam mudanças no manejo ou outras

atividades na bacia) e integrativos (devem demonstrar a conexão entre os aspectos

ambientais, sociais e econômicos da sustentabilidade).

Seguindo as recomendações enfatizadas por Chaves & Alipaz (2007) e buscando

correlação entre os critérios escolhidos e aspectos de qualidade e quantidade de água,

foram selecionados para análise os seguintes critérios: Distância à rede de drenagem;

Coeficiente Número-Curva, Erodibilidade dos solos e a Declividade do terreno

4.6.1. Critérios de priorização

I. Distância à Rede de Drenagem

As áreas mais próximas aos cursos d’água, se corretamente manejadas, podem

funcionar como barreiras ao transporte de sedimento aos cursos d’água. Chaves et al.

(1997) destacam a estreita relação entre a largura da faixa coberta com vegetação nativa

junto à rede de drenagem e a retenção de sedimentos. Os autores realizaram um estudo

próximo à bacia do rio Descoberto, dentro do Parque Nacional de Brasília, e compararam

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a eficiência de retenção de sedimentos das matas nativas em função de sua largura e do

uso da terra à montante.

A demanda por maiores faixas de vegetação ripária junto aos corpos d’água

aumenta à medida que se converte a vegetação nativa por outros usos, como a agricultura.

O aumento também acontece em relação à taxa de erosão média, que ficou em 0,6 kg/m²

para um cerrado nativo, 1,0 kg/m² para um pasto e 2,8 kg/m² para agricultura (CHAVES

et al., 1997).

Nesse sentido, torna-se de extrema importância proteger faixas maiores do que

aquelas previstas no Código Florestal (BRASIL, 2012), visto que dependendo do uso que

se dá à terra à montante dessas matas, sua eficiência de retenção pode ser alterada. Chaves

et al. (1997) destacam que quanto maior a quantidade de sedimento gerada numa vertente,

menor a eficiência de retenção de sedimentos de uma determinada largura de mata ripária.

II. Número-Curva - CN

De Araújo Neto et al. (2012) destacam que o método Curve Number ou Número-

Curva (CN) tem sido largamente utilizado em modelos hidrológicos de bacias

hidrográficas em todo o mundo. Trata-se de um método para a estimativa do escoamento

superficial a partir de dados de solos e do tipo de cobertura e uso do solo. Este método

foi desenvolvido pelo Serviço de Conservação de Solos dos Estados Unidos (SCS-

USDA) e tem sido utilizado no Brasil com frequência nas últimas décadas.

O escoamento superficial originado por uma chuva intensa sobre uma bacia

hidrográfica é parte do ciclo hidrológico local, sendo produzido quando os componentes

de recarga da bacia (interceptação e escoamento ao longo da vegetação, armazenamento

no perfil do solo, percolação profunda que atinge o aquífero e armazenamento em

depressões da superfície) são satisfeitos (WADT, 2003). Para o autor, o escoamento

superficial e o processo de desagregação da estrutura do solo, produzidos pela gota da

chuva, constituem dois principais fenômenos causadores da erosão hídrica.

O CN é um valor adimensional, tabelado, que varia de 0 a 100, conforme a

capacidade de infiltração do solo, onde o limite inferior representa uma condição de solo

com alta taxa de infiltração e pouco escoamento e o limite superior representa condições

de solo de baixa infiltração e alto escoamento superficial (DE ARAÚJO NETO et al.,

2012).

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A metodologia do SCS agrupa os solos dos Estados Unidos em quatro grandes

grupos (A, B, C e D), conforme sua capacidade de infiltração e produção de escoamento

(SARTORI et al., 2005). Sartori et al. (2005) fazem uma revisão sobre as iniciativas para

a adequação da classificação hidrológica dos Estados Unidos às condições brasileiras.

Nesse sentido, os autores propõem uma extensão para a classificação hidrológica dos

solos para abarcar as classes do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, utilizando

a classificação proposta por Lombardi Neto et al. (1989).

Vetorazzi (2006) defende que uma das principais ameaças à qualidade da água,

tanto superficial como subterrânea, é a poluição difusa, resultante principalmente do uso

agrícola inadequado dos solos. A mudança no uso do solo, de uma cobertura original para

cultivos agrícolas, aliada a práticas inadequadas de manejo, altera a relação entre

escoamento superficial e infiltração da água das chuvas. Essa mudança acarreta em erosão

do solo e carreamento de sedimentos em dimensões anormais, acelerando o processo de

assoreamento de cursos d’água e alterando as características físicas e químicas da água,

pela presença de sedimentos e elementos químicos provenientes de defensivos agrícolas.

Para Ruhoff (2007), a simulação dinâmica do escoamento superficial pode

auxiliar no planejamento e gerenciamento de bacias de drenagem carentes de dados

hidrológicos e sujeitas a constantes mudanças no uso e cobertura da terra. O autor destaca

a utilidade do fator CN em trabalhos de conservação do solo, pois este permite a

estimativa do escoamento superficial e informa indiretamente sobre o fluxo de rios,

recarga de água, infiltração, umidade do solo e transporte de sedimentos.

III. Erodibilidade do Solo

As propriedades físicas e químicas dos diferentes tipos de solos geram efeitos

distintos no processo de erosão, conferindo maior ou menor resistência à ação da água,

mesmo em condições semelhantes de chuva, topografia e cobertura vegetal (BERTONI

& LOMBARDI NETO, apud SARTORI, 2010). Sartori (2010) explica que a

erodibilidade do solo é a suscetibilidade ou vulnerabilidade do solo à erosão, o que

justifica uma diferença no processo erosivo, ainda que sob condições semelhantes.

Segundo Wischmeier & Mannering, citados por Valente (2005), a erodibilidade é

uma propriedade complexa e inerente ao solo, dependente da combinação de fatores

individuais de cada solo, especialmente dos fatores que determinam a velocidade de

infiltração da água no perfil e aqueles que determinam a resistência à dispersão e ao

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arraste de partículas durante a chuva e o escoamento superficial, sendo, portanto,

importante na previsão das perdas de solo por erosão.

IV. Declividade

A declividade de encostas é um dos fatores que condiciona os processos erosivos,

sendo um dos principais parâmetros considerados em metodologias de classificação da

aptidão de uso das terras no Brasil (RAMALHO FILHO et al., 1995& LEPSCH et al.,

1991, apud HADLICH, 2006). Para Hadlich (2006), solos desenvolvidos em áreas de

elevada declividade tendem a ser pouco profundos e apresentar problemas de erosão em

função da predominância do escoamento superficial sobre os processos de infiltração de

água.

Áreas em maiores declividades estão mais sujeitas à erosão, podendo ser uma

ameaça à conservação e à preservação florestal (ROSA et al., 2000, apud SARTORI,

2010). Sartori (2010) explica que, em condições de uma cobertura vegetal inexistente ou

ineficiente, esses solos mais declivosos podem ser causadores de deslizamentos,

produzindo sedimentos que, juntamente com outros danos, podem afetar as áreas

florestais que já alcançaram a estabilidade de sua estrutura interna, ou que caminham

nesse sentido.

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5. MATERIAL E MÉTODOS

5.1 Caracterização da área de estudo

A Bacia hidrográfica do rio Descoberto está localizada na divisa entre o Distrito

Federal e o estado de Goiás (Figura 1), entre as latitudes 15°30’0’’S e 16°20’00’’S e as

longitudes 48°30’0’’W e 48°0’0’’W, e faz parte da Região Hidrográfica do Paraná.

A bacia tem uma área de 1.289,42 km² e abrange, no estado de Goiás, os

municípios de Padre Bernardo, Águas Lindas de Goiás e Santo Antônio do Descoberto e,

no Distrito Federal, as regiões administrativas Brasília, Gama, Taguatinga, Brazlândia,

Ceilândia, Samambaia e Recanto das Emas.

O clima da Bacia, de acordo com a classificação climática Köpeen – Gieger, é

considerado predominantemente Aw - tropical com estação seca. A região possui duas

estações bem definidas, com inverno bastante seco e período chuvoso concentrado no

verão. Dados climáticos coletados para a Área de Proteção Ambiental (APA) do

Descoberto, indicam que a precipitação média anual é de 1.400mm (MMA, 2014).

A Bacia do Descoberto está completamente inserida no Bioma Cerrado, e suas

formações vegetais predominantes são Mata de Galeria, Cerrado típico, Vereda, Campo

Limpo, Campo de Murundus, Campo Sujo e Campo Rupestre (MMA, 2014).

No trabalho de Teza (2008), encontra-se uma descrição do trajeto desenvolvido

pelo Rio Descoberto até chegar ao Rio Corumbá, reproduzida a seguir: “O Rio

Descoberto nasce a 1.300 metros de altitude, na região noroeste do Distrito Federal,

desenvolvendo-se inicialmente nos contrafortes da Chapada da Veredinha no Planalto

Central e seguindo na direção noroeste, após a confluência dos seus formadores: os

córregos Capão da Onça e Bucanhão.

O Rio Descoberto flui posteriormente na direção sul, onde entra na região de

remanso provocado pela construção da barragem. Para o lago, contribuem os Córregos

Pulador e Olaria, que são próximos à cidade de Brazlândia, o Ribeirão Rodeador, o Capão

Comprido e o Ribeirão das Pedras. Continuando o percurso na direção sul, o Rio

Descoberto recebe contribuição dos Córregos Chapadinha, Bocaina e Dois Irmãos. Mais

à frente, encontra seu principal afluente, o Rio Melchior, que possui no seu mesmo braço

formador o Córrego Taguatinga. Seguindo ainda em direção ao Sul, encontra-se com o

Rio Corumbá”.

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Optou-se neste estudo por fazer uma análise de toda a Bacia do Rio Descoberto,

desde a sua nascente, ainda na região administrativa de Brazlândia, até seu final, quando

o rio Descoberto deságua no rio Corumbá (atualmente represado para a construção da

Usina Hidrelétrica de Corumbá IV), pois, apesar de a captação de água para o Distrito

Federal encontrar-se na altura do Lago Descoberto, o reservatório de Corumbá IV está

sendo analisado para em breve tornar-se fonte de abastecimento público. Deste modo,

faz-se de extrema importância a análise desta Bacia Hidrográfica como um todo. Porém,

para um estudo mais detalhado, seria necessário a análise individual de cada uma de suas

micro-bacias.

Figura 1: Localização da Bacia do Rio Descoberto

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5.2 Base de dados

Este tópico aborda todos os dados necessários para a realização da análise

proposta. Todo o processamento e análise de dados foi realizado no software ArcGIS

10.3. Foram utilizados dados em formato vetorial e matricial, os quais foram convertidos

para o sistema de coordenadas geográficas WGS 1984, em projeção UTM zona 22 S.

5.2.1 Rede de Drenagem

A rede de drenagem (Figura 2) foi obtida a partir do “Mapa da Hidrografia do

Estado de Goiás”, disponível no site do Sistema Estadual de Geoinformação de Goiás –

SIEG. Esta rede de drenagem do SIEG foi gerada a partir do Macrozoneamento

Agroecológico e Econômico do Estado de Goiás, em escala 1:100.000 e datum SAD69.

Os contornos do Lago do Descoberto e do reservatório Corumbá IV, em formato

vetorial, foram obtidos no site da Agência Nacional de Águas.

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Figura 2: Rede de drenagem da Bacia do Rio Descoberto, indicando as localizações do

Lago do Descoberto e do reservatório Corumbá IV.

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5.2.2 Imagem LANDSAT

Imagem orbital obtida pelo sensor OLI (Operational Land Imager), que está a

bordo do satélite LANDSAT 8 (Figura 3). Os arquivos foram obtidos no catálogo de

imagens do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (www.dgi.inpe.br). As

imagens foram obtidas em 21 de julho de 2016.

Figura 3: Imagem orbital obtida pelo Sensor OLI, a bordo do satélite LANDSAT 8 (RGB

321)

A imagem possui resolução espacial de 30 metros, ou seja, cada pixel representa

uma área de 900m². Essa resolução não apresenta muitos detalhes, mas para o presente

estudo é adequada, pois a análise da bacia será feita numa escala média, que abarca uma

área grande.

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5.2.3 Modelo Digital de Elevação (MDE)

O MDE utilizado foi obtido do projeto TOPODATA, que utiliza os dados gerados

pela missão SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), mas os fornece de uma forma

mais refinada, com resolução espacial de 30 metros (Figura 4).

Figura 4: Modelo Digital de Elevação TOPODATA extraído para a Bacia do Rio

Descoberto, com indicação da localização da rede de drenagem

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5.2.4 Mapa de áreas urbanas

Os vetores de áreas urbanas foram obtidos do SIEG (Manchas urbanas – 2010) e

foi realizada uma edição visual na tela do computador utilizando a imagem LANDSAT

8, em composição colorida (R/G/B 3/2/1), para abranger as novas ocupações (2010-2016)

(Figura 5). A escala de digitalização variou entre 1:30.000 e 1:100.000.

Figura 5: Localização das áreas urbanas na Bacia do Rio Descoberto (Adaptado de

SIEG, 2010)

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5.2.5 Mapa de solos

Mapa de solos em formato vetorial, gerado em escala 1: 250.000. Foi produzido

no âmbito do Plano diretor da Bacia do Rio Paranaíba em Goiás e foi obtido no SIEG

(Figura 6).

Figura 6: Mapa de solos da Bacia do Rio Descoberto

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5.3 Metodologia

5.3.1 Limite da bacia hidrográfica

Primeiramente foi feito o delineamento automático da bacia hidrográfica,

utilizando a extensão Arc Hydro Tools para o software ArcGIS®, ambos versão 10.3. O

dado de entrada exigido é um modelo digital de elevação - MDE, que é um arquivo no

formato raster contendo um valor de atitude para cada pixel.

Para a delimitação da bacia a partir do MDE TOPODATA, foi necessário seguir

uma série de procedimentos no MDE, visando adequá-lo à modelagem espacial. Para a

área da bacia, foram necessárias duas folhas do MDE TOPODATA: 15S495ZN e

16S495ZN. Através da ferramenta “Image Analysis” (Windows->Image Analysis), gerou-

se um mosaico temporário dessas duas folhas. Este mosaico foi exportado em formato

raster (.tif), atribuindo-se valor zero para os campos onde não havia dados.

Por meio da ferramenta “Define Projection” (Arctoolbox ->Data Management

Tools-> Projections and Transformations -> Define Projection), definiu-se a projeção

geográfica para WGS 1984. Gerou-se, com “Copy raster”(Arctoolbox ->Data

Management Tools-> Raster -> Raster Dataset -> Copy Raster) , uma cópia do mosaico,

mas atribuiu-se valores inteiros aos pixels, com profundidade de cor de 16 bits. Com

“Project” (Arctoolbox ->Data Management Tools-> Projections and Transformations -

> Raster -> Project Raster), definiu-se a projeção cartográfica para UTM, zona 22 Sul,

acertando o valor do pixel para 30 metros.

Para a delimitação da bacia hidrográfica, foi realizada a seguinte sequência de

procedimentos no ArcGIS com o Arc Hydro Tools, a partir do MDE corrigido: “Fill

Sinks”, “Flow Direction”, “Flow Accumulation”, “Stream Definition”, “Stream

Segmentation”, “Catchment Grid Delineation”, “Catchment Polygon Processing”,

“Drainage Line Processing”, “Adjoint Catchment Processing”, “Drainage Point

Processing”, “Batch Point Generation” e, por fim, “Watershed delineation”.

Este procedimento gerou, além dos limites da bacia hidrográfica, a delimitação

da rede de drenagem. Apesar disso, optou-se por utilizar a rede de drenagem

disponibilizada no SIEG e os vetores dos lagos, por melhor se adequarem à região.

Após a obtenção da rede de drenagem, esta foi projetada para projeção geográfica WGS

1984, em projeção cartográfica UTM (zona 22S) seguindo: Arctoolbox ->Data

Management Tools-> Projections and Transformations -> Project. Após este

procedimento, realizou-se um corte (“Clip”), para obter apenas a rede de drenagem da

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bacia hidrográfica do rio Descoberto, utilizando-se o limite da bacia hidrográfica gerado

anteriormente.

5.3.2 Geração do mapa de uso e cobertura do solo

Para a geração do mapa de uso da terra da bacia do rio Descoberto foi realizada a

classificação supervisionada da imagem do sensor OLI (LANDSAT 8). Primeiramente,

foi feito o empilhamento das bandas, por meio do “Composite Bands” (Arctoolbox ->

Data Management Tools -> Raster -> Raster processing -> Composite Bands). Foram

utilizadas as bandas 2 até 7. Após o empilhamento, o raster, na composição RGB 321

(True Color), foi projetado para WGS 1984, UTM 22S.

Foram criados aproximadamente 12 polígonos para cada tipo de uso, os quais

foram utilizados como amostras para a geração da assinatura espectral de cada classe de

uso. Meneses (2012) defende que há dois parâmetros de análise em sensoriamento remoto

para reconhecer objetos e fazer distinção entre objetos diferentes: pode-se utilizar as

diferenças nos níveis de reflectância entre os materiais num determinado comprimento de

onda, ou utilizar as assinaturas espectrais, que são feições de absorções da radiação

eletromagnética que identificam um tipo de material, pois elas ocorrem com formas e

intensidades próprias, dependendo unicamente da composição do material.

A cada polígono criado foi atribuído um código numérico, o qual representa a

classe a que o polígono pertence. Foram utilizadas as classes descritas na tabela abaixo.

A seguir, foi gerado um arquivo de assinaturas espectrais para cada classe de interesse,

por meio da ferramenta “Create Signatures” (Spatial Analyst Tools -> Multivariate ->

Create signatures).

Tabela 1: Códigos atribuídos aos tipos de uso de solo

Id Uso da Terra

1 Corpo de água

2 Mata Nativa

3 Floresta plantada

4 Cerrado

5 Campo/ Pastagem

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6 Solo exposto

7 Cultivo agrícola

8 Área urbana

Com o arquivo de assinaturas espectrais para cada classe de interesse, a

classificação da imagem foi realizada pelo método de Máxima-Verossimilhança, por

meio da ferramenta “Maximum Likelihood Classification” (Spatial Analyst Tools ->

Multivariate -> Maximum Likelihood Classification). Segundo Meneses (2012), o

classificador por Máxima Verossimilhança considera a ponderação das distâncias entre

as médias dos valores dos pixels das classes, utilizando parâmetros estatísticos.

O classificador por Máxima Verossimilhança assume que todas as bandas têm

distribuição normal e calcula a probabilidade de um dado pixel pertencer a uma classe

específica (INPE 2008, apud MENESES, 2012). Meneses (2012) considera este

classificador como eficiente, pois utiliza as classes de treinamento para estimar a forma

da distribuição dos pixels contidos em cada classe no espaço de n bandas, como também

a localização do centro de cada classe.

Por fim, foi utilizado o filtro de maioria no arquivo para melhorar o mapeamento

(Spatial Analyst Tools -> Generalization -> Majority Filter). Esta ferramenta realiza uma

“limpeza” de pixels que possivelmente tenham sido classificados de forma equivocada,

reposicionando as células no raster de acordo com a maioria de células vizinhas.

5.3.3 Análise de áreas de preservação permanente

Neste trabalho, foram analisadas as Áreas de Preservação Permanente diretamente

relacionadas aos recursos hídricos, no caso, as faixas marginais de cursos d’água, as áreas

no entorno de reservatórios d’água artificiais (Lago Descoberto e UHE Corumbá IV) e as

áreas no entorno de nascentes e olhos d’água perenes. Por conta da resolução da imagem

utilizada, não foi possível identificar áreas brejosas para a caracterização de APPs de

Veredas. Na tabela abaixo estão descritas as faixas que devem ser protegidas, de acordo

com o tipo de APP identificado.

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Tabela 2: Tipos de áreas de preservação permanente analisadas e suas respectivas

metragens.

Tipo de Área de Preservação Permanente Tamanho

Curso d’água (inferior a 10 metros de largura) 30 metros

Nascente Raio de 50 metros

UHE Corumbá IV1 100 metros

Lago Descoberto2 125 metros

Para a estimativa das áreas de preservação permanente exigidas em lei, foi

utilizada a ferramenta “Buffer”, disponível no Arctoolbox do ArcGIS. A operação gera

um “mapa de distâncias”, que, segundo Câmara et al. (2001), é um mapa contendo as

distâncias de cada ponto do mapa a um objeto geográfico de referência.

Foi gerado um buffer ao redor da rede de drenagem, de acordo com o tipo da APP.

Com o buffer gerado, foi possível extrair do mapa de uso do solo apenas as áreas de APP.

Desse modo, comparou-se o uso do solo atual com o previsto em lei, e assim, foram

quantificadas as APPs a serem restauradas.

5.3.4 Análise multicritérios

A análise multicritérios envolve uma série de pequenos passos, detalhados na

Figura 7 abaixo, como a geração de uma imagem para cada fator analisado, geração de

uma imagem contendo as restrições, a padronização de cada mapa para que todos estejam

numa base comum (no caso foram classificados em 3 níveis de prioridade), para

finalmente realizar a soma dos fatores e obter o mapa final de áreas prioritárias. Cada

procedimento mencionado na Figura 7 foi detalhado nos tópicos abaixo.

1 Definida no Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatórios

Artificiais – PACUERA da Corumbá IV, aprovado pelo IBAMA 2 Definida na IN 01/1988

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Figura 7: Fluxograma dos passos seguidos para a análise multicritérios.

5.3.4.1 Fator Distância à rede de drenagem

Para a elaboração desse mapa de fator foi utilizada a função “Euclidean Distance”

(Arctoolbox -> Spatial Analyst Tools-> Distance -> Euclidean Distance) sobre a rede de

drenagem. A função utiliza o teorema de Pitágoras para calcular a distância entre dois

pontos, de modo que a distância seja representada pela hipotenusa.

5.3.4.2 Fator Número-Curva (CN)

Utilizando o mapa de solos obtido no SIEG, realizou-se uma comparação do tipo

de solo com os Grupos Hidrológicos de Solos - GHS, segundo a tabela proposta por

Sartori (2004 apud SARTORI et al., 2005). Atribuiu-se para cada tipo de solo, uma letra,

de acordo com o GHS a que pertence (Tabela 3 e Figura 8).

Tabela 3: Descrição dos grupos hidrológicos de solo de acordo com Sartori (2004,

apud SARTORI et al., 2005), bem como os tipos de solos correspondentes.

Grupo

(GHS) Descrição do Grupo Hidrológico

Tipos de solos

incluídos

A

Solos muito profundos (prof. > 200 cm) ou

profundos (100 a 200 cm);

Solos com alta taxa de infiltração e com alto grau de

resistência e tolerância à erosão;

Solos porosos com baixo gradiente textural (< 1,20);

Solos de textura média;

Solos de textura argilosa ou muito argilosa desde

que a estrutura proporcione alta macroporosidade

em todo o perfil;

Solos bem drenados ou excessivamente drenados;

Solos com argila de atividade baixa (Tb), minerais

de argila 1:1;

A textura dos horizontes superficial e subsuperficial

pode ser: média/média, argilosa/ argilosa e muito

argilosa/muito argilosa.

Latossolos

Vermelhos e

Latossolos

Vermelho-Amarelos

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D

Solos com taxa de infiltração muito baixa

oferecendo pouquíssima resistência e tolerância a

erosão;

Solos rasos (prof. < 50 cm);

Solos pouco profundos associados à mudança

textural abrupta ou solos profundos apresentando

mudança textural abrupta aliada à argila de alta

atividade (Ta), minerais de argila 2:1;

Solos argilosos associados à argila de atividade alta

(Ta);

Solos orgânicos.

Cambissolos

Figura 8: Classificação hidrológica dos solos da Bacia do Rio Descoberto

A partir de uma intersecção entre o mapa de grupos hidrológicos de solos (Figura

8) e o mapa de uso do solo, foi possível atribuir os valores de CN, tabelados para cada

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tipo de uso e grupo hidrológico de solo (Tabela 4). Os valores de CN foram adaptados do

estudo do NRCS (USDA, 1972).

Tabela 4: Valores tabelados de Número-Curva (CN) de acordo com o tipo de uso do

solo e com o grupo hidrológico a que o solo pertence.

Uso do Solo

Grupo Hidrológico de Solo

A D

Corpo de água 0 0

Mata nativa 26 69

Floresta plantada 47 78

Cerrado 25 77

Campo/ Pastagem 28 81

Solo exposto 77 0

Cultivo agrícola 65 88

Área urbana 90 90

5.3.4.3 Fator Erodibilidade do Solo

A partir do mapa de solos, buscou-se na literatura os valores correspondentes de

erodibilidade. Na Tabela abaixo estão descritos os valores correspondentes de K para

cada tipo de solo, sendo que maiores valores de K indicam uma maior facilidade de

desagregação das partículas do solo.

Tabela 5: Valores de erodibilidade para os diferentes tipos de solos encontrados na Bacia

do Rio Descoberto.

Solo K

Cambissolo 0,028

Latossolo Vermelho 0,012

Latossolo Vermelho-Amarelo 0,014

Fonte: Adaptado de Chaves & Piau, 2008

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5.3.4.4 Fator Declividade

O mapa de declividade foi gerado com base no Modelo Digital de Elevação,

utilizando a ferramenta “Slope” do ArcGIS® (Spatial Analyst tools -> Surface -> Slope).

5.3.4.5 Mapa de Restrições

Foram consideradas como restrições aos objetivos deste trabalho as áreas urbanas

e os lagos. Isto significa que o mapa final de áreas prioritárias considerou apenas o

território que não englobasse essas feições.

5.3.4.6 Padronização dos escores dos fatores

Devido às diferentes escalas utilizadas na mensuração dos fatores, foi necessário

realizar uma padronização entre os valores dos fatores, de modo que todos os mapas

pudessem ser correlacionados. Para tanto, realizou-se uma classificação de cada um dos

mapas, de acordo com a prioridade de intervenção ambiental (Tabela 6).

Tabela 6: Escores utilizados para reclassificar os mapas, de acordo com a fragilidade

ambiental.

Fator

Escore 1 Escore 2 Escore 3

(baixa

prioridade)

(média

prioridade)

(alta

prioridade)

Distância à Rede de Drenagem

Distância

maior que

1.000 metros

Distância entre

250 e 1000

metros

Distância

menor que

250 metros

Número-Curva (CN) CN < 50 50 < CN < 75 CN > 75

Erodibilidade (K) K < 0,012 0,012 < K < 0,014 K > 0,014

Declividade Decliv.< 3° 3° < Decliv. < 6° Decliv. > 6°

5.3.4.7 Geração do mapa de áreas prioritárias

Utilizou-se a ferramenta “Raster Calculator” (Arctoolbox -> Spatial Analyst

Tools -> Map Algebra -> Raster Calculator) para realizar a álgebra de mapas. O

resultado de áreas prioritárias para ações de conservação foi obtido através da seguinte

operação:

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Á𝒓𝒆𝒂𝒔 𝒑𝒓𝒊𝒐𝒓𝒊𝒕á𝒓𝒊𝒂𝒔 = 𝑭𝒂𝒕𝒐𝒓 𝟏 + 𝑭𝒂𝒕𝒐𝒓 𝟐 + 𝑭𝒂𝒕𝒐𝒓 𝟑 + 𝑭𝒂𝒕𝒐𝒓 𝟒

Com este mapa, realizou-se uma operação condicional, para atribuir às áreas de

restrição um valor nulo. Desta forma, o mapa final de áreas prioritárias não contém as

áreas definidas como impróprias aos objetivos deste trabalho, as quais são as áreas

urbanas e os dois lagos.

O mapa final de áreas prioritárias também não abarca as áreas de preservação

permanente, visto que estas já são consideradas prioritárias e sua conservação é

obrigatória, por lei. Deste modo, as áreas de preservação permanente serão analisadas

separadamente.

Ao final, realizou-se uma comparação entre as áreas prioritárias e o mapa de uso

do solo, para entender quais usos predominam em cada classe de área prioritária e assim

analisar e recomendar possíveis soluções.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 Uso e cobertura do solo

O mapa de uso e cobertura do solo da Bacia do Rio Descoberto está apresentado

na Figura 9. Para possibilitar uma análise quantitativa, os dados métricos das classes

foram demonstrados na Tabela 7.

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Figura 9: Mapa de uso do solo da Bacia do Rio Descoberto

Tabela 7: Classes de uso e suas respectivas áreas

Uso Área (km²) Área (%)

Campo/Pastagem 377,59 29,28

Cultivo Agrícola 333,05 25,83

Cerrado 221,58 17,18

Mata Nativa 149,21 11,57

Área Urbana 144,19 11,18

Solo Exposto 27,22 2,11

Corpo de Água 24,03 1,86

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Floresta Plantada 12,56 0,97

Total 1289,42 100,00

A partir da Figura 9 e da tabela 7, pode-se observar que na bacia do Rio

Descoberto existe o predomínio de formações campestres e pastos. Essa classe de uso

“Campo/Pastagem” foi a maior identificada e corresponde a 29,28% da área total da

bacia. As formações vegetais identificadas como “Cerrado” correspondem a 17,18% da

bacia, um total de 221,58 km². As “Matas Nativas” ocupam quase 150 km², que

representam aproximadamente 11,6% da bacia. Juntas, essas formações naturais

representam apenas 28,76%.

Hoffmann & Jackson (2000), ao estudarem a influência da conversão de áreas

naturais de regiões savânicas para pastos e campos, concluíram que os padrões antrópicos

de uso do solo têm o potencial para alterar o clima das regiões savânicas, principalmente

reduzindo a precipitação e aumentando a temperatura. Em 4 das 5 situações simuladas, a

precipitação reduziu aproximadamente 10% após a conversão de savana para pastagens.

Os autores destacam que apesar da precipitação média anual ter apresentado

tendência a diminuir durante toda a estação chuvosa, sem uma mudança consistente na

distribuição das chuvas durante a estação, essa diminuição geral da precipitação causaria

um efetivo alongamento da estação seca pela diminuição da frequência das chuvas no

início e no final da estação chuvosa, o que poderia aumentar a probabilidade e a

intensidade de incêndios florestais (HOFFMANN & JACKSON, 2000). Para Hoffmann

& Jackson (2000) o fogo é uma das formas mais primárias de distúrbio em formações

savânicas e qualquer aumento em sua ocorrência teria um efeito negativo na densidade

de árvores.

A segunda maior classe identificada na Bacia do Rio Descoberto foram os

“Cultivos Agrícolas”, que cobrem 25,82% da área total da bacia. Araújo et al. (2011)

destacam que os cultivos agrícolas na região do Alto Rio Descoberto (área à montante do

Lago Descoberto) destinam-se principalmente ao cultivo de olerícolas.

O setor agrícola é o maior consumidor de água, sendo que a nível mundial

consome cerca de 69% de toda água a disponível (PAZ et al., 2000). Além do alto

consumo de água, outras formas de degradação dos recursos hídricos via setor agrícola

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podem ser enumeradas, como o uso intensivo do solo, aliado a um manejo inadequado,

potencializando processos de erosão e assoreamento dos cursos d’água, além do uso de

agrotóxicos de maneira inadvertida, que é um dos mais sérios fatores de deterioração da

qualidade dos recursos hídricos (AZEVEDO, s.d.).

Para De Oliveira-Filho & Lima (2002), os principais tipos de pressão sobre a fauna

e a flora do Cerrado referem-se à conversão de áreas naturais em agrossistemas e à

ampliação da área de influência urbana. Os autores relatam que as principais ameaças à

biodiversidade do Cerrado estão relacionadas à três atividades econômicas: a

monocultura intensiva de grãos, os investimentos em infra-estrutura (hidrovias, rodovias

e ferrovias) e a pecuária extensiva de baixa tecnologia.

Observa-se que a bacia é predominantemente rural, pois as áreas urbanas não

ocupam mais que 12% de toda a superfície. Apesar disso, percebe-se uma tendência à

expansão dessas áreas urbanas. Teza (2008) fez uma correlação entre o aumento das áreas

urbanas na bacia do Alto Rio Descoberto e a disponibilidade hídrica. O autor verificou

redução na cobertura vegetal para toda a área de estudo, o que influencia na recarga dos

aquíferos e dos lençóis freáticos.

Para Haughton & Hunter (Apud Teza, 2008), o desenvolvimento urbano

frequentemente associa-se à substituição de ambientais naturais por ambientes

construídos, onde realiza-se o direcionamento das águas pluviais e dos esgotos para os

corpos d’água adjacentes. Essa substituição da cobertura diminui a capacidade de

infiltração dos solos e aumenta o escoamento superficial, além disso, os corpos d’água

tornam-se receptores de grandes cargas de poluentes, o que pode comprometer sua

qualidade.

Do Carmo et al. (2005) realizaram uma análise da geoquímica das águas da bacia

do rio Descoberto. Os autores verificaram que os resultados obtidos para as análises de

alcalinidade, fosfato e amônia apresentaram-se acima da média de outros estudos

realizados no DF, o que indica a influência de efluentes domésticos e torna explícito o

possível comprometimento da qualidade do manancial.

Teza (2008) destaca que a região do Alto Descoberto está em estado de conflito

de ocupação e uso: de um lado agricultores e o crescimento de parcelamentos de terra, de

outro o crescimento urbano desenfreado e de outro o poder público, sob a forma de gestor

do abastecimento público de água. O autor afirma a importância de ações que visem a

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melhorar as condições ambientais da área, como projetos de recuperação da vegetação e

a criação de um comitê de bacia, devido à sua alta relevância para a segurança hídrica da

região.

Observou-se, portanto, que os tipos de uso do solo predominantes na Bacia do Rio

Descoberto podem influenciar diretamente na quantidade e na qualidade de seus recursos

hídricos, seja pelo alto consumo de água associado às culturas agrícolas, seja pela possível

diminuição da precipitação anual média por conta da conversão de áreas naturais

savânicas para pastos, ou ainda pela expansão das áreas urbanas que estão associadas à

impermeabilização dos solos, aumento do escoamento superficial e geração de efluentes

domésticos e sua posterior descarga nos cursos d’água.

6.2 Áreas de Preservação Permanente

As Áreas de Preservação Permanente (APPs) juntas representam um total de 59,23

km², o que corresponde a 4,6% da área total da bacia (Figura 10). Para compreender a

situação atual das APPs, o limite das APPs foi extraído do mapa de uso do solo, conforme

demonstrado na Figura 10.

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Figura 10: Mapeamento de Áreas de Preservação Permanente na Bacia do Rio

Descoberto.

A figura 11 demonstra as classes de uso do solo presentes nas Áreas de

Preservação Permanente. Para facilitar a análise quantitativa, calculou-se a área de cada

classe de uso identificada em área de preservação permanente, conforme demonstrado na

tabela 8.

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Figura 11: Uso do solo nas Áreas de Preservação Permanente da Bacia do Rio

Descoberto.

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Tabela 8: Classes de uso identificadas nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) da

Bacia do Rio Descoberto.

Classe de Uso Área (km²) Área (%)

Mata Nativa 25,38 42,85

Cultivo Agrícola 16,68 28,17

Cerrado 9,41 15,89

Campo/Pastagem 5,42 9,15

Área Urbana 1,95 3,29

Floresta Plantada 0,18 0,30

Solo Exposto 0,14 0,24

Corpo de Água 0,06 0,11

Total 59,23 100

As Matas Nativas, como as Matas de Galeria e as Matas Ciliares, ocupam a maior

parte das APPs, correspondendo a 42,85% do total de APPs. Em segundo lugar, estão os

cultivos agrícolas, identificados principalmente na região do entorno do Lago do

Descoberto. Atualmente estão sendo aplicados projetos como o Descoberto Coberto, que

visam à adequação das propriedades rurais à beira do lago, para que preservem e

recuperem a vegetação da faixa destinada à proteção do lago.

Após identificar os usos predominantes nas áreas de preservação permanente, foi

realizada uma classificação para a priorização da restauração dessas áreas, em função do

tipo de uso do solo observado (Tabela 9).

Tabela 9: Reclassificação das APPs em 3 classes de prioridade de intervenção, definidas

em função do tipo de uso observado.

Classe de Uso Prioridade Escore

Mata Nativa Baixa 1

Cerrado

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Corpo de Água

Campo/Pastagem Média 2

Floresta Plantada

Cultivo Agrícola

Alta 3 Área Urbana

Solo Exposto

A Figura 12 demonstra o mapa final em relação ao Fator Áreas de Preservação

Permanente, após a reclassificação de acordo com os critérios de priorização

demonstrados na Tabela 9. Alguns usos em APP são considerados mais danosos ao meio

ambiente, por isso, APPs com cobertura “Área Urbana”, “Solo Exposto” e “Cultivos

Agrícolas” foram consideradas como críticas, e reclassificadas como de Alta Prioridade

para os projetos de recuperação ambiental. As APPs que estão em Áreas Urbanas

merecem uma atenção especial e um detalhamento mais apurado para a quantificação dos

impactos que estão a ocorrer nessas áreas, inclusive com visitas a loco e testes para o

monitoramento da quantidade e da qualidade da água.

As APPs cobertas com “Floresta Plantada” ou “Campo/pastagem” foram

consideradas como de Média Prioridade de intervenção, pois têm alguma cobertura

vegetal, mas ainda estão em desacordo com a lei. As APPs cobertas com Matas Nativas

ou Cerrado foram consideradas preservadas, sendo apenas necessário medidas para

manter essa preservação e incrementar a biodiversidade local, como o cercamento dessas

áreas e o estímulo ao enriquecimento florístico. Desse modo, as APPs com este tipo de

uso foram consideradas de baixa prioridade, juntamente com as áreas identificadas como

Cursos d’água.

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Figura 12: Reclassificação do mapa de áreas de preservação permanente, de acordo com

os critérios de priorização demonstrados na Tabela 9.

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Pela tabela 10 abaixo, percebe-se que a maior parte das áreas de preservação

permanente estão com coberturas nativas, sendo classificadas como de baixa prioridade

de intervenção. Porém, as APPs consideradas de alta prioridade representam 31,7% do

total.

Tabela 10: Quantificação das áreas de preservação permanente em cada classe de

prioridade.

Prioridade Área (km²) Área (%)

Baixa 34,85 58,84

Média 5,60 9,46

Alta 18,78 31,70

Total 59,23 100

Segundo o Código Florestal (BRASIL, 2012), todas as áreas de preservação

permanente devem ser mantidas com cobertura vegetal nativa, admitindo-se o manejo

agroflorestal sustentável caso este não prejudique as funções ecológicas nem

descaracterize a vegetação nativa. Desse modo, observa-se que para a adequação

ambiental da bacia, do ponto de vista legal, é necessário a realização de ações de

recuperação ambiental em aproximadamente 41,16% do total de APPs, o que corresponde

a uma área de 24,38 km² (ou 2.437,74 hectares).

Para Gênova et al. (2007, apud ALBUQUERQUE et al. 2010), a restauração de

matas ripárias tem sido recomendada como a melhor estratégia visando à proteção dos

recursos hídricos e à recuperação da biodiversidade. Segundo a Lei 9,985/2000 (BRASIL,

2000), a restauração é definida como “restituição de um ecossistema ou de uma

população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original”.

Para Albuquerque et al. (2010), a restauração ecológica é uma atividade

intencional que inicia ou catalisa a recuperação dos ecossistemas, direcionando os

processos naturais, sendo que seu sucesso está baseado no restabelecimento dos processos

ecológicos responsáveis pela reconstrução gradual da floresta, e esse restabelecimento

depende da presença de elevada diversidade de espécies regionais, envolvendo não só as

árvores, mas também demais formas de vida vegetal, diferentes grupos da fauna e suas

interações com a flora.

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Existem diferentes sistemas de restauração que devem ser utilizados de acordo

com o grau de degradação da mata ripária. Aquino et al. (2012) destacam dois sistemas

de restauração: a regeneração natural, que consiste em deixar os processos naturais

atuarem na área sem que haja o plantio de mudas e sementes, e a restauração induzida,

que consiste em recompor o solo, semear, plantar mudas e realizar diversas ações para

promover o retorno da vegetação nativa e dos animais.

Aquino et al. (2012) enumeram alguns passos iniciais a serem dados no caminho

da restauração de matas ripárias. Primeiro, é necessário realizar o cercamento da área,

para evitar a entrada de animais que possam compactar o solo ou até mesmo comer as

plantas. Depois é necessário eliminar as causas da perturbação ou degradação, sejam

fatores físicos ou químicos. Também é necessário fazer um aceiro na área, para evitar a

entrada de fogo.

Os autores ainda recomendam a promoção da interligação de remanescentes

naturais da vegetação, o controle de espécies invasoras, como o capim braquiária e o

capim-gordura, a escolha e o plantio de espécies nativas de matas e o envolvimento da

comunidade local no monitoramento da restauração (AQUINO et al., 2012).

6.3 Análise Multicritérios

6.3.1 Fator I: Distância à rede de drenagem

A Bacia do Rio Descoberto é composta por muitos cursos d’água, de modo que a

maior parte de sua área está sob influência de algum rio. A distância máxima encontrada

de um curso d´água até a extremidade da bacia foi de 4,2 km, conforme demonstrado na

Figura 13.

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Figura 13: Distância euclidiana em relação à rede de drenagem.

Vetorazzi (2006) defende que, independentemente de sua distância à rede de

drenagem, a cobertura florestal desempenha papel importante na geração de água de

qualidade em uma bacia hidrográfica. Porém, essa importância, em geral, cresce à medida

que a distância para o corpo d’água diminui.

Dessa forma, o mapa de distâncias à rede de drenagem foi reclassificado,

atribuindo-se maior prioridade às áreas mais próximas (até 250 metros) e menor

prioridade as áreas mais distantes (distância maior que 1.000 metros) à rede de drenagem

(Figura 14).

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Figura 14: Reclassificação do mapa de distância à rede de drenagem, de acordo com os

critérios de priorização demonstrados na Tabela 6.

De acordo com a Tabela 11, 32,42% da área da Bacia do Rio Descoberto é de alta

prioridade em relação à distância à rede de drenagem. Estas áreas possuem bastante

relevância ambiental pois se localizam muito próximas aos rios, lagos e nascentes, tendo

influência direta em seu ciclo hidrológico. O uso da terra nessas áreas pode afetar de

modo significativo a qualidade e a quantidade da água na Bacia, por isso, o planejamento

de uso da terra nessas regiões deve sempre levar em conta os fatores ambientais.

Tabela 11: Quantificação de áreas prioritárias para ações de conservação em relação à

sua distância em relação à rede de drenagem.

Prioridade Área (km²) Área (%)

Baixa 205,27 15,92

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Média 666,08 51,66

Alta 418,08 32,42

Total 1289,42 100

6.3.2 Fator II: Número-Curva (CN)

A Figura 15 representa a Bacia do Rio Descoberto com valor de CN para cada

pixel. Valores próximos de 100 indicam uma condição de alta impermeabilização do solo,

o que gera um escoamento superficial maior. Esta situação foi identificada principalmente

nas áreas urbanas, onde o fator CN atingiu o valor de 90.

Figura 15: Espacialização do coeficiente CN na Bacia do Rio Descoberto, de acordo com

o grupo hidrológico de solo e o tipo de uso do solo.

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A figura 16 demonstra o mapa do Fator CN já reclassificado de acordo com a

necessidade de intervenção ambiental, dada pelo grau de fragilidade em relação ao fator

CN. As áreas com valores de CN inferiores a 50 foram classificadas como de baixa

prioridade para ações de conservação, justamente por já apresentarem uma situação

ambientalmente adequada. Esses valores, neste estudo, só foram atribuídos a ambientes

com cobertura nativa, como Cerrado e Mata Nativa, e às florestas plantadas.

Figura 16: Reclassificação do mapa do Fator CN, de acordo com os critérios de

priorização demonstrados na Tabela 7.

Áreas com CN superior à 75 são consideradas prioritárias pois contribuem

significativamente para o aumento do escoamento superficial e para a redução da recarga

da água subterrânea e da vazão de base (RAWLS et al., 1992). Além disso, a infiltração

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da água no solo também fica prejudicada, visto que um alto valor de CN também indica

condições de impermeabilização do solo.

Esse dado demonstra que a maior parte da bacia se encontra em estado crítico

quanto ao fator CN, o que pode ser explicado pela grande presença de campos e pastos e

também de cultivos agrícolas identificados no mapeamento dos usos, além das áreas

urbanas, já mencionadas anteriormente.

6.3.3 Fator III: Erodibilidade

Figura 17: Valores de referência de erodibilidade aplicados aos solos identificados na

Bacia do Rio Descoberto.

Os cambissolos ocupam a maior parte da bacia e têm um maior coeficiente de

erodibilidade do que os latossolos. Segundo Sartori et al. (2005), os cambissolos

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apresentam comportamento físico e textura média similar à dos latossolos, apresentando,

porém, alta erodibilidade associada ao grande potencial de escoamento superficial.

Os latossolos possuem boa drenagem interna, característica associada à sua alta

porosidade. Apresentam baixa erodibilidade associado a baixo potencial de escoamento

superficial, mas quando submetidos à concentração d’água proveniente da ocupação

antrópica, podem desenvolver ravinas profundas e até mesmo voçorocas (SARTORI et

al., 2005).

Silva et al. (2001) realizaram experimento para quantificar as perdas de solo de

latossolos roxos e cambissolos, observando perdas menores no latossolo roxo e maiores

no cambissolo. De acordo com os autores, a estrutura do cambissolo colabora para que o

mesmo seja mais suscetível à erosão hídrica, sendo recomendado a adoção de práticas

conservacionistas para a manutenção de sua sustentabilidade.

Na Figura 18 está demonstrada a classificação da erodibilidade em 3 classes,

quando à sua prioridade no trato conservacionista. Para esta classificação, utilizou-se os

limites dos três tipos de solo, diferenciando-os quanto ao seu potencial de sofrer erosão

hídrica.

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Figura 18: Reclassificação do mapa de erodibilidade dos solos, de acordo com os

critérios demonstrados na Tabela 6.

6.3.4 Fator IV: Declividade

Cunha & Guerra (2003, apud MMA, 2014) destacam que o Distrito Federal está

localizado no Planalto Central do Brasil, sendo caracterizado por extensos níveis planos

a suave ondulados, denominados de regiões de chapadas, seguido por escarpas, níveis

com alta declividade, que se estendem da base das chapadas até a região de morros

residuais em direção aos vales.

No relevo da Bacia do Rio Descoberto, observa-se o predomínio de formas

retilíneas planares a divergente retilínea, que são formas que promovem a dispersão dos

fluxos superficiais e a formação de extensas rampas, sendo que são encontradas formas

convergentes restritas às proximidades dos rios (MMA, 2014).

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A declividade máxima encontrada na Bacia do Rio Descoberto foi de 31,5446°

(Figura 19), porém a média da declividade ficou em aproximadamente 4,77°, com desvio

padrão de 3,64°.

Figura 19: Mapa de declividade (em graus) da Bacia do Rio Descoberto.

O Plano de Manejo da APA Bacia do Rio Descoberto destaca que a região de

chapadas elevadas (que na Figura 19 ocupam a região superior da bacia, em coloração

amarelada), apresenta melhores condições de recarga e os principais reservatórios

subterrâneos de água (MMA, 2014). Essas áreas compreendem terrenos com padrão de

relevo plano a suave ondulado, recobertos principalmente com latossolos.

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De Carvalho et al. (2008) destacam que no Bioma Cerrado, atividades como

agricultura em larga escala são realizadas preferencialmente em relevos relativamente

planos, em superfícies mais antigas com reduzido processo erosivo (ex: latossolo), além

de uma declividade baixa e/ou moderada (inferior a 15°). Estas superfícies no Cerrado,

conhecidas como Chapadões, estão localizadas em altitudes entre 700 e 1200 metros,

oferecendo, além da topografia plana, outras condições favoráveis à agricultura, como

temperaturas e precipitação regulares e solos desenvolvidos e bem drenados.

Desta forma, observa-se que as áreas mais planas são aquelas com maior aptidão

agrícola, justamente por suas condições de solo e relevo. Porém, também por estes fatores

naturais, estas áreas apresentam relevante importância para a recarga dos cursos d’água,

sendo necessário o planejamento adequado, para que atividades como a agricultura e a

pecuária não gerem impactos na manutenção dos recursos hídricos.

Os valores de declividade encontrados foram reclassificados em três classes, de

acordo com o descrito na Tabela 6. O resultado da reclassificação está apresentado na

figura abaixo (Figura 20).

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Figura 20: Reclassificação do mapa de declividade, de acordo com os critérios

demonstrados na Tabela 6.

As áreas com declividade superior à 6° foram classificadas como de alta

prioridade para ações de conservação, pois quanto maior a declividade de um terreno,

maior a velocidade de escoamento superficial, e menor a velocidade de infiltração da água

no solo. Desse modo, essas áreas têm relevante importância para a contenção de processos

erosivos, principalmente quanto ao aspecto de transporte de sedimentos.

6.4 Mapa de restrições

Na produção do mapa de restrições, atribuiu-se valor 0 àquelas áreas inadequadas

aos objetivos deste trabalho, que são as áreas urbanas e os lagos. As áreas urbanas foram

desconsideradas pois estas merecem uma análise mais pontual, com visitas a campo para

determinar o grau de impacto que estas estão a causar no ambiente natural. Os lagos são

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restrições justamente por não ser possível aplicar técnicas de recuperação ou conservação

de solo dentro da água.

Desta forma, fica demonstrada na Figura 21 as áreas consideradas adequadas aos

objetivos desta análise.

Figura 21: Mapa de restrições aos objetivos da análise multicritérios na Bacia do Rio

Descoberto.

6.5 Áreas prioritárias para ações de conservação de solo e recuperação

ambiental na Bacia do Rio Descoberto

Após a confecção dos mapas de cada um dos fatores, sua reclassificação e a

desconsideração das áreas de restrições e das áreas de preservação permanente, chegou-

se ao mapa de áreas prioritárias para ações de conservação de solo e recuperação

ambiental na Bacia do Rio Descoberto, contendo escores de 4 a 12 (Figura 22).

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Para uma melhor avaliação visual e quantitativa, as áreas prioritárias foram

classificadas como de Alta prioridade, de Média prioridade ou de Baixa prioridade, como

foi feito também com os outros fatores.

Figura 22: Mapa de áreas prioritárias para ações de conservação de solo e recuperação

ambiental na Bacia do Rio Descoberto, classificadas em três níveis de prioridade.

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Em geral, as áreas mais críticas (em vermelho) encontram-se nas proximidades da

rede de drenagem, indicando a prioridade de conservação de áreas de preservação

permanente e de faixas de proteção para a manutenção da qualidade e da quantidade de

água.

Na tabela 12 abaixo estão demonstradas as áreas (km² e percentual) de cada classe

de prioridade analisada. Ressalta-se que o valor da área total da bacia descrita na Tabela

12 (1.056,91 km²), considera aquelas áreas que não englobem os lagos, as APPs e as áreas

urbanas.

Tabela 12: Quantificação das áreas prioritárias para ações de conservação de solo e

recuperação ambiental na Bacia do Rio Descoberto.

Prioridade Área (km²) Área (%)

Baixa 232,64 22,01

Média 327,39 30,98

Alta 496,88 47,01

Total 1.056,91 100,00

Existem atualmente 496,88 km² de áreas consideradas de alta prioridade (47,01%

do total de 1.056,91 km²), as quais apresentam graus críticos em mais de um dos fatores

analisados. Na Figura abaixo foram destacadas somente as áreas que foram classificadas

como de alta prioridade, demonstrando os usos do solo que foram identificados nessas

áreas.

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Figura 23: Uso do solo nas áreas consideradas de alta prioridade para ações de

conservação e recuperação ambiental na Bacia do Rio Descoberto.

Na tabela abaixo estão quantificados os tipos de uso do solo encontrados na classe

de alta prioridade para conservação e recuperação ambiental. O principal uso do solo

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identificado nas áreas de alta prioridade foram os Campo e pastagens, que correspondem

a 32,53% das áreas prioritárias e ocupam uma área de mais de 161,65 km² (tabela 13).

Tabela 13: Quantificação das classes de uso do solo identificadas nas áreas de alta

prioridade para ações de conservação ambiental na Bacia do Rio Descoberto.

Uso do Solo Área (km²) Área (%)

Campo/Pastagem 161,65 32,53

Cultivo Agrícola 139,37 28,05

Cerrado 126,61 25,48

Mata Nativa 65,16 13,11

Solo Exposto 2,94 0,59

Floresta Plantada 1,14 0,23

Corpo de Água 0,0009 0,00

Total 496,88 100,00

O segundo uso do solo mais abundante em áreas de alta prioridade para ações de

conservação do solo são os cultivos agrícolas. Wadt et al. (2003) destacam que, para

culturas perenes e agroflorestas, normalmente os maiores problemas de erosão ocorrem

nos primeiros anos de implantação, quando as espécies arbustivas ou arbóreas se

apresentam pouco desenvolvidas e produzem uma cobertura do solo ineficiente.

6.6 Medidas de conservação do solo e recuperação ambiental

Para sistemas de pastagens, boas práticas de manejo como o plantio de

leguminosas em consórcio com gramíneas, rotação de pastos e o não uso do fogo são

benéficas para o controle da erosão (WADT et al., 2003). Os autores destacam que nas

áreas de pastagens, na época de reforma ou implantação, é aconselhável construir

terraços, dimensionados por técnicos experientes, para disciplinar o escoamento da água

da chuva e minimizar os efeitos dos processos erosivos.

O terraceamento consiste na construção de um conjunto de terraços projetados,

segundo as condições locais, para controlar a erosão de determinada área e têm como

princípio o seccionamento ou a subdivisão dos comprimentos de rampa de forma a

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interceptar o escoamento superficial, diminuindo sua velocidade e seu poder erosivo

(WADT, 2003).

Outra técnica adequada à conservação de solo em pastagens e campos é a

construção de barraginhas ou baciões. Essa técnica consiste em dotar pequenas

propriedades e, no conjunto, toda a bacia hidrográfica, de pequenas barragens ou mini-

açudes, nos locais em que ocorram enxurradas volumosas e excessivas, barrando-as e

amenizando seus efeitos, retendo juntamente materiais assoreadores e poluentes, como

terra, adubo e agrotóxicos, que iriam para córregos e mananciais (DE BARROS, 2000).

De Barros (2000) explica que o sistema de barraginhas tem por objetivo um

carregamento integrado, onde as bacias na porção superior do terreno, quando cheias,

começam a verter o excesso de água para as bacias mais baixas. Desse modo, esse sistema

apresenta diversas vantagens como: o aumento da infiltração da água no solo, diminuição

da velocidade de escoamento superficial, amenização de estiagens por meio da

perenização de mini-açudes nas áreas mais baixas, além de proporcionar a filtragem da

água e sua posterior liberação para córregos e rios (DE BARROS, 2000).

Para os cultivos agrícolas, as técnicas mais recomendadas são o cultivo em nível,

a construção de terraços e o plantio de leguminosas, como adubos verdes, intercaladas

com as espécies comerciais (WADT et al., 2003). Outra técnica que pode ser usada é o

plantio direto, que é um sistema de plantio que elimina o revolvimento do solo e promove

a agrobiodiversidade, através da rotação de culturas e de diferentes usos da terra, além de

manter o solo coberto com culturas em crescimento ou com resíduos vegetais (DE

ANDRADE et al., 2010).

As áreas de Cerrado e Matas Nativas merecem atenção no sentido de acompanhar

a sua qualidade ambiental. O Plano de Manejo da APA Bacia do Rio Descoberto destaca

que o Bioma Cerrado vem sofrendo a conversão de áreas naturais para usos antrópicos,

de modo que essas transformações trouxeram grandes danos ambientais como a

fragmentação de habitats, extinção da biodiversidade e a invasão de espécies exóticas

(KLINK & MACHADO, 2005, apud MMA, 2014).

Assunção e Felfili (2004) destacam que o Distrito Federal se localiza na área

nuclear do Bioma Cerrado e tem sofrido acelerada ação depredatória dos recursos

naturais. Os autores destacam que apesar de grande parte do DF estar ocupada com

unidades de conservação, muitas destas áreas não estão recebendo o devido cuidado.

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Os autores destacam ainda que o conhecimento sobre a distribuição e organização

da biodiversidade nas comunidades do Cerrado ainda são reduzidas, mas que estas

informações são de grande importância para avaliar os impactos antrópicos, fazer o

planejamento de unidades de conservação e auxiliar na adoção de técnicas de manejo

(FELFILI & SILVA JÚNIOR, 2001, apud ASSUNÇÃO & FELFILI, 2004).

Nesse sentido, é importante o fomento a atividades de pesquisa nos remanescentes

florestais e nas áreas de cerrado nativo, para que sejam instituídos programas científicos

de longa duração visando ao acompanhamento da flora e da fauna, e também a programas

de extensão florestal para auxiliar os produtores rurais na adoção de boas práticas de

manejo do solo, recuperação ambiental e manejo sustentável.

Sabendo da necessidade de realizar diversas ações para a conservação do solo e

manutenção da qualidade e quantidade da água na Bacia do Rio Descoberto, é preciso

entender em que contexto organizacional essas ações podem dar certo. Para Castello

Branco (2015), alterações significativas no atual quadro de degradação dos ecossistemas

só podem ser proporcionadas por um conjunto de ações que vão além do modelo

convencional de comando e controle, incorporando outros instrumentos e formas de

incentivo econômico, em especial aqueles baseados no mercado.

O artigo 41 do Código Florestal (BRASIL, 2012), dispõe que o Poder Executivo

federal está autorizado a instituir “programa de apoio e incentivo à conservação do meio

ambiente, bem como para adoção de tecnologias e boas práticas que conciliem a

produtividade agropecuária e florestal, com redução dos impactos ambientais, como

forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente sustentável”, como por exemplo

“pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, monetária ou não, às

atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que gerem serviços

ambientais”.

Wunder (2005), citado por Guedes & Seehusen (2011) define Pagamentos por

Serviços Ambientais (PSA) como “transação voluntária, na qual um serviço ambiental

bem definido, ou um uso da terra que possa assegurar este serviço, é adquirido por, pelo

menos, um comprador de no mínimo, um provedor, sob a condição de que ele garanta a

provisão do serviço (condicionalidade). ”.

Os produtores rurais brasileiros, apesar de serem ambientalmente conscientes, têm

pequena disposição de investir em manejos e práticas conservacionistas em função do

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baixo nível de renda da atividade e da falta de políticas públicas que permitam compensar

esses produtores pelas externalidades positivas que geram, portanto, o modelo provedor-

recebedor, baseado em incentivos, é reconhecidamente mais eficiente que o tradicional

modelo usuário-pagador (ANA, 2009).

Os projetos de PSA já são uma realidade no âmbito internacional e também no

Brasil. No Distrito Federal destaca-se o Programa Produtor de Água (ANA, 2000), que

visa aplicar o modelo de provedor-recebedor, incentivando a compensação financeira aos

agentes que contribuem para a proteção e recuperação de mananciais. Neste programa, o

produtor recebe incentivos financeiros proporcionais aos benefícios relativos ao

abatimento da sedimentação em sua propriedade (CHAVES et al. 2004).

Para este Programa especificamente, o Manual Operativo (ANA, 2009) traz

critérios de elegibilidade para a seleção de novas bacias hidrográficas para o programa.

São eles: A bacia já deve ter implementado os instrumentos de gestão previstos na Lei

9.433/1997, como os Planos de Recursos Hídricos e a outorga dos direitos de uso dos

recursos hídricos; a bacia deve estar com problemas de poluição difusa de origem rural,

erosão e déficit de cobertura vegetal; a bacia deve ser um manancial de abastecimento de

água para uso urbano ou industrial e a bacia deve ter um número mínimo de produtores

rurais interessados, para que a aplicação do programa seja viabilizada.

A Bacia do Rio Descoberto apresenta enorme potencial para um programa de

pagamento por serviços ambientais de sucesso, pois apesar de ser a principal fonte de

abastecimento do Distrito Federal, a Bacia possui muitas APPs irregulares e em áreas

urbanas, pastos e campos degradados com baixo potencial de infiltração e alto

escoamento superficial, solos expostos e ambientes naturais fragmentados. Destaca-se,

finalmente, a urgência para a implementação desse arranjo, pois o DF já se encontra em

estado de alerta quanto à possibilidade de escassez hídrica, tendo realizado racionamentos

sucessivos durante este ano de 2016.

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7. CONCLUSÃO

A situação ambiental atual da Bacia do Rio Descoberto é de conflito de uso, pois

apesar de sua importância para a segurança hídrica da região, verifica-se grande presença

de áreas de baixa produtividade, como campos e pastos, e também a expansão das áreas

urbanas, o que pode prejudicar a manutenção de água em quantidade e qualidade

adequadas.

Foi observado o grande desafio para o Distrito Federal e para o estado de Goiás

para a adequação ambiental de suas APPs de corpos hídricos, visto que 41,16% das APPs

analisadas encontram-se com usos incompatíveis com aqueles previstos em lei. Além

disso, 47,01% das áreas onde foi aplicada a análise multicritérios foi classificada como

de Alta prioridade para ações de conservação de solo e recuperação ambiental, o que

também representa um grande desafio. Ambos os casos também podem ser tratados como

oportunidades, pois o investimento nessas ações constitui-se fonte geradora de empregos

e benefícios socioambientais.

A adoção de programas de pagamentos por serviços ambientais poderia ajudar na

conservação dos recursos hídricos, visto que foram identificadas diversas situações em

que investimentos são necessários, como na recuperação ambiental de áreas de

preservação permanente e na adoção de boas práticas de manejo em cultivos agrícolas, os

quais poderiam ser viabilizados por meio da compensação de usuários dos serviços

ambientais aos provedores desses serviços.

Quando um projeto de conservação ou recuperação ambiental cumpre seus

objetivos, toda a sociedade se beneficia de suas externalidades positivas, de modo direto

ou indireto. Deste modo, a responsabilidade pela viabilização e execução desse projeto

de desenvolvimento sustentável para a Bacia do Rio Descoberto também deve ser

compartilhada, entre os provedores e os usuários da água.

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