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MERGULHO << 55 A idéia de uma viagem começou com a vontade de reunir amigos. E assim foi feito. Trocas de idéias, avaliações sobre os locais para onde poderíamos ir, informações e chegamos à decisão do objetivo: o Mar Vermelho, um estreito corpo de água com 2 250 quilômetros de comprimento e largura média de 300 quilômetros, situado entre a África e a Ásia. Mas será que o destino tão em voga atualmen- te não teria nada de diferente a oferecer, além do que costumamos ver na maioria das ofertas de pa- cotes? Afinal, um dos objetivos era o de realizar algo inusitado, com ares de descoberta para nós, brasi- leiros, e descobrimos que havia essa possibilidade. Bem ao sul, cerca de 40 quilômetros antes da divisa Em St. John’s Reef, ao sul do Mar Vermelho, os mergulhos são mornos, cristalinos, incrivelmente ricos e solitários... Quase Sudão... com o Sudão, encontra-se St. John’s Reef, ampla área de formações recifais que oferece variadas opções de mergulhos. Desde os mais tranqüilos e rasos até íngremes paredes verticais, drifting, boat dives, ca- vernas, etc. – atendendo às mais diversas exigências pessoais que surgem naturalmente dentro de um grupo mais numeroso (o nosso foi formado por 21 pessoas). E, ainda mais, conforme constatamos ao longo da viagem e a cada ponto visitado, pratica- mente não encontramos nenhum outro grupo de mergulhadores além do nosso. Nas poucas vezes em que havia mais de um barco no mesmo recife, as imersões ocorriam em diferentes momentos, fazendo com que sempre tivéssemos a sensação de estar a sós no local. Claro que, estando no Egito, acrescen- tamos as tradicionais visitas ao Cairo e às belezas de Luxor, com passeio de balão sobre o Vale dos Reis e tudo mais que tínhamos direito. Mas vamos ao que interessa: o sensacional período do live aboard. Partimos de São Paulo com destino ao Cairo. Novo vôo no dia seguinte até Hurghada e transfer terrestre em confortável ônibus até Marsa Alam, já em direção ao sul. Embarcamos no M/Y Aldebaràn, um belo barco com 105 pés que entrou em operação em dezembro de 2007, movido com motorização de 1500 hp e dotado de dois geradores que garantiam ar-condicionado a todas as dez cabines suítes, além das amplas salas de estar e de refeições, 24 horas por dia. Água quente nos banheiros das suítes, dessalinizador garantindo mais de dois mil litros de água doce por dia (além dos tanques), recarga de cilindros com ar ou nitrox, dois botes motorizados, dois solários com espreguiçadeiras, área molhada espaçosa e todo conforto que poderíamos desejar. Texto e fotos Armando de Luca Fartura de espécies, comos o budião O peixe-leão, umas das “marcas registradas” do Mar Vermelho

Mar Vermelho

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Expedição ao Sul do Mar Vermelho com mergulhos sensacionais, passeio de balão e visitas a templos egípcios.

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Page 1: Mar Vermelho

mergulho << 55

A idéia de uma viagem começou com a vontade de reunir amigos. E assim foi feito. Trocas de idéias, avaliações sobre os locais para onde

poderíamos ir, informações e chegamos à decisão do objetivo: o Mar Vermelho, um estreito corpo de água com 2 250 quilômetros de comprimento e largura média de 300 quilômetros, situado entre a África e a Ásia. Mas será que o destino tão em voga atualmen-te não teria nada de diferente a oferecer, além do que costumamos ver na maioria das ofertas de pa-cotes? Afinal, um dos objetivos era o de realizar algo inusitado, com ares de descoberta para nós, brasi-leiros, e descobrimos que havia essa possibilidade. Bem ao sul, cerca de 40 quilômetros antes da divisa

Em St. John’s Reef, ao sul do Mar Vermelho, os mergulhos são mornos, cristalinos, incrivelmente ricos e solitários...

Quase Sudão...

com o Sudão, encontra-se St. John’s Reef, ampla área de formações recifais que oferece variadas opções de mergulhos. Desde os mais tranqüilos e rasos até íngremes paredes verticais, drifting, boat dives, ca-vernas, etc. – atendendo às mais diversas exigências pessoais que surgem naturalmente dentro de um grupo mais numeroso (o nosso foi formado por 21 pessoas). E, ainda mais, conforme constatamos ao longo da viagem e a cada ponto visitado, pratica-mente não encontramos nenhum outro grupo de mergulhadores além do nosso. Nas poucas vezes em que havia mais de um barco no mesmo recife, as imersões ocorriam em diferentes momentos, fazendo com que sempre tivéssemos a sensação de estar a sós no local. Claro que, estando no Egito, acrescen-tamos as tradicionais visitas ao Cairo e às belezas de Luxor, com passeio de balão sobre o Vale dos Reis e tudo mais que tínhamos direito. Mas vamos ao que interessa: o sensacional período do live aboard.

Partimos de São Paulo com destino ao Cairo. Novo vôo no dia seguinte até Hurghada e transfer terrestre em confortável ônibus até Marsa Alam, já em direção ao sul. Embarcamos no M/Y Aldebaràn, um belo barco com 105 pés que entrou em operação em dezembro de 2007, movido com motorização de 1500 hp e dotado de dois geradores que garantiam ar-condicionado a todas as dez cabines suítes, além das amplas salas de estar e de refeições, 24 horas por dia. Água quente nos banheiros das suítes, dessalinizador garantindo mais de dois mil litros de água doce por dia (além dos tanques), recarga de cilindros com ar ou nitrox, dois botes motorizados, dois solários com espreguiçadeiras, área molhada espaçosa e todo conforto que poderíamos desejar.

Texto e fotos Armando de Luca

Fartura de espécies, comos o budião

O peixe-leão, umas das “marcas registradas” do Mar Vermelho

Page 2: Mar Vermelho

A tripulação contava com dez pessoas para a marinharia e auxílio de bordo aos mergulhadores e mais dois instrutores no staff para acompanhar e guiar o grupo nos mergulhos. Recebidos com um ótimo jantar, descansamos e partimos para os mergulhos na manhã seguinte. Já na saída, a amos-tra do que nos aguardava era animadora. Saímos do local de embarque navegando entre cabeços de corais rodeados por água cristalina e azul. Deu até vontade de pedir para parar um pouco e fazer um mergulhinho ali mesmo.

Durante toda viagem, a deliciosa rotina era acor-dar por volta das 6h, quebrar o jejum com um suco ou café e biscoitos, e fazer o primeiro mergulho. Voltar, ser recebido com um ótimo café da manhã, navegar para o próximo ponto, mergulhar, voltar agora com direito ao almoço, navegar para outro ponto, mergulhar novamente, tomar um lanche, seguir para o noturno, jantar, conversar muito sobre as experiências do dia, recarregar as baterias das câ-meras e flashes, descarregar fotos e descansar para o dia seguinte. É preciso salientar que as refeições a bordo superaram as expectativas e atenderam bem a todos, inclusive a quem opta por regime vegetaria-no. Os mergulhos abrangeram três regiões do sul do Mar Vermelho: os recifes de Marsa Alam (primeiros mergulhos para checagem e adaptação, mesmo por-que a média de salinidade local é consideravelmente maior do a que estamos habituados no Brasil), Sat-

taya e St. John’s Reef. Foram 22 mergulhos em seis dias de live aboard com repetição de pontos apenas para os noturnos, que eram feitos no mesmo local do terceiro mergulho do dia.

A temperatura média era de 30º C, até cerca de 40 metros de profundidade, chegando a 26º C na faixa dos 50 metros, profundidade máxima atingida. A visibilidade oscilou de 30 a mais de 40 metros na vertical, sendo que, na horizontal, confesso ser difícil de avaliar, mas era absurda, diria ser mais de 80 metros. De uma maneira geral, as formações apre-sentam torres de corais (chamadas de pináculos) que

Palhaços e anêmonas: uma combinação inevitável

Outro “célebre morador” do Mar

Vermelho, o peixe-imperador

Quem vai ao Mar Vermelho, espera

mergulhar com napoleões. E eles

não decepcionam

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partem de um fundo arenoso que pode estar desde 15 metros de profundidade até mais de 100 e nor-malmente chegam até a superfície ou muito próximo dela. Em geral, o nome do recife é precedido pela pa-lavra “abili” quando sua parte superior fica próxima à superfície, mas não aflora, e pela palavra “sha’ab” quando atinge o espelho d’água. Nos recifes mais profundos, o início da descida até o primeiro platô é normalmente suave, seguido de uma parede vertical revestida por enormes gorgônias e corais-negros, despencando para o abismo azul (Abili Ali e Sha’ab Mahrus, por exemplo). Para não danificar os corais, a atracação é feita através de cabos fixados nos diver-sos pontos pela administração do parque marinho, não ocorrendo em nenhum dos pontos visitados o lançamento de âncoras.

A diversidade de vida é espetacular, sendo pos-sível encontrar a colorida fauna recifal formada por corais moles, corais pétreos, corais negros, gorgônias, camarões limpadores, nudibrânquios, tridacnas e muitas espécies de peixes que abusam do direito de variar formas e cores. Entre os peixes, é preciso destacar a grande quantidade de peixes-palhaço abrigados nos amplos jardins de anêmo-nas (destaque para Sha’ab Aid – ou Umm Aruk, “a mãe dos pináculos”), duas espécies de peixes-leão, várias espécies (sete endêmicas) de peixes-borbo-leta, coloridíssimos peixes-anjo, moréias, cangulos, cirurgiões, os enormes, curiosos e amigáveis na-poleões que insistiam em acompanhar o grupo de mergulhadores, raias de pintas azuis, o endêmico peixe-bandeira que forma casais quando adultos e grupos com mais de 50 indivíduos quando jovens, barracudas, xaréus... E até alguns tubarões, como o galha-branca-de-recife e o cinza que, segundo o staff local, aparecem em maior quantidade quando a água esfria um pouco no inverno.

O colorido dos recifes coralíneos de St. John é de

fazer cair o queixo

Nudibrânquios “são mato”...

A basket starfish, exótica

espécie de estrela-do-mar

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mergulho >> 6160 >> mergulho

Além de toda beleza e exuberância da vida, alguns dos recifes ainda guardavam outro tipo de espetáculo. As torres dos recifes muitas vezes for-mam corredores entre elas (como em Umm Kara-rim e Dangerous Reef, em St. John) e até mesmo cavernas com entradas de luz espalhadas pelo teto (como em Sha’ab Claudio e Sha’ab El Cheelenai, em Sattaya). Essas entradas de luz criam ambientes fantásticos e surreais, onde salões exibem feixes luminosos que contrastam com o azul da água, deixando uma aura idílica como em uma catedral muito antiga. Nem é preciso dizer o efeito positivo que um ambiente especial como esse provoca na cabeça dos mergulhadores. Durante e após cada mergulho, as imagens inusitadas navegam por nos-sos pensamentos e trazem a agradável sensação do prazer de poder visitar locais tão privilegiados em sua natureza. Mesmo tratando-se de ambiente com teto e, às vezes, com passagens um pouco estreitas, sempre houve a preocupação dos expe-rientes guias em deixar tudo muito bem explicado nos briefings e de acompanhar as pessoas, que já haviam sido avaliadas quanto a suas habilidades, a cada penetração nessas sensacionais formações. Na verdade, esse foi um dos fatores que direcionou nossa escolha por mergulhar na região sul, além do fato de existir vida mais abundante, já que a freqü-ência de mergulhadores na região é bem baixa.

Além dos mergulhos terem apresentado feições marcantes, o tratamento que nos foi dispensado a bordo foi incrível e chegou ao máximo na última noite, quando além de um jantar especial, com direito até a peru recheado e um bolo com o nome do Brasil, o pessoal da tripulação enfeitou a sala de estar e nos ofereceu um show com música e danças típicas egípcias. Com tudo que encontramos e com o encerramento especial que nos foi oferecido, ficou mesmo aquele gosto de “quero mais” e a certeza de que haverá uma próxima vez.

COMO CHEgAR São Paulo/ Milão (ou Roma) /Cairo voando Alitalia – Cairo/ Hurghada e Luxor/ Cairo, voando Egyptair.

ONDE FiCARO M/Y Aldebarán é um live aboard de 105 pés, com duas cabines para casal e oito duplas, todas com banheiro privativo e ar-condicionado (disponível 24 horas por dia); todos os ambientes climatizados; amplas salas de jantar e estar em ambiente moderno e totalmente clean com TV de plasma, CD e DVD, além de tomadas para recarga de bate-rias; dessalinizador para 2000L/dia de água doce; e velocidade de cruzeiro a 12 nós. MELHOR ÉPOCA A região permite mergulhos o ano todo, mas de maio a outubro é bastante inte-

VAI LÁressante pela temperatura da água, mar calmo e clima adequado inclusive para quem puder esticar a viagem pela Europa.

NA SUPERFíCiE• Passeios tradicionais pelo Cairo não devem ser esquecidos, pois as pirâmides sempre impressionam. O Museu do Cairo conta com acervo rico e história fasci-nante e o mercado Khan el Khalili lembra as mil e uma noites. Um jantar em res-taurante típico, como o Felfela, também vale a pena.

• Em Luxor, são obrigatórias as visitas aos Templos de Karnak e de Luxor (este últi-mo, à noite, exibe belos efeitos das luzes nas edificações). inesquecível é o passeio de balão ao amanhecer, apreciando o nascer do sol no Nilo e iluminando o Vale

dos Reis e o Templo da Rainha Hatshep-sut, também visitados em seguida.

A Squallo Dive Expeditions (www.squallo.com.br) preparou um pacote para St.John’s Reef que inclui passagem aérea São Paulo/ Cairo/ São Paulo, passagem aérea Cairo/ Hurghada e Hurghada/ Lu-xor, traslados, três noites de hospedagem no Cairo, com café da manhã, seis noites de hospedagem no M/Y Aldebarán, com pensão completa (não inclui bebidas), com 17 mergulhos, com cilindro, lastro e guia, duas noites de hospedagem em Luxor, com café da manhã, plano de assistência viagem e visitas ao Vale dos Reis, Templo da Rainha Hatshepsut, Co-lossos de Memnon, Templo de Karnak e Luxor, Museu do Cairo e pirâmides com guia, a partir de 3 700 dólares.

A passagem da luz por entre os corredores formados pelas torres de recifes coralíneas proporcionam mergulhos únicos

O barco que os mergulhadores chamam de “lar” em St. John

Uma única anêmona pode dar guarida a uma dezena depeixes-palhaço