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MARIA DO CARMO DAVID ESTILOS DE NEGOCIADORES PREDOMINANTES EM PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS SOCIAIS DE UMA EMPRESA DE ENERGIA Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total. Orientador: Prof. Martius Vicente Rodrigues Y Rodrigues, D. Sc. Niterói 2008

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MARIA DO CARMO DAVID

ESTILOS DE NEGOCIADORES PREDOMINANTES EM PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS SOCIAIS DE UMA EMPRESA DE ENERGIA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total.

Orientador: Prof. Martius Vicente Rodrigues Y Rodrigues, D. Sc.

Niterói

2008

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MARIA DO CARMO DAVID

ESTILOS DE NEGOCIADORES PREDOMINANTES NOS PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS SOCIAIS DE UMA EMPRESA DE ENERGIA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total.

Aprovado em ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________

Prof. Martius Vicente Rodriguez Y Rodriguez, D.Sc.

Universidade Federal Fluminense

________________________________________

Profª. Stella Regina Reis da Costa, D. Sc. Universidade Federal Fluminense

________________________________________

Profª. Heloisa Peixoto Nogueira Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. D. Sc.

AGRADECIMENTOS

Essa dissertação pode ser comparada a uma obra de tecelagem, enriquecida pela

generosa contribuição de várias pessoas. Foram de fundamental importância os

diversos insumos que recebi: críticas construtivas, sugestões de leituras,

comentários e idéias inspiradoras, estímulos e confiança provenientes dos amigos.

Na impossibilidade de nomear a todos que contribuíram de alguma forma para o

desenvolvimento deste trabalho, explicitarei alguns:

Ao Dr. Flavio Tojal de Araújo, que me estimulou a iniciar esta jornada em busca de

conhecimento.

Ao Prof. Eugênio do Carvalhal, pelas sugestões, disponibilidade, apoio e paciência.

A Dra. Henriette Krutman, pelas cuidadosas revisões e preciosas discussões, que

originaram melhorias no trabalho.

Meu orientador, Prof. Martius pela sua amizade e orientação.

Aos meus pais e ao meu companheiro (in memoriam), que sempre me incentivaram

e acreditaram em mim.

Aos meus colegas e amigos, a todos os entrevistados, agradeço pela atenção com

que me atenderam.

Muito obrigada!

RESUMO

A complexidade do mundo atual tem requerido um esforço concentrado dos

profissionais da área de negócios e das organizações, que têm investido fortemente

para capacitar seus quadros funcionais para lidarem com essa nova realidade de

forma ágil e eficaz. A competência em negociação tornou-se fator preponderante

para que as empresas se mostrem à altura das exigências de competitividade do

mercado, com grande impacto no êxito dos seus negócios. Esta pesquisa tem como

finalidade principal propor e verificar a aplicabilidade do modelo de negociadores

desenvolvido por Junqueira (1998) na identificação de estilos profissionais de

negociar, como uma ferramenta de apoio na estratégia de gestão de conhecimento e

de pessoas de uma organização. Constitui-se de uma pesquisa de campo descritiva,

de caráter quantitativo e qualitativo. A pesquisa envolveu a aplicação de um

questionário em colaboradores de uma empresa de energia. Os resultados,

dispostos em tabelas e figuras, juntamente com as respectivas análises, mostraram

ser possível utilizar esta classificação como parte de uma metodologia para a

aplicação de treinamentos e técnicas específicas para aprimorar as competências

profissionais.

Palavras-chave: Gestão. Negociação. Comunicação. Competências.

ABSTRACT

The present complexity of the world requires great efforts from business managers,

and companies have needed to invest heavily to qualify their managers and

employees to deal with this new reality both quickly and effectively. Negotiation skills

have become a major factor for organizations to achieve the requirements of market

competitiveness, with great impact on their business outcomes. This research

proposes and tests the viability to use the Junqueira’s model of negotiators’ style

(1998) to identify negotiator styles as a tool to support the knowledge and people

management strategy in an organization. This is a descriptive field research of a

quantitative and qualitative nature, based on a questionnaire sent to employees of an

energy company. The results, presented in tables and graphs, indicated this model

can be used to provide technical and methodological support to training programs.

Keywords: Management. Negotiation. Communication. Skills.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Fontes de energia primária ..................................................... 14

Figura 2 O ciclo da negociação ............................................................. 32

Figura 3 O processo de negociação de Harvard ................................... 34

Figura 4 Gênero da amostra ................................................................. 59

Figura 5 Grau de formação ................................................................... 60

Figura 6 Idade dos respondentes .......................................................... 60

Figura 7 Tempo de experiência ............................................................. 61

Figura 8 Estilos ...................................................................................... 61

Figura 9 Flexibilidade ............................................................................ 62

Figura 10 Estilo / gênero ......................................................................... 63

Figura 11 Estilo / idade ............................................................................ 64

Figura 12 Flexibilidade / gênero .............................................................. 65

Figura 13 Flexibilidade / idade ................................................................. 65

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Pontos fortes e fracos de cada perfil ................................... 42

Quadro 2 Classificação de Marcondes - pontos fortes e fracos .......... 43

Quadro 3 Características, riscos e táticas de cada estilo ................... 44

Quadro 4 Os estilos classificados como duro, caloroso, dos números

e negociador ........................................................................

45

Quadro 5 Principais diferenças comportamentais dos gêneros .......... 77

LISTA DE TABELAS

Tabela 1a Estilos e faixa etária – valores .............................................. 67

Tabela 1b Estilos e faixa etária – percentuais ....................................... 67

Tabela 2a Flexibilidade e faixa etária – valores ..................................... 68

Tabela 2b Flexibilidade e faixa etária – percentuais .............................. 68

Tabela 3a Experiência profissional e faixa etária – valores ................... 69

Tabela 3b Experiência profissional e faixa etária – percentuais ............ 69

Tabela 4a Grau de escolaridade e faixa etária – valores ....................... 70

Tabela 4b Grau de escolaridade e faixa etária – percentuais ................ 70

Tabela 5 Estilos de Junqueira .............................................................. 74

Tabela 6 Distribuição dos níveis de flexibilidade no Brasil .................. 77

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CNA Center for Negotiation Analysis a. C. antes de Cristo LIFO Life Orientation i.e. Isto é

SUMÁRIO

1 O PROBLEMA.......................................................................................................11 1.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................11

1.2 QUESTÃO-PROBLEMA ................................................................................................15

1.3 OBJETIVOS .....................................................................................................................16

1.3.1 Objetivo geral.................................................................................................................16

1.3.2 Objetivos secundários ...................................................................................................17

1.4 RELEVÂNCIA DA PESQUISA ......................................................................................17

1.5 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA ....................................................................................19

1.6 ESTRUTURA ...................................................................................................................20

2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................21 2.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................21

2.2 CONCEITOS....................................................................................................................21

2.3 DEFINIÇÕES DE NEGOCIAÇÃO ................................................................................25

2.5 NATUREZA INTERDISCIPLINAR................................................................................28

2.6 POSTURAS OU RESULTADOS POSSÍVEIS DE UMA NEGOCIAÇÃO ...............30

2.7 O PROCESSO.................................................................................................................31

2.8 MODELOS TEÓRICOS DE NEGOCIAÇÃO...............................................................39

3 METODOLOGIA ....................................................................................................51 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS........................................................................................51

3.2 ESTRATÉGIA DE ABORDAGEM ................................................................................52

3.3 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................................53

3.4 UNIVERSO E AMOSTRA ..............................................................................................53

3.5 SELEÇÃO DE SUJEITOS DA PESQUISA .................................................................55

3.6 COLETA DE DADOS .....................................................................................................55

3.7 LIMITAÇÕES DO MÉTODO .........................................................................................56

3.8 PROCEDIMENTO ...........................................................................................................57

4 ANÁLISE DOS DADOS.........................................................................................59 4.1 PERFIL DA AMOSTRA ..................................................................................................59

4.2 ESTILO PREDOMINANTE, POR GÊNERO E POR IDADE....................................63

4.3 ANÁLISE DE ESTILOS E FLEXIBILIDADE, POR FAIXA ETÁRIA E GÊNERO ..66

5 CONCLUSÕES ......................................................................................................74 REFERÊNCIAS.........................................................................................................80 APÊNDICES .............................................................................................................84

11

1 O PROBLEMA 1.1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o mundo vivencia um ambiente em que as mudanças acontecem

de forma cada vez mais rápida e em escala global. As fronteiras geográficas tornam-

se fluidas, a noção de mercado doméstico dilui-se, a comercialização de bens e

serviços ultrapassa limites geográficos e distâncias continentais. A nova sociedade

alicerça-se na informação e, com a evolução da telemática, reformula-se a noção de

tempo e espaço social, com influência na organização do trabalho, nos perfis

profissionais e na capacitação dos trabalhadores.

Ao se analisar o avanço da tecnologia de informação, constata-se que as barreiras

de tempo e distância tornaram-se quase insignificantes. Martinelli (2007, p. 11)

observa que, “nesse contexto de rápidos acontecimentos e mudanças na sociedade,

as empresas procuram globalizar suas atividades”. A globalização acarreta a

adaptação às condições de cada país, incluindo a necessidade de interagir com

pessoas de culturas diferentes, para um exercício de atividades de negócio no

exterior.

Com as organizações assumindo matizes multiculturais, a negociação apresenta-se

como atividade cada vez mais importante no sucesso empresarial. Saber identificar

as diferenças culturais entre os países, e como estas podem influenciar os

processos de comunicação e de negociação – já que os indivíduos de culturas

diferentes não compartilham as mesmas origens, códigos ou convenções – torna-se

uma habilidade imprescindível ao êxito do profissional globalizado.

Da mesma forma, os limites entre as empresas estão menos nítidos e, apesar do

acirramento da luta pela conquista dos mercados, a cooperação coexiste com a

competição no ambiente de negócios; alianças múltiplas se formam, seja entre

empresas e concorrentes, seja entre as organizações e sua cadeia de fornecedores,

dentre outros arranjos produtivos. As razões para tal cooperatividade são variadas,

12

objetivando desde a redução de custos operacionais até para fazer frente a riscos

em comum ou compartilhados.

A multiplicação dos arranjos organizacionais decorrentes de fusões, alianças

estratégicas e joint ventures – além dos avanços tecnológicos aplicáveis ao universo

dos negócios — pressiona as empresas rumo a excelência em seus processos. Elas

precisam interagir com uma realidade de mutações e volatilidade, garantindo a

sobrevivência empresarial em ambiente dinâmico e pleno de incertezas.

Sob o aspecto humano, esta aceleração nas mudanças intensifica o ritmo de

trabalho, exigindo dos profissionais uma boa capacidade de adaptação aos novos

ambientes e desafios, em especial na gestão dos negócios. Percebe-se, também,

uma tendência à formação de equipes autogerenciadas, orientadas para resultados,

com visão e ação estratégica.

Dentro das organizações, freqüentemente surgem conflitos internos, derivados de

interesse antagônicos, valores, idéias, sentimentos ou posições funcionais

conflitantes entre os colaboradores. A melhor maneira de harmonizar tal

multiplicidade de interesses é através de negociação.

Já nos anos 80, as organizações de países mais desenvolvidos passaram a

distinguir o tema “negociação” dentre os prioritários na formação de profissionais

especializados. No Brasil, esse interesse surgiu após a abertura de mercado,

iniciando-se em organizações que já atuavam no mercado externo ou que nele

estavam se lançando com vistas a expandir o âmbito dos seus negócios.

Sob o efeito destas forças contraditórias, não surpreende que a habilidade de

negociar tenha se tornado cada vez mais reconhecida como essencial. Ou seja: o

know how para conciliar interesses variados, concretizando acordos que satisfaçam

de uma forma equilibrada às demandas e expectativas de cada envolvido, com a

preocupação de manter um relacionamento duradouro, passa a ser um diferencial

precioso para as empresas. A busca desse know how envolve os dirigentes,

executivos e profissionais de um largo espectro de áreas.

13

Os impactos das mudanças derivadas da globalização também atingiram o

segmento de energia e, em decorrência, afetaram essa empresa, inserida que está

neste ambiente global. Por outro lado, as organizações deste setor também vêm

passando por grandes transformações visando atender aos anseios de seus

acionistas, empregados e clientes. Nessa parte, dar-se-á uma visão geral do setor

de energia, no qual se insere a empresa pesquisada.

A energia é um insumo vital para o desenvolvimento, sendo sua disponibilidade algo

essencial para garantir o poder de produção de um país. Em todo o mundo, seu

consumo tem aumentado por causa do desenvolvimento industrial, da expansão dos

transportes e do crescimento demográfico, já que são os recursos energéticos, não

renováveis e renováveis, que fornecem energia para a concretização de tais

atividades.

No século XX, o carvão e o petróleo – fontes não renováveis - dominavam a matriz

energética mundial. Os dois choques do petróleo e a permanente instabilidade social

e política das principais regiões produtoras, elevou o interesse mundial por fontes

alternativas e renováveis de energia, para diminuir a dependência do petróleo

importado.

Outro fator de peso neste processo de diversificação foi a preocupação mundial com

o meio ambiente, devido ao potencial altamente poluidor da produção, consumo e

movimentação dos combustíveis fósseis e de derivados de petróleo.

Desta forma, a crescente necessidade global por fonte de energia segura, mais

eficiente, renovável e que cause menos danos ao meio ambiente modificou a matriz,

que agora inclui uma mescla de diversas tecnologias energéticas (Figura 1).

14

Figura 1 - Fontes de energia primária Fonte: Cenários de energia da Shell 2050

No tocante à atividade do setor petrolífero, os elevados preços desse produto, aliado

à crescente força da questão ambiental no mundo, têm incentivado as maiores

empresas de produção energética – incluindo a britânica BP, a ExxonMobil, dos

Estados Unidos e a anglo-holandesa Shell-- a privilegiar o desenvolvimento de

energias alternativas.

A escolha do tema e da empresa originaram-se da experiência prática da

pesquisadora, que trabalha como executiva em uma empresa deste setor, e que

vem passando por grandes transformações organizacionais.

Inicialmente atuando com fontes de energia não renováveis (combustíveis fosseis),

esta empresa adotou postura semelhante à das demais empresas do segmento,

iniciando pesquisas de outras fontes de energia. Deixou de atuar exclusivamente

com petróleo, para tornar-se uma empresa integrada de energia no sentido mais

amplo.

Com uma produção de petróleo que chega a 1,6 milhão de barris por dia, um parque

de refino capaz de processar 1,8 milhão de barris por dia, capacidade de geração

térmica a gás de 4 mil megawatts (MW) e negócios em oito países, esta organização

quer alcançar status de empresa exemplar na área de energia e ganhar mais espaço

no mercado externo.

15

Desenvolvendo múltiplas atividades no exterior, apresenta no seu dia-a-dia um

contexto de trabalho bastante diversificado. No que concerne à capacitação dos

seus profissionais, esse cenário tornou fundamental que possuam no seu repertório

de habilidades a capacidade de negociar.

1.2 QUESTÃO-PROBLEMA

As organizações que almejam altos níveis de produtividade, com rentabilidade,

precisam ter profissionais bem treinados. Para isto, treinamento e desenvolvimento

passam a ser um recurso estratégico, dando suporte à organização para a

realização de seus objetivos estratégicos.

Na empresa estudada, definem-se habilidades exigíveis para o desempenho de

cada cargo. Um grupo de executivos selecionou nove competências individuais, que

foram consideradas como prioritárias para o estilo gerencial idealizado. A

negociação é uma dessas competências.

Conforme exposto anteriormente, pode-se dizer que esta competência –a

negociação- é também desejável para o exercício de funções não gerenciais como,

por exemplo, profissionais envolvidos em processos negociais, em nível interno ou

externo.

O processo de negociação será abordado mais detalhadamente em outra parte

desse trabalho. Porém, cabe adiantar que o estilo1 constitui-se em uma das

habilidades comportamentais2 mais vitais para o processo de negociação, em

grande parte determinante das possibilidades de êxito do negociador.

Partindo do pressuposto – já comprovado em estudos e pesquisas – de que existem

diferenças relevantes nos estilos de negociar, a questão central desta pesquisa                                                  1 O ser humano age para satisfazer ou evitar a privação de suas necessidades. A teoria dos estilos trata de quatro dessas necessidades, que são reconhecimento, realização, associação e segurança. (..) O que varia de estilo para estilo é como elas estão hierarquizadas, ou seja, o grau de importância que elas têm para cada estilo. (Wanderley, 1998, p.104-105). 2 Habilidades comportamentais, nesse contexto, são aquelas que dizem respeito ao relacionamento entre os negociadores (JUNQUEIRA, 1998, p.44).

16

alicerça-se na seguinte afirmação de Junqueira (1998, p. 55): “...o estilo é imutável,

acompanha-nos toda a vida”.

Sendo o estilo de negociação imutável, ele imprime uma marca indelével e

identificadora durante toda a trajetória profissional de cada sujeito.

Como a negociação é, também, habilidade exigida para os ocupantes de posições

gerenciais e desejável naquelas que envolvam algum tipo de negociação, a proposta

deste trabalho é aplicar a teoria de estilos de Junqueira como uma ferramenta para

identificação dos estilos de negociador em colaboradores de uma empresa de

energia.

A identificação de estilos negociais poderá disponibilizar recursos para aprimorar a

habilidade de negociar, tanto naqueles com potencial de liderança quanto nos

demais profissionais que lidam com negociações, permitindo-lhes exercer os

diversos papéis que permeiam suas atividades com maior liberdade, melhor controle

dos processos, maior responsabilidade e autonomia.

Cabe ressalvar que, embora a ferramenta apresentada não possa predizer se uma

pessoa adotará um modelo de comportamento que não lhe é natural, ela poderá

mostrar o grau de dificuldade que um indivíduo terá para desenvolvê-la.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo geral Esta pesquisa tem como finalidade principal propor e verificar a aplicabilidade do

modelo de negociadores desenvolvido por Junqueira (1998) na identificação de

17

estilos profissionais de negociar. Os resultados poderão ser úteis para as

organizações em seus processos de gestão de pessoas e do conhecimento.3

Ao analisar os pontos fortes e os pontos fracos dos estilos de profissionais da

organização, a área de recursos humanos poderá planejar e desenvolver programas

de treinamento que permitam incrementar a qualidade e os ganhos nas interações

pessoais no contexto organizacional.

Como referência para este estudo, foi escolhida a teoria de estilos de Junqueira

(apud WANDERLEY, 1998). Este modelo permite a aplicação dos conceitos e do

questionário na amostra selecionada e, também, algumas análises pela comparação

dos resultados obtidos com os dados parciais por ele disponibilizados em seu livro.

1.3.2 Objetivos secundários

1) Identificar possíveis ligações entre estilo e idade.

2) Identificar possíveis ligações entre estilo e gênero4.

3) Identificar o grau de flexibilidade5 mais pregnante nestes negociadores.

1.4 RELEVÂNCIA DA PESQUISA

O tema “negociação” não é novo em Administração: desde a década de 50, há livros

que o analisam teoricamente, tratando de técnicas, treinamentos para

                                                 3 Tais processos envolvem informações sistematizadas de negociações, considerando percepções e comportamentos de negociadores e suas implicações nos resultados obtidos, compondo uma base de dados que possam dar suporte em outras negociações. 4 Gênero é um conceito das Ciências Sociais surgido nos anos 70, relativo à construção social do sexo. Significa a “...distinção entre atributos culturais alocados a cada um dos sexos e à dimensão biológica dos seres”. (HEILBORN ML. apud OLINTO, M.T.A.). 5 Flexibilidade é um conceito aqui utilizado relativamente a objetivos (aspectos estratégicos) e aos meios e procedimentos para alcançá-los (aspecto tático). Ter flexibilidade significa ter comportamentos adequados quanto a esses dois aspectos. (WANDERLEY, 1998, p.118).

18

gerenciamento de conflitos, etc. Porém, há poucas pesquisas de campo sobre o

assunto.

Segundo Fisher, Ury e Patton (1991, p.7), no exterior tem emergido nos últimos anos

um grande interesse sobre o campo da negociação, incluindo aí não apenas obras

teóricas, mas, também, a produção de estudos de caso e pesquisas empíricas. Nas

universidades, multiplicam-se os docentes especializados na temática e há uma

oferta crescente de cursos de capacitação e reciclagem nas técnicas de

negociação6.

Segundo Cavalcanti (apud MARTINELLI, 2006, p.52), quando comparada à

realidade dos Estados Unidos e do Canadá, a negociação é uma prática ainda

pouco ensinada no Brasil. Somente nas últimas duas décadas o tema passou a ser

mais discutido, possivelmente pela necessidade de acompanhar as “marés” da

globalização. Antes disso, o aprendizado e desenvolvimento de conceitos eram

atividades assumidas pelos próprios profissionais, de forma intuitiva ou empírica.

As tendências e condições mercadológicas:

impõem o empowerment7 que pressiona as grandes organizações a transferir poder para os funcionários, os quais poderão tomar uma maior quantidade de decisões de forma mais rápida. Isso requer a transferência de autonomia, transferência de margens maiores para negociar, em prol da agilidade e flexibilidade do negócio (CARVALHAL, 2005, p. 24).

Neste ambiente, espera-se das pessoas compreensão de todos os paradoxos

envolvidos em uma situação, capacidade de cooperação, para manter-se

competitivo e capacidade de tomar decisões mais rapidamente.

Do ponto de vista organizacional, pode-se dizer que a habilidade negocial é de

extrema importância para os profissionais, pois permite atuar com maior flexibilidade

e rapidez nas reações às mudanças.

                                                 6 Dentre outras instituições de primeira linha, o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – Ibmec – e a Fundação Getúlio Vargas oferecem cursos para executivos jovens (até três anos de formados). 7 Empowerment: técnica de gestão que consiste na delegação de poder ao empregado; está associado a um sistema de gestão participativo.

19

Profissionalmente, saber negociar é uma aptidão muito útil para obtermos a

cooperação dos colegas, chefes, subordinados, fornecedores, bem como para

solucionar problemas.

Para Junqueira (1998), as dimensões mais importantes da liderança numa

sociedade globalizada são: negociação, relacionamento e capacidade de influenciar

(“influenciação”, segundo a terminologia do autor).

Outros estudos poderão se originar a partir deste, com maior abrangência de

unidades de análise, o que irá possibilitar uma compreensão mais aprofundada dos

negociadores nacionais, expondo as suas dificuldades e pontos fortes e traçando um

perfil mais acurado dos mesmos.

Estimativamente, as conclusões deste trabalho agregarão valor ao tema, gerando

uma contribuição acadêmica tanto aos estudos sobre negociação como, também, à

área de gestão de pessoas, no que tange a perfis e comportamentos.

Adicionalmente, o trabalho poderá contribuir na modelagem de programas de

treinamento direcionados a profissionais que atuam como negociadores e,

subsidiariamente, para as organizações em seus processos de gestão de pessoas e

do conhecimento.

1.5 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Este trabalho pretende identificar os estilos predominantes em profissionais de

algumas áreas de ciências sociais da empresa pesquisada. Restringe-se às

negociações que ocorrem no ambiente profissional.

A amostra abrange pessoas com formação acadêmica, selecionadas em função da

facilidade de acesso da pesquisadora aos mesmos, em abordagem não-

probabilística. O grupo é composto por advogados e administradores. Foram

20

mapeadas as seguintes variáveis demográficas: faixa etária, formação escolar,

gênero e tempo de experiência profissional.

Realizada em 2008, a pesquisa é transversal8, abrangendo profissionais residentes

no Rio de Janeiro. Ressalve-se que o universo estudado é representado por uma

amostra não probabilística, significando que os seus resultados não podem ser

extrapolados para outros contextos.

1.6 ESTRUTURA

Esta dissertação apresenta-se com a seguinte estrutura:

No primeiro capítulo encontra-se a Introdução do estudo e, em tópicos a questão

problema, objetivos geral e secundário, relevância e delimitação da pesquisa e sua

estrutura.

O segundo capítulo apresenta o referencial teórico e está subdividido em:

introdução, conceitos, definições e tipos de negociação, natureza interdisciplinar e

posturas, processo e modelos teóricos de negociação.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia empregada, método, tipo de pesquisa,

universo e amostragem, seleção de sujeitos, coleta de dados, limitação do método e

procedimento utilizado.

No quarto capítulo encontra-se o resultado da pesquisa.

A conclusão, a discussão dos objetivos propostos e as considerações finais,

compõem o quinto capítulo.

                                                 8 Refere-se à temporalidade da pesquisa. Em um estudo de corte transversal, os dados são coletados em um ponto de tempo, com base em uma amostra selecionada para descrever uma população neste determinado momento. (RICHARDSON, 1999, p.148).

21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

“Saber negociar é uma arte. Mas, se não nasceu

com esse dom, não é preciso desesperar!” (Fisher et

al, 2004)

2.1 INTRODUÇÃO

Efetuou-se uma revisão bastante ampla da literatura, levantando informação

documental pertinente ao tema “negociação”. Os livros e artigos examinados estão

citados nas referências bibliográficas (Capítulo 6). No material coligido, há várias

definições e conceituações para o termo “negociação”, assim como o processo de

negociar é examinado em nível detalhado. Este capítulo tem por objetivo proceder a

uma revisão dos principais pontos já tratados sobre o tema “negociação”, sob os

seguintes tópicos:

• conceitos

• definições

• tipos e natureza interdisciplinar da negociação

• processos

• modelos teóricos de estilos

2.2 CONCEITOS

Vários livros sobre negociação defendem o conceito de que o ser humano negocia

desde o momento em que nasce e que esse processo vem acompanhando a

humanidade desde os primórdios da História. Registros da Antigüidade encontrados,

por exemplo, no livro de Êxodo da Bíblia, em torno do ano 1.200 a.C. dão conta que

Moisés apresenta-se diante do faraó egípcio, Ramsés II como “negociador”,

representando o povo hebreu, por ele mantido sob regime de escravidão.

22

Com o decorrer dos séculos, o ser humano vai percebendo o valor da negociação ao

avaliar a relação custo/benefício envolvida em disputas e em guerras – estas

raramente gerando conseqüências benéficas ou, no mínimo, acompanhadas de um

custo muito elevado em termos de perda de vidas e de bens materiais.

No passado, as negociações tinham como foco resultados momentâneos,

satisfatórios no curto prazo. Gradativamente, esta amplitude temporal foi-se

modificando, com o surgimento de relacionamentos duradouros e contínuos,

facilitadores dos objetivos das partes envolvidas em uma perspectiva de médio e

longo prazo.

Outro conceito consagrado em diversos livros é o que vincula a origem das

negociações a algum tipo de conflito – de interesses, de necessidades ou de

opiniões. O conflito é uma conseqüência natural da interação entre dois indivíduos,

entre grupos e nas organizações. A negociação, juntamente com a conciliação,

mediação e arbitragem, constitui-se, por conseguinte, em uma das formas

alternativas utilizadas para lidar com situações de conflito.

Falcão (2006) pontua a existência de países nos quais a atividade de negociar é

considerada como uma profissão em si. No exterior, existem periódicos

exclusivamente focados no tema, como o Negotiation Journal9, uma publicação da

Blackwell Publishing e o The Negotiator Magazine10, site de pesquisa em

negociação. Podemos citar também o site CNA - Center for Negotiation Analysis 11,

dedicado ao estudo, treinamento e suporte prático a negociações, mediações e

outros tipos de resolução de conflitos em nível regional, nacional ou internacional

Fischer, Ury e Patton (2005, p.33) tornaram certos conceitos reconhecidos como

prioritários de um método racional de negociação, aplicável em praticamente

qualquer circunstância:

                                                 9Disponível em: http://www.blackwellpublishing.com/journal.asp?ref=0748-4526&site=1. Acesso: novembro de 2007. 10 Disponível em: http://www.negotiatormagazine.com/. Acesso: novembro de 2007. 11 Disponível em: http://negotiations.org/. Acesso: novembro de 2007.

23

- separar as pessoas do problema: significa atacar os problemas com determinação, reconhecendo todas as necessidades e emoções das pessoas envolvidas como legitimas e, portanto, sem atacá-las; - concentrar-se nos interesses: identificar as motivações em jogo, considerando-as na formulação das propostas; - criar opções de ganhos mútuos: buscar opções que considerem também aqueles que, embora não estejam presentes à mesa de negociação, as afetam e são por ela afetados; - ter critérios objetivos: só estes podem conduzir a propostas irrecusáveis e legitimar o processo decisório nas negociações.

Nas relações comerciais, são princípios e técnicas indispensáveis para um bom

comprador/vendedor de uma maneira geral: conhecer o mercado e a concorrência,

definir objetivos, margens, preparar-se adequadamente para uma negociação, saber

empregar táticas e estratégias, enfim preparar-se para negociar,.

Já nas negociações internacionais, devido ao impacto da multiculturalidade, não há

uma teoria ou regras fixas com indicações do que fazer para se alcançar êxito. O

processo também varia de empresa a empresa, de acordo com a situação e

mercado, porém as diferenças culturais representam o fator mais crítico. Como disse

com muita propriedade Martinelli (2007), conhecer, entender e adaptar-se às

diferenças culturais entre os povos é algo fundamental para o sucesso em

negociações internacionais.

Um dos principais dilemas com que os negociadores se deparam é decidir entre uma

negociação competitiva (reivindicar valor) ou cooperativa (construir valor),

principalmente se o “ganha-ganha”12 é adotado como o modelo ideal de negociação.

Estas tensões detectadas nas negociações também estão presentes no cotidiano,

não sendo possível dissociá-las, pois afetam as escolhas das estratégias e das

táticas empregadas no processo.

Segundo Martinelli (2006, p.15), negociação é um conceito em contínua formação,

referindo-se de uma forma ampla à satisfação das partes e sugerindo uma

abordagem sistêmica para o processo. Sua proposta apóia-se na idéia de que, ao

                                                 12 Essa expressão pressupõe que “..é possível encontrar alternativas de ganho comum, pois os negociadores não são inimigos, mas sim solucionadores de problemas comuns”. (WANDERLEY, 1998, p. 24).

24

aplicar esta visão, pode-se enxergar de maneira mais clara tanto os diversos

envolvidos – direta ou indiretamente – bem como os principais interesses, e as

alternativas possíveis para solucionar questões ou negócios, de forma satisfatória

para todas as partes. Esse esforço conjunto pode levar a novas negociações no

futuro, propiciando relações duradouras e aperfeiçoando as existentes.

Em ensaio, Martinelli (2001), cita três variáveis básicas que influenciam o processo

de negociação: poder, tempo e informação. O poder13 pode ser dividido em vários

tipos, porém o mais importante é conhecê-los para direcioná-los eficazmente para

obtenção de um relacionamento duradouro.

O tempo é o período durante o qual o processo acontece. Seu limite é definido por

quem negocia; é essencial para a negociação. Igualmente, as partes necessitam de

tempo para conhecerem-se, obter informações. A passagem do tempo pode auxiliar

o processo para o negociador mais controlado, já que a ansiedade e ânsia de

realizar prontamente o negócio são fatores de pressão psicológica.

A informação é de extrema importância tanto antes quanto durante o processo,

afetando a avaliação da realidade e as decisões que serão tomadas. Martinelli

(2001, p.2) ressalta que, por estarem muito entrelaçadas, devem ser tratadas em

conjunto, para que haja o aproveitamento apropriado de oportunidades relacionadas

com os objetivos do negócio.

Outro aspecto importante de ressaltar nessa temática refere-se à comunicação. Para

Junqueira (1998), sem comunicação não há negociação, tampouco administração.

Ele define comunicação como “o processo pelo qual uma idéia é transmitida de uma

fonte para seu receptor, com a intenção de modificar seu comportamento”

(JUNQUEIRA, 1998, p. 14). É um processo de troca, compartilhamento e

compreensão de uma informação por duas ou mais pessoas.

A ética é uma questão cada vez mais importante nas organizações. A ética

empresarial expressa hábitos da cultura organizacional e escolhas que os

                                                 13 Poder é capacidade de provocar mudanças ou impedir que elas ocorram, de acordo com a própria determinação. (JUNQUEIRA, 1998, p.35).

25

administradores fazem na esfera do trabalho. É fundamental que as organizações

definam e explicitem princípios éticos para orientar seus colaboradores no

desempenho das suas atividades. Assim, do ponto de vista empresarial, a postura

ética e a transparência são conceitos de vital importância para tornar as negociações

mais eficazes, confiáveis e focadas na filosofia “ganha-ganha’, em perspectiva de

longo prazo.

Considerando-se que a negociação está presente não só nas organizações como,

também, em praticamente todos os momentos da vida, é de extrema importância a

capacidade de transitar na interface com terceiros, i.e., de lidar habilmente com as

diferenças (URY, 1991, p. 15), sejam elas de origem cultural, comportamental, de

gênero, idade, etc.

Neste contexto, pode-se dizer que, “no século XXI, o diferencial para a

competitividade resulta, paradoxalmente, da habilidade de cooperar – cooperar até

mesmo com os concorrentes ou aqueles com quem eventualmente tenhamos tido

uma relação antagônica” (URY apud BURBRIDGE, 2005, p. xvi).

2.3 DEFINIÇÕES DE NEGOCIAÇÃO

Para Miranda (2005, p.8):

a negociação é um processo social básico, utilizado para resolver conflitos toda vez que não existam regras, tradições, fórmulas, ‘métodos racionais’ ou o poder de uma autoridade superior. Ao optar pela negociação, as pessoas preferem: (a) evitar uma batalha em que um dos dois lados leva a pior, (b) a ruptura de um relacionamento ou (c) a guerra total.

Almeida Junior (1997, p.13) define negociação como “a arte de construir-preservar

um nível de confiança entre as partes, capaz de garantir o cumprimento de acordos

anteriores e a busca de formulação de novos compromissos”.

Para Shell (2001, p. 7), negociação não é uma ciência exata, embora também não

seja simples intuição. Ele conceitua negociação como “... um processo de

26

comunicação interativo que pode ocorrer quando queremos algo de outras pessoas

ou quando outra pessoa quer algo de nós”.

Já na definição de Carvalhal et al, “a negociação é um processo de buscar um

acordo satisfatório para as partes envolvidas” (2006, p. 45).

Wanderley define negociação como o “processo de alcançar objetivos por meio de

um acordo nas situações onde existam conflitos, isto é, divergências e

antagonismos, de interesses, idéias e posições” (1998, p.21).

Segundo Goldenberg (2000, p.1), negociação é:

... um processo de se obter das pessoas aquilo que se deseja através de um acordo. É um processo de troca em que as partes determinam o mínimo e máximo aceitáveis, a chamada zona de acordo, onde se estabelece secretamente um preço de reserva.

Para Eduardo Terra, “a negociação é uma ferramenta, um conjunto de técnicas para

lidar com conflitos e impasses”, exigindo um conjunto de habilidades interpessoais e

comportamentais para ser bem conduzida (2006, p.1).

Segundo Nierenberg 14, negociação pode ser definida “como um negócio que pode

afetar profundamente qualquer tipo de relacionamento humano e produzir benefícios

duradouros para todos os participantes”. (1983 apud MARTINELLI, 2006, p.15)

Pesquisas indicam que “90% das pessoas em nível gerencial consideram que uma

boa capacidade de negociar é um fator crucial para o desenvolvimento profissional”

(BURBRIDGE, 2005, p.3). As competências técnicas que lastreiam uma boa

negociação - como capacidade para planejar, estabelecer estratégias, monitorar

etapas, avaliar resultados, além do conhecimento do negócio em si - são

ferramentas que fazem parte do cotidiano dos gestores bem sucedidos.

Por outro lado, o processo de negociar vem-se tornando um diferencial competitivo

em qualquer nível da organização, ou até mesmo na ampliação da abrangência do

                                                 14 Nierenberg, G.I. The art of negotiating. New York: Simon & Schuster, 1981, p.3.

27

negócio, em parcerias locais ou globalizadas. O que era um requisito indispensável

para um gerente, em uma sociedade competitiva e globalizada passa a ser também

um requisito indispensável para aqueles que almejam o êxito, quer

profissionalmente, quer no plano pessoal.

Em resumo, uma definição simples e concisa para negociação–citada por vários

autores – é a que a vê como o envolvimento de duas pessoas, numa comunicação

de mão dupla, para se chegar a uma decisão ou a uma ação de comum acordo. É

uma experiência que permeia o cotidiano de todos, como é possível verificar nos

exemplos a seguir:

- o saber negociar é uma habilidade muito importante em atividades

relacionadas a vendas ou para quem lida diretamente com clientes;

- a eficiência nas organizações modernas, menos hierarquizadas e mais

interdependentes, exige trabalho de equipe, decisões em consenso. Assim,

saber negociar bem com os pares, superiores e subordinados é uma

habilidade importante em todos os escalões;

- no mundo corporativo, onde muitos negócios se entrelaçam através de

fusões e aquisições, cada vez mais são privilegiados métodos para solucionar

conflitos que signifiquem ganhos para todas as partes.

Em uma perspectiva mais abrangente, negociar envolve a resolução de conflitos –

nas relações organizacionais, familiares, políticas – o aproveitamento de

oportunidades e a administração de interesses, comuns e antagônicos.

2.4 TIPOS DE NEGOCIAÇÃO

A literatura estabelece tipos de negociação segundo o objeto, abrange temas

básicos tais como:

28

- trabalhista – tratativas sobre as condições de trabalho, como salários e

contrato de trabalho. O produto ou acordo final dá-se após encontros entre

representantes das partes envolvidas:

- diplomática – tratam de temas vinculados a questões territoriais, econômicos

e defesa territorial, acordos comerciais entre nações ou entre blocos

econômicos;

- comercial – diz respeito à compra e venda de bens ou serviços. Ocorre entre

empresas, podendo abranger investimentos conjuntos, negócios de cunho

financeiro, mercadológicos, planejamento;

- administrativa – refere-se às relações intra e inter-organizacionais,

realizadas em diversos níveis ou entre setores. Geralmente tratam de

questões específicas, produzindo acordos ou conclusões, que são

transmitidas às partes envolvidas;

- política – abrange diretrizes políticas, projetos legislativos e decisões do

poder executivo, que ensejam acordos de caráter público;

- gerencial – trata das relações entre os níveis hierárquicos de uma

organização. É importante para o desempenho da equipe e realização dos

objetivos a que se propõe.

2.5 NATUREZA INTERDISCIPLINAR

Boehs (2002), em artigo que estuda os conceitos de acomodação/negociação na

especialidade da enfermagem, comenta que há uma realidade multifacetada nas

negociações e aponta alguns de seus aspectos, a saber:

a) aspecto lógico-lingüístico - distingue-se pela argumentação entre as partes. São

subordinadas à linguagem falada, argumentam, na qual as partes expõem provas e

29

argumentos justificáveis e aceitáveis. Compreende a busca por resultados segundo

hipóteses levantadas;

b) aspecto psicológico – relacionado à maneira como cada parte distingue as

percepções e expectativas de si e do outro, que vão mudando à medida que a

negociação vai se desenrolando, originando novas expectativas. Neste dinâmica, as

partes reposicionam-se, buscando atender estas novas demandas;

c) aspecto político - não relacionada à política propriamente dita, e sim ao poder de

barganha das partes. A negociação é um jogo de forças em que o poder está

presente como uma realidade circundante, que pode auxiliar ou destruir o processo

de negociação;

d) aspecto social - a negociação envolve grupos de uma determinada sociedade, de

acordo com os papéis que representam nesta sociedade, nos quais entram em jogo

os objetivos envolvidos e a garantia de seus direitos;

e) aspecto econômico - mesmo que indiretamente, a questão econômica relaciona-

se e interfere nos processos de negociação em geral, pois podem estar ligados a

fatores de mercado, ou pessoais, que envolvam questões de bens ou valores;

f) aspecto antropológico - envolve rituais, regras e cerimoniais, segundo princípios e

normas, que orientam o processo. Está associado às características individuais,

formas de expressão, usos e costumes de cada sociedade. Podem ser

complementares ou conflitantes e, dependendo da cultura, irá interferir naquilo que é

ou não passível de negociação;

g) aspecto administrativo – envolve um planejamento prévio de cada participante

sobre seu papel no processo, abrangendo componentes de coordenação e decisão,

presentes em qualquer ambiente organizado;

h) aspecto tático-estratégico – diz respeito a uma prévia elaboração das metas e

resultados desejados. Requer análise dos pontos negociados, envolvendo

manobras, ou seja, as características táticas e estratégicas;

30

i) aspecto lúdico – como num jogo, o processo requer de cada negociador a

capacidade de prever situações e assumir posições que lhe são convenientes.

2.6 POSTURAS OU RESULTADOS POSSÍVEIS DE UMA NEGOCIAÇÃO

Primeiramente, cabe ressaltar que a pessoa competente em negociação possui uma

visão interdisciplinar – combinando fatores de comunicação, marketing, finanças,

economia. Este fato faz com que ele se torne muito útil para as equipes e seus

gerentes, por apresentar melhores condições para agregar e contribuir na

administração de conflitos, sendo capaz de evitar problemas ou superá-los com

maior rapidez.

Com relação a posturas possíveis de um negociador, Wanderley (1998) frisa que há

modelos mentais, atitudes, crenças e valores a orientar o modo do negociador de

utilizar seus recursos, conhecimentos e habilidades, que definirão o resultado da

negociação:

- postura ganha-perde – a principal característica de um resultado desse tipo

é que uma das partes sai da negociação sem que suas necessidades ou

desejos tenham sido atendidos. Para uma das partes, a visão é de curto

prazo, estabelecer vínculos positivos ou duradouros não é importante, pois a

médio e longo prazo a relação passará a ser de perda para ambos os lados;

- postura ganha-ganha – baseada na proposição de que um bom acordo deve

satisfazer o interesse de ambos. As partes não são inimigas; assim é possível

encontrar alternativas que atendam da melhor forma possível aos objetivos de

todos. Pressupõe um posicionamento cooperativo, onde ambas as partes são

solucionadoras de problemas comuns;

- postura perde-perde – é a postura em que o negociador não se importa de

perder, desde que o outro também perca, sendo que o importante é levar

31

vantagem em tudo. Só o que importa são os próprios interesses. Essa postura

indica que a negociação é um campo de batalha, ou seja, a possibilidade de

acordo é pouco provável. Todas as soluções onde apenas um lado ganha

(ganha-perde), mesmo que no longo prazo, tendem a se converter em

soluções onde todos perdem (perde-perde).

2.7 O PROCESSO

Em comum nas definições citadas anteriormente, destaca-se a palavra ‘processo’,

definida como uma série de ações sistemáticas visando a certo resultado15 (14

definições encontradas). Cabe ressaltar que este processo difere do processo

industrial, que pode ser definido e repetido. “O processo de negociação está sujeito

a definições das partes diretamente envolvidas e interferências de outras instituições

e pessoas” (ALMEIDA JUNIOR, 2005, p. 23).

O processo da negociação envolve pessoas e questões comportamentais, contendo

a subjetividade e a imprevisibilidade originadas nas atitudes das pessoas,

encerrando em si um grau de complexidade. Assim, não pode ser tratado

matematicamente, como uma ciência exata.

Uma das maneiras de representar o processo de negociação é através de um ciclo:

a) inicia-se com a identificação ou percepção das necessidades; b) evolui em

direção a um alvo - supostamente um resultado ótimo - por aproximações

sucessivas, no qual as necessidades das partes são atendidas com o mínimo de

risco (Figura 2).

                                                 15 Michaelis online. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php. Acesso em dezembro de 2007.

32

Figura 2 - O ciclo da negociação Fonte: CAMARGO (2006)

Segundo Carvalhal (2005, p.39), a literatura internacional apresenta diversos

trabalhos em que os negociadores são caracterizados pela sua dimensão cultural. Já

Burbridge (2005) propõe-se a analisar a negociação como sendo “uma proposta de

valor” melhor do que a existente no momento atual, com três etapas no seu

processo – conceito, estratégia e tática — que são decompostas em sete vetores:

- interesse (por que negociar?);

- objetivo (o que se pretende?);

- resultado mensurável (quanto?);

- partes envolvidas (quem?);

- forma de se chegar ao objetivo (como?);

- abrangência do conceito (onde?);

- cronograma (quando?).

Shell (2001), na abordagem por ele denominada “Negociação Baseada em

Conhecimento”, concentra o processo em três aspectos importantes:

(a) planejamento e preparação;

(b) ouvir atentamente e

(c) prestar atenção aos sinais emitidos por meio da conduta pela outra parte.

Acrescenta que há seis fatores que compõem o que ele chama de Fundamentos de

Negociação Eficaz: estilo pessoal, metas e expectativas, padrões e normas

dominantes, relacionamentos, interesses da outra parte e poder de influência.

33

Finalmente, divide o processo em quatro etapas: preparação, troca de informações,

proposta e concessão e compromisso.

Para Junqueira (1998) e Wanderley (1998), o processo de negociação é contínuo,

contemplando um total de sete etapas. Para eles, o início e o fim do processo não

ocorrem quando as partes se reúnem para negociar, e sim quando iniciam o “antes”

e terminam o “depois”. Elas não são rígidas, isto é, uma ou outra etapa pode não

ocorrer, porém são procedimentos sistemáticos para alcançar um resultado que tem

valor. Seguem-se os sete passos e seus significados (apresentados de forma

resumida):

- preparação - identificação dos fatores necessários para obtenção de êxito;

- abertura – fase em que o objetivo é gerar confiança, criar um clima

construtivo, facilitando a cooperação durante a negociação;

- exploração - coleta de informações; nesta etapa, procura-se saber ou

confirmar os problemas reais do outro, soluções e possíveis benefícios que o

outro possa alcançar;

- apresentação - mostra-se a proposta, que deve atender aos interesses da

outra parte e ser percebida como tal;

- clarificação - compreensão da proposta e resposta;

- ação final - obtenção do acordo.

As duas últimas etapas – controle e avaliação -servem para verificar se o acordo

está sendo cumprido.

34

O Processo de Negociação desenvolvido em Harvard16 tem por objetivo aprimorar a

habilidade das pessoas para tratar os conflitos e o manejo das diferenças de forma

construtiva. O Projeto adota um enfoque amplo e interdisciplinar, promovendo um

aprendizado criativo através das aulas ministradas por especialistas em negociação

em diversas áreas tais como: administração de negócios, relações internacionais,

relações de trabalho, direito, política, planejamento ambiental e urbano, educação,

psicologia, antropologia, etc.

Ele pressupõe sete elementos básicos, cuja compreensão fornece uma boa base

para que o negociador identifique e (re) construa o seu estilo de negociar. O quadro

abaixo explicita a relação entre estes componentes, destacando a proposta de valor

- em um sentido amplo - que é o objetivo do processo. Com principio, meio e fim, há

cinco etapas fundamentais para focar estes elementos: preparo, criação,

negociação, fechamento e reconstrução.

Figura 3 - O processo de negociação de Harvard Fonte: Burbridge et al (2005)

Um aspecto relevante a considerar é o conceito de valor. Em uma sociedade

capitalista, “valor” é traduzido sob a forma de preço ou de algum outro ativo

financeiro. Mas há, igualmente, valores pessoais, éticos, idéias, enfim valores

                                                 16 O Projeto de Negociação de Harvard iniciou-se em 1979, com o objetivo de aperfeiçoar a teoria, o ensino e a prática da negociação e da resolução de conflitos, de forma a facilitar o encaminhamento de soluções para conflitos, desde o nível interpessoal até disputas.

Comunicação Relacionamento

Alternativas Compromisso

Valor Interesses Opções

Legitimidade

35

intangíveis de difícil mensuração, que não podem ser desconsiderados no processo

de negociação. Tanto os valores intangíveis quanto as respostas aos vetores acima

são importantes para explicitar o posicionamento das partes envolvidas e criar um

roteiro que auxilie na resolução de eventuais conflitos que surjam durante as

diversas fases da negociação.

Terra (2006) considera que negociação implica em trocas e concessões, com limites

definidos, com as partes sabendo o que está sendo levado para a troca. O processo

ocorre em quatro fases, sendo fundamental a velocidade em que ocorre cada uma

delas:

- planejamento (onde os limites são definidos)

- conversa (ou troca de informações para um bom entendimento do que se

deseja);

- proposta (quando podem surgir as objeções; é preciso desenvolver o tema,

sem intransigências);

- fechamento.

O aspecto comum citado por todos os autores como importante para o processo é a

comunicação, já que ela permeia todas as suas etapas. Por ser uma atividade

movida pelo inconsciente17, sua relevância, às vezes, não é devidamente avaliada.

Ela manifesta-se no ato de saber ouvir, saber calar falar com um objetivo, para citar

algumas das suas manifestações. Uma comunicação precária leva, quase sempre, a

resultados insatisfatórios.

Para Junqueira (1998, p. 87) “uma negociação eficiente e eficaz requer

conhecimentos sobre as pessoas com quem se negocia, sobre assunto/negócio

objeto bem como sobre técnicas de negociação (etapas, estratégias e táticas,

concessões, etc)”.

                                                 17 Dois níveis mentais operam simultaneamente em qualquer comunicação e relacionamento: o consciente e o inconsciente. Como nossa mente consciente é responsável por, aproximadamente 5% a 9% das atividades de nossa vida, ficando os restantes 91% a 95% com nossa mente inconsciente.

36

Com respeito especificamente aos processos de negociação, pesquisadores têm

buscado estudar e compreender a natureza dos seus elementos básicos,

identificando as competências e técnicas desejáveis para que os profissionais

envolvidos viabilizem acordos consistentes e aceitáveis para todas as partes, com

resultados positivos para a organização e para si mesmos.

O NEGOCIADOR EFICAZ

A literatura apresenta várias afirmações sobre o que é vital para a sobrevivência de

empresas e pessoas. Dentre elas, a noção de que, para obter eficiência nas

negociações, há necessidade de uma boa interação entre os membros da equipe e

um constante fluxo do conhecimento adquirido, agregando valor a cada nova

negociação realizada.

As vivências, intuição, julgamento e estilos de negociadores, influenciam tanto a

forma quanto o resultado da negociação, assim, ao se estudar o comportamento

destes profissionais, pode-se tentar associar suas capacidades e atributos que os

diferenciam dos seus pares.

Vários estudiosos desenvolveram abordagens descritivas18, relacionadas às

habilidades de negociação. Rackman (apud LEVICKY et al, 1999, p. 341-342, apud

CARVALHAL, 2005, p. 40), é um dos autores que afirma serem três as

características básicas que distinguem um negociador eficaz:

- ser considerado eficaz pelas partes envolvidas;

- ostentar uma trajetória de sucessos significativos;

- apresentar baixa incidência de fracassos19 na implementação das soluções

por ele negociadas.

                                                 18 A abordagem descritiva nesse contexto consiste no exame e descrição minuciosa da forma como as pessoas se comportam, como pensam e como racionalizam suas escolhas. 19 Há uma diversidade de interpretações para o conceito de sucesso. Em sua pesquisa, Falcão (2006) cita duas versões para o termo: alcance dos objetivos e quando ambas as partes saem satisfeitas da negociação. Neste trabalho, denomina-se uma negociação bem sucedida àquela em que ambas as partes entendem que o resultado está sendo justo e traz vantagens para todas elas.

37

A capacitação de profissionais passa pelo desenvolvimento de competências20

técnicas e humanas. As competências técnicas são construídas ao longo da vida de

cada um, habilitando-o a agir com segurança, baseado na sua formação e

experiência pessoal. Decorrem da educação formal, do estudo e de tecnologia e

possibilitam a capacitação profissional para a execução das atribuições e

responsabilidades a que se propõem.

Competências humanas são aquelas que nos capacitam a transitar entre pessoas,

que nos habilitam a solucionar conflitos e resistências, a colocar idéias em prática.

Estão ligadas a habilidades de relacionamento como resiliência e flexibilidade, de

extrema importância para um bom negociador. Segundo Carvalhal (2006, p.64) “as

características relacionais pessoais podem ser desenvolvidas por meio de

treinamento e pela vontade de mudar”.

Competência é resultado de dedicação, visão diversificada, flexibilidade e outros

fatores que podem ser construídos e/ou ampliados por aqueles que têm a

oportunidade e se dedicam a um processo de evolução pessoal contínua.

Desta forma, um bom negociador é aquele que apresenta competências que o

habilitam a reconhecer problemas e oportunidades, a elaborar e apresentar

argumentações convincentes e persuasivas. Possui também competência para

compor acordos duráveis com outros negociadores, compatíveis com as

necessidades e disponibilidades das partes envolvidas.

Um dos principais atributos de um bom negociador é a flexibilidade, vital para

aqueles que almejam desfechos ‘ganha-ganha’. Ao contrário dos estilos, a

flexibilidade é mutável e situacional, isto é, diz respeito a comportamentos

adequados a cada caso e contexto. Cabe ressaltar que não há correlação entre

flexibilidade e estilos.

                                                 20 O termo competência apresenta muitos aspectos assemelhados à palavra competição. Eis as definições encontradas para ambos os vocábulos no Dicionário Aurélio (HOLANDA, 2004): Competência é a “qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; significa capacidade, habilidade, aptidão e idoneidade”. Já competição “é a busca simultânea, por dois ou mais indivíduos, de uma vantagem, uma vitória, um prêmio, etc.”.

38

Junqueira (1998, p. 58) define flexibilidade como “a maior ou menor capacidade de o

negociador considerar as necessidades, as idéias e as opiniões do outro

negociador”.

Wanderley (1998) considera como flexibilidade o repertório comportamental e os

procedimentos utilizados para alcançar determinado objetivo. De acordo com este

autor, existe um padrão de comportamento observado em pessoas que costumam

atingir seus objetivos, com resultados expressivos. Pelos resultados, pode-se dizer

que um negociador é eficaz pelos bons resultados por ele obtidos, assim como pelo

nível de satisfação dos envolvidos.

Outro aspecto a considerar é que os negociadores eficazes são confiáveis, não

gerando expectativas que não tem nenhuma intenção de satisfazer. Alguns

elementos são importantes para que criar confiança, como credibilidade, coerência,

receptividade e clareza. A ausência de qualquer um deles afeta a confiança entre

negociadores, criando um obstáculo a negociação.

Alguns autores afirmam que seria necessário ao indivíduo possuir determinadas

aptidões21 como pré-requisito para que ocorra o aprendizado e o aperfeiçoamento

de habilidades voltadas ao relacionamento profissional, compartilhamento de

objetivos e o cultivo da confiança, qualidades cada vez mais necessárias e

valorizadas na vida profissional e para um bom negociador.

Shell (2001) considera que ter boa memória, agilidade verbal e lidar bem com o

estresse são atributos de um negociador habilidoso, todavia sua efetividade está

mais relacionada com atitude que com habilidade.

No tocante a questão de diferenças entre os gêneros, Shell (2001) comenta que as

mulheres parecem negociar entre si de uma maneira diferente da forma como

negociam com os homens; isso também seria verdade em relação aos homens, que

                                                 21 O termo aptidão é aqui aplicado na seguinte acepção: conjunto de características consideradas sintomáticas da habilidade com que um indivíduo pode adquirir (mediante treinamento) conhecimentos, dotes e destrezas. Saliente-se o caráter inato e relacionado com características individuais. (MATURO, 2005).

39

negociariam entre si de uma forma e com mulheres, de outra. Ressalta esse autor

que no mundo das finanças e dos negócios é um erro basear estratégias de

negociação em prognósticos derivados de estereótipos, ressaltando que a estratégia

de negociação depende mais do caráter das pessoas envolvidas no processo.

Na análise efetuada por Biehl e Silva (2007, p. 1), em que foram comparados dois

estudos sobre os padrões de conduta em negociações de brasileiros e espanhóis,

eles concluíram que há poucas diferenças significativas em relação a gênero. Os

resultados da pesquisa desmitificam o estereótipo de que as mulheres seriam mais

cooperativas, voltadas para o relacionamento, suaves e agradáveis.

O saber administrar conflitos é outro aspecto importante para se atingir eficácia na

condução de negociações.

Em suma, o conhecimento individual - de cada profissional - o conhecimento sobre

os processos - negociações passadas - e o conhecimento sobre a cultura da parte

negociada, ao serem gerenciados na organização, constróem uma vantagem

competitiva e geram conhecimento.

2.8 MODELOS TEÓRICOS DE NEGOCIAÇÃO

TEORIA DOS ESTILOS

Basicamente, um modelo de negociação configura-se no modo de pensar,

diferenciando o que é indispensável e propiciando a gestão do tempo utilizado no

processo. Desta forma, as organizações mais progressistas passaram a incentivar o

desenvolvimento de modelos e técnicas capazes de tornar os seus profissionais

aptos a enfrentar conflitos ou a enxergar a melhor maneira de lidar com outros

negociadores, de forma rápida e produtiva.

A vivência e experiências formam o perfil psicológico de cada individuo. A aptidão de

reconhecer estes perfis permite ao profissional identificar o estilo do outro. Este

40

conhecimento do conceito de estilos de negociação “pode ser útil tanto no que se

refere ao desenvolvimento de habilidades, como para enfrentar uma situação

decorrente da negociação” (MARTINELLI, 2007, p.109).

Em geral, as pessoas possuem um estilo central predominante e ao menos um

outro, secundário (ou adaptativo)22. Eles emergem em função do contexto, das

pessoas envolvidas e do tipo de negociação. Os estilos adaptativos não se

constróem sob o suporte das estruturas da base da personalidade; assim,

dependendo do contexto, podem ser modificados. Usualmente, os autores

apresentam classificações que englobam quatro estilos básicos de negociador. A

seguir serão tratadas essas tipologias comportamentais.

Wanderley (1998) destaca que teorias são simplificações da realidade; porém,

quando são boas, podem ajudar a compreendê-la e a interpretá-la, indicando

alternativas de ação que poderão aumentar a nossa flexibilidade e amplitude de

respostas.

Embora qualquer análise dos estilos de negociação seja baseada em estudos de

personalidade, o autoconhecimento e a empatia do negociador são facilitadores do

processo, possibilitando um ganho de valor nas interações pessoais e melhores

resultados negociais. Shell diz que, em situações conflituosas ou mais complexas,

como um acordo de vendas difícil, ainda não existe um substituto para a interação

pessoal.

É através da interação pessoal que os relacionamentos se formam e a confiança é

cultivada. Assim, Shell (2001) afirma que as negociações são, e sempre serão, uma

habilidade interpessoal.

Convém ressaltar que os diversos modelos existentes não têm a intenção de rotular

pessoas, para fins de identificação de traços e táticas. Nessa seara, a variedade de

                                                 22 De uma maneira geral, há uma predominância de determinado estilo, entretanto a abordagem pode ser alterada por outra mais apropriada para o momento, facilitando atingir o objetivo. A abordagem é fundamental, antecipando e direcionando estilo de ação. É revelada em condições normais e de pressão. As abordagens podem se basear na razão, emoção, intuição ou instinto.

41

modelos encontrados na literatura praticamente se iguala ao numero de autores que

a ela se referem.

Não obstante sejam semelhantes às premissas nas quais se alicerçam os modelos

apresentados, a seguir serão descritos alguns diferentes estilos de negociadores e

os princípios e características que envolvem cada uma delas.

ESTILO LIFO – LIFE ORIENTATION

Segundo Godinho e Macioski (2005, p. 6):

Atkins e Katcher (1973) criaram e patentearam o sistema LIFO (orientação de vida), que registra as orientações comportamentais, e seus respectivos estilos, na maneira de agir dos executivos no contexto organizacional – receptiva (estilo dá e apóia, que aceita), exploradora (estilo toma e controla, de tomar ou assumir), acumuladora (estilo mantém e conserva, de conservar) e a mercantil (estilo adapta e negocia, de permutar, trocar).

A teoria LIFO baseia-se na existência de um paradoxo no ser humano, relacionado

às suas forças e fraquezas: ao utilizar força em excesso, esta se transforma em

fraqueza, ou seja, o uso excessivo e inapropriado de suas qualidades pode

transformá-las em defeitos.

42

Abaixo estão apresentados os pontos fortes e fracos de cada perfil, conforme

classificados por esta teoria

Estilo Pontos fortes Pontos fracos Dá e apóia (D/A) Assume seu sucesso e

seus problemas de forma honesta, sincera e dedicada

Em situações de pressão, é perfeccionista pelo excesso de preocupação. É incapaz de dizer não e, às vezes, deixa-se invadir em sua privacidade.

Toma e controla (T/C) Aberto às inovações, toma decisões rapidamente, respondendo de maneira muito eficaz as situações de pressão

Em situações difíceis, força sua tendência diretiva de chefia, tornando-se coercitivo. Esquece de pedir a opinião dos outros, passando por cima deles com freqüência.

Mantém e conserva (M/C) Norteia-se por coisas concretas e apóia suas decisões naquilo que pode comprovar

Em situações de queda de desempenho, mostra-se frio e ausente

Adapta e negocia (A/N) Comanda seus subordinados com entusiasmo e respeita o espírito de equipe. Possui elevado senso de humor

Em situações difíceis, pode tornar-se indelicado e perder o senso da própria identidade por não apresentar opiniões firmes.

Quadro 1 - Pontos fortes e fracos de cada perfil Fonte: MARTINELLI, 2006

CLASSIFICAÇÃO DE MARCONDES

Nesta categorização, o destaque fica com a adaptação ao ambiente, para obter-se

uma percepção acurada da ação do negociador. Na visão do autor, esta ação está

sujeita às variáveis situacionais imediatas e a influências contextuais mais amplas. A

classificação de Marcondes, bem como seus pontos fortes e fracos, estão

representados a seguir, no Quadro 2.

43

Estilos Pontos fortes Pontos fracos Afirmação Negociação transparente;

possui comportamentos afirmativos

Emite julgamento de valor sobre o outro; dificuldade em fazer valer seu direito

Persuasão Utiliza informações; argumentação baseada em fatos e dados.

Tem propostas, porém não consegue justificá-las. Argumentação fechada.

Ligação Demonstra apoio; pede sugestões e opiniões dos outros

Pode mostrar-se impaciente, egoísta.

Atração Ressalta atributos e qualidades no outro; reconhece seus erros e limitações.

Pode não ser autentico, por entender como fraqueza expor falhas e deficiências

Distensão Propõe soluções alternativas, de interesse para ambas as partes. Busca convergência.

Às vezes mostra-se desconfiado e irritado, podendo levar a discussão a um desvio crítico

Quadro 2 - Classificação de Marcondes - pontos fortes e fracos Fonte: MARTINELLI (2006)

MATOS

Matos (apud MARTINELLI, 2007), também estabelece quatro estilos básicos do

negociador. Da mesma maneira, considera que o conhecimento de suas

características básicas pode ser um fator fundamental para um bom

encaminhamento do processo.

No Quadro a seguir estão descritas as características, riscos e táticas de cada estilo.

44

Estilo Centrado Características Riscos Táticas Racional Em idéias Preocupado em

orientar-se para os objetivos estabelecidos. Quer discutir a filosofia das questões colocadas, levantar e discutir idéias e colocar fatos como elemento de convicção.

Risco maior é o de cair em pragmatismos que limitam a visão mais ampla dos problemas ou em subjetivismos que levam a divergências puramente semânticas

Estar atento à fixação de pontos convergentes que dêem objetividade à discussão e conduzam ao acordo

Sociável No esforço em equipe

Motivado para relacionamento, deseja estabelecer previamente laços afetivos, confraternizadores

Há o risco da conversação desviar-se para assuntos aleatórios, com perda de tempo, ameaça de saturação e desgaste.

Apresentação do foco principal, deixando pouco tempo pára debater demais aspectos; investe mais tempo na construção e manutenção dos relacionamentos.

Metódico No processo da discussão

Atento para os regulamentos, a legislação específica, os métodos de discussão, a tradição, os usos e os costumes. Sendo pouco flexível às mudanças, quer a observância estrita das “regras do jogo”.

A discussão pode se desviar dos objetivos e dos resultados para a estrutura formal da comunicação e para os aspectos rigorosamente legalistas da matéria negociada. É o comportamento típico do tecnocrata.

Preservar o tempo inicial, cronometrado, para a discussão dos aspectos formais, findo o qual passa-se a objetivar o problema em essência, com propostas claras e incisivas.

Decidido Na solução mais rápida possível

Não quer perder tempo em detalhes e questiúnculas, atacando os pontos sensíveis da questão na esperança de solucioná-la prontamente

O excesso de objetividade pode induzir ao risco da omissão de pontos importantes, por falta de adequado dimensionamento do problema, percepção truncada e diagnóstico, por conseqüência, imperfeito

Recomenda-se, já no início da conversação, a apresentação de um confiável quadro-diagnóstico da situação, com as várias alternativas solucionadoras.

Quadro 3 - Características, riscos e táticas de cada estilo Fonte: MARTINELLI (2006)

45

CLASSIFICAÇÃO DE GOTTSCHALK

Gottschalk define estilo como “a descrição de todas as características relacionadas

ao comportamento de um individuo envolvido em uma negociação”. (apud

MARTINELLI, 2006, p.224). Trata-se da combinação de um estilo individual (para o

qual a pessoa é naturalmente atraída) com um estilo adaptativo, que acredita ser o

mais adequado a uma negociação especifica. Reconhece quatro estilos diferentes,

classificados como duro, caloroso, dos números e negociador.

Estilo Pontos fortes Pontos fracos Duro Estabelece posições

firmes e claras. Não se

intimida diante do conflito.

Aceita assumir riscos

Não ouve as

necessidades do outro.

Diz como as coisas devem

ser feitas

Caloroso Mostra-se bom ouvinte.

Procura compreender os

valores e os objetivos da

outra parte

Desilude-se e desaponta-

se facilmente. Por ser

muito dependente dos

outros, não proporciona

visão de oposição

Dos números Tem bom conhecimento

dos fatos. É prático e pesa

alternativas. É sistemático

e mostra praticidade de

suas idéias e

contrapropostas

Normalmente é frio com

os outros, não analisa os

demais pontos de vista,

não toma decisões

rápidas e perde-se nos

detalhes

Negociador Busca maneiras de

viabilizar as atividades,

evitando ofender. É

adaptativo, flexível,

imaginativo e utiliza todos

os fatos e argumentos

disponíveis.

Assume tarefas que não

são suas, não se prende

demais em nada.

Freqüentemente mantém

um a posição rígida. Pode

parecer artificial e pouco

sincero Quadro 4 - Os estilos classificados como duro, caloroso, dos números e negociador Fonte: MARTINELLI (2006)

46

JUNQUEIRA

Para Junqueira (1998, p. 12) negociação:

é o processo de buscar a aceitação de idéias, propósitos ou interesses, visando ao melhor resultado possível, de tal modo que as partes envolvidas terminem a negociação, conscientes de que foram ouvidas, tiveram oportunidades de apresentar toda sua argumentação e que o produto final seja maior que a soma das contribuições individuais.

Em sua exposição, o autor explicita que a comunicação é um fator vital no processo

de negociação. Segundo ele, quando se substitui a palavra negociação por

comunicação, observa-se que os dois conceitos praticamente se superpõem.

Conforme já citado, nos processos de negociação - ou comunicação-, ressaltam-se

dois tipos de habilidades: técnicas e interpessoais.

As habilidades técnicas relacionam-se ao conhecimento de técnicas, processos e

"roteiros" para negociação (i.e., as etapas para a condução da negociação). As

habilidades interpessoais se interligam ao conhecimento interpessoal dos

negociadores (o estilo de cada um, suas forças, fraquezas, necessidades,

motivações, etc). Uma terceira habilidade – conhecimento do negócio – não será

aqui tratada por estar ligada às especificidades de cada negociação.

A seguir, será abordado o item “habilidades interpessoais”, provavelmente a

dimensão mais esquecida no processo. O conhecimento técnico, por si só, não tem

mais a importância do passado: houve uma evolução para um modelo de

profissional capaz de integrar habilidades técnicas e habilidades interpessoais.

Junqueira (1998) sugere que as pessoas com quem o negociador se comunica

podem ser divididas em quatro categorias ou grupos: catalisador, controlador,

apoiador e analítico:

a) Catalisador

O negociador/comunicador com este estilo tende a ser extremamente criativo e

empreendedor, sempre com novas idéias, entusiasta dos grandes

empreendimentos. É a pessoa das “coisas novas”, dos grandes projetos e decisões.

47

Eventualmente, este negociador pode ser visto como superficial, irreal,

estratosférico, em suas decisões e ações.

b) Apoiador

O apoiador é aquele que considera que os seres humanos são mais importantes do

que qualquer trabalho; aprecia atuar sempre em equipe, procura agradar os outros,

fazer amigos. Eventualmente pode ser visto como incapaz de cumprir prazos,

desenvolver projetos, atuando mais como um missionário do que como um

executivo. Suas decisões são mais lentas e ele sempre busca não melindrar as

outras partes, mesmo que em detrimento dos resultados.

c) Controlador

O controlador é aquele que toma decisões rápidas, está sempre preocupado com o

uso do seu tempo, com redução de custos; nas discussões não faz rodeios, vai

direto ao assunto, é organizado, conciso, objetivo, sua meta básica é obter

resultados. Eventualmente pode ser visto como insensível às pessoas, “durão”,

prepotente, etc.

d) Analítico

O analítico é aquele que adora fazer perguntas, obter o máximo de informações,

coletar todos os dados disponíveis, sempre se preocupando em saber os mínimos

detalhes antes de iniciar qualquer tarefa ou tomar decisões. Eventualmente este

negociador pode ser visto como sendo perfeccionista, detalhista em excesso,

procrastinador, etc.

Junqueira (1998) menciona que, dos quatro estilos, não existe qualquer um deles

que seja mais ou menos certo: são, simplesmente, estilos diferentes. O importante é

que cada qual conheça o seu estilo pessoal e busque conhecer o estilo da pessoa

com quem está negociando ou se comunicando. Segundo ele, uma das chaves do

êxito no processo de negociação/comunicação é saber apresentar as idéias de

forma a causar impacto ao outro negociador.

48

Negociar (e comunicar) é também o processo de atendimento de necessidades

mútuas. Cabe, então, discorrer sobre as diferentes necessidades que caracterizam

cada estilo:

a) para o estilo catalisador, as necessidades voltam-se para o reconhecimento;

assim, apelar para aspectos de novidade, singularidade, inovação e disponibilidade

ajudará no processo de negociação/comunicação.

b) o apoiador procura a aceitação, alguém que o aceite sem pré-julgar; neste caso, o

processo de negociação/comunicação será auxiliado pela menção à harmonia,

ausência de conflitos, garantia de satisfação.

c) para o estilo controlador, as necessidades são de realização; tudo o que se

relacionar com alcance de metas, resultados, ganhar tempo e dinheiro, vencer, ser

independente, dará suporte ao processo de negociação/comunicação.

d) já o analítico está sempre em busca de segurança e de certeza; fornecer-lhe os

dados disponíveis, alternativas para análise e decisões seguras, resultados de

pesquisas etc. ajudará no processo de negociação/comunicação.

Vale lembrar que a flexibilidade – i.e., a capacidade de considerar as necessidades

alheias tão importantes quanto as nossas, bem como a predisposição para

mudanças, inovações etc. – é também fundamental ao processo de negociação, na

medida em que tende a facilitar que a outra parte se predisponha ao diálogo.

Pesquisas indicam que os bons negociadores tendem a possuir elevado grau de

flexibilidade.

Junqueira (1998) classifica a flexibilidade em quatro níveis (ou graus), atribuindo 1

(um) ao nível mais baixo (ou menos flexível), e 4 (quatro), ao mais elevado23.

São descritos resumidamente a seguir.

                                                 23 Uma pesquisa efetuada em um universo de 10.000 executivos e gerentes constatou que pelo menos 75% das pessoas encontram-se nos níveis de baixa flexibilidade (1 e 2). (Wanderley).

49

a) nível 1 – visto pelos demais como resistente a mudanças, preferindo lidar com o

que já lhe é familiar. Diante de uma situação nova, é percebido pelas outras pessoas

como alguém que sente dificuldade em entender as coisas. Vê situações, mudanças

e problemas mais como ameaças do que como oportunidades. Aparenta ser

intolerante, tem dificuldade em perceber quando uma situação requer novos

comportamentos. A inflexibilidade pode ser atenuada caso a pessoa busque tornar-

se aberta a mudanças e se empenhe em desenvolver a capacidade de aceitação

das diferenças individuais.

b) nível 2 – é visto como alguém indeciso quanto às mudanças. É capaz de exercer

um certo padrão de eficiência, mesmo com flexibilidade limitada, desde que

relacionando-se com pessoas de comportamentos semelhantes aos seus. Tem

baixa resistência à frustração, não aprecia situações que envolvam muitos conflitos

de personalidade ou que exijam mudança de responsabilidade. Pode melhorar suas

relações interpessoais, desde que passe a se preocupar mais com as outras

pessoas.

c) nível 3 – esta pessoa é percebida como alguém que se esforça para mudar a sua

maneira de ser e o modo de pensar, com o objetivo de adaptar-se a novas

situações. Capaz de falar, ouvir, conceder e exigir, possuindo grande capacidade de

compreensão, tendo bastante flexibilidade em situações de conflito pessoal.

Consegue ter comportamentos diferenciados, com desempenho adequado em uma

boa parte de situações. Tende a colaborar e a ser tolerante com os sentimentos e as

necessidades dos outros.

d) nível 4 – a pessoa com este nível de flexibilidade procura fazer as coisas de

diferentes maneiras, explorando novas idéias, atitudes e interesses. Consegue ver

as situações tanto pela sua ótica quanto pela dos outros, identificando interesses

comuns e complementares. Busca soluções que atendam aos interesses de todas

as partes. É vista pelas outras pessoas como altamente adaptável e compreensiva.

Sabe quando resistir ou ceder. Tem grande probabilidade de responder

adequadamente à maioria das situações.

50

Considerando-se que a habilidade de mudar a tática ou a estratégia desenvolvida

são determinantes para o sucesso da negociação, fica claro que a flexibilidade é

uma das mais importantes dimensões do negociador. Os negociadores mais

flexíveis são abertos a novas alternativas, mesmo que estas sejam apresentadas

pela outra parte. São capazes de perceber uma mudança ou uma nova idéia como

uma oportunidade em vez de uma ameaça e possuem a capacidade de interagir

com diferentes estilos. Finalmente, seja qual for o estilo do negociador, a sua

flexibilidade pode ser desenvolvida ou melhorada por meio de treinamento.

51

3 METODOLOGIA 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Através da condução de pesquisa, pode-se obter uma compreensão mais profunda

do objeto do estudo, ampliando o conhecimento existente sobre o mesmo. O ato de

pesquisar pode ser definido como a busca de uma resposta ou solução para alguma

questão ou problema propostos por alguém. Para Richardson (1999), os objetivos de

uma pesquisa podem ser a resolução de problemas específicos, a geração de

teorias ou avaliação de teorias existentes.

A literatura cita, ainda, outras maneiras de se obter conhecimento, tais como através

da leitura, estudos, aulas e ciência. A ciência é citada como uma estrutura capaz de

auxiliar o aceite ou rejeição de uma questão.

Portanto, a pesquisa é a atividade básica da ciência (VERGARA, 2007b, p.11) e a

pesquisa científica, um dos caminhos para a busca de conhecimento.

A escolha da estratégia metodológica que norteará cada pesquisa tem suas bases

lógicas na maneira como o pesquisador ‘olha’ o mundo à sua volta. Para Richardson

(1999), é absolutamente necessário identificar os pressupostos do pesquisador em

relação ao homem, à sociedade e ao mundo. Desta perspectiva, surgirão os

parâmetros que orientarão a escolha do método, metodologia e técnicas aplicadas.

Com base nessas premissas é que será descrita a seguir a perspectiva adotada e

como se pretende desenvolver este trabalho.

52

3.2 ESTRATÉGIA DE ABORDAGEM

Por ser uma atividade sujeita a validação, a pesquisa cientifica necessita de uma

sólida estruturação metodológica. Isso é válido para o desenvolvimento de

pesquisas em qualquer área de conhecimento, incluindo as Ciências Humanas e

Sociais.

Com efeito, a crescente multiplicidade e complexidade do mundo do conhecimento

vem provocando a sua divisão em múltiplas áreas e sub-áreas. A Administração, por

exemplo, vem sendo incluída em um vasto campo de interesses denominado

Ciências Sociais. E é justamente nesse campo que estão elencados os métodos e

instrumentos mais adequados para a efetivação de pesquisas na área de

Administração e Gestão.

No que concerne à classificação de métodos, considerando o amplo quadro de

referências exposto na bibliografia nacional e estrangeira pode-se dizer que as

abordagens dividem-se em dois tipos básicos: quantitativas e qualitativas. Há,

também, pesquisas que partem da coleta de dados quantitativos, mas cujo

tratamento e análise dos dados se desenvolvem de forma qualitativa.

Cabe uma digressão sobre esse tipo “híbrido” de pesquisa mencionado no último

parágrafo. Embora no passado se observasse uma forte tendência no sentido de

aplicar a todo tipo de pesquisa as abordagens típicas das ciências naturais –quais

sejam, os métodos quantitativos-, outras alternativas metodológicas, mais

apropriadas para estudos na área de Administração foram surgindo e se firmando.

Dentre tais alternativas, há que se ressaltar a pesquisa quali-quantitativa, que aplica

a abordagem qualitativa complementarmente aos dados quantitativos, enriquecendo

as análises e propiciando uma gama muito mais variada de resultados.

Neste trabalho, utilizou-se primordialmente o método quantitativo para o

levantamento dos dados, empregando instrumentos estruturados (questionários)

para medir a relação entre as variáveis analisadas e investigar possíveis relações de

casualidade entre fenômenos (RICHARDSON, 1999, p. 70). Ou seja, as informações

53

e/ou opiniões dos respondentes foram traduzidas numericamente. Conquanto de

cunho eminentemente quantitativo, a pesquisa contemplou uma análise qualitativa

dos dados, considerando o vínculo entre objetividade e subjetividade das

informações provenientes dos sujeitos pesquisados. A combinação dos métodos

quantitativos e qualitativos visou, portanto, enriquecer a análise e os resultados

finais.

3.3 TIPO DE PESQUISA

De acordo com Vergara (2007b, p. 46-47), há várias maneiras de se classificar os

tipos de pesquisa, variando conforme a abordagem de cada autor. Vergara propõe

dois critérios básicos para defini-los: quanto aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, pode-se classificar a presente pesquisa como descritiva, pois se

propõe a descrever características de profissionais que empregam o processo de

negociação no seu ambiente de trabalho, bem como estabelecer possíveis

correlações entre estilos de negociador (idade e gênero).

Quanto aos meios, essa pesquisa pode ser classificada como de campo, porque

coletará informações (dados primários) junto a indivíduos que participam ou já

participaram de negociações profissionais, referindo-se às suas auto-percepções

apoiadas em situações experimentadas. Posteriormente, os dados coletados foram

tabulados e organizados para fins de análise.

3.4 UNIVERSO E AMOSTRA

O estudo tem como proposta pesquisar uma empresa de grande porte, do segmento

de energia, com cerca de 50 mil profissionais em seu quadro de colaboradores

permanentes e operando com unidades no Brasil e no exterior. Esta empresa está

expandindo suas atividades e passa por um intensivo processo de contratação de

54

profissionais, com e sem experiência anterior, e portando formação acadêmica em

uma grande multiplicidade de áreas.

Pelo grande porte e elevado número de colaboradores, bem como a variedade de

cargos e funções, não seria viável desenvolver uma análise que contemplasse toda

a população. Diante desse óbice, e considerando que a pesquisadora conhece bem

a estrutura da empresa, efetuou-se uma “seleção de elementos que o pesquisador

considera ser representativos da população” (VERGARA, 2007b, p. 51) que é objeto

deste estudo, caracterizando uma amostragem por tipicidade.

O critério de escolha dos respondentes foi a acessibilidade, ou seja, a facilidade de

contato, que se deu através do banco de dados da empresa pesquisada, a partir de

duas categorias funcionais: administradores e advogados.

Pelas condições descritas, a amostragem é não-probabilística, razão pela qual não

será possível generalizar os resultados: “as amostras não-probabilísticas não

garantem a representatividade da população” (MARTINS, 1994, p.40). Os resultados

refletirão, tão somente, o perfil da amostra escolhida, mas será possível efetuar

comparações e extrair ilações de resultados obtidos em outros estudos similares.

A questão de custos foi um outro ponto considerado na escolha da amostragem não

probabilística, pois nesta eliminam-se muitas despesas que são imprescindíveis na

condução de pesquisas com amostras probabilísticas. Em contrapartida, conforme já

mencionado anteriormente, os resultados podem conter vieses e incertezas que

tornam a qualidade da informação inferior à da amostragem probabilística.

Cabe explanar que a escolha dos dois grupos profissionais –administradores e

advogados- deu-se pelo fato de serem profissões em que a prática da negociação

ocorre cotidianamente, permeando de forma intensiva as suas atividades funcionais.

No tocante aos administradores, praticamente todos os atos de gestão implicam em

negociação. No que tange aos advogados, é a habilidade de negociar que

possibilita-lhes aprimorar a sua capacidade de fazer acordos. Além disso, a área

jurídica lida com contratos entre partes, dentre outras situações de potencial

55

conflituoso. Os advogados freqüentemente necessitam resolver situações

complexas, envolvendo disputas dentro de limites legais. Desta forma, a habilidade

de negociação assume grande importância no seu desempenho.

O universo estudado é composto de 1.804 colaboradores, sendo 1.231

administradores e 573 advogados, sem restrição de idade ou gênero. A amostra

pesquisada compõe-se de um grupo de 384 profissionais: 190 advogados e 194

administradores.

3.5 SELEÇÃO DE SUJEITOS DA PESQUISA

Sujeitos da pesquisa são definidos por Vergara (2007b) como “as pessoas que

fornecerão os dados” que o pesquisador necessita. Neste caso, os sujeitos da

pesquisa são advogados e administradores que trabalham na matriz brasileira da

empresa onde se desenvolveu o projeto de pesquisa, sem restrição de idade ou

gênero.

3.6 COLETA DE DADOS

Foi utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário (Apêndices B, C

e D) disponibilizado em mídia eletrônica, com perguntas diretas e objetivas, e

orientações visando garantir respostas precisas e imparciais.

Atualmente, tornou-se possível adotar meios eletrônicos para envio e recebimento

de questionários, com grande ganho de tempo e sensível redução nos custos do

processo, principalmente pela eliminação do uso de material impresso.

Desta forma, a pesquisa foi operacionalizada pela Internet, inserindo-se os

questionários em um website especializado e enviando-se o link de acesso via

56

correio eletrônico, em mensagem-convite individual às pessoas selecionadas na

amostra (Apêndice A).

3.7 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

O método empregado –como qualquer outro- apresenta certas dificuldades e

limitações. Um dos fatores limitantes foi a seleção dos sujeitos. Não obstante o fato

de a pesquisadora ter acesso à listagem de todos os empregados da empresa-alvo,

o seu número (cerca de 50 mil), o tempo disponível para a pesquisa e os recursos

materiais com que contou a pesquisadora tornaram inviável aplicar o questionário à

totalidade dos sujeitos.

Desta forma, a idéia inicial de entrevistar funcionários foi descartada, pela dificuldade

e tempo necessários à sua materialização, o que tornaria inviável a sua prática. Foi

feito um primeiro recorte amostral, limitando-a aos administradores e advogados,

conforme explanado no item 3.4.

Outro fator de limitação desta pesquisa relaciona-se a um aspecto do método

utilizado, i.e., o fato de ter-se pedido aos respondentes para se auto-avaliarem. Em

um processo em que se tenta escalonar habilidades com base em critérios

vislumbrados pelos próprios avaliados, as respostas tendem ao próprio beneficio e

os critérios, adaptados às próprias necessidades, com visão critica distorcida.

Ainda que os entrevistados tenham uma boa percepção das suas emoções,

compreendendo-as e manejando-as adequadamente, pelo fato de conhecerem

teoricamente o comportamento correto que deve ser adotado em cada situação, a

auto-avaliação pode levar a respostas com um grau mais elevado de distorção.

A despeito de todas as limitações acima citadas, o método ensejou a obtenção de

um número significativo de informações e, conseqüentemente, permitiu análises e

ilações que poderão ter utilidade prática para as pessoas que ensinam ou trabalham

com a temática da negociação.

57

3.8 PROCEDIMENTO

O link de acesso ao questionário foi encaminhado via internet para os sujeitos

selecionados. A mensagem de encaminhamento esclarecia que se tratava de uma

pesquisa com vistas a uma dissertação de Mestrado, sendo determinado o prazo

para entrega das respostas e informado o tempo estimado para responder a todos

os quesitos (Apêndice A). O texto completo do questionário constitui os Apêndices B,

C e D.

As informações e o link que remetia ao questionário na Internet foram enviados por

correio eletrônico para 384 profissionais, grupo composto por 190 advogados e 194

administradores, correspondendo a 21,3% de um total de 1.804 profissionais

advogados e administradores listados no banco de dados da empresa. Deste total,

obteve-se 72 respostas, que correspondem a 4 % do total de profissionais dos 1.804

listados (ou 18,8% dos profissionais contactados).

Embora tivesse uma expectativa de resposta da ordem de 10%, a pesquisadora não

reputou como problemático o fato de ter obtido pouco menos da metade dessa

expectativa, principalmente porque se trata de um estudo não-probabilístico, no qual

o tamanho da amostra não influenciará na validação dos resultados.

O questionário é composto de três partes. A primeira delas levanta e verifica o perfil

do respondente, com perguntas sobre idade, gênero, tempo de experiência

profissional, naturalidade, escolaridade, para que tenhamos um retrato de seu

histórico pessoal. A última pergunta desta parte refere-se ao processo de

negociação; é indagado ao respondente se, em sua atividade profissional - práticas,

comerciais, de negócios, ou administrativas - participa de negociações (cf. definição

de Junqueira, 1998, reproduzida na página 14 desta tese (item 1.2). Em caso de

resposta negativa, a pesquisa foi interrompida nesse ponto.

Na segunda parte do questionário, são apresentadas duas tabelas para

preenchimento por opções, visando reconhecer o estilo de negociação predominante

no respondente. Estas tabelas foram adaptadas da obra de Wanderley (1998, p.110

58

apud JUNQUEIRA, 1998). Para evitar que os títulos dos pares de referência

influenciassem nas respostas, os mesmos foram retirados.

É importante ressaltar que, segundo Wanderley (1998), qualquer pessoa pode exibir,

ainda que em grau reduzido, algumas características dos demais estilos, daí

dizermos que a pesquisa aponta o estilo predominante em cada respondente.

A terceira parte do questionário consta de uma tabela contendo dez itens, a sua

descrição e uma escala para avaliação, com quatro graus ou níveis, onde o

respondente assinala uma categoria indicativa do seu comportamento.

O somatório dos graus atribuídos a cada pergunta indica o grau de flexibilidade do

indivíduo. A flexibilidade faz parte do repertório comportamental e, analisada

juntamente com o estilo, pode indicar a probabilidade de uma pessoa apresentar um

comportamento adequado ou inadequado diante de dada situação.

59

4 ANÁLISE DOS DADOS

4.1 PERFIL DA AMOSTRA

Primeiramente, cabe ressaltar que nenhum dos 72 respondentes deixou lacunas nas

respostas da primeira parte do questionário, mas nove limitaram-se a responder

somente a esta primeira parte. Ressaltamos, também, que oito questionários

apresentaram estilos mistos, razão pela qual não foram incluídos nas análises de

estilo; constam, entretanto, da análise de flexibilidade. A seguir, são apresentados

os dados que compõem o perfil dos respondentes. É importante lembrar que os

resultados dizem respeito a esta amostra específica.

No que diz respeito ao gênero dos respondentes, há uma prevalência dos homens

em relação às mulheres. Ou seja, a maioria da amostra é composta pelo gênero

masculino (43 respondentes ou 60%), conforme demonstra a Figura 4.

Essa distribuição, em que as mulheres representaram 40% do total (29

respondentes), está coerente com a distribuição por sexo no universo de pessoas

convidadas a participar da pesquisa.

Figura 4 – Gênero da Amostra Fonte: Elaborada pelo autor

60

Dos respondentes, 31% têm nível superior (22 respondentes), 54% possuem

especialização (39 respondentes), 12% completaram o mestrado (9 respondentes) e

3% (2 respondentes) detém o título de doutor, conforme explicitado na Figura 5.

Nesse caso, não há como avaliar se há coerência entre tal distribuição e aquela que

decorreria da totalidade dos profissionais convidados a participar. É de bom alvitre

ressaltar que as cartas-convite foram endereçadas somente para profissionais com

nível superior completo.

Figura 5 – Grau de formação Fonte: Elaborada pelo autor

A Figura 6 demonstra a distribuição dos respondentes por faixa etária. Mais uma

vez, não foi possível dispor dessas informações com respeito à totalidade das

pessoas convidadas, mas somente em relação àqueles que efetivamente

responderam à pesquisa, pois só a informação de idade foi obtida nas respostas aos

questionários.

Figura 6 – Idade dos Respondentes Fonte: Elaborada pelo autor

61

A Figura 7 expõe a distribuição da amostra em relação aos anos de experiência no

mercado de trabalho. Há uma forte predominância de profissionais com menos de

dez anos de atuação profissional. Esse fato se explica pela estratégia da companhia

em relação à expansão dos seus negócios. Tal estratégia demandou forte

renovação do quadro de colaboradores, com a admissão de milhares de novos

funcionários nos últimos anos, parte deles em substituição aos que saíam da

empresa, e parte para ocupar os novos postos que emergiram da expansão dos

negócios.

51%

24%

25%

Tempo de experiência

Até 10 anosEntre 10 e 20 anosmais de 20

Figura 7 – Tempo de Experiência Fonte: Elaborada pela autora

Na base teórica desta pesquisa, ao apresentar o tema estilos identificou-se o modelo

proposto por Junqueira (1998) e foi descrito o conceito de flexibilidade. Na Figura 8,

estão elencadas as distribuições dos respondentes vis-à-vis os quatro estilos de

negociador expostos no Capítulo 12 da obra de Junqueira. O catalisador

apresentou-se muito forte em relação aos demais estilos pesquisados.

33%

13%17%

11%

26%

Estilos

CatalisadorApoiadorControladorAnalíticonão computados

Figura 8 - Estilos Fonte: Elaborada pelo autor

62

Finalmente, a Figura 9 reúne os dados consolidados de quatro níveis de

flexibilidade, conforme explanados no Capítulo 2.8.

Figura 9 – Flexibilidade Fonte: Elaborada pelo autor

A amostra pesquisada é, predominantemente, composta por homens (28

respondentes ou 60%), com idade média entre 31 e 50 anos (35 respondentes ou

49%) e grau de instrução em nível de especialização (39 respondentes ou 54%). Em

relação à experiência profissional, 51% dos respondentes (37) possuem até 10 anos

de vivência no mercado de trabalho.

Com respeito à escolaridade, considerando mestres e doutores, apenas 11

indivíduos se enquadrariam nessas classificações acadêmicas, sendo 8 mulheres e

3 homens.

O padrão de estilo dos negociadores da amostra é o catalisador, com flexibilidade

nível 3.

Considerando que pode haver uma relação entre nível de escolaridade e faixa

etária, a predominância de indivíduos com especialização e idade entre 31 e 50

anos pode ser indicativo de que os profissionais prosseguem em seus estudos após

o término do curso superior, visando à reciclagem e atualização de conhecimentos.

63

4.2 ESTILO PREDOMINANTE, POR GÊNERO E POR IDADE

O estilo catalisador predomina em ambos os gêneros – 16 homens e 8 mulheres -

(22% e 11%, respectivamente), embora com freqüência um pouco maior entre os

homens. As mulheres apresentam uma dispersão mais equilibrada entre os quatro

estilos do que o grupo masculino. Quanto aos homens, a predominância é de

catalisadores é mais acentuada, quase igualando o somatório dos outros três estilos.

Figura 10 – Estilo / Gênero Fonte: Elaborada pelo autor

Observa-se que, independentemente da faixa etária dos respondentes, o estilo

“catalisador” prepondera em relação aos demais (Figura 11).

Uma exceção ocorreu entre os (poucos) respondentes com mais de 50 anos, onde

se verificou uma distribuição quase uniforme dos quatro estilos.

64

Figura 11 - Estilos / Idade Fonte: Elaborada pelo autor

Relativamente à flexibilidade, o nível 3 é marcante em ambos os gêneros, ainda que

nas mulheres os valores encontrados no nível 3 quase se igualem aos do nível 2.

Nota-se a ausência do grau 1 entre as mulheres.

Pode decorrer de uma maior valorização das relações interpessoais por parte delas.

65

Figura 12 - Flexibilidade / Gênero Fonte: Elaborada pelo autor

Quanto à idade, notou-se que em todos os grupos prevaleceram os níveis 3 e 4, de

forma mais acentuada nos grupos com idade superior a 30 anos. Este resultado

pode ensejar a interpretação - válida tanto para homens como para as mulheres –

de que todos (as) apresentam comportamentos mais flexíveis à medida que

amadurecem e consolidam os conhecimentos adquiridos ao longo da carreira.

Figura 13 – Flexibilidade/ Idade Fonte: Elaborada pleo autor

66

4.3 ANÁLISE DE ESTILOS E FLEXIBILIDADE, POR FAIXA ETÁRIA E GÊNERO

Abaixo, serão apresentados e comparados os resultados consolidados agrupados

pela combinação de grupos de idade e gênero (Tabelas 1, 2, 3 e 4). As

consolidações foram feitas com base nos dados obtidos na pesquisa – ver Quadro

Dados de gênero e faixa etária – Apêndice E.

67

Tabela 1a - Estilos e faixa etária - valores

Estilos¹ Catalisador Apoiador Controlador Analítico Só parte 1 Estilo misto Catalisador Apoiador Controlador

Total geral 33 16 3 8 6 6 4 20 8 6 4

Grupos de idadeaté 30 anos 12 2 1 6 3 1 2 9 7 1 1entre 31 e 50 anos 18 11 2 2 3 4 2 9 1 5 151 anos ou mais 3 3 1 2 2

(1) Neste total não foram computados os estilos mistos e os que só responderam a primeira parte do questionário. Fonte: Pesquisa de Mestrado - Tema: negociação - 2008

Homens Mulheres

Tabela 1b - Estilos e faixa etária - percentuais

Estilos¹ Catalisador Apoiador ControladorAnalítico Só parte 1 Estilo misto Catalisador Apoiador Controlador Analítico

Total geral 46% 22% 4% 11% 8% 8% 6% 28% 11% 8% 6% 3%

Grupos de idadeaté 30 anos 17% 3% 1% 8% 4% 1% 3% 13% 10% 1% 1%entre 31 e 50 anos 25% 15% 3% 3% 4% 6% 3% 13% 1% 7% 1% 3%51 anos ou mais 4% 4% 1% 3% 3%

(1) Neste total não foram computados os estilos mistos e os que só responderam a primeira parte do questionário. Fonte: Pesquisa de Mestrado - Tema: negociação - 2008

Homens Mulheres

68

Tabela 2a - Flexibilidade e faixa etária - valores

Flexibilidade² 1 2 3 4 Só parte 1 1 2 3 4 Só parte 1

Total geral 37 1 4 26 6 6 24 9 10 5 5

Grupos de idadeaté 30 anos 14 1 2 9 2 1 10 6 2 2 3entre 31 e 50 anos 20 2 15 3 4 10 2 5 3 151 anos ou mais 3 2 1 1 4 1 3 1

(2) Neste total não foram computados os que só responderam a primeira parte do questionário. Fonte: Pesquisa de Mestrado - Tema: negociação - 2008

Homens Mulheres

Tabela 2b - Flexibilidade e faixa etária - percentuais

Flexibilidade² 1 2 3 4 Só parte 1 1 2 3 4 Só parte 1

Total geral 51% 1% 6% 36% 8% 8% 33% 13% 14% 7% 7%

Grupos de idadeaté 30 anos 19% 1% 3% 13% 3% 1% 14% 8% 3% 3% 4%entre 31 e 50 anos 28% 3% 21% 4% 6% 14% 3% 7% 4% 1%51 anos ou mais 4% 3% 1% 1% 6% 1% 4% 1%

(2) Neste total não foram computados os que só responderam a primeira parte do questionário. Fonte: Pesquisa de Mestrado - Tema: negociação - 2008

Homens Mulheres

69

Tabela 3a – Experiência profissional e faixa etária - valores

Experiência profissional até 10 anos 10 a 20 anos > 20 anos até 10 anos 10 a 20 anos > 20 anos

Total geral 43 22 9 12 29 15 8 6

Grupos de idadeaté 30 anos 15 13 2 13 11 2entre 31 e 50 anos 24 9 7 8 11 4 6 151 anos ou mais 4 4 5 5

(1) Neste total não foram computados os estilos mistos e os que só responderam a primeira parte do questionário. Fonte: Pesquisa de Mestrado - Tema: negociação - 2008

Homens Mulheres

Tabela 3b – Experiência profissional e faixa etária - percentuais

Experiência profissional até 10 anos 10 a 20 anos > 20 anos até 10 anos 10 a 20 anos > 20 anos

Total geral 60% 31% 13% 17% 40% 21% 11% 8%

Grupos de idadeaté 30 anos 21% 18% 3% 18% 15% 3%entre 31 e 50 anos 33% 13% 10% 11% 15% 6% 8% 1%51 anos ou mais 6% 7% 7%

Fonte: Pesquisa de Mestrado - Tema: negociação - 2008

MulheresHomens

70

Tabela 4a – Grau de escolaridade e faixa etária - valores

Grau de instrução Superior Especialização Mestrado Doutorado Superior Especialização Mestrado Doutorado

Total geral 43 15 25 3 29 7 14 6 2

Grupos de idadeaté 30 anos 15 5 9 1 13 4 7 2entre 31 e 50 anos 24 8 14 2 11 3 7 151 anos ou mais 4 2 2 5 3 2

Fonte: Pesquisa de Mestrado - Tema: negociação - 2008

Homens Mulheres

Tabela 4b – Grau de escolaridade e faixa etária - percentuais

Grau de instrução Superior Especialização Mestrado Doutorado Superior Especialização Mestrado Doutorado

Total geral 60% 21% 35% 4% 40% 10% 19% 8% 3%

Grupos de idadeaté 30 anos 21% 7% 13% 1% 18% 6% 10% 3%entre 31 e 50 anos 33% 11% 19% 3% 15% 4% 10% 1%51 anos ou mais 6% 3% 3% 7% 4% 3%

Fonte: Pesquisa de Mestrado - Tema: negociação - 2008

Homens Mulheres

71

a) Grupo com até 30 anos de idade

Nesta faixa etária, a amostra incluiu quinze homens e treze mulheres. Para efetuar a

análise de estilos, não foram considerados sete profissionais desta faixa etária que

só responderam às questões de sexo e idade (quatro deles) e estilos mistos (sete).

Para a análise da questão da flexibilidade, não foram considerados quatro

respondentes - aqueles que só responderam às questões de sexo e idade.

Nas mulheres jovens, predominou o estilo catalisador (7 respondentes - 10%) e grau

de flexibilidade 2 (6 respondentes - 8%). O grau 2 indica pessoas que tendem a agir

de maneira tradicional. Associado ao estilo catalisador – que está mais voltado para

o global – pode apresentar um desempenho razoável naquelas situações em que

padrões e regras estejam bem definidos.

Para os profissionais jovens do gênero masculino, o estilo dominante é o controlador

(6 respondentes - 8%) e o grau de flexibilidade, 3 (9 respondentes - 13%). Em

síntese, este nível de flexibilidade integra polaridades, como conceder/exigir,

falar/ouvir, com boa probabilidade de ter um desempenho favorável em situações de

tensão. A pessoa com grau 3 atenua as características básicas do controlador

(formal/dominante), podendo apresentar comportamentos adequados,

independentemente do estilo.

Dentre as mulheres respondentes, 15% (11 respondentes) têm experiência

profissional de até 10 anos, sendo que 10% delas (7 respondentes) com grau de

instrução equivalente à especialização.

Dentre os homens, 18% (13 respondentes) têm experiência profissional de até 10

anos. O grau de instrução com maior incidência foi, também, a especialização – 13%

(9 respondentes).

72

Estes números confirmam a percepção de que os mais jovens buscam enriquecer

sua qualificação pessoal, muito provavelmente pelo fato de a associarem à

empregabilidade24.

b) Grupo com idade entre 31 e 50 anos

Nessa faixa etária houve um total de 35 respondentes. Predominaram respostas

masculinas – 24 homens contra 11 mulheres (33% contra 15% de mulheres,

respectivamente). Para efetivar a análise de estilos, não foram consideradas seis

pessoas desta faixa etária que só responderam às questões de sexo e idade (cinco)

ou que apresentaram estilos mistos (três). Para análise em flexibilidade, não foram

considerados cinco respondentes (que só preencheram as questões de sexo e

idade).

Nos homens, sobressai o estilo catalisador (11 respondentes - 15%) e grau de

flexibilidade 3 (15 respondentes - 21%). Como já informado no item anterior, o

indivíduo com grau 3 de flexibilidade possui um repertório de comportamentos mais

variado, com capacidade de ter um desempenho adequado em diferentes situações,

independentemente do estilo.

Para elas, o estilo que mais aparece é o apoiador (5 respondentes - 7%) e 3, o grau

de flexibilidade predominante (5 respondentes - 7%). Este grau de flexibilidade,

conforme já explanado, integra polaridades como conceder/exigir, falar/ouvir, com

boa probabilidade de resultar em desempenho favorável em situações de tensão, já

que atenua as características básicas dos estilos, podendo apresentar

comportamentos adequados e contextualizados para cada caso.

Com relação à experiência profissional das mulheres, 8% das respondentes (6

mulheres) declararam experiência no mercado de trabalho entre 10 e 20 anos, e

também aqui predomina a especialização como grau de instrução mais pregnante:

10% (7 mulheres).                                                  24 Empregabilidade: qualidade do que ou de quem é empregável; possibilidade de ser empregado. Houaiss online. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=empregabilidade&stype=k. Acesso em dezembro de 2007.

73

Dentre os homens, 13% (9 respondentes) têm experiência profissional de até 10

anos. A maior incidência no grau de instrução é o nível de especialização, com 19%

(14 respondentes).

Aqui, novamente se evidencia a similaridade entre os gêneros. O maior índice em

especialização nesta faixa etária sugere um processo de aprendizado contínuo, ou

seja, um indivíduo disposto a adquirir novos conhecimentos e habilidades pessoais

ao longo da sua trajetória de vida.

c) Grupo com idade acima de 50 anos

Esta faixa teve baixa participação de ambos os gêneros. Apenas 9 dos

respondentes tinham 50 anos ou mais ( ou 13% do total), dos quais 4 (6%) eram

homens e 5 (7%), mulheres.

Analisando apenas a faixa etária, e descontados do total os que só responderam às

questões referentes a sexo e idade, e/ou apresentaram estilos mistos, 2 mulheres

(3%) enquadraram-se no estilo controlador e 3 homens (4%), no estilo catalisador.

Em flexibilidade, ambos os gêneros tiveram o grau 3 como predominantes (3

mulheres ou 4% e 2 homens ou 3%).

As características da flexibilidade grau 3 já foram expostas, sendo vital a capacidade

de atenuar a influência dos estilos. É interessante observar que, embora havendo

ocorrências no grau 4, os percentuais não foram expressivos. Ou seja,

aparentemente, experiência e escolaridade não são variáveis por si só

determinantes da ampliação da capacidade de perceber oportunidades nas

situações de mudança (típico do grau 4) ou de estar aberto(a) a novas idéias.

74

5 CONCLUSÕES O trabalho de pesquisa teve o intuito identificar os estilos de negociador em

profissionais administradores e advogados do quadro permanente de colaboradores

de uma empresa de energia, à luz da classificação de estilos proposta por Junqueira

(1998). Adicionalmente, buscou-se identificar possíveis ligações entre estilos e

idade, estilos e gênero e grau de flexibilidade pregnante no negociador brasileiro.

Os resultados da pesquisa mostraram ser possível utilizar esta classificação como

parte de uma metodologia para a aplicação de treinamentos e técnicas específicas

para aprimorar as competências de seus profissionais, servindo de apoio na

estratégia de gestão de conhecimento e de pessoas de uma organização.

Neste capítulo, apresentam-se os principais resultados, interligando-os com os

objetivos descritos no item 1.3.

a) Identificar o estilo de negociador predominante em uma empresa de

energia.

A Tabela 5, baseada na obra de Junqueira (1998, p.55), refere-se a uma

amostragem obtida a partir de seminários, palestras e atividades de consultoria por

ele executadas no período de 1982 a 1998. Esta tabela apresenta uma distribuição

entre os estilos menos acentuada do que as obtidas na presente pesquisa, conforme

demonstradas na Figura 8.

Tabela 5 - Estilos de Junqueira

Fonte: Junqueira (1998)

75

Os resultados apontam para diferenças no estilo preponderante. Nos estudos de

Junqueira (1998), o estilo analítico é o que apresenta maior incidência, enquanto

que a presente pesquisa revelou predominância para o estilo catalisador. Cabe

ressaltar que há falta de informações mais detalhadas sobre a metodologia e

procedimentos utilizados pelo autor para definir a sua amostragem, fato que pode ter

influído nessa discrepância de resultados.

Neste particular, é digno de nota o fato de Junqueira ter efetuado a sua pesquisa

antes de o fenômeno da globalização, assumisse suas feições atuais. Somente nas

duas últimas décadas, a negociação tem sido objeto de estudo no Brasil. Este

pormenor pode indicar que o próprio mercado, além das transformações ocorridas

nos últimos anos no mundo dos negócios, proporcionou o surgimento de uma nova

dinâmica laboral, incitando os indivíduos a buscarem mais sistematicamente o

desenvolvimento pessoal, a reverem comportamentos e a aprimorarem suas

competências e habilidades interpessoais. Tudo isso pode ter impactado na geração

de um novo perfil de distribuição desses profissionais com respeito aos estilos de

negociação.

Embora não seja objeto desta pesquisa avaliar a influência do tempo de experiência,

a vivência profissional do inquirido é outra característica que pode ter influência no

estilo.

b) Identificar possíveis ligações entre estilo/idade e estilo / gênero

Não foi encontrada diferença significativa entre estilos, quando confrontados com os

parâmetros de gênero e faixa etária.

Sobre a questão de gênero, as conclusões da pesquisa estão de acordo com

diversas citações na bibliografia pesquisada. Shell (2001, p.306), por exemplo, cita

um estudo realizado com um grupo de 210 participantes em que foi aplicado o

Instrumento Conflito Thomas-Killman25. O grupo era composto metade por

                                                 25 TKI – Thomas – Kilmann Conflict Mode Instrument. Mede as tendências comportamentais numa situação de conflito, que muitas vezes passam despercebidas pelas pessoas, e que podem levar a resultados positivos ou negativos.

76

estudantes e metade por funcionários de empresas. Os resultados mostraram que

havia diferenças entre os estudantes não formados – os homens optando por

caminhos competitivos para lidar com conflitos interpessoais – porém estas

diferenças desapareceram no grupo de pessoas que trabalhavam.

Fowler (2000, p. 21) sugere que podem ocorrer influências inibidoras de gênero,

raça ou idade entre duas pessoas que estão negociando; entretanto devem ser

dissociadas de incidentes específicos da negociação. Para o autor, o

comportamento apresentado por alguns homens pode variar entre dois extremos –

grosseria direta ou dissimulada até um descaso ofensivo - provavelmente mais

ligados a discriminação.

É interessante mencionar que alguns autores consideram a questão do poder –e

não o recorte do gênero- como o mais forte parâmetro determinante das diferenças

na maneira de negociar. Ou seja, quando homens e mulheres negociam a partir de

bases de poder semelhantes, não haveria diferenças significativas em seus estilos.

Um ponto importante é a questão da atitude, que difere entre homens e mulheres.

Segundo Oliveira (2005, p.17), depois de encerrado o processo de negociação, as

mulheres administradoras tendem a ficar menos satisfeitas com o seu desempenho

que os homens, ainda que os resultados por elas obtidos sejam semelhantes

àqueles atingidos pelos negociadores do gênero masculino.

c) Grau de flexibilidade pregnante

A Tabela 6, de Junqueira (1998, p. 58), mostra a distribuição dos níveis de

flexibilidade no Brasil, obtida em pesquisas realizadas nas mesmas condições da

Tabela 2.

77

Tabela 6 - Distribuição dos níveis de flexibilidade no Brasil

Fonte: Junqueira (1998)

A Tabela 6 mostra que 71% das pessoas pesquisadas encontram-se nos níveis de

baixa flexibilidade – 1 e 2. Contraditoriamente, encontramos 65% de indivíduos nos

níveis de alta flexibilidade – 3 e 4.

Como já foi dito, flexibilidade é uma questão vinculada ao desenvolvimento pessoal,

amadurecimento e alfabetização emocional. A pessoa flexível é aquela que sabe

muito bem identificar objetivos relevantes e manter o foco (WANDERLEY, 1998).

Entretanto, embora haja evidências da influência da emoção na flexibilidade, o

aspecto emocional pode ser relevante, afetando a dimensão comportamental. O

professor Leonard Greenhalgh, professor de administração, gestão de

relacionamentos e negociação na Tuck School of Business, nos Estados Unidos,

estuda há 25 anos a influência dos aspectos emocionais em uma negociação.

Abaixo está transcrito o quadro onde estão listadas as principais diferenças

comportamentais dos gêneros quando sujeitos à ansiedade por ele observadas.

HOMENS MULHERES

Angustiam-se quando percebem que estão a ponto de perder um

bom acordo

Se tiverem de partir para o confronto, ficam aflitas porque valorizam relacionamentos de

longo prazo

São mais competitivos e presos aos aspectos formais e visíveis envolvidos em uma negociação

Conseguem identificar no gestual do interlocutor se ele está mais receptivo ou não a

uma proposta

Ficam aflitos quando surpreendidos por algo que não

estava em seu script. Nessa hora, tendem a ficar mais agressivos ou evasivos

A ansiedade toma conta delas quando percebem que os sinais

do interlocutor são desencontrados ou se percebem que ele está jogando para obter

vantagem Quadro 5 - Principais diferenças comportamentais dos gêneros Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Leonard Greenhalgh

78

A maior ou menor flexibilidade poderia estar relacionada à ansiedade das partes

envolvidas, introduzindo reações inesperadas na negociação.

Complementarmente, é de bom alvitre frisar que, pelo fato de testar a consistência e

a aplicabilidade de idéias, conceitos de negociação, e da teoria de estilos,

comparando os resultados obtidos com o perfil de negociadores identificados em

trabalhos já divulgados, esta pesquisa poderá motivar a utilização desta metodologia

pela organização estudada, ampliando-a, seja com a participação de um maior

número de respondentes, seja pela análise dos dados sob diferentes recortes.

Por meio da revisão de literatura, percebe-se que a amostragem não probabilística

pode ser usada em pesquisas acadêmicas e pesquisas de mercado trazendo

contribuições aos estudos nos quais ela é empregada, desde que seja utilizada em

determinadas situações e suas limitações sejam consideradas.

Mas é preciso ratificar para os pesquisadores e demais usuários da pesquisa que

esse método possui inúmeras limitações, sendo inferior à amostragem probabilística

em termos de precisão de resultados.

5.1 TRABALHOS FUTUROS

No decorrer da pesquisa bibliográfica desta dissertação, muitas vezes deparou-se

com a oferta de vários cursos e técnicas para negociação. A atualidade do assunto é

grande, a negociação é uma atividade contínua nos grupos e organizações, faz

parte do processo decisório estratégico de uma organização. Entretanto, são

encontradas poucas referências a novas pesquisas ou estudos. A pesquisadora

encontrou muita dificuldade para obter dados passíveis de uso em análises

comparativas e/ou mais aprofundadas.

Com efeito, a ausência de estudos detalhados sobre o assunto com dados da

realidade brasileira não permitiu um aprofundamento maior, tampouco análises

comparativas mais amplas, ou interpretações com mais nuances dos resultados

79

obtidos. Na realidade, praticamente todas as pesquisas existentes compõem bancos

de dados particulares, com acesso não liberado.

As referências encontradas, na sua maioria, são de pesquisas feitas em outros

países, dizendo respeito a outras culturas. Desta forma, seria interessante o estudo

mais detalhado de estilos de negociação, à luz da cultura brasileira para suprir esta

lacuna.

Para maior compreensão do tema, tão vinculado à gestão de pessoas e considerado

um fator critico para gestores e líderes, sugere-se um aprofundamento dos estudos

relacionados à influência de variáveis sociais, como as utilizadas nesta pesquisa,

assim como das influências regionais e culturais.

Propõe-se também, para uma futura pesquisa, aplicar esta metodologia para um

grupo de funcionários em momentos diferentes de sua carreira, de maneira que seja

possível determinar se ocorrem mudanças de nível de flexibilidade no passar do

tempo e verificar se o estilo é, realmente, imutável como afirma Junqueira (1998).

Espera-se que o conhecimento obtido na utilização desta metodologia possa ser útil

na elaboração de programas de treinamento que visem desenvolver nos

profissionais a capacidade estratégica, tática e operacional na condução de

negociações e na administração de conflitos e nos seus desdobramentos em

diferentes ambientes de atuação.

80

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84

APÊNDICES

APÊNDICE A - Carta de encaminhamento da pesquisa

Convido-o(a) a fazer parte deste projeto de pesquisa. As suas respostas me

ajudarão a elaborar a dissertação, que versa sobre negociação. Pretendo realizar

um estudo sobre perfil de negociadores, bem como traçar um comparativo entre

estilos e recortes de gênero e idade.

As informações serão tratadas confidencialmente e utilizadas para fins

exclusivamente acadêmicos.

A pesquisa é eletrônica e as respostas lhe tomarão cerca de 10 minutos. Não há

respostas "certas" ou "erradas": responda de maneira sincera, sempre do ponto de

vista da sua experiência pessoal.

A recepção dos questionários será finalizada no dia 14 de março de 2008. Se

possível, responda antes do dia 7 de março de 2008.

Agradeço desde já a sua colaboração e coloco meu endereço eletrônico à

disposição para dúvidas e solicitação dos resultados. Abaixo, segue o link que

remete diretamente para as três páginas da pesquisa:

Maria do Carmo

email: [email protected]

pesquisa:

http://www.surveymonkey.com/s.aspx?sm=6CrTk_2fKgvWvsCePhGBdphg_3d_3d

85

APÊNDICE B –Questionário – Parte 1

1. Dados Pessoais

1. Nacionalidade

2. Naturalidade

3. Sexo

Feminino Masculino 4. Idade

até 30 31 a 50 mais de 50

5. Tempo de experiência profissional

até 10 anos

entre 10 e 20 anos

mais de 20 anos

6. Grau (mais elevado) de instrução (completo)

Superior

Especialização

Mestrado

Doutorado

7. Na sua atividade profissional, participa(va) de negociações? Define-se negociação como "...um processo através do qual duas ou mais facções que tenham interesses em comum e conflitantes expõem e discutem propostas explícitas acerca dos termos específicos para um possível acordo".(L.A.Costacurta)

Sim

Não

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APÊNDICE C - Questionário –Parte 2

2. Habilidades Comportamentais

Para cada par de características, escolha dois valores. A soma da linha deve ser igual a 1 (0,8 e 0,2, por exemplo). Responda o que se aplica a você e não o que acha "certo" ou mais desejável para você.

1. Questionário A

A B

Rapido(A) / Paciente(B) Competitivo(A) / Não competitivo(B)

Ostensivo(A) / Reservado(B)

Toma iniciativa(A) / Espera ser solicitado(B)

Busca(A) / Evita(B)

Ativo(A) / Reativo(B)

Dominante(A) / Complacente(B)

Forte(A) / Suave(B)

Categórico(A) / Ponderado(B)

Pró-ativo (A) / Reflexivo(B)

2. Questionário B

A B

Metódico(A) / Impulsivo(B)

Retraido(A) / Descontraido(B)

Autocontrolado(A) / Espontâneo(B)

Distante(A) / Acessível(B)

Realista(A) / Sonhador(B)

Difícil de conhecer(A) / Fácil de conhecer(B)

Voltado para sí(A) / Voltado para fora(B) Oculta sentimentos(A) / Expressa sentimentos(B)

Frio(A) / Caloroso(B)

Racional(A) / Emocional(B)

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APÊNDICE D - Questionário – Parte 3 3. Flexibilidade

Instruções: Atribua graus para cada característica. Grau 4 se a característica (afirmação) for sempre ou quase sempre verdadeira. Grau 1 se a característica (afirmação) for sempre ou quase sempre falsa. Graus 2 ou 3 para posições intermediárias

1. Questionário

Grau

Estar aberto a mudanças de modo construtivo e não defensivo

Adaptar-se as exigências da situação e do ambiente (não ter hábitos arraigados)

Conviver e tirar proveito das incertezas, indefinições e ambigüidades

Estar aberto a negociação (tudo é negociável) Estar preocupado em integrar os aspectos referentes as pessoas (relacionamento) e ao trabalho (resultados)

Manifestar ou conter suas expressões emocionais (sentimentos) adequadamente

Compartilhar informações (falar x ouvir) conforme a situação requer (saber como e quando dizer SIM e NÃO)

Saber lidar com diferenças individuais e comportamentos defensivos

Buscar o atendimento das necessidades mútuas (ganhar e deixar ganhar)

Confiar e ser confiável

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APÊNDICE E

RESPONDENTES PERCENTUALAté 30 anos 28 39%

Idade Entre 31 e 50 anos 35 49%51 anos ou mais 9 13%TOTAL 72 100%

Sexo Masculino 43 60%Feminino 29 40%TOTAL 72 100%Superior 22 31%

Grau de instrução Especialização 39 54%Mestrado 9 13%Doutorado 2 3%TOTAL 72 100%

Experiência profissional Até 10 anos 37 51%Entre 10 e 20 anos 17 24%mais de 20 18 25%TOTAL 72 100%Catalisador 24 33%Apoiador 9 13%

Estilo¹ Controlador 12 17%Analítico 8 11%TOTAL 53 74%Nível 1 1 1%

Flexibildade² Nível 2 13 18%Nível 3 36 50%Nível 4 11 15%TOTAL 61 85%

Fonte: Pesquisa de Mestrado - Tema: negociação - 2008

¹ total não inclui 8 estilos mistos e 11 que só respoderam a parte 1 do questionário (APÊNDICE B)² total não inclui 11 que só respoderam a parte 1 do questionário (APÊNDICE B)

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