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MARIO CESAR TRUNCI DE MARCO - mariotrunci.com.br · quando um colega o pegou, jogou no chão e pisou em cima. Foi a primeira vez que reagi. Naquele e nos dias seguintes, não se falou

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MARIO CESAR TRUNCI DE MARCO

NÃO PERMITA QUE

ROUBEM SEUS

SONHOS Os desafios de viver em uma

sociedade que tem dificudade em

aceitar o diferente

EDITORA BIOGRAFIA

São Paulo - Verão de 2018

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DEDICATÓRIA

A Zambi - Deus em dialeto africano - que proporcionou que eu

nascesse em uma família que entendeu minhas dificuldades e

não mediu esforços para que eu despertasse o que de melhor

existe dentro de mim.

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AGRADECIMENTO

A minha mãe Carmen Lydia e meu pai Celso de Marco por

acreditarem em mim.

A minha avó Juracy por sempre falar que eu era capaz.

Aos meus filhos, Clara e Miguel, que são a razão da minha vida.

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Que este livro seja um legado de superação e

que as pessoas possam entender que é possível

vencer as dificuldades e que assim o mundo se

torne um lugar melhor!

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Todos os dias, alguém diz que eu não sou

capaz.

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Viver em uma sociedade que não sabe

como lidar com o diferente é um desafio.

Sei bem disso. Nasci com dislexia, um

distúrbio que afeta 15% da população

mundial e, durante um bom tempo, lutei

para ser como os outros.

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Uma jornada solitária e cruel.

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PROLÓGO

“[...] Quando a professora, principalmente de língua

portuguesa, entrava na sala avisando que era para lermos em

voz alta a redação que havíamos redigido no dia anterior, meu

CORAÇÃO ACELERAVA. A palavra LER era como uma senha que

colocava todos os meus sentidos em alerta. E quando isso

acontecia, a SENSAÇÃO era de que todo SANGUE do meu corpo

estava sendo BOMBARDEADO para o cérebro, provocando

formigamento seguido da SENSAÇÃO de ESTUPOR. Era como se

minha alma saísse do corpo por alguns segundos, para habitar

em outra DIMENSÃO, um mundo paralelo, branco e sem som

que me acolhia sempre que eu sentia MEDO”.

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NASCI COM UM DEFEITO

Se fôssemos máquinas, eu não passaria pelo controle de

qualidade e se passasse, não escaparia do recall e é bem

provável que, após avaliação, fosse descartado. O fato de não

sermos máquinas nos livra das sucatas, não do descarte social.

É louco pensar que boa parte de nós regride socialmente, na

mesma proporção que assistimos deslumbrados o avanço

científico e tecnológico. Quanta coisa mudou nas últimas

décadas do ponto de vista material! A verdade é que

observamos o progresso e sobra pouco tempo para olhar para

nós mesmos.

Às vezes me pergunto: - de que adianta tantos avanços

materiais, se não aprendemos a enxergar o outro com os olhos

do coração e continuamos teimando em insistir em um padrão

social que não respeita, por exemplo, a miscigenação?

Viver em uma sociedade que não sabe como lidar com o

diferente é um desafio. Sei bem disso. Nasci com dislexia, um

distúrbio que afeta 15% da população mundial.

A dislexia se caracteriza pela dificuldade que a pessoa

tem para ler e, quase sempre, vem acompanhada da disgrafia,

– alteração da escrita normalmente ligada a problema

perceptivo-motor –, a disortografia, – que envolve a

formulação e codificação da escrita – e da discalculia, –

dificuldade para lidar com números. Um defeito seguido de

vários outros defeitinhos.

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Nasci com tantos DIS, que não há outra palavra que não

DISTANTE para descrever o quanto a dislexia me afastou do

mundo dos supostamente normais.

Brinco dizendo que minha relação com a espiritualidade

começou cedo, nas aulas de língua portuguesa, quando me

apegava a todos os santos sempre que era obrigado a ler. Eu

não queria ser diferente das outras crianças. Mas como explicar

que as palavras dançavam aos meus olhos, sem parecer louco

ou coisa do tipo?

– Cara, ele é muito burro! – diziam uns.

– É retardado! – cochichavam outros.

Para os educadores eu era no mínimo preguiçoso.

Para me safar dos comentários, sempre sentava em

lugares estratégicos. Se as cadeiras estivessem dispostas em

meia lua, sentava no meio. As leituras geralmente começavam

da direita para a esquerda ou da esquerda para direita. Assim,

eu teria tempo para tentar encaixar as peças do quebra-cabeça

que teimavam em mudar de lugar e, para isso, recorria à

algumas estratégias, entre elas fazer promessas aos santos e

criar intervenções com o objetivo de prolongar o tempo de

leitura. A esperança era que o sinal do intervalo tocasse ou a

aula terminasse antes de eu ter que ler.

– O que significa isso?

– O que significa aquilo?

As estratégias nem sempre davam certo e meu coração

parecia saltar pela boca, quando o ponteiro do meu termostato

interno oscilava de um lado para o outro, velozmente, em sinal

de perigo eminente.

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– Mario, continue a leitura, por favor! – Pedia a

professora.

Um zumbido apenas e a sensação de estar fora do corpo

por alguns segundos... Em seguida, com os dedos indicadores

pressionando as têmporas, eu tentava reorganizar as palavras

que teimavam em continuar bailando sob meus olhos.

A leitura para o disléxico é como um jogo de decifrar

códigos, mas com um nível a mais de dificuldade: as palavras

mudam de posição o tempo todo.

COMO SER DIFERENTE NUMA SOCIEDADE QUE SÓ

VALORIZA OS IGUAIS?

Meu nome é Mario Cesar Trunci de Marco. Mario sem

acento e Cesar também sem acento e com S, em vez de Z.

Sempre que alguém vai escrever meu nome pela primeira vez,

questiona:

– Sem acento? Como assim?

– Cesar com S e sem acento? É isso?

– Certíssimo!

Além dos detalhes da grafia do nome próprio composto,

tenho sobrenomes incomuns e características físicas que não

me deixam passar despercebido, como um metro e oitenta

centímetros de altura e o corte de cabelo, ao estilo Padawan,

de Star Wars, sem a famosa trancinha. O fato de ser diferente

das pessoas já não me incomoda mais. A dislexia talvez tenha

me tornando mais forte a ponto de ver vantagem, até mesmo

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quando me observam pelo canto dos olhos. Quando isso

acontece, se tenho tempo, puxo conversa. Gosto de conhecer

novas pessoas e também que elas me conheçam. Já não sou o

adolescente amedrontado que se esconde para ser aceito.

Sou o primogênito de três irmãos. O filho desejado e

festejado pelos meus pais, um casal apaixonado que colocou o

amor acima do preconceito social que separa as pessoas em

grupos dos mais e dos menos afortunados.

Minha mãe é herdeira de um tradicional colégio

paulistano, meu pai advogado. Aos olhos dos meus avós

maternos, um relacionamento desigual. Teria papai, após o

casamento, condições de oferecer à mamãe o mesmo padrão

de vida que ela estava acostumada a ter? Mamãe, que já era

uma mulher empoderada muito antes de o termo se

popularizar, não teve dúvidas ao escolher começar uma nova

história ao lado de papai. A decisão incluía morar em um

apartamento simples, tão compacto quanto o orçamento

doméstico. Faltava espaço, sobrava amor. Cresci cercado de

afeto.

Meus pais são protagonistas de uma linda história de

amor, superação e sucesso. Eles trabalharam firmes todos os

dias e nada nos faltou.

Lá em casa era assim: enquanto mamãe, pedagoga e

psicopedagoga, cuidava para que tivéssemos acesso à uma boa

educação, papai se responsabilizava pela nossa cidadania,

zelando para que fôssemos boas pessoas. Sou apaixonado

pelos meus pais e grato pela maneira como me conduziram na

vida. Oxalá os abençoe por isso!

Meus primeiros anos de existência não foram muito

bons em relação à saúde. Em alguns momentos a vida parecia

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se esvair do meu corpo e muitas foram as vezes que meus pais

imploraram a Oxalá por um milagre. Concedido. Estou vivo e

viver é uma extraordinária aventura.

Além dos problemas de saúde, tive na infância algumas

dificuldades, entre elas, aprender a andar de bicicleta e a jogar

futebol. Sempre que as crianças se reuniam em torno de uma

bola de futebol, eu me afastava e buscava distraidamente,

outra forma de ocupar meu tempo. No início meu pai

estranhou meu comportamento. -Como pode um menino não

gostar de futebol?- deve ter pensando. Depois ele entendeu e

passou a me acompanhar e a valorizar minhas descobertas.

Mamãe, que sempre trabalhou na área da educação,

percebeu logo cedo que minha distração poderia estar

associada a algum distúrbio neurológico, o que se confirmou na

fase da alfabetização, quando fui diagnosticado como disléxico

e o que era – e é – para boa parte das famílias um problema, a

minha encarou com naturalidade e, a partir da confirmação do

diagnóstico, o desafio foi fazer com que eu respondesse de

maneira positiva ao planejamento educacional, que visou

estimular meu potencial intelectual e cognitivo sem que me

sentisse pressionado ou achasse enfadonho. A rotina de estudo

ocupava boa parte do meu dia. Na parte da manhã,

frequentava o Colégio Paulicéia, famoso por ser uma escola

inclusiva e, à tarde, recebia reforço de uma equipe

interdisciplinar.

Apesar da assistência familiar e profissional, durante

muito tempo lutei para que a dislexia não me roubasse de mim

mesmo.

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SOMOS MAIORES QUE OS NOSSOS MEDOS

Durante todo o ensino fundamental, contei com a

proteção da minha família e com a cumplicidade dos

educadores do Colégio Pauliceia, que faziam o possível para

que me sentisse seguro. Ao concluir o fundamental II, precisei

mudar de escola porque o Colégio Pauliceia não tinha o ensino

médio. Inicialmente meus pais encontraram uma escola com

proposta inclusiva, só que não o era na prática. Foram tempos

difíceis aqueles. Permaneci pouco tempo na escola e diante da

insistência de ir para uma escola comum, eles acabaram por

ceder, apesar de o mundo não ser um lugar seguro, devem ter

pensado. Eles tinham razão.

Penso que tudo que vivi nessa fase da minha vida tenha

sido preponderante para que minha avó e minha mãe

enfrentassem um novo desafio e abrissem o ensino médio no

Colégio Pauliceia. Sinto-me orgulhoso, pois muitos jovens,

incluindo eu, poderiam e podem concluir a educação básica

numa escola inclusiva de verdade.

Entre 14 e 16 anos, o bullying sofrido na infância passou

a ser irrelevante diante das novas brincadeiras das quais eu era

personagem principal. Nos trabalhos escolares e nas

brincadeiras no intervalo, eu era sempre o último a ser

escolhido. A dislexia minava todas as minhas qualidades e eu,

na ânsia de ser aceito, me esforçava cada vez mais para

acompanhar o ritmo dos professores e dos alunos.

– Abram o livro na página 36, parágrafo 5, linha 3.

– Ei, eu tenho um defeito, minha mente tem um delay. –

gostaria de dizer.

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“Para que me expor ainda mais?”, eu pensava em

seguida e a única alternativa era tentar encontrar no meu livro

encantado todas aquelas informações, disfarçando ao máximo

para meus colegas não perceberem que eu estava perdido.

Sem sucesso. Eu ainda estava tentando entender a pergunta,

enquanto o restante da classe começava a acompanhar a

leitura. Nessas ocasiões, meu rosto queimava, os risinhos

sussurrados eram por minha causa. Mais uma vez eu estava

sendo um péssimo aluno. A sensação de que, por mais que me

esforçasse, nunca seria capaz de mudar aquela situação, me

matava aos poucos. Até que um dia, fechei o punho.

Era hora do intervalo. Estava com o lanche na mão

quando um colega o pegou, jogou no chão e pisou em cima. Foi

a primeira vez que reagi. Naquele e nos dias seguintes, não se

falou em outra coisa na escola.

– Quero ver alguém aqui zoar com ele novamente! –

diziam uns.

– Eu nunca imaginei que ele pudesse reagir com tanta

violência! – diziam outros.

O problema da passividade imposta é o mesmo de um

copo cheio, quando alguém, ignorando sua capacidade, insiste

em continuar pondo líquido. Vai transbordar.

Ter reagido foi libertador e assustador ao mesmo

tempo. Naquele dia aprendi duas importantes lições: a primeira

foi que agredir não é uma boa maneira de manifestar

descontentamento, e a segunda foi que eu poderia usar a

popularidade para falar abertamente sobre o meu defeito, a

dislexia. E não é que deu certo!

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Assumir que eu era disléxico foi importante para que as

pessoas percebessem que eu tinha outras habilidades, como

por exemplo, boa oralidade, espírito de liderança e bom

desempenho esportivo.

NÃO ABRA MÃO DA SUA IDENTIDADE – TRANSFORME DEFEITO

EM QUALIDADE

O medo de ser diferente faz com que a gente, na ânsia

de se proteger, construa muros em torno de nós mesmos.

– Se eu não me mostrar, não vão me enxergar. –

pensava.

A solidão sufoca. Sem janelas ou portas, vai chegar um

momento em que o enclausuramento se tornará asfixiante e a

única maneira de voltar a respirar, será derrubando as paredes.

Não há a menor chance de você ser alguém fugindo de você

mesmo! Sua essência esta intrinsicamente ligada ao seu

sucesso! Quem é você?

A maioria dos que nascem com defeitos como eu, têm

dificuldade em saber quem são. Durante a caminhada, é fácil se

perder, já reencontrar-se, é sempre um processo difícil e

doloroso, afinal como viver em uma sociedade que exclui os

que nascem fora do padrão? Anular-se é sempre a primeira

alternativa.

– Quem quer ser amigo de um menino que não sabe ler

e escrever? – eu pensava.

Durante um bom tempo, o medo me impediu de expor

meus sentimentos, limitando meu ciclo de amizade e

excluindo-me de grupos de bate-papo.

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SOBRE O MEDO – CONHECENDO O INIMIGO

O medo impõe barreiras. Durante alguns anos, meus

esforços foram direcionados para ações que camuflassem a

dificuldade que eu tinha para ler e escrever. E eu era tão bom

em tantas outras coisas...

Quando a gente tem medo, tende a valorizar tanto o

problema que, por mais irrelevante que ele seja, acaba

ganhando proporções gigantescas. A gente esquece que tem

outras potencialidades e tudo passa a girar em torno daquela

única inabilidade.

O medo nos limita, rouba nossos sonhos, enfraquece

nossas crenças, minando nossas esperanças. Todos os dias

alguém tenta nos amedrontar, colocando-nos em situação de

vulnerabilidade. Uma pessoa intimidada tem mais

probabilidade de ser manipulada. E quer situação pior que a

falsificação da realidade?

Durante o tempo em que permiti que a dislexia me

roubasse de mim mesmo, aonde quer que fosse, estava sempre

de sobreaviso para não correr o risco de ser descoberto, agindo

como se tivesse uma doença contagiosa e precisasse preservar

as pessoas de mim, evitando que tocassem em minhas feridas.

Na época, eu não sabia que o perigo era me esconder de mim

mesmo.

SUPERAÇÃO – FOCANDO NO SIGNIFICADO DA PALAVRA

Aceitar quem somos, entender nossas deficiências,

valorizar nossas QUALIDADES e INVESTIR em nossas

POTENCIALIDADES. Esses são os desafios de quem faz parte do

grupo dos diferentes, dos que não fazem parte do padrão pré-

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estabelecido pela sociedade. E isso é fantástico. Sugiro que

você recorte a frase a seguir e cole no espelho da sua casa.

O que supostamente nos diferencia é a nossa melhor

e mais importante ferramenta de crescimento

humano e profissional.

Pense sobre isso! A diferença que temos pode - e deve -

ser usada a nosso favor Graças a ela temos uma serie de

ferramentas que podem nos auxiliar e direitos que nos

resguardam. Invista nas ferramentas para se capacitar e

procure conhecer seus direitos para se proteger. Nenhuma

incapacidade pode ser maior que nossos sonhos. Para escrever

esse livro, por exemplo, contei com a colaboração de uma

profissional ghost whiter, que me ajudou a organizar as

palavras no papel. Até pouco tempo, eu não sabia da existência

desse tipo de profissional e me surpreendi ao saber que

grandes escritores contam com a ajuda deles. Na minha

jornada uma coisa é muito clara para mim: não somos

autossuficientes. Nem os nascidos, supostamente sem defeitos

o são. Então, se você tem um sonho, saiba que ele está acima

da sua dificuldade e se não estiver, peça ajuda. Permita-se ser

surpreendido.

Nas páginas seguintes, escreverei sobre como me

libertei do medo. Narrarei também fatos relacionados à minha

vida pessoal que foram importantes para a construção do ser

humano que sou hoje. Esse não é um livro para falar sobre a

dislexia. É um livro para compartilhar com todos as estratégias

que usei para transformar um defeito em uma ferramenta de

superação e transformação. Espero, com ele, ajudar pessoas a

derrubarem seus muros e se libertarem dos rótulos e

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paradigmas que os impendem de serem fortes, bem-sucedidos

e realizados, tanto na vida pessoal quanto profissional.

PRIMEIRO PASSO

ACEITE-SE – A ACEITAÇÃO FAZ COM QUE VOCÊ TENHA

RESPEITO POR SI MESMO

Ninguém pode dar o que não tem. Penso que Oxalá me

abençoou, permitindo que nascesse em uma família de

educadores que não mediram esforços para que eu recebesse a

atenção e o acompanhamento necessários, a fim de que a

dislexia não roubasse meu futuro. Hoje, ao revisitar o passado,

percebo que não havia ironia no fato de eu, disléxico, nascer

em uma família de educadores. Percebo que Oxalá me colocou

no lugar certo. Talvez o desejo Dele seja mostrar que todos

nascemos com POTENCIALIDADE – uma característica - e com

um PROPÓSITO – um desígnio, substantivos que estão acima

das diferenças que nos separam. Já vi pessoas supostamente

diferentes, fazerem coisas excepcionais. Hoje, percebo que sou

uma delas. Não pense que estou sendo narcisista ou coisa do

tipo. Amo o que faço e, mais ainda, o reflexo que minhas ações

geram nas pessoas e isso me faz sentir muito orgulho de mim

mesmo.

Meu propósito de vida, por exemplo, está

intrinsicamente ligado ao meu defeito. Trabalho em prol de

pessoas com deficiências físicas e intelectuais, muitos vivendo

em situação de vulnerabilidade social e sei exatamente como

elas se sentem. Olha que benção recebi ao nascer! Eu não

preciso me colocar no lugar delas para sentir o que sentem,

porque também nasci diferente. E a diferença, quando

avaliada sob o ponto de vista do otimista, e te aconselho a ser

um deles, faz de nós seres humanos melhores.

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Na minha família, sempre foi comum termos empatia

pelo outro, então, na escola, eu sempre estava ao lado de

pessoas que potencialmente poderiam ser excluídas como eu

fui. A gente meio que se protegia, principalmente nos

intervalos.

TURMA DE RETARDADOS,

TURMA DE BURROS

TURMA DOS ESQUISITOS

Claro que não era legal ser rotulado de tantos adjetivos

negativos.

Quando agredi o garoto na escola, percebi que a única

maneira de conseguir que me ouvissem era sendo o mais forte.

Fiz dietas malucas, ganhei músculos. A partir daquele dia,

ninguém mais ousava mexer comigo. Mas o respeito que eu

havia conquistado nos intervalos não impedia os risinhos

sarcásticos dentro da sala de aula. Até que um dia, uma

professora substituta apareceu. Pedi para falar com ela:

– Professora, gostaria de pedir antecipadamente

desculpas pela minha letra e por possíveis erros gramaticais nos

trabalhos. É que sou disléxico...

Ela me olhou da maneira mais generosa do mundo e disse:

– Que gracinha! Você sabia que pode pedir para fazer

prova oral em vez de escrita...blá, blá, blá....

Transportei-me. Na minha mente eu estava diante de

uma paisagem de magnifica beleza, limpa, como em uma tela

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de alta resolução. Sei disso porque um véu branco e translúcido

que cobria meus olhos caiu meio que em câmara lenta.

E tinha direitos. Eu sabia que tinha direitos, mas até

então me faltava coragem de os requerer. Eu almejava tanto

ser como os demais, que esqueci completamente dos direitos

assegurados aos diferentes como eu.

Nunca mais fiz prova escrita. Nos trabalhos escritos,

escolhia os grupos em que a maioria tinha dificuldade ou não

gostava de apresentar os trabalhos. Foi assim que me formei

em duas faculdades. Claro que houve questionamento por

parte de educadores desinformados.

– Você tem mesmo dislexia ou está fingido?

Não os culpo, apesar de ter entrando em confronto com

alguns deles. Uma, inclusive, foi afastada do curso por minha

causa.

– Este é um curso de pedagogia e eu não admito erros

gramaticais... um erro e tiro 0,50 de ponto, dois erros...– disse a

professora no primeiro dia de aula.

– Professora, – levantei o braço para que ela me

localizasse rapidamente – assim não vou ter a mínima chance

de passar na sua matéria...

A conversa não foi das mais amigáveis. A professora de

currículo invejável, não tinha nenhuma noção sobre dislexia.

Meu histórico no curso foi fundamental para que uma nova

profissional assumisse a disciplina.

O diferente deve ter atitude e posicionamento. Claro

que eu não gostei de ter exposto aquela educadora para a

classe, mas ela não me deu outra saída. Era a falta de

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conhecimento e informação dela, contra meus direitos e meu

futuro. Alguém precisava ganhar, ninguém saiu perdendo. Ela,

tenho certeza, foi atrás de informações sobre o tema e eu

ganhei a chance de introduzir a dislexia na grande curricular do

curso. É grande o número de adolescentes com dislexia que

desistem da escola por medo de confessar que as palavras

dançam sempre que tentam ler um livro, que existem delays

entre as perguntas feitas, a assimilação de cada palavra e as

respostas. E isso vale para números também.

Quanto mais pessoas souberem sobre a dislexia, mais

crianças irão com prazer para a escola e adolescentes chegarão

à faculdade. O conhecimento LIBERTA!

Formei-me em duas faculdades, Educação Física e

Pedagogia, fazendo prova oral. Não tenho certeza, mas talvez

eu seja o único pedagogo com dislexia do planeta, afinal, o

comum, infelizmente, é a criança não gostar da escola e desistir

dos estudos na primeira oportunidade que tiver. No meu caso,

o apoio familiar foi fundamental. Meus pais simplesmente não

queriam abrir mão de mim. A educação é o alicerce do

desenvolvimento humano e intelectual. Não é à toa que

afirmamos que o conhecimento liberta. Liberta os educadores

da ignorância, os alunos do medo e a sociedade do

preconceito.

Você deve estar pensando: – Pensar assim é fácil._ Você

tem razão, é fácil agora. No passado foi difícil pra caramba e

entre o difícil e o fácil, houve a libertação. E não existe

liberdade sem um preço.

O fato de eu ser herdeiro de uma família com tradição

na área educacional, de nada valeria se eu houvesse sucumbido

à dislexia. Sinto-me na obrigação de falar, principalmente para

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as pessoas que se sentem diferentes: não desista de você, não

abra mão do futuro para o qual foi predestinado. Não se

esconda, não use sua deficiência como escudo, use como uma

arma. Quando você souber quem é, não terá dificuldade em

reconhecer o caminho que deseja seguir. Qual é o seu

problema? Qual é o seu defeito? Você sabe quais são os seus

direitos? Que tal pensar sobre isso agora. Na página seguinte

descreva qual é o seu defeito, em seguida relacione os seus

direitos, depois enumere quais direitos já tem garantidos e

quais precisa requerer. Se precisar de ajuda, tem meu contato

nas páginas finais desse livro.

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MEUS DEFEITOS, MEUS DIREITOS

Fale sobre seus defeitos e como eles o impedem de frequentar

lugares, trabalhar e estudar.

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________

Quais são os seus direitos?

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____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________

Dos direitos relacionados acima, quais você já tem garantidos e

quais precisa conquistar?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

_________________________________

OBS: Se você não sabe quais são os seus direitos, procure

orientação de um profissional.

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APRENDENDO A SER ROTEIRISTA E ATOR NA PRÓPRIA HISTÓRIA

Agora que você já sabe que tem seus direitos, é

importante que saiba que também tem deveres e um deles é se

auto avaliar.

Como você se vê e como o mundo te enxerga?

Se não estiver satisfeito com o modo como as pessoas

te olham, avalie-se. Olhe-se no espelho. Aponte os pontos

fortes e os pontos francos que possui, em seguida faça uma

sinopse de como gostaria que as pessoas lhe vissem e, por

último, faça uma avaliação pessoal. Seja sincero: você está

usando o fato de ser diferente para ser o coitadinho, o

personagem incompreendido pelo resto do mundo, ou para ser

o protagonista? Perceba que os super-heróis, os mutantes mais

poderosos do planeta são diferentes, nasceram com defeitos.

Alguns passaram pela fase do patinho feio e só depois de

superar o bulling é que viraram super. Fora do universo Marvel,

a coisa é bem diferente, mas me anima a possibilidade de ser

um super da vida real. Gosto de pensar que pertenço a Liga da

Justiça!

Parte da sociedade não gosta de quem tem defeito. São

conhecidos como preconceituosos, são os vilões às vezes ricos

de dinheiro, sempre pobres de espírito. Usam seus poderes

para oprimir e não medem esforços para provar, o tempo todo,

o quanto são superiores. Gosto da versão que mostra que esses

vilões tiveram algum problema de aceitação em um

determinado momento da vida e, por raiva, frustração ou

necessidade de proteção acabaram como Darth Vader,

escolhendo o lado escuro da força. Atualmente temos vários

exemplos de Darth Vader no Brasil, principalmente no cenário

político. São pessoas que tinham tudo para fazer a diferença e

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acabaram corrompendo-se. Sucumbiram ao lado escuro da

força. São homens sem honra. Talvez não tenham bem

definidos os seus valores. Nossos valores dizem muito sobre o

nosso caráter. Pensando nisso, vou propor um desafio. Na

página seguinte, relacione seus valores éticos e seus defeitos

morais. Se tiver dificuldade peça ajuda. Em seguida, enumere

as dificuldades de ser ético, levando em conta o grau de

dificuldade de cada um. Depois, circule quais defeitos morais

estão em conflito com seus valores. Nesse processo é bem

provável que precise de ajuda, então, selecione pessoas de seu

convívio familiar, social ou profissional e instituições que

podem ajudar você nesse momento.

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EXÉRCICIO

COMO SABER DE QUE LADO DA “FORÇA” VOCÊ ESTÁ

Quais são os valores morais e éticos que regem sua vida?

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____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________

Partindo da premissa de que “somos réus e juízes de nós

mesmos”, responda sinceramente: Quais são seus defeitos

morais e éticos?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________

No caso de conflito entre seus valores e seus defeitos, quem

pode te ajudar a encontrar o equilíbrio?

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____________________________________________________

____________________________________________________

___________________________________

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NINGUÉM É PERFEITO

Todos nós temos defeitos. Tem aqueles que nascem

com defeitos físicos, que nascem com problemas intelectuais,

os que nascem com algum tipo de déficit... Entre todos os

defeitos, o pior é o defeito de caráter. E se você não nasceu

com esse defeito, parabéns, você é um sortudo. O problema,

venho batendo nesse ponto o tempo todo, não é ser ou não

defeituoso e isso vale para os pais que têm filhos especiais, o

problema é a maneira como você se vende para as pessoas. Se

você não está satisfeito com a maneira como elas o veem,

mude.

Conheço muita gente que se surpreendeu ao descobrir

como as pessoas as enxergavam e na jornada do

autoconhecimento perceberam que haviam se boicotado em

várias ocasiões. Por medo ou por omissão, permitiram que seus

defeitos aparecessem mais que suas habilidades. Elas perderam

chances importantes de crescimento profissional. Quem vai

querer apostar em alguém que se apresenta como frágil e

inseguro em todas as situações de confronto? Na página

seguinte, proponho um novo desafio.

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EXÉRCICIO

COMO FAZER COM QUE MINHAS HABILIDADES APAREÇAM

MAIS QUE MEUS DEFEITOS

Relacione suas habilidades.

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________

Relacione seus principais defeitos.

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________

Como você acha que pode reforçar suas habilidades?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________

Em caso de precisar de ajuda, quais amigos, profissionais e/ou

instituições deve pedir apoio?

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____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________

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PERTENCIMENTO

SE VOCÊ SABE QUEM É, SABERÁ PARA ONDE IR

Na maioria das vezes, combatemos inimigos externos

sem saber que o maior vilão está dentro de nós mesmos. Passei

anos lutando contra mim mesmo. Nasci com defeito e nada

poderia, ou pode, mudar isso. Então, diante do impossível, a

saída, muitas vezes, foi encontrar alternativas que

despertassem minhas potencialidades. Quando a gente

enfrenta os desafios, o improvável acontece.

Quando aceitamos quem somos, fica mais fácil

identificar e investir em nossas potencialidades e ter

assegurado nossos direitos. Se eu não assumisse a dislexia,

como poderia requerer o direito de fazer prova oral nas duas

faculdades em que me formei? Quando assumimos quem

somos, nossos pontos francos perdem força e sem muletas,

não nos resta alternativa que não seja encontrar o equilíbrio.

O autoconhecimento é fundamental nesse processo.

Ninguém será capaz de amar o outro se não se amar primeiro.

E se amar significa se conhecer, confrontar-se, aceitar-se. E

esse pode ser o processo de resiliência que te levará à jornada

extraordinária do autoconhecimento. Quando você tiver

orgulho de quem é. Quando entender que possui habilidades

que estão acima dos seus defeitos, será capaz de fazer coisas

excepcionais.

APRENDENDO A SER DO TAMANHO DOS SEUS SONHOS

Conforme relatei anteriormente, não joguei futebol

durante a infância e continuei não jogando durante parte da

adolescência. Estava tão ocupado em provar que podia ler e

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escrever como meus colegas, que quase abri mão de alguns

sonhos.

Como não conseguia entender todas aquelas regras e

me adaptar às marcações, preferia procurar insetos no em

torno dos campos das peladas. Tive a sorte de ter amigos que

são excepcionais no esporte, de um deles sou fã de carteirinha

até hoje. Somos amigos de infância e Frederico sempre foi um

jogador acima da média e de tanto admirá-lo, quis ser como

ele. Eu tinha entre 15 e 16 anos.

– Cara, me ensina a jogar? Se eu aprender 5% do que

você sabe, me dou por contente.

– Você será tão bom quanto eu! – ele disse sorrindo.

Bom, um ano depois, em 1999, eu estava na Europa

jogando futebol numa copa estudantil. Foi uma experiência

incrível. O Frederico é um cara de um coração incrível, sempre

que a gente dividia times para jogar, claro que todo mundo

queria ele no time, mas Frederico, com seu enorme coração,

dizia: – Eu jogo em qualquer time, desde que seja com o Mario.

Minha carreira de jogador de futebol durou pouco.

Fracassei. Eu continuava tendo dificuldades com as marcações

e decorar as jogadas era bem complexo – lembra que falei do

delay? - um contrassenso, porque amava o gramado, a vibração

dos vestiários e da torcida. Terminado o campeonato, voltei

para o Brasil. Na época, o Colégio Paulicéia já participava de

campeonatos de basquete e fui trabalhar como auxiliar técnico.

Um dia, conversando com o técnico, decidimos completar

nosso time convidando atletas de destaques de clubes e

colégios com tradição esportiva, para compor nossa equipe. A

condição para esse aluno/atleta vir para o Colégio Paulicéia, foi

assumir o compromisso de estimular todos os alunos,

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promovendo, assim, a inclusão pelo esporte. Deu tão certo, que

ganhamos nosso primeiro campeonato em 2001.

O esporte está intrinsecamente ligado à filosofia do

Colégio Pauliceia, conhecido por ser uma escola inclusiva e

havia, às quintas-feiras, aulas para atletas especiais. Sempre

que o professor precisava se ausentar, pedia para que o

substituísse. Que coisa incrível! Aquelas crianças e jovens com

todas as dificuldades advindas das deficiências que tinham,

eram fantásticos. Fácil amá-los, difícil não ter empatia por cada

um e, foi substituindo o professor, que descobri meu propósito

de vida: nasci para dar voz, resguardar e defender pessoas com

deficiência, mobilidade reduzida, defeitos, sejam quais forem, e

vulneráveis socialmente.

Para treiná-los precisei me treinar primeiro. Era preciso

estar à altura do profissional que eles precisavam que eu fosse

e, quando assumi o posto de técnico, chamei um dos meus

melhores atletas e pedi para que ele me ajudasse a desenhar

um campo com atletas posicionados, como uma espécie de

mapa do tesouro das principais jogadas.

Foram meses de muito aprendizado e de uma

importante descoberta: eu finalmente pertencia a um grupo e

por ele seria capaz de qualquer coisa, mesmo que qualquer

coisa significasse sair no tapa com quem ousasse mexer com

eles.

O esporte vai além da competição, tem o desafio, o

poder de unir pessoas, ensina como lidar com as perdas, a tirar

lição do fracasso e a saborear, com moderação, a vitória, que é

temporária. O fato de não sermos sempre vencedores é

importante também fora dos gramados. Um dia você ganha no

outro perde. Faz parte!

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Trabalhei com atletas de todos os níveis. Atletas

perfeitos e atletas com defeitos. Aprendi muito com todos eles.

O PODER ESTÁ NA SUPERAÇÃO

Duas situações me fizeram refletir sobre o verdadeiro

significado da palavra superação. Em um deles, após uma

partida, o pai de um garoto com um potencial incrível dentro

das quadras, me abordou questionando o número de pontos

que o filho havia feito na partida. Ele não admitia que o filho

não tivesse alcançado determinada pontuação e exigia que eu

reavaliasse o resultado. Em um determinado momento,

precisei alterar o timbre de voz para que aquele pai entendesse

que seu filho “perfeito” não perdia os méritos que tinha como

atleta por ter feito menos ou mais pontos naquele jogo que,

com certeza, não seria o último, nem o mais importante de sua

vida.

Em outra ocasião, levei um time formado por jovens

com deficiência para um campeonato que aconteceria num

final de semana, em um município do estado de São Paulo. Os

pais pareciam mais ansiosos que os filhos, afinal, estávamos

acostumados a zelar por eles. Para nós, educadores, o desafio

era fazer que todos tivessem mobilidade e independência. Não

foi um final de semana tranquilo para os atletas que, longe de

suas famílias, tiveram que lidar com suas limitações.

Naquele final de semana, um dos nossos melhores

atletas convulsionou. Foi triste assisti-lo se contrair de modo

doloroso. A crise convulsiva acabou comprometendo o

desempenho dele e tivemos que desligá-lo do time. Ao retornar

para casa, o atleta disse para o pai que aquele havia sido o

melhor final de semana de sua vida. Ele não havia competido,

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não tinha ganho medalhas, sequer teve oportunidade de

competir. Ele estava feliz pelo simples fato de ter sido escalado.

Outro pai, ao saber que o filho havia ido ao banheiro

sozinho, chorou. A felicidade era tanta que não coube dentro

dele. Para aqueles pais e filhos, não importava os pontos

ganhos ou perdidos. Aquele havia sido o campeonato da

superação e nenhum troféu seria mais importante do que saber

que todos haviam superado seus próprios limites.

Você quer superar seus limites? Se estiver disposto de verdade terá que se expor, aprender a lidar com suas deficiências.

Vou propor um novo desafio e, para isso, vamos usar o método brainstorming, técnica de discussão em grupo que se vale da contribuição espontânea de ideias por parte de todos os participantes, no intuito de resolver algum problema ou dar à luz uma brilhante ideia. Na página a seguir, relacione suas limitações. Não tenha medo de ser sincero. Depois, abaixo de cada uma delas, diga como gostaria de superá-las, em seguida, escolha uma das limitações e reserve um dia na sua agenda para superá-la. Você irá se surpreender com o resultado.

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EXERCÍCIO DA SUPERAÇÃO

Relacione suas limitações.

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____________________________________________________

____________________________________

Como você gostaria de superá-las?

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____________________________________

Qual limitação você quer superar primeiro e como gostaria que

isso acontecesse?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________

Agende sua superação.

Data:____________Hora:___________________________

Local: ___________________________________________

Se precisar de ajuda, quem deve convidar para torcer por você?

___________________________________________

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SAINDO DAS SOMBRAS PARA SER LUZ

Quem é você no livro da vida? Que tipo de história você

esta escrevendo? Qual é a sua marca? Qual é o seu legado?

Só você pode escrever a sua história. Quem está ao seu

lado até pode, se for preciso ou generoso, acrescentar um

parágrafo, sugerir um ponto final para uma sentença que teima

em se prolongar, substituir palavras. Mas quando o assunto é a

nossa vida, é só isso que as pessoas devem fazer. Ninguém

deve assumir o controle da vida do outro. Cada um é roteirista

e protagonista da própria história, independente de ser ou não

supostamente diferente. Uso o adjetivo falso, suposto,

propositalmente por achar que ser diferente pode ser uma

qualidade e agregar valor à sua história, assim como agregou à

minha.

A vida é resultado das escolhas que fazemos. É verdade

que, em alguns momentos, iremos nos deparar com uma

bifurcação na estrada e, nessas horas, mesmo com delay você

vai ter que decidir se seguirá pela esquerda ou pela direita.

Você sabe para onde está indo? Na dúvida, o motorista

precavido vai recorrer ao mapa dos arredores, observar as

condições da estrada, a periculosidade do trecho, o tempo que

dispõe, a meteorologia. O motorista desavisado fará uma

escolha aleatória e se não chegar ao destino culpará o GPS, o

clima, a informante da estrada. A maneira como você se porta

nas situações difíceis revela muito sobre você. A vida não é

como naqueles joguinhos de certo ou errado, que podemos

repetir quantas vezes quisermos para atingir a pontuação ideal.

A vida real é como um programa de televisão ao vivo, errou,

pede desculpas e continua seguindo a pauta. O perigo de errar

novamente vai existir. A vida permite erros. É sábio aquele que

erra, reconhece o erro e pede desculpas. Quem faz isso com

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honestidade, com o passar do tempo, errará mesmo e terá

feito mais amigos.

Errar menos significa se colocar no lugar do outro com

mais frequência. Saber quais são as coisas que podemos e quais

não podemos mudar é importante, tanto do ponto de vista

pessoal, quanto social e político.

Não podemos evitar erros. Isso é fato. Mas podemos

diminuir a quantidade de vezes que erramos, principalmente

quando eles são do tipo que magoam pessoas que amamos e

que nos amam. A falta de habilidade para lidar com situações

que distorcem quem somos, é como o termostato de uma

empresa de energia, que vai explodir em caso de aquecimento

anormal. Ele começa oscilando no verde, depois vai para o

amarelo e quando está no vermelho raramente se consegue

evitar a explosão.

Nas ações sociais que realizo, encontro muitas pessoas

que foram atingidas pelo termostato da vida. Elas estão

machucadas e furiosas. Não conseguiram controlar as emoções

e acabaram por perder a dignidade. E, pasmem, entre eles,

estão pessoas com e sem defeitos de nascença do tipo que

podemos apontar. Quando questionadas sobre como chegaram

até o fundo do poço, a maioria apresenta pequenos fragmentos

borrados e amarelados. Perderam-se de si mesmas. Não

permita que isso aconteça com você. Aproveito o tema para

propor dois exercícios. A proposta do primeiro é que descreva

como verdadeiramente você é, e do segundo é avaliar os

códigos que você utiliza para transmitir com veracidade

informações sobre você e isso inclui falar sobre seus defeitos,

habilidades e valores éticos e morais.

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Sabendo quem você é, o risco de se perder de si mesmo

durante a jornada que te levará a realização dos teus sonhos, é

bem menor.

EXÉRCIO DO AUTOCONHECIMENTO

Quem é você? Responda com sinceridade. Não é um exercício

de autoimagem, mas, se precisar, use um espelho para se ver

enquanto se descreve.

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A maneira como as pessoas nos veem é importante. Queremos

dizer o contrário quando afirmamos que não nos importamos.

No exercício seguinte, responda verdadeiramente as perguntas

e ao final, coloque-se no lugar das pessoas que convivem com

você. Se sentir-se confortável, parabéns, caso contrário, reveja

a maneira como lida com o mundo a sua volta.

EXERCÍCIO

COMO EU SOU E COMO AS PESSOAS ME ENXERGAM

Agora que você sabe quem é, que tipo de imagem quer

transmitir para as pessoas?

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____________________________________________________

____________________________________

As pessoas estão fazendo a leitura correta da imagem que você

quer transmitir? Não se limite ao sim ou não. Justifique sua

resposta.

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____________________________________

Caso a imagem que elas têm de você esteja dissociada da

pessoa que você realmente é, o que faz para reverter a

situação?

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Eu não sei qual foi a sua resposta. Se quiser dividi-la

comigo, tem um e-mail de contato ao final do texto. Mas

adianto que parte da culpa é sua. É bem provável que você

esteja tão focado em mostrar quem é de verdade, que ignore

os códigos dos seus interlocutores. Um lembrete: os códigos

estão relacionados às suas crenças e aos seus valores. Um

exemplo: se você é vegetariano ou protetor dos animais, não

fica bem enviar currículo pedindo emprego em um açougue.

Vender carne animal está dentro do propósito dos donos do

comércio de carne vermelha e, por mais que se esforce, é

provável que não os convença a mudar de ramo.

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ACREDITE EM VOCÊ, SEMPRE!

Não tenha medo de ser quem você é. Nascer com

defeito nem sempre é uma punição. Acredite, eu tenho

propriedade para fazer essa afirmação. A maneira como você

lida com o defeito com que nasceu é a chave que abrirá todas

as portas, de todos os lugares que você sonhar em entrar.

Finalizo esse livro com uma afirmação que é como um mantra

para mim:

O MUNDO É NOSSO.

VAMOS BUSCÁ-LO.

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SOBRE O AUTOR

Mario Cesar Trunci de Marco é brasileiro, tem 38 anos, é

casado e pai de 2 filhos. É bacharel em Educação Física e

Pedagogia pela Universidade Paulista de São Paulo e se define

como um paulistano apaixonado por gente, um empresário

incansável com perfil empreendedor e um homem com um

coração gigante, que descobriu, logo cedo, que seu maior

propósito de vida, era trabalhar com inclusão social.

Adepto do conceito de liderança inspiradora, tem-se destacado

à frente de grandes equipes como líder habilidoso no

gerenciamento e desenvolvimento de planejamentos

estratégicos, que visam parcerias intersetoriais entre

organizações do Terceiro Setor e dos setores privado e público,

além da implementação de ações de marketing por meio de

mídia integrada com o objetivo de posicionar as organizações

do 3º Setor.

A jornada que o levou a se tornar um dos mais promissores

gestores educacionais de sua geração, foi pautada na ética e no

respeito às diferenças e as minorias, postura que faz dele um

gestor à frente do seu tempo.

NÃO PERMITA QUE ROUBEM SEUS SONHOS - Os desafios de viver

em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar o diferente, é o

seu primeiro livro.

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CONTATO DIRETO COM O AUTOR

E-mail: [email protected]

WhastApp: (11) 99647-9186

Facebook/mariocesar.trunci

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Ele nasceu com dislexia, um distúrbio que afeta 15% da

população mundial e na ânsia de ser aceito no grupo dos

supostamente normais quase se perdeu de si mesmo.

Não Permita que Roubem seus Sonhos fala de superação, amor

próprio e autoconhecimento, nele o autor revela como fez para

que a dislexia não roubasse seus sonhos e seu futuro. Um livro

que deve ser lido por pais, educadores e por todas as pessoas

que se sentem excluídas pela sociedade por terem nascido com

“defeitos”.

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