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“Internações hospitalares de crianças menores de cinco anos por
intoxicações medicamentosas no Brasil”
por
Marta da Cunha Lobo Souto Maior
Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em
Ciências na área de Saúde Pública.
Orientadora principal: Prof.ª Dr.ª Carla Lourenço Tavares de Andrade
Segunda orientadora: Prof.ª Dr.ª Claudia Garcia Serpa Osorio de Castro
Rio de Janeiro, fevereiro de 2015.
Esta dissertação, intitulada
“Internações hospitalares de crianças menores de cinco anos por
intoxicações medicamentosas no Brasil”
apresentada por
Marta da Cunha Lobo Souto Maior
foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:
Prof.ª Dr.ª Taís Freire Galvão
Prof.ª Dr.ª Ilara Hämmerli Sozzi de Moraes
Prof.ª Dr.ª Carla Lourenço Tavares de Andrade – Orientadora principal
Dissertação defendida e aprovada em 27 de fevereiro de 2015.
Catalogação na fonte
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica
Biblioteca de Saúde Pública
M227i Maior, Marta da Cunha Lobo Souto
Internações hospitalares de crianças menores de cinco
anos por intoxicações medicamentosas no Brasil. / Marta
da Cunha Lobo Souto Maior. -- 2015.
xi,171 f. : tab. ; graf.
Orientador: Carla Lourenço Tavares de Andrade
Claudia Garcia Serpa Osorio de Castro
Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2015.
1. Envenenamento. 2. Lactente. 3. Pré-Escolar.
4. Preparações Farmacêuticas. 5. Sistemas de Informação
Hospitalar. 6. Hospitalização. 7. Brasil. I. Título.
CDD - 22.ed. – 615.9021
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a todos os espíritos de luz que me auxiliaram em meus
momentos de aflição desde o início, quando ser aprovada para o mestrado era apenas um
sonho.
Agradeço a toda minha família, por ter me apoiado e respeitado meus momentos
de ausência durante esta jornada. Aos meus pais – Marly e Atila –, ao meu irmão Arnaldo,
aos meus avôs – Nuno e Ary –, aos meus tios e primos e à minha cunhada Roberta, fica
a minha eterna gratidão pela compreensão e a paciência em me ouvir.
Agradeço às minhas avós – Amélia e Doracy – por todo o amor que me passaram
em vida e que tentei, de alguma forma, transferir para este trabalho.
Agradeço a minha família emprestada – Luzia, Francisca, Cláudia, Daniel e
Gabriel – pelo apoio.
Agradeço às minhas orientadoras – Carla e Claudia - por toda a paciência e pelas
palavras de ânimo durante as etapas do mestrado. Só tenho a agradecer por tudo que
aprendi com vocês.
Agradeço a todos os funcionários da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio
Arouca e a todos os professores que contribuíram no meu processo de formação, em
especial, às professoras Marismary Horsth De Seta e Cristiani Vieira Machado, por todo
o apoio durante os momentos difíceis.
Agradeço aos meus colegas de mestrado – Camille, Celita, Diana, Elias, Fernanda,
Lucas, Luisa, Marina, Raquel, Renata e Verena – por todos os momentos e sentimentos
compartilhados durante nossa trajetória.
Agradeço aos meus amigos, em especial, Rita Carvalho, Artur Serpa, Gilvan
Araújo e Rodrigo Barros, por terem me apoiado e acompanhado as etapas do mestrado
desde a minha inscrição no processo seletivo.
Agradeço aos meus chefes Arnaldo e Marcílio, no Hospital Estadual Adão Pereira
Nunes, e Vivian, na Coordenação de Emergência Regional Centro / Hospital Municipal
Evandro Freire, por me apoiarem e permitirem que a minha carga horária se adequasse à
do mestrado.
iv
RESUMO
No Brasil, os medicamentos são os principais agentes causadores de intoxicação e as
crianças entre um e quatro anos são o grupo etário com maior número de casos de
intoxicação por medicamentos. Este estudo teve como objetivo analisar as internações
hospitalares que ocorreram no Sistema Único de Saúde entre 2003 e 2012 por esta causa
nesta faixa etária. Para tal, foi realizado um estudo descritivo utilizando os arquivos do
tipo reduzido das Autorizações de Internação Hospitalar (AIH), disponibilizados pelo
DATASUS. Foram selecionadas as internações que envolviam menores de cinco anos de
idade e cujo diagnóstico principal e/ou secundário era um dos códigos da CID-10
relacionados às intoxicações medicamentosas. No período, ocorreram 17.725 internações
por esta causa. A região Sudeste foi responsável por 46,7% das internações. A faixa etária
com maior número de internações foi a de dois anos de idade. A taxa de mortalidade
destas internações foi de 0,42%. Os estabelecimentos públicos foram responsáveis por
46,3% das internações, no entanto, 70,7% dos óbitos ocorreram nas unidades de saúde
desta natureza. As regiões Norte e Nordeste apresentaram uma taxa de mortalidade
superior àquela observada para o país – 1,1% e 0,6%, respectivamente. As classes
terapêuticas que causaram um maior número de intoxicações foram os “outros fármacos
e os não especificados”, os “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos” e
os “antibióticos sistêmicos”. Para estas duas últimas classes terapêuticas, foi observada
uma diminuição no número de internações, o que pode ter relação com algumas
legislações que entraram em vigor no período. Em 38,5% das intoxicações não foi
possível estabelecer correlações entre as classes terapêuticas oriundas da CID-10 e a
classificação ATC. Todavia, mais da metade dos medicamentos envolvidos consistia
naqueles com ação no Sistema Nervoso – categoria N – e dos antibióticos e
antiparasitários – respectivamente, categorias J e P. Assim, as internações por intoxicação
medicamentosa em crianças refletem diferenças regionais do país e são uma importante
causa de mortalidade, frente a outras causas. As classes terapêuticas envolvidas parecem
refletir questões legais e sociais e sua análise é dificultada pelo preenchimento
inespecífico do campo na AIH.
Palavras-chave: Intoxicação; Lactente; Pré-escolar; Medicamentos; Sistemas de
Informação Hospitalar
v
ABSTRACT
In Brazil, medicines are the main cause of poisonings and children between one and four
years are the age group with the highest number of cases. This study aimed to analyze the
hospitalizations that occurred in the Unified Health System between 2003 and 2012 for
this cause in this age group. To this end, we performed a descriptive study using the
Autorizações de Internação Hospitalar (Hospital Admission Authorization Forms) (AIH)
reduced files, provided by DATASUS. Hospitalizations were selected if they involved
children under five years and if the main diagnosis and/or secondary diagnosis was one
of the ICD-10 codes related to drug poisoning. During the period, there were 17,725
hospitalizations for this cause. The Southeast region accounted for 46.7% of admissions.
The age group with the highest number of admissions was two years old. The mortality
rate of these hospitalizations was 0.42%. Public institutions were responsible for 46.3%
of admissions; however, 70.7% of the deaths occurred in health facilities of this nature.
The North and Northeast regions showed a mortality rate higher than that observed for
the country - 1.1% and 0.6%, respectively. The therapeutic classes that caused the major
number of poisonings were "other drugs and unspecified," “antiepileptic, sedative-
hypnotics and antiparkinsonian" and "systemic antibiotics." For these last two therapeutic
classes, we observed a decrease in the number of hospitalizations, which may be
associated with some legislation that came into force in the period. In 38.5% of poisonings
it was not possible to correlate the supposed therapeutic classes derived from the ICD-10
and the ATC. However, more than 50% of drugs involved in poisonings belonged to ATC
categories N (nervous system), J (systemic antiinfectives) and P (antiparasitic products,
insecticides and repellents). The hospital admissions for drug poisonings in children
reflect countrywide regional differences and are an important cause of mortality,
compared to other causes. The therapeutic classes involved seem to reflect legal and
social issues and their analysis is hampered by inadequacies in the filling out of AIHs.
Key words: Poisoning; Infant; Child; Hospital; Pharmaceutical Preparations; Information
Systems
vi
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 12
REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 15
INTOXICAÇÕES POR MEDICAMENTOS ......................................................................... 15
Conceitos principais ............................................................................................................ 15
Medicamentos como agentes de intoxicação no mundo e no Brasil ................................... 18
Intoxicações medicamentosas na infância ........................................................................... 20
Intoxicação medicamentosa infantil e seu perfil no mundo e no Brasil .............................. 24
Classes de medicamentos mais envolvidas ......................................................................... 29
INFLUÊNCIA DE ELEMENTOS REGULATÓRIOS E CULTURAIS NAS
INTOXICAÇÕES MEDICAMENTOSAS INFANTIS .......................................................... 34
Aspectos culturais e prevenção de intoxicações medicamentosas em crianças .................. 34
Questões regulatórias com consequências sobre as intoxicações por medicamentos na
infância ................................................................................................................................ 45
SISTEMAS NACIONAIS DE INFORMAÇÃO .................................................................... 52
Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas - SINITOX ............................. 52
Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN ............................................. 54
Sistema de Informações Hospitalares - SIH ........................................................................ 56
OBJETIVOS ................................................................................................................. 59
OBJETIVO GERAL ............................................................................................................... 59
OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................. 59
MÉTODOS .................................................................................................................... 60
DESENHO DA PESQUISA ................................................................................................... 60
POPULAÇÃO DE ESTUDO .................................................................................................. 60
FONTE DE DADOS ............................................................................................................... 60
COLETA DE DADOS ............................................................................................................ 61
VARIÁVEIS DE ESTUDO .................................................................................................... 63
ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................................ 74
ASPECTOS ÉTICOS .............................................................................................................. 74
RESULTADOS ............................................................................................................. 75
Intoxicações em menores de cinco anos.................................................................................. 76
Trajetória das internações por intoxicações medicamentosas em menores de cinco anos ...... 85
Utilização de UTI em internações ........................................................................................... 87
Óbitos nas internações por intoxicações medicamentosas em menores de cinco anos ........... 89
Evolução no tempo .................................................................................................................. 93
Tempo de permanência ........................................................................................................... 95
vii
Número de intoxicações .......................................................................................................... 97
Classes terapêuticas envolvidas ............................................................................................ 100
DISCUSSÃO ............................................................................................................... 116
Quanto aos resultados gerais ................................................................................................. 116
Quanto às regiões do país ...................................................................................................... 121
Quanto ao perfil de atendimento ........................................................................................... 124
Quanto à mortalidade ............................................................................................................ 133
Quanto aos medicamentos envolvidos .................................................................................. 136
Limitações e Facilidades no desenvolvimento do estudo ..................................................... 146
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 148
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 151
APÊNDICE ................................................................................................................. 165
ANEXO I ..................................................................................................................... 166
ANEXO II .................................................................................................................... 168
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Comparação entre as 14 classes terapêuticas mais envolvidas em intoxicações
medicamentosas nos Estados Unidos, em 2012, entre a população total e as crianças menores de
cinco anos. ................................................................................................................................... 33
Tabela 2. Comparação entre os casos de intoxicação medicamentosa registrados pelo SINITOX
e SINAN em 2011. ...................................................................................................................... 56
Tabela 3. Distribuição percentual de internações por ano, Brasil (SUS), 2003-12. .................... 75
Tabela 4. Distribuição percentual de internações devido às intoxicações medicamentosas por
ano, Brasil (SUS), 2003-12. ........................................................................................................ 76
Tabela 5. Distribuição percentual de internações em menores de cinco anos por ano, Brasil
(SUS), 2003-12. .......................................................................................................................... 77
Tabela 6. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas em menores
de cinco anos por ano de competência, Brasil (SUS), 2003-12. ................................................. 77
Tabela 7. Proporção de menores de cinco anos nas internações por intoxicações
medicamentosas, Brasil (SUS), 2003-12. .................................................................................... 78
Tabela 8. Proporção de menores de cinco anos da população que foram internados por
intoxicação medicamentosa, Brasil (SUS), 2003-12. .................................................................. 78
Tabela 9. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas em menores
de cinco anos segundo idade dos pacientes, Brasil (SUS), 2003-12. .......................................... 79
Tabela 10. Distribuição percentual de sexo dos pacientes entre as internações segundo
intoxicações medicamentosas em menores de cinco anos, Brasil (SUS), 2003-12. .................... 79
Tabela 11. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas em menores
de cinco anos segundo Unidade Federativa (UF) de residência do paciente e Unidade Federativa
(UF) de internação do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. ............................................................. 80
Tabela 12. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas em menores
de cinco anos segundo região de residência do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. ...................... 81
Tabela 13. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas em menores
de cinco anos segundo trajetória da internação, Brasil (SUS), 2003-12. .................................... 81
Tabela 14. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas em menores
de cinco anos segundo utilização de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Brasil (SUS), 2003-
12. ................................................................................................................................................ 81
Tabela 15. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas em menores
de cinco anos segundo natureza jurídica da unidade de saúde onde ocorreu a internação, Brasil
(SUS), 2003-12. .......................................................................................................................... 82
Tabela 16. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores
de cinco anos segundo evolução do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. ....................................... 82
ix
Tabela 17. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores
de cinco anos segundo natureza jurídica do estabelecimento de saúde onde ocorreu internação e
idade do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. .................................................................................. 83
Tabela 18. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores
de cinco anos segundo região de residência do paciente e natureza jurídica dos estabelecimentos
de saúde onde ocorreu internação, sexo do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. ............................ 84
Tabela 19. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores
de cinco anos segundo trajetória da internação e idade do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. ..... 85
Tabela 20. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores
de cinco anos segundo trajetória da internação e natureza jurídica do estabelecimento de saúde,
utilização de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e região de residência do paciente, Brasil
(SUS), 2003-12. .......................................................................................................................... 86
Tabela 21. Distribuição de internações por intoxicação medicamentosa entre menores de cinco
anos segundo trajetória da internação e Unidade Federativa de residência, Brasil (SUS), 2003-
12. ................................................................................................................................................ 87
Tabela 22. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre
menores de cinco anos segundo a utilização de Unidade de Terapia Intensiva e idade do
paciente, natureza jurídica do estabelecimento de saúde e utilização de UTI, Brasil (SUS), 2003-
12. ................................................................................................................................................ 88
Tabela 23. Proporção de utilização de Unidade de Terapia Intensiva nas internações por
intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos por número de internações por região de
residência, Brasil (SUS), 2003-12. .............................................................................................. 89
Tabela 24. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores
de cinco anos segundo evolução do paciente e idade do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. ........ 89
Tabela 25. Distribuição percentual de internações e óbitos e relação número de óbitos/número
de internações por intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos por região de
residência do paciente, Brasil (SUS), 2003-12............................................................................ 90
Tabela 26. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores
de cinco anos segundo natureza jurídica das unidades de saúde onde ocorreu a internação e
evolução do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. ............................................................................ 91
Tabela 27. Comparação entre a mortalidade por internações por intoxicação medicamentosa em
menores de cinco anos e a mortalidade por todas as causas segundo Unidade Federativa (UF) de
residência do paciente, Brasil (SUS), 2003-12............................................................................ 92
Tabela 28. Tempo de permanência médio das internações por intoxicações medicamentosas em
menores de cinco segundo idade do paciente, sexo, utilização de Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) e evolução, Brasil (SUS), 2003-12.................................................................................... 96
Tabela 29. Tempo de permanência médio das internações por intoxicações medicamentosas em
menores de cinco segundo natureza jurídica do estabelecimento de saúde, região de residência e
trajetória da internação, Brasil (SUS), 2003-12. ......................................................................... 97
x
Tabela 30. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores
de cinco anos segundo o número de diagnósticos de intoxicação medicamentosa, Brasil (SUS),
2003-12. ...................................................................................................................................... 97
Tabela 31. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores
de cinco anos segundo número de diagnósticos de intoxicação medicamentosa por internação e
idade do paciente, necessidade de utilização de UTI e evolução do paciente, Brasil (SUS), 2003-
12. ................................................................................................................................................ 99
Tabela 32. Tempo de permanência médio das internações por intoxicação medicamentosa em
menores de cinco segundo: número de diagnósticos de intoxicação medicamentosa por
internação, Brasil (SUS), 2003-12. ............................................................................................. 99
Tabela 33. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa em menores
de cinco anos e de intoxicações por medicamentos que geraram internações em menores de
cinco anos, Brasil (SUS), 2003-12. ........................................................................................... 100
Tabela 34. Distribuição percentual do número de intoxicações medicamentosas que geraram
internações em menores de cinco anos por classe terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS),
2003-12. .........................................................................................................................................
(continua) .................................................................................................................................. 103
Tabela 35. Distribuição de intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores
de cinco anos por ano de competência e classe terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-
12.
(continua) 105
Tabela 36. Distribuição percentual de intoxicações medicamentosas que geraram internações em
menores de cinco anos por idade e classe terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12. ..
(continua) 107
Tabela 37. Distribuição das intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores
de cinco anos por classe terapêutica do agente tóxico e região de residência do paciente, Brasil
(SUS), 2003-12. (continua)...................................................................................................109
Tabela 38. Distribuição de intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores
de cinco anos e evoluíram a óbito do paciente por ano de competência e classe terapêutica do
agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12. ....................................................................................... 111
Tabela 39. Distribuição do tempo de permanência médio das intoxicações medicamentosas que
geraram internações em menores de cinco anos por classe terapêutica do agente tóxico, Brasil
(SUS), 2003-12. ........................................................................................................................ 112
Tabela 40. Distribuição do tempo de permanência médio das intoxicações medicamentosas que
geraram internações em menores de cinco anos e evoluíram a óbito do paciente por classe
terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12. ............................................................... 113
Tabela 41. Distribuição percentual de intoxicações medicamentosas que geraram internações em
menores de cinco anos segundo classe terapêutica e classificação ATC, Brasil (SUS), 2003-12.
(continua) 114
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Evolução no tempo das internações por intoxicação medicamentosa entre menores de
cinco anos em que o paciente evoluiu ao óbito segundo idade dos pacientes internados, Brasil
(SUS), 2003-12. .......................................................................................................................... 90
Figura 2. Evolução no tempo das internações por intoxicações medicamentosas em menores de
cinco anos por idade do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. .......................................................... 93
Figura 3. Evolução no tempo das internações por intoxicações medicamentosas em menores de
cinco anos por natureza jurídica da unidade de saúde onde ocorreu a internação, Brasil (SUS),
2003-12. ...................................................................................................................................... 94
Figura 4. Evolução no tempo das internações por intoxicações medicamentosas em menores de
cinco anos que evoluíram a óbito do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. ...................................... 94
Figura 5. Evolução no tempo das internações por intoxicações medicamentosas em menores de
cinco anos segundo número de diagnósticos de intoxicação medicamentosa por internação,
Brasil (SUS), 2003-12. ................................................................................................................ 98
12
INTRODUÇÃO
A inserção na temática “intoxicação medicamentosa em crianças” iniciou-se a
partir da minha experiência profissional, como farmacêutica de uma farmácia comunitária
situada no município do Rio de Janeiro por três anos. Neste período, pude presenciar dois
casos de intoxicação medicamentosa acidental envolvendo crianças. Em um deles, a
paciente de cinco anos necessitou ser internada devido ao uso de um descongestionante
nasal indicado para adultos. Neste mesmo período, também cursava especialização e estes
acidentes despertaram em mim o interesse pelo tema. Meu artigo de conclusão de curso
foi uma revisão bibliográfica sobre intoxicações e, durante o processo de pesquisa,
inúmeros questionamentos surgiram (MAIOR & OLIVEIRA, 2012).
Os medicamentos são os principais agentes de intoxicação em alguns países, como
Estados Unidos e Reino Unido (BRONSTEIN et al, 2012; NPIS, 2013). Segundo
Bortoletto & Bochner (1999), os medicamentos também são os principais agentes
causadores de intoxicação no Brasil, posição que ocupam desde 1994. Além disso, as
crianças entre um e quatro anos são o grupo etário com maior número de casos de
intoxicação por medicamentos. Devido a estes dados, no estudo proposto esse será o
grupo etário focalizado.
Sabe-se que os medicamentos possuem impacto econômico significativo nos
sistemas de saúde – 25 a 70% do gasto em saúde, nos países em desenvolvimento,
segundo Aquino (2008) – e seu envolvimento em acidentes, independente da faixa etária,
representa um desperdício destes recursos.
Além destas implicações econômicas, os acidentes envolvendo medicamentos têm
o seu uso não racional como uma de suas causas. Nas crianças, a maior causa de
intoxicações são os acidentes, diferente do que ocorre com indivíduos mais velhos, em
que o suicídio aparece como uma das principais causas. Embora a morbidade nesta faixa
etária seja alta, a mortalidade é baixa. Como o objetivo da criança é apenas explorar o
ambiente ao invés de causar dano a si mesmo, a maior parte dos casos possui baixa
gravidade e não há necessidade de hospitalização da criança (BATEMAN, 2007;
BUCARETCHI & BARACAT, 2005; MADDEN, 2005).
Apesar de ser menor em relação às demais faixas etárias, a necessidade de
hospitalização devido às intoxicações em crianças norte-americanas menores de cinco
anos foi de 11,6% em 2011 (MOWRY et al, 2013). Para as outras faixas etárias, essa
porcentagem foi de 13,3% para crianças entre seis e 12 anos, 51,2% entre 13 e 19 anos e
37,9% para maiores de 20 anos.
13
O U.S. Department of Health & Human Services (HHS) estima que entre 2007 e
2008 ocorreram 32,7 visitas às emergências para cada 10.000 crianças menores de cinco
anos, causadas apenas pela sobredose de medicamentos. Este dado fez com que a redução
em 10% do número de visitas às emergências por esta causa nesta faixa etária até o ano
de 2020 se tornasse um dos objetivos do relatório Healthy People 2020 (ESTADOS
UNIDOS, 2012).
No que se refere às internações no Brasil, um terço ocorre devido ao uso incorreto
de medicamentos (AQUINO, 2008) e muitos estudos sobre o número de internações por
intoxicação medicamentosa em crianças menores de cinco anos envolvem apenas
algumas unidades de saúde. A despeito dos estudos apontarem que parte importante dos
casos de intoxicação em crianças não requer internação, sabe-se que os sistemas de
notificação existentes também não são suficientes para quantificar o número real destas
intoxicações. Ao mesmo tempo, os casos mais graves são encaminhados para
atendimento hospitalar, permitindo sua quantificação.
As referências bibliográficas na literatura a respeito das internações por
intoxicação medicamentosa envolvendo todo o Brasil e, especificamente, esta faixa etária
são escassas, o que dificulta responder às seguintes questões norteadoras:
• Quantos casos de internações por intoxicação medicamentosa
envolvendo menores de cinco anos ocorreram no país durante a última década?
• É possível verificar desdobramentos de morbidade e mortalidade
infantis causadas pelas intoxicações por medicamentos que necessitaram de
internação?
• Existe(m) característica(s) que podem influenciar o
comportamento destas internações?
Este estudo tem a intenção de contribuir com a análise de dados sobre as
internações hospitalares causadas por intoxicações provocadas por medicamentos em
todo o país, ocorridas no Sistema Único de Saúde (SUS), envolvendo crianças menores
de cinco anos entre 2003 e 2012.
Espera-se que esta investigação, além da produção de um conhecimento novo,
possa ajudar a compreender o impacto dessas internações no SUS para essa faixa etária e
destacar a relevância do problema na realidade brasileira. Além disso, a divulgação desses
dados pode servir como um alerta para a sociedade.
14
A infância é uma etapa crucial, onde as condições de vida e as experiências vividas
pela criança têm um papel determinante em vários aspectos da vida adulta, inclusive a
saúde. Conhecer as necessidades das crianças permite o planejamento e a tomada de
decisões com o intuito de melhorar seu modo de vida e suas perspectivas para o futuro.
Trazendo esse raciocínio para o cenário de intoxicações por medicamentos, saber quais
são as características destes agravos pode ajudar na sua prevenção. Sabe-se que um
medicamento mal utilizado durante a infância pode levar a um adulto com predisposição
a doenças precoces, como as renais e hepáticas. Portanto, quaisquer ações que sejam
planejadas com o intuito de melhorar a utilização dos medicamentos na infância têm
potencial para melhorar a qualidade de vida dessa população na idade adulta.
O objetivo geral da dissertação foi analisar os casos de internação hospitalar
devidos às intoxicações medicamentosas envolvendo crianças até cinco anos no período
de 2003 a 2012, em todo o país. Para tal, os objetivos específicos foram: descrever o perfil
das internações ocorridas no período; analisar as características relacionadas às
internações por intoxicações infantis, e; identificar variáveis adicionais que possam
explicar o comportamento da principal variável do estudo – intoxicações entre menores
de cinco anos. Com isso, procurou-se propor recomendações para a política de controle
das intoxicações para o país.
A estrutura da dissertação consiste em uma revisão bibliográfica em três capítulos,
objetivos, métodos, resultados, discussão e considerações finais. Na revisão bibliográfica,
o primeiro capítulo – “Intoxicações por medicamentos” –, aborda os principais conceitos
sobre o tema e descreve o perfil destas intoxicações no Brasil e no cenário internacional;
o segundo capítulo – “Influência de elementos regulatórios e culturais nas intoxicações
medicamentosas infantis” –, discute alguns temas relacionados a estas intoxicações,
incluindo a propaganda de medicamentos, o consumo de medicamentos por crianças, a
pesquisa clínica envolvendo crianças e as medidas de prevenção das intoxicações
medicamentosas, e; o terceiro capítulo – “Sistemas Nacionais de Informação”, aborda os
três sistemas de informação envolvidos no registro dos casos de intoxicação
medicamentosa no Brasil – Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
(SINITOX), o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e o Sistema
de Informações Hospitalares (SIH/SUS).
15
REVISÃO DA LITERATURA
INTOXICAÇÕES POR MEDICAMENTOS
Conceitos principais
A investigação sobre as internações por intoxicação medicamentosa deve estar
ancorada em dois conceitos: o conceito de intoxicação e a definição do que é um
medicamento – agente das intoxicações objeto do estudo.
Intoxicação é “o conjunto de efeitos adversos provocados por um agente químico
ou físico, devido sua interação com o sistema biológico” (LEITE & AMORIM, 2006).
Esta interação gera um desequilíbrio orgânico ou estado patológico, que se expressa
clinicamente por um conjunto de sinais e sintomas tóxicos. Qualquer substância química
é capaz de produzir tais efeitos tóxicos ao interagir com um organismo vivo. Entre elas,
estão as encontradas no ambiente – ar, água e alimentos – e as substâncias isoladas, como
os pesticidas, medicamentos e produtos domissanitários (SCHVARTSMAN &
SCHVARTSMAN, 1999).
Entende-se como medicamento todo “produto farmacêutico com finalidade
profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico” (BRASIL, 1998).
Os conceitos de medicamento e intoxicação se aliam e, conforme a definição da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), intoxicação medicamentosa é uma
“resposta nociva decorrente do uso, intencional ou não, de um medicamento em doses
superiores àquelas usualmente empregadas para profilaxia, diagnóstico, tratamento ou
para modificação de funções fisiológicas” (BRASIL, 1998).
Entre as causas de intoxicação medicamentosa, existem aquelas relacionadas ao
processo de medicação. Neste contexto, para que uma intoxicação medicamentosa ocorra
deve existir uma falha durante uma das etapas deste processo – prescrição, transcrição ou
documentação, dispensação, preparo, administração e monitoramento do paciente. Esses
erros de medicação são definidos como:
16
“qualquer evento evitável que pode causar ou levar a um uso inapropriado de
medicamentos ou causar dano a um paciente, enquanto a medicação está sob o
controle dos profissionais de saúde, pacientes ou consumidores. Esse evento
pode estar relacionado com a prática profissional, os produtos para a saúde,
procedimentos e sistemas, incluindo prescrição, orientações verbais,
rotulagem, embalagem e nomenclatura de produtos industrializados e
manipulados, dispensação, distribuição, administração, educação,
monitorização e uso” (ANVISA, 2008a).
Outra causa das intoxicações por medicamentos são os problemas no
metabolismo, distribuição ou eliminação do medicamento, que ocorrem por imaturidade
do organismo ou por doenças como insuficiência renal, insuficiência hepática e
diminuição de proteínas plasmáticas. Também são causas a ingestão acidental e o uso
intencional, como as tentativas de homicídio, tentativas de suicídio ou abuso de
medicamentos.
As intoxicações medicamentosas também podem ser consequência da
automedicação – utilização de medicamentos isentos de prescrição, ou seja, aqueles que
não necessitam de receita médica para serem comprados, no tratamento de doenças
autolimitadas e seus sintomas, no qual o próprio paciente escolhe quais medicamentos irá
utilizar (VILARINO et al, 1998). Embora as doenças mais comumente relatadas como
tendo originado a automedicação sejam as infecções respiratórias, cefaleias, dores
osteomusculares, diarreia e dispepsia, muitos dos medicamentos utilizados para estas
enfermidades só podem ser vendidos com a apresentação de receita médica, como os
antibióticos, levando a um afastamento entre o conceito de automedicação e a realidade
(CORREA et al, 2013).
Outras práticas são consideradas automedicação, tais como compartilhar
medicamentos com outras pessoas; reutilizar sobras de tratamentos anteriores; utilizar
uma prescrição antiga (chamada de automedicação orientada); administrar os
medicamentos de forma incompleta; interromper tratamento após melhora dos sintomas;
alterar as doses dos medicamentos, acarretando hiperdosagens e subdosagens. Todos
esses hábitos comuns prejudicam o tratamento farmacoterapêutico dos pacientes. A
automedicação é bastante influenciada pela propaganda de medicamentos, quando ocorre
a sugestão de inúmeros medicamentos aos consumidores e, atualmente, a internet também
influencia a população a consumir medicamentos (CORREA et al, 2013).
No caminho inverso, está o uso racional de medicamentos – o processo que
compreende a prescrição apropriada de medicamentos que estejam disponíveis ao
paciente a preços acessíveis, a dispensação em condições adequadas e o consumo nas
doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado de produtos
eficazes, seguros e de qualidade (BRASIL, 1998). Estima-se que metade de todos os
17
medicamentos utilizados no mundo é usado de modo não racional, através da prescrição,
dispensação, venda ou uso inapropriado, incluindo a automedicação (CORREA et al,
2013).
Ademais, algumas características parecem influenciar positivamente a ocorrência
de intoxicações em crianças. A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2008) define uma
lista de fatores de risco para intoxicações envolvendo qualquer agente tóxico. Estes
fatores estão divididos em: critérios relacionados às crianças, ao agente tóxico e ao
ambiente.
Dentre os critérios relacionados às crianças, estão: a idade, o sexo e o nível
socioeconômico. A idade está associada com o comportamento, a fisiologia e o tamanho
da criança. Portanto, com o aumento da idade, a criança se torna capaz de atingir locais
mais altos e distantes, aumentando suas chances de encontrar um agente tóxico. Em
relação ao sexo, trata-se de uma questão cultural, já que as meninas tendem a não se
envolver em tantas atividades ao ar livre e a assumir menos comportamentos de risco que
os meninos. Enquanto para os níveis socioeconômicos mais baixos, há correlação com
maior incidência para vários acidentes, não apenas com as intoxicações.
Quanto aos critérios relacionados aos agentes tóxicos, eles são: as características
deste agente e seu estoque e acesso a eles. A natureza do agente é importante, pois
determina sua maior ou menor toxicidade. Além disso, os agentes no estado líquido são
mais fáceis de serem deglutidos, apresentando maior risco. A aparência física do agente
também é um fator importante, já que as crianças são atraídas por cores e sabores
agradáveis. Em relação ao estoque, o tamanho da embalagem é importante, pois permitirá
ou não que a criança o segure. Somam-se as embalagens coloridas e atrativas, a existência
de dispositivos de segurança que dificultem a sua abertura pelas crianças, a presença de
rótulos e avisos sobre o risco de intoxicação e o estoque em locais de fácil acesso pelas
crianças.
Já entre os critérios do ambiente, encontram-se: o clima e as condições
socioeconômicas locais. Em relação ao clima, ele está relacionado ao uso de
medicamentos antialérgicos, maior tempo ao ar livre, entre outras atividades que podem
estar relacionadas às intoxicações. Quanto às condições socioeconômicas locais, entende-
se menor tempo de supervisão de adultos, ignorância acerca dos fatores de risco, falta de
políticas para produção, distribuição, embalagem e descarte de substâncias tóxicas, entre
outras.
Estes fatores de risco para intoxicação em crianças também foram estudados por
Tyrrell et al (2012), utilizando dados fornecidos pelos médicos generalistas britânicos.
18
Ao contrário do estabelecido pela OMS, os autores verificaram que o sexo da criança não
estava significativamente associado aos casos de intoxicação. No entanto, o estudo
apontou outros fatores associados às intoxicações como: menor idade materna; nascer em
família que já possui filhos, com a associação aumentando conforme o número de filhos
aumenta, e; viver em áreas mais desfavorecidas. Também houve associação de abuso de
álcool pela mãe, depressão materna e existência de apenas um adulto na casa
especificamente com as intoxicações medicamentosas.
Este estudo também concluiu que, em relação aos menores de um ano, crianças
entre dois e três anos tinham uma probabilidade dez vezes maior de se intoxicarem por
um medicamento e cinco vezes maior de se intoxicarem por outro agente tóxico.
No Irã, os registros de visitas às emergências envolvendo intoxicações não
intencionais de 17 hospitais foram estudados. Os fatores de risco encontrados para as
intoxicações em menores de 15 anos foram falta de supervisão de um adulto, casos de
intoxicação anteriores e estoque inseguro dos produtos (SOORI, 2001).
Medicamentos como agentes de intoxicação no mundo e no Brasil
Ao redor do mundo, os medicamentos aparecem como um dos principais agentes
de intoxicação na população em geral, independente das condições socioeconômicas e
climáticas dos países.
Nos Estados Unidos, em 2012, além de ser a principal causa de intoxicação entre
os norte-americanos, os medicamentos também foram os responsáveis pelo maior número
de atendimentos em unidades de saúde devido às intoxicações (29,3%) (MOWRY et al,
2013).
No Reino Unido, os medicamentos também foram um importante agente tóxico
no período 2012/2013, tendo sido o principal agente de interesse nas consultas ao
TOXBASE®. O TOXBASE® é uma base de dados toxicológicos clínicos e é a primeira
linha de contato entre a população e o National Poisons Information Service (NPIS)
(NPIS, 2013).
No Japão, em 2012, os medicamentos foram os agentes tóxicos envolvidos em
menos de um terço dos casos. Ainda, a participação dos medicamentos com venda sob
prescrição foi quase o dobro dos medicamentos de venda livre (19,6% e 10,0%,
respectivamente). No entanto, quando houve tentativa de suicídio, os medicamentos
foram os agentes tóxicos na maior parte dos casos (JAPAN POISON INFORMATION
CENTER, 2014).
19
Na Bélgica, também foram os medicamentos os principais agentes tóxicos. Entre
as intoxicações por medicamentos, os adultos (maiores de 14 anos) foram o grupo etário
mais envolvido, seguido das crianças entre 1 a 4 anos. No entanto, houve uma diferença
notável na via de exposição. A ingestão foi a via mais utilizada em ambas as idades. Mas,
nos adultos, as vias cutâneas e inalatória tiveram maior participação em relação às
crianças (CENTRE ANTIPOISONS, 2013).
Segundo o relatório húngaro de 2012, os medicamentos assumiram a posição de
principal agente tóxico tanto entre as notificações de intoxicação quanto entre os casos
fatais. Entre todas as categorias etárias de crianças menores de 14 anos, o principal agente
tóxico foram os medicamentos (ORSZÁGOS KÉMIAI BIZTONSÁGI INTÉZET, 2012).
Outros países, como a Irlanda, Itália e a Suíça também tem os medicamentos como
principal agente tóxico, embora a faixa etária mais envolvida nestas intoxicações sejam
os adultos (POISONS INFORMATION CENTRE OF IRELAND, 2013; SETTIMI et al,
2007; SWISS TOXICOLOGICAL INFORMATION CENTRE, 2013).
Entre 1995 e 2002, quase metade dos casos de intoxicação registrados pelo Centro
de Información Toxicológica y de Medicamentos da Pontificia Universidad Católica
(CITUC) do Chile, tiveram os medicamentos como agente tóxico. No mesmo período, a
faixa etária entre zero e seis anos se envolveu na metade dos casos registrados. No
entanto, não há dados que relacionem agente tóxico e faixa etária (HENRIQUEZ et al,
2004).
Em relação ao Brasil, os dados sobre intoxicação podem variar conforme as fontes
de informação. No país, existe o Sistema Nacional de Informações Tóxico-
Farmacológicas (SINITOX), responsável por registrar exclusivamente todos os casos de
intoxicações, e; o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), que
registra todos os casos de notificação de doenças e agravos do país, incluindo todos os
casos de intoxicação, independente do agente envolvido.
Por fim, existem ainda os estudos sobre a internação hospitalar envolvendo as
intoxicações. Neste grupo, podem ser utilizados os prontuários dos pacientes internados
em uma instituição, consistindo em estudos com uma população mais limitada, ou pode
ser utilizado o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), um sistema que inclui todos
os casos de internação que ocorreram através do SUS no país.
Segundo o SINITOX, em 2011, os medicamentos foram o principal agente tóxico,
tendo sido responsável por 31.756 casos (28,0% do total) (SINITOX, 2014). Os
medicamentos são os principais agentes de intoxicação notificados pelo SINITOX desde
20
1994. Já segundo o SINAN, em 2012, ocorreram 31.085 casos de intoxicação
medicamentosa no país (SINAN, 2013).
Enquanto os estudos envolvendo registros do SINITOX, seus Centros de
Informação e Assistência Toxicológica (CIAT) e prontuários hospitalares são mais
comuns, as pesquisas envolvendo os dados do SINAN são mais raras. É possível citar
dois exemplos: um estudo que envolve os dados do município de Feira de Santana, entre
2007 e 2010, onde foram notificados 631 casos de intoxicação no município, dos quais,
207 tinham os medicamentos como agente (TELES et al, 2013), e; outro trabalho sobre
as intoxicações medicamentosas que ocorreram numa região do Paraná entre 2007 e 2009,
onde 6,1% das intoxicações envolveram crianças entre um e quatro anos (OLIVEIRA, J.
et al, 2010).
No entanto, para entender o perfil das intoxicações por medicamentos no Brasil,
é necessário entender a diferença entre os sistemas de registro citados.
Intoxicações medicamentosas na infância
Considerando a população em geral, os medicamentos se destacam como uma das
principais causas de intoxicação. No entanto, as crianças menores de cinco anos
geralmente são um grupo etário onde esse agravo é mais frequente. Isso ocorre porque a
idade é uma característica importante nos casos de intoxicação.
Werneck & Hasselmann (2009) avaliaram as intoxicações em menores de seis
anos em oito hospitais públicos da região metropolitana do Rio de Janeiro entre abril de
2001 e março de 2004. Os autores observaram que a participação dos medicamentos como
agente tóxico aumentou conforme a idade. O maior número de casos de intoxicação
medicamentosa em crianças mais velhas reflete as mudanças no desenvolvimento motor
e cognitivo das crianças desde o nascimento até os seis anos.
Crianças de até quatro meses de idade são totalmente dependentes dos pais e/ou
responsáveis. Assim, os casos de intoxicação que ocorrem neste período geralmente se
devem à transmissão placentária do medicamento – no caso dos recém-natos – ou de erros
de administração ou de prescrição do medicamento (UNICEF, 2014).
A partir dos quatro meses até os seis meses de idade, as crianças já conseguem
pegar e soltar objetos e se virar e rolar sozinhas. Neste período, também se inicia a fase
da oralidade, quando as crianças começam a colocar objetos na boca. A partir desta idade,
já começam a ocorrer casos acidentais de intoxicação medicamentosa (AMARAL &
PAIXÃO, 2007; UNICEF, 2014).
21
Entre os sete e nove meses, as crianças já começam a engatinhar, a ficar de pé com
apoio e a imitar gestos dos adultos. A partir de um ano até os dois anos, a criança já anda,
movimenta-se livremente, pode subir escadas, consegue se abaixar para pegar objetos
sem cair, iniciando uma fase em que ela é mais ativa e curiosa. Entre os dois anos e os
três anos, a criança tenta fazer coisas sozinha e começa a aprender para que os objetos
servem e como funcionam. Deste modo, conforme a criança se desenvolve, ela consegue
atingir lugares mais altos e mais distantes e pode imitar o comportamento dos adultos,
aumentando o risco de intoxicações, inclusive as medicamentosas (AMARAL &
PAIXÃO, 2007; UNICEF, 2014).
As crianças maiores de cinco anos possuem maior habilidade e independência, se
envolvendo em outros tipos de acidentes com maior frequência. A partir desta faixa etária,
começam a aumentar as tentativas de suicídio. No entanto, esta circunstância apresenta
outro perfil toxicológico - maior exposição aos psicofármacos e em doses mais altas do
que os observados em casos acidentais (ALCÂNTARA, VIEIRA & ALBUQUERQUE,
2003; BARACAT et al, 2000; BATEMAN, 2007; ZAKHAROV, NAVRATIL &
PELCLOVA, 2013).
De modo geral, as crianças são dependentes dos adultos para receber a medicação
de forma correta. No entanto, já que a curiosidade é uma característica própria dessa fase
de desenvolvimento, elas também podem ter acesso aos medicamentos de modo
acidental, desde que eles estejam em locais de fácil acesso para elas. Dessa maneira, os
casos de intoxicações medicamentosas em crianças são, predominantemente, os que
ocorrem como consequência de erros de medicação e os casos acidentais.
Os erros de medicação ocorrem duas a três vezes mais em crianças do que adultos
e podem originar intoxicações medicamentosas no ambiente hospitalar ou em casa,
durante tratamento ambulatorial (COSTA, VALLI & ALVARENGA, 2008). Alguns
cenários em que isso pode ocorrer são: administração de medicamentos diferentes que
contenham o mesmo fármaco; administração de medicamentos de uso adulto para
crianças; administração repetida do mesmo medicamento por dois adultos diferentes e
dificuldades em medir a quantidade correta a ser administrada na criança.
Nas residências, é muito comum que a administração dos medicamentos seja feita
utilizando utensílios domésticos, como colher de chá ou colher de sopa. No entanto, esta
prática vem sido desencorajada devido às diferenças de volume encontradas nesses
objetos, já que estes não são padronizados. Mesmo os copos-medida e outros
instrumentos para facilitar a administração são passíveis de confundir os cuidadores da
criança. Mowry et al (2013) afirmam que, nos Estados Unidos, em 2012, os menores de
22
cinco anos representaram 60,0% dos registros de intoxicação provocados por erros de
administração devido à confusão com as unidades de medida. Também nesta faixa etária
ocorreram 61,3% dos casos em que houve administração de 10 vezes a dose prescrita.
Mesmo utilizando os copos medida, existe a possibilidade de erros na dose por
dificuldades dos responsáveis. Yin et al (2010) avaliaram se a dose medida pelos pais
consistia na dose prescrita, utilizando diferentes instrumentos, e encontraram que em 99%
dos casos, houve sobredose. Não houve diferença de exatidão entre os dois modelos de
copo medida utilizados – escala de volume impressa ou marcada. O instrumento com
menor associação de erros foram as seringas medidoras.
No Reino Unido, esses erros também se mostraram importantes. O TOXBASE®
registrou muitas consultas relacionadas a erros de medicação envolvendo os
medicamentos ranitidina e clorferinamina, no período 2012/2013, que em sua maioria
envolveu crianças até o quinto ano de vida. Ainda, para estes dois medicamentos, foi
registrado um caso em que a sobredose atingia 10 vezes a dose recomendada (NPIS,
2013).
Alguns pais também possuem dificuldades em entender as orientações dos rótulos
e bulas. Patel, Branch & Arocha (2002) testaram a compreensão dos rótulos de três
medicamentos de venda livre. Houve problemas de interpretação para os três
medicamentos, independentemente do nível de escolaridade dos participantes.
Mesmo no âmbito hospitalar, existem outras condições que propiciam erros de
medicação envolvendo crianças. A necessidade de múltiplas operações matemáticas para
o cálculo individualizado da dose, baseando-se na idade, peso e superfície corpórea da
criança dificulta o cálculo da dose apropriada. Assim, é relativamente comum encontrar
doses 10 vezes superiores à adequada para a idade e o peso da criança, o que pode
acarretar em problemas de intoxicação. Cohen et al (2008) estimaram que o risco de uma
sobredose equivalente a dez vezes a dose prescrita é, pelo menos, dez vezes maior em
crianças entre 1 a 4 anos do que entre as crianças mais velhas.
Hicks, Becker & Cousins (2006) identificaram onze medicamentos mais
envolvidos com erros de medicação em crianças hospitalizadas: analgésicos opióides,
antibióticos, hipoglicemiantes, eletrólitos, broncodilatadores, agente inotrópicos e
anticoagulantes. E, mesmo nas Unidades de Cuidados Intensivos Pediátricos, estima-se
que os erros de medicação ocorram em uma taxa de 0,49 erros a cada 100 medicamentos
prescritos (BELELA, PEDREIRA & PETERLINI, 2011).
Apesar do grande número de casos de intoxicação medicamentosa como
consequência dos erros de medicação, os acidentes também são uma importante causa. A
23
maioria das exposições não intencionais a medicamentos que ocorreram em 2012, nos
Estados Unidos, envolveu menores de cinco anos - 62,8% (MOWRY et al, 2013). No
México, 87,7% das crianças admitidas no Instituto Nacional de Pediatria devido às
intoxicações medicamentosas não estavam em tratamento de nenhuma outra doença,
indicando que a intoxicação tenha sido acidental (OLGUÍN et al, 2011).
No Brasil, as circunstâncias nem sempre estão presentes ou bem definidas nas
fontes de registro. Segundo o SINAN, entre as intoxicações medicamentosas em menores
de cinco anos, em 2012, 3.015 foram acidentais e 234 casos ocorreram após o uso
terapêutico. Ainda segundo os registros, 207 casos foram registrados como tentativas de
suicídio, 16 como abuso e dois como tentativa de aborto (SINAN, 2013). Chama a atenção
o número de casos registrados como ‘tentativas de suicídio’, já que nesta faixa etária, esta
circunstância é inusitada. Em relação aos casos registrados como tentativa de aborto, é
possível que o recém-nascido tenha apresentado alguma intoxicação após a mãe tentar
realizar um aborto devido à passagem do medicamento pela via placentária. No entanto,
destaca-se o fato de ter sido registrado um caso de ‘tentativa de aborto’ na faixa entre um
e quatro anos, quando esta causa já não é possível. Estas constatações indicam o mau
preenchimento dos dados do SINAN e destacam a importância de um melhor
preenchimento destes dados.
Já o SINITOX não divulga dados sobre a circunstância da intoxicação por faixa
etária, o que obriga a busca dessa informação em alguns estudos pontuais.
No Ceará, 96,7% dos casos de intoxicação medicamentosa envolvendo crianças
entre zero e quatro anos, em 2006, foram acidentes individuais (VIANA NETO et al,
2009).
No Centro de Controle de Intoxicações (CCI) de Maringá, entre 2003 e 2004, a
maioria dos casos envolvendo crianças entre zero e quatro anos também foi acidental
(60,3%). Não foram registrados casos intencionais em crianças menores de 10 anos
(MARGONATO, THOMSON & PAOLIELLO, 2009). Em 1995, o mesmo CCI notificou
dois casos envolvendo intoxicação medicamentosa em crianças entre zero e três meses de
idade devido aos erros de administração de medicamentos (AMADOR et al, 2000).
Gandolfi e Andrade (2006) estudaram o banco de dados dos CIAT paulistas
(Botucatu, Campinas, Ribeirão Preto, Santos, São Paulo e Taubaté) referentes ao ano de
1998. A faixa etária de um a quatro anos representou 76% das ocorrências acidentais do
estudo.
Matos, Rozenfeld & Bortoletto (2002), estudando crianças menores de 12 anos,
relataram que o acidente individual foi a principal circunstância envolvida (76,8%) em
24
intoxicações, seguida do erro de administração (9,8%) e do uso terapêutico (5,5%).
Destaca-se que 39,1% dos casos da faixa etária de menores de um ano ocorreram devido
aos erros de administração do medicamento e 17,2% devido ao uso terapêutico, sendo a
faixa etária em que estas circunstâncias mais ocorreram. Ao mesmo tempo, os menores
de um ano foram o grupo etário menos envolvido em acidentes individuais (21,4%). Estes
dados explicitam a mudança de perfil das intoxicações nestes dois grupos, devido ao
desenvolvimento cognitivo e motor da criança.
No tocante às intoxicações por medicamentos na população infantil, ainda
encontram-se outras causas, como a prática da automedicação e o uso não racional de
medicamentos; a falta de segurança no uso de alguns medicamentos nesta faixa etária
devido à sua exclusão em ensaios clínicos; maior suscetibilidade devido às funções vitais
ainda imaturas; menor cultura sobre medidas preventivas nos ambientes em que a criança
vive (incluindo o armazenamento inadequado, negligência e falta de informações de
responsáveis e cuidadores), e; a propaganda indiscriminada de medicamentos
(ALCÂNTARA, VIEIRA & ALBUQUERQUE, 2003; LOURENÇO, FURTADO &
BONFIM, 2008; MARGONATO, THOMSON & PAOLIELLO, 2009; MATOS,
ROZENFELD & BORTOLETTO, 2002; MADDEN, 2005; NOGUEIRA, VIEIRA &
VAZ, 2009; SIQUEIRA et al, 2008; TAVARES et al, 2013).
Intoxicação medicamentosa infantil e seu perfil no mundo e no Brasil
A infância é uma fase do desenvolvimento humano com características singulares,
inclusive em sua relação com os medicamentos. Isso faz com que os casos de intoxicação
medicamentosa tenham perfis semelhantes ao redor do mundo, já que envolvem
peculiaridades inerentes à idade, sofrendo pequenas modificações devido aos aspectos
culturais e socioeconômicos de cada região.
As crianças menores de cinco anos compõem a faixa etária mais sujeita a
intoxicações medicamentosas no Reino Unido (28,2%) (NPIS, 2013). Esta mesma faixa
etária foi responsável por 48,4% das consultas e por 1,8% dos casos fatais por intoxicação
registrados nos Estados Unidos em 2012 (MOWRY et al, 2013).
Os dados portugueses também mostram uma grande participação das crianças
entre o primeiro e o quarto ano de vida nos casos de intoxicações medicamentosas. Em
2011, esta faixa etária foi responsável por 69,0% dos casos de intoxicação em crianças.
Todavia, vale ressaltar que o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) considera
intoxicação em crianças aquelas que envolvem menores de 15 anos (INEM, 2014).
25
Embora não seja frequente, os casos de intoxicação com maior gravidade
necessitam de internação hospitalar. Neste sentido, é também importante examinar os
registros de admissões em emergência e de internações.
Acredita-se que, nos Estados Unidos, as intoxicações envolvendo crianças até
cinco anos foram responsáveis por 86.194 atendimentos em emergências em 2004, sendo
que mais de 11.000 necessitariam de internação (FRANKLIN & RODGERS, 2008).
Embora se trate de uma estimativa, estes dados demonstram que a maioria dos casos de
intoxicação em crianças não requer internação hospitalar, o que ocorre apenas nos casos
de maior gravidade. Além disso, os dados apresentados se referem ao número de
internações por intoxicação que ocorreram a nível nacional e não apenas em algumas
unidades de saúde.
Utilizando a mesma metodologia de Franklin & Rodgers (2008) para estimar os
atendimentos, Schillie et al (2009) estimaram que 81,3% das visitas às emergências norte-
americanas entre 2004 e 2005 devido à sobredose de medicamentos envolveram crianças
até cinco anos. Esta faixa etária também foi responsável por 83,5% das hospitalizações
devido a esta causa no mesmo período.
Azkunaga et al (2013) estudaram os atendimentos nos Serviços de Urgência
Pediátricos espanhóis envolvendo crianças menores de sete anos por intoxicação. Entre
as crianças em que a intoxicação ocorreu devido aos medicamentos foram realizados
maior número de exames complementares e de tratamento terapêutico do que entre as
crianças em que a intoxicação ocorreu por outros agentes. As intoxicações
medicamentosas também necessitaram de maior número de internações do que as demais.
De modo semelhante, Bond, Woodward & Ho (2012) avaliaram as ligações para
os Centros de Informações Toxicológicos norte-americanos, agregados na base de dados
National Poison Data System (NPDS), envolvendo crianças menores de cinco anos, em
que houve exposição não intencional a medicamentos, resultando em atendimento em
alguma unidade de saúde entre 2001 e 2008. Neste período, os medicamentos vendidos
sob prescrição médica foram responsáveis por 248.023 visitas a emergência (55,0%) e
41.847 internações (76,0%).
Outra informação levantada pelos autores foi a de que as chamadas, internações e
visitas às emergências entre crianças menores de cinco anos devido a estas exposições
cresceram em ritmo superior ao crescimento da população americana nesta faixa etária
(22,0%, 36,0%, 30,0% e 8,0%, respectivamente). Este dado explicita o impacto que as
intoxicações medicamentosas em crianças têm na sociedade norte-americana (BOND,
WOODWARD & HO, 2012).
26
Também na Jordânia, entre 1996 e 2001, 89,7% das crianças admitidas no
Hospital de Ensino Princesa Rahmat devido às intoxicações medicamentosas possuíam
até seis anos. O estudo incluiu apenas menores de 12 anos (SHOTAR, 2005).
Durante o ano 2000, 42,3% das intoxicações atendidas pela emergência infantil
de um hospital chileno foram devido aos fármacos. Os fármacos foram o principal agente
tóxico para as crianças entre dois e seis anos e entre seis e dez anos, representando mais
da metade dos casos em ambos os grupos. No entanto, para a faixa etária de lactentes, os
fármacos não foram o principal agente tóxico (GARATE et al, 2002).
Já no México, entre 1995 e 2005, o Instituto Nacional de Pediatria recebeu 139
casos de intoxicação medicamentosa envolvendo crianças até 13 anos. Destes pacientes,
49,6% eram menores de dois anos. Nenhum dos casos necessitou de hospitalização maior
do que 24 horas (OLGUÍN et al, 2011).
Na Arábia Saudita, os hospitais públicos de Riade, capital do país, receberam
7.142 casos de intoxicação acidental em crianças durante 1983 a 1987. Os medicamentos
foram os agentes tóxicos envolvidos em 39% dos casos (AL-BARRAQ & FARAHAT,
2011).
Nos Estados Unidos, entre 2001 e 2008, as internações em Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) envolvendo menores de cinco anos em consequência das exposições a
medicamentos vendidos sob prescrição e isentos de prescrição foram, respectivamente,
43,0% e 34,0%. Ainda, a necessidade de UTI devido aos erros de prescrição de
medicamentos vendidos sob prescrição e aqueles isentos foi 41,0% e 35,0%,
respectivamente. Os medicamentos que necessitam da apresentação de prescrição médica
para serem vendidos apresentam maior risco potencial do que os medicamentos isentos
de prescrição. Assim, é plausível que as exposições e os erros de prescrição envolvendo
medicamentos vendidos sob prescrição apresentem maior gravidade e envolvam maior
número de internações em UTI do que os medicamentos isentos de prescrição (BOND,
WOODWARD & HO, 2012; OMS, 2000).
Apesar da morbidade envolvendo intoxicações medicamentosas ser alta ao redor
do mundo, a mortalidade não segue o mesmo padrão e varia conforme a idade dos
pacientes e a circunstância envolvida – intencional ou acidental.
Na população norte-americana, os medicamentos foram responsáveis por 83,2%
das mortes por intoxicação e pelo maior número de óbitos entre as exposições a um único
agente tóxico - 69,6%. Entre os menores de cinco anos, houve um aumento do número de
óbitos por essa causa – 20, em 1985 para 46, em 2012. No entanto, em números relativos
27
à população com a mesma faixa etária, os casos diminuíram – 6,1%, em 1985 para 1,6%,
em 2012 (MOWRY et al, 2013).
Ainda nesse país, entre 2001 e 2008, segundo dados do NPDS, ocorreram 90
mortes entre crianças menores de cinco anos devido às intoxicações medicamentosas. Os
medicamentos mais envolvidos com estes casos fatais foram os analgésicos opióides e os
fármacos cardiovasculares. Também foram registradas mortes devido a erros de
prescrição relacionados aos analgésicos isentos de prescrição na primeira metade do
período de estudo (BOND, WOODWARD & HO, 2012).
Dart et al (2009) realizaram uma pesquisa envolvendo os registros do NPDS,
bases de dados - como o MEDLINE e EMBASE – além de outras fontes de registro de
eventos adversos a medicamentos. Esses autores encontraram 189 registros de mortes de
crianças menores de 12 anos associadas a medicamentos para tosse e resfriado nos
Estados Unidos. Após avaliação por um painel de especialistas, 118 mortes foram
consideradas relacionadas com estes medicamentos. A idade das crianças variou entre 28
dias e 10 anos, dos quais, 77 casos (75,0%) envolveram crianças menores de dois anos.
Os autores acreditam que, nestes casos, as crianças menores têm maior chance de receber
uma sobredose porque a dose acima da terapêutica é muito pequena e, muitas vezes, a
dose para esta faixa etária não consta nas embalagens dos medicamentos.
No Brasil, segundo os dados do SINAN, em 2012, ocorreram 4.064 notificações
de intoxicações medicamentosas entre menores de cinco anos – 670 notificações em
menores de um ano e 3.394 notificações em crianças de um a quatro anos (SINAN, 2013).
Já, segundo o SINITOX, no ano de 2011, último ano divulgado, foram 8.271 notificações
de intoxicações por medicamentos entre crianças de um a quatro anos e 820 notificações
em menores de um ano (SINITOX, 2014).
Além das informações divulgadas pelo SINITOX e pelo SINAN, existem ainda
inúmeros estudos envolvendo os casos registrados pelos CIAT. Por serem iniciativas
isoladas, estes estudos apresentam algumas diferenças que impedem a comparação entre
eles, como a faixa etária da população (apenas crianças ou toda a população) e o agente
tóxico investigado (todos os agentes tóxicos, apenas os medicamentos ou uma classe
terapêutica eleita). A divisão das faixas etárias também não é unanimidade entre os
estudos. Sendo assim, a seguir, encontram-se alguns destes estudos envolvendo os casos
de intoxicação medicamentosa infantil.
Segundo os dados de 2008 do CIAT de São José do Rio Preto (São Paulo), a faixa
etária de um a quatro anos foi a mais exposta ao risco de intoxicações por medicamentos
(102 casos; 20,3%). Os autores também encontraram uma associação significativa entre
28
a faixa etária de um a quatro anos e sexo masculino em relação ao risco de intoxicações
por medicamentos (BERTASSO-BORGES et al, 2010).
Já no Ceará, o CIAT registrou 30 casos de intoxicação medicamentosa envolvendo
crianças entre zero e quatro anos, em 2006. Esse resultado representa 25,7% das
intoxicações registradas pelo CIAT envolvendo menores de dezenove anos (VIANA
NETO et al, 2009).
O Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul (CIT-RS) registrou,
em 2003, 250 casos de intoxicação acidental individual por medicamentos entre crianças
de zero a quatro anos oriundas do município de Porto Alegre entre 593 registros neste
grupo etário (RAMOS et al, 2005).
Já Matos et al (2008) estudaram as intoxicações medicamentosas envolvendo
apenas os menores de 12 anos registrados no Centro Integrado de Vigilância Toxicológica
de Mato Grosso do Sul (CIVITOX), durante os anos de 2005 e 2006. Esta faixa etária foi
responsável por 31,6% dos casos de intoxicação medicamentosa. Do total de crianças,
79,4% possuíam entre um e quatro anos e 7,1%, eram menores de um ano. Os autores
também encontraram maior incidência de eventos tóxicos em crianças do sexo masculino,
fato também observado por Alcântara, Vieira & Albuquerque (2003).
Considerando apenas os casos de intoxicação medicamentosa em menores de
cinco anos, Matos, Rozenfeld & Bortoletto (2002) estudaram as notificações registradas
pelos Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI-SP) e CIT-RS, nos anos de
1997 e 1998. Segundo os registros do CIT-RS, as crianças abaixo de cinco anos foram
44,3% dos casos de intoxicação medicamentosa, próxima àquela registrada no CCI-SP -
42,4%. Dos 6.967 casos analisados, 4.147 (58,2%) envolviam crianças entre dois e três
anos de idade.
Como alguns CIAT são vinculados a hospitais, alguns estudos envolvem tanto os
dados de prontuários quanto os dados recebidos pelos CIAT. É o caso de um estudo feito
em Maringá, que envolveu “prontuários, fichas de atendimento prestado em pronto-
socorro ou em internação nos cinco hospitais gerais da cidade” (MARTINS, ANDRADE
& PAIVA, 2006).
O número de estudos que envolvem exclusivamente as internações hospitalares é
ainda menor. Werneck & Hasselmann (2009) estudaram os boletins de emergência de
oito hospitais públicos da região metropolitana do Rio de Janeiro buscando intoxicações
em menores de seis anos. No entanto, o estudo incluía todos os tipos de intoxicação e não
apenas as medicamentosas.
29
Rozenfeld (2007) utilizou as Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) para
investigar agravos provocados por medicamentos em hospitais do estado do Rio de
Janeiro, entre eles, as intoxicações. Mais uma vez, esse estudo não tinha como foco
principal as intoxicações medicamentosas e incluía apenas os dados de um estado do país.
Por sua vez, Lessa & Bochner (2008) analisaram as internações relacionadas a
intoxicações e efeitos adversos de medicamentos em menores de um ano, também através
das AIH, entre 2003 e 2005. A pesquisa englobou informações de todo o país e as autoras
relataram que, neste período, ocorreram 95 internações por intoxicação medicamentosa
em menores de um mês e 787 internações pela mesma causa em crianças entre um mês e
um ano.
Apesar do número de casos registrados, o número de óbitos por intoxicações
medicamentosas envolvendo crianças menores de cinco anos não é alto. Isso ocorre,
principalmente, devido às circunstâncias não-intencionais destas intoxicações.
Entre as informações disponíveis sobre o número de óbitos estão a do SINAN,
onde, em 2012, ocorreram três óbitos no Brasil (SINAN, 2013). No mesmo período, o
Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) registrou 12 óbitos – oito em menores
de um ano e quatro em crianças entre um e quatro anos (SIM, 2014). Os dados mais
recentes divulgados pelo SINITOX registram dois óbitos na faixa etária de um a quatro
anos e um óbito em menores de um ano (SINITOX, 2014).
Em estudo sobre a mortalidade por intoxicação medicamentosa, Mota et al (2012)
concluíram que, entre 1996 e 2005, a faixa etária de menores de quatro anos foi
responsável por 3,6% dos óbitos por essa causa, a maioria em circunstâncias acidentais.
Matos, Rozenfeld & Bortoletto (2002) observaram três óbitos entre 1997 e 1998,
todos em crianças menores de três anos. O índice de sequelas também foi baixo (10 casos;
0,4%).
Em seu estudo sobre internação hospitalar por intoxicação medicamentosa em
menores de um ano, Lessa & Bochner (2008) relataram dois óbitos em menores de um
mês e sete óbitos em crianças entre um mês e um ano, entre 2003 e 2005.
Classes de medicamentos mais envolvidas
A maioria dos casos de intoxicação medicamentosa envolvendo menores de cinco
anos é não intencional. Assim, qualquer medicamento que esteja ao alcance da criança
pode ser o agente tóxico, não só aqueles comumente usados nas doenças desta faixa etária.
Portanto, inúmeras classes terapêuticas podem ser o agente tóxico destas intoxicações.
30
Este perfil é bastante distinto do que ocorre com os casos intencionais, onde há
grande envolvimento de medicamentos que atuam no Sistema Nervoso Central e o
paracetamol. A circunstância intencional se diferencia ainda pela maior dose ingerida dos
medicamentos em relação aos casos não intencionais.
Nos Estados Unidos, em 2012, segundo as consultas ao American Association of
Poison Control Centers (AAPCC) do NPDS, as principais classes de medicamentos em
que houve exposição relatada em menores de cinco anos foram: analgésicos (9,9%),
preparações tópicas (6,3%), vitaminas (4,3%), anti-histamínicos (3,9%), antimicrobianos
(2,7%), preparações gastrointestinais (2,6%), preparações para tosse e resfriado (2,5%),
fármacos cardiovasculares (2,2%), suplementos dietéticos/fitoterápicos/homeopatia
(2,1%), hormônios e seus antagonistas (1,9%), eletrólitos e minerais (1,9%),
sedativos/hipnóticos/antipsicóticos (1,2%), antidepressivos (1,1%) e antiasmáticos
(1,0%). Estas classes terapêuticas somam 43,4% dos casos de intoxicação nesta faixa
etária (MOWRY et al, 2013).
Em Portugal, em 2011, as intoxicações medicamentosas em menores de quinze
anos, envolveram principalmente: paracetamol, os anti-inflamatórios não esteroidais, os
anti-histamínicos sistêmicos e os ansiolíticos, sedativos e hipnóticos (INEM, 2014).
Na Suécia, os medicamentos não foram a principal causa de intoxicação em
menores de dez anos. No entanto, as classes mais envolvidas nesta faixa etária foram:
analgésicos, medicamentos para tosse, fitoterápicos, medicamentos de uso tópico,
vitaminas e anti-histamínicos (SWEDISH POISONS INFORMATION CENTRE, 2013).
Na Bélgica, os medicamentos mais envolvidos foram: analgésicos, fármacos que
atuam no sistema respiratório, fármacos que atuam no Sistema Nervoso Central e
fármacos de uso tópico (CENTRE ANTIPOISONS, 2013).
Já no México, entre 1995 e 2005, as classes terapêuticas mais comuns foram:
analgésicos, anticonvulsivantes, ansiolíticos e agentes inotrópicos positivos, tais como a
digoxina (OLGUÍN et al, 2011).
Na Espanha, entre 1998 e 2000, 73,2% dos registros de intoxicações envolvendo
três fármacos antitérmicos – paracetamol, ibuprofeno e ácido acetilsalicílico (AAS) – se
concentraram na faixa etária de um a três anos (MENOR & DUPLÁ, 2002).
Existe um amplo perfil de classes terapêuticas pelas quais as crianças estão
sujeitas a sofrerem intoxicações. Todavia, é necessário considerar que, devido aos seus
mecanismos de ação, algumas classes terapêuticas tem maior relação com os casos de
óbito e os casos onde a internação é necessária.
31
Na Jordânia, entre 1996 e 2001, os medicamentos mais envolvidos nos casos de
internação por intoxicação medicamentosa foram os psicotrópicos, contraceptivos orais,
anti-histamínicos, analgésicos e antibióticos (SHOTAR, 2005). Na Inglaterra e no País
de Gales, ocorreram entre 1968 e 2000, 393 óbitos devido às intoxicações
medicamentosas em menores de 10 anos. Destes óbitos, metade estava relacionado ao uso
de antidepressivos, barbitúricos, opiáceos/opióides e salicilatos (FLANAGAN et al,
2005).
Aqui no Brasil, o SINITOX e o SINAN não diferenciam os registros por classes
terapêuticas, agrupando todas como “medicamentos”, ao contrário do NPDS, órgão norte-
americano, que fornece a informação apenas por classe terapêutica. O formato em que os
dados do NPDS são divulgados permite avaliar as classes terapêuticas mais envolvidas
nos casos de intoxicações. Ao mesmo tempo, também pode-se criticar a decomposição
desses dados, já que ela pode mascarar a real participação da categoria “medicamentos”
nas intoxicações que ocorrem neste país. Como no Brasil os dados não são divulgados
desta forma, para avaliar as classes terapêuticas mais envolvidas em intoxicações, é
necessário recorrer a estudos pontuais.
Matos et al (2008) observaram casos de intoxicação envolvendo 308
medicamentos distintos, o que reflete a variedade de medicamentos que podem ocasionar
intoxicações em crianças. A principal classe terapêutica envolvida nestes eventos foi a
dos fármacos que atuam no Sistema Nervoso Central (22,7%), seguida dos
antimicrobianos e antiparasitários (14,9%) e dos fármacos que atuam no sistema
respiratório (13,0%).
Entre as intoxicações acidentais por medicamentos envolvendo crianças entre zero
e quatro anos, notificados pelo CIT do Rio Grande do Sul, em 2003, a classe dos
analgésicos foi a mais representativa (RAMOS et al, 2005).
Segundo Gandolfi & Andrade (2006), as classes terapêuticas mais envolvidas nos
casos de intoxicação variaram conforme a idade. Entre os menores de um ano, os
medicamentos mais envolvidos eram os voltados para o aparelho respiratório e
imunologia e alergia enquanto para as crianças entre um e quatro anos, apareceram os
analgésicos.
No Ceará, as intoxicações medicamentosas em menores de nove anos, registradas
em 1997, envolveram principalmente os antidepressivos, os broncodilatadores e as
vitaminas (ALCÂNTARA, VIEIRA & ALBUQUERQUE, 2003).
Balbani, Duarte & Montovani (2004) selecionaram 104 medicamentos do
mercado – sendo gotas otológicas, medicamentos orofaríngeos e tópicos nasais – e
32
analisaram os registros do Centro de Controle de Intoxicações Jabaquara (São Paulo), no
período de janeiro de 1996 a dezembro de 2000. No período, este CCI registrou 240
intoxicações pelos medicamentos selecionados, das quais, 57 (19,6%) envolveram
crianças menores de um ano e 166 (57,0%), crianças de um a quatro anos de idade. Os
autores ressaltam que, embora sejam medicamentos de uso tópico, os sintomas resultaram
da toxicidade sistêmica destes medicamentos.
Em uma análise retrospectiva dos casos de exposição aguda aos derivados
imidazolínicos (fármacos empregados como descongestionantes tópicos de ação rápida e
prolongada por via nasal e ocular) em menores de cinco anos, atendidas pelo Centro de
Controle de Intoxicações da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de
Campinas (CCI–FCM–Unicamp) no período de janeiro de 1994 a dezembro de 1999, 72
prontuários foram selecionados, dos quais 50 eram de crianças menores de dois anos
(BUCARETCHI, DRAGOSAVAC & VIEIRA, 2003).
Por fim, segundo Matos, Rozenfeld & Bortoletto (2002), as classes terapêuticas
que mais se destacaram foram os descongestionantes nasais e tópicos, seguidos dos
analgésicos, broncodilatadores, anticonvulsivantes e contraceptivos orais.
Com o objetivo de demonstrar que a idade cria distintos perfis de classes
terapêuticas envolvidas em casos de intoxicação, segue a Tabela 1, comparando as 14
classes terapêuticas que estiveram envolvidas com maior frequência em casos de
intoxicação nos Estados Unidos, em 2012, para a população total e para os menores de
cinco anos.
De modo qualitativo, pode-se observar que os medicamentos antiasmáticos
ocuparam a décima quarta posição entre os menores de cinco anos. No entanto, esta classe
não foi citada entre os mesmos dados da população geral. O contrário ocorreu com os
anticonvulsivantes, que não apareceram entre os menores de cinco anos.
Quantitativamente, os analgésicos e os hormônios e seus antagonistas ocuparam
a mesma posição nos dois grupos. A classe terapêutica mais envolvida em casos de
intoxicação, em ambos, foram os analgésicos. Embora não tenha ocupado a mesma
posição nos dois grupos, a frequência de intoxicações por “preparações para tosse e
resfriado” foi a mesma para as duas faixas etárias (2,5%).
33
Tabela 1. Comparação entre as 14 classes terapêuticas mais envolvidas em intoxicações
medicamentosas nos Estados Unidos, em 2012, entre a população total e as crianças
menores de cinco anos.
População total População menor de cinco anos
Classe terapêutica % Classe terapêutica %
Analgésicos 11,6 Analgésicos 9,9
Sedativos/hipnóticos/antipsicóticos 6,1 Preparações tópicas 6,3
Antidepressivos 4,1 Vitaminas 4,3
Fármacos cardiovasculares 3,9 Anti-histamínicos 3,9
Anti-histamínicos 3,6 Antimicrobianos 2,7
Preparações tópicas 3,6 Preparações gastrointestinais 2,6
Vitaminas 2,5 Preparações para tosse e resfriado 2,5
Preparações para tosse e resfriado 2,5 Fármacos cardiovasculares 2,2
Antimicrobianos 2,3 Suplementos dietéticos1 2,1
Hormônios e seus antagonistas 2,2 Hormônios e seus antagonistas 1,9
Anticonvulsivantes 1,9 Eletrólitos e minerais 1,9
Preparações gastrointestinais 1,8 Sedativos/hipnóticos/antipsicóticos 1,2
Suplementos dietéticos1 1,4 Antidepressivos 1,1
Eletrólitos e minerais 1,2 Antiasmáticos 1,0 Fonte: Adaptado de Mowry et al (2013). 1 Inclui suplementos dietéticos / fitoterápicos / homeopatia.
Por fim, chama a atenção que medicamentos psicotrópicos como
“sedativos/hipnóticos/antipsicóticos” e “antidepressivos” tenham somado mais de 10%
dos casos de intoxicação na população geral e, ao mesmo tempo, representaram 2,3% dos
casos envolvendo menores de cinco anos. Essa diferença pode ser explicada pelo número
de casos de autointoxicação na população adulta utilizando medicamentos destas duas
classes terapêuticas, com o objetivo de suicídio, o que não ocorre entre as crianças.
34
INFLUÊNCIA DE ELEMENTOS REGULATÓRIOS E CULTURAIS NAS
INTOXICAÇÕES MEDICAMENTOSAS INFANTIS
Aspectos culturais e prevenção de intoxicações medicamentosas em crianças
Os sentidos do medicamento
Os medicamentos são uma tecnologia amplamente utilizada na área da saúde,
tendo se tornado fundamental para prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças.
Apesar de acompanharem a humanidade desde os seus primórdios, a partir da Segunda
Guerra Mundial, seguiram-se inúmeros avanços em todos os campos da ciência e houve
um impulso no processo de industrialização. Tudo isso permitiu a descoberta e a produção
de grande parte do arsenal terapêutico conhecido hoje.
A partir de sua industrialização, os medicamentos passaram a ser produzidos em
larga escala e, portanto, se tornaram disponíveis para um maior número de pessoas. Essa
mudança fez com que eles passassem a acumular dois sentidos distintos em si: o de
recurso terapêutico e o de bem de consumo. Este último sentido trata o medicamento
como um bem com valor comercial. Assim, como qualquer outro produto, os
medicamentos são anunciados através de propagandas que estimulam o seu consumo.
Essas propagandas são voltadas tanto para os consumidores quanto para os profissionais
da saúde.
Tanto estas propagandas quanto as notícias vinculadas na mídia com o intuito de
informar a população colaboram na formação de um sentido comum de medicamento.
Muitas vezes, as informações divulgadas pelos diferentes veículos estimulam ainda mais
o seu consumo indiscriminado. Lage, Freitas e Acurcio (2005) pesquisaram artigos
focando medicamentos publicados por um jornal paulista entre 1998 e 2000 e detectaram
que as notícias supervalorizavam os benefícios dos medicamentos, subestimavam suas
reações adversas e não se preocupavam em educar os leitores para seu consumo correto.
Os meios de comunicação, na forma de propagandas ou de notícias, influenciam
fortemente os indivíduos na formação de seus sentidos sobre os medicamentos. No
entanto, outros atores sociais participam deste processo, como os amigos, familiares,
escola, religião e a sociedade. De modo geral, prevalece a visão de medicamento como
saúde e bem estar e de que, portanto, seu uso não acarreta problemas. Essa imagem é tão
arraigada na população que afasta todos os riscos associados aos medicamentos, o que
favorece ainda mais o seu consumo não racional.
35
Desta forma, a utilização de medicamentos ocorre independente da faixa etária.
Consequentemente, qualquer indivíduo está sujeito a apresentar intoxicações
medicamentosas ou outros eventos adversos a medicamentos, incluindo crianças e
grávidas. Assim, as crianças recebem medicamentos já desde a vida intrauterina e o
contato com medicamentos pode permanecer durante a fase de amamentação, já que é
possível que o medicamento ingerido pela mãe seja excretado no leite.
Além da exposição aos medicamentos através da mãe, as crianças podem
consumi-los já nos primeiros meses de vida. Em um estudo envolvendo uma coorte de
nascimento de Pelotas (RS) em 2004, o uso de medicamentos foi monitorado entre os
três, 12 e 24 meses de vida do bebê. Houve uma diminuição no consumo de medicamentos
entre o primeiro e o último momento de análise. Isso mostra que, conforme a idade das
crianças aumentou, o consumo de medicamentos diminuiu. No entanto, nestes três
momentos de análise, o consumo de medicamentos foi maior que 50,0% da população,
ou seja, a maioria das crianças consumia algum medicamento, independentemente de sua
idade (OLIVEIRA, E. et al, 2010).
O uso inadequado de medicamentos em crianças é facilitado pelas populares
“farmácias caseiras”. Este estoque domiciliar de medicamentos é formado por
medicamentos em uso e fora de uso dos membros da família, os quais podem ser
desnecessários ou inapropriados para a faixa etária infantil. Deste modo, quando um
membro da família utiliza um medicamento, este pode passar a fazer parte do estoque
familiar. Se esse uso for crônico, o medicamento estará armazenado por um período ainda
maior na residência.
A presença destes medicamentos dentro das residências influencia na
possibilidade de intoxicações. Burghardt et al (2013) monitoraram as notificações norte-
americanas de intoxicação medicamentosa em menores de 19 anos entre 2000 e 2009 e o
consumo de opióides, betabloqueadores, antihiperlipidêmicos e hipoglicemiantes. Houve
uma forte associação entre o consumo destes medicamentos indicados para adultos e o
número de notificações de intoxicações por estes medicamentos entre crianças de zero e
cinco anos. Assim, fica claro que a disponibilidade de medicamentos nas residências tem
relação direta com o número de casos de intoxicação nesta faixa etária e, portanto, as
medidas preventivas de segurança domiciliar seriam um fator importante na prevenção
destes casos de intoxicação.
Em domicílios catarinenses com crianças entre zero e catorze anos, durante o ano
de 2010, Beckhauser, Valgas & Galato (2012) constataram que 75% dos medicamentos
destes estoques eram medicamentos em desuso. A origem deste excesso de medicamentos
36
sem função pode ser automedicação ou sobras de tratamentos anteriores – pelo
fornecimento de quantidade maior que a necessária, interrupção precoce do tratamento
ou através de um tratamento que não foi realizado corretamente.
O estoque domiciliar favorece a automedicação de toda a família, inclusive
crianças e adolescentes. Ao avaliar o estoque domiciliar de medicamentos em residências
atendidas pelas equipes de saúde da família, Mastroianni et al (2011) concluíram que a
população que mais utilizava os medicamentos do estoque eram os menores de seis anos.
De modo inverso, Pereira et al (2007) concluíram que, entre os menores de 18 anos, as
crianças entre dois e sete anos são as que menos receberam automedicação embora fossem
o grupo que mais consumiam medicamentos.
Pesquisando o uso de medicamentos em menores de seis anos matriculadas nas
creches de Tubarão (SC), Carvalho et al (2008) encontraram prevalência de
automedicação de 59%. Esta prevalência considerável de automedicação em crianças
pode ser explicada por uma série de causas: cuidadores sem tempo de levar criança ao
médico; reclamações a respeito do atendimento médico local, seja ele público ou privado;
falta de recursos para levar a criança ao serviço de saúde ou comprar o medicamento
prescrito; falta de confiança no atendimento médico; experiência com o medicamento;
crença de que o problema de saúde não é grave ou é idêntico a algum problema
apresentado anteriormente, e; já possuir o medicamento em casa (VILARINO et al, 1998).
A automedicação infantil também é rodeada por uma discussão a respeito de sua
definição. As crianças não são capazes de entender seus sintomas ou comprar
medicamentos adequados para combatê-los. Portanto, elas não podem se automedicar. O
que ocorre, de fato, é a medicação de crianças por seus pais ou responsáveis. Assim, a
criança apenas recebe a automedicação. Esse cenário levanta uma segunda questão, que
diz respeito ao conhecimento que pais ou responsáveis possuem para serem capazes de
medicar crianças.
Telles Filho & Pereira Junior (2013) avaliaram o conhecimento dos pais sobre os
medicamentos que eles usam para medicar os filhos menores de seis anos. Os pais
apontaram os medicamentos que mais utilizaram em seus filhos e, ao ter que justificar
seu uso, 64% utilizaram conhecimentos errôneos e 22%, conhecimentos parciais. Ainda,
ao avaliar o estoque domiciliar, Lima, Nunes e Barros (2010) concluíram que 66% dos
moradores não sabiam que os medicamentos poderiam ser tóxicos. Assim, o ato de
medicar as crianças por conta própria pode representar um risco de intoxicação se os pais
ou responsáveis não tiverem informações suficientes para fazê-lo de modo correto.
37
Com vista à diminuição dos estoques domiciliares provenientes de excessos de
tratamentos anteriores, a ANVISA aprovou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC)
n. 80, de 11 de maio de 2006, permitindo o fracionamento de medicamentos por farmácias
e drogarias de todo o país. O fracionamento de medicamentos consiste em liberar a
quantidade exata que será utilizada pelo paciente no tratamento. Apesar da medida ter
entrado em vigor na década passada, os medicamentos fracionáveis ainda não são uma
realidade para a população. A ausência de apresentações fracionáveis faz com que os
pacientes recebam uma quantidade maior do que a necessária para o tratamento, levando
a um estoque de medicamentos nas residências – contribuindo para o aumento da
automedicação e dos casos de intoxicação medicamentosa - além do desperdício de
recursos financeiros na aquisição destes medicamentos.
Tendo em vista que o estoque domiciliar de medicamentos pode representar riscos
para a população, é necessário conscientizá-la sobre o uso racional de medicamentos. De
fato, a existência de medicamentos nas casas sempre ocorrerá, seja para o tratamento de
sintomas menores, como dor de cabeça, seja no tratamento de doenças crônicas. No
entanto, as “farmácias caseiras” não deveriam ser o resultado da banalização do consumo
de medicamentos, pois, quanto maior a familiaridade social com o medicamento, menor
a percepção dos riscos que eles trazem (LOPES, 2001).
Recorrendo à informação: compreensão de receitas médicas e bulas
Os medicamentos trazem em si diversos sentidos que se fortalecem com a
propaganda. Estes sentidos justificam o seu uso irracional pela população, seja na forma
de um consumo exagerado ou no ato de se automedicar e/ou medicar amigos e familiares.
Na contramão deste processo, está a promoção do uso racional de medicamentos, seja
pelo governo – através da regulação da propaganda e do setor de medicamentos e da
educação em saúde –, seja pela sociedade – através do uso de medicamentos orientado
por uma consulta médica de qualidade e da busca de informações nos veículos
apropriados.
Na ausência de um profissional de saúde, o paciente conta com dois instrumentos
para orientá-lo sobre o tratamento: a prescrição médica e a bula do medicamento.
Portanto, estes dois documentos são cruciais para sanar suas dúvidas. No entanto,
compreender o que está prescrito em uma receita médica representa um desafio para as
pessoas leigas. Os nomes dos medicamentos, tanto os nomes comerciais quanto os nomes
dos princípios ativos (nomes genéricos), são muitas vezes palavras difíceis de serem
pronunciadas, até mesmo para quem é familiarizado com elas. Ao mesmo tempo, existe
38
a questão da legibilidade das prescrições por conta das letras médicas, apesar de ser
preconizado que os médicos utilizem letras legíveis, sem abreviaturas ou símbolos.
No caso das crianças, é muito importante que os responsáveis consigam ler e
entender as prescrições médicas, já que quaisquer erros de compreensão destas receitas
podem ocasionar consequências graves para os pacientes. Alguns estudos avaliaram o
entendimento dos responsáveis acerca das prescrições pediátricas a nível ambulatorial,
confrontando o conteúdo da prescrição com a fala dos responsáveis.
Um desses estudos, realizado em Bagé (RS), envolveu apenas os antimicrobianos
e teve resultados preocupantes. Os acompanhantes foram questionados sobre informações
existentes na receita logo após a consulta médica em unidades básicas de saúde. Quase
metade não soube responder ou respondeu incorretamente a dose prescrita e um terço não
soube responder ou respondeu incorretamente o intervalo de administração dos
medicamentos. Em relação à legibilidade, 30,1% dos acompanhantes não conseguiram
ler o nome do antimicrobiano prescrito, desconsiderando aqueles que se declararam
analfabetos. Além disso, 30,0% informaram incorretamente ou não sabiam a duração do
tratamento. Todas as informações avaliadas (nome do medicamento, dose, intervalo de
administração e duração do tratamento) são fundamentais para que o tratamento realizado
seja efetivo (MENEZES, DOMINGUES & BAISCH, 2009).
Estudo semelhante realizado em Campo Grande (MS) verificou que, embora todas
as prescrições fossem consideradas legíveis, a maioria dos entrevistados não teve uma
compreensão suficiente da prescrição (FERREIRA, MELKINOV & TOFFOLI-KADRI,
2011).
Os dois estudos levantam ainda questões de caráter social relevantes para a
discussão. Considerando que, muitas vezes, os acompanhantes das consultas não são os
responsáveis por ela e terão que passar a informação a terceiros, a falta de compreensão
acerca da receita médica tende a aumentar os riscos inerentes ao tratamento já que haverá
uma nova transmissão de informações.
Por último, o nível de escolaridade do acompanhante interfere diretamente no
entendimento da prescrição (FERREIRA, MELKINOV & TOFFOLI-KADRI, 2011). No
Brasil, segundo Sampaio (2014), a taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou
mais é estimada em 8,7%. Por isso, a orientação verbal assume um caráter de extrema
importância, já que atinge todos os níveis de escolaridade, facilitando a compreensão dos
menos letrados e consolidando a informação dada àqueles com maior nível escolar.
Além da prescrição, o principal material informativo a que os pacientes têm acesso
são as bulas. Atualmente, elas seguem as regras presentes na RDC n. 47, de 8 de setembro
39
de 2009 e na RDC n. 71, de 22 de dezembro de 2009. Segundo essas Resoluções, a leitura
da bula deve ser fácil e acessível e há parâmetros mínimos para o tamanho da fonte
utilizada. A bula se divide em um espaço com informações direcionadas aos pacientes,
numa linguagem voltada para o público leigo, e um espaço voltado para os profissionais
de saúde, com orientações técnicas. Ela deve conter informações sobre uso do
medicamento em populações especiais (como crianças), contraindicações, modo de usar,
indicações e orientações sobre o caso de sobredose do medicamento. Também são
obrigatórios os dizeres legais: “Todo o medicamento deve ser mantido fora do alcance
das crianças” e “Em caso de intoxicação ligue para 0800 722 6001, se você precisar de
mais orientações sobre como proceder”.
Devido ao seu importante papel informativo, a bula sofreu uma série de
normatizações ao longo da história e, nos dias atuais, seu conteúdo deve ser aprovado
pela ANVISA. No entanto, apesar das inúmeras normativas que, desde 1977, tentam
tornar a linguagem usada mais acessível, permanecem termos que dificultam a sua
compreensão. Muitas vezes, os pacientes ou responsáveis, não conseguem entender o que
está escrito na bula, por conta de sua linguagem formal ou pela ausência de figuras que
exemplifiquem o que está sendo dito. Desta forma, a bula perde consideravelmente seu
poder informativo e de promoção do uso racional de medicamentos (CALDEIRA,
NEVES E PERINI, 2008).
Mudanças na embalagem e rotulagem de medicamentos
As primeiras ações visando a mudança de embalagens começaram a ser
elaboradas na década de 1950, quando um engenheiro norte-americano desenvolveu
“fechos de segurança” em frascos de aspirina para diminuir os casos de intoxicação
acidental (BUDNITZ & LOVEGROVE, 2012). No entanto, somente na década de 1970,
nos Estados Unidos, essa ideia tomou força e virou lei através do Poison Prevention
Packaging Act (PPPA). Esta lei visou aumentar a segurança nas embalagens de produtos
domissanitários e medicamentos e atingia apenas os produtos envolvidos em acidentes
que tivessem causado lesões graves em crianças menores de cinco anos devido à sua
embalagem. As substâncias incluídas nesta lei são definidas de acordo com os registros
de intoxicações, reclamações de consumidores e profissionais de saúde (BUDNITZ &
LOVEGROVE, 2012; KIRK, 1981).
Para serem consideradas seguras, as embalagens devem passar por uma série de
procedimentos que comprovem que ela pode ser utilizada por adultos e, ao mesmo tempo,
dificulta sua abertura pelas crianças. Ela deve ser testada em um grupo de 200 crianças
40
entre 42 e 51 meses. Essas crianças possuem cinco minutos para abrir as embalagens.
Caso não tenham conseguido abri-la neste período, um adulto faz uma demonstração
visual de como abrir, sem explicações verbais. Após a demonstração, a criança tem mais
cinco minutos para tentar abrir a embalagem. A embalagem é considerada segura se, pelo
menos, 85% das crianças não conseguem abri-la antes da demonstração e 80%, depois
(KIRK, 1981).
A embalagem também é testada por adultos, que recebem apenas instruções
escritas de como abri-las e devem fazê-lo em cinco minutos. Neste caso, 90% dos adultos
devem ser capazes de abrir e fechar corretamente a embalagem (KIRK, 1981).
Tornar uma embalagem mais segura significa que esta embalagem tem
dispositivos que restrinjam o fluxo de medicamentos ou tem tampas diferenciadas.
Atualmente, as empresas tentam desenvolver embalagens que não percam suas
propriedades mesmo quando danificadas, o que pode ocorrer quando uma criança utiliza
seus dentes para abri-la, por exemplo (BUDNITZ & LOVEGROVE, 2012).
Algumas críticas a esse processo são o alto custo no desenvolvimento de
embalagens seguras, o que torna o produto final mais caro do que as embalagens
tradicionais. Também há problemas de aceitação dessas embalagens pelos consumidores,
principalmente os idosos, por terem maior dificuldade em abri-las e a questão da perda
dos dispositivos de segurança, conforme seu uso. Apesar dos problemas apontados, estas
embalagens têm se mostrado úteis na redução dos acidentes com medicamentos.
Na Inglaterra e País de Gales, houve uma diminuição dos casos fatais de
intoxicação envolvendo crianças desde 1968 também devido à introdução de embalagens
com dispositivos de segurança. Também contribuíram para a diminuição desses óbitos:
aumento da ênfase na segurança domiciliar; aumento do acesso às informações
toxicológicas; melhora do tratamento das intoxicações; a retirada do mercado de
medicamentos perigosos; a introdução de novas embalagens, como o blister, e; mudanças
nos padrões de prescrição médica pediátrica, utilizando medicamentos com menor
toxicidade (FLANAGAN, 2005).
Na Finlândia, a incidência de hospitalização da faixa etária entre zero e quatro
anos devido às intoxicações caiu 51,0% entre 1971 e 2005. Esta diminuição se iniciou no
início da década de 1990 e acredita-se que tenha sido consequência da entrada do país na
União Europeia, o que obrigou o país a adotar suas diretrizes, como a regulação das
embalagens especiais de proteção à criança (KIVISTÖ et al, 2008).
É necessário comentar que, embora a introdução no mercado de embalagens com
dispositivo de segurança seja fator importante na diminuição do número de casos de
41
intoxicação, as embalagens não impedem que haja intoxicação. Em 2004, 54,7% das
intoxicações registradas nos Estados Unidos envolviam produtos incluídos no Poison
Prevention Packaging Act (PPPA), que prevê embalagens especiais com dispositivos de
proteção à criança para alguns produtos. Isso ocorre porque seu protocolo permite que
um número de crianças seja capaz de abrir as embalagens; o PPPA não obriga que todos
os produtos sujeitos à regulação sejam vendidos em embalagem especial; boa parte das
intoxicações infantis ocorre quando há uma embalagem defeituosa ou quando ela não é
fechada corretamente, e; as embalagens especiais não evitam a possibilidade de erros na
dose dos medicamentos (FRANKLIN & RODGERS, 2008).
Atualmente, no Brasil, há cinco Projetos de Lei envolvendo esta questão
tramitando no Congresso Nacional: Projeto de Lei (PL) 4581/1994; PL 5169/2001; PL
530/2003; PL 7527/2010 e PL 373/2011. O primeiro PL já tramita há 20 anos, sem
aprovação.
Embora as embalagens especiais com dispositivos de segurança sejam
importantes para a diminuição do número de casos de intoxicação, elas não são a única
mudança possível em relação às embalagens. Nos Estados Unidos, em 1997, os
suplementos de ferro passaram a ser vendidos em apresentações em blister. Esta simples
mudança foi suficiente para reduzir os casos de intoxicação e morte por ingestão de ferro
em menores de seis anos. Após cinco anos, ocorreu apenas uma morte por esta causa
frente às 29 mortes que ocorreram nos dez anos anteriores à mudança (TENENBEIN,
2005).
Evento semelhante ocorreu em outubro de 2007, também nos Estados Unidos,
quando houve uma mudança nas embalagens de medicamentos para tosse e resfriado,
cuja venda era isenta de prescrição médica. A mudança consistiu na mudança do aviso
“Consulte o médico para utilizar em menores de dois anos” para “Não utilize em menores
de dois anos”. Após a mudança, o número de erros terapêuticos envolvendo estes
medicamentos e esta faixa etária caiu 64,0%. Não houve mudança no número de erros
terapêuticos envolvendo este medicamento e a faixa etária entre dois e cinco anos.
Também não houve mudança no número de casos acidentais envolvendo estes
medicamentos entre os menores de dois anos. Assim, fica claro que informar claramente
os pais e responsáveis sobre a toxicidade dos medicamentos pediátricos é fator crucial
para diminuir os casos de intoxicação medicamentosa infantil (KLEIN-SCHWARTZ,
SORKIN & DOYON, 2010).
Com o mesmo intuito, o Reino Unido estabeleceu, em 1998, um limite na
quantidade de comprimidos de ácido acetilsalicílico e paracetamol que poderia ser
42
vendida sem receita. Ao mesmo tempo, esses medicamentos passaram a ser vendidos
apenas em blisteres. Após a introdução desta lei, a quantidade de mortes devido ao
consumo destes medicamentos diminuiu, o número de intoxicações por paracetamol caiu
30% e o número de pacientes que necessitaram de transplante hepático devido à
intoxicação por paracetamol caiu 55%. Outros países, como a Irlanda e a França, também
limitaram a quantidade de analgésicos vendidos sem prescrição (HAWTON et al, 2001).
Mudanças nas embalagens e rótulos de medicamentos e a diminuição da
quantidade de medicamentos de venda livre são alternativas possíveis para reduzir os
acidentes envolvendo medicamentos. No entanto, necessitam ser determinadas por lei,
exigindo que o Estado assuma um papel importante nestas situações. O objetivo de
reduzir estes acidentes também pode ser atingido através das medidas preventivas.
Cultura sobre medidas preventivas
O ensino de medidas preventivas contra acidentes é um modo importante de
diminuir o número de casos de intoxicações em crianças, independente do agente tóxico
envolvido.
Considerando a informação dos responsáveis sobre as intoxicações, Ramos et al
(2010) realizaram um estudo de caso-controle através de questionários para os pais ou
responsáveis legais de crianças admitidas em duas emergências de Porto Alegre (RS),
comparando crianças internadas devido às intoxicações e as crianças internadas por outras
causas. A maioria dos responsáveis (82,0%) acreditava que os agentes disponíveis nas
residências eram perigosos e 90,0% não subestimou a habilidade das crianças para
alcançar produtos tóxicos.
No entanto, 56,0% dos agentes tóxicos estavam guardados nos quartos e o
armazenamento de medicamentos em locais abaixo de 150cm era 17 vezes mais provável
de ocorrer nas residências do grupo caso – formado pelos responsáveis pelas crianças
internadas devido às intoxicações. Embora as famílias tenham mostrado entendimento
sobre os riscos, os responsáveis das crianças que não foram internadas por intoxicação
tinham duas vezes mais conhecimento sobre estes riscos comparados aos responsáveis
das que haviam sido internadas por esta causa.
Mesmo que o estudo tenha envolvido um pequeno número de crianças, ele permite
concluir que o conhecimento a respeito dos riscos de acidentes domésticos e seus modos
de prevenção tem papel relevante no número de casos de crianças envolvidas nestes
acidentes, incluindo os casos de intoxicação.
43
O armazenamento de medicamentos fora do alcance das crianças é a principal
medida preventiva possível, pois inclui apenas mudanças nos hábitos familiares e, por
vezes, pequenas alterações no espaço físico das residências. A importância desta medida
pode ser mensurada pelo número de estudos que apontam o armazenamento incorreto dos
medicamentos como um fator para a ocorrência de intoxicação medicamentosa em
criança.
Em visitas domiciliares, o armazenamento de medicamentos em locais inseguros
varia entre 10,4% até 75% (BECKHAUSER, VALGAS & GALATO, 2012;
MASTROIANNI et al, 2011; LIMA, NUNES & BARROS, 2010; BUENO, WEBER &
OLIVEIRA, 2009; FERREIRA et al, 2005; TOURINHO et al, 2008). Alguns autores
apontam que, nas casas onde há crianças, o armazenamento de medicamentos é mais
seguro, em relação às casas onde não há crianças (LASTE et al, 2012; COYNEY-
BEASLEY et al, 2005). Embora essa afirmação seja positiva, o hábito de armazenar
medicamentos em locais adequados deve existir, independentemente da existência de
crianças no ambiente. Assim, quando a criança visita outros ambientes ou quando outros
adultos visitam a residência de crianças, o risco de intoxicações acidentais não
aumentaria.
Os norte-americanos definem essa situação como “Granny Syndrome” (“síndrome
da vovó”, em tradução livre), que ocorre quando os avós visitam os netos ou vice-versa
durante as férias escolares. Os avós geralmente não têm o hábito de armazenar seus
medicamentos em locais seguros, facilitando o acesso das crianças aos medicamentos.
Muitos ainda acondicionam as doses diárias de seus medicamentos em porta-
comprimidos. Assim, se a criança conseguir abrir esse objeto, poderá entrar em contato
com medicamentos de diferentes classes terapêuticas, aumentando o risco de intoxicação.
A “Síndrome da vovó” é apontada como uma das causas do aumento no número de
intoxicações acidentais por medicamentos durante as férias (McFEE & CARACCIO,
2006).
Educação em saúde e as práticas para promover o uso racional de medicamentos
A educação em saúde da criança é uma estratégia possível para promover o uso
racional de medicamentos e diminuir o número de casos de intoxicações. Essa estratégia
permite a discussão de questões como a automedicação e armazenamento inadequado de
medicamentos. Ao promover esse debate na idade infantil, cria-se uma geração mais
responsável na compra e consumo de medicamentos e com possibilidades de transformar
os hábitos de toda a família, como já foi demonstrado por Dandolini et al (2012). Essas
44
atividades também são importantes porque as crianças aprendem os vários sentidos dos
medicamentos através da observação dos hábitos familiares e da mídia, e portanto, são
capazes de criar expectativas e crenças a respeito de suas ações no organismo. Entre as
diversas possibilidades que permitem a assimilação desses conhecimentos estão o teatro,
a música, histórias e contos.
No Brasil, os medicamentos e o despertar da consciência crítica do mundo estão
incluídos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Os PCN são importantes
parâmetros de exigência para a elaboração do livro didático e a intenção da inclusão
destes conteúdos nos PCN é a de promover a educação em saúde. Correa et al (2013)
avaliaram o aparecimento destes conteúdos em livros didáticos e concluíram que os livros
ainda não atendem a esses parâmetros. Portanto, é necessário que estes temas sejam
melhor abordados para que haja um uso mais racional dos medicamentos e,
consequentemente, menos casos de problemas relacionados a medicamentos, incluindo
as intoxicações.
Outra tentativa de diminuir o número de casos de intoxicação medicamentosa,
citada por Lourenço, Furtado & Bonfim (2008), é a Estratégia Saúde da Família. Nela, os
agentes comunitários de saúde poderiam funcionar como fonte de informação e
prevenção destes acidentes. Uma das funções destes agentes é visitar as residências dos
pacientes. Portanto, ele seria figura importante na detecção de práticas inseguras, como o
armazenamento de medicamentos em locais inapropriados, ao alcance das crianças. No
entanto, Nogueira, Vieira & Vaz (2009) perceberam que os agentes não conseguiam
conceituar as intoxicações sem alguma dificuldade e não compreendiam completamente
os fatores envolvidos nestes agravos. Portanto, para que os agentes possam assumir este
papel, seria necessário fornecer capacitação a estes profissionais.
Embora a promoção do uso racional de medicamentos seja a melhor maneira para
promover o consumo consciente de medicamentos e diminuir os casos de intoxicações e
outros eventos adversos, ainda há a questão do seu consumo de forma acidental e
intencional. Para essas circunstâncias, são necessárias ações no sentido de prevenir
acidentes e tornar os medicamentos mais seguros através de mudanças em seus rótulos e
embalagens.
45
Questões regulatórias com consequências sobre as intoxicações por medicamentos
na infância
Durante muito tempo, as crianças foram vistas como “pequenos adultos”, tanto do
ponto de vista psicológico quanto do ponto de vista de seu organismo. No entanto,
atualmente, entende-se que as crianças possuem características distintas dos adultos, tais
como: variação na absorção de medicamentos durante o período neonatal devido a
mudanças no pH gástrico e no tempo de esvaziamento gástrico; mudanças na composição
corporal entre neonatos, crianças e adultos, fazendo com que o medicamento se distribua
de modo distinto no organismo; imaturidade das funções renal e hepática dos neonatos,
comprometendo a eliminação dos fármacos; imaturidade das enzimas microssomais
hepáticas, fazendo com que os fármacos sejam biotransformados de forma mais lenta,
necessitando de menores doses para atingir as concentrações terapêutica e; variações
rápidas de peso durante o tratamento, necessitando de correções de dose constantes
(SOLDIN & SOLDIN, 2002).
Outras características da idade não estão relacionadas ao seu desenvolvimento
biológico mas também são importantes, tais como: sabor dos medicamentos e o tamanho
das formulações – comprimidos maiores são engolidos com mais dificuldade.
No entanto, nem sempre é possível desenvolver medicamentos que sejam
adequados à essa faixa etária. Algumas dificuldades técnicas podem impedir a formulação
do medicamento em uma apresentação líquida (insolubilidade do fármaco, acentuada
metabolização de primeira passagem), instabilidade do fármaco em apresentações
líquidas (o que gera medicamentos com prazos de validade muito curtos e inviáveis
comercialmente) ou até mesmo a impalatabilidade de algumas apresentações.
Determinar a dose adequada de cada medicamento é outro desafio, já que para
recém-nascidos utiliza-se o peso corpóreo no cálculo, enquanto a superfície corporal é
usada para o cálculo em crianças maiores. Considerações sobre medicamentos
intramusculares também são importantes já que a massa muscular das crianças é cerca de
38% menor que a dos adultos. Ainda, a superfície corporal das crianças é três vezes maior
que a dos adultos, fazendo com que as crianças tenham uma maior absorção dos
medicamentos de uso tópico (PETERLINI, CHAUD & PEDREIRA, 2003; PINTO &
BARBOSA, 2008; KIMLAND & ODLIND, 2012).
Essas dificuldades se expressam na prescrição de medicamentos intravenosos, o
que obriga uma manipulação excessiva destes medicamentos através de diluições e
rediluições, expondo as crianças a riscos ainda maiores. Peterlini, Chaud e Pedreira
(2003) avaliaram os medicamentos intravenosos prescritos para os pacientes pediátricos
46
de um hospital geral e concluíram que nenhum possuía apresentação direcionada às suas
necessidades.
As diferenças em relação aos adultos dificultam a escolha da terapia a ser usada,
já que, muitas vezes, as crianças precisam utilizar medicamentos que são registrados
somente para o uso adulto e, frequentemente, em formulações inadequadas para a sua
idade. A falta de opções terapêuticas reforça o uso de medicamentos inadequados e é uma
consequência direta do desenvolvimento insatisfatório de medicamentos específicos para
a pediatria. Essa situação faz com que as crianças sejam chamadas de “órfãos
terapêuticos” e cria um dilema para os profissionais de saúde: deve-se prescrever um
medicamento inapropriado e expor a criança a um risco desconhecido ou não prescrever
um medicamento que, embora inapropriado, pode beneficiar o paciente pediátrico? Esse
dilema vem influenciando debates éticos e jurídicos por todo o mundo.
Habitualmente, três conceitos se misturam: medicamentos ‘inapropriados’ (ou
inadequados ao uso, ou ainda com perfil de segurança inaceitável), ‘não aprovados’ (ou
não licenciados, não registrados, não aprovados pela autoridade reguladora) e ‘não
selecionados’ para utilização em serviço ou unidade de saúde. Os medicamentos
registrados para uma indicação que são utilizados para outra, são chamados de off label
ou “fora da bula; a denominação off label inclui toda prescrição de forma diferente das
demais orientações presentes na bula, como faixa etária, dose, frequência, etc.
Com o intuito de quantificar o uso off label de medicamentos em crianças,
Carvalho et al (2003) classificaram os medicamentos utilizados durante dois meses em
uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica. Apenas 40,0% dos medicamentos eram
aprovados para uso na faixa etária e 88,0% dos pacientes utilizou pelo menos um
medicamento não aprovado. Outro resultado foi que 49,5% dos medicamentos eram off
label, ou seja, medicamentos aprovados, mas que foram prescritos de modo diferente da
orientada nos compêndios de informação farmacológica para idade, dose diária, número
de doses por dia, apresentação, via de administração ou indicação para uso em crianças.
Outra tentativa de quantificar o uso de medicamentos inapropriados por crianças
em ambiente hospitalar foi realizada por Gonçalves, Caixeta e Reis (2009). A pesquisa
avaliou se houve necessidade de modificar a forma farmacêutica de algum antibiótico. A
inadequação consistia na necessidade de triturar comprimidos ou cápsulas, administração
de menos do que 1 ml das formas líquidas ou menos de 25% do volume das formas
injetáveis. Os resultados encontrados revelaram que 97,2% dos medicamentos eram
inadequados para recém-nascidos prematuros, 82,5% inadequados para recém-nascidos a
termo, 68,1% inadequados para lactentes e 35,4% inadequados para as crianças entre dois
47
e seis anos. Embora comum, a conversão de uma forma farmacêutica em outra mais
adequada nem sempre possui dados sobre a estabilidade química e biológica do
medicamento manipulado e deve ser evitada.
Os resultados encontrados por Carvalho (2003) e Gonçalves, Caixeta & Reis
(2009) indicam claramente a falta de medicamentos apropriados para esta faixa etária. O
uso de medicamentos não apropriados e não aprovados consiste em sério risco para a
população pediátrica. Mesmo que os tratamentos sejam consagrados pelo uso ou se
baseiem em pesquisas recentes, permanece a falta de informação sobre os dados
farmacocinéticos – como o medicamento é absorvido, se distribui no organismo, é
metabolizado e eliminado – e farmacodinâmicos – como o medicamento atinge seu efeito
e a relação dose-efeito – destes medicamentos em crianças. A falta destas informações
obriga a extrapolação dos dados dos adultos para as crianças, ignorando as diferenças
metabólicas destes dois grupos, e tornando as crianças ainda mais vulneráveis a erros de
medicação, por subestimar ou sobrestimar a dose adequada a ser utilizada, por exemplo.
Ferreira et al (2012) destacam que entre os pacientes que receberam o
medicamento off label, 83,3% tinham menos de dois anos. Essa relação com a idade
também foi vista entre crianças e adolescentes alemãs, onde houve associação
significativamente maior em crianças com idade até dois anos e uso off-label em relação
aos outros grupos etários (KNOPFT et al, 2013).
O problema do uso off label atinge, inclusive, as ações judiciais para fornecimento
de medicamentos pelo Estado. Paula et al (2011) avaliaram as ações envolvendo menores
de 18 anos no Estado do Paraná. A solicitação desses medicamentos esteve presente em
37,5% das ações para crianças menores de cinco anos e esta idade representou a maior
frequência de uso off label.
Coelho et al (2013) compararam a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
(RENAME) à Lista de Medicamentos Essenciais para Crianças (LMEC) criada pela
Organização Mundial de Saúde. De acordo com os autores, 31,0% dos medicamentos da
LMEC não estavam contemplados pela RENAME de modo algum; 10,7% dos
medicamentos estavam presentes na RENAME mas em formulações inadequadas para
crianças, e; 32,2% estavam incluídos na RENAME em ao menos uma formulação
pediátrica. Em apenas 26,1% dos casos, a RENAME incluía todas as formulações
pediátricas existentes na LMEC. Para este estudo, foram excluídos os medicamentos que
não faziam parte das necessidades epidemiológicas do Brasil.
Costa, Rey & Coelho (2009) elaboraram uma lista de medicamentos cuja fórmula
farmacêutica ou formulação representam problemas para crianças baseados na literatura
48
mundial e pesquisaram sua disponibilidade no Brasil. Dos 47 medicamentos encontrados,
23 não eram adequados para toda a população pediátrica e 11, especificamente para
menores de dois anos.
Para contornar este problema, os órgãos reguladores americanos – Food and Drug
Administration (FDA) – e europeu – European Medicines Agency (EMEA) – criaram
legislações específicas para “facilitar o desenvolvimento e acesso de medicamentos para
o uso em população pediátrica e garantir que tais produtos tenham sido sujeitos a
pesquisa clínica de alta qualidade e sejam apropriadamente autorizados para o uso nas
várias faixas etárias pediátricas” em 1997 e 2007, respectivamente (MAROTTI, 2008).
O FDA estabeleceu, em 1997, o Food and Drug Modernization Act, que
promoveu uma extensão da exclusividade patentária por seis meses a produtos que
tivessem formulações pediátricas nos Estados Unidos. Mais recentemente, essa regra foi
alterada passando a vigorar duas legislações: a Cláusula de Exclusividade Pediátrica e a
Regra Pediátrica.
A Cláusula de Exclusividade Pediátrica consiste em seis meses adicionais de
proteção patentária para estudos envolvendo qualquer medicamento da empresa que ainda
tenha exclusividade de mercado, portanto, neste caso, a participação da empresa é
voluntária. Já a Regra Pediátrica é uma exigência de que todos os novos medicamentos
tenham segurança e eficácia avaliados para crianças. Além disso, o FDA pode requerer
esses ensaios a qualquer empresa ou isentar a empresa de sua realização, caso seja
comprovado que o medicamento é inseguro para a idade, não pode ser formulado para
crianças ou se aplica a doenças que não ocorrem em crianças. Em 2002, entrou em vigor
o Best Pharmaceuticals for Children Act, conferindo proteção adicional de exclusividade
por seis meses e incentivos à investigação de medicamentos já sem patentes (DUARTE,
2008; NOBRE, 2013).
Na Europa, o Paediatric Regulation tomou força a partir de 2007. Esta regulação
determina que as empresas desenvolvam um Plano de Investigação Pediátrica em troca
de incentivos na obtenção da licença destes produtos. O EMEA prorroga em seis meses
a patente do medicamento se o fabricante comprovar, no pedido de autorização de
introdução do medicamento no mercado, que realizou estudos na população pediátrica,
mesmo que esses estudos não tenham demonstrado segurança e eficácia nessa população
(KNOPF et al, 2013; PINTO & BARBOSA, 2008).
Essas ações envolvendo prolongamento de patentes visam estimular as pesquisas
clínicas em crianças tornando-as mais vantajosas financeiramente para as empresas. No
entanto, existem críticas de que as empresas só escolheriam desenvolver pesquisas em
49
produtos com menor risco-benefício e alguns medicamentos continuariam sem
formulações adequadas à idade por apresentarem um risco-benefício maior.
Ao mesmo tempo, existem alternativas para estimular o desenvolvimento de
medicamentos adequados à idade pediátrica que desviam da questão patentária. Na
Inglaterra, houve a estruturação de uma rede de pesquisas sobre medicamentos para
crianças e o desenvolvimento de um formulário terapêutico especializado – British
National Formulary for Children. Já a OMS, lançou a primeira lista de medicamentos
essenciais para crianças (LMEC) em 2007 (WALLER, 2007; COSTA, REY, COELHO,
2009).
Apesar dos esforços das agências reguladoras, a pesquisa clínica em crianças
ainda está envolvida por uma série de questões éticas e econômicas, principalmente
devido a estudos envolvendo crianças, de maneira controversa. O mais polêmico é uma
pesquisa sueca realizada em 1891, onde crianças órfãs foram utilizadas por terem um
custo mais barato que os modelos ideais – bezerros. A discussão sobre o assunto passa
ainda pelo Código de Nuremberg, criado em 1947, que só permitia pesquisas envolvendo
humanos que fossem legalmente capazes de dar seu consentimento. Apenas em 1964, a
Declaração de Helsinki abriu espaço para que os responsáveis legais dessem
consentimento para a participação de menores de idade em pesquisas clínicas (KIPPER
& GOLDIM, 1999).
No Brasil, a legislação atual do Conselho Nacional de Saúde - Resolução n. 466,
de 12 de dezembro de 2012 – já estabelece que a criança pode concordar com um Termo
de Assentimento Livre e Esclarecido para participar de pesquisa clínica ou os
responsáveis legais podem concordar através de um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Embora a participação de menores de idade seja permitida, o recrutamento destas
crianças pode não ser fácil, seja pela relutância dos pais em permitir a participação dos
filhos ou pela baixa prevalência de uma condição clínica em certa idade. As pesquisas
que envolvem doenças e outras condições menos prevalentes na infância podem ser
duramente atingidas por estas dificuldades pois não há pacientes suficientes para obter
significância estatística. Ao mesmo tempo, não há sentido em investigar condições
patológicas que não ocorram nesta faixa etária. A esse panorama, ainda pode ser
acrescentada a falta de interesse econômico nas pesquisas envolvendo crianças e
adolescentes, por ser um grupo onde os estudos são mais caros e que representam uma
menor parcela da população e, portanto, um menor mercado potencial.
50
São apontados outros empecilhos como escassez de pesquisadores qualificados;
falta de interesse em desenvolver medicamentos adequados pois os médicos prescrevem
medicamentos mesmo sem pesquisas comprovando sua eficácia e segurança para a idade,
e; dificuldades no desenho do estudo e na falta de controles adequados para a mesma
idade (CARVALHO et al, 2003; CARVALHO et al, 2012).
Outro ponto de atuação das agências regulatórias tem sido as propagandas de
medicamentos. Essa intervenção tem sido defendida, já que visa proteger os cidadãos dos
riscos sanitários oriundos do consumo inadequado de medicamentos. No Brasil, a RDC
n.º 96, de 17 de dezembro de 2008 e a RDC n.º 23, de 20 de maio de 2009 – que altera a
sua redação – dispõem sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo
objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos.
Elas proíbem “a veiculação, na televisão, de propaganda ou publicidade de
medicamentos nos intervalos dos programas destinados a crianças, conforme
classificação do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como em revistas de
conteúdo dedicado a este público” e a inclusão de “mensagens, símbolos e imagens de
qualquer natureza dirigidas a crianças ou adolescentes, conforme classificação do
Estatuto da Criança e do Adolescente” na propaganda de medicamentos isentos de
prescrição. Assim, fica proibido incluir nas peças adjetivos como “gostoso”, “saboroso”
e outras sugestões de cor, odor e sabor.
Também incluem frases de advertência obrigatórias para alguns princípios ativos,
entre elas, os avisos sobre utilização do medicamento, como “Não use este medicamento
em menores de dois anos de idade”.
Apesar da existência de uma legislação que visa proteger a população dos riscos
da propaganda indiscriminada de medicamentos, ainda existem muitas críticas a respeito
das suas fragilidades. Como as propagandas de medicamentos podem induzir seu uso não
racional, alguns autores defendem que estas deveriam ser proibidas, já que se opõem ao
objetivo da Política Nacional de Medicamentos. Neste sentido, comparam os
medicamentos ao cigarro, que teve suas propagandas drasticamente reduzidas como parte
da Política Nacional de Controle do Tabaco (SOARES, 2008; BRASIL, 2001).
Também são destacadas as dificuldades em multar empresas que tenham
infringido à legislação. Como a regulação ocorre após a vinculação das peças
publicitárias, a população já teve contato com as irregularidades, mesmo que a peça seja
retirada ou modificada. Alternativas para contornar este problema seriam a autorização
prévia das campanhas publicitárias, impedindo que campanhas que não estejam de acordo
51
com a legislação atinjam o público, como ocorre, em alguma medida, na França, Reino
Unido, Austrália, Equador, México, Estados Unidos e Canadá.
Nascimento (2009) afirma que a punição das empresas consiste em multas de
valores irrisórios e que não há mecanismos que impeçam que esses valores sejam
transferidos para os preços dos medicamentos. Além disso, o autor inclui como outra
fragilidade a frase obrigatória “Ao persistirem os sintomas o médico deverá ser
consultado”, presente no final de cada propaganda, pois ela estimularia o consumo
irracional de medicamentos, ao menos em um primeiro momento. Outra questão
levantada por Nascimento é que as propagandas utilizam apenas os nomes comerciais
sem os vincularem aos fármacos, o que faz com que boa parte da população desconheça
o princípio ativo desses medicamentos.
Discussões a respeito das distribuições de amostra-grátis e da presença de
propagandistas nas unidades de saúde, inclusive as do Sistema Único de Saúde, e a
influência destas atividades na prescrição também são relevantes.
Batista & Carvalho (2013) analisaram peças publicitárias veiculadas em emissoras
de rádio de Natal (RN) em dois períodos entre 2008 e 2010. As autoras verificaram que
todas as peças infringiam à legislação em algum ponto. As infrações não são exclusivas
das propagandas de rádio. Barros e Joany (2002) analisaram propagandas de revistas
médicas e concluíram que nenhuma das peças continha todos os critérios sugeridos pela
OMS como fundamentais na informação de profissionais da saúde.
52
SISTEMAS NACIONAIS DE INFORMAÇÃO
Sistemas de informação são um conjunto de estruturas que incluem desde o
registro de dados de interesse até seu processamento e utilização em tomadas de decisão.
Esse conceito também se aplica ao campo da saúde, onde o registro de informações de
interesse permite a formulação e a avaliação de políticas, planos e programas de saúde e
subsidia a ação dos gestores. Portanto, os sistemas de informação em saúde são de grande
interesse epidemiológico e fazem parte dos sistemas de saúde (BRASIL, 2005).
No entanto, um único sistema de informação não comporta a diversidade de
registros de interesse em saúde. Por esse motivo, existem diversos sistemas de
informação, cada um com uma finalidade. No Brasil, alguns desses sistemas tiveram
origens e objetivos distintos. Alguns deles se originaram no Ministério da Saúde e outros
no Ministério da Previdência e Assistência Social. Já as suas finalidades podem ser
contábeis, administrativas, epidemiológicas, para o controle, avaliação ou planejamento.
Atualmente, alguns dos sistemas nacionais de informação em saúde são: o Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN), o Sistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM), o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), o Sistema
de Informações Hospitalares (SIH/SUS) e o Sistema de Informações Ambulatoriais do
SUS (SIA/SUS).
Em relação às intoxicações medicamentosas, três sistemas de registro se
destacam: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), o
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e o Sistema de Informações
Hospitalares (SIH/SUS). Cada um destes sistemas de registro possui uma finalidade e um
modo diferente de captação de dados. Essas diferenças se refletem no número de casos
registrados em cada sistema e são explicitadas a seguir.
Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas - SINITOX
O SINITOX foi criado em 1980 com o objetivo de compilar os registros de
envenenamentos e intoxicações de todo o país, divulgar estes dados e informar a
sociedade. Para tal, ele recebe dados oriundos de notificações recebidas por contato
telefônico do público em geral com os 35 Centros de Informação e Assistência
Toxicológica (CIAT) localizados no Distrito Federal e em 18 estados.
Atualmente, segundo o SINITOX, sete Estados não possuem CIAT – Acre,
Alagoas, Amapá, Maranhão, Rondônia, Roraima e Tocantins. Ao mesmo tempo, São
Paulo possui 11 CIAT (SINITOX, 2013). Essa distribuição irregular no território nacional
53
possibilita o subregistro das intoxicações. Bucaretchi & Baracat (2005) também chamam
a atenção para o número de subnotificações. Eles estimaram que 1,0% da população
apresenta alguma exposição tóxica anualmente, embora o total de notificações registradas
não chegue a esse valor devido também à falta de acesso aos serviços de saúde e ao
diagnóstico incorreto. Além disso, as notificações são realizadas de modo espontâneo,
conforme a procura pelos serviços dos CIAT, e não há padronização no preenchimento
das fichas de notificação por todos os CIAT, o que fragiliza este instrumento
(SANTANA, BOCHNER & GUIMARÃES, 2011). No entanto, Galvão & Pereira (2011)
destacam a falta de financiamento no SUS para os CIAT, fazendo com que alguns acabem
fechando e impossibilitando qualquer processo de uniformização dos dados para todos os
CIAT.
O SINITOX agrega os dados enviados pelos CIAT de todo o país. Portanto,
quando um centro não envia seus dados, os dados divulgados pelo SINITOX passam a
não mostrar a totalidade dos casos registrados no país. Os dados que não são
disponibilizados permanecem como subregistros, aumentando ainda mais a perda de
casos. Por fim, existe a possibilidade de o CIAT registrar um caso de menor gravidade,
orientando o paciente de modo que este não necessite procurar um serviço de saúde.
Assim, o número de notificações registradas pelo SINITOX não corresponde ao número
de internações realizadas em consequência das intoxicações.
Outra fragilidade existente consiste no modo como o agente tóxico envolvido nas
intoxicações é registrado. Considera-se que apenas um agente tóxico foi responsável pela
intoxicação. Portanto, quando ocorrem intoxicações por mais de um agente tóxico, parte
destas informações são perdidas no momento do registro. Isso pode ocorrer, por exemplo,
quando há ingestão de medicamentos e produtos domissanitários. Nestes casos, ocorrem
intoxicações distintas mas só uma será registrada, o que aumenta o subregistro destas
intoxicações.
Apesar de todas as falhas apontadas acerca do levantamento de dados através do
SINITOX, é inegável que os CIAT possuem um papel importante nos atendimentos dos
casos de intoxicação. Trabalhando em conjunto através da Rede Nacional de Centros de
Informação e Assistência Toxicológica (RENACIAT), os CIAT proporcionam
atendimento 24 horas durante todo o ano, através de contato telefônico (Disque-
Intoxicação). Deste modo, podem atender a população acerca dos primeiros socorros,
orientar os casos mais graves a procurar atendimento em unidades de saúde e informar os
profissionais de saúde acerca do tratamento adequado para cada caso. Como apenas os
casos mais graves são orientados a procurar uma unidade de saúde, há uma diminuição
54
no número de atendimentos por esta causa, deixando de sobrecarregar esses serviços. Ao
mesmo tempo, ao orientar a população rapidamente, os CIAT colaboram para que estes
casos cheguem em situações menos graves às unidades de saúde e, consequentemente, os
pacientes permanecem internados por um menor tempo e há melhores perspectivas de
evolução em seus quadros. Essas duas situações juntas ocasionam uma economia de
custos para os sistemas de saúde. Entre outros dados, Spiller & Griffith (2009) apontam
que, nos Estados Unidos, apenas a diminuição de visitas às emergências hospitalares
ocasionadas pelos atendimentos dos centros de controle de intoxicação representou uma
economia maior que 30 milhões de dólares.
Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) foi implementado
em 1993, substituindo o antigo Sistema de Notificação Compulsória de Doenças (SNCD).
As notificações consistem na comunicação às autoridades sanitárias competentes da
ocorrência de determinadas doenças para que sejam adotadas as medidas de controle e
prevenção pertinentes. Portanto, o objetivo do SINAN é coletar e processar dados sobre
agravos de notificação em todo o país a partir das unidades de saúde e ajudar a vigilância
de doenças pela União, Estados e municípios. Através do SINAN, essas informações –
fundamentais para detectar alterações no padrão epidemiológico destas doenças e eventos
de interesse à saúde pública – são coletadas de forma padronizada por todo o país
(SINAN, 2014).
Os dados do SINAN são oriundos das notificações e investigações de casos de
doenças presentes na Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória. Essa lista
é definida por Portaria do Ministério da Saúde, sendo a mais recente, a Portaria nº 1.271,
de 6 de junho de 2014. É permitido que os Estados e municípios incluam na lista outros
problemas de saúde que considerem de relevância.
São de notificação compulsória, além das intoxicações, a hanseníase, a Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), a tuberculose, a leishmaniose, entre outras
enfermidades. O SINAN registra os casos de intoxicação medicamentosa desde 2011,
quando ela passou a ser de notificação compulsória através da Portaria nº 104, de 25 de
janeiro de 2011. Por se tratar de notificação compulsória, as doenças e agravos de
interesse para o SINAN são acompanhados e é possível saber a evolução de boa parte dos
casos notificados.
Para tal, são utilizados formulários padronizados, tais como a Ficha Individual de
Notificação (FIN) e a Ficha Individual de Investigação (FII). A FIN é preenchida para
55
cada paciente suspeito de problema de saúde de notificação compulsória e também é
utilizada para a notificação negativa. A notificação negativa consiste na notificação da
não-ocorrência de doenças de notificação compulsória e indica que, mesmo na ausência
de casos, o sistema de vigilância está alerta para a sua ocorrência. Já a FII consiste no
roteiro de investigação e, portanto, é diferente para cada agravo. A partir desta ficha, serão
identificados a fonte de infecção e os modos de transmissão da doença (BRASIL, 2005).
Embora o SINAN seja utilizado para registrar notificações de inúmeras doenças e
problemas relacionados à saúde, algumas dessas notificações devem ser feitas
imediatamente às Secretarias Estaduais de Saúde. Por sua vez, estas Secretarias deverão
repassar esta informação à Secretaria de Vigilância em Saúde ou às áreas técnicas do
Ministério da Saúde, para que sejam acompanhadas. Essas doenças de notificação
imediata incluem, casos suspeitos de varíola, cólera, botulismo, difteria, raiva humana,
febre amarela, entre outros; os casos confirmados de poliomielite, sarampo e tétano
neonatal, e; os surtos, agregação de casos ou agregação de óbitos por agravos inusitados
e doenças ou febre hemorrágica de etiologia não esclarecida.
As notificações devem ser investigadas dentro de um prazo máximo de 60 dias,
exceto algumas doenças em que o acompanhamento deve ocorrer por um período maior,
como é o caso da tuberculose e da hanseníase.
Ao contrário dos demais sistemas, onde as críticas de consistência são realizadas
antes do envio dos dados ao governo, o SINAN não realiza tais críticas no primeiro
momento, devido à necessidade de ação imediata frente aos problemas de saúde
notificados. Esta crítica é feita somente após o encerramento da investigação. Após este
processo, as informações são analisadas e divulgadas (BRASIL, 2005).
Uma comparação entre os dados disponíveis no SINAN e o SINITOX, a respeito
das intoxicações medicamentosas no ano de 2011, reflete a diferença entre estes dois
sistemas, como apresentado na Tabela 2, onde se vê que as notificações registradas pelo
SINITOX são maiores que as registradas pelo SINAN. Ao mesmo tempo, os dois sistemas
possuem limitações em comum, como a possibilidade de registros de má qualidade e a
existência de subnotificações. Essas subnotificações podem ter diversas causas, entre
elas, a falta de conhecimento dos profissionais de saúde sobre a importância
epidemiológica de notificar os casos de interesse ou dos procedimentos necessários para
notificá-los, e; desinteresse na notificação devido ao tempo necessário para o
preenchimento de todos os documentos.
Esse último aspecto parece ser uma das justificativas que leva os dados do
SINITOX a serem maiores do que o SINAN, já que o SINITOX se baseia em registros
56
de busca de informação sobre as intoxicações. Nesse caso, o usuário procura as
informações necessárias para direcionar o atendimento do paciente intoxicado, sem
necessitar preencher formulários, que serão preenchidos pelos CIAT.
Ainda neste raciocínio, como a fonte de dados do SINITOX é a demanda
espontânea, podem ser registrados casos em que houve intoxicação mas não houve
atendimento em unidade de saúde. Já as notificações registradas pelo SINAN incluem
casos em que houve atendimento em alguma unidade de saúde. Portanto, essa diferença
na coleta de dados determina um maior número de notificações registradas pelo
SINITOX.
Tabela 2. Comparação entre os casos de intoxicação medicamentosa registrados pelo
SINITOX e SINAN em 2011.
Sistema de
Registro
Total de
Casos
Casos entre
menores de 1 ano
Casos entre crianças
de 1 a 4 anos
Principal
grupo etário
SINAN 25.166 496 2.741 20 a 39 anos
SINITOX 30.249 820 8.271 1 a 4 anos Fonte: SINITOX e SINAN.
Sistema de Informações Hospitalares - SIH
O SIH é um sistema gerido pelo Ministério da Saúde, através da Secretaria de
Assistência à Saúde, das Secretarias Estaduais de Saúde e das Secretarias Municipais de
Saúde. Existe desde agosto de 1981 e tem como foco a assistência, uma vez que envolve
as informações de serviços hospitalares. No primeiro momento, o sistema recebeu o nome
de Sistema de Assistência Médico-Hospitalar da Previdência Social (SAMHPS) e os
pagamentos eram feitos utilizando uma remuneração fixa por procedimentos realizados.
A partir de 1991, com a transferência do Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social (INAMPS) para o Ministério da Saúde, o SAMHPS passou a se
chamar Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS).
Após esta mudança, o SIH/SUS se consolidou através de normas, tais como a Norma
Operacional Básica (NOB) do SUS para 1992.
Todas as unidades hospitalares que participam do SUS, sejam elas públicas ou
particulares contratadas, enviam as informações das internações efetuadas através da AIH
para os gestores municipais ou estaduais. Isto significa que cerca de 70% das internações
que ocorrem no país são registradas neste sistema, variando entre estados e regiões. Estas
informações são processadas no Departamento de Informática do SUS (DATASUS),
gerando os créditos financeiros referentes aos serviços prestados (BRASIL, 2005).
57
O formulário de AIH é o instrumento que o SIH utiliza para coletar mais de 50
variáveis relativas às internações, tais como identificação do paciente, local de internação,
procedimentos, exames e atos médicos, diagnóstico, valores devidos, entre outros. A
finalidade da AIH é registrar todas as internações hospitalares financiadas pelo SUS e, a
partir deste processamento, gerar relatórios para que os gestores possam fazer os
pagamentos dos estabelecimentos de saúde. Ainda, o pagamento é feito considerando os
procedimentos realizados em cada internação.
Cada procedimento corresponde a um valor, definido por uma tabela de
procedimentos, revisada periodicamente. Portanto, este campo define os valores a serem
pagos. Infelizmente, devido à defasagem desta tabela, muitas vezes, este campo é
preenchido de forma a indicar procedimentos mais caros do que os realizados de fato,
com o objetivo de aumentar os valores que serão pagos às unidades de saúde. Esta
realidade levou o sistema a prever um relatório de críticas, ou seja, métodos de avaliação
e controle, que podem incluir auditorias do sistema.
Cada internação possui um registro único de AIH. A AIH é emitida pelos estados
e possui uma série numérica definida em portaria ministerial todos os anos. O Ministério
da Saúde envia essa numeração aos estados mensalmente, de acordo com a quantidade
mensal de internações estipulada para o estado. A quantidade anual de internações
corresponde a 9% da população residente. É necessário destacar que a AIH identifica a
internação e não o paciente. Portanto, no caso de reinternação do paciente por outra causa
ou pela mesma causa após três dias de sua alta, o número da AIH da nova internação será
diferente do da primeira. Ainda, o número da AIH não é reutilizado após a saída do
paciente e cada AIH corresponde a uma internação.
Existem dois tipos de AIH: a de identificação tipo 1 – geral para todos os pacientes
- e a de identificação tipo 5 – conhecida como longa permanência. As AIH tipo 5 possuem
o mesmo número da AIH tipo 1 que a originou, mudando apenas a sua identificação. No
caso de a internação se estender ainda mais, novas AIH tipo 5 são geradas com o mesmo
número, mudando apenas o sequencial em relação à AIH tipo 1. Existe ainda a AIH de
identificação tipo 3, conhecida como continuação, que é emitida para incluir informações
ausentes em uma AIH já enviada (SANTOS, 2009).
No SIH, os registros mensais são agrupados desde a unidade assistencial até a
Unidade Federativa, disponíveis para a população e que podem sofrer auditorias, já que
os dados são desagregados por paciente e hospital. Os arquivos podem estar em dois
formatos: o “movimento”, em que constam todos os dados, e o “reduzido”, em que não
58
aparecem as informações referentes aos serviços profissionais e não se identifica o
paciente.
O SIH é uma importante base de dados, permitindo a construção de inúmeros
indicadores, tanto epidemiológicos quanto assistenciais, financeiros e administrativos.
Outra característica positiva do SIH é a rápida velocidade na qual os dados são
disponibilizados – cerca de dois meses. Por se tratar de um modo de viabilizar o
pagamento das internações realizadas, é de interesse dos gestores que essas informações
sejam enviadas em um curto prazo, tornando o SIH rapidamente atualizado.
No entanto, há o mau preenchimento de variáveis secundárias, reduzindo a
qualidade deste banco de dados. Outros limites da AIH são a cobertura limitada à rede
hospitalar vinculada ao SUS; a não identificação de todas as reinternações e transferências
entre hospitais, podendo gerar contagens múltiplas do mesmo paciente, e; a
impossibilidade de correção dos dados enviados, mesmo após a confirmação de erros de
digitação, diagnóstico ou codificação. Além disso, como sua finalidade é o reembolso dos
serviços hospitalares prestados ao paciente, o preenchimento do campo procedimento
pode receber maior importância que o campo diagnóstico (SÁ, 2006; BRASIL, 2005).
No ano de 2004, iniciou-se um processo de descentralização deste sistema, através
da Portaria n. 821/GM. Este processo é uma tentativa de aproximar os gestores municipais
e estaduais ao SIH e, deste modo, permitir que eles utilizem as informações do sistema
para planejar suas ações (SANTOS, 2009).
Em relação à utilização dos dados do SIH/SUS na Saúde Coletiva, nos últimos
anos, houve um crescimento no seu uso – em número, abrangência, diversidade de
conteúdos e complexidade de análise. Esses trabalhos podem descrever o padrão da
morbidade-mortalidade hospitalar e da assistência médica prestada; fazer parte da
vigilância epidemiológica e validação de outros sistemas de informação em saúde; ou
avaliar o desempenho da assistência hospitalar (BITTENCOURT et al, 2006). Como
exemplos, pode-se citar o rastreamento de resultados adversos nas internações (DIAS,
MARTINS & NAVARRO, 2012), a descrição das internações por fraturas osteoporóticas
de fêmur (BORTOLON, ANDRADE & ANDRADE, 2011) e a avaliação da qualidade
da assistência ao infarto agudo do miocárdio (ESCOSTEGUY et al, 2002). Ainda, o
trabalho de Rozenfeld (2007) evidencia a possibilidade de uso do SIH para a investigação
da morbidade relacionada a medicamentos.
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OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Analisar os casos de internação hospitalar devidos às intoxicações
medicamentosas envolvendo crianças até cinco anos no período de 2003 a 2012, em todo
o país, contribuindo com propostas para minimizá-los.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Descrever o perfil das internações ocorridas no período;
Analisar as características relacionadas às internações por intoxicações
infantis;
Identificar variáveis adicionais que possam explicar o comportamento da
principal variável do estudo – intoxicações entre menores de cinco anos.
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MÉTODOS
DESENHO DA PESQUISA
Realizou-se um estudo descritivo utilizando os dados da AIH no período de 2003
a 2012, para todo o país.
POPULAÇÃO DE ESTUDO
A população do estudo foi constituída pelo universo de internações por
intoxicações medicamentosas envolvendo crianças até cinco anos de idade no Brasil no
período de estudo.
O período de 2003 a 2012 foi selecionado por se tratar dos dez últimos anos, cujos
dados referentes a todos os meses do ano já estão disponíveis para serem baixados no site
do DATASUS.
A escolha da faixa etária ocorreu por ser aquela com maior número de notificações
de intoxicação medicamentosa segundo os dados do SINITOX e também por representar
o período em que há maior dependência de pais e/ou responsáveis.
Apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente considerar “criança a pessoa até
doze anos de idade incompletos”, para fins deste estudo e de forma a bem caracterizar a
faixa etária, consideramos criança a pessoa menor de cinco anos (BRASIL, 1990).
FONTE DE DADOS
Os dados relativos às internações foram coletados por meio dos arquivos do tipo
reduzidos às AIH pagas, obtidos através do sítio do Departamento de Informática do SUS
(DATASUS – http://www.datasus.gov.br). Foram utilizados os arquivos correspondentes
aos dados de todos os estados e Distrito Federal, disponíveis para o período de estudo.
Também foi utilizada a base de dados da Organização Mundial de Saúde (OMS)
para consulta dos códigos ATC (Anatomical Therapeutic Chemical Classification) de
cada classe terapêutica. A classificação ATC é utilizada internacionalmente para
identificar fármacos e outras substâncias. Além disso, o Centro de Colaboração da OMS
em Oslo (Noruega) é responsável por incluir novas substâncias a partir das solicitações
de produtores, agências regulatórias e pesquisadores, sempre que elas atendam aos
critérios de inclusão.
Essa classificação consiste no agrupamento das substâncias em grupos,
obedecendo sua ação anatômica, suas propriedades terapêuticas e seu grupo químico.
Assim, a primeira divisão ocorre conforme o local de ação do fármaco no organismo, seja
61
ele um órgão ou sistema. Essa primeira classificação é representada por uma letra. Após,
há uma segunda divisão relacionada ao grupo terapêutico, representado por dois números.
A terceira divisão, representada por uma letra, corresponde ao grupo farmacológico. Em
seguida, há a divisão que corresponde ao grupo químico e é representada por uma letra.
E, por último, dois números determinam a substância química.
Seguindo esta classificação, o fármaco omeprazol é classificado como A02BC01,
sendo que A representa os fármacos que atuam no trato gastrointestinal e metabolismo;
02 representa os fármacos que atuam nos problemas relacionados à acidez estomacal; B
representa os fármacos que atuam nas úlceras pépticas e doença do refluxo
gastresofagiano; C representa os inibidores da bomba de prótons e 01 é o número do
omeprazol.
COLETA DE DADOS
A primeira etapa consistiu em baixar os arquivos de movimento do tipo reduzido
da AIH para os anos de 2003 a 2012 a partir do site do DATASUS.
Estes arquivos estão disponíveis para serem baixados no formato dbc, um formato
compactado. O DATASUS disponibiliza um arquivo para cada Estado e mês de
competência, seguindo a nomenclatura RDUFAAMM, onde RD significa que o arquivo
é do tipo reduzido, UF é a sigla da Unidade Federativa, AA são os dois últimos dígitos
do ano e MM é o mês.
Deste modo, foram baixados os arquivos correspondentes aos doze meses do ano
para cada um dos dez anos e para todos os 26 Estados brasileiros e Distrito Federal,
consistindo em 3.239 arquivos, pois o arquivo referente às internações que ocorreram no
Amapá no mês de outubro de 2007 não está disponível. Estes arquivos foram
descompactados para o formato dbf (database file) utilizando o software gratuito
Tabulador de Windows (TabWin 32), disponibilizado pelo DATASUS.
Em seguida, foram criados blocos de dados por Estado e ano, unindo agregando
os arquivos correspondentes aos doze meses de um mesmo ano e mesma Unidade
Federativa, utilizando o software estatístico SAS 9.3 (Statistical Analysis System). Neste
passo, portanto, foram criados 270 arquivos.
Ainda utilizando o software SAS, estes arquivos foram reunidos por ano e,
utilizando uma sintaxe de extração, foram selecionados os registros/internações que
preenchiam os dois critérios de inclusão no estudo: se tratar de criança menor de cinco
anos de idade e ter um diagnóstico primário e/ou secundário relacionado às intoxicações
medicamentosas.
62
Este último critério foi definido através das variáveis “diagnóstico principal”
(Campo: DIAG_PRINC) e “diagnóstico secundário” (Campo: DIAG_SECUN), que são
preenchidos utilizando um dos códigos da 10ª Revisão da Classificação Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10).
A CID-10 é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com o objetivo
de padronizar o modo como as doenças e problemas relacionados à saúde são codificados.
Para tanto, cada doença ou problema relacionado à saúde possui um código contendo uma
letra seguida de três números, formando sequências de quatro caracteres. Ainda segundo
este sistema de codificação, grupos de doenças ou problemas relacionados à saúde afins
são agrupados no mesmo capítulo e, portanto, seus códigos possuem a mesma letra inicial.
Por exemplo, todas as doenças do aparelho circulatório são agrupadas no capítulo IX e
seus códigos começam com a letra I, podendo variar entre I000 e I999. O quarto dígito,
no entanto, representa uma subcategoria, podendo ser omitido, e é precedido por um
ponto.
Deste modo, o critério era atendido quando, pelo menos, uma das variáveis de
diagnóstico apresentasse um dos códigos da CID-10 relacionados aos casos de
intoxicação medicamentosa, conforme os relacionados no Anexo I.
Os códigos X42, X62 e Y121 foram suprimidos a fim de evitar a seleção de
códigos da CID-10 que não permitissem diferenciar os agravos associados ao uso de
medicamentos daqueles associados ao uso de drogas lícitas e ilícitas, conforme
metodologia também utilizada por Lessa & Bochner (2008).
Como os códigos da CID-10 podem ter seu quarto caractere omitido, os campos
“diagnóstico principal” e “diagnóstico secundário” permitem o registro de códigos com
apenas três caracteres. Assim sendo, a sintaxe de extração utilizada incluiu os
diagnósticos de interesse expressos no formato de três caracteres e quatro caracteres.
A sintaxe utilizada também incluiu a geração de um relatório ao final da extração
dos dados de cada ano. Esse relatório fornecia o número total de internações no ano em
questão e o número de internações em menores de um ano e em crianças entre um e quatro
anos. Esses valores foram comparados aos disponibilizados no sítio do DATASUS como
1 Segundo a CID-10, X42 é envenenamento (intoxicação) acidental por e exposição a narcóticos
e psicodislépticos (alucinógenos) não classificados em outra parte; X62 é autointoxicação por
exposição, intencional, a narcóticos e psicodislépticos (alucinógenos) não classificados em outra
parte, e; Y12 é envenenamento (intoxicação) por e exposição a narcóticos e a psicodislépticos
(alucinógenos) não classificados em outra parte, intenção não determinada. Estas definições
incluem medicamentos como morfina, codeína e metadona e drogas ilícitas como cocaína,
maconha e lisergida (LSD).
63
modo de validação da sintaxe. A partir da extração destes dados, foram criados dez
arquivos contendo apenas os casos de interesse – um para cada ano.
Utilizando agora o software estatístico SPSS 20 (Statistical Package for the Social
Sciences), esses dez arquivos foram reunidos em um arquivo único, gerando a base de
dados que foi utilizada neste estudo. No entanto, durante o período de estudo, ocorreram
algumas mudanças no preenchimento da AIH.
Alterações nos códigos de preenchimento de algumas variáveis fizeram
necessárias algumas correções para que os dados se tornassem uniformes para todo o
período. No período, também houve criação e exclusão de variáveis, fazendo com que
algumas informações não estivessem disponíveis para toda a década em estudo.
VARIÁVEIS DE ESTUDO
O banco de dados criado para o estudo incorporou as variáveis oriundas do
preenchimento das AIH e presentes nos arquivos do tipo reduzido assim como variáveis
secundárias, ou seja, criadas a partir do banco de dados inicial. As variáveis originais da
AIH utilizadas estão descritas a seguir. Seus respectivos nomes no banco de dados, as
definições das categorias e tipo de análise realizada estão explicitadas no Quadro 1.
- Ano de Competência
Informa o ano em que a AIH foi processada. Geralmente, corresponde ao ano em
que ocorreu a alta do paciente, exceto nos casos de internação de longa permanência (onde
não há alta) ou nos casos de óbito do paciente. Nos casos onde ocorre o reenvio de uma
AIH rejeitada ou trata-se de AIH apresentadas com atraso, o ano de competência não é
obrigatoriamente o ano em que ocorreu a internação.
Salvo os casos mencionados, o ano de competência é o ano de internação. Assim,
é uma variável importante pois serve como referência para mudanças no perfil de
internações durante o período de estudo.
- Sexo
Informa o gênero do paciente (feminino ou masculino) ou se este é ignorado. A
variável sexo permite identificar se as diferenças no comportamento das crianças dos dois
sexos podem originar perfis distintos de internação por intoxicação medicamentosa.
64
- Idade e código de idade
A variável “idade” informa em números a idade do paciente enquanto a variável
“código de idade” informa se o número presente na variável “idade” representa a idade
em dias, meses ou anos do paciente. Estas variáveis, além de servir como critério de
inclusão dos casos, também permitem diferenciar as faixas etárias incluídas no estudo.
- Município de residência
Informa o município de residência do paciente conforme o Código de Municípios
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
- Município de internação.
Informa o município onde se localiza o estabelecimento de saúde onde ocorreu a
internação conforme o Código de Municípios do IBGE.
As variáveis “Município de residência” e “Município de internação” permitem
inferir se houve deslocamento do paciente para a internação. Através destas duas variáveis
também é possível gerar as variáveis “Unidade Federativa de residência”, “Unidade
Federativa de internação” e “Região de residência”, que possibilitam conhecer a
distribuição geográfica das internações por intoxicações medicamentosas.
- Tempo de Permanência
A variável já fornece o tempo de permanência do paciente em dias, através do
cálculo da diferença entre a data de internação e data de saída do paciente (por alta, óbito
ou outros motivos). Com esta variável, é possível inferir a gravidade dos pacientes que
necessitaram a internação. Para tal, acredita-se que quanto maior o tempo de permanência
durante a internação, pior é o estado de saúde do paciente.
- Evolução do paciente
Informa se houve óbito do paciente durante o tempo de internação. A partir desta
informação, pode-se inferir a mortalidade dos casos de intoxicação medicamentosa.
- Diagnóstico Principal
Define o motivo principal da internação do paciente conforme a 10ª Revisão da
Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10).
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- Diagnóstico Secundário
Define o motivo secundário da internação do paciente conforme a 10ª Revisão da
Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10).
As variáveis “Diagnóstico Principal” e “Diagnóstico Secundário”, além de servir
como critério de seleção dos casos, também permitem diferenciar as classes terapêuticas
envolvidas em cada caso de intoxicação que gerou a internação.
- Natureza do estabelecimento de saúde
Informa a natureza jurídica do estabelecimento de saúde, conforme os códigos
presentes no Quadro 1 para a variável “NATUREZA” da AIH. Assim, possibilita saber
se há relação entre os casos de internações por intoxicação medicamentosa e a natureza
jurídica dos estabelecimentos.
A partir de junho de 2012, foi criada uma nova variável (NAT_JUR) que
substituiu a variável NATUREZA na AIH. Aquela nova variável é preenchida através de
códigos definidos pela Resolução CONCLA (Comissão Nacional de Classificação) n. 2,
de 21 de dezembro de 2011. No entanto, em todas as internações do banco de dados que
ocorreram após esta data, as duas variáveis foram preenchidas. Verificou-se que não havia
discordância entre as informações das duas variáveis e optou-se por utilizar a variável
NATUREZA a fim de manter a comparação com todo o período estudado.
- Número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do estabelecimento de
saúde
Identifica a unidade de saúde através do número do Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica (CNPJ). O CNPJ substituiu o CGC – Cadastro Geral de Contribuintes –, no
entanto, a variável não teve seu nome modificado, constando no banco de dados como
CGC_HOSP. O CNPJ é um número único que identifica as pessoas jurídicas de todo o
país perante a Receita Federal. Foi utilizado para identificar a natureza jurídica de
algumas unidades de saúde.
- Número do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES
O CNES é uma base de dados do DATASUS que inclui os estabelecimentos de
saúde permitindo monitorar e gerenciar a rede assistencial existente no país. Ele
disponibiliza informações sobre a infraestrutura e leitos destes estabelecimentos. No
entanto, o sistema CNES foi implantado a partir de agosto de 2003. Assim, as internações
66
que ocorreram antes desta data não possuem essa informação discriminada. A variável
foi utilizada para identificar a natureza jurídica de algumas unidades de saúde.
- Valor referente aos gastos da UTI
Informa apenas o valor gasto em UTI durante a internação. Esta variável foi
utilizada para identificar a utilização destes leitos durante as internações.
A partir destas variáveis primárias, foram criadas outras variáveis a fim de
permitir a análise dos dados. As definições das variáveis secundárias se encontram a
seguir. As variáveis criadas e aquelas envolvidas em sua definição estão explicitadas no
Quadro 3.
- Idade:
Como o banco consiste em registros de internações que ocorreram em menores de
cinco anos, a faixa etária envolvida é muito ampla, incluindo indivíduos em diferentes
momentos de desenvolvimento. Portanto, houve a necessidade de dividir a idade em sete
categorias, como uma tentativa de diminuir esse viés. Os grupos foram: 0 dia; 1 a 28 dias,
29 a 364 dias; 1 ano; 2 anos; 3 anos, e; 4 anos.
- Região de residência:
A variável região de residência agrupa os estados e o Distrito Federal conforme a
divisão das macrorregiões do país determinada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. Esta variável permite observar as semelhanças e diferenças de comportamento
entre as cinco regiões do país.
- Natureza jurídica do estabelecimento de saúde:
Esta variável agrupa os códigos preenchidos na variável “Natureza do
estabelecimento de saúde” em estabelecimentos de saúde de natureza pública, privada e
conveniada, conforme Quadro 3.
Com a criação do CNES, a partir de agosto de 2003, alguns códigos foram
eliminados, entre eles, os que diziam respeito aos estabelecimentos de natureza
universitária. No caso destes estabelecimentos, eles foram realocados em outros códigos
(natureza privada ou pública). Ao mesmo tempo, em quatro internações, os códigos
preenchidos para a variável “natureza do estabelecimento de saúde” não faziam parte do
67
rol de possibilidades de preenchimento. Esses dois grupos de internações foram as
internações-problema.
Assim, houve a necessidade de uniformizar os dados para o período e reclassificar
estas internações-problema. Para tal, foi realizada uma busca pelo CNPJ do
estabelecimento de saúde no banco de dados e assumiu-se o código da variável “natureza
do estabelecimento de saúde” presentes em outras internações ocorridas no mesmo
estabelecimento.
Para os casos onde a internação-problema foi a única a constar no banco de dados
para aquele estabelecimento de saúde, foi realizada uma busca na internet pelo número
do CNPJ e/ou CNES do estabelecimento de saúde constante na AIH com o objetivo de
definir a natureza jurídica de cada estabelecimento. Infelizmente, para a maioria dos
casos, o número do CNES não foi uma variável possível para detalhar a busca. Como ele
só começou a ser implementado em agosto de 2003, sendo posterior a grande parte das
internações abarcadas por esta busca, na maioria das AIH essa variável é inexistente.
- Unidade Federativa de residência:
Informa a Unidade Federativa de residência do paciente. É obtida através do
primeiro e segundo dígitos do município de residência do paciente, de acordo com o
código do IBGE.
- Unidade Federativa de internação:
Informa a Unidade Federativa onde se situa a unidade de saúde onde o paciente
foi internado. É obtida através do primeiro e segundo dígitos do município de internação
do paciente, de acordo com o código do IBGE.
As variáveis “Unidade Federativa de residência” e “Unidade Federativa de
internação” necessitaram ser criadas pois a variável presente na AIH é a “Unidade
Federativa – ZI” (UF_ZI). O campo UF_ZI possui duas limitações para o seu uso: a
primeira é que, neste campo, alguns hospitais estão vinculados a códigos que não
correspondem aos códigos das Unidades Federativas em que se localizam. Isto ocorre
devido ao modo como as AIH são pagas, e; a segunda limitação é que, a partir de abril de
2006, o campo UF_ZI passou a apresentar também o código do estado ou município
gestor, possibilitando seu preenchimento com inúmeros códigos e dificultando a
padronização dos dados.
As definições das variáveis “Unidade Federativa de residência” e “Unidade
Federativa de internação” seguem a mesma codificação e se encontram no Quadro 4.
68
Quadro 1. Lista de variáveis oriundas da AIH selecionadas no estudo.
Variável
Nome da
variável no
banco de dados
Categorias de preenchimento
Ano de competência ANO_CMPT 2003 a 2012
Sexo SEXO
1: masculino
3: feminino
0: ignorado
Idade COD_IDADE
IDADE
0 a 29 dias
1 a 11 meses
1 a 4 anos
Município de
residência MUNIC_RES -
Município de
internação MUNIC_MOV -
Tempo de internação DIAS_PERM -
Evolução do paciente MORTE 0: NÃO
1: SIM
Diagnóstico Principal DIAG_PRINC Conforme anexo I
Diagnóstico
Secundário DIAG_SECUN Conforme anexo I
Natureza do
estabelecimento de
saúde
NATUREZA
20: Privado com fins lucrativos
22: Privado optante pelo SIMPLES
30: Público federal
31: Público federal com verba própria
40: Público estadual
41: Público estadual com orçamento próprio
50: Público municipal
60: Privado sem fins lucrativos
61: Filantrópico com CNAS1 válido
63: Filantrópico isento de Imposto de Renda
80: Sindicato
70: Universitário
90: Universitário com pesquisa
91: Universitário com pesquisa e isento do
Imposto de Renda
Número do Cadastro
Nacional de Pessoa
Jurídica (CNPJ) do
estabelecimento de
saúde
CNPJ -
Número do Cadastro
Nacional de
Estabelecimentos de
Saúde – CNES
CNES -
Valor referente aos
gastos da UTI VAL_UTI -
1 Registro no Conselho Nacional de Assistência Social.
69
- UTI:
A utilização de UTI era registrada através da variável MARCA_UTI até abril de
2006, quando esta variável deixou de ser utilizada. Para substituir esta variável, foi
considerada a variável “Total de dias de UTI durante a internação” (“UTI_MES_TO”).
No entanto, ela não se mostrou adequada pois houve casos de uso de UTI com tempo de
permanência em UTI igual a zero dia. Assim, não era possível distinguir estes casos
daqueles em que não houve uso de UTI e, portanto, o tempo de permanência nesse leito
também era zero dia.
Para superar essa dificuldade, foi criada uma nova variável, chamada de “UTI”, a
partir da variável “valor referente aos gastos da UTI” (“VALOR_UTI”). Assim,
“VALOR_UTI” maior que zero sinaliza que houve uso de UTI e “VALOR_UTI” igual a
zero representa que a UTI não foi utilizada na internação.
- Classe terapêutica:
A categorização das classes terapêuticas foi criada a partir dos dados de
diagnóstico principal (“DIAG_PRINC”) e/ou diagnóstico secundário
(“DIAG_SECUN”). Esta variável indica a classe terapêutica que gerou a intoxicação e
informa se a classe foi responsável por um ou dois diagnósticos de intoxicações na mesma
internação. Suas definições se encontram no Quadro 5.
- Trajetória da internação:
A variável avalia se o “município de residência” (“MUNIC_RES”) é igual ou
diferente do “munícipio de movimentação” (“MUNIC_MOV”), ou seja, se o paciente
morava no mesmo município onde ocorreu a internação. A necessidade de deslocamento
do paciente demonstra que existe uma demanda local por atendimento hospitalar e ao
mesmo tempo não há leitos disponíveis neste local. Por se tratar de crianças, quanto maior
o deslocamento para que haja internação, maior o gasto indireto com dias perdidos de
trabalho de responsáveis, gastos com transporte e etc.
- Número de intoxicações por internação
A presença de dois campos de diagnóstico gerou três situações possíveis no
momento da inclusão das internações:
70
Quadro 2. Situações criadas pelo critério de inclusão “diagnóstico de internação por
intoxicação medicamentosa”.
Situações Diagnóstico Principal Diagnóstico Secundário
Situação 1 Relacionado à intoxicação
medicamentosa
Não relacionado à intoxicação
medicamentosa ou ausente1
Situação 2 Não relacionado à
intoxicação medicamentosa
Relacionado à intoxicação
medicamentosa
Situação 3 Relacionado à intoxicação
medicamentosa
Relacionado à intoxicação
medicamentosa 1 Quando não houve preenchimento desta variável.
Estas situações criaram dois panoramas: as situações 1 e 2 envolvem internações
onde só houve o registro de uma intoxicação medicamentosa na internação e a situação
3, onde ocorreram dois diagnósticos de intoxicação medicamentosa em cada internação.
A variável intoxicação é definida pelos dois panoramas possíveis, se referindo ao
número de intoxicações por medicamentos que ocorreu em cada internação. Assim, as
internações que se enquadram na situação 3 passam a contar como dois casos de
intoxicação.
71
Quadro 3. Lista de variáveis criadas para o estudo.
Variável Criada Variáveis envolvidas
na sua definição Categorias
Idade IDADE e
COD_IDADE
0 dia;
1 a 28 dias;
29 a 364 dias;
1 ano;
2 anos;
3 anos;
4 anos.
Região UF_RES
Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-Oeste
Natureza NATUREZA
Privado:
20: Privado com fins lucrativos
22: Privado optante pelo SIMPLES
Público:
30: Público federal
31: Público federal com verba
própria
40: Público estadual
41: Público estadual com
orçamento próprio
50: Público municipal
Conveniado:
60: Privado sem fins lucrativos
61: Filantrópico com CNAS1válido
63: Filantrópico isento de Imposto
de Renda
80: Sindicato
Unidade Federativa de residência MUNICIPIO_RES Conforme Quadro 4
Unidade Federativa de
internação MUNICIPIO_MOV Conforme Quadro 4
UTI VALOR_UTI Sim
Não
Classe terapêutica DIAG_PRINC
DIAG_SECUN Conforme Quadro 5
Trajetória da internação MUNICIPIO_RES
MUNICIPIO_MOV
Mesmo município
Município diferente
Número de intoxicações por
internação
DIAG_PRINC
DIAG_SECUN
Uma intoxicação na internação
Duas intoxicações na internação
1 Registro no Conselho Nacional de Assistência Social
72
Quadro 4. Classificação das Unidades Federativas de acordo com os códigos da AIH.
Unidade Federativa Código
Acre 12
Alagoas 27
Amapá 16
Amazonas 13
Bahia 29
Ceará 23
Distrito Federal 53
Espírito Santo 32
Goiás 52
Maranhão 21
Mato Grosso 51
Mato Grosso do Sul 50
Minas Gerais 31
Pará 15
Paraíba 25
Paraná 41
Pernambuco 26
Piauí 22
Rio de Janeiro 33
Rio de Grande do Norte 24
Rio Grande do Sul 43
Rondônia 11
Roraima 14
Santa Catarina 42
São Paulo 35
Sergipe 28
Tocantins 17
73
Quadro 5. Classificação das classes terapêuticas de acordo com os códigos da CID-
10.
Classe terapêutica Classificação da CID-10
Agentes de diagnóstico T50.8
Analépticos e antagonistas dos receptores dos opiáceos T50.7
Analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos T39, X40, X60, Y10
Anestésicos e gases terapêuticos T41
Antibióticos sistêmicos T36
Antídotos e quelantes, não classificados em outra parte. T50.6
Antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos F13.0, T42, X41, X61, Y11
Diuréticos T50.0 a T50.2
Enzimas, não classificadas em outra parte T45.3
Fármacos antialérgicos e antieméticos T45.0
Fármacos antineoplásicos e imunossupressores T45.1
Fármacos estimulantes F15.0
Fármacos psicotrópicos T43
Fármacos que afetam o Sistema Nervoso Autônomo T44, X43, X63, Y13
Fármacos que agem sobre o metabolismo do ácido úrico T50.4
Fármacos que atuam sobre o aparelho circulatório T46
Fármacos que atuam sobre os músculos lisos e esqueléticos
e sobre aparelho respiratório
T48
Fármacos que atuam no sangue e na coagulação T45.4 a T45.8
Hormônios, seus substitutos sintéticos e seus antagonistas T38
Inibidores do apetite T50.5
Múltiplos fármacos e fármacos psicoativos F19.0
Narcóticos F11.0, T40.2, T40.3, T40.4, X42
Outros fármacos e os não especificados T45.9, T50.9, X44, X64, Y14
X85, P93, F55
Fármacos que agem sobre o equilíbrio eletrolítico, calórico
e hídrico
T50.3
Fármacos anti-infecciosos e antiparasitários T37
Fármacos de ação no trato gastrointestinal T47
Fármacos de uso tópico T49
Vitaminas T45.2
Fonte: Adaptação da 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde (CID-10).
74
ANÁLISE DOS DADOS
A primeira análise realizada foi a verificação da existência de AIH de longa
permanência dentre aqueles registros que preencheram os dois critérios de inclusão. Para
tal, foram pesquisados registros duplicados utilizando a variável “número da AIH” como
referência. Optou-se pela exclusão dos registros iniciais, permanecendo no banco os
registros de longa permanência.
Os dados foram analisados por Unidade Federativa, macrorregiões do país e Brasil
para todo o período e realizou-se uma análise descritiva dos dados com a construção de
tabelas e gráficos.
Para as variáveis qualitativas, calcularam-se as frequências absoluta e relativa –
em percentual (%) –, enquanto para as variáveis quantitativas, foram calculadas medidas
de tendência central – média e mediana.
No final do estudo, foi realizada uma categorização das classes terapêuticas em
seus respectivos códigos ATC, sempre que possível. Como a CID-10 é uma classificação
de doenças, a identificação do medicamento envolvido na intoxicação não é seu foco
principal. Assim, muitos códigos da CID-10 incluem uma gama considerável de
fármacos, impossibilitando sua comparação com outros estudos de utilização de
medicamentos. Portanto, o objetivo da conversão dos diagnósticos codificados segundo
a CID-10 para o código ATC correspondente ao fármaco envolvido na intoxicação
representa uma tentativa de avaliar a correspondência entre as duas classificações e
apontar as dificuldades encontradas. Ainda, classificar pela ATC permite, para aqueles
grupos identificados, uma possibilidade de comparação com outros estudos.
ASPECTOS ÉTICOS
Este estudo envolveu apenas bases de dados de domínio público que não
identificam os participantes da pesquisa, sem envolvimento de seres humanos. Mesmo
assim, o projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde
Pública Sérgio Arouca (CEP/ENSP) e aprovado sob Parecer de número 01/2014.
75
RESULTADOS
O desenvolvimento de um arsenal terapêutico capaz de combater inúmeras
enfermidades e problemas relacionados à saúde possibilitou melhorar as condições de
vida das pessoas e tem papel crucial no aumento da expectativa de vida da população
mundial. No entanto, apesar de todos os benefícios que os medicamentos proporcionam,
seu uso também pode representar riscos, entre eles o de intoxicação. As intoxicações por
medicamentos podem acontecer em qualquer momento da vida de um indivíduo. Todavia,
as crianças entre um e quatro anos constituem o grupo etário com maior número de
notificações por esta causa no Brasil.
As notificações de intoxicação por medicamentos incluem casos de gravidades
distintas e, muitas vezes, a situação e a evolução do paciente não estão claras no registro.
Como, os casos mais graves necessitam de internação hospitalar, os registros a respeito
destas internações são uma fonte valiosa de informação. A fim de obter dados sobre os
casos de intoxicação medicamentosa que necessitaram de internação hospitalar dentre os
menores de cinco anos de idade foi realizada uma análise dos arquivos de tipo reduzido
das AIH.
Segundo esses arquivos, entre os anos de 2003 e 2012, ocorreram 116.797.800
internações através do SUS, distribuídas conforme a Tabela 3.
Tabela 3. Distribuição percentual de internações por ano, Brasil (SUS), 2003-12.
Ano Internações Percentual (%)
2003 12.094.875 10,4
2004 11.953.856 10,2
2005 11.861.494 10,2
2006 11.721.412 10,0
2007 11.739.258 10,1
2008 11.107.155 9,5
2009 11.511.559 9,9
2010 11.724.834 10,0
2011 11.643.468 10,0
2012 11.439.889 9,8
Total 116.797.800 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Entre o total de internações, 215.957 tiveram como diagnóstico uma ou duas
intoxicações medicamentosas, representando 0,2% do total de internações do país, e cuja
distribuição está na Tabela 4.
76
Tabela 4. Distribuição percentual de internações devido às intoxicações
medicamentosas por ano, Brasil (SUS), 2003-12.
Ano Diagnóstico Principal Diagnóstico Secundário Ambos Total Percentual (%)
2003 9.795 3.252 5.512 18.559 8,6
2004 10.010 2.981 5.216 18.207 8,4
2005 10.578 3.192 5.158 18.928 8,8
2006 11.095 3.587 4.891 19.573 9,1
2007 12.918 3.846 5.059 21.823 10,1
2008 19.837 3.797 3.636 27.270 12,6
2009 17.864 3.702 3.769 25.335 11,7
2010 15.331 3.323 3.720 22.374 10,4
2011 15.566 2.752 3.634 21.952 10,2
2012 15.588 2.839 3.509 21.936 10,2
Total 138.582 33.271 44.104 215.957 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Intoxicações em menores de cinco anos
No mesmo período, ocorreram 13.536.090 internações em menores de cinco anos,
o que representa 11,6% do total de internações. A distribuição destas internações no
período está na Tabela 5.
Durante o período de estudo, foram registradas 17.725 internações devido às
intoxicações medicamentosas em menores de cinco anos (Tabela 6). Assim, esta faixa
etária representa 8,2% das internações por esta causa. Ao mesmo tempo, as internações
por intoxicações medicamentosas representam 0,13% das internações que ocorreram
nesta faixa etária.
Dentre estas 17.725 internações, apenas duas foram registradas através de AIH de
longa permanência. Como explicitado na metodologia, foi feita uma busca no banco de
dados para evitar a duplicidade de registros da mesma internação. Portanto, o total de
internações apresentado não apresenta este viés, pois as duas internações em duplicidade
foram excluídas em uma etapa anterior.
77
Tabela 5. Distribuição percentual de internações em menores de cinco anos por ano,
Brasil (SUS), 2003-12.
Ano Menores de 1 ano 1 a 4 anos Total Percentual (%)
2003 696.828 900.081 1.596.909 11,8
2004 667.442 844.530 1.511.972 11,2
2005 651.425 815.464 1.466.889 10,8
2006 627.201 800.989 1.428.190 10,6
2007 605.457 755.736 1.361.193 10,1
2008 560.581 701.398 1.261.979 9,3
2009 581.909 696.236 1.278.145 9,4
2010 569.207 710.236 1.279.443 9,4
2011 562.308 629.333 1.191.641 8,8
2012 560.273 599.456 1.159.729 8,6
Total 6.082.631 7.453.459 13.536.090 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Tabela 6. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas
em menores de cinco anos por ano de competência, Brasil (SUS), 2003-12.
Ano de competência Frequência Percentual (%)
2003 2.134 12,0
2004 1.944 11,0
2005 1.833 10,3
2006 1.713 9,7
2007 1.721 9,7
2008 1.912 10,8
2009 1.810 10,2
2010 1.608 9,1
2011 1.482 8,4
2012 1.568 8,8
Total 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Tabela 7 compara a proporção de menores de cinco anos envolvidos em
internações por intoxicação medicamentosa e a proporção de menores de cinco anos na
população brasileira no período de estudo. Percebe-se que houve uma queda na proporção
de casos de internações envolvendo esta faixa etária, o que também ocorreu na população
brasileira.
78
Tabela 7. Proporção de menores de cinco anos nas internações por intoxicações
medicamentosas, Brasil (SUS), 2003-12.
Ano
Internação por
intoxicação em
menores cinco
anos
Total de
internações
por
intoxicação
Proporção de
menores de cinco
anos nas internações
por intoxicação
Proporção
menores de cinco
anos na população
2003 2.134 18.559 11,5 9,2
2004 1.944 18.207 10,7 9,0
2005 1.833 18.928 9,7 8,9
2006 1.713 19.573 8,8 8,9
2007 1.721 21.823 7,9 8,7
2008 1.912 27.270 7,0 8,5
2009 1.810 25.335 7,1 8,2
2010 1.608 22.374 7,2 7,2
2011 1.482 21.952 6,8 7,2
2012 1.568 21.936 7,1 7,2
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Tabela 8 mostra a relação entre os menores de cinco internados por intoxicação
medicamentosa e a população menor de cinco anos durante o período de estudo. Esta
relação se modificou pouco na década estudada – de 0,013% para 0,011%.
Tabela 8. Proporção de menores de cinco anos da população que foram internados
por intoxicação medicamentosa, Brasil (SUS), 2003-12.
Ano
População
menor de cinco
anos
Menores de cinco anos
internados por
intoxicação
medicamentosa
Relação
internação /
população
2003 16.348.740 2.134 0,013%
2004 16.321.667 1.944 0,012%
2005 16.306.766 1.833 0,011%
2006 16.672.948 1.713 0,010%
2007 16.541.772 1.721 0,010%
2008 16.042.338 1.912 0,012%
2009 15.687.927 1.810 0,012%
2010 13.796.159 1.608 0,012%
2011 13.920.793 1.482 0,011%
2012 14.044.593 1.568 0,011%
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Entre os menores de cinco anos, o grupo etário com maior número de internações
foi o de dois anos, conforme os dados da Tabela 9.
79
Tabela 9. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas
em menores de cinco anos segundo idade dos pacientes, Brasil (SUS), 2003-12.
Idade Frequência Percentual (%)
0 dia 313 1,8
1 a 28 dias 395 2,2
29 a 364 dias 2.270 12,8
1 ano 3.665 20,7
2 anos 4.302 24,3
3 anos 3.891 22,0
4 anos 2.889 16,3
Total 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A maioria das crianças internadas no período foi do sexo masculino conforme
pode ser visto na Tabela 10.
Tabela 10. Distribuição percentual de sexo dos pacientes entre as internações
segundo intoxicações medicamentosas em menores de cinco anos, Brasil (SUS),
2003-12.
Sexo Frequência Percentual (%)
Masculino 9.384 52,9
Feminino 8.341 47,1
Total 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
As internações por intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos ainda
podem ser analisadas segundo o local de residência do paciente ou pelo seu local de
internação. Segundo o local de residência, 25,2% das crianças residia no Estado de São
Paulo (Tabela 11) e a região Sudeste concentrou a grande maioria das internações (Tabela
12).
80
Tabela 11. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas
em menores de cinco anos segundo Unidade Federativa (UF) de residência do
paciente e Unidade Federativa (UF) de internação do paciente, Brasil (SUS), 2003-
12.
Unidade Federativa Residência Internação
n % n %
Rondônia 151 0,9 153 0,9
Acre 45 0,3 44 0,2
Amazonas 149 0,8 147 0,8
Roraima 18 0,1 18 0,1
Pará 340 1,9 334 1,9
Amapá 16 0,1 17 0,1
Tocantins 116 0,7 119 0,7
Maranhão 171 1,0 154 0,9
Piauí 283 1,6 300 1,7
Ceará 452 2,5 452 2,5
Rio Grande do Norte 119 0,7 119 0,7
Paraíba 739 4,2 736 4,2
Pernambuco 525 3,0 532 3,0
Alagoas 226 1,3 225 1,3
Sergipe 85 0,5 86 0,5
Bahia 1.126 6,4 1.116 6,3
Minas Gerais 2.396 13,5 2.381 13,4
Espírito Santo 364 2,1 363 2,0
Rio de Janeiro 1.055 6,0 1.059 6,0
São Paulo 4.468 25,2 4.477 25,3
Paraná 980 5,5 980 5,5
Santa Catarina 602 3,4 604 3,4
Rio Grande do Sul 1.504 8,5 1.504 8,5
Mato Grosso do Sul 337 1,9 335 1,9
Mato Grosso 157 0,9 158 0,9
Goiás 862 4,9 779 4,4
Distrito Federal 439 2,5 533 3,0
Brasil 17.725 100,0 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
81
Tabela 12. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas
em menores de cinco anos segundo região de residência do paciente, Brasil (SUS),
2003-12.
Região de
residência
Frequência Percentual (%)
Norte 835 4,7
Nordeste 3.726 21,0
Sudeste 8.283 46,7
Sul 3.086 17,4
Centro-Oeste 1.795 10,1
Brasil 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Em cerca de 25% das internações, o paciente necessitou se deslocar para que
ocorresse a internação já que se internou em unidade de saúde localizada em município
distinto do seu município de residência (Tabela 13).
Tabela 13. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas
em menores de cinco anos segundo trajetória da internação, Brasil (SUS), 2003-12.
Trajetória da internação Frequência Percentual (%)
Mesmo município 13.233 74,7
Município diferente 4.492 25,3
Total 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
No total de internações do período, 7,3% necessitaram utilizar leitos de Unidade
de Terapia Intensiva (UTI), demonstrando maior gravidade dos casos (Tabela 14).
Tabela 14. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas
em menores de cinco anos segundo utilização de Unidade de Terapia Intensiva
(UTI), Brasil (SUS), 2003-12.
Utilização de UTI Frequência Percentual (%)
Sim 1.291 7,3
Não 16.434 92,7
Total 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Em relação à natureza jurídica dos estabelecimentos de saúde onde houve
internação de pacientes menores de cinco anos devido às intoxicações medicamentosas,
82
os estabelecimentos públicos e conveniados foram responsáveis pela grande maioria das
internações (Tabela 15).
Tabela 15. Distribuição percentual de internações por intoxicações medicamentosas
em menores de cinco anos segundo natureza jurídica da unidade de saúde onde
ocorreu a internação, Brasil (SUS), 2003-12.
Natureza Jurídica Frequência Percentual (%)
Privado 2.486 14,0
Público 8.206 46,3
Conveniado 7.033 39,7
Total 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Tabela 16 mostra que a evolução do paciente internado por intoxicação
medicamentosa foi o óbito em 75 internações, o que representa 0,4% das internações do
período.
Tabela 16. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
entre menores de cinco anos segundo evolução do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Evolução Frequência Percentual (%)
Não óbito 17.650 99,6
Óbito 75 0,4
Total 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A distribuição de internações por natureza jurídica do estabelecimento de saúde e
idade do paciente está na Tabela 17. A maior parte das internações envolvendo crianças
menores de 28 dias ocorreu em estabelecimentos conveniados ao SUS. No entanto, as
internações de crianças a partir dos 29 dias de idade ocorreram em maior número nos
estabelecimentos públicos. A faixa etária de dois anos foi a responsável pelo maior
número de internações nos estabelecimentos de todas as naturezas envolvidas. A partir
desta idade, o número de internações também diminuiu em todos os tipos de unidades de
saúde considerados.
83
Tabela 17. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
entre menores de cinco anos segundo natureza jurídica do estabelecimento de saúde
onde ocorreu internação e idade do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Idade
Natureza Jurídica Total
Privado Público Conveniado
n % n % n % n %
0 dia 34 10,9 136 43,5 143 45,7 313 100,0
1 a 28 dias 35 8,9 77 19,5 283 71,6 395 100,0
29 a 364 dias 397 17,5 963 42,4 910 40,1 2.270 100,0
1 ano 535 14,6 1.779 48,5 1.351 36,9 3.665 100,0
2 anos 568 13,2 2.009 46,7 1.725 40,1 4.302 100,0
3 anos 506 13,0 1.870 48,1 1.515 38,9 3.891 100,0
4 anos 411 14,2 1.372 47,5 1.106 38,3 2.889 100,0
Total 2.486 14,0 8.206 46,3 7.033 39,7 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Tabela 18 mostra a distribuição de internações por região de residência
conforme a idade do paciente, sexo e natureza jurídica do estabelecimento de saúde. A
região Sudeste foi responsável pelo maior número de internações em todas as faixas
etárias consideradas. Os estabelecimentos de saúde públicos foram responsáveis por
atender a maior parte das internações em todas as regiões, exceto a Sul, onde os
estabelecimentos de saúde conveniados atenderam a maior parte dos casos. Ainda, nas
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o setor privado atendeu mais pacientes que o
setor conveniado.
Não houve variação em relação à participação de crianças do sexo masculino e
feminino entre as regiões, havendo uma proporção ligeiramente maior de crianças do sexo
masculino em todas elas.
Embora não esteja ilustrado na tabela, São Paulo foi o estado com maior número
de internações para todas as faixas etárias consideradas. Considerando as crianças entre
um e 28 dias, este estado foi responsável por 245 internações, ou seja, 62,0% das
internações que ocorreram nesta faixa etária no país. Em alguns estados, não houve
registro de internações em menores de 28 dias – Acre, Amazonas, Tocantins e Piauí. No
Mato Grosso do Sul, não houve internação envolvendo recém-natos. Nos estados de
Amapá, Rio Grande do Norte e Sergipe, não houve internações de recém-natos e crianças
entre um e 28 dias. No entanto, todos os estados registraram internações envolvendo as
demais faixas etárias.
84
Tabela 18. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa entre menores de cinco anos segundo região de residência
do paciente e natureza jurídica dos estabelecimentos de saúde onde ocorreu internação, sexo do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Variável
Região de residência Brasil
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
n % n % n % n % n % n %
Idade
0 dia 31 3,7 59 1,6 171 2,1 27 0,9 25 1,4 313 1,8
1 a 28 dias 7 0,8 24 0,6 294 3,5 39 1,3 31 1,7 395 2,2
29 a 364 dias 91 10,9 51 1,4 1.056 12,7 414 13,4 199 11,1 2.270 12,8
1 ano 202 24,2 798 21,4 1.672 20,2 601 19,5 392 21,8 3.665 20,7
2 anos 182 21,8 800 21,5 2.019 24,4 826 26,8 475 26,5 4.302 24,3
3 anos 181 21,7 831 22,3 1.775 21,4 709 23,0 395 22,0 3.891 22,0
4 anos 141 16,9 704 18,9 1.296 15,6 470 15,2 278 15,5 2.889 16,3
Total 835 100,0 3.726 100,0 8.283 100,0 3.086 100,0 1.795 100,0 17.725 100,0
Sexo
Masculino 455 54,5 1.977 53,1 4.345 52,5 1.646 53,3 961 53,5 9.384 52,9
Feminino 380 45,5 1.749 46,9 3.938 47,5 1.440 46,7 834 46,5 8.341 47,1
Total 835 100,0 3.726 100,0 8.283 100,0 3.086 100,0 1.795 100,0 17.725 100,0
Natureza Jurídica
Privado 91 10,9 1.079 29,0 472 5,7 328 10,6 516 28,7 2.486 14,0
Público 666 79,8 1.861 49,9 3.629 43,8 1.055 34,2 995 55,4 8.206 46,3
Conveniado 78 9,3 786 21,1 4.182 50,5 1.703 55,2 284 15,8 7.033 39,7
Total 835 100,0 3.726 100,0 8.283 100,0 3.086 100,0 1.795 100,0 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
85
Trajetória das internações por intoxicações medicamentosas em menores de cinco
anos
A Tabela 19 traz a distribuição de internações por trajetória da internação e sua
idade. Percebe-se que a necessidade de deslocamento variou até a faixa etária de um ano
e que, após esta idade, a necessidade de deslocamento aumentou conforme a idade.
Tabela 19. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
entre menores de cinco anos segundo trajetória da internação e idade do paciente,
Brasil (SUS), 2003-12.
Idade
Trajetória da internação Total
Mesmo município Município diferente
n % n % n %
0 dia 233 74,4 80 25,6 313 100,0
1 a 28 dias 307 77,7 88 22,3 395 100,0
29 a 364 dias 1.684 74,2 586 25,8 2.270 100,0
1 ano 2.787 76,0 878 24,0 3.665 100,0
2 anos 3.207 74,5 1.095 25,5 4.302 100,0
3 anos 2.890 74,3 1.001 25,7 3.891 100,0
4 anos 2.125 73,6 764 26,4 2.889 100,0
Total 13.233 74,7 4.492 25,3 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Tabela 20 mostra a distribuição de internações por trajetória da internação e
região de residência, utilização de leitos de UTI e natureza jurídica do estabelecimento
de saúde. Segundo a tabela, em 30,8% das internações da região Nordeste, os pacientes
necessitaram de deslocamento. A região com menor participação das internações fora do
município de residência foi a região Norte. Em números absolutos, a necessidade de
deslocamento do paciente foi maior na região Sudeste.
A utilização de leitos de UTI quando o município de internação era diferente do
município de residência do paciente ocorreu em 488 casos, o que representa 10,9% dos
casos onde houve necessidade de deslocamento do paciente.
A respeito da natureza jurídica do estabelecimento de saúde, entre as internações
ocorridas em estabelecimentos privados, houve a maior necessidade de deslocamento do
paciente – 28,5% das internações foram em município diferente do município de
residência do paciente. Ainda, de modo geral, mais da metade das internações onde houve
a necessidade de deslocamento do paciente ocorreu em estabelecimentos públicos – 2.281
internações em um universo de 4.492 internações.
86
Tabela 20. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
entre menores de cinco anos segundo trajetória da internação e natureza jurídica do
estabelecimento de saúde, utilização de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e região
de residência do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Variável
Trajetória da internação Total
Mesmo município Município diferente
n % n % n %
Região de residência
Norte 679 81,3 156 18,7 835 100,0
Nordeste 2.577 69,2 1.149 30,8 3.726 100,0
Sudeste 6.429 77,6 1.854 22,4 8.283 100,0
Sul 2.270 73,5 816 26,5 3.086 100,0
Centro-Oeste 1.278 71,2 517 28,8 1.795 100,0
Brasil 13.233 74,7 4.492 25,3 17.725 100,0
Utilização de UTI
Sim 803 62,2 488 37,8 1.291 100,0
Não 12.430 75,6 4.004 24,4 16.434 100,0
Total 13.233 74,7 4.492 25,3 17.725 100,0
Natureza Jurídica
Privado 1.778 71,5 708 28,5 2.486 100,0
Público 5.925 72,2 2.281 27,8 8.206 100,0
Conveniado 5.530 78,6 1.503 21,4 7.033 100,0
Total 13.233 74,7 4.492 25,3 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Já a Tabela 21 trata da trajetória da internação pela Unidade Federativa de
residência do paciente. Percebe-se que os estados com menor número de pacientes que
necessitaram deslocamento foram o Acre, Amapá, Amazonas e Roraima. Já os estados
onde houve maior necessidade de deslocamento foram São Paulo, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul e Goiás. Já proporcionalmente, Sergipe e Espírito Santo foram os estados
com maior número de internações fora do município de residência. Nenhum estado teve
número de internações com deslocamento maior do que o número de internações sem
deslocamento.
87
Tabela 21. Distribuição de internações por intoxicação medicamentosa entre
menores de cinco anos segundo trajetória da internação e Unidade Federativa de
residência, Brasil (SUS), 2003-12.
UF de
residência
Trajetória da internação Total
% município
diferente Município igual Município diferente
SE 43 42 85 49
ES 190 174 364 48
PE 308 217 525 41
RN 70 49 119 41
PB 450 289 739 39
GO 546 316 862 37
PI 182 101 283 36
TO 77 39 116 34
SC 418 184 602 31
DF 307 132 439 30
PR 694 286 980 29
MG 1697 699 2396 29
AL 166 60 226 27
AP 12 4 16 25
RS 1.158 346 1.504 23
BA 871 255 1.126 23
MA 133 38 171 22
CE 354 98 452 22
MT 124 33 157 21
PA 269 71 340 21
RJ 845 210 1.055 20
AC 37 8 45 18
SP 3.697 771 4.468 17
RR 15 3 18 17
RO 128 23 151 15
MS 301 36 337 11
AM 141 8 149 5
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Utilização de UTI em internações
A Tabela 22 traz a distribuição de internações em que houve a necessidade de
utilização de UTI conforme a idade e a natureza jurídica do estabelecimento de saúde. De
modo geral, essa necessidade seguiu a mesma distribuição etária do total de casos, já que
as crianças com dois anos de idade foram aquelas em que houve o maior número de
internações em leitos de UTI. Esta utilização aumentou com a idade até os dois anos e, a
partir dos três anos, passou a diminuir. Em relação à natureza jurídica, o maior número
88
de internações que utilizaram leitos de Unidade Terapia Intensiva ocorreu em unidades
públicas.
Tabela 22. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
entre menores de cinco anos segundo a utilização de Unidade de Terapia Intensiva
e idade do paciente, natureza jurídica do estabelecimento de saúde e utilização de
UTI, Brasil (SUS), 2003-12.
Variável
Utilização de UTI Total
Sim Não
n % n % n %
Idade
0 dia 20 6,4 293 93,6 313 100,0
1 a 28 dias 34 8,6 361 91,4 395 100,0
29 a 364 dias 187 8,2 2.083 91,8 2.270 100,0
1 ano 221 6,0 3.444 94,0 3.665 100,0
2 anos 339 7,9 3.963 92,1 4.302 100,0
3 anos 289 7,4 3.602 92,6 3.891 100,0
4 anos 201 7,0 2.688 93,0 2.889 100,0
Total 1.291 7,3 16.434 92,7 17.725 100,0
Natureza Jurídica
Privado 202 8,1 2.284 91,9 2.486 100,0
Público 654 8,0 7.552 92,0 8.206 100,0
Conveniado 435 6,2 6.598 93,8 7.033 100,0
Total 1.291 7,3 16.434 92,7 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Tabela 23 consiste no número de internações por utilização de leitos de UTI e
região de residência. As regiões Sudeste e Sul foram as regiões em que estes leitos foram
necessários em maior número de internações enquanto a região Norte foi aquela em que
houve menor número destas internações.
89
Tabela 23. Proporção de utilização de Unidade de Terapia Intensiva nas internações
por intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos por número de
internações por região de residência, Brasil (SUS), 2003-12.
Região de residência Utilização de UTI Total
Proporção utilização
de UTI / número de
internações (%) n % n %
Norte 52 4,0 835 4,7 6,2
Nordeste 158 12,2 3.726 21,0 4,2
Sudeste 509 39,4 8.283 46,7 6,1
Sul 429 33,2 3.086 17,4 13,9
Centro-Oeste 143 11,1 1.795 10,1 8,0
Brasil 1.291 100,0 17.725 100,0 7,3
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Óbitos nas internações por intoxicações medicamentosas em menores de cinco anos
A Tabela 24 mostra que o maior número de óbitos ocorreu na idade de um ano. Já
quanto ao número de casos, os óbitos diminuíram conforme a idade aumentou.
Tabela 24. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
entre menores de cinco anos segundo evolução do paciente e idade do paciente,
Brasil (SUS), 2003-12.
Idade
Evolução
Total Não óbito Óbito
n % n %
0 dia 309 98,7 4 1,3 313
1 a 28 dias 392 99,2 3 0,8 395
29 a 364 dias 2.256 99,4 14 0,6 2.270
1 ano 3.645 99,5 20 0,5 3.665
2 anos 4.284 99,6 18 0,4 4.302
3 anos 3.879 99,7 12 0,3 3.891
4 anos 2.885 99,9 4 0,1 2.889
Total 17.650 99,6 75 0,4 17.725
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Figura 1 trata apenas das internações em que houve o óbito do paciente
internado. Percebe-se que, no período, apenas a faixa etária de dois anos teve pacientes
com essa evolução durante todos os anos do período. Ainda é possível perceber que no
ano de 2009, ocorreram seis óbitos em crianças de um ano, sendo o maior valor anual de
óbitos para uma faixa etária.
90
Figura 1. Evolução no tempo das internações por intoxicação medicamentosa entre
menores de cinco anos em que o paciente evoluiu ao óbito segundo idade dos
pacientes internados, Brasil (SUS), 2003-12.
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Tabela 25 mostra que a região Sudeste teve o maior número de óbitos (29). A
região Nordeste teve número de óbitos semelhante (23), no entanto, a região Nordeste
registrou menos da metade dos casos registrados pela região Sudeste. Ainda, a respeito
da relação óbito/internação nas cinco regiões do país, é possível observar que apesar das
regiões Sudeste e Nordeste apresentarem o maior número absoluto de casos, a maior
relação óbito/internação ocorreu na região Norte.
Tabela 25. Distribuição percentual de internações e óbitos e relação número de
óbitos/número de internações por intoxicação medicamentosa em menores de cinco
anos por região de residência do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Região de residência Internações Óbitos Relação
óbito/internação
(%) n % n %
Norte 835 4,7 9 0,1 1,1
Nordeste 3.726 21,0 23 0,1 0,6
Sudeste 8.283 46,7 29 0,2 0,4
Sul 3.086 17,4 7 0,0 0,2
Centro-Oeste 1.795 10,1 7 0,0 0,4
Brasil 17.725 100 75 0,40 0,4
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
0
1
2
3
4
5
6
7
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Nú
mer
o d
e ó
bit
os
Ano de competência
0 dia 1 a 28 dias 29 a 364 dias 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos
91
Ainda em relação à evolução do paciente, 70,7% dos óbitos ocorreram em
estabelecimentos de saúde públicos. Este número é superior à proporção de internações
que ocorreu nos estabelecimentos desta mesma natureza (46,3%). A Tabela 26 também
mostra que o setor privado registrou apenas um óbito por esta causa no período.
Tabela 26. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
entre menores de cinco anos segundo natureza jurídica das unidades de saúde onde
ocorreu a internação e evolução do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Evolução
Natureza Jurídica Total
Privado Público Conveniado
n % N % n % n %
Não-óbito 2.485 14,1 8.153 46,2 7.012 39,7 17.650 100,0
Óbito 1 1,3 53 70,7 21 28,0 75 100,0
Total 2.486 14,0 8.207 46,3 7.033 39,7 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
O número de óbitos envolvendo menores de cinco anos que foram internados por
intoxicações medicamentosas segundo Unidade Federativa está presente na Tabela 27 a
seguir. São Paulo é o estado com maior número de óbitos (18), seguido de Minas Gerais
e Bahia (seis óbitos, cada). A Tabela 27 também apresenta a taxa de mortalidade para
estas internações e a taxa de mortalidade por todas as causas no período.
92
Tabela 27. Comparação entre a mortalidade por internações por intoxicação
medicamentosa em menores de cinco anos e a mortalidade por todas as causas
segundo Unidade Federativa (UF) de residência do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Unidade Federativa Mortes por todas as causas
Mortes por intoxicação
medicamentosa
n %1 n %2
Brasil 542.317 0,35 75 0,42
Região Norte 70.020 0,04 9 0,05
Rondônia 5.572 0,00 2 0,01
Acre 3.807 0,00 2 0,01
Amazonas 16.122 0,01 1 0,01
Roraima 2.074 0,00 2 0,01
Pará 33.742 0,02 2 0,01
Amapá 3.515 0,00 0 0,00
Tocantins 5.188 0,00 0 0,00
Região Nordeste 189.139 0,12 23 0,13
Maranhão 25.760 0,02 1 0,01
Piauí 11.497 0,01 3 0,02
Ceará 26.813 0,02 5 0,03
Rio Grande do Norte 8.763 0,01 0 0,00
Paraíba 12.239 0,01 2 0,01
Pernambuco 31.399 0,02 4 0,02
Alagoas 13.839 0,01 2 0,01
Sergipe 8.140 0,01 0 0,00
Bahia 50.689 0,03 6 0,03
Região Sudeste 185.469 0,12 29 0,16
Minas Gerais 46.331 0,03 6 0,03
Espírito Santo 8.513 0,01 2 0,01
Rio de Janeiro 39.060 0,03 3 0,02
São Paulo 91.565 0,06 18 0,10
Região Sul 57.607 0,04 7 0,04
Paraná 24.318 0,02 2 0,01
Santa Catarina 12.031 0,01 2 0,01
Rio Grande do Sul 21.258 0,01 3 0,02
Região Centro-Oeste 40.082 0,03 7 0,04
Mato Grosso do Sul 8.636 0,01 2 0,01
Mato Grosso 9.988 0,01 2 0,01
Goiás 15.085 0,01 0 0,00
Distrito Federal 6.373 0,00 3 0,02
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) 1Cálculo: (somatório do número de mortes em menores de cinco anos entre 2003 e 2012 dividido
pelo somatório da população menor de cinco anos entre 2003 e 2012) x 100. 2Cálculo: (número de mortes em internações por intoxicação medicamentosa envolvendo menores
de cinco anos entre 2003 e 2012 dividido pelo número de internações por intoxicação
medicamentosa envolvendo menores de cinco anos) x 100.
93
Evolução no tempo
A evolução no tempo das internações por intoxicações medicamentosas em
menores de cinco anos segundo a idade do paciente está na Figura 2. No período, houve
um aumento do número de internações em recém-natos e menores de 28 dias. Ao
contrário, as internações em crianças acima de 28 dias diminuíram.
Figura 2. Evolução no tempo das internações por intoxicações medicamentosas em
menores de cinco anos por idade do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Figura 3 detalha as internações por ano de competência e natureza do
estabelecimento de saúde. Os estabelecimentos de natureza pública foram responsáveis
pelo maior número de internações em todos os anos, exceto em 2004. Neste ano, as
unidades de saúde conveniadas ao SUS foram responsáveis pelo maior número de
internações.
0
100
200
300
400
500
600
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Nú
mer
o d
e in
tern
açõ
es
Ano de competência
0 dia 1 a 28 dias 29 a 364 dias 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos
94
Figura 3. Evolução no tempo das internações por intoxicações medicamentosas em
menores de cinco anos por natureza jurídica da unidade de saúde onde ocorreu a
internação, Brasil (SUS), 2003-12.
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
O número de internações que evoluíram ao óbito do paciente variou conforme o
ano de competência (Figura 4). O maior número de óbitos nestas internações ocorreu nos
anos de 2003 e 2009, quando ocorreram 13 e 10 mortes, respectivamente. O ano com
menor número de internações cuja evolução foi o óbito foi 2007 (dois óbitos).
Figura 4. Evolução no tempo das internações por intoxicações medicamentosas em
menores de cinco anos que evoluíram a óbito do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Nú
mer
o d
e in
tern
açõ
es
Ano de Competência
Privado Público Conveniado
0
2
4
6
8
10
12
14
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Nú
mer
o d
e ó
bit
os
Ano de Competência
95
Tempo de permanência
Em relação ao tempo de permanência, a média encontrada foi de três dias
enquanto a mediana foi dois dias. No entanto, embora a mediana tenha sido constante, o
tempo de permanência médio variou no período. Em 2005, ele passou de dois para três
dias, se mantendo neste valor até o fim do período de estudo – 2012. A Tabela 28 compila
vários dados relativos ao tempo de permanência médio dos pacientes estudados.
Observa-se que houve uma diminuição do tempo de permanência médio conforme
a idade do paciente aumentou. Assim, os recém-natos possuíram maior tempo de
permanência médio (quatro dias) enquanto as crianças com dois anos ou mais
permaneceram, em média, internadas por um tempo menor (dois dias).
Não houve diferença entre os sexos: meninos e meninas permaneceram
internados, em média, por dois dias.
As internações em que houve deslocamento do paciente tiveram maior tempo de
permanência do que aquelas em que não houve deslocamento.
Enquanto isso, as internações com utilização de UTI e as internações que não
evoluíram a óbito tiveram em média maior tempo de permanência em relação às
internações sem utilização de UTI e as que evoluíram a óbito, respectivamente.
O Rio Grande do Norte foi o estado com maior tempo de permanência médio –
seis dias -, seguido do Amapá (cinco dias). Nenhum estado teve tempo de permanência
médio menor que dois dias. Nos estados da região Sul, Sudeste (exceto o Rio de Janeiro)
e Centro-Oeste, o tempo de permanência médio foi menor – dois dias. Em relação ao
tempo de permanência mediano, Roraima e Distrito Federal tiveram o menor tempo – um
dia enquanto nenhum estado teve tempo de permanência mediano maior que três dias. Já
os estados com maior tempo de permanência mediano são Amapá, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Alagoas e Sergipe.
As internações que ocorreram em pacientes que vivem nas regiões Norte e
Nordeste tiveram maior tempo de internação médio. Ainda, as internações que ocorreram
em estabelecimentos de saúde conveniados ao SUS tiveram menor tempo de permanência
médio em relação às que ocorreram em estabelecimentos particulares e públicos (Tabela
29).
96
Tabela 28. Tempo de permanência médio das internações por intoxicações
medicamentosas em menores de cinco segundo idade do paciente, sexo, utilização de
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e evolução, Brasil (SUS), 2003-12.
Variável Tempo de Permanência (dias)
Média Mediana
Idade
0 dia 6 3
1 a 28 dias 3 2
29 a 364 dias 3 2
1 ano 3 2
2 anos 2 2
3 anos 2 2
4 anos 2 2
Sexo
Masculino 3 2
Feminino 3 2
Trajetória da internação
Mesmo município 2 2
Município diferente 3 2
Utilização de UTI
Sim 4 3
Não 2 2
Evolução
Óbito 3 2
Não-óbito 6 2
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
97
Tabela 29. Tempo de permanência médio das internações por intoxicações
medicamentosas em menores de cinco segundo natureza jurídica do estabelecimento
de saúde, região de residência e trajetória da internação, Brasil (SUS), 2003-12.
Variável Tempo de Permanência (dias)
Média Mediana
Região de Residência
Norte 3 2
Nordeste 3 2
Sudeste 2 2
Sul 2 2
Centro-Oeste 2 2
Natureza jurídica
Privado 3 2
Público 3 2
Conveniado 2 2
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Número de intoxicações
Como o critério de seleção para o estudo envolveu duas variáveis de diagnóstico
de intoxicação medicamentosa, as internações que constam no banco de dados podem ter
sido causadas por um ou dois diagnósticos de intoxicação. Essa relação está presente na
Tabela 30. Assim, cerca de um quarto das internações ocorreu por duas intoxicações
simultâneas por medicamentos.
Tabela 30. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
entre menores de cinco anos segundo o número de diagnósticos de intoxicação
medicamentosa, Brasil (SUS), 2003-12.
Internação com Frequência Percentual (%)
Uma intoxicação 13.055 73,7
Duas intoxicações 4.670 26,3
Total 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
98
A Figura 5 traz a evolução no tempo das internações com um ou dois diagnósticos
de intoxicação. É possível observar que o número de internações por dois diagnósticos de
intoxicações se manteve menor do que as internações com um diagnóstico de intoxicação
durante todo o período.
Figura 5. Evolução no tempo das internações por intoxicações medicamentosas em
menores de cinco anos segundo número de diagnósticos de intoxicação
medicamentosa por internação, Brasil (SUS), 2003-12.
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A distribuição das internações por faixa etária seguiu um padrão semelhante tanto
para aquelas causadas por um diagnóstico de intoxicação quanto por dois diagnósticos.
Independentemente do número de diagnósticos de intoxicação, a faixa etária com maior
número de casos foi a de dois anos de idade. Ainda, a proporção de casos que necessitaram
utilizar leitos de UTI foi maior dentre as internações que ocorreram por dois diagnósticos
de intoxicação. No entanto, a taxa de mortalidade entre as internações por um diagnóstico
de intoxicação foi maior que aquelas que ocorreram por dois diagnósticos de intoxicação
(Tabela 31).
O tempo de permanência médio também variou conforme o número de
diagnósticos de intoxicação por internação. Aquelas causadas por um diagnóstico de
intoxicação por medicamento tiveram tempo de permanência médio de três dias enquanto
os pacientes cujas internações foram causadas por dois diagnósticos permaneceram
internados por dois dias em média (Tabela 32).
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Nù
mer
o d
e in
tern
açõ
es
Ano de Competência
Uma intoxicação Duas intoxicações
99
Tabela 31. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
entre menores de cinco anos segundo número de diagnósticos de intoxicação
medicamentosa por internação e idade do paciente, necessidade de utilização de UTI
e evolução do paciente, Brasil (SUS), 2003-12.
Idade
Internações com Total
Uma intoxicação Duas intoxicações
n % n % n %
0 dia 282 90,1 31 9,9 313 100,0
1 a 28 dias 353 89,4 42 10,6 395 100,0
29 a 364 dias 1.743 76,8 527 23,2 2.270 100,0
1 ano 2.832 77,3 833 22,7 3.665 100,0
2 anos 3.071 71,4 1.231 28,6 4.302 100,0
3 anos 2.721 69,9 1.170 30,1 3.891 100,0
4 anos 2.053 71,1 836 28,9 2.889 100,0
Total 13.055 73,7 4.670 26,3 17.725 100,0
Utilização de UTI
Sim 886 6,8 405 8,7 1.291 7,3
Não 12.169 93,2 4.265 91,3 16.434 92,7
Total 13.055 100,0 4.670 100,0 17.725 100,0
Evolução
Não-óbito 12.992 99,5 4.658 99,7 17.650 99,6
Óbito 63 0,5 12 0,3 75 0,4
Total 13.055 100,0 4.670 100,0 17.725 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Tabela 32. Tempo de permanência médio das internações por intoxicação
medicamentosa em menores de cinco segundo: número de diagnósticos de
intoxicação medicamentosa por internação, Brasil (SUS), 2003-12.
Internações com Tempo de Permanência (dias)
Média Mediana
Uma intoxicação 3 2
Duas intoxicações 2 2
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A possibilidade de haver dois diagnósticos de intoxicação na mesma internação
impossibilita que a análise das classes terapêuticas seja realizada por internação. Isso
ocorre porque as internações em que ocorreram dois diagnósticos de intoxicação
medicamentosa correspondem a duas intoxicações, sejam elas por duas classes distintas
de medicamentos ou por dois medicamentos da mesma classe terapêutica. Assim, o total
de intoxicações é maior que o número de internações. Para permitir a análise das classes
100
terapêuticas, é preciso, portanto, considerar o total de intoxicações que ocorreram entre
as 17.725 internações do período. A Tabela 33 demonstra que ocorreram 22.396
intoxicações no período. Além disso, embora o número de internações por duas
intoxicações medicamentosas represente 26,3% das internações, estas internações são
responsáveis por 41,7% das intoxicações.
Tabela 33. Distribuição percentual de internações por intoxicação medicamentosa
em menores de cinco anos e de intoxicações por medicamentos que geraram
internações em menores de cinco anos, Brasil (SUS), 2003-12.
Internação com Internações Intoxicações
n % n1 %
Uma intoxicação 13.055 73,7 13.055 58,3
Duas intoxicações 4.670 26,3 9.340 41,7
Total 17.725 100,0 22.395 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) 1O cálculo de intoxicações que ocorreram em internações causadas por duas intoxicações foi feito
multiplicando o número de internações em que ocorreram duas intoxicações por dois.
Classes terapêuticas envolvidas
A distribuição de casos de intoxicação medicamentosa por classe terapêutica está
presente na Tabela 34. É importante ressaltar que ocorreram 4.670 internações com dois
diagnósticos de intoxicação medicamentosa, o que resultou em 9.340 intoxicações por
medicamentos somente nestas internações, conforme já explicitado anteriormente na
Tabela 33. Dentre essas intoxicações, 5.808 intoxicações ocorreram por classes
terapêuticas distintas na mesma internação enquanto 3.532 intoxicações ocorreram pela
mesma classe terapêutica na mesma internação.
A classe responsável pelo maior número de internações foi a “outros fármacos e
os não especificados”, seguida pelos “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e
antiparkinsonianos” e pelos “antibióticos sistêmicos”. Não foram registradas internações
causadas por intoxicação por “fármacos que atuam no sangue e na coagulação”.
As classes envolvidas em duas intoxicações pela mesma classe foram:
“analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos”, “antibióticos sistêmicos”,
“antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos”, “fármacos que afetam o
Sistema Nervoso Autônomo”, “hormônios, seus substitutos sintéticos e seus
antagonistas”, “outros fármacos e os não especificados” e “fármacos de ação no trato
gastrointestinal”. Ainda, apenas as intoxicações por “fármacos estimulantes” estiveram
presentes exclusivamente em internações por uma intoxicação.
101
A Tabela 35 mostra a distribuição de intoxicações medicamentosas por ano de
competência e classe terapêutica. Entre as classes, é notória a diminuição no número de
internações causadas pelas intoxicações por “antibióticos sistêmicos”, principalmente a
partir de 2010, além dos “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos”,
“hormônios, seus substitutos sintéticos e seus antagonistas” e “outros fármacos e os não
especificados”.
A Tabela 35 também mostra que as intoxicações por “vitaminas”, “fármacos de
uso tópico”, “fármacos de ação no trato gastrointestinal”, “fármacos que atuam sobre o
aparelho circulatório” e “enzimas, não classificadas em outra parte” aumentaram na
comparação entre o primeiro e o último ano do período analisado
A distribuição de intoxicações por idade e classe terapêutica está na Tabela 36.
Entre as crianças recém-nascidas e entre um e 28 dias, as principais classes envolvidas
foram, respectivamente, “outros fármacos e os não especificados” e os “antiepilépticos,
sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos”. Entre as crianças dos demais grupos etários,
as seguintes classes foram as mais envolvidas: “outros fármacos e os não especificados”,
“antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos” e “antibióticos sistêmicos”.
Entre os recém-nascidos, não houve casos de internação por intoxicações
relacionadas às classes “agentes de diagnóstico”, “analépticos e antagonistas dos
receptores dos opiáceos”, “antídotos e quelantes, não classificados em outra parte”,
“diuréticos”, “fármacos antialérgicos e antieméticos”, “fármacos antineoplásicos e
imunossupressores”, “fármacos que agem sobre o metabolismo do ácido úrico”,
“inibidores do apetite”, “fármacos que agem sobre o equilíbrio eletrolítico, calórico e
hídrico”, “vitaminas” e por sequelas (Tabela 36).
Entre as crianças entre um e 28 dias, não ocorreram internações por intoxicação
por “analépticos e antagonistas dos receptores dos opiáceos”, “antídotos e quelantes, não
classificados em outra parte”, “diuréticos”, “fármacos antineoplásicos e
imunossupressores”, “fármacos que agem sobre o metabolismo do ácido úrico”,
“inibidores do apetite”, “fármacos que agem sobre o equilíbrio eletrolítico, calórico e
hídrico” e por sequelas (Tabela 36).
Não houve diferença entre as classes terapêuticas que causaram maior número de
intoxicações em relação à natureza jurídica do estabelecimento de saúde. Os três setores
atenderam, principalmente, as intoxicações por “outros fármacos e os não especificados”,
“antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos” e “antibióticos sistêmicos”.
A distribuição de intoxicações também variou conforme a região de residência do
paciente, como pode ser visto na Tabela 37. Para a classe de “analépticos e antagonistas
102
dos receptores opiáceos” não houve registro de intoxicações nas regiões Norte, Sul e
Centro-Oeste. Nas regiões Norte e Centro-Oeste, não houve registro de internações por
intoxicações causadas pelos “antídotos e quelantes, não classificados em outra parte”.
Apenas na região Norte não houve registro de internações por intoxicações causadas pelos
“fármacos estimulantes”. Nas regiões Sul e Norte, não ocorreram internações por
intoxicações de “fármacos que agem sobre o equilíbrio eletrolítico, hídrico e calórico”.
Ao contrário, as internações por sequelas das intoxicações por medicamentos só
ocorreram nas regiões Sudeste e Sul.
A distribuição de intoxicações que evoluíram a óbito por ano de competência e
classe terapêutica está a seguir na Tabela 38. Apenas a classe terapêutica “outros fármacos
e os não especificados” foi responsável por óbitos durante todos os anos estudados. Os
anos de 2004 e 2007 foram os anos com o menor número de classes envolvidas – duas –
enquanto 2008 e 2010 tiveram o maior número de classes terapêuticas envolvidas com
óbitos – seis.
103
Tabela 34. Distribuição percentual do número de intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos por classe
terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12. (continua)
Classe terapêutica
Internação por uma
intoxicação
Internação por duas intoxicações
Total Classe envolvida em
uma intoxicação
Classe envolvida em duas
intoxicações
n % N % n n1 % N %
Agentes de diagnóstico 62 0,5 20 0,3 0 0 0,0 82 0,4
Analépticos e antagonistas dos receptores dos
opiáceos
8 0,1 1 0,0 0 0 0,0 9 0,0
Analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não
opiáceos
837 6,4 396 6,8 111 222 6,3 1.455 6,5
Anestésicos e gases terapêuticos 70 0,5 14 0,2 0 0 0,0 84 0,4
Antibióticos sistêmicos 2.243 17,2 765 13,2 1 2 0,1 3.010 13,4
Antídotos e quelantes, não classificados em outra
parte
3 0,0 2 0,0 0 0 0,0 5 0,0
Antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e
antiparkinsonianos
2.652 20,3 942 16,2 415 830 23,5 4.424 19,8
Diuréticos 20 0,2 21 0,4 0 0 0,0 41 0,2
Enzimas, não classificadas em outra parte 10 0,1 6 0,1 0 0 0,0 16 0,1
Fármacos antialérgicos e antieméticos 69 0,5 77 1,3 0 0 0,0 146 0,7
Fármacos antineoplásicos e imunossupressores 4 0,0 4 0,1 0 0 0,0 8 0,0
Fármacos estimulantes 33 0,3 0 0,0 0 0 0,0 33 0,1
Fármacos psicotrópicos 406 3,1 446 7,7 0 0 0,0 852 3,8
Fármacos que afetam o Sistema Nervoso Autônomo 264 2,0 284 4,9 56 112 3,2 660 2,9
Fármacos que agem sobre o metabolismo do ácido
úrico
6 0,0 8 0,1 0 0 0,0 14 0,1
Fármacos que atuam sobre o aparelho circulatório 341 2,6 106 1,8 0 0 0,0 447 2,0
104
Tabela 34. Distribuição percentual do número de intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos por classe
terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12. (continuação)
Classe terapêutica
Internação por uma
intoxicação
Internação por duas intoxicações
Total Classe envolvida em
uma intoxicação
Classe envolvida em duas
intoxicações
n % N % n n1 % N %
Fármacos que atuam sobre os músculos lisos e
esqueléticos e sobre aparelho respiratório
239 1,8 174 3,0 0 0 0,0 413 1,8
Fármacos que atuam no sangue e na coagulação 0 0,0 0 0,0 0 0 0,0 0 0,0
Hormônios, seus substitutos sintéticos e seus
antagonistas
292 2,2 205 3,5 2 4 0,1 501 2,2
Inibidores do apetite 9 0,1 10 0,2 0 0 0,0 19 0,1
Múltiplos fármacos e fármacos psicoativos 89 0,7 4 0,1 0 0 0,0 93 0,4
Narcóticos 174 1,3 7 0,1 0 0 0,0 181 0,8
Fármacos que agem sobre o equilíbrio eletrolítico,
calórico e hídrico
5 0,0 3 0,1 0 0 0,0 8 0,0
Fármacos anti-infecciosos e antiparasitários 315 2,4 82 1,4 0 0 0,0 397 1,8
Fármacos de ação no trato gastrointestinal 432 3,3 91 1,6 1 2 0,1 525 2,3
Fármacos de uso tópico 300 2,3 89 1,5 0 0 0,0 389 1,7
Vitaminas 34 0,3 24 0,4 0 0 0,0 58 0,3
Sequelas2 3 0,0 3 0,1 0 0 0,0 6 0,0
Outros fármacos e os não especificados 4.135 31,7 2.024 34,8 1.180 2.360 66,8 8.519 38,0
Total 13.055 100,0 5.808 100,0 1.766 3.532 100,0 22.395 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) 1 Para o cálculo do número de intoxicações multiplicou-se por dois o número de internações em que ocorreram duas intoxicações. 2 Não configura em classe terapêutica mas está presente para fins de cálculo.
105
Tabela 35. Distribuição de intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos por ano de competência e classe
terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12. (continua)
Classe terapêutica Ano de Competência
Total 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Agentes de diagnóstico 11 5 8 12 5 11 16 4 1 9 82
Analépticos e antagonistas dos receptores dos opiáceos 0 1 2 1 1 2 0 0 1 1 9
Analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos 167 168 150 178 171 140 142 104 111 124 1.455
Anestésicos e gases terapêuticos 8 5 6 5 10 7 14 11 8 10 84
Antibióticos sistêmicos 442 393 389 390 436 303 297 142 105 113 3.010
Antídotos e quelantes, não classificados em outra parte 1 0 1 0 0 0 0 1 1 1 5
Antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos 555 641 581 524 501 305 252 374 329 362 4.424
Diuréticos 3 5 2 4 4 4 7 3 4 5 41
Enzimas, não classificadas em outra parte 1 1 2 1 0 2 1 3 1 4 16
Fármacos antialérgicos e antieméticos 16 14 8 15 10 14 20 15 19 15 146
Fármacos antineoplásicos e imunossupressores 2 0 0 1 0 2 0 0 2 1 8
Fármacos estimulantes 0 0 0 0 2 13 2 3 9 4 33
Fármacos psicotrópicos 86 72 69 71 90 93 95 100 99 77 852
Fármacos que afetam o Sistema Nervoso Autônomo 71 60 78 52 52 58 74 75 76 64 660
Fármacos que agem sobre o metabolismo do ácido úrico 1 2 1 1 0 4 0 3 1 1 14
Fármacos que atuam sobre o aparelho circulatório 36 19 16 11 15 130 70 53 47 50 447
Fármacos que atuam sobre os músculos lisos e
esqueléticos e sobre aparelho respiratório
49 31 32 14 20 62 56 53 46 50 413
Fármacos que atuam no sangue e na coagulação 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Hormônios, seus substitutos sintéticos e seus antagonistas 62 41 41 42 43 87 55 53 40 37 501
106
Tabela 35. Distribuição de intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos por ano de competência e classe
terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12. (continuação)
Classe terapêutica Ano de Competência
Total 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Inibidores do apetite 1 1 2 3 3 2 4 1 0 2 19
Múltiplos fármacos e fármacos psicoativos 0 1 0 0 1 43 5 14 17 12 93
Narcóticos 23 17 16 10 12 37 1 30 14 21 181
Fármacos que agem sobre o equilíbrio eletrolítico,
calórico e hídrico
2 0 0 1 0 4 0 0 0 1 8
Fármacos anti-infecciosos e antiparasitários 60 31 30 18 14 53 76 37 31 47 397
Fármacos de ação no trato gastrointestinal 17 19 25 23 24 91 91 80 92 63 525
Fármacos de uso tópico 23 23 20 29 25 61 49 60 55 44 389
Vitaminas 2 5 3 4 5 4 6 8 10 11 58
Sequelas1 1 1 0 1 0 1 0 2 0 0 6
Outros fármacos e os não especificados 1.179 984 907 775 774 739 850 777 719 815 8.519
Total 2.819 2.540 2.389 2.186 2.218 2.272 2.183 2.006 1.838 1.944 22.395
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) 1 Não configura em classe terapêutica mas está presente para fins de cálculo.
107
Tabela 36. Distribuição percentual de intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos por idade e classe
terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12. (continua)
Classe terapêutica
Idade
Total 0 dia 1 a 28 dias 29 a 364 dias 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos
n % n % n % n % n % n % n %
Agentes de diagnóstico 0 0,0 1 1,2 12 14,6 18 22,0 21 25,6 17 20,7 13 15,9 82
Analépticos e antagonistas dos receptores dos
opiáceos 0 0,0 0 0,0 1 11,1 0 0,0 3 33,3 2 22,2 3 33,3 9
Analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos
não opiáceos 26 1,8 21 1,4 195 13,4 284 19,5 359 24,7 313 21,5 257 17,7 1.455
Anestésicos e gases terapêuticos 2 2,4 5 6,0 10 11,9 15 17,9 25 29,8 19 22,6 8 9,5 84
Antibióticos sistêmicos 32 1,1 26 0,9 435 14,5 593 19,7 724 24,1 692 23,0 508 16,9 3.010
Antídotos e quelantes, não classificados em
outra parte 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 20,0 3 60,0 1 20,0 5
Antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e
antiparkinsonianos 119 2,7 240 5,4 435 9,8 770 17,4 1.061 24,0 990 22,4 809 18,3 4.424
Diuréticos 0 0,0 0 0,0 3 7,3 10 24,4 13 31,7 9 22,0 6 14,6 41
Enzimas, não classificadas em outra parte 1 6,3 1 6,3 1 6,3 2 12,5 6 37,5 5 31,3 0 0,0 16
Fármacos antialérgicos e antieméticos 0 0,0 1 0,7 37 25,3 15 10,3 33 22,6 29 19,9 31 21,2 146
Fármacos antineoplásicos e
imunossupressores 0 0,0 0 0,0 1 12,5 0 0,0 2 25,0 1 12,5 4 50,0 8
Fármacos estimulantes 1 3,0 1 3,0 3 9,1 9 27,3 10 30,3 6 18,2 3 9,1 33
Fármacos psicotrópicos 13 1,5 5 0,6 48 5,6 125 14,7 223 26,2 262 30,8 176 20,7 852
Fármacos que afetam o Sistema Nervoso
Autônomo 6 0,9 6 0,9 91 13,8 147 22,3 178 27,0 122 18,5 110 16,7 660
Fármacos que agem sobre o metabolismo do
ácido úrico 0 0,0 0 0,0 4 28,6 3 21,4 3 21,4 4 28,6 0 0,0 14
108
Tabela 36. Distribuição percentual de intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos por idade e classe
terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12. (continuação)
Classe terapêutica
Idade
Total 0 dia 1 a 28 dias 29 a 364 dias 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos
n % n % n % n % n % n % n %
Fármacos que atuam sobre o aparelho
circulatório 7 1,6 1 0,2 49 11,0 114 25,5 119 26,6 96 21,5 61 13,6 447
Fármacos que atuam sobre os músculos lisos e
esqueléticos e sobre aparelho respiratório 3 0,7 7 1,7 65 15,7 74 17,9 103 24,9 98 23,7 63 15,3 413
Fármacos que atuam no sangue e na
coagulação 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0
Hormônios, seus substitutos sintéticos e seus
antagonistas 1 0,2 4 0,8 38 7,6 127 25,3 142 28,3 112 22,4 77 15,4 501
Inibidores do apetite 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3 15,8 7 36,8 4 21,1 5 26,3 19
Múltiplos fármacos e fármacos psicoativos 8 8,6 3 3,2 18 19,4 14 15,1 22 23,7 14 15,1 14 15,1 93
Narcóticos 1 0,6 2 1,1 23 12,7 53 29,3 54 29,8 28 15,5 20 11,0 181
Fármacos que agem sobre o equilíbrio
eletrolítico, calórico e hídrico 0 0,0 0 0,0 1 12,5 3 37,5 2 25,0 1 12,5 1 12,5 8
Fármacos anti-infecciosos e antiparasitários 3 0,8 5 1,3 75 18,9 89 22,4 95 23,9 68 17,1 62 15,6 397
Fármacos de ação no trato gastrointestinal 3 0,6 6 1,1 88 16,8 149 28,4 131 25,0 81 15,4 67 12,8 525
Fármacos de uso tópico 4 1,0 1 0,3 59 15,2 113 29,0 98 25,2 75 19,3 39 10,0 389
Vitaminas 0 0,0 2 3,4 7 12,1 8 13,8 14 24,1 18 31,0 9 15,5 58
Sequelas1 0 0,0 0 0,0 1 17,0 0 0,0 2 33,0 3 50,0 0 0,0 6
Outros fármacos e os não especificados 114 1,3 99 1,2 1.097 12,9 1.760 20,7 2.082 24,4 1.989 23,3 1.378 16,2 8.519
Total 344 1,5 437 2,0 2.797 12,5 4.498 20,1 5.533 24,7 5.061 22,6 3.725 16,6 22.395
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) 1 Não configura em classe terapêutica mas está presente para fins de cálculo.
109
Tabela 37. Distribuição das intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos por classe terapêutica do agente
tóxico e região de residência do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. (continua)
Classe terapêutica
Região de residência Total
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
n % n % n % n % n % n %
Agentes de diagnóstico 5 6,1 11 13,4 33 40,2 11 13,4 22 26,8 82 100,0
Analépticos e antagonistas dos receptores dos
opiáceos
0 0,0 2 22,2 7 77,8 0 0,0 0 0,0 9 100,0
Analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos
não opiáceos
67 4,6 304 20,9 691 47,5 288 19,8 105 7,2 1.455 100,0
Anestésicos e gases terapêuticos 8 9,5 14 16,7 33 39,3 16 19,0 13 15,5 84 100,0
Antibióticos sistêmicos 152 5,0 918 30,5 1.168 38,8 515 17,1 257 8,5 3.010 100,0
Antídotos e quelantes, não classificados em
outra parte
0 0,0 1 20,0 1 20,0 3 60,0 0 0,0 5 100,0
Antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e
antiparkinsonianos
94 2,1 773 17,5 2.667 60,3 525 11,9 365 8,3 4.424 100,0
Diuréticos 3 7,3 6 14,6 25 61,0 1 2,4 6 14,6 41 100,0
Enzimas, não classificadas em outra parte 2 12,5 0 0,0 10 62,5 2 12,5 2 12,5 16 100,0
Fármacos antialérgicos e antieméticos 10 6,8 16 11,0 88 60,3 21 14,4 11 7,5 146 100,0
Fármacos antineoplásicos e
imunossupressores
1 12,5 0 0,0 5 62,5 2 25,0 0 0,0 8 100,0
Fármacos estimulantes 0 0,0 9 27,3 15 45,5 8 24,2 1 3,0 33 100,0
Fármacos psicotrópicos 13 1,5 124 14,6 528 62,0 128 15,0 59 6,9 852 100,0
Fármacos que afetam o Sistema Nervoso
Autônomo
41 6,2 73 11,1 375 56,8 100 15,2 71 10,8 660 100,0
Fármacos que agem sobre o metabolismo do
ácido úrico
1 7,1 4 28,6 3 21,4 4 28,6 2 14,3 14 100,0
Fármacos que atuam sobre o aparelho
circulatório
44 9,8 116 26,0 150 33,6 74 16,6 63 14,1 447 100,0
110
Tabela 37. Distribuição das intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos por classe terapêutica do agente
tóxico e região de residência do paciente, Brasil (SUS), 2003-12. (continuação)
Classe terapêutica
Região de residência Total
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
n % n % n % n % n % n %
Fármacos que atuam sobre os músculos lisos e
esqueléticos e sobre aparelho respiratório
22 5,3 78 18,9 213 51,6 64 15,5 36 8,7 413 100,0
Fármacos que atuam no sangue e na coagulação 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Hormônios, seus substitutos sintéticos e seus
antagonistas
19 3,8 90 18,0 265 52,9 85 17,0 42 8,4 501 100,0
Inibidores do apetite 2 10,5 1 5,3 13 68,4 1 5,3 2 10,5 19 100,0
Múltiplos fármacos e fármacos psicoativos 5 5,4 22 23,7 31 33,3 18 19,4 17 18,3 93 100,0
Narcóticos 12 6,6 19 10,5 83 45,9 40 22,1 27 14,9 181 100,0
Fármacos que agem sobre o equilíbrio
eletrolítico, calórico e hídrico
0 0,0 3 37,5 4 50,0 0 0,0 1 12,5 8 100,0
Fármacos anti-infecciosos e antiparasitários 40 10,1 102 25,7 142 35,8 80 20,2 33 8,3 397 100,0
Fármacos de ação no trato gastrointestinal 43 8,2 113 21,5 210 40,0 92 17,5 67 12,8 525 100,0
Fármacos de uso tópico 19 4,9 53 13,6 204 52,4 55 14,1 58 14,9 389 100,0
Vitaminas 2 3,4 16 27,6 29 50,0 7 12,1 4 6,9 58 100,0
Sequelas1 0 0,0 0 0,0 2 33,3 4 66,7 0 0,0 6 100,0
Outros fármacos e os não especificados 369 4,3 1.414 16,6 4.044 47,5 1.680 19,7 1.012 11,9 8.519 100,0
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS 1 Não configura em classe terapêutica mas está presente para fins de cálculo.
111
Tabela 38. Distribuição de intoxicações medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos e evoluíram a óbito do paciente
por ano de competência e classe terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12.
Classe terapêutica Ano de competência
Total1 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Analépticos e antagonistas dos receptores dos opiáceos 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1
Analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos 0 0 0 1 0 1 5 0 0 2 9
Anestésicos e gases terapêuticos 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1
Antibióticos sistêmicos 4 4 1 2 0 0 4 2 0 0 17
Antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos 2 0 0 0 0 1 1 0 0 0 4
Fármacos psicotrópicos 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Fármacos que afetam o Sistema Nervoso Autônomo 0 0 0 0 0 2 0 1 1 0 4
Fármacos que atuam sobre o aparelho circulatório 1 0 0 1 0 1 0 1 0 0 4
Fármacos que atuam sobre os músculos lisos e esqueléticos
e sobre aparelho respiratório
0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 2
Hormônios, seus substitutos sintéticos e seus antagonistas 0 0 2 0 0 0 1 0 0 0 3
Narcóticos 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1
Fármacos de ação no trato gastrointestinal 0 0 0 0 0 2 0 1 1 0 4
Fármacos de uso tópico 0 0 0 0 0 1 0 2 1 0 4
Outros fármacos e os não especificados 7 3 1 6 1 2 1 1 4 6 32
Total 15 7 4 10 2 10 12 9 9 9 87
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) 1 O total de intoxicações que ocasionaram óbitos é maior que o número de internações que ocasionaram óbitos pois algumas internações possuíram dois diagnósticos
de intoxicação medicamentosa.
112
O tempo de permanência médio variou conforme a classe terapêutica do
medicamento que causou a intoxicação, o que pode ser visto na Tabela 39. A classe
terapêutica envolvida em internações com maior tempo de permanência médio foi a de
“fármacos antineoplásicos e imunossupressores” (6,5 dias).
Tabela 39. Distribuição do tempo de permanência médio das intoxicações
medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos por classe
terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12.
Classe terapêutica Tempo de permanência
médio (dias)
Agente de diagnóstico 2,2
Analépticos e antagonistas dos receptores opiáceos 2,7
Analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos 2,7
Anestésicos e gases terapêuticos 2,3
Antibióticos sistêmicos 2,5
Antídotos e quelantes, não classificados em outra parte 1,8
Antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos 2,9
Diuréticos 2,1
Enzimas, não classificadas em outra parte 3,6
Fármacos antialérgicos e antieméticos 2,2
Fármacos antineoplásicos e imunossupressores 6,5
Fármacos estimulantes 2,3
Fármacos psicotrópicos 2,4
Fármacos que afetam o Sistema Nervoso Autônomo 2,6
Fármacos que agem sobre o metabolismo do ácido úrico 2,8
Fármacos que atuam sobre o aparelho circulatório 2,6
Fármacos que atuam sobre músculos liso e esquelético e
aparelho respiratório
2,3
Fármacos que atuam no sangue e na coagulação 0,0
Hormônios, seus substitutos e antagonistas 2,2
Inibidores do apetite 2,3
Múltiplos fármacos e fármacos psicoativos 4,0
Narcóticos 2,2
Fármacos que agem sobre o equilíbrio hidroeletrolítico,
calórico e hídrico
2,1
Fármacos anti-infecciosos e antiparasitários 2,5
Fármacos de ação no trato gastrintestinal 2,7
Fármacos de uso tópico 2,4
Vitaminas 1,9
Sequelas 3,5
Outros fármacos e os não especificados 2,5
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
113
Entre as internações que evoluíram a óbito, o tempo de permanência médio das
internações por classe terapêutica seguiu um padrão distinto daquele observado para o
total de internações. Como pode ser visto na Tabela 40, entre estas internações, os
“fármacos que atuam sobre o músculo liso e esquelético e aparelho respiratório”
estiveram envolvidos em internações com tempo de permanência médio de 18 dias. As
internações com óbito por intoxicação envolvendo “fármacos de ação no trato
gastrintestinal” e “outros fármacos e os não especificados” também tiveram um tempo de
permanência maior, respectivamente, 11,5 e 9,3 dias. Ao contrário, algumas classes foram
responsáveis por internações com óbito e com tempo de permanência médio menor, como
os “anestésicos e gases terapêuticos” (zero dia) e “fármacos psicotrópicos” (um dia).
Tabela 40. Distribuição do tempo de permanência médio das intoxicações
medicamentosas que geraram internações em menores de cinco anos e evoluíram a
óbito do paciente por classe terapêutica do agente tóxico, Brasil (SUS), 2003-12.
Classe terapêutica Tempo de permanência
médio (dias)
Analépticos e antagonistas dos receptores opiáceos 6,0
Analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos 3,7
Anestésicos e gases terapêuticos 0,0
Antibióticos sistêmicos 2,5
Antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos 2,5
Fármacos psicotrópicos 1,0
Fármacos que afetam o Sistema Nervoso Autônomo 1,3
Fármacos que atuam sobre o aparelho circulatório 1,3
Fármacos que atuam sobre músculos liso e esquelético e
aparelho respiratório
18,0
Hormônios, seus substitutos e antagonistas 2,0
Narcóticos 3,0
Fármacos de ação no trato gastrintestinal 11,5
Fármacos de uso tópico 5,3
Outros fármacos e não especificados 9,3
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Tabela 41 mostra a distribuição de intoxicações medicamentosas por classe
terapêutica e classificação ATC. A correlação da classe terapêutica com pelo menos uma
categoria ATC só foi possível em 13.777 intoxicações. Portanto, houve uma perda de
8.618 intoxicações – 38,5% das intoxicações. Considerando as intoxicações onde a
correlação foi possível, a maior parte dos agentes se concentrou na categoria ATC N, ou
seja, aquela que atua no Sistema Nervoso Central. Ainda, em 24,2% das intoxicações, a
classe terapêutica foi correlacionada com mais de uma categoria ATC.
114
Tabela 41. Distribuição percentual de intoxicações medicamentosas que geraram
internações em menores de cinco anos segundo classe terapêutica e classificação
ATC, Brasil (SUS), 2003-12. (continua)
Classe terapêutica Classificação ATC Total
n %
N 5.499 39,91
Antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e
antiparkinsonianos
N03A, N05C, N04 4.424 32,11
Fármacos psicotrópicos N 852 6,18
Narcóticos N 181 1,31
Fármacos estimulantes N06B 33 0,24
Analépticos e antagonistas dos
receptores dos opiáceos
N06 9 0,07
J e P 3.407 24,73
Antibióticos sistêmicos J 3.010 21,85
Fármacos anti-infecciosos e
antiparasitários
J, P 397 2,88
Vários 3.333 24,20
Analgésicos, antitérmicos e
antirreumáticos não opiáceos
N02A, M01A 1.455 10,56
Fármacos que afetam o Sistema
Nervoso Autônomo
N04A, N07A, A03A, A03B, A03C,
A03D, M03AB, R03AL, R03BB,
S01FA, R03DA02, R03DB02
660 4,79
Hormônios, seus substitutos sintéticos
e seus antagonistas
H, G03 501 3,64
Fármacos de uso tópico D, S, M02A, C05A, R01A 389 2,82
Fármacos antialérgicos e antieméticos R06A, D04A, A04A 146 1,06
Anestésicos e gases terapêuticos N01, V03AN 84 0,61
Agentes de diagnóstico V04, V09, SO1J 82 0,60
Enzimas, não classificadas em outra
parte
A09A, A16AB, B01AD, B06AA,
D03BA, M09AB
16 0,12
C 488 3,54
Fármacos que atuam sobre o aparelho
circulatório
C 447 3,24
Diuréticos C03 41 0,30
M e R 427 3,10
Fármacos que atuam sobre os
músculos lisos e esqueléticos e sobre
aparelho respiratório
M, R 413 3,00
Fármacos que agem sobre o
metabolismo do ácido úrico
M04AA, M04AB 14 0,10
115
Tabela 41. Distribuição percentual de intoxicações medicamentosas que geraram
internações em menores de cinco anos segundo classe terapêutica e classificação
ATC, Brasil (SUS), 2003-12. (continuação)
Classe terapêutica Classificação ATC Total
N %
A e B 610 4,43
Fármacos de ação no trato
gastrointestinal
A 525 3,81
Inibidores do apetite A08A 19 0,14
Vitaminas A11 58 0,42
Fármacos que agem sobre o equilíbrio
eletrolítico, calórico e hídrico
A, B 8 0,06
Fármacos que atuam no sangue e na
coagulação
B 0 0,00
L 8 0,06
Fármacos antineoplásicos e
imunossupressores
L01, L04 8 0,06
V 5 0,04
Antídotos e quelantes, não
classificados em outra parte
V03AB 5 0,04
Total 13.777 100,00
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
116
DISCUSSÃO
Quanto aos resultados gerais
Entre os anos de 2003 e 2012, ocorreram, no SUS, 116.797.800 internações no
país. Destas, 215.957 internações tiveram como diagnóstico principal e/ou secundário as
intoxicações medicamentosas, o que representa 0,18% do total de internações.
No mesmo período, ocorreram 13.536.990 internações envolvendo menores de
cinco anos de idade, o que representa 11,6% do total de internações. Dentre estas
internações, ocorreram 17.725 internações por intoxicações medicamentosas, ou seja,
0,13% das internações em menores de cinco anos no período foram relacionadas às
intoxicações por medicamentos. Assim, a proporção de internações por este tipo de
intoxicação foi menor entre os menores de cinco anos do que entre toda a população
brasileira – 0,13% e 0,18%, respectivamente.
Ainda, é possível inferir que as crianças menores de cinco anos foram
responsáveis por 8,2% das internações por intoxicação medicamentosa. Esse valor é
menor do que a participação desta faixa etária no número de internações por todas as
causas – 11,6%.
Na década de estudo, ocorreram 17.725 internações em menores de cinco anos
devido às intoxicações por medicamentos. No entanto, de um modo geral, o número de
internações diminuiu ano a ano. Em 2003, foram registradas 2.134 internações enquanto,
em 2012, ocorreram 1.568. Essa queda representa uma diminuição de 26,5% no número
de internações no período.
Esse resultado vai de encontro ao que foi divulgado pelo SINITOX e pelo SINAN,
o que pode significar que o número de casos de intoxicação que necessitam de internação
vem diminuindo a despeito do aumento do número de notificações por esta mesma causa.
Infelizmente, tanto o SINITOX quanto o SINAN não disponibilizam dados para todos os
anos do período de estudo, todavia, os dados disponíveis nestes bancos mostram que vêm
ocorrendo um aumento destas notificações. Em 2003, o SINITOX recebeu 9.792
notificações de intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos enquanto, em 2011
(último ano disponível), as notificações subiram para 11.322. Considerando os registros
do SINAN, foram 1.368 notificações em 2007 (primeiro ano disponível) e 4.078
notificações em 2012.
117
Apesar dos dados mostrarem uma queda geral no número de internações, essa
queda não foi constante em todo o período. Ao contrário, este número oscilou, tendo
aumentado no ano de 2008. Para este mesmo grupo etário, as notificações divulgadas pelo
SINITOX também mostram uma oscilação nos dados, tendo aumentado nos anos de 2006
e 2007 e voltado a cair a partir de 2008.
Esta tendência de queda no número de internações em menores de cinco anos
devido às intoxicações medicamentosas se torna uma diferença notável entre o Brasil e
os Estados Unidos. Segundo Bond, Woodward & Ho (2012), neste país, as internações
por exposição a medicamentos em menores de cinco anos aumentaram em uma
velocidade acima do crescimento populacional. Contudo, embora a população brasileira
tenha crescido na década estudada, o mesmo não ocorreu no Brasil.
Outro contraste encontrado entre estes dois países diz respeito ao número de
internações por ano. Considerando as estimativas norte-americanas, as internações que
ocorreram no Brasil no mesmo período são menores. Franklin & Rodgers (2008)
estimaram em 11.000 as crianças norte-americanas internadas apenas em 2004. Neste
mesmo ano, foram realizadas 1.945 internações no Brasil pelo SUS. Já Schillie et al
(2009) consideraram que os menores de cinco anos seriam responsáveis por 83,5% das
hospitalizações por esta causa entre 2004 e 2005. No mesmo biênio, no Brasil, foram
3.778 internações em menores de cinco anos em um total de 37.135 internações por
intoxicação medicamentosa, ou seja, os menores de cinco anos foram responsáveis por
10,2% das intoxicações por esta causa no período. A diferença entre os valores
encontrados permite afirmar que o perfil de internações por esta causa no Brasil é bastante
distinto do que ocorre na população norte-americana.
Também é possível comparar a proporção de menores de cinco anos dentre
aqueles pacientes internados devido às intoxicações medicamentosas com a proporção de
menores de cinco anos na população do país durante o período. Observa-se que as duas
proporções diminuíram no período de 2003 a 2012. Entre as internações, a proporção
passou de 11,5 para 7,1 enquanto, na população, a proporção caiu de 9,2 para 7,2. Assim,
a diminuição do número de internações no período também pode ser reflexo da
diminuição da população de menores de cinco anos no país.
Ademais, é notável que, embora o número de internações por intoxicações em
menores de cinco anos tenha diminuído no período, o número de internações por esta
118
causa na população geral seguiu um perfil oposto, tendo aumentado, o que também
colaborou na menor participação desta faixa etária na proporção de internações.
Comparando-se a proporção de menores de cinco anos dentre as internações por
intoxicação medicamentosa e a proporção de menores de cinco anos na população
brasileira no período, segue-se um perfil singular: a proporção de crianças nas internações
foi maior que a da população geral em 2003, 2004 e 2005. Entre 2006 e 2009, a proporção
de crianças nas internações foi menor que a da população. A partir de 2010, os dois
valores se aproximaram, chegando a cerca de 7%, ao mesmo tempo que o número de
internações por intoxicação na população geral também variou menos, estando sempre
próximo a 22.000 internações por ano.
Ainda é possível estabelecer relações entre o número de internações por
intoxicação medicamentosa envolvendo menores de cinco anos e a população desta
mesma faixa etária no país. Esta relação variou pouco no período, tendo tido uma ligeira
queda – 0,013% em 2003 para 0,011% em 2012. Ademais, como essa relação pouco se
alterou no período, é provável que a queda observada, neste período, no número de
internações por intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos seja um reflexo
da diminuição da população nesta mesma faixa etária.
Em relação à idade, o maior número de casos ocorreu em crianças com dois anos
– 24,3% das internações estudadas – seguida pela faixa etária de três anos, que
representou 22,0% das internações. Estas duas faixas etárias foram responsáveis por cerca
de metade dos casos – 46,3% das internações. Este resultado é próximo ao encontrado
por Matos, Rozenfeld & Bortoletto (2002), onde 58,2% das crianças estudadas tinha entre
dois e três anos de idade.
Ao mesmo tempo, os resultados encontrados neste estudo não são idênticos aos
encontrados por Lessa & Bochner (2008). Estas autoras concluíram que ocorreram 95
internações em menores de um mês e 787 internações em crianças entre um mês e um
ano entre os anos de 2003 e 2005. Todavia, no estudo atual, para o mesmo período,
ocorreram 97 internações em menores de um mês e 858 internações em crianças entre um
mês e um ano em todo o país. Esse resultado pode ser fruto da diferença entre os períodos
de coleta dos dados entre os dois estudos. Como o SIH apresenta uma entrada de dados
dinâmica, incluindo revisões da AIH e também o envio de AIH em atraso, no período
transcorrido entre as duas coletas de dados novas internações podem ter sido incluídas.
119
Considerando as internações que ocorreram na década 2003-2012, pode-se
afirmar que o número de internações aumentou segundo o aumento da idade da criança
até os dois anos. Foram 313 internações em pacientes com zero dia comparadas às 4.302
internações em pacientes com dois anos de idade. A partir dos três anos, o número de
internações passou a cair – 3.891 internações em pacientes com três anos e 2.889
internações envolvendo crianças de quatro anos. Essa tendência confirma parcialmente o
observado por Werneck & Hasselmann (2009). Estes autores analisaram as internações
em menores de seis anos em oito hospitais públicos da região metropolitana do Rio de
Janeiro entre abril de 2001 e março de 2004 e concluíram que a participação dos
medicamentos como agente tóxico aumentou conforme a idade.
É possível que a diferença entre os dois estudos tenha relação com o período
estudado, que foi diferente. Isso porque a diminuição no número de internações a partir
dos dois anos de idade não foi vista em todos os anos da década estudada. Nos anos de
2007 e 2008, o número de internações em crianças de três anos de idade foi ainda maior
do que as internações envolvendo crianças com dois anos. No entanto, em todos os anos
da década, o número de internações envolvendo crianças de quatro anos de idade foi
menor que o total de internações de crianças de três anos.
Como a população estudada por Werneck & Hasselmann incluiu uma faixa etária
excluída neste estudo – as crianças entre cinco e seis anos de idade – e não se limitou às
intoxicações por medicamentos, as diferenças na distribuição etária das internações por
intoxicações podem ser justificadas com base nestes aspectos.
Quanto ao sexo, os pacientes do sexo masculino foram a maioria, o que se repetiu
em todas as regiões do país. A diferença entre as internações dos dois sexos foi de 1.044
internações - 5,8% do total. Essa diferença também foi encontrada por outros autores.
Bertasso-Borges et al (2010) encontraram associação significativa entre a faixa etária de
um a quatro anos e sexo masculino. Matos et al (2008) e Alcântara, Vieira & Albuquerque
(2003) também encontraram maior incidência de eventos tóxicos em crianças do sexo
masculino. O sexo masculino também é mencionado como fator de risco para as
intoxicações pela OMS (OMS, 2008). Já Tyrrel et al (2012) não haviam encontrado
associação significativa entre o sexo da criança e a ocorrência de qualquer intoxicação.
Ainda, o número de internações por intoxicação medicamentosa em menores de
cinco anos durante o período estudado variou ao longo dos anos de forma diferente entre
os menores de um mês e as crianças mais velhas. Comparando o primeiro e o último ano
120
do período, percebe-se que enquanto o número de internações caiu para as faixas etárias
maiores do que 28 dias, nas idades menores, o número de internações aumentou.
Outra observação que colabora nessa análise é que o ano com maior número de
internações foi 2003 para as faixas etárias de 29 a 364 dias, dois, três e quatro anos.
Enquanto para as faixas etárias de zero dia e de um a 28 dias, os anos com mais
internações foram, respectivamente, 2008 e 2012.
Ainda, percebe-se que no ano de 2008, apenas as idades de 29 a 364 dias e três
anos não apresentaram aumento no número de internações em relação ao ano anterior.
Todavia, nos anos seguintes, a tendência de queda retornou a aparecer, exceto para a faixa
etária de um a 28 dias.
O ano de 2008 configurou um ano atípico pois houve um aumento no número de
internações por intoxicação medicamentosa tanto entre os menores de cinco anos quanto
para a população geral. No entanto, o total de internações que ocorreram no SUS neste
mesmo ano – tanto o geral quanto o de menores de cinco anos – diminuiu.
Neste ano, ocorreram algumas mudanças na política de medicamentos no país,
incluindo a publicação do Formulário Terapêutico Nacional – um documento que busca
orientar os profissionais de saúde a respeito dos medicamentos, trazendo informações
como suas indicações e doses corretas, baseadas em evidências clínicas –, a publicação
de uma nova versão da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e o
início de uma campanha educativa chamada de “A informação é o melhor remédio” que
distribuiu material informativo sobre o uso correto dos medicamentos. Essas três medidas
tinham como objetivo promover o uso racional de medicamentos (CFF, 2009). Ainda,
houve a publicação de uma nova RDC sobre a propaganda de medicamentos no país
(RDC 96/2008). Todas estas ações podem ter influenciado na diminuição no número de
internações por intoxicações medicamentosas em menores de cinco anos a partir deste
ano.
Contudo, esta queda no número de internações por intoxicações medicamentosas
em menores de cinco anos foi suficiente apenas para que os valores voltassem ao patamar
visto no período anterior a 2008. É possível que, em 2008, tenha havido uma melhora no
sistema de identificação dos diagnósticos de intoxicação, fazendo com que um maior
número de internações fosse identificado como causadas por intoxicações
medicamentosas.
121
Uma das causas dessa melhoria pode ter sido a implantação, em janeiro deste
mesmo ano, da Tabela Unificada de Procedimentos, Medicamentos e Órteses, Próteses e
Materiais Especiais do SUS. Esta tabela, publicada na Portaria GM/MS nº. 2.848, de 06
de Novembro de 2007, passou a estabelecer que o procedimento para o “tratamento de
intoxicação ou envenenamento por exposição a medicamento e substâncias de uso não
medicinal” fosse vinculado a um determinado rol de diagnósticos principais.
Com isto, a realização do procedimento e, portanto o pagamento da AIH, passou
a depender do preenchimento do campo “diagnóstico principal” com um dos diagnósticos
listados. Essa exigência pode ter aumentado o número de internações registradas como
tendo sido causadas por estas intoxicações.
Para verificar se essa hipótese é válida, comparou-se o número de internações em
que as intoxicações foram os diagnósticos principais entre os anos de 2007, 2008 e 2009.
No primeiro ano, ocorreram 932 internações apenas com diagnóstico principal
relacionado às intoxicações medicamentosas. Em 2008, foram 1.234 internações e, em
2009, foram 1.085 internações. Para as internações em que as intoxicações
medicamentosas foram registradas apenas como diagnósticos secundários, o aumento foi
menor: 292, 318 e 342 internações, respectivamente. O número de internações com dois
diagnósticos de intoxicação diminuiu no período.
Portanto, esses dados corroboram a hipótese de que a Portaria GM/MS nº. 2.848,
de 2007, fez com que houvesse um aumento de registros de intoxicações ao vincular o
procedimento de tratamento de intoxicação ao preenchimento do diagnóstico principal
com um dos códigos da CID-10 relacionados à intoxicação medicamentosa listado.
Quanto às regiões do país
A maior parte dos pacientes residia na região Sudeste no momento da internação.
A segunda maior região em número de internações foi a região Nordeste. Esta relação já
era esperada pois estas regiões concentram a maior parte da população brasileira – cerca
de 69,0% da população, segundo o IBGE (IBGE, 2011).
A região Sudeste foi a responsável pelo maior número de internações por esta
causa em todas as faixas etárias estudadas. Essa constatação já era esperada já que esta
região é a mais populosa do país e também aquela em que há maior riqueza. Assim, nesta
região, há uma população maior e, ao mesmo tempo, as suas famílias possuem uma renda
122
maior. A renda influencia positivamente a utilização de medicamentos, inclusive entre as
crianças, tornando-as sujeitas a um risco maior de intoxicações.
No entanto, apesar de ser a segunda região mais populosa do país, a região
Nordeste não foi a responsável pelo segundo maior número de casos em todas as faixas
etárias. Isso só ocorreu nas crianças de zero dia, um ano, três anos e quatro anos. Entre as
internações que ocorreram em crianças entre um e 28 dias, entre 29 e 364 dias e dois anos,
o segundo maior número de internações ocorreu na região Sul, responsável pelo segundo
maior Produto Interno Bruto (PIB) do país, ou seja, a segunda mais rica do Brasil (IBGE,
2011). Com isso, percebe-se que tanto a questão econômica quanto a populacional
interferem no número de internações por intoxicação medicamentosa.
Outra observação é que a região Norte foi a região responsável pelo menor número
de internações, o que se repetiu para todas as idades exceto zero dia e entre 29 e 364 dias.
Além de apresentar o menor PIB, a população da região Norte está entre as menores do
país, o que justifica o menor número de internações no período. Ainda, esta região
apresenta inúmeras dificuldades para o deslocamento dos pacientes até as unidades de
saúde mais próximas, o que acaba se tornando um fator impedidor de internações. Além
disso, segundo o DATASUS, a região Norte é aquela com menor relação de número de
leitos/habitante, o que reduz ainda mais a possibilidade de internações. No caso das
internações envolvendo crianças de zero dia, o menor número de internações ocorreu na
região Centro-Oeste enquanto a região Nordeste registrou o menor número de internações
de crianças entre 29 e 364 dias.
Ainda, em relação à faixa etária, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o maior
número de internações ocorreu entre as crianças de dois anos de idade, acompanhando o
visto para todo o país. Contudo, na região Norte o maior número de internações ocorreu
em crianças de um ano enquanto na região Nordeste, as crianças de três anos
representaram a maior parte das internações. O maior número de internações entre
crianças acima de um ano pode indicar que estas internações são consequência de
intoxicações medicamentosas acidentais, já que nesta idade, as crianças possuem maior
independência em relação aos adultos.
Não se pode desprezar outras hipóteses que justifiquem o maior número de
intoxicações medicamentosas em crianças maiores de um ano. Como as crianças se
tornam mais independentes e curiosas a partir desta idade, esta é uma fase da infância
onde os pais e responsáveis devem ter um cuidado ainda maior com seus filhos. No
123
entanto, as crianças não estão sujeitas apenas aos casos de autointoxicação acidental.
Alguns fatores como a menor idade materna, baixa escolaridade dos pais, número de
filhos e outros determinantes sociais podem fazer com que os próprios pais intoxiquem
seus filhos acidentalmente (TYRREL et al, 2012).
Também não pode ser ignorado que alguns pais e responsáveis medicam seus
filhos para que eles se tornem menos agitados, o que poderia ser interpretado como um
abuso de medicamentos pelos pais, e que existe a possibilidade de uma intoxicação ser
consequência dos erros de medicação e não de uma causa acidental.
Ao se avaliar a distribuição de internações envolvendo as distintas faixas etárias,
observa-se que a maior proporção de casos envolvendo crianças de zero dia ocorreu na
região Norte – 3,7%. Nota-se, inclusive, que esta proporção é o dobro da proporção
nacional – 1,8%. A região Sudeste também teve proporção de internações nesta idade
maior que a nacional – 2,1%. Ao mesmo tempo, apenas 0,9% das internações que
ocorreram na região Sul envolveu pacientes com zero dia. Esta proporção é metade da
vista em âmbito nacional.
Entre as internações envolvendo crianças entre um e 28 dias, apenas a região
Sudeste teve proporção de casos maior que a proporção nacional – 3,5% e 2,2%,
respectivamente – enquanto, na região Nordeste, apenas 0,6% das internações por
intoxicação medicamentosa envolveu essa mesma faixa etária. Considerando-se as
crianças entre 29 e 364 dias, a região Nordeste foi aquela com menor proporção de casos
– 1,4% -, enquanto a proporção do Brasil foi de 12,8%. Entre as crianças acima de um
ano, não foram observadas diferenças significativas entre estas proporções.
O estado de São Paulo foi responsável por mais de 25% dos casos, considerando-
se tanto a Unidade Federativa de internação quanto a Unidade Federativa de residência.
Além disso, São Paulo também foi o estado de residência de 38,7% dos pacientes
internados com zero dia e de 62,0% das internações em crianças entre um e 28 dias. Os
cinco estados com maior número de casos (São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul,
Bahia e Rio de Janeiro) somam cerca de 60% dos casos que ocorreram no país.
Ainda, a região do país não influenciou diferenças no número de internações entre
crianças do sexo masculino e feminino. Em todas elas, as crianças do sexo masculino
foram responsáveis pela maior parte das internações por intoxicação medicamentosa, o
que já havia sido observado para todo o país. Portanto, mais do que diferenças regionais,
o maior número de casos parece ser reflexo de diferenças comportamentais entre meninos
124
e meninas. No entanto, a região Norte foi aquela em que a participação das crianças de
sexo masculino foi maior – 54,5%.
Em relação à natureza jurídica do estabelecimento de saúde onde ocorreu a
internação, houve diferenças significativas entre as regiões brasileiras. Nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, o setor público foi responsável pelo maior número de
internações e a participação do setor privado foi maior que a do setor conveniado. As
regiões com maior participação do setor privado nas internações foram as regiões
Nordeste e Centro-Oeste. Já nas regiões Sul e Sudeste, o setor conveniado foi responsável
pelo maior número de internações seguidos pelos setores público e privado.
O maior número de internações em estabelecimentos públicos nas regiões Norte,
Centro-Oeste e Nordeste tem grande relação com a maior disponibilidade dos leitos
pediátricos públicos frente aos leitos de internações em estabelecimentos não-públicos
nestas regiões. Em dezembro de 2012, último mês do período estudado, as regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste possuíam mais leitos públicos que leitos conveniados e privados
vinculados ao SUS (Tabela A1). Assim, era esperado que nestas regiões, a maior parte
das internações ocorresse em estabelecimentos públicos. Fora que o acesso aos planos de
saúde privados é menor naquelas regiões, fazendo com que uma maior parte dos
atendimentos ocorra nas unidades de saúde vinculadas ao SUS.
O mesmo não ocorreu nas regiões Sudeste e Sul, onde o número de leitos
pediátricos em estabelecimentos conveniados e privados era, em dezembro de 2012,
maior que os leitos públicos. Da mesma forma, era esperado que nestas regiões, a maior
parte das internações tivesse ocorrido em estabelecimentos não públicos, já que há maior
disponibilidade de leitos naqueles estabelecimentos. Além disso, nestas regiões, uma
grande parcela da população possui planos de saúde, o que faz com que exista mais leitos
disponíveis em estabelecimentos privados.
Quanto ao perfil de atendimento
Para o total de internações por intoxicação medicamentosa envolvendo menores
de cinco anos entre 2003 e 2012, 46,3% ocorreram nos estabelecimentos de saúde
públicos. Os leitos privados foram aqueles com menor participação no número de
internações – 14,0%. Independente da natureza jurídica, o maior número de internações
ocorreu entre as crianças de dois anos de idade. Os estabelecimentos de saúde públicos
foram responsáveis pelo maior número de internações em maiores de um mês. Já os
125
estabelecimentos conveniados foram responsáveis pelo maior número de internações em
crianças entre um e 28 dias. Entre as crianças com zero dia de vida, a participação dos
setores público e conveniado no total de internações foi semelhante.
É importante ressaltar que a natureza jurídica do estabelecimento de saúde pode
determinar padrões terapêuticos. Assim, pacientes internados em unidades particulares
podem utilizar um maior número de medicamentos do que os internados em outras
unidades, associação que já foi realizada por Osorio-de-Castro et al (2004) e Gomes et al
(1999). O maior consumo de medicamentos está associado a uma possibilidade maior de
intoxicações, principalmente na faixa etária estudada, devido à imaturidade de seu
organismo e o uso de medicamentos inapropriados. Contudo, neste estudo, o setor privado
foi responsável pela minoria das internações.
A evolução das internações por intoxicação medicamentosa em menores de cinco
anos por ano mostra que a diminuição no número de internações no período se refletiu
em estabelecimentos de todas as naturezas – públicos, privados e conveniados. Contudo,
percebe-se que a diminuição no número de internações no setor privado foi mais
acentuada do que nos demais estabelecimentos – as internações que ocorreram em 2012
(102) são menos de um terço das internações que ocorreram em 2003 (383). Ao mesmo
tempo, o ano de 2004 teve uma distribuição de internações diferente da que ocorreu nos
demais anos, já que o setor conveniado foi responsável pelo maior número de internações.
Seguindo a trajetória dos pacientes, um quarto destes foi internado em município
diferente do seu município de residência. O paciente também teve que se deslocar entre
as Unidades da Federação. Enquanto Piauí, Pernambuco, São Paulo e Distrito Federal
possuíram um número maior de pacientes internados do que pacientes residentes, outros
estados como Pará, Maranhão, Minas Gerais, Bahia e Goiás possuíram maior número de
pacientes residentes do que internados. Isso significa que aqueles estados receberam
pacientes de outras Unidades da Federação enquanto estes enviaram seus pacientes a
outros estados.
Em algumas Unidades Federativas, a internação fora do município de residência
do paciente ocorreu em proporções maiores que a observada no país, destacando-se
Sergipe e Espírito Santo. Nestes estados, a proporção de internações em municípios
diferentes atingiu 49% e 48% do total, respectivamente. Ou seja, nesses dois estados,
quase metade das internações por intoxicação medicamentosa envolvendo menores de
cinco anos ocorreu fora do município de residência do paciente. De modo contrário, o
126
estado do Amazonas foi aquele com menor proporção de internações em município
distinto daquele de residência – apenas 5% dos casos.
Uma hipótese a ser considerada para explicar estas observações é a de que o
número de municípios da Unidade Federativa pode interferir nesta análise, de modo que
as Unidades Federativas com maior número de municípios poderiam apresentar uma
quantidade maior de internações fora do município de residência. No entanto, Minas
Gerais – o estado com maior número de municípios do país – e o Distrito Federal – que é
uma unidade administrativa única – apresentaram proporção de internações fora do
município de residência semelhantes – 30% e 29%, respectivamente. Portanto, esta
hipótese não pode ser a única explicação para a diferença entre todas as Unidades
Federativas.
Todavia, o número de internações fora do município de residência também deve
se relacionar com a possibilidade de deslocamento entre os municípios, já que esta pode
se sobrepor às necessidades de saúde do paciente. Assim, embora haja a necessidade, os
pacientes não são transferidos devido à impossibilidade de deslocamento. Isso justifica o
fato de estados onde essa locomoção é mais difícil terem tido uma proporção de
internações fora do município de residência menor do que a proporção nacional – 25,3%
– no período. Nesta condição, se encontram os estados da região Norte.
Outro fator que pode diminuir o deslocamento dos pacientes é a existência de uma
rede hospitalar maior no município de residência, como no caso do Rio de Janeiro e São
Paulo. Já a região Nordeste teve uma proporção de internações com deslocamento do
paciente maior que a nacional, o que pode ter relação com a menor estrutura das unidades
de saúde de alguns municípios. Essa última hipótese também se aplica aos casos onde um
único município ou um pequeno grupo de municípios possuem uma rede de assistência
hospitalar maior e atraem a clientela de outros municípios, através ou não da pactuação
entre os mesmos.
Estas hipóteses também podem justificar a relação de óbitos/número de
internações por região. As regiões Norte e Nordeste possuem, respectivamente, as duas
maiores relações – 1,1% e 0,6% –, superiores à relação de número de óbitos/número de
internações do país – 0,4%. A dificuldade de deslocamento na região Norte faz com que
a trajetória dos pacientes fique restrita aos seus municípios de residência. Já no Nordeste,
a menor estrutura dos municípios obriga os pacientes a se deslocarem a procura de
atendimento. Infelizmente, as duas situações fazem com que os casos de maior gravidade
127
não tenham a assistência hospitalar necessária no tempo correto. Assim, quando o
paciente chega aos serviços de saúde, seu estado de saúde é mais grave, o que acaba
levando o paciente ao óbito.
Ainda, a relação de internações com utilização de leitos de UTI/número de
internações na região mostra que a região Nordeste foi a que teve a menor relação. Ao
mesmo tempo, a região Norte teve uma utilização de UTI maior que a da região Sudeste.
Essa constatação corrobora a hipótese de que, na região Norte, a dificuldade de
deslocamento faz com que um maior número de pacientes chegue ao estabelecimento de
saúde em um estado mais grave em relação às demais regiões, o que levaria a uma maior
utilização de leitos de UTI. Já na região Sudeste, a dificuldade de deslocamento é menor,
e portanto, os casos mais graves podem ser atendidos mais rapidamente, sem que haja o
agravamento do estado de saúde dos pacientes. Ainda, na região Sudeste, como a
disponibilidade de leitos é maior, não só os casos mais graves de intoxicação são
atendidos, mas também aqueles menos graves. Isso faz com que a proporção de utilização
de UTI seja menor em relação à região Norte.
Ainda, deve-se considerar o número de leitos de UTI disponíveis em cada região
já que só podem ocorrer internações em UTI se estes leitos estiverem disponíveis.
Segundo dados do DATASUS, em dezembro de 2012, a região Norte era a região que
contava com o menor número de leitos complementares pediátricos (somando-se os
neonatais e os infantis) enquanto a região Sudeste era aquela com maior número destes
leitos (Tabela A2).
Em nenhuma das faixas etárias estudadas, o número de internações fora do
município de residência ultrapassou o número de internações sem necessidade de
deslocamento do paciente. Em números absolutos, os menores de um ano tiveram menor
necessidade de se dirigir a outro município para serem internados enquanto as crianças
de dois anos foram aquelas com maior necessidade de se deslocar. Considerando a
proporção de internações que ocorreram fora do município de residência dentre as
internações envolvendo a faixa etária, apenas as crianças entre um e 28 dias e as crianças
de um ano possuíram proporção menor que a encontrada para a população menor de cinco
anos. De modo oposto, as faixas etárias onde houve a maior necessidade de deslocamento
do paciente foram, respectivamente, crianças de quatro anos, crianças entre 29 e 364 dias
e crianças de três anos.
128
Pode-se considerar que a internação de recém-nascidos (faixa etária zero dia) é
uma consequência da internação da gestante. Assim, o deslocamento encontrado para esta
faixa etária indica provavelmente o deslocamento feito para que houvesse assistência ao
parto. A menor necessidade de internações fora do município para a faixa etária seguinte
– crianças entre um e 28 dias – mostra que existe uma estrutura de atendimento neonatal
em um maior número de municípios, diminuindo a necessidade de deslocamento do
paciente. Nas demais faixas etárias, a necessidade de internação fora do município oscila,
o que pode ser reflexo tanto da gravidade do estado do paciente quanto das condições
estruturais da unidade de saúde que o recebeu.
Houve diferença no perfil de trajetória em relação aos tipos de leitos de internação:
os casos que necessitaram da trajetória representaram 37,8% dos casos de internações
com uso de UTI e 24,4% de leitos comuns. Isso indica que a necessidade de utilização de
UTI obriga os pacientes a se deslocarem até os municípios onde estes leitos estão
disponíveis.
Por sua vez, a utilização de leitos de UTI ocorreu em 7,3% das internações
estudadas. Os leitos de UTI foram em sua maioria de estabelecimentos públicos, seguidos
dos conveniados e particulares. Essa distribuição tem relação com o número de leitos
complementares (UTI) neonatais e infantis disponíveis em dezembro de 2012, último mês
estudado (Tabela A2). Segundo o DATASUS, o maior número de leitos era público,
seguidos dos privados e dos conveniados. Assim, as internações envolvendo UTI em
estabelecimentos conveniados ocorreram em maior número do que nas unidades
particulares apesar do menor número de leitos disponíveis. Essa constatação pode indicar
que os estabelecimentos conveniados utilizam os leitos de UTI como um modo de
aumentar o valor pago pela internação e não apenas pela necessidade do paciente. No
entanto, esta última possibilidade pode ocorrer nos estabelecimentos de todas as
naturezas.
A faixa etária com maior número de internações em leitos de UTI foi a de dois
anos. No entanto, as crianças entre um e 28 dias e as entre 29 e 364 dias representam
aquelas em que os leitos de UTI foram utilizados, proporcionalmente, no maior número
de internações – 8,6% e 8,2%, respectivamente. Estas duas faixas etárias e as crianças
com dois anos de idade tiveram proporção de utilização de UTI maior que a encontrada
para a mesma causa na população menor de cinco anos. De modo oposto, as crianças de
129
um ano e zero dia foram aquelas com menor utilização proporcional – 6,0% e 6,4%,
respectivamente.
Esta variação da utilização conforme a faixa etária pode ter ocorrido devido a uma
melhora na qualidade da atenção neonatal, fazendo com que as crianças menores de um
ano sejam melhor assistidas. Ainda, segundo o DATASUS, em dezembro de 2012, último
mês do período estudado, os leitos complementares de UTI neonatais estavam disponíveis
em maior número do que os mesmos leitos pediátricos – 4.055 e 2.279, respectivamente,
considerando apenas os leitos vinculados ao SUS. Assim, essa maior oferta de leitos
neonatais pode ter favorecido a internação desta faixa etária nestes leitos.
Ainda, a utilização de leitos de UTI variou conforme a região de residência do
paciente. Em termos de utilização de UTI entre as internações ocorridas em cada região,
tem-se que a região Sul foi aquela em que esta ocorreu com maior intensidade – 13,9% -
enquanto na região Nordeste, esta proporção foi a menor do país – 4,2%. Todavia, a região
Sul possuía menos leitos complementares neonatais e pediátricos do que as regiões
Sudeste e Nordeste em dezembro de 2012.
Assim, estas duas regiões apresentam dois perfis distintos: a região Nordeste
apresentou a maior proporção de internações fora do município de residência ao mesmo
tempo em que a utilização de leitos de UTI foi a menor do país. No Nordeste, ocorreram
21,0% das internações por intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos do país
e 12,2% das internações envolvendo UTI por esta causa. Já a região Sul foi responsável
por 17,4% das internações por intoxicação medicamentosa e 33,2% das internações
envolvendo UTI por esta causa. No Sul, também houve a maior proporção de internações
com necessidade de UTI e a menor relação de número de óbitos por internação.
Destas informações, pode-se concluir que na região Nordeste, o principal motivo
de deslocamento de pacientes não foi a utilização de leitos de UTI, o que indica mais uma
vez a baixa estrutura assistencial para os casos de intoxicação medicamentosa que
necessitam internação. Ainda, pode-se dizer que a região Sul utiliza, proporcionalmente,
mais leitos de UTI do que as demais regiões. No entanto, esta característica pode estar
relacionada ao menor número de óbitos, demonstrando uma melhor qualidade no
atendimento destes pacientes.
Além da utilização de leitos de UTI, o tempo de permanência do paciente também
é um fator indicativo da gravidade de seu estado de saúde. De modo geral, entende-se que
os pacientes mais graves demorarão mais tempo para se reestabelecer. Portanto, pode-se
130
inferir que quanto maior o tempo de permanência do paciente no estabelecimento de
saúde, maior a gravidade de seu estado de saúde.
Considerando as intoxicações medicamentosas, vários fatores podem interferir na
gravidade do quadro, entre eles, o agente tóxico envolvido e a idade do paciente. Durante
o período estudado, o tempo médio de permanência foi de três dias. Este valor é bastante
superior ao encontrado por Olguín et al (2011), no México, onde nenhuma criança
permaneceu mais de 24 horas hospitalizada. Já Moreira et al (2010) encontraram tempo
de permanência para intoxicações medicamentosas nesta faixa etária de 2,9 dias, bem
próxima a encontrada neste estudo.
A mediana do tempo de permanência foi um pouco menor, tendo sido de dois dias.
Ainda, houve uma ampla variação no número de dias que os pacientes estiveram
internados. Segundo os registros da AIH, esses valores variaram entre zero e 745 dias.
No entanto, nenhuma das internações em que o tempo de permanência foi maior que cem
dias eram AIH de longa permanência (tipo 5). Desta forma, entende-se que estes valores
provavelmente não configuram o tempo real que o paciente esteve internado mas sim,
representam erros no preenchimento das informações presentes na AIH, podendo estar o
erro tanto na data de entrada na unidade de saúde quanto a data de saída. Infelizmente,
não é possível saber o tempo correto de permanência destas internações e, portanto, o
tempo médio de permanência encontrado é mais alto do que o real.
Os pacientes com menor idade permaneceram internados por um período maior
do que as crianças mais velhas. As crianças de zero dia tiveram um tempo de permanência
de seis dias e mediana de três dias. Para as crianças mais velhas, a mediana de
permanência foi de dois dias para todas as faixas etárias. Já o tempo de permanência
médio foi de três dias para as crianças de um a 28 dias, 29 a 364 dias e um ano enquanto
para as faixas etárias de dois, três e quatro anos, a permanência média foi de dois dias.
É compreensível que o tempo de permanência médio diminua conforme a idade
aumente. Isso ocorre porque as crianças mais velhas possuem um organismo mais maduro
e que, portanto, pode metabolizar melhor os fármacos com os quais entra em contato.
Ainda, a disponibilidade de medicamentos apropriados para a faixa etária que as consome
é maior para as crianças mais velhas.
Por sua vez, não houve variação no tempo de permanência médio conforme o sexo
do paciente. Meninos e meninas tiveram tempo de permanência médio igual a três dias e
mediana de permanência de dois dias. Ao mesmo tempo, a utilização de leitos de UTI
131
entre os dois sexos foi semelhante à distribuição de todas as internações, tendo os meninos
ocupado 54,0% destes leitos. Esses resultados indicam que não houve diferença entre a
gravidade dos casos entre crianças do sexo masculino e feminino.
A necessidade de sair do município de residência para ser internado teve tempo
de permanência médio de três dias. Pacientes que não necessitaram deste deslocamento
ficaram, em média, dois dias internados. Apesar da diferença no tempo de permanência
média, a mediana do tempo de permanência para ambos os casos foi de dois dias. Esse
achado indica que a necessidade de deslocamento aumenta o tempo de permanência
médio destas internações, o que também foi observado por Moreira et al (2010), em
estudo realizado em Juiz de Fora. Estes autores observaram que os pacientes de outras
localidades passaram mais tempo internados do que os pacientes locais. Todavia, os
autores avaliaram intoxicações por todas as causas e faixas etárias.
Isso pode acontecer devido a três hipóteses: a primeira é que o deslocamento
ocorreu porque o paciente se encontrava em um estado mais grave e, portanto, necessitou
de um atendimento mais especializado, em outro município; a segunda, é que o
deslocamento agiria tanto como uma barreira de entrada quanto de saída do paciente,
fazendo com que ele fique mais tempo internado, e; a terceira seria que a necessidade de
deslocamento levaria ao agravamento do quadro clínico do paciente e, portanto, ele
levaria um período maior para receber alta.
A utilização de UTI também gera maior tempo de permanência médio, o que
parece ser consequência da maior gravidade destes casos. Quando há a utilização destes
leitos, o tempo de permanência médio é de quatro dias face aos dois dias de permanência
na sua não-utilização. Nestes casos, a mediana também se alterou: três dias quando houve
a utilização de UTI e dois dias quando não houve.
As internações onde o paciente evoluiu ao óbito tiveram tempo de permanência
médio de seis dias enquanto as que não tiveram a mesma evolução tiveram tempo de
permanência médio de três dias. Todavia, a mediana de permanência foi a mesma,
independente da evolução da internação – dois dias. Assim, pode-se entender que os casos
de óbito demandam um maior tempo de internação médio em relação aos demais, o que
reflete a gravidade destes casos.
As regiões Norte e Nordeste apresentaram maior tempo de permanência médio
(três dias) frente às demais regiões (dois dias). A mediana não se alterou, sendo de dois
dias para todas as regiões. Aparentemente, o maior tempo de permanência das regiões
132
Norte e Nordeste tem relação com o discutido a respeito da relação número de
óbitos/número de internações, onde os pacientes dessas duas regiões podem chegar às
unidades de saúde em um estado mais grave. No entanto, no caso da região Nordeste, é
possível que esteja presente um fator confundidor, já que nas internações onde houve
necessidade de deslocamento, o tempo de permanência médio foi maior e esta região foi
aquela em que houve o maior número de internações fora do município de residência do
paciente.
Considerando as Unidades Federativas, o Amapá teve o maior tempo de
permanência médio (cinco dias), seguido do Acre (quatro dias). Nove estados tiveram
tempo de permanência médio de dois dias – Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal. Os
demais estados tiveram tempo de permanência médio de três dias.
O tempo de permanência médio em estabelecimentos conveniados foi
ligeiramente menor (dois dias) em relação aos estabelecimentos privados e públicos (três
dias). A mediana não se alterou, sendo de dois dias para o estabelecimento de todas as
naturezas jurídicas.
Apesar do número de internações, deve-se considerar que 26,3% destas
internações foram geradas por duas intoxicações medicamentosas. Deste modo, as
internações causadas por duas intoxicações foram responsáveis por 41,7% das
intoxicações. Assim sendo, mesmo sendo a minoria das internações, as internações por
dois diagnósticos de intoxicação causam uma importante parcela das intoxicações.
Considerando o período de estudo, no geral, o número de internações caiu tanto
para aquelas causadas por um quanto por dois diagnósticos. No entanto, em 2008, o
número de internações por uma intoxicação medicamentosa aumentou enquanto o
número de internações por duas intoxicações medicamentosas diminuiu. Já, em 2012,
ambas aumentaram.
O número de internações por um diagnóstico de intoxicação e por dois
diagnósticos de intoxicação aumentou conforme a idade até os dois anos de idade, a partir
da qual ambas diminuíram. Esse padrão é igual ao observado para o conjunto de
internações.
Para todos os grupos etários, o número de internações por uma intoxicação foi
maior do que aquelas causadas por duas intoxicações. Proporcionalmente, as crianças de
três anos foram aquelas envolvidas em um maior número de internações por duas
133
intoxicações – 30,1% – enquanto as crianças de zero dia foram as que menos se
envolveram nestas internações.
Um maior número de internações por um diagnóstico de intoxicação utilizou leitos
de UTI em vista às internações com dois diagnósticos de intoxicação – 886 e 405,
respectivamente. Mas as intoxicações por dois diagnósticos de intoxicação foram as que
utilizaram maior proporção de leitos de UTI – 8,7%. Esse resultado é razoável já que,
quando ocorrem duas intoxicações ao mesmo tempo, a criança está duplamente exposta
aos seus riscos e, portanto, apresentaria um quadro mais grave do que aquelas expostas a
apenas um medicamento. No entanto, essa não é uma regra geral, visto que a gravidade
dos casos também depende dos agentes tóxicos envolvidos e não apenas do número de
agentes tóxicos envolvidos.
Além disso, o tempo de permanência foi maior para as internações com um
diagnóstico de intoxicação (três dias) do que para aquelas com dois diagnósticos de
intoxicação (dois dias). Em termos de mediana de permanência, o número de dias não se
alterou em relação ao número de intoxicações, se mantendo em dois dias.
Como algumas internações foram provocadas por mais de uma intoxicação,
ocorreram mais intoxicações do que internações. No total, ocorreram 22.395 intoxicações
medicamentosas em 17.725 internações, o que representa uma proporção de 1,26
intoxicações/internação.
Quanto à mortalidade
No período, ocorreram 75 óbitos, o que leva a uma taxa de mortalidade de 0,4%.
O número de óbitos foi menor do que os encontrados nos Estados Unidos, por exemplo.
Segundo Mowry et al (2013), apenas em 2012, ocorreram 46 óbitos em menores de cinco
anos por esta causa. No mesmo ano, ocorreram sete óbitos no Brasil entre as intoxicações
que necessitaram de internação. No entanto, os dados de Mowry et al (2013) são oriundos
das ligações feitas aos Centros de Informações Toxicológicas norte-americanos e não de
registros hospitalares.
Apesar de não ter relação com a realidade norte-americana, este estudo encontrou
dois óbitos em menores de um mês e sete óbitos em crianças entre um mês e um ano,
entre 2003 e 2005. Estes valores foram os mesmos encontrados por Lessa & Bochner
(2008).
134
A proporção de óbitos em internações por intoxicações medicamentosas em
menores de cinco anos diminuiu conforme a idade. Isso já era esperado pois, à medida
que a criança cresce, seu metabolismo se desenvolve e se torna cada vez mais capaz de
metabolizar os medicamentos adequadamente. Ao mesmo tempo, muitos medicamentos
já são indicados para a faixa etária acima de dois anos de idade, diminuindo o número de
intoxicações devido ao uso não indicado desses medicamentos.
A faixa etária com maior número de óbitos foi a de crianças de um ano de idade.
Também houve uma queda no número de internações que evoluíram a óbito durante o
período de estudo – de 13 óbitos, em 2003 para sete óbitos, em 2012, representando uma
diminuição de aproximadamente metade dos casos. No entanto, este valor oscilou no
período, atingindo o menor valor em 2007 (dois óbitos).
Entre os casos de óbito, 70,7% ocorreram em estabelecimentos de saúde públicos
e 28,0% em estabelecimentos conveniados. Comparativamente, a proporção de
internações que evoluíram ao óbito foi bastante superior à proporção de internações nos
estabelecimentos públicos – 70,7% e 46,2%, respectivamente. De modo contrário, os
estabelecimentos particulares foram responsáveis por 14,1% das internações mas apenas
1,3% das internações com óbito ocorreram nestes estabelecimentos.
Esses achados podem indicar que os casos mais graves são encaminhados aos
estabelecimentos públicos. Outra possibilidade é que os estabelecimentos públicos não
estejam preparados para atender essa população adequadamente. A taxa de mortalidade
entre os estabelecimentos de diferentes naturezas jurídicas ilustra essas diferenças: 0,04%
nos estabelecimentos privados; 0,3% nos conveniados e 0,6% nos públicos. Nota-se que
tanto o setor privado quanto o público possuem taxas de mortalidade menores daquela
vista no país – 0,4%.
Comparando-se estes dados a respeito da mortalidade e aqueles que indicam a
gravidade dos casos, tem-se que a utilização de leitos de UTI entre as diferentes naturezas
jurídicas foi de 8,1% para estabelecimentos privados, 8,0% para públicos e 6,2% para os
conveniados. Já o tempo de permanência médio entre estes estabelecimentos – três dias
para estabelecimentos privados e públicos e dois dias para os conveniados. Assim, em
relação à proporção de casos graves, não houve diferença entre os estabelecimentos
públicos e privados que justifique a diferença na taxa de mortalidade encontrada para
estes estabelecimentos.
135
O número de óbitos foi maior nas internações que ocorreram na região Sudeste.
Os pacientes que residiam em São Paulo foram 24% dos casos de óbito. No entanto, é
importante lembrar que este estado foi responsável por cerca de 25% das internações, o
que torna a proporção de óbitos compatível com o número de internações. Já a relação de
internações que evoluíram a óbito por número de pacientes internados foi maior nas
regiões Norte e Nordeste e, em contrapartida, menor na região Sul. Segundo Travassos,
Oliveira & Viacava (2006), o Norte é a região onde a utilização de serviços de saúde é a
menor do Brasil. Isso pode ser entendido ao se considerar as dificuldades de deslocamento
presentes nesta região e que impossibilitam o atendimento nas unidades de saúde,
inclusive a internação de crianças intoxicadas. Deste modo, apenas os casos mais graves
seriam atendidos e a maior proporção de óbitos se justificaria pela maior gravidade destes
pacientes.
Em relação à região Nordeste, observou-se que nesta região o deslocamento de
pacientes foi o maior do país. Uma hipótese para a necessidade dessa trajetória do
paciente seria uma baixa estrutura assistencial, o que também justifica o número de óbitos
por internação maior que a encontrada para todo o país. Já na região Sul, essa relação foi
menor do que a vista em nível nacional. Nessa região, foi observada uma maior proporção
de internações com necessidade de UTI por internação. Esta observação indica um melhor
atendimento das crianças envolvidas em intoxicação medicamentosa e, portanto, elas
evoluiriam para quadros mais favoráveis e haveria um menor número de internações com
óbitos.
Em 63 internações por um diagnóstico de intoxicação e em 12 internações por
dois diagnósticos de intoxicação ocorreram óbitos. Em uma primeira análise, parece
contraditório que o número de óbitos tenha sido maior entre as internações por uma
intoxicação medicamentosa, afinal, duas intoxicações simultâneas configuram um quadro
mais grave. No entanto, proporcionalmente ao número de internações, esses valores
representam uma taxa de mortalidade de 0,5% e 0,3%, respectivamente. Essas taxas são
próximas à taxa de mortalidade vista para o total de internações por intoxicação
medicamentosa. Assim, o número de intoxicações que levaram à internação da criança
não parece ser um fator de risco para seu óbito.
Embora a taxa de mortalidade das internações de crianças menores de cinco anos
por intoxicação medicamentosa tenha sido baixa – 0,42% -, comparativamente, esta taxa
é maior do que a vista por todas as causas na mesma faixa etária – 0,35%. Isto se repetiu
136
para todas as regiões do país, exceto na Sul, onde elas foram iguais. Portanto, as
intoxicações medicamentosas representam um perigo maior para a população infantil do
que o conjunto de problemas relacionados à saúde e acidentes.
Quanto aos medicamentos envolvidos
No que tange as classes terapêuticas envolvidas nas intoxicações, não foram
registradas internações por intoxicações causadas por fármacos que atuam no sangue e na
coagulação em nenhum ano do período para a faixa etária estudada. Ainda, só foram
registradas internações por duas intoxicações pela mesma classe terapêutica para as
seguintes classes: “analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos”,
“antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos”, “antibióticos sistêmicos”,
“fármacos que atuam no Sistema Nervoso Autônomo”, “hormônios, seus substitutos
sintéticos e seus antagonistas”, “outros fármacos e os não especificados” e “fármacos de
ação no trato gastrintestinal”. Ao contrário, a única classe terapêutica que só esteve
presente em internações causadas por um diagnóstico de intoxicação foi a de “fármacos
estimulantes”.
As classes terapêuticas mais envolvidas nos casos de intoxicação foram: “outros
fármacos e os não especificados” (38,0%), “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e
antiparkinsonianos” (19,8%), “antibióticos sistêmicos” (13,4%) e “analgésicos,
antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos” (6,5%). Estas quatro classes juntas
representam 77,7% das intoxicações medicamentosas em menores de cinco anos no
período.
Esse perfil é bastante diferente do registrado nos Estados Unidos, onde, em 2012,
os analgésicos foram a principal classe terapêutica envolvida nas intoxicações em
menores de cinco anos, seguida das preparações tópicas, vitaminas e anti-histamínicos
(MOWRY et al, 2013). Mesmo se a comparação for feita entre os registros do ano de
2012, o perfil brasileiro continua sendo diferente: “outros fármacos e os não
especificados”, “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos”, “analgésicos,
antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos” e “antibióticos sistêmicos” foram as classes
envolvidas em maior número de internações. No entanto, o registro norte-americano trata
de notificações e não de internações, como no estudo atual.
Notificações de outros países seguem padrão semelhante ao norte-americano. Na
Suécia, por exemplo, os medicamentos mais envolvidos nesta faixa etária foram:
137
analgésicos, medicamentos para tosse, fitoterápicos, medicamentos de uso tópico,
vitaminas e anti-histamínicos, e; na Bélgica, onde as notificações foram, em sua maioria,
devido aos analgésicos, fármacos que atuam no sistema respiratório, fármacos que atuam
no Sistema Nervoso Central e fármacos de uso tópico (SWEDISH POISONS
INFORMATION CENTRE, 2013; CENTRE ANTIPOISONS, 2013).
Nota-se que os analgésicos estão entre os medicamentos com maior número de
registros de exposição em todos os países mencionados. Isto se deve, em muito, à sua
facilidade de aquisição e consumo excessivo em muitas sociedades. De modo contrário,
no Brasil, os “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos” e “antibióticos
sistêmicos” estão entre as quatro principais classes terapêuticas envolvidas nos casos de
internação por intoxicação medicamentosa.
No entanto, nos Estados Unidos, por exemplo, os anticonvulsivantes não
apareceram entre as dez principais classes terapêuticas responsáveis por notificações de
intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos no ano de 2012. Esta última
diferença pode ocorrer por dois motivos: o primeiro seria a diferença entre populações, já
que neste estudo, apenas as internações foram estudadas e, portanto, considera-se que só
houve necessidade de internação para aquelas intoxicações de maior gravidade, e; o
segundo motivo seriam as diferenças de acesso e consumo destas classes terapêuticas
entre as populações dos países citados.
A hipótese de diferença nas populações de estudo – internações no Brasil e
notificações em outros países – pode ser comprovada comparando os resultados deste
estudo com o realizado por Shotar (2005) envolvendo os casos de internação por
intoxicação medicamentosa em menores de seis anos entre 1996 e 2001, na Jordânia. Este
autor concluiu que as classes terapêuticas mais envolvidas foram os psicotrópicos,
seguidos de contraceptivos orais, anti-histamínicos, analgésicos e antibióticos. Este
resultado guarda mais semelhanças com o encontrado no Brasil e indica que o viés
relativo às internações é importante ao estabelecer comparações.
A hipótese de diferenças no acesso e consumo aos medicamentos pode ser
comprovada ao compararmos os resultados deste estudo às notificações registradas por
classe terapêutica. No estudo realizado por Matos et al (2008) abordando os registros
envolvendo crianças feitos pelo CIVITOX, no Mato Grosso do Sul, as classes terapêuticas
mais envolvidas foram os fármacos que atuam no Sistema Nervoso Central (22,7%),
seguidos dos antimicrobianos e antiparasitários (14,9%) e dos fármacos que atuam no
138
sistema respiratório (13,0%). Portanto, os psicofármacos e os fármacos antimicrobianos
e antiparasitários apareceram não só como as classes mais envolvidas em internações por
intoxicação medicamentosa, mas também como as classes mais envolvidas nas
notificações por esta causa. Por se tratar do mesmo país, esse resultado indica que as
crianças estão mais expostas a estes medicamentos de forma geral.
Algumas classes terapêuticas causaram menos de dez internações na década
estudada. Elas foram: “analépticos e antagonistas dos receptores dos opiáceos”,
“antídotos e quelantes, não classificados em outra parte”, “fármacos antineoplásicos e
imunossupressores”, “fármacos que agem sobre o equilíbrio eletrolítico, calórico e
hídrico”, além das sequelas causadas pelas intoxicações medicamentosas.
Apenas três classes terapêuticas tiveram um número maior de intoxicações em
internações com dois diagnósticos de intoxicação do que em internações com um
diagnóstico de intoxicação. Elas foram: os “fármacos psicotrópicos”, os “fármacos que
afetam o Sistema Nervoso Autônomo” e “outros fármacos e os não especificados”.
É notável que a classe “outros fármacos e os não especificados” indica um mau
preenchimento das informações da AIH ou, até mesmo, a impossibilidade de aprimorar o
diagnóstico de intoxicação. Infelizmente, o fato desta classe ser responsável pelo maior
número de internações encontradas no período prejudica a análise dos dados. Isto porque
a indefinição da real classe terapêutica causadora da intoxicação mascara os resultados
encontrados.
O preenchimento da AIH contendo dois diagnósticos de “outros fármacos e os não
especificados” levanta a questão de que, muitas vezes, é difícil definir a classe terapêutica
responsável pela intoxicação, já que os sinais e sintomas variam conforme o agente
tóxico, a quantidade de medicamento ingerida e a via utilizada – ingestão, inalação, etc.
Ainda, o peso da criança e a sua resistência individual também influenciam na sua
resposta clínica. Desta forma, sinais e sintomas podem ser variados e muito inespecíficos,
dificultando a determinação da classe terapêutica correta e obrigando o médico a utilizar
categorias CID-10 também inespecíficas.
No entanto, esse mau preenchimento também pode ocorrer por outros motivos
como o desconhecimento dos códigos da CID-10 referentes aos casos de intoxicação por
cada classe terapêutica e a dificuldade de correlacionar as classes terapêuticas aos códigos
da CID-10, já que algumas dessas categorias são muito abrangentes ou muito específicas.
139
Os diagnósticos por esta classe terapêutica diminuíram, comparando-se o primeiro
e o último ano do período estudados. Contudo, esta queda não parece indicar uma melhora
no preenchimento das AIH mas ser consequência da diminuição no número total de
internações que ocorreram no período.
Relacionando o número de intoxicações por classe terapêutica e ano, percebe-se
que o número de intoxicações por “antibióticos sistêmicos” diminuiu consideravelmente
em dois períodos: entre 2007 e 2008 ocorreu a primeira queda no número de internações
e, a partir de 2010, ocorreu a segunda queda. Esta última coincidiu com a publicação da
RDC/ANVISA n. 44/2010 e da RDC/ANVISA n. 20/2011 que tornaram a venda desta
classe restrita à retenção de prescrição médica. Esse resultado indica que havia um mau
uso desta classe terapêutica e, portanto, a restrição de sua venda representou um benefício
para a sociedade.
O número de internações por intoxicação causadas por “antiepilépticos, sedativo-
hipnóticos e antiparkinsonianos” também caiu no período. A queda mais acentuada
ocorreu entre 2007 e 2008, coincidindo com o período em que houve a primeira queda
nas internações por “antibióticos sistêmicos”. Esta diminuição pode estar relacionada
tanto ao seu uso mais racional quanto a um melhor sistema de vigilância a respeito de sua
aquisição e consumo, já que estes medicamentos são de venda restrita sob retenção de
prescrição médica, incluídos na Portaria n. 344, de 12 de maio de 1998.
Sobre este último aspecto, é necessário destacar a RDC n. 27, de 30 de março de
2007, que instituiu o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados
(SNGPC) e o implantou nas drogarias de todo o país. Esse sistema consiste num meio
informatizado de coleta de informações sobre a produção, circulação, comércio e uso das
substâncias ou medicamentos sujeitos a controle especial. Através deste sistema, a
vigilância sobre esses medicamentos aumentou, dificultando sua venda sem as devidas
prescrições. Desta forma, esta RDC pode justificar a queda ocorrida no número de casos
de internações por intoxicação por aquela classe terapêutica.
A classe terapêutica de “fármacos estimulantes” apresenta um perfil bastante
singular. As primeiras duas internações ocorreram apenas em 2007. No entanto, no ano
seguinte, ocorreram 13 internações e em 2009, voltaram a ocorrer duas internações. Essas
internações ocorreram no mesmo período em que foram publicados na revista Nature
alguns artigos relacionando o medicamento metilfenidato, mais conhecido pelo seu nome
comercial Ritalina®, com o aprimoramento cognitivo e o transtorno do Déficit de Atenção
140
e Hiperatividade (TDAH). O metilfenidato é, atualmente, o estimulante mais consumido
no mundo e o crescimento de seu consumo é relacionado ao tratamento destas indicações
(ORTEGA et al, 2010).
O fato de os primeiros registros de internações relacionadas à intoxicação por esse
medicamento terem ocorrido na mesma época em que os estudos foram publicados em
uma revista mundialmente conhecida pode indicar que essas intoxicações têm alguma
relação com a divulgação destas informações. Sem entrar no mérito da discussão a
respeito da real necessidade de tratamento destas crianças, é compreensível que os artigos
podem ter influenciado médicos ao redor do mundo a prescrever este medicamento.
Todavia, não é possível atribuir o aumento de internações por esta classe terapêutica
apenas a este medicamento.
Para muitas classes terapêuticas, houve uma oscilação anual no número de
internações. Entre elas estão os “fármacos de ação no trato gastrintestinal”, “fármacos
anti-infecciosos e antiparasitários”, “narcóticos”, “fármacos estimulantes”, “fármacos
que atuam sobre o aparelho circulatório”, “fármacos que atuam sobre os músculos lisos e
esqueléticos e sobre aparelho respiratório”, “fármacos de uso tópico” e “hormônios, seus
substitutos sintéticos e seus antagonistas”. Todas estas classes apresentaram um aumento
no número de internações no ano de 2008.
Embora tenha ocorrido um aumento no número de internações por intoxicação
medicamentosa em menores de cinco anos em 2008, ele não atingiu todas as classes da
mesma forma. Para algumas delas, o número de internações neste ano chegou a diminuir,
como nos casos dos “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos”,
“antibióticos sistêmicos”, “outros fármacos e os não especificados” e “analgésicos,
antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos”.
Entre o primeiro e o último ano do período estudado, houve aumento no número
de intoxicações por “vitaminas” (cinco vezes mais) e “medicamentos de uso tópico” (duas
vezes mais). Estas duas classes terapêuticas estão presentes entre aquelas com maior
número de notificações nos Estados Unidos e na Suécia (MOWRY et al, 2013; SWEDISH
POISONS INFORMATION CENTRE, 2013). É importante considerar que a superfície
corporal das crianças é três vezes maior que a dos adultos, fazendo com que as crianças
tenham uma maior absorção dos medicamentos de uso tópico (KIMLAND & ODLIND,
2012). Desta forma, é compreensível que estes medicamentos possam causar intoxicações
nesta faixa etária.
141
Já a respeito da classe de “inibidores do apetite”, chama a atenção o fato de que
ocorreram duas internações em 2012. Neste ano, já estava em vigor a RDC n. 52, de 6 de
outubro de 2011. Essa RDC proibiu o uso de vários desses inibidores no país e também
restringiu a dose máxima daquele cuja venda continuou sendo permitida (sibutramina).
Ainda, no ano de publicação da RDC, não foram registradas internações por esta classe
terapêutica. Portanto, apesar da medida restritiva, continuaram ocorrendo intoxicações
pela classe, indicando que estes medicamentos continuaram disponíveis mesmo após a
proibição de sua comercialização.
As diferentes faixas etárias estudadas apresentaram perfis de intoxicação por
classes terapêuticas distintos. Entre os pacientes com menos de 28 dias, as classes
terapêuticas com maior participação foram, por ordem de importância: os
“antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos”, “outros fármacos e os não
especificados”, “antibióticos sistêmicos” e “analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos
não opiáceos”. Esse perfil se alterou entre os pacientes entre 29 e 364 dias onde, por
ordem de importância, as classes mais encontradas foram “outros fármacos e os não
especificados”, os “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos”,
“antibióticos sistêmicos” e “analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos”.
Ainda, a proporção de internações por classe terapêutica causadora de intoxicação
variou conforme a idade. Para as crianças entre um e 28 dias, os “antiepilépticos, sedativo-
hipnóticos e antiparkinsonianos” representaram mais da metade das intoxicações. Para as
crianças de zero dia, essa mesma classe foi o agente tóxico em 34,6% das intoxicações.
Para fins de comparação, entre todas as intoxicações, 19,8% foram causadas por esta
classe.
De modo contrário, as crianças de zero dia e entre um e 28 dias tiveram menor
proporção de intoxicações causadas pelos “antibióticos sistêmicos” do que a proporção
vista para todos os menores de cinco anos – 13,4% - enquanto a proporção foi de 9,3%
para as crianças de zero dia e 5,9% para as crianças entre um e 28 dias.
As crianças entre um e 28 dias também tiveram menor proporção de intoxicações
por “outros fármacos e os não especificados” (22,6%) do que a proporção vista para todos
os menores de cinco anos (38,0%).
Estas diferenças nas classes terapêuticas mais envolvidas conforme a faixa etária
já eram esperadas pois o consumo de medicamentos varia conforme a idade e, nas
crianças mais velhas, aumenta a possibilidade de intoxicação acidental. Esta segunda
142
causa pode ser comprovada pelo maior número de classes terapêuticas envolvidas nos
casos de intoxicação entre as crianças mais velhas. Embora não tenham observado as
mesmas classes terapêuticas, Gandolfi & Andrade (2006) também observaram que as
classes mais envolvidas variavam conforme a idade.
Outra indicação de que o aumento da idade influencia no aumento de intoxicações
é a observação de que nenhuma classe terapêutica teve maior número de casos entre os
menores de um mês. Além disso, duas classes tiveram mais de metade dos casos
concentrados em uma determinada categoria etária: 60% das intoxicações por “antídotos
e quelantes, não classificados em outra parte” ocorreram em crianças de três anos e 50%
das intoxicações por “fármacos antineoplásicos e imunossupressores” ocorreu em
crianças de quatro anos.
Os pacientes de dois anos foram responsáveis pela maior proporção de
intoxicações em quase todas as categorias etárias. As exceções foram as intoxicações por
“antídotos e quelantes, não classificados em outra parte” (três anos), “fármacos
antineoplásicos e imunossupressores” (quatro anos), “fármacos antialérgicos e
antieméticos” (29-364 dias), “fármacos que agem sobre o metabolismo do ácido úrico”
(29-364 dias e três anos), “fármacos que agem sobre o equilíbrio eletrolítico, calórico e
hídrico” (um ano), “fármacos de ação no trato gastrointestinal” (um ano) e “fármacos de
uso tópico” (um ano).
Considerando a natureza jurídica dos estabelecimentos de saúde, não ocorreram
internações por sequelas de intoxicações e intoxicações causadas pelas classes
terapêuticas “fármacos antineoplásicos e imunossupressores” e “analépticos e
antagonistas dos receptores dos opiáceos” em estabelecimentos privados. Enquanto isso,
os setores conveniado e público tiveram internações causadas por intoxicações de todas
as classes. Ao mesmo tempo, o setor privado e o setor conveniado não foram responsáveis
pela maior proporção de internações em nenhuma classe terapêutica. Já o setor público
atendeu 73,7% das intoxicações por “inibidores do apetite”; 85,7% das sequelas de
intoxicações e 70,7% das intoxicações por “diuréticos”.
A distribuição de intoxicações também variou conforme a região de residência do
paciente. Apenas a região Sudeste registrou internações por todas as classes terapêuticas,
exceto a de “fármacos que atuam no sangue e na coagulação”, pois não houve internações
para esta classe em todo o período. Ainda, a região Sudeste apenas não foi responsável
pela maior parte das intoxicações que originaram as internações entre as intoxicações por
143
“fármacos que agem sobre o metabolismo do ácido úrico”, “antídotos e quelantes, não
classificados em outra parte” e nos casos de sequelas.
No entanto, nesta mesma região, ocorreram 77,8% das intoxicações por
“analépticos e antagonistas dos receptores dos opiáceos” e mais da metade das
intoxicações por “inibidores do apetite”, “enzimas, não classificadas em outra parte”,
“fármacos psicotrópicos”, “diuréticos”, “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e
antiparkinsonianos”, entre outras classes.
Se estas informações forem analisadas sob o ângulo do número de intoxicações
por região teremos que, em todas as regiões, a principal classe terapêutica causadora de
intoxicações foram os “outros fármacos e os não especificados”, conforme ocorreu para
todo o país. No entanto, nas regiões Norte e Nordeste, o segundo maior número de
intoxicações foi devido às intoxicações por “antibióticos sistêmicos” enquanto nas demais
regiões, este lugar foi ocupado pelos “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e
antiparkinsonianos”.
Além disso, proporcionalmente, a região Norte foi aquela com maior proporção
de intoxicações por “fármacos anti-infecciosos e antiparasitários”. Neste sentido, deve-se
considerar que, nesta região, doenças como a malária são muito prevalentes, o que torna
o consumo destes medicamentos maior do que em outras regiões. O mesmo ocorreu para
a classe de “fármacos de ação no trato gastrointestinal”, “fármacos que atuam sobre o
aparelho circulatório” e “fármacos que afetam o Sistema Nervoso Autônomo”. No Sul,
as intoxicações por “analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos” foram
proporcionalmente menores do que as vistas nas demais regiões e no Norte, as
intoxicações por “fármacos psicotrópicos” seguiram o mesmo perfil.
Ao analisar as classes terapêuticas que causaram internações por intoxicação,
apenas a classe terapêutica “outros fármacos e os não especificados” foi responsável por
óbitos durante todos os anos estudados. Os anos de 2004 e 2007 foram os anos com o
menor número de classes envolvidas – duas – enquanto 2008 e 2010 tiveram o maior
número de classes terapêuticas envolvidas com óbitos – seis.
De modo geral, as classes terapêuticas mais envolvidas com as intoxicações que
evoluíram a óbito foram “outros fármacos e os não especificados”, “analgésicos,
antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos” e “antibióticos sistêmicos”. Mais uma vez,
o perfil brasileiro não possui correlação direta com o norte-americano. Segundo Bond,
Woodward & Ho (2012), nos Estados Unidos, entre 2001 e 2008, a maior parte dos casos
144
fatais de intoxicação medicamentosa envolvendo menores de cinco anos estavam
relacionados aos analgésicos opióides e fármacos cardiovasculares.
O maior número de intoxicações que evoluíram a óbito ocorreu nos anos de 2003
e 2009, onde, respectivamente, foram 15 e 12 intoxicações. Apenas ocorreram casos de
óbito em internações por duas intoxicações da mesma classe quando a classe envolvida
era “outros fármacos e os não especificados” e “analgésicos, antitérmicos e
antirreumáticos não opiáceos”.
Ocorreram 87 intoxicações nas 75 internações que evoluíram a óbito. Isso resulta
em uma proporção de 1,16 intoxicações/internação. Esse valor é menor do que a
proporção de intoxicações/internação geral, que foi de 1,26.
As classes terapêuticas que causaram as intoxicações com maior tempo de
permanência médio na internação foram: os “fármacos antineoplásicos e
imunossupressores”, os “múltiplos fármacos e os fármacos psicoativos”, as “enzimas, não
classificadas em outra parte” e as sequelas das intoxicações medicamentosas. Estas três
classes apresentaram tempo de internação médio maior que três dias. Já as classes
terapêuticas com menor tempo de permanência foram os “antídotos e quelantes, não
classificados em outra parte” e as “vitaminas”.
Em Taiwan, o maior tempo de permanência ocorreu nas intoxicações por fármacos
do Sistema Nervoso Central enquanto o menor tempo de permanência ocorreu por
intoxicação por agentes cardiovasculares (LIN et al, 2011). Embora o perfil brasileiro seja
diferente do que foi observado no país asiático, as classes que levaram às internações com
maior tempo de permanência possuem características que justificam essa observação.
Em relação às internações que evoluíram ao óbito do paciente, o tempo de
permanência foi maior do que entre as internações em que houve outra evolução. As
classes terapêuticas com maior tempo de permanência foram: “fármacos que atuam sobre
os músculos lisos e esqueléticos e aparelho circulatório”, “fármacos de ação no trato
gastrintestinal” e “outros fármacos e os não especificados”. Também chama a atenção
que os “anestésicos e gases terapêuticos” tiveram tempo de permanência médio de zero
dia entre as internações em que houve óbito do paciente, o que indica a gravidade da
intoxicação por esta classe. No entanto, como só ocorreu um óbito de paciente devido à
intoxicação por esta classe, essa média diz respeito a apenas este caso.
Ainda é possível destacar que a classe terapêutica com maior tempo de
permanência entre as internações com óbito do paciente foi a de “fármacos que atuam
145
sobre os músculos lisos e esqueléticos e aparelho respiratório”. Nesta classe, encontram-
se medicamentos comumente utilizados entre as crianças para o tratamento de problemas
respiratórios.
Ao mesmo tempo, os “analgésicos, antitérmicos e antirreumáticos não opiáceos”
e os “antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos” foram responsáveis por
intoxicações com evolução a óbito com tempo de permanência próximo a média
encontrada. Assim, ao contrário dos “fármacos que atuam sobre os músculos lisos e
esqueléticos e aparelho respiratório”, a intoxicação por aquelas classes terapêuticas
possui um caráter mais agudo, que pode ser justificado pela sua farmacocinética e
farmacodinâmica.
A classe terapêutica “outros fármacos e os não especificados” foi a responsável
pelo maior número de internações por intoxicação em que o paciente foi a óbito. Além
disso, essas intoxicações estiveram entre aquelas com maior tempo de permanência entre
as internações onde houve óbito. Essas informações destacam a importância da
identificação correta da classe terapêutica envolvida pois, desse modo, o paciente pode
receber o tratamento correto – através de antídotos ou medidas de suporte - ou
procedimentos pertinentes. Em boa parte das internações por intoxicação, há apenas
necessidade de medidas de suporte, sem a necessidade de administração de antídotos.
Todavia, o estado de saúde da criança pode mudar rapidamente, sendo necessário que a
equipe de saúde esteja atenta e saiba atuar corretamente diante destas mudanças.
Em relação à categoria ATC, não foi possível correlacionar duas classes
terapêuticas com nenhuma de suas categorias – “outros fármacos e os não especificados”
e “múltiplos fármacos e fármacos psicoativos”. Os casos de sequela por intoxicação
também foram retirados para essa discussão. Após a exclusão das intoxicações por estas
classes, permaneceram 13.777 intoxicações onde foi possível correlacionar a classe
terapêutica com pelo menos uma categoria ATC. Em relação ao total de intoxicações,
houve uma perda de 8.618 intoxicações, ou seja, 38,5%. Esse valor é demasiadamente
alto e demonstra como a qualidade dos registros de intoxicação através da classificação
CID-10 é prejudicada quando se trata de medicamentos.
Como a classificação ATC se baseia na região anatômica onde o medicamento
atua, um medicamento pode ter várias ATC, dependendo de sua indicação clínica. Por
conta disso, algumas classes terapêuticas incluem medicamentos de vários grupos ATC,
como no caso dos “fármacos que atuam no Sistema Nervoso Autônomo”, constituído por
146
fármacos de cinco grupos ATC – N, A, M, R e S. Nestas situações, a utilização da CID-
10 é menos específica que a classificação ATC e uma parte importante da informação é
perdida. Essa correlação com mais de uma categoria ATC ocorreu em 24,20% das
intoxicações.
Ainda, percebe-se um predomínio dos medicamentos com ação no Sistema
Nervoso – categoria N – e dos antibióticos e antiparasitários – respectivamente, categorias
J e P. Juntas, estas três categorias representam mais da metade das intoxicações onde foi
possível correlacionar a classe terapêutica e a categoria ATC. As demais categorias em
que a correlação foi possível somam 11,16%.
Portanto, recomenda-se que ocorra um refinamento das tabulações na AIH para
que, quando houver o preenchimento de um diagnóstico de intoxicação medicamentosa
por classe terapêutica inespecífica, seja criado um novo campo na AIH para a
identificação do medicamento utilizado pelo paciente e suspeito de ser o agente tóxico
nas internações por intoxicação medicamentosa. Acredita-se que, com isto, seria possível
obter mais informações a respeito destes medicamentos e, portanto, facilitaria o
monitoramento das classes terapêuticas mais envolvidas nestas internações. Ainda, as
informações deste campo complementariam o diagnóstico, mesmo que este indicasse uma
classe terapêutica inespecífica.
Limitações e Facilidades no desenvolvimento do estudo
Deve-se considerar as limitações dos estudos envolvendo o SIH - a inclusão das
internações que ocorreram apenas através do SUS. Portanto, estas internações não
representam a totalidade de internações que ocorreram no período. Contudo, estima-se
que o SUS seja responsável por cerca de 70% das internações que ocorrem no país.
Outra limitação também relacionada ao SIH é a necessidade de preenchimento
dos campos “diagnóstico principal” e/ou “diagnóstico secundário” com um dos códigos
da CID-10 utilizados como critério de inclusão no estudo. Assim, eventuais internações
em que ocorreram intoxicações por medicamentos mas onde estas variáveis não foram
preenchidas com estes códigos não puderam ser identificadas.
Também não foi possível estabelecer relações de causalidade entre os diagnósticos
registrados nas internações estudadas. Deste modo, não se pode afirmar se estas
intoxicações foram a causa da internação da criança ou se ela ocorreu durante a
internação, sendo, portanto, uma consequência do cuidado assistencial.
147
A dificuldade de interpretação das categorias da 10ª Revisão da Classificação
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) limitou a
definição das classes terapêuticas utilizadas, já que algumas destas categorias são muito
abrangentes ou muito restritas. Essa limitação também se refletiu em dificuldades durante
a correlação entre as classes terapêuticas e suas categorias ATC correspondentes.
A ausência de arquivo do tipo reduzido referente a um único mês (outubro de 2007
do estado do Amapá) representa uma limitação do estudo pois pode-se ter subestimado o
número real de internações por esta causa no período.
Por fim, por se tratar de um estudo descritivo, não foi possível estabelecer
correlações entre os dados encontrados e suas causas. Deste modo, novas pesquisas são
necessárias para investigar a fundo as hipóteses levantadas.
Como um ponto positivo, pode-se destacar a facilidade de acesso aos arquivos do
tipo reduzido das Autorizações de Internação Hospitalar. Para toda a década estudada,
apenas um arquivo estava indisponível enquanto os demais 3.239 arquivos puderam ser
baixados.
148
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação aos objetivos do estudo, foi possível analisar as internações
hospitalares relacionadas às intoxicações medicamentosas em crianças menores de cinco
anos, no período de 2003 a 2012, em todo o Brasil. Assim, o perfil destas internações foi
descrito, destacando-se algumas características relacionadas a elas, principalmente a
respeito de diferenças regionais entre estas internações.
Sempre que possível, outros elementos foram discutidos para auxiliar na
compreensão do comportamento de algumas características apontadas pelas variáveis de
estudo e, finalmente, das internações que o motivaram. Entre estes elementos, estão
incluídas algumas legislações que entraram em vigor no período e alguns dados a respeito
do SUS. Deste modo, considera-se que todos os objetivos foram atingidos.
Este estudo tem algumas limitações. A principal delas está relacionada ao próprio
SIH, pois ele não contempla em seus registros a totalidade de internações que ocorreram
no país, mas apenas as internações que ocorreram através do SUS. Ainda, só foram
incluídas no estudo, aquelas internações em que o diagnóstico de intoxicação
medicamentosa ocorreu e foi registrado em um dos dois campos de diagnóstico da AIH.
Outra consequência do modo de registro destas informações é que não é possível
estabelecer relações de causa-consequência entre os dois diagnósticos registrados. Dessa
forma, não se pode diferenciar as intoxicações que ocorreram dentro da unidade de saúde
daquelas que originaram a internação. Por fim, por se tratar de um estudo descritivo, as
correlações feitas entre as variáveis de estudo e alguns elementos apontados – tais como
marcos legais e fatos ocorridos no período – dependem de estudos mais aprofundados
para serem confirmadas.
Os resultados desse trabalho mostram que ocorreram 17.725 internações por
intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos na década de 2003 a 2012. A
principal faixa etária envolvida foram as crianças de dois anos de idade.
A taxa de mortalidade para estas internações foi de 0,42%. Os estabelecimentos
de saúde públicos foram responsáveis por 46,3% das internações. No entanto, 70,7% dos
óbitos ocorreram nos estabelecimentos desta natureza, o que pode indicar tanto uma
deficiência na assistência quanto o atendimento de um maior número de pacientes em
estado de saúde mais crítico. As regiões Norte e Nordeste apresentaram uma taxa de
mortalidade superior àquela observada para o país – 1,1% e 0,6%, respectivamente.
149
Entre as classes terapêuticas que causaram as intoxicações, as mais envolvidas
foram os “outros fármacos e os não especificados”, os “antiepilépticos, sedativo-
hipnóticos” e os “antibióticos sistêmicos”. Para estas duas últimas classes terapêuticas,
foi observada uma diminuição no número de internações, o que pode ter relação com
algumas legislações que entraram em vigor no período.
Embora tenha ocorrido uma queda no número de internações por este tipo de
intoxicação durante o período estudado, foi observado um aumento no número dessas
internações no ano de 2008. Esse aumento parece estar relacionado com mudanças na
Tabela de Procedimentos do SUS que entraram em vigor no mesmo ano. Contudo, este
estudo não foi capaz de comprovar esta hipótese e permanece a necessidade de uma
investigação mais profunda sobre o dado.
Não foi possível estabelecer correlações entre as classes terapêuticas oriundas da
CID-10 e a classificação ATC em 38,5% das intoxicações. Além disso, em 24,20% das
intoxicações, essa correlação foi feita com mais de uma categoria ATC. Já as categorias
mais envolvidas foram aqueles com ação no Sistema Nervoso – categoria N – e os
antibióticos e antiparasitários – respectivamente, categorias J e P.
Dentre as internações estudadas, chama atenção a predominância de diagnósticos
de intoxicações por medicamentos de classes terapêuticas não especificadas, ou seja, em
que não foi possível determiná-la. Esta observação pode ser consequência do mau
preenchimento da AIH, em que os campos referentes ao diagnóstico recebem menor
importância; da dificuldade de identificar o código da CID-10 em que a intoxicação se
enquadra, pois este código é, por vezes, muito inespecífico ou muito específico e; da
dificuldade de interpretar os sinais e sintomas que a criança apresenta nos episódios de
intoxicação.
Para superar este cenário, propõe-se que seja criado um campo mais específico na
AIH para a identificação do medicamento utilizado pelo paciente e suspeito de ser o
agente tóxico nas internações por intoxicação medicamentosa, sempre que o diagnóstico
for intoxicação medicamentosa envolvendo uma classe terapêutica inespecífica. Assim,
seria possível obter mais informações a respeito destes medicamentos, o que facilitaria o
monitoramento das classes terapêuticas mais envolvidas nestas internações. Estas
informações complementariam o diagnóstico, mesmo que este indicasse uma classe
terapêutica inespecífica.
150
A adoção de medidas de restrição ao acesso das crianças aos medicamentos é uma
proposta para diminuir o caso de intoxicações acidentais nesta faixa etária. Para tal, deve-
se fomentar a cultura de segurança doméstica entre os pais e responsáveis por menores
de cinco anos. Neste mesmo sentido, faz-se importante a discussão a respeito da adoção
de embalagens especiais de proteção à criança.
Outro ponto interessante seria a adoção de medidas que promovessem a pesquisa
clínica de medicamentos específicos para esta idade. Essas pesquisas possibilitariam um
maior conhecimento a respeito dos medicamentos, fazendo com que apenas aqueles
considerados seguros para esta faixa etária pudessem ser comercializados.
151
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165
APÊNDICE
Tabela A1. Distribuição de leitos pediátricos vinculados ao SUS por tipo de prestador e
regiões do país, Brasil, dezembro de 2012.
Região Leitos
Públicos
Leitos Filantrópicos
e de Sindicato
Leitos
Privados Total
Norte 3.607 253 888 4.748
Nordeste 11.166 3.159 3.216 17.541
Sudeste 6.405 6.133 1.668 14.206
Sul 2.134 3.413 1.611 7.158
Centro-Oeste 2.359 689 958 4.006
Brasil 25.671 13.647 8.334 47.659
Fonte: Ministério da Saúde – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
Tabela A2. Distribuição de leitos de UTI neonatal e pediátricos vinculados ao SUS
segundo tipo de prestador e região, Brasil, dezembro de 2012.
Região Leitos
Públicos
Leitos
filantrópicos
Leitos
privados Total
Norte 288 58 10 356
Nordeste 849 216 170 1.235
Sudeste 1.816 1.049 158 3.023
Sul 404 631 189 1.224
Centro-Oeste 232 88 176 496
Brasil 3.589 2.042 703 6.334
Fonte: Ministério da Saúde – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.
166
ANEXO I
Extrato da 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (CID-10) referentes à Intoxicação por Medicamentos.
(continua)
Capítulo 5. Transtornos Mentais e Comportamentais
F10-F19 Transtornos Mentais e Comportamentais devido ao uso de substância psicoativa
F11.0 Intoxicação aguda por uso de opiáceos
F13.0 Intoxicação aguda por uso de sedativos e hipnóticos
F15.0 Intoxicação aguda por uso de outros estimulantes, inclusive a cafeína
F19.0 Intoxicação aguda por uso de múltiplas drogas e ao uso de fármacos psicoativos
F50-F59 Síndromes Comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos
F55 Intoxicação aguda por abuso de substâncias que não produzem dependência
Capítulo 16: Algumas afecções originadas no período perinatal
P93 Reações e intoxicações devido a fármacos administrados ao feto e neonato
Capítulo 19: Lesões, Envenenamento e algumas outras consequências de causas externas
T36-T50 Intoxicação por drogas, medicamentos e substâncias biológicas
T36 Intoxicação por antibióticos sistêmicos
T37 Intoxicação por outras substâncias anti-infecciosas ou antiparasitárias sistêmicas
T38 Intoxicação por hormônios, seus substitutos sintéticos e seus antagonistas, não
classificados em outra parte
T39 Intoxicação por analgésicos, antipiréticos e antirreumáticos não opiáceos
T40.2 Intoxicação por outros opiáceos
T40.3 Intoxicação por metadona
T40.4 Intoxicação por outros narcóticos sintéticos
T41 Intoxicação por anestésicos e gases terapêuticos
T42 Intoxicação por antiepilépticos, sedativo-hipnóticos e antiparkinsonianos
T43 Intoxicação por drogas psicotrópicas não classificadas em outra parte
T44 Intoxicação por drogas que afetam principalmente o Sistema Nervoso Autônomo
T45 Intoxicação por substâncias de ação essencialmente sistêmica e substâncias
hematológicas, não classificadas em outra parte
T46 Intoxicação por substâncias que atuam primariamente sobre o aparelho circulatório
T47 Intoxicação por substâncias que atuam primariamente sobre o aparelho gastrointestinal
T48 Intoxicação por substâncias que atuam primariamente sobre os músculos lisos e
esqueléticos e sobre o aparelho respiratório
T49 Intoxicação por Fármacos de uso tópico que atuam primariamente sobre a pele e as
mucosas e por medicamentos utilizados em oftalmologia, otorrinolaringologia e
odontologia.
T50 Intoxicação por diuréticos e outras drogas, medicamentos e substâncias biológicas e as
não especificadas
T96 Sequelas de intoxicação por drogas, medicamentos e substâncias biológicas
167
Extrato da 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (CID-10) referentes à Intoxicação por Medicamentos.
(continuação)
Capítulo 20: Causas Externas de Morbidade e Mortalidade
X40-X44 Envenenamento [intoxicação] acidental por e exposição a
X40 Analgésicos, antipiréticos e antirreumáticos, não opiáceos
X41 Anticonvulsivantes [antiepilépticos], sedativos, hipnóticos, antiparkinsonianos e
psicotrópicos, não classificados em outra parte
X43 Outras substâncias farmacológicas de ação sobre o Sistema Nervoso Autônomo
X44 Outras drogas, medicamentos e substâncias biológicas não especificadas
X60-X64 Autointoxicação por e exposição, intencional, a
X60 Analgésicos, antipiréticos e antirreumáticos, não opiáceos
X61 Anticonvulsivantes [antiepilépticos], sedativos, hipnóticos, antiparkinsonianos e
psicotrópicos, não classificados em outra parte
X63 Outras substâncias farmacológicas de ação sobre o Sistema Nervoso Autônomo
X64 Outras drogas, medicamentos e substâncias biológicas e às não especificadas
X85 Agressão causada por fármacos, medicamentos e substâncias biológicas.
Y10-Y14 Envenenamento [intoxicação] por e exposição, intenção não determinada, a
Y10 Analgésicos, antipiréticos e antirreumáticos, não opiáceos
Y11 Anticonvulsivantes [antiepilépticos], sedativos, hipnóticos, antiparkinsonianos e
psicotrópicos, não classificados em outra parte
Y13 Outras substâncias farmacológicas de ação sobre o Sistema Nervoso Autônomo
Y14 Outras drogas, medicamentos e substâncias biológicas e as não especificadas
168
ANEXO II
Parecer da Comissão de Ética em Pesquisa