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345 Tendo em vista os problemas sociais pelos quais nosso mundo passa, muitas pessoas se levantaram e dedicaram suas vidas em trabalhos que melhoraram a vida de diversos indivíduos e de comunidades ao redor do mundo. Essas pessoas são exem- plos de bondade, pensaram no mundo e na humanidade como um todo. O texto a seguir é sobre uma dessas pessoas. Schweitzer e o amor incondicional ao seu semelhante Mais do que o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1952, Albert Schweitzer será lembrado como um dos maiores exemplos de des- prendimento e amor ao seu semelhante, assim como a toda forma de vida. Nascido em 14 de janeiro de 1875, em Kaysersberg, na Alsácia Superior, região pertencente na época ao Império Alemão e hoje par- te da França, era o filho mais velho de um pastor luterano. Estudou filosofia e teologia na Universidade de Strasbourg, onde obteve seu grau de doutor em filosofia em 1899. Foi simultaneamente professor de filosofia e pregador na Igreja de São Nicolau, tornando-se também doutor em teologia. Seu livro “A Questão do Cristo Histórico” fez dele uma figura mundial em teologia. Durante esse período tornou-se também um músico completo, co- meçando sua carreira como organista. Seu professor de órgão reconhe- ceu nele um intérprete de Bach de uma percepção ímpar e pediu-lhe para escrever um estudo sobre a vida e a arte do compositor. Em 1905, com apenas trinta anos de idade, gozava de uma posição invejável: trabalhava numa das mais notáveis universidades europeias; tinha uma grande reputação como músico e prestígio como pastor da sua Igreja. Porém, isto não era suficiente para uma alma sempre pron- ta ao serviço. Desta forma, anunciou sua intenção de tornar-se mé- dico missionário e dedicar-se ao trabalho filantrópico. Retornou aos estudos universitários e em 1913 tornou-se doutor em medicina. Com sua mulher, Helene Bresslau, que havia praticado enfermagem para acompanhá-lo, foi para Lambaréné, no Gabão, então colônia francesa na África Equatorial. A partir daquele momento, passou a dirigir total atenção aos mo- radores desta colônia francesa que, numa total orfandade de cuidados e assistência médica, debatiam-se na dura vida da selva. Construiu, às margens do rio Ogooué, com ajuda dos nativos, seu hospital, o qual Texto biográfico LEITURA TEXTO 2 Glossário Decadência – estado do que está começando a se degra- dar e se encaminha rapida- mente para o fim. Ética – princípios que moti- vam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamen- to humano; relativo a normas, valores, prescrições e exorta- ções presentes em qualquer realidade social. Extasiar – causar ou mani- festar admiração profunda; maravilhar-se. Filantrópico – que se dedica com desprendimento e gene- rosidade, sem fins lucrativos, a outros por profundo amor à humanidade. Filosofia – ciência que busca compreender as verdades so- bre a natureza divina, da alma e do Universo; pensamento em que se busca compreen- der a si mesmo e à realidade que o cerca e que determina- rá seu caráter, o qual embasa suas ações e sua ética. Hostil – inimigo, adversá- rio, desfavorável; que revela agressividade, ameaçador. Humanista – que simpatiza com o Humanismo (busca por maior conhecimento do ho- mem e de uma cultura capaz de desenvolver os potenciais do ser humano). port6_u4c1_338a382.indd 345 1/15/12 1:54:41 PM

Matéria Albert Schweitzer - Livro Mackenzie

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Adaptação da matéria “Schweitzer e o amor incondicional ao seu semelhante” da revista “Meu sonho não tem fim”, publicada pelo Sistema Mackenzie de Ensino no livro paradidático Português - 6º ano - 1º edição, da Coleção “Crescer em Sabedoria”.

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Tendo em vista os problemas sociais pelos quais nosso mundo passa, muitas pessoas se levantaram e dedicaram suas vidas em trabalhos que melhoraram a vida de diversos indivíduos e de comunidades ao redor do mundo. Essas pessoas são exem-plos de bondade, pensaram no mundo e na humanidade como um todo. O texto a seguir é sobre uma dessas pessoas.

Schweitzer e o amor incondicional ao seu semelhante

Mais do que o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1952, Albert Schweitzer será lembrado como um dos maiores exemplos de des-prendimento e amor ao seu semelhante, assim como a toda forma de vida. Nascido em 14 de janeiro de 1875, em Kaysersberg, na Alsácia Superior, região pertencente na época ao Império Alemão e hoje par-te da França, era o filho mais velho de um pastor luterano. Estudou filosofia e teologia na Universidade de Strasbourg, onde obteve seu grau de doutor em filosofia em 1899. Foi simultaneamente professor de filosofia e pregador na Igreja de São Nicolau, tornando-se também doutor em teologia. Seu livro “A Questão do Cristo Histórico” fez dele uma figura mundial em teologia.

Durante esse período tornou-se também um músico completo, co-meçando sua carreira como organista. Seu professor de órgão reconhe-ceu nele um intérprete de Bach de uma percepção ímpar e pediu-lhe para escrever um estudo sobre a vida e a arte do compositor.

Em 1905, com apenas trinta anos de idade, gozava de uma posição invejável: trabalhava numa das mais notáveis universidades europeias; tinha uma grande reputação como músico e prestígio como pastor da sua Igreja. Porém, isto não era suficiente para uma alma sempre pron-ta ao serviço. Desta forma, anunciou sua intenção de tornar-se mé-dico missionário e dedicar-se ao trabalho filantrópico. Retornou aos estudos universitários e em 1913 tornou-se doutor em medicina. Com sua mulher, Helene Bresslau, que havia praticado enfermagem para acompanhá-lo, foi para Lambaréné, no Gabão, então colônia francesa na África Equatorial.

A partir daquele momento, passou a dirigir total atenção aos mo-radores desta colônia francesa que, numa total orfandade de cuidados e assistência médica, debatiam-se na dura vida da selva. Construiu, às margens do rio Ogooué, com ajuda dos nativos, seu hospital, o qual

Texto biográfico

LEITURATExTo 2

GlossárioDecadência – estado do que está começando a se degra-dar e se encaminha rapida-mente para o fim.

Ética – princípios que moti-vam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamen-to humano; relativo a normas, valores, prescrições e exorta-ções presentes em qualquer realidade social.

Extasiar – causar ou mani-festar admiração profunda; maravilhar-se.

Filantrópico – que se dedica com desprendimento e gene-rosidade, sem fins lucrativos, a outros por profundo amor à humanidade.

Filosofia – ciência que busca compreender as verdades so-bre a natureza divina, da alma e do universo; pensamento em que se busca compreen-der a si mesmo e à realidade que o cerca e que determina-rá seu caráter, o qual embasa suas ações e sua ética.

Hostil – inimigo, adversá-rio, desfavorável; que revela agressividade, ameaçador.

Humanista – que simpatiza com o humanismo (busca por maior conhecimento do ho-mem e de uma cultura capaz de desenvolver os potenciais do ser humano).

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ocupou e manteve com recursos próprios, mais tarde suplementa-dos por diversas doações de indivíduos e fundações de muitos países, principalmente da Europa.

Ao deparar-se com a falta de recursos iniciais, improvisou um con-sultório num antigo galinheiro e atendeu seus pacientes enfrentando obstáculos como o clima hostil, a falta de higiene, o idioma que não en-tendia, a carência de remédios e instrumental insuficiente. Tratava de mais de 40 doentes por dia e paralelamente ao serviço médico, ensinava o Evangelho com uma linguagem apropriada, dando exemplos tirados da natureza sobre a necessidade de agirem em benefício do próximo.

Com o início da Primeira Grande Guerra, os Schweitzer foram le-vados para a França, como prisioneiros de guerra. Passaram pratica-mente todo o período da guerra confinados num campo de concen-tração e neste período Albert voltou-se cada vez mais para as questões mundiais, o que o levou a escrever o livro “Kulturphilosophie” (Filoso-fia da Civilização), no qual lançou sua filosofia pessoal da “reverência pela vida”, um princípio ético relativo a todas as coisas vivas, que ele considerava essencial para a sobrevivência da civilização, retratando também, de forma intensa, a decadência das civilizações.

Com o final da guerra retornou à África em 1924, após sete anos de permanência na Europa. Desta vez acompanhado de médicos e enfermeiras dispostos a ajudá-lo. Reiniciou seus trabalhos para re-construir seu hospital, totalmente arruinado, como se nada tivesse acontecido e ante a visão de um mundo pós-guerra desmoronado, dizia: “começaremos novamente, devemos dirigir nosso olhar para a humanidade”.

O novo hospital foi levantado numa área mais propícia e com o auxílio de sua equi-pe pode dedicar algumas horas de seu dia a escrever livros, cuja renda contribuía para manter os pavilhões hospitalares. Seu dis-curso ao receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1952 “Das Problem des Friedens in der heu-tigen Welt” (O problema da paz no mundo de hoje), teve circulação mundial, extasian-do o mundo com sua história de vida.

Realizou uma série de conferências na Europa, com o intuito de colher fundos para ampliar sua obra na África. Tornou-se muito conhecido nos círculos intelectuais do con-

tinente, porém, a fama não o afastou de seus sonhos.Ao retornar à África anexou ao hospital uma colônia de leprosos,

atendidos por cerca de quarenta médicos europeus, enfermeiras e tra-balhadores nativos.

GlossárioIntuito – intenção, propósito, objetivo.

Nativos – que nasceu no país ou lugar em questão.

Orfandade – desamparo.

Organista – músico que toca órgão (instrumento musical constituído de teclado, peda-leira e tubos).

Paralelamente – ao mesmo tempo, simultaneamente.

Propícia – favorável; adequa-da e necessária.

Reputação – conceito de al-guém ou algo em um grupo; fama.

Simultaneamente – ao mes-mo tempo.

Teologia – ciência que estu-da a divindade, sua natureza, seus atributos e suas rela-ções com o homem e com o universo.

Teor – conteúdo, maneira, modo.

Schweitzer ajudando na construção.

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Agora reflita: • Dequemaneirapodemosbuscarmelhoraraqualidadedevida

daspessoasquevivemnomundo?

• Éfácilpensarmaisnosoutrosdoqueemsimesmoapenas?Porquê?

• Comovocêgostariadeajudarosoutros?

• Vocêacreditaquesenospreocuparmoscomnossossemelhanteseajudarmosopróximopodemosproporcionaràspessoaseanósmesmosumavidamelhornomundo?

Morreu em 4 de setembro de 1965, em Lambaré-né, no Gabão. Porém, seu exemplo e, principalmente, suas reflexões com um profundo teor humanista, fi-caram eternizados para as próximas gerações, como a sua crença de que, quando o homem aprendesse a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisaria ensiná-lo a amar seu semelhante.

“Muito pouco da grande crueldade mostrada pe-los homens pode ser atribuída realmente a um ins-tinto cruel. A maior parte dela é resultado da falta de reflexão ou de hábitos herdados.”

(Albert Einstein).

MELO, Alex Cardoso de. Schweitzer e o amor incondicional ao seu semelhante. In: Revista Meu sonho não tem fim.

ONG Projetos sociais “Meu sonho não tem fim”, 2010. p. 8 e 9.

Interpretando o texto

A palavra em contexto

1. Reescreva as expressões abaixo, substituindo-as pelo o que você en-tende delas.

a)SeuprofessordeórgãoreconheceuneleumintérpretedeBachdeumapercepção ímpar[...].

b) [...]passouadirigir total atençãoaosmoradoresdesta colônia francesaque,numatotalorfandadedecuidadoseassistênciamédica,debatiam-senaduravidadaselva.

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Schweitzer no hospital em Lambaréné

SeuprofessordeórgãoreconheceuneleumintérpretedeBachdeumacapacidadeúnica,maravilhosa.

[...]passouadirigirtotalatençãoaosmoradoresdestacolôniafrancesaque,numtotalausênciadecuidadoseassistênciamédica,debatiam-senaduravidadaselva.

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