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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO MATEUS MEDEIROS DE ARAÚJO CENTRO DE ESPORTE E LAZER TRÊS VAQUEIROS Uma proposta de reestruturação do largo Nossa Senhora dos Aflitos NATAL, 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

MATEUS MEDEIROS DE ARAÚJO

CENTRO DE ESPORTE E LAZER TRÊS VAQUEIROS

Uma proposta de reestruturação do largo Nossa Senhora dos Aflitos

NATAL, 2016

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MATEUS MEDEIROS DE ARAÚJO

CENTRO DE ESPORTE E LAZER TRÊS VAQUEIROS

Uma proposta de reestruturação do largo Nossa Senhora dos Aflitos

Trabalho Final de Graduação apresentado à banca examinadora do curso de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito

para a obtenção do grau em Arquiteto e Urbanista.

Orientador: Prof. José Augusto de Oliveira Carvalho

NATAL, 2016

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MATEUS MEDEIROS DE ARAÚJO

CENTRO DE ESPORTE E LAZER TRÊS VAQUEIROS:

Uma proposta de reestruturação do largo Nossa Senhora dos Aflitos

Trabalho Final de Graduação apresentado à banca examinadora do curso de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito

para a obtenção do grau em Arquiteto e Urbanista.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________

Prof. José Augusto de Oliveira Carvalho

Orientador

________________________________________________________________

Avaliador interno - UFRN

________________________________________________________________

Avaliador externo

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Dedico este trabalho

Aos meus pais, Deuza e Natércio, por acreditarem em mim.

Aos meus amigos, por entenderem.

A Jardim de Piranhas, por ser tão pouco, mas ao mesmo tempo tão importante.

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AGRADECIMENTOS

É interessante como você olha para uma única página durante vários minutos pensando em tudo que poderia

agradecer, em tudo que mudou, o que ganhou, o que perdeu, as vezes até em tudo que deveria pedir

desculpas e que estava errado, mas que no fim vai sempre sair algo que não vai parecer suficiente.

Duas pessoas são infinitamente responsáveis por minha chegada até aqui, minha mãe, Deuza, professora,

costureira, dona-de-casa e fofoqueira, e meu pai, Natércio, marceneiro, pedreiro, pintor, faz-tudo e peladeiro.

No dia que passei no vestibular escutei uma frase de cada um deles que ficarão em mim para sempre,

primeiramente o clássico “não fez mais do que a sua obrigação” de dona Deuza, o que é a mais pura

verdade, tão verdade que eu deveria escrever isso nas considerações finais desse trabalho, meu “vei”, por

outro lado apenas disse “valeu a pena, você é o caçula, o último, acho que já posso relaxar”, e eu realmente

espero que tenha mesmo valido a pena.

Também preciso agradecer a minha complicada, mas fiel, irmã, Ana Paula, que sem ela esse trabalho não

teria sido nem tão perto concluído pois ela teve o cargo de porta-voz jardinense enquanto eu me encontrava

em Natal. Meu irmão, Tadeu, outro complicado mas protetor, nunca realmente disse ou fez nada, ele

simplesmente deixava claro que acreditava em mim e, sinceramente, é uma das coisas mais importantes.

Às minhas primas Gabrielle, que agora me aguenta morando comigo, e também futura arquiteta, a coitada,

e Isabelle, meu clone feminino tanto quanto a X-23 é do Wolverine.

À praticamente todas as minhas tias, Nilzete, Nilvanete, Titica, Teté, que sempre perguntavam como andava

a vida na capital, se precisava de algo e que sempre ajudava como podiam.

Um agradecimento especial a tia Betinha e Renato, que me acolheram em sua casa no semestre que eu

praticamente me encontrei sem onde morar depois de voltar no intercâmbio, foi bom ter uma relação tão

familiar longe de Jardim.

Agradecer também a todos os habitantes que já passaram pela “Caverna” e pedir desculpas por todas as

vezes que quase quebrei a porta em momentos de estresse.

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Aos amigos de infância, Iago, Valéria, Fabim e Amanda, que aprenderam a ter paciência e entender essa,

nem um pouco fácil, pessoa que eu sou. Mas também agradeço aos novos, como Victor, aos “porque sim”,

e aos que não mantenho muito contato, mas que sempre estão lá.

À minha família irlandesa-capixaba, Maria e Edvaldo, colegas de apartamento durante o intercâmbio e que,

mesmo não mantendo tanto contato, ainda são algumas das pessoas mais genuinamente boas que eu

conheci e que eu sempre pensarei ao assistir How I met your mother.

À minha chefe Evânia, que mostrou um nível profissional e ao mesmo tempo humano muito pouco encontrado

hoje em dia. Além de fazer eu e os outros (melhores) estagiários escutar “Only love can hurt like this” cinco dias

por semana.

À todos os professores do curso que acrescentaram de algum modo na minha formação, em especial a

Renato, Hélio e Luciana, professores que marcaram e me inspiraram a descobrir o que eu realmente gosto em

um curso que sempre pareceu errado. Agradecer também ao meu orientador, Zé Augusto, por aceitar me

orientar sem nem ao menos me conhecer e sem ter noção da cilada que estava se metendo, mas que

conseguiu me ajudar a realizar esse trabalho de uma forma muito gratificante.

À Ilanna e Cecina, colegas mais novatas e que ajudaram bastante em deixar esse trabalho menos estressante

com várias piadas e memes.

Claro que não posso esquecer daqueles que foram, literalmente, o motivo para que eu não desistisse do curso,

minha turma original, os Boêmios. Eu juro que nunca entenderei como um grupo de pessoas tão diferentes

podem ter dado tão certo. Nunca vou entender como as melhores pessoas dessa cidade tem a paciência

de me aguentar e até de dizer que sou “maravilhoso”. Nunca vou lembrar qual foi o momento que pensar “eu

amo vocês” se tornou tão fácil e rotineiro.

O grupo é tão diferente e eu sou tão grato a todos que seria errado não citar todos. Primeiro agradecer as

três meninas super poderosas que estão nesse semestre comigo, Rheny, rainha do twitter e que consegue

sempre me fazer rir, Alesssssssssssss, a jovemmenina que tem o poder de me fazer parar de fazer besteira e

focar no que realmente deveria (além de ser a dona da playlist que foi combustível desse trabalho) e a Vale,

companheira de orientações e que sabe que já me salvou inúmeras vezes durante esses seis anos.

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Lembrar também das arquitetas mais divas formadas pela UFRN. Hatsue, força nipônica de Parnamirim,

Rafinha, companheira de Eucaliptos, Barrosa, irmã de signo (tem pra que dizer mais nada), Txos, que não

merece palmas, mas sim o Tocantins inteiro (rs), Guiga, a junção perfeita de uma mulher diva-sexy-confiante-

inteligente-humilde-divina, Babina, a quem eu queria estar abraçando 24 horas por dia e que entende minha

língua de grunhidos e, claro, Eri, filha de Caicó e Brejo do Cruz, que compartilha ótimas histórias de TFG e que

hoje mesmo (01 de junho de 2016) bateu na minha porta simplesmente para oferecer ajuda.

Por último, agradecer àqueles que vão vir arrasar no próximo semestre. Dani, diva, nova iorquina, dona dos

melhores aúdios, Larry, a única pessoa que parecia entender o que eu falava no começo do curso, além de

ser a melhor de todos nós e ter a melhor risada, Fili, companheiro de todas as manhãs, risadas que saem do

nada e melhor café, Luiza, a quem eu já tive umas das conversas mais verdadeiras da minha vida e sempre

dá as melhores respostas, além de estar me salvando nesse fim de trabalho, Carol, única pessoa que consegue

fazer um “bom dia” realmente feliz e que sempre se mantém atenta a todo mundo e pronta pra ajudar, e a

Candy por, palavras do próprio, “ter cuidado de mim tanto em Natal como na Irlanda, por ordens de Deuza,

além de ter me colocado nos eixos durante esses seis anos de graduação”, daria pra agradecer mais, porém

esquece.

Enfim, como se percebe, grato até demais.

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“Tudo é tão frágil. Tem tanto conflito, tanta dor... Você fica esperando a

poeira baixar e então você percebe que é isso, a poeira é a sua vida seguindo

em frente.

E se a felicidade chega, aquela estranha e insuportável delícia que é a

felicidade... Eu acho que você deve agarrá-la enquanto pode. Você pega

aquilo que pode, porque em um momento está aqui, e então...

Se vai.”

(Kitty Pryde – Astonishing X-men #22)

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RESUMO

ARAÚJO, Mateus Medeiros de. Centro de esporte e lazer Três Vaqueiros: Uma proposta de reestruturação do largo Nossa Senhora

dos Aflitos. Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.

Este trabalho propõe a elaboração de uma proposta de intervenção no largo Nossa Senhora dos Aflitos, berço original da cidade

de Jardim de Piranhas-RN, em nível de estudo preliminar, além de um anteprojeto de um Centro de esporte e lazer voltado para a

população em geral. Sendo a área de estudo o sítio de realização de eventos culturais como a festa da padroeira de Nossa

Senhora do Aflitos, busca-se, com o projeto, adaptar-se a essa realidade de modo que as novas atividades que serão implantadas

não interfiram na realização da celebração. O projeto compõe-se tanto de praças, equipamento esportivos e estruturação urbana,

quanto de um elemento edificado, o centro de esporte e lazer. Como embasamento para determinação da proposta foram

realizadas coletas de material teórico de suporte ao tema, bem como estudos referenciais de intervenções com características

semelhantes em uso, programa de necessidade e técnicas construtivas à proposta desenvolvida. Após a compilação dos dados

coletados até essa fase e com o entendimento sobre a área intervinda, pôde-se então definir o projeto.

Palavras-chaves: Jardim de Piranhas; Esporte; Projeto.

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ABSTRACT

ARAÚJO, Mateus Medeiros de. Centro de esporte e lazer Três Vaqueiros: Uma proposta de reestruturação do largo Nossa Senhora

dos Aflitos. Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.

This work aims to elaborate an intervention proposal in the Nossa Senhora dos Aflitos square, original birthplace of the city of Jardim

de Piranhas-RN, in preliminary study level, as well as a draft of a sports and leisure center geared to the population in general. As the

study area is the site of cultural events such as the feast of the patron saint Nossa Senhora dos Aflitos, is sought, with the project, to

adapt to this reality in a way that the new activities that will be implemented do not interfere with the celebration realization. The

project is composed of both squares, spots equipment and urban structuring, as an built element, the center of sports and leisure. As

a basis for determining the proposal were carried out theoretical material collections to support the theme, as well as reference

studies of interventions with similar characteristics in use, necessity program and constructive techniques to the developed proposal.

After compiling the collected data until this phase and with understanding about the intervened area, it could then defining the

project

Key-words: Jardim de Piranhas; Sports; Project.

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LISTA DE FIGURAS

Fig. 01 – Guggenheim Bilbal, 37 Fig.18 – Rua Padre João Maria, 1957 56

Fig. 02 – Calçadão de Curitiba, 38 Fig.19 – Pilares da ponte sobre o rio Piranhas, 1950 57

Fig. 03 – Arena do Morro – Mãe Luiza, Natal 41 Fig.20 – Ponte sobre o rio Piranhas, anos de 1970 57

Fig. 04 – Elemento vazado – estudo de caso 01 43 Fig.21 – Av. Rio Branco, década de 1960 59

Fig. 05 – Elemento vazado – estudo de caso 01 43 Fig.22 – Av. Rio Branco, atualmente 59

Fig. 06 – Piso – estudo de caso 01 44 Fig.23 – Av Dix-Sept Rosado, década de 1970 59

Fig. 07 – Cobertura – estudo de caso 01 44 Fig.24 – Av. Dix-Sept Rosado, atualmente 59

Fig. 08 – Fachada frontal – estudo de caso 02 45 Fig.25 – Localização dos possíveis terrenos de projeto 60

Fig. 09 – Vista interna – estudo de caso 02 46 Fig.26 – Terreno do antigo ginásio municipal 61

Fig.10 – Vista interna – estudo de caso 02 47 Fig.27 – Vista aérea do largo N. S. dos Aflitos 62

Fig.11 – Estrutura metálica – estudo de caso 02 48 Fig.28 – Praça Nossa Senhora dos Aflitos 64

Fig.12 – Vista externa – estudo de caso 03 49 Fig.29 – Praça Padre João Maria 64

Fig.13 – Vista externa – estudo de caso 03 50- Fig.30 – Vôlei de areia praticado na área 64

Fig.14 – Vista externa – estudo de caso 03 51 Fig.31 – Atividade funcional praticada na área 64

Fig.15 – Vista aérea, Jardim de Piranhs/RN 54 Fig.32 – Imagem N S dos Aflitos 65

Fig.16 – Localização de Jardim de Pirannhas no RN 55 Fig.33 – Missa externa à Igreja Matriz 66

Fig.17 – Rua Amaro Cavalcanti, 1957 56 Fig.34 – Zoneamento de estruturas fixas 67

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Fig. 35 – Entorno do largo 69 Fig.55 – Zoneamento bloco térreo 98

Fig.36 – Relação com outros equipamentos públicos 70 Fig.56 – Zoneamento bloco de aulas 99

Fig.37 – Principais vias de acesso 71 Fig.57 – Croqui gradil 100

Fig.38 – Mapa da zona bioclimática 7 75 Fig.58 – Gradil bloco térreo 100

Fig.39 – Diretrizes para a Z7 76 Fig.59 – Proteção do ginásio e do bloco térreo 101

Fig.40 – Valores para vedação pesada 77 Fig.60 – Proteção do bloco de aulas 101

Fig.41 – Perfil topográfico do terreno 79 Fig.61 – Eixos urbanos 102

Fig.42 – Atividades indoors 82 Fig.62 – Planta baixa eixo 01 102

Fig.43 – Atividades outdoors 82 Fig.63 – Planta baixa eixo 02 103

Fig.44 – Trailer de venda de comida 83 Fig.64 – Vista de parte do conjunto urbano 103

Fig.45 – Vista do trailer com a praça 83 Fig.65 – Planta baixa eixo 03 104

Fig.46 – Zoneamento urbano inicial 91 Fig.66 – Mobiliário urbano utilizado 106

Fig.47 – Ideia do rio na paginação 91 Fig.67- Parte dos gradis utilizados no projeto 107

Fig.48 – “Rio” e distribuição dos canteiros 92 Fig.68 – Vista externa ao centro 108

Fig.49 – Paginação de piso geral 93 Fig.69 – Vista externa ao centro 109

Fig.50 – Área de esportes de areia 94 Fig.70 – Vista interna ginásio 110

Fig.51 – Academia ao ar livre 95 Fig.71 – vista interna bloco térreo 11

Fig.52 – Zoneamento urbano final 96 Fig.72 – Dimensões para a laje 113

Fig.53 – Distribuição dos blocos 97 Fig.73 – Estrutura ginásio 114

Fig.54 – Zoneamento ginásio 98

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................................................................... 25

1 CONCEITUANDO O TEMA .................................................................................................................................................................................... 29

1.1 Centro esportivo como espaço de lazer social ........................................................................................................................................ 30

1,2 Esportistas / Atletas / Amadores .................................................................................................................................................................. 33

1.3 Os esportistas em Jardim de Piranhas ........................................................................................................................................................ 36

1.4 A importância dos Centros Urbanos ........................................................................................................................................................... 37

2 REFERENCIAS PROJETUAIS .................................................................................................................................................................................... 41

2.1 Estudo de caso 01 - ARENA DO MORRO por Herzog & de Meuron ........................................................................................................ 42

2.2 Estudo de caso 02 – Projeto concurso ........................................................................................................................................................ 47

2.3 Estudo de caso 03 - É Tradição: uma proposta de espaço cultural e intervenção urbana para a cidade de Várzea/RN – José

Augusto de Oliveira Carvalho ............................................................................................................................................................................ 51

3 UNIVERSO DE ESTUDO: ESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA-URBANA-CULTURAL ................................................................................................. 55

3.1 Universo de estudo e eixo de intervenção ................................................................................................................................................ 56

3.2 Estruturação econômica-urbana de Jardim de Piranhas ....................................................................................................................... 57

3.3 Escolha da área de intervenção ................................................................................................................................................................. 62

3.4 Cenário cultural religioso na área de intervenção .................................................................................................................................. 67

3.5 Área de intervenção e sua relação com a cidade ................................................................................................................................. 70

4 CONDICIONANTES DA PROPOSTA ..................................................................................................................................................................... 75

4.1 Diretizes Bioclimáticas para construir em Jardim de Piranhas ............................................................................................................... 76

24

4.2 Topografia da área de intervenção ............................................................................................................................................................ 80

4.3 Condicionantes legais .................................................................................................................................................................................. 82

4.4 Definição do programa de necessidades ................................................................................................................................................. 83

5 PROPOSTA ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA ..................................................................................................................................................... 87

5.1 Conceito, Partido e evolução projetual ..................................................................................................................................................... 88

5.1.1 Projeto Urbano .................................................................................................................................................................................. 92

5.1.2 Projeto Arquitetônico – Centro de Esporte e Lazer ........................................................................................................................ 98

5.2 Proposta Final – Intervenção urbana ........................................................................................................................................................ 104

5.2.1 Organização programática .......................................................................................................................................................... 104

5.2.2 Acessibilidade ................................................................................................................................................................................. 106

5.2.3 Tratamento paisagístico ................................................................................................................................................................. 107

5.2.4 Aspectos de conforto ..................................................................................................................................................................... 107

5.2.5 Mobiliário urbano ............................................................................................................................................................................ 108

5.3 Proposta Final – CENTRO DE ESPORTE E LAZER TRÊS VAQUEIROS ............................................................................................................ 109

5.3.1 Organização programática .......................................................................................................................................................... 115

5.3.2 Estrutura ........................................................................................................................................................................................... 116

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................................................................... 118

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................................................................... 120

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INTRODUÇÃO

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A população praticante de esportes encontrada na cidade de Jardim de Piranhas/RN cresceu em

níveis consideráveis nos últimos cinco anos, não existindo, entretanto, dados oficiais coletados, até

então, que confirmem essa afirmação sendo a mesma baseada em análise indireta do uso e

apropriação do espaço urbano no município, que apresenta a assiduidade da prática de esportes

em diversos lugares espalhados pela cidade, sejam eles adequados ou não à esta atividade.

Dentro desta realidade, a cidade não está conseguindo acompanhar a demanda de espaços

adaptados para essas práticas esportivas. A falta de lugares apropriados à prática esportiva leva a

população a adequar-se à quaisquer áreas disponíveis, indo principalmente em busca de espaços

abertos na periferia da cidade. Um dos principais exemplos é o uso da escadaria presente no santuário

de Santa Rita para a realização de várias modalidades de exercícios. O largo da Igreja Matriz de Nossa

Senhora dos Aflitos também é outro local amplamente utilizado, assim como a Avenida Rio Branco e

a ponte sobre o Rio Piranhas, esses dois últimos de alto perigo por não apresentarem uma correta

divisão entre pedestres e veículos. A caminhada, por exemplo, exercida por um número considerável

de jardinenses, é feita em lugares que não estão estruturados para tal, seja problemas por adequação

física do espaço ou por questões administrativas, como garantia de segurança aos praticantes.

Em breve análise do cenário atual dos espaços esportivos de Jardim de Piranhas, apenas uma quadra

poliesportiva está em pleno funcionamento na cidade. Os dois clubes privados da cidade, com

alguma estrutura mínima para a prática de esportes, estão fechados por falta de segurança contra

incêndio e a principal contrução esportiva que a cidade possuia, o Ginásio Poliesportivo Novo Jardim

, desabou em um vendaval em janeiro de 2012, nunca mais sendo erguido. Assim, as instalações

esportivas encontradas no município não atendem a demanda de usuários que as procuram para

suas atividades, os forçando a buscar alternativas que não estão nos parâmetros ideais.

A carência de Jardim de Piranhas não se restringe apenas à espaços esportivos apropriados ao seu

uso, mas sim, abrange o amplo conceito de espaços de lazer destinados à população em geral.

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Segundo Pellegrin (2004), a expressão “espaço de lazer” diz respeito a toda rede de equipamentos de

lazer, vazios urbanos e áreas verdes de uma cidade, o que inclui as quadras e os centros esportivos

(PELLEGRIN apud PINTO, PAULO, SILVA, 2012. Pg. 90). Nesse sentido, focar apenas no esporte se

apresenta impreciso já que, por se tratar de uma cidade interiorana, Jardim de Piranhas ainda

apresenta características do uso dos espaços de lazer presentes na cidade de forma relevante para

diversos fins, não exclusivamente esportivos. Evidenciando não só a adequação dos espaços atuais

como a questão da falta de alternativas para a população, que acaba por superlotar as poucas

praças existentes. Praças essas que com o tempo vem perdendo sua identidade, basicamente se

transformando em apenas mais um bar local, como o acontecido com a Praça Plínio Saldanha.

Com base no Estatuto da Cidade, Lei Federal n 10.257 de 10 de Outubro de 2001, é necessário pensar

na cidade como local onde devem ser satisfeitas as necessidades vitais da população,

estabelecendo uma adequada e respeitosa relação entre o individual e o coletivo. Para tal, é

importante implementar uma proposta social que vise transformar a sociedade, garantindo o bem

estar dos cidadãos e o direito deles à cidade (SILVEIRA E SILVA, 2010).

Como consequência dessas formas de ocupação e apropriação do espaço urbano pela população

da cidade de Jardim de Piranhas tem-se como objeto de estudo a necessidade não de apenas um

local para a prática esportiva, mas também um complexo que consiga se adequar aos diferentes

tipos de exercícios físicos e atividades relacionadas ao esporte. Bem como se molde em torno da

identidade interiorana da cidade quanto ao uso dos espaços públicos de concentração de pessoas.

A proposta de trabalho surgiu primeiramente devido o grande desejo pessoal do autor de trabalhar

dentro do universo de sua cidade natal, Jardim de Piranhas. Nisso, a observação, mesmo que indireta,

da cidade e de seus espaços destinados à prática esportiva, bem como o grande crescimento do

público que os utiliza, se apresentaram pois como justificativas diretivas ao trabalho. Como alguém

que vivenciou a cidade durante anos e utiliza/utilizou a mesma para o intuito esportivo em espaços

diversos, é possível apontar as falhas dos espaços existentes na cidade e as necessidades que devem

ser atendidas por eles.

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Já como estudante de arquitetura e urbanismo que percebe a carência de espaços públicos

adequados voltados ao esporte e ao lazer inseridos no espaço urbano, é parte do meu dever

profissional e social tentar buscar soluções para tais problemas. Espera-se que numa situação

hipotética de concretização desse projeto, fosse possível incluir Jardim de Piranhas dentro de um

cenário esportivo social e servindo como referência na região do Seridó, e servir como razão para o,

cada vez mais, aumento da população praticante de esportes e, com isso, aumentar a qualidade de

vida da população.

O exercício de projeto apresentado neste trabalho final de graduação busca, portanto, compreender

a dinâmica da prática de esportes pela comunidade jardinense, para a construção de programa de

necessidades que se apresente refletido no produto final; pesquisar as necessidades funcionais dos

usos esportivos, junto de normas nacionais e internacionais para tentar parametrizar os equipamentos

desde quando possível; estudar estratégias projetuais que busquem a multifuncionalidade espacial,

como referências urbanizacionais e conceituais dentro de um universo de estudo parecido ao

proposto neste trabalho; e por fim, projetar um centro esportivo e de lazer utilizando de estratégias de

multifuncionalidade espacial dentro de uma realidade urbana de cidades interioranas.

Para alcançar esses objetivos o produto final aqui apresentado se desenvolve por uma metodologia

que inclui revisão bibliográfica e entrevistas para o total entendimento da situação vigente

levantando conceitos, processos e propostas a serem aplicadas ao projeto.

O trabalho estrutura-se em seis tópicos para expor o exercício realizado. O primeiro conceitua o tema

aqui tratado, e a realidade do meio dentre a população jardinense. O segundo, apresenta os estudos

de referência realizados que serviram como base inicial para o projeto. O terceiro tópico tece a

estruturação do centro urbano de Jardim de Piranhas em uma análise de crescimento urbano e a

cultura local, com a escolha da área de intervenção. O quarto item abrange os estudos dos

condicionantes projetuais da área escolhida. O quinto tópico descreve o desenvolvimento e evolução

da proposta. E, por fim, apresentar a pertinência do exercício feito como atividade para um trabalho

final de graduação do curso de arquitetura e urbanismo.

29

1 CONCEITUANDO O TEMA

30

1.1 Centro esportivo como espaço de lazer social

Existe uma profunda relação entre esporte e lazer, o que chega a dificultar uma identificação de

quando estão juntos ou separados. É perceptível que nem sempre o esporte é lazer e o lazer,

obviamente, não se resume apenas ao esporte. Na realidade, são categorias que apresentam áreas

em comum, o que dificulta a conceituação segundo os bons preceitos de categorização. Ou seja,

quanto mais vaga a definição do que seja o esporte e o lazer, enquanto categorias de atividades,

mais se pode confundir os conceitos e permitir sobreposições (SARTORI, 1970).

Originada da palavra latina licere, traduzida como algo lícito e permitido (CAMARGO apud PINTO,

PAULO, SILVA, 2012. Pg. 88), “lazer” é um dos fatores mais influentes no desenvolvimento social da

humanidade. Segundo Marcellino (1996), não existe um consenso sobre o que seja “lazer” entre os

estudiosos, o que indica que se trata de um termo carregado de juízos de valor. Uma considerável

parte da população ainda associa o lazer às atividades recreativas, ou a eventos de massa. Camargo,

porém, entende que há outra possibilidade de ocorrer o lazer, trata-se do desenvolvimento pessoal e

social que acompanha as atividades. No teatro, turismo, festa, entre outros, estão presentes

oportunidades privilegiadas, porque espontaneamente inferem percepção e reflexão sobre as

pessoas e as realidades nas quais estão inseridas. Assim, Marcellino (1987) afirma que não é possível se

entender o lazer isoladamente, ele influencia e é influenciado por outras áreas de atuação numa

relação dinâmica. Já Dumazedier (1976), define “lazer” como um conjunto de ações as quais o

indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou

ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada e sua participação social

voluntária. Ou seja, o lazer opõe-se a obrigações. Porém, há o que Dumazedier (1976) chama de

“semilazer”, ou seja, uma atividade mista onde o lazer se mistura a uma obrigação institucional.

O conceito aqui adotado será o trazido por Gomes (2004), que reúne um pouco das ideias de ambos

os autores citados anteriormente e entende “lazer” como:

31

(...) uma dimensão da cultura constituída por meio

da vivência lúdica de manifestações culturais em

um tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou

grupo social, estabelecendo relações dialéticas

com as necessidades, os deveres e as obrigações”

(GOMES apud PINTO, PAULO, SILVA, 2012. Pg. 88).

A partir de um ponto de vista mais amplo, o espaço de lazer refere-se também a um dos aspectos de

uma política de lazer. Diz respeito a como se organizam os diferentes equipamentos destinados à essa

prática em uma cidade, como são distribuídos, que tipos de possibilidades oferecem. Por isso, referem-

se, também, aos espaços potenciais tais como: vazios urbanos e áreas verdes, podendo ser

transformados concretamente em equipamentos de lazer (PELLEGRIN, 2004)

O Brasil tem sido apontado como um país onde há uma enorme desigualdade social e, mesmo

apresentando esta diversificação de realidades sociais, as cidades, de um modo geral, não oferecem

espaços públicos adequados e suficientes de lazer. Sendo assim, o lazer não é democrático, não

sendo homogêneo para todas as classes sociais e impossibilitando que as pessoas tenham livre acesso

aos diversos tipos de atividades integradoras, democráticas e de bem-estar (SILVA, LOPES, XAVIER

apud PINTO, PAULO, SILVA, 2012. Pg. 89).

Segundo Pellegrin (2004), a expressão “espaço de lazer” diz respeito a toda rede de equipamentos de

lazer, vazios urbanos e áreas verdes de uma cidade. Nesse sentido, trata-se de uma edificação ou

instalação onde acontecem manifestações e atividades de lazer. Podem enquadrar-se nessa

categoria geral os clubes, ginásios, centros culturais, piscinas, cinemas, parques, bibliotecas, centros

esportivos, quadras, teatros, museus, entre outros, independentemente de serem privados ou públicos.

(PELLEGRIN apud PINTO, PAULO, SILVA, 2012. Pg. 90). O autor afirma que os equipamentos de lazer

expõem os contrastes urbanos existentes na cidade a partir do momento em que é possível perceber

a presença de áreas nas quais os equipamentos são abundantes, variados e bem conservados e áreas

32

nas quais são raros e mal conservados, áreas de fácil acesso e áreas de difícil acesso, equipamentos

superlotados e esvaziados.

Nos espaços da cidade e no cotidiano das pessoas as práticas esportivas, como parte integrante do

lazer, encontram formas variadas de existência e manifestação. Desde a “pelada” no fim de tarde,

até os campeonatos amadores, já organizados em ligas específicas.

O Conseil Internationale d’Education Physique Et Sport – CIEPS, vinculado à UNESCO divulgou em 1964

o documento “Manifesto Mundial do Esporte” que conceituou e dividiu o esporte em três grandes

áreas para as quais dedica capítulos específicos:

a) esporte na escola, esporte escolar, esporte educacional ou esporte-educação;

b) esporte participação, esporte de lazer ou esporte de tempo livre;

c) esporte de alto rendimento (EAR), esporte de alta competição ou esporte-performance.

Os dois primeiros itens são a novidade, pois até então só o terceiro compreendia todo o espectro do

fenômeno esportivo. Contudo, o mesmo documento atribui ao esporte escolar função de desenvolver

o talento esportivo, o que vinculou o esporte escolar ao de alto rendimento.

De modo geral, a literatura faz tanto referência ao esporte recreativo como também ao esporte de

lazer. Não obstante, a expressão utilizada pela legislação é “esporte de participação”. Ele engloba a

participação em atividades tidas como esportivas, com características formais ou informais, pela

população em geral, sem o compromisso da competição ou com esta sendo limitada ao aspecto

lúdico. Está diretamente relacionado ao uso do tempo livre e ao conceito de bem estar físico e

psicológico, sendo defendido por várias categorias profissionais como importante componente para

a saúde pública. Tem, portanto, como objetivo a diversão, o relaxamento, a desconcentração, a

interação social e mais recentemente a interação com a natureza, despertando a consciência

ecológica na população.

33

De acordo com o Ministério do Esporte, no documento sobre Política Nacional do Esporte e do lazer

de 2006, resultante da I Conferência Nacional do Esporte e Lazer, “o esporte e o lazer são direitos

sociais e, por isso, interessam à sociedade, devendo ser tratados como questões de Estado, ao qual

cabe promover sua democratização, colaborando para a construção da cidadania”. Sendo

considerado como fator de desenvolvimento humano e fonte de emprego e renda. “É no tempo e

espaço de lazer que a manifestação cultural esportiva, despojada de sentido performático (da busca

do rendimento), se apresenta como possibilidade de ser vivenciada por todos que o acessam”

(MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2006).

Temos, assim, as práticas corporais recreativas ou mesmo desportivas que buscam a socialização, que

estão imbuídas de criar laços afetivos, afiliações entre os participantes, onde o esporte e a atividade

física podem atuar como integralizadoras no contexto social.

O que torna fundamental o desenvolvimento das atividades físicas na comunidade, sejam nos clubes

esportivos, praças, parques e outros espaços públicos que estejam disponíveis para promoverem o

desenvolvimento saudável do homem. Os Centros Municipais de Esporte e Lazer foram criados e

disponibilizados para as comunidades com este mesmo objetivo.

1,2 Esportistas / Atletas / Amadores

O dicionário Aurélio coloca “atleta” como qualquer pessoa que se dedique a uma atividade física ou

modalidade esportiva, seja de forma profissional ou amadora. Mesmo os que apenas correm pelas

ruas da cidade a fim de melhorar a forma física e a saúde não deixam de ser atletas, no sentido mais

amplo da palavra.

Na definição de Marcílio Krieger (2003), atleta é qualquer pessoa que pratique qualquer das

manifestações do desporto, seja: “educacional, de participação ou de rendimento, podendo ser

qualificado quanto à forma de sua prática, em amador, não-profissional e profissional”.

34

“Atleta amador” é o praticante eventual, que o faz por prazer, por saúde ou vaidade. Amador é o

“peladeiro” de fim-de-semana, aquele que corre para manter a forma, ou até o que participa de

maratonas ou outros torneios, sem o intuito de ganhar premiações, mas com o espírito esportivo de

pura competição. Amador é aquele que leva a sério o ideal onde o importante não é vencer, é

participar.

A definição de atleta amador passa essencialmente pelo fato deste receber ou não uma retribuição

pelo seu esforço. Na definição legal, redação original do art. 3º, parágrafo único, II, b, da Lei 9.615/98,

o atleta amador é “identificado pela liberdade de prática e pela inexistência de qualquer forma de

remuneração ou de incentivos materiais”.

“Atleta semiprofissional”, segundo a redação original da Lei 9.615/98, é aquele em formação. São

atletas entre quatorze e dezoito anos de idade, com contrato próprio e específico de estágio, que

recebem incentivos materiais que não caracterizem remuneração derivada de contrato de trabalho.

Atleta semiprofissional seria aquele que busca o aperfeiçoamento, o desenvolvimento das

capacidades atléticas e a formação como um futuro atleta profissional.

A definição de profissional ou não-profissional não diz respeito ao esporte ou à modalidade esportiva,

e sim ao praticante. A lei separa o desporto em três categorias: desporto educacional, de

participação e de rendimento. Dentro do desporto de rendimento aparecem as categorias de atletas:

profissionais ou não-profissionais. Não há, portanto, esporte amador ou profissional, há desportista

amador e desportista profissional. Um jogador de futebol, portanto, pode muito bem ser amador ou

profissional, e isto se aplica também ao vôlei, ao tênis, e a todas as outras modalidades.

Domingos Sávio Zainaghi (2007) dá uma visão diferente da prática desportiva profissional, sem usar as

remunerações como base, mas a própria competição que ele disputa. Segundo o autor: “A atividade

desportiva profissional é aquela que é praticada em competição promovida para obter renda e

disputada por atletas profissionais”.

35

Esta é uma boa definição, pois caracteriza o atleta pela própria competição que disputa. Afinal, não

é correto pensar que um jogador de vôlei da Seleção Brasileira, que joga em uma equipe brasileira,

recebendo apenas incentivos, sem contrato de trabalho, disputando uma competição profissional

com venda de ingressos, transmissão televisiva e um grande público, gerando visibilidade aos

patrocinadores e lucros aos clubes, seja considerado um atleta não-profissional. Desta forma, não

pode o contrato de trabalho ser o elemento central do profissionalismo esportivo.

Porém a melhor definição de atleta amador e profissional parece ser a do povo, do senso comum,

trazida por Alexandre Miguel Mestre (2002). Segundo ele:

“O senso comum dirá que o desportista amador não trabalha, antes joga – praticando desporto na

escola, num grupo de amigos ou num clube amador -, enquanto o desportista profissional não joga,

antes trabalha. Ou dirá ainda que deve estabelecer-se uma diferença entre o atleta que obtém do

desporto o seu principal modus vivendi, daquele atleta que chega mesmo a ter de pagar para poder

praticar a sua modalidade”.

Para o autor, amador é o que joga “não recebendo qualquer remuneração, nem auferindo – direta

ou indiretamente – qualquer proveito material de sua atividade desportiva”. Enquanto o profissional

“é remunerado pela atividade desportiva que desempenha, a título principal ou exclusivo”.

Assim, a forma mais correta de definir atleta profissional não é segundo o seu vínculo empregatício,

ser profissional não depende da existência de um contrato de trabalho. Ser atleta profissional é

dedicar-se ao esporte como uma profissão, fazendo dele, senão uma ocupação exclusiva, ao menos

uma ocupação habitual, tendo ele como seu principal objetivo de vida.

É importante indicar que na cidade de Jardim de Piranhas se encontram as três definições de atletas

em todas as faixas etárias, logo, o público-alvo é amplo, abrangendo desde crianças até idosos.

36

1.3 Os esportistas em Jardim de Piranhas

Para se entender o contexto esportivo na cidade Jardim de Piranhas deve-se primeiro compreender

seu passado e os motivos e acontecimentos que levaram ao desenvolvimento e, as vezes, ao

afastamento com as práticas esportivas.

Em conversa com Francisco Roniere de Assis (ou “o velho da academia”), principal nome relacionado

ao esporte jardinense, ele relembra a dificuldade que era formar um grupo de pessoas interessados

em práticas esportivas hà cerca de uma década. Vindo de Recife, Roniere tenta trazer uma

identidade desportiva entre à população jardinense desde que se mudou para lá. No início, a maior

parte das atividades que ele conseguiu realizar estavam ligadas as crianças e adolescentes em

programas esportivos ligados diretamente a escola, bem como no Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil (PET)1.

Quando questionado sobre a história do esporte na cidade ele relembra que a primeira vez que visitou

Jardim de Piranhas a mesma detinha destaque no meio do futebol potiguar, uma vez que naquele

tempo, dois clubes estavam ativos em campeonatos regionais e estaduais, o Clube Atlético Piranhas

(CAP) e o Real Sociedade Independente (RSI), isso na década de 1990. E são esses mesmos clubles

que são apontados como estopim da descontrução do clima esportivo na cidade: com a dissolução

dos times, a diminuição no animo esportista jardinense foi apenas consequência.

Roniere acredita fortemente que o principal motivo da mudança repentina no quadro desportivo

jardinense e a volta do interesse pelas práticas esportivas se dá em razão de políticas públicas

implantadas pelo atual prefeito. Onde o mesmo apresenta em seu plano de ação diversas propostas

1 O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil é um programa do governo federal que atua na cidade desde a

administração municipal inicial no ano de 2004. Este programa tem como objetivo buscar um meio de reforçar crianças e

adolescentes de baixa renda dentro do sistema educacional com atividades extra-curriculares em que em sua maioria são

baseadas no esporte.

37

relacionadas à implantação, ampliação e melhoria dos equipamentos de esporte e incentivo à

prática esportiva na cidade de Jardim de Piranhas.

As políticas de incentivo se encontram ativas desde o primeiro semestre de governo: o PETI voltou a

funcionar com seus objetivos originais, atividades esportivas com os cidadões da terceira idade são

realizadas semanalmente junto à um profissional da área, acordos de investimento com grupos de

artes marciais e dança foram feitos para que os mesmos continuassem a funcionar e aceitasssem

novos alunos, entre outros. Mas em relação aos equipamentos públicos em si, não houve uma

modificação significativa que acompanhasse essas mudanças no dia-a-dia jardinense,

consequentemente fica clara a necessidade que haja um espaço apropriado para tais atividades.

1.4 A importância dos Centros Urbanos

No contexto de formação urbana de qualquer cidade, o centro urbano apresenta uma importante

função formativa nesse processos de surgimento. “Formado o centro, a cidade desenvolvida ao seu

redor, tem-se nesse espaço uma área propícia, e ideologicamente predestinada, a abarcar as

principais reuniões e celebrações realizadas pela comunidade.” (CARVALHO, 2010).

As áreas centrais das cidades pequenas e médias brasileiras estão sofrendo, em vários graus, os

impactos do crescimento urbano. Um aspecto interessante e que merece atenção é o surgimento de

centros alternativos, que passaram a disputar atenção e investimentos do centro “principal” dessas

cidades, que, por sua vez, ficaram esquecidos. Sem incentivo para uso, chega o abandono, que traz

com ele o aumento da criminalidade, desperdício de infraestrutura e desvalorização da região.

No entanto, surge também uma nova demanda, a de revitalização desses espaços, para que eles

possam voltar a desempenhar seu papel para a população, desde o de imagem unitária de

pertencimento à comunidade até o de amenidade, a fim de preservar a boa qualidade do ambiente

construído para seu público mais diverso.

38

Em entrevista realizada em 2011 e concedida ao portal Obra24Horas, Sílvio Chaimovitz diz:

“As cidades, através do poder público, agentes

comunitários e empresas privadas, respondem de

maneiras diferentes a essa questão, mas é

consenso entre as partes que o papel da

reurbanização de tais áreas vai além de deixar a

cidade mais bonita. Resgatar a história de espaços

ou reconstruir patrimônios tombados fortalece o

mercado e o comércio da região no qual estão

inseridos, gera empregos direta ou indiretamente, e

ainda cria um ambiente mais agradável para os

moradores locais, que certamente ficarão gratos

pelo feito”.

Um exemplo bem sucedido pode ser observado em Bilbao, na Espanha, o projeto de revitalização da

cidade se apoiou essencialmente na recuperação de sua identidade e diversidade, buscando

conferir aos moradores uma sensação de pertencimento a cidade, que antes era percebida de forma

fragmentada e compartimentada. Para isso, governo e iniciativa privada investiram em uma série de

obras, como a construção do Museu Guggenheim Bilbao (Figura 01), de um novo terminal no

aeroporto, novo terminal ferroviário metropolitano, nova estação combinada de ônibus e trens, o

centro empresarial de Abandoibarra e recuperação para o uso urbano da área antiga do porto e

ampliação do porto atual.

39

O Brasil também possui casos extremamente positivos, Curitiba é um grande exemplo. Os curitibanos

presenciaram um plano de revitalização bem orquestrado que permitiu o crescimento ordenado da

cidade, a partir da década de 1960. O projeto cuidou da paisagem da cidade, ampliando a área

verde da cidade, criou, ainda, novas regras de zoneamento e parques. O Calçadão de Curitiba

(Figura 02) foi todo redesenhado, proporcionando um belo contraste entre a rua de pedestres e as

edificações e transformou a rua das Flores em um importante ponto comercial e de encontro de

pessoas. A revitalização é um marco histórico e demonstra ser um empreendimento de sucesso

imediato, pois atraiu novos moradores e visitantes à cidade e, consequentemente, aqueceu sua

economia.

Figura 01: Guggenheim Bilbao

Fonte: http://goo.gl/8jixjO

40

Tais exemplos ilustram tanto a importância quanto a viabilidade de se propor hipóteses de

qualificação do espaço urbano, para que esses locais recuperem a relevância do passado na vida

atual, compreendendo a constante transformação da população que podem ser um imóvel

abandonado, uma praça sem cuidados, ou até construções maiores como, por exemplo, estádios

esportivos.

Neste sentido, o centro urbano de Jardim de Piranhas, mesmo ainda sendo o coração citadino de

atividades humanas e equipamentos urbanos, vem apresentando, com os anos, uma certa

deterioração e perca de identidade com a população. A revitalização do mesmo junto com

conceitos que mantenham sua identidade original podem trazer um aspecto interessante perante a

cidade e a população, compondo uma ideia urbanística a muito tempo necessária.

Figura 02: Calçadão de Curitiba

Fonte: http://goo.gl/o9WFMQ

41

2 REFERENCIAS PROJETUAIS

42

Nesse capítulo serão apresentados 3 estudos de caso que tiveram relevância na concepção do

projeto.

O primeiro, o Arena do Morro, está relacionado com o uso e ocupação do projeto arquitetônico e

contribuiu para definição do programa de necessidades e, principalmente pré-dimensionamento de

algumas áreas. O projeto também é referência para estudos de conforto e implantação de um

equipamento arquitetônico moderno numa área com características tipológicas simples.

Já o segundo se trata do trabalho enviado por alunos da UNIVATES para o 8º Concurso CBCA para

estudantes de arquitetura, o mesmo foi condecorado como mensão honrosa e trouxe contribuições

técnicas e estéticas para a escolha e utilização de um dos sistemas construtivos adotados na proposta

final. Além de estudos de programa de necessidades e informações técnicas para o pré-

dimensionamento.

O terceiro estudo está relacionado com a semelhança com o universo de estudo e a proposta que se

criou como produto final. O também trabalho final de graduação, É Tradição: uma proposta de

espaço cultural e intervenção urbana para a cidade de Várzea/RN, apresenta uma problemática que

busca juntar a relação urbana e cultural da cidade de Várzea em um projeto que abrangesse desde

praças públicas, áreas para eventos, novos estacionamentos e um projeto arquitetônico moderno

dentro de uma região histórica e central de cidade interiorana.

2.1 Estudo de caso 01 - ARENA DO MORRO por Herzog & de Meuron

Herzog & de Meuron é um escritório suíço de arquitetura, fundado e mantido em Basileia, Suíça, desde

1978. Hoje, mantém unidades também em Hamburgo, Londres, Madri, Nova York e Hong Kong. Seus

sócios-fundadores são Jacques Herzog e Pierre de Meuron. O Pritzker (2001), o Riba (2007) e o Imperial

(2007) são os principais dos prêmios já recebidos por eles.

43

Em parceria com a Fundação Ameropa e o Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora de Conceição, o

Herzog & de Meuron é responsável pelo projeto do ginásio "Arena do Morro" (Figura 03), bem como

Figura 03: Arena do Morro –

Mãe Luiza, Natal, RN

Fonte: https://goo.gl/hvkw77

44

da proposta urbana em que ele se insere, "Uma visão para a Mãe Luiza", que foram desenvolvidos em

2009 para a comunidade de Mãe Luiza em Natal, sendo o ginásio o primeiro a ser executado.

O grande objetivo norteador do projeto urbano consiste no estabelecimento de um programa cultural,

educativo e esportivo, otimizando estruturas existentes mas ocupando também áreas livres

remanescentes.

O ginásio é um edifício contraditório, pois ao mesmo tempo que possui uma escala escultural e

presença marcante na paisagem, também consegue se integrar a um entorno de comunidade

carente, através de estratégias de permeabilidade visual.

O programa conta com um campo desportivo com bancadas para 420 pessoas, salas polivalentes

para a dança e educação, um terraço com vista para o mar, bem como vestiários e banheiros

públicos, totalizando uma área de 1964 m².

Nesse projeto, a relação entre exterior e interior foi trabalhada de forma generosa com o espaço

urbano, através da forte permeabilidade alcançada pela escolha dos elementos envólucros dessa

edificação. Tanto o telhado como as paredes tornam-se membranas permeáveis que permitem a

brisa fresca do oceano a fluir através da construção e o ar quente para escapar, filtrando a luz natural,

e presenteando o edifício com um jogo de luz e sombra. Cobertura, paredes e piso definidores de um

espaço arquitetônico foram associados à manipulação de materiais usuais em seu estado aparente,

ou seja, sem necessidade de revestimentos.

A vedação vertical, tanto as lineares quanto as sinuosas, foi feita com blocos vazados de concreto

(Figuras 04 e 05). Foram desenvolvidos especialmente para esse projeto dois módulos básicos, o

côncavo e o convexo. Formados por lâminas verticais dispostas diagonalmente, podem ser utilizados

isoladamente ou componíveis entre si, dependendo do nível de privacidade desejado.

45

O piso monolítico da quadra (Figura 06), pátio e arquibancadas que a cercam (capacidade para 420

espectadores sentados), tiveram acabamento executado em granilite conforme um desenho

orgânico e contínuo, numa tonalidade similar à do concreto da vedação.

“A estrutura é simples e aberta, refletindo e

respondendo aos materiais e métodos de

construção locais” ( Herzog & de Meuron)

A cobertura (Figura 07) percorre todo o terreno, reproduzindo sua figura irregular e alongada e

marcando presença no bairro . Sua composição, vários planos menores à compõem, dispostos com

separações regulares, geram aberturas, o que otimiza a ventilação cruzada e ainda cria um padrão

geométrico de luz natural ao longo do dia, além do destaque à noite.

Figuras 04 e 05: Elementos

vazados – Estudo de caso 01

Fonte 04: http://goo.gl/1s9wJn

Fonte 05: https://goo.gl/rsUqyE

46

A uniformidade do branco e a grande extensão da cobertura criam um contraste com a escala e

diversidade do colorido do casario de Mãe Luiza, destacando o edifício na paisagem do bairro.

“É uma forma simples desempenhando funções

complexas: a proteção contra o vento, a chuva e

a luz direta, combinadas ao favorecimento da

incidência da luz indireta e da ventilação natural”(

Herzog & de Meuron)

O projeto Arena do Morro contribui com informações técnicas, estéticas e conceituais para o

referencial projetual do Centro de Esporte e Lazer Três Vaqueiros:

- programa de necessidades

- pré-dimensionamento

Figuras 06 e 07: Piso e Cobertura,

respectivamente – Estudo de

caso 01

Fonte 06: https://goo.gl/73uvyE

Fonte 07: https://goo.gl/LF69Ki

47

- escolha de materiais (baixa manutenção, adequados ao clima e ao mercado local)

- estratégias de conforto ambiental

- estratégias de integração com o entorno (permeabilidade)

- contraste com o entorno (estratégia estética)

2.2 Estudo de caso 02 – Projeto concurso

Esse projeto, contemplado com o título de Menção Honrosa no 8º concurso CBCA2 para estudantes

de arquitetura, consiste na elaboração de um complexo esportivo em Porto Alegre –RS (Figura 08),

com objetivo de revitalizar uma área urbana e pública atualmente obsoleta e degradada.

A escolha do uso de esportes e lazer está diretamente relacionada com as atividades atuais ali

desenvolvidas, onde existe uma academia ao ar livre e uma quadra poliesportiva; bem como com o

entorno onde se insere: uma área predominantemente residencial e a existência de uma instituição

de ensino fundamental.

2 Centro Brasileiro da Construção em Aço

Figura 08: Fachada Frontal –

Estudo de caso 02

Fonte: http://goo.gl/KiWp2g

48

Dessa forma, o programa de necessidades do novo projeto conta com quadra poliesportiva,

arquibancadas (Figura 09), vestiários, banheiros, ambulatórios, salas multiuso, salas de jogos,

academias coberta e descoberta, playground, espaços de lazer coberto e descoberto.

Tomou-se partido da integração com o entorno (Figura 10), além do desejo de preservar a vegetação

existente na implantação da edificação no terreno. Para organizar o funcionamento do espaço, o

prédio foi estratificado em três níveis, onde o acesso principal se encontra no nível intermediário, que

coincide com o nível da rua e fica em frente à escola vizinha. No nível inferior está a quadra e os

Figura 09: Vista interna – Estudo

de caso 02

Fonte: http://goo.gl/9Vopz5

49

demais ambientes que lhe dão apoio. No nível superior se encontram as áreas de estar e lazer, e de

atividades ao ar livre, sendo um pavimento parcialmente coberto.

Quanto aos materiais empregados, a estrutura foi feita com pré-fabricado metálico (Figura 11), ideal

para o alcance dos grande vãos do projeto. Na cobertura, optou-se pelo sistema de membrana

tensionada, com alguns rasgos para ventilação e iluminação natural. Já para a vedação vertical, o

vidro translúcido foi a opção para o nível inferior, uma zona onde se desejava completa integração

Figura 10: Vista externa – Estudo de

caso 02

Fonte: http://goo.gl/zShtSt

50

com o exterior, e onde o pavimento superior sombreia as fachadas. Para as demais áreas, o

policarbonato fosco foi escolhido para integrar exterior e interior sem perder a privacidade e

segurança.

Esse projeto de complexo esportivo foi referênica projetual para Centro de esporte e lazer que será

apresentado no tocante à elaboração do:

-Programa

-Pré-dimensionamento

-Estética

-Materiais/estrutura

-relação/integração com o entorno

-preservação do uso existente

-preservação da relação população x lugar

Figura 11: Estrutura metálica –

Estudo de caso 02

Fonte: http://goo.gl/WuLS3D

51

2.3 Estudo de caso 03 - É Tradição: uma proposta de espaço cultural e intervenção urbana

para a cidade de Várzea/RN – José Augusto de Oliveira Carvalho

Arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2010, José

Augusto de Oliveira Carvalho trilhou seu caminho profissional em várias áreas da arquitetura, como

trabalhos junto à secretária de saúde, projetos arquitetônicos, urbanísticos e interiores, legislação de

obras, entre outros. Atualmente, leciona como professor na mesma universidade onde se graduou

além de manter um escritório particular na capital potiguar.

Figura 12: Vista externa – Estudo

de caso 03

Fonte: CARVALHO, 2010

52

Em seu trabalho final de graduação, Carvalho trabalhou com uma realidade extremamente próxima

com a qual é apresentada nesta atividade, o que justifica sua escolha como referência projetual.

“É Tradição” propôs a elaboração de uma intervenção urbana em nível de estudo preliminar para a

cidade de Várzea/RN (Figura 12), além de um anteprojeto de um espaço cultural voltado para a

população infanto-juvenil (Figura 13), estando baseado em conceitos de flexibilidade de usos e em

novas formas de utilização do espaço cênico.

Figura 13: Vista externa –

Estudo de caso 03

Fonte: CARVALHO, 2010

53

As semelhanças com a realidade encontrada em Jardim de Piranhas começam no eixo de

intervenção trabalhado nos dois municípios: o largo da igreja matriz da cidade. Largos estes onde

acontecem celebrações culturais que foram levadas em consideração na concepção projetual,

adaptando as propostas urbanísticas e arquitetônicas desde os zoneamento até às escolhas de

materiais.

Figura 14: Vista externa –

Estudo de caso 03

Fonte: CARVALHO, 2010

54

No caso de Várzea, por apresentar grandes áreas livres, três tipos de pisos intertravados foram utilizados

para separar diferentes espaços a partir de uma questão visual (Figura 14). A área de circulação de

veículos, por exemplo, foi utilizado um piso intertravado tipo “onda” na cor granite, enquanto na área

de utilização dos pedestres o intertravado tipo “tijolo” demarca tanto a área de calçadas e

circulações periféricas, quanto a delimitação de transição entre áreas.

O Espaço cultural, assim como o urbano, segue um conceito de integração entre todas as partes

existentes na área, pensando em uma utilização diária da população, e não apenas para espetáculos

e ensaios de grupos de teatros. Buscou-se considerar aspectos técnicos, mas sempre deixando claro

uma identidade para com a população.

O trabalho final de graduação “É Tradição” contribui com informações técnicas e conceituais que

foram incorporados ao produto final desde exercício:

- escolha de materiais;

- comparação de realidades;

- identidade para com a população municipal;

- estratégias de integração arquitetônico/urbano.

55

3 UNIVERSO DE ESTUDO: ESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA-URBANA-

CULTURAL

56

3.1 Universo de estudo e eixo de intervenção

O universo de estudo para o desenvolvimento da proposta se compreende na cidade de Jardim de

Piranhas (Figura 15), está localizada na Microrregião do Seridó Ocidental, na Mesorregião Central

Potiguar. Possuindo uma área territorial de 330.533 km, distante 313 km da capital potiguar, Natal. A

população total do município, de acordo com o Censo Demográfico de 2010, era de 13.735

habitantes (IBGE). Quanto ao clima, segundo a NBR 15220-3 (ABNT, 2005), o município de Jardim de

Piranhas está enquadrado na Zona Bioclimática Z7, caracterizada por clima quente e seco.

Como área de intervenção adota-se o largo da igreja matriz de Nossa Senhora do Aflitos, localizado

dentro do núcleo inicial da cidade. O motivo da escolha da mesma como área de estudo será

apresentada a seguir.

Figura 15: Vista aérea, Jardim

de Piranhas-RN

Fonte: http://goo.gl/IWC5Pw

57

3.2 Estruturação econômica-urbana de Jardim de Piranhas

Segundo informações disponíveis na publicação denominada “Jardim de Piranhas – Ontem e Hoje”

de autoria de Alcimar Araújo (1994), o atual território de Jardim de Piranhas (Figura 16) pertencia ao

Município de Caicó - RN e seu processo de ocupação remonta ao ano de 1710, quando foi erguida

uma capela consagrada à Nossa Senhora dos Aflitos, em uma porção de terra doada por D.

Margarida Cardoso.

Figura 16: Localização de

Jardim de Piranhas no RN

Fonte: Plano Diretor de Jardim de

Piranhas/RN, 2014

58

A publicação relata que, naquela época, três vaqueiros quase se afogaram ao cruzar o Rio Piranhas

com um grande rebanho, mas todos teriam sido salvos graças à prece que um deles fez à Nossa

Senhora onde prometeram construir uma capela onde hoje se encontra a Igreja Matriz.

Com terras promissoras para a agricultura – no início a cana-de-açúcar, depois o algodão-mocó - e

pecuária, durante dois séculos foi o que ajudou a elevar o povoado à categoria de Município, em

1948.

É dessa época a influência do Sr. Plínio Dantas “Marinheiro” Saldanha – reconhecido como grande

produtor agrícola e pecuarista da Paraíba, que pela influência política de sua família, os Dantas e os

Saldanhas, que se tornou a maior liderança política piranhense, chegando a ocupar o cargo de

Prefeito de Jardim de Piranhas, além de aproximar comercialmente este com o Município de São

Bento - PB, sua cidade natal, e outros municípios da Paraíba. Também foi o responsável por

diretamente contribuir para instalação dos primeiros teares na cidade, que auxiliaram no

desenvolvimento de Jardim de Piranhas em termos populacionais e comerciais.

Á esquerda, Figura 17: Rua

Amaro Cavalcanti, 1957

Fonte: ARAÚJO, 1994

Á direita, Figura 18: Rua Padre

João Maria, 1957

Fonte: ARAÚJO, 1994

59

O núcleo original da Sede Municipal (Figuras 17e 18), ocupado pela população inicial de Jardim de

Piranhas, restringia-se a uma área ao sul da atual Rodovia RN-288, junto com seu entorno imediato,

hoje conhecido por Vila do Rio. Uma parte desta “vila” conforma hoje o Bairro Centro, juntamente

com a área do núcleo original, e a outra parte constitui o Bairro Emboca.

Com os primeiros teares e a crescente relação comercial da produção local com cidades próximas

na Paraíba, especificamente, São Bento, e a influência política do Sr. Saldanha, a partir da sua

constituição e de obras que se realizaram ali, o Município de Jardim de Piranhas se desenvolveu,

recebendo importantes obras de infraestrutura: a rodovia ainda nos anos de 1950 com a construção

da Ponte sobre o Rio Piranhas (Figuras 19 e 20), em 1954; a eletricidade, em 1968; o abastecimento de

água, em 1979. Tudo isso impulsionou a expansão urbana de Jardim de Piranhas, que passou a ocupar,

paulatinamente, novas áreas no entorno do núcleo inicial.

Este início de ocupação está diretamente ligado a um contexto geral, caracterizado pela

necessidade de integração entre as regiões brasileiras, buscando novas formas de exploração

econômica, dando início às entradas no interior brasileiro. Neste contexto, a penetração rumo ao

Figura 19: Pilares da ponte

sobre o Rio Piranhas, início

dos anos 1950

Fonte: Arquivo Prefeitura

Municipal

Figura 20: Ponte sobre o Rio

Piranhas, anos 1970

Fonte: ARAÙJO, 1994

60

Seridó processou-se, principalmente, através de rios, ao longo dos quais foram se instalando as grandes

fazendas de produção agrícola e de gado. A pecuária tinha um caráter extensivo devido à pobreza

das pastagens, aos longos períodos de estiagem e à utilização de técnicas rudimentares.

De fato, essa primeira condição permaneceu até 1985 - período em que a agricultura viu sua

produção declinar, a pecuária a empregar menos e a indústria têxtil surgiu com seus teares

mecanizados e sua grande necessidade de trabalhadores para modificar de uma vez a economia

jardinense. Essas indústrias inicialmente se instalaram no lado norte da RN-288, parte da cidade que

não tinha sido muito explorada até este momento, e com elas trouxeram os novos moradores que

resolveram se instalar próximo a seus locais de trabalho.

Sem uma política efetiva de ordenamento do uso do solo, a Sede Municipal viu um crescimento

urbano espraiado nessa nova região de expansão territorial. Quando comparado ao lado sul da

rodovia é notável a diferença quanto ao planejamento quase inexistente para a definição das vias e

dos lotes ali formados, o que trouxe problemas urbanísticos que existem até hoje. É dessa época a

ocupação das áreas dos bairros São José, Santo Amaro e Santa Cecília.

A partir do ano 2000, até dezembro de 2012, de forma semelhante, a população trabalhadora das

indústrias têxteis passou a ocupar os demais bairros devido a instalação de indústrias têxteis de menor

porte nas demais periferias do município. A única exceção está nos loteamentos Santa Rita de Cássia

e a segunda parte de ocupação do Bairro Novo Jardim, áreas da cidade onde a infraestrutura

necessária não se apresentava ideal.

Como se pode deduzir, ainda nos dias atuais, a produção têxtil continua sendo o principal indutor de

crescimento da área urbana de Jardim de Piranhas. Porém, com a assinatura da Lei Complementar

Nº 002/2014, de 18 de dezembro de 2014, que instituiu o Plano Diretor Participativo do Município e

Jardim de Piranhas, o mesmo estabelece diretrizes citando como a cidade deve agir em várias áreas,

incluindo ponto com relação no crescimento urbano. Assim, teoricamente, a Prefeitura Municipal

apresenta um novo instrumento para guiar e controlar a expansão urbana na cidade.

61

Figura 21: Avenida Rio

Branco, década de 1960.

Fonte: ARAÚJO, 1994

Figura 22: Avenida Rio

Branco, atualmente

Fonte: Acervo Próprio, 2016

Figura 23: Av. Dix-Sept

Rosado, anos 1970.

Fonte: ARAÚJO, 1994

Figura 24: Av. Dix-Sept

Rosado, atualmente

Fonte: Acervo Próprio, 2016

62

3.3 Escolha da área de intervenção

De início, a proposta do trabalho se resumia na implantação de uma proposta arquitetônica que

atendesse a maior parte das diferentes práticas esportistas que acontecem no município. Assim

predefiniu-se que o terreno de projeto necessitava de uma área de grandes dimensões e, de

preferência, com algum significado social para com a população jardinense. Se tivesse sido levado

em consideração apenas a relação de dimensões espaciais, o leque de opções de terrenos se

apresentava abrangente e diversificado, mas quando colocado a questão do significado para com

a população duas áreas se destacaram como possíveis zonas para atuação (Figura 25):

Figura 25: Localização dos

possíveis terrenos para estudo

na malha urbana de Jardim

de Piranhas-RN

Fonte: Google Maps, editado

pelo autor

63

O primeiro terreno (Figura 26) se localiza dentro do bairro Novo Jardim e faz parte da Zona de

Expanção Urbana I e II (ZEU 1 e ZEU 2), assim o centro esportivo apresentaria uma característica de

equipamento norteador para o crescimento da área urbana que está começando a se formar no

bairro. Além de que era nas imediações do mesmo que se encontrava o antigo ginásio poliesportivo

da cidade, que desmoronou em um vendaval ocorrido em janeiro de 2012. Esse fato traz um

significado importante para a população, já que seria como se estivessem presenciando o

renascimento do principal local esportivo do município. Outro motivo para escolha deveu-se à

inexistência de uma área pública na região do “Alto”, que se localiza consideravelmente distante do

centro da cidade onde se encontram os equipamentos urbanos.

Figura 26: localização do terreno

do antigo Ginásio Poliesportivo

Fonte: Google Maps, editado

pelo autor

64

Em um diferente ponto de vista, o lazer pode ser relevante no processo de valorização e preservação

do patrimônio nos aspectos histórico, social, ambiental, cultural, técnico ou afetivo, contribuindo na

possibilidade de uma vivência mais prazerosa da cidade, estabelecendo pontos de referência e

vínculos afetivos, preservando a identidade local e possibilitando o potencial turístico das cidades. É

neste pensamento que o largo da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Aflitos (Figura 27) se apresentou

como um possível candidato para a inserção da proposta de esporte e lazer.

Figura 27: Vista áerea do

lago Nossa Senhora dos

Aflitos

Fonte: Google Maps,

editado pelo autor

65

O largo já é altamente utilizado para práticas esportivas, pois é no mesmo que se encontra a única

quadra esportiva pública em funcionamento na cidade, além de servir como local para caminhadas.

Uma intervenção neste local se apresentaria como uma proposta que manteria os desportistas em

uma área que já apresenta uma identidade para com os mesmos, além de dar um uso contínuo para

o local.

O largo (Figuras 28, 29, 30 e 31) é formado por uma quadra poliesportiva cobertura e por duas praças

pequenas em frente à Igreja Matriz: a praça Nossa Senhora dos Aflitos, mais próxima a igreja e a praça

Padre João Maria, próxima a quadra. A área de areia no lado esquerdo à praça padre João Maria é

utilizada para jogos de vôlei e futebol de areia, mas adquire uma função diferente durante a festa da

padroeira que acontece no mês de setembro, por ser a área utilizada para a montagem dos parques

de diversão infantis. Por último, a parte direita do largo se confunde totalmente com as vias que o

corta por não apresentarem nenhuma divisão física ou visual, o que coloca em risco os pedestres que

a utilizam para atividades diversas.

Assim, a escolha da área da igreja somaria um caráter urbano à proposta por ter de tratar a relação

com as praças e a utilização do espaço para a festa religiosa em setembro. Além de sofrer a influência

em ponto específico do Plano Diretor local, que caracteriza a região como uma Zona de Interesse

Histórico e pode limitar de algum modo a proposta.

Uma singularidade da área, como dito anteriormente, é a utilização da mesma para a realização da

festa da padroeira local. Com isso o largo adquire um caráter cultural/social, logo, o projeto

necessitaria abranger essas características. O centro esportivo teria que ser projetado de modo que

se adaptasse a essa realidade, com a possibilidade do mesmo ser utilizado para realização de jantares

e shows. Assim, a proposta se tornaria um Centro Esportivo e Social.

66

A discussão para a escolha da área final de intervenção ficou pendente durante meses para

finalmente chegar a uma decisão final. De um modo, o que pesou mais na decisão foi a relação do

terreno com o tema em estudo: o esporte. A instalação de um equipamento arquitetônico ou urbano

na ZEU que serviria como norteador de crescimento urbano seria possível com um grande número de

opções e funções para o mesmo, não precisando necessariamente da instalação de um centro

esportivo. Na outra perspectiva o largo da Igreja Matriz já apresenta uma relação de identidade com

os desportistas jardinenses e desta forma não se justifica a implantação de um projeto de caráter

lazer/esportivo em outra área que não fosse no mesmo.

Figura 28: Praça Nossa Senhora

dos Aflitos

Fonte: Acervo próprio, 2016

Figura 29: Praça Padre João

Maria

Fonte: Acervo próprio, 2016

Figura 30: Quadra poliesportiva

coberta e vôlei de areia

Fonte: Acervo Pessoal, 2016

Figura 31: Atividade funcional

sendo realizada no largo

Fonte: Acervo próprio, 2016

67

3.4 Cenário cultural religioso na área de intervenção

Além do uso para atividades esportistas, como dito anteriormente, o largo da igreja matriz de Nossa

Senhora dos Aflitos apresenta um uso importante com caráter cultural e, obviamente, religioso dentro

da identidade jardinense.

A principal manifestação desenvolvida no largo diz respeito aos dez dias de festa que ocorrem no mês

de setembro como comemoração à padroeira da cidade, Nossa Senhora dos Aflitos, festa essa

realizada a mais de dois séculos.

Não se sabe ao certo em que ano as festividades em honra de Nossa Senhora dos Aflitos tiveram início,

apenas que a capela em sua homenagem foi construída em 1710, mas presume-se que alguma

celebração venha sendo realizada desde tal data. Porém a realidade atual do uso e apropriação do

largo para a festa é o que interessa, sendo assim uma análise mais a fundo no passado não se

apresenta necessária.

Figura 32: Imagem Nossa

Senhora dos Aflitos

Fonte: http://goo.gl/I9s3NK

68

Como qualquer festa de padroeira nas cidades do interior brasileiro, essa festividade se divide em duas

vertentes: a festa religiosa e a festa social. No caso de Jardim de Piranhas a parte religiosa não requer

muito do espaço do largo, utilizando apenas o interior da Igreja Matriz para a realização dos atos

religiosos, salvo para as missas de abertura e encerramento da festa que ocorrem exterior à igreja,

com o padre e demais sacerdotes no alto da escadaria principal, à utilizando como palco, e os fiéis

na praça Nossa Senhora dos Aflitos (Figura 33).

Figura 33: Missa externa à

Igreja Matriz

Fonte: http://goo.gl/47UBTa

69

No que se diz respeito ao desenvolvimento da parte social da festa os principais acontecimentos são

a instalações do parque de diversão infantil, barracas de comida e palco para a realização de shows

e o bingo, almoço e jantar realizado pela paróquia. Essas atividades apresentavam um zoneamento

“fixo” para sua realização, esse mesmo zoneamento pode ser observado abaixo:

Este mesmo zoneamento sofreu algumas mudanças nos últimos dois anos que a população ainda está

a se acostumar. A realizações de shows de bandas não religiosas, assim como a consumação de

bebidas alcoólicas foram proibidas na área do largo. Para a realização desses tipo de festa com um

cunho público uma praça de eventos está sendo construída na localização do antigo matadouro

municipal, próxima ao rio Piranhas. Assim, a construção de uma estrutura efêmera de grande porte ao

lado da igreja para o palco não é mais necessária, já que os shows que eram realizados na área se

tornaram mais intimistas. Com a proibição da venda de bebidas alcoólicas também diminuíram em,

Figura 34: Zoneamento de

estruturas fixas na festa da padroeira

Fonte: Google Maps, editado pelo

autor

70

no mínimo, 50% a quantidade de barracas comerciais montadas, dando uma característica de

“praça de alimentação”.

Em uma análise simples, o zoneamento da área continua igual, porém a área antigamente reservada

para a implantação do palco, pista de dança e das barracas comerciais se apresenta

superdimensionado para a função atual, e uma área tão grande não apresentar nenhuma função

fora da época da realização da festa, como é atualmente, não faz sentido e essa nova realidade foi

levada em consideração no projeto final.

Em face do exposto nota-se a importância do largo para a vida social e as manifestações públicas

da cidade de Jardim de Piranhas, desde o início de sua formação até os dias atuais. E são essas

manifestações junto do uso esportivo que convergiram e formaram o zoneamento final da proposta

de intervenção, como será explicado mais à frente.

3.5 Área de intervenção e sua relação com a cidade

O largo da Igreja Matriz está compreendido dentro do núcleo original da cidade, é perceptível que a

configuração do mesmo se apresenta relativamente igual a sua disposição inicial, pois a relação da

igreja com o cruzeiro à frente e as edificações tangenciando a área do largo é encontrado em várias

cidades do período mais antigo da história brasileira.

A área basicamente apresenta um uso do solo predominantemente residencial, com a pontuação

de alguns prédios institucionais, como a própria Igreja Matriz e o antigo centro comunitário (Figura 35).

Dentre essas edificações ainda podem ser encontradas no eixo de intervenção alguns exemplares de

edificações com características históricas, além da área estar dentro da área de interesse histórico

(ZIS) do município.

71

Numa análise mais macro da sua relação com o resto do munício pode-se observar que o largo se

encontra próximo a algumas escolas, mas praticamente isolado dos outros espaços públicos da

cidade (Figura 36), sendo o mais próximo o mercado público, futura praça de alimentação, estando

à 300 metros de distância. Mas mesmo com esse “isolamento”, a praça de eventos, que está em

construção, e distante mais de 400 metros da Igreja Matriz foi levada em consideração como vertente

de projeto devido a teórica futura função da mesma de abrigar as festas sociais que ocorrerão na

cidade.

Figura 35: Entorno do largo

Fonrte: Google Maps,

editado pelo autor.

72

Quanto à questão de acessibilidade de veículos e pedestres a área apresenta boa permeabilidade,

uma vez que quatro ruas ligam o largo à avenida Rio Branco (RN-288), principal ligação do centro

com o resto da cidade, sendo três dessas ruas (rua Primeiro de Maio, rua Pedro Araújo e rua Benjamin

Constantini) com mais de doze metros de largura. Atualmente alguns arruamentos novos estão sendo

abertos pela gestão pública atual, o que aumenta mais ainda o acesso ao centro histórico (Figura 37).

Figura 36: Relação com

outros equipamentos públicos

Fonte: Google Earth, editado

pelo autor

73

Figura 37: Principais vias de

acesso

Fonte: Google Earth, editado

pelo autor

74

75

4 CONDICIONANTES DA PROPOSTA

76

O processo de projeto praticado por arquitetos não é um processo explicito nem linear. Na maioria

das vezes está cercado por aspectos subjetivos, baseados na intuição e desprendido de conceitos,

não atribuindo a ele uma rotina racional.

Para Evan Silva, a teoria de concepção arquitetônica apresentada em “Uma introdução ao projeto

arquitetônico” (1998), também trata do processo projetual como uma progressão. Para ele, a

composição parte de um ponto inicial que é tratado como um problema, e evolui em direção à uma

solução, passando pelas etapas programa, partido arquitetônico, estudos preliminares, anteprojeto e

projeto definitivo.

Em “Ensaio sobre a razão compositiva”, Mahfuz lança a hipótese de que na composição

arquitetônica, o sentido de progressão é das partes para o todo, e que esse procedimento se repete

em dois planos: o conceitual e o material.

O método do projeto elaborado a seguir teve como embasamento principal para a composição

arquitetônica a bagagem teórica desses dois autores, dos quais serão subtraídos e adaptados as

diretrizes e conceitos que mais possam enriquecer o processo e qualificar o produto.

4.1 Diretizes Bioclimáticas para construir em Jardim de Piranhas

Jardim de Piranhas pertence ao clima semiárido, também conhecido como quente e seco, que possui

características como: grandes amplitudes de temperatura ao longo do dia; grandes massas de ar

quente que conduzem poeira em seu deslocamento, no período seco; presença de duas estações,

uma seca e outra chuvosa; radiação direta e intensa; baixa umidade relativa do ar; além da escassez

e instabilidade de chuvas. De acordo com o Diagnóstico do Município de Caicó, referência mais

próxima à Jardim de Piranhas, o período chuvoso ocorre entre fevereiro e maio, tendo precipitação

pluviométrica anual de 716,6mm, com temperatura máxima de 33ºC e mínima de 18ºC, 59% de

umidade relativa do ar e 2.700 horas de insolação.

77

Com o objetivo de propor uma edificação adaptada ao clima, e consequentemente conferindo

conforto ambiental aos usuários, foram consultadas bibliografias especializadas e a NBR 15220

(Desempenho térmico das edificações), e a partir delas foi feita uma síntese de diretrizes para o

construir no clima de Jardim de Piranhas, ou seja, na zona bioclimática Z7 (Figura 38).

A NBR 15220 estabelece os seguintes parâmetros

para a formulação das diretrizes para cada zona:

tamanho das aberturas, proteção das aberturas,

vedações externas e estratégias de

condicionamento passivo.

Segundo a norma, as aberturas devem ser

pequenas e sombreadas, e a ventilação da

edificação deve ser seletiva, ou seja, evitar a o

vento nos horários quentes do dia, que além de

desagradáveis trazem poeira para o interior da

edificação, e permitir a ventilação noturna, quando

a brisa é confortável e responsável pela renovação

do ar.

Para isso, uma solução pode ser a utilização de

aberturas do tipo reguláveis, como as venezianas,

ou outras esquadrias articuladas, que permite que o

usuário controle o recebimento da ventilação. As

venezianas, além de controlar a ventilação, funcionam como brise, filtrando a luz solar também.

Ainda sobre aberturas, deve-se evitar que elas sejam orientadas à oeste, ou controlar estritamente

suas dimensões.

Figura 38: Mapa da zona

bioclimática 7

Fonte: NBR 15220

78

Os espaços semiabertos, como varandas, terraços e pátios protegidos da radiação solar oferecem

alternativa de maior conforto durante determinadas horas do dia. Torres de ventilação com aberturas

no alto também é uma opção indicada para esse clima. O pé direito dos ambientes devem ser mais

altos que o normal, para que a massa de ar quente que se acumula na parte superior, não coincida

com a altura de atividade do usuário.

Quanto às vedações externas, a norma sugere que sejam, tanto paredes como cobertura, “pesadas”,

isto é, que possuam altos níveis de isolamento térmico. A figura 32 mostra que para paredes, a

transmitância térmica deve ser menor ou igual a 2,20 W/m²K, o atraso térmico deve ser maior ou igual

a 6,5 horas, e o fator solar deve ser menor ou igual a 3,5% para uma vedação considerada pesada.

Já para coberturas pesadas, os valores de transmitância devem atingir no máximo 2,00 W/m²K, o

atraso térmico deve ser no mínimo de 6,5 horas, e o fator solar, no máximo 6,5%.

Figura 39: Diretrizes para a Z7

Fonte: NBR 15220

79

Para contribuir com o isolamento térmico, além da escolha de materiais adequados, o agrupamento

das edificações também ajudam bastante a reduzir as perdas de calor. Edificações geminadas e

compactas podem ser uma estratégia eficiente para esse quesito.

Além do agrupamento, a escolha de cores claras para tetos e paredes externos, assim como fazer uso

de grandes beirais, são escolhas que promovem a proteção contra a radiação solar, e também

minimizam o aquecimento interno da habitação.

Outro fator significativo para o conforto da edificação é a orientação das edificações, que devem ter

suas principais fachadas voltadas para norte e sul, evitando aberturas voltadas para leste e oeste

como forma de reduzir a exposição da edificação ao sol.

Figura 40: Valores para

vedação pesada

Fonte: NBR 15220, editado

80

A forma deve ser compacta, com os blocos edificados, quando houver, fazendo sombra entre si,

diminuindo as superfícies expostas a radiação solar, aumentando a massa construída e,

consequentemente, a inércia térmica, o que diminui a entrada de calor do exterior. Isso é possível com

a criação de pátios internos, sobretudo associados à vegetação e água.

O uso de vegetação mostra-se como aliado na filtragem dos ventos quentes e da poeira, além disso,

protege as fachadas da insolação direta. Já o resfriamento evaporativo, diminui a temperatura e

eleva a umidade ambiente simultaneamente.

O resfriamento evaporativo poder ser conseguido a partir da utilização de janela com cântaros para

umidificação dos ambientes, construções próximas a grandes massas de água, ou uso de espelhos

d’água.

Em virtude de um clima tão agressivo, a atividade projetual voltada para o clima semiárido deve

considerar, desde sua concepção as diretrizes e recomendações supracitadas para garantir uma

habitação em harmonia com o ambiente em que se encontra e garantir o bem estar do usuário.

4.2 Topografia da área de intervenção

A topografia da área (Figura 41) de intervenção apresenta um declive com variação de altura de

quatro metros entre o piso da Igreja Matriz e a rua Padre João Maria, extremo oposto à área de

intervenção. Sendo essa diferença dispersa de forma uniforme durante todo o terreno, não chegando

a haver uma área demasiada íngreme.

81

Figura 41: Perfil topográfico

do terreno

Fonte: Google Earth,

editado pelo autor

82

4.3 Condicionantes legais

Quanto à leis municipais que normalizem e direcionem as novas construções e reformas na cidade de

Jardim de Piranhas apresenta-se um, recente, Plano Diretor Participativo assinado em 18 e dezembro

de 2014, que caracteriza a área de intervenção como parte da Zona de Interesse Histórico municipal.

Entretanto essa informação junto com outras contidas no Plano Diretor, não influenciam de forma

direta e substancial a proposta, sendo que as diretrizes específicas para a ZIH abrangem apenas as

edificações de patrimônio arquitetônico existente excluindo a parte urbana.

No tocante a Área de Diretrizes Especiais para Implantação de Grandes Equipamentos o Plano Diretor

se resume a dizer que os mesmos devem ser implantados dentro da malha urbana existente em função

da facilidade de acesso.

A cidade não apresenta um código de obras ou lei municipal que fiscalize projetos arquitetônicos e

urbanísticos quanto a pontos como gabarito, áreas, recuos etc, assim, para o desenvolvimento do

projeto se tomará como base as diretrizes gerais da legislação vigente para a cidade de Natal, porém

levando-se em consideração as especificidades locais.

Além destas normas ainda serão consideradas a NBR 15220, como falada anteriormente, a NBR 9050,

o Código de segurança contra pânico e incêndio, e a NBR 9070, que dispõe sobre a saída de

emergência em edifícios.

Em relação à acessibilidade, os principais critérios aplicados ao projeto em questão foram:

O espaço livre de circulação para pessoas e cadeirantes igual ou superior a 1,20 m de largura,

tomando como referência o de pessoas com muletas (1,20 m de largura), e o módulo de referência

(M.R) para pessoa utilizando cadeira de rodas (0,80 m x 1,20 m);

83

Os pisos devem apresentar-se como superfícies regulares, firmes, estáveis e antiderrapantes sob

qualquer condição e que não provoque trepidação em dispositivos de locomoção com rodas;

cadeiras de rodas, entre outros.

Todas as entradas da edificação serão acessíveis, bem como as rotas de interligação às principais

funções do edifício e da área urbana;

As escadas terão os espelhos não superiores a 0,18cm e corrimãos se prolongando 30cm a partir do

início ou do fim da escada;

As portas de áreas comuns e do centro esportivo adaptada à pessoas com mobilidade reduzida

(P.M.R.) com vão livre mínimo de 0,80m. As peças sanitárias de comum uso também foram

dimensionadas para serem acessíveis;

O número de vagas para estacionamento de veículos que conduzam ou sejam conduzidos por

pessoas com deficiência representando 2% do número de vagas, bem como o número de vagas para

idosos sendo 5% do total de vagas, segundo estabelece as Leis 10.098/00 e Lei 10.741/03,

respectivamente;

A vaga para P.M.R. foi projetada com espaço adicional de circulação de no mínimo 1,20m.

4.4 Definição do programa de necessidades

A definição do programa de necessidades tanto da parte urbana quanto do centro esportivo buscou

atender os objetivos gerais desenvolvidos no projeto, analisando as necessidades da população.

De início foi necessário fazer uma lista das atividades esportivas que seriam praticadas na área de

intervenção para que assim fosse projetado algo que fosse funcional com todas elas. Essa lista

84

abrange os esportes já praticados na área do largo e outros que foram adicionados graças a pesquisa

junto da Prefeitura Municipal e como resultado da conversa com Franscisco Roniere. Os esporte,

divididos em esportes outdoors (urbano) e indoors (arquitetônico), são:

- Indoors: Futsal; Basquetebol; Voleibol ; Artes marciais; Dança.

- Outdoors: Futebol de areia; Vôlei de areia; Crossfit; Academia ao ar livre; Atividade funcional de

baixo e alto rendimento; Caminhada.

Somado a essas atividades esportivas o programa de necessidades da parte urbana ainda conta com

área de estacionamento, área de convívio público a partir das praças, playground e banheiros. Já na

parte arquitetônica uma área administrativa se apresentou necessária, além de banheiro e vestiários.

Figura 42: Atividades Indoors

Fonte: Confeccionado pelo autor

Figura 43: Atividades Outdoors

Fonte: Confeccionado pelo autor

85

A Prefeitura Municipal também citou a preferência e necessidade de salas multiuso para realização

de oficinas e reuniões com grupos da comunidade. Uma área de cozinha também foi adicionada

visando as refeições festivas realizadas pela paróquia durante as comemorações da festa da

padroeira, além das mesmas acontecerem na área da quadra poliesportiva, durante os outros meses

do ano a cozinha e a lanchonete seriam usadas pela paróquia para substituir o trailer (Figuras 44 e 45)

que se encontra estacionado ao lado da Igreja a vários anos e que é usado para a venda de comida.

Figuras 44 e 45: Trailer de venda

de comida e inserção na praça

Fonte: Acervo próprio, 2016

86

87

5 PROPOSTA ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA

88

5.1 Conceito, Partido e evolução projetual

De um modo mais simples pode-se dizer que o conceito é a intenção abstrata que o projetista

pretende passar com sua obra, enquanto que o partido arquitetônico consiste nas decisões projetuais

que serão aplicadas para alcançar o objetivo do conceito.

Tendo isso explicado, o conceito de projeto foi inteiramente baseado na lenda sobre a fundação da

cidade de Jardim de Piranhas-RN já que a área de intervenção é exatamente o núcleo original da

cidade, abrangendo a Igreja Matriz que é o “produto final” da tal lenda. A lenda já foi citada e

resumida em texto anterior, mas para uma melhor compreensão da mesma e curiosidade de leitores

ela pode ser conferida a seguir em texto retirado do livro “Jardim de Piranhas: ontem e hoje” de

Alcimar Araújo:

“Conta-se que vinham três vaqueiros com uma grande maromba de gado, percorrendo uma estrada

que lhes permitia chegar ao rio Piranhas. Ali chegando, depararam-se com uma grande quantidade

d’água descendo rio abaixo, e que aumentava cada vez mais. Sentindo que a viagem não podia

prosseguir, um dos vaqueiros disse para os outros ser melhor acampar, já que o rio não dava passagem.

Entretanto, os outros vaqueiros não concordavam com a ideia, e resolveram ir adiante, mesmo

sabendo dos perigos que poderiam enfrentar. Disseram ao companheiro que iriam atravessar o rio a

qualquer custo, pois precisavam entregar o rebanho de gado no menor espaço de tempo possível. O

vaqueiro, que não concordava com a ideia dos companheiros, disse:

- Mesmo que as águas do rio deem passagem, acho muito arriscado. Vejo que estão ficando cada

vez mais fortes, e fui sabedor que nelas encontram-se grandes cardumes de piranhas.

Ainda assim os outros não concordaram. Contra a vontade do companheiro, juntaram o gado e o

tangeram em direção às águas do rio. Quando chegaram no meio dele, aconteceu o esperado: as

águas caudalosas começaram a arrastar todos para o fundo, descendo rio abaixo. O vaqueiro que

discordara dos companheiros, cansado de tanto lutar contra a fúria das águas e já quase se

afogando, agarrou-se a alguns galhos que vieram à tona e, olhando para o céu, fez uma prece: pediu

89

a Nossa Senhora que lhe valesse naquele momento de aflição, fazendo com que ele, o rebanho e

seus companheiros fossem salvos. Caso a prece fosse ouvida, prometeu erguer uma capela em sua

homenagem. Para sua surpresa, logo viu o rebanho e seus companheiros chegando à outra margem

do rio. Juntando-se a eles, contaram o rebanho e não faltou nenhuma cabeça. O rebanho estava

completo! Relatou então aos companheiros a prece que tinha feito a Nossa Senhora e, mediante

acontecido, restavam-lhe agora cumprirem juntos a promessa.

Tangeram o gado com o propósito de que no local onde o rebanho parasse fosse erguida a capela.

O rebanho parou onde hoje encontra-se a Igreja Matriz, por volta de 1710. Fizeram o rodeio e um deles

foi procurar o proprietário das terras para contar o milagre acontecido e receber a permissão para

construir a capela. Encontrou-se com Margarida Cardoso que, além de lhes conceder a permissão,

ajudou-lhes no cumprimento da promessa, facilitando-a por todos os meios que estavam a seu

alcance. Foi organizado uma espécie de mutirão, onde um grupo pessoas, a partir daquele momento,

começou a construir a pequena capela.

Ficou combinado entre eles que, meses depois, a própria Margarida Cardoso enviaria aos brejos

(naquele tempo chamados de cariris) uma tropa de burros com alguns vaqueiros para trazer a

imagem de Nossa Senhora para a capela. A expedição foi chefiada por Joaquim Rodolfo de Paula,

único homem que gozava da total confiança de Margarida. Num dos burros foi preparado um baú,

chamado de caçuá, onde seria colocada a imagem. Esse caçuá era devidamente forrado com

tecido para dar uma maior proteção à imagem durante a viagem. Demoraram nessa empreitada

mais ou menos um mês.

Assim que chegou, a imagem foi levada até a casa de Margarida Cardoso, sendo por ela recebida

com muita alegria. Conta-se que quando margarida abriu o baú, achou a imagem tão bela que, num

gesto de gratidão ofertou-lhe suas joias (uma volta e um par de brincos, chamados de brasileiras). Dias

depois, a imagem foi conduzida até à capela, onde ficaria sob a veneração de todos.

90

Pelo fato de o milagre ter acontecido num momento de grande aflição, a imagem recebeu o título

de Nossa Senhora dos Aflitos. “

Usando como base a ideia de Amélia Barros e Patrícia Andrade sobre a analogia como facilitadora

do processo de concepção de um projeto arquitetônico, após a escolha de um conceito para servir

como fonte para resolução do caso, três passos ainda seriam necessários:

- A realização de um inventário de predicados que referenciem a fonte ao alvo

- criação de croquis de associação entre as partes, com foco nos predicados elencados

- definição do partido e o ajuste aos predicados de acordo com o alvo pretendido

Com essa sequência em mente e usando a lenda de origem da cidade como “fonte”, são vários os

predicados que surgem: vaqueiros, rio, prece e a capela, que seria o resultado final de toda a história.

De imediato os vaqueiros já foram referenciados ao projeto arquitetônico levando em consideração

três fortes características dos mesmos. Primeiramente o número três que representa a número de

vaqueiros presentes na história levou à ideia de três volumes arquitetônicos e três diferentes gabaritos

entre os mesmos para que ficasse perceptível um diferencial entre os mesmos. Mas ao mesmo tempo

ao cuidar de um rebanho, os vaqueiros não funcionam isolados, o companheirismo e trabalho em

equipe são extremamente necessários, logo os três volumes não poderiam existir separados, mas sim

interligados entre si de modo funcional e marcante. A última característica é em relação as

divergências de opiniões encontradas na lenda sobre a questão de atravessar ou não às águas do rio

Piranhas, neste caso temos um vaqueiro contra a ideia e dois a favor, essa relação de diferença de

opinião ficaria marcada com o uso de dois tipos diferentes de estrutura construtiva onde um dos

blocos ficaria em metal, por exemplo, e os outros dois seriam construídos em alvenaria tradicional,

trazendo assim esse embate entre os mesmos.

91

Na lenda, o rio é o elemento que separa os vaqueiros do seu destino, culminando, de um modo não

inicialmente esperado, na construção da capela que atualmente é a Igreja Matriz de Nossa Senhora

dos Aflitos. Assim, o rio se apresentaria na proposta urbanística como uma região que separasse o

projeto arquitetônico (vaqueiros) da igreja. Com esse ponto de pensamento duas opções

apareceram, a primeira seria representar o rio no seu modo tradicional, como uma barreira entre os

vaqueiros e a igreja, enquanto a segunda mudaria um pouco essa perspectiva de divisão e

funcionaria como um “caminho” entre os outros dois predicados, o que, de um modo mais conceitual,

foi o que realmente optou-se.

Como será percebido na proposta final, a segunda opção foi a que chegou a ser desenvolvida

porque, além do que já foi explicado, a topografIa da área de estudo foi tomada como partido para

uma melhor representação do rio, assim como o desejo do autor de fugir do óbvio do rio como barreira

geográfica. A topografia em declive denotaria ao elemento representado como rio uma relação de

“curso natural” das águas.

Já em relação à prece/milagre, uma única palavra surgiu como forma de representatividade do ato

de Nossa Senhora dos Aflitos: a luz. O uso da luz, tanto natural como artificial, é algo corriqueiro em

projetos arquitetônicos e urbanísticos em todo o mundo, no caso deste trabalho imaginou-se o uso de

elementos arquitetônicos vazados que permitissem a passagem da luz natural e que transmitissem uma

sensação de conexão direta das partes do projeto com o “mundo espiritual”, quase como numa

coroação divina. Além é claro do uso de iluminação artificial em pontos estratégicos do projeto.

Com isso, percebe-se um partido que buscou uma analogia de aceitação direta da fonte utilizada

como norteador de projeto.

Além da base através do conceito da analogia, é importante também citar o zoneamento atual da

implantação geral como parte do partido urbanístico, pois buscou-se uma disposição de elementos

que funcionassem em comunhão com as estruturas efêmeras previstas para as festividades que

ocorrem durante a festa da padroeira de Nossa Senhora dos Aflitos, além de procurar manter a

92

característica interiorana atualmente existente no local. Essa relação poderá ser melhor observada

durante a explicação do zoneamento adotado.

5.1.1 Projeto Urbano

O projeto urbano desenvolveu-se a partir da definição de um zoneamento que respeitasse o uso atual

das praças e que se articulasse funcionalmente à festa da padroeira de Nossa Senhora dos Aflitos,

além de estar vinculado ao conceito já pré-estabelecido.

Inicialmente o zoneamento geral apresentava quatro zonas específicas: o centro esportivo,

estacionamentos, praças de convívio e área para atividades outdoors, sendo esta dividida em

atividades que necessitam de equipamento fixos e aquelas que não necessitam.

Ao observar a situação atual do largo, algumas partes do zoneamento já se apresentaram pré-

definidas para que o mesmo continuasse com a identidade interiorana que a população tanto se

acostumou. Deste modo, a área das duas praças existentes (praça Nossa Senhora dos Aflitos e praça

Padre João Maria) dariam lugar ao novo conjunto de praças que se ergueria; o centro esportivo se

localizaria onde hoje se encontra a quadra poliesportiva existente, se estendendo um pouco mais

para a área livre próxima à rua Manoel Clementino para que assim possa abarcar a área necessária

para contemplar todo o programa de necessidades; os novos estacionamentos foram pensados

próximos ao estacionamento já existente da Igreja Matriz, além de também servirem como

ordenadores espaciais para a área que atualmente se confunde entre estacionamentos e vias.

Devido a montagem dos parques de diversão infantis que acontece nas celebrações à Nossa Senhora

dos Aflitos, a parte do largo que margeia a rua Arthur Ribas precisaria ficar livre o máximo possível de

equipamento fixos, logo o mesmo seria o local para a instalação de áreas para as atividades outdoors,

atualmente essa área já é usada para “peladas” de vôlei e futebol de areia, o que não inviabilizaria

a decisão anteriormente tomada. Esse zoneamento inicial pode ser observado a seguir:

93

A representação do “rio Piranhas” que liga o centro esportivo à Igreja Matriz foi pensado de um modo

que tomou partido da topografia da área de intervenção, transmitindo a ideia de um rio com

nascente na igreja que “corre” até o Centro, os dois lances de escadas, pertencentes às duas praças,

ajudam a dar essa ideia (Figura 47).

Figura 46: Zoneamento

urbano inicial

Fonte: Google Earth, editado

pelo autor

Figura 47: Ideia do rio na

pavimentação

Fonte: Acervo Próprio

94

Outra característica que

permaneceu até o produto final foi a

proposta para a paginação de piso

a ser implantada nas praças. A

paginação foi concebida a partir de

um módulo quadrado base, com

dimensões de dois metros por dois

metros posicionados e rotacionados

45 graus em relação ao perímetro

externo das duas praças. É esse

módulo que desenha o percurso do

“rio” e define as áreas para locação

dos canteiros das árvores, canteiros

esse que inicialmente foram

distribuídos na malha de forma linear

para dar uma semelhança ao

rebanho de gado que atravessou o

rio na lenda, base conceitual, já

mencionada (Figura 48).

Continuando na concepção de cunho conceitual, os módulos que não representassem o “rio” foram

desenvolvidos e pensados para que no nó dos encontros entre eles uma imagem de “cruz”

aparecesse, remetendo a uma ideia de “solo sagrado” ao espaço referenciando mais uma vez ao

milagre ocorrido na lenda. No “leito do rio” também foram feitos desenhos que ajudassem a lembrar

ainda mais um rio correndo, mas ao invés do uso de traços curvos e sinuosos como normalmente se

encontram na representação de água, foram utilizados traços retilíneos firmes que remetem ao

objetivo simples e específico dos vaqueiros que era de atravessá-lo, além de fugir do óbvio. Os

materiais escolhidos também são de suma importância, pois para o rio foi pensado um revestimento

Figura 48: “rio” e distribuição

dos canteiros

Fonte: Acervo Próprio

95

que, além de dar um destaque maior ao contexto, remetesse a um leito de rio sexo, característica que

é realidade de boa parte do semi-árido brasileiro (Figura 49).

Importante também ressaltar que a locação dos

canteiros se deu a partir do levantamento da

vegetação de grande porte atualmente existente

nas praças, principalmente na praça próxima ao

complexo arquitetônico, pois a praça próxima à

igreja, por ser utilizada para a celebração das missas

de abertura e encerramento da festa da padroeira,

optou-se pela utilização de vegetação de menor

porte, pensando-se então como estratégia de

sombreamento na colocação de caramanchões

que serviriam como estrutura de barreira solar. Essas

ideias foram sendo aprimoradas, em alguns casos

descartadas, em cada etapa até a versão final,

como será perceptível mais à frente.

A distribuição da zona das atividades outdoors tomou como base a necessidade de ser uma área livre

de equipamentos fixos, com possibilidade de usos diversos. A parte inferior à rua Pedro Araújo seria a

destinada aos jogos de areia, tal como é atualmente, a diferença se daria na distribuição dos mesmos.

Atualmente existe apenas uma quadra de vôlei e um campo de futebol improvisado, com a nova

distribuição a área ficaria com duas áreas para a prática do vôlei e um campo de futebol nas

dimensões necessárias aos seus fins, ficando essas quadras protegidas por redes que delimitam sua

área geral, redes essas removíveis para quando da instalação temporária do parque de diversões. Na

parte do campo de futebol foi proposto um nivelamento do solo para melhor funcionalidade do

mesmo, na diferença de nível que se formou entre o campo e aruá Pedro Araújo foram instalados

degraus que servem como arquibancadas para os jogos.

Figura 49: Paginação de piso

geral

Fonte: Acervo Próprio

96

Na parte superior à rua Pedro Araújo ficou estabelecido uma área calçada que serviria como local

para as atividades funcionais e de crossfit que já acontecem no largo.

A área inicialmente destinada ao estacionamento se provou insuficiente, assim, algumas vagas foram

colocadas mais próximas ao centro esportivo, na rua Padra João Maria. Com a implantação dessas

vagas a rua sofreu uma redução em sua largura, mas essa mudança não se torna prejudicial ao fluxo

de carros pois o mesmo não necessita de uma rua tão larga como era a mesma. Uma mudança de

dimensão da parte inferior da rua Manoel Clementino também foi tomada por opção para assim

privilegiar o pedestre usuário da calçada, além de dar um destaque ao centro esportivo a ser

construído.

A academia ao ar livre (Figura 51) foi instalada na esquina da rua Pedro Araújo com a Manoel

Clementino, em uma área entre o Centro Esportivo e os estacionamentos, facilitando assim o acesso

de usuários da terceira idade que utilizariam do equipamento. A mesma seria circundada por uma

vegetação arbustiva que serviria como proteção contra vândalos.

Figura 50: Área de esportes

de areia

Fonte: Acervo próprio

97

Foi com essa implantação que a proposta foi apresentada à pré-banca do trabalho final de

graduação, alguns pontos pequenos foram feitos, como representação, questão de acessibilidade,

entre outros, mas o mais importante foi a sugestão da união das duas praças em uma grande praça

principal. Isso resultaria na interrupção do tecido da rua Pedro Araújo quando a mesma se encontra

com a Manoel Clementino. Assim, com o surgimento dessa nova área de projeto o estacionamento

foi aumentado com a adesão de 30 vagas para motocicletas, e da implantação de um playground

que segue a mesma ideia de proteção arbustiva aplicada na academia ao ar livre. No outro lado, na

margem da rua Arthur Rivas, foram instalados banheiros públicos que serviriam como um apoio das

praças em geral e da área de esportes outdoors. Como resultado, o zoneamento final do largo se

apresentaria da seguinte forma:

Figura 51: Academia ao ar

livre

Fonte: Acervo próprio

98

A proposta, com maior detalhamento, será apresentada mais à frente.

5.1.2 Projeto Arquitetônico – Centro de Esporte e Lazer

De início o projeto do Centro de Esporte e Lazer se mostrou basicamente como um quebra-cabeça

não muito complicado. Todas as peças estavam praticamente definidas, com o programa de

necessidades sabia-se que seria necessário três zonas distintas, administrativo, cozinha e área

Figura 52: Zoneamento

urbano final

Fonte: Acervo próprio

99

esportiva, com destaque para um ginásio poliesportivo incluindo vestiários. Esse programa seria

dividido em três blocos com gabaritos diferentes mas interligados entre si, sendo um deles,

obviamente, o ginásio.

Nisso o centro foi sendo definido a partir de um zoneamento lógico que se enquadrasse em uma área

limitada do largo da Igreja Matriz. Como manter características presentes atualmente no largo se

apresentava como um dos pontos do partido arquitetônico e urbanístico, a quadra poliesportiva

coberta foi locada no local da existente, inclusive com as mesmas dimensões, já que a realidade local

não demanda uma quadra em dimensões oficiais, segundo, entretanto, questões gerais de projeto.

Para uma quadra poliesportiva é recomendado um pé direito mínimo de sete metros, logo, ficava

claramente estabelecido que o ginásio se firmaria como o bloco de maior pavimento.

Com isso pré-definido, os outros dois blocos teriam que se locar próximo ao ginásio, na parte próxima

a rua Manoel Clementino, estabelecendo-se para um prédio com apenas o pavimento térreo e outro

de dois pavimentos, para assim termos o jogo de diferentes gabaritos desejado.

Três áreas ainda precisavam ser zoneadas, a cozinha claramente teria a preferência de

se manter no térreo para facilitar a relação da carga e descarga e lixo. Como a zona

esportiva complementar não apresentava amarração de locação e, tendo como

programa base salas de aula (dança e artes marciais) e salas multifuncionais, assim foi

decido que essas quatro salas deveriam ficar em um único bloco educacional de dois

pavimentos, deixando a zona administrativa para dividir o bloco térreo com a cozinha.

Sendo assim, duas hipóteses se mostravam possíveis, a primeira daria uma característica

de “escada” ao conjunto de prédios pois apresentava a disposição dos edifícios em uma

sequência crescente de gabaritos, o que não se viu adequado. A outra hipótese traz um

jogo mais interessante de volumes, com o bloco térreo da cozinha e administração "encurralado”

pelos outros dois blocos (com o ginásio tendo um gabarito relativamente mais alto), nessa disposição

a cobertura do bloco térreo poderia servir como uma praça elevada para socialização além de ser

Figura 53: Distribuição dos

blocos

Fonte: Acervo próprio

100

uma área de transição entre os pavimentos superiores dos demais bloco, firmando a integração

inicialmente desejada.

Com isso definido, deu-se início a um zoneamento

mais detalhado. No bloco do ginásio, por exemplo, há

a necessidade da instalação de arquibancadas e, sob

as mesmas, existe a possibilidade da acomodação

dos vestiários necessários. Com essa ideia em mente,

as arquibancadas foram locadas na parte mais

próxima da área dos exercícios em areia, para servir

de apoio tanto aos usuários do ginásios quanto aos

que praticam atividades ao ar livre, além de não se

tornarem uma barreira para a ventilação

predominante (Figura 54).

O bloco térreo, contendo a cozinha e área administrativa,

por ser o bloco central do conjunto, imaginou-se o mesmo

como o acesso principal para o centro esportivo, assim

preferiu-se por separar a zona da cozinha e administrativa

formando entre eles um pátio interno serviria tanto como

hall de entrada do bloco quanto como área para locação

das mesas da lanchonete e convivência. A disposição dos

ambientes de cada uma das zonas também foram

pensados de modo que usufruíssem da ventilação

predominante (Figura 55).

Figura 54: Zoneamento

ginásio

Fonte: Acervo próprio

Figura 55: Zoneamento

bloco térreo

Fonte: Acervo próprio

101

O último bloco contém em seu programa quatro salas de aula, assim foram colocadas duas no térreo

e duas no pavimento superior. Se apresentasse uma característica de bloco fechado essa estrutura

funcionaria como barreira para os outros blocos em relação à ventilação predominante, assim, foi

pensado um modo de deixa-lo mais fluído para os ventos. As duas salas térreas foram afastadas de

um modo que criou-se uma circulação entre as mesmas que serviria como passagem da brisa, o

mesmo se pensou para o pavimento superior com a pequena diferença que as salas foram

rotacionadas 90 graus criando assim uma dinâmica interessante no bloco (Figura 56). As salas do térreo

ficaram decididas como sendo os ambientes destinados as aulas de dança e artes marciais, já que,

preferencialmente, as duas necessitam de um pequeno vestiário local, no pavimento superior também

foram colocados dois banheiros, externos às salas, devido à distância dos outros equipamentos no

centro.

Com isso definido, dois pontos estabelecidos no conceito e partido arquitetônico ainda necessitavam

ser decididos: a relação dos sistemas construtivos e a ligação entre os três blocos. Quanto aos sistemas

construtivos, por decisão estética e funcional, ficou decidido que o bloco do ginásio seria em estrutura

metálica já que o mesmo necessita de vencer um grande vão livre na região da quadra. Os outros

dois blocos, mais simples, seriam em alvenaria tradicional com sistema pilar-viga. Essa decisão remete,

também, a lenda, onde o edificado metálico discorda dos dois blocos em alvenaria, assim como os

vaqueiros discordavam sobre atravessar ou não rio em sua cheia.

Quanto à ligação dos três blocos, havia a necessidade da locação de circulações verticais que

permitissem que essa interação acontecesse em todos os pavimentos. As arquibancadas já serviam

como uma escada para o mezanino que se formava acima da laje dos vestiários, com isso

estabelecido duas passarelas treliçadas, que também fazem parte da estrutura principal do ginásio,

foram posicionadas de modo que ligassem o mezanino à laje do bloco térreo onde seria instalado

uma praça elevada com características estéticas do traçado usado nas praças principais do conjunto

urbanístico. Desta praça elevada uma outra passarela, mais simples, conectaria a mesma com o

pavimento superior do bloco de aulas, onde uma outra circulação vertical estaria instalada. Com base

no código de segurança contra pânico e incêndio uma terceira circulação vertical seria necessária,

Figura 56: Zoneamento

bloco de aulas

Fonte: Acervo próprio

102

sendo locada em uma região central do edifício, acoplando junto a ela uma plataforma elevatória

considerando o que diz a NBR 9050.

Como consequência direta da decisão de locar o ginásio poliesportivo no mesmo local da quadra

atual, as maiores fachadas do projeto ficaram voltadas para o leste e oeste, para amenizar a ação

da incidência solar no interior do edifício estratégias de proteção foram pensadas, não apenas para

o ginásio, mas sim para todo o conjunto edificado de modo que a proteção adotada sirva como um

elemento comum entre todo o complexo, trazendo uma certa elegância e destaque.

Para cada um dos três blocos foi pensado um diferente tipo de proteção trazendo uma identidade

individual em cada um, mas ao mesmo tempo os elementos tem a mesma fonte conceitual. Essa fonte

está relacionada a um gradil (Figura 57) que se encontra constante na paisagem urbanística da

cidade e ao usar o módulo do mesmo como base, três elementos de proteção foram confeccionadas

para cada um dos blocos do centro esportivo.

Para a proteção do bloco térreo foi pensado uma “parede” formada pelo gradil, em seu módulo

original de 50 cm por 50 cm, que circunda as duas fachadas do bloco que podem ser observadas

pelos pedestres. Além do apelo estético, essa parede formaria uma espécie de “alpendre” que

protegeria as fachadas da ação direta do sol. Esta mesma “parede” foi dividida em módulos de

painéis (Figura 58) onde em cada um seria representado um marco da cultura jardinense.

Figura 57: Croqui do

gradil

Fonte: Acervo próprio

Figura 58: Gradil bloco

térreo

Fonte: Acervo próprio

103

O mesmo gradil usado anteriormente foi adaptado para servir como proteção do ginásio. Neste caso

o módulo original de 50cm por 50cm foi multiplicado por quatro com a retirada de algumas partes

para dar um jogo mais interessante na fachada. Essa “tela” (Figura 59) formada seria colocada nas

fachadas leste e oeste do ginásio sendo sustentada por estruturas metálicas a partir das passarelas

treliçadas.

Para o terceiro e último bloco, o módulo original do gradil teve suas dimensões dobradas e utilizado

nas janelas do edifício, além de ser o principal elemento que forma parte da cobertura do bloco

(Figura 60).

Figura 60: Proteção do

bloco de aulas

Fonte: Acervo próprio

Figura 59: Proteção do

ginásio e do bloco térreo

Fonte: Acervo próprio

104

Essas foram as decisões projetuais apresentadas à pré-banca do trabalho final de graduação, que

não sofreu nenhuma modificação drástica que mude o zoneamento ou proteções propostas.

5.2 Proposta Final – Intervenção urbana

5.2.1 Organização programática

Para explicar a proposta de interve nção

urbana final, como exercício didática,

para um melhor entendimento, a mesma

foi dividida em três eixos de intervenção,

excluindo o Centro de esporte e lazer

(Figura 61).

O primeiro eixo (Figura 62), que margeia a

rua Manoel Clementino, inicia-se na

expansão do estacionamento da igreja

matriz em mais 41 vagas para carros de 30

vagas para motos, além da locação do

playground e academia ao ar livre, ainda

mantendo a ideia de proteção arbustiva já

explicada. Um bicicletário também foi

instalado nesse eixo.

É preciso lembrar também que na rua

Padre João Maria, próximo ao centro

esportivo, foram locadas mais 19 vagas de

estacionamento, totalizando 60 vagas de

Figura 62: Planta baixa

Eixo 01

Fonte Acerco Próprio

Figura 61: Eixos urbanos

Fonte: Acervo próprio

105

estacionamento para carros, onde seis foram reservadas para PNE e oito para motoristas da terceira

idade.

O segundo eixo (Figura 63) da área urbanística diz respeito à grande praça de quase três mil metros

quadrados que se formou a partir da junção das áreas das duas antigas praças, Nossa Senhora dos

Aflitos e Padre João Maria. A mesma ainda continua com o uso do módulo de dois metros por dois

metros já pré-estabelecido, assim como o desenho da cruz, a única diferença se dá pelo novo jogo

de cores apresentado, onde antes seria apenas uma paginação uniforme dos módulos adotou-se

uma característica de “tabuleiro de xadrez” com um módulo escuro e outro claro (Figura 64).

Figura 63: Planta baixa

Eixo 02

Fonte Acerco Próprio

Figura 64: Vista

esquemática da área

urbana

Fonte: Acervo próprio

106

O “rio” segue o mesmo curso já antes estabelecido porém não apresenta a quebra antes

proporcionada pela rua Pedro Araújo, apresentando uma nova característica contínua começando

na Igreja Matriz e terminando no centro esportivo. O mesmo também foi adaptado de modo que se

apresentasse totalmente acessível dentro das normal da NBR 9050, o que antes era formado por alguns

lances de escadas se tornaram rampas de acesso aos platôs das praças.

As principais novidades em relação à proposta inicial se dá pela nova disposição dos canteiros (Figura

64), o que antes iria dar a ideia de um rebanho de gado optou-se por uma identidade que remetesse

à “praça de interior”, através do uso de grandes canteiros que se conectariam à parte do mobiliário

urbano desenvolvido para o projeto.

Importante também acrescentar a realocação do cruzeiro, presente na praça Nossa Senhora dos

Aflitos, e do busto de Padre João Maria, na praça de mesmo nome.

O terceiro eixo (Figura 65) equivale ás áreas reservadas às atividades outdoors que incluem a área em

areia (Figura 50) e o parcela reservada para as atividades funcionais e crossfit. Da proposta inicial para

a final a única diferença se dá pela presença de uma bateria de banheiros cobertos entre essas duas

áreas.

Uma visão programática geral e completa da área pode ser observada na prancha 01 dos apêndices

deste trabalho.

5.2.2 Acessibilidade

Seguindo o que indica a NBR 9050, as questões de acessibilidade foram aplicadas no projeto com

demarcação de desníveis e barreiras físicas através do que rege a norma, com a utilização de peso

tátil de alerta em todas as situações em que isso é necessário.

Figura 65: Planta baixa

Eixo 03

Fonte Acerco Próprio

107

Vagas de estacionamento também foram pensadas para atender a demanda de usuário de

necessidades especiais seguindo o que indica a NBR.

Para vencer a declividade do terreno rampas foram pensadas com a inclinação máxima de 8,33%,

sendo as mesmas sinalizadas com piso tátil de alerta direcional enquadradas pela normatização.

5.2.3 Tratamento paisagístico

Como característica de várias cidades do interior, nos limites das calçadas da área residencial, que

circunda o largo, a arborização se apresenta abrangente. As praças atuais também dispõe de uma

certa arborização, a praça Nossa Senhora dos Aflitos, por exemplo, apresenta vegetação de baixo

porte não conferindo sombreamento para os usuários, já na praça Padre João Maria são encontrados

exemplos de vegetação de grande porte que foram locados e levados em consideração no projeto.

As outras partes da intervenção, que inclui novos canteiros nas praças e estacionamento, se indica o

uso de espécies locais desde exemplos rasteiros até grandes árvores de sombra, pois por serem

adaptadas ao clima semi-árido não necessitariam de muita água, algo que se apresenta escasso em

certas épocas do ano.

5.2.4 Aspectos de conforto

Os aspectos bioclimáticos da proposta urbana estão altamente ligados à questão paisagística e do

uso de matérias. Como digo anteriormente, a escolha por espécies locais, assim como materiais com

características mais absorventes foram prioridade.

108

As novas árvores de grande porte foram locadas em pontos estratégicos de grande permanência

como os bancos das praças, playground e academia ao ar livre, além de serem implantadas próximas

às vagas de estacionamento.

Mesmo com essa preocupação quanto à insolação e por ser uma área que foi pensada para ficar

livre elementos fixos, algumas áreas foram deixadas sem nenhum sombreamento, no caso, as áreas

destinadas à atividades físicas do eixo 03.

5.2.5 Mobiliário urbano

No que diz respeito ao mobiliário urbano, foram desenvolvidos bancos que se conectam com os

canteiros altos da praça à uma altura de 45 centímetros (Figura 66), além de parte do banco ser em

madeira trazendo um pouco da identidade dos antigos bancos presentes na praça. As lixeiras,

normalmente, também aparecem conectadas ao sistema dos canteiros altos, porém algumas

aparecem pontualmente isoladas ao longo do complexo. Para a iluminação pública foram utilizados

três tipos de postes, um de grande porte para iluminação das vias e áreas de grande dimensões, outro,

também de grande porte mas com uma

característica de holofote para os campos

de areia, o terceiro seria um poste de porte

médio para a iluminação da praça e dos

canteiros. Também foram feitos trabalhos

com iluminação para dar destaque aos

principais elementos da construção urbana

como o busto de Padre João Maria, o

Cruzeiro e o curso do “rio”.

Figura 66: Mobiliário

urbano utilizado

Fonte Acerco Próprio

109

5.3 Proposta Final – CENTRO DE ESPORTE E LAZER TRÊS VAQUEIROS

O Centro de esporte e lazer três vaqueiros consiste no projeto de um centro esportivo para a

população praticamente da cidade de Jardim de Piranhas, no Seridó do Rio Grande do Norte.

O nome do projeto faz alusão aos três vaqueiros que, segundo a lenda de origem da cidade, foram

os responsáveis pela construção da Igreja Matriz na área onde o centro se insere e consequentemente

o surgimento do município.

Neste capítulo, será apresentada uma síntese técnica do projeto, onde são compiladas as escolhas

arquitetônicas, desde a estrutura do edifício, fazendo uma abordagem das principais soluções

adotadas para o conforto ambiental, e por fim, o resultado volumétrico representado maquete digital

do projeto.

Figura 67: Parte dos

painéis utilizados no

projeto

Fonte Acerco Próprio

110

Figura 68: Vista externa ao Centro Fonte Acerco Próprio

111

Figura 69: Vista externa ao Centro Fonte Acerco Próprio

112

Figura 70: Vista externa Fonte Acerco Próprio

113

Figura 71: Vista interna Bloco ginásio Fonte Acerco Próprio

114

115

5.3.1 Organização programática

Como já dito anteriormente, o centro de esporte e lazer se divide em três blocos: o ginásio

poliesportivo, o bloco de aulas e o bloco térreo (cozinha e área administrativa). Com os blocos

interligados por um sistema de circulações verticais e horizontais.

Destrinchando-se o programa pelos blocos tem-se:

BLOCO DO GINÁSIO

Térreo

Quadra Poliesportiva Vestiários – Masc e Fem. Arquibancadas

Superior

Mezanino Passarelas treliçadas

BLOCO DE AULAS

Térreo

Sala de dança Sala de artes marciais 02 Vestiários

Superior

02 salas multifuncionais 02 WC – Masc e Fem.

BLOCO TÉRREO

Hall de entrada Lanchonete Cozinha Despensa Lavagem

Vestiário Recepção Sala de reuniões Diretoria

Secretaria Copa Depósito 02 WC – Masc e Fem.

116

5.3.2 Estrutura

Como citado anteriormente, é dois o número de diferentes sistemas construtivos utilizados na

formulação do centro, o bloco de ginásio se ergue em uma estrutura metálica principal enquanto os

demais blocos se formam com um sistema de alvenaria viga-pilar convencional.

A opção de laje para os blocos do projeto foi a laje treliçada com lajotas de EPS, aplicadas de for

unidirecional, perpendicular às paredes estruturais, na direção do menos vão. Essa opção foi escolhida

por ser uma estrutura mais leve, acarretando o alívio dos esforços e um melhor aproveitamento do

aço e concreto. Outro fator contribuinte para a

escolha, foi a eficiência no conforto térmico que

as lajotas de EPS conferem à edificação, já que

possuem um baixo coeficiente de

condutividade térmica. Além disso, a

produtividade com o uso de laje de EPS pode

ser até dez vezes maior do que de uma laje com

lajotas cerâmicas, pela diminuição do tempo

de carga e descarga, de montagem, e de obra

como um todo. As especificações técnicas

foram adotadas seguindo o manual do

fabricante isso-plast, que indica uma altura de

laje total igual a 13 centímetros. Porém,

destaque para uma parte da laje, na área

correspondente a praça elevada, que recebe

um tratamento de teto verde para a

implantação de vegetação na mesma.

Figura 72: Dimensões para a laje

Fonte www.isoplast.id.br

117

Quanto ao ginásio poliesportivo, a proposta estrutural (Figura 73) foi pensada de modo que a estrutura

que suporta a cobertura do conjunto seja composta por treliças, no sentido longitudinal, e por vigas-

vagão de aço, que as conectam no sentido transversal, na modulação de cinco metros. Nisso, as

treliças da passarela descarregam os esforços em quatro pilares de concreto. A cobertura do edifício

é em laje alveolar de painéis pré-fabricados impoermeabilizados e levmente inclinados.

Figura 73: Estrutura Ginásio

Fonte: Acervo pr´pprio

118

CONSIDERAÇÕES FINAIS

119

A identidade de uma cidade é única, para se projetar aliando aspectos sócio-econômicos e estéticos

à realidade cultural, devem-se fazer leituras e, sobretudo, conhecer para quem se está projetando.

Entretanto, certas decisões na arquitetura são responsabilidade do projetista. Cabe à ele perceber e

considerar o potencial de determinadas ideias ou valores para a concepção de um projeto, para que

se transmita através de sua conformação visual ou de suas relações espaciais as intenções

comunicativas do arquiteto.

A requalificação de centros urbanos que apresentam uma forte identidade para com sua população

exige uma reinterpretação do lugar, do usuário e da função em uma forte ligação conjunta, ou seja,

conscientização de que um complexo de realidades acontece naquele lugar e que é necessário

adaptar-se a esses critérios para um melhor aproveitamento, e, consequentemente, resultado do

mesmo.

Alterar um quadro já firmado não se apresenta como uma tarefa fácil, a rejeição iminente é sempre

uma possibilidade. Acredita-se que no que tange esses aspectos, o presente trabalho contribuiu para

a aceitação e para um novo olhar sobre o largo Nossa Senhora dos Aflitos na cidade de Jardim de

Piranhas-RN, através da elaboração de um projeto adequado à realidade, público, programa e

condicionantes em geral, fruto de leitura e observação do contexto; de forma que pode-se considerar

que os objetivos do trabalho foram atingidos.

120

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Alcimar. Jardim de Piranhas: ontem e hoje. Brasília: [s.n.], 1994.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência

às edificações, mobiliário e equipamento urbano. NBR 9050. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

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Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

BUENO, Luciano. Políticas Públicas do esporte no Brasil: razões para o predomínio do alto rendimento.

2008. 200 f. Tese (Doutorado) - Curso de Administração, Escola de Administração de Empresas de São

Paulo, São Paulo, 2008.

CARVALHO, José Augusto de Oliveira. É tradição!: Uma proposta de espaço cultural e intervenção

urbana para a cidade de Várzea/RN. Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.

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